colégio pedro ii departamento de sociologia nupes núcleo

12
Colégio Pedro II Departamento de Sociologia NUPES – Núcleo de Pesquisa em Ensino de Sociologia I Seminário de Ciências Sociais e Educação Básica: O Sentido das Ciências Sociais na Educação Básica 06 e 07 de novembro de 2015 0 Comissão Organizadora: Afrânio Silva, Fátima Ivone, José Amaral e Rogério Mendes Para além da aula expositiva: reflexão sobre práticas pedagógicas e o ensino da Sociologia no Ensino Médio Regular e seus desafios Cynthia Teixeira de Souza. SEEDUC-RJ E-mail: [email protected] Resumo Esta comunicação faz parte das reflexões para o produto final do Programa de Residência Docente desta instituição e busca refletir sobre o uso de práticas pedagógicas distintas das aulas expositivas no ensino de Sociologia e seus desafios, tais como propor e desenvolver práticas diferenciadas em apenas um tempo de aula (1º e 2º anos), a existência de apenas dois equipamentos data-show para toda a escola, entre outros. A partir da problematização da nossa prática pedagógica iniciamos uma reflexão sobre abordagens que possam estimular e favorecer o aprendizado de Sociologia em turmas do Ensino Médio Regular contribuindo para a compreensão dos temas, questões e conceitos sociológicos entre os discentes e favorecendo assim a apreensão das competências e habilidades esperadas para as respectivas séries.

Upload: others

Post on 15-Oct-2021

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Colégio Pedro II Departamento de Sociologia NUPES Núcleo

Colégio Pedro II

Departamento de Sociologia

NUPES – Núcleo de Pesquisa em Ensino de Sociologia

I Seminário de Ciências Sociais e Educação Básica: O Sentido das Ciências

Sociais na Educação Básica

06 e 07 de novembro de 2015

0

Comissão Organizadora: Afrânio Silva, Fátima Ivone, José Amaral e Rogério Mendes

Para além da aula expositiva: reflexão sobre práticas pedagógicas e o ensino da Sociologia no Ensino Médio Regular e seus desafios

Cynthia Teixeira de Souza. SEEDUC-RJ

E-mail: [email protected]

Resumo

Esta comunicação faz parte das reflexões para o produto final do

Programa de Residência Docente desta instituição e busca refletir sobre o uso de

práticas pedagógicas distintas das aulas expositivas no ensino de Sociologia e

seus desafios, tais como propor e desenvolver práticas diferenciadas em apenas

um tempo de aula (1º e 2º anos), a existência de apenas dois equipamentos

data-show para toda a escola, entre outros.

A partir da problematização da nossa prática pedagógica iniciamos uma

reflexão sobre abordagens que possam estimular e favorecer o aprendizado de

Sociologia em turmas do Ensino Médio Regular contribuindo para a

compreensão dos temas, questões e conceitos sociológicos entre os discentes e

favorecendo assim a apreensão das competências e habilidades esperadas para

as respectivas séries.

Page 2: Colégio Pedro II Departamento de Sociologia NUPES Núcleo

Colégio Pedro II

Departamento de Sociologia

NUPES – Núcleo de Pesquisa em Ensino de Sociologia

I Seminário de Ciências Sociais e Educação Básica: O Sentido das Ciências

Sociais na Educação Básica

06 e 07 de novembro de 2015

1

Comissão Organizadora: Afrânio Silva, Fátima Ivone, José Amaral e Rogério Mendes

Introdução

A Sociologia é uma disciplina com perfil intermitente, ora faz parte da

matriz curricular, ora é suprimida. Após um período de ausência (FLORÊNCIO,

2007) a Lei 11.684 de 2008 inclui a Sociologia como disciplina obrigatória nos

currículos do ensino médio no Brasil1.

Na rede pública estadual do Rio de Janeiro, a Sociologia passou a ser

oferecida com um tempo de aula2 semanal para o primeiro ano e dois para o

segundo e terceiro anos, mas após alguns anos a Secretaria de Estado de

Educação (SEEDUC/RJ) altera a presença da Sociologia na matriz curricular do

Ensino Médio Regular.

