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Comentários: Profa Dra. Virgínia B. B. Abrahão

Professora de Lingüística da UFES / Departamento de Letras

Centro Educacional Charles DarwinColetânia de Redações

Dezembro de 2005

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Diretores Adriano Pratti PissarraAlice Zouain F. Simoni

Edson dos SantosFabrício Henrique S. Silva

Helder J. Telles de Sá João Carlos Carvalho dos Santos

Jociel Moreira HemerlyJony Jones M. e Mota

Lucihel Wagner Sarmento CostaMércia Maria Pimentel LemosRicardo Gonçalves de Assis

Roberto DarózSilvio Pantaleão

Coordenação - Produção de Texto Professora Ana Paula Gomes de Oliveira

Editoração e DiagramaçãoElias Severiano de Oliveira

RedaçãoR. Desemb. Vicente Caetano, 116 - Mata da Praia - Vitória - E.S.

Tel.: (27) 3225-9699

Editado Por Centro Educacional Charles Darwin

CNPJ: 36.049.104/0001-38Tiragem: 2.000 exemplares

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Concurso de Redação - Certas Palavras - 2005

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Conversa inicial

Sempre que penso nas dificuldades dos alunos em torno das tarefas referentes à escrita de textos, lembro-me da lenda da centopéia:

“Era uma vez uma centopéia que passeava tranqüilamente pela floresta. Certo dia perguntaram-lhe sobre qual perna ela colocava à frente em primeiro lugar. A partir daquele momento, nunca mais ela conseguiu caminhar.”

Há todo momento discutimos questões com nossos amigos e familiares, estabelecemos pontos de vista, mas organizar esses argumentos na forma escrita é tarefa árdua. Ensinaram-nos tanto sobre a precisão gramatical, a cor-reção ortográfica, a exatidão na apresentação do ponto de vista, a pontuação articulada, a coerência, a coesão, a progressão dos argumentos, etc., etc., que depois de tudo isso e diante da caneta invisível do corretor nos sentimos paralisados tentando saber qual perna colocar em primeiro lugar. Uma outra reação muito comum é nos escondermos nos discursos já prontos para cumprir as tarefas de escrita e assim ficamos “sumidos” dos textos que escrevemos, mas que agora parecem satisfatórios.

Por isso que lendo redações sinto falta daqueles que as escreveram, sinto falta de gente, gente que cheira, que sente, que experimenta a vida. Mas como articular esse monte de sensações aos moldes do texto escolar?

Parabenizo a todos os que ousaram escrever para participar desse con-curso, porque são corajosos, se dispuseram a enfrentar todas essas dificuldades e se arriscaram. Para vocês gostaria de deixar o meu recado.

Sabe, a linguagem não é um conjunto de regras. A escrita é um jeito de significar o mundo e não um conjunto de tipos de textos. O texto escrito nunca deve ser visto como um produto acabado e sim como algo em constante processo de construção, como uma conversa que só começou e através da qual vamos refazendo, revendo, reconstruindo nossos propósitos, princípios, crenças, nosso mundo, enfim. Assim, proponho que nos encaminhemos para a escrita como quem vai tecer. Nessa tessitura estamos nós, o nosso momento, mas também está aquele para quem o tecido se destina, o momento dessa pessoa, o seu lugar social. Que espaço esse tecido deve ocupar na sociedade? Portanto, não se trata somente de uma atividade nossa com o papel e sim um jogo de vários parceiros. É preciso, lentamente, ir construindo essa habilidade do jogar e do tecer, nesse jogo do tecer, marcando-nos enquanto artesãos, marcando nossa diferença, mas também pensando na circulação social desse tecido que deve ocupar um lugar e assim deixar a nossa marca no mundo.

Profa. Dra. Virgínia B. B. Abrahão

Professora de Lingüística da UFES /

Departamento de Letras

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Concurso de Redação - Certas Palavras - 2005

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Escrever é inscrever-se no mundo e ao mesmo tempo recriar o mundo e assim achar nele o nosso espaço. Mas é também um modo de se relacionar com a sociedade, dentro de um momento histórico específico, nos revendo, mas também nos adaptando, desconstruindo para reconstruir, como uma dança do argumentar.

Quando selecionei alguns textos o fiz com o olhar do corretor de redações de vestibular que busca ver na redação a maturidade do redator para ocupar um banco da universidade. Busquei ver se os pontos de vista apresentados são fundamentados, se o texto está dentro de uma argumentação lógica, se há coerência no argumentar e se não houve fugas ao tema a que se propôs discutir. Encontrei muitos textos iguais, sem “sal”, em que a preocupação foi a de ocupar as linhas, esses são textos tristes. Outros redatores inseriam-se na discussão, mas não conseguiram, ainda, organizar os argumentos por escrito, precisam treinar mais, dominar a escrita, trazê-la para seu corpo, mas já trazem a marca do artesão. Escolhi aqueles que fizeram diferença, na medida em que apresentaram um olhar, um tocar o mundo, e até o se colocar nesse mundo e perceber os efeitos sobre si, o experimentar, organizando tudo isso na har-mônica das letras.

