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COLÉGIO PEDRO II CAMPUS REALENGO II ATIVIDADE 13 DE GEOGRAFIA 1º ANO ENSINO MÉDIO 30/07/2020 Olá 1º ano, nessa atividade trabalharemos o tema hidrografia e a geopolítica da água. São muito importantes a compreensão do conceito de bacias hidrográficas e o entendimento da importância de sua gestão. Antes dos exercícios, ao final, apresento dois textos que discutem a questão da água como bem comum e como mercadoria. Vamos lá! A água no planeta Terra encontra-se constantemente em movimento. Essa dinâmica chama- se ciclo hidrológico (Figura 1), que consiste em um sistema fechado de circulação da água (ou seja, essa água não sai da atmosfera para o espaço sideral) em diferentes estados físicos (sólido, líquido e gasoso), impulsionado pela energia solar e pela força da gravidade. Figura 1 ciclo hidrológico A precipitação, no ciclo hidrológico, é considerada como entrada no sistema da bacia de drenagem. A bacia hidrográfica, ou bacia de drenagem, é conceituada como “uma área da superfície terrestre que drena água, sedimentos e materiais dissolvidos para uma saída comum, em um determinado ponto de um canal fluvial” (Coelho Netto, 1994). Ela é considerada “um sistema físico onde a entrada é o volume de água precipitado e a saída é o volume de água escoado pelo exutório (ou foz), considerando-se como perdas intermediárias os volumes evaporados e transpirados e também os infiltrados profundamente” (Tucci, 1993). Segundo Strahler (1952) um sistema de drenagem pode ser descrito como um sistema aberto em estado constante, pois possui importação e exportação de componentes, neste caso, troca de materiais e energia. A bacia hidrográfica é delimitada pelos divisores topográficos (ou divisores de água), caracterizados pelos pontos mais altos entre duas ou mais bacias, que dividem a água precipitada que escoa superficialmente para cada bacia contida na região hidrográfica considerada. Uma bacia sempre possui sub-bacias, rios menores que, por sua vez, também podem ser delimitados pela topografia. A delimitação é importante para saber para onde escorre a água precipitada. As Figuras 2 e 3 mostram esse sistema.

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COLÉGIO PEDRO II – CAMPUS REALENGO II

ATIVIDADE 13 DE GEOGRAFIA

1º ANO – ENSINO MÉDIO

30/07/2020

Olá 1º ano, nessa atividade trabalharemos o tema hidrografia e a geopolítica da água. São

muito importantes a compreensão do conceito de bacias hidrográficas e o entendimento da

importância de sua gestão. Antes dos exercícios, ao final, apresento dois textos que discutem a

questão da água como bem comum e como mercadoria.

Vamos lá!

A água no planeta Terra encontra-se constantemente em movimento. Essa dinâmica chama-

se ciclo hidrológico (Figura 1), que consiste em um sistema fechado de circulação da água (ou seja,

essa água não sai da atmosfera para o espaço sideral) em diferentes estados físicos (sólido, líquido

e gasoso), impulsionado pela energia solar e pela força da gravidade.

Figura 1 – ciclo hidrológico

A precipitação, no ciclo hidrológico, é considerada como entrada no sistema da bacia de

drenagem. A bacia hidrográfica, ou bacia de drenagem, é conceituada como “uma área da superfície

terrestre que drena água, sedimentos e materiais dissolvidos para uma saída comum, em um

determinado ponto de um canal fluvial” (Coelho Netto, 1994). Ela é considerada “um sistema físico

onde a entrada é o volume de água precipitado e a saída é o volume de água escoado pelo exutório

(ou foz), considerando-se como perdas intermediárias os volumes evaporados e transpirados e

também os infiltrados profundamente” (Tucci, 1993). Segundo Strahler (1952) um sistema de

drenagem pode ser descrito como um sistema aberto em estado constante, pois possui importação e

exportação de componentes, neste caso, troca de materiais e energia.

A bacia hidrográfica é delimitada pelos divisores topográficos (ou divisores de água),

caracterizados pelos pontos mais altos entre duas ou mais bacias, que dividem a água precipitada

que escoa superficialmente para cada bacia contida na região hidrográfica considerada. Uma bacia

sempre possui sub-bacias, rios menores que, por sua vez, também podem ser delimitados pela

topografia. A delimitação é importante para saber para onde escorre a água precipitada. As Figuras

2 e 3 mostram esse sistema.

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Figura 2 – bacia hidrográfica

Figura 3 – Elementos de uma bacia hidrográfica

O recorte espacial da bacia hidrográfica é extremamente importante para a gestão de um

território. Para gerir, planejar, a quantidade de água que se tem disponível em uma região, para

analisar a qualidade da água, para avaliar o impacto ambiental de qualquer obra ou intervenção que

ocorra dentro de uma bacia. Por exemplo: se uma empresa constrói uma fábrica em um determinado

lugar, a qualidade da água das pessoas que moram abaixo desse ponto será impactada desde o início

da obra, por detritos e sedimentos que vão chegar aos rios após uma chuva. Um exemplo concreto

desse impacto foi o rompimento da barragem da Samarco/Vale do Rio Doce, em Mariana (MG).

Após o rompimento da barragem, todas as cidades que estavam a jusante* do evento, na bacia de

drenagem do rio Doce, sofreram impactos, como demonstram as figuras 4, 5 e 6.

