como a justiça pode proteger uma mulher vítima de agressão

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Lei Maria da Penha: como aplicarno dia a dia

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  • Lei Maria da Penha: como aplicar no dia a dia

  • Tribunal de Justia de Minas Gerais

    Desembargador Pedro Carlos Bitencourt Marcondes Presidente

    Desembargador Fernando Caldeira Brant 1 Vice-Presidente

    Desembargador Kildare Gonalves Carvalho 2 Vice-Presidente

    Desembargador Wander Paulo Marotta Moreira 3 Vice-Presidente

    Desembargador Antnio Srvulo dos Santos Corregedor-Geral de Justia

    Desembargador Marclio Eustquio Santos Vice-Corregedor-Geral de Justia

    Desembargadora Evangelina Castilho Duarte superintendente da Comsiv

    Coordenadoria da Mulher em Situao de Violncia Domstica e Familiar do Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais - COMSIV:

    [email protected]

  • Tribunal de Justia de Minas Gerais - Coordenadoria da Mulher em

    Situao de Violncia Domstica e Familiar (Comsiv) ................... ..7

    1. Por que a Lei 11.340/2006, que criou mecanismos para coibir a

    violncia domstica e familiar contra a mulher, chamada Lei Maria

    da Penha? ................................................................................7

    2. Que tipo de violncia combatida pela Lei Maria da Penha? ..... ..9

    3. Quais so os tipos de violncia domstica? .............................. ..9

    4. O que fazer no caso de ser vtima de violncia domstica ou familiar? .....10

    5. Qual a diferena entre uma ofensa normal contra a mulher e uma

    agresso prevista na Lei Maria da Penha? ...................................11

    6. Quem pode ser agressor de acordo com a Lei Maria da Penha? ........12

    7. Quem pode denunciar a prtica de violncia contra a mulher? ...12

    8. Que rgo da Justia julga as questes de violncia domstica ou

    familiar? ..................................................................................12

    9. Que medidas podem ser dirigidas ao agressor para proteger a vtima? .....13

    10. Que outras medidas podem ser tomadas para proteger a vtima? ....14

    11. possvel a priso do agressor? Por quanto tempo? ................15

    12. Em caso de ajuizamento de processos de famlia (separao/divr-

    cio judicial, guarda, alimentos), o que acontece com o processo por

    agresso mulher? ..................................................................16

    13. Medidas de assistncia mulher vtima de violncia de violncia

    domstica ou familiar ...............................................................16

    14. Inovaes da Lei Maria da Penha .........................................17

  • 15. Autoridade policial..............................................................18

    16. Processo judicial ................................................................20

    17. Mitos e fatos sobre a violncia domstica .............................20

    18. Por que as mulheres permanecem tanto tempo em uma relao violenta? .................................................................................22

    19. Servios de atendimento mulher no Estado de Minas Gerais .23

    20.Outros telefones e endereos teis .........................................24

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    Tribunal de Justia de Minas Gerais

    Coordenadoria da Mulher em Situao de Violncia Domstica e Familiar (Comsiv)

    Em 7 de agosto comemora-se o aniversrio da Lei 11.340/2006, mais conhecida como Lei Maria da Penha. Essa data um marco no tratamento da situao de violncia domstica ou fa-miliar contra a mulher no Brasil.

    O Estado tem o dever de assegurar assistncia a cada um dos integrantes da famlia, criando mecanismos para coibir a violn-cia no mbito de suas relaes, conforme preconizado pelo art. 226, 8, da Constituio. Cabe ao Poder Pblico desenvolver polticas que visem a garantir os direitos humanos das mulheres na seara das relaes domsticas e familiares, como prev o art. 3, 1, da Lei 11.340/2006.

    de grande importncia o acesso da mulher informao sobre seus direitos, sobre as formas de exerc-los e sobre os progra-mas do governo que tm por finalidade oferecer apoio s mulhe-res vtimas de violncia domstica e familiar.

