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III Colquio Festas e Socialidades 31 de agosto a 02 de setembro de 2011 FAFICH/UFMG Programao Geral- 31 de agosto de 2011: Sesso solene de abertura do Colquio Auditrio Bicalho da FAFICH/UFMG, 10h - 31 de agosto de 2011: Conferncia de abertura Auditrio Bicalho da FAFICH/UFMG, 10h30/12h30 Joaquim Pais de Brito (Diretor do Museu Nacional de Etnologia de Portugal) - O intrigante calendio entre dois hemisfrios Falamos do calendrio ritual e festivo, tal como se foi construdo no ocidente europeu. Identificamos os principais eixos da sua estruturao: o ciclo vegetativo, os ciclos solar e lunar e o ciclo das personagens do universo cristo que o marcaram e ocuparam num percurso que revela conflitualidade, complexidade e coerncia. Ele a expresso da domesticao do tempo, nele se descobrindo mltiplos patamares no registo da sua apropriao e celebrao, revelando um texto normativo de onde imergem e se legitimam as prticas sociais que se manifestam em complexos rituais e festivos. Vamos falar em particular da ritualidade do inverno, que deu tambm lugar a alguns dos mais importantes textos da antropologia europeia. Foi este o calendrio que depois se deslocou para o hemisfrio sul. Aqui o inverno muda de temperatura e perde muitos elementos da sua complexa e expressiva morfologia do hemisfrio norte. Entre outros, so eles o frio, o fogo, o recolhimento dos grupos, o tempo expectante das sementeiras j feitas e a incerteza dos seus resultados. Este calendrio duma sociedade tradicional, que at meados do sculo XX foi predominantemente rural, mas que investiu de igual modo o espao urbano, vai sendo objeto de apropriaes e formulaes discursivas que deslocam as datas e ritualidades que lhe so associadas e continuamente incorporaram outras que inicialmente no manifestavam. Gostaramos assim de convidar a prestar nova ateno aos aspectos intrigantes dessa viagem transatlntico do calendrio por barco e aos modos da sua estruturao nos locais onde hoje pode ser inquirido. - 31 de agosto de 2011: Sesses temticas primeira reunio Salas da FAFICH/UFMG, 14h-17h - 01 de setembro de 2011: Mesa redonda Auditrio Baesse da FAFICH/UFMG, 10h30-12h30 Festas e socialidades: dilogo Brasil-Portugal homenagem a Pierre Sanchis Arraial, festa de um povo, da autoria de Pierre Sanchis, publicado por Joaquim Pais de Brito na sua coleo Portugal de Perto (editora Dom Quixote) em 1983 marcou toda uma gerao de antroplogos e socilogos portugueses formados na transio democrtica que deu um novo flego s cincias sociais nesse pas. A importncia que as socialidades festivas tiveram nestas abordagens, como elementos estruturantes das comunidades rurais e urbanas, devem muito a esta obra. Propomos, a partir deste fato, uma discusso sobre o impacto que esta e outras obras de Pierre Sanchis tiveram em ambas as antropologias nacionais destacando alguns dos recortes e perspectivas tericas que, de modos diferentes no Brasil e em Portugal, se desenvolveram, com vistas a ampliar o dilogo luso-brasileiro no campo das manifestaes festivas e das socialidades que lhe so inerentes. 1

Joaquim Pais de Brito (Diretor do Museu Nacional de Etnologia-Portugal) - O que iremos comer Certos dias ou perodos do calendrio esto associados a manjares cuja prescrio inclui com frequncia os modos de preparao e as situaes e condies da manducao. Far-se- o registo e o esforo de interpretao de algumas das principais prescries alimentares que se distribuem por todo o calendrio e se encontram associadas a determinadas datas ou perodo do ano, assim como de algumas proibies, tomando como referncia as recolhas etnogrficas relativas a Portugal, incluindo igualmente as ilustraes contidas nos trabalhos de Cmara Cascudo para o Brasil. Graa ndias Cordeiro (CIES-IUL, ISCTE-IUL) - A rua em festa: a identidade em ao Tomando como base emprica uma etnografia histrica de bairro, feita em Lisboa no incio dos anos 1990, pretende-se discutir o papel que as festas de junho nesta cidade tm tido como mediadoras, em vrios dimenses e escalas, na criao e afirmao de um imaginrio que d suporte e alimenta formas recorrentes de uma certa identidade lisboeta. Uma das linhas inspiradoras desta discusso ser a re-leitura da obra de referncia de Pierre Sanchis e muito particular o seu captulo V. O pomo da discrdia: o arraial, por terem sido um ponto de partida fundamental para a etnografia urbana em causa. Ana Lcia Modesto (CER-Pierre Sanchis/UFMG) - A memria na religio O trabalho pretende discutir as formas de criao e desenvolvimento da memria social atravs das festas. Pretede-se discutir, em primeiro lugar, o conceito de memria social e a partir da demonstrar a importncia das festas para a existncia do que pode ser chamado uma memria viva, e sua eficcia na manuteno de formas de socialidades. Utiliza-se o trabalho de diferentes antroplogos e historiadores para mostrar a memria como um movimento complexo de conservao e de re-criao - 01 de setembro de 2011: Sesses temticas segunda reunio Salas da FAFICH/UFMG, 14h-17h - 02 de setembro de 2011: Sesses temticas terceira reunio Salas da FAFICH/UFMG, 10h30-12h30

Programao das sesses temticas ST 01 - A festa, pensamento de Jean Duvignaud, e outros pensamentosCoordenao: Roberto Motta (UEPA) - [email protected] (CERREV/ANAMANESE) - [email protected] e Claude Ravelet

A reflexo sobre a festa suscita problemas que vo alm da simples descrio folclrica e etnogrfica. Como compreender a especificidade do fenmeno, atravs de teorias centradas sobre a utilidade, a produo e as relaes de poder? Como entender, base de estruturas mentais de carter apenas conceptual, a festa que se manifesta atravs da aparente inutilidade daquilo que, em sentido amplo, podemos denominar orgia, abrangendo msica, dana, emoo, excesso, s vezes transe? 2

Estas foram algumas questes sobre as quais se debruou Jean Duvignaud, em livros como Festas e Civilizaes, num perodo em que funcionalismo, estruturalismo e materialismo histrico dominavam o pensamento social, na Frana e noutros pases. A reviso operada por Duvignaud, com relao a esses sistemas, no perdeu a atualidade e faz parte da temtica desta ST, aberta queles que, mesmo sem adeso ou conhecimento prvio de Duvignaud, queiram participar do debate sobre festa, estrutura, rito, transe e sobre a prpria natureza da cultura. Primeira reunio, 31 de agosto de 2011, 14h-17h A festa, pensamento de Jean Duvignaud, e outros pensamentos I 1) Claude Ravelet (CERREV/ANAMANESE), [email protected] - Jean Duvignaud et Roger Bastide: parcours croiss, biographique et thorique Roger Bastide et Jean Duvignaud se sont probablement connus par l'intermdiaire de Georges Gurvitch. En effet Gurvitch tait le Directeur de thse de R. Bastide, thse qu'il soutiendra en 1957. Gurvitch enseigne en Sorbonne et dirige le Laboratoire de sociologie de la connaissance, auquel Bastide appartient et dont il prendra la direction la mort de Gurvitch en 1965. De son ct, J. Duvignaud a t Assistant de Gurvitch en 1961. Bastide et Duvignaud se sont donc forcment croiss cette poque. Une estime et une amiti rciproques se dveloppent entre eux comme en tmoignent les lettres de Bastide Duvignaud (dposes l'IMEC. Les lettres de Duvignaud Bastide n'ont pas t retrouves). Bastide crit la prface d'un ouvrage collectif dirig par Duvignaud, il crit un texte sur Thales de Azevedo pour Cause commune (dirig par Duvignaud), et une importante Postface pour La boutique obscure de G. Perec sur proposition de Duvignaud. Pour sa part, J. Duvignaud crit 5 articles sur Bastide (entre 1974 et 1995), 2 recensions de livres de Bastide et 2 prfaces pour des rditions posthumes. la mort de Henri Desroche en 1994, c'est J. Duvignaud qui devient Prsident de Bastidiana, consacr l'uvre de Bastide. ce compagnonnage de 30 ans, pr et post mortem, s'ajoutent des convergences thoriques quasi parfaites, soulignes par Bastide dans sa correspondance que nous voquerons. Ftes et civilisations aurait trs bien pu tre crit par Bastide de mme que Images du Nordeste mystique ou Le prochain et le lointain aurait pu l'tre par Duvignaud, tant les concordances de vues sont profondes entre les deux amis. 2) Clment Poutot (Universit de Caen), [email protected] - A festa em Jean Duvignaud e o teatro de Augusto Boal Para Jean Duvignaud o contrrio do teatro no o antiteatro, ou o teatro revolucionrio, mas sim a festa. Efetivamente o teatro do oprimido reveste vrias caractersticas da festa, como a dimenso ritual; a vontade de transformao cultural e social, que permite ao homem superar a normalidade; o grupo que se d em espetculo a si mesmo; a frequente emulao entre os participantes. A partir dos escritos de Duvignaud sobre o teatro e a festa, procuramos captar o que est em jogo no teatro do oprimido. Finalmente, atravs da vontade de Boal de restaurar politicamente o espetculo como festa, procuramos retraar os laos e fronteiras entre a festa e o teatro. 3) Roberto Motta (UEPB), [email protected] - Muito alm da produo e da estrutura: antropologia da festa e filosofia da histria em Jean Duvignaud. O livro de Jean Duvignaud, Ftes et Civilisations um texto fundamental de crtica ao marxismo e, com mais forte razo, a toda espcie de funcionalismo. Para ele a festa no implica em finalidade alguma alm de si mesma. criadora apenas das formas que reveste no decorrer de sua manifestao, pois a festa ope o homem a um universo desculturado, um universo sem norma, ao tremendum que engendra uma espcie de terror. Mas havia, da parte de Duvignaud, uma 3