* A jusante é o lado para onde se dirige a corrente de água e montante é a parte onde nasce o rio.

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Figura 4 – No mapa a esquerda temos a delimitação da bacia do rio Doce e a direita o mapa de suas sub-bacias

Figura 5 – Distritos e municípios afetados pelo rompimento da barragem

Figura 6 – Previsão dos primeiros impactos após o dia do desastre

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Estima-se que 97,5% da água existente no mundo é salgada e não é adequada ao nosso

consumo direto, nem para irrigação. Dos 2,5% de água doce, a maior parte (69%) é de difícil acesso,

pois está concentrada nas geleiras, 30% são águas subterrâneas (armazenadas em aquíferos) e 1%

encontra-se nos rios. Portanto, o uso desse bem tão precioso e essencial precisa ser bem pensado,

bem gerido.

Figura 7 – Água disponível e acessível ao homem no planeta Terra

Da água doce disponível no Brasil, a maior parte é utilizada pela agricultura (72%), seguido

da indústria (20%). O uso humano (doméstico) representa apenas 7%. Isso não significa que

podemos desperdiçar água, pois a água que consumimos em casa, na grande maioria das vezes nos

centros urbanos, é água tratada e o custo para esse tratamento não é baixo.

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Uma enorme parte da água que cai em forma de chuva no centro-oeste, sudeste e sul do Brasil

é proveniente da bacia Amazônica. Ela é carregada até essas regiões através de rios voadores. A

floresta Amazônica funciona como uma “bomba d’água” captando água dos solos e emitindo para

a atmosfera em forma de vapor, a partir de um processo denominado evapotranspiração. Segundo

Antonio Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), uma única

árvore, com uma copa de 20 metros de diâmetro, transpira mais de 1.000 litros em um único dia.

Parte da água evapotranspiradas pelas árvores transformam-se em chuvas que caem na própria

floresta, outra parte é transportada pela atmosfera. Estima-se que a quantidade de água conduzida

pelos rios voadores seja igual ou superior à vazão do Rio Amazonas (maior rio do mundo em vazão).

O desmatamento da floresta Amazônica afeta diretamente os produtores agrícolas de outras

regiões do Brasil. A floresta presta o serviço gratuito de levar água para as plantações do sul do

Brasil. No Centro-Oeste localizam-se nascentes de três bacias hidrográficas com grande importância

para a geração de energia hidrelétrica e outros usos da água no Brasil, as bacias dos rios Tocantins-

Araguaia, São Francisco e Paraná. A Região do Cerrado concentra 60% do potencial hidrelétrico do

Brasil. Na região sudeste está concentrada a maior parte da população brasileira. Sem a Floresta

Amazônica todas essas regiões e população que ali vivem são afetadas.

Vídeo sobre os rios voadores: https://www.youtube.com/watch?v=xmu3roA5JBk&feature=youtu.be

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A água não está limitada às fronteiras políticas dos países, razão pela qual, quase metade da

superfície terrestre é conformada por bacias hidrográficas de rios compartilhados por dois ou mais

países. O Brasil compartilha cerca de 82 rios com os países vizinhos, incluindo importantes bacias

como a do Amazonas e a do Prata, além de compartilhar os sistemas de aquíferos - Guarani e

Amazonas. Esse cenário se traduz em diferentes e oportunas possibilidades para a cooperação e o

bom relacionamento entre os países (Site da Agência Nacional de Águas – ANA).

Uma bacia hidrográfica transfronteiriça (que engloba mais de um país) tem sua gestão

compartilhada entre esses países. No Brasil, pela Constituição Federal de 1988, não existem águas

particulares ou privadas com domínio ligado à propriedade da terra. E também não existem recursos

hídricos de domínio dos municípios. Todas as águas pertencem à União e aos estados. As bacias que

englobam mais de um estado são de gestão federal. Se estiver dentro apenas dos limites territoriais

de um único estado, sua gestão compete a essa unidade da federação.

A Lei 9.433 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9433.htm) institui a Política Nacional

de Recursos Hídricos e baseia-se nos seguintes fundamentos e objetivos:

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I - a água é um bem de domínio público;

II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;

III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a

dessedentação de animais;

IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas;

V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos

Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;

VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder

Público, dos usuários e das comunidades.

Art. 2º São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:

I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de

qualidade adequados aos respectivos usos;

II - a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com

vistas ao desenvolvimento sustentável;

III - a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do

uso inadequado dos recursos naturais.

IV - incentivar e promover a captação, a preservação e o aproveitamento de águas pluviais.

Segundo um relatório elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Fundo das

Nações Unidas para a Infância (Unicef) em 2019, um a cada três habitantes do planeta não têm

serviços de água potável gerenciados de forma segura. No total, 2,2 bilhões de pessoas em todo

mundo estão nessa situação, e 4,2 bilhões de indivíduos não têm acesso a esgotamento sanitário

seguro. Apresento, abaixo, um panorama geral brasileiro do acesso à água e esgoto.

- Segundo a FIRJAN (base de dados do IBGE), no estado do Rio de Janeiro, em 2015, 1,2 milhão

de pessoas não possuíam acesso à rede de abastecimento de água e havia 5,6 milhões sem coleta de

esgoto (7,4% e 33,6% da população, respectivamente). Além disso, 65,8% do volume de esgoto

produzido não eram tratados.