    Diante desses objetivos, a Coordenadoria da Mulher em Situ-ao de Violncia Domstica e Familiar (COMSIV-MG) apre-senta, numa linguagem simples e acessvel, os avanos da Lei 11.340/2006, no intuito de conscientizar toda a sociedade so-bre a necessidade de promover o combate violncia domstica e familiar contra a mulher.

    1. Por que a Lei 11.340/2006, que criou mecanismos para coibir a violncia domstica e familiar contra a mulher, chamada Lei Maria da Penha?

    A Lei Maria da Penha recebeu esse nome em homenagem bio-farmacutica cearense Maria da Penha Maia Fernandes, que,

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    aps ter sofrido duas tentativas de homicdio por seu marido, lutou para a criao de uma lei que contribusse para a diminui-o da violncia domstica e familiar contra a mulher.

    Na primeira tentativa, Marco Antnio Heredia deu um tiro em Maria da Penha e ela ficou paraplgica. Na segunda vez, Marco Antnio tentou eletrocut-la durante o banho.

    Em 1998, o Centro para a Justia e o Direito Internacional e o Comit Latino-Americano do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher, juntamente com Maria da Penha Maia Fernandes, com o apoio de ONGs brasileiras, encaminharam petio, contra o Estado brasileiro, Comisso Interamerica-na dos Direitos Humanos da Organizao dos Estados Ame-ricanos (OEA), sob a alegao de que, passados 15 anos da agresso, ainda no havia uma deciso final de condenao pelos tribunais nacionais, e o agressor ainda se encontrava em liberdade.

    No ano de 2001, a Comisso Interamericana de Direitos Humanos, em seu Relatrio 54/01, responsabilizou o Estado brasileiro por negligncia, omisso e tolerncia em relao violncia domstica contra mulheres. O rgo recomendou que fosse criada uma legislao adequada a esse tipo de violncia.

    O Caso Maria da Penha, que recebeu o nmero 12.051, foi o primeiro caso de aplicao da Conveno de Belm do Par.

    O agressor demorou a ser julgado e, quando condenado, ficou apenas dois anos na priso, demonstrando o descaso com que era tratado esse tipo de violncia.

    Com a entrada da Lei 11.340/2006 pretendeu-se mudar essa

    situao, criando-se mecanismos mais rigorosos para coibir a

    violncia domstica e familiar contra a mulher.

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    2. Que tipo de violncia combatida pela Lei Maria da Penha?

    Qualquer ao ou omisso baseada no gnero que cause morte, leso, sofrimento fsico, sexual ou psicolgico e dano moral ou patrimonial mulher, independentemente de sua classe, raa, etnia, orientao sexual, renda, cultura, nvel educacional, ida-de e religio.

    A violncia pode ocorrer:

    I. no mbito da unidade domstica, compreendida como o espao de convvio permanente de pessoas, com ou sem vnculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

    II. no mbito da famlia, compreendida como a comuni-dade formada por indivduos que so ou se consideram aparentados, unidos por laos naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

    III. em qualquer relao ntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independen-temente de coabitao.

    3. Quais so os tipos de violncia domstica?

    Violncia fsica: qualquer conduta que ofenda a integridade ou a sade corporal da mulher.

    Violncia psicolgica: qualquer conduta que cause mulher dano emocional e diminuio da autoestima ou que lhe preju-dique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas aes, comportamentos, crenas e decises, mediante ameaa, constrangimento, humilhao, manipulao, isolamento, vigilncia constante, perseguio contumaz, insulto, chantagem, ridicularizao, explorao e limitao do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuzo sade psicolgica e autodeterminao.

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    Violncia sexual: qualquer conduta que constranja a mulher a presenciar, a manter ou a participar de relao sexual no de-sejada, mediante intimidao, ameaa, coao ou uso da fora, que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impea de usar qualquer mtodo con-traceptivo ou que a force ao matrimnio, gravidez, ao abor-to ou prostituio, mediante coao, chantagem, suborno ou manipulao, ou que limite ou anule o exerccio de seus direitos sexuais e reprodutivos.

    Violncia patrimonial: qualquer conduta que configure reteno, subtrao, destruio parcial ou total de objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recur-sos econmicos da mulher, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades.