oposio no menos radical ao estruturalismo lvi-straussiano e mesmo ao sociologismo durkheimiano do que ao prprio marxismo. Sua noo de festa exclui tanto, e pelos mesmos motivos, uma concepo da festa como superestrutura subordinada a relaes de produo e de poder, como a nfase sobre estruturas. A festa potncia e dinamismo, descida no poo sem fundo do presente. Em Duvignaud encontramos portanto mais do que uma antropologia de acontecimentos. Sua concepo de festa implica toda uma filosofia da sociedade e da histria, nem sempre adequadamente percebida por seus contemporneos devido posio perifrica de Jean Duvignaud no contexto da universidade francesa e do debate de ideias em seu tempo. 4) La Freitas Perez (CER-Pierre Sanchis/UFMG), [email protected] - De Duvignaud s procisses lisboetas: a festa para alm da festa O trabalho apresenta uma proposio de horizonte compreensivo sobre festa, que visa pensar a festa para alm da festa, tendo como mote e fonte de inspirao Jean Duvignaud. A inteno ultrapassar o patamar emprico/vnementiel, denominativo-descritivo, fenomnico que se atribui usualmente a festa, o que chama-se de festa-fato, para atingir um outro patamar analtico e terico de apreenso e de compreenso da festa, o que chama-se de festa-questo. Dito de outro modo: o ponto ultrapassar a apreenso da festa como um objeto a ser analisado como um fato socio-lgico, para tom-la como um mecanismo, um operador de ligaes que atua por meio da destruio concertada (Duvignaud) do real socializado (Grisoni), ou seja como uma virtualidade antropolgica, que abre para a experimentao humana o campo do possvel. A reflexo conceitual acompanhada de uma ilustrao etnogrfica da procisso dos Passos em Lisboa. Segunda reunio, 01 de setembro de 2011, 14h-17h A festa, pensamento de Jean Duvignaud, e outros pensamentos II 1) Frederico Luiz Moreira (UFMG), [email protected] - Tapetes sagrados: perecveis serragens em cor A produo suntuosa de um tapete composto por ps de serragem policromtica (tingida por compostos qumicos) e borra da coagem do caf o material utilizado para compor distintos mosaicos. Esta obra coletiva vai sendo formada, vrias mos atuam nos preenchimentos, nas pinturas e desenhos sobre o cho das ruas da cidade, mesmo local onde horas depois a procisso religiosa dos fiis ser conduzida sua consumao [epifanizao do sagrado]. Aqui, o encontro entre o material e o imaterial, entre o objeto [tapete], e a f, [expresso da ao ritual], ambos, elaborados pelo povo como expresso e constituio de sua cultura popular, paradoxalmente se fundem, ao mesmo tempo permitindo-se e limitando-se. A tenuidade entre ambas demarcada pela fragilidade. E tal, observada na perda do prprio objeto, que destrudo quando o ritual entra em atividade, ou, quando o fiis ao andarem no corpo da procisso pisoteiam sua prpria criao, o demorado e complexo objeto (tapete). Porque dedicar meses na junta do p, horas na elaborao forosa de desenhos meticulosamente medidos, e perfeitamente belos para sua subsequente destruio? Como colocar em discusso as dezenas de juntas participativas, a reunio de uma coletividade para a composio de algo to efmero? F?! Sacrifcio intil? Questes como estas suscitam o desenvolvimento desta escritura que convida ao debate algumas contribuies tericas de La Perez, sobretudo no dilogo com Jean Duvignaud. Aqui, a efemeridade festiva torna-se um mecanismo fundamental na constituio paradoxal da mudana e da manuteno da tradio. 2) Celeide Agapito Valadares Nogueira (UFJF), [email protected] - A festa nas religies afro-brasileiras: trans-festao da existncia e veri-ficao teolgica O texto aborda a festa no candombl e na umbanda como o momento da/no qual o ser humano, em estado de transe, encontra-se em perfeita harmonia com o totalmente outro (das ganz 4

Andere), no porm com o sentimento de pavor descrito por Rudolf Otto, mas com o sentimento de alegria no qual percebe que toda a vida trans-festada. Este momento de xtase , segundo a compreenso do pesquisador Volnei Berkenbrock, o da veri-ficao teolgica, ou seja, o ser humano sente a unio mstica com a divindade de maneira que a verdade se torna realidade. O ser humano transcende e transgride o meramente cultural quando, em efuso com as entidades ou com os orixs, ascende a outro nvel, que nem a cultura nem a instituio conseguem controlar ou enquadrar, fazendo dessas religies a instncia de liberao da alma e do corpo no mbito do privado, em que cada ser carrega o dom da graa de transcender a limitao da sua contingncia. 3) Elza Marinho Lustosa da Costa (IUPERJ), [email protected] - Festa e sociabilidade na Sobral da Belle poque O trabalho parte de um estudo mais amplo sobre a formao da cultura de elite da cidade de Sobral, no interior do Cear, atravs da anlise das prticas de sociabilidade locais, aqui entendidas no sentido concebido por Roger Chartier. Este historiador se declara contra a concepo, geralmente adotada nos estudos acadmicos, que restringem a um domnio especfico as prticas culturais, que no seriam afetadas pelos nveis econmico e social. Ao estudar as prticas de sociabilidade ditas informais, faz-se uma anlise das vrias formas de afirmao elitista onde as festas e as prticas de lazer se destacam como das mais significativas. So manifestaes que tentam expressar uma forma de estar no mundo, de impor uma identidade que deve ser aceita pelas prprias fraes da elite como por todas as outras camadas da sociedade sobralense do limiar do sculo XX. A noo de representao utilizada de forma operacional, como matrizes das atitudes e dos comportamentos dessas elites, e contribui a evidenciar as estratgicas simblicas de afirmao e de legitimao das posies de classe e de identidades no espao social sobralense. 4) rica da Silva Pinto (UFMA), [email protected] - Corpo, cultura, identidade e festa O trabalho trata da festa como manifestao de cultura e de identidade e mostra o corpo em sua totalidade, contribuindo na sua compreenso para alm do que se convencionou. Discutir-se- o conceito de festa, suas caractersticas e classificao, em seguida vendo esses pontos dentro da educao fsica, relacionando-os e analisando suas relaes com a cultura corporal de movimento, onde o corpo tratado, no como um conjunto de ossos e de msculos, mas como um corpo que pensa, age, transforma e cria, interagindo com o meio em seus vrios aspectos, portanto, trazendo elementos que instigam a refletir sobre corpo, seja ele social, cognitivo, cultural. Tem-se como vis metodolgico a fenomenologia, atravs da trajetria do fenmeno situado. A situacionalidade do trabalho se inscreve no Festival da Macaxeira, realizado na comunidade Argola e Tambor, localizada no municpio de So Lus, mais especificamente na rea Itaqui-Bacanga. Utiliza-se descries da festa, atravs das quais so extrados os ncleos interpretativos que reforam o argumento central do trabalho: a festa como manifestao de cultura e de identidade, ancoradas no corpo, portanto, importantes para serem compreendidas tambm na rea da educao fsica. Terceira reunio, 02 de setembro de 2011, 10h30-12h30 A festa, pensamento de Jean Duvignaud, e outros pensamentos III 1) Juliana A. Garcia Corra (CER-Pierre Sanchis UFMG, UEMG), [email protected] - De reis Congos e de reis Magos: alternncia da festa e rotatividade do sagrado A festa vista como acontecimento coletivo ultrapassa o sentido da comemorao e atua na formao dos vnculos que fundamentam a experincia humana, movida pela f, tambm ndice marcador de temporalidade da coletividade. O trabalho tem como inspirao emprica o ciclo5

circuito de festas de uma tradicional irmandade do congado mineiro. Trata-se de diferentes festas aos santos padroeiros que so orientadas por dois ciclos, o ciclo do rosrio e o ciclo de reis, que, por sua vez, constituem o calendrio anual. A periodicidade o foco do trabalho, tratada desde a tica do princpio maussiano da variabilidade da vida social e da abordagem do ritual desenvolvida por Arnold Van Gennep. O texto apresenta algumas inferncias sobre que elementos pautam a dinmica da estrutura ritual nos diferentes ciclos festivos instaurando a variabilidade da experincia coletiva. As reflexes indicam que alternncia da festa correspondem fases sucessivas a que se submete a vida social e coletiva no perodo anual: dispndio e reparao, repouso e atividade, agregao e separao. Por fim, o texto ainda revela que a variabilidade no corresponde a uma simples circularidade, implica num mecanismo de inverso de papis rituais, conduzindo ao que enfim est em jogo: a rotatividade do sagrado. 2) Roberto de Moura Fonseca (UFJF), [email protected] - O lugar maldito: discurso sobre os lugares que no valem nada ou que no tm preo Desde que Durkheim e Mauss nos presentearam com as primeiras inspiraes sobre os modos como se classificam as coisas, os seres e os lugares, muita tinta tem corrido e muito se tem dito sobre as linhas, as fronteiras, as hierofanias das pedras e dos caminhos e a hierarquia dos lugares. O trabalho retoma consideraes de Van Gennep, de Durkheim, de Mauss, de Turner, de Callois, de Bataille e de Duvignaud sobre a apreenso humana e social do espao ou sobre as formas elementares de classificao do espao. Tambm busca, a partir dessa retomada, propor um dilogo entre a antropologia e outras disciplinas mais especializadas no assunto como a geografia, a arquitetura, a histria e a economia. Espera-se enriquecer o discurso sobre o valor do lugar e do poder tratar do espao no apenas como uma categoria cartogrfica, econmica ou arquitetnica, mas tambm como condio e intermdio social, como decorrncia do dia a dia da vida e da efervescncia da festa, das distenses e das concentraes que a produo e o consumo estabelecem no trnsito, nas passagens, nas idas, nas vindas, nos monumentos e nas runas que so quase todos os nomes e as classes dos lugares. 3) Raphaela Granato Dutra (UFJF),. [email protected] - Liberdade, diversidade e excesso sob as cores do arco-ris A liberdade, a diversidade e os excessos so elementos que esto presentes em inmeras festividades, sobretudo, no carnaval, no rveillon e mais recentemente nas paradas do orgulho gay, ou paradas LGBT. O trabalho destaca tais aspectos na Rainbow Fest, que um conjunto de atividades que acontece durante a semana da Parada do Orgulho Gay em Juiz de Fora. Durante a semana da Rainbow Fest nota-se que a cidade aparentemente se veste das cores do arco-ris. Os locais regidos pela gide da heteronormatividade rompem com o padro e agregam sua decorao smbolos da cultura LGBT ou at realizam festas com temtica gay, no caso de certas casas noturnas da cidade, evidenciando, desta maneira, que naquele local as pessoas que se identificam com as relaes homoafetivas so bem vindas. O trabalho realiza uma reflexo sobre a Rainbow Fest juizforana e suas relaes com a cidade, examinando a maneira como liberdade, diversidade e excessos presentes nesta festividade influenciam na sua espacialidade ento constituda. 4) Ingrid Briais (Universit Sorbonne Nouvelle/ Paris 3), [email protected] - A festa de anos na obra romanesca de Ondjaki O trabalho privilegia o momento da festa de anos do irmo da amiga do narrador criana do romance Bom Dia Camaradas do angolano Ondjaki. O dia de aniversrio um dia que, muitas vezes, rene-se a famlia e/ou os amigos. No entanto, em Bom Dia Camaradas, estamos frente a um elemento que poderamos qualificar com a expresso fora do comum, ou seja, a presena de camaradas professores, cubanos presentes em Angola durante o perodo de consolidao poltica do 6

pas. O trabalho prope entrar nesta famlia de uma Luanda ps-independncia, no corao desse momento festivo, tempo de alegria e de abundncia que aparece, na economia do romance, numa das unidades textuais que apresentam dois eventos maiores para o personagem narrador, isto , a passagem Rdio Nacional e a chegada em Luanda da tia Dada de Portugal. Empreende-se descortinar as especificidades desta festividade, interrogando o contexto no qual aparece. Sugere-se situar a festa de anos nos temas da vida angolana e evidenciar os aspectos sociais e culturais da comemorao. Destaca-se que a organizao da celebrao da festa de anos do filho vem da me e que so de suas mos que nasce a abundncia das preparaes caseiras. Os bolos e os doces, delcias aucaradas, aparecem como elementos ligando paladares e culturas diferentes, os das crianas luandesas e os dos professores cubanos, saboreando a arte do doce da dona da casa. Qual o relacionamento das crianas e dos adultos com o acar desta festa?

