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Como as crianças adquirem e desenvolvem a linguagem Janieri de Sousa Oliveira, Maria de Lourdes da Rocha, Conceição Elane [email protected] Discentes da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), em Sobral, Estado do Ceará, Brasil 2007 Trabalho desenvolvido sob a orientação do Professor Vicente Martins (Universidade Estadual Vale do Acaraú, Sobral, Estado do Ceará, Brasil) Idioma: Português do Brasil Palavras-chave: A linguagem das crianças intriga lingüistas e estudiosos do assunto. Sendo assim crianças do século XII, por exemplo, apesar de crianças como as de hoje não brincavam com os mesmos brinquedos, nem sentiam, nem pensavam, nem se vestiam como as crianças de hoje. E, certamente as crianças deste século terão características muito diferentes das de hoje. É interessante que assim surge um questionamento: se as crianças de antigamente eram diferentes das de hoje certamente as de amanhã também serão. Por que é então interessante estudar a infância se esta muda? Na tentativa de responder a essa questão surgiram muitas teorias. Segundo Maingueneau “a aquisição da linguagem tenta explicar entre outras coisas o fato de as crianças, por volta dos 3 anos, serem capazes de fazer o uso produtivo - de suas línguas”. Com base nisso tentarei aqui expor alguns pontos importantes de aquisição da linguagem pela criança. Desde pequenos já existe a comunicação, mas esta não é feita por meio oral. A linguagem é um sistema de símbolos culturais internalizados, e é utilizada com o fim último de comunicação social. Assim como no caso da inteligência e do pensamento, o seu desenvolvimento passa também por períodos até que a criança chegue a utilização de frases e múltiplas palavras. Ao nascer, a criança não entende o que lhe é dito. Somente aos poucos começa a atribuir um sentido ao que escuta. Do mesmo modo acontece com a produção da linguagem falada. O entendimento e a produção da linguagem falada evoluem. Existem diferentes tipos de linguagem: a corporal, a falada, a escrita e a gráfica. Para se comunicar a criança utiliza, tanto a linguagem corporal ( mímica, gestos, etc.) como a linguagem falada. Lógico que ela ainda não fala, mas já produz linguagem. Vamos ver como! O desenvolvimento da linguagem se divide em dois estádios: pré – lingüístico, quando o bebê usa de modo comunicativo os sons, sem palavras ou gramática; e o lingüístico, quando usa palavras. No estádio pré – lingüístico a criança, de princípio, usa o choro para se comunicar, podendo ser rica em expressão emocional. Logo ao nascer este choro ainda é indiferenciado, porque nem a mãe sabe o que ele significa, mas aos poucos começa a ficar cheio de significados e é possível, pelo menos para a mãe, saber se o bebê está chorando de fome, de cólica, por estar se sentindo desconfortável, por querer colo etc. è importante ressaltar que é a relação do

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Page 1: Como as Crianças Adquirem e Desenvolvem a Linguagem

Como as crianças adquirem e desenvolvem a linguagemJanieri de Sousa Oliveira, Maria de Lourdes da Rocha, Conceição Elane

[email protected] da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), em Sobral, Estado do Ceará, Brasil2007

Trabalho desenvolvido sob a orientação do Professor Vicente Martins (Universidade Estadual Vale do Acaraú, Sobral, Estado do Ceará, Brasil)

Idioma: Português do Brasil Palavras-chave:

A linguagem das crianças intriga lingüistas e estudiosos do assunto. Sendo assim crianças do século XII, por exemplo, apesar de crianças como as de hoje não brincavam com os mesmos brinquedos, nem sentiam, nem pensavam, nem se vestiam como as crianças de hoje. E, certamente as crianças deste século terão características muito diferentes das de hoje. É interessante que assim surge um questionamento: se as crianças de antigamente eram diferentes das de hoje certamente as de amanhã também serão. Por que é então interessante estudar a infância se esta muda?

Na tentativa de responder a essa questão surgiram muitas teorias. Segundo Maingueneau “a aquisição da linguagem tenta explicar entre outras coisas o fato de as crianças, por volta dos 3 anos, serem capazes de fazer o uso produtivo  - de suas línguas”. Com base nisso tentarei aqui expor alguns pontos importantes de aquisição da linguagem pela criança.

Desde pequenos já existe a comunicação, mas esta não é feita por meio oral. A linguagem é um sistema de símbolos culturais internalizados, e é utilizada com o fim último de comunicação social. Assim como no caso da inteligência e do pensamento, o seu desenvolvimento passa também por períodos até que a criança chegue a utilização de frases e múltiplas palavras.

Ao nascer, a criança não entende o que lhe é dito. Somente aos poucos começa a atribuir um sentido ao que escuta. Do mesmo modo acontece com a produção da linguagem falada. O entendimento e a produção da linguagem falada evoluem.

Existem diferentes tipos de linguagem: a corporal, a falada, a escrita e a gráfica. Para se comunicar a criança utiliza, tanto a linguagem corporal ( mímica, gestos, etc.) como a linguagem falada. Lógico que ela ainda não fala, mas já produz linguagem. Vamos ver como!

O desenvolvimento da linguagem se divide em dois estádios: pré – lingüístico, quando o bebê usa de modo comunicativo os sons, sem palavras ou gramática; e o lingüístico, quando usa palavras.

No estádio pré – lingüístico a criança, de princípio, usa o choro para se comunicar, podendo ser rica em expressão emocional. Logo ao nascer este choro ainda é indiferenciado, porque nem a mãe sabe o que ele significa, mas aos poucos começa a ficar cheio de significados e é possível, pelo menos para a mãe, saber se o bebê está chorando de fome, de cólica, por estar se sentindo desconfortável, por querer colo etc. è importante ressaltar que é a relação do bebê com sua mãe, ou com a pessoa que cuida dele, que lhe dá elementos para compreender seu choro.

Além do choro, a criança começa a produzir o arrulho, que é a emissão de um som gutural, que sai da garganta, que se assemelha ao arrulho dos pombos. O balbucio ocorre de repente, por volta dos 6-10 meses, e caracteriza – se pela produção e repetição de sons de consoantes e vogais como “ma – ma – ma – ma”, que muitas vezes é confundido com a primeira palavra do bebê.

No desenvolvimento da linguagem, os bebês começam imitando casualmente os sons que ouvem, através da ecolalia. Por exemplo: os bebês repetem repetidas vezes os sons como o “da – da – da”, ou “ma – ma – ma – ma”. Por isso as crianças que tem problema de audição, não evoluem para além do balbucio, já que não são capazes de escutar.

