câmara municipal de palmela editorial · de grande diversidade ao nível da flora e vegetação...

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boletim do Museu Municipal de Palmela A Presidente da Câmara Ana Teresa Vicente nº 10 • Novembro 2008/Maio 2009 Editorial Câmara Municipal de Palmela A Festa de Todos-os-Santos, em Quinta do Anjo, constitui uma tradição local à qual este ano se associam o 80º aniversário da freguesia e um dos momentos altos da comemoração dos 82 anos da Restauração do concelho de Palmela, isto é, a homenagem a um dos mais conhecidos e reconhecidos homens da região de Palmela e, em particular, na sua e nossa Quinta do Anjo: o Dr. António Matos Fortuna. O boletim do Museu Municipal dedica assim, grande parte desta edição à memória do Professor e Historiador local, quer evocando a sua extensa investigação e produção editorial, quer a um conjunto de temáticas que lhe eram particularmente queridas – a História e a Memória da aldeia de Quinta do Anjo, dos homens e mulheres que nela vivem, mas também ao Património Natural que nesta comunidade se soube preservar e usar em prol do bem comum, criando alguns dos melhores produtos da região de Palmela: os queijos e os vinhos. Quando em 1985, a Câmara Municipal de Palmela tomou a iniciativa de realizar as comemorações do 8º centenário do Foral de Palmela, foi sob orientação de Matos Fortuna – desde 1982 assessor do Pelouro da Cultura – que essa acção se desenrolou. As temáticas históricas então evocadas – no cerne da história do concelho -, constituíram mote para alguns dos trabalhos sequentes do município, na vertente da divulgação do Património Cultural, que ao longo dos anos se consolidaram e prosseguem hoje; o caso dos Cursos e Encontros sobre Ordens Militares, cuja pertinência e interesse neste +museu são apresentados a partir de um inquérito feito em Março aos participantes do 8º Curso, é disso um exemplo. Outras áreas, que à data não tinham o relevo que hoje assumem na nossa actividade – como a salvaguarda do património arqueológico –, estão também documentadas neste boletim. O incansável trabalho de António Fortuna pela (re) descoberta da História local e pelo registo dos saberes-fazer das gentes de Quinta do Anjo e de outras comunidades do concelho e do distrito de Setúbal, deixa-nos para o Futuro um exemplo de perseverança e a certeza de que muitas das áreas de conhecimento da realidade local que – ao longo de décadas – estudou, podem e devem ser desenvolvidas e renovadas pelas novas gerações. As parcerias no Museu Municipal com outras entidades, que actuam no território concelhio, permitem-nos progredir nesse trabalho de salvaguarda e divulgação patrimonial, para residentes e para visitantes do nosso concelho. Apresentam-se nesta edição dois casos de trabalhos de investigação histórico-antropológica que em breve podem vir a ser importantes pólos de conhecimento sobre a ruralidade do nosso concelho: o Museu do Pastor e a Quinta Pedagógica Caramela. A fotografia escreve, com luz, os nossos actos e perpetua-os no tempo. O suplemento deste +museu deixa-nos registos da vida árdua, mas também bucólica, da freguesia de Quinta do Anjo, apresentando imagens da infância e da escola, do desporto e da cultura, dos ofícios tradicionais e de actos oficiais do longo do século XX. O Futuro está no trabalho que hoje realizamos conhecendo o Passado e reconhecendo os homens e as mulheres que tornam mais claros e sábios os nossos passos. Este é um caminho consciente que nos orienta, para trabalharmos com os nossos munícipes em prol do desenvolvimento cultural local !

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Page 1: Câmara Municipal de Palmela Editorial · de grande diversidade ao nível da flora e vegetação que os rebanhos se alimentam, através de um sistema de pastoreio definido com rigor,

boletim do Museu Municipal de Palmela

A Presidente da Câmara

Ana Teresa Vicente

nº 10 • Novembro 2008/Maio 2009

Editorial

Câm

ara

Mun

icip

al d

e Pa

lmel

a

A Festa de Todos-os-Santos, em Quinta do Anjo, constitui umatradição local à qual este ano se associam o 80º aniversário dafreguesia e um dos momentos altos da comemoração dos 82 anosda Restauração do concelho de Palmela, isto é, a homenagem a umdos mais conhecidos e reconhecidos homens da região de Palmela e,em particular, na sua e nossa Quinta do Anjo: o Dr. António MatosFortuna.O boletim do Museu Municipal dedica assim, grande parte destaedição à memória do Professor e Historiador local, quer evocandoa sua extensa investigação e produção editorial, quer a um conjuntode temáticas que lhe eram particularmente queridas – a Históriae a Memória da aldeia de Quinta do Anjo, dos homens e mulheresque nela vivem, mas também ao Património Natural que nestacomunidade se soube preservar e usar em prol do bem comum,criando alguns dos melhores produtos da região de Palmela:os queijos e os vinhos.Quando em 1985, a Câmara Municipal de Palmela tomou a iniciativade realizar as comemorações do 8º centenário do Foral de Palmela, foisob orientação de Matos Fortuna – desde 1982 assessor do Pelouroda Cultura – que essa acção se desenrolou. As temáticas históricasentão evocadas – no cerne da história do concelho -, constituírammote para alguns dos trabalhos sequentes do município, na vertenteda divulgação do Património Cultural, que ao longo dos anos seconsolidaram e prosseguem hoje; o caso dos Cursos e Encontrossobre Ordens Militares, cuja pertinência e interesse neste +museu sãoapresentados a partir de um inquérito feito em Março aos participantesdo 8º Curso, é disso um exemplo. Outras áreas, que à data não tinhamo relevo que hoje assumem na nossa actividade – como a salvaguardado património arqueológico –, estão também documentadas nesteboletim.O incansável trabalho de António Fortuna pela (re) descoberta daHistória local e pelo registo dos saberes-fazer das gentes de Quintado Anjo e de outras comunidades do concelho e do distritode Setúbal, deixa-nos para o Futuro um exemplo de perseverançae a certeza de que muitas das áreas de conhecimento da realidadelocal que – ao longo de décadas – estudou, podem e devem serdesenvolvidas e renovadas pelas novas gerações.As parcerias no Museu Municipal com outras entidades, que actuamno território concelhio, permitem-nos progredir nesse trabalhode salvaguarda e divulgação patrimonial, para residentes e paravisitantes do nosso concelho. Apresentam-se nesta edição dois casosde trabalhos de investigação histórico-antropológica que em brevepodem vir a ser importantes pólos de conhecimento sobre a ruralidadedo nosso concelho: o Museu do Pastor e a Quinta PedagógicaCaramela.A fotografia escreve, com luz, os nossos actos e perpetua-os notempo. O suplemento deste +museu deixa-nos registos da vida árdua,mas também bucólica, da freguesia de Quinta do Anjo, apresentandoimagens da infância e da escola, do desporto e da cultura, dos ofíciostradicionais e de actos oficiais do longo do século XX.O Futuro está no trabalho que hoje realizamos conhecendo o Passadoe reconhecendo os homens e as mulheres que tornam mais clarose sábios os nossos passos. Este é um caminho consciente quenos orienta, para trabalharmos com os nossos munícipes em proldo desenvolvimento cultural local !

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em destaque...

O Museu Municipal de Palmela insere-se num vasto

território onde a diversidade cultural se impõe aos

sentidos. Identidades e Patrimónios sobrepõem-se,

fruto da história e da memória de cada lugar.

O Museu Municipal de Palmela, no sentido de dar

cumprimento à sua missão: estudar, salvaguardar e

promover os patrimónios e identidades próprias das

suas gentes, impulsiona e acompanha o processo

cultural reivindicativo, transversal a toda a sociedade,

que é o reclamar, para o concelho, das suas

especificidades locais. Nesse sentido, celebra parce-

rias institucionais com a comunidade local que as-

sentam na união de esforços e vontades.

