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Estilos de Aprendizagem: Ferramenta fundamental na produção de recursos pedagógicos usando as TIC. Milton José de Barros Sobreiro 1) Faculdade Nazarena do Brasil, Campinas, Brasil [email protected] Resumo Estamos vivendo um período que dentre tantos nomes, também responde por Era da Informação e Comunicação. Tempo em que a palavra de ordem é Conectividade. Neste cenário estão inseridas todas as instâncias da vida social, incluindo a Educação. Dessa forma, não são poucas as Instituições de Educação que já optaram por virtualizar, ao menos, parte de seu material didático e, com isso, fazendo uso das novas Tecnologias da Informação e Comunicação. Mas não basta produzir um material e disponibilizá-lo em websites para que se facilite a construção do conhecimento pelo estudante. É preciso ter um material que comunique verdadeiramente com o aprendiz. Desta forma, este artigo se propõe a discutir a adequabilidade destes recursos pedagógicos digitalizados com vista a dois fatores primordiais, os Estilos de Aprendizagem, e Gallego e na Teoria da Comunicação. Palavras-chave: TIC, Estilos de Aprenizagem, Teoria da Comunicação, Recursos Pedagógicos 1. Introdução Em plena Era da Informação e Comunicação a conectividade se faz uma das principais ferramentas de interação social As redes sociais virtuais, blogs, microblogs, e-mails, listas de discussões, grupos de debates que, de certa forma, mantém em conexão inúmeras teorias, pensamentos, emoções e saberes, dentre outros incontáveis elementos, tornam o individual em coletivo e o que foi inconsciente coletivo em construção coletiva do conhecimento. Ênfase no coletivo, ganho para o individual Se o discurso permeia a construção do conhecimento em coletividade recairá, incondicionalmente, na Educação. Instância social de preparação do indivíduo para a sua efetiva participação colaborativa na construção da coletividade. A Instituição que fica com a responsabilidade de realizar esta tarefa é a Escola, nos seus mais diversos níveis, básico e superior. Tal instituição, por ser inerente à sociedade, deveria se adequar à esta, andar lado-a- lado com suas transformações através dods tempos, mas não é o que se pode notar. A Escola de hoje ainda é, guardando as devidas proporções, uma reprodução de um mosteiro feudal, uma grande nave, transformada em sala de aula, com vários alunos sentados matricialmente e um adulto, douto no conhecimento, lhes depositando informações que deverão, quando da avaliação serem reproduzidas, tal qual quando foram-lhes imputadas. Vivemos um tempo de choques, de contrastes, de desconstrução do moderno para a uma reconstrução em pós-moderno. Nessa crise de paradigmas a Educação inicia um salto de mais de um milênio, começa a ensaiar os seus primeiros passos nesse “admirável mundo novo”. Já não são poucas as instituições de ensino que virtualizam parte de seus recursos pedagógicos. Mas como é tudo muito novo para esta instituição milenar a sua transformação se faz em um

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Estilos de Aprendizagem: Ferramenta fundamental na produção de

recursos pedagógicos usando as TIC.

Milton José de Barros Sobreiro

1) Faculdade Nazarena do Brasil, Campinas, Brasil

[email protected]

Resumo

Estamos vivendo um período que dentre tantos nomes, também responde por Era da

Informação e Comunicação. Tempo em que a palavra de ordem é Conectividade. Neste

cenário estão inseridas todas as instâncias da vida social, incluindo a Educação. Dessa

forma, não são poucas as Instituições de Educação que já optaram por virtualizar, ao menos,

parte de seu material didático e, com isso, fazendo uso das novas Tecnologias da

Informação e Comunicação. Mas não basta produzir um material e disponibilizá-lo em

websites para que se facilite a construção do conhecimento pelo estudante. É preciso ter um

material que comunique verdadeiramente com o aprendiz. Desta forma, este artigo se

propõe a discutir a adequabilidade destes recursos pedagógicos digitalizados com vista a

dois fatores primordiais, os Estilos de Aprendizagem, e Gallego e na Teoria da

Comunicação.