ST 02: Festas: Dilogo entre a histria e a antropologiaCoordenao: Flvia Pires (UFPB) - [email protected] e Flvia de S Pedreira (UFRN) [email protected] Se transitoriedade e efemeridade correspondem a estrutura profunda e atemporal da festa, ela s se realiza numa sociedade determinada, num tempo particular, portanto, atravessada pela histria concreta. Toma-se a festa, seguindo a inspirao de Pierre Sanchis, como uma totalidade significante que se realiza tanto como "documento etnogrfico situado" quanto como "pedao de histria". A partir deste ponto de vista, a ST, dando continuidade s discusses realizadas no II Colquio, prope um dilogo e uma mtua interpelao entre antropologia e histria, colocando em discusso trabalhos que privilegiam ritos, comemoraes e festividades em distintos contextos histricos e etnogrficos, almejando tornar perceptveis e compreensveis mundos festivos diversos, penetrar em suas estruturas e restituir o movimento mesmo da vida que os constituem (em suas especificidades histricas). Primeira reunio, 31 de agosto de 2011, 14h-17h Festejos sagrados e profanos em diferentes pases 1) Fabienne Wateau (Laboratoire dethnologie et de sociologie comparative/CNRS), [email protected] - Festa da Pinha e Barragem: a perenidade de uma festa alde em contexto de mudana A festa da Pinha, festa de inverno aqui observada no sudeste de Portugal, no Alentejo, pertence ao ciclo das festividades de Carnaval. Espcie de baile dos solteiros, com dana e contradana aprendidas e repetidas uma semana antes, o baile permite designar uma Rainha e um Rei. Filmada na Aldeia da Luz em 2002, antes do fecho das comportas da barragem de Alqueva e da trasladao do povo e, a seguir em 2003 e em 2001, j na nova aldeia reconstruda h uns quilmetros apenas da inicial, essa festa profana continua a reunir a populao ao longo dos anos. A apresentao reenvia para a histria e a inscrio territorial da festa da Pinha no Alentejo e em Portugal, dedicando ateno aos princpios e aos elementos que a caracterizam, para depois interrogar a perenidade dessa reunio na aldeia (referida, pelo menos, desde o incio do sculo XX), a sua dimenso bastante ntima (entre aldeos), e o discurso local acerca dela. O visionamento dos filmes A festa da Pinha (2011, 15) e Pinha 2003 (2011, 7) pode ser integrado no mbito do colquio. 2) Maria Paula Miller Duarte (MN/UFRJ), [email protected] - Emigrao juvenil, crise econmica e a diferena entre adultos e adolescentes na Festa e Peregrinao da Madona de Capocolonna/Itlia 7

A peregrinao anual ao santurio da Madona de Capocolonna, clmax da festa dedicada santa protetora da cidade de Crotone, possui uma estrutura bipartida. Os adultos cumprem o percurso em procisso, seguindo a imagem da santa, enquanto os adolescentes o fazem frente da Madona, ou seja, em grupos que deixam a cidade rumo ao santurio bem antes desta. O par classificatrio adultos atrs/adolescentes frente da Madona contribui para a elaborao ritual de uma ordem social adolescente, separada da adulta por quilmetros de estrada vazia. A lacuna que separa os dois conjuntos de peregrinos corresponde a outra, muito significativa para a construo do ser jovem na cidade: a ausncia daqueles que a deixam para cumprir fora seus estudos universitrios. Separao e marcao da diferena entre adolescentes e adultos, portanto, alm de estruturar o modo como a cidade se torna visvel a si mesma em um dia muito especial de seu calendrio festivo, elemento fundamental no entendimento da dinmica de relaes e de construo do pertencimento social na atual conjuntura histrica crotonense, de grave crise econmica. Prope-se pensar a relao entre peregrinao e distribuio etria da cidade sem subordinar uma outra, mas compreendendo a primeira dentro de um complexo de momentos festivos e cotidianos, em que o pertencimento adolescente cidade construdo e sublinhado. 3) Lusa Molina (UnB) e Sebastio Rios (UFG), [email protected], [email protected] - A Jomba de Nego de Nossa Senhora: relao e mediao no Congado em Fagundes /MG So numerosos os relatos de congadeiros e de pesquisadores que descrevem as festas em louvor Nossa Senhora do Rosrio e a So Benedito - chamadas de Congado (ou Reinado, a depender do contexto) - como espaos onde circulam seres e foras de naturezas variadas. H nesses contextos uma notvel ambiguidade, que exige das unidades rituais que compem o Congado certas prticas e habilidades: ritos, cantos e gestos especficos, para diferentes situaes. Por outro lado, essas celebraes tambm so momentos para criar e renovar votos com os santos reverenciados no Congado, espalhar bnos, e festejar com parentes e com amigos. Nesses momentos os santos so presentificados, se fazendo presentes na festa - nas personagens, nos objetos, nos cantos e nas prticas rituais. O trabalho examina quais so as prticas e as habilidades envolvidas nas celebraes do Congado que lidam com as possveis ambiguidades do espao e que operam mediaes entre os diferentes seres nele envolvidos. Procura-se refletir sobre a constituio da temporalidade prpria da festa e do seu espao, alm de pensar a formao das unidades rituais como tais e as relaes que essas ltimas estabelecem com os diferentes seres existentes nesse contexto. Segunda reunio, 01 de setembro de 2011, 14h-17h Olhares diacrnicos para a festa 1) Marcos da Costa Martins (CER-Pierre Sanchis/UFMG), [email protected] Viagem, encontro e santidade: a festa como perspectiva interpretativa nos relatos sobre a viagem e o contato dos portugueses com a costa brasileira no sculo XVI O trabalho realiza um levantamento hermenutico dos relatos da primeira viagem s terras brasileiras, desde o lanamento da frota de Pedro lvares Cabral, at os primeiros contatos com os homens que aqui habitavam e da formao das primeiras heresias locais, chamadas no sculo XVI de Santidades, hibridizaes entre a religiosidade local e a religiosidade portuguesa. Alm de discorrer sobre a historiografia da poca, com base nos relatos do portugus Annimo, de Joo de Barros, de Pero de Magalhes, de Pero Vaz de Caminha e de Bartolomeu de Las Casas, o texto debrua-se sobre os elementos festivos constituintes desses fatos histricos e o modo como se tornaram chaves para a traduo da experincia do inominvel que o encontro descortinou. Assim lnguas, paisagens e costumes foram remetidos ao extico, que se tornou um operador de sentido coetneo formao do ethos festivo da sociedade brasileira. O trabalho percorre desde a beno da 8

aventura ultramarina, passando pelo vazio da compreenso e pela encenao dos ritos de encontro narrados e interpretados, at chegar aos primeiros movimentos de sntese entre esses dois universos que se chocavam no sculo XVI. A festa o liame tnue dessas situaes, paradoxalmente no centro da cena e marginal nos relatos que se tornaram nossa fonte memorial desses eventos. E pela perspectiva festiva que se aborda essa passagem histrica to repisada, contudo, ainda assim prenhe de indicaes para o que nos tornamos. 2) Wanessa Lott (CER-Pierre Sanchis/UFMG, Centro Universitrio Newton Paiva - Belo Horizonte), [email protected] - A festa de inaugurao da cidade de Belo Horizonte luz da histria e da antropologia O trabalho utiliza um recorte terico-metodolgico que possibilita perceber as vrias possibilidades que a histria e a antropologia apresentam para uma compreenso da festa de inaugurao da cidade Belo Horizonte. A escolha de tal momento festivo se d pela riqueza do objeto de anlise. Enquanto parte da sociedade belo horizontina se mantinha arraigada s tradies catlicas mineiras, outra vislumbrava a cidade como smbolo da modernidade laica brasileira. Sendo assim percebe-se a festa em questo na relao cvico/profano e por conseguinte na relao modernidade/tradio. O campo historiogrfico-etnogrfico pincelado da Coleo Linhares Digital - CLD, que rene as publicaes peridicas que circulavam em Belo Horizonte entre o final do sculo XIX e 1956. 3) Ana Paula Lessa Beloni (CER-Pierre Sanchis/UFMG), [email protected] - No meio do caminho tinha um folguedo: relatos de viagem das festas no Brasil pelo olhar estrangeiro do sculo XIX Os viajantes estrangeiros, que para c vieram no sculo XIX, depararam-se com o imprio das festas (Schwarcz) e escreveram-no sob a forma de relatos de viagem. Diante de tantas coisas a observar e a relatar foi impossvel para esses desbravadores no serem afetados pelo estranho espetculo dos homens: suas festas e suas misturas. Assim, tais relatos constituem um rico material histrico e antropolgico que deixa entrever, por meio da observao das festas, a sociedade brasileira em toda a sua multiplicidade. O trabalho um esforo de tomar o gnero literrio narrativa de viagem como um caminho para se pensar a festa como via analtica privilegiada para se chegar ao cerne da sociedade brasileira. Terceira reunio, 02 de setembro de 2011, 10h30-12h30 Festas e smbolos identitrios locais/nacionais 1) Diego Ramiro Araoz Alves (IFCS/UFRJ), [email protected] - Crnica de carnaval e de samba O samba, bem como o carnaval, pode ser interpretado tanto como gnero musical e festivo quanto motivo literrio na pena de cronistas. A proposta comunicar uma leitura comparada dos livros Na roda do samba, de Vagalume, e Samba: sua histria, seus poetas, seus msicos e seus cantores, de Orestes Barbosa, ambos de 1933, e sugerir um tratamento da crnica de samba e de carnaval, como mediao historiogrfica e gnero literrio. De um modo geral, a literatura historiogrfica e antropolgica sobre o carnaval brasileiro, especialmente o do Rio de Janeiro, chama a ateno para a importncia da mediao, social ou cultural, de cronistas carnavalescos. Se a noo porta um sentido de categoria nativa, em suas vrias acepes, no entanto, pouco diz sobre a qualidade esttica e as construes simblicas (e intelectuais) dos escritos. O trabalho analisa a descrio de personagens, sistematizando diferentes temas e problematizando a forma, sem perder de vista uma crtica s construes de verdade a elaboradas - a autoridade de natureza quase que historiogrfica deste tipo de crnica. 9

2) Cleber Cristiano Prodanov, Luiz Antnio Gloger Maroneze e Vincius Moser (FEEVALE), [email protected] ,[email protected], [email protected] - Dia de jogo, dia de festa: a torcida do Foot-ball Club Esperana de Novo Hamburgo/RS nos anos 1940 O trabalho aborda dez anos de existncia do Foot-Ball Club Esperana, equipe fundada em 1914 e que representava o bairro de Hamburgo Velho, ncleo inicial da colonizao alem na cidade de Novo Hamburgo. No contexto dos anos 1940, o futebol e, mais evidentemente, a torcida dessa agremiao futebolstica, constituram-se dentro de uma ao muito prxima a festa da comunidade. Dentro dessa ambincia espacial e temporalmente proposta, e baseando-se em autores como Roberto DaMatta e Jos Magnani, apresenta-se uma anlise de como a torcida desse clube configurou-se como uma espcie de tribalismo que reunia e reforava a identidade local e social. Tambm pretende-se discutir esse clube de futebol dentro do conceito de lugar praticado (Michel De Certeau), analisando a ao dos sujeitos histricos que moram, trabalham e vivem num bairro, bem como a prtica desse esporte ganhou relevo para se compreender de que modo foram elaboradas as identidades locais, onde elementos espaciais e de rivalidade futebolstica se entrecruzaram. Finalmente, pretende-se estabelecer uma relao dialgica entre a histria e a antropologia. 3) Antonio Maurcio Dias da Costa (UFPA), [email protected] - A Quadra Joanina na imprensa, nos clubes e nos terreiros da Belm dos anos 1950: tradio interiorana e espao urbano O trabalho aborda o processo de espacializao da quadra junina em Belm em meados do sculo XX. A ocorrncia de festas juninas no espao urbano naquele perodo era marcada pela diferena entre as chamadas festas de subrbio e as promovidas por clubes de elite. A imprensa local contribuiu para uma reinveno das tradies juninas com a evocao de formas de festejar interioranas e caipiras. As transformaes vivenciadas na cidade, especialmente em sua rea perifrica, resultantes de um grande fluxo migratrio vindo do interior, redimensionou tais formas de festejar. O ponto de vista jornalstico da legitimidade da festa caipira/interiorana analisado considerando seu papel de difuso de valores e de padres de comportamento na sociedade da poca.