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Por volta dos 10 meses, os bebês imitam deliberadamente os sons que ouvem, deixando clara a importância da estimulação externa para o desenvolvimento da linguagem. Ao final do primeiro ano, o bebê já tem certa noção de comunicação, uma idéia de referência e um conjunto de sinais para se comunicar com aqueles que cuidam dele.

O estádio lingüístico está pronto para se estabelecer. Sendo assim, contando com a maturação do aparelho fonador da criança e da sua aprendizagem anterior, ela começa a dizer suas primeiras palavras.

A fala lingüística se inicia geralmente no final do segundo ano, quando a criança pronuncia a mesma combinação de sons para se referir a uma pessoa, um objeto, um animal ou um acontecimento. Por exemplo, se a criança disser apo quando vir a água na mamadeira, no copo, na torneira, no banheiro etc., podemos afirmar que ela já esta falando por meio de palavras. Espera – se que aos 18 meses a criança já tenha um vocabulário de aproximadamente 50 palavras, no entanto ainda apresenta características da fala pré – lingüística e não revela frustração se não for compreendida.

Na fase inicial da fala lingüística a criança costuma dizer uma única palavra, atribuindo a ela no entanto o valor de frase. Por exemplo, diz ua, apontando para porta de casa, expressando um pensamento completo; eu quero ir pra rua. Essas palavras com valor de frases são chamadas holófrases.

A partir daqui acontece uma “explosão de nomes”, e o vocabulário cresce muito. Aos 2 anos espera – se que as crianças sejam capazes de utilizar um vocabulário de mais de cem palavras.

Entre os 2 e 3 anos as crianças começam a adquirir os primeiros fundamentos de sintaxe, começando assim a se preocupar com as regras gramaticais. Usam, para tanto, o que chamamos de super – regularização, que é uma aplicação das regras gramaticais a todos os casos, sem considerar as exceções. É por isso que a criança quer comprar “pães”, traze – los nas “mães”. Aos 6 anos a criança fala utilizando frases longas, tentando utilizar corretamente as normas gramaticais.

Chomsky defende a idéia de que a estrutura da linguagem é, em grande parte, especificada biologicamente (nativista). Skinner afirma que a linguagem é aprendida inteiramente por meio de experiência (empirista). Piaget consegue chegar mais perto de uma compreensão do desenvolvimento da linguagem que atenda melhor a realidade observada. Segundo ele tanto o biológico quanto as interações com o mundo social são importantes para o desenvolvimento da linguagem (interacionista).

Dentro da óptica interacionista, da qual Piaget é adepto, o aparecimento da linguagem seria decorrência de algumas das aquisições do período sensório – motor, já que ela adquiriu a capacidade de simbolizar ao final daquele estádio de desenvolvimento da inteligência. Soma – se a isso a capacidade imitativa da criança. As primeiras palavras são intimamente relacionadas com os desejos me ações da criança.

O egocentrismo da criança pré – operatório também se faz presente na linguagem que ela exibi. Desse modo, ela usa frequentemente a fala egocêntrica, ou privada, na qual fala sem nenhuma intenção muita clara de realmente se comunicar com o outro, centrada em sua própria atividade. É como se a criança falasse em voz alta para si mesma. Contudo ela também usa a linguagem socializada, que tem como objetivo se fazer entendida pelo interlocutor.

Já de acordo com Vygostisky “não basta apenas que a criança esteja ‘exposta’ à interação social, ela deve estar ‘pronta’, no que se refere à maturação, desenvolver o (s) estágio (s) para compreender o que a sociedade tem para lhe transmitir:

Sensório – motor, de 0 a 18/24 meses, que precede a linguagem; Pré – operatório, de 1;6/2 anos a 7/8 anos, fase das representações, dos símbolos;

Operatório – concreto, de 7/8 a 11/12 anos, estágio da construção da lógica;

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Operatório – formal, de 11/12 anos em diante, fase em que a criança raciocina, deduz, etc. “

Para fazer uma síntese do que torna fácil ou difícil de aprender para a criança, apresentamos o quadro abaixo:

A LÍNGUA É FÁCIL QUANDOA LÍNGUA É DIFÍCIL QUANDO

É real e natura É artificial

É integralÉ dividida em pedaços

Faz sentidoNão faz sentido

É interessanteÉ chata e desinteressante

Faz parte de um acontecimento social  Esta fora de um contexto

Tem utilidade social         Não possui valor social

Tem propósito para a criança

Não tem finalidade para a criança

A criança a utiliza por opçãoÉ imposta por outra pessoa

 Após essas considerações esperamos ter ajudado a compreender um pouco mais da complexidade que é o mundo da fala infantil.

 

CONCLUSÃO:

Seria importante apenas ressaltar o quanto os estudos contribuíram para as diferentes contribuições no âmbito dos estudos da fala infantil. O quanto as crianças conseguem antes mesmo de 1 ano transmitir a noção de fala. Bem como todo o processo vivido por ela no intervalo de tempo de zero a 6 anos.

É digno de nota as idéias de Chomsky, Piaget e Skinner, bem como Vygostisky que muito contribuíram para o aperfeiçoamento de nosso estudo. Esperamos que o referido artigo possa contribuir para aprofundamento de estudos nesse assunto.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

SAMPAIO, Fátima Silva. Linguagem na Educação Infantil. Fortaleza, SEDUC, 2003 pp. 12 – 18.

FARIAS, Maria Cílvia Queiroz. Linguagem na Educação Infantil. Fortaleza, SEDUC, 2003 pp. 12 – 18.

FROTA, Ana Maria Monte Coelho. Formação de educadores infantis Desenvolvimento Infantil: a criança de 0 a 6 anos. IMEPH pp. 19 – 21.  

DEL RÉ, Alessandra. Aquisição da Linguagem. São Paulo, 2006. pp. 13 – 44.