- Segundo O Globo (2017), a Lei do Saneamento Básico completa 10 anos em 2017. Acesso à coleta

de esgoto no país passou de 42% para 50,3%, já o abastecimento de água passou de 80,9% para

83,3%.

- Região Norte: 49% é atendida por abastecimento de água e apenas 7,4 por esgoto.

- Amapá é o pior estado: 34% e 3,8%

- São Paulo é o melhor: 95,6% e 88,4%

- Distrito Federal: 99% e 84,5%

- Percentual de ESGOTO TRATADO no país em 2017 = 42,7%

- SUDESTE: 91,2% com água tratada; 77,2% com coleta de esgoto e 47,4% com tratamento de

água.

- Segundo a OMS, cada dólar investido em água e saneamento resultaria em uma economia de 4,3

dólares em custos de saúde no mundo. A universalização do saneamento básico no Brasil geraria

uma economia anual de R$ 1,4 bilhão em gastos na área de saúde.

- As internações hospitalares de pacientes no SUS (em todo país), por doenças causadas pela falta

de saneamento básico e acesso à água de qualidade, no ano de 2017, geraram um custo de R$ 100

milhões.

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Texto 1

A “CRISE” MUNDIAL DA ÁGUA VISTA NUMA PERSPECTIVA DA GEOGRAFIA

POLÍTICA

Carlos Alexandre Leao Bordalo

GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 31 especial, pp. 66 - 78, 2012

Neste início de século a Organização das Nações Unidas já realizou três Fóruns Mundiais da

Água (Kyoto, 2003; Cidade do México, 2006 e Istambul, 2009) onde foram travadas guerras de

paradigmas. O da água como direito humano universal versus a água como mercadoria, e o de uma

crise eminente para no abastecimento de água doce ainda neste século

Gleick (1998) ressalta que no século XIX a revolução industrial e o elevado crescimento

populacional foram responsáveis por uma dramática e extensa modificação no ciclo hidrológico,

através da construção de grandes projetos de engenharia destinados ao controle de inundação em

áreas de planícies, para geração de energia hidráulica e os voltados para irrigação. No século XX

durante o período da guerra-fria, nas décadas de 50, 60 e 70, os países desenvolvidos e em

desenvolvimento voltaram a passar por um grande crescimento econômico, fato que levou a um

novo e significativo aumento da demanda mundial por recursos hídricos destinados à: geração de

energia hidrelétrica, irrigação, indústria e no abastecimento público nos grandes centros urbanos.

Para a geógrafa brasileira Bertha Becker (2003) a escassez de água é a mais recente

preocupação, sendo percebida e anunciada como verdadeira catástrofe mundial, a ponto de lhe

serem atribuído um valor estratégico similar ao do petróleo no século XX e a denominação de “ouro

azul”. Uma verdadeira hidropolítica se configura no cenário mundial.

Quem também corrobora com a ideia de uma hidropolítica para explicar o problema da “crise”

mundial da água, é o geógrafo tunisiano Mohamed Bouguerra (2004), quando pergunta se existe

uma escassez ou má gestão da água?

Para Costa (2003) essa escassez relativa (natural ou produzida), e a distribuição desigual têm

transformado a água em um bem econômico crescentemente valorizado (commodity). Fato este

agravado pelos desiguais níveis de acessibilidade entre povos e nações pobres e ricas à água de boa

qualidade, acarretando sua maior valoração no mercado mundial, contradizendo o “direito universal

à água” proclamado pela ONU. Já para Ribeiro (2003) essa situação é ainda mais grave devido ao

comércio da água doce. Comércio esse que já envolveria internacionalmente grandes grupos de

capital privado.

Com base nos argumentos de Gleick (1993), Becker (2003), Costa (2003), Bouguerra (2004)

e Ribeiro (2003 e 2008), ficam claro que o problema mundial da água doce, não está só na

diminuição da disponibilidade absoluta (oferta menor que a demanda) em virtude do elevado

crescimento demográfico, que leva à escassez hídrica, tão pouco ela deva ser regulada

exclusivamente pelas leis do mercado. Mas sim na crise do desigual acesso à água, bem como nas

diferentes formas de utilização e consumo, bem dispares entre os países ricos e pobres. Criando o

que Becker chama de o paradoxo abundância do recurso versus inacessibilidade social, situação

essa, muito bem explicada pela geografia política e pela geoeconomia.

Em outra obra mais recente Ribeiro (2008) escreve sobre uma “Geografia Política da Água”

onde ressalta que instituições como a OMC e o Banco Mundial tem desempenhado uma função

chave no processo de privatização dos serviços da água. O que tem levado a um verdadeiro comércio

global da água.

A “crise” da água doce no mundo se faz presente de duas formas, uma que envolve a

quantidade suficiente de água doce, seja as superficiais contidas nas bacias hidrográficas, ou as

subterrâneas armazenadas nos aquíferos ou precipitas na forma de chuva, e a sua qualidade em

relação aos desejáveis parâmetros físicos, químicos e bacteriológicos, que permitam um potencial

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(oferta) disponibilidade hídrica para atenderem as reais demandas atuais e futuras em relação às

diferentes formas de uso, rural, doméstico e industrial.

