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1º Colóquio Pearson (Ago-2013)

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Relatório I Colóquio Pearson

Para onde está caminhando o ensino superior?

A Pearson Education do Brasil, empresa de soluções educacionais, reuniu em São Paulo, em

agosto de 2013, gestores, dirigentes e reitores das mais importantes universidades particulares

do Brasil para um debate sobre o impacto das novas estratégias pedagógicas e tecnológicas na

Educação. O I Colóquio Pearson reuniu os maiores especialistas em educação a distância em

todo o mundo, com representantes dos Estados Unidos, Europa, Índia e Brasil. O Colóquio teve

como palestrantes Abdul Waheed Khan, mestre e doutor em Comunicação de Massa pela

Universidade de Wisconsin; Keneth C. Green, doutor em Ensino Superior e Políticas Públicas

na Universidade da Califórnia e diretor-fundador do The Campus Computing Project, o maior

estudo continuado do papel da computação, e-learning e tecnologia da informação em

faculdades e universidades norte-americanas; Paul Bacsich, mestre pela Universidade de

Cambridge, doutor pela Universidade de Bristol e diretor da Matic Media Ltda., empresa que

atua desde 1996 em política e prática de aprendizado on-line em todo o mundo; e Carlos

Longo, engenheiro civil com MBA e doutorado em Gestão pela Universidade de Newcastle, da

Inglaterra, diretor de educação a distância e professor titular da Universidade Positivo em

Curitiba, onde é responsável pelo programa de ensino a distância.

A mediação dos debates foi feita por Fredric Litto, coordenador-fundador da Escola do Futuro

da USP e presidente-fundador da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED). Litto

conquistou dois Prêmios Jabuti, o primeiro em 2009, na área de Educação, pelo livro Educação

a distância: o estado da arte; e o segundo em 2011, pelo livro Aprendizagem a distância, na

categoria Tecnologia e Informática.

Laércio Dona, diretor de Ensino Superior e Idiomas da Pearson Brasil, foi quem abriu o evento.

Dona apresentou um vídeo institucional com as realizações da empresa e fez um relato sobre as

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pesquisas e o trabalho da equipe da Pearson. Destacou a empresa como uma companhia global,

presente em mais de cinquenta países e com cerca de 40 mil colaboradores; apresentou suas

três importantes marcas: Pearson, Penguin – que se tornou a maior empresa de literatura do

mundo após a fusão com a Random House – e o jornal internacional de negócios Financial

Times. A Pearson fatura hoje 10 milhões de dólares por ano e 75% dessa quantia provêm da

área de Educação, o que a torna a maior empresa de educação no mundo, com foco em

serviços e produtos, com âmbito em educação básica e no ensino superior e profissionalizante.

Em seguida, Dona citou a pesquisa desenvolvida no ano passado pela própria Pearson, em

parceria com The Economist Intelligence Unit, braço de pesquisa da revista The Economist,

intitulada “The Learning Curve”, que avaliou índices de desenvolvimento educacional de

quarenta países e indicou que o Brasil está em penúltimo lugar, à frente apenas da Indonésia.

Citou também a pesquisa sobre ensino superior “An Avalanche is Coming”, publicada em março

deste ano, realizada em parceria com o Instituto de Políticas Públicas do Reino Unido, que

analisa as mudanças e desafios nos próximos cinquenta anos na área da educação. Segundo

Dona, a análise foi feita a partir do cenário econômico mundial e as transformações em função

da globalização, da união entre globalização e tecnologia e da expectativa dos estudantes com

relação às instituições de ensino e seu futuro. De acordo com o diretor, a globalização está

estimulando os estudantes na busca de instituições de ensino no exterior, o que vem

provocando mudanças em um mercado que deixa de ser local, pois teremos cada vez mais

alunos buscando estudos fora do Brasil. Ele abordou alguns aspectos da dinâmica do ensino

superior brasileiro com relação à economia, mercado de trabalho, conteúdo do ensino e

educação digital, abordando reflexos dessas questões nas instituições e nas carreiras de

docentes e graduados. Com relação ao mercado de trabalho, Dona citou números como o de

desemprego de graduados, que chega a 25% entre jovens que deixam a faculdade e até os

trinta anos não conseguem se estabelecer na área escolhida. Ele comparou este número com o

índice de desemprego de alunos do ensino médio, que atinge 20%, ou seja, menor que o dos

estudantes graduados. No entanto, 45% dos empregados dizem não conseguir mão de obra

qualificada para as posições de entrada, o que, segundo Dona, demonstra um descompasso

entre o que é ensinado e a demanda dos empregadores.