ST 03- Festa, lazer e turismoCoordeno: Christianne Luce Gomes (UFMG) - [email protected]. e Vnia Noronha (CER- Pierre Sanchis/UFMG, PUC Minas) - [email protected] Sendo o lazer um campo multidisciplinar e considerado um fenmeno sociocultural que envolve a produo de subjetividades em vrias dimenses das culturas, a ST privilegia os estudos sobre as festas enquanto constituinte desse fenmeno e potencial elemento para o desenvolvimento do turismo nas localidades. A festa, em sua diversidade, um dos mais expressivos contedos culturais do lazer e permite, por meio de seus significantes, um campo aberto s experincias ldicas, promotoraS de diferentes formas de sociao. A ST objetiva ainda compreender as interferncias do turismo nos contextos festivos e sociais. Primeira reunio, 31 de agosto de 2011, 14h-17h Lazer, turismo, festa e identidades 1) Guilherme Velloso Alves (UNIVERSO), [email protected] - Um pedao do Brasil: as rodas de samba como espaos de lazer: o quintal do Divina Luz O trabalho descreve e analisa como espaos de lazer as rodas de samba da cidade de Belo 10

Horizonte, a partir da compreenso do contexto em que esto inseridas e dos comportamentos dos atores que as frequentam. Inicialmente feita uma reviso da literatura, buscando revelar o percurso histrico traado pelo gnero musical samba e por suas formas de manifestao, notadamente a roda de samba. Um pequeno histrico das rodas de samba da capital de Minas Gerais levantado para possibilitar o entendimento das transformaes sofridas por essa prtica de lazer e compreender algumas das circunstncias que contriburam e/ou contribuem para que as rodas de samba de hoje tenham determinados contornos, e no outros. Em seguida, adota-se uma abordagem antropolgica que, por meio de um estudo do tipo etnogrfico, oportuniza a descrio e a anlise das redes de sociabilidade construdas em torno das rodas de samba, bem como das formas de uso e de apropriao do espao e do comportamento dos atores sociais ali presentes. Para entender a roda de samba como um espao de lazer adota-se o conceito de pedao proposto por Magnani. Um desses pedaos analisado mais de perto, propiciando uma maior acuidade na percepo dos contornos de uma roda de samba, trata-se do Quintal do Divina Luz. Procura-se ainda levantar algumas relaes entre lazer e samba, bem como gerar subsdios para o entendimento da conformao da cultura na contemporaneidade. 2) Sarah Teixeira Soutto Mayor (UFMG), [email protected] - Festa, lazer e turismo: possveis relaes entre mercado e tradio na (re) construo do carnaval de Ouro Preto/MG (1980-2010) O trabalho intenciona compreender as transformaes ocorridas no carnaval de Ouro Preto durante o perodo de 1980 a 2010, observando, em especial, as relaes construdas entre o mercado e a ideia de tradio vinculada ao festejo e cidade. Fundamentando-se na possibilidade do estudo de uma histria do nosso prprio tempo (Hobsbawm), o trabalho possibilita o surgimento de algumas questes, como: o processo de mercadorizao do carnaval relacionado a uma indstria turstica que emerge em Ouro Preto nesse perodo, atrelada a uma justificativa de desenvolvimento econmico e social para cidade; a fora do discurso da tradio e do valor histrico a ele conferido, na tentativa, aparentemente contraditria, de legitimar uma festa cada vez mais moderna e justificar os patrocnios e a terceirizao de servios; e a emergncia de uma grande preocupao com a organizao e o controle da conduta dos folies na tentativa de forjar novas sensibilidades para a festa, assim como a sua progressiva cobertura miditica, demonstrando como o tradicional deveria se modificar para atender s exigncias de um mercado global e do turismo que se expandia. Essas questes so importantes para refletir sobre os possveis impactos da relao mercado-tradio no carnaval ouro-pretano, pensado enquanto uma manifestao do lazer, representado, progressivamente, como um destino turstico, dentro de um contexto de consumo e de produo de lugares (Hall e Tucker). 3) Ana Flvia Martins Machado (UFMG), [email protected] - Carnaval de Salvador: identidade cultural em um carnaval de mercado O trabalho analisa o Carnaval de Salvador, baseando-se em trs conceitos principais cultura, turismo e baianidade - e na forma como eles se articulam nas leituras contemporneas feitas sobre o evento. O processo de constituio do modelo de carnaval da cidade, com a presena dos blocos que se dividem entre blocos de trio, afros e de afoxs, tem ligao estreita com a conformao de classes econmicas e tnicas naquela cidade ao longo dos anos. A configurao dos festejos sofreu considerveis alteraes ao longo dos ltimos 60 anos, o que se deve, principalmente, a um crescimento massivo do turismo no perodo, em grande parte impulsionado pelo poder pblico, a partir de (re)construes simblicas e miditicas da cidade, com a (re)criao do conceito de baianidade, que levam transformao do carnaval de Salvador em um dos eventos momescos que mais atraem turistas no pas. Pretende-se apontar os impactos que a expanso turstica provoca na conformao atual da folia, em relao direta de causa e efeito com a identidade cultural local, destacando duas tendncias distintas de anlise: de um lado, a perda de 11

aspectos culturais fundamentais, e por outro, indcios de maior representao da pluralidade social de Salvador. 4) Karoliny Diniz Carvalho (UFMA) e Wladimir da Silva Blos (UESC/BA), [email protected], [email protected] - Festas, memrias e narrativas identitrias: turismo e performance na cultura popular maranhense O trabalho analisa a produo e o consumo de performances na cultura popular maranhense, tendo como objetos de anlise o Bumba-meu-boi e o Tambor de Crioula na cidade de So Lus. Mediante uma abordagem qualitativa, o trabalho toma como base os estudos de performance, buscando uma aproximao com a teoria interpretativa da cultura a fim de compreender a dinmica dos processos culturais quando comunicados, isto , quando esto em curso ou em ao. Para tanto, opera com os conceitos de identidade, de memria e de performance cultural. Recorre-se ainda pesquisa de campo para identificar os elementos que so acionados pelos performers para a construo de uma representao estilizada para grupos de turistas. As manifestaes populares estudadas sinalizam uma recriao do drama social no cenrio turstico, onde as identidades individuais e coletivas so reinterpretadas por meio da linguagem cnica e corporal dos brincantes, e a memria se reconstri, adquirindo no presente novas significaes. 5) Paula Miranda Alves Pimenta (PUC Minas) e Vania Noronha (CER-Pierre Sanchis/UFMG, PUC Minas), [email protected], [email protected] - As festas de Nossa Senhora do Rosrio no caminho velho da Estrada Real Ao longo de todo trajeto da Estrada Real a festa do congado fez e ainda se faz presente em vrios municpios e distritos, momento em que os devotos modificam a estrutura dessas localidades, ocupando de forma diferenciada seus espaos, com procisses e com missas, sempre seguidas de cantos, de danas e do som dos tambores. O trabalho identifica e analisa os grupos de congado na Rota dos Diamantes da Estrada Real - de Diamantina a Ouro Preto - em seus aspectos histricos, sociolgicos, culturais, religiosos e tursticos, a partir de registros das hi(e)strias e memrias dos representantes de suas Guardas. Busca ainda aprofundar o debate sobre o legado das heranas afrobrasileiras e a constituio do estado de Minas Gerais; compreender a dimenso sagrada e os valores espirituais, por meio dos quais se manifesta a africanidade na brasilidade dessa festa; avaliar a festa como contedo cultural do lazer, bem como a importncia das festas do Reinado como fenmeno turstico nas localidades investigadas. Segunda reunio, 01 de setembro de 2011, 14h-17h Lazer, turismo e festas 1) Carlos Eduardo Silveira, Juliana Medaglia e Maria de Lourdes Santos Ferreira (UFVJM), [email protected], [email protected], [email protected] - Vises qualitativas dos atores da Vesperata Em Diamantina registros de eventos musicais - religiosos, militares ou simplesmente comunitrios - datam de 1918. Dentre esses eventos encontra-se a Vesperata, apresentada com destaque no dossi que trouxe cidade o ttulo de Patrimnio Cultural da Humanidade pela UNESCO. Entretanto, o amadurecimento do espetculo musical, enquanto produto turstico ao longo desses mais de dez anos, no foi to completo e tampouco simples. A necessidade de se compreender melhor a Vesperata tanto como produto turstico quanto como espetculo musical levou a Prefeitura criao do Grupo de Trabalho da Vesperata, que demandou a realizao da pesquisa que orienta o trabalho. Dentre os resultados obtidos, cabe destacar alguns pontos: o significado que a Vesperata tem para os diferentes grupos; a percepo que os grupos tm com relao participao dos msicos, muitos adolescentes menores de idade; a viso sobre o uso da 12