Palavras-chave: TIC, Estilos de Aprenizagem, Teoria da Comunicação, Recursos Pedagógicos

1. Introdução

Em plena Era da Informação e Comunicação a conectividade se faz uma das principais

ferramentas de interação social As redes sociais virtuais, blogs, microblogs, e-mails, listas de

discussões, grupos de debates que, de certa forma, mantém em conexão inúmeras teorias,

pensamentos, emoções e saberes, dentre outros incontáveis elementos, tornam o individual em

coletivo e o que foi inconsciente coletivo em construção coletiva do conhecimento. Ênfase no

coletivo, ganho para o individual

Se o discurso permeia a construção do conhecimento em coletividade recairá,

incondicionalmente, na Educação. Instância social de preparação do indivíduo para a sua

efetiva participação colaborativa na construção da coletividade. A Instituição que fica com a

responsabilidade de realizar esta tarefa é a Escola, nos seus mais diversos níveis, básico e

superior. Tal instituição, por ser inerente à sociedade, deveria se adequar à esta, andar lado-a-

lado com suas transformações através dods tempos, mas não é o que se pode notar. A Escola de

hoje ainda é, guardando as devidas proporções, uma reprodução de um mosteiro feudal, uma

grande nave, transformada em sala de aula, com vários alunos sentados matricialmente e um

adulto, douto no conhecimento, lhes depositando informações que deverão, quando da

avaliação serem reproduzidas, tal qual quando foram-lhes imputadas.

Vivemos um tempo de choques, de contrastes, de desconstrução do moderno para a uma

reconstrução em pós-moderno. Nessa crise de paradigmas a Educação inicia um salto de mais

de um milênio, começa a ensaiar os seus primeiros passos nesse “admirável mundo novo”. Já

não são poucas as instituições de ensino que virtualizam parte de seus recursos pedagógicos.

Mas como é tudo muito novo para esta instituição milenar a sua transformação se faz em um

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processo lento e cheio de preconceitos e resistências, o que é pior, por parte de muitos da

própria comunidade escolar.

Mas, e esta transição, como e quando vai se dar? Com relação ao quando se dará, ou se

completará, ainda é muito cedo para se tentar uma definição, mas a forma como isso já está

ocorrendo fica mais fácil visualizar. É a partir das Tecnologias da Informação e Comunicação

em sua interface interativa, na rede mundial de computadores, que se inicia a distribuição

virtualizada do conhecimento acumulado, agora transformado em conhecimento digitalizado.

Se somente isso bastasse para que o conhecimento ganhasse o mundo democraticamente

distribuído estaria bom, porém, não acontece dessa forma simplista.

Tomando por base a diversidade existente entre os homens, em suas características genotípicas,

fenotípicas, psicológicas ou culturais, se faz de grande relevância tomar como verdade a sua

diversidade, na maneira que lhe torna mais eficiente, a própria construção do conhecimento.

Tal preocupação tem sido motivadora de estudos que procuram desvendar, em vários viéses, o

intrincado processo da cognição humana.

Para essa discussão, este artigo tratará da importância da observação dos Estilos de

Aprendizagem (EA), com base nos estudos de Alonso e Gallego (BARROS, 2009),

compreendendo as características principais e secundárias de cada um deles com relação às

variâncias que ocorrem no processo cognitivo do indivíduo. Olhando o processo de construção

coletiva do conhecimento como uma relação interpessoal, se faz necessário uma análise dos

elementos constitutivos da Teoria da Comunicação. Fechando o tripé teórico deste artigo, uma

análise das principais ferramentas virtuais de apoio ao processo de aprendizagem, as

Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC).

Após o embasamento teórico acerca dos Estilos de Aprendizagem e da sua relação com a

Teoria da Comunicação e de algumas das novas TICs, o presente artigo discutirá a produção de

recursos pedagógicos com uso destas com relação à sua aplicabilidade com eficácia aos EA.

2. Estilos de Aprendizagem: Uma forma personalizada de melhor aprender

Abrindo o ítem relacionado aos Estilos de Aprendizagem, vale um pequeno painel histórico,

trazendo algumas das definições mais difundidas.