A resolução SEEDUC/RJ nº 4.746 de 30 de novembro de 2011, que fixa

diretrizes para implantação das matrizes curriculares para educação básica nas

unidades escolares da rede pública, publica a matriz curricular do Ensino Médio

Regular para o ano letivo de 2012 com a Sociologia distribuída em um tempo de

aula semanal para o primeiro e segundo anos e dois tempos para o terceiro ano.

Profissionais de educação (da educação básica e superior), sindicatos e

outros segmentos da sociedade criticaram essa alteração, mas a mesma

persiste até hoje3.

O exercício de algumas práticas pedagógicas apresentado neste

trabalho é produto incipiente das nossas reflexões em construção sobre o fazer

do ensino de Sociologia no Ensino Médio Regular da rede pública estadual do

Rio de Janeiro. Pretendemos refletir sobre o uso de propostas pedagógicas que

extrapolem as aulas expositivas, nas quais o conteúdo é oralmente exposto pelo

1 No estado do Rio de janeiro ela já havia sido introduzida como obrigatória – tanto na rede

pública como na rede privada no estado do Rio de Janeiro – em 1989 (OLIVEIRA & JARDIM, 2009).

2 Um tempo de aula na rede pública estadual do Rio de Janeiro possui 50 minutos.

3 A ampliação da carga horária de Sociologia (e de outras disciplinas que também só possuem

um tempo de aula) vem sendo pleiteada pela categoria desde então, mas até o presente momento o que se conseguiu foi a promessa da SEEDUC/ RJ de formar grupo de trabalho para analisar a proposta. Note-se, no entanto, que no Curso de Formação de Professores (outrora denominado “Curso normal” e popularmente conhecido assim), a realidade é de dois tempos de aula garantidos nos três anos de duração do curso.

Page 3: Colégio Pedro II Departamento de Sociologia NUPES Núcleo

Colégio Pedro II

Departamento de Sociologia

NUPES – Núcleo de Pesquisa em Ensino de Sociologia

I Seminário de Ciências Sociais e Educação Básica: O Sentido das Ciências

Sociais na Educação Básica

06 e 07 de novembro de 2015

2

Comissão Organizadora: Afrânio Silva, Fátima Ivone, José Amaral e Rogério Mendes

professor com o apoio de livro didático, pequenos textos, esquemas, ou ainda,

sínteses no quadro branco.

Para melhor aproveitamento pedagógico a utilização de outras práticas

apoiadas em metodologias e recursos diversificados podem se constituir em

ações que facilitem a transmissão dos conteúdos e o desenvolvimento das

competências e habilidades previstas no Currículo Mínimo4 de Sociologia. É

importante salientar que não nos colocamos contra o uso da aula expositiva,

assim como não somos acríticos ao discurso da necessidade de aulas ditas mais

atraentes para o alunado.

A gestão escolar frequentemente reforça o discurso de que as aulas

devem ser mais atraentes, que os alunos nasceram num mundo tecnológico, que

sua linguagem é diferente e que o professor deve estar atento ao dinamismo do

mundo atual. Portanto, as aulas devem ser adequadas a esse contexto. No

entanto, esse discurso não considera a precarização da estrutura da educação

básica, sabidamente, a falta de recursos materiais (folha de papel, recarga de

tinta, fotocópia, equipamentos, internet, por exemplo) e humanos (inspetores,

coordenadores pedagógicos, agentes de leitura, mediadores de tecnologia, por

exemplo) e supervaloriza a familiaridade dos alunos com os recursos

tecnológicos e seu domínio sobre os mesmos.

A opção pela aula expositiva em nossa trajetória profissional muitas

vezes foi tomada a partir da limitação dos recursos disponíveis. Se há

possibilidade de usar data-show, por exemplo, é necessário haver deslocamento

dos alunos pela escola porque há dois equipamentos para toda a escola, sendo

que um fica na sala de vídeo e o outro na sala audiovisual da biblioteca.

Considerando que para o primeiro e segundo anos temos cinquenta minutos

para deslocar a turma, acomodar os alunos, fazer chamada (ou passar lista de

4 O Currículo Mínimo é um documento de referência para todas as escolas da rede pública

estadual. Apresenta as competências, habilidades e conteúdos básicos que devem estar nos planos de curso e nas aulas. De acordo com a SEEDUC-RJ sua finalidade é orientar, de forma clara e objetiva, os itens que não podem faltar no processo de ensino aprendizagem, em cada disciplina, ano de escolaridade e bimestre.