Outros dados citados por Dona relacionam-se aos custos demandados pelo ensino superior, que

estão crescendo muito rapidamente. De acordo com o diretor, há doze anos, nos EUA, uma

família de classe média americana comprometia cerca de 18% da sua renda com o ensino

superior, investimento que hoje atinge 25%, o que tem causado um endividamento muito

grande às famílias. Com o mesmo exemplo, ele afirmou que, em 2004, 21% dos estudantes

não conseguiam pagar as suas mensalidades em 90 dias. Hoje, este número está em 35%.

A respeito do conteúdo oferecido pelas instituições, Dona referiu que hoje se tornou commodity.

Segundo ele, o conteúdo está disponível facilmente na internet, o que não acontecia até pouco

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tempo atrás, quando a Universidade tinha como um dos seus principais valores o fato de ser a

detentora do conhecimento. Hoje essa realidade é outra e, por essa razão, as universidades

devem investir mais em valores agregados, na experiência do aluno e em possibilidades e

processos de aprendizagem. Como exemplo, ele citou Eric Shimidt, executivo do Google, que

afirma que a cada dois dias são produzidos conteúdos que a humanidade não produziu desde os

primórdios até 2003.

Por fim, ele encerrou sua apresentação com dados sobre os impactos de redes sociais, inclusive,

sobre algumas que não são apenas virtuais, mas vêm oferecendo aos jovens encontros por

afinidades que podem substituir experiências que os alunos teriam nas universidades. Segundo

Dona, a graduação vem perdendo força, movimento inverso ao das redes sociais, que têm

ganhado espaço, credenciando habilidades e competências, em função das novas tecnologias e

possibilidade do ensino a distância, o que permite aos alunos e colaboradores que se espalhem

fisicamente.

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Educação a distância – uma opção para o Brasil

A palavra foi, então, passada a Fredric Litto, bacharel pela Universidade da Califórnia, doutor

pela Universidade de Indiana e professor emérito e livre-docente da ECA-USP, que deu início à

palestra “Investimentos em tecnologia: o essencial versus o eficaz”. Litto dividiu com os

palestrantes as dúvidas comuns dos gestores com relação aos passos posteriores aos

investimentos realizados em tecnologia nas instituições. Ele propôs aos três palestrantes que

discorressem sobre suas experiências e apresentassem ideias bem-sucedidas em universidades

do exterior. Como base para discussão, Litto comentou que o número de alunos matriculados

no ensino superior sempre tende a subir, o que afeta, em decorrência, o uso de novas

tecnologias e o treinamento dos docentes, demandando novos investimentos das instituições.

Após sua preleção inicial, Litto passou a palavra para Abdul Waheed Khan, que iniciou sua

apresentação falando sobre sua experiência ao criar a Universidade Nacional Aberta Indira

Gandhi, a primeira universidade da Índia a implementar o sistema de educação a distância.

Para ele, o principal desafio era preparar o educador para lecionar em frente às câmeras e, por

essa razão, o treinamento oferecido foi fundamental: “Quando criamos a Universidade havia

uma demanda muito grande para o ensino superior, pois não havia universidades suficientes

que atendessem essa demanda. Com a criação desta, possibilitamos que grandes mentes

criassem bons recursos materiais, tanto impressos como digitalizados”. A partir de sua

experiência, Khan afirmou que não existe uma fórmula certa para determinar qual tecnologia é

essencial e qual tecnologia é efetiva. Segundo o palestrante, esse parâmetro varia de instituição

para instituição e cabe a cada uma delas avaliar o que é melhor. Para ele, o investimento deve

ser feito na capacitação de profissionais para que a tecnologia aplicada seja efetiva aos

estudantes. “Nós começamos a Universidade com quatro mil alunos, e hoje são quatro milhões

de estudantes com acesso ao ensino digital”, comemorou Khan.