Segundo Keefe (LAGO, 2008), no ano de 1988 publica sua definição de Estilos de

Aprendizagem como sendo “traços cognitivos, afetivos e fisiológicos, que servem como

indicadores relativamente estáveis, de como os discentes percebem, interagem e respondem a

seus ambientes de aprendiagem”. Rita e Kennedy Dunn, em 1993, (ibdin) define com uma visão

um tanto quanto complementar à de Keefe, colocando-os como “a forma na qual os estudantes

se concentram, processam, internalizam e recordam informações acadêmicas novas”. Mas é

Curry que, em 1983, separa as distintas teorias dos Estilos de Aprendizagem em três grupos,

onde o primeiro aparece como o centro permeado pele segundo que, por sua vez, o é pelo

terceiro, assim, do centro para a periferia temos, o Estilo Cognitivo da Personalidade, na

sequência o Estilo de Processamento da Informação e por fora de todos, o Indicador de

Preferência da Modalidade Instrucional.

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Figura 1 – Componentes Concêntricos dos Estilos de Aprendizagem segundo Curry

Como se pode observar, a camada mais externa diz respeito às Modalidades Instrucionais,

intimamente ligadas às preferências metodológicas da aprendizagem, sendo a mais variável das

três, e influenciável na medição dos Estilos de Aprendizagem. Na central encontra-se o Estilo

de Processamento da Informação, como a aproximação individual ao conhecimento, não afetada

pelo que a circunda, porém, passível de modificação pelas estratégias de aprendizagem. Por

fim, a mais profunda das camadas que formam os Estilos de Aprendizagem, a do Estilo

Cognitivo da Personalidade, referentes à aproximação do indivíduo aos processos de adaptação

e assimilação da informação, esta é a camada mais estável e permanente da personalidade.

(LAGO, 2008)

Barros (2009), coloca que Alonso e Gallego baseiam-se na definição keefeiniana para colocar

que Estilos de Aprendizagem “são traços cognitivos, afetivos, fisiológicos de preferência pelo

uso dos sentidos, ambiente, cultura, psicologia, comodidade, desenvolvimento e personalidade

que servem como indicadores relativamente estáveis de como as pessoas percebem, inter-

relacionam e respondem a seus ambientes de aprendizagem e seus próprios métodos ou

estratégias em sua forma de de aprender”. Nos deteremos nesta definição de Alonso e Gallego,

pois é o modelo que será utilizado como base teórica desta discussão com relação aos Estilos de

Aprendizagem.

Fazendo uma análise um tanto mais puntual desta definição é possível perceber que o processo

de construção do conhecimento se faz contextualizado, pois envolve elementos ambientais e

culturais, desta feita, o meio em que o indivíduo vive e interage faz parte de seu processo de

construção do conhecimento. Mesmo tendo o caráter construtivista extrínseco ao processo fica

intrínsceco seu caráter vygotskyano de relacionamento com o outro, que pode ser, tanto um par

aprendente, como um docente orientador, e com isso pode-se deduzir a geração de uma Zona de

Desenvolvimento Proximal (ZDP), logo, a interação com terceiros é um dos componentes que

poderá influenciar no Estilo de Aprendizagem pessoal.

Alonso e Gallego, ainda segundo Barros (2009), detectam quatro Estilos de Aprendizagem

específicos: Ativo, Reflexivo, Teórico e Pragmático, cada qual com características particulares

bem definidas.

Para eles, o indivíduo que tem como Estilo de Aprendizagem predominante o Ativo é

socializavel, preferindo trabalhar em grupos, e nele tendo uma tendência à liderança, por sua

característica de protagonismo. Dado à novas experiências, é aventureiro, impetuoso e

inovador. Sua mente está sempre aberta e pronta para dar asas à sua criatividade, sua

inventividade. Quando tem uma nova tarefa a realizar, não quer longos prazos, para ele, a ação

é aqui e agora. Com todos esses requisitos, está sempre buscando novos desafios, afinal é um

aprendente em potencial e um exímio solucionador de problemas.