O lugar cruel de quem seleciona também estabelece modelos, padrões. Talvez o melhor texto não esteja aqui, afinal, “melhor” é um estágio sempre provisório, dependente de padrões histórico-sociais. Melhor mesmo é gostar de escrever, é burlar a escrita pra nela inscrever nossos desejos e nossos mundos possíveis.

Portanto, peço desculpas por classificar, mas se o faço, ainda que de modo provisório, é para contribuir com alguma reflexão sobre o ato de escrever.

No mais, desejo que continuem a “caminhar tranqüilamente pela flo-resta”, felizes, tranqüilos e assim se encaminhem para a escrita que é um lugar específico dentro dessa “floresta” e que precisa ser explorado, experimentado. Assumir a escrita, “respirar por escrito”, é sempre uma opção pessoal. Ou então, você pode ficar à margem, “passeando pela floresta” da fala, das imagens, sem penetrar de fato no espaço da escrita na sociedade. Daí lhe resta copiar, repetir o que está pronto, sem se comprometer de fato com a sua palavra. Não se penetra na escrita com um conjunto de regras ditadas por um professor. Lembre-se disso, a escrita é sempre uma opção pessoal e cada um penetra nela a seu tempo e a seu modo. Quem passeia na floresta sabe que pode simplesmente passar por ela ou deixar que a floresta penetre em nós, conduza, a partir daí, nosso cheiro e nosso olhar. Desejo a todos, prazerosos momentos na “floresta da escrita” e, se possível, o se deixar habitar esse mundo que vocês, com esses textos, começam a beirar.

Etapas do Concurso: 1ª etapa: Eliminatória 2ª etapa: Classifi catória, 30 melhores redações. 3ª etapa: Reavaliação das 30 redações e seleção das 10 melhores pela Professora

Doutora Virgínia B. B. Abrahão Professora de Lingüística da UFES / Departamento de Letras

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Concurso de Redação - Certas Palavras - 2005

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CONHEÇA AQUI OS VENCEDORES:

Autor: Jorcy de Oliveira NetoUnidade: Jardim da Penha

Décimo LugarPáginas 26 e 26

Autora: Lara Ferreira LorenzoniUnidade: Vila Velha

Nono LugarPáginas 23 e 24

Autora: Aline Canabarro de AssisUnidade: Vila Velha

Oitavo LugarPáginas 21 e 22

Autora: Laís Domicioli AzevedoUnidade: Jardim da Penha

Sétimo LugarPáginas 19 e 20

Autor: Roger Simões MirandaUnidade: Guarapari

Quinto LugarPáginas 15 e 16

Autora: Liliane Silva de Jesus Unidade: Laranjeiras

Quarto LugarPáginas 13 e 14

Autora: Quezia Dornellas FialhoUnidade: Laranjeiras

Terceiro LugarPáginas 11 e 12

Autora: Tatiana Breder EmerichUnidade: Jardim da Penha

Segundo LugarPáginas 9 e 10

Autor: Jordano Sanfelixe Justino

Unidade: Vila Velha

Primeiro LugarPáginas 7 e 8

Autora: Constance Dell’Santo Vieira SchuwartzUnidade: Guarapari

Sexto LugarPágina 17 e 18

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PRIMEIRO LUGAR

Aluno: Jordano Sanfelixe JustinoUnidade: Vila VelhaCidade: Vila Velha (ES)Série e Turma: Pré-Vestibular P1

O destino comum foi globalizado. Mostrado na Segunda Grande Guerra e revitalizado com o terceiro ápice industrial no globo, o atual sistema predominante — leia-se, capitalismo explorativo — consolidou problemáticas, como o artificialismo e, principalmente, o individualismo, que tanto perturbam a comunidade global moderna.

A individualidade do homem, Homem Moderno, positiva se focal-izada para a criatividade, é, infelizmente, a atual fonte de discórdia que tanto amedronta a elite social e que tanto condena os economicamente menos favorecidos. As tantas guerras, causas de fome e miséria são, em verdade, simples tentáculos do intelecto individualista presente na população e em seus governantes, que, em teoria, deveriam viabilizar o acesso igualitário aos recursos públicos de seus respectivos países. Vive-se, enfim, um egoísmo esclarecido, preconizado pelos utilitaristas britânicos das revoluções industriais e implicitamente afirmado por Adam Smith quando ele ainda definia a ética do Capitalismo em “A Riqueza das Nações”.