Page 4: Colégio Pedro II Departamento de Sociologia NUPES Núcleo

Colégio Pedro II

Departamento de Sociologia

NUPES – Núcleo de Pesquisa em Ensino de Sociologia

I Seminário de Ciências Sociais e Educação Básica: O Sentido das Ciências

Sociais na Educação Básica

06 e 07 de novembro de 2015

3

Comissão Organizadora: Afrânio Silva, Fátima Ivone, José Amaral e Rogério Mendes

presença), explicar algum ponto, solicitar atenção, passar o vídeo e fazer um

fechamento para não deixar as coisas “no ar” para a próxima aula a quantidade

insuficiente de equipamentos e a necessidade de deslocamento são elementos

que podem desestimular uma prática pedagógica diferenciada.

Metodologia

Como sinalizado por Lopes (2015) é pela vivência da prática pedagógica

que o professor é desafiado a utilizar a criatividade em busca de novas formas

de ensinar e que é necessário pensar em uma prática cada vez mais significativa

e contextualizada levando em consideração a formação intelectual do aluno,

mas, também, a sua formação enquanto ser social inserido em uma sociedade

que se transforma ao longo do tempo.

A reflexão aqui apresentada se baseia na metodologia conhecida como

pesquisa-ação (THIOLLENT, 1996). Tomamos a pesquisa-ação como condutora

do exercício de reflexão por nos oferecer meios de responder com mais

eficiência aos problemas que enfrentamos na prática docente e por auxiliar na

busca de diretrizes de ação transformadora. De acordo com Thiollent,

Trata-se de facilitar a busca de soluções aos problemas reais para os quais os procedimentos convencionais têm pouco contribuído. Devido à urgência de tais problemas (educação, informação, práticas políticas, etc.), os procedimentos a serem escolhidos devem obedecer a prioridades estabelecidas a partir de um diagnóstico da situação na qual os participantes tenham voz e vez. (1996, pág. 2)

A perspectiva de dar voz aos participantes foi determinante para a

escolha por esta linha metodológica, pois ainda não é recorrente que

profissionais que atuam na escola básica sejam vistos (e se percebam) como

pesquisadores. É importante que a prática desenvolvida pelos professores

também seja por eles reconhecida como objeto de investigação e que se

apropriem da escola como um locus de pesquisa para si.

Profissionais da educação básica escrevendo sobre sua realidade é

também importante para a ampliação da visão sobre a escola que não seja

Page 5: Colégio Pedro II Departamento de Sociologia NUPES Núcleo

Colégio Pedro II

Departamento de Sociologia

NUPES – Núcleo de Pesquisa em Ensino de Sociologia

I Seminário de Ciências Sociais e Educação Básica: O Sentido das Ciências

Sociais na Educação Básica

06 e 07 de novembro de 2015

4

Comissão Organizadora: Afrânio Silva, Fátima Ivone, José Amaral e Rogério Mendes

limitada à descrição e à avaliação, mas que aborde e reflita sobre as

microssituações escolares que escapa a quem não as vive “por dentro”.

A partir da sistematização e reflexão sobre suas práticas, os

profissionais-pesquisadores também constroem uma apropriação diferenciada

sobre seu trabalho e têm melhores condições para transformar a sua ação,

podendo, inclusive, influenciar transformações mais abrangentes como o

realinhamento dos objetivos de ação pedagógica na escola.

O trabalho aqui desenvolvido aborda algumas situações concretas de

intervenção numa tentativa de trabalhar em prol da resolução de alguns

problemas na prática pedagógica que identificamos ao longo do nosso exercício

de docência de Sociologia para o Ensino Médio Regular.

Locus do trabalho

As atividades aqui relatadas foram desenvolvidas numa escola de

Ensino Médio localizada num bairro da Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro.

A escola possui dezessete salas de aula e funciona nos três turnos. É uma

escola de fácil acesso e encontra-se no centro do comércio do bairro.

