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COMITÉ DE PERITOS Casa da História Europeia Fundamentos conceptuais para uma Casa da História Europeia

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COMITÉ DE PERITOS

Casa da História Europeia

Fundamentos conceptuaispara uma

Casa da História Europeia

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Manuscrito completado em Outubro de 2008

Impresso em Bruxelas, Bélgica

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Índice

Prefácio................................................................................................................................. 5

Fundamentos conceptuais e museológicos............................................................................. 7

Grandes temas da exposição permanente............................................................................. 11

Origens e evolução da Europa até finais do século XIX................................................... 11A Europa das duas Guerras Mundiais .............................................................................. 15A Europa a partir da Segunda Guerra Mundial ................................................................ 18Questões sobre o futuro da Europa .................................................................................. 25

Perspectivas ........................................................................................................................ 26

Composição do Comité de Peritos....................................................................................... 27

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Membros do Comité de Peritos na respectiva reunião constitutiva com o Presidente do Parlamento Europeu, Hans-Gert Pöttering, e o Secretário-Geral do Parlamento Europeu, Harald Rømer. Da esquerda para a direita: Giorgio Cracco, António Reis, Mária Schmidt, Włodzimierz Borodziej, Hans Walter Hütter, Marie-Hélène Joly, Matti Klinge, Michel Dumoulin. Não presente na fotografia: Ronald de Leeuw.

"É meu desejo que seja criado um local em que se conjuguem memória e futuro, onde possa frutificar o ideal europeu. Gostaria de propor a criação de uma «Casa da História Europeia». Este deveráser [...] um local em que sejam tratadas a nossa memória da Históriada Europa e a obra de unificação europeia, que simultaneamente viabilize a construção da identidade da Europa pelos actuais e futuros cidadãos da União Europeia."

Prof. Dr. Hans Gert Pöttering, MPE,Presidente do Parlamento Europeu, 13 de Fevereiro de 2007

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Prefácio1. "É meu desejo que seja criado um local em que se conjuguem memória e futuro, onde

possa frutificar o ideal europeu. Gostaria de propor a criação de uma «Casa da História Europeia». Este deverá ser [...] um local em que sejam tratadas a nossa memória da História da Europa e a obra de unificação europeia, que simultaneamente viabilize a construção da identidade da Europa pelos actuais e futuros cidadãos da União Europeia." Foi nestes termos que o Presidente do Parlamento Europeu, Professor Doutor Hans-Gert Pöttering, lançou a criação de uma "Casa da História Europeia", no discurso proferido em 13 de Fevereiro de 2007, por ocasião da apresentação do seu programa.

2. Após um debate exaustivo, a Mesa do Parlamento Europeu foi unânime em congratular-se com esta iniciativa e criou um Comité de Peritos, incumbido da concepção do projecto de Casa da História Europeia. Este Comité era composto por nove membros —historiadores e museólogos — procedentes de diferentes países europeus. O presente documento, que é o resultado de diversas reuniões de trabalho em Bruxelas, foi aprovado por consenso, em 15 de Setembro de 2008.

3. Os membros do Comité de Peritos salientam o seguinte: um dos grandes objectivos da Casa da História Europeia consiste em aprofundar os conhecimentos dos europeus de todas as gerações sobre a sua própria História e, deste modo, contribuir para um melhor compreensão da evolução da Europa no presente e no futuro. Esta instituição deve tornar-se um local que dá vida à ideia europeia.

4. Para compreender o passado recente e o tempo presente, cumpre apresentar as grandes linhas da História europeia. Os acontecimentos históricos e seus efeitos tornarão compreensíveis a criação e evolução das Instituições europeias na segunda metade do século XX. A exposição deve igualmente realçar, tanto a diversidade da História europeia, como as raízes comuns.

5. A ideia e a vontade de associação voluntária em instituições supranacionais a nível europeu caracterizam a História recente do continente. A ampla rejeição e superação dosnacionalismos, da ditadura e da guerra, bem como a vontade, surgida nos anos 50, de viver em paz e liberdade na Europa e ainda a criação de uma união supranacional de natureza civil, devem ser as mensagens prioritárias da Casa da História Europeia. As exposições devem ser a mensagem por excelência da Casa da História Europeia. As exposições devem pôr em realce a ideia de que uma Europa unida assente em valores comuns pode viver em paz e liberdade num mundo de progresso. A Casa da História Europeia deve incitar a uma vasta uma participação dos cidadãos nos processos decisórios da Europa unida.

6. É missão da União Europeia contribuir para o aperfeiçoamento do conhecimento e da difusão da Cultura e da História dos povos europeus (artigo 151.º do Tratado CE).

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Fundamentos conceptuais e museológicos7. A Casa da História Europeia deve funcionar como um moderno centro de exposição,

documentação e informação. Deve acolher uma exposição permanente sobre a Históriaeuropeia, repartida por uma área de cerca de 4000 m2, bem como espaços destinados aexposições temporárias. Propõe-se, além disso, a criação de um centro de informação, que ofereceria aos visitantes informações complementares sobre o passado e o presente da Europa. Esta oferta pode ser complementada por publicações e eventos diversos.

8. Para o êxito desta instituição, são de primordial importância vários factores, que cumpre coordenar entre si.

9. Importa conferir prioridade absoluta à independência científica e à objectividade da apresentação. O Comité de Peritos deseja, sobretudo, que o trabalho da Casa da História Europeia assente em conhecimentos e métodos científicos. A minúcia da exposição é condição essencial para a respectiva aceitação por parte de especialistas e visitantes. Afigura-se necessário que os factos e processos históricos sejam apresentados de acordo com uma multiplicidade de perspectivas e um espírito de abertura tais, que permitam aos visitantes um julgamento próprio e os incitem ao debate. Para garantir esta independência, poderá ponderar-se a possibilidade de criação de um órgão científico consultivo de altonível composto por historiadores e especialistas em museologia, incumbido do acompanhamento dos trabalhos.

10. Além disso, a independência institucional do organismo responsável pela administração da Casa da História Europeia constitui uma condição basilar para o êxito e a credibilidade do projecto.

11. A instituição deve ser fundamentalmente concebida como entidade de divulgação,apresentando-se como um intermediário entre a comunidade científica e o grande público. Para a sua criação e funcionamento, cumpre ter em conta os mais recentes conhecimentos no domínio da museologia. Importa desenvolver e utilizar uma vasta oferta pedagógica, que seja adaptada a um público heterogéneo. Ainda que a cientificidade assuma grande importância enquanto base do seu trabalho, a Casa da História Europeia não deve levar a efeito actividades de investigação fundamental stricto sensu.

12. Não obstante, o Comité recomenda que a Casa da História Europeia complete a sua oferta com um local de encontro para jovens cientistas que trabalhem sobre questões relacionadas com a História europeia. Este local de encontro não só contribuirá para animar a instituição, como também criará um elo entre jovens talentos originários de toda a Europa.

13. A Casa da História Europeia dirige-se aos europeus de todas as regiões do continente, de todas as idades e de todos os níveis culturais. Uma vez que o grupo-alvo é muito vasto, as futuras exposições não devem obrigar a que os visitantes tenham extensos conhecimentos. A Casa da História Europeia destina-se, sobretudo, a um público leigo interessado.

14. Uma narração cronologicamente orientada ajuda o grupo-alvo a compreender os acontecimentos e processos históricos. Uma abordagem cronológica, incluindo retrospectivas e perspectivas facilita a localização dos acontecimentos no tempo e no espaço. É, assim, criado um quadro para a diversidade dos vários objectos, textos e elementos audiovisuais, com base nos quais a História é apresentada no museu.

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15. A Casa da História Europeia deve, por conseguinte, ser uma instituição que, em cada uma das áreas de actividade, procura atender às necessidades dos visitantes. Este princípio aplica-se, inter alia, à apresentação multilingue dos textos da exposição e das ofertasaudiovisuais. A didáctica e concepção das exposições devem ter igualmente em conta os processos de evolução demográfica específicos a cada um dos países europeus. Outros factores determinantes para a actividade da Casa da História Europeia são a adaptação ao público e a o controlo sistemático do respeito desta decisão de princípio, através de avaliações permanentes.

16. Para além disso, a Casa da História Europeia deve conceber exposições temporárias e itinerantes. A principal vantagem das exposições itinerantes reside em que oferecerem a possibilidade de chegar ao público de toda as regiões da Europa e para além delas.

17. A par das exposições, tanto a organização de eventos temáticos relacionados com a Europa, como a existência de publicações próprias, contribuirão para a capacidade de atracção da Casa da História Europeia. No século XXI, um museu moderno deve também estar presente na Internet, propondo uma ampla oferta.