fita zebrada, que isola o local do evento e, para finalizar, os comentrios acerca do repertrio escolhido. Durante a realizao da pesquisa ficou evidente a carncia de comunicao entre os atores e a sensao que alguns grupos possuem de que h ingerncia do poder pblico municipal sobre o produto Vesperata. Contrariamente, a viso apresentada nas respostas dos representantes do Poder Pblico Municipal evidencia uma postura crtica e uma anlise aprofundada sobre as questes estticas do espetculo, bem como sobre a situao de fragilidade de mercado do evento no formato em que se apresenta. Susana de Arajo Gastal (UCS), [email protected], [email protected] - As relaes entre festa e turismo: um estudo com a FENACHAMP de Garibaldi/RS Mariana Schwaab Machiavelli O turismo moderno turismo busca oferecer lazer e prazer, entre outros, atravs da realizao de eventos associados ideia de festa, promovendo integrao social aliada oferta gastronmica e cultural. Alm disso, os eventos so utilizados para atrao de visitantes e contribuem para a formao da imagem turstica de uma localidade. As festas podem ser o principal produto ou atrativo de alguns municpios, que os promovem com gesto profissional ou sob o modelo de organizao a partir de comisses comunitrias (Zottis). Dada a importncia das festas na regio compreendida pelo trabalho (a Serra Gacha), onde eventos desse carter, que celebram acontecimentos ou produtos locais so frequentes, e o calendrio festivo demonstra a estreita relao entre o meio rural e urbano nas definies das principais festas, em especial nos municpios de economia agrcola, o trabalho analisa as relaes existentes entre festa e turismo, atravs de pesquisa bibliogrfica e documental, utilizando-se como objeto a Festa Nacional do Champanha FENACHAMP, que acontece bi anualmente no municpio de Garibaldi, priorizando destacar a interferncia da festa no turismo do municpio, e como o turismo influencia a organizao e a participao da comunidade na festa. 3) Maisa Frana Teixeira e Maria Geralda de Almeida (UFG), [email protected] , [email protected] - A identidade cultural goiana nos meandros da Catira como atrao turstica O trabalho deve ser compreendido como uma maneira de trazer tona a identidade cultural, considerando a dana da catira, sua permanncia na tradio popular das festas goianas e sua atratividade turstica. A catira uma autntica dana rural e uma das mais antigas representaes da alegria, da criatividade e principalmente da arte do povo brasileiro. Ela praticada no interior do Brasil, especialmente nos Estados de Minas Gerais, de So Paulo e de Gois. Entre as principais questes levantadas esto s de bens culturais resistentes, por meio da anlise da cultura popular e de sua tradio, bem como o seu papel na formao cultural da regio estudada. H uma preocupao em refletir sobre as implicaes com o turismo. Os questionamentos que norteiam o trabalho so: Como a catira pensada em suas configuraes no marco de sua tradio para fins tursticos? Ela sustentada por uma identidade cultural a despeito das transformaes e das tenses frentes aos desafios e s demandas territoriais existentes ao seu entorno? 4) Priscilla Carla Leite Marques (FACOTTUR), [email protected] - A festa e sua gente: analisando a participao dos moradores de Arcoverde/PE no seu So Joo O trabalho discute a participao dos moradores de Arcoverde, localizada no serto pernambucano, na realizao de sua festa de So Joo. A anlise dessa participao se d de duas formas: como a populao participa da organizao e da gesto do evento e como a populao usufrui da festa, utilizando-a como alternativa de lazer. Ao estudar essa participao, a anlise traz uma reflexo sobre as mudanas que o festejo sofreu na relao entre o poder pblico municipal, gestor da festa, e os residentes da cidade. Percebe-se que apesar da prefeitura centralizar a 13 2) e

organizao do festejo em suas estruturas administrativas, essa posio legitimada pela comunidade local, em sua maioria. Fica claro tambm que a populao at participa da organizao do festejo, mas no de suas decises. A populao, na realidade, preocupa-se mais em participar ativamente da programao e de variadas atividades do So Joo. Muitos moradores alheios a todo o processo da organizao do evento esto atentos em como iro usufru-lo e como adequaro o seu cotidiano aos dias de festa. Os moradores afirmam que o evento muda seu dia a dia e gera oportunidade de se ter novos relacionamentos e novas formas de lazer. O So Joo se caracteriza por ser um momento de coletividade, de encontro. Verificar a relao dos arcoverdenses com a festa a tnica do trabalho. 5) Lvia Lima Pinheiro (UFPE), [email protected] - Em processo de mudana: quando agricultores viram artistas No agreste paraibano, mais precisamente na zona rural da cidade de Queimadas, localizada na rea metropolitana de Campina Grande, existe h geraes, entre grande parte dos agricultores e das agricultoras, o hbito da dana do Coco e do Mergulho em festas, em novenas e em noitrios. Desde aproximadamente 2008 esses agricultores e essas agricultoras foram incentivados, sobretudo pela Secretaria de Turismo do Municpio de Queimadas, a apresentarem sua arte em palcos da regio. O trabalho pretende to somente apresentar e refletir, atravs da experincia particular desse grupo, sobre a forma de insero dos segmentos artsticos populares na arena turstica e, em certa medida, apontar alguns desdobramentos desse processo na estrutura de sociabilidade desse grupo. Sobre os pontos de reflexo esto presentes a importncia do Estado como principal ou exclusivo incentivador e financiador das apresentaes populares; o discurso poltico de valorizao da tradio; a troca do papel de liderana e por fim o fato da importncia das apresentaes para os agricultores no passar necessariamente pela dimenso econmica. Terceira reunio, 02 de setembro de 2011, 10h30-12h30 Lazer, turismo, festa e eventos 1) Denise Falco (UFMG) e Juliana A. Garcia Corra (CER-Pierre Sanchis/UFMG, UEMG), [email protected], [email protected] - O curso da festa e a festa em curso: experincias de alteridade e de lazer atravs do turismo de mochila Segundo Duvignaud, a compreenso da festa tem sido prejudicada pela ideia de funcionalidade e de rentabilidade, ficando toda a sua dinmica reduzida lgica da utilidade. O mesmo (des)entendimento encontra-se no lazer quando reduzido lgica capitalista que o transforma em algo a ser consumido. Esse um modelo comumente difundido pelo turismo de massa que vislumbra a festa como um produto turstico o que acaba por congelar os eventos festivos, ressaltando-os como fatos folclricos que devem ser resgatados no tempo. O trabalho parte do pressuposto de que o lazer e a festa ocupam um lugar privilegiado no curso da vida social e nesta perspectiva prope dar a luz dinamicidade que inerente s festas tradicionais pelo vis de uma experincia turstica especfica: o turismo de mochila. Compartilhando registros de viagem realizada s ilhas do lago Titicaca no Peru, em especfico a participao na festa em Taquille em louvor a San Santiago, o trabalho ressalta momentos distintos nas experincias de alteridade reveladas pelos encontros inesperados na viagem de um mochileiro. Revela tambm diferentes possibilidades de ser e de estar nas festas tradicionais locais, colocando em dilogo o turismo de massa e o turismo de mochila. 2) Maria Lcia Bastos Alves (UFRN), [email protected] - O complexo turstico Alto de Santa Rita: turismo religioso no agreste do Rio Grande do Norte O surgimento e o desenvolvimento das diversas manifestaes religiosas dependem de 14

fatores e de condies histricas, culturais e sociais especficas de cada poca, que explicam, muitas vezes, as construes de locais e de objetos sagrados que exercem um fascnio atribudo pela eficcia da crena. O trabalho apresenta reflexes sobre o processo de construo do Complexo Turstico Religioso Alto de Santa Rita, construdo na cidade de Santa Cruz e sua relao com as polticas pblicas de turismo fomentado pelo Programa de Regionalizao do Turismo - Roteiros do Brasil. 3) Tatiany Hernandes Uzae (FACCREI) e Savanna da Rosa Ramos (UNIOESTE), [email protected], [email protected] - O Baile do Hawa como atrao turstica no municpio de Santa Mariana/PR O turismo de eventos exige para sua realizao um local estruturado, com servios e com equipamentos especializados, alm da mo de obra especfica na rea, para que a organizao no seja prejudicada. O trabalho analisa o evento Baile do Hawa como um estmulo para a atividade turstica em Santa Mariana, verificando a infraestrutura utilizada, os meios de divulgao e os equipamentos audiovisuais utilizados no evento. Apresenta tambm o histrico do evento e identifica o perfil do pblico. Essa modalidade de turismo de eventos, a partir do baile analisado, um segmento que proporciona lazer e ao mesmo tempo retorno financeiro, com crescimento a cada edio do evento, o que para o municpio de Santa Mariana um incentivo para o desenvolvimento turstico regional. 4) Renata Ferreira Santos (UFSE), [email protected] - O lazer e o entretenimento em Aracaju: um estudo de caso sobre a Augustus Produes So diversos os shows artsticos promovidos na capital sergipana, sejam eles de ordem pblica ou privada, de artistas locais ou de outras localidades. Alm da presena marcante de atividades de lazer, com o intuito de entretenimento promovido pelo poder pblico, a iniciativa privada tem tido um papel importante no processo de promoo do entretenimento no estado de Sergipe. So diversas as empresas promotoras de eventos que surgiram nos ltimos dez anos. O trabalho apresenta uma anlise terica e emprica sobre a importncia da indstria do entretenimento a partir da promoo de eventos artsticos em Aracaju, que representa um importante campo econmico e turstico. A promoo de eventos artsticos entendida sobre a tica do lazer, partindo do pressuposto de que a produo de shows tem por principal objetivo a promoo do lazer e do entretenimento, sendo responsvel por grande movimentao econmica, geradora de divisas, no somente para a empresa promotora, mas tambm para os donos de hotis, pousadas, bares, restaurantes, supermercados, ambulantes, etc. Tendo como ponto de partida um estudo de caso sobre a Augustus Produes, a maior empresa sergipana produtora de shows, detentora de exclusividade de diversos artistas no estado e responsvel pelo maior evento carnavalesco no estado - O Pr-Caju - e pela promoo de diversos shows durante todo o ano. 5) Flvio Rodrigues Valeriano (UFSJ) e Giuliano Gomes de Assis Pimentel (UEM) , [email protected], [email protected] - As festas no esporte de aventura: uma anlise sobre celebraes em torno da competio Certas competies esportivas evocam o setor turstico tanto pelo espetculo da performance corporal que atrai o expectador, quanto pelo deslocamento dos praticantes para o lcus da disputa. Tais eventos no so apenas nichos da atividade agonstica, sendo entrecortados por outras dimenses ldicas. No Brasil, o modelo mais desenvolvido dessa simbiose entre festa, esporte e turismo est na Festa do Peo de Boiadeiro, em Barretos. recorrente na hibridao festa/competio a experimentao de trs camadas de abrangncia: celebraes internas dos esportistas; atividades de socializao entre comunidade e praticantes; festas comerciais com finalidade de agregar pblicos mais abrangentes que aquele circulante na competio. O trabalho 15

argumenta que tal matriz vem sendo ressignificada e aplicada em diferentes competies, com destaque para o esporte de aventura. Discute-se os significados possveis de festa na Corrida de Aventura Biker Minas na Trilhas do Ouro 2009, evento vlido pelo Ranking Brasileiro de Corridas de Aventura. Do ponto de vista da aproximao com o turismo, a aventura (em espaos naturais e lugares histricos) evidencia a viagem como vivncia de lazer. J durante a experincia festiva, se observam rituais de celebrao do sucesso (ou do rendimento) e a inverso de papis. Por outro lado, pertinente questionar o quanto a apropriao desses encontros pela perspectiva funcionalista do lazer tende a ser conflitante com os interesses dos atores envolvidos na aventura de celebrar essas sociabilidades esportivas.