    Violncia moral: qualquer conduta que configure calnia, difa-mao ou injria.

    4. O que fazer no caso de ser vtima de violncia domstica ou familiar?

    A mulher dever procurar a delegacia de polcia mais perto de sua casa para registrar uma ocorrncia policial. Se preferir, pode se dirigir a uma Delegacia Especializada de Defesa da Mulher.

    Pode entrar em contato com a Central de Atendimento Mu-lher Ligue 180 , de forma gratuita, de qualquer localidade em territrio nacional, 24 horas por dia, inclusive em feriados e finais de semana. Pode tambm telefonar para a Polcia Militar, no telefone 190, e para a Polcia Civil, no 197.

    Havendo necessidade de atendimento mdico, pode telefonar para o SAMU, no 192.

    Aps o registro da ocorrncia, pode procurar atendimento em diversos rgos, cujos telefones esto disponibilizados ao final desta cartilha. So eles:

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    - Delegacias de Polcia, principalmente as Especializadas na Defesa da Mulher;

    - Defensoria Pblica;

    - Ministrio Pblico;

    - centros e casas de atendimento;

    - casas-abrigo;

    - ONGs e associaes de defesa da mulher.

    5. Qual a diferena entre uma ofensa normal contra a mulher e uma agresso prevista na Lei Maria da Penha?

    Na agresso comum, a mulher no possui qualquer temor reve-rencial ao seu agressor e busca se defender por todos os meios que estiverem sua disposio.

    Na violncia domstica ou familiar, a vtima tem menos recur-sos de defesa, por acreditar que tenha dever de obedincia ao agressor, por ser dele dependente ou mesmo por ter vergonha de assumir que vtima de tais agresses.

    Outra diferena que, em uma agresso comum, cada uma das partes envolvidas toma rumo diferente, sem risco de que a violncia tenha prosseguimento. J na violncia domstica ou familiar, a vtima se v obrigada a conviver com seu agressor no mesmo lar ou nos mesmos ambientes, o que pode originar novas situaes de violncia.

    (Fonte: Cartilha do Tribunal de Justia e da Escola Superior de Ma-

    gistratura da Paraba. Lei Maria da Penha. Do papel para a vida.

    Paraba: 2011)

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    6. Quem pode ser agressor de acordo com a Lei Maria da Penha?

    Toda pessoa, independentemente do sexo, que exera certo poder sobre a mulher, que a torne incapaz de se defender pelos meios normais. Assim, em princpio, esto includas as agresses entre casais homossexuais, entre irm(o) e irms, me e filha etc.

    Comumente, as agresses ocorrem nas relaes entre marido e mulher, mas h tambm a possibilidade de elas ocorrerem entre companheiro e companheira, pai e filha, tio e sobrinha, patro e empregada, namorado e namorada etc.

    7. Quem pode denunciar a prtica de violncia contra a mulher?

    dever de todos, especialmente dos mais prximos, que acompa-nham o sofrimento da vtima, denunciar o caso polcia, ao Minis-trio Pblico, Justia ou a outro rgo de proteo s mulheres.

    As aes penais referentes violncia domstica so pblicas incondicionadas, ou seja, so aquelas movidas pelo Ministrio Pblico independentemente de representao da vtima, portanto independem da vontade da vtima. Assim, qualquer pessoa pode denunciar o caso, a fim de repelir a continuidade da agresso.

    O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Ao Direta de Inconstitucionalidade (ADIn) 4.424/DF, estabeleceu que, nos casos de leso corporal no mbito domstico, seja leve, grave ou gravssima, dolosa ou culposa, a ao penal sempre pblica incondicionada, ou seja, independe da vontade da vtima.

    8. Que rgo da Justia julga as questes de violncia domstica ou familiar?

    A lei prev a criao de juizados de violncia domstica e fami-liar contra a mulher, rgos da Justia Ordinria com compe-

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    tncia cvel e criminal, a serem criados pela Unio, no Distrito Federal e nos Territrios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execuo das causas decorrentes da prtica de violncia domstica e familiar contra a mulher.