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Já os Reflexivos são os observadores, o que os faz aparentar um ar de distanciamento ou de

condescendência, mas isto se dá porque consideram os vários viéses possíveis sobre a nova

informação que lhes é apresentada, tornando-os indivíduos prudentes e cunclusivos ao agir.

Estas características analíticas os leva a serem exaustivos em suas pesquisas, permitindo que

recompilem com cuidado todos os dados coletados. Questionadores, assimiladores e pacientes

facetas que os deixam um pouco mais lentos lento, se comparados ao Ativo, por exemplo.

Alonso e Gallego caracterizam o indivíduo com predominância do Estilo de Aprendizagem

Teórico como alguém que é estruturado, racional e objetivo. Para ele o que é lógico é bom.

Ordenador e sintético, age detalhadamente observando etapas lógicas, pois, sua disciplina o

leva a focar o problema na vertical, é um planejador. Sua característica de ter um sistema de

pensar profundo aliado ao seu metodismo, o leva a construir teorias, princípios e modelos. O

indivíduo com ênfase teórica em seus Estilos de Aprendizagem é disciplinado, estruturado e

sistemático. Mesmo com todas essas características, não deixa de ser pensador, relacionador,

explorador e crítico.

Por fim, há os que são classificados como Pragmáticos. Talvez a frase que mais os caracterize é

“se funciona, é bom”. Sempre que percebem que há algo positivo em uma nova idéia, buscam

rapidamente uma oportunidade para pô-la em prática. É experimentador, prático, direto e

eficaz. As teorizações o incomoda, visto que tem por características serem técnicos, úteis,

objetivos e concretos. Aplicadores, são eminentemente solucionadores de problemas.

Organizados e seguros de si, são realistas ao decidir suas ações. Para um pragmático, sempre se

pode fazer melhor.

É possível pensar nesses estilos como quem olha um Diagrama de Venn, usado pela Teoria dos

Conjuntos que estudamos na Matemática desde a mais tenra idade. Baseados nele vemos que há

quatro espaços para um EA único, outras quatro áreas de intersecção para dois, quatro, também,

para três Estilos e um centro que contém os quatro Estilos de Aprendizagem, como demonstra a

Figura 1.

Figura 2 – Distribuição de congruência dos Estilos de Aprendizagem Modelo Alonso e Gallego

A partir dessas características, este artigo irá trabalhar as ferramentas virtuais que mais se

adequam a cada um dos Estilos de Aprendizagem, seja individual ou em consonância com

outros, seja com mais um, dois ou na totalidade, aliando-se aos três, e atingindo a todos.

3. Teoria da Comunicação

"Comunicação não é o que você diz; é o que os

outros entendem". David Ogilvy, publicitário

fundador da Ogilvy & Mather

A Educação faz uso das ferramentas da Comunicação Social como facilitadora no processo de

aprendizagem, logo, o Educador precisa conhecer a arte do comunicar para que seu papel possa

ser desempenhado com eficácia. Desta feita, neste trabalho também será disscutida uma visão

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da Teoria da Comunicação, segundo o linguista russo Roman Jakobson, que faz uso desta para

enunciar suas Funções da Linguagem.

Ao criar um recurso, se faz importante atentar que se trata de uma peça de comunicação e que

por sê-la deve-se levar em conta técnicas básicas ensinadas na Teoria da Comunicação,

estudada, se não me falha a memória antiga, no atual Ensino Médio, em Língua Portuguesa,

quando se fala em Figuras de Linguagem.

Figura 3 – Processo de Comunicação

Roman Jackobson identifica no Processo de Comunicação alguns elementos fundamentais, que

na ausência de um ou mais pode, desde gerar ruído ou inviabilizá-lo. Desta feita, o processo

inicia com um Emissor que deseja enviar uma Mensagem a um Receptor. Para que isso ocorra

com eficácia, o Emissor precisa escolher um Código, conhecido pelo Receptor, para que esse

possa a Decodificar ao recebê-la.

A condução desta Mensagem, do Emissor ao Receptor, deve ser feita através de um Veículo de

comunicação. O Emissor deve eleger o Veículo que for mais adequado ao trânsito da

codificação, com a mínima interferência de Ruídos. Uma mensagem visual não poderá

percorrer um canal de áudio, ou algo que seja interativo em um vídeo simplesmente.

Ao chegar, o Receptor deverá fazer uso de dois aspectos de seu conhecimento: em primeiro

lugar da destreza em lidar com o Veículo que contém a Mensagem no Código escolhido pelo

Emissor - ficaria complicado enviar um DVD para alguém que não tenha um leitor adequado ou

se tivé-lo não saiba manuseá-lo, ou ainda se se tratar de um deficiente visual. Segundo, o

Receptor deverá ser conhecedor do Código utilizado pelo Emissor, a fim de poder Decodificar

a Mensagem recebida.

Percebida sensorialmente a Mensagem, cabe um questionamento... foi compreendida,

excluíndo-se questões de Código ou Ruídos no Veículo de Comunicação? Paulofreireando, se o

Receptor nunca teve o menor contato com o assunto em questão, pode não trazer consigo uma

bagagem de conhecimento suficiente para o entendimento do conteúdo.

Exemplificando: sabemos ler e interpretar textos, claro. Não fosse assim não estaríamos

discutindo esse assunto, em particular. Mas não somos doutos em todas as ciências, logo, se me

chegar um texto em Português, em um Veículo bem simples, como uma folha de papel, onde se

possa ler sem interferência de Ruídos, como borrões ou falta de contraste entre o texto e a cor

do papel, o que não me impediria a Decodificação da Mensagem, mas se for sobre Física

Quântica e requerer um conhecimento básico sobre o assunto, é óbvio que não vou

compreendê-lo.

Mesmo a Mensagem tendo sido recebida e Decodificada com eficácia, restará ao Emisor a

dúvida quanto ao posicionamento do Receptor, mesmo que seja para saber que não

compreendeu o que ela queria dizer por falta de conhecimento teórico suficiente a seu respeito,

ou até se a Mensagem chegou ou não, com ou sem Ruído. Para tanto, um último e, de maneira

nenhuma, menos importante elemento da Comunicação, tão esquecido nos manuais de Teoria

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da Comunicação, é o Feedback, ou Retorno, aos puristas da língua portuguesa. Este é, também,

uma Mensagem, e por sê-la, deverá passar pelos mesmos trâmites que a original, porém em

sentido contrário. O que ´promoverá uma espécie de moto contínuo, até que uma das partes -

Emissor ou Receptor - o interrompa.

4. Novas Tecnologias da Comunicação e Informação

Vivemos a abertura de um novo espaço de

comunicação, e cabe apenas a nós explorar as

potencialidades mais positivas desses espaços nos

planos econômico, político, cultural e humano.

(LÉVY, 1999, 11)

Pós-Modernidade, tempos de contrstes, contradissões, desconstruções e reconstruções. A

entrada da sociedade na era da comunicação e da informação. Seus antecedentes históricos nas

Revoluções Científica e Industrial, novos modelos de produção, novas formas de

relacionamento social. A tecnologia passa da era mecânica, elétrica, eletrônica e chega à

mecatrônica. O advento do computador, ainda no período da 2ª Guerra Mundial, sua conclusão

no pós-guerra... quente... início de uma bipolaridade e com ela uma nova guerra... a fria. As

corridas armamentista e espacial leva às Inteligências Nacionais a buscar uma nova forma de

comunicação, valendo-se da tecnologia virtual récem nata. Nasce a Rede Mundial de

Computadores. Inicialmente com fins estratégicos, mas que, tomado pela popularização dos

PCs e apoiada em uma rede de telecomunicações aprimorada a cada dia, em franco crescimento

e desenvolvimento tecnológico, partiu para a invasão da privacidade de milhões de lares ao

redor do planeta. Agora, a comunicação também é global, as distâncias encurtadas, a

impessoalidade se torna personalizada nos sites de salas de bate-papos, e rapidaamente

ampliada pelas redes sociais virtuais.

A sociedade é tomada pelos microchips multiuso... computadores desk tops, em seguida os

aparelhos de telefonia móveis, os laptops, notebooks, pads, chegando aos modernos

smartphones. E é patente que não para por aqui. Muita nova tecnologia estará desembarcando

para que permita ao indivíduo navegar pela rede com muito menos intempéries que os grandes

navegadores do além mar, que um dia atravessaram o Atlântico e desembarcaram em um Novo

Mundo, repleto de uma diversidade que é explorada há mais de meio milênio. Agora é a vez

deste tipo de desbravamento não ter a mão única de outrora, a rede é polinódua, a tecnologia

não impede que um indivíduo faça a volta ao mundo em alguns poucos minutos ou segundos se

conecte com os mais longínquos locais de nosso planeta... aqui restritos ao menos por enquanto,

ou aos simples mortais, visto que os astronautas, que já se sabe, não são deuses, se comunicam

com a Terra desde o espaço sideral, ou a Terra com seus objetos voadores identificados que

vagam por este imensurável Universo.

Deste atual cenário de tecnologização, a Educação não poderia sair ilesa. Se extrapolarmos o

olhar à Escola, das simples paredes de alvenaria, taipa ou seja lá do que forem montadas, e

focarmos no que lhe anima, nota-se tratar de pessoas. Indivíduos, membros da sociedade que

circunda a instituição, possuidores de recursos de Tecnologias da Informação e Comunicação

(TIC), que os conduzem para o interior dos muros escolares. Infelizmente, em muitos desses

ambientes, principalmente os mais tradicionais, desprovidos de profissionais digitalmente

incluídos, impedem ou dificultam que os outros membros da comunidade escolar,

principalmente o corpo discente, faça uso desse ferramental desta geração. Mas, por outro lado,

felizmente este grupo está tendo sua inclusão digital incentivada, mais diretamente por quem

deveriam ser influenciados por eles, seus aprendentes.

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Desvendando esse admirável mundo novo do monopólio tecnológico sendo fragmentado, ainda

não tão democraticamente inclusivo o quanto poderá vir a ser, percebe-se a comunicação na

rede de uma forma tridimensional, onde uma das dimensões é humana e intangível, mas as

outras duas são bidimensionais, cartesianas, dicotômicas, uma vertical e outra horizontal, a

primeira síncrona e a segunda assíncrona.

Por Comunicação Síncrona temos a visão daquela que se faz de pronto, em tempo real entre os

participantes, seja um para um, um para vários ou vários para vários. A comunicação síncrona

para ter eficiência acaba por limitar os participantes, pois como mediar um chat com um grande

número de discutidores? Embora a videoconferência apresente uma elasticidade maior no

número de acompanhantes.

Analogamente, a Comunicação Assíncrona é a forma horizontal de comunicar, no eixo do

tempo. Neste caso a participação não tem hora marcada para ocorrer em concomitância entre os

envolvidos, mas se faz através de repositórios de conteúdos, seja este de um e-mail, um Blog,

uma Rede Social, ou um SMS se formos para o lado do m-Learning.

Felippim (2009) aponta aspectos que possibilitam maior interação entre educandos e

educadores com a utilização de TIC síncronas e assíncronas. Inicia com as possibilidades de

contextualização para a aprendizagem, assim como de se promover uma conexão com

especialistas externos ao ambiente de aprendizagem. Além das possibilidades, a comunicação

pode fornecer ferramentas de visualização e análise, e facilidades para a solução de problemas.

Por fim, como apresentado no item relativo à Teoria da Comunicação, estabelece oportunidades

para feedback, reflexão e revisão. A autora aborda pontos supracitados neste artigo como o da

contextualização e da interação com terceiros, gerando uma verdadeira construção coletiva do

conhecimento, com margem à reflexão, revisão e feedback, típicos componentes da ZDP.