A Humanidade iniciou um jogo perigoso. E as discussões recentes sobre meio ambiente, conflitos internacionais e pobreza africana provam isso. De fato resta apenas saber se ela se realizará, retomando virtudes morais e valores institucionais que regem a manutenção do bem-estar a todos, ou se manterá um ostracismo inescrupuloso, marcado somente por desgraças mundiais, disparidades humanas e – por que não? – mortes em massa.

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Concurso de Redação - Certas Palavras - 2005

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Comentário do professor:

O texto do Jordano sensibiliza pela capacidade de síntese e pre-cisão nas afirmações. É como se cada palavra estivesse no lugar certo, no momento certo, o que provoca equilíbrio ao texto.

A sua visão de conjunto, sobre os acontecimentos históricos, faz com que ele faça um bom aproveitamento da coletânea, sem repetir dela os argumentos, mas indo além.

Seu texto prima pela coesão dos argumentos e pela coerência com relação às temáticas adjacentes, casando, assim, individualismo, governabilidade, globalização e destruição da terra.

Seus argumentos apresentam maturidade e sua escrita é fluente, mas, acima de tudo, estabelece uma forte presença do autor do texto, com afirmações categóricas sem serem apelativas, mas que participam uma coerência dificilmente contestável. Chama o leitor a encarar fortes declarações e a estabelecer relações necessárias.

Sem uma retórica maçante, centra-se no estabelecimento de relações de causalidade entre globalização, capitalismo espoliativo, in-dividualismo, autodestruição planetária, levando o leitor a um raciocínio esquemático irreversível.

Fica do texto a vontade de conhecer o autor que se inscreve com força e com argumentos historicamente embasados. Uma forte personalidade se configura em seus argumentos que supera a pieguice atestada, das repetições esvaziadas de relações.

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SEGUNDO LUGAR

Aluna: Tatiana Breder EmerickUnidade: Jardim da PenhaCidade: Vitória (ES)Série e Turma: 3a série M1

Guerras, mortandade infantil, fome, destruição ambiental. Esses são os protagonistas de uma história presenciada pela humanidade na qual o principal vilão é o individualismo.

As principais potências mundiais, como os Estados Unidos, não medem esforços para alcançar seus objetivos econômicos. De forma egoísta e violenta, iniciam guerras nucleares, civis ou biológicas nas quais milhares de pessoas são mortas ou mutiladas. Um recente exemplo foi a tomada do Iraque pelos EUA, que alegavam a existência de armas nucleares no país invadido. As conseqüências da decisão do governo americano são as mais desastrosas. O que se vê hoje é um país acabado, onde o número de crianças mortas aumenta a cada análise do dano sofrido pelos iraquianos.

Na lamentável história em que se encontra o planeta, a falta de recursos financeiros, seriedade e anseio por justiça social nos governos, resulta em grande quantidade de países miseráveis, onde a fome e a desnutrição são os principais problemas vivenciados, a exemplo da África do Sul. Além disso, o meio ambiente tem sido devastado ininterrupta-mente, uma vez que a maioria das pessoas se preocupa apenas com a atualidade e se esquecem das gerações futuras que também precisarão da natureza para viver.

A solução para mudar o desfecho dessa cruel realidade é a integração entre os países e a mudança na mentalidade mundial. As motivações para o início de confrontos, como diferenças étnicas, cul-turais, econômicas e políticas precisam ser deixadas de lado para que o individualismo e a ganância não acabem com parte da humanidade. Só resta essa saída.

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Comentário do professor:

Tatiana faz uma análise precisa dos fatos sociais e o faz com fir-meza de argumentos, convencendo o leitor na medida em que encadeia a questão do individualismo a interesses espúrios, que não levam em conta as gerações futuras.

O primeiro e o último parágrafo possuem os argumentos mais assentados, com uma visão de conjunto bastante estabelecida. No segundo parágrafo, ao discutir a guerra do Iraque, acaba por reduzir muito os argumentos, sem analisar a totalidade da situação, o que faz com que o texto entre em um declive argumentativo, logo recuperado no parágrafo seguinte, quando retoma a proposta inicial de discussão: uma visão histórica da opção “individualista” das nações. No terceiro parágrafo levanta, sucintamente, fatos que enriquecem seus argumentos. Porém, esses argumentos atingem seu ápice no último parágrafo em que defende a tese da integração baseada numa mudança de mentalidade.

Portanto, o texto de Tatiana mantém, quase que em sua totali-dade, a discussão proposta no primeiro parágrafo a qual é incrementada com fatos e ganha um desfecho notável e muito forte, pois ousadamente a autora termina com a seguinte afirmativa: “Só resta essa saída”. Essa é, sem dúvida, uma afirmação arriscada, que poderia levar a uma visão unilateral, não fosse a sensatez dos argumentos precedentes.