Já para Paul Bacsich, doutor pela Universidade de Bristol e diretor da Matic Media Ltda., a

percepção do que é prioritário é importante na hora de investir, para que esses investimentos

permaneçam e sejam compatíveis por muito tempo. “Se a tecnologia for aplicada de maneira

certa, os benefícios ocorrerão em longo prazo. Mas, para isso, a instituição deve acompanhar os

professores de perto. Você deve saber o que seus professores estão fazendo”, destacou.

O especialista também fez uma comparação entre Brasil e outros países europeus, salientando

que o governo brasileiro tem mais peso que os outros quando se trata de definições estruturais

do ensino, uma vez que questões como as regulamentações da carga horária de aula presencial

e a distância são de âmbito governamental, por exemplo. Para ele, essa intervenção

governamental no sistema educacional afeta diretamente as universidades e, se a interferência

fosse menor, a educação a distância seria mais bem implementada aqui. Bacsich é mestre em

comparações: liderou uma das duas equipes que compararam o aprendizado on-line em várias

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universidades do Reino Unido e promoveram mudanças relacionadas às TICs (Tecnologia de

Informação e Comunicação), quando desenvolveu o sistema Pick&Mix para comparar

aprendizado on-line. Em 2009, ele criou o Distance Learning Benchmarking Club (Clube de

Comparação de Aprendizado a Distância) para instituições de ensino superior no Canadá

(Thompson Rivers), na Suécia (KTH, Lund e Gotland) e no Reino Unido e as auxiliou na

comparação do aprendizado on-line, o que resultou trabalhos de consultoria na Suécia,

Austrália, entre outros países.

Em sua participação, Keneth C. Green afirmou que as diferenças entre os sistemas de ensinos

americano e brasileiro vão além de questões culturais. Segundo ele, 75% dos alunos

americanos estudam em universidades públicas, sendo que no Brasil 75% dos alunos estão em

universidades privadas, exatamente o contrário. Questionado se é possível para o Brasil

equiparar-se aos sistemas de ensino dos Estados Unidos, Ásia e Europa, Green afirmou que

uma simples comparação não é a maneira mais adequada de pensar essa questão e que o mais

importante é entender como as instituições estão provendo os estudantes e como essa

experiência tem ajudado o Brasil a se desenvolver cultural e tecnologicamente. Trouxe ainda

um dado interessante: “Em vários aspectos, a educação a distância, educação on-line, tem sido

mais aceita no Brasil do que em algumas universidades dos Estados Unidos”, ressaltou. E, ainda

de acordo com Green, essa aceitação é fundamental tanto para os estudantes quanto para as

instituições que oferecem esse sistema.

Entre os presentes na plateia, estava o pró-reitor de Ensino, Pesquisa e Pós-Graduação e diretor

de Integração Acadêmica da Faculdade Getulio Vargas do Rio de Janeiro, Antonio Freitas, que

falou sobre sua contribuição com relação a cursos digitais. O pró-reitor informou que a FGV-RJ

oferece cursos de longa distância para a África e que em alguns programas de graduação há

disciplinas que são oferecidas de forma totalmente digital, o que permite ao jovem tornar-se um

nativo digital: “Para eles é extremamente importante que aprendam a estudar de forma digital

e continuem a aprender e possam se formar com o uso dessa tecnologia”, destacou.

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Cases brasileiros – O impacto das novas tecnologias no

ensino superior

O palestrante Carlos Longo, fundador e diretor executivo da FGV Online, um dos mais

prestigiados programas de ensino a distância no Brasil, apresentou, na sequência das

participações, o trabalho intitulado Cases brasileiros – O impacto das novas tecnologias no

ensino superior. Longo apresentou dados que revelam o perfil do estudante universitário

brasileiro de cursos a longa distância: são, em sua maioria, das classes C, D e E, com idade

média de 32 anos, faixa etária que está diminuindo em função do interesse do jovem em cursos

digitais e também por conta das redes sociais. Questionado sobre a qualidade do ensino

oferecido aos alunos provenientes de classes menos abastadas, que em sua maioria estudaram

em escolas públicas ou que não possuem tempo para estudar porque trabalham fora desde

cedo, Longo explicou que a educação a distância possibilita nivelar o ensino para cima, ou seja,

com melhor qualidade: “Junta àquela pessoa que tem o conhecimento aquela que não tem

tanto, mas tem intuição e a experiência do dia a dia, porque já trabalha e está na faculdade a