ST 04 - Festas e etnografiaCoordenao: Maria Laura Cavalcanti (IFCS/UFRJ) - [email protected] e Luciana Chianca - [email protected] (UFPB) Diversidade, concretude e plasticidade das festas, festivais e ritos festivos configuram uma rica rea da investigao etnogrfica na produo antropolgica atual. Marca disciplinar da antropologia, a etnografia vem sendo constantemente revisitada enquanto mtodo de pesquisa, gnero narrativo e lugar central de produo conceitual. Sua potencialidade investigativa oferece-se s vrias cincias sociais que a ela recorrem e tem constitudo um lugar de permanente renovao do saber antropolgico. A ST enfoca a etnografia desde esse amplo universo. Busca refletir e analisar tambm a escrita e a experincia com a etnografia das festas que abrem universos de questes prprias e iluminam a discusso do alcance das teorias sociais clssicas e contemporneas, as relaes intersubjetivas estabelecidas no processo de produo de conhecimento e as especificidades dos diversos campos abordados. Primeira reunio, 31 de agosto de 2011, 14h-17h Os folguedos e seu estudo 1) Patrcia Silva Osrio (UFMT), [email protected] - Os Festivais de Cururu e Siriri: a etnografia entre cenografias, coreografias e arquibancadas O siriri e o cururu so duas manifestaes bastante difundidas em Mato Grosso. O siriri danado aos pares, por homens e por mulheres, ao som de viola de cocho, de mocho e de ganz; o cururu danado apenas por homens ao som desses instrumentos, com o predomnio do som das violas de cocho e das vozes masculinas que elaboram versos em tom de desafio. So manifestaes performadas em festas de santo, em bailes, no carnaval e atualmente em apresentaes tursticas e em Festivais de Cultura Popular. A ampliao dos momentos festivos, especificamente a participao dos grupos de siriri e de cururu em grandes festivais destinados cultura popular propicia uma srie de alteraes nas formas e nos contedos performticos das manifestaes no que se refere coreografia, cenografia, s indumentrias, aos ritmos, etc. Etnografar a dinamizao do siriri e do cururu em novos espaos simblicos aponta para mudanas nas sociabilidades festivas, mas tambm para as potencialidades do fazer etnogrfico. 2) Luzimar Pereira (IFCS/UFRJ), [email protected] - A etnografia das rivalidades contidas nos festejos de folia em Urucuia/MG O trabalho discute as folias realizadas no municpio de Urucuia, tendo como foco o tema da rivalidade contida: uma forma de antagonismo secundarizada ou conscientemente controlada pelos participantes dos festejos. Os embates festivos, em sua grande maioria, so estruturados por meio de uma oposio culturalmente estabelecida entre o que deve ser visto e aquilo que deve ser mantido em segundo plano durante os festejos. Uma espcie de esttica da moralidade procura preservar o 16

espao da conquista da honra pessoal e coletiva dos devotos, como condio fundamental para que uma folia possa ocorrer de acordo com os parmetros estabelecidos pela ideologia da graa. Problematiza-se os mecanismos atravs dos quais os participantes podem controlar a exploso de conflitos durante as festividades e situa-se o papel do antroplogo como observador-participante dos embates ocorridos ao longo das suas investigaes e responsvel pela escrita etnogrfica do ritual religioso. 3) Daniel Albergaria Silva (IFCS/UFRJ), [email protected] - A experincia etnogrfica ou o estar no Rosrio: ternos de Congado e suas interaes no contexto da Festa do Rosrio no interior de Minas Gerais O trabalho reflete sobre a experincia etnogrfica relativa Festa de N. Sra. do Rosrio e coroao de Reis Congos executadas por Ternos de Congado em algumas cidades do interior de Minas Gerais. Trata-se de anunciar alguns smbolos rituais manipulados pelos Ternos, formaes de grupo deste folguedo da cultura popular, durante as Festas do Rosrio e as interaes por eles aludidas. Durante o festejo, diversos grupos trocam convites para suas festividades, onde so ofertadas comidas e bebidas pelo anfitrio, que pode ser um terno, um festeiro ou o Rei Congo. Os procedimentos simblicos rituais efetuados pelos grupos durante a festa, as possibilidades de sociao e de constituio de redes de interao entre os grupos, assim como possveis rivalidades so enfocados. Levar a srio as consideraes simblicas e rituais dos congadeiros relativas possibilidade de interao com os santos, entidades e ancestrais, alm das interaes entre os ternos, anuncia o que necessrio para, na formulao nativa, estar no Rosrio. A observao etnogrfica centra-se na esfera de ao dos congadeiros neste contexto situacional, almejando forjar, atravs da perspectiva etnogrfica, um experimento antropolgico, o estar no Rosrio. 4) Sebastio Rios e Talita Viana (UFG), [email protected], [email protected] - ... E torna a reviva! Viva Sta. Efignia, que viemos festejar! Uma experincia etnogrfica na congada de Niquelndia/GO. O trabalho investiga a Congada de Santa Efignia da antiga So Jos do Tocantins (atual Niquelndia) e seus processos de transformao luz de uma experincia etnogrfica. A festa, que contm traos culturais africanos, notadamente bantos, elementos indgenas - possivelmente dos Av-Canoeiros, forte presena na regio - e caractersticas oriundas do Velho Mundo, tem mais de 250 anos e nunca foi interrompida. A congada passou, nos ltimos anos, por uma significante e acelerada perda dos congos mais antigos, o que acabou acarretando em uma descontinuidade na transmisso de certos saberes e significados centrais no ritual. H tambm interesse da prefeitura do municpio em desenvolver polticas de valorizao e de preservao da festa, alm de estar em vias de ser encaminhado ao IPHAN o pedido de registro da Congada de Santa Efignia como bem cultural brasileiro. Dentro dessa configurao, deseja-se pensar a festa e sua dinamicidade a partir de um exerccio etnogrfico, pensando sobre o papel do pesquisador frente dinamicidade da festa e s propostas de interveno de instituies de registro e de memria. 5) Tereza Caroline Lbo e Joo Guilherme da Trindade Curado (UFG), [email protected], [email protected] - Capela do Rio do Peixe e Lagolndia: apontamentos festivos O trabalho pensa as manifestaes festivas ocorridas no distrito de Lagolndia e no povoado da Capela do Rio do Peixe, em Pirenpolis, atravs de relatos de campo. As duas localidades, apesar de prximas, apresentam diferenas e complexidades acentuadas que vo desde a histria, passando pela geograficidade, at as sociabilidades desenvolvidas no momento de vivenciar os festejos. Ao refletir-se sobre a Festa de SantAna na Capela do Rio do Peixe e a festividade do Divino Pai Eterno, ocorrida em Lagolndia, busca-se elaborar critrios capazes de dar conta de sua 17

especificidade e de seu dinamismo. O material etnogrfico, confrontado com os conceitos de lugar, paisagem e identidade permite traduzir um pouco do imaginrio daqueles que vivenciam essas festividades. Prope-se relatar a parceria realizada nos trabalhos de campos. 6) Luciana de Arajo Aguiar (IFCS/UFRJ), [email protected] - O folclore brasileiro em festa: o Encontro Cultural de Laranjeiras O Encontro Cultural de Laranjeiras, evento realizado na cidade de Laranjeiras, desde 1976, envolve, alm de um simpsio temtico, onde so discutidos temas do folclore brasileiro, uma festa centrada na apresentao de danas folclricas da cidade e de outras cidades do estado. A festa apresenta uma diversidade de expresses folclricas, sendo um espao importante de ressignificao e de atualizao dessas expresses, na medida em que parece simbolizar uma ideia de tradicional no contexto da cultura popular. Apresenta-se essa festa como um espao de ressignificao de expresses artsticas folclricas e de reapropriao e de disputa em torno do que tradicional e autntico no mbito da cultura popular local. 7) Renata Gonalves (UFF), [email protected] - Sobre folguedos populares: uma perspectiva sobre as festas a partir de Edison Carneiro Estudos contemporneos em antropologia tm problematizado no apenas os limites do trabalho etnogrfico e da relao entre observador e observado, como tambm a valorizao da escrita etnogrfica e do processo de textualizao como fundamentais para a construo da autoridade etnogrfica. Os estudos de folclore no Brasil, campo de pesquisa emprico significativo na produo de trabalhos sobre festas populares foi marginalizado nas cincias sociais ao longo das ltimas dcadas. Considerando a diversidade interna dos estudos de folclore, o trabalho centra-se na anlise da produo do folclorista Edison Carneiro, investigando como a sua posio como pesquisador se relaciona com sua compreenso dos folguedos populares e, em especial, daquilo que identifica como elementos formadores que marcam continuidades dos folguedos - a roda, o cho e o cortejo. A inteno compreender, de um lado, as especificidades da pesquisa emprica realizada por Edison Carneiro, suas formulaes acerca dos folguedos populares e, de outro, investigar como a sua forma de compreender os folguedos se relaciona com suas formulaes analticas sobre o fato folclrico e sua dimenso de continuidade. Segunda reunio, 01 de setembro de 2011, 14h-17h Canto, dana e objetos rituais 1) Lady Selma e Jailma Oliveira (UFPE), [email protected]/, [email protected] - Artefatos e gnero: significados inesperados num processo etnogrfico Relata-se uma experincia etnogrfica de observao e de anlise de um ritual - maracatu nao pernambucano, focando os instrumentos classificados por gnero. As performances musicais, especificamente a execuo dos instrumentos, ampliam a anlise inicialmente prevista, desdobrando-se para compreender conformaes de subjetividades de homens e de mulheres. Ressalta-se dois resultados no esperados nesta etnografia: 1) a performance de execuo dos instrumentos, como gestos, corporeidade, expresses faciais, complementados por vestimentas e adereos, so fundamentais na organizao e na apresentao do grupo, tanto quanto a msica dela resultante; 2) no campo do gnero evidencia como a classificao dos artefatos se entrecruza com normas e regras morais, orais e escritas, para nortear o que as pessoas fazem. 2).Flora Moana Van de Beuque (IFCS/UFRJ), [email protected] - Etnografia de um objeto ritual festivo: a careta do cazumba no bumba-meu-boi