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http://www.psicologia.com.pt/artigos/ver_artigo_licenciatura.php?codigo=TL0075&area=&subarea=

Como ocorrem os distúrbios da linguagem oral e da comunicação na criançaFrancisco de Assis do Nascimento, Jander Ramos Carvalho, Priscila Márcia de Andrade Costa, Rafael Lira Gomes Bastos

[email protected] da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), em Sobral, Estado do Ceará, Brasil2007

Trabalho desenvolvido sob a orientação do Professor Vicente Martins (Universidade Estadual Vale do Acaraú, Sobral, Estado do Ceará, Brasil)

Idioma: Português do Brasil Palavras-chave:

No presente artigo, falaremos de forma sucinta de como ocorrem os distúrbios da linguagem oral os quais se manifestam na interação social; das vertentes receptiva e expressiva e seu objeto de estudo. Nos limitaremos aqui aos distúrbios em virtude da profundidade e particularidade de cada um. 

Vale ressaltar, que os estudos acerca dos vários distúrbios concernentes a linguagem ainda são recentes, há muito que descobrir para se chegar a respostas mais concretas. As características podem ser muitas vezes quase imperceptíveis, pode haver dificuldades na identificação em conseqüência da singularidade dessa condição, pois portadores de distúrbios da linguagem apresentam dificuldades de comunicação assemelhando-se por vezes a doentes psíquicos.

As crianças com distúrbios de linguagem apresentam em seu desenvolvimento déficits em suas habilidades lingüísticas, necessitam de estímulo especial. Desta forma, as etapas posteriores poderão seguir sem que haja prejuízos para o seu desenvolvimento global, tanto a nível cognitivo como afetivo. O aspecto sócio-ambiental, representado pela família e escola, é de vital importância para a aprendizagem. É na família que a criança adquire suas primeiras conquistas intelectuais e afetivas, determinantes na estruturação de seu modelo de aprendizagem, o qual irá utilizar para a conquista do conhecimento.

 

AS VERTENTES RECEPTIVA E EXPRESSIVA

Quanto a vertente receptiva não há tanto a se falar. Trata-se da alteração que interfere na compreensão da linguagem, sendo que esta perda ocorre sem que haja perda auditiva. Essa perda da compreensão lingüística é chamada de agnosia verbal. A agnosia verbal pode gerar perdas nas capacidades de percepção.  Para ilustrarmos esta idéia definiremos linguagem, “ linguagem é um sistema finito de princípios e regras que permitem que um falante codifique significado em sons e que o ouvinte decodifique sons em significado”  (DIANA KAUFMAN, 1996). Logo, se essa capacidade de codificação decodificação forem ausentes num dado ser certamente o mesmo encontrará dificuldades de comunicação.  

No que diz respeito a vertente expressiva trataremos dos distúrbios que podem ocorrer nos níveis: da articulação, fonológico, morfossintático, lexical, e semântico pragmático.

 

Distúrbios da articulação ou dislalias

Para produzirmos os sons é necessário termos controle sobre a musculatura facial, para crianças pequenas coordená-las é uma tarefa mais difícil, pois de acordo com as explicações

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de Cristiane Préneron, caso haja uma pequena alteração na articulação da língua certamente produziremos um som “errado”. De acordo com o grau desta patologia pode-se chegar à impossibilidade da produção de sons por meio da articulação, neste caso trata-se de uma patologia da prexis articulatória.

“A dislalia (do grego dys + lalia) é um distúrbio da fala, caracterizado pela dificuldade em

articular as palavras.” (wikipedia.org).

Ao emitir os sons o portador da dislalia pode omitir fonemas ou mesmo sílabas. Com isso podemos identificar alguns sintomas da dislalia como: omissão (o falante omite como já disse acima fonemas e/ ou sílabas), substituição e deformação dos fonemas. Por exemplo, quando a criança diz “omei”= “tomei” (omissão),“adolo” =  “adoro” (substituição),  ou “Atelântico”= “Atlântico”(acressimo).

O dislálico pode desenvolver uma linguagem normal ou com leves retardos. Nesses casos não se observa problema de ordem articulatória semelhante ao supra citado. Os dislálicos normalmente possuem habilidade s para imitar os sons, e não encontram dificuldade em pronunciar vogais e ditongos.

Essa dificuldade de articulação se dá devido a irregularidades de ordem orgânica ou funcionais. As perturbações orgânicas são oriundas da má formação ou alteração de inervações da língua, abóbada, palatina e os de mais órgãos fonadores. As perturbações de ordem funcionais podem ser oriundas de imitação ou alterações emocionais, ou fatores hereditários.

 

Os distúrbios fonológicos

O distúrbio fonológico apresenta grande ocorrência na população infantil. Por isso é importante a identificação destes problemas durante a infância, uma vez que os sujeitos com distúrbio fonológico tem freqüentemente alteração na sensibilidade fonológica, resultando em dificuldade da aprendizagem da leitura e escrita posteriormente. (GIERUT, 1998).

Alterações da fala caracterizadas pela produção inadequada de sons, e uso inadequado de regras fonológicas da língua afetam o significado da mensagem, e é desta forma que se dá o distúrbio fonológico.

“A desordens do sistema fonológico são bem maiores do que as simples falhas de articulação que podem ser ouvidas nos discursos de crianças muito pequenas... os distúrbios aumentarão com a extensão da palavra.” (PRÉNERON, Christiane, 2006).

Quanto ao diagnóstico, deve-se identificar o inventário fonético da criança, e também analisar as estruturas e palavras, indicando as regras fonológicas usadas pela criança e os contrastes mantidos em sua fala. 

 

Distúrbios da Prosódia

Prosódia é um termo que se refere a pronuncia regular das palavras segundo a acentuação tônica. Desta forma entende-se que os distúrbios da prosódia estão relacionados à deficiência da pronuncia regular ou fluência verbal.

O gaguejamento é uma patologia da prosódia. Pose estar simplesmente ligado ao momento em que a criança está sendo inserida no meio escolar, relacionando-se nesse caso, questões afetivas da criança, ou pode está ligado a lesões cerebrais e traumatismos de ordem psicológica ou psicossomática.

Os gaguejos podem ser discretos ou não, manifestando-se normalmente em momentos de tensão que acabam por bloquear a fala no sujeito, trazendo constrangimentos ao mesmo.

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Os distúrbios morfossintáticos

No aspecto morfossintático há referência ao desenvolvimento da morfologia flexional, assim como as regras de ordenação das palavras. O termo morfologia engloba todos os aspectos da formação das palavras, mas no contexto do desenvolvimento da linguagem este termo é utilizado como abreviatura de morfologia flexional.

“Chama-se Sintaxe a parte da Gramática que descreve as regras pelas quais se combinam as unidades significativas  em frases.” (DUBOIS,1973)

Crianças que possuem distúrbios morfossintáticos tem dificuldades no processo de aquisição da linguagem, pois seu aprendizado é retardado, pois não conseguem aprender enunciados mais complexos com a mesma rapidez das crianças normais.