Sem dúvida, Tatiana se inscreve no texto marcando uma forte personalidade que exige de si também um forte envolvimento com o percurso argumentativo que propõe.

Texto coeso, quebrando levemente a progressão dos argumentos (segundo parágrafo) para retomar logo a seguir e propor um fechamento que faz recobrar todos os argumentos antecedentes. Sem dúvida um bom texto.

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TERCEIRO LUGAR

Aluna: Quezia Dornellas FialhoUnidade: Laranjeiras Cidade: Serra (ES)Série: 3a série

O sistema capitalista vigente, em quase todas as nações do globo terrestre, é o grande responsável pela retalhação ao espírito associativo mundial. Os homens passam por um estado de indiferença à dor alheia. Tornam-se, portanto, crescentes as desigualdades sociais.

A ética capitalista baseia-se na obtenção de lucros e tende ao favorecimento das classes sociais dominantes em detrimento da massa populacional menos abastada. Cria-se uma gritante diferença sócio-econômica entre os cidadãos. O que gera, por sua vez, a individualização dos pensamentos e ações destes em busca de satisfações financeiras próprias.

A predominância da democracia representativa no contexto político mundial não está promovendo a sonhada social-igualdade. Pois, o representante eleito no exercício do seu mandato centraliza o poder a serviço das classes dominantes. As elites detêm a renda e promovem a concentração fundiária. O Estado é privatizado.

É necessária a implantação de uma democracia particular, isto é, uma política de participação popular na gestão do espaço geográfico. Ap-enas o povo conhece bem o lugar em que vive para fornecer proposições de soluções capazes de atender aos anseios básicos da população. E essa coletivização dos ideais democráticos só terá pleno êxito e sucesso com a implantação de uma nova cultura que valorize a união humanitária. O espírito de associação é de fundamental importância para reivindicar junto ao governo a justiça social.

A presença do Estado democrático, por sua vez, deve ser sentida na garantia de oportunidades iguais para todos na educação, na saúde, na segurança pública e na fiscalização da distribuição de renda. Só assim, haverá a concretização da verdadeira prosperidade e progresso social em âmbito nacional e mundial.

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Comentário do professor:

O terceiro texto escolhido para ser comentado traz para o foco da discussão o sistema de governo presente “em quase todas as nações do globo terrestre”. A autora prima pelo cuidado no desenvolvimento do tema, pois, sem grandes surpresas, o texto progride, levando o leitor no caminho argumentativo proposto.

O cuidado com cada afirmação é o que chama a atenção, dentro de uma coerência irrefutável, baseada em uma riqueza argumentativa. Os poucos deslizes na linguagem ficam sufocados pela capacidade analítica da autora, que suplanta a coletânea ao analisar o momento histórico-social presente.

A questão do individualismo também é bem trabalhada, pois nesse texto não se enfoca o “individualismo governamental”, como a maior parte dos textos lidos. Quezia trabalha o individualismo como conseqüência da ética capitalista.

Trata-se de um texto digno de parabéns, aos moldes professorais clássicos.

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QUARTO LUGAR

Aluna: Liliane Silva de JesusUnidade: LaranjeirasCidade: Serra (ES)Série: 3a série

Nas últimas décadas, os avanços tecnológicos têm causado trans-formações em diversos setores do cotidiano populacional. Os jogos eletrônicos, por exemplo, tornaram-se um dos instrumentos de lazer mais cobiçados por milhões de crianças e adolescentes. Entretanto, a simulação de cenas violentas, como a troca de tiros entre policiais e ban-didos, provocou críticas de uma parcela da sociedade, a qual acusa os games de banalização e incentivo à violência. Diante disso, questiona-se: Os jovens podem ter o comportamento influenciado por esses games, a ponto de confundir fantasia e realidade?

É importante compreender que o comportamento humano, prin-cipalmente no que se refere às crianças, deriva do aprendizado e do exemplo que é dado pelas pessoas que cercam o indivíduo. Da mesma forma, ao assistirem cenas que simulam violência e interagirem com elas, as crianças podem adquirir um comportamento violento, o qual se manifestará, por exemplo, em uma situação de conflito ou stress. Dessa forma, o que era simples e inocente ficção se transforma em uma tragédia real, da qual pessoas reais podem até sair feridas.