Quando se parte para o desenvolvimento de recursos, ou ferramentas pedagógicas assíncronas,

antes do desenvolvimento dos códigos com seus respectivos testes, ou configuração dos já

existentes, um conjunto de etapas se faz importante observar, como é o caso, em ordem

cronológica, da especificação dos objetivos da ferramenta; o planejamento das fazes de seu

desenvolvimento; a análise e especificações dos requisitos de sistema e, por fim, o projeto da

ferramenta. (FERNANDES, 2008).

Desta feita a principal etapa é a determinação do objetivo da ferramenta, tendo em conta qual o

conteúdo que ela trará codificado. Será esta ferramenta a mais adequada para trabalhar com

eficácia o conteúdo em questão? Será esta ferramenta a mais adequada para codificar com

eficácia este conteúdo? Será esta ferramenta a mais adequada para comunicar com os

participantes?

No mundo do virtual, como vimos, há uma divisão macro entre Comunicação Síncrona e

Assíncrona, a seguir uma relação de algumas das principais ferramentas com suas

funcionalidades.

O chat é uma ferramenta síncrona onde há uma real interação entre todos os participantes, além

de permitir que o indivíduo se valha do apelido para permanecer anônimo, visto que a

exposição é incômoda à pessoas com determinados tipos psicológicos, como o introvertido, na

classificação de Jung, ou em alguns Estilos de Aprendizagem. O tempo real trás a oportunidade

de se resolver problemas ou se tirar dúvidas momentâneas, ou guardadas para este momento. É

um período em que a máquina se humaniza promovendo uma aproximação afetiva entre os

debatedores.

Já se falando de Ferramentas de Comunicação Assíncronas, e continuando a pensar na

Construção Coletiva do Pensamento, temos uma maior gama de recursos pedagógicos. Uma das

primeiras que vem à mente do educador online é o Fórum de Discussão, espaço onde cada

participante pode colocar o seu pensamento, abrindo espaço para que este seja criticado pelos

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outros partícipes. Para uma efetiva Construção Coletiva do Conhecimento, que pode vir a ser o

resultado das discussões dos Fóruns, a Ferramenta Wiki se faz eficiente, pois permite aos

integrantes do grupo, ou àqueles que tenham permissão pelo mediador, que escrevam em

conjunto um mesmo texto, interferindo, inclusive no que outro já havia escrito. No caso de

ferramentas mais estáticas e menos interativas, temos o Podcast, arquivo de áudio que pode ser

baixado pelo usuário para ouvir em seu computador ou dispositivos móveis, da mesma forma

que alguns Vídeos ou Animações. Os SlideShows são recursos pedagógicos que podem

permitir uma certa interatividade do participante, não só na ordenação com a qual o estuda,

mas, também, com a adição de comandos mais simples.

Todas as ferramentas citadas acima devem fazer parte do repertório de docentes que desejem

ser incluídos digitalmente e, assim, fazer parte desse admirável mundo novo que é o

ciberespaço. Enfim, tornar-se um cidadão de seu tempo.

5. Discussão

Retornando à epígrafe do ítem 3, "Comunicação não é o que você diz; é o que os outros

entendem" do publicitário David Ogilvy, não basta ao docente dominar determinadas

ferramentas pedagógicas se o resultado de seu trabalho não facilitar ao discente construir seu

conhecimento. É exatamente por isso que esse artigo foi escrito sobre um tripé teórico de

fundamental importância: as Teorias dos Estilos de Aprendizagem e da Comunicação e um

entendimento do Ciberespaço com suas possibilidades de recursos pedagógicos, síncronos ou

assíncronos.

Desta forma, para iniciar a discussão, já há tempos aberta, não tendo neste simples artigo

aspiração de se chegar à sua conclusão final, mas sim a contínua busca nas infindas listas de

discussão abertas nos mais variados eventos, virtuais ou presenciais, sobre Tecnologias na

Educação, é apresentado um quadro (Figura 4), adaptado de Lago (2008). Ele trás, com base

nas características atribuídas a cada Estilo de Aprendizagem por Alonso e Gallego (BARROS,

2009) a distribuição, não exaustiva, de algumas sugestões de atividades e recursos pedagógicos

mais eficientes. Poderá ser observado que o referido quadro não se pauta apenas nas incidências

de um só estilo, mas busca abranger as predominâncias dupla, tripla e quando se desejar atingir

a todos os Estilos simultaneamente, atente a ele.