distância para aprimorar seus conhecimentos e obter a certificação”. Longo defendeu que a

educação a distância pode unir diferentes classes e pessoas com diferentes níveis de

aprendizado escolar: “Quando você tem um background menor, você fica inibido. Na educação

a distância, por incrível que pareça, todo mundo é igual. Você não está olhando a roupa, o

carro, a forma de andar, a forma de vestir ou de falar. Você quebra aquele paradigma da

pessoa que fica retraída. A participação do indivíduo, independentemente da classe social, é

maior”, ressalta. Longo acredita que esse equilíbrio entre o mediador pedagógico, que é o

professor na educação a distância, e o estudante vai enriquecer e tornar-se mais inclusivo.

Especialista, ex-vice-presidente de Educação a Distância da Whitney International University

System, em Dallas, agraciado em 2007 com o Prêmio Destaque em Educação, na modalidade

de Educação a Distância, oferecido pelo Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação – Rio de

Janeiro, Longo também abordou as diferenças do oferecimento da educação digital em função

das regiões do Brasil: “Nas regiões metropolitanas brasileiras já é possível a todos o acesso à

educação digital. Agora, fora das grandes metrópoles, não há incentivo econômico para os

provedores de infraestrutura oferecerem o serviço”, mas ele revelou acreditar que nos próximos

vinte ou trinta anos a tecnologia pode chegar às áreas mais humildes.

Ao ser questionado se o Brasil pode se tornar tão avançado quanto o exterior no que concerne

ao ensino superior a distância, o palestrante disse não ter dúvidas, mas que não há como fazer

comparações. Ao citar, por exemplo, o avanço tecnológico e educacional dos Estados Unidos,

Longo foi contundente: “Os Estados Unidos têm uma tradição acadêmica de mil anos. Têm um

investimento em tecnologia sempre à frente em todo o mundo, não dá para comparar. O que eu

quero dizer é que cada país tem o seu caminho. O Brasil é um país relativamente novo que está

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descobrindo novos caminhos e as diferenças são mais do que tecnológicas e de ensino, são

diferenças culturais muito grandes, que têm a ver com a vivência do americano ou do londrino

ou do jeito de o brasileiro ser”, explicou. Além disso, destacou que, em sua opinião, há

profissionais brasileiros mais qualificados que os estrangeiros em diversas áreas, embora o país

ainda tenha de caminhar muito: “Acho que existe um preconceito terceiro-mundista de achar

que tem de ser como o americano ou o europeu, por exemplo, mas nós temos excelentes

profissionais aqui. É claro que quando você melhora o nível de educação não necessariamente

faz o país mais desenvolvido imediatamente, mas faz um povo mais consciente, melhor

preparado para enfrentar os desafios do Brasil, que são diferentes dos desafios dos Estados

Unidos, então, não há como comparar. A educação aumenta a consciência das pessoas,

fortalece a cidadania, melhora a saúde, mas o gap que temos com outros países não é só na

educação e tecnologia, é muito mais. É o tempo de maturidade democrática”, concluiu.

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Recursos tecnológicos e docência

Paul Bacsich abriu a segunda palestra, “Digitalizando o currículo”, que tinha como objetivo o

debate sobre a necessidade de treinar docentes para uma melhor utilização dos recursos

tecnológicos. Ele abordou essas questões explorando o tema pelos seguintes itens: Quem irá

fazer? Como fazer mais rápido? Deveríamos mudar os currículos-padrão? Bacsich afirmou que a

digitalização exige tempo, mas que é necessária para o sucesso da transição: “Se não

educarmos as massas, que pelo menos sejam oferecidas ferramentas para fazê-lo. Uma vez que

você descobre o jeito certo de fazer, você deve aplicar”. Em sua opinião, a própria instituição

deve proporcionar as ferramentas para o treinamento dos docentes. E complementa: “Além

disso, quando se está oferecendo o treinamento, uma das chaves para o sucesso são

mensagens positivas e de encorajamento”.

