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Universidade Federal de Minas Gerais Programa de Pós-Graduação em Educação Rutyele Ribeiro Caldeira CÁLCULO EM AÇÃO, MODELAGEM E PARCERIAS: possibilidades para aprendizagens expansivas em um contexto de formação em Engenharias Belo Horizonte 2014

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Page 1: CÁLCULO EM AÇÃO, MODELAGEM E PARCERIAS ......C146c T Caldeira, Rutyele Ribeiro, 1982- Cálculo em ação, modelagem e parcerias: possibilidades para aprendizagens expansivas em

Universidade Federal de Minas Gerais

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo

Rutyele Ribeiro Caldeira

CAacuteLCULO EM ACcedilAtildeO MODELAGEM E PARCERIAS

possibilidades para aprendizagens expansivas

em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias

Belo Horizonte

2014

Rutyele Ribeiro Caldeira

CAacuteLCULO EM ACcedilAtildeO MODELAGEM E PARCERIAS

possibilidades para aprendizagens expansivas

em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias

Tese apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Educaccedilatildeo da Faculdade de Educaccedilatildeo da

Universidade Federal de Minas Gerais como

requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutora

em Educaccedilatildeo

Linha de Pesquisa Educaccedilatildeo Matemaacutetica

Orientadora Profa Dra Jussara de Loiola Arauacutejo

Belo Horizonte

2014

C146c T

Caldeira Rutyele Ribeiro 1982- Caacutelculo em accedilatildeo modelagem e parcerias possibilidades para aprendizagens expansivas em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias Rutyele Ribeiro Caldeira - Belo Horizonte 2014 229 f enc il Tese - (Doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Educaccedilatildeo Orientadora Jussara de Loiola Arauacutejo Bibliografia f 220-229 1 Educaccedilatildeo -- Teses 2 Engenharia -- Estudo e ensino -- Teses 3 Engenheiros -- Ensino profissional -- Teses 4 Calculo -- Estudo e ensino -- Teses I Tiacutetulo II Arauacutejo Jussara de Loiola III Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Educaccedilatildeo CDD- 620007

Catalogaccedilatildeo da Fonte Biblioteca da FaEUFMG

Universidade Federal de Minas Gerais

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo

Tese intitulada ldquoCaacutelculo em accedilatildeo modelagem e parcerias possibilidades para aprendizagens

expansivas em um contexto de formaccedilatildeo em Engenhariasrdquo de autoria da doutoranda Rutyele

Ribeiro Caldeira aprovada pela banca examinadora constituiacuteda pelos seguintes professores

__________________________________________________

Profa Dra Jussara de Loiola Arauacutejo ndash ICExUFMG ndash orientadora

__________________________________________________

Profa Dra Maria Manuela Martins Soares David ndash FaEUFMG

__________________________________________________

Profa Dra Teresinha Fumi Kawasaki ndash FaEUFMG

__________________________________________________

Profa Dra Lourdes Maria Werle de Almeida ndash UEL

__________________________________________________

Profa Dra Sueli Liberatti Javaroni ndash UNESP

__________________________________________________

Prof Dr Francisco Acircngelo Coutinho ndash FaEUFMG ndash suplente

__________________________________________________

Prof Dr Dilhermando Ferreira Campos ndash UFOP ndash suplente

Belo Horizonte 27 de agosto de 2014

A Deus

aos meus pais Joseacute e Mirnaacute

ao meu amor Luciano e

ao priacutencipe da minha vida ndash

meu filho Matheus

Com muito amor

AGRADECIMENTOS

A Deus Pai de toda bondade compaixatildeo amor e sabedoria criador de nossas

vidas do ceacuteu e da terra parceiro de todos os momentos poderoso mestre dos mestres rei dos

reis Obrigada por ter me permitido chegar ateacute aqui por ter me dado forccedilas nos momentos

difiacuteceis

Agrave professora Jussara de Loiola Arauacutejo por toda orientaccedilatildeo pelos encontros e

desencontros pelos debates pelas possibilidades de formaccedilatildeo como pesquisadora por ter sido

tatildeo compreensiacutevel nos momentos difiacuteceis e por ter me ajudado a superaacute-los

Aos membros da banca de qualificaccedilatildeo professoras Manuela Martins Soares

David e professora Lourdes Maria Werle de Almeida pela leitura e importantes

contribuiccedilotildees sugestotildees

Ao professor Orlando Aguiar Filho por ter sido parecerista do meu projeto de

pesquisa

Aos membros do Grupo de Pesquisa e Estudos Histoacuterico-Culturais em Educaccedilatildeo

Matemaacutetica e em Ciecircncias do qual faccedilo parte desde o ano de 2010 por terem me ajudado na

construccedilatildeo de entendimentos acerca da Teoria da Atividade e por terem contribuiacutedo com

criacuteticas e sugestotildees para o desenvolvimento desta pesquisa

A todos os professores que tive em minha vida em especial aos professores

Oliacutempio Hiroshi Miyagaki e Margareth Alves por me ensinarem muitas matemaacuteticas e por

terem me motivado a seguir nos estudos de poacutes-graduaccedilatildeo

Agrave querida professora Rosilene Horta Tavares por ter me ajudado a entender

melhor a sociedade atual e as relaccedilotildees que nela estatildeo permeadas

Agrave querida amiga Nilza Helena por ter sido tatildeo companheira e por ter cuidado de

Matheus no estacionamento da FaE com tanto carinho e amor enquanto eu assistia agraves aulas

Ao meu marido Luciano Nascimento Moreira por ter sido tatildeo amoroso

carinhoso e paciente e por me trazer tantas felicidades Muito obrigada Eu te amo demais da

conta

Ao meu filho Matheus Caldeira Moreira por ter sido tatildeo compreensiacutevel nos

momentos que precisava me dedicar agrave tese e por me trazer tantas alegrias Mamatildee te ama

muito priacutencipe

Aos meus pais Joseacute Caldeira e Mirnaacute Caldeira (in memoriam) pelo apoio e amor

incondicional Sei que sempre estiveram e sempre estaratildeo me abenccediloando onde quer que

estejam ndash na terra ou no ceacuteu

Agrave minha irmatilde gecircmea Josyele Ribeiro Caldeira por ser tatildeo companheira e

presente em minha vida e pelos momentos de debates teoacutericos

Aos meus queridos filhos adotivos Anina Cristina Darinha Cristina e Sininho

Cristina pela incansaacutevel companhia ateacute altas horas da madrugada sempre alegrando os

momentos de intenso estudo

Agrave querida amiga Margarete von Muumlhlen Poll pela revisatildeo do projeto de

doutorado

Agrave professora Maria da Conceiccedilatildeo por ter me aceitado no ano de 2010 como aluna

de disciplina isolada

A todos os colegas e professores da Faculdade de Educaccedilatildeo da UFMG pelo

compartilhamento de saberes e experiecircncias

Aos servidores da secretaria da Poacutes-Graduaccedilatildeo da Faculdade de Educaccedilatildeo da

UFMG pela disponibilidade e atenccedilatildeo

Aos professores e alunos da UNIFEI-Itabira pela colaboraccedilatildeo e dedicaccedilatildeo agrave

construccedilatildeo dos dados desta pesquisa

Aos colegas do grupo de orientaccedilatildeo por terem me recebido de braccedilos abertos e

por sempre me ajudarem nas leituras e criacuteticas dos meus textos

As minhas amigas de infacircncia Graziela Fernanda Maxi Luciana e Vacircnia por

terem sido tatildeo compreensivas nos momentos de isolamento social e por sempre acreditarem

em nossa amizade

A minha cunhada Luciana Nascimento Moreira pelo apoio incondicional e por ter

nos abrigado em BH

A todos vocecircs agradeccedilo imensamente

Valeu

Adeacutelia Prado

Com licenccedila poeacutetica

Quando nasci um anjo esbelto

desses que tocam trombeta anunciou

vai carregar bandeira

Cargo muito pesado pra mulher

esta espeacutecie ainda envergonhada

Aceito os subterfuacutegios que me cabem

sem precisar mentir

Natildeo sou tatildeo feia que natildeo possa casar

acho o Rio de Janeiro uma beleza e

ora sim ora natildeo creio em parto sem dor

Mas o que sinto escrevo Cumpro a sina

Inauguro linhagens fundo reinos

mdash dor natildeo eacute amargura

Minha tristeza natildeo tem pedigree

jaacute a minha vontade de alegria

sua raiz vai ao meu mil avocirc

Vai ser coxo na vida eacute maldiccedilatildeo pra homem

Mulher eacute desdobraacutevel Eu sou

RESUMO

Esta tese apresenta a gecircnese e o desenvolvimento de uma pesquisa que buscou compreender

as possibilidades de aprendizagens expansivas que podem ser evidenciadas nas e pelas

atividades desenvolvidas por um Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica -

GEPMM em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias Ancorada nos aportes da teoria

histoacuterico-cultural da atividade e da aprendizagem expansiva a investigaccedilatildeo objetivou o

estabelecimento de um diaacutelogo com teoacutericos que discutem Modelagem na Educaccedilatildeo

Matemaacutetica focando nos contextos de formaccedilatildeo em Engenharia Os desdobramentos da

pesquisa foram norteados pela abordagem qualitativa por meio de uma intervenccedilatildeo formativa

proposta por Engestroumlm e Sannino (2010b) caracterizada pela constituiccedilatildeo do GEPMM que

se engendrou baseado na premissa de que os conteuacutedos das disciplinas de Caacutelculo ocupam

lugar de ferramentas ou instrumentos necessaacuterios para a formaccedilatildeo em Engenharia ndash um

Caacutelculo em accedilatildeo Com isso o GEPMM se configurou como um espaccedilo formativo alternativo

A construccedilatildeo dos dados para a presente investigaccedilatildeo se deu por meio de observaccedilotildees

entrevistas registro de diaacuterio de campo e mensagens eletrocircnicas O processo de anaacutelise e

interpretaccedilatildeo dos dados construiacutedos foi desenvolvido com base no proacuteprio processo de

constituiccedilatildeo do GEPMM como um ciclo de accedilotildees potencialmente expansivas

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b) que possibilitou o preenchimento da ldquomatrizrdquo para

anaacutelise da aprendizagem expansiva (ENGESTROumlM 2001) Os dados construiacutedos fizeram

emergir quatro modalidades analiacuteticas A constituiccedilatildeo do referido espaccedilo formativo

alternativo ndash GEPMM - ampliou as possibilidades de interaccedilotildees entre os sujeitos e os

respectivos objetos de suas muacuteltiplas atividades possibilitando aprendizagens expansivas que

se manifestaram como 1) transposiccedilatildeo de fronteiras e construccedilatildeo de redes ndash parcerias 2)

movimento na zona de desenvolvimento proximal da atividade docente-discente 3)

transformaccedilotildees qualitativas do objeto da atividade de modelagem matemaacutetica 4) ciclos de

accedilotildees potencialmente expansivas Ao analisar a referida intervenccedilatildeo formativa observa-se

ainda subsiacutedios necessaacuterios para considerar que o engajamento nas atividades do GEPMM

pode de fato representar significativas contribuiccedilotildees para a formaccedilatildeo continuada de

professores em suas proacuteprias praacuteticas ampliando assim os respectivos horizontes de atuaccedilatildeo

nas mais diversas dimensotildees cotidianas de trabalho

Palavras-Chave Teoria da Atividade Aprendizagem Expansiva Modelagem Matemaacutetica

Educaccedilatildeo em Engenharia Caacutelculo em Accedilatildeo Parcerias

ABSTRACT

This thesis presents the genesis and development of a research aimed to understand the

possibilities of expansive learning that can be evidenced in and by the activities developed by

a Group of Studies and Research in Mathematical Modeling - GSRMM in a context of

formation in Engineering Anchored in the contributions of the Historical-Cultural Activity

Theory and Expansive Learning this research aimed to establish a dialogue with theorists

who argue Modeling in Mathematics Education focusing on formation contexts in

Engineering The developments of the research were guided by the qualitative approach

through a formative intervention proposed by Engestroumlm and Sannino (2010) characterized

by the constitution of GSRMM in the context of formation in Engineering The GSRMM it

engender based on the premise that the disciplines of Calculus take place of tools or

instruments necessary for formation in Engineering - A calculus in action With this the

GSRMM appears as an alternative formation space in the context of formation in

Engineering The construction of the data for this research was happened by observations

interviews record field diary and email messages The process of analysis and interpretation

of data built was developed based on the process of formation of GSRMM as a potentially

expansive cycle of actions (ENGESTROM SANNINO 2010) which enabled the completion

of the matrix for the analysis of the expansive learning (ENGESTROM 2001) The data

constructed made emerge four analytical methods in an attempt to understand the possibilities

of expansive learning which can be evidenced in and by a GSRMM activities in the context

of formation in Engineering The constitution of that alternative formation space (GSRMM)

expanded the possibilities of interactions between subjects and their objects of its multiple

activities enabling expansive learning which manifested as 1) across boundaries and

building networks - partnerships 2) move the zone of proximal development of teacher-

student activity 3) qualitative transformations of the object of the activity of mathematical

modeling 4) cycles of potentially expansive actions Analyzing this formation intervention it

is observed also grants necessary to consider that engaging in activities GSRMM may

indeed represent an important role in the continuing education of teachers in their own

practices thus expanding their horizons of action in various dimensions of everyday work

Keywords Activity Theory Expansive Learning Mathematical Modeling Education in

Engineering Calculus in Action Partnerships

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 ndash A estrutura de um sistema de atividade humana 36

FIGURA 2 ndash Os interdependentes sistemas de atividade de estudantes e professor 38

FIGURA 3 ndash Sumaacuterio da generalizaccedilatildeo teoacuterica de Davydov 48

FIGURA 4 ndash Sequecircncia de accedilotildees de aprendizagem em um ciclo de aprendizagem

expansiva 57

FIGURA 5 ndash Os interdependentes sistemas de atividade de estudantes e professor(es)

engajados em atividades (escolares) de Modelagem Matemaacutetica 86

FIGURA 6 ndash Visualizaccedilatildeo da caixa-preta e suas possiacuteveis associaccedilotildees a outras caixas-

pretas 93

Tabela 1 - Matriz para anaacutelise da aprendizagem expansiva 106

FIGURA 7 ndash Paacutegina inicial site UNIFEI-Itabira 109

FIGURA 8 ndash Interconectados sistemas de atividade de professores e estudantes que tem

como objeto a apresentaccedilatildeo dos conteuacutedos do livro de Caacutelculo 125

QUADRO 1 ndash ldquoEquaccedilotildees utilizadas para o caacutelculo do gasto energeacutetico (GET) segundo a

teacutecnica da aacutegua duplamente marcadardquo 146

QUADRO 2 ndash ldquoMatrizrdquo para anaacutelise da aprendizagem expansiva 169

SUMAacuteRIO

SUMAacuteRIO 12

INTRODUCcedilAtildeO A GEcircNESE E OS DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA 13

Consideraccedilotildees iniciais necessaacuterias agrave formulaccedilatildeo da pesquisa 13

Desdobramentos da proposiccedilatildeo da pesquisa 21

Estrutura da tese 27

1 ATIVIDADES FORMATIVAS Agrave LUZ DA TEORIA HISTOacuteRICO- CULTURAL DA

ATIVIDADE E DA APRENDIZAGEM EXPANSIVA 29

11 Meacutetodo da ascensatildeo do abstrato ao concreto de Davydov 45

12 A participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima de Lave 48

13 Aprendizagem expansiva 49

2 CAacuteLCULO E MODELAGEM NA ENGENHARIA CONCEPCcedilOtildeES

PERSPECTIVAS E A ATUAL FORMACcedilAtildeO DO ENGENHEIRO 62

21 Diretrizes Curriculares para a formaccedilatildeo de engenheiros no Brasil 62

22 Caacutelculo em cursos de Engenharia 65

23 Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica concepccedilotildees e perspectivas 70

24 Revisatildeo de literatura sobre pesquisas de Modelagem em Caacutelculo na Educaccedilatildeo em

Engenharia delineando o espaccedilo da presente pesquisa 78

25 Concepccedilatildeo de uma atividade de Modelagem Matemaacutetica assumida em um contexto

de formaccedilatildeo em Engenharias 82

26 Abertura de caixas-pretas como accedilotildees estrateacutegicas com vistas agraves possibilidades de

aprendizagens expansivas relacionadas agraves transformaccedilotildees do objeto de uma atividade de

Modelagem Matemaacutetica 87

3 METODOLOGIA DE PESQUISA E PROCEDIMENTOS 97

31 Por que a abordagem eacute qualitativa 97

32 Qual eacute o contexto e quem satildeo os sujeitos 100

33 Quais foram os procedimentos de construccedilatildeo dos dados 102

331 A constituiccedilatildeo do GEPMM e observaccedilatildeo participante em suas atividades 102

332 As entrevistas iniciais e as finais com os integrantes do GEPMM 104

34 Quais instrumentos foram usados para a anaacutelise 105

35 A formaccedilatildeo do GEPMM pode ser caracterizada como uma intervenccedilatildeo formativa

106

36 O contexto institucional e as aulas de Caacutelculo 108

37 As atividades do GEPMM e os sujeitos envolvidos 111

371 Angel 112

372 Clarice 116

373 Robson 117

374 Taty 119

375 Joseacute 120

376 Pedro 121

4 OS DADOS CONSTRUIacuteDOS E ANALISADOS A CONSTITUICcedilAtildeO DO GEPMM

COMO CICLO DE ACcedilOtildeES POTENCIALMENTE EXPANSIVAS 124

41 Constituiccedilatildeo do GEPMM possibilidades para aprendizagens expansivas 126

411 Interrogatoacuterio 126

412 Anaacutelise da situaccedilatildeo 129

413 Modelagem 132

414 Examinando o novo modelo 133

415 Implementando o novo modelo ndash o GEPMM 136

4151 Os encontros 137

41511 Primeiro encontro 137

41512 Segundo encontro 140

41513 Terceiro encontro 144

41514 Quarto encontro 147

41515 Quinto encontro 149

41516 Sexto encontro 152

41517 Seacutetimo encontro 153

41518 Oitavo encontro 154

41519 Nono encontro 159

415110 Deacutecimo encontro 164

4152 Dando continuidade agraves accedilotildees potencialmente expansivas 166

416 Refletindo sobre o processo 166

417 Consolidando seus resultados em uma nova forma de praacutetica 168

5 MODALIDADES ANALIacuteTICAS 170

51 Primeira modalidade ndash Dialeacutetica da existecircncia da tela invisiacutevel GEPMM como

possibilidade para aprendizagem expansiva por meio da construccedilatildeo de parceria

docente-discente em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias 171

52 Segunda modalidade ndash Os sujeitos a multi-agency e as muacuteltiplas atividades

possibilidade para aprendizagem expansiva como movimento na zona de

desenvolvimento proximal das atividades docente-discente mediante a formaccedilatildeo de

parcerias 178

53 Terceira modalidade ndash Modelagem e a caixa-preta do ldquopeso corporal idealrdquo num

contexto de formaccedilatildeo em Engenharias do Caacutelculo em accedilatildeo agraves aprendizagens expansivas

como transformaccedilotildees qualitativas do objeto da atividade 189

54 Quarta modalidade ndash Multivocalidade e agency evidenciadas pelas interaccedilotildees

tecnomediadas em atividades de Modelagem Matemaacutetica idealizaccedilotildees desencadeadoras

de aprendizagens potencialmente expansivas em um contexto de formaccedilatildeo em

Engenharias 210

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 218

13

INTRODUCcedilAtildeO A GEcircNESE E OS DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA

Neste capiacutetulo procuro delimitar os objetivos e a relevacircncia desta pesquisa a

partir de reflexotildees que surgiram da minha experiecircncia como professora das disciplinas de

Caacutelculo que compotildeem as grades curriculares dos cursos de Engenharia das minhas leituras a

respeito dos processos de ensino e de aprendizagem das disciplinas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia e das leituras proporcionadas pela minha inserccedilatildeo em grupos de estudos e

pesquisa1

Consideraccedilotildees iniciais necessaacuterias agrave formulaccedilatildeo da pesquisa

Atuo como docente do Centro Federal de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica de Minas Gerais

(CEFET-MG) Unidade Timoacuteteo (MG) desde janeiro de 2009 Nessa instituiccedilatildeo sou

responsaacutevel por lecionar disciplinas de Caacutelculo que compotildeem a grade curricular do curso de

Engenharia de Computaccedilatildeo

As disciplinas de Caacutelculo que geralmente compotildeem as grades curriculares dos

cursos de Engenharia perfazem conteuacutedos de uma aacuterea da Matemaacutetica chamada de Caacutelculo

Diferencial e Integral que abarca toacutepicos relacionados ao estudo de funccedilotildees de uma ou vaacuterias

variaacuteveis e vetoriais assim como limites derivadas integrais de funccedilotildees de uma ou vaacuterias

variaacuteveis reais e suas respectivas aplicaccedilotildees2 No CEFETndashMGTimoacuteteo por exemplo tais

conteuacutedos satildeo estudados nas disciplinas de Caacutelculo I e II Aleacutem delas a disciplina de Caacutelculo

III engloba os conteuacutedos das Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias e a disciplina de Caacutelculo IV

engloba os conteuacutedos de Sequecircncias Seacuteries e Transformada de Fourier Jaacute na Universidade

Federal de Itajubaacute em Itabira (UNIFEI-Itabira) as disciplinas que se dedicam a estudar os

conteuacutedos apontados anteriormente satildeo chamadas de Matemaacutetica ndash 0 I III IV V VI Os

1 Grupo de Pesquisa e Estudos Histoacuterico-Culturais em Educaccedilatildeo Matemaacutetica e Ciecircncias da Faculdade de

Educaccedilatildeo (FaE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Grupo de Estudos e Pesquisa em Educaccedilatildeo

Matemaacutetica Modelagem e Tecnologias do Departamento de Matemaacutetica da UFMG 2 Com isso no presente texto quando me refiro agraves disciplinas de Caacutelculo em um contexto de formaccedilatildeo em

Engenharia estou fazendo referecircncia a qualquer disciplina eou conteuacutedos que satildeo englobados nas respectivas

grades curriculares eou ementas que se destinam ao estudo dos toacutepicos apontados no paraacutegrafo anterior

incluindo portanto os conteuacutedos de Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias Sequecircncias Seacuteries e Transformada de

Fourier

14

conteuacutedos de Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias por exemplo satildeo estudados no Caacutelculo III do

CEFET-MGTimoacuteteo e na Matemaacutetica IV da UNIFEI-Itabira

No primeiro semestre de 2009 lecionei a disciplina Caacutelculo I para os ingressantes

do curso de Engenharia de Computaccedilatildeo do CEFET-MG Unidade Timoacuteteo Em muitos

momentos durante o desenvolvimento dessa disciplina os alunos questionavam acerca da

relevacircncia da referida disciplina para a formaccedilatildeo do engenheiro contemporacircneo Eles

questionavam o real objetivo da disciplina e sempre se mostravam desmotivados em aprender

os conteuacutedos Reclamavam que natildeo tinham a formaccedilatildeo Matemaacutetica Baacutesica necessaacuteria para a

compreensatildeo dos conceitos do Caacutelculo que para eles eram muito difiacuteceis de serem

compreendidos Uma fala ainda era recorrente nos diaacutelogos que ocorriam durante as aulas a

possibilidade de uso dos softwares matemaacuteticos como algo que pudesse ldquosubstituirrdquo o estudo

tradicional do Caacutelculo o que para eles poderia minimizar os esforccedilos de aprendizagem

Dullius Arauacutejo e Veit (2011 p 18) enfatizam que tais questionamentos satildeo frequentemente

apontados por alunos dos cursos de Engenharia Nas palavras das autoras

Trabalhando haacute 10 anos com o ensino de Caacutelculo Diferencial e Integral nos cursos

de Engenharia (de Computaccedilatildeo de Automaccedilatildeo e Controle de Produccedilatildeo e

Ambiental) e Quiacutemica Industrial notamos a insatisfaccedilatildeo dos alunos por natildeo

perceberem importacircncia desse conteuacutedo para o seu curso A cada nova turma

repetem-se os questionamentos por que fazer a matildeo essas contas enormes se

existem maacutequinas para isso Por que ldquodecorarrdquo tantas foacutermulas se o dia que precisar

posso buscar em livros ou na internet Por que preciso saber tudo isto afinal

Naquele semestre de 2009 optei por utilizar um trabalho de aplicaccedilatildeo3 realizado

em dupla como uma das formas de avaliaccedilatildeo da disciplina No trabalho objetivei que o

Caacutelculo pudesse assumir um sentido mais uacutetil no curso de Engenharia o que a meu ver

poderia possibilitar um menor distanciamento entre os conceitos do Caacutelculo e as demais

disciplinas que compotildeem a grade curricular dos cursos de Engenharia Sendo assim os

motivos pelos quais essa disciplina estaacute presente nos cursos de Engenharia poderiam se tornar

mais ldquovisiacuteveisrdquo ou perceptiacuteveis para os alunos Aleacutem disso aquele trabalho foi tambeacutem uma

tentativa de mostrar aos alunos que os conceitos estudados na disciplina eram realmente

importantes e necessaacuterios para a formaccedilatildeo do engenheiro e mais do que isso para sua

formaccedilatildeo cidadatilde

3 Pedi que eles procurassem e encontrassem algum problema oriundo de qualquer aacuterea natildeo Matemaacutetica que

pudesse ser solucionado com o auxiacutelio do conteuacutedo abordado naquela disciplina durante o semestre letivo Tal

problema deveria ser de interesse dos alunos que formavam a dupla e se possiacutevel que tivesse alguma relaccedilatildeo ao

curso de Engenharia da Computaccedilatildeo ndash contexto de formaccedilatildeo em questatildeo

15

Poreacutem meus objetivos foram parcialmente satisfeitos A proposta do trabalho

consistia na procura de um problema de natureza natildeo Matemaacutetica que pudesse ser resolvido

por meio da Matemaacutetica e que a soluccedilatildeo fosse interpretada por meio da linguagem do mundo

real Os alunos tinham a liberdade de procurarem inclusive problemas que jaacute estivessem

resolvidos em algum livro ou site restando apenas a tarefa de entender o problema sua

respectiva soluccedilatildeo e apresentar o entendimento no dia estipulado para tal Contudo os alunos

apresentaram dificuldades para a realizaccedilatildeo do trabalho Alguns deles sugeriram que o

trabalho fosse cancelado e que a nota fosse atribuiacuteda agrave uacuteltima prova da disciplina Muitos

apresentaram dificuldades de entendimento quanto ao processo de formulaccedilatildeo do problema

em termos matemaacuteticos (construir expressotildees matemaacuteticas que representassem o problema)

Para eles depois de encontrar a ldquofoacutermulardquo a dificuldade desaparecia pois bastava aplicar

algum meacutetodo ou teacutecnica jaacute estudados na disciplina como por exemplo derivar ou integrar

uma funccedilatildeo

Naquele momento percebi que os alunos demonstravam dificuldades em

matematizar problemas de outras realidades ou seja (re)formular e resolver o problema

matematicamente interpretando sua soluccedilatildeo natildeo apenas matematicamente mas sobretudo no

contexto do qual o problema se originou Desde entatildeo comecei a pensar o que poderia ser

feito para tentar sanar tais dificuldades

Com base em minha experiecircncia como professora de Caacutelculo em cursos de

Engenharia fiquei instigada em compreender qual seria o papel do uso das aplicaccedilotildees de

Caacutelculo na formaccedilatildeo do engenheiro aleacutem de conhecer outras estrateacutegias metodoloacutegicas que

poderiam ser utilizadas para promover uma aprendizagem que possibilitasse a motivaccedilatildeo dos

estudantes por meio da busca pelo entendimento dos conceitos da disciplina focando o

aspecto do uso de tais conceitos em situaccedilotildees oriundas de realidades que natildeo fossem

puramente matemaacuteticas Busquei entatildeo por leituras que pudessem me ajudar nessa

caminhada

Ainda em 2009 visando minimizar as inquietaccedilotildees vividas por mim nas aulas de

Caacutelculo que ministrava no curso de Engenharia de Computaccedilatildeo li alguns artigos e relatos de

experiecircncia Estudei tambeacutem o livro Ensino-aprendizagem com modelagem matemaacutetica

uma nova estrateacutegia de Rodney Bassanezi (BASSANEZI 2006) No referido livro a

Modelagem Matemaacutetica pode ser compreendida como a

arte de transformar problemas da realidade em problemas matemaacuteticos e resolvecirc-los

interpretando suas soluccedilotildees na linguagem do mundo real [] A modelagem

pressupotildee multidisciplinariedade E nesse sentido vai ao encontro das novas

16

tendecircncias que apontam para a remoccedilatildeo de fronteiras entre as diversas aacutereas de

pesquisa (BASSANEZI 2006 p 16)

Aleacutem disso Bassanezi (2006 p 17) afirma que ldquoa modelagem matemaacutetica em

seus vaacuterios aspectos eacute um processo que alia teoria e praacutetica motiva seu usuaacuterio na procura do

entendimento da realidade que o cerca e na busca de meios para agir sobre ela e transformaacute-

lardquo

A Modelagem Matemaacutetica realizada em contextos de Educaccedilatildeo Matemaacutetica difere

da Modelagem Matemaacutetica praticada por profissionais da Matemaacutetica Aplicada Barbosa

(2003) por exemplo entende que a sala de aula configura um ambiente mais complexo onde

inuacutemeras variaacuteveis estatildeo em jogo tais como os objetivos pedagoacutegicos a dinacircmica de trabalho

e a natureza das discussotildees matemaacuteticas Arauacutejo (2002) por sua vez destaca que para os

matemaacuteticos aplicados o trabalho com Modelagem Matemaacutetica tem por objetivo resolver

algum problema natildeo matemaacutetico enquanto no acircmbito da Educaccedilatildeo Matemaacutetica seu objetivo

principal se concentra na formaccedilatildeo matemaacutetica dos alunos ao serem convidados a explorar

matematicamente situaccedilotildees natildeo matemaacuteticas

Um dos argumentos favoraacuteveis agrave inserccedilatildeo da Modelagem4 nas praacuteticas de ensino

mais apresentado pelos estudiosos da aacuterea de Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica consiste

na preparaccedilatildeo para a utilizaccedilatildeo da matemaacutetica em diferentes aacutereas ou seja ldquoos alunos teriam

a oportunidade de desenvolver a capacidade de aplicar matemaacutetica em diversas situaccedilotildees o

que eacute desejaacutevel para moverem-se no dia-a-dia e no mundo do trabalhordquo (BARBOSA 2003 p

3) Considerando minha atuaccedilatildeo como docente das disciplinas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia percebi que a Modelagem Matemaacutetica poderia ser utilizada na tentativa de

propiciar uma melhor formaccedilatildeo matemaacutetica em termos de aplicabilidadeusabilidade para os

alunos de Engenharia respondendo assim aos questionamentos dos alunos sobre os papeacuteis

de tais conteuacutedos na respectiva formaccedilatildeo profissional

No primeiro semestre de 2010 com a intenccedilatildeo de elaborar um projeto de

doutorado que visasse agrave compreensatildeoanaacutelise das possibilidades de ensino-aprendizagem por

meio da Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia procurei por disciplinas oferecidas

pelo programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da UFMG especificamente da linha da

Educaccedilatildeo Matemaacutetica Cursei uma disciplina da linha Educaccedilatildeo Matemaacutetica denominada

Letramento e Numeramento teorias e praacuteticas Nessa disciplina pude refletir acerca de

questotildees relacionadas agrave Educaccedilatildeo Matemaacutetica o que me ajudou a construir o projeto

4 No texto que segue agraves vezes o termo Modelagem seraacute utilizado com referecircncia agrave Modelagem Matemaacutetica

apenas para evitar repeticcedilotildees desnecessaacuterias

17

requerido para o ingresso no Programa da mesma instituiccedilatildeo Participei do processo seletivo e

em agosto de 2010 ingressei no doutorado No projeto inicial a pergunta diretriz era5

De que forma a Modelagem Matemaacutetica aliada a recursos computacionais pode inter-

relacionar a disciplina de Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias6 agraves demais disciplinas

lsquoteacutecnicasrsquo dos cursos de Engenharia

Em todo o ano de 2010 lecionei a disciplina Caacutelculo III que no CEFET-MG

engloba os conteuacutedos das Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias (EDOs) Minha preocupaccedilatildeo

inicial estava focada na inter-relaccedilatildeo da disciplina EDO com as demais disciplinas

denominadas teacutecnicas dos cursos de Engenharia Meu entendimento estava alicerccedilado na

concepccedilatildeo de que as EDOs satildeo por definiccedilatildeo aplicaccedilotildees dos conteuacutedos do Caacutelculo I ndash

limites derivadas e integrais de funccedilotildees reais de uma variaacutevel real Conforme Habre (2002 p

2) ldquoEquaccedilotildees Diferenciais satildeo lindas aplicaccedilotildees de ideias e teacutecnicas do Caacutelculo para

solucionar vaacuterios problemas da vida realrdquo7 Tinha tambeacutem a intenccedilatildeo de considerar a

utilizaccedilatildeo de recursos tecnoloacutegicos computacionais em trabalhos com Modelagem

Matemaacutetica jaacute que ldquohaacute uma certa harmonia na parceria entre a Modelagem Matemaacutetica e

tecnologias informaacuteticas Parece haver uma solicitaccedilatildeo natural pelo uso de computadores eou

calculadoras quando se estaacute desenvolvendo algum trabalho de Modelagem Matemaacuteticardquo

(ARAUacuteJO 2002 p 43)

A maioria dos livros didaacuteticos8 atuais que trata das EDOs as concebe como entes

matemaacuteticos abstratos que podem ser aplicados em vaacuterios ramos da ciecircncia Os autores em

5 ldquoUm dos momentos cruciais no desenvolvimento de uma pesquisa eacute o estabelecimento da pergunta diretriz Eacute

ela que como o proacuteprio nome sugere iraacute dirigir o desenrolar de todo o processo [] elaborar ou melhor

construir uma pergunta diretriz eacute um ponto crucial do qual depende o sucesso da pesquisa [] O processo de

construccedilatildeo da pergunta diretriz de uma pesquisa eacute na maioria das vezes um longo caminho cheio de idas e

vindas mudanccedilas de rumos retrocessos ateacute que apoacutes um certo periacuteodo de amadurecimento surge a pergunta

Um grande problema que percebemos em diversas pesquisas eacute que muitas vezes o caminho natildeo eacute apresentado

pelo autorrdquo (ARAUacuteJO BORBA 2006 p 29 grifo do autores) 6 Na ocasiatildeo da elaboraccedilatildeo do projeto de doutorado estava focada apenas em compreender a Modelagem em

cursos de Engenharia em termos da disciplina Caacutelculo III do CEFET-MG que engloba os conteuacutedos das

Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias que podem ser compreendidas da seguinte forma ldquouma equaccedilatildeo que conteacutem

as derivadas ou diferenciais de uma ou mais variaacuteveis dependentes em relaccedilatildeo a uma ou mais variaacuteveis

independentes eacute chamada de equaccedilatildeo diferencial (ED)rdquo (ZILL CULLEN 2008 p 2 grifo dos autores)

Equaccedilotildees Diferenciais podem ser classificadas em Ordinaacuterias (EDO) ndash quando envolvem funccedilotildees (e suas

derivadas) de apenas uma variaacutevel ndash ou Parciais (EDP) ndash quando envolvem funccedilotildees (e suas derivadas) de mais

de uma variaacutevel 7 Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoDifferential equations are a beautiful application of the ideas and techniques of

calculus to solve various real life problemsrdquo 8 Por exemplo (i) Boyce e Diprima (1996) (ii) Zill e Cullen (2008) (iii) Edwards e Penney (1996) e (iv) Zill

(1997)

18

geral dedicam parte dos capiacutetulos para o estudo das aplicaccedilotildees das EDOs9 separados do

tratamento teoacuterico A dicotomia teoria-aplicaccedilatildeo difundida nos livros de EDO pode fomentar

um debate sobre as metodologias utilizadas pelos professores em tais disciplinas mediante o

que eacute esperado em termos da formaccedilatildeo matemaacutetica dos alunos das Engenharias

Metodologicamente ao trabalharmos com aplicaccedilotildees podemos assumir um

caraacuteter meramente de resoluccedilatildeo de problemas muitas vezes fictiacutecios inventados pelos autores

dos livros didaacuteticos ou adaptados por eles para apenas justificar o estudo de uma teoria

matemaacutetica ou ainda para tornar os conteuacutedos mais ligados a situaccedilotildees de uma dada

ldquorealidaderdquo Poreacutem ao mesmo tempo em que a matemaacutetica pode se justificar mediante a

apresentaccedilatildeo de um problema ainda que fictiacutecio alguma(s) dificuldade(s) pode(m) emergir

em tal praacutetica quando as hipoacuteteses e simplificaccedilotildees necessaacuterias ao entendimento do problema

natildeo satildeo apresentadas ou explicitadas nos livros didaacuteticos Muito difundido nos livros de EDO

o modelo10

que representa a Lei de Newton do Resfriamento de Corpos11

eacute apresentado sem

levar em conta as hipoacuteteses e simplificaccedilotildees para o entendimento da realidade fiacutesica em

questatildeo representada por meio de um modelo matemaacutetico ndash uma EDO

Habre (2000) entende que as Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias devem existir nos

curriacuteculos pois estabeleceriam o elo entre a Matemaacutetica e as demais Ciecircncias Nesse sentido

Bassanezi (2006 p 35) afirma que ldquoA tocircnica dos cursos de graduaccedilatildeo eacute desenvolver

disciplinas matemaacuteticas lsquoaplicaacuteveisrsquo em especial aquelas baacutesicas que jaacute serviram como

auxiliares na modelagem de fenocircmenos de alguma realidade como Equaccedilotildees Diferenciais

Ordinaacuterias e Parciaisrdquo

No contexto dos cursos de Engenharia a Modelagem Matemaacutetica ao pressupor

multidisciplinaridade vai ao encontro do que Fraga Novaes e Dagnino (2010 p 154)

acreditam que ldquoa formaccedilatildeo em engenharia deve se dar a partir de um problema colocado pela

sociedade e a soluccedilatildeo desse problema natildeo apenas teoricamente mas tambeacutem na praacutetica

colocaria a necessidade de se aprender conhecimentos teoacutericosrdquo

Baldino e Cabral (2004 p 139) acreditam que o ensino de disciplinas

matemaacuteticas em cursos de Engenharia se tornou problema apoacutes a reforma universitaacuteria de

1969 que ldquoaboliu a estrutura de caacutetedras e implantou a de departamentos e institutos baacutesicos

9 A esse respeito ver Boyce e Diprima (1996) capiacutetulo 2 seccedilatildeo 25 ndash Aplicaccedilotildees das Equaccedilotildees Lineares de

Primeira Ordem 10

Segundo Bassanezi (2006 p 19) ldquoquando se procura refletir sobre uma porccedilatildeo da realidade na tentativa de

explicar de entender ou de agir sobre ela ndash o processo usual eacute selecionar no sistema argumentos ou paracircmetros

considerados essenciais e formalizaacute-los atraveacutes de um sistema artificial o modelordquo 11

A ldquoLei de Newton do Resfriamento de Corposrdquo afirma que a taxa de resfriamento de um corpo eacute proporcional

agrave diferenccedila entre a temperatura do corpo e a temperatura do meio ambiente

19

seguindo o modelo vigente nos Estados Unidosrdquo Tal departamentalizaccedilatildeo afastou os

conhecimentos ditos baacutesicos dos profissionais promovendo uma cisatildeo dos conhecimentos

Dessa forma os professores que lecionam as disciplinas de Matemaacutetica muitas vezes natildeo

tecircm conhecimento sobre a necessidade dos conteuacutedos que lecionam para a formaccedilatildeo dos

futuros engenheiros Isso pode ser asseverado pelo fato de raramente tais disciplinas

consideradas do ciclo baacutesico serem relacionadas com as demais tanto aquelas do proacuteprio

ciclo baacutesico quanto aquelas da aacuterea teacutecnica ou profissional

Nesse sentido Baldino e Cabral (2004 p 176) refletem sobre uma situaccedilatildeo em

que foi apresentado um problema de aplicaccedilatildeo de EDO na Fiacutesica um sistema massa-mola

Afirmam que ldquonas universidades departamentalizadas essa lsquomateacuteriarsquo eacute considerada de Fiacutesica

e o professor de matemaacutetica natildeo tem o direito de lsquoensinarrsquo a aplicar a segunda lei de Newtonrdquo

Tal regra embora natildeo exista explicitamente pode permear as praacuteticas pedagoacutegicas das

universidades departamentalizadas podendo ser descumprida por exemplo mediante a

inserccedilatildeo de problemas de outras realidades que sejam solucionados com o auxiacutelio de

ferramentas matemaacuteticas

Em cursos de Engenharia as disciplinas de Caacutelculo podem ser consideradas

disciplinas em serviccedilo (BARBOSA 2004a) Essa expressatildeo eacute usada para designar as

disciplinas matemaacuteticas ministradas em graduaccedilotildees que natildeo satildeo de Matemaacutetica Ou seja

trata-se de disciplinas de conteuacutedo matemaacutetico em cursos que natildeo formam matemaacuteticos (ou

professores de matemaacutetica)

Moreno e Azcaacuterate Gimeacutenez (2003) detectam que natildeo haacute clareza nos objetivos

atuais da disciplina Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias o que dificulta o trabalho dos

professores em atribuiacuterem metas a serem alcanccediladas Como consequecircncia acabam ensinando

conteuacutedos que estatildeo nos curriacuteculos tradicionais mas que hoje perderam seu sentido e sua

razatildeo de ser devido aos avanccedilos tecnoloacutegicos Tais autores percebem ldquoa necessidade de um

debate e seacuteria reflexatildeo sobre a utilidade interesse e importacircncia dos atuais conteuacutedos para um

ensino e aprendizagem mediados pelas novas tecnologias e condicionados pelas demandas

sociaisrdquo12

(MORENO AZCAacuteRATE GIMEacuteMEZ 2003 p 278)

A necessidade de repensar os processos pedagoacutegicos utilizados atualmente por

muitos professores de EDO em cursos de Engenharia bem como a inserccedilatildeo das ferramentas

12 Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquola necesidad de un debate y reflexioacuten seria sobre la utilidad intereacutes e

importancia de los contenidos actuales para un aprendizaje y una ensentildeanza mediatizada por las nuevas

tecnologiacuteas y condicionada por las demandas socialesrdquo

20

disponiacuteveis tambeacutem foi enfatizada em uma pesquisa realizada por Dullius Arauacutejo e Veit

(2011 p 20) que nos fornecem o seguinte posicionamento

Comparando o contexto de ensino das EDs hoje em dia com o que se tinha na

metade do seacuteculo passado percebemos que os tipos de alunos satildeo outros as

necessidades e exigecircncias do mercado de trabalho natildeo satildeo as mesmas assim como

as ferramentas disponiacuteveis mas a maioria das aulas continuam em essecircncia sendo

ministradas da mesma forma Os curriacuteculos precisam ser repensados e os avanccedilos

tecnoloacutegicos considerados

O enfoque frequentemente dado agrave disciplina se baseia na apresentaccedilatildeo de uma

EDO e do seu respectivo meacutetodo de resoluccedilatildeo Habre (2002 p 2) afirma que ldquoequaccedilotildees satildeo

usualmente classificadas e para cada classe um meacutetodo de soluccedilatildeo eacute apresentadordquo13

Tal

enfoque pode ser insuficiente sob a perspectiva da utilidade dos conteuacutedos de tal disciplina

nos cursos de Engenharia Encontrar a soluccedilatildeo expliacutecita da EDO sem fazer outros tipos de

anaacutelises a respeito das equaccedilotildees em si e de possiacuteveis usos como ferramentas para a resoluccedilatildeo

de problemas correlatos aos cursos de Engenharia pode se configurar como algo

contraditoacuterio pois pode levar os alunos a uma preocupaccedilatildeo exclusiva com os meacutetodos de

resoluccedilatildeo deixando de lado o objetivo principal que consistiria no entendimento do processo

(ou fenocircmeno) que gerou determinada EDO assim como interpretar suas soluccedilotildees em

consonacircncia com o fenocircmeno que ela representa

Aleacutem disso como afirma Bassanezi (2006 p 125) ldquosomente um grupo reduzido

de equaccedilotildees diferenciais admite soluccedilatildeo na forma de uma funccedilatildeo analiticamente expliacutecitardquo

Com essa abordagem das EDOs deixam-se de lado vaacuterios enfoques relevantes como o

processo da formulaccedilatildeo de modelos bem como o estudo qualitativo com abordagem

substancialmente geomeacutetrica conforme aponta Javaroni (2007 p 20) em sua tese A autora

afirma

[] que o processo de formulaccedilatildeo dos modelos e a interpretaccedilatildeo das soluccedilotildees ou do

comportamento das soluccedilotildees satildeo tatildeo importantes quanto as teacutecnicas de resoluccedilatildeo das

equaccedilotildees diferenciais ordinaacuterias e que este aspecto deve ser trabalhado para que os

alunos desenvolvam capacidades de anaacutelise e interpretaccedilatildeo A questatildeo da

visualizaccedilatildeo eacute essencial no entendimento dos aspectos dinacircmicos de um curso

introdutoacuterio de equaccedilotildees diferenciais e o entendimento da derivada como variaccedilatildeo

de uma curva eacute central na interpretaccedilatildeo de graacuteficos bem como o comportamento das

soluccedilotildees ao longo do tempo e a existecircncia de um estado de equiliacutebrio

13

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoEquations are usually classified and for each class a method of solution is

presentedrdquo

21

A ecircnfase qualitativa permite uma multiplicidade de possibilidades para uma

melhor exploraccedilatildeo dos conteuacutedos abordados em Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias Contudo

deve-se pontuar que devido agrave complexidade da anaacutelise qualitativa de algumas Equaccedilotildees

Diferenciais Ordinaacuterias o uso de softwares eacute imprescindiacutevel Para uma abordagem qualitativa

dos campos de direccedilotildees pode-se utilizar os softwares como Maple eou WinPlot14

entre

outros que permitem a visatildeo e a exploraccedilatildeo do comportamento desses campos de direccedilotildees

bem como o comportamento da proacutepria soluccedilatildeo

Habre (2000) afirma que a abordagem das Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias no

cenaacuterio internacional vem passando por mudanccedilas no acircmbito estrutural tornando-se cada vez

mais visual (geomeacutetrica) e numeacuterica o que ampliaria a visatildeo do aprendiz sobre o conteuacutedo

estudado O autor chama a atenccedilatildeo para o fato de poucas pesquisas estarem sendo

desenvolvidas em relaccedilatildeo ao entendimento dos alunos quanto a essa abordagem Contudo no

acircmbito nacional ldquoem geral as anaacutelises geomeacutetrica e numeacuterica natildeo satildeo abordadas no estudo

dos modelosrdquo (JAVARONI 2007 p 20)

Vale ressaltar que apesar de inicialmente ter feito um levantamento dos estudos

e pesquisas sobre os processos de ensino-aprendizagem de EDO no decorrer do

desenvolvimento da pesquisa ainda na fase de construccedilatildeo teoacuterica decidi15

natildeo ficar restrita

apenas aos conteuacutedos dessa disciplina16

mas passei a considerar os conteuacutedos das disciplinas

de Caacutelculo que permeiam os curriacuteculos dos cursos de Engenharia Tal decisatildeo estava

vinculada ao formato da intervenccedilatildeo que tinha decidido realizar Naquele momento natildeo havia

qualquer garantia que os conteuacutedos de EDO apareceriam na atividade que seria analisada

Contudo durante a fase da construccedilatildeo dos dados para a referida pesquisa conteuacutedos de EDO

estiveram presentes na atividade de modelagem analisada Por esse motivo optei por deixar

no presente texto esse breve levantamento sobre os processos de ensino-aprendizagem de

EDO

Desdobramentos da proposiccedilatildeo da pesquisa

14

A esse respeito ver wwwmaplesoftcom ptwikipediaorgwikiMaple wwwmatufpbbrsergiowinplot 15

Tal decisatildeo foi ancorada no fato de natildeo haver a priori nenhuma garantia de que na atividade de Modelagem

Matemaacutetica constituinte dos dados que foram construiacutedos para a pesquisa relatada nesta tese as EDOs estariam

presentes jaacute que o tema seria escolhido de forma coletiva pelos sujeitos 16

No CEFET-MG a disciplina Caacutelculo III trata dos conteuacutedos de EDO e na instituiccedilatildeo que configurou como

contexto da pesquisa os conteuacutedos de EDO satildeo abordados na disciplina BAC 022 ndash Matemaacutetica IV

22

Apoacutes o ingresso no referido programa de doutorado ainda em 2010 comecei a

participar do Grupo de Pesquisa e Estudos Histoacuterico-Culturais em Educaccedilatildeo Matemaacutetica e

Ciecircncias da Faculdade de Educaccedilatildeo da UFMG do qual a orientadora desta pesquisa eacute

coordenadora na tentativa de buscar um referencial teoacuterico que possibilitasse o

desenvolvimento desta pesquisa Comecei entatildeo a realizar leituras participar das reuniotildees do

grupo e discutir com colegas e professores sobre as teorias denominadas de Histoacuterico-

Culturais originadas nos estudos de Vygotsky

Uma das leituras realizadas em 2010 ndash o texto de Engestroumlm (2002) ndash comeccedilou a

dar um novo direcionamento para a pesquisa Nele eacute abordada a questatildeo da descontinuidade

entre atividades escolares e atividades fora da escola O autor coloca os conhecimentos

escolares como algo encapsulado distante da realidade cotidiana dos indiviacuteduos que

participam de tais praacuteticas e denomina tal fenocircmeno de encapsulaccedilatildeo da aprendizagem

escolar Ao refletir sobre os motivos que levam os indiviacuteduos a participarem de atividades

escolares enfatiza que na maioria das vezes eles natildeo aprendem para a vida mas para a

escola Frequentemente em variadas esferas da sociedade atual ouvimos pessoas falando que

ldquoprecisam estudar para a provardquo e satildeo raras as vezes que ouvimos pessoas falando que

ldquoprecisam estudar para aprenderrdquo Engestroumlm (2002) exemplifica a abordagem de uma

atividade cotidiana ndash a busca pelo entendimento das fases da Lua ndash respondendo agrave pergunta

ldquoPor que a lua muda a sua formardquo Para ele todas as atividades escolares deveriam ser

iniciadas com questotildees-problema que instiguem os participantes a pensarem refletirem e

buscarem entendimento para tal questatildeo Engestroumlm (2002) se apoia em Resnick (1987) que

teceu uma reflexatildeo acerca da descontinuidade e do isolamento entre os conceitos estudados

durante o processo de escolarizaccedilatildeo e o resto daquilo que fazemos nos momentos da vida que

passamos fora da escola Nas palavras do autor

O processo de escolarizaccedilatildeo parece encorajar a ideia de que o ldquojogo da escolardquo eacute

aprender regras simboacutelicas de vaacuterios tipos de que natildeo se supotildee haver muita

continuidade entre o que algueacutem sabe fora da escola e o que se aprende na escola

[hellip] A escolarizaccedilatildeo cada vez mais parece isolada do resto daquilo que fazemos

(RESNICK 1987 p 15 apud ENGESTROumlM 2002 p 176)

Baseando em Engestroumlm (2002) por analogia apropriei-me do termo

encapsulaccedilatildeo para me referir agrave descontinuidade entre as atividades desenvolvidas nas

disciplinas de Caacutelculo e as demais atividades institucionais que compotildeem a formaccedilatildeo do

engenheiro

23

Tomando por base a Teoria da Aprendizagem Expansiva de Engestroumlm (1987)

que propotildee uma concepccedilatildeo ldquoproacutepriardquo de aprendizagem entendendo-a como algo coletivo ndash

natildeo mais centrado apenas na cogniccedilatildeo individual ndash bem como a psicologia histoacuterico-cultural

de Vygotsky entende-se que tal concepccedilatildeo de aprendizagem parece ser uma opccedilatildeo teoacuterica

propiacutecia para a anaacutelise de possiacuteveis aprendizagens que acontecem por meio de praacuteticas de

Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia por se tratar de atividades coletivas

realizadas em grupo e por ser considerada uma praacutetica natildeo padronizada onde natildeo eacute possiacutevel

delinear a priori no planejamento o que aconteceraacute na praacutetica Neste sentido pode-se

entender que praacuteticas de Modelagem muitas vezes satildeo aprendidas enquanto estatildeo sendo

criadas

Aleacutem disso Engestroumlm (2001) aponta que teorias claacutessicas de aprendizagem

focam nos processos em que o sujeito individual adquire algum conhecimento ou habilidade

identificaacutevel fazendo com que o sujeito possa mudar de comportamento atitudes accedilotildees Tais

conhecimentos ou habilidades satildeo tomados como estaacuteveis e bem definidos O professor

competente segundo essas teorias eacute aquele que sabe o conteuacutedo a ser ensinado e aprendido

pelos alunos Contudo Engestroumlm (2001 p 136-137) reflete que muitos dos tipos mais

intrigantes de aprendizagens em organizaccedilotildees de trabalho violam essa pressuposiccedilatildeo

Pessoas e organizaccedilotildees estatildeo a todo tempo aprendendo algo que natildeo eacute estaacutevel nem

mesmo definido ou entendido agrave priori

Em importantes transformaccedilotildees de nossas vidas pessoais e praacuteticas organizacionais

noacutes precisamos aprender novas formas de atividade que ainda natildeo existem Elas satildeo

aprendidas literalmente enquanto estatildeo sendo criadas Natildeo existe professor

competente Teorias padratildeo de aprendizagem tecircm pouco a oferecer se algueacutem quiser

entender tais processos17

A aprendizagem expansiva segundo Engestroumlm (2002 p 196) ldquoexplora os

conflitos e insatisfaccedilotildees existentes entre professores alunos pais e outros implicados na

escolarizaccedilatildeo ou afetados por ela convidando-os a se reunir numa transformaccedilatildeo concreta da

praacutetica correnterdquo Sugere ainda que ldquoos aprendizes precisam antes de tudo ter uma

oportunidade de analisar criticamente e sistematicamente sua atividade presente e suas

contradiccedilotildees internasrdquo (ENGESTROumlM 2002 p 192) Os termos atividade e contradiccedilotildees

17

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoPeople and organizations are all the time learning something that is not stable

not even defined or understood ahead of time In important transformations of our personal lives and

organizational practices we must learn new forms of activity which are not yet there They are literally learned

as they are being created There is no competent teacher Standard learning theories have little to offer if one

wants to understand these processesrdquo

24

internas satildeo conceitos da Teoria da Atividade e seratildeo mais bem definidos no capiacutetulo

seguinte

A anaacutelise sistemaacutetica da atividade presente e suas contradiccedilotildees internas portanto

configura-se como um ponto de partida ou forccedila motriz para transformaccedilotildees expansivas das

praacuteticas sociais devido ao fato de que ldquose o homem vivesse em plena harmonia com a

realidade ou absolutamente conciliado com seu presente natildeo sentiria a necessidade de negaacute-

los idealmente nem de configurar em sua consciecircncia uma realidade ainda inexistenterdquo

(SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 189)

As discussotildees apresentadas por Engestroumlm (1987 2001 2002 2008) me levaram

a refletir sobre as possibilidades de anaacutelise dos fenocircmenos que podem ocorrer em praacuteticas de

Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia utilizando o aporte teoacuterico da

Aprendizagem Expansiva Para Engestroumlm (2002 p 197) a Aprendizagem Expansiva propotildee

romper a encapsulaccedilatildeo da aprendizagem escolar pois o proacuteprio contexto da aprendizagem eacute

alterado Nas palavras do autor ldquoa abordagem da aprendizagem expansiva romperia a

encapsulaccedilatildeo da aprendizagem escolar por uma ampliaccedilatildeo gradual do objeto e do contexto da

aprendizagemrdquo

Entendendo que uma finalidade prefigura idealmente o que ainda natildeo se

conseguiu ou o que ainda se pretende alcanccedilar ldquoao propor objetivos o homem nega uma

realidade efetiva e afirma outra que ainda natildeo existerdquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p

189) Ao analisar sistematicamente as atividades de que participei ateacute tal momento histoacuterico

de minha formaccedilatildeo aliadas agraves leituras e informaccedilotildees que tive acesso apoacutes o ingresso no

referido programa de poacutes-graduaccedilatildeo incluindo a participaccedilatildeo em grupos de pesquisa fui

conduzida agrave produccedilatildeo de novos objetivos que passaram a orientar a pesquisa relatada nesta

tese diferentes daqueles que havia adotado inicialmente mas ainda assim relacionados entre

si

O objetivo didaacutetico-pedagoacutegico impresso no projeto inicial de doutorado

submetido agrave seleccedilatildeo para ingresso no programa de poacutes-graduaccedilatildeo consistia em melhorar a

inter-relaccedilatildeo da disciplina EDO e as demais disciplinas teacutecnicas dos cursos de Engenharia por

meio de atividades de Modelagem Matemaacutetica A questatildeo de pesquisa buscava por anaacutelises

relacionadas agraves formas que a Modelagem Matemaacutetica poderia assumir para o cumprimento de

tal objetivo ou seja usando a terminologia de Engestroumlm (2002) de que forma a Modelagem

Matemaacutetica aliada a recursos computacionais poderia romper com a encapsulaccedilatildeo da

disciplina EDO em cursos de Engenharia Um resultado esperado ainda que hipoteticamente

consistia na melhoria da formaccedilatildeo matemaacutetica dos engenheiros Vale ressaltar que atividades

25

de Modelagem podem assumir diferentes objetivos em diferentes contextos de formaccedilatildeo O

principal objetivo geralmente delimitado pelos professores acaba por definir a perspectiva de

Modelagem (KAISER SRIRAMAN 2006) assumida em determinado contexto formativo

Tal questatildeo seraacute tratada mais formalmente no capiacutetulo seguinte desta tese Por agora detenho-

me em explicitar o que foi alterado em relaccedilatildeo agrave questatildeo de pesquisa

Primeiramente o objetivo principal da pesquisa relatada nesta tese teve uma

essencial mudanccedila no foco Inicialmente a meta da pesquisa era relataranalisar o efeito que a

Modelagem Matemaacutetica poderia causar em cursos de Engenharia no sentido das

possibilidades de inter-relaccedilotildees de EDO com as demais disciplinas dos referidos cursos Apoacutes

reformular o projeto inserindo-lhe ldquolentesrdquo teoacuterico-analiacuteticas ndash as Teorias da Atividade e da

Aprendizagem Expansiva- senti a necessidade de modificar o foco da questatildeo de pesquisa

passei a focar nas possibilidades de aprendizagens expansivas que pudessem ser evidenciadas

pelas e nas atividades desenvolvidas por um grupo de estudos e pesquisa sobre Modelagem

Matemaacutetica em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias Com isso as proacuteprias

aprendizagens expansivas caso ocorressem poderiam possibilitar inclusive o rompimento

da encapsulaccedilatildeo de conteuacutedos estudados nas disciplinas de Caacutelculo pois o proacuteprio contexto

da atividade tradicional de formaccedilatildeo em Engenharia seria18

alterado mediante uma ampliaccedilatildeo

gradual do objeto e do contexto da aprendizagem19

Em segundo lugar a forma que a Modelagem Matemaacutetica assumiria nessa

pesquisa jaacute estava tambeacutem definida como foco de estudos discussotildees e reflexotildees de um

Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica20

(GEPMM) Frequentemente

praacuteticas escolares de Modelagem satildeo concebidas como coletivas ndash realizadas em grupos

Baseada em Engestroumlm (2001) acabei por decidir pela constituiccedilatildeo de um Grupo de Estudos e

Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica jaacute que os sujeitos que porventura aceitassem se engajar

em tais atividades precisariam aprender novas formas de atividade constituindo assim novas

formas de aprendizagem que ainda natildeo existiam no referido contexto formativo Na

instituiccedilatildeo destinada agrave formaccedilatildeo de engenheiros definida como contexto empiacuterico para o

desenvolvimento da presente pesquisa natildeo existiam de fato atividades de Modelagem

Matemaacutetica em formato algum Ao objetivar a anaacutelise das possibilidades de aprendizagens

18

Explicaccedilotildees mais pontuais quanto agraves transformaccedilotildees do objeto e do contexto de aprendizagem podem ser

encontradas no capiacutetulo 1 deste texto 19

Engestroumlm (2002 p 197) enfatiza que ldquoa abordagem da aprendizagem expansiva romperia a encapsulaccedilatildeo da

aprendizagem escolar por uma ampliaccedilatildeo gradual do objeto e do contexto da aprendizagemrdquo 20

Por vezes utilizarei apenas a sigla GEPMM para me referir ao Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem

Matemaacutetica

26

expansivas evidenciadas naspelas atividades de um grupo de Modelagem poderia ndash a

atividade ndash ocorrer dentro ou fora da sala de aula

Finalmente em terceiro lugar estaacute a definiccedilatildeo de que o grupo de Modelagem

realizaria suas atividades fora da sala de aula num formato que possibilitasse estudos

pesquisa e que as atividades pudessem ser documentadas em um longo periacuteodo de tempo

Caso tivesse optado em propor o formato de atividade de Modelagem dentro de sala de aula

de certo teria impliacutecito em tal proposta um prazo que delimitaria a proacutepria questatildeo de

pesquisa Aprendizagens expansivas necessitam de anaacutelises de longo prazo constituem

transformaccedilotildees qualitativas21

em praacuteticas sociais em atividades coletivas e natildeo mudanccedilas em

sujeitos em suas atitudes eou habilidades e competecircncias ainda que as atitudes dos sujeitos

possam ser analisadas em tal quadro teoacuterico-analiacutetico (ENGESTROumlM SANNINO 2010b)

Nesse sentido nesta tese busco analisar possibilidades de aprendizagens expansivas em

praacuteticas formativas sendo aprendidas literalmente enquanto estariam sendo criadas (numa

instituiccedilatildeo destinada agrave formaccedilatildeo de engenheiros) mediante a constituiccedilatildeo de um contexto

formativo mais amplo ndash o GEPMM Isso seraacute mais bem discutido nos demais capiacutetulos desta

tese

Vale ressaltar que tais objetivos e a adequaccedilatildeo das accedilotildees a eles configuraram-se

mediante os ajustes que na maioria das vezes foram tentativas de aproximaccedilatildeo entre as

idealizaccedilotildees impressas em um projeto de pesquisa e uma pesquisa em movimento ndash um

ldquodesignrdquo emergente (ARAUacuteJO BORBA 2006) Uma pesquisa em movimento pressupotildee

aquisiccedilatildeo de novas idealizaccedilotildees necessaacuterias em cada parte cada aglomerado de accedilotildees que estaacute

atrelado agrave finalidade da pesquisa em questatildeo Isso inclui transformaccedilotildees qualitativas em

termos de acesso e incorporaccedilatildeo de teorias agrave pesquisa por parte do pesquisador modificaccedilotildees

relacionadas agrave metodologia e procedimentos para a construccedilatildeo dos dados da referida pesquisa

o que acaba por implicar em modificaccedilotildees na pergunta diretriz

Sendo assim apoacutes aprofundamento teoacuterico e construccedilatildeo dos dados para a presente

pesquisa que seratildeo apresentados nos proacuteximos capiacutetulos outros direcionamentos em relaccedilatildeo

agrave pergunta diretriz se fizeram necessaacuterios Entre idas e vindas recortes e costuras a presente

tese se orientou pela seguinte pergunta diretriz

21

O termo Transformaccedilotildees Qualitativas constituinte da Teoria da Aprendizagem Expansiva de Engestroumlm

(1987) seraacute mais bem definido no capiacutetulo seguinte desta tese Por hora vale ressaltar que transformaccedilotildees

qualitativas sugerem mudanccedilas em praacuteticas sociais

27

Quais aprendizagens expansivas podem ser evidenciadas pelas e nas atividades

desenvolvidas por um Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica

(GEPMM22

) em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias

Estrutura da tese

No capiacutetulo 1 desta tese intitulado Atividades formativas agrave luz da teoria

histoacuterico-cultural da Atividade e da Aprendizagem Expansiva apresento os pressupostos

teoacutericos que foram utilizados na concepccedilatildeo assim como na anaacutelise dos dados construiacutedos

para a presente investigaccedilatildeo

No capiacutetulo 2 intitulado Caacutelculo e Modelagem na Engenharia concepccedilotildees

perspectivas e a atual formaccedilatildeo do engenheiro discorro sobre alguns toacutepicos relacionados ao

contexto da presente investigaccedilatildeo Exponho brevemente a legislaccedilatildeo que normatiza a

formaccedilatildeo de engenheiros no Brasil atualmente aponto alguns aspectos relacionados aos

processos de ensino-aprendizagem das disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia e

nesse contexto apresento a Modelagem Matemaacutetica como um espaccedilo formativo alternativo

Aleacutem disso com base na literatura sobre Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica busco por

concepccedilotildees e perspectivas relacionadas a essa atividade apresentando uma revisatildeo de

literatura com foco na Modelagem em processos de ensino-aprendizagem relacionada agraves

disciplinas de Caacutelculo dos cursos de Engenharia

No capiacutetulo 3 intitulado Metodologia de Pesquisa e Procedimentos explicito os

motivos que fizeram com que a abordagem da presente investigaccedilatildeo fosse qualitativa

apresento os procedimentos e instrumentos para a construccedilatildeo e a anaacutelise dos dados Aleacutem

disso delimito o contexto da pesquisa apresentando o contexto institucional e as aulas de

Caacutelculo assim como a constituiccedilatildeo do contexto alternativo - GEPMM - e os sujeitos nele

envolvidos

No capiacutetulo 4 intitulado Os dados construiacutedos e analisados a constituiccedilatildeo do

GEPMM como ciclo de accedilotildees potencialmente expansivas apresento uma anaacutelise da

constituiccedilatildeo do GEPMM com base no arcabouccedilo teoacuterico apresentado no capiacutetulo 2 mais

especificamente no ciclo de accedilotildees expansivas (ENGESTROumlM SANNINO 2010b) Para tal

22

Vale ressaltar que o GEPMM se configura um espaccedilo formativo alternativo realizando suas accedilotildees fora da sala

de aula tradicional tanto de Caacutelculo quanto das demais disciplinas dos cursos de Engenharia Os motivos que

podem complementar a justificativa para tal escolha metodoloacutegica podem ser encontrados no capiacutetulo 2

28

utilizo os dados construiacutedos para a presente investigaccedilatildeo elaborando inclusive uma resenha

do que aconteceu nos encontros do GEPMM utilizados como corpus de anaacutelise

No capiacutetulo 5 intitulado por Modalidades Analiacuteticas construo um tipo de

arcabouccedilo analiacutetico com o objetivo de satisfazer ao questionamento impresso na pergunta de

pesquisa quais aprendizagens expansivas podem ser evidenciadas pelas e nas atividades

desenvolvidas por um GEPMM em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias Elaboro

quatro modalidades analiacuteticas e as intitulo

1ordf Modalidade =gt Dialeacutetica da Existecircncia da ldquoTelardquo Invisiacutevel GEPMM como

possibilidade para aprendizagem expansiva por meio da construccedilatildeo de parceria

docente-discente num contexto de formaccedilatildeo em Engenharias

2ordf Modalidade =gt Os sujeitos a multi-agency e as muacuteltiplas atividades

possibilidade para aprendizagem expansiva como movimento na zona de

desenvolvimento proximal das atividades docente-discente mediante a formaccedilatildeo

de parcerias

3ordf Modalidade =gt Modelagem e a caixa preta do ldquopeso corporal idealrdquo num

contexto de formaccedilatildeo em Engenharias do Caacutelculo em accedilatildeo agraves aprendizagens

expansivas como transformaccedilotildees qualitativas do objeto da atividade

4ordf Modalidade =gt Multivocalidade e agency evidenciadas pelas interaccedilotildees

tecnomediadas em atividades de Modelagem Matemaacutetica idealizaccedilotildees

desencadeadoras de aprendizagens potencialmente expansivas num contexto de

formaccedilatildeo em Engenharias

No capiacutetulo 6 intitulado Consideraccedilotildees Finais faccedilo um tipo de fechamento de

ideias com respeito agrave investigaccedilatildeo relatada nesta tese Aleacutem disso delimito de antematildeo um

horizonte possiacutevel para nortear pesquisas futuras

29

1 ATIVIDADES23

FORMATIVAS Agrave LUZ DA TEORIA HISTOacuteRICO-

CULTURAL DA ATIVIDADE E DA APRENDIZAGEM EXPANSIVA

Neste capiacutetulo apresento os pressupostos teoacutericos que foram utilizados na

concepccedilatildeo desta pesquisa em especial na anaacutelise dos dados construiacutedos para tal fim

Podendo ser entendida como uma teoria ancorada na Teoria Histoacuterico-Cultural24

a Teoria da Atividade se fundamenta na teoria marxista que estabelece o trabalho como algo

que desempenha papel central no desenvolvimento humano humanizando e possibilitando o

desenvolvimento da cultura que por sua vez influencia e eacute influenciada pelo contexto

histoacuterico-social Sob essa oacutetica as diferenccedilas entre os homens e os outros animais natildeo podem

ser simplesmente explicadas pela evoluccedilatildeo bioloacutegica25

O homem tal como os outros animais cotidianamente se defronta com

necessidades26

que o impulsiona a planejar accedilotildees na tentativa de satisfazer tais necessidades

Contudo o homem se diferencia dos demais animais ldquoao assumir uma posiccedilatildeo de natildeo

indiferenccedila perante a naturezardquo (RIGON ASBAHR MORETTI 2010 p 16) Isto eacute o

homem se apropria da natureza buscando satisfazer necessidades que natildeo estatildeo apenas

relacionadas agrave garantia de sua existecircncia bioloacutegica mas sobretudo cria necessidades

relacionadas agrave sua existecircncia cultural Dessa forma

Ao agir intencionalmente sobre a natureza visando transformaacute-la de modo a

satisfazer suas necessidades produzindo o que deseja e quando deseja o homem ao

mesmo tempo que deixa sobre a natureza as marcas da atividade humana tambeacutem

transforma a si proacuteprio constituindo-se humano Para que toda e qualquer atividade

se configure como humana eacute essencial entatildeo que seja movida por uma

intencionalidade sendo esta por sua vez uma resposta agrave satisfaccedilatildeo das necessidades

que se impotildeem ao homem em sua relaccedilatildeo com o meio em que vive natural ou

culturalizado (RIGON ASBAHR MORETTI 2010 p 17)

Para Saacutenchez Vaacutezquez (1977) a atividade humana pode em alguns casos ter uma

ldquosemelhanccedila externardquo com certos atos dos animais como por exemplo a atividade de caccedila

23

Buscando distinguir o termo atividade do senso comum destacarei usando itaacutelico ndash atividade ndash quando estiver

me referindo agrave teoria da atividade 24

Tem como projeto central estudar a formaccedilatildeo da subjetividade dos indiviacuteduos a partir de seu mundo objetivo

concreto isto eacute a formaccedilatildeo da consciecircncia humana em sua relaccedilatildeo com a atividade (RIGON ASBAHR

MORETTI 2010 p 22) 25

ldquoSegundo Vygotsky o comportamento e a mente humanos devem ser considerados em termos de accedilotildees

intencionais e culturalmente significativas em vez de respostas bioloacutegicas adaptativasrdquo (KOZULIN 2002 p

116) 26

O termo necessidade com base na teoria marxista estaacute relacionado com carecimento ou carecircncia

30

Contudo para o autor somente a atividade humana caracteriza-se essencialmente pela

atividade da consciecircncia da qual eacute inseparaacutevel O autor afirma que a atividade da consciecircncia

[] se desenvolve como produccedilatildeo de objetivos que prefiguram idealmente o

resultado real que se pretende obter mas se manifesta tambeacutem como produccedilatildeo de

conhecimentos isto eacute em forma de conceitos hipoacuteteses teorias ou leis mediante os

quais o homem conhece a realidade (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 191)

A capacidade de planejar accedilotildees que configura de alguma forma a

intencionalidade assim como formas especiacuteficas de linguagem pode ser observada em todos

os tipos de animais Poreacutem

[] a accedilatildeo planejada de todos os animais em seu conjunto natildeo conseguiu imprimir

sobre a terra a marca de sua vontade Isso aconteceu com o aparecimento do homem

Em uma palavra o animal utiliza a natureza exterior e produz modificaccedilotildees nela

pura e simplesmente com sua presenccedila entretanto o homem por meio de

modificaccedilotildees submete-a [a Natureza] a seus fins a domina Eacute esta a suprema

diferenccedila entre o homem e os animais diferenccedila decorrida tambeacutem do trabalho

(ENGELS 2002 p 125)

A faculdade de projetar que delimita e configura a distinccedilatildeo entre homens e os

demais animais foi debatida por Pinto (2005a p 54) que enfatizou que a ldquoessecircncia do

projeto consiste no modo de ser do homem que se propotildee criar novas condiccedilotildees de existecircncia

para sirdquo O autor estaacute em sintonia com a visatildeo de Engels (2002)

O projeto eacute na verdade a caracteriacutestica peculiar porque engendrada no plano do

pensamento da soluccedilatildeo humana do problema da relaccedilatildeo do homem com o mundo

fiacutesico e social [] O poder da accedilatildeo que o homem manifesta sobre a natureza

distingue-se do possuiacutedo pelos demais seres vivos por se exercer em consequecircncia

da capacidade de projetar [] pela accedilatildeo dos homens a realidade se vai povoando de

produtos de fabricaccedilatildeo intencional realizada pelo ser que se tornou projetante

(PINTO 2005a p 55)

Aacutelvaro Pinto (2005a) entende que o homem eacute o uacutenico ser vivo capaz de

manifestarproduzir representaccedilotildees de uma dada realidade no pensamento e a partir dela

fazer emergir ainda no plano mental uma sequecircncia de accedilotildees direcionadas a uma finalidade

ligada a essa realidade Pinto (2005a p 59 grifos meus) esclarece ainda que

O projeto significa o relacionamento da accedilatildeo a uma finalidade em vista da qual satildeo

preparados e dispostos meios necessaacuterios e convenientes O conceito de projeto

revela que o sistema nervoso superior soacute eacute capaz de concebecirc-lo quando supera o

condicionamento hereditaacuterio imposto pelas estruturas invariaacuteveis recebidas

diretamente da natureza tornando-se entatildeo fonte de outras formas de

condicionamento as que procedem no reflexo das coisas efetuando em suas ceacutelulas

31

cerebrais em iacutentimas ligaccedilotildees com o exerciacutecio da atividade em condiccedilotildees sociais

Esta anaacutelise mostra desde jaacute o caraacuteter necessariamente teacutecnico de toda accedilatildeo humana

pois agir significa um modo de ser ligado a alguma finalidade que o indiviacuteduo se

propotildee cumprir

Dessa forma natildeo seria possiacutevel compreender a atividade humana desconsiderando

sua relaccedilatildeo com a consciecircncia pois essas duas categorias na verdade podem ser entendidas

como constituintes de uma unidade dialeacutetica como segue

Nas relaccedilotildees entre consciecircncia e atividade a consciecircncia eacute a forma especificamente

humana do reflexo psiacutequico da realidade ou seja eacute a expressatildeo das relaccedilotildees do

indiviacuteduo com o mundo social cultural e histoacuterico que abre ao homem um quadro

do mundo em que ele mesmo estaacute inserido A consciecircncia refere-se assim agrave

possibilidade humana de compreender o mundo social e individual como passiacuteveis

de anaacutelise (RIGON ASBAHR MORETTI 2010 p 20)

A origem do conceito atividade na psicologia sovieacutetica pode ser encontrada nos

estudos de Vigotski27

(1896-1934) sugerindo que a atividade socialmente significativa pode

ser considerada como um dos fatores que geram a consciecircncia humana (KOZULIN 2002)

Na teoria cultural-histoacuterica das funccedilotildees mentais (ou processos psicoloacutegicos) superiores de

Vigotski bem como nos estudos vigotskianos do desenvolvimento da linguagem e da

formaccedilatildeo de conceitos foi de extrema relevacircncia a incorporaccedilatildeo do conceito de atividade

Kozulin (2002) entende que para Vigotski a consciecircncia eacute construiacuteda de fora para dentro por

meio das relaccedilotildees sociais e aleacutem disso que natildeo haacute distinccedilatildeo entre o mecanismo do

comportamento social e o da consciecircncia

Vigotski buscou em Marx e Hegel pressupostos que fizeram emergir uma teoria

social da atividade humana podendo ser entendida como contrapartida ao naturalismo e agrave

tradiccedilatildeo empirista como afirma Kozulin (2002) De Hegel Vigotski adota ldquouma visatildeo

absolutamente histoacuterica dos estaacutegios de desenvolvimento e das formas de realizaccedilatildeo da

consciecircncia humanardquo (KOZULIN 2002 p 115) Tal historicidade eacute tecida do ponto de vista

da filogecircnese ndash toma como base a histoacuteria evolutiva da espeacutecie humana- da histoacuteria

sociocultural ndash toma como base a (des) e (re)contextualizaccedilatildeo dos instrumentos de mediaccedilatildeo-

e da ontogecircnese ndash considera a evoluccedilatildeo histoacuterica individual na qual a formaccedilatildeo da

personalidade se caracteriza natildeo apenas pelo desenvolvimento bioloacutegico mas sobretudo pela

mediaccedilatildeo sociocultural (WERTSCH 1985 1988)- De Marx Vigotski adota o conceito de

praacutexis humana que grosso modo toma como sendo a atividade histoacuterica concreta gerando

27

A esse respeito ver Consciousness as a problem in the psychology of behavior (VIGOTSKI 1979)

32

os fenocircmenos da consciecircncia Vigotski acreditava que a atividade funciona como uma

ferramenta psicoloacutegica e tem caraacuteter semioacutetico mediacional (KOZULIN 2002)

Leontiev em meados dos anos 1930 faz emergir uma versatildeo revisionista da

Teoria da Atividade de Vigotski na qual entende que ldquoa atividade28

ndash ora como atividade ora

como accedilatildeo ndash desempenha todos os papeacuteis desde objeto ateacute princiacutepio explanatoacuteriordquo

(KOZULIN 2002 p 136) Leontiev aponta que ldquoo desenvolvimento da consciecircncia da

crianccedila ocorre como um resultado do desenvolvimento do sistema de operaccedilotildees psicoloacutegicas

as quais por seu turno satildeo determinadas pelas relaccedilotildees concretas entre a crianccedila e a

realidaderdquo (LEONTIEV 1980 p 186 apud KOZULIN 2002 p 127)

Dessa forma Leontiev considera em suas pesquisas que a atividade praacutetica eacute

transformada em atividade praacutetica e intelectual ndash plano interpsicoloacutegico (entre pessoas e

mediaccedilotildees) transformado em plano intrapsicoloacutegico Leontiev e seus colaboradores satildeo

conhecidos como a segunda geraccedilatildeo da Teoria da Atividade Vigotski sugeriu que a atividade

socialmente significativa eacute o princiacutepio explicativo da consciecircncia ou seja a consciecircncia eacute

construiacuteda de ldquoforardquo para ldquodentrordquo por meio das relaccedilotildees sociais (KOZULIN 2002)

Na teoria de Leontiev ldquoa atividade assumiu duplo papel ndash o de princiacutepio geral e o

de mecanismo concreto de mediaccedilatildeordquo (KOZULIN 2002 p 131) ldquoLeontiev sugeriu o

seguinte desmembramento da atividade atividade corresponde a um motivo accedilatildeo

corresponde a um objetivo e operaccedilatildeo depende de condiccedilotildeesrdquo (KOZULIN 2002 p 131)

Para entendermos melhor tais conceituaccedilotildees vejamos o que o proacuteprio Leontiev

nos apresenta

Natildeo levando o objeto da accedilatildeo por si proacuteprio a agir eacute necessaacuterio que a accedilatildeo surja e

se realize que o seu objeto apareccedila ao sujeito na sua relaccedilatildeo com o motivo da

atividade em que entra esta accedilatildeo Essa accedilatildeo eacute refletida pelo sujeito sob uma forma

perfeitamente determinada sob a forma de consciecircncia do objeto da accedilatildeo enquanto

fim Assim o objeto da accedilatildeo natildeo eacute afinal senatildeo o seu fim imediato conscientizado

(LEONTIEV 2004 p 317)

Vale ressaltar que a atividade correspondente a um motivo eacute algo coletivo e

consciente Jaacute as accedilotildees correspondentes a um objetivo podem ser entendidas como processos

que satildeo subordinados agraves metas individuais ou coletivas considerando a complexa estrutura da

divisatildeo do trabalho humano ou mesmo podem ser entendidas como processos de

cumprimento de objetivos parciais da atividade As accedilotildees e os objetivos correspondem assim

28

ldquoTal conceito de atividade teraacute duas funccedilotildees princiacutepio explicativo da constituiccedilatildeo das funccedilotildees psicoloacutegicas

superiores e da personalidade e ao mesmo tempo objeto de investigaccedilatildeo soacute sendo possiacutevel compreender tais

constituiccedilotildees a partir do estudo da atividaderdquo (RIGON ASBAHR MORETTI 2010 p 22)

33

ao indiviacuteduo engajado em uma atividade e agrave consciecircncia As operaccedilotildees podem ser entendidas

como meios ou procedimentos pelos quais a accedilatildeo eacute executada para satisfazer seu objetivo As

operaccedilotildees sempre correspondem agraves condiccedilotildees que podem ser entendidas como as

ferramentas necessaacuterias para a realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo As condiccedilotildees e as operaccedilotildees podem

ser relacionadas ao indiviacuteduo agrave inconsciecircncia e agrave incorporaccedilatildeo (KAWASAKI 2008 p 108)

ldquoOs motivos portanto pertencem agrave realidade socialmente estruturada de produccedilatildeo e

apropriaccedilatildeo ao passo que as accedilotildees pertencem agrave realidade imediata de objetivos praacuteticosrdquo

(KOZULIN 2002 p 132 itaacutelicos meus)

Para Leontiev (1978) a principal caracteriacutestica que distingue uma atividade da

outra eacute a diferenccedila de seus objetos Para o autor o objeto de uma atividade eacute o que lhe fornece

uma direccedilatildeo determinada uma finalidade constituindo-se dessa forma como seu verdadeiro

motivo Vale ressaltar que para Leontiev o objeto de qualquer atividade humana natildeo eacute algo

neutro nem individual mas sim um objeto da experiecircncia coletiva social pois para ele a

atividade dos outros nos oferece uma base uma gama de possibilidades objetivas que abarca

uma espeacutecie de estrutura especiacutefica das accedilotildees do indiviacuteduo

Eacute preciso entender a atividade levando-se em conta a dinacircmica das necessidades

assim como as diversas formas de executar accedilotildees e operaccedilotildees que podem alterar os processos

constituintes da atividade As accedilotildees podem se transformar em atividades as atividades

podem se transformar em accedilotildees as accedilotildees podem se tornar procedimentos para alcanccedilar um

objetivo configurando-se assim como operaccedilotildees

Para Engestroumlm ldquouma entidade do mundo exterior torna-se um objeto da

atividade quando atende a uma necessidade humana29

rdquo (ENGESTROumlM 2008 p 89 grifos

meus) E para Leontiev (1978) essa reuniatildeo eacute um ldquoato extraordinaacuteriordquo o sujeito constroacutei o

objeto destacando as propriedades que julga serem essenciais para o desenvolvimento da

praacutetica social em que deseja se engajar

Os artefatos mediadores da atividade para Engestroumlm (1987) satildeo considerados

as ferramentas e os signos necessaacuterios para que o sujeito da atividade realize accedilotildees orientadas

para o objetomotivo

Se considerarmos por exemplo a caccedila como uma atividade humana o alimento

(a presa) seria o objeto da atividade pois o alimento eacute o objeto pelo qual a atividade eacute

orientada Tal atividade estaria amparada pela finalidade relacionada a uma necessidade ou

desejo a necessidade de saciar a fome ou desejo de comer uma iguaria As accedilotildees entatildeo

29

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoAn entity in the outside world becomes an object of activity as it meets a

human needrdquo

34

estariam relacionadas aos processos ou objetivos parciais para alcanccedilar o objetivo Para

satisfazer a necessidade pelo alimento eacute preciso executar accedilotildees que natildeo visam diretamente agrave

obtenccedilatildeo do alimento como por exemplo preparar algum equipamento para ser utilizado na

caccedila Para isso seriam necessaacuterias condiccedilotildees para que tais equipamentos possam ser

elaborados como habilidades de construir equipamentos teacutecnicas de extraccedilatildeo de mateacuteria-

prima para a elaboraccedilatildeo dos equipamentos entre outras e ainda precisariam ser

implementadas operaccedilotildees que possibilitem essa fase da atividade de caccedila

A atividade educacional ndash formativa e institucionalizada- foi investigada

profundamente por Davydov que incorporou conceitos de Vigotski e Leontiev para formular

uma teoria sobre o ensino a teoria do ensino desenvolvimental (LIBAcircNEO FREITAS 2006)

Na sociedade informacional Davydov afirma que a tarefa da escola contemporacircnea consiste

em ensinar os aprendizes a se orientarem independentemente que inclui informaccedilotildees oriundas

das comunidades cientiacuteficas - ensinaacute-los a pensar por meio de um ensino que promova o

desenvolvimento mental e psiacutequico (DAVIacuteDOV 1988 p 3 apud LIBAcircNEO FREITAS

2006)

Davydov (1988 apud LIBAcircNEO FREITAS 2006) enfatiza que educaccedilatildeo e

ensino satildeo necessaacuterios para o desenvolvimento humano e que estatildeo amalgamadas agraves

premissas da teoria histoacuterico-cultural de Vigotski que inclui os fatores socioculturais e a

atividade interna dos indiviacuteduos Davydov propotildee um ensino escolar ancorado em atividades

de aprendizagem cujo conteuacutedo do ensino seja a base do ensino desenvolvimental Vale

ressaltar que Davydov natildeo defende a mera transmissatildeo de conteuacutedos mas sim a escola como

promotora de atividades que forneccedilam aos alunos mecanismos para o desenvolvimento de

suas habilidades e competecircncias incluindo aprender por si mesmos

Alguns autores se baseiam em Davydov e tratam dos fenocircmenos educativos como

praacutetica social - como uma atividade Para Rigon Asbahr e Moretti (2010 p 24 grifo meu)

o objeto da atividade pedagoacutegica eacute a transformaccedilatildeo dos indiviacuteduos no processo de

apropriaccedilatildeo dos conhecimentos e saberes por meio desta atividade ndash teoacuterica e

praacutetica ndash eacute que se materializa a necessidade humana de se apropriar dos bens

culturais como forma de constituiccedilatildeo humana

Engestroumlm (2008) entende que tradicionalmente o objeto da atividade do

professor ao participar de praacuteticas escolares pode ser socialmente entendido como sendo o

texto escolar (textos que englobam os livros didaacuteticos apostilas ou ateacute mesmo textos escritos

na lousa pelos professores e reproduzidos nos cadernos dos alunos) e aponta que tais ldquotextos

35

tornam-se um mundo fechado um objeto morto cortado de seu contexto de vidardquo

(ENGESTROumlM 1987 p 101) O autor posiciona tambeacutem os estudantes como parte da

componente objeto da atividade do professor Vale ressaltar que nas praacuteticas escolares

tradicionais comumente observadas em processos de escolarizaccedilatildeo na maioria das

instituiccedilotildees brasileiras de ensino o professor direciona sua atenccedilatildeo agrave transformaccedilatildeo dos

estudantes isto eacute educar significa transformar o estudante no que tange ao entendimento do

mundo e da realidade que o cerca tomando-se por base o texto escolar como referecircncia para

tal transformaccedilatildeo Engestroumlm (2008 p 89) esclarece ainda que

Nessa capacidade construiacuteda relacionada agrave necessidade o objeto ganha forccedila

motivacional que daacute forma e direccedilatildeo para a atividade O objeto determina o

horizonte de objetivos e accedilotildees possiacuteveis A atividade de trabalho dos professores nas

escolas eacute chamada de ensino A atividade dos estudantes nas escolas pode ser

chamada de school-going30

Bernardes (2009) reafirma o posicionamento de Engestroumlm (2008) a respeito do

objeto da atividade da educaccedilatildeo escolar ou seja das praacuteticas educativas escolarizadas como

um direcionamento de accedilotildees objetivando a transformaccedilatildeo do sujeito que aprende sendo este

o primeiro objeto da atividade de ensino A autora ainda afirma existir um segundo objeto

relacionado agrave atuaccedilatildeo profissional do educador sendo alicerccedilado na seguinte questatildeo o quecirc

ensinar e de que forma se organiza o ensino

A seleccedilatildeo e a identificaccedilatildeo do conhecimento teoacuterico-cientiacutefico a ser ensinado na

escola e a definiccedilatildeo das condiccedilotildees adequadas para a materializaccedilatildeo da organizaccedilatildeo

das accedilotildees de ensino na atividade pedagoacutegica requerem que o educador materialize o

segundo objeto da atividade de ensino O produto desta atuaccedilatildeo profissional eacute a

elaboraccedilatildeo de um instrumento que medeia o conhecimento que se objetiva e se

materializa na organizaccedilatildeo das accedilotildees de ensino (BERNARDES 2009 p 237)

Asbahr (2005) enfatiza que a significaccedilatildeo social da atividade pedagoacutegica do

professor seria proporcionar ambientes de aprendizagem que possibilitem aos estudantes se

engajarem em atividades de aprendizagem garantindo-lhes assim apropriaccedilatildeo do

conhecimento natildeo cotidiano A autora afirma que ensino-aprendizagem somente configura

uma atividade coletiva quando satildeo postos em uma uacutenica unidade isto eacute a atividade de ensino

ocorre se e somente se ocorrer a atividade de aprendizagem Dessa forma 30

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoIn this constructed need-related capacity the object gains motivating force

that gives shape and direction to activity The object determines the horizon of possible goals and actions The

work activity of school teachers is called teaching The activity of school students may be called school-goingrdquo

Natildeo encontrei uma traduccedilatildeo considerada por mim como satisfatoacuteria para o que Engestroumlm (1987 2008) chama

de school-going Contudo penso que o autor busca relacionar esse termo agrave ida dos estudantes diariamente agraves

escolas Talvez possa ser traduzido como ldquoida agrave escolardquo

36

O aluno natildeo eacute soacute objeto da atividade do professor mas eacute principalmente sujeito e

constitui-se como tal na atividade ensinoaprendizagem na medida em que participa

ativamente e intencionalmente do processo de apropriaccedilatildeo do saber superando o

modo espontacircneo e cotidiano de conhecer (BASSO 1994 apud ASBAHR 2005 p

114)

Na tentativa de entender os mais diversos fenocircmenos que podem ocorrer nas

praacuteticas escolares de ensino e aprendizagem podemos utilizar o aporte teoacuterico de Engestroumlm

(2001) que propotildee uma estrutura triangular para representar as accedilotildees individuais ou em

grupos constituindo sistemas de atividade coletiva contendo os seguintes elementos sujeito

artefatos ou instrumentos mediadores (ferramentas e signos) objeto comunidade regras

divisatildeo de trabalho e resultado (ENGESTROumlM 2001) como segue

FIGURA 1 ndash A estrutura de um sistema de atividade humana

Fonte ENGESTROumlM 2001 p 135

Os elementos da estrutura da atividade representada na FIG 1 (ENGESTROumlM

2001) podem ser explicados por Engestroumlm (1993)

No modelo o sujeito refere-se ao indiviacuteduo ou subgrupo cujo poder de agir eacute

tomado como ponto de vista na anaacutelise O objeto refere-se agrave ldquomateacuteria primardquo ou ao

ldquoespaccedilo problemardquo para o qual a atividade estaacute direcionada e que eacute moldado ou

transformado em resultados com o auxiacutelio de ferramentas fiacutesicas e simboacutelicas

externas e internas (instrumentos e signos mediadores) A comunidade compreende

indiviacuteduos eou subgrupos que compartilham o mesmo objeto geral A divisatildeo de

trabalho refere-se tanto agrave divisatildeo horizontal de tarefas entre os membros da

comunidade quanto agrave divisatildeo vertical de poder e status Finalmente as regras

referem-se aos regulamentos impliacutecitos e expliacutecitos normas e convenccedilotildees que

37

restringem as accedilotildees e interaccedilotildees no interior do sistema de atividade31

(ENGESTROumlM 1993 p 67 grifos do autor)

Engestroumlm (1987 2002 2008) critica veementemente a inversatildeo de papel que

pode ocorrer com o texto escolar em atividades de ensino-aprendizagem Para ele quando o

texto escolar (os livros didaacuteticos) eacute tomado como objeto da atividade escolar ocorre uma

inversatildeo de papeacuteis o que era para ser um instrumento passa a ser objeto da atividade

Engestroumlm (2008 p 89) ainda esclarece que ldquoem school-going textos assumem o papel de

objeto Este objeto eacute moldado pelos alunos de uma maneira curiosa o resultado de sua

atividade eacute sobretudo o mesmo texto reproduzido e modificado oralmente ou escrito de outra

forma32

rdquo

Sendo assim o objeto da atividade school-going pode ser caracterizado pelos

textos escolares (livros didaacuteticos apostilas etc) e pelos estudantes em formaccedilatildeo ndash alunos E

como objetivo central de tal atividade podemos considerar a transformaccedilatildeo dos indiviacuteduos

no processo de apropriaccedilatildeo dos conhecimentos e saberes (bens histoacutericos e culturais)

impressos nos textos e reproduzidos nas interaccedilotildees Nesse sentido o objetivo consiste na

capacitaccedilatildeo dos alunos para recriar ou refazer o ensinado

Vale pontuar que para Engestroumlm (2001 p 137 grifo meu) as ldquocontradiccedilotildees satildeo

tensotildees estruturais historicamente acumuladas dentro e entre sistemas de atividade33

rdquo Para

ele contradiccedilatildeo natildeo eacute a mesma coisa que problemas ou conflitos O autor esclarece que a

contradiccedilatildeo primaacuteria de atividades no capitalismo estaacute localizada no valor de uso e de troca

das mercadorias Engestroumlm (2001 p 137 grifo meu) enfatiza ainda que

Esta contradiccedilatildeo primaacuteria permeia todos os elementos de nossos sistemas de

atividade Atividades satildeo sistemas abertos Quando um sistema de atividade adota

um novo elemento de fora (por exemplo uma nova tecnologia ou um novo objeto)

ele leva frequentemente a uma contradiccedilatildeo secundaacuteria agravada onde algum antigo

elemento (por exemplo as regras ou a divisatildeo do trabalho) colide com o novo Tais

31

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoIn the model the subject refers to the individual or subgroup whose agency is

chosen as the point of view in the analysis The object refers to the ldquoraw materialrdquo or ldquoproblem spacerdquo at which

the activity is directed and which is molded or transformed into outcomes with the help of physical and

symbolic external an internal tools (mediating instruments and signs) The community comprises multiple

individuals andor subgroups who share the same general object The division of labor refers to both the

horizontal division of tasks between the members of the community and to the vertical division of power and

status Finally the rules refer to the explicit and implicit regulations norms and conventions that constrain

actions and interactions within the activity systemrdquo 32

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoIn school-going text takes the role of the object This object is molded by the

pupils in a curious manner the outcome if their activity is above all the same text reproduced and modified

orally or in written formrdquo 33

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoContradictions are historically accumulating structural tensions within and

between activity systemsrdquo

38

contradiccedilotildees geram distuacuterbios e conflitos mas tambeacutem tentativas inovadoras para

mudar a atividade34

Quando o texto escrito que compotildee livros didaacuteticos adotados durante os processos

de escolarizaccedilatildeo torna-se o objeto da atividade escolar em vez de ser um instrumento que

auxilie o entendimento do mundo podemos perceber que esse texto passa a carregar consigo

uma contradiccedilatildeo interna Engestroumlm (1987 p 102 grifo meu) faz os seguintes apontamentos

Primeiro de tudo ele eacute um objeto morto a ser reproduzido a fim de ganhar notas ou

outros lsquomarcadores de sucessorsquo que cumulativamente determinam o valor futuro do

proacuteprio aluno no mercado de trabalho Por outro lado ele tambeacutem tendenciosamente

aparece como um instrumento vivo de dominaccedilatildeo da proacutepria relaccedilatildeo com a

sociedade fora da escola [] como o objeto da atividade eacute tambeacutem o seu verdadeiro

motivo a natureza inerentemente dupla do motivo da school-going eacute agora visiacutevel35

Vale ressaltar que Engestroumlm (2001 p 136) enfatiza que para localizar qualquer

pesquisa na terceira geraccedilatildeo da Teoria da Atividade eacute preciso analisar no miacutenimo dois

sistemas de atividade interconectados

Na tentativa de exemplificar uma possiacutevel anaacutelise de atividade de aprendizagem

escolar tradicional utilizando a terceira geraccedilatildeo da Teoria da Atividade proposta por

Engestroumlm e seus colaboradores utilizarei um modelo exposto em Engestroumlm (2008 p 89)36

em que eacute apresentada uma unidade de anaacutelise (miacutenima) quando se deseja entender fenocircmenos

da sala de aula tradicional sistemas interconectados de atividade de ensino tradicional

(school-going) No modelo os sistemas de atividade dos professores como sujeitos de sua

proacutepria atividade diferem dos sistemas de atividade dos estudantes ora enquanto sujeitos de

sua proacutepria atividade ora enquanto objeto da atividade dos professores

FIGURA 2 ndash Os interdependentes sistemas de atividade de estudantes e professor

Fonte elabora do pela autora com base em ENGESTROumlM 2001 p 136 37

34

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoThis primary contradiction pervades all elements of our activity systems

Activities are open systems When an activity system adopts a new element from the outside (for example a new

technology or a new object) it often leads to an aggravated secondary contradiction where some old element (for

example the rules or the division of labor) collides with the new one Such contradictions generate disturbances

and conflicts but also innovative attempts to change the activityrdquo 35

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoFirst of all it is a dead object to be reproduced for the purpose of gaining

grades or other lsquosuccess markersrsquo which cumulatively determine the future value of the pupil himself in the labor

market On the other hand it tendentially also appears as a living instrument of mastering onersquos own relation to

society outside the school [] as the object of the activity is also its true motive the inherently dual nature of

motive of school-going is now visiblerdquo 36

Faccedilo nesse modelo uma pequena modificaccedilatildeo com relaccedilatildeo ao objeto da atividade dos dois sistemas

apresentados tomando por base o modelo apresentado por Engestroumlm (2001 p 136) em que eacute exposto um

terceiro objeto que seria o verdadeiro objeto dos sistemas de atividade no qual esse objeto eacute construiacutedo

mediante o compartilhamento dos outros dois objetos 37

Vide nota de rodapeacute anterior

39

O objeto da atividade school-going dos estudantes conforme representado por

Engestroumlm (2008) na FIG 2 pode ser entatildeo considerado como textos escolares (contidos em

livros didaacuteticos) os estudantes se orientam pelo livro e no livro eacute que eles realizam as accedilotildees

de entendimento dos conteuacutedos do ldquomundordquo presos nos textos escolares Os textos escolares

tambeacutem orientam a atividade dos professores Mas natildeo apenas os livros Os estudantes

tambeacutem fazem parte do objeto da atividade dos professores A ldquonuvemrdquo contida no modelo

corresponde a uma idealizaccedilatildeo do objeto da atividade tradicional como um objeto

compartilhado entre estudantes e professor(es) natildeo afirmo portanto que esse objeto seja

realmente compartilhado nas atividade da escola tradicional em sua totalidade

Bernardes (2009 p 240) confirmando o pensamento de Engestroumlm (2008)

esclarece que o motivo da atividade de ensino a ser realizada pelos professores como

sujeitos pode ser entendido(a) como ldquopossibilitar a transformaccedilatildeo da constituiccedilatildeo dos

estudantes por meio do acesso agrave cultura ndash humanizando-osrdquo O objetivo dessa atividade

estaria ancorado em ldquoensinar o conhecimento soacutecio-histoacutericordquo (BERNARDES 2009 p 240)

Jaacute o motivo da atividade de aprendizagem a ser realizada pelos estudantes ora como sujeitos

de sua proacutepria atividade ora como objeto da atividade do professor pode ser entendido como

ldquotornar-se herdeiro da cultura ndash humanizar-serdquo e o objetivo dessa atividade estaria ancorado

em ldquoapropriar-se do conhecimento soacutecio-histoacutericordquo (BERNARDES 2009 p 240)

Tanto para Engestroumlm (2008) quanto para Bernardes (2009) a unidade de anaacutelise

a ser adotada em anaacutelise de atividades formativas seria composta da seguinte forma a

40

atividade pedagoacutegica como sistemas interconectados de atividade ndash a atividade de ensino e a

atividade de aprendizagem (ou school-going para Engestroumlm) realizada por sujeitos

(professores e estudantes) ndash com objetivo relacionado ao acesso e agrave apropriaccedilatildeo da cultura por

meio do acesso e da apropriaccedilatildeo do conhecimento soacutecio-histoacuterico

Com isso cabe um questionamento os estudantes ao se moverem em busca de

satisfazer uma necessidade soacutecio-histoacuterica-cultural ndash humanizar-se ndash com o niacutetido objetivo de

participar da (e ao mesmo tempo agir na) sociedade ao se apropriar do conhecimento soacutecio-

histoacuterico acumulado pelo homem no decorrer de sua historicidade tornam-se eles mesmos

objeto de sua proacutepria atividade Podemos analisaacute-los dessa forma Tornar-se herdeiro da

cultura e se apropriar do conhecimento soacutecio-histoacuterico pode possibilitar ao estudante

transformaccedilotildees em termos de sua proacutepria participaccedilatildeo como ser-no-ldquomundordquo reflete ao

mesmo tempo devido agrave necessidade soacutecio-histoacuterica-cultural que este carrega um ldquomundordquo-

no-ser Dessa forma para analisar por meio da Teoria da Atividade fenocircmenos de ensino-

aprendizagem escolar como interconectados sistemas de atividade eacute necessaacuterio considerar

que ao engajarem em seu proacuteprio processo de escolarizaccedilatildeo (atividade de aprendizagem) os

estudantes satildeo ldquoenquadradosrdquo como objeto de sua proacutepria atividade e natildeo apenas sujeitos jaacute

que a atividade de aprendizagem eacute considerada como uma das componentes dos sistemas de

atividade que perfaz a atividade de ensino-aprendizagem

Dessa forma a atividade tradicional de ensino-aprendizagem constituiacuteda pelos

interconectados sistemas de atividade de alunos e professores cujo objeto eacute o texto escolar

(livros didaacuteticos) e tambeacutem os alunos ndash um objeto a ser compartilhado38

Assim percebemos

que na FIG 2 ocorreraacute num ponto de vista analiacutetico idealizado um compartilhamento entre

os objetos da atividade dos alunos e professor(es) ao considerarmos estes interconectados

sistemas de atividade Ao moldar esculpir construir seu proacuteprio objeto da atividade os

estudantes se tornam objeto de sua proacutepria atividade ndash atividade de aprendizagem ndash fazem

coincidir e passam a compartilhar o objeto da atividade dos professores ndash atividade de ensino

Essa condiccedilatildeo passa entatildeo a se constituir como necessaacuteria para o engajamento de

professores e alunos na atividade de ensino-aprendizagem que na presente pesquisa eacute

tomada como uma unidade de anaacutelise miacutenima utilizando a Teoria da Atividade em sua

denominada por Engestroumlm terceira geraccedilatildeo

38

Na FIG 2 este objeto seria o terceiro deles o idealizado ndash contido na ldquonuvemrdquo o compartilhamento do objeto

da atividade de ensino e do objeto da atividade de aprendizagem

41

Moura et al (2010 p 216 grifos meus) confirmam tal posicionamento com

relaccedilatildeo ao objeto da atividade de aprendizagem focando o conhecimento o conceito e

enfatizando que

Para que a aprendizagem se concretize para os estudantes e se constitua

efetivamente como atividade a atuaccedilatildeo do professor eacute fundamental ao mediar a

relaccedilatildeo dos estudantes com o objeto do conhecimento orientando e organizando o

ensino As accedilotildees do professor na organizaccedilatildeo do ensino devem criar no estudante a

necessidade do conceito fazendo coincidir os motivos da atividade com o objeto de

estudo

Contudo quando Moura et al (2010) enfatizam que os estudantes fazem parte do

objeto da atividade de ensino realizada pelos professores parecem natildeo considerar que a

atividade de ensino somente ocorre em uma diacuteade com a atividade de aprendizagem ldquoNatildeo haacute

docecircncia sem discecircnciardquo (FREIRE 1996 p 21) Soacute haacute ensino quando haacute aprendizagem

Ensina-se algo a algueacutem e esse algueacutem precisa aprender o que foi ensinado para que de fato

se possa dizer que foi ensinado Enquanto ensinar39

pode ser sinocircnimo de instruir ou ajudar

algueacutem a adquirir determinado conhecimento o verbo aprender40

pode ser sinocircnimo de se

instruir ou adquirir determinado conhecimento No entanto Freire (1996 p 23-24 grifo

meu) apesar de natildeo ser um estudiosoadepto da Teoria da Atividade aponta que

Natildeo haacute docecircncia sem discecircncia as duas se explicam e seus sujeitos apesar das

diferenccedilas que os conotam natildeo se reduzem agrave condiccedilatildeo de objeto um do outro

Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender Quem ensina

ensina alguma coisa a algueacutem [] Ensinar inexiste sem aprender [] Natildeo temo

dizer que inexiste validade no ensino de que natildeo resulta um aprendizado em que o

aprendiz natildeo se tornou capaz de recriar ou de refazer o ensinado em que o ensinado

que natildeo foi apreendido natildeo pode ser realmente aprendido pelo aprendiz

Natildeo eacute claro para mim o que Freire (1996) quis dizer quando enfatizou ldquonatildeo se

reduzem agrave condiccedilatildeo de objeto um do outrordquo contudo parece ter relaccedilatildeo direta com sua

rejeiccedilatildeo no que diz respeito agrave crenccedila de que ensinar eacute transferir conhecimento a algueacutem

sendo entatildeo esse algueacutem objeto daquele que transfere o conhecimento Para Freire (1996 p

22 grifos do autor) ldquoensinar natildeo eacute transferir conhecimento mas criar possibilidades para a

sua produccedilatildeo ou a sua construccedilatildeordquo

Sendo assim entendo que Engestroumlm (2008) expotildee interconectados sistemas de

atividade perfazendo a atividade do professor e a atividade dos estudantes (school-going) de 39

httpptwiktionaryorgwikiensinar

httpwwwdiciocombrensinar 40

httpptwiktionaryorgwikiaprender

httpwwwdiciocombraprender

42

forma distinta por perceber que nem sempre acontece de o aluno se reconhecer como objeto

de sua proacutepria atividade de aprendizagem mais do que isso o autor expotildee que a atividade

escolar tradicional descrita na FIG 2 eacute ldquoamplamente considerada alienante para ambos

estudantes e professores41

rdquo (ENGESTROumlM 2008 p 90) Tal alienaccedilatildeo acontece

principalmente pelo objeto da atividade de alunos e professores no processo tradicional de

escolarizaccedilatildeo estar ancorado no livro-texto em vez de o texto representar um instrumento que

auxilie a apropriaccedilatildeo dos conhecimentos como fatos socialmente e historicamente

construiacutedos

Vale ressaltar que a necessidade de apropriaccedilatildeo dos conhecimentos na qualidade

de constructos soacutecio-histoacuterico-culturais eacute (ou deveria ser) comungada por todos os indiviacuteduos

afetados pelo processo de escolarizaccedilatildeo ndash estudantes e professores mais do que eles todos os

indiviacuteduos da sociedade almejam por instruccedilatildeo Eacute na escola que se efetuam as praacuteticas de

instruccedilatildeo baseadas nos conhecimentos institucionalizados pela ciecircncia e referenciados por

todos A necessidade que pode ser atribuiacuteda pelo compartilhamento do conhecimento eacute (ou

deveria ser) comungada por estudantes e professores que ligados a essa necessidade

constroem os respectivos objetos de suas atividades como sujeitos na escola a atividade

educacional escolar cujo objeto eacute o conhecimento a ser compartilhado Aleacutem disso somente

entendo os estudantes como objeto da atividade do professor se eles se reconhecerem como

objeto da proacutepria atividade de aprendizagem ndash enquanto o primeiro instrui o segundo se

instrui inexoravelmente42

Uma observaccedilatildeo importante feita por Engestroumlm (2008) diz respeito agrave

metodologia de anaacutelise e tambeacutem agrave de construccedilatildeo dos dados de uma investigaccedilatildeo quando se

pretende usar a (denominada por ele) terceira geraccedilatildeo da Teoria da Atividade como ldquolenterdquo

teoacuterica Nas palavras dele

Orientadas pelo objetivo accedilotildees instrumentais publicamente roteirizadas satildeo a ponta

facilmente discerniacutevel do iceberg a profundidade da estrutura social da atividade

estaacute por debaixo da superfiacutecie mas oferece estabilidade e ineacutercia para o sistema

Assim o subtriacircngulo superior (sujeito-instrumentos-objeto) da Figura 7 representa

as accedilotildees instrumentais visiacuteveis de professores e alunos O curriacuteculo oculto estaacute

amplamente localizado na parte inferior do diagrama na natureza das regras a

comunidade e a divisatildeo do trabalho da atividade43

(ENGESTROumlM 2008 p 90)

41

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquowidely considered alienating for both students and teachersrdquo 42

Na minha concepccedilatildeo baseada nas ideias de Paulo Freire ensinar e aprender satildeo atividades disjuntas Ensinar

algo a algueacutem Nisso estaacute impresso uma mutualidade no objeto idealizado da atividade de ensino-

-aprendizagem escolar algo (algum conhecimento fenocircmeno conteuacutedo) e algueacutem (aquele que desempenharaacute as

accedilotildees empreendidas pelo aprender) 43

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoGoal-oriented publicly scripted instrumental actions are the easily discernible

tip of the iceberg the deep social structure of activity is underneath the surface but provides stability and inertia

43

Mesmo natildeo sendo necessariamente visiacuteveis do ponto de vista metodoloacutegico de

uma investigaccedilatildeo seratildeo consideradas na presente pesquisa as accedilotildees instrumentais localizadas

na parte inferior do diagrama de Engestroumlm (conforme FIG 1 e FIG 2) tais como as relaccedilotildees

de poder e controle que medeiam regulam e influenciam as relaccedilotildees sociais incluindo o

discurso como um produto histoacuterico-cultural

Ainda seratildeo considerados os seguintes cinco princiacutepios baacutesicos da Teoria da

Atividade44

apontados por Engestroumlm (2001 p 136-137) O primeiro diz respeito ao uso dos

sistemas de atividade como a unidade de anaacutelise Para isso ele apresenta seu sistema

triangular estendido como modelo para organizaccedilatildeo sistecircmica dos elementos que compotildeem a

atividade conforme exemplificado anteriormente na FIG 2 O segundo princiacutepio diz respeito

agrave multivocalidade do sistema de atividade Um sistema de atividades eacute composto por

comunidades com muacuteltiplos pontos de vista tradiccedilotildees e interesses A divisatildeo do trabalho cria

diferentes posiccedilotildees para os partiacutecipes que por sua vez portam suas proacuteprias e diversas

histoacuterias de vida os sistemas de atividade portam ainda muacuteltiplas camadas e vertentes da

histoacuteria gravadas em artefatos mediadores regras e convenccedilotildees O terceiro princiacutepio afirma

que a anaacutelise da atividade e dos componentes que a formam deve sempre ser tomada em sua

historicidade perceber o papel das contradiccedilotildees no movimento de uma atividade torna

possiacutevel tambeacutem a reconstituiccedilatildeo de sua evoluccedilatildeo e do desenvolvimento de suas praacuteticas ao

longo da histoacuteria O quarto princiacutepio que segundo Engestroumlm (2001) deveria ser seguido por

uma pesquisa que utiliza a Teoria da Atividade diz respeito agrave busca pelas contradiccedilotildees

internas dentro da atividade que seriam a forccedila motriz do desenvolvimento podendo ser

expressas por distuacuterbios inovaccedilotildees e mudanccedilas nos sistemas de atividade Finalmente o

quinto princiacutepio proclama a possibilidade de transformaccedilotildees expansivas nos sistemas de

atividade ldquoUma transformaccedilatildeo expansiva eacute realizada quando o objeto e o motivo da atividade

satildeo reconceitualizados adotando um horizonte radicalmente mais amplo de possibilidades do

que no estaacutegio anterior da atividade45

rdquo (ENGESTROumlM 2001 p 137) Para Engestroumlm

(1987) um ciclo completo de transformaccedilotildees expansivas pode ser entendido como uma

jornada coletiva por meio da zona de desenvolvimento proximal da atividade que ldquoeacute a

for the system Accordingly the topmost subtriangles (subject-instruments-object) da Figure 51 represent the

visible instrumental actions of teachers and students The hidden curriculum is largely located in the bottom parts

of the diagram in the nature of the rules the community and the division of labor of the activityrdquo 44

Denominada por Engestroumlm como a terceira geraccedilatildeo da teoria da atividade 45

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoAn expansive transformation is accomplished when the object and motive of

the activity are reconceptualized to embrace a radically wider horizon of possibilities than in the previous mode

of the activityrdquo

44

distacircncia entre as accedilotildees cotidianas dos indiviacuteduos e a historicamente nova forma de atividade

social que pode ser gerada coletivamente como uma soluccedilatildeo para o dilema potencialmente

incorporado nas accedilotildees cotidianasrdquo46

(ENGESTROumlM 1987 p 174)

Engestroumlm (1993) enfatiza que no que tange agrave historicidade de uma atividade a

ser analisada pela Teoria da Atividade a classificaccedilatildeo entre modos e tipos histoacutericos deve ser

realizada Para o autor o modo se refere agrave forma que certa atividade eacute organizada e realizada

pelos participantes em um dado momento O modo ldquose assemelha a um mosaico em constante

evoluccedilatildeo consistindo de vaacuterios interesses paralelos vozes e camadas47

rdquo (ENGESTROumlM

1993 p 68) Contudo um sistema de atividade como um todo tambeacutem representa algum

padratildeo qualitativo historicamente identificaacutevel ndash um tipo ideal ndash de seus componentes e suas

relaccedilotildees internas Partindo de tal diferenciaccedilatildeo Engestroumlm (1993) constroacutei um modelo

conceitual geral que permite analisar esses tipos histoacutericos com base na caracterizaccedilatildeo de

duas variaacuteveis principais o grau de complexidade e o grau de centralizaccedilatildeo O grau de

complexidade tende a ser crescente com o passar do tempo histoacuterico Jaacute o grau de

centralizaccedilatildeo dependeraacute do tipo de atividade a ser analisada Baixos graus de centralizaccedilatildeo e

altos graus de complexidade hipoteticamente corresponderiam a atividades dominadas

coletivamente e expansivamente

Engestroumlm (2002) na tentativa de criar uma maneira proacutepria de possibilitar e

analisar aprendizagens buscou inspiraccedilatildeo em dois autores O primeiro deles Davydov propocircs

uma estrateacutegia de ensino denominada formaccedilatildeo de conceitos teoacutericos pela ascensatildeo do

abstrato ao concreto que busca por meio de uma abstraccedilatildeo primaacuteria uma ldquoceacutelula

germinativardquo formas de deduzir e unificar outras formas de abstraccedilatildeo e generalizaccedilatildeo

transformando essa abstraccedilatildeo primaacuteria em um ldquoconceitordquo que imprime a ceacutelula germinativa

em sua essecircncia Para isso eacute preciso que ldquoos alunos reproduzam o processo atual pelo qual as

pessoas criaram conceitos imagens valores e normasrdquo (DAVYDOV 1988 p 21 apud

ENGESTROumlM 2002 p 185) A segunda autora eacute Jean Lave que propocircs analisar a

aprendizagem como participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima em comunidades de praacutetica Farei uma

breve explanaccedilatildeo dessas duas abordagens48

46

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoIt is the distance between the present everyday actions of the individuals and

the historically new form of the societal activity that can be collectively generated as a solution to the double

bind potentially embedded in the everyday actionsrdquo 47

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoThe mode resembles a continuously evolving mosaic consisting of various

parallel interests voices and layersrdquo 48

Engestroumlm (2002) busca inspiraccedilatildeo nas abordagens desses dois autores e agrega a elas o ldquocontexto da criacuteticardquo

(seraacute exposto posteriormente) para gerar um contexto que segundo ele seja propiacutecio para possibilitar

aprendizagens expansivas e por conseguinte o ldquorompimento da encapsulaccedilatildeordquo da aprendizagem escolar

45

11 Meacutetodo da ascensatildeo do abstrato ao concreto de Davydov

A teoria que Davydov propocircs denominada por meacutetodo da ascensatildeo do abstrato ao

concreto considera que a encapsulaccedilatildeo da aprendizagem49

escolar acontece devido ldquoa um vieacutes

empirista descritivo e classificatoacuteriordquo (ENGESTROumlM 2002 p 186) que permeia o ensino

tradicional e a elaboraccedilatildeo dos curriacuteculos Isso implica em um total desconhecimento por parte

dos alunos da gecircnese dos conhecimentos estudados dentro das escolas Engestroumlm e Sannino

(2010b) explicam que

Uma nova ideia ou conceito teoacuterico eacute inicialmente produzido sob a forma de um

abstrato relaccedilatildeo explicativa simples uma lsquoceacutelula germinativarsquo Esta abstraccedilatildeo

inicial eacute enriquecida passo-a-passo e transformada em um sistema concreto de

muacuteltiplas manifestaccedilotildees em constante desenvolvimento Na atividade de

aprendizagem a ideia inicial simples eacute transformada em um objeto complexo em

uma nova forma de praacutetica Atividade de aprendizagem leva agrave formaccedilatildeo de

conceitos teoacutericos - praacutetica teoricamente apreendida - concreto em riqueza sistecircmica

e multiplicidade de manifestaccedilotildees Neste quadro abstrato refere-se ao parcial

separado do todo concreto50

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 5)

Karel Kosik (1976) pode nos ajudar na compreensatildeo da ascensatildeo do abstrato ao

concreto Buscando em Marx Kosik explora dialeticamente as noccedilotildees de concretude e

abstraccedilatildeo Para isso ele define primeiramente o conceito de pseudoconcreticidade Segundo

ele

O complexo dos fenocircmenos que povoam o ambiente cotidiano e a atmosfera comum

da vida humana que com a sua regularidade imediatismo e evidecircncia penetram na

consciecircncia dos indiviacuteduos agentes assumindo um aspecto independente e natural

constitui o mundo da pseudoconcreticidade A ele pertecem

O mundo dos fenocircmenos externos que se desenvolvem agrave superfiacutecie dos processos

realmente essenciais

O mundo do traacutefico e da manipulaccedilatildeo isto eacute da praxis fetichizada dos homens (a

qual natildeo coincide com a praxis criacutetica revolucionaacuteria da humanidade)

49

O autor aborda a questatildeo da descontinuidade entre atividades escolares e atividades fora da escola

considerando os conhecimentos escolares como algo encapsulado distante da realidade cotidiana dos indiviacuteduos

que participam de tais praacuteticas denominando tal fenocircmeno por encapsulaccedilatildeo da aprendizagem escolar Ao

refletir sobre os motivos que levam os indiviacuteduos a participarem de atividades escolares enfatiza que na maioria

das vezes eles natildeo aprendem para a vida mas para a escola (ENGESTROumlM 2002) 50

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoA new theoretical idea or concept is initially produced in the form of an

abstract simple explanatory relationship a lsquogerm cellrsquo This initial abstraction is step-by-step enriched and

transformed into a concrete system of multiple constantly developing manifestations In learning activity the

initial simple idea is transformed into a complex object into a new form of practice Learning activity leads to

the formation of theoretical concepts ndash theoretically grasped practice ndash concrete in systemic richness and

multiplicity of manifestations In this framework abstract refers to partial separated from the concrete wholerdquo

46

O mundo das representaccedilotildees comuns que satildeo projeccedilotildees dos fenocircmenos externos

na consciecircncia dos homens produto da praxis feitichizada formas ideoloacutegicas de

seu movimento

O mundo dos objetos fixados que datildeo a impressatildeo de ser condiccedilotildees naturais e natildeo

satildeo imediatamente reconheciacuteveis como resultados da atividade social dos homens

(KOSIK 1976 p 15 grifo do autor)

Kosik nos mostra como o pensamento dialeacutetico entre a pseudoconcreticidade e os

fenocircmenos cotidianos estatildeo inteiramente relacionados por meio da consciecircncia dos

indiviacuteduos Diz ainda que para atingir a concreticidade eacute preciso destruir a

pseudoconcreticidade Nas palavras de Kosik (1976)

O pensamento que quer conhecer adequadamente a realidade que natildeo se contenta

com os esquemas abstratos da proacutepria realidade nem com suas simples e tambeacutem

abstratas representaccedilotildees tem de destruir a aparente independecircncia do mundo dos

contatos imediatos de cada dia O pensamento que destroacutei a pseudoconcreticidade

para atingir a concreticidade eacute ao mesmo tempo um processo no curso do qual sob o

mundo da aparecircncia se desvenda o mundo real por traacutes da aparecircncia externa do

fenocircmeno se desvenda a lei do fenocircmeno por traacutes do movimento visiacutevel o

movimento real interno por traacutes do fenocircmeno a essecircncia (KOSIK 1976 p 20)

Vale ressaltar que para Kosik (1976 p 36) ldquoo meacutetodo da ascensatildeo do abstrato ao

concreto eacute o meacutetodo do pensamentordquo atuando nos conceitos que satildeo considerados os

elementos da abstraccedilatildeo Sendo assim o autor explicita que tal ascensatildeo natildeo pode ser

entendida como uma lsquopassagemrsquo de um plano (sensiacutevel) para outro plano (racional) ou seja

para ele tal ascensatildeo consiste em ldquoum movimento no pensamento e do pensamentordquo (KOSIK

1976 p 36) Nesse sentido o autor aponta que

A ascensatildeo do abstrato ao concreto eacute um movimento para o qual todo iniacutecio eacute

abstrato e cuja dialeacutetica consiste na superaccedilatildeo desta abstratividade [] O processo

do pensamento natildeo se limita a transformar o todo caoacutetico das representaccedilotildees no todo

transparente dos conceitos no curso do processo o proacuteprio todo eacute concomitante

delineado determinado e compreendido (KOSIK 1976 p 36-37)

As reflexotildees apontadas por Kosik (1976) podem nos fornecer subsiacutedios

epistemoloacutegicos para o entendimento da estrateacutegia de ascender do abstrato para o concreto de

Davydov A teoria de Davydov aponta para a necessidade de a escola atuar de forma a

direcionar os alunos a descobrirem o ldquonuacutecleordquo ou ldquogermerdquo do assunto acadecircmico a ser

estudado Nas palavras de Davydov (1988)

Ao iniciar o domiacutenio de qualquer mateacuteria curricular os alunos com a ajuda dos

professores analisam o conteuacutedo do material curricular e identificam nele a relaccedilatildeo

geral principal e ao mesmo tempo descobrem que esta relaccedilatildeo se manifesta em

47

muitas outras relaccedilotildees particulares encontradas nesse determinado material Ao

registrar por meio de alguma forma referencial a relaccedilatildeo geral principal

identificada os alunos constroem com isso uma abstraccedilatildeo substantiva do assunto

estudado Continuando a anaacutelise do material curricular eles detectam a vinculaccedilatildeo

regular dessa relaccedilatildeo principal com suas diversas manifestaccedilotildees obtendo assim

uma generalizaccedilatildeo substantiva do assunto estudado Dessa forma as crianccedilas

utilizam consistentemente a abstraccedilatildeo e a generalizaccedilatildeo substantivas para deduzir

(uma vez mais com o auxiacutelio do professor) outras abstraccedilotildees mais particulares e para

uni-las no objeto integral (concreto) estudado Quando os alunos comeccedilam a usar a

abstraccedilatildeo e a generalizaccedilatildeo iniciais como meios para deduzir e unir outras

abstraccedilotildees eles convertem as estruturas mentais iniciais em um conceito que

representa o ldquonuacutecleordquo do assunto estudado Este ldquonuacutecleordquo serve posteriormente agraves

crianccedilas como um princiacutepio geral pelo qual elas podem se orientar em toda a

diversidade do material curricular factual que tecircm que assimilar em uma forma

conceitual por meio da ascensatildeo do abstrato ao concreto (DAVYDOV 1988 p 22

apud LIBAcircNEO 2004 p 17)

Engestroumlm (2002 p 186) enfatiza que a escola tradicional tende a permanecer

inerte ldquoporque seus lsquogermesrsquo nunca satildeo descobertos pelos estudantes e consequentemente

porque os estudantes natildeo tecircm a chance de usar esses lsquogermesrsquo para deduzir explicar predizer

e controlar na praacutetica fenocircmenos e problemas concretos em seu ambienterdquo Davydov

considera seis accedilotildees que devem orientar as atividades de aprendizagem orientadas pelo

meacutetodo da ascensatildeo do abstrato para o concreto Satildeo elas

1) Transformar as condiccedilotildees da tarefa a fim de revelar a relaccedilatildeo universal do objeto

em estudo

2) Modelar a relaccedilatildeo natildeo-identificada numa forma de item especiacutefico graacutefica ou

literal

3) Transformar o modelo da relaccedilatildeo a fim de estudar suas propriedades em sua

ldquoaparecircncia purardquo

4) Construir um sistema de tarefas particulares que satildeo resolvidas por um modo

geral

5) Monitorar o desempenho das accedilotildees precedentes

6) Avaliar a assimilaccedilatildeo do modo geral que resulta da resoluccedilatildeo da tarefa de

aprendizagem dada (DAVYDOV 1988 p 30 apud ENGESTROumlM 2002 p 186)

A FIG 3 mostra as fases da generalizaccedilatildeo teoacuterica proposta por Davydov como o

meacutetodo da ascensatildeo do abstrato ao concreto

48

FIGURA 3 ndash Sumaacuterio da generalizaccedilatildeo teoacuterica de Davydov

Fonte DAVYDOV 1982 p 42 apud ENGESTROumlM 2009 p 326

Engestroumlm (2002 p 188 grifo do autor) aponta que a soluccedilatildeo proposta por

Davydov para resolver a questatildeo da aprendizagem escolar pretende ldquoempurrar a escola para

dentro do mundo tornando-a dinacircmica e teoricamente poderosa no enfrentamento de

problemas praacuteticosrdquo Poreacutem para Engestroumlm (2002) essa estrateacutegia parece natildeo mudar a base

social da aprendizagem escolar mas ldquoao colocar os alunos em contato com os descobridores

do passado a estrateacutegia pode muito bem dar poder aos alunosrdquo (ENGESTROumlM 2002 p

188)

12 A participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima de Lave

Os conceitos fundamentais da abordagem de Jean Lave e Etiene Wenger se

baseiam na Participaccedilatildeo Perifeacuterica Legiacutetima (PPL) em comunidades de praacutetica que propotildeem

a noccedilatildeo de aprendizagem como o movimento gradualmente crescente na participaccedilatildeo de

sujeitos em comunidades de praacutetica Dessa forma ldquoa aprendizagem deve ser analisada como

uma parte integral da praacutetica social em que estaacute ocorrendo Para se mudar ou melhorar a

49

aprendizagem deve se reorganizar a praacutetica socialrdquo (ENGESTROumlM 2002 p 188) Ainda

Engestroumlm (2002) sinaliza que Lave e Wenger sugerem que

a aprendizagem como participaccedilatildeo em comunidades de praacutetica eacute particularmente

efetiva (a) quando os participantes tecircm amplo acesso a diferentes partes da atividade

e terminam procedendo agrave plena participaccedilatildeo nas tarefas nucleares (b) quando haacute

abundante interaccedilatildeo horizontal entre os participantes mediada especialmente por

histoacuterias de situaccedilotildees problemaacuteticas e suas soluccedilotildees e (c) quando as tecnologias e

estruturas da comunidade de praacutetica satildeo transparentes isto eacute quando seus

mecanismos internos estatildeo disponiacuteveis para a inspeccedilatildeo do aprendiz (ENGESTROumlM

2002 p 189)

Sob a oacutetica da aprendizagem como participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima em

comunidades de praacutetica Engestroumlm (2002) enfatiza que nas escolas muitas vezes haacute a

predominacircncia de curriacuteculos ocultos produzidos por meio de experiecircncias e resultados natildeo

intencionais podendo ateacute mesmo ser considerados condenaacuteveis sob o ponto de vista dos

curriacuteculos oficiais Para fundar uma comunidade de praacutetica com base nas sugestotildees apontadas

acima de forma a reorganizar o ensino seria necessaacuteria a identificaccedilatildeo de uma comunidade

de praacutetica que simularia o que os cientistas ou aqueles que aplicam os conhecimentos

cientiacuteficos fazem em suas atividades diaacuterias

Engestroumlm (2002) aponta que a soluccedilatildeo para a questatildeo da encapsulaccedilatildeo da

aprendizagem escolar proposta por Lave e Wenger cujo foco estaacute no entendimento da

aprendizagem como participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima em comunidades de praacutetica que toma

como objeto da referida atividade o contexto de aplicaccedilatildeo praacutetica parece pretender empurrar

o mundo para dentro da escola por meio da criaccedilatildeo de ldquocomunidades de praacutetica do mundo

exterior para dentro da escolardquo (ENGESTROumlM 2002 p 191 grifo do autor)

13 Aprendizagem expansiva

Engestroumlm (2002) toma como ponto de partida as ideias de Davydov e Lave cujas

abordagens se baseiam respectivamente nos contextos da descoberta e da aplicaccedilatildeo e

anexa a esses contextos o contexto da criacutetica

Para Engestroumlm (2002) as atividades escolares que objetivem o rompimento da

encapsulaccedilatildeo da aprendizagem escolar devem iniciar-se com uma criacutetica meticulosa sobre os

conteuacutedos e procedimentos a serem abordadosestudadosaprendidos agrave luz de sua histoacuteria O

50

autor questiona ldquopor que natildeo deixar que os proacuteprios alunos descubram como suas maacutes

concepccedilotildees satildeo manufaturadas na escolardquo (ENGESTROumlM 2002 p 192 grifo meu) Para

isso o autor orienta que inicialmente seria necessaacuteria uma anaacutelise criacutetica dos livros didaacuteticos e

curriacuteculos em aacutereas especiacuteficas de conteuacutedo

Aliados os contextos da descoberta da aplicaccedilatildeo e da criacutetica podem definir o

que Engestroumlm (2002) chama de contexto da aprendizagem por expansatildeo Para o autor

O contexto da criacutetica enfatiza os poderes de resistir questionar contradizer e

debater O contexto da descoberta enfatiza os poderes de experimentar modelar

simbolizar e generalizar O contexto da aplicaccedilatildeo enfatiza os poderes da relevacircncia

social e da aplicabilidade do conhecimento do envolvimento da comunidade e da

praacutetica guiada (ENGESTROumlM 2002 p 193 grifos meus)

Engestroumlm (1987 2002) enfatiza que para o contexto da criacutetica ser plenamente

estabelecido seria necessaacuterio criar um contexto alternativo de aprendizagem de forma que aos

alunos seja inaugurada a possibilidade de elaborar e implementar um novo caminho na

praacutetica um modelo novo de praacutexis um novo modo de fazer e participar do trabalho escolar

ou seja os sujeitos tecircm de aprender algo que natildeo existe a priori ldquoeles adquirem sua atividade

futura enquanto a vatildeo criandordquo (ENGESTROumlM 2002 p 193) O autor afirma que o ldquotripeacuterdquo

ancorado pelos contextos da descoberta da aplicaccedilatildeo e da criacutetica poderia ser considerado

como ldquoo novo e expandido objeto da aprendizagemrdquo (ENGESTROumlM 2002 p 193) escolar

Para Engestroumlm (2002) esse tipo de expansatildeo no objeto implicaria uma completa

transformaccedilatildeo qualitativa da atividade de aprendizagem escolar

Engestroumlm (2001 p 138) inspirado em Bateson (1972) ndash que distingue trecircs niacuteveis

de aprendizagem (tipos I II e III) ndash propotildee uma nova abordagem para a aprendizagem ndash a

expansiva Para Bateson (1972) aprendizagens de niacutevel I estatildeo baseadas no

ldquocondicionamento aquisiccedilatildeo de respostas consideradas corretas em um dado contextordquo51

(ENGESTROumlM 2001 p 138) Aprendizagens de niacutevel II estatildeo relacionadas agrave aprendizagem

de ldquonormas e padrotildees de comportamento caracteriacutesticos do proacuteprio contextordquo52

(ENGESTROumlM 2001 p 138) Dessa forma muitas vezes os proacuteprios contextos podem estar

embebidos por demandas contraditoacuterias que podem impulsionar aprendizagens de niacutevel III

ldquoquando uma pessoa ou um grupo comeccedila a questionar radicalmente o sentido e o

significado do contexto e constroem um contexto alternativo mais amplo Aprendizagem de

51

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoconditioning acquisition of the responses deemed correct in the given

contextrdquo 52

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquorules and patterns of behavior characteristic to the context itselfrdquo

51

niacutevel III eacute essencialmente um empenho coletivordquo53

(ENGESTROumlM 2001 p 138 itaacutelicos

meus) Engestroumlm (2001) utiliza tais ideias de Bateson (1972) e propotildee a Teoria da

Aprendizagem Expansiva

Aprendizagem de niacutevel III eacute vista como atividade de aprendizagem que tem seu

proacuteprio tipo de accedilotildees e instrumentos [hellip] O objeto da atividade da aprendizagem

expansiva eacute todo o sistema de atividades em que os aprendizes estatildeo engajados

Atividades de aprendizagem expansiva produzem culturalmente novos padrotildees de

atividade Aprendizagem expansiva no trabalho produz novas formas de atividade

de trabalho (ENGESTROumlM 2001 p 139 grifo meu)54

As raiacutezes teoacutericas que fundamentam o conceito de aprendizagem expansiva foram

expostas em Engestroumlm e Sannino (2010b) Os autores apontam seis teoacutericos e as ideias

centrais que foram utilizadas como ldquopano de fundordquo teoacuterico para a elaboraccedilatildeo do conceito de

aprendizagem expansiva Da Escola Histoacuterico-Cultural Russa foram usadas seis ideias dos

acadecircmicos Lev Vygotsky Aleksei Leontev Evald Ilrsquoenkov e Vasili Davydov Aleacutem desses

teoacutericos foram utilizadas mais duas ideias oriundas dos trabalhos de Bateson e Bakhtin A

seguir com base em Engestroumlm e Sannino (2010b) farei um breve resumo dessas oito raiacutezes

1) Leontev (1981) considera as atividades coletivas tomando por base a divisatildeo do

trabalho que para ele pode levar agrave separaccedilatildeo de accedilatildeo e atividade Em uma

atividade de caccedila por exemplo cada participante tem um papel diferenciado em

termos de accedilotildees a serem executadas visando a seu engajamento na atividade Uma

accedilatildeo tem um comeccedilo definido e um fim Jaacute uma atividade coletiva se reproduz

sem um ponto final predeterminado mas orientada pelo objeto podendo

acontecer continuidade e ateacute mesmo mudanccedilas dramaticamente descontiacutenuas na

atividade pois a atividade depende das accedilotildees e das condiccedilotildees para sua realizaccedilatildeo

A proacutepria ideia de aprendizagem expansiva que pode ser entendida como um

movimento das accedilotildees para a atividade foi construiacuteda tomando-se por base a

distinccedilatildeo entre accedilatildeo e atividade

2) O conceito Vigotskiano de zona de desenvolvimento proximal (ZDP) que pode

ser entendida como a distacircncia entre o real e o potencial niacutevel de resoluccedilatildeo de

53

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquowhere a person or a group begins to radically question the sense and meaning

of the context and to construct a wider alternative context Learning III is essentially a collective endeavorrdquo 54

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoLearning III is seen as learning activity which has its own typical actions and

tools [] The object of expansive learning is the entire activity system in which the learners are engaged

Expansive learning activity produces culturally new patterns of activity Expansive learning at work produces

new forms of work activityrdquo

52

problemas considerando o real niacutevel como sendo o indiviacuteduo sozinho e o

potencial como sendo o indiviacuteduo orientado por outro(s) indiviacuteduo(s)

considerado(s) mais experiente(s) (ENGESTROumlM SANNINO 2010b)

Engestroumlm (1987) conforme exposto anteriormente com o objetivo de entender a

aprendizagem e o desenvolvimento redefiniu o conceito de ZDP adaptando as

ideias de Vigotski sob o ponto de vista das atividades coletivas gerando assim o

conceito de ZDP da atividade

3) A Teoria da Aprendizagem Expansiva pode ser entendida como uma aplicaccedilatildeo

da Teoria da Atividade devido a sua orientaccedilatildeo para o objeto Na Teoria da

Aprendizagem Expansiva o objeto pode ser considerado com um duplo sentido

tanto mateacuteria prima quanto finalidade da atividade Neste sentido o objeto

carrega consigo o motivo da atividade Sendo assim a ldquoaprendizagem expansiva eacute

um processo de transformaccedilatildeo material de relaccedilotildees vitaisrdquo (ENGESTROumlM

SANNINO 2010b p 4)

4) A Teoria da Atividade pode ser considerada como uma teoria dialeacutetica e sendo

assim o conceito de contradiccedilatildeo desempenha importante papel para a elaboraccedilatildeo

da Teoria da Aprendizagem Expansiva Com base em Ilrsquoenkov (1977 1982 apud

ENGESTROumlM SANNINO 2010b) a Teoria da Aprendizagem Expansiva

concebe as contradiccedilotildees como

[] tensotildees historicamente em evoluccedilatildeo que podem se detectadas e tratadas no real

sistema de atividade No capitalismo a contradiccedilatildeo primaacuteria presente entre valor de

uso e valor de troca eacute inerente a todas as mercadorias e todas as esferas da vida

estatildeo sujeitas a comoditizaccedilatildeo55

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 4 grifo

meu)

Os autores enfatizam que as contradiccedilotildees podem ser entendidas como forccedilas

motrizes da transformaccedilatildeo Para eles o proacuteprio ldquoobjeto de uma atividade eacute sempre

contraditoacuterio internamenterdquo (ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 4 grifos

meus) Neste sentido a contradiccedilatildeo interna presente no objeto de uma atividade

funciona como uma forccedila interna capaz de produzir movimento e direccedilatildeo para a

atividade

55

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquocontradictions as historically evolving tensions that can be detected and dealt

with in real activity systems In capitalism the pervasive primary contradiction between use value and exchange

value is inherent to every commodity and all spheres of life are subject to commoditizationrdquo

53

5) Davydov conforme exposto anteriormente desenvolveu o meacutetodo da ascensatildeo

do abstrato para o concreto que pode ser entendido como um meacutetodo cujo foco

estaacute ancorado na captura da essecircncia de um objeto Engestroumlm e Sannino (2010b)

baseiam-se nas seis accedilotildees tipicamente ideias de aprendizagem prefiguradas por

Davydov e expostas anteriormente no item 11 deste capiacutetulo para elaborar o

conceito de sequecircncia tipicamente ideal de accedilotildees em um ciclo expansivo de

aprendizagem que seraacute exposto mais adiante neste mesmo capiacutetulo desta tese

6) Nos escritos de Vigotski e de seus colaboradores podemos encontrar o

conceito de mediaccedilatildeo que pode ser entendido como accedilotildees que satildeo realizadas

pelos sujeitos de uma atividade por meio das ferramentas e os signos culturais e

orientadas para o objeto da atividade como essecircncia do funcionamento

psicoloacutegico humano Engestroumlm e Sannino (2010b) apontam que a agecircncia do

sujeito - sua capacidade para transformar um contexto eou seu proacuteprio

comportamento- o torna foco central na Teoria da Aprendizagem Expansiva Os

autores esclarecem ainda que

Vygotsky construiu sua metodologia intervencionista de estimulaccedilatildeo dupla neste

insight Em vez de meramente dando ao sujeito uma tarefa para resolver Vygotsky

deu ao sujeito tanto uma tarefa exigente (primeiro estiacutemulo) e um artefato ldquoneutrordquo

ou externamente ambiacuteguo (segundo estiacutemulo) o sujeito poderia encher de

significado e se transformar em um novo signo de mediaccedilatildeo que reforccedilaria suas

accedilotildees e potencialmente levar a ressignificaccedilatildeo da tarefa Aprendizagem expansiva

normalmente exige intervenccedilotildees formativas com base no princiacutepio de estimulaccedilatildeo

dupla56

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 5 grifos meus)

7) A metodologia intervencionista proposta por Vigotski de estimulaccedilatildeo dupla

dialoga com o pensamento do antropoacutelogo Bateson A noccedilatildeo de double bind de

Bateson (1972 apud ENGESTROumlM SANNINO 2010 p 5) configura-se como

uma raiz teoacuterica para a Teoria da Aprendizagem Expansiva e pode ser entendida

como ldquoum social dilema socialmente essencial que natildeo pode ser resolvido por

meio de accedilotildees individuais separadas por si soacute ndash mas em que as accedilotildees de

56

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoVygotsky built his interventionist methodology of double stimulation on this

insight Instead of merely giving the subject a task to solve Vygotsky gave the subject both a demanding task

(first stimulus) and a lsquoneutralrsquo or ambiguous external artifact (second stimulus) the subject could fill with

meaning and turn into a new mediating sign that would enhance his or her actions and potentially lead to

reframing of the task Expansive learning typically calls for formative interventions based of the principle of

double stimulationrdquo

54

cooperaccedilatildeo conjunta podem impulsionar uma historicamente nova forma de

atividade a surgirrdquo57

(ENGESTROumlM 1987 p 165 itaacutelicos do autor)

8) Por uacuteltimo a ideia de multivocalidade de Bakhtin (1982) configura-se como

uma raiz teoacuterica da Teoria da Aprendizagem Expansiva Engestroumlm (1987) aponta

que

Aplicado na pesquisa e aprendizagem expansiva isso significa todas as vozes

contraditoacuterias e complementares dos vaacuterios grupos e estratos no sistema de

atividade em anaacutelise devem ser envolvidas e utilizadas Como Bakhtin mostra que

isso definitivamente inclui as vozes e gecircneros natildeo acadecircmicos de pessoas comuns

Assim em vez da argumentaccedilatildeo claacutessica dentro do uacutenico tipo de discurso

acadecircmico temos conflitantes fogos de artifiacutecio de diferentes tipos de discurso e

linguagens58

(p 315 apud ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 5 grifos do autor)

A proacutepria ldquoaprendizagem expansiva eacute um processo inerentemente de debate

negociaccedilatildeo e orquestraccedilatildeordquo59

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b)

Dando por encerrado o breve resumo das oito ideias que configuram como sendo

as raiacutezes da Teoria da Aprendizagem Expansiva vale ressaltar que eacute nesse processo de

debate confrontamento dessas muacuteltiplas ldquovozes que se travam as disputas de poder e se

instauram as possibilidades de transformaccedilatildeordquo (MATEUS 2005 p 168)

Bakhtin considera que o discurso natildeo eacute individual porque se constroacutei entre pelo

menos dois interlocutores que por sua vez satildeo seres sociais e porque se constroacutei como um

ldquodiaacutelogo entre discursosrdquo ou seja manteacutem relaccedilotildees com outros discursos (BARROS 2007 p

31)

Ainda em Engestroumlm e Sannino (2010b) podemos encontrar os princiacutepios centrais

da Teoria da Aprendizagem Expansiva Para os autores a aprendizagem expansiva busca

compreender processos de aprendizagem nos quais os sujeitos da aprendizagem natildeo satildeo

considerados apenas como indiviacuteduos isolados como eacute feito em teorias tradicionais de

aprendizagem mas passam a ser tratados como coletividades e redes Isso acontece quando os

sujeitos comeccedilam a questionar e criticar a ordem e a loacutegica das atividades que estaacute engajado

Por meio de interaccedilotildees com outros membros da comunidade instituem um grupo uma

57

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoa social societally essential dilemma which cannot be resolved through

separate individual actions alone ndash but in which joint co-operative actions can push a historically new form of

activity into emergencerdquo 58

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoApplied in expansive learning and research this means all the conflicting

and complementary voices of the various groups and strata in the activity system under scrutiny shall be

involved and utilized As Bakhtin shows this definitely includes the voices and non-academic genres of the

common people Thus instead of the classical argumentation within the single academic speech type we get

clashing fireworks of different speech types and languagesrdquo 59

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoExpansive learning is an inherently multi-voiced process of debate

negotiation and orchestrationrdquo

55

coletividade engajada em analisar e modelar colaborativamente um movimento na zona de

desenvolvimento proximal (ZDP) da atividade Ao questionarem os indiviacuteduos refletem e

percebem as contradiccedilotildees historicamente acumuladas nos sistemas de atividade As

contradiccedilotildees podem se manifestar como forma de conflitos dilemas distuacuterbios e inovaccedilotildees

locais Cabe ressaltar que ldquocontradiccedilotildees satildeo mecanismos necessaacuterios mas natildeo suficientes para

a aprendizagem expansiva em um sistema de atividades60

rdquo (ENGESTROumlM SANNINO

2010b p 7)

Durante o processo de aprendizagem expansiva as contradiccedilotildees podem aparecer

das seguintes maneiras

a) Como contradiccedilotildees primaacuterias latentes emergentes dentro de cada e qualquer dos

elementos do sistema de atividade

b) Como contradiccedilotildees secundaacuterias manifestas abertamente entre dois ou mais

elementos do sistema de atividade (por exemplo entre um novo objeto e uma velha

ferramenta)

c) Como contradiccedilotildees terciaacuterias entre um recentemente estabilizado modo de

atividade e remanescentes modos anteriores de atividade

d) Como contradiccedilotildees quaternaacuterias externas entre os receacutem-reorganizados sistemas

de atividade e seus sistemas de atividades ldquovizinhosrdquo61

(ENGESTROumlM SANNINO

2010b p 7 grifos meus)

Engestroumlm e Sannino (2010b) pontuam que existe diferenccedila entre experiecircncias

conflitantes e contradiccedilotildees significativas enquanto as primeiras podem ser analisadas no niacutevel

das accedilotildees de curto prazo a segunda pode ser enquadrada no niacutevel da atividade (e inter-

atividades) e tem um ciclo bem mais longo Dessa forma analisar experiecircncias conflitantes e

contradiccedilotildees significativas produzem anaacutelises em diferentes niacuteveis

As contradiccedilotildees desempenham um papel muito importante na Teoria da

Aprendizagem Expansiva pois se configuram como forccedilas motrizes que ao serem tratadas de

tal forma pelos sujeitos engajados um novo objeto eacute construiacutedo moldado e transformado em

um motivo Nesse momento ocorre entatildeo um ato extraordinaacuterio o encontro da necessidade

com o objeto (ENGESTROumlM SANNINO 2010b) Dessa forma o motivo de uma dada

atividade coletiva passa a se configurar efetivamente para um sujeito mediante o sentido

60

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoContradictions are the necessary but not sufficient engine of expansive

learning in an activity systemrdquo 61

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquo(a) as emerging latent primary contradictions within each and any of the

nodes of the activity system

(b) as openly manifest secondary contradictions between two or more nodes (eg between a new object and an

old tool)

(c) as tertiary contradictions between a newly established mode of activity and remnants of the previous mode of

activity

(d) as external quaternary contradictions between the newly reorganized activity and its neighboring activity

systemsrdquo

56

pessoal que pode ser entendido como o sentido que ldquoexpressa a relaccedilatildeo do motivo da

atividade para o imediato objetivo da accedilatildeordquo62

(LEONTIEV 1978 p 171)

Engestroumlm e Sannino (2010b) utilizam as ideias de Davydov das accedilotildees

tipicamente ideias de aprendizagem descritas anteriormente nesta tese e descrevem uma

sequecircncia tipicamente ideal de accedilotildees epistecircmicas em um ciclo expansivo da seguinte maneira

- A primeira accedilatildeo consiste no questionamento criacutetica ou rejeiccedilatildeo de alguns aspectos

da praacutetica aceita e sabedoria existente Para simplificar chamaremos esta accedilatildeo de

interrogatoacuterio

- A segunda accedilatildeo consiste em analisar a situaccedilatildeo Analisar envolve transformaccedilotildees

mentais discursivas ou praacuteticas da situaccedilatildeo a fim de descobrir mecanismos de causa

ou explicaccedilatildeo Anaacutelise evoca ldquopor quecircrdquo questotildees e princiacutepios explanatoacuterios Um

tipo de anaacutelise eacute a histoacuterico-geneacutetica que pretende explicar a situaccedilatildeo pelo traccedilado

de suas origens e evoluccedilatildeo Outro tipo de anaacutelise eacute a real-empiacuterica que pretende

explicar a situaccedilatildeo pela construccedilatildeo de um quadro de suas relaccedilotildees sistemaacuteticas

internas

- A terceira accedilatildeo consiste no modelamento da relaccedilatildeo explicativa receacutem-descoberta

em alguns meios publicamente observaacuteveis e transmissiacuteveis Isto significa

construccedilatildeo de um modelo expliacutecito simplificado da nova ideia que explica e oferece

soluccedilatildeo para a situaccedilatildeo problemaacutetica

- A quarta accedilatildeo consiste no exame do modelo executando operando e

experimentando-o a fim de compreender plenamente sua dinacircmica potecircncia e

limitaccedilotildees

- A quinta accedilatildeo consiste na implementaccedilatildeo do modelo por meio de aplicaccedilotildees

praacuteticas enriquecimento e extensotildees conceituais

- A sexta e seacutetima accedilatildeo satildeo aquelas de refletir sobre e avaliar o processo e

consolidaccedilatildeo de seus resultados numa estaacutevel nova forma de praacutetica63

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 7 itaacutelicos dos autores negritos meus)

A seguir apresento a FIG 4 que representa a sequecircncia ideal descrita por

Engestroumlm e Sannino (2010b) em que as espessuras das setas indicam a ampliaccedilatildeo da

participaccedilatildeo nas accedilotildees de aprendizagem

62

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoexpresses the relation of motive of activity to the immediate goal of actionrdquo 63

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquo- The first action is that of questioning criticizing or rejecting some aspects

of the accepted practice and existing wisdom For the sake of simplicity we will call this action questioning

- The second action is that of analyzing the situation Analysis involves mental discursive or practical

transformation of the situation in order to find out causes or explanatory mechanisms Analysis evokes ldquowhyrdquo

questions and explanatory principles One type of analysis is historical-genetic it seeks to explain the situation

by tracing its origins and evolution Another type of analysis is actual-empirical it seeks to explain the situation

by constructing a picture of its inner systemic relations

- The third action is that of modeling the newly found explanatory relationship in some publicly observable and

transmittable medium This means constructing an explicit simplified model of the new idea that explains and

offers a solution to the problematic situation

- The fourth action is that of examining the model running operating and experimenting on it in order to fully

grasp its dynamics potentials and limitations

- The fifth action is that of implementing the model by means of practical applications enrichments and

conceptual extensions

- The sixth and seventh actions are those of reflecting on and evaluating the process and consolidating its

outcomes into a new stable form of practicerdquo

57

FIGURA 4 ndash Sequecircncia de accedilotildees de aprendizagem em um ciclo de aprendizagem expansiva

Fonte ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 8

Aleacutem disso Engestroumlm e Sannino (2010b) se baseiam em estudos empiacutericos e

intervencionistas e apontam algumas formas de manifestaccedilatildeo da aprendizagem expansiva em

atividades coletivas aprendizagem expansiva como transformaccedilatildeo do objeto como

movimento na zona de desenvolvimento proximal como ciclos de accedilotildees de aprendizagem

como superaccedilatildeo de limites e construccedilatildeo de redes e como movimentos distribuiacutedos e

descontiacutenuos Farei uma breve exposiccedilatildeo do que seriam as referidas manifestaccedilotildees observadas

nos estudos empiacutericos e intervencionistas citados por Engestroumlm e Sannino (2010b)

1) Aprendizagem expansiva como transformaccedilatildeo do objeto da atividade busca

superar a concepccedilatildeo de aprendizagem como algo individual do sujeito inerente a ele em sua

cogniccedilatildeo ou em seu comportamento A aprendizagem expansiva se manifesta essencialmente

como transformaccedilatildeo do objeto da atividade coletiva O que consequentemente pode

promover transformaccedilotildees qualitativas dos elementos que compotildeem os sistemas de atividade

Vale ressaltar que a expansatildeo pode ser entendida como um processo positivo contudo os

ldquoretrocessosrdquo tambeacutem podem ocorrer nos processos de aprendizagem expansiva Isso porque

o objeto carrega consigo contradiccedilotildees internas que podem alcanccedilar diferentes niacuteveis dentro de

um processo de aprendizagem expansiva como transformaccedilatildeo do objeto o que de certo

58

ocorre como um processo coletivo de negociaccedilatildeo e orquestraccedilatildeo (ENGESTROumlM SANNINO

2010b)

2) Aprendizagem expansiva como movimento na zona de desenvolvimento

proximal da atividade busca superar o paradigma das teorias de aprendizagem que

consideram o sucesso em provas eou outros tipos de testes de desempenho como orientadora

do ensino A aprendizagem expansiva busca superar os dilemas vividos pelos sujeitos em sua

cotidianidade por meio da construccedilatildeo coletiva de uma nova forma de praacutetica tomando por

base o enfrentamento das contradiccedilotildees incorporadas nos sistemas de atividade Entatildeo todo e

qualquer movimento coletivo em busca da minimizaccedilatildeo da distacircncia entre as ldquoaccedilotildeesrdquo

cotidianas dos indiviacuteduos e a historicamente nova forma de atividade como praacutetica social

(que pode ser requeridademandada como uma soluccedilatildeo para o dilema potencialmente

incorporado nas accedilotildees cotidianas dos sujeitos) considerado como movimento na zona de

desenvolvimento proximal da atividade pode ser entendido e analisado como processo de

aprendizagem expansiva (ENGESTROumlM SANNINO 2010b)

3) Aprendizagem expansiva como ciclos de accedilotildees de aprendizagem conforme

descrito na FIG 4 busca instaurar uma nova e bem determinada dinacircmica para analisar os

processos de aprendizagem expansiva Um ciclo expansivo de accedilotildees de aprendizagem eacute um

modelo que pode ser usado para analisar processos de transformaccedilotildees em praacuteticas sociais A

praacutetica social na qual os sujeitos participam de alguma forma os afeta podendo-os levar a

perceber tensotildees distuacuterbios eou conflitos e a partir disso sentir a necessidade de questionar

a praacutetica atual buscando assim analisar o contexto visando agrave superaccedilatildeo de tais ocorrecircncias

Estes seriam os primeiros passos rumo ao percurso de todo o ciclo de accedilotildees de aprendizagem

Vale ressaltar que a anaacutelise da praacutetica atual leva o indiviacuteduo a perceber que sozinho ele natildeo

conseguiria modificar as accedilotildees dos outros sujeitos partiacutecipes da atividade tornando assim

necessaacuterio o envolvimento de mais atores no processo de transformaccedilatildeo da atividade Com

isso o dilema social perpassa a fronteira do indiviacuteduo e atinge esferas mais amplas de

coletivos em prol de um mesmo processo de transformaccedilatildeo podendo ser entendido como um

tour pelo ciclo de accedilotildees de aprendizagem

Engestroumlm e Sannino (2010b) consideram que o uso dos ciclos de accedilotildees de

aprendizagem como quadro teoacuterico de anaacutelise de processos de transformaccedilatildeo de praacuteticas

sociais somente deve ser realizado em estudos de longos periacuteodos de tempo ou seja em

longos processos de transformaccedilatildeo Contudo os longos processos de transformaccedilatildeo que

podem ser analisados por ciclos em larga escala envolvem necessariamente numerosos ciclos

menores de accedilotildees de aprendizagem Esses ciclos menores podem ocorrer em periacuteodos mais

59

curtos de tempo talvez em dias ou mesmo horas de anaacutelise intensiva e colaborativa

Engestroumlm (1999) explica que tais ciclos-miniatura podem ser considerados como

potencialmente expansivos e aponta ainda que

Um ciclo expansivo em larga escala de transformaccedilotildees organizacionais sempre

consiste em pequenos ciclos de aprendizagem inovadores No entanto o

aparecimento de pequenos ciclos de aprendizagem inovador natildeo garante por si soacute

que existe um ciclo expansivo acontecendo Pequenos ciclos podem permanecer

eventos isolados e o ciclo global do desenvolvimento organizacional pode tornar-se

estagnado regressivo ou mesmo desmoronar A ocorrecircncia de um ciclo expansivo

completo natildeo eacute comum e ele tipicamente requer esforccedilos concentrados e

intervenccedilotildees deliberadas Com essas ressalvas em mente o ciclo de aprendizagem

expansiva e suas accedilotildees incorporadas podem ser usados para analisar em pequena

escala inovadores processos de aprendizagem64

(p 385 apud ENGESTROumlM

SANNINO 2010b p 11)

Segundo Engestroumlm e Sannino (2010b) a loacutegica que estaacute por traacutes do ciclo

expansivo eacute que um novo ciclo inicia-se toda vez que um padratildeo estaacutevel de atividade comeccedila

a ser questionado Isso pode levar muito tempo talvez anos para se configurar Aleacutem disso a

aprendizagem expansiva pode conter traccedilos de ldquoretrocessordquo o que natildeo deve ser entendido

como algo puramente negativo visto que mesmo que um novo ciclo de accedilotildees expansivas se

inicie devemos levar em conta a tentativa que consequentemente tende a possibilitar um

horizonte mais amplo para novas tentativas Nas palavras dos autores ldquoexpansatildeo

necessariamente envolve tambeacutem a possibilidade de desintegraccedilatildeo e regressatildeo65

rdquo

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 11)

4) Aprendizagem expansiva como transposiccedilatildeo de fronteiras (superaccedilatildeo de

limites) e construccedilatildeo de redes pode ser entendida como uma ldquoexpertise horizontal onde os

praticantes devem mover-se para entre fronteiras para procurar e dar ajuda para encontrar

informaccedilotildees e ferramentas onde quer que elas estejamrdquo66

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b

p 12) Para os autores transpor fronteiras pode significar ldquopisar em solordquo desconhecido

Requer muitas vezes a criaccedilatildeoconstruccedilatildeoformaccedilatildeo coletiva de novos recursos conceituais

que por sua vez demandam esforccedilos criativos dos sujeitos engajados no processo de

64

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoA large-scale expansive cycle of organizational transformation always

consists of small cycles of innovative learning However the appearance of small-scale cycles of innovative

learning does not in itself guarantee that there is an expansive cycle going on Small cycles may remain isolated

events and the overall cycle of organizational development may become stagnant regressive or even fall apart

The occurrence of a full-fledged expansive cycle is not common and it typically requires concentrated effort and

deliberate interventions With these reservations in mind the expansive learning cycle and its embedded actions

may be used as a framework for analyzing small-scale innovative learning processesrdquo 65

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoExpansion necessarily involves also the possibility of disintegration and

regressionrdquo 66

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquohorizontal expertise where practitioners must move across boundaries to seek

and give help to find information and tools wherever they happen to be availablerdquo

60

aprendizagem expansiva Jaacute a construccedilatildeo de redes pode ser entendida como um modo

emergente de colaboraccedilatildeo em organizaccedilotildees O que natildeo pode ser esquecido eacute que a formaccedilatildeo

de redes pode estar relacionada agraves hierarquias niacuteveis organizacionais considerando que os

sujeitos em variadas praacuteticas sociais comumente satildeo levados a se engajar em redes por

exemplo em ambientes de trabalho ldquoAprendizagem em redes organizacionais eacute

frequentemente descrita como movimento horizontal de informaccedilatildeo entre unidades

organizacionaisrdquo67

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 13)

Em uma faacutebrica por exemplo poderiam ser observados diferentes niacuteveis

organizacionais ndash o niacutevel da rede ideoloacutegica o niacutevel do projeto o niacutevel da produccedilatildeo e o niacutevel

dos operaacuterios Soacute que em uma empresa os processos inovadores frequentemente demandam

por coletivos de sujeitos engajados coletivamente em redes cujas ldquofronteirasrdquo podem natildeo

estar assim tatildeo bem definidas levando-se em conta apenas a divisatildeo do trabalho em ldquoclassesrdquo

Sendo assim essa rede de inovaccedilatildeo poderia ser entendida como niacutevel de parceria que

somente seria possiacutevel de ser construiacuteda como um processo de aprendizagem expansiva em

termos digamos mais tradicionais de interaccedilatildeo entre os funcionaacuterios Portanto

ldquoaprendizagem eacute tambeacutem movimento vertical e transposiccedilatildeo de fronteiras entre diferentes

niacuteveis organizacionaisrdquo68

(ENGESTROumlM SANNINO 2010 p 13 grifo meu)

5) Aprendizagem expansiva como movimento distribuiacutedo e descontiacutenuo pode ser

entendida em termos de aprendizagem em redes distribuiacutedas ou aacutereas multi-organizacionais

que apresentam caraacuteter cada vez mais distribuiacutedo e descontiacutenuo considerando aprendizagens

relacionadas ao trabalho (ENGESTROumlM SANNINO 2010b) Os processos coletivos de

aprendizagem expansiva frequentemente se apresentam cheios de lacunas interrupccedilotildees

desentendimentos conflitos e descontinuidades entre comunidades que embora possam

parecer em um primeiro momento potencialmente perturbadores tambeacutem podem representar

oportunidades de aprendizagem (ENGESTROumlM SANNINO 2010b)

Para compreendermos o que Engestroumlm e Sannino (2010b) chamam de natureza

descontiacutenua da aprendizagem expansiva devemos levar em conta as seguintes consideraccedilotildees

de Sannino e Nocon (2008 p 326)

Mesmo se as tentativas de inovaccedilatildeo local aparentemente morrem eles ainda podem

se propagar porque outros podem adotaacute-las e prossegui-las Em outras palavras a

sustentabilidade das inovaccedilotildees natildeo se refere apenas agrave continuidade local mas

67

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquolearning in organizational networks is commonly depicted as horizontal

movement of information between organizational unitsrdquo 68

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquolearning is also vertical movement and boundary crossing between different

organizational levelsrdquo

61

tambeacutem a difusatildeo e adaptaccedilotildees em outros contextos Essas adaptaccedilotildees natildeo

significam necessariamente que uma inovaccedilatildeo eacute ampliada e se torna uma reforma no

sistema mais amplo69

Com isso podemos considerar que todo e qualquer movimento ainda que

descontiacutenuo em processos de aprendizagem expansiva deve ser considerado como um

direcionamento para possiacuteveis aprendizagens expansivas pois mesmo que uma direccedilatildeo

ldquoinicialrdquo seja alterada para uma direccedilatildeo ldquoalternativardquo no decorrer do processo de

aprendizagem os aprendizes engajados em transformaccedilotildees qualitativas em respectivos

sistemas de atividade compartilhados em multiorganizaccedilotildees percorreram um caminho de

mudanccedilas o que natildeo os coloca mais em um patamar de principiantes

Encerro aqui o breve relato das manifestaccedilotildees da aprendizagem expansiva em

transformaccedilotildees de sistemas de atividade conforme abordado e fundamentado por Engestroumlm

e Sannino (2010b)

69

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoeven if local innovation attempts ostensibly die they can still spread because

others may adopt and continue them In other words the sustainability of innovations does not refer only to local

continuity but also to diffusion and adaptations in other settings Such adaptations do not necessarily mean that

an innovation is scaled up and becomes a system wide reformrdquo

62

2 CAacuteLCULO E MODELAGEM NA ENGENHARIA CONCEPCcedilOtildeES

PERSPECTIVAS E A ATUAL FORMACcedilAtildeO DO ENGENHEIRO

Neste capiacutetulo pretendo discorrer sobre alguns toacutepicos relacionados ao contexto

da presente investigaccedilatildeo Primeiramente com o intuito de localizar o foco da pesquisa nas

demandas de formaccedilatildeo profissional em Engenharia faccedilo uma breve exposiccedilatildeo sobre a atual

legislaccedilatildeo que normatiza a formaccedilatildeo de engenheiros no Brasil Em segundo lugar busco

apresentar alguns aspectos relacionados aos processos de ensino-aprendizagem das disciplinas

de Caacutelculo em cursos de Engenharia e nesse contexto de formaccedilatildeo apresento a Modelagem

Matemaacutetica como um espaccedilo formativo alternativo Em terceiro lugar na literatura sobre

Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica busco por concepccedilotildees e perspectivas relacionadas a

essa atividade Em quarto lugar apresento uma revisatildeo de literatura sobre Modelagem

Matemaacutetica em processos de ensino-aprendizagem de Caacutelculo em cursos de Engenharia Em

quinto lugar apresento a concepccedilatildeo da atividade de Modelagem Matemaacutetica assumida no

contexto da pesquisa e por fim apresento a abertura de caixas-pretas como accedilotildees

estrateacutegicas com vistas agraves possibilidades de aprendizagens expansivas relacionadas agraves

transformaccedilotildees do objeto de uma atividade de Modelagem Matemaacutetica

21 Diretrizes Curriculares para a formaccedilatildeo de engenheiros no Brasil

Em 2002 o Conselho Nacional de Educaccedilatildeo (CNE) com a Cacircmara de Educaccedilatildeo

Superior (CES) elaborou as Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduaccedilatildeo em

Engenharia por meio do parecer CNECSE 13622001 publicado no Diaacuterio Oficial da

Uniatildeo em 25 de fevereiro de 2002 que culminou com a publicaccedilatildeo da resoluccedilatildeo CNECES

112002 no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo em 9 de abril de 2002 que estabelecem as diretrizes que

orientam as Instituiccedilotildees de Ensino Superior na elaboraccedilatildeo das estruturas curriculares para a

formaccedilatildeo do engenheiro conforme as demandas da sociedade Nesse documento consta que

O perfil dos egressos de um curso de engenharia compreenderaacute uma soacutelida formaccedilatildeo

teacutecnico cientiacutefica e profissional geral que o capacite a absorver e desenvolver novas

tecnologias estimulando a sua atuaccedilatildeo criacutetica e criativa na identificaccedilatildeo e resoluccedilatildeo

de problemas considerando seus aspectos poliacuteticos econocircmicos sociais ambientais

63

e culturais com visatildeo eacutetica e humaniacutestica em atendimento agraves demandas da

sociedade (BRASIL 2002)

Ainda a resoluccedilatildeo aponta quatorze habilidades e competecircncias necessaacuterias para a

formaccedilatildeo do egresso dos cursos de Engenharia no Brasil Satildeo elas

a) aplicar conhecimentos matemaacuteticos cientiacuteficos tecnoloacutegicos e instrumentais agrave

engenharia

b) projetar e conduzir experimentos e interpretar resultados

c) conceber projetar e analisar sistemas produtos e processos

d) planejar supervisionar elaborar e coordenar projetos e serviccedilos de engenharia

e) identificar formular e resolver problemas de engenharia

f) desenvolver eou utilizar novas ferramentas e teacutecnicas

g) supervisionar a operaccedilatildeo e a manutenccedilatildeo de sistemas

h) avaliar criticamente a operaccedilatildeo e a manutenccedilatildeo de sistemas

i) comunicar-se eficientemente nas formas escrita oral e graacutefica

j) atuar em equipes multidisciplinares

k) compreender e aplicar a eacutetica e responsabilidade profissionais

l) avaliar o impacto das atividades da engenharia no contexto social e ambiental

m) avaliar a viabilidade econocircmica de projetos de engenharia

n) assumir a postura de permanente busca de atualizaccedilatildeo profissional (BRASIL

2002)

Aleacutem disso a resoluccedilatildeo (CNECSE 112002) tambeacutem direciona os cursos de

Engenharia com relaccedilatildeo aos conteuacutedos curriculares e delimita em 30 a carga horaacuteria

miacutenima dos cursos atendendo ao nuacutecleo de conteuacutedos baacutesicos que engloba dentre outros os

conteuacutedos da matemaacutetica Ainda segundo a resoluccedilatildeo 15 da carga horaacuteria miacutenima versaraacute

sobre toacutepicos que entre outros englobam Matemaacutetica Discreta Modelagem Anaacutelise e

Simulaccedilatildeo de Sistemas

Franchi (2002) ao realizar sua pesquisa de doutorado buscou dentre outras

coisas compreender as necessidades profissionais da Engenharia Para a autora o curriacuteculo de

Engenharia deve ser estruturado de modo a atender a tais necessidades Nesse sentido

focando nas disciplinas matemaacuteticas que compotildeem a grade curricular dos referidos cursos a

autora entende que os objetivos devam ser orientados pelo cumprimento agraves necessidades de

formaccedilatildeo considerando que as principais habilidadescompetecircncias do engenheiro atual satildeo

Capacidade de identificar formular e resolver problemas de Engenharia

considerando os aspectos multifuncionais relacionados a eles avaliando os impactos

na sociedade Isto inclui ter soacutelida formaccedilatildeo baacutesica (princiacutepios da ciecircncia que daacute

embasamento teoacuterico agrave sua profissatildeo) ter conhecimentos teacutecnicos (produtos e

processos) e ter conhecimentos natildeo teacutecnicos (sociais poliacuteticos eacuteticos e ambientais)

Inclui tambeacutem a capacidade de buscar as informaccedilotildees e usar ferramentas modernas

para a soluccedilatildeo dos problemas

Criatividade

Espiacuterito criacutetico

Capacidade de comunicaccedilatildeo oral e escrita

64

Capacidade de cooperaccedilatildeo

Capacidade de trabalho em equipe

Capacidade de aprendizagem contiacutenua (autoaprendizagem) (FRANCHI 2002 p

27)

Embora natildeo esteja focando especificamente o olhar para as disciplinas de

Caacutelculo que satildeo estudadas nos cursos de Engenharia mas para todas as disciplinas de

Matemaacutetica70

que satildeo desenvolvidas em tais cursos Franchi (2002) apresenta uma proposta

curricular para nortear os conteuacutedos de Matemaacutetica para os cursos de Engenharia utilizando-

se de recursos de Informaacutetica e de Modelagem Matemaacutetica

Soares e Sauer (2004) apontam para a necessidade de examinar questotildees

relacionadas ao tema ldquoensino-aprendizagem da Matemaacutetica para a Engenhariardquo devido agraves

aparentes dificuldades que os engenheiros apresentam em lidar com conceitos matemaacuteticos

em suas vidas profissionais As autoras afirmam que

As disciplinas baacutesicas do curso de Engenharia precisam capacitar os aprendizes a

relacionar conceitos matemaacuteticos com situaccedilotildees reais e desenvolver raciociacutenio

dedutivo habilitando-os a lerem os textos matemaacuteticos e a interpretarem fenocircmenos

frequentemente do ponto de vista da Fiacutesica Esta ligaccedilatildeo entre o universo fenomenal

da Matemaacutetica e o mundo das relaccedilotildees dos objetos fiacutesicos entre si talvez capture o

que seria competecircncia teacutecnica de mais alto niacutevel para qualquer engenheiro

(SOARES SAUER 2004 p 265 grifo meu)

As autoras neste texto natildeo se utilizam do termo ldquoModelagem Matemaacuteticardquo como

uma possibilidade para o desenvolvimento das competecircncias teacutecnicas para a formaccedilatildeo dos

engenheiros contudo segundo elas a ligaccedilatildeo entre ldquoo universo fenomenal da Matemaacutetica e o

mundo das relaccedilotildees dos objetos fiacutesicosrdquo (SOARES SAUER 2004 p 265) a meu ver pode

ser realizada por meio da Modelagem Burghes e Borrie (1981) sugerem vaacuterios temas da

Fiacutesica que podem ser desenvolvidos por meio da Modelagem com Equaccedilotildees Diferenciais

entre eles Lei de Torricelli Circuitos Eleacutetricos Redes Eleacutetricas Movimento Planetaacuterio

Oscilaccedilotildees Mecacircnicas e Sistema Massa-Mola

Vale ressaltar que com o desenvolvimento da presente pesquisa natildeo pretendo

investigar se a Modelagem Matemaacutetica se configura de fato como uma praacutetica presente ou

mesmo necessaacuteria para o trabalho dos engenheiros A presente pesquisa busca um

alinhamento agraves atuais demandas de formaccedilatildeo matemaacutetica necessaacuterias agrave formaccedilatildeo em

70

Para a autora as disciplinas de Matemaacutetica de cursos de Engenharia englobam os seguintes temas Caacutelculo

Vetorial Caacutelculo Diferencial e Integral Geometria Analiacutetica Aacutelgebra Linear Caacutelculo Numeacuterico Probabilidade

e Estatiacutestica (FRANCHI 2002)

65

Engenharia referendadas pelos pareceres e resoluccedilotildees oficiais por meio da Modelagem

Matemaacutetica

22 Caacutelculo em cursos de Engenharia

Nas Universidades departamentalizadas os docentes que lecionam as disciplinas

de Caacutelculo em cursos de Engenharia geralmente estatildeo subordinados didaacutetica e

pedagogicamente aos departamentos de Matemaacutetica o que pode reforccedilar a manutenccedilatildeo da

falta de reflexatildeo e informaccedilatildeo ldquosobre a necessidade da disciplina que leciona para a formaccedilatildeo

do futuro engenheirordquo (BALDINO CABRAL 2004 p 141) Esse fenocircmeno natildeo estaacute

limitado aos professores das disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia como afirmam

Moreno e Azcaacuterate Gimeacutenez (2003)

No caso de professores de matemaacuteticas de universidade o conhecimento que tecircm

sobre o processo de ensino e aprendizagem eacute fruto da experiecircncia docente e do

efeito da socializaccedilatildeo que lhes fazem repetir os esquemas daqueles professores que

lhes ensinaram em sua eacutepoca de estudantes Os docentes universitaacuterios natildeo

costumam ter nenhuma formaccedilatildeo didaacutetica especiacutefica aleacutem da cientiacutefica que os

capacite a ensinar71

(MORENO AZCAacuteRATE GIMEacuteNEZ 2003 p 267)

No Brasil muitos docentes que lecionam disciplinas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia tiveram pouca ou nenhuma formaccedilatildeo direcionada para serem professores A

legislaccedilatildeo brasileira permite que o portador de diploma de bacharelado ocupe cargos de

docecircncia em niacutevel superior o que inclui os cursos de Engenharia

Os professores de Caacutelculo dos cursos de Engenharia assim como toda a

comunidade envolvida nesse setor tecircm percebido mudanccedilas em relaccedilatildeo ao perfil do alunado

ingressante apoacutes a expansatildeo das Universidades Federais72

e a implantaccedilatildeo do Plano de

Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo das Universidades Federais (Reuni) elaborados e implementados

pelo Governo Federal em 2007 que objetivava dentre outras coisas a democratizaccedilatildeo do

71

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoEn el caso de los professores de matemaacuteticas de universidad el conocimiento

que tienen sobre el proceso de ensentildeanza y aprendizaje es fruto de la experiencia docente y del efecto de la

socializacioacuten que les hace repetir los esquemas de aquellos profesores que les ensentildearon en su eacutepoca de

estudiantes Los docentes universitarios no suelen tener ninguna formacioacuten didaacutectica especiacutefica a parte de la

cientiacutefica que les capacite para ensentildearrdquo 72

A instituiccedilatildeo escolhida para compor os dados para esta pesquisa estaacute incluiacuteda no Plano de Reestruturaccedilatildeo e

Expansatildeo das Universidades Federais

66

acesso de alunos agraves universidades federais Campos (2012 p 28) em sua pesquisa de

doutorado afirma que

No caso de um curso de Engenharia a expectativa eacute que o estudante jaacute traga uma

significativa bagagem em matemaacutetica e ciecircncias que em princiacutepio deveria ter sido

adquirida no ensino fundamental e meacutedio Essas seriam competecircncias esperadas dos

alunos por se tratarem de preacute-requisitos para o ingresso nos cursos que satildeo aferidos

num rigoroso e concorrido vestibular Nesse processo de seleccedilatildeo os estudantes satildeo

submetidos a testes em que todos os conteuacutedos que tradicionalmente passaram a

fazer parte da grade do ensino baacutesico poderatildeo ser cobrados Dessa forma

independentemente do seu histoacuterico escolar sobre aqueles que satildeo aprovados recai

a expectativa de estarem familiarizados com todos esses conteuacutedos o que nem

sempre acontece

O autor aponta que o esperado pela universidade eacute o perfil de um aluno que parece

ser idealizado e natildeo um aluno real Mesmo antes das expansotildees e do Reuni as dificuldades

em relaccedilatildeo agrave aprendizagem das disciplinas de Caacutelculo sempre fizeram parte da rotina

universitaacuteria73

Poreacutem o problema pode ter sido colocado em relevo com o excesso de alunos

em turmas de Caacutelculo aliado a uma possiacutevel sobrecarga de trabalho do professor conforme

apontado por Campos (2012 p 24)

Outra questatildeo apontada estaacute ligada agrave meta de as Universidades terem uma meacutedia de

18 alunos por professor em cursos presenciais Essa taxa foi estabelecida levando

em consideraccedilatildeo o caacutelculo que dava agrave eacutepoca da formulaccedilatildeo do REUNI uma meacutedia

de 145 alunos por professor nas IFES A criacutetica nesse quesito diz respeito agrave forma

como esse caacutelculo foi feito desconsiderando que muitos professores ocupam cargos

administrativos e que algumas disciplinas praacuteticas muito especializadas soacute podem

funcionar com um nuacutemero de alunos muito reduzido Ao natildeo levar essas questotildees

em conta o nuacutemero apresentado no REUNI esconde o fato de jaacute haver turmas

superlotadas aleacutem de natildeo dar o devido peso agrave carga de trabalho dos docentes na

poacutes-graduaccedilatildeo Assim elevar ainda mais o nuacutemero de alunos por sala pode gerar

uma sobrecarga de trabalho dos professores o que prejudicaria o ensino a pesquisa

e o atendimento agrave poacutes-graduaccedilatildeo

Os conteuacutedos geralmente presentes nas ementas das disciplinas de Caacutelculo dos

cursos de Engenharia natildeo sofreram consideraacuteveis mudanccedilas no uacuteltimo seacuteculo

(BIEMBENGUT HEIN 2007) Poreacutem as possibilidades de uso ensino e aprendizagem dos

seus conteuacutedos poderiam ser (re)pensadas em consonacircncia agraves exigecircncias de formaccedilatildeo e

consequentemente atuaccedilatildeo do engenheiro na sociedade atual Biembengut e Hein (2007 p

415) afirmam que o ensino de Caacutelculo em cursos de Engenharia no Brasil se revela

inadequado e insuficientemente ajustado Eles enfatizam que entre as causas principais dessa

situaccedilatildeo podem estar 1) as disciplinas de Caacutelculo satildeo dadas por professores como se fossem

73

Natildeo apenas para estudantes de cursos de Engenharia

67

hermeticamente fechadas 2) a maioria dos profissionais da Engenharia afirma que a

Matemaacutetica aprendida em seus cursos eacute insuficiente para a praacutetica da Engenharia 3) Caacutelculo

Diferencial faz parte dos preacute-requisitos de muitas disciplinas e natildeo eacute ensinado de acordo com

o curso em questatildeo Os autores ainda realccedilam o seguinte

Os estudantes natildeo veem qualquer utilidade para isto e aleacutem disso eles

permanecem obscuros sobre as aplicaccedilotildees futuras do que lhes satildeo ensinados

A matemaacutetica desenvolvida nos primeiros quatro semestres acaba esquecida pelos

estudantes justo quando eles precisam usa-la em suas disciplinas profissionais

Aacutelgebra e Caacutelculo registram maiores iacutendices de evasatildeo e fracasso

Conceitos como funccedilotildees limites derivadas e integrais satildeo ensinados da mesma

maneira para todos os cursos (Quiacutemica Biologia Economia Matemaacutetica) a uacutenica

diferenccedila ocorre na ecircnfase dada pelo professor74

(BIEMBENGUT HEIN 2007 p

415)

Os autores ainda apontam que a ecircnfase eacute dada quase que exclusivamente nas

teacutecnicas e natildeo nas aplicaccedilotildees sem qualquer conexatildeo com a Engenharia ou seja satildeo

negligenciados alguns conceitos fundamentais em detrimento de regras e teacutecnicas Uma

consequecircncia disso segundo Biembengut e Hein (2007 p 416) eacute que ldquoquando esses alunos

futuros profissionais se depararem com um problema ou situaccedilatildeo para avaliar analisar ou

resolver que requeira uma decisatildeo sobre melhor desempenho eles natildeo reconhecem as

ferramentas que eles jaacute adquiriram durante sua educaccedilatildeo75

rdquo

Franchi (2002) aponta para a necessidade de que os conteuacutedos de Matemaacutetica

desenvolvidos em cursos de Engenharia sejam apresentados como uma linguagem de traduccedilatildeo

e equacionamento de fenocircmenos da realidade aleacutem de ferramentas para entendimento e

soluccedilatildeo de problemas relacionados a tais fenocircmenos Pontua ainda que tal maneira de olhar

para a Matemaacutetica em cursos de Engenharia nem sempre eacute percebida pelos alunos e justifica

que isso ocorre devido agrave forma como a Matemaacutetica eacute tradicionalmente abordada nesses

cursos

Outro aspecto que julgo importante ser colocado em relevo eacute a frequente

manutenccedilatildeo das metodologias e do enfoque teoacuterico por parte dos professores de Caacutelculo em

74

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoStudents do not see any use for this and furthermore they remain nuclear

about the future applications of what they are taught

The mathematics developed in the first four semesters ends up forgotten by students just when they need use it in

their professional disciplines

Algebra e Calculus record the highest indices of withdrawal and failure

Concepts like functions limits derivatives and integrals are taught in the same way for all courses (Chemistry

Biology Economics Mathematics etc) the only difference occurring in the many emphasis given by the

teacherrdquo 75

Traduccedilatildeo realizada por min de ldquoWhen these students future professional find themselves with a problem or

situation to evaluate analyze or resolve that requires a decision about better performance they not recognize the

tools that they have already acquired during their educationrdquo

68

cursos de Engenharia que ldquoprocuram livros texto que satildeo em geral mais adequados para eles

mesmos que satildeo os mesmos que foram usados em sua proacutepria educaccedilatildeo e reescrevem-no

para usar em suas respectivas classes76

rdquo (BIEMBENGUT 1997 apud BIEMBENGUT

HEIN 2007 p 416)

Biembengut e Hein (2007) esclarecem que torna-se urgente que os professores

busquem uma reorganizaccedilatildeo de conteuacutedos e meacutetodos de ensino de maneira que permita a

articulaccedilatildeo entre teorias matemaacuteticas e a atividade do engenheiro fazendo com que o meacutetodo

de ensino permita-os enfatizar os princiacutepios fiacutesicos da Engenharia e as teorias matemaacuteticas

ajudem-nos a descrever e a compreender melhor tais fenocircmenos A necessidade de incorporar

alguns conhecimentos natildeo matemaacuteticos pelos docentes das disciplinas de Caacutelculo em cursos

de Engenharia em suas praacuteticas de ensino torna-se indispensaacutevel sob esse ponto de vista

Nesse sentido Franchi (2002) aponta que quando precisam utilizar algum

conteuacutedo de Matemaacutetica em suas disciplinas os professores de disciplinas mais avanccediladas de

cursos de Engenharia frequentemente precisam retomar ou (re)ensinar os conceitos que

necessitam posto que depois de algum tempo os alunos tendem a se esquecer dos conceitos

e teacutecnicas que foram trabalhados nas disciplinas de Matemaacutetica em cursos de Engenharia

Boyce e Diprima (1996 p 1) enfatizam que ldquoa razatildeo principal para resolver

muitas equaccedilotildees matemaacuteticas eacute procurar aprender algo a respeito do processo fiacutesico que a

equaccedilatildeo se propotildee a representarrdquo Soacute que ldquode maneira geral a ecircnfase eacute dada aos meacutetodos de

resoluccedilatildeo das equaccedilotildees diferenciais ordinaacuterias esquecendo-se do problema que origina tal

modelo bem como da interpretaccedilatildeo de suas soluccedilotildeesrdquo (JAVARONI 2007 p 20) Assim

parece que nas disciplinas de Caacutelculo dos cursos de Engenharia essa razatildeo de ser muitas

vezes acaba sendo deixada de lado

A forma de trabalhar as disciplinas de Caacutelculo voltadas para si mesmas e

desligadas das aplicaccedilotildees pode acabar provocando um distanciamento de tais conteuacutedos agrave

realidade dos problemas estudados durante a formaccedilatildeo do engenheiro Hubbard (1994 p 372

apud HABRE 2000 p 455) por exemplo pontua que ldquoexiste uma alarmante discrepacircncia

entre a visatildeo de equaccedilotildees diferenciais como ligaccedilatildeo entre a matemaacutetica e a ciecircncia e o curso

padratildeo de equaccedilotildees diferenciaisrdquo77

Tal discrepacircncia poderia ser minimizada ou amenizada

mediante a apresentaccedilatildeo dos conceitos de Caacutelculo com referecircncia na realidade

76

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoLook for textbooks that are in general better suited to themselves that is the

same that were used in their own education and rewrite them for use in their respective classesrdquo 77

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoThere is a dismaying discrepancy between this view of differential equations

as the link between mathematics and science and the standard course on differential equationsrdquo

69

A partir da anaacutelise de uma situaccedilatildeo real eacute possiacutevel fazer com que o aluno percorra as

etapas de aquisiccedilatildeo do conhecimento iniciando pelo aspecto afetivo (onde ele deve

sentir a Matemaacutetica presente e ter dela uma compreensatildeo preacutevia) passando pela

interpretaccedilatildeo e busca de significado chegando agrave compreensatildeo Conceitos bem

compreendidos podem ser aplicados com mais facilidade O trabalho com os

conceitos a partir de temas externos agrave Matemaacutetica eacute essencialmente interdisciplinar

Olhar para o problema sob a oacutetica de apenas uma disciplina conduz a uma visatildeo

fragmentada da situaccedilatildeo Um estudo amplo considerando os diversos aspectos que o

problema pode envolver sem duacutevida eacute interessante As caracteriacutesticas do problema

indicaratildeo qual o recurso mais adequado para ser utilizado (FRANCHI 2002 p 51)

Uma maneira de apresentar e desenvolver tais problemas ou situaccedilotildees no contexto

dos cursos de Engenharia poderia se dar por meio da Modelagem Matemaacutetica que

basicamente pode ser entendida como a apresentaccedilatildeo de um problema ndash cuja origem pode

estar ou natildeo na aacuterea de atuaccedilatildeo dos futuros engenheiros devendo ser resolvido a partir da

construccedilatildeo de um modelo que possa ser representado por meio da utilizaccedilatildeo de ferramentas

estudadas nas disciplinas de Caacutelculo que inclui as Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias

Camarena (2009 p 123) entende que um modelo matemaacutetico no contexto dos

cursos de Engenharia eacute ldquouma relaccedilatildeo matemaacutetica que descreve objetos ou problemas de

engenhariardquo78

Tal relaccedilatildeo matemaacutetica poderia ser uma equaccedilatildeo um sistema de equaccedilotildees

uma distribuiccedilatildeo de probabilidade entre outros

Barbosa (2004a p 67 grifo do autor) entende ser necessaacuteria a inserccedilatildeo da

Modelagem Matemaacutetica em disciplinas em serviccedilo jaacute que ldquopela sua proacutepria natureza

interdisciplinar a Modelagem eacute a porta de entrada privilegiada para atender a algumas

expectativas dos alunos nos cursos79

de serviccedilordquo

A Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia por se tratar de uma

atividade que pressupotildee interdisciplinaridade desenvolvimento de habilidades de resoluccedilatildeo

de problemas por meio de modelos matemaacuteticos trabalho em equipe e formaccedilatildeo criacutetica em

termos de atuaccedilatildeo social dos futuros engenheiros pode colaborar com o desenvolvimento das

habilidades e competecircncias aclamadas na resoluccedilatildeo como por exemplo ldquoaplicar

conhecimentos matemaacuteticos cientiacuteficos tecnoloacutegicos e instrumentais agrave engenhariardquo ldquoatuar

em equipes multidisciplinaresrdquo e ldquoavaliar o impacto das atividades da engenharia no contexto

social e ambientalrdquo (BRASIL 2002)

Corroborando tal consideraccedilatildeo Franchi (2002 p 74) enfatiza que ldquoo trabalho

com a Modelagem Matemaacutetica pode ajudar a desenvolver nos alunos [dos cursos de

Engenharia] as habilidades necessaacuterias para a resoluccedilatildeo de problemas preparando-o para

78

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoa mathematical relation that describes engineering objects or problemsrdquo 79

Barbosa (2004) utiliza o termo curso em referecircncia agrave disciplina

70

enfrentar situaccedilotildees novas e buscar soluccedilotildeesrdquo A autora enfatiza ainda que a Modelagem

Matemaacutetica propicia o desenvolvimento de habilidades tais como criatividade espiacuterito criacutetico

e capacidade de aprendizagem contiacutenua que satildeo essenciais para a atuaccedilatildeo profissional dos

engenheiros Aleacutem de possibilitar o desenvolvimento natural de habilidades de comunicaccedilatildeo

oral e escrita capacidade de cooperaccedilatildeo e trabalho em equipe (FRANCHI 2002)

No sentido de alinhavar e desenvolver a reflexatildeo aqui proposta a seguir busco

discorrer sobre perspectivas e concepccedilotildees de Modelagem configuradas na Educaccedilatildeo

Matemaacutetica que pressupotildeem um modo mais geral de conceber a Modelagem em diversos

niacuteveis de formaccedilatildeo matemaacutetica e posteriormente seguir no sentido de

especificarexemplificar concepccedilotildees e perspectivas que podem configurar a Modelagem na

formaccedilatildeo em Caacutelculo demandada pelos e nos cursos de Engenharia

23 Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica concepccedilotildees e perspectivas

A Modelagem eacute uma tendecircncia que vem permeando o cenaacuterio da Educaccedilatildeo

Matemaacutetica no Brasil jaacute haacute algum tempo inclusive recentemente passou a ser incorporada

aos documentos oficiais do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) como uma possibilidade para os

processos de ensino-aprendizagem de Matemaacutetica na Educaccedilatildeo Baacutesica (BRASIL 2006)

A Modelagem Matemaacutetica na Educaccedilatildeo Matemaacutetica de acordo com Borba e

Villareal (2005) foi introduzida no Brasil preconizada pelos trabalhos de Paulo Freire e

Ubiratan DrsquoAmbrosio entre o final da deacutecada de 70 e o iniacutecio da deacutecada de 80 Naquela

eacutepoca as atividades de Modelagem eram baseadas em ldquosituaccedilotildees-problemardquo com o foco no

real no cotidiano que desafiassem alunos e professores Vale ressaltar que naquela eacutepoca o

uso de maacutequinas e programas computacionais jaacute permeava os ambientes de Modelagem

Matemaacutetica (MEYER CALDEIRA MALHEIROS 2011)

Podemos afirmar que na deacutecada de 80 a Modelagem Matemaacutetica ganhou forccedila

no paiacutes sob a influecircncia de trabalhos como os de Aristides Barreto Ubiratan DrsquoAmbrosio

Rodney Bassanezi Joatildeo Frederico Meyer entre outros que disseminaram a Modelagem

Matemaacutetica por meio de cursos para a formaccedilatildeo de professores e accedilotildees em salas de aula

(MEYER CALDEIRA MALHEIROS 2011)

Algumas concepccedilotildees de Modelagem Matemaacutetica em contextos escolares foram

apontadas por Barbosa (2001a 2003 2004a) Burak (1992) e Biembengut e Hein (2007

71

2011) Barbosa (2001a p 6) entende que a ldquomodelagem eacute um ambiente de aprendizagem no

qual os alunos satildeo convidados a indagar eou investigar por meio da matemaacutetica situaccedilotildees

oriundas de outras aacutereas da realidaderdquo Para Burak (1992 p 62) a ldquoModelagem Matemaacutetica

constitui-se em um conjunto de procedimentos cujo objetivo eacute estabelecer um paralelo para

tentar explicar matematicamente os fenocircmenos presentes no cotidiano do ser humano

ajudando-o a fazer prediccedilotildees e a tomar decisotildeesrdquo Jaacute Biembengut e Hein (2011) concebem a

Modelagem Matemaacutetica como estrateacutegia teacutecnica ou metodologia de ensino cujo foco estaacute na

obtenccedilatildeo de um modelo matemaacutetico com intuito de ensinar conhecimentos acadecircmicos que

possam ajudar as pessoas em termos das possibilidades de atuaccedilatildeo nos diversos contextos de

vida

Natildeo haacute uma uacutenica definiccedilatildeo de Modelagem Matemaacutetica mas diferentes

concepccedilotildees de Modelagem satildeo assumidas por quem usa Modelagem em contextos

educacionais sempre levando em conta que situaccedilotildees diferentes podem levar a diferentes

conceituaccedilotildees de Modelagem (MEYER CALDEIRA MALHEIROS 2011) Vale ressaltar

que assumo o termo concepccedilatildeo80

designando ldquotanto o ato de conceber quanto o objeto

concebido mas preferivelmente o ato de conceber e natildeo o objeto para o qual deve ser

reservado o termo conceitordquo (ABBAGNANO 2007 p 169 grifo do autor)

Instigada em compreender as concepccedilotildees de Modelagem Matemaacutetica assumidas

por alguns autores que fazem uso da palavra arte em tal conceitualizaccedilatildeo tais como

Bassanezi (2006) e Biembengut e Hein (2011) busquei na internet pelo significado da palavra

ldquoarterdquo e encontrei

Arte (do latim ars significando teacutecnica eou habilidade) geralmente eacute entendida como a atividade humana ligada a manifestaccedilotildees de

ordem esteacutetica ou comunicativa realizada a partir da percepccedilatildeo das emoccedilotildees e das ideias com o objetivo de estimular essas instacircncias da consciecircncia e dando

um significado uacutenico e diferente para cada obra (httpsptwikipediaorgwikiArte 10042013)

Com base no significado acima podemos refletir sobre a concepccedilatildeo de

Modelagem Matemaacutetica assumida por Bassanezi (2006 p 16) que consiste na ldquoarte de

transformar problemas da realidade em problemas matemaacuteticos e resolvecirc-los interpretando

suas soluccedilotildees na linguagem do mundo realrdquo Primeiro o significado da palavra arte pode ser

uma teacutecnica ou habilidade fazendo parte da atividade humana ligada a manifestaccedilotildees de

80

ldquoTatildeo logo um conceito eacute simbolizado para noacutes nossa imaginaccedilatildeo reveste-se de uma concepccedilatildeo privada e

pessoal que soacute podemos distinguir por um processo de abstraccedilatildeo do conceito puacuteblico e comunicaacutevelrdquo (LANGER

apud ABBGNANO 2007 p 169)

72

ordem esteacutetica e comunicativa realizada a partir da percepccedilatildeo de emoccedilotildees e das ideias Dessa

forma a arte de transformar problemas da realidade em problemas matemaacuteticos pode

perpassar por questotildees de ordem esteacutetica e comunicativa que por sua vez tem estreita

relaccedilatildeo com as necessidades dos seres humanos de cooperaccedilatildeo e eacutetica Segundo tal teacutecnica ou

habilidade de transformar problemas da realidade em problemas matemaacuteticos leva em conta

as vivecircncias as subjetividades estreitamente ligadas ao pensamento ao mundo das ideias E

por uacuteltimo a arte tem como objetivo estimular instacircncias da consciecircncia produzir

significados para as obras de arte aqui relacionadas agrave transformaccedilatildeo de problemas reais em

problemas de Matemaacutetica sendo que a uacuteltima instacircncia dessa obra se realiza por meio da

interpretaccedilatildeo das soluccedilotildees na linguagem do mundo real que por sua vez pode possibilitar

novos olhares sobre a realidade

Aleacutem disso Bassanezi (2006 p 38 grifo meu) considera que ldquomais importante do

que os modelos obtidos eacute o processo utilizado a anaacutelise criacutetica e sua inserccedilatildeo no contexto

soacutecio-culturalrdquo Tal posicionamento pode nos levar ao entendimento de que o termo arte

presente em sua concepccedilatildeo de Modelagem Matemaacutetica em termos do processo utilizado

poderia ser resumido nas accedilotildees de transformar (problemas da realidade em problemas

matemaacuteticos) resolver (os problemas matemaacuteticos) e interpretar (suas soluccedilotildees na linguagem

do mundo real) Aleacutem de objetivar a motivaccedilatildeo para o aprendizado da matemaacutetica o autor

acredita que ldquoas discussotildees sobre o tema escolhido favorecem a preparaccedilatildeo do estudante

como elemento participativo da sociedade em que viverdquo (BASSANEZI 2006 p 38)

Biembengut e Hein (2011) concebem a Modelagem Matemaacutetica como um

processo que envolve a obtenccedilatildeo de um modelo podendo ser considerado um processo

artiacutestico visto que para os autores na elaboraccedilatildeo de um modelo aleacutem do conhecimento

matemaacutetico o modelador necessita ter uma dose significativa de intuiccedilatildeo e criatividade para

interpretar o contexto saber discernir qual(is) conteuacutedo(s) matemaacutetico(s) se adapta(m) melhor

e senso luacutedico para jogar com as variaacuteveis escolhidas Nas palavras dos autores ldquoa

modelagem matemaacutetica eacute assim uma arte ao formular resolver e elaborar expressotildees que

valham natildeo apenas para uma soluccedilatildeo particular mas que tambeacutem sirvam posteriormente

como suporte para outras aplicaccedilotildees e teoriasrdquo (BIEMBENGUT HEIN 2011 p 13 grifo

meu)

Aleacutem disso Bassanezi (2006) e Biembengut e Hein (2011) denominam

ldquoModelaccedilatildeo Matemaacuteticardquo o meacutetodo ou estrateacutegia de ensino que utiliza a essecircncia da

modelagem em cursos regulares nos quais haacute um programa curricular a ser cumprido aleacutem

de uma estrutura espacial e organizacional bem definida Tais autores acreditam que o

73

processo de modelagem em tais contextos precisa sofrer algumas alteraccedilotildees considerando o

grau de escolarizaccedilatildeo dos aprendizes o tempo disponibilizado para o desenvolvimento da

atividade ldquoo programa a ser cumprido e o estaacutegio em que o professor se encontra seja em

relaccedilatildeo ao conhecimento da modelagem seja no apoio por parte da comunidade escolar para

implantar mudanccedilasrdquo (BIEMBENGUT HEIN 2003 p 18)

Existem ainda outras concepccedilotildees de Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica

presentes na literatura brasileira das quais podemos destacar proposta para educar

matematicamente considerando a Modelagem como uma concepccedilatildeo de ensino e

aprendizagem (CALDEIRA 2009) estrateacutegia pedagoacutegica na qual os estudantes trabalham em

grupo e satildeo responsaacuteveis pela escolha do tema a ser investigado (BORBA MENEGUETTI

HERMINI 1997) Dentre todas essas concepccedilotildees Meyer Caldeira e Malheiros (2011)

acreditam que

o que as diferencia basicamente eacute a ecircnfase na escolha do problema a ser

investigado que pode partir do professor pode ser um acordo entre professor e

alunos ou entatildeo os estudantes podem escolher o assunto que pretendem investigar

uma postura que se assemelha agrave Modelagem exercida profissionalmente (MEYER

CALDEIRA MALHEIROS 2011 p 81)

Ao passo que o que diferencia as concepccedilotildees de Modelagem pode estar

relacionado ao ldquoproblema da realidaderdquo e agrave escolha dele o que as aproxima eacute segundo

Meyer Caldeira e Malheiros (2011 p 85) um objetivo comum ldquoestudar resolver e

compreender um problema da realidade ou de outra(s) aacuterea(s) do conhecimento utilizando

para isso a Matemaacutetica e obviamente outras disciplinas e ideiasrdquo

Arauacutejo (2002 p 20 grifo da autora) poreacutem acredita que as perspectivas se

diferenciam ldquoagrave medida que se define qual eacute o objetivo de resolver tal problema qual eacute a

realidade na qual o problema estaacute inserido como a matemaacutetica eacute concebida e se relaciona

com esta realidade etcrdquo81

A autora assume o termo ldquoperspectivardquo designando os propoacutesitos

que satildeo delineados pelo professor ao propor a Modelagem Matemaacutetica como uma atividade

em sala de aula Com base nesses propoacutesitos faz-se necessaacuterio definir o papel dos alunos e

professor(es) na atividade principalmente no que diz respeito agrave escolha do ldquoproblema da

realidaderdquo a ser entendidosolucionado

A Modelagem ldquopode criar possibilidades interdisciplinares na sala de aula fato

considerado muito importante (ou ateacute essencial) entre as questotildees de ensino e aprendizagem 81

No escopo deste texto natildeo pretendo discorrer sobre as relaccedilotildees entre matemaacutetica e realidade nem tampouco

realizarei uma discussatildeo do que seriam estes termos Em Arauacutejo (2002) o leitor encontraraacute uma interessante

discussatildeo sobre realidade e matemaacutetica baseada em discussotildees filosoacuteficas

74

mostrando que no caso a Matemaacutetica natildeo eacute uma ciecircncia isolada das outrasrdquo (MEYER

CALDEIRA MALHEIROS 2011 p 85) A integraccedilatildeo da Matemaacutetica com outras aacutereas do

conhecimento pode constituir dessa forma importante contribuiccedilatildeo para a construccedilatildeo do

conhecimento matemaacutetico nos cursos de Engenharia podendo minimizar o que Camarena

(2009) chama de ponto de conflito cognitivo vivenciado pelos futuros engenheiros ldquouma vez

que ele estudou matemaacutetica e engenharia separadamente de modo que quando ele usa as duas

aacutereas do conhecimento estas aacutereas cognitivas estatildeo separadas e ele tem que integraacute-las a fim

de matematizar o problema a ser resolvidordquo82

(CAMARENA 2009 p 117)

Blum (1991) Blum e Leiss (2005) Barbosa (2003) e Bassanezi (2006) apontam

alguns argumentos a favor da inclusatildeo da Modelagem nos curriacuteculos escolares sendo estes

apresentados pelos pesquisadores da aacuterea de Modelagem em Educaccedilatildeo Matemaacutetica que

foram por mim sumarizados da seguinte forma

Argumento formativo os alunos se tornariam mais criativos habilidosos e explorativos em atividades investigativas e de resoluccedilatildeo

de problemas

Argumento de competecircncia criacutetica os alunos estariam preparados para a vida real como cidadatildeos atuantes na sociedade analisando as

formas que a matemaacutetica eacute usada nas praacuteticas sociais

Argumento de utilidade os alunos estariam preparados para utilizar

a matemaacutetica como ferramenta para resolver problemas em diferentes

situaccedilotildees e aacutereas o que eacute importante para atuarem na vida cotidiana e

no trabalho

Argumento motivacionalintriacutenseco os alunos estariam mais

estimulados para o estudo entendimento e interpretaccedilatildeo da proacutepria

matemaacutetica pois vislumbram sua aplicabilidade

Argumento de aprendizagem os alunos teriam mais facilidade em compreender conceitos matemaacuteticos devido agrave possiacutevel conexatildeo com

outros assuntos

Considerando os curriacuteculos dos cursos de Engenharia no Brasil ao assumir as

disciplinas de Caacutelculo como importante arsenal de ferramentas que possibilitaauxilia a

resoluccedilatildeo de problemas e a compreensatildeo de fenocircmenos englobadosestudados nos diversos

cursos de Engenharia o argumento de utilidade poderia ocupar lugar de destaque no debate

para a inclusatildeo da Modelagem nos curriacuteculos destes cursos Vale ressaltar que tal argumento

natildeo exclui os demais apenas poderia ocupar lugar de destaque

82

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquosince he studied mathematics and engineering separately so that when he

uses both knowledge areas these cognitive areas are separated and he has to integrate them in order to

mathematize the problem to be resolvedrdquo

75

Vaacuterios argumentos poreacutem satildeo apresentados como obstaacuteculos para o uso da

Modelagem Matemaacutetica em cursos regulares Tais obstaacuteculos segundo Bassanezi (2006 p

37 grifos do autor) podem ser de trecircs tipos

1) Obstaacuteculos instrucionais - Os cursos regulares possuem um programa que deve

ser desenvolvido completamente[] alguns professores tem duacutevida se as aplicaccedilotildees

e conexotildees com outras aacutereas fazem parte do ensino de Matemaacutetica salientando que

tais componentes tendem a distorcer a esteacutetica a beleza e a universalidade da

Matemaacutetica

2) Obstaacuteculos para os estudantes - O uso da Modelagem foge da rotina do ensino

tradicional e os estudantes natildeo acostumados com o processo podem se perder e se

tornar apaacuteticos nas aulas []

3) Obstaacuteculos para os professores - Muitos professores natildeo se sentem habilitados a

desenvolver modelagem em seus cursos por falta de conhecimento do processo ou

por medo de se encontrarem em situaccedilotildees embaraccedilosas quanto agraves aplicaccedilotildees da

matemaacutetica em aacutereas que desconhecem Acreditam que perderatildeo muito tempo para

preparar as aulas e tambeacutem natildeo teratildeo tempo para cumprir todo o programa do curso

Blum (1991) ainda afirma que do ponto de vista dos professores a inclusatildeo da

Modelagem aumentaria suas demandas de trabalho devido agraves qualificaccedilotildees adicionais e

conhecimentos natildeo matemaacuteticos que satildeo requeridos nesse tipo de atividade

Flemming (2004) ao relatar o desenvolvimento de uma pesquisa sobre o ensino

das Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias mostra um dos obstaacuteculos apontados por Bassanezi

(2006)

A nossa motivaccedilatildeo estava alicerccedilada no fato de que a maioria dos professores natildeo

discute a resoluccedilatildeo de problemas no contexto das equaccedilotildees diferenciais e as razotildees

apontadas satildeo os alunos ainda natildeo dominam os conhecimentos da Fiacutesica e outras

aacutereas requeridas para a interpretaccedilatildeo dos problemas os professores na sua

formaccedilatildeo natildeo tiveram o aprofundamento em diferentes aacutereas da Engenharia

requeridas para o domiacutenio do problema (FLEMMING 2004 p 280)

Considerando os obstaacuteculos apontados acima em cursos de Engenharia aleacutem de

entender como os alunos e professores conduzem suas experiecircncias em Modelagem

Matemaacutetica seria necessaacuterio entender tambeacutem as possibilidades que esse ambiente de

formaccedilatildeo proporciona aos aprendizes sendo eles alunos professores monitores e demais

sujeitos da comunidade acadecircmica que realizam as atividades que objetivam a formaccedilatildeo do

engenheiro contemporacircneo

Um fator muito importante que deve ser considerado quando se pretende usar a

Modelagem em cursos de Engenharia eacute o tempo Geralmente o tempo que deve ser dedicado

ao desenvolvimento de cada parte das disciplinas de Caacutelculo eacute consideradosugerido nos

respectivos planos de ensino Sendo assim o cumprimento de ementasconteuacutedos pode tornar-

76

se para o professor um ponto de tensatildeo que pode influenciar sua decisatildeo quanto agrave

incorporaccedilatildeo da Modelagem em sua praacutetica docente

No que tange a incorporaccedilatildeo da Modelagem Matemaacutetica no decorrer de

disciplinas escolares a adequaccedilatildeo da proposta de ensino elaborada pelo professor deve levar

em conta os conteuacutedos a serem abordados e assim buscar por temas de Modelagem guiados

pelos conteuacutedos Para isso Biembengut e Hein (2007 p 417) sintetizam os estaacutegios do

processo a serem seguidos pelos docentes quando eles se disponibilizam a realizar

Modelagem durante as disciplinas ofertadas em cursos de Engenharia

1) Apresentar uma siacutentese do tema relativo para Engenharia 2) Propor algumas questotildees sobre o tema encorajando os estudantes a responder

3) Selecionar as questotildees que satildeo mais apropriadas para desenvolver o conteuacutedo programaacutetico de matemaacutetica

4) Formular questotildees de tal modo a aumentar o teor de conteuacutedo matemaacutetico necessaacuterio para resolvecirc-lo 5) Apresentar o conteuacutedo programaacutetico de matemaacutetica

6) Propor exemplos anaacutelogos de modo que o conteuacutedo natildeo seja restrito ao modelo assim que o conteuacutedo necessaacuterio eacute suficientemente desenvolvido para responder ou resolver este estaacutegio do trabalho

7) Solicitar aos estudantes fazerem pesquisas sobre o assunto caso seja necessaacuterio 8) Retornar agrave questatildeo que comeccedilou o processo apresentando uma soluccedilatildeo

9) Orientar os estudantes na anaacutelise de seus resultados e sua validaccedilatildeo83

Jaacute Franchi (2002) acredita que a Modelagem deva permear as atividades

desenvolvidas nas disciplinas da aacuterea de Matemaacutetica em cursos de Engenharia Para a autora

a escolha dos conteuacutedos matemaacuteticos a serem abordados em tais disciplinas em cursos de

Engenharia deve ocorrer em funccedilatildeo do contexto histoacuterico Para cada contexto eacute necessaacuterio

antes de qualquer coisa identificar os objetivos alinhados agraves demandas de formaccedilatildeo em

Engenharia e depois escolher conteuacutedos e metodologias que ajudem a atingir tais objetivos

Nesse sentido a estrutura curricular natildeo deve ser algo estaacutetico muito pelo contraacuterio deve

permitir diferentes possibilidades de organizaccedilatildeo que possam ser adaptadas a cada contexto

curso ou momento histoacuterico

83

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquo1) Present a synthesis of the theme relative to Engineering

2) Propose some question about the theme encouraging students to respond

3) Select the question that is most appropriate for developing the programmersquos mathematical content

4) Formulate questions in such a way as to raise he mathematical content necessary for resolving them

5) Present the programmatic mathematical content

6) Propose analogous examples so that the content is not restricted to the model as soon as the necessary content

is sufficiently developed for answering or resolving this stage of the work

7) Solicit students to make research into the subject if deemed necessary

8) Return to the question that began the process presenting a solution

9) Guide the students in analysing their results and its validityrdquo

77

Vale ressaltar que Franchi (2002) apresenta como fruto de sua investigaccedilatildeo uma

proposta curricular para tratar os conteuacutedos de Matemaacutetica em cursos de Engenharia

utilizando de Modelagem e Informaacutetica em consonacircncia agraves exigecircncias de tal formaccedilatildeo

profissional A incorporaccedilatildeo da Modelagem e da Informaacutetica nas praacuteticas de ensino-

aprendizagem cuja finalidade eacute possibilitar a formaccedilatildeo Matemaacutetica dos engenheiros se deu

mediante a implementaccedilatildeo da referida proposta curricular em uma instituiccedilatildeo que se destina agrave

formaccedilatildeo de engenheiros Ou seja o curriacuteculo foi transformado e implementado

Contudo caso o curriacuteculo de uma instituiccedilatildeo natildeo seja modificado (por quaisquer

razotildees) e consequentemente natildeo seja implementada modificaccedilatildeo alguma mesmo assim

seria possiacutevel desenvolver atividades de formaccedilatildeo de Caacutelculo utilizando Modelagem

Matemaacutetica Mas qual seria a melhor forma Seria possiacutevel adequar um curriacuteculo jaacute preacute-

estabelecido e demasiadamente estaacutetico aos objetivos de formaccedilatildeo em Engenharia que atenda

agraves exigecircncias atuais para tal formaccedilatildeo utilizando-se da Modelagem Matemaacutetica Franchi

(2002) considera como necessaacuterio e importante a integraccedilatildeo da Matemaacutetica com as demais

aacutereas dos cursos de Engenharia mediante o desenvolvimento de atividades de Modelagem

poreacutem afirma que natildeo existe um entendimento claro de como isso deve ser feito

Kaiser e Sriraman (2006) se incumbiram de revisar a literatura (em termos de

pesquisas realizadas em vaacuterios paiacuteses do mundo) e sistematizar as perspectivas de Modelagem

em Educaccedilatildeo Matemaacutetica Os autores delimitaram perspectivas que em 2006 podiam ser

consideradas como tendecircncias no debate sobre a Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica

conforme seus objetivos centrais a partir da anaacutelise de artigos apresentados em conferecircncias e

perioacutedicos internacionais tais como ICTMA84

e ZDM85

Vale ressaltar que natildeo haacute qualquer

menccedilatildeo que os autores dos referidos artigos assumam tais perspectivas em todas as

investigaccedilotildees que se propotildeem a desenvolver E mais do que isso natildeo significa que a

perspectiva assumida esteja posta de forma clara e objetiva em cada artigo Sendo assim por

vezes devemos considerar a perspectiva assumida pela leitura dos autores aos textos

publicados nos congressos e perioacutedicos

No Brasil alguns mapeamentos foram realizados na tentativa de estabelecer um

panorama atual das pesquisas em Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica Um deles e talvez o

mais recentemente publicado internacionalmente foi elaborado por Arauacutejo (2010) Como

corpus foram analisados trabalhos apresentados e publicados em eventos ocorridos no paiacutes

84

International Conference on the Teaching of Mathematical Modelling and Applications (ICTMA) 85

The International Journal on Mathematics Education (ZDM)

78

durante os anos de 2006 e 2007 Satildeo eles 14 trabalhos apresentados no III SIPEM86

10

trabalhos apresentados no IX ENEM87

e 32 trabalhos apresentados na CNMEM88

totalizando

56 publicaccedilotildees No artigo a autora esclarece que

Devido agrave sua influecircncia a modelagem em educaccedilatildeo matemaacutetica no Brasil reflete

influecircncias da matemaacutetica aplicada campo principal de trabalho de Bassanezi mas

tem sido marcada principalmente pelos estudos soacutecio-culturais desenvolvidos por

DrsquoAmbrosio no campo da Etnomatemaacutetica89

(ARAUacuteJO 2010 p 338)

Com base nas leituras dos diversos textos mencionados anteriormente observei

que existem diversas concepccedilotildees em atividades de Modelagem Matemaacutetica nos mais diversos

contextos de formaccedilatildeo podendo ser realizadas durante o desenvolvimento de disciplinas

regulares como cursos de formaccedilatildeo de professores iniciaccedilatildeo cientiacutefica pesquisa entre outras

possibilidades A apresentaccedilatildeo do problema pode ser realizada tanto pelo professor quanto

pelos alunos O problema pode ser exposto juntamente com seus dados qualitativos eou

quantitativos Pode ocorrer de os alunos e professor(es) terem que procurar pelos dados

quantitativos ou qualitativos relacionados ao problema proposto Podem ser incluiacutedos tambeacutem

problemas para os quais jaacute foram estabelecidos modelos matemaacuteticos que os representem (as

denominadas aplicaccedilotildees)

A seguir apresento uma revisatildeo de literatura sobre as pesquisas que buscam

analisar os usos da Modelagem Matemaacutetica para propiciar formaccedilotildees em Caacutelculo em cursos

de Engenharia Com isso objetivo delimitar a presente investigaccedilatildeo no contexto da revisatildeo de

literatura

24 Revisatildeo de literatura sobre pesquisas de Modelagem em Caacutelculo na Educaccedilatildeo em

Engenharia delineando o espaccedilo da presente pesquisa

Ao ler por exemplo os anais do Seminaacuterio Internacional de Pesquisa em

Educaccedilatildeo Matemaacutetica (SIPEM)90

que ocorreram trienalmente entre os anos de 2000 e 2012

86

Seminaacuterio Internacional de Pesquisa em Educaccedilatildeo Matemaacutetica 87

Encontro Nacional da Educaccedilatildeo Matemaacutetica 88

Conferecircncia Nacional sobre Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica 89

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoDue to their influence modelling in mathematics education in Brazil reflects

influences from applied mathematics Bassanezirsquos main field of work but has been imprinted mainly by the

socio-cultural studies developed by DrsquoAmbrosio in the field of ethnomathematicsrdquo 90

O SIPEM eacute um seminaacuterio realizado trienalmente e organizado pela Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo

Matemaacutetica (SBEM)

79

foi encontrado apenas um trabalho que faz referecircncia ao uso de Modelagem em cursos de

Engenharia tendo sido apresentado no V SIPEM em 2012 Nele Ferruzzi (2012 p 1)

apresenta resultados de uma pesquisa que buscou investigar ldquoo potencial da Modelagem

Matemaacutetica para o estabelecimento de interaccedilotildees que possuem caracteriacutesticas consideradas

fonte de aprendizagemrdquo em um curso de Engenharia Ambiental A autora se baseia nos

estudos de Vygotsky e considera que a aprendizagem estaacute associada agrave interaccedilatildeo Sendo assim

entende que ldquopropiciar atividades que conduzam agrave interaccedilatildeo pode auxiliar o aluno em seu

aprendizado e deve ser um dos interesses do professorrdquo (FERRUZZI 2012 p 1)

Biembengut e Hein (2007) concebem a Modelagem Matemaacutetica como uma

metodologia de ensino em cursos de Engenharia Aleacutem disso eles esclarecem a ecircnfase dada

por eles nas atividades de Modelagem em cursos de Engenharia

O objetivo deste trabalho eacute criar condiccedilotildees para que os alunos aprendam a fazer

modelos matemaacuteticos aumentando e aperfeiccediloando seus conhecimentos Um grupo

de estudantes sob a supervisatildeo do professor deve ser responsaacutevel pela escolha e

direccedilatildeo de seu proacuteprio trabalho Cabe ao professor criar condiccedilotildees onde eles podem

desenvolver esta autonomia91

(BIEMBENGUT HEIN 2007 p 417)

O desenvolvimento de atividades de Modelagem em sala de aula implica

necessariamente delineamento de especificaccedilotildees que engloba os objetivos para a realizaccedilatildeo

da atividade bem como os papeacuteis que devem ser assumidos por alunos e professores Os

pesquisadores da Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica entendem que tais especificaccedilotildees ao

serem assumidas pelos professores definem uma perspectiva de Modelagem Matemaacutetica

(BARBOSA SANTOS 2007 p 1-2)

Alguns trabalhos sobre Modelagem em Educaccedilatildeo foram apresentados em ediccedilotildees

anuais do Congresso Brasileiro de Educaccedilatildeo em Engenharia (COBENGE) Nas uacuteltimas 10

ediccedilotildees do evento (de 2003 a 2012) dezesseis trabalhos sobre Modelagem Matemaacutetica na

Educaccedilatildeo em Engenharia foram apresentados92

Observe que a meacutedia eacute de menos de dois

trabalhos por ediccedilatildeo do evento O que poderia explicar uma participaccedilatildeo tatildeo inexpressiva

nesse congresso por parte dos pesquisadores em Educaccedilatildeo Matemaacutetica Natildeo sei a resposta

91

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoThe objective of this work is to create conditions in which students learn to

make mathematical models increasing and perfecting their knowledge A group of students under the

supervision of the teacher must be responsible for the choice and direction of their own work It falls to the

teacher to create conditions where they can develop this autonomyrdquo 92

Os anais do evento estatildeo disponiacuteveis no site wwwabengeorgbr Busquei pelo termo Modelagem e li todos os

resumos que obedecessem a essa busca Dentre eles descartei os artigos que se referiam agrave Modelagem

ldquopuramenterdquo sob a oacutetica da Matemaacutetica Aplicada agrave resoluccedilatildeo de problemas da Engenharia restando assim

apenas os artigos que se referiam essencialmente agrave Modelagem sob a oacutetica da formaccedilatildeo Matemaacutetica em

Engenharia

80

para essa pergunta e nem eacute o intuito desta pesquisa descobrir a resposta contudo penso que

esta realidade pode estar relacionada agrave hipoacutetese formulada por Cury (2002) de que ldquoos

professores de disciplinas matemaacuteticas natildeo se consideram professores dos cursos de

Engenharia e por isso natildeo se propotildeem a apresentar seus trabalhos em congressos de ensino

desta aacutereardquo

Em sua pesquisa de doutorado Arauacutejo (2002) analisou uma proposta de

Modelagem Matemaacutetica desenvolvida em uma turma de Caacutelculo do curso de Engenharia

Quiacutemica de uma universidade puacuteblica do Estado de Satildeo Paulo Tal proposta foi implementada

durante o desenvolvimento da disciplina que contempla(va) os conteuacutedos de Caacutelculo

Diferencial e Integral I A pesquisadora analisou atividades de Modelagem Matemaacutetica em

um ambiente de ensino e aprendizagem de Caacutelculo no qual as tecnologias informaacuteticas

estavam presentes com o objetivo de investigar que discussotildees ocorrem e como elas ocorrem

Vale ressaltar que a autora entende que ldquodiscussotildeesrdquo podem ser entendidas como algum tipo

de ldquocomunicaccedilatildeordquo que por sua vez pode exercer influecircncias sobre a ldquoaprendizagemrdquo Para

ela aprendizagem ldquocertamente estaacute ligada a questotildees de comunicaccedilatildeo na Educaccedilatildeo

Matemaacuteticardquo (ARAUacuteJO 2002 p 164)

Ferruzzi (2011) realizou sua pesquisa de doutorado mediante a aplicaccedilatildeo de uma

proposta de Modelagem Matemaacutetica em um curso de Engenharia Ambiental da Universidade

Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute (UTFPR) Tal proposta foi implementada durante o

desenvolvimento da disciplina chamada de Matemaacutetica 2 na referida instituiccedilatildeo que

contempla os conteuacutedos de Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias A pesquisadora desenvolveu

atividades de Modelagem Matemaacutetica com referecircncia nos temas relacionados aos conteuacutedos

de EDO com o objetivo de investigar as interaccedilotildees que emergem durante o desenvolvimento

de atividades de Modelagem Matemaacutetica na sala de aula Como parte da anaacutelise a autora

aponta que os diaacutelogos que emergiram durante as atividades de Modelagem propostas na

investigaccedilatildeo ocorrem com mais frequecircncia do que os diaacutelogos que emergem de praacuteticas

tradicionais de ensino-aprendizagem da referida disciplina Aleacutem disso constatou que as

interaccedilotildees proporcionadas pelo desenvolvimento das atividades de Modelagem atuaram

significativamente no favorecimento da aprendizagem dos alunos

Vale ressaltar que a proposta de modelagem implementada por Ferruzzi (2011 p

24 grifos da autora) foi baseada em um contexto simulado que pode ser entendido como uma

representaccedilatildeo do contexto real Tal contexto tem origem no contexto real sendo reproduzidas

partes de suas caracteriacutesticas Para a autora ldquoo contexto simulado faz referecircncia agrave situaccedilotildees da

vida cotidiana que satildeo retomadas e transformadas em atividades de ensino e aprendizagemrdquo

81

A autora considera aprendizagem na referida pesquisa como um processo de mudanccedila nas

formas discursivas dos alunos

Aleacutem disso Ferruzzi (2011 p 33) considera o conceito vygotskyano de Zona de

Desenvolvimento Proximal (ZDP) como sendo ldquoo desenvolvimento humano em dois niacuteveis o

Niacutevel de Desenvolvimento Real (NDR) e o Niacutevel de Desenvolvimento Potencial (NDP) A

lsquodistacircnciarsquo entre estes dois niacuteveis eacute denominada por Vygotsky como sendo a Zona de

Desenvolvimento Proximal (ZDP)rdquo Nesse sentido as conclusotildees da referida pesquisa satildeo

tomadas em termos de aprendizagens que natildeo poderiam acontecer de modo espontacircneo

sendo entatildeo promovidas pela accedilatildeo intencional do professor Com isso a autora considera

que o professor pode exercer o papel de mediador dos processos de ensino e aprendizagem de

Caacutelculo em um curso de Engenharia por meio de atividades de Modelagem Matemaacutetica

Vale ressaltar que Ferruzzi (2011) investigou as interaccedilotildees que emergem de

atividades de Matemaacutetica em sala de aula da disciplina Matemaacutetica 2 que na UTFPR abarca

os conteuacutedos de EDO considerando que o conhecimento eacute construiacutedo na e pela interaccedilatildeo

enquanto a presente pesquisa buscou analisar as possibilidades de aprendizagens expansivas

evidenciadas em atividades desenvolvidas por um Grupo de Estudos e Pesquisa em

Modelagem Matemaacutetica (GEPMM) em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharia Portanto

interaccedilatildeo e aprendizagem estatildeo intimamente inter-relacionadas em Ferruzzi (2011) Vale

ressaltar que para a referida autora a aprendizagem pode ser entendida como um processo de

mudanccedila nas formas discursivas dos alunos

Tomando-se por base Arauacutejo (2002) e Ferruzzi (2011) percebo que discussotildees

(comunicaccedilotildees) e interaccedilotildees satildeo elementos cuja anaacutelise se torna essencial para investigar

processos de aprendizagem em atividades de Modelagem desenvolvidas em disciplinas de

Caacutelculo em cursos de Engenharia

Buscando esclarecer os conceitos de comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo entendendo-os

como constituintes de discursos que permeiam os mais diversos ambientes de aprendizagem

encontrei em Bakhtin (2010 p 36) o seguinte relacionamento entre comunicaccedilatildeo interaccedilatildeo e

consciecircncia ldquoa loacutegica da consciecircncia eacute a loacutegica da comunicaccedilatildeo ideoloacutegica da interaccedilatildeo

semioacutetica de um grupo social Se privarmos a consciecircncia de seu conteuacutedo semioacutetico e

ideoloacutegico natildeo sobra nadardquo

Tanto em Arauacutejo (2002) quanto em Ferruzzi (2011) as atividades de Modelagem

permearam as demais atividades desenvolvidas em disciplinas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia Sendo assim as atividades de Modelagem estiveram condicionadas agrave adaptaccedilatildeo

ao contexto das referidas disciplinas de Caacutelculo Para tal condicionamento faz-se necessaacuterio

82

supostamente o alinhamento das atividades de Modelagem aos objetivos que satildeo delineados

em cada disciplina

A meu ver outras questotildees podem ser colocadas em relevo quando se desenvolve

Modelagem em salas de aula de disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia o

engajamento dos alunos nas referidas atividades estaria relacionado a quais motivos As

situaccedilotildees-problema natildeo matemaacuteticas em questatildeo estariam condicionadas aos conteuacutedos de

cada disciplina Quais ideologias estariam permeando tais ambientes de aprendizagem

Na intervenccedilatildeo proposta na presente pesquisa entendo os conteuacutedos de Caacutelculo

como ferramentas para a formaccedilatildeo em Engenharia Um Caacutelculo que somente pode ser

concebido em accedilatildeo Caacutelculo como meio natildeo como finalidade Baseado nisso natildeo haacute a priori

como definir os conteuacutedos de Caacutelculo que possam ser utilizados para entendimento de uma

questatildeo-problema natildeo matemaacutetica oriunda de um contexto real ndash razatildeo de ser das atividades

de Modelagem que seja escolhida por um grupo de sujeitos Mais do que isso o foco

principal da referida atividade eacute o entendimento da questatildeo-problema Dessa forma os

conteuacutedos de Caacutelculo satildeo construiacutedos e utilizados para solucionar a questatildeo-problema ndash um

Caacutelculo que jaacute ldquonasceriardquo em accedilatildeo

Tomando-se por base a constituiccedilatildeo do GEPMM como um contexto alternativo

agraves disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia e as atividades que foram nele

desenvolvidas busco analisar as possibilidades de aprendizagens expansivas

25 Concepccedilatildeo de uma atividade de Modelagem Matemaacutetica assumida em um contexto

de formaccedilatildeo em Engenharias

Para Barbosa (2001a p 6) ldquomodelagem eacute um ambiente de aprendizagem no qual

os alunos satildeo convidados a indagar eou investigar por meio da matemaacutetica situaccedilotildees

oriundas de outras aacutereas da realidaderdquo Vale ressaltar que o autor focou seus estudos de

doutoramento na formaccedilatildeo inicial de professores de Matemaacutetica ou seja alunos de

licenciatura em Matemaacutetica Na referida pesquisa de doutorado Barbosa (2001b) orientou-se

pela busca em entender a concepccedilatildeo de Modelagem Matemaacutetica de futuros professores de

Matemaacutetica tendo em vista as experiecircncias matemaacuteticas particularmente com modelagem

vivenciadas pelos licenciandos aliadas as suas concepccedilotildees de Matemaacutetica e de seu ensino

Nesse sentido considero que a Modelagem Matemaacutetica pode perfazer algo aleacutem

do que eacute proposto explicitamente por Barbosa (2001a) devido ao simples fato de que natildeo

83

somente os estudantes podem estar sendo convidados a indagar eou investigar mas acredito

sobretudo que tais ambientes podem assumir importante papel na formaccedilatildeo continuada de

professores em suas proacuteprias praacuteticas93

ampliando assim os respectivos horizontes de

atuaccedilatildeo nas mais diversas dimensotildees cotidianas de trabalho Vale ressaltar que embora

Barbosa (2001a) natildeo exclua as possibilidades de formaccedilatildeo docente continuada em tais

ambientes de aprendizagem ele natildeo se propocircs a focar suas discussotildees nesse possiacutevel aspecto

da atividade

Bassanezi (2006 p 16) entende que a modelagem matemaacutetica consiste na ldquoarte de

transformar problemas da realidade em problemas matemaacuteticos e resolvecirc-los interpretando

suas soluccedilotildees na linguagem do mundo realrdquo A obra artiacutestica pode ser considerada criaccedilatildeo de

uma nova realidade posto que o homem se afirma criando ou humanizando o que toca ndash a

praacutexis artiacutestica que ao ampliar e enriquecer com suas criaccedilotildees a realidade jaacute humanizada

constitui uma praacutexis essencial para o homem (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 198)

Ao considerar a modelagem como arte situando-a na esfera da atividade da

transformaccedilatildeo de uma mateacuteria (problema da realidade) sob uma nova forma (problemas

matemaacuteticos) eacute preciso levar em conta a necessidade humana que o objeto criado ou

produzido seraacute capaz de satisfazer Satildeo as necessidades humanas que configuram e orientam

as atividade de modelagem realizadas por uma coletividade cujo objeto compartilhado

relaciona-se necessariamente com os objetivos centrais a serem alcanccedilados mediante a

realizaccedilatildeo de accedilotildees intencionais adequadas agraves finalidades que por sua vez podem ser

caracterizadas pela(s) perspectiva(s) de modelagem assumida(s) pelos sujeitos engajados em

tal atividade

No contexto da pesquisa relatada no presente texto considero que atividade de

Modelagem Matemaacutetica constituem espaccedilos formativos94

nos quais os sujeitos engajados

dirigem suas accedilotildees em prol do entendimento e da resoluccedilatildeo de questotildees-problema natildeo

matemaacuteticas oriundas das mais variadas esferas da sociedade utilizando necessariamente

instrumentos matemaacuteticos para auxiliaacute-los

93

Formaccedilatildeo continuada de professores em suas proacuteprias praacuteticas quer dizer que os professores aprendem

enquanto vatildeo criando e modificando suas proacuteprias praacuteticas Natildeo precisam necessariamente participar de um

curso de formaccedilatildeo continuada para estarem aprendendo Eles proacuteprios tomam a realidade contraditoacuteria como

ponto de partida e promovem accedilotildees com vistas a modificarem suas praacutexis promovendo assim saltos

qualitativos em sua proacutepria formaccedilatildeo docente 94

Aqui espaccedilo formativo pode ser entendido como algo aleacutem de um lugar fiacutesico Um ambiente que produz um

contexto propiacutecio agrave formaccedilatildeo uma estrateacutegia de formaccedilatildeo que deve conter os mais variados instrumentos

incluindo instrumentos subjetivos e simboacutelicos nos quais os sujeitos dirigem suas accedilotildees orientadas pelos

objetivos de formaccedilatildeo que incluem o compartilhamento de conhecimentos em prol da formaccedilatildeo profissional dos

futuros engenheiros constituindo assim um sistema de atividades cujo objeto compartilhado deve incluir as

questotildees-problema a serem entendidassolucionadas e os futuros engenheiros (estudantes)

84

Cabe aqui uma ressalva como as atividades de Modelagem Matemaacutetica nesta

investigaccedilatildeo satildeo concebidas como espaccedilos formativos em instituiccedilotildees de ensino95

natildeo

podemos desconsiderar que esses espaccedilos perpassam por formas cotidianas de atitudes e

accedilotildees praacuteticas dos professores em exerciacutecio de seu trabalho como natildeo podemos considerar o

trabalho do professor sem levar em conta o(s) objeto(s) de sua atividade tambeacutem devemos

levar em conta que tais atividade perpassam por horizontes historicamente e culturalmente

elaborados de formas cotidianas de atitudes e accedilotildees praacuteticas dos alunos em exerciacutecio de suas

atribuiccedilotildees como estudantes considerando-se entatildeo objeto de sua proacutepria atividade de

formaccedilatildeo escolar institucionalizada

Ainda por considerar que o trabalho do professor consiste em auxiliar

acompanhar orientar e ajudar os estudantes a engajarem e participarem do processo de

formaccedilatildeo e constituiccedilatildeo da proacutepria cidadania em termos da aquisiccedilatildeo de conhecimentos

necessaacuterios para plena participaccedilatildeo social entendo que o trabalho do professor somente se

realiza em sua plenitude mediante o engajamento dos alunos pois para um sujeito auxiliar

eou acompanhar eou orientar eou ajudar outro sujeito torna-se necessaacuterio que esse outro

direcione accedilotildees no mesmo sentido orientadas pelo mesmo fim Nisso natildeo entendo que possa

haver ensino sem aprendizagem Por esse motivo que entendo as atividades de Modelagem

Matemaacutetica como espaccedilos formativos naturalmente imersos em espaccedilos formativos

institucionalizados mais amplos ndash escolas e universidades

Dessa forma podemos atribuir agraves atividade de Modelagem Matemaacutetica em

contextos formativos a necessidade de formaccedilatildeo de estudantes para se tornarem sujeitos

plenamente conscientes autocircnomos e livres mediante a aquisiccedilatildeo da capacidade de agir em

situaccedilotildees problemaacuteticas utilizando os conhecimentos construiacutedos pelo homem em sua

historicidade dentre estes a Matemaacutetica ndash no contexto da presente pesquisa mais

especificamente o Caacutelculo

Contudo natildeo somente estudantes podem estar em processo de formaccedilatildeo ao

participarem deste tipo de atividade mas tambeacutem os professores ao se depararem com

questotildees-problema natildeo oriundas de sua aacuterea de formaccedilatildeo (a Matemaacutetica) podem ser

agraciados com transformaccedilotildees em seus proacuteprios horizontes de accedilotildees cotidianas e de praacuteticas

de trabalho Acredito ainda que os professores ao modificarem suas praacuteticas cotidianas de

trabalho incluindo atividade de modelagem Matemaacutetica acabam por possibilitar um

95

Nesta pesquisa em uma universidade que se destina agrave formaccedilatildeo de engenheiros

85

movimento de transformaccedilotildees qualitativas em sua proacutepria formaccedilatildeo docente ainda que este

natildeo seja necessariamente o objeto principal que oriente tal modificaccedilatildeo

Engestroumlm (2002) enfatiza que os contextos da descoberta da aplicaccedilatildeo praacutetica e

da criacutetica ao serem assumidos podem provocar transformaccedilotildees no objeto da atividade

escolar tornando-o novo e expandido Sendo assim as atividades de Modelagem Matemaacutetica

como um espaccedilo formativo alternativo no qual alunos e professores tem a oportunidade de

elaborar e implementar um novo modo de fazer e participar do trabalho de ensino-

aprendizagem constituem um contexto propiacutecio para ampliar as possibilidades para

aprendizagens expansivas O objeto da atividade escolar tradicional eacute transformado

delegando aos textos escolares o papel de instrumentos e elegendo as questotildees-problema natildeo

matemaacuteticas como um novo e expandido objeto da atividade aleacutem de ser remetido aos

contextos da descoberta da aplicaccedilatildeo e da criacutetica Aleacutem disso os estudantes inicialmente

remetidos ao posto de sujeitos da atividade escolar de aprendizagem passam a configurar

adicionalmente ao objeto natildeo apenas da atividade do professor (ensino) mas sobretudo de

sua proacutepria atividade (aprendizagem) estando assim engajados na atividade de ensino-

aprendizagem que objetiva sua proacutepria formaccedilatildeo mediante tal participaccedilatildeo nas atividades de

Modelagem Matemaacutetica

Dessa forma as atividades de Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia

podem se configurar teoricamente mediante representaccedilatildeo ldquotriangularrdquo elaborada por

Engestroumlm (1987) como sistemas de atividade de ensino-aprendizagem da seguinte forma

86

FIGURA 5 ndash Os interdependentes sistemas de atividade de estudantes e professor(es) engajados em atividades

(escolares) de Modelagem Matemaacutetica

Fonte Elaborado pela autora com base em Engestroumlm (2008)

No desenvolvimento das accedilotildees que necessitam ocorrer para que as questotildees-

problema sejam entendidas resolvidas e solucionadas pelos participantes da atividade pode

ocorrer de algum instrumento ter de ser construiacutedo pelos participantes como por exemplo

alguma ferramenta matemaacutetica Neste caso o professor tem o papel fundamental de orientar

os alunos nessa construccedilatildeo que muitas vezes jaacute faz parte do conhecimento do professor

Contudo em atividades de Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia

contexto desta investigaccedilatildeo pode acontecer (e muitas vezes acontece) de as ferramentas

matemaacuteticas necessaacuterias para o entendimento eou resoluccedilatildeo da questatildeo-problema natildeo

estarem ao alcance ldquodiretordquo de alunos e professores Nesse caso abre-se um horizonte de

possibilidades de aprendizagem que pode tambeacutem constituir a formaccedilatildeo continuada desses

professores engajados na formaccedilatildeo matemaacutetica dos engenheiros Aleacutem disso caso o professor

esteja engajado nesse direcionamento podemos inclusive posicionar como objeto de sua

atividade sua proacutepria formaccedilatildeo continuada em termos da construccedilatildeo coletiva de novas

ferramentas matemaacuteticas o que pode levar agrave necessidade de novas pesquisas na aacuterea de

Matemaacutetica

Ao assumir as atividades de Modelagem Matemaacutetica como sendo um espaccedilo

formativo sendo possiacutevel sua construccedilatildeo dentro ou fora da sala de aula entendo que aos

sujeitos engajados em tais atividade eacute oferecida uma possibilidade de ampliaccedilatildeo gradual do

objeto e do contexto da aprendizagem Aleacutem disso tal espaccedilo formativo alternativo pode

87

possibilitar transformaccedilotildees no sentido de os sujeitos estarem aprendendo novas formas de

atividade direcionadas agrave sua proacutepria formaccedilatildeo Como corpus de anaacutelise para a presente

pesquisa baseio-me em atividades desenvolvidas por um Grupo de Estudos e Pesquisa em

Modelagem Matemaacutetica em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias que realiza suas

accedilotildees fora da sala de aula tradicional tanto de disciplinas de Caacutelculo quanto de disciplinas

ldquoteacutecnicasrdquo composto por alunos e professores de diversos cursos de Engenharia sob a

orientaccedilatildeo da seguinte pergunta diretriz

Quais aprendizagens expansivas podem ser evidenciadas pelas e nas atividades

desenvolvidas por um Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica (GEPMM)

em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias

Como possiacuteveis desdobramentos dessa pergunta estaratildeo

a) o que motivou a participaccedilatildeo dos docentes e discentes no GEPMM

b) Quais contradiccedilotildees ou conflitos estiveram presentes nas atividades do

GEPMM De que forma tais contradiccedilotildees foram exploradas

c) Como os instrumentos que permearam os sistemas de atividade do GEPMM se

relacionam aos sujeitos e aos objetos

26 Abertura de caixas-pretas como accedilotildees estrateacutegicas com vistas agraves possibilidades de

aprendizagens expansivas relacionadas agraves transformaccedilotildees do objeto de uma atividade de

Modelagem Matemaacutetica

[] nossa entrada no mundo da ciecircncia e da tecnologia seraacute pela porta de traacutes a da

ciecircncia em construccedilatildeo e natildeo pela entrada mais grandiosa da ciecircncia acabada

(LATOUR 2000 p 17)

No capiacutetulo 1 pontuei que segundo Engestroumlm (2002) um contexto propiacutecio para

possibilitar aprendizagens expansivas estaria ancorado pelo ldquotripeacuterdquo formado pelos contextos

da descoberta caracterizado pelo meacutetodo da ascensatildeo do abstrato ao concreto proposto por

Davydov da reproduccedilatildeo praacutetica proposto por Jean Lave e da criacutetica proposto por

Engestroumlm (2002) Com base em tal contexto as atividades de Modelagem Matemaacutetica

seriam consideradas como espaccedilos formativos nos quais os sujeitos engajados direcionariam

suas accedilotildees com vistas ao entendimento de questotildees-problema natildeo matemaacuteticas utilizando

88

necessariamente instrumentos matemaacuteticos para auxiliar a resoluccedilatildeoentendimento Com isso

o objeto dos sistemas de atividade seria composto pelas questotildees-problema natildeo matemaacuteticas e

pelos estudantes em formaccedilatildeo Mas como poderiacuteamos caracterizar os instrumentos

matemaacuteticos necessaacuterios no desenvolvimento da referida atividade Sob quais ldquoformasrdquo tais

instrumentos poderiam estar configurados Quais accedilotildees seriam possibilitadas por tais

instrumentos De que forma tais instrumentos se relacionam aos demais instrumentos da

atividade

Segundo Skovsmose (2007 p 113) a noccedilatildeo de Matemaacutetica tem se movido em

muitas direccedilotildees Para ele a terminologia matemaacutetica poderia estar referida ldquoagrave matemaacutetica

pura agrave aplicada agrave matemaacutetica da engenharia agraves teacutecnicas matemaacuteticas imersas na cultura agrave

matemaacutetica das ruas aos caacutelculos de todo tipordquo Afirma ainda que a Matemaacutetica estaacute em toda

parte assim como os computadores e considera o desenvolvimento dos computadores como

um desenvolvimento tecnoloacutegico que pode ser encarado como a materializaccedilatildeo de insights e

teacutecnicas Conclui que Matemaacutetica e Computaccedilatildeo satildeo atividades inter-relacionadas

Skovsmose (2007) considera a tecnologia de maneira ampla que inclui natildeo somente sua

ldquomaquinariardquo mas tambeacutem sua organizaccedilatildeo o conhecimento dos procedimentos de produccedilatildeo

e aqueles para o projeto e para a tomada de decisatildeo

Ao discorrer sobre a (denominada por ele) teoria da representaccedilatildeo da modelagem

matemaacutetica Skovsmose (2007) pontua que o enfoque frequentemente dado a esse tipo de

empreendimento se concentra na verificaccedilatildeo e na exatidatildeo do modelo a ser usado em tal

representaccedilatildeo enquanto o enfoque nos contextos (realidade social) e nas possiacuteveis

consequecircncias do processo de modelar eacute deixado de lado As discussotildees da modelagem

matemaacutetica como teoria da representaccedilatildeo focadas apenas na qualidade da representaccedilatildeo

para o autor estabelecem uma obstruccedilatildeo organizada da proacutepria atividade de modelagem E

sugere que a questatildeo mais importante no que tange os empreendimentos de modelagem

matemaacutetica pode ser designada pela seguinte pergunta ldquoo que a matemaacutetica em accedilatildeo incluirdquo

(SKOVSMOSE 2007 p 115) Sob a oacutetica da Teoria da Atividade esse questionamento

poderia ser a meu ver melhor representado pela seguinte pergunta quais e como se

configuram as accedilotildees possibilitadas pelas ferramentas matemaacuteticas em uma determinada

atividade de modelagem Observe que aqui as accedilotildees se referem aos processos subordinados

agraves metas individuais ou objetivos parciais da atividade Sendo assim a matemaacutetica eacute encarada

como um poderoso instrumento que pode auxiliar o entendimento de questotildees concernentes agraves

realidades natildeo matemaacuteticas Skovsmose (2007) questiona ainda quem constroacutei os modelos

Que aspectos da realidade estatildeo neles incluiacutedos Quem tem acesso aos modelos Os modelos

89

satildeo ldquoconfiaacuteveisrdquo Quem estaacute apto a controlaacute-los Em que sentido eacute possiacutevel falsificar um

modelo E conclui que se tais questotildees natildeo forem adequadamente esclarecidas valores

tradicionais da democracia podem ser corroiacutedos

Ao falar de matemaacutetica em accedilatildeo Skovsmose (2007) se concentra em visualizar

como as concepccedilotildees matemaacuteticas satildeo projetadas na realidade Para ele ldquoquando usamos a

matemaacutetica como uma base para projeto tecnoloacutegico criamos uma ferramenta tecnoloacutegica que

tem de algum modo sido conceitualizada por meio da matemaacuteticardquo (p 123) Observe que

para a Teoria da Atividade os usos das ferramentas tecnoloacutegicas na situaccedilatildeo de artefatos

mediadores das relaccedilotildees possivelmente estabelecidas e implementadas pelos sujeitos

orientados ao objeto estatildeo condicionados aos motivos da atividade relacionados agraves

necessidades humanas

Com vistas ao desenvolvimento de atividades de Modelagem podem estar

incluiacutedas accedilotildees que se referem agrave identificaccedilatildeo e anaacutelise de situaccedilotildees hipoteacuteticas sendo que a

Matemaacutetica auxilia esse processo fornecendo subsiacutedios instrumentais possibilitando

representaccedilotildees de algo ainda natildeo compreendido portanto permite simular alternativas

tecnoloacutegicas para uma dada situaccedilatildeo Sendo assim

A matemaacutetica daacute uma forma de liberdade tecnoloacutegica abrindo um espaccedilo para

situaccedilotildees hipoteacuteticas Neste sentido a matemaacutetica se torna um percurso para a

imaginaccedilatildeo tecnoloacutegica e portanto para o planejamento de processos tecnoloacutegicos

que incluem projeto-accedilatildeo com base matemaacutetica [] O espaccedilo aberto pela

imaginaccedilatildeo tecnoloacutegica poderia muito bem conter situaccedilotildees hipoteacuteticas que natildeo satildeo

acessiacuteveis ao senso comum Um quadro matemaacutetico nos daacute novas alternativas

(SKOVSMOSE 2007 p 123 grifo do autor)

Skovsmose (2007) pontua trecircs aspectos considerados por ele como relevantes no

que diz respeito agrave matemaacutetica em accedilatildeo primeiro considera que por meio da Matemaacutetica eacute

possiacutevel estabelecer um espaccedilo de situaccedilotildees hipoteacuteticas na forma de alternativas

(tecnoloacutegicas) (para uma situaccedilatildeo presente) segundo considera que por meio da Matemaacutetica

eacute possiacutevel investigar detalhes particulares de uma situaccedilatildeo hipoteacutetica embora a Matemaacutetica

tambeacutem cause severas limitaccedilotildees para tal raciociacutenio hipoteacutetico e por uacuteltimo a Matemaacutetica

embasa a modulaccedilatildeo e a constituiccedilatildeo de uma ampla variedade de fenocircmenos sociais e desse

modo ela se torna parte da realidade Com o advento da ciberneacutetica observa-se que muita

tecnologia da informaccedilatildeo se materializa em ldquopacotesrdquo que podem operar conjuntamente com

outros pacotes eles contecircm a matemaacutetica como um ingrediente definidor uma base comum

Os instrumentos matemaacuteticos constituem uma variedade de recursos existentes na

sociedade atual perfazendo ferramentas e signos materializados externamente aos sujeitos

90

(linguagem escrita falada figuras teacutecnicas softwares foacutermulas modelos equaccedilotildees entre

vaacuterios outros) eou internamente aos sujeitos (ferramentas mentais abstraccedilotildees

representaccedilotildees processos psicoloacutegicos memoacuteria etc)

Para compreender a matemaacutetica em accedilatildeo Skovsmose (2007) considera a

Matemaacutetica como uma linguagem refletindo sobre o que poderia ser feito por essa linguagem

particular Aleacutem disso nos conduz agrave seguinte reflexatildeo que visotildees de mundo podem ser

discursivamente constituiacutedas por meio da Matemaacutetica

Se a Matemaacutetica estaacute em todo lugar ndash se natildeo em cena atraacutes da cena ndash espera-se

que toda vez que algueacutem usa de qualquer maneira um computador ele estaacute usando mesmo

que sem consciecircncia disso inuacutemeros dispositivos que somente foram elaborados e

construiacutedos mediante consideraacuteveis avanccedilos de loacutegicas teacutecnicas e resultados matemaacuteticos A

proacutepria aacutelgebra booleana96

que permeia todos os processos ciberneacuteticos eacute oriunda de

conceitos e resultados matemaacuteticos Dessa forma pensar processos educativos em pleno

seacuteculo XXI que se propotildeem possibilitar aos aprendizes uma visatildeo e atuaccedilatildeo criacutetica nessa

sociedade ldquocheia de tecnologiasrdquo ao seu alcance deve necessariamente levar em conta o

domiacutenio do entendimento ldquodescortinadordquo de todos os constructos instrumentais e seus

respectivos usos em diversas praacuteticas sociais que vatildeo muito aleacutem de capacidades de leitura

escrita e contagem

Ubiratan DrsquoAmbroacutesio no final dos anos 90 propocircs um curriacuteculo97

baseado no

tripeacute literacia materacia e tecnoracia buscando abarcar uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo que

atenda agraves exigecircncias da sociedade em cada momento histoacuterico Para ele isso difere e muito

do paradigma curricular que foca na importacircncia acadecircmica de cada disciplina escolar Nas

palavras do autor

Literacia eacute a capacidade de processar informaccedilotildees escrita e falada o que inclui

leitura escrita escritura caacutelculo diaacutelogo ecaacutelogo miacutedia internet na vida cotidiana

(instrumentos comunicativos)

Materacia eacute a capacidade de interpretar e analisar sinais e coacutedigos de propor e utilizar modelos e simulaccedilotildees na vida cotidiana de elaborar abstraccedilotildees sobre representaccedilotildees do real (instrumentos intelectuais)

Tecnoracia eacute a capacidade de usar e combinar instrumentos simples ou complexos inclusive o proacuteprio corpo avaliando suas possibilidades e limitaccedilotildees e a sua adequaccedilatildeo a necessidades e situaccedilotildees diversas (instrumentos materiais)

98

(DrsquoAMBROacuteSIO 2005 p 119)

96

Booleana se refere agrave Aacutelgebra elaborada por George Boole matemaacutetico inglecircs que concluiu seus trabalhos

sobre tal teoria em meados do seacuteculo XIX 97

O autor define curriacuteculo de uma forma muito abrangente ldquoa estrateacutegia da accedilatildeo educativardquo (DrsquoAMBROacuteSIO

2005 p 118) 98

Em inglecircs Literacy matheracy e technoracy Existem outras traduccedilotildees para Literacy como por exemplo

letramento contudo natildeo portam a mesma definiccedilatildeo O letramento estaria mais relacionado com a matheracy

91

Na sociedade atual as capacidades requeridas aos sujeitos abarcam usos e visatildeo

criacutetica de instrumentos de comunicaccedilatildeo intelectuais e materiais Com isso eacute extremamente

necessaacuterio adaptar as praacuteticas escolares para dar conta dessas prioridades A Modelagem

Matemaacutetica por se tratar de uma atividade que busca a resoluccedilatildeo de questotildees-problema de

realidades natildeo matemaacuteticas pode se configurar como um importante espaccedilo formativo

direcionado por essa concepccedilatildeo de educaccedilatildeo proposta por DrsquoAmbroacutesio conforme explicitado

anteriormente

Para Skovsmose (2001 p 89) ldquoo conhecimento reflexivo tem como seu objeto o

uso da matemaacutetica e portanto torna-se importante sair da catedral do conhecimento formal

para se ter uma visatildeo mais geral dessa construccedilatildeordquo Aleacutem disso tal autor faz distinccedilatildeo entre

trecircs tipos de conhecer que podem orientar a educaccedilatildeo matemaacutetica

1) Conhecer matemaacutetico que se refere agrave competecircncia normalmente entendida como

habilidades matemaacuteticas incluindo-se competecircncias na reproduccedilatildeo de teoremas e

provas bem como ao domiacutenio de uma variedade de algoritmos ndash essa competecircncia

estaacute focada na educaccedilatildeo matemaacutetica tradicional e sua importacircncia tem sido

especialmente enfatizada pelo movimento estruturalista ou pela ldquonova matemaacuteticardquo

2) Conhecer tecnoloacutegico que se refere agraves habilidades em aplicar a matemaacutetica e agraves

competecircncias na construccedilatildeo de modelos A importacircncia do conhecer tecnoloacutegico

tem sido enfatizada pela tendecircncia dirigida para aplicaccedilotildees na educaccedilatildeo matemaacutetica

que afirma que ateacute mesmo se os estudantes aprendem matemaacutetica nenhuma

garantia existe de que a competecircncia desenvolvida eacute suficiente quando se trata de

situaccedilotildees de aplicaccedilatildeo Mais do que a matemaacutetica pura tem de ser dominado a fim

de se poder aplicar a matemaacutetica []

3) Conhecer reflexivo que se refere agrave competecircncia de refletir sobre o uso da

matemaacutetica e avaliaacute-lo Reflexotildees tecircm a ver com avaliaccedilotildees das consequecircncias do

empreendimento tecnoloacutegico (SKOVSMOSE 2001 p 115 e 116)

Skovsmose (2001) aponta que as habilidades relacionadas ao conhecer

tecnoloacutegico podem ser consideradas como uma competecircncia extra denominando-a por

competecircncia tecnoloacutegica E esclarece que de maneira geral eacute caracterizada pelo

entendimento necessaacuterio que possibilita o uso de uma ferramenta tecnoloacutegica visando a

alcanccedilar alguns objetivos tecnoloacutegicos

Aleacutem de objetivar a promoccedilatildeo do conhecer reflexivo a educaccedilatildeo matemaacutetica

criacutetica busca por uma educaccedilatildeo em que haja igualdade entre os sujeitos a um niacutevel de

parceria fundando-se nas ideias da ldquopedagogia emancipadorardquo de Paulo Freire (1987)

delimita-se assim um primeiro ponto-chave dessa concepccedilatildeo de educaccedilatildeo ndash ldquoenvolvimento

estando focado apenas na liacutengua oficial do Brasil o portuguecircs No campo do letramento podemos encontrar

conceitos proacuteximos agrave matheracy por exemplo o numeramento Jaacute o termo technoracy estaacute relacionado ao

technological literacy o que poderia ser traduzido por letramento tecnoloacutegico

92

dos estudantes no controle do processo educacionalrdquo (SKOVSMOSE 2001 p 18) Um

segundo ponto-chave dessa concepccedilatildeo eacute a ldquoconsideraccedilatildeo criacutetica de conteuacutedos [] ambos

estudantes e professor devem estabelecer uma distacircncia criacutetica do conteuacutedo da educaccedilatildeordquo

(SKOVSMOSE 2001 p 18 grifo meu) O terceiro e uacuteltimo ponto-chave dessa concepccedilatildeo eacute o

direcionamento do processo de ensino-aprendizagem a problemas existentes fora do contexto

educacional Considerando os trecircs pontos-chave em uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo criacutetica o

autor coloca que o engajamento criacutetico deve fazer parte do processo Citando John Dewey

Skovsmose (2007) pontua que o meacutetodo experimental pode assegurar um novo suporte

pedagoacutegico com vistas ao desenvolvimento democraacutetico

Buscando possibilitar aprendizagens expansivas como transformaccedilotildees no objeto

da atividade de Modelagem uma possiacutevel estrateacutegia a ser considerada pode ser elencar accedilotildees

que objetivem a abertura de caixas-pretas Essa terminologia foi trazida da ldquosociologia da

ciecircnciardquo por Bruno Latour em sua obra Ciecircncia em accedilatildeo como seguir cientistas e

engenheiros sociedade afora devido ao entendimento de que vaacuterios conhecimentos

amplamente difundidos nos curriacuteculos escolares nas ementas das disciplinas partem de

resultados cientiacuteficos frequentemente considerados como inquestionaacuteveis eou verdades

absolutas Latour (2000) traz a noccedilatildeo de caixa-preta como sendo uma expressatildeo usada em

ciberneacutetica sempre que uma maacutequina ou um conjunto de comandos se revela complexo

demais ldquoem seu lugar eacute desenhada uma caixinha preta a respeito da qual natildeo eacute preciso saber

nada senatildeo o que nela entra e o que dela sairdquo (LATOUR 2000 p 14)

Dessa forma uma caixa-preta pode ser entendida como um aparatoobjeto

(conceito fato teacutecnica equaccedilatildeo lei teoria modelo equipamento aparelho maacutequina entre

outras possibilidades) oriundo de resultado de pesquisa cientiacutefica no qual eacute atribuiacutedo um

grau inquestionaacutevel de verdade sendo que sua existecircncia somente se justifica devido as suas

associaccedilotildees com outros aparatosobjetos (que tambeacutem podem ser caixas-pretas) e seus

respectivos usos sociais

O trabalho cientiacutefico estaacute condicionado agrave abertura e ao fechamento de caixas-

pretas Um cientista ao se deparar com possibilidades de investigar certo fenocircmeno X busca

todas as ldquoverdadesrdquo que outros cientistas jaacute estabeleceram sobre esse fenocircmeno Quando as

encontra pode questionaacute-las ou aceitaacute-las Suponha que o cientista resolva questionar uma

caixa-preta P encontrada por ele no processo de investigaccedilatildeo do fenocircmeno X Para isso eacute

necessaacuterio que ele utilize outros instrumentos (incluindo ateacute mesmo outras caixas-pretas) que

objetivem a abertura dessa caixa-preta Apoacutes a abertura ele comeccedila a relacionar essa caixa-

preta P com outras proposiccedilotildees a respeito do fenocircmeno X podendo alterar P ou apenas

93

reafirmar a ldquoverdaderdquo contida em P De qualquer forma o cientista abre e fecha P em certo

momento de sua atividade cientiacutefica Portanto qualquer caixa-preta pode ser aberta

reafirmada ou modificada ou ainda apenas utilizada pelos cientistas

Na vida cotidiana nos deparamos com as mais variadas caixas-pretas Um

reloacutegio por exemplo eacute uma delas sabemos que se o alimentarmos com bateria e cedermos a

ele uma regulagem com a hora oficial (entrada) ele sempre nos forneceraacute as horas (saiacuteda) no

entanto normalmente natildeo sabemos quais os processos ocorrem dentro dessa caixa-preta

Uma foacutermula matemaacutetica pode ser outro exemplo de caixa-preta se tomarmos por exemplo

a foacutermula de caacutelculo dos juros compostos 119862119899 = 1198620(1 + 119894)119899 sabe-se que se forem fornecidos o

capital inicial (1198620) a taxa de juros (119894) e o tempo (119899) (entradas) a foacutermula forneceraacute qual a

quantia (119862119899) (saiacuteda) teraacute depois desse tempo no entanto o que estaacute por traacutes dessa foacutermula e

qual eacute a veracidade dela o usuaacuterio pode natildeo ter conhecimento

Assim de forma representativa podemos visualizar as caixas-pretas da seguinte

forma

FIGURA 6 ndash Visualizaccedilatildeo da caixa-preta e suas possiacuteveis associaccedilotildees a outras caixas-pretas

Fonte Elaborada pela autora com base em Latour (2000)

Observe que as caixas-pretas natildeo se restringem apenas agraves variaacuteveis de entrada e

saiacuteda mas sobretudo ao relacionamento que cada uma delas pode estabelecer com outras

vaacuterias caixas-pretas Em um uacutenico equipamento um computador por exemplo existem

vaacuterias caixas-pretas em seu ldquointeriorrdquo ou seja uma caixa-preta contendo vaacuterias caixas-

pretas que se relacionam internamente

94

Mas porque accedilotildees orientadas pela abertura das caixas-pretas podem ser uacuteteis para

possibilitar aprendizagens expansivas em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias Uma

boa explicaccedilatildeo pode ser encontrada na seguinte reflexatildeo proposta por Latour (2000) como

segue

[] muitos jovens entraram no mundo da ciecircncia mas se tornaram cientistas e

engenheiros o que eles fizeram estaacute visiacutevel nas maacutequinas que usamos nos livros

pelos quais aprendemos nos comprimidos que tomamos nas paisagens que

olhamos nos sateacutelites que cintilam no ceacuteu noturno sobre nossas cabeccedilas Como

fizeram natildeo o sabemos [] quase ningueacutem estaacute interessado no processo de

construccedilatildeo da ciecircncia [] Os fatos e artefatos que esta produz caem sobre suas

cabeccedilas como um fado externo tatildeo estranho desumano e imprevisiacutevel quanto o

Fatum dos antigos romanos (LATOUR 2000 p 33-34)

A grande questatildeo aqui estampada consiste no entendimento de que os conteuacutedos

escolares perpassam pelos resultados cientiacuteficos muitas vezes relacionados a generalizaccedilotildees e

conceituaccedilotildees que num primeiro momento podem parecer ldquoestranhasrdquo aos aprendizes Essa

ldquoestranhezardquo pode muito bem ser anulada ou minimizada na medida em que os aprendizes

consigam adentrar para tais entes entendendo seu processo histoacuterico de construccedilatildeo e mais do

que isso percebendo que todo processo construtivo humano consiste na materializaccedilatildeo das

necessidades sociais e culturais em cada tempo histoacuterico de seu desenvolvimento

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo para desenvolvimento da cidadania emancipaccedilatildeo e

liberdade estaacute motivada pelas possibilidades e usos de conhecimentos em praacuteticas sociais

Nelas os sujeitos engajados carregam consigo as mais diversas experiecircncias vividas

anteriormente em diversos contextos sociais dentre estes os espaccedilos escolares Eacute na escola

que os resultados da ciecircncia satildeo recontextualizados e assumem postos de conteuacutedos a serem

desenvolvidos nas praacuteticas que ali ocorrem A abertura de caixas-pretas se torna portanto

imprescindiacutevel para se alcanccedilar uma formaccedilatildeo libertaacuteria emancipada e cidadatilde nos dias atuais

Mas quem decide quais caixas-pretas devem ser abertas jaacute que natildeo podem ser

todas Acredito que tal decisatildeo deva emergir da coletividade de aprendizes engajados em

cada frente de formaccedilatildeo pautados pelas demandas impostas pela sociedade em cada momento

de sua historicidade num contiacutenuo processo de diaacutelogo e orquestraccedilatildeo

Ao considerarmos o contexto institucional de formaccedilatildeo de engenheiros foco

dessa pesquisa podemos afirmar que os sujeitos partiacutecipes desse contexto tecircm amplo acesso

aos mais variados aparatosobjetos que podem ser entendidos como caixas-pretas Em

atividade de Modelagem Matemaacutetica sendo aqui considerada como um espaccedilo formativo que

se configura como um contexto propiacutecio para possibilitar aprendizagens expansivas por estar

95

baseado no contexto da criacutetica proposto por Engestroumlm (2002) entende-se portanto que tais

caixas-pretas devam ser abertas questionadas e se possiacutevel ou necessaacuterio alteradas ou

modificadas Isso deve fazer parte da formaccedilatildeo de engenheiros que pretendem dar conta da

complexidade e da magnitude do trabalho que os aguarda nas mais variadas esferas da

sociedade atual

Atividades de Modelagem Matemaacutetica podem assim constituir espaccedilos

formativos que possibilitem a abertura de caixas-pretas devido agrave postura investigativa que

pode ser instigada e cultivada nesse contexto Para tal os engajados nesse processo satildeo

orientados pelo questionamento e consequentemente pela modificaccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo ou

certezas cientiacuteficas contidas em fatos aceitos e ateacute entatildeo inquestionaacuteveis que compotildeem cada

caixa-preta Dessa forma muitos fatos e enunciados sociais amplamente aceitos e difundidos

podem ser alterados nas e pelas atividades de Modelagem Matemaacutetica Mais do que isso a

abertura de caixas-pretas pode se revelar como estrateacutegia de formaccedilatildeo na qual os sujeitos satildeo

instigados apoacutes a abertura e possiacutevel confirmaccedilatildeo da ldquoverdaderdquo contida na caixa-preta natildeo

somente a aceitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo de tais certezas cientiacuteficas mas sobretudo agrave tomada de

tais certezas como base (entrada) para a elaboraccedilatildeo de outras certezas ou empreendimentos

cumprindo assim a formaccedilatildeo no que tange agrave produccedilatildeo criativa agrave inovaccedilatildeo e ao

empreendedorismo

As estrateacutegicas accedilotildees com vistas agrave abertura de caixas-pretas num contexto de

formaccedilatildeo em Engenharias correspondem a mudanccedilas qualitativas nos objetos da atividade de

Modelagem Matemaacutetica a questatildeo-problema que por vezes configura como objeto da

atividade de Modelagem Matemaacutetica pode ser considerada num primeiro momento como

uma caixa-preta na qual as accedilotildees devem ser direcionadas visando a sua abertura

Transformaccedilotildees qualitativas do objeto da atividade devem ser consideradas como

aprendizagens expansivas segundo Engestroumlm e Sannino (2010b)

Para concluir este capiacutetulo entendo que uma caixa-preta na verdade nunca eacute

totalmente preta e nem totalmente branca Caso existisse caixa pretas totalmente cinzas ou

totalmente brancas estariacuteamos reforccedilando a ideologia das verdades ldquoabsolutasrdquo e

inquestionaacuteveis assim como o contraacuterio A variaccedilatildeo de cores permitida entre o preto e o

branco configura como pertencente agrave categoria dos infinitos tons de cinza Suponha um

intervalo aberto entre zero e um A uma caixa-preta qualquer seria atribuiacutedo um valor mais

proacuteximo de um do que de zero isto eacute um tom de cinza mais escuro Com a realizaccedilatildeo das

accedilotildees expostas anteriormente a caixa-preta tende a ldquoclarear-serdquo (ou natildeo) sendo entatildeo

atribuiacutedo um valor menor (ou maior) do que o anteriormente atribuiacutedo resultando em um tom

96

de cinza mais claro do que o anterior Tal clarificaccedilatildeo pode ser entendida como um

movimento do escuro para o claro da atuaccedilatildeo ldquocegardquo para a ldquoniacutetidardquo em termos das questotildees

a serem ldquoesclarecidasrdquo por uma determinada atividade de Modelagem Matemaacutetica Ao

considerarmos os sujeitos como objetos da proacutepria atividade formativa o esclarecimento

parte inerente da subjetividade dos sujeitos engajados em tal espaccedilo em inter-relaccedilatildeo ao

objeto da atividade (questatildeo-problema a ser esclarecida) pode atingir um grau de magnitude

compatiacutevel com a participaccedilatildeo resultado da proacutepria experiecircncia na praacutetica social tendendo a

qualitativas modificaccedilotildees na agency e nas interaccedilotildees dos sujeitos na referida atividade

No proacuteximo capiacutetulo apresento os procedimentos utilizados e a metodologia

assumida no desenvolvimento da pesquisa relatada nesta tese

97

3 METODOLOGIA DE PESQUISA E PROCEDIMENTOS

Neste capiacutetulo apresento a abordagem teoacuterico-metodoloacutegica de construccedilatildeo99

e

anaacutelise dos dados o contexto em que esta pesquisa estaacute inserida bem como os procedimentos

metodoloacutegicos que foram adotados para a construccedilatildeo e anaacutelise desses dados

31 Por que a abordagem eacute qualitativa

Esta pesquisa estaacute inserida na aacuterea da Educaccedilatildeo Matemaacutetica localizada na aacuterea de

Ciecircncias Humanas que engloba questotildees relacionadas aos objetos de estudo da Educaccedilatildeo da

Matemaacutetica e da proacutepria Educaccedilatildeo Matemaacutetica Esses campos de pesquisa embora

compartilhem de praacuteticas sociais que na maioria das vezes estatildeo localizadas dentro das

instituiccedilotildees educacionais possuem interesses distintos em termos de pesquisa Mas como

um sujeito (neste caso eu professora de Caacutelculo em cursos de Engenharia) que passou grande

parte da vida trabalhando com Ciecircncias Exatas pode se encorajar a desenvolver uma pesquisa

na aacuterea das Ciecircncias Humanas A resposta para essa pergunta pode ser encontrada no

posicionamento de Arauacutejo e Borba (2006)

E quando um professor (de Matemaacutetica) se dispotildee a realizar uma pesquisa na aacuterea de

Educaccedilatildeo (Matemaacutetica) talvez seja porque ele vem problematizando sua praacutetica o

que poderaacute levaacute-lo a se dedicar com afinco ao desenvolvimento de uma pesquisa

originada desta problematizaccedilatildeo e para isso eacute preciso que ele sintetize suas

inquietaccedilotildees iniciais em uma (primeira) pergunta diretriz (ARAUacuteJO BORBA

2006 p 30)

Foi exatamente problematizando minha proacutepria atividade docente que busquei

pelo entendimento de questotildees relacionadas ao ensino de Caacutelculo em cursos de Engenharia

inicialmente a primeira pergunta diretriz que norteou a presente pesquisa foi de que forma a

Modelagem Matemaacutetica aliada a recursos computacionais pode melhor inter-relacionar a

99

Natildeo uso o termo coleta de dados por entender que o papel do pesquisador pode se configurar como aquele que

constroacutei dados para a pesquisa que se propotildee desenvolver Os dados natildeo podem ser coletados pelo simples

motivo de eles por vezes nem sequer existirem Soacute pode ser coletado o que existe O verbo coletar pode ser

sinocircnimo de juntar ou reunir algum objeto ou coisa Quando se utiliza esse verbo em pesquisas no sentido de

juntar ou reunir dados uma pressuposiccedilatildeo de que jaacute existam os dados a serem reunidos ou juntados eacute

considerada Contudo essa pressuposiccedilatildeo pode assumir caraacuteter falso quando o pesquisador vecirc-se em faces de

construir os dados que necessita visando buscar entendimento para a questatildeo que se propotildee investigar

98

disciplina de Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias agraves demais disciplinas ldquoteacutecnicasrdquo dos cursos

de Engenharia

Poreacutem ainda que Alves-Mazzotti (1999 p 147) considere que ldquoo foco da

pesquisa bem como as categorias teoacutericas e o proacuteprio design100

soacute deveratildeo ser definidos no

decorrer do processo de investigaccedilatildeordquo ela defende que

trabalhar de forma altamente indutiva deixando que o design e a teoria emerjam dos

dados eacute difiacutecil ateacute mesmo para pesquisadores mais experientes Quanto menos

experiente for o pesquisador mais ele precisaraacute de um planejamento cuidadoso sob

a pena de se perder num emaranhado de dados dos quais natildeo conseguiraacute extrair

qualquer significado (ALVES-MAZZOTTI 1999 p 148)

Refletindo acerca dos apontamentos de Alves-Mazzotti (1999) decidi tentar

perceber o movimento do foco e do design da pesquisa aqui relatada na tentativa de mesmo

que informalmente que o planejamento da pesquisa fosse cuidadoso e ao mesmo tempo

adotasse certo grau de flexibilidade Nesse processo de co-construccedilatildeo de foco e design da

pesquisa acabei por delinear a seguinte pergunta diretriz ldquoquais aprendizagens expansivas

podem ser evidenciadas pelas e nas atividades desenvolvidas por um Grupo de Estudos e

Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica (GEPMM) num contexto de formaccedilatildeo em

Engenhariasrdquo

Conforme exposto no capiacutetulo 1 a concepccedilatildeo de aprendizagem assumida na

pesquisa faz parte do referencial teoacuterico conhecido como Teoria Histoacuterico Cultural da

Atividade na qual um dos seus cinco princiacutepios afirma que a anaacutelise da atividade e dos

componentes que a formam deve sempre ser tomada em sua historicidade perceber o papel

das contradiccedilotildees no movimento de uma atividade torna possiacutevel tambeacutem a reconstituiccedilatildeo de

sua evoluccedilatildeo e do desenvolvimento de suas praacuteticas ao longo da histoacuteria Com isso entendo

que a abordagem metodoloacutegica histoacuterico-dialeacutetica que questiona fundamentalmente a visatildeo

estaacutetica da realidade considerando o caraacuteter dinacircmico contraditoacuterio e histoacuterico dos

fenocircmenos educativos deve ser considerada nesta investigaccedilatildeo Essa abordagem

metodoloacutegica considera que

Aquilo que hoje se apresenta diante de nossos olhos eacute apenas uma siacutentese do

processo histoacuterico em transformaccedilatildeo Por isso procura apresentar uma concepccedilatildeo

unitaacuteria coerente e orgacircnica do mundo fazendo da criacutetica seu modelo

100

ldquoO termo lsquodesignrsquo no que se refere agrave pesquisa tem sido traduzido como desenho ou planejamento O design

corresponde ao plano e agraves estrateacutegias utilizadas pelo pesquisador para responder agraves questotildees propostas pelo

estudo incluindo os procedimentos e instrumentos de coleta anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados bem como a

loacutegica que liga entre si diversos aspectos da pesquisardquo (ALVES-MAZZOTTI 1999 p 147)

99

paradigmaacutetico mesmo porque natildeo haacute modelo teoacuterico ou siacutentese por melhor que

seja que decirc conta da realidade (FIORENTINI LORENZATO 2009 p 66)

Para tal abordagem eacute preciso entender os conflitos dos interesses aleacutem de

desvendar as contradiccedilotildees que emergem da realidade conforme preconizado pela Teoria da

Atividade Aleacutem disso natildeo basta compreender a realidade eacute preciso tambeacutem intervir nela

visando agrave emancipaccedilatildeo (libertaccedilatildeo) dos sujeitos (FIORENTINI LORENZATO 2009) O

entendimento dos conflitos de interesses pode ser enquadrado na anaacutelise das regras na

constituiccedilatildeo da comunidade e na divisatildeo do trabalho como referenciados no capiacutetulo 2

segundo a Teoria da Atividade proposta por Engestroumlm (1987) No sentido de natildeo bastar

compreender a realidade mas sobretudo intervir nela entende-se que o papel das

contradiccedilotildees segundo a Teoria da Atividade assumido como constituinte da forccedila motriz

capaz de promover transformaccedilotildees expansivas na atividade reafirma a necessidade de

intervenccedilotildees que podem estar relacionadas agraves possibilidades de emancipaccedilatildeo e liberdade dos

sujeitos partiacutecipes

Aleacutem disso entendo que tal orientaccedilatildeo metodoloacutegica coloca minha pesquisa em

consonacircncia com a abordagem qualitativa de investigaccedilatildeo Bogdan e Biklen (1994) utilizam a

expressatildeo investigaccedilatildeo qualitativa como sendo um termo geneacuterico no qual os dados

construiacutedos satildeo ricos em pormenores descritivos relacionados a pessoas locais e conversas e

o objetivo eacute investigar fenocircmenos em toda sua complexidade em um contexto real

Tendo em vista se tratar de uma investigaccedilatildeo de natureza qualitativa torna-se

pertinente analisar as suas caracteriacutesticas principais Bogdan e Biklen (1994) apresentam-nos

as cinco principais caracteriacutesticas da investigaccedilatildeo qualitativa que foram os princiacutepios

orientadores para esta pesquisa

1 Na investigaccedilatildeo qualitativa a fonte direta de dados101

eacute o ambiente natural

constituindo o investigador o instrumento principal

2 A investigaccedilatildeo qualitativa eacute descritiva

3 Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que

simplesmente pelos resultados ou produtos

4 Os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de forma indutiva

5 O significado eacute de importacircncia vital na abordagem qualitativa

Vale ressaltar que esses cinco princiacutepios orientam poreacutem natildeo necessariamente

definem e nem sequer limitam o uso da abordagem qualitativa em investigaccedilotildees como eacute o

101

Conforme apontado no iniacutecio deste capiacutetulo entendo que na investigaccedilatildeo qualitativa os dados satildeo construiacutedos

no ambiente natural que abriga o objeto da pesquisa

100

caso desta tese Assim podemos definir que a pesquisa se inclui em uma abordagem

qualitativa

Para que as atividades escolares possam ser transformadas expandidas

Engestroumlm (2002) afirma que eacute necessaacuterio antes de tudo questionar radicalmente o sentido e

o significado do contexto e com isso almejar a construccedilatildeo de um contexto alternativo mais

amplo As accedilotildees direcionadas para tal construccedilatildeo segundo Engestroumlm e Sannino (2010b)

podem ser sistematizadas em um ciclo de aprendizagem expansiva conforme explicitado no

capiacutetulo 2 Engestroumlm (2002) sugere que toda e qualquer atividade escolar deveria ser

preconizada por uma criacutetica meticulosa sobre seus conteuacutedos e procedimentos agrave luz de sua

histoacuteria Para o autor o contexto da criacutetica pressupotildee possibilidades de resistecircncia

questionamento contradiccedilatildeo e debate Nele os conteuacutedos e procedimentos satildeo considerados

sob a oacutetica da necessidade da coletividade afetada pela escolarizaccedilatildeo em termos histoacutericos

culturais e sociais

No toacutepico que segue definirei o contexto e os participantes assim como os

instrumentos de construccedilatildeo e anaacutelise de dados

32 Qual eacute o contexto e quem satildeo os sujeitos

Para alcanccedilar o objetivo da presente pesquisa inicialmente busquei uma

instituiccedilatildeo de ensino que se ocupasse da formaccedilatildeo de engenheiros Essa instituiccedilatildeo por

motivos logiacutesticos natildeo poderia estar muito distante da cidade em que resido Aleacutem disso

delimitei que ela fosse mantida pelo poder puacuteblico federal pois nelas a maioria dos

professores se dedica exclusivamente agraves atividades acadecircmicas de ensino pesquisa e

extensatildeo o que torna esses sujeitos propiacutecios ao engajamento como participantes da pesquisa

principalmente no que se refere agrave criaccedilatildeo do Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem

Matemaacutetica

Alves-Mazzotti (1999 p 162) elucida diversas questotildees a respeito da escolha do

campo onde seratildeo construiacutedos os dados bem como a respectiva escolha dos sujeitos nele

contidos

Ao contraacuterio do que ocorre com as pesquisas tradicionais a escolha do campo onde

seratildeo colhidos os dados bem como os participantes eacute proposital isto eacute o

101

pesquisador os escolhe em funccedilatildeo das questotildees de interesse do estudo e tambeacutem das

condiccedilotildees de acesso e permanecircncia no campo e disponibilidade dos sujeitos

Sendo assim a escolha da instituiccedilatildeo tambeacutem estava pautada pela facilidade de

diaacutelogo e entrosamento entre a pesquisadora e os docentes nela lotados que se constituiu

devido ao fato de a pesquisadora jaacute ter sido docente na instituiccedilatildeo escolhida sendo assim jaacute

tendo estabelecida uma relaccedilatildeo de amizade e confianccedila entre seus pares Outro fator que

tambeacutem foi levado em conta na escolha da instituiccedilatildeo foi o fato de a instituiccedilatildeo se dedicar

exclusivamente agrave formaccedilatildeo de engenheiros perfazendo um total de nove cursos oferecidos102

Esse fator foi levado em conta pelo simples motivo de todos os sujeitos supostamente

estarem focados em uma missatildeo comum ldquogerar sistematizar aplicar e difundir

conhecimento ampliando e aprofundando a formaccedilatildeo de cidadatildeos e profissionais

qualificados e contribuir para o desenvolvimento sustentaacutevel do paiacutes visando a melhoria da

qualidade de vidardquo (ESTATUTO UNIFEI 2003 p 2)

Considerando que esta pesquisa busca analisar as possibilidades para

aprendizagens expansivas evidenciadas nas e pelas atividades desenvolvidas por um Grupo de

Estudos e Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica cujo objeto idealizado pode ser entendido

como questotildees-problema natildeo matemaacuteticas e estudantes os sujeitos que estivessem dispostos a

engajarem em tal sistema de atividade poderiam se tornar participantes da pesquisa

A instituiccedilatildeo escolhida foi a Universidade Federal de Itajubaacute (UNIFEI) ndash campus

Itabira O campus expandido da Universidade Federal de Itajubaacute em Itabira foi criado em

agosto de 2008 inaugurando trecircs cursos de graduaccedilatildeo destinados agrave formaccedilatildeo de Engenheiros

Eletricistas de Materiais e de Computaccedilatildeo Na ocasiatildeo apenas dez professores compunham o

quadro de efetivos que lecionavam para cento e cinquenta alunos sendo cinquenta de cada

curso

Depois de escolhida a instituiccedilatildeo onde seria realizada a pesquisa iniciei a ida ao

campo Primeiramente em 16 de dezembro de 2011 reuni-me com o entatildeo diretor do campus

para expor o interesse em construir os dados na UNIFEI e discutir os objetivos da pesquisa

Na ocasiatildeo o diretor se mostrou entusiasmado com a pesquisa e sugeriu alguns nomes de

professores que poderiam se interessar em participar Aleacutem disso ele disse que atividades de

Modelagem Matemaacutetica segundo seu proacuteprio entendimento se aproximavam bastante dos

objetivos de uma abordagem metodoloacutegica que jaacute tinha sido colocada em praacutetica nos cursos

da UNIFEI poreacutem sem sucesso A abordagem a que ele se referia eacute o Problem-Based

102

Engenharia de Computaccedilatildeo Eleacutetrica de Materiais de Produccedilatildeo de Controle e Automaccedilatildeo da Mobilidade de

Sauacutede e Seguranccedila Ambiental Mecacircnica

102

Learning (PBL) que foi traduzida para o portuguecircs como Aprendizagem Baseada em

Problemas Filho e Ribeiro (2006) esclarecem que o PBL se originou na formaccedilatildeo em

Medicina e foi posteriormente empregado em outras formaccedilotildees profissionais sendo que

na formaccedilatildeo profissional a utilizaccedilatildeo do PBL deve necessariamente se adaptar agraves

particularidades da aacuterea de conhecimento aos atores (alunos e professores) agrave

instituiccedilatildeo agraves diretrizes que regem a educaccedilatildeo superior no paiacutes Entretanto algumas

caracteriacutesticas do PBL devem ser contempladas para que um meacutetodo possa ser

reconhecido como tal A caracteriacutestica mais importante no PBL eacute o fato de uma

situaccedilatildeo-problema sempre preceder a apresentaccedilatildeo dos conceitos necessaacuterios para

sua soluccedilatildeo Quer dizer a principal caracteriacutestica que difere o PBL de outros

meacutetodos ativos colaborativos centrados nos alunos no processo e da aprendizagem

baseada em casos (CBL) eacute o emprego de problemas para iniciar enfocar e motivar a

aprendizagem de conteuacutedos especiacuteficos e para promover o desenvolvimento de

habilidades e atitudes profissional e socialmente desejaacuteveis (FILHO RIBEIRO

2006 p 24)

A partir desse momento percebi que atividades geradas pelo PBL realmente se

aproximam metodologicamente de atividades de Modelagem Matemaacutetica em cursos de

Engenharia

Os sujeitos participantes da construccedilatildeo dos dados dessa pesquisa foram alunos e

professores da UNIFEI- campus Itabira No capiacutetulo 4 o contexto e sujeitos que participaram

desta pesquisa seratildeo apresentados com mais detalhes

Na proacutexima secccedilatildeo mostrarei os instrumentos que foram usados para a construccedilatildeo

e anaacutelise dos dados

33 Quais foram os procedimentos de construccedilatildeo dos dados

Para uma pesquisa qualitativa destaca-se a importacircncia da utilizaccedilatildeo de diferentes

procedimentos para a construccedilatildeo dos dados o que se denomina triangulaccedilatildeo que em uma

pesquisa qualitativa consiste na utilizaccedilatildeo de vaacuterios e distintos procedimentos para obtenccedilatildeo

de dados (ALVES-MAZZOTTI 1999)

Visando realizar uma triangulaccedilatildeo os procedimentos de construccedilatildeo e obtenccedilatildeo de

dados foram os seguintes

331 A constituiccedilatildeo do GEPMM e observaccedilatildeo participante em suas atividades

103

Inicialmente visando agrave criaccedilatildeo do GEPMM convidei alunos e professores dos

cursos de Engenharia da UNIFEI-Itabira O convite foi efetuado em 25 de outubro de 2012

na ocasiatildeo em que uma palestra intitulada ldquoModelagem Matemaacutetica e Aprendizagem Baseada

em Problemas convergecircncias possiacuteveisrdquo foi proferida por mim com o objetivo de suscitar o

interesse de alunos e professores em participar do grupo Aleacutem da palestra o convite para a

participaccedilatildeo no grupo foi postado na paacutegina da UNIFEI-Itabira ndash da rede social Facebook103

Foram realizadas entrevistas com os docentes e discentes que participaram do

GEPMM todas as discussotildees que aconteceram durante os encontros foram documentados por

meio de gravaccedilotildees em aacuteudio e viacutedeo aleacutem das notas de campo no diaacuterio de pesquisa (FLICK

2009) com o objetivo de tentar visualizar possiacuteveis aprendizagens expansivas que emergiriam

dos sistemas de atividade do GEPMM No referido projeto a atuaccedilatildeo da pesquisadora se

constitui como uma observaccedilatildeo participante

Segundo Flick (2009) a observaccedilatildeo consiste em uma habilidade cotidiana

metodologicamente sistematizada e aplicada em pesquisas qualitativas e a observaccedilatildeo pode se

caracterizar como participante ou natildeo participante A observaccedilatildeo participante eacute uma das

formas mais comumente utilizada em pesquisas qualitativas podendo ser definida como ldquouma

estrateacutegia de campo que combina simultaneamente a anaacutelise de documentos a entrevista de

respondentes e informantes a participaccedilatildeo e a observaccedilatildeo diretas e introspecccedilatildeordquo (DENZIN

1989 p 157-158 apud FLICK 2009 p 207)

Na observaccedilatildeo participante o pesquisador deve cada vez mais obter acesso ao

campo e agraves pessoas tornar-se um participante das praacuteticas sociais observadas e aleacutem disso a

observaccedilatildeo deve passar por um processo para se tornar cada vez mais concentrada nos

aspectos essenciais agraves questotildees da pesquisa (FLICK 2009 p 208)

A observaccedilatildeo participante pode ser descrita por Spradley (1980) por meio das

seguintes trecircs fases

1 Observaccedilatildeo descritiva ndash no iniacutecio serve para fornecer ao pesquisador uma

orientaccedilatildeo para o campo em estudo Fornece tambeacutem descriccedilotildees natildeo especiacuteficas e

eacute utilizada para apreender o maacuteximo possiacutevel a complexidade do campo e (ao

mesmo tempo) para desenvolver questotildees de pesquisa e linhas de visatildeo mais

concretas

2 Observaccedilatildeo focalizada ndash restringe a perspectiva do pesquisador agravequeles processos

e problemas que forem os mais essenciais para a questatildeo da pesquisa

3 Observaccedilatildeo seletiva ndash ocorre jaacute na fase final da coleta de dados e concentra-se em

encontrar mais indiacutecios e exemplos para os tipos de praacuteticas e processos descobertos

na segunda etapa (SPRADLEY 1980 p 34 apud FLICK 2009 p 207)

103

wwwfacebookcomunifeiitabira

104

Para Spradley (1980 apud FLICK 2009) uma das principais dificuldades da

observaccedilatildeo participante eacute fazer o problema em estudo se tornar ldquovisiacutevelrdquo pois se trata de uma

situaccedilatildeo social Assim a questatildeo principal da observaccedilatildeo participante eacute o que e como

observar para que a observaccedilatildeo se torne um instrumento uacutetil para o entendimento da questatildeo a

ser estudada Na tentativa de minimizar esse problema optei por um longo104

periacuteodo de

construccedilatildeo de dados para que esses dados pudessem me fornecer um leque de informaccedilotildees e

significados minimamente visiacuteveis a respeito da questatildeo e da problemaacutetica desta pesquisa

Delimitei como corpus para anaacutelise o processo de implementaccedilatildeo do GEPMM

sendo este composto pela filmagem em aacuteudio e viacutedeo da palestra ldquoModelagem Matemaacutetica e

Aprendizagem Baseada em Problemas convergecircncias possiacuteveisrdquo pela filmagem dos

primeiros dez encontros realizados no GEPMM e pelas entrevistas realizadas com os

componentes do grupo

Visando a facilitar a comunicaccedilatildeo entre os integrantes do GEPMM foi criado em

outubro de 2012 um grupo fechado no Facebook intitulado Modelagem Unifei Itabira Nesse

espaccedilo compartilhamos artigos documentos e quaisquer outros conteuacutedos ou informaccedilotildees

relacionados ao trabalho do GEPMM

332 As entrevistas iniciais e as finais com os integrantes do GEPMM

Com o objetivo de entender como os sujeitos percebem o papel das disciplinas de

Caacutelculo na formaccedilatildeo do profissional da Engenharia e quais accedilotildees metodoloacutegicas eles tecircm

observado na instituiccedilatildeo (dentro e fora da sala de aula) que busquem o cumprimento dos

papeacuteis apontados por eles mesmos uma entrevista inicial foi realizada Com isso busquei por

indiacutecios de inquietaccedilotildees e ou anaacutelise das atividades formativas de Caacutelculo dominantes na

instituiccedilatildeo que estivessem relacionados ao engajamento dos sujeitos no GEPMM sendo

considerada como uma nova forma de atividade natildeo dominante (SANNINO NOCON 2008)

Aleacutem disso na entrevista inicial realizada individualmente objetivei mais explicitamente a

elucidaccedilatildeo dos motivos que levaram os sujeitos agrave participaccedilatildeo no grupo

104

Longo periacuteodo se refere ao tempo gasto apenas com a construccedilatildeo dos dados que totalizaram 15 meses Esse

periacuteodo geralmente pode ser tido como longo ao considerarmos que o prazo de conclusatildeo do doutorado eacute de 48

meses e antes do 36ordm mecircs todos os dados e o esboccedilo da anaacutelise devem ser apresentados no exame de

qualificaccedilatildeo

105

Roteiro de entrevista inicial

Pergunta 1) Na sua concepccedilatildeo qual eacute o papel das disciplinas de Caacutelculo na

formaccedilatildeo do engenheiro

Pergunta 2) Quais accedilotildees metodoloacutegicas tecircm sido adotadas na instituiccedilatildeo visando

o cumprimento dos papeacuteis apontados anteriormente

Pergunta 3) Quais foram os motivos que o levaram a participar do grupo de

Modelagem Matemaacutetica

As entrevistas finais aconteceram apoacutes os sete primeiros encontros do GEPMM

Nessa fase de construccedilatildeo de dados busquei pelo entendimento dos limites e das

possibilidades que a participaccedilatildeo no grupo pocircde fornecer aos sujeitos participantes Limites e

possibilidades em termos de acesso ao grupo envolvimento com a proposta da atividade

experienciada por eles e possiacuteveis aprendizagens que pudessem ser evidenciadas nas

atividades desenvolvidas pelo GEPMM

Roteiro de entrevista final

Pergunta 1) Como vocecirc caracteriza sua participaccedilatildeo no GEPMM

Pergunta 2) Desde que vocecirc comeccedilou a participar do grupo quais os desafios

encontrados Como vocecirc buscou superar estes desafios

Pergunta 3) O que vocecirc aprendeu com sua participaccedilatildeo no GEPMM ateacute o

presente momento O que ainda espera aprender

34 Quais instrumentos foram usados para a anaacutelise

Engestroumlm (2001) pontua que qualquer teoria de aprendizagem deve buscar

respostas para as seguintes quatro questotildees 1) quem satildeo os sujeitos da aprendizagem 2) Por

que eles estatildeo aprendendo o que os faz esforccedilar 3) O que os faz aprender o que satildeo os

conteuacutedos e resultados da aprendizagem 4) Como fazecirc-los aprender o que satildeo as accedilotildees

chave ou processos de aprendizagem

Engestroumlm (2001) constroacutei um quadro de anaacutelise teoacuterica para a aprendizagem

expansiva cruzando os cinco princiacutepios da Teoria da Atividade agraves quatro questotildees

106

orientadoras para as teorias de aprendizagem Com isso para analisar uma atividade escolar

como uma praacutetica social coletiva por meio da Teoria da Aprendizagem Expansiva de

Engestroumlm eacute necessaacuterio preencher as entradas da seguinte matriz

Sistema de

Atividade como unidade

de anaacutelise

Multivocalidade Historicidade Contradiccedilotildees Ciclos

Expansivos

Quem satildeo os aprendizes

Por que eles

estatildeo aprendendo

O que os faz aprender

Como fazecirc-

los aprender

Tabela 1 - Matriz para anaacutelise da aprendizagem expansiva

Fonte Engestroumlm (2001 p 138)

Tomei como base empiacuterica para o preenchimento da matriz acima trechos das

entrevistas concedidas pelos docentes e discentes que se dispuseram a participar do GEPMM

e selecionei partes das dez reuniotildees do GEPMM documentadas em aacuteudio e viacutedeo que foram

convenientes para responder agrave questatildeo de pesquisa Primeiramente assisti ouvi e transcrevi

as entrevistas realizadas com os docentes e discentes engajados no GEPMM e gravadas em

aacuteudio e viacutedeo Fiz o mesmo com as gravaccedilotildees dos dez primeiros encontros do GEPMM

Selecionei trechos que pudessem me ajudar no preenchimento das entradas da referida matriz

Aleacutem disso extraiacute quatro temas de anaacutelise que convergiram no sentido de responder agrave questatildeo

que norteou a pesquisa Nessa pesquisa tais temas seratildeo denominados por modalidades

analiacuteticas

35 A formaccedilatildeo do GEPMM pode ser caracterizada como uma intervenccedilatildeo formativa

Engestroumlm e Sannino (2010b) afirmam que os ciclos de aprendizagem expansiva

podem ser investigados como processos que ocorrem naturalmente Contudo satildeo processos

bastante raros e difiacuteceis de documentar devido ao seu caraacuteter espacialmente e temporalmente

distribuiacutedo Aleacutem disso os autores apontam que nos processos de aprendizagem expansiva

107

mais importante ainda eacute o atendimento agraves demandas impostas para a soluccedilatildeo de contradiccedilotildees

urgentes em comunidades de trabalho visando sobretudo a atingir qualitativamente novos

modos de atividade de trabalho Tal demanda aliada ao legado intervencionista da teoria

histoacuterico-cultural da atividade ldquotem levado ao desenvolvimento e implementaccedilatildeo de

intervenccedilotildees formativas como uma metodologia para estudar aprendizagem expansivardquo 105

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 15 grifo meu)

Uma conceituaccedilatildeo para definir as intervenccedilotildees formativas decorre do legado

vigotskiano determinado pelo princiacutepio metodoloacutegico da dupla estimulaccedilatildeo As intervenccedilotildees

formativas podem ser entendidas pelo condensamento dos seguintes quatro pontos cruciais

1) Ponto de partida [] os sujeitos enfrentam um objeto problemaacutetico e

contraditoacuterio que eles analisam e expandem pela construccedilatildeo de um novo conceito

cujo conteuacutedo pode natildeo ser totalmente conhecido de antematildeo pelos pesquisadores

2) Processo [] o conteuacutedo e o curso da intervenccedilatildeo estatildeo sujeitos agrave negociaccedilatildeo e a

maneira da intervenccedilatildeo cabe eventualmente aos sujeitos Dupla estimulaccedilatildeo como o

mecanismo central implica que os sujeitos ganham agecircncia e assumem o comando

do processo

3) Resultado [] o objetivo eacute gerar um novo conceito que pode ser usado em outro

contexto como quadro para projetar uma nova soluccedilatildeo localmente apropriada Um

resultado chave da intervenccedilatildeo formativa eacute a agecircncia entre os participantes

4) Papel dos pesquisadores [] o pesquisador objetiva provocar e sustentar um

processo de transformaccedilatildeo expansiva conduzido pelos participantes e pertencente a

eles106

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 15 grifos dos autores)

Dessa forma a intervenccedilatildeo pode ser entendida como uma accedilatildeo intencional

realizada por um agente humano que objetiva uma transformaccedilatildeo qualitativa em determinada

praacutetica social o que inclui que o pesquisador natildeo tem qualquer diferenciaccedilatildeo hieraacuterquica

sobre a intervenccedilatildeo Aleacutem disso segundo Engestroumlm e Sannino (2010b p 15) ldquoos

pesquisadores natildeo devem esperar resultados satisfatoriamente alinhados com seus

esforccedilos107

rdquo

105

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquohas led to the development and implementation of formative interventions

as a methodology for studying expansive learningrdquo 106

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquo

1) Starting point [hellip] they face a problematic and contradictory object which they analyze and expand by

constructing a novel concept the contents of which are not known ahead of time to the researchers

2) Process [hellip] the contents and course of the intervention are subject to negotiation and the shape of the

intervention is eventually up to the subjects Double stimulation as the core mechanism implies that the subjects

gain agency and take charge of the process

3) Outcome [hellip] the aim is to generate new concepts that may be used in other settings as frames for the design

on locally appropriate new solutions A key outcome of formative interventions is agency among the

participants

4) Researcherrsquos role the researcher aims at provoking and sustaining an expansive transformation process led

and owned by the practitionersrdquo 107

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoResearchers should not expect nicely linear results from their effortsrdquo

108

O instrumento metodoloacutegico no qual se baseia na construccedilatildeo coletiva do GEPMM

pode ser entatildeo compreendido como uma intervenccedilatildeo formativa na qual o passado (antes

dela) e o presente (depois dela) tendem a se misturar eou se (con)fundir podendo fazer

emergir contradiccedilotildees Com isso a intervenccedilatildeo formativa pode assumir duplo caraacuteter de

tentar resolver contradiccedilotildees historicamente acumuladas e ao mesmo tempo provocar novos

niacuteveis de contradiccedilatildeo

No que segue apresento o contexto institucional em que os dados foram

construiacutedos Procurarei elucidar de um ponto de vista sociocultural quem satildeo os sujeitos da

pesquisa Assim dividirei o restante do capiacutetulo em duas partes a primeira delas focaraacute a

descriccedilatildeo da instituiccedilatildeo como um todo e das disciplinas de Caacutelculo que nela satildeo ofertados

enquanto a segunda parte focaraacute as atividades desenvolvidas pelo GEPMM Vale ressaltar que

tanto na primeira parte quanto na segunda os sujeitos seratildeo considerados como integrantes e

integradores do contexto isto eacute os sujeitos constituem e satildeo constituiacutedos pelo contexto de

forma indissociaacutevel No fim do capiacutetulo visando a iniciar o preenchimento da matriz para

anaacutelise da aprendizagem expansiva (ENGESTROumlM 2001) apresentada anteriormente busco

responder a pergunta quem satildeo e onde estatildeo os sujeitos da aprendizagem

36 O contexto institucional e as aulas de Caacutelculo

Primeiramente descreverei a instituiccedilatildeo onde os dados foram construiacutedos sua

origem proposta e cursos oferecidos A instituiccedilatildeo escolhida foi a Universidade federal de

Itajubaacute (UNIFEI) ndash campus Itabira Decidi comeccedilar este trabalho com a seguinte imagem

109

FIGURA 7 ndash Paacutegina inicial site UNIFEI-Itabira

Fonte UNIFEI 2013

A Figura 7 foi retirada do site da UNIFEI108

em 17022013 agraves 21h46 No texto

de apresentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo pode-se observar que a gecircnese da UNIFEI-Itabira estaacute

alicerccedilada em uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Itabira-MG a empresa mineradora

Vale (antiga Companhia Vale do Rio Doce (CVRD)) e o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) Na

figura tambeacutem se pode observar uma foto que foi tirada em agosto de 2008 com os primeiros

dez professores do campus e com os primeiros 150 alunos dos cursos de Engenharia da

Computaccedilatildeo de Materiais e Eleacutetrica perfazendo um total de 50 alunos por turma

O campus de Itabira foi consolidado como uma das expansotildees universitaacuterias do

Governo Federal ocorridas entre os anos 2006 e 2010 As condiccedilotildees iniciais de

funcionamento eram precaacuterias109

O campus da UNIFEI em Itabira estaacute incluiacutedo no Plano de

Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo das Universidades Federais Trecircs salas de aula foram emprestadas

por uma instituiccedilatildeo de ensino privada para a universidade nelas ocorriam as aulas dos trecircs

cursos de Engenharia exceto as aulas experimentais que ocorriam em um outro bairro da

cidade num preacutedio tambeacutem emprestado onde funcionava um Instituto de Tecnologia (ITEC)

108

httpwwwunifeiedubrdiversosunifei-campus-itabira 109

Lecionei no campus da Unifei ndash Itabira no segundo semestre do ano de 2008 ou seja no semestre de sua

inauguraccedilatildeo

110

Em marccedilo de 2009 as aulas foram transferidas para o ITEC e todo o

funcionamento do campus expandido de Itabira foi concentrado em algumas poucas salas de

aula denominadas pelos alunos por ldquotendasrdquo (por se pareceram com tendas de circo) Os

professores foram agrupados em gabinetes subdivididos e essa situaccedilatildeo permaneceu ateacute

novembro de 2011 quando um primeiro preacutedio do campus foi entregue Poreacutem devido agrave

escassez de espaccedilo fiacutesico para ocorrerem todas as atividades dos nove110

cursos de

Engenharia algumas turmas permanecem em funcionamento no preacutedio do ITEC Portanto a

vida acadecircmica dos alunos professores e teacutecnicos-administrativos se encontra fisicamente

particionada e literalmente separada por mais de 7 km A prefeitura disponibilizou ocircnibus

para o acesso ao campus visto que por estar localizado no distrito industrial o acesso eacute

difiacutecil e existem poucas linhas de ocircnibus em poucos horaacuterios por dia

O campus da UNIFEI dividido em duas partes na cidade de Itabira uma parte no

ITEC e a outra no distrito industrial da cidade foi palco para a construccedilatildeo de dados para a

pesquisa aqui relatada

As disciplinas da aacuterea de Matemaacutetica da UNIFEI-Itabira satildeo desenvolvidas do

primeiro ao quinto periacuteodo de todos os nove cursos de Engenharia da instituiccedilatildeo Satildeo elas

BAC 000 - Nome Matemaacutetica 0

Ementa Conjuntos Numeacutericos Nuacutemeros reais Polinocircmios Funccedilotildees Funccedilotildees

polinomiais Funccedilotildees exponenciais e logariacutetmicas Funccedilotildees trigonomeacutetricas

Funccedilotildees compostas Limites e continuidade Introduccedilatildeo aos recursos numeacutericos e

computacionais (5 ha semanais = 75 ha semestrais)

BAC 019 - Nome Matemaacutetica I

Ementa Derivadas aplicaccedilotildees de derivadas integrais teoremas fundamentais do

caacutelculo aplicaccedilotildees de integrais e integraccedilatildeo numeacuterica (4ha semanais = 60 ha

semestrais)

BAC 020 - Nome Matemaacutetica II

Ementa Matrizes e sistemas lineares aplicaccedilotildees vetores no plano e no espaccedilo

espaccedilo vetorial subespaccedilo espaccedilo119877119899 autovalores e auto vetores transformaccedilotildees

lineares cocircnicas e quaacutedricas (4ha semanais = 60 ha semestrais)

BAC I21 - Nome Matemaacutetica III

Ementa Sequecircncias e seacuteries derivadas parciais coordenadas polares integrais

duplas (4ha semanais = 60 ha semestrais)

BAC 022 - Nome Matemaacutetica IV

Ementa Equaccedilotildees diferenciais de ordem um Meacutetodos Numeacutericos Equaccedilotildees

diferenciais de ordem dois Equaccedilotildees diferenciais lineares de ordem maior que dois

Soluccedilotildees em seacuterie para equaccedilotildees lineares de ordem dois (4ha semanais = 60 ha

semestrais)

BAC 023 - Nome Matemaacutetica V

Ementa Funccedilotildees vetoriais integrais triplas caacutelculo vetorial (4ha semanais = 60

ha semestrais)

BAC 024 - Nome Matemaacutetica VI

Ementa Transformada de Fourier transformada de Laplace seacuterie de Fourier

110

Engenharia Ambiental da Computaccedilatildeo Mecacircnica de Controle e Automaccedilatildeo de Produccedilatildeo de Materiais de

Sauacutede e Seguranccedila Eleacutetrica e da Mobilidade

111

equaccedilotildees diferenciais parciais e problemas de contorno e valor inicial (4ha

semanais = 60 ha semestrais)111

A disciplina BAC 000 eacute oferecida no primeiro periacuteodo as disciplinas BAC 019 e

020 satildeo oferecidas no segundo periacuteodo as disciplinas BAC 022 e BAC I21 satildeo oferecidas no

terceiro periacuteodo a disciplina BAC 023 eacute oferecida no quarto periacuteodo e a disciplina BAC 024 eacute

oferecida no quinto periacuteodo de todos os nove cursos de Engenharia da UNIFEI-Itabira Vale

ressaltar que apenas a disciplina BAC 020 (Matemaacutetica II) natildeo perfaz conteuacutedos de Caacutelculo

Todas as outras disciplinas de Matemaacutetica na instituiccedilatildeo constituem o corpo de conteuacutedos

conhecido como Caacutelculo Diferencial e Integral

Uma importante112

observaccedilatildeo a respeito das disciplinas de Caacutelculo componentes

das grades curriculares dos cursos de Engenharia da UNIFEI-Itabira eacute o fato de a disciplina

Caacutelculo Numeacuterico natildeo aparecer na grade curricular como forma de uma disciplina uacutenica

Geralmente essa disciplina compotildee as grades curriculares dos cursos de Engenharia por se

tratar de uma importante ferramenta de resoluccedilatildeo de variados problemas da aacuterea da

Engenharia Para Herbster e Brito (2005 p 1)

[] a disciplina Caacutelculo Numeacuterico conforme classificaccedilatildeo do Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo e Cultura eacute disciplina da aacuterea baacutesica de formaccedilatildeo dos cursos de

Engenharia O objetivo geral dessa disciplina eacute introduzir os fundamentos de

Meacutetodos Numeacutericos e aplicar os conhecimentos de programaccedilatildeo jaacute adquiridos na

implementaccedilatildeo computacional dos meacutetodos

Na instituiccedilatildeo os conteuacutedos geralmente englobados na disciplina Caacutelculo

Numeacuterico aparecem ldquodiluiacutedosrdquo nas disciplinas BAC 000 (Introduccedilatildeo aos recursos numeacutericos e

computacionais) BAC 019 (Integraccedilatildeo Numeacuterica) e BAC 022 (Meacutetodos Numeacutericos)

37 As atividades do GEPMM e os sujeitos envolvidos

111

Disponiacutevel em

httpwwwportalacademicounifeiedubrindexphplink=cursosamppaineis=cab1Panel1|cab2Panel1|contPanel1|c

abPanel2|contPanel2|pePanel2ampcursocod=071amplocalcod=C02ampcursomod=NaNampsubsistema=gradampsubsistema

=grad (consulta realizada em 18022013 agraves 17h02) 112

Como foco desta pesquisa ndash as disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia ndash considero todos os

conteuacutedos que geralmente configuram as disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia no Brasil incluindo

assim todas as disciplinas BAC descritas acima exceto a disciplina BAC 020 (Matemaacutetica II) e ainda os

conteuacutedos que configuram a disciplina Caacutelculo Numeacuterico introduccedilatildeo aos meacutetodos numeacutericos e computacionais

Soluccedilatildeo numeacuterica de equaccedilotildees natildeo lineares Interpolaccedilatildeo e aproximaccedilotildees Derivaccedilatildeo e integraccedilatildeo numeacuterica

Meacutetodos numeacutericos de resoluccedilatildeo de sistemas de equaccedilotildees lineares Resoluccedilatildeo de equaccedilotildees diferenciais

ordinaacuterias por meacutetodos numeacutericos

112

Em uma das visitas agrave instituiccedilatildeo conheci uma aluna que cursava o terceiro

periacuteodo do curso de Engenharia da Mobilidade que chamarei de Mary113

Comeccedilamos a

conversar sobre as disciplinas de Caacutelculo que ela jaacute tinha cursado na instituiccedilatildeo Ela comeccedilou

a me dizer que tinha um professor de Caacutelculo cujas aulas ela gostava muito e que ela aprendia

muito participando das atividades que ele propunha Fez vaacuterias comparaccedilotildees em relaccedilatildeo agraves

metodologias utilizadas pelos professores da aacuterea de Matemaacutetica que jaacute tinham sido

professores dela na instituiccedilatildeo Fiquei interessada em conhecer esse professor e convidaacute-lo

para participar da constituiccedilatildeo do GEPMM Anotei o nome do professor no caderno de campo

e posteriormente o encontrei pessoalmente no campus da UNIFEI-Itabira no ITEC Esse

professor seraacute chamado em todo o texto que segue por Angel

No encontro que tive com Angel expliquei quais eram os objetivos da pesquisa

que eu estava desenvolvendo na instituiccedilatildeo quais eram os passos de construccedilatildeo de dados e

como seria a participaccedilatildeo dele nessa jornada caso aceitasse participar Mesmo deixando claro

para mim que ele estava muito atarefado com a docecircncia projetos de pesquisa extensatildeo e

com demandas administrativas ele concordou em participar ativamente da pesquisa Desde

entatildeo a construccedilatildeo de dados pocircde se iniciar ndash a formaccedilatildeo do GEPMM Angel e eu

comeccedilamos entatildeo a planejar os proacuteximos passos para a criaccedilatildeo do GEPMM

371 Angel

Angel eacute licenciado em Matemaacutetica e mestre em Engenharia Eleacutetrica Atua no

serviccedilo puacuteblico federal como docente desde 2011 Anteriormente atuou como professor em

uma instituiccedilatildeo particular de ensino superior localizada na cidade de Belo Horizonte-MG

Angel acredita114

que o papel das disciplinas de Caacutelculo num contexto de

formaccedilatildeo em Engenharias configura-se como uma base formadora no que diz respeito agraves

ferramentas que os alunos vatildeo adquirindo com o objetivo de as aplicarem nas disciplinas

113

Todos os nomes de alunos e professores seratildeo fictiacutecios Com isso objetivo preservar a identidade por

questotildees eacuteticas 114

Todas as descriccedilotildees das concepccedilotildees explicitadas pelo professor Angel satildeo baseadas nas entrevistas inicial e

final concedidas a mim por ele As entrevistas foram gravadas em aacuteudio e viacutedeo No texto que segue todos os

excertos das entrevistas transcritas e citadas foram retirados das entrevistas iniciais e finais realizadas com os

sujeitos que aceitaram o convite de participaccedilatildeo no GEPMM

113

teacutecnicas dos cursos Entatildeo para ele o Caacutelculo eacute considerado como uma base teoacuterica para o

desenvolvimento das disciplinas formadoras ldquode cidadatildeos altamente qualificados para o

exerciacutecio profissionalrdquo (ESTATUTO UNIFEI 2003 p 2) Ao ser questionado a respeito das

propostas metodoloacutegicas que tecircm sido desenvolvidas na UNIFEI-Itabira objetivando o

cumprimento dos papeis das disciplinas de Caacutelculo na formaccedilatildeo em Engenharia apontados

por ele mesmo nos conta

Aqui na instituiccedilatildeo basicamente aqui na UNIFEI campus Itabira pelo menos assim

no grupo nosso da Matemaacutetica porque noacutes somos digamos relativamente isolados

dos grupos das Engenharias entatildeo em termos de nossas reuniotildees e tudo mais a

gente define assim habilidades chaves ou seja em termos de conhecimentos

matemaacuteticos que ele deve ter diante das diversas ferramentas para poder vamos

dizer assim estar delimitando essa base formadora do aluno Agora assim em

termos institucionais a gente natildeo tem reuniotildees perioacutedicas ou algum tipo de

ferramenta ou algum tipo de consultoria externa para estar atuando junto da

instituiccedilatildeo para estar delimitando aiacute essa linha formadora do aluno Entatildeo aiacute a

gente se sente muito livre para estar aplicando esta ou aquela metodologia se der

certo bem se natildeo der tambeacutem ok Entatildeo assim em termos institucionais natildeo tem

nada assim digamos constituiacutedo ou em constituiccedilatildeo pra taacute melhorando isso natildeo

Tem assim que estaacute sendo muito ventilado eacute a questatildeo do PBL Poreacutem estaacute ainda

muito incipiente e agora estaacute mudando de reitor e a gente natildeo sabe o que vai

acontecer

Sobre as metodologias utilizadas por ele e os demais colegas docentes da aacuterea de

Caacutelculo ele nos conta

Ah basicamente assim pelo que eu converso com os outros colegas eacute o meacutetodo

tradicional mesmo livros passar no quadro exerciacutecios nada assim muito diferente

do cotidiano natildeo eu eacute que no semestre passado adotei assim digamos uma

metodologia diferente pra verificar [] assim qual seria a percepccedilatildeo do aluno

diante desse novo modelo entatildeo na primeira etapa do periacuteodo eu adotei o que seria

o procedimento padratildeo aula expositiva exerciacutecios trabalhos em equipe e depois

prova e jaacute na segunda etapa as aulas expositivas foram trocadas para aulas de tirar

duacutevidas entatildeo os alunos se reuniam para desenvolverem exerciacutecios em grupos jaacute

que as aulas jaacute tinham sido disponibilizadas em slides no portal acadecircmico entatildeo o

meu papel era apenas de estar lapidando essas duacutevidas que iriam aparecendo

diante das discussotildees dos grupos Assim para alguns alunos isso foi oacutetimo

principalmente aqueles que jaacute tecircm um bom desempenho nato e outros que jaacute satildeo

preguiccedilosos natildeo querem nada com a dureza encostaram nos outros colegas do

grupo e ficou assim aquele parasitismo durante a segunda etapa do periacuteodo [] aiacute

eu fiz uma avaliaccedilatildeo em dupla e o resultado foi realmente muito bom embora eu

natildeo possa mensurar o quatildeo desse conhecimento individual foi absorvido por cada

aluno

Durante a conversa que tive com a aluna Mary ela relatou sua adaptaccedilatildeo como

aluna da disciplina BAC 020 com a proposta metodoloacutegica descrita anteriormente pelo

professor Angel Ela enfatizou que natildeo gostava de assistir agraves aulas expositivas e que preferia

estudar os slides disponibilizados no portal pelo professor o que ela poderia fazer qualquer

114

dia qualquer horaacuterio e em qualquer lugar Para ela era bem mais produtivo dessa forma

embora alguns colegas dela natildeo tenham se adaptado tatildeo bem a essa proposta de ensino

Em seguida perguntei ao professor Angel se ele costumava abordar algum tipo de

aplicaccedilatildeo em suas aulas

Eu gosto muito dessa questatildeo praacutetica assim porque eu vejo o seguinte na minha

concepccedilatildeo vocecirc tem que ensinar pros alunos aquelas habilidades matemaacuteticas

mesmo a operacionalizar trabalhar com estruturas matemaacuteticas obter o resultado

e aleacutem disso eu sempre tento assim na medida do possiacutevel linkar aquele assunto

com algum conteuacutedo praacutetico Soacute que como a turma eacute vamos dizer assim muito

heterogecircnea em termos de vaacuterias engenharias natildeo tem como eu focar por exemplo

um problema especiacutefico de Engenharia Eleacutetrica ou um problema especiacutefico de

Engenharia Mecacircnica ou um problema especiacutefico da Computaccedilatildeo entatildeo agraves vezes eu

seleciono um problema que eacute direcionado agrave parte eleacutetrica igual por exemplo

Sistemas Lineares eu comecei com uma parte motivacional a partir de um problema

de circuito eleacutetrico Entatildeo eu dei laacute vaacuterias fontes de energia de um circuito todo

montado resistor e tudo mais entatildeo vocecirc usa aquelas leis da eleacutetrica cai em um

sistema linear e depois resolve [] pelo menos eu jaacute dei um horizonte para ele jaacute

vislumbrar ndash olha isso daqui eu realmente vou precisar laacute pra frente

Depois disso questionei-o sobre algum tipo de parceria entre grupos de

professores de aacutereas correlatas na instituiccedilatildeo Perguntei se por exemplo o grupo de

professores da aacuterea de Fiacutesica desenvolvia algum tipo de trabalho juntamente com os

professores da aacuterea da Matemaacutetica Ele respondeu

Eu pelo menos em termos de reuniatildeo nunca houve Eacute soacute mesmo os grupos da

matemaacutetica grupo da fiacutesica grupo da engenharia de materiais grupo da

engenharia de produccedilatildeo sempre aqueles grupos segregados [] eu acho que seria

fantaacutestico se houvesse essa integraccedilatildeo que muitas vezes um professor laacute de por

exemplo laacute do curso de Engenharia da Mobilidade de construccedilatildeo civil ele taacute laacute

fazendo experimentos e gerando resultados seraacute que ele natildeo poderia estar

utilizando os conhecimentos de um professor da aacuterea de matemaacutetica [aponta para

ele mesmo] para estar melhorando os experimentos com algo que ele ainda natildeo

saiba usar de matemaacutetica Seria interessante tambeacutem para os alunos poderem ver

essa interligaccedilatildeo soacute que haacute aquela questatildeo assim vamos dizer assim das vaidades

intriacutensecas da carreira de docente que realmente torna essa tarefa um pouco

complicada [risos]

Logo apoacutes esse momento questionei-o se aleacutem da vaidade quais seriam outros

motivos pelos quais essa interligaccedilatildeo entre as aacutereas natildeo acontecia na instituiccedilatildeo Ele responde

que a questatildeo da ldquoautonomia universitaacuteriardquo eacute adotada de forma ampla nas universidades

federais no Brasil ou seja os docentes geralmente trabalham de forma autocircnoma sem se

preocupar com o que o colega estaacute fazendo ou deixando de fazer Ele acredita que para que

mudanccedilas ocorram as ordens tecircm que ser dadas ldquode cima para baixordquo115

Poreacutem mesmo que

115

Nas palavras de Angel durante a entrevista inicial

115

mudanccedilas sejam impostas esbarrariam na questatildeo da ldquovaidaderdquo116

dos docentes na vontade

deles de dialogar trabalhar realmente em equipe Ele conta que anteriormente ao trabalho

como servidor puacuteblico trabalhou em uma instituiccedilatildeo de ensino superior da rede particular e

que laacute os professores tinham o dever de participar de reuniotildees e seminaacuterios para discutirem as

praacuteticas pedagoacutegicas Nesses seminaacuterios eles compartilhavam experiecircncias boas e ruins

faziam leituras discutiam e refletiam acerca das posturas de cada um Para Angel era muito

bom conhecer as praacuteticas pedagoacutegicas dos colegas Isso o fazia (re)pensar sua proacutepria praacutetica

e o ajudava a tomar atitudes futuras para melhoraacute-la Apoacutes esse relato perguntei se ele sentia

que essa obrigaccedilatildeo (de participar destas atividades semestrais) exercia algum tipo de

influecircncia na atitude dos professores durante o semestre Ele respondeu

Ah um pouco sim porque querendo ou natildeo emprego privado cecirc sabe como eacute que eacute

neacute Entatildeo assim digamos se vocecirc taacute no ritmo taacute tudo dando certo vocecirc se perpetua

naquela empresa caso contraacuterio vocecirc eacute excluiacutedo Entatildeo assim havia um

direcionamento pra taacute tendo justamente esses novos meacutetodos esses novos meios de

ensino em prol da instituiccedilatildeo porque senatildeo vocecirc era cortado da instituiccedilatildeo

Em seguida questionei o professor se na opiniatildeo dele esse tipo de ambiente de

discussatildeo estava faltando na UNIFEI Ele respondeu que sim natildeo soacute na UNIFEI mas em

muitas universidades federais citando vaacuterios exemplos de colegas que trabalham nessas

instituiccedilotildees e reafirmou que a questatildeo da autonomia dos professores acaba criando essa

cultura do individualismo entre os professores das universidades tornando esse problema uma

questatildeo delicada

Em suma com base na entrevista inicial concedida a mim o professor Angel

parece se preocupar em estabelecer relaccedilotildees entre as disciplinas lecionadas por ele nos cursos

de Engenharia da UNIFEI-Itabira e outras aacutereas do conhecimento estaacute sempre aberto para

responder as duacutevidas trazidas pelos alunos sente falta de um ambiente de discussatildeo a respeito

das questotildees pedagoacutegicas dos cursos de Engenharia percebe que questotildees individuais

relacionadas agrave subjetividade dos professores podem estar impedindo mudanccedilas que poderiam

melhorar a educaccedilatildeo em Engenharia fornecida pela UNIFEI-Itabira preocupa-se em motivar

os alunos apresentando questotildees que abordam problemas oriundos de aacutereas correlatas agraves

disciplinas natildeo matemaacuteticas dos cursos de Engenharia critica o predomiacutenio de aulas

expositivas e incentiva uma participaccedilatildeo mais ativa dos alunos demonstra perceber na

contemporaneidade que os recursos tecnoloacutegicos disponiacuteveis podem ser poderosos aliados

116

Nas palavras de Angel durante a entrevista inicial

116

nos processos de ensino-aprendizagem em cursos de Engenharia e por fim parece ser um

professor aberto ao diaacutelogo

Objetivando dar prosseguimento agrave apresentaccedilatildeo dos sujeitos partiacutecipes do

GEPMM retomarei o momento apoacutes a palestra117

ter sido proferida por mim na UNIFEI-

Itabira em outubro de 2012 ocasiatildeo em que o convite para participaccedilatildeo no grupo foi feito agrave

comunidade e tambeacutem a data do primeiro encontro do grupo foi marcada Ao teacutermino da

palestra uma professora denominada por mim de Clarice veio ateacute mim (ainda estava agrave frente

do auditoacuterio) informando que gostaria de participar do grupo Agradeci a disponibilidade e a

reencontrei no primeiro encontro

372 Clarice

Clarice eacute bacharel em Matemaacutetica e mestre em Matemaacutetica Aplicada Atua como

docente no serviccedilo puacuteblico federal desde 2009

Com base na entrevista inicial percebi que a professora Clarice acredita que as

disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia desempenham importante papel para uma

soacutelida formaccedilatildeo desse perfil profissional Contudo ao ser questionada afirma que sempre

escuta de seus colegas docentes das disciplinas teacutecnicas dos cursos de Engenharia que

Caacutelculo eacute importante que natildeo eacute para ela aprovar alunos sem o devido conhecimento que o

Caacutelculo eacute essencial e com isso ela acredita na importacircncia das disciplinas de Caacutelculo

realmente tomando-as como disciplinas baacutesicas no sentido estrito da palavra ndash base Afirma

ainda que nunca viu o trabalho do engenheiro para saber como eacute realmente a importacircncia do

Caacutelculo nesse trabalho Com base nas falas dos colegas professoresengenheiros ela afirma

que alunos que natildeo aprendem bem Caacutelculo ficam prejudicados em sua formaccedilatildeo como

engenheiros pois ela supotildee que o Caacutelculo eacute preacute-requisito118

de outras vaacuterias disciplinas na

grade curricular nas quais o Caacutelculo deve ser bastante uacutetil e indispensaacutevel para o

entendimento dos conteuacutedos dessas disciplinas (teacutecnicas)

117

Palestra intitulada por ldquoModelagem Matemaacutetica e Aprendizagem Baseada em Problemas convergecircncias

possiacuteveisrdquo A palestra foi proferida por mim em 25 de outubro de 2012 com o objetivo de suscitar o interesse de

alunos e professores em participarem do grupo sendo gravada em aacuteudio e viacutedeo 118

Natildeo haacute preacute-requisito formal de disciplinas na UNIFEI-Itabira A professora Clarice de certo estava referindo

a outras instituiccedilotildees brasileiras que em sua grande maioria estabelecem disciplinas de Caacutelculo como preacute-

requisito para outras disciplinas dos cursos de Engenharia Ou ainda ela estivesse se referindo a preacute-requisitos de

conteuacutedos natildeo de disciplinas

117

Clarice afirma que na instituiccedilatildeo as disciplinas de Caacutelculo natildeo tecircm sido

trabalhadas de forma a cumprir efetivamente seu papel dentro dos cursos de Engenharia

Depois de assistir agrave palestra ela afirma ter pensado sobre o assunto e que acredita que a

Modelagem Matemaacutetica pode ser uma possibilidade para o ensino em Engenharia Nas

palavras dela

Inclusive eu tava conversando com uns colegas outro dia que uma disciplina

interessante seria tipo um curso de Modelagem Matemaacutetica como uma disciplina

eletiva para aqueles interessados e assim por diante noacutes natildeo estamos exatamente

trabalhando o Caacutelculo com aplicaccedilotildees para os alunos as aplicaccedilotildees satildeo teoacutericas

mesmo coisas baacutesicas mesmo

Ela demonstrou incocircmodo em relaccedilatildeo agraves aulas mais teoacutericas afirmando que ateacute

onde ela tinha conhecimento as disciplinas de Caacutelculo nos cursos de Engenharia da Unifei-

Itabira eram baseadas apenas nas teorias que configuram os livros didaacuteticos de Caacutelculo Nas

palavras de Clarice

Como noacutes aqui muitos de noacutes eu natildeo posso falar por todos os professores eu natildeo

conheccedilo o meacutetodo de trabalho de todos eles mas ateacute o momento que eles

comentam comigo eles falam que a aula eacute mais teoacuterica mesmo eacute passar o que taacute

no livro ali e fica muita coisa sem passar porque a aula eacute muito pouca neacute Chega a

quase ser ruim porque o curso eacute incompleto entatildeo seria um curso de Modelagem

Seria para visar as aplicaccedilotildees mesmo colocar num periacuteodo onde os alunos jaacute

tenham visto as disciplinas baacutesicas e focar em aplicaccedilotildees apenas para ele ver ali

ter um contato mesmo com aplicaccedilotildees poderiacuteamos tratar de teoria como jaacute tem em

alguns livros de aplicaccedilotildees muito bons inclusive de Equaccedilotildees Diferenciais e

buscarmos tambeacutem problemas do dia a dia para colocar laacute entatildeo eu sei que tem

professores aqui que gostam dessa aacuterea mas no momento seria bom mas natildeo eacute real

ainda porque falta professor para colocar uma disciplina assim

Clarice me pareceu ser uma profissional aberta a mudanccedilas em busca de novas

possibilidades em prol da melhoria do desempenho de seu trabalho como professora e

dedicada as suas atribuiccedilotildees no cargo que ocupa na instituiccedilatildeo

373 Robson

Ainda no dia da palestra outro professor que seraacute denominado de Robson

manifestou-se interessado em participar do GEPMM Ele natildeo eacute professor de nenhuma

disciplina de Caacutelculo na UNIFEI-Itabira Ele eacute graduado e mestre em Engenharia Metaluacutergica

118

e doutor em Ensino de Ciecircncias e Matemaacuteticas Atua como docente na UNIFEI-Itabira desde

2010 O professor Robson aleacutem de ser graduado em Engenharia tambeacutem possui graduaccedilatildeo

em Licenciatura em Computaccedilatildeo e Odontologia Ele mesmo se define como uma pessoa de

formaccedilatildeo ecleacutetica e afirma sofrer um pouco com isso

Robson demonstrou acreditar que as disciplinas de Caacutelculo satildeo de crucial

importacircncia para a formaccedilatildeo dos engenheiros pois para ele o trabalho do engenheiro

consiste da aplicaccedilatildeo de conceitos matemaacuteticos fiacutesicos e quiacutemicos na resoluccedilatildeo de

problemas por exemplo de construccedilatildeo manutenccedilatildeo projeto e operaccedilatildeo sendo estes tiacutepicos

do trabalho da aacuterea de engenharia

Robson nos contou ainda que apoacutes a reforma universitaacuteria ocorrida no Brasil

em 1968 as disciplinas que compotildeem a grade curricular dos cursos de Engenharia foram

atribuiacutedas a departamentos Pontuou que com a departamentalizaccedilatildeo das universidades

esperava-se que os docentes que lecionassem disciplinas correlatas estivessem mais ldquopertordquo

para poderem trocar informaccedilotildees compartilhar conhecimentos e trabalharem coletivamente

Contudo em sua visatildeo os professores ficaram especializados ateacute demais nas aacutereas mas

apenas nelas Conta-nos ainda que antes de 1968 os docentes que lecionavam as disciplinas

de Caacutelculo em cursos de Engenharia eram engenheiros e apoacutes 1968 os docentes para

lecionarem qualquer disciplina de Matemaacutetica em qualquer curso de graduaccedilatildeo passaram a

ser formados em departamentos de Matemaacutetica

Natildeo soacute na instituiccedilatildeo mas o que a gente observa em vaacuterias instituiccedilotildees eacute que existe

um certo distanciamento entre os matemaacuteticos e os outros professores em geral dos

cursos de Engenharia salvo alguns trabalhos que a gente acompanha na tentativa

de se juntar essas aacutereas por meio de projetos transversais projetos

interdisciplinares multidisciplinares eacute alguma coisa que junte os profissionais

diferentes mas normalmente essas aacutereas estatildeo bem desconexas porque na

contrataccedilatildeo de professores normalmente vocecirc pega matemaacuteticos puros agora o

que taacute faltando muito satildeo professores que tenham assim conceitos de Educaccedilatildeo

Matemaacutetica [] os matemaacuteticos que noacutes temos aqui na instituiccedilatildeo eles estatildeo um

pouco distanciados em relaccedilatildeo aos engenheiros

Ainda que o convite para a participaccedilatildeo no grupo tenha sido amplamente feito na

instituiccedilatildeo poucos alunos o aceitaram No primeiro encontro apenas dois alunos

participaram a Taty e o Joseacute Taty aceitou o convite feito na paacutegina da UNIFEI na rede social

Facebook e Joseacute aceitou o convite feito em sala de aula pela professora Clarice jaacute que era

aluno dela naquele semestre Ambos se mudaram para Itabira para cursarem Engenharia na

UNIFEI Taty veio de uma cidade do interior de Satildeo Paulo e Joseacute veio de uma cidade do

interior de Minas Gerais

119

374 Taty

Taty cursava o sexto periacuteodo do curso de Engenharia da Computaccedilatildeo e estava

concluindo uma pesquisa na qual era bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Afirmou natildeo estar

gostando da aacuterea que estava atuando como pesquisadora e decidiu participar do grupo

Durante a entrevista inicial ao ser questionada sobre o papel das disciplinas de Caacutelculo em

cursos de engenharia Taty afirmou ser de ldquoextrema importacircnciardquo pois o que diferencia a

formaccedilatildeo em engenharia em sua concepccedilatildeo seria ldquojuntar todas as disciplinas do ciclo

baacutesico fiacutesica quiacutemica matemaacutetica com as disciplinas de formaccedilatildeo especiacuteficardquo Contudo

parece que tal junccedilatildeo natildeo ocorre de forma expliacutecita nos cursos da instituiccedilatildeo A proacutepria

estrutura curricular que separa os conteuacutedos em disciplinas parece contradizer ou mesmo natildeo

reforccedilar a concepccedilatildeo de formaccedilatildeo em engenharia apontada pela aluna

Em seguida questionei a aluna quais seriam especificamente os papeacuteis das

disciplinas de Caacutelculo no curso de Engenharia da Computaccedilatildeo Para ela

no curso de Computaccedilatildeo a matemaacutetica que a gente vecirc eacute uma parte bem loacutegica neacute

aleacutem da loacutegica o curso tem muitas mateacuterias da parte de eletrocircnica neacute eletrocircnica

digital analoacutegica e principalmente na digital a gente usa muito Aacutelgebra Booleana

e a aacutelgebra Booleana ela tem nos postulados eacute semelhante agrave Aacutelgebra Linear ateacute

certo ponto Na parte de computaccedilatildeo a gente vecirc mais a questatildeo da loacutegica e se vocecirc

for direcionar sua carreira vocecirc vai trabalhar com conceitos de BigData que

envolve necessariamente conhecimento mais avanccedilados de matemaacutetica ou

computaccedilatildeo graacutefica que envolve Aacutelgebra Linear

Naquele momento percebi que a aluna poderia natildeo ter entendido bem a pergunta

pois ela estava focando em conhecimentos matemaacuteticos ligados agrave Aacutelgebra e meu interesse

eram os conhecimentos do Caacutelculo Entatildeo refiz a pergunta e ela respondeu ldquoNossa Rutyele

que difiacutecil heinrdquo Apoacutes alguns instantes pensando Taty continua ldquoentatildeo Rutyele eu tocirc

achando complicado achar uma resposta pra vocecirc porque por exemplo eu sei que o pessoal

de Eleacutetrica usa em mil coisas mas natildeo eacute o meu caso entatildeo eu natildeo sei te dizer ainda saberdquo

Embora Taty tenha afirmado que os conteuacutedos de Caacutelculo sejam importantes para a formaccedilatildeo

em Engenharia ela natildeo sabe descrever qual seria o papel dessas disciplinas em seu curso Ela

continuou

120

O que eu vivencio eacute uma seacuterie de Caacutelculos dados em sequecircncia seguindo assim

uma certa [] buscando coerecircncia mesmo no desenvolvimento dos conceitos neacute

comeccedilando da parte mais simples limite derivada depois integraccedilatildeo depois

seacuteries neacute tem uma sequecircncia que a gente vai acompanhando e a partir de

determinado ponto que geralmente inicia no segundo periacuteodo com Fiacutesica I vocecirc jaacute

comeccedila a ter disciplinas que exige m esse conhecimento e vocecirc vai aplicaacute-lo caso

vocecirc tenha aprendido independentemente na disciplina isolada de Caacutelculo I

Caacutelculo II Caacutelculo III daiacute vocecirc vai comeccedilar a aplicar isso nas especiacuteficas neacute em

eletromagnetismo em mecacircnica dos soacutelidos mecacircnica dos fluidos

Com isso Taty pareceu demonstrar que em sua concepccedilatildeo as disciplinas de

Caacutelculo compotildeem uma base para o desenvolvimento de outras disciplinas que configuram as

grades curriculares dos cursos de Engenharia Ela pareceu ser uma aluna comprometida com

os estudos e estar preocupada em obter uma boa formaccedilatildeo para que possa ter um perfil como

engenheira diferenciado dos demais egressos dos cursos de Engenharia Aleacutem disso apesar

de naquele momento estar cursando o sexto periacuteodo do curso de Engenharia da Computaccedilatildeo

e ainda natildeo ter feito a disciplina BAC 022 (EDO) que faz parte do terceiro periacuteodo do

referido curso demonstrou natildeo ter tido grandes dificuldades no que diz respeito agrave aprovaccedilatildeo

nas disciplinas matemaacuteticas

375 Joseacute

O aluno Joseacute cursava o segundo semestre do curso de Engenharia Mecacircnica e era

aluno da disciplina BAC 019 sob a responsabilidade da professora Clarice O convite para a

participaccedilatildeo no grupo foi reforccedilado nas salas de aula de algumas disciplinas por alguns

professores como foi feito por Clarice nas turmas que lecionava

Joseacute demonstrou ser um aluno com atitude e postura reflexivas em relaccedilatildeo a sua

formaccedilatildeo profissional Natildeo demonstrou estar acostumado ainda com o ritmo de estudos da

Universidade e demonstrou sentir-se desconfortaacutevel ao perceber certo distanciamento entre os

alunos e os professores das disciplinas de Caacutelculo que ele jaacute havia cursado Ao ser

questionado sobre os papeacuteis das disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia apontou

para o desenvolvimento do raciociacutenio loacutegico da socializaccedilatildeo e do trabalho em equipe

O Caacutelculo desenvolve o raciociacutenio loacutegico mas tambeacutem pelo o que eu observo aqui

na faculdade ele tambeacutem eacute um meio de socializar De ajudar a pessoa tambeacutem a se

expressar melhor Pelo que eu vejo eu tenho dificuldade aiacute eu chego perto de uma

pessoa se a pessoa tambeacutem tem e tambeacutem qualquer coisa que vocecirc faz pode virar

uma coisa em conjunto neacute Entatildeo eu acho que o Caacutelculo tambeacutem desenvolve essa

121

parte para trabalhar em equipe de vocecirc entender a dificuldade do outro tambeacutem E

ele aplica em qualquer aacuterea que o engenheiro vaacute mexer desde dar aula ateacute na parte

de gerecircncia mesmo qualquer situaccedilatildeo o engenheiro vai ter que usar ou natildeo

depende da situaccedilatildeo mas ele vai precisar saber aplicar tudo que ele aprendeu no

Caacutelculo

Joseacute demonstrou ainda insatisfaccedilatildeo com relaccedilatildeo agraves metodologias utilizadas pelos

professores com os quais ele teve contato na instituiccedilatildeo

O Caacutelculo aqui que a gente vecirc eacute soacute a parte teoacuterica mesmo A gente por exemplo

quando vai fazer algumas questotildees resolver qualquer exerciacutecio a gente natildeo vecirc por

exemplo ah eu tenho um cilindro tal e eu quero o maacuteximo volume possiacutevel a gente

natildeo vecirc a gente natildeo consegue fazer a otimizaccedilatildeo tambeacutem [] a gente fez aquele

trabalho de Caacutelculo [se referindo a um trabalho de Aplicaccedilatildeo proposto pela

professora Clarice] e muita gente teve dificuldade porque natildeo sabia o que fazer

Natildeo tem como tipo eu pego o volume e aiacute o quecirc que eu faccedilo Vou fazer a derivada

o quecirc que eu vou fazer Sabe a pessoa fica sem visatildeo ela natildeo consegue ela natildeo

sabe [] eacute como se vocecirc tivesse uma viseira [gesticula com as duas matildeos proacuteximas

ao rosto] soacute vendo a parte teoacuterica a gente natildeo vecirc a aplicabilidade [] No maacuteximo

que a gente consegue ver alguma aplicabilidade eacute aplicaccedilatildeo direta em outras

disciplinas como a Fiacutesica Alguns alunos estatildeo vendo Estatiacutestica mas fora isso a

gente natildeo consegue pegar uma situaccedilatildeo ldquocruardquo e aplicar o Caacutelculo Num problema

cotidiano por exemplo ah eu vou construir um suporte pra colocar minhas caixas

o quecirc que eu posso fazer Qual que eacute o tamanho ideal Sabe a gente pode usar

Caacutelculo pra fazer isso mas agraves vezes a gente natildeo consegue fazer

Percebo assim que Joseacute teceu uma reclamaccedilatildeo sobre a falta de metodologias que

objetivem ir aleacutem da parte teoacuterica e assim alcanccedilar as aplicaccedilotildees Ele demonstrou perceber

as utilidades dos conteuacutedos do Caacutelculo para a formaccedilatildeo do engenheiro Afirma ainda ter

dificuldades em entender natildeo somente os conceitos mas tambeacutem a resoluccedilatildeo de algum

exerciacutecio que seja considerado aplicaccedilatildeo dos conceitos

376 Pedro

Pedro comeccedilou a participar do grupo a partir da terceira reuniatildeo do grupo Ele

aceitou participar do grupo mediante convite do aluno Joseacute Os dois eram alunos do segundo

periacuteodo do curso de Engenharia Mecacircnica e cursavam a disciplina BAC 019 sob a

responsabilidade da professora Clarice Ele demonstrou ser um aluno bem criacutetico e engajado

em sua formaccedilatildeo profissional embora tambeacutem demonstrasse sentir dificuldades de adequaccedilatildeo

em relaccedilatildeo agraves metodologias utilizadas pelos professores de Caacutelculo Quando questionado

durante a entrevista inicial sobre os papeacuteis das disciplinas de Caacutelculo em cursos de

122

Engenharia ele disse que basicamente desenvolve o raciociacutenio loacutegico ldquovocecirc aprende a

interpretar informaccedilotildees de uma maneira mais clarardquo aleacutem de ser um embasamento teoacuterico

para a formaccedilatildeo do engenheiro O aluno demonstrou acreditar que no trabalho desenvolvido

na aacuterea da Engenharia ldquoCaacutelculo torna-se fundamental natildeo soacute Caacutelculo mas como qualquer

outra disciplina relacionada agrave matemaacuteticardquo

Sobre as metodologias que tecircm sido utilizadas pelos professores de Caacutelculo que

possibilitam a apropriaccedilatildeo dos papeacuteis que tais disciplinas desempenham em cursos de

Engenharia Pedro demonstra insatisfaccedilatildeo quanto ao distanciamento entre os professores de

Caacutelculo e as dificuldades dos alunos Ele pensa que o grupo de professores da Matemaacutetica

precisa refletir sobre uma nova didaacutetica para possibilitar aprendizagem de alunos reais da

UNIFEI e natildeo de alunos idealizados por eles

Querendo ou natildeo alguns alunos chegam despreparados na Universidade isso eacute

fato natildeo adianta natildeo eacute agrave toa que tem o Caacutelculo Zero [refere-se agrave disciplina BAC

000] e muitas pessoas agraves vezes tem dificuldades de matemaacutetica baacutesica entatildeo eacute uma

realidade O ideal seria vocecirc ter alunos completamente capacitados e interessados

Soacute que se vocecirc tem uma Universidade que vocecirc ainda tem que edificar ela uma

Universidade nova que aleacutem de infraestrutura vocecirc precisa ainda criar matildeo de

obra por assim dizer vocecirc precisa de alunos capacitados que depois vatildeo levar o

nome da Universidade pra fora natildeo adianta vocecirc trabalhar com o ideal vocecirc tem

que ser real noacutes temos tais alunos noacutes temos que adaptar nossa didaacutetica para tais

alunos Depois se a Universidade se estruturar vatildeo vir alunos mais bem preparados

ou entatildeo a proacutepria infraestrutura o proacuteprio ambiente universitaacuterio vai forccedilar os

alunos a levarem mais a seacuterio Mas o momento que a Universidade vive precisa de

uma adaptaccedilatildeo da didaacutetica por parte dos professores para o que acontece na

realidade e natildeo para o que aconteceria se fosse a situaccedilatildeo ideal

O discurso do aluno estaacute embebido de questotildees que satildeo apontadas frequentemente

por professores de Caacutelculo em cursos de Engenharia A questatildeo da falta de preparo dos alunos

ingressantes em cursos de Engenharia com relaccedilatildeo agrave Matemaacutetica Baacutesica eacute recorrente em

congressos da aacuterea de Educaccedilatildeo em Engenharia119

Nesse momento consigo encontrar entatildeo subsiacutedios para responder agrave seguinte

pergunta ldquoQuem satildeo e onde estatildeo os sujeitos da aprendizagemrdquo Satildeo docentes e discentes

que realizam suas atividades na UNIFEI-Itabira Docentes da aacuterea de Matemaacutetica e

Engenharia Os discentes que atuaram como sujeitos dessa pesquisa satildeo pessoas jovens todos

com menos de 20 anos de idade que se engajam na atividade orientada pela aquisiccedilatildeo de

formaccedilatildeo profissional em niacutevel de graduaccedilatildeo em Engenharia

119

A esse respeito veja os anais do Congresso Brasileiro de Educaccedilatildeo em Engenharia (COBENGE) disponiacuteveis

no site wwwabengeorgbr

123

Foi nesse contexto universitaacuterio que se destina exclusivamente agrave formaccedilatildeo de

engenheiros contando com a disponibilidade dos sujeitos apontados acima que construiacute os

dados para a referida pesquisa

124

4 OS DADOS CONSTRUIacuteDOS E ANALISADOS A CONSTITUICcedilAtildeO DO GEPMM

COMO CICLO DE ACcedilOtildeES POTENCIALMENTE EXPANSIVAS

Engestroumlm (2002 p 183) aponta que quando o texto escolar (os textos dos livros

didaacuteticos) eacute representado como o objeto da atividade em vez de serem apenas instrumentos

que ajudam no entendimento do mundo haacute um empobrecimento nos recursos instrumentais

aleacutem de impactar os sujeitos da aprendizagem ndash os estudantes ndash que satildeo deixados com seus

proacuteprios dispositivos que para o autor inclui as habilidades de estudo laacutepis borracha papel

Esse tipo de abordagem tradicionalmente desenvolvida nas aulas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia (CAMPOS 2012 BIEMBENGUT HEIN 2007 FRANCHI 2002) acaba por

privilegiar um tipo de raciociacutenio que Resnick (1987) chama de ldquoraciociacutenio do siacutembolo-

destacado-do-referenterdquo (p 18 apud ENGESTROumlM 2002 p 183) Tal raciociacutenio eacute

notadamente valorizado nos meacutetodos tradicionais para a formaccedilatildeo em Caacutelculo A comeccedilar

pelas avaliaccedilotildees que satildeo realizadas majoritariamente por provas escritas individuais e sem

consulta salvo algumas poucas exceccedilotildees No ensino tradicional de Caacutelculo em cursos de

Engenharia a principal atividade eacute orientada pelo Caacutelculo como conteuacutedo conhecimento

historicamente acumulado impresso nos livros didaacuteticos em suas mais variadas abordagens

guiados como objetos da atividade

A atividade tradicional de formaccedilatildeo em Caacutelculo sendo considerada como uma

praacutetica social com base em Engestroumlm (2008) pode ser representada por meio do seguinte

esquema triangular

125

FIGURA 8 ndash Interconectados sistemas de atividade de professores e estudantes que tem como objeto a

apresentaccedilatildeo dos conteuacutedos do livro de Caacutelculo

Fonte Elaborado pela autora

Nesse tipo de contexto formativo o seguinte questionamento se faz extremamente

pertinente por que e para que um aluno estuda Caacutelculo Natildeo pretendo no escopo desta tese

responder explicitamente a essa questatildeo apenas pretendo sinalizar uma reflexatildeo que se faz

necessaacuteria para analisar os motivos pelos quais os sujeitos estiveram engajados no GEPMM

Charlot (2013) pontua que na ida agrave escola os alunos aparentemente estatildeo

engajados em uma atividade formativa mas que frequentemente agem por um motivo natildeo

relacionado com o proacuteprio saber Para o autor no caso real encontram-se muitos alunos que

estudam para tirar uma boa nota passar nas disciplinas conseguir um diploma e

consequentemente receber um salaacuterio que o torne uma pessoa de sucesso Jaacute no caso ideal o

aluno idealizado pelas instituiccedilotildees e sobretudo pelos professores seria aquele que estudaria

porque se interessaria pelo conteuacutedo estudado

Na loacutegica que estaacute se tornando dominante estuda-se (quando se estuda) para ter

boas notas passar de ano ser aprovado no vestibular ter um bom emprego motivo

e objetivo discordam Portanto natildeo existe mais atividade Sendo assim qual eacute a

significaccedilatildeo do que o aluno faz na escola Leontiev responderia que se trata de

accedilotildees Podemos dizer tambeacutem que eacute um trabalho um trabalho alienado

(CHARLOT 2013 p 154)

A estrutura da atividade de formaccedilatildeo tradicional pode ser considerada segundo

Engestroumlm (2008) como alienante tanto para alunos quanto para professores Tomando por

126

base tal reflexatildeo poderiacuteamos nos questionar estariam mesmo realizando um trabalho

alienado Caso afirmativo qual seria o niacutevel de alienaccedilatildeo do trabalho que os alunos e

professores desenvolvem em disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia Acredito que a

compreensatildeo de tais questionamentos se faz necessaacuteria para analisar as aprendizagens

expansivas possibilitadas pela constituiccedilatildeo do GEPMM no referido contexto de formaccedilatildeo em

Engenharias

41 Constituiccedilatildeo do GEPMM possibilidades para aprendizagens expansivas

Como jaacute esclarecido na Introduccedilatildeo desta tese esta pesquisa se originou de

inquietaccedilotildees relacionadas ao trabalho que venho desenvolvendo ao longo de vaacuterios anos

como docente em cursos de Engenharia Durante todo esse percurso tenho me deparado com

vaacuterios aspectos que julgo contraditoacuterios com relaccedilatildeo aos processos de ensino-aprendizagem

das disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia A proposta da pesquisa aqui relatada

constitui dessa forma uma expressatildeo do eu ndash sujeito ndash em face da realidade adotando certo

posicionamento frente agrave realidade das praacuteticas sociais que tenho participado na situaccedilatildeo de

docente de disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia mostrando certa atitude diante de

uma situaccedilatildeo real presente

Nesse sentido inicio a anaacutelise usando a Teoria da Atividade como suporte teoacuterico

com a intenccedilatildeo de verificar se a criaccedilatildeo do referido grupo pode se configurar como um

miniciclo de accedilotildees de aprendizagem expansiva (ENGESTROumlM SANNINO 2010b)

Com isso posso dizer que comeccedilo o esboccedilo das ideias desta pesquisa

interrogando os processos de ensino-aprendizagem que passei a participar desde que me

inseri neste trabalho Aleacutem de mim percebi durante a construccedilatildeo dos dados desta pesquisa

que outros indiviacuteduos partiacutecipes do mesmo contexto (alunos e professores dos cursos de

Engenharia) tambeacutem comungam as mesmas ou algumas das inquietaccedilotildees A seguir apresento

algumas dessas inquietaccedilotildees que estiveram abrigadas na primeira etapa de accedilotildees em

miniciclo de aprendizagem expansiva o interrogatoacuterio

411 Interrogatoacuterio

127

Engestroumlm e Sannino (2010b) explicitam que uma sequecircncia ldquoidealrdquo de accedilotildees

epistecircmicas em um ciclo expansivo se inicia com o interrogatoacuterio que consiste no

questionamento na criacutetica ou na rejeiccedilatildeo de alguns aspectos de uma praacutetica socialmente

aceita ou uma sabedoria existente em uma comunidade Nessa primeira parte da sequecircncia de

accedilotildees que satildeo necessaacuterias para analisar esse processo com o aporte teoacuterico da aprendizagem

expansiva aponto algumas facetas da praacutetica tradicional de ensino-aprendizagem de Caacutelculo

que foram incluiacutedas sob a forma de questionamentos eou interrogaccedilotildees pelos sujeitos que

participam dela ndash alunos e professores dos cursos de Engenharia Natildeo estou dizendo que todos

os integrantes do GEPMM as questionam e interrogam ao mesmo tempo e nem que tais

questionamentos ocorreram durante o planejamento e o desenvolvimento das atividades do

grupo

Vale ressaltar que o objeto de uma atividade possui inerentemente uma natureza

dual eacute ao mesmo tempo ldquoalgo dado e algo projetado ou antecipadordquo120

(ENGESTROumlM

2008 p 88) O objeto de uma atividade eacute tambeacutem seu verdadeiro motivo (ENGESTROumlM

1987) Processos de mudanccedila objetivam necessariamente a construccedilatildeo de um novo objeto e

consequentemente correspondentes novos motivos a serem cultivados

Durante a entrevista inicial alguns motivos que levaram os sujeitos a aceitarem o

convite para participaccedilatildeo no GEPMM foram explicitados Tais motivos podem demonstrar ou

explicitar questionamentos que tecircm origem em questotildees que compotildeem as praacuteticas tradicionais

de ensino de Caacutelculo em cursos de Engenharia Com base em excertos das transcriccedilotildees das

gravaccedilotildees das entrevistas iniciais realizadas com os sujeitos podemos notar que

Para o docente Angel o grupo ldquopropicia uma questatildeo de um diaacutelogo entre os

colegas de mesma aacuterea e talvez estar criando em ambiente de discussatildeo das praacuteticas de

ensino e tentar melhorar ou evoluir essa questatildeo do ensino tradicional que eacute muito aplicado

e difundido nas Universidades Federaisrdquo Afirma ainda que acredita que ao participarem do

GEPMM os alunos sairiam com uma visatildeo mais ampliada da conexatildeo que existe entre as

disciplinas baacutesicas e as aplicadas para que possam vislumbrar problemas da realidade

A docente Clarice afirmou que o interesse em participar do grupo estaria

motivado pela possibilidade de ver a Matemaacutetica em accedilatildeo ndash sendo utilizada Nesse sentido

ldquoabrir novos caminhosrdquo de atuaccedilatildeo ter novos conhecimentos novas possibilidades ldquonatildeo

120

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquosomething given and something projected or anticipatedrdquo

128

ficar sempre no baacutesicordquo e ldquomelhorar como professorardquo seriam os principais motivos para ter

aceitado o convite de participaccedilatildeo no GEPMM segundo Clarice

O docente Robson demonstrou a meu ver que estaria insatisfeito com os modos

ldquodesconexosrdquo de ensino de Caacutelculo nos cursos de Engenharia da instituiccedilatildeo que os

professores de Caacutelculo natildeo abordam questotildees de aplicaccedilotildees reais em suas disciplinas e que

quando tentam abordar consideram questotildees e exemplos de livros didaacuteticos Tais exemplos

para ele satildeo ldquodesconexos da realidade porque o proacuteprio matemaacutetico natildeo vivenciou aquilo e

natildeo tem certeza se eacute daquele jeito natildeo conhece bem as variaacuteveis envolvidas entatildeo

normalmente as pessoas que ensinam matemaacutetica acabam caindo nos problemas

tradicionaisrdquo O docente afirmou que disseminar esse tipo de praacutetica ndash a da Modelagem

Matemaacutetica ndash seria um dos motivos para ter aceitado o convite e ter participado do GEPMM

Contudo natildeo explicitou os outros

Sendo assim os docentes demonstraram que ao aceitarem o convite para

participarem do grupo seguem orientados pela incorporaccedilatildeo de conhecimentos de

Matemaacutetica em accedilatildeo ndash em conexatildeo com as mais diversas aacutereas do conhecimento ndash que

desejam melhorar ou evoluir como docentes no sentido de abrir novas possibilidades e formas

de atuaccedilatildeo e almejam a disseminaccedilatildeo das praacuteticas de Modelagem Matemaacutetica em outros

contextos outras instituiccedilotildees e sob outras perspectivas

Tomando-se por base que os professores desejam melhorar ou evoluir o trabalho

que se dispotildeem a desenvolver como proponentes e participantes de praacuteticas de ensino-

-aprendizagem de disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia decidi tentar pontuar quais

seriam tais melhorias ou seja se haacute algo que possa ser melhorado ou evoluiacutedo significa que

haacute algo que precisa ser transformado modificado e nisso residem as possibilidades para

aprendizagens expansivas Mas o quecirc poderia ou precisaria ser transformado Com base na

revisatildeo de literatura sobre os processos de ensino-aprendizagem de Caacutelculo em cursos de

Engenharia apresentada no Capiacutetulo 2 exponho a seguir quatro questionamentos que podem

ser considerados como essecircncia no que diz respeito agraves transformaccedilotildees em tais processos

a) como adequar as metodologias utilizadas em disciplinas de Caacutelculo em cursos

de Engenharia em consonacircncia com os objetivos gerais para a formaccedilatildeo dos

engenheiros

b) Como fazer com que os estudantes participem ativamente dos proacuteprios

processos formativos de aprendizagem no que tange as disciplinas de Caacutelculo em

cursos de Engenharia

129

c) Como romper com a encapsulaccedilatildeo das disciplinas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia

d) Como melhorar a interaccedilatildeo entre os sujeitos da aprendizagem em disciplinas

de Caacutelculo em cursos de Engenharia

Essas quatro questotildees foram elaboradas por mim com o intuito de analisar as

possibilidades de aprendizagens expansivas que podem ser desenvolvidas em atividades

desenvolvidas pelo GEPMM constituiacutedo na UNIFEI com o objetivo inicial de construccedilatildeo de

dados empiacutericos para esta pesquisa Esses questionamentos e criacuteticas foram compartilhados

entre os integrantes do referido grupo no decorrer dos encontros e durante as entrevistas

Depois disso passamos para a segunda etapa das accedilotildees de aprendizagem que consiste na

anaacutelise da situaccedilatildeo atual a fim de descobrir as causas ou explicaccedilotildees sobre o que foi

questionado

412 Anaacutelise da situaccedilatildeo

Engestroumlm e Sannino (2010b) explicitam que uma segunda accedilatildeo que compotildee uma

sequecircncia tipicamente ldquoidealrdquo em um ciclo expansivo consiste na anaacutelise da situaccedilatildeo atual

Para os autores analisar envolve transformaccedilotildees mentais discursivas ou ateacute mesmo praacuteticas

da situaccedilatildeo atual com o intuito de descobrir mecanismos de causa eou explicaccedilatildeo

Considero como o iniacutecio dessa fase o momento em que comecei a procurar por

outras metodologias que poderiam ser utilizadas no desenvolvimento das disciplinas de

Caacutelculo em cursos de Engenharia bem antes de iniciar esta pesquisa Fiz diversas leituras na

aacuterea de Educaccedilatildeo Matemaacutetica na tentativa de elaborar ainda que apenas em termos de

projetos futuros outras possibilidades que pudessem tornar meu trabalho como docente de

disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia menos contraditoacuterio sob minha proacutepria

concepccedilatildeo Apoacutes iniciar a fase da construccedilatildeo dos dados desta pesquisa pude perceber in loco

mediante observaccedilotildees e entrevistas que os questionamentos e criacuteticas podem ser explicados

eou causados pela construccedilatildeo histoacuterico-cultural das praacuteticas de ensino-aprendizagem de

Caacutelculo em cursos de Engenharia

Por um lado as praacuteticas de ensino-aprendizagem de Caacutelculo realizadas na

instituiccedilatildeo satildeo basicamente amparadas pelo meacutetodo tradicional de ensino conforme exposto

130

no Capiacutetulo anterior Por outro lado haacute uma perceptiacutevel distacircncia entre as metodologias

utilizadas em tais praacuteticas na instituiccedilatildeo e os papeacuteis que as disciplinas de Caacutelculo deveriam

exercer na formaccedilatildeo em Engenharia sob a concepccedilatildeo dos professores e estudantes que

participaram da construccedilatildeo dos dados para essa investigaccedilatildeo

Conforme visto no capiacutetulo anterior durante as entrevistas iniciais os sujeitos

apontaram que as disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia deveriam exercer papel de

ferramentas que serviriam como base para o desenvolvimento da formaccedilatildeo do engenheiro ou

seja um Caacutelculo que deveria ser por definiccedilatildeo desenvolvido em praacuteticas de ensino-

-aprendizagem como conteuacutedo em accedilatildeo como instrumento da atividade formativa e natildeo

apenas como parte do objeto conforme visto no iniacutecio deste capiacutetulo

Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas iniciais os docentes Angel Clarice e Robson

atentaram para a necessidade de diaacutelogo entre os docentes que lecionam disciplinas de

Caacutelculo e os demais docentes dos cursos de Engenharia assim como a necessidade de

conexatildeo entre os conteuacutedos de Caacutelculo e os demais conteuacutedos das disciplinas teacutecnicas dos

referidos cursos Para eles o distanciamento causado pela departamentalizaccedilatildeo pode

configurar como ponto-chave para tais questionamentos

Ainda no que diz respeito agraves entrevistas iniciais os alunos principalmente Joseacute e

Pedro apontam para a necessidade de adaptaccedilatildeo da didaacutetica dos professores para dar conta

dos alunos reais que ingressam na instituiccedilatildeo Para eles haacute um niacutetido distanciamento entre os

professores e os alunos durante o desenvolvimento das praacuteticas formativas de Caacutelculo em

cursos de Engenharia Tal distanciamento seraacute mais bem analisado mais adiante ainda neste

capiacutetulo

Por uacuteltimo uma criacutetica que se faz emergente no que diz respeito agraves praacuteticas

tradicionais de ensino-aprendizagem de Caacutelculo em cursos de Engenharia concentra-se na

formaccedilatildeo em termos de habilidades individuais As tradicionais praacuteticas que se destinam a

desenvolver a formaccedilatildeo em Caacutelculo nos cursos de Engenharia acabam por privilegiar o

desenvolvimento de habilidades e competecircncias individuais que estatildeo na maioria das vezes

ancoradas nos conteuacutedos de Caacutelculo de forma ldquopurardquo ndash o Caacutelculo pelo Caacutelculo ou seja ser

competente em Caacutelculo pode ser resumido em conseguir traccedilar graacuteficos resolver derivadas e

integrais por exemplo natildeo significando que tais competecircncias e habilidades sejam

trabalhadas sob a concepccedilatildeo de um Caacutelculo como ferramenta para o

entendimentodesenvolvimentosoluccedilatildeo de problemas reais ndash o Caacutelculo em accedilatildeo

Como visto nos Capiacutetulos 1 e 2 desta tese para o desenvolvimento de habilidades

e competecircncias de Caacutelculo em accedilatildeo por se tratar de uma formaccedilatildeo cujo objeto pode ser

131

entendido como questotildees-problema reais nas quais os conteuacutedos de Caacutelculo se configuram

como ferramentas da atividade faz-se necessaacuterio o desenvolvimento de ampliaccedilatildeo das

possibilidades de interaccedilatildeo entre os sujeitos devido a sua proacutepria natureza O trabalho

coletivo passa a predominar em relaccedilatildeo ao trabalho individual Natildeo basta apenas saber

resolver uma integral eacute preciso saber quando e onde usar uma integral para que uma questatildeo-

problema real possa ser entendidasolucionada A aluna Taty durante a entrevista inicial

aponta que em trabalhos em grupo mais praacuteticos ldquovocecirc acaba aprendendo muito maisrdquo

ldquoacho que esse eacute o trabalho do engenheirordquo

Com isso a situaccedilatildeo das praacuteticas formativas de Caacutelculo em cursos de Engenharia

comeccedila a parecer sob a forma de dilemas que na verdade abrigam contradiccedilotildees

historicamente acumuladas em tais sistemas de atividade Os dilemas nos ajudam a delimitar

possibilidades para transformaccedilotildees expansivas que podem tambeacutem ser entendidas ou

analisadas como movimento na zona de desenvolvimento proximal da atividade Nesse

sentido algumas facetas121

podem ser explicitadas da seguinte forma

a) metodologias utilizadas nas disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia

VERSUS o papel das disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia

b) disciplinas de Caacutelculo focadas em processos de formaccedilatildeo em termos de

aprendizagens individuais VERSUS demandas externas clamam pelo trabalho em

equipe ndash aprendizagens coletivas

c) docentes de Caacutelculo em redes fechadas (somente matemaacuteticos) VERSUS

parcerias com docentes de variadas aacutereas de atuaccedilatildeo em cursos de Engenharia

d) atividade docente desvinculada da atividade discente VERSUS parceria

docente-discente formando uma rede de aprendizagem

Apoacutes essas facetas terem sido explicitadas passamos para a terceira etapa das

accedilotildees de aprendizagem que consiste no modelamento de um novo horizonte de praacutetica cujas

possibilidades de implementaccedilatildeo precisam necessariamente extrapolar as fronteiras do

pensar e agir individual e passar para um patamar de construccedilatildeo coletiva rumo a

transformaccedilotildees qualitativas da praacutetica atual

121

Na teoria da aprendizagem expansiva double bind pode significar dilema ou ldquoface de dois gumesrdquo ou ainda

ldquoduas faces da moedardquo Decidi usar facetas

132

413 Modelamento122

Segundo Engestroumlm e Sannino (2010b) apoacutes a situaccedilatildeo (ou fenocircmeno ou praacutetica

social) ser questionada e analisada pelos sujeitos faz-se necessaacuterio que tal anaacutelise decirc origem a

uma nova forma de praacutetica uma nova atividade Para que isso se concretize eacute necessaacuterio que

os sujeitos consigam construir moldar e transformar um novo objeto por meio de accedilotildees que

objetivem tal modelamento

Antes mesmo de iniciar o processo de construccedilatildeo dos dados para a presente

investigaccedilatildeo a Modelagem Matemaacutetica conforme a concebo pareceu estar alinhada aos

objetivos de formaccedilatildeo de Caacutelculo em cursos de Engenharia Todas as leituras que fiz me

conduziram ao entendimento de que a Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia

poderia constituir um novo horizonte de praacutetica para os sujeitos partiacutecipes dos processos de

ensino-aprendizagem de disciplinas de Caacutelculo nesses cursos profissionalizantes123

Segundo Engestroumlm e Sannino (2010b) a aprendizagem expansiva se concentra

em processos nos quais os sujeitos satildeo transformados de indiviacuteduos isolados em coletivos e

redes Nesse sentido quando a construccedilatildeo dos dados empiacutericos para esta pesquisa se iniciou

na verdade o objetivo era que tal rede fosse tecida

A Modelagem Matemaacutetica sendo considerada como uma praacutetica formativa

inovadora em relaccedilatildeo agraves praacuteticas tradicionais de ensino-aprendizagem de Caacutelculo em cursos

de Engenharia pode ser tomada pelos participantes como um modelo que busca possibilitar

soluccedilotildees para os dilemas expostos anteriormente Acreditando nisso embarquei em uma

jornada rumo agraves possibilidades de movimento na zona de desenvolvimento proximal da

atividade formativa de Caacutelculo em cursos de Engenharia No campo cheguei soacute mas natildeo

permaneci soacute a rede comeccedilou a ser tecida E foi o grupo se constituiu

Sendo assim a constituiccedilatildeo do GEPMM podendo ser considerada como accedilatildeo de

modelamento que segundo Engestroumlm e Sannino (2010b) objetiva a construccedilatildeo de um novo

horizonte de praacutetica visando agrave minimizaccedilatildeo dos dilemas potencialmente incorporados nas

formas de atividade vigentes poderia possibilitar

122

Aqui Modelamento eacute considerado como a terceira fase das estrateacutegicas accedilotildees do ciclo de aprendizagem

expansiva elaborado por Engestroumlm (1987) conforme explicitado no Capiacutetulo 1 deste texto 123

A formaccedilatildeo em Engenharia pode tambeacutem ser entendida como profissionalizante pois objetiva a formaccedilatildeo do

profissional de Engenharia ndash o engenheiro

133

a) a construccedilatildeo de espaccedilos formativos nos quais o objeto da atividade seria

constituiacutedo por questotildees-problema natildeo matemaacuteticas e estudantes engajados em

sua proacutepria formaccedilatildeo (o que poderia se aproximar dos objetivos gerais que

perpassam a formaccedilatildeo dos engenheiros)

b) engajamento coletivo dos estudantes na resoluccedilatildeo de problemas natildeo

matemaacuteticos (o que pode estar mais proacuteximo das demandas externas que

proclamam o trabalho em equipe ndash aprendizagens coletivas)

c) possibilidades de parcerias (interdisciplinares) com docentes de variadas

aacutereas de atuaccedilatildeo em cursos de Engenharia (o que poderia promover o

rompimento da encapsulaccedilatildeo das disciplinas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia)

d) atividade de aprendizagem mediante parceria docente-discente formando uma

rede de aprendizagem (o que poderia ampliar quantitativamente e

qualitativamente as interaccedilotildees docente-discentes)

Vale ressaltar que a construccedilatildeo do GEPMM ao ser tomado como um modelo em

um ciclo de accedilotildees potencialmente expansivas acaba por se configurar como um elo entre as

disciplinas de Caacutelculo e as demais disciplinas que constituem a formaccedilatildeo do engenheiro na

instituiccedilatildeo estudada o que poderia minimizar o ponto de conflito cognitivo apontado por

Camarena (2009) Tal ponto de conflito pode ser entendido como uma tensatildeo que os

engenheiros vivenciam quando precisam integrar duas ou mais aacutereas do conhecimento tais

como o Caacutelculo e outras aacutereas teacutecnicas da Engenharia a fim de matematizar um problema a

ser resolvido Tal minimizaccedilatildeo pode ser relacionada com o rompimento da encapsulaccedilatildeo das

disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia

414 Examinando o novo modelo

Segundo Engestroumlm e Sannino (2010b) a quarta accedilatildeo constituinte de uma

sequecircncia ldquoidealrdquo em um ciclo expansivo seria caracterizada pelo exame do modelo Essa

etapa consistiria em pocircr em praacutetica o modelo executaacute-lo ou operaacute-lo a fim de compreender

sua dinacircmica potencial e limitaccedilotildees Para isso se fez necessaacuteria a criaccedilatildeo de uma rede de

aprendizagem composta por alunos e professores que aceitaram o convite para participaccedilatildeo

134

no GEPMM A parceria estabelecida mediante a criaccedilatildeo de tal rede possibilita a ampliaccedilatildeo do

movimento de informaccedilotildees entre os docentes que atuam em diversas aacutereas por meio da

potencializaccedilatildeo da busca e consequentemente encontro de informaccedilotildees e ferramentas

necessaacuterias para o entendimento e a resoluccedilatildeo das questotildees-problemas que configuram o

objeto da atividade de Modelagem

Aleacutem da parceria entre os professores das mais diversas aacutereas de atuaccedilatildeo a

criaccedilatildeo dessa nova rede poderia possibilitar tambeacutem um cruzamento vertical de fronteiras

por meio das interaccedilotildees entre estudantes e professores pois em instituiccedilotildees escolares alunos

e professores constituem redes hieraacuterquicas de interaccedilotildees A parceria entre eles acaba por

cruzar os limites entre as redes o que poderia tornar a atividade de alunos e professores uma

uacutenica atividade a atividade de aprendizagem

Com isso poderiacuteamos analisar que a construccedilatildeo de tais ambientes configuraria

potencial mudanccedila no objeto da atividade de aprendizagem e ainda a construccedilatildeo de redes

possibilitada pelo cruzamento de fronteiras entre niacuteveis hieraacuterquicos e institucionais na

instituiccedilatildeo por meio de parcerias docente-docente e discentes-docente ambas ocorrendo em

um mesmo espaccedilo fiacutesico em uma mesma praacutetica institucionalizada em prol de um mesmo

objetivo Esses dois movimentos poderiam configurar mutuamente aprendizagens

expansivas como veremos mais adiante no presente texto

Por se tratar de uma intervenccedilatildeo formativa optei pela criaccedilatildeo do GEPMM em vez

de tentar introduzir a Modelagem Matemaacutetica dentro das salas de aula das disciplinas de

Caacutelculo Essa opccedilatildeo metodoloacutegica em termos da construccedilatildeo dos dados mostrou-se

necessaacuteria apoacutes ter assumido a Teoria da Atividade e da Aprendizagem Expansiva como lente

teoacuterica para a anaacutelise dos dados da presente pesquisa Aleacutem disso eu temia que as regras e a

divisatildeo do trabalho dentro das salas de aula de Caacutelculo permanecessem invioladas mesmo

com uma possiacutevel introduccedilatildeo da Modelagem nas demais accedilotildees de ensino que ocorrem durante

o desenvolvimento das disciplinas de Caacutelculo E mais do que isso o objeto da atividade de

alguns alunos durante todo o desenvolvimento das disciplinas de Caacutelculo independentemente

da metodologia adotada poderia permanecer orientado pela aprovaccedilatildeo na disciplina

satisfazendo a necessidade de prosseguir no curso visando agrave obtenccedilatildeo do diploma de

engenheiro

Sendo assim tal intervenccedilatildeo externa as proacuteprias disciplinas de Caacutelculo

configuraria como um espaccedilo formativo alternativo cujo objetivo preliminar seria o

questionamento agrave proacutepria divisatildeo do conhecimento em disciplinas como ocorre

tradicionalmente em cursos de Engenharia no Brasil Neste sentido a proposta da criaccedilatildeo do

135

GEPMM alia-se agraves ideias de formaccedilatildeo em Engenharia com base no foco em questotildees-

problema das mais diversas aacutereas onde os conhecimentos de Caacutelculo sejam instrumentos ou

ferramentas que auxiliam o respectivo entendimentoresoluccedilatildeo natildeo pretendendo assim

minimizar os dilemas vivenciados por alunos e professores durante as praacuteticas das disciplinas

tradicionais de Caacutelculo em cursos de Engenharia Vale ressaltar que seria contraditoacuterio

afirmar que tal enfoque pudesse ser plenamente estabelecido se tomaacutessemos como contexto as

disciplinas de Caacutelculo as disciplinas de Caacutelculo possuem conteuacutedos estabelecidos nos Planos

de Ensino e qualquer enfoque formativo incluindo a Modelagem Matemaacutetica estaria

orientado pelo Plano de Ensino Com isto as atividades de Modelagem constituiriam de

abordagem para dar sentido ou motivar ou mesmo propiciar aprendizagens dos conteuacutedos jaacute

estabelecidos nas ementas Com isto o objeto das atividades seriam os proacuteprios conteuacutedos do

Caacutelculo e a Modelagem Matemaacutetica seria um instrumento para tal ensinoaprendizagem

O espaccedilo formativo caracterizado no e pelo GEPMM se configura como um

contexto propiacutecio para possibilitar aprendizagens expansivas por estar baseado nos contextos

da descoberta da aplicaccedilatildeo praacutetica e da criacutetica conforme exposto no Capiacutetulo 1 Tal espaccedilo

formativo alternativo agraves praacuteticas tradicionais de formaccedilatildeo institucionalizadas nas e pelas

universidades pode ser caracterizado mediante ldquoampliaccedilatildeo gradual do objeto e do contexto da

aprendizagemrdquo (ENGESTROumlM 2002 p 197) Nele os aprendizes embarcam em uma

jornada ao longo da Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) da Atividade124

que segundo

Engestroumlm (1987 p 174) pode ser entendida como a ldquodistacircncia entre as accedilotildees cotidianas dos

indiviacuteduos e a historicamente nova forma de atividade social que pode ser gerada

coletivamente como soluccedilatildeo para o dilema potencialmente incorporado nas accedilotildees cotidianasrdquo

Engestroumlm (2001) pontua que atividades de aprendizagem expansiva buscam

produzir culturalmente novos padrotildees de atividade que nesta pesquisa podem ser manifestos

pelas e nas atividades desenvolvidas no GEPMM devido agrave necessidade de os aprendizes

aprenderem novas formas de atividade enquanto as vatildeo criando

Eacute importante ressaltar que no GEPMM o Caacutelculo eacute considerado como um dos

instrumentos necessaacuterios agrave resoluccedilatildeoentendimento das questotildees-problema natildeo matemaacuteticas

Sendo assim em atividades de Modelagem Matemaacutetica constantemente faz-se necessaacuterio a

aquisiccedilatildeo de novas125

ferramentas de Caacutelculo para os sujeitos partiacutecipes da presente

124

Aqui podemos entender atividade no sentido de Sistemas de Atividade que os sujeitos assumem na posiccedilatildeo

de docentes e discentes de cursos de Engenharia 125

Podemos entender tais accedilotildees com vistas agrave aquisiccedilatildeo de novas ferramentas de Caacutelculo para os sujeitos

partiacutecipes de uma atividade de modelagem seguindo por analogia agraves accedilotildees que visam agrave construccedilatildeoaquisiccedilatildeo de

uma lanccedila ou um arco e flecha em uma atividade de caccedila

136

atividade o que se configura sob essa anaacutelise como accedilotildees estrategicamente necessaacuterias ao

alcance de objetivos parciais orientados pela atividade em questatildeo Mais adiante no que tange

agrave anaacutelise especiacutefica dos instrumentos de Caacutelculo em atividades de Modelagem num contexto

de formaccedilatildeo em Engenharias seguirei orientada pelo seguinte questionamento quais e como

se configuram as accedilotildees possibilitadas pelas ferramentas de caacutelculo em uma determinada

atividade de modelagem

Ao optar pela dinacircmica do modelo de atividade (Modelagem Matemaacutetica) sendo

implementada extra sala de aula (GEPMM) algumas limitaccedilotildees poderiam ocorrer configurar

trabalho extra (horas gastas a mais) ocircnus intensificaccedilatildeo do trabalho incompatibilidade de

horaacuterios entre outras Com isso sobraria menos tempo para realizar as demais atividades que

compotildeem a formaccedilatildeo em Engenharia na UNIFEI tanto para estudantes quanto para

professores Outra possiacutevel limitaccedilatildeo poderia surgir pela estrutura fiacutesica da instituiccedilatildeo jaacute

levando em conta o fato de ser um campus ldquoem construccedilatildeordquo precisariacuteamos de um espaccedilo

fiacutesico para abrigar o grupo

415 Implementando o novo modelo ndash o GEPMM

Com base em Engestroumlm e Sannino (2010b) a quinta accedilatildeo que constitui uma

sequecircncia ldquoidealrdquo em um ciclo expansivo consiste na implementaccedilatildeo do modelo por meio de

suas aplicaccedilotildees em praacuteticas Durante o iniacutecio da construccedilatildeo dos dados da pesquisa relatada

nesta tese procurei por ldquoaliadosrdquo pessoas que compartilhassem as mesmas insatisfaccedilotildees e

que aceitassem o convite de ldquoembarcarrdquo nessa jornada coletiva de transformaccedilotildees Contudo

natildeo obtive sucesso algum nessa primeira ldquoempreitadardquo

Natildeo desisti continuei realizando accedilotildees de negociaccedilatildeo e orquestraccedilatildeo por meio de

conversas com docentes e discentes buscando pelos tatildeo esperados ldquoaliadosrdquo Foi entatildeo que

Angel aceitou o convite Decidimos elaborar e proferir a palestra e apoacutes a palestra mais dois

docentes aceitaram o convite Clarice e Robson

Deliberamos126

algumas accedilotildees estruturais para que o grupo pudesse iniciar sua

jornada encontrar horaacuterios compatiacuteveis traccedilar horizontes de atuaccedilatildeo delimitaccedilatildeo de regras

entre outras

126

Todas as interaccedilotildees nessa parte foram realizadas por meio de mediaccedilotildees possibilitadas pelo grupo ldquovirtualrdquo

criado na rede social Facebook intitulado Modelagem Unifei Itabira

137

Ao serem questionados sobre os motivos que teriam orientado as respectivas

participaccedilotildees nas entrevistas iniciais os alunos Taty Joseacute e Pedro apontaram que gostariam

de ver uma Matemaacutetica mais aplicada uma Matemaacutetica na praacutetica objetivando terem uma

visatildeo diferenciada dos demais no mercado de trabalho futuramente Nas palavras de Taty

ldquoeu espero que no final deste projeto neacute eu consiga ter uma habilidade maior em abstrair

matematicamente os problemas do dia a diardquo Pedro pontuou ldquoeacute uma coisa na qual vocecirc vai

precisar vocecirc vai ter que aplicar o Caacutelculo em muitas aacutereas de atividade para um

engenheirordquo

Com base nas gravaccedilotildees em aacuteudio e viacutedeo dos encontros do GEPMM farei a

seguir um breve relato das accedilotildees que se fizeram presentes durante os dez primeiros encontros

do referido grupo

4151 Os encontros

Agora relatarei o que aconteceu durante os dez127

primeiros encontros realizados

no GEPMM que adotarei como corpus de anaacutelise Depois disso retornarei ao miniciclo de

accedilotildees de aprendizagem expansiva com o intuito de explicitar a sexta e a seacutetima accedilotildees

refletindo sobre o processo de implementaccedilatildeo do novo modelo e consolidando seus

resultados em uma nova forma de praacutetica

41511 Primeiro encontro

O primeiro encontro do GEPMM ocorreu em 01112012 (quinta-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice dos estudantes Joseacute e Taty e com a minha

participaccedilatildeo desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e pesquisadora

Nesse primeiro encontro comeccedilamos a estabelecer regras para questotildees

burocraacuteticas do grupo tais como quantos seriam os integrantes se o grupo seria formalizado

como projeto de extensatildeo ou grupo de pesquisa no CNPq entre outras questotildees Esclareci

127

Considero os dez primeiros encontros devido ao fato de ter que cumprir prazos com relaccedilatildeo agraves exigecircncias

estipuladas no regimento do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em que estou inserida como alunapesquisadora

138

para os alunos Joseacute e Taty128

quais satildeo os objetivos do grupo e da minha pesquisa

Estabelecemos coletivamente que o grupo seria constituiacutedo por quatro docentes e seis

estudantes totalizando dez participantes

A docente Clarice teceu a seguinte criacutetica em relaccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Matemaacutetica no

Brasil ldquomuito se fala pouco se praticardquo E seguiu falando que os alunos de Caacutelculo satildeo

muito desmotivados e acrescentou ldquomuito aluno ali se sente tatildeo incapaz ele natildeo acredita

nele por isso ele se ferrardquo A aluna Taty interveio ldquomas eu acho que isso natildeo eacute culpa do

professor saberdquo A docente Clarice respondeu agrave aluna em tom de voz alterado ldquoMas eacute

tambeacutem um deverrdquo Bakhtin129

(1992 p 396) destaca que a entonaccedilatildeo consiste em uma

expressatildeo focircnica da avaliaccedilatildeo social e para ele ldquoo tom natildeo eacute determinado pelo material do

conteuacutedo do enunciado ou pela vivecircncia do locutor mas pela atitude do locutor para com a

pessoa do interlocutor (a atitude para com sua posiccedilatildeo social para com sua importacircncia

etc)rdquo Aqui uma anaacutelise da entonaccedilatildeo da fala da docente Clarice poderia ser tecida pela

hierarquia e lugar social que alunos e professores ocupam nas instituiccedilotildees universitaacuterias e as

respectivas regras que podem compor o ldquocurriacuteculo ocultordquo tais como professor ldquosempre tem

razatildeordquo a fala do professor natildeo ldquodeverdquo ser questionada e aluno ldquodeverdquo ficar inerte agraves posiccedilotildees

do professor afinal que dita as regras eacute o professor e ao aluno cabe cumpri-las Contudo no

GEPMM natildeo haacute pontos a serem distribuiacutedos pelo professor e isto pode acabar confundindo as

respectivas visotildees sobre as posiccedilotildees sociais nesta praacutetica Neste caso alunos e professores tem

o mesmo grau de importacircncia e hierarquia

No decorrer do encontro Clarice pontuou que nunca havia visto o trabalho do

engenheiro ldquoNunca parei pra pensar nisso Sempre pensei assim ah ele aprendeu as contas

baacutesicas laacute e pronto Mas natildeo vai porque o outro [que sabe mais] vai passar na frente dele [no

mercado de trabalho]rdquo Nesse ponto a docente pareceu estar preocupada com a qualidade da

formaccedilatildeo matemaacutetica que tem sido oferecida nas propostas tradicionais de ensino-

aprendizagem de Caacutelculo em cursos de Engenharia A docente seguiu falando

Eu falo assim no iniacutecio do curso no primeiro dia de aula ah eu ensino Caacutelculo natildeo

tenho noccedilatildeo muito de aplicaccedilotildees aiacute depois vocecircs vatildeo usar [risos] Tipo assim eu

natildeo sei quando mesmo Depois vocecircs vatildeo usar em vaacuterios conteuacutedos porque os

proacuteprios professores [de outras disciplinas ndash natildeo matemaacuteticas] falam comigo Tem

um professor da Mecacircnica que falou comigo o aluno chega laacute sem saber Caacutelculo e

ele precisa de Caacutelculo pra caramba na minha mateacuteria Caacutelculo I mesmo Sabe E

chega sem saber

128

Que natildeo puderam assistir agrave palestra mas viram o convite na rede social Facebook e o aceitaram 129

Conforme explicitado no Capiacutetulo 1 desta tese uma das raiacutezes da teoria da aprendizagem expansiva eacute a teoria

da linguagem e discurso de Bakhtin Por esse motivo sempre que possiacutevel utilizarei tal teoria para analisar falas

e discursos que ocorreram durante a construccedilatildeo dos dados para a investigaccedilatildeo relatada nesta tese

139

Nessa fala da docente percebemos que ela pareceu estar preocupada em natildeo

conseguir responder agraves expectativas dos estudantes ou mesmo dos outros professores das

demais disciplinas quanto agraves aplicaccedilotildees do Caacutelculo e aleacutem disso demonstrou sentir-se

incomodada em ouvir outro docente criticar a formaccedilatildeo matemaacutetica dos estudantes

A aluna Taty nos mostrou suas concepccedilotildees e expectativas em relaccedilatildeo a sua

participaccedilatildeo no GEPMM como aluna do curso de Engenharia de Computaccedilatildeo

Acho que a matemaacutetica eacute a mateacuteria mais poderosa que tem cecirc quer resolver um

problema de verdade Cecirc quer ser um engenheiro Cecirc quer uma resposta Tudo eacute

modelagem As melhores aacutereas da Computaccedilatildeo as que datildeo mais dinheiro cecirc tem

que ser bom de matemaacutetica Entatildeo eu acho um desperdiacutecio a gente ter 500

professores de Matemaacutetica aqui e ficar na sala de aula vendo nada Adoro gosto

muito acho muito legal mas soacute isso Entendeu Vocecirc pode sair daqui muito mais

potente Eacute aproveitar o que a faculdade estaacute te oferecendo

Podemos perceber que a estudante posicionou que suas accedilotildees de aprendizagem

estatildeo relacionadas ao objetivo de ldquoformaccedilatildeo com qualidaderdquo (uma boa formaccedilatildeo potente

aliada ao conhecimento) pois parece desejar ter um bom retorno financeiro no mercado de

trabalho depois de se formar engenheira Eacute niacutetido tambeacutem que sua proacutepria formaccedilatildeo ocupa

lugar privilegiado enquanto objeto de sua atividade ou seja ela parece ter consciecircncia que

ldquoobter conhecimentosrdquo e ldquoadquirir habilidadesrdquo constituem parte fundamental para a sua

proacutepria formaccedilatildeo

Esclareci para os parceiros que inicialmente natildeo gostaria de trabalhar em um

problema muito complexo Naquele momento minha preocupaccedilatildeo estava relacionada agraves

possiacuteveis desistecircncias de integrantes do grupo principalmente alunos caso achassem o

trabalho complexo demais

A discussatildeo sobre ensino de Caacutelculo em cursos de Engenharia continuou embora

este natildeo fosse especificamente o tema do primeiro encontro e a docente Clarice pontuou ldquoO

aluno de Caacutelculo I ele acha que tudo pode jogar no computador que tudo ele joga na

calculadora que ele natildeo vai trabalhar Ele natildeo sabe que vai ter que por a matildeo na massa Ele

acha que eacute pegar uma equaccedilatildeo e resolverrdquo A aluna Taty respondeu ldquoPorque o Caacutelculo I eacute

muito assim vocecirc chega no trecircs [Caacutelculo III] vocecirc nem pega mais na calculadora [risos]rdquo

Neste momento percebi que havia muitas questotildees inerentes agraves disciplinas de

Caacutelculo em cursos de Engenharia na quais os sujeitos demonstravam interesse em debatecirc-las

e como na instituiccedilatildeo natildeo havia um espaccedilo para tais discussotildees e debates eles acabavam

acontecendo nos encontros do GEPMM

140

Prosseguimos o encontro tentando esboccedilar algumas questotildees de interesse dos

integrantes do grupo que poderiam ser tomadas como objetos da atividade de Modelagem do

grupo

a) Angel falou sobre a infraestrutura na UNIFEI preacutedio 2 atrasado restaurante

atrasado

b) Joseacute falou sobre o fluxo de tracircnsito na cidade de Itabira

c) Eu falei sobre prazos para o mineacuterio de ferro extraiacutedo pela empresa Vale nas

minas de Itabira acabar

d) Joseacute falou sobre a poluiccedilatildeo sonora causada pelas explosotildees nas minas da Vale

e) Taty falou sobre a iniciaccedilatildeo cientiacutefica dela relaccedilotildees de gecircnero na construccedilatildeo

civil

f) Eu falei sobre as possibilidades de estudarmos as relaccedilotildees de gecircnero no trabalho

do engenheiro (Clarice fala que natildeo tem vontade de trabalhar com isso)

Apoacutes combinarmos de pensar em casa com calma em mais inquietaccedilotildees que

pudessem ser de interesse do grupo encerramos a reuniatildeo

41512 Segundo encontro

O segundo encontro do GEPMM ocorreu em 08112012 (quinta-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice dos estudantes Joseacute e Taty e com a minha

participaccedilatildeo desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e pesquisadora

Expus para os parceiros que pensei em um problema que haacute muito tempo me

incomoda o problema do peso corporal ideal Expliquei para eles que gostaria de entender

melhor matematicamente a questatildeo do ganho ou perda de peso considerando somente os

fatores alimentaccedilatildeo e exerciacutecios fiacutesicos Denominei naquele momento esse problema como

ldquoa foacutermula da sauacutederdquo e posicionei ainda que ldquoO peso da pessoa eacute fundamental pra vocecirc saber

[] uma das variaacuteveis eacute a massa da pessoa depende da massa da pessoa para vocecirc saber o

tanto que ele queima [] um gordo queima muito mais raacutepido do que quem eacute magrordquo

Clarice completou ldquoAh mais tem um equiliacutebrio depois ele para com aquela queimaccedilatildeordquo

141

Taty pontuou ldquoeacute depende da taxa de gordura da taxa de massa muscular [] achei

fantaacutesticordquo

Aqui o leitor poderia questionar ou estar refletindo sobre a escolha do tema natildeo

pertencer diretamente agrave tradicional aacuterea de Engenharia nem a disciplinas especiacuteficas dos

cursos Contudo o tema perfaz a questatildeo da interdisciplinaridade e da transposiccedilatildeo das

fronteiras disciplinares e curriculares Imagine se nenhum engenheiro ou fiacutesico ou

matemaacutetico tivesse dedicado esforccedilos para o entendimento de processos e fenocircmenos

relacionados com a aacuterea da sauacutede atualmente natildeo teriacuteamos algum aparelho de raio X ou de

ressonacircncia magneacutetica Aleacutem disso a UNIFEI-Itabira oferece entre outros os cursos de

Engenharia da Sauacutede e Seguranccedila e Engenharia Ambiental Com a escolha desse tema

poderia acontecer ainda de estarmos buscando e efetivando de alguma maneira ainda que

impliacutecita o rompimento da encapsulaccedilatildeo de conteuacutedos relacionados com a aacuterea de

Engenharia de Sauacutede e Seguranccedila com os outros cursos oferecidos pela instituiccedilatildeo mediante

a transposiccedilatildeo de fronteiras e a formaccedilatildeo de redes ndash parcerias

Logo em seguida a aluna Taty nos contou que jaacute havia sido atleta e que corria 8

km e o aluno Joseacute nos contou que fazia trilha de bicicleta Eles ficaram realmente muito

interessados pelo tema proposto por mim Aleacutem deles a docente Clarice tambeacutem disse que

achou o tema oacutetimo ldquoachei o mais interessante delesrdquo

O docente Angel permaneceu desde o iniacutecio do encontro manuseando seu

computador portaacutetil e somente depois de 30 minutos de reuniatildeo o perguntei se ele havia

achado o tema interessante Ele pediu para eu repetir os temas ateacute entatildeo levantados e parece

preferir o problema do tracircnsito dizendo ldquotranquilo assim tem que ir laacute medir com o

cronocircmetro verificar ou seja tem um trabalho aiacute neacute de coleta de dados um pouco chata

durante uma semanardquo Ao perceber que todos os parceiros olharam para ela a aluna Taty

logo disse ldquoAh natildeo gente natildeo olha pra mim natildeo gente Tocirc fazendo um monte de coleta de

dados jaacute Me recuso cara [] Eu sento e leio 60 artigos se vocecircs quiserem faccedilo resumo de

todos pra vocecircs natildeo tocirc brincando Eu tocirc fazendo uma coleta gigantescardquo

Naquele momento estava estabelecido um dilema entre as idealizaccedilotildees de objetos

das atividades que pretendiacuteamos realizar Tratava-se de pensar elaborar num plano da

consciecircncia coletiva um resultado ideal ndash uma finalidade jaacute que ldquoo que se pretende obter

existe primeiro idealmente como mero produto da consciecircncia e os diversos atos do processo

se articulam ou estruturam de acordo com o resultado que se daacute primeiro no tempo isto eacute o

resultado idealrdquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 187) Ainda que o resultado real se

142

distancie do ideal trata-se de adequar intencionalmente o ideal ao real ainda que para isso

seja necessaacuterio se assemelhar pouco ou ateacute mesmo nada com a finalidade original

Nesse momento podemos perceber que por jaacute ter participado de programas de

iniciaccedilatildeo cientiacutefica na UNIFEI a aluna Taty demonstrou conhecer uma possiacutevel divisatildeo de

trabalho que pode ser adotada por alguns docentes orientadores nas atividades de iniciaccedilatildeo

cientiacutefica os alunos potildeem a matildeo na massa coletam dados fazem resumo de artigos entre

outras e os orientadores auxiliam na escrita dos relatoacuterios e na anaacutelise dos dados coletados

O posicionamento da aluna Taty de fato ldquoimpactourdquo nas decisotildees do grupo

Alterou modificou a atividade que naquele momento estava sendo idealizada por noacutes

coletivamente Como estavam participando das reuniotildees portanto do grupo apenas dois

estudantes como os docentes procederiam para coletar os dados para tratar do problema do

tracircnsito em Itabira Isso nos levou a deixar esse problema para ser tratado em outro momento

quando tivermos mais alunos para realizar as accedilotildees de coleta de dados

Com isso apoacutes debatermos mais um pouco definimos que a primeira questatildeo-

problema a ser tratada por noacutes seria o emagrecimento em termos de alimentaccedilatildeo e exerciacutecios

fiacutesicos Naquele momento estava traccedilado idealmente um resultado que orientaria as accedilotildees

do grupo uma finalidade entender a questatildeo problemaacutetica do peso corporal ideal isso

configurou uma atividade essencialmente da consciecircncia humana tomada em sua coletividade

por meio da negociaccedilatildeo e debate em que os sujeitos expotildeem seus pontos de vista e suas

idealizaccedilotildees oriundas de suas experiecircncias anteriores suas inquietaccedilotildees mediante as quais

concebem a realidade ainda inexistente mas jaacute traccedilada pela consciecircncia por meio da

idealizaccedilatildeo de seu objeto

Sendo assim ldquonatildeo se trata apenas de antecipaccedilatildeo ideal do que estaacute por vir mas

sim de algo que aleacutem disso queremos que venhardquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 191)

expressatildeo de uma necessidade humana socialmente incorporada que se configura como

causa das accedilotildees e ao mesmo tempo determina as accedilotildees presentes Contudo tal antecipaccedilatildeo

ideal do futuro natildeo implica necessariamente que desejamos de fato sua existecircncia real ou

sequer pretendamos contribuir para que assim seja Desejar uma atividade na realidade

requer sobretudo elencar uma finalidade estampada nas accedilotildees que devem ser realizadas para

tal fim Para isso eacute necessaacuterio entender que toda finalidade pressupotildee determinado

conhecimento da realidade que os sujeitos negam idealmente e dessa forma idealizam accedilotildees

em prol de um resultado tambeacutem idealizado

Com isso podemos analisar que devido ao entendimento de que a questatildeo do

peso corporal ideal dependia de alguns paracircmetros que poderiam ou natildeo ser levados em conta

143

decidiu-se por negar idealmente as formas presentes de entender tal questatildeo (como tiacutenhamos

entendido ateacute aquele momento) e partir para a produccedilatildeo coletiva de conhecimento O objetivo

portanto configurava-se pelas estrateacutegicas accedilotildees de abertura da caixa-preta do peso corporal

ideal

Naquele momento pontuei que ldquoum gordo queima muito mais raacutepido do que

quem eacute magrordquo Taty ponderou ldquoeacute depende da taxa de gordura da taxa de massa

muscularrdquo Tiacutenhamos portanto o conhecimento digamos inicial de que o peso influenciava

na queima de gordura proporcionada pelas atividades fiacutesicas mas como quantificar essa

influecircncia Estariam outros paracircmetros relacionados com tal influecircncia como por exemplo a

taxa de gordura ou a taxa de massa muscular Ou seja algum(ns) conhecimento(s) da

realidade estava(m) sendo negado(s) idealmente naquele momento o que fez emergir uma

finalidade para orientar nossas accedilotildees

Estaacutevamos dispostos a entender essa questatildeo problemaacutetica buscando informaccedilotildees

incorporando variados instrumentos que possibilitassem o acesso a apropriaccedilatildeo e a produccedilatildeo

de conhecimentos relacionados ao peso corporal ideal perseguindo sempre o objetivo que

segue mediante alteraccedilotildees na alimentaccedilatildeo e nos exerciacutecios fiacutesicos como quantificar

mudanccedilas no peso corporal com vistas a alcanccedilar efetivamente o peso corporal ideal Por se

tratar de quantificaccedilotildees tiacutenhamos naquele momento o conhecimento de que algum

instrumento matemaacutetico seria necessaacuterio para alcanccedilarmos o objetivo estabelecido poreacutem

natildeo sabiacuteamos de antematildeo qual(is) instrumento(s) seria(m) esse(s) e como ele(s) nos

ajudaria(m) nessa atividade

Sabiacuteamos por exemplo que o iacutendice de massa corporal (IMC) representado por

uma equaccedilatildeo matemaacutetica130

eacute considerado o mesmo para homens e mulheres

independentemente da idade Mas suspeitaacutevamos que um homem de 80 anos perdesse peso

de forma diferente que uma mulher de 18 anos considerando mudanccedilas na alimentaccedilatildeo e nos

exerciacutecios fiacutesicos Mas qual seria essa diferenccedila Como ela poderia ser quantificada Tais

questionamentos abarcavam o objetivo explicitado anteriormente ao decidirmos dedicar

esforccedilos no entendimento da problemaacutetica questatildeo do peso corporal ideal

Depois disso o docente Angel que permaneceu manuseando seu computador

portaacutetil navegando na internet convidou-nos para submetermos um projeto ao CNPq pois

havia um edital aberto sobre relaccedilotildees de gecircnero e trabalho e aiacute poderiacuteamos elaborar o projeto

para pesquisar as relaccedilotildees de gecircnero e trabalho na aacuterea de Engenharia Contou-nos que

130

119868119872119862 =119901119890119904119900

1198861198971199051199061199031198862

144

poderiacuteamos dar bolsas aos alunos no valor de R$ 400 A aluna Taty exclamou ldquoNossa que

lindo Que belezardquo

Angel disse que teriacuteamos que realizar uma ldquoforccedila tarefa urgenterdquo porque o prazo

seria ateacute o dia 14 daquele mecircs (ou seja teriacuteamos apenas seis dias para construir o projeto)

Taty disse que tinha o projeto escrito sobre gecircnero e somente teriacuteamos que adaptaacute-lo para a

aacuterea da Engenharia Decidimos por lutar contra o tempo e escrever esse projeto para a

submissatildeo131

Vale ressaltar que ainda que possa parecer estranho natildeo percebi naquele

momento qualquer inadequaccedilatildeo sobre o que o grupo havia coletivamente decidido fazer Na

verdade mesmo que suspeitasse que o CNPq natildeo fosse aprovar o referido projeto visualizei

tal elaboraccedilatildeo como uma possibilidade de aprendizagem para os sujeitos engajados Uma

anaacutelise mais pontual que se refere a tal construccedilatildeo seraacute tecida mais adiante nesta tese

Finalizamos a reuniatildeo combinando as tarefas que cada um desenvolveria durante a

semana para que no proacuteximo encontro pudeacutessemos continuar trabalhando focados no

projeto a ser submetido no CNPq e tambeacutem na problemaacutetica ldquofoacutermula da sauacutederdquo Deliberamos

que cada um dos integrantes ficaria responsaacutevel por ler dois artigos sobre a questatildeo do

emagrecimento considerando alimentaccedilatildeo e exerciacutecios fiacutesicos como paracircmetros

41513 Terceiro encontro

O terceiro encontro do GEPMM ocorreu em 13112012 (terccedila-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel Clarice e Robson dos estudantes Joseacute Pedro e Taty e

com a minha participaccedilatildeo desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e

pesquisadora

Como esse encontro ocorreu na terccedila-feira natildeo tiacutenhamos sala reservada para nos

reunirmos Entatildeo comeccedilamos o encontro em uma sala e em poucos minutos descobrimos que

a sala estava reservada para uma aula Sem termos lugar para nos reunirmos a convite do

professor Robson fomos para um amplo laboratoacuterio de eleacutetrica onde estava ocorrendo em

paralelo ao nosso encontro uma aula de eletricidade praacutetica Depois de chegarmos agrave sala a

cacircmera que foi utilizada para realizar as gravaccedilotildees em aacuteudio e viacutedeo inesperadamente

131

E o submetemos na data limite ndash dia 14 de novembro de 2012 Contudo o CNPq natildeo o aprovou O parecer

questionou sobre a aacuterea de atuaccedilatildeo dos docentes que iriam executaacute-lo

145

interrompeu as filmagens Por esse motivo o relato desse encontro se baseia em alguns

minutos de gravaccedilatildeo em aacuteudio e viacutedeo e nas anotaccedilotildees em caderno de campo

Comeccedilamos o encontro discutindo o artigo132

de Scagliusi e Lancha Juacutenior

(2005) que trata do gasto energeacutetico por meio da teacutecnica da ldquoaacutegua duplamente marcadardquo

Nesse artigo no QUADRO 1 os autores apresentam alguns modelos matemaacuteticos que satildeo

utilizados para o caacutelculo do gasto energeacutetico segundo a teacutecnica da aacutegua duplamente marcada

Percebemos que nas equaccedilotildees denominadas pelos autores por ldquofoacutermulas matemaacuteticasrdquo

contidas no referido quadro alguns valores (constantes) natildeo ficam claros pra noacutes isto eacute os

valores aparecem nas foacutermulas contudo a razatildeo do aparecimento natildeo eacute explicitada no texto

Por exemplo o que significa o valor 3044 ou 1104 na equaccedilatildeo 3 Ou ainda 081 ou 067 na

equaccedilatildeo 4 Natildeo conseguimos encontrar respostas para esses questionamentos no referido

artigo e decidimos apoacutes a reuniatildeo ir agrave busca de alguns artigos referenciados nele como por

exemplo Weir (1949) e Black Prentice e Coward (1986)

Ainda durante a discussatildeo do artigo Scagliusi e Lancha Juacutenior (2005) na paacutegina

542 nos deparamos com um termo fiacutesico-quiacutemico ndash o deuteacuterio Nunca ouvi falar sobre esse

conceito nem o docente Angel nem a docente Clarice A partir dessa duacutevida os alunos Joseacute e

Pedro nos esclareceram com propriedade sobre o que se baseava esse conceito Joseacute e Pedro

utilizaram instrumentos da oralidade que ecoavam vozes oriundas de discursos da fiacutesico-

-quiacutemica escolar (discurso didaacutetico pedagoacutegico) que provavelmente eles haviam tido

acessointeragido durante formaccedilatildeo escolar em niacutevel meacutedio e que estavam guardadas em suas

memoacuterias

Naquele momento podemos perceber ainda que ocorreu uma inversatildeo de papeacuteis

entre alunos e professores noacutes professores aprendemos com os alunos e eles alunos nos

ensinaram Por meio de interaccedilotildees mediadas pela oralidade (linguagem falada) todos noacutes

sujeitos da atividade passamos a ter acesso a informaccedilotildees relacionadas ao deuteacuterio que

estariam suportadas na memoacuteria dos alunos e teriam sido acessadas naquele momento com o

intuito de suprir a necessidade de que todos compartilhassem desse saber Isso somente se

tornou possiacutevel pois aceitamos o convite de formarmos uma parceria de aprendizagem entre

alunos e professores o que nos tira da zona de conforto em que haacute predomiacutenio de controle e

previsibilidade e nos coloca na zona de risco na qual incertezas e imprevisibilidades

imperam (BORBA PENTEADO 2001)

132

Encontrado por mim a partir de buscas na internet e anteriormente ao encontro compartilhado com os demais

parceiros no grupo ldquovirtualrdquo da Modelagem Unifei Itabira na rede social Facebook

146

Naquele encontro a questatildeo do peso corporal ideal ainda estava digamos

nebulosa para noacutes nossas accedilotildees e idealizaccedilotildees eram realizadas mediante negociaccedilatildeo e

interaccedilatildeo com os (instrumentos) que tiacutenhamos em matildeos ndash o artigo estudado no qual

encontramos a QUADRO 1 ndash por meio de habilidades de leitura e interpretaccedilatildeo (linguagem

escrita que inclui a linguagem matemaacutetica escrita) e nossa corporeidade ndash possibilitou

interaccedilotildees por meio de habilidades de debater discutir e interagir uns com os outros

(linguagem falada que inclui a linguagem Matemaacutetica falada e gestos)

QUADRO 1 ndash ldquoEquaccedilotildees utilizadas para o caacutelculo do gasto energeacutetico (GET) segundo a teacutecnica da aacutegua

duplamente marcadardquo

Fonte SCAGLIUSI LANCHA JUacuteNIOR 2005 p 543

Finalizamos a reuniatildeo deliberando que em casa leriacuteamos com calma os artigos

Weir (1949) e Black Prentice e Coward (1986) citados no artigo de Scagliusi e Lancha

Juacutenior (2005)

147

41514 Quarto encontro

O quarto encontro do GEPMM ocorreu em 22112012 (quinta-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice e com a minha participaccedilatildeo

desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e pesquisadora133

Comeccedilamos o encontro discutindo o artigo de Weir (1949) Observamos que esse

artigo eacute bem antigo Angel com o artigo impresso em matildeos apontou para o artigo e disse

ldquoagora tem que ver como que interpreta essas questotildees analisa porque agraves vezes vai entrar

em aacutereas assim mais complexas que a gente poderaacute natildeo entenderrdquo Respondi a ele ldquoIsso eu

tambeacutem jaacute consegui perceber Angel Por isso eu tocirc pensando para este tema a gente tentar

arrumar um nutricionista neacute porque ele jaacute taacute na aacuterea pra ele ajudar a gente a entender O

que vocecircs acham da ideiardquo E Angel respondeu

Ah eacute bacana porque querendo ou natildeo agindo dessa forma a gente taacute [] gerando

interdisciplinaridade neacute Porque a gente taacute pegando professores da matemaacutetica

professores da matemaacutetica mais pura professores da matemaacutetica mais aplicada

pessoas da aacuterea de nutriccedilatildeo Entatildeo eacute um ambiente bem [interdisciplinar]

A professora Clarice tambeacutem se manifestou favoraacutevel agrave integraccedilatildeo de uma

nutricionista a nossa rede de aprendizagem Seguimos com as discussotildees sobre o artigo de

Weir (1949) em que pontuei

a gente vecirc um ldquosisteminhardquo linear aqui de cara Que eacute o que ele [o autor] deve ter

estudado Taacute vendo Entatildeo assim vamos ter que entender porque eacute daqui que

surgem aqueles nuacutemeros que estatildeo laacute naquelas outras equaccedilotildees [me refiro ao artigo

de Scagliusi e Lancha Juacutenior (2005)] [] igual aqui [aponto para a tela do meu

computador portaacutetil onde leio o artigo de Weir (1949) na tela] ele taacute usando

carboidratos a proteiacutena e a gordura [] talvez a gente possa fazer tentar fazer

uma modelagem mais precisa do metabolismo porque vocecircs lembram [] a

questatildeo do metabolismo basal que eacute aquela coisa do repouso seu organismo taacute

gastando a questatildeo da alimentaccedilatildeo que vocecirc taacute acrescentando e do que vocecirc gasta

com as coisas do natildeo repouso neacute entatildeo satildeo essas trecircs categorias que a gente teria

que analisar pra poder eacute achar essa foacutermula que a gente quer ndash este modelo Entatildeo

num primeiro momento estamos estudando essa questatildeo que eacute do metabolismo

basal que ele tem a ver tambeacutem com o que vocecirc taacute comendo Taacute vendo que aiacute jaacute taacute

misturando essas duas coisas neacute Que tem a ver com o oxigecircnio que tem a ver com

133

Os estudantes Joseacute Pedro e Taty natildeo puderam participar justificando excesso de trabalhos e estudos

acadecircmicos Tambeacutem justificando o mesmo motivo natildeo participaram dos demais encontros (quinto sexto

seacutetimo oitavo nono e deacutecimo) Uma anaacutelise mais pontual sobre esse acontecimento seraacute realizada mais adiante

nesta tese no Capiacutetulo 6 mais especificamente na modalidade analiacutetica descrita em 62

148

o gaacutes carbocircnico que vocecirc libera que eacute aquela questatildeo da maacutescara que o aluno

falou neacute na aula passada entatildeo essa coisas elas se misturam neacute

Questionei tambeacutem a metodologia do estudo realizado por Weir (1949)

apontando que os alimentos da eacutepoca eram outros as gorduras consumidas antes eram em

sua maioria oriundas de fontes animais hoje em dia as gorduras vecircm de fontes vegetais E

qual seria o impacto dessa mudanccedila na vida das pessoas Coincidentemente aliado a isso o

nuacutemero de casos de cacircncer tem crescido de forma assustadora

E continuei falando ldquopois eacute eu tocirc pensando [] numa questatildeo aqui relacionada

laacute a nebulosos [Teoria Fuzzy] porque [] se cada um desses paracircmetros aiacute gordura tipos de

alimentos e tudo mais cecirc tem uma certa variabilidade natildeo temrdquo Angel e Clarice

responderam que sim e Angel esclareceu

Entatildeo vocecirc poderia tratar com aquela parte laacute daqueles agrupamentos neacute onde

aqui vocecirc tem o centro e a variabilidade [aponta com uma matildeo representando o

centro e a outra se movimenta em volta] [] e vocecirc jaacute gerar os agrupamentos e

encontrar um modelo nebuloso para o metabolismo humano [] A gente jaacute tem que

pensar alto a gente tem que pensar em publicaccedilatildeo [risos]

Clarice concordou ldquoIsso aiacuterdquo seguiu nos contando que pensou em um problema

para ser colocado na lista de problemas a serem trabalhados no grupo Vale ressaltar que

Clarice ateacute entatildeo natildeo havia em nenhum momento se posicionado com algum

questionamento que pudesse vir a ser trabalhado no grupo Nas palavras dela

Eu queria fazer uma pesquisa eacute pegar os preccedilos eacute o custo de vida hoje e o salaacuterio

miacutenimo atual eacute o preccedilo de alimentaccedilatildeo eacute passagem de ocircnibus o valor do

combustiacutevel [] e ver como que vai taacute isso daqui a 2 anos [] tenho certeza que vai

dar uma diferenccedila boa com relaccedilatildeo ao salaacuterio miacutenimo neacute [] Isso explica neacute na

minha leiga opiniatildeo a violecircncia gente Natildeo tem como As pessoas natildeo tatildeo

conseguindo viver mais com um salaacuterio miacutenimo [] eu tenho muito interesse nisso

Interesse de indignaccedilatildeo mesmo

Angel e eu gostamos dessa proposta de Clarice e a colocamos na lista de

questotildees-problema do grupo Encerramos o encontro deliberando os estudos em casa ler em

profundidade de entendimento o artigo de Weir (1949)

No dia 29112012 comecei uma conversa com uma docente do Departamento de

Nutriccedilatildeo da Universidade Federal de Outro Preto (UFOP) Convidei-a para participar das

discussotildees do grupo sobre o tema ldquofoacutermula da sauacutederdquo mesmo que apenas virtualmente por

meio das redes sociais ou por outro meio de comunicaccedilatildeo a distacircncia Ela aceitou o convite e

passou assim a ser uma parceira em nossos esforccedilos coletivos

149

No dia 01ordm122012 a docente da UFOP nos indicou um livro134

que pode ser

acessado na internet No mesmo dia compartilhei com os demais parceiros o link no grupo

Modelagem Unifei Itabira na rede social Facebook

41515 Quinto encontro

O quinto encontro do GEPMM ocorreu em 06122012 (quinta-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel e Robson e com a minha participaccedilatildeo

desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e pesquisadora

No iniacutecio da reuniatildeo Angel justificou a ausecircncia de Clarice com o fato de ela ter

que se empenhar em um trabalho a ser entregue ainda naquela semana ao professor da

disciplina que eles (Angel e Clarice) cursavam como alunos natildeo regulares do programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Engenharia Eleacutetrica na UFMG

Comentei com os parceiros que o livro digital que a docente da UFOP nos indicou

poderia nos ajudar na resoluccedilatildeo do problema do peso corporal ideal No mesmo site encontrei

vaacuterios artigos e livros interessantes Com o auxiacutelio de um pen-drive compartilhei o arquivo

digital que continha o livro com os parceiros Angel e Robson pois eles ainda natildeo o tinham

A seguir descrevo uma interaccedilatildeo entre noacutes ao discutirmos o livro que a docente

do Departamento de Nutriccedilatildeo da UFOP nos indicou

Eu Cecirc lembra um dia que a gente colocou o peso da pessoa ele influencia na

atividade [fiacutesica] Olha pra vocecirc ver que interessante tem um graacutefico na paacutegina

891 que ele [o autor] coloca ndash atividade fiacutesica coloca as quilocalorias gastas por

hora e coloca o gasto da pessoa Ele coloca o impacto do peso no gasto de energia

neacute Nas velocidades 234 ou 5 Agora qual atividade eacute essa Entatildeo a gente podia

partir desses dados que estatildeo aqui por exemplo talvez fixando em um capiacutetulo ou

outro

Angel aqui eacute caminhando

Eu eacute caminhando Taacute vendo que interessante eu acho assim interessantiacutessimo

isso Agora cecirc vecirc que tudo aqui eacute linear neacute Seraacute que daria pra gente pegar esses

mesmos dados e tentar trata-los de outra maneira Taacute vendo oh cecirc caminhar na

velocidade 2 se vocecirc tiver 60 kg cecirc vai queimar 150 calorias mas se vocecirc tiver 130

kg cecirc vai queimar 300 e tantas calorias [] ele [o autor] colocou homens e

mulheres

Robson de repente natildeo tem tanta diferenccedila homens e mulheres

Eu tem pior eacute que tem

Robson [em tom surpreso] tem Tem

134

Livro intitulado Dietary reference intakes for energy carbohydrate fiber fat fatty acids cholesterol

protein and amino acids (macronutrients) Disponiacutevel em ltwwwnapeducatalogphprecord_id=10490gt

150

Eu por exemplo o consumo de proteiacutenas em homens e mulheres ele eacute assim

assustador menos A mulher precisa consumir bem menos proteiacutenas do que o

homem

Robson seacuterio Incriacutevel heim Bem interessante

Eu laacute na paacutegina 893 ele divide soacute pro homem Esse ldquomrdquo aiacute eacute minuto () aiacute depois

ele coloca o das mulheres Olha como eacute diferente Robson

Robson humhum Aiacute eu fico pensando como eacute que ele tirou esses valores Neacute

Tem duas possibilidades ou ele tira da pessoa ali fazendo o tal exerciacutecio eacute

coletando assim as perdas de calor aquela coisa de taacute numa cacircmara fechada e tal

mas eu acho que de repente pegou um enfoque teoacuterico que eacute a queimadas calorias

por meio das reaccedilotildees que gerariam o ciclo de KREBS que eacute a queima de toda

energia eu noacutes temos nas ceacutelulas [] No nosso corpo tem dois processos baacutesicos o

catabolismo e o anabolismo Os processos metaboacutelicos levam a duas coisas no

catabolismo o alimento que vocecirc come ele tende a construir outras coisas por

exemplo massa muscular eacute construir tecidos e depois tem o anabolismo que vocecirc

tem processos que tendem a gerar energia e gerar subprodutos

Eu Angel Robson esse mph seria o ritmo a velocidade [apontando para o livro

em arquivo aberto na tela do meu computador portaacutetil] Olha que chique Robson

ele coloca para vaacuterias atividades voleibol andando 2 mph taacute vendo ele tem a

velocidade esse mph ndash aeroacutebica tecircnis ciclismo moderado

Em busca de mais informaccedilotildees sobre a problemaacutetica nos dirigimos agrave paacutegina 900

do mesmo livro na qual encontramos algumas tabelas explicativas Observando as tabelas

comecei a socializar com os parceiros uma seacuterie de ideias sobre a questatildeo perseguida por noacutes

como segue

O que eu pensei de iniacutecio era a gente criar uma equaccedilatildeo que vocecirc daacute de entrada a

atividade que vocecirc estaacute fazendo tipo assim como se vocecirc pudesse fazer uma

medida de tudo o que vocecirc faz ao longo de uma semana [] pra conseguir fazer um

cronograma do que fazer em termos de atividade fiacutesica e do que comer em termos

de alimentaccedilatildeo pra te dar um resultado que vocecirc jaacute queira Soacute que isso a gente taacute

vendo depende de vocecirc ser homem depende de vocecirc ser mulher depende de seu

peso taacute vendo tem vaacuterios [] porque assim quando a gente vai num

nutricionista eles te datildeo uma foacutermula como se todo mundo fosse igual entendeu

E aiacute pelo o que eu tocirc vendo aqui principalmente com esse livro [] eacute que cada

pessoa depende do peso da idade depende do seu gecircnero e depende da sua altura

neacute essas variaacuteveis satildeo as miacutenimas pra vocecirc ter uma foacutermula []

Apoacutes o compartilhamento dessas ideias Angel se mostrou bem animado e

acrescentou ldquomas a gente pode fazer um software pra fazer isso uai [] primeira coisa que a

gente tem que fazer eacute levantar todas as equaccedilotildees que me datildeo essa resposta e depois a partir

dessas equaccedilotildees chegar em talvezrdquo

Em seguida seguimos discutindo e interagindo como segue

Eu Na verdade vai dar um sistema Vai dar um sistema de interdependecircncia aqui

[aponto para trecircs lugares distintos na mesa como se representassem trecircs lsquocaixinhasrsquo]

[] as variaacuteveis peso altura gecircnero e idade na verdade elas natildeo vatildeo ser variaacuteveis

elas vatildeo ser uma constante ou seja ela eacute variaacutevel do ponto de vista de cada um

[cada pessoa] mas para a foacutermula ela vai ser uma constante [] aiacute a gente coloca

essa variaacuteveis soacute com coeficientes da equaccedilatildeo

151

Robson nossa vocecirc eacute show de bola heim

Angel tem alguma equaccedilatildeo aiacute [no livro] jaacute pronta

Eu natildeo nenhuma pronta

Robson mas essa abordagem vai facilitar a montagem da equaccedilatildeo

Eu inclusive perguntei agrave docente da UFOP e ela falou que eacute isso aqui que a gente

tem entendeu Eacute isso e natildeo tem nada aleacutem disso entendeu

Angel hoje isso daqui [o livro] entatildeo eacute o supra sumo do que tem sobre isso

Eu exatamente eacute o resumo de tudo o que se tem entendeu Que eacute o que eles

[nutricionistas] se apoiam mesmo eacute nesse livro Vamos tentar achar a questatildeo da

taxa de [] porque todos os trecircs satildeo energias neacute Tipo assim melhorando esse

modelo baacutesico seria o tanto de atividade fiacutesica ou seja o gasto caloacuterico porque

na verdade essas trecircs coisas satildeo energias tanto do alimento que eacute energia que

entra quanto do exerciacutecio que eacute uma energia que sai desse sistema e o basal

tambeacutem eacute uma energia que vai taacute sendo gasta Vamos tentar equacionar como se

fosse assim o gasto energeacutetico a taxa de energia natildeo importando se ela eacute uma

taxa positiva ou uma taxa negativa O quecirc que vocecircs acham

Robson razoaacutevel

Eu porque se a gente coloca assim as trecircs equaccedilotildees como taxas de energia neacute eacute

claro que elas vatildeo se alterar neacute uma vai ser sei laacute P a outra Q a outra R

Angel Taacute mais aiacute se vocecirc pensar na questatildeo de classe jaacute tem que pensar no que

vocecirc taacute querendo vincular edo pra depois encontrar o resto eacute essa que eacute a sua

ideia Aiacute cecirc teria que pensar qual seria a antiderivada dessa taxa relacionada a

essa parte de dieta porque laacute na parte de fiacutesica de Caacutelculo a gente sabe o quecirc que

estaacute relacionado com o quecirc agora nessa parte daqui eu jaacute natildeo sei [risos]

Eu entatildeo a gente vai ter que buscar nos dados que a gente jaacute tem mapeados nesse

livro por exemplo Talvez a gente pudesse comeccedilar com a terceira que eacute a parte da

atividade fiacutesica entendeu [] eu natildeo sei se vai dar pra ser uma edo bonitinha ou

se na verdade isso daiacute eacute um trem nebuloso entendeu Porque cada um vai se

subdividindo entre outros e outras

Com essas informaccedilotildees em matildeos decidimos por aceitar e acatar o que nos foi

informado pela docente do Departamento de Nutriccedilatildeo da UFOP Segui criticando a

ldquopadronizaccedilatildeordquo das consultas de nutricionistas e educadores fiacutesicos ldquovocecirc vai consulta faz

tudo o que o profissional te falou e natildeo vecirc resultados Qual o problemardquo

Encerramos o quinto encontro deliberando que deveriacuteamos ler com mais

profundidade o livro indicado pela docente da nutriccedilatildeo

Depois disso na manhatilde do dia 17122012 veacutespera do sexto encontro do

GEPMM na sala dos professores da instituiccedilatildeo em que leciono ao folhear uma revista

chamada Caacutelculo (ano 2 nuacutemero 20 setembro de 2012 editora segmento) li a seguinte frase

na parte inferior da capa ldquoEXTRA EMAGRECER DEMORA TREcircS ANOSrdquo Na mateacuteria

da revista obtive a seguinte informaccedilatildeo

Carson e Kevin dois cientistas americanos descobriram que o corpo reage aos

novos haacutebitos alimentares de modo exponencial (mais ou menos do tipo 119890minus119909)

Quanto maior o peso de Ivan [uma personagem da mateacuteria] mais depressa ele perde

peso ao comeccedilar uma nova dieta a perda de peso desacelera bastante ndash quanto mais

peso Ivan perde mais devagar ele perde peso (o mesmo vale para ganhar peso uma

pessoa gorda se ingerir 10 calorias desnecessaacuterias engordaraacute mais que uma pessoa

magra) O modelo matemaacutetico dos dois cientistas usa um grande nuacutemero de

variaacuteveis para ver como o corpo deve comportar incluindo altura sexo peso grau

152

de atividade fiacutesica ingestatildeo de calorias perfil dos alimentos ingeridos tempo entre

as refeiccedilotildees O problema eacute que tal modelo serve bem para cientistas e

nutricionistas mas natildeo serve para pessoas comuns [] Os dois pesquisadores

colocaram um simulador no portal do NIH que pode ser usado tanto por

nutricionistas quanto por pacientes (httpbwsimulatorniddknihgov) [] Ele

mostra graacuteficos tambeacutem (p 29 grifo meu)

Ao chegar em casa imediatamente acessei o site

httpbwsimulatorniddknihgov para tentar entender o que os pesquisadores fizeram desde

o iniacutecio percebi que o que eles fizeram convergia bem com as nossas ideias

Imediatamente apoacutes acessar o site compartilhei essas informaccedilotildees com os demais

parceiros do grupo incluindo a docente135

do Departamento de Nutriccedilatildeo da UFOP

41516 Sexto encontro

O sexto encontro do GEPMM ocorreu em 18122012 (terccedila-feira) e contou com a

participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice e com a minha participaccedilatildeo desempenhando duplo

papel ndash participante do grupo e pesquisadora

Comecei o encontro contando para os parceiros como tive acesso a essa nova

fonte de informaccedilotildees conforme jaacute relatado acima Pegamos meu computador portaacutetil e

acessamos o site httpbwsimulatorniddknihgov em busca de reconhecer as potencialidades

deste (incriacutevel) novo instrumento Nisso comeccedilamos a seguinte interaccedilatildeo

Eu Ela [a docente da UFOP] me explicou o seguinte a pessoa quando faz o

exerciacutecio fiacutesico [] o exerciacutecio fiacutesico altera o metabolismo basal que eacute aquele de

repouso ele vai acelerar o metabolismo basal e aiacute agraves vezes vamos supor que a

pessoa comeccedila a fazer uma dieta ela comia 2500 calorias por dia passa pra 2000

ou seja o organismo dela tava acostumado com 500 calorias a mais Na teoria

assim que natildeo eacute a teoria de verdade a gente ia achar que essa pessoa vai

emagrecer

Clarice Mas eu juro que vai emagrecer Natildeo me desmente [risos]

Eu Natildeo vai emagrecer necessariamente Por quecirc Porque seu organismo ele vai

lutar pra manter a gordura porque isso eacute uma questatildeo de sobrevivecircncia do

organismo Entatildeo o organismo vai fazer o quecirc Ele vai comeccedilar a economizar o

seu gasto [] enquanto mais muacutesculos a pessoa tem mais eacute o gasto [] e tem mais

vamos supor vocecirc passou de 2500 para 2000 natildeo emagreceu e desistiu da dieta aiacute

135

A referida docente natildeo faz parte dos sujeitos que constituem os dados construiacutedos para a presente pesquisa

apesar de ter participado na resoluccedilatildeo da modelagem do peso corporal ideal Decidi natildeo consideraacute-la como

sujeito por natildeo ser uma participante do contexto formativo analisado ndash formaccedilatildeo em Engenharias Na atividade

de Modelagem analisada nesta parte da tese a docente pode ser considerada como uma fonte externa de

informaccedilotildees

153

vocecirc volta a comer 2500 aiacute vocecirc vira uma baleia Porque ele [o organismo]

acostumou a viver com 2000

Angel Efeito ldquoreboterdquo

Eu Pra engordar eacute exponencial [] Como de fato o exerciacutecio impacta no

metabolismo com o passar do tempo Ela [a docente da UFOP] natildeo soube me dar

essa resposta []

Clarice Eacute mais ou menos assim olha vocecirc fez regime emagreceu passe o resto da

vida fazendo exerciacutecio e regime

Eu Exatamente isso

Com essa afirmaccedilatildeo compreendemos melhor a problemaacutetica estudada por noacutes

Em seguida pontuo que no httpbwsimulatorniddknihgov os pesquisadores

oferecem um campo de resultados para a questatildeo da ldquodieta de manutenccedilatildeordquo jaacute levando em

conta esse entendimento de que satildeo necessaacuterias adaptaccedilotildees permanentes na dieta para manter-

-se com o peso desejado o que muitas vezes pode ser conhecido como ldquoreeducaccedilatildeo

alimentarrdquo

Encerramos o encontro deliberando que precisaacutevamos estudar as equaccedilotildees que

estavam por traacutes ou ldquodentrordquo do software que compilava os resultados no site

httpbwsimulatorniddknihgov Tais equaccedilotildees podem ser encontradas no mesmo site ou

pelo link httpbwsimulatorniddknihgovHall_Lancet_Webappendixpdf

41517 Seacutetimo encontro

O seacutetimo encontro do GEPMM ocorreu em 07022013 (quinta-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice e com a minha participaccedilatildeo

desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e pesquisadora

A docente Clarice comeccedilou a reuniatildeo tecendo o seguinte comentaacuterio ldquoO que eu

acho interessante eacute que quando vocecirc propocircs o tema eu natildeo me animei tanto nem o Angel

quanto os alunosrdquo A docente reclamou da natildeo participaccedilatildeo dos alunos que inicialmente

mostraram-se interessados e depois foram deixando de participar totalmente do grupo

Nesse seacutetimo encontro tentamos discutir136

detalhadamente conceitos e modelos

presentes no artigo que diz respeito agrave Modelagem Matemaacutetica Dinacircmica do peso corporal137

Contudo natildeo conseguimos entendecirc-lo em sua totalidade e entatildeo combinamos de sozinhos

136

Tal discussatildeo seraacute mais bem relatada e analisada mais adiante neste mesmo capiacutetulo 137

O texto pode ser encontrado em httpbwsimulatorniddknihgovHall_Lancet_Webappendixpdf

154

em casa estudarmos o artigo e depois num proacuteximo encontro socializarmos nossos

entendimentos com os demais sujeitos do grupo

41518 Oitavo encontro

O oitavo encontro do GEPMM ocorreu em 16042013138

(terccedila-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice e com a minha participaccedilatildeo

desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e pesquisadora

Anteriormente ao oitavo encontro a docente Clarice havia manifestado desejo em

desenvolver atividades de Modelagem Matemaacutetica nas turmas da disciplina Caacutelculo II que ela

lecionava naquele semestre letivo Contudo percebi que ela se sentia ainda insegura quanto

ao desenvolvimento de tal atividade devido ao fato de as turmas serem compostas por 75

alunos ela temia que os alunos pudessem ter dificuldades de realizaccedilatildeo da atividade visto

que apenas um professor natildeo daria conta de auxiliar 75 alunos de uma soacute vez Sabendo desse

desejo de Clarice comecei a reuniatildeo com o objetivo de idealizarmos as accedilotildees necessaacuterias para

tal efetivaccedilatildeo na realidade da sala de aula das turmas de Caacutelculo II sob a responsabilidade de

Clarice e Angel Segue o trecho extraiacutedo da transcriccedilatildeo das gravaccedilotildees em aacuteudio e viacutedeo do

oitavo encontro

Eu Bom antes de a gente comeccedilar a discutir o artigo em si [que havia sido

estudado no encontro anterior e seria retomado neste] eu queria falar das coisas

extras extra artigo no momento Primeiro eacute a proposta da Clarice sobre a gente

fazer a modelagem no dia 30 na sala [de aula]

Clarice Natildeo No dia 30 fazer na sala natildeo no dia 30 preparar ela pra fazer

Eu Preparar eacute a partir do dia 30 pra depois do dia 30 laacute pelo final de maio

Angel Seria a Modelagem em Caacutelculo II

Clarice Eacute Na minha sala e na sua como um trabalho e a Rutyele vai nos ajudar

Nesse momento podemos perceber um ldquogeacutermemrdquo de atividade sendo elaborado

um novo objeto sendo traccedilado e esboccedilado ainda num plano da consciecircncia coletiva dos

sujeitos partiacutecipes Podemos analisar que os docentes estavam em busca de transformaccedilotildees

efetivas de suas atividades de ensino dentro da sala de aula As discussotildees do grupo as

leituras as interaccedilotildees mediadas por finalidades podem ter suscitado a necessidade de negar

138

O mecircs de marccedilo foi de feacuterias para os docentes e discentes da UNIFEI devido agrave greve histoacuterica da categoria

docente das universidades federais brasileiras ocorrida no ano de 2012 Dessa forma somente no dia 16 de abril

conseguimos nos reunir novamente

155

de alguma forma as praacuteticas presentes dentro da sala de aula e propor uma nova forma de

atividade um contexto alternativo que idealmente modificaria o objeto das aulas tradicionais

das disciplinas de Caacutelculo naquele periacuteodo (especificamente da disciplina Caacutelculo II) A

negaccedilatildeo se deve ao fato de que ldquose o homem aceitasse sempre o mundo como ele eacute e se por

outro lado aceitasse sempre a si mesmo em seu estado atual natildeo sentiria a necessidade de

transformar o mundo nem de transformar-serdquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 192)

Um novo e expandido objeto estava por ser configurado Tiacutenhamos um contexto

real a ser considerado a realidade da disciplina de Caacutelculo II a ementa da disciplina a cultura

jaacute definida pela praacutetica tradicional de ensino de Caacutelculo II o tempo delimitado para a

realizaccedilatildeo das atividades entre outros fatores Enfim o objeto do scholl-going estaria

convivendo com esse novo objeto que naquele momento estava sendo moldado

coletivamente Mas com qual finalidade estaacutevamos moldando este novo objeto Por um lado

devemos considerar o fato de que ldquoa relaccedilatildeo entre pensamento e accedilatildeo requer a mediaccedilatildeo das

finalidades que o homem se propotildeerdquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 192) Por outro lado

para que as finalidades natildeo fiquem limitadas a meros desejos ou fantasias se torna necessaacuteria

antes de qualquer coisa a realizaccedilatildeo de idealizaccedilotildees de forma a conhecer a priori o objeto

que orientaria as ldquoaccedilotildeesrdquo da atividade antes mesmo de ele se tornar real ou seja isso requer

ldquoum conhecimento de seu objeto dos meios e instrumentos para transformaacute-lo e das

condiccedilotildees que abrem ou fecham as possibilidades dessa realizaccedilatildeordquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ

1977 p 192) Nesse sentido continuamos com as idealizaccedilotildees do novo objeto

Angel Sim Taacute mais aiacute essa modelagem eacute com base no conteuacutedo de Caacutelculo II e

Seacuteries

Clarice Natildeo O tempo todo

Angel Modelagem geneacuterica qualquer coisa

Eu Eacute Qualquer coisa

Clarice Eacute porque agraves vezes a gente acha mais interessante algum que envolva

campos ou equaccedilotildees diferenciais

Angel Taacute mais aiacute essa proposta vai ser pra eles fazerem durante o resto do

semestre

Clarice Natildeo a gente vai fazer em uma das aulas

Eu Em duas aulas no maacuteximo Fazer algo simples Levar um probleminha bem

simples do mundo real e que eles faccedilam Aiacute se vocecircs quiserem depois que isso ah

natildeo a gente quer gastar uma semana ou um mecircs aiacute a gente pode pensar em algo

com esta duraccedilatildeo entendeu

Clarice Natildeo daacute pra gastar um mecircs natildeo Toma muita aula Eu acho [risos]

Eu Eacute Tem esse problema

Observemos que naquele momento um dilema potencialmente incorporado veio

agrave tona como propor atividades de Modelagem Matemaacutetica em salas de aula da disciplina de

Caacutelculo II em cursos de Engenharia e ao mesmo tempo cumprir a ementa da disciplina

156

Adicione ainda o fato de ser a primeira vez que os professores participariam de atividades de

modelagem em sala de aula Nesse dilema os professores continuam realizando idealizaccedilotildees

em busca de um novo objeto que estaria relacionado ao objetivo de ensinar os conteuacutedos de

Caacutelculo II de forma que tais conteuacutedos sejam tomados como instrumentos de uma atividade

em vez de objeto

Dessa forma havia um desejo de transformar e modificar o ldquoolharrdquo sobre os

conteuacutedos de caacutelculo tornando-os caacutelculo em accedilatildeo como instrumentos mediadores de accedilotildees

realizadas pelos sujeitos (discentes de cursos de Engenharia) orientados pelo objeto (questatildeo-

problema natildeo matemaacutetica) em vez de sempre estarem sendo tomados como objeto de uma

atividade (school-going) historicamente e tradicionalmente constituiacuteda Na tentativa de

minimizar a tensatildeo entre cumprir a ementa e propor atividades de Modelagem em sala de

aula continuamos dialogando e tentando idealizar um objeto considerando os meios os

instrumentos e as condiccedilotildees para sua realizaccedilatildeo

Eu Ela [a Clarice] pode separar os alunos por curso Fazer os grupos por curso

Tipo assim oh vocecirc eacute aluno da Mecacircnica Vocecirc soacute pode ficar em grupo de gente da

Mecacircnica entendeu Ela pode fazer isso Porque aiacute natildeo precisa ser o mesmo tema

pra todo mundo Inclusive eles mesmos podem trazer os modelos de soluccedilatildeo e

socializar ldquopro restordquo da turma Entatildeo mesmo que o cara laacute da Mobilidade natildeo

tenha nada a ver digamos num primeiro momento com a Mecacircnica mas agraves vezes o

problema que os meninos da Mecacircnica vatildeo resolver vai tambeacutem ter neacute produzir

um significado bacana pros outros

Angel [Balanccedila a cabeccedila assertivamente]

Clarice [Balanccedila a cabeccedila assertivamente]

Angel Eacute aquela parte laacute de vaacuterias variaacuteveis que envolvem volumes e tudo mais daacute

pra pensar umas situaccedilotildees reais assim bem bacanas ligadas agrave produccedilatildeo ou alguma

coisa do gecircnero Ou problemas ateacute aiacute jaacute puxando a sardinha neacute pro meu lado de

Otimizaccedilatildeo neacute que utiliza multiplicadores de Lagrange e tudo mais que eacute uma

parte tambeacutem que eles vatildeo ter que ver

Clarice Eacute

Eu Eu acho que problemas de otimizaccedilatildeo daria pra fazer em todas as aacutereas

Clarice [Balanccedila a cabeccedila assertivamente] Humhum

Eu Igual da Produccedilatildeo da [] de todas as aacutereas ali daacute E usaria a mesma

matemaacutetica neacute assim a mesma ferramenta pra ser resolvido [o problema]

Angel Sim daacute

Eu Vamos pensar Dia 30 a gente senta e discute o quecirc que seria mais viaacutevel de

fazer

Angel Humhum Beleza

Clarice [Balanccedila a cabeccedila assertivamente]

No referido momento estaacutevamos colocando em relevo as condiccedilotildees para a

realizaccedilatildeo da atividade baseados no cumprimento de alguns conteuacutedos da ementa da

157

disciplina dentre eles os Multiplicadores de Lagrange139

que por sua vez abarcam outros

conteuacutedos a serem estudados pelos alunos na referida disciplina dentre os quais podemos

enfatizar o conceito de derivada parcial Sendo assim poderiacuteamos escolher questotildees-

-problema que abarcassem tais conteuacutedos constituindo condiccedilotildees iniciais de um processo que

elencaria outros conteuacutedos abarcados na ementa da disciplina de forma a consideraacute-los

instrumentos necessaacuterios para a resoluccedilatildeoentendimento de tal questatildeo-problema Nesse

sentido os conteuacutedos de Caacutelculo II poderiam ser desenvolvidos sob a orientaccedilatildeo de uma

finalidade um objeto definido como sendoestando mais proacuteximo do objeto a ser considerado

no que tange ao objetivo de formaccedilatildeo em Engenharia

Nisso o que pode ser colocado em relevo eacute a proacutepria finalidade da constituiccedilatildeo do

GEPMM na UNIFEI-Itabira Estando baseado no contexto da aprendizagem expansiva que

se aproxima das finalidades preconizadas pela abordagem do PBL conforme exposto no

Capiacutetulo 3 deste texto o contexto que define e ao mesmo tempo eacute definido pelo grupo como

um espaccedilo formativo enfatiza a necessidade de se elaborar novas formas de praacuteticas

formativas que aconteccedilam uma atividade objetiva real isto eacute uma nova forma de praacutexis

formativa Vale ressaltar que o objetivo da presente pesquisa sempre esteve vinculado a tal

finalidade com o intuito de estudaranalisar o que acontece em termos de aprendizagens

expansivas nesse contexto formativo

Depois de termos dedicado esforccedilos na idealizaccedilatildeo de um novo objeto a ser

levado para as praacutexis formativas que ocorrem no decorrer da disciplina Caacutelculo II

comeccedilamos a interaccedilatildeo uns com os outros por meio de linguagem falada e gestos e com o

texto140

(artigo) estudado na reuniatildeo anterior mediado pela linguagem escrita que inclui a

linguagem escrita matemaacutetica impressa no texto no que tange aos modelos matemaacuteticos

suportados por tal miacutedia O seguinte trecho extraiacutedo das transcriccedilotildees da filmagem em aacuteudio e

viacutedeo do oitavo encontro nos mostra outras accedilotildees que se fizeram necessaacuterias para darmos

continuidade agrave atividade presente cujo objeto consistia no que denominados por peso corporal

ideal A saber

Eu [Com o texto do webappendix em matildeos] Entatildeo olha soacute eu dei uma procurada

eacute pra tentar entender essas equaccedilotildees entatildeo eu cheguei na seguinte conclusatildeo esse

glicogecircnio ele eacute um hormocircnio que ele eacute ativado pela insulina do sangue Entatildeo ele

tem relaccedilatildeo direta com a insulina Aiacute eu fui olhar na () dei uma procurada na

internet e achei umas coisas por exemplo eacute a insulina tem um hormocircnio ligado a

139

Teoria desenvolvida pelo matemaacutetico Lagrange cuja utilidade se encontra na resoluccedilatildeo de problemas de

otimizaccedilatildeo que sob certas condiccedilotildees admitem maacuteximos e miacutenimos locais de funccedilotildees de n variaacuteveis

condicionados a uma restriccedilatildeo Para mais detalhes confira Gonccedilalves e Flemming (2007) 140

O texto pode ser encontrado em httpbwsimulatorniddknihgovHall_Lancet_Webappendixpdf

158

ela que satildeo responsaacuteveis por armazenar gordura no organismo e tem esse

glucagon ou glucacon e um outro hormocircnio que chama hsl que ele eacute responsaacutevel

por fazer o papel contraacuterio que eacute queimar a gordura E aiacute eacute () entatildeo esse

glicogen [continuo apontando a lapiseira para o texto impresso] que tem aqui esse

glicogecircnio ele eacute algo que eacute ativado pela insulina do sangue Quando vocecirc ingere

carboidrato que eacute a massa neacute essas coisas que eacute accediluacutecares a insulina ela tem que

ser ativada pra poder combater isso digerir isso no seu organismo E aiacute

dependendo do tanto de carboidrato que vocecirc come sempre esse G ele eacute ativado

pelo carboidrato ingerido entendeu Entatildeo na verdade essa parte aqui oh esse

[indico com a lapiseira no texto] na verdade ela eacute sempre uma coisa () esse

1198701198921198662 na verdade ele fica sempre maior do que o carboidrato que vocecirc ingere

porque esse G ele eacute ativado pelo CI no organismo Entendeu

Clarice [Olha pra mim com ar de interrogaccedilatildeo Em seguida balanccedila a cabeccedila

assertivamente] Humhum

Angel Humhum

Eu Entatildeo essa parcela 1198701198661198662 taacute vendo que o 119870119866 eacute o 119862119868119887 sobre 119866119894119899119894119905

2 Eacute como se

vocecirc tivesse pegando aqui um zero neacute [no sentido de condiccedilatildeo inicial] Esse 119870119866

Angel Humhum [balanccedila a cabeccedila assertivamente]

Eu Esse 119870119866 eacute pra exatamente manter essa parcela aqui sempre uma parcela o

1198701198661198662maior do que o 119862119868

Angel Taacute mais aiacute vai dar negativo uai Se 1198701198661198662 eacute maior que 119862119868 entatildeo essa

diferenccedila vai dar um sinal negativo

Eu Eacute [balanccedilo a cabeccedila assertivamente] pra dar um resultado negativo Porque aiacute

quando vocecirc joga isso daqui oh [aponto pras equaccedilotildees da paacutegina 2] menos o que era

negativo fica mais [no sentido de ser positivo] Entendeu

Angel Hum Hum Humhum

Eu Entatildeo menos o que seria um decrescimento digamos assim aiacute vai ficar mais

aqui oh Vocecirc lembra que eacute o que a gente tava discutindo na uacuteltima reuniatildeo que era

essa questatildeo aqui de tentar entender [direciono a pergunta para Angel]

Angel Eacute porque os dois termos satildeo iguais o que diferencia eacute o 1 minus 119901 e 119901 Eu Isso Humhum

Angel Aiacute um tava relacionado ao corpo gordo neacute e o outro ao corpo ldquoleanrdquo que eacute

o corpo fino neacute vamos dizer assim neacute magro

Eu Humhum Massa magra e massa gorda

Angel Isso exatamente Que a gente natildeo tinha entendido porque que daria um

resultado () ambos dariam pelo jeito positivo

Observemos que neste momento uma accedilatildeo adicional pocircde ser percebida a busca

de informaccedilotildees na internet As possibilidades de buscas de informaccedilotildees foram potencialmente

ampliadas nos uacuteltimos anos com o crescente acesso e uso de instrumentos de busca na

internet Podemos considerar inclusive que a maioria de nossas atuais atividades cotidianas

pode ser mediada pela internet O uso da internet configurou-se como um importante

instrumento podendo ser considerado como facilitador no que tange ao acesso agraves informaccedilotildees

relacionadas ao objeto de nossa atividade Anaacutelises mais pontuais sobre tais possibilidades

interativas seratildeo mais bem evidenciadas mais adiante ainda neste capiacutetulo

Seguimos ateacute o fim do oitavo encontro interagindo com o artigo em questatildeo

dedicando esforccedilos para o pleno entendimento dos modelos ali impressos Contudo

terminamos a reuniatildeo ainda com uma interrogaccedilatildeo relacionada agrave deacutecima equaccedilatildeo impressa no

referido artigo ldquode onde ele [o autor] tirou esse modelordquo pergunto eu Clarice pontua que o

159

autor citou a referecircncia [20] para chegar ao modelo (10)141

Seguimos debatendo sobre nossa

duacutevida e chegamos agrave conclusatildeo de que o autor isolou a variaacutevel peso (119861119882) na equaccedilatildeo (9) e

derivou em relaccedilatildeo ao tempo chegando assim na equaccedilatildeo (10)142

Combinamos de tentar

fazer isso com calma em casa e vermos se essa seria a resposta para o questionamento exposto

anteriormente Encerramos a reuniatildeo com a seguinte reflexatildeo

Clarice Eacute mais ainda fica aquela coisa neacute achamos que eacute isso [gesticula com os

dedos no sentido de entre aspas]

Eu Eacute mais quem que confirma que eacute neacute A gente tinha que ter algueacutem assim mais

da nutriccedilatildeo pra poder ()

Clarice Pra poder confirmar essas coisas neacute

Eu Porque assim o que os nuacutemeros dizem Os nuacutemeros dizem isso Mas eacute isso

mesmo Como obter algueacutem pra falar natildeo eacute isso mesmo

Clarice Isso Fica um pouco de interrogaccedilatildeo neacute

Eu Humhum Entatildeo aiacute agora Clarice eu acho que o proacuteximo passo eacute a gente eacute

entender esse restinho neacute e eu acho que agora taacute bem mais simples

Clarice Eacute eu acho que aqui a gente termina dia 30

Como estaacutevamos enganadas quanto agrave simplicidade do que estaria por vir A

certeza que tiacutenhamos naquele momento eacute de que ainda havia uma interrogaccedilatildeo quanto ao

entendimento daquela equaccedilatildeo de onde o autor tirou a equaccedilatildeo (10)

41519 Nono encontro

O nono encontro do GEPMM ocorreu em 30042013 (terccedila-feira) e contou com a

participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice e com a minha participaccedilatildeo desempenhando duplo

papel ndash participante do grupo e pesquisadora

Comeccedilamos a reuniatildeo discutindo sobre a necessidade de encontrarmos alunos

para nos ajudar na finalizaccedilatildeo da atividade de entendimentosoluccedilatildeo da problemaacutetica questatildeo

do peso corporal ideal Como poderiacuteamos recompensar o engajamento dos alunos no grupo

distribuiccedilatildeo de pontos na disciplina Caacutelculo II Oferecimento de bolsas de pesquisa As duas

alternativas pareceram problemaacuteticas num primeiro momento Primeiro quanto agrave

possibilidade de distribuiccedilatildeo de pontos podemos considerar o seguinte trecho extraiacutedo da

transcriccedilatildeo das filmagens da oitava reuniatildeo

141

httpbwsimulatorniddknihgovHall_Lancet_Webappendixpdf 142

A equaccedilatildeo (10) [120578119865+120588119865+120572120578119871+120572120588119871

(1minus120573)(1+120572)]119889119861119882

119889119905= Δ119864119868 minus

1

(1minus120573)[120574119865+120572120574119871

(1+120572)+ 120575] (119861119882 minus 1198611198820)

160

Eu [] Aiacute na hora que vocecirc oferece 10 pontos eles vecircm participar

Clarice Porque eu tenho alunos que natildeo tiram 10 em 100 [risos] Entatildeo 10 pontos

pra ele eacute um brinde [] E os alunos aqui tem uma preocupaccedilatildeo enorme com

coeficiente

Eu Mas vocecirc acha que ele [o aluno] viria e que ele faria o serviccedilo ou natildeo

Clarice Viria mas como eacute que eu tocirc te falando porque faria o serviccedilo [balanccedila a

cabeccedila negativamente] Natildeo natildeo faria Talvez nos primeiros dias ele tentaria mas eu

natildeo sei ateacute onde ele conseguiria A preocupaccedilatildeo eacute apenas ponto ponto e ponto

Naquele momento a opccedilatildeo de distribuiccedilatildeo de pontos pareceu natildeo resolver o

problema da falta de interesse por parte dos alunos no que diz respeito agrave participaccedilatildeo no

grupo Parece ser consensual entre noacutes docentes que geralmente os alunos dedicam esforccedilos

sempre na direccedilatildeo da obtenccedilatildeo de pontos para serem aprovados nas disciplinas

especialmente nas disciplinas de Caacutelculo que satildeo responsaacuteveis por grande parte das

reprovaccedilotildees em cursos de Engenharia podendo ateacute mesmo ser consideradas como fator de

desistecircncia e evasatildeo desses cursos Caso os docentes decidissem pela distribuiccedilatildeo de pontos

nas respectivas disciplinas de Caacutelculo que lecionavam para que os alunos participassem do

GEPMM a Teoria da Atividade nos ajuda a perceber que os alunos poderiam estar orientados

para a pontuaccedilatildeo a ser obtida e natildeo para o objeto idealizado do GEPMM - resoluccedilatildeo das

questotildees-problema natildeo matemaacuteticas e a proacutepria formaccedilatildeo

Em segundo lugar o oferecimento de bolsas aos alunos que aceitassem o convite

de participaccedilatildeo no grupo estaria condicionado ao registro do GEPMM no diretoacuterio de grupos

de estudos e pesquisas do CNPq sendo que somente docentes que possuem o tiacutetulo de

doutorado podem registrar grupos de pesquisa em tal diretoacuterio O uacutenico docente que estaria

portanto em condiccedilotildees de registrar o GEPMM seria o Robson que possui o tiacutetulo de doutor

Contudo Robson havia ateacute entatildeo participado apenas do terceiro e do quinto encontro do

GEPMM sempre se mostrava ocupado demais ou em viagens de trabalho Mesmo assim

estando restritos a tal condiccedilatildeo insistimos com Robson para que ele registrasse o grupo no

diretoacuterio do CNPq

Dando prosseguimento ao relato do nono encontro Angel nos contou que havia

mudado a dinacircmica da disciplina de Caacutelculo II e que em certos momentos trabalharia com

problemas reais que tivessem relaccedilatildeo aos conteuacutedos da referida disciplina Isso pode

demonstrar que realmente Angel estaacute motivado a realizar mudanccedilas quanto agraves praacutexis

formativas que ele tem participado como docente da disciplina de Caacutelculo II em cursos de

Engenharia Angel pontuou tambeacutem mudanccedilas no que se refere ao trabalho em equipe dentro

de sala de aula e acabou gerando a seguinte discussatildeo

161

Angel [] eu mudei essa questatildeo de disciplina e agora tudo tem que ser feito em

equipe Entatildeo eles [os alunos] jaacute chegam jaacute forma laacute os grupinhos laacute que vai ficar

ateacute o final do semestre e tudo mais e assim eu vejo que existe essa interaccedilatildeo igual

eu passo nos grupos laacute tem um que fala mais e que sabe mais explicando pros

outros colegas discutindo o assunto entendeu Entatildeo assim nossa eu fico

satisfeitiacutessimo Entendeu vendo esse tipo de conduta

Clarice Natildeo ponho muita feacute natildeo Muito pouca feacute [risos] Noacute [balanccedila a cabeccedila

indicando negatividade]

Eu Mais eacute Clarice tem que mudar eacute isso O problema eacute que o ensino tradicional

ele taacute falido haacute muitos anos e a gente natildeo consegue perceber

Clarice Pois eacute mais eu tocirc dizendo assim eacute infelizmente igual no meu grupo [na

sala de aula de Caacutelculo II em que leciona] posso passar isso laacute alguns vatildeo me

enganar entendeu Eu tocirc chateada por isso mesmo porque tatildeo tentando me

enganar

Eu Natildeo mais eles [alguns alunos] vatildeo tentar burlar o sistema Sempre vai ter

Angel Claro

Clarice Isso Eles montam o grupo laacute agraves vezes sim o seu grupo tem sete [alunos] e

tem trecircs interessados os outros humhum humhum e sabe Natildeo sei Entatildeo assim

natildeo eacute ainda ()

Angel Taacute mais aiacute como que vocecirc mapeia e pune esses que estatildeo igual eu falei laacute

()

Clarice Natildeo pune Vocecirc natildeo consegue punir num trabalho()

Angel Na avaliaccedilatildeo uai

Observe que nessa discussatildeo dois fatores principais quanto ao trabalho em grupo

sendo realizado dentro da praacutexis formativa em salas de aula de Caacutelculo II podem ser

colocados em relevo Por um lado ao realizar atividades em grupo os alunos tecircm ampliadas

as possibilidades de interaccedilotildees o que sem duacutevida pode ampliar as possibilidades de

aprendizagens por outro lado os alunos que natildeo se engajarem na atividade de fato acabam

podendo mais facilmente tentar ldquoburlarrdquo o controle exercido pelo professor principalmente no

que tange agrave puniccedilatildeo que pode inclusive continuar a ser exercido pela avaliaccedilatildeo escrita

individual e na maioria das vezes sem consulta conforme preconizado por Angel que seguiu

nos contando

Angel Igual por exemplo igual porque eu adoto muito esse meacutetodo porque eacute da

onde que eu dei aula que eacute laacute no Pitaacutegoras que tem muito essa questatildeo de equipe e

tudo mais e depois avaliar o individual Entatildeo o quecirc que eacute Como que eu moldei

essa questatildeo aqui mais ou menos adaptado ao que tinha laacute vocecirc tem o quecirc as

atividades em equipe e tem as avaliaccedilotildees individuais Entatildeo laacute no Pitaacutegoras vocecirc

sempre trabalhava com 70 30 setenta a parte de prova e trinta das notas de

trabalho em equipe Porque todo mundo tem que aprender a lidar em equipe a

trabalhar em equipe neacute aquelas coisas todas Entatildeo no Caacutelculo II eu tocirc sempre

fazendo esse meio termo primeira etapa claacutessica e a segunda etapa essa parte de

atividade em equipe e avaliaccedilatildeo individual Entatildeo o quecirc que acontece Cada

unidade do livro vamos dizer assim eu seleciono laacute oito dez exerciacutecios pra seres

desenvolvidos em sala entatildeo eu tocirc vendo olhando os grupos como que taacute o niacutevel de

discussatildeo o quecirc que taacute acontecendo entendeu Todas as aulas jaacute foram

disponibilizadas os slides entatildeo eles jaacute tem todas as ferramentas na matildeo

Clarice Vocecirc pocircs no portal [referindo-se ao portal acadecircmico ndash uma plataforma

digital]

162

Angel No portal e tambeacutem num site laacute onde taacute os slides que a proacutepria editora [do

livro texto] fornece Eacute claro que tem que fazer umas correccedilotildees-zinhas neacute Mas a

editora jaacute facilita tremendamente Entatildeo o que acontece Cada aula entatildeo eles

natildeo sabem quais os exerciacutecios que eu vou pedir porque eu passo na aula entatildeo

eles jaacute tecircm que ir para aquele momento de atividade em equipe sabendo um pouco

do assunto Porque como que eles vatildeo discutir com os outros colegas laacute sem saber

nada

Uma anaacutelise que pode ser feita com base nesse excerto eacute de que o docente Angel

desejava que os alunos tivessem uma participaccedilatildeo mais ativa em seus proacuteprios processos

formativos Acreditava que o conhecimento preacutevio eacute importante para a construccedilatildeo do

conhecimento aleacutem de valorizar a ampliaccedilatildeo das possibilidades de interaccedilatildeo quando o

trabalho eacute realizado em grupos ndash uma coletividade de sujeitos Contudo parece que o objeto

dessa nova atividade ldquomoldadardquo por ele e compartilhada conosco por meio da linguagem

falada e dos gestos que estaria presente na praacutexis formativa das aulas de Caacutelculo II sob sua

responsabilidade pouco se diferencia qualitativamente do objeto do school-going de

Engestroumlm (2008) Nesse caso o objeto da atividade continua sendo os conteuacutedos de Caacutelculo

II conforme apresentaccedilatildeo do livro-texto soacute que agora suportados pela miacutedia slides lidos na

tela de um computador com o auxiacutelio de um software Ainda natildeo podemos deixar de enfatizar

que ao considerar uma atividade na qual os sujeitos tenham ativa participaccedilatildeo no processo

Angel atribui como objeto possivelmente compartilhado nas atividades de alunos e

professores os proacuteprios alunos ora sujeitos ora objeto possivelmente compartilhado O que

ele pretendia inclusive com as alteraccedilotildees na referida praacutexis formativa era potencializar o

compartilhamento de tal objeto ndash alunos mediante a valorizaccedilatildeo e o empreendimento da

participaccedilatildeo ativa em tal atividade

Depois de expor as transformaccedilotildees que Angel teria efetuado em sua atividade

docente Clarice comeccedilou por justificar a impossibilidade de propor trabalhos em grupo com

os alunos naquele semestre letivo pelo simples fato de que ela estava lecionando num

auditoacuterio cujas cadeiras eram ldquofixas e terriacuteveisrdquo Declarou ainda que esperava que a situaccedilatildeo

da infraestrutura da instituiccedilatildeo melhorasse para que nos semestres seguintes ela pudesse

lecionar em salas de aula normais com cadeiras moacuteveis possibilitando assim alteraccedilotildees

quanto agrave questatildeo da valorizaccedilatildeo do trabalho em grupo versus o trabalho individual em

disciplinas de Caacutelculo II Pontuou tambeacutem a questatildeo da natildeo obrigaccedilatildeo do cumprimento de

preacute-requisitos na instituiccedilatildeo ou seja natildeo era necessaacuteria a aprovaccedilatildeo em Caacutelculo I para efetuar

a matriacutecula em Caacutelculo II por exemplo Clarice nos contou

163

Clarice Eu acho Rutyele que a partir do periacuteodo que vem vai ser melhor trabalhar

com Caacutelculo I Caacutelculo II inclusive nesse sentido Qual que eacute o problema nesse

periacuteodo eacute que pelo menos 60 dos meus alunos dos 150 natildeo passou em Caacutelculo I

natildeo Natildeo passou em Caacutelculo I entatildeo taacute sem saber o baacutesico do baacutesico mesmo

Angel A Clarice taacute num horizonte bom eu tocirc com 90 eu tocirc com as turmas do

professor X [um professor famoso na instituiccedilatildeo por ter altos iacutendices de reprovaccedilatildeo]

[risos]

Clarice Entatildeo assim esses alunos [] eles praticamente natildeo tem condiccedilotildees de

trabalhar sozinhos sem exposiccedilatildeo oral natildeo Na minha visatildeo natildeo Porque igual eu

poderia citar nomes assim igual fulano fulano e fulano que praticamente cecirc tem

que pegar na matildeo ele taacute sem preacute-requisito nenhum e quando vocecirc potildee ele pra ler

igual jaacute aconteceu igual o menino vem tirar duacutevida aqui comigo aiacute eu falo ah o

que eacute que taacute escrito Isso e isso mas soacute que taacute faltando uma coisa de antes Entatildeo

quando eu tocirc expondo eu tenho que ficar voltando lembra laacute em Caacutelculo I era

assim Aiacute aqui em Caacutelculo II eacute assim Agora tem preacute-requisito a partir do periacuteodo

que vem Aiacute eu por exemplo vou explicar derivada lembra laacute em Caacutelculo I

Derivada era assim era isso lembra Ah aqui eacute assim Olha como mudou

Clarice demonstrou com isso natildeo acreditar que alunos que tenham sido

reprovados em Caacutelculo I consigam dar conta de participarem efetivamente das atividades

propostas por Angel em sua nova proposta pedagoacutegica Imediatamente Angel posicionou-se

ldquoigual como que explica dois alunos laacute que tiraram praticamente quase 100 na minha prova

laacute de Caacutelculo II e foram reprovados em Caacutelculo I Se vocecirc ver a prova do menino que linda

a prova escrito tudo certinho os caminhos uma coisa assim ma-ra-vi-lho-sardquo Com essa

fala Angel buscou contrapor o receio que Clarice havia demonstrado anteriormente

explicitando que alunos que haviam sido reprovados em Caacutelculo I com outro professor (que

adota a forma tradicional de desenvolver as disciplinas de Caacutelculo acostumando-se inclusive

com iacutendices proacuteximos de 90 de reprovaccedilatildeo) poderiam dar conta sim de trabalhar de forma

mais ativa sem exposiccedilatildeo oral dos conteuacutedos pelo professor

Seguimos a reuniatildeo discutindo sobre a idealizaccedilatildeo da atividade que iriacuteamos

aplicar em sala de aula de Caacutelculo II cujos docentes eram Clarice e Angel conforme exposto

anteriormente Nisso Clarice comeccedilou a folhear o livro-texto143

da disciplina e disse ldquoeu

tinha pegado aqui do livro era um de maacuteximo e miacutenimo mesmo Soacute que eu ia falar com vocecirc

[referindo-se a noacutes ndash eu e Angel] uma coisa assim por exemplordquo e continuou folheando o

livro querendo encontrar algo especiacutefico Em seguida entregou-me o livro aberto em uma

paacutegina especiacutefica apontando para mim com o dedo indicador qual seria sua sugestatildeo Ela

sugeria o ldquoprojeto de uma caccedilambardquo (STEWART 2006 p 961) que consistiria em

determinar as dimensotildees de uma caccedilamba de entulho com tampa com o objetivo de minimizar

143

Livro de autoria de James Stewart intitulado por Caacutelculo volume 2 5 ediccedilatildeo Confira referecircncia completa em

STEWART (2006)

164

seu custo de produccedilatildeo Decidimos acatar a sugestatildeo de Clarice e combinamos o

desenvolvimento da atividade para o mecircs de julho de 2013

415110 Deacutecimo encontro

O deacutecimo encontro do GEPMM ocorreu em 14052013 (terccedila-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice e com a minha participaccedilatildeo

desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e pesquisadora

Comeccedilamos a reuniatildeo com Clarice nos contando que na aula de Caacutelculo II que

ela havia desenvolvido depois do encontro anterior do GEPMM (nono encontro) ficou claro

para ela que os alunos realmente natildeo estavam prestando atenccedilatildeo poucos se concentravam

segundo ela Com isso ela decidiu ldquomudar o meacutetodo de ensinordquo mesmo parecendo ainda natildeo

acreditar que ele funcionasse mas tambeacutem acreditava que pior do que a aula expositiva natildeo

poderia ser Pareceu-me que ela havia se apropriado das ideias compartilhadas por Angel no

decorrer do uacuteltimo encontro e resolveu consideraacute-las como uma possibilidade para o

desenvolvimento de suas aulas

Em seguida voltamos a planejar a atividade de modelagem que seria realizada no

decorrer das aulas de Caacutelculo II nas turmas sob a responsabilidade de Clarice e Angel

Descobrimos por meio de um aluno da professora Clarice que existia um manual em PDF144

disponibilizado na internet e amplamente difundido e utilizado pelos alunos da instituiccedilatildeo

que consistia em um conjunto de soluccedilotildees de todos os exerciacutecios propostos no livro-texto

incluindo uma resoluccedilatildeo para o ldquoprojeto de uma caccedilambardquo (STEWART 2006 p 961) Com

isso desistimos de levar tal projeto como havia sugerido a docente Clarice Propusemos-nos a

pensar em outra questatildeo-problema para que em um proacuteximo encontro pudeacutessemos debater e

decidir coletivamente qual seria nossa escolha

Ateacute aquele momento continuaacutevamos a insistir com Robson no que diz respeito ao

registro do grupo de pesquisa no diretoacuterio do CNPq Somente apoacutes tal registro eacute que

poderiacuteamos concorrer agraves chamadas puacuteblicas mediante a submissatildeo de projetos que

viabilizassem o oferecimento de bolsas para os alunos que estivessem dispostos a participar

144

Para mais informaccedilotildees acesse a paacutegina httpptwikipediaorgwikiPortable_document_format

165

ativamente do GEPMM aleacutem do suprimento de outras demandas que seriam impostas no

decorrer das atividades do grupo

Depois disso voltamos agrave problemaacutetica questatildeo do peso corporal ideal no sentido

de idealizarmos o presente objeto da atividade para estabelecer possibilidades de

transformaccedilatildeo Traccedilaacutevamos naquele momento uma primaacuteria idealizaccedilatildeo do objeto a ser

criado por noacutes no futuro sob a orientaccedilatildeo do objetivo de criar um modelo teoacuterico que seria

base para o desenvolvimento de um software utilizando instrumentos de Caacutelculo e da Teoria

Fuzzy para a referida questatildeo-problema partindo dos modelos matemaacuteticos impressos no

artigo145

estudado por noacutes e das informaccedilotildees contidas no livro sugerido pela docente da

UFOP Segue o traccedilado das idealizaccedilotildees baseado em trechos extraiacutedos das transcriccedilotildees das

filmagens em aacuteudio e viacutedeo do deacutecimo encontro do GEPMM

Eu [] eu acho que laacute [no livro indicado pela docente da UFOP] seria a fonte que

a gente pegaria pros dados E aiacute o quecirc que eu pensei em fazer Fazer eacute dividido em

trecircs coisas o metabolismo basal a taxa basal ela eacute influenciada pelo que vocecirc

come e pelas atividades que vocecirc taacute fazendo neacute que satildeo aquelas trecircs caixas - que eacute

o metabolismo basal que eacute a energia ingerida e a energia desprendida pra vocecirc

fazer as atividades fiacutesicas que vocecirc faz neacute Entatildeo o quecirc que vocecirc teria O basal ele

eacute afetado pelos outros entatildeo eacute um sistema onde a gente teria trecircs tipo equaccedilotildees

fuzzy uma primeira que taacute sendo afetada pelos outros e a gente taria vendo como

que isso afeta neacute E faria uma caixa que seria uma equaccedilatildeo pra o gasto caloacuterico

ou seja cecirc vai andar 10 minutos a peacute cecirc vai pegar um ocircnibus entatildeo isso aiacute seriam

dados que a proacutepria pessoa falaria [cederia como valores de entrada para o

programa-software a ser desenvolvido] Entatildeo teria que ter o campo aberto

entendeu

Angel Humhum

Eu Tipo assim aquele () uma sequecircncia de vaacuterias atividades [gesticulo com as

matildeos imitando uma lista] pra pessoa clicar em cima da que ela faz Entendeu Por

exemplo ah eu ando de bicicleta Taacute mais quanto tempo em minutos por semana

Aiacute a pessoa colocaria ah eu ando 180 minutos de bicicleta entendeu

Clarice Humhum [balanccedila a cabeccedila assertivamente]

Eu Entatildeo teria que ter uma caixinha pra pessoa colocar a atividade fiacutesica e uma

caixinha pra colocar o tempo daquela atividade fiacutesica No que a pessoa iria digitar

isso eacute o programa vai buscar no banco de dados dele que eacute baseado no livro e jaacute

vai somar fazer a soma de tudo e jaacute vai dar o resultado final Mais ou menos o que

aquele programinha do pessoal aiacute faz [aponto o dedo indicador para o texto que

estava (impresso em papel) sobre a mesa]

Com isso reafirmamos a necessidade de encontrarmos pessoas para participarem

de tal atividade mais parceiros Aleacutem disso ainda natildeo tiacutenhamos entendido plenamente

mediante as interaccedilotildees com o texto escrito (Hall-Lancet) e entre noacutes sujeitos integrantes do

GEPMM todas as equaccedilotildees que representavam o fenocircmeno da mudanccedila do peso corporal

com relaccedilatildeo agraves alteraccedilotildees na dieta e nos exerciacutecios fiacutesicos Percebemos que um texto escrito

sob a forma de um artigo cientiacutefico poderia natildeo dar conta de representar impressotildees 145

httpbwsimulatorniddknihgovHall_Lancet_Webappendixpdf

166

suficientemente necessaacuterias para o entendimento de uma pesquisa em movimento A equaccedilatildeo

(10)146

ainda natildeo estava clara para noacutes Natildeo sabiacuteamos como o autor havia chegado naquele

modelo matemaacutetico Sabiacuteamos que era uma equaccedilatildeo diferencial ordinaacuteria Poreacutem como ela

estaria representando o fenocircmeno Quais hipoacuteteses que estavam sendo consideradas Tais

questotildees seratildeo mais bem analisadas mais adiante no presente texto

4152 Dando continuidade agraves accedilotildees potencialmente expansivas

Dando por encerrado o relato do que aconteceu durante os dez primeiros

encontros do GEPMM retornarei ao miniciclo de accedilotildees de aprendizagem potencialmente

expansivas analisando a sexta e a seacutetima accedilatildeo sob o ponto de vista colocado em relevo

anteriormente que considera um ciclo menos longo (miniciclo) como sendo potencialmente

expansivo

416 Refletindo sobre o processo

Segundo Engestroumlm e Sannino (2010b) apoacutes iniciada a fase de implementaccedilatildeo do

modelo que nesta pesquisa aconteceu por meio da constituiccedilatildeo do GEPMM eacute necessaacuterio

refletir sobre todo o processo com o intuito de avaliaacute-lo e caso seja necessaacuterio modificaacute-lo

Sendo assim torna-se necessaacuteria a reflexatildeo sobre a implementaccedilatildeo do novo modelo de

atividade sob a forma de uma praacutexis inovadora em um contexto especiacutefico visando a

modificar eou adaptar o modelo agraves exigecircncias demandas e limitaccedilotildees que se revelavam nas

formas de praacutexis frequentemente utilizadas em tal contexto de formaccedilatildeo jaacute que

a produccedilatildeo do objeto ideal eacute inseparaacutevel da produccedilatildeo do objeto real material e

ambas nada mais satildeo do que o anverso e o reverso de uma mesma moeda ou os dois

lados de um mesmo processo A forma que o sujeito quer imprimir agrave mateacuteria existe

como forma geratriz na consciecircncia mas a forma que se plasma definitivamente na

mateacuteria natildeo eacute a mesma ndash nem a duplicaccedilatildeo ndash da que preacute-existia originariamente Eacute

certo que o resultado definitivo estava preacute-figurado idealmente mas o definitivo eacute

exatamente o resultado real e natildeo o ideal (projeto ou finalidade original) O modelo

anterior soacute pode se realizar no transcurso de um processo ao fim do qual natildeo se

146

[120578119865+120588119865+120572120578119871+120572120588119871

(1minus120573)(1+120572)]119889119861119882

119889119905= Δ119864119868 minus

1

(1minus120573)[120574119865+120572120574119871

(1+120572)+ 120575] (119861119882 minus 1198611198820)

167

alcanccedila tudo que se havia projetado (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUES 1977 p 249 grifos

meus)

Nesse sentido percebemos que alguns ajustes e modificaccedilotildees eram necessaacuterios

para que pudeacutessemos dar continuidade a nossa atividade O primeiro deles foi com relaccedilatildeo a

pouca ou quase nenhuma participaccedilatildeo dos estudantes147

Poucos aceitaram o convite ndash apenas

trecircs Desses um desistiu e os outros pouco comparecem agraves reuniotildees Por esse motivo

pensamos em oferecer ldquoalgo em trocardquo para que conseguiacutessemos mais aceites por parte dos

alunos Nas turmas da disciplina Caacutelculo II nas quais os docentes Clarice e Angel lecionam

pensamos em oferecer 10 pontos para os alunos que aceitassem o convite mas desistimos da

ideia devido a questotildees eacuteticas e metodoloacutegicas Estaacutevamos na expectativa de conseguirmos

no miacutenimo mais quatro alunos para participarem do grupo O segundo ajuste diz respeito a

uma possiacutevel modificaccedilatildeo na dinacircmica do modelo (a atividade de Modelagem) os docentes

Angel e Clarice demonstraram o desejo de levar atividades de Modelagem Matemaacutetica para

comporem as disciplinas de Caacutelculo II que lecionam com outros tipos de metodologias tais

como aulas expositivas por exemplo Para darmos conta de analisar essa possiacutevel adaptaccedilatildeo

do modelo talvez seja necessaacuterio a retomada do ponto de vista analiacuteticoreflexivo agrave fase

quatro do miniciclo de accedilotildees expansivas e examinarmos novamente o mesmo modelo ndash

atividade de Modelagem Matemaacutetica agora podendo assumir outro formato contextual e

dinacircmico em um cenaacuterio no qual aconteceram e continuaratildeo acontecendo outros tipos de

praacutexis formativas ndash a sala de aula da disciplina Caacutelculo II O terceiro ajuste se relaciona agrave

necessidade de encontrarmos um parceiro que tenha formaccedilatildeo na aacuterea de Computaccedilatildeo mais

especificamente que se interesse por programaccedilatildeo e por Teoria Fuzzy Percebemos no

decorrer do processo de implementaccedilatildeo que precisamos de um parceiro com tal formaccedilatildeo

pois atualmente para um pleno entendimento da ciecircncia ldquoem construccedilatildeordquo que perpassa as

atividades de Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia torna-se necessaacuterio

compreender em sua plenitude o que haacute por traacutes dos algoritmos dos softwares dos

programas executaacuteveis entre outros para a partir daiacute iniciarmos um processo de inovaccedilatildeo

Vale a pena ressaltar que a necessidade de encontrarmos um parceiro da aacuterea da

Computaccedilatildeo ocorreu mediante a idealizaccedilatildeo de um novo modelo para dar conta da

problemaacutetica do peso corporal ideal Ao mesmo tempo em que esta necessidade possa parecer

um fator que torne o desenvolvimento de atividades de Modelagem Matemaacutetica em cursos de

147

Mais adiante neste texto especificamente no Capiacutetulo 5 ndash ao descrever a modalidade analiacutetica 2 em 52 ndash

com base nas entrevistas finais concedidas a mim pelos referidos estudantes farei uma anaacutelise sobre a

participaccedilatildeo e o respectivo abandono do GEPMM

168

Engenharia mais difiacutecil podendo ateacute mesmo ajudar a reforccedilar a crenccedila de que fazer

modelagem eacute difiacutecil que os alunos e professores natildeo estatildeo preparados para o

desenvolvimento de tais atividades por outro lado pode ser um importante contexto que

possibilite inovaccedilatildeo e produccedilatildeo de conhecimentos mediante uma atividade de caraacuteter

verdadeiramente interdisciplinar que envolva estudos e pesquisa em sua gecircnese

417 Consolidando seus resultados em uma nova forma de praacutetica

Ateacute o final do ano de 2013148

o GEPMM dedicava esforccedilos na tentativa de

estabelecer essa fase do miniciclo de accedilotildees expansivas como um horizonte de accedilotildees futuras

Portanto o miniciclo ainda natildeo havia se fechado Engestroumlm (1999) enfatiza que ldquoa

ocorrecircncia de um ciclo expansivo completo natildeo eacute comum e ele tipicamente requer esforccedilos

concentrados e intervenccedilotildees deliberadasrdquo (p 385 apud ENGESTROumlM SANNINO 2010b p

12)

Com essa ressalva podemos analisar a construccedilatildeo do GEPMM como um

miniciclo potencialmente expansivo de accedilotildees cujo objetivo (ainda que idealmente) consistiu

na modificaccedilatildeo ou complementaccedilatildeo das praacutexis formativas relacionadas agraves disciplinas de

Caacutelculo na instituiccedilatildeo universitaacuteria tomada como palco da presente investigaccedilatildeo

Como um fechamento provisoacuterio dessa primeira parte da anaacutelise procedo com o

preenchimento da matriz para a anaacutelise da aprendizagem expansiva conforme preconizado

por Engestroumlm (2001) e exposta no Capiacutetulo 3 da presente tese levando em conta os dados

construiacutedos para esta pesquisa como segue

148

Durante o ano de 2014 o GEPMM natildeo se reuniu Os docentes dedicavam esforccedilos agraves respectivas pesquisas de

Doutorado

169

QUADRO 2 ndash ldquoMatrizrdquo para anaacutelise da aprendizagem expansiva

Fonte Elaborada pela autora

A seguir darei continuidade agrave anaacutelise baseando-me principalmente em alguns

momentos da construccedilatildeo dos dados desta pesquisa Trechos extraiacutedos das transcriccedilotildees das

entrevistas iniciais dos estudantes Joseacute e Pedro da entrevista final do aluno Joseacute e das

gravaccedilotildees do nono encontro do GEPMM aleacutem de trechos extraiacutedos das transcriccedilotildees das

gravaccedilotildees do segundo encontro do GEPMM quando dedicaacutevamos esforccedilos para a submissatildeo

do projeto agrave chamada do CNPq e trechos extraiacutedos das entrevistas finais com os alunos e

professores partiacutecipes do GEPMM e finalmente momentos que perpassaram a problemaacutetica

abordada pelo GEPMM com relaccedilatildeo ao tema denominado por mim como peso corporal ideal

Os momentos escolhidos para serem analisados mais pontualmente constituem importante

arcabouccedilo argumentativo para responder agrave pergunta de pesquisa

Vale a pena ressaltar que com base nos referidos momentos decidi elaborar

anaacutelises temaacuteticas e as denominei por modalidades ou seja modalidades analiacuteticas Para tal

quatro modalidades seratildeo explicitadas no texto que segue

170

5 MODALIDADES ANALIacuteTICAS

Neste capiacutetulo tenho por objetivo apresentar um arcabouccedilo argumentativo na

tentativa de responder ao questionamento impresso na pergunta diretriz149

que norteou a

investigaccedilatildeo relatada na presente tese Para tal construo quatro modalidades analiacuteticas

Na primeira modalidade baseio-me em trechos extraiacutedos das transcriccedilotildees das

entrevistas iniciais concedidas a mim pelos estudantes Joseacute e Pedro da entrevista final do

aluno Joseacute e das gravaccedilotildees do nono encontro do GEPMM Teccedilo uma anaacutelise a respeito da

existecircncia de uma ldquotelardquo invisiacutevel podendo ser considerada um instrumento que

supostamente permeou as aulas tradicionais de Caacutelculo em que os alunos Pedro e Joseacute

haviam participado no contexto da presente pesquisa

Na segunda modalidade baseio-me em trechos extraiacutedos das transcriccedilotildees das

gravaccedilotildees do segundo encontro do GEPMM quando dedicaacutevamos esforccedilos para a submissatildeo

do projeto agrave chamada do CNPq aleacutem de trechos extraiacutedos das entrevistas finais com os alunos

e professores partiacutecipes do GEPMM Teccedilo uma anaacutelise focada nas muacuteltiplas atividades

demandadas aos sujeitos da investigaccedilatildeo pelo contexto institucional em questatildeo e nas agencys

evidenciadas no decorrer da constituiccedilatildeo do GEPMM assim como das atividades nele

desenvolvidas

Na terceira modalidade baseio-me no momento da construccedilatildeo dos dados que

objetivou o desenvolvimento da modelagem cujo tema foi denominado por ldquopeso corporal

idealrdquo Utilizo a teoria das caixas-pretas como estrateacutegia de anaacutelise das transformaccedilotildees

qualitativas do objeto da referida atividade

Finalmente a quarta modalidade se ancora nas interaccedilotildees tecnomediadas

evidenciadas nopelo desenvolvimento da atividade de modelagem denominada por ldquopeso

corporal idealrdquo Foco as idealizaccedilotildees possibilitadas pela multivocalidade e agency atuando

como desencadeadoras de aprendizagens potencialmente expansivas principalmente no que

diz respeito aos processos produtivos e inovadores na referida atividade

149

Pergunta diretriz Quais aprendizagens expansivas podem ser evidenciadas pelas e nas atividades

desenvolvidas por um Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica em um contexto de formaccedilatildeo

em Engenharias

171

51 Primeira modalidade ndash Dialeacutetica da existecircncia da tela invisiacutevel GEPMM como

possibilidade para aprendizagem expansiva por meio da construccedilatildeo de parceria

docente-discente em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias

Na sociedade em rede a virtualidade eacute a fundaccedilatildeo da realidade atraveacutes de novas

formas de comunicaccedilatildeo socializaacutevel (CASTELLS 2006 p 24)

Inicio esta parte da anaacutelise tomando por base uma fala do aluno Pedro na

entrevista inicial ele contou que durante as aulas de Caacutelculo que havia tido na graduaccedilatildeo agraves

vezes achava que estava assistindo a uma videoaula ao inveacutes de uma aula presencial Nas

palavras dele

Falta um pouco mais de [] entendimento Agraves vezes alguns professores natildeo levam

em conta algumas dificuldades que alguns alunos tecircm [] agraves vezes falta um pouco

de sensibilidade com a dificuldade do aluno agraves vezes uma didaacutetica um pouco mais

proacutexima do aluno Agraves vezes parece que vocecirc estaacute vendo uma videoaula ao inveacutes de

ter uma aula presencial [] Por parte do grupo de professores falta uma aula uma

didaacutetica um pouco mais proacutexima do aluno dos problemas do aluno e ajudar ele a

solucionar esses problemas

Na entrevista inicial concedida a mim Pedro demonstrou se sentir incomodado

devido ao distanciamento percebido por ele entre alunos e professor nas aulas de Caacutelculo

Naquele momento da construccedilatildeo dos dados para a referida pesquisa ainda natildeo tinha

percebido tal descontentamento este se tornou consciente para mim apoacutes a entrevista com

aluno Pedro que se mostrou muito inquieto quanto a essa questatildeo alunos de um lado da

ldquotelardquo e docentes do outro Uma possiacutevel anaacutelise sobre essa inquietaccedilatildeo se encontra na

dimensatildeo dos sujeitos e as possibilidades de interaccedilatildeo estabelecidas pelas regras que regem a

atividade em questatildeo a aula tradicional de Caacutelculo Percebi que a participaccedilatildeo desse aluno no

GEPMM estava ligada agraves possibilidades de ldquoestar pertordquo dos professores no sentido de que

no grupo era ldquopermitidordquo interagir com os professores150

Julgo importante pontuar nesse momento que durante a entrevista inicial com o

aluno Joseacute algumas falas convergem com as mesmas inquietaccedilotildees demonstradas por Pedro

Joseacute parece se sentir constrangido em iniciar interaccedilotildees verbais com os professores durante as

aulas de Caacutelculo com o objetivo de sanar duacutevidas ele parece acreditar que o momento uacutenico

150

Cabe ressaltar que ainda que a participaccedilatildeo dos alunos tenha ocorrido apenas nos primeiros encontros ou

seja os alunos acabaram abandonando o GEPMM natildeo acredito que esta parte da anaacutelise fique fragilizada devido

a isto pois nesta parte busco analisar os motivos que levaram os dois alunos em questatildeo a aceitarem o convite de

participaccedilatildeo no grupo e natildeo especificamente o desenvolvimento das atividades do grupo A parceria estabelecida

entre alunos e professores eacute que estaacute sendo analisada como uma forma de desenvolvimento da aprendizagem

expansiva

172

que isso seja ldquopermitidordquo seja o final das aulas Vale ressaltar que o aluno Joseacute eacute considerado

por Clarice como um aluno muito bom ndash que se preocupa com a aprendizagem com seu

proacuteprio processo formativo podendo ser considerado ateacute mesmo como um ldquotipo rarordquo de

aluno ldquoeacute raro eu ter aluno como Joseacuterdquo pontua151

Clarice Nas palavras de Joseacute

O aluno tem sempre aquela coisa noacute Ele eacute meu professor Haacute um distanciamento

Vocecirc pensa eu soacute sou um aluno e ele eacute meu professor Ele natildeo vai querer ficar me

dando atenccedilatildeo no final da aula porque eu tenho duacutevidas Muitos professores agraves

vezes natildeo datildeo atenccedilatildeo pro aluno Veem o aluno assim mas natildeo quer incocircmodo

sabe Os alunos chegam nos professores mas taacute faltando os professores chegarem

nos alunos porque eles tem que ver que isso aqui eacute um grupo de pessoas

Observe que o que eacute ldquopermitidordquo muitas vezes natildeo eacute visiacutevel nem expliacutecito nas

accedilotildees pois pode estar ldquoescondidordquo no curriacuteculo oculto como um instrumento oculto

configurado pelas regras e divisatildeo do trabalho ou seja na parte de baixo do triacircngulo de

Engestroumlm conforme explicitei no Capiacutetulo 1 desta tese

Contudo essa ldquotelardquo pode natildeo existir na percepccedilatildeo dos docentes configurando

apenas um instrumento necessaacuterio para constituir uma regra implicitamente ldquoocultardquo ao aluno

eacute permitido se dirigir aos professores das disciplinas de Caacutelculo quando ele jaacute estudou

anteriormente jaacute adquiriu certo niacutevel de aceitaccedilatildeo para participar de uma interaccedilatildeo com o

professor

Campos (2012) ao realizar sua pesquisa de doutorado investigou uma proposta

pedagoacutegica para a disciplina Caacutelculo Diferencial e Integral na UFMG e constatou que o

distanciamento caracteriza a relaccedilatildeo entre o professor e seus alunos E pontua

Como algueacutem que programa um computador o docente expotildee com rigor os

conteuacutedos que deveratildeo ser articulados na resoluccedilatildeo das questotildees das provas No

momento da correccedilatildeo ele afere a quatildeo proacuteximo da resposta correta o aluno chegou e

confere uma nota que certificaria o quanto o aluno apreendeu de suas aulas Sua

participaccedilatildeo se daria apenas nos dois momentos extremos do ato na apresentaccedilatildeo do

conteuacutedo e na correccedilatildeo das provas Caberia ao aluno preencher o que falta entre

esses dois eventos (CAMPOS 2012 p 34)

Sendo assim para dar conta das atividades de formaccedilatildeo em Caacutelculo configura-se

como um preacute-requisito indispensaacutevel a participaccedilatildeo ativa dos estudantes no que tange ao

desenvolvimento de autonomia e determinaccedilatildeo para buscar informaccedilotildees eou outros

instrumentos que os auxilie nessa jornada Desse modo sob essa perspectiva o docente

151

Trecho retirado das transcriccedilotildees das filmagens do nono encontro do GEPMM Falaacutevamos sobre o perfil dos

alunos que haviam aceitado o convite para participarem do grupo e os possiacuteveis motivos que pudessem explicar

a falta de assiduidade deles nas reuniotildees

173

imprime em sua consciecircncia uma forma idealizada de um dos objetos de sua atividade ndash os

estudantes O grande problema eacute que muitas vezes os estudantes por si soacute natildeo conseguem

atingir esse preacute-requisito Natildeo conseguem ser de fato na realidade objetiva um objeto real

para serem assim transformados pela praacutexis formativa proposta pelos docentes de Caacutelculo

Isso pode explicar os altos iacutendices de reprovaccedilatildeo e evasatildeo em instituiccedilotildees federais de ensino

superior o que resulta num real desperdiacutecio de recursos puacuteblicos

Isso pode implicar um enorme ldquovaacutecuordquo entre os sujeitos da atividade de

aprendizagem tradicional de Caacutelculo em cursos de Engenharia o que pode criar ldquofronteirasrdquo

interativas muitas vezes produzindo duas atividades distintas a atividade de ensino do

professor de um lado da ldquotelardquo e a atividade de aprendizagem dos alunos do outro lado da

ldquotelardquo Aleacutem disso muitas vezes eacute dada ldquopermissatildeordquo ao aluno que natildeo quer participar das

aulas pelos docentes que natildeo verificam a assiduidade dos alunos em suas aulas e natildeo

reprovam por mais de 25 de ausecircncia (que eacute preconizado nos curriacuteculos e nas normativas)

Mas precisamos levar em conta que os docentes das disciplinas de Caacutelculo na

UNIFEI-Itabira lecionam em turmas com em meacutedia 75 alunos Suponha que cada aluno

queira realizar uma uacutenica interaccedilatildeo com o docente durante uma aula que tem duraccedilatildeo de

1h40 Considere que o aluno gaste apenas 10 segundos para elaborar sua fala e que o docente

gaste apenas mais 20 segundos para se pronunciar em resposta a essa fala do aluno Com isso

seriam gastos 375 minutos da aula Esse excessivo nuacutemero de alunos em sala de aula pode

favorecer a manutenccedilatildeo da ldquotelardquo

Outra observaccedilatildeo eacute que essa ldquotelardquo em muito se diferencia da tela de um

computador utilizado como instrumento um artefato mediador em cursos a distacircncia A tela

do computador usada no atual ensino a distacircncia permite interaccedilotildees entre alunos professores

e tutores por meio de mediaccedilotildees por chat ou e-mails Jaacute a ldquotelardquo cuja suposta existecircncia seja

invisiacutevel aos olhos de alguns impede mesmo que de forma oculta que se estabeleccedilam

interaccedilotildees entre os sujeitos que dividem um mesmo espaccedilo fiacutesico delimitando suas accedilotildees em

dois contextos distintos ou seja em duas atividades disjuntas paralelas cuja miacutenima relaccedilatildeo

eacute estabelecida pelo objeto que se configura pela apresentaccedilatildeo contida nos livros-texto dos

conteuacutedos de Caacutelculo resultando em aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo nas referidas disciplinas

O professor estaacute imerso em uma instituiccedilatildeo que o ldquoamarrardquo de uma forma ou

outra se ele natildeo cumprir a ementa eacute ldquopunidordquo tem que aprovar a maioria possiacutevel de alunos

senatildeo as turmas ficam mais cheias ainda ou ele tem que dar mais aulas nisso algo pode estar

sendo roubado dele que a meu ver seria extremamente importante para a plena realizaccedilatildeo de

seu trabalho ndash o tempo para o oacutecio e para a reflexatildeo

174

Mais do que isso os alunos ldquofabricadosrdquo pela cultura tradicional de ensino por

natildeo serem formados para questionar as praacuteticas vigentes acabam por se tornar meros

reprodutores dando assim a manutenccedilatildeo necessaacuteria para que essas praacuteticas sejam reforccediladas

Os docentes que hoje atuam nas disciplinas de Caacutelculo na UNIFEI tambeacutem foram afetados

pelas praacuteticas tradicionais de ensino provavelmente tambeacutem particionadas por uma ldquotelardquo

invisiacutevel aos olhos de seus professores agrave eacutepoca contudo natildeo lhes foi adicionada formaccedilatildeo

criacutetico-reflexiva suficiente para romper com os ciclos de reproduccedilatildeo de tais praacuteticas que

continuam vigentes Campos (2012 p 35) apontou que professores e alunos que se formam

em instituiccedilotildees que cobiccedilam as praacuteticas tradicionais de ensino-aprendizagem passam tambeacutem

a consideraacute-las como ldquoreferencial de excelecircncia no ensino o que torna a organizaccedilatildeo

acadecircmica mais apegada a suas praacuteticas e resistente a mudanccedilasrdquo

Vale ressaltar que o aluno Pedro durante a entrevista inicial pareceu estar

entusiasmado em participar do GEPMM pois para ele o grupo poderia se transformar em um

elo e aproximar os professores dos alunos diminuindo o distanciamento entre eles fazendo

com que os professores passem a reconhecer as dificuldades dos alunos e assim possam

melhorar sua didaacutetica

A anaacutelise que aqui proponho estaacute baseada na loacutegica dialeacutetica marxista que se

limita a uma forma de pensar a realidade considerando-a em constante mudanccedila mediante o

desenvolvimento do tripeacute tese antiacutetese e siacutentese O meacutetodo de anaacutelise dialeacutetico consiste na

siacutentese de termos contraacuterios ndash tese e antiacutetese (LEFEBVRE 1991) Assim como na dialeacutetica

marxista a burguesia corresponde agrave tese e o proletariado agrave antiacutetese fazendo emergir a

superaccedilatildeo da sociedade de classes pelo comunismo uma siacutentese decorrente das crises do

capitalismo pleiteadas pelos conflitos entre burguesia e proletariado (LEFEBVRE 1991)

esboccedilo essa parte da anaacutelise como a dialeacutetica da existecircncia da ldquotelardquo invisiacutevel

De um lado configura-se a hipoacutetese de que nas referidas aulas de Caacutelculo que o

aluno Pedro havia participado existia um instrumento ndash a ldquotelardquo invisiacutevel Nisso constituiria a

tese Na mesma realidade em questatildeo ndash as aulas tradicionais de Caacutelculo que o aluno Pedro

havia participado na instituiccedilatildeo ndash do outro lado estariam os professores que poderiam natildeo

perceberem que a suposta ldquotelardquo existe A antiacutetese eacute a inexistecircncia da ldquotelardquo invisiacutevel Dessa

forma estaria travado o esboccedilo da dialeacutetica da existecircncia da ldquotelardquo invisiacutevel A siacutentese como

sendo algo de natureza diferente mas ao mesmo tempo conservando elementos da tese e da

antiacutetese constitui-se por um processo dialoacutegico conduzido pela discussatildeo e embate de

contrapostos

175

Vale ressaltar que a siacutentese pode ser entendida como um grau mais elevado na

anaacutelise dialeacutetica em relaccedilatildeo agrave tese e agrave antiacutetese Aleacutem disso a siacutentese daacute origem a uma nova

tese que seraacute contraposta com uma nova antiacutetese e assim por diante iniciando novos ciclos

dialeacuteticos (LEFEBVRE 1991) Com isso a anaacutelise dialeacutetica da existecircncia da ldquotelardquo invisiacutevel

nos leva a possibilidades de elaboraccedilatildeo de uma siacutentese do que de melhor cada uma das faces

do contraposto nos apresenta Conforme exposto anteriormente eacute fatiacutedico que caso a tese (a

existecircncia da ldquotelardquo invisiacutevel) seja confirmada eacute preciso que ela seja destruiacuteda em prol de

melhorias e avanccedilos na natureza do processo aqui analisado

De toda forma eacute importante frisar que quando o aluno Pedro decidiu se engajar

no GEPMM de alguma forma ele desconfia que a ldquotelardquo natildeo existiria em tal contexto

alternativo mais amplo De fato a ldquotelardquo ainda que invisiacutevel natildeo permeou as ldquoatividadesrdquo de

Modelagem Matemaacutetica conforme implementado na UNIFEI por meio do GEPMM A

ausecircncia desse instrumento (oculto escondido invisiacutevel) provoca mudanccedilas quantitativas e

qualitativas nas interaccedilotildees entre os sujeitos da atividade que passam a buscar informaccedilotildees de

forma coletiva e passam a construir novos instrumentos para resolverem as peculiares

questotildees-problema que direcionam as accedilotildees em tais atividades Alunos e professores se

tornam sujeitos parceiros na referida atividade Estabelece-se mutuamente um fluxo contiacutenuo

de compartilhamento de informaccedilotildees o que acaba por transpor as fronteiras (ENGESTROumlM

SANNINO 2010b) ldquotela adentrordquo fazendo emergir uma nova rede uma ineacutedita parceria

docente-discente

Assim sendo os sujeitos engajados nessa atividade passam a pertencer a uma

mesma hierarquia horizontal de fluxo informacional natildeo podendo assim estar permanecer

distanciados apartados e segregados Tornam-se sujeitos de uma mesma atividade orientada

pelos seguintes objetos os estudantes em formaccedilatildeo e a questatildeo-

-problema natildeo matemaacutetica cujos artefatos mediadores incluem os conteuacutedos de Caacutelculo sob a

forma de modelos mais especificamente considerando os dados construiacutedos para esta

pesquisa as EDOs e outros instrumentos tecnoloacutegicos que incluem dentre outros o software

que foi criado com o objetivo de possibilitar simulaccedilotildees de mudanccedilas de peso corporal

mediante alteraccedilotildees na dieta e nos exerciacutecios fiacutesicos (Human Weight Simulator ndash HWS)

Aleacutem disso supondo a existecircncia da ldquotelardquo em aulas tradicionais de Caacutelculo ela

acaba por elevar o professor a um patamar de configuraccedilatildeo como uma voz uma vocalidade

que ecoa na atividade como um locutor do discurso do Caacutelculo acadecircmico como se ele

estivesse realmente de outro lado em outro ambiente como se o aluno fosse mesmo assistir

a uma videoaula Esse mesmo patamar pode ser ocupado pelo autor do livro-texto utilizado

176

nas aulas tradicionais de Caacutelculo em cursos de Engenharia a vocalidade do autor ecoa e

participa das atividades dentro da sala de aula e se diferencia da vocalidade que ecoa do

professor apenas pela miacutedia (meio) que as suportam ndash no caso do autor a miacutedia eacute impressa

nas paacuteginas do livro sob a forma de linguagem escrita e no caso do professor a voz ecoa

suportada pela linguagem falada e pela linguagem escrita quando utiliza o quadro branco

para principalmente reproduzir paacuteginas do livro-texto

Campos (2012 p 34 grifos do autor) destaca que a narrativa construiacuteda por ele

com o objetivo de relatar como ocorrem as aulas de Caacutelculo na UFMG poderia ser

considerada como se ele ldquoestivesse assistindo agrave cena atraveacutes de um vidro que o impedisse de

ouvir as muacuteltiplas vozes presentesrdquo o que nos leva a crer que tal regra oculta natildeo faz parte

apenas do curriacuteculo oculto presente nas salas de aula de Caacutelculo da UNIFEI mas tambeacutem de

outras instituiccedilotildees como nesse caso na UFMG

As atividades de Modelagem Matemaacutetica desenvolvidas no GEPMM se propotildeem

como potencialmente ldquodestruidorasrdquo de tal ldquotelardquo mediante a construccedilatildeo de uma rede de

aprendizagem na qual os docentes satildeo sujeitos pertencentes a uma mesma hierarquia

horizontal de fluxo informacional que os discentes o que acaba por promover transposiccedilotildees

de fronteiras (ENGESTROumlM SANNINO 2010b) e consequentemente a ampliaccedilatildeo de

possibilidades de interaccedilotildees entre os sujeitos

Portanto em atividades de Modelagem Matemaacutetica os parceiros ndash alunos e

professores ndash natildeo podem assumir outro lugar senatildeo o de sujeitos de uma mesma atividade

Dessa forma a ldquotelardquo presente (mesmo que de forma oculta e invisiacutevel em aulas tradicionais

de Caacutelculo) precisa necessariamente ser ldquoquebradardquo para que a formaccedilatildeo dessa nova

parceria se torne possiacutevel Somente por meio da transposiccedilatildeo desta fronteira eacute que se

tornariam possiacuteveis movimentos para aleacutem de alunos procurarem ajuda e professores darem a

ajuda (tirar duacutevidas) alcanccedilando assim um patamar de parceria na qual os sujeitos buscam e

encontram informaccedilotildees ou as constroem onde quer que elas estejam

Durante a construccedilatildeo dos dados da presente pesquisa alguns momentos podem

ser colocados em relevo no que diz respeito agraves possibilidades de diaacutelogos entre docentes e

discentes que num processo de negociaccedilatildeo e orquestraccedilatildeo formataram e orientaram as

atividades do GEPMM

No primeiro encontro eacute possiacutevel perceber que os alunos ali presentes falavam

livremente e participavam das decisotildees e regras estabelecidas pelos integrantes Natildeo havia

distinccedilatildeo entre alunos e professores todos falavam contavam ldquocasosrdquo e exprimiam suas

opiniotildees Joseacute por exemplo nos contou um caso sobre um funcionaacuterio de uma empresa de

177

grande porte localizada na cidade de Ipatinga-MG que ao desenvolver suas atividades de

trabalho ldquoteimourdquo com um engenheiro dizendo que o resultado do processo seria negativo o

engenheiro natildeo considerou a opiniatildeo do funcionaacuterio e no final do processo o funcionaacuterio

estava certo Logo em seguida a professora Clarice falou que os alunos de Caacutelculo satildeo

desmotivados demais e que o resultado disso muitas vezes eacute a reprovaccedilatildeo A aluna Taty

interveio ldquomas eu acho que isso natildeo eacute culpa do professorrdquo A docente Clarice rebateu em

tom de voz aparentemente alterado ldquomas eacute tambeacutem um deverrdquo Em seguida a aluna Taty

pontuou que em turmas de 75 alunos seria muito difiacutecil o professor acompanhar essa questatildeo

da motivaccedilatildeo

No segundo encontro do GEPMM um momento de tensatildeo ocorreu quando ao

perceber que o docente Angel pareceu preferir o problema do tracircnsito e afirmou olhando para

os alunos que havia um trabalho de coleta de dados in loco que deveria ser realizada pelos

alunos a aluna Taty imediatamente se posicionou dizendo ldquoah natildeo gente natildeo olha pra mim

natildeo gente Tocirc fazendo um monte de coleta de dados jaacute Me recuso cara [] Eu sento e leio

60 artigos se vocecircs quiserem faccedilo resumo de todos pra vocecircs natildeo tocirc brincando Eu tocirc

fazendo uma coleta gigantescardquo Entendo que naquele momento o posicionamento assertivo

da aluna impactou no que seria a decisatildeo do grupo no que diz respeito agrave escolha do primeiro

tema a ser abordado O grupo poderia ter tomado outro rumo se a aluna natildeo tivesse se

posicionado

No terceiro encontro durante a discussatildeo do artigo Scagliusi e Lancha Juacutenior

(2005) na paacutegina 542 deparamo-nos com um termo fiacutesico-quiacutemico ndash o deuteacuterio Noacutes

docentes natildeo sabiacuteamos o que significava esse termo e fomos agraciados pela fala dos alunos

Joseacute e Pedro esclarecendo com propriedade sobre o que se tratava esse conceito

Com base nesses trechos extraiacutedos das gravaccedilotildees em aacuteudio e viacutedeo das primeiras

trecircs reuniotildees do GEPMM os diaacutelogos entre os sujeitos seguem em um ritmo almejado

quando uma parceria eacute estabelecida entre niacuteveis hierarquicamente distintos em instituiccedilotildees

Aleacutem disso explicitarei mais adiante neste mesmo capiacutetulo outros trechos extraiacutedos das

transcriccedilotildees das filmagens de outras reuniotildees do GEPMM que reafirmam a formaccedilatildeo de

parcerias docente-discente e docente-docente sendo que essa uacuteltima se refere agrave parceria

instituiacuteda natildeo apenas por docentes que lecionam disciplinas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia Ainda que os alunos tenham abandonado o GEPMM natildeo significa que tal

parceria natildeo tenha se concretizado Cabe ressaltar que segundo Engestroumlm e Sannino (2010b)

a transposiccedilatildeo de fronteiras entre niacuteveis organizacionais ou hierarquias tais como entre

alunos e professores pode representar uma forma de aprendizagem expansiva quando ocorre

178

movimentos verticais de informaccedilotildees entre os niacuteveis Para os autores uma parceria funda-se

por meio de interaccedilotildees entre niacuteveis hieraacuterquicos distintos em prol da realizaccedilatildeo de uma

atividade comum ndash um objeto compartilhado - na qual os aprendizes buscam informaccedilotildees

onde quer que elas estejam e o fluxo informacional eacute livre

Desse modo podemos entender as atividades realizadas no e pelo GEPMM como

sendo de alto grau de complexidade e baixo grau de centralizaccedilatildeo o que segundo Engestroumlm

(1993) caracteriza um tipo histoacuterico de atividade a ser considerado de domiacutenio coletivo e

expansivo A construccedilatildeo de tal ldquorede alternativardquo mediante a constituiccedilatildeo das referidas

parcerias pode entatildeo ser entendida como um tipo de aprendizagem expansiva

Com isso encerro a anaacutelise da dialeacutetica da existecircncia da ldquotelardquo invisiacutevel

enfatizando que por meio da construccedilatildeo da parceria docente-discente possibilitada nopelo

engajamento nas atividades desenvolvidas pelo GEPMM a ldquotelardquo natildeo existe nem mesmo de

forma invisiacutevel devido ao fluxo informacional ser livre e as interaccedilotildees entre docentes e

discentes serem constituiacutedas em uma uacutenica rede de aprendizagem

52 Segunda modalidade ndash Os sujeitos a multi-agency e as muacuteltiplas atividades

possibilidade para aprendizagem expansiva como movimento na zona de

desenvolvimento proximal das atividades docente-discente mediante a formaccedilatildeo de

parcerias

Satildeo os homens por certo que com sua praacutexis formam e mantecircm essa estrutura satildeo

eles que desenvolvem as forccedilas produtivas e que contraem determinadas relaccedilotildees na

produccedilatildeo independente de sua consciecircncia e vontade (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ

1977 p 189)

A agency segundo a Teoria da Atividade de Engestroumlm (1987) pode ser

entendida como um adjetivo inerente agraves possibilidades de accedilatildeo dos sujeitos engajados em

uma atividade tais como a condiccedilatildeo de realizar uma accedilatildeo ndash agente os meios ou modos pelos

quais a accedilatildeo eacute executada ndash instrumentalidade ou operaccedilatildeo poder ou capacidade de realizar

uma accedilatildeo ndash desempenho ou performance maneira de atuar de agir Sistematicamente a meu

ver a agency pode ser considerada como a atitude dos sujeitos em implementar

procedimentos para alcanccedilar o objetivo de uma accedilatildeo Sendo assim vale ressaltar que a agency

se torna visiacutevel nas accedilotildees no relacionamento na mediaccedilatildeo nas interaccedilotildees e natildeo como algo

pertencente aos sujeitos (DANIELS et al 2010)

A formaccedilatildeo de parcerias estaria sob essa anaacutelise relacionada agrave constituiccedilatildeo de

redes de aprendizagem em um contiacutenuo e descontiacutenuo movimento de transposiccedilatildeo de

179

fronteiras institucionalmente configuradas por artefatos histoacutericos culturais que podem estar

mediando as relaccedilotildees entre os sujeitos e os demais instrumentos de uma atividade de forma

impliacutecita ou invisiacutevel como por exemplo a dialeacutetica da existecircncia da ldquotelardquo invisiacutevel em

salas de aula de Caacutelculo como um instrumento que estaria permeando tal contexto

Eacute importante ressaltar que os sujeitos engajados no GEPMM participam a priori

de atividades originais primaacuterias cujos objetos podem estar alinhados ou natildeo no

desenvolvimento de variadas formas de praacutexis acadecircmica instituiacutedas em tal contexto

formativo Nesse caso pontualmente refiro-me aos interconectados sistemas de atividade

originais dos quais participam conjuntamente docentes e discentes dos cursos de Engenharia

da instituiccedilatildeo UNIFEI-Itabira De um lado de uma mesma moeda refiro-me aos sistemas de

atividade de trabalho que os docentes ldquodesenhamrdquo e colocam em praacutetica no decorrer das

variadas formas de trabalho situadas nas instituiccedilotildees que se dedicam exclusivamente agrave

formaccedilatildeo superior em Engenharia do outro lado dessa mesma moeda situam-se os sistemas

de atividade dos quais participam os discentes no mesmo contexto Observe que os tais

sistemas de atividade satildeo interconectados indissoluvelmente ndash amalgamados

Nesse sentido os discentes que participam das atividades orientadas pela

formaccedilatildeo em Engenharia desde o iniacutecio do engajamento nas referidas praacutexis formativas

objetivam obter o tiacutetulo de engenheiro com vistas a satisfazer uma necessidade humana

contemporacircnea obter um diploma de engenheiro Natildeo pretendo na referida anaacutelise discorrer

sobre as ideologias discursos e enunciados sociais que estatildeo por traacutes de tal orientaccedilatildeo apenas

a defino como existente e norteadora Para que essa finalidade seja de fato concretizada na

realidade os discentes de cursos de Engenharia precisam elaborar antes de tudo num plano

da atividade consciente um planejamento das accedilotildees necessaacuterias para tal fazendo

necessariamente parte da agency Sendo assim no contexto de formaccedilatildeo analisada nesta tese

um objeto primaacuterio original emerge dos sistemas de atividade dos discentes ndash o diploma de

engenheiro

Quando se tornam discentes de cursos de Engenharia na UNIFEI-Itabira os

sujeitos passam a pertencer a uma comunidade de praacutetica orientada pela e na formaccedilatildeo em

Engenharia Mas poderiam ser consideradas possibilidades para o desenvolvimento de

aprendizagens como participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima (PPL)152

(LAVE WENGER 2002) as

152

ldquoVer a aprendizagem como participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima significa que a aprendizagem natildeo eacute simplesmente

uma condiccedilatildeo para tornar-se membro mas eacute em si mesma uma forma em evoluccedilatildeo do tornar-se membrordquo

(LAVE WENGER 2002 p 170)

180

formas de praacutexis frequentemente realizadas153

no referido contexto institucional Em geral a

resposta para essa pergunta infelizmente tende a ser negativa Primeiro os participantes natildeo

tem amplo acesso a diferentes partes da atividade formativa em questatildeo Quando se tornam

discentes de tais cursos os sujeitos tecircm acesso agraves grades curriculares sob a forma escrita de

plano de curso particionado em vaacuterias disciplinas a serem cumpridas mas de forma alguma

veem ou participam na realidade concreta das diversas praacuteticas que constituem tal formaccedilatildeo

Em segundo lugar os participantes natildeo percebem lsquoabundacircnciarsquo nas interaccedilotildees horizontais

entre eles que na maioria das vezes tambeacutem natildeo eacute mediada por situaccedilotildees problemaacuteticas e

suas soluccedilotildees Pelo contraacuterio na maior parte do tempo dedicado agrave formaccedilatildeo os discentes se

esforccedilam para entender situaccedilotildees hipoteacuteticas fictiacutecias e teoacutericas impressas e sugeridas por

autores de livros didaacuteticos muitos deles traduzidos de outras liacutenguas oriundos de outras

culturas resultando em produtos que por definiccedilatildeo se distanciam dos interesses e

necessidades de uma comunidade especiacutefica Finalmente em terceiro lugar as tecnologias e

estruturas da instituiccedilatildeo natildeo satildeo transparentes Os aprendizes muitas vezes natildeo tecircm acesso ao

que estaacute por traacutes dos mecanismos internos e portanto natildeo satildeo convidados a inspecionaacute-los

Logo a participaccedilatildeo dos discentes em tais praacuteticas de fato ocorre mas natildeo pode

ser considerada em geral como resultante em uma aprendizagem legiacutetima pela e na

participaccedilatildeo em praacutexis firmada em tal contexto formativo Isso se deve ao fato da proacutepria

instituiccedilatildeo ser um artefato histoacuterico cultural que implicitamente ou invisivelmente medeia as

relaccedilotildees dos participantes nas praacutexis (DANIELS et al 2010a p 123) Considerando essa

anaacutelise toda e qualquer praacutexis realizada orientada pela finalidade de formar engenheiros

estaria subordinada agraves possibilidades de mediaccedilatildeo que a proacutepria instituiccedilatildeo submete aos

participantes ainda que de forma impliacutecita ou invisiacutevel entre as quais podemos enfatizar as

relaccedilotildees de poder e controle

Uma forma de controle expliacutecita que pode ser nitidamente observada na

instituiccedilatildeo estudada eacute o curriacuteculo uma grade curricular formada por disciplinas a serem

desenvolvidas pelos docentes e discentes constituiacutedas por conteuacutedos padronizados a serem

ldquoA participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima refere-se tanto ao desenvolvimento de identidades de habilidades

competentes na praacutetica quanto agrave reproduccedilatildeo e transformaccedilatildeo das comunidades de praacuteticardquo (LAVE WENGER

2002 p 171) 153

Refiro-me nesse momento da anaacutelise agraves praacuteticas tradicionais de formaccedilatildeo em Engenharia desenvolvidas em

instituiccedilotildees que se destinam agrave formaccedilatildeo em niacutevel de graduaccedilatildeo em Engenharia contexto de nosso estudo Em

grande parte pode ser caracterizada pelo uso em demasia de aulas expositivas cujo objeto assumido pode ser

resumido pela apresentaccedilatildeo dos conteuacutedos das respectivas disciplinas conforme preconizado nos livros-texto

pela valorizaccedilatildeo do desenvolvimento de habilidades e competecircncias individuais pelo uso de testes e avaliaccedilotildees

padronizadas cujo objetivo consiste na reproduccedilatildeo dos discursos desenvolvidos durante as aulas e pelo

distanciamento entre professores e alunos durante as atividades de formaccedilatildeo ndash a praacutexis formativa em

Engenharia

181

desenvolvidos e por cargas horaacuterias definidas a priori e sobretudo sob o controle das

avaliaccedilotildees que ditam quem cumpriu e quem natildeo cumpriu tais exigecircncias resultando em

aprovaccedilotildees ou reprovaccedilotildees nas disciplinas da grade curricular Esse ldquopoderiordquo acaba por

delimitar ou preacute-fabricar as accedilotildees que os estudantes iratildeo desenvolver assim como as decisotildees

sobre outras formas de participaccedilatildeo em praacuteticas extracurriculares na instituiccedilatildeo Ou seja satildeo

estabelecidas dessa forma accedilotildees prioritaacuterias orientadas pela aprovaccedilatildeo nas disciplinas

principalmente nas disciplinas que ldquonormalmenterdquo resultam em altos iacutendices de reprovaccedilatildeo

Durante a construccedilatildeo dos dados para a presente pesquisa vaacuterios foram os

momentos que o ldquopoderiordquo explicitado anteriormente se manifestou Entre eles podemos

colocar em relevo momentos extraiacutedos das transcriccedilotildees das entrevistas finais realizadas com

os alunos que haviam participado do GEPMM Para responder a primeira pergunta (ldquocomo

vocecirc caracteriza sua participaccedilatildeo no GEPMMrdquo) os estudantes usaram adjetivos do tipo

ldquoinsuficienterdquo ldquomiacutenimardquo ldquoirrelevanterdquo e ldquodeixa a desejarrdquo Mas como a participaccedilatildeo foi

considerada por eles mesmos tatildeo digamos ldquoinexpressivardquo se eles mesmos reconheceram de

antematildeo as possibilidades de aprendizagens mediante a participaccedilatildeo no GEPMM conforme

demonstraram nas entrevistas iniciais e durante os encontros do grupo Possiacuteveis respostas

para tal indagaccedilatildeo podem ser encontradas nas respostas que eles mesmos deram para a

segunda pergunta (ldquodesde que vocecirc comeccedilou a participar do grupo quais os desafios

encontrados Como vocecirc buscou superar estes desafiosrdquo) feita a eles por mim durante a

realizaccedilatildeo das entrevistas finais Taty pontua que o principal desafio consiste na proacutepria

essecircncia da atividade ldquomodelar alguma situaccedilatildeo eacute uma coisa muito complicada porque tem

muitas variaacuteveisrdquo Enfatiza que para superar esse desafio ela precisaria ter tido mais tempo

para maior dedicaccedilatildeo agrave atividade Afirma ainda que a falta de tempo estaria relacionada agrave

realizaccedilatildeo de outras atividades discentes entre as quais se destacam as vaacuterias mateacuterias

(disciplinas) que estaria cursando e a iniciaccedilatildeo cientiacutefica que estaria concluindo naquele

semestre Taty ainda sugere a existecircncia de um dilema incorporado nos sistemas de atividade

que ela participa na posiccedilatildeo de discente de um curso de Engenharia Nas palavras de Taty

Por um lado eu acho um desperdiacutecio tantas oportunidades na faculdade e a gente

natildeo poder muita gente natildeo aproveitar neacute como eu jaacute disse mesmo o fato de termos

professores tatildeo bons e agraves vezes tatildeo dispostos neacute A desenvolver um trabalho que

vocecirc taacute vendo e os outros natildeo estatildeo por outro lado o tempo eacute curto neacute as mateacuterias

satildeo difiacuteceis e se vocecirc leva a seacuterio mesmo vocecirc tem que estudar muito tempo neacute

entatildeo pra fazer um trabalho desse [] eu atribuo essa dificuldade agrave falta de tempo

182

Os alunos Pedro e Joseacute tambeacutem consideraram a falta de tempo como constituinte

do principal desafio encontrado na participaccedilatildeo no GEPMM Pedro ainda admitiu ter tido

dificuldades em participar do GEPMM devido a natildeo ter um ldquoinglecircs muito fluenterdquo o que

para ele dificultou a leitura dos textos Nas palavras de Pedro

Eu natildeo tenho um inglecircs muito fluente entatildeo muitas vezes tinha que buscar

significados de palavras de expressatildeo entatildeo isso garrou um pouco na hora de eu

ler os artigos [] Eu sei que se eu tirar tempo de estudo pra dedicar agrave modelagem

eu sei que vou tomar pau Isso eacute tranquilo [] Eu faccedilo o projeto [referindo-se agraves

atividades do GEPMM] mas chega na disciplina aiacute eu natildeo consigo fazer nada

entatildeo pra mim neste caso natildeo seria vantajoso neste semestre participar do

projeto

Sendo assim fica niacutetido que existe uma lei que rege os sistemas de atividade dos

alunos no que tange agrave sua proacutepria formaccedilatildeo em Engenharia delimitando as modalidades das

atuaccedilotildees na qual tem que sujeitar sua vontade Tal lei poderia ser expressa pelo fim sendo

constituiacuteda pela prefiguraccedilatildeo ideal do resultado material concreto que se quer alcanccedilar ndash o

diploma de engenheiro Mesmo tendo a vontade de participar do GEPMM percebendo as

possibilidades de formaccedilatildeo em tal atuaccedilatildeo os alunos veem diante de si um objeto

ldquodesalinhadordquo nos sistemas de atividades que pode ateacute mesmo impossibilitar o resultado

concreto que desejam alcanccedilar Dessa forma o fim o produto o objeto da atividade dos

sistemas primaacuterios de atividade (diploma) entra em contradiccedilatildeo com a atividade presente

(GEPMM) que passa a natildeo exercer mais o papel de orientar accedilotildees podendo ateacute mesmo se

tornar um objeto fluido nulo colocado como uma vontade em contradiccedilatildeo com a realidade

Engestroumlm (2010a) enfatiza que objetos que orientam as atividades humanas satildeo

oriundos de preocupaccedilotildees eou desconfortos sendo capazes de gerar e focalizar nossas

atenccedilotildees nos motivar fazer-nos esforccedilar e atribuir sentido agraves nossas accedilotildees Nas e pelas

ldquoatividades as pessoas constantemente mudam e criam novos objetos Os novos objetos

frequentemente natildeo satildeo produtos intencionais de uma atividade simples mas consequecircncias

inintencionais de muacuteltiplas atividadesrdquo (ENGESTROumlM 2010a p 304)

Nesse sentido os alunos que haviam aceitado o convite para participaccedilatildeo no

GEPMM (sujeitos de muacuteltiplas atividades cujo resultado esperado seria a formaccedilatildeo em

Engenharia) natildeo viram condiccedilotildees objetivas para sua realizaccedilatildeo para a materializaccedilatildeo de tal

participaccedilatildeo ainda que ela se fizesse anteriormente constituinte de um fim um objeto

idealizado que havia se fluidificado na realidade

Saacutenchez Vaacutezquez (2002 p 231) nos apresenta uma relaccedilatildeo dialeacutetica entre a

finalidade e a causalidade ldquojaacute que embora os fins conduzam agrave transformaccedilatildeo da realidade

183

esta impotildee limites que aqueles natildeo podem transporrdquo Somente as accedilotildees concretas que

disponham de meios concretos para sua realizaccedilatildeo podem resolver a contradiccedilatildeo histoacuterica

que abarca a finalidade como expressatildeo de uma contradiccedilatildeo entre ldquoo futuro e o presente entre

o ideal e o real entre a realidade a ser transformada e a realidade inexistente jaacute prefigurada

pela consciecircnciardquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 2002 p 231) Assim podemos analisar a natildeo

assiduidade e a participaccedilatildeo incipiente dos alunos que haviam aceitado o convite para

comporem o GEPMM como uma resposta agrave realidade pois ldquonatildeo se podem aceitar meios que

sendo eficazes em relaccedilatildeo a um fim particular contribuam para corromper fins mais

elevadosrdquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 2002 p 233) Tal resposta eacute decorrente da agency

configurada pela implementaccedilatildeo de procedimentos com vistas ao realinhamento ao fim mais

elevado

Durante a entrevista final a aluna Taty disse que acha mais faacutecil participar de

atividades formativas tradicionais (regidas por provas individuais) do que de atividades em

grupo mais interdisciplinares e praacuteticas apesar de afirmar que em sua concepccedilatildeo o meacutetodo

tradicional natildeo tem nada a ver com a formaccedilatildeo do engenheiro Para ela as atividades em

grupo possibilitam mais aprendizagens eacute ldquomuito mais legalrdquo ldquomuito mais interessanterdquo e

ldquoesse eacute o trabalho do engenheirordquo Contudo parece ter caracterizado um objetivo que diz

respeito agraves disciplinas de Caacutelculo que compotildeem a grade curricular do curso de Engenharia no

qual eacute aluna Nas palavras de Taty ldquoeu quero aprovar mais do que isso eu quero passar bem

na mateacuteria [] eu gosto de passar bem em Caacutelculo [] eu quero saber fazer a provardquo Com

isso podemos entender que um fim particular (relacionado agrave formaccedilatildeo em Caacutelculo) estava

traccedilado idealmente como alinhado ao fim mais elevado ndash obter o diploma de engenheira

Dessa forma percebemos um ldquodesalinhamentordquo entre o objeto do GEPMM e o

objeto original primaacuterio que constitui os sistemas de atividade da aluna Taty cujo resultado

se materializa no diploma de engenheira Tal ldquodesalinhamentordquo se tornou visiacutevel aos nossos

olhos pela participaccedilatildeo incipiente da aluna no GEPMM A proacutepria participaccedilatildeo incipiente faz

parte da agency sendo configurada como uma maneira de agir de atuar A aluna nos contou

que ao cursar uma disciplina especiacutefica do curso de Engenharia havia realizado um trabalho

em grupo e que teria se empenhado bastante e aprendido muita coisa de ldquoanaloacutegicardquo mesmo

sem ter feito a disciplina de Analoacutegica formalmente Afirmou que ldquoa interaccedilatildeo o trabalho

em grupo [] uma semana de laboratoacuterio e vocecirc aprende coisa que assim agraves vezes em uma

mateacuteria inteira ficava bem mais ou menosrdquo Observe que como o trabalho em grupo que a

aluna nos contou foi uma atividade avaliativa que resultaria em pontuaccedilatildeo estaria bem

ldquoalinhadardquo aos objetivos de ser aprovada eou ter boas notas na referida disciplina Talvez isso

184

corrobore a suspeita de que se as atividades de Modelagem resultassem em pontuaccedilatildeo em

alguma disciplina de fato os alunos participariam de forma mais efetiva do que pudemos

observar na construccedilatildeo dos dados para a presente pesquisa Sendo assim para que os alunos

participassem efetivamente das atividades do GEPMM tornaram-se necessaacuterios ajustes ao

modelo conforme explicitei anteriormente

Com base nas ideias de Leontiev ainda poderiacuteamos analisar que na verdade os

alunos apenas cumprem o que eacute demandado no contrato didaacutetico institucionalizado ndash estudar

para serem aprovados nas disciplinas eou obterem boas notas ndash e isso constitui ou influencia

fortemente a agency observaacutevel nos procedimentos implementados Contudo com isso os

sujeitos foram desapropriados e desapropriam a si mesmos do sentido do que fazem pois a

atividade formativa acaba perdendo sua especificidade restando-lhes apenas um trabalho

alienado quer se trate do aluno ou do professor ldquoe esse trabalho temos de admiti-lo eacute chato

muito aborrecidordquo (CHARLOT 2013 p 154) O aluno Pedro acabou confirmando essa

concepccedilatildeo Nas palavras dele extraiacutedas das transcriccedilotildees da entrevista inicial podemos ver

Quanto a Caacutelculo a visatildeo que a gente tem infelizmente eacute que eacute uma coisa chata eacute

blaacuteblaacuteblaacute Eu jaacute ouvi de alguns colegas que Caacutelculo natildeo eacute uma coisa que vocecirc usa

tanto muita gente natildeo tem noccedilatildeo da importacircncia do Caacutelculo [] esse mito que se

tem ldquoah o caacutelculo eacute difiacutecil mas natildeo tem importacircnciardquo acaba desestimulando o

pessoal e aiacute sim que vocecirc agraves vezes consegue ateacute ser aprovado na disciplina mas natildeo

tem um aprendizado real

O aluno Pedro ainda expocircs na entrevista inicial que em sua visatildeo faltavam

projetos que objetivassem mostrar para os alunos a ldquoverdadeira importacircncia do Caacutelculo e que

estimulassem os alunos a entenderem o assunto a estudarem maisrdquo demonstrando acreditar

que o GEPMM pode cumprir esse objetivo Contudo ao deixar de participar do GEPMM por

falta de tempo e por parecer priorizar a aprovaccedilatildeo nas disciplinas o aluno acabou por

promover uma possiacutevel desapropriaccedilatildeo de si mesmo do sentido do que faz ndash sujeito em

formaccedilatildeo agravequele que deseja se apropriar de conhecimentos ndash restando-lhe apenas um

trabalho alienado subtraiacutedo de seu desejo manifestado ter ldquoum aprendizado realrdquo

Cabe ressaltar que os dilemas vivenciados pelos alunos quanto agrave participaccedilatildeo no

GEPMM especialmente a participaccedilatildeo em muacuteltiplas atividades demandadas pela formaccedilatildeo

em Engenharia versus a falta de tempo para darem conta de participarem efetivamente das

referidas atividades pode ter resultado na decisatildeo de deixarem de participar dos encontros do

GEPMM Isso natildeo aconteceu somente com os alunos O docente Robson por exemplo

participou de apenas dois encontros do GEPMM atribuindo suas ausecircncias a outras demandas

185

de trabalho como viagens a congressos participaccedilatildeo de bancas de conclusatildeo de cursos e

atividades administrativas A docente Clarice apoacutes o deacutecimo encontro enviou um e-mail a

todos os integrantes do GEPMM informando que em virtude do iniacutecio de seu processo de

doutoramento teria que se ausentar do GEPMM por pelo menos alguns anos Todas essas

atitudes perfazem a agency inerente agraves repostas dos sujeitos agraves referidas demandas

Ainda no segundo encontro do GEPMM escolhemos o primeiro tema a ser

desenvolvido por noacutes ndash ldquopeso corporal idealrdquo Apoacutes tal escolha o professor Angel

compartilhou uma informaccedilatildeo que acabara de ter acesso por meio do manuseio de seu

notebook que permanecia ligado e conectado na internet informando-nos sobre um edital

aberto no site do CNPq Tal edital era sobre gecircnero e relaccedilotildees de trabalho O professor Angel

se mostrou muito animado em elaborarmos um projeto para submetermos agrave ampla

concorrecircncia preconizada pelo referido edital

Decidimos construir um projeto para submissatildeo ainda que tiveacutessemos apenas seis

dias corridos incluindo saacutebado e domingo para tal confecccedilatildeo Taty tentou ajudar nessa

empreitada e disse ter o projeto inteiro escrito sobre gecircnero e somente teriacuteamos que ldquoadaptaacute-

lordquo para a aacuterea da Engenharia A aluna referiu-se ao projeto que ela estava desenvolvendo

como bolsista de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica Decidimos lutar contra o tempo e escrever esse projeto

para a submissatildeo O projeto foi intitulado Relaccedilotildees de Gecircnero no Trabalho das Engenheiras

do Setor industrial uma anaacutelise das condiccedilotildees de trabalho e das competecircncias e habilidades

matemaacuteticas cujo objetivo principal era ldquocompreender as relaccedilotildees de gecircnero estabelecidas no

trabalho das engenheiras que atuam em empresas do setor industrial mineiro por meio do

entendimento das condiccedilotildees de trabalho e das habilidades e competecircncias matemaacuteticas

requeridas na atuaccedilatildeo laboral da aacuterea especificamente estudadardquo E os objetivos especiacuteficos

eram

- Caracterizar as condiccedilotildees de trabalho de mulheres engenheiras das principais

empresas do setor industrial mineiro da regiatildeo do Vale do Accedilo e da cidade de

Itabira

- Estabelecer as diferenccedilas proporcionais de gecircnero na ocupaccedilatildeo de cargos de

engenharia buscando analisar as peculiaridades de cada uma das classes de

trabalhadores ndash homens e mulheres

- Analisar as competecircncias e habilidades matemaacuteticas requeridas para a efetiva

atuaccedilatildeo em cargos de engenharia ocupados por mulheres e sua respectiva

comparaccedilatildeo entre os mesmos cargos ocupados por homens

- Utilizar os resultados da pesquisa como aporte teoacuterico para a tomada de decisotildees

relacionadas aos curriacuteculos dos cursos de Engenharia da UNIFEI no que se refere agrave

questatildeo de gecircnero ainda deixada de lado nos projetos pedagoacutegicos dos cursos assim

como o fornecimento dos mesmos subsiacutedios para que outras instituiccedilotildees possam

fazer uso

186

- Aplicar os resultados como agentes que podes motivar os estudantes dos cursos de

Engenharia da UNIFEI a refletirem sobre questotildees relacionadas ao gecircnero no

trabalho e na formaccedilatildeo em engenharia

Submetemos o trabalho na data limite ndash dia 14 de novembro de 2012 Contudo o

CNPq natildeo o aprovou O parecer questionou sobre a aacuterea de atuaccedilatildeo dos docentes que iriam

executaacute-lo ou seja por natildeo termos produccedilatildeo cientiacutefica na aacuterea fomos impedidos de realizar a

pesquisa a menos que quiseacutessemos fazecirc-la sem ter projeto algum submetido e

consequentemente sem ter auxiacutelios financeiros para sua execuccedilatildeo

Mas por que em um grupo que originalmente orientaria suas atividades pelos

objetos materializados por questotildees-problema matemaacuteticos e estudantes de Engenharia

tomaria uma pesquisa sobre gecircnero no trabalho de Engenharia como objeto de uma atividade

paralela Tentarei analisar a referida atividade como constituinte de sistemas de atividade

hiacutebridos ndash muacuteltiplos contextos de atividades paralelos e as respectivas multi-agencys

(DANIELS et al 2010a)

A estrutura do trabalho docente em instituiccedilotildees federais de ensino superior

brasileiras estaacute baseada no tripeacute ensino-pesquisa-extensatildeo Tais instituiccedilotildees estatildeo entre as

instituiccedilotildees puacuteblicas mais submetidas a avaliaccedilotildees de desempenho A grande questatildeo que se

faz necessaacuterio pontuar eacute que tais avaliaccedilotildees podem muito bem verificar quantitativamente o

desempenho de tais instituiccedilotildees pelas quantidades de diplomas concedidos e artigos

publicados poreacutem natildeo conseguem captar bem os conteuacutedos inerentes aos diplomados e agrave

qualidade das publicaccedilotildees Nesse sentido em artigo publicado no jornal Folha de SPaulo o

professor Joseacute Maria Alves da Silva154

do Departamento de Economia da Universidade

Federal de Viccedilosa-MG esclarece que

Tirando o que eacute gasto na elaboraccedilatildeo de projetos produccedilatildeo em massa de artigos

preenchimento de relatoacuterios atualizaccedilatildeo de curriacuteculos participaccedilotildees cada vez mais

frequentes em bancas reuniotildees etc sobra pouco tempo para pensar e outras

finalidades importantes como aperfeiccediloar metodologias de ensino ou enriquecer

conteuacutedos disciplinares Quando o ldquoprodutivismordquo impera na academia aulas

conferecircncias e palestras brilhantes ou qualquer outro tipo de comunicaccedilatildeo fora dos

meios reconhecidos natildeo contam por mais que sirvam para solucionar problemas

enriquecer espiacuteritos ou abrir novos caminhos de pensamento (SILVA 2012)

Nesse sentido a participaccedilatildeo no GEPMM poderia ateacute constituir importante meio

para a formaccedilatildeo dos sujeitos partiacutecipes em termos de abrir novos caminhos de pensamento

solucionar problemas da realidade natildeo matemaacutetica em questatildeo eou ajudar na melhoria da

154

Doutor em Economia

187

praacutetica mas de todo modo fora dos meios reconhecidos natildeo ldquocontardquo natildeo soma natildeo produz

ldquoquantidaderdquo nas avaliaccedilotildees de desempenho Sendo assim o objeto da referida atividade

paralela a transforma natildeo em uma atividade vital dos sujeitos e sim em puro meio de

ldquosubsistecircnciardquo Naquele momento reflexotildees sobre qual a importacircncia e a quem serviria aquilo

que estariacuteamos produzindo parecem natildeo ter acontecido Estava constituiacuteda uma atividade

alienada Aqui assumo o termo alienaccedilatildeo em Marx Alienaccedilatildeo no sentido de perpetuar a

dicotomia entre os que pensam e os que executam devido agrave inserccedilatildeo dos sujeitos no sistema

de formaccedilatildeo superior estabelecido nas e pelas universidades federais brasileiras que refletem

a organizaccedilatildeo do modo de produccedilatildeo capitalista ndash alienaccedilatildeo como fenocircmeno social

Saacutenchez Vaacutezquez (1977) busca em Marx a relaccedilatildeo alienante que pode ser

estabelecida entre os sujeitos e seus objetos ndash demandas sociais ndash em uma atividade humana

enfatizando uma possiacutevel ldquodesgovernanccedilardquo um verdadeiro runaway object (ENGESTROumlM

2010a)

As palavras de Marx (1845) em sua obra A ideologia alematilde esclarecem que

O poder social isto eacute a forccedila de produccedilatildeo multiplicada que nasce por obra da

cooperaccedilatildeo dos diversos indiviacuteduos sob a accedilatildeo da divisatildeo do trabalho aparece diante

desses indiviacuteduos por natildeo se tratar de uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria mas sim natural

natildeo como um poder proacuteprio associado e sim como um poder alheio situado agrave

margem deles que natildeo sabem de onde vem nem para onde vai e que por

conseguinte jaacute natildeo podem dominar (p 33 apud SAacuteNHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p

442)

Realmente natildeo podiacuteamos dominar o objeto configurado pelono referido projeto

submetido ao CNPq O proacuteprio contexto institucional estava permeado pelo modo de

produccedilatildeo e de exploraccedilatildeo do sistema capitalista imposto pela burguesia tendencioso agrave

perpetuaccedilatildeo da dicotomia entre os trabalhadores intelectuais e os trabalhadores teacutecnicos entre

os produtoresconstrutores e os operadores Com isso o contexto implicava em nossa natildeo

reflexatildeo permaneciacuteamos sem saber qual a importacircncia da referida atividade e a quem ela

serviria O que pensaacutevamos poderia estar desconectado do que pretendiacuteamos executar Nas

palavras de Angel retiradas das transcriccedilotildees do segundo encontro do GEPMM podemos

encontrar a seguinte ponderaccedilatildeo ldquonossa eacute dinheiro demais Satildeo oito milhotildees soacute pra

projetinhos para falar de mulherrdquo De fato Angel natildeo parece realmente estar ldquopreocupadordquo

com as questotildees de gecircnero no trabalho em Engenharia e mais do que isso parece natildeo

perceber a real importacircncia de se pesquisar a respeito desse tema Com isso percebemos que

ao menos para Angel o objeto principal da atividade natildeo parece estar alinhado ao seu motivo

188

Atualmente as avaliaccedilotildees de desempenho tendem a controlar externamente o

trabalho docente cujo objeto de sua atividade pode se tornar alheio aos sujeitos Nesse

sentido seria pertinente questionar qual valor de uso e de troca estaria permeado em tal

objeto contraditoacuterio Sendo assim o valor de uso referindo-se agrave utilidade de tal objeto

(projeto submetido ao edital do CNPq) poderia estar configurado pela materializaccedilatildeo dos

objetivos principal e especiacuteficos expostos anteriormente neste texto Adicionalmente o valor

de troca para os docentes parece estar restrito a uma quantificaccedilatildeo nos meios de

reconhecimento e controle do trabalho docente em instituiccedilotildees federais de ensino superior

brasileiras entre eles o curriacuteculo Lattes e os ldquonuacutemerosrdquo da CAPES e do CNPq Jaacute para os

discentes o valor de troca parecia estar relacionado com as possibilidades de ganhos reais

financeiros mediante o fornecimento de bolsas de pesquisa cujo valor seria de R$ 400

mensais No valor de troca poderiam ser encontrados os motivos que impulsionaram tal

atividade que articulariam uma necessidade a tal objeto Contudo os dados construiacutedos para

a presente pesquisa natildeo me fornecem subsiacutedios para tecer uma anaacutelise rigorosa sobre os

motivos que impulsionaram tal atividade apenas uma sinalizaccedilatildeo conforme descriccedilatildeo

anterior

Estaria em todo caso configurada uma parceria possibilitada pela participaccedilatildeo

dos sujeitos no referido grupo que sem duacutevida alguma permitiu uma movimentaccedilatildeo na Zona

de Desenvolvimento Proximal (ZDP) das atividades docente-discente devido a uma

diminuiccedilatildeo do distanciamento historicamente constituiacutedo entre docentes e discentes

permitindo e facilitando as interaccedilotildees e o diaacutelogo entre os docentes e portanto favorecendo o

desenvolvimento coletivo de iniciativas (agency) que ressaltem a satisfaccedilatildeo de demandas na

condiccedilatildeo de trabalhadores de universidades brasileiras na contemporaneidade Pesquisa e

inovaccedilatildeo cientiacutefica surgem nesse caso como ldquonovasrdquo praacuteticas sociais que atendem agraves

necessidades impostas pelas universidades Nesse sentido um processo mediado pelo agir

comunicativo ocorreu e se materializou no referido projeto submetido ao CNPq Da mesma

forma que juntamos forccedilas e conseguimos elaboraacute-lo poderiacuteamos fazecirc-lo em outros editais

que fossem abertos posteriormente

Sendo assim as possibilidades de interaccedilatildeo mediadas pela linguagem pelo

diaacutelogo entre os parceiros do GEPMM parece ser um fator preponderante para natildeo somente a

elaboraccedilatildeo de projetos de pesquisa a serem submetidos em editais do CNPq mas sobretudo

para a ampliaccedilatildeo das possibilidades de reflexatildeo acerca de sua proacutepria atividade docente

Desse modo estaria configurado um importante espaccedilo de formaccedilatildeo continuada

para os docentes com relaccedilatildeo agraves muacuteltiplas atividades (ensino pesquisa extensatildeo) que

189

desenvolvem na instituiccedilatildeo Docentes que lecionam disciplinas de Caacutelculo atuando

conjuntamente com docentes de outras aacutereas dos cursos de Engenharia e com alunos em

formaccedilatildeo podem ser considerados parceiros Uma rede de aprendizagem foi configurada no e

pelo GEPMM A aprendizagem expansiva a partir do movimento da ZDP da atividade

docente somente se materializou pela construccedilatildeo de redes ndash parceria uma reflexatildeo que cabe

aqui eacute que juntos coletivamente a atividade dos sujeitos docentes e discentes de cursos de

Engenharia pode assumir uma nova forma possivelmente com um objeto mais alinhado aos

atuais objetivos da formaccedilatildeo em Engenharia

53 Terceira modalidade ndash Modelagem e a caixa-preta do ldquopeso corporal idealrdquo num

contexto de formaccedilatildeo em Engenharias do Caacutelculo em accedilatildeo agraves aprendizagens expansivas

como transformaccedilotildees qualitativas do objeto da atividade

[] todos os atores estatildeo fazendo alguma coisa com a caixa preta () eles natildeo a

transmitem pura e simplesmente mas acrescentam elementos seus ao modificarem o

argumento fortalececirc-lo e incorporaacute-lo em novos contextos (LATOUR 2000 p

171)

A sociedade atual vem passando por importantes transformaccedilotildees nos uacuteltimos anos

mediante avanccedilo e difusatildeo de ferramentas de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo Castells (2005 p

17) pontua que a ldquosociedade emergente tem sido caracterizada como sociedade de informaccedilatildeo

ou sociedade do conhecimentordquo apesar de demonstrar no referido texto que natildeo concorda

com tal terminologia O autor afirma ainda que ldquoa tecnologia eacute condiccedilatildeo necessaacuteria mas natildeo

suficiente para a emergecircncia de uma nova forma de organizaccedilatildeo social baseada em redesrdquo

(CASTELLS 2005 p 17) segundo ele ldquodifundir a Internet ou colocar mais computadores

nas escolas por si soacute natildeo constituem necessariamente grandes mudanccedilas sociaisrdquo

(CASTELLS 2005 p 18)

Considero assim que ldquoa sociedade em rede155

eacute a sociedade de indiviacuteduos em

rederdquo (CASTELLS 2005 p 22) global baseada em redes globais em que a comunicaccedilatildeo em

redes transcende fronteiras e pode ser entendida como segue

A comunicaccedilatildeo constitui o espaccedilo puacuteblico ou seja o espaccedilo cognitivo em que as

mentes das pessoas recebem informaccedilatildeo e formam os seus pontos de vista atraveacutes do

processamento de sinais da sociedade no seu conjunto Por outras palavras enquanto

155

ldquoA sociedade em rede em termos simples eacute uma estrutura social baseada em redes operadas por tecnologias

de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo fundamentadas na microelectroacutenica e em redes digitais de computadores que

geram processam e distribuem informaccedilatildeo a partir de conhecimento acumulado nos noacutes dessas redesrdquo

(CASTELLS 2005 p 20)

190

a comunicaccedilatildeo interpessoal eacute uma relaccedilatildeo privada formada pelos actores da

interacccedilatildeo os sistemas de comunicaccedilatildeo mediaacuteticos criam os relacionamentos entre

instituiccedilotildees e organizaccedilotildees da sociedade e as pessoas no seu conjunto natildeo enquanto

indiviacuteduos mas como receptores colectivos de informaccedilatildeo mesmo quando a

informaccedilatildeo final eacute processada por cada indiviacuteduo de acordo com as suas proacuteprias

caracteriacutesticas pessoais (CASTELLS 2005 p 22)

Mas de que forma podemos entender e relacionar os termos informaccedilatildeo

conhecimento e saber em tal sociedade Como as tecnologias estariam relacionadas a esses

termos Nesse sentido considero que ldquoas pessoas integraram as tecnologias nas suas vidas

ligando a realidade virtual com a virtualidade real vivendo em vaacuterias formas tecnoloacutegicas de

comunicaccedilatildeo articulando-as conforme as suas necessidadesrdquo (CASTELLS 2005 p 22 grifo

meu)

Com o intuito de tentar responder ou ao menos propor uma breve reflexatildeo sobre

os termos informaccedilatildeo conhecimento e saber comeccedilarei com a premissa de que no sentido

amplo uma ldquoinformaccedilatildeo eacute um dado que se encontra no mundo objetivo exterior ao

indiviacuteduordquo (MICOTTI 1999 p 154) constitui um dado que pode ser ldquolidordquo acessado e

compreendido Alguns autores pontuam imprecisotildees envolvidas na noccedilatildeoconceito de

informaccedilatildeo na sociedade atual Para Mattelart (2006) por exemplo

A tendecircncia a assimilar a informaccedilatildeo a um termo proveniente da estatiacutestica

(datadados) e a ver informaccedilatildeo somente onde haacute dispositivos teacutecnicos se acentuaraacute

Assim instalar-se-aacute um conceito puramente instrumental de sociedade da

informaccedilatildeo Com a atopia social do conceito apagar-se-atildeo as implicaccedilotildees

sociopoliacuteticas de uma expressatildeo que supostamente designa o novo destino do mundo

(MATTELART 2006 p 71)

No sentido exposto por Mattelart (2006) pode ser inclusa a noccedilatildeo de informaccedilatildeo

de Micotti (1999 p 155) na qual ldquouma informaccedilatildeo conteacutem um suporte e uma semacircnticardquo

para Micotti (1999) uma mesma semacircntica (ideia conceito) poderia ser conduzida por

diferentes suportes (desenho imagem enunciado verbal) que percorreriam um mesmo canal

(por exemplo oacutetico acuacutestico etc) Micotti (1999 p 155) afirma ainda que ldquoas informaccedilotildees

penetram nos sistemas de tratamento ndash o corpo humano eacute um deles O indiviacuteduo as submete a

uma seacuterie de accedilotildees e as transforma em conhecimentordquo

No que tange agrave noccedilatildeo de conhecimento Mattelart (2006) se apoia em Machlup

(1962 p 69 grifo do autor) e esclarece que ldquoinformar eacute uma atividade mediante a qual o

conhecimento eacute transmitido conhecer eacute resultado de ter sido informadordquo Nisso Micotti

(1999) esclarece que

191

o conhecimento eacute o resultado de uma experiecircncia pessoal com as informaccedilotildees Ele eacute

subjetivo relaciona-se com as vivecircncias e as atividades de cada pessoa ao passo que

o saber tem aspectos subjetivos (individuais) e sociais Eacute individual e deste ponto de

vista eacute tambeacutem conhecimento envolve a apropriaccedilatildeo de informaccedilatildeo por um sujeito

eacute interpessoal ndash o saber individual eacute confrontado com os saberes dos outros

(MICOTTI 1999 P 155)

Com isso o saber pode ser considerado como um objeto autocircnomo registrado nos

livros ou em quaisquer outros artefatos culturais e tecnoloacutegicos podendo tambeacutem tornar-se

enunciado acionado em interaccedilotildees diversas no sentido de ser uma informaccedilatildeo disponibilizada

para outros indiviacuteduos nas interaccedilotildees e suportadas por miacutedias diversas Sendo assim o saber

pode ser considerado como uma relaccedilatildeo cognitiva produto de uma interaccedilatildeo156

traccedilado na e

pela historicidade e submetido aos processos coletivos de validaccedilatildeo e transmissatildeo

(CHARLOT 2000)

Sendo assim informaccedilatildeo conhecimento e saber assumem caracteriacutesticas distintas

poreacutem inter-relacionadas (MICOTTI 1999) Para que uma informaccedilatildeo se torne conhecimento

eacute necessaacuteria uma internalizaccedilatildeo uma interpretaccedilatildeo daquela informaccedilatildeo por parte dos sujeitos

gerando conhecimento no entanto tal conhecimento se transforma em saber mediante anaacutelise

rigorosa de uma coletividade ndash a comunidade cientiacutefica a sociedade ndash por meio de accedilotildees e

interaccedilotildees diaacutelogo e orquestraccedilatildeo (MICOTTI 1999) Desta forma ldquoo saber compreende

informaccedilatildeo e conhecimentordquo (MICOTTI 1999 p 155)

Ainda pretendo discorrer sobre o papel das interaccedilotildees com os modelos que

permearam o GEPMM durante os dez primeiros encontros no que tange agraves interaccedilotildees (e

agency) necessaacuterias para a elucidaccedilatildeo dos modelos assim como as possibilidades de

interaccedilotildees tecnomediadas157

oferecidas por tais instrumentos ou artefatos mediadores Atribuo

dois modelos tecnomatemaacuteticos como fundamentais para auxiliar o entendimento da questatildeo

escolhida por noacutes para ser solucionada coletivamente no GEPMM conforme os atributos de

nossas agency bem como o acesso aos demais instrumentos necessaacuterios para possibilitar as

accedilotildees em prol de atingir tal objetivo O primeiro deles constituiacutedo por um sistema de

156

O termo interaccedilatildeo aqui assumido eacute oriundo da teoria bakhtiniana de discurso que carrega a definiccedilatildeo de

sujeito como um sujeito social que pertence a uma classe social na qual dialogam os diferentes discursos da

sociedade Aleacutem disso os diaacutelogos entre interlocutores se cruzam aos diaacutelogos entre discursos Sendo assim ldquoo

dialogismo interacional de Bakhtin desloca o conceito de sujeito que perde o papel de centro ao ser substituiacutedo

por diferentes vozes sociais que fazem dele um sujeito histoacuterico e ideoloacutegicordquo (BARROS 2007 p 27 grifo

meu) 157

A tecnomediaccedilatildeo eacute entendida neste texto como sendo as interaccedilotildees mediadas por artefatos tecnoloacutegicos que

incluem as mais variadas ferramentas ou suportes tecnoloacutegicos tais como a proacutepria Matemaacutetica e os recursos

ciberneacuteticos aleacutem de englobar diversos suportes de mediaccedilatildeo tais como a linguagem transmitida sob a forma

oral escrita e por gestos

192

equaccedilotildees diferenciais ordinaacuterias (EDO)158

fornece-nos o comportamento da variaccedilatildeo das

massas magra e gorda que compotildee fundamentalmente o ldquopeso corporalrdquo com base em

mudanccedilas energeacuteticas ndash variaccedilatildeo alimentar e variaccedilatildeo de atividade fiacutesica O segundo deles

constituiacutedo por uma implementaccedilatildeo computacional baseada no primeiro modelo em uma

tecnologia de interface para a internet podendo ser acessado por meio da execuccedilatildeo de um

programa desenvolvido usando a linguagem Java159

ndash um simulador160

Na atividade de modelagem desenvolvida pelo GEPMM durante a construccedilatildeo

dos dados para a presente pesquisa cujo tema consistiu na questatildeo do ldquopeso corporal idealrdquo eacute

necessaacuterio pontuar que o objeto da referida atividade havia sido esboccedilado idealmente pelos

sujeitos partiacutecipes originado de uma sugestatildeo feita por mim No momento da sugestatildeo

algumas indagaccedilotildees jaacute faziam parte do repertoacuterio de informaccedilotildees que possuiacuteamos Jaacute

conheciacuteamos algo sobre a questatildeo Dessa forma naquele momento um objeto nos era posto

apenas e somente em relaccedilatildeo a outras informaccedilotildees Para fins de anaacutelise definirei tal objeto

como caixa-preta do ldquopeso corporal idealrdquo inicial ndash 1198621198750 Nesse sentido Ladriegravere (1978) pode

nos ajudar a entender a configuraccedilatildeo de tal objeto

Eacute verdade que moldamos a natureza a partir de nossas proacuteprias representaccedilotildees e que

deste modo nos damos a noacutes mesmos a base de novas interpretaccedilotildees A visatildeo que

temos da natureza natildeo eacute nem uniforme nem imutaacutevel Mas as coisas se passam

assim com muito mais razatildeo para a realidade social que remodelamos sem cessar

mesmo sem o saber agrave luz das interpretaccedilotildees atraveacutes das quais a aprendemos por

meio das quais nos situamos em face dela conformemente agraves quais compreendemos

nosso lugar no jogo das interaccedilotildees [] partimos sempre de uma interpretaccedilatildeo

natural mas dela passamos por uma interpretaccedilatildeo construiacuteda que eacute como que uma

esquematizaccedilatildeo preacutevia agrave escolha do modelo (LADRIEgraveRE 1978 p 147 grifos

meus)

O objetivo da atividade de Modelagem analisada nesta parte da tese poderia estar

definido como entendersolucionar a problemaacutetica questatildeo de quantificar as variaccedilotildees do

158

120588119866

119889119866

119889119905= 119862119868 minus 119896119866119866

2

120588119865119889119865

119889119905= (1 minus 119901) (119864119868 minus 119864119864 minus 120588119866

119889119866

119889119905)

120588119871119889119871

119889119905= 119901(119864119868 minus 119864119864 minus 120588119866

119889119866

119889119905)

onde 119866 corresponde ao Glicogecircnio 119862119868 corresponde aos carboidratos

de entrada 119864119868 denota a energia de entrada 119864119864 a energia gasta 119865 massa gorda 119871 massa magra os demais satildeo

coeficientes que dependem de correlaccedilatildeo de dados iniciais Tal sistema culmina na seguinte EDO linear de

primeira ordem [120578119865+120588119865+120572120578119871+120572120588119871

(1minus120573)(1+120572)]119889119861119882

119889119905= Δ119864119868 minus

1

(1minus120573)[120574119865+120572120574119871

(1+120572)+ 120575] (119861119882 minus 1198611198820) Equaccedilotildees disponiacuteveis em

httpwwwniddknihgovresearch-fundingat-niddklabs-branchesLBMintegrative-physiology-sectionbody-

weight-simulatorDocumentsHall_Lancet_Web_Appendixpdf Acesso em 19112014 159

Para maiores informaccedilotildees ver httpjavacompt_BRdownloadwhatis_javajsp 160

Simulador disponiacutevel em httpwwwniddknihgovresearch-fundingat-niddklabs-

branchesLBMintegrative-physiology-sectionbody-weight-simulatorPagesbody-weight-simulatoraspx Acesso

em 19112014

193

peso corporal mediante alteraccedilotildees na dieta e nos exerciacutecios fiacutesicos cuja meta seria atingir um

peso corporal desejadoideal Tiacutenhamos o conhecimento por exemplo que aumento de

atividades fiacutesicas tende a diminuiccedilatildeo no peso corporal enquanto diminuiccedilotildees de calorias

ingeridas tendem a diminuir o peso corporal uma pessoa com peso corporal maior queima

mais calorias do que uma pessoa com peso corporal menor em uma mesma atividade fiacutesica eacute

necessaacuterio ingerir alimentos de trecircs em trecircs horas uma pessoa deve ingerir entre 2000 e

2500 calorias por dia entre outras informaccedilotildees que se relacionavam agrave 1198621198750 naquele momento

moldando-a sob nossos olhares Configurava-se um objeto a ser transformado resultando em

um entendimento lsquomais clarorsquo sobre tal questatildeo de forma que instrumentos de Caacutelculo

fossem utilizados no processo de Modelagem

Clarear no sentido de ldquoacinzentarrdquo do cinza escuro (tendendo ao preto) para tons

mais claros de cinza Sendo assim orientados pelo objetivo acima exposto o objeto de nossa

atividade ao acessarmos informaccedilotildees que por sua vez geraram conhecimentos acerca da

problemaacutetica modificou a cor da caixa-preta tornando-a cada vez mais clara (ou natildeo)

mediante as interaccedilotildees entre os sujeitos e as referidas fontes e recursos que suportavam as

informaccedilotildees entre elas alguns artigos cientiacuteficos Vale ressaltar que ldquoverdadesrdquo cientiacuteficas

(impressas em artigos cientiacuteficos lidos pelos integrantes do grupo) transformam-se em

comunicaccedilatildeo pelas e nas interaccedilotildees que por sua vez carregam o saber nela contidos

promovendogerando o entendimento ldquoclareandordquo as questotildees da sociedade

Ainda eacute importante salientar que 1198621198750 se constitui uma ceacutelula geacutermen

Davydoviana que seria uma primaacuteria abstraccedilatildeo da realidade em questatildeo ndash a problemaacutetica

questatildeo do peso corporal ideal ndash jaacute que naquele momento nada de ldquoconcretordquo havia sido

produzido Havia apenas uma transformaccedilatildeo nos modos como pensaacutevamos a realidade ndash a

problemaacutetica-questatildeo que estaria sendo tomada como o objeto da atividade com um

conhecimento a ser construiacutedo pela e na atividade de Modelagem que partiria daquela

abstraccedilatildeo primaacuteria e seria mediante o desencadeamento do processo elevada a um concreto

pensado161

Durante a realizaccedilatildeo da entrevista final a aluna Taty ressaltou que natildeo imaginava

que o problema do peso corporal ideal fosse ter tantas variaacuteveis apesar de desconfiar que teria

Matemaacutetica ou seja que a Matemaacutetica seria instrumento para a realizaccedilatildeo da Modelagem

Contudo ressaltou que havia pensado que ldquofosse ser uma coisa mais faacutecil mais superficial

161

ldquo[] O meacutetodo que permite elevar-se do abstrato ao concreto nada mais eacute do que o modo como o pensamento

se apropria do concreto sob a forma do concreto pensado Mas natildeo eacute de modo algum o proacuteprio concretordquo

(MARX 1845 apud SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 204)

194

[] o problema se multiplicou [] eacute como se o problema fosse uma raiz e criou um monte de

galhinhos Muitos galhinhosrdquo Naquele momento da entrevista a observaccedilatildeo de Taty quanto

agraves ramificaccedilotildees inesperadas que levaram a uma expansatildeo natural do problema fazia todo o

sentido Teriacuteamos sim que trabalhar em vaacuterios ramos de uma ldquoaacutervorerdquo um objeto

desgovernado162

Engestroumlm (2010a p 304) afirma que um objeto desgovernado pode ser um

ldquoobjeto poderosamente emancipatoacuterio que abre radicalmente novas possibilidades de

desenvolvimento e bem estar163

rdquo

Sendo assim a ascensatildeo da abstraccedilatildeo primaacuteria 1198621198750 a um concreto conceitual

expandido poderia natildeo fazer parte de uma ascensatildeo linear de baixo pra cima mas parece

percorrer os vaacuterios ldquogalhinhos de uma aacutervorerdquo conforme reflexatildeo de Taty ou as trilhas e

micorrizas164

conforme apontamento de Engestroumlm (2010a) O autor se refere agraves micorrizas

para tentar analisar atividades que acontecem em uma sociedade de indiviacuteduos em rede cujos

caminhos do objeto de uma referida atividade podem ser destinados a percorrer os noacutes de uma

micorriza ou de uma verdadeira rede neural natural Nesse sentido localizamos 1198621198750 no

inicial momento da atividade de Modelagem como uma ldquocaixa-pretardquo que poderia estar

localizada em um dos noacutes de uma micorriza ou de uma rede neural natural Com isso

instalam-se 119899 possibilidades iniciais para 1198621198750 comeccedilar a se mover sob os caminhos da

micorriza

Na atividade analisada nesta parte da tese demonstraremos os caminhos e os noacutes

que constituiacuteram o movimento do objeto de nossa atividade mediante as possibilidades de

interaccedilotildees firmadas na e pela atividade que inclui claramente o acesso e o tratamento das

informaccedilotildees que por sua vez geraram conhecimentos que promoveram a movimentaccedilatildeo ndash

trajetoacuteria do objeto em questatildeo

No decorrer da atividade de modelagem do peso corporal ideal os textos ndash artigos

cientiacuteficos ndash podem ser entendidos como miacutedias que suportam modelos matemaacuteticos ndash

podem ser considerados aparatos da razatildeo165

(SKOVSMOSE 2007) e ao mesmo tempo o

162

Runaway object (ENGESTROumlM 2010a) 163

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquopowerfully emancipatory objects that open up radically new possibilities of

development and well-beingrdquo 164

Engestroumlm (2010a) entende que uma micorriza eacute uma associaccedilatildeo mutualiacutestica do tipo simbioacutetica na qual a

relaccedilatildeo mutualiacutestica estaria baseada na vantagem muacutetua de interaccedilatildeo entre duas espeacutecies que se beneficiariam

reciprocamente Tal associaccedilatildeo eacute existente em algumas espeacutecies de fungos e raiacutezes de algumas plantas Em

Engestroumlm (2008) podemos encontrar ainda a premissa de que as equipes que constituem e satildeo constituiacutedas em

coletividades que assumem atividades orientadas deveriam ser pensadas atualmente sob a oacutetica da sociedade em

rede Sendo assim as equipes coexistiriam a uma relaccedilatildeo de noacutes de uma rede da atual sociedade em rede 165

Skovsmose (2007) pontua que

1) o ldquoaparato da razatildeordquo eacute uma complexidade construiacuteda que inclui uma variedade de teacutecnicas cientiacuteficas e

tecnoloacutegicas cruciais para o desenvolvimento e manutenccedilatildeo tecnoloacutegica

195

conjunto desses aparatos da razatildeo (modelos matemaacuteticos) constitui suporteembasamento

para a elaboraccedilatildeo do software bwsimulator Com isso podemos refletir que ldquomodelos criam

modelos e uma camada de matemaacutetica sobre a outra se finca na realidaderdquo (SKOVSMOSE

2007 p 127)

Nesse sentido podemos considerar ainda que o proacuteprio objeto inicial 1198621198750 pode ser

considerado como um aparato da razatildeo (SKOVSMOSE 2007) Nisso o autor enfatiza a

complexidade em entenderexplicar a produccedilatildeo de conhecimento sob a oacutetica dos aparatos da

razatildeo Haacute uma posta dificuldade ou impossibilidade de transposiccedilatildeo das fronteiras deem tais

aparatos Para isso o autor indica a necessidade de colocarmos a tecnologia disponiacutevel em

accedilatildeo a fim de avaliar como ela trabalha O autor esclarece ainda que ldquoconstruccedilotildees

tecnoloacutegicas ainda natildeo realizadas (isto eacute situaccedilotildees hipoteacuteticas) podem ser especificadas em

detalhes pela modelagem matemaacutetica e o raciociacutenio hipoteacutetico pode se tornar um instrumento

essencial para indicar as implicaccedilotildeesrdquo (SKOVSMOSE 2007 p 140)

No que tange agrave atividade de modelagem realizada pelo GEPMM que pretendeu a

abertura da caixa-preta do peso corporal ideal o aparato da razatildeo definido pelos conteuacutedos

de Caacutelculo incluindo as Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias (EDOs) foi de crucial importacircncia

para possibilitar a avaliaccedilatildeo das consequecircncias das accedilotildees sociotecnoloacutegicas criadas nos e

pelos outros aparatos da razatildeo que permearam tal atividade Esses outros aparatos da razatildeo

emergiram nas accedilotildees e interaccedilotildees mediadas por variados artefatos entre eles artigos

cientiacuteficos livros e softwares de simulaccedilatildeo

As questotildees de acesso agrave informaccedilatildeo ou caminhos para o acesso devem ser

colocadas em relevo no que tange agraves transformaccedilotildees do objeto da referida atividade de

modelagem A seguir darei continuidade a essa parte da anaacutelise explicitando as

transformaccedilotildees qualitativas do objeto da atividade para tal explicitarei a formaccedilatildeo de outras

quatro caixas-pretas (ou cinzas) a saber 1198621198751 1198621198752 1198621198753 e 1198621198754 esboccedilando assim um

movimento de ascensatildeo do abstrato ao concreto no sentido do ldquoclareamentordquo da questatildeo do

peso corporal ideal

Quando 1198621198750 foi tomada como objeto da atividade de modelagem podiacuteamos

caracterizar traccedilos de relaccedilotildees com outras caixas-pretas na verdade 1198621198750 coexistia a tais

2) o ldquoaparato da razatildeordquo estabelece propensotildees da sociedade para uma accedilatildeo sociotecnoloacutegica que somente torna-

se possiacutevel pela matemaacutetica em accedilatildeo

3) o ldquoaparato da razatildeordquo estaacute se desenvolvendo em saltos imprevisiacuteveis seguindo uma rota fluida na qual novas

competecircncias satildeo continuamente postas nessa enorme caixa de ferramentas do projeto tecnoloacutegico

4) o ldquoaparato da razatildeordquo inclui novos padrotildees de qualidade que orienta-se pela criaccedilatildeo de um novo discurso por

meio de uma variedade de elementos da ciecircncia

5) o ldquoaparato da razatildeordquo representa a unificaccedilatildeo do conhecimento do poder sendo considerado uma constelaccedilatildeo

de conhecimento disponiacutevel

196

relaccedilotildees Tiacutenhamos o conhecimento por exemplo que 1198621198750 relacionava-se com os modelos

matemaacuteticos com taxas de consumo energeacutetico taxas de metabolismo nutriccedilatildeo educaccedilatildeo

fiacutesica bioquiacutemica entre outras caixas-pretas Mas como 1198621198750 se relacionava a elas

pretendiacuteamos entender jaacute tendo como premissa que instrumentos de Caacutelculo seriam

necessaacuterios para tal ldquoclareamentordquo Natildeo imaginaacutevamos naquele momento que instrumentos

de programaccedilatildeo de computadores e softwares emergiriam como artefatos mediadores na

referida atividade nem tampouco como essas caixas-pretas se relacionariam agraves outras

Dividirei o processo de ldquoclareamentordquo de 1198621198750 em quatro saltos (de 1198621198750 a 1198621198754)

podendo ser caracterizados pelo acesso e pela interaccedilatildeo com os artefatos mediadores que

permearam a atividade Categorizarei os artefatos mediadores (119860119872119894 119894 = 1hellip 4) da seguinte

maneira chamarei de 1198601198721 o conjunto de todos os artefatos que mediaram a atividade de

modelagem da problemaacutetica questatildeo do peso corporal ideal ateacute o momento que encontrei e

interagi com a revista Caacutelculo na sala dos professores do CEFET-MG-Timoacuteteo natildeo

incluindo as informaccedilotildees da revista em 1198601198721 Esse momento ocorreu entre o quinto e o sexto

encontro do GEPMM Aleacutem disso 1198601198722 seraacute considerado como a uniatildeo de 1198601198721 com o

conjunto unitaacuterio cujo elemento seja a revista Caacutelculo166

Seguindo com essa construccedilatildeo

definirei 1198601198723 como sendo a uniatildeo de 1198601198722 com o conjunto unitaacuterio cujo elemento seja o

software bwsimulator167

e finalmente definirei 1198601198724 como sendo a uniatildeo de 1198601198723 com o

conjunto formado pela coleccedilatildeo de modelos matemaacuteticos e suas relaccedilotildees ao fenocircmeno da

mudanccedila de peso corporal sob a forma de linguagem escrita cujo suporte eacute o artigo cientiacutefico

webappendix168

Conforme exposto no Capiacutetulo 2 desta tese entendo que uma caixa-preta na

verdade nunca eacute nem totalmente preta e nem totalmente branca ou seja nem 1198621198750 era

totalmente preta nem 1198621198754 seraacute totalmente branca depois de aberta 1198621198750 havia sido construiacuteda

pelos sujeitos do grupo num processo de interaccedilatildeo entre eles mediante inquietaccedilotildees

resultando em uma abstraccedilatildeo primaacuteria da problemaacutetica questatildeo do peso corporal ideal Caso

essa afirmativa fosse falsa estariacuteamos reforccedilando a ideologia das verdades ldquoabsolutasrdquo e

inquestionaacuteveis assim como o contraacuterio A variaccedilatildeo de cores permitida entre o preto e o

branco pertence agrave categoria dos infinitos tons de cinza Entre tais infinitos tons de cinza

destacam-se as 119862119875119894 119894 = 0hellip 4

166

Revista intitulada Caacutelculo (ano 2 nuacutemero 20 setembro de 2012 editora segmento) 167

httpbwsimulatorniddknihgov 168

httpbwsimulatorniddknihgovHall_Lancet_Webappendixpdf

197

Sendo assim a caixa-cinza resultante de um primeiro niacutevel da transformaccedilatildeo

qualitativa do objeto da atividade ndash 1198621198751 pocircde ser visualizada tomando-se por base as

seguintes caracteriacutesticas resultado do conhecimento produzido pelo acesso e pela interaccedilatildeo

com as informaccedilotildees contidas em 1198601198721 sobre 1198621198750 As accedilotildees que foram realizadas nesse sentido

aconteceram durante o segundo terceiro quarto e quinto encontros do GEPMM e nas

interaccedilotildees entre os sujeitos e instrumentos contidos em 1198601198721 fora desses momentos num

sentido espacial e fiacutesico Aleacutem das interaccedilotildees face a face entre sujeitos faz-se necessaacuterio

incluir as interaccedilotildees mediadas por instrumentos de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo baseados nas e

pelas tecnologias computacionais incluindo a internet tais como e-mails e a rede social

Facebook Um instrumento foi construiacutedo pelos sujeitos do GEPMM como resultado da

apropriaccedilatildeo dos conhecimentos contidos em artefatos de 1198601198721 gerando um modelo idealizado

(tambeacutem contido em 1198601198721) para representar a problemaacutetica questatildeo do peso corporal ideal O

seguinte trecho foi extraiacutedo das transcriccedilotildees das filmagens do quinto encontro do GEPMM

Nele podemos observar um modelo matemaacutetico emergente ainda nebuloso

Eu Na verdade vai dar um sistema Vai dar um sistema de interdependecircncia aqui

[aponto para trecircs lugares distintos na mesa como se representassem trecircs

ldquocaixinhasrdquo] () as variaacuteveis peso altura gecircnero e idade na verdade elas natildeo vatildeo

ser variaacuteveis elas vatildeo ser uma constante ou seja ela eacute variaacutevel do ponto de vista

de cada um [cada pessoa] mas para a foacutermula ela vai ser uma constante () aiacute a

gente coloca essa variaacuteveis soacute com coeficientes da equaccedilatildeo () porque todos os trecircs

satildeo energias neacute Tipo assim melhorando esse modelo baacutesico seria o tanto de

atividade fiacutesica ou seja o gasto caloacuterico porque na verdade essas trecircs coisas satildeo

energias tanto do alimento que eacute energia que entra quanto do exerciacutecio que eacute uma

energia que sai desse sistema e o basal tambeacutem eacute uma energia que vai taacute sendo

gasta Vamos tentar equacionar como se fosse assim o gasto energeacutetico a taxa de

energia natildeo importando se ela eacute uma taxa positiva ou uma taxa negativa O quecirc

que vocecircs acham

Robson razoaacutevel

Eu porque se a gente coloca assim as trecircs equaccedilotildees como taxas de energia neacute eacute

claro que elas vatildeo se alterar neacute uma vai ser sei laacute P a outra Q a outra R

Angel Taacute mais aiacute se vocecirc pensar na questatildeo de classe jaacute tem que pensar no que

vocecirc taacute querendo vincular edo pra depois encontrar o resto eacute essa que eacute a sua

ideia Aiacute cecirc teria que pensar qual seria a antiderivada dessa taxa relacionada a

essa parte de dieta porque laacute na parte de fiacutesica de Caacutelculo a gente sabe o quecirc que

estaacute relacionado com o quecirc agora nessa parte daqui eu jaacute natildeo sei [risos]

Eu entatildeo a gente vai ter que buscar nos dados que a gente jaacute tem mapeados nesse

livro por exemplo Talvez a gente pudesse comeccedilar com a terceira que eacute a parte da

atividade fiacutesica entendeu () eu natildeo sei se vai dar pra ser uma edo bonitinha ou

se na verdade isso daiacute eacute um trem nebuloso entendeu Porque cada um vai se

subdividindo entre outros e outras

Naquele momento apesar de natildeo termos ainda uma escrita matemaacutetica formal

tiacutenhamos um modelo emergente um novo instrumento sendo construiacutedo pelas e nas

interaccedilotildees entre noacutes ndash sujeitos ndash e os instrumentos que permeavam a atividade Esse novo

198

instrumento idealizado acabava por promover uma transformaccedilatildeo qualitativa no objeto da

atividade gerando assim a 1198621198751 ou seja a questatildeo do peso corporal havia se modificado

qualitativamente mediante a interaccedilatildeo com tal artefato mediador ndash o modelo emergente

Ainda podemos analisar que outro resultado da atividade realizada pelo grupo ateacute aquele

momento estaria estampado em 1198621198751 relacionado agrave idealizaccedilatildeo de um novo objeto para a

atividade que somente pocircde ser realizada mediante apropriaccedilatildeo do referido novo instrumento

Refiro-me aqui a idealizaccedilatildeo que objetivou a construccedilatildeo de um software - um modelo

tecnoloacutegico- como resultado das accedilotildees orientadas pela e na atividade de modelagem em

questatildeo

Contudo depois do quinto encontro tive acesso a uma informaccedilatildeo que de fato

levou a alteraccedilotildees nas trilhas do movimento de transformaccedilatildeo do objeto da atividade de

modelagem analisada nesta parte da tese Refiro-me agrave revista Caacutelculo169

Em 17 de dezembro

de 2012 ao realizar as atividades de docecircncia no CEFET-MG-Timoacuteteo (instituiccedilatildeo na qual

sou professora) deparei-me com a referida revista sobre a mesa da sala dos professores Li o

que estava escrito na capa da revista Nela estava contida a seguinte frase ldquoExtra Emagrecer

demora trecircs anosrdquo Imediatamente abri a revista e comecei a folhear as paacuteginas em busca da

mateacuteria completa Nesse sentido tal accedilatildeo estava direcionada ao cumprimento de objetivos

parciais relacionados agrave atividade de modelagem na qual participava no GEPMM Ao realizar

interaccedilotildees mediadas pelas informaccedilotildees impressas sob a forma de linguagem escrita grafadas

nas paacuteginas da referida revista inaugurava-se uma nova fase um novo caminho uma nova

trajetoacuteria para a atividade de modelagem Estaria entatildeo constituiacutedo o conjunto 1198601198722 como

uniatildeo dos instrumentos que permeavam a atividade anteriormente a esse momento

adicionando ao conjunto 1198601198721 esse novo instrumento A importacircncia desse novo instrumento

natildeo se restringia agraves informaccedilotildees nele contidas mas sobretudo as que estariam por vir

Sendo assim a caixa-cinza resultante de um segundo niacutevel da transformaccedilatildeo

qualitativa do objeto da atividade ndash 1198621198752 ndash pocircde ser visualizada tomando-se por base as

seguintes caracteriacutesticas resultado do conhecimento produzido pelo acesso e interaccedilatildeo com as

informaccedilotildees contidas em 1198601198722 sobre 1198621198751 As accedilotildees que foram realizadas nesse sentido

aconteceram entre o quinto e o sexto encontro do GEPMM Sendo assim a caixa-cinza 2

pode ser considerada como resultado das interaccedilotildees mediadas pelas teacutecnicas de leitura e

apropriaccedilatildeo de informaccedilotildees contidas na revista Caacutelculo considerada como novo instrumento

de mediaccedilatildeo que permeou a atividade alterando seu rumo sua trajetoacuteria Tal instrumento foi

169

Revista intitulada por Caacutelculo (ano 2 nuacutemero 20 setembro de 2012 editora segmento)

199

utilizado com o objetivo de adequaccedilatildeo do objeto ainda idealizado uma abstraccedilatildeo de segundo

niacutevel rumo a um objeto real ndash concreto conceitual expandido Dessa forma a leitura da

mateacuteria da revista Caacutelculo possibilitou um movimento na ZDP da atividade entre as

ldquoidealizaccedilotildeesrdquo elaboradas no niacutevel 1 levando agrave alteraccedilatildeo de rota de rumo a um objeto

desorientado

Na verdade o acesso realizado por mim ao site httpbwsimulatorniddknihgov

ocorreu numa segunda-feira (17122012) dia anterior ao sexto encontro do GEPMM Mesmo

estando distantes (no sentido de que eu estava na cidade de Timoacuteteo-MG a 100 km de Itabira-

MG) utilizei a rede social Facebook e enviei imediatamente uma mensagem aos integrantes

do GEPMM e agrave docente do Departamento de Nutriccedilatildeo da UFOP O intuito dessa accedilatildeo seria o

compartilhamento horizontal de informaccedilotildees entre os integrantes do grupo com o intuito de

pensarmos juntos baseados nas informaccedilotildees que acessaacutessemos assim como os demais

instrumentos que pudessem mediar nossas accedilotildees mesmo distantes fisicamente uns dos outros

No iniacutecio do sexto encontro que ocorreu em 18122012 perguntei aos parceiros

se eles tinham acessado o grupo virtual de modelagem no Facebook e consequentemente

visto minha mensagem sobre o acesso agraves informaccedilotildees contidas na mateacuteria da revista Caacutelculo

mas eles responderam que natildeo que natildeo tinham acessado o grupo no Facebook e

consequentemente natildeo haviam sido informados sobre a ldquotalrdquo nova informaccedilatildeo Pois bem

decidi compartilhar naquele momento as novas informaccedilotildees

Com o auxiacutelio de um computador portaacutetil acessamos ainda durante o sexto

encontro o site httpbwsimulatorniddknihgov e comeccedilamos nossa anaacutelise sobre o modelo

que acabara de ser imerso na atividade de modelagem Estaria entatildeo constituiacutedo o conjunto

1198601198723 como uniatildeo dos instrumentos que permeavam a atividade anteriormente a esse

momento adicionando ao conjunto 1198601198722 esse novo instrumento Sendo assim a caixa-cinza 3

resultante de um terceiro niacutevel da transformaccedilatildeo qualitativa do objeto da atividade ndash 1198621198753 ndash

pocircde ser visualizada tomando-se por base as seguintes caracteriacutesticas resultado do

conhecimento produzido pelo acesso e interaccedilatildeo com as informaccedilotildees contidas em 1198601198723 sobre

1198621198752 As accedilotildees que foram realizadas nesse sentido aconteceram na maioria das vezes no sexto

encontro do GEPMM

No sexto encontro realizamos algumas simulaccedilotildees com o auxiacutelio do bwsimulator

nessas interaccedilotildees sujeito-instrumento-objeto esperaacutevamos obter respostas para nossas

inquietaccedilotildees no que tange agrave problemaacutetica questatildeo por noacutes estudada modelada e ateacute entatildeo

tomada sob a forma de 1198621198753 Nesse sentido Kaptelinin (1996) pontua que uma das mais

200

importantes funccedilotildees dos instrumentos computacionais na estrutura da atividade humana

parece ser a extensatildeo da estrutura cognitiva referida pela Teoria da Atividade como o

Plano de Accedilotildees Internas (PAI) da atividade natildeo apenas como acreditam alguns autores que a

mais importante funccedilatildeo dos instrumentos computacionais seria a extensatildeo da memoacuteria nesse

sentido a principal funccedilatildeo dos instrumentos computacionais nas atividades humanas

consistiria na funccedilatildeo de simulaccedilatildeo170

de resultados potenciais de eventos possiacuteveis antes

mesmo de realizar accedilotildees na realidade

Sendo assim as interaccedilotildees tecnomediadas pelos artefatos computacionais

corresponderiam a um salto cognitivo estrutural da proacutepria atividade humana Poreacutem como

avaliar esse salto sob o ponto de vista de anaacutelises pela Teoria da Atividade De certo eacute

necessaacuteria uma anaacutelise para aleacutem dos instrumentos para aleacutem de tentar explicitar o papel

deles em uma dada atividade humana Eacute necessaacuterio antes de qualquer coisa analisar onde

por quem para quecirc e como satildeo usadas as tecnologias computacionais em atividades humanas

Anaacutelises que focam o(s) papel(eacuteis) de softwares ou outras tecnologias computacionais em

atividades humanas parecem desconsiderar o fato de que a natureza em si natildeo constroacutei

softwares nem quaisquer outros instrumentos ciberneacuteticos todos eles satildeo produtos dos

homens da atividade humana e constituem energia cientiacutefica ou inovadora materializada

Sendo assim o software somente existe e deve ser considerado como um artefato que medeia

as interaccedilotildees ou as possibilidades delas entre os sujeitos e o objeto da atividade analisada

Com isso uma anaacutelise que aqui se faz oportuna estaria baseada nas interaccedilotildees

entre os sujeitos mediadas pelo artefato Human Weight Simulator (HWS171

) e para aleacutem de

analisar as formas de interaccedilatildeo explicitar as possibilidades geradas por tais interaccedilotildees no que

tange ao movimento da proacutepria atividade de modelagem em questatildeo

O acesso ao site httpbwsimulatorniddknihgov somente foi possibilitado

mediante acesso agrave revista Caacutelculo pertencente ao conjunto 1198601198722 Natildeo somente o acesso mas

principalmente as interaccedilotildees entre sujeito e discursos nela contidos Constituiu-se dessa

forma o conjunto 1198601198723 Os sujeitos passaram entatildeo a interagir com os instrumentos de 1198601198723

realizando accedilotildees mediadas por seus elementos com vistas a modificar 1198621198752 e gerar 1198621198753 A

seguir explicitarei algumas das interaccedilotildees-chave que podem ser ressaltadas em tal processo

170

Nesse sentido Skovsmose (2007) enfatiza que ldquoconstruccedilotildees tecnoloacutegicas ainda natildeo realizadas (isto eacute

situaccedilotildees hipoteacuteticas) podem ser especificadas em detalhes pela modelagem matemaacutetica e o raciociacutenio hipoteacutetico

pode se tornar um instrumento essencial para indicar as implicaccedilotildeesrdquo (p 160) 171

httpbwsimulatorniddknihgov

201

a) Interaccedilatildeo dos sujeitos com os instrumentos de 1198601198723 mediante teacutecnicas de

leitura e manipulaccedilatildeo do software

b) interaccedilotildees tecnomediadas pelo software geradas por simulaccedilotildees

c) interaccedilotildees entre os sujeitos gerando novas conjecturas sobre o objeto 1198621198752 o

modificando

Com base em tais interaccedilotildees foram possibilitadas as seguintes accedilotildees

subordinadas ao sentido de transformaccedilatildeo de 1198621198752 em 1198621198753

a) anaacutelise criacutetica das limitaccedilotildees do modelo tecnoloacutegico e ao mesmo tempo edo-

embasado bwsimulator e idealizaccedilotildees no sentido de melhorar tal modelo

construindo outro modelo tecnoloacutegico e ao mesmo tempo fuzzy-embasado

b) necessidade de entendimento do que estaacute dentro da caixa-preta bwsimulator

No que tange agrave anaacutelise criacutetica do modelo bwsimulator ressaltamos a

categorizaccedilatildeo de energia de entrada mediante o somatoacuterio de calorias a serem ingeridas pela

pessoa por dia e os exerciacutecios fiacutesicos que satildeo definidos sem levar em conta a modalidade e o

tempo de atividade Com base em tal anaacutelise idealizamos um modelo que categorizasse a

energia de entrada com base em alimentos a serem ingeridos e suas respectivas calorias e que

os exerciacutecios fiacutesicos fossem assinalados mediante modalidade e tempo diaacuterio Para tal

mediante interaccedilotildees entre os sujeitos da atividade trouxemos para a cena alguns discursos

entre eles o discurso do Caacutelculo o discurso da Nutriccedilatildeo o discurso da Educaccedilatildeo Fiacutesica e o

discurso da Teoria Fuzzy A inserccedilatildeo das ldquovozesrdquo da professora de Nutriccedilatildeo da UFOP via

Facebook e das vaacuterias aacutereas e conhecimentos cientiacuteficos foram demandadas para a execuccedilatildeo

das accedilotildees estrateacutegicas com vistas agrave abertura da caixa-preta do ldquopeso corporal idealrdquo

Tiacutenhamos assim uma nova configuraccedilatildeo uma nova estrutura de atividade

possibilitada pela e na multivocalidade discursiva que nela ecoava sob o aspecto de um Plano

de ldquoAccedilotildeesrdquo Internas (PAI) da proacutepria atividade Tal plano seraacute discutido com maiores

riquezas de detalhes mais adiante no presente texto

Finalmente orientados pela abertura da caixa-preta bwsimulator acessamos o

artigo disponibilizado em httpbwsimulatorniddknihgov intitulado Dynamic mathematical

model of body weight change in adults Estaria entatildeo constituiacutedo o conjunto 1198601198724 como

uniatildeo dos instrumentos que permeavam a atividade anterior a esse momento adicionando ao

202

conjunto 1198601198723 esse novo instrumento Sendo assim a caixa-cinza 4 resultante de um quarto

niacutevel da transformaccedilatildeo qualitativa do objeto da atividade ndash 1198621198754 ndash pocircde ser visualizada

tomando-se por base as seguintes caracteriacutesticas resultado do conhecimento produzido pelo

acesso e interaccedilatildeo com as informaccedilotildees contidas em 1198601198724 sobre 1198621198753 As accedilotildees que foram

realizadas nesse sentido aconteceram na maioria das vezes nos seacutetimo e oitavo encontros do

GEPMM e em outros momentos que seratildeo expostos mais adiante nesta tese

Nessa parte da anaacutelise da atividade em questatildeo podemos tomar os conteuacutedos do

Caacutelculo em accedilatildeo instrumentos indispensaacuteveis para a realizaccedilatildeo das accedilotildees de abertura da 1198621198753

e consequentemente geraccedilatildeo da 1198621198754 Com isso consideramos tais instrumentos necessaacuterios

para a realizaccedilatildeo de accedilotildees e interaccedilotildees em 1198621198753 com vistas agraves transformaccedilotildees qualitativas no

objeto da atividade traccedilando um movimento uma trajetoacuteria Uma observaccedilatildeo que se faz

necessaacuteria eacute que um instrumento em si natildeo produz alteraccedilotildees na trajetoacuteria de uma atividade

mas somente ao considerarmos o instrumento em accedilatildeo eacute que podemos perceber o movimento

possibilitado por ele Nesse sentido as atividades de Modelagem Matemaacutetica se tornam

instrumentos para possibilitar abertura de caixas-pretas devido agrave consideraccedilatildeo primaacuteria que

consiste em tomar a matemaacutetica em accedilatildeo em tais atividades ndash matemaacutetica como um

instrumento para o entendimentoresoluccedilatildeo de questotildees-problema natildeo matemaacuteticas

Dessa forma uma pergunta essencial deve ser feita e consequentemente

respondida nesta parte da anaacutelise quais os limites e as possibilidades de accedilotildees foram

estabelecidos nas e pelas interaccedilotildees mediadas por tal instrumento ndash o Caacutelculo em accedilatildeo

Sendo assim buscaremos respostas para tal questatildeo considerando o Caacutelculo em

accedilatildeo sob dois olhares como instrumento que possibilita a abertura de caixas-pretas e como

instrumento que limita ou dificulta a abertura de caixas-pretas Mas como poderia um

mesmo instrumento possibilitar e limitar aberturas de caixas-pretas Aqui estaacute a

demonstraccedilatildeo de que eacute preciso ir aleacutem de analisar o papel de um instrumento em uma

atividade e ampliar o espectro de anaacutelise para as interaccedilotildees mediadas por tais instrumentos

Cabe ressaltar que quando fazemos isso estamos assumindo um foco de anaacutelise que busca

respostas para os seguintes questionamentos quem quando por que e como usou o

instrumento na atividade

Focando a atividade de modelagem analisada nesta parte da tese seria

interessante responder os seguintes questionamentos no que se refere mais especificamente

aos instrumentos de caacutelculo em accedilatildeo utilizados pelos sujeitos da atividade nas accedilotildees que

tangem o entendimentoapropriaccedilatildeo dos tambeacutem instrumentos da atividade bwsimulator e o

203

artigo intitulado Dynamic mathematical model of body weight change in adults Valem

ressaltar que bwsimulator e o artigo podem ser considerados caixas-pretas a serem abertas

modificadas e ou fechadas na atividade de modelagem analisada nesta parte da tese que

dessa forma se configura como uma atividade de produccedilatildeo de conhecimentos e saberes

As Tecnologias da Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo (TICs) possibilitaram o acesso agrave

ciecircncia mediante acesso ao simulador e consequentemente ao artigo (texto cientiacutefico) que

expotildee um modelo matemaacutetico para representar as mudanccedilas de peso corporal em adultos

Contudo tal acesso se restringe a uma ciecircncia visualmente pronta e acabada e natildeo a uma

ciecircncia em construccedilatildeo Para entendermos esses instrumentos seria entatildeo necessaacuterio tomaacute-los

como produtos da construccedilatildeo humana orientada por finalidades e demandas especiacuteficas da

proacutepria sociedade natildeo os considerando assim como produtos prontos mas sobretudo como

produtos em contiacutenua construccedilatildeo e reconstruccedilatildeo

Se por um lado o acesso agrave ciecircncia pronta foi possibilitado mediante a caixa-preta

do simulador disponiacutevel a todos por meio do site httpbwsimulatorniddknihgov (antes

teriacuteamos apenas um artigo repleto de matemaacutetica e paracircmetros bem distante da realidade dos

usuaacuterios dos seres da sociedade pacientes educadores fiacutesicos nutricionistas apoacutes o advento

da ciberneacutetica essa ciecircncia estaacute acessiacutevel) pode ser considerado uma maravilha por outro

lado o acesso agrave ciecircncia em construccedilatildeo se tornou mais limitado

Nesse sentido configurado diante de noacutes estaria uma caixa-preta (artigo

cientiacutefico) dentro da outra (bwsimulator) ndash sobrepostas e inter-relacionadas Sendo assim

podemos perceber que enquanto mais prospera a ciecircncia e a tecnologia mais opaca e obscura

elas podem se tornar A dificuldade em se abrir as caixas-pretas pode produzir ldquohorroresrdquo no

que se refere ao entendimento da ciecircncia em construccedilatildeo pois ldquoquanto mais complexo o

processo de identificar consequecircncias de possiacuteveis accedilotildees tecnoloacutegicas ocorrerem mais temos

que confiar no aparato da razatildeo e mais circular eacute o processordquo (SKOVSMOSE 2007 p 162)

Dessa forma podemos considerar que aumentou o acesso agrave ciecircncia e ao mesmo tempo

limitou a abertura de caixas-pretas e consequentemente a tomada de consciecircncia criacutetica e

controle da proacutepria atividade por parte dos sujeitos

No que se refere agrave abertura da caixa-preta do artigo (texto cientiacutefico) intitulado

Dynamic mathematical model of body weight change in adults deparamo-nos com outras

caixas-pretas que traziam lsquoagrave cenarsquo enunciados172

oriundos do discurso da fisiologia humana

172

Para Bakhtin o enunciado eacute o produto de uma enunciaccedilatildeo ou de um contexto histoacuterico social cultural etc Eacute

preciso observar que as relaccedilotildees do discurso com a enunciaccedilatildeo com o contexto soacutecio-histoacuterico ou com o ldquooutrordquo

satildeo para Bakhtin relaccedilotildees entre discursos-enunciados Por essa razatildeo utiliza os termos intertextualidade para se

204

do discurso do Caacutelculo em accedilatildeo e do discurso cientiacutefico Sendo assim o texto eacute de fato um

tecido de muitas vozes ou de muitos discursos ldquoque se entrecruzam se completam

respondem umas agraves outras ou polemizam entre si no interior do textordquo (BARROS 2007 p

31 grifo do autor) Ainda para Bakhtin o sentido do texto e dos seus discursos internos

depende da relaccedilatildeo entre os sujeitos que se constroacutei na produccedilatildeo e na interpretaccedilatildeo dos

textos

Com isso podemos considerar o caacutelculo em accedilatildeo em duas ldquofrentesrdquo analiacuteticas no

que se refere agrave abertura da caixa-preta amparada pelono artigo cientiacutefico referido

anteriormente de autoria de Kevin Hall e seus colaboradores mais especificamente ao

apecircndice do artigo que suporta os modelos matemaacuteticos que representam o fenocircmeno das

mudanccedilas de peso corporal em adultos humanos De um lado estaria configurado um caacutelculo

em accedilatildeo como instrumento ndash linguagem usada na produccedilatildeo do texto cujos sujeitos da accedilatildeo

coincidem com os sujeitos autores do texto De outro lado estaria configurado um caacutelculo em

accedilatildeo como instrumento indispensaacutevel agrave abertura da caixa-preta do proacuteprio texto cujos

sujeitos da accedilatildeo satildeo os integrantes do GEPMM e as realizam com vistas agrave interpretaccedilatildeo do

proacuteprio texto Para interpretar o texto foi entatildeo necessaacuterio avaliar a sua produccedilatildeo

Isso posto o caacutelculo em accedilatildeo foi necessariamente ldquocolocado em cenardquo a fim de

avaliar como o Caacutelculo em accedilatildeo operava ldquopor traacutes da cenardquo Nesse sentido o aparato da

razatildeo (Caacutelculo em accedilatildeo) foi utilizado por noacutes integrantes do GEPMM como um instrumento

de avaliaccedilatildeo e criacutetica do aparato da razatildeo impresso sob a forma de linguagem escrita no

artigo referido anteriormente Skovsmose (2007 p 162 grifos meus) pontua que ldquoo aparato

da razatildeo torna-se essencial para construir os instrumentos de avaliaccedilatildeo das consequecircncias das

accedilotildees sociotecnoloacutegicas criadas pelo proacuteprio aparato da razatildeordquo

As avaliaccedilotildees e criacuteticas tecidas por noacutes integrantes do GEPMM ao conteuacutedo do

artigo (texto) assim como ao software bwsimulator caracterizavam-se na maioria das vezes

pelas sugestotildees feitas por Skovsmose (2007) quem construiu os modelos Que aspectos da

realidade estatildeo neles incluiacutedos Quem tem acesso aos modelos Os modelos satildeo

ldquoconfiaacuteveisrdquo Quem estaacute apto a controlaacute-los Levando em conta que se tais questotildees natildeo

forem adequadamente esclarecidas valores tradicionais da democracia podem ser corroiacutedos

Na tentativa de responder a tais questionamentos podemos pontuar os seguintes

esclarecimentos173

referir aos ldquodiaacutelogos entre discursosrdquo e dialogismo para se referir aos ldquodiaacutelogos entre interlocutoresrdquo (BARROS

2007) 173

Seratildeo mais bem explicitados mais adiante neste texto

205

a) os modelos matemaacuteticos (edos) suportados pelo referido artigo e o modelo

tecnoloacutegico bwsimulator foram construiacutedos pela equipe do pesquisador Kevin D

Hall

b) por um lado acreditamos que o modelo bwsimulator estaacute disponiacutevel e acessiacutevel

a todos (via internet) sob o ponto de vista de uso e possibilidades de simulaccedilotildees

por outro lado nos modelos matemaacuteticos (edos) mesmo estando disponiacuteveis a

todos haacute uma possiacutevel restriccedilatildeo em termos da acessibilidade jaacute que nem todos

tem acesso agrave linguagem matemaacutetica em uso em accedilatildeo (edo)

c) acreditamos que mais pessoas estariam aptas a controlar o bwsimulator do que

controlar as edos contudo o coacutedigo do software bwsimulator natildeo eacute disponiacutevel a

todos somente a grupos de pesquisa enquanto as edos satildeo disponiacuteveis a todos via

internet

d) quanto agrave confiabilidade nos modelos acreditamos que o Caacutelculo em accedilatildeo

utilizado no empreendimento de construccedilatildeo dos modelos (edos e bwsimulator)

limita ou dificulta avaliaccedilotildees e consequentes criacuteticas a tais modelos tornando

difiacutecil a tarefa de confiar ou natildeo neles Como o coacutedigo-fonte do software

bwsimulator ainda natildeo eacute disponiacutevel a todos (apenas a grupos de pesquisa) sob o

ponto de vista da democracia e do compartilhamento de saberes percebemos uma

iminente corrosatildeo

e) os aspectos da realidade que estatildeo inclusos nos modelos matemaacuteticos (edos) e

no modelo tecnoloacutegico (bwsimulator) natildeo satildeo os mesmos apesar de o modelo

bwsimulator estar baseado nas edos que estatildeo configuradas no artigo (texto)

Contudo nem todas edos foram usadas e mais do que isso foi necessaacuterio assumir

ldquomenosrdquo aspectos da realidade nas edos do que no bwsimulator

Sendo assim a abertura de 1198621198754 somente pocircde ocorrer mediante o imprescindiacutevel

auxiacutelio do caacutelculo em accedilatildeo que inclui as EDOs em accedilatildeo Por um lado sob o uso dos sujeitos

responsaacuteveis pela construccedilatildeo dos modelos anteriormente citados os pesquisadores liderados

por Kevin Hall o caacutelculo em accedilatildeo parece ser instrumento que pode limitar ou dificultar a

abertura da caixa-preta 1198621198754 mas por outro lado sob o uso dos sujeitos do GEPMM parece

ser um instrumento que pode ampliar as possibilidades de tal abertura

No entanto farei uma anaacutelise das interaccedilotildees que se fizeram necessaacuterias entre as

quais a finalidade estava orientada pela abertura de 1198621198754 Conforme exposto anteriormente

206

ateacute o final do oitavo encontro a certeza que tiacutenhamos eacute de que ainda havia uma interrogaccedilatildeo

quanto ao entendimento de uma equaccedilatildeo no referido artigo de onde o(s) autor(es)

ldquotirou(raram)rdquo a equaccedilatildeo (10) Pensaacutevamos que a tarefa de entendimento do processo de

construccedilatildeo da referida equaccedilatildeo era de simples entendimento mas estaacutevamos enganados

Teacutecnicas de leitura habilidades matemaacuteticas (edo) conhecimentos de Nutriccedilatildeo e

Fisiologia foram chamados ldquoagrave cenardquo para possibilitar a abertura de 1198621198754 mas ainda foi pouco

Permanecia uma dificuldade uma limitaccedilatildeo do processo um gap algo estava ldquoescondidordquo

natildeo conseguiacuteamos enxergar sozinhos Ao chegar em casa depois do oitavo encontro tentei de

todas as formas que me eram possiacuteveis decifrar o que estava ldquoescondidordquo no referido texto

entre as equaccedilotildees (9) e (10) mas meus esforccedilos foram em vatildeo Nisso tornou-se necessaacuterio o

estabelecimento de novas parcerias ampliaccedilatildeo da rede de aprendizagem mediante o chamado

para compor a ldquocenardquo aos autores do referido texto e do bwsimulator

Tomei a atitude174

de enviar um e-mail para Kevin Hall pedindo maiores

esclarecimentos quanto agrave equaccedilatildeo (10) No mesmo dia obtive uma resposta do autor tambeacutem

por e-mail enfatizando que a equaccedilatildeo teria surgido da referecircncia [20] contida no artigo e me

enviou o artigo em pdf Li o artigo todo percebi que a equaccedilatildeo (13) do artigo [20] enviado

por Kevin Hall era parecida com a equaccedilatildeo (10) mas que havia sutis diferenccedilas que me

direcionavam ao natildeo entendimento dos ldquoporquecircsrdquo do que estaria por traacutes daquele amontoado

de equaccedilotildees e afirmativas Decidi entatildeo enviar um novo e-mail para Kevin questionando-o

sobre o quecirc pra mim ainda estava ldquoescondidordquo no texto limitando o entendimento Kevin

enviou-me um manuscrito com um processo de derivaccedilatildeo e me disse que ao ler aquele

manuscrito tudo estaria explicado Imediatamente iniciei a leitura e depois de ter lido

percebi que natildeo estava tudo explicado na verdade as duacutevidas haviam se intensificado

Para obter a equaccedilatildeo (10) Kevin Hall e seus colaboradores supuseram que a

funccedilatildeo de Forbes dada por 120572 equiv119889119871

119889119865=

119862

119865 em que 119862 = 104 119896119892 eacute o paracircmetro de Forbes era

constante Vale ressaltar que 119865 eacute a massa gorda (fat mass) e 119871 eacute a massa magra (lean mass)

Se 120572 eacute constante isso implica que 119889119871 = 120572 119889119865 e consequentemente 119871 minus 1198710 = 120572 (119865 minus 1198650)

Tudo isso foi usado para obter a equaccedilatildeo (10) Soacute que ao tomar 120572 constante um valor inicial

de massa gorda 1198650 precisamente foi fixado 120572 =119862

1198650 Nisso 119871 minus 1198710 =

119862

1198650 (119865 minus 1198650) o que

implica 119871 =119862

1198650 (119865 minus 1198650) + 1198710 Contudo logo em seguida agrave equaccedilatildeo (10) no texto os autores

afirmam que ldquopara modestas mudanccedilas de peso 120572 pode ser considerado aproximadamente

174

Atitude gerada pela necessidade apontada entender a equaccedilatildeo (10)

207

constante com 119865 fixado em seu valor inicial 1198650rdquo175

Isso jaacute tinha sido levado em conta para

obter a equaccedilatildeo (10)

Temos aqui um problema como 120572(119905) =119862

119865(119905) jaacute foi tomada como constante na

equaccedilatildeo (10) a funccedilatildeo 119865(119905) precisou necessariamente ser assumida como constante Isso

acaba por extinguir a meu ver a utilidade do modelo Ora se o objetivo eacute estimar mudanccedilas

no peso corporal com o tempo tomado como sendo a soma aritmeacutetica das massas gorda e

magra que se relacionam mediante a funccedilatildeo 120572 que por sua vez depende do tempo ao tomar

a funccedilatildeo 120572 como constante implica natildeo haver qualquer mudanccedila na massa gorda ndash 119865(119905) e

consequentemente na massa magra ndash 119871(119905) que tambeacutem precisa necessariamente ser

assumida como constante Sendo assim sem variaccedilotildees de massas gorda e magra o peso

permanece o mesmo sem alteraccedilotildees

Com base nisso questionei ao Kevin Hall novamente via e-mail sobre tal

hipoacutetese ter sido considerada no artigo Ele respondeu que isso natildeo atrapalha em nada os

resultados pois o modelo implementado no bwsimulator natildeo assume 120572 constante (apesar de a

EDO (10) assumir) E aponta ainda que tal ldquolinearizaccedilatildeordquo foi feita principalmente para

escrever a EDO de primeira ordem (10) de maneira linear a intenccedilatildeo do grupo dele natildeo foi

ldquoderivarrdquo nem implementar no bwsimulator tal EDO mas que tal modelo ldquocorrespondiardquo a

uma EDO de ordem superior natildeo linear obtida pelo grupo dele no passado

Naquele momento o artigo estava mais claro as equaccedilotildees faziam mais sentido e

todos esses entendimentos precisavam ser compartilhados com os demais sujeitos do grupo

Uma importante observaccedilatildeo que se faz necessaacuteria eacute a de que sem internet sem e-mail os

autores do texto dificilmente poderiam atuar em nossa atividade da maneira que atuaram Eacute

fato que ao acessarmos o texto (artigo) e acessarmos o bwsimulator jaacute haviacuteamos feito o uso

da internet como instrumento que permeou a atividade fazendo com que seus autores

atuassem em nossa atividade por meio das diversas vozes impressas sob a forma de linguagem

escrita (que inclui a linguagem matemaacutetica) e sob a forma da linguagem tecnoloacutegica impressa

no software mas de uma forma qualitativamente diferente

O instrumento e-mail de nada teria auxiliado em nossa atividade se o autor Kevin

Hall natildeo tivesse aceitado participar na situaccedilatildeo de ator social de toda a interaccedilatildeo O modelo

de sociedade em rede permite possibilita o compartilhamento de conhecimentos e saberes

Mas isso natildeo garante necessariamente que tal compartilhamento ocorra Possuir acessar um

175

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoFor modest weight changes 120572 can be considered to be approximately

constant with 119865 fixed at its initial value 1198650rdquo (HALL et al 2011 p 4)

208

instrumento de comunicaccedilatildeo como o e-mail portanto natildeo assegura papel algum em uma

atividade Apenas abre um leque de possibilidades de accedilatildeo e interaccedilatildeo entre seres humanos

Podendo se tornar um artefato mediador de relaccedilotildees entre sujeitos e objetos de uma atividade

Outro ponto-chave considerado na presente anaacutelise toma por base uma informaccedilatildeo

fornecida por e-mail enviado a mim por Kevin Hall que consiste na seguinte afirmaccedilatildeo o

modelo implementado no bwsimulator natildeo assume 120572 constante No momento que li essa

afirmaccedilatildeo no e-mail imediatamente me perguntei ldquoseraacute mesmo que no software isso natildeo eacute

assumidordquo Ou seja ao processar uma informaccedilatildeo fazemos julgamentos quanto a sua

veracidade Em seguida pensei que de fato eles natildeo devem ter usado pois caso contraacuterio as

simulaccedilotildees natildeo se tornariam possiacuteveis De toda forma desejava confirmar isso pois caso

contraacuterio teriacuteamos que ldquoconfiarrdquo no que estava por traacutes do software e isso definitivamente

natildeo era nosso objetivo Mas como poderiacuteamos ter acesso ao que estaacute atraacutes da ldquocenardquo

promovida pelo software As simulaccedilotildees possibilitadas por tal instrumento estariam

simulando quais realidades

Novamente enviei um e-mail para Kevin Hall perguntando sobre o software em

termos de acesso aos coacutedigos internos agrave programaccedilatildeo aos recursos que estariam por traacutes da

interface homem-maacutequina estabelecidas no bwsimulator Ele me encaminhou ao setor de

transferecircncia de tecnologia para que eu pudesse obter mais detalhes sobre o acesso aos

coacutedigos O acesso aos coacutedigos somente nos foi dado mediante assinatura de termo de

compromisso assumindo-os para fins de ensino e pesquisa e sobretudo mediante assinatura

da instituiccedilatildeo a qual sou vinculada ndash CEFET-MG Sendo assim somente pesquisadores

podem ter acesso aos coacutedigos Natildeo se trata de um software livre nem de coacutedigo aberto Nesse

sentido trago uma reflexatildeo de Castells (2005) sobre o direito de propriedade e a democracia

da comunicaccedilatildeo como segue

Aderindo agrave democracia da comunicaccedilatildeo concorda-se com a democracia directa algo

que nenhum estado aceitou ao longo da histoacuteria Admitir o debate para redefinir os

direitos de propriedade acerta em cheio no coraccedilatildeo da legitimidade capitalista

Aceitar que os utilizadores satildeo produtores de tecnologia desafia o poder do

especialista Entatildeo uma poliacutetica inovadora mas pragmaacutetica teraacute de encontrar o

meio caminho entre o que eacute social e politicamente exequiacutevel em cada contexto e a

promoccedilatildeo das condiccedilotildees culturais e organizacionais para a criatividade na qual a

inovaccedilatildeo o poder a riqueza e a cultura se alicerccedilam na sociedade em rede

(CASTELLS 2005 p 29 grifo meu)

Nesse sentido parece que haacute uma iminente corrosatildeo do que poderia ser um

processo democraacutetico de comunicaccedilatildeo No que se refere aos conhecimentos impressos no

artigo natildeo parece ter problema algum o estabelecimento de uma comunicaccedilatildeo aparentemente

209

democraacutetica mas quando a propriedade intelectual dos desenvolvedores do software estava

sendo posta em risco aiacute a comunicaccedilatildeo democraacutetica se tornou fluida corroiacuteda

As intenccedilotildees do grupo liderado por Kevin Hall satildeo claras a difusatildeo do

conhecimento tecnoloacutegico somente se daacute em niacutevel de utilizaccedilatildeo (operaccedilatildeo) em vez de

produccedilatildeo (desenvolvimento) Os resultados das pesquisas realizadas por eles estatildeo

disponiacuteveis a todos por meio da internet sob a forma do bwsimulator O que serviria de base

para os coacutedigos tambeacutem estaacute disponiacutevel sob a forma do artigo (texto) Poreacutem a

disponibilizaccedilatildeo do artigo e o que o ampara natildeo parece ser considerada transferecircncia de

tecnologia ao contraacuterio do que ampara o software Nisso acordos internacionais que visam a

(re)definiccedilatildeo dos direitos de propriedade intelectual tornam-se ldquofundamentais para a

preservaccedilatildeo da inovaccedilatildeo e para a dinamizaccedilatildeo da criatividade das quais depende o progresso

humano antes e agorardquo (CASTELLS 2005 p 28)

Skovsmose (2007 p 186) denomina por construtores certo grupo de pessoas que

estaacute desenvolvendo e mantendo um aparato da razatildeo Para o autor tudo que eacute ensinado na

educaccedilatildeo superior deveria enfrentar o paradoxo da razatildeo para que os estudantes conheccedilam a

ambivalecircncia incluiacuteda no aparato da razatildeo O autor afirma que ldquoa matemaacutetica pode ser

disponiacutevel em pacotes que exigem capacidade para serem usados embora os detalhes sobre

como o pacote funciona podem natildeo ser entendidos pelas pessoas que operam com elesrdquo

(SKOVSMOSE 2007 p 187) Tais pacotes poderiam e muitas vezes trazem a Matemaacutetica

fora da superfiacutecie da situaccedilatildeo uma Matemaacutetica impliacutecita ldquoescondidardquo Em tais situaccedilotildees o

grupo de pessoas que opera tais pacotes eacute denominado por operadores que estatildeo tambeacutem

operando com matemaacutetica em accedilatildeo

Nesse sentido podemos perceber um niacutetido alinhamento entre a estrateacutegia de

abertura de caixas-pretas como um objetivo geral para a educaccedilatildeo matemaacutetica superior que

toma como objeto a formaccedilatildeo de construtores em vez de meros operadores Mais

especificamente eacute preciso promover um espaccedilo formativo em que natildeo se possa admitir a

formaccedilatildeo em Engenharia de operadores pois caso isso permaneccedila o desenvolvimento e a

manutenccedilatildeo dos aparatos da razatildeo continuaratildeo nas matildeos de poucos frequentemente cidadatildeos

de paiacuteses ricos e poderosos que na situaccedilatildeo de detentores do conhecimento e da tecnologia

tendem a colaborar com uma nova forma de colonizaccedilatildeo

Com isso pretende-se instaurar um espaccedilo criacutetico-formativo que num primeiro

momento pode ateacute parecer ilusatildeo ou utopia devido agrave dificuldade de entendimento de tantas

caixas-pretas amontoadas sobre e entre si mesmas Contudo ao se considerar as incertezas

proporcionadas pelos ldquodesgovernadosrdquo aparatos da razatildeo que proveem recursos para mais

210

desenvolvimento tecnoloacutegico torna-se necessaacuterio promover experiecircncias formativas no

sentido de fomentar a elaboraccedilatildeo de inovadores instrumentos de criacutetica descoberta e

reproduccedilatildeo praacutetica amparados pelos subsiacutedios fornecidos pelos aparatos da razatildeo

ldquoanterioresrdquo

Dessa forma o objeto da atividade aqui analisada como constituinte de um

espaccedilo formativo mais amplo - que se destina agrave formaccedilatildeo dos profissionais da Engenharia-

transforma-se gradativamente na medida em que as accedilotildees orientadas pelas e nas

transformaccedilotildees qualitativas da caixa-preta do ldquopeso corporal idealrdquo que configurou como

questatildeo-problema escolhida pelos sujeitos engajados no GEPMM a ser

entendidasolucionada ndash ldquoclareadardquo ndash ou seja qualitativamente modificada eou

transformada e portanto expandida

54 Quarta modalidade ndash Multivocalidade e agency evidenciadas pelas interaccedilotildees

tecnomediadas em atividades de Modelagem Matemaacutetica idealizaccedilotildees desencadeadoras

de aprendizagens potencialmente expansivas em um contexto de formaccedilatildeo em

Engenharias

A matemaacutetica constitui sem duacutevida tatildeo-somente um momento da processatildeo Por si

mesma ela ainda natildeo diz o que possibilita a captura da forma na concretude do

existente A essecircncia natildeo eacute o uacuteltimo fundamento Mas se a matematizaccedilatildeo natildeo eacute a

palavra final do ser nem a uacuteltima palavra sobre o ser ela nos abre em todo caso uma

regiatildeo de transparecircncia com a qual o espiacuterito humano estaacute como que naturalmente

harmonizado (LADRIEgraveRE 1978 p 165)

Configurando-se como uma das bases que constituem a Teoria da Atividade de

Engestroumlm (1987) as ideias do teoacuterico Mikhail Bakhtin tendo desenvolvido suas

investigaccedilotildees na aacuterea de filosofia da linguagem cujas origens podem ser encontradas no

marxismo fornecem a noacutes os subsiacutedios conceituais para dar conta de analisar as interaccedilotildees

que podem ser constituidoras de idealizaccedilotildees de aprendizagem em movimento de

aprendizagem expansiva

O conceito de multivocalidade tambeacutem atribuiacutedo a Bakhtin aplicado na presente

pesquisa como base analiacutetica para aprendizagens expansivas configura-se como muacuteltiplas

vozes podendo ser caracterizadas como contraditoacuterias e complementares dos vaacuterios grupos e

estratos que constituem as interaccedilotildees no sistema de atividade em anaacutelise que inclui as vozes e

gecircneros natildeo acadecircmicos de pessoas comuns constituindo argumentaccedilotildees que englobam

diferentes tipos de discurso e linguagem (BARROS 2007)

211

As interaccedilotildees podem ser caracterizadas por accedilotildees realizadas entre os sujeitos e o

objeto da atividade formativa de Modelagem Matemaacutetica aqui analisada por meio dos

artefatos mediadores que incluem as ferramentas e os signos culturais Segundo Bakhtin

(2010) o agir humano soacute se realiza mediante a interaccedilatildeo e o dizer natildeo pode ser considerado

independente do agir As interaccedilotildees verbais para Bakhtin (2010) constituem as mais variadas

formas de enunciaccedilatildeo impregnadas pelas ideologias que permeiam os fenocircmenos sociais

dando base a situaccedilotildees concretas que possibilitam os atos de fala As interaccedilotildees verbais natildeo se

restringem aos diaacutelogos que constituem claramente uma das formas mais importantes de

interaccedilatildeo verbal contudo pode-se compreender a palavra ldquodiaacutelogordquo num sentido mais amplo

isto eacute natildeo apenas como a comunicaccedilatildeo em voz alta de pessoas face a face mas toda

comunicaccedilatildeo verbal de qualquer tipo que seja como por exemplo um ato de fala impresso

em um livro ou em uma mensagem escrita em um e-mail

A tecnomediaccedilatildeo eacute entendida neste texto como sendo as interaccedilotildees mediadas por

artefatos tecnoloacutegicos que incluem as mais variadas ferramentas ou suportes tecnoloacutegicos

tais como a proacutepria Matemaacutetica e os recursos ciberneacuteticos aleacutem de englobar diversos suportes

de mediaccedilatildeo tais como a linguagem transmitida sob a forma oral escrita e por gestos A

linguagem eacute considerada por Bakhtin (2010) como um fato soacutecio ideoloacutegico e configura como

formas discursivas que veiculam por meio dos atos de fala as mais diferenciadas ideologias

estampadas nos mais diversos tipos significantes de enunciaccedilatildeo de natureza social

configurada como o produto do ato de fala

Com base nesses pressupostos pretendo agora esboccedilar uma anaacutelise das

interaccedilotildees perceptivelmente constituintes eou constituidoras das atividades do GEPMM Para

tal busco no corpus empiacuterico de dados construiacutedos durante a investigaccedilatildeo ndash elaboraccedilatildeo e

implementaccedilatildeo do GEPMM os atos de fala que explicitem a multivocalidade e a agency

evidenciadas naspelas interaccedilotildees dos sujeitos partiacutecipes

Na entrevista final quando questionada o que teria aprendido com a participaccedilatildeo

no GEPMM a professora Clarice pontuou ldquoa matemaacutetica taacute em todo lugarrdquo afirmou que ao

estar mais acostumada com uma Matemaacutetica mais teoacuterica e natildeo ter costume com uma

matemaacutetica em accedilatildeo sua participaccedilatildeo no GEPMM trouxe enriquecimento com relaccedilatildeo a isso

E confirmou ldquopensar o problema matematicamente eu natildeo tinha pensado Pensei agora

pensei no grupordquo Nesse sentido podemos aferir que as interaccedilotildees tecnomediadas ocorridas

no GEPMM possibilitaram uma ampliaccedilatildeo no repertoacuterio da docente Clarice no que diz

respeito agraves idealizaccedilotildeesvisualizaccedilotildees de uma matemaacutetica em accedilatildeo

212

O docente Angel tambeacutem demonstrou transformaccedilotildees em suas ideias mediante as

interaccedilotildees possibilitadas na e pela atividade de modelagem desenvolvida pelo GEPMM Na

entrevista final ele pontuou que natildeo esperava ter visto uma Matemaacutetica tatildeo complexa em um

problema da aacuterea de sauacutede ou seja uma matemaacutetica em accedilatildeo na aacuterea de sauacutede agindo de

forma natildeo superficial Nas palavras dele

Eu tive essa visatildeo mais ampliada da matemaacutetica [] eu imaginava uma matemaacutetica

mais baacutesica neacute mais elementar porque a gente pensa ah o pessoal da sauacutede natildeo

deve ser tatildeo assim aprofundado nas matemaacuteticas pra poder chegar em resultados

tatildeo bacanas [] tinha equaccedilotildees diferenciais tinha vaacuterias teacutecnicas matemaacuteticas

interessantiacutessimas aplicadas com um fim laacute comum

Com isso podemos perceber que o docente Angel tambeacutem parece ter tido uma

ampliaccedilatildeo no repertoacuterio no que diz respeito agraves idealizaccedilotildees que a matemaacutetica em accedilatildeo pode

possibilitar Afirmou ainda nunca ter tido a oportunidade de ver equaccedilotildees diferenciais em

outros contextos nas palavras dele ldquoa gente fica naquele lsquomundinhorsquo ali [] e transita por

ali entatildeo nunca tive curiosidade de procurar alguma matemaacutetica mais avanccedilada em outras

aacutereas entendeurdquo

Para a aluna Taty ter participado do GEPMM foi enriquecedor pelas

possibilidades de discussatildeo em grupo Extraiacutedas das transcriccedilotildees da gravaccedilatildeo da entrevista

final as palavras de Taty nos dizem ldquoA discussatildeo em grupo foi muito produtiva [] e

tambeacutem neacute essa questatildeo da articulaccedilatildeo neacute acho que a gente tem que aprender a trabalhar

porque quando vocecirc tem pessoas pra trabalhar junto com vocecirc em uma coisa as coisas saem

melhoresrdquo

A aluna pontuou ainda que ao participar do grupo pocircde reafirmar sob sua

concepccedilatildeo a importacircncia da atividade de pesquisa Ainda que a participaccedilatildeo da aluna possa

ser considerada incipiente Para ela as pessoas ldquopodem descobrir coisas que ningueacutem

descobriu antesrdquo acredita que nisso consiste ldquoo grande diferencialrdquo porque as pessoas ficam

repetindo muito reproduzindo muito e acabam natildeo percebendo que as inovaccedilotildees surgem

muitas vezes de resultados de pesquisa Durante toda a construccedilatildeo dos dados para a pesquisa

relatada nesta tese percebi que a aluna Taty realmente objetiva ter uma boa formaccedilatildeo para

conseguir ter o diferencial no mercado de trabalho Esse foi na minha visatildeo o principal

motivo do engajamento no GEPMM fazer a diferenccedila no mercado de trabalho A aluna

delimita ainda como um horizonte de ldquoaccedilotildeesrdquo para materializar tal objetivaccedilatildeo um Plano de

Accedilotildees Internas - PAI (KAPTELININ 1996) de sua proacutepria atividade formativa em

Engenharia aprendizagens de Caacutelculo e outros instrumentos matemaacuteticos que estejam aleacutem

213

dos preconizados nos planos e nas ementas das disciplinas de Caacutelculo Nas palavras de Taty

extraiacutedas das transcriccedilotildees do primeiro encontro do GEPMM

As melhores aacutereas da Computaccedilatildeo as que datildeo mais dinheiro cecirc tem que ser bom de

matemaacutetica Entatildeo eu acho um desperdiacutecio a gente ter 500 professores de

Matemaacutetica aqui e ficar na sala de aula vendo nada Adoro gosto muito acho

muito legal mas soacute isso Entendeu Vocecirc pode sair daqui muito mais potente

Com essa fala podemos analisar que apesar de o objeto das atividades

desenvolvidas pelono GEPMM estar orientado pelas questotildees-problema natildeo matemaacuteticas e

pelos estudantes em formaccedilatildeo os motivos que direcionam o engajamento nas atividades satildeo

atribuiacutedos a um sentido pessoal que norteia as accedilotildees dos sujeitos inclusive orienta as decisotildees

de engajamento ou natildeo em atividades Por que a aluna se engajou nas atividades do

GEPMM Porque deseja ter um bom salaacuterio ganhar mais dinheiro Nesse caso um bom

emprego eou muito dinheiro seriam os motivos evidenciados pela aluna em seus atos de fala

Tal objetivo estaacute relacionado a uma necessidade social ser bem-sucedido Para tal ela esboccedila

um Plano de Accedilotildees Internas (PAI) (KAPTELININ 1996) para sua proacutepria atividade

formativa Encontra a possibilidade de participar do GEPMM Percebe que as finalidades satildeo

alinhadas Engaja-se nas atividades do grupo Quando natildeo consegue realizar as atividades ou

accedilotildees relacionadas aos objetivos de ser aprovada nas disciplinas regulares e tambeacutem terminar

o projeto de iniciaccedilatildeo cientiacutefica a aluna reconceitualiza o PAI anulando ou tornando-as

minimizadas em prol de um realinhamento dos objetivos orientados nospelos sistemas de

atividade de formaccedilatildeo em engenharia ao motivo Uma voz do sistema capitalista de produccedilatildeo

estaria dessa forma ecoando na atividade a voz do mercado de trabalho Eacute possiacutevel notar

que tal voz pode ser ouvida nos mais diversos modos de atividade contemporacircneos pois

representa uma ideologia enunciada pelos sujeitos sociais Bakhtin (2010 p 125 grifo do

autor) pontua que ldquoo centro organizador de toda enunciaccedilatildeo de toda expressatildeo natildeo eacute interior

mas exterior estaacute situado no meio social que envolve o indiviacuteduordquo

Baseado nisso podemos enfatizar que uma ideologia que envolve a maioria dos

sujeitos de nossa sociedade que consiste na relaccedilatildeo de desejonecessidade em ser bem--

sucedido ter um bom emprego eou ganhar um bom salaacuterio Nesse sentido Charlot (2013 p

181) pontua ldquoao passo que se fala em sociedade do saber o saber estaacute perdendo o seu valor de

uso para virar soacute valor de trocardquo Esse fato pode encontrar suas origens na proacutepria sociedade

globalizada atual que por natureza incita a concorrecircncia permanente promulgando um

individualismo cada vez mais perceptiacutevel nas relaccedilotildees sociais Nisso residiria uma

214

contradiccedilatildeo fundamental primaacuteria constituinte dos mais variados tipos e modos histoacutericos de

atividades Ter poder ser potente ter um bom emprego e ser bem-sucedido satildeo desejos

baseados em ideologias da proacutepria sociedade capitalista Essa loacutegica da concorrecircncia

portanto pode ser parte das ideologias que ecoam nas vozes dos alunos em formaccedilatildeo em

Engenharia e pode ser considerado ldquoum sintoma de ferida antropoloacutegicardquo (CHARLOT 2013

p 182) Ferida dor e sofrimento podem ser originados por essa ideologia Quando um aluno

natildeo consegue colocar em praacutetica o PAI de sua proacutepria atividade de formaccedilatildeo ou ainda quando

o PAI natildeo eacute eficiente na realidade ele sofre Uma ferida eacute aberta podendo provocar muita

dor Reprovaccedilotildees e ou qualquer outro tipo de resultado que seja ldquodesalinhadordquo ao objetivo

delimitado pela ideologia da concorrecircncia pode acabar trazendo um desconforto para os

sujeitos que participam das atividades formativas natildeo somente para os alunos

Nisso a atividade de formaccedilatildeo em Engenharia pode ser analisada como um

trabalho alienado tanto para os alunos quanto para os professores Mas por um lado como

pensar em uma atividade de formaccedilatildeo profissionalizante sem pensar em saber e conhecimento

como objetivos principais Por outro lado como garantir uma formaccedilatildeo consistente

alinhando-se os objetivos restritamente de forma a garantir um bom salaacuterio As instituiccedilotildees

destinadas agrave formaccedilatildeo em Engenharia estatildeo configuradas socialmente apenas como um

caminho uma trajetoacuteria uma rede orientada pelo emprego (ou por um bom emprego) Como

minimizar essa contradiccedilatildeo primaacuteria emergente dos sistemas de atividade de formaccedilatildeo em

Engenharia Seria possiacutevel Natildeo pretendo e nem tenho condiccedilotildees para tentar responder a

esses questionamentos mas percebo que o quadro teoacuterico utilizado no desenvolvimento da

pesquisa aqui relatada ndash Teoria da Atividade ndash pode nos ajudar a seguir adiante em pesquisas

futuras que objetivem focar em tais questotildees Vale ressaltar que ldquoo trabalho do professor natildeo

eacute o de resolver as contradiccedilotildees mas de esclarececirc-las e evidenciar as vaacuterias formas de

legitimidade que podem existir em cada umardquo (CHARLOT 2013 p 175)

A formaccedilatildeo de uma rede coletiva de aprendizagens mediante as mais variadas

possibilidades de interaccedilotildees tecnomediadas foi estabelecida com a constituiccedilatildeo do GEPMM ndash

uma parceria Vale ressaltar que a multivocalidade esteve presente nos encontros do GEPMM

devendo ser analisada como suporte para idealizaccedilotildees de futuras realizaccedilotildees e

empreendimentos inovadores tornando a abertura reafirmaccedilatildeo eou modificaccedilatildeo das caixas-

pretas (modelos matemaacuteticos e computacionais) como accedilotildees estrategicamente necessaacuterias

para a formaccedilatildeo de agentes do desenvolvimento cientiacutefico tecnoloacutegico cultural e

socioeconocircmico demandados pelana formaccedilatildeo dos Engenheiros na atualidade

215

Castells (2005) pontua a existecircncia de uma contradiccedilatildeo crescente entre autonomia

e capacidade de inovaccedilatildeo necessaacuterias para o trabalho em empresas em rede Para o autor tal

contradiccedilatildeo somente pode ser minimizada mediante a ldquoeducaccedilatildeo baseada no modelo de

aprender a aprender ao longo da vida e preparada para estimular a criatividade e a inovaccedilatildeo

de forma a ndash e com o objectivo de ndash aplicar esta capacidade de aprendizagem a todos os

domiacutenios da vida social e profissionalrdquo (CASTELLS 2005 p 28) Sendo assim o autor

assume a criatividade e a inovaccedilatildeo como fatores-chave da criaccedilatildeo de valor e da mudanccedila

social na sociedade em rede Contudo o autor sinaliza para a necessidade de redefiniccedilatildeo dos

direitos de propriedade intelectual cujo iniacutecio se deu com a jaacute enraizada praacutetica do software

de fonte aberta como constituintes de uma comunicaccedilatildeo sem obstaacuteculos fundamentais para a

difusatildeo de um desenvolvimento tecnoloacutegico que responda agraves necessidades humanas de todo o

planeta Dessa forma a reforma do capitalismo perpassa a questatildeo do direito agrave propriedade

intelectual fator decisivo para a constituiccedilatildeo de uma democracia global

Vale ressaltar que ldquoa introduccedilatildeo da tecnologia soacute por si natildeo assegura nem a

produtividade nem a inovaccedilatildeo nem melhor desenvolvimento humanordquo (CASTELLS 2005

p 26) Por esse motivo foco esta parte da anaacutelise na multivocalidade e na agency

evidenciadas pelasnas interaccedilotildees tecnomediadas nas atividades de um GEPMM e natildeo apenas

e de forma limitada aos artefatos mediadores ndash os modelos matemaacutetico e computacional

Uma multivocalidade hiacutebrida oriunda da hibridade discursiva foi observada nas

atividades do GEPMM aqui analisadas A resoluccedilatildeo de problemas coletiva e a produccedilatildeo de

conhecimentos especificamente no que tange agrave questatildeo problemaacutetica do ldquopeso corporal

idealrdquo representaram notadamente uma substancial expansatildeo do repertoacuterio dos sujeitos

partiacutecipes da referida atividade Ao objeto da referida atividade destaca-se uma dimensatildeo

real objetiva e outra futura ou imaginaacuteria Nesse sentido ao mesmo tempo em que ele ndash o

objeto ndash era tomado na atividade praacutetica objetiva real do GEPMM configurava-se uma

dimensatildeo futura intencional projetiva idealizada do ldquomesmordquo objeto mediante accedilotildees de

idealizar ndash idealizaccedilotildees Ambas as dimensotildees somente podem ser analisadas em face da

multivocalidade a ser observada naspelas interaccedilotildees tecnomediadas

No momento que dedicaacutevamos esforccedilos para a abertura da caixa-cinza 3 (1198621198753)

estaacutevamos engajados em uma anaacutelise criacutetica do modelo constituiacutedo por vaacuterias EDOs e

implementado como o bwsimulator ndash um aparato da razatildeo Como resultado de tal anaacutelise e

reflexatildeo detiacutenhamos em nossa imaginaccedilatildeo em nossas ideias sobre tal instrumento da referida

atividade uma limitaccedilatildeo do fenocircmeno na realidade Detiacutenhamos naquele momento a

compreensatildeo de que a problemaacutetica questatildeo do ldquopeso corporal idealrdquo na realidade era muito

216

mais complexa do que a representaccedilatildeo fornecida pelo bwsimulator tanto em termos dos

alimentos ingeridos que fornecem a energia de entrada quanto aos exerciacutecios fiacutesicos que

fazem parte do consumo energeacutetico Estaacutevamos certos de que havia limitaccedilotildees conceituais da

realidade a ser modelada ndash a problemaacutetica questatildeo do ldquopeso corporal idealrdquo e o modelo

emergente da matematizaccedilatildeo e da respectiva implementaccedilatildeo computacional Precisaacutevamos

abrir a caixa-cinza 4 (1198621198754) para avaliarmos se tal limitaccedilatildeo era resultante de uma possiacutevel

limitaccedilatildeo teoacuterica conceitual da proacutepria matemaacutetica em accedilatildeo

Para tal pode-se destacar um discurso trazido agrave cena por dois partiacutecipes da

atividade aqui analisada ndash Teoria Fuzzy Tal discurso acadecircmico-cientiacutefico ecoou em vaacuterios

momentos da anaacutelise dos modelos referidos anteriormente e somente pocircde ser em virtude de

experiecircncias anteriores vivenciadas pelos dois partiacutecipes Tal vocalidade ali ecoada trouxe agrave

cena um novo instrumento uma nova ferramenta uma nova caixa-preta a ser aberta ndash os

discursos da Teoria Fuzzy Mais do que isso originou-se como uma necessidade para a

elaboraccedilatildeoproduccedilatildeo de um novo modelo um novo instrumento que levaria a uma

transformaccedilatildeo qualitativa do objeto da atividade em questatildeo referindo-se tanto agrave mudanccedila de

niacutevel da caixa-preta do ldquopeso corporal idealrdquo (rumo a uma caixa cinza 5) quanto agraves

emergentes e necessaacuterias possibilidades de interaccedilotildees tecnomediadas entre os sujeitos da

parceria no que tange ao compartilhamento de informaccedilotildees constituintes de conhecimentos e

consequentemente saberes necessaacuterios para tal empreendimento Tiacutenhamos assim uma nova

configuraccedilatildeo uma nova estrutura de atividade possibilitada pela e na multivocalidade

discursiva que nela ecoava sob o aspecto de um Plano de Accedilotildees Internas (PAI) da proacutepria

atividade

O Plano de Accedilotildees Internas (PAI) da atividade estava se reconfigurando

Idealizaccedilotildees que preconizam a realizaccedilatildeo do empreendimento foram evidenciadas nos

discursos trazidos agrave cena pela fala dos sujeitos projetar o uso da Teoria Fuzzy para a

construccedilatildeo de um novo modelo ndash tanto matemaacutetico quanto tecnoloacutegico

Poderiacuteamos inclusive pensar em um modelo tecnoloacutegico no qual a Matemaacutetica

natildeo poderia dele ser isolada nem vice-versa Um modelo tecnomatemaacutetico A Matemaacutetica

estaria aqui operando com o que poderia ser ou poderia se tornar ndash uma idealizaccedilatildeo orientada

pela Matemaacutetica contida no PAI Tal idealizaccedilatildeo poderia ser considerada como um elo entre

o que eacute e o que poderia vir a ser ndash uma nova orientaccedilatildeo uma nova finalidade Nesse sentido a

existecircncia de idealizaccedilotildees que objetivem alternativas para um fenocircmeno real se torna parte

indispensaacutevel do processo de modelagem cujo pressuposto essencial segundo Bassanezi

(2006) consiste no entendimento de que nenhum modelo deve ser considerado definitivo

217

podendo sempre ser melhorado e poderiacuteamos dizer que um bom modelo eacute aquele que propicia

a formulaccedilatildeo de novos modelos sendo essa reformulaccedilatildeo dos modelos uma das partes

fundamentais do processo de modelagem O autor pontua que isso pode ser evidenciado se

considerarmos que

Os fatos conduzem constantemente a novas situaccedilotildees

Qualquer teoria eacute passiacutevel de modificaccedilotildees

As observaccedilotildees satildeo acumuladas gradualmente de modo que novos fatos suscitam

novos questionamentos

A proacutepria evoluccedilatildeo da Matemaacutetica fornece novas ferramentas para traduzir a

realidade (teoria do Caos Teoria Fuzzy etc) (BASSANEZI 2006 p 31)

Contudo tal idealizaccedilatildeo contida no PAI da atividade somente pode ser

considerada como uma sequecircncia de accedilotildees ideais que podem fazer emergir fendas entre tal

idealizaccedilatildeo e o que viraacute a ser uma atividade real objetiva ndash concretizaccedilatildeo da idealizaccedilatildeo ndash

fazendo surgir uma objetivaccedilatildeo considerada aqui como transformaccedilatildeo de algo subjetivo em

algo objetivo ndash accedilotildees planejadas transformadas em accedilotildees executadas pelos sujeitos partiacutecipes

da atividade

Para isso uma accedilatildeo inicial a ser realizada na atividade praacutetica consistiu no

entendimento da Teoria Fuzzy mediante interaccedilotildees que possibilitaram o compartilhamento de

informaccedilotildees sobre tal arcabouccedilo teoacuterico permitindo a elaboraccedilatildeo desse novo instrumento que

passaria a permear a referida atividade Percebemos ainda a necessidade de uso e combinaccedilatildeo

de todos os instrumentos matemaacuteticos e tecnoloacutegicos que permearam a referida atividade para

o empreendimento configurado por tal nova construccedilatildeo se tornar de fato real Entre os

instrumentos que necessariamente permeavam a atividade podemos destacar conhecimentos

matemaacuteticos (Caacutelculo EDO Fuzzy) estrateacutegias de modelagem matemaacutetica modelos

matemaacuteticos modelos tecnoloacutegicos e estrateacutegias de programaccedilatildeo de computadores

Como consideraccedilatildeo final a essa parte da anaacutelise pontuo que a sequecircncia de

interaccedilotildees de aprendizagem se configura com caracteres cujo ldquoenquadramentordquo enunciativo

remete a significados resultantes de argumentaccedilotildