ocpca - ordem dos contabilistas e peritos contabilistas de angola

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Publicação Oficial da OCPCA. Edição 0 - Novembro 2014

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  • "A Contabilidade a cincia que estuda, controla e interpreta os factos ocorridos no patrimnio das entidades, mediante o registro, a demonstrao expositiva e a revelao desses factos, com o propsito de oferecer informaes sobre a composio do patrimnio, as suas variaes e o resultado econmico decorrente da gesto da riqueza patrimonial."

    Hilrio Franco

  • Comisso Instaladora da Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas de Angola

    Jlio Ferreira de Almeida Sampaio, Catario Eduardo Csar, Mariano Paulo, Mrio Alberto dos Santos

    Brber, Jaime de Carvalho Bastos, Admeto Erasmo Paulo, Ntalani Mesa Emeyi Manuel, Bento Adronico Domingos, Lus Manuel Neves, Jos Luiz Rodrigues

    de Gouveia Neto, Joo Nepomuceno de Sousa Reis Veigas de Abreu, Fernando Jorge Teixeira

    Hermes, Dula Maria Brito P. dos Santos, Jorge Pedro Gonalves de Carvalho Figueira, Rui Manuel dos Santos, Patrcio Bicudo Vilar, Beatriz Ferreira de

    Andrade dos Santos

    OCPCA - Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas de Angola

    N 0 - Novembro 2014

    Rua dos Coqueiros, 67-69 - LuandaEmail: [email protected]

    Telemovel: (+244) 912 783 124 / 928 190 652 Secretariado: (+244) 222 336 616

    Web site: www.ocpcangola.org

    Presidente do Conselho Editorial: Jlio SampaioConselho Editorial: Dula Santos, Beatriz Santos,

    Fernando Hermes, Lus Neves, Jaime BastosDirector Editorial: Lus Neves

    Redaco: Pedro Matos, Paula MatosFotografia e Edio de Imagem: Pedro Matos

    Pr-impresso e design grfico: VISIONCAST ANGImpresso: Multitema, S.A.

    Propriedade: Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas de Angola

    Tiragem: 3000 exemplares

    Interdita a reproduo, mesmo que parcial, de textos, fotografias ou ilustraes sob quaisquer meios e para

    quaisquer fins, inclusive comerciais.

    2014 Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas de Angola. Todos os direitos reservados.

  • Bem-vindoOCPCA

    Os profissionais de Contabilidade e Auditoria tm sua disposio o nmero zero da primeira re-vista de Contabilidade editada em Angola. O seu lanamento coincide com uma srie de aces que a Comisso Instaladora da OCPCA est a

    executar, com vista realizao da primeira Assembleia Geral da nossa Ordem especialmente destinada eleio dos res-pectivos rgos sociais.

    A Revista de Contabilidade ser, sem dvida, um importante veculo de comunicao entre os profissionais e um espao de divulgao e partilha de conhecimentos, constituindo-se num poderoso instrumento de formao.

    Aos acadmicos, aos estudiosos da Contabilidade, aos conta-bilistas e auditores deixo um convite: investiguem e escrevam contribuindo para o desenvolvimento do conhecimento cont-bil em Angola.

    Luanda, 1 de Novembro de 2014

    Jlio SampaioPresidente da Comisso Instaladora da OCPCA

  • ndiceda

    EdioGalvanizar e qualificar o

    exerccio da profissoCriar sinergias para o futuro da

    profisso

    A evoluo da contabilidade em Angola e dos seus profissionais

    Persecuo de um objectivo comum

    "Penso que j era tempo"

    Estruturara classe profissional

    Preparar profissionais para o mercado global

    Partilhar experincias, aprofundar conhecimentos

    Os estatutos orgnicos da OCPCA

    " a exigncia que credibiliza a nossa classe profissional"

    Os auditores

    Capacitar profissionais para melhor servir Angola

    Valorizar o exerccio da profisso

    Formao em Contabilidade em Angola

    16 22

    6 30

    43

    54

    66

    74

    84

    38

    48

    60

    70

    78

  • 5OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    Editorial

    J muito se falou sobre a histria da evoluo da orga-nizao na nossa classe profissional, registando-se uma unanimidade sobre a importncia e o papel que a OCPCA ter na valorizao e dignificao de todos os profissionais de contabilidade e auditoria em An-

    gola. Esta dignificao dever, contudo, ser fomentada com base em trs grandes valores deontolgicos: a tica, a inte-gridade profissional e, no menos importante, a competncia profissional.

    A tica e a integridade profissional so factores fundamentais para a confiabilidade de todas as entidades ente pblicas que utilizam os nossos servios como base de informao para os seus relatos financeiros e para as anlises de desempenho da sua gesto. A competncia profissional , por seu lado, fac-tor determinante para a garantia da execuo de trabalhos fiveis. Estes, assumem-se como importantes instrumentos para a mensurao e direito patrimonial de todas as entidades individuais, colectivas, pblicas e privadas.

    Para o desenvolvimento dos valores enumerados, a formao profissional, tcnico-profissional e acadmica so, certamente, o caminho a seguir para capacitar os profissionais do sector, desenvolvendo-lhes a competitividade com vista ao reconhe-cimento nacional e internacional, particularmente por parte dos organismos que regulam a profisso.

    Julgo que neste editorial pouco mais poderia acrescentar, pois as magnficas entrevistas e artigos de opinio contidas neste numero Zero da Revista OCPCA so bastantes esclarecedoras e objectivas quanto aos nossos anseios. Resta-me desejar a todos boas leituras e que, no futuro, consigamos orgulharmo--nos desta importante e apaixonante profisso.

    Lus Manuel NevesDirector

  • 6 OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    A histria da evoluo da Contabilidade em Angola, para alm de ser aliciante e vasta, deve ser tratada com a profundidade exigida, merecendo mesmo um prolongado trabalho de investigao que ser, certamente, matria para os estudiosos da nossa profisso.

    A EVOLUODA CONTABILIDADE EM

    ANGOLAE DOS SEUS PROFISSIONAIS

    Para este nmero especial da nossa revista OCPCA, a opo foi circuns-crever a abordagem aos aspectos da Regulamentao Legal da Profis-so, comeando pela aprovao do Cdigo do Imposto Industrial, em 1972, marco importante para a profisso, at chegar criao da Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas.

    REGULAMENTAO LEGAL DA PROFISSO CONTABILSTICA

    Situao anterior a 1972

    A ausncia de regulamentao especfica.

    A Lei 1995 de 17 de Maio de 1943 instituiu novo regime de fiscalizao das sociedades annimas, mediante a interveno de tcnicos especializados e ajuramentados num organismo colegial denominado Cmara dos Verifica-dores das Sociedades por Aces.

    O Projecto de Decreto Regulamentar, de 1951 definindo competncias dos Verificadores nunca foi aprovado.

    O Decreto-Lei N 49.381 de 15 de Novembro de 1969 Fiscalizao das Sociedades Annimas Exige que um dos membros do Conselho Fiscal tem

  • 7OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    Luis NevesMembro da Comisso Instaladora

  • 8 OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    de ser designado entre os inscritos na lista de Revisores Oficiais de Contas permite que o exerccio das funes do Conselho Fiscal possa ser confiado a uma Sociedade de Reviso de Contas.

    Estabelece que as actividades de Revisor Oficial de Contas sero objecto de regulamentao (organizao, requisitos de inscrio na lista, causas de cancelamento e suspenso de inscrio).

    Situao a partir de 1972

    O Decreto Lei N 1/72 de 3 de Janeiro de 1972 Aprova o Regulamento das actividades dos Revisores Oficiais de Contas e das Sociedades de Revisores (no aplicvel em Angola).

    Projecto de Estatutos para acriao da Associao Angolana dos

    Tcnicos de Contabilidade (1972)

  • 9OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    A aplicao e efeitos da aprovao do Cdigo do Imposto Industrial

    O Cdigo do Imposto Industrial (Diploma Legislativo N 35/72 de 29 de Abril de 1972) Torna obrigatrio que as Declaraes Fiscais sejam assina-das, para alm do Contribuinte ou seu representante legal, pelo Tcnico de Contas responsvel.

    Determina que o lucro tributvel reportar-se- ao saldo da conta de resulta-dos elaborada em obedincia a sos princpios de contabilidade e consistir na diferena entre todos os proveitos ou ganhos realizados no exerccio an-terior quele a que o ano fiscal respeitar e os custos imputveis ao mesmo exerccio, uns e outros eventualmente corrigidos nos termos deste Cdigo.

    Que s podem ser considerados Tcnicos de Contas responsveis os que estiverem inscritos nos Servios de Fazenda e Contabilidade (antiga designa-o dos Servios de Finanas.

    Devendo a Inscrio ficar dependente de condies a fixar pelo Governa-dor Geral .

    Foi ainda elaborado o anteprojecto de Plano Geral de Contabilidade em 1973 pelo Centro de Estudos Fiscais DCGI Portugal.

    O regulamento da Inscrio de Tcnicos de Contas(Portaria N 441/73 de 14 de Julho de 1973)

    Impe as seguintes condies:

    Ser maior de 21 anos;

    Possuir seguintes habilitaes:

    Licenciatura em Finanas, Economia;

    Curso dos extintos Institutos Superiores do Comrcio;

    Curso de contabilista dos Institutos Comerciais;

    Cursos equiparados aos acima referidos;

    No ter sido condenado por crime previsto no n1 do Art 78 do Cdigo Penal (furto, roubo, falsidade) e, possuir idoneidade moral e profissional do exerccio da profisso e permitida, enquanto no se proceder regulamenta-o legal, a inscrio de candidatos que, no possuindo as habilitaes acad-micas exigidas, desde que data da inscrio exeram funes de contabilista e forneam elementos suficientes para apreciao da sua competncia em matrias de contabilidade, direito comercial e direito fiscal.

  • 10 OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    NORMALIZAO CONTABILSTICAE DIPLOMAS REGULADORES DO EXERCCIO DA PROFISSO

    Os Planos de Contas

    Plano de Contas Nacional aprovado pelo Decreto n 250 de 23 de De-zembro de 1979;

    Plano de Contas Empresarial aprovado pelo Decreto n 70/89 de 19 de Outubro de 1989;

    Plano Geral de Contabilidade aprovado pelo Decreto n82/01 de 16 de Novembro de 2001.

    Lei N 3/01 -Lei do Exerccio da Contabilidade e Auditoria de 2 de Maro de 2001

    Define as bases para o exerccio das actividades profissionais de Contabi-lidade e Auditoria;

    Dispe que a actividade profissional de Contabilidade compreende: A preparao de demonstraes financeiras decorrentes de imposi o legal (Balano, Demonstrao de Resultados, Demonstrao de Fluxos de Caixa e Notas s Contas);

    A realizao de outros tipos de trabalho a executar por um contabi lista decorrente de imposio legal.

    Restringe o exerccio da Contabilidade a profissionais inscritos na Entidade Representativa dos Profissionais dos Contabilistas e Peritos Contabilistas

    Dispe que a actividade profissional de auditoria compreende: A realizao de auditorias decorrentes ou no de imposio legal e servios relacionados;

    A realizao de outro tipo de trabalho a executar por um perito con tabilista decorrente de imposio legal;

    Define Auditoria como sendo o trabalho desenvolvido com o objectivo de expressar uma opinio profissional e independente sobre se as demonstra-es financeiras esto preparadas, com todos os aspectos materialmente re-levantes, de acordo com uma estrutura conceptual de relato financeiro iden-tificada e Servios Relacionados como sendo os trabalhos de reviso limitada, de procedimentos acordados e de compilaes.

  • 11OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    MOVIMENTO ASSOCIATIVO

    Primeiras tentativas ensaiadas

    Da criao da Associao Angolana dos Tcnicos de Contabilidade (1972) Proclamada mas no autorizada pelo Governo Colonial;

    Da criao da Associao Angolana de Contabilistas e Auditores (1995 e 1996) Acabou por evoluir para a constituio de uma Ordem;

    A 1 Assembleia de Profissionais realizada em Novembro de 2002 aprovou os Estatutos, posteriormente submetidos ao Governo atravs do Ministrio das Finanas.

    Documento que circulou pelos profissionais de contabilidade no intuito de obter pareceres s propostas de Estatutos da AATCA

  • 12 OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    Em Sesso do Conselho de Ministros de 30 de Julho de 2010 aprovou os Estatutos da Ordem (Decreto Presidencial N 232/10 de 11 de Outubro de 2010).

    Decreto Executivo do Ministro das Finanas N 72/11 de 9 de Maio de 2011 Nomeia a Comisso Instaladora.

    Decreto Executivo do Ministro das Finanas N 98/14 de 9 de Abril de 2014 Nomeia a 2 Comisso Instaladora e homloga os actos da 1 Comis-so Instaladora.

    Decreto Executivo do Ministro das Finanas N 310/14 de 8 de Outubro de 2014 alarga o prazo de funcionamento da 2 Comisso Instaladora e define prazo para a Eleies dos rgos Sociais.

    ORDEM DOS CONTABILISTAS E PERITOS CONTABILISTAS

    Misso da Ordem:A Ordem uma pessoa colectiva de direito pblico, de mbito nacional, dotada de personalidade jurdica e autonomia administrativa, financeira e patrimo-nial, qual compete representar e defender os interesses profissionais dos seus membros e a dignidade e prestgio da funo, bem como superinten-der em todos os aspectos relacionados com o exerccio da profisso. Sobre as atribuies estatutrias da Ordem destaca-se os seguintes objectivos e estrutura directiva.

    Objectivos principais da Ordem

    Promover e zelar pelo respeito dos princpios ticos e deontolgicos e defender os interesses, direitos e prerrogativas dos seus membros;

    Promover e contribuir para a formao profissional e o aperfeioamento dos seus membros, designadamente atravs da organizao de cursos, col-quios, conferncias, seminrios e de cursos de actualizao, bem como pro-mover o acesso ao exerccio da profisso;

    Definir normas e esquemas tcnicos de actuao profissional;

    Colaborar no ensino da Contabilidade, a todos os nveis do ensino oficial de Contabilidade, Gesto e Economia, designadamente participando na formula-o dos planos curriculares dos cursos que directa ou indirectamente digam respeito ao ensino da Contabilidade;

    Organizar e manter actualizado o cadastro dos seus membros;

    Certificar, sempre que tal for solicitado, que os seus membros se encon-tram no pleno exerccio da sua capacidade funcional, nos termos dos Estatu-tos e demais legislao aplicvel;

  • 13OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    Estabelecer um regime de estgios e exames para os candidatos a conta-bilistas e peritos contabilistas;

    Colaborar com quaisquer entidades nacionais ou estrangeiras, no fomento e realizao de estudos, investigao e trabalhos que visem o aperfeioamen-to de assuntos de natureza contabilstica e fiscal;

    Propor s entidades legalmente competentes medidas relativas defesa da classe profissional e dos seus interesses;

    Exercer jurisdio disciplinar sobre os seus membros;

    Estabelecer princpios e normas de tica e deontologia profissional;

    Defender o direito de exclusividade dos ttulos profissionais dos seus membros;

    Exercer as demais funes que lhe so atribudas pelo presente Estatuto e por outras disposies legais aplicveis;

    A defesa da dignidade e prestgio dos membros e da funo;

    Reunio de trabalho com a Comisso para osauditores internos

  • 14 OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    A Ordem pode intervir como assistente em processos judiciais em que seja parte um dos seus membros e em que estejam em causa questes relacio-nadas com o exerccio da profisso, bem como garantir patrocnio judicial aos mesmos, em qualquer tipo de processo. Outros objectivos fundamentais da Ordem

    Constitui, tambm, objectivo da Ordem a sua filiao em organismos interna-cionais de contabilidade e auditoria, nomeadamente, o IFAC International Fe-deration of Accountants e no seu organismo regional ECSAFA Eastern, Central and Southern African Federation of Accountants, bem assim como a PAFA Pan African Federation of Accountants.

    rgos da Ordem

    Assembleia Geral Conselho Directivo Conselho de Inscrio Conselho Disciplinar Conselho Tcnico de Auditoria Conselho Tcnico de Contabilidade Seces Regionais e/ou Profissionais, nos termos a regulamentar

    Interveno de Gouveia Neto, membro da Comisso Instaladora da OCPCA ,durante o

    Congresso dos TOC (Portugal 2013)

  • 15OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    ACTIVIDADES DA COMISSO INSTALADORA

    Formao, aces de organizao e normalizao

    Realizao de Formao 5 Cursos de Actualizao de Conhecimentos em que participaram perto de 500 profissionais.

    Formao de formadores promovida a elaborao de Programas de Li-cenciatura, Mestrado e Doutoramento em Contabilidade e Auditoria, a propor s Universidades que ministram esses cursos.

    Controlo do exerccio da profisso em curso e elaborados de um conjunto de projectos de regulamentos para o efeito.

    Problemtica da reciprocidade. Intercambio internacional

    Cooperao com instituies congneres dos pases membros da Comu-nidade de Lngua Portuguesa.

    Cooperao com organizaes internacionais (IFAC, ECSAFA, e a PAFA)

    Membros daComisso Dinamizadora (1996 - 2010)

    Andr LopesMrio BarberJos BritoFrederico BongueMarcolino MeirelesJoo AbreuMartinho MBakassiJoaquim CunhaNarendra de SousaJlio SampaioJaime BastosGouveia NetoLus NevesRui SantosJorge FigueiraManuela AmaralAugusto MoraisPedro V. Espirito Santo

    Nota:A lista dos elementos que formaram a Comisso Dinamizadora est sugeita a confirmao. Se, eventualmente, me esqueci de al-gum nome, apresento desde j as mais sinceras desculpas, considerando igualmente vlidos e importantes os seus contributos.

    Membros da1 Comisso Instaladora (2011 - 2014)

    Joana da Fonseca dos SantosManuel Joo LandaJaime de Carvalho BastosMario Alberto dos Santos BarberJulio Ferreira de Almeida SampaioJos Luiz de Gouveia NetoJoo Nepomuceno de Sousa Reis Viegas de Abreu Narendra Antnio de SousaJoaquim Teixeira da CunhaJorge Pedro de Carvalho FigueiraLuis Manuel NevesFrederico BongueAdmeto Erasmo PauloBento Adronico DomingosArmanda de Ftima Jesus Fortes

    Membros da2 Comisso Instaladora (2014)

    Catarino Eduardo CsarJulio Ferreira de Almeida SampaioMariano PauloJos Luiz de Gouveia NetoMario Alberto dos Santos BarberPatrcio Bicudo VilarBeatriz Ferreira dos SantosDula Maria Brito P. dos SantosJaime de Carvalho BastosJoo Nepomuceno de Sousa Reis Viegas de AbreuLuis Manuel NevesRui Manuel dos SantosAdmeto Erasmo PauloBento Adronico DomingosNtalani Mesa Emeyi ManuelFernando Jorge Teixeira HermesJorge Pedro de Carvalho Figueira

  • 16 OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    Armando ManuelMinistro das Finanas

    de Angola

  • 17OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    GALVANIZAR EQUALIFICAR OEXERCCIO DA PROFISSO

    Para o Ministrio das Finanas, a proclamao da Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas de Angola (OCPCA) constitui um grande avano na forma como a sociedade, e em particular os profissio-nais ligados ao exerccio do relato financeiro dos contribuintes, assumem para si determinadas respon-sabilidades at ento exclusivas do Estado, numa cooperao que se pretende construtiva e pr-activa em prol do desenvolvimento do Pas. Armando Manuel, Ministro das Finanas de Angola, est empe-nhado em manter e fomentar esta cooperao. O rigoroso cumprimento da deontologia profissional, a capacitao e qualificao dos profissionais do sector e as expectativas do Ministrio das Finanas no desempenho da OCPCA so alguns dos temas abordados pelo Ministro ao longo desta entrevista.

    Como encara o Minist-

    rio das Finanas o sur-

    gimento de uma Ordem

    profissional que regule

    a actividade dos con-

    tabilistas e peritos contabilistas a

    exercerem no Pas?

    As grandes economias possuem uma

    caracterstica especial, elas possuem

    boas instituies, fruto no apenas de

    bons processos e de boa regulao,

    mas sobretudo de uma classe de espe-

    cialistas renomados nos mais variados

    domnios. Em Angola, importante que

    os aspectos da especialidade se faam

    sentir numa perspectiva crescente, por-

    que da especificidade com enfoque

    particular, que se evolui para a generali-

    dade. satisfatrio saber que estamos

    a caminhar para um processo de conso-

    lidao da OCPCA, o qual permitir con-

    ferir diferenciamento aos profissionais

    do sector.

    Em funo das necessidades reais

    do Pas, como classifica o nvel pro-

    fissional e o perfil curricular dos tc-

    nicos nacionais de contabilidade?

    Temos que considerar o seguinte bin-

    mio: por um lado, a relevncia profissio-

    nal; por outro, a importncia acadmica.

    Temos profissionais, que tendo adquiri-

  • 18 OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    existiam as denominadas Escolas Co-

    merciais que formavam profissionais

    qualificados em determinadas reas

    mas, enquadrados na realidade da po-

    ca. Entretanto, o mundo evoluiu. Os m-

    todos e conhecimentos tambm se alte-

    raram. A contabilidade, semelhana

    de outras reas do conhecimento, tam-

    bm registou profundas transforma-

    es. Como tal, necessrio fazer com

    que os profissionais se modernizem e

    acompanhem as naturais evolues

    que surgem. Hoje em dia, ao nvel das

    nossas universidades, j existem cur-

    sos versados para as reas da contabi-

    lidade, contudo, com o passar do tempo,

    precisamos de refinar os programas

    curriculares do ensino mdio para que

    do certo nvel de formao acadmica,

    desenvolveram e consolidaram sua

    experincia no mercado profissional,

    todavia, para muitos, faz-se necessrio

    actualizar os conhecimentos para que

    no fiquem ultrapassados em relao

    aos que se apoiaram no ensino espec-

    fico das matrias contabilsticas como

    forma de conhecimento apurado.

    Numa ptica meramente curricular, te-

    mos que admitir que o nosso sistema

    de ensino, especialmente nos ltimos

    anos, foi bastante generalista. No que

    aos temas da contabilidade diz respeito,

    o que a sociedade conheceu nos ltimos

    anos deixou de ser o reflexo do que co-

    nhecamos no passado. Antigamente,

    Hoje em dia, ao nvel das nossas universidades, j exis-tem cursos versados para as reas da contabilidade, contudo, com o passar do tempo, precisamos de refinar os programas curriculares do ensino mdio para que tambm eles possam acompanhar as necessidades reais do nosso Pas.

    Nos ltimos anoso ensino superior tem registado

    grandes avanos em Angola

  • 19OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    tambm eles possam acompanhar as

    necessidades reais do nosso Pas.

    Com a entrada em funes da OCP-

    CA ir registar-se uma transfern-

    cia de competncias que, at h

    pouco tempo, eram da exclusiva

    responsabilidade do Ministrio das

    Finanas. Que expectativas tem o

    Ministrio das Finanas quanto ao

    desempenho da OCPCA relativa-

    mente s funes que ir agora as-

    sumir?

    verdade que, numa sociedade que d

    os seus primeiros passos, as institui-

    es do Estado acabam por assumir um

    papel dominante. medida que a socie-

    dade vai maturando, h um conjunto de

    responsabilidades que vo sendo exo-

    neradas dessas instituies, transferin-

    do-se para outros entes, quer sejam da

    administrao indirecta, quer liberais.

    Em presena deste processo, estamos

    claramente satisfeitos por estarmos a

    delegar algumas das nossas responsa-

    bilidades num organismo que pertence

    ao domnio da sociedade civil. Todo este

    processo permitir conferir um nvel de

    transparncia mais acentuado e, luz

    das regras internacionalmente aceites,

    permitir galvanizar o exerccio da pro-

    fisso.

    Dando resposta aos desgnios da clas-

    se, espero que a Ordem se afirme e

    esteja altura do desafio. Esperamos

    que venha a conferir prestigio aos seus

    membros e que, atravs deles, fiquem

    assegurados os padres das boas pr-

    ticas. com isso que contamos.

    Armando Manuel sente-se satisfeito por algumas das responsabilidades que, at agora, eram do domnio do Estado

    estarem a passar gradualmente para a sociedade civil

  • 20 OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    Um dos aspectos que constituiu um

    entrave clere criao da OCPCA

    e que no gerou consensos entre

    os membros da sua Comisso Ins-

    taladora foi o processo de incluso

    de profissionais que, por no confe-

    rirem determinados pressupostos,

    poder-se-iam ver excludos do m-

    todo de assimilao. Relativamen-

    te a esta matria, considera que os

    critrios de seleco adoptados pela

    OCPCA vo ao encontro das expec-

    tativas do Governo, e em particular,

    do Ministrio das Finanas?

    H duas perceptivas para se abordar

    essa questo: a primeira que, em

    sede da adopo de medidas polticas,

    de processos de reforma e da criao

    de novas instituies, h sempre a obri-

    gatoriedade de existir determinado tipo

    de critrios que balizem e estipulem

    regras de funcionamento. Tambm

    bem verdade que os profissionais na-

    cionais devem-se nivelar pelos critrios

    mais exigentes os quais lhes permitiro

    alcanar resultados mais profcuos. A

    outra perspectiva que, no devemos

    ignorar a trajectria histrica do Pas.

    Devemos reconhecer que existiu um

    universo de profissionais que se encon-

    travam cadastrados no Ministrio das

    Finanas e que, desde sempre, exerce-

    ram esta actividade. verdade que no

    processo dialctico h necessidade de

    formaes e actualizaes, contudo,

    no podemos desprezar essas pessoas

    que continuam a ser um activo e que de-

    ram um contributo significativo ao Pas.

    Elas podem e devem continuar a contri-

    buir para o nosso desenvolvimento. H,

    por isso, necessidade de se tomarem

    decises equilibradas.

    Considera o actual nmero de pro-

    fissionais a exercer a actividade su-

    ficiente para atender s reais neces-

    sidades do Pas?

    neste domnio que surge o grande in-

    teresse do Estado e onde o Ministrio

    das Finanas se afirma. Est actual-

    mente em curso uma reforma tribut-

    ria no Pas com o objectivo de alargar a

    base tributria e elevar a arrecadao

    dos tributos no petrolferos, reduzin-

    do desta forma a exposio da nossa

    economia volatilidade do preo do

    petrleo o nosso principal produto de

    exportao. Como tal, o processo de di-

    versificao da nossa economia h-de

    demandar que tenhamos empresas lu-

    crativas e com potencial de gerao de

    valor acrescido. Para que isso acontea,

    estas empresas tero que possuir um

    barmetro de comparao. No proces-

    so de gesto destas unidades a contabi-

    lidade assume um papel de extrema im-

    portncia, sendo mesmo o instrumento

    dominante. Em sede da contabilidade,

    os gestores destas empresas podero

    monitorar o desempenho da empresa,

    nomeadamente o comportamento dos

    custos, dos proveitos e, em funo dos

    resultados, adoptar as melhores medi-

    das para elevar este desempenho. S

    deste modo conseguiremos ter empre-

    Est actualmente em curso uma reforma tributria no Pas com o objectivo de alargar a base tributria e elevar a arrecadao dos tributos no petrolferos, reduzindo desta forma a exposio da nossa economia volatili-dade do preo do petrleo o nosso principal produto de exportao.

  • 21OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    sas eficientes, lucrativas, que gerem va-

    lor acrescido e que diversifiquem a sua

    carteira de produtos.

    Se olharmos para este cenrio, facil-

    mente nos apercebemos que iremos

    necessitar de um nmero significativo

    de profissionais de contabilidade. Ao

    analisarmos o nmero de empresas

    que temos no Pas, facilmente reconhe-

    cemos que o universo de profissionais

    do sector da contabilidade incipiente

    para aquilo que so os desafios, logo,

    temos que ter critrios ponderados.

    Nesta fase inicial, temos que conseguir,

    dentro de determinados parmetros,

    absorver o mximo de profissionais. As

    insuficincias ao nvel da capacitao

    tero que ser superadas atravs de ac-

    es de formao e actualizaes de co-

    nhecimentos. S assim conseguiremos

    superar as nossas insuficincias nesta

    matria.

    Aos profissionais do sector coloca-

    -se a questo de terem que efectuar

    os relatos financeiros segundo as

    normas internacionalmente acei-

    tes, sem no entanto deixarem de re-

    portar no quadro dos regulamentos

    nacionais. Na viso do Ministrio

    das Finanas, qual dos processos

    dever assumir prioridade?

    A economia afirma-se no exterior s

    aps se ter afirmado internamente. Te-

    mos primeiro que nos afirmar interna-

    mente e, s depois, trabalharmos para

    o reconhecimento externo. Esta a mi-

    nha perspectiva.

    A OCPCA defende alguns critrios

    regulamentares dos quais se des-

    tacam o cdigo de conduta, tica e

    integridade profissional. Perante

    o tecido social e empresarial que

    existe actualmente em Angola, qual

    a sua opinio relativamente con-

    dio desses profissionais ficarem

    menos expostos s ms prticas e,

    eventualmente, a condutas menos

    prprias e fraudulentas promovidas

    por determinados gestores?

    Os processos de evoluo econmica

    passam por reformas conjunturais e

    estruturais. Estas reformas estruturais

    tm efeitos que tendem a mudar todo

    um comportamento e uma tendncia.

    As questes ligadas conduta e ti-

    ca esto ligadas natureza estrutural.

    Este um desafio que temos de ganhar.

    necessrio trabalharmos para alterar

    estes problemas estruturais.

    Que mensagem deixa aos profissio-

    nais que, a partir de agora, iro exer-

    cer a actividade com um estatuto di-

    ferente, mas com responsabilidades

    acrescidas ao nvel da deontologia

    profissional?

    Fao votos que se pautem pela dedica-

    o, com esprito abnegado mas rigo-

    roso, no esquecendo que o seu bom

    desempenho em muito influenciar o

    desempenho de toda a economia. Se

    agirem nessa perspectiva, certamente

    que as empresas para as quais traba-

    lham obtero melhores resultados e,

    em ltima anlise, toda a sociedade be-

    neficiar com isso.

    Ao analisarmos o nmero de empresas que temos no Pas, facilmente reconhecemos que o universo de pro-fissionais do sector da contabilidade incipiente para aquilo que so os desafios, logo, temos que ter critrios ponderados.

  • 22 OCPCA EDIO 0 - NOVEMBRO 2014

    CRIAR

    SINERGIASPARA O FUTURO DA

    PROFISSOJlio Sampaio foi um dos primeiros promotores da constituio de uma Ordem profissional para reger a actividade dos contabilistas e auditores em Angola. As primeiras reunies entre os profissionais do

    sector remontam ao ano de 1995. Desde essa poca, o percurso para a formalizao oficial da Or-dem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas de Angola (OCPCA) nem sempre foi fcil. Houve muitos avanos, mas tambm alguns recuos. Houve dinmica e evoluo, mas tambm houve muitos pero-dos de estagnao e resignao entre os vastos profissionais envolvidos neste processo. Jlio Sam-paio foi, at proclamao oficial da OCPCA, o presidente da sua Comisso Instaladora e um dos profissionais que esteve presente em todos os momentos da criao da recm-constituda OCPCA.

    Olhando para o percurso que levou constituio da OCPCA, o que sentiu ao ver, por fim, proclamada a sua efectiva constituio?

    muito difcil resumir em poucas pa-lavras a sensao que experimenta-mos. Por um lado, uma sensao de que, mesmo com todas as deficincias inerentes s realizaes humanas, se fez um trabalho vlido que vai ter utili-dade no futuro. Contudo, tambm sinto alguma frustrao, pois ficamos sempre com a sensao de que se poderia ter feito mais e, em alguns aspectos, talvez melhor. Chegmos agora ao ponto em que podemos passar o testemunho s

    novas geraes, as quais iro dar segui-mento ao trabalho realizado. Caber a elas fazerem a avaliao e perceberem se, de facto, aquilo que lhes entregamos tem algum valor. Estou convencido que tem mas, naturalmente, no perfeito; tem as suas lacunas e as suas defi-cincias que necessitam de ser aprimo-radas. Dentro das grandes limitaes que tivemos, quer ao nvel de recursos financeiros quer em termos humanos, foi o trabalho possvel.

    Passaram-se j mais de vinte anos sobre a data dos primeiros encontros. O que recorda do perodo inicial deste longo processo?

  • Jlio SampaioPresidente da Comisso Instaladora da OCPCA

  • 24 OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    Foi, de facto, uma enormidade de tem-po. J se passaram mais de vinte anos desde que se comeou a falar na pos-svel constituio de uma Ordem que regulasse a actividade em Angola.

    Comemos este projecto em 1995 mas, em 93/94 j tnhamos esboado estra-tgias sobre a forma como deveramos iniciar o processo. Ainda h pouco tempo localizei um documento que, na poca, tinha circulado entre os profissionais do sector. Nesse documento, faz-se referncia criao de uma associao angolana de tcnicos de contabilidade e auditores. Houve inclusive uma reunio no Instituto Mdio de Economia coorde-nada pelo Andr Lopes onde se dava a conhecer aos profissionais de conta-bilidade um esboo para uns possveis Estatutos dessa hipottica associao.

    Depois, passar-se-iam quase seis anos at ficarem reunidas as condies para a realizao de uma Assembleia que aprovasse esses Estatutos. Localizei, curiosamente, uma carta do Banco Mundial a comunicar-nos o contacto que queriam efectuar connosco. Atravs do senhor Uche Mbanefo, que era um antigo auditor da Coopers & Lybrand

    e que j tinha vindo a Angola fazer um levantamento da situao da contabi-lidade e auditoria no Pas, foi produzido um memorando sobre o assunto que despertou o interesse do Banco Mun-dial. Posteriormente, e numa conversa que tivemos, surgiu a ideia de desen-volvermos, no uma associao, mas uma Ordem dos profissionais do sector.

    Foi na sequncia desse encontro que acabmos por avanar para um projecto mais ambicioso. Em 2010, conseguimos obter a aprovao dos Estatutos para esse novo organismo e, por fim, con-seguimos eleger os corpos sociais que iro formar a to ansiada Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas de Angola.

    O projecto de se formar uma Ordem profissional em Angola remonta ao ano de 1995

    Durante todo este processo, houve muitas divergncias, a maioria delas construtivas, mas tambm admito que, por vezes, houve alguma falta de humildade perante choques de opinio.

  • 25OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    Embora partilhassem todos o mesmo objectivo, o certo que, quer no Grupo Dinamizador, quer posteriormente na Comisso Instaladora, sempre exis-tiram opinies distintas entre os diver-sos elementos. Que avaliao faz de to-dos esses contributos, muitos dos quais radicalmente antagnicos na forma de abordar as mesmas questes?Estou habituado a trabalhar em grupo, como tal, sei que quando se devenvolve um qualquer projecto em grupo, h sem-pre diferentes pontos de vista e opinies distintas sobre um mesmo problema. Se tivermos um grupo com vrios el-ementos e todos eles estiverem sempre em unanimidade sobre os diversos as-suntos, provavelmente, no produziro um bom trabalho. Durante todo este processo, houve muitas divergncias, a maioria delas construtivas, mas tam-bm admito que, por vezes, houve algu-ma falta de humildade perante choques de opinio. Essa falta de humildade tambm levou a que, eventualmente, se tenham cometido certos erros que se poderiam ter evitado. No entanto, o bal-ano muito positivo e bom que haja diferenas de opinio que levem a que os assuntos sejam estudados e apro-fundados por todos os intervenientes.

    Foi precisamente o que aconteceu com a discusso dos nossos Estatutos. Hoje, apercebemo-nos que fomos demasiado ambiciosos quando fixmos determina-das metas e prazos para as cumprir, no-meadamente quando, em determinado momento, estabelecemos um prazo mximo de dois anos para proclamar a Ordem. Para que isso pudesse acon-tecer, tnhamos que formar todos os profissionais do sector, e naquele tempo ainda nem sabamos ao certo quantos eram. Acabmos por ter de admitir que os dois anos que tnhamos inicialmente apontado para a realizao dessas for-maes profissionais eram, manifesta-mente, pouco.

    Nem s a falta de consenso entre os di-versos elementos contribuiu para o lon-go tempo que demorou a constituio da OCPCA. Houve outros constrangi-mentos que impediram uma clere ex-ecuo do processo. Que outras dificul-dades contriburam para o adiamento da aclamao da OCPCA? A falta de formadores certificados ca-pazes de dar o tipo de formao que necessitvamos foi uma das grandes dificuldades. Como temos por objectivo vir a integrar a International Federa-tion of Accountants (IFAC), a formao que tinha de ser ministrada deveria cumprir as normas da IFAC e deveria ser realizada por uma entidade filiada nessa organizao. Foi desta forma que conseguimos que a formao fosse ori-entada pela Ordem dos Revisores Oficial de Contas de Portugal. Foram eles que acabaram por certificar os cursos e os formadores e que, em ltima anlise, chancelaram a credibilidade e a garantia de qualidade de todos os envolvidos.

    A falta de recursos financeiros para empreender um projecto desta enver-gadura foi outra das dificuldades que tivemos de enfrentar ao longo de todo o processo de constituio da Ordem. No vergonha confessar que, muitos meses, nem condies tnhamos para pagar o aluguer do modesto espao que ocupmos. S com a boa vontade, amizade e viso de algumas entidades

    O Banco Mundial foi dos primeiros a apoiar a formao de uma Ordem dos

    profissional de contabilidade em Angola

    Acabmos por ter de admitir que os dois anos que tnhamos inicialmente apontado para a realizao dessas formaes profis-sionais eram, manifestamente, pouco.

  • 26 OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    privadas, conseguimos manter em fun-cionamento a estrutura de apoio con-stituio da Ordem.

    O sentido cauteloso das opinies que expressa algo que o caracteriza e que todos os profissionais do sector clas-sificam como sendo uma das suas vir-tudes. Em algum momento deste pro-cesso sentiu necessidade de abdicar desta sua forma de agir?Confesso que sim (risos). uma forma de poder contornar as dificuldades que se criam quando h divergncias de opinio entre as diversas partes. Muitos dizem que sou uma pessoa extrema-mente tranquila, mas tal no verdade. Sou at um pouco nervoso mas, tenho um grande autodomnio. Estou acos-tumado a lidar com situaes difceis. Lembro-me que, h mais de trinta anos, quando ainda era um jovem profissional e trabalhava como director do gabinete de recursos energticos do Ministrio do Plano, tive que participar numa comis-so de negociaes responsvel pela renegociao da concesso petrolfera de Cabinda. De toda a minha j longa carreira profissional esta foi, talvez, das experincias mais complicadas, mas gratificante, pelas quais passei. Nessa negociao, havia grandes divergn-cias de opinio no seio da Comisso Angolana de Negociaes: por um lado, estavam os representantes do sector petrolifero a Sonangol e o Minist-rio dos Petrleos por outro, o Minis-trio das Finanas que, obviamente, tinha uma viso peculiar na abordagem dos assuntos que concorriam para a definio do regime economico-fiscal e que a Sonangol rejeitava. Eu, como representante do Ministrio do Plano, tinha a incumbncia de procurar con-tribuir para se encontrar o equilbrio en-tre as duas partes. Curiosamente, pude verificar que, por vezes, se uma ideia de uma das partes fosse apresentada por mim no suscitava a rejeio imediata da outra parte, que occorreria se tal id-

    eia fosse apresentada pela parte que era a verdadeira autora da mesma. Foi uma experincia interessantssima que se prolongou por quatro ou cinco anos e que acabaria por me trazer algum traquejo em negociaes difceis. Foi, precisamente, o que aconteceu com o grupo de trabalho para a constituio da OCPCA.

    Com este grupo senti uma certa frus-trao por no ter conseguido que to-dos os elementos chegassem, de forma unnime, a um consenso sobre deter-minadas matrias, principalmente na parte final do processo. Possivelmente a falha pode ter sido minha. Tenho ple-na conscincia das minhas limitaes. Como no gosto de ferir susceptibi-lidades, raramente entro em confronto aberto com quem discorda das minhas opes. No entanto, a minha tolerncia perante a arrogncia zero e, nesta co-misso, houve por vezes situaes que ultrapassaram o limite do tolervel. Isso leva-me, de certa forma, a pensar que posso no ter estado altura do pro-cesso.Para essa falta de consensos no ter contribudo o longo perodo que todo este processo demorou?

    De certa forma contribuiu. preciso no esquecer que todos ns temos fun-es de responsabilidade nas empresas para as quais trabalhamos. Muitos as-sumiram cargos exigentes e que de-mandam muito do nosso tempo. Por vezes, os nicos momentos disponveis para resolvermos assuntos relaciona-dos com a Ordem eram no perodo da noite, deixando as famlias e o descanso fsico para segundo plano. Depois, a determinado momento do processo, o Ministrio das Finanas deixou de mos-trar interesse em apoiar o projecto, o que causou algum desalento no seio do grupo. Espermos dez anos para que os Estatutos fossem aprovados. Para nos-so azar, um dos Ministros das Finanas esteve oito anos sem nunca nos rece-ber. Seguiu-se-lhe outro que, apesar de nos ter apoiado e ter levado o assunto a Conselho de Ministros, viabilizando o projecto e nomeando a Comisso In-staladora, acabou por ser exonerado do cargo pouco tempo depois. Felizmente tivemos a sorte do actual Ministro em funes ter uma viso alargada para a necessidade da existncia de um rgo como a OCPCA. Conferiu posse Co-misso Instaladora, nomeada trs anos antes pelo seu antecessor, ratificou os

    Os programas que delinemos e que se en-contram a aguardar discusso com as uni-versidades e institutos mdios de formao de contabilistas e auditores so, por ventu-ra, dos projectos mais importantes que a Or-dem tem para concretizar.

  • 27OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    actos que tnhamos deliberado e criou condies para que o projecto atingisse os seus objectivos.

    Todas estas contrariedades con-triburam para que se gerasse alguma crispao entre ns. Na Comisso In-staladora ramos 15 membros, todos nomeados pelo Ministro das Finanas, mas s sete trabalhavam e estavam disponveis para a causa; os restantes oito nem se dignavam responder s solicitaes. Mostravam-se totalmente alheios ao processo. Acredito que mui-tos dos sete que trabalharam, no tin-ham menos ocupaes profissionais que os oito que no compareciam nas reunies preparatrias. Este tipo de ati-tudes acaba por cansar e saturar, e isso revelou-se neste grupo de trabalho.

    Qual ser o futuro papel da OCPCA ao nvel das relaes com instituies onde o interesse pblico assume especial rel-evncia?Penso que a Ordem vai ter um papel muito importante. Em primeiro lugar, ao nvel da formao e qualificao dos profissionais do sector. Os programas que delinemos e que se encontram a aguardar discusso com as universi-dades e institutos mdios de formao de contabilistas e auditores so, por ventura, dos projectos mais impor-tantes que a Ordem tem para concre-tizar. Na nossa sociedade, cada vez mais necessrio intensificar a cultura da responsabilidade e da prestao de contas. H, actualmente, muitos ge-stores que, a nvel empresarial, con-tinuam a encarar a contabilidade como

    um aborrecimento e que apenas serve para apresentar contas administrao fiscal. No encaram o relato financeiro como o principal instrumento de gesto, e isso ter de mudar. No propsito de se comearem a mudar as mentalidades dos futuros gestores do nosso Pas, as universidades esto j hoje a fazer um grande esforo nessa matria, e ns queremos estar na linha da frente desse empenho.

    Por outro lado, h tambm que reforar a cooperao com as entidades pbli-cas. Por exemplo, algo que no tivemos oportunidade de realizar e que est nos nossos planos a apresentao ao Ministrio das Finanas de sugestes com vista criao de uma Comisso Nacional de Normalizao Contabils-

    A formao e qualificao dos profissionais do sector da contabilidade dever continuar a ser uma prioridade para a OCPCA

  • 28 OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    tica. uma matria de vital importn-cia e que merece o mximo de ateno. Naturalmente, uma preocupao que vamos passar aos rgos sociais que vierem a formar a OCPCA. Este ser um dos assuntos que eles tero que mate-rializar.

    Ao nvel das auditorias internas nas em-presas espera-se que a OCPCA venha tambm a desempenhar um importante papel enquanto rgo regulador da ac-tividade. A Ordem ter de ser parte ac-tiva no controlo rigoroso dos projectos das empresas privadas e pblicas, sobr-etudo no que diz respeito aos concursos e contrataes. Quando se ouve dizer que Angola o pas mais caro do mundo, porque todos os dias pagamos o preo das ms prticas nos actos pblicos, no-meadamente aquelas que ocorrem nos

    concursos e adjudicaes pblicas. s vermos os processos judiciais que esto a decorrer com impacto de centenas de milhes de dlares. A contabilidade e a auditoria consciente sero importantes ferramentas no combate a estas prti-cas que concorrem para prejuzo do Es-tado.

    A colaborao nas medidas de preven-o e combate ao branqueamento de capitais e do financiamento ao terroris-mo outra das preocupaes dos gover-nos e, o Governo de Angola no excep-o. Tambm neste assunto a OCPCA poder ter um papel importantssimo, ao regular a actividade, fazendo-a alin-har pela transparncia das transaces financeiras, criando um maior controlo sob a gesto das empresas e a actuao dos prprios Conselhos Fiscais. Os Con-

    selhos Fiscais tm que perceber que, de acordo com as exigncias da nossa lei, tero responsabilidades muito eleva-das e tero de ser solidrios. Se houver gesto danosa sero co-responsveis por essas prticas. A este nvel, a Or-dem tambm ter um papel de super-viso, o qual poder ser colocado em ex-ecuo atravs de medidas de controlo de qualidade, no acompanhamento dos tcnicos e na defesa dos interesses dos profissionais.

    Ir haver situaes em que os conta-bilistas e os auditores internos se iro recusar a dar determinados pareceres, por entenderem que as prticas exer-cidas violam a lei, a tica e os princ-pios deontolgicos da profisso, como tal, as entidades patronais vo tentar intimidar ou demitir esses profission-ais. Nestas situaes, caber OCPCA a defesa dessas pessoas. Tambm vai haver o contrrio: profissionais que no so competentes e que acabam por en-ganar e defraudar os clientes. Nesses casos, a Ordem tambm dever intervir com mo pesada, punindo e, em ltima instncia, proibindo que o profissional exera a actividade. Por conseguinte, a OCPCA ter a obrigao de colaborar com os rgos judiciais quando se regis-tarem casos de burlas e fraudes que en-volvam profissionais do sector. H, por isso, uma imensa panplia de cenrios onde a OCPCA poder colaborar e con-tribuir para o bom desempenho de mui-tas das instituies nacionais.

    Entramos agora numa nova fase. A OCPCA est formalmente constituda e iniciar as tarefas para as quais foi incumbida. Na sua perspectiva, e numa ptica de continuidade do trabalho que foi desenvolvido pela Comisso Insta-ladora, quais deveriam ser os prximos passos a implementar pelos novos rgos sociais?Talvez a primeira preocupao seja a organizao interna da instituio. Para

    "Todos os dias pagamos o preo das ms prticas nos actos pblicos, nomeadamente aquelas que ocorrem nos concursos e adjudicaes pblicas."

  • 29OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    que isso seja possvel, penso que os novos membros do Conselho Directivo deveriam assumir em pleno as suas funes. Face ao muito trabalho que ainda tem de ser realizado, dadas as re-sponsabilidades e obrigaes que foram assumidas e tendo em considerao as expectativas de todos os profissionais do sector, ser de todo impensvel que seja possvel a indivduos como eu, que mantm as suas funes de gestores, consultores ou auditores em outras empresas, assumirem em pleno as fun-es exigidas pelo Conselho Directivo da OCPCA. Deixmos muito trabalho feito mas, o que est ainda pela frente e que precisa ser concretizado, talvez seja o mais importante. A maior tarefa com que os rgos sociais da OCPCA se iro confrontar a criao de condies que permitam instituio iniciar o seu ple-no funcionamento para, ento depois, se criarem sinergias que encorajem os profissionais do sector a melhor de en-trosarem com os objectivos da organi-zao.

    A segunda centra-se ao nvel da for-mao dos nossos membros. Tero de ser capazes de estabelecer o dilogo

    com as instituies de formao e aproveitar as sinergias que da advm. Tero de passar a mensagem e influ-enciar as instituies de ensino sobre o que preciso fazer para se melhorar a qualidade dos futuros profissionais.

    Serem capazes de aproveitar os passos que demos na cooperao internacional. importante que os rgos que ven-ham a ser eleitos continuem a fomen-tar estas parcerias, as desenvolvam e enriqueam, principalmente ao nvel da CPLP.

    Finalmente, conseguirem fomentar um relacionamento franco e aberto com os poderes pblicos, especialmente com a Administrao Fiscal. Tambm ao nvel das agncias reguladoras, tero de ser incentivadas as relaes de cooperao para que, desta forma, a OCPCA seja por todos entendida como uma organizao pr-activa no desenvolvimento do nos-so Pas.

    Que mensagem deixa a todos os mem-bros da OCPCA?Aos novos rgos sociais da OCPCA de-sejo sorte e que no fraquejem perante

    as adversidades. Mantenham-se firmes na defesa dos interesses dos profissio-nais do sector.

    A todos os membros desejo que se revejam no trabalho e nos objectivos da OCPCA pois ela foi criada, precisamente, para que todos os profissionais de con-tabilidade e auditoria exeram a sua actividade em Angola e nela se possam ver representados.

    Por fim, no poderia deixar de lembrar os muitos colegas que comungaram desta longa caminhada e que, infelizmente, j no se encontram entre ns. Ainda recentemente, ao folhear muitos dos documentos que serviram de base para debates de ideias e opinies, deparei-me com os nomes de alguns desses co-legas: o Meireles, o Frederico Bongue, o Pereira de Almeida, o Barbosa, o Esprito Santo, o Jos Brito, a Manuela Amado e o Vilares. Foram colegas que, desde o incio, se empenharam na prossecuo deste nosso objectivo. Estou certo que tambm eles iriam ficar felizes ao po-derem presenciar a realizao de um sonho antigo em prol da valorizao da nossa classe profissional.

    Ir haver situaes em que os contabilistas e os auditores internos se iro recusar a dar determinados pareceres, por entenderem que as prticas exercidas violam a lei, a tica e os princpios deontolgicos da profisso, como tal, as entidades patronais vo tentar intimidar ou demitir esses profissionais.

  • Andr LopesPrimeiro coodenador da

    Comisso Dinamizadora da OCPCA

  • 31OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    PERSECUO DE UM OBJECTIVOCOMUM

    Assistir ao trmino do processo de eleio dos rgos sociais da Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas de Angola (OCPCA) , para Andr Lopes, motivo de regozijo e grande satisfao. Com a criao desta nova instituio, Angola poder orgulhar-se de possuir um organismo capaz de contribuir, de forma efectiva, para a transparncia e para o processo de comparabilidade das demonstraes financeiras no Pas.

    Em 1995, enquanto pri-meiro coordenador do Grupo Dinamizador da OCPCA, Andr Lopes acompanhou e apoiou algumas instituies

    nacionais, nomeadamente o Minist-rio das Finanas e o Banco Nacional de Angola, na persecuo do objectivo de instituir uma Ordem profissional capaz de agregar e impulsionar a clas-se dos profissionais e tcnicos de con-tas. Nessa altura, teve a oportunidade de contribuir para a preparao de um conjunto de diplomas que, no ano 2000, viriam a ser aprovados pela Assembleia Nacional, nomeadamente o Decreto-lei

    que aprovou o actual Plano Geral de Contabilidade; a deliberao que tornou obrigatrio, a partir do exerccio fiscal de 2002, a publicao e divulgao das demonstraes financeiras das Socie-dades Annimas, Empresas Pblicas e de capitais mistos (decreto lei 88/00 de 6 de Outubro), assim como contribuiu para a aprovao da Lei da Contabilida-de e Auditoria (Decreto-lei 3/01 de 23 de Maro de 2001). Foi precisamente esta ltima lei que permitiu o surgimento da classe profissional e definiu o modo como o exerccio da actividade deveria ser realizado. Tal como salienta Andr Lopes, "esta lei foi de vital importn-cia para que os profissionais da classe

  • 32 OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    se pudessem constituir numa Ordem para a qual o Estado estaria a transfe-rir algumas daquelas que so as suas responsabilidades face ao processo de certificao, aprovao das demonstra-es financeiras das empresas e das auditorias s mesmas", refere.

    Ainda como coordenador deste Grupo Dinamizador, Andr Lopes liderou a re-viso do ante projecto dos Estatutos da Ordem dos Contabilistas e Peritos Con-tabilistas de Angola. "Foi precisamente este ltimo documento que levou ex-cessivo tempo a ser aprovado. Todo este perodo de estagnao e indefinio fez com que o surgimento da Comisso Instaladora da Ordem eleita em Assem-bleia dos Profissionais no ano de 2002 levasse demasiado tempo a ser efecti-vado. Apenas foi nomeada em Abril de 2011! Alm de herdar a responsabilida-de do Grupo Dinamizador, a Comisso Instaladora ficou ainda com as compe-tncias para conceber o quadro que le-varia proclamao da Ordem", recorda o primeiro coordenador da Comisso Dinamizadora da OCPCA.

    No ano 2000 viariam a ser aprovados pela Assem-bleia Nacional uma srie de diplomas que deram

    origem ao actual Plano Geral de Contabilidade

    Um grupo que inclui profissionais de diversas reas, uns vocacionados para a contabilidade e outros para a auditoria, tem forosamente opinies divergentes sobre determinados assuntos.

    No objectivo maior de constituir a Or-dem dos Contabilistas e Peritos Conta-bilistas de Angola, o Grupo Dinamizador sempre foi unnime nos caminhos a tri-lhar, contudo, "um grupo que inclui pro-fissionais de diversas reas, uns voca-cionados para a contabilidade e outros para a auditoria, tem forosamente opi-nies divergentes sobre determinados assuntos. A primeira grande dificuldade que tivemos que ultrapassar foi saber se deveramos proclamar duas associa-

  • 33OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    es distintas de classe uma para os contabilistas e a outra para os auditores ou se apenas uma era suficiente para representar os profissionais do sector. Estou recordado que essa dvida aca-bou por nos consumir muitas horas de intenso trabalho. Acabou por prevalecer o bom senso. Na altura, a classe no era composta por tantos profissionais de auditoria que exigisse esta clara sepa-rao. semelhana do que acontece actualmente, havia na altura muitos profissionais do sector que dividiam a sua actividade entre a contabilidade e a auditoria, o que acabou por ditar a opinio, na minha ptica acertada, de se constituir a Ordem com a agregao de ambas as classes profissionais; at mesmo porque os objectivos e os inte-resses no so divergentes", relembra o ex-coordenador, adiantando que, "tam-bm aqui foram importantes as expe-rincias colhidas noutros pases com as mesmas caractersticas de Angola, onde o modelo adoptado foi semelhante ao que acabaria por figurar para a consti-tuio da OCPCA. Provavelmente, numa fase mais desenvolvida e de maior ma-turidade do processo de crescimento e de desenvolvimento do Pas, da pr-pria sociedade e da classe profissional, se possa partir para uma separao de classes. Neste momento, o formato que acabou por prevalecer, acaba por ser a melhor soluo para a nossa realidade." Para alm da questo da agregao das

    diferentes classes profissionais numa mesma Ordem, outras houve que contri-buram para a prorrogao do processo de constituio da instituio. Quem de-veria fazer parte da classe profissional, foi uma destas questes. Uma vez que dentro da mesma classe existem gru-pos heterogneos com diferentes nveis de conhecimento e formao, a obten-o de consensos sobre quem poderia integrar a Ordem nem sempre foi fcil. Por fim, acabou por prevalecer a opinio de que, os direitos adquiridos deveriam ser preservados e assegurados. Na As-sembleia Nacional, no momento em que foi discutida a Lei da Contabilidade e Auditoria, sempre houve a preocupa-o em no excluir os profissionais que estariam autorizados a processar a con-tabilidade dos contribuintes. O mesmo se defendia relativamente aos profis-sionais que iriam certificar essas de-monstraes financeiras. Com base nos requisitos de integrao na Ordem, co-locava-se a questo do que iria suceder aos profissionais que, eventualmente, no possussem esses requisitos. Nes-te quadro, foi ento prevista a existn-cia de um perodo transitrio, durante o qual todos aqueles profissionais que data exercessem as suas actividades pudessem criar condies para, atravs da participao num curso de alinha-mento de capacitaes, pudessem, de forma directa, tornarem-se membros efectivos da Ordem. Andr Lopes recor-

    semelhana do que acontece actualmente, havia na altura muitos profissionais do sector que dividiam a sua actividade entre a contabilidade e a auditoria, o que acabou por ditar a opinio, na minha ptica acertada, de se constituir a Ordem com a agregao de ambas as classes profissionais; at mesmo porque os objectivos e os interesses no so divergentes.

  • 34 OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    da que, "nessa altura, este alinhamento fazia algum sentido, pois tinha acabado de ser aprovado o actual Plano Geral de Contabilidade e, com ele, tinham sido in-troduzidos conceitos totalmente novos, nomeadamente ao nvel de algumas matrias relacionadas com a aproxima-o s Normas Internacionais de Con-tabilidade que, por fora do normativo contabilstico anterior, eram na altura inexistentes. Assim, fazia todo o sentido que os profissionais fossem objecto de um alinhamento de conhecimentos que lhes permitisse tomarem contacto com estas novas matrias. Pensou-se ento na promoo de um curso de superao de conhecimentos cujo objectivo seria alinhar os profissionais s novas nor-mas intrnsecas a esse novo referencial contabilstico", recorda.

    Tambm a disponibilidade dos membros da Comisso Dinamizadora constituiu um entrave ao processo da formalizao da OCPCA. Nem sempre eram as mes-mas pessoas a estarem presentes nas vrias reunies da comisso, o que fez com que as discusses sobre assuntos tratados e aprovados tivessem, muitas vezes, de voltar a ser discutidos. Diver-sas vezes apareciam novos actores que colocavam diferentes questes o que, naturalmente, requeriam novas aborda-gens, muitas vezes distintas daquelas que, inicialmente, tinham sido objecto de tratamento. No entanto, conforme lembra Andr Lopes, "todo este proces-so acabou por cultivar fortes laos de camaradagem e profissionalismo, o que resultou na aprovao de todos os ins-trumentos que iro possibilitar a exis-tncia de uma Ordem de classe com um projecto de Estatutos ajustado aos inte-resses, quer dos profissionais, quer dos rgos institucionais, nomeadamente o Ministrio das Finanas. Estes instru-mentos acabam por estar em linha com os padres internacionais e permitem regular a tica e a deontologia dos pro-fissionais do sector", sublinha.

    Todas estas dificuldades iniciais fize-ram com que o plano de constituir uma Ordem profissional para a classe fosse cada vez mais difcil de alcanar. En-tretanto, tinham-se passado quase 14 anos desde dos pressupostos iniciais e, as necessidades que na altura existiam, j no eram as mesmas que actual-mente se colocam. Mesmo ao nvel das entidades pblicas e ente pblicas, no-meadamente ao nvel do Ministrio das Finanas e do Banco Nacional de Angola, o contexto do panorama internacional alterou-se, elevando o grau de exigncia dos relatos e das demonstraes finan-ceiras. Para estes organismos, a procla-mao da OCPCA assume especial rele-vo e importncia, uma vez que passam a poder dispor de instrumentos que con-correm directamente para a capacitao dos profissionais do sector. Contudo, coloca-se ainda o desafio relativo con-solidao do processo de formao dos membros da Ordem. A ttulo de exem-plo, o sector financeiro ir, a curto prazo, ser obrigado a apresentar as suas con-tas totalmente alinhadas pelas Normas Internacionais de Contabilidade e, com isto, os profissionais de contabilidade e auditoria ligados s instituies finan-ceiras iro necessitar de formao ade-

    necessrio que exista a comparabilidade entre as prticas adoptadas no Pas e as prticas aceites noutras geografias. Este um dos muitos desafios que se colocam OCPCA.

  • 35OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    quada para que, desta forma, possam interpretar e aplicar convenientemente estas novas regras. Como tal, a Ordem ter um papel fundamental na criao de condies para que este exerccio de formao seja continuado, permitindo assim que os objectivos propostos se-jam plenamente atingidos.

    O facto de haver instituies financeiras que j ultrapassaram as fronteiras na-cionais, quer por fora de participaes que possuem no exterior ou porque so participadas por instituies estrangei-ras, obriga a que as suas demonstra-

    es financeiras tenham de ser conso-lidadas. Tal como refere Andr Lopes, " necessrio que exista a comparabilida-de entre as prticas adoptadas no Pas e as prticas aceites noutras geografias. Este um dos muitos desafios que se colocam OCPCA".

    O aparecimento da OCPCA tambm ter um efeito positivo sobre a credibilizao da actividade e da prpria valorizao dos profissionais do sector que, por fora de um certo vazio que se criou ao longo destes anos, viram desvaloriza-da a sua actividade profissional. "A Lei

    O contexto do panorama internacional alterou-se, elevando o grau de exigncia dos relatos e das demonstraes financeiras

  • 36 OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    da Contabilidade e Auditoria aprovada em 2001 exigia que as demonstraes financeiras fossem elaboradas, prepa-radas e auditadas por tcnicos inscritos na Ordem. Ora, se no existia a prpria Ordem, a lei acabava por ser ineficaz, o que fez com que o universo empresarial fosse relegando esta imposio. Com a actual proclamao da Ordem, natural-mente que iremos ganhar eficcia nes-ta norma da Lei e, consequentemente, as empresas tero que passar a ter as suas demonstraes financeiras reali-zadas e auditadas por tcnicos inscritos na prpria OCPCA. Da que, estando os profissionais vinculados a um cdigo deontolgico, tero naturalmente res-ponsabilidades acrescidas, e tero de assumir um papel de maior compro-metimento para a credibilizao dessas mesmas demonstraes financeiras. Como tal, no s para o universo das instituies supervisionadas pelo BNA

    como, de uma forma geral, para as em-presas do universo dos contribuintes do nosso Pas, esta tambm uma das expectativas que se colocam OCPCA", refere Andr Lopes.

    Todos estes desafios no cessaro no momento da proclamao da Ordem. Para o antigo coordenador do grupo di-namizador da OCPCA, a continuidade de todo o processo traz consigo algumas preocupaes legtimas. A continuida-de das pessoas que, ao longo de todos estes anos estiveram envolvidas no processo da sua criao, uma destas preocupaes. Tal como sublinha, "tem que haver algum esforo da parte dos profissionais que vm do passado e que ainda esto ligados ao processo no sentido de passarem o testemunho s geraes mais novas. Pelo facto de ser um processo dinmico, de as pessoas envelhecerem e de estarem cada vez

    Ao estarem regulados por um cdigo deontolgico, os profissionais de contabilidade e auditoria passaro a ter responsabilidades acrescidas.

  • 37OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    menos disponveis, faz com que se cor-ram alguns riscos relativos transmis-so de conhecimento aos mais novos. Sem esse altrusmo por parte dos mais antigos, as novas geraes de profissio-nais no tero condies de prosseguir o esforo desenvolvido, e dificilmente conseguiro garantir o dinamismo ne-cessrio ao pleno funcionamento da Ordem".

    Para Andr Lopes, s com o inevitvel apoio do Ministrio das Finanas ser possvel garantir, pelo menos numa fase inicial, o incio pleno da actividade da Ordem. Ao transferir para a OCPCA responsabilidades do rgo regulador, nomeadamente a responsabilidade de garantir que as demonstraes finan-ceiras dos contribuintes reflictam a sua verdadeira situao patrimonial, fi-nanceira e econmica, o Ministrio das Finanas tem todo o interesse que a Ordem funcione na sua plenitude. Sem que com isto seja entendido como uma interveno naquilo que uma classe profissional, pois importante que, en-quanto a Ordem no tiver autonomia financeira, seja o Ministrio das Finan-as a suportar os custos inerentes ao normal funcionamento da fase inicial de

    actividade do organismo, caso contrrio, "corre-se o risco de o funcionamento da Ordem ficar dependente do voluntaris-mo de algumas pessoas o que far, mais cedo ou mais tarde, com que ela acabe por no vingar", refere o antigo coorde-nador.

    No que aos futuros rgos sociais da OCPCA diz respeito, Andr Lopes espe-ra que "se empenhem por esta causa comum e que possam granjear a con-fiana dos demais profissionais. Reunir o mximo consenso , desta forma, im-perativo para o sucesso da nova insti-tuio", e conclui lembrando que, "para muitos que iniciaram esta caminhada e que, pela ordem natural da vida j par-tiram, seria motivo de grande orgulho poderem assistir proclamao e con-solidao da OCPCA.

    At por isso, s me resta apelar para que este processo seja coroado de pleno xito pois, ser tambm uma forma de homenagear todo o esforo, dedicao e profissionalismo de todos os ilustres colegas que deram e continuam a dar o melhor de si em prol da profisso e do reconhecimento do sector", conclui o coordenador do Grupo Dinamizador.

    Tem que haver algum esforo da parte dos profissionais que vm do passado e que ainda esto ligados ao processo no sentido de passarem o testemunho s geraes mais novas.

  • 38 OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    " A EXIGNCIA QUECREDIBILIZA A NOSSA CLASSE PROFISSIONAL"

    Embora no esteja na gnese do projecto de constituio da Ordem dos Contabilistas e Peritos Conta-bilistas de Angola (OCPCA), Mrio Barber cedo mostrou interesse pela evoluo que a iniciativa reg-istava. Em 1997, o economista era j o responsvel por uma grande multinacional de consultoria e auditoria a operar no Pas. Acompanhar as questes relacionadas com o exerccio da sua actividade profissional fazia parte do leque de tarefas a que Mrio Barber entendia ser importante para o Pas. Nessa altura, a empresa para a qual trabalhava tinha ganho um importante concurso para prestar as-sistncia ao Governo. Do projecto faziam parte trs segmentos importantes: as regras de introduo das normas de contabilidade em Angola, trabalhar as questes relacionadas com a auditoria e com a definio do processo da constituio e desenho de um sistema de auditorias obrigatrias para o Pas e, finalmente, a elaborao do ante projecto de estatutos para a organizao de uma entidade que rep-resentasse os profissionais e regulasse o exerccio da profisso em Angola.

    Mrio Barber foi um

    dos elementos que,

    em 1995, integrou

    o Grupo Dinamiza-

    dor para a consti-

    tuio da futura Ordem dos Contabilis-

    tas e Peritos Contabilistas de Angola

    (OCPCA). Para alm do Jlio Sampaio,

    que at presente data presidente da

    Comisso Instaladora da OCPCA, lem-

    bro-me que contvamos j com a con-

    tribuio do Lus Neves, o Jaime Bas-

    tos, o Narendra de Sousa, o Joaquim

    Cunha, o Gouveia Neto, o Jos Brito

    ligado s inspeces tributrias e

    algumas outras pessoas do Ministrio

    das Finanas que, na altura, se encon-

    travam afeitas rea da contabilidade,

    incluindo dois colegas entretanto j fa-

    lecidos: o Esprito Santo e o Barbosa,

    recorda. Faziam ainda parte deste gru-

    po inicial o jurista Marcolino Meireles

    e o economista Andr Lopes. Tal como

    recorda Mrio Barber, era necessrio

    que o grupo fosse diversificado e com

    variadas valncias, por isso, convidei o

    Andr Lopes para integrar a equipa. Era

    uma pessoa que eu conhecia bem, um

    excelente profissional e que granjeava

    grande respeitabilidade ao nvel social .

  • 39OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    Mrio BarberMembro do Grupo Dinamizador da OCPCA

  • 40 OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    O envolvimento do economista no pro-

    cesso de constituio da OCPCA ocor-

    reu entre 1996 e 2006, perodo que

    ficaria marcado por grandes debates

    em torno dos Estatutos da futura Or-

    dem profissional. Por aquilo que tinha

    lido, entendia que tnhamos de escolher,

    entre as vrias possibilidades, o mode-

    lo que melhor se adaptasse realidade

    do nosso Pas. Podamos optar por um

    modelo onde a entidade que regularia o

    acesso actividade recebia poderes p-

    blicos delegados e, portanto, no podia,

    na sua institucionalizao, seguir a ver-

    tente de se fazerem constituir numa as-

    sociao privada (daquelas em que os

    associados decidem e o que decidem s

    os obriga a eles prprios) ou teramos

    Na altura, ele assumiu o papel de Coor-

    denador do Grupo Dinamizador. O Mar-

    colino Meireles, pela forma voluntariosa

    com que abordava as questes e pelos

    reconhecidos mritos profissionais na

    rea jurdica era o elemento que faltava

    para completar o grupo. J na poca, ele

    tinha uma viso mais prtica de como

    fazermos acontecer a Ordem. Entendia

    que o caminho que deveria ser tomado

    seria o do mero associativismo e eu

    discordava dessa viso, uma vez que a

    entidade a criar deveria regular o exer-

    ccio da profisso, incluindo o exerccio

    do poder disciplinar. Apesar de sermos

    grandes amigos, tnhamos discusses

    fervorosas sobre esta questo, relem-

    bra Mrio Barber.

    H dez anos, tnhamos duas ou trs grandes empresas de auditoria que dominavam o mercado. As empresas nacionais, mais pequenas, tinham que batalhar muito, muitas vezes numa competio desleal.

    O modelo que a futura OCPCA deveria adoptar foi motivo de grandes discusses

    no seio do Grupo Dinamizador

  • 41OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    de assumir a figura de um instituto, que

    faria a normalizao da contabilidade,

    regularia o exerccio da actividade e at

    poderia exercer o poder disciplinar. Ora,

    no caso, a actividade que amos realizar

    teria fins de utilidade pblica e ns esta-

    ramos a adquirir um conjunto de obri-

    gaes, faculdades e competncias que

    s o poder pblico pode exercer, como

    tal, estaria fora de hiptese a criao

    duma mera associao profissional.

    Desta forma, entre a criao de um

    Instituto e a instalao de uma organi-

    zao profissional com poderes pbicos

    delegados, optou-se pela segunda solu-

    o, que acabava por ser a que nos con-

    feriria maior autonomia, afirma.

    Uma das discusses que se colocava ao

    ento Grupo Dinamizador era a capaci-

    dade de mobilizar profissionais para os

    intentos da Ordem. Fruto das alteraes

    verificadas no mercado angolano, os

    pressupostos que na altura motivavam

    os profissionais do sector acabaram

    por ser alterados. Para Mrio Barber,

    o facto do processo de constituio da

    Ordem ter demorado vasto tempo a fi-

    nalizar, obrigou a que o mesmo tivesse

    de sofrer ajustes e adaptaes s novas

    realidades do Pas. O actual crescimen-

    to econmico que Angola regista obriga

    a que o exerccio da contabilidade ganhe

    diversos impulsos e, com eles, a prti-

    ca contabilstica tambm necessita de

    evoluir. H dez anos, tnhamos duas ou

    trs grandes empresas de auditoria que

    dominavam o mercado. As empresas

    nacionais, mais pequenas, tinham que

    batalhar muito, para ganhar mais es-

    pao e visibilidade. Contudo, reconheo

    que a vinda para Angola de uma srie

    Fruto da evoluo do mercado e do desenvolvimento da sociedade, os pressupostos que na altura motivavam os

    profissionais acabaram por ser alterados

  • 42 OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    de empresas de dimenso internacional

    acabou por ter um efeito positivo, con-

    tribuindo para o desenvolvimento da

    profisso. De resto, o rpido desenvolvi-

    mento do sector financeiro, a importn-

    cia e integrao internacional do sector

    petrolfero e outros, que tm necessida-

    de de reportar, no s ao nvel local, mas

    tambm global, com base nas melhores

    prticas e padres internacionais, obri-

    gam a recorrer s referidas empresas

    globais de consultoria e auditoria na

    preparao e reviso das suas contas.

    A opinio independente acaba de ter

    outra importncia, feliz ou infelizmen-

    te, quando dada por uma marca com

    reconhecimento global, e isso tem de

    ser levado em considerao. Em todo

    o caso, temos que registar a existncia

    de muitas iniciativas nacionais, tan-

    to de empresas como de particulares,

    que tm contribudo significativamente

    para o desenvolvimento da profisso,

    afirma o economista.

    Passados que esto quase vinte anos

    sobre os primeiros estudos para a cons-

    tituio de uma Ordem capaz de regular

    e certificar os profissionais de conta-

    bilidade, ainda existe muito trabalho

    que necessita ser feito. Nem todos os

    objectivos traados inicialmente se en-

    contram cumpridos. Conforme afirma,

    para j, o maior desafio que enfrenta-

    mos o da completa instalao da Or-

    dem. Depois, teremos que enfrentar o

    desafio de sermos fiis aos princpios

    defendidos desde 1996: que o acesso

    profisso seja feito com obedincia e

    atravs de requisitos universais, evitan-

    do o acesso fcil, sem nos transformar-

    mos numa organizao corporativista

    e fechada. No podemos fechar-nos,

    nem a profisso se poder transformar

    num feudo! Contudo, necessrio esta-

    belecer regras claras que defendam os

    interesses dos profissionais do sector,

    e adianta que, necessrio tentar que

    as pessoas actualmente a exercer a

    profisso possam adquirir o pleno esta-

    tuto de membros da Ordem, com base

    nos requisitos estabelecidos nos seus

    estatutos, criando-se as condies ne-

    cessrias para o efeito. Para aqueles

    que actualmente exercem a profisso,

    existe uma janela transitria de acesso

    carteira profissional , mas para os que

    esto agora a iniciar carreira, a obten-

    o dever passar pelas disposies

    previstas nos estatutos que prevem

    regimes de estgio e exames. Em qual-

    quer dos casos, devemos exigir o cum-

    primento das disposies aplicveis

    previstas nos estatutos para o acesso

    profisso e certificao profissional,

    pois a exigncia que credibiliza e d

    qualidade nossa classe profissional.

    Estas exigncias tm que ser exacta-

    mente iguais s que existem no resto

    do mundo, advoga o antigo membro

    da Grupo Dinamizador da OCPCA",

    concluindo ao afirmar que, "tambm

    importante fazer-se uma referencia

    nova vaga de quadros de auditoria e

    contabilidade que se veio a juntar ao

    movimento de constituio e instalao

    da Ordem e tantos outros profissionais

    que no citei, mas que forma e tm sido

    fundamentais para a realizao do nos-

    so projecto.

    No podemos fechar-nos, nem a profisso se poder transformar num feudo!

  • "PENSOQUE J ERA TEMPO" desta forma que Dula Santos exprime os seus sentimentos, passados que esto quase vinte anos sobre o incio do processo de constituio da Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilis-tas de Angola. A lacuna que se sentia no seio dos profissionais de contabilidade e auditoria est, finalmente, colmatada.

    Dula SantosMembro da Comisso Instaladora da OCPCA

  • 44 OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    A lacuna que se sentia no seio dos profissionais de contabilidade e auditoria est, finalmente, colmatada. A necessidade de se padronizarem procedimentos e cumprirem as regras internacionais de relato financeiro acabou por, finalmente, acelerar o processo de constituio deste importante organismo regulador da classe profissional dos contabilistas e peritos contabilistas de Angola.

    Dula Santos Dula Santos fez parte da Comisso Instala-dora da OCPCA e, como tal, viveu por dentro as dificul-dades e os condicionalismos que existi-

    ram para se poder criar e proclamar a

    Ordem. As indefinies e as divergn-

    cias de opinio relativas a algumas ma-

    trias no fizeram com que Dula Santos

    perdesse o entusiasmo inicial que sen-

    tiu quando abraou o projecto. Apesar

    de todos os contratempos, a experin-

    cia de fazer parte de uma comisso com

    to rdua tarefa permitiu-lhe sentir, em

    primeira mo, o esforo e a dedicao

    de todos os profissionais envolvidos na

    criao deste organismo. "Fazer par-

    te da Comisso Instaladora foi, para

    mim, uma honra e um privilgio, pois

    pude contactar de perto com pessoas

    dedicadas valorizao da nossa clas-

    se profissional. Essas pessoas tm de

    ser valorizadas, pois mesmo com to-

    dos os entraves e obstculos, levaram

    a constituio da Ordem avante. Pude

    constatar que so pessoas srias e que

    querem, acima de tudo, deixar feito um

    bom trabalho. Querem que a OCPCA se

    Fazer parte da Comisso Instaladora foi, para mim, uma honra e um privilgio, pois pude contactar de perto com pessoas dedicadas valorizao da nossa classe profissional.

  • 45OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    torne uma instituio credvel e reco-

    nhecida, quer em Angola, quer ao nvel

    internacional. Foi um trabalho srio que

    foi feito de forma honesta e empenha-

    da", sublinha.

    Muitos dos recuos que a Comisso

    Instaladora registou deveram-se di-

    vergncia de opinies relativamente

    a matrias complexas e melindrosas.

    Apesar das dificuldades, para Dula San-

    tos "o importante foi ter-se chegado a

    um acordo sobre os principais temas

    em discusso. Diferentes formas de

    pensar obrigam a que se procurem as

    melhores solues e, no caso da cons-

    tituio da OCPCA, penso que foram

    alcanados todos os objectivos que ini-

    cialmente nos foram propostos".

    Uma das questes que suscitou acesas

    discusses foi a questo das qualifica-

    es dos profissionais e a integrao de

    estrangeiros a exercerem a profisso

    em Angola. Para a economista, "faria

    todo o sentido que s os membros que

    frequentaram os cursos ministrados

    pela Comisso Instaladora da Ordem

    A valorizao da classe profissional , para Dula Santos, uma das vantagens da existncia da OCPCA

  • 46 OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    pudessem tornar-se seus membros,

    participar na Assembleia Geral, exer-

    cerem o direito ao voto e serem eleitos.

    Contudo, se tivermos em considerao

    a forma como os cursos foram divulga-

    dos, como foram ministrados e o nme-

    ro de profissionais que neles participou,

    verificamos que teria de haver uma

    maior flexibilizao na integrao dos

    profissionais do sector na OCPCA. Rea-

    lizar-se apenas um curso por ano insu-

    ficiente tendo em considerao a quan-

    tidade de profissionais existentes no

    Pas. Apenas 10 por cento dos inscritos

    para a Ordem frequentaram os cursos.

    O modelo adoptado pela Comisso Ins-

    taladora no foi, certamente, o mais cor-

    recto neste ponto. Falhou a divulgao,

    Se tivermos em considerao a forma como os cursos foram divulgados, como foram ministrados e o nmero de profissionais que neles participou, verificamos que teria de haver uma maior flexibilizao na integrao dos profissionais do sector na OCPCA.

    Estima-se que actualmente em Angola existam aproximadamente 5 mil profissionais de contabilidade. Deste universo, apenas 500

    frequentaram os cinco primeiros cursos da OCPCA

  • 47OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    que foi notoriamente pouca e falhou o

    modo como o curso foi ministrado. Para

    quem trabalha por conta de outrem,

    muito difcil participar num curso cujo

    modelo se baseia em tempo contnuo

    de formao e que dificulta a presena

    de muitos profissionais. Quando somos

    5 mil profissionais no sector e apenas

    500 participaram, alguma coisa deve

    ter corrido mal. Para o futuro, este ser

    um dos pontos que, forosamente, ter

    de melhorar", lamenta.

    Sobre os temas e a qualidade da forma-

    o, Dula Santos afirma que "foram cur-

    sos de muito interesse para os profis-

    sionais de contabilidade e auditoria. Os

    formadores dominavam as matrias e

    conheciam a realidade do Pas. Embora

    a maior parte dos professores fosse es-

    trangeiro, exemplificavam os diversos

    assuntos com exemplos que se enqua-

    dram na nossa sociedade e na nossa

    forma de proceder. Foram cursos muito

    equilibrados que, certamente, contribu-

    ram para a valorizao profissional de

    todos os participantes".

    No que incluso de profissionais es-

    trangeiros como membros da OCPCA

    diz respeito, a membro da Comisso

    Instaladora da Ordem pragmtica ao

    afirmar que, "dada a insuficincia de

    quadros qualificados no sector, e pelo

    facto de sermos um pas jovem e em

    franco crescimento que necessita de

    bons recursos humanos capazes de ali-

    cerar o seu desenvolvimento, a flexibi-

    lizao na incluso de profissionais es-

    trangeiros como membros efectivos da

    Ordem foi inevitvel. No entanto, essa

    abertura deve ser feita com regras,

    controle e salvaguardando sempre as

    oportunidades dos quadros nacionais

    mais jovens que, gradualmente, se vo

    qualificando."

    A continuidade da estratgia adoptada

    pela Comisso Instaladora uma das

    preocupaes da economista. Para

    Dula Santos, a equipa que esteve na

    gnese da proclamao da OCPCA

    "deveria continuar em funes, mesmo

    que no exercessem cargos de lide-

    rana. Ter o apoio desses profissionais

    dedicados seria uma mais-valia para

    uma eventual direco mais jovem".

    Dula Santos justifica esta opinio ao

    afirmar que, "se os mais velhos, que

    estiveram na liderana de todo o pro-

    cesso, dessem por concludas as suas

    misses, poder-se-ia correr o risco de

    se desvirtuar todo o projecto inicial, e

    isso era mau, pois colocaria em questo

    todo um trabalho que foi feito ao longo

    de anos. Se assim no for, podemos de-

    parar-nos com a orientao de pessoas

    com diferentes ideologias e que no sa-

    bem todo o historial e fundamentao

    que esteve na base da tomada de de-

    terminadas decises. Esse historial pre-

    cisa de ser salvaguardado e, a melhor

    forma de o fazer, ter por trs todas as

    pessoas que produziram esse trabalho

    e que sabem o porqu dele ter sido feito.

    Penso que esses profissionais deviam

    estar sempre no suporte a uma even-

    tual equipa mais jovem, nem que fosse

    como consultores", sugere.

    Para os futuros rgos sociais da OCP-

    CA, Dula Santos deseja o maior suces-

    so na consolidao e desenvolvimento

    das actividades da instituio e lembra

    que, "antes de tomarem decises, de-

    vem consultar todo o trabalho que foi

    realizado e ter em considerao a linha

    de pensamento dos que contriburam

    para a existncia da Ordem. Tenham

    conscincia que a OCPCA ainda uma

    criana que est a dar os primeiros pas-

    sos, como tal, necessita do carinho e do

    apoio de todos. Faam-no com amor e

    no por oportunismo. Entendam a Or-

    dem como uma arma de trabalho que,

    quanto melhor funcionar, melhor ser

    entendida a profisso e os seus profis-

    sionais. A sua credibilidade e a credibi-

    lidade do trabalho desenvolvido apenas

    depende de ns".

  • 48 OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    OSAUDITORES

    (ou copiando da escritora Irene Lisboa: Uma mo cheia de Nada, Outra de Coisa Nenhuma)

    Marques FerreiraPerito Contabilista

  • 49OCPCA EDIO 0 | NOVEMBRO 2014

    Auditoria passou a constituir a palavra mgica que limitou os argumentos, o le-vantar e desenvolver

    questes concerteza muito pertinentes e, at, a disfarar incapacidades. Ou seja, quando os argumentos se tornam mais complexos ou, porventura, mais frontais o "vamos fazer uma auditoria" a con-cluso que permite adiar questes ou transferir responsabilidades.

    Com isto, no se pretende minorizar ou desvalorizar a funo de uma auditoria, tanto mais que essa a minha profisso h mais de quarenta anos e eu no sou masoquista. Mas pretende-se balizar o que deve ser a Auditoria, como uma pro-fisso emergente num Pas quase re-cm-nascido. Alis a prpria profisso, com os seus actuais contornos funcio-nais e mbito das matrias que lhe es-to afectas, tambm no se pode dizer que seja antiga.

    Com isto, no se pretende minorizar ou desvalorizar a funo de uma auditoria, tanto mais que essa a minha profisso h mais de quarenta anos e eu no sou masoquista.

    Com a tarefa que me foi atribuida de transmitir a minha viso do que ou ser a profisso de auditor

    na Angola actual, fiquei extremamente lisongeado, mas depois, interiorizando melhor o tema, no pude

    deixar de pensar o quanto dificil fazer uma fotografia de um objecto que quase no existe, excepto

    no seu formalismo imediato que se traduz na palavra ou na frase e numa substncia pouco mais que

    virtual.

    Esclarecido este posicionamento, es-tamos praticamente prontos a falar do que ou deve ser a Auditoria em Angola. Sem desconsiderarmos o que so ou po-dem ser as funes de um auditor, tere-mos que aceitar que Auditoria e Auditor no se podem confundir, porque auditor aquele que tambm faz auditorias e a auditoria o trabalho necessrio e nas condies suficientes para que possa ser emitida uma opinio, a que acreso, uma concluso, independente e tcni-

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    camente adequada sobre a informao que lhe for apresentada e de acordo com as especificidades que forem expressas.Esta concluso, que muitas vezes e de forma simplificada, mas no simplista, se pode traduzir como a emisso de uma opinio independente, constitui o objecto da auditoria, dever servir como ponto de partida e de referncia para o desenvolvimento da profisso em An-gola.

    Quando formos capazes de reduzir e focalizar o papel da Auditoria, na sua principal funo de independncia e capacidade tcnica estaremos pron-tos a que a profisso se desenvolva e desempenhe o seu papel num campo de aco prprio e util sociedade. Estas palavras so simples e, julgo eu, fceis de serem compreendidas no imedia-to, mas comportam tambm a grande complexidade das coisas simples.

    A primeira questo, para os mais aten-tos, ser compreender de que auditoria estamos a falar. A minha resposta ser que, at este momento, estamos a fa-lar de todas as auditorias: as tcnicas, as jurdicas, as ambientais, de todas as que se focalizem na necessidade de uma opinio tecnicamente suportada e independente. A "nossa" auditoria, que originou a feitura deste texto e se "apo-derou" da palavra e do conceito, previl-

    gio que lhe vem da idade e do esforo, a auditoria financeira e sobre esta que falaremos essencialmente no restante texto.

    Aqui poderemos introduzir alguns co-mentrios sobre a primeira componente deste conceito a capacidade tcnica. Esta capacidade adquire-se nas Esco-las, aqui evocadas no seu sentido mais lato pois a especificidade e a responsa-bilidade transportada por esta profisso assenta num principio tambm muito simples, mas complicado como todos os principios simples (no h maneira de no me repetir mas esta necessidade de "descomplicar" essencial) - quanto mais vasto o "saber", mais adequadas podero ser as concluses. No sufi-ciente saber ou decorar a lista de nor-mas, a habilidade aritmtica e a arte da composio dirigida. O conhecimento tcnico, por enquanto ainda no sufi-cientemente desenvolvido, apenas uma ferramenta a utilizar na nossa ca-pacidade de analizar, de situar