Esta instituição, que possui uma estrutura polinu-

cleada, tem como espaço de acção privilegiado o pró-

prio território, que reflecte. Constituído por núcleos e

extensões museológicas, tem por objectivo expres-

sar a diversidade do local.

Neste ano de 2008, foi com grande interesse e satis-

fação que fomos convidados, pela Associação Regi-

onal de Criadores de Ovinos Leiteiros da Serra da

Arrábida (ARCOLSA), a colaborar na criação de um

novo espaço expositivo, no concelho, dedicado à

temática da ovinicultura, em S. Gonçalo, Cabanas.

Este projecto tem como objectivo contribuir para a

salvaguarda do aparato simbólico e funcional que

compõe a actividade do Maneio das ovelhas. Não se

trata apenas de falar sobre a importância do Queijo

de Azeitão para o concelho mas, também, de tudo o

que está implícito na actividade do ovinicultor e do

ciclo de trabalho que molda esta profissão.

Definido o cronograma de trabalho e as responsabili-

dades inerentes a cada uma das entidades, no âmbi-

to desta parceria, coube ao Museu Municipal de

Palmela proceder à investigação temática e conce-

ber os conteúdos textuais da exposição.

Passando por todos os passos necessários e comuns

no contexto de uma pesquisa antropológica, durante

o trabalho de campo foram seleccionados informan-

tes que acompanhámos durante os trajectos do quo-

tidiano. Observámos a forma como os animais são

conduzidos para os locais de pasto, a técnica utiliza-

da na ordenha, os cuidados a ter durante um parto,

as tarefas diárias inerentes ao seu Maneio. Quisemos

também saber sobre a evolução desta profissão no

que respeita aos métodos e técnicas, mas também

sobre as vidas destes homens e mulheres que, ao

longo dos anos, se dedicaram, em exclusivo, ao cui-

dado das ovelhas.

É de destacar que fomos confrontados, durante este

processo, com uma profissão exigente e de grande

rigor ao nível das práticas e conhecimentos.

Os animais dependem em exclusivo destas pesso-

as. É através delas que se alimentam, se tratam, se

reproduzem. São tarefas que têm obrigatoriamente

que ser cumpridas, por uma determinada ordem, to-

dos os dias.

Não se padecem por férias ou alturas festivas. Todos

os dias.

Se hoje é já possível alguma margem de manobra

pelo facto de se utilizar com alguma regularidade ra-

ções, antigamente os animais sobreviviam apenas à

base do pastoreio, o que obrigava a deslocações di-

árias na procura de alimento.

“Era todos os dias que tinha que pastar.Naquele tempo pouco se dava lá àmanjedoura, ou nada. Era só o que

apanhavam cá por fora. Mesmo em diasde chuva e tudo, tinha que se romper.”

João Ferreira, 83 anos, 2008

Todavia, importa destacar que embora as rações fa-

çam hoje efectivamente parte da dieta alimentar, o

preço de cada saco está altamente inflacionado em

consequência da conjuntura económica mundial.

Facilmente se ouvem lamentos e pedidos de apelo

na voz destas pessoas que temem pelo futuro desta

profissão rural.

Patrimónios do concelhoo Maneio das ovelhas

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Fruto da parceria entre o Museu Municipal e a

ARCOLSA, nasceu a exposição de longa duração

“Entre a Serra e o Céu: Ecos dos Saberes e Fazeres

no Maneio das ovelhas”, inaugurada durante a XIII

edição do Festival do Queijo, Pão e Vinho.

Dividida por núcleos temáticos, a exposição convida

o público a uma inversão do percurso, propondo que

este caminho se inicie pelo culminar do ciclo, pelo

produto acabado: o queijo de Azeitão. A descrição

do modo de produção artesanal deste produto é pau-

tada pelas memórias:

“Quando era quatro e meia, cinco horaso mais tardar [da manhã], levantava-me.Ordenhava as ovelhas, ia para baixo fazia

os queijos, encabazava-se os queijosdentro dos cabazes e vinha-se pôr à

camioneta para ir vender – uma senhoralevava os queijos e ia vender para oSeixal. Depois era chegar a casa,

almoçar, ou levar uma sacola com umlanche e pastar as ovelhas – andar todoo dia atrás do gado. Chegava à noiteprendia-se o gado, ordenhava-se,

levava-se o leite para casa, fazia-se osqueijos (…) Fazia-se o leite da noite efazia-se o leite da manhã. (…) Esses

queijos como eram da noite iam semprepor cima dos outros (…) para não

azedarem.” Tito, 52 anos, Quinta do Anjo

Tratando-se de ovelhas leiteiras, a ordenha corres-

ponde à actividade fundamental do ciclo produtivo,

intrinsecamente dependente de uma boa gestão do

maneio do gado.

A ordenha era efectuada no aprisco, método tradici-

onal que hoje vem sendo sistematicamente substitu-

ído por salas industriais que proporcionam melhores

condições de higiene, e permitem maior produtivida-

de na recolha do leite.

Na ordenha ao aprisco, os comedouros ou cancelas

de madeira eram distribuídos de maneira a formarem

corredores estreitos onde as ovelhas eram dispostas

em fila. O produtor, de cócoras ou sentado no próprio

ferrado, vai ordenhando, uma a uma, através de mo-

vimentos consistentes e precisos, mas simultanea-

mente delicados.

À medida que os ferrados enchiam, o leite ia sendo

coado, por um pano, para as bilhas de folha de zinco

onde era transportado para a queijaria.

A pastagem é de primordial importância já que dela

dependia, quase em exclusivo, a alimentação dos ani-

mais à base, sobretudo, de plantas espontâneas

(gramíneas e leguminosas) existentes na Serra da

Arrábida, que está dotada de um micro clima específi-

co, de forte influência mediterrânea. É nesta vasta área

de grande diversidade ao nível da flora e vegetação

que os rebanhos se alimentam, através de um sistema

de pastoreio definido com rigor, tendo em conta o cli-

ma, as pastagens e os saberes das Gentes.

“É uma vida dura e de que maneira! Nãotemos dias santos, não temos feriados,

não podemos ir a um baile, não podemosir a uma festa, não podemos ir a lado

nenhum. É uma vida presa!...Mas então,não temos outra!”

Estanislau, 69 anos, 2008

No mês de Março, quando o tempo começa a aque-

cer, inicia-se a tosquia que decorre até meados de

Maio, dependendo do número de cabeças do reba-

nho. Esta é uma operação que consiste em cortar,

rente à pele, a lã dos animais para posterior aprovei-

tamento. Prepara, também, os animais para a época

de cobrição que se avizinha.

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Como o melhoramento genético é exclusivamente fei-

to pelo controle dos casamentos, o carneiro reprodutor

é rigorosamente seleccionado em função das suas

características genéticas, de modo a dar continuida-

de ao apuramento da raça. Os rebanhos são consti-

tuídos de modo a que exista um carneiro por cerca

de quarenta ovelhas fêmeas.

A gestação destes animais é de cinco meses e, du-

rante este período, as ovelhas prenhas devem ser alvo

de todos os cuidados para o nascimento que se apro-

xima.

Nesta inversão do percurso, que é, afinal, um ciclo

que se repete todos os anos, chegamos ao momen-

to em que tudo tem início. Momento em que a vida se

reproduz, em que pequenos e sumidos balidos se

vêm juntar aos sons da terra. É nos meses de Setem-

bro e Outubro que os borregos resultantes de uma

procriação controlada começam a nascer. A mãe,

previamente separada do restante rebanho, é mantida

em local limpo, seco e abrigado.

Timidamente vai entrando em trabalho de parto, trans-

mitindo pequenos sinais inconfundíveis ao olhar de

quem sabe.