Este distúrbio está relacionado a capacidade de juntar as palavras e formar frases com s         ignificados lógicos. Desta forma acabará por não atingir o nível de compreensão e combinação na idade correta.

 

As disnomias da lembrança das palavras

Disnomia é a dificuldade na nomeação do objeto. Crianças com dislexia possuem essa característica, claro, agrupada a outras mais perceptíveis. Para detectar as disnomias é necessário um teste de evocação. Pois as particularidades desse distúrbio são muito sutis, podendo estar relacionadas a características fonológicas do léxico.

 

Os distúrbios semântico pragmáticos

Trata-se da função da linguagem em sua dimensão comunicacional. (PRÉNERON, Christiane, 2006). Entendemos então que a síndrome sintática pragmática acontece no nível das inter-relações, em nível de socialização, pois os sujeitos afetados não compreendem a linguagem e sua função. Desta forma não interagem com o mundo a sua volta retraindo-se.

Segundo Préneron essas crianças fazem perguntas freqüentemente, porém não se interessam pela resposta ou não prestam atenção. Não conseguem perceber uma ironia, brincadeira ou metáfora. As características das deficiências pragmáticas são observadas no autismo infantil, que tem como sintoma essencial um severo déficit cognitivo, a mais importante desvantagem dessas crianças em relação às outras. Mesmo as profundas alterações no inter-relacionamento social, típicas do autismo, seriam secundárias ao déficit cognitivo básico. A prevalência sintomatológica começa a ser dada aos déficits cognitivos, em relação ao social. E existe a hipótese do autismo constituir-se num específico prejuízo do mecanismo cognitivo de representação da realidade

 

DISFASIAS

As disfasias são caracterizadas por dificuldade no falar, dificuldades de coordenação e capacidade para ordenar as palavras, por conseqüência de uma lesão no centro nervoso. As disfasias geram distúrbios graves que afetam a aquisição da linguagem em tempo normal e desvios duradouros que podem persistir ao longo da vida.

Conforme a definição do Dicionário de Lingüística, “Na criança, a disfasia é uma perturbação da realização da língua, cuja compreensão foi pouco atingida, e que se deve a um retardamento na aquisição e no desenvolvimento das diversas operações que garantem o funcionamento da língua”.(DUBOIS, 1991). 

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Segundo Paulo Cesar Trevisol-Bittencourt, a função da linguagem encontra-se no hemisfério cerebral dominante, que fica do lado esquerdo do cérebro, em cerca de 90% dos seres humanos. Cada palavra que falamos é elaborada no hemisfério cerebral dominante. E no mesmo hemisfério encontra-se a área responsável pela compreensão e interpretação simbólica da língua. Com isso, concluímos que lesões nessas áreas ocasionarão as disfasias.

Alguns sintomas podem estar associados a portadores de disfasias como: Agrafia, incapacidade de escrever; Acalculia, incapacidade de fazer cálculos; Alexia, impossibilidade de leitura; e Desorientação direita-esquerda, os portadores são incapazes de discernir os lados do corpo.

Hoje existem tratamentos eficazes que são feitos com o acompanhamento de fonoaudiólogos e outros profissionais.

 

CONCLUSÃO

Os distúrbios da língua oral podem ser muito prejudiciais ao desenvolvimento da criança e sua interação no meio social. È de suma importância detectá-las na infância de forma que possam ser diagnosticadas e tratadas a tempo.

Muitos casos, por exemplo, como os que as crianças apresentam lesões cerebrais serão mais dificilmente tratados, mas uma intervenção em tempo oportuno ajudará a integrar o sujeito a sociedade de forma participativa.

Há muita expectativa com relação aos resultados, visto que os estudos nesta área estão avançando.   

 

BIBLIOGRAFIA

PRÉNERON, Chistiane. Distúrbios da linguagem oral e da comunicação na criança. pp. 63-83, São Paulo, 2006.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Dislalia.

HAUFMAN, Diana. A natureza e sua Aquisição. In GERBER, Adele. Problemas de aprendizagem relacionados à linguagem: sua natureza e tratamento. Tradução de Sandra costa. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. pp.51-71.

Pró-Fono R. Atual. Cient. vol.17 no.2  Barueri May/Aug. 2005.

DUBOIS, Jean, Dictionnaire de Linguistique. Paris, Ed. Librarie Larousse (1973), trad. port. Dicionário de Lingüística. São Paulo, Ed. Cultrix (1991).

http://www.psicologia.com.pt/artigos/ver_artigo_licenciatura.php?codigo=TL0086&area=&subarea=

Como ocorre a aprendizagem da leitura e da escritaKétilla Maria Vasconcelos Prado, Lady Dayana de Lima e Silva, Maria do Nazaré de Carvalho, Teresinha Rodrigues Alcântara

[email protected] da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), em Sobral, Estado do Ceará, Brasil2007

Trabalho desenvolvido sob a orientação do Professor Vicente Martins (Universidade Estadual

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Vale do Acaraú, Sobral, Estado do Ceará, Brasil)

Idioma: Português do Brasil Palavras-chave:

Aprendizagem da leitura e da escrita está condicionada a diversos fatores, que poderão contribuir para um bom ou ruim desempenho da aprendizagem leitora e para o desenvolvimento eficaz da linguagem escrita. A escrita apresenta em qualquer língua aspectos da fala. A leitura deve ultrapassar a simples representação gráfica e decodificação de símbolos, é antes de tudo, uma compreensão e entendimento da expressão escrita.

O professor que trabalha com o ensino de leitura e escrita deve, primeiramente, reconhecer a estruturam e organização do sistema gráfico para criar estratégias de ensino, de acordo com sua visão profissional e também pensando nos alunos e suas necessidades, é que, podem centralizar e auxiliar seus alunos na superação de eventuais dúvidas de leitura e ortografia.

Uma das grandes preocupações é que muitos alfabetizadores não têm informação especializada para exercer bem sua função, então se deve pensar em orientações para que esse profissional busque recursos para aprimorar o conhecimento, aprender novas técnicas, pesquisar e ler materiais, livros, artigos de especialistas, que tenham uma visão geral de como ocorre os processos de aquisição da linguagem, da leitura e da escrita.