    Onde no h juizados, compete aos juzos criminais o julga-mento das causas de violncia domstica ou familiar, inclusive o deferimento de medidas protetivas, com preferncia em rela-o aos demais processos.

    Em Belo Horizonte, existem trs Varas Criminais Especializadas em Violncia Domstica, a 13, a 14 e a 15 Varas Criminais, situadas na Avenida Olegrio Maciel, 600, Belo Horizonte.

    Para melhor ateno mulher vtima de violncia domstica ou familiar, os processos cveis regidos pela Lei Maria da Penha (referentes a medidas protetivas) podem ser propostos no seu domiclio ou residncia, no lugar da ocorrncia da agresso ou no domiclio do agressor.

    9. Que medidas podem ser dirigidas ao agressor para proteger a vtima?

    O juiz poder aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgncia, entre outras:

    I. suspenso da posse ou restrio do porte de armas, com comunicao ao rgo competente, nos termos da Lei 10.826, de 22 de dezembro de 2003;

    II. afastamento do lar, domiclio ou local de convivncia com a ofendida;

    III. proibio de determinadas condutas, entre as quais:

    a. aproximar-se da ofendida, de seus familiares e das teste-munhas, fixando o limite mnimo de distncia entre estes e o agressor;

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    b. entrar em contato com a ofendida, seus familiares e teste-munhas por qualquer meio de comunicao;

    c. frequentar determinados lugares, a fim de preservar a inte-gridade fsica e psicolgica da ofendida;

    IV. restrio ou suspenso de visitas aos dependentes me-nores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou servio similar;

    V. prestao de alimentos provisionais ou provisrios.

    10. Que outras medidas podem ser tomadas para proteger a vtima?

    Poder o juiz, quando necessrio, sem prejuzo de outras medidas:

    I. encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitrio de proteo ou de atendimento;

    II. determinar a reconduo da ofendida e a de seus de-pendentes ao respectivo domiclio, aps afastamento do agressor;

    III. determinar o afastamento da ofendida do lar, sem pre-juzo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;

    IV. determinar a separao de corpos.

    E para a proteo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz poder determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:

    I. restituio de bens indevidamente subtrados pelo agres-sor ofendida;

    II. proibio temporria da celebrao de atos e contratos de compra, venda e locao de propriedade em comum, salvo expressa autorizao judicial;

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    III. suspenso das procuraes conferidas pela ofendida ao agressor;

    IV. prestao de cauo provisria, mediante depsito judi-cial, por perdas e danos materiais decorrentes da prtica de violncia domstica e familiar contra a ofendida.

    11. possvel a priso do agressor? Por quanto tempo?

    A priso do agressor possvel somente em casos de risco real integridade fsica da vtima, por ser medida de exceo extrema.

    Alm da priso em flagrante, existe a priso preventiva, que deve obedecer aos requisitos do art. 312 do Cdigo de Processo penal, ou seja, ela apenas se justifica para garantia da ordem pblica, da ordem econmica, por convenincia da instruo criminal, ou para assegurar a aplicao da lei penal, quando houver prova da existncia do crime e indcio suficiente de autoria.

    Mas a Lei Maria da Penha alterou o Cdigo de Processo Penal, prevendo a possibilidade de priso preventiva se o crime envol-ver violncia domstica e familiar contra a mulher, nos termos da lei especfica, para garantir a execuo das medidas proteti-vas de urgncia.

    A priso preventiva do agressor pode ser decretada pelo juiz, de ofcio, a requerimento do Ministrio Pblico ou mediante representao da autoridade policial, pelo perodo mximo de 81 dias, o tempo mximo de concluso do processo criminal.

    O juiz poder revogar a priso preventiva se, no curso do pro-cesso, verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de novo decret-la, se sobrevierem razes que a justifiquem.

    A ofendida dever ser notificada dos atos processuais relativos ao agressor, especialmente dos pertinentes ao ingresso e sada da priso, sem prejuzo da intimao do advogado constitudo ou do defensor pblico.

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    12. Em caso de ajuizamento de processos de famlia (separao/divrcio judicial, guarda, alimentos), o que acontece com o processo por agresso mulher?