Essa interpretação apresentada pela ONU sobre a “crise” mundial da água doce, está

diretamente relacionada às diferentes formas de apropriação, uso e conservação dos recursos

hídricos, por parte da população dos países desenvolvidos, em desenvolvimento e

subdesenvolvidos, onde a questão principal é a desigual oferta entre esses países, do abastecimento

de água potável de boa qualidade a preços razoáveis, e dos serviços de saneamento, fundamentais à

melhoria da qualidade de vida dessas populações.

A “crise” que envolve o atendimento ao aumento mundial do consumo de água potável, no

caso a crescente demanda por água em boa quantidade e qualidade, destinada aos usos agrícola,

industrial e doméstico, relaciona-se não só à distribuição espacial e temporal desse recurso, mas à

capacidade de atender a essas diferentes demandas com custo razoável e sem conflitos.

Para a população mundial que ainda não possui serviços de abastecimento de água potável, a

Ásia lidera com 65%, em seguida a África com 27%, a América Latina e o Caribe com 6%, e a

Europa com somente 2%. Quanto à população mundial que não é atendida pelos serviços de

saneamento, os dados mostram mais uma vez que a Ásia lidera com 80%, seguida pela África com

13%, a América Latina e o Caribe com 5% e a Europa novamente, com apenas 2%. É bom salientar,

que nas duas pesquisas não aparecem os Estados Unidos e Canadá, pois esses serviços atendem a

totalidade da população.

As dificuldades apresentadas pelos países subdesenvolvidos em relação à gestão dos seus

recursos hídricos estão relacionadas aos graves problemas econômicos e sociais, que dificultam a

adoção de políticas públicas eficazes no tratamento de questões, como a melhoria da infraestrutura

do saneamento urbano e rural, através de obras de ampliação do sistema de abastecimento de água

potável e da rede de esgoto sanitário, irrigação de áreas agrícolas e geração de energia hidráulica,

que são vitais ao processo de desenvolvimento econômico e social.

A “crise” da água, então, passa a ser concebida como um problema muito mais de gestão e

governabilidade, do que, essencialmente, a escassez do recurso. A proposta de gestão dos recursos

hídricos, de forma integrada, participativa, e descentralizada, através de políticas públicas que

priorizem, a aplicação de leis e instrumentos que regulem as diferentes formas de apropriação, uso

e poluição, surge como principal mecanismo de regulação entre o estado e a sociedade, capaz de

fato de evitar os riscos de escassez hídrica.

Este paradigma se orienta no sentido de uso mais sustentável do recurso hídrico. Ao invés da

busca cada vez mais distante e cara, por novos mananciais localizadas em outras bacias

hidrográficas com grande disponibilidade hídrica, seria melhor e mais barato, o investimento no

aumento da eficiência dos sistemas de: captação, tratamento e distribuição da água para os diversos

fins. Essa eficiência está relacionada à melhoria tecnológica dos sistemas e equipamentos utilizados

nas redes de abastecimento, que precisam ter um menor desperdício de água que ocorre nos

vazamentos e defeitos da rede.

A outra forma apontada por Gleick (1998) como eficiência no sistema, é o fato de cada vez

mais os consumidores norte-americanos se preocuparem em construírem suas casas e apartamentos,

onde nas cozinhas e banheiros as torneiras, duchas, chuveiros e os vasos sanitários, sejam cada vez

mais eficientes ao consumirem ou desperdiçarem uma quantidade cada vez menor de água tratada.

Essa preocupação com a maior eficiência e menor desperdício não está só nos moradores das

cidades, mas também nos fazendeiros que passam a utilizar sistemas de irrigação mais eficazes e

econômicos, como também nas indústrias que foram obrigadas a combater o desperdício de água

tratada e no tratamento dos seus efluentes líquidos que reciclados voltaram à rede local.

Essa preocupação com a superação dos riscos de “crise” mundial no abastecimento de água

doce requer uma maior regulação dos conflitos entre os usuários (países/estados/municípios)

públicos e privados dos recursos hídricos, com a implementação de políticas públicas voltadas para

gestão dos recursos hídricos, garantindo uma governabilidade no acesso, uso e proteção desse

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precioso bem indispensável à sobrevivência pacífica da humanidade.

O simples crescimento populacional de um país, junto com o seu crescimento urbano, não é

indicador suficiente que possa garantir que todos os habitantes terão acesso aos mesmos serviços de

abastecimento de água potável e coleta e tratamento de esgoto sanitário. Bem como o cálculo médio

do consumo de água por habitante (m3/hab/dia) de um país ou de uma cidade, não reflete o real

consumo doméstico numa sociedade marcada por grandes desigualdades sociais e econômicas, que

refletem diretamente no poder aquisitivo e no seu bem-estar.

Segundo os dados da própria ONU (2003), as atividades agrícolas correspondem cerca de 70%

do consumo mundial de água doce no planeta, sendo ainda maior nos países subdesenvolvidos e em

desenvolvimento, com 82%. Esse quadro, aliado ao problema da inacessibilidade da grande maioria

da população de baixa renda desses países aos serviços de abastecimento de água potável, mostram

que são falsas e exageradas as premissas demográficas, que responsabilizam o crescimento

populacional e urbano, como os grandes vilões do consumo e desperdício de água.