 Deve-se para tanto reconhecer a estrutura da língua e as principais dificuldades enfrentadas pelos alunos para que possam se tornar instrumentos de intervenção que possibilitem levar os alunos a superar obstáculos e construir o aprendizado.

 E isso é muito gratificante para o profissional, pois ele não se sentirá frustrado nem temeroso, mas sim, capaz de alfabetizar seus alunos, realizando um trabalho sério e bem feito, apoiado em conceitos, análises e experiências, baseando em pesquisas, utilizando assim, os melhores métodos.

Além de possuir conhecimentos referentes ao ensino da disciplina, o professor deve mostrar aos alunos que cada letra (grafema) e representada por unidades sonoras (fonemas) fato que pode dificultar a compreensão do processo de leitura.

 Criar maneiras, oportunidade, para que a criança tenha mais contato com o alfabeto, com as palavras, com os textos, pode levá-los a entender melhor a pronúncia e a escrita de determinadas palavras, que lhes causam confusão. Explicar a origem das mesmas poderá facilitar esse processo.

Mostrar que a língua possui suas regras e arbitrariedades e que será preciso memorizar algumas palavras (forma como se escreve) e em caso de dúvida, é bom ter o dicionário como aliado, poderá auxiliar no desempenho das atividades de leitura e escrita.

È importante comentar que o alfabetizador deve ter consciência em adquirir conceitos relacionados à leitura e escrita, como um processo gradual, em que os estudantes irão alcançar maturidade cognitiva em relação à linguagem. Irão ocorrer alguns erros dos alunos, até que eles por si só (com o auxílio do educador) alcancem um nível de automatização da linguagem. Caber ressaltar as afirmações da autora:

“... muitas crianças chegam a escola num estado de relativa confusão cognitiva em relação, que os objetivos da leitura, quer às propriedades formais da linguagem escrita. O sucesso da aprendizagem da leitura está condicionada pela evolução infantil deste estado de confusão cognitiva para uma  maior classificação dos conceitos funcionais e das características alfabéticas da linguagem escrita” (SILVA. 2003. p.85)

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Alguns alfabetizadores ensinam as palavras através da pronúncia das mesmas, mas deve ficar claro que existem variações nas formas de falar das pessoas, ocorre variações de uma região para outra, então o interessante é relacionar letra e som exemplificando em que situações ocorrem às possibilidades de diferentes pronúncias.

Por exemplo, a palavra “mal” e “mau”, que possuem pronúncias idênticas. O alfabetizador nessa situação deve ensinar, não utilizando uma pronúncia diferente da comum, mas sim utilizando o contexto a significação para que os alunos possam aprender a diferenciar tais palavras.

 Deve respeitar as variedades lingüísticas e tomar cuidado para não cometer discriminação ou algum tipo de preconceito que poderá inibir o aluno, e não, ajuda-lo a aprender. Deve-se mostrar que existem muitas formas de falar, porém que a escrita deve ser única e segue determinadas normas.

È importante que se estimule o desenvolvimento da memória, pois existem várias regras e com algumas exceções que não se encaixam nestas regras ensinadas. Assim deve-se pensar o aluno como um ser capaz, que está em contínuo processo de desenvolvimento.

 Pode-se analisar algumas competências dos alunos através de ditado e promover uma auto-correção, ou seja, apenas sublinhar a palavra errada e pedir aos alunos que pesquisem no dicionário e reescreva corretamente. Esse processo vai permitir uma maior familiarização desenvolvimento da capacidade cognitiva

A leitura deve ser vista como um processo dinamizado pela corrente energética que perpassa todas as relações ocorridas na sala de aula, todos os alunos devem vê-la como uma forma de interação com seus colegas e com o meio. Deve-se enfatizar, no entanto, que deverá existir uma paixão lúcida do professor pela leitura e uma vontade construtiva do aluno que passará a influenciar no processo de aprendizagem da linguagem.

O trabalho com obras literárias deve facilitar o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita, pois a possibilidade de novos olhares e gestos de leitura pode causar transformações efetivas no trabalho escolar e de forma mais direta no trabalho com textos que interagem com o meio literário.

Através do estudo dos processos que envolvem a aquisição leitora podemos distinguir três tipos de problemas significativos na aprendizagem de leitura: as crianças que encontram dificuldades para aprender a ler, as crianças que lêem de forma passiva e as crianças que tem dificuldades na compreensão.

 Os modelos de leituras são elementos que constituem a compreensão dos processos cognitivos implicados na aquisição da literacia. Esses questionamentos são   essenciais para futuros docentes que desejam enriquecer seus conhecimentos tendo uma visão ampla e reflexiva em se tratando de formar alunos com um aprendizado mais satisfatório e eficiente.

Considerando tais fatos muitos estudiosos como Ferreiro, Downing, Chauveau e Hiebert e Raphael desenvolveram vários modelos a partir da década de oitenta, procurando inserir na aprendizagem de leitura um conjunto de fatores cognitivos, sociais e pedagógicos, levando em consideração as singularidades do código alfabético e os componentes utilizados nas atividades leitoras. Esta clareza cognitiva encara como aquisição de uma habilidade aprendizagem de leitura, igualando a situação à destreza de apreensão de qualquer outro aprendizado.

A aquisição da literacia com base nesse modelo corresponde a três fases: cognitiva, de domínio e de automatização. A primeira fase consiste na apropriação das funções e dos aspectos técnicos de atividade de leitura para as crianças, com isso, os aprendizes terão de assimilar os objetivos comunicativos da escrita e descobrir a relação que há entre a linguagem oral e escrita.

Muitas crianças chegam à escola com o que se pode chamar de “confusão cognitiva”, ou seja, num estado de não compreensão e diferenciação tanto das propriedades formais da escrita como dos objetivos da leitura. É esse estado de confusão quando evoluído que gera o bom da aprendizagem leitora, pois assim as crianças vêem de forma mais clara os conceitos

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funcionais e as características alfabéticas da linguagem escrita. As crianças somente alcançarão à segunda fase quando obtiverem uma representação definida da tarefa de ler.

È baseada no exercício das operações básicas da tarefa de ler até conseguir um nível automatizado que se consiste a fase de domínio. Quando as crianças atingem um nível fluente de leitura pode-se dizer que já chegaram a terceira fase ou automatização.