    A Lei Maria da Penha prev a aplicao tanto de medidas crimi-nais a realizao do processo criminal, a aplicao de penas e a priso do agressor como de medidas cveis o afastamento do lar, o pagamento de penso etc.

    Os processos de famlia, como separao/divrcio judicial, guarda e alimentos, correm nas varas de famlia e no nas varas criminais que cuidam dos processos da Lei Maria da Pe-nha. O que o juiz de famlia decide prevalece sobre as medi-das de urgncia concedidas pelos juzes criminais. Por exem-plo, a deciso do juiz de famlia sobre a penso alimentcia prevalece sobre os alimentos fixados em medida de urgncia pelo juiz criminal na aplicao da Lei Maria da Penha.

    13. Medidas de assistncia mulher vtima de violncia de violncia domstica ou familiar

    As mulheres vtimas de violncia domstica ou familiar, muitas vezes, dependem financeiramente de seus maridos, compa-nheiros, pais, avs, que tambm so seus agressores. Diante disso o art. 9 da Lei Maria da Penha prev que:

    - O juiz poder determinar, por prazo certo, a incluso da mu-lher em situao de violncia domstica e familiar no cadastro de programas assistenciais dos governos federal, estadual e municipal. Exemplos: Bolsa Famlia, programas de cesta b-sica, vaga nas escolas e creches etc.

    - Para as mulheres que trabalham, o juiz poder determinar: I - acesso prioritrio remoo quando servidora pblica, in-tegrante da administrao direta ou indireta; II - manuteno do vnculo trabalhista, quando necessrio o afastamento do local de trabalho, por at seis meses.

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    - Para a mulher vtima de violncia sexual, ser garantido o acesso aos benefcios decorrentes do desenvolvimento cien-tfico e tecnolgico, incluindo os servios de contracepo de emergncia, a profilaxia das doenas sexualmente transmis-sveis (DST) e da sndrome da imunodeficincia adquirida (AIDS) e outros procedimentos mdicos necessrios e cabveis nos casos de violncia sexual.

    14. Inovaes da Lei Maria da Penha

    - Tipifica e define a violncia domstica e familiar contra a mulher.

    - Estabelece as formas de violncia domstica ou familiar con-tra a mulher: fsica, psicolgica, sexual, patrimonial e moral.

    - Determina que a violncia domstica contra a mulher inde-pende de sua classe, raa, etnia, orientao sexual, renda, cultura, nvel educacional, idade e religio.

    - Ficam proibidas as penas de doao de cesta bsica ou outras de prestao pecuniria, bem como a substituio de pena que implique o pagamento isolado de multa.

    - A ofendida dever ser notificada dos atos processuais relati-vos ao agressor, especialmente dos pertinentes ao ingresso e sada da priso, sem prejuzo da intimao do advogado constitudo ou do defensor pblico.

    - Como forma de proteo mulher vtima de agresso, ela no poder entregar intimao ou notificao ao agressor.

    - Em todos os atos processuais, cveis e criminais, a mulher em situao de violncia domstica e familiar dever estar acom-panhada de advogado, ressalvada a hiptese de concesso de medida protetiva.

    - garantido a toda mulher em situao de violncia domsti-ca e familiar o acesso aos servios da Defensoria Pblica ou

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    de assistncia judiciria gratuita, nos termos da lei, em sede policial e judicial, mediante atendimento especfico e huma-nizado.

    - Altera o Cdigo de Processo Penal para possibilitar ao juiz a decre-tao da priso preventiva quando houver riscos integridade fsica ou psicolgica da mulher.

    - Altera a Lei de Execues Penais para permitir ao juiz que determine o comparecimento obrigatrio do agressor a progra-mas de recuperao e reeducao.

    - Retira dos juizados especiais criminais (Lei 9.099/95) a compe-tncia para julgar os crimes de violncia domstica contra a mulher, impedindo qualquer tipo de conciliao, a aplicao da composio civil dos danos, transao penal e suspenso condicional do processo nos casos de violncia domstica e familiar contra a mulher (at mesmo quando consubstancia contraveno penal).