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A etnografia tem como foco um objeto ritual, a careta do cazumba, que integra o contexto festivo do bumba-meu-boi maranhense. Trata-se de uma mscara utilizada pelo personagem cazumba, um ser liminar no sentido de Victor Turner, um personagem de natureza ambgua - entre o homem, o animal e o fantstico - que atua de forma cmica e, ao mesmo tempo, transgressora. Sua mscara elemento fundamental para sua constituio e seu exerccio ritual. A produo da mscara indissocivel do desejo de eficcia ritual na cena festiva, seja atravs da funo performativa, como da funo esttica. Ao utiliz-la, o brincante torna-se outro e aquele que interage com o cazumba experimenta emoes diferenciadas, com sentimentos que podem variar entre os polos da atrao e da repulso. Com o personagem mascarado, o grupo social que participa da festa elabora coletivamente questes simblicas atreladas figura do cazumba, como: o enigma, o indefinido, a ambiguidade, o medo, o estranho, os limites entre a natureza e a cultura, assim como a ideia de rir do que se teme, trazida por Pierre Clastres. 3) Elisene Castro Matos (UFMA), [email protected] - Morte de esbandalhar: festa e ritual no Bumba-meu-boi maranhense. A partir da ideia da festa como promessa, presidida por um conjunto de aes sociais e religiosas complexas que orientam a conduta dos participantes, o trabalho enfoca a morte de esbandalhar, um ritual festivo do bumba-meu-boi maranhense, especialmente dos grupos localizados na regio da Baixada. Nela, o boi de brinquedo deve ser sacrificado, cabendo ao personagem Cazumba a captura e a entrega do animal para o pagamento da promessa. O Cazumba uma figura dramtica, que utiliza como trajes uma mscara em formato animalesco e uma tnica bordada, alm de possuir funes especficas na brincadeira do bumba-boi. Apresenta-se o ritual a partir de duas festas ocorridas nos anos de 2005 e 2007, na cidade de Penalva (regio da Baixada Maranhense). O ritual ocorre de trs a sete dias, com etapas que incluem a preparao da festa, as apresentaes e a destruio do animal. No entanto, o momento principal a morte do boi e sua entrega ao santo, marcada pela distribuio simblica de sua carne. 4) Lgia Raquel Soares (UFAM), [email protected] - O canto e o mundo: a relao entre msicas e mitos no universo dos Rmkomekra/Canela Atravs da etnografia dos amji kn (festas) do Jt (batata) e do Phy (milho) e da anlise de alguns cantos a elas relacionados, procura-se mostrar a forma dos povos Rmkkamkr/Canela (Povos J/Maranho) conceberem o cosmos (pj cuna) e sua relao com suas msicas tradicionais e a ligao entre essas festas (tambm ritual), msicas e mitos. Pode-se compreender a importncia que a msica representa para esses povos e o quanto os cantos estabelecem uma relao direta com o modo de ser Rmkkamkr/Canela, quando compreende-se que os cantos so vozes dos seres do cosmos (pj cuna). Alm disso, em alguns rituais ou festas, como as etnografadas no trabalho, os cantos so vistos como sendo os prprios seres, sejam as plantas ou os animais, cujas caractersticas so evocadas pelos cantos. Por isso, as msicas tambm so fundamentais para alegrar o universo atravs das festas, servindo (festa e cantos) como meio, para estes povos mbira do Brasil Central, recriarem os seres do mundo e a manuteno do cosmos. 5) Joana Ramalho Ortigao Correa (IFCS/UFRJ), [email protected] - Uma anlise da dana no Fandango caiara: do baile ao palco. A antropologia da dana procura desvelar o lugar da dana como fora ativa em processos de sociabilidade, oferecendo-nos o desafio de uma anlise no reducionista da dimenso expressiva da experincia humana coletiva. Danar articula os sentidos sob a forma de uma linguagem no verbal, na qual a unidade mnima o gesto. Por meio da gestualidade cria-se um sistema de comunicao capaz de figurar sentimentos e, ao mesmo tempo, enriquecer a experincia sensvel e o conhecimento expresso sob a forma no verbal. O trabalho apresenta algumas reflexes sobre os 19

significados da dana do Fandango e sua variabilidade, seja quando vivenciada em festas ou bailes e nos palcos, seja quando apresentada por grupos fixos de danadores. Partindo de uma etnografia junto a comunidades caiaras no litoral sul de So Paulo e norte do Paran, dialoga-se com algumas abordagens analticas da dana propostas por Evans-Pritchard, Blacking e Cavalcanti. 6) Oswaldo Giovannini Junior (IFCS/UFRJ), [email protected] - Caxambu: ritual, memria e relaes sociais O trabalho aborda questes relativas ao ethos e viso de mundo presentes em uma prtica festiva tradicional popular, o caxambu, confrontando dois momentos diferentes de sua realizao. Um deles marcado por um estilo mais tradicional, tendo como referncia a memria de lideranas mais velhas e outro marcado por novas relaes sociais e trocas simblicas contemporneas, dadas com um processo de ressignificao do ritual. Interessa confrontar duas perspectivas, a daqueles que so adeptos do lado mgico dos pontos de demanda e a daqueles que tm uma tendncia a tratlo de um modo mais moderno e livre de conflitos entre os praticantes. Discuti-se teoricamente a partir de Michael Taussig, a noo de mimese e com a ajuda do conceito de performance, especialmente vindo a partir de Victor Turner. 7) Simone Silva (UFF - Polo Campos dos Goytacazes), [email protected] - Quando a festa uma brincadeira: parentes, vizinhos, famlia e amigos em cantorias de p-de-parede na zona da mata pernambucana O trabalho reflete sobre a singularidade de uma etnografia dedicada s pessoas no e do evento em detrimento de um estudo etnogrfico do prprio evento. Concebida como brincadeira, a cantoria uma reunio de fim de semana, que tem maior incidncia no segundo semestre do ano, e congrega amigos, vizinhos e parentes no quintal de uma casa ou em um estabelecimento comercial, semelhante a um bar, para escutar uma dupla de poetas-cantadores. Busca-se compreender a relao que as pessoas tm com a cantoria, ou seja, qual o lugar desse evento na vida daqueles que dela participam assiduamente. Ao lado disso, o material etnogrfico permite explorar as noes nativas de dinheiro, de prestgio, de festa e de pessoa. Busca-se igualmente compreender a interface entre as mudanas ocorridas no mbito da realizao da cantoria e as transformaes socioeconmicas da zona da mata a partir dos 1960 e a constituio da viola enquanto uma oportunidade de profissionalizao frente ao trabalho na cana ou na roa. 8) Lilian Alves Gomes (MN/UFRJ), [email protected] - Etnografia na festa e cotidiano na etnografia: relaes em tempos que transbordam As peregrinaes so comumente tratadas como expresses clssicas de comunidade. No entanto, a observao desses eventos religiosos tambm ilumina a respeito de formas de sociabilidade permeadas por conflito e por dissenso. O trabalho reflete a respeito de tais relaes a partir da observao de romarias promovidas para louvar Pe. Librio, um sacerdote falecido no interior de Minas Gerais, que ainda em vida era procurado como santo. As diferentes celebraes em sua homenagem - Caminhada da F, Cavalgada da F, Moto Romaria - so trazidas baila com vistas problematizao de perspectivas nativas sobre a realizao dessas celebraes, de modo a contemplar no apenas a viso dos romeiros, mas tambm a leitura dos habitantes da pequena cidade de Leandro Ferreira, cidade na qual Pe. Librio foi enterrado e chamada de Cidade da F. A etnografia tambm ocorre em momentos no festivos, nos quais, no entanto, a festa est sempre em pauta. Terceira reunio, 02 de setembro de 2011, 10h30-12h30 Socialidades, festivais e carnavais

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1) Iara Flix Viana (UFMG), [email protected] - Festas underground em um bairro favelizado: entrelaamentos e proximidades No Conjunto Morro Alto, a festa vem sendo apropriada de vrias formas se transformando em lugar de compartilhamento das diferenas, projetando-a tanto no mercado poltico quanto na ressignificao e (re)afirmao da identidade local. Esse processo de ressignificao tem se materializado atravs da festa denominada Bala-das Pererecas - todo domingo a tarde - no espao Curumim, com rodas de pagode e de funk. A festa, considerada perigosa pelos prprios frequentadores, tem um pblico assduo em sua maioria mulheres - chefes de famlia. Esse pblico tem ganhado grande espao nas pginas policiais, concomitantemente, aumentado a in(visibilidade) de suas aes em funo da categoria histrico-social que carregam (me, mulher, esposa, filha, irm), sendo atribudas respostas simplistas para esse fenmeno avassalador, tais como: perda de valores. O trabalho indaga sobre a relao entre a festa e o bairro: Quanto valor se atribui mulher neste contexto? Quanto valor ela d a si mesma? De quanto conforto ela precisa para ver valor em si prpria? Nessas festas est perceptvel a guerra travada dessas meninas/mulheres para se manterem autnomas ou estamos diante de um novo arranjo social? 2) Brbara de Souza Fontes (IFCS/UFRJ), [email protected] - Entre o labor e o sabor: a Festa do Tomate em Paty do Alferes/RJ O trabalho apresenta uma etnografia da Festa do Tomate, compreendida como um processo ritual, na acepo de Victor Turner. Apreende-se a festa a partir de dentro, bem como suas tenses, mudanas e ressignificaes, analisando as memrias e as narrativas acerca da festa e da prpria cidade. A festa realiza-se h mais de vinte anos em junho, durante o feriado de Corpus Christi na cidade de Paty do Alferes. Consagra a produo agrcola do municpio, um dos maiores produtores de tomate do Brasil. Nos dias atuais, a Festa do Tomate considerada a maior do interior do estado, atraindo muita gente de outros municpios. O trabalho acompanha seus percursos desde os bastidores, onde o tomate transita desde a lavoura at cozinha, antes de culminar no cenrio festivo. A escolha desse foco permite apreender o personagem principal da festa, o tomate, enquanto um smbolo dominante e um agregador simblico. No conjunto das atividades festivas, duas destacam diretamente o tomate e a localidade, alm de serem as atividades mais antigas da festa: o Concurso de Culinria e o Concurso de Qualidade do Tomate. O trabalho toma esses dois eventos como portas de entrada para a compreenso da festa, desde o ponto de vista das pessoas residentes no municpio. 3) Weslei Estradiote Rodrigues (USP), [email protected] - A festa c nos chama: f, emigrao e retorno em uma aldeia camponesa do nordeste portugus O trabalho aborda a aldeia camponesa de Vilas Boas, no nordeste de Portugal, marcada pelo fenmeno emigratrio. Defende-se que o modo de vida aldeo tenha encontrado na emigrao um meio de reproduo e de renovao. Entende-se que, desde o destacado incremento dos eventos migratrios, sobremodo algumas dcadas aps o fim do perodo ditatorial em Portugal (1926-1974), determinadas prticas culturais ganharam nimo. A festa religiosa anual se apresenta como espcie de evento que cresceu em dimenses a cada ano. Compreender o investimento pessoal na produo da festa e as estratgias de retorno passa por entender as relaes desenhadas sob a complexa simbologia representada. Seja a festa a comunho ritualizada de uma pertena comum, sua anlise detida revela no menos que as hierarquias de uma estrutura em atualizao no momento da celebrao. A festa , nessa ocasio determinada, o espao da concretizao dos projetos emigratrios, lugar da exposio performatizada de papis almejados e assumidos por meio da narrao de percursos e de histrias de vida, mbito da afirmao pessoal e do crivo coletivo. Busca-se refletir o carter cclico da festa nos quadros da urgncia das atualizaes negociadas que a conjuntura opera. 21