O fazer do ensino de Sociologia

O questionamento sobre prática pedagógica é algo que acompanha o

exercício da docência, mas cremos ser possível destacar o início de cada ano

letivo como um momento especial. A reflexão cotidiana sobre a prática docente e

o balanço sobre como foi o ano letivo anterior nos trouxeram inquietações

formuladas a partir da nossa insatisfação pessoal com o fazer do ensino da

Sociologia no contexto do Ensino Médio Regular, especialmente no primeiro e

segundo ano onde, como já mencionado anteriormente, só existe um tempo de

aula.

Page 6: Colégio Pedro II Departamento de Sociologia NUPES Núcleo

Colégio Pedro II

Departamento de Sociologia

NUPES – Núcleo de Pesquisa em Ensino de Sociologia

I Seminário de Ciências Sociais e Educação Básica: O Sentido das Ciências

Sociais na Educação Básica

06 e 07 de novembro de 2015

5

Comissão Organizadora: Afrânio Silva, Fátima Ivone, José Amaral e Rogério Mendes

A Lei de Diretrizes e Bases (Lei 9394/96) coloca que o currículo do

Ensino Médio “adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a

iniciativa dos estudantes” (LDB, art. 36, 1996, grifo nosso), pois entre as suas

finalidades está “o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo

a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do

pensamento crítico” (Ibidem, art. 35, grifo nosso). Assim, no início do ano letivo

de 2015 pensamos em tentar fazer mais uso de práticas pedagógicas

diferenciadas das aulas expositivas que, embora não exclusivas, são bastantes

presentes em nossa prática.

Temos a satisfação de perceber que os temas de Sociologia abordados

em sala de aula, de forma geral, atraem a curiosidade dos alunos, pois os leva a

desnaturalizar a vida em sociedade e isto chama a atenção de boa parte deles.

Durante as aulas, o alunado coloca suas experiências, ou de seus familiares ou,

ainda, de seus amigos sobre o assunto que está sendo trabalhado. Podemos

dizer que essa aproximação se dá de forma frequente, e dela partimos para

buscar – dentro dos limites existentes na rede pública estadual e na unidade

escolar em que atuamos – outras práticas pedagógicas que estimulem e

favoreçam ainda mais a compreensão dos conceitos de Sociologia visando

incrementar a autonomia intelectual e o pensamento crítico dos alunos conforme

preconizado na LDB.

A experiência com “práticas pedagógicas diferenciadas”

Chamamos aqui de “práticas pedagógicas diferenciadas” aulas que

escapem ao formato expositivo, no qual o conteúdo é oralmente exposto pelo

professor com o apoio de livro didático, pequenos textos, esquemas, ou ainda,

sínteses no quadro branco. É importante colocar que não desconsideramos esse

formato como prática, mas apenas estamos refletindo e buscando outras

possibilidades que possam ser somadas a essa.

Page 7: Colégio Pedro II Departamento de Sociologia NUPES Núcleo

Colégio Pedro II

Departamento de Sociologia

NUPES – Núcleo de Pesquisa em Ensino de Sociologia

I Seminário de Ciências Sociais e Educação Básica: O Sentido das Ciências

Sociais na Educação Básica

06 e 07 de novembro de 2015

6

Comissão Organizadora: Afrânio Silva, Fátima Ivone, José Amaral e Rogério Mendes

Um ponto que ficou evidente ao refletirmos sobre maior uso de práticas

pedagógicas diferenciadas foi a necessidade de que os alunos também

comprassem a ideia e se dispusessem a abraçar a proposta. Não só a

professora estaria saindo de sua zona de conforto, mas também os alunos e eles

deveriam estar dispostos a isso. Assim, em algumas ocasiões como forma de

envolver o alunado desde o início da prática pedagógica diferenciada, pensamos

coletivamente como poderíamos trabalhar determinados conteúdos.

A ideia de maior uso de práticas pedagógicas diferenciadas foi

compartilhada com os alunos das onze turmas (sete de primeiro ano, três de

segundo ano e uma de terceiro ano) com as quais trabalhamos. Expomos a

vontade de fazer aulas com práticas pedagógicas diferenciadas com o objetivo

de estimular a iniciativa dos alunos, valorizar sua autonomia intelectual e seu

pensamento crítico. Uma das gratas “surpresas” até o momento foi a adesão da

maior parte dos alunos à proposta de “escapar”, sempre que possível, da rotina

de aula expositiva e pensarmos, preferencialmente coletivamente, como

trabalhar os temas do Currículo Mínimo de Sociologia.