Bacsich abriu sua palestra contando uma história sobre um jovem pesquisador que foi

contratado como professor da Universidade Nacional de Cingapura. Esse jovem, em sua

primeira entrevista, pergunta ao diretor que o está contratando: “Eu li a descrição das

atribuições desta vaga, mas quais são suas orientações para o que eu devo fazer? Porque eu

não faço o que se pede”. E o diretor respondeu: “É simples, a porta da saída está ali”. O

palestrante explicou então que o que ele quis dizer com essa história é que as instituições

devem sempre deixar claro o que esperam de seus professores e que muitas das soluções dos

problemas enfrentados pelas universidades estão em suas próprias mãos.

Dito isso, Bacsich mencionou outra questão levantada por um administrador da Universidade do

País de Gales, que pergunta por que o conteúdo de sua instituição não poderia ser todo

disponibilizado na internet, o que tornaria o estudo mais fácil. “Como consultor, dizer para as

universidades o que fazer é muito difícil”, afirmou o palestrante, que contou outra história com

a qual faz um paralelo com a questão do investimento: a história de dois criadores de ovelhas,

um que possui apenas uma ovelha, criada segundo todas as condições ecologicamente corretas,

mas não tão rentável; e o outro criador, que tinha suas ovelhas soltas no pasto, criadas com

métodos tradicionais, com as quais ele ganhava uma quantia maior de dinheiro. A conclusão de

Bacsich para essa história é fazer o elo com a do administrador que perguntou por que não

colocar todo o conteúdo na internet: “Se você disponibilizar todo o material na internet como o

administrador havia sugerido, as instituições públicas e privadas podem pegar material e ainda

dizer ‘obrigado, você me proporcionou uma grande economia de verba’”. Segundo o

palestrante, o segredo é transformar-se em uma universidade sustentável, com possibilidades

de criar o seu próprio material digital.

Para encerrar, ele cita o exemplo de uma universidade em Nova York que na década de 1990 já

possuía todos os conteúdos de suas cadeiras de psicologia e sociologia digitalizados. Segundo

ele, o ponto positivo dessa questão é que essa é a forma mais ecologicamente correta e que

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muitas universidades em todo o mundo já estão passando essa mentalidade para seus alunos.

Para Bacsich, as instituições devem encontrar os mecanismos corretos para esses processos e,

uma vez encontrados, devem ser aplicados. Ele destacou ainda que cada vez mais os conteúdos

estão sendo oferecidos on-line, não necessariamente por ação das universidades, mas por

ações externas, como os materiais que estão disponíveis na internet em páginas como

Wikipédia, por exemplo, que, mesmo não sendo totalmente disponibilizados com a chancela

educacional, podem ser aproveitados. Ele acrescentou que, como os alunos já têm prática em

buscar esses materiais de pesquisas e recursos, as universidades podem trabalhar melhor seus

conteúdos, de modo a ajudar mais os estudantes.

Já para Keneth C. Green os desafios enfrentados para o treinamento de docentes mudam de

acordo com o tempo e os avanços da tecnologia. De acordo com Green, nos anos 1980 a

questão residia em como fazer os professores usarem os computadores. Em 1996, já tendo

como certo que os docentes utilizavam computadores, o desafio era estimular os professores a

usar a internet. Em 2013, ainda segundo o especialista, o problema é conciliar as informações e

passá-las de forma ágil e positiva aos estudantes. Green afirmou que a resposta está não

somente nos treinamentos dos docentes, mas também no suporte que empresas, como a

Pearson, proporcionam: “São editoras que não só provêm o conteúdo, como também constroem

uma cadeia de sistemas por meio dos quais emprestam o conteúdo de diferentes livros e

agregam valores”, destacou.

Em sua colaboração sobre o assunto, Abdul Waheed Khan citou inicialmente uma experiência

ocorrida há 25 anos, quando os países educadores, que ele chamou de ABC (Austrália, Bretanha

e Canadá), se reuniram para encontrar um modo de desenvolver seus materiais e conteúdos

com mais qualidade. Uma vez desenvolvidos, a discussão era sobre como difundir esses

conhecimentos, e foi esse debate que os levou à questão do ensino a distância. Ele acrescentou

que esse material já preparado foi transmitido de países desenvolvidos para países não

desenvolvidos, mas que não se lembrava de nenhum caso de conhecimentos sendo transmitidos

entre países não desenvolvidos. Dito de outro modo, a falta de recursos materiais dos países

não desenvolvidos impediu o compartilhamento dos conteúdos: “Isso porque eram materiais

didáticos físicos. Acredito então que, com esses materiais colocados de forma on-line, esse

compartilhamento torna-se muito mais acessível”.