“A gente nota. Começa-se aespreguiçar, o rabito no ar, o mojo,e depois deita a bolha de água.”

António Plateia, 2008

Falamos, sobretudo, de ovelhas de raça Saloia, origi-

nárias do distrito de Lisboa (Cascais, Lisboa, Loures,

Mafra, Oeiras, Sintra, Vila Franca de Xira e Torres

Vedras) e de Setúbal (Palmela, Setúbal e Sesimbra),

que correspondem à individualização de uma deter-

minada tipologia de efectivos pertencente ao Grupo

Étnico Bordaleiro.

Beatriz Costa (1907 - 1996) apadrinhou estes animais,

tornando-se Madrinha da Raça Saloia da Península

de Setúbal. Em 1989 escreveu as seguintes palavras,

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em destaque...singulares e antropologicamente ricas:

“O dia 1 de Novembro de 1989 deve tersido o mais agradável que passei nos

últimos quinze anos!...Eram centenas dehomens humildes, talvez um milhar. Na

sua maioria pastores e criadores derebanhos (…) nunca pensei que no meu

amado país existissem tão belosexemplares [ovelhas saloias] comoaqueles que vi e acariciei na Quinta

do Anjo. Era a VII Exposição Concursode Ovinos da Raça Saloia”

Beatriz Costa, “Eles e Eu”, 1990

Cada profissão tem uma linguagem própria, assente

em termos técnicos específicos mas também em regi-

onalismos que, numa apropriação das palavras, as

moldam à medida das necessidades de comunicação

do meio que habitam. No sentido de clarificar o sinónimo

de palavras e dizeres, concebemos um painel que lista

alguns dos exemplos mais significativos.

Estavam feitas à gente, é um dos dizeres recorren-

te, neste falar sobre as ovelhas. Traduz a relação en-

tre homem e animal, mas traduz muito mais. Revela a

forma como estes homens se dedicaram aos animais

que tinham ao seu cuidado, baptizando-os e reco-

nhecendo cada um pelas características específicas

da sua personalidade. A Laranjinha, gostava muito

de laranjas, a Mimosa era muito meiga…

No sentido de mostrar, para além das palavras, o cam-

po de significados inerente a este mundo, editámos

um documento audiovisual, presente no espaço

expositivo, que evoca memórias narradas pelas vo-

zes dos protagonistas: gente convicta da escolha pro-

fissional que fez, ainda nos tempos da sua meninice.

Convicção que se reflecte no rosto e nas palavras.

Orgulho que os afectos reclamam.

Embutidos, também, de fortes convicções acerca da

importância deste Património, e sobre a importância

de dar continuidade a este trabalho, a ARCOLSA e o

Museu Municipal preparam a abertura deste espaço

ao público, enquanto extensão Museológica, com um

programa regular e diversificado de actividades pe-

dagógicas. E, assim, o Museu Municipal de Palmela,

em nome, também, da ARCOLSA, convida-os a visi-

tarem este novo equipamento cultural do concelho e

a deixarem-se tocar pelos cheiros e sons da ruralidade.

Teresa SampaioAntropóloga, Museu Municipal de Palmela

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AntónioMatosFortunaJornalista,Professor,Historiador Local( Quinta do Anjo 09.03.2008)

Nascido a 31.12.1930 em Quinta do Anjo, tinha o pra-

zer de ser auto-denominar montanhão (da encosta

da serra) e o talento de encadear narrativas umas nas

outras com uma naturalidade surpreendente. Aman-

te da sua terra, deixa-nos não só o seu trabalho, re-

gistado em obras essenciais ao conhecimento da

nossa História Regional e Local, mas também a me-

mória do seu saber, vivacidade, perseverança e hu-

mildade.

O seu percurso de vida, sempre marcado pelo estu-

do, o ensino e a escrita, colocam-no sempre em po-

sição de participação e intervenção na comunidade.

Após o percurso escolar feito em Setúbal, na Escola

João Vaz, nos anos 50 trabalha na Câmara Munici-

pal de Setúbal como fiscal de impostos, no Sanatório

do Outão, na Casa de Pessoal da “SACOR” e como

revisor na editora “Logos”. Em 1953, é um dos mem-

bros da tertúlia literária “Arcádia da Fonte do Anjo”,

com o pseudónimo Louro da Serra; à qual perten-

cem também Cabral Adão, médico e escritor, a poe-

tisa Maria Helena Soares Horta e Maria Adelaide Ro-

sado Pinto, mestre de música. Com página regular

no jornal O Setubalense, divulgam poesia pretenden-

do incentivar o gosto pela sua produção e leitura.

Em 1968-69 frequenta o primeiro Curso de Jornalis-

mo realizado em Portugal, da responsabilidade do

Sindicato Nacional de Jornalistas, encetando uma

vasta colaboração em periódicos regionais e nacio-

nais.

Em 1976 licencia-se em História na Faculdade de

Letras da Universidade de Lisboa, iniciando no ano

seguinte a sua carreira docente na Escola Básica dos

2º e 3º Ciclos de Palmela, na qual se aposenta em

Setembro de 2000. Também nos anos 70, desenvol-

ve trabalhos de investigação e escrita sobre a Histó-

ria local. Comunicações e colaborações diversas, in-

vestigação sobre várias áreas da cultura e história lo-

cais, dão expressão a esse trabalho publicado, na

maior parte, pela Câmara Municipal, pelo Grupo dos

Amigos do Concelho de Palmela, pela Misericórdia e

pela Paróquia palmelenses.

Assessor cultural da Câmara Municipal de Palmela de

1982 até 2007, considerava o programa de Comemo-

rações do 8º Centenário do Foral de Palmela (1985), a

sua mais bem sucedida actividade. Este evento mar-

cará o início da actividade cultural do Município, cons-

tituindo, ainda hoje, uma referência na História Local e

Nacional e uma memória feliz para muitos munícipes.

Com envolvimento comunitário convicto e assíduo é

Membro da Associação Portuguesa dos Amigos dos

Castelos, responsável pelo sector cultural da Santa

Casa da Misericórdia de Palmela; sócio-fundador do

Grupo dos Amigos do Concelho de Palmela; sócio-

-fundador da Ordem Enófila de Sant’Iago; dirigente

da Assembleia Geral da Sociedade de Instrução Mu-

sical de Quinta do Anjo, durante 2 décadas; membro

da Acção Católica Rural, durante 15 anos e organiza-

dor de passeios culturais destinados a mostrar o

património do país às gentes da região.

Devido ao seu trabalho, dedicação e mérito, em 1986

é galardoado com a medalha do concelho de Palmela,

pela actividade desenvolvida nas comemorações do

8º Centenário do Foral de Palmela; em 1991 é eleito

personalidade do ano pela comunicação social do

distrito de Setúbal; em 1995, homenageado por um

elevado número de personalidades e entidades e, em

2000, homenageado como Professor aposentado do

concelho.