Outro grande fator é a capacidade do estado e da própria sociedade urbana, implementarem

medidas de controle no abastecimento e uso da água potável, e medidas voltadas ao combate do

desperdício, através de métodos educativos e punitivos. Essas ações estão presentes nos programas

de gestão dos recursos hídricos, permitem um efetivo controle sobre a apropriação, uso e proteção

das águas evitando assim sua eminente escassez. Logo tentar restringir a responsabilidade pela e

escassez de água doce no planeta, a fatores demográficos, criando um cenário apocalíptico,

representa uma visão reducionista e quantitativa do problema, visto que, a situação requer também

uma análise de caráter sócio, econômico, político e ambiental a nível mundial e regional, bem como

a adoção de políticas públicas voltadas para gestão dos recursos hídricos.

No caso mais específico do recurso água, Becker (2003) relata ainda que essa tentativa de

mercantilização da natureza está bem presente nas diretrizes do Banco Mundial ao atribuir um valor

de mercado a água. Durante o 5º Fórum Mundial da água, 2009, promovido pelo WWF (Fundo

Mundial da Natureza), o debate voltou com mais vigor, sedo que agora as autoridades brasileiras

manifestaram-se contrários ao acesso à água como um direito universal, posição esta criticada por

vários países, principalmente os seus vizinhos da América do sul.

Petrella (2004) argumenta que neste século a água suscitará três grandes questões, que

envolvem todos os habitantes e as sociedades do mundo.

1º) O acesso à água potável é um direito humano, por isso universal, indivisível e imprescritível, ou

uma necessidade vital cuja satisfação passa através dos mecanismos de mercado?

2º) A quem pertence à água? Trata-se de um bem comum (comum a quem, a que tipos de

comunidades), ou trata-se de um bem apropriável, a título privado, de uma mercadoria vendável que

podemos comprar como petróleo ou outro bem/mercadoria?

3º) É possível deter os processos de rarefação e de escassez crescente dos recursos hídricos do

Planeta, garantindo a utilização das águas e a segurança de abastecimento para todos, segundo os

princípios de uma gestão sustentável e solidária, ou devemos deixar a escolha, quanto à locação dos

recursos hídricos do Planeta, às lógicas geopolíticas dos estados nacionais e às lógicas financeiras

dos detentores privados de capital, enfraquecendo, assim, as formas e as práticas de democracia

representativa e participativa?

Ter o direito de livre acesso à água, mas acima de tudo em níveis de elevada qualidade, deixou

de ser apenas uma reivindicação da população pobre localizada na zona rural. Mas também dos

milhões de habitantes das favelas das grandes cidades, que ainda não são atendidos pelos serviços

da água.

Resolver o problema da falta e da má qualidade dos serviços da água a esta parcela da

população mundial rural e urbana, não é apenas uma questão de ordem econômica e tão pouco de

mercado. Uma vez que o abastecimento de água à população não deve ser visto apenas como um

serviço.

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No final do século XX instituições como a OMC e o Banco Mundial defenderam que o

aumento dos sistemas de abastecimento de água nos países em desenvolvimento, não deveriam mais

ficar sob a responsabilidade das empresas públicas. E que o aumento da demanda pelos serviços da

água só poderia ser atendido por empresas privadas, tidas como as únicas capazes de ampliar com

qualidade e rapidez esses serviços. O que acarretou numa verdadeira onda de privatização das

Companhias Públicas por todo o mundo.

E aqui a água se apresenta de fato como “ouro azul” disputado e pretendido por todos, pelos

que a veem como um bem apropriável, a título privado, de uma mercadoria vendável, versus os que

defendem que o acesso à água potável é um direito humano, por isso universal, indivisível e

imprescritível.

A água não pode ser entendida aqui como apenas mais um recurso natural transformado em

mercadoria outrora defendido pelas teses do neoliberalismo econômico. Ela deve ser sim aceita e

compreendida como um bem de direito universal a todos, tendo mais do que apenas um valor

econômico, mas um valor simbólico, espiritual, sanitário, cultural, alimentar e de saúde pública. A

água deve ser tratada como um “Patrimônio da Humanidade”, sem restrição de acesso a todos os

povos.

Texto 2

ENQUANTO RIO PRIVATIZA, POR QUE PARIS, BERLIM E OUTRAS 265 CIDADES

REESTATIZARAM SANEAMENTO?

BBC Brasil, 3 junho 2017

Enquanto iniciativas para privatizar sistemas de saneamento avançam no Brasil, um estudo

indica que esforços para fazer exatamente o inverso - devolver a gestão do tratamento e

fornecimento de água às mãos públicas - continua a ser uma tendência global crescente.

De acordo com um mapeamento feito por onze organizações majoritariamente europeias, da

virada do milênio para cá foram registrados 267 casos de "remunicipalização", ou reestatização, de

sistemas de água e esgoto. No ano 2000, de acordo com o estudo, só se conheciam três casos.

Satoko Kishimoto, uma das autoras da pesquisa publicada nesta sexta-feira, afirma que a

reversão vem sendo impulsionada por um leque de problemas reincidentes, entre eles serviços

inflacionados, ineficientes e com investimentos insuficientes. Ela é coordenadora para políticas

públicas alternativas no Instituto Transnacional (TNI), centro de pesquisas com sede na Holanda.