É cabível dizer que os games não são os grandes vilões dessa história. Na realidade, eles podem se constituir de espaços de apre-ndizagem e construção de conceitos vinculados aos aspectos sociais, cognitivos, afetivos e culturais. A simbiose que ocorre entre fantasia e realidade, portanto, pode ser aproveitada como instrumento de socia-bilidade e prazer do jovem. Tanto os games, quantos os filmes, gibis e demais meios de entretenimento, não necessariamente resultam em atitudes hediondas e socialmente inaceitáveis. Para que haja um bom aproveitamento da influência que esses meios realizam sobre o jovem, são necessárias uma atuação e vigilância dos familiares (pais) sobre o produto adquirido pelos filhos, bem como a enfatização de valores bási-cos da sociedade. A influência dos games é verídica e pode ser positiva, desde que a sua função sócio-pedagógica seja exercida.

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Comentário do professor:

O texto da Liliane destaca-se por fazer um bom aproveitamento da coletânea. Ela captou a discussão proposta nos textos de base e organizou, de modo equilibrado, seus argumentos.

Bastante padronizado, o texto levanta uma questão inicial ao que segue um parágrafo que apresenta um ponto de vista mais de senso comum; no terceiro parágrafo acrescenta um “porém” para ampliar a discussão e termina com uma conclusão bem elaborada. Contudo, nem todos que seguem esse molde “se dão bem”, porque levantam, por vezes, argumentos apressados, pouco trabalhados, o que não acontece com o texto em questão, que trabalha os argumentos com o cuidado devido aos textos escrito.

Trata-se de um texto equilibrado que mantém argumentos coer-entes, ainda que bastante presos, comedidos, porque não ultrapassam a coletânea e não burlam as estratégias de escrita para marcar um espaço de identidade, ao contrário, a autora respeita e aproveita os argumentos da coletânea e obedece ao padrão estabelecido para o texto dissertativo escolar. Mas ainda assim vai além do simples cumprimento da tarefa, porque possui segurança para construir argumentos “por escrito”.

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QUINTO LUGAR

Aluno: Roger Simões MirandaUnidade: Jardim da PenhaCidade: VitóriaSérie e Turma: 3a série

A história prova que a humanidade, ao longo de sua existência, sofreu muito com o espírito individualista de autoridades opressoras. É verdade que, em muitas relações corriqueiras, esse sentimento está presente. No entanto, são os detentores do poder pessoas capazes de transformar o individualismo em alterações profundas na dinâmica de um povo, de um país, do planeta.

Guerras mundiais, ataques a Hiroshima e Nagasaki e tantos outros acontecimentos submeteram milhares de vidas inocentes à irracionali-dade de atos movidos por interesses individuais e motivos infundados. Um exemplo de como a cobiça pode gerar o insucesso é o Império Romano: de nada valeram as conquistas, a expansão, a submissão e as mortes, pois tudo culminou na decadência. Tal alusão histórica remete à realidade atual. É fato que a maior potência mundial tem utilizado seus poderes de coerção para fins puramente individualistas. Um país que não se contenta com sua grandiosidade incontestável e parte em busca de ambições cada vez maiores, em detrimento da soberania de tantos outros. Talvez seja a busca por uma hegemonia maior, se é que isso é possível. Talvez seja ainda a guinada para o fundo do poço. Isso porque uma sociedade movida à intolerância jamais tenderá ao sucesso pleno. Nem mesmo as evoluções tecnológicas, em tese benéficas, fora pou-padas nesse processo sujo. Gasta-se mais em armamentos de primeira geração que em projetos sociais. O mundo se pergunta o porquê dessa cegueira. Pergunta-se por que tanto conhecimento, tantas riquezas não são usadas no sentido de promover o bem comum. Seria tão fácil. Essas dádivas estão em mãos erradas. Já dizia Machado de Assis: “É a eterna contradição humana”.

Nada se pode esperar de uma geração que cresce em meio a tamanho caos. Infelizmente, é esse o futuro de quem vive os efeitos da intolerância. O individualismo, utilizado com a inútil finalidade de construir grandes impérios, acaba por formar verdadeiros castelos de areia, vulneráveis ás suas próprias contradições. Ventos que, espera-se, um dia os derrubarão, restando apenas montes de areia, prontos para serem reerguidos. Será a chance que se espera para instituir alicerces concretos, cuja existência não seja tão insignificativa e efêmera.

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Comentário do professor:

Roger conseguiu um bom texto, pois trabalha os argumentos dentro de uma base histórico-social de âmbito mundial. Contudo, a temática fica prejudicada, na medida em que não define o conceito de individualismo proposto no seu texto. Diz que os governantes tomam atitudes individualistas quando parece querer dizer que esses tomam atitudes que desconsideram povos inteiros e gerações futuras. Mas mantém coerência em seu ponto de vista ao trabalhar a contradição presente nas atitudes humanas, afirmando que o homem possui em suas mãos a possibilidade de tudo transformar, mas tudo destrói, tendo por efeito o caos.

Os argumentos são articulados dentro de uma progressão ar-gumentativa baseada em fatos e que culmina com um forte chamado à reflexão, tendo por base a tese da efemeridade das coisas.