18. De essencial importância é a constituição de uma colecção própria do museu. Dispor de um fundo próprio é indispensável à organização de exposições permanentes, temporárias e itinerantes visualmente apelativas Uma colecção própria ajudará também a Casa da História Europeia a inserir-se no circuito dos empréstimos internacionais e garantir-lhe-á uma posição importante no seio deste sistema. No contexto da constituição da colecção, cumpre velar por que seja especificamente conferida prioridade à dimensão europeia da História e evitar propor cópias de colecções nacionais já existentes.

19. Para o êxito da instituição, é necessário que a Casa da História Europeia assuma uma posição de destaque. Deve ser uma "passagem obrigatória" no programa de visita das instituições europeias. Tão desejável quanto a integração da Casa na paisagem museológica europeia é a criação de elos estreitos com as ofertas in loco dos organismos europeus.

20. O financiamento continuado da Casa da História Europeia é indispensável ao seu êxito e desempenho. Tanto a construção e equipamento inicial, como o funcionamento em permanência requerem meios. Mesmo após a inauguração, a manutenção da sua capacidade de atracção para o público continuará a implicar despesas. A evolução permanente das exposições e da infra-estrutura museológica são condições essenciais à aceitação desta instituição.

21. Na medida em que a Casa da História Europeia deve servir o objectivo da educação política de todos, o Comité de Peritos propugna a gratuitidade do acesso à Casa da História Europeia.

22. A exposição permanente da Casa da História Europeia, o cerne do novo museu, apresentará essencialmente a História europeia no período compreendido entre a Primeira Guerra Mundial e a época contemporânea, numa área de cerca de 4000 m2. Não é absolutamente necessário, do ponto de vista de uma melhor compreensão do futuro e do presente por parte dos visitantes fazer remissões para as raízes do continente e a Idade Média, bem como para os tempos modernos. A referência ao presente assume grandeimportância para o êxito do novo museu, uma vez que, por um lado, atesta a sua actualidade e, por outro, põe em destaque a sua relação directa com a vida quotidiana dos visitantes. Além disso, o elo permanente com o presente permite abordar transformações e evoluções importantes observadas recentemente na Europa nos domínios político, económico, social e cultural.

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23. A exposição permanente não pode ser uma soma de histórias nacionais ou regionais da Europa, devendo, ao invés, centrar-se em fenómenos de dimensão europeia. O período de paz desde o fim da Segunda Guerra Mundial deve ocupar um lugar de destaque. Importa ter em conta que a diversidade da Europa constitui a principal característica do continente. Esta heterogeneidade, bem como a concomitância de diferentes estádios de evolução histórica, representam importantes desafios para a equipa responsável pela concepção da exposição. Por outro lado, estes aspectos permitem igualmente aos múltiplos visitantes encontrarem um ponto de referência que lhes corresponda. Face à prevista heterogeneidade do público, a introdução de elementos biográficos deverá facilitar o acesso à diversidade de temas e processos europeus. A vida de europeus célebres, por um lado, e a de habitantes anónimos do continente, por outro, oferecem a possibilidade de um contacto mais directo com as questões próprias de cada época. A exposição deve reservar um lugar importante aos mais variados aspectos da vida quotidiana.

24. A capacidade de atracção da exposição permanente dependerá, na sua essência, dos objectos expostos, cujo potencial de evocação deve permitir, para além do acesso no plano cognitivo, o acesso emocional às problemáticas históricas. Não obstante, a ausência de contextualização dos objectos expostos torna impossível o acesso ao seu significado. O recurso a meios audiovisuais é uma evidência neste contexto. No caso das exposições históricas, é indispensável recorrer a documentários em imagens e documentos áudio —por um lado, como fontes, e, por outro lado, por razões de ordem didáctica. Os meios audiovisuais modernos dinamizam a exposição e facilitam a recepção, em particular no caso das jovens gerações. É evidente que importa adoptar uma abordagem narrativa, a fim de permitir, tanto a apreensão cognitiva, como a apreensão emocional dos temas da exposição permanente.

25. Assinalemos, por fim, que a revisão periódica da exposição permanente pode garantir a aceitação e capacidade de atracção da Casa da História Europeia, a médio e a longo prazos.

26. Atendendo aos importantes desafios a que os responsáveis pela execução do projecto deverão dar resposta, a inauguração no Verão de 2014 constitui um objectivo ambicioso, que poderá, de facto, ser concretizado no quadro de uma boa colaboração de todos os interessados.

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Grandes temas da exposição permanente

Origens e evolução da Europa até finais do século XIX27. Formas de cultura superiores, já "europeias", desenvolveram-se em torno do comércio no

Mediterrâneo oriental e no Mar Negro, regiões que não são suficientemente férteis para a actividade agrícola, embora se adaptassem bem ao desenvolvimento da navegação e o aparecimento de pequenos Estados, em lugar dos grandes Estados agrícolas situados em torno do Nilo, do Eufrates e do Tigre.

28. O fenómeno da colonização confirma a importância de uma das mais importantes forças motrizes da História europeia, designadamente a migração causada pela sobrepopulação. Os movimentos migratórios levaram os homens à procura de novas terras, tendo conduzido ao desenvolvimento de uma poderosa cultura militar, posta ao serviço da conquista e manutenção das colónias. As cidades, designadamente as cidades Estados do Egeu expandiram-se, por exemplo, com a ajuda das colónias que abrangiam amplas áreas da zona mediterrânica e do Mar Negro.

29. O fenómeno da migração e das colónias surge frequentemente na História europeia sob a forma, quer de expedições guerreiras, quer de colonizações em massa. As migrações intra-europeias não são tão importantes quanto a colonização de continentes extra-europeus.

30. As riquezas da China e da Índia e as rotas aí conducentes sempre suscitaram o interesse dos Europeus, desde a época de Alexandre, o Grande, durante o Império romano alguns séculos mais tarde, durante as "Cruzadas" após o ano 1000, e no âmbito do estabelecimento de impérios coloniais, sobretudo pela França, Inglaterra, Portugal e Holanda desde o século XVI, que perduraram, em parte, até aos anos setenta. Por seu turno, os impérios coloniais de Espanha e Portugal começaram por se expandir para aAmérica e o Império Russo para a Sibéria e a Ásia Central.

31. A partir do século V a.C., o mundo greco-romano desenvolveu uma forma de cultura altamente desenvolvida, que constitui a base da evolução filosófica, literária, legislativa e estatal da cultura europeia hodierna, por diversas vezes retomada por "renascimentos" vários. Esta época durou um milénio. As suas línguas principais, o Grego e o Latim, constituem a base gramatical, lexical e semântica da quase totalidade das outras línguas europeias.

32. No século XVI, o "renascimento" da Antiguidade e o novo meio de informação constituído pelo livro conduzem a uma relatinização notável do francês e de outras línguas românicas, ao passo que uma grande quantidade de novas palavras permite transferir a cultura latina para as línguas germânicas, fino-úgricas e eslavas. O latim "purificado" manteve um papel essencial na Europa até ao século XX, no sistema universitário e escolar, bem como na Igreja Católica. Exerceu uma grande influência, sobretudo semântica e terminológica, em todas as línguas nacionais na sua forma escrita. Mais tarde, o papel universal do Latim foi assumido, sobretudo no século XVIII, peloFrancês, com uma forte influência lexical para o Alemão, o Russo, o Sueco e outras línguas. Desde finais do século XX, o Grego e o Latim reforçaram de novo a sua posição, uma vez que os nomes das inovações no domínio das tecnologias ou da biologia têm quase todos uma raiz grega ou latina.

33. Mercê da educação de elites dirigentes, o sistema escolar e universitário torna-se essencial para a unidade cultural europeia, que se concretiza na Idade Média, nos séculos XII e XIII. Este sistema assenta na forma de pensar e escrever em latim e na arte da

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argumentação e da crítica. Também os dogmas da religião cristã foram frequentemente fonte de vivas controvérsias. Embora a partir do século XVII, com o aparecimento de academias, o pensamento e a escrita se tenham libertado do controlo eclesiástico, foram mantidas em vários países diferentes formas de censura moral e política.

34. As influências asiáticas fazem-se sentir sobretudo no domínio religioso. A religião cristã aparece no século IV d. C., que combina tradição judaica (semítica) e organização eclesiástica. Esta organização divide-se já antes do ano 1000 num ramo grego, que abrangia Constantinopla e o Império Greco-Romano, e, mais tarde, sobretudo da Rússia, num ramo latino, papal, dirigido a partir de Roma, que falava e, sobretudo, escrevia em Latim. As sucessivas invasões asiáticas fazem-se principalmente sentir na parte oriental e atingem o seu apogeu nos séculos XIV e XV, com a subordinação da Rússia e a capitulação de Constantinopla face aos Turcos, em 1453. A longa hegemonia turca nos Balcãs e na região do Mar Negro exerceu uma grande influência em primeiro lugar sobre a Áustria e a Rússia, mas posteriormente também em França e na Grã-Bretanha, em permanente procura de influência no Médio Oriente e na rota das Índias. As guerras étnico-religiosas na Península Balcânica chegaram até aos nossos dias.

35. No século IV, tem início o declínio gradual do Império Romano do Ocidente. Não obstante, a ideia unitária sobreviveu parcialmente no seio da Igreja Romana e deu origem a um novo império de dimensão europeia, o Império de Carlos Magno, cerca do ano 800, e isto enquanto princípio de unidade política, que subsistiu formalmente até 1806.

36. Na Idade Média, as organizações eclesiástica e estatal desenvolveram-se em paralelo durante muito tempo, com o aparecimento de estruturas militares, sociais e educativas, sobretudo com base em diferentes formas de tributação. Os mosteiros assumiram um importante papel na vida social e cultural. A par da estruturação da Europa em arcebispados, feudos, principados e condados, surgiram burgos independentes no interior das muralhas, que frequentemente se agrupavam sob a forma de ligas, como era o caso sobretudo em Itália, nos Países Baixos e na Alemanha, em que a Liga Hanseática era de todas a mais importante.

37. O Cristianismo ocidental estendeu-se sucessivamente para Norte e para Leste, tornando-se o alfabeto latino a marca de adesão religiosa, cultural e política da Polónia, da Hungria, da Croácia, dos Países Bálticos, bem como da Suécia/Finlândia a Ocidente, ao passo que a Rússia, a Sérvia, a Bulgária, a Grécia e, outrora, a Roménia, conservaram o alfabeto grego, principalmente na sua forma eslava, cirílica, associada à confissão ortodoxa grega.

38. Mais de mil catedrais (igrejas episcopais) medievais, cuja maioria está conservada um pouco por toda a parte na Europa ocidental, são testemunho da importância e do poder social e económico do sistema eclesiástico, bem como do elevadíssimo nível de desenvolvimento da arquitectura e técnicas de construção, das artes plásticas e da música,entre os anos 1000 e 1500 d.C. Segue-se um período marcado pela construção de castelos residenciais, como Versalhes, em França, ou Petershof, na Rússia, e centros urbanos, com as suas fortalezas e muralhas.

39. A pertença ao clero, à nobreza, à burguesia urbana e ao campesinato, bem como o estatuto da servidão da gleba, foram durante muito tempo entendidos como ordem natural e divina. Em todas as regiões da Europa se criaram culturas similares com base nos modos de vida ou na pertença a uma determinada categoria social, nobreza, burguesia, campesinato e, mais tarde, classe operária, funcionários, etc. Estas culturas encontravam a sua expressão na indumentária e nos hábitos alimentares, bem como no interesse e no gosto pela música e outras artes.

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40. No século XVI, a Cristandade ocidental cindiu-se, dando lugar à Igreja Católica e às confissões protestantes como, por exemplo, as de inspiração calvinista, que fundaramgrupos ou igrejas independentes em França, nos Países Baixos, na Suíça e na Escócia. As igrejas de confissão luterana tornaram-se igrejas oficiais em vários Estados alemães, na Dinamarca(/Noruega, Islândia) e Suécia(/Finlândia), bem como na Estónia e Letónia actuais. Assiste-se a uma cisão nos países ribeirinhos do Mar Báltico: a Alemanha do Norte, a Dinamarca, a Suécia, a Finlândia, a Estónia e a Letónia tornam-se luteranas, enquanto a Rússia se torna maioritariamente ortodoxa e a Polónia e a Lituânia católicas. A Reforma luterana retirava a sua força da concomitância do seu aparecimento com a formação de Estados centralizados, que confiscavam a maior parte da fortuna eclesiástica para a edificação do Estado, fenómeno este que se repete na Alemanha católica, em França e em Itália na época revolucionária e napoleónica na viragem do século XVIII para o século XIX.

41. As diferentes doutrinas "protestantes" tinham em comum o interesse pela tradição judaica representada pelo Antigo Testamento. A Bíblia foi traduzida por protestantes na quase totalidade das línguas europeias nos séculos XVI e XVII, sendo que estas traduções constituíam, na maior parte dos casos, a base da língua utilizada no quotidiano por estas comunidades linguísticas. Assim, a gramática e a estilística greco-latina influenciaram profundamente as novas línguas escritas e normalizadas. Estas últimas estavam estreitamente associadas ao "renascimento" da Literatura e da Filosofia, bem como às ideias políticas da Antiguidade Greco-Romana, e podiam agora generalizar-se rapidamente em todas as elites europeias mercê da invenção da tipografia e do nascimento de um mercado do livro.

42. Nos diferentes países da Europa, já não são as mesmas classes sociais que dominam culturalmente: as culturas espanhola, francesa e polaca ficaram amplamente marcadas pelos ideais da Nobreza, tendo os Países Baixos, a Inglaterra, a Escócia e a Dinamarca sido mais influenciadas pelo modo de vida da burguesia urbana. A Prússia e a Rússia eram Estados amplamente modelados por uma organização militar, eficaz e moderna.

43. Depois da filosofia política e burguesa do século XVIII, o "Século das Luzes", assiste-se à formação de uma nova concepção do Homem e do cidadão, assente nos valores da razão crítica e da liberdade de opinião e de consciência, que conduziu à abolição, quer dos privilégios do Clero, da Nobreza e dos artesãos, quer dos direitos corporativos. Este aspecto consubstanciou-se em declarações como a dos "Direitos do Homem e do Cidadão", em contraste com a doutrina religiosa e da submissão do Homem à vontade deDeus. Este processo começou de forma violenta por toda uma série de revoluções —tendo a primeira sido a de 1789, em França — seguidas, quer por outras revoluções, quer por processos de evolução durante mais de um século. A estas se seguiram, frequentemente apenas de forma hesitante, as novas leis que instituíam a igualdade em matéria de direito sucessório (em lugar do direito de primogenitura), o direito de acesso aos serviços públicos independentemente do nascimento, o direito de eleger e ser eleito nas eleições municipais e parlamentares. As primeiras eleições por sufrágio universal tiveram lugar na França revolucionária. As primeiras eleições parlamentares por sufrágio universal que compreendiam o direito de voto e elegibilidade das mulheres tiveram lugar em 1907 no Grão-Ducado da Finlândia.

44. Embora a rivalidade entre Estados, Nações e confissões marcasse já a Idade Média, tornou-se muito mais devastadora com as grandes guerras do século XVI. A Guerra dos Trinta Anos, na Alemanha, no século XVIII, as guerras entre a França, os Países Baixos e a Inglaterra, as guerras da Suécia e da Polónia contra a Rússia e entre elas, as guerras da Áustria e da Hungria contra a Turquia, as guerras de Espanha em Itália, a permanente

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rivalidade sueco-dinamarquesa, russo-turca, franco-britânica e outros conflitos, cunharam a História europeia durante séculos. A partir do século XVIII, as lutas prendiam-se igualmente com a questão do domínio das colónias das Índias Orientais, da América e de outras partes do mundo.

45. Já em 1648 se desenvolveram, no contexto da Paz da Vestefália, formas de negociação que viabilizaram a condução de negociações entre Estados, o que constituiu o ponto de partida da diplomacia moderna. As negociações do Congresso de Viena de 1814-1815 após as guerras e o domínio franco-napoleónico marcam a importante etapa seguinte do sistema político da Europa e garantem, não obstante algumas revoluções malogradas e algumas guerras de curta duração, um longo período de paz e desenvolvimento económico, social e cultural. Este período é cunhado pela importância do ensino primário, pela ampla eliminação do analfabetismo, pela criação de instituições culturais e museus públicos, pelo papel central da música, pela abertura induzida pelos caminhos-de-ferro, pela utilização do vapor na indústria e nos transportes, incluindo nos territórios ultramarinos e na Ásia siberiana, bem como pela expansão da indústria electroquímica.

46. Paris, Londres, Berlim, São Petersburgo, Viena e todas as demais capitais atraíam enormes massas de imigrantes e dotaram-se de grandes vias, de novos meios de transporte como o eléctrico, sistemas de aquecimento e parques. É nesta época que as muralhas das cidades são demolidas. Era enorme a miséria social, tanto nas cidades como nos campos. Mais tarde, foram envidados esforços no sentido da criação de um sistema de segurança social. A partir da segunda metade do século XIX, faz-se sentir uma crescente de pressão por parte dos trabalhadores, que se organizam em associações sindicais. Mas também entre os patrões existe uma vontade de eficácia e de modernização do processo produtivo, graças a uma força operária mais bem qualificada e mais saudável, isto é, uma vontade derenúncia a formas de produção extensiva e sua substituição pela produção intensiva.

47. O desenvolvimento económico da Europa devia-se, em parte, aos benefícios retirados das colónias de África e da Ásia, registando-se uma clara rivalidade, sobretudo entre a França e a Grã-Bretanha e entre esta e a Rússia, bem como entre a Alemanha e a Áustria-Hungria. A Primeira Guerra Mundial de 1914-1918 foi, sobretudo, uma guerra extremamente devastadora para a Europa e, com as enormes perdas de vidas humanas que provocou, o maior conflito desde a era napoleónica.

48. O princípio da Nação torna-se predominante ao longo do o século XIX. Este século desenvolveu-se, por um lado, sob o signo do internacionalismo e do cosmopolitismo, mas também, por outro lado, sob o signo da ideia nacional. Assistiu-se nesta época ao florescer de diversas novas línguas e literaturas até ao momento consideradas como dialectos. O século XIX foi um período de emancipação liberal e nacional, sendo que ambas as correntes beneficiaram da imprensa moderna, da formação de partidos políticos e da participação dos cidadãos em diversas formas de associação.

49. A Grã-Bretanha constituía o modelo de referência da Europa moderna. O Reino Unido tornara-se, muito antes de outras grandes potências, uma sociedade industrializada moderna. O seu sistema parlamentar, nascido de uma longa tradição, deu, em múltiplas ocasiões, provas da sua perenidade institucional. Foi, assim, possível resolver os grandes conflitos de modo pacífico e negociar um reforço dos direitos cívicos e humanos. A "City" de Londres tornou-se o centro financeiro do globo e a Marinha britânica tinha reputação de invencível, ao mesmo tempo que a administração colonial funcionava como modelo e o modo de vida da "gentry" considerado superior. No século XIX, a Rainha Vitória (1837-1901) foi um dos símbolos deste florescente período da Grã-Bretanha.

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50. Ao longo de quase todo o século XIX, assistiu-se ao debate da ideia de uma paz geral e duradoura. Organizações como a Cruz Vermelha e intelectuais como o grande escritor francês Victor Hugo foram pioneiros nesta matéria. Assistiu-se igualmente ao desenvolvimento de organizações consagradas ao reforço e à difusão da ideia de paz. Em 1899, por iniciativa do jovem Imperador Nicolau II da Rússia e graças a um donativo do milionário americano Andrew Carnegie, é criado um tribunal internacional na Haia, formalmente instituído em 1907. Em 1920, surge a Sociedade das Nações, instituição precursora da actual Organização das Nações Unidas, que tinha, porém, um carácter muito mais europeu do que a ONU.

A Europa das duas Guerras Mundiais51. O ano de 1917 constitui um ano de viragem para a Europa. Com o golpe de Estado

bolchevista na Rússia, surgem a Leste uma ditadura e um projecto de sociedadealternativo. A utopia da igualdade social faz inúmeros adeptos em muitos países. Começa o conflito Leste-Oeste. Trata-se fundamentalmente de um combate entre a ditadura comunista e a democracia alicerçada na liberdade. Na própria Rússia, nos anos que se seguem à tomada do poder, as tropas comunistas reprimem os esforços de independência dos povos não russos. A partir dos anos 20, a promessa de progresso e justiça estáassociada aos interesses da Rússia soviética, tornada uma grande potência que todos os outros Estados consideram uma ameaça. O Comunismo não logra impor-se de modo pacífico e democrático em nenhum país da Europa. A era das ideologias totalitárias apenas atinge o seu termo com o colapso da URSS em 1991.

52. O Armistício de 11 de Novembro de 1918 põe termo à guerra mais mortífera da Históriada humanidade, que causou mais de dez milhões de mortos. Os imensos esforços de guerra pesaram consideravelmente sobre todas as nações envolvidas. Em consequência directa da guerra, assiste-se à queda de três dinastias: os Habsburgos, os Hohenzollern e os Romanov. O mapa da Europa é profundamente modificado. Ao mesmo tempo, depressa se torna claro que a Primeira Guerra Mundial conduziu ao enfraquecimento das grandes potências europeias, de que elas próprias são responsáveis. Em particular nas colónias, reforçam-se as reivindicações de independência das populações autóctones.

53. O Tratado de Paz de Versalhes, de 28 de Junho de 1919, e os restantes Tratados assinados em Paris são profundamente influenciados por Woodrow Wilson, Presidente dos Estados Unidos da América. O direito dos povos à autodeterminação torna-se o princípio director da nova ordem europeia. Das ruínas dos três impérios derrubados nascem Estados-Nações, que são, em geral, democracias parlamentares. A paz obtida na sequência do Tratado de Versalhes inclui o Estatuto da Sociedade das Nações. Sob a sua égide reúnem-se as "nações civilizadas", como à época eram designadas. A sua missão primeira consiste em impedir novas guerras. Nem o Império Alemão, nem a Rússia bolchevista são membros fundadores da Sociedade das Nações. Todavia, à mesma aderem posteriormente, ao passo que os Estados Unidos se mantêm afastados até ao seu desaparecimento oficial, em 1946. A Sociedade das Nações, cujo princípio era a criação de um sistema de segurança colectiva, não está à altura das expectativas suscitadas.

54. A diversidade étnica dos Estados recentemente fundados na Europa Central e Oriental continua a constituir um problema, atendendo a que o sonho de um Estado-Nação homogéneo no plano étnico se mantém vivo nas elites dirigentes e, em bastantes aspectos, também nos estratos etnicamente maioritários da população. O Tratado sobre a Protecção das Minorias, de 28 de Junho de 1919, é uma reacção directa à composição multi-étnica

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da Polónia. As minorias nacionais beneficiam de protecção especial, garantida por todos os Estados signatários. Em contradição directa com este princípio encontra-se o Tratado de Lausana, de 24 de Julho de 1923, elaborado sob a égide da Sociedade das Nações, cujo objectivo consistia em evitar conflitos futuros, criando, para o efeito, uma população etnicamente homogénea. Para resolver os problemas das minorias entre a Grécia e a Turquia, são levados a efeito repatriamentos e deslocações em massa de populações, sendo que, pelo menos, um milhão e meio de pessoas são obrigadas a deixar as suas casas.

55. A vitória do Fascismo sobre a Democracia em Itália marca indelevelmente o período do pós-guerra. O totalitarismo reivindicado por Benito Mussolini é um modelo que atrai a Extrema-Direita noutros países. Ao mesmo tempo que a situação política e económica se estabiliza na Europa Ocidental e Central, em meados dos anos vinte, a leste do continente assiste-se ao malogro de muitas das democracias parlamentares. Os regimes autoritáriostornam-se a forma de governo dominante entre o Mar Báltico, o Mar Negro e o Mediterrâneo. Os vencidos da Primeira Guerra Mundial — os "have-nots" — levam a efeito uma política revisionista dirigida contra as disposições do Tratado de Versalhes. Por seu turno, as potências vencedoras procuram estabilizar a ordem europeia.

56. Em reacção directa à Primeira Guerra Mundial, são lançadas iniciativas visando uma transformação radical do sistema internacional. O Pacto Briand-Kellog, de 1928, constitui uma tentativa dos Estados para ilegalizar a guerra. No espaço de um ano, 54 Estados aderem ao Pacto. Dos escombros da guerra nascem forças sociais, designadamente o Movimento Pan-Europeu, que procuram apelar a um sentimento de responsabilidade e de solidariedade em toda a Europa. Estes fenómenos de elite não têm, porém, grande impacto popular.

57. A crise económica mundial, com início nos Estados Unidos no Outono de 1929, tem graves repercussões na situação económica, social e política da Europa. O capitalismo parecer ter falhado definitivamente, o mercado como factor de ordem parece desacreditado. O desemprego em massa, o agravamento das condições sociais e a fome fazem de novo parte do quotidiano dos Europeus. Neste aparente impasse, os projectos alternativos radicais — de direita, como de esquerda — adquirem influência crescente. Em amplos sectores das sociedades europeias, considera-se que a democracia não tem futuro, nem capacidade para resolver os problemas.

58. O triunfo dos Nacionais-Socialistas sob Adolf Hitler no "Terceiro Reich" revelou-se fatal para o continente. A tomada do poder, em 30 de Janeiro de 1933, marca uma viragem importante na História da Europa. A ascensão do NSDAP, que, de pequeno partido insignificante, passa a formação mais importante do Parlamento alemão, explica-se por inúmeros factores específicos da História alemã, entre os quais figuram, como elementosprincipais, o traumatismo da derrota na Primeira Guerra Mundial, as graves consequências da crise económica mundial e o fracasso dos partidos democráticos. Imediatamente após o início de funções como Chanceler, Hitler começa a eliminar a forma democrática de Estado. O caminho conducente à ditadura do "Führerstaat", no qual, em última instância, apenas a vontade de Adolf Hitler conta, é percorrido a um ritmo vertiginoso. A consolidação interna do "Terceiro Reich" está já concluída no Verão de 1934. Já muito cedo se manifesta o ódio radical dos Nacionais-Socialistas para com os Judeus, consagrado juridicamente nas leis raciais ("Rassegesetze") de Nuremberga, adoptadas em 1935.