"Em geral, observamos que as cidades estão voltando atrás porque constatam que as

privatizações ou parcerias público-privadas (PPPs) acarretam tarifas muito altas, não cumprem

promessas feitas inicialmente e operam com falta de transparência, entre uma série de problemas

que vimos caso a caso", explica Satoko à BBC Brasil.

O estudo detalha experiências de cidades que recorreram a privatizações de seus sistemas de

água e saneamento nas últimas décadas, mas decidiram voltar atrás - uma longa lista que inclui

lugares como Berlim, Paris, Budapeste, Bamako (Mali), Buenos Aires, Maputo (Moçambique) e La

Paz.

A tendência, vista com força sobretudo na Europa, vai no caminho contrário ao movimento

que vem sendo feito no Brasil para promover a concessão de sistemas de esgoto para a iniciativa

privada. O BNDES vem incentivando a atuação do setor privado na área de saneamento, e, no fim

do ano passado, lançou um edital visando a privatização de empresas estatais, a concessão de

serviços ou a criação de parcerias público-privadas. À época, o banco anunciou que 18 Estados

haviam decidido aderir ao programa de concessão de companhias de água e esgoto - do Acre a Santa

Catarina. O Rio de Janeiro foi o primeiro se posicionar pela privatização. A venda da Companhia

Estadual de Água e Esgoto (Cedae) é uma das condições impostas pelo governo federal para o

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pacote de socorro à crise financeira do Estado.

Da água à coleta de lixo, 835 casos de reestatização

Satoko e sua equipe começaram a mapear as ocorrências em 2007, o que levou à criação de

um "mapa das remunicipalizações" em parceria com o Observatório Corporativo Europeu. O site

monitora casos de remunicipalização. A análise das informações coletadas ao longo dos anos deu

margem ao estudo. De acordo com a primeira edição, entre 2000 e 2015 foram identificados 235

casos de remunicipalização de sistemas de água, abrangendo 37 países e afetando mais de 100

milhões de pessoas.

Nos últimos dois anos, foram listados 32 casos a mais na área hídrica, mas o estudo foi

expandido para observar a tendência de reestatização em outras áreas - fornecimento de energia

elétrica, coleta de lixo, transporte, educação, saúde e serviços sociais, somando um total de sete

áreas diferentes.

Em todos esses setores, foram identificados 835 casos de remunicipalização entre o ano de

2000 e janeiro de 2017 - em cidades grandes e capitais, em áreas rurais ou grandes centros urbanos.

A grande maioria dos casos ocorreu de 2009 para cá (2017), 693 ao todo - indicando um incremento

na tendência. O resgate ou a criação de novos sistemas geridos por municípios na área de energia

liderou a lista, com 311 casos - 90% deles na Alemanha.

A retomada da gestão pública da água ficou em segundo lugar. Dos 267 casos, 106 foram

observados na França, país que foi pioneiro nas privatizações no setor. De acordo com o estudo,

cerca de 90% dos sistemas de água mundiais ainda são de gestão pública. As privatizações no setor

começaram a ser realizadas nos anos 1990 e seguem como uma forte tendência, em muitos casos

impulsionadas por cenários de austeridade e crises fiscais.

“ Se você for por esse caminho, precisa de uma análise técnica e financeira muito cuidadosa

e de um debate profundo antes de tomar a decisão. Porque o caminho de volta é muito mais difícil

e oneroso", alerta, ressaltando que, nos muitos casos que o modelo fracassou, é a população que

paga o preço. Como exemplo ela cita Apple Valley, cidade de 70 mil habitantes na Califórnia. Desde

2014, a prefeitura vem tentando se reapropriar do sistema de fornecimento e tratamento de água por

causa do aumento de preços praticado pela concessionária (Apple Valley Ranchos, a AVR), que

aumentou as tarifas em 65% entre 2002 e 2015. A maioria da população declarou apoio à

remunicipalização, mas a companhia de água rejeitou a oferta de compra pela prefeitura. Em 2015,

a cidade de Apple Valley entrou com uma ação de desapropriação. Satoko afirma que há inúmeros

casos de litígios similares, extremamente dispendiosos aos cofres públicos e que geralmente

refletem um desequilíbrio de recursos entre as esferas públicas e privadas.

"Quando as autoridades locais entram em conflito com uma companhia, vemos batalhas

judiciais sem fim. Em geral, as empresas podem mobilizar muito mais recursos, enquanto o poder

público tem recursos limitados, e muitas vezes depende de dinheiro proveniente de impostos para

enfrentar o processo."

Outro exemplo que destaca é o de Berlim, onde o governo privatizou 49,99% do sistema

hídrico em 1999. A medida foi extremamente impopular e, após anos de mobilização de moradores

- e um referendo em 2011 -, ela foi revertida por completo em 2013. Foi uma vitória popular, diz

Satoko, mas por outro lado o Estado precisou pagar 1,3 bilhão de euros para reaver o que antes já

lhe pertencia. "É um caso muito interessante, porque a iniciativa popular conseguiu motivar a

desprivatização", diz Satoko. "Mas isso gerou uma grande dívida para o Estado, que vai ser paga

pela população ao longo de 30 anos.