4) Danielle Maia Cruz (UFCE), [email protected] - Blocos e maracatus em Fortaleza: prticas carnavalescas e aproximaes etnogrficas Em Fortaleza, desde 1981, brincantes se organizam em torno de blocos carnavalescos e realizam apresentaes em espaos pblicos da cidade no perodo pr-momesco. No perodo momino, agremiaes diversas realizam desfiles carnavalescos, como os maracatus (desde 1937). A temporalidade carnavalesca em Fortaleza sempre foi pontuada por tenses e por negociaes entre brincantes e poder pblico em razo das reivindicaes dos brincantes por polticas efetivas para a festa. Um olhar etnogrfico para a temporalidade carnavalesca em Fortaleza, implica uma relao dialgica, de forma que o ponto de vista dos brincantes e do poder pblico dialoguem com os conceitos analticos do pesquisador. O trabalho examina a festa como catalizadora de noes como tradio, modernidade, identidade, espetculo, turismo e cultura popular. Blocos e maracatus configuram-se como instrumentos de expresso social e de reivindicao poltica, sendo reveladores das tenses sociais da cidade. O argumento central que, do ponto de vista da gesto municipal, as festas carnavalescas constroem noes de pertencimento do indivduo com a cidade, difundem imagens de uma cidade cultural e desconstroem os discursos que relacionam Fortaleza somente s suas belezas naturais. 5) Ulisses Corra Duarte (UFRGS), [email protected] - O carnaval espetculo no sul do Brasil: as apropriaes e construes das identidades regionais e nacionais nos desfiles das Escolas de Samba gachas O trabalho analisa os desfiles das Escolas de Samba da cidade de Uruguaiana e de Porto Alegre com base em etnografias e na comparao dessas duas festas no carnaval de 2011. Ambas realizam adequaes ao modelo paradigmtico do carnaval espetculo, baseado na mercantilizao, na profissionalizao e nas mdias especializadas. A assimilao do samba como smbolo de pertena identidade nacional no Rio Grande do Sul - estado que possui uma relao singular com a construo histrica dos smbolos nacionais, dado ao necessrio e anterior investimento cultura regional (Oliven) - pode ser demonstrado em dois processos contrastantes que podem ser analisados, um em cada cidade. A construo da cultura carnavalesca compete aos participantes e aos sujeitos produtores dos desfiles das escolas de samba, em geral, etnicamente demarcada pela populao negra, simbolicamente detentora dos smbolos nacionais presentes no carnaval, j que, de certo modo, ocupam um lugar de invisibilidade e de desprestgio na construo da cultura regionalista. Os processos de importao cultural de profissionais do carnaval e de materiais do centro do pas e as apropriaes dos valores estticos promovidos nos desfiles cariocas, garantem mais argumentos que asseguram as distines das propostas das duas cidades na produo de seus carnavais. 6) Nilton Santos (UFF), [email protected] - O lugar do carnavalesco e a circulao do dinheiro na festa do carnaval carioca Partindo de pesquisa sobre o universo do carnaval na cidade do Riode Janeiro, particularmente sobre a atuao dos carnavalescos nas escolas de samba, pretende-se entender as dimenses dramticas envolvidas no fenmeno de sua atuao como artfice de enredos, de alegorias e de adereos. A emergncia de enredos patrocinados complexifica o quadro de anlise pela entrada de mltiplas formas de dinheiro no mbito das relaes sociais. A inteno problematizar como o trabalho dos carnavalescos e dos tcnicos especializados, sintetizado no desfile da Passarela do Samba (Avenida Marqus de Sapuca), pem em cena inmeros aspectos relativos s ambiguidades/tenses da sociedade brasileira no que se refere profissionalizao ou no destes atores sociais.

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7) Ricardo Barbieri (IFCS/UFRJ), [email protected] - A sociabilidade jovem no Festival de Parintins/AM: um estudo etnogrfico da galera do Caprichoso O festival de Parintins pode ser observado sob diversos aspectos dada multiplicidade de planos simblicos que orientam a festa. Um dos principais mecanismos de articulao desses planos simblicos so as pessoas que se movimentam e que incentivam seus bois em performances coreografadas nas arquibancadas. A chamada galera dos bois importantssima no julgamento do festival. A Galera do Boi Caprichoso tomada como ponto de partida para percorrer os circuitos articulados por integrantes do grupo atravs dos ensaios e das mobilizaes diversas em Parintins e em Manaus.

ST 05 - Festa e performance em espao pblicoCoordenao: Paulo Raposo (ISCTE-IUL/CRIA) - [email protected] e Jonh Dawsey (USP/NaPedra) - [email protected] As indefinies contemporneas relativamente ao cruzamento entre arte e cidade facilitam trnsitos e dilogos entre o campo da performance e o das cincias sociais que a ST quer explorar por via da festa em espao pblico. Ambguos sentidos e desgnios para espaos e monumentos pblicos e para as intervenes urbanas, problemticos modelos de exibio da arte, dilemas entre espaos institucionais e novos espaos, democratizao do acesso cultura e reconhecimento da presena de agentes mercadolgicos, so alguns dos tropos de debate. Neste dialgico movimento, e sob um foco na dimenso festiva e performtica em meio urbano, trata-se de equacionar modos de deselitizar e deslocalizar a produo artstica, confinada aos museus, galerias e outros espaos institucionais, abrindo-a para a participao coletiva, colaborativa, contextualizada ou at mesmo radicalizante e interventiva, explorando a festa enquanto performance em espaos pblicos em resposta aos processos de excluso, de silenciamento e de invisibilidade em curso na sociedade contempornea. A diversidade dos espaos pblicos como cenrios performativos - no-lugares, terminais de transportes, avenidas, praas, becos e traseiras, prdios devolutos, instalaes fabris, mercados, etc. - e das festividades urbanas na sua cumplicidade com o corpo do performer e dos acidentais transeuntes podero ser aqui exploradas reflexivamente no contexto da produo de identidades coletivas ou especficas ou de processos de turistificao e de mercadorizao da cultura. O tom da interdisciplinaridade entre as esferas estticas, sociopolticas e antropolgicas, debate que envolve artistas e no-artistas, justifica-se. Primeira reunio, 31 de agosto de 2011, 14h-17h Poticas e polticas do espao pblico: dilogos e relaes de poder 1) Paulo Raposo (IUL/CRIA), [email protected] - Festa e performance em espao pblico: tomar a rua! frica, Europa, sia, Amricasum rastilho incendirio espalha-se pelas praas, pelas ruas, pelos bairros reclamando a rua. Tomar a praa torna-se um movimento performativo de intensidade nova em um plano que se refina em escalas globais, nacionais e locais. Explora-se, por via do carter festivo da performance em espao pblico, os ambguos sentidos e desgnios para estes novos espaos, de democratizao e de indignao que se espalham pelo mundo. Abrindo a rua, tomando a praa, movimentos massivos ou pequenos grupos tomam a voz, expressam a indignao, ensaiam a participao coletiva, colaborativa, contextualizada ou at mesmo radicalizante e interventiva, explorando a ocupao de espaos pblicos, enquanto performance, em resposta aos processos de excluso, de silenciamento e de invisibilidade em curso na sociedade contempornea. Questes de interdisciplinaridade entre as esferas estticas, sociopolticas e antropolgicas, debate 23

que envolve artistas e no-artistas, justifica-se tambm no quadro dessas performances polticas. 2) Marianna Francisca Martins Monteiro (UNESP), [email protected] - Esttica relacional e festa popular Pretende-se apresentar algumas indagaes surgidas na frequentao s festas populares, em especial aquelas transplantadas para a grande metrpole, devido ao interesse de artistas e de educadores que buscam inspirao e referncias para suas criaes contemporneas de teatro, de dana ou de msica. Pretende-se discutir a estruturao da festa do Boi-Bumb realizada h 25 anos no bairro paulistano do morro do Querosene, no sentido de situar a natureza artstica dessa expresso, no contexto das reflexes estticas contemporneas. Trata-se de um exerccio que visa aproximar conceitos da crtica de arte contempornea e os mecanismos proposto pela prpria tradio revisitada. O conceito de esttica relacional, de Nicolas Bourriaud, que pretende compreender as manifestaes de arte contempornea como um campo frtil de experimentao social a partir de prticas de convivialidade e interatividade, ser confrontado com as sociabilidades festivas deslocadas de seus contextos tradicionais. 3) Daniel Bitter (UFF), [email protected] - Prticas performativas e modalidades discursivas no Encontro de Folias de Reis de Ribeiro Preto/SP O Encontro de Folias de Reis de Ribeiro Preto, a exemplo de outros festivais similares, uma grande festividade pblica, caracterizada por mltiplas prticas, envolvendo devotos, folies de reis, polticos, intelectuais, folcloristas, pesquisadores, jornalistas, etc, num entrecruzamento de interesses, de sentidos e de discursos. Sua realizao marcada pela intensa mobilizao de seus organizadores e pela expressiva interao do pblico com os folies de reis, que se renem numa praa da cidade. O trabalho explora observaes etnogrficas realizadas durante a festa em 2011, apontando para a diversidade de situaes e de modalidades rituais e de prticas performativas que se criam em torno da principal atividade do encontro: a exibio dos grupos de folias de reis. 4) John C. Dawsey (USP/NaPedra), [email protected] - Festa dos Bonecos da Rua do Porto s margens do Rio Piracicaba, nos arredores da Casa do Povoador, surgiram os bonecos do Elias, vestidos de roupas caipiras e segurando varinhas de pescar. Sua presena torna-se marcante em pocas de Festa do Divino, quando se renovam teias sociais de moradores de antigos bairros prximos ao rio, e suas relaes com a cidade. Trata-se de um campo propcio para estudos da performance e da antropologia da experincia. Imagens do passado articulam-se ao presente num momento de perigo. Histrias que se contam a respeito dos bonecos - que so queimados, despedaados e arremessados ao rio - evocam, como imagens mimticas, dramas sociais vividos por velhos barranqueiros do rio. Atravs de comportamentos mimticos de quem imita suas imitaes, moradores ganham foras para lidar com transformaes urbanas que ameaam desaloj-los dos barrancos, revitalizando princpios de reciprocidade a partir de quais se tecem a vida social e as relaes com o rio. Segunda reunio, 01 de setembro de 2011, 14h-17h Mscaras, polticas e espao pblico: narrativas, negociaes e polticas pblicas 1) Maria Eugenia Dominguez (UFSC), [email protected] - Carnavais de Buenos Aires: narrativas da incluso A murga uma expresso carnavalesca caracterstica da cidade de Buenos Aires; inclui msica, cano, dana, declamao; sua atuao acontecendo principalmente nas ruas da cidade durante as celebraes do carnaval no ms de fevereiro. Homens e mulheres, velhos, crianas e 24

jovens, desfilam juntos na murga. Bombistas, msicos e cantores amadores so nela os protagonistas. Os fraques de cetim so a marca do conjunto, embora cada murgueiro e cada murgueira estampe em adereos de lantejoulas seus afetos pessoais. O brilho se multiplica com o tremor da dana murgueira; os corpos destes carnavalescos raramente se ajustando moral da boa forma. Muitos dos que participam nas murgas so tambm msicos ou artistas, e a maioria concorda: a murga outra coisa, no importando tanto as habilidades cnicas quanto a efetiva participao no coletivo. Atravs do exame das experincias e das narrativas de murgueiros e de murgueiras da cidade Buenos Aires, reflete-se sobre a tica e a esttica das murgas portenhas, focando especialmente os sentidos que essas narrativas constroem em torno da noo de incluso. 2) Caroline Glodes Blum (UFPR), [email protected] - O carnaval e espao urbano emcena: negociaes, dramas e performances O trabalho discute as negociaes, as disputas e os dilogos no espao urbano promovidos pela manifestao carnavalesca da/na cidade de Curitiba, conhecida nacionalmente tanto pelos projetos urbansticos, quanto pelos jocosos anedotrios acerca da sua falta de vocao para tal festividade. Discute-se de que cidade se fala? Quem no quer o carnaval? Ou ainda, quem nestas condies teimaria em faz-lo? A manifestao carnavalesca promove no espao urbano uma dinmica em constante movimento em diversas esferas: a oficial, a cotidiana e a performtica. Atravs da pesquisa etnogrfica, percebe-se como as escolas se prepararam, se construram para o desfile na Avenida Cndido de Abreu, ou seja, como realizaram