coalizão ou cooptação entre os poderes?

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Coalizão ou cooptação entre os Poderes? “Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos.” Winston Churchill A redemocratização brasileira, após anos de ditadura, conjuntamente com a promulgação da Constituição cidadã de 1998 escancarou alguns problemas da democracia nacional, que Sérgio Abranches convencionou intitular em artigo, “Presidencialismo de Coalizão: O Dilema Institucional Brasileiro”. No artigo Sérgio Abranches traça um conjunto de argumentos e fatos históricos demonstrando que o Poder Executivo Federal somente conseguiu estabilidade de suas administrações quando esteve em harmonia com o Congresso Nacional, o que hoje em dia transformamos no que convencionou-se chamar de base parlamentar de apoio. Sendo certo que essa base parlamentar é construída pela necessidade de formação de uma maioria parlamentar fulcrada em uma ampla coalizão de partidos, e também de ideologias ou falta delas, através da composição do corpo de Ministros e dos cargos de segundo e terceiro escalão. Todavia, a falta de propostas e ideologias claras tem levado a rearranjos no decorrer processo, de acordo com as conveniências do momento. Esse escopo fisiologista contrasta seriamente com o desígnio Constitucional encampado por Montesquieu, da Separação dos Poderes, para evitar, justamente, uma prevalência de determinado Poder em relação ao outro, através de um sistema de freios e contrapesos. Contudo, o que se tem visto é uma verdadeira cooptação do Legislativo pelo Executivo, cujo exemplo recente, de visibilidade nacional, foi o processo chamado de “mensalão” (onde a acusação e o julgamento se fundamentaram em um acordo feito, por meio do pagamento de valores públicos a parlamentares e partidos, para se formar uma maioria parlamentar). Infelizmente essa realidade tem também contaminado as gestões dos Estados e Municípios, cujos os primeiros sinais são: aumento do número dos cargos em comissão para elevar a quantidade de aliados; destinação de Secretarias a membros eleitos do Poder Legislativo com o intuito de utilização da máquina administrativa com fins estritamente eleitoreiros; divisão dos valores do cargo em comissão com mais de uma pessoa ou até mesmo nomeação de um laranja, com o retorno desses valores para satisfazer interesses privados; entre outras práticas. Precisamos combater essa realidade construindo desígnios legítimos dos cidadãos, perfazendo propostas, ideias e ideologias coletivamente, que serão aplicadas sem importar quem esteja no Governo, concretizando a impessoalidade, publicidade e eficiência, exigidas Constitucionalmente. Sabemos que a democracia não é perfeita, alerta feito por Winston Churchill “Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de

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Coalizão ou cooptação entre os Poderes?

“Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo,

salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos.”

Winston Churchill A redemocratização brasileira, após anos de ditadura, conjuntamente com a promulgação da Constituição cidadã de 1998 escancarou alguns problemas da democracia nacional, que Sérgio Abranches convencionou intitular em artigo, “Presidencialismo de Coalizão: O Dilema Institucional Brasileiro”. No artigo Sérgio Abranches traça um conjunto de argumentos e fatos históricos demonstrando que o Poder Executivo Federal somente conseguiu estabilidade de suas administrações quando esteve em harmonia com o Congresso Nacional, o que hoje em dia transformamos no que convencionou-se chamar de base parlamentar de apoio. Sendo certo que essa base parlamentar é construída pela necessidade de formação de uma maioria parlamentar fulcrada em uma ampla coalizão de partidos, e também de ideologias ou falta delas, através da composição do corpo de Ministros e dos cargos de segundo e terceiro escalão. Todavia, a falta de propostas e ideologias claras tem levado a rearranjos no decorrer processo, de acordo com as conveniências do momento. Esse escopo fisiologista contrasta seriamente com o desígnio Constitucional encampado por Montesquieu, da Separação dos Poderes, para evitar, justamente, uma prevalência de determinado Poder em relação ao outro, através de um sistema de freios e contrapesos. Contudo, o que se tem visto é uma verdadeira cooptação do Legislativo pelo Executivo, cujo exemplo recente, de visibilidade nacional, foi o processo chamado de “mensalão” (onde a acusação e o julgamento se fundamentaram em um acordo feito, por meio do pagamento de valores públicos a parlamentares e partidos, para se formar uma maioria parlamentar). Infelizmente essa realidade tem também contaminado as gestões dos Estados e Municípios, cujos os primeiros sinais são: aumento do número dos cargos em comissão para elevar a quantidade de aliados; destinação de Secretarias a membros eleitos do Poder Legislativo com o intuito de utilização da máquina administrativa com fins estritamente eleitoreiros; divisão dos valores do cargo em comissão com mais de uma pessoa ou até mesmo nomeação de um laranja, com o retorno desses valores para satisfazer interesses privados; entre outras práticas. Precisamos combater essa realidade construindo desígnios legítimos dos cidadãos, perfazendo propostas, ideias e ideologias coletivamente, que serão aplicadas sem importar quem esteja no Governo, concretizando a impessoalidade, publicidade e eficiência, exigidas Constitucionalmente. Sabemos que a democracia não é perfeita, alerta feito por Winston Churchill “Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de

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tempos em tempos.” Todavia, precisamos combater seus equívocos afastando, através do voto, aqueles que teimam em praticá-la. Allan Titonelli Nunes é Procurador da Fazenda Nacional, Especialista em Administração Pública pela FGV, Ex-Presidente do Forvm Nacional da Advocacia Pública Federal e do Sinprofaz e membro fundador da Abradep.