O caso do Rio, e da Cedae, é semelhante ao de outros países em que a privatização de serviços

públicos é exigido por instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial

como contrapartida para socorro financeiro. Satoko lembra o caso da Grécia, onde a privatização

das companhias de água que abastecem as duas maiores cidades do país, Atenas e Thessaloniki, era

uma das exigências do programa de resgate ao país.

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"É um approach absolutamente injusto, porque a companhia de águas é vendida meramente

para pagar uma dívida. Mas, com isso, o dinheiro entra no orçamento público e imediatamente

desaparece. Depois disso, a empresa já saiu das mãos públicas - ou indefinidamente, ou por períodos

de concessão muito longos, que costumam ser de entre 20 a 30 anos", pondera. No papel, a Cedae

é uma empresa de economia mista, mas o governo estadual do Rio detém 99,9% das ações. A

companhia atende cerca de 12 milhões de pessoas em 64 municípios.

Apesar das muitas deficiências que costumam ser apontados na qualidade e na abrangência

do serviço prestado, a Cedae tem ganhos expressivos: só em 2016 o lucro foi de R$ 379 milhões,

contra R$ 249 milhões em 2015 - um incremento de 52%. Satoko afirma que o argumento da

ineficiência de sistemas públicos de esgoto não podem ser uma justificativa para a privatização.

"Seus defensores apresentam a privatização como a única solução, mas há muitos bons exemplos

no mundo de uma gestão pública eficiente.

Afinal, 90% do fornecimento de água no mundo é público", lembra. "A solução não é

privatizar, e sim democratizar os serviços públicos."

O economista Vitor Wilher ressal ta, entretanto, que privatizar não significa uma saída de cena

do estado. Uma parte fundamental do processo é uma estrutura de regulação sólida, estabelecendo

obrigações, compromissos, prazos, políticas tarifárias. "Não se trata de entregar para a iniciativa

privada. Os contratos têm que estar muito bem amarrados, senão a empresa poderia praticar os

preços que quisesse e descumprir os serviços que lhe foram designados. Isso é um ponto

importantíssimo. Não basta só privatizar, é preciso regular."

O estudo da remunicipalização de serviços aponta para incompatibilidades entre o papel social

de uma companhia de água e saneamento com as necessidades de um grupo privado. Os serviços

providos são direitos humanos fundamentais, atrelados à saúde pública e que, pelas especificidades

do setor, precisam operar como monopólio. Satoko considera que grupos privados não têm incentivo

para fazer investimentos básicos que não teriam uma contrapartida do ponto de vista empresarial.

No caso do Rio, por exemplo, investimentos necessários para aumentar o saneamento em áreas

carentes não dariam retorno, considera.

" Na concessão para grupos privados, a lógica de operação da companhia muda

completamente. Os ativos não pertencem mais ao público. Ela passa a ter que gerar lucros e

dividendos que sejam distribuídos para acionistas", diz Satoko. "O risco é enorme. Sistemas de água

não pertencem ao governo, e sim ao povo. Se esse direito se perde, torna-se mais difícil implementar

políticas públicas." A discussão necessária, considera Satoko, é como tornar uma companhia de

saneamento mais eficiente e lucrativa para a sociedade. Quando a dívida pública se estabelece como

prioridade, não há mais espaço para esse debate.

Referências Bibliográficas

O Globo (2017): “Saneamento melhora, mas metade dos brasileiros segue sem esgoto no país”.

https://g1.globo.com/economia/noticia/saneamento-melhora-mas-metade-dos-brasileiros-segue-sem- esgoto-no-

pais.ghtml

Agencia Brasil, 2018: “Doenças ligadas ao saneamento geram custo de R$100 milhões ao SUS”.

http://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2018-09/doencas-ligadas-falta-de-saneamento-geram-custo- de-r-100-

mi-ao-sus

Valor, 2018: “Doenças por falta de saneamento custam R$100 milhões ao SUS”.

https://www.valor.com.br/brasil/5864423/doencas-por-falta-de-saneamento-custam-r-100-milhoes-ao-sus

Bordalo, 2012: “A crise mundial da água vista numa perspectiva da Geografia Política”. Carlos Alexandre Leao Bordalo.

GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 31 esp., pp. 66 - 78, 2012.

http://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/74270

BBC Brasil, 2017

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-40379053

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ATIVIDADES

1ª QUESTÃO: Defina bacia hidrográfica e explique porque esse recorte é o mais indicado para

análise de estudos ambientais.

2ª QUESTÃO: (ENEM, 2012) O uso da água aumenta de acordo com as necessidades da população

no mundo. Porém, diferentemente do que se possa imaginar, o aumento do consumo de água superou

em duas vezes o crescimento populacional durante o século XX. (TEIXEIRA, W. et al. Decifrando a Terra.

São Paulo: Cia. Editora Nacional, 2009)

Uma estratégia socioespacial que pode contribuir para alterar a lógica de uso da água apresentada

no texto é a:

A) ampliação de sistemas de reutilização hídrica.

B) expansão da irrigação por aspersão das lavouras.

C) intensificação do controle do desmatamento de florestas.

D) adoção de técnicas tradicionais de produção.

E) criação de incentivos fiscais para o cultivo de produtos orgânicos.