    - Determina a criao de juizados de violncia domstica e familiar contra a mulher, rgos da Justia Ordinria com competn-cia cvel e criminal, para o processo, o julgamento e a execu-o das causas decorrentes da prtica de violncia domstica e familiar contra a mulher.

    - Enquanto no estruturados os juizados de violncia domstica e familiar contra a mulher, as varas criminais acumularo as competncias cvel e criminal para conhecer e julgar as cau-sas decorrentes da prtica de violncia domstica e familiar contra a mulher. Nesse caso, ser garantido o direito de pre-ferncia, nas varas criminais, para o processo e o julgamento dessas causas.

    15. Autoridade policial

    No atendimento mulher em situao de violncia domstica e familiar, a autoridade policial dever, entre outras providncias:

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    I. garantir proteo policial, quando necessrio, comuni-cando de imediato ao Ministrio Pblico e ao Poder Ju-dicirio;

    II. encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de sade e ao Instituto Mdico Legal;

    III. fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida;

    IV. se necessrio, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrncia ou do domiclio familiar;

    V. informar ofendida os direitos a ela conferidos pela Lei Maria da Penha e os servios disponveis.

    Feito o registro da ocorrncia, dever a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuzo daqueles previstos no Cdigo de Processo Penal:

    VI. ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrncia e tomar a representao a termo, se apresentada;

    I. colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas circunstncias;

    II. remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concesso de medidas protetivas de urgncia;

    III. determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros exames periciais necessrios;

    IV. ouvir o agressor e as testemunhas;

    V. ordenar a identificao do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes criminais, indicando a existncia de mandado de priso ou registro de outras ocorrncias po-liciais contra ele;

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    VI. remeter, no prazo legal, os autos do inqurito policial ao juiz e ao Ministrio Pblico.

    16. Processo judicial

    Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caber ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas:

    I. conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas protetivas de urgncia;

    II. determinar o encaminhamento da ofendida ao rgo de assistncia judiciria, quando for o caso;

    III. comunicar ao Ministrio Pblico para que adote as provi-dncias cabveis.

    Em qualquer fase do inqurito policial ou da instruo criminal, caber a priso preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofcio, a requerimento do Ministrio Pblico ou mediante repre-sentao da autoridade policial.

    O juiz poder revogar a priso preventiva se, no curso do proces-so, verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de novo decret-la, se sobrevierem razes que a justifiquem.

    17. Mitos e fatos sobre a violncia domstica

    - A violncia domstica s ocorre esporadicamente.

    - A cada 15 segundos, uma mulher agredida no Brasil.

    - Roupa suja se lava em casa.

    Enquanto o problema no for encarado como de sade pbli-ca, os cofres governamentais continuaro a ser onerados com aposentadorias precoces, licenas mdicas, consultas e inter-naes. Os ndices de delinquncia juvenil e repetncia escolar continuaro altos, e as mulheres continuaro a serem mortas.

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    - A violncia domstica s acontece em famlias de baixa renda.

    A violncia o fenmeno mais democrtico que existe, no faz distines de classe econmica, etnia ou cultura.

    - As mulheres apanham porque gostam ou porque provocam.

    Quem vive a violncia gasta a maior parte do seu tempo tentan-do evit-la, protegendo a si e a suas filhas e filhos. As mulheres ficam do lado dos agressores para preservar a relao, jamais para manter a violncia.

    - A violncia s acontece nas famlias problemticas.

    A violncia acontece em qualquer tipo de famlia, inclusive na-quelas que so consideradas modelo.

    - Os agressores no sabem controlar suas emoes.

    Se fosse assim, eles agrediriam tambm seus chefes, colegas de trabalho e outros familiares, e no apenas a esposa, filhas e filhos.

    - Se a situao fosse to grave, as vtimas abandonariam logo seus agressores.

    Grande parte dos assassinatos de mulheres ocorre na fase em que elas esto tentando se separar dos agressores. Algumas mu-lheres, aps a agresso, desenvolvem sensao de impotncia e ficam paralisadas, se sentindo incapazes de reagir e escapar.