Nos últimos anos, a paixão pelo muito que ainda se

À Memória de

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Bibliografia• Memórias Paroquiais de 1758(prólogo, selecção e anotações),Col. “Monografia de Palmela,vol.1”, Palmela: Grupo dos Ami-gos do Concelho de Palmela,1982• “O Castelo de Palmela -Charneira dos Sete Castelos daRegião dos Três Castelos” e “AExploração Didáctica de VelhosMonumentos - Um ExemploConcreto: O Castelo de Palmela”in Livro do Congresso - Primeiro

Congresso Sobre Monumentos Militares Portugueses reali-zado em 1982, Lisboa: Património XXI - Associação Portu-guesa para a Protecção e Desenvolvimento da Cultura, 1982,pp. 34-38 e 39-43• Alguém que “Agarrou” o Evangelho - Evocando CarmitaFortuna, Quinta do Anjo: Comunidade Cristã de Quinta doAnjo, 1983• Reflexões sobre a História Social de Palmela, Palmela/Ed. policopiada, 1984• Armaria antiga em Palmela. Catálogo de exposição, emcolaboração com Rainer Daehnhardt, no âmbito do 8º Cen-tenário do Foral de Palmela, 1985• Aspectos da Linguagem Popular de Palmela, Palmela:Direcção-Geral de Apoio e Extensão Educativa / Coorde-nação Concelhia de Palmela, 1987• “Digressões à Volta do Nome de Palmela” in História dePalmela ou Palmela na História - Jornadas de Divulgação eAnálise do Passado de Palmela realizadas em 1987, Col.“Estudos Locais, nº 1” Palmela: Câmara Municipal, 1988,pp. 37-49• “Recordando Três Páginas da História Esquecida do Cas-telo de Palmela”. O Castelo de Palmela - Emissão de Selo,Lisboa: Correios e Telecomunicações de Portugal, 1988, pp.5-8• Quinta do Anjo - Capital da “Ovelharia” Entre Tejo e Sado,Palmela: Câmara Municipal, 1988• Contava-se em Terras de Palmela...- As Lendas Perdidasdo Concelho de Palmela. Col. “Estudos Locais nº 2”, Palmela:Câmara Municipal, 1989• “O Castelo de Palmela” in A Ordem de Sant’Iago - Históriae Arte. Catálogo da Exposição, Palmela: Câmara Munici-pal, 1990, pp. 41-46• Da Uva Por Nascer ao Vinho Pronto a Beber . Catálogo daExposição - Vindimas 90. Palmela: Câmara Municipal, 1990• Misericórdia de Palmela - Vida e Factos, Palmela: SantaCasa da Misericórdia de Palmela, 1990• “Um Inventário da Ordem de Sant’Iago ou Caderno deProblemas de Múltiplas Incógnitas”. As Ordens Militares emPortugal - Actas do 1º Encontro sobre Ordens Militares rea-lizado em 1989, Col. “Estudos Locais, nº 3”, Palmela: Câ-mara Municipal, 1991, pp. 131-139

• A Igreja de S.Pedro de Palmela, Palmela: Igreja Paroquialde S.Pedro, 1991• “História Vitivinícola da Península de Setúbal - Breves Apon-tamentos”. Vinhos da Costa Azul, Setúbal: Região de Turis-mo da Costa Azul, 1992• Chafariz D.Maria I - Bicentenário - 1792 / 1992, Palmela/Ed. policopiada, 1992• Priores-Mores do Real Convento Provedores da SantaCasa da Misericórdia de Palmela, Palmela: Santa Casa daMisericórdia de Palmela, 1994• Roteiro do Cortejo Evocativo “Portugal e o Vinho”, Palmela:Festa das Vindimas, 1994• Quando se Levantou o Chafariz - Reinado de D.Maria I.Col. “Monografia de Palmela vol. 2”, Palmela: Grupo dosAmigos do Concelho de Palmela, 1994• Extinção e Restauração do Concelho - Um Combate Sin-gularmente Duro, Col. “Monografia de Palmela, nº 3”,Palmela: Grupo dos Amigos do Concelho de Palmela, 1995• Ordem Enófila de Sant’Iago - Primeiras Parras - Volume-Arquivo de Documentos Iniciais, Palmela: Ordem Enófila deSant’Iago, 1996• “A Riqueza Fundiária da Ordem de Sant’Iago no Distritode Setúbal em 1834", in As Ordens Militares em Portugal eno Sul da Europa - Actas do II Encontro sobre Ordens Mili-tares realizado em 1992, Col. “Actas & Colóquios nº10”,Lisboa/Palmela: Edições Colibri / Câmara Municipal dePalmela, 1997, pp. 231-268• Memórias da Agricultura e Ruralidade do Concelho dePalmela, Palmela: Câmara Municipal, 1997• “A Ordem de Sant’Iago - Perspectivas Vitivinícolas Onteme Hoje” in Ordens Militares - Guerra, Religião, Poder e Cul-tura - Actas do III Encontro Sobre Ordens Militares realizadoem 1998, Vol. 1, Col. “Actas & Colóquios, nº 17”, Lisboa/Palmela: Edições Colibri / Câmara Municipal de Palmela,1999, pp. 185-192• “Jogo do Pau” in Actas da 1ª Eira Folclórica da RegiãoCaramela realizada em 1999, Pinhal Novo: Rancho Folclóri-co da Casa do Povo de Pinhal Novo, 2000, pp. 27-32• 8º Centenário do Foral de Palmela – Memorial das Come-morações, Palmela: Grupo dos Amigos do Concelho dePalmela, 2001• Palmela – Sobre Todas, Mais Alta e Formosa, Lisboa: Elo,2001• Co-autoria com GARCIA, Vasco Penha e HOMEM-CAR-DOSO, António - Os Vinhos da Península de Setúbal. Col.“Enciclopédia dos Vinhos de Portugal, nº 7”, Lisboa: Cha-ves Ferreira, 2001• Marateca Que Já Foi, Col. “Estudos Locais, nº 5”, Palmela:Câmara Municipal, 2002• “Um Castelo em Sucessiva Destruição e Reconstrução”in Actas do III Congresso “Monumentos Militares Portugue-ses realizado em Junho de 1985, Lisboa: Associação Por-tuguesa dos Amigos dos Castelos, 2002, pp. 69-77• Roteiro do Cortejo Evocativo “Portugal Vinícola” – Festadas Vindimas – 2002. Palmela: Comissão da Festa das Vin-dimas, 2002• Um Distrito sob o Signo do Futebol, Setúbal: Associaçãode Futebol de Setúbal, 2002• Outros Tempos. Trabalhos e Diversões das Gentes dePalmela, Quinta do Anjo,Cabanas e Caramelos.Quando os Autores eramRapazes Pequenos., Col.“Monografia de Palmela,nº 4”, Palmela: Grupo dosAmigos do Concelho dePalmela, 2002• Quinta do Anjo – Terrasingular. Col. “Estudos Lo-cais, nº 6”, Palmela: Câma-ra Municipal, 2005

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encontra por fazer, o entusiasmo pela descoberta e a

alegria da partilha é travada pelo cansaço. A memó-

ria, indiferente à força que ainda se encontra no peito

e nos braços, vai partindo levando consigo o que

numa vida se aprendeu e ensinou, deixando ador-

mecidos documentos, estudos e sonhos.

Deixa-nos a obra e o exemplo, sempre Professor Antó-

nio de Matos Fortuna.

Fazendo nossa uma expressão que muito usava:

Agradecido(s) em grau superlativo !

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O GEsOS e os Cursossobre Ordens Militares:um percurso e um balanço

nos bastidores…

1Respondido por 35 pessoas num universo de 95.

Um dos objectivos prioritários do Gabinete de Estu-

dos sobre a Ordem de Santiago (GEsOS) é a forma-

ção de um público vasto, não necessariamente es-

pecializado nesta área, que inclui os professores dos

ensinos básico e secundário e os alunos dos ensinos

secundário e superior.

Os Cursos sobre Ordens Militares enquadram-se nes-

te propósito e o formato adoptado permite que, num

curto espaço de tempo - um dia e meio ou dois dias

-, seja veiculada informação sobre uma vertente da

história das Ordens Militares, suporte teórico que é

depois complementado por uma componente práti-

ca, usualmente uma visita de estudo a monumentos

ou património móvel relacionados com as Ordens

Militares. A periodicidade tem sido ultimamente anu-

al, interrompendo-se nos anos em que decorrem os

Encontros sobre Ordens Militares, realizações de maior

envergadura e especializadas, também da iniciativa

do GEsOS.

