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COLETÂNEA BITEC 2008-2010

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COLETÂNEA BITEC 2008-2010

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CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA - CNI

Robson Braga de AndradePresidente

SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL – SENAI

Conselho Nacional

Robson Braga de AndradePresidente

SENAI – Departamento Nacional

José Manuel de Aguiar MartinsDiretor Geral

Regina Maria de Fátima TorresDiretora de Operações

INSTITUTO EUVALDO LODI – IEL

Conselho do IEL Nacional

Robson Braga de AndradePresidente

IEL – Núcleo Central

Paulo Afonso FerreiraDiretor Geral

Carlos Roberto Rocha CavalcanteSuperintendente

SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS – SEBRAE

Paulo Tarciso OkamottoDiretor Presidente

Carlos Alberto do SantosDiretor Técnico

José Cláudio dos SantosDiretor de Administração e Finanças

CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO – CNPq

Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho Presidente

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9ª EDIÇÃO

Brasília 2010

COLETÂNEA BITEC 2008-2010

Confederação Nacional da IndústriaServiço Nacional de Aprendizagem Industrial

Instituto Euvaldo Lodi

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FICHA CATALOGRÁFICA

C694

Coletânea BITEC 2008 - 2010 . 9. Ed. – Brasília : IEL/NC, 2010.

368 p. : il.

ISBN 978-85-87257-63-5

1. Programa de Iniciação Científica e Tecnológica para Micro e Pequenas Empresas

(BITEC) I. Mota, Alan Stephan da Mota Figueira

CDU 65.017.3

IEL - NC

Instituto Euvaldo Lodi

Núcleo Central

Sede

Setor Bancário Norte

Quadra 1 – Bloco B

Edifício CNC

70041-902 – Brasília – DF

Tel.(61) 3317-9080

Fax.: (61) 3317-9360

www.iel.org.br

SENAI - DN

Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

Departamento Nacional

Sede

Setor Bancário Norte

Quadra 1 – Bloco C

Edifício Roberto Simonsen

70040-903 – Brasília – DF

Tel.: (61) 3317-9001

Fax.: (61) 3317-9190

www.senai.br

© 2010. Institulo Euvaldo Lodi – IEL/Núcleo Central, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas – SEBRAE e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq

Qualquer parte desta obra poderá ser reproduzida, desde que citada a fonte.

IEL/NC

Unidade de Gestão Executiva – UGE

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APRESENTAÇÃO IEL

APRESENTAÇÃO SENAI

PREFÁCIO SEBRAE

PREFÁCIO CNPq

1 IEL/AC RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL DA EMPRESA BEBIDAS CRUZEIRO DO SUL LTDA. 15

2 IEL/AL ANÁLISE TECNOLÓGICA DE ARGAMASSAS COM RESÍDUOS “CLASSE A” PROVENIENTES DA

CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS 27

3 IEL/AM GESTÃO DA PRODUÇÃO: MELHORIA DO PROCESSO PRODUTIVO 45

4 IEL/BA GERENCIAMENTO AUTOMATIZADO: UTILIZAÇÃO DA FERRAMENTA TPM 55

5 IEL/CE MÉTODOS ALTERNATIVOS DE REDUÇÃO DE CUSTOS NA PRODUÇÃO DE MUDAS MICROPROPAGADAS

DE BANANEIRA 71

6 IEL/DF CASA SUSTENTÁVEL PROJETO MORAR BEM SUSTENTÁVEL 87

7 IEL/ES TRATAMENTO DE RESÍDUOS GERADOS PELA FABRICAÇÃO DE GESSO 101

8 IEL/GO IMPLANTAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA DE BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO NO SETOR

DE PANIFICAÇÃO DO SUPERMERCADO 117

9 IEL/MG INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E COM TRANSTORNO GLOBAL

DO DESENVOLVIMENTO 127

10 IEL/MT DESENVOLVIMENTO DE TOFU COM GOIABADA COMO ALTERNATIVA COMERCIAL

E AGREGAÇÃO DE VALOR A SOJA 139

11 IEL/MS PROJETO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM CONVERSOR CACC, CARACTERIZANDO UM PRODUTO

QUE ATENDA OS REQUISITOS DE QUALIDADE DE MERCADO 151

12 IEL/MS AVALIAÇÃO DAS OPÇÕES DE LOGÍSTICA PARA EXPORTAÇÃO DE ÓLEOS VEGETAIS ALTERNATIVOS

A PARTIR DE REGIÕES POLO EM MATO GROSSO DO SUL 167

13 IEL/PA CONSTRUÇÃO DE UM SISTEMA DE CUSTEIO PARA UMA PEQUENA INDÚSTRIA PRODUTORA

DE VASSOURAS NO ESTADO DO PARÁ 179

14 IEL/PE DESENVOLVIMENTO DE PROBIÓTICOS GELEIFICADOS A PARTIR DO KEFIR BIOLOGICUS 195

15 IEL/PB CONSCIÊNCIA AMBIENTAL E RESPONSABILIDADE SOCIAL NO RESTAURANTE TÁBUA CARNEJP 211

16 IEL/PI PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO FARMACOLÓGICA DA EPIISOPILOTURINA 231

Sumário

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17 IEL/PR SISTEMA COMPUTACIONAL PARA SELEÇÃO DA TENSÃO DO TRANSFORMADOR ELEVADOR, SELEÇÃO DA

LINHA DE TRANSMISSÃO E ANÁLISE FINANCEIRA DAS PERDAS NA TRANSMISSÃO PARA PROJETOS DE PEQUENAS

CENTRAIS HIDRÉLETRICAS APLICANDO UM SISTEMA BASEADO EM CONHECIMENTO SBCFUZZY 243

18 IEL/RJ NOVAS CONCEPÇÕES, NOVA GESTÃO E MAIS CLIENTES 261

19 IEL/RJ AVALIAÇÃO DAS ROTAS DE ENTREGA DE UMA EMPRESA DE TORREFAÇÃO E EMPACOTADORA DE CAFÉ 269

20 IEL/RN NATAL PRODUÇÃO DE MADEIRAS TERMICAMENTE TRATADAS 289

21 IEL/RN MOSSORÓ PRODUÇÃO DE HORTALIÇAS COM ÁGUA RESIDUÁRIA PROVENIENTE DA ESTAÇÃO DE

TRATAMENTO DE ÁGUA SALOBRA DA COMUNIDADE BOM JESUS, CAMPO GRANDE, RN 301

22 IEL/RR GESTÃO DE PESSOAS E O AMBIENTE PROPÍCIO À INOVAÇÃO POR MEIO DO CLIMA ORGANIZACIONAL 313

23 IEL/RS ADMINISTRAÇÃO WEB DE SERVIDORES LINUX 327

24 IEL/SE QOS EM WIMAX: MODELAGEM E AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE SERVIÇOS ELETRÔNICOS

E MÓVEIS EM REDES SEM FIO PADRÃO IEEE 802.16 337

25 IEL/SP DRIVER PARA IGBT 359

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Apresentação IEL

Fomentar a interação entre as empresas e as instituições de ensino superior é o objetivo do Programa de

Iniciação Científica e Tecnológica para Micro e Pequenas Empresas (BITEC), criado em 1996, pelo Institu-

to Euvaldo Lodi (IEL), em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), o Serviço

Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq).

O Programa BITEC patrocina, por meio de bolsas, projetos supervisionados de empreendedorismo,

inovação tecnológica e de melhoria de gestão desenvolvidos nas próprias empresas por estudantes de

graduação e seus professores orientadores. Esses projetos geram soluções que possibilitam o desenvol-

vimento tecnológico, com impacto direto na produtividade das empresas.

Ao longo das nove edições do Programa BITEC já realizadas, foram concedidas 4.029 bolsas para

estudantes de todas as áreas de graduação, beneficiando em igual número empresas de micro e pe-

queno porte, da indústria, do comércio e dos serviços, em todos os estados brasileiros, sendo, portanto,

importante mecanismo de transferência de conhecimento entre as universidades e as empresas e de

estímulo à inovação e à competitividade empresarial.

Esta publicação apresenta os 51 projetos vencedores, dos 1.200 aprovados nas oitava e nona edi-

ções, que foram concluídos entre 2008 e início de 2010. Os casos vencedores trazem temas como boas

práticas de fabricação de alimentos, tratamento de resíduos, produção de hortaliças, aperfeiçoamentos

de processos, inovações, entre outros.

Os resultados alcançados ao longo de todas as edições comprovam o sucesso do programa e refor-

çam a atuação do IEL no uso de instrumentos que ampliam a competitividade e promovem a sustenta-

bilidade de micro e pequenas empresas em todo o país.

Paulo Afonso Ferreira

Diretor Geral do IEL/NC

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Apresentação SENAI

Um modelo de sucesso

O Programa de Iniciação Científica e Tecnológica para Micro e Pequenas Empresas (BITEC) é uma ini-

ciativa criativa e inovadora que a um só tempo aproxima a universidade e o setor produtivo, coloca o

estudante em contato com o ambiente corporativo e estimula o desenvolvimento de novas tecnologias

nas empresas.

O programa patrocina, por meio de bolsas, o desenvolvimento de projetos supervisionados de ino-

vação que possibilitem o aumento da competitividade das empresas. Trata-se de um programa de mão

dupla: permite aos jovens levar a experiência acadêmica para o mundo organizacional e proporciona às

empresas novas tecnologias e métodos de gestão desenvolvidos nas universidades.

O programa atende, principalmente, as micro e pequenas empresas industriais, comerciais ou de

serviços, algumas delas inseridas em Arranjos Produtivos Locais (APL), assim como organizações de pe-

quenos produtores, empresas de base tecnológica incubadas, entre outras. Com abrangência nacional,

o BITEC tem contribuído para criar uma cultura inovadora no país.

Por seu porte, esse não poderia ser um esforço isolado: o BITEC reúne o Instituto Euvaldo Lodi (IEL),

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), o Conselho Nacional de Desen-

volvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Serviço Nacional da Indústria (SENAI), cobrindo assim

amplo espectro de demandas, tanto do lado da universidade, quanto do lado do mercado. No caso do

BITEC, a governança múltipla – sempre em torno de um objetivo comum – é um modelo de sucesso

que deveria servir de inspiração para outras iniciativas em favor da educação, da qualificação profissional

e da inovação tecnológica.

José Manuel de Aguiar Martins

Diretor Geral do SENAI/DN

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Prefácio SEBRAE

Com o intuito de propiciar que as micro e pequenas empresas (MPE) tornem-se inovadoras, o SEBRAE e

seus parceiros vêm realizando trabalhos para disseminar a capacidade de inovar, além de disponibilizar

um conjunto de iniciativas que facilitem a essas empresas o acesso a tecnologias.

Por meio do Programa BITEC – no qual concede bolsas de apoio ao desenvolvimento tecnológico

das MPE –, SEBRAE, IEL, SENAI e CNPq vêm proporcionando que estudantes realizem trabalhos na me-

lhoria da qualidade e produtividade nas empresas de pequeno porte.

O conhecimento adquirido por esses bolsistas gerou projetos que compõem esta Coletânea BITEC,

na qual reúnem os artigos dos projetos vencedores da 8a e 9a edições.

Este instrumento permite aos estudantes a oportunidade de vivenciarem a realidade empresarial,

capacitando-os para o mercado de trabalho, e facilita às empresas terem em seu quadro recursos huma-

nos qualificados que contam com a supervisão de docentes.

Carlos Alberto do Santos

Diretor Técnico do SEBRAE Nacional

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Prefácio CNPq

Criado há 19 anos, o Programa de Bolsas de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico de Micro e Peque-

nas Empresas (BITEC) é o testemunho de exitosa cooperação entre CNPq, IEL/CNI, SEBRAE

e SENAI na busca por maior interação entre as instituições de ensino superior e as micro e pequenas

empresas (MPE).

Ao integrar academia e empresa, por meio do envolvimento direto de estudantes de graduação

na busca por soluções que possibilitem o desenvolvimento tecnológico e ampliem a produtividade da

empresa, o BITEC traz grande contribuição para o desenvolvimento do país.

Confirmando o sucesso de um programa já consolidado, na 8a e na 9a edições (2008 e 2009), am-

pliou-se o número de bolsas, chegando-se à marca de 1.200 bolsas concedidas.

Habilidades como trabalhar em grupo, motivação, iniciativa e comportamento empreendedor, alia-

das às habilidades técnicas, são exigências atuais do mercado de trabalho. Diante desse quadro, o CNPq

está convicto de que programas como este são estratégicos para formação e qualificação dos alunos, as-

sim como para integração entre os meios acadêmicos e empresariais, via transferência de conhecimento

entre universidade e micro e pequenas empresas brasileiras.

Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho

Presidente do CNPq

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9ª EDIÇÃO 15

1 IEL/AC RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL DA EMPRESA BEBIDAS CRUZEIRO DO SUL LTDA.

Bolsista: Taiane Fernanda Rosas Leitão – UFAC

Professora orientadora: Karen Adami Rodrigues – UFAC

Coautor: Francisco Souza dos Santos

1.1 Introdução Nos últimos 20 anos, as transformações socioeconômicas têm afetado profundamente o comportamento

de empresas até então acostumadas à exclusiva maximização do lucro. A responsabilidade social e am-

biental são inovações positivas no mercado no momento maior da globalização. Estudos mostram que

atualmente mais de 70% dos consumidores preferem marcas e produtos envolvidos em algum tipo de

ação social.

A empresa que possui um modelo de Gestão Ambiental está correlacionada à responsabilidade

social, pois sua responsabilidade como empresa é centrada na interação com o meio em que desenvol-

ve suas atividades de produção e, consequentemente, corresponsável pela sociedade local. Empresas

socialmente responsáveis estão preparadas para assegurar a sustentabilidade dos negócios a longo pra-

zo, por estarem sincronizadas com as novas dinâmicas que afetam a sociedade e o mundo empresarial.

Ao destinar investimentos à Gestão Ambiental, a empresa fortalece a imagem positiva diante dos

mercados que atua, dos seus colaboradores, concorrentes e fornecedores.

A empresa é socioambientalmente responsável quando vai além da obrigação de respeitar as leis,

pagar impostos e observar as condições adequadas de segurança e saúde para os trabalhadores e faz

isso por acreditar que assim será uma empresa melhor e estará contribuindo para a construção de uma

sociedade mais justa, agregando valor à imagem da empresa.

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16 COLETÂNEA BITEC 20082010

A responsabilidade social e ambiental nos negócios é um conceito que se aplica a toda cadeia pro-

dutiva. Não somente o produto final deve ser avaliado por fatores ambientais ou sociais, mas o conceito

é de interesse comum e, portanto, deve ser difundido ao longo de todo e qualquer processo produtivo.

Uma atitude responsável em relação ao ambiente e à sociedade, que não só garante a não escassez de

recursos, mas também amplia o conceito a uma escala mais ampla. O desenvolvimento sustentável

não só se refere ao ambiente, mas por via do fortalecimento de parcerias duráveis promove a ima-

gem da empresa como um todo e, por fim, leva ao crescimento orientado. Uma postura sustentável

é por natureza preventiva possibilita a prevenção de riscos futuros, como impactos ambientais ou pro-

cessos judiciais.

A empresa, quando gradualmente obrigada a divulgar seu desempenho social e ambiental reduz

os impactos de suas atividades e adota medidas para preservação ou compensação de acidentes. Nesse

sentido, a publicação de relatórios, em que seu desempenho é aferido nas mais diferentes modalidades

possíveis, leva a empresa a repensar sua atitude frente ao meio ambiente.

A empresa em estudo já o faz em caráter voluntário e prevê que o desenvolvimento deste trabalho

socioambiental será compulsório em um futuro próximo. Ao tomar decisões estratégicas, a empresa

integrada à questão ambiental e ecológica conseguirá significativas vantagens competitivas.

A gestão ambiental e a responsabilidade social tornam-se importantes instrumentos gerenciais

para capacitação e criação de condições de competitividade para empresa. Esse artigo descreve a im-

portância da responsabilidade social na estruturação de empresas e como a gestão ambiental se cons-

trói por meio de ferramentas de sensibilização e dialogicidade entre empresários, funcionários e

sociedade. Foram abordados os seguintes autores: Carvalho, Bernardes, Tachizawa (2000); Tachiza-

wa (2002, 2006).

1.2 ProposiçãoNa análise de como a empresa produtora de refrigerante, xarope e guaraná em pó interage com a comu-

nidade de Cruzeiro do Sul e como desenvolve suas atividades, apontam-se estratégias para implantação

de um modelo de gestão correlacionada à qualidade ambiental e social.

Os autores propõem neste trabalho sensibilizar proprietários e funcionários da empresa quanto à

importância da prática da educação socioambiental.

Por meio do diálogo permanente, são discutidas estratégias para reutilização de água, reciclagem

de PETs1 e promoção de políticas para evitar o consumo exagerado da energia elétrica.

O objetivo da incorporação da Universidade Federal do Acre, Campus Floresta, com seus especia-

listas, foi o de obter informações sobre o descarte de produtos químicos apresentando soluções a curto

e longo prazos.

Ao identificar e elaborar ações sociais para serem desenvolvidas pela empresa, promove-se a intera-

ção da sociedade e busca-se a melhoria da imagem de uma microempresa frente ao mercado regional.

Para os autores, além da busca de estratégias de gestão com responsabilidade social e ambiental

por parte dos empresários, é necessária a sensibilização dos seus funcionários para reconhecerem os

1 PET: politereftalato de etileno, polímero termoplástico, utilizado na forma de fibras para tecelagem de embalagens de bebidas.

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9ª EDIÇÃO 17

problemas do ambiente onde desenvolvem suas atividades e em uma ação reflexão visualizem e atuem

como agentes de transformação, auxiliando na gestão socioambiental e assim melhorando o ambiente

de trabalho e a imagem da própria empresa.

1.3 Metodologia

1.3.1 Localização da empresa A Empresa Bebidas Cruzeiro do Sul Ltda. localiza-se na cidade de Cruzeiro do Sul, no estado do Acre,

na região do Vale do Juruá. O Alto Juruá está localizado na porção sul do oeste da Amazônia, apresenta

um dos menores índices de desmatamento e detém uma diversidade biológica extraordinária e rica em

recursos hídricos.

Figura: 1 Localização e área de maior atuação da Fábrica de Bebidas Cruzeiro do Sul Ltda. e áreas de distribuição. A: sistema rodoviário (BR 364); B: sistema fluvial

1.3.2 Diagnóstico do sistema de gestão ambientalO sistema de Gestão Ambiental é uma ferramenta administrativa que tem por objetivo gerenciar am-

bientalmente cada instituição e, por consequência, minimizar os problemas ambientais dela advindos (PEREI-

RA, 1999; VALLE, 1995); na gestão ambiental está embutida a ideia de desenvolvimento sustentável.

Segundo Ferreira e Viola (1996), uma sociedade sustentável é aquela que mantém o estoque de

capital natural ou compensa pelo desenvolvimento do capital tecnológico uma reduzida depleção do

capital natural, permitindo assim o desenvolvimento das gerações futuras.

Maimon ressalta:

Na gestão ambiental de uma organização ética ambiental, a análise sistêmica e ho-

lística deve substituir a abordagem estritamente setorial, dando ênfase às comple-

mentaridades potenciais entre as diferentes atividades que permitam a utilização

intensiva de recursos, do espaço e da mão-de-obra (1996).

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18 COLETÂNEA BITEC 20082010

Essa noção de gestão ambiental estabelece um procedimento de atuação que procura evitar que

determinada estratégia possa comprometer o resultado de outra ou das demais.

Para Backer, gestão ambiental seria:

Uma estratégia de negociação permanente, na qual os objetivos dos grupos e das pessoas com in-

teresses parcialmente opostos, tanto dentro como fora da empresa, devem ser analisados, pesados e se

possível relacionados a um modelo de equilíbrio do ecossistema, que deve ser forjado pelo responsável

da empresa, em pessoa. Para tanto, é necessária uma ferramenta de análise e síntese que lhe permita

identificar as prioridades da sua política e os objetivos ecologistas que ele pode ou quer estabelecer.

Para Valle: a gestão ambiental consiste de um conjunto de medidas e procedimentos bem defi-

nidos e adequadamente aplicados que visam a reduzir e controlar os impactos introduzidos por um

empreendimento sobre o meio ambiente (1995).

O autor ainda acrescenta que o gerenciamento ambiental deve assegurar a melhoria contínua das

condições de segurança, higiene e saúde ocupacional de todos os seus empregados e um relaciona-

mento sadio com os segmentos da sociedade que interagem com esse empreendimento e a empresa.

Inicialmente, no desenvolvimento do projeto, foi observado o funcionamento da empresa, visando

a obter um diagnóstico de todos os setores, focalizando o desperdício da água, o descarte de dejetos,

o gasto de energia elétrica, a segurança dos operários, a manutenção de maquinário, o acúmulo de

garrafas PETs, entre outros.

Foram utilizados instrumentos de pesquisa informal por meio do diálogo e dos questionários dis-

tribuídos para alguns funcionários, com o objetivo de identificar o nível de conhecimento e o envolvi-

mento, como também dos colaboradores da empresa nos projetos de Gestão Ambiental e de respon-

sabilidade social.

Uma estratégia de negociação permanente, na qual os objetivos dos grupos e das

pessoas com interesses parcialmente opostos, tanto dentro como fora da empre-

sa, devem ser analisados, pesados e, se possível, relacionados a um modelo de

equilíbrio do ecossistema, que deve ser observado pelo responsável da empre-

sa, em pessoa (BACKER, 1995).

Em um segundo momento, na mesma linha metodológica foi feito uma pesquisa junto ao setor

de engenharia química, focando os equipamentos de segurança e estrutura física da empresa. Com isso,

foi aplicado um questionário socioambiental aos empresários tendo como foco a norma da ISO 14001.2

O objetivo foi de obter informações que permitissem estabelecer um parâmetro da aplicabilidade da

política que a empresa adota para a Gestão Ambiental e Responsabilidade Social.

Em reuniões agendadas durante o projeto com os empresários, as autoras e os especialistas das

áreas de agronomia e de Gestão Ambiental, foram levantados pontos essenciais para melhor e eficiente

sistema de gestão da empresa tanto no âmbito social quanto ambiental.

2 ISO 14001 Norma Internacional aceita que define os requisitos para estabelecer e operar um Sistema de Gestão Ambiental.

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9ª EDIÇÃO 19

1.4 Monitoramento, medição

1.4.1 MonitoramentoNo início das atividades, foi cumprido um cronograma semanal de visitação aos setores da fábrica, reali-

zando as seguintes atividades e observações:

Etapa 1: observações e questionamentos sobre produção; segurança dos operários; higienização de

cada setor; consumo de energia; descarte de produtos químicos; reciclagem de embalagens PETs; ações

socias da empresa; interação com operários questionando o ponto de vista em relação ao ambiente da

fábrica; entendimento quanto ao funcionamento de todas as máquinas, limpeza de cada uma e como

os produtos específicos são utilizados.

Etapa 2: entrevistas (conversas) com funcionários – o que permitiu uma proximidade da realidade da

empresa pela visão do funcionário, que diariamente vivencia e enfrenta problemas ou acorda soluções

junto aos empresários; participações no atendimento aos clientes – possibilitando avaliar como o cliente

se sente no atendimento da empresa e o porquê de sua preferência; aplicação de um questionário so-

cioambiental para os empresários – as respostas dos empresários ao questionário foram esclarecedoras

e ofereceram condições para avaliar a responsabilidade social e ambiental com a própria empresa, a

sociedade (clientes e não clientes) e empregados.

Etapa 3: entrevistas (conversas) com os empresários da Fábrica Bebidas Cruzeiro do Sul Ltda. – o que

permitiu uma proximidade da realidade da empresa pela visão dos empresários que diariamente vi-

vencia e enfrenta problemas; observação da real situação da fábrica junto aos empresários por meio de

questionamentos para melhor desempenho de seus operários, tanto na produtividade, quanto na saúde

de cada um deles; sugestões de cursos, tanto para os empresários quanto para operários, com possibili-

dade de extensão à sociedade, de geração de empregos por meio da reciclagem de PETs, reciclagem de

tampas de metal e plástico, para segurança: foi sugerido que a fábrica oferecesse um curso de primeiros

socorros.

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20 COLETÂNEA BITEC 20082010

1.4.2 Medição

Gráfico 1: Qualificação profissional

Gráfico 3: Preocupação com controle e proteção do meio ambiente

Gráfico 2: Distribuição de funcionários

Gráfico 4: Índices de segurança da empresa

1.5 Resultados e discussão

Analisando o quadro atual da Empresa de Bebidas Cruzeiro do Sul, observa-se a necessidade de coope-

ração efetiva de profissionais da área ambiental, para que estes possam adequar e colaborar no planeja-

mento da empresa apara a questão ambiental e para o desenvolvimento sustentável com responsabili-

dade social à luz da legislação em vigor.

O quadro da empresa apresenta-se deficitário no aspecto da qualificação profissional gráfico 1, pois

apenas 1% dos funcionários são qualificados para o desempenho de suas atividades.

A organização na distribuição de funcionários (gráfico 2), na linha de produção, é de 5%, demons-

trando a falta de qualificação e treinamento, no entanto, cabe ressaltar que se trata de microempresa,

com distribuição de seu produto final em área regional (Vale do Juruá).

Quanto à preocupação e ao controle do meio ambiente (gráfico 3), dividiu-se o diagnóstico e a

análise das atividades da empresa em: descarte de resíduos químicos (17%), reciclagem (25%), aprovei-

tamento da água (25%) e energia (33%).

O aproveitamento da água é o destaque para a preocupação da empresa, pois são reutilizados

6.000 mil litros diários, para os serviços gerais, nos processos de higienização.

Os custos com energia da empresa são altos; o que deveria ser revisto, pois caracteriza segurança

da empresa e dos seus funcionários.

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A empresa, quanto à preocupação com controle e proteção ao meio ambiente, não possui capta-

ção de resíduos e reciclagem, no entanto, os empresários demonstram interesse em desenvolver progra-

ma de recicladores e controle de resíduos.

O índice de segurança da empresa divide-se em quatro itens observados durante o desenvolvi-

mento do projeto; como demonstrado no gráfico 4:

Higienização (58%), segurança do trabalhador (23%), setor de caldeira (10%) e armazenamento de

produtos químicos e inflamáveis (9%).

1.5.1 Ações corretivas e preventivasA necessidade de planejamento de ações corretivas e preventivas para controle e proteção do meio

ambiente pela empresa, no sentido de compensar os impactos ambientais causados por processo de

produção, bem como estabelecer estratégias de correção para deficiências da empresa são sugeridos

por meio da realização de:

1.5.1.1 Oficinas de reciclagem – PET, embalagem descartável e reciclável

Na empresa as embalagens são classificadas em dois tipos:

Retornáveis ou descartáveis. As embalagens retornáveis são devolvidas pelos consumidores nos

pontos de compra, retornando às linhas de produção, em que são limpas e higienizadas antes de rece-

berem novamente o produto.

Conforme Leite (2000, 2003):

O fator econômico representa uma influência importante, pois pode se constituir

em economias significativas para alguns elos da cadeia reversa, em certas aplica-

ções e em produtos finais específicos. Esse material apresenta alta sensibilidade a

preços de compra e venda e enfrenta com dificuldade a concorrência de outros

materiais na coleta e ao longo da cadeia reversa, pelo fato dos valores envolvidos

não remunerarem corretamente seus diversos elos (2000, 2003).

Ainda para o autor:

Sacos de lixo plásticos no Brasil, por exemplo, são feitos com resina plástica 100%

reciclada, enquanto na fabricação de papéis com conteúdo de reciclados as pro-

porções de uso são variáveis, em função do tipo e do uso do produto. No caso de

garrafas de refrigerante da resina PET, existe proibição legal da utilização de resina

reciclada em garrafas para a indústria alimentícia, restando ao setor encaminhar o

reciclado para outros tipos de produtos. Evidentemente, essas restrições não têm

ajudado o desenvolvimento dos mercados para esses produtos nem, portanto, os

respectivos canais reversos de grande parte dos materiais.

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Por isso, as empresas fabricantes da matéria-prima PET provavelmente não se interessam em retor-

ná-la por meio do ciclo logístico reverso, pois no Brasil ainda não pode ser utilizado no ramo alimentício.

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), nenhum tipo de plástico reciclado pode ser

utilizado pela indústria alimentícia.

Outro motivo é a necessidade de grande investimento inicial para coletar, selecionar, limpar, trans-

portar, processar e reciclar o PET e, provavelmente, os custos imediatos só terão retorno após longo

prazo e fracionado, sem contar as dificuldades na extração do material a ser reciclado.

A empresa de Bebidas Cruzeiro do Sul Ltda. distribui seu produto em garrafas de vidro retornáveis e

embalagens descartáveis PET, sendo as garrafas PET em maior proporção na distribuição.

Segundo os empresários, a adoção pela embalagem PET deve-se a razões de como: evitar trans-

torno ao consumidor para possuir espaço em casa para armazenar o vasilhame e de ter de mantê-lo sempre

limpo, evitando insetos causadores de doenças; não ter de lembrar de retorná-lo para o ponto de venda

toda vez que necessitar da bebida e, além disso, a garrafa de vidro pode quebrar, causando acidentes.

Por esses motivos, houve aumento da utilização desse material, porém, após sua utilização, o PET

geralmente é direcionado para o “lixão” de Cruzeiro do Sul, que já enfrenta problemas de espaço para

armazená-lo. Ainda são encontradas grandes quantidades de garrafas PET abandonadas na natureza,

ocasionando seu depósito nos recursos hídricos regionais.

Apesar dos benefícios e das comodidade que o PET trouxe aos consumidores, as empresas envol-

vidas no ciclo de vida útil desse material devem se responsabilizar por seu destino correto para evitar os

problemas citados.

A empresa demonstrou interesse em aumentar o fluxo reverso desse material, encaminhando a

matéria-prima secundária do PET para fabricação de seus outros produtos, podendo ser utilizado 100%

da resina do PET ou um percentual que irá variar em função do tipo do produto final.

Para tanto, foram consultados órgãos, como Serviço Brasileiro de Apoio a micro e pequenas Empre-

sas (Sebrae) e profissionais especializados em reciclagem para buscar alternativas para as embalagens

descartadas e oficinas para formação de recicladores.

1.5.1.2 Ações em saúde e meio ambiente

As questões ambientais são alvos de preocupação por grande parte da sociedade, que busca maneiras

e impõe restrições por meio de organismos governamentais e não governamentais para atingir um

desenvolvimento sustentável.

Com a crescente preocupação e pressão mundial diante das questões ambientais, cada vez mais

as empresas desenvolvem projetos e controles para desenvolvimento e proteção do meio ambiente,

procurando compensar os impactos ambientais causados por seu processo de produção.

Com isso, as empresas estão investindo mais em tecnologias de proteção e preservação do meio

ambiente, o que tem contribuído para tornar os processos de produção mais eficazes, reduzindo emis-

são de insumos e resíduos tóxicos à natureza.

Nesse sentido, iniciamos estudos sobre o potencial econômico do lixo, a reutilização dos resíduos

– principalmente os sólidos – para produção de energia elétrica para aquecimento de fornos e caldeiras

para substituição dos derivados de carvão e petróleo, que são muito mais caros e poluentes.

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9ª EDIÇÃO 23

A contabilidade também percebeu a necessidade de se adequar às novas tendências no mundo

dos negócios, onde os usuários internos e externos passaram a considerar a questão ambiental como

um diferencial competitivo entre as empresas.

A Indústria Bebidas Cruzeiro do Sul Ltda., nesse sentido, preocupa-se em manter a saúde ambien-

tal e desenvolve estudos e perspectivas de melhoramento nessas questões que implicarão o desen-

volvimento e a proteção do meio ambiente como a renovação do Programa de Prevenção de Riscos

Ambientais (PPRA, 2009), já em desenvolvimento pelo engenheiro ambiental Caio Carlos profissional

do programa do Serviço Social da Indústria (SESI),3 Indústria Saudável, e na renovação do documento-

base (Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional (PCMSO) (08/2009), pela doutora Jene Greyce,

médica do trabalho.

Com parceria estabelecida, entre os autores deste projeto e a Universidade Federal do Acre, serão

realizados estudos na questão de descarte de materiais, tratamento de produtos químicos e gestão em

saúde, com os cursos de Biologia e Enfermagem. A universidade realizará cursos em saúde e segurança

do trabalho, em conjunto com o corpo de bombeiros, para os funcionários da empresa, bem como pro-

porcionará a participação da sociedade em geral por meio dessa parceria.

A empresa, visando a diminuir o impacto ambiental e estabelecendo parcerias, adquiriu o terreno ao

lado das instalações atuais para adaptar um sistema eficiente de captação de resíduos e tratamento da água.

1.5.1.3 Plantio e melhorias na produção de guaraná

Professores dos cursos de Engenharia Agronômica e Engenharia Florestal da Universidade Federal do

Acre, em integração ao projeto realizarão parceria com a empresa na melhoria do plantio de guaraná

para aumentar a produção e diminuir a importação do produto.

1.5.1.4 Qualificação profissional

Com a realização de futuros cursos preparatórios e profissionalizantes na cidade de Cruzeiro do Sul, por

meio do Sebrae, para operador de caldeira, refrigeração industrial, bem como oficinas de reciclagem

de PETs, a empresa deverá atingir o nível esperado de microempresa, com responsabilidade social e

ambiental.

1.6 ConclusãoNesse trabalho, foi discutida a importância da responsabilidade social e ambiental de uma microempre-

sa da cidade de Cruzeiro do Sul, levantando aspectos de segurança do trabalho, melhoria na produtivi-

dade, busca por tecnologias mais eficientes, visando ao aumento da lucratividade e à preocupação com

o meio ambiente, como ferramenta para fortalecimento da imagem positiva da empresa que assume

uma postura ética frente às questões ambientais.

Faz-se necessário a implantação de programas que intensifiquem, na discussão do meio empre-

sarial, a utilização de tecnologias mais eficientes, no sentido de melhorar o rendimento dos processos

produtivos e a preservação do meio ambiente.

3 SESI – Serviço Social de Indústria, Qualidade de Vida e Responsabilidade Social

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24 COLETÂNEA BITEC 20082010

Existem tecnologias alternativas disponíveis no mercado que contribuem significativamente para

o setor industrial, inserindo-o nas propostas de emissão zero, sustentabilidade e responsabilidade socio-

ambiental, que podem proporcionar retornos financeiros, ambientais e sociais.

A prática de Gestão Ambiental da Empresa necessita de novas abordagens levantadas durante o

desenvolvimento deste projeto e aceita, quando diagnosticada, pelos empresários.

Este trabalho aponta a necessidade de implementação de ações preventivas e corretivas e apresen-

ta uma análise com abrangência do escopo das atividades da empresa, contribuindo para elaboração

de ações que venham fortalecer as iniciativas do uso de tecnologia mais limpa e melhoria das condições

socioambientais junto a empresas na região em que atua.

Recomenda-se que a Empresa Bebidas Cruzeiro do Sul Ltda. adote novas estratégias ofensivas e/ou

inovadoras, de modo que enfatize a preocupação com a melhoria do meio ambiente, de forma sustentá-

vel, adotando modelos de tecnologias limpas responsáveis pela adequação à legislação e à minimização

de resíduos.

A responsabilidade social e ambiental incorporada no planejamento da Empresa Bebidas Cruzeiro

do Sul Ltda. representará o compromisso contínuo com seu comportamento ético e com o desenvol-

vimento econômico, promovendo, ao mesmo tempo, a melhoria da qualidade de vida de sua força de

trabalho e de suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo, sendo hoje um fator

importante para ela, como qualidade dos produtos ou do serviços, a competitividade nos preços ou a

marca comercialmente forte.

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9ª EDIÇÃO 27

2 IEL/AL ANÁLISE TECNOLÓGICA DE ARGAMASSAS COM RESÍDUOS “CLASSE A” PROVENIENTES DA CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS

Bolsista: Marcell Gustavo Chagas Santos – UFAL

Professor orientador: Paulo César Correia Gomes – UFAL

Coautor: José Fábio Corado Carneiro

2.1 IntroduçãoOs problemas gerados pelos resíduo da construção civil (RCC) na maioria das cidades comprovam a

necessidade de uma política de gestão que gerencie a produção, o armazenamento e a reciclagem e/ou

o reaproveitamento, tanto pelos órgãos públicos, quanto pelas empresas geradoras, dando a cada um

suas responsabilidades.

Foi nesse sentido que a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) no 307/2002,

frente aos problemas ambientais gerados pelos RCCs, considerou imprescindível a implementação de

diretrizes que visam à redução desses impactos, responsabilizando os geradores pela destinação final

dos seus resíduos e, ainda, estabelecendo alguns critérios para gestão desses resíduos, a fim de serem

reciclados; tendo em vista, a viabilidade técnica e econômica de produção e uso desses materiais pro-

venientes da reciclagem.

No entanto, o uso de tais resíduos está atrelado aos procedimentos de gerenciamento das empre-

sas na gestão que trata dos resíduos produzidos por elas. Muitas vezes esses resíduos são descartados

sem critério, trazendo despesas adicionais para as empresas e são desprezados por falta de conhecimen-

tos técnicos, fazendo que a empresa tenha um desperdício maior.

Esses resíduos quando beneficiados, caracterizados e avaliados, podem ser incorporados no mer-

cado como agregados reciclados para uso na construção civil. Atualmente, existem apenas duas normas

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28 COLETÂNEA BITEC 20082010

que regularizam a utilização dos resíduos como agregados reciclados, uma para uso em pavimentação e

em concretos sem função estrutural (NBR 15.116, 2004) e outra para execução de camada de pavimenta-

ção (NBR 15.115,2004), o que mostra ainda a incipiência com relação ao uso de agregados reciclados na

construção civil, havendo necessidade de estudos que comprovem seu potencial como matéria-prima,

que possa ser utilizado, por exemplo, em diversos tipos de argamassas usadas nas alvenarias. Um estudo

criterioso em busca da otimização de dosagens de misturas que utilizem esses agregados em argamas-

sas é necessário para sua aplicação com segurança e satisfação no custo.

Nesse contexto, projetos têm sido propostos por intituições de pesquisas, como universidades,

em parceria com empresas privadas e financiadas por orgão de fomento como a Financiadora

de Estudos e Projetos (Finep), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o Instituto Euvaldo

Lodi (IEL), Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

(SENAI) e fundações, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal). O trabalho

realizado faz parte do projeto proposto e em execução pela Universidade Federal de Alagoas em parceria

com construtoras, financiado pela Finep para compras de equipamentos. Neste estudo, com o apoio

do Instituto Euvaldo Lodi (IEL) no Programa de Iniciação Científica e Tecnológica para Micro e Pequenas

Empresas (BITEC), foi proposto, junto à construtora Borela, parceira do projeto, o levantamento e a

análise do gerenciamento de resíduo gerado em uma das obras da empresa e o estudo de proprie-

dades mecânicas em um tipo de argamassa, utilizando como componente o próprio resíduo “Classe A”,

provênientes do processo de fechamento de seus edifícios, com propriedades semelhantes àquelas usu-

ais nas suas construções, a fim de obter um produto mais eficaz com benefícios econômicos, ambiêntais

e de competitividade no setor.

Nesse sentido, o projeto tem como objetivo fornecer para a empresa parceira do programa dados

científicos e tecnológicos de argamassas utilizando o resíduo proveniente dos seus processos construti-

vos. Para o bom atendimento do objetivo proposto neste estudo, as atividades densenvolvidas durante

o semestre foram agrupadas em cinco itens:

• Revisão bibliográfica: sobre as propriedades, os traços e as aplicações das argamassas, a proble-

mática do resíduo para empresa, as normas referentes a agregados e argamassas, a influência

do resíduo da construção civil nas propriedades das argamassas e projetos de gerenciamento

do resíduo.

• Diagnóstico do processo de separação e gerenciamento do resíduo no canteiro de obras da

construtora parceira do projeto: procurou-se destacar as etapas de segregação, o volume e o

destino dos resíduos segregados.

• Coletar e beneficiar o resíduo: foi realizado o trituramento e, posteriormente, o peneiramento

do resíduo.

• Caracterização dos materiais: nessa etapa, foram realizados ensaios, a fim de caracterizar o

comportamento físico do resíduo e da areia;

• Definição das proporções dos componentes das argamassas (traços) e produção das argamas-

sas para ensaio: nessa etapa foram produzidas as argamassas e, posteriormente, analisadas

suas propriedades mecânicas.

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2.2 Revisão bibliográficaA seguir, será apresentado um resumo explicativo de conceitos referentes aos ensaios técnicos realiza-

dos nos materiais e de algumas propriedades de argamassas.

2.2.1 Técnicas de caracterização físicas de agregados

2.2.1.1 Granulometria

O ensaio de granulometria é o processo em que é estudada a distribuição dos diversos tamanhos de

grãos em uma massa constituída por materiais granulares (ISAIA, 2007). Os resultados obtidos por meio

de tal ensaio interferem diretamente na determinação dos traços de argamassa e concreto, tendo em

vista que sua principal função é definir a quantidade ideal de água que deve ser utilizada na mistura.

Além disso, é por meio deste ensaio que se permite extrair alguns parâmetros importantes para os agre-

gados como o módulo de finura (MF) e a dimensão máxima característica.

Massa específica

Neville (1997) define a massa específica como sendo a relação entre a massa do sólido e o volume total

dele, incluindo os poros impermeáveis, não os capilares, a determinada temperatura. A norma que regu-

lamenta o ensaio para determinar a massa específica em agregado miúdo é a NBR NM 52/03.

Massa unitária

Essa grandeza é obtida relacionando a massa do material com um volume estabelecido. Esse parâmetro

é obtido por meio do ensaio estabelecido pela norma NBR 7.251/82, e sua função é transformar quanti-

dade de massa para quantidade de volume, além de ser base para dosagem de misturas. Pode ser dada

em dois graus: solto e adensado.

Absorção de água

A presença de poros nos agregados interfere diretamente na absorção deles. Apesar de os poros varia-

rem bastante de tamanho, a pasta de cimento não consegue penetrá-los por causa de sua viscosidade,

salvo em grandes poros. Porém, a água é capaz de entrar nesses poros com facilidade e essa quantidade

que penetra depende do tamanho, da continuidade e do volume desses poros (NEVILLE, 1997). A absor-

ção não tem influência direta na resistência, no entanto, a porosidade da superfície do agregado interfe-

re na aderência entre a partícula e a pasta de cimento, podendo influenciar indiretamente na resistência.

Teor de materiais pulverulentos

A resistência e a durabilidade do concreto estão ligadas à aderência entre o agregado e a pasta de ci-

mento, aderência essa que são afetadas pelos materiais pulverulentos (NEVILLE, 1997).

Os materiais pulverulentos são materiais finos presentes nos agregados, geralmente silte e pó de

pedreira, que passam na peneira 0.0075 m. Os ensaios para determinação do teor de materiais pulveru-

lentos em agregados são obtidos a partir da norma NBR NM 46/03, que consiste em fazer um peneira-

mento por lavagem na peneira 0.0075 m.

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Teor de impurezas orgânicas

A matéria orgânica aparece com mais frequência na areia do que nos agregados graúdos, pois são mais

fáceis de serem lavados. Estes materiais são provenientes da decomposição de matéria vegetal e são

encontradas na forma de húmus e argila orgânica. A presença de tais materiais pode prejudicar a resis-

tencia das argamassas.

2.2.2 ArgamassasMistura composta de aglomerante, agregado miúdo e água, podendo conter aditivos. O aglomerante

pode ser cimento ou cal e o agregado miúdo mais utilizado é a areia. As argamassas são utilizadas na

construção civil, como: revestimentos de paredes, assentamento de blocos, contrapiso e chaspisco.

2.2.2.1 Propriedades das argamassas

Trabalhabilidade

Trabalhabilidade é a propriedade das argamassas que determina a facilidade com que ela é misturada,

transportadas, aplicadas e acabadas em uma condição homogênea. A argamassa é trabalhada de acor-

do com Sabbatini (1984) quando ela distribuísse facilmente ao ser assentadas, não gruda na ferramenta

quando essa sendo aplicada, não se agrega ao ser transportado, não endurece em contato com as su-

perfícies absortivas e permanece plástica por tempo suficiente para que a operação seja completada.

Consistência

É a propriedade pela qual a argamassa no estado fresco tende a resistir a deformação (CINCOTTO et al., 1995).

A consistência é diretamente determinada pelo conteúdo de água, sendo influenciada pelos se-

guintes fatores: relação água/aglomerante, relação aglomerante/areia, granulometria da areia, natureza

e qualidade dos aglomerantes.

Plasticidade

É propriedade pela qual a argamassa no estado fresco tende a conserva-se deformada após a redução

das tensões de deformação.

De acordo com Cincotto et al. apud Silva (2006), a plasticidade e a consistência são propriedades

que efetivamente caracterizam a trabalhabilidade e são influenciadas pelo teor de ar aprisionado, natu-

reza e teor de aglomerantes e pela intensidade de misturas de argamassas.

Retenção de água

De acordo com Cincotto et al. (1995), a retenção de água é a capacidade da argamassa no estado fresco

de manter sua consistência ou trabalhabilibade quando sujeita a solicitações que provoca perda de água

por evaporação, sucção do substrato ou pela hidratação do cimento e carbonatação da cal.

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2.3 Diagnóstico do Processo de Separação e Gerenciamento do Resíduo no Canteiro de ObrasTendo em vista que a construtora parceira aplica o processo de segregação dos seus resíduos, foram

feitas visitas em uma de suas obras, a fim de obter informações do gerenciamento que ela realiza com

seus resíduos. Das visitas realizadas, observou-se que a obra encontrava-se na fase de levantamento

de alvenaria e verificou-se que os materiais predominantes gerados nessa fase foram restos de tijolos e

cerâmica com pequenas quantidades de argamassas.

Durante as visitas, foi acompanhado todo o procedimento que a construtora aplica na segregação

do resíduo na sua obra.

O processo de segregação do resíduo realizado pela construtora inicia-se com o recolhimento dele

ao fim de cada dia. Na figura 1, à medida que o funcionário vai realizando o serviço, parte da argamassa

cai no chão e o que cai é recolhido a um canto da dependência.

Figura 1: Produção e recolhimento do resíduo

Figura 2: Bambonas para acondicionamento de resíduos

Após o recolhimento do resíduo, ele é colocado em bambonas (figura 2) situadas no mesmo pa-

vimento de geração.

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Vê-se que as bambonas são identificadas por meio de adesivos com cores diferentes, facilitando

assim o correto acondicionamento. As bambonas estão localizadas nos pavimentos em que esta ocor-

rendo algum tipo de serviço. Quando elas estão cheias, elas são levadas para as baias (figura 3).

Figura 3: Separação dos resíduos em baias

Pode-se observar que em cada baia existe uma sinalização indicando qual o material que deve ser

acondicionado naquele local. Essas baias estão localizadas no subsolo da obra.

Além da observação do processo de gerenciamento do resíduo, também foi realizado um conjunto

de entrevistas estruturadas com o engenheiro responsável pela produção nos empreendimentos da em-

presa. As entrevistas foram conduzidas com o auxílio de um questionário organizado em três módulos

específicos:

1) Capacitação dos funcionários: composto por três questões, tinha a finalidade de saber se os

funcionários estavam devidamente treinados para o procedimento de segregação e processa-

mento dos resíduos na obra.

2) Estoque de resíduos: composto por cinco questões, procurava avaliar a forma como eram ar-

mazenados os resíduos gerados durante a construção e como era feito o seu transporte.

3) Segregação, processamento e destinação final: composto por 12 questões, buscava analisar o

modo como os resíduos eram segregados, processados e para onde eles eram enviados. Um

dos pontos críticos verificados era se a empresa parceira do projeto atendia às normas da Reso-

lução no 307 do Conama.

Após a realização das entrevistas, as respostas foram avaliadas de modo que identificasse se a capa-

cidade e a eficiência da construtora no trato dos seus resíduos era ruim, intermediária ou ótima.

No tocante ao módulo I do questionário, a empresa capacita sua mão de obra para trabalharem o

resíduo de construção que é gerado em seus sistemas produtivos. A construtora também incentiva seus

operários a segregarem os resíduos, ou seja, a construtora retorna para os operários o valor obtido com

a venda dos resíduos que não são reciclados na obra.

Já em relação ao segundo módulo do questionário, que tratava do modo como as construtoras

armazenavam seus resíduos, percebeu-se que a empresa tem um bom desempenho, pois participa do

programa Obra Limpa e, com isso, faz a segregação do material tanto na frente de trabalho em que é

gerado, quanto no térreo das obras.

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A sinalização das áreas de estocagem é feita por meio de placas e cartazes específicos para cada

resíduo (sinalização vertical), em que cada resíduo tem um símbolo e uma cor própria. Entretanto, não

foi verificada nenhuma sinalização horizontal demarcando rotas e áreas específicas.

O terceiro e último módulo abordou os aspectos de segregação, processamento e destinação dos

resíduos. As respostas obtidas com a realização das entrevistas permitiram perceber que a construtora parceira

segrega seus resíduos, processa e reutiliza uma fração deles em processos produtivos específicos.

Ao analisar os resultados das entrevistas como um todo, é possível afirmar que a construtora tem

um desempenho satisfatório no processo de segregação do seu resíduo, portanto, não será necessário

sujerir nenhuma modifícação.

A identificação de cada uma das atividades associadas aos resíduos, desde sua geração até sua

destinação final foi conduzida por meio do acompanhamento dos fluxos físicos seguidos por cada um

dos resíduos, por exemplo: papel, onde todo o percurso era acompanhado e registrado. O Quadro 1 e a

figura 4 mostram o mapeamento feito para a construtora. Essa figura evidencia as comprovações obtidas

por meio das entrevistas, pois percebe-se claramente a geração e a preparação do resíduo.

Quadro 1: Simbologia adotada na elaboração das representações gráficas dos processos

Símbolo Significado

Atividade de processamento, por exemplo: geração do resíduo e peneiramento.

Atividade de transporte ou movimentação, por exemplo: transporte vertical no guincho e transporte por carro de mão.

Atividade de estoque de material ou material em espera para realização de alguma outra atividade, por exemplo: estoque de blocos para execução de alvenaria de vedação ou material estocado em baia.

Decisão tomada no processo, por exemplo: segregação dos resíduos e encaminhamento deles aos seus respectivos estoques.

Figura 4: Mapa do processo de geração, processamento e segregação dos resíduos

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2.4 Beneficiamento do resíduoApós a separação por baias, dos resíduos da construção realizada pela construtora, o resíduo “classe A”,

maior parte, restos de tijolos e argamassa, foi retirado manualmente po rmeio de pás e colocado em

carrinhos de mão para ser transportado até o moinho argamassador situado na própria obra (figura 5).

Figura 5: Restos de tijolo e argamassa coletados no subsolo

Figura 6: Moinho utilizado para trituração

A etapa de beneficiamento do resíduo para geração do agregado reciclado foi desenvolvida no

canteiro da própria obra, sendo executada a fragmentação do resíduo, isto é, moendo as partículas do

resíduo de construção e demolição, usando um moinho (figura 6), até se chegar às dimensões adequa-

das dos grãos de agregados miúdos.

Após a moagem do resíduo na obra, ele foi colocado em alguns sacos plásticos e transportado

para o Laboratório de Estruturas e Materiais do Centro de Tecnologia (Ctec) da Universidade Federal de

Alagoas.

No laboratório, todo o material transportado dos sacos plásticos foi peneirado em um conjunto de

peneiras e colocado em outro saco plástico (big bag) para seu armazenamento no laboratório. É bom

frisar que o peneiramento se deu para separar as partículas do material reciclado em duas frações princi-

pais: a de agregado miúdo (d < 4,75 mm) cuja dimensão é a que se interessa neste trabalho para se usar

como areia reciclada em argamassas e a de agregado graúdo (d ≥ 4,75 mm).

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2.5 Caracterização dos materiais

2.5.1 CimentoPara os ensaios realizados com as argamassas, utilizou-se o cimento Portland CPII Z 32 adquirido no

mercado em sacos de 50 kg, tendo em vista que esse tipo é utilizado nas obras da região.

2.5.1.1 Granulometria

Com o ensaio de granulometria foi possível obter o módulo de finura, o tamanho máximo do agregado

reciclado e sua distribuição granulométrica. As tabelas 1 e 2 mostram os resultados obtidos para o ensaio.

Tabela 1: Ensaio de composição granulometrica da areia

Composição granulométrica da areia

Tamanho máximo 4,8 mm Módulo de finura 2,81

Tabela 2: Ensaio de composição granulométrica do resíduo

composição granulométrica do resíduo

Tamanho máximo 2,4 mm Módulo de finura 2,08

Segundo Selmo (1989), os intervalos adotados para o módulo de finura (MF) para classificação das

areias são:

• MF < 2,0 (areia fina).

• 2,0< MF < 3,0 (areia média).

• MF > 3,0 (areia grossa).

Pelos resultados encontrados na tabela 2 e 3 tanto a areia natural quanto o resíduo são classificados

como areia média, porem observe que o resíduo é um material mais fino que a areia, pois seu módulo

de finura se aproxima de 2 (MF=2,08).

A distribuição granulométrica, de acordo com Angelim et al. (2003), influencia diretamente no de-

sempenho das argamassas, interferindo na trabalhabilidade e no consumo de água e aglomerantes, no

estado fresco; no revestimento acabado, exerce influência na fissuração, na rugosidade, na permeabili-

dade e na resistência de aderência.

Observando os gráficos 1 e 2, vê-se que a curva granulométrica dos materiais (areia natural e agre-

gado reciclado) enquadrou-se na zona utilizável, recomendada pela NBR 7.211 (ABNT, 2005).

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No desenvolver da pesquisa, percebeu-se que o resíduo proveniente da estrutura de fechamento

de edifícios detém uma parcela significativa de material pulverulento, ou seja, material fino que passa

na peneira de 0,074 mm. Então, na tentativa de aprofundar a análise do resíduo, quanto a esse material

pulverulento, foi executado o ensaio de análise granulométrica – NBR 7.181. Esse ensaio é utilizado para

caracterizar solos argilosos (solos finos), em seu procedimento o material é dividido e ensaiado de três

maneiras, peneiramento grosso, peneiramento fino e sedimentação, em que a sedimentação é utilizada

para analizar os materiais passantes na peneira de 0,074, cujo procedimento utilizado anteriormente não

contempla esses materiais.

A curva granulométrica para peneiramento fino e sedimentação do resíduo esta apresentada no

gráfico 3.

Gráfico 1: Curva granulométrica da areia

Gráfico 3: Curva granulométrica (peneiramento fino e sedimentação) do resíduo

Gráfico 2: Curva granulométrica do resíduo

Pelo gráfico 3, pode-se perceber que os resultados encontrados para teor de material pulverulento

– será apresentado mais a frente – são coerentes, pois observando o gráfico verifica-se que aproximada-

mente 22% do material passa na peneira de 0,074.

Outro fator importante é que o resíduo apresenta uma curva granulométrica contínua que pode

favorecer algumas caracteristicas das argamassas, tal como a resistência.

2.5.2 Absorção de águaPara o ensaio das duas amostras realizadas, obtiveram-se os resultados nas tabelas 3 e 4.

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Em estudos realizados por Leite (2003), verificou-se que para valores encontrados para a taxa de

absorção entre 2% e 4% são baixos e para valores entre 6% e 25% são considerados altos.

É importante frisar que, de acordo com Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) NBR

15.116, o percentual máximo aceitável para absorção é de 17%. Observe que tanto a areia quanto o

resíduo estão com percentuais de absorção de águas abaixo do limite estipulado em norma. Porém,

verifica-se que o resíduo apresenta um valor maior, o que era esperado, por ser um material mais fino se

comparado com a areia utilizada.

Tabela 3: Ensaio de absorção de água da areia

Absorção de água – NM 30:2000

Amostra 1 2 Média

Absorção (0,01%) 9,56 8,25 8,9

Tabela 4: Ensaio de absorção de água do resíduo

Absorção de água – NM 30:2000

Amostra 1 2 Média

Absorção (0,01%) 9,73 10,83 10,28

2.5.3 Massa específicaPara o ensaio de massa específica, obtiveram-se os resultados apresentados na tabela 5 e 6.

Essa propriedade é usada para produção de concreto e/ou argamassas, auxiliando na dosagem dos

traços em volume para traços em massa ou vice-versa. O valor encontrado para o agregado reciclado

miúdo foi de 2,43 g/cm3 correspondente a 2430 Kg/m3. Já no trabalho de Pereira (2006), foi encontrado o

valor de 2550 Kg/m3 para os agregados reciclados da capital alagoana. Verifica-se que a massa específica

do agregado reciclado estudado ficou muito abaixo, concluindo, assim, que ele é mais leve. Por ser mais

leve, ele pode ser fator positivo no que se refere à trabalhabilidade de argamassas.

Tabela 5: Ensaio de massa específica da areia

Massas específicas – NBR NM 52/02

Amostra 1 2 Média

Massa específica aparente (0,01 g/cm3) 2,33 2,55 2,44

Massa específica aparente saturada com superfície seca (0,01 g/cm3) 2,28 2,58 2,43

Massa específica (0,01 g/cm3) 2,22 2,62 2,42

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38 COLETÂNEA BITEC 20082010

Tabela 6: Ensaio de massa específica do resíduo

Massas específicas – NBR NM 52/02

Amostra 1 2 Média

Massa específica aparente (0,01 g/cm3) 1,86 2,06 1,96

Massa específica aparente saturada com superfície seca (0,01 g/cm3) 2,07 2,23 2,15

Massa específica (0,01 g/cm3) 2,35 2,49 2,43

2.5.4 Teor de material pulverulentoPara o ensaio de teor de material pulverulento, obtiveram-se os resultados apresentados nas tabelas 7 e 8.

Tabela 7: Teor de material pulverulento da areia

Material fino (<75μm) – NBR NM 46/03

Procedimento A B

Amostra 1 2 Média

Material fino (0,1%) 1,2 1,4 1,3

Tabela 8: Teor de material pulverulento do resíduo

material fino (<75μm) – NBR NM 46/03

Procedimento A B

Amostra 600,0 600,0 Média

Material fino (0,1%) 600,0 600,0 21,2

O teor de finos de 21,2% encontrado para o agregado reciclado miúdo ultrapassa o limite estabele-

cido pela NBR 15116 (ABNT, 2004), que é de 20%.

Para Pereira (2006), o teor de finos encontrado foi de 7%. No trabalho de Carneiro et al. (2001), rea-

lizado na capital baiana, o teor foi de 13%.

Comparando esses resultados ao 21,2 % encontrado neste trabalho, verifica-se que o mesmo

está muito acima, demonstrando dessa forma que o material estudado apresenta muitos finos, po-

dendo interferir na durabilidade das argamassas de revestimentos (apresentação de fissuras) se usa-

dos para tal fim.

2.5.5 Impurezas orgânicasTanto o resíduo quando a areia ficaram no grupo 1, ou seja, com pouca ou nenhuma impurezas

organicas.

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2.5.6 Massa unitáriaOs resultados do ensaio de massa unitária encontram-se nas tabelas 9 e 10.

Como o resultado da média da massa unitária do resíduo para esse trabalho foi de 1.430 Kg/m3,

verifica-se que ele se aproxima de valores próximos a estudos realizados por outros autores, por exem-

plo, em Zordan (1997) no qual a média encontrada foi de 1410 Kg/m3 ou em Carneiro et al. (2001) com

um valor de 1.300 Kg/m3. Na capital alagoana, o valor encontrado foi de 1.330 Kg/m3.

Tabela 9: Massa unitária da areia

Massa unitária em estado solto – NBR 7251/82

Determinação 1a 2a 3a Média

Massa unitária (0,01kg/dm3) 1,54 1,56 1,54 1,55

Tabela 10: Massa unitária do resíduo

Massa unitária em estado solto – NBR 7251/82

Determinação 1a 2a 3a Média

Massa unitária (0,01kg/dm3) 1,42 1,44 1,44 1,43

2.5.7 Teor de argila em torrõesOs resultados do ensaio de teor de argila em torrões encontra-se nas tabelas 11 e 12.

Tabela 11: Teor de argila em torrões da areia

Teor de argila em torrões – NBR 7218/87

Teor total (%) 0,73

Tabela 12: Teor de argila em torrões do resíduo

Teor de argila em torrões – NBR 7218/87

Teor total (%) 5,53

Sabe-se que o teor de argila e os torrões são partículas presentes nos agregados suscetíveis de

serem desfeitas pela pressão entre os dedos polegar e indicador. A NBR 7.211/2005 estabelece o limite

máximo de 3% desse teor. Dessa forma, com o resultado de 5,53% obtido para o agregado reciclado

estudado, ele não se enquadra nesse limite.

2.6 Determinação de traçosPor meio de reuniões com o orientador e com o engenheiro José Fábio, foram definidos os traços a se-

rem utilizados no projeto, com base na literatura e nas argamassas utilizadas pela empresa.

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Tabela 13:Traços utilizados no projeto

Traço

Identificação Cimento Cal Areia Resíduo

T1 1 0 4 0

T2 1 0 3 1

T3 1 0 2 2

T4 1 0 1 3

T5 1 0 0 4

2.6.1 Determinação do fator água/cimentoO fator água/cimento é determinado por meio do ensaio do teor de água e do índice de consistência –

NBR 13276/1995, que fixou valores entre 255 mm e 265 mm para o espalhamento das argamassas na

mesa de consistência. Assim, essa norma infere que para se ter um consistência “adequada”, a argamassa

deve apresentar uma quantidade de água, de modo que o espalhamento situe-se nesse limite. Seguin-

do esse raciocínio, observa-se na tabela 14 que os traços com o material reciclado apresentaram igual ou

maior relação água/cimento comparado com o traço de referência (T1).

Tabela 14: Resultado do ensaio de determinação da consistência e fator água/cimento

Traços 1 Determinação (mm) 2 Determinação (mm) 3 Determinação (mm) MédiaFator água/

cimento

1 258 263 257 59,3 1,3

2 262 255 258 58,3 1,4

3 260 265 264 63 1,3

4 255 265 273 64,3 1,4

5 257 278 254 263 1,6

Para Assunção et al. (2007), essa característica é em função da influência da finura dos agregados.

Geralmente com a presença de materiais finos (traço T3) era de se esperar que houvesse aumento do

fator água/cimento em relação ao traço de referência (T1) para manter o limite de consistência definido,

o que não aconteceu. De acordo com Silva (2006), esse fenômeno deveria acontecer pelo aumento da

área superficial com a presença dos finos, absorvendo assim mais água, porém não é o que procede.

Já com o traço T4, o fenômeno aconteceu.

A tabela 15 mostra detalhadamente os traços que seram utlilizados no projeto.

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Tabela 15: Traços com seus respectivos fator água/cimento

Traços

Identificação Cimento Cal Areia Resíduo a/c

T1 1 0 4 0 1,3

T2 1 0 3 1 1,4

T3 1 0 2 2 1,3

T4 1 0 1 3 1,4

T5 1 0 0 4 1,6

2.7 Determinação das propriedades físicas das argamassas

2.7.1 Retenção de águaOs resultados encontrados no ensaio de determinação da retenção de água (NBR 13.277/1995) estão

apresentados na tabela 16.

Tabela 16: Ensaio de retenção de água

Traços T1 T2 T3 T4 T5

Retenção (%) 89 88 90 91 90

Com o resultados da tabela 16, vê-se que à medida que vai aumentando a quantidade de finos nos

traços há aumento suave na retenção de água quando comparado com o traço de referência (T1).

Segundo Silva (2006), isso se deve, principalmente, pela adsorção de água à superfície das par-

tículas, explicando que, além de ouros fatores, a presença de materiais pulverulentos (o resíduo aqui

estudado é composto por uma porção expressiva desses materiais) possui propriedade de aumentar a

retenção de água.

2.7.2 Densidade de massa e teor de ar incorporadoOs resultados encontrados no ensaio de determinação da densidade de massa e teor de ar incorporado

(NBR 13.278/2005) estão apresentados na tabela 17.

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Tabela 17: Ensaio de densidade e teor de ar incorporado

Traços Densidade (Kg/m3) Teor de ar incorporado (%)

T1 2166 8

T2 2076 –

T3 2018 3

T4 – –

T5 1831 2

Atentando para os resultados da densidade das argamassas, observa-se que à medida que vai au-

mentando a proporção do material reciclado nas proporções dos traços mostrados anteriormente, há

uma diminuição na densidade das argamassas no estado fresco quando comparado ao traço de refe-

rência (T1).

Esse fato, levando em consideração o que diz respeito a trabalhabilidade das argamassas, é positivo,

pois quanto mais leve for a argamassa mais trabalhável ela será, reduzindo assim o esforço do operário

na sua aplicação, o que resulta em um aumento da produtividade no trabalho.

A densidade das argamassas tem valor direto com o teor de ar incorporado. A densidade de massa

das argamassas varia com o teor de ar incorporado e com a massa específica dos materiais constituintes

das argamassas, prioritariamente do agregado (CARASEK, 2007).

De acordo com a tabela 17, observa-se também que com o aumento da proporção do material

reciclado há diminuição do teor de ar incorporado quando comparado ao traço de referência. Prova-

velmente, este fato se deva ao maior teor de material pulverulento do agregado reciclado e também se

deva ao aumento da retenção de água (SILVA, 2006).

2.7.3 Resistência à tração na flexão e na compressãoObservando a tabela 18, vê-se que, na resistência à tração da argamassa, as resistências dos traços T2,

T3 e T4 com os respectivos acréscimos de resíduos vão aumentando gradativamente em relação à resis-

tência com o traço de referência (argamassa de cimento e areia que é a utilizada em obra) até chegar a

um ponto ótimo e depois decai para uma resistência ainda acima da resistência do traço de referência.

Com relação à resistência e à compressão, nota-se pela tabela que o traço em que se conseguiu

maior resistência foi o T3, isto é, o traço em que se substituiu metade da areia natural pelo resíduo.

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Tabela 18: Resistência das argamassas

TraçoResistências

Tração na flexão Compressão

T1 1,2 3,3

T2 1,95 5,53

T3 2,5 8,0

T4 2,57 6,56

T5 1,9 7,0

Evidencia-se, assim, que a substituição da areia pelo material reciclado tem melhorado significa-

mente a qualidade da argamassa em relação à sua utilização de materiais comuns, ou seja, com cimento

e areia. Nos gráficos 4 e 5, é mostrado o comportamento da resistência das argamassas quando a areia

natural é substituida pelo resíduo.

Gráfico 4: Comportamento da resistência à tração da argamassa quando a areia natural é substituída pelo resíduo

Gráfico 5: Comportamento da resistência à com-pressão da argamassa quando a areia natural é substituída pelo resíduo

2.8 ConclusãoAs principais considerações finais deste estudo foram:

1) A parceria entre empresa e universidade foi positiva.

2) Os objetivos do trabalho foram atendidos.

3) Os levantamentos feitos do processo de gerenciamento do resíduo pela construtora parceira

do projeto mostraram que ela apresenta bom gerenciamento contribuindo de forma positiva

para o meio ambiente.

4) Os resultados obtidos com as argamassas produzidas neste estudo mostraram, de forma geral,

que a substituição pelo uso do resíduo em estudo proporcionou melhora das propriedades da

argamassa sem resíduo.

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Referências

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e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/

conama/ res/res02/ res30702.html>. Acesso em: set. 2010.

CINCOTTO, M. A.; SILVA, M. A. C.; CASCUDO, H. C. Argamassas de revestimento: características, propriedades e méto-

dos de ensaio. Boletim Técnico Instituto de Pesquisas Tecnológicas, São Paulo, n. 68, 1995.

PEREIRA, E. A. Caracterização física dos agregados da fração mineral dos resíduos de construção

e demolição da cidade de Maceió. Monografia (Graduação)–Universidade Federal de Alagoas. Maceió, 2006.

PINTO, T. P. Metodologia para a gestão diferenciada de resíduos sólidos da construção urbana.

189 f. Tese (Escola Politécnica)–Universidade de São Paulo. São Paulo, 1999.

SABBATINI, F. H. Patologia das argamassas de revestimentos: aspectos físicos. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE TECNO-

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residenciais. (Monografia)–Universidade Federal de Alagoas. Maceió, 2008.

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3 IEL/AM GESTÃO DA PRODUÇÃO: MELHORIA DO PROCESSO PRODUTIVO

Bolsista: Rodrigo Negreiros da Silva – Fametro

Professor orientador: Valdeir Gomes de Andrade – Fametro

3.1 IntroduçãoO trabalho proposto busca investigar e apontar novas soluções para os procedimentos de melhoria de

produção manufatureira da Empresa Ciborg Ltda., buscando a revitalização dos conceitos na área de

administração logística na empresa, agregando o valor ao cliente e à melhoria dos processos internos no

que convém o aumento da eficiência na fabricação do produto final da empresa.

O projeto consiste em analisar os mecanismos utilizados pela empresa na área de logística empre-

sarial e indicar procedimentos que instaurem ferramentas de administração e controle de materiais, com

a finalidade de redução de custos e tempo de processamento do produto final. A logística é importante

para as organizações empresariais, pois aborda o alocamento e a distribuição de recursos, fazendo que

elas se tornem mais ágeis e eficientes em prazo de tempo mínimo a um custo reduzido.

Dada essa importância, a metodologia do trabalho proposta foi a investigação por meio de re-

gistros escritos e de imagens, com a finalidade de elaborar um manual administrativo como solução

sistemática para a administração efetiva do processo produtivo por meio de ferramentas de controle.

3.2 EmpresaA empresa analisada foi a Comercial Ciborg Ltda., fabricante de fibras de vidros e lanchas aquáticas,

compromissada com o cliente na qualidade de fabricação de lanchas, bem como na sua eficiência pro-

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dutiva. Opera por meio de galpões, onde subdivide em alas de produção, em que cuida detalhadamente

de cada fase do processo produtivo. Trata-se de uma produção manufatureira, configurando-se em um

layout de produção do tipo celular.

O público-alvo escolhido foi a classe alta, composta de empresários, comerciantes, esportistas, que

tem alta disponibilidade de capital para comprar o produto e satisfazer suas necessidades de conforto e

luxo, tratando-se então de um grupo seleto ou específico, demandando o foco na qualidade.

3.3 Processo produtivoSegundo Martins e Laugeni (2005), “O layout celular ou célula de manufatura consiste em arranjar

em um só local máquinas diferentes que possam fabricar o produto inteiro”. Ou seja, nesse caso

prático, cada ala possui um grupo de células, em que os produtos em elaboração são trabalhados

a cada etapa.

Cada uma delas é responsável em elaborar passo a passo cada parte do produto, levando em con-

sideração a resistência, a funcionalidade e a eficiência do produto, configurando um nível de qualidade

esperado pelo cliente. Os grupos celulares devem conhecer o que cada um é capaz de fazer, pois se trata

de trabalho em equipe com alto nível de qualidade e produtividade, por causa da flexibilidade existente

no processo. O método celular também faz que o transporte e a distribuição dos produtos sejam alo-

cados de maneira mais fácil e rápida, também reduzindo custos, em que o processo é centralizado na

ordem do pedido.

O processo inicia-se com a captação de recursos ou requisição de pedidos do almoxarifado, em

que há os procedimentos de compras, comumente interligado com a administração financeira, em que

o pedido é feito com os materiais específicos da lancha. Caso não haja a necessidade de verificar as

unidades do estoque do almoxarifado, faz-se o pedido de acordo com o negócio fechado diretamente

com o cliente.

Dias conceitua compras da seguinte forma:

A função compra é um segmento essencial do departamento de materiais ou su-

primento que tem por finalidade suprir as necessidades de materiais ou serviços,

planejá-las quantitativamente e satisfazê-las no momento certo com as quantida-

des corretas, verificar se recebeu efetivamente o que foi comprado e providenciar

armazenamento (2006, p. 235).

Preceitua-se, então, que a função compras é indispensável para a administração logística atuante

no processo produtivo na fabricação das lanchas, uma vez que o pedido é originado pelo contato com

o cliente. A função de compras obtém a função de alimentação de recursos materiais ao departamento

de produção, onde a demanda é origina por meio do conjunto de pedidos realizados pelos clientes, em

conformidade com prazos, nível de qualidade e garantia do produto.

Nesse âmbito, o gestor de compras deve usar dos princípios de planejamento, organização, execu-

ção e controle, para gerenciar os materiais de forma inteligente, a fim de reduzir custo e diminuir o lead

time (tempo de produção) o máximo possível. Ele deve manter sempre um nível alto de rotatividade dos

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materiais para que eles não acumulem no estoque e, assim, gerem novos custos de armazenamento no

estoque e faça que a manutenção dos materiais seja bastante elevada. O gestor de compras também

não deve estar passível da falta de materiais durante o processo produtivo, pois a consequência seria o

prolongamento do prazo de entrega e, por conseguinte, a perda de confiança do cliente, fazendo que a

procura tenha baixa.

Então, a partir desse ponto criam-se as ferramentas de controle para que o gestor de com-

pras saiba manter o fluxo contínuo dos materiais: diminuir o custo do investimento em materiais

e aumentar o valor do resultado; conseguir o menor preço na compra de materiais sem pôr em

risco o padrão de qualidade e, ainda, usar táticas de negociação em que beneficie a empresa e o

fornecedor (stakeholder).

3.3.1 Planejamento das compras no processo produtivoPara que o gestor tenha controle sobre as compras e, ainda, que possa fazer futuros investimentos na

área do departamento de materiais, é necessário que ele planeje as compras e tenha sempre ciência dos

dados produzidos pelo almoxarifado e do status de desempenho do departamento.

Quanto ao planejamento das compras, Dias afirma:

Um dos parâmetros importantes para o bom funcionamento de compras e,

conseqüentemente, para o alcance de todos os objetivos, é a previsão das

necessidades de suprimento [...] São essas informações que fornecem os

meios eficientes para o comprador executar o seu trabalho, devendo com-

pras e produção dispor do tempo necessário para negociar, fabricar e entre-

gar os produtos solicitados (2006, p. 236).

A finalidade de planejar as compras acaba por integrar as áreas de produção, vendas e adminis-

tração financeira, em que todas elas, incluindo a área de materiais, são participantes do elo existente

dos recursos empregados em cada parte desta, tendo como finalidade realizar o objetivo de entregar a

mercadoria ou produto final, conforme o prazo estipulado ao cliente com o padrão de qualidade prees-

tabelecido pela organização.

Essa é uma ferramenta poderosa de negociação com fornecedores, pois permite abrir um leque

de opções em que poderá haver concessões múltiplas entre o fornecedor e o negociador, havendo

benefício mútuo cumprindo o objetivo de forma precisa e inteligente. Quando o campo é a negociação

entre as empresas, um bom planejamento de materiais torna-se grande arma para o gestor, pois per-

mite ele dominar o conhecimento de altos e baixos do departamento, possibilitando que ele saiba

exatamente quando avançar ou recuar em uma negociação, sem assim comprometer o nome da

empresa e a entrega do seu produto, por meio do benefício mútuo, incluindo parcerias de network

entre stakeholders.

A função compras é a fonte que alimenta a gestão dos recursos materiais, buscando sempre

reduzir custos e ganhar tempo, uma vez que há comprometimento com a qualidade a um preço

acessível.

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48 COLETÂNEA BITEC 20082010

3.3.2 Sistema de produçãoConforme Chiavenato, tem-se que:

O Sistema de produção é a maneira pela qual a empresa administra seus órgãos e

realiza suas operações de produção, adotando uma interdependência lógica entre

todas as etapas do processo produtivo, desde o momento em que os materiais

chegam dos fornecedores para o almoxarifado até alcançarem o depósito como

produtos acabados. (2005, p. 15).

O sistema de produção então é responsável em arquitetar toda a sincronia de tarefas entre os de-

partamentos envolvidos na fabricação do produto. Na empresa em questão são envolvidos o departa-

mento de materiais, produção, compras e vendas, em que há o acompanhamento (follow-up) do cliente

em que ele vai até a empresa para visualizar o seu pedido.

A coordenação do sistema produtivo é gerada entre a interação dos departamentos, ocorrendo

então um fluxo contínuo de informações e de tarefas com a finalidade de produzir para o cliente a mer-

cadoria desejada de acordo com o seu gosto e a sua necessidade, atendendo o perfil do cliente exigido.

Por meio do sistema produtivo é que se configura a ambientação do layout e como o fluxo do

processo produtivo irá funcionar. A ambientação do chão de fábrica é disposta por meio desse sistema

produtivo, em que as pessoas devem estar munidas de todas as ferramentas necessárias para executar

as suas tarefas de forma síncrona e organizada.

Dependendo então do sistema de produção, o chão de fábrica deverá dispor de uma ambientação

específica ao tipo de organização das tarefas a serem executadas, uma vez que é nesse ambiente que

as matérias-primas serão captadas e darão início à fase de processamento, fazendo que a relação entre

o departamento de produção e o de materiais sejam muito próximos, necessitando dinamismo e coor-

denação entre eles.

O sistema de produção configurado para a empresa em questão foi sistema de produção por enco-

menda. De acordo com Chiavenato:

É o sistema de produção que se baseia na encomenda de um determinado produ-

to/serviço ao mercado. Quando recebe um pedido ou contrato de compra é que

ela se prepara para produzir. Neste momento, o pedido foi feito pelo cliente ou o

contrato serve de base para elaboração do plano de produção, isto é, para o plane-

jamento do trabalho a ser realizado (2005, p. 18).

O pedido de compra inicia-se a partir do contato do cliente com a empresa, em que ele com-

parece para determinar os detalhes da lancha, tais como: protótipo desejado para fabricação dela,

materiais que devem ser utilizados, finalidade da lancha, detalhes como textura, resistência, velo-

cidade, entre outras funcionalidades. Ou seja, o cliente de início pode determinar a qualidade do

produto que ele deseja receber, cabendo à empresa moldar sua produção de acordo com o gosto

do cliente.

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Uma grande vantagem desse sistema produtivo é que ele trabalha com quantidades certas de

materiais previstas em estoque, fazendo que o custo com o departamento de materiais seja minimiza-

do e o tempo seja bastante reduzido, uma vez que o cliente personaliza o produto, não necessitando

o armazenamento excessivo de matéria-prima, tornando possível trabalhar com estoque “zero” com o

mínimo de lead time possível.

O processo produtivo é pouco padronizado e pouco automatizando, tornando-se ideal para a em-

presa em questão, pois se trata de uma produção manufaturada sem utilização de equipamentos de

automação, valendo-se da qualidade manual que os produtos são processados e acabados no chão

de fábrica. Cada fase do processo é planejada e estipula-se um prazo para seu término até o início da

próxima, bem como a utilização dos recursos e do espaço necessário para que isso se torne possível,

sendo desenvolvido um cronograma baseado de acordo com o consumo dos materiais durante o pro-

cessamento de cada fase.

A partir dessa organização de tarefas, esquematiza-se a disposição do arranjo físico, conforme Chia-

venato:

O arranjo físico típico do sistema de produção sob encomenda é concentrado no pro-

duto. Como o produto é de grande porte e de construção relativamente demorada,

todas as máquinas e equipamentos são colocados ao redor do produto e todos os ma-

teriais necessários são estocados ou movimentados próximos ao produto (2005, p. 20).

O arranjo físico do sistema de produção sob encomendas na empresa em questão é realizado por

meio dos materiais que estão dispostos nas alas, como resinas, géis, massa para colagem, pisos da lan-

cha, ou seja, eles ficam dispostos organizadamente no chão de fábrica para que sejam utilizados em

suas fases correspondentes, reduzindo o tempo de fabricação do produto e obedecendo às exigências

do cronograma de produção.

3.4 Gestão de estoqueA função de estoques é uma alavanca primordial para que o processo produtivo possa funcionar e alcan-

çar seu objetivo adequadamente. Ela detém matérias-primas, produtos em elaboração, produtos acaba-

dos, materiais auxiliares e de manutenção armazenados para que, quando necessário, possa distribuir

entre as unidades de produção e satisfazer o processo de forma organizada e precisa.

Para que se possa entender a função de estoque, é necessário entender o que são matéria-prima,

produtos em elaboração, produtos acabados e materiais auxiliares e de manutenção.

Matérias-primas, segundo Dias, “são os materiais básicos e necessários para a produção do produto

acabado; seu consumo é proporcional ao volume de produção” (2006). Ou seja, as matérias-primas são

todos os materiais necessários que são utilizados no processo produtivo que vão compor o produto aca-

bado, podendo ser componentes eletrônicos, placas, resinas, entre outros. Todos eles serão necessários

para que o produto acabado seja entregue ao cliente.

Produtos em elaboração, conforme Dias, “são todos os materiais que estão sendo usados no

processo fabril. Eles são, em geral, produtos parcialmente acabados que estão em um estágio interme-

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diário de produção” (2006). Ou seja, os produtos em fase de elaboração são os produtos que são mon-

tados para serem utilizados em uma fase posterior do processo produtivo. No caso da empresa em tela,

podemos citar como processo o casco e a proa da lancha, que comumente são trabalhadas por diversos

processos até que estejam prontas para realizar o acoplamento entre elas, prosseguindo a partir daí para

a fase de acabamento em que são incertas as instalações hidráulicas e elétricas da lancha.

Em relação aos materiais auxiliares e de manutenção, Dias afirma que:

A mesma importância dada á matéria-prima deverá ser dada a peças de manu-

tenção e aos materiais auxiliares e de apoio. O custo de interrupção da produção é

constituído das despesas correspondentes à mão-de-obra parada, ao equipamen-

to ocioso, ao prazo de entrega adiado e à própria perda ocasional da encomenda,

quando não do cliente (2006, p. 27).

Os materiais auxiliares são exclusivamente importantes caso haja a necessidade de reparar peças

durante o processo produtivo, evitando causar o surgimento de gargalos no sistema de produção, fa-

zendo que a taxa do lead time aumente, comprometendo o prazo de entrega do produto ao cliente. São

exemplo desse tipo de material, martelos, pregos, compressor de ar, entre outros materiais que estão

ligados indiretamente à produção da mercadoria.