Oito postulados resumem esse modelo, dentre ao quais podemos destacar pontos como a escrita sendo um código visual representativo dos aspectos da fala para qualquer idioma; o processo aquisitivo residir na redescoberta das funções e regras de codificação do sistema escrito; os conceitos em relação às funções e características da linguagem oral e escrita a serem abordados pelas crianças como tarefa de aprender a ler; o alargamento da clareza cognitiva surgia a partir da acumulação de novas sub-habilidades de leitura e a teoria da clareza cognitiva ter aplicação a todas as línguas e sistemas escritos.

Inspirada nos princípios piagetianos a perspectiva psicogenética da aprendizagem de leitura atribui a criança um papel de sujeito ativo que se questiona em frente ao código escrito, ou seja, o objeto de conhecimento a quem tem acesso relativamente cedo.

“as crianças não ficam a espera de ter seis anos e uma professora a frente para começarem a refletir sobre problemas exatamente complexos, e nada impede que uma criança que cresce numa cultura onde a escrita existe reflita também a cerca desse tipo particular de marcas.”

A leitura não é um processo simples, que consiste na aprendizagem de uma série de tarefas mecânicas; é concebida como uma conduta muito complexa e elaborada, de caráter criativo na qual o sujeito é ativo quando a realizar e põe em ação todos os conhecimentos prévios neste caso do tipo lingüístico ou mais especificamente, do tipo gramatical.

 O ato de aprender a ler é sem dúvida o maior desafio que todas as crianças têm que enfrentar nas fases iniciais de sua escolarização. Isto porque o mundo que nos cerca é totalmente dominado por informações escritas. Cabe a criança superar esse desafio e desenvolver essa capacidade leitora o qual é o primeiro passo para cada criança que freqüenta a escola, seja no futuro um cidadão efetivamente livre e independente nas suas decisões.

 Com base nos estudos e investigações sobre o aprendizado da Leitura  bem como suas dificuldades encontramos alguns modelos que favorecem estratégias para o melhor aprendizado da literacia, são modelos que em sua maioria assumem a idéia de que a aprendizagem se inicia com estratégias não alfabéticas, as quais requerem a ligação na memória entre pistas visuais e palavras.

 Todos eles defendem que a compreensão infantil do princípio alfabético é o fator mais importante para se acender a uma leitura fluente. A leitura é aquela em que literalmente lemos e entendemos, ou seja, o entendimento é à base do aprendizado da leitura. Para melhor compreender, vale observar a definição do autor abaixo:

“Em contextos mais gerais, esta base do entendimento é também chamada, pelos psicólogos, de estrutura cognitiva. O termo é bastante bom, porque cognitivo significa conhecimento e estrutura implica organização do conhecimento, e isto é o que, na verdade, temos em nossas cabeças uma organização do conhecimento”. (Smith 2003 p.22)

Aprendemos a ler, através da leitura, acrescentando coisas aquilo que já sabemos. Está claro pelas afirmações acima que a compreensão e o aprendizado da leitura são fundamentalmente a mesma coisa.

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Para entendermos melhor o processo de compreensão leitora, devemos considerar o que já temos em nossas mentes que nos permite extrair um sentido de mundo ou o que chamamos de “conhecimento prévio”.

Outro saber que implica numa capacidade fundamental, a competência grafo- fonética e a de decodificação. Decodificar além de requerer o desenvolvimento da reflexão e manipulação sobre a língua oral, considerando o sistema de escrita alfabético exige também, o conhecimento dos valores fônicos das letras e suas combinações.

Na descoberta e exploração textual, são necessárias dois tipos de competências básicas, as verbo-preditivas que se servem do contexto lingüístico e as textuais que controlam as estruturas e estabelecem ligações entre as partes de um texto.

Os mecanismos que constituem a compreensão leitora são estudos fundamentais para educadores quem desejam enriquecer seus conhecimentos sendo capaz de fazer a diferença no aprendizado escolar.

 

BIBLIOGRAFIA

SMITH, Frank. Compreendendo a leitura: uma análise psicolingüística da leitura e do aprender a ler. 4ª ed. Tradução de Daíse Batista. Alegre: Artemed, 2003

http://www.psicologia.com.pt/artigos/ver_artigo_licenciatura.php?codigo=TL0084&area=&subarea=

Como a experiência influencia a aquisição da linguagemMárcia Rejane Alves Rodrigues, Maria Neuma Freire Araújo

[email protected] da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), em Sobral, Estado do Ceará, Brasil2007

Trabalho desenvolvido sob a orientação do Professor Vicente Martins (Universidade Estadual Vale do Acaraú, Sobral, Estado do Ceará, Brasil)

Idioma: Português do Brasil Palavras-chave:

Este artigo vem ilustrar de forma sintética os principais pressupostos da teoria do comportamento, mais conhecida como Behaviorismo1, tese embasada na corrente filosófica empírica, onde trata do conhecimento humano, incluindo a Aquisição da Linguagem, como sendo conseguido através das experiências vividas por cada indivíduo.

Como ocorre a aquisição da Linguagem? Que processos acontecem na mente de um indivíduo, quando este está aprendendo a falar determinada língua? O que está por trás desse processo de aquisição? O que influencia, favorece e/ou desfavorece essa aquisição?

Essas perguntas tem sido alvo de muitos estudos, desde muito cedo até hoje. E, como resposta dessas perguntas tem-se um acervo de teorias. Todas vêm contribuindo para novas descobertas, de uma maneira ou de outra, pois, a partir de suas postulações vem se especular mais, e pode ser que se esteja chegando cada vez mais próximo de responder com firmeza o que está em questão.

Uma das teses que se tem sobre a aquisição e o desenvolvimento da linguagem é a tese Behaviorista. E esta teoria, assim como todas as correntes teóricas “aquisicionistas” fazem ou fizeram suas especulações voltadas para fatos lingüísticos infantis.

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O Behaviorismo é baseado numa proposta empirista cuja

 ...não considerava a mente como um componente fundamental para justificar o processo de aquisição. Para ela, importava o fato de o conhecimento humano ser derivado da experiência e de a única capacidade inata que ele possuía ser aquela de formar associações entre estímulos ou entre estímulos e respostas (E-R). (DEL RÉ et al., 2006).

Ou seja, o empirismo é uma corrente filosófica que afirma que todo e qualquer conhecimento deriva das experiências vividas por cada indivíduo.

Burruhs F. Skinner, psicólogo americano, um dos mais importantes behavioristas, acredita ter encontrado a explicação para o processo de aquisição do conhecimento humano de um modo geral, incluindo, certamente, o processo de aquisição da linguagem. “Skinner propunha ser capaz de predizer e controlar o comportamento verbal mediante variáveis que controlam o comportamento”2: estímulo-resposta, imitação e reforço. Sendo indutivo, o processo de aquisição do conhecimento.