A primeira sessão teve lugar em 1997, sujeita a

temática generalizada, mas a partir de 1999 come-

çaram a definir-se linhas de abordagem específicas,

seguindo primeiro critérios cronológicos e optando

depois pela exploração de aspectos parcelares da

história das Ordens e das suas realizações artísticas.

Assim, o 2º Curso (1999), foi dedicado às «Ordens

Militares em Portugal - Sécs. XII a XVI», com consultoria

da Faculdade de Letras da Universidade do Porto,

Prof. Doutor Luís Adão da Fonseca, e o 3º Curso (2000)

versou sobre «As Ordens Militares: Sociedade e Pa-

trimónio Artístico no Portugal Moderno (1551-1834)»,

com a orientação da Universidade de Évora, Prof.ª

Doutora Fernanda Olival. No 4º Curso (2001) decidiu

tratar-se a temática dos «Conventos das Ordens Mili-

tares», terminando com uma interessante visita ao

Mosteiro de Santos-o-Novo, em Lisboa. O 5º Curso

(2003) seguiu, excepcionalmente, um modelo distin-

to, assumindo-se como um colóquio de cariz arque-

ológico organizado em parceria com a FLUP - Uni-

versidade do Porto e cujas actas viriam a ser edita-

das em conjunto. O 6º Curso (2005) pretendeu pro-

porcionar um guião de pesquisa ao centrar-se no tema

«Fontes para o Estudo das Ordens Militares em Por-

tugal». O 7º Curso (2007), com consultoria do Centro

de História d’ Além-Mar (FCSH- UNL), Prof. Doutor

João Paulo Oliveira e Costa, foi designado «A Ordem

de Santiago e a Expansão» e visou a ligação desta

Ordem ao período das descobertas. O último curso,

de 2008, abordou a «Arte e Artistas das Ordens Mili-

tares», com consultoria do Instituto de História da Arte

da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa,

Prof. Doutor Vítor Serrão. Perspectiva-se para Janei-

ro/Fevereiro de 2009 a 9ª edição destes cursos, com

consultoria do Instituto de Estudos Medievais da

FCSH - Universidade Nova de Lisboa, Prof. Doutor

José Mattoso, que tratará do tema «Ordens Milita-

res e Religiosidade».

Apesar dos ecos positivos que sempre nos foram

chegando da parte do público assistente, a necessi-

dade de um balanço criterioso destas acções condu-

ziu à elaboração de um inquérito de avaliação que

tem sido distribuído desde 2007 e cujos resultados

nos têm ajudado a conhecer melhor o universo de

participantes e a corrigir aspectos menos consegui-

dos da organização.

Pelos dados do inquérito de 20081, concluímos que o

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Em termos de satisfação com a acção (Gráf. 2), cons-

tata-se que o curso se adequou bem às expectativas

do público inscrito, que considerou bom ou muito bom

o aprofundamento dos conteúdos. Também o aten-

dimento pelo secretariado e instalações merece-

ram qualificação muito positiva. Alguma debilidade

foi reconhecida na documentação distribuída e na es-

cassez de tempo dedicado ao debate, e em obser-

vações livres, houve quem sugerisse o fornecimento

de mais textos de apoio às temáticas das conferênci-

as.

Gráf. 2: Níveis de satisfação com o 8º Curso sobre

Ordens Militares

A análise dos resultados desta avaliação, um traba-

lho conjunto do Gabinete de Estudos e Qualidade e

do GEsOS, é fundamental para corrigir erros e ajustar

procedimentos, no pressuposto de uma permanente

melhoria da qualidade dos serviços prestados a to-

dos quantos escolhem participar nas acções do Ga-

binete de Estudos sobre a Ordem de Santiago.

André Amaro (Gabinete de Estudose Qualidade – C.M. Palmela)

Isabel Cristina F. Fernandes (GEsOS)

8

o público participante maioritário se situa nos grupos

etários dos 25-34 anos e dos 55-64 anos, que em

conjunto compõem mais de metade (53%) da amos-

tra, com ligeira predominância das mulheres (54%).

Em termos profissionais, a maioria encontra-se no

activo e possui habilitações ao nível do ensino supe-

rior, estando bem representados os técnicos de ar-

quivos e de museus (com relevo para os municipais),

os estudantes e os professores de História, quer de

escolas secundárias, quer de universidades, os in-

vestigadores de História e os guias-intérpretes. O gru-

po predominante provém do concelho de Lisboa

(31%), logo seguido do concelho de Setúbal (14%).

Se considerarmos a proveniência em termos de dis-

trito, mantém-se a primazia de Lisboa (57%), apesar

de agora se notar uma presença mais significativa de

inquiridos oriundos de Setúbal (43%). Mais de meta-

de deste público (54,3%) participou pela primeira vez

neste tipo de iniciativas, sendo que os restantes de-

clararam ser reincidentes na frequência dos cursos e

encontros quadrienais sobre Ordens Militares. Relati-

vamente às formas de divulgação, 42,9% teve co-

nhecimento da iniciativa por colegas, 25,7% através

de correspondência do GEsOS e 14,3% pela im-

prensa local.

Na análise dos objectivos de frequência desta acção

(Gráf. 1), verifica-se que a realização pessoal foi a maior

motivação para a frequência do curso, seguida da

valorização curricular e do estabelecimento de novos

contactos. Uma percentagem significativa demons-

trou interesse em visitar Palmela.

Gráf. 1: Motivações para a frequência do 8º curso

sobre Ordens Militares.

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em investigação

1PEREIRO PÉREZ, Xerardo - Turismo, Cultura e Património Cultural. 2004. [consult. Novembro, 2006], p.6

Disponível em home.utad.pt/~xperez/ficheiros/docencias/manual_de_turismo_cultural_2006_2007/GUIAO_DO_TEMA6.ppt2 PRATS, Llorenç - Antropologia y património. Barcelona: Ariel Antropologia, 2004. p. 20

3 ALARCÃO, Jorge “Post-modernismo e Arqueologia”, in D’ENCARNAÇÃO, José (Coord.) - As Oficinas da História. Coimbra: Edições

Colibri, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2002, p. 39-40

O passado confronta-se invariavel-

mente com o presente através do

legado que é transmitido de gera-

ção em geração. E, por legado, nes-

te contexto, entende-se o Patrimó-

nio Cultural de um povo que “ga-

rante a sobrevivência e a reprodu-

ção dos grupos sociais, mas tam-

bém conecta umas gerações com

outras através de um conjunto de

bens que são transmitidos”1.

O Património Cultural embora seja

uma expressão recorrente, comum-

mente utilizada por especialistas na

matéria, entidades culturais, asso-

ciações locais ou indivíduos anóni-

mos, a pretexto de reclamar identi-

dades com fundações na história e

na tradição, deriva de um conceito

complexo que tem dado azo, ao

longo dos tempos, a um debate ina-

cabado com vista a determinar a sua

definição: o que é, o que pode ser,

o que deveria ser, o que não é.

Segundo Prats, “o património é uma

construção social, um artifício, ideali-

zado por alguém, em algum lugar ou

momento, para determinados fins e

implica, finalmente, que é ou pode

ser historicamente alterado, de acor-

do com novos critérios ou interes-

ses”2. O património surge como uma

realidade continuamente construída

e (re)inventada. É uma objectificação

flutuante, vinculada pelo real vivido,

fruto de discursos e práticas que con-

cebem, criam, edificam e legitimam.

Neste aspecto, Alarcão refere as

“múltiplas versões ou interpretações

do passado, que todavia divergem

não tanto ao nível do conhecimento

dos dados, mas mais ao nível da sua

selecção tendo em vista a produção

de uma narrativa e, sobretudo, ao ní-

vel da explicação que se dá aos fac-

tos”3.

Trata-se de um processo de selec-

ção, negociação e confronto, mui-

tas vezes violento no sentido de que

toca também o campo dos afectos,

das memórias, de fazeres e sentires.

É a valorização de determinados sig-

nificados e representações em de-

trimento de outros tantos possí-

Museu e Território,múltiplas referênciase multivocalidades culturais

Quinta Pedagógica COI, Lagoa da Palha, 2008

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veis. É o resultado de uma acção

consciente que Integra e simulta-

neamente Exclui. E, durante este

processo, o presente constitui-se

pelo apelo ao passado, mas o pas-

sado é reconfigurado. “O passado

é pensado a partir do presente e

de acordo com critérios de selec-

ção e valoração determinantes em

cada época.”4. Trata-se de uma re-

lação incondicional entre dois tem-

pos distintos num processo com

três níveis de percursos que se cru-

zam permanentemente: o percur-

so da perda, da reinvenção e da

fabricação dos bens culturais.

Muitas vezes o que prevalece é a

procura do genuíno, da autentici-

dade e do exótico, como se deter-

minadas manifestações culturais ti-

vessem estancadas no tempo e

não sofressem transformações de

acordo com a própria dinâmica do

mundo.

Segundo Raposo, o recurso ao

passado tornou-se fundamental

porque se acredita que é nesta cro-

nologia que reside a autenticidade,

ainda inviolável pelo presente.

“Deste modo, a erosão de certos

traços culturais, aparentemente

provocados pelos novos ventos

oitocentistas da modernização, do

progresso e do desenvolvimento

tecnológico, surge, ao invés, poten-

ciados pelo interesse de círculos in-

telectuais em torno da (re)desco-

berta duma categoria essencial: a

cultura popular”5. O autor acres-

centa que esta última “ganha tanto

mais saliência social quanto se jul-

ga ameaçada a sua cultura pela vo-

ragem da modernidade”6. Trata-se

de uma relação de atracção entre

a globalização e a revitalização da

cultura popular. Prats acrescenta,

ainda, que o factor determinante do

Património Cultural é o seu carác-

ter simbólico, “a capacidade para

representar simbolicamente uma

identidade”7. E é esta possibilida-

de de fazer investir num objecto,

material ou imaterial, a identidade

de um grupo, que recursos e von-

tades são mobilizados dando lugar

à constituição de património. E este

não é um processo meramente téc-

nico, porque em muito contribui o

gostar, já que se tratam, também,

de afectos que impulsionam ac-

ções.

E é no território que reside a génese

de um discurso de conquista. O ter-

ritório é sempre uma construção de

um discurso a que está implícito um

espaço social comum, cujas fron-

teiras são resultado das dinâmicas

culturais que o criam e delimitam.

O território é mais do que um es-

paço geográfico, surge como o lu-

gar de “visitação” cultural (Raposo,

2002) que incorpora discursos e

práticas culturais. As identidades

configuram-se no território e o pró-

prio território humaniza-se nas iden-

tidades colectivas. É o lugar do abs-

tracto, mas também do concreto,

no sentido de que é na territo-

rialidade que as manifestações se

sucedem. É o cenário das perfor-

mances, o local da dramatização.

“As performances culturais tornam-

se verdadeiros cenários comunica-

tivos de identidades culturais dis-

tintivas, acentuando os aspectos de

unidade e comunhão de sentidos

identitários”8. As manifestações

estão na base das construções

identitárias porque as tornam visí-

veis, deslocando-as da memória

do passado para o presente vivido

e experiên-ciado.

MuseuOs museus são espaços privilegi-

ados para o estudo, salvaguarda e

promoção de Patrimónios e, con-

sequentemente, para as narrativas

que sobre eles se constroem. Con-

tribuem para reinventar sentidos,

representações, metáforas do

mundo real. Porque o museu cons-

trói o objecto, transforma-o em fun-

ção do olhar e da experiência.

Murphy, numa forte postura criti-

ca, apresenta-os como instituições

que desfiguram e reduzem as ma-

nifestações sociais e culturais a

conjuntos taxinómicos, sobretudo

pela forma como conceptualizam

o tempo. Fala das “transformações

historicamente tão transcendentes

[noção e ritmos de tempo que fo-

ram sendo alterados em função de

diferentes épocas da humanidade

– religiosa, industrial, económica]

para as sociedades humanas [que]

se viram reflectidas originariamen-

te nas representações do patrimó-

nio natural e cultural que ofereciam

os museus, os quais participaram

de forma directa na elaboração de

sistemas historiográficos e semió-

ticos destinados a interpretar tais

transformações.”9

Esta concepção do museu pare-

4 PEREIRO PÉREZ, Xerardo – Ob.cit., p.2

5 RAPOSO, Paulo - O papel das Expressões Performativas na Contemporaneidade. Identidade e Cultura Popular. Lisboa: ISCTE, 2002, p. 45

6 RAPOSO, Paulo - Ob.cit., p.47

7 PRATS, Llorenç - Ob.cit., p.22

8 RAPOSO, Paulo - Ob.cit., p.25

9 MURPHY, Bernice “Memória, Historia y Museos”, in UNESCO - Museum Internacional, Diversidad Cultural y Patrimonio, Vol LVII, n.º3/227,

2005, p. 66

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ce-nos demasiado sobreavaliada,

no sentido em que coloca como

responsabilidade destas institui-

ções a interpretação da socieda-

de. Não se tratando de instituições

isoladas do mundo que as rodeia,

cabe efectivamente ao museu, na

nossa perspectiva, fornecer leitu-

ras do mundo porém, é também

nossa opinião que a construção de

significações sobre o mundo não

se limita exclusivamente a estes

equipamentos culturais. Os discur-

sos sobre o património estão pre-

sentes no próprio território que, se-

gundo Cláudio Torres, “são marcos

de memória, numa paisagem forte-

mente humanizada, de uma memó-

ria local que, de certa forma, é a úni-

ca resistência.” 10

O programa museológico do Mu-

seu Municipal de Palmela não se

distancia do território que represen-

ta. Constituído por núcleos e exten-

sões, proprietário de espólio e local

de depósito de colecções particu-

lares, edifica-se em torno dos patri-

mónios locais. Para além dos Moi-

nhos Vivos, Espaço Fortuna e

CINZAMBU, estão na forja novos

protocolos com a Associação Re-

gional de Criadores de Ovinos Lei-

teiros da Serra da Arrábida (AR-

COLSA), de Quinta do Anjo, e com

o Centro de Ocupação Infantil (COI)

de Pinhal Novo.

A ARCOLSA (abrange os concelhos

de Palmela, Setúbal e Sesimbra),

criada em 1984, surgiu como asso-

ciação que visa a defesa e promo-

ção do Queijo de Azeitão. No de-

correr deste ano solicitou ao Museu

Municipal, apoio técnico para, num

trabalho de parceria, contribuir para

a valorização e objectificação deste

património. Os primeiros passos fo-

ram dados em Abril, no âmbito da

XIII edição do Festival do Queijo, Pão

e Vinho, em S. Gonçalo, com a inau-

guração da exposição de longa du-

ração: “Entre a Serra e o Céu: o

Maneio das ovelhas”.

Também no lugar da Laoa da Pa-

lha apoiamos a abertura de outra

extensão museológica. O COI, em

colaboração com o Museu Muni-

cipal, está a conceber uma Quinta

Pedagógica que tornará possível a

visita a uma casa de tipologia cara-

mela, com todos os artefactos que

a caracterizam; o sentir os cheiros

da terra e dos animais; o expe-

riênciar destes modos de vida ru-

rais.

No sentido de fornecer orientações

técnicas adequadas ao planeamen-

to da acção museológica, o Museu

Municipal está a conceber um Ma-

10 TORRES, Cláudio “A história local como Identidade”, in REIS, António (Coord.) - As Grandes Correntes Políticas e Culturais do Século XX,

Lisboa: Edições Colibri/ Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa,2003, p. 68

nual de Boas Práticas para distribuir

a estas duas extensões. Este do-

cumento, simplificado, tem como

objectivo ser uma apresentação

sumária, não exaustiva, das neces-

sidades básicas de um espaço

museológico, no tratamento e

manuseamento das colecções, as-

sim como no que diz respeito à pro-

gramação pedagógica em função

da especificidade dos públicos.

A ARCOLSA e o COI estão a cons-

tituir-se como espaços simbólicos

de partilha de conhecimentos. São

terrenos de pesquisa reivindicados

pela população e pela autarquia.

Neste território de múltiplas referên-

cias, novas narrativas impõem-se

aos sentidos, resultado de um pro-

cesso de descoberta da própria

comunidade local.

Este trabalho em parceria resultou

já no acordo prévio de que, no âm-

bito destes protocolos, as visitas a

ambos os espaços serão gratuitas

para os alunos do concelho de

Palmela.

Teresa SampaioAntropóloga,

Museu Municipal de Palmela

11

Page 12: Câmara Municipal de Palmela Editorial · de grande diversidade ao nível da flora e vegetação que os rebanhos se alimentam, através de um sistema de pastoreio definido com rigor,

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Actividade arqueológicaem Palmela, 2007/2008

Património Local

Respeitando a Arqueologia enquanto ciência social,

é importante divulgar, embora de forma bastante su-

cinta, alguns dos principais trabalhos desenvolvidos

pelo Serviço de Arqueologia da Câmara Municipal de

Palmela, em 2007-2008, contribuindo para uma mai-

or aproximação entre a comunidade local e o patri-

mónio arqueológico concelhio.

1. Arqueologia de PrevençãoAcompanhamento e EscavaçãoArqueológica do Edifício dos Paçosdo ConcelhoOs trabalhos desenvolvidos permitiram a identifica-

ção de um conjunto significativo de estruturas dos

períodos Moderno e Contemporâneo, destacando-

se um poço que durante os séculos XVIII-XIX e XX

terá funcionado como fossa de detritos, uma canali-

zação, um empedrado e um conjunto de muros que

compõem um compartimento de tendência rectan-

gular (anterior à estrutura seiscentista dos Paços do

Concelho). A análise do conjunto estrutural identifica-

do revelou que ocorreram sucessivas transformações

arquitectónicas na fase de transição dos séculos XVIII/

XIX e que culminaram com as reconstruções e obras

de adaptação do edifico seiscentista para albergar a

Câmara Municipal durante o século XX. Os resulta-

dos obtidos desvendaram um pouco mais sobre o

urbanismo da vila de Palmela durante os séculos XVII

a XIX. Actualmente o espólio recolhido nas interven-

ções está em fase de estudo e inventário, tendo sido

seleccionado um pequeno conjunto de peças para a

exposição “Palmela Arqueológica. Espaços,

Vivências, Poderes”. Encontra-se em realização o Re-

latório Final dos Trabalhos.

Trabalhos arqueológicos (sondagensde diagnóstico/acompanhamento)no Largo de S. João / Quinta da CercaRealização de sondagens de diagnóstico e acompa-

nhamento arqueológico no âmbito do projecto de re-

qualificação da Quinta da Cerca/Largo de S. João.

Estes trabalhos tinham por objectivo diagnosticar a

presença ou não de vestígios arqueológicos conser-

vados e conhecer a estratigrafia na área de afectação

do projecto de execução, permitindo a salvaguarda

do património arqueológico.

A área de Quinta da Cerca corresponde a um impor-

tante povoado do Neolítico Antigo Evolucionado que

se estabeleceu na plataforma da Serra de Palmela há

aproximadamente 8 000 anos, com absoluto domí-

nio visual do território sobre a Península de Setúbal e

o Estuário do Tejo. Constituindo a mais antiga ocu-

pação humana estudada no concelho de Palmela,

assume uma importância fundamental para a com-

preensão do período de transição das comunida-

des recolectoras/caçadoras para as comunidades

camponesas do Neolítico.

2. Projectos de Valorizaçãoe Dinamização PatrimonialProjecto Percursos Pedonaise Roteiros Culturais (Serra do Louro)Coordenação e acompanhamento dos trabalhos de

conservação e restauro nos arqueosítios do Alto da

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Queimada (alcaria muçulmana)1 e de Chibanes (po-

voado fortificado da pré e proto-história)2, no âmbito

do projecto de candidatura da Câmara Municipal de

Palmela ao programa de financiamento comunitário

Leader +, intitulado “Percursos Pedonais e Roteiros

Culturais (Serra do Louro)”. Em 2008 foi publicado o

roteiro “Percursos Pedonais e Roteiros Culturais: Serra

do Louro”, como complemento ao projecto.

Projecto Estudo e Recuperaçãodo Património Móvel do Concelhode PalmelaEstudo e restauro de espólio arqueológico e

etnográfico seleccionado do acervo museológico do

MMP3, no âmbito do projecto de candidatura ao pro-

grama de financiamento comunitário Leader+,

intitulado “Estudo e Recuperação do Património Mó-

vel Arqueológico e Etnográfico do Concelho de Palme-

la”. O espólio seleccionado encontra-se actualmente

em estudo.

Na exposição “Palmela Arqueológica. Espaços,

Vivências, Poderes” dão-se a conhecer alguns exem-

plares do espólio arqueológico restaurado.

3. ExposiçõesExposição:As Grutas Artificiaisde Casal do Pardo (Quinta do Anjo).Memória ArqueológicaExposição documental que recupera a memória ar-

queológica do monumento funerário, descrevendo as

intervenções e investigações realizadas. Os Sepul-

cros Neolíticos de Quinta do Anjo, simultaneamente

com as emblemáticas taças e pontas campaniformes

“tipo Palmela” constituem uma referência arqueoló-

gica internacional.

As imagens revelam uma amostra do extraordinário

espólio recolhido no monumento e que hoje se en-

contra depositado no Museu Nacional de Arqueolo-

gia e no Museu Geológico e Mineiro de Lisboa. As

Grutas Artificiais foram identificadas na 2ª metade do

séc. XIX e classificadas como Monumento Nacional

em 1934.

13

Exposição: Palmela Arqueológica. Es-paços, Vivências e PoderesExposição monográfica que pretende dar a conhecer

a investigação arqueológica realizada no concelho, dos

últimos vinte anos, compreendendo trabalhos de es-

cavação (com intervenções de continuidade associa-

das a projectos de investigação e outras de preven-

ção e emergência), prospecção no âmbito da Carta

Arqueológica do concelho, inventário, estudo de ma-

teriais e sítios, restauro, conservação e musealização.

Nesta exposição, a intenção é transmitir ao público a

dimensão desses valores materiais, resultado sobre-

tudo de duas décadas de investigação e o seu

contributo para o conhecimento do quotidiano das

populações que habitaram nesta região inter-

estuarina, desde a Pré-História até hoje, sensibilizan-

do para a leitura e a interpretação do documento ar-

queológico.

Desta iniciativa resultou a publicação do roteiro da

exposição.4

4. Gestão de ReservasReorganização do Serviçode Arqueologia(colecção arqueológica)No âmbito da reorganização das reservas do Museu

Municipal e da preparação da candidatura à Rede

Portuguesa de Museus, redefiniram-se algumas es-

tratégias de acondicionamento e conservação dos

materiais arqueológicos, prevendo a sua instalação

no novo espaço de reservas. Este novo processo de

organização das colecções por tipo de materiais, pro-

veniência, anos de recolha ou incorporação, sensibi-

lidade às condições ambientais e grau de fragilidade,

permitiu logo de imediato resolver problemas que se

colocavam diariamente como, a redução de espaço

físico, proporcionando uma optimização do espaço

destinado ao acondicionamento e reserva de espó-

lio; agilidade na localização do espólio quando pre-

tendido e uma rápida transição do acervo para o novo

espaço de reservas do Museu Municipal.

Michelle Teixeira SantosArqueóloga, C.M.Palmela

1 Trabalhos de restauro realizados por Palimpsesto – Estudo e Preservação do Património Cultural, Lda (Junho/Julho de 2008)

2 Os trabalhos de restauro foram executados pelo Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal.

3 Restauro do espólio arqueológico realizado pelo Campo Arqueológico de Mértola. O espólio etnográfico foi tratado e restaurado por Carlos

Alberto Marques.4 FERNANDES, I.C.F.; SANTOS, M. T. (2008) – Palmela Arqueológica. Espaços, Vivências, Poderes. Roteiro da exposição. Palmela: Câmara

Municipal de Palmela.

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CADA NÚMERO, UM JOGO... d’OUTROS TEMPOS

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Sites a consultar

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Dedicamos esta rubrica ao património associado à criação de ovinos e à produção de queijo de Azeitão.

http://www.acos.pt

http://www.ovinosecaprinos.com

http://www.inga.min-agricultura.pt/ajudas/agroamb/mra/regras.html

www.arcolsa.pt

http://www.azeitao.net/azeitao/queijo/index.htm

http://www.cm-palmela.pt/pt/conteudos/turismo/o+que+comer/queijo+de+azeitao

“Em rigor, a bilharda era um pau, geralmente redondo

ou arredondado (...). Intervinham dois adversários.

Assim, revestia-se de competição individual e não de

equipas (ao tempo, a palavra equipa apresentava-se

de demasiada finura para a linguagem de aldeia. Em

seu lugar dizia-se “Jogo de parceiros”).

A giz, carvão, ou mesmo com o pé em terreno movedi-

ço, traçava-se um círculo de, pouco mais ou menos,

um metro de diâmetro. Dentro desse círculo, denomi-

nado a roda, um dos jogadores munido duma pá de

madeira, ou “raquete” como se diria hoje, procurava

evitar cair aí a bilharda que o adversário atirava com a

mão.

Facilmente se compreende: um atacante, pretendia

que a bilharda, vinda pelo ar, pousasse no chão da

roda; ao outro, o defensor, competia impedir que isso

acontecesse, mas para tal não tinha outra alternativa

para além de a sacudir com a pá (...).

Quando o atacante (ou o de fora) concretizava o seu

intento, evidentemente alcançava a vitória e as posi-

ções trocavam-se. Havia outra ocasião que dava azo

ao mesmo resultado e consequente efeito, era quan-

do o de fora apanhava no ar a bilharda devolvida à

pazada pelo que se encontrava no interior do círculo

(...).

O jogo da bilharda foi praticado com muito entusias-

mo até por volta de 1937. A partir de então caiu em

desuso e actualmente ninguém o disputa. Oferece

certos riscos, dadas as possibilidades de uma

“bilhardada” na cabeça sobretudo na “viagem de de-

volução”. Todavia, hoje, poderia usar-se capacete pro-

tector...”

in FORTUNA, António Matos - Outros Tempos. Trabalhos e Diver-sões das Gentes de Palmela, Quinta do Anjo, Cabanas e Caramelos.Quando os Autores eram Rapazes Pequenos., Col. “Monografia dePalmela, nº4”, Palmela: Grupo dos Amigos do Concelho de Palmela,2002 (desenhos de Duarte Fortuna)

Em homenagem ao Prof. António Matos Fortuna

A Bilharda

Page 15: Câmara Municipal de Palmela Editorial · de grande diversidade ao nível da flora e vegetação que os rebanhos se alimentam, através de um sistema de pastoreio definido com rigor,

Ediçõesem destaque

15

Fundos documentaisespecializadospara consulta públicaem Palmela

GEsOSAAVV (Coord. VÁSQUEZ

POTOMEÑE, Antonio Segundo)

– A Grande Obra dos Caminhos

de Santiago. Iter Stellarum, Coruña:

Hércules de Ediciones, 2007.

12 volumes

ALMEIDA, Carlos; ALMEIDA, Pedro;

GONÇALVES, Mário – Caminhos

antigos e de peregrinação em

Penafiel, Penafiel: Câmara Municipal/

Museu, 2008

EDBURY, Peter; KALOPISSI-VERTI,

Sophia (Ed.) - Archaeology and the

Crusades. Proceedings of the

Round Table Nicosia 2005, Athens:

Pierides Foundation, 2007

Museu MunicipalBRUNO, Jorge A. Paulus (Coord.) –

Inventário do Património Imóvel

dos Açores. Flores. Santa Cruz, s/l:

DRC/Instituto Açoriano de Cultura/

Câmara Municipal de Santa Cruz das

Flores, 2008

PINTO, Evaristo J. de Jesus – O

Museu Municipal Manuel Soares de

Albergaria. Das origens à sua

formação, Carregal do Sal: Câmara

Municipal, 2008

SALVADOR, José A. – Portugal

Vinhos Cultura e Tradição. As rotas

dos vinhos de Palmela, do

Moscatel de Setúbal

e do Alentejo, Mem Martins: Círculo

de Leitores, 2006

a nãoesquecer… visitar a exposição

“Palmela Arqueológica.Espaços, Vivências, Poderes”até 18 de Maio de 2009HorárioDe 3ª feira a Domingo.Encerra à 2ª feira.Das 10h00 às 12h30

e das 14h00 às 18h00

…visitar a exposição

“Quinta do Anjo,80 Anos de Freguesia”na Sociedade de Instrução Musical,

durante a Festa de Todos-os-Santos

A exposição ficará patente

de Dezembro de 2008

a Dezembro de 2009

no Posto de Atendimento Municipal

em Quinta do Anjo

… visitar a exposição

“Rota dos Vinhosda Península de Setúbal:pela mão da Históriae da Memória”1 de Novembro de 2008

a 15 de Janeiro de 2009

Casa-Mãe Rota dos Vinhos

Largo S. João, Palmela

…participar no 9º Curso sobre Ordens Militares

«Ordens Militarese Religiosidade»Consultoria científica:

Prof. Doutor José Mattoso

Instituto de Estudos Medievais

da FCSH - Universidade Nova

de Lisboa

Janeiro/Fevereiro de 2009

(data a confirmar), Palmela

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Contactos:Divisão de Património Cultural - Museu MunicipalDepartamento de Cultura e Desportoda Câmara Municipal de PalmelaLargo do Município2951-505 PALMELA

Tel.: 212 338 180Fax: 212 338 189E-mail: [email protected]

Ficha TécnicaEdição: Câmara Municipal de PalmelaCoordenação Editorial: Chefia da Divisão de Património Cultural/Museu MunicipalColaboram neste número: André Amaro, Cristina Prata, Isabel Cristina F. Fernandes,Lúcio Rabão, Michelle Santos, Teresa SampaioDesign: Paulo CurtoFotografia: Museu Municipal de PalmelaImpressão: Armazém de Papéis do Sado, LdaCódigo de Edição: 365/08 - 3 000 exemplaresISBN: 927-8497-27-XDepósito Legal:196394/03

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Índice

Editorial

Em destaque… Patrimónios do concelho – o Maneio das ovelhas

À Memória de... António Antunes de Matos Fortuna

Nos Bastidores… O GEsOS e os cursos sobre Ordens Militares:um percurso e um balanço

Em investigação… Museu e Território, múltiplas referênciase multivocalidades culturais

Património Local… Actividade arqueológica em Palmela, 2007/2008

Sites a consultar | Cada número, um jogo... a Bilharda

Edições em destaque | a não esquecer

Faz parte integrante deste número uma separata com o documentoQuinta do Anjo em Imagens, nos 80 anos da Freguesia