Na proposição de Dias, “o estoque de produtos acabados consiste em itens que já foram produzi-

dos, mas ainda não foram vendidos” (2005). Então, pode-se afirmar que para a empresa em questão, os

produtos acabados serão lanchas já pré-fabricadas para aqueles clientes que não costumam persona-

lizar a sua lancha, e sim, comprá-la como se encontra em estoque. Também podem ser citadas outros

produtos da empresa como fibras de vidro, reservatórios de água, fabricados no galpão industrial. Os

produtos acabados também podem ser os produtos que estão em fase de transporte/distribuição para

a área de vendas, em que serão comercializados e entregues ao cliente final.

Todos esses tipos de materiais abordados são imprescindíveis para a gestão de estoque, pois cada

um deles tem a sua funcionalidade e o momento certo para sua utilização, cabendo ao administrador

de estoques gerenciar todo o desempenho do departamento de materiais, reduzindo custos e prazos,

utilizando a alternativa mais viável possível.

Sobre a função de estoques, Dias dispõe que:

A função da administração de estoques é maximizar o efeito lubrificante do

feedback de vendas e o ajuste do planejamento da produção. Simultaneamente,

deve minimizar o capital investido em estoques, pois ele é caro e aumenta continu-

amente, uma vez que o custo financeiro aumenta. Sem estoque é impossível traba-

lhar, pois ele funciona como amortecedor entre os vários estágios da produção até

a venda final do produto (2006, p. 19).

Para o gestor é importante conhecer e saber as ferramentas com a qual ele deve controlar o de-

sempenho da área de materiais e realizar o fluxo dessas informações junto ao departamento de vendas,

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aumentando a eficiência de resposta quanto ao aumento ou diminuição da demanda, poupando o

aumento de custos ou o investimento em materiais desnecessário ao departamento de produção.

Na empresa em questão, foi observada a necessidade de se manter o controle sobre a gestão dos

estoques, uma vez que o objetivo é manter estabilidade e medir o desempenho da área de materiais,

verificando a compatibilidade do serviço do departamento de materiais com o que é oferecido ao clien-

te. Para que isso se torne possível, é necessário que os gestores conheçam as ferramentas básicas de

operação de estoques, sendo que o objetivo dessa função é otimizar os investimentos, por meio da boa

aplicação de recursos financeiros, diminuindo o aumento de capital investido e aumentando o resultado

obtido nas operações.

Em suma, é relevante dizer que para que o gestor possa dominar as ferramentas da gestão de

estoque e torná-las cada vez mais eficientes, trazendo novos resultados, deve-se dominar e criar prerro-

gativas e vertentes que sejam diretrizes das ferramentas de gestão de estoque, como: a definição de uma

política de estoques alinhada à estratégia organizacional, a implantação de um controle de estoques

eficiente e a esquematização precisa da previsão de estoques.

3.4.1 Política de estoquesA política de estoques é necessária para basear todos os procedimentos e ferramentas da gestão de

estoque, para que o departamento de materiais possa operar por meio de um padrão e uma diretriz nor-

teadora, estabelecer os níveis de ferramentas e quando usá-las, alinhando os objetivos do departamento

de materiais com a estratégia organizacional do negócio.

Dias afirma que:

O ponto central na política de estoques é o custo de reposição. Encontram-se nor-

malmente situações que o lucro sobre as vendas não supera a reposição do esto-

que. A administração deverá determinar ao departamento de materiais o programa

de objetivos a serem atingidos, isto é, estabelecer certos padrões que sirvam de

guia aos programadores e controladores e também de critérios para medir a per-

formance do departamento (2006).

Por meio desse conjunto de critérios é que o gestor saberá como utilizar as ferramentas de estoque.

Ele deverá atender os critérios por meio das diretrizes estabelecidas na política de estoques, que fixam

regras para funcionamento da gestão de estoques. Essas regras, em geral, devem consistir em obedecer

a prazos, disposição dos depósitos e do almoxarifado, definição do nível de flutuação dos estoques,

rotatividade dos materiais, entre outros.

A política de estoques deve definir claramente para o gestor os limites do departamento de ma-

teriais, fator importante para previsão de estoques, uma vez que esta depende impreterivelmente de

como é gerenciado o estoque. Os custos de reposição devem ser analisados e calculados para que não

falte materiais no almoxarifado e nem haja investimento excessivo de materiais, causando desperdício.

Por essa razão, a política de estoques é responsável por regular a entrada e a saída de materiais estabele-

cendo critérios e concordar com a estratégia da empresa, sem perder o foco do negócio.

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3.4.2 Controle de estoquesO controle de estoques é vertente importante para a gestão de estoque, pois é por meio dele que o

departamento de materiais irá mapear a localização e a quantidade exata dos materiais, sempre obser-

vando a capacidade do local, evitando custos de armazenamento relativamente altos.

O controle de estoque deve sempre observar a capacidade do local, classificar os itens por nível

de importância ou consumo, a quantidade que deve ser liberada para não comprometer o custo de

reposição, produzir informações importantes sobre o inventário, para dizer se é preciso ou não realizar

novas aquisições.

Para que isso tudo funcione simultaneamente, é necessário que se tenha uma política de estoque

eficiente e que possam ser criadas ferramentas para atuar no sistema de controle de estoques.

Referente à implantação de um sistema de controle de estoques, Dias propõe:

Existem vários aspectos que devem ser definidos, antes de se montar um sistema

de controle de estoques. Um deles refere-se aos diferentes tipos de estoque exis-

tentes na empresa. Outro diz respeito aos diferentes pontos de vista quanto ao

nível adequado de estoque que deve ser mantido para atender às necessidades.

Um terceiro ponto seria a relação entre o nível do estoque e o capital necessário

envolvido (2006, p.25)

A partir dessa análise, justifica-se a necessidade de se mapear todos os tipos de materiais utilizados

no processo produtivo, pois, comumente antes de adentrar na fase de processamento, os materiais são

armazenados no almoxarifado ou depósito, até que seja realizada a ordem de pedido e o material seja

transportado para seu destino.

Na empresa em questão, trabalha-se com resinas, géis, tintas, resíduos químicos e esponjas, estes

materiais devem estar em quantidade suficiente na hora exata para que possa ser processado durante

a fase de produção das lanchas. É necessário que se tenha o controle do estoque para decidir o que

e quando comprar, não permitindo assim o surgimento de gargalos na produção e de desperdícios

pela falta de controle no estoque, ocasionando operações financeiras desnecessárias tanto em compras

quanto em despesas.

No caso em tela, faz-se vital a utilização de ferramentas de estoque que procurem calcular o custo

do estoque e a sua reposição para que se possa gerar indicadores do departamento de materiais, tor-

nando as futuras compras e operações financeiras mais efetivas. Por exemplo, o inventário de materiais

é muito importante para que seja feita uma constante auditoria de materiais do capital que foi investido

e utilizado na aquisição e no processamento dos materiais, fazendo que haja uma resposta rápida diante

da mudança da demanda, controlando o estoque de forma rápida e precisa.

3.4.3 Previsão de estoquesDias propõe que “a previsão de consumo ou da demanda estabelece estimativas futuras dos produtos

acabados comercializados e vendidos. Estabelece, portanto, quais produtos, quantos desses produtos

e quando serão comprados pelos clientes” (2006). Ou seja, a previsão de estoques baseia-se no pla-

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9ª EDIÇÃO 53

nejamento de materiais a partir do volume das vendas e do comportamento da demanda, buscando

economia e evitando o excesso de investimento de capital em materiais.

É necessário que se realize a previsão de estoques de forma quantitativa, pois como a produção

escolhida é por encomendas, torna-se mais viável basear-se em vendas passadas e acompanhar o de-

sempenho dos estoques, buscando o prazo mais eficiente da compra de materiais, definindo também

critérios para o ponto de reposição do estoque. Essa faceta é importante, pois permite que a área de

materiais fique integrada com a área comercial, possibilitando maior flexibilidade na tomada de decisão

quanto à mudança do mercado consumidor.

3.5 Controle de qualidadeSegundo Chiavenato (2005), “Qualidade é a adequação aos padrões previamente definidos. Os padrões

são denominados especificações quando se trata de projetar um produto/serviço ou materiais que o

compõe” . Ou seja, a qualidade permite que o produto seja fabricado com um nível satisfatório ao cliente,

contendo todas as suas funcionalidades e garantias, para que funcione de maneira correta e precisa, sem

causar prejuízos ao usuário do produto (cliente).

A qualidade implica planejar medidas corretivas e preventivas para que a qualidade do produto não

seja perdida junto ao quesito de confiabilidade do cliente, fazendo que o market share (participação de

mercado) da empresa diminua.

Para a empresa em tela, é necessário que se adotem, nos procedimentos da área de logística, a

vistoria e a conferência de materiais, uma vez que é estratégia dela importar-se com a qualidade e a

eficiência dos seus produtos, a fim de conquistar o público-alvo em foco e manter os planos anteriores

de qualidade total.

3.6 ConclusãoDe acordo com os fatos citados, é necessário tomar medidas reais de controle para melhor gestão dos

materiais da empresa em questão, levando sempre em consideração a estratégia organizacional, o foco

do negócio e a satisfação do cliente. Ao aperfeiçoar o relacionamento entre empresa e cliente, propor-

cionamos redução nos custos e no prazo de entrega com a finalidade de aumentar a integração entre os

departamentos e aprimorar a administração dos recursos financeiros investidos na área fim do negócio.

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4 IEL/BA GERENCIAMENTO AUTOMATIZADO: UTILIZAÇÃO DA FERRAMENTA TPM

Bolsista: Mariana Bleza de Andrade – FTC

Professor orientador: Carlos César de Castro Deonísio – FTC

Coautor: Ramon Luiz Lemos Santos

4.1 IntroduçãoA Inovatecno é uma microempresa que se desenvolveu e cresceu ao longo do tempo. Atualmente, ela

atua na área de robótica educacional, produzindo e desenvolvendo circuitos eletrônicos próprios que

compõe os seus kits de robótica. Com a globalização, o mercado torna-se ainda mais competitivo e para

tanto é de fundamental importância que a empresa busque aprimorar sua linha de montagem de forma

que diminua o tempo de produção e aumerte a eficiência do processo. A empresa pretende entrar tam-

bém em alguns setores em que é necessário obter alguns certificados de qualidade como a Organização

Internacional para Padronização (Isso) 9001 e o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Quali-

dade Industrial (Inmetro). Portanto, é necessário que ela esteja estruturada a ponto de que a repetibili-

dade e a precisão no seu processo esteja bastante calibrada. Outro fator importante é controlar de forma

global os principais setores da empresa. Por exemplo, como fazer que a pesquisa e o desenvolviemnto

(P&D) da empresa estejam ligados com a necessidade do cliente e, ainda, como integrar a produção

com a logística e com outras funções? Dessa forma, é necessário que uma equipe interdisciplinar com

visão macro, mesclando conhecimento acadêmico com a estrutura empresarial, possa desenvolver um

projeto nessas proporções.

Com a aplicação da ferramenta de manutenção total produtiva (TPM), pretende-se obter na Ino-

vatecno uma redução dos custos e aumento da produtividade, bem como um sistema de padronização

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e organização da empresa e dos métodos de trabalho que são fatores fundamentais ao processo de

Certificação da ISO 9001 que a empresa almeja alcançar.

Com a criação do software de gerenciamento, pretende-se obter um controle da produção para

que esta esteja de acordo com o sistema de logística da empresa e evite problemas como a falta de in-

sumos, além de prever uma quantidade média de produtividade dando arcabouço técnico quantitativo

e qualitativo sobre a eficiência do sistema de produção e subsídios aos gestores sobre a necessidade ou

não de contratações ou modificações no layout de manufatura.

Outra característica importante desse software será a capacidade de avaliar o preço dos fornece-

dores indicando sobre o possível aumento no custo do produto ou na previsibilidade sobre a falta de

algum insumo.

O Sistema de TGW permitirá uma análise crítica sobre a percepção do cliente em relação ao produto

(costumer satisfaction) e preverá em tempo real as ações dos engenheiros em relação a qualidade do

produto.

4.2 Revisão bibliográfica

4.2.1 Surgimento da manutenção total produtiva (TPM)Após a Segunda Guerra Mundial, as empresas japonesas se lançaram na busca de alcançar metas go-

vernamentais de reconstrução nacional, tendo como objetivo principal, recompor as indústrias que

estavam, até então, bastante envolvidas na produção militar. Por questões de sobrevivência, o Japão

precisava produzir e exportar, tendo para isso, que vencer o principal desafio de reverter à reputação de

produtor de segunda categoria, por causa da exportação de bens de má qualidade antes da Segunda

Grande Guerra. Foi nesse grande movimento japonês em busca da qualidade que se desenvolveu TPM,

que, ao longo dos últimos 50 anos, vem evoluindo de uma metodologia de manutenção para um com-

pleto sistema de gestão empresarial (EBAPE, 2009).

Figura 1: Criação de TPM. Fonte: elaboração do autor.

Essa metodologia japonesa tem como principal objetivo aumentar a rentabilidade dos negó-

cios por meio da eliminação das falhas por quebras de equipamentos, reduzindo o tempo gasto para

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9ª EDIÇÃO 57

preparação deles, mantendo a velocidade do maquinário, eliminando pequenas paradas e melhorando

a qualidade final dos produtos (MCKONE; SCHROEDER; CUA, 1999). Então, com a aplicação dessa ferra-

menta, pode-se observar um aumento da eficiência geral dos equipamentos de toda a fábrica.

A manutenção total produtiva pode ser definida como um conjunto de atividades de manutenção

que visam a melhorar a performance e a produtividade dos equipamentos de toda a fábrica, para isto,

toda a fábrica tem de estar envolvida na cultura e nas atividades desta ferramenta desde a gerência até

aos operários.

Segundo o Japan Institute of Plant Maintenance (JIPM), TPM visa a:

a) criar uma cultura corporativa que persiga constantemente a melhoria da eficiência do sistema

produtivo;

b) construir um sistema para prevenir qualquer tipo de perda para atingir o “zero acidente, zero

defeito e zero falha” em todo ciclo de vida de um sistema de produção;

c) abranger todos os departamentos, incluindo produção, desenvolvimento, marketing e admi-

nistração.

d) exigir envolvimento completo, desde a direção até o chão de fábrica;

e) atingir perda zero por meio das atividades de pequenos grupos.

TPM representa uma forma de revolução, pois conclama a integração total do homem x máquina

x empresa, em que o trabalho de manutenção dos meios de produção passa a constituir a preocupação

e a ação de todos (NAKAJIMA, 1989).

4.2.2 Implantação de TPMA implantação de TPM pode ser dividida em duas formas (TSANG, 2000):

1) Mudança revolucionária: propõe uma drástica e rápida quebra nos paradigmas e nas mudança

nos processos utilizados. O objetivo é imprimir instantaneamente nos funcionários o senso de

urgência e necessidade das mudanças.

2) Mudança evolucionária: propõe uma forma gradual de conscientização dos funcionários a

respeito das deficiências do método atual. Dessa forma, os conceitos e os detalhes do novo

processo são passados de forma gradual, por meio de educação e treinamento.

Independentemente do método adotado pela empresa, a implantação de TPM deve partir da alta

direção dela, pois demanda investimentos iniciais que tornaria o processo inviável sem seu apoio. Antes

de seus resultados serem “visíveis”, deve-se investir muito em treinamento teórico e prático em vários

níveis.

TPM apresenta uma estrutura de oito pilares que dão sustentação para toda sua implantação e ma-

nutenção. A base do sistema é o conhecimento e o envolvimento das pessoas, sem as quais, por melhor

que seja a fase de planejamento, o sistema não funcionará. Esses pilares são definidos como:

1) Manutenção autônoma.

2) Manutenção planejada.

3) Melhorias específicas.

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58 COLETÂNEA BITEC 20082010

4) Educação e treinamento.

5) Manutenção da qualidade.

6) Controle inicial.

7) TPM em áreas administrativas (office).

8) TPM saúde, segurança e meio ambiente.

Figura 2: Pilares de TPM. Fonte: elaboração do autor

Apesar de contar com oito pilares, o foco deste projeto de pesquisa é a manutenção autônoma.

4.2.3 Manutenção autônomaA manutenção autônoma pode ser definida considerando os quatro principais objetivos do Programa

TPM (MCKONE; SCHROEDER; CUA, 1999):

1) Primeiro: fazer que as equipes de manutenção e produção trabalhem em conjunto para estabi-

lizar as condições e para deterioração dos equipamentos.

2) Segundo: com a divisão das responsabilidades pelas atividades diárias de manutenção, a pro-

dução e a manutenção tornam-se capazes de melhorar a “saúde” dos equipamentos. Essas ati-

vidades incluem limpeza e inspeção, lubrificação, checagem de precisão e outras pequenas

intervenções de manutenção.

3) Terceiro: TPM foi pensado para ajudar os operadores a conhecer melhor o funcionamento de

seus equipamentos, quais problemas podem ocorrer e por que e como tais problemas podem

ser previstos por meio de pré-detecção e do tratamento de condições anormais.

4) Quarto: TPM promove o envolvimento dos operadores por meio de sua preparação para atuar

como parceiros do pessoal de manutenção e engenharia na melhoria da performance geral e

confiabilidade dos equipamentos.

O pilar manutenção autônoma tem, então, como principal objetivo o aumento do tempo de dispo-

nibilidade operacional dos equipamentos por meio da preparação e do envolvimento do pessoal de

operação. A palavra autônoma indica exatamente o fato de os operadores terem autoridade e conheci-

mento suficientes para executarem intervenções antes só realizadas pelo pessoal especializado. Com o

incremento de pequenas tarefas no dia a dia dos operadores, estes têm sua função mais valorizada e os

técnicos de manutenção têm mais tempo disponível para desenvolver e estudar formas de melhorar os

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equipamentos e facilitar sua intervenção. Isto torna o sistema um ciclo virtuoso de melhoria contínua e

consequente redução das perdas relacionadas a quebras, falhas, perda de velocidade e qualidade.

Na figura 3, é possível visualizar as etapas envolvidas na manutenção autônoma.

Figura 3: Etapas envolvidas na manutenção autônoma. Fonte: elaboração do autor.

4.2.4 Resultados esperados com a implantação de TPMA difusão de TPM na indústria japonesa e atualmente em todo o mundo, deu-se principalmente por três

motivos (EBAPE, 1999):

1) Garante “drásticos resultados”: a garantia dos “drásticos resultados” é oriunda da aplicação do

princípio básico de TPM, que é a eliminação total das perdas por toda a empresa. Como redu-

ção de avarias nos equipamentos, minimização de tempo ocioso da produção, diminuição dos

defeitos nos produtos, elevação da produtividade e redução dos custos, redução dos estoques

e eliminação de acidentes.

2) Transforma visivelmente os lugares de trabalho: TPM propõe-se a melhorar o ambiente de tra-

balho, transformando ambientes sujos (poeira, graxa, óleo lubrificante etc.) e desorganizados

(objetos em desordem visível e, em muitos dos casos, desnecessários e inadequados ao pro-

cesso de trabalho), em um ambiente agradável e seguro.

3) Eleva o nível de conhecimento e capacidade dos trabalhadores de produção e manutenção:

ocorre à medida que as atividades de TPM vão sendo realizadas e os primeiros resultados co-

meçarem a aparecer, motivando os empregados, aumentando a integração no trabalho e ele-

vando sobremaneira o número de sugestões espontâneas de melhorias.

4.3 MetodologiaA seguir serão apresentados todos os passos tomados para implementação do projeto. Inicialmente,

serão abordados a mudança nas linhas de produção da empresa e, posteriormente, o desenvolvimento

do software.

4.3.1 Layout produtivo O Sistema Produtivo da Inovatecno era do tipo oficina, caracterizado pela produção de vários produtos

diferentes em volumes variados. O layout era funcional, no qual os equipamentos eram organizados de

acordo com sua especialidade. Assim, na empresa havia duas mesas e os equipamentos estavam dis-

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60 COLETÂNEA BITEC 20082010

postos para produzir um dos dois produtos oferecidos pela Inovatecno. Hora a empresa estava voltado

para produção do produto A, hora para o produto B. Além dessas características, a empresa não tinha um

local correto para armazenamento de cada insumo ou ferramentas rápidas como alicate, tesoura etc.,

que acabavam se perdendo com facilidade, causando perda de tempo no processo produtivo.

Contando com duas salas de 20 m² cada, a empresa ocupava os dois recintos no processo de pro-

dução e não sobrava espaço para armazenamento de estoque e produtos acabados. A organização do

processo estava estabelecido conforme a planta exibida na figura 4.

1) Mesa utilizada para montagem mecânica.

2) Ferramenta para furação (furadeira vertical).

3) Descarte de resíduos.

4) Caixa de ferramentas (alicates, limas, chaves etc.).

5) Insumo (componentes eletrônicos).

6) Estação de soldagem.

7) Mesa utilizada para montagem eletrônica.

8) Prateleira com insumos e armazenamento.

9) Ferramenta para desbaste.

Figura 4: Layout antigo da oficina. Fonte: elaboração do autor.

Para solucionar os problemas decorridos do layout original, foi necessário primeiramente modificar

o Sistema Produtivo para o Sistema Flexível de Manufatura Linha Guiada pelo Operador, em que o ope-

rador passa a ditar o ritmo da produção, sendo, dessa forma, mais flexível – nem por isso os operadores

são muito mais especializados. Sendo assim, é indicado para sistemas nos quais os produtos com grande

variedade são fabricados em grande volume. A capacidade de produção depende do tipo de produto

e do número de operadores alocados. Esse sistema, por exemplo, é muito utilizado em indústrias de

brinquedos.

Para adequação desse projeto, foi criada uma única bancada dividida em quatro segmentos, em

substituição às duas mesas. Nessa bancada, em cada segmento é possível manufaturar uma parte do

produto, sendo este intercambiável para o produto tipo A ou B, conforme foto 1.

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Foram feitas demarcações sobre a bancada de forma que cada insumo ou ferramenta rápida esteja

no seu local apropriado e fixado, também, sobre os seguimentos auxílios visuais e instruções de trabalho

para facilitar montagem correta de cada peça, conforme foto 2.

Foto 1: Bancada dividida em quatro segmentos. Fonte: elaboração do autor.

Foto 2: Bancada demarcada para aumentar a velocidade na identificação de uma ferramenta. Fonte: elaboração do autor.

Um problema também observado no sistema original, tratava-se da perda de insumos, principal-

mente componentes eletrônicos, que no processo de montagem acabavam caindo no chão. Em um

levantamento, após um dia de produção, constatou-se que em um único dia perdia-se cerca de R$ 1,00

em componentes eletrônicos. Para solucionar esse problema, projetou-se uma espécie de parede sobre

a bancada, de forma que os componentes não caissem no chão. Contudo, para facilitar a ergonomia,

inclinou-se essa parede a um ângulo de 60º de forma que o operador apoiasse os braços de forma con-

fortável (foto 3).

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62 COLETÂNEA BITEC 20082010

Após a medição do tempo de operação em cada processo, observou-se que as ferramentas de

corte e desbaste deveriam se encontrar o mais próximo possível, diminuindo o tempo em diversas ope-

rações. Esta medida também ajudou a manter o ambiente mais limpo, já que ambos equipamentos

geram refugo (cavaco), ficando mais fácil de realizar a limpeza.

Outro fator observado foi que a maior fonte de ruído era proviniente desses equipamentos, provo-

cados pelo local onde eles se encontravam, constituído de mesas sem a rigidez necessária para apoiá-los

aumentando ainda mais a vibração do conjunto. Para reduzir a fonte de ruído, introduziu-se uma estante

de aço, de forma que as duas máquinas pudessem ficar na mesma prateleira (foto 4).

Foto 3: Paredes para evitar a perda de insumos. Fonte: elaboração do autor.

Foto 4: Estante de aço com equipamentos. Fonte: elaboração do autor.

Foto 5: Quadro de ferramentas em acrílico. Fonte: elaboração do autor.

Para facilitar a localização de ferramentas pequenas, como alicates, chaves, cortadores, tesoura etc.

Confeccionou-se um quadro em acrílico, o qual fica suspenso sobre a bancada de operações (foto 5).

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9ª EDIÇÃO 63

Dessa forma, apenas uma das salas foi utilizada para o processo produtivo. A outra sala foi destinada

para estoque dos produtos acabados e controle administrativo. Para armazenamento do produto aca-

bado, adquiriu-se uma estante plástica, contendo caixas com as respectivas legendas, indicando o que

deve ser armazenado em cada uma (foto 6).

Foto 6: Estante modular para armazenamento do produto acabado. Fonte: elaboração do autor.

Foto 7: Computador adquirido pela empresa. Fonte: elaboração do autor.

A empresa também adquiriu um microcomputador, para implementar o software desenvolvido, o

qual será descrito adiante. O computador e a mesa também ficaram na sala A, livre de ambiente ruidoso

e de forma que não atrapalhe o trabalho de manufatura (foto 7).

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64 COLETÂNEA BITEC 20082010

Com essas modificações, o novo layout da Inovatecno ficou de acordo com a figura 5. Utilizando da

melhor forma o espaço oferecido, organizando os materiais, desperdiçando menos insumos e diminuin-

do o tempo de produção:

1) Estante de armazenamento de produtos acabados.

2) Microcomputador.

3) Estante com maquinário de furação e desbaste.

4) Local de refugo.

5) Bancada de manufatura.

Figura 5: Layout atual da oficina (após projeto). Fonte: elaboração do autor.

4.3.2 Software de controleInicialmente, foi realizado um estudo, levantando todas as informações necessárias para criação do

software de gestão da produção, tais como:

1) Estoque de insumos que a empresa possui.

2) Custo médio do insumo por fornecedor.

3) Operações utilizadas em cada produto.

4) Quantidade de insumos utilizados em cada produto.

5) Preço do produto.

6) Vendagem média.

Com essa etapa finalizada, deu-se início à construção do software utilizando a ferramenta Microsoft

Excel. Nesse software, a empresa já consegue controlar automaticamente o estoque de cada insumo

com base na vendagem diária dos produtos. Antes da implementação desse sistema, a empresa perdia

cerca de 8 horas semanais com a realização de inventário do estoque e, ainda assim, quando a demanda

pelo produto aumentava corria-se o risco de faltar insumo para continuidade da fabricação dele. Na

figura 6, pode-se visualizar a tela inicial do software.

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9ª EDIÇÃO 65

Na tela inicial (figura 6), é apresentado um menu dos campos que a empresa poderá navegar.

Clicando em cada um dos campos, o usuário entrará em uma tela contendo o respectivo assunto abor-

dado. Na região superior do software, é possível visualizar também alguns dados relevantes à empresa,

tais como:

1) Objetivo diário do produto tipo 1 produzidos.

2) Objetivo diário do produto tipo 2 produzidos.

3) Objetivo do mês de kits produzidos.

4) Kits produzidos.

5) Scraps (perdas).

6) Imperfeições.

7) Objetivo diário do produto tipo 1 vendidos.

8) Objetivo diário do produto tipo 2 vendidos.

9) Objetivo do mês de kits vendidos.

10) Kits vendidos.

A utilização do software é bastante simples. Clicando, por exemplo, no campo “Estoque”, o usuário

será remetido à sua respectiva tela (figura 7).

Figura 6: Tela inicial do software desenvolvido. Fonte: elaboração do autor.

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66 COLETÂNEA BITEC 20082010

Nessa tela, o usuário poderá adicionar – colocando um valor positivo no campo Alimentação, ao

lado do insumo correspondente – ou retirar – colocando um valor negativo no campo Alimentação, ao

lado do insumo correspondente – um dado insumo. Ao clicar no botão Enter, o usuário poderá adicionar

ou remover insumos de forma automática.

Outra opção diz respeito ao término da fabricação de um produto. Nessa situação, o software tam-

bém decrementará automaticamente a quantidade de insumo necessário para confecção de cada pro-

duto, multiplicado pela quantidade de produto fabricado. Esse campo pode ser observado na figura 8.

Figura 7: Tela do software para o campo estoque. Fonte: elaboração do autor.

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9ª EDIÇÃO 67

O software possui uma estrutura modular para que a empresa possa adicionar ou remover mais ja-

nelas. Atualmente, o software possui os seguintes campos, entre os quais, alguns ainda estão em sistema

de implementação:

1) Produção.

2) Matriz de polivalência.

3) Acidente de trabalho.

4) Inventário de produção.

5) Estoque.

6) Preço de insumo.

7) Fornecedores.

8) Clientes por região.

9) Reclamação do cliente.

10) Vendas.

11) Engenharia.

Na foto 8, pode-se observar o software aberto na tela do computador adquirido pela Inovatecno

para implementação do projeto.

Figura 8: Tela do software para o campo inventário da produção. Fonte: elaboração do autor.

Foto 8: Software desenvolvido para a Inovatecno. Fonte: elaboração do autor.

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68 COLETÂNEA BITEC 20082010

4.4 Resultado e discussãoPara medição da eficiência do projeto, inicialmente foi realizada uma tabela contendo o tempo necessá-

rio médio para construção de cada uma das peças manufaturadas pela empresa, antes e após a imple-

mentação do projeto (tabela 1).

Tabela 1: Tempo médio de produção antes e após a implementação do projeto

Tempo de producão (antes do projeto)

Tempo de produção(após o projeto)

Ganho (min)

Caixa de redução 11 min 9 min 2

Motor 8 min 6 min 2

Cabo de gravação 10 min 8 min 2

Suporte de pilha 5 min 3 min 2

Sensor IR 19 min 17 min 2

Sensor de contato 16 min 13 min 3

Circuito TIPO 1 40 min 35 min 5

Circuito TIPO 2 23 min 19 min 4

Embalagem 15 min 11 min 4

Fonte: elaboração do autor.

Observa-se com os resultados da tabela um ganho expressivo de tempo de produção. Em meados

da implementação do projeto, observa-se um ganho no tempo correspondente a 15 minutos e, atual-

mente, esse resultado já saltou para um ganho de 26 minutos em cada operação. Considerando que a

empresa realiza todas essas operações com uma média de oito vezes por dia – algumas operações são

realizadas mais vezes –, observa-se uma economia de 3,5 horas ou cerca de dois kits a mais por dia, o que

remete a um lucro de aproximadamente R$ 65,00/dia, ou R$ 1.300,00/mês – neste valor, considera-se o

ganho médio de R$ 1,00 por dia de produto desperdiçado. Esses dados estão considerando a produção

atual da empresa.

Para implementação do projeto, a empresa necessitou fazer alguns investimentos importantes. Na

tabela 2, é possível contemplar os investimentos mais importantes.

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9ª EDIÇÃO 69

Tabela 2: Custos mais importantes da empresa para realização do projeto

Investimento Custo (R$)

Computador 700

Mesa do computador 200

Estante para produtos acabados 50

Mesa de aço para equipamentos 250

Bancada de produção 200

Quadro de ferramentas 20

Materiais diversos (fitas, cola, papel, etc.) 70

BITEC (professor orientador) 300

Impressora laser 600

Fonte: elaboração do autor.

Esta tabela revela que a empresa aportou aproximadamente R$ 2.390,00 para implementação do

projeto. Levando em conta que o ganho dela com o projeto é de aproximadamente R$ 1.300,00/mês,

verifica-se que em apenas dois meses a empresa já pagará todo investimento.

4.5 ConclusãoO projeto realizado na Inovatecno conseguiu implementar o Sistema TPM e automatizar o Sistema de

Gerenciamento da Produção. Com esse novo nível de qualidade, a empresa ganhou em tempo de pro-

dução, qualidade de produção, redução de custos, qualidade ambiental e padronização. Com esses ob-

jetivos cumpridos, será mais fácil para a empresa implementar um sistema de qualidade como Isso 9000

ou Inmetro, os quais são almejados pela empresa.

O projeto também trouxe uma experiência sem igual entre a bolsista e a empresa. Em muitas vezes,

a bolsista assumiu um papel de gerência, de forma que implementasse um projeto com qualidade e

assumisse um baixo custo alinhado aos objetivos da empresa.

O projeto foi concluído com muita satisfação para ambas as partes, dando à empresa um sistema

robusto que garantirá maior eficiência e agilidade em seus processos e à bolsista que levará essa experi-

ência para toda a sua vida profissional.

Como recomendação, espera-se que a empresa continue a implementar o software de controle,

adicionando novas features de acordo com sua necessidade.

A empresa constatou os ganhos com a utilização da ferramenta TPM, com isso decidiu aprofundar

na metodologia do 5S para a organização do ambiente de trabalho. Essa metodologia tem como propó-

sito melhorar a eficiência por meio da destinação adequada de materiais, especialmente os desneces-

sários, da organização, da limpeza e da identificação de materiais e espaços, a manutenção e a melhoria

do próprio 5S. Sendo assim, a Inovatecno estará realizando nova pintura na empresa e adicionado um

sistema de ar-condicionado em substituição dos ventiladores.

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70 COLETÂNEA BITEC 20082010

Com essa nova cultura implementada na empresa, a Inovatecno pretende criar uma apresentação

para utilizar como treinamento para novos funcionários como forma de perpetuar a ferramenta TPM.

Referências

[1] PALMEIRA, Jorge Nassar; TENÓRIO, Fernando Guilherme. Livro flexibilização organizacional. Dis-

ponível em: <http://www.ebape.fgv.br/academico/asp/dsp_pe _pegs_livro_informacoes.asp>. Acesso

em: 23 ago. 2009.

[2] MCKONE, Kathleen E.; SCHROEDER, Roger G.; CUA, Kristy O. Total Productive Maintenance: A Contex-

tual View. Journal Of Operation Management 17, Minnessota, p. 123-144, 1999.

[3] NAKAJIMA, Seiichi. Introdução ao TPM – Total Productive Maintenance. [s.l]: IMC Internacional

Sistemas Educativos, 1989.

[4] TSANG, Albert H. C.; CHAN, P. C. TPM Implementation in China: A Case Study. International Journal

of Quality & Reliability Management, v. 17, n. 2, p.148-156, 2000.

[5] WILLMOT, Peter. Total Quality With Teeth. The TQM Magazine, v. 6, n. 4, p. 48-50, 1994.

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9ª EDIÇÃO 71

5 IEL/CE MÉTODOS ALTERNATIVOS DE REDUÇÃO DE CUSTOS NA PRODUÇÃO DE MUDAS MICROPROPAGADAS DE BANANEIRA

Bolsista: José Dionis Matos Araújo – UFC

Professora orientadora: Cândida Hermínia Campos de Magalhães Bertini – UFC

Coautor: Ana Cristina Portugal Pinto de Carvalho

Coautor: Roberto Caracas de Araújo Lima

5.1 IntroduçãoO Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frutas, com 43 milhões de toneladas/ano, contribuindo

com 5% da produção mundial (SEBRAE, 2009 apud ABANORTE, 2009), envolvendo uma área aproximada

de 2,5 milhões de hectares (ALMEIDA, 2008). No estado do Ceará, esse agronegócio visto no contexto

das suas cadeias produtivas é responsável por quase 50% do produto interno bruto (PIB) do estado,

fator primordial a ser considerado, levando-se em conta que o agronegócio brasileiro representa cerca

de um terço do PIB do país. (SEAGRI, 2005). Privilegiado por condições ideais de clima e de solo e pela

posição geográfica, o estado do Ceará implantou, nos últimos anos, uma sólida infraestrutura de suporte

ao desenvolvimento regional e criou condições que constituem inegáveis vantagens comparativas no

segmento da fruticultura nacional e internacional (RODRIGUES, 2008).

Diante desse cenário de franca expansão da fruticultura cearense e nacional, aumenta-se a neces-

sidade de desenvolver empresas produtoras de mudas para atender a demanda do setor. A produção

de mudas de qualidade na própria região pode contribuir para geração de emprego regional e para

diminuir a possibilidade de introdução de novas pragas e doenças no território cearense.

Nos conceitos modernos da fruticultura, a produção de mudas de alta qualidade é uma das

etapas mais importantes no sistema produtivo. Para se produzirem mudas de alta qualidade, é

necessário um conjunto de técnicas que devem ser executadas de forma cuidadosa, em todas

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72 COLETÂNEA BITEC 20082010

as suas etapas de produção, desde a escolha do método de propagação até a fase de plantio da

muda no campo. Qualquer descuido ou falha em uma dessas etapas refletirá na qualidade da muda

produzida e, consequentemente, no desenvolvimento da planta adulta. Portanto, do início ao final

do cultivo, o produtor deve ter como objetivo principal o uso de mudas vigorosas e sadias por ele

produzidas ou adquiridas (MULLER, 2008).

O método convencional de propagação da bananeira é via divisão de rizomas que, além da

baixa produção de mudas/rizoma/ano, pode ocasionar a disseminação de pragas e doenças. Como

alternativa de produção de mudas para essa espécie, destaca-se a micropropagação ou propaga-

ção in vitro. A produção de mudas micropropagadas de bananeira consiste em isolar ápices caulina-

res de rebentos de matrizes vigorosas e produtivas, sob condições assépticas, e colocá-las em meio

de cultura in vitro (TEIXEIRA, 1983). Além de se alcançarem taxas de multiplicação mais elevadas

do que aquelas obtidas com os métodos convencionais, a micropropagação da bananeira oferece

ainda a possibilidade para produção comercial de mudas (BORGES et al., 1997), aumentando de

maneira considerável o número de plantas livres de pragas e doenças, como o mal-do-panamá,

moko, podridão-mole, sigatoka-negra, nematoides e a broca do rizoma, em curto espaço de tempo

(LAMEIRA et al., 1990).

Os principais fatores limitantes para o aumento do uso de mudas micropropagadas de bana-

neiras têm sido a falta de divulgação dessa tecnologia para os produtores, oferta e a o alto preço

das mudas. É fundamental que métodos mais eficientes e seguros de multiplicação da bananeira

sejam estabelecidos de modo que a fidelidade genética do material seja assegurada e que pro-

dutos de melhor qualidade sejam colocados à disposição dos agricultores a preços cada vez mais

baixos (LEMOS et al., 2001).

Mudas micropropagadas de bananeira produzem 30% a mais do que mudas obtidas convencional-

mente (SANADA, 1993), permitem colheita sincronizada nos primeiros ciclos da cultura, graças à homo-

geneidade das mudas, e possibilitam maior vigor das plantas, maior número de dedos por penca, maior

número de pencas por cacho e menor incidência de nematoides em áreas contaminadas (ORELLANA et

al., 1991; QUYNH; UYEN, 1993).

Grande parte dos inúmeros trabalhos relacionados à obtenção de mudas de bananeira in vitro tem

focado, principalmente, o tipo de explante, a composição dos meios de cultura e as condições físicas

do ambiente que proporcionam maiores taxas de multiplicação, assim como métodos distintos para

o enraizamento, sem considerar outros fatores, tais como mão de obra e frequência de tamanho de

brotos no final da fase de enraizamento (LAMEIRA et al., 1990; DOMINGUES et al., 1995; OLIVEIRA;

MACHADO, 1997). O aprimoramento constante de processos de multiplicação in vitro e o controle de

qualidade das mudas, aliado à redução de custos, têm sido essenciais para sua aceitação no mercado

(ASSIS et al., 2000).

Apesar da técnica de propagação in vitro da bananeira ser bastante difundida no meio cientifico,

percebe-se que há deficiência em trabalhos que visem ao aumento da taxa de multiplicação de algumas

variedades importantes, levando-se em consideração os custos de produção (LEMOS et al., 2001).

O presente trabalho teve como objetivo introduzir no sistema de micropropagação massal in vitro

de bananeira cv. Williams processos que visem a reduzir o custo final da muda.

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9ª EDIÇÃO 73

5.2 Material e métodos

5.2.1 MaterialO trabalho foi realizado no Laboratório de Cultura de Tecidos e Genética Vegetal da Embrapa Agroindús-

tria Tropical (CNPAT), em Fortaleza, Ceará, no período de junho a novembro de 2009.

Foram utilizados como material vegetal explantes de brotações a partir do cultivo de ápices cau-

linares oriundos de rizoma da bananeira cultivar Williams, estabelecidas in vitro. Esses explantes foram

obtidos de culturas na fase II, no 4o e 6o subcultivos sucessivos, cedidas pela empresa Bioclone Produção

de Mudas Ltda.

O meio de cultura utilizado, nos dois experimentos, foi o MS (MURASHIGE; SKOOG, 1962), suple-

mentado com 30 g.L-1 de sacarose, pH ajustado para 5,8, solidificado com 5,5 g.L-1 de agar e esterilizado

em autoclave a 121° C, por 20 minutos. Os recipientes utilizados foram de dois tipos: frascos de vidro

transparente, com capacidade de 220 mL, contendo 30 mL de meio de cultura e frascos de plástico

transparente com capacidade de 400 mL, contendo 60 mL de meio de cultura.

Os experimentos foram mantidos em três salas: uma sala de crescimento, com temperatura de 25

± 1º C, fotoperíodo de 12 horas de luz e intensidade luminosa de 2000 lux e com refrigeração; uma sala

de crescimento, com temperatura de 25 ± 1º C, fotoperíodo de 16 horas de luz e intensidade luminosa

de 2000 lux com refrigeração; e uma sala convencional, com temperatura de 28 ± 2º C, fotoperíodo não

determinado e intensidade luminosa de 350 lux, sem refrigeração. Esta última sala foi escolhida para ser

utilizada na aplicação do tratamento controle, ou seja, sem condições controladas de luz e temperatura.

Nessa sala, os frascos com as culturas foram mantidos em frente à janela, de forma que recebesse luz

natural ao longo do dia.

5.2.2 MétodosO experimento foi realizado em duas etapas, sendo a primeira na fase de multiplicação e a segunda na

fase de alongamento e enraizamento.

Na primeira fase, as brotações oriundas de culturas estabelecidas no 5o subcultivo foram individualizadas,

tendo suas folhas eliminadas e realizado um pequeno corte longitudinal (pique), sem dividi-lo ao meio. Em

seguida, eles foram subcultivados em frascos de vidro e plástico contendo meio de cultura MS suplementado

com 2,5 mg/L de 6-benzilaminopurina (BAP) e, posteriormente, acondicionados em salas de crescimento de

acordo com o tratamento.

O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 3 x 3,

tendo como fatores o número de explantes por frasco (4, 5 e 6 para os frascos de vidro e 8, 10 e 12 para

os frascos de plástico) e três diferentes regimes de luz (fotoperíodo de 12, 16 horas e o controle). Foram

utilizadas dez repetições para os frascos de vidro, totalizando 150 explantes e, cinco repetições para os

frascos de plástico, totalizando também 150 explantes.

Após 30 dias de cultivo in vitro, foi avaliada a taxa de multiplicação. Os dados foram submetidos à

análise de variância, sendo as médias comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de significância.

Na segunda fase do experimento, os explantes utilizados foram brotações oriundas de culturas pro-

venientes do 6o subcultivo. Essas foram individualizadas, não tendo suas folhas eliminadas ou cortadas,

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74 COLETÂNEA BITEC 20082010

mas tendo suas raízes retiradas, caso estas estivessem presentes. Em seguida, elas foram alongadas em

frascos de vidro e plástico contendo meio de cultura MS suplementado com 0,1 mg/L de ácido naftaleno

acético (ANA) e, posteriormente, acondicionadas em salas de crescimento, de acordo com o tratamento.

O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado em arranjo fatorial 3 x 3,

tendo como fatores o número de explantes por frasco (4, 5 e 6 para os frascos de vidro e 8, 10 e 12 para

os frascos de plástico) e três diferentes regimes de luz (fotoperíodo de 12 e 16 horas e o controle). Foram

utilizadas dez repetições para os frascos de vidro, totalizando 150 mudas, e cinco repetições para os

frascos de plástico, totalizando também 150 mudas.

Após 30 dias de cultivo in vitro, as mudas foram avaliadas quanto à altura (AP), número de folhas

(NF), diâmetro do caule (DC), comprimento da maior raiz (CMR) e peso fresco da planta (PFP). Em segui-

da, os dados foram submetidos à análise de variância, sendo as médias comparadas pelo teste de Tukey,

a 5% de significância.

Após a realização das duas fases, realizou-se uma análise comparativa da viabilidade econômica

entre o processo de micropropagação tradicional e os processos chamados de inovadores. Esses proces-

sos foram arranjados da seguinte forma: tradicional – utilização de frascos de vidro; sala de crescimento

com fotoperíodo de 12h de luz e refrigeração por ar-condicionado; inova 1 – utilização de frascos de

vidro; sala de crescimento com fotoperíodo de 16h de luz e refrigeração por ar-condicionado; inova

2 – utilização de frascos de vidro; sala de crescimento com fotoperíodo não determinado e sem refrige-

ração, convencionado de controle; inova 3 – utilização de frascos de plástico; sala de crescimento com

fotoperíodo de 12h de luz e refrigeração por ar-condicionado; inova 4 – utilização de frascos de plástico;

sala de crescimento com fotoperíodo de 16h de luz e refrigeração por ar-condicionado; inova 5 – utili-

zação de frascos de plástico; sala de crescimento com fotoperíodo não determinado e sem refrigeração,

convencionado de controle; inova 6 – utilização de frascos de vidro; sala de crescimento com fotope-

ríodo de 16h de luz e refrigeração por ar-condicionado; inova 7 – utilização de frascos de vidro; sala de

crescimento com fotoperíodo não determinado e sem refrigeração, convencionado de controle; inova 8

– utilização de frascos de plástico; sala de crescimento com fotoperíodo de 12h de luz e refrigeração por

ar-condicionado; inova 9 – utilização de frascos de plástico; sala de crescimento com fotoperíodo de 16h

de luz e refrigeração; inova 10 – utilização de frascos de plástico; sala de crescimento com fotoperíodo

não determinado e sem refrigeração, convencionado de controle.

O processo tradicional foi utilizado nas fases de multiplicação e de alongamento e enraizamento

das mudas. Os processos inovadores, denominados inovas do 1 ao 5, foram utilizados na fase de multi-

plicação, enquanto os inovas do 6 ao 10, na fase de alongamento e enraizamento das mudas.

Na avaliação dos processos que resultaram em menores custos, foram realizadas análises dos pro-

cessos de forma isolada e, também, combinando-se os processos inovadores. As combinações entre

os processos inovadores foram realizadas da seguinte forma: combinando-se os processos inova 2 + 7;

inova 2 + 8; inova 2 + 10; inova 5 + 7; inova 5 + 8 e inova 5 + 10.

Foram utilizados os seguintes indicadores: renda líquida e taxa de retorno ou relação benefício-custo.

A renda líquida (RL), conforme Hoffmann et al. (1987), é expressa pela diferença entre a renda bruta

(RB) a as despesas (D). A taxa de retorno (TR), segundo Noronha (1987), é obtida pela relação entre a

renda bruta (RB) e as despesas (D). A RL e a TR são calculadas, respectivamente, pelas seguintes fórmulas:

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9ª EDIÇÃO 75

RL = RB – D e TR = RB/D. A renda bruta de cada processo foi obtida com a multiplicação da sua produção

pelo seu preço unitário.

A despesa de cada processo, por sua vez, foi obtida mediante a soma de todos os gastos com

água, energia elétrica, mão de obra – avaliação do desempenho do processamento diário de frascos por

operador –, depreciação com frascos de vidro com tampa, depreciação dos frascos de plástico com tampa

e insumos – hipoclorito de sódio 10%, álcool 96%, meio de cultura, filme plástico, tween e lâminas. Os preços

utilizados para os produtos e para as despesas foram os praticados pelo mercado em outubro de 2009.

5.3 Resultados e discussãoVerificou-se na análise de variância, que houve significância somente para o fator número de explantes/

frasco de vidro, não havendo, significância para o fator regime de luz e para a interação: regime de luz

x número de explantes/frasco de vidro. Isso significa que a utilização dos fotoperíodos de 12h, 16h e o

controle levam a uma mesma taxa de multiplicação na bananeira cv. Williams em frascos de vidro.

Na tabela 1, observa-se que, quando se utilizam quatro ou cinco explantes/frasco de vidro, obtêm-

se maiores médias na taxa de multiplicação, quando comparado com a utilização de seis explantes/

frasco de vidro, levando a crer que o aumento excessivo no número de explantes ocasiona competição

por meio, justificando as menores taxas de multiplicação obtidas com a utilização de 6 explantes por

frasco de vidro. Dessa forma, o mais viável é a produção de mudas de bananeira cv. Williams em frascos

de vidro utilizando-se cinco explantes por frasco. Resultados semelhantes foram obtidos por Timbó e

Carvalho (2003) para multiplicação in vitro de gérbera (Gerbera jamesonii) em que só houve significância

apenas para o fator número de explantes/frasco. Nesse trabalho, as taxas de multiplicação obtidas nos

frascos contendo quatro explantes (6,21) e cinco explantes (6,22) foram superiores aos tratamentos com

seis explantes (4,59).

Tabela 1: Médias das taxas de multiplicação de bananeira cv. Williams micropropagada em frascos de vidro submetidas à avaliação em diferentes regimes de luz e diferentes números de explantes por frasco, aos 30 dias de cultivo in vitro

Regime de luzNo de explantes/frasco Médias

4 5 6

Controle 4,98 4,10 3,49 4,19

12h 4,33 4,98 3,74 4,35

16h 4,95 4,54 3,58 4,36

Médiasa 4,75 a 4,54 a 3,60 b

Nota: a médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey no âmbito de 5% de significância.Fonte: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Agroindústria Tropical, Fortaleza/CE (2009).

Bernardi (2004), trabalhando com bananeira cv. Maça, obteve médias de número de brotos de 6,20;

5,06 e 3,50, ao utilizar diferentes fontes de carbono, como açúcar cristal, sacarose P. A. e açúcar mascavo

suplementados com 2,5 mgL-1 de 6-benzilaminopurina (BAP).

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76 COLETÂNEA BITEC 20082010

Os resultados obtidos nesse experimento são superiores aos encontrados por Braga et al. (2001),

para variedade caipira, que teve média de 3,3 em meios suplementados com 5,0 mgL-1 de 6-benzila-

minopurina (BAP) e por Oliveira et al. (2001), para bananeira cv. FHIA-01, com média de 2,44 em meios

de cultura adicionados com 2,5 mgL-1 de 6-benzilaminopurina (BAP) ambos no 5o subcultivo da fase II.

Quando se utilizou o frasco de plástico, constatou-se, na análise de variância, que houve significân-

cia para o fator número de explantes/frasco de plástico e para a interação: regime de luz x número de

explantes/frasco de plástico, não havendo, significância para o fator regime de luz.

Realizando-se a combinação dos três regimes de luz com os três números de explantes/frasco de

plástico, observa-se que os maiores valores para taxa de multiplicação foram obtidos no fotoperíodo de

12h com oito explantes/frasco e dez explantes/frasco e no fotoperíodo não determinado convencio-

nado de controle com dez explantes/frasco (tabela 2). Os resultados da tabela assemelham-se com os

obtidos anteriormente em frascos de vidro, ou seja com o aumento excessivo do número de explantes/

frasco as taxas de multiplicação diminuem, por causa do aumento na competição dos explantes por

meio de cultura. Dessa forma, o mais viável é a utilização do fotoperíodo não determinado convencio-

nado de controle com dez explantes por frasco de plástico é o mais recomendável visto que representa

maior economia de custos com energia elétrica, mão de obra e insumos no processo.

Tabela 2: Médias das taxas de multiplicação de bananeira cv. Williams micropropagada em fras-cos de plástico na combinação de três regimes de luz com três números de explantes por frasco, aos 30 dias de cultivo in vitro

No de explantes/frascoRegimes de luz

Controle 12h 16h

8 3,00 abA 3,63 aA 2,58 bA

10 3,44 aA 2,98 aA 2,88 aA

12 2,80 aA 2,02 aB 2,50 aA

Nota: a, A médias seguidas da mesma letra minúscula nas linhas e maiúsculas nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância.Fonte: Embrapa Agroindústria Tropical. Fortaleza/CE (2009).

Segundo Standaert-de-Metsanaere (1991) apud Kodim e Zapata, Arias, (1999), em um laboratório

de cultura de tecidos, 65% do gasto total com eletricidade se deve aos custos com iluminação das câma-

ras de crescimento, onerando significativamente o custo final da muda. Do ponto de vista econômico,

a otimização de um sistema comercial de micropropagação requer diminuição dos gastos com energia

elétrica que, segundo Grattapaglia e Machado (1998), é um dos principais componentes do custo de

uma muda micropropagada. Por isso, a utilização de processos que não utilizem salas de crescimento

com iluminação específica (lâmpadas fluorescentes brancas frias), que encarecem o custo da produção,

são alternativas que podem ser utilizadas na redução dos custos das mudas micropropagadas.

Comparando-se as tabelas 1 e 2, observa-se que as médias das taxas de multiplicação em bana-

neira cv. Williams foram maiores nos frascos de vidro com capacidade para 220 mL que continham 30

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9ª EDIÇÃO 77

mL de meio de cultivo do que nos frascos de plástico (permeável a gases) com capacidade para 400 mL

que continham 60 mL de meio de cultivo. Contrário aos resultados obtidos por McC Clelland e Smith, (1990),

trabalhando com a multiplicação de gemas em várias culturas de espécies lenhosas, que observaram resul-

tados melhores ao utilizar recipientes com capacidade de 200 ou 350 ml do que em 60 ml. De acordo com

Erig e Schuch (2005), o aumento das trocas gasosas no recipiente de cultivo reduz a concentração de etileno,

este, por sua vez, inibe a regeneração de novos brotos, influencia no desenvolvimento das culturas in vitro

(BIDDINGTON, 1992). Sendo seus efeitos deletérios, podendo ser controlados de acordo com a vedação dos

frascos, fator esse mais relevante do que a composição do meio de cultura (TORRES et al., 1998).

No experimento realizado, apesar de o frasco de plástico possibilitar maiores trocas gasosas e seu

volume ser maior em relação ao frasco de vidro, no subcultivo dos explantes a relação explante/ar foi

maior no interior dos frascos de plástico, por causa principalmente do aumento do número de explantes

subcultivados modificando a composição dos gases e interferindo no crescimento e no desenvolvimen-

to dos explantes. Quanto ao formato dos frascos, apesar de ter sido mantido uma relação explante/meio

de cultura igual para os dois tipos de frascos, o espaço interno do frasco de plástico não contribuiu muito

para se ter uma relação explante/ar satisfatória, justificado pelo seu baixo desempenho.

De acordo com Bandeira (2007), o microambiente dentro dos frascos de cultura parece ser um am-

biente homogêneo, mas na verdade é o responsável pela variabilidade no comportamento das culturas,

uma vez que os fatores determinantes para a qualidade do microambiente são os tipos de frasco, tipo de

tampa e quantidade de meio presente. Filho et al. (2002) inferem sobre a forma de vedação empregada,

que interfere nas trocas gasosas entre o microambiente dentro do frasco e o ar atmosférico, ocasionan-

do o aumento da concentração de CO2 e etileno dentro dos frascos se for utilizada vedação hermética.

George (1993) diz que o tamanho ótimo do recipiente a ser utilizado dependerá do tipo de material

vegetal que está sendo multiplicado e deve ser determinado experimentalmente. E ainda que o volume

do recipiente pode algumas vezes afetar o crescimento e a morfogênese in vitro, dependendo ainda

de fatores como: tipo de material que o recipiente é feito (vidro, ou plástico permeável a gás). Segundo

Bateson et al., (1987), recipientes de diferentes tamanhos geralmente diferem nas proporções explantes/

meio de cultura, explantes/ar e meio de cultura/ar; o formato do recipiente também pode influenciar a

taxa de crescimento das culturas por meio da modificação das taxas de difusão dos gases.

Grattapaglia e Machado (1998) mencionam que o tipo de frasco afeta diretamente a composição

da fase gasosa do frasco e, consequentemente, o crescimento e o desenvolvimento das culturas. O decrésci-

mo na umidade relativa com a maior troca gasosa no frasco aumenta significativamente a taxa de transpiração

da planta e, consequentemente, a absorção de água e de nutrientes (AITKEN-CHRISTIE et al., 1995).

Na fase de alongamento e enraizamento, observou-se significância para as variáveis: altura da plan-

ta (AP), número de folhas (NF), diâmetro do caule (DC) e peso fresco por planta (PFP), sendo as diferenças

encontradas somente para regime de luz nas variáveis AP e DC, regime de luz e número de explantes/frasco

de vidro na variável NF e regime de luz e interação: regime de luz x número de explantes/frasco de vidro na

variável PFP. Não foi verificada significância apenas para a variável comprimento da maior raiz (CMR).

As comparações das médias para as diferentes variáveis avaliadas encontram-se na tabela 3.

As maiores médias de altura da planta foram verificadas quando se utilizou o controle. Isso ocorreu por

causa do estiolamento observado nas plantas. Também houve um decréscimo na altura da planta e um

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78 COLETÂNEA BITEC 20082010

maior número de folhas por explante de acordo com o aumento do fotoperíodo. Esse fato já havia sido

constatado por Kitaya et al. (1998), em plantas de alface (Lactuca sativa L.), cultivar summer-green com

a extensão do fotoperíodo de 12 para 16 horas; o comprimento do hipocótilo diminuiu e o número de

folhas aumentou, quando o fotoperíodo foi aumentado. O decréscimo na altura da planta pode ter sido

em decorrência das maiores médias para o diâmetro do coleto e o aumento do número de folhas oca-

sionando o encurtamento do tamanho.

Tabela 3: Médias das variáveis, altura da planta (AP), número de folhas (NF), diâmetro do caule (DC) e comprimento da maior raiz (CMR), de bananeira cv. Williams micropropagada em frascos de vidro submetidas à avaliação em diferentes números de explantes por frasco e diferentes regimes de luz

Regime de luzNo de explantes/frasco Médias

4 5 6

AP – altura da planta (cm)

Controle 4,81 4,58 5,01 4,80 A

12h 2,47 2,46 2,58 2,50 B

16h 2,18 2,03 2,25 2,15 C

Médias 3,15 3,02 3,28

NF – número de folhas

Controle 3,65 3,40 3,57 3,54 B

12h 5,67 4,64 5,02 5,11 A

16h 5,5 5,26 5,1 5,29 A

Médias 4,43 b 4,56 b 4,94 a

DC – diâmetro do caule (mm)

Controle 2,75 2,74 2,85 2,78 C

12h 3,26 3,21 3,05 3,17 B

16h 3,68 3,28 3,51 3,49 A

Médias 3,23 3,08 3,13

CRM – comprimento da maior raiz (cm)

Controle 6,43 7,45 7,25 7,05

12h 6,56 6,18 5,85 6,20

16h 6,74 5,95 7,05 6,58

Médias 6,58 6,53 6,71

Nota: a, A médias seguidas da mesma letra minúscula nas linhas e maiúsculas nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância.Fonte: Embrapa Agroindústria Tropical. Fortaleza/CE (2009).

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9ª EDIÇÃO 79

Segundo Hartmann e Kester (1983) e Torres (1998), a luz influência na regulação da morfogênese e

atua como fonte de energia para realização da fotossíntese. A luz favorece o desenvolvimento de partes

aéreas.Realizando-se a combinação dos três regimes de luz com os três números de explantes/frasco de

vidro, observa-se que os melhores resultados para o peso fresco por planta foram obtidos ao se utilizar

o fotoperíodo de 16h com quatro e cinco explantes/frasco e no fotoperíodo não determinado (controle)

e de 12h com cinco explantes/frasco (tabela 4). Esse fato foi em decorrência de ter havido melhores

médias no número de folhas e diâmetro do caule com aumento do fotoperíodo. No entanto, a utilização

do fotoperíodo de 12h com cinco explantes por frasco de vidro é o mais recomendável visto que não

apresentou estiolamento nas plantas e quando comparado ao fotoperíodo de 16h representa maior

economia de custos de energia elétrica no processo.

Tabela 4: Médias do peso fresco por planta de bananeira cv. Williams micropropagada em fras-cos de vidro na combinação de três regimes de luz com três números de explantes por frasco, aos 30 dias de cultivo in vitro

No de explante/frascoRegimes de luz

Controle 12h 16h

4 1,02 bA 1,04 abA 1,38 aA

5 1,03 aA 1,08 aA 0,93 aB

6 0,98 bA 0,87 bA 1,50 aA

Nota: a, A médias seguidas da mesma letra minúscula nas linhas e maiúsculas nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância.Fonte: Embrapa Agroindústria Tropical. Fortaleza/CE (2009).

Na análise de variância referente ao experimento, utilizando-se frascos de plástico, observou-se

significância para as seguintes variáveis: altura da planta (AP), número de folhas (NF), diâmetro do caule

(DC), comprimento da maior raiz (CRM) e peso fresco por planta (PFP), sendo as diferenças encontradas

somente para regime de luz nas variáveis AP, NF, CMR e PFP, regime de luz e número de explantes/frasco

de plástico na variável DC. Não se observou significância para interação: regime de luz x número de

explantes/frasco de plástico em nenhuma das variáveis.

Na tabela 5, observam-se as comparações entre as médias obtidas para as variáveis estudadas.

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80 COLETÂNEA BITEC 20082010

Tabela 5: Médias das variáveis, altura da planta (AP), número de folhas (NF), diâmetro do caule (DC), comprimento da maior raiz (CMR) e peso fresco da planta (PFP) de bananeira cv. Williams micropropagada em frascos de plástico submetidas à avaliação em diferentes números de ex-plantes por frasco e diferentes regimes de luz

Regime de luzNo de explantes/frasco Médias

8 10 12  

Altura da planta (cm)

Controle 5,35 4,86 5,48 5,23 A

12h 2,67 2,86 2,83 2,79 B

16h 2,81 2,8 2,92 2,84 B

Médias 3,61 3,51 3,75  

Número de folhas

Controle 4,43 4,92 4,63 4,66 B

12h 5,45 5,36 5,34 5,39 A

16h 5,29 5,38 4,85 5,18 A

Médias 5,06 5,22 4,94  

Diâmetro do caule (mm)

Controle 2,86 3,06 2,77 2,90 C

12h 3,24 3,43 3,33 3,34 B

16h 3,71 3,77 3,19 3,56 A

Médias 3,27 ab 3,42 a 3,10 b  

Comprimento da maior raiz (cm)

Controle 8,70 9,32 9,32 9,12 A

12h 6,36 6,51 6,69 6,52 B

16h 8,05 6,89 6,69 7,21 B

Médias 7,70 7,58 7,57  

Peso fresco da planta (g)

Controle 1,51 1,48 1,39 1,46 B

12h 1,20 1,38 1,33 1,30 B

16h 2,22 1,97 1,65 1,94 A

Médias 1,65 1,61 1,45  

Nota: a, A médias seguidas da mesma letra minúscula nas linhas e maiúsculas nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância.Fonte: Embrapa Agroindústria Tropical. Fortaleza/CE (2009).

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9ª EDIÇÃO 81

Observou-se que a utilização do controle resultou nas maiores médias para altura da planta, o que

pode ser justificado pelo estiolamento delas nessas condições, ou seja, sem fotoperíodo controlado e

utilização da luz natural. Observou-se também que fotoperíodos de 12 e 16 horas resultaram nas maio-

res médias para o número de folhas por explante justificado anteriormente. Também foi verificado maior

comprimento de raiz por planta quando da utilização do controle. Esse fato pode ter ocorrido devido

na rizogênese a irradiância e o fotoperíodo serem determinantes, sendo o balanço de acordo com cada

espécie. A luz favorece o desenvolvimento de partes aéreas e o escuro da rizosfera. O fotoperíodo de 16h

apresentou maior peso fresco por planta por causa do aumento no número de folhas e no diâmetro do

caule com o aumento do fotoperíodo. Pereira et al. (2005) em seus experimentos de aclimatização de

bananeira cv. prata-anã utilizou mudas com comprimento de 2,5 cm, cartucho definido, três folhas e

raízes já formadas.

Na literatura, não se dispõe de muitas informações sobre o efeito do fotoperíodo na micropropaga-

ção da bananeira. A intensidade luminosa ótima depende da espécie, do tipo de cultura e do fenômeno

morfogenético a ser controlado ou induzido, sendo o período de iluminação de 12 a 16h/dia (HANDRO;

FLOH, 1990). A análise comparativa entre o desempenho econômico dos processos tradicional e os ino-

vadores pode ser verificada na tabela 6.

Na fase II (multiplicação), o processo isolado que apresentou maior rentabilidade, expressa pela

taxa de retorno igual a R$ 2,36, foi o inova 2. Este resultado evidencia que, para cada R$ 1,00 de custo, há

um retorno em renda bruta de R$ 2,36. O inova 2 apresentou ganho de rentabilidade de 5,65% em rela-

ção ao processo convencional, obtido mediante redução de custo com energia elétrica, por causa da sua

instalação em sala convencional sem a necessidade da utilização de refrigeração por ar-condicionado.

Na fase III (alongamento e enraizamento), o processo isolado que apresentou maior rentabilidade,

com uma taxa de retorno igual a R$ 2,45, foi o inova 8. O ganho de rentabilidade de 9,68% desse proces-

so em relação ao convencional foi decorrente de sua instalação em sala convencional sem a necessidade

da utilização de refrigeração por ar-condicionado, diminuindo os custos com energia elétrica.

O processo combinado que apresentou maior rentabilidade, com uma taxa de retorno igual a R$

2,60, foi o inova 2 + 8. O ganho de rentabilidade de 16,52% desses processos em relação ao convencio-

nal foi decorrente das melhores taxas de multiplicação obtidas com a utilização dos frascos de vidro, pela

utilização de frascos de plástico que proporcionou incremento no processamento diário de explantes

e instalação da fase II em sala convencional sem a necessidade da utilização de refrigeração por ar-

condicionado, diminuindo os custos com energia elétrica, mão de obra e insumos.

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82 COLETÂNEA BITEC 20082010

Tabela 6: Desempenho econômico dos processos convencionais e inovadores isolados e combi-nados, de bananeira cv. Williams micropropagada in vitro

Processos* Custo (R$)**Custo

(%)Produção

(Und.)Renda líqui-

da (R$)

Renda líquida

(%)

Taxa de retorno

Taxa de retorno

(%)

T 11.590,51 100 25.855,00 14.264,49 100,00 2,231 100,00

Inova 1 11.609,23 100,16 25.855,00 14.245,77 99,87 2,227 99,84

Inova 2 10.970,89 94,65 25.855,00 14.884,11 104,34 2,357 105,65

Inova 3 9.788,40 84,45 17.236,00 7.447,60 52,21 1,761 78,94

Inova 4 9.799,62 84,55 17.236,00 7.436,38 52,13 1,759 78,85

Inova 5 9.191,23 79,30 17.236,00 8.044,77 56,40 1,875 84,07

Inova 6 11.669,44 100,68 25.855,00 14.185,56 99,45 2,216 99,32

Inova 7 10.791,47 93,11 25.855,00 15.063,53 105,60 2,396 107,40

Inova 8 10.567,20 91,17 25.855,00 15.287,80 107,17 2,447 109,68

Inova 9 10.623,32 91,66 25.855,00 15.231,68 106,78 2,434 109,10

Inova 10 9.835,21 84,86 25.855,00 0 0 0 0

Inova 2+7 10.171,86 87,76 25.855,00 0 0 0 0

Inova 2+ 8 9.947,58 85,83 25.855,00 15.907,42 111,52 2,806 116,52

Inova 2+10 9.215,59 79,51 25.855,00 0 0 0 0

Inova 5+7 8.412,68 72,58 17.236,00 0 0 0 0

Inova 5+8 8.498,18 73,32 17.236,00 8.737,82 61,26 2,028 90,92

Inova 5+10 7.833,71 67,59 17.236,00 0 0 0 0

Nota: * T: processo tradicional; inova: processos inovadores; ** considerou-se o preço de R$ 1,00 a muda com raiz nua.Fonte: Embrapa Agroindústria Tropical. Fortaleza/CE (2009).

Os processos isolados e combinados que não apresentaram desempenho econômico superior

ao tradicional foram inova 10, inova 2 + 7, inova 2 + 10, inova 5 + 7 e inova 5 + 10. Esse resul-

tado é justificado pela ocorrência do estiolamento sofrido pelas mudas desenvolvidas por meio desses

processos.

A adoção dos processos isolados, inova 3, inova 4 e inova 5 e dos combinados, inova 5 + 8 levaram

a uma redução na quantidade de mudas produzidas, em decorrência de menor média nas taxas de

multiplicação em virtude da utilização de frascos de plástico na fase II. Dessa forma, esses processos

apresentaram rentabilidade menor do que o tradicional não justificando, portanto, sua utilização.

Os processos isolados e combinados que apresentaram melhor rentabilidade quando comparados

ao tradicional, ou seja, tiveram menores custos de produção mantendo o mesmo nível de quantidade

de mudas produzidas foram os inova 2, inova 7, inova 8, inova 9 e inova 2 + 8. Eles, quando comparados

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9ª EDIÇÃO 83

ao tradicional, apresentaram ganho de rentabilidade de 5,65%, 7,40%, 9,68%, 9,10% e 16,52% respecti-

vamente. Quanto aos aspectos de produção com esses resultados, foi possível observar que na fase II, de

multiplicação, a melhor opção é a utilização de frascos de vidro e a utilização de sala convencional sem

refrigeração, o que irá reduzir os custos de produção. Na fase III, de alongamento e enraizamento, existe

a possibilidade da utilização de frascos de vidro ou de plástico, no entanto em termos de rentabilidade

econômica a melhor opção é a utilização de frascos de plásticos e a utilização de sala de crescimento

com 12 horas de luz, já justificado anteriormente.

5.4 ConclusãoRecomenda-se, durante a fase de multiplicação de produção de mudas micropropagadas de bananeira

cv. Williams, a utilização de cinco explantes por frasco de vidro sob fotoperíodo não determinado con-

vencionado de controle em sala convencional.

Recomenda-se, durante a fase de alongamento e enraizamento de produção de mudas micropro-

pagadas de bananeira cv. Williams, a utilização de dez explantes por frasco de plástico sob fotoperíodo

de 12h em sala de crescimento.

O melhor resultado econômico foi obtido com a combinação do inova 2 com o inova 8. O ganho de

rentabilidade desse processo ocorreu em virtude da redução de custos e da manutenção da produção

não havendo queda na produção.

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9ª EDIÇÃO 87

6 IEL/DF CASA SUSTENTÁVEL PROJETO MORAR BEM SUSTENTÁVEL

Bolsista: Rodrigo Pinho Rodrigues – UniCeub

Professora orientadora: Eliete de Pinho Araujo – UniCeub

Coautor: David Jussier Tomaz Figueiredo

6.1 IntroduçãoA arquitetura que está sendo feita hoje nos centros urbanos, principalmente em Brasília, na maio-

ria das vezes, não leva em consideração aspectos ambientais, econômicos e do próprio conforto.

É uma arquitetura repetitiva, de conceito insipiente e com projeto e execução descuidados.

Isto gera uma preocupação com o futuro da arquitetura e o que ela representa para a sociedade,

na medida em que se distancia de conceitos básicos como a busca do conforto e a adequação ao

clima (MASCARÓ, 1986).

Atualmente, o impacto causado pelas construções não sustentáveis sobre o meio ambiente e so-

bre a cidade é preocupante. Além disso, a realidade urbana atual possui projetos insanos e a mesmice

estereotipada do pós-consumismo. (VIGGIANO, 2000). Veem-se, ainda, as constantes crises de abaste-

cimento de água nas regiões urbanas, o déficit de geração de energia nas grandes cidades e o impacto

ambiental dos sistemas de esgoto.

É no sentido de contribuir para melhorar essa realidade que o projeto da Casa Eficiente é proposto.

Este trabalho pretende apresentar soluções sustentáveis que vão desde simples processos permacultu-

rais até a utilização de tecnologias industrializadas, passando pela apresentação de diferentes tipos de

materiais construtivos sustentáveis e pela adequação ao clima.

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88 COLETÂNEA BITEC 20082010

6.2 MetodologiaA metodologia envolve pesquisa sobre histórico e conceitos relacionados à sustentabilidade, às soluções

sustentáveis aplicadas à arquitetura residencial, à realização de visitas e entrevistas em locais de interes-

se, além da elaboração de projeto de arquitetura e instalações complementares com base na pesquisa

realizada.

6.3 Desenvolvimento

6.3.1 O clima de BrasíliaUm projeto sustentável começa com uma arquitetura dimensionada ao clima no qual ela está inserida.

A verdadeira “inteligência” de um edifício revela a forma com que ele foi projetado em relação às con-

dicionantes climáticas para gerar uma necessidade básica do ser humano, que é o conforto ambiental

(ROMERO, 1988).

A latitude de Brasília é de 16º a Sul. A longitude no extremo leste é de 47º25’ L e a longitude no

extremo oeste é de 48º12’ W (figura 1).

Figura 1: Latitude e longitude. Fonte: <www.geografiaparatos.com.br>. Acesso em: 5 dez. 2009.

A altitude de Brasília é entre 1.000 e 1.152 metros acima do nível do mar.

As temperaturas médias em Brasília são de 18º em julho e 23º em setembro, com grandes variações

diárias e as noites são mais frias (gráfico1).

Gráfico 1: Temperaturas máximas e mínimas

Fonte: <http://www.geocities.com/augusto_areal/bsb_2p.htm>. Acesso em: 8 dez. 2009. .

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9ª EDIÇÃO 89

O clima de Brasília é o semiseco com duas estações bem definidas: a seca (inverno) e a úmida (verão).

Os gráficos a seguir mostram as temperaturas e as radiações difusa e direta incidentes sobre a cida-

de de Brasília. A radiação difusa é baixa e a radiação direta, bastante intensa (gráficos 2, 3 e 4).

Gráfico 2: Temperaturas diárias

Gráfico 4: Radiação direta global

Gráfico 5: Precipitação pluviométrica e umidade relativa do ar

Gráfico 3: Radiação global horizontal

Fonte: Software SOL-AR. Disponível no site: <http://www.labeee.ufsc.br/software/analysisSOLAR.htm>. Acesso em: 8 dez. 2009.

Fonte: Software SOL-AR. Disponível no site: <http://www.labeee.ufsc.br/software/analysisSOLAR.htm>. Acesso em: 8 dez. 2009.

Fonte: Software SOL-AR. Disponível no site: <http://www.labeee.ufsc.br/software/analysisSOLAR.htm>. Acesso em: 8 dez. 2009.

Fonte: <http://www.geocities.com/augusto_areal/bsb_2p.htm>. Acesso em: 7 dez. 2009.

A precipitação média anual em Brasília é de 1.750 mm e a umidade relativa do ar é muito baixa no

período seco e mais alta no período chuvoso (gráfico 5).

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90 COLETÂNEA BITEC 20082010

Ventos predominantes: os de chuva vêm do Noroeste, os secos vêm do Sudeste e Leste e os ventos

frios do Sul (gráficos 6 e 7).

Gráfico 6: Frequência de ocorrência dos ventos Gráfico 7: Velocidades predominantes dos ventos

Fonte: Software SOL-AR. Disponível no site: <http://www.labeee.ufsc.br/software/analysisSOLAR.htm>. Acesso em: 5 dez. 2009.

6.3.2 Diretrizes e soluçõesEmbora ainda sejam raros os empreendimentos que priorizam a sustentabilidade, alguns avanços regis-

trados nos últimos anos podem ser comemorados. Com relação à racionalização do uso da água, por

exemplo, o mercado já adota bacias sanitárias com menor consumo e está substituindo gradativamente

as válvulas fluxíveis por caixas acopladas. Outra inovação que pode render níveis mais baixos de deman-

da energética e melhor durabilidade são os leds, que logo poderão ser adotados como sistema de ilumi-

nação normal nos edifícios. No entanto, a questão da sustentabilidade ainda é vista, por alguns, como

algo estereotipado. Não estamos falando de arquitetura do tipo churrascaria, rústica, com uso extensivo

de madeira. Mas de uma arquitetura que faz uso de alta tecnologia e de processos sofisticados adequa-

dos ao modo de vida urbano. Há muito que pode ser feito na prancheta do arquiteto para melhorar a

relação das cidades com o meio ambiente. Isso depende, porém, de os profissionais aplicarem de fato os

conceitos que aprenderam na escola, quanto ao conforto ambiental, ventilação, conforto térmico, entre

outros, energias alternativas, sistemas automatizados.

Vários itens devem ser aplicados em uma casa eficiente:

• Baixo consumo de energia.

• Recursos renováveis no próprio local.

• Reciclagem.

• Contexto urbano – ligação/conexão com a cidade.

• Produtos com pouca energia incorporada – principalmente na fabricação e no transporte.

• Qualidade de vida.

• Custos de construção.

• Obedecer aos ensinamentos da arquitetura e às leis da natureza.

As diretrizes são como atitudes sustentáveis que se pretende imprimir no projeto. Já as soluções

tratam dos sistemas exatos que serão empregados no projeto em conformidade com essas diretrizes

predefinidas.

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9ª EDIÇÃO 91

Como consequência de todo este estudo, iniciou-se a proposição da Casa Eficiente. As matrizes

de materiais e soluções sustentáveis estudadas no projeto avaliaram quesitos como as propriedades

bioclimáticas de materiais, caráter estético, preço final, mão de obra (disponibilidade e capacitação),

adequação aos conceitos fundamentais, comprometimento ecológico e impacto ambiental.

Dessa forma, definiram-se algumas diretrizes de projeto que têm como objetivo guiar a escolha

das soluções sustentáveis adequadas à proposta inicial da Casa com observância às limitações surgidas

durante a análise formal das condicionantes.

De acordo com a tabela 1, as diretrizes definidas pelo projeto e suas soluções são:

Tabela 1: Diretrizes e soluções do projeto

Diretriz Solução de projeto

Utilização racional da água. Aproveitar a água da chuva e as águas cinzas.

Utilização de energias renováveis. Instalação de placas solares para aquecimento da água.

Reduzir consumo de energia elétrica. Iluminação e ventilação naturais e aberturas.

Espaço de atenuação climática. Cozinha virada para o norte e uso de cobogós.

Adotar materiais com alta inércia térmica. Paredes de tijolos ecológicos, telhas ecológicas.

Adotar materiais que geram economia na construção. Usar agregado reciclado.

6.4 Resultados

6.4.1 Projeto da casa eficiente

6.4.1.1 Programa da Casa Eficiente

O programa da Casa Eficiente é composto por um conjunto com quatro unidades residenciais, duas

unidades por pavimento ligados por uma escada central. Cada unidade residencial possui (figuras 2 e 3):

Figura 2: Planta de layout pavimento térreo. Fonte: arquivo pessoal.

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92 COLETÂNEA BITEC 20082010

A – Área de serviço

B – Cozinha americana

C – Sala de estar

D – Varanda

E – Quarto

F – Banheiro

G – Quarto

H – Jardineira

Figura 3: Planta de layout pavimento superior. Fonte: arquivo pessoal

Figura 4: Perspectivas do conjunto. Fonte: arquivo pessoal.

6.4.2 Soluções de projetoForam estabelecidas algumas diretrizes sustentáveis e as respectivas soluções possíveis para elas de

acordo com a tabela 1.

1) Aproveitamento das águas cinzas (águas residuais) que são derivadas do uso doméstico ex-

clusivamente vindas dos chuveiros, dos lavatórios de banheiro, das banheiras, dos tanques e

das máquinas de lavar roupas. Estas águas são ricas em sabões, sólidos suspensos e matéria

orgânica (cabelos, sangue e sêmen). O esgoto tratado deve ser reutilizado para fins que exigem

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9ª EDIÇÃO 93

qualidade de água não potável, mas sanitariamente segura, tais como irrigação dos jardins, la-

vagem dos pisos e dos veículos automotivos, na descarga dos vasos sanitários, na manutenção

paisagística dos lagos e canais com água, na irrigação dos campos agrícolas e pastagens etc.

O tratamento dessa água se dará por ecofossas, Sistema Ecológico de Tratamento de Esgoto

(figura 5).

Legenda

1) Reator anaeróbio de fluxo ascendente (ecofossa)

2) Filtro anaeróbio (ecofiltro)

3) Caixa de cloração

4) Caixa de passagem

5) Caixa de inspeção gradeada

6) Sumidouro

7) Vala de infiltração.

Figura 5: Esquema de instalação da ecofossa

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94 COLETÂNEA BITEC 20082010

2) Aproveitamento de águas pluviais é composto por calhas e tubos que escoam a água por

gravidade até uma cisterna (reservatório inferior) de acumulação de água, para uso posterior

como uso nas descargas dos vasos sanitários e pode gerar uma economia na conta de água de

30% a 40% (figura 6).

Figura 6: Calhas recolhem a água da chuva. Fonte: arquivo pessoal.

3) Sistema de aquecimento solar Belosol: utilizado para aproveitamento da energia solar no

aquecimento de água. É fabricado com tecnologia de baixo custo que proporciona economia.

O sistema é composto por placas coletoras, reservatório térmico e apoio eletrônico de passa-

gem com misturador, que aquece apenas a água necessária para o banho em dias nublados.

4) O uso da iluminação natural. A iluminação artificial depende de recursos naturais não reno-

váveis como a água. Se aperfeiçoarmos a utilização da luz natural, haverá uma economia sig-

nificativa de energia e redução do impacto ambiental. Os conceitos de eficiência energética

podem e devem contemplar uma farta participação da iluminação natural nos ambientes de

uma edificação. Grandes índices de aclaramento natural deverão ser obtidos na totalidade dos

ambientes de estar e de trabalho. Os princípios de eficiência energética são fundamentais ao

sucesso do projeto devido, principalmente, à necessidade da redução da carga instalada e do

consumo de energia. A lâmpada LED é a tecnologia mais evoluída no que concerne à redução

do consumo energético, em comparação com as lâmpadas incandescentes, consomem em

média um décimo da energia. Ainda apresentam benefícios como a facilidade em controlar

a qualidade da luz emitida, a longevidade, até 50 vezes superior àquela das lâmpadas incan-

descentes, e a sua dimensão. A iluminação natural se dá pelos cobogós que ficam na área de

serviço (figura 7).

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9ª EDIÇÃO 95

5) A ventilação natural contribui para a otimização do conforto ambiental e da qualidade do ar

interior das habitações e se da pelos cobogós que ficam na área de serviço (figura 7).

6) O uso de telhas ecológicas Tetrapak que são 100% naturais e fabricadas a partir de material

reciclado (fibras vegeto-minerais) e impermeabilizada com betume (mistura natural de hidro-

carbonetos). Sua alta flexibilidade evita o surgimento de rachaduras e quebras. Por causa da

sua alta inércia térmica, mantém o ambiente em temperaturas médias ideais.

7) A alvenaria da casa usará agregado reciclado que são entulhos provenientes de restos de outras

construções e que geram uma economia de 30% a 60% em relação às matérias-primas.

8) Torneira Decamatic: é um tipo de metal economizador de água, no qual depois de alguns se-

gundos a água para automaticamente de sair, evitando desperdício.

9) Caixa de descarga Montana: é embutida na parede por isso aumenta o espaço útil do banheiro.

Fica a uma altura maior dentro da parede que as caixas acopladas convencionais, aumentando

a vazão e a velocidade do fluxo sem gastar mais água.

10) Caixa d’água 2000L: armazena a água potável que vem da concessionária. Esta água será utili-

zada nas pias, na descarga do banheiro e no chuveiro.

11) Ciclo de bananeiras: poderá ser utilizado no escoamento das águas cinzas provenientes da pia

das cozinhas. Com o buraco cavado são inseridos materiais de diferentes granulometrias desde

telhas, tijolos e pedras até brita, areia e palha. Em seguida, são plantadas bananeiras e outras

plantas menores.

No projeto da Casa Eficiente, a água que chega da concessionária entra na caixa d’água tipo taça

(capacidade 2.000 litros) e é distribuída para as pias das cozinhas, tanques das áreas de serviços e dos

banheiros e para os chuveiros.

As águas de chuva são captadas no telhado e passam por dois filtros simples, o primeiro remove

folhas e pedras e o segundo adiciona cloro. Em seguida, essas águas são encaminhadas para o reserva-

tório de água de reúso.

As águas cinzas podem possuir dois destinos diferentes. As que saem das pias das cozinhas são en-

caminhadas para o ciclo de bananeiras que irá purificar a água e consumir a gordura existente nela antes

Figura 7: Cobogós que favorecem a iluminação e ventilação naturais. Fonte: arquivo pessoal.

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96 COLETÂNEA BITEC 20082010

de jogá-la no solo, para não haver contaminação freática. As que saem do chuveiro, da pia do banheiro

e do tanque da área de serviço são encaminhadas, primeiramente, para o ralo sifonado. Em seguida,

passam pela caixa de inspeção e são levadas até os tanques de filtragem e purificação da água.

O primeiro tanque é o reservatório anaeróbico séptico. Este tanque é cheio de água e nele os deje-

tos sofrem a ação de bactérias anaeróbicas, além de separar o grosso da gordura, como a gordura boia.

O segundo tanque é o reservatório aeróbico ou filtro misto. Nele são captados os sólidos orgânicos

grossos, as plantas ajudam a filtrar a água e a limpar as britas e a terra absorve o sabão. O terceiro é o

reservatório anaeróbico com plantas, que se assemelha a um pequeno lago ornamental para o jardim.

Ele completa o processo de filtragem da água e com a inserção de peixes otimiza seu trabalho, pois estes

animais consomem a matéria orgânica em suspensão na água. Além disso, esse pequeno lago ajudará

no conforto ambiental da casa umidificando o ar, principalmente por estar localizado entre a edificação

e a direção que envia, predominantemente, os ventos secos.

Por fim, essas águas e as águas de chuva, depois de passar pelos filtros, são encaminhadas para

o reservatório anaeróbico de águas recicladas ou prontas para reúso (capacidade 5.000 litros). Para este

reservatório, existem duas bombas, a de recalque e a de pressão. A bomba de recalque irá bombear a

água para o sistema de irrigação do telhado verde. Já a bomba de pressão irá aumentar a pressão da

água na saída da torneira de jardim que servirá para lavagem de pisos e calçadas. Toda a terra removida

para a construção desses tanques, que serão construídos em ferrocimento, será utilizada para a fabrica-

ção dos tijolos ecológicos.

O projeto Morar Bem Sustentável tem por finalidade aplicar essas diretrizes na construção de ha-

bitações populares em escala industrial. Para reduzir o custo da mão de obra, será ministrado um curso

para própria comunidade local que construirá as casas.

6.5 ConclusãoÉ urgente o estabelecimento de uma política governamental relacionada ao futuro da utilização das

energias renováveis, na medida em que os recursos tecnológicos modernos viabilizam modelos susten-

táveis de utilização dessas energias. Contudo, o que se vê é que faltam legislações especificas sobre seu

uso e dimensionamento, que muitas vezes são definidos com base apenas em experiências, pesquisas,

teses de graduação, ou definições de fabricantes.

Notou-se que para viabilizar a utilização de algumas das estratégias sustentáveis, em grande esca-

la, é necessário optar por tecnologias de grande disponibilidade industrial. Principalmente quando se

pensa que sustentabilidade deve ser feita por todos e para todos nos pequenos atos, a presença deste

conceito é, cada vez mais, parte da sociedade atual. Por isso, a aplicação desse modo de pensar e agir,

em todos os ramos da cultura de um povo, deve ser estimulada, principalmente em projetos sociais, pois

o beneficio a longo prazo e para o planeta é inestimável.

Apesar de acreditar-se nos benefícios da utilização de tecnologias sustentáveis industrializadas em

larga escala, existe grande quantidade de alternativas de extrema simplicidade, principalmente quando

aliadas a conceitos de permacultura e de adequação ao clima, conforme explicitados nas visitas e nas

entrevistas realizadas.

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9ª EDIÇÃO 101

7 IEL/ES TRATAMENTO DE RESÍDUOS GERADOS PELA FABRICAÇÃO DE GESSO

Bolsista: Morgana Bosio – FAACZ

Professor orientador: Iatahanderson de Souza Barcelos – FAACZ

Coautor: Edgar Luxinger

7.1 IntroduçãoCom o meio ambiente cada vez mais afetado pelo desenvolvimento, é necessária a invenção de tecnolo-

gias que se possa remediar essa intervenção. Neste trabalho foi avaliada a possibilidade de se reutilizar os

resíduos de gesso gerados na fabricação de blocos e peças de decoração, no próprio processo produtivo.

E, assim, diminuir a quantidade de matéria-prima extraída do meio ambiente, como também a geração

de resíduos que são descartados de maneira incorreta e prejudicam todo um ecossistema.

Visto que Espírito Santo está em pleno desenvolvimento e com obras civis aumentando con-

sideravelmente, a produção de materiais com gesso tende a aumentar, já que as placas de gesso

são muito empregadas nesse ramo, consequentemente aumentará também a produção do resíduo

de gesso.

Durante o processo de produção, é gerado muito resíduo. A mistura de sulfato de cálcio (gesso)

e água possui rápido endurecimento e, além disso, é bastante frágil. Por serem muito frágeis, durante

as etapas de produção as peças podem ser danificadas pelo próprio manuseio e uma vez danificadas

estas devem ser descartadas, pois não existem metodologias sobre recuperação do material que seja

economicamente viável.

Por isso, existe grande necessidade de se tomar medidas que minimizem a geração de resíduos,

reduzindo assim os impactos ao meio ambiente.

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102 COLETÂNEA BITEC 20082010

O gesso é composto basicamente de sulfato de cálcio semi-hidratado (CaSO4.1/2H

2O), obtido a par-

tir do mineral gipsita que é triturado, calcinado e consequentemente desidratado, depois desse processo

origina-se um pó branco que é comercializado e chamado de gesso.

Entre tantas aplicações do gesso algumas são: correção de solos alcalinos, constituinte na fabrica-

ção do cimento Portland e na construção civil como peças de decoração ou placas para o teto. No Brasil,

a mais importante ocorrência de gipsita está na localização da Bacia do Araripe, no Nordeste brasileiro,

entre os estados de Pernambuco, Ceará e Piauí.

7.1.1 Caracterização da empresaA empresa Luxinger Gesso Fort Me em estudo está localizada na cidade de Santa Tereza no Espírito San-

to, mais especificamente na Rodovia Engenheiro Josil Espindola Agostini, n. 738, bairro da Penha, inscrita

no CNPJ 08.215.762/0001-17, e fabrica placas de gesso e peças para decoração, com gesso provindo da

Bacia do Araripe.

7.1.2 Caracterização do problemaA matéria-prima utilizada na fabricação de placas ou peças de decoração é o gesso conhecido como

gesso hemidrato, cuja fórmula química pode ser observada na equação 1.

(1)

Quando o gesso hemidrato é misturado com a água ocorre a reação apresentada na equação 2.

(2)

Para confecção das placas de gesso e peças decoradas, faz-se a mistura de água e gesso em iguais

proporções, como pode ser observado na figura 1.

Figura 1: Mistura da gesso com água

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9ª EDIÇÃO 103

No caso da empresa em questão, a mistura é feita manualmente e logo em seguida é colocado no

molde para fabricação de placas de gesso, como na figura 2. Já para confecção de peças decorativas,

passa-se um molde na pasta, como pode ser observado na figura 3.

Figura 2: Molde para fabricação de placas de gesso

Figura 4: Resíduos de gesso

Figura 3: Molde para fabricação de peças decorativas

Um grande problema na fabricação de peças de gesso é o rápido endurecimento da mistura, com

isso se a peça for mal moldada, a única solução é descartá-la. Outro ponto de geração de resíduos são

as pontas das peças decorativas e a retirada das placas do molde, que se não forem manuseadas com

cautela se quebram e precisam ser descartadas. Com isso, a geração de resíduos é extremamente alta,

como pode ser observado na figura 4.

O desenvolvimento deste projeto é no estudo da possibilidade de se reutilizar o resíduo do gesso

em pequenas proporções, como matéria-prima (pó de gesso).

7.2 MetodologiaPara melhor entendimento do projeto, o gesso utilizado para confecção dos blocos foi definido como

matéria-prima, já os blocos com defeito descartados, quebrados e sobras da produção foram definidos

como resíduo.

Para detectar a interferência da quantidade de água no tempo de pega, que é o tempo que a

matéria-prima leva para deixar de ser moldável, foi realizado o teste chamado de tempo de pega. Nesse

caso, o tempo considerado foi o medido a partir do momento em que não era mais possível moldar o

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104 COLETÂNEA BITEC 20082010

material. Para realização desse teste, foram pesadas várias amostras de 50 gramas de matéria-prima

com diferentes proporções em peso de água. Os dois materiais foram misturados e o tempo foi

cronometrado.

O material oriundo do descarte (resíduo) foi triturado em um moinho de martelo na Empresa Gra-

nutec – Tecnologia em Granulados, Aracruz – Espírito Santos. As figuras 5 e 6 apresentam o equipamen-

to utilizado no processo de trituração. Já as figuras 7 e 8 apresentam a peneira do moinho de martelo e

o paquímetro com a medida da abertura de cada orifício da peneira respectivamente.

Figura 5: Moinho de martelo

Figura 7: Peneira acoplada no moinho de martelo

Figura 9: Resíduo de gesso depois de triturado em moinho de martelo

Figura 6: Martelos dentro do moinho de martelo

Figura 8: Paquímetro com a medição dos orifícios da peneira.

O material depois de triturado pode ser observado na figura 9.

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9ª EDIÇÃO 105

Após o processo de trituração, o percentual de água foi avaliado como também o pH. Essas duas

avaliações também foram realizadas na matéria-prima.

7.2.1 Determinação do tempo de pega do gessoA análise realizada consistiu na mistura da matéria-prima e do resíduo em diferentes proporções, que

foram: 0,0; 2,5; 5,0; 7,5; 10,0; 12,5; 15,0; 17,5; 20,0; 22,5; 25,0; 27,5; 30,0; 32,5; 35,0; 37,5; 40,0; 42,5; 45,0;

47,5; 50,0; 60,0; 70,0; 80,0; 90,0 e 100,0% de resíduo, sendo em peso 50% (resíduo + matéria-prima) e

50% de água.

Na figura 10, pode ser observada a diferença na superfície dos corpos de prova com zero (0,0) e

100% de resíduo.

Figura 10: Corpos de prova com 0,0% e 100% de resíduo

Figura 11: Tubo de ensaio com gesso e n-Hexano

7.2.2 Determinação da densidade do sólido por picnometriaA densidade da matéria-prima e do resíduo foi realizada por meio de picnômetros, sendo a fluido o n-He-

naxo, pois este não dissolve nem a matéria-prima nem o resíduo como pode ser verificado na figura 11.

Este ensaio foi realizado no laboratório de química orgânica, na Faculdade de Aracruz.

Nas figuras 12, 13 e 14 pode ser observado o ensaio para medição de densidade, tanto para maté-

ria-prima quanto para o resíduo.

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106 COLETÂNEA BITEC 20082010

Os cálculos da densidade foram feitos considerando a média dos três picnômetros, a seguir segue

a metodologia para desenvolvimento do cálculo.

Primeiramente, foi calculado o volume do picnômetro com a equação 3.

(3)

Onde:

Vp = volume do picnômetro.

mH

= massa de n-Hexano no picnômetro.

ρH

= densidade de n-Hexano.

Em seguida com a equação 4, foi calculado o volume ocupado pelo gesso dentro do picnômetro.

(4)

Onde:

Vg = volume ocupado pelo gesso no picnômetro.

Vp = volume do picnômetro.

VH

= volume de n-Henaxo ocupado no picnômetro com gesso.

E, por final, a densidade do gesso é calculada pela equação 5.

Figura 12: Picnômetros vazios

Figura 14: Picnômetros + gesso + n-Hexano

Figura 13: Picnômetros + gesso

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9ª EDIÇÃO 107

(5)

Onde:

ρg

= densidade do gesso.

mg

= massa de gesso dentro do picnômetro.

Vg = volume ocupado pelo gesso no picnômetro.

7.2.3 Preparação dos corpos de provaPara os testes de dureza e resistência, foram confeccionados corpos de prova com porcentagens de 0 ;

2,5; 5,0; 7,5; 10,0; 15,0 e 20,0% de resíduo e uma quantidade de água estequiométrica, condizente com

a equação química de reação da matéria-prima com a água. As dimensões dos corpos de prova para os

testes, segundo NBR 12.129 de Gesso Para construção civil (Determinação das Propriedades Mecânicas),

foram de 5x5x5cm, como pode ser observado na figura 15.

Figura 15: Corpos de prova para testes de dureza e resistência

Figura 16: Teste de dureza no corpo de prova.

7.2.4 Testes de dureza e resistênciaOs testes de dureza e resistência foram realizados na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) no La-

boratório de Ensaios de Matérias de Construção (Lemac), com orientação do professor Fernando Avan-

cini Tristão para os ensaios. Primeiramente foi realizado o teste de dureza, que consiste na penetração

de uma esfera de 10 mm de diâmetro com aplicação de carga de 500N por 15 segundos, em três faces

de cada corpo de prova (NBR 12.129). Na figura 16, pode ser observada a realização do teste de dureza.

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108 COLETÂNEA BITEC 20082010

Após a realização do teste em três faces diferentes, foram medidos com o auxílio de uma lupa (figu-

ra 17) e de um paquímetro o diâmetro e a profundidade de cada esfera (figura 18).

Figura 17: Lupa para medição do diâme-tro da esfera

Figura19: Teste de resistência em corpo de prova

Figura 18: Visão da esfera através da Lupa com escala em milímetro

Depois do teste de dureza foi realizado no mesmo corpo de prova o teste de resistência, que pode

ser observado na figura 19. Para esse teste foi aplicada uma carga contínua em uma razão de 250 a

750N/s até a ruptura (NBR 12.129).

Na figura 20, pode ser observado um corpo de prova após a realização do teste de dureza, já na

figura 21 após o teste de resistência.

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9ª EDIÇÃO 109

O cálculo da dureza dos corpos de prova foi feito com a equação 6.

(6)

Onde:

D = dureza.

F = carga, em Newton.

Φ = diâmetro da esfera, em milímetro.

t = profundidade da esfera, em milímetro.

Já o cálculo da resistência foi feito com a equação 7.

(7)

Onde:

R = resistência.

P = carga que produziu a ruptura do corpo de prova.

S = área de seção transversal de aplicação da carga.

7.3 Resultados

7.3.1 Variação do tempo de pega do gessoNa tabela 1, está demonstrado o tempo de pega, com diferentes variações de água, para a mesma

quantidade de gesso.

Figura 21: Corpo de prova após teste de resistência

Figura 20: Face do corpo de prova após teste de dureza

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110 COLETÂNEA BITEC 20082010

Tabela 1: Tempo de pega do gesso

AmostraQuantidade de gesso (g)

Quantidade de água (g)

% de água Tempo de pega

1 50 18,6 27 2 min 57 seg

2 50 25 33 5 min 30 seg

3 50 26,5 35 5 min 32 seg

4 50 35 41 10 min 18 seg

5 50 40,9 45 14 min 25 seg

6 50 45 47 16 min 10 seg

7 50 50 50 16 min 40 seg

8 50 75 60 20 min 30 seg

Como pode ser observado na tabela 1, quanto maior a quantidade de água maior é o tempo de

pega da mistura, em consequência menor é a resistência do material.

7.3.2 Umidade da matéria-prima e do resíduoA umidade da matéria-prima e do resíduo depois de triturado, está apresentada na Tabela 2. Onde é

possível observar como o resíduo possui uma umidade bem mais elevada que a matéria-prima.

Tabela 2: Umidade do gesso (matéria-prima e resíduo)

Material Umidade (%)

Matéria-prima 3,3

Resíduo 17

7.3.3 PH da matéria-prima e do resíduoO pH tanto da matéria-prima quanto do resíduos foi de 6 como pode ser observado na figura 22.

Figura 22: Comparação da tira do pH me-dido com a faixa de cores padrão

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9ª EDIÇÃO 111

7.3.4 Caracterização dos corpos de prova com diferentes porcentagens de resíduoNa tabela 3, está descrito a qualidade dos corpos de prova.

Tabela 3: Descrição das qualidades dos corpos de prova

% de resíduo Qualidade dos corpos de prova

Zero (0,0) a 30,0 Corpos de prova com grande dificuldade para quebra natural

32,5 a 50,0 Corpos de prova com faciliadde para quebra natural

60,0 a 100,0 Corpos de prova altamente quebradiços e ásperos

Com esses primeiros corpos de prova foi possível identificar que as porcentagens, acima de 20%

de resíduo, possuem uma qualidade inferior à necessária. Por isso, os testes foram realizados apenas em

corpos de prova com 0; 2,5; 5,0; 7,5; 10,0; 15,0 e 20,0% de resíduo em massa.

7.3.5 Densidade da matéria-prima e do resíduoNa medição da densidade da matéria-prima e do resíduo, a densidade do n-Hexano considerada foi de

0,659g/cm3 como pode ser observado no circulado de vermelho na figura 23.

Figura 23: Propriedades físico-químicas e ambientais do n-Hexano. Fonte: Cetesb (2009).

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112 COLETÂNEA BITEC 20082010

Nas tabelas 4 e 5 estão os valores das densidades da matéria-prima e do resíduo respectivamente.

Tabela 4: Densidade da matéria-prima

Picnômetros vazios

Picnômetros + matéria-prima

Picnômetros + matéria-prima

+ n-Henaxo

Picnômetros + henaxo

Densidade da matéria-prima

Picnômetro 1 17,8439 21,5329 24,1223 21,5307

Picnômetro 2 16,2732 20,4251 23,1346 20,2529 2,2059

Picnômetro 3 18,0447 22,0781 24,7535 21,9053

Tabela 5: Densidade do resíduo

Picnômetros vazios

Picnômetros + matéria-prima

Picnômetros + matéria-prima

+ n-Henaxo

Picnômetros + henaxo

Densidade da matéria-prima

Picnômetro 1 17,8436 20,8525 23,403 21,5505

Picnômetro 2 16,2713 19,6762 22,396 20,2634 1,714

Picnômetro 3 18,0431 21,1994 23,8179 21,9176

7.3.6 Variação da dureza e da resistência dos corpos de provaOs corpos de prova foram preparados com 35% e 50% de água e mantidos em local hermeticamente fe-

chado, após três dias da preparação deles, foi realizado o teste de dureza, sendo foi possível observar que

os corpos de prova estavam ainda bastante úmidos, dessa forma foram mantidos em estufa por 20 horas

a uma temperatura de 30º C. Os testes de dureza foram novamente realizados, mas ainda se detectava

que os corpos de prova continuavam bastante úmidos, pois possuíam uma baixa dureza. Permaneceram

por mais 16 horas em estufa a 60º C para acelerar a perda de umidade do material. Após todos esses pro-

cedimentos, os corpos de prova preparados com 50% de água ainda estavam muito pouco resistentes,

impossibilitando a realização de testes neles, como pode ser observado na figura 24.

Figura 24: Corpo de prova preparado com 50% de água

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9ª EDIÇÃO 113

Os testes de dureza nos corpos de prova preparados com 35% de água tiveram resultados bastante

satisfatórios – para algumas porcentagens de resíduo –, na tabela 6 é demonstrada as dimensões das

esferas nas faces dos corpos de prova.

Tabela 6: Dimensões das esferas nos corpos de prova

Quanti-dade de resíduo

Corpo de prova

1 2 3

0 (mm) t (mm) 0 (mm) t (mm) 0 (mm) t (mm)

0%123

5,76,45,8

0,91,21,0

6,06,15,2

1,01,10,7

6,26,55,7

1,01,20,9

2,5%123

6,16,65,9

1,11,21,0

6,26,25,6

1,11,10,9

6,16,25,8

1,11,11,0

5,0%123

6,04,44,5

1,00,40,5

6,24,44,0

1,10,40,4

6,04,34,4

1,00,40,4

7,5%123

4,84,24,5

0,50,40,5

4,74,24,5

0,50,40,5

4,74,74,6

0,50,50,5

10,0%123

5,54,74,5

0,90,50,5

5,94,64,4

1,00,50,4

6,14,64,5

1,10,50,5

15,5%123

7,57,16,6

1,71,51,2

7,17,16,5

1,51,51,2

7,07,16,8

1,51,51,4

20,0%

123

6,87,27,3

1,41,81,8

6,97,37,2

1,41,81,8

7,07,27,2

1,51,81,8

0 – Diêmetro.t – Profundidade.

É possível observar na tabela 6 que os corpos de prova 2 e 3, com 5% de resíduo e todos com 7,5%

e 10% de resíduo, obtiveram melhores resultados, pois estavam localizados em local diferente na estufa,

como pode ser observado no circulado vermelho na figura 25, possibilitando para estes melhor troca de

calor e massa com o meio.

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114 COLETÂNEA BITEC 20082010

Com os dados das dimensões da tabela 6, força de 500N aplicada nos corpos de prova, foi possível

calcular a dureza deles seguindo a NBR 12.129. Na tabela 7 estão demonstrados os resultados de dureza

dos corpos de prova.

Tabela 7: Dureza dos corpos de prova

Quanti-dade de resíduo

Corpo de prova

Diâmetromédio0 (mm)

Profundidade média (mm)

Força aplicada

(N)

Dureza(N/mm2)

Média da dureza

(N/mm2)

0%123

5,976,335,57

0,971,170,87

500500500

282233

27

2,5%123

6,136,335,77

1,101,130,97

500500500

242229

25

5,0%123

6,074,374,30

1,030,400,43

500500500

259185

67

7,5%123

4,734,374,53

0,500,430,50

500500500

678470

74

10,0%123

5,834,634,47

1,000,500,47

500500500

276976

57

15,5%123

7,207,106,63

1,571,501,27

500500500

141519

16

20,0%123

6,907,237,23

1,431,801,80

500500500

161212

14

Figura 25: Posicionamento dos corpos de prova na estufa

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9ª EDIÇÃO 115

Segundo a NBR 13.207 de Gesso para Construção Civil, a dureza física e mecânica do gesso deve

seguir as exigências demonstradas na tabela 8.

Tabela 8: Exigências físicas e mecânicas do gesso para construção civil

Determinações físicas e mecânicas Unidade Limites

Resistência a compressão MPa > 8,40

Dureza N/mm2 > 30,00

Fonte: NBR 13.207.

A dureza do material deve ser maior que 30N/mm2, como pode ser observado na tabela 7 as mis-

turas de matéria-prima com 2,5%, 5,0% e 7,5% de resíduo atendem perfeitamente a exigência da NBR

13.207, no que diz respeito à dureza.

Na tabela 9, pode-se observar as resistências dos corpos de prova, obtidas por meio de seus ensaios.

Tabela 9: Resistência dos corpos de prova

Quanti-dade de resíduo

Corpo de

prova

Lado A (mm)

Lado B (mm)

Área superficial

(mm2)

Carga de rup-tira no corpo de prova (N)

Resistência do corpo de

prova

Média da resistência

(MPa)

0%123

51,451,650,8

51,451,050,9

2642,02631,62585,7

175001470012800

6,625,594,95

5,72

2,5%123

49.051,049.8

50,951,052,0

2494,12601,32589,6

15800161001550

6,336,195,99

6,17

5,0%123

51,451,651,0

51,051,251,6

2636,42641,92631,6

158003800029300

6,0414,3811,13

10,52

7,5%123

52,029,049,0

50,752,052,7

2636,42548,02582,3

300003040033700

11,3811,9313,05

12,12

10,0%123

51,050,450,8

51,851,851,2

2641,82610,72601,0

169002560031600

6,409m8112,15

9,45

15,0%123

53,049,451,4

51,051,051,0

2703,02519,42621,4

100001130011200

3,704,494,27

4,15

20,0%123

51,752,751,3

50,250,851,2

2595,32677,22626,6

101009000

11400

3,893,364,34

3,86

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116 COLETÂNEA BITEC 20082010

Como pode ser observado, as porcentagens de 5%, 7%, 5% e 10% atendem também a exigência da

NBR 13.207, no que diz respeito à resistência. Vale lembrar que quanto menor a quantidade de resíduo,

maior a dureza e a resistência do gesso, por isso as porcentagens de 2,5 e 0 de resíduo também aten-

deriam as exigências, se os corpos de prova estivessem com qualidade ideal para realização dos testes.

Já para as porcentagens com teor de resíduos maior que 10%, seria necessária uma nova batelada de

testes, em corpos de prova com condições ideais para sua realização.

A empresa Luxinger Gesso Fort Me consome mensalmente 25 toneladas de gesso, das quais cerca

de 7% torna-se resíduo, ou seja, 1,75 toneladas. Com um custo de 225,00 reais a tonelada, a empresa

gasta 5.625,00 reais mensais com matéria-prima, dos quais aproximadamente 400,00 reais é desperdi-

çado na forma de resíduo.

Com esse descarte de resíduo, a empresa produz, considerando a densidade do resíduo calculada

na tabela 5, um volume de 1m3/mês.

7.4 ConclusãoCom os testes realizados, verificou-se a possibilidade de aplicar o resíduo gerado na fabricação de peças

de gesso no próprio processo produtivo. Verificou-se ainda que 10% da matéria-prima pode ser substi-

tuída por este e ainda assim suas propriedades permanecem dentro do exigido pela NBR 13.207.

Considerando que a geração de resíduo é da ordem de 7% em média, a aplicação do resíduo tor-

nará a empresa ecologicamente correta, pois todo seu resíduo será reaproveitado na própria empresa.

Haverá a redução na extração da matéria-prima, já que uma parte desta será substituída pelo resíduo.

Com a modificação no processo fabril, a empresa poderá destinar recursos antes aplicados na des-

tinação do resíduo no próprio processo, implementando assim modificações para uma produção autos-

sustentável.

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12129: Gesso Para Construção Civil – Determinação das

Propriedades Mecânicas. Rio de Janeiro, 1991.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13207: Gesso Para Construção Civil. Rio de Janeiro, 1994.

COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Ficha de infor-

mação de produto químico: hexano. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/emergencia/produtos/

ficha_completa1.asp?consulta=HEXANO>. Acesso em: 3 out. 2009.

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8 IEL/GO IMPLANTAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA DE BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO NO SETOR DE PANIFICAÇÃO DO SUPERMERCADO

Bolsista: Lorena Morais da Rocha Lima – UFG

Professor orientador: Celso José de Moura – UFG

Coautor: Maristela Magalhães Aires

8.1 IntroduçãoA segurança dos alimentos é um direito garantido pelo Código de Defesa do Consumidor e pelos órgãos

de controle (Ministério da Saúde – MS e Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – Mapa).

Além dos órgãos governamentais, o consumidor está a cada dia mais exigente e consciente de seus

direitos. Assim, as empresas de alimentos têm buscado meios para não perder clientes e buscar novos.

Visando a resguardar o consumidor de riscos à sua saúde, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(Anvisa) instituiu em 15 de setembro de 2004 a RDC no 216, que dispõe sobre o Regulamento Técnico

de Boas Práticas para serviços de alimentação. Considerando que em sistemas de alimentação (restau-

rantes, lanchonetes, padarias e supermercados) ocorre grande manipulação de alimentos, aumentando

a chance deste causar algum dano à saúde do consumidor, é fundamental que esses estabelecimentos

adotem medidas preventivas em todas as etapas do processo.

A adoção de medidas preventivas requer conhecimento e, às vezes, investimento para adequação,

de maneira que possibilite que essas medidas sejam efetivas. Uma ferramenta de prevenção de perigos

nos alimentos é a adoção de boas práticas na manipulação e na fabricação de alimentos.

A implementação do Programa de Boas Práticas em uma pequena empresa, às vezes, é dificultada

pela falta de conhecimento técnico da equipe do estabelecimento, além da necessidade de investimen-

tos, que nem sempre a empresa dispõe. Assim, o Programa de Iniciação Científica e Tecnológica para

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Micro e Pequenas Empresas (BITEC) é uma forma de viabilizar a implantação e a implementação do

programa em pequenas empresas, pois possibilita a participação do estudante do curso de Engenharia

de Alimentos, sob orientação de um professor da área, ou seja, disponibiliza conhecimento a baixo custo.

Sendo assim, o objetivo do presente trabalho foi a implantação e implementação do Programa de

Boas Práticas de Fabricação no Supermercado e Panificadora Saúde, de forma que fosse possível a ade-

quação da empresa às normas estabelecidas pela RDC no 216.

8.2 Revisão da literatura

8.2.1 Segurança do alimentoO termo segurança do alimento refere-se à garantia de que o alimento não apresenta ameaça à saúde

do consumidor, quando preparado e ingerido de acordo com as recomendações de consumo, ou seja,

que o alimento seja inócuo (OLIVEIRA; MASSON, 2003).

Os alimentos podem ser veículos de diversas doenças que causam desde simples dores de cabeça

ou alergias ou até danos muito graves podendo levar à morte. As doenças transmitidas por alimentos

(DTA) são atribuídas à ingestão de alimentos ou água contaminados por micro-organismo, produtos

químicos ou fragmentos de metais, madeiras ou mesmo de insetos que possam estar presentes no ali-

mento. Mais de 250 diferentes tipos de DTA têm sido descritas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005).

De 1999 até 2008, 6.062 surtos de DTA foram registrados pela Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), com

acometimento de 117.330 pessoas e mediana de sete doentes por surto (1-2.775), com 64 óbitos neste período.

As regiões Sul e Sudeste notificaram 82,7% dos surtos de DTA. O Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná

e Santa Catarina foram os que apresentaram o maior registro de surtos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).

Por causa dos riscos que um alimento mal elaborado ou conservado pode oferecer ao consumidor,

a Anvisa não mediu esforços na busca de melhorias nas condições de funcionamento dos serviços de

alimentação.

8.2.2 Ferramentas de gestão da segurança dos alimentosAs principais ferramentas para segurança dos alimentos são: Programa de Boas Práticas e o Sistema de

Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC). As boas práticas tratam dos aspectos relativos à

higiene e ao ambiente de processamento de alimentos e é um pré-requisito para a segunda ferramenta,

o Sistema APPCC, este trata de um estudo científico, que analisa cada produto e processo para iden-

tificar aquele ponto em que determinado perigo, significativo, posa ser controlado. Além desses dois

programas, as empresas podem ainda optar pela adoção da Isso 22.000, que trata da padronização dos

processos de gestão da segurança dos alimentos, de maneira que os sistemas possam ser certificados

(ALVES, 2003).

8.2.3 Boas práticas de fabricaçãoAs boas práticas de fabricação (BPF) são um conjunto de atividades que visam às higiene e à inocuidade

dos alimentos processados. A qualidade da matéria-prima, a arquitetura dos equipamentos e das insta-

lações, as condições higiênicas do ambiente de trabalho, as técnicas de manipulação dos alimentos, a

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9ª EDIÇÃO 119

saúde dos funcionários são fatores importantes a serem considerados na produção de alimentos seguros

e de qualidade, devendo, portanto, serem considerados nas BPF (TOMICH et al., 2005).

8.2.3.1 Importância das boas práticas de fabricação em serviços de alimentação

Há algumas décadas tem-se observado uma tendência progressiva para o consumo de refeições fora

do lar, o que promoveu o desenvolvimento dos serviços de alimentação. Assim sendo, as enfermidades

alimentares, que antigamente representavam um número reduzido de casos, geralmente limitados ao

âmbito familiar, passaram a se manifestar de maneira dramática, saindo dos limites domiciliares para

atingir um número maior de indivíduos.

No Brasil, estima-se que, de cada cinco refeições, uma não é efetuada em casa; na Europa, duas em

cada seis e nos Estados Unidos das Américas (EUA), uma em cada duas. Esses números indicam que,

ainda, pode haver grande aumento e desenvolvimento dos estabelecimentos que produzem alimentos

para consumo imediato no país.

Nesse contexto, os estabelecimentos de preparo e comércio de alimentos assumem papel impor-

tante na qualidade da alimentação da população urbana. Para assegurar que os alimentos sejam prepa-

rados de modo que garanta a integridade do consumidor devem ser adotadas medidas de prevenção

e controle em todas as etapas da cadeia produtiva. Uma das formas para se atingir um alto padrão de

qualidade dos alimentos é a implantação das BPF (AKUTSU et al., 2005).

8.2.3.2 Objetivos das boas práticas de fabricação

A razão da existência das boas práticas de fabricação está em ser uma ferramenta poderosa para comba-

ter, minimizar e sanar as contaminações microbiológicas, físicas e químicas nos alimentos processados

(ALVES, 2003).

O primeiro objetivo diz respeito a uma unificação da linguagem dos princípios básicos de como ter

e obter boas práticas de fabricação para produtos destinados à saúde humana e animal. O resultado final

será a qualidade de produtos acabados nos padrões (especificações) e, consequentemente, a perpetua-

ção da imagem e da vida da organização na comunidade. O segundo objetivo está em comprovar que

a empresa que faz uso das BPF já se encontra em estágio superior na qualidade de seus produtos, o que

é importante no mercado competitivo e global em que vivemos. O terceiro objetivo é proporcionar que

seja atingida, em toda a sua amplitude, a qualidade assegurada dos produtos acabados (CANTO, 1998).

8.2.4 LegislaçãoAs BPF são obrigatórias pela legislação brasileira, para todas as indústrias e estabelecimentos de alimen-

tos e estão pautados nas Portarias no 1428/93 (BRASIL, 1993), no 326/97 (BRASIL, 1997), no 368/97 (BRA-

SIL,1997), Portaria CVS no 6/99 (BRASIL, 1999) e nas Resoluções da Direção Colegiada RDC no 275/2002

(BRASIL, 2002) e no. 216/2004 (BRASIL, 2004).

A RDC no 216/2004 tem por objetivo estabelecer procedimentos de boas práticas para serviços

de alimentação, a fim de garantir as condições higiênico-sanitárias do alimento preparado. E deve ser

aplicada aos serviços de alimentação que realizam algumas das seguintes atividades: manipulação,

preparação, fracionamento, armazenamento, distribuição, transporte, exposição à venda e entrega de

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120 COLETÂNEA BITEC 20082010

alimentos preparados ao consumo, tais como: cantinas, bufês, comissárias, confeitarias, cozinhas indus-

triais, cozinhas institucionais, delicatéssens, lanchonetes, padarias, pastelarias, restaurantes, rotisserias e

congêneres.

O supermercado em estudo tem panificadora, açougue e lanchonete, e em todas essas áreas há

excessiva manipulação de gêneros alimentícios, pois tal estabelecimento visa à venda de produtos com

grande facilidade e praticidade de consumo, como queijos e presuntos fatiados. Logo, oferecem grande

risco para o consumidor, de maneira que, se não for adotado um sistema de qualidade nesses estabe-

lecimentos, seus clientes estarão constantemente expostos aos diferentes perigos biológicos, físicos e

químicos. Além do dano a quem consome algum alimento contaminado, condições inadequadas de

armazenagem e manuseio podem abalar a imagem da organização, diminuir a duração dos produtos e

aumentar o número de devoluções (mais custos) e reclamações.

8.5 Proposição Os órgãos reguladores, cada vez mais, intensificam o acompanhamento e o monitoramento da qualida-

de e da segurança dos alimentos. Este trabalho é feito na forma de fiscalizações in loco e leva em conta

todos os aspectos que possam aumentar o risco de os alimentos causarem algum dano à saúde do

consumidor, iniciando pelos trabalhadores até a estrutura física do estabelecimento.

Para atendimento das exigências da legislação, é necessário conhecimento técnico e recurso finan-

ceiro, dois fatores que as pequenas empresas normalmente têm dificuldades de utilizar. Sendo assim,

a parceria entre instituições de ensino e o setor produtivo pode viabilizar que pequenas empresas se

adéquem à legislação. Esta oportunidade é vista com muita clareza no Programa BITEC, que disponibiliza

bolsa ao estudante para que se dedique a resolver problemas de uma empresa sob a orientação de um

professor da área.

Assim, o desenvolvimento deste projeto viabilizou que uma estudante do curso de Engenharia de

Alimentos se dedicasse a auxiliar uma empresa na solução de um problema, de forma que buscasse

adequar à empresa as normas legais. Além do atendimento à legislação, a empresa percebeu a impor-

tância de um programa de gestão da qualidade, em que seus processos foram melhorados a ponto de

os clientes perceberem mudanças inclusive no atendimento.

8.6 MetodologiaPara o desenvolvimento do projeto “Implantação e Implementação do Programa de Boas Práticas de Fabri-

cação no Setor de Panificação do Supermercado e Panificadora Saúde”, foi adotada a seguinte metodologia:

• Estudo e interpretação da legislação de segurança de alimentos, especialmente a Resolução da

Diretoria Colegiada, RDC no 216/2004.

• Baseado na RDC no 216/2004, foi elaborada uma lista de verificação que fornece suporte para

identificação detalhada dos pontos em que a empresa atendia ou não a esta legislação.

• De posse da lista de verificação, foi realizado o diagnóstico inicial das condições da empresa de

forma que todas nas não conformidades encontradas foram listadas.

• Elaboração, junto aos empresários, de um plano de ação para os ajustes das não conformidades

detectadas, em que foram estabelecidos prazos, responsabilidades e custos da adequações.

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• Realização das adequações que apresentam prazos, “imediatos ou de curto prazo”, previstas no

plano de ação.

• Elaboração de propostas de adequação da estrutura física da empresa visando ao atendimento

à legislação.

• Sensibilização e treinamento da equipe em boas práticas de fabricação e alimentos seguros.

• Elaboração do Manual de Boas Práticas de Fabricação, segundo exigência da RDC no

216/2004, contendo: procedimentos operacionais padronizados, instruções de trabalho e pla-

nilhas de controle.

• Treinamento da equipe de colaboradores na aplicação dos documentos elaborados.

8.7 Resultados

8.7.1 Diagnóstico das condições da empresa quanto ao atendimento da RDC no

216/2004Utilizando a lista de verificação elaborada com base na RDC no 216/2004 foi verificado in loco as condi-

ções da empresa. A lista de verificação contém 114 itens relacionados à edificação, instalações, equipa-

mentos, móveis e utensílios; à higienização de instalações, equipamentos, móveis e utensílios; ao con-

trole integrado de vetores e pragas urbanas; ao abastecimento de água; ao manejo dos resíduos; aos

manipuladores; às matéria-prima, ingredientes e embalagens; à preparação do alimento; à exposição ao

consumo do alimento preparado e documentação e registro

Para cada item foi marcada uma das opções: sim – para itens em que a empresa atendia a legisla-

ção; não – para itens em que a empresa não atendia a legislação; e não se aplica (NA) – para itens não

aplicáveis ao tipo de atividades da empresa. Em tal lista, também havia um espaço para descrição da não

conformidade encontrada.

Quadro 1: Exemplo de um item abordado pela lista de verificação das não conformidades

Infraestrutura

A) Edificação, instalações, equipamentos, móveis e utensílios Sim Não NA NC

1) A edificação e as instalações são projetadas para possibilitar um fluxo ordenado e sem cruzamentos em todas as etapas da preparação de alimentos e facilitar as operações de manutenção, limpeza e, quando for necessário, desinfecção?

8.7.2 Elaboração do plano de açãoApós o diagnóstico inicial da empresa, foi elaborado o plano de ação para a adequação das não confor-

midades detectadas. Esse plano foi elaborado junto aos administradores da empresa. Foi definido que

seriam priorizados os itens de fácil solução e baixo custo, em segundo os itens que poderiam causar

maior risco ao consumidor e depois aqueles de maior custo e complexidade de solução.

O plano de ação é excelente ferramenta na gestão da empresa, pois permite priorizar, planejar in-

vestimentos e ainda cobrar as responsabilidades abordadas. A empresa entendeu o significado deste e

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122 COLETÂNEA BITEC 20082010

o está utilizando como forma de implementação do Programa de Boas Práticas. Esse instrumento serve

inclusive para mostrar aos fiscais da vigilância sanitária como estava a empresa, onde está e aonde che-

gará, com datas e responsabilidades predefinidas.

Quadro 2: Exemplo de plano de ação

Não conformidade

Onde AçãoData prevista para

adequação Custo Responsável

Com as adequações determinadas, iniciou-se uma contínua fase de adaptações à legislação. De

forma que equipamentos foram reformados; houve aquisição de utensílios e materiais; compra de uni-

forme adequado para manipuladores; foram estabelecidos novos procedimentos de higienização de

equipamentos e instalações, considerando que superfícies mal higienizadas são grandes fontes de con-

taminação dos alimentos.

Porém, para solução de várias não conformidades, como as mudanças dos acessos à área de produ-

ção e a troca dos revestimentos das paredes, havia a necessidade de uma reforma.

8.7.2.1 Proposta de projeto para reforma e readequação de layoutPara realização da reforma, foi necessária a elaboração de um projeto. Para isso, primeiramente foram fei-

tos vários esboços da planta baixa, para que as não conformidades fossem solucionadas de maneira que

não prejudicasse as vendas do estabelecimento – no que diz respeito à área de marketing –, atendesse

as normas estabelecidas pela legislação e aos desejos da proprietária.

Foi verificado que era preciso que o açougue trocasse de lugar com a lanchonete, para que quando

a carne chegasse ao período da manhã, não fosse preciso passar com ela em toda a área de manipu-

lação. E também porque é necessário isolar o açougue da padaria e a sala de desossa da área de mani-

pulação da panificadora. Porém, para que isso fosse feito, houve grande preocupação da proprietária,

pois ela nos relatou que em uma reforma anterior, o açougue foi passado para frente do supermercado,

fazendo com que as vendas caíssem muito. Assim, para nos assessorar no que diz respeito ao marketing,

procuramos a consultoria do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que nos

deu as diretrizes importantes, auxiliando na elaboração do projeto.

Antes da realização dele, foram feitos esboços até chegarmos ao layout desejado. Após a apresenta-

ção dos esboços de projeto, os empresários perceberam o quanto essa reforma melhorará seu ambiente

de processamento e comercialização, de forma que decidiram contratar um profissional para finalizar o

trabalho. Este profissional era uma arquiteta que junto ao bolsista BITEC e os proprietários encontraram

o melhor ajuste de maneira que hoje tem-se o projeto com todas as cotas e materiais necessários.

Com a reforma, será possível: isolar o açougue da panificadora; criar um depósito de matéria-prima;

criar uma área de serviço, para que os produtos de limpeza sejam guardados neste lugar e os equi-

pamentos que precisem ser lavados possam ser lavados no tanque situado nesta área; criação de um

lavatório dentro da área de manipulação dos alimentos, para que o manipulador lave as mãos ao chegar

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9ª EDIÇÃO 123

e sempre que necessário; mudança do açougue de lugar, de forma que, quando a carne chegar, no pe-

ríodo da manhã, não será mais preciso entrar com ela na área de manipulação; melhor disposição dos

equipamentos; criação de um vestiário; isolamento do sanitário das áreas onde alimentos são manipula-

dos; retirada da bomba proveniente do poço artesiano de dentro da área de manipulação; entre outras

mudanças necessárias para o atendimento da legislação.

Além das mudanças já citadas, que são as que podem ser visualizadas no projeto, muitas outras

mudanças ocorrerão, por exemplo:

• A troca das mesas, que não são de material adequado, por bancadas de aço inox e embaixo

dessas bancadas terão armários para que os utensílios possam ser guardados de maneira que

economize espaço na área de produção.

• As paredes serão revestidas de azulejos brancos vitrificados. A ideia inicial era a utilização de

resina lavável em todas as paredes, porém, verificou-se que isso necessitaria de um alto inves-

timento, do qual a empresa não dispunha, então, encontrou-se outra alternativa.

• Os ângulos entre as paredes e o piso e entre as paredes e o teto terão cantos arredondados,

para facilitar a limpeza.

• Os lavatórios para higienização das mãos serão de uso exclusivo para higienização das mãos,

não sendo permitida a higienização de aventais, utensílios, ferramentas etc.

• As instalações elétricas serão embutidas.

• As portas serão de superfícies lisas, sendo constituídas de material atóxico, não absorvente, não

emissor de partículas ou odores, lavável e de fácil limpeza.

• O fechamento das portas será feito mediante dispositivo automático de fechamento, para evi-

tar que permaneçam abertas, salvo nas áreas de trânsito constante, como nas áreas de recep-

ção. Nessas áreas, além das portas, terá cortinas de plástico.

Sendo assim, para atender a legislação, muitas modificações na estrutura do estabelecimento fo-

ram necessárias. De forma que, das 68 não conformidades encontradas, 19 serão solucionadas com a refor-

ma, ou seja, em torno de 28%. Tal número mostra o tamanho da necessidade da realização dessa reforma.

Além do mais, essas mudanças, além de promoverem melhor condição para o produto, eviden-

ciam, também, valorização do ambiente de trabalho, ou seja, o trabalhador passa a encontrar um am-

biente de melhores condições, levando a um aumento no caráter motivacional dele, melhorando, assim,

o processo de trabalho como um todo.

A reforma será iniciada em janeiro de 2010, por causa das festas de fim de ano.

8.7.3 Sensibilização e treinamento da equipe em boas práticas de fabricaçãoUma das mais frequentes vias de contaminação microbiológica na panificação e no açougue são os

manipuladores, uma vez que, de uma forma ou de outra, o manipulador entra em contato direto com o

produto e com os demais fatores que os cercam.

As boas práticas vão além dos cuidados com o produto em si, passando, também, a objetivar a ga-

rantia de saúde e educação dos manipuladores (CANTO, 1998). Dessa forma, é de extrema importância

a capacitação dos manipuladores.

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124 COLETÂNEA BITEC 20082010

Para isso, preparou-se um material de treinamento, o qual abordou como ocorrem as conta-

minações dos alimentos, sobre micro-organismos, sobre as contaminações por meio desses micro-

organismos, sobre doenças transmitidas por alimentos e sobre as boas práticas de fabricação

e os seus princípios.

A duração desses treinamentos foi de 4 horas e, desde então, os funcionários passaram a ser moni-

torados, diariamente para confirmar que estão aplicando as boas práticas.

Outros treinamentos foram ministrados aos manipuladores enquanto eles realizavam as suas ati-

vidades diárias, por exemplo, como higienizar os equipamentos e os utensílios e também por meio de

cartazes afixados na área de manipulação e nos sanitários.

Com o acompanhamento das atividades de rotina e os treinamentos formais, os manipuladores

passaram a confiar cada vez mais na bolsista, de maneira que, por volta de um mês depois do início

do projeto, eles começaram a apontar problemas que tinham passados despercebidos somente com

aplicação da lista de verificação e como foram apontados foi possível resolvê-los. Dando ao colaborador

o sentimento de que ele também é parte do processo de mudança. Isso mostra que a participação, o

envolvimento e o comprometimento de todos os funcionários é de fundamental importância para que

o programa seja implantado com sucesso.

8.7.4 Elaboração do Manual de Boas Práticas de Fabricação (MBPF)Conhecendo a realidade da empresa, já tendo sido ministrado os treinamentos e conscientizados em-

presários e colaboradores, passou-se a fase de elaboração dos documentos do programa de BPF.

Assim, para elaboração do manual foram descritas as atividades realizadas pela empresa que esta-

vam de acordo com a legislação e aquelas que foram feitas as adequações. As atividades que estavam

em desacordo foram descritas como estavam, por exemplo, as condições das instalações, e destacou-se

o termo “vide plano de ação”.

O manual foi elaborado de forma que atendesse a RDC no 216/2004 e contém os quatro procedi-

mentos operacionais padronizados (POP):

• Higienização de instalações, equipamentos e móveis.

• Controle integrado de vetores e pragas urbanas.

• Higienização do reservatório.

• Higiene e saúde dos manipuladores.

Instruções de trabalho – conforme os exemplos a seguir:

• Preparo de solução de 200 PPM de cloro.

• Lavagem das mãos.

• Conduta e higiene pessoal.

• Lavagem, manutenção e uso dos uniformes limpos.

As planilhas de controle – conforme exemplos a seguir:

• Controle de limpeza da caixa-d’água.

• Controle de coleta e análise da água de abastecimento.

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9ª EDIÇÃO 125

8.7.5 Treinamento da equipe na aplicação dos documentos elaboradosCom os documentos elaborados, os manipuladores foram treinados a executar todas as ações conforme

especificado no manual e no período de tempo determinado. As atividades descritas nos POP, ou seja,

as que são mais críticas à segurança do alimento, são monitoradas, registradas nas planilhas e verificadas

e, quando algo sai fora dos padrões exigidos, já existe uma ação corretiva prevista para que o controle

seja restabelecido imediatamente. Essas atividades garantem que o programa de BPF está sob controle.

8.8 ConclusãoConclui-se que o Programa de Boas Práticas foi implantado na empresa e a sua implementação comple-

ta ocorrerá com a conclusão das reformas propostas e aceitas pelos empresários.

O desenvolvimento do trabalho é de grande valia, pois permitiu a convivência com o mercado de

trabalho e a aplicação de conhecimentos adquiridos na graduação.

Cabe ressaltar que esse trabalho possibilitou aos empresários percebem que o atendimento à legis-

lação é possível, com investimentos menores do que o imaginado e que as mudanças permitiram me-

lhorar o funcionamento da empresa em aspectos ainda não pensados, como satisfação do colaborador

e do cliente.

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9ª EDIÇÃO 127

9 IEL/MG INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E COM TRANSTORNO GLOBAL DO DESENVOLVIMENTO

Bolsista: Soraia Xavier Farah – Fumec

Professora orientadora: Karine Lara Vivas – Fumec

9.1 IntroduçãoEm um mundo globalizado, o homem para se inserir no mercado de trabalho deve demonstrar compe-

tência, conhecimento, produtividade, empreendedorismo, flexibilidade, capacidade para se comunicar e

se relacionar com as pessoas. Considerando estes pressupostos, nós nos deparamos com outra realidade

vivenciada por pessoas com deficiência intelectual e com transtorno global do desenvolvimento.

Estas pessoas apresentam várias dificuldades decorrentes de problemas genéticos (síndromes)

ou adquiridos (falta de oxigenação cerebral, crises convulsivas, traumatismos encefálicos) que compro-

metem o desempenho neuropsicológico (aspectos cognitivos relacionados à memória, à linguagem,

à função executiva, à percepção e às funções visoconstrutivas). Assim, as habilidades valorizadas pela

comunidade para contratar uma pessoa no âmbito profissional, muitas vezes, não são reconhecidas

nessas pessoas com deficiência.

Outro aspecto significativo que dificulta a convivência das pessoas com deficiência com a comuni-

dade é o receio do preconceito, o sentimento de culpa e a vergonha vivenciada pelas famílias. Em função

disso, as famílias, muitas vezes, se isolam da comunidade.

A partir de uma revisão histórica, observamos como as sociedades modificaram suas percepções

acerca da pessoa com deficiência. Na pré-história, os homens acreditavam que a natureza e a origem

dos desvios mentais eram demoníacas (TELFORD; SAWREY, 1988; AMARILIAN, 2002). Qualquer que fosse

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a deficiência, física, mental ou sensorial, a sociedade julgava os indivíduos como seres subumanos. Por

tempos, essas pessoas foram discriminadas, destruídas, ocultadas ou isoladas do restante da população

(PRADO; RICO, 1992, p. 33-42).

No século XVIII, em decorrência da Revolução Industrial, quando o papel do indivíduo estava rela-

cionando a seu grau de produtividade, os deficientes foram vistos como estorvos, ineficientes, desprezí-

veis. Mas, ao longo do tempo, passaram a ser dignos de pena, amparados e protegidos (CHALUD apud

TELFORD; SAWREY,1988).

Atualmente, os preconceitos e as discriminações, resquícios do passado, ainda existem em função

da desinformação e dos fatores históricos e socioculturais. A disponibilidade de tratamentos, o acúmulo

de estudos acerca da pessoa com deficiência e a implementação de novas políticas públicas têm favo-

recido o surgimento de uma visão mais humanizada e a adoção de novas posturas. Questões como a

inclusão social, a equidade e a igualdade de direitos entraram em debate, transformando a percepção

da sociedade sobre esses indivíduos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estimava, em 1997, uma incidência de “deficiências” em

10% da população dos países em desenvolvimento (BRASIL, 2002). O censo do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), de 2000, indicou uma prevalência de 24,5 milhões de pessoas com neces-

sidades especiais, correspondendo a 14,5% da população brasileira (IBGE, 2000). Apesar de não existir

uma estatística fidedigna no Brasil sobre a frequência das “deficiências”, Miranda et al. (2003) consideram

a ocorrência de uma prevalência ainda maior de pessoas com necessidades especiais.

Segundo alguns autores, a prevalência de indivíduos com necessidades especiais está aumentando

por causa do crescimento da violência urbana e dos acidentes de trânsito. Além disso, os avanços tecno-

lógicos auxiliam na sobrevivência de recém-nascidos prematuros, portadores de patologias genéticas e

acidentados que poderão apresentar algum tipo de sequela temporária ou permanente.

Assim, a construção do projeto Espaço Cultural Socioeducativo DiaDia justifica-se em função da

grande demanda de pessoas com deficiência que apresentam dificuldades para se inserir efetivamente

em uma sociedade norteada pelos princípios de um mundo mercantil. Sabemos que as políticas volta-

das para a assistência às pessoas com necessidades especiais estão evoluindo e que a inclusão social é

um tema atual e debatido amplamente. Quanto ao incentivo – as empresas para contratarem pessoas

com deficiência – abordando a questão da responsabilidade social, percebemos a valorização dos po-

tenciais do indivíduo e a busca pela adequação da atividade realizada. Estas condutas propiciam novos

aprendizados para todos os envolvidos no processo.

O objetivo do projeto foi propiciar maior contato da comunidade local com os educandos para

favorecer a quebra de “pré-conceitos” quanto às suas reais dificuldades e possibilidade de interagir

com a comunidade. Quanto ao objetivo específico, buscamos comercializar os produtos informal-

mente com o objetivo de promover maior socialização e um meio comunicativo contextualizado

para o educando.

No presente artigo, abordamos questões acerca da deficiência intelectual e dos quadros em

que estão associados. Em seguida, explanamos a metodologia adotada e apresentamos os resul-

tados e as discussões. Como o tema abordado é amplo, optamos finalizá-lo com algumas reflexões

e considerações.

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9ª EDIÇÃO 129

9.2 Contextualização

9.2.1 Nomenclaturas e conceituações acerca da deficiênciaVárias nomenclaturas foram utilizadas ao longo dos tempos para denominar o portador de deficiências

(AMARILIAN, 2002; FERREIRA, 1998; JANUZZI, 1992). Durante o século XX, surgiram várias discussões

acerca desses indivíduos, propiciando novas abordagens e designações. Passaram a ser chamados de

retardados por serem considerados mais atrasados em relação aos demais.

Outra expressão usada foi “indivíduos excepcionais”, enfatizando suas diferenças em relação aos

padrões de normalidade da maioria da população. A expressão “pessoas portadoras de deficiência” sur-

giu em torno da década de 1980 do século passado. Quanto à expressão “crianças com necessidades

especiais”, foi criada por Miller (1995), pois acreditava que, por causa das dificuldades motoras, sensoriais

e cognitivas, necessitavam de intervenções especializadas.

A deficiência é ainda definida como incapacidade indesejada, um conjunto de limitações. Desse

modo, o indivíduo com deficiência é estigmatizado e segregado pela sociedade (BUSCAGLIA, 2002). Amaral

(1998) considera o termo deficiência complexo, envolvendo aspectos orgânicos, emocionais, maturacionais

e sociais e exalta a relevância de se discutir a mudança de atitude perante o portador de deficiência. Assim se

favoreceria o entendimento de que o portador de deficiência faz parte de uma sociedade humana, caracteri-

zada pela diversidade e não apenas atenta aos impedimentos e às aparências (MACIEL, 2000).

9.2.2 Quadros associados à deficiência intelectualA Instituição DiaDia trabalha com jovens adultos e idosos com diagnóstico de deficiência intelectual

e transtorno global do desenvolvimento. Os educandos possuem idade entre 14 e 70 anos de idade e

apresentam diagnóstico de síndromes do tipo: autismo; síndrome de Down; paralisia cerebral (PC); X frá-

gil; síndrome de Rett; Síndrome de Prader Willi; esclerose tuberosa e síndrome de Tuner . A seguir, vamos

expor os principais quadros em que a deficiência intelectual está presente.

O autismo, também conhecido como transtorno global do desenvolvimento, é uma síndrome

comportamental caracterizada por déficit na interação social e no relacionamento com outras pessoas,

associado a alterações de linguagem e a déficit intelectual. Seu surgimento ocorre antes dos 3 anos de

idade, com prevalência estimada de 4 a 5/10.000 e predominância no sexo masculino. Dessa maneira,

diferentes quadros genéticos e neurológicos, sendo as alterações cromossômicas descritas em altas por-

centagens por Steffemberg (ASSUMPCAO; FRANCISCO et. al., 1999).

A síndrome de Down ou trissomia do cromossoma 21 é um distúrbio genético causado pela pre-

sença de um cromossomo 21 extra, total ou parcial. A síndrome caracteriza-se por déficit no desempe-

nho motor e cognitivo de crianças portadoras, apresentando comprometimento significativo na área da

linguagem (MANCINI, 2003).

A síndrome do X frágil, com uma incidência estimada de 1/4.000 em homens e 1/6.000 em mulhe-

res, é causada por uma expansão de trinucleotídeos CGG no primeiro exon do gene FMR-1, localizado na

região Xq27.3 no cromossomo X. Por meio de clonagem desse gene em 1991, concluíram o diagnóstico

molecular acurado 5. Indivíduos afetados apresentam acima de 200 repetições da sequência CGG, sendo

chamados de portadores da mutação completa.

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130 COLETÂNEA BITEC 20082010

Os indivíduos com essa síndrome apresentam pavilhões auriculares grandes, faces alongadas e

traços autísticos. Em estudos realizados, os sinais e os sintomas mais presentes nos indivíduos pesquisa-

dos foram déficit intelectual severo, presença de distúrbio da atenção e descargas epileptiformes focais

predominantemente em áreas frontais e parietais (GUERREIRO et al., 1998).

A síndrome de Rett é uma condição caracterizada por deterioração neuromotora em crianças do

sexo feminino e apresenta quadro clínico bastante singular, acompanhado por hiperamonemia, efeito

do causado pelo uso de ácido valproico, representa uma das principais drogas no tratamento da epilep-

sia e dos transtornos psiquiátricos. Um efeito ainda pouco conhecido, porém relativamente frequente,

que pode evoluir para quadros variáveis de encefalopatia, estabelece no início ou no decurso do trata-

mento, sendo caracterizada por vômitos, alteração progressiva da consciência, sinais neurológicos focais

e aumento na frequência das crises epilépticas (TURCATO et al., 2005).

A síndrome de Rett pode evoluir de forma previsível, em quatro estágios, ocorrendo perdas no

desenvolvimento neuropsicomotor, alterações de comportamento, traços autísticos, perda da função

prática; disfunções respiratórias, presença de crises convulsivas deficiência intelectual severa e alterações

de tônus, equilíbrio e postura (SCHWARTZMAN, 2003).

A síndrome de Prader Willi (SPW) é uma doença complexa, multissistêmica, caracterizada por hi-

potonia, déficit intelectual, características dismórficas, hiperfagia e compulsão alimentar por causa da

disfunção hipotalâmica. A síndrome ocorre pela perda de função de genes localizados no cromossomo

15. As principais alterações genéticas associadas à síndrome são: a deleção do segmento 15q11-13 de

origem paterna, que está presente em 70%-75% dos pacientes, dissomia materna do cromossomo 15

em 25% dos casos; mutações epigenéticas (2%-5%) e translocações (1%) (5%) e segmento 15q11-13

contém genes que sofrem imprinting materno (alelo materno inativo), a deleção do segmento de ori-

gem paterna ou duplicação do cromossomo materno ocasionam perda da função de genes paternal-

mente expressos contidos neste locus (CARVALHO et al., 2007).

A esclerose tuberosa (ET) é uma doença autossômica dominante com incidência de 1:10000, carac-

terizada por tumores benignos envolvendo múltiplos órgãos. As manifestações neurológicas da doença

variam desde sintomatologia leve, praticamente inexistente, até quadros extremamente graves com se-

quelas irreversíveis. O sintoma neurológico, mais comumente encontrado, é a crise epilética, mas outras

manifestações podem ser vistas como o déficit intelectual ou a hidrocefalia secundária a crescimento de

astrocitoma subependimal de células gigantes. Salienta-se que a incidência do déficit intelectual é baixa

quando há ausência de episódio de crise epilética (FILHO, 1998).

A síndrome de Turner caracteriza-se pela perda parcial ou total de um cromossoma sexual, resul-

tando em indivíduos femininos, com características fenotípicas variáveis. São comumente mais obser-

vados: a baixa estatura, hipogonadismo, malformações cardíacas e renais e outras anormalidades, entre

elas o pescoço alado e o linfedema. A suspeita clínica ocorre: no período perinatal, pela presença de

linfedema ou malformação cardíaca; na infância, pela baixa estatura; e na época da puberdade, pelo

hipogonadismo (GUIMARÃES,2007).

A paralisia cerebral, também denominada encefalopatia crônica não progressiva da infância, é

uma disfunção predominantemente sensoriomotora, envolvendo distúrbios no tônus muscular, pos-

tura e movimentação voluntária. Comorbidades como déficit intelectual, alterações sensoriais e de

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percepção podem coexistir com o quadro de paralisia cerebral. Intercorrências no período pré, peri

e pós-natal ao longo da primeira infância podem comprometer o SNC e gerar uma disfunção neuro-

motora (MANCINI, 2002).

São inúmeras síndromes e entre outros quadros que podem apresentar deficiência intelectual. Nes-

te artigo, não temos a pretensão de esgotarmos o assunto, mas sim, evidenciar quão abrangente é o

tema abordado.

9.2.3 A inclusão socialSegundo Maciel (2000), milhares de pessoas com algum tipo de deficiência estão sendo discriminadas

nas comunidades em que vivem ou sendo excluídas do mercado de trabalho. O processo de exclusão

social de pessoas com deficiência ou alguma necessidade especial é tão antigo quanto a socialização

do homem.

A estrutura das sociedades, desde os seus primórdios, sempre inabilitou os portadores de deficiên-

cia, marginalizando-os e privando-os de liberdade. Essas pessoas, sem respeito, sem atendimento, sem

direitos, sempre foram alvo de atitudes preconceituosas e ações impiedosas (MACIEL, 2000).

Nos últimos anos, ações isoladas de educadores e pais têm promovido e implementado a inclusão,

nas escolas, de pessoas com algum tipo de deficiência ou necessidade especial, visando a resgatar

o respeito humano e a dignidade, no sentido de possibilitar o pleno desenvolvimento e o acesso a

todos os recursos da sociedade por parte desse segmento. Movimentos nacionais e internacionais

foram promovidos em busca de consenso para formatação de uma política de integração e de

educação inclusiva.

O ápice foi a Conferência Mundial de Educação Especial, que contou com a participação de 88

países e 25 organizações internacionais, em assembleia-geral, na cidade de Salamanca, na Espanha, em

junho de 1994. Neste encontro, descreveram importantes pontos que possam melhorar a realidade atual

e trazer benefícios de forma democrática para crianças e adultos (MACIEL, 2000).

Alguns pontos relevantes para inclusão social dos adultos destacam-se como a designação de sis-

temas educacionais e a implementação de programas educacionais que considerem a vasta diversidade

e necessidades do indivíduo com deficiência (MACIEL, 2000).

Pouco se fala sobre educação especial para adultos e para idosos porque uma das dificuldades

para quem trabalha com esses grupos é olhar para o aluno e ver nele possibilidades e não limitações.

O futuro dessas pessoas não deve ser esquecido. A busca por uma sociedade mais justa que valorize as

habilidades e as possibilidades de uma pessoa com deficiência e aceite suas limitações propicia novos

aprendizados e melhora a qualidades de vida de todos.

A inclusão social defende educação para todos, socialização na comunidade, direitos e respeito

às suas limitações. A luta a favor da inclusão social deve ser responsabilidade de cada um e de todos

coletivamente.

9.2.4 A atuação da fonoaudiologia para o desenvolvimento de uma comunicação efetivaNos anos 1970, a fonoaudiologia começou a ampliar seus campo de trabalho, atingindo a área escolar,

hospitalar e clínica. O fonoaudiólogo atua na prevenção, na habilitação e na reabilitação de crianças,

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132 COLETÂNEA BITEC 20082010

jovens, adultos e idosos com transtornos nas funções estomatognáticas (sucção, deglutição, mastigação,

respiração, fonação e articulação) e com distúrbio na comunicação oral e escrita. As áreas de especializa-

ção estão associadas à voz, à audição, à motricidade oral e à linguagem.

O desenvolvimento e o aprimoramento da linguagem para efetivar a comunicação e propiciar me-

lhor interação no contexto social é um dos pontos fundamentais no trabalho com pessoas com defi-

ciência intelectual e com transtorno global do desenvolvimento. Na educação especial, a fonoaudio-

logia busca criar estratégias eficazes para capacitar os educandos, individualmente ou coletivamente.

O objetivo na educação especial é de explorar ao máximo, com base não de eliminar problemas, mas

sim baseado na crença de que determinadas situações e experiências podem facilitar e incrementar o

desenvolvimento e a aprendizagem (RAMOS, 2008).

Na educação infantil e no ensino fundamental do sistema regular, as possibilidades de orientação

a pais e a professores acerca do desenvolvimento e dos distúrbios de linguagem oral e escrita permitem

uma atuação preventiva com crianças. Com o processo de inclusão escolar de crianças e adolescentes

com necessidades especiais, percebemos a necessidade de maior acompanhamento e orientação dos

professores para que possam estimular adequadamente esses educandos. Em outros estados como Rio

de Janeiro e São Paulo, o trabalho da fonoaudiologia escolar é mais efetivo, contudo em Minas Gerais são

poucas as escolas em que o fonoaudiólogo compõe a equipe escolar.

9.3 Metodologia

9.3.1 Programa BITECO Programa de Iniciação Científica e Tecnológica para Micro e Pequenas Empresas (BITEC) é uma inicia-

tiva de cooperação entre o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

(SENAI), oServiço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Conselho Nacional

de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O objetivo deste programa é transferir conheci-

mentos gerados nas instituições de ensino diretamente para o setor produtivo a partir de necessidades

identificadas nas micro e pequenas empresas participantes do programa. Alunos de graduação selecio-

nados e orientados por um professor geram soluções que possibilitam o desenvolvimento tecnológico

e ampliam a produtividade da empresa.

9.3.2 CenárioO projeto foi realizado em parceria com a Instituição DiaDia. Esta Instituição de educação especial ofere-

ce aulas de culinária, papel artesanal, informática, educação física, yoga, circo, teatro e passeios de várias

modalidades a jovens, adultos e idosos com diagnóstico de deficiência intelectual e transtorno global

do desenvolvimento.

Os educandos com idades entre 14 e 70 anos de idade apresentam síndromes do tipo: síndrome

de Down, síndrome do X frágil, síndrome de Rett, síndrome de Prader Willi, esclerose tuberosa, síndrome

de Tuner e cerebral (PC) e transtorno global do desenvolvimento autismo. Os trabalhos realizados são

acompanhados por uma equipe interdiciplinar composta por psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocu-

pacional e estagiários da área acadêmica.

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9ª EDIÇÃO 133

A instituição localiza-se na região sul da cidade de Belo Horizonte em Minas Gerais e atende uma

população de classe média.

9.3.3 ProcedimentosPor meio de um anúncio publicado na área do aluno no site da Universidade Fumec, tomamos conhe-

cimento acerca do Programa BITEC. Uma fonoaudióloga indicou a Instituição DiaDia para visitarmos.

Durante a visita, foi realizado o levantamento da principal necessidade da instituição. A prioridade foi a

organização legal do espaço interativo e informativo sobre inclusão de pessoas com deficiência intelec-

tual e com transtornos globais no desenvolvimento e a parceria com outras instituições para desenvol-

vimento do projeto. O projeto construído seguiu todas as recomendações realizadas pelo BITEC . Após

aprovado, iniciamos os trabalhos na Instituição DiaDia.

O projeto foi inaugurado com o nome Espaço Interativo Sociocultural DiaDia” e buscou propiciar

o contato dos educandos com a comunidade local e a oferta de produtos fabricados por eles. Parcerias

com os comerciantes da região do bairro São Bento, em Belo Horizonte (Deposito São Bento, Kat Flores,

Academia Marca D’Água), foram realizadas. Os comerciantes nos cederam um espaço para organização

dos eventos.

Nos eventos, promovemos à degustação dos produtos alimentícios e a exposição dos demais pro-

dutos artesanais, assim, as pessoas poderiam conhecer e comprar o que desejassem. Todos os produtos

foram confeccionados por pessoas com deficiência intelectual e com transtornos globais do desenvolvi-

mento com apoio dos profissionais e estagiários da área da saúde e de humanas.

Realizamos reuniões mensais para planejamento das atividades e eventos a serem realizados.

Primeiro, selecionamos os produtos alimentícios e artesanais feitos de papel reciclado que seriam

produzidos pelos educandos sob assistência para serem ofertados nos eventos. Em seguida, sele-

cionamos alguns comerciantes ao redor do DiaDia para contatarmos, apresentarmos o projeto e

propormos a realização de um evento de degustação para a apresentação dos produtos a comu-

nidade.

Nas reuniões, estabelecemos as tarefas e quem ficaria responsável por sua realização, estipulando

prazos para sua execução. Todas as atividades foram documentadas e relatórios mensais foram repassa-

dos ao Programa BITEC.

O projeto contou com a parceria da Cooperativa Interdisciplinar de Prestação de Serviços ao Ado-

lescente Especial DiaDia Ltda., representada pela diretora Renata Brasil Velloso, com a aluna de fonoau-

diologia Soraia Xavier Farah como bolsista e com a professora do curso de fonoaudiologia da Universida-

de Fumec Karine Lara Vivas responsável pela orientação.

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134 COLETÂNEA BITEC 20082010

9.4 Resultado e discussãoVários produtos foram produzidos na instituição, sendo que cerca de oito educandos participaram ativa-

mente de sua fabricação e quatro profissionais assistiram no feitio dos produtos.

Quadro 1: Produtos fabricados no DiaDia

Produtos fabricados pelos educandos Produtos ofertados nos eventos

Biscoitos (doce e salgado). Café.

Bolos. Chá-mate com hortelã

Café. Pão de queijo

Chás variados (mate com hortelã, hortelã). Patê de ervas (ricota, iogurte desnatado e hortelã)

Pães de queijo.Papel artesanal, envelope, cartões artesanais e marca-dores de livro.

Papel artesanal, envelope, cartões artesanais e marcadores de livro.

Pastel frito.

Patê de ervas (ricota, iogurte desnatado e hortelã).

Sucos variados (abacaxi com hortelã, abacaxi com couve, limão etc.)

Sanduíche natural.

A participação dos profissionais da Instituição DiaDia viabilizou o projeto, pois a produção

de alimentos e materiais artesanais já faziam parte das atividades realizadas com os educandos.

Contudo, a proposta de expor os produtos e colocar os educandos para ofertá-los à comunidade

local exigiu um empenho específico na preparação destes no que diz respeito aos aspectos sociais

e comunicativos. Por isso, a participação da psicologia, da terapia ocupacional e da fonoaudiologia

foram essenciais para o desempenho positivo dos educandos.

Realizamos dois eventos em parceria com comerciantes da comunidade local e um evento na Uni-

versidade Fumec, parceira no projeto. Outros dois eventos foram programados por causa da solicitação

de comerciantes que souberam do projeto e quiseram participar, contudo em função do tempo e da

incompatibilidade de datas não foi possível realizá-los no segundo semestre de 2009. Apesar disso, a Ins-

tituição DiaDia comprometeu-se em realizar os eventos mesmo após a finalização do projeto financiado

pelo Programa BITEC.

Por meio da divulgação dos produtos artesanais, surgiu interesse de pessoas da comunidade em

comercializar os papéis artesanais, contudo a quantidade de produto fabricado pelos educandos e o

tempo para fabricação foram fatores que limitaram as nossas possibilidades de inserir o produto no

mercado.

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9ª EDIÇÃO 135

Quadro 2: Eventos realizados

Degustação e oferta de produtos alimentícios e artesanais

Evento na academia marca d’água.

Evento no Depósito São Bento.

Evento na Universidade Fumec.

9.4.1 Evento na Academia Marca D’águaNa Academia Marca D’Água ocorreu a primeira apresentação dos produtos fabricados e oferecido pela

Cooperativa DiaDia, ela ocorreu no dia 24 de setembro 2009, a partir das 13:30. Foi um dia de muita

expectativa e ansiedade para todos envolvidos. Fizemos uma estrutura na entrada da academia onde

todos iriam passar para suas atividades. No início, ficamos um pouco receosos quanto à reação das pes-

soas e elas também ficaram acanhadas com a nossa presença. Então, decidimos fazer o convite a cada

um que passava para conhecer o trabalho dos educandos da Cooperativa DiaDia.

A cooperação dos diretores da academia influenciou bastante, pois foram os primeiros a degusta-

rem, a convidar as pessoas e a elogiar os produtos alimentícios e artesanais. Para que não ocorresse tu-

multo foi feito um rodízio entre os educandos e os respectivos profissionais que os acompanhavam. As-

sim, todos puderam participar da venda, degustação e receber elogios dos produtos por eles fabricados.

O final do evento ocorreu às 17:30 horas, horário que os alunos são liberados da instituição DiaDia.

Alguns deles levaram seus país que também apreciaram o trabalho de seus filhos. Os resultados foram

satisfatórios para todos os envolvidos, surgindo novas perspectivas para projetos futuros.

9.4.2 Evento no Depósito São BentoO evento no Depósito São Bento foi realizados no dia 30 de outubro de 2009 às 10:00, com uma ótima

receptividade do diretor. A mesa foi montada na porta, onde nós pudéssemos recepcionar todos os

clientes interessados a comprar material de construção. O início ainda foi difícil porque os primeiros

clientes ficaram acanhados, mas no decorrer do evento, os clientes do depósito se aproximaram dos

educandos e puderam degustar e apreciar os demais produtos.

Nesse evento, um publicitário/empresário interessou-se pelo trabalho com o papel artesanal e nos

propôs personalizar nossos cartões e marcadores de livros. Ele comprou seis folhas de papel artesanal

para testar a textura em suas máquinas para futuras negociações. Além disso, outro comerciante da

região gostou do projeto e nos convidou para realizar o mesmo evento em uma quadra poliesportiva

da região.

9.4.3 Evento na Universidade FumecNa Universidade Fumec, foi concedido uma sala de aula para que nós pudéssemos realizar o evento

e a colocação do banner. A aluna da instituição DiaDia Simone de Oliveira foi às demais salas de aula

para convidar alunos, professores e funcionários para participar do evento de degustação e conhecer os

produtos artesanais.

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136 COLETÂNEA BITEC 20082010

A educanda demonstrou desenvoltura, autoconfiança, objetividade e clareza para transmitir sua

mensagem, conseguindo motivá-los e a conhecer os trabalhos. Os alunos da universidade admiraram

seu desempenho e a aplaudiram, prestigiando o evento durante o intervalo de aula.

Concluímos que foi satisfatório o evento na Universidade Fumec e que mais uma vez alcançamos

nossos objetivos de venda, degustação e interação efetiva dos educandos com a comunidade.

9.4.4 Eventos planejados, mas não executadosUma lojista do Shopping Falls procurou a Cooperativa DiaDia para realizar um evento. Contudo, por

causa de algumas limitações dos educando para produzir papéis e produtos alimentícios em pouco

tempo, da falta de pessoal para ajudar em todas as oficinas e ainda preparar um evento de grande porte,

preferimos adiar para 2010.

Floricultura Kat Flores é um antigo parceiro da instituição, oferecendo mudas de plantas para o

consumo dos educandos (hortelã, salsa, cebolinha, couve) e flores para que eles plantem e cultivem.

Kat Flores esteve conosco dando-nos todo suporte por meio de empréstimo de arranjos para enfeitar os

locais. Também nos cedeu um espaço para que os cartões, envelopes e marcadores de livros possam ser

vendidos na própria floricultura. Por causa das limitações da produção, não foi possível colocar a venda

os produtos neste semestre. Assim, reavaliaremos os recursos para colocá-lo á venda na floricultura.

9.4.5 Dificuldades e possibilidades do projetoNo projeto inicial, prevíamos a abertura de um local para comercializarmos os produtos fabricados pelos

educandos e um meio de trabalho para essas pessoas com deficiências. No entanto, o tempo não foi

hábil para estruturação do espaço e dos educandos. Além disso, surgiram outras dificuldades e intercor-

rências para a execução do projeto como:

• Gastos com material de produção e pagamentos dos trabalhos terceirizados do tipo recorte

dos cartões e marcadores de livros.

• Burocracia para abertura como regulamentação do local junto à prefeitura e vigilância sanitária.

• Quantidade insuficiente de produtos fabricados para atender a comunidade interessada.

• Número insuficiente de funcionários disponíveis para acompanhar a nova atividade/projeto.

Diante dessas dificuldades, percebemos a necessidade de reconstruirmos estratégias para que pu-

déssemos dar prosseguimento ás atividades iniciadas. O Programa BITEC nos possibilitou o primeiro

passo, mas acreditamos que mesmo diante das dificuldades vivenciadas, devemos continuar o processo

de inclusão social dos educandos.

As possibilidades de interação dos educandos com a comunidade trouxeram novas perspectivas

para a instituição DiaDia buscar alternativas para comercializar os produtos artesanais. As parcerias foram

construídas, contudo serão necessários novos investimentos.

9.5 ConclusãoOs resultados do projeto superaram nossas expectativas. Os comerciantes da região do bairro São Ben-

to, imbuídos de sua responsabilidade social, abraçaram os trabalhos produzidos pelos educandos. Esta

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9ª EDIÇÃO 137

atividade propiciou o contato dos educandos com a comunidade por meio da oferta de produtos de

fabricação própria e possibilitou uma experiência rica para se exercitar a comunicação de forma efetiva

e contextualizada.

São projetos assim que nos permitem superar pré-conceitos e construir novos paradigmas de for-

ma pragmática. Dessa forma, vivenciamos as diferenças, aceitando que todos possuem limitações e

potencialidades a serem trabalhadas.

O presente projeto buscou evidenciar a contribuição da fonoaudiologia no processo de ensino-

aprendizagem e na construção de uma comunicação efetiva, a fim de melhorar a qualidade de vida dos

educandos participantes. A atuação na promoção da saúde em âmbito escolar depende diretamente da

interdisciplinaridade entre serviços da área da educação e da saúde, além da parceria entre fonoaudió-

logos, educadores e pais.

Esperamos que essa experiência sirva de exemplo para a construção de novos projetos que traba-

lhem a favor da inclusão social de pessoas com deficiências e que incentive a cooperação, o aprendizado

mútuo, a construção de novos paradigmas e a quebra de preconceitos.

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9ª EDIÇÃO 139

10 IEL/MT DESENVOLVIMENTO DE TOFU COM GOIABADA COMO ALTERNATIVA COMERCIAL E AGREGAÇÃO DE VALOR A SOJA

Bolsista: Janayna Soares Brandão Nova – IFMT

Professora orientadora: Poliana Fernandes de Almeida – IFMT

Coautor: Nilton Soares Brandão

10.1 IntroduçãoA soja foi introduzida no Brasil no século XX, e sua produção comercial despontou na década de 1950, no

Rio Grande do Sul, obtendo importante papel na economia do país, principalmente a partir da década

de 1970 (GOMES, 1986).

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2009) estima produção de 58,5

milhões de toneladas de soja para 2009, 1,5% maior que a prevista em fevereiro, esse aumento

é por causa do rendimento das lavouras do Rio Grande do Sul, onde alcança um acréscimo de

10,7% no rendimento médio. Nesse cenário, destacam-se Mato Grosso, com 19,3% da produ-

ção nacional, Paraná com 19,2% e Rio Grande do Sul com 17,1%. Apesar da importância dessa

cultura, Mato Grosso exporta tal produto com baixo valor agregado. O processamento pode

gerar oportunidade e desenvolvimento em outras localidades em detrimento de potencial

local não utilizado.

Conforme Porcile (2000), os grãos de soja apresentam relação de dois por um entre os teores de

proteína e de óleo, respectivamente, enquanto outras culturas têm esse índice inverso. A preocupação

com relação à alimentação vem mudando muito nas últimas décadas. A nutrição continua desempe-

nhando seu papel de fornecimento de nutrientes, mas o conceito de alimentos funcionais faz que essa

ciência se associe à medicina e ganhe dimensão entre o século XXI.

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140 COLETÂNEA BITEC 20082010

Os produtos derivados da soja possuem quantidades de isoflavonas, sendo assim alternativa pro-

missora na prevenção e/ou tratamento de muitas doenças hormônio-dependentes, incluindo câncer,

sintomas da menopausa, osteoporose, colesterol sanguíneo e doenças cardiovasculares, em que 25 g de pro-

teínas de soja por dia são suficientes na dieta humana para prevenção desses problemas (THAM, 1998).

Além da soja, a fruticultura também possui potencial na geração de renda para Mato Grosso e a

goiaba pode ter seu valor agregado por meio da verticalização da produção com a goiabada.

O consumo de queijo frescal de origem bovina é alto, porém, com o inconveniente da presença de

algum teor de lactose e também do colesterol. Como produto sucedâneo, sem lactose e colesterol, o

tofu ou queijo de soja pode ser consumido alternativamente. Trata-se de alimento originário da China,

introduzido por volta dos anos 600. É o produto mais consumido no Japão, na China e na Coreia, por ser

um alimento saudável e de alto valor nutritivo (WATANABE, 1997).

O tofu é um alimento de maior valor agregado. Por causa do consumo de soja ter aumentado, os

consumidores necessitam de produtos, especialmente vegetais, como fontes de proteína sem coles-

terol, além de ser um alimento de excelente fonte proteica e que apresenta propriedades nutritivas e

funcionais. No ano de 2000, observou-se um aumento no consumo de tofu nos Estados Unidos e na

Europa, por causa de ser um alimento ótimo para a saúde humana e um grande aliado para elaboração

de alimentos mais leves ou dietéticos (LAMPERT, 1984).

Apesar de Mato Grosso ter apresentado crescimento econômico acima da média nacional nos últi-

mos anos, ainda se trata de estado exportador de produtos com baixo valor agregado, como é o caso da

soja. Sabe-se que esses produtos geram empregos e desenvolvimento em outras localidades, deixando

de gerar e manter recursos em nosso estado. Por causa do consumo de soja ter aumentado, os consumi-

dores necessitam de produtos, especialmente vegetais, como fontes de proteína sem colesterol e ainda

de um produto sucedâneo de queijo de leite bovino para consumidores alérgicos à lactose.

Nessas perspectivas, o presente estudo teve como objetivo elaborar tofu com goiabada, disponibi-

lizando metodologia para produto inovador e automaticamente criando alternativa nutricional de fonte

proteica vegetal livre de lactose e colesterol e ainda agregando valor ao tofu, gerando assim oportuni-

dades de trabalho, renda e lucro.

10.2 Revisão da literaturaSegundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), os chineses já conhecem os benefí-

cios da soja para alimentação e para a saúde há milênios, mas somente nos últimos anos os ocidentais

passaram a considerar a soja como alimento funcional, aquele que, além das funções nutricionais bási-

cas, produz efeitos benéficos à saúde, sendo seguro para consumo sem supervisão médica. 

Com estudos, Bhardwaj (1999), a soja [Glycine Max (L.) Merrill.] e os seus produtos vêm sendo

amplamente estudado por causa não somente do seu valor nutricional, mas também devido as suas

propriedades funcionais na indústria de alimentos, como alimento funcional, porque exerce ação mo-

duladora em determinados mecanismos fisiológicos por meio de suas proteínas e isoflavonas. O pro-

cessamento do alimento pode proporcionar mudanças no seu teor de nutrientes e, consequentemente,

na sua qualidade nutricional. No processamento da soja, a etapa de imersão dos grãos na água visando

ao seu amaciamento é quase sempre necessária, e o tratamento térmico adequado da soja aumenta a

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9ª EDIÇÃO 141

digestibilidade de sua proteína, bem como inativa os inibidores de proteases e outros fatores antinutri-

cionais. Vale salientar que o tratamento térmico das leguminosas é eficaz para inativar substância antinu-

tricionais, embora possa ocorrer atividade residual significativa de inibidores de proteases em produtos

da soja, após tratamento térmico (BAYRAM, 2004).

Segundo De Angelis (1999), a soja, além de importante fonte proteica, possui fibras, isoflavonas, oli-

gossacarídeos com potencial prebiótico, como rafinose e estaquiose, vitaminas e minerais. Mas seu pro-

blema ainda continua sendo o sabor adstringente que pode ser aliviado por meio do choque térmico.

As pessoas estão expostas a uma série de agentes oxidantes que podem causar danos oxidativos

nas biomoléculas que poderiam levar grande número de patologias incluindo câncer e arteriosclerose.

Assim, presume que a ingestão de antioxidante neutraliza os radicais livres prevenindo essas doenças

(FRITZ, 1998). Surge então a importância de identificar fontes vegetais com capacidade antioxidante.

Segundo Genovese e Lajolo (2002), o processamento da soja dá origem a diferentes matérias-pri-

mas como farinhas de soja, extratos hidrossolúveis e proteínas texturizadas que podem ser utilizados na

produção de alimentos e derivados da soja que fazem parte da dieta ocidental.

As isoflavonas podem apresentar efeito estrogênico ou antiestrogênico, dependendo do tipo de

receptor estimulado, da concentração desses receptores no tecido, do tipo de isoflavonas e de sua con-

centração no organismo. Em estudos, observou-se que as isoflavonas apresentaram efeito estrogênico

nos tecidos endometrial e mamário e também previne de sintomas menopáusicos (MUELLER; PIOVE-

SAN, 2004; KAARI, 2006).

Os isoflavonoides encontrados na soja, compostos fenólicos que protegem as artérias, estão envol-

vidos em atividades anticarcinogênicas, tendo ainda como função reduzir a perda de massa óssea e o

colesterol sérico (ANDERSON, 1999).

Durante as etapas de processamento de produtos da soja pode haver perda de algumas isofla-

vonas e mudança também no seu perfil. As principais isoflavonas presentes na soja não processada,

malonilgenistina, genistina, malonildaidzina e daidzina, são transformadas para outras formas durante o

processamento, tais como agliconas e acetilglicosídeos (WANG, 1994).

A goiabada ou doce em massa de goiaba é o produto resultante das partes de goiabas sadias,

misturadas com açúcares, com ou sem adição de água, agentes geleificantes, ajustadores de ph e de ou-

tros ingredientes e aditivos permitidos, até consistência apropriada, sendo termicamente processada e

acondicionada de perfeita conservação, devendo ter cor normal característica do produto, odor e sabor

normais lembrando a goiaba, aspecto gelatinoso e sólido permitindo assim o corte (FERREIRA, 1993).

O tofu foi introduzido no Japão pelos monges budistas, por volta dos anos 600, tornando se assim

um dos alimentos mais popular do Oriente, é um alimento tradicional, indispensável à dieta diária japo-

nesa, podendo ser consumido de várias maneiras. É um alimento proteico de excelente qualidade, que

apresenta importantes propriedades nutritivas e funcionais (LAMPERT, 1984).

Trata-se de um produto obtido da precipitação das proteínas, pela adição de coagulante, entre

os utilizados tem-se o glucona-lactona, ou outros, produzindo um gel resultante da formação de uma

rede proteica com retenção de água, lipídeos e outros constituintes. Sua textura é lisa, macia e elástica,

sendo importante fonte de proteína, minerais e vitaminas, ao mesmo tempo em que apresenta baixa

proporção de gorduras saturadas e ausência total de colesterol. Como alimento saudável, de alto valor

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142 COLETÂNEA BITEC 20082010

nutritivo e de custo reduzido, o tofu tem sido utilizado não raramente em preparações alimentícias, em

substituição de ovos, queijos, carnes e outros alimentos de origem animal (WANG, 1994).

10.3 Objetivos

10.3.1 Objetivo geralPropor o desenvolvimento de tofu com goiabada como alternativa nutricional de fonte proteica vegetal

livre de lactose e colesterol agregando valor tanto à soja quanto ao tofu, gerando assim oportunidades

de trabalho, renda e lucro.

10.3.2 Objetivos específicos• Ajustar técnica e formulação para produção de tofu com goiabada.

• Oferecer alimento alternativo ao queijo de origem bovina, para pessoas intolerantes à lactose

e/ou com altos índices de colesterol.

• Oportunizar metodologia de agregação de valor tanto para soja quanto para goiaba, com pos-

sibilidade de gerar oportunidades de trabalho e renda para agricultura familiar.

• Realizar análises físico-químicas de proteínas, ácidos graxos, cinzas, umidade e acidez titulável.

• Realizar análise sensorial nos ajustes de formulação e para estimar a aceitação e a predisposição

ao consumo.

• Estimar vida de prateleira, por meio de análise microbiológica de contagem geral de mesófilos.

10.4 Material e métodosA pesquisa foi realizada com incentivo do Programa de Iniciação Científica e Tecnológica para Micro e

Pequenas Empresas (BITEC), que trata de uma iniciativa de cooperação única, tendo como parceiros o

Instituto Euvaldo Lodi (IEL), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), o Serviço Brasileiro

de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico

e Tecnológico (CNPq), cujo objetivo é fomentar a interação entre as instituições de ensino superior e as

micro e pequenas empresas.

O presente trabalho possui caráter experimental desenvolvido nas Oficinas de Processamento do

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT) Campus São Vicente. As aná-

lises físico-químicas e microbiológicas foram realizadas no Laboratório Multidisciplinar e a análise sen-

sorial no Laboratório de Análise Sensorial (Lasa) ambos também localizados na instituição supracitada.

10.4.1 Caracterização da empresaO Mercado e Atacado Brandão localizado no município de Campo Verde-MT, próximo ao assentamento

rural com potencial para comercialização de produtos artesanais, incentiva iniciativas inovadoras por

meio de pesquisas voltadas ao desenvolvimento de novos produtos, necessitando para tanto de acom-

panhamento técnico que garanta a qualidade deles, principalmente por tratar-se de produto oriundo de

processamento artesanal com alta manipulação.

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9ª EDIÇÃO 143

10.4.2 Processo de desenvolvimento de tofu com goiabadaNo processamento do produto, foi utilizado: 600 g de soja; 9 g de cloreto sódio; 300 mL de suco de limão;

200 g de goiabada em cubos.

Inicialmente, obteve-se o extrato de soja a partir de 600 g de grãos crus de soja, que foram imer-

gidos em água por 3 horas. Após esse período, a água foi eliminada e os grãos foram triturados em

liquidificador com 1,75 L de água fervente. O conteúdo obtido foi filtrado obtendo-se o extrato de soja.

Tal extrato foi tratado termicamente com agitação por 15 minutos sob fervura. Desligou-se o fogo e

adicionou-se 0,4% (9 g) de sal, acrescentando-se suco de limão até a coagulação da massa. Deixou-se

descansar por 15 minutos e filtrou-se novamente para separação da massa, a ser utilizada na produção

do tofu. Com está massa foram efetuadas prensagens com pedaços de goiabada cortados em cubos.

Após prensagem, o tofu foi refrigerado por 12 horas para eliminação do excesso de umidade e conso-

lidação do formato.

10.4.3 Avaliações microbiológica, físico-química e sensorialAs amostras de tofu com goiabada foram coletadas e separadas para análises físico-químicas, microbio-

lógicas e sensoriais, sendo os tratamentos realizados em triplicata.

10.4.3.1 Análise microbiológica

Foram realizadas análises microbiológicas de contagem total de mesófilos, em triplicatas de 10 g do

alimento que serão diluídas em 90 mL de água destilada estéril. Dessa diluição serão inoculados 0,1mL

em três placas de Petri com meio PCA (Plate Count Ágar) incubadas a 35º C por 48 horas. Decorrido o

período, foi realizada a contagem de unidades formadoras de colônias – UFC.

Figura 1: Fluxograma de produção

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144 COLETÂNEA BITEC 20082010

Figura 2. Material para análise microbiológica de contagem geral em meio PCA

Figura 4. Preparo da primeira diluição para análise microbiológica

Figura 6. Aspecto das placas de contagem com meio PCA

Figura 3. Amostragem para análise microbiológica

Figura 5. Inoculação da amostra em placa de contagem

Figura 7. Aspecto das placas de contagem com meio PCA

10.4.3.2 Análises físico-químicas

Com relação à qualidade química nutricional, analisar-se-á as características bromatológicas a partir das

análises de umidade, cinzas, acidez, lipídeos e proteínas, conforme metodologia do Instituto Adolfo Lutz

(2008).

Na análise de umidade, foram pesados 5 g de tofu e em seguida colocou-se na estufa à 105° C por

16 horas, depois foram colocadas no dessecador por 1 hora e pesou-se novamente a amostra e, em

seguida, foi realizada a conta pela seguinte fórmula:

Fórmula umidade: (P1 + P2) – (P3 x 100)

P2

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9ª EDIÇÃO 145

Onde:

P1= cadinho vazio.

P2= peso da amostra.

P3= cadinho com amostra seca.

Já na análise de acidez, primeiramente pesou-se 5 g de tofu e transferiu-se para um erlenmeyer

de 125 mL com 50 mL de água. Adicionou-se três gotas de fenolftaleína e em seguida foi titulado com

solução hidróxido de sódio 0,1 ou 0,01 M, até a coloração rósea.

Na análise de gordura, pesaram-se 2 g da amostra seca e colocou-se no papel filtro e transferiu-se

para o cartucho e, em seguida, levou para o aparelho extrator tipo Soxhlet. Acoplou-se o extrator ao

balão de fundo chato previamente tarado a 105º C, adicionou-se 150 mL de éter em cada condensador,

que foi mantido aquecido durante 4 horas. Após as 4 horas, retirou-se a amostra e esperou-se até haver

fluxo do éter para recuperá-lo, em seguida colocou-se o balão vazio no dessecador até esfriar e pesou-se

novamente o balão, com os resultados foi realizada a conta da fórmula a seguir.

Fórmula gordura:

100 x NP = lipídios ou extrato etéreo por cento m/m

De acordo com a metodologia utilizada na análise de proteína, pesaram-se em recipiente (tampa

de reagente) aproximadamente 200 mg ou 0,2 g da amostra e colocou-se no tubo de diluição de 100

mL. Após a pesagem, foram adicionados em cada tubo 1,5 g do catalisador.

Preparo do branco – sulfato de potássio – 9 g

– sulfato de cobre – 1 g

– misturou-se e colocou-se no grau por causa dos grânulos.

O “branco” foi preparado, com todos os reagentes menos a amostra.

Os tubos foram colocados no bloco digestor e ligou-se à capela, foram adicionados 3 mL de ácido

sulfúrico em cada tubo, ligou-se o digestor a 80° C, agitando-se os tubos, e cada 15 minutos aumentava

a temperatura até atingir 400° C, quando atingiu essa temperatura, esperou-se que a coloração dos

tubos mudasse de negro para verde-claro, em seguida desligou-se o digestor, retiraram-se os tubos de

diluição e esperou-se esfriar.

Foram colocados 50 mL de ácido bórico + indicador + 50 mL de água destilada no erlenmeyer.

Os tubos foram colocados em um porta tubo e adicionou-se 20 mL de água destilada e agitou-se até a

diluição. Colocou-se no destilador o primeiro tubo com seu respectivo erlenmeyer. No compartimento

de cima foram adicionados 20 mL de NaOH, abriu a rosca e deixou o NaOH cair no tubo ficando uma

cor escura e aumentando a potência do destilador, quando atingiu cerca de 100 mL no volume, o des-

tilador foi desligado. Em seguida, lavou-se a bureta com água destilada, colocou-se na bureta HCL e no

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146 COLETÂNEA BITEC 20082010

erlenmeyer a solução que foi destilada e, assim, iniciou-se a titulação. Em seguida foi realizada a conta a

partir da fórmula a seguir.

Fórmula proteína bruta%:

[V’- V] x Fc x N x 6,25 x 0, 014 x 100P

Onde:

V’: volume gasto de HCL na titulação.

V: volume gasto de HCL na titulação do branco.

Fc: fator de correção.

N: normalidade.

P: peso da amostra.

Na metodologia utilizada na análise de cinzas, inciou-se primeiramente com os cadinhos de por-

celana vazios, colocando-os na mufla e deixados a 550° C, 600° C, durante 15 minutos, após colocados

no dessecador durante 1 hora. Pesou-se o cadinho vazio e depois pesou-se com um a dois gramas da

amostra. O peso da amostra pode depender da maior ou da menor riqueza do elemento mineral que

se deseja pesquisar na amostra. À incineração, procedeu-se até obter-se a cinza clara, durante 4 horas, a

550° C. Os resultados foram calculados pela fórmula a seguir:

Fórmula cinza:

(P1+P2) – P3 = P4

P2 – P4 = P5

P2_______100%

P5_______X

Onde:

P1= cadinho vazio.

P2= cadinho com amostra seca.

P3= amostra.

10.4.3.3 Avaliação sensorial

A análise sensorial é utilizada para interpretar os resultados dos indivíduos, devido às sensações origi-

nadas das reações fisiológicas de certos estímulos e assim gerando interpretação das propriedades in-

trínsecas dos produtos analisados. Para se realizar uma análise sensorial com sucesso, é preciso que haja

o estímulo que é medido por processos físicos e químicos e as sensações que são medidas por efeitos

psicológicos, entre o individuo e o produto e advindos do contato e da interação. O produto analisado

libera sensações que podem dimensionar a intensidade, a extensão, a duração, a qualidade, o gosto ou

o desgosto. Para essa análise, o indivíduo utiliza seus próprios sentidos, a visão, o olfato, a audição, o tato

e o gosto (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2008).

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9ª EDIÇÃO 147

As amostras foram submetidas à análise sensorial por meio de teste afetivo com escala hedônica de

9 pontos variando de 1 desgostei muitíssimo a 9 gostei muitíssimo para os quesitos cor, aroma, sabor e

textura. Nessa mesma ficha, realizou-se o teste de predisposição ao consumo com escala de 1 não con-

sumiria até 6 consumiria todos os dias. A análise sensorial foi realizada com 35 provadores não treinados.

10.5 Resultados e discussões

10.5.1 Desenvolvimento do tofu com goiabadaA partir da precipitação das proteínas de soja, elaborou-se o tofu com goiabada que, por sua vez, apre-

sentou características similares ao tofu convencional. Originou-se um produto de qualidade tratando-se

de alternativa nutricional de fonte proteica, livre de lactose e colesterol.

O tempo estimado para deixar os grãos de molho foi de 6 horas, pois se este tempo se estender não

ocorre a coagulação da massa, já que os grãos passam anteriormente por um cozimento.

A prensagem precisa ser realizada com a massa fria, pois se realizada à quente a goiabada derrete

apresentando uma textura não agradável.

Dessa forma, realizando-se esses ajustes o produto torna-se viável.

10.5.2 Análises físico-químicas Os resultados das análises físico-químicas encontram-se na tabela 1.

Tabela 1: Resultados de análises fisico-químicas

Componentes Tofu com goiabada Tofu tradicional Queijo frescal

ProteínasÁcidos graxos

CinzasUmidade

Acidez

11,07%3,46

1,02%62,82%

4ºD

6,6%4,0%0,7%

86,6%*

17,4%20,2%3,0%56,1

*

Nota*: Informação não disponível.

Nas análises fisico-químicas, comparou-se o tofu tradicional com o tofu com goiabada e de acordo

com a tabela nutricional de alimentos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), percebe-se

que o tofu com goiabada apresentou características similares ao tofu tradicional, pois os resultados das

análises são semelhantes. Apenas para o quesito acidez não foi encontrada referência na literatura. Com

relação a proteínas e cinzas, o tofu com goiabada apresenta maior porcentagem que o tradicional, já os

resultados foram menores em ácidos graxos e umidade, este último, por sua vez, nos indica que o tofu

com goiabada apresenta menor perecibilidade que o tofu tradicional, já que a atividade de água contida

no alimento é fator limitante no desenvolvimento de micro-organismos.

Conforme a tabela nutricional da Unicamp, o queijo fresccal de origem bovina apresenta teor de

proteína, cinzas e gordura bem maior que o tofu com goiabada, em que apenas sua umidade é menor.

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148 COLETÂNEA BITEC 20082010

10.5.3 Análise microbiológica Na análise microbiológica de contagem total PCA, o produto apresentou 52 UFC/g, enquanto para o

tofu tradicional o número de coliformes tolerado é de 102. Conforme a RDC no 12, o tofu com goiabada

comparado com o tofu tradicional está nos padrões de qualidade, pois o número encontrado na con-

tagem total é menor que o número de coliformes para tofu tradicional. Não existe legislação específica

para o tofu com goiabada, pois trata-se de um produto inovador. É interessante realizar novas análises

microbiológicas com o tempo para estimar a vida de prateleira.

10.5.4 Análise sensorial O gráfico 1 ilustra os resultados de notas médias para teste afetivo com escala hedônica para os quesitos

aroma, sabor, cor e textura.

Gráfico 1- Resultados de análise sensorial com escala afetiva de 9 pontos para os quesitos aro-ma, sabor, cor e textura com 35 provadores

Os resultados anteriores demonstram que o produto foi aceito sensorialmente. A média geral dos

quesitos foi igual a 7,67, equivalente à avaliação “gostei muito”.

Com relação aos resultados de consumo, a nota média foi de 4,2, equiavalente à “consumiria sem-

pre que pudesse”, o que atesta a aceitabilidade demonstrada pelo tofu com goiabada em teste de ati-

tude, cabendo ressaltar ainda que apenas 1 dos 35 provadores avaliaram como “não consumiria”. Foi

observado que após sete dias de armazenamento em refrigerador a aparência do produto ficou muito

diferente do produto original, dando indícios que a vida de prateleira do produto seja semelhante a do

queijo de origem bovina.

10.6 ConclusãoA produção de tofu com goiabada com alguns ajustes é tecnicamente viável, sendo que a metodo-

logia disponibilizada para produto inovador garante um produto de alta qualidade, gerando novas

fontes de lucro.

A avaliação sensorial demonstrou a aceitabilidade em teste afetivo e a predisposição que os con-

sumidores apresentaram em consumir o produto que, por sua vez, apresentou ótimas características

microbiológicas em relação ao tofu tradicional. No entanto, necessita-se de estudo mais aprofundado

para se estimar a vida de prateleira do produto.

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9ª EDIÇÃO 149

Dessa forma, o tofu com goiabada pode ser consumido como sucedâneo ao queijo, por apresentar

os fatores nutricionais avaliados semelhantes aos de origem bovina, e comercializado, por se tratar de

um produto com alta qualidade e aceitabilidade.

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9ª EDIÇÃO 151

11 IEL/MS PROJETO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM CONVERSOR CACC, CARACTERIZANDO UM PRODUTO QUE ATENDA OS REQUISITOS DE QUALIDADE DE MERCADO

Bolsista: Gustavo dos Santos Pires – UFMS

Professor orientador: Cristiano Quevedo Andréa – UFMS

11.1 IntroduçãoHaja vista que os dispositivos eletrônicos utilizados cotidianamente necessitam de alimentação em cor-

rente contínua e a energia elétrica é disponibilizada ao consumidor no Brasil em corrente alternada, faz-

se necessário a utilização de conversores CA-CC para converter a energia da rede elétrica em corrente

contínua e a níveis de tensão aceitáveis para operação dos dispositivos eletrônicos.

Outro fato relevante é que no estado de Mato Grosso do Sul não há no mercado esses conversores,

o que faz que as empresas que necessitam desses equipamentos comprem das indústrias presentes

em São Paulo. Isto gera uma dificuldade para essas empresas, pois esses equipamentos possuem custo

elevado e não se encontram em pronta entrega, dificultando assim o seu acesso.

Para aplicações de maiores potências ou cargas variáveis, as fontes lineares mostram-se ineficientes

quanto à regulação da tensão de saída e rendimento total do sistema. Dessa forma, propõe-se a im-

plementação de fontes chaveadas que apresentam alta densidade de potência e qualidade elevada na

tensão e corrente de saída.

Dessa forma, este trabalho propõe o desenvolvimento de um conversor CA-CC com a potência de

30W, elevado rendimento, baixo custo, tamanho compacto, tensão de entrada autoajustável de 65V a

260V e tensão de saída controlada digitalmente com interface ao usuário.

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152 COLETÂNEA BITEC 20082010

11.2 Visão geral dos sistemasO sistema é composto pelo circuito de potência e seus respectivos controladores e fontes auxiliares. O

circuito de potência que compõe o hardware é o responsável por transformar a tensão de entrada se-

noidal em tensão contínua e adequar os valores de acordo com as especificações de nível de tensão de

saída. Já as fontes auxiliares servem apenas para alimentar os circuitos de controle e gate drives.

11.2.1 Circuito de potênciaO circuito de potência é composto por um conversor CA-CC (retificador), e dois conversores CC-CC (um

conversor flyback e um buck), conforme figura 1.

Figura 1: Circuito de potência

O conversor flyback foi escolhido por proporcionar isolação galvânica, desacoplando a rede e de-

mais circuitos que podem ser alimentados pela conversor desenvolvido. O flyback é um conversor CC-CC

e, portanto, a tensão de entrada do sistema que possui forma senoidal deve ser retificada. Para realizar a

retificação da tensão de entrada foi proposto a utilização de um retificador em ponte completa.

O conversor buck é um conversor abaixador de tensão não isolado e foi utilizado por causa da sua

funcionalidade e para possibilitar a implementação do controle digital. Dessa forma, tanto o conversor

flyback quanto o conversor buck possuem circuitos de controle dedicados.

Nos conversores CC-CC, seu funcionamento se dá pelo emprego de acumuladores de energia (ca-

pacitores e indutores) e chaves estáticas (S).

Quando operamos com chaves estáticas, temos apenas dois valores bem definidos, ou seja, corte e

saturação. Quando S está em corte, este se comporta como uma chave aberta, interrompendo a passa-

gem de corrente. Quando S está em saturação, este se comporta como uma chave fechada, fornecendo

assim um caminho para a passagem de corrente.

11.2.2 Retificador em ponte completaEsta estrutura apresenta algumas características com relação às demais estruturas retificadoras, entre

elas pode-se citar o aumento do nível DC de saída e, consequentemente, a redução do seu capacitor de

filtro. A figura 2 mostra a topologia de retificador adotada.

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9ª EDIÇÃO 153

O retificador apresentado possui duas etapas de funcionamento. No semiciclo positivo, primeira

etapa, os diodos D1 e D2 conduzem a corrente de carga, enquanto D3 e D4 permanecem bloqueados.

A segunda etapa inicia-se quando a corrente vai a zero e a tensão possui sentido contrário, ou seja, no

semiciclo negativo. Nesse instante, os diodos D1 e D2 permanecem bloqueados e D3 e D4 conduzem

a corrente de carga (BARBI, 1997). As figuras 3(a) e (b) representam as etapas de funcionamento do

retificador.

Figura 2: Retificador em ponte completa

Figura 3a: 1a Etapa de funcionamento Figura 3b: 2a Etapa de funcionamento

A forma de onda da tensão de entrada é senoidal. Após sua retificação, esta se torna pulsada e se

faz necessário a inserção de um capacitor de filtro que é responsável por armazenar energia, enquanto a

tensão está crescendo e descarregar enquanto a tensão inicia a decair.

O principal objetivo do retificador é apresentar em sua saída uma tensão contínua. O capacitor de

saída é responsável por reduzir a ondulação da tensão de saída.

Essa estrutura retificadora, quando bem dimensionada, é capaz de apresentar baixa ondulação na

tensão de saída. Nesse caso, a tensão de saída pode ser aproximada pela equação (3.1)

(3.1)

11.2.3 Conversor flybackO conversor flyback é um conversor CC-CC elevador/abaixador de tensão isolado, em que sua isolação é

garantida por meio de um transformador (dois indutores acoplados).

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154 COLETÂNEA BITEC 20082010

Esse conversor é amplamente utilizado em fontes nas quais a potência demandada é elevada por

possuir como característica a isolação e a alta densidade de potência. A tensão de saída é controlada de

acordo com a razão cíclica imposta à ao semicondutor de potência. A figura 4 mostra o circuito simpli-

ficado do conversor flyback.

Figura 4: Circuito simplificado do conversor flyback

O elemento magnético comporta-se como um indutor bifilar e não como um transformador.

Quando S1 entra em condução (Ton

), armazena-se energia na indutância do “primário” e o diodo D1 fica

reversamente polarizado. Quando S1 é desligado (Toff

), há uma variação do fluxo no fluxo, o que gera

uma tensão que se elevará até que D1 entre em condução e forneça um caminho para a passagem da

corrente (POMÍLIO, 2009). As figura 5(a) e (b) mostram as duas etapas de funcionamento.

Figura 5a: 1a Etapa de funcionamento Figura 5b: 2a Etapa de funcionamento

Esse conversor possui a característica de operar como elevador ou abaixador de tensão, de acordo

com a razão cíclica (D) imposta à chave. Seu ganho estático é mostrado pela equação (3.2). Note que

quando D < 0,5, o conversor atua como abaixador de tensão e quando D > 0,5, o conversor atua como

elevador de tensão.

(3.2)

Onde:

N2/N1 = relação de transformação – adimensional.

D = razão cíclida – adimensional (0<D<1).

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9ª EDIÇÃO 155

11.2.4 Conversor buckO conversor buck, também conhecido como conversor abaixador de tensão, possui como característica

menor dificuldade na implementação do seu controle, se comparado com outras topologias de conver-

sores não isolados. Este fato dá-se pelo fato de sua planta não possuir zero no semiplano direito, que

podem levar o sistema à instabilidade facilmente. O circuito simplificado do convesor pode ser visto na

figura 6.

Figura 6: Circuito simplificado do conversor buck

Figura 7a: 1a Etapa de funcionamento Figura 7b: 2a Etapa de funcionamento

Este conversor também possui duas etapas de funcionamento. A primeira inicia-se quando S1 entra

em condução. Nesse instante, o diodo é reversamente polarizado e permanece em corte. A energia é

transferida de Vin para o indutor e para o capacitor. Quando S1 é desligado, o diodo entra em condução

e dá continuidade à corrente do indutor.

Enquanto o valor instantâneo da corrente que circula pelo indutor for maior do que a corrente da

carga, a diferença entre elas carrega o capacitor. Quando a corrente for menor, o capacitor descarrega-se

e fornece energia à carga (POMÍLIO, 2009).

As figuras 7(a) e (b) mostram as duas tapas de funcinamento do conversor.

11.2.5 Considerações sobre controladoresPara aplicar as técnicas de controle moderno, o sistema foi modelado no domínio da frequência por

meio da Transformada de Laplace. O sistema em questão é representado por uma função de transferên-

cia G(s), que relaciona a tensão de saída com a tensão de entrada, conforme a expressão (3.3).

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156 COLETÂNEA BITEC 20082010

Uma das técnicas mais utilizadas no controle de conversores CC-CC é a de modulação por largura

de pulso, também conhecida como PWM (do inglês pulse width modulation). Nessa técnica, opera-se

com frequência constante, variando-se o tempo em que a chave permanece ligada. O sinal de co-

mando é obtido, geralmente, pela comparação de um sinal de controle (modulante) com uma

onda periódica (portadora), por exemplo, uma onda “dente-de-serra” (POMÍLIO, 2009). A figura 8

ilustra essas formas de onda.

Figura 8: Obtenção do sinal de comando por meio da técnica PWM

Figura 9: Diagrama de blocos do sistema no domínio da frequência

Po rmeio da figura 8, pode-se notar que quando a Vc é maior que Vp, a chave S permanece ligada;

e quando Vc é menor que Vp, S permanece em corte. Para que a relação entre o sinal de controle e a

tensão média de saída seja linear, como desejado, a portadora deve apresentar uma variação linear e,

além disso, a sua frequência deve ser, pelo menos, dez vezes maiores do que a modulante 0.

Um diagrama de blocos simplificado da malha de realimentação pode ser visto na figura 9, onde

Cv(s) é função de transferência do controlador a ser projetado, G

v é o ganho do transdutor de tensão e

é o ganho da portadora.

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9ª EDIÇÃO 157

Basicamente, é realizada uma comparação entre uma amostra da tensão de saída (Vo) e a tensão

de referência (Vref ). A diferença, chamada de erro(s), é levada ao controlador que está em cascata com

o ganho da onda portadora e a planta.

O objetivo é projetar um controlador que altere as características da planta de forma que proporcie

ao sistema estabilidade erro de regime permanente nulo e resposta dinâmica dada variações na tensão

de entrada ou na carga solicitada.

11.3 ProjetoNa implementação física, fazem-se necessários o projeto e o dimensionamento dos elementos que

compõe o sistema. Nesta seção, serão mostradas algumas considerações sobre o projeto dos conver-

sores citados anteriormente. Vale lembrar que esta é uma das principais etapas na concepção de um

protótipo, pois ele somente irá operar corretamente se todas os elementos estiverem em sintonia, não

esquecendo de seus limites físicos, porém sem sobredimensioná-los, pois isso reflete consideravelmente

no custo final do produto

11.3.1 Retificador em ponte completaOs diodos que compõe essa estrutura devem ser capazes de suportar a corrente de carga e sua tensão

reversa deve ser maior que o valor de pico de Vs.

O capacitor de saída é responsável pela ondulação de tensão. No seu projeto algumas simplifica-

ções podem ser adotadas sem que isso afete consideravelmente na ondulação de tensão. Outro fato

irrelevante é que na saída do retificador será acoplado um conversor controlado que adimite certas

variações de tensão na entrada devido à dinâmica do controlador.

Desconsiderando a queda de tensão proporcionada pelos diodos e considerando a descarga do

capacitor como sendo linear, o filtro de saída pode ser dimensionado por meio da equação (4.1)

(4.1)

Onde:

Vo = tensão de saída [ V ]

F = frequência [ Hz ]

R = resistência de carga [W]

DVo = ondulação de tensão da saída [ V ]

Vale lembrar também que a a classe de tensão do capacitor empregado como filtro deve ser maior

que a tensão de pico imposta a ele.

11.3.2 Conversor flybackPara o dimensionamento desse conversor, algumas considerações são de exterma importância. Entre elas

podemos citar a eficiência típica do conversor que normalmente é de 75% a 80%. Por causa da saturação

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158 COLETÂNEA BITEC 20082010

do núcleo que compõe o transformador, a potência de saída desejada deve levar em consideração a

potência de entrada com um rendimento de 75% (pior caso).

A frequência de comultação está diretamente ligada com o projeto dessse conversor. A opção por

operação em frequências elevadas reduz consideravelmente o transformador o o capacitor de filtro. Po-

rém, além de dificuldades físicas de implementação, submete os semicondutores a maiores perdas por

chaveamento e emissões eletromagnéticas

O principal componente desse conversor é o transformador que proporciona a isolação do circuito.

O projeto do transformador inicia-se com a indutância do primário. Para tal é necessária a corrente de

pico (Ipk

) desse enrolamento, que pode ser calculado de acordo com a expressão (4.2).

(4.2)

Onde:

Pout = potência de saída [ W ]

Vs = tensão de entrada [ V ]

Vale lembrar que o semicondutor responsável pelo chaveamento deve ser dimensionado para su-

portar a corrente de pico do enrolamento primário e sua tensão de bloqueio deve ser superior a Vs.

Posteriormente, deve-se calcular a indutância mínima do enrolamento primário (Lpri

), entreferro

(lgap

) e o número de espiras (Npri) de acordo com as equações (4.3) (4.4) e (4.5), respectivamente.

(4.3)

(4.4)

(4.5)

Onde:

Is = corrente do enrolamento primário [ A ]

fs = frequência de chaveamento [ Hz ]

Ac = área do núcleo [ cm2 ]

B = indução magnética [ G ]

O próximo passo é o cálculo do número de espiras dos enrolamentos secundários (Nsec

). O enrola-

mento secundário, que deseja realizar a regulação de tensão, pode ser calculado por meio da equação

(4.6), e os demais enrolamentos auxiliares podem ser calculados de acorco com a expressão (4.7).

(4.6)

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9ª EDIÇÃO 159

(4.7)

Onde:

Vd = queda de tensão no diodo [ V ]

Os demais componentes a serem calculados nessa estrutura são os diodos dos enrolamentos se-

cundários e os capacitores de filtro. Os diodos, além de serem capazes de responder na frequência de

comultação, devem ser dimensionados de forma que suporte a corrente de carga, e a tensão reversa

sobre eles é a tensão de saída mais a componente da tensão do enrolamento primário refletido no

secundário, como se pode observar na equação (4.8). O capacitor de filtro (Cout) é dimensionado de

acordo com a expressão (4.9).

(4.8)

(4.9)

Onde:

Toff

= tempo em que a chave permanece em corte [ s ]

Por causa da operação em frequências elevadas, ao dimensionar os condutores dos enrolamentos,

deve-se levar em consideração o efeito skin. Dessa forma, o raio máximo (rmax

) do condutor a ser utilizado

pode ser calculado por meio da equação (4.10)

(4.10)

Tendo em mãos o condutor adotado, pode-se calcular o número de condutores (n) em paralelo de

cada enrolamento por meio da equação (4.11).

(4.11)

Onde:

J = densidade de corrente [ A/cm2 ]

11.3.3 Conversor BuckNesse conversor, o indutor e capacitor atua como filtro LC. Dessa forma, ambos devem ser dimensiona-

dos para apresentar ondulação de tensão e de corrente reduzidas.

Para essa aplicação, optou-se por operar com o conversor sempre no modo de condução contínua,

pois, nesse caso, há uma bem determinada entre a largura de pulso e a tensão média de saída (POMÍLIO,

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160 COLETÂNEA BITEC 20082010

2009), facilitando assim o controle do conversor. Dessa forma, a indutância mínima de como se garante

essa operação é calculada por meio da equação (4.12).

(4.12)

Em casos no qual o nível de tensão deve ser regulado com certa precisão e possuir erro de regime

permanente nulo, a ondulação de tensão considerada deve ser bem pequena. Dessa forma, o capacitor

de filtro (Co) pode ser calculado por meio da equação (4.13)

(4.13)

11.4 Implementação físicaO principal objetivo deste trabalho é a concepção de um produto. Dessa forma, alguns fatores como

funcionalidade sob condições adversas, facilidade de operação, tamanho reduzido segurança do usuário

durante sua operação são fundamentais.

Inicialmente foi construído o primeiro protótipo, visando a validar o circuito de potência e seus cir-

cuitos de controle. Posteriormente, foi contruído um segundo protótipo em que o circuito foi otimizado

com o intuito de reduzir o tamanho e o custo do conversor. A figura 10 mostra a foto do protótipo final

com a identificação de cada circuito que compõe o conversor implementado, e a figura 11 mostra o

protótipo montado.

Figura 10: (a) Protótipo implementado; (a) Circuito de potência, (b) Circuito de interface ao usuário, (c) Circuito de controle

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9ª EDIÇÃO 161

11.4.1 RetificadorPara implentação do retificador foram selecionados os diodos 1N4007, que são da classe de 1000V, ca-

pazes de suportar picos elevados de corrente e conduzir corrente eficaz de até 1A.

Nessa aplicação, a tensão de entrada é aut-ajustável pelo controle do conversor flyback, que possui

uma faixa de operação de 80V a 250V. Por causa desse fato, a tensão de entrada do retificador poderá

alcançar valores de pico de , ou seja, 353,3V.

11.4.2 Conversor flyback

11.4.2.1 Circuito de potência

Normalmente em conversores de potência, opta-se por operar em frequências acima da audível ao ser

humano, que é de 20KHz. Neste projeto, optou-se por operar me 50KHz.

O conversor deve possuir, além de uma saída regulada de 30V, três saídas auxiliares, sendo duas

de 15V e uma de 5V. A saída de 5V serve para alimentação do circuito de controle do conversor buck;

quanto as saídas de 15V, uma deles serve de alimentação para o circuito de gate do conversor buck, e a

outra serve de alimentação para o circuito de controle do flyback. A figura 12 mostra os enrolamentos do

transformador, bem como o número de espiras e polaridade de cada saída.

Para imnplementação do transformador, foi selecionado o núcleo NEE 30/15/14 – 4000 IP12R, do

fabricante Thornton. As figuras 12 (a) e (b) mostram o núcleo selecionado e suas dimensões, além dos

enrolamentos e das suas polaridades.

Figura 11: Protótipo implementado – fixação das partes móveis

Figura 12: (a) Vista em perspectiva do núcleo montado, (b) dimensões dos pinos de conexão, (c) enrolamentos do transformador e suas respectivas polaridades

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162 COLETÂNEA BITEC 20082010

Quanto à seleção da chave estática, optou-se por operar com mosfet devido a frequência adotada

e a corrente de operação. Nesse caso, foi utilizado o mosfet IRFP460, do fabricante International Rectifier,

que possui resistência interna RDS

de 0,27W.

11.4.2.2 Circuito de controle

O circuito de controle do flyback foi implementado por meio de um circuito integrado (CI) dedicado, o

UC3845. Esse CI é amplamente utilizado e bastante citado na literatura devido suas características de

operação. Ele possui funções como sistema de start up, geração interna do sinal de gatilho da chave

(PWM – modulação por largura de pulso) etc.

Para manter a isolação entre a rede e o secundário da fonte, foi utilizado no controle de realimen-

tação da saída de potência do secundário desse conversor o isolamento óptico por meio do CI TIL111.

O conversor foi modelado com o auxílio da Transformada de Laplace, por meio do modelo médio.

Pela modelagem, pode-se notar que este apresenta um filtro de primeira ordem. Assim, busca-se im-

plementar um controlador capaz de manter o sistema estável, com erro de regime permanente nulo e

com baixo tempo de resposta.

O compensador implementado trata-se de um controlador Avanço de Fase com um elevado ganho

dc (BROWN, 2001). Ele possui um polo e um zero devidamente alocados de forma que proporcione um

compensador que melhore a resposta dinâmica da planta, sem levar essa à instabilidade. A figura 13

mostra o circuito de compensação implementado.

Figura 13: Circuito de compensação proposto

11.4.3 Conversor buck

11.4.3.1 Circuito de potência

A frequência de comutação adotada foi de 20kHz, haja vista que valores mais elevados dificultariam a

aquisição de dados pelo microcontrolador, pois deve-se respeitar o critério de Niquist, ou seja, a frequên-

cia de aquisição deve ser pelo menos duas vezes maior que a frequência de chaveamento.

Para operar no modo de condução contínua, foi calculada a indutância mínima. Porém, valores

maiores de indutância proporcionam uma ondulação de corrente reduzida. Dessa forma, foi utilizado o

núcleo de ferrite NT 23/14/11 – 4400 TH50, do fabricante Thorn.

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9ª EDIÇÃO 163

O indutor utilizado possui uma indutância de aproximadamente 9mH e para o cálculo do capacitor

de filtro foi admitida uma variação na tensão de saída de 1%. A chave selecionada para este conversor foi

a IRFP460, a mesma utilizada no conversor flyback.

11.4.3.2 Circuito de controle

Para o projeto do controlador, o conversor foi modelado com o auxílio da Transformada Z, por meio

do modelo médio. A implementação do controlador foi realizada pelo microcontrolador PIC16F684, do

fabricante Microchip, que possui características como A/D interno e saída PWM, fundamentais para essa

aplicação.

A planta modelada possui ordem 2 e necessita de um controlador que elimine o erro de regime

permanente e apresente boa resposta dinâmica, haja vista que nessa aplicação a tensão de saída deve

ser regulada em valores exatos e independentemente de variações de carga.

O controlador implementado no microcontrolador trata de um proporcional integral (PI) discreto e

seu projeto foi realizado por meio da técnica de resposta em frequência no domínio discreto.

11.5 Resultados de simulaçãoO sistema projetado foi simulado por meio do software PSIM com o intuito de realizar uma análise qua-

litativa do sistema. Nessa etapa foi analisada a resposta dos controladores projetados e, posteriormente,

realizou-se uma sintonia fina. A figura 15 mostra a tensão e a corrente de entrada operando sob carga

resisitva.

Figura 14: Núcleo utilizado para confecção do indutor do conversor buck

Figura 15: Tensão e corrente de entrada do conversor sob carga

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164 COLETÂNEA BITEC 20082010

As figuras 16 (a) e (b) mostram a tensão e a corrente de saída do conversor operando sob carga. Vale

lembrar que o valor da tensão de saída é de (a) 15V, e (b)12V, conforme ajustado pelo usuário.

Figura 16: Tensão e corrente de entrada do conversor sob carga Tensão (CH1 – escala 100V/DIV); Corrente (CH2 – escala 1A/DIV)

Figura 17: Tensão e corrente de entrada do conversor sob cargaTensão (CH1 – escala 100V/DIV); Corrente (CH2 – escala 1A/DIV)

Por meio dos resultados obtidos, pode-se notar que o controlador apresentou uma boa resposta

dinâmica. Outro fato relevante é que a tensão de saída apresentou boa regulação e erro de regime per-

manente nulo, além de quase não apresentar ondulações.

11.6 Resultados experimentaisA resposta dinâmica do conversor foi avaliada mediante degrais de carga e degrais de tensão não sendo

observadas variações ou instabilidades na tensão de saída do conversor.

A figura 17 mostra a tensão e a corrente de entrada do conversor. Pode-se notar que a tensão e a

corrente de entrada apresentaram comportamento semelhante ao verificado na simulação.

As figuras 18 (a) e (b) mostram a tensão e a corrente de saída do conversor operando sob carga. Vale

lembrar o valor da tensão de saída é de (a) 15V, e (b)12V, conforme ajustado pelo usuário.

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9ª EDIÇÃO 165

Pode-se notar que a tensão e a corrente de saída apresentam ondulações muito baixa. O sinal de

tensão apresenta alguns spikes pequenos, mas estes devem-se ao fato da presença de ruídos em alta

frequência do chaveamento no sinal aquisitado.

É possivel notar também que o conversor, mesmo operando sob carga, é capaz de regular a tensão

de saída conforme valor ajustado pelo usuário, com erro de regime permanente nulo. Por meio dos tes-

tes realizados, o conversor apresentou boa resposta dinâmica com a inserção ou retirada súbita de carga,

não sendo observadas flutuações da tensão de saída.

11.7 ConclusãoForam realizados diversos testes com o intuito de verificar o funcionamento e a robustez do protótipo

implementado. Durante os testes, foram obtidos resultados satisfatórios quanto a regulação da tensão

de saída, a segurança ao usuário e a funcionalidade mediante condições adversas de operação. O produ-

to desenvolvido apresentou ainda tamanho otimizado e custo reduzido.

Por causa de suas funcionalidades e implementação do controle digital, o produto desenvolvido é

capaz de representar uma família de produtos, em que a tensão de saída pode ser facilmente ajustada

de 1,5V a 30V pelo usuário de acordo com a aplicação necessária, possibilitando a criaçcão de produtos

personalizados ao usuários com custo adicional mínimo à produção – basicamente a troca de parâme-

tros no software implementado no microcontrolador.

Foi projetada uma caixa de proteção e acomodação do circuitos. Entretanto, esse coversor normal-

mente é utilizado em conunto com aparelhos eletroeletrônicos que possuem invólucro próprio. Assim

não se faz necessária a implementação de um invólucro para esse produto, visto que não oferece risco à

segurança do usuário, minimizando assim o custo.

Com o planejamento inicial foi levantado o custo de produção em escala industrial desses disposi-

tivos. O próximo passo é realizar um estudo de mercado, visando à inserção desse produto que possui

ótima qualidade e custo de produção minimizado.

O produto possui características funcionais e de mercado. Entretanto não se pode parar de buscar

soluções capazes de aumentar seu desempenho. Assim, como projeto futuro pretende-se otimizar o

tamanho do produto com utilização de componentes SMD (componentes de superfície de tamnaho

reduzido) e implementar técnicas avançadas de correção de fator de potência.

Figura 18a: Tensão e corrente de saída do conversor sob carga Tensão (CH1 – escala 5V/DIV)

Figura 18b: Corrente (CH2 – escala 1A/DIV)

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166 COLETÂNEA BITEC 20082010

ReferênciasBARBI, I. Eletrônica de potência. Florianópolis, 1997. Edição do Autor.

BROWN, M. Power Supply Cook Book. 2. ed. USA: Elsevier, 2004.

POMÍLIO, J. A. Componentes semicondutores de potência. In: Eletrônica de potência. Campinas: UNICAMP, 2009.

Capítulo 1. Disponível em: < http://www.dsce.fee.unicamp.br/~antenor/pdffiles/eltpot/cap1.pdf>.

POMÍLIO, J. A. Componentes semicondutores de potência. In: Eletrônica de potência. Campinas: UNICAMP, 2009.

Capítulo 2. Disponível em: <http://www.dsce.fee.unicamp.br/~antenor/pdffiles/eltpot/cap2.pdf>

POMÍLIO, J. A. Fontes chaveadas. Aspectos teóricos. In: Eletrônica de potência. Campinas: UNICAMP, 2009. Módu-

lo 5. Disponível em: <http://www.dsce.fee.unicamp.br/~antenor/pdffiles/ee833/Modulo5.pdf>.

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9ª EDIÇÃO 167

12 IEL/MS AVALIAÇÃO DAS OPÇÕES DE LOGÍSTICA PARA EXPORTAÇÃO DE ÓLEOS VEGETAIS ALTERNATIVOS A PARTIR DE REGIÕES POLO EM MATO GROSSO DO SUL

Bolsista: Willian de Souza Lima Nery – UCDB

Professor orientador: Renato Roscoe – UCDB

12.1 IntroduçãoO presente trabalho foi planejado pela empresa Marca “S” Consultoria, após a constatação da necessida-

de de mapeamento logístico da produção e da comercialização de óleos não comestíveis, destinado ao

mercado de biodiesel. Esses óleos passaram a ter mais importância a partir de 2004 quando se iniciaram

os principais programas de uso e produção de biocombustíveis. A União Europeia (EU) é um forte de-

mandante de óleos vegetais, uma vez que seu parque industrial já alcança uma capacidade instalada

perto de 14 milhões de metros cúbicos por ano e em suas áreas próprias pode produzir no máximo

metade desse montante.

Mato Grosso do Sul é um grande produtor de grãos, cultivando entre 1,7 e 2,0 milhões de ha por

ano. A principal cultura é a soja, importante como fonte de óleo para a indústria de alimento. A cadeia

da soja encontra-se bem estabelecida e todos os canais de processamento, comercialização e logística

são bem conhecidos. Entretanto, a soja, por ser eminentemente uma cultura alimentar, não tem sido

considerada a melhor alternativa para produção de biocombustíveis pelos países europeus importado-

res de óleo.

Anualmente, perto de um milhão de ha em Mato Grosso do Sul fica sem plantio na entre safra da

soja, em função da baixa opção de culturas rentáveis para esse período. Para suprir essa lacuna, culturas

como crambe (Crambe abyssinica) e mamona podem ser utilizadas em segunda safra, aproveitando es-

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168 COLETÂNEA BITEC 20082010

sas áreas e produzindo óleos não comestíveis com um mercado garantido na União Europeia. Somam-se

a essas fontes outras opções para produção de óleo, como o pinhão manso (Jatropha curcas) que tam-

bém produz óleo não comestível e potencial para ocupar áreas de pastagens degradadas.

Essas novas oportunidades não têm suas cadeias produtivas estabelecidas no estado, sendo neces-

sário o entendimento das melhores formas de sua organização. Um dos pontos cruciais é a localização

de novas indústrias esmagadoras. A localização dessas indústrias leva em consideração a localização

dos possíveis polos de produção da matéria-prima e os aspectos logísticos para exportação dos óleos

vegetais. Por meio de levantamentos já realizados, constatou-se que Dourados, Chapadão do Sul e São

Gabriel do Oeste possuem capacidade de produção das matérias-primas, podendo ser considerados

polos estratégicos para a instalação de esmagadoras.

O objetivo do presente trabalho foi determinar qual destes polos produtivos é mais competitivo

em termos de estrutura logística para exportação, avaliando os modais atualmente disponíveis em Mato

Grosso do Sul, seus custos e tarifas, considerando como destino os principais portos exportadores aces-

síveis à região: Santos (SP) e Paranaguá (PR).

12.2 Revisão da literaturaAs expectativas futuras para que o Brasil alavanque seu crescimento econômico – por meio da captação

de investimentos externos, da produção agrícola (grãos, etanol, biodiesel e pecuária), da ampliação da

cadeia produtiva industrial e da homogeneização do desenvolvimento das cinco regiões do país – estão

relacionadas aos investimentos governamentais em infraestrutura. O transporte é fundamental na inte-

gração entre as áreas de produção e consumo, e, também, das pessoas (CNT, 2007).

A logística trata de todas as atividades de movimentação e armazenagem, que facilitam o fluxo de

produtos desde o ponto de aquisição da matéria-prima até o ponto de consumo final, assim como dos

fluxos de informações que colocam os produtos em movimento, com o propósito de providenciar níveis

de serviço adequados aos clientes a um custo razoável (BALLOU, 1993).O transporte é o mais importan-

te dos processos logísticos, tanto pela quantidade e pelo valor dos recursos que consome, como por

movimentar materialmente produtos de um ponto geográfico a outro. É o lado mais visível do processo

logístico, pois concretiza a entrega das mercadorias (TABOADA, 2002).

Segundo Kotler e Armstrong (1999), as empresas estão valorizando cada vez mais a logística por

várias razões: primeiro, por ser um elemento essencial no que se refere aos serviços prestados aos clien-

tes; por produzir consideráveis reduções de custos para a empresa e para os consumidores; também

por causa da imensa variedade de produtos criando a necessidade de um aprimorado gerenciamento

de logística e, por fim, aprimoramento da tecnologia de informações criando oportunidade de maior

eficiência na distribuição.

Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), o desenvolvimento econômico, político e social

de um país estão diretamente ligados aos seus sistemas de transporte. Nesses sistemas, o modal rodoviário –

por meio de suas rodovias – é fundamental para o acesso de produtos e passageiros aos principais pontos de

coleta e distribuição, garantindo, assim, a integração entre portos, ferrovias, hidrovias e aeroportos.

O setor rodoviário é responsável por mais de 90% do transporte de passageiros e 61% do trans-

porte de cargas. Os custos operacionais dos transportadores estão diretamente ligados aos gastos com

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9ª EDIÇÃO 169

combustíveis, pneumáticos e demais itens mecânicos. Aos custos que envolvem todos os usuários de

rodovias, pode-se acrescentar os atrasos de viagens, os congestionamentos e os acidentes de trânsito.

Em ambos os casos, percebe-se consequências diretas da qualidade e da capacidade da via sobre os

custos de movimentação (CNT, 2007).

Com a transferência das rodovias para o setor privado, cresceram o número de pedágios e o valor

das tarifas. Nos últimos quatro anos, no estado de São Paulo, as viagens para o interior e outros estados,

que se utilizam de rodovias estaduais e federais, tiveram um aumento do custo para os usuários em

torno de 45%. Entretanto, no entanto, as condições de segurança, sinalização e estado do piso são bem

superiores à média nacional e de outras rodovias que não dispõem do sistema de pedágios, visto que os

valores ali arrecadados são para manutenção da malha viária (PORTAL BRASIL, 2009).

A malha ferroviária brasileira foi implantada com o objetivo de interligar vários estados do país,

principalmente regiões próximas aos Portos de Parati, Angra dos Reis e Porto de Santos. Comparando

as condições atuais da malha ferroviária com o período anterior à desestatização, os índices apontam

um crescimento na recuperação da atividade ferroviária no país, com possibilidade de aumento de sua

participação na matriz de transporte, sobretudo a médio e longo prazos (DNIT, 2009).

Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – Dnit (2009), desde 1996,

quando iniciou o processo de desestatização, a quantidade de carga movimentada nas ferrovias brasi-

leiras aumentou aproximadamente 26%. Os investimentos permitiram um incremento da produção de

transportes em 68% entre 1996 e 2001. As melhorias decorrentes da desestatização têm contribuído

para reduzir acidentes nas malhas em funcionamento.

O custo do frete, cobrado pelas operadoras nas ferrovias, é 50% mais barato em relação ao trans-

porte rodoviário. Além disso, as ferrovias oferecem rapidez e resistência a grandes cargas. A alternativa

ferroviária é importante para operadores que lidam com matérias-primas como empresas petroquímicas

que além de perigosas são transportadas em grandes volumes (DNIT, 2009).

O modal hidroviário é responsável por 12,75% do movimento de transporte de carga registrado no

país, divide-se em fluvial e marítimo. Existem 44 portos no território nacional sendo 6 na região Norte,

13 na Nordeste, 13 na Sudeste, 10 na Sul e 2 na Centro-Oeste. De acordo com dados do Ministério da

Marinha, existem no setor 62 mil trabalhadores (PORTAL BRASIL, 2009).

Segundo o Departamento de Hidrovias Interiores, aproximadamente 17 milhões de toneladas fo-

ram transportadas por meio de navegação fluvial, o que representa 2,7% do movimento total de cargas

do país. Nos anos 1990, o transporte hidroviário passou a ser utilizado em maior escala no Brasil, como

forma de baratear o preço final de produtos, principalmente os de exportação, tornando-os mais com-

petitivos. O custo por quilômetro é duas vezes menor que o ferroviário e cinco vezes mais baixo que o

da rodoviário (PORTAL BRASIL, 2009)

No transporte de grãos, para atender distâncias superiores a 1.200 km é indicado o modal hidrovi-

ário. Para distâncias entre 500 km e 1.200 km, o modal ferroviário é o mais adequado. Por fim, o modal

rodoviário atende distâncias inferiores a 500 km com mais eficiência (GEIPOT, 1997).

Os modais mais indicados para atender a nova configuração brasileira, com necessidade de redu-

ção de custos, são os modais hidroviário e ferroviário. No entanto, o primeiro depende da existência de

rios navegáveis, liberação de licenças ambientais e vultuosos investimentos em infraestrutura. O modal

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170 COLETÂNEA BITEC 20082010

ferroviário esbarra também nos altos investimentos em infraestrutura e licenças ambientais. Isso favore-

ceu o modal rodoviário que, com baixos custos fixos, altos custos variáveis e maior flexibilidade, tem sido

o mais utilizado (SOGABE et al., 2009).

Com crescente demanda por energia no mundo, elevação dos preços internacionais do pe-

tróleo e necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a comunidade internacional

vem dando grande importância para produção de combustíveis renováveis. O Brasil destaca-se

pelo programa mais agressivo em termos mundiais de substituição de combustíveis líquidos vei-

culares, o programa de utilização de etanol de cana (MAPA, 2007). Mas não somente o etanol tem

se destacado no país, o Programa Brasileiro de Uso e Produção de Biodiesel, iniciado em 2004, hoje

demanda cerca de um terço do óleo vegetal produzido no Brasil. A Europa desponta-se como a

principal consumidora de óleo vegetal para biocombustíveis no cenário mundial. Sua capacidade

instalada para produção de biodiesel atingiu quase 14 milhões de toneladas por ano, em 2008, va-

lor este compatível com as metas de substituição do diesel de petróleo estabelecidas para 2020. A

principal fonte de óleo para biocombustíveis na Europa é a colza, uma crucífera anual com elevados

custos de produção. Além dos custos pouco competitivos, a área disponível para cultivo de olea-

ginosas na Europa comportaria uma produção anual máxima de cerca de 7 milhões de toneladas

de óleo, ou seja, metade da capacidade instalada das usinas de biodiesel atuais. Portanto, a Europa

constitui importante comprador mundial de óleos vegetais, voltados para produção de biocom-

bustíveis (ROSCOE et al., 2007).

Mato Grosso do Sul planta aproximadamente 1.800 mil hectares de soja anualmente, sendo im-

portante exportador desse grão. Existe ainda o potencial para a exploração de oleaginosas alternativas,

tais como: crambe, nabo forrageiro, pinhão manso, macaúba, entre outras (Roscoe et al., 2007). O par-

que industrial, no entanto, está concentrado no esmagamento de soja. Segundo dados levantados pela

Marca S Consultoria, o interesse de investidores internacionais no estado de Mato Grosso do Sul tem

crescido nos últimos anos, principalmente no que se refere à produção de óleos vegetais voltados para

exportação. Esses investidores têm como destino final a produção de biocombustíveis em seus países de

origem. O Estado tem sido foco de tais investimentos por sua elevada disponibilidade de áreas agricul-

táveis com preços ainda competitivos, grande infraestrutura e tradição na produção agrícola e posição

estratégica em relação às possíveis rotas de exportação.

12.3 ProposiçãoO trabalho foi realizado por meio de levantamento de dados primários com empresas de logística e in-

dústrias, dados secundários com secretárias públicas, universidades, empresas, prestadores de serviço e

uma revisão bibliográfica em trabalhos relacionados à logística de exportação. Essas obtenções de dados

foram realizadas nos quatros primeiros meses e nos últimos dois foram realizados os relatórios finais.

12.4 MetodologiaO estudo realizado a partir de três polos de produção de matéria-prima para extração de óleo vegetal, os

de Chapadão do Sul, São Gabriel do Oeste e Dourados, todos os municípios de estado de Mato Grosso

do Sul. Optou-se por criar uma demanda fictícia de transporte de 20.000 t de óleo anuais para pontos

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9ª EDIÇÃO 171

possíveis de exportação. Essa demanda foi baseada nas exigências contratuais de empresas importado-

ras de óleo da Europa.

Inicialmente, foi realizado um levantamento das empresas transportadoras instaladas nesses polos

que realizam o transporte rodoviário de cargas líquida, por meio de coleta de informações na internet e

entrevistas com os diferentes atores da cadeia.

Após o levantamento destas empresas, foi realizado uma pesquisa sobre o estado das ferrovias, hi-

drovias e rodovias em Mato Grosso do Sul, analisando a capacidade de carga, condições de infraestrutura

e distância até os principais portos exportadores (Santos/SP e Paranaguá/PR), levantamento feito por

meio de publicações da CNT, da internet e das entrevistas com as empresas transportadoras.

Com contato de um agente aduaneiro em Santos/SP, pode-se determinar as possibilidades de ar-

mazenagem dessa carga para realizar o transporte até os portos e obter um orçamento dos custos de

frete marítimo e taxas cobradas nos portos. Esse mesmo contato apresentou nome de empresas que

possuem a capacidade de realizar o transporte do óleo vegetal. Os custos de exportação foram baseados

em um transporte marítimo com a rota, Santos – Brasil até Porto de Rotterdam – Holanda.

12.5 Resultados

12.5.1 Modais de transporte em MSExistem três modais atuantes em Mato Grosso do Sul, rodoviário, ferroviário e hidroviário. Após realização

do levantamento de dados, constatou-se que, atualmente, apenas o modal rodoviário apresenta condi-

ções de transportar uma carga de óleo vegetal de cerca de 20.000 t.

O modal ferroviário, apesar de uma distribuição relativamente boa de malha no Estado, não tem

disponibilidade para transporte da carga de óleo vegetal no curto prazo. Investimentos adicionais seriam

necessários para que esse modal fosse viável e para que a empresa operadora esboçasse interesse em

contratos dessa natureza.

O modal hidroviário encontra-se menos estruturado, mas apresenta grande potencial. A principal

rota pelo rio Paraguai liga a portos com boa capacidade para exportação de óleo vegetal, tanto na Ar-

gentina (Rosário) quanto no Uruguai (Montevideo). Entretanto, não há estrutura logística nos portos

de Mato Grosso do Sul para armazenamento e embarque de óleos vegetais, tanto a granel quanto em

containeres tanque, flex container e tambores. As empresas em operação atualmente nesses portos não

possuem a capacidade para realização da operação, o que exigiria novos investimentos. Entretanto, um

dos operadores afirmou que esses investimentos poderiam ser realizados uma vez que houvesse uma

demanda garantida.

Portanto, apesar de ser o modal mais caro e de menor capacidade de transporte por veículo, o rodo-

viário destacou-se por sua forte diversidade de cargas, possibilidade de rotas, quantidade total transpor-

tada e rapidez. A maioria da produção agropecuária do Mato Grosso do Sul, assim como o fornecimento

de insumos, prestação de serviço, transporte de maquinários e transporte de pessoas utilizam o sistema

rodoviário.

As rotas principais em Mato Grosso do Sul ligam os grandes centros produtores de grãos, como a

região Centro-Sul, aos locais de armazenagem e processamento. Essas rotas também fazem o transporte

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172 COLETÂNEA BITEC 20082010

desses cereais e seus subprodutos até os portos de Santos e Paranaguá. As principais rodovias do estado

são as BR-163, 262, 060 e 267 (figura 1).

Figura 1: Rodovias federais existentes no estado de Mato Grosso do Sul. Fon-te: adaptado do Dnit (2009).

Figura 2: Gráfico demonstrativo em percentual das condições de rodovias públicas e concessionadas no Brasil. Fonte: adaptado da CNT (2007).

O levantamento de dados secundários sobre as condições de pavimentação, sinalização, segurança

e conservação concluiu que aproximadamente 74% das rodovias brasileiras estão em condições regular,

péssima ou ruim (CNT, 2007). Além disso, observou-se que há grande diferença nas condições de tráfego

entre as rodovias de administração pública e concessionadas. Nas rodovias concessionadas, há apenas

0,5% com estado geral péssimo, enquanto em rodovias públicas apresenta cerca de 9% do total, o que

indica diferença na qualidade e na segurança do tráfego entre os tipos de rodovias (figura 2).

Nos estudos levantados, observou-se que as rodovias que passam por Mato Grosso do Sul rece-

beram, em 2007, a classificação regular quanto às notas concedida pela CNT (CNT, 2007), o que sugere

qualidade regular no transporte rodoviário em MS, com consequente aumento nos custos de fretes

(tabela 1).

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9ª EDIÇÃO 173

Tabela 1: Tabela demonstrando as rodovias pesquisadas existentes no estado de Mato Grosso do Sul, suas notas e classificações

RodoviasUnidades da Fede-

raçãoExtensão

Pesquisada (km)Nota Classificação

BR 060 DF, GO, MS 1.160 71,5 Regular

BR 163 MS, MT, PA, PR, SC 2.208 66,3 Regular

BR 262 ES, MG, MS 1,791 73,7 Regular

BR 267 MG, MS 1.126 59,9 Regular

Fonte: adaptado da CNT (2007).

12.5.2 Rotas do modal rodoviário Observou-se que dos três municípios polos identificados com potencial para produção de óleo vegetal

e exportação com destino à Europa, Dourados apresentou as menores distâncias até os portos de Santos

e Paranaguá (tabela 2).

Tabela 2: Distância entra os três municípios polos de Mato Grosso do Sul e os portos de Santos e Paranaguá

Distância (km)Dourados

São Gabriel do Oeste Chapadão do Sul

Santos/SP 1.075 1.270 1.000

Paranaguá/PR 1.010 1.390 1.150

Dourados apresenta as seguintes opções de rota para Santos e Paranaguá. Na primeira, deve-se

seguir pela BR-163 no sentido norte até a BR-267, chegando à divisa com São Paulo. Totalizando 1.075

km de Dourados/MS até Santos/SP. Para ir até Paranaguá deve-se seguir pela BR- 163 no sentido sul até

a divisa com o estado do Paraná. Totalizando de 1.010 km de Dourados/MS até Paranaguá/PR (figura 3).

Figura 3: Rota Dourados – Santos e Paranaguá. Fonte: adaptado do Dnit (2009).

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174 COLETÂNEA BITEC 20082010

12.5.3 Empresas disponíveis: modal rodoviário Constatou-se, no levantamento das empresas, que para realizar o transporte rodoviário, em Mato Grosso

do Sul, existem cerca de 30 empresas, das quais apenas sete possuem capacidade de transportar óleo

vegetal (figura 4). Isso ocorre em função da necessidade de caminhões-tanque para realizar este tipo de

transporte. Das sete, somente quarto teriam capacidade para efetuar o transporte da quantidade esti-

mada de carga de 20.000 t ano-1 (figura 4). Mesmo havendo somente quatro empresas com capacidade

para realizar o transporte, observou-se forte competição de preços entre elas.

Figura 4: Porcentagem das empresas que atuam no transporte rodoviário e possuem a capacidade de transportar óleo vegetal

12.5.4 Custo do modal rodoviárioAs características do óleo vegetal fazem que seja necessário o transporte marítimo em tanques, tam-

bores ou containers-tanque. Para isso foi realizado um levantamento das empresas que possuem a ca-

pacidade de transportar esse tipo de produto. Não utilizando tanques com resíduos de outros óleos

ou combustíveis, como diesel, álcool e gasolina, para que não ocorra a contaminação do óleo, deve-se

atentar à limpeza do tanque, de modo que não ocorra a contaminação. Por causa do alto custo de lim-

peza, os custos foram levantados considerando-se duas viagens, ida e volta até os portos de destino, pois

o caminhão-tanque realizará a viajem de retorno sem uma carga.

O frete realizado pelas empresas de transporte é baseado na quantidade de quilômetros rodados,

portanto os polos que apresentarem menor distância entre os portos consecutivamente apresentará

menor preço no frete. Nesse critério, o município de Dourados/MS apresentou vantagens em relação

aos outros polos predefinidos (tabela 3), em que é apresentado o custo do transporte inicial tendo Dou-

rados/MS como polo de origem.

Tabela 3: Distâncias e custos do transporte rodoviário por meio de caminhões-tanque entre os municípios polos e os portos de destino

Dourados São Gabriel do Oeste Chapadão do Sul

Custo transporte Santos/SP (R$/t.) 195,00 235,00 200,00

Custo transporte Paranaguá/PR (R$/t.) 195,00 245,00 235,00

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9ª EDIÇÃO 175

12.5.5 Tipos de containeres para exportação de óleoApós contato com as empresas que possuem a infraestrutura mínima de armazenamento e transporte

do óleo vegetal para a exportação marítima, observou-se que há três possíveis modos de transportar o

óleo vegetal, transporte em tambores, containers-tanque e containers flex.

Uma opção para realização da exportação do óleo vegetal é o transporte em tambores de

aço inox com capacidade de 200 litros cada. Para exportação de 20.000 t. anuais, ou 21.740.000

litros de óleo vegetal, serão necessários cerca de 110.000 tambores para realizar o transporte de

toda a produção esperada. O transporte nesse tipo de armazenador apresenta vantagens, sendo

o único que possibilita o retorno do caminhão com carga, pois não é necessário o transporte em

um caminhão-tanque. Porém, apresentam também desvantagens, como o custo do tambor de R$

45,00 por unidade e elevado custo de mão de obra e equipamentos para insuflar o produto dentro

desses tambores.

As operações necessárias para o transporte nos tambores são a compra desses e seu enchimento

com o óleo vegetal, usando-se o custo médio para o transporte a partir origem Dourados, aproximada-

mente R$ 200,00 por tonelada o transporte até o Porto de Santos, a estufagem dos tambores no contai-

ner e a entrega desse ao navio apresentam um custo total de aproximadamente R$ 478,00 por tonelada

e o custo total para 20.000 mil t. pode chegar a R$ 9,56 milhões.

Os containers-tanque possuem capacidade de carga de aproximadamente 114 tambores (200 li-

tros), ou 24.000 litros, permitem a economia com envase, transporte e manuseio nas operações interna-

cionais. Esses containers eliminam o risco de perda de carga ou contaminação nas transferências entre

modais de transporte.

A análise identificou que o transporte com containers-tanque é viável apenas onde a distância é

inferior a 500 km. Acima dessa distância, torna-se mais interessante a utilização do caminhão-tanque

com capacidade de 35 t. para realizar o transporte do óleo vegetal até o Porto de Santos, onde ocorre a

insuflavem dos containers-tanque que possuem a capacidade de 25 t. Como há uma diferença de carga,

foi apresentada a possibilidade com uma empresa que atua em Santos de existir containers-tanque de

armazenamento onde estes atuariam como “containers-pulmão”, sendo completada com as sobras dos

caminhões-tanque e carregada no navio toda vez que atingir as 25 t. de óleo vegetal. A operação total do

container-tanque apresentou um custo total de R$ 222,00 por tonelada e R$ 4,44 milhões o transporte

total de 20.000 t.

Destinados ao transportes de óleos e produtos químicos não perigosos, os flextanks têm capacida-

de de até 24 mil litros e são produzidos com polietileno, o que garante elasticidade, durabilidade e segu-

rança. Nessa operação, também é necessário o transporte em caminhões-tanque até o Porto de Santos

onde ocorre o transbordo para os flextanks. Essa operação apresentou um custo de aproximadamente

R$ 314,00 por toneladas e R$ 6,28 milhões em uma operação de 20.000 t.

O tipo de transporte que apresentou melhor condições de preço e facilidade foi o transporte em

containers-tanque combinado com o transporte em caminhões-tanques (figura 5), o que pode ser atri-

buído à sua maior capacidade de carga e menores custos operacionais de transbordo.

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176 COLETÂNEA BITEC 20082010

12.5.6 Custo do transporte marítimo O custo do frete marítimo é dado por containers, porém apresenta alguns valores de taxas adicionais e

custo aduaneiros cobrado pelas empresas responsáveis pelos processos portuários. Os custos para os

transportes marítimos a partir de Santos podem ser divididos em frete internacional, capatazia (custo do

uso do container), taxa de bl (documento de conhecimento marítimo), ISPS (taxa de segurança do porto)

e os custos aduaneiros. Considerando uma carga de 20.000 t. de óleo vegetal os custos obtidos por meio

de empresas aduaneiras somariam R$ 230.162,00 (tabela 4).

Tabela 4: Tabela demonstrando os custos das operações portuárias

Frete internacional R$ 185.000,00

Capatazia R$ 44.100,00

Taxa de bl R$ 230,00

ISPS R$ 92,00

Custos aduaneiros R$ 740,00

Total R$ 230.162,00

O custo de todas as operações de exportação desde o município de Dourados que apresentou

melhores condições de logística até o porto de Rotterdam na Holanda apresentou um valor de R$ 6,97

milhões quando realizado em containers-tanque, R$ 12 milhões para o transporte utilizando tambores

de 200L e R$ 8,8 milhões quando realizado o transporte em flextank (figura 6).

Figura 5: Custo de exportação do óleo vegetal em milhões R$

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9ª EDIÇÃO 177

12.6 ConclusãoAnalisando os modais atuantes em Mato Grosso do Sul, o transporte rodoviário é o único que, no mo-

mento, oferece condições para a logística de exportação de óleo vegetal a partir de Mato Grosso do

Sul, pois apresenta grande variedade de empresas atuantes. O município polo com melhor localização

e infraestrutura de rodovias é Dourados, situado ao sul do estado, apresenta uma distância curta em

comparação com os outros municípios propostos e boas condições de estradas.

O Porto de Santos ofereceu boas condições para realização de exportação, possui boa localização e

grande diversidade de opções para o transporte de óleo vegetal do município-polo até o porto de par-

tida. Entre essas opções a que ofereceu melhor condições de custo-benefício foi o transporte por meio

de containers-tanque com a capacidade de 22 t.

Referências

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Acesso em: nov. 2009.

Figura 6: Custo total da operação de exportação de óleo vegetal do município produtor até o porto de destino

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178 COLETÂNEA BITEC 20082010

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9ª EDIÇÃO 179

13 IEL/PA CONSTRUÇÃO DE UM SISTEMA DE CUSTEIO PARA UMA PEQUENA INDÚSTRIA PRODUTORA DE VASSOURAS NO ESTADO DO PARÁ

Bolsista: Raphael Araújo Barbosa – UEPA

Professora orientadora: Renata Melo e Silva de Oliveira – UEPA

Coautor: André Luis dos Santos Nunes

13.1 IntroduçãoA indústria de vassouras no estado do Pará tem crescido consideralvemente em demanda nas últimas

décadas, mas pouco tem se modernizado ou buscado o embasamento científico necessário para sua

evolução e consequente aumento da competitividade, assim o setor tem sofrido com problemas de

demanda reprimida e estoque (MOREIRA et al., 2008).

O crescimento da indústria no estado depende da boa utilização dos recursos e determinar o quan-

to custa seu processo produtivo e produto é de fundamental importância para uma gestão empresarial

eficaz. Segundo Martins (2003), a contabilidade de custos acabou por passar, nessas últimas décadas,

de mera auxiliar na avaliação de estoques e lucros globais para importante arma de controle e decisão

gerenciais.

Nesse sentido, a introdução de sistemas gerenciais constitui fator relevante em mercados tão rústi-

cos quanto o da produção de vassouras. Aprender a lidar com esses sistemas pode ser não só um fator

organizacional, mas um diferencial no aumento da competitividade, a partir do aprimoramento de seus

ferramentais de gestão. O levantamento de custos permite às empresas enxergar além de suas contas,

pois propicia aos seus gestores informação organizar de modo geral como os custos são gerados em um

sistema industrial, permitindo ainda os analisar e, com as informações geradas, suportar a tomada de

decisões estratégicas.

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180 COLETÂNEA BITEC 20082010

A gestão eficiente de custos permitem aos gestores da organização traçar medidas para eliminar

possíveis desperdícios e, potencialmente perdas, as quais podem aumentar tanto lucratividade da em-

presa, quanto podem gerar subsídios para tornar os preços de seus produtos mais competitivos.

Complementarmente, reforça-se que a gestão dos custos industriais de maneira estruturada pode

ainda trazer mais uma vantagem informacional às partes interessadas de uma organização: ao mesmo

tempo em que permitem uma leitura quantiqualitativa sobre quais as linhas de produtos apresentam

maior lucratividade e também podem gerar indicadores sobre as margens de segurança em que a orga-

nização está operando. Essa é uma informação importante tanto para o acompanhamento de receitas,

quanto para a tomada de ações corretivas, no caso de prejuízo com alguma linha de produtos, antes

mesmo do fim do exercício.

Visando à importância da manutenção de um efetivo sistema de controle e gestão de custos in-

dustriais, este trabalho estabeleceu uma solução eficiente, com baixo custo e capaz de atender à neces-

sidade do pequeno empresário de tomar conhecimento dos seus custos de forma estruturada. Houve

também a preocupação de desenvolver uma forma de custeamento condizente com os métodos cientí-

ficos já estabelecidos pela literatura específica da área e, ao mesmo tempo, com a usabilidade necessária

ao usuário final do produto.

Por isso, foi gerado como produto auxiliar um manual de utilização com a descrição das principais

funções do sistema de planilhas eletrônicas construído. Assim, o trabalho tem o objetivo de realizar o

levantamento de custos junto ao cálculo do ponto de equilíbrio e treinar o empresário sobre a utilização

e a importância deles. O desenvolvimento deste projeto estrutura-se basicamente da coleta de dados

por meio de entrevistas estruturadas, implementação dos métodos de custeamento por planilhas ele-

trônicas e treinamento do empresário por meio de palestras e do uso do Manual do Usuário

13.2 Base conceitual para construção de um sistema de custeioO desenvolvimento dos sistemas de custeio baseia-se nos conceitos fundamentais da contabilidade de

custos que, assim como as demais tipologias de contabilidade, desde os anos 1960 do século passado

utiliza como principal ferramenta os sistemas de informação para aumentar a confiabilidade dos dispo-

sitivos de controles de despesas, receitas e lucro de sistemas industriais.

Segundo Martins (2003), a contabilidade de custos possui como principais objetivos estabelecer

dispositivos para: i) a atribuição de custos aos produtos ao longo das etapas de produção; ii) controle e

mensuração de estoques; iii) cálculo dos pontos de equilíbrio; iv) demonstrações financeiras aceitas pelo

fisco; e v) gestão de custos, receitas e despesas de organizações possuidoras de sistemas produtivos.

A literatura específica da área estabelece que há pelo menos três métodos de custeio válidos para

gestão de custos industriais: custeio por Absorção, custeio variável e o custeio baseado em atividades

(BORNIA, 2002). Também é sabido que existem diversos sistemas de custeio e critérios de avaliação da

produção e dos estoques. Entretanto, o método de custeio por absorção mostra-se o mais indicado para

aplicação em um sistema industrial que objetiva meramente controlar seus custos para fins de prestação

de contas, porque além de respeitar os princípios fundamentais de contabilidade, também é totalmente

aceito pela Lei no 6.404/76. Os gestores interessados em obter informações que suportem sua tomada

de decisão estratégica, no entanto, passaram a sinalizar a necessidade de adicionar maior funcionalidade

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9ª EDIÇÃO 181

aos sistemas de custeio da indústria. Por essa razão, o sistema definido como custeio variável passou a

ganhar maior visibilidade no mundo corporativo.

Porter (1985) suporta essa prerrogativa, ao argumentar que “a vantagem de custos é um dos dois

tipos de vantagem competitiva que uma firma pode possuir – a outra vantagem indicada pelo autor é

a diferenciação. Ele ainda argumenta que “os custos são de vital importância para as estratégias de dife-

renciação, pois uma empresa diferenciadora precisa manter os custos próximos aos dos competidores”

(PORTER, 1985).

Este trabalho apresenta resultados da aplicação do custeio variável e também do custeio por ab-

sorção em uma pequena indústria produtora de vassouras no estado do Pará. Por isso, com o intuito de

explicitar as razões técnicas que levaram a aplicação do sistema de custeio por variável e do ponto de

equilíbrio neste estudo, na próxima seção são apresentadas as principais características dos métodos:

custeio por absorção e custeio variável.

13.2.1 Custeio por absorção O custeio por absorção estrutura-se com o objetivo de apropriar todos os custos de produção aos bens

elaborados (MARTINS, 2006). Para fins de controle de estoques, todos os custos são alocados aos produ-

tos. Nessa primeira etapa do cálculo dos custos de produção, todas as despesas, seja administrativas, seja

financeiras, seja de vendas, são excluídas da composição dos produtos, pois somente posteriormente

serão deduzidas diretamente do resultado do período em que foram realizadas.

O custeio por absorção consiste essencialmente na alocação de todos os custos de produção aos

produtos fabricados, com exceção das despesas. Para tanto, desmembram-se os custos diretos dos cus-

tos indiretos de fabricação.

O esquema gráfico a seguir explica a dinâmica de funcionamento do sistema de custeio por absorção.

Figura 1: Lógica de funcionamento do custeio por absorção. Fonte: adaptado de Martins (2003).

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182 COLETÂNEA BITEC 20082010

Apesar de ser o método melhor aceito pelo fisco, o custeio por absorção apresenta tanto vantagens

quanto desvantagens, conforme o Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (CRC/

SP), 2010:

a) Atende a legislação fiscal e deve ser usado quando a empresa busca o uso do sistema de custos

integrados à contabilidade financeira.

b) Permite a apuração do custo por meio do estabelecimento dos centros de custo. E, por essa

razão, sua aplicação exige a organização contábil tradicional de departamentalização, o que

permite realizar um monitoramento de perdas e desperdícios por departamento.

Como principais desvantagens, pode-se citar:

a) As bases de rateio para alocação dos gastos interdepartamentais possuem certo grau de arbi-

trariedade e, por isso, podem distorcer os resultados.

b) A contabilização dos custos nesse método considera tanto a parcela fixa (depreciação, aluguel,

seguros, mão de obra indireta, entre outros), quanto a parcela variável do sistema produtivo

(matéria-prima, insumos, mão de obra direta). Por essa razão, o valor monetário atribuído ao

estoque é maior se comparado ao sistema de custeio variável.

c) Pela mesma razão, o cálculo dos lucros nesse sistema sempre será menor do que os lucros

calculados pelo custeio variável.

13.2.2 Custeio variável e ponto de equilíbrio Consiste na tipologia de custeio que considera como custo de produção de um período apenas os cus-

tos variáveis incorridos, desprezando-se os custos fixos envolvidos.

Martins (2006) sinaliza que esse método de custeio é orientado para o aspecto gerencial por per-

mitir a apuração da lucratividade de cada produto a partir dos recursos variáveis consumidos para sua

produção, não se adequando às exigências legais do fisco. Por isso, não é considerado válido como

sistema contábil no Brasil.

O método de custeio variável atém-se ao cálculo do custo unitário de produção e nos gastos que

variam a cada unidade produzida, discriminando a influência do volume de produção sobre o cálculo

do custo unitário. Outra característica do sistema consiste na separação dos custos e despesas nas cate-

gorias fixas ou variáveis, com uma lógica de funcionamento distinta do custeio por absorção. A figura 2

explica a dinâmica de funcionamento desse sistema de custeio.

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Como o sistema de custeio variável possui caráter direcionado à geração de informações para ges-

tão dos custos e para suporte da tomada de decisão, desse sistema de custeio surgiu um conceito im-

portante: o estabelecimento da associação que existe entre custos, volumes e lucros, ou seja, dos pontos

de equilíbrio e das margens de segurança (BRUNI; FAMA, 2009).

Segundo esses autores, a análise dos gastos (custos + despesas) variáveis com o estudo dos gastos

fixos torna possível estabelecer um volume de vendas necessário para cobrir todos os custos, ou seja,

permite ao gestor conhecer o volume de vendas abaixo do qual a empresa terá prejuízo e acima do qual

a empresa obterá lucro. Evidentemente, quanto mais próximo do ponto de equilíbrio a empresa estiver

operando, maior será o risco por ela enfrentado.

Para elaboração deste trabalho foram utilizados os conceitos de ponto de equilíbrio (tabela 1).

Tabela 1: Indicadores do ponto de equilíbrio

Indicador Fórmula Interpretação

Ponto de equilíbrio contábil.PEC = gastos fixos ÷ [preço unt. –gastos variáveis unt.].

Quantidade a ser vendida para igualar receitas totais e gastos totais (lucro zero).

Ponto de equilíbrio econômico.PEE = [RCP + gastos fixos] ÷ [preço unt. – gastos variáveis unt.].

Quantidade a ser vendida para obter o lucro zero, considerando a remunera-ção do capital próprio (PL).

Ponto de equilíbrio financeiro.PEF = [gastos fixos – GF não de-sembolsáveis] ÷ [preço unt. –gastos variáveis unt.].

Quantidade a ser vendida, para obter o lucro zero, desconsiderando os gastos fixos não desembolsáveis.

Fonte: adaptado de Bruni e Famá (2009).

Figura 2: Lógica de funcionamento do custeio variável. Fonte: adaptado de Leone (2000).

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184 COLETÂNEA BITEC 20082010

Uma vez apresentada a base conceitual para construção do sistema de custeio elaborado neste

trabalho, passa-se agora para exposição da metodologia aplicada.

13.3 MetodologiaO trabalho desenvolvido com apoio do Programa de Iniciação Científica e Tecnológica para Micro e Pe-

quenas Empresas (BITEC) do Instituto Euvaldo Lodi (IEL)/2009 consistiu na construção de um estudo de

casos que objetivou solucionar um problema de gestão apontado em uma pequena empresa familiar

localizada na capital do estado do Pará.

O método utilizado para construção deste estudo de casos foi o dedutivo-indutivo, o qual traz uma

abordagem e levanta suposições por meio da observação estruturada, chegando-se a uma conclusão

técnica, a ser testada por meio do método dedutivo (RICHARDSON, 2008).

13.3.1 Etapas do projetoO trabalho foi iniciado pela realização de um diagnóstico do grau de padronização do sistema produtivo

bem como foi feita uma análise preliminar da competitividade dela no mercado. Essas informações fo-

ram necessárias tanto para construção de um estudo de caso quanto para escolha do sistema de custeio

mais adequado à realidade da organização.

A seguir, é apresentada a sequência dos procedimentos adotados para o desenvolvimento deste estudo.

a) Levantamento bibliográfico e escolha da metodologia de trabalho

O bolsista e o professor orientador definiram o sistema de trabalho, planejaram a pesquisa

e estabeleceram o cronograma, no qual foram incluídos os prospectos dos resultados es-

perados.

O discente então iniciou o trabalho de levantamento bibliográfico de suporte tanto dos instru-

mentos de coleta quanto da construção do sistema de custeio mais apropriado à realidade da

empresa.

b) Análise do ambiente da empresa

Por meio da análise documental e da entrevista estruturada, foi realizada uma análise dos am-

bientes interno e externo da empresa, considerando os seguintes fatores.

– fatores externos: fatores econômicos, fatores políticos, tecnológicos e legais, estudo da ca-

deia logística da empresa;

– fatores internos: infraestrutura, fluxo do processo, layout.

Para análise dos fatores externos, foi realizada a análise documental do material levantado durante

a fase de pesquisa bibliográfica, bem como foi realizada uma entrevista estruturada com os gestores da

empresa assessorada por um roteiro.

Para análise dos fatores internos, foi utilizada a carta de processo para mapear as operações do

processo produtivo, além de ferramentas CAD para construção do layout.

c) Levantamento de requisitos para construção do Sistema de Custos

Com base no mapeamento do processo produtivo, foram levantados dados de consumo tanto

da planta industrial quanto do setor administrativo da empresa. Além disso, foram levantados

dados referentes ao faturamento da empresa no segundo semestre de 2009.

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9ª EDIÇÃO 185

O instrumento de coleta utilizado nessa fase foram planilhas e check-lists preenchidas com o

acompanhamento dos gestores da empresa e do departamento de contabilidade.

d) Construção do Sistema de Custos

A construção do Sistema de Custeio por variável e do Sistema de Custeio por absorção foi

realizada ao longo de três meses, por meio do uso de planilhas eletrônicas automatizadas,

que contaram com uma interface intuitiva e de fácil utilização. Foram definidos critérios de

rateio para custos indiretos de fabricação, assim como bases de alocação para custos indiretos.

As despesas foram alocadas de forma proporcional ao faturamento dos produtos.

e) Apresentação de resultados

A apresentação de resultados ocorreu por meio da geração tanto da planilha eletrônica, que

contempla toda a quantificação dos custos variáveis, dos custos fixos, despesas e do ponto de

equilíbrio, quanto da elaboração de um Manual de Utilização.

13.4 Estudo de casos: construção do Sistema de Custeio em uma pequena empresa produtora de vassouras

13.4.1 Caracterização da empresaA empresa tem 38 anos no mercado e trabalha com 40 tipos de produtos, cresce com grandes

dificuldades e pouco tem se modernizado ou buscado um embasamento científico para sua evolu-

ção, assim tem sofrido com problemas de demanda reprimida e estoque. O mercado de vassouras

também tem crescido nos últimos tempos – segundo entrevistas com o dono da fábrica – prin-

cipalmente no interior do estado, onde as cidades desenvolvem-se cada vez mais. Isso se deve à

grande expansão atual do mercado que com o aumento da integração do estado tende a alcançar

localidades mais distantes.

Outro fator importante é que vassouras são itens que estão sempre nas prateleiras dos varejistas e

que o varejo está presente em todas as localidades, diminuindo assim a necessidade de armar uma rede

de distribuição própria. Os fatores supracitados como crescimento e baixa modernização geraram um

desequilíbrio que causam uma série de complicações para as pequenas empresas, como a participan-

te deste projeto que começam a perder o controle por causa do gerenciamento pouco especializado,

sendo assim um trabalho de gerenciamento de custos é de fundamental importância para se ter noção

dos custos reais inclusos no produto, bem como das noções de demanda para boa saúde financeira da

empresa. O levantamento de custos e o cálculo do ponto de equilíbrio geram bem essas informações e

são base relevante para tomada de decisão.

Entre os resultados iniciais, temos uma análise de ambiente, caracterizando a empresa para o en-

tendimento da atuação dela no mercado para correta escolha de uma método de custeio, condizente

com o tipo de produto comercializado, com o fornecedor e com a demanda.

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13.4.1.1 Análise de ambiente

a) Fatores econômicos

As indústrias de vassouras possuem um vasto mercado consumidor, uma vez que todas as pessoas, in-

dependentemente de classe social, necessitam consumir esse tipo de produto, consumo que não se res-

tringe apenas à residências, as empresas e as indústrias também realizam a compra desse bem e, muitas

vezes, em grande escala. Além da grande necessidade por vassouras, outro fator que atrai consumidores

é o preço que, em média, é considerável acessível a qualquer seguimento do mercado. A empresa em

questão vende seus produtos tanto a grandes revendedores, como os supermercados, quanto para pe-

quenos comerciantes na Região Metropolitana de Belém.

b) Fatores políticos, legais e tecnológicos

Observando esse mercado, percebe-se que fatores políticos e legais são bem influentes, haja vista que

a matéria-prima utilizada é de origem vegetal – madeira e piaçava – e, atualmente, o mundo inteiro

vive grande preocupação com o ambiente, ou seja, recomenda-se atenção ao comprar essas matérias-

primas. Por fim, fatores tecnológicos podem ser grande diferencial, uma vez que o setor pouco tem se

preocupado com esse aspecto e trabalha de maneira rústica.

A empresa em questão trabalha com um processo produtivo parcialmente mecanizado, com baixa

tecnologia. Fator esse que não se difere muito das demais empresas na região. Entretanto, a alta admi-

nistração sinalizou interesse em modernizar seu sistema produtivo e busca frequentemente assessoria

técnica de agências como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) do Pará

e demonstrou-se receptiva no estabelecimento do relacionamento universidade–empresa, a exemplo

da participação do Programa BITEC/IEL.

c) Concorrência

O panorama geral desse setor no mercado local é marcado por grande concorrência, inúmeras indústrias

de vassouras espalhadas pela cidade, porém, todas trabalham de maneira rústica, utilizando maquinário

antigo e muitas ainda não alcançaram um elevado grau de qualidade de vida no trabalho, apresentando

problemas nas condições de trabalho nos quais seus operários estão inseridos e com modesta base cien-

tífica para programar sua produção. Algumas não possuem um plano de divulgação e de propagandas

e trabalham sem um controle formal de qualidade. Outras não possuem qualquer sistema de gestão

ambiental e nem tratam seus resíduos, não procuram verificar se seus fornecedores tem uma política de

produção baseada em um manejo sustentável.

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9ª EDIÇÃO 187

d) Análise de oportunidades e ameaças

Quadro 1: Análise resumida de oportunidades e ameaças

Fatores externos

Oportunidades Ameaças

Grande mercado consumidor. Colaboradores com baixa qualificação.

Produto de grande necessidade para todas as classes sociais. Alto volume de concorrentes.

Concorrência pouco estruturada e rudimentar.

Poucos fornecedores de matéria-prima, com poder de barganha sobre o preço dos materiais que vendem.

Produto de baixo custo de produção

Requer baixo investimento inicial para abertura do negócio.

13.4.1.2 LayoutCom o intuito de avaliar a possibilidade do estabelecimento de um sistema de custeio departamentali-

zado, capaz de gerar indicadores de eficiência dos centros de custos envolvidos na transformação de matéria-

prima foi realizado um mapeamento de processo. Por isso, construiu-se um esquema gráfico da planta, ante-

riormente inexistente que permitisse uma análise de viabilidade de implantação desse sistema.

O layout foi elaborado, portanto, com o intuito de averiguar o comportamento interno da empresa,

bem como o arranjo físico em si, perdas de processo e os custo de processo com mais facilidade. Mas,

por causa de o grau de padronização do fluxo de processo não gerar um sistema de custos, a ideia da

departamentalização foi descartada, dando lugar à proposta de construção de uma sistema de custeio

variável. Os resultados são exibidos a seguir

Figura 3: Layout da planta industrial

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188 COLETÂNEA BITEC 20082010

13.4.1.3 Cadeia de suprimentos

A análise da cadeia de suprimentos da empresa possui relevância para estudo do custeio por permitir

identificar as origens e os destino dos materiais adquiridos, bem como o estudo do ciclo de reposição

do estoque de produtos importados de outros estados, tornou possível a obtenção de critérios para

estabelecimento de uma política de gestão de estoques de matéria-prima. A figura 4 apresenta resumi-

damente a cadeia de suprimentos da empresa.

Figura 4: Cadeia de suprimentos da empresa

13.4.2 Mapeamento de processoÉ evidente a importância do mapeamento de processo para construção do sistema de custeio de uma

empresa: essa técnica permite ao gerente de produção não somente visualizar graficamente o fluxo de

materiais e de operações do processo produtivo, mas também mapear quais as operações que mais

geram custos, além de identificar possíveis desperdícios gerados ao longo do processo.

Outro indicativo importante que pode ser observado por meio dessa técnica é o grau de padro-

nização do processo produtivo, facilmente observado pelos tempos de espera, volumes de estoque in-

termediários, movimentação de materiais na planta e sequência lógica das operações de transformação

componentes.

Os produtos escolhidos para mapeamento do processo foram a vassoura de 14 furos, vassoura de

chapa de ferro e vassoura de chapa de plástico. Cada produto é composto três processos simultâneos, o

subprocesso do cepo, o subprocesso da piaçava e o subprocesso do cabo, que quando somados resul-

tam na vassoura como um todo. O subprocesso com o cabo é igual para todos logo será descrito apenas

uma vez. O conhecimento dos processos e dos subprocessos são de fundamental importância, pois é

durante eles que grande parte dos custos são e podem ser vistos de forma mais clara, como mão de obra

e matéria-prima. Após esta etapa foi construído o fluxo de cada subprocesso, como exemplo ilustrativo

expõem-se a seguir os resultados gerados para o subprocesso de fabricação do cabo.

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Quadro 2: Exemplo de mapeamento de processo

Símbolo da operação Dist. (m) Descrição do processo

8,00 Transportar cabo até a apontadeira.

– Apontar cabo .

– Verificar cabo.

4,00 Transportar cabo para mesa da ponteira.

– Colocar ponteira.

– Verificar cabo.

– Armazenar cabos.

– Amarrar cabos em dúzias.

10,00 Transportar cabos para expedição.

Legenda dos símbolos:

O fluxograma do processo de montagem das vassouras a exemplo dos 14 furos é exibido a seguir.

Ele foi realizado para cada produto.

Operação (produz ou realiza) Transporte (movimenta) Inspeção (verifica) Armazenamento (retém) Espera (atraso ou necessidade)

Figura 5: Fluxograma com a visão geral de um processo

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190 COLETÂNEA BITEC 20082010

13.4.3 Construção do Sistema de CusteioCom os dados que foram fornecidos pela empresa e com as informações levantadas pela observação

do fluxo do processo produtivo, pôde-se identificar os custos reais gerados nesse sistema produtivo. Um

dado interessante é que esses custos e despesas já eram de conhecimento dos gestores, porém, embora

a empresa possuísse um sistema contábil em conformidade com as normas do fisco brasileiro; antes

da realização deste estudo não havia qualquer dispositivo de controle ou de alocamento para preço de

venda do produto desses custos industriais levantados; por exemplo os gastos com gasolina, outros que

só tomou conhecimento após o trabalho, assim como os custos com manutenção dos estoques.

Uma grande dificuldade encontrada na padronização dos processos é não identificar alguns cus-

tos, mas uma intensa análise dos processos e dos documental permitiu a construção do sistema com

eficácia. A seguir são expostos os gastos que apresentavam rastreabilidade e materialidade, classificados

conforme a estrutura do custeio variável, que também se adéqua com o devido tratamento ao método

de custeio por absorção.

Quadro 3: Itens de controle do Sistema de Custeamento

Custos logísticos

Custos com manutenção de equipamentos

1. Quebras. Custo gerado a partir de algum reparo no veículo.

2. Reposição de peças. Caso necessário à troca de peça – o valor deve ser indicado.

3. Manutenção (revisão periódica). Em cada revisão que o veículo precise passar, seu valor deve ser indicado.

4. Gasolina. Gastos com reposição de combustível.

5. Seguro. Valor e renovação do seguro do carro.

6. Licenças. Licenciamento básico cobrado pelos órgãos de trânsito.

7. Impostos de veículos. Impostos básicos como IPVA e multas cobradas pelos órgãos de trânsito.

8. CNH. Renovação da habilitação dos motoristas.

9.  Custos com frete. Fretes pagos tanto de matéria-prima quanto de produto acabado.

Custos com estoque

10. Custo estoque de matéria-prima.Pode ser dado a partir do custo de oportunidade do valor de matéria-prima estocada.

11. Custo de estoque do produto acabado.

Pode ser dado a partir do custo de oportunidade do valor de produto acabado estocado.

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9ª EDIÇÃO 191

Quadro 3: Itens de controle do Sistema de Custeamento

Custos gerados na fábrica

12. Custos com manutenção dos equi-pamentos.

Gastos com reparos e trocas de peças nos equipamentos.

13. Custos manutenção geral (limpeza, troca de peça).

Gastos com a limpeza do ambiente e com a compra de produtos de limpeza.

14. Depreciação dos equipamentos.Gatos relativos ao custo do equipamento e diminuição do seu valor, do tempo e da ascensão de novas tecnologias.

16. Água. Conta da concessionária de água (Cosanpa).

17. Energia. Conta da concessionária de energia (Celpa).

18.     Impostos (IPTU etc.). Impostos prediais e territoriais pagos ao estado.

19. Gastos com compra matéria-prima. Custo de aquisição de matéria-prima.

20. Gastos com mão de obra (EPI etc.). Gasto com compra de equipamentos e ferramentas para produção.

21. Custos com depreciação do prédio. Custo gerado a partir do desgaste do imóvel com o passar do tempo

22. Embalagem rótulo. Custo de embalagens e rótulos.

23. Aluguel da fábrica. Custo do aluguel da fábrica.

24. Materiais diversos (lixas, pregos parafusos).

Gastos com produtos que necessitam ser usados para produção de qualquer outra forma.

25. Mão de obra. Gastos com pagamento de pessoal.

26. Custos com compra de produto acabado

Custo da compra de produto acabado.

Despesas da administração

27. Gastos operacionais (telefone). Conta da concessionária de telefonia.

28. Manutenção e materiais diversos (papel, cartuchos).

Gastos com produtos que necessitam ser usados de qualquer outra forma.

29. Gastos com contadores e outros. Custo de serviços terceirizados da empresa.

30. Gastos com cartório. Gastos gerados com o uso do serviço do cartório.

31. Gastos com correios. Gastos gerados com o uso do serviço do correio.

32. Treinamento. Gastos com treinamento dos funcionários com graduações e especializações.

33. Salário (pró-labore). Salário ou remuneração dada à administração.

Despesas com marketing

35. Gastos com propaganda. Gastos com propaganda em lista telefônica ou sites.

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192 COLETÂNEA BITEC 20082010

Vale ressaltar que os itens de controle do custo levantados adéquam-se à realidade atual da empre-

sa e não possuem natureza estática. Ou seja, indica-se a necessidade de constante atualização deles à

medida que o processo produtivo for evoluindo e o marketshare da empresa alterar-se. A figura 6 ilustra

a interface do conjunto de planilhas geradas nesse projeto. Cada botão dá ao usuário acesso a uma

planilha de controle específica.

Figura 6: Tela inicial do Sistema de Custeio

Outra informação importante gerada por meio deste trabalho foi relatório o Demonstração do Re-

sultado do Exercício (DRE), pelo qual é possível avaliar entre outros indicadores a lucratividade obtida de

determinado período. Essa foi a principal razão da construção do Sistema Híbrido. A DRE ainda é imbuída

de alguns dados que necessitaram de uma análise documental mais profunda, que são os dados de ven-

da e impostos, embora a empresa participante tenha sido transparente na cessão dessas informações, os

dados informados não foram suficientes para concluir essa etapa do trabalho.

Foi desenvolvido ainda um dispositivo automático para o cálculo dos pontos de equilíbrio, bastan-

do que fosse devidamente alimentada a planilha eletrônica de custeio variável.

13.4.4 Resultados geradosDevido ao grande volume e à variabilidade dos dados a serem inseridos nos cálculos, uma planilha foi

construída para atender a realidade da empresa e da sua necessidade. A grande vantagem de se usar

planilhas eletrônicas para esse fim é que elas são facilmente moldáveis à necessidade de uma empresa

e à realidade na qual ela está inserida, tanto no que diz respeito aos tipos de produtos comercializados,

quanto ao tipo de custos da empresa, entre outros. Os principais itens que constam da planilha e breve

explanação sobre sua utilidade são apresentados a seguir.

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9ª EDIÇÃO 193

a) Planilha custos

Essa é um dos itens mais importantes do trabalho, nela estão listados todos os custos da empresa, bem

como gráficos que mostram a influência de cada mês nos custos da empresa. A figura 7 permite a visu-

alização do resultado gerado.

Figura 7: Vista da planilha de custos

Os outros itens da planilha não serão exibidos por serem numerosos e mais difíceis de visualizar

sem o recurso Full Screen, porém suas funções serão descritas no quadro a seguir.

Quadro 4: Descrição das demais planilhas

Item Descrição

Planilha de vendas

A planilha vendas é uma das mais importantes e uma das mais úteis, pois nela são inseridos dados de vendas diárias da empresa, dados esses necessários para cálculos e importantíssimo para vários controles que a empresa pode ter como de clientes entre outros.

Planilha de tabela de produção

Mostra os dados de quantidade produzida, considerando a característica de produção puxada da empresa, dados esses necessários para alguns cálculos.Para correta utilização da planilha um manual detalhado foi elaborado para mostrar as possibilidades de sua utilização.

13.5 ConclusãoO trabalho promoveu um incremento no aprendizado do bolsista sobre a realidade das empresas e as

dificuldades que elas enfrentam no que diz respeito à gestão de finanças e à gestão de custos.

Quanto à empresa, pode-se inferir que os dispositivos de controle foram transferidos com sucesso

por meio do treinamento ministrado aos seus gestores. Entretanto, vale ressaltar que apesar do escopo

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194 COLETÂNEA BITEC 20082010

abrangente do projeto pode-se apontar como limitação da pesquisa o fato de o sistema ainda não

contemplar um sistema de formação de preços para os produtos – item importante de gestão. Todavia,

sinaliza-se que sistema é aberto e flexível, permitindo a inclusão de novas funções, a exemplo da men-

cionada anteriormente.

Grande parte das dificuldades enfrentadas no trabalho – tais como: levantamento de informações

contábeis ou técnicas consistentes – pôde ser resolvida em entrevista aos empresários. O trabalho su-

perou as expectativas iniciais dos objetivos primários e acabou atingindo resultados mais expressivos,

por exemplo, uma planilha de vendas que permite à empresa um controle de diversos itens que são

imprescindíveis para o bom funcionamento dela.

Certamente, uma melhor interação entre o meio acadêmico e o setor privado pode atenuar défi-

cits de competitividade no meio empresarial, assim como para os discentes participantes, o ganho em

experiência na resolução de problemas práticos é, sem dúvidas, inestimável.

Referências

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2002.

BRUNI, A. L.; FAMÁ, R. Gestão de custo e formação de preço: com aplicação na calculadora HP12C e Excel.

São Paulo: Atlas, 2009.

CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DO ESTADO DE SÃO PAULO (CRC-SP). Disponível em:

<http://www.crcsp.org.br/>. Acesso em: jan 2010.

LEONE, George Sebastião Guerra. Custos planejamento implantação e controle. São Paulo: Atlas, 2000.

MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MOREIRA, D. et al. Análise da capacidade produtiva em uma microempresa produtora de vassoura de piaçava

através de um estudo de tempo e movimentos. In: XXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO,

2008, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ENEGEP, 2008.

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ROCHA, W. Custeio baseado em atividades: mitos falácias e possíveis verdades. Revista Brasileira de Contabi-

lidade, Brasília, n. 91, p. 16-23, 1995.

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 2008.

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14 IEL/PE DESENVOLVIMENTO DE PROBIÓTICOS GELEIFICADOS A PARTIR DO KEFIR BIOLOGICUS

Bolsista: Enésia Eloyna da Costa Benízio – UFPE

Professora orientadora: Edleide Maria Freitas Pires – UFPE

Coautor: Djalma Nunes Marques

Coautor: Luciano Avallone Bueno

Coautor: Maria de Fátima Fonseca Marques

14.1 IntroduçãoNas últimas décadas inúmeras pesquisas científicas têm sido desenvolvidas visando ao entendimento e

à prevenção de doenças, especialmente as degenerativas, além da busca pela comprovação da impor-

tância de uma adequada alimentação para manutenção da saúde (LAZZAROTTO, 2007). Seguindo uma

tendência mundial, surge um novo conceito de alimentos na nutrição que não apenas contribuem para

saciar a fome e fornecer energia ao organismo, mas devem, ao mesmo tempo, contribuir para melhora

da saúde. Referimo-nos aos alimentos funcionais, cuja composição inclui substâncias capazes de re-

duzir os riscos de o corpo sofrer danos por alterações de suas funções. Portanto, tais alimentos, além de

fornecer a nutrição básica ao organismo, promovem, igualmente, a saúde.

O trato gastrintestinal humano é um microecossistema cinético que possibilita o desempenho nor-

mal das funções fisiológicas do hospedeiro. Para manter uma flora equilibrada, é essencial a ingestão

sistemática de probióticos e prebióticos. Esse conhecimento fez que o conceito de alimentos funcio-

nais passasse a concentrar-se de maneira intensiva nos aditivos alimentares que podem exercer efeito

benéfico sobre a composição da microbiota intestinal (ZIEMER, GIBSON, 1998). Assim, atualmente, os

probióticos são uma grande parte de aditivos que compõem os alimentos funcionais.

Estudos científicos têm comprovado que os probióticos desempenham importante papel na

nutrição e na redução do risco de várias doenças intestinais, cardiovasculares, câncer, obesidade

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196 COLETÂNEA BITEC 20082010

e diabetes tipo 2 por meio, principalmente, do aumento do número de bifidobactérias no cólon

e fortalecimento do sistema imunológico. Há muito se sabe que a flora intestinal, rica em micro-

organismos probióticos, é de fundamental importância na manutenção da saúde humana. Assim,

entre os benefícios atribuídos aos probióticos, citam-se o antagonismo aos agentes patogênicos,

o efeito de barreira microbiana e a modulação das funções imunes. Entre as principais funções dos

probióticos destacam-se: redução da intolerância à lactose; efeito protetor de infecções; redução

do risco do câncer de cólon; melhora de constipação moderada; prevenção e tratamento de alguns

tipos de diarreia; efeitos moduladores sobre o sistema imune; tratamento de infecções do trato uri-

nário; redução da absorção de colesterol; prevenção de infecções do trato respiratório, otite média

e cáries (MARQUINA et al., 2006; AMORES et al., 2004).

A BioLogicus desenvolveu um composto de micro-organismos probióticos (denominado CMP) que

é uma mescla de grande variedade de bactérias e leveduras, capaz de fermentar vários tipos de subs-

tratos, produzindo um aumento significativo nos seus nutrientes. Dessa forma, a empresa tem utilizado

sucos de diferentes frutas para produzir um alimento funcional denominado kefir BioLogicus, um probi-

ótico não lácteo, que contém tanto micro-organismos probióticos capazes de recuperar a flora intestinal

quanto bioativos, como os ácidos orgânicos, fibras antioxidantes e oligossacarídeos. Todas esses compo-

nentes do Kefir BioLogicus, têm efeito comprovado na promoção da saúde.

Um dos objetivos da BioLogicus é diversificar o uso de probióticos em diferentes produtos para,

dessa forma, poder alcançar o maior número de pessoas nas diferentes camadas sociais. Para isso, vá-

rias  formas de apresentação dos alimentos probióticos têm sido estudadas para facilitar a viabilidade

dos micro-organismos em um tempo maior de vida de prateleira. Portanto, o presente projeto trata do

desenvolvimento de um probiótico geleificado com um foco bem delimitado: crianças em idade escolar

e, de preferência, que o produto possa ser utilizado na merenda escolar. O trabalho a ser desenvolvido

deveria associar a funcionalidade do Kefir BioLogicus ao desenvolvimento de um produto de fácil utili-

zação em forma geleificada. Os objetivos específicos do projeto foram avaliar o produto quanto às suas

características microbiológicas, sensoriais e a determinação de vida de prateleira.

O presente trabalho é apresentado em cinco partes: 1) revisão da Literatura, na qual são apresenta-

das as revisões a respeito dos alimentos funcionais, probióticos, kefir e microencapsulação; 2) relevância

do tema, com uma abordagem mundial e nacional da importância dos alimentos funcionais e probióti-

cos; 3) metodologia; 4) resultados e discussões; e 5) conclusão.

14.2 Revisão da literatura

14.2.1 Alimentos funcionaisO efeito benéfico de determinados tipos de alimentos sobre a saúde do hospedeiro é conhecido há

muito tempo. Apesar disso, o estudo desses alimentos, atualmente denominados alimentos funcionais

e de seus componentes responsáveis pelo referido efeito tornou-se intensivo apenas nos últimos anos.

Isso é o que temos observado e tem sido revisado por autores como Oliveira et al. (2002).

O termo alimentos funcionais foi primeiramente introduzido no Japão em meados dos anos 1980 e

refere-se aos alimentos processados, contendo ingredientes que auxiliam funções específicas do corpo,

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9ª EDIÇÃO 197

ademais de serem nutritivos, sendo estes alimentos definidos como “Alimentos para uso específico de

saúde” – Foods for Specified Health Use-FOSHU – em 1991 (YAMAGUCHI, 2001).

Segundo Leroy e De Vuyst (2004), os alimentos funcionais, além de compreenderem aqueles que

contêm naturalmente compostos bioativos, também são representados pelos denominados probióti-

cos, prebióticos e simbióticos. O grupo dos probióticos está incorporado de forma muito incisiva nesse

conceito de alimentos funcionais, sendo usados na prescrição rotineira em saúde e nutrição.

14.2.2 ProbióticosOs alimentos probióticos são aqueles que contêm micro-organismos com capacidade de produzir subs-

tâncias antimicrobianas, compostos aromáticos, nutracêuticos e apresentam atividade enzimática e pro-

priedades promotoras da saúde.

Esse termo foi utilizado pela primeira vez em 1965 e já passou por vários conceitos. A definição

atual de probiótico é aquela que trata de um suplemento alimentar composto de cultura pura ou com-

posta de micro-organismos vivos, com a capacidade de se instalar e proliferar no trato intestinal, com

ação de promotores de crescimento, beneficiando a saúde do hospedeiro pelo estímulo às propriedades

existentes na microflora natural. O conceito, segundo observamos na literatura, tem sido aprimorado,

embora ainda não exista uma clareza com respeito às suas propriedades, se elas decorrem somente dos

micro-organismos isoladamente, ou se procedem dos micro-organismos em uma ação conjunta com

seus bioativos.

Os primeiros estudos científicos a respeito de probióticos datam do começo deste século com o tra-

balho de Metchnikoff, do Instituto Pasteur, que postulou que os probióticos produziam efeitos benéficos

no hospedeiro, porque faziam antagonismo com bactérias patógenas no intestino. A humanidade já uti-

liza a centenas de anos alimentos probióticos, principalmente aqueles derivados do leite, como é o caso

do iogurte e do kefir, entre outros. Nos anos recentes, com maior conscientização da população para os

benefícios da saúde, trazidos pelos probióticos, tem havido uma demanda por esse tipo de alimento,

predominando no mercado variantes de leites fermentados por um ou dois tipos de micro-organismos.

No que se refere à quantidade ideal de micro-organismos para produzir o efeito probiótico, ainda

há divergências entre países. De acordo com a recomendação da International Dairy Federation (IDF),

esse índice deve ser igual ou acima de 107 UFC/g de produto (OUWEHAND; SALMINEN, 1998). Em alguns

países, como Argentina e Brasil, esse valor deve estar igual ou acima de 106 UFC/g no caso de bifidobac-

térias. Esse padrão no Japão tem sido apresentado como sendo acima de 107 UFC/g (ROBINSON, 1987).

Outras recomendações têm sido apresentadas por diferentes pesquisadores, como índice acima de 106

UFC/g para todos os probióticos presentes em iogurtes (ROBINSON, 1987; KURMAN; RASIC, 1991) e aci-

ma de 107 UFC/g no caso de bifidobactérias (HOLCOMB et al., 1991).

Além do índice MBV, há um segundo índice denominado ID (intake daily) de cada produto alimen-

tar também determinável por seu potencial ou efetividade probiótica. A quantidade mínima desse índi-

ce tem sido recomendada com aproximadamente 109 células viáveis por dia (SHAH et al., 1995; KURMAN;

RASIC, 1991; MORTAZAVIAN, 2006).

Atualmente, sabe-se que tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, Japão e Canadá, utilizam-

se os probióticos de forma sistemática, tendo ele tornado-se, nos últimos anos, um alimento de uso

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198 COLETÂNEA BITEC 20082010

cotidiano nesses países. Nesse sentido, a empresa BioLogicus tem realizado uma pesquisa criteriosa que

tem demonstrado tanto os referidos efeitos benéficos dos probióticos, quanto outros efeitos ainda não

citados na literatura.

14.2.3 Kefir BiologicusEntre os tipos de probióticos existentes, destaca-se o Kefir, nome que se dá tanto aos grãos quanto às

bebidas resultantes da fermentação. O kefir é originário do cáucaso, consistindo de uma colônia con-

tendo bactérias e leveduras, ligadas por complexa estrutura de proteínas, lipídios e carboidratos. Funda-

mentalmente há dois tipos de grãos de Kefir: 1) de leite: porque fermenta leite, produzindo uma bebida

semelhante ao iogurte; 2) de água: fermenta uma solução com água, açúcar e limão, cujo resultado é

uma bebida gaseificada refrescante. A combinação exata de bactérias e leveduras no Kefir varia depen-

dendo do tipo de grão, mas, em ambos os casos, contam com mais de 50 tipos de micro-organismos.

Por se tratar de uma colônia com diversos tipos de micro-organismos probióticos, as bebidas obtidas a

partir desses grãos também são bebidas consideradas probióticas.

A partir do estudo da cinética fermentativa dos referidos grãos, foram produzidas outras bebidas

fermentadas com substratos diversos, tais como: sucos de frutas, água de coco e extrato de soja, aos

quais se denominou Kefir BioLogicus. Vários bioativos são responsáveis pela atividade funcional e probi-

ótica do Kefir BioLogicus: os próprios micro-organismos – mortos ou vivos –, os metabólitos dos micro-

organismos formados durante a fermentação – antibióticos, incluindo os bactericidas – e os produtos

da decomposição da matriz do alimento, tais como os peptídeos (OUWEHAND; SALMINEN, 1998; FAR-

NWORTH, 2002).

14.2.4 MicroencapsulaçãoA microencapsulação é um processo com capacidade de modificar e melhorar a aparência e as

propriedades de uma substância. Nos últimos anos, a microencapsulação tem sido amplamente

estudada devido às novas necessidades que a indústria de alimentos demonstra em propriedades

cada vez mais complexas nas formulações, que muitas vezes só podem ser conferidas por meio

de tal processo (GOUIN, 2004). Perda de viabilidade dos probióticos em produtos alimentares –

especialmente os do tipo fermentado – e condições ácidas da bile do trato gastrointestinal têm

estimulado pesquisadores a encontrar novos métodos eficientes para manter a viabilidade dos

micro-organismos.

Vários artigos na literatura confirmam a eficiência da microencapsulação no aumento da viabili-

dade dos probióticos quando estes são submetidos às condições ácidas enzimáticas do trato gastroin-

testinal. Como exemplo, RAO (1989) demonstrou que a microencapsulação da B. pseudolongum com

ftalato acetato de celulose aumenta sua viabilidade nas condições que simulam o trato gastrointestinal

(GROBOILLOT et al., 1993). Experimentos de Lee e Heo (2000) mostraram que a alta sobrevivência da B.

longum microencapsulado com alginato de cálcio em condições simuladas do suco gástrico (pH = 1,5)

foi consideravelmente aumentada.

Probióticos microencapsulados com a mistura alginato–amido e tamanho de microcápsulas entre

0,5 a 1,0 mm foram consideravelmente mais viáveis em iogurte durante o período de estocagem (SUL-

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9ª EDIÇÃO 199

TANA et al., 2000). Verificou-se um aumento da viabilidade de Lactobacilos, em sorvetes lácteos, após o

microencapsulamento com alginato (tamanho de 25 a 62 m) foi apresentado (SHEU; MARSHALL, 1993).

14.2.5 GeleificaçãoA geleificação é uma propriedade funcional muito importante de algumas proteínas. Ela envolve a pre-

paração de numerosos alimentos, como produtos lácteos, clara de ovo coagulada, géis de gelatina, vá-

rios produtos cárneos, géis de proteína de soja, proteínas vegetais texturizadas por extrusão e produtos

panificados. A geleificação não é só utilizada para formar géis sólidos viscoelásticos, mas também para

melhorar a absorção da água, dos efeitos espessantes, da fixação de partículas e da estabilização de

emulsões e espumas.

14.2.5.1 Histórico

Em 1924, o químico francês Braconnot analisou batatas e percebeu a precipitação de uma substância

com adição de ácido, reconhecendo que o precipitado era uma substância básica das geleias de fruta e

nomeou-a com a palavra grega pectys, que significa geleia. Esta substância era o ácido pectínico. Após

alguns anos, foi descoberta a protopectina (substância insolúvel em água presente na parede celular das

frutas) da qual poderia ser extraída a pectina por hidrólise ácida.

14.2.5.2 Geleificação

Géis são substâncias semirrígidas e elásticas formadas por soluções coloidais ou sóis. A geleificacão da

pectina é determinada pela adição do açúcar na presença de ácidos ou pela ação de álcool ou glicerina

que atuam como desidratantes. Os grânulos de amido formam uma suspensão na água fria, mas não

se dissolvem. Quando a suspensão de amido é aquecida à sua temperatura característica, os grânulos

repentinamente de dilatam. A isso chamamos de gelatinização, sendo que no amido de milho esta

temperatura é de 64º C a 72° C. 

Existem vários geleificantes, além da pectina e do amido, entre os quais se destacam:

• Lecitina: a lecitina é um fosfolipídeo extraído do óleo de soja e da gema do ovo, um emul-

sificante tipo óleo em água, utilizado em biscoitos e maionese, que hidrolisa os grupos ésteres

de gliceroproteínas.

• Goma carragena: extraídas de algas (Chondrus crispus), são uma mescla de cinco polímeros sulfata-

dos. As propriedades dependem dos cátions desses polímeros. Se o cátion for o potássio, formam-se

géis firmes e, se for o sódio, não se forma gel. Este gel estabiliza-se em um pH de 5,0 a 7,0.

• Alginatos: os alginatos são extraídos de algas marrons da classe feofíceas. É muito solúvel em

água e forma soluções viscosas com propriedades que dependem do peso molecular, dos

componentes e dos íons que constituem o alginato. A viscosidade da solução diminui com o

aumento da temperatura, forma gel estável no pH de 5,0 a 10,0. O cálcio também estabiliza o

gel. É utilizado em cerveja para estabilizar a espuma, entre outros.

• Ágar: é extraído das algas vermelhas, de polímeros formados por cadeias lineares, em que se

alternam galactoses e 3,6 anidrogalactoses. O ágar é um geleificante em pastelaria e alguns

produtos lácteos.

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200 COLETÂNEA BITEC 20082010

• Xantana: é sintetizada por meio da fermentação aeróbica pela bactéria Xantomonas campestris

no cultivo em glicose, sendo insolúvel em solventes orgânicos e extraído por precipitação em

álcool isopropílico. Sua utilização em eletrólitos aumenta a viscosidade com pouca variação

com a temperatura, caráter pseudoplástico.

• Pectina: a pectina purificada foi primeiramente extraída do bagaço de maçãs e mais tarde das

frutas cítricas – extração mais comum atualmente. Sua qualidade está associadas à capacidade

de reter açúcar.

14.3 Relevância do projetoO Programa de Iniciação Científica e Tecnológica para Micro e Pequenas Empresas (BITEC) objetiva pro-

mover estágio de estudantes dentro das empresas privadas com a finalidade não apenas de permitir a

aplicação dos conhecimentos por parte dos estudantes, mas também ajudar as empresas no sentido de

suprir alguma carência ou a atingir algum objetivo específico. No caso da BioLogicus, a necessidade da

empresa era diversificar o uso de probióticos em diferentes produtos para, dessa forma, poder alcançar

o maior número de pessoas nas diferentes camadas sociais. O probiótico geleificado tinha um foco bem

delimitado pela empresa: crianças em idade escolar e, de preferência, que o produto pudesse ser utili-

zado na merenda escolar. 

O mercado mundial dos alimentos funcionais gera 30 bilhões de dólares e tem crescimento

de 5% ao ano. A utilização de micro-organismos com propriedades funcionais nos alimentos pode

contribuir com a segurança alimentar, por meio da produção de metabólitos, como as bacterioci-

nas e a produção de ácidos como o lático, que baixa o pH do meio desfavorecendo o crescimento

de patogênicos (LEROY; DE VUYST, 2004). Ressalta-se a importância dos alimentos funcionais no

aumento da expectativa de vida da população, uma vez que o crescente aparecimento de doen-

ças crônicas, tais como a obesidade, a aterosclerose, a hipertensão, a osteoporose, o diabetes e o

câncer, têm ocasionado uma preocupação maior, por parte da população e dos órgãos públicos da

saúde, com a alimentação.

A fermentação probiótica oferece vantagens sensoriais como produção de exopolissacarídeos e de

enzimas proteolíticas e lipolíticas, que modificam a textura do alimento, e produção de aromas como o

acetaldeído (LEROY; DE VUYST, 2004).

Existem também vantagens tecnológicas no uso desses micro-organismos, pois é possível prevenir

a pós-acidificação e proporcionar proteólises desejadas e vantagens nutricionais como a diminuição

dos teores de compostos tóxicos ou antinutricionais, por exemplo a remoção de aminas biogênicas, de

lactose de ácido fítico (LEROY; DE VUYST, 2004).

A inovação na indústria de alimentos já necessita, sem dúvida alguma, da mudança de foco da

observação das propriedades macroscópicas para aquelas que surgem na meso e na nanoescala, com

o subsequente controle das estruturas hierárquicas nos alimentos e na sua funcionalidade. Por esse

motivo, são cada vez mais imprescindíveis os estudos sobre as relações entre as estruturas nano e su-

pramoleculares, bem como da funcionalidade nos níveis físico, nutricional e fisiológico (SANGUANSRI;

AUGUSTIN, 2006).

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9ª EDIÇÃO 201

14.4 Geleificados probióticos

14.4.1 Metodologia

14.4.1.1 Materiais

• Culturas probióticas microencapsuladas, prontas para uso direto, produzidas pela BioLogicus®.

• Kefir BioLogicus®.

• Sucos comerciais concentrados (Natusuco).

• Geleificantes de diversos tipos.

• Açúcar demerara.

• Ácido cítrico.

14.4.1.2 Métodos

Foram realizados diversos testes para seleção do melhor geleificante e obtenção do produto final. Um

total de 35 testes foram realizados no período de seis meses.

Os produtos foram formulados com sucos naturais de frutas e Kefir BioLogicus, adicionados de

açúcar orgânico e de CMPs (composto de micro-organismos probióticos). Depois de homogeneizados,

os produtos foram acondicionados e armazenados à temperatura ambiente e em refrigeração.

Para caracterização dos produtos finais, foram realizadas análises microbiológicas, que contou com

a parceria do Laboratório de Experimentação e Análise de Alimentos (LEAAL) do Departamento de Nu-

trição da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). As metodologias utilizadas foram APHA (2001)

para contagem de bactérias lácticas e AOAC (2002) para bolores e leveduras.

O procedimento metodológico para análise de bactérias lácticas baseou-se na inoculação da

amostra em meio de cultura seletivo, incubação à temperatura de 30,0º C ± 1,0º C e condições de

microaerofilia, exigência dos micro-organismos lácticos que requerem ausência de oxigênio para

se desenvolver. Subdividem-se em dois grupos: as bactérias homofermentativas (colônias verme-

lhas sem presença de gás) e heterofermentativas (colônias vermelhas com presença de gás). Para

análise de bolores e leveduras foram enumeradas unidades formadoras de colônias de bolores e

leveduras desenvolvidas em placas Petrifilm, contendo meio de cultura seletivo e diferencial, a

temperatura de 25º C ± 1º C.

Após formulação do produto, foram realizadas as análises de vida de prateleira, por meio de preen-

chimento de ficha sensorial, constando dos seguintes atributos: aparência, aroma, consistência, sabor da

fruta, sabor residual, sabor ácido e sensação para os CMPs (anexo 1). As fichas foram preenchidas por dez

provadores não treinados a cada sete dias durante um período de 45 dias no Laboratório de Probióticos

e Fitoterápicos (LPF) da BioLogicus®. O provador recebia três amostras, em diferentes concentrações, e

preenchia os atributos, de acordo com as características do produto. As análises foram realizadas no

tempo inicial, após uma semana, 2 semanas, 1 mês e 45 dias.

Com objetivo de avaliar a aceitação dos probióticos geleificados Biologicus® foram realizadas duas

análises sensoriais com grupos diferentes.

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202 COLETÂNEA BITEC 20082010

Na primeira análise, foram selecionadas 21 crianças com faixa etária de 2 a 12 anos. Cada criança

recebia uma média de 15 g de probiótico geleificado Biologicus® e preenchia a ficha sensorial, repre-

sentada por escala hedônica facial de 9 pontos (anexo 2). Em que o ponto 1 correspondia a “desgostei

extremamente” e o ponto 9 a “gostei extremamente”.

Na segunda análise, com o principal objetivo de testar o produto também entre os adultos, foram

selecionados, aleatoriamente, 40 adultos com faixa etária entre 20 e 80 anos. Cada adulto recebia uma

amostra de 20 g do produto e preenchia a ficha sensorial representada por escala hedônica de 5 pontos

(Anexo 3), em que o ponto 1 correspondia a ruim” e o ponto 5 a “excelente”. Após coletados, os dados

foram interpretados no Programa Microsoft Office Excel 2007.

14.5 RESULTADOS

14.5.1 Acompanhamento de viabilidade celularA análise de bactérias lácticas totais resultou em contagem de 2 x 107 UFC/g ou 2 x 109 UFC/100g, o que

caracterizou o geleificado BioLogicus® como produto probiótico que excede o que é preconizado pela

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que regulamenta uma quantidade mínima viável para

os probióticos na faixa de) 108 a 109 unidades formadoras de colônias (UFC) para cada 100 g do produto.

14.5.2 Vida de prateleira e análise sensorialO estudo da vida de prateleira do produto, após análise de vida de prateleira, resultou em um prazo de

45 dias.

Os resultados obtidos para análises sensoriais estão descritos nas tabelas 1 e 2. No primeiro grupo,

a aceitação máxima foi de 60% e no segundo grupo de 55%.

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9ª EDIÇÃO 203

Tabela 1: Resultados da aceitação com crianças

Análise sensorial

Faixa etária 2 – 12 anos

SexoF 14

M 7

Notas Meninas Meninos Total

1 0% 0% 0%

2 0% 0% 0%

3 0% 0% 0%

4 0% 0% 0%

5 0% 0% 0%

6 0% 0% 0%

7 21% 14% 18%

8 21% 28% 23%

9 59% 58% 60%

Com relação à aceitação por parte dos adultos, a escala hedônica de 5 pontos obteve resultados

entre bom e excelente.

Tabela 2: Aceitação com adultos

Análise sensorial

Faixa etária 20 - 80 anos

SexoF 22

M 18

Notas Homens Mulheres Total

1 0% 0% 0%

2 0% 0% 0%

3 17% 14% 15%

4 44% 18% 30%

5 39% 68% 55%

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204 COLETÂNEA BITEC 20082010

14.6 ConclusãoO produto final apresenta um número de células viáveis acima do preconizado pela legislação vigente

constituindo-se, portanto, em um alimento funcional probiótico.

O produto final não necessita de modificações físicoquímicas para ser aceito sensorialmente.

O produto final pode ser armazenado sob refrigeração por um período de 45 dias, o que o torna

comercialmente viável.

A aceitação máxima de 50% e 55% para crianças e adultos, respectivamente, permite inferir que ele

terá grande impacto no mercado de probióticos.

O projeto mostrou-se eficaz para auxiliar nos objetivos da empresa que é a disponibilização de

probióticos em variados produtos, especialmente aqueles destinados à merenda escolar.

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9ª EDIÇÃO 207

ANEXO A FICHA SENSORIAL PARA AVALIAÇÃO DA VIDA DE PRATELEIRA

Avaliador: _________________________________________ Data: ________

Codificação: probiótico geleificado Biologicus® 1

Atributos Comentários

Aparência

Aroma

Consistência

Sabor característico da Fruta

Sabor residual

Sabor adstringente

Sabor ácido

Sensação para os MIPs

Codificação: probiótico geleificado Biologicus® 2

Atributos Comentários

Aparência

Aroma

Consistência

Sabor característico da fruta

Sabor residual

Sabor adstringente

Sabor ácido

Sensação para os MIPs

Codificação: probiótico geleificado Biologicus® 3

Atributos Comentários

Aparência

Aroma

Consistência

Sabor característico da fruta

Sabor residual

Sabor adstringente

Sabor ácido

Sensação para os CMPs

Conclusões: _________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

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208 COLETÂNEA BITEC 20082010

ANEXO B FICHA SENSORIAL DE ACEITAÇÃO PARA CRIANÇASNome: _________________________ _________________Menina Menino

Idade: ______anos

Você está provando um probiótico peleificado Biologicus®. Faça um X no quadrado abaixo do rostinho

que melhor representa o que achou do produto.

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9ª EDIÇÃO 209

ANEXO C FICHA SENSORIAL DE ACEITAÇÃO PARA ADULTOS

Sexo: (F) ____ (M) ____ Idade: ___________

Você está provando um probiótico geleificado Biologicus®. Avalie o quanto gostou no quadrado abaixo.

Ruim Razoável Bom Muito bom Excelente

Comentários: ________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

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9ª EDIÇÃO 211

15 IEL/PB CONSCIÊNCIA AMBIENTAL E RESPONSABILIDADE SOCIAL NO RESTAURANTE TÁBUA CARNEJP

Bolsista: Heven Stuart Neves da Silva – UFPB

Professora orientadora: Ana Gloria Cornélio Madruga – UFPB

Coautor: Lívia Farias Dantas

15.1 IntroduçãoO mundo atravessa uma fase de profundas transformações, com mudanças substanciais no panorama

social, político e econômico. Com isso, os países têm buscado junto à comunidade empresarial interna o

fortalecimento de suas economias. Esse novo cenário comercial mundial tem conduzido as empresas a

voltar sua atenção para novas questões.

A partir do início da década de 1980, começou a ficar evidente que as crescentes exigências do

mercado, além dos aspectos de custo e qualidade, estariam aliadas a maior consciência ecológica. Nesse

contexto, o “meio ambiente” adquire nova dimensão: passa de uma conotação essencialmente local

para uma concepção global. O mercado passou a exigir que os produtos e serviços tragam consigo o

comprometimento das empresas em atender aos padrões das normas internacionais de qualidade, sus-

tentabilidade ambiental, proteção à integridade física e saúde de seus trabalhadores.

Essas novas exigências trouxeram uma nova abordagem no mercado que visa a melhorar o processo

produtivo, viabilizando a redução dos impactos ambientais. Provocados por produtos e serviços das

empresas. A década de 1990 caracterizou-se pelo desenvolvimento da chamada Gestão Ambiental.

A Gestão Ambiental visa ao atendimento a requisitos ambientais em que as empresas passam a

ter uma atitude mais proativa com o meio ambiente por meio da adoção de medidas corretivas

e preventivas no sentido de reduzir os impactos ambientais decorrentes das atividades da empresa

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212 COLETÂNEA BITEC 20082010

de forma economicamente viável, utilizando uma abordagem prevencionista, dentro do princípio de

melhoria contínua.

Assim a preocupação com os impactos ambientais ocasionados pelo homem e as empresas tor-

nou-se importante item no planejamento estratégico de qualquer grande organização. Os consumido-

res estão cada vez mais seletivos, exigindo na hora da compra, duas novas variáveis, aspecto ambiental

e postura cidadã da empresa.

Frente a essa nova realidade, o Restaurante Tábua de Carne-JP implantou o Sistema de Gestão Am-

biental e Responsabilidade Social na empresa por meio do Programa de Iniciação Cientifica e Tecnoló-

gica (BITEC). Nesse contexto, este trabalho tem por objetivo apresentar as mudanças ocorridas após a

adoção de práticas conscientes no restaurante bem como os benefícios que essa postura trouxe à em-

presa visando a causar menos impactos ao meio ambiente. Destacando, também, o comprometimento

da empresa com programas sociais voltados ao futuro da comunidade e da sociedade.

O projeto teve início em agosto de 2008 e renovado em 2009 e muitos foram os resultados dos des-

dobramentos das inovações ocorridas na empresa e os resultados positivos obtidos no meio ambiente

e na sociedade como consequência do BITEC, o restaurante vira notícia, potencializa sua marca, reforça

sua imagem, assegura a lealdade de seus empregados, fideliza clientes, reforça laços com parceiros,

conquista novos clientes e aumenta sua participação no mercado.

Para realização da implantação da Gestão Ambiental no restaurante, foi utilizado o método pesqui-

sa-ação, na qual a pesquisadora bolsista do programa participa de todas as fases necessárias para que as

mudanças fossem implementadas na empresa estudada. A escolha desse método deu-se pelo fato de

que a pesquisa-ação possibilita aos pesquisadores maior aproximação com o objeto de estudo, pois eles

estarão inseridos no processo a ser estudado. Além disso, foi utilizada a abordagem sistêmica como mo-

delo de referência conceitual para analisar os aspectos organizacionais do Restaurante Tábua de Carne.

Baseando-se na abordagem sistêmica, foi possível analisar o comportamento das suas atividades, sua

atuação sobre as pessoas, sua relação com fornecedores e o meio ambiente.

Faz se importante ressaltar a importância da ciência geográfica e os fundamentos da educação

ambiental no sentido de trabalhar com esses dois aspectos, seja eles ambientais, seja de educação am-

biental, ambos necessários ao desenvolvimento das atividades na empresa.

15.2 Atividades realizadas na edição 2009Tendo em vista o cronograma estabelecido pelo BITEC, a implantação do projeto pode ser divida em três

fases. A primeira irá se deter nos resíduos do restaurante como utilização dos resíduos orgânicos para

geração do biogás e reaproveitamento das cinzas utilizadas para corrigir o ph do solo e ser utilizadas

como fertilizante natural. Em seguida, será abordada a educação ambiental promovida pelo restaurante

em comunidades parceiras.

15.2.1 Resíduos do restauranteNo processo de transformação de matérias-primas, efetuado pelos restaurantes, são utilizadas várias

formas de energia bem como e gerado diversos resíduos, alguns em grande quantidade como os or-

gânicos, quando lançados de forma inadequada os resíduos orgânicos geram impactos ambientais

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9ª EDIÇÃO 213

consideráveis, tais como: geração de gases e de maus odores; geração de chorume; atração de animais

vetores e reprodução de microorganismos nocivos à saúde do homem.

A legislação ambiental confere ao gerador a responsabilidade pela destinação adequada dos

resíduos, com determinação do tratamento prévio para disposição final ou armazenamento tem-

porário, de forma que não comprometer o meio ambiente. Em decorrência da crescente conscien-

tização e pressão de mercado, as empresas vêm buscando as certificações ambientais adotando

medidas preventivas e corretivas no controle da poluição, com base no plano de gestão ambiental

de cada empresa.

Após o acompanhamento das atividades na unidade de alimentação do Restaurante Tábua de Car-

ne, bem como entrevistas e vistorias in loco, foi possível obter um panorama da situação dos resíduos

orgânicos produzidos na empresa em que foi efetuado um mapeamento de todas as diferentes áreas

dos restaurantes, da localização das áreas de produção, os serviços rotineiros, os serviços eventuais e

as suas características particulares quanto à geração de resíduos. Além da caracterização quantitativa e

qualitativa dos resíduos orgânicos, foi realizado também um levantamento da caracterização dos siste-

mas de coleta, acondicionamento, armazenamento, transporte, tratamento e disposição final dos resí-

duos orgânicos. Com todas as características levantadas, foi possível estabelecer as soluções para esses

resíduos, verificando sua adequação às interpretações da legislação sanitária, da legislação ambiental e

às normas técnicas pertinentes.

15.2.2 Tábua de Carne e os resíduos orgânicos Na tentativa de minimizar, reaproveitar e reciclar os resíduos orgânicos e, com isso, reduzir custos com

tratamento e disposição final dos resíduos o Restaurante Tábua de Carne, por meio do BITEC, optou pela

na primeira edição pela técnica da compostagem e na segunda edição pela utilização dos resíduos para

geração de energia mudando a maneira com que é tratada a parcela dos alimentos não utilizáveis pelo

restaurante.

No entanto, as duas atividades apresentam-se como alternativa viável para destino dos resí-

duos orgânicos gerados pelas atividades de restaurante. A compostagem é um processo no qual a

matéria orgânica é mantida em certas condições de umidade, oxigênio e temperatura, favorecendo

a ação de micro-organismos que a transformam em material em adubo. Dessa forma, a análise da

atividade produtiva de um restaurante é um passo importante para entendermos como e onde

podemos atuar para minimizar os desperdícios, principalmente das matérias-primas utilizadas para

essa atividade.

O processo inicia-se quando esses resíduos são encaminhados para produtores que fornecem os

produtos orgânicos ao restaurante, onde, em suas propriedades, é feita a compostagem, transformando

os resíduos em composto orgânico, no qual são aplicados em suas plantações dispensando o uso de

agrotóxicos para o cultivo de novo produtos.

A crescente procura por produtos mais saudáveis e produzidos sem adição de fertilizantes químicos

tem provocado um estímulo a mais na agricultura convencional a utilizar o composto orgânico como

alternativa viável e conciliatória para os dois grandes problemas mundiais: a produção de alimentos e a

poluição ambiental.

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214 COLETÂNEA BITEC 20082010

15.2.3 Tábua de Carne e o biodigestorNo intuito de também reaproveitar os resíduos orgânicos produzidos pelo restaurante bem como prezar

pela sustentabilidade ambiental, o Restaurante Tábua de Carne na edição 2009 apostou suas fichas no

biodigestor doando seus resíduos a pequenos suinocultores da comunidade do monsenhor magno

localizado na cidade de João Pessoa/PB. A criação de suíno é uma das mais importantes fontes de

poluição do meio ambiente. Ela consome grandes quantidades de recursos, gerando resíduos e gases

que contaminam o solo, a água e o ar. A legislação brasileira é rigorosa com relação à poluição industrial,

porém, não há fiscalização para o setor, pois a aplicação da legislação inviabilizaria a atividade. Seus

excrementos na maior parte das vezes não podem ser empregados na agricultura e não é direcionado

para nenhuma estação de tratamento de esgotos, sendo inadequadamente disposto no ambiente. No

meio ambiente, estes excrementos nitrificam o solo e a água, superalimentam com matéria orgânica

(eutrofisam) os corpos d’água e colocam em risco a saúde pública, estando associados à disseminação

de coliformes fecais, proliferação de insetos e problemas de saúde como alergias, hepatite, cânceres e

outras doenças.

Por meio do biodigestor, os dejetos dos porcos tornam-se gás combustível e adubo por meio da

fermentação anaeróbica. Esse processo é realizado por bactérias que fazem seu metabolismo na ausên-

cia de oxigênio e como resultado produz gás metano. Defendida pelo físico Lavoisieur, a teoria de que

“na natureza nada se perde, tudo se transforma” não poderia ser mais bem aplicada quando se trata do

aproveitamento dos excrementos de animais. Na edição 2009optou por doar seus resíduos orgânicos

aos pequenos suinocultores no qual o funcionamento do processo será explicado a seguir.

15.3 Funcionamento do processoPartindo inicialmente na higienização no restaurante dos alimentos de origem vegetal, eles que pos-

suem casca são descascados e cortados, essa etapa é uma das maiores geradoras de resíduos orgânicos.

O Restaurante Tábua de Carne fornece mais de 100 refeições por dia a clientes e funcionários, este último

em três turnos diferentes, correspondentes a café da manhã, almoço e jantar. O início do processo pro-

dutivo dá-se com a elaboração do pedido das refeições feito pelos clientes, o próximo passo é o trans-

porte dos restos dos alimentos até a cozinha, onde são encaminhados ao armazenamento temporário

em dois tambores.

1) Passo

O processo inicia-se no restaurante onde seus resíduos são armazenados temporariamente em

tambores e recolhidos pelos suinocultores e encaminhados para as comunidades.

2) Passo

Em seguida, esses resíduos são levados às instalações dos porcos onde são alimentados.

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9ª EDIÇÃO 215

3) Passo

Os excrementos são armazenados em estruturas fechadas, para onde são conduzidos, por tu-

bulações, o esterco e a urina dos animais. Nesse local, o material entra em processo natural

de fermentação, por meio de bactérias anaeróbicas, que se desenvolvem na ausência total de

oxigênio e, no final, são produzidos gases, resíduos pastosos e efluentes líquidos.

O modelo do biodigestor instalados nas propriedades dos suinocultores e o Biodigestor  Indiano. 

Figura 1: Armazenamento dos resíduos em tambores e alimentação dos porcos

Figura 2: Representação tridimensional do biodigestor indiano em corte mostrando todo o interior do biodigestor.

Figura 3: Detalhamento do processo

1 caixa descarga: feita em alvenaria, refere-se ao local onde os dejetos diluídos em água serão colo-

cados para serem introduzidos nos sistema.

Tubo de carga: serve para conduzir o material, por gravidade, desde a caixa de carga até o interior

do biodigestor. Normalmente, utiliza-se um tubo em PVC com 150 mm de diâmetro.

Câmara de biodigestão cilíndrica: refere-se ao local onde ocorrerá a fermentação do material e a

consequente liberação do biogás. Ela também deverá ser construída em alvenaria.  

Tubo guia: terá a função de guiar o gasômetro, quando este se movimentar para cima ou para baixo. Esse

elemento deverá ser obtido a partir de um tubo galvanizado com duas e meio de polegadas de diâmetro.

Tubo de descarga: servirá para fazer a retirada do material fermentado (sólidos e líquidos) de dentro

do biodigestor. Para isso, deve-se utilizar também tubo PVC com 150 mm de diâmetro.

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216 COLETÂNEA BITEC 20082010

A fermentação ocorrerá mais intensamente quando a temperatura do material estiver entre 30º

C e 35º C, sendo que nessas condições, a produção de biogás, por quilograma de material utilizado, é

maior e ocorre em menor tempo. Por essa razão é que o biodigestor é construído enterrado, pois abaixo

da superfície do solo as temperaturas são mais elevadas e as suas variações são menores. Além disso, o

manejo dos biodigestores enterrados é mais fácil de ser executado.

Depoimento do suinocultor parceiro do RESTAURANTE senhor José Morais Filho (set. 2009)

“Hoje não lançamos nada ao meio ambiente e, depois de retirado os gases poluentes,

utilizamos o restante como biofertilizante na agricultura”

O objetivo dessa parceria é dar um destino adequado aos resíduos do restaurante, é produzir suínos

com qualidade sem agredir a natureza. O restaurante ressalta que a iniciativa faz parte de uma cons-

cientização em produzir de maneira sustentável. O reaproveitamento dos resíduos do restaurante vêm

gerando energia para as comunidades parceiras do projeto. Mais importante que a geração de energia

alternativa, a nova destinação dos resíduos como alimento para os suinocultores na utilização adequada

dos excrementos das criações de porco vai reduzir a poluição dos rios, onde costumam ser lançadas sem

qualquer tratamento.

Energia gerada após o processo dos excrementos no biodigestor resulta no gás metano que é

utilizado nos fogões adaptados dos pequenos suinocultores. Eles têm a intenção de no futuro ampliar

o tamanho dos biodigestores para que possam utilizar a energia gerada nas instalações elétricas no in-

terior de suas casas. Dessa forma, uma correta seleção dos resíduos orgânicos, no restaurante é o ponto

inicial para geração do biogás e de um adubo composto de boa qualidade. Com relação às vantagens

ambientais, tem-se como exemplo a diminuição dos impactos no solo, no ar e nas águas superficiais e

subterrâneas, no qual esses resíduos descartados de forma incorreta acarretariam uma série de impactos

ao meio ambiente.

15.3.1 Reaproveitamento das cinzas do carvão utilizado no restauranteA grande quantidade de cinza gerada pela queima de carvão mineral nos restaurantes e churrascarias e

a necessidade de redução de emissões sulfurosas advindas dessa queima fazem que se busquem alter-

Figura 4: Imagem real do biodigestor indiano instalado nas propriedades dos suinocultores

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9ª EDIÇÃO 217

nativas para diminuir essas emissões, assim como para a utilização racional dessa cinza. Com o objetivo

de avaliar a viabilidade de utilizar cinzas do Restaurante Tábua de Carne, este por meio do BITEC decidiu

reaproveitar esse resíduo utilizando como fertilizante natural.

O carvão mineral é importante fonte de energia, obtida mediante a queima, gerando grande quan-

tidade de cinzas. As cinzas de madeira e carvão são um material também relativamente abundante e

apresentam elevada capacidade de fornecer nutrientes e também corrigir o pH do solo, promovendo

uma elevação do ph de forma mais rápida que o calcário agrícola. As cinzas são o material, predominan-

temente inorgânico, que sobram após a queima completa de madeira e de carvão vegetal.

Reaproveitamento das cinzas do restaurante

Após o acompanhamento na produção das cinzas do restaurante, verificou-se que são produzidos

uma media de 90 kilos de cinzas por semana após a combustão completa do carvão vegetal utilizado

na churrasqueira do restaurante. Nessa avaliação, foi observado que esse material era descartado sem

nenhum tratamento no lixo comum do restaurante. E a partir daí vimos a necessidade de elaborar um

plano de gerenciamento para que esses resíduos pudessem ser reaproveitados e retornar ao restaurante

como um novo produto.

No plano de gerenciamento realizado no restaurante, decidimos que as cinzas da produção oriunda

da churrasqueira do restaurante seria utilizada como um fertilizante natural e corretivo alternativo para

lavouras orgânicas que abastecem o restaurante. No qual essas cinzas seriam obtidas única e exclusiva-

mente da queima do carvão de origem vegetal, sem adição de quaisquer outros materiais, de qualquer

outra natureza. Iniciamos o processo após a queima do carvão vegetal, gerando as cinzas na churras-

queira do restaurante onde depois de frias são acomodadas nos próprios sacos que chegaram a forma

de carvão, dispensando a utilização de outro saco onde são encaminhados para pequenos assentamen-

tos rurais dos municípios de Sapé, Cruz do Espírito Santo e Mari/PB, onde os agricultores produzem a

agricultura orgânica que abastecem o restaurante.

Figura 5: Localização dos assentamentos rurais

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218 COLETÂNEA BITEC 20082010

Localização dos assentamentos rurais que abastecem o restaurante

Ao chegar nas propriedades, as cinzas são peneiradas com peneira fina e guardadas em sacos ou

outros recipientes. São adicionados diretamente ao solo, no preparo de canteiros ou covas e, também,

às misturas de terra e para enchimento de vasos e outros locais de plantio, além de serem adicionadas

junto a outros ingredientes no preparo de substratos para enchimento de bandejas e sementeiras.

Figura 6: Horta

Estamos experimentando adicionar as cinzas ao substrato que será fornecido as minhocas detrití-

voras para produção de humus, isso pode ser extremamente benéfico para as minhocas, que apreciam

substratos com pH mais elevados, próximos à neutralidade e também irá tornar seu alimento mais rico

em nutrientes, o que tornará o humus produzido bem mais rico em nutrientes solúveis e com um pH um

pouco mais elevado, características que são muito desejáveis para esse fertilizante orgânico.

15.3.2 Sabão ecológico

No processo de transformação de matérias-primas, efetuado pelos restaurantes, são utilizadas

várias formas de energia e são gerados diversos resíduos, produzidos diariamente, um deles e o

óleo de cozinha. Tendo em vista os impactos ambientais provocados por ele. No entanto, estamos

chegando a um ponto em que já não é mais possível prosseguir sem que medidas eficazes sejam

tomadas. Uma delas é a reciclagem do óleo, na qual ele pode ser reaproveitado e transformado

em novos produtos como o sabão ecológico. O Restaurante Tábua de Carne no intuito de promover

a redução dos grandes passivos ambientais de resíduos passou a preocupar-se com os resíduos

de óleo de cozinha, apostando no desenvolvimento de novos produtos, como o sabão ecológico

fabricados, a partir da reciclagem do óleo.

15.3.3 Parceria com o Projeto SoluzCom o objetivo de minimizar esses problemas, o Centro Federal de Educação Tecnológica da Pa-

raíba (Cefet/PB) desenvolveu o projeto de extensão universitária chamado Soluz, este tem como

objetivo promover a educação ambiental a partir da reutilização do óleo de cozinha na fabricação

de sabão caseiro ecológico. Iniciativas como essas sensibilizaram o Restaurante Tábua de Carne

por meio do BITEC a ter como mais um parceiro o Projeto Soluz, no intuito de substituir o sabão

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9ª EDIÇÃO 219

convencional utilizado pelo restaurante pelo ecológico, o óleo produzido no restaurante é utilizado

como matéria-prima para beneficiamento do sabão, o que antes era um resíduo, agora retorna para

o restaurante como um novo produto.

O Projeto Soluz possui autogestão e baseia-se nos princípios de preservação ambiental e em prá-

ticas que conduzem a solidariedade. Além de contribuir para aumento da produção e da geração de

renda para as mulheres que fabricam o sabão, por meio da parceria com Tábua de Carne.  Essa atitude

proporciona o comprometimento  da empresa com a responsabilidade social e ambiental, reaproveitan-

do o óleo usado no restaurante transformando-o em um novo produto, adequando-se em mais uma

atividade à promoção de um meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Responsabilidade social do restaurante em parceria com o Projeto SOLUZ

Como forma de apoiar as mulheres do sabão ecológico, o Restaurante Tábua de Carne buscou o

contato direto com o processo produtivo do sabão instalado no bairro do Engenho Velho/JP em uma

pequeno quarto agregado à casa de uma delas. Uma vez estabelecido o contato foram levantadas as

necessidades emergenciais da fabricação do sabão para tomada de iniciativas que orientassem as ações

a serem tomadas. Esse contato ocorreu por meio de reuniões e do acompanhamento da fabricação do

sabão ecológico.

Acompanhamento da fabricação do sabão ecológico

Figura 7: Acompanhamento da fabricação do sabão ecológico

No acompanhamento, foi possível identificarmos uma série de dificuldades em termos de instru-

mentos e ausência de equipamentos e materiais que comprometiam a estética do sabão como:

ausência de formas inadequadas; o corte e feito a olho nu; ausência de uma seladora para acomo-

dar os tabletes de sabão; ausência de uma logomarca; o sabão é identificando com uma xerox de um

papel simples sem a adição do peso e composição; ausência de uma organização interna no que tange

a planilhas de controle de estoque e de recibos para as vendas realizadas.

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220 COLETÂNEA BITEC 20082010

Buscando as melhorias dos problemas citados anteriormente, o restaurante entrou em contato

com um designer industrial para, de acordo com perfil do sabão ecológico, desenvolver uma logomarca

que as identificasse, no sentido de que esse sabão possa chegar ao mercado com um aspecto melho-

rado. Além de doar três formas, uma específica para corte e duas com capacidade para acomodar 60

barras de sabão.

Além disso, como parte da responsabilidade social, desenvolvemos para elas um plano com tabelas

de controle de estoque e a confecção de recibos de vendas que antes não se tinha e estamos viabilizan-

do a doação de uma seladora de plásticos para que as mulheres possam acomodar as barras de sabão

em um saco plástico mais resistente. Outra vantagem ao optar pelo sabão ecológico foi que o restau-

rante pode economizar no preço de compra onde o sabão convencional saia uma media de 20% mais

caro que o ecológico. Além de ajudar ao meio ambiente utilizando um produto fabricado a partir da

reciclagem do óleo, o restaurante está contribuindo para o aumento da renda desse grupo de mulheres

que sobrevivem com a venda do sabão ecológico.

15.3.4 Tábua de Carne e educação ambientalA busca da ecoeficiência é uma preocupação constante do Restaurante Tábua de Carne, por esse mo-

tivo foi implantado na edição anterior do programa a coleta seletiva dentro da empresa, em que todo

material reciclável é devidamente separado por coletores identificados por categoria material (papel,

metal, plástico e vidro) e recolhidos pelos catadores da Astramare. Com objetivo de se trabalhar com

a educação ambiental e sensibilizar a prática da separação do lixo, o restaurante fez parceria com três

comunidades próximas à área de preservação ambiental da Mata do Xexen na cidade de Bayeux/PB.

As comunidades estão localizadas na área de preservação do bioma da Mata Atlântica, possuindo

grande riqueza florística e faunística. Estamos realizando um trabalho de educação ambiental com essas

comunidades já que todo o lixo produzido por elas são jogados dentro da Mata do Xexen e geram uma

série de impactos ambientais negativos, como contaminação do solo, interrompimento do processo

planta–solo, risco à saúde, além da poluição visual.

Figura 8: Cenas de poluição ambiental

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9ª EDIÇÃO 221

A partir dessa problemática, o restaurante junto aos representantes das comunidades realizaram

várias reuniões com o objetivo de o restaurante apoiar a coleta seletiva nas comunidades.

Figura 9: Reuniões comunitárias

Figura 10: Trabalho de coleta e separação de lixo na comunidade

Para facilitar o trabalho de coleta e separação de lixo nas três comunidades da cidade, de acordo

com o projeto foram entregues 12 contentores (containeres) de lixo com capacidade individual para

armazenamento de 250 litros. Em que cada comunidade recebeu quatro containeres para coleta de re-

síduos sólidos divididos por (vidro, plástico, papelão e metal). O restaurante também fez a doação das

tintas para que os tambores fossem identificados nas cores oficias da coleta seletiva. Além das correntes

e cadeados para fixarem esses tambores em pontos estratégicos, ou seja, aqueles onde estivesse dispos-

tos a maior quantidade de lixo.

Destaco a pintura dos tambores como um momento de descontração em que o trabalho foi reali-

zado em equipe, bem como houve a participação e o envolvimento dos moradores das comunidades.

Antes da fixação dos coletores, fizemos uma distribuição de panfletos informativos sobre coleta

seletiva com as comunidades em caminhadas feitas nas três comunidades em finais de semana com o

objetivo de alcançar o maior número de pessoas possíveis, já que durante a semana alguns moradores

trabalham.

Outra atividade realizada paralela à distribuição dos panfletos foi a de caminhadas sobre a cons-

cientização dos problemas ambientais causados pelo lixo jogado na Mata do Xexen nas comunidades.

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222 COLETÂNEA BITEC 20082010

Capacitação dos agentes da coleta seletiva comunitária promovida pelo restaurante

Nos dias 24 e 25 de novembro de 2009, os moradores das três comunidades parceiras do restau-

rante Unida-Mari e Aratu inscreveram-se para capacitação de agentes da coleta seletiva comunitária,

promovida pelo restaurante Tábua de Carne. A realização dessa capacitação teve vários objetivos entre

eles: debater sobre as questões ambientais e implementar um trabalho contínuo de educação ambien-

tal nas comunidades; modificar algumas atitudes para alcançar metas de sustentabilidade; identificar

ações que prejudicam o meio ambiente; tornar cada participante um agente multiplicador de práticas

socioambientais sustentáveis.

A bolsista Heven Stuart ministrou a capacitação em que foi aplicada em uma das suas metodo-

logias ferramentas didáticas para que os capacitados pudessem realizar intervenções necessárias para

construção de um bairro melhor para viver. Além da metodologia de geração de emprego e renda, a

capacitação buscou conscientizar os moradores participantes do curso apresentando a coleta seletiva

como solução para os problemas ambientais da região, a partir da construção coletiva, explorando tam-

bém os conhecimentos do censo comum deles sobre os mais variados pontos de vista para o mesmo

problema. A capacitação foi realizada de forma simples utilizando-se várias dinâmicas relacionadas com

as questões ambientais pertinentes aos impactos negativos provocados pelo homem, o qual participa-

ram pessoas das três comunidades incluindo crianças jovens adultos e idosos.

Figura 11: Trabalho de distribuição de panfletos e capacitação de agentes da coleta seletiva

Figura 12: Capacitação das comunidades, incluindo crianças, jovens adultos e idosos

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9ª EDIÇÃO 223

Contamos no segundo dia de capacitação com a participação da psicóloga e educadora ambiental

Adriana, funcionária da Autarquia Municipal Especial de Limpeza Urbana (Emlur) é responsável por todo

o trabalho de limpeza urbana de João Pessoa.

Solenidade de entrega dos coletores

As comunidades estão localizadas na área de preservação do bioma da Mata Atlântica, que possui

grande riqueza de fauna e flora. Devido ao manejo inadequado de suas riquezas naturais, a região sofre

interferências negativas, por isso o projeto Consciência Ambiental e Responsabilidade Social tenta bus-

car soluções de sustentabilidade, melhorando assim as condições sociais, econômicas e ambientais da

região. Foi planejado junto à gerência do restaurante realizar uma solenidade de entrega oficial desses

coletores e que ela fosse realizada com apresentações, músicas teatros e sorteio de brindes. No sentido

de fazer que as comunidades se sentissem participantes desse processo.

Figura 13: Solenidade de entrega dos coletores

Figura 14: Apresentação de teatro para a comunidade

O Grupo de teatro da alegria foi convidado a participar da solenidade de entrega dos coletores. Esse

grupo apresenta de maneira lúdica a importância da coleta seletiva comunitária em que contamos com

grande número de crianças que assistiram à apresentação estrategicamente realizada na escola que

abrange as três comunidades.

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224 COLETÂNEA BITEC 20082010

A escolha do local de apresentação na escola deu-se pelo fato de a escola ser o espaço social e o

local onde o aluno dará sequência ao seu processo de socialização. O que nela se faz se diz e se valoriza

representa um exemplo daquilo que a sociedade deseja e aprova. Comportamentos ambientalmente

corretos devem ser aprendidos na prática, no cotidiano da vida escolar, contribuindo para a formação de

cidadãos responsáveis.

Figura 15: Distribuição de lanches, refrigerantes, pipocas e sorvetes

Tivemos o momento para o lanche em que foram distribuídos: sanduíches, refrigerantes, pi-

pocas e sorvetes.

Acredito que a atividade de educação ambiental trouxe várias contribuições positivas ao meio am-

biente e social. Além dos benefícios que este trabalho proporcionou por meio do comprometimento da

empresa e da comunidade parceira,  adequando-se à promoção de um meio ambiente ecologicamente

equilibrado.

Avaliação do serviço alimentar e nutricional  no Restaurante Tábua de Carne

O setor de alimentação coletiva vem se tornando um mercado representativo para a economia

mundial e o ritmo da vida moderna contribuiu significativamente para a conquista desse espaço. A qua-

lificação dos serviços de alimentação é, pois, condição básica dentro de um processo competitivo que

caracteriza a sociedade moderna influenciada pela globalização que impõe o crescimento contínuo da

qualidade dos serviços. Frente a essa realidade, o restaurante Tábua de Carne em parceria com o Depar-

tamento de Nutrição da Universidade Federal da Paraíba propiciou a participação de três alunas do curso

de Nutrição no projeto em que foi realizada uma avaliação de serviços de alimentação e nutrição e um

diagnostico preliminar das atividades ligadas ao manuseio e ao preparo de alimentos.

Na avaliação dos serviços de alimentação, foi verificada dois importantes fatores como: avaliação

das condições de higiene e conduta pessoal; e não conformidade do ambiente, dos métodos e dos

equipamentos.

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9ª EDIÇÃO 225

Verificação das nutricionistas e da bolsista nos diversos ambientes do restaurante

Após a avaliação desses itens, foram identificadas algumas inconformidades Apresentamos como

solução para tais problemas a investigação das causas e as ações imediatas para as correções das incon-

formidades, para isso construímos um relatório que foi apresentado aos proprietários da empresa no

sentido da resolução imediata quanto às inconformidades de alguns equipamentos. Ao mesmo tempo,

planejamos um cronograma de conscientização e treinamento técnico de boas práticas nos serviços de

alimentação baseados na RDC 216- 2004 para os funcionários.

Conscientização e treinamento

O cronograma do regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação no Restau-

rante Tábua de Carne proveu treinamentos aos funcionários com atribuições nos serviços de alimenta-

ção do restaurante para que estivessem conscientes da importância do cumprimento da correção das

suas atividades e das exigências legais e de outras definidas pela empresa. Os treinamentos levaram

em consideração todas as inconformidades reais e potenciais associados às atividades de trabalho no

restaurante verificados pelas nutricionistas e pela bolsista do programa. Sensibilizando os funcionários

quanto à responsabilidade e ao envolvimento de todos nas mudanças que iriam ocorrer. Os treinamen-

tos eram agendados tendo em vista o cronograma de trabalho dos funcionários e os revezamentos

para que os serviços não fossem totalmente interrompidos. Assim, os treinamentos foram abordados na

apresentação dos seguintes temas:

Apresentação da Resolução RDC no 216, de 15 de setembro de 2004, Manual de Boas Práticas para o

serviço de alimentação. Desenvolvemos uma Cartilha de Boas Práticas apresentada de forma lúdica por meio

de dinâmicas; a higienização pessoal dos manipuladores de alimentos; contaminação cruzada; manuseio ade-

quando dos alimentos; mantendo o ambiente de trabalho organizado e higienizado; a importância do farda-

mento completo; fortalecimento do trabalho em equipe para melhorar os serviços prestados pelo restaurante.

Para coleta dos dados, foi confeccionado um questionário pré-estruturado, realizando-se uma mé-

dia de dois temas por semana, após cada apresentação aplicava-se o questionário com perguntas per-

tinentes à temática abordada, analisando as respostas buscou estabelecer o nível de conhecimento dos

funcionários sobre as temáticas abordadas.

Figura 16: Avaliação do serviço alimentar e nutricional Figura 17: Verificação das nutricionistas e bolsistas

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226 COLETÂNEA BITEC 20082010

Os treinamentos eram sempre abordados de forma dinâmica e descontraída com os funcionários

do restaurante

Ao realizar os treinamentos, estamos corrigindo as inconformidades observadas na avaliação, abor-

dando os problemas encontrados em forma de temas específicos no sentido de corrigir e conscientizar

os funcionários quanto à responsabilidade e ao seu papel no manuseio dos alimentos. Conduzindo-os a

repensar e avaliar de outra maneira as suas atitudes diárias, bem como suas consequências para sua saú-

de deles e dos clientes.  Acredito que essa avaliação trouxe várias contribuições positivas. Identificando

os problemas existentes na cozinha e o treinamento para correção destes.

Saúde dos funcionários

O estado nutricional de colaboradores nas empresas também vem sendo bastante discutido, uma

vez que pesquisas revelam o alto índice de sobrepeso nos trabalhadores, sugerindo inclusive que esse

aumento de peso corporal ocorre após o início da atividade na unidade, como consequência da natu-

reza do trabalho, acompanhada de uma mudança de hábitos alimentares. Por isso, o restaurante pas-

sou a preocupar-se com o a saúde de seus funcionários realizando uma avaliação nutricional com eles.

O objetivo da avaliação do estado nutricional foi o de identificar nos funcionários complicações associa-

das ao estado nutricional, para que pudessem receber terapia nutricional adequada e, ainda, monitorizar

a eficácia da intervenção dietoterápica.

Figura 18: Treinamentos efetuados ocorrem de forma dinâmica

Figura 19: Acompanhamento da saúde dos funcionários

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9ª EDIÇÃO 227

A saúde dos funcionários pelo BITEC passou a ser uma das prioridades do restaurante realizando

os exames bioquímicos e nutricionais com o objetivo de identificar um diagnostico para um possível

tratamento.

15.4 ConclusãoO impacto negativo das empresas sobre o meio ambiente na sociedade industrial vai depender das

escolhas que fazemos constantemente a cada dia, quanto aos produtos de consumo que trazemos para

dentro de nossas casas e empresa. As melhores escolhas levarão a um alto nível de sustentabilidade am-

biental. A escolha por produtos corretos não é simples e demanda por parte do consumidor informação

e consciência. A transparência dos processos de fabricação industrial é hoje tema importante e atual.

O restaurante mudou seus paradigmas, sua visão empresarial, objetivos, estratégias de investimen-

tos e de marketing, tudo voltado para aprimoramento de seu produto, adaptando-o à nova realidade do

mercado global e do corretamente ecológico. Nesse aspecto, o Restaurante Tábua de Carne tem papel

extremamente relevante. Por meio de sua prática empresarial sustentável, provocou uma mudança de

valores e de orientação em seus sistemas operacionais, engajadas à ideia de desenvolvimento sustentá-

vel e preservação do meio ambiente junto à responsabilidade social, ao participar de ações sociais por

meio da ética em todas as suas relações, seja com a comunidade, seja com seus trabalhadores, fornece-

dores, clientes, governo ou meio ambiente.

Além da responsabilidade ambiental, na edição 2009, adicionaram-se outras, como o bem-estar

dos funcionários, dos clientes e das gerações futuras. Além da melhoria da imagem da empresa, frente

ao meio ambiente, adotou a responsabilidade social se comprometendo com programas sociais

voltados para o futuro da comunidade e da sociedade. Com isso, o restaurante pode fazer parce-

rias com associações de trabalhadores rurais e urbanos em algumas de suas atividades gerando

emprego, renda e inclusão social para famílias envolvidas em tais atividades. Assim, o sucesso do

Programa BITEC decorreu da compreensão das ações que a empresa tomou, buscando trazer benefí-

cios para a sociedade, propiciando a realização profissional dos funcionários e promovendo benefícios

para os parceiros e o meio ambiente.

Vale à pena ressaltar a importância da prática docente na formação do aluno bolsista do Programa

BITEC como cidadão crítico. Nessa perspectiva, o programa é um processo de interação entre universi-

dades e empresas, atuando como mecanismo de transferência do conhecimento produzido dentro da

universidade, desenvolvendo também outras habilidades como criatividade, sensibilidade e imagina-

ção, além de habilitar o aluno para o mercado de trabalho.

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9ª EDIÇÃO 231

16 IEL/PI PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO FARMACOLÓGICA DA EPIISOPILOTURINA

Bolsista: Yuri Dias Macedo Campelo – UFPI

Professor orientador: José Roberto de Souza Almeida Leite – UFPI

Coautor: David Fernandes Lima

Coautor: Leiz Maria Costa Veras

16.1 IntroduçãoA biodiversidade brasileira é uma das maiores do planeta, principalmente em relação à sua flora, po-

dendo ser considerada como uma inesgotável fonte de fármacos. Não só na região amazônica, onde a

extensão geográfica já propicia uma ideia do seu poder de diversidade, mas também em outras regiões

brasileiras, como a Nordeste, existem inúmeros vegetais de interesse medicinal (ABIFISA, 2006).

A expressão planta medicinal é utilizada para designar toda planta que administrada ao homem

ou aos animais, por qualquer via ou forma, seja capaz de exercer alguma ação terapêutica (OMS, 2002).

As plantas medicinais são importantes, tanto por serem utilizadas diretamente como agentes terapêu-

ticos, quanto também por possibilitarem a fabricação de fitoterápicos (ZHAN; ZHOU, 2003), fármacos

que, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), são tecnicamente obtidos e

elaborados exclusivamente a partir de matérias primas vegetais, com finalidades profilática, curativa ou

para fins de diagnóstico, em benefício do usuário (BRASIL, 1995).

Como exemplo de planta medicinal de larga ocorrência no território brasileiro, ressalta-se o jabo-

randi (Pilocarpus sp.), que se distribui do extremo norte da região Amazônica até o sul do Rio Grande do

Sul (JOSEPH, 1967) e conta com inúmeras espécies de importância econômica e médica, entre as quais

se encontram Pilocarpus jaborandi (Holmes), P. trachyllophus (Holmes) e P. microphyllus (Stapf., ex. Hol-

mes), sendo esta última considerada como o jaborandi legítimo (CORRÊA, 1969) e com vasta ocorrência

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232 COLETÂNEA BITEC 20082010

na região meio norte (estados do Maranhão e Piauí), a partir da qual são extraídos os sais de pilocarpina

(PINHEIRO, 1997).

Possui ampla distribuição nas Américas, partindo do sul da América Central indo até o sul da Amé-

rica do Sul. Estão descritas 16 espécies desse gênero Pilocarpus, das quais 13 são encontradas no Brasil,

sendo que 11 exclusivas do território brasileiro: P. alatus C. J. Joseph ex Skorupa, P. carajaensis Skoru-

pa, P. giganteus Engler, P. grandiflorus Engler, P. jaborandi Holmes, P. pauciflorus St. Hilaire, P. pennatifo-

lius Lemmaire, P. riedelianus Engler, P. spicatus St. Hilaire, P. sulcatus Skorupa, P. trachyllophus Holmes, P.

microphyllus Stapf ex Wardleworth e P. peruvianus (Macbride) Kaastra. A partir desse gênero já foram

identificados 14 tipos de alcalóides, 27 cumarinas, cinco flavonoides e 76 terpenoides (SKORUPA, 2000;

SANTOS; MORENO, 2004).

A extração do jaborandi é responsável por grande massa de recursos nas regiões Norte e Nordeste

do Brasil. Em 2006, movimentou cerca de 220 toneladas nessas regiões brasileiras, perfazendo aproxi-

madamente R$ 562.000,00 de um total de R$ 3,7 bilhões referentes ao extrativismo vegetal realizado no

Brasil naquele ano (IBGE, 2006).

A partir de espécies de jaborandi (Pilocarpus sp.) já foram identificadas as estruturas dos seguintes

alcaloides: pilocarpina, isopilocarpina, pilocarpidina, isopilocarpidina, pilosina, ipopilosina, epiisopilosi-

na, epiisopiloturina, 13-nora-7(11)-dehidro-pilocarpina, N,N-dimetil-5-metoxi-triptamina, N,N-dimetil-

triptamina, plastidesmina, (1H)-4-metoxi-2-quinolone e dictamina. Alguns deles já tiveram as suas es-

truturas determinadas por RMN (ressonância magnética nuclear), porém ainda não possuem atividade

farmacológica descrita, podendo ser promissores para a medicina humana e veterinária (ANDRADE-

NETO et al., 1994; SANTOS; MORENO, 2004).

Vários azóis, semelhantes aos identificados no jaborandi, são antimicóticos clássicos, de largo espec-

tro, atuando sobre leveduras e bolores. Apresentam um anel imidazol livre unido a outros anéis aromá-

ticos por meio de uma união N-C em posição 1. Atualmente, dispõe-se de vários derivados imidazólicos

para uso sistêmico ou tópico no tratamento de diversas infecções micóticas, sendo a ação fungistática

ou fungicida, dependente da concentração (SANDE; MANDELL, 1987).

Durante o processo de beneficiamento do jaborandi para retirada da pilocarpina, é gerada uma

biomassa contendo outros alcaloides que podem exercer atividade biológica, porém ainda carecem de

estudos mais aprofundados (SANTOS; MORENO, 2004).

A pilocarpina é considerada como protótipo entre os compostos oriundos do jaborandi,

sendo o agente mais concentrado nas folhas da planta. Trata-se de um alcaloide colinérgico

com estrutura de uma amina terciária, que apresenta ações nicotínicas e muscarínicas, com

predominância das últimas. Possui efeitos discretos sobre o coração e o trato gastrointestinal

(VITAL; ACOO, 2006).

O mecanismo de ação da pilocarpina no tratamento do glaucoma está relacionado à ligação rever-

sível do fármaco aos receptores muscarínicos subtipo 3 (M3), funcionando como agonista colinérgico.

Esses receptores são metabotrópicos ligados a proteínas G que, quando estimulados pela acetilcolina,

desencadeia uma cascata intracelular que é responsável pelas respostas conhecidas por “muscarínicas”.

A origem desse nome deve-se à muscarina, um fármaco presente no cogumelo Amanita muscaria que

seletivamente liga-se aos receptores (MARGOTTO, 2007).

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9ª EDIÇÃO 233

Estes receptores M (M1, M

3 e M

5) são acoplados à proteína G

q/11 e sua ativação promove a atividade

da fosfolipase C (PLC) e aumento de íons cálcio no espaço intracelular, causando em regra aumento da

função do órgão a que estão acoplados, cruciais na ativação de processos como contração de muscula-

tura lisa (muscarínica) e efeito vasodilatador pela ligação desse agonista colinérgico a receptor específico

em células endoteliais (COTTON, 2009).

O glaucoma inclui um grupo de condições oculares caracterizado pela perda do campo visual e

frequentemente atribuído a um aumento da pressão intraocular, caracterizado como um problema de

saúde pública e uma das mais importantes causas de cegueira no Brasil e no mundo. Segundo a Orga-

nização Mundial de Saúde (OMS), a incidência de glaucoma no mundo é estimada em 2,4 milhões de

casos por ano, e a prevalência de cegueira por glaucoma é de 5,2 milhões de pessoas, representando a

terceira causa de cegueira (SOUZA FILHO et al., 2003).

Já a epiisopiloturina, outro alcaloide extraído das folhas do jaborandi, difere da pilocarpina pela

presença de um grupamento hidrobenzílico ao invés de um etílico e assemelha-se a ela por sua estru-

tura formada pela presença de um anel imidazólico ligado a um ciclopentano heterocíclico por meio de

uma ligação C-C. A similaridade entre as estruturas desses dois compostos torna a epiisopiloturina um

alcaloide promissor quanto às suas propriedades biologicamente ativas.

Segundo a OMS, cerca de 1/6 da população mundial é acometida por alguma doença negligencia-

da, afetando principalmente pessoas que residem em áreas rurais ou urbanas em condições precárias

(WHO, 2009). A causa é a falta de pesquisa e desenvolvimento de fármacos, pois a indústria farmacêutica

e o setor público dos países ricos praticamente não investem na descoberta de medicamentos para

pessoas sem poder de compra (O’CONNELL, 2007).

Os fármacos usados no tratamento da esquistossomose e leishmaniose, por exemplo, são caros,

com necessidade de injeções diárias e acompanhamento hospitalar, além de possibilitar o desenvolvi-

mento de resistência pelos parasitas (MRAZEK et al., 2002).

Schistosoma mansoni é o agente causal da esquistossomose, ou doença de Manson-Pirajá da Silva,

um dos mais graves problemas de saúde pública no Brasil. Essa helmintose está condicionada à elimina-

ção dos ovos do parasito com as fezes de pacientes infectados e à presença do hospedeiro intermediário,

um caramujo do gênero Biomphalaria comumente encontrados em lagoas, represas, canais de irrigação,

córregos etc. (COUTO, 2005).

Há relatos que muitas plantas têm atividade anti-helmíntica, nelas contêm compostos ativos iden-

tificados que têm ação direta contra parasitas, porém ainda existem outros que são desconhecidos.

Na maioria das ocorrências, esses princípios ativos são metabólitos secundários de vegetais, que pode

ser associados à defesa das plantas contra herbívoros e muitos desses compostos são alcaloides (MUL-

LER-HARVEY; MCALLAN, 1992).

Enquanto que a leishmaniose é causada por um parasita protozoário transmitido pela picada da

fêmea do flebótomo infectada. Pode-se encontrar essa doença em quatro continentes, sendo endêmica

em 88 países atingindo 350 milhões de pessoas no mundo inteiro (GARNIER et al., 2007; SRINI-

VAS et al., 2009). A terapêutica primária é feita por antimoniais pentavalentes como a anfotericina

B, pentamidina e azóis que aprensentam significante toxicidade (JHA et al., 1983, MAERTENS, 2004;

SRINIVAS et al., 2009).

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234 COLETÂNEA BITEC 20082010

Porém, o desenvolvimento de resistência pelos parasitas e toxicidade para os alcaloides conhecidos

pela medicina reforça a necessidade de desenvolver novas drogas contra esquistossomose e leishmanio-

se (MELO et al., 2003; RIBEIRO-DOS-SANTOS et al., 2006).

Este projeto propõe estudar os alcaloides extraídos da biomassa da produção de pilocarpina na

prospecção de novos fármacos utilizando a biotecnologia como ferramenta principal.

Por meio do Programa de Iniciação Científica e Tecnológica para Micro e Pequenas Empresas

(BITEC), do Instituto Euvaldo Lodi (IEL) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecno-

lógico (CNPq), um aluno estagiário do Núcleo de Pesquisa em Biodiversidade e Biotecnologia (Biotec) e

graduando do curso de Biomedicina do Campus Ministro Reis Velloso (CMRV) da Universidade Federal

do Piauí (UFPI) desenvolveu suas atividades em parceria com o departamento de P&D da Indústria de

farmoquímica Vegeflora Extrações do Nordeste Ltda., localizada no Município de Parnaíba/PI (figura 1),

que possui convênio com a referida universidade tendo supervisão do coordenador do controle ana-

lítico. Durante o projeto, além da orientação do professor coordenador-geral do Biotec, o aluno obteve

coorientação de uma aluna de mestrado do Programa em Ciência Animal (CCA/Teresina/UFPI). Esta parceria

gerou a extração, a purificação e o isolamento do alcaloide epiisopiloturina a partir da folha do jaborandi,

além disso, foram realizados ensaios de aplicação deste contra leishmaniose e esquistossomose.

Figura 1: Vegeflora Extrações do Nordeste Ltda., localizada no município de Parnaíba, estado do Piauí. Vista panorâmica da indústria

16.2 Objetivos geraisProspecção da atividade farmacológica do alcaloide epiisopiloturina, um subproduto obtido a partir do

resíduo industrial da extração de pilocarpina das folhas de Pilocarpus microphyllus (jaborandi).

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9ª EDIÇÃO 235

16.3 Objetivos específicos• O desenvolvimento de metodologia analítica para extração do alcaloide epiisopiloturina a par-

tir do resíduo industrial para sua caracterização farmacológica.

• Para caracterização farmacológica da epiisopiloturina, serão considerados ensaios biológicos in

vitro contra micro-organismos parasitas patogênicos para o homem e animais.

• Esta pesquisa levará a uma geração de produto biotecnológico para aplicação em saúde, enfo-

cando doenças negligenciadas tropicais, tais como: leshimaniose e esquistossomose.

• Durante o desenvolvimento do projeto, o aluno enfrentará problemas relacionados com o co-

tidiano de P&D na indústria, com inovação tecnológica, em consonância com sua atividade

acadêmica no curso de Biomedicina e as atividades do Núcleo de Pesquisa em Biodiversidade

e Biotecnologia (Biotec).

16.4 Impactos econômicos e socioambientais A inovação principal deste projeto consiste no desenvolvimento de novos produtos farmoquímicos de

alto poder terapêutico a partir do jaborandi por meio da prospecção de atividades farmacológicas de

seus alcaloides de importância nacional e internacional. As doenças negligenciadas são doenças que

afetam milhares de pessoas ao redor do mundo, como a exemplo da leishmaniose e da esquistossomo-

se, que geram um impacto devastador sobre a humanidade.

Na Parnaíba, a indústria de farmoquímicos, Vegeflora Extrações do Nordeste Ltda., produz toneladas

de biomassa de extrato de folhas de jaborandi a partir da produção de pilocarpina. O beneficiamento

dessa produção gera grande quantidade de alcaloides com aplicações farmacológicas ainda desconhe-

cidas. A união desses fatores aliado ao convênio para geração de pesquisa e desenvolvimento certamen-

te promoverá a geração de subsídios às novas tecnologias.

O processo de globalização da economia, caracterizada pela busca da competitividade, ênfase na

qualidade, na valorização das competências essenciais, do conhecimento e no aprendizado contínuo,

faz que as organizações invistam em tecnologia e inovação. Ao reconhecer que a inovação tecnológica

constitui-se em elemento fundamental para a construção da competitividade e da sustentabilidade,

passamos a agir de forma ágil, eficiente, eficaz e competitiva, a fim de solucionar suas dificuldades, quer

seja de produtos, processos ou serviços. Principalmente quando se trata de produtos desenvolvidos

de fonte sustentável e natural, em que resíduos que exigiriam gastos com armazenamento podem ser

estudados e destinados para geração de mais produtos, alimentando mais uma cadeia produtiva do

jaborandi.

Cerca de mil agricultores familiares já praticavam o extrativismo do jaborandi no estado do Piauí.

As atividades concentraram-se no território dos Cocais (AG3), composto por 13 municípios, dos quais

nove estão entre os 20 de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado. A população

total do território é de aproximadamente 840 mil habitantes, a renda per capita é de R$ 66,18 e a taxa

de analfabetismo é de 47% de acordo com dados do Planp. O uso sustentável do jaborandi para a in-

dústria farmoquímica, utilizando plantas cultivadas e de fonte renovável, é de suma importância para o

desenvolvimento econômico da região. Além do que o estudo da biomassa residual industrial poderia

incorporar à cadeia outros produtos de importância econômica para a saúde humana e/ou veterinária.

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236 COLETÂNEA BITEC 20082010

16.5 Metodologia experimental

16.5.1 Extração, purificação e isolamento do alcaloide epiisopiloturinaO alcaloide epiisopiloturina (figura 2) foi obtido a partir das folhas da planta Pilocarpus microphyllus por

meio de processos de extração. A purificação do alcaloide foi feita a partir da biomassa gerada pela

produção de pilocarpina, realizada pela indústria Vegeflora Extrações do Nordeste Ltda. A biomassa foi

submetida a um processo de pré-purificação pela extração de alcaloides baseado na acidificação e fil-

tração do resíduo industrial seguido de alcalinização e filtragem da solução para obtenção do alcaloide

epiisopiloturina concentrado. A solução obtida foi submetida à técnica de purificação e isolamento por

cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC). O alcaloide isolado e purificado foi submetido à espec-

trometria de massas para confirmação da massa molecular e identificado por comparação com padrão

de referência por HPLC.

Figura 2: Estrutura do alcaloide epiisopiloturina isolado a partir da bio-massa da produção de pilocarpina durante o projeto

16.5.2 Atividade antiparasitária contra LeishmaniaCultura de Parasitas. Neste ensaio, foram utilizadas promastigotas de L. amazonensis, da cepa IFLA/BR/67/

PH-8, no segundo repique em meio de cultura após passagem em hamster, para manter a infectividade.

Mantidas em estufa de B.O.D a 26° C. Macrófagos peritoneais. Os macrófagos foram retirados do peritônio

de camundongos fêmeas Swiss, após inoculação de 10 mL de PBS (Phosphate Buffer Saline), resfriados

em sucessivas massagens na cavidade abdominal. O líquido peritoneal após ser recolhido foi lavado por

três vezes com PBS estéril, a 1.000 rpm, por 10 minutos. Em seguida, foram ressuspendidos em meio de

cultura (RPMI 1.640 Sigma), plaqueados a uma concentração de 5 x 105, em placa de 24 poços, conten-

do lamínulas de 13 mm, e deixados a noite toda a 5% CO2, 37º C para aderirem a placa. Decorrido esse

tempo, o meio foi substituído, adicionando-se 500 L de RPMI 1640, por poço, para retirar as células

não aderidas, contendo 5 x106 promastigotas na fase estacionária de crescimento, foram adicionadas

em cada poço (para uma proporção de macrófagos/leishmania de 1:10) e incubadas por 4 horas a 37

C a 5% de CO2. Seguindo-se, os poços foram lavados com tampão fosfato salino (PBS) para retirada dos

parasitas livres. Em seguida, 500 L de meio RPMI foi adicionado aos poços contenda a epiisopiloturina

nas concentrações de 128, 16 e 2 μg/mL em triplicata. As placas foram novamente incubadas, sob as

mesmas condições, durante 48 horas. Logo após, o líquido foi aspirado, o poço lavado com PBS e as lamí-

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9ª EDIÇÃO 237

nulas foram coradas pelo método panótico (Laborclin). A avaliação da atividade foi feita pela contagem

em 100 macrófagos: do número de macrófagos infectados e o número de parasitas por macrófago por

meio de microscopia óptica (Labomed). Os resultados serão apresentados como índice de sobrevivência

(survival index) ou índice de associação (association index) = percentual de macrófagos infectados X

número de parasitas por célula.

16.5.3 Atividade in vitro contra o parasita causador da esquistossomoseO helminto Schistosoma mansoni (cepa BH Belo Horizonte, Brasil) foi rotineiramente mantido em cara-

mujos Biomphalaria glabrata e hamsters como hospedeiros no Laboratório de Parasitologia do Instituto

Butantan, São Paulo, Brasil. Fêmeas de hamsters (pesando 20 a 22 g) foram infectadas por injeção sub-

cutânea de 150 cercárias. Após nove semanas, espécimes adultos de S. mansoni foram recuperados a

partir de hamster por perfusão (YOLLES et al., 1947). Os protocolos experimentais foram autorizados pelo

Comitê de Ética Experimentação Animal da Universidade de São Paulo (USP).

Esses experimentos com S. mansoni foram colhidos a partir de hamster e lavados em meio RPMI

1640 (Gibco), suplementado com 200 μg/mL de estreptomicina e 200 UI/mL de penicilina (invitrogen).

Dois machos e duas fêmeas adultas de parasitas foram incubadas em placa de cultura de 24 poços (Te-

chno Plastic Products, TPP) contendo 2 mL do mesmo meio suplementado com 20% de soro fetal bovi-

no aquecido a 37° C, em uma atmosfera 5% de CO2 (XIAO et al., 2007). Depois de 1 a 2 horas, epiisopilo-

turina ou veículo foi adicionado à cultura, produzindo amostras de concentração final de 50, 100, 150 e

200 μg/mL (SHUHUA e CATTO, 1989). A amostra foi dispensada a partir de uma solução-mãe (2 mg/mL)

em RPMI 1.640 contendo 2% dimetilsulfóxido (DMSO). Os experimentos foram realizados em triplicatas.

16.5.4 Resultados e discussãoNeste trabalho, além de realizar a extração, a purificação e o isolamento do alcaloide epiisopiloturina,

avaliamos seus efeitos contra Leishmania amazonensis IFLA/BR/67/PH-8 na forma amastigota e contra o

helminto Schistosoma mansoni.

Após a purificação por HPLC, foi confirmada por espectrometria de massa que a molécula usada

nos teste in vitro foi devidamente isolada, também foi obtido a confirmação da massa molecular do

alcalóide (M+H+ = 287.05) (figura 3).

Figura 3. Análise por meio de HPLC do padrão de epiisopiloturina e o respec-tivo alcaloide purificado no projeto. Obs.: a figura demonstra que a substân-cia foi isolada.

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238 COLETÂNEA BITEC 20082010

A característica da atividade dos azóis leishmanicidas é utilizada desde os anos 1980 (CHANCE,

1995; ABDELY et al., 1999), eles inibem o crescimento de protozoários amastigotas por inibição da en-

zima P-450, que consequentemente inibe 14 α-demetilase causando danos à formação de lanosterol

(CHANCE, 1995). Contra Leishmania amazonensis IFLA/BR/67/PH-8 na forma amastigota em macrófagos

também apresentou atividade significativa quando testada com o alcaloide epiisopiloturina, diferente-

mente do resultado encontrado em ensaios do alcaloide contra a forma promastigota, em que se teve

um resultado não significativo.

Albendazol e mebendazol são drogas anti-helmínticas já utilizadas na medicina humana e veteri-

nária, os dois fármacos pertencem ao mesmo grupo químico do alcaloide epiisopiloturine. Em testes in

vitro, conclui-se que, após 120 horas de incubação, a concentração de 150 μg/mL pode detectar mu-

danças na superfície do verme, em que a concentração de 200 μg/mL é uma combinação de mudanças

em áreas superficiais aliadas à morte do verme.A atividade do alcaloide epiisopiloturina, observada em

S. mansoni, L. amazonensis IFLA/BR/67/PH-8 na forma amastigota, e nenhuma atividade em macrófagos

sugerem que podem estar ligados ao bloqueio da enzima 14-α-demetilase no citocromo P-450, uma vez

que há mudanças observadas na superfície do verme e do protozoário; ambos têm esterol na composi-

ção de sua membrana celular.

Mais detalhes dos ensaios antileishmania e antiesquistossoma estão depositados em forma de pa-

tente protocolada sob o número 000102 no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi) com

cotitularidade da Universidade Federal do Piauí e a Indústria Vegeflora Extrações do Nordeste Ltda.

16.6 ConclusãoEste trabalho objetivou descobrir a utilidade de uma biomassa, resíduo industrial, oriunda do processa-

mento de folhas do jaborandi para extração da pilocarpina.

Os resultados evidenciaram a atividade trematodicida in vitro para Schistosoma mansoni (BH strain

Belo Horizonte, Brazil) e leishmanicida para Leishmania amazonensis na forma amastigota (cepa IFLA/

BR/67/PH-8).

Estes achados são promissores para a continuidade dos estudos com esse alcaloide, com o intuito

de averiguar outras propriedades farmacológicas, seu mecanismo de ação e, sobretudo, para investigar

a possibilidade de seu uso, isolado ou associado a outros compostos, na terapêutica da leishmaniose

e esquistossomose, podendo levar a um direcionamento para produção de um novo fitofármaco de

origem nacional.

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9ª EDIÇÃO 243

17 IEL/PR SISTEMA COMPUTACIONAL PARA SELEÇÃO DA TENSÃO DO TRANSFORMADOR ELEVADOR, SELEÇÃO DA LINHA DE TRANSMISSÃO E ANÁLISE FINANCEIRA DAS PERDAS NA TRANSMISSÃO PARA PROJETOS DE PEQUENAS CENTRAIS HIDRÉLETRICAS APLICANDO UM SISTEMA BASEADO EM CONHECIMENTO SBCFUZZY

Bolsista: Luiz Fernando Ortega – UTFR

Professor orientador: Antônio Carlos Pinho – UTFR

Coautor: BrunoVictor Veiga

17.1 IntroduçãoO Projeto de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH) envolve uma série de áreas, cada qual com sua im-

portância. No entanto, o foco deste trabalho é analisar qual a melhor configuração para alguns sistemas

elétricos, baseando-se no impacto econômico associado às perdas na transmissão da energia, ou seja,

a seleção da tensão de transmissão e do cabo utilizado para esse fim irão determinar as perdas elétricas

no despacho da energia gerada pela PCH.

Para a análise das perdas na transmissão, o primeiro passo é determinar os aspectos elétricos fun-

damentais do cálculo dos parâmetros de uma linha de transmissão, correspondentes às características

elétricas, dimensões e espaçamento dos condutores.

Por meio do modelo computacional, vários cálculos serão desenvolvidos, tais como o cálculo dos

campos magnéticos e elétricos com os quais serão definidos os parâmetros indutivos e capacitivos das

linhas de transmissão, sendo que a partir desses parâmetros elétricos será possível definir as perdas da

linha de transmissão para determinada configuração.

Com a perda associada à transmissão e o custo da LT, o sistema computacional gera um relatório

com as melhores opções estudas. Desse ponto em diante, será aplicado a lógica fuzzy por meio de uma

série de perguntas referente ao relatório, chegando-se a melhor opção para o sistema.

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244 COLETÂNEA BITEC 20082010

17.2 Metodologia utilizada no desenvolvimento do Sistema ComputacionalO software foi implementado na plataforma Windows, utilizando o Visual Basic para programação.

A preparação do software foi feito usando planilha eletrônica do Microsoft Excel. O modelo desenvolvido

tem como objetivo executar as seguintes tarefas:

a) Aquisição dos dados via usuário.

b) Cálculo dos parâmetros elétricos da linha de transmissão.

c) Cálculo das perdas elétricas inerentes à transmissão de energia.

d) Análise econômica.

e) Aplicação posterior da lógica fuzzy.

17.2.1 Entradas do softwareInicialmente, o modelo computacional pede ao usuário uma série de dados que serão necessários ao

desenvolvimento dos cálculos para se determinar os parâmetros da linha de transmissão, assim como o

cálculo das perdas elétricas no sistema.

A figura 1 mostra a tela de entrada do programa.

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9ª EDIÇÃO 245

O primeiro ponto para entrada dos dados é saber o fator de potência com o qual o sistema elétrico

irá trabalhar. Logo após, o usuário poderá entrar com a potência instalada da usina ou poderá calcular a

potência instalada a partir do dimensionamento da turbina – no programa existe a possibilidade de di-

mensionar a turbina (figura 2). O dimensionamento das turbinas segue o modelo de dimensionamento

básico hidrodinâmico de turbinas hidráulicas com rotores tipo Francis e rotores axiais para máquinas de

fluxo sugerido por Zulcy (1983).

Figura 1: Dados de entrada

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246 COLETÂNEA BITEC 20082010

Figura 2: Dimensionamento da turbina – axial

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9ª EDIÇÃO 247

Para determinar o comprimento da linha de transmissão, o programa aceita a entrada do compri-

mento ou, caso o usuário não tenha o valor, ele pode calculá-lo apenas disponibilizando as coordenadas

geográficas da subestação da usina e a subestação da concessionária.

O calculo é feito de acordo com a figura 3.

Após esse ponto, alguns dados financeiros são inseridos no programa pelo usuário. Esses dados vão pos-

sibilitar o cálculo da relação custo-benéfico de cada uma das configurações, expostas no relatório final.

E, por último, alguns dados referentes à configuração da linha de transmissão serão pedidos pelo

software.

17.2.2 Parâmetros elétricos da linha de transmissãoO projeto de uma linha de transmissão (LT) envolve cálculos elétricos e mecânicos, pois o bom dimen-

sionamento elétrico está intimamente ligado a fatores mecânicos, por exemplo o dimensionamento das

estruturas capazes de suportar o peso dos cabos, rajadas de vento e outras ocorrências como o rompi-

mento de cabos etc. (ZANETA JÚNIOR, 2005).

Vale salientar que, para este trabalho, apenas os aspectos elétricos foram considerados. Esses as-

pectos foram usados para determinar os parâmetros elétricos das linhas de transmissão. Por meio do

cálculo dos campos magnéticos, foi possível determinar os efeitos indutivos das linhas e com dados

pesquisados foi definida a resistência dos cabos.

As LTs são dividas da seguinte maneira:

• Curta (linhas aéreas de 60 Hz, com menos de 80 km): desprezam-se as susceptância capacitas

(b=jwC), isto é, desprezam-se as capacitâncias em paralelo (shunt), os demais parâmetros R e L

são considerados concentrados.

• Média (linhas aéreas de 60 Hz, entre 80 km e 240 km): os parâmetros R, L e C são considerados

concentrados, porém este último é divido ao meio (C/2) e representado em cada um dos ex-

tremos da linha (circuito П).

Figura 3: Cálculo da distância

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248 COLETÂNEA BITEC 20082010

• Longa (linhas aéreas de 60 Hz, acima de 80 km): os parâmetros R, L e C estão uniformemente

distribuídos ao longo da linha e isso deve ser observado no cálculo rigoroso das linhas longas.

Como para a maioria dos casos estudados o comprimento não passa de 80 km, o modelo escolhido

para desenvolver o software é o de linha de transmissão curta. O circuito equivalente de uma LT curta é

mostrado na figura 3. Antes de passar ao estudo dessa linha, é importante que se faça alguns esclareci-

mentos de notação e convenções, ou seja:

• Z = z × l: impedância total em série, por fase.

• Y = y × l: admitância total em paralelo, entre linha e neutro.

• l: comprimento da linha.

• z: impedância em série, por unidade de comprimento, por fase.

• y: admitância em paralelo, por unidade de comprimento, entre linha e neutro.

• IS e IR: correntes, respectivamente, no gerador e na carga.

• VS e VR: tensões entre linha e neutro, respectivamente, no gerador e na carga.

• Quando a corrente instantânea flui no sentido indicado pela flecha na figura 4, ela é considera-

da positiva; meio ciclo depois quando inverte o sentido da corrente, ela é negativa.

• O valor instantâneo da tensão é considerado positivo quando o terminal (+) estiver em um

potencial maior do que o terminal (-), caso contrário é negativo.

Figura 4: Circuito equivalente de uma LT curta

Para o cálculo da resistência da linha de transmissão, foram considerados dois pontos distintos.

O primeiro foi a resistência própria dos cabos condutores. A resistência própria dos cabos foi encon-

trada a partir de tabelas padronizadas para cada um dos cabos. Sendo assim para determinar seu valor

foi feito o seguinte cálculo:

(1)

M1 é a matriz da resistência própria dos cabos condutores.

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9ª EDIÇÃO 249

O segundo ponto consistiu no cálculo da resistência da terra. Esse cálculo levou em consideração

que a resistividade do solo tem um valor de 100 Ω.m e neste caso a profundidade da corrente seria 849

m e a freqüência de 60 ciclos por segundo.

A fórmula utilizada para encontrar a resistência de retorno pela terra é:

(2)

RT: resistência de retorno do solo.

μ: permeabilidade magnética.

ω: velocidade angular.

A partir da fórmula definida por Carson, encontramos a seguinte matriz:

(3)

M2 é a matriz da resistência de retorno do solo.

Para o cálculo da indutância da linha de transmissão, foi utilizada a seguinte matriz:

(4)

M3 é o efeito indutivo da terra.

M4 é o efeito indutivo dos cabos.

Após esse cálculo, foi feito a transposição da matriz M4:

(5)

M4nova é a matriz M4 transposta.

DM é .

D12 é a distância entre as fases 1 e 2, D13 é a distância entre as fases 1 e 3, D23 é a distância entre as

fases 2 e 3.

Quando ocorre a transposição, a distância entre as fases é a distância média geométrica, calculada

por

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250 COLETÂNEA BITEC 20082010

Depois de calcular cada um dos parâmetros da linha, foram agregados todos os valores por meio

da seguinte matriz:

(6)

Com esses valores em mãos, foi possível calcular a impedância equivalente do sistema – a figura 5

mostra o cálculo das matrizes – com a seguinte fórmula:

(7)

Sendo que,

Figura 5: Exemplo de cálculo da impedância dos cabos da linha de transmissão

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9ª EDIÇÃO 251

17.2.3 Dados dos cabos utilizadosDentro do sistema, existe um banco de dados que contempla as características de uma série de ca-

bos CAA – condutor de alumínio com alma de aço, cuja denominação muito conhecida em inglês

é ACSR, de aluminium cable steel reinforced (ZANETA JÚNIOR, 2005) – usualmente utilizados, esses

dados estão representados na figura 5. Com os dados, é possível o cálculo dos parâmetros indutivos e

resistivos da linha.

Figura 6: Dados dos cabos

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252 COLETÂNEA BITEC 20082010

17.2.4 Cálculo das perdas elétricasPara definir as perdas na transmissão, foram efetuados alguns cálculos. Para esses cálculos, alguns dados

são disponíveis:

• Potência gerada pela usina.

• Fator de potência.

• Tensão.

• Impedância.

Primeiramente, calculando a corrente:

(8)

Após essa operação, é definida a perda em W com a seguinte equação:

(9)

Pw é a perda na transmissão.

I é a corrente que flui para a carga.

R é a resistência equivalente dos cabos.

17.2.5 Análise econômica A maneira encontrada para demonstrar qual a melhor escolha financeira para configuração elétrica foi

utilizando o conceito de valor presente líquido (VPL). O valor presente líquido é um critério financeiro

destinado a avaliar investimentos por meio da comparação entre os cash flows, este último é a medida

de rentabilidade de um projeto, ou seja, os fluxos líquidos gerados pelo projeto que assumem a forma de

numerário (fluxos de tesouraria), gerados por um projeto, e o capital investido (ZUNIDO; MAGALHÃES;

VASCO, 2006).

De acordo com Zunildo e Magalhães e Vasco (2006), a determinação do VPL de um projeto é feito

em cinco etapas:

1) Fixar a taxa de atualização (j).

2) Determinar o capital investido – se o projeto necessitar de várias despesas de capital durante

vários períodos, é necessário atualizar essas saídas de fundos (cash outflows) para o período

zero.

3) Atualizar cada cash flow de exploração utilizando a expressão:

(10)

Em que:

n = ano em que se verifica o cash flow

(n = 1, 2, 3, …).

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9ª EDIÇÃO 253

4) Somar os cash flows de exploração atualizado – representa o valor atual do cash flow de explo-

ração.

5) Subtrair o valor atual dos cash flows de exploração do custo do investimento.

Um projeto de investimento é considerado rentável quando o seu VPL é positivo.

Há duas fórmulas para o cálculo do VPL. Quando existe um único investimento no momento inicial,

aplica-se a expressão,

(11)

Em que:

CPp = cash flow de exploração do período p.

I = despesa de investimento inicial.

j = taxa de atualização.

17.3 Aspectos da lógica fuzzyA expressão lógica fuzzy foi mencionada pela primeira vez em 1965 pelo engenheiro eletrônico Lotfi

Asker Zadeh, professor de Teoria dos Sistemas na Universidade de Berkeley, que desenvolveu, na década

de 1960, a Teoria dos Conjuntos Fuzzy e, na década de 1970, propôs sua extensão, com o conceito de

variável linguística (CAMPOS, 2004).

A lógica fuzzy representa a incerteza por imprecisão, isto é, trabalha com conjuntos com limites

imprecisos. Muito utilizada para representar termos linguisticamente imprecisos. Na lógica clássica, com

base na Teoria Clássica dos Conjuntos, um elemento pertence ou não ao conjunto, enquanto, na lógica

fuzzy, um elemento possui grau de pertinência ao conjunto, que varia de 0 a 1, este grau é obtido por

meio da função de pertinência que representa o conjunto.

Neste trabalho, a lógica fuzzy é utilizada para auxiliar o processo de inferência que irá armazenar o

conhecimento de especialistas na seleção de linhas de transmissão. Ao mesmo tempo, durante a uti-

lização do sistema proposto, as incertezas nos dados de entrada, estarão contempladas com o uso de

variáveis linguísticas e seus respectivos termos primários, para auxiliar o processo decisório.

17.4 Simulação realizada Uma vez concluídas as etapas de projeto e desenvolvimento do sistema computacional, as diversas fun-

cionalidades foram testadas e verificadas. Neste artigo, serão apresentados os resultados obtidos a uma

simulação do software para uma PCH que está em fase de projeto básico.

Os dados da PCH são os seguintes:

• Tensões possíveis: 34,5 kV ou 138 kV.

• Fator de potência do fluxo na fonte: 0,99 indutivo.

• Potência instalada: 15,3 MW.

• Comprimento da linha: 28km.

• Custo da linha de 34,5 kV + custos eventuais: R$ 1.629.300,00.

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254 COLETÂNEA BITEC 20082010

• Custo da linha de 138 kV + custos eventuais: R$ 5.245.000,00.

• Tempo para amortização da dívida: 20 anos.

• Juros: 12% ao ano.

• Valor do MW/h: R$ 160,00.

Os dados foram inseridos de acordo com a figura 7.

Figura 7: Dados da simulação

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9ª EDIÇÃO 255

Após os cálculos, ficou definido a impedância e as perdas para vários cabos, para não estender o

trabalho apenas alguns cabos serão estudados neste artigo. Os cabos escolhidos são o partridge (bitola

266,80), ostrich (bitola 300,00) e o oriole (bitola 336,4).

A figura 8 mostra as perdas dos respectivos cabos para cada uma das tensões selecionadas. É evi-

dente que, com o aumento da potência, as perdas tendem a aumentar e com a elevação da tensão

ocorre o inverso, ou seja, quando analisamos e comparamos a tensão de 138 kV com a de 34,5 kV perce-

bemos que as perdas da primeira é inferior à da segunda.

Ainda na figura 8, temos o impacto econômico de cada um dos cabos calculados pelo valor pre-

sente líquido.

Com os valores calculados na etapa anterior podemos aplicar a lógica fuzzy para verificar qual a

melhor situação estuda até esse ponto.

Figura 8: Dados da simulação

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256 COLETÂNEA BITEC 20082010

17.5 Lógica fuzzy aplicada na seleção de linhas de transmissãoEste tópico trata do processo de inferência fuzzy (ponderação, implicação, agregação e “desfuzzyfica-

ção”), que será utilizado para avaliar os quesitos inerentes à seleção da linha de transmissão.

A partir do processo de inferência fuzzy, será possível definir qual a melhor escolha, tratando a

incerteza por imprecisão associada.

O modelo de inferência fuzzy utilizado neste trabalho é o de Mamdani (REZENDE, 2003). Para pon-

deração dos quesitos, o usuário poderá utilizar uma nota (0 ≤ nota ≤ 10) ou um termo linguístico entre

as seguintes opções: ruim; baixa; boa; alta; ótima.

Para exemplificar o processo de inferência fuzzy, será tomando como exemplo a atribuição de uma

nota ou conceito para cada afirmação definida para seleção da linha ideal. Será adotado, para fins de

exemplificação, a seguinte pergunta referente ao diagrama de decisão: “Para a tensão de 34,5 kV o cabo

partridge é o ideal?”. Para responder essa questão, os seguintes quesitos devem ser ponderados pelo

usuário:

1) “O custo de instalação da linha de transmissão é adequado.”

Termo linguístico definido pelo usuário – Ruim

2) “O custo referente às perdas associadas à transmissão é adequado.”

Termo linguístico definido pelo usuário – Baixa

3) “O custo global é adequado.”

Nota definida pelo usuário – 1,75

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9ª EDIÇÃO 257

4) “A estrutura tem as características ideais para esse projeto.”

Termo linguístico definido pelo usuário – Ruim

Agregando os resultados de Q1, Q2, Q3 e Q4, tem-se:

Figura 9: Resultado das perguntas agregadas em software Figura 10: Resultado final do conjunto agregado em software

Como a nota ficou no intervalo nota final ≤ 5 será considerada como não significante para a per-

gunta referente ao cabo partridge. Essa análise é feita para todos os cabos e todas as tensões estudadas.

O mesmo modelo mostrado anteriormente foi implementado por meio de um software para fins de

validação dos resultados já mostrados.

Dessa maneira, conseguimos verificar que o modelo, para o quesito anteriormente mencionado,

foi aplicado com exatidão, tendo seu resultado final compatível com o obtido por meio de um software

usualmente utilizado.

17.6 ConclusãoAlém de auxiliar a tomada de decisões, do projeto de uma PCH, a metodologia proposta contribui para

inclusão, no processo decisório, de todos os elementos que interferem na decisão.

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258 COLETÂNEA BITEC 20082010

A utilização da lógica fuzzy para tratamento das incertezas e das incompletudes do conhecimento,

inerente ao projeto do sistema elétrico de PCHs, mostrou-se eficiente. Sendo a ponderação, com base

em dados qualitativos, a partir da utilização de variáveis linguísticas, adequada.

A abordagem utilizada, fundamentada em normas e bibliografias estudadas, associada aos cuida-

dos e à atenção dispensada ao procedimento de verificação e aplicação do modelo, contribuiu para a

completude e a robustez da base de conhecimento e credibilidade dos resultados alcançados.

Após a abordagem utilizando a lógica fuzzy o usuário/especialista tem dados suficientes para sele-

cionar a tensão de trabalho do transformador, assim como os dados básicos para determinar a linha de

transmissão utilizada.

Referências

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da em confiabilidade aplicada em ativos de sistemas elétricos. 2003. 239 f. Tese (Doutorado em Engenharia de

Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003.

CAMPOS, Pio Filho, Método para apoio à decisão na verificação da sustentabilidade de uma unidade de con-

servação, usando lógica fuzzy. 2004. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de

Santa Catarina, Florianópolis, 2004.

GARCIA, Pauli Adriano de Almada, Uma Abordagem Fuzzy com Envelopamento dos Dados da Análise dos

Modos e Efeitos de Falha. 2006. 63 f. Tese (Doutorado em |Engenharia Nuclear) – Universidade Federal do Rio de

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STEVENSON JUNIOR, William D. Elementos de análise de sistemas de potência. Porto Alegre: Editora McGraw-

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SOUZA, Z. Dimensionamento de maquinas de fluxo-turbinas-bombas-ventiladores. São Paulo: EDGARD

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ZUNIDO, A.; MAGALHÃES; VASCO, G. Análise financeira de projectos de software (VAL, TIR e PRI). Disponível

em: <http://www.deei.fct.ualg.pt/~a14073/licenciatura+informatica/engenharia+de+software/analise+financeira

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9ª EDIÇÃO 261

18 IEL/RJ NOVAS CONCEPÇÕES, NOVA GESTÃO E MAIS CLIENTES

Bolsista: Felipe Vieira Soares – UBM

18.1 IntroduçãoEste artigo demonstra o trabalho diligente e inovador que por meio de um diagnóstico chegou-

se à obtenção de ótimos resultados que, por sua vez, mudaram o rumo completamente de uma

microempresa do sul-fluminense no estado do Rio de Janeiro, entretanto as consequências são

muitas, indo desde o fortalecimento de uma livraria na cidade de Barra Mansa, até mesmo a modi-

ficações profundas no incentivo à leitura, à cultura e, também, ao lazer de toda uma população que

deseja melhor qualidade de vida.

Assim, por meio de fases que especialmente cada uma delas apresentava algo essencial para pro-

porcionar estrategicamente know how em todo o campo, no qual a administração encarrega-se de fazer

acontecer o negócio de livraria da maneira mais apropriada possível, objetivado, portanto, a conquista

do conhecimento de novas concepções a quem se encarrega de gerir totalmente a empresa – os gestores

–, logo depois aplicar esse aprendizado desenvolvendo uma nova gestão e, em consequência, após um

novo modo de comando, o resultado aguardado só podia ser um, ou melhor, um monte: muito mais

clientes para a Apolo Livraria.

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262 COLETÂNEA BITEC 20082010

18.2 Fases de desenvolvimento

18.2.1 Organização básica completaO projeto Novas Concepções, Nova Gestão e mais Clientes realizou desde o início diversas atividades

dinâmicas e motivadoras objetivando modificações profundas na empresa para obtenção de uma ex-

celente gestão.

Em função dos aspectos exclusivos de cada organização, o administrador define es-

tratégias, efetua diagnósticos de situações, dimensiona recursos, planeja sua aplica-

ção, resolve problemas, gera inovação e competitividade (CHIAVENATO, 2003, p. 2).

Para isso, foi realizada uma análise minuciosa da situação da microempresa Apolo Livraria, antes

do início da execução oficial do projeto, durante a semana do dia 25 de maio de 2009, para qual fora

desenvolvido um planejamento estratégico à sua melhoria contínua. Daí, as primeiras ações colocadas

em prática foram voltadas à melhoria da organização na empresa almejando ao controle e administração

de estoque, vendas, clientes e finanças.

O trabalho inicial foi bem complexo e demandou de muito cuidado, pois fora composto por múl-

tiplos diferentes procedimentos a seguir: o registro em uma planilha eletrônica de todos os mais de 3

mil diversos títulos tanto que pertenciam à empresa quanto os que estavam lá por consignação, como

aqueles já devolvidos para editoras, sua quantidade, condição, entre outros aspectos; além de realocá-

los nas suas correspondentes gôndolas verificando sua quantidade em estoque e confirmando todos

os outros dados confiáveis que o sistema de gerenciamento (software) ainda apresentava com segu-

rança, pois ele funcionava apenas com algumas funções corretamente. Para solucionar essa situação,

recomendou-se aos gestores encomendar novo software de gerenciamento comercial, uma vez que

suas utilidades facilitam e muito na gestão da empresa.

Fora também colocado em funcionamento literalmente a ideia da consulta pessoal, cuja funciona-

lidade é proporcionar maior conforto e praticidade ao cliente que pôde, então, consultar por conta pró-

pria a qualquer momento e de maneira mais acessível, bem fácil e rápida; o registro do livro que deseja

sabendo imediatamente seu preço, sinopse virtual, livros semelhantes entre muitas outras informações.

Toda essa comodidade é obtida pela instalação de computadores em rede distribuídos pelo estabeleci-

mento portando o sistema de consulta de livros.

Ao mesmo tempo, a partir da metade do mês de junho, fora iniciada a realização da pesquisa de

mercado em busca do melhor financiamento que atendesse adequadamente as condições da livraria

naquele dado momento e suprisse sua necessidade que era de investimento em capital de giro. Nesse

mesmo período, já estava sendo elaboradas algumas propostas para realização, por diferentes meios de

comunicação, do marketing da microempresa no município de Barra Mansa, onde se localiza a livraria.

Assim, essas atividades concretizadas na primeira fase do projeto (organização básica completa)

– principalmente nos produtos como também se refletindo por toda a infraestrutura da Apolo Livraria

– transformaram por completo seu layout que precisava ser modificado, resultando, então, em ótima

organização dos livros nas estantes, facilitando tanto a identificação deles pelos clientes quanto o con-

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9ª EDIÇÃO 263

trole interno de estoques, vendas. Enfim, um controle total da dinâmica da microempresa por todos que

trabalham lá, sobretudo, por meio da realização dessas atividades, fora melhor aproveitado o espaço dis-

ponível no estabelecimento, pois a partir de então reforçamos o aprendizado de manter a organização,

a realocação imediata de livros e a sensibilidade constante em desenvolver novos espaços criativos para

apresentação e/ou armazenagem de todos os produtos da empresa.

18.2.2 Organização completa em infraestrutura As atividades nessa fase começaram por meio de uma diminuição e eliminação de gastos desnecessários

e atitudes desvalorizantes, pois Apolo Livraria necessitou rapidamente de uma reestruturação financeira.

Para isso, precisou-se esquematizar mais claramente a situação financeira da microempresa e a apli-

cação das devidas medidas corretivas sobre as despesas desnecessárias, ou seja, cortando-as mantendo,

assim, somente as despesas fixas e variáveis mais relevantes para sobrevivência adequada da microem-

presa: como pagamento do aluguel, luz, telefone, impostos, entre outras.

Com forte incentivo à formação de hábitos mais valorizantes para os gestores foi implantado um

novo método denominado “Plano de Reestruturação” que proporciona o fácil controle e gerenciamento

principalmente de todos os gastos e dívidas de Apolo Livraria por meio de uma simples planilha eletrô-

nica que nela são listados, cronologicamente, todos os dados como valores de cada obrigação durante o

tempo necessário para sua efetiva eliminação. Desse modo, cria-se um banco de dados seguro ficando

muito mais claro e fácil a realização de um planejamento estratégico sobre o melhor meio possível e

rápido para concluir quaisquer obrigações.

A Apolo Livraria estava passando por um período delicado no qual exigia o pagamento imediato

das dívidas, necessitando da aplicação de atividades mais avançadas no mês de julho. Assim sendo, com

o resultado dessas atividades foi realizada a esquematização mais tangível da situação financeira de

Apolo Livraria, além do seu estudo e da criação de diretrizes eficazes para solucionar definitivamente a

situação financeira da microempresa.

Esse trabalho mais intenso e ativo na gestão financeira foi realizado por meio das seguintes ope-

rações-foco: traçando-se claramente as receitas e a delimitação (criação) das possíveis novas fontes de

receitas subtraindo das mais necessárias despesas, delimitando em ordem de prioridade todas dívidas

e para estas estabelecendo respectivos fundos de reservas ao seu pagamento; além da projeção de

medidas e conscientização comportamental eficiente aos gestores para que eles conseguissem manter

o equilíbrio financeiro da microempresa continuamente.

Essas atitudes possibilitaram maior segurança aos gestores no modo de como conquistar tanto a

concessão do financiamento quanto o pagamento das dívidas quanto, também, saber e decidir o meio

de pagamento do próprio financiamento.

A concessão do financiamento foi concedida por meio de pesquisas de mercado em busca da

melhor maneira de pagamento com os menores juros possíveis, adequado prazo e parcelas que se en-

caixassem formidavelmente às condições de Apolo.

Já na comunicação em marketing foram acordadas mais duas propostas potenciais de divulgação

de Apolo Livraria por meio de parcerias com outras empresas que puderam diretamente proporcionar

uma contribuição na vendagem de livros, além de que já ocorria uma parceria com mais uma empresa

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264 COLETÂNEA BITEC 20082010

que apresentava o diferencial de aumentar a competitividade de Apolo diretamente com sua principal

concorrente Veredas em Volta Redonda, município vizinho de Barra Mansa.

18.2.3 Otimização dos recursosEssa fase, ocorrida no mês de agosto, realizou a implantação de novos meios de comunicação em ma-

rketing na Apolo Livraria pelo fechamento de parcerias com outras empresas, sendo que uma delas

– que trabalha no ramo de decoração – exigiu exclusividade para desempenhar esse fim. Entretanto,

foi concedida a continuidade e o firmamento da parceria com a empresa, Sensually, localizada em Volta

Redonda – cidade vizinha de Barra Mansa – que apresenta grande potencial de vendas, pois se encontra

próxima à principal concorrente de Apolo na região sul-fluminense.

Depois da efetivação das parcerias, realizaram-se análises sobre o modo de gerenciamento delas

na seleção, na identificação e no controle dos livros que iam ou já estavam sendo enviados às empresas

parceiras e também estudos sobre a viabilidade dessas em relação às contribuições em vendagem de

livros e em marketing à Apolo Livraria.

Realizou-se também a organização de livros no “Cantinho da Leitura” e das últimas gôndolas de

livros profissionais, o que possibilitou melhor identificação de livros tanto pelos clientes quanto para

dinâmica de reposição e devolução dos livros internamente, além de ter atualizado o levantamento de

estoque do estabelecimento para a futura alimentação de dados do novo software de gerenciamento da

microempresa que, nesse período, estava sendo desenvolvido.

O mais incrível é que já nessa fase começaram aparecer tão rapidamente os bons resultados da

reestruturação financeira realizada na Apolo Livraria, implantando, no mês de agosto, a reabilitação do

Sistema de Vendagem por Encomenda, além do estabelecimento de um novo modo de encomendas

que garantisse segurança de vendas na livraria, por exemplo, exigindo uma quantia de entrada e a ma-

nutenção de contato permanente com o cliente durante o processo da compra, informando-o sobre

prazos, entre outros informativos até a entrega do seu produto encomendado, evitando-se, assim, anti-

gas falhas, pois esse Sistema de Vendagem representa o meio mais rentável e favorável de comercializa-

ção tanto para a empresa por ter maior garantia e volume no fechamento efetivo de suas vendas quanto

aos clientes, uma vez que podem conseguir livros mais raros e/ou específicos atendendo exatamente à

sua necessidade.

Com isso, o treinamento de pessoas para divulgação da Apolo foi iniciado e continuou aconte-

cendo durante o mês de setembro, objetivando alcançar um efetivo Investimento em marketing pela

panfletagem realizada no mês de setembro para imediata reabilitação do sistema de vendagem por

encomenda.

Por conseguinte, essa fase que fora concluída (otimização dos recursos) superou todas as

expectativas pela realização imediata da reabilitação do sistema de vendagem por encomenda

coligada a todas outras atividades desenvolvidas, especialmente o fechamento e a confirmação

de mais parcerias. Tudo isso abriu novas oportunidades tanto ao fortalecimento quanto ao cresci-

mento contínuo de Apolo Livraria, no qual seus gestores, por meio desses incentivos animadores,

confirmaram o aprendizado das novas concepções: principalmente em atitudes que mantenham a

microempresa no mercado.

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9ª EDIÇÃO 265

18.2.4 Operação pente-finoNessa fase continuou o gerenciamento das parcerias – como seleção, identificação e controle dos livros,

enviados às empresas parceiras – e o estudo sobre a viabilidade dessas em relação às contribuições em

vendagem de livros e em marketing a Apolo Livraria.

O investimento em marketing pela panfletagem fora idealizado, continuou em execução

e estendeu-se pelos meses seguintes, pois se apresentou como um bom meio de divulgação

da empresa.

Esse fora realizado pela pessoa treinada na fase anterior sendo que, além dela ajudar na promoção

de marketing por esse modo, foi preparado para realizar também uma divulgação de Apolo Livraria de

uma forma inovadora diretamente com o público-alvo por meio principalmente de enquetes, pesquisas

entre outras estratégias que enfatizam o conhecimento das pessoas sobre a existência da Livraria Apolo

na cidade de Barra Mansa, além de que ela é a única nesse ramo.

Ocorreu também incentivo ao maior aproveitamento do Cantinho da Leitura promovendo eventos

intuitivos, como conto de histórias a crianças e adolescentes, estimulando o conhecimento da livraria no

município; venda de livros; além de propiciar mais cultura, entretenimento e lazer à sociedade.

Os gestores foram instruídos sobre noções básicas de contabilidade 2, o que fortaleceu as concep-

ções e demonstrou novas; melhorando a utilização do “Plano de Reestruturação” que proporcionou o

fácil controle e gerenciamento de todos os gastos e dívidas de Apolo Livraria por meio de uma planilha

eletrônica; além de sanar quaisquer dúvidas no assunto aos gestores em qualquer momento.

A atividade de desenvolvimento de novos espaços criativos para exibição e/ou armazenagem dos

livros propiciar melhor infraestrutura.

Além disso, a reestruturação financeira realizada em Apolo Livraria no mês de julho possibilitou ra-

pidamente a reabilitação do sistema de vendagem por encomenda, além do estabelecimento do novo

modo de encomendas que garantisse segurança de vendas à livraria, evitando-se, assim, antigas falhas,

pois esse sistema representa meio rentável e favorável de comercialização tanto à empresa, por ter maior

garantia e volume no fechamento efetivo de suas vendas, quanto aos clientes, uma vez que podem con-

seguir livros mais raros e/ou específicos atendendo exatamente a sua necessidade.

Com isso, o volume de vendas na Apolo livraria tornou-se cada vez maior e ajudou no controle de

dívidas, pagamento de obrigações e na manutenção da estabilidade financeira.

18.2.5 Maior valorização nas vendasNo mês de outubro, a habilitação do novo Sistema de Gerenciamento (software) foi implantado, porém

não funcionou adequadamente às necessidades específicas da empresa, pois a empresa contratada para

esse serviço não cumpriu exatamente com combinado, assim, com os gestores-funcionários. Sugeri que

fosse resgatado o valor investido para ser aplicado em um programa com outra empresa que tivemos

conhecimento que apresenta um software apropriado para livrarias.

A implantação de mais um ponto de consulta pessoal não foi necessário, pois a reestruturação

financeira foi tão efetiva, possibilitando o restabelecimento do Sistema de Vendagem por Encomendas.

Assim, as encomendas facilitam muito mais o atendimento exato das reais necessidades dos clientes,

pois ser mais cômodo e eficaz.

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266 COLETÂNEA BITEC 20082010

Já a promoção do pós-venda na Apolo foi desenvolvida progressivamente. O pós-venda ocorreu

com ligações, avisos ou envio de mensagens, sendo cada vez mais presente a empresa na vida do cliente.

A participação da livraria em parceria com instituições escolares está em contínuo progresso.

Fora fechada diversas encomendas, além da participação da Apolo em feiras e eventos, geralmen-

te, em escolas da rede privada, depois a livraria preparou-se para outras parcerias com instituições

escolares públicas.

O investimento em marketing em um evento, atividade prevista para o mês de novembro, acon-

teceu com sucesso. A livraria convidou toda Barra Mansa para conhecer. Conseguimos a participação

especial de autoras regionais lançando seus livros e distribuição de pipoca, algodão doce, brindes, entre

outros, conseguido parceria com uma instituição escolar para potencializar ainda mais a intensidade do

evento, proporcionando resultados diretamente significativos nas vendas e no conhecimento da nova

livraria em Barra Mansa.

18.2.6 Inovações em açãoEm novembro foram realizadas diversas atividades que vincularam definitivamente os resultados já ob-

tidos com o fortalecimento de boas diretrizes ao crescimento contínuo da Apolo, tais como: adequar o

atendimento ao cliente comunicando-se mais claramente, com melhorias na dicção, na articulação da

fala, no poder de persuasão e da gentileza – a paciência e saber ouvir o cliente.

Aliás, um novo grande resultado foi conseguido: aumentar a variedade e o enriquecimento de livros

na livraria. Um pouco antes do momento da reestruturação financeira na fase “organização completa em

infraestrutura”, algumas editoras diminuíram a quantidade de livros disponíveis como consignação para

a Apolo Livraria. Todavia, logo apliquei o plano de reestruturação financeira que visou proporcionar a

Apolo e a seus gestores um pleno aprendizado de novas concepções: métodos, ferramentas e atitudes

que conferiram, por sua vez, nova forma para a gestão financeira da microempresa.

Novas editoras fizeram parcerias com Apolo Livraria, outras já aumentaram a quantidade e

atualizaram os títulos dos livros na empresa, tornando-a mais bela, com melhor acervo e disponi-

bilidade aos clientes.

Além disso, ocorreu utilização estratégica em benchmarking que fora pesquisada desde o início e

durante todo decorrer do projeto com visitas a outras livrarias destaques e pesquisas por base de outras

fontes de informações, proporcionando grande diferencial para a Apolo Livraria que além de organizar

livros, prateleiras, tripés de modo mais chamativo, utiliza, então, um tipo de propaganda mais ativa e

persuasiva que é apresentada constantemente em locais estratégicos: em loterias federais, aonde gran-

de parte da população vai até lá para fazer pagamentos e utilizar diversos outros serviços. Assim, seus

clientes esperando na fila veem a propaganda da Apolo Livraria passar em uma televisão que se

localiza de frente para as pessoas. Com isso, elas tomam consciência da existência de uma livraria na

cidade. A Apolo Livraria aumentou cerca de 30% o aumento das vendas durante o projeto.

Desse modo, os resultados não param por aí, pois aliado a um investimento em marketing inovador

denominado “Programa de Incentivo à Leitura e Cultura em Barra Mansa, constituído de uma mixa-

gem de entrevistas, lembretes, convites, promoções e descontos. A partir desta atitude, outras surgiram,

como: realização de mala-direta; existência da empresa na população; qual a visão das pessoas em re-

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9ª EDIÇÃO 267

lação a empresa; o hábito da leitura existe entre as pessoas, qual é o estilo de livro de maior preferência,

entre outros.

Enfim, para assegurar essa nova situação próspera no qual a livraria já colhe ótimos resultados foi

feito um tipo de análise do ambiente atual coligado às diretrizes que a empresa está utilizando por meio

das informações coletadas do “Programa de Incentivo a Leitura e Cultura em Barra Mansa”, para criar

um balancete final das transformações e dos seus impactos; projeções para Apolo Livraria no mercado

que servirá como uma boa base de consulta aos gestores. Durante a execução do projeto, conseguiu-se

proporcionar uma estabilidade à situação orçamentária da livraria, evitando-se, assim, a tendência de

queda que vinha apresentando antes, ou seja, conseguiu-se inverter esse quadro positivamente. Além

do aumento e do maior conhecimento dos clientes sobre a existência de Apolo. A Apolo Livraria deve

continuar investindo em marketing para que seu nome seja lembrado, pois muitas pessoas conhecem a

existência da livraria em Barra Mansa, porém não associam com seu nome. Deve-se também conseguir

parceria com mais uma editora que se destaca no cenário nacional (Sextante).

18.3 ConclusãoPortanto, é claro que foi de grande valia todo esforço usado para a consolidação da nova posição em que

Apolo Livraria, pois foi um trabalho bem diversificado, complexo que estrategicamente foi planejado

para atingir e modificar tudo o que havia na empresa, potencializando o melhor e suprindo as necessi-

dades, com a finalidade de estabelecer uma nova gestão mais firme e benevolente na Apolo Livraria. Os

resultados foram extremamente animadores, pois conseguimos aumentar a vendagem da empresa, es-

timular o comércio de livros em Barra Mansa, ter melhor atendimento ao cliente; aumentar o número de

clientes, projetar a imagem da Apolo Livraria; e proporcionar o crescimento de toda essa microempresa

como também dos seus gestores-funcionários que apresentam-se como peças fundamentais.

Referência

CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.

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9ª EDIÇÃO 269

19 IEL/RJ AVALIAÇÃO DAS ROTAS DE ENTREGA DE UMA EMPRESA DE TORREFAÇÃO E EMPACOTADORA DE CAFÉ

Bolsista: Jaqueline Rodrigues Folly – UFF

Professora orientadora: Lídia Angulo Meza – UFF

19.1 IntroduçãoEste trabalho tem por objetivo analisar as rotas de distribuição e venda de café de uma empresa proces-

sadora e empacotadora de café. Para isso, esse estudo envolve a análise de cada rota levando em conta

suas características, tais como: clientes, demanda, transporte, característica da região, regras de carga e

descarga, entre outras. Ou seja, serão analisadas todas as característica que determinam a forma em que

as rotas são construídas.

Paralelamente a esse trabalho, foi feita uma pesquisa bibliográfica dos modelos existentes na enge-

nharia e na logística que ajudaram a identificar os pontos que podem ser melhorados e otimizados. Esses

modelos que foram desenvolvidos para determinar rotas de entrega, vendas e distribuição têm as mais

variadas características e ajudam a otimizar o tempo em trânsito e o custo das rotas. Para este trabalho,

foram escolhidos os modelos que mais se aproximam das características das rotas da empresa.

Devido à diversidade dessas rotas, que servem às várias regiões do sul-fluminense do estado do Rio de

Janeiro, este estudo estará limitado as rotas de distribuição da cidade de Volta Redonda, sede da empresa.

19.2 Objetivo da pesquisaO objetivo deste trabalho é a análise das rotas de distribuição e venda de café de forma que supra

a demanda de café da região, sendo que as rotas de distribuição e compra sejam construídas de

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270 COLETÂNEA BITEC 20082010

forma eficiente para a empresa. Essa eficiência é medida em forma de tempo ou distância da

rota final.

19.3 Metodologia de pesquisaAs pesquisas foram realizadas por meio de entrevistas com vendedores e gerência, visando a conhecer

a distribuição das rotas de entrega de café. A partir disso, estudamos os objetivos, as metas, as rotas, os

locais, os meios e a capacidade de entrega da empresa Café Faraó, como será apresentado ao longo do

artigo. A seguir, foi realizada uma pesquisa bibliográfica dos modelos para determinação de rotas ótimas

que possuem características parecidas com as características das rotas da empresa.

19.4 Apresentação e discussão dos dadosO trabalho teve como ponto inicial as entrevistas com os vendedores e a gerência que forneceram infor-

mações-chave para este trabalho. Uma informação importante trata do tipo especial de rota, de venda e

entrega. Isto significa que os vendedores também são entregadores, e para isso eles saem da empresa

com carros carregados de pacotes de café que serão vendidos ao longo da rota. Nessa rota, existem

compradores fixos, mas também há vendas de oportunidade, ou seja, clientes que não estavam na

rota, mas que podem se tornar clientes futuros. Para efeitos deste trabalho, consideraremos apenas os

clientes fixos.

No entanto, foram identificados dois tipos de entregas na empresa. A primeira trata-se das rotas

para venda e entrega a cidades próximas, como Volta Redonda, Barra Mansa, Barra do Piraí, Piraí, Pinheiral

entre outras (vendedores locais). A segunda, de cidades distantes, entre eles, Angra, Vassouras, Três Rios,

Paraíba do Sul, Valença entre outras (vendedores regionais).

Também foram identificados dois tipos de clientes, chamados de clientes potenciais, a partir de

700 kg (grandes redes de supermercados entre outras); e pequenos clientes: aproximadamente 50 kg

(pequenos comércios, padarias entre outras).

19.4.1 Determinação das rotasNas entrevistas realizadas na empresa, foi estudada a forma como são determinadas as rotas. Pode-se

identificar duas visões, a visão da gerência e a visão do vendedor.

Segundo relatado pela gerência, inicialmente a rota foi dividida por cidades e a partir de seus fato-

res determinantes (capacidade de venda, distância, poder aquisitivo dos habitantes e hábitos) traçaram-

se as rotas de entrega da empresa. A empresa quando elaborou as rotas tinha o objetivo de crescer e

tornar-se a primeira no ranking do café tipo 6/7 (ponto de torra) na região do estado do Rio de Janeiro,

com menor custo possível. Outro fator importante e estratégico da rota foi a escolha dos vendedores.

Cada um faz a rota de acordo com a cidade que habita, permitindo assim a redução de custos. Além

disso, a ordem da visita é determinada pelo vendedor, ou seja, cada vendedor possui uma estratégia

para atender seus clientes.

Já segundo os vendedores, de modo geral, as rotas são criadas e traçadas por eles próprios, de acor-

do com o surgimento de novos clientes. Além disso, outros fatores levados em consideração são a ques-

tão de o cliente estar em dia com os pagamentos e a distância entre este e a rota viável do vendedor.

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9ª EDIÇÃO 271

Além disso, também foi analisada as rotinas de entrega, ou seja, os horários de trabalho, capacidade

do carro e outros detalhes importantes. Assim, para cidades próximas o carregamento diário é de 1.000

kg; o horário de trabalho é 6h às 17hs, sendo que a saída da empresa é a partir das 7h; utiliza-se uma

kombi para transporte e controle é feito usando-se a quilometragem, feita tanto na saída, quanto na

chegada. Para essas cidades, o vendedor chega à empresa a partir das 6h para carregamento e saem às

7h para abastecer os clientes do dia.

Nesse tipo de rota, os vendedores iniciam suas visitas pelo centro da cidade migrando para perife-

ria. Ao término da entrega, eles possuem a autonomia de retornarem à empresa ou cobrir outras regiões,

já que eles são comissionados.

No caso das cidades distantes, o carregamento semanal é entre 3.000 kg a 4.000 kg; o horário

é das 6h às 17hs, a saída da empresa é a partir das 7h; o tipo de carro utilizado é um caminhão-baú,

sprinter; e da mesma forma que no caso anterior o controle é feito por meio da quilometragem na saída

e na chegada. Para essas cidades, o vendedor sai da empresa a partir das 7h, na segunda-feira, carregado

com uma quantidade suficiente para abastecer sua região durante toda semana e retornam na sexta a

partir das 17hs. Ou seja, o carregamento é feito apenas uma vez por semana, quando o vendedor deixa

a empresa na segunda.

Qualquer tipo de imprevisto, falta de mercadoria, a empresa disponibiliza um transporte extra para

atendimento ou reposição nessas localidades. Visto que as entregas e as emissões de notas são feitas no

ato da venda.

Esses vendedores priorizam a região para ordenação das visitas aos seus clientes. Geralmente, eles

chegam às cidades e iniciam suas vendas pela periferia convergindo para o centro, no qual estão instala-

dos. Ao término da semana, eles percorrem um trajeto estratégico que possibilita o restante da entrega

e o posterior retorno à empresa.

19.5 Revisão da literatura e variáveis de pesquisaApós a pesquisa na empresa, foram realizadas algumas pesquisas bibliográficas sobre o tema transporte,

mais especificamente roteirização, visando a entender e conhecer os modelos existentes na enge-

nharia e na logística, a fim de identificar os pontos que podem ser melhorados no transporte utilizado

pela empresa.

A escolha do tipo de transporte e do modelo que será utilizado depende das características do

serviço, que variam desde a velocidade até a assistência na solução de problemas. Nesse sentido, cos-

tuma-se lançar mão de duas análises para o auxílio nessa decisão, compensações de custo básica e de

competitividade.

19.5.1 Compensações de custo básicasEste tipo de compensações ocorre quando o serviço de transporte não oferece vantagens competitivas,

a melhor escolha será aquela que apresente uma compensação em relação ao custo de manter a merca-

doria em estoque. E assim dadas as alternativas a decisão do modal será naquele que apresentar menor

custo enquanto satisfaz as metas dos clientes.

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272 COLETÂNEA BITEC 20082010

19.5.2 Considerações de competitividadeNesse caso, a seleção do modal de transporte pode ser utilizada como uma vantagem competitiva. Quando

um comprador compra bens de mais de um fornecedor, o serviço logístico oferecido, o preço pode influenciar

na escolha do fornecedor e na sua fidelidade em relação a ele, daí sua extrema importância.

Em relação à roteirização, verificamos que reduzir o custo do transporte trará melhor serviço ao

cliente, encontrando os melhores trajetos que um veículo deve fazer por meio de uma malha rodoviária,

linha ferroviária, linhas de navegação aquaviária ou rota de navegação aérea, que minimizarão o tempo

ou a distância, é um problema frequente de decisão. Nesse sentido, daremos destaque aos três principais

modelos de problemas existentes explicados a seguir.

19.5.2.1 Um ponto de origem e um ponto de destino diferente

Nesse problema, desejamos encontrar um trajeto por meio de uma rede no qual o ponto de origem

(ponto A, na figura 1) seja diferente do ponto de destino (ponto G, na figura 1). Dessa maneira, há

uma rede representada por ligações e nós, na qual os nós estão conectando pontos entre as liga-

ções, e as ligações são os custos (distâncias, tempos, ou combinação de ambos) para deslocamento

entre nós.

Figura 1

19.5.2.2 Pontos de origem e destino múltiplos

Este tipo de problema é similar ao anterior, porém, como nesse caso há múltiplos pontos de origem que

podem servir a múltiplos pontos de destinos, há o problema de atribuir destinos às fontes assim como

de encontrar as melhores rotas entre eles.

Esse problema ocorre geralmente quando há mais de um fornecedor, planta ou armazém para

servir a mais de um cliente para o mesmo produto.

19.5.2.3 Pontos de origem e destino coincidentes

Este tipo de problema de roteirização é uma extensão dos problemas já citados, mas, a exigência de que

o roteiro não está completo até que os veículos retornem ao seu ponto de partida torna este problema

um pouco mais complexo.

Os exemplos mais comuns são: reabastecimento de alimentos ou de drogarias de um ponto de

distribuição central, entrega domiciliar de mercadoria entre outros. O transporte utilizado pela empresa

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9ª EDIÇÃO 273

Café Faraó encaixa-se nesse tipo de problema, por esse motivo, as variáveis e as restrições serão compa-

radas com este estudo de casos.

Nesse tipo de rota, o grande objetivo é encontrar a sequência na qual os pontos devem ser visitados

e que minimizarão o tempo ou distância total do percurso. Entretanto, as restrições são extremamente

importantes no desenvolvimento da roteirização e da programação de veículos. Nesse sentido, devemos

considerar as seguintes restrições:

• Cada parada pode ter um volume a ser coletado tanto quanto entregue.

• Múltiplos veículos podem ser usados tendo limitações diferentes da capacidade de peso e de

cubagem.

• O tempo total máximo do condutor é restrito em uma rota antes de um período de descanso

ao menos de 8 horas.

• As paradas podem permitir coletas e/ou entregas somente algumas vezes durante ao dia.

• As coletas podem ser permitidas em uma rota somente depois que as entregas são feitas.

• Aos motoristas podem ser permitido fazer curtos períodos de descanso ou de paradas curtas

para almoço.

• Velocidades diferentes dentro de zonas diferentes.

• Barreiras de viagem como lagos, contornos e montanhas.

Entre os vários métodos para resolução desse tipo de problema, temos o Método de Varredura e o

Método das Economias que serão explicados na seção seguinte.

19.6 Métodos utilizadosNesta seção, discutiremos os métodos utilizados para solução do problema de roteirização.

A dificuldade que encontramos na solução de problemas de roteirização e programação dos ve-

ículos se dá quando incluímos restrições como: janelas de tempo (horários em que a entrega deve ser

realizada), caminhões com capacidades diferentes de pesos e cubagem, tempo total máximo permitido

em uma rota, velocidades diferentes dentro de zonas diferentes, entre outras. Assim, para tratar tais pro-

blemas iremos explanar os dois métodos a seguir:

19.6.1 Método da varreduraEste método pode ser descrito por etapas da seguinte maneira: primeiramente localizam-se, com o

auxílio de um mapa, todos os pontos de parada, inclusive depósitos. A partir dessa localização estende-

se uma linha reta do depósito em qualquer direção. Então, giramos esta linha para o sentido desejado

(horário ou anti-horário) até cruzar uma parada.

Feito isso, devemos verificar se ao incluir-se esta parada a capacidade do veículo não será excedida.

Caso não seja, deve-se incluir essa parada à rota e continuar a rotação da linha até que outra parada seja

cruzada. Ao encontrar-se a parada seguinte, devemos fazer a mesma análise anterior, no entanto, agora

devemos verificar se a quantidade acumulada das paradas excederá a capacidade do veículo. Em caso

positivo, deve-se excluir esta última parada e continuar a varredura da maneira descrita até que todos os

pontos tenham sido analisados e a rota seja definida.

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274 COLETÂNEA BITEC 20082010

Após a análise devemos organizar estes pontos de parada em sequências de forma que minimize

as distâncias entre elas.

A vantagem desse método é sua simplicidade de manuseio mesmo para problemas de grandes ta-

manhos. A desvantagem é que a maneira como as rotas são formadas dificulta a manipulação do tempo

total de uma rota e janela de tempo.

Assim, observa-se que esse método é utilizado para problemas com uma variedade limitada de

restrições e, ainda, fornece um erro médio de 10%, considerado aceitável para pequenos pedidos e onde

as boas soluções são necessárias em oposição às ótimas.

19.6.2 Método das economiasEste método possui como característica principal sua flexibilidade ao manuseio das restrições de

forma rápida e capaz de gerar soluções próximas da ótima.

A lógica do método é começar com um veículo-modelo que atende a cada parada e retorna ao

depósito obtendo assim a distância máxima no problema de roteirização como mostrado na figura 2.

Figura 2

Inicialmente, cada cliente (parada) é servido por um veículo, constituindo rotas entre o depósito e

cada cliente. Seja dij o custo de viagem partindo de um cliente i a um cliente j, podendo ser dado em

distância percorrida ou tempo de deslocamento. Duas rotas contendo os clientes i e j podem ser com-

binadas, desde que i e j estejam ou na primeira ou na última posição de suas respectivas rotas e que a

demanda total das rotas combinadas não ultrapasse a capacidade do veículo.

Assim, combinam-se duas paradas na mesma rota para eliminar um veículo e a distância da viagem

seja reduzida. Para identificar quais paradas devem ser combinadas em uma rota, a distância economi-

zada é calculada antes e depois da combinação. O algoritmo utilizado neste método pode ser descrito

da seguinte maneira:

A) Combinação para duas paradas:

A distância economizada para dois pontos de paradas pode ser encontrada a partir da subtração da

roteirização inicial com a distância da rota:

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9ª EDIÇÃO 275

Temos então o valor das economias igual à equação (1).

S = dA,o

+ do,B

– dA,B

(1)

Assim, esse cálculo é realizado para todos os pares de parada. O par de parada com maior valor das

economias é selecionado para ser inserido à rota. Além da combinação de paradas simples, podemos

inserir uma parada em uma rota que contenha mais de uma parada.

B) Ponto de parada inserido em uma rota com mais de uma parada:

Se um ponto C for inserido entre as paradas A e B, onde A e B estão na mesma rota, o valor das

economias pode ser expresso como no figura 3:

Figura 3

Figura 4

S= do,c + dc,o + dA,B – dA,C – dC,B (2)

Parada C inserida depois da parada B, observe a figura 4 e a equação (3).

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276 COLETÂNEA BITEC 20082010

S = dc,o + do,A – dc,A (3)

Como no método da varredura, antes que uma parada seja absorvida à rota, aquela deve ser ana-

lisado se o tempo da rota excede o tempo máximo permitido de direção, se o período de descanso do

motorista foi incluído, se a capacidade do veiculo não é excedida, se as janelas de tempo de parada

foram satisfeitas entre outras.

A violação dos requisitos anteriormente citados, pode excluir a parada da rota ou tirá-la desse lugar,

em particular, na sequência da parada.

Dessa forma, a parada seguinte pode ser selecionada para a rota de acordo com o maior valor das

economias e assim todo o processo é repetido.

Vantagens: manuseio de diversas restrições e atribuir simultaneamente uma parada a uma rota

colocando-a na sequência apropriada da parada da rota.

Desvantagens: baixa qualidade e apresentação de um grande número de rotas longas circunferen-

ciais, por essa razão, a deficiência em flexibilidade é considerada a pior característica do algoritmo. Assim,

podemos observar que o Método das Economias, diferente do Método da Varredura, é utilizado em situ-

ações onde encontramos uma ampla faixa de restrições, obtendo assim uma solução próxima da ótima.

19.7 Análise das rotasFaremos a distinção entre as rotas teóricas e as rotas reais definidas pela empresa. De acordo com o que

foi citado, as rotas foram estabelecidas pelos próprios vendedores por meio de suas experiências no

ramo: segundo os vendedores, de modo geral:

“[...] As rotas são criadas e traçada por eles próprios, de acordo com o surgi-

mento de novos clientes. Além disso, outros fatores levado em consideração é

a questão de o cliente estar em dia com os pagamentos e a distância entre este

e a rota viável do vendedor”.

Ou seja, a medida que foram surgindo novos clientes eles foram sendo inseridos às rotas de acordo

com a viabilidade para a empresa. Nesse sentido, verificamos uma similaridade na elaboração desta

rota com o Método de Varredura. Ao comparar a forma em que as rotas foram construídas, verificou-se

que foram feitas com um Método de Varredura Empírico, já que os vendedores colocaram os pontos de

entrega no mapa e foram verificando a melhor rota visualmente.

Em síntese, este método trata de inserir à rota todos os pontos de parada que sejam viáveis, de

forma que não ultrapasse o limite de capacidade do meio de transporte utilizado, que na realidade da

empresa Café Faraó foram as distâncias, os volume de mercadoria, os clientes fiéis, os clientes em dia

com os pagamentos de suas boletas entre outros fatores.

Outro ponto de destaque foi a verificação de uma rota inicial fixa, que de acordo com alguns ven-

dedores, estão localizadas nas periferias das cidades que visitam. Pois, dessa forma podem inserir à rota,

futuros clientes que desejam receber produtos semanalmente, já que as rotas são abastecidas pelos

vendedores no ato da compra. Sobre este ponto cabe ressaltar que essa rota inicial fixa também pode

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9ª EDIÇÃO 277

ser avaliada, visando a uma redução no percurso total, sendo que uma nova rota ou uma modificação

simples na rota atual permita a captação de novos clientes.

No entanto, por meio da análise feita, verificamos que apesar da complexidade do Método das

Economias, a opção do uso deste traria à empresa uma otimização da distribuição das rotas, visto seu

grau de segurança e por ser um método mais robusto, capaz de manipular maior número de variáveis de

forma eficaz. Nesse sentido, o uso dos algoritmos, do método das economias, na rota atual da empresa

permitiria a otimização de custo com combustíveis, tempo, entregas, tipo de modal utilizado, na capta-

ção de novos clientes e na fidelidade desses.

19.8 Estudo de casoNeste estudo, analisaremos possíveis propostas de melhoria e validação de resultados das rotas, por

meio de aplicações e comparações dos métodos de roteirização apresentado economia e varredu-

ra, em uma rota exemplo real da empresa Café Faraó, que envolve 12 clientes da cidade de Volta

Redonda (ver figura 5). Para essas cidades, será considerada uma rota para cidades próximas. Assim,

a capacidade do veículo de transporte será de 1.000 kg. com carregamento diário; o horário das 6h às

17hs, com saída da empresa a partir da 7h. O carro utilizado é uma kombi; com controle de quilometra-

gem na saída e na chegada.

De posse dos dados fornecidos, elaboramos rotas reais, que serão propostas à empresa, por meio

dos métodos que incluem apenas 12 clientes do Café Faraó. Serão utilizados os dois Métodos, de Varre-

dura e das Economias, já apresentados para elaboração da rota real.

19.8.1 Método da VarreduraA empresa utiliza caminhões que podem transportar 1.000 Kg de carga, logo iremos determinar quantas

rotas (caminhões) serão necessárias para atender esses 12 clientes, quais paradas estarão contidas em

cada rota e qual sequência de paradas deve ser servida por cada caminhão da rota. Assim obtemos a

solução apresentada na figura 5.

Figura 5

Nessa figura, deve-se observar que o arranjo da sequência de paradas atendida pelo caminhão foi

feito pelo Método da Gota d’Água, a fim de simplificar esse caso. Para que haja maior acuracidade dos

resultados, o sequenciamento pode ser obtido por meio do algoritmo do caminho mínimo.

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278 COLETÂNEA BITEC 20082010

19.8.2 Método das economiasPor causa da dimensão desse método na aplicação do exemplo real, sua resolução foi obtida por meio

da implementação do algoritmo no Programa Matlab, apresentado no anexo 1, com os conjuntos de

resultados obtidos.

A figura 6 representa apenas as interações para os cinco primeiros clientes da empresa por causa da

dimensão do exemplo. No entanto, cabe ressaltar que os cálculos foram realizados para todos os pares

de paradas, conforme a estrutura do método.

Figura 6

A tabela 1 apresenta as distâncias calculadas segundo o algoritmo das economias, em que o 0

representa a localização da empresa Café Faraó.

Tabela 1: Matriz de distâncias entre os 12 clientes

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

0 – 5.8 3.1 11.6 3.1 2.1 2.1 2.3 2.2 2.1 2.2 2.4 4.8

1 5.8 – 2.6 10.6 2.7 2.5 2.6 2.4 2.5 2.3 4.1 4.5 7.2

2 3.1 2.6 – 10.7 1.0 1.0 1.0 1.0 1.0 1.0 2.9 3.1 6.2

3 11.6 10.6 10.7 – 10.6 10.7 10.8 10.5 10.4 10.7 12.6 12.7 14.8

4 3.1 2.7 1.0 10.6 – 0.8 0.8 0.9 1.0 1.0 3.4 3.2 7.3

5 2.1 2.5 1.0 10.7 0.8 – 1.0 0.9 1.0 0.8 3.1 3.4 6.8

6 2.1 2.6 1.0 10.8 0.8 1.0 – 1.0 0.9 1.0 3.6 3.9 6.7

7 2.3 2.4 1.0 10.5 0.9 0.9 1.0 – 1.0 1.0 3.2 3.1 6.8

8 2.2 2.5 1.0 10.4 1.0 1.0 0.9 1.0 – 1.0 3.1 3.4 6.9

9 2.1 2.3 1.0 10.7 1.0 0.8 1.0 1.0 1.0 – 3.4 3.5 6.8

10 2.2 4.1 2.9 12.6 3.4 3.1 3.6 3.2 3.1 3.4 – 0.8 4.7

11 2.4 4.5 3.1 12.7 3.2 3.4 3.9 3.1 3.4 3.5 0.8 – 4.8

12 4.8 7.2 6.2 14.8 7.3 6.8 6.7 6.8 6.9 6.8 4.7 4.7 –

Obs.: 0 equivale à localização do Café Faraó.

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9ª EDIÇÃO 279

19.9 ResultadosCom o auxílio do algoritmo (anexo 1), obtemos os valores das economias que definirá a melhor rota.

Assim, a partir desses valores, a rota será traçada incluindo os maiores valores em ordem decrescente, e

estes serão incluídos à rota.

Dessa maneira, as melhores rotas apresentada à empresa Café Faraó, de acordo com os cálculos

dos métodos estudados, é obtida pela ordenação dos valores, em ordem decrescente, apresentados na

matriz na seguir:

Valor da economia6.300000 6.800000 6.200000 5.400000 5.300000 5.700000 5.500000 5.600000 3.900000 3.700000 3.400000

5.200000 2.500000 4.300000 4.100000 4.200000 4.000000 4.100000 3.900000 3.800000 4.000000 3.600000

0.000000 21.400000 1.100000 1.000000 0.900000 1.200000 1.300000 1.000000 1.000000 1.100000 2.100000

20.300000 0.000000 21.200000 20.500000 20.600000 20.200000 20.000000 20.300000 19.800000 20.100000 18.100000

0.800000 0.700000 0.000000 1.600000 0.600000 0.800000 0.800000 1.000000 1.100000 0.600000 1.300000

1.000000 0.900000 1.000000 0.000000 2.000000 0.900000 1.100000 0.800000 0.500000 0.500000 1.100000

1.000000 1.300000 0.900000 1.100000 0.000000 2.000000 0.900000 1.000000 1.400000 1.800000 0.900000

1.000000 1.100000 0.900000 0.900000 1.100000 0.000000 2.000000 1.000000 1.100000 0.700000 0.900000

1.000000 0.700000 1.000000 1.200000 0.900000 1.000000 0.000000 2.000000 0.700000 0.900000 1.100000

1.500000 1.500000 1.000000 1.100000 0.800000 1.200000 1.300000 0.000000 6.800000 6.100000 5.500000

0.600000 0.700000 1.000000 0.500000 0.500000 0.900000 0.500000 0.700000 0.000000 1.600000 0.700000

1.700000 2.700000 0.700000 1.400000 2.000000 1.100000 1.300000 1.500000 0.900000 0.100000 9.600000

A rota final será obtida a partir das maiores economias, em ordem decrescente, calculadas nessa matriz.

19.10 ConclusãoNesse sentido, o resultado obtido por meio da matriz anterior ratifica a eficiência dos métodos de rotei-

rização na redução custos, o que torna viável às empresas o uso dessas técnicas entre outras, na elabo-

ração das rotas e na logística de suprimentos da empresa.

Referências

Ballou, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos. São Paulo: Editora Pearson Education, 2001.

Goldbarg, M. C.; Luna, H. P. L. Otimização combinatória e programação linea. Editora Campus,

2006.

Colin, E. C. Pesquisa operacional. São Paulo: Editora LTC, 2007.

Netto, P.O.B. Grafos: teoria, modelos e algoritmos. 2. ed. rev. e ampl, São Paulo: Edgard Blücher, 2001.

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9ª EDIÇÃO 281

ANEXO A: ALGORITMO E DADOS IMPLEMENTADOS NO PROGRAMA MATLAB

Para o cálculo do método apresentado, utilizou-se o auxílio do Programa Matlab:

Estrutura do algoritmo:

%--------------------------------------------------------------------------

% Calculo das rotas

%--------------------------------------------------------------------------

%

clear all; clc; close all;

%

%Entrada de Dados: D(i,j): i = Cliente, j = Cliente - Cliente

%

D(1,1)= 0.0;

D(1,2)= 5.8;

D(1,3)= 3.1;

D(1,4)= 11.6;

D(1,5)= 3.1;

D(1,6)= 2.1;

D(1,7)= 2.1;

D(1,8)= 2.3;

D(1,9)= 2.2;

D(1,10)= 2.1;

D(1,11)= 2.2;

D(1,12)=2.4;

D(1,13)=4.8;

%

D(2,1)= 5.8;

D(2,2)= 0.0;

D(2,3)= 2.6;

D(2,4)= 10.6;

D(2,5)= 2.7;

D(2,6)= 2.5;

D(2,7)= 2.6;

D(2,8)= 2.4;

D(2,9)= 2.5;

D(2,10)= 2.3;

D(2,11)=4.1;

D(2,12)=4.5;

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282 COLETÂNEA BITEC 20082010

D(2,13)=7.2;

%

D(3,1)= 3.1;

D(3,2)= 2.6;

D(3,3)= 0.0;

D(3,4)= 10.7;

D(3,5)= 1.0;

D(3,6)= 1.0;

D(3,7)= 1.0;

D(3,8)= 1.0;

D(3,9)= 1.0;

D(3,10)= 1.0;

D(3,11)=2.9;

D(3,12)=3.1;

D(3,13)=6.2;

%

D(4,1)= 11.6;

D(4,2)= 10.6;

D(4,3)= 10.7;

D(4,4)= 0.0;

D(4,5)= 10.6;

D(4,6)= 10.7;

D(4,7)= 10.8;

D(4,8)= 10.5;

D(4,9)= 10.4;

D(4,10)= 10.7;

D(4,11)=12.6;

D(4,12)=12.7;

D(4,13)=14.8;

%

D(5,1)= 3.1;

D(5,2)= 2.7;

D(5,3)= 1.0;

D(5,4)= 10.6;

D(5,5)= 0.0;

D(5,6)= 0.8;

D(5,7)= 0.8;

D(5,8)= 0.9;

D(5,9)= 1.0;

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9ª EDIÇÃO 283

D(5,10)= 1.0;

D(5,11)=3.4;

D(5,12)=3.2;

D(5,13)=7.3;

%

D(6,1)= 2.1;

D(6,2)= 2.5;

D(6,3)= 1.0;

D(6,4)= 10.7;

D(6,5)= 0.8;

D(6,6)= 0.0;

D(6,7)= 1.0;

D(6,8)= 0.9;

D(6,9)= 1.0;

D(6,10)= 0.8;

D(6,11)=3.1;

D(6,12)=3.4;

D(6,13)=6.8;

%

D(7,1)= 2.1;

D(7,2)= 2.6;

D(7,3)= 1.0;

D(7,4)= 10.8;

D(7,5)= 0.8;

D(7,6)= 1.0;

D(7,7)= 0.0;

D(7,8)= 1.0;

D(7,9)= 0.9;

D(7,10)= 1.0;

D(7,11)=3.6;

D(7,12)=3.9;

D(7,13)=6.7;

%

D(8,1)= 2.3;

D(8,2)= 2.4;

D(8,3)= 1.0;

D(8,4)= 10.5;

D(8,5)= 0.9;

D(8,6)= 0.9;

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284 COLETÂNEA BITEC 20082010

D(8,7)= 1.0;

D(8,8)= 0.0;

D(8,9)= 1.0;

D(8,10)= 1.0;

D(8,11)=3.2;

D(8,12)=3.1;

D(8,13)=6.8;

%

D(9,1)= 2.2;

D(9,2)= 2.5;

D(9,3)= 1.0;

D(9,4)= 10.4;

D(9,5)= 1.0;

D(9,6)= 1.0;

D(9,7)= 0.9;

D(9,8)= 1.0;

D(9,9)= 0.0;

D(9,10)= 1.0;

D(9,11)=3.1;

D(9,12)=3.4;

D(9,13)=6.9;

%

D(10,1)= 2.1;

D(10,2)= 2.3;

D(10,3)= 1.0;

D(10,4)= 10.7;

D(10,5)= 1.0;

D(10,6)= 0.8;

D(10,7)= 1.0;

D(10,8)= 1.0;

D(10,9)= 1.0;

D(10,10)= 0.0;

D(10,11)=3.4;

D(10,12)=3.5;

D(10,13)=6.8;

%

D(11,1)= 2.2;

D(11,2)= 4.1;

D(11,3)= 2.9;

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9ª EDIÇÃO 285

D(11,4)= 12.6;

D(11,5)= 3.4;

D(11,6)= 3.1;

D(11,7)= 3.6;

D(11,8)= 3.2;

D(11,9)= 3.1;

D(11,10)= 3.4;

D(11,11)=0.0;

D(11,12)=0.8;

D(11,13)=4.7;

%

D(12,1)= 2.4;

D(12,2)= 4.5;

D(12,3)= 3.1;

D(12,4)= 12.7;

D(12,5)= 3.2;

D(12,6)= 3.4;

D(12,7)= 3.9;

D(12,8)= 3.1;

D(12,9)= 3.4;

D(12,10)= 3.5;

D(12,11)=0.8;

D(12,12)=0.0;

D(12,13)=4.8;

%

D(13,1)= 4.8;

D(13,2)= 7.2;

D(13,3)= 6.2;

D(13,4)= 14.8;

D(13,5)= 7.3;

D(13,6)= 6.8;

D(13,7)= 6.7;

D(13,8)= 6.8;

D(13,9)= 6.9;

D(13,10)= 6.8;

D(13,11)=4.7;

D(13,12)=4.7;

D(13,13)=0.0;

%

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286 COLETÂNEA BITEC 20082010

% Calculo distancia maxima

%

for i=1:13

for j=1:13

Dmax(i,j)= 2.* D(i,j);

end

end

% Calculo da soma das maximas

out=sprintf(‘ ‘);disp(out);

out=sprintf(‘Calculo da Soma Maxima’); disp(out);

out=sprintf(‘ ‘);disp(out);

k=1;

for i=1:13-1

k=k+1;

for j=1:13-2

Somax(i,j)=Dmax(i,k) + Dmax(i,j+2);

end

out=sprintf(‘%f ‘,Somax(i,:)); disp(out);

end

%

% Calculo de distancia rota

out=sprintf(‘ ‘);disp(out);

out=sprintf(‘Calculo da Distancia das Rotas’); disp(out);

out=sprintf(‘ ‘);disp(out);

k=1;

for i=1:13-1

k=k+1;

for j=1:13-2

Drota(i,j) = D(i,k) + D(i+1,j+2)+ D(i,j+2);

end

out=sprintf(‘%f ‘,Drota(i,:)); disp(out);

end

%

out=sprintf(‘ ‘);disp(out);

out=sprintf(‘ ‘);disp(out);

out=sprintf(‘Calculo da Diferenca: Valor da Economia’); disp(out);

out=sprintf(‘ ‘);disp(out);

% Valor da economias

for i=1:12

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9ª EDIÇÃO 287

for j=1:11

Diffab(i,j) = abs(Somax(i,j) - Drota(i,j));

end

out=sprintf(‘%f ‘,Diffab(i,:)); disp(out);

end

out=sprintf(‘ ‘);disp(out);

Vmax= max(max(Diffab))

Vmin=min(min(Diffab))

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9ª EDIÇÃO 289

20 IEL/RN NATAL PRODUÇÃO DE MADEIRAS TERMICAMENTE TRATADAS

Bolsista: Thiago Angels Batista Oliveira – UFRN

Professor orientador: Marciano Furukava – UFRN

Coautor: Francisco de Assis Medeiros

20.1 IntroduçãoA indústria moveleira é uma das mais expressivas do país, promovendo o seu desenvolvimento em todas

as dimensões e em franca expansão, acompanhando o crescimento da economia. Entretanto, sua maté-

ria-prima, a madeira, tem se tornada escassa, particularmente as mais adequadas física e quimicamente

à sua utilização como móvel. Espécies como o mogno e o ipê, que no começo da indústria moveleira

foram muito utilizadas, atualmente têm seu uso restrito devido a sua retirada excessiva da natureza em

atividade extrativista. Outros aspectos que dificultam a utilização dessas árvores são: o tempo que a ma-

deira leva até atingir a idade ideal de corte que varia entre 200 e 250 anos; a severa legislação ambiental;

e o seu alto valor no mercado.

Em alguns estudos realizados, foi comprovado que a termorretificação diminui tanto o ataque de

fungos quanto a variação dimensional da madeira. (SITIO VITORIA REGIA, 2005)

Segundo Gohar e Guyonnet (1998), a otimização do processo de retificação permite produzir um

material com reduzida higroscopicidade, sem diminuição significativa das propriedades mecânicas.

Os autores ressaltam, porém, que o tratamento deve ser previamente muito bem avaliado em relação

à espécie de madeira e a uma série de parâmetros, tais como: temperatura de tratamento, duração,

velocidade do aumento de temperatura, natureza e pressão da fase gasosa, geometria e tamanho das

amostras e teor de umidade inicial. O estágio do desenvolvimento dos estudos sobre retificação térmica

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290 COLETÂNEA BITEC 20082010

indica que o processo é atualmente operacional em escala industrial e os custos têm se mostrado com-

patíveis com as possibilidades de mercado.

Esta pesquisa tem como objetivo alterar as propriedades físico-químicas da madeira, aumentando

sua resistência física e notadamente sua resistência contra o ataque dos insetos como cupins e formigas,

para sua utilização como mobília.

Como objetivos específicos: revisão bibliográfica; adaptações e adequações das instalações indus-

triais e da tecnologia à pesquisa; diminuição da absorção de água; homogeneização da coloração; e a

resistência ao ataque dos insetos.

20.2 Panorama da indústria de móveis A economia do setor florestal brasileiro, até o ano de 1965, era pouco expressiva, tanto que as atividades

de manejo das florestas plantadas e nativas eram insignificantes e realizadas, na sua grande maioria, em

pequena escala e em condições de baixo emprego de tecnologia e gestão. Nesta época, poucos em-

pregos eram gerados e o país importava quase todo o produto florestal industrial. Além disso, não havia

interesse por parte dos produtores e empresários investirem em projetos de reflorestamento devido,

entre outras coisas, a baixa rentabilidade, a longo prazo de maturação e aos riscos elevados (VALVERDE,

SOARES; SILVA; JACOVINE; NEIVA, 2004). Com a política de incentivos fiscais ao reflorestamento, que

vigorou de 1965 a 1988, ocorreu um crescimento significativo da área reflorestada no país entre os anos

de 1970 e 1985 de 1.658.225 hectares para 5.966.626 hectares. Os gêneros florestais que mais se destaca-

ram foram Pinus e Eucalyptus, por causa do rápido crescimento, da boa qualidade da madeira, da adap-

tabilidade ao clima e ao solo das regiões Sul e Sudeste (CENSO AGROPECUÁRIO DO BRASIL,1970, 1985).

Apesar desse forte crescimento, os reflorestamentos implantados nesse período apresentavam bai-

xa produtividade e eram economicamente inviáveis devido à insuficiência de conhecimentos e pesqui-

sas sobre cultura, inadequação no planejamento do uso da terra, na escolha das espécies e nas técnicas

de implantação, além de falhas na política, na legislação, na fiscalização etc.

As características a longo prazo (entre 20 e 25 anos, período em que as espécies de reflorestamento

podem ser cortadas para usos diversos, como na indústria moveleira e construção civil), a baixa renta-

bilidade, a pouca atratividade, o baixo coeficiente preço sobre peso específico, a exigência de elevado

investimento inicial, a produção em escala e a obrigação legal ao autossuprimento levaram as empresas

a constituírem grandes extensões de área florestal. (REMADE, 2005).

Mas o cenário mudou, e as exportações da indústria de base florestal (madeira, móveis, papel e

celulose) vêm crescendo nos últimos sete anos, destacando-se no conjunto da economia nacional. Em

2008, as vendas externas desse segmento chegaram a US$ 9,5 bilhões, ou seja, 7% do total exportado

pelo Brasil. O maior destaque ainda está com papel e celulose que fechou o último ano com US$ 5,8

bilhões em exportações, ficando as vendas de produtos de madeira em US$ 2,7 bilhões e de móveis em

US$ 987 milhões (SÍTIO VITÓRIA RÉGIA, 2009)

20.2.1 Indústria moveleiraO setor moveleiro nacional é recente e encontra-se em fase de crescimento, adaptação ao mercado e

aperfeiçoamento de seu parque fabril. Aliado a isso, o processo de globalização interfere decisivamente

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9ª EDIÇÃO 291

e possibilita o acesso  a novas tecnologias, matérias-primas  e demais insumos ofertados pelo mercado

mundial (REMADE, 1999). A indústria moveleira do Brasil engloba 13.500 micro, pequenas e médias em-

presas. Na grande maioria, empresas familiares com 100% do capital nacional e caracteriza-se por dois

aspectos: alto número de pequenas e microempresas e grande absorção de mão de obra, empregando

cerca de 300 mil trabalhadores diretamente na produção e gerando 1.500.000 empregos diretos e indi-

retos (REMADE, 1999).

O desenvolvimento dessa indústria caracteriza-se por maior especialização em cada uma das

etapas do processo de produção (plantio das árvores e fabricação dos móveis, por exemplo), além

de ter absorvido as mudanças tecnológicas, implantando máquinas e equipamentos modernos, o

que permite um controle mais eficaz do processo produtivo, melhoria da qualidade e flexibilidade

(REMADE, 1999).

20.2.2 MadeirasA madeira é um material produzido a partir do tecido formado pelas plantas lenhosas com funções

de sustentação mecânica. Sendo um material naturalmente resistente e relativamente leve, é fre-

quentemente utilizado para fins estruturais e de sustentação de construções. É um material orgâ-

nico, sólido, de composição complexa, em que predominam as fibras de celulose e hemicelulose

unidas por lenhina.

20.2.2.1 Propriedades da madeira

A massa específica é uma das propriedades físicas mais importantes da madeira porque está relacionada

diretamente com propriedades como resistência mecânica, grau de alteração dimensional e perda ou

absorção de água. Dela depende a maior parte das qualidades físicas e tecnológicas, servindo na prática

como parâmetro para classificação de madeiras. A densidade (massa específica) expressa a quantidade

de matéria lenhosa por unidade de volume, ou do volume de espaços vazios existentes em uma madeira

(KLOCK, 2006). Outras características a considerar são: retratabilidade – quando a madeira é seca abaixo

do ponto de saturação das fibras (toda água livre é retirada), aparece a contração e contração é o resul-

tado da retirada da água de impregnação, existente na parede das células (KLOCK, 2006).

20.2.2.2 Ipê

O ipê é uma árvore do gênero Tabebuia (antes Tecoma), pertencente à família das bignoniáceas, poden-

do ser encontrada em seu estado nativo por todo o Brasil. Há muitos séculos, o ipê (também chamado

de pau-d’arco, no Norte), vem sendo apreciado tanto pela excelente qualidade de sua madeira, quanto

por seus efeitos ornamentais, decorativos e até medicinais (VAINSENCHER, 2006)

A madeira do ipê é muito valorizada (em torno de R$ 3.000 o metro cúbico). Por causa da sua

resistência, dureza e flexibilidade sempre foi considerada uma madeira de lei. Outra vantagem que ela

possui é a de resistir bastante a umidade. Desse modo, sua madeira é utilizada em construções civis e

navais (produção de quilhas), em edificação de pontes, na confecção de postes e dormentes, de tacos

de assoalho, vigamentos, esteios, bengalas, entre tantos outros. O ipê também é plantado em parques e

jardins, servindo para a arborização urbana (VAINSENCHER, 2006).

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292 COLETÂNEA BITEC 20082010

20.2.2.3 Pinus

O uso do pinus serrado em tábuas, sarrafos, pontaletes e pranchas já não é novidade na construção civil,

na confecção de embalagens e na indústria moveleira. Um dos motivos por este uso é o baixo valor do

metro cúbico, em torno de R$ 150 reais. Mas, atualmente por questões ecológicas, o uso de madeiras

renováveis, como pinus, eucalipto, passou a ser obrigatória (CHAPAS DE MADEIRITE, 2005).

20.2.2.4 Eucalipto

Eucalipto (do grego, eu + καλύπτω = verdadeira cobertura) é a designação vulgar das várias espécies

vegetais do gênero Eucalyptus, ainda que o nome se aplique a outros gêneros de mirtáceas, dos gêneros

Corymbia e Angophora. São, em termos gerais, árvores e, em alguns raros casos, arbustos, nativas da

Oceania, onde constituem, de longe, o gênero dominante da flora.

O gênero inclui mais de 700 espécies, quase todas originárias da Austrália, existindo apenas um

pequeno número de espécies próprias dos territórios vizinhos da Nova Guiné e Indonésia e mais uma

espécie (a mais setentrional) no sul das Filipinas (WIKIPÉDIA, 2005).

20.2.2.5 Teca

Devido à sua dispersão geográfica e à variedade de ambientes em que ocorre naturalmente, a teca é

uma espécie de alta adaptabilidade com dispersão vertical entre 0 e 1.300 m acima do nível do mar,

ocorrendo em áreas com precipitação anual de 800 mm a 2.500 mm, e temperaturas extremas de 2°

C a 42 ° C, porém não resiste à geada. A teca é cultivada desde o século XVIII, quando os britânicos de-

mandavam grandes quantidades de madeira para construção naval. No sul da Ásia, a cultura de teca é

tradicional, sendo a espécie cultivada em grande escala.

Atualmente, a área mundial plantada excede os 3 milhões de hectares, incluindo, além dos asiáticos

– maiores produtores, outros países tropicais, como: Togo, Camarões, Zaire, Nigéria, Trinidad, Honduras

e Brasil (IPEF, 2003).

20.2.3 TermorretificaçãoNo campo das transformações, a pirólise surge como instrumento fundamental, no momento em que

ela se apresenta definindo, por exemplo, o processo de termorretificação (EMBRAPA, 2005).

A termorretificação é um processo de pirólise parcial que tem sido indicado para induzir alterações

nas características originais da madeira, visando às aplicações específicas (BRITO et al., 2006). Esse pro-

cesso promove a retirada da água que constitui a madeira e ativa a propriedade fungicida que existe no

material devido a lignina. Ela está ligada diretamente à temperatura de tratamento, sendo ativada entre

100º C e 250º C. Geralmente, não se utiliza o extremo de temperatura, pois pode causar a degradação

da madeira.

20.2.4 Estado da ArteNo Brasil, as primeiras referências sobre o emprego da termorretificação de madeiras foram apresen-

tadas por Brito (1993), utilizando eucalipto, teça e pinus (Pinus caribaea). O autor obteve resultados es-

pecíficos sobre a influência da temperatura do processo na redução de massa, alteração na densidade,

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9ª EDIÇÃO 293

composição química e capacidade de retração volumétrica da madeira de E. saligna. Mencionava ainda

que a retificação térmica poderia se tornar um instrumento interessante no sentido da alteração das

características da madeira, sugerindo a ampliação dos estudos sobre o assunto.

20.3 A indústria “Ipê Móveis”A empresa Ipê Móveis Indústria Comércio Importação e Exportação Ltda. – situada a Rua Reitor Onofre

Lopes, no 529, Candelária, Natal/RN, CEP 59067-050 – está há mais de 20 anos atuando no ramo da

indústria moveleira do estado. Fabrica móveis de madeira ou com sua predominância, envernizados,

encerados, esmaltados e laqueados recoberto ou não com lâminas de material plástico ou estofados,

gabinetes para máquinas e aparelhos. Possui em torno de 30 funcionários e, atualmente, utiliza como

matéria-prima as espécies: ipê; eucalipto e teca, sendo seus principais fornecedores a Aracruz Celulose

e a Floresteca.

20.4 Tratamento térmico

20.4.1 MetodologiaForam preparadas 156 amostras com dimensões de 7,1 cm x 4,2 cm x 2,5 cm, a partir de pranchas das

espécies teca e eucalipto. Os valores do comprimento e da largura foram calculados, após testes, de

forma experimental para que após a queima, os corpos de prova ficassem com 7 cm x 4 cm. A espessura

foi determinada por se tratar de uma das medidas em uso atualmente na empresa. Observa-se que o

valor da espessura é um dos fatores determinantes durante o tratamento de termorretificação, pois uma

espessura muito elevada dificulta a retirada da água do material.

Algumas amostras (78) foram submetidas ao banho com solução de lignina dissolvida em água ou

álcool etílico (70%), para ativar as propriedades fungicidas da lignina, quando submetida a temperaturas

acima de 100º C. O uso destes dois solventes é justificado por ser, a primeira, a água a mais utilizada em

pesquisas e o segundo por proporcionar maior penetração do soluto. O tempo de imersão foi de 24

horas a uma pressão de 4 kgf/cm2.

Em seguida, foram colocadas para secar durante 24 horas à temperatura ambiente.

A queima foi realizada em forno industrial adaptado para este fim, tendo como combustível

o gás (GLP).

As temperaturas e os tempos de queima foram respectivamente 180º C, 200º C, 220º C, por 90 e 120

minutos. Estes valores foram obtidos experimentalmente para obter maior homogeneização da colora-

ção. Após o tratamento térmico, 140 amostras foram catalogadas (pesadas e numeradas) e embaladas

em sacos plásticos para manter a umidade a zero e outras (16) foram colocadas ao ar livre para avaliação

da absorção de água.

Os corpos de prova foram submetidos ao ataque de cupins. Três corpos de prova de cada tratamen-

to e 500 cupins foram colocados em recipientes escuros e lacrados contendo 180 gramas de areia estere-

lizada umedecida com 40 ml de água mineral e uma camada de 2 cm de vermiculita, por um período de

15 dias. Essas amostras foram seccionadas para avaliar visualmente os danos causados, comparando-as

com as que não foram submetidas ao ataque dos cupins.

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294 COLETÂNEA BITEC 20082010

20.4.2 Resultados e discussãoA tabela 1 mostra o resultado da absorção de água em amostras de eucaliptos e teca submetidos à solu-

ção de lignina diluída em álcool ou água e tratamento térmico. A mudança da solução não influenciou

de maneira significativa o resultado final.

Tabela 1: Resultado da umidade em diferentes tipos de amostras

Espécie Temperatura Tempo de tratamento Umidade média

Eucaliptos/água 200º C 90 minutos 4,5%

Eucaliptos/álcool 200º C 90 minutos 4,7%

Teca/água 200º C 90 minutos 5%

Teca/álcool 200º C 90 minutos 4,9%

Os gráficos 1 e 2 apresentam os dados referentes ao teste de absorção de água de corpos de prova

de eucalipto e teca que não foram submetidos à solução de lignina. Os resultados mostram a redução de

umidade nos corpos de prova, que em alguns casos chegou a cinco vezes do valor inicial.

Os gráficos indicam o alto teor de umidade inicial e que, ao final, o teor de água teve uma redução

expressiva. Esta diminuição está diretamente ligada ao tempo e à temperatura de tratamento.

Gráfico 1: Absorção de água em amostras de eucaliptos (Lyptus) tratada e não tratada

Para a teca, a umidade final é mais baixa se comparado ao eucalipto, justificado por ser menos

porosa do que a segunda, facilitando a retirada da água.

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9ª EDIÇÃO 295

As figuras 1 e 2 apresentam fotos dos corpos de prova de corpos de eucalipto, submetidos a trata-

mento térmico sem imersão em solução de lignina. Analisando as figuras, percebe-se que houve homo-

geneização da coloração da madeira (escura), propriedade valorizada em uma mobília.

Gráfico 2: Absorção de água em amostras de teca tratada e não tratada

Figura 1: Amostras não tratada (esquerda) ao lado de uma tratada a 200º C – 90 minutos

Figura 3: Amostras não tratada (esquerda) ao lado de uma tratada a 220º C – 90 minutos

Figura 2: Amostras não tratada (esquerda) ao lado de uma tratada a 200º C – 120 minutos

Figura 4: Amostras não tratada (esquerda) ao lado de uma tratada a 220º C – 120 minutos

O tratamento realizado a 220º C em 90 e 120 minutos resultou em uma coloração mais escura com-

parado ao tratamento a 200º C, mas promoveu uma maior retração dos corpos de prova.

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296 COLETÂNEA BITEC 20082010

As figuras 5 e 6 apresentam imagens dos corpos de provas de teca após tratamento térmico sem

imersão em lignina.

Sua coloração é mais clara se comparada ao mesmo tratamento feito com eucalipto, devido à sua

coloração mais clara originalmente em diferentes tons, o que pode ser explicado por ser uma madeira

retirada de uma árvore mais jovem.

Figura 5: Amostras não tratada (esquerda) ao lado de uma tratada a 220º C – 90 minutos

Figura 7: Amostras não tratada (esquerda) ao lado de uma tratada a 200º C – 120 minutos e imersa em solução de lignina diluída em água

Figura 6: Amostras não tratada (esquerda) ao lado de uma tratada a 220º C – 120 minutos

Figura 8: Amostras não tratada (esquerda) ao lado de uma tratada a 200º C – 90 minutos e imersa em solução de lignina diluída em álcool

As figuras 7 e 8 apresentam amostras de eucaliptos submetidas à solução de lignina e ao tratamen-

to de termorretificação.

A figura 9 corresponde à amostra de teca imersas em solução de lignina e termorretificada. Verifica-

se que, com o aumento do tempo de tratamento térmico com solução de lignina, a cor final do material

é alterada.

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9ª EDIÇÃO 297

A figura 10 corresponde à amostra de teca imersa em solução de lignina e termorretificada. A cor

final do material ficou mais clara.

As figuras 11 e 12 apresentam imagens de corpos de prova após o ataque de cupins. A inspeção vi-

sual nas duas espécies após o ataque de cupins mostra que não houve danos ao material. O tratamento

térmico degradou a celulose presente na madeira, principal alimento dessa espécie.

Figura 9: Amostras não tratada (esquerda) ao lado de uma tratada a 220º C – 120 minutos e imersa em solução de lignina diluída em álcool

Figura 10: Amostras não tratada (esquerda) ao lado de uma tratada a 200º C – 120 minutos e imersa em solução de lignina diluída em álcool

Figura 12: Amostras de teca seccionada tratada a 220º C – 90 minutos, após ataque de cupins

Figura 11: Amostras de eucaliptos tratada a 220º C – 120 minutos, após ata-que de cupins

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298 COLETÂNEA BITEC 20082010

20.5 ConclusãoA termorretificação promoveu a transformação da lignina e a redução da umidade e absorção de água

das amostras de teca e eucalipto, aumentando a sua resistência ao ataque dos cupins, tornando-as pro-

pícias para utilização como mobília em substituição ao ipê.

As amostras tratadas a 220º C nos dois tempos utilizados apresentaram menor teor de umidade e

menor absorção de água.

Na questão visual, os melhores resultados foram para tratamentos à temperatura de 200º C em

ambos os intervalos de tempo nas amostras de eucalipto e 220º C para a teca. Nesse caso, a maior tem-

peratura foi por causa da maior diferença na sua tonalidade inicial.

A imersão em solução de lignina não contribuiu para alteração do aspecto visual e da absorção de

água. Os ensaios com relação à prevenção ao ataque dos cupins continua em andamento

Referências

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9ª EDIÇÃO 301

21 IEL/RN MOSSORÓ PRODUÇÃO DE HORTALIÇAS COM ÁGUA RESIDUÁRIA PROVENIENTE DA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA SALOBRA DA COMUNIDADE BOM JESUS, CAMPO GRANDE, RN

Bolsista: Francisco Ismael de Souza – UFERSA

Professor orientador: Nildo da Silva Dias – UFERSA

Coautor: Maria Zuleide Araújo

21.1 IntroduçãoAs famílias da comunidade do Bom Jesus têm uma história de lutas e resistência aos fatores climáticos

naturais. A limitação dos recursos hídricos em qualidade e quantidade é um grande problema enfrenta-

do na comunidade, onde existem apenas quatro pequenos açudes que dão suporte hídrico no consumo

doméstico e para os animais até certo período do ano e, nos meses mais secos, os moradores sofrem

com a escassez de água. Para solucionar este problema, o governo federal instalou na comunidade uma

estação de tratamento de água por osmose reversa como alternativa para obtenção de água potável

para as famílias.

A comunidade tem batalhado pela construção de uma adutora, que com mais quatro comunida-

des resolveria o problema da água de boa qualidade. Enquanto isso, o dessalinizador e as cisternas de

placas são as alternativas para garantir o abastecimento doméstico. Porém, o rejeito (concentrado ou

salmoura) gerado no processo de tratamento da água não está recebendo qualquer tratamento ou des-

tinação adequada, sendo despejado diretamente no solo e no curso de água, causando problemas de

salinização nos solos e na qualidade da água dos açudes e dos rios próximos à comunidade.

As famílias preocupadas com o problema ambiental causado pelo escoamento da água de rejeito

salino gerado na estação de tratamento de água tentaram algumas alternativas, mas todas com custos

muitos elevados. A Universidade Federal Rural do Semiárido e a Assessoria Técnica do Núcleo Sertão Ver-

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302 COLETÂNEA BITEC 20082010

de, em parceria com o Programa de Iniciação Científica e Tecnológica para Micro e Pequenas Empresas

(BITEC) 2009, apresentaram uma proposta que se viabiliza um destino mais nobre às águas residuárias

dos dessalinizadores.

A produção de hortaliças, que é muito deficiente nas nossas famílias, devido à falta

d’ água, com isso suprimos a carência alimentícia e ainda temos uma fonte de

geração de renda. O grupo que vai participar diretamente do projeto é bastan-

te organizado e já desenvolveram diversos trabalhos comunitários (relato de

uma agricultura de Bom Jesus).

Dessa forma, foi objetivo desta pesquisa-ação estudar alternativas que viabilizassem a destino das

águas residuária dos dessalinizadores da comunidade, ou seja, a produção vegetal para alimentação

humana ou animal. Especificamente, a pesquisa foi realizada com a implantação de uma horta comuni-

tária aproveitando a água de rejeito para fortalecer a agricultura familiar com garantia da subsistência e

venda do excedente, aquecendo o comércio local com expansão de mercados para produtos e serviços.

A alternativa sugerida e discutida com a comunidade para dispor o rejeito salino foi sua utilização

para produção de hortaliças em Sistema de Cultivos em Substrato com base nos princípios agroecológi-

co, bem como o uso de plantas fitorremediadora e/ou tolerantes aos efeitos da salinidade. Os Sistemas

Agroecológico constituem uma vantagem quando se utiliza água de rejeito, pois neste inexiste o poten-

cial mátrico (solo rico em material vegetal, cobertura morta, adubos orgânicos e substratos), devido ao

estado de saturação que as plantas estão submetidas, fato que possibilita maior tolerância das culturas

aos efeitos da salinidade do rejeito salino. Desse modo, não haveria contaminação do solo e, como

benefício extra, o aproveitamento de fontes alternativas de recursos hídricos e a garantia da segurança

alimentar das famílias com maior proteção ambiental.

O projeto possibilitará impactos significativos nos aspectos socioeconômico e ambiental da comu-

nidade; ressaltando-se que, embora as ações das pesquisas sejam locais, o estudo é de grande interesse

regional; uma vez que o governo federal, mediante a implantação do “Programa Água Doce” (Ministério

do Meio Ambiente), tem ampliado o número de estações de tratamentos de água no Nordeste e, ainda,

a recuperação das estações atualmente paradas por falta de manutenção e mau uso.

21.2 Referencial teórico e fundamentaçãoNo Brasil, principalmente na região semiárida, um grande desafio é promover o abastecimento de água

às famílias residentes nas áreas rurais e, ainda, dotar essas comunidades de capacidade produtiva. As

águas subterrâneas são apontadas como alternativa viável para garantir o acesso das comunidades ru-

rais do Nordeste à água, a partir de investimentos públicos na perfuração de poços tubulares. Entretanto,

essas fontes hídricas apresentam na maioria dos casos restrições de uso para dessedentamento humano

(AYERS; WESTCOT, 1999) por apresentarem problemas de salinidade.

A tecnologia da osmose reversa tem sido amplamente utilizada para o tratamento da água

salobra (AMORIM et al., 2004; PORTO et al., 2004), com experiências de êxito na maioria das locali-

dades onde têm sido implantadas as unidades de tratamento de água por dessalinização. Nos úl-

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9ª EDIÇÃO 303

timos anos, muitos equipamentos de dessalinização vêm sendo instalados no Brasil, sobretudo na

região Nordeste, onde, além da reconhecida escassez de águas superficiais, as águas subterrâneas

disponíveis são muitas vezes salinas.

Noble e Stern (1995) definem o termo osmose reversa como um processo induzido pela ação de

uma força externa, mecânica, superior à pressão osmótica do sistema, ou seja, quando essa pressão é

aplicada sobre a solução mais concentrada, que está separada de outra mais diluída por uma membrana,

ocasiona o transporte de solvente contra o gradiente de concentração. À medida que a pressão é au-

mentada, mais água atravessa a membrana semipermeável (água potável), havendo retenção dos íons

na membrana que separa as duas soluções e o aumento da concentração de sais na solução em que

se está aplicando a pressão, gerando um rejeito salino com poder de contaminação ambiental elevado.

A dessalinização, embora seja uma técnica incremental ao bem-estar dessas comunidades, poden-

do constituir-se em ação política de desenvolvimento local, deve-se ponderar pela dualidade do bene-

fício da dessalinização por osmose reversa, tendo em vista o potencial de contaminação da água resi-

duária gerada. A destinação ambientalmente correta da água de rejeito tem sido a grande preocupação

dos ambientalistas e das instituições públicas responsáveis pelas políticas públicas de abastecimento de

água. Essa preocupação a nível mundial está cada vez mais ocupando os pesquisadores e os técnicos em

busca de soluções menos impactantes possíveis.

Conforme Mickley (2004), a escolha da melhor opção para se dispor o rejeito da dessalinização deve

atender, entre outros fatores, às disponibilidades locais (terra, compatibilidade das águas receptoras e

distância), às disponibilidades regionais (geologia, leis estaduais, geografia e clima), ao volume de con-

centrado, aos custos envolvidos, à opinião pública e à permissibilidade.

Em geral, nos países desenvolvidos, o rejeito é transportado para os oceanos ou injetados em poços

de grande profundidade; todavia, outras alternativas estão sendo estudadas, como: bacias de evapora-

ção, redução de volume do rejeito por plantas aquáticas, bacias de percolação e irrigação de plantas

halófitas (PORTO et al., 2001). Nos Estados Unidos da América (EUA), a destinação do rejeito pela irriga-

ção é usada principalmente para pequenos volumes, mas, conforme Mickley (2004), isso requer muita

disponibilidade de terra e normalmente mistura com águas para diminuir a salinidade, ficando limitada

pela disponibilidade de água para diluição, pelo clima e pelas taxas de absorção do solo. Áreas de lazer,

como gramados, parques e campos de golfe, além de espaços abertos e cinturões verdes de preservação

ambiental, podem ser irrigados. Na Califórnia, informam Amorim et al. (2004), pesquisas avaliam o uso

de rejeito em sistemas construídos para serem o habitat de peixes e plantas (wetlands).

Riley et al. (1997) consideraram o cultivo de plantas halófitas a melhor opção para dispor o rejeito

da osmose reversa. Já Soares et al. (2006) afirmam que o uso do rejeito para irrigação de plantas halófitas

forrageiras pode ser incompatível com a seguridade ambiental em razão da ineficiência de extração de

sais dessas plantas frente ao montante aplicado ao solo. O autor aponta uma alternativa merecedora de

investigações que é o uso da água do rejeito para a produção de mudas de essências florestais para cul-

tivo de plantas halófitas e plantas tolerantes à salinidade em recipientes de cultivo. Ao se comercializar

essas plantas, evitar-se-ia o acúmulo dos sais no ambiente, pois estes seriam levados com o recipiente

de cultivo. Nessa alternativa, quanto menor a lixiviação e quanto maior a precocidade da planta, maior

seria a retirada de sais do ambiente.

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304 COLETÂNEA BITEC 20082010

No Brasil, a grande maioria das usinas de dessalinização se encontra localizadas no interior do

continente, portanto, longe da costa, o que inviabiliza a emissão para o mar das águas de rejeito dos

dessalinizadores. O rejeito não está recebendo, na quase totalidade dos casos, qualquer tratamento;

mesmo assim, está sendo despejado no solo, propiciando alto acúmulo de sais nas camadas superfi-

ciais do terreno (PORTO et al., 2001). A deposição deste rejeito no solo poderá trazer, em curto espaço

de tempo, sérios problemas para as comunidades que se beneficiam da tecnologia de dessalinização,

como informam Porto et al. (1999). Um estudo realizado por Amorim e Silva Junior (1997) confirmaram

a salinização dos solos causados pelo despejo da água de rejeito dos dessalinizadores instalados em

duas comunidades do município de Petrolina (PE), onde foram implantados unidades de tratamentos

de água por dessalinização.

De acordo com Amorim et al. (2001), a água de rejeito tem potencial para contaminar mananciais,

solos e, em casos extremos, a fauna e a flora da região; além disso, os sais depositados na superfície do

solo poderão ser transportados pela ação do vento ou por escoamento superficial e salinizar aguadas e

áreas próximas. Consequentemente, a vegetação local será prejudicada pelos efeitos dos sais no solo e

nas plantas e, também, os rebanhos e os animais silvestre pela falta de pastagem natural e abrigo.

Para contornar esse problema, a água de rejeito da dessalinização poderia ser utilizada para pre-

parar soluções nutritivas em cultivos hidropônicos de hortaliças, onde o efluente salino no final do cul-

tivo (íons da solução nutritiva e rejeito) seria captado nos reservatório do sistema (hidroponia NFT) ou

no substrato (hidroponia aberto), facilitando sua destinação mais apropriada. Além disso, a hidroponia

pode constitui uma vantagem quando se utiliza água de rejeito salino, pois nesse sistema inexiste o

potencial mátrico, devido ao estado de saturação que as plantas estão submetidas, fato que possibilita

o aumento da tolerância das culturas à salinidade (SOARES et al., 2007). Desse modo, não haveria con-

taminação do solo e, como benefício extra, a garantia da segurança alimentar das famílias com maior

proteção ambiental.

O maior potencial da água na hidroponia pode representar maior absorção de água e nutrientes

pela planta, com menor gasto de energia e menores prejuízos fisiológicos, para uma mesma quantidade

de sais em relação ao cultivo em solo. Nesse sentido, espera-se que os cultivos de plantas em sistema

hidropônico proporcionem o uso sustentável das águas salobras provenientes da dessalinização. Como

na hidroponia não há efeito da salinidade sobre a matriz do solo, os prejuízos às plantas, como verifica-

dos em cultivos convencionais decorrentes das alterações da estrutura do solo pelo excesso de sódio,

tornam-se nulos, o que também contribuiria para uso das águas de rejeito na hidroponia.

No cultivo em solo com água salobra, a drenagem natural ou a fração de lixiviação pode carrear os

sais abaixo da zona radicular, mas a remoção leva às águas subterrâneas. Quando se instalam sistemas de

drenagem, os sais poluentes podem ser removidos para fora do meio de cultivo, mas quase sempre a re-

moção leva os sais para os corpos d´água ou terrenos, contaminando-o. Na hidroponia, a carga poluente

já está captada e, com a vantagem de ser menos tóxica que o lixiviado de solos, podendo ser diluída para

recirculação, utilizada para irrigação de outras culturas (plantas halófitas), ou facilmente direcionada para

concentração em tanques de evaporação.

Em se comprovando a viabilidade técnica da utilização do rejeito salino para a produção vegetal em

hidroponia (sistemas com substratos ou sistemas de fluxo laminar), pode ser possível viabilizar a constru-

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9ª EDIÇÃO 305

ção de tanques de evaporação para o efluente gerado no final do processo, empregando recursos gera-

dos na própria atividade. Em se provando a viabilidade econômica e ambiental, ter-se-ia disponível para

as famílias, sobretudo nas comunidades onde foram implantados os dessalinizadores, uma alternativa

para produção de alimento, fazendo melhor preservar os recursos naturais extensivamente explorados.

21.3 Objetivos

21.3.1 Objetivo geralMensurar a viabilidade técnica e ambiental da utilização da água de rejeito gerado na dessalinização

por osmose reversa da comunidade Bom Jesus, bem como sua destinação adequada, tendo em vista os

riscos ambientais e o aproveitamento desse resíduo pela comunidade para produção agrícola.

21.3.2 Objetivos específicos• Implementar um projeto de hortaliças utilizando a água do rejeito salino gerado na dessali-

nização com base nos princípios agroecológico (cultivos em substrato, adubação verde etc.),

fomentando a discussão ambiental junto às famílias da comunidade.

• Construir hortas com sistemas de canteiros inteligentes com irrigação por subsuperfície, ca-

pazes de diminuir os efeitos deletérios da alta concentração de sais do rejeito salino sobre as

plantas cultivadas.

• Melhorar a alimentação das famílias envolvidas no processo com o consumo de hortaliças e

disponibilizar produtos de qualidade para outras famílias da comunidade.

• Avaliar a produção de diferentes espécies (plantas fitorremediadora, halófitas etc.) quando irri-

gadas com rejeito salino, a fim de selecionar espécies tolerantes e sensíveis à salinidade.

• Aumentar a renda familiar.

21.4 MetodologiaO grupo já possuía noções básicas de produção de hortaliças, mas necessita de capacitações específicas,

como se trata um projeto inovador, sendo este orientado pela equipe técnica da Ufersa e do Núcleo

Sertão Verde.

Partindo de uma análise do local, foi selecionada uma área 12 x 20 m próximo ao dessalinizador

(figura 1), onde foi necessário construir uma cerca de arame farpado para isolar a área que é central na

comunidade, um viveiro para o plantio das mudas em canteiros, um pequeno sistema de irrigação que

usará a água residual do dessalinizador para suporte hídrico ao desenvolvimento das culturas.

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306 COLETÂNEA BITEC 20082010

O projeto/experimento foi organizado da seguinte forma: formada uma coordenação com três inte-

grantes que ficaram responsáveis pela parte administrativa, financeira e comercial e um grupo produtivo

responsável pela produção (qualidade, quantidade e os instrumentos produtivos). Essa coordenação

junto ao grupo produtivo reuniu-se quinzenalmente para discutir as demandas e tomar as decisões cole-

tivas sobre organização, produção e comercialização do projeto. O processo de comercialização pensado

pelo grupo, além do consumo das famílias envolvidas no projeto, foi o excedente comercializado na

comunidade e na circunvizinhança.

Inicialmente, foi o preparo da área para plantio e construção dos canteiros inteligentes com sistema

alternativo de distribuição de água por subsuperfície (figura 2), sendo preenchido com grande quanti-

dade de material vegetal (fibra de coco, restos vegetais, pó de serra etc.), já que se buscava o princípio

da redução do potencial da matriz do solo, a fim de reduzir os efeitos deletérios da água de rejeito salino

sobre as plantas. Além disso, foi plantado na metade da área disponível um coquetel de leguminosas e

gramíneas (tabela 1) para produção de fitomassa que serviu posteriormente de adubação verde e ma-

téria orgânica para o solo (figura 3).

Figura 1: (A e B) Localização da área de estudo na comunitária. (C e D) Dessalinizador e descarte do rejeito salino no solo e Área de plantio e despejo do rejeito no rio (percurso)

A

C

B

D

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9ª EDIÇÃO 307

Tabela 1: Composição e quantidades de sementes das espécies utilizadas no coquetel incorporado ao material de solo

Leguminosa/gramínea Quantidade (kg ha-1)

Milho 24

Feijão-de-porco 16

Girassol 8

Mamona 5

Calopogônia 4

Milheto 2

Crotalária 10

Crotalária 10

Mucuna 16

Feijão-guandu 16

Lab Lab 12

Sorgo 3

Feijão-moita 12

Nos canteiros inteligentes foram cultivadas hortaliças como alface, cebolinha, coentro, rúcula, pi-

mentão e tomate. Algumas fruteiras como goiabeira e acerola também foram plantadas na área; além

de algumas espécies halófitas como a erva-sal e mudas de reflorestamento. Toda a produção excedente

foi vendida na comunidade, nas comunidades vizinhas e na feira da agricultura familiar do município. Os

recursos oriundos das vendas do excedente foram para cobrir os custos com as despesas provenientes

da produção.

Com a finalidade de produção animal e, considerando a maior demanda hídrica e alta tolerância

das gramíneas à salinidade da água, foi construída uma capineira, em que se cultivou capim ‘elefante’

(figura 4) irrigado por sistema de irrigação por sulco, sendo que esta foi uma estratégia para impedir que

o rejeito salino fosse carreado para o rio.

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308 COLETÂNEA BITEC 20082010

Com a finalidade de comprovar a viabilidade técnica e ambiental da utilização da água de rejeito

salino foi realizado na área análise e caracterização do solo e da água (rejeito salino, água de poço e água

tratada), conforme metodologia proposta pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embra-

pa)/1997. Além disso, foi quantificado a produção vegetal (hortaliças, coquetel de leguminosas e gra-

míneas e capineira), sendo estes comparados com os dados da literatura para produção convencional

(água de boa qualidade).

21.5 ResultadosA execução do projeto possibilitou impactos significativos nos aspectos socioeconômico, técnico-cien-

tífico e ambiental das comunidades abastecida com unidades de captação e tratamento de água por

dessalinização. Os resultados esperado foram parcialmente alcançados, sendo necessário mais tempo

para se definir outras alternativas para utilização do rejeito da dessalinização.

Foi promovido um diálogo entre as famílias envolvidas na pesquisa, em que se discutiu outras

alternativas de reúso do rejeito salino como a criação de tilápia, a contrução de tanque de evaporação

para produção de sais minerais e o cultivo de girassol para produção de óleo e ornamentação (plantios

em jarros). Durante a condução do experimento, com o plantio do coquetel de leguminosas para a adu-

bação verde, os agricultores envolvidos na pesquisa, observaram o melhor desempenho das plantas de

girassol em relação à tolerância à salinidade da água de rejeito salino (figura 5), sobressaindo em relação

as demais espécies do coquetel. Pode-se inferir que o girassol é uma planta muito tolerantes aos sais

Figura 2: Construção de canteiros inteligentes com sistema alternativo de distribuição de água

Figura 4: Capim elefante irrigado por sulco com rejeito da dessalinização da água

Figura 3: Coquetel de leguminosas e gramíneas para adubação verde

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9ª EDIÇÃO 309

e, possivelmente é uma planta fitorremediadora, podendo ser utilizada na recuperação de ambientes

salinos (extração de sais do solo).

A partir dessa constatação, os envolvidos na pesquisa participativa discutiram as potencialidades e

a importância econômica da cultura do girassol, sendo definido investigações futuras com a perspectiva

de reúso do rejeito salino.

A produção das hortaliças na comunidade teve grande êxito, pois conseguiu quebrar a cultura dos

moradores de que rejeito da dessalinização da água era inadequanda para qualquer fim e, com isso, des-

pertou a curiosidade de cultivá-las usando o rejeito salino. O excedente da produção foi comercializado

em feiras locais, conforme meta estabelecida na proposta da pesquisa. Na tabela 2 são mostrados a pro-

dutividade média das principais espécies produzidas com rejeito salino e a sua relação com a produção

em sistema convencional (água de boa qualidade).

Pode-se constatar que houve perdas de produtividade em todas as espécies cultivadas com água

de rejeito salino, sendo registrados perdas relativas entre 25,30% a 26,7% em relação ao cultivos tra-

dicionais com a utilização de água de boa qualidade para irrigação, porém a fitomassa foi produzida.

Entretanto, se considerarmos as perdas de produção comercial das hortaliças devido os efeitos da sa-

linidade do rejeito salino certamente são compensatórias pelos ganhos obtidos da opção de dispor

adequadamente o rejeito da dessalinização, evitando os impacto ambientais devido a sua deposição no

solo e nos cursos d’água.

Com relação ao teor de proteína bruta do capim elefante, pode-se verificar aumento no teor com o

uso do rejeito salino, embora com perdas na porcentagem de materia seca.

Figura 5: Desempenho das plantas de girassol em relação as de-mais espécies do coquetel de leguminosa

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310 COLETÂNEA BITEC 20082010

Tabela 2: Produtividade média das principais espécies produzidas com rejeito salino e a sua relação com a produção em sistema convencional

Espécies Rejeito salino Água boa Perda relativa (%)

Alface (fitomassa fresca) 72 g planta-1 98 g planta-1 26,53

Tomate (número de frutos) 27 frutos planta-1 36 frutos planta-1 25,00

Pimentão (peso de frutos) 43,1 g fruto-1 57,7 g fruto-1 25,30

Girassol (fitomassa seca)

Capim elefante:

- Porcentagem de matéria seca 80,5% 90,5% 11,04%

- Teor de proteína bruta 9,5% 4% –

As características químicas das águas de rejeito, abastecimento e as diluições utilizadas no expe-

rimento, são descritos na tabela 3. Com base na literatura (AYERS; WESTCOT,1999), a água de rejeito é

considerada imprópria para consumo e também para uso agrícola com alto risco de salinização; sendo

utilizada somente em espécies com alta tolerância à salinidade, por exemplo, a erva sal.

Tabela 3: Análise do rejeito salino e da água tratada por dessalinização

ÁguaCE

(dS m-1)pH

Ca Mg Na Cl CO3

HCO3 RAS*

(mmol L-1)0,5............mmol

c L-1..............

Tratada 0,46 8,0 0,6 0,1 5,1 1,8 0,5 3,8 8,62

Rejeito 5,96 7,4 22,4 8,6 39,6 64,6 0,3 8,1 10,06

Nota: * relação de adsorção de sódio.

21.6 ConclusãoA destinação adequada do rejeito inferiu ao projeto um caráter conservacionista e, também, a possibili-

dade de uso de uma fonte alternativa de água para a agricultura, enfatizando a questão da eficiência de

uso dos recursos hídricos em ambiente semiárido, viabilizando um destino mais nobre às água residuária

dos dessalinizadores: a produção vegetal para alimentação humana ou animal.

Acreditamos que o projeto serviu de exemplo para a comunidade, um exemplo de perceverança e

de motivação para os moradores, fazendo que eles acreditem e possam dar continuidade ao trabalho.

O Programa BITEC por meios da pesquisa participativa buscou, com muito sucesso, aproximar a univer-

sidade, a empresa e a comunidade, sendo uma iniciativa merecedora de reconhecimento. Outro ponto

positivo do projeto foi que o docente utilizou a empresa, a comunidade e os resultados da pesquisa

como fonte geradora de estudos em sua prática de ensino, desenvolvendo suas aulas a partir de proble-

mas concretos e específicos, contribuindo tanto para sua formação profissional como para a formação

do discente.

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9ª EDIÇÃO 313

22 IEL/RR GESTÃO DE PESSOAS E O AMBIENTE PROPÍCIO À INOVAÇÃO POR MEIO DO CLIMA ORGANIZACIONAL

Bolsista: Pollyana Rezende Custódio Guimarães – FAA

Professora orientadora: Victória Corrêa Fortes – FAA

Coautor: Charles de Lima Bessa

22.1 IntroduçãoHoje, a área de administração de pessoal está rapidamente mudando o seu papel de protetora para um

papel de planejadora e importante agente de mudanças. A metamorfose de “departamento” para “adminis-

tração ou gestão” demonstra o fato de que nas atuais organizações, achatadas e competitivas, a chave para

a competitividade não é mais a máquina e sim os funcionários, altamente treinados e compromentidos.

O departamento de recursos humanos (RH) ou gestão do capital humano (GCH) está cada vez mais en-

volvido nos primeiros estágios de elaboração e implantação do planejamento estratégico, deixando de ser

apenas um receptor reativo (DESSLER, 2003).

Estudar o universo da Gestão de Recursos humanos, na busca de implantar ações pertinentes à

essa área, por si só já seria um grande desafio e quando ainda se propõem inovar a gestão da empresa,

por meio de um estudo voltado para a inserção de ações de gestão em recursos humanos, que pro-

porcionasse à empresa a inovação em seus serviços internos, voltados para gestão do capital humano,

entendendo o clima organizacional e o nível de comprometimento de seus parceiros internos.

A empresa preocupada com a permanência de seus parceiros internos encontra suporte na execu-

ção do projeto para trabalhar os relacionamentos com seus parceiros internos e externos, pois tem como

um de seus objetivos estratégicos “adotar uma cultura inovadora comprometida com a manutenção de

seus parceiros internos”.

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314 COLETÂNEA BITEC 20082010

Nesse contexto, as empresas passam a buscar estratégias competitivas, passando assim a adotar

estratégias para diversificação de seus negócios, a inovação nos seus processos, no seu posicionamento

diante de parceiros internos e externos, permitindo uma dinâmica inovadora baseada em modelos de

gestão e condução de pessoas. Assim, a inovação torna-se vital para as organizações sobreviverem.

Dessa forma, as organizações que possuem pessoas com foco no negócio, garantem ambientes

mais inovadores, pois as pessoas estão sempre a frentes das estratégias competitivas dos seus concor-

rentes. A inovação acaba sendo tema distante de algumas empresas por falta de processos de desenvol-

vimento de pessoas, já que são as pessoas que conduzem as organizações, a ausência de competências

necessárias faz que as empresas não gerem inovação.

O ambiente de inovação, então, passa a ser considerado importante aliado das organizações à me-

dida que favorece o aparecimento das inovações que sustentam a competitividade e promovem o seu

crescimento.

Nessa problemática, o artigo tem como objetivo geral identificar os elementos que caracterizam

o ambiente organizacional da empresa. E como objetivos específicos: identificar os pontos fortes e fra-

cos da gestão da empresa; identificar o nível de comprometimento dos colaboradores; elaborar um

manual de gestão de recursos humanos da empresa. A empresa pesquisada Roraima Serviços Ltda.,

denominada Roserc, tem suas instalações físicas localizadas no município de Boa Vista, capital do estado

de Roraima, surgiu no mercado no dia 23 de setembro de 1991, quando o empresário Charles de Lima

Bessa que atuava como funcionário público, observando a carência do mercado, teve a ideia de fundar

a empresa de prestação de serviços atuando na área de limpeza de prédios e domicílios, dedetização e

podação de árvores. A empresa inicialmente funcionava na própria residência desenvolvendo suas ati-

vidades por dois anos. Com o crescimento da empresa houve a necessidade de se mudar para um local

mais adequado onde pudesse atender seus clientes com mais comodidade, passando a contar com uma

nova estrutura no centro da cidade.

Há 18 anos atuando no ramo de prestação de serviço, consolidou-se no mercado local e presta

serviços para vários órgãos nas esferas estadual, municipal e federal e nas empresas privadas. Conta

com cerca de 200 funcionários para a realização dos serviços, esse número não é exato, pois há grande

rotatividade de funcionários.

A empresa não dispõe de ações específicas para gestão de seus recursos humanos, ficando a cargo

somente das ações de administração de pessoal, com rotinas de folha de pagamento, rescisão etc.

Diversos autores apresentam um consenso de que a estrutura organizacional pode interferir na

capacidade das organizações inovarem. O processo de inovação desenvolve quatro fases, concepção

da ideia, elaboração da proposta/projeto, decisão e implantação. Porém, a forma como a organização

encara o processo pode fazer que a ideia inovadora apareça em qualquer nível hierárquico. Diante do

exposto, localizar, firmar parcerias ou realizar uma aquisição deve ter como objetivo garantir as informa-

ções pertinentes à área de administração de pessoal, pois delas dependem processos ligados à moderna

gestão do capital humano, como descrição e análise de cargos, planejamento de RH, recrutamento,

seleção, orientação e motivação das pessoas, avaliação do desempenho, remuneração, treinamento e

desenvolvimento, relações sindicais, segurança, saúde e bem-estar etc. (CHIAVENATO, 1999).

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9ª EDIÇÃO 315

22.2 Administração de pessoal no BrasilNo Brasil, como em todo o mundo, a atividade realizada pela área de recursos humanos transforma-se a cada

dia, com mudanças cada vez mais velozes e rápidas. A tecnologia passou por um incrível intenso desenvol-

vimento e resultou em um desafio para as organizações que é acompanhar a evolução na forma como se

administram as empresas em uma economia globalizada (CHIAVENATO, 1999; TEGON, 2007).

Se num período recente o foco dos administradores do Departamento de Recur-

sos Humanos estava na realização de controles burocráticos, atualmente, a forma

como se gerem as pessoas passou a ser um diferencial estratégico independente-

mente do porte ou nacionalidade da empresa (TEGON, 2007).

Shinyashiki reforça dizendo que serão as pessoas que irão definir o sucesso ou o fra-

casso de uma organização. A tecnologia certamente é importante, mas ela apenas

garante que a empresa não vai ficar para trás. Quem levará a empresa para frente,

rumo ao futuro, serão as pessoas (2007).

22.2.1 Gestão do capital humanoA metáfora utilizada por Crawford (1994, p. 34), em seu livro Na Era do Capital Humano, inicia o

embasamente sobre o tema gestão do capital humano, de forma a demonstrar sua importância. Atual-

mente, autores como Chiavenato (1999), Friedman, Hatch e Walker (2000), Milkovich e Boudreau (2000),

Marras (2001), Chowdhury (2003) concordam que a evolução ocorrida com o conceito de gestão do

capital humano criou áreas específicas nas organizações com o objetivo de atrair, reter, gerenciar e

identificar os talentos que sustentam o capital humano. Áreas como recrutamento e seleção, treina-

mento e desenvolvimento, cargos e salários, avaliação de desempenho e competências, higiene e segu-

rança e mais recente ainda QVT (qualidade de vida no trabalho, são os destaques da moderna gestão do

capital humano.

22.2.2 Gestão de recursos humanosAs organizações têm enfrentado nos últimos tempos, várias crises que se refletem tanto em uma nova

definição de seu papel social, quanto na profunda reflexão da importância de seus recursos humanos

para consecução dos objetivos organizacionais.

Colossi e Teixeira (1999) afirmam que a preocupação com o desenvolvimento de recursos humanos

nas organizações está alicerçada no fato de os indivíduos passarem a maior parte do tempo vivendo ou

trabalhando nas organizações. Esta preocupação está relacionada, tanto em nível pessoal quanto profis-

sional, nas políticas de recursos humanos adotadas pelas organizações, mas principalmente na perspec-

tiva de inferir a interação entre o indivíduo e a organização. Muitas vezes, a interação entre indivíduo e

organização sofre algum tipo de discordância, em que nem sempre os objetivos são comuns. Em relação

a esse aspecto, o autor afirma que:

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316 COLETÂNEA BITEC 20082010

[...] as organizações recrutam e selecionam seus recursos humanos, para com eles

e por meio deles alcançarem objetivos organizacionais. Todavia, os indivíduos uma

vez recrutados e selecionados têm objetivos pessoais que lutam para atingir e, mui-

tas vezes, servem-se das organizações para consegui-los (MILKOVICH, 2000, p. 97).

Chiavenato (1999) afirma que essa preocupação com os indivíduos tem-se revelado nas políticas

adotadas pelas organizações, que cada vez mais tentam contemplar a globalidade do desenvolvimento

humano, incluindo aspectos profissionais e humanos. Essa preocupação com os indivíduos nas organi-

zações revela-se nas diretrizes implementadas pelas organizações, visando ao desenvolvimento profis-

sional e existencial das pessoas em relação às suas atividades produtivas. Ainda, segundo o autor, as exi-

gências, cada vez mais crescentes, do meio ambiente, de melhores condições de trabalho têm obrigado

os dirigentes das organizações a buscarem alternativas para definição de estratégias institucionais que

tenham como meta o crescimento global dos indivíduos em suas organizações.

Dessa forma, as políticas de recursos humanos, segundo o autor, “constituem orientação adminis-

trativa para impedir que empregados desempenhem funções indesejadas ou ponham em risco o suces-

so de funções específicas” (CHIAVENATO, 1999, p. 171).

A responsabilidade pela integração efetiva entre indivíduos e organização, parece estar nos

altos escalões administrativos e, consequentemente, em uma adequada política de recursos hu-

manos, voltada a todos os participantes da organização, em todos os níveis existentes. Contudo,

Aquino (1996) ressalta que as políticas não devem configurar-se como recursos acabados, feitas

pelos altos escalões da organização, políticas institucionais desvinculadas das necessidades dos

membros que compõe as organizações, devendo sempre contemplar as reais necessidades de de-

senvolvimento pessoal e organizacional.

Políticas de recursos humanos referem-se às maneiras pelas quais a organização pretende lidar com

seus membros e, por intermédio deles, atingir os objetivos organizacionais, permitindo condições para

alcance de objetivos organizacionais e individuais (MILKOVICH, 2000).

Cada organização desenvolve política ou estratégias de recursos humanos mais adequada à sua

filosofia e às suas necessidades. Toledo (1989) salienta que a política básica de recursos humanos de uma

empresa ou instituição, reduzida a uma expressão simples, esta voltada para assegurar a existência de

recursos humanos adequados e motivados para suas operações presentes e futuras. Por isso, a política

de recursos humanos, que envolve cargos e salários, treinamento, avaliação, planejamento de carreira

etc., está subordinada à definição e à implantação dos seguintes propósitos: estabelecer programas e

incentivos; flexibilização para recrutar, selecionar, treinar e avaliar o desempenho dos funcionários; polí-

ticas de motivação; adequar a administração de cargos e salários ao dinamismo do mercado de trabalho

(CARVALHO, 1997).

Desse modo, verifica-se a existência de várias esferas de abrangência das políticas de recursos hu-

manos, ao considerarem-se os níveis da estrutura organizacional e os processos presentes na instituição.

Além das políticas gerais definidas estrategicamente, que servem de guias para as demais políticas, têm-

se as políticas específicas que consideram os níveis da estrutura em que se acham grupos de indivíduos

com atividades peculiares à posição hierárquica e os diferentes tipos de organização.

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9ª EDIÇÃO 317

22.2.3 Clima organizacionalO clima organizacional é um elemento vital em um processo de gestão de mudanças, pois pode ser visto

como ferramenta de ajuste contínuo e fundamental na relação indivíduo–organização (SANTOS,

1999, p.15).

Para Maximiano, o clima é representado pelos “conceitos e sentimentos que as pessoas partilham a

respeito da organização e que afetam de maneira positiva ou negativa sua satisfação e motivação para

o trabalho” (2000, p. 107).

Chiavenato define o clima organizacional como sendo “a qualidade ou propriedade do ambiente

organizacional que é percebida ou experimentada pelos participantes da empresa e que influencia o seu

comportamento” (2000, p. 305).

Para Bowditch, o clima organizacional:

[...] é uma percepção resumida da atmosfera e do ambiente da organização, e tem

implicações na satisfação com o trabalho e a organização, no desempenho, nos

padrões de interação em grupos, e nos comportamentos de afastamento (por

exemplo, absenteísmo, rotatividade) (1997, p. 189).

De acordo com Luz, “clima organizacional é o reflexo do estado de espírito ou do ânimo das pesso-

as, que predomina numa organização, em um determinado período” (1996, p. 6).

Para Schneider e Snyder 1975 (apud SÁ LEITÃO, 1995, p. 28), “o clima organizacional é mais ade-

quadamente conceitualizado como uma percepção sumária que os indivíduos têm de (ou sobre) uma

organização”. Isto é, uma impressão global do que é a organização.

Para Souza (1978, p. 38), o clima é “um fenômeno resultante das variáveis culturais”. Considera que

o clima é mais perceptível do que suas fontes causais, comparando-o a um perfume, pois “percebe-se o

efeito, sem conhecer os ingredientes, embora, às vezes, seja possível identificar alguns deles”.

Litwin e Stringer consideram que o clima organizacional refere-se às “propriedades mensuráveis do

ambiente de trabalho, percebidas direta ou indiretamente pelas pessoas que vivem ou trabalham neste

meio, influenciando sua motivação e seu comportamento” (apud HAETINGER, 1979, p. 49).

Segundo Sá Leitão (1998, p. 2), Moran e Volkwein (1992) apresentam uma definição abrangente e

esclarecedora segundo a qual o clima organizacional é uma característica relativamente duradoura de

uma organização que a distingue das demais e:

a) inclui percepções coletivas dos membros sobre sua organização com relação a dimensões

como autonomia, confiança, coesão, apoio, reconhecimento, inovação, honestidade, etc.;

b) é produzido pela interação dos membros;

c) serve como base para interpretar as situações;

d) reflete as atitudes, normas e valores prevalecentes da cultura da organização; e

e) atua como uma fonte de influência para os comportamentos apresentados.

Sbragia (1983) trata o clima organizacional como um aspecto psicológico do ambiente organizacio-

nal, constituído fundamentalmente por percepções acerca de propriedades do ambiente organizacional,

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318 COLETÂNEA BITEC 20082010

por exemplo, estrutura e processos, que produzem efeitos no desempenho e na satisfação do trabalho dos

membros da organização.

Analisando-se as definições já apresentadas, é possível constatar a presença de dois elementos

comuns a quase todas elas. O primeiro é a referência à percepção como o meio de detecção do clima, o

que indica a consideração desse como um constructo “individual” que, portanto, está permeado de toda

a subjetividade inerente ao processo de percepção.

Dessa maneira, a percepção do clima depende da sensibilidade dos membros da organização,

podendo uma característica parecer positiva, satisfatória ou desejável para um membro da empresa e

apresentar-se como negativa, insatisfatória ou indesejável para outros.

De acordo com Hall (1984), o processo perceptivo está sujeito a muitos fatores, que podem levar a

diferenças significativas no modo como duas pessoas quaisquer percebem as coisas.

Segundo Amboni (1986), as necessidades, os valores, a cultura e os interesses pessoais dos indiví-

duos ajudam na constituição do processo perceptivo.

Segundo Sá Leitão (1995), a constatação desse elemento (percepção) indica a multidimensionali-

dade dos aspectos que influenciam na percepção do clima organizacional.

Assim, de acordo com a referida autora, a percepção do clima pode abarcar tanto variáveis indivi-

duais (história de vida, estrutura familiar, experiência profissional, valores etc.) quanto variáveis organiza-

cionais (tamanho da empresa, estrutura de comunicação, estilos de liderança, entre outros) que, juntas,

irão compor a definição dos atributos organizacionais.

O segundo elemento comum é a referência à influência do clima organizacional na satisfação, na

motivação e no comportamento das pessoas. Segundo Hesketh e Kolb et al. (apud AMBONI, 1986), o

clima organizacional, além de descrever as percepções das pessoas, é importante conceito que os diri-

gentes precisam entender, porque é por meio da criação de um clima organizacional favorável que os

dirigentes podem controlar as motivações de seus subordinados.

O desempenho organizacional pode ser aumentando criando-se um clima que satisfaça as neces-

sidades dos membros da organização e, ao mesmo tempo, canalize seus comportamentos motivados

para realização dos objetivos organizacionais.

22.2.4 InovaçãoA inovação possui vários significados que podemos utilizar, conforme a definição do dicionário Aurélio:

inovação é o “ato ou efeito de inovar” (FERREIRA, 1986, p. 949). Inovar do latim innovo, innovare que

significa tornar novo, renovar ou introduzir novidades de qualquer espécie, portanto, inovação deriva

da palavra innovatione que significa renovado ou tornado novo (BARBIERI et al., 2004; MACHADO, 2004,

p. 6). Dessa forma, podemos perceber que a palavra inovação é atribuída a algo novo, que pode ser um

produto ou um serviço, algo que surpreenda o consumidor, algo que atenda às suas expectativas, neces-

sidades e desejos (DAMANPOUR, 1996).

A inovação pode ser caracterizada em diferentes tipos, sendo os principais tipos ( JONASH; SOM-

MERLATTE, 2001):

a) Inovação em produtos ou serviços: refere-se ao desenvolvimento, à produção e à comerciali-

zação de produtos ou serviços, que nunca tenham existido antes, geralmente introduzidos no

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9ª EDIÇÃO 319

mercado para satisfazer necessidades de clientes, empregando-se ou não novas tecnologias

neste processo.

b) Inovação em processos e tecnologia: relacionada ao desenvolvimento de novos meios de fa-

bricação, manufatura de produtos ou na distribuição ou prestação de serviços. No entanto,

essas novas formas necessitam, contudo, apresentar vantagens em termos de custos ou maior

presteza em sua elaboração.

c) Inovação em negócios: relacionada ao desenvolvimento de novos métodos de inserção e ex-

ploração do mercado, resultando em novos negócios que conduzem uma vantagem competi-

tiva, imbatível pelos competidores, em um primeiro momento.

Para Afuah (2003), a inovação pode estar relacionada ao: a) produto ou serviço: trata-se da utili-

zação de novos componentes, as ligações entre os componentes, novos métodos, novo processo e as

novas técnicas empregadas na sua produção – traduzidas pelo emprego do novo conhecimento tec-

nológico adquirido; b) mercado: refere-se à forma como o novo produto ou serviço é distribuído, bem

como a forma como atende às expectativas e às necessidades e desejos do público e está relacionado

ao novo conhecimento de mercado.

Na visão de Gundling (1999), a inovação é a adoção de uma nova ideia que, por meio de ações, gera

resultados para organização, seja como melhoria, como ganho ou lucro. A inovação é o ato de fornecer

um produto ou serviço aos consumidores que se empregou novo conhecimento tecnológico ou novo

conhecimento de mercado, surgindo assim “algo” novo, seja no produto, no processo ou no negócio “é

a invenção mais a comercialização” (AFUAH, 2003, p. 13). O autor explica que a inovação disponível em

produtos e serviços novos reflete a capacidade e habilidade que a organização tem de perceber de que

forma o consumidor quer ou pretende ser servido (AFUAH, 2003).

Percebe-se que se apresentam diferentes perspectivas dos autores para conceituar as inovações.

Afuah (2003) analisa a inovação como oportunidade competitiva para as organizações que sabem utili-

zar sua capacidade; Schumpeter (1988) trata da inovação como propulsora do desenvolvimento econô-

mico; Damanpour (1996) reconhece a inovação no aspecto comportamental, os agentes de mudança

envolvidos no processo; Van de Ven et al. (1999) veem a inovação como processo interativo entre ideias,

resultados, pessoas, transações e contexto.

Diante das diferentes definições, pode-se afirmar que as inovações podem ocorrer em produtos

e serviços, processos tecnológicos, mercados e negócios e em gestão e estrutura. Para esse trabalho,

considera-se que a inovação pode ocorrer de forma sistêmica, integrando aspectos humanos, estrutu-

rais e processuais. Utiliza-se o conceito de que a inovação é uma nova ideia que, associada a uma ação,

dá um resultado para a organização, representado por uma equação algébrica: ideia + ação = resultado

(GUNDLING, 1999).

22.3 MetodologiaAo definir o objeto de estudo, a escolha da metodologia é crucial para o alcance dos objetivos propostos

em que a busca em identificar os procedimentos metodológicos a serem utilizados: o “como” e o “com

que fazer”. A metodologia examina e avalia técnicas de pesquisa e gera ou verifica novos métodos que

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320 COLETÂNEA BITEC 20082010

possam conduzir a captação e o processamento de informações, objetivando a resolução de problemas

de investigação (BARROS; LEHFELD, 2000, p. 1).

Para esta pesquisa, adotaram-se os estudos exploratórios e os estudos descritivos como principais

recursos metodológicos. Os estudos exploratórios basearam-se em uma pesquisa bibliográfica que, se-

gundo Marconi [1990], é um apanhado geral sobre os principais trabalhos já realizados, revestidos de

importância, por serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes relacionados com o tema. Uma

pesquisa desenvolvida a partir de material já elaborado e de conhecimento público em relação ao tema

em estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, disserta-

ções, teses e gravações audiovisuais. Assim, esta pesquisa constituiu-se de livros de autores clássicos e de

novos autores de inovação, gestão de recursos humanos, capital intelectual e gestão do conhecimento.

Os estudos descritivos implicam a coleta de dados junto aos colaboradores e gestores da empresa

Roserc, por meio da aplicação de questionários que diagnosticam o clima organizacional e o nível de

comprometimento dos encarregados da empresa. Conforme Gil (1998), a pesquisa descritiva procura fa-

zer a descrição das características de determinada população, estabelecendo as relações entre variáveis,

levantamento de opiniões, atitudes e crenças. Com método quantitativo e qualitativo.