3ª QUESTÃO: (ENEM, 2009) Três países – Etiópia, Sudão e Egito – usam grande quantidade da

água que corre pelo Rio Nilo, na África. Para atender às necessidades de populações que crescem

com rapidez, a Etiópia e o Sudão planejam desviar mais água do Nilo do que já desviam. Diante de

dificuldades naturais que caracterizam o ciclo hidrológico nessa região, como baixa pluviosidade e

altas taxas de evaporação, esses desvios feitos rio acima poderiam reduzir a quantidade de recursos

hídricos disponíveis para o Egito, o último país ao longo da extensão do rio, que não pode sobreviver

sem esses recursos naturais. (MILLER Jr., G. T. Ciência Ambiental. São Paulo: Thomson, 2007 - adaptado)

Diante dessa ameaça, qual seria a melhor opção para o Egito?

A) Entrar em guerra contra a Etiópia e o Sudão, para garantir seus direitos ao uso da água.

B) Estabelecer acordos com a Etiópia e o Sudão visando ao uso compartilhado dos recursos hídricos.

C) Aumentar sua produção de grãos e exportá-los, elevando sua capacidade econômica de importar

água de outros países.

D) Construir aquedutos para trazer água de países que tenham maior disponibilidade desse recurso

natural, como o Irã e o Iraque.

E) Estimular o crescimento de sua população e, desse modo, aumentar sua força de trabalho e

capacidade de produção em condições adversas.

4ª QUESTÃO: (ENEM, 2012) De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura

e Alimentação (FAO), daqui a aproximadamente 20 anos, 2/3 da população do mundo podem

enfrentar falta d’água. Ainda de acordo com a FAO, o consumo mundial de água cresceu no século

XX duas vezes mais do que a população. Com isso, para cada 6 pessoas no planeta, 1 não tem acesso

à água limpa suficiente para suprir suas necessidades básicas diárias e 3 não têm saneamento básico

adequado. (MARAFON, G. J. O desencanto da terra. Rio de Janeiro: Garamond, 2011 - adaptado)

Uma causa para a mudança verificada no consumo de água no século XX e uma medida que possa

contribuir para evitar o problema descrito estão indicadas, respectivamente, em:

A) Elevação da temperatura média – estímulo ao consumo consciente.

B) Descontrole da taxa de natalidade – privatização das nascentes fluviais.

C) Aumento da concentração de renda – irrigação racional das empresas rurais.

D) Intensificação da produtividade industrial – sustentabilidade da exploração marítima.

E) Avanço da produção agrícola – reutilização dos recursos pluviais.

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5ª QUESTÃO: (ENEM, 2018) Os antigos filósofos, observando o grande volume de água de rios

como o Nilo, Reno e outros, imaginavam que as chuvas eram insuficientes para alimentar tão

consideráveis massas de água. Foi no século XVIII que Pierre Pernault mediu a quantidade de chuva

durante três anos na cabeceira do rio Sena. Também mediu o volume de água do referido rio e

chegou à conclusão de que apenas a sexta parte se escoava e o restante era evaporado. (LEINZ, V.

Geologia geral. São Paulo: Editora Nacional, 1989 - adaptado)

A investigação feita por Pierre Pernault contribuiu diretamente para a explicação científica sobre:

A) intemperismo químico.

B) rede de drenagem.

C) degelo de altitude.

D) erosão pluvial.

E) ciclo hidrológico.

6ª QUESTÃO: (ENEM, 2009) Nos Estados Unidos da América, a Denver Water (Água de Denver)

propôs uma campanha publicitária permanente muito criativa, como mostra a foto abaixo. Em um

banco de praça, lê-se: use only what you need, ou seja, use apenas aquilo de que você precisa.

A questão que se relaciona diretamente com essa campanha publicitária é a:

A) da atividade industrial, que se ressente dos poucos recursos hidráulicos disponíveis nos países

desenvolvidos.

B) da qualidade da água em Denver.

C) do desperdício de recursos hídricos devido ao mau aproveitamento, ao uso irresponsável da água

doce.

D) da economia decorrente do desperdício, que torna a água um produto extremamente caro.

E) de doenças e epidemias ocasionadas pela falta de água.

7ª QUESTÃO: (ENEM, 2017) O ganhador do Prêmio Nobel, Philip Fearnside, já alertava em

estudos de 2004 que, como consequência do desmatamento em grande escala, menos água da

Amazônia seria transportada pelos ventos para o Sudeste durante a temporada de chuvas, o que

reduziria a água das chuvas de verão nos reservatórios de São Paulo. (SERVA, L. Para ganhador do

Prêmio Nobel, cheias no Norte e seca no Sudeste estão conectadas)

O fator apresentado no texto para o agravamento da seca no Sudeste está identificado no(a):

A) redirecionamento dos ventos alísios.

B) redução do volume dos rios voadores.

C) deslocamento das massas de ar polares.

D) retenção da umidade na Cordilheira dos Andes.

E) alteração no gradiente de pressão entre as áreas.

Questões de vestibulares diversos sobre rios voadores:

https://suburbanodigital.blogspot.com/2019/01/exercicios-sobre-os-rios-voadores-com-

gabarito.html

Quem tiver dúvida e/ou quiser corrigir os exercícios realizados, pode

encaminhar email para [email protected] que será respondido

prontamente. Lembre-se de identificar sua turma ao fazer qualquer contato.