59. Um golpe militar lançado em Julho de 1936 a partir da região de Marrocos sobre protectorado espanhol, é o primeiro acto de uma guerra civil de três anos em Espanha,

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conduzida por ambas as partes com uma extrema brutalidade. A Península Ibérica torna-se o campo de treino das ditaduras totalitárias, ao passo que as grandes potências democráticas — a França e a Grã-Bretanha — declaram a sua neutralidade. A vitória de Francisco Franco na Primavera de 1939, a qual não teria sido possível sem o apoio alemão e italiano, sela o futuro de Espanha, que se perpetuará como uma ditadura de direita que só na segunda metade dos anos 70 chegará ao fim, após a morte do próprioFranco.

60. Tirando partido da nova correlação de forças da política internacional, Hitler consegue rearmar o "Terceiro Reich". Hitler procura constantemente provocar crises internacionais.As potências ocidentais — a começar pela Grã-Bretanha — apostam numa política de pacificação, visando integrar a Alemanha Nacional-Socialista numa ordem europeia pacífica. O ponto culminante da política de pacificação é atingido na Conferência de Munique, em finais de Setembro de 1938, quando Britânicos e Franceses, que procuram evitar a guerra, sacrificam uma democracia aliada à sede de expansão de Hitler. O desmembramento da Checoslováquia em função das zonas de influência étnica é um triunfo da política hitleriana de instrumentalização da questão das minorias. Para Hitler, aliás, o Acordo de Munique é considerado como uma derrota humilhante, uma vez que não atingiu o seu objectivo último, ou seja, provocar uma grande guerra.

61. Adolf Hitler apenas consegue desencadear a Segunda Guerra Mundial após a conclusão de um acordo com o ditador soviético Josef Estaline — que é também o seu inimigo mortal no plano ideológico — assinando o Pacto de Não Agressão Germano-Soviético, de 23 de Agosto de 1939. As duas ditaduras totalitárias chegam igualmente a acordo, num Protocolo Adicional secreto, sobre a partilha das respectivas esferas de influência na Europa Central e Oriental. A quarta divisão da Polónia, bem como a expansão da URSS para Ocidente são importantes disposições do referido Protocolo Adicional.

62. Em 1 de Setembro de 1939, o ataque da "Wehrmacht" à Polónia marca o início da Segunda Guerra Mundial. Dois dias mais tarde, a Grã-Bretanha e a França declaram a guerra ao "Terceiro Reich". As forças armadas polacas são derrotadas no espaço de quatro semanas. À margem dos combates são perpetrados crimes em massa contra a população civil polaca. A campanha alemã tem já os contornos de uma guerra de extermínio. Em 17 de Setembro de 1939, e conforme acordado, o Exército Vermelho ataca a região oriental da Polónia. No princípio do mês de Outubro de 1939, a resistência polaca é definitivamente eliminada e o país é ocupado por duas ditaduras totalitárias.

63. Enquanto no Ocidente, até à Primavera de 1940, é conduzida uma "estranha forma de guerra" ("drôle de guerre"), a União Soviética agride os Estados vizinhos. Durante a "Campanha de Inverno", em 1939-40, os Finlandeses impõem-se habilmente, embora com elevadas baixas. Não obstante, são obrigados a ceder vastas parcelas de território à URSS. No Verão de 1940, os três Estados Bálticos são ocupados pelo Exército Vermelho e incorporados na URSS, enquanto Repúblicas soviéticas.

64. Após a vitória da "Wehrmacht" sobre a França em Maio e Junho de 1940, o poder de Adolf Hitler está no auge. Apenas a Grã-Bretanha, sob a égide do novo Primeiro-Ministro, Winston Churchill, prossegue o combate contra a ditadura nacional-socialista.

65. Já no Verão de 1940, a Alemanha começa a planear uma guerra racial e de extermínio contra a União Soviética, que tem início em 22 de Junho de 1941. Esta guerra ideológica é levada a cabo pelas duas partes com uma grande brutalidade e sem piedade. A política de ocupação alemã na Rússia é marcada pelo desprezo pelo ser humano. Na retaguarda da frente alemã, são perpetrados, desde o início da campanha, massacres contra a população civil, constituindo sobretudo os Judeus o alvo de execuções sistemáticas.

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66. Pouco tempo depois do ataque alemão à União Soviética, a Grã-Bretanha conclui com a URSS um acordo de ajuda e assistência. Só após o ataque japonês a Pearl Harbour, em 7 de Dezembro de 1941, e da declaração de guerra da Alemanha, em 11 de Dezembro de 1941, é que os Estados Unidos entram no conflito.

67. A ocupação alemã de grandes partes da Europa é para muitos uma experiência traumatizante. Em todas as zonas ocupadas surgem grupos de resistentes contra a dominação estrangeira. Paralelamente, o fenómeno do colaboracionismo está igualmente presente em todos os Estados ocupados.

68. O genocídio dos judeus europeus constitui um objectivo central da política nacional-socialista. A destituição de direitos, a perseguição e, por fim, o assassínio dos Judeus processa-se gradualmente. Os campos de concentração e de extermínio constituem a fase final deste terrível processo. No total, é de cerca de seis milhões o número de Judeus assassinados pelos Nazis.

A Europa a partir da Segunda Guerra Mundial69. O mais tardar depois da viragem observada na guerra aquando da batalha de

Estalinegrado, no Inverno de 1942-43, os Estados beligerantes, bem como os governos no exílio começam a elaborar planos para o pós-guerra. Londres torna-se, nestes anos, um laboratório internacional de ideias para a construção de uma Europa futura. Todas as partes têm claramente presentes as experiências vividas após a Primeira Guerra Mundial. A ocupação total do inimigo derrotado e a destruição do suposto militarismo germano-prussiano constituem dois objectivos prioritários da política dos Aliados. Rapidamente se verifica, porém, que os objectivos dos principais Aliados dificilmente são conciliáveis. Ao passo que a União Soviética não quer renunciar aos territórios que adquiriu no período decorrido entre 1939 e 1941, os Aliados ocidentais insistem no direito à autodeterminação dos povos em causa. Sobretudo a sorte da Polónia provoca acesas controvérsias, nas quais Estaline consegue fazer valer o seu ponto de vista. As fronteiras da Polónia — assim o decidem os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a União Soviética na grande Conferência de Ialta, em princípios do mês de Fevereiro de 1945 — são deslocadas para Ocidente. Este país adquire territórios outrora germânicos, tendo a União Soviética anexado a parte oriental do país.

70. Simultaneamente, os "Três Grandes" chegam em Ialta a um acordo sobre a criação das Nações Unidas, âmbito em que aos membros permanentes do Conselho de Segurança é conferido um direito de veto absoluto. Assim se garante que a organização mundial não possa agir contra as grandes potências dirigentes por via de decisões adoptadas por maioria. Até ao final do conflito Leste-Oeste, a ONU é palco do confronto ideológico entre os dois blocos.

71. A Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 10 de Dezembro de 1948, constitui uma importante referência no contexto da luta contra a opressão e o racismo. Ademais, os direitos humanos constituem o fundamento sobre o qual deve ser construída a nova Europa.

72. O Exército Vermelho assume a maior parte do encargo com a luta contra a Alemanha nacional-socialista. Já a partir dos últimos meses de guerra, tudo leva a crer que Estaline utiliza as suas tropas para instalar dirigentes comunistas dóceis nos Estados da Europa Central e Oriental. O seu objectivo consiste em criar uma orla de países satélites a Ocidente. Deste ponto de vista, a vitória sobre a Alemanha nacional-socialista, formalmente confirmada, em 8-9 de Maio de 1945, pela capitulação incondicional da "Wehrmacht", assume uma dupla faceta: enquanto a Ocidente, onde se encontram

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estacionadas as tropas dos Aliados, se pode falar, sem margem para dúvidas, de um dia de libertação, a situação é radicalmente diferente na Europa Central e Oriental. Também aqui, a vitória sobre a Alemanha é considerada como uma libertação, mesclada, no entanto, do receio de uma nova ditadura.

73. O final dos combates, que só na Europa causaram mais de 50 milhões de mortes, coincide com o início de migrações em massa no continente europeu. Com 12 a 14 milhões de pessoas refugiadas e deslocadas — essencialmente originárias das regiões orientais da Alemanha — este país representa o grupo mais numeroso. Aquando da Conferência de Potsdam, em Julho e Agosto de 1945, as principais potências vencedoras chegam a acordo, não só sobre as deslocações da população, mas também sobre o futuro da Alemanha, que é dividida em quatro zonas de ocupação. Já durante a Conferência, é patente que as frequentes divergências de pontos de vista das potências ocidentais e da URSS apenas podem ser ultrapassadas mediante recurso a compromissos de índole formal.