Khan considerou ser ainda difícil para um docente fazer a transição do método de aulas

presenciais para aulas a distância, contudo, defendeu a mudança como necessária. Ainda

afirmou que um dos grandes desafios para essa mudança são os custos demandados em todo o

processo de digitalização. Segundo ele, é por essa razão que há instituições que consideram

mais barato utilizar materiais digitalizados oriundos de países em desenvolvimento do que

desenvolver sua própria tecnologia, já que esse processo é mais caro do que o primeiro. E

ressaltou que não se trata apenas de digitalizar o material didático: “Essa tarefa é só um lado

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da história, pois existem muitos outros materiais, além do puramente didático, que precisam

ser digitalizados também, por isso os processos são caros”, garantiu. O palestrante

complementou dizendo que há exceções e, para ilustrar, informou que a Coreia do Sul é um dos

países mais desenvolvidos no mundo do ponto de vista da tecnologia digital e que está

digitalizando todas as suas bibliotecas. Khan mencionou também o caso da Índia, que, a

exemplo da Coreia, tem como meta desenvolver suas próprias bibliotecas digitais, e completou:

“Eu acredito que as universidades, incluindo as brasileiras, vão chegar lá”.

Já o pró-reitor Antonio Freitas, diretor de Integração Acadêmica da Faculdade Getulio Vargas do

Rio de Janeiro, disse acreditar que a implementação do currículo digital nas instituições torna-se

um incentivo para o professor buscar aprender com as novas tecnologias e, dessa maneira, se

tornar um profissional mais bem preparado. Ele explicou que na FGV-RJ acontecem

treinamentos específicos para os docentes, que duram seis meses. Freitas ressaltou ainda a

responsabilidade social da instituição: “Sendo assim, ela deve se entender responsável por

dividir esse conhecimento com o mundo”.

Por sua vez, Keneth C. Green voltou aos desafios impostos ao professor universitário com a

digitalização dos conteúdos. Ele afirmou que nos Estados Unidos, por exemplo, apenas um

décimo de 1% dos estudantes que ingressa nas universidades quer se tornar um professor

universitário: “No geral querem ser engenheiros, cientistas etc. A maioria de nós não sabe o

que é ser um professor universitário, até que alguém nos inspire. Nós, que estamos aqui

participando dessa discussão sobre tecnologias digitais, precisamos redefinir o que nos toca e

não só oferecer conteúdo digital ao aluno”. Segundo ele, os professores estão preocupados em

como usar essas novas tecnologias de forma a tocar o estudante. O desafio, para Green, é

prover os estudantes de boa qualidade de ensino on-line e ainda manter o toque humano que o

professor inspira. “Apenas alguns de nós conseguem isso, a maioria depende da infraestrutura

da instituição”, complementou.

O mediador Fredric Litto fez uma observação abordando a questão da propriedade intelectual,

ressaltou que as leis que a regem no Brasil não satisfazem às necessidades modernas. De

acordo com o professor, os setenta anos de direitos autorais e de propriedade intelectual

garantidos pela lei são “irreais”, uma vez que fazem com que os livros universitários fiquem

obsoletos. Ele defendeu a existência de um estatuto que garanta a propriedade intelectual de

três a cinco anos, já que novas informações são descobertas e podem ser agregadas aos

materiais didáticos quando a educação é oferecida digitalmente.

Na opinião da professora Sandra Mara Bessa, diretora do curso de graduação a distância da

Universidade Católica de Brasília, tanto o investimento em novas tecnologias quanto o

treinamento de docentes são importantes e não só para a educação, como também para a

instituição: “Não podemos deixar de pensar nessa tendência de incluir novas tecnologias e

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pensar na formação dos professores. Precisamos reorganizar o pensamento da Educação a

distância no sistema brasileiro e permitir a inclusão digital. Eu acho que não só vale a pena o

investimento, como é uma necessidade. E acredito que a instituição que não acompanhar essa

necessidade vai estar fora brevemente. A juventude precisa disso”.