Essa proposta afirma que um estímulo provoca uma resposta externa. Se esta resposta for reforçada positivamente, espera-se que esse comportamento se repita várias vezes. Já no caso da resposta ser reforçada negativamente, este comportamento tenderá a ser eliminado. E, no caso de não haver esforço algum, o comportamento também propende a não se repetir mais.

Hipoteticamente, uma criança deitada e acordada, ouve a voz de sua mãe (estímulo) e começa a chorar (resposta). Sua mãe vem e a coloca nos braços (reforço positivo). Essa ação da mãe faz com que a criança aprenda que, quando ela quiser ir para sua mãe, ela deverá chorar.

Para se aprender a falar o processo é o mesmo. Por exemplo, uma criança vê uma outra, mais velha, comendo chocolate (estímulo), e diz “dá” (resposta); se a criança mais velha lhe der um pedaço do chocolate, essa ação será, segundo Skinner, um reforço positivo, o que fará com que ela mantenha esse comportamento. Caso a criança mais velha não lhe ceda o chocolate (reforço negativo), ela não mais agirá dessa forma quando desejar algo semelhante.

O ambiente fornece os estímulos - neste caso, estímulos lingüísticos - e a criança fornece as respostas - tanto pela compreensão como pela produção lingüística. A criança, por esta teoria, durante o processo de aquisição lingüística, é recompensada ou reforçada na sua produção pelos adultos que a rodeiam (VICENTE MARTINS)3.

A imitação também é uma forma muito influente na aprendizagem da fala, já que as crianças aprendem muitas palavras através da imitação da fala de outras pessoas que falam próximo a ela. É muito comum ver crianças repetindo palavras que adultos ou crianças mais velhas próximas a elas falam.

Dessa forma, o Behaviorismo postula que o aprendizado da língua é semelhante ao de qualquer outro aprendizado, sendo adquirido através de reforços e privações.

A visão que os behavioristas tinham sobre a aquisição da linguagem assumia a afirmativa que as crianças nascem com comportamento inato preexistente, mas de forma bem reduzido. Por exemplo, acreditavam que as crianças possuíam, inativamente, algumas habilidades que seriam gerais.

Primeiramente, ela seria capaz de vocalizar. Depois, seria capaz de processar a vocalização de outros e presumivelmente, reconhecer similaridades entre essas e suas próprias vocalizações. Em terceiro lugar, teria a capacidade de relacionar a vocalização

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'mamãe' com o contexto da mãe. Chamemos a isso a capacidade de formar associações. Além disso, a criança nasceria com impulsos básicos que a motivariam a formar associações. Por exemplo, um desses impulsos seria a necessidade de alimentação. As associações reais que se formariam, tais como entre a palavra ‘mamãe’, são resultados dessa experiência. (INGRAM,  1989).4

Apesar da explicação que o Behaviorismo oferece para entendermos a Aquisição da linguagem, encontra-se fatos que esta teoria não explica. Um deles é o evento de se conseguir produzir frases nunca ouvidas antes, como também compreendê-la; outro, é a rapidez do processo, pois uma criança de quatro anos, por exemplo, já utiliza um conjunto grandioso de regras da língua-mãe; um outro ponto seria o caso que ocorre com praticamente todas as crianças que estão aprendendo a falar que é o de dizer palavras que elas nunca ouviram antes mas, percebendo-se que nestas palavras a criança utiliza a forma regular em verbos irregulares, quando dizem, por exemplo, as palavras sabo, fazeu. Todos os casos citados negam, de certa forma, as postulações do Behaviorismo, fazendo crer que as crianças analisam a língua que falam e a partir daí produzem novas palavras.

Enquanto não se descobre qual a teoria certeira para explicar o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem de forma completa, uma certeza já há: a tese behaviorista trouxe grandes descobertas para os estudos da Aquisição da Linguagem contribuindo consideravelmente para os estudos envoltos a questão de como o ser humano adquire a língua que fala e como esse processo se desenvolve, portanto, deve ser valorizada e tida como grande tributária na caminhada de descoberta dessa grande “capacidade” do ser humano.

NOTAS

1. O termo Behaviorismo deriva da palavra inglesa behavior que significa comportamento.

2. Esta citação foi tirada de uma apostila que não possuía as referências bibliográficas, inclusive o nome do autor.

3. O ano da publicação não foi colocado porque não conseguimos localizá-lo na fonte pesquisada.

4. Esta citação é uma tradução feita pelos autores do artigo do qual ela foi retirada, no entanto, a citação original é de autoria de INGRAM.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AUGUSTO, M. R. A. (jul./dez. 1995) Teoria gerativa e aquisição da linguagem. Feira de Santana. p. 115-120.MARTINS, V. A teoria behaviorista da aquisição da linguagem. http://www.profala.com/arteducesp71.htm. Acesso em: 22/01/2007.RÉ, A. D. et al. (2006). Aquisição da Linguagem uma abordagem psicolingüística. Editora contexto. São Paulo.http://www.psicologia.com.pt/artigos/ver_artigo_licenciatura.php?codigo=TL0072&area=&subarea=

Como a linguagem organiza nosso pensamentoDaniele Pontes Passos, Patricia Andrade

[email protected] da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), em Sobral, Estado do Ceará, Brasil2007

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Trabalho desenvolvido sob a orientação do Professor Vicente Martins (Universidade Estadual Vale do Acaraú, Sobral, Estado do Ceará, Brasil)

Idioma: Português do Brasil Palavras-chave:

A linguagem permite ao homem ligar o presente ao passado e antecipar o futuro. É através dela que o homem pensa, lembra, elabora conceitos, organiza suas experiências, trabalha no nível de abstração, prevê, julga, planeja, idealiza.

Diante da necessidade de se explicar como e de que modo à criança vai adquirindo a linguagem desde o momento em que nasce até os modos de expressão verbal e não verbal, os estudiosos começam a se preocupar com a aquisição e desenvolvimento e processamento da linguagem.

Surgem então as principais teorias que abordam sobre o processo de Aquisição da linguagem, entre elas o behaviorismo. Este termo behaviorismo foi inaugurado pelo americano Jonh B. Watson, em um artigo de 1913 que apresentava o título Psicologia como os behavioristas a vêem. O termo inglês behavior significa comportamento, daí se denomina esta tendência teórica de behaviorismo. Mas, também, utilizamos outros nomes para designá-la, como comportamentalismo, teoria comportamental, análise experimental do comportamento.