O universo da pesquisa totaliza 200 parceiros internos. Como retorno obtiveram-se 110 questioná-

rios respondidos para o diagnóstico do clima organizacional, o que representa um percentual de 55%

do quadro.

22.4 Análise de dadosO projeto teve seu início com a aplicação da pesquisa de diagnóstico do clima organizacional na empre-

sa. A pesquisa foi aplicada aos colaboradores da Roserc que estão distribuídos nos seguintes locais: Cúria,

Eletronorte, Fórum Sobral Pinto, Vara da Fazenda, Tribunal de Justiça, Tribunal de Contas do Estado e Tri-

bunal Regional Eleitoral. Na primeira etapa da pesquisa, buscou-se identificar o perfil dos colaboradores

entrevistados, sendo a maioria do sexo masculino com a predominância na faixa etária entre 18 e 30

anos, estando a maioria solteiros, porém com uma grande parcela são casados, possuindo de um

a dois filhos, maior parte tendo cursado até o ensino médio e uma parte considerável que cursou

apenas o ensino fundamental. A faixa salarial dos colaboradores é de um a três salários-mínimos sendo

irrisória a parcela de funcionários que recebe acima desse valor, e a maioria deles trabalha na empresa

de um a três anos.

A segunda fase da pesquisa buscou diagnosticar os pontos fortes e fracos em relação ao clima

organizacional, respectivamente, a saber:

Como pontos positivos, o diagnóstico apresentou: relacionamento entre colaboradores; relaciona-

mento ente colaborador e chefe imediato; realização profissional; pagamento de salários.

Para os pontos negativos: falta de autonomia; realização profissional; ideias e sugestões; reconhe-

cimento; conhecimento dos valores da empresa; conhecimento da informação; integração; orgulho da

empresa; ambiente familiar; estabilidade no emprego; critérios de promoção interna; satisfação dos cri-

térios de promoção interna; treinamento; satisfação dos treinamentos; reconhecimento da dedicação

dos colaboradores; valorização do trabalho realizado; benefícios; prevenção de acidentes no trabalho;

satisfação com a empresa.

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9ª EDIÇÃO 321

Quando questionamos os colaboradores sobre as sugestões para pontos que devem ser melho-

rados: aumento dos salários; melhoria na qualidade do transporte (ônibus); aumento na quantidade

de treinamentos; valorização dos funcionários; oportunidade de crescimento; aumento dos benefícios

(vale-alimentação); melhora dos equipamentos e condições de trabalho; realização do pagamento via

conta-corrente; realização de confraternizações.

O diagnóstico realizado na empresa apresenta muitos pontos negativos que precisam ser trabalha-

dos para que a empresa alcance a excelência em gestão dos recursos humanos. Os pontos negativos

possibilitam à empresa desenvolver ações importantes e estratégicas, a fim de melhorar o seu clima

organizacional. Elaborando assim um modelo de gestão do clima, definindo de quem e quais são as

responsabilidades pela gestão do clima.

Para a terceira etapa do trabalho, diagnosticou-se o nível de comprometimento dos encar-

regados da empresa, que totalizam uma amostra de cinco colaboradores. O teste utilizado é uma

adaptação do Teste de Marie T. Mc. Cormick Phd., que apresentou como resultado um nível de

comprometimento e satisfação razoáveis, em que os colaboradores sentem-se envolvidos com o

trabalho e, na maior parte do tempo, fazem mais do que esperam deles. O modelo identifica as

percepções dos gestores em relação aos seus atos e como eles percebem suas ações como resul-

tados de trabalho.

Para quarta etapa, após os diagnósticos realizados o plano de trabalho buscou desenvolver ações

de impacto imediato para os colaboradores, ações estas identificadas como negativas no diagnostico do

clima organizacional. A primeira ação de impacto trata dos treinamentos para as chefias, no levantamen-

to das necessidades a serem atendidas, identificamos a busca da empresa em atendimento ao cliente e

chefia x lideranças, workshops com 4 horas.

Na quinta etapa do projeto, por meio dos gestores, disseminamos os valores da empresa,

assim como sua missão e visão, filosofias até o presente projeto inexistentes na empresa. A cons-

trução ocorreu junto aos gestores da empresa. Promovendo, assim, um canal de identificação dos

colaboradores com a empresa.

Para a sexta e última etapa atendendo os resultados do diagnóstico averiguou-se que havia uma

falta de conhecimento por parte dos funcionários das funções que eram designadas a eles, pois como

iriam prestar esse serviço em outras empresas e que possuem grande rotatividade, desconheciam quais

as tarefas a serem executadas. Então se criou o guia para ajudar a orientar os funcionários. O manual

foi elaborado com os cargos que a empresa trabalha, incluindo tanto os que estão sendo ocupados no

momento quanto os que estão no cadastro para posterior solicitação. Tendo como propósito orientar

as pessoas que irão ou estão exercendo essas funções, estabelecendo todas as suas responsabilidades e

atividades que devem ser cumpridas, além de outras tarefas correlatas.

Elaborou-se um manual de descrição de cargos da empresa, conforme o cadastro da empresa,

a seguir: assistente de pessoal, auxiliar de cozinha, auxiliar de escritório, auxiliar de serviços gerais, bi-

bliotecário, copeiro, cozinheiro, eletricista, encarregado de manutenção, gerente de recursos humanos,

motorista, office-boy, pedreiro, porteiro, programador, recepcionista, secretaria-executiva, supervisor ad-

ministrativo, técnico de rede, telefonista e vigilante.

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322 COLETÂNEA BITEC 20082010

22.5 ConclusãoA aplicação de diagnósticos de clima organizacional como ferramenta para avaliar a qualidade da ges-

tão de pessoas na empresa permitiu avaliar com bastante realismo o clima organizacional, levantando

seus problemas, críticas e sugestões, o que permitiu sanar diversos pequenos problemas e encontrar

caminhos viáveis para solução de outros problemas de maior porte, ambos desconhecidos da alta ad-

ministração e que comprometiam melhor clima organizacional. Os dados obtidos também permitiram

reavaliar e/ou reestruturar diversos aspectos organizacionais como: políticas e estratégias de recursos

humanos, estrutura e complexidade organizacional, tecnologias utilizadas, estilos de liderança, capacita-

ção profissional, planejamento organizacional, processos decisórios, comunicação, conflitos de interesse,

cultura organizacional, assistência aos funcionários, investimentos, relacionamento com a comunidade,

imagem organizacional etc.

O levantamento do nível de comprometimento também permitiu averiguar melhor como anda a

percepção dos funcionários sobre o que devem fazer para a empresa, assim como elaborar melhor as

políticas e as estratégias dos recursos humanos, levando em consideração os resultados apresentados

por esses fatores. Uma maior preocupação com os aspectos sociais dos funcionários e um maior re-

lacionamento com a comunidade local também resultaram desse levantamento, assim como melhor

relacionamento com seus clientes internos, buscando melhor comunicação interna.

Por meio das etapas realizadas na empresa, apresentamos neste artigo, que é possível para qual-

quer empresa detectar melhor como está o seu clima organizacional e a qualidade de vida de seus

funcionários, assim como levantar os problemas inerentes ao relacionamento com seus funcionários.

Buscando a gestão de recursos humanos de acordo com as necessidades da empresa.

Este artigo propõe-se a mostrar a importância do diagnóstico organizacional como forma de le-

vantar os problemas, porém, a solução deles vai depender dos recursos disponíveis, do estilo gerencial,

da política e da estratégia para os recursos humanos de cada empresa. Por isso, cada empresa terá de

solucionar seus problemas da melhor forma possível dentro de suas limitações.

Espera-se que este artigo possa vir a ajudar muitas empresas que estejam enfrentando dificulda-

des no relacionamento com seus empregados, trazendo diversos tipos de prejuízos à empresa. Possa

também auxiliar as empresas que desejarem saber como anda seu clima organizacional ou aquelas que

queiram melhorá-lo continuamente, sempre com intenção de poder desfrutar os benefícios que um

bom clima organizacional pode proporcionar às empresas, aos seus funcionários, aos seus clientes e à

sua comunidade.

A gestão do clima organizacional é uma atividade que exige atenção permanente, trabalho cons-

tante e participação de toda a hierarquia. Diante do diagnóstico, sugerimos à empresa desenvolver um

plano de ação para trabalhar os itens negativos da pesquisa, tendo em vista que se trata de uma amostra

significativa.

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9ª EDIÇÃO 327

23 IEL/RS ADMINISTRAÇÃO WEB DE SERVIDORES LINUX

Bolsista: Ronaldo Rathis Sacco – UPF

Professor orientador: Marco Antonio Sandini Trentin – UPF

Coautor: Décio Mazzutti

23.1 IntroduçãoSou estudante de Ciência da Computação na Universidade de Passo Fundo, com formação prevista para

o segundo semestre de 2010. Neste período de seis meses, pude prestar serviços para a empresa Atua

Sistemas de Informação, situada na cidade de Passo Fundo. A empresa especializou-se nos últimos anos

no desenvolvimento de sistemas para transportadoras: terceirização de fretes e gerenciamento de frotas.

A empresa também trabalha na área de servidores Linux, dando suporte para seus clientes, neste setor,

trabalhei durante estes seis meses.

Iniciarei explicando alguns conceitos básicos em relação a servidores e sobre o sistema operacional

Linux, para então explicar mais especificamente sobre o projeto na empresa.

O projeto foi voltado a criar um sistema de administração de servidores Linux. Um servidor nada

mais é que um computador ligado 24 horas por dia prestando serviços para os usuários.

Exemplos de cinco tipos diferentes de servidores na empresa:

Servidor LTSP:

Responsável pelos terminais dos programadores da empresa.

Servidor de Web:

Responsável em guardar os sites dos clientes, banco de dados e outros arquivos importantes.

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328 COLETÂNEA BITEC 20082010

Servidor de Testes:

Servidor para realizar testes em arquivos e serviços, para depois de testado e aprovado, ser imple-

mentado nos clientes.

Servidor Windows:

Terminal Windows. Também usado para testes de ferramentas novas criadas aqui na empresa.

Servidor de Firewall:

É quem faz o intermédio/comunicação entre o sistema interno da empresa e os clientes/internet.

Precisa ser seguro o suficiente para evitar ataques de pessoas não autorizadas e até mesmo de hackers.

Como podemos perceber, todos são serviços extremamente importantes para a empresa. Com

exceção do “servidor de testes”, as demais máquinas precisam ficar sempre ligadas sem interrupção para

o funcionamento correto do sistema que é usado por alguns de nossos clientes, os demais clientes pos-

suem servidores próprios, mas que são gerenciados pela Atua.

A seguir um exemplo de como é interligado os servidores na rede aqui da empresa:

Figura 1: Rede interna da Atua Sistemas de Informação

A Atua, empresa na qual trabalhei neste período, necessitava de uma ferramenta na qual ela pu-

desse gerenciar melhor os servidores que a empresa cuida e também usar essa ferramenta como um

diferencial, um material para ajudar no marketing e atrair novos clientes. Resolvi então criar um sistema

prático, em que os usuários (clientes) conseguem administrar, de maneira facilitada, diversos serviços

que explicarei mais adiante.

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9ª EDIÇÃO 329

Antes de essa ferramenta ser criada, a Atua tinha certa dificuldade em mostrar para o cliente o

tamanho da importância de ter um servidor instalado em sua empresa, pois era difícil explicar para o

cliente que se instalar um servidor proxy junto ao CBQ, a velocidade de internet de sua empresa iria

melhorar consideravelmente. Na grande maioria das vezes, o cliente não tem nem ideia do que significa

um servidor proxy, muito menos um CBQ.

Hoje, a empresa vende esse mesmo produto, porém agora mostrando algo material. Ou seja, agora

o cliente pode ver a importância do servidor verificando o funcionamento da ferramenta criada. Agora,

em vez de o cliente ficar ouvindo explicações sobre como funciona um servidor proxy, ele vê um sistema

onde é definido os sites que seus funcionários não devem ter acesso e limitar a banda deles. É exata-

mente isso que um servidor proxy junto ao CBQ faz. Com isso, a empresa facilitou a administração dos

servidores e aumentou as vendas, conforme mostrarei mais adiante.

A administração de servidores também inclui diversos serviços que atuam de forma transparente

para o usuário, que são aqueles serviços em que muitas vezes o usuário nem sabe que existe, porém é

extremamente necessário para manter a segurança e bom desempenho do servidor. Alguns exemplos

de scripts (linhas de código) que atuam de forma transparente, trabalhados aqui na empresa, foram

usados em monitoramento de processamento, backup, uso de memória, conectividade, falhas internas

entre outros.

23.2 DesenvolvimentoIrei iniciar mostrando uma apresentação que criei do sistema para novos clientes. Ele serve como um

“manual” para os clientes que irão iniciar o uso desse sistema.

Toda essa ferramenta foi criada usando a linguagem PHP, com o banco de dados MySQL e é

acessado inteiramente pela web.

Figura 2: Página inicial do manual Figura 3: Apresentação sobre o menu sistema

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330 COLETÂNEA BITEC 20082010

Figura 4: Apresentação sobre o menu sistema

Figura 6: Apresentação dos relatórios

Figura 8: Apresentação dos gráficos

Figura 5: Apresentação dos relatórios

Figura 7: Apresentação dos gráficos

Figura 9: Apresentação do Jabber

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9ª EDIÇÃO 331

Figura 10: Apresentação do webmail

Figura 12: Apresentação do Proxy

Figura 14: Apresentação do Proxy

Figura 11: Apresentação do Postfix

Figura 13: Apresentação do Proxy

Figura 15: Apresentação do Proxy

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332 COLETÂNEA BITEC 20082010

Figura 16: Apresentação dos logs de invasão por SSH

Figura 18: Apresentação dos logs de invasão por SSH

Figura 20: Apresentação do menu velocidade

Figura 17: Apresentação dos logs de invasão por SSH

Figura 19: Apresentação do menu velocidade

Figura 21: Apresentação do menu velocidade

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9ª EDIÇÃO 333

Figura 22: Apresentação do menu velocidade

Figura 24: Apresentação do menu consumo de banda

Figura 23: Apresentação do menu consumo de banda

Figura 25: Apresentação do menu consumo de banda

Figura 26: Apresentação do menu desligar/reiniciar

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334 COLETÂNEA BITEC 20082010

Além desse sistema que o cliente tem acesso, diversos outros scripts rodam nos servidores de forma

transparente para o usuário/cliente. Um exemplo é a verificação se o backup foi realizado corretamen-

te. Este script verifica todos os dias o backup e caso ele encontre alguma anormalidade como arquivo

faltando, arquivo corrompido, backup não realizado, entre outros, ele envia um e-mail avisando sobre o

erro ocorrido. Assim conseguimos sempre saber se algo de errado está acontecendo. Caso tudo esteja

certo, é emitido um relatório, também por e-mail, mostrando os arquivos copiados, com sua data e seus

respectivos tamanhos.

Exemplos de e-mails recebidos automaticamente dos servidores:

a) Relatório dos arquivos copiados em uma máquina externa:

[...]

2009-11-23 - 1,8M - /home/pgbackup/litoral.dat

2009-11-23 - 2,4M - /home/pgbackup/gaucha.dat

2009-11-23 - 3,8M - /home/pgbackup/leold.dat

2009-11-23 - 4,3M - /home/pgbackup/leold7.dat

2009-11-23 - 6,9M - /home/pgbackup/atua.dat

[…]

b) Relatório da gravação em disco

-> Início da gravação: Dom Nov .22 05:00:01 BRST 2009

-> Fim da gravação: Dom Nov 22 05:25:21 BRST 2009

c) Relatório de processamento

05:25:21 up 3 days, 13:56, 0 users, load average: 0.57, 1.13, 1.11

d) Relatório de uso de disco

Filesystem Size Used Avail Use% Mounted on

/dev/sda1 4,7G 1,1G 3,4G 25% /

varrun 1014M 268K 1014M 1% /var/run

varlock 1014M 0 1014M 0% /var/lock

udev 1014M 60K 1014M 1% /dev

devshm 1014M 0 1014M 0% /dev/shm

/dev/sda4 68G 52G 13G 80% /home

/dev/sda5 950M 19M 883M 3% /tmp

/dev/sda2 74G 18G 53G 26% /var

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9ª EDIÇÃO 335

23.3 ConclusãoEste projeto foi de grande importância para o meu currículo acadêmico, pois em todo o tempo estive

envolvido não somente em desenvolvê-lo, mas também tive a oportunidade de atender diversos clien-

tes, colocando em prática a teoria vista na universidade.

A empresa disponibilizou todo o material necessário para realizar as tarefas. Hoje, a Atua já está

tendo retorno financeiro com o projeto e parte desse material apresentado está sendo usado como

marketing para a empresa atrair novos clientes.

O sistema apresentado está hoje ativo em três grandes clientes da Atua.

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9ª EDIÇÃO 337

24 IEL/SE QOS EM WIMAX: MODELAGEM E AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE SERVIÇOS ELETRÔNICOS E MÓVEIS EM REDES SEM FIO PADRÃO IEEE 802.16

Bolsista: Danilo Mendonça Oliveira – UFS

Professor orientador: Ricardo José Paiva de Britto Salgueiro – UFS

24.1 IntroduçãoDiversos sistemas de tecnologia de informação (TI) desenvolvidos não levam em consideração aspectos

de desempenho do sistema, ou apenas fazem isso nos estágios finais de desenvolvimento. Isso frequen-

temente leva a frustrações para os gerentes e prejuízos para as empresas que fazer uso desses sistemas

(MENASCE; ALMEIDA; DOWDY, 2004). Em estágios primários de desenvolvimento, o desempenho do sis-

tema pode ser predita por meio de técnicas modelagem. Há dois tipos principais de modelos científicos:

modelos de simulação e modelos analíticos. Modelos analíticos são construídos abstraindo o sistema

por meio de formalismos matemáticos e resolvidos por fórmulas e algoritmos computacionais. Esses

modelos requerem muitas simplificações e, por isso, tendem a ser menos precisos e detalhados do que

modelos de simulação.

Modelos de simulação são construídos a partir de programas de computadores que emulam o

comportamento dinâmico do sistema. Simulações normalmente são mais precisas e detalhadas que

modelos analíticos, desde que cada detalhe do sistema pode ser adicionado ao modelo de simulação

para melhor descrever o sistema atual. Às vezes, o sistema é tão complexo que a modelagem analítica

não é adequada (ISSARIYAKUL; HOSSAIN, 2009). Quando o sistema real não está disponível para testes,

como frequentemente é o caso, modelos de simulação são usados para predizer o desempenho ou

comparar diferentes alternativas (JAIN, 1991).

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338 COLETÂNEA BITEC 20082010

Redes de computadores são sistemas que fazem uso de técnicas de modelagem. O propósito é

verificar se as aplicações que executam sobre a rede terão seus requerimentos de Quality of Service (QoS)

atendidos. As redes sem fio são mais suscetíveis a interferências e intrusões, assim, modelagem e avalia-

ção de desempenho se tornam ainda mais necessárias nessas redes.

Das redes sem fio disponíveis no mercado, uma que está ganhando grande aceitação são as redes

WiMAX (padrão IEEE 802.16). Sua alta largura de banda, grande área de cobertura e baixo custo em com-

paração às alternativas (tecnologia 3G, por exemplo) são os principais atrativos para adoção dessa tec-

nologia. Diversos estudos de modelagem e avaliação de desempenho foram feitos sobre o WiMAX para

testar sua adequação sobre diferentes cenários de utilização. Por ser uma tecnologia recente, ela ainda

não se encontra disponível para muitos pesquisadores, portanto o uso de simulações é boa alternativa

para estudo desse padrão. Uma característica favorável ao uso de simulações em análise de sistemas

WiMAX é a existência de ferramentas adequadas a esse propósito (JUNIOR, 2009).

Apesar de seus benefícios para modelagem de sistemas, simulações possuem algumas desvanta-

gens, sendo que a mais relevante é o tempo gasto (JAIN, 1991). Construir um modelo de simulação a

partir do zero com uma linguagem de propósito geral pode ser muito custoso, dessa forma, o uso de

linguagem ou ferramenta de simulação é preferido. Porém, algum tempo é gasto com a escolha de uma

ferramenta e com a familiarização da ferramenta escolhida. Em muitos sistemas de TI, os analistas não

possuem tempo extra para isso, mas podem achar útil o uso de modelos de simulação para análise do

sistema nos diversos estágios do seu ciclo de vida. Mesmo para aqueles que possuem conhecimentos

em ferramentas e técnicas de simulação, muito tempo é gasto no desenvolvimento, na execução e na

validação do modelo.

Neste trabalho, foi desenvolvida uma ferramenta de apoio à simulação que é útil para os dois ca-

sos citados anteriormente: para usuários sem conhecimento em técnicas de simulação e usuários com

algum conhecimento em simulação. Para usuários sem conhecimento em simulação, é oferecido um

front-end para configuração, execução e extração dos resultados de simulações em redes WiMAX, que

usa como back-end o software simulador de redes NS2 Network Simulator. Assim, projetistas e adminis-

tradores de redes poderão fazer uso de simulações sem precisar conhecer os detalhes do back-end.

O NS2 é o simulador de rede mais usado entre os simuladores de código aberto. Entretanto, ele não

fornece suporte para planejamento e configuração de simulações, tudo isso tem de ser feito de forma

manual pelo desenvolvedor. Além do front-end descrito anteriormente, propomos um framework para

simulações no NS2 que permite a organização, a configuração, a execução e a extração de resultados de

forma automatizada. Este framework será útil para qualquer pessoa que desenvolva simulações para o

NS2 e ajudará a reduzir o tempo gasto com simulações feitas para essa ferramenta.

Na próxima seção, mostramos uma visão geral da tecnologia WiMAX: a evolução do seu padrão,

sua camada física e sua camada MAC. Depois é feito um resumo sobre as ferramentas de software livre

disponíveis para simulação de redes. Uma ênfase maior é dada à ferramenta NS2 e ao Omnet++, que se

destacam entre as demais em termos de funcionalidade e utilização.

Na seção seguinte, são feitas algumas considerações sobre o trabalho atual, isto é, os fatores que

influenciaram na escolha da ferramenta de simulação, no módulo WiMAX escolhido e nos requisitos

funcionais da ferramenta implementada. A ferramenta de apoio à simulação que foi implementada é

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9ª EDIÇÃO 339

descrita na seção 5 e, por último, são apresentadas as conclusões alcançadas, contribuições feitas e

trabalhos futuros.

24.2 A tecnologia WiMAXNo mercado das redes sem fio, existem duas tecnologias que se destacam: as redes WiFi e a rede de

telefonia celular. O WiFi é o padrão mais usado para redes locais sem fio (WLAN), que alcança taxas de

transmissão de até 54 Mbps com uma área de cobertura de cerca de 100 metros. A rede de telefonia celular

cobre grandes áreas (na ordem de quilômetros) e permite a mobilidade de seus usuários entre as células, com

uma largura de banda menor que as redes WiFi (entre 1Mbps e 2Mbps). A tecnologia WiMAX permite ter o

melhor dos dois mundos: grande área de cobertura e alta largura de banda (FREIRE, 2009).

Nesta seção é dada uma visão geral sobre o padrão IEEE 802.16 para acesso banda larga sem fio,

mais conhecido como WiMAX (Worldwide Interoperability for Microwave Access). Este padrão surgiu em

1999, quando foi estabelecido o grupo de trabalho IEEE 802.16. Este grupo apenas descreve as especi-

ficações da família 802.16, mas não é responsável por testá-las. Então, em 2001 surgiu o WiMAX fórum,

um grupo da indústria responsável pelo avanço e certificação da compatibilidade e interoperabilidade

entre os equipamentos baseados no padrão 802.16.

Além disso, o WiMAX diferencia-se por oferecer suporte de QoS para que aplicações de vídeo e voz

possam ter seus requerimentos de latência e taxa de transferência atendidos. Sua capacidade de carre-

gar tráfego de vídeo e voz, aliado com seu baixo custo quando comparado com outras tecnologias sem

fio e cabeadas torna o WiMAX uma tecnologia competitiva com algumas indústrias de telecomunicação

(OHRTMAN, 2005). A figura 1 mostra como o WiMAX pode ser alternativa aos serviços de vídeo, voz e de

conectividade com a internet.

Figura 1: Tecnologia WiMAX como alternativa aos serviços de voz, vídeo e de backhaul(OHRTMAN, 2005)

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340 COLETÂNEA BITEC 20082010

24.2.1 Evolução do padrãoA primeira versão do padrão 802.16 surgiu em 2001 e operava na faixa de frequências 10-66 GHz, em

ambientes com visada direta (LOS – Line of Sight) em uma infraestrutura Ponto-MultiPonto (PMP) (AH-

SON; ILYAS, 2007). A restrição que a visada direta impõe fez surgir a necessidade de emendas e revisões

no padrão. A emenda 802.16a surgiu em abril de 2003 e incluiu o uso da faixa de frequências licenciadas

e não licenciadas entre 2 e 10 GHz em um ambiente sem linha de visada (NLOS – Non Line Of Sight).

A 802.16d surgiu um ano depois, propondo algumas correções para o 802.16a e algumas especificações

para interoperabilidade, porém ela se tornou um projeto de revisão para o 802.16-2001 e suas emendas.

Esta é a versão chamada WiMAX fixo – em contraste com a versão 802.16e que permite mobilidade.

A versão 802.16e, também chamada WiMAX móvel, foi aprovada em dezembro de 2005. Ela permi-

te a mobilidade para as estações assinantes em velocidades veiculares. Nessa versão foram introduzidas

mudanças na camada física e camada MAC, tais como controle de potência e handoff, para dar suporte

à mobilidade.

24.2.2 Topologia de uma rede WiMAXA topologia mais comum em redes WiMAX é a ponto multiponto, que consiste em uma ou mais es-

tação-base (BS – Base Station) e várias estações assinantes (SS – Subscriber Station) na área de cobertura

de alguma estação-base, para que possa estabelecer uma conexão com ela (JUNIOR, 2009). A topologia

descrita é ilustrada na figura 2. As estações assinantes podem ser computadores desktops, notebooks ou

telefones móveis com suporte ao WiMAX. É comum a utilização de hotspots WiFi, ou switches Ethernet

como estações assinantes, para distribuição de conexão com a internet. Essa forma de utilização é muito

usada em projetos de “cidades digitais”, como forma de promover o acesso à internet em escolas, órgãos

públicos e locais de acesso gratuito para a população.

Figura 2: Rede WiMAX ponto multiponto (JUNIOR, 2009)

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9ª EDIÇÃO 341

24.2.3 Camada físicaA camada física do WiMAX permite empregar diferentes técnicas que dependem de qual modo está

sendo usado: LOS ou NLOS. Para ambientes LOS, uma portadora única (WirelessMAN-SC) é suficiente.

Para separação do canal em uplink e downlink (duplexação), pode ser usado duplexação por divisão de

frequência (Frequency Division Duplexing – FDD), ou duplexação por divisão de tempo (Time Division

Duplexing – TDD). A FDD separa os canais em frequências diferentes, enquanto na TDD os canais uplink

e downlink estão separados em slots de tempo na mesma frequência.

Em ambientes NLOS, é preciso que as estações assinantes conectem-se com a estação-base por

meio de propagação multivias, ou seja, por meio do sinal refletido em diversos obstáculos. Nesse caso,

são propostas três especificações de camada física: WirelessMAN Single Carrier Access, que é derivada da

versão para ambientes LOS e duas versões baseadas em OFDM (Orthogonal Frequency Division Multiple-

xing) que são descritas a seguir.

24.2.3.1 WirelessMAN-OFDM

Orthogonal Frequency Division Multiplexing (OFDM) é uma tecnologia de camada física que divide o

canal em subportadoras, que podem ser moduladas de forma independente. Essa técnica mostrou-se

bastante adequada para a propagação multivias, que permite entregar um sinal com maior vazão, em

maiores distâncias e com maior resistência a interferências (OHRTMAN, 2005). A especificação Wireless-

MAN-OFDM emprega um canal com 256 subportadoras. Destas 192 são empregadas para transporte de

dados, 8 para sincronização e estimativas do canal e o resto para proteção de banda.

24.2.3.2 WirelessMAN-OFDMA

Orthogonal Frequency Division Multiple Access (OFDMA) é uma técnica baseada em OFDM, que agrega

várias subportadoras em subcanais. Os subcanais são endereçados para receptores individuais, promo-

vendo o acesso múltiplo ao canal.

A variante do OFDMA empregada no WiMAX é a OFDMA escalável (S-OFDMA), que é a base para

o perfil móvel. Nessa técnica, o número de subportadoras pode variar entre 128, 512, 1024 ou 2048,

dependendo da largura de banda do canal, que pode variar de 1.25MHz até 20MHz.

24.2.3.3 Modulação adaptativa

Como afirmado anteriormente, cada subportadora pode ser modulada independentemente das de-

mais. Os esquemas de modulação empregados variam entre: BPSK 1/2 (Binary Phase Shift Key), 16QAM

3/4, 64QAM 2/3 e 64QAM 3/4. Estes estão em ordem crescente de complexidade e de taxas de transmis-

são. Porém, quanto maior a complexidade, menor o alcance. Assim, o esquema modulação empregada

depende da distância entre a estação assinante e a estação-base, conforme descreve a figura 3.

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342 COLETÂNEA BITEC 20082010

24.2.4 Camada MACA camada MAC é responsável por controlar e multiplexar diversos links sobre o mesmo meio físico.

Como diversos usuários podem transmitir e receber dados ao mesmo tempo sobre o mesmo meio de

comunicação, é da responsabilidade desta camada coordenar as transmissões para que não haja inter-

ferências. Nas redes WiMAX, todas essas decisões são tomadas pela estação-base e são apoiadas pelos

requerimentos de QoS de cada aplicação.

Ela é dividida em três subcamadas: subcamada de convergência; subcamada de partes comuns; e

subcamada de segurança.

24.2.4.1 Subcamada de convergência

A subcamada de convergência é responsável por todos os serviços dependente da camada superior,

como mapeamento de endereços e compressão de cabeçalhos. Existem duas camadas de convergên-

cias específicas (OHRTMAN, 2005):

• Subcamada de convergência ATM, para serviços ATM.

• Subcamada de convergência de pacotes que mapeiam serviços para protocolos IPv4, IPv6,

Ethernet e Virtual Area Network (VLAN).

Basicamente, esta camada converte as MAC SDUs (Service Data Unit) da camada acima da MAC

(seja ela ATM ou IP) em MAC PDUs (Protocol Data Unit) e associa a conexão apropriada. Além disso, essa

subcamada realiza supressão e reconstrução de cabeçalho para melhorar a eficiência na transmis-

são.

24.2.4.2 Subcamada de partes comuns

A subcamada de partes comuns é responsável por todas as operações que são independentes de cama-

da superior, como concatenação de SDUs em MAC PDUs, transmissão de MAC PDUs, controle de QoS

e ARQ (Automatic Retransmission Request). Além disso, ela é responsável pelo estabelecimento e pelo

gerenciamento de conexões e alocação de largura de banda.

Figura 3: Modulação adaptativa no WiMAX (EKLUND et al., 2002)

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9ª EDIÇÃO 343

O WiMAX é orientado a conexões até mesmo para transmissões não orientadas a conexões, como

IP. Cada conexão é unidirecional e possui um identificador de 16 bits. Existem três conexões básicas de

gerenciamento, sendo que a terceira é opcional (AHSON; ILYAS, 2007):

• Conexão básica: para mensagens curtas MAC de gerenciamento urgente.

• Conexão primária: para mensagens maiores e mais tolerantes a atraso.

• Conexão secundária: para mensagens de protocolos como: Dynamic Control Host Protocol

(DCHP), Simple Network Management Protocol (SNMP), Trivial File Transfer Protocol (TFTP).

As transmissões de dados são controladas pela BS. No sentido downlink, os MAC PDUs que

chegam para cada conexão são escalonados baseados em seus requisitos de QoS, sem o envolvi-

mento da estação assinante. No tráfego uplink, as transmissões são realizadas por meio de requisi-

ções de largura de banda enviadas pelas estações assinantes. Essas requisições são feitas de modo

controlado, baseado na classe de serviço da conexão. Uma requisição de largura de banda pode ser

mandada em uma mensagem MAC individual, ou por meio de piggyback, ou seja, pegando carona

em uma mensagem de dados. A estação-base recebe a requisição e, se for concedido o direito

de transmitir, a estação-base avisará no próximo slot de tempo, por meio da mensagem UL-MAP

enviada no início do slot.

24.2.4.3 QoS em redes WiMAX

As redes WiMAX possuem um diferencial em relação às outras tecnologias, que é oferecer garantias de

QoS às aplicações. Isso é possível graças à transmissão orientada à conexão e à largura de banda sob

demanda oferecida às conexões. No WiMAX, é definido o conceito de fluxo de serviço. Um fluxo de

serviço é um fluxo unidirecional de pacotes com parâmetros de QoS estabelecidos, como jitter, vazão e

atraso. Uma conexão é mapeada em um fluxo de serviço e estará associada a uma das classes de serviços

definidas pelo WiMAX. Cada classe de serviço define quais são os parâmetros de QoS que poderão ser

estabelecidos e como poderão ser feitas requisições de largura de banda. As classes de serviço oferecidas

pelo WiMAX são descritas a seguir:

• UGS – Unsolicited Grant Service: destinado para aplicações de tempo real que geram pacotes de

tamanho fixo. Nessa classe de serviço, a conexão terá direito de enviar dados periodicamente,

sem precisar fazer requisição.

• rtPS – Real Time Polling Service: destinado para aplicações de tempo real que geram pacotes de

tamanho aleatório. A estação-base estará continuamente dando oportunidade de a estação

assinante realizar requisições de largura de banda (essa operação é chamada polling unicast).

• ertPS – Extended Real Time Polling Service: é uma classe de serviço introduzida no padrão

802.16e. Ela é semelhante à classe UGS, porém, pode ser feita requisição mais ou menos da

largura de banda caso seja necessário.

• nrtPS – Non Real Time Polling Service: é designada para aplicações mais tolerantes a delay. Aqui

as estações podem enviar requisições de largura de banda usando polling baseado em conten-

ção, isto é, competindo com outras estações assinantes. Também há o polling unicast, porém,

em intervalos de tempo bem maiores que no rtPS.

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344 COLETÂNEA BITEC 20082010

BE – Best Effort: essa classe não oferece garantias de qualidade de serviço. As conexões BE poderão

transmitir dados quando existirem recursos disponíveis e que não estejam sendo usados por outras

classes de serviço, usando o polling baseado em contenção.

24.2.4.4 Subcamada de segurançaComo redes sem fio são mais vulneráveis à interceptação dos dados, as redes WiMAX oferecem um me-

canismo de segurança robusto. A subcamada de segurança é responsável por encriptação, autorização

e troca de chaves entre a estação-base e as estações assinantes.

24.3 Ferramentas de simulação de redesNesta seção são mostradas algumas ferramentas de simulação de rede livres e de código aberto. Entre

elas, duas foram investigadas em maior profundidade: o NS2 Network Simulator e o Omnet++. As outras

serão vista mais brevemente e poderão ser investigadas em trabalhos futuros.

Uma justificativa para escolha do NS2 é sua grande popularidade. O NS2 é a ferramenta de simu-

lação mais utilizada no meio acadêmico. Dessa forma, muitos modelos de simulação estão disponíveis.

Entre eles, modelos para simulação de redes WiMAX. O Omnet++ é um ambiente de simulação que

fornece infraestrutura e algumas funcionalidades que são inexistentes no NS2. O Omnet++ apresenta

apenas um modelo de simulação para WiMAX conhecido.

As outras ferramentas descritas – com exceção do GloMoSim – sofrem com a baixa aceitação.

Assim, pouca pesquisa é feita sobre elas e poucos modelos de simulação existem, o que desencoraja

o seu uso. O GloMoSim é uma ferramenta em que as simulações são feitas com a execução paralela

e modelos em grande escala em mente. Ela seria então uma terceira alternativa, porém optou-se por

concentrar os esforços apenas no NS2 e Omnet++.

24.3.1 NS2 Network SimulatorO Network Simulator (versão 2), mais conhecido como NS2, é um simulador de redes baseado em even-

tos que foi construído a partir do simulador de rede REAL, em 1989. Desde então, vários pesquisadores

e instituições como a Defense Advanced Research Projects Agency (DARPA) e National Science Foundation

(NFS) contribuíram para seu desenvolvimento. Hoje ele é o simulador de redes de código aberto mais

usado na área acadêmica e de pesquisa (ISSARIYAKUL; HOSSAIN, 2009).

O NS2 provê mecanismos para simulações de redes sem fio e cabeadas, aplicações, modelos de

tráfegos, algoritmos de roteamento, protocolos multicast etc. Com ele é possível modelar e avaliar o de-

sempenho de redes de computadores pelas simulações, validar protocolos e também pode ser utilizado

para fins educativos.

A arquitetura do NS2 é baseada em duas linguagens: C++ e OTcl (versão orientada a objetos da

linguagem Tcl). As classes C++ implementam os objetos de simulação e o núcleo de simulação. Os

scripts de simulação definidos pelo usuário são escritos em OTcl. Há um mapeamento um para um dos

objetos C++ para os objetos OTcl, que são ligados por meio da interface TclCL. Os objetos de simulação

são implementados em C++ para se obter maior performance na execução da simulação e os objetos

OTcl funcionam como manipuladores (handlers) para os objetos C++ dentro dos scripts.

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9ª EDIÇÃO 345

O usuário cria um script de simulação OTcl, em que ele declara a topologia do modelo, as aplicações

de rede que executam sobre essa topologia e realiza as configurações necessárias. Em seguida, ele for-

nece esse script ao simulador. O script é processado pelo interpretador OTcl, que instancia os escalonador

de eventos e demais objetos C++/OTcl e, em seguida, executa a simulação. Ao término da simulação,

são gerados arquivos em que foram gravadas as descrições de todos os eventos ocorridos na simulação.

Os arquivos podem ser baseados em texto ou em animação. O primeiro tipo é útil quando se desejam

criar gráficos ou efetuar cálculos estatísticos sobre os resultados da simulação. O segundo tipo é dado

como entrada para a ferramenta NAM (Network Animator), que faz uma animação da simulação ocorrida,

por meio da interface gráfica Tk. A figura 4 descreve o funcionamento do NS2.

Um script de simulação no NS2 é composto das seguintes partes:

• Inicialização: o usuário declara a topologia da rede, as aplicações de rede e os agentes de cama-

da de transporte sobre os quais as aplicações irão executar. Ele fornece parâmetros associados

com cada um desses elementos, como taxas de transmissão, largura de banda, tamanho de

pacotes etc. Também associa variáveis aleatórias com as aplicações, que são importantes na

modelagem de tráfego. Por último, ele declara os arquivos de trace que serão usados.

• Agendamento dos eventos: o usuário especifica o início e o término das aplicações que execu-

tam na rede e da simulação em si.

• Finalização: é implementado como um procedimento que é agendado para ser executado no

final da simulação. Nesta fase, são coletadas estatísticas sobre a simulação executada e os ar-

quivos de trace são gravados em disco. Os arquivos de trace baseados em texto registram todos

os eventos gerados na simulação (envio, recebimento, enfileiramento e descarte de pacotes),

ou eventos associados com um link específico – isto é útil quando os arquivos de trace da

simulação forem muito grandes.

Após a execução da simulação, os arquivos de trace são processados para o cálculo de métricas

de performance e geração de gráficos. O NS provê pouco suporte para essa tarefa, de modo que outras

Figura 4: Visão geral do funcionamento do NS (CHUNG J.; CLAYPOOL, 2008)

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346 COLETÂNEA BITEC 20082010

ferramentas precisam ser utilizadas. Qualquer linguagem de propósito geral pode ser utilizada para o

processamento do arquivo de trace, embora seja mais conveniente utilizar uma linguagem projetada

para o processamento de texto, como AWK1 ou Perl.2 Gráficos podem ser gerados com a ferramenta

Xplot oferecida pelo NS, ou por outras ferramentas como o Gnuplot.

Em uma simulação, é comum explorar um espaço de parâmetros para os diversos parâmetros de-

finidos no modelo e também realizar replicações das simulações, para aumentar a confiabilidade. Estas

tarefas são feitas com scripts bash, que também incluem a parte de análise dos resultados. Veremos que

na ferramenta Omnet++ essas funcionalidades já estão embutidas na IDE, o que poupa bastante tempo

do programador.

24.3.2 OMNET++Omnet++ é um ambiente de simulação de eventos discretos baseado em C++, oferecido na forma de

uma IDE baseada na IDE (Integrated Development Enviroment) Eclipse.3 Está disponível sobre licença aca-

dêmica – grátis para uso não comercial. Um dos seus objetivos é preencher a lacuna entre softwares de

simulação de código aberto, orientados à pesquisa, como o NS2, e entre ferramentas comerciais de alto

custo como o OPNET (VARGA; HORNIG, 2008).

O Omnet++ não oferece um simulador de rede, em vez disso, ele oferece um framework de simu-

lação genérico. Qualquer modelo que puder fazer uso de um ambiente de simulação discreto em que

as entidades se comunicam por meio de trocas de mensagens pode ser implementado no Omnet++.

Como o Omnet++ em si não oferece nem um simulador de rede, nem um modelo específico,

muitos modelos de simulação são criados por desenvolvedores independentes. Modelos de redes ca-

beadas, sem fio, per-to-per, redes de sensores etc. estão disponíveis e podem ser utilizados para evitar a

necessidade de criar um modelo de simulação específico a partir do zero.

Modelos de simulação no Omnet++ são construídos a partir de módulos que se comunicam pe-

las trocas de mensagens. Módulos podem ser simples ou compostos. Módulos simples são estruturas

atômicas, enquanto módulos compostos são formados a partir de módulos simples agrupados. Não há

distinção entre módulos simples ou compostos na hora de sua utilização: um módulo simples muito

complexo pode ser substituído por um módulo composto formado por vários módulos simples e assim

sucessivamente.

Módulos possuem propriedades e portas e comunicam-se recebendo e enviando mensagens pelas

portas, por conexões entre as portas, ou enviadas diretamente a uma porta – esta característica é útil na

modelagem de redes sem fio. Uma rede é um módulo composto sem interface para o mundo externo.

A figura 5 ilustra uma esse conceito.

1 Disponível em: <http://www.gnu.org/manual/gawk/gawk.html>.

2 Disponível em: <http://www.perl.org/>.

3 Disponível em: <http://www.eclipse.org/>.

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9ª EDIÇÃO 347

Para a construção dos modelos no Omnet++ são utilizadas duas linguagens: a linguagem NED

e C++. A topologia do modelo, a descrição dos módulos, suas propriedades, portas, conexões entre

os módulos simples de um módulo composto etc. são feitos na linguagem NED (Network Description).

A linguagem C++ é utilizada para implementar o comportamento de módulos simples, que consiste em

tratamentos de mensagens recebidas, agendamento de eventos etc.

O Omnet++ oferece boa infraestrutura que apoia a simulação desde seu desenvolvimento até a

análise dos resultados. Todas essas funcionalidades estão contidas na IDE.

24.3.2.1 Desenvolvimento e depuração

A IDE do Omnet++ oferece um editor gráfico e um editor textual para elaboração dos scripts NED.

É possível alternar entre os dois modos livremente e sem perdas. No modo gráfico os módulos são cons-

truídos arrastando componentes. No modo textual, características como destaque de sintaxe e auto-

completar estão presentes para facilitar a criação dos scripts. Para a depuração dos modelos construídos,

existe uma ferramenta de animação, o ambiente TkEnv. Com ela o autor do modelo pode ver modelo

em execução, saídas dos módulos, mensagens trocadas etc. com a finalidade de observar se o modelo

se comporta de forma adequada.

24.3.2.2 Execução da simulação

As simulações no Omnet++ são construídas para separar o modelo dos experimentos. O modelo é definido pe-

los arquivos NED que descrevem as interfaces dos módulos e sua topologia e pelos arquivos C++ que descrevem

seu comportamento. Os experimentos são especificados por meio do arquivo de inicialização (.ini), que pode

conter declarações para explorar o espaço de parâmetros de determinado parâmetro e replicação das simulações.

24.3.2.3 Análise dos resultados

O objetivo de uma simulação é obter resultados que ajudem a ter alguma ideia sobre o sistema, validar

hipóteses etc. Isto é feito coletando dados durante a simulação e em seguida analisando esses dados

para obter estatísticas e gráficos. Isto pode ser feito dentro da IDE, embora seja possível utilizar outras

ferramentas e linguagens quando for necessário. O Omnet++ fornece recursos para realizar essa tarefa

de forma automatizada. Primeiro, o usuário especifica arquivos de dados de entrada para gerar datasets

e sobre estes podem ser criados diversos tipos de gráficos.

Figura 5: Exemplo de rede no Omnet++ (VARGA; HORNIG, 2008)

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348 COLETÂNEA BITEC 20082010

A figura 6 mostra um exemplo de um gráfico exibindo o tamanho da fila de diversos módulos:

Figura 6: Gráficos gerados com o Omnet++ (VARGA; HORNIG, 2008)

24.3.2.4 Comparação com o NS2

A diferença fundamental entre o NS2 e o Omnet++ é que o NS2 oferece um simulador de rede concreto.

O Omnet++, por sua vez, oferece um ambiente de simulação genérico. O NS2 integra o modelo e o

kernel de simulação em uma única entidade, já o Omnet++ separa bem estes conceitos.

O Omnet++ oferece uma infraestrutura de simulação que é praticamente inexistente no NS. En-

quanto que no Omnet++ o programador controla todos os experimentos e análise dos resultados com

a ajuda da IDE, com o NS2 ele é obrigado a construir muitos scripts para realizar estas tarefas. Isto acaba

consumindo mais tempo e, para piorar, a falta de um ambiente de depuração adequado acaba fazendo

que ainda mais tempo seja gasto.

Apesar de o Omnet++ possuir várias vantagens em relação ao NS2, não podemos esquecer que

o NS2 está a frente do Omnet++ em termos de utilização. Assim, existem mais modelos de simulação

e modelos de simulação mais maduros disponíveis para o NS. Com a experiência, o programador será

capaz de descobrir qual ferramenta é mais adequada para determinado propósito. No Omnet++ é mais

fácil de criar modelos de simulação a partir do zero, já no NS2 esta é uma tarefa mais complicada, tendo

em vista que o seu código precisa ser compilado junto ao código do NS.

24.3.3 Outras ferramentasA seguir, são mostradas outras ferramentas de simulação disponíveis, além do NS2 e Omnet++. Como

alternativa a essas ferramentas, existem excelentes softwares de simulação comerciais, como o OPNET

Modeler e o Qualnet. Entretanto, estes estão fora do escopo deste trabalho, que se restringe a ferramen-

tas gratuitas e de código aberto.

24.3.3.1 J-Sim

J-Sim (SOBEIH et al., 2005) é um ambiente de simulação baseado em componentes implementado em

Java. Ele é semelhante ao Omnet++ no sentido que o modelo de simulação é construído a partir de

componentes autocontidos. Os componentes são montados de forma semelhante ao NS2 – por meio

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da linguagem Tcl. Essa ferramenta apresenta um editor gráfico para ajudar a construir os modelos, que

pode exportar scripts Tcl, ou arquivos XML. Os arquivos XML podem ser carregados diretamente pelo

simulador, evitando o Tcl. Dessa forma, o uso XML assemelha-se ao uso da linguagem NED do Omnet++,

porém os arquivos XML são difíceis de serem lidos por uma pessoa.

A utilização da linguagem Java tem como desvantagens uma performance pior na execução

das simulações e a impossibilidade de reutilizar protocolos implementados na linguagem C (por

exemplo, a pilha TCP/IP do FreeBSD). Um fator que desencoraja o uso dessa ferramenta é que seu

desenvolvimento parece estar parado desde 2004 e que não há modelos de simulação desenvolvi-

dos por outros pesquisadores.

24.3.3.2 GloMoSim

GloMoSim (Global Mobile Simulation) (BAJAJ et al., s.d.) é um ambiente de simulação que utiliza exe-

cução paralela para reduzir o tempo de simulação em um modelo altamente detalhado de redes de

computadores de grande escala. Ele foi construído na Universidade da Califórnia (Ucla) e é baseado na

linguagem Parsec (Parallel Simulation Enviroment for Complex Systems).

Este simulador foi usado como base na construção do simulador de rede Qualnet.

24.3.3.3 JiST e SWAN

O JiST (BARR Z. J. HAAS, 2004) é um ambiente de simulação construído em Java que adota uma estra-

tégia diferente do J-Sim para oferecer um ambiente de simulação de alta performance. Ele modifica a

máquina virtual Java (JVM) para executar programas em tempo de simulação, em vez de tempo real.

SWANS é um simulador de redes sem fio construído em cima do JiST.

24.3.3.4 SSFNET

SSFNet (Scalable Simulation Framework) (COWIE; NICOL; OGIELSKI, 1999) é outra ferramenta de simu-

lação com foco na execução paralela de sistemas em grande escala. Ela apresenta duas versões: Java e

C++, cada uma com duas implementações diferentes. Existem mais modelos disponíveis para a versão

Java do que para a versão C++. As versões Java sofrem dos mesmos problemas que o J-Sim, devido à

escolha da linguagem Java. Também não foi notada nenhuma atividade relativa ao SSFNet desde 2004

e pouca atividade independente usando o SSFNET foi detectada.

24.4 Considerações adicionaisO objetivo deste trabalho é oferecer uma ferramenta baseada em software livre que permita a avaliação

de QoS em redes WiMAX. Para isso, foram investigados os softwares de simulação disponíveis e a tec-

nologia WiMAX. Entre os softwares de simulação verificados, dois receberam maior destaque: o NS2

Network Simulator e o Omnet++. Como o foco do trabalho é a tecnologia WiMAX e nenhum desses

softwares possui suporte à essa tecnologia por padrão, foram investigados módulos disponíveis na

literatura.

Para o Omnet++, verificou-se que existe apenas um módulo para redes WiMAX, o Numbat (MRU-

GALSKI; WOZNIAK, 2007). Esta extensão modela o WiMAX móvel com uma pilha IPv6 por cima do Wi-

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350 COLETÂNEA BITEC 20082010

MAX. Como foi observado que o propósito deste modelo era a mobilidade no IPv6, configuração au-

tomática e DHCPv6, este foi desconsiderado no momento, já que o foco do nosso trabalho é outro:

buscamos avaliar o impacto causado por tráfego de vídeo, voz e web, que são cenários bastante comuns

de utilização das redes WiMAX. Assim, outros modelos de simulação do WiMAX foram investigados.

Dos modelos de simulação para o WiMAX para a ferramenta NS2, o mais completo é o proposto por

(BORIN; FONSECA, 2008). Este módulo é compatível com a camada MAC do padrão 802.16 e suporta

a definição e a garantia de parâmetros de QoS. Também possui suporte para todos os fluxos de serviço

definidos no padrão 802.16e. Como esse módulo destaca-se em termos de funcionalidade em relação

aos demais, ele foi escolhido para implementação dos modelos de simulação.

Como vimos, o Omnet++ leva vantagem sobre o NS2 por oferecer melhor infraestrutura para de-

senvolvimento e depuração das simulações. Em particular, vimos que o Omnet++ organiza a simulação

em: modelos, estudo, experimentos, mensurações e replicações. No NS2, tudo isso é deixado ao cargo

do desenvolvedor. Assim, um dos nossos objetivos é desenvolver uma ferramenta que ofereça essas

facilidades para o NS2.

Este trabalho propõe uma ferramenta de simulação de redes WiMAX que pode ajudar projetistas

e administradores de rede a avaliarem o impacto de aplicações de vídeo, voz e tráfego web em redes

WiMAX. A ferramenta oferece um front-end, em que o usuário pode modificar parâmetros do cenário

de simulação, sem ter de conhecer detalhes do script de simulação, executar a simulação e extrair os

resultados. Também é oferecida uma ferramenta de linha de comando, em que usuários que saibam criar

scripts de simulação possam organizar seus experimentos e executá-los em batch.

24.5 Ferramenta de apoio a simulaçãoA ferramenta desenvolvida é composta pelos seguintes módulos

• API.

• Front-end.

• Ferramenta de execução em batch.

• A ferramenta foi desenvolvida na linguagem de programação Java e utiliza o NS2 e scripts de

simulação em TCL.

Nas subseções seguintes, são descritos todos esses módulos.

24.5.1 API de simulaçãoA API de simulação foi inspirada na forma que o Omnet++ organiza as simulações (VARGA; HORNIG, 2008):

• Modelo: é a parte invariante da simulação que representa algum sistema do mundo real.

O Omnet++ é composto por arquivos NED (topologia) e C++ (comportamento). Na nossa API,

um modelo é representado por um script TCL (topologia + comportamento).

• Estudo: um estudo é uma série de experimentos para estudar algum fenômeno em um ou

mais modelos.

• Experimento: um experimento é a exploração do espaço de parâmetros de um modelo e con-

siste em várias mensurações.

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9ª EDIÇÃO 351

• Mensuração: é um conjunto de execuções no mesmo modelo, com os mesmos parâmetros.

Pode consistir de várias replicações;

• Replicação: para maior confiabilidade, uma mensuração é executada algum número de vezes,

com diferentes sementes para os geradores de números aleatórios. Cada execução de uma

mensuração é denominada replicação. No final, é tomada a média dos resultados das replica-

ções de uma mensuração.

• Execução: uma instância de execução de uma simulação, em um dado horário e em determi-

nado computador.

A API foi implementada na linguagem Java e utiliza orientação a objetos para modelar os conceitos

já citados. A figura 7 descreve o diagrama de classes da API.

Figura 7: Modelo conceitual da API de simulação

Da mesma forma que, no Omnet++, dado um experimento, é feita uma mensuração para cada ele-

mento do conjunto de todas as combinações possíveis de atribuição de parâmetros. E cada mensuração

é repetida certo número de vezes (1 é o número padrão). Assim, se nós temos um experimento, cujos

parâmetros sejam dados por:

num_clients = {10, 20, 30, 40}, num_servers = {1, 2, 3}, replicações = 3

Então será feita uma mensuração para cada elemento do produto cartesiano dos dois conjuntos e

cada mensuração será repetida três vezes, com diferentes sementes. Assim, serão feitas 4 X 3 X 3 = 36

execuções.

24.5.2 Front-endO módulo de front-end permite a um usuário configurar e executar simulações, sem precisar ter conheci-

mento de como elaborar scripts de simulação do NS2. Duas interfaces de configuração de simulação são

oferecidas, cada uma corresponde a um cenário diferente de simulação. A figura \ref{figtelawebcache}

mostra a interface da interface de simulação de cache web. Os parâmetros definidos são o número de

nós clientes, o tempo de simulação e o número de replicações. O número de nós clientes aceita uma

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352 COLETÂNEA BITEC 20082010

lista que pode ser definida de duas formas: com valor inicial, valor final e incremento, ou com uma lista

de valores separados por vírgula. Se o campo de cima for deixado em branco, então o segundo campo,

a lista de valores separados por vírgula,é usado.

Este cenário utiliza o módulo WebCache do NS2 para simular tráfego web, em que as estações

fazem requisições de páginas para proxys web. A topologia deste cenário é descrita a seguir. Temos uma

estação-base e um número de estações assinantes que é dado por parâmetro. A estação-base é conec-

tada a um nó cabeado, que age como gateway da rede. Este gateway é conectado a um número de

servidores proxys que atendem as requisições dos clientes. As estações estão configuradas para utilizar a

classe de serviço BE, pois esse tipo de aplicação tem baixas exigências de QoS em comparação a aplica-

ções como VoIP, streaming de vídeo etc.

A outra interface que foi desenvolvida é mostrada na figura \ref{figtelavideo}. Este cenário de simu-

lação corresponde a duas estações assinantes enviando dados para o nó cabeado. Uma representa um

servidor de \emph{streaming} de vídeo enviando um vídeo para um cliente no nó cabeado. Esta estação

está mapeada para a classe de serviço RTPS, que é adequada para aplicações de vídeo. A outra estação

é mapeada para a classe de serviço BE e seu propósito é gerar tráfego para sobrecarregar a rede. O pro-

pósito desse cenário é avaliar o quanto aplicações mais prioritárias são influenciadas por outras menos

prioritárias e como o mecanismo de provisão de QoS do WiMAX comporta-se nessa situação. Nesse

cenário, o parâmetro é o valor da taxa de transmissão da estação que gera interferência.

Figura 8: Front-end para simulação web cache

Figura 9: Front-end para simulação de tráfego de vídeo

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9ª EDIÇÃO 353

Há uma diferença entre os dois cenários, que é a forma como eles armazenam os resultados da si-

mulação. O cenário de cache web armazena como resultado um vetor contendo a vazão média em cada

estação cliente. O segundo cenário de simulação armazena valores escalares de perda, vazão e atraso na

estação de transmissão de vídeo. Vetores, valores escalares e o módulo de extração de resultados serão

mostrados mais adiante.

24.5.3 Ferramenta de execução em batchA ferramenta de execução em batch oferece facilidades para usuários com conhecimentos em simulação

no NS2. Este módulo também foi inspirado no Omnet++: o modelo é parametrizado e os parâmetros

vêm de um arquivo de configuração (.ini). Para a leitura de arquivos .ini, foi utilizada a biblioteca Java inij.4

Cada parâmetro declarado no arquivo de configuração será atribuído no início do script de simula-

ção, portanto pode ser redefinido depois, o que irá anular a atribuição feita no arquivo .ini. Os parâmetros

podem tomar lista de valores, que são declaradas de duas formas:

• Com a sintaxe: <Valor inicial> .. <Valor final> step <Incremento>.

Por exemplo: numero_nos = 10 .. 100 step 10, que equivale a lista {10, 20, 30, ..., 100};

• Valores separados por vírgulas.

Por exemplo: numero_nos = 10, 15, 20, 25, 30, 40.

Um arquivo de configuração descreve um estudo. Arquivos de configuração são divididos em se-

ções, no qual cada seção descreve um experimento. Um estudo é descrito da seguinte forma:

[<Nome do script TCL (modelo)>]

<parametro> = <valor ou lista de valores>

<parametro> = <valor ou lista de valores>

<parametro> = <valor ou lista de valores>

...

Se o nome da seção, que descreve o nome do script tcl que representa o modelo, for “all”, então a

atribuição de parâmetros da seção será feita para todos os experimentos. Uma atribuição de um parâ-

metro de mesmo nome anulará a atribuição feita para a seção all.

24.5.4 Análise dos resultados da simulaçãoUma vez que já temos um módulo que realiza a execução das simulações de um estudo, o próximo

passo é extrair os resultados das execuções. No Omnet++, o desenvolvedor da simulação define um

conjunto de datasets e um conjunto de regras para extrair resultados na forma de gráficos e tabelas.

4 Disponível em: <http://ini4j.sourceforge.net/>.

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354 COLETÂNEA BITEC 20082010

Não existe nada semelhante no NS2, o desenvolvedor é forçado a escrever scripts para realizar a tarefa

de extração, sumarização e geração de gráficos. Portanto, o próximo passo deste trabalho foi construir

um módulo de extração dos resultados das simulações, de maneira organizada e que permitisse fácil

recuperação dos resultados.

A solução adotada foi empregar um banco de dados para armazenar os resultados das simulações.

O modelo conceitual descrito na figura 7 foi mapeado em banco de dados, para que um estudo e os

resultados gerados pudessem ser armazenados. O banco de dados utilizado foi o HSQLDB, que é um

banco de dados leve disponível para a linguagem Java. O uso da linguagem SQL possibilita grande fle-

xibilidade para a recuperação dos resultados.

Foram criadas tabelas para cada uma das classes descritas anteriormente, porém, mais tabelas pre-

cisaram ser criadas. A tabela Parameter armazena nomes e valores atribuídos de parâmetros associados

a uma simulação. Com essa tabela, o usuário poderá realizar consultas de resultados de simulações,

para determinadas atribuições de parâmetros definidas na consulta. As outras duas tabelas representam

dados extraídos de uma execução em particular: (a) Scalar, para dados escalares, (b) Vector para listas de

valores.

Um valor escalar é uma atribuição de algum valor a um nome de variável, por exemplo, atraso-me-

dio = 0.5s. Um vetor é uma lista de valores associado a um nome de variável. Por exemplo, um nó poderia

ser monitorado em um intervalo de tempo predefinido e a vazão de saída em cada tempo poderia ser

medida e armazenada em um vetor.

Em uma execução particular, são gerados três arquivos: (a) arquivo trace, (b) arquivo de valores es-

calares, (c) arquivo de vetores. Cada arquivo possui em seu nome, que identifica unicamente a execução,

ou seja, a replicação, a mensuração, o experimento e o estudo a qual a execução pertence. O arquivo de

trace é o gerado pelo simulador que mantém o registro de todos os eventos acontecidos na simulação.

O arquivo de valores escalares mantém associações do tipo chave = valor representando valores es-

calares relacionados à execução. Esse arquivo pode ser escrito durante a simulação, ou após um pós-

processamento do arquivo trace. O arquivo de vetores armazena os vetores criados pela simulação.

Foi desenvolvido um front-end simples para recuperação de resultados, mostrado na figura 10.

Figura 10: Front-end para consulta

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9ª EDIÇÃO 355

Este front-end permite a atribuição de valores que serão dados como entrada a uma consulta. Após

submeter à consulta, é exibida uma nova janela com uma tabela com os resultados, mostrada na figura

11. Foi utilizada a função de agregação avg do SQL para tirar a média dos valores das replicações de dada

simulação. A seguir, temos uma consulta SQL de exemplo de como recuperar valores de uma mensura-

ção, com um dado valor de parâmetro.

select id_measurement, dsc_scalar, avg(value_scalar)

from parameter left join scalar

on parameter.id_study = scalar.id_study and

parameter.id_experiment = scalar.id_experiment and

parameter.id_measurement = scalar.id_measurement

where id_study = 1 and dsc_parameter = ‘TaxaTrans’

and value_parameter = ‘10’

group by dsc_scalar, id_measurement

order by id_measurement

Essa interface para exibição dos resultados é bastante simples. Um próximo passo seria oferecer

mais flexibilidade, permitindo escrever regras para recuperação dos dados e definir os modelos para

geração de relatórios e gráficos.

24.6 ConclusãoEste trabalho apresentou um estudo sobre a tecnologia WiMAX e ferramentas para a simulação de rede.

A motivação para ele vem da necessidade da realização de análise de desempenho em redes WiMAX e

pelo fato de que a simulação é bastante adequada para este propósito.

Tivemos duas principais contribuições com este trabalho. A primeira, principal objetivo deste tra-

balho, é oferecer uma ferramenta de avaliação de desempenho de redes WiMAX, que possa ser usada

por projetistas e administradores de rede. Esta funciona com cenários comuns de utilização das redes

WiMAX, como tráfego web e vídeo. A criação de um front-end para configuração das simulações permite

Figura 11: Resultados da consulta

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356 COLETÂNEA BITEC 20082010

que usuários sem conhecimento no desenvolvimento de scripts de simulação possam realizar análises

de desempenho sobre as redes WiMAX.

Outra importante contribuição foi a criação de um framework para simulações no NS2. Este pode

ser utilizado por qualquer um que deseje realizar simulações utilizando o NS2, e acredito que reduzirá

consideravelmente o tempo gasto no desenvolvimento das simulações e análise dos resultados.

A ferramenta implementada neste trabalho ainda está incompleta. O módulo para extração de

resultados e elaboração de gráficos, baseados em regras definidas pelo usuário deverá ser construído

em um trabalho futuro. Além disso, foi percebida a possibilidade de se criar um front-end genérico para

configuração de simulações, que também será deixado para trabalhos futuros, ou até mesmo a criação

de uma IDE para o NS2.

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25 IEL/SP DRIVER PARA IGBT

Bolsista: Joaquim Rodrigues Venceslau – Unicsul

Professor orientador: Cláudio Domienikan - Unicsul

Coautor: Roberto Antonio Curtis Filho

25.1 IntroduçãoInversores são equipamentos eletrônicos que convertem corrente contínua (CC) em corrente alternada

(CA). Uma das principais aplicações dos inversores é o controle de velocidade de motores elétricos.

Nesta aplicação, um conjunto de chaves estáticas realiza o chaveamento da corrente contínua de

entrada produzindo um sinal de saída monofásico ou trifásico formado por pulsos de largura e fre-

quência variáveis no tempo. Uma variação da frequência do sinal de saída corresponde a uma variação

da velocidade do motor.

Atualmente, os inversores utilizam como chave estática o transistor bipolar de porta acoplada (IGBT

– Insulated Gate Bipolar Transistor). O IGBT é um dispositivo semicondutor de potência que possui ca-

racterísticas elétricas de entrada similar ao transistor de efeito de campo (MOSFET – Metal Oxide Semi-

conductor Field Effect Transistor) e características elétricas de saída semelhante ao transistor bipolar (BJT

– Bipolar Junction Transistor). Apresenta excelentes características de chaveamento, necessita de um

circuito de controle de acionamento bem simples e possui baixas perdas por condução.

Para controlar o IGBT, isto é colocá-lo em condução (chave fechada) ou bloqueá-lo (chave aber-

ta), é necessário um circuito de comando denominado driver. Estes devem fornecer níveis de tensão e

corrente adequados de modo que os IGBTs comutem de maneira eficaz. Além disso, os drivers devem

conter circuitos de proteção contra falhas no controle de disparo dos IGBTs. Além de falhas de disparo,

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360 COLETÂNEA BITEC 20082010

sobretensões e sobrecorrentes podem danificar os IGBTs, interrompendo o funcionamento da máquina

elétrica sob controle e gerando consequente prejuízo.

Os drivers que contém circuitos de utilização de minitransformadores são denominados híbridos. Os

drivers híbridos disponíveis no mercado brasileiro são importados e fabricados apenas por uma empresa.

Em caso de dano, estes componentes devem ser substituídos já que não é possível uma manutenção no

dispositivo. O desenvolvimento de um componente equivalente é tecnicamente uma tarefa difícil, pois

envolve fatores como a escolha minuciosa dos componentes discretos que atendam às especificações

elétricas requeridas pelo IGBT e a confecção de minúsculos transformadores isoladores e de alimentação.

O presente trabalho teve como objetivo projetar e construir um protótipo de um driver de controle

de IGBTs contidos em inversores monofásicos e trifásicos. Este projeto foi concebido com componentes

eletrônicos facilmente encontrados no mercado nacional e o protótipo construído possui características

similares ao driver híbrido comercial. O desenvolvimento de um driver com componentes discretos per-

mite uma alternativa ao uso do original importado. Objetiva-se, portanto, uma economia na montagem

do inversor que é o produto final da empresa envolvida no projeto.

As etapas a serem seguidas serão: estudo das características do componente atualmente utilizado

no controle do IGBT do inversor; estudo e pesquisa do circuito eletrônico a ser utilizado no novo driver;

pesquisa e escolha dos componentes eletrônicos a serem utilizados no protótipo; elaboração dos mini-

transformadores do circuito; elaboração do desenho da placa de circuito impresso; fabricação da placa

de circuito impresso; aquisição dos componentes eletrônicos; montagem da placa do circuito e testes de

validação do protótipo. O trabalho em questão foi executado em um período de seis meses.

No desenvolvimento do trabalho serão abordados o funcionamento do IGBT, o circuito de disparo,

o driver comercial, o desenvolvimento do projeto, testes e resultados obtidos com o protótipo, conclu-

sões e futuros melhoramentos.

25.2 Descrição do inversorOs inversores, ou conversores CC-CA, são dispositivos destinados a converter corrente contínua em cor-

rente alternada; a amplitude e a frequência da corrente de saída podem ser variáveis, dependendo da

aplicação. As principais aplicações dos inversores são: acionamentos de máquinas elétricas de corrente

alternada, sistemas de alimentação ininterrupta (UPS), aquecimento indutivo e fontes chaveadas. Os

inversores são basicamente constituídos por um circuito de potência que utiliza IGBTs como elementos

de chaveamento, uma fonte de alimentação de corrente contínua (CC) e um circuito denominado driver,

destinado a controlar e proteger o circuito de potência. Um circuito externo realiza o controle do driver.

Um diagrama em blocos de um inversor é apresentado na figura 1.

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9ª EDIÇÃO 361

Figura 1: Diagrama em blocos de um inversor típico

Figura 2: Símbolo do IGBT (a); equivalente MOSFET-BJT (b); IGBT comercial (c)

CHAVE DEPOTÊNCIA IGBT

CARGA

DRIVER COMPROTEÇÕES

FONTE CC

CONTROLE

25.2.1 O IGBTO IGBT é um dispositivo semicondutor de potência utilizado como chave estática para inversores. O IGBT

reúne a facilidade de acionamento do MOSFET e sua elevada impedância de entrada com as pequenas

perdas em condução do BJT. Sua velocidade de chaveamento é determinada, a princípio, pelas caracte-

rísticas mais lentas as quais são devidas às características do BJT. Assim, a velocidade dos IGBT é seme-

lhante à do BJT; no entanto, nos últimos anos tem crescido gradativamente, permitindo a sua operação

em frequências de dezenas de kHz, nos componentes para correntes na faixa de dezenas e até centenas

de Ampères. Juntando o que há de bom nesses dois tipos de transistores, o IGBT é um componente

que se torna cada vez mais recomendado para comutação de carga de alta corrente em regime de alta

velocidade [1]. A figura 2 apresenta o símbolo de um IGBT, um equivalente composto por um MOSFET e

um BJT e um IGBT comercial. O IGBT tem três terminais: porta (G), coletor (C) e emissor (E).

O IGBT utilizado nos inversores possui dois modos de operação: ligado (chave fechada ou “satura-

ção”) ou desligado (chave aberta ou “corte”). Para colocá-lo no estado ligado, deve-se polarizar positiva-

mente o terminal coletor (C) em relação ao terminal emissor (E) e aplicar uma tensão de porta positiva

VG

(maior que a tensão de limiar entre porta emissor VGE(TH)

) na porta (G) do dispositivo. Nessa situação,

a corrente elétrica flui do coletor para o emissor. O IGBT passará para o estado desligado no momento

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362 COLETÂNEA BITEC 20082010

em que houver a anulação do sinal de tensão do terminal de porta ou quando o potencial neste pino for

negativo. Nessa situação a corrente entre coletor e emissor é praticamente nula.

25.2.2 Circuito de driver para IGBTUm circuito básico e eficiente de driver para um IGBT é apresentado na figura 3. Nesse circuito, proposto

por Zannata [2], o sinal de comando é amplificado e aplicado a um transformador de pulso. A confi-

guração tem como vantagem a utilização de apenas uma fonte de alimentação para todo o circuito.

O transformador de pulso propicia um isolamento galvânico entre o circuito de comando e a etapa de

potência. No secundário, o pulso é novamente amplificado, formatado, invertido e aplicado na porta do

IGBT disparando-o. Quando a saída for nula, o IGBT é bloqueado. A alimentação do circuito de saída é

obtida a partir do próprio secundário do transformador.

Figura 3: Esquema elétrico de um driver para IGBT

Quando o IGBT é utilizado como elemento de chaveamento de cargas indutivas (motores, por

exemplo), podem surgir tensões inversas elevadas, contra as quais o dispositivo deve ser protegido. O

IGBT também deve ser protegido contra disparos incorretos, sobrecorrente e curto-circuito. A proteção

de curto-circuito é feita pelo monitoramento da tensão entre coletor e emissor VCE

(figura 4), já que

quando existir um aumento da corrente de coletor haverá também um aumento da tensão VCE

[3]. A

proteção contra sobrecorrente também pode ser implementada pelo monitoramento da tensão sobre

um resistor shunt (figura 5) conectado em série com o emissor do IGBT [4]. Em ambos os casos, quando

existir a falha, os pulsos de disparo do IGBT são bloqueados.

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9ª EDIÇÃO 363

25.2.3 O circuito integrado SKHI 22AO circuito integrado (CI) que servirá de referência para o projeto do driver é o SKHI 22A [5] da empresa

Semikron. Este CI híbrido contém dois drivers idênticos em seu encapsulamento que pode controlar

IGBTs de baixa e média potências. Possui proteção de curto-circuito na carga por monitoramento da ten-

são VCE

, circuitos de saída isolados por microtransformadores, proporcionando uma tensão de isolação

entre primário e secundário de até 4000 V. Estes transformadores também funcionam como alimentação

do circuito do secundário. O tempo de intertravamento pode ser ajustável até 4,3 m/s. A máxima fre-

quência de chaveamento é da ordem de 50 kHz. Adicionalmente, este CI possui uma memória interna

que registra possíveis falhas de disparo, subtensão e curto-circuito. A figura 6 apresenta um diagrama da

estrutura interna do SKHI 22A.

Figura 4: Esquema de proteção do IGBT por meio do monitoramento de VCE

Figura 6: Diagrama interno do driver duplo SKHI 22A da Semikron

Figura 5: Esquema de proteção do IGBT por meio do monitoramento da ten-são sobre um resistor shunt

25.3 Desenvolvimento do driver

25.3.1 MetodologiaInicialmente, foi feito um estudo dos principais parâmetros elétricos do driver comercial e dos principais

IGBTs utilizados nos inversores. Posteriormente, escolheram-se os principais componentes eletrônicos e

efetuou-se o projeto do circuito do protótipo. Após o circuito proposto ser testado no proto-board (placa

de montagem experimental), foi construído o protótipo em placa de fibra de vidro cobreada dupla face.

Foram feitos novos ensaios elétricos, após os quais o driver foi validado.

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364 COLETÂNEA BITEC 20082010

25.3.2 O projetoInicialmente foi projetada a etapa do driver, responsável pela monitoração direta de cada IGBT, anali-

sando os disparos que o controle manda para eles. Além do disparo propriamente dito, pensou-se nas

proteções: sequência incorreta de disparo, curto-circuito e acionamento simultâneo. Caso seja verificada

uma sequência incorreta dos pulsos da porta do IGBT, a proteção mandará uma informação para o cir-

cuito de controle para que ele suspenda os pulsos de disparo. O mesmo fato deve acontecer em caso de

curto-circuito (short circuit); o drive gera um sinal de falha detectada (fault) e os sinais de disparo dos IGBT

são suspensos após pequeno atraso (soft turn-off); na figura 7 está ilustrado essa condição. Para evitar

disparo simultâneo dos IGBTs, deve-se esperar o tempo de total corte de um transistor para acionamen-

to do subsequente. Se ocorrer um acionamento simultâneo dos transistores poderá haver dano a eles.

Tal tempo é denominado dead-time (tempo morto), que é o período compreendido entre a interrupção

do sinal aplicado à porta do IGBT e o seu desligamento total. Nesse momento, a tensão entre coletor e

emissor do IGBT assume valor máximo. Portanto, o driver de proteção deve evitar disparos indevidos e re-

alizar monitoramento e proteção contra surtos de tensão e/ou corrente. A tensão entre coletor e emissor

do IGBT é monitorada pelos optoacopladores HCPL-316J, que atuam no bloqueio do disparo em caso de

anomalias no tempo morto ou nos níveis de corrente e tensão do transistor. No caso de ocorrência de

falha, é enviado um sinal de registro ao controlador.

Figura 7: Ação do driver em condição de curto-circuito

Para constituir o oscilador, foi utilizado o circuito integrado IR2153. Este CI chaveia dois transistores

MOSFETs que estão conectados a um transformador de núcleo de ferrite com relação de espiras de 1:4

com duplo enrolamento secundário. Esse transformador alimenta um retificador e um regulador de

tensão; a fonte formada por esses componentes gera duas tensões: 12 V e - 6,2 V. Foram introduzidas

duas fontes idênticas no driver, uma para cada (superior e inferior) da ponte. As tensões de 12 V e -6.2 V

são utilizados para disparar e bloquear os IGBTs, respectivamente. Apesar de ser permitido o bloqueio do

IGBT com 0 V, é utilizado no projeto um valor negativo de tensão (-6.2V). Uma tensão negativa na porta

do IGBT diminui sensivelmente seu tempo de bloqueio, inferior ao tempo morto. O circuito do oscilador

pode ser observado na figura 8.

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O tempo morto (dead time) é a diferença entre o tempo máximo de desligamento e o tempo mí-

nimo de acionamento do IGBT. No caso de aplicações de inversores em ponte, o sinal de tempo morto

tem a função de assegurar que o IGBT em condução desligue completamente antes do disparo do IGBT

oposto. O tempo morto é gerado a partir de portas NAND com schmitt triggers (figura 9), circuitos com

histerese que aplicam um atraso no sinal de entrada de modo que o sinal de saída tenha tempo de su-

bida e descida menores que o especificado pelo fabricante dos optoacopladores. O sinal de saída leva o

nome de reset e inibe o pulso de saída do optoacoplador.

Figura 8: Circuito do oscilador do driver

Figura 9: Circuito de reset

O monitoramento da tensão entre coletor emissor do IGBT, assim como seu acionamento, é efetua-

do pelo CI amplificador e optoacoplador HCPL 316J. É utilizado um HCPL 316J para cada lada da ponte.

Este CI possui entrada de reset (para bloqueio do pulso de saída), uma entrada (desat) que monitora a

tensão no coletor do IGBT e uma saída (fault) que envia um sinal para um dispositivo externo (microcon-

trolador, por exemplo) quando ocorrer uma falha.

O HCPL 316J possui, também, uma saída amplificada e isolada opticamente que permite dis-

paros de IGBTs com capacidade de até 150 A e 1.200 V. A tensão de alimentação desse componente

é + 5 V, obtido a partir de uma fonte convencional com regulador de tensão integrado. A tensão de

isolação entre primário e secundário é de 5.000 V. O circuito do optoacoplador pode ser observado

na figura 10.

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366 COLETÂNEA BITEC 20082010

25.4 Testes e resultados obtidosOs testes preliminares do protótipo construído foram feitos conectando o driver a um inversor na confi-

guração meia ponte de acordo com a figura 11. Para simulação do bloco de controle, aplicou-se um sinal

pulsado de frequência 10 kHz conforme apresentado na figura 12.

Figura 10: Circuito de acionamento e monitoramento do IGBT

Figura 11: Circuito de teste para o protótipo do driver

Figura 13: Sinal de saída do oscilador aplicado ao transformador

Figura 12: Pulsos de controle aplicados na entrada do driver

Inicialmente, foi verificado o funcionamento do oscilador apresentado na figura 8. O sinal de saída

obtido, aplicado no transformador, pode ser visto na figura 13.

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9ª EDIÇÃO 367

Posteriormente, verificou-se o funcionamento do bloco gerador de tempo morto da figura 9.

O atraso entre os sinais de entrada do optoacoplador foi ajustado na faixa de 1,3 ms, tempo suficiente para

evitar que os dois IGBTs da ponte conduzam simultaneamente. O sinal obtido pode ser visto na figura 14.

Figura 14: Sinal de tempo morto

Figura 15: Sinal na carga Figura 16: Sinal no coletor (canal 1) e na porta (canal 2) do IGBT na condição de curto-circuito

Após checar as tensões das fontes, + 5 V (primário), + 12 V e - 6,2 V (secundário), foi analisado a

etapa de saída do driver (figura 10 e figura 11). A tensão medida na carga de 0,1W possui amplitude de

cerca de 20 V e frequência de 2 kHz (ver figura 15). Os parâmetros obtidos estão compatíveis com os

valores teóricos.

Finalmente, foi efetuado um teste de curto-circuito. Neste teste foi simulado um curto-circuito no

IGBT superior da ponte. A figura 16 mostra os sinais obtidos no coletor (canal 1) e na porta do IGBT (canal

2). Pode-se observar a resposta imediata do driver, suspendendo a emissão do pulso de disparo em cerca

de 17 ms.

Após os testes preliminares do driver construído, constatou-se funcionamento adequado do dis-

positivo.

25.5 ConclusãoNeste trabalho foi projetado e construído, em um período de seis meses, um driver com proteções para

controle de IGBTs em um estrutura inversora de tensão de meia ponte. Este dispositivo foi desenvolvido

com componentes eletrônicos discretos, facilmente encontrados no mercado nacional, e substitui dire-

tamente o driver comercial tipicamente utilizados nas aplicações de inversores de tensão. A economia

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368 COLETÂNEA BITEC 20082010

foi de cerca de 40% no protótipo final em comparação com o driver comercial. Adicionalmente, o driver

produzido permite manutenção; o que não é possível no componente original, que deve ser descar-

tado em caso de dano. Os resultados preliminares obtidos demonstram funcionamento compatível e

adequado do novo driver. As proteções implementadas: sobrecorrente, sequência errada de pulsos de

disparo e ausência de tensão no coletor, bloquearam satisfatoriamente o pulso de disparo dos IGBTs,

protegendo-os de dano.

Propostas futuras de continuidade do projeto incluem: diminuição do tamanho da montagem final

do driver e testes com motores monofásicos e trifásicos. Para os testes com motores trifásicos será neces-

sária a montagem de mais dois drivers.

Referências

[1] AHMED, A. Eletrônica de Potência. 1. ed. Indiana: Prentice Hall, 1999. 479 p.

[2] ZANNATA, C.; SANTIN, F. T.; HEY, H. L. Circuito de driver isolado para MOSFET e IGBT. Rio Grande do Sul: Uni-

versidade de Santa Maria, [2009]. Disponível em: <http://www.ufsm.br/gepoc/publicacoes/congressos/Um%20

Circuito%20de%20Driver%20Isolado%20para%20IGBT%20e%20Mosfet.pdf>. Acesso em 07 nov. 2009.

[3] BASCOPÉ, R. P. T. Circuitos de comando para IGBTs. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, [2009]. Dis-

ponível em: <http://www.dee.ufc.br/~rene/industrial/Capi01/Circuitos_Comando.pdf>. Acesso em: 03 nov. 2009.

[4] CORTIZO, P. C. Transistores MosFet de potência. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, [2009].

Disponível em: <http://www.cpdee.ufmg.br/~porfirio/Fontes%20CC%20CA/comando%20igbt.ppt>. Acesso em:

04 nov. 2009.

[5] SEMIKON. Hybrid dual MosFet driver. Disponível em: <http://www.semikron.com/internet/webcms/online/

pdf/SKHI21_22_A_B_H4.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2009.

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