    - fcil identificar o tipo de mulher que apanha.

    Como j foi dito, a violncia pode acontecer com qualquer pes-soa. Qualquer mulher, em algum perodo de sua vida, pode se envolver nesse tipo de violncia.

    - A violncia domstica vem de problemas com o lcool, dro-gas ou doenas mentais.

    Muitos homens agridem suas mulheres sem que apresentem qualquer um desses fatores.

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    (Fonte: Cartilha dos Ministrios Pblicos Estaduais e da Unio. O Enfrentamento Violncia Domstica e Familiar Contra a Mulher: Uma Construo Coletiva. Organizadora: Coutinho, Rbian Corra (MPGO). Pareceria do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais, do Grupo Nacional de Direitos Humanos, da Comisso Permanente de Violncia Domstica e Familiar contra a Mulher (COPEVID) e do Ministrio Pblico do Estado de Mato Grosso)

    18. Por que as mulheres permanecem tanto tempo em uma relao violenta?

    Existem muitos fatores que podem contribuir para que uma mu-lher tolere a situao de violncia domstica ou familiar, entre eles:

    - risco de rompimento da relao;

    - medo de que o parceiro cumpra as ameaas de morte ou suicdio;

    - vergonha e medo de procurar ajuda;

    - sensao de fracasso e culpa na escolha do par amoroso;

    - receio de sofrer discriminao e preconceito;

    - esperana de que o comportamento do parceiro mude, de que ela possa ajudar ou de um tratamento milagroso;

    - isolamento da vtima, que se v sem uma rede de apoio ade-quada (famlia, trabalho e suporte dos servios pblicos);

    - despreparo da sociedade, das prprias famlias e dos servios pblicos para tratar esse tipo de violncia;

    - obstculos que impedem o rompimento (disputa pela guarda dos filhos, boicote de penses alimentcias, chantagens e ameaas);

    - dependncia econmica de algumas mulheres em relao a seus parceiros, bem como falta de qualificao profissional e escolar;

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    - fundamentalismo ou impedimentos de cunho religioso;

    - preocupao com a situao dos filhos, caso se separe do companheiro.

    Esses e outros fatores explicam a dificuldade encontrada pela mulher que deseja se proteger de uma situao violenta. um longo caminho a ser percorrido e que deve partir, inicialmente, de uma resoluo interna, refletida e pensada. uma deciso que demanda preparo emocional, econmico e apoio social.

    (Fonte: Cartilha dos Ministrios Pblicos Estaduais e da Unio. Apud cit.)

    19. Servios de atendimento mulher no Estado de Minas Gerais

    A Central de Atendimento Mulher Ligue 180 uma parce-ria entre a Secretaria Especial de Polticas para Mulheres (SPM) da Presidncia da Repblica, as empresas Embratel, Eletronor-te, Eletrobrs, Furnas e o Disque Denncia do Rio de Janeiro.

    As beneficirias diretas do servio so as mulheres, que podero receber ateno adequada quando em situao de violncia, sem nenhuma exposio, pois o sigilo absoluto e a identifica-o opcional.

    No so apenas as mulheres que podem acionar os servios. Homens que queiram fazer denncias de casos de violncia contra a mulher sero bem acolhidos.

    Alm de encaminhar os casos para os servios especializados, a Central de Atendimento fornece orientaes e alternativas para que a mulher se proteja do agressor. Ela informada sobre:

    - seus direitos legais;

    - os tipos de estabelecimentos que poder procurar, entre eles:

    as delegacias de atendimento especializado mulher;

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    as defensorias pblicas;

    os postos de sade;

    o instituto mdico legal para os casos de estupro;

    os centros de referncia;

    as casas-abrigo.

    - outros mecanismos de promoo de defesa de direitos da mulher.

    A Central de Atendimento Mulher Ligue 180 funciona 24 horas por dia, de segunda a domingo, inclusive em feriados. A ligao gratuita e o atendimento de mbito nacional.