Para este trabalho iremos nos concentrar no relato de três práticas

pedagógicas desenvolvidas com os alunos de todas as onze turmas ao longo

dos três primeiros bimestres do ano letivo de 2015.

A primeira atividade envolvendo a perspectiva de prática pedagógica

diferenciada, chamada de “Simulação”, foi realizada em três turmas de segundo

ano no primeiro bimestre.

Durante a exposição teórica do que é democracia e seus tipos, os

alunos se mostraram muito interessados na democracia direta e comentaram

que seria bom poder vivenciar aquele modelo de democracia. Esse comentário

foi o gancho para propormos aos alunos uma atividade diferente do modelo de

aula expositiva. A orientação para a atividade foi que cada turma, ao longo de 15

dias, levantaria duas ou três questões e/ou problemas que identificassem na

escola e que gostariam de discutir numa simulação em que a polis seria a escola

e eles os cidadãos responsáveis pelas deliberações e encaminhamentos, ou

Page 8: Colégio Pedro II Departamento de Sociologia NUPES Núcleo

Colégio Pedro II

Departamento de Sociologia

NUPES – Núcleo de Pesquisa em Ensino de Sociologia

I Seminário de Ciências Sociais e Educação Básica: O Sentido das Ciências

Sociais na Educação Básica

06 e 07 de novembro de 2015

7

Comissão Organizadora: Afrânio Silva, Fátima Ivone, José Amaral e Rogério Mendes

ainda, soluções das questões e/ou problemas levantados.

A atividade foi realizada na sala de vídeo da escola por ser um espaço

maior do que a sala de aula e permitir que a turma compusesse uma grande

roda visando facilitar a comunicação visual e estimular a participação de todos

os alunos na atividade.

Algumas considerações sobre a atividade:

Durante o tempo entre a proposição da atividade e a sua realização os

alunos nos abordavam para trocarem ideias e externavam ansiedade para

chegar logo o dia do desenvolvimento da atividade.

Não houve atraso (as turmas tinham que se locomover pela escola já que

a “Simulação” seria realizada na sala de vídeo).

Presença e participação maciça dos alunos.

A segunda atividade, chamada de “Alteridade, identidade e aparência”5,

foi desenvolvida com sete turmas de primeiro ano no terceiro bimestre. Ela

ocorreu na sala de aula após duas aulas teóricas (uma expositiva e outra

apoiada num vídeo6) e teve como foco estabelecer a relação entre a construção

da identidade individual e o pertencimento aos diferentes grupos e instituições

sociais.

Os alunos sentaram-se em dupla e um desenhou o outro buscando

expressar no desenho algo que percebesse da identidade do colega. Os

desenhos foram recolhidos e na aula seguinte cada aluno recebeu o desenho

que o colega fez dele para observar como foram representados e escrever, no

verso do desenho, se o desenho expressava ou não a sua identidade e justificar

sua impressão sobre a representação que o colega fez dele.

Algumas considerações sobre a atividade:

Passado o receio de “não saber desenhar” os alunos se envolveram com

a atividade (apenas dois alunos se recusaram a fazê-la e quando

5 A participação na oficina “Arte: Percepções estéticas em um contexto social” ofertada no PRD

pelas professoras Fátima Ivone de Oliveira Ferreira e Vera Rodrigues inspirou a atividade. 6 Comercial para países de língua inglesa de um fabricante de refrigerante que aborda

julgamentos feitos com base na aparência.

Page 9: Colégio Pedro II Departamento de Sociologia NUPES Núcleo

Colégio Pedro II

Departamento de Sociologia

NUPES – Núcleo de Pesquisa em Ensino de Sociologia

I Seminário de Ciências Sociais e Educação Básica: O Sentido das Ciências

Sociais na Educação Básica

06 e 07 de novembro de 2015

8

Comissão Organizadora: Afrânio Silva, Fátima Ivone, José Amaral e Rogério Mendes

perguntados sobre o motivo um respondeu que não ficaria na escola no

próximo ano e já se considerava reprovado e outro afirmou que a mesma

não era interessante. Para estes alunos foi oferecida uma atividade com

colagem, mas os mesmos também não a fizeram).

Durante a realização da atividade os alunos interagiram intensamente e

cooperaram auxiliando os que estavam com dificuldade.

Em algumas turmas houve um intervalo de duas semanas por causa de

um feriado entre fazer o desenho e recebê-lo e isto gerou ansiedade entre

os alunos que estavam curiosos porque seus colegas de outras turmas já

tinham feito a segunda etapa da atividade e eles não.

A atividade sobre aparência e identidade acabou também trabalhando de

forma lúdica a questão do bullying.

A terceira e última atividade envolvendo a perspectiva de prática

pedagógica diferenciada foi nomeada de “Direitos Humanos manda o seu

recado” e realizada com uma turma de terceiro ano no terceiro bimestre. No

início do referido bimestre foi proposto à turma a realização de uma atividade

que envolvesse direitos humanos e que informasse os demais alunos da escola

sobre o tema. Algumas possibilidades de atividades como jornal, vídeo,

esquetes e varal de direitos foram apresentadas pela professora e os alunos por

já serem familiarizados com a produção audiovisual decidiram fazer um vídeo

utilizando como recurso seus smartfones.

A turma teve um mês para a realização do vídeo e mobilizou a escola que

abraçou a ideia dos alunos permitindo gravação dentro da escola,

disponibilizando salas e ambientes para os alunos fazerem os cenários

necessários para contar a história que criaram e, ainda, corpo docente,

funcionários e alunos também deram entrevistas para o vídeo. Os alunos

desenvolveram roteiro, cenário, gravação e edição sozinhos.

Algumas considerações sobre a atividade:

A escolha da turma em produzir um vídeo foi baseada na expertise da

mesma e sem dúvida foi um facilitador.

Page 10: Colégio Pedro II Departamento de Sociologia NUPES Núcleo

Colégio Pedro II

Departamento de Sociologia

NUPES – Núcleo de Pesquisa em Ensino de Sociologia

I Seminário de Ciências Sociais e Educação Básica: O Sentido das Ciências

Sociais na Educação Básica

06 e 07 de novembro de 2015

9

Comissão Organizadora: Afrânio Silva, Fátima Ivone, José Amaral e Rogério Mendes

O conteúdo teórico sobre o tema foi muito bem explorado pela turma.

Os alunos fizeram o vídeo com duas partes: a primeira explicando o que

são os direitos humanos e a segunda com uma situação envolvendo o

tema.

Conclusão

O incômodo didático acumulado ao longo dos anos de magistério

motivou o exercício de (re)pensar a própria prática pedagógica para o ano letivo

de 2015, e de pronto alguns desafios se colocaram e precisaram ser

transpostos: a saída da zona de conforto e a busca por parceria com os alunos

porque sem ela nada seria possível.

Entendemos que foi bastante produtiva a realização das três práticas

pedagógicas aqui relatadas. Academicamente percebemos que os temas

propostos foram bem trabalhados pelos alunos que se dispuseram também a

saírem de suas zonas de conforto para aprenderem de uma forma diferente.

Para desenvolver os temas bimestrais lançamos mão de recursos como

vídeos e músicas, mas das três práticas relatadas aqui somente uma envolveu

uso de recurso audiovisual (produção de vídeo com smartfone).

É importante salientar que, embora as atividades propostas não

tivessem o objetivo de resolver problemas do ambiente escolar alguns foram

resolvidos como o acesso à biblioteca, e outros remediados, como a melhoria

das condições de algumas salas de aula.

A prática de bullying no ambiente escolar muitas vezes é naturalizada e

a atividade com o primeiro ano foi muito proveitosa para a reflexão de atitudes

que não devem e não podem ser naturalizadas. Os alunos discutiram bastante

sobre estereótipos, identidade, classificação das pessoas conforme a estética

e/ou estilo. Percebemos que alunos que antes não se aproximavam passaram a

se aproximar e, ainda, que desde a atividade os alunos vêm se mostrando mais

cooperativos entre si.

Page 11: Colégio Pedro II Departamento de Sociologia NUPES Núcleo

Colégio Pedro II

Departamento de Sociologia

NUPES – Núcleo de Pesquisa em Ensino de Sociologia

I Seminário de Ciências Sociais e Educação Básica: O Sentido das Ciências

Sociais na Educação Básica

06 e 07 de novembro de 2015

10

Comissão Organizadora: Afrânio Silva, Fátima Ivone, José Amaral e Rogério Mendes

Um desafio importante foi o tempo para a realização das atividades,

especialmente no primeiro e segundo anos por haver apenas um tempo de aula

de cinquenta minutos. Nesses anos a média é de oito a dez aulas ao longo do

bimestre, sendo que praticamente três aulas são usadas na semana de prova da

escola e para recuperação bimestral. Assim, de fato, pode-se considerar que o

bimestre tem de cinco a sete aulas (e estas ainda devem contemplar duas

avaliações) se não houver feriado ou ponto facultativo. Diante do exposto foi

especialmente importante que os alunos estivessem interessados e motivados

para que aulas que escapavam ao modelo expositivo pudessem acontecer. A

experiência foi de ampla participação e cooperação dos alunos para que o

tempo fosse minimamente suficiente, pois assumimos ser impossível, com

qualquer quantidade de aula, esgotar qualquer tema.

Para a realização do que apresentamos aqui foi vital o envolvimento dos

alunos abraçando as propostas de práticas pedagógicas diferenciadas, assim

como o apoio da escola, especialmente dos profissionais da coordenação e da

biblioteca, porque a proposição de dinâmicas diferenciadas de uma forma ou

outra alteraram o cotidiano escolar e da sala de aula e, sem o engajamento dos

alunos e o suporte dos profissionais da escola não seria possível transpor alguns

desafios.

Concluímos que cada prática pedagógica trouxe mais autonomia e

protagonismo para os alunos e estimulou tanto o senso crítico como a

responsabilidade para com a construção do conhecimento.

Bibliografia

BRASIL, Lei de diretrizes e bases da educação nacional: lei 9394. Brasília, DF, 1996. BUKOWITZ, T. Sociologia como (in)disciplina escolar no Brasil Sistematização de processos de investigação –ação e\ou de intervenção social GT 01: Ciencia, tecnología e innovación. 2013.

Page 12: Colégio Pedro II Departamento de Sociologia NUPES Núcleo

Colégio Pedro II

Departamento de Sociologia

NUPES – Núcleo de Pesquisa em Ensino de Sociologia

I Seminário de Ciências Sociais e Educação Básica: O Sentido das Ciências

Sociais na Educação Básica

06 e 07 de novembro de 2015

11

Comissão Organizadora: Afrânio Silva, Fátima Ivone, José Amaral e Rogério Mendes

http://actacientifica.servicioit.cl/biblioteca/gt/GT6/GT6_BukowitzT.pdf. Data de acesso: 01 de outubro de 2015. FLORÊNCIO, M. A. L. A SOCIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO: O percurso histórico no Brasil e em Alagoas. Anais do XIII Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado em Recife-PE, de 29 de maio a 01 de junho de 2007. file:///C:/Users/Cynthia/Downloads/sbs2009_sf_Florencio,_M_A_de_L%20(1).pdf. Data de acesso: 28 de agosto de 2015. LOPES, P. J. M. PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: revelando aspectos da formação inicial e do saber ensinar. GT-02 - VI Encontro De Pesquisa Em Educação Da UFPI – 2010. http://www.ufpi.br/subsiteFiles/ppged/arquivos/files/VI.encontro.2010/GT_02_20_2010.pdf. Data de acesso: 10 de outubro de 2015. OLIVEIRA, O. F. e JARDIM, A. P. O RETORNO DA SOCIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO NO RIO DE JANEIRO: uma luta que merece ser pautada. Perspectiva Sociológica, Colégio Pedro II Departamento de Sociologia, Ano 1, nº2, nov./2008, abr./ 2009. http://www.cp2.g12.br/UAs/se/departamentos/sociologia/pespectiva_sociologica/Numero2/Artigos/Retorno%20da%20Sociologia%20%20-%20Otair%20e%20Jardim.pdf. Data de acesso: 28 de agosto de 2015.

THIOLLENT, M. Metodologia da Pesquisa-ação. 7º edição. Editora São Paulo: Cortez; 1996.