Esta teoria no que se refere ao processo de aquisição da linguagem teve como base a proposta empirista sendo que esta não considerava a mente como um componente fundamental para justificar o processo de aquisição. Para a proposta empirista importava o fato de o conhecimento humano ser derivado da experiência e de a única capacidade inata que ele possuía ser aquela de formar associações entre estímulos e respostas (E-R).Os estímulos e respostas são, portanto, as unidades básicas da descrição deste processo de aquisição e o ponto de partida para uma ciência do comportamento.

A teoria behaviorista parte do pressuposto que a criança é uma “tábula rasa”, ou seja, que ela nada traz consigo e que tudo o que ela aprende é adquirido através de experiências com o meio, ambiente, ou seja, através de um processo de integração com o outro. E esta só desenvolve seus conhecimentos lingüísticos por meio de estímulo-resposta (E-R), imitação e reforço. E assim para B.F. Skinner o mais importante dos behavioristas que sucedem Watson, a linguagem pode ter um reforço positivo, onde o comportamento, ou seja, a linguagem se manteria. E assim qualquer coisa que faça crescer a possibilidade de que resposta ocorra é vista como reforço positivo. Alimento, elogio, dinheiro, um balançar de cabeça e um sorriso são exemplos de reforço positivo.

Existe também o reforço negativo, aquele que provoca uma resposta de esquiva, isto é, o indivíduo evita determinado comportamento com medo de punição. Um exemplo claro disso, é de uma criança, pois quando fala algo que seus pais não gostam, estes então a repreendem com um castigo, e então, ela vai ficar com receio e percebe que isto não é bem aceito por seus pais.

A imitação também é um fator de grande importância neste processo de aquisição da linguagem, pois a criança diante da interação com outras crianças e com os adultos, começa a imitá-los e isso chama a atenção dos adultos e eles passam a incentivá-la ou recompensá-la por essa imitação.

Watson e Skinner são os dois grandes nomes do behaviorismo. Todavia, outros tantos se destacam como Clark Hull, Dollard, Miller, Tolmun, Guthrie, etc. Diante disso, não existe só uma teoria estímulo resposta (E-R), mas um grupo de teorias, mais ou menos semelhantes, embora tendo cada uma delas ao mesmo tempo algumas qualidades distintas. E foi assim que esses sistemas começaram, como tentativas para avaliação da aquisição e retenção de novas formas de comportamento que apareciam com a experiência. E é por isso que se dá grande ênfase ao processo de aprendizagem.

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De acordo com as teorias comportamentalistas, os modelos da personalidade e principalmente do processo de aquisição da linguagem são resultados das respostas aprendidas aos estímulos do ambiente.

Skinner é o fundador da maior escola de pensamento na psicologia (E-R). Ele realmente fundou um sistema que se baseia no behaviorismo de Watson e nos conceitos de estímulo, resposta e reforço. Segundo seu conceito, reforço é qualquer estímulo que torne mais forte a resposta que leva de volta ao estímulo. Skinner distingue entre dois tipos de aprendizagem: a respondente e a operante. Para ele, o tipo operante é mais importante, desde que envolve formas mais complexas de aprendizagem. Na aprendizagem operante, as situações devem ser arranjadas de modo que a resposta desejável seja relacionada ao reforço. Exemplo: em uma instituição, um cientista gostaria de levar um dos internos ao laboratório para estudo, e toda vez que este interno passava pela porta do laboratório, o cientista lhe sorria e lhe dava bombons, coisa que o indivíduo muito apreciava. Com o tempo, o sujeito passou a esperar o sorriso e os bombons por parte do cientista. Posteriormente, este não apareceu à porta do laboratório e o interno, toda vez que por ali passava, olhava ansiosamente para dentro do laboratório, até que, um dia, acabou por entrar (busca do estímulo). Como se pode ver, a situação foi arranjada, usando-se um reforço para que o indivíduo desse a resposta desejada, que era entrar no recinto da pesquisa.

É percebível que a contribuição do behaviorismo para os estudos de aquisição da linguagem é muito significativa, pois é através das nossas relações com os outros, em que a linguagem se coloca como fator primordial, é que vamos elaborar nossas representações do que é mundo. A palavra está, então, intimamente ligada à transmissão ou imposição da ideologia dominante. E assim seu desenvolvimento em todos os aspectos se dá em um meio social - lembremos que as palavras dos outros se tornam nossas palavras, sua maneira de falar, nossa maneira de falar, as idéias que eles veiculam através da palavra se tornam nossas idéias e as respostas esperadas ao estímulo de meio social. Assim, por exemplo, se uma criança usa uma palavra ligada a sexo, em nossa cultura, ela é reprovada com uma cara fechada, palavras de repreensão ou mesmo um castigo. Ela aprende três coisas: que a palavra não pode ser dita; que se for dita será considerada como agressão; e, ainda, que o sentido implícito, sexo, não é algo bem aceito em sua sociedade. É partindo deste pressuposto que a linguagem pode estimular diretamente um padrão de resposta específico e isto é crucial na aprendizagem e na elaboração mental.

Portanto, é a partir da teoria behaviorista que são conhecidos os métodos de ensino programado e o controle e organização das situações de aprendizagem, bem como a elaboração de uma tecnologia de ensino, pois a análise experimental do comportamento auxilia-nos a descrever nossos comportamentos em qualquer situação ajudando-nos a modificá-la. E assim, percebe-se que a interação e a comunicação entre os indivíduos são as conseqüências mais evidentes no processo de aquisição da linguage

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SCARPA, Ester Mirian. Aquisição da linguagem. In MUSSALIM, Fernanda; BENTES Anna Christinna (orgs). Introdução à lingüística: domínios e fronteiras, V.Z. São Paulo: Cortez, 2001.

SANTOS, Raquel. A aquisição da linguagem.

FIORIN, José Luiz (org.) Introdução à lingüística: I. objetos teóricos. São Paulo: contexto, 2002.

DEL RÉ, Alessandra. Aquisição da Linguagem: uma abordagem psicanalingüística. São Paulo: Contexto, 2006.

http://www.psicologia.com.pt/artigos/ver_artigo_licenciatura.php?codigo=TL0073&area=&subarea=