    20. Outros telefones e endereos teis

    Fala Mulher - Disque Direitos Humanos (Servio gra-tuito e sigiloso para recebimento de denncias de vio-lncia contra a mulher, prestado pelo Governo de Mi-nas Gerais - o denunciante no precisa se identificar): 0800 031 1119

    SAMU: 192

    Polcia Militar: 190

    Polcia Civil: 197

    Delegacias Especializadas de Crimes contra a Mulher - DEAM:

    - Av. Amazonas, 558 (esquina com Rua So Paulo) - Centro - Planto 24h - (31) 3270-3245/ 3270-3246;

    - Rua Aimors, 3005 - Barro Preto - Prosseguimento ao Inqurito Policial - (31) 3291-3573/ 3291-2931.

    Defensoria Pblica especializada na defesa dos direitos das mulheres em situao de violncia - NUDEM: Av. Amazonas, 558 - 2 andar - Centro - (31) 3270-3202 [email protected]

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    18 Promotoria especializada no combate violncia do-mstica e familiar contra a mulher: Av. lvares Cabral, 1881 - Santo Agostinho - (31) 3337-6996 - [email protected]

    Ncleo de Atendimento s Vtimas de Crimes Violentos - NAVCV (Orientao jurdica e atendimento psicossocial a vtimas e familiares de vtimas de homicdio - tentado ou consumado -, latrocnio, tortura, estupro e crimes sexuais contra vulnervel):

    - Belo Horizonte: Rua da Bahia, 1.148 - 3 andar - sala 331 - Edifcio Arcngelo Maletta - Centro - (31) 3214-1897/ 1898 - [email protected] e [email protected]

    - Montes Claros: Rua Dona Eva, 40 - Centro - (38) 3229-8515 - [email protected]

    - Ribeiro das Neves: Rua Joo de Deus Gomes, 30 - Justinpolis - (31) 3638-2516 - [email protected]

    Varas Maria da Penha em Belo Horizonte localizadas no Centro Integrado da Mulher - CIM Av. Olegrio Maciel, 600 - Centro - Belo Horizonte

    - 13 Vara Criminal - telefone: 3207-8119 14 Vara Criminal - telefone: 3207-8136 15 Vara Criminal - telefone: 3207-8193

    - 16 Vara Criminal - telefone: 3270-3550 ramal 210, localizada na Rua Curitiba, 632, 4 andar

    Benvinda - Centro de Apoio Mulher (Orienta mulhe-res em situao de risco e, se necessrio, encaminha casa-abrigo Sempre-Viva. O endereo da casa-abrigo Sempre-Viva sigiloso, e ela recebe mulheres e filhos menores de 18 anos): Rua Hermlio Alves, 34 - Santa Tereza - (31) 3277-4379/ 4380

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    Casa Colmeia - Apoio Mulher Grvida: (31) 3372-3693

    Centro de Apoio s Vtimas de Violncia Intrafamiliar de Belo Horizonte - CAVIV: Rua Esprito Santo, 505 - Centro - (31) 3277-9761 - [email protected]

    Centro Risoleta Neves de Atendimento Mulher de Belo Horizonte: (31) 3270-3235 - [email protected]

    Conselho Estadual da Mulher: (31) 3270-3618

    Conselho Municipal de Belo Horizonte dos Direitos da Mulher e Coordenadoria Municipal dos Direitos da Mulher: (31) 3277-9756

    Consrcio Mulheres das Gerais: Rua Adamina, 155 - Santa Tereza - (31) 3484-2387

    Centro de Estudos Feministas e Assessoria: www.cfemea.org.br

    SOS Corpo e Cidadania: www.soscorpo.org.br

    Movimento das Donas de Casa e Consumidores de Minas Gerais: (31) 3274-1033

    Pastoral da Mulher: (31) 3272-7349

    Coordenadoria da Mulher em Situao de Violncia Do-mstica e Familiar do Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais - COMSIV: [email protected]

    Coluna da Coordenadoria da Mulher #Protege (Informa-es semanais sobre direitos da mulher): https://www.facebook.com/TribunaldeJusticaMGoficial