74. Nas sociedades ocidentais, imediatamente após o final da guerra faz-se sentir uma viragem à esquerda. O sinal mais claro desta mudança é a não reeleição do Primeiro-Ministro vitorioso, Winston Churchill, no mês de Julho de 1945, o qual foi substituído, ainda na Conferência de Potsdam, pelo seu sucessor do Partido Trabalhista, Clement Attlee. Não obstante estas transformações da paisagem política, não resta qualquer dúvida às potências coloniais europeias de que é necessário restabelecer o seu domínio, arruinado em múltiplas ocasiões pela guerra, nas regiões da África e da Ásia que delas dependem. Muito rapidamente se assiste à eclosão de conflitos armados na Indonésia holandesa ou na Indochina francesa, que se prolongarão, em parte, pelas duas décadas seguintes.

75. Berlim, a antiga capital do Reich, e Viena, a capital austríaca, são divididas em quatro zonas. Estas metrópoles simbolizam o início da divisão do continente. Berlim continua a ser um dos pontos quentes do confronto entre as superpotências. Porém, a Guerra Fria eclode, não no centro da Europa, mas na periferia. Sob a Presidência de Harry S. Truman, a política externa americana passa decididamente de reserva declarada no início a uma estratégia de confronto com a União Soviética. A limitação do poder da União Soviética, que repousa, em última análise, na dissuasão nuclear, é uma constante da política externa americana até ao final do conflito Leste-Oeste.

76. Ao passo que a União Soviética instala na sua zona de influência governos de cariz estalinista, as potências ocidentais apostam na democratização da Alemanha Ocidental. A fronteira entre as zonas de influência atravessa a Alemanha e divide o continente. A fórmula de Churchill quando se refere à "Cortina de Ferro" (5 de Março de 1946) descreve adequadamente a nova situação. Cerca de seis meses mais tarde, num outro discurso visionário (19 de Setembro de 1946), Churchill advoga a criação dos Estados Unidos da Europa. Todavia, num primeiro tempo, esta visão não conduz a resultados concretos.

77. Não obstante, neste período são fundadas inúmeras instituições que propugnam a ideia europeia. Estas iniciativas são inicialmente apoiadas por homens políticos de origem burguesa, saídos das fileiras da Democracia Cristã, designadamente Konrad Adenauer, Alcide de Gasperi, Jean Monnet, Robert Schuman e Paul-Henri Spaak.

78. Mais importante para o futuro imediato é o "Programa de Reconstrução Europeia" dos Estados Unidos da América, que, a partir de meados de 1947, abre aos Estados europeus perspectivas de recuperação económica. Paralelamente, os Estados beneficiários — e trata-se de uma condição sine qua non imposta por Washington — são obrigados a cooperar. Em pouco tempo, são sucessivamente criadas organizações supranacionais,

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incumbidas da coordenação das medidas de reconstrução. Este período é marcado no Ocidente pela democracia e pela economia de mercado.

79. No leste da Europa, a situação é completamente diferente: sob a direcção da URSS, os Estados situados entre o Mar Báltico e o Mar Negro são sujeitos a uma estalinização forçada. A resistência é dominada com brutalidade, a população aterrorizada pela polícia secreta e pela arbitrariedade. A deportação para os campos de trabalho soviéticos (Gulag) é uma experiência comum aos opositores da Europa Central e Oriental, que discordam da via adoptada. Paralelamente, prossegue a reconstrução nos Estados do Bloco de Leste e são gradualmente superadas as mais graves destruições causadas pela guerra.

80. A pressão soviética do exterior torna solidárias as nações do Ocidente. Cinco democracias ocidentais associam-se, assinando o Tratado de Bruxelas, de 17 de Março de 1948, para se protegerem mutuamente contra uma eventual agressão vinda de Leste. A pedido da Grã-Bretanha, os Estados Unidos e o Canadá são igualmente convidados a aderir à Aliança de Defesa. Em 4 de Abril de 1949, é assinado em Washington o Tratado da NATO. Alguns Estados europeus mantêm-se neutros. Ainda hoje, a NATO é o principal pilar da segurança europeia.

81. Já três meses antes, os Estados da União Ocidental haviam fundado o Conselho da Europa (28 de Janeiro de 1949), incumbido de promover a cooperação dos Estados membros no domínio do progresso económico e social. Em Agosto de 1950, o Conselho da Europa acolhe, com o estatuto de membro associado, a República Federal da Alemanha, recentemente fundada, em Maio de 1949. Em 18 de Abril de 1951, é criada a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, que constitui o núcleo da unificação europeia e atenua as tradicionais rivalidades entre a França e a Alemanha no domínio da indústria pesada. Após o princípio da Guerra da Coreia, em Junho de 1950, regista-se na Europa Ocidental um formidável crescimento económico, que prossegue até 1973, com consequências diversas. Esta fase de expansão não só conduz a uma estabilização das sociedades ocidentais, mas também traz a muitos europeus um certo conforto na vida quotidiana. A sociedade de consumo converte-se na marca distintiva dos países industriais do Ocidente.

82. Em simultâneo, este período de crescimento viabiliza a criação dos serviços sociais públicos. O Estado-Providência torna-se, ao longo dos anos, parte integrante da identidade europeia. Trata-se de um acervo especificamente europeu, com origem na Escandinávia. A explosão da taxa de natalidade após o fim da Segunda Guerra Mundial coloca novos desafios à infra-estrutura pública. O necessário desenvolvimento do sistema de saúde e das estruturas educativas transforma as sociedades da Europa Ocidental. A cultura da juventude transforma-se num fenómeno de sociedade, sendo que a americanização das sociedades da Europa Ocidental passa, em primeiro lugar, pela cultura da juventude.

83. A grande diversidade observada na Europa Ocidental contrasta claramente com a evolução para lá da "Cortina de Ferro". A intensidade da pressão da ditadura no sentido da uniformidade mantém-se até à morte de Estaline, em 5 de Março de 1953. No contexto das lutas pela sucessão do ditador, assiste-se a um afrouxamento dos órgãos do Estado. A sangrenta repressão da sublevação popular de 17 de Junho de 1953 na RDA demonstra que o poder comunista no Bloco de Leste assenta, em primeira instância, nas baionetas do Exército Vermelho. A desestalinização levada a cabo por Nikita S. Krutchev, o novo homem forte do Kremlin, desde Fevereiro de 1956, abala toda a zona de influência soviética. Enquanto a crise na Polónia acaba por ter uma solução política, a sublevação

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popular de Novembro de 1956, na Hungria, é esmagada pelo Exército Vermelho.Milhares de húngaros morrem, centenas de milhares tomam o caminho do exílio.

84. As economias planificadas da Europa Central e Oriental apresentam, nos anos 50, taxas de crescimento plenamente respeitáveis. O aprovisionamento das populações melhora lentamente. Contudo, ao longo dos anos, as economias nacionais recuam cada vez mais face à concorrência da Europa Ocidental. A tecnologia do Bloco de Leste — acima de tudo, na própria URSS — apenas é competitiva e, em parte, dominante, num único sector, designadamente, o da tecnologia do armamento. O choque do Sputnik, de 4 de Outubro de 1957, abala a autoconfiança ocidental e confere uma aparência de fundamento objectivo à atitude triunfante dos dirigentes soviéticos.

85. Após o desastre da Grã-Bretanha e da França na crise do Suez, no Outono de 1956, assiste-se de novo a um agravamento da situação no que toca à descolonização. Nas colónias, os movimentos de libertação nacional apostam na violência armada para porem termo à dominação do "homem branco". Após a sua independência, muitos Estados recém-fundados voltam-se para a União Soviética e preferem seguir a via comunista rumo à modernização. O peso das potências europeias na política mundial diminui cada vez mais.

86. Uma das reacções a esta perda de influência é a associação na Comunidade Económica Europeia, solenemente concluída em 25 de Março de 1957, em Roma. A CEE é a organização que, no plano administrativo e jurídico, precede a actual União Europeia. A ideia subjacente à CEE é a seguinte: os Estados-Membros devem estar articulados de tal forma, que se tornem estruturalmente incapazes de fazer a guerra. E, de facto, assiste-se a uma modificação na natureza da política entre os membros: não obstante continuarem a subsistir sensibilidades nacionais, a guerra deixou de ser uma opção possível.

87. Um dos momentos-chave da História da Guerra Fria na Europa é a construção do Muro de Berlim, em 13 de Agosto de 1961. O Muro torna-se o símbolo da divisão do continente.

88. Após a estabilização na Europa, o palco principal da Guerra Fria desloca-se para o Terceiro Mundo. A reconciliação entre a França e a República Federal da Alemanha —conduzida por Charles de Gaulle e Konrad Adenauer — constitui uma importante condição prévia ao aprofundamento da integração europeia. As três ditaduras ocidentais, em Espanha, em Portugal e na Grécia, ficam, numa primeira fase, excluídas da integração institucional.