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A resistência às novas tecnologias

Na última palestra, “A mudança de papel do corpo docente”, Fredric Litto fez um

questionamento sobre quais mudanças são necessárias no corpo docente neste novo quadro de

referência de funções e qual parte do antigo papel do docente deverá ser mantido. Ele partiu

dos pressupostos que as mudanças estão ocorrendo rapidamente, principalmente no acesso da

população ao computador, e que o jovem brasileiro é muito mais flexível ao aprendizado de

longa distância, mas ainda há resistência nesse padrão de ensino por parte do professor.

Sobre isso, Keneth C. Green reafirmou que o papel do professor vem mudando drasticamente e

a tecnologia tem contribuído para essa mudança: “Hoje, há mais recursos disponíveis e maior

infraestrutura nas instituições, mas isso pode tanto ajudar quanto atrapalhar”, disse, referindo-

se às demandas econômicas crescentes nesse sentido e às dificuldades e resistência dos

professores em se adaptarem.

Complementando a análise de Green, Paul Bacsich afirmou que a resistência em adaptar-se à

educação a distância também ocorre em função de diferentes fatores econômicos, como salário,

investimento em computador, tempo de aprendizado e demais exigências para esse perfil do

novo professor: “O mundo mudou e hoje em dia os professores têm à disposição sistemas mais

complexos que não existiam antes, mas não é possível ficar de fora”. Bacsich acredita, no

entanto, que, apesar das mudanças, ensinar é algo nobre.

Para Carlos Longo, o professor de ensino a longa distância tornou-se uma espécie de mediador

pedagógico: “O professor perde o papel dominante e o aluno passa a ser mais participativo”,

afirmou o especialista.

Citando sua experiência, Abdul Waheed Khan relata que, quando criou a Universidade Nacional

Aberta Indira Gandhi, contratou profissionais baseando-se em suas qualificações nas

respectivas áreas de atuação. O treinamento desses profissionais se tornou um verdadeiro

desafio, uma vez que “eles tiveram de ser totalmente convertidos a professores de ensino a

distância”. Alguns desses profissionais hoje trabalham em mainstream media. Khan disse

acreditar que os estudantes também mudaram com esse processo e que o uso da tecnologia no

ensino promove a troca de conhecimentos tecnológicos entre professores e alunos. Khan

buscou encorajar a plateia para o investimento na formação de professores para educação a

distância, garantindo que há vantagens no processo: “Mas ele tem de se acostumar com o fato

que não é mais a única fonte de conhecimento”.

Litto, por sua vez, citou a educadora americana Carol Twig e sua pesquisa Redesigning Learning

(Redesenhando a aprendizagem), que afirma que a educação a distância pode permitir a

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redução do número de professores e também o de salas de aulas utilizadas. Ainda segundo

Litto, é possível que professores e alunos avancem com a tecnologia. Ele mencionou uma lei,

em vigor no estado de Michigan, nos Estados Unidos, que regulamenta o ensino a distância e

impõe que todas as escolas de ensino público exijam que seus alunos de ensino médio façam

pelo menos uma disciplina on-line.

Já o professor Longo afirmou que não se pode impor os mesmos treinamentos de docentes

estrangeiros aos brasileiros porque no Brasil há imposições como as leis trabalhistas e

regulamentações exigidas pelo MEC: “Não dá para inovar o currículo se o MEC não aprova”,

constatou. De acordo com o professor, é importante saber como o processo funciona em outros

países e que essa discussão deve estar sempre presente, ressaltando a importância deste I

Colóquio para que todos possam saber que esse tipo de ensino é possível.

De acordo com a professora Sandra Mara Bessa, a inclusão de novas tecnologias na educação a

distância é a nova realidade e com elas há possibilidade de crescimento de mercado: “Minha

instituição trabalha diretamente com educação a distância, então essa digitalização já é uma

realidade”. Ela explica que os cursos de graduação e pós-graduação em sua instituição são

oferecidos on-line: “Então já trabalhamos com material digitalizado, o que nos coloca na ponta

desse debate que estamos tendo aqui. O interessante é que percebemos uma convergência nos

dados que estão sendo apresentados, nas tendências das outras instituições”.

O consultor, pesquisador, administrador e professor da Thalenthus Consultoria, Assessoria e

Capacitação, Mauro Kreuz, acredita que o mais importante nesse debate é o aproveitamento

dos alunos: “Se os nossos alunos não aprenderem significativamente e com isso não adquirirem

conhecimento intelectual para sua vida, de nada adiantou”.