Figura 4 – Distribuição de congruência dos Estilos de Aprendizagem Sensórios

Dois viéses devem ser observados para uma leitura mais consistente do referido quadro. Não se

pretende afirmar que existam apenas esses recursos didáticos, mas que os aqui apresentados,

certamente irão ao encontro dos discentes que apresentam predominância em um ou mais

Estilos de Aprendizagem, permitindo a eles um melhor aproveitamento destes na sua

construção pessoal do conhecimento, visto que pode ter sido até auxiliado por vários

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participantes, mas o conhecimento é pessoal, por isso deve ser partilhado, afinal, partindo-se da

diversidade de pontos de vista no grupo de aprendentes, quanto mais se compartilha o

conhecimento mais se constróem os individuais. O outro viés tem como sujeito o docente, que

partindo do conhecimento e adaptações deste poderá planejar seu curso, disciplina ou encontro

presenciais ou virtuais com uma maior abrangência de comunicabilidade com o grupo.

Assim temos, por exemplo o Ativo que tem mais facilidade em lidar com ações físicas,

imediatas, se dando, portanto, muito bem com encenações teatrais, simulação de situações,

quando preparamos uma atividade monofásica. Específica para esse estilo. Já quando o

indivíduo possui carcterísticas marcantes envolvendo dois estilos, continuando a exemplificar

com o Ativo, mas neste caso, com os componentes característicos do Reflexivo co-participando

de suas características cognitivas, um brainstorm se faz de grande valor, pois o raciocínio

rápido do Ativo em conjunto ao olhar em vários viéses do Reflexivo, lhe permitirá, ou ao

grupo, se for o caso, uma gama maior de possiveis soluções.Temos então a aplicação de um

recurso bifásico. No caso destes dois estilos – Ativo e Reflexivo – terem agregadas as

características tipológicas do Teórico, então, uma atividade trifásica será necessária, tendo

como sugestão a manutenção de um Blog. No caso das características dos quatro estilos se

equivalerem, cairemos para a atividade quadrifásica, ou polifásica, que seria o trabalhar com

projetos. Assim cada uma das características do indivíduo terá participação, ou todo o grupo,

com sua diversidade de estilos será contemplado.

Da mesma forma que se partiu do Ativo, o quadro da figura 4 servirá para se compreender as

adequações de recursos pedagógicos voltados para um, dois, três ou quatro estiolos

concorrentes. Basta para isso buscar as intersecções desejadas. Sendo assim, o trabalhar

Educação em meio à sociedade da informação só se faz verdadeiramente eficaz a partir de um

trabalho de inclusão digital de todos os atores, assim como da utilização científica dos recursos

das Tecnologias da Informação e Comunicação.

6. Referências

Barros, Daniela Melaré Vieira de. (2009). Estilos de uso do espaço virtual: como se aprende e

se ensina no virtual? In Inter-Ação. V.34. pp 51-74. Goiânia, GO: UFG.

Brito, Allan(2007). Síncrono ou Assíncrono? Disponível em

http://www.colaborativo.org/blog/2007/10/08/sincrono-ou-assincrono/

Felippim , Maria Cristina Torres. (2009).A Utilização das Ferramentas Telemáticas na

Educação numa Perspectiva Pedagógica. Disponível em

http://www.centrorefeducacional.com.br/telemati.htm

Fernandes, PHO; Carvalho, JOF. (2008). Desenvolvimento de ferramentas assíncronas para

apoio ao Weblab da PUC-Campinas.

Lago, B;Colvin, L e Cacheiro,M. (2008). Estilos de Aprendizaje y Actividades Polifásicas -

Modelo EAAP. In Revista Estilos de Aprendizaje. Nº2. Vol. 2. UNED:Madri.

Lévy, Pierre. (1999). Cibercultura. Tr. Carlos Irineu da Costa. São Paulo: 34. (Coleção Trans).