89. Em Janeiro de 1963, o Chefe de Estado francês impede a adesão da Grã-Bretanha à CEE. A política de De Gaulle provoca constantemente graves crises na CEE, nos anos 60, embora a organização consiga superar essas crises. Em 1 de Julho de 1967, as três Comunidades Europeias fundem-se, dando lugar à Comunidade Europeia (CE). Um ano mais tarde, entra em vigor a União Aduaneira da CE, contexto em que são abolidos os direitos aduaneiros internos aplicáveis aos produtos manufacturados e industriais. A força de atracção da CE aumenta e reforça o interesse britânico na adesão, a qual é formalmente concretizada em 1 de Janeiro de 1973. A Dinamarca, a Irlanda e a Noruega assinam o Acto de Adesão em simultâneo com o Reino Unido. Porém, no quadro de um referendo organizado em Setembro de 1972, os Noruegueses pronunciam-se contra a adesão.

90. O ano de 1968 assinala uma viragem na História do pós-guerra na Europa — a Ocidente como a Leste. Nas sociedades ocidentais, essencialmente entre os jovens, verifica-se umarebelião contra o sistema estabelecido. A agitação, que atinge as raias da revolta em França, alimenta-se de fontes diversas: trata-se, inter alia, de um conflito de gerações e da

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expressão da luta contra a guerra conduzida pelos Estados Unidos no Vietname. Neste contexto, assiste-se ao renascer do pensamento neomarxista.

91. A sangrenta repressão da Primavera de Praga por tropas do Pacto de Varsóvia, em Agosto de 1968, dá o tom da futura evolução no interior do Bloco de Leste. Em particular nos intelectuais, instala-se a desilusão. O comunismo de inspiração soviética parece impossível de reformar e ideologicamente entorpecido. O anúncio da doutrina de Brejnev confirma a vontade de domínio ilimitado da URSS.

92. No final dos anos 60 começa uma era marcada por personalidades sociais-democratas de prestígio. Willy Brandt na RFA, Bruno Kreisky na Áustria e Olof Palme na Suécia são partidários de uma liberalização no plano da política interna e de uma política de desanuviamento face à União Soviética. O Chanceler Willy Brandt impõe-se, sobretudo, a nível internacional com a sua "nova política para o Leste" ("Ostpolitik"). O seu simbólico ajoelhar, em Dezembro de 1970, frente ao monumento comemorativo da sublevação no gueto de Varsóvia assume o estatuto de ícone deste período. Estes esforços de desanuviamento, que culminam com a assinatura do Acto Final da CSCE, em Helsínquia, em 1 de Agosto de 1975, transformam o continente. Muitos contemporâneos deixam de considerar a União Soviética como uma ameaça. Para muitos homens de Estado no Ocidente, os dissidentes que se batem pela causa da liberdade e dos direitos humanos naEuropa de Leste são, sobretudo, factores de perturbação da política de desanuviamento.

93. No plano social, um novo estilo de vida emerge nos anos 70, a par de uma prosperidade crescente e de uma motorização generalizada. A mudança de valores, já iniciada na década precedente, estende-se agora a grupos cada vez mais vastos das sociedades da Europa Ocidental. A individualização e a realização pessoal tornam-se parâmetros de referência. Uma maior liberdade sexual torna-se a marca desta época. Cabelos compridos e mini-saias invadem as ruas das metrópoles europeias. Estas novas modas e este novo estilo de vida têm igualmente eco do outro lado da "Cortina de Ferro".

94. Simultaneamente, a longa fase de expansão económica dos países industrializados atinge o seu termo com a chamada crise petrolífera de 1973. Os anos 70 são marcados na Europa Ocidental por uma grave crise económica (estagflação), que conduz ao colapso das indústrias tradicionais. A extracção mineira e a indústria pesada são os grandes perdedores estruturais. Regiões inteiras — como, por exemplo, o norte da Inglaterra, a região do Ruhr ou a Lorena — tornam-se zonas socialmente desfavorecidas, em que a taxa de desemprego é muito elevada. Outras regiões beneficiam da reconversão para o sector terciário e a microelectrónica. A sociedade dos serviços moderna desenvolve-se com um grande dinamismo.

95. Por outro lado, uma série de factores — entre os quais figuram os relatórios do Clube de Roma — conduzem a uma evolução das mentalidades relativamente ao crescimento económico e às consequências ecológicas da exploração da Natureza. Em muitos países europeus, são lançadas iniciativas de cidadãos empenhados num ambiente limpo e num mundo melhor. Em determinados países, têm lugar grandes revoluções sociais. Surgem partidos "verdes", a maior parte das vezes com base em iniciativas de cidadãos e grupos de esquerda.

96. Tanto as modificações estruturais das economias nacionais ocidentais, como o novo interesse pela ecologia são completamente ignoradas pelos Estados sob influência soviética. Nos anos 70, o fosso tecnológico entre os Estados situados por detrás da "Cortina de Ferro" e os Estados ocidentais cava-se definitivamente. No domínio das tecnologias informáticas, os progressos aceleram-se a um ritmo vertiginoso no Ocidente.

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97. No entanto, esta evolução ainda não é claramente previsível em meados dos anos 70, antes pelo contrário: em Itália e na República Federal da Alemanha, terroristas de extrema-esquerda fazem tremer as bases do Estado. A luta contra o terrorismo com recurso a métodos próprios do Estado de Direito constitui uma missão muito difícil, que representa um pesado ónus para os sistemas políticos.

98. No Sul da Europa, surgem, em meados dos anos 70, processos de transformação no sentido da democracia. Na Grécia, o Regime dos Coronéis dissolve-se em 1974 e, no mesmo ano, chega também ao fim a ditadura portuguesa. Como em Espanha um ano mais tarde, as ditaduras são substituídas por democracias parlamentares. A "Revolução dos Cravos" em Portugal, em 1974, põe igualmente cobro às guerras em África. Portugal é o último país europeu a dar a independência às suas colónias, em Angola e Moçambique. Após a morte do ditador Franco, em 20 de Novembro de 1975, a transição pacífica da ditadura para a democracia em Espanha é observada com muito interesse, influenciandoos acontecimentos nos países do Bloco de Leste em finais dos anos 80.

99. Estes processos de democratização abrem perspectivas para a futura adesão destes dois Estados da Europa do Sul à CE, a qual tem lugar em 1 de Janeiro de 1986. Quanto à Grécia, já em 1 de Janeiro de 1981 havia aderido à CE.

100. Em 1979, o Parlamento Europeu é eleito pela primeira vez, tendo a sua sessão constitutiva tido lugar em Julho desse ano. As competências do Parlamento, inicialmente muito limitadas, são gradualmente alargadas.

101. No plano da política internacional, as relações Leste-Oeste agravam-se consideravelmente. As polémicas a propósito do rearmamento da NATO, decidido em 12 de Dezembro de 1979 em reacção ao estacionamento de mísseis soviéticos SS-20, bem como à invasão do Afeganistão pela URSS, no Natal de 1979, geram novas tensões. Neste contexto, as dificuldades de aprovisionamento provocam uma vaga de greves na Polónia. O sindicato independente "Solidariedade", sob a direcção de Lech Walesa, contesta abertamente pela primeira vez no Bloco de Leste a vontade de hegemonia do Partido Comunista. A corajosa iniciativa lançada em Gdansk é apoiada, no plano espiritual, pelo Papa polaco João Paulo II, em funções desde 1978. A situação agrava-se na Polónia. A nova direcção do Estado e do Partido não vê solução outra que a imposição da lei marcial em 13 de Dezembro de 1981.

102. O reforço deliberado do confronto ideológico pelo Presidente americano Ronald Reagan gera na URSS grande desconfiança e vigorosa resistência. Simultaneamente, a nova autoconfiança dos Estados Unidos coloca também a NATO perante uma prova de fogo. O estacionamento, pela NATO, em 1983, de armas de médio alcance dá lugar a uma mobilização sem precedentes da sociedade civil.

103. É, por outro lado, evidente que, no final da era de Brejnev, a URSS entra num período de imobilismo, o qual se mantém na época dos seus dois sucessores. É apenas com a assunção de funções de Michail Gorbatchov, em Março de 1985, que se abrem novas possibilidades. "Glasnost" e "Perestroika" (transparência e reforma) tornam-se os novos objectivos da política soviética. As transformações sociais encontram eco essencialmente nas zonas não russas da União Soviética. Também nos países do Bloco de Leste se modificam as relações entre os partidos comunistas e as populações. Globalmente, trata-se de um processo de erosão da vontade de hegemonia comunista. Porém, não é possível pôr fim ao colapso da economia da zona de influência soviética. As economias planificadas mostram-se cada vez menos aptas a fazer face aos complexos desafios da vida económica moderna. A avaria ocorrida no reactor nuclear de Chernobyl, em 26 de

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Abril de 1986, não só faz numerosas vítimas, como também constitui um sinal claro do atraso da tecnologia soviética.

104. No Ocidente, registam-se, nos anos 80, evoluções claramente opostas às do Bloco de Leste. Mau grado algumas dificuldades de adaptação, o sector dos serviços e a microelectrónica tornam-se os garantes de uma fase de expansão. Tem início a marcha triunfal do computador pessoal. Em meados dos anos 80, os Estados-Membros da CE decidem prosseguir na via do desenvolvimento das instituições comuns. São neste período lançados os fundamentos da futura União Europeia.

105. O ano de 1989 constitui um ano charneira na História europeia. A queda do Muro de Berlim, em 9 de Novembro de 1989, é um acontecimento de dimensão mundial e um farol para o futuro. A dominação da URSS e dos partidos comunistas cessa sem violência nos países em causa, à excepção da Roménia. Este processo — a chamada "refolução" —transforma o continente de forma duradoura. As manifestações pacíficas dos movimentos populares obrigam os dirigentes a demitirem-se. Contrariamente ao que se passara nos anos 50 e 60, a URSS não intervém. A transição para a democracia é obtida por via negocial na maioria dos Estados do Bloco de Leste. Os novos Estados retomam o curso das suas histórias nacionais.

106. A situação é diferente no caso da RDA, que constitui uma excepção. Promovida em primeiro lugar pelo Chanceler Helmut Kohl, com o beneplácito do Presidente George H. W. Bush, a reunificação com a República Federal da Alemanha torna-se efectiva em 3 de Outubro de 1990. O poder de atracção da ideia nacional tem igualmente efeitos na própria União Soviética, que começa a dissolver-se. Anteriores Estados-Nações como a Estónia, a Letónia e a Lituânia renascem e retomam o fio da sua longa História. Em 25 de Dezembro de 1991, a bandeira vermelha é içada pela última vez no Kremlin. A Rússia, cujo território está consideravelmente reduzido, sucede à União Soviética. Entre 1990 e 1993, oito Estados da Europa Central e Oriental aderem ao Conselho da Europa.

107. O renascimento do Estado-Nação desorienta certos sectores da sociedade civil da Europa Ocidental. A perspectiva de criação de uma União Europeia, oficializada pelo Tratado de Maastricht, em Fevereiro de 1992, começa a ser debatida. Depressa resulta evidente que, atendendo às novas condições, a criação de um Estado Federal europeu não é politicamente viável. Simultaneamente, o Tratado de Maastricht e, em particular, o Tratado de Amesterdão, que introduzem e alargam respectivamente a margem de co-decisão do Parlamento no âmbito do processo legislativo europeu, assinalam uma etapa na via da parlamentarização da União Europeia.

108. Ao mesmo tempo, novos conflitos deflagram após o fim da Guerra Fria, que se prendem fundamentalmente com a existência de minorias nacionais. Trata-se de um problema que não diz apenas respeito à Europa Central e Oriental, como o provam os persistentes conflitos na Irlanda do Norte, no País Basco espanhol ou na Córsega. A então Checoslováquia cinde-se, pacificamente, em dois Estados no dia 1 de Janeiro de 1993, estabelecendo os dois países que lhe sucedem uma união aduaneira. Entre contrapartida, a dissolução da Jugoslávia não só dá lugar a uma guerra no continente europeu, mas também a sofrimentos humanos que atingem centenas de milhares de pessoas. Nestas guerras, a Europa, na sua vertente institucional, teve um papel lastimável. Os seus bloqueios administrativos internos e a sua incapacidade militar contribuem para prolongar os confrontos bélicos. E é apenas quando os Estados Unidos da América assumem a liderança que é posto termo à primeira fase dos combates (Acordos de Dayton, em 14 de Dezembro de 1995). Ainda hoje na ex-Jugoslávia estão estacionadas tropas europeias com o objectivo de controlar a aplicação do cessar-fogo.

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109. O alargamento da UE acelera-se. Em 1 de Janeiro de 1995, é a vez da adesão da Finlândia, da Áustria e da Suécia. Em Dezembro de 1997, os preparativos para o alargamento a Leste avançam, sendo juridicamente formalizados. Paralelamente, têm lugar amplas transformações: o segundo Acordo de Schengen, de 26 de Março de 1995, prevê a supressão dos controlos de pessoas nas fronteiras internas da UE. A introdução do euro como meio de pagamento em determinados Estados-Membros da UE, em 1 de Janeiro de 2002, reforça a interconexão das economias nacionais. Verifica-se, concomitantemente, que em muitos países da zona euro — sobretudo na República Federal da Alemanha — o apego às moedas nacionais continua a estar profundamente enraizado.

110. Os atentados de 11 de Setembro de 2001 nos EUA assinalam o início de um novo capítulo da política internacional. A ameaça terrorista da militância islamista atinge também a Europa. Os atentados de Madrid (11 de Março de 2004) e de Londres (7 de Julho de 2005) demonstram que também a Europa está na linha de mira das organizações terroristas islâmicas. A guerra contra o Iraque, conduzida pelo Presidente americano George W. Bush, divide o continente. Ao passo que a França e a República Federal da Alemanha, por exemplo, rejeitam uma participação activa, o Reino Unido e a Espanha, bem como alguns Estados da Europa Central e Oriental enviam contingentes de tropas.

111. Em 1 de Maio de 2004, tem lugar o maior alargamento da História da UE. Ao acolher dez novos membros — Estónia, Letónia, Lituânia, Malta, Polónia, Eslovénia, Eslováquia, República Checa, Hungria e Chipre — a UE passa a contar 25 membros. A cisão do continente está definitivamente ultrapassada. Os novos Estados-Membros fazem parte dos beneficiários líquidos e retiram da UE vantagens diversas.

112. Por seu turno, a Bulgária e a Roménia aderem à UE em 1 de Janeiro de 2007. Nos "antigos" Estados-Membros da UE, manifestam-se oposições diversas a este grande alargamento a Leste. Os críticos receiam, por um lado, uma renacionalização da política europeia e, por outro lado, uma diluição do grau de integração. Simultaneamente, a perspectiva de integração contribui, nos diferentes Estados, para a estabilização dos difíceis e dolorosos processos de mudança.

Questões sobre o futuro da Europa113. O futuro da União Europeia continua em aberto. Nem o seu objectivo último está

claramente definido, nem há acordo sobre as fronteiras da UE. A última parte da exposição deveria limitar-se à formulação de perguntas, para que os visitantes compreendam claramente que a situação não está definida. Por outro lado, esta abordagem permite também agir, no curto prazo, a novos acontecimentos.

114. Poderão eventualmente ser colocadas aos visitantes várias questões:

Será um novo aprofundamento da UE possível? Como reagir após o "não" à Constituição da UE em referendo? Será o Tratado de Lisboa um compromisso viável?

Quando estará concluído o alargamento da UE? Poderá a Turquia tornar-se membro pleno da UE?

Como ultrapassar o défice democrático da UE?

Por que motivo não consegue a UE suscitar um verdadeiro entusiasmo nas populações dos Estados-Membros?

Como pode a UE superar a sua fragilidade estrutural no plano militar no domínio da política externa, em geral?

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Como pode a UE reagir às alterações demográficas que afectam todos os Estados-Membros? Será um maior recurso à imigração um meio que já deu as suas provas?

Poder-se-á harmonizar as diferentes tradições, tendo em vista definir o modelo social europeu?

Como será o futuro da UE: evoluirá esta no sentido de uma Federação, de uma Confederação ou de um Estado Federal?

Perspectivas115. São estes os fundamentos conceptuais para uma Casa da História Europeia que o

Comité de Peritos entendeu dever transmitir ao Presidente do Parlamento Europeu.

116. Após as discussões no seio das instâncias responsáveis e a adopção das necessárias decisões políticas de princípio, é indispensável criar uma instância qualificada, responsável pela concretização dos fundamentos institucionais e temáticos. O Comité de Peritos recomenda que, no contexto de decisões políticas de princípio, sejam criadas as pertinentes instâncias de supervisão e os órgãos científicos de acompanhamento daCasa da História Europeia.

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Composição do Comité de Peritos

Włodzimierz Borodziej (PL), Professor de História Moderna, Universidade de Varsóvia

Giorgio Cracco (IT), Professor de História Eclesiástica, Universidade de TurimMichel Dumoulin (BE), Professor de História, Universidade Católica de Lovaina, Lovaina-a-NovaHans Walter Hütter (DE), Professor, Presidente da Fundação "Casa da História da República Federal da Alemanha", BonaMarie-Hélène Joly (FR), Conservadora Geral do Património, Directora Adjunta da Memória, Património e Arquivos, Ministério da Defesa, FrançaMatti Klinge (FI), Professor jubilado de História dos Países Nórdicos, Universidade de HelsínquiaRonald de Leeuw (NL), Professor, Director do Reijksmuseum, Amesterdão, aposentado

António Reis (PT), Professor de História, Universidade Nova de LisboaMária Schmidt (HU), Directora, Casa do Museu do Terror, Budapeste

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