Roger vai além da coletânea, possui argumentos próprios, con-strói as bases para uma reflexão, por parte do leitor, basta que ele cuide um pouco mais com a articulação dos conceitos trabalhados a fim de ampliar a clareza e a fluidez do texto.

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SEXTO LUGAR

Aluna: Constance Dell’Santo Vieira Schuwartz Unidade: GuararapiCidade: Guarapari (ES)Série: 3a série

Com o apogeu do computador e do videogame e a populariza-ção desses dispositivos tecnológicos entre um número cada vez maior de crianças, surge uma questão: até que ponto os “games” influem no comportamento juvenil?

É evidente que as crianças absorvem hábitos e atitudes daqueles que os cercam. Esse é um ato natural quando se trata dos exemplos dos pais, dos professores ou dos amigos. Contudo, é preocupante quando se tem por modelo de comportamento personagens de videogames e jogos de RPG. Isso porque muitos “heróis” são violentos e cruéis, o que pode influir negativamente no desenvolvimento da criança e, a longo prazo, pode acarretar a agressividade do jovem. Um exemplo disso é o caso dos jogadores de RPG em Guarapari que incorporaram o jogo de tal forma que assassinaram uma família inteira.

A falta de discernimento entre a fantasia dos jogos e a realidade pode ter outras conseqüências. Uma criança que domina um game de corrida pode pensar que sabe dirigir e, com um carro nas mãos, essa ilusão se transforma em tragédia. Ou simplesmente pode se decepcionar quando descobrir que dominar um esporte pelo videogame não significa que se possa fazê-lo na realidade.

É importante ressaltar que todos esses comportamentos aconte-cem em uma conjuntura especial – ausência dos pais, falta de limites e questões psicológicas. Não se deve esquecer os atributos positivos dos jogos, como o de desenvolver a coordenação motora, aprimorar o raciocínio lógico, o cumprimento de regras e ensinar até alcançar o objetivo, além de proporcionar momento de diversão.

Com isso fica claro que a influência dos “games” no comporta-mento da juventude é algo que deve despertar atenção da sociedade, principalmente dos pais. Não se trata de proibir, mas apenas de impor limites, buscando otimizar os benefícios e minimizar ao máximo os males dessa moderna ferramenta de diversão.

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Comentário do professor:

Constance traz para seu texto argumentos firmes, bem articulados, ainda que o texto não seja fluente em sua progressão, pois leva o leitor de um fato a outro, sem encadeá-los num crescendo.

Utilizando-se bem da coletânea, procura levantar pontos para além do lido nos textos de apoio, mas não vai muito longe em suas reflexões, apenas enfatiza, de modo muito contundente, o lado positivo da questão. Assim, seu texto destaca-se pela firmeza nos argumentos, especialmente no quarto parágrafo.

Contudo, se Constance trabalhar um pouco mais as estratégias de desenvolvimento de um texto dissertativo, poderá conseguir um grande aprimoramento na sua produção. Basta pensa no leitor, em como conduzi-lo em seu raciocínio, de modo a ir trabalhando o argumento passo a passo, ampliando o grau de complexidade, na medida em que surpreende e amarra o leitor em seus argumentos. Mas seu texto já demonstra personalidade e ponto de vista, o que é fundamental na relação com seu leitor.

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SÉTIMO LUGAR

Aluna: Laís Domicioli Azevedo Unidade: Vila VelhaCidade: Vila Velha (ES)Série e Turma: 3a série V2

A influência dos games no comportamento das pessoas é uma questão bastante polêmica e há várias opiniões divergentes sobre tal assunto. Um fato trágico ocorrido em Guarapari, interior do Espírito Santo, onde três pessoas de uma mesma família foram assassinadas devido a uma “simples” partida de RPG (Role Playing Game) causa espanto e medo. Como dois jovens aparentemente sadios teriam frieza para matar uma família por causa de um jogo?

Por um lado, há os indivíduos que acreditam que os games func-ionam como espaços de aprendizagem, ou seja, trazem vários benefícios ao jogador, como significativas melhorias nos aspectos sociais, cognitivos, afetivos e culturais. Outro aspecto que alegam é o fato de que a criança ou o jovem precisa traçar estratégias para chegar a um objetivo, como, por exemplo, vencer uma partida de xadrez, o que certamente desen-volverá seu raciocínio lógico.

Em contraposição aos argumentos anteriores, estão as pessoas que acreditam que as crianças aprendem por imitação e, por esse motivo, jogos que possuem muitas cenas de lutas acarretam distúrbios psicológi-cos, prejuízos na formação de caráter e dificuldade de distinção entre o mundo real e o virtual.

A globalização e o capitalismo financeiro geram um grande avanço na tecnologia e um maior acesso aos mais variados meios de comunica-ção (televisão, rádio, revista, jornal e computador). Entretanto, a perda de valores fundamentais, como a família e a Igreja, que ocorreu na so-ciedade moderna e a falta de limites dos pais na criação de seus filhos fazem com que parte dos jovens da geração do século XXI, apesar de viver na era da informação, seja extremamente manipulada pela mídia e não tenha discernimento suficiente para saber a “linha”.

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Concurso de Redação - Certas Palavras - 2005

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Comentário do professor:

O texto da Laís ganha em objetividade e fluidez, ao mesmo tempo em que prende a atenção do leitor. Logo de início ela enfoca um drama que resulta em uma questão e assim retém o leitor, porque encadeou bem o fato com a problemática levantada, sem evidenciar demais o fato pelo fato. Na seqüência faz um parágrafo com argumentos positivos e outro com argumentos negativos ao que conclui, no quarto parágrafo, com um ponto de vista ainda não enfocado. Tudo isso sem misturar argumentos, sem se confundir, com muita clareza e precisão de raciocínio.

Um texto totalmente baseado na coletânea, mas que faz dela um bom aproveitamento, com uma linguagem fluente, bem elaborada, ainda que os argumentos sejam comedidos e aligeirados.

A organização escrita do texto, com boa seqüenciação, coesão argumentativa e progressão de idéias foi a responsável pela manuten-ção da clareza e fluidez do texto em questão. Trata-se de uma boa demonstração de que não basta possuir os argumentos, é preciso bem concatená-los para se conseguir uma boa produção escrita.

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OITAVO LUGAR

Aluna: Aline Canabarro de AssisUnidade: Vila Velha Cidade: Vila Velha (ES)Série e Turma: 3a série M2

Os jogos eletrônicos podem influenciar sim o comportamento das pessoas, mas a maneira com que ele vai exercer essa influência dependerá de como ele será compreendido. Se os jogadores o virem como fantasia, caberá ao jogo apenas a função de divertir. Mas, se ele for interpretado como realidade, certamente se transformará em um problema.

Algumas pessoas acabam confundindo a brincadeira e a trans-formam em uma tragédia. Foi o que aconteceu em Guarapari, Espírito Santo, há pouco tempo. Dois jovens mataram o parceiro de RPG (Role Playing Game) e os pais do companheiro para cumprir tarefas do “mes-tre” do jogo. Situações como esta são lamentáveis, mas infelizmente acontecem.

Quando os jogadores conseguem controlar a problemática e entender os jogos como meras fantasias, eles podem até buscar pontos positivos, por exemplo, o gosto por esportes, como o futebol.

Alguns especialistas dizem que a tendência de ter um compor-tamento violento cresce na medida que a violência é assistida. Outros dizem que em uma situação de “stress” em que a pessoa for submetida, pode reproduzir as ações de um jogo guardadas no subconsciente. Ainda existem os que discordam, argumentando que só quem já tem algum problema psicológico vai transformar para o mundo real o que se faz na tela.

Uma possível solução para esse impasse entre fantasia e realidade é explorar jogos eletrônicos e de RPG em ambientes escolares para que possam ser vinculados no aspecto social, afetivo, cultural e de forma lúdica, atrativa e prazerosa.

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Comentário do professor:

Aline faz um texto bastante circular em seus argumentos, sem fazer com que o texto progrida em interesse para o leitor. Mas apesar de comedido, o texto é bem trabalhado em sua redação e possui um desfecho surpreendente. Também se destaca o modo de utilização da coletânea, pois são chamadas as falas de especialistas, as quais são pouco aproveitadas.

No seu todo, o texto limita-se a apresentar um e outro pontos de vista, sem assumir qualquer deles. Sem dúvida, essa postura constitui-se em uma estratégia e não em um problema para o texto, mas não prende o leitor.

Com uma linguagem bem trabalhada, sem ser rebuscada e com clareza nos argumentos, o texto mantém-se coeso e bastante coerente.

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NONO LUGAR

Aluna: Lara Ferreira LorenzoniUnidade: Vila VelhaCidade: Vila Velha (ES)Série e Turma: 3a série V1

Ante a crise política instalada no país no atual momento faz-se de indubitável conveniência a discussão em torno do que pode ser con-siderado o precursor histórico e inconsciente de tal situação: a falta de patriotismo. Este sentimento, amplamente subestimado e relegado no Brasil, foi responsável por louváveis momentos de glória em diversas nações, sobretudo naquelas que hoje compõem o chamado grupo de países desenvolvidos. A questão é como incitá-la na sociedade cívica brasileira.

Nota-se que neste país prevalece a concepção tacanha do bem-estar individual. Consideram-se as questões coletivas meras trivialidades e a mudança efetiva do quadro nacional é tida como idéia idílica e desinteressante. Tal fato é extremamente lamentável. Realmente, há de se convir que existe um profundo desgaste na sociedade brasileira em se tratando de assuntos políticos. Isso se justifica pela secular e generalizada corrupção que prevalece na máquina administrativa. Porém, é incoerente que os cidadãos (os grandes prejudicados no processo), ao omitir-se da vida política, sejam coniventes com tais atitudes sórdidas e deletérias a toda a nação (haja vista a proliferação da violência).

Isso nada mais é do que um ciclo vicioso. E o limiar de tudo foi a falta de patriotismo. Ora, um ser humano que honra sua pátria e prima pelo bem estar e pela prosperidade dela, não sucumbirá facilmente aos deleites das realizações de interesses pessoais, por meio do saque e da dissimulação. Tal situação provoca o descrédito da população que passa a execrar a vida política do país, deixando de reivindicar o que lhe é direito.

Faz-se urgente e necessária a mudança de mentalidade de socie-dade. Resistir é preciso, lutar também. Ao relegar o exercício da cidadania, relega-se a uma série de interesses que dizem respeito a todos. É preciso assumir a própria pátria que, sem dúvida, detém enormes potenciali-dades, exigindo a exploração destas e tentando torná-la um lugar cada vez melhor para se viver.

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Comentário do professor:

Com uma linguagem bastante rebuscada, Lara defende uma tese dificilmente aceitável: a falta de patriotismo é o precursor histórico e inconsciente da crise atual brasileira. No entanto, seus argumentos acabam por colocar para o leitor a possibilidade de sua tese, ainda que não o convença de todo.

O texto se mantém coeso nesse ponto de vista, progride em seus argumentos e é, no mínimo, curioso. Desse modo, Lara chama o leitor a uma reflexão, durante todo o percurso do texto, e a uma tomada de posição, quando no seu desfecho.

O texto perde em fluidez, devido ao rebuscamento lingüístico que cerca as colocações, mas ganha em envolvimento, na medida em que toca o leitor de modo irrefutável.

Não sei se essa é a linguagem da Lara ou se trata de uma lingua-gem estereotipada, mas penso que o texto ganharia em clareza se a sua linguagem fosse mais direta e mais no nível de uma estudante de ensino médio, pois Lara consegue levantar argumentos e concatena dados de modo maduro e por vezes inusitado.

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DÉCIMO LUGAR

Aluno: Jorcy de Oliveira NetoUnidade: Jardim da PenhaCidade: Vitória (ES)Série e Turma: 2a série E

Desde que surgiram, na década de 1980, os jogos que envolvem mundos fictícios, como os eletrônicos e os RPG’s, vêm conquistando os jovens. Acontece que atualmente vem se atribuindo a muitos desses jogos, atos violentos praticados por jogadores raramente resultando em barbaridades como o assassinato de Guarapari.

Porém, desde muito tempo é que se escolhe algum símbolo de representação cultural moderno ao relacionado ao comportamento de desvio dos jovens, tido como símbolo de rebeldia, o rock’n roll, estilo musical ao qual se atribuiu o comportamento transviado dos jovens da década de 60. Logo, não é correto inferir que os jogos de fantasia eletrônicos ou de RPG tornam o jogador violento; o intuito do jogo é apenas criar um mundo fantasioso, irreal, no qual os participantes pos-sam se desligar da realidade por um tempo. Acontece que, quando essa carga de informações se junta a distúrbios comportamentais e desvios de conduta, muitas vezes provindos da má formação de personalidade, podem eclodir demonstrações de agressividade e em raros casos acon-tecer tragédias.

Ou seja, é dever da família fornecer boa formação do caráter comportamental, orientando que em um mundo de fantasia tudo lhe é permitido. Mas que, a partir do momento em que é desligado o aparelho de jogo, ou que a sessão se dá por encerrada, retornar-se ao mundo real, voltando ao posto de cidadão, o qual com seus direitos, deveres e sujeito a punições perante a lei.

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Comentário do professor:

Com uma linguagem pouco fluente, mas com argumentos precisos e uma fala muito própria, o texto em questão chama a atenção do leitor, na medida em que levanta os contrapontos que envolvem a temática, com um toque curioso.

Jorcy faz um bom aproveitamento da coletânea, levanta dela pontos inusitados e faz colocações muito próprias. Sem fugir ao tema, mas também sem fazer crescer o debate, o texto progride pouco, mas não se contradiz.

Os elementos levantados são trabalhados de modo satisfatório, ainda que comedidos. Assim, Jorcy possui um jeito muito próprio de argumentar, o que “ganha” o leitor, mas pode crescer muito nas estra-tégias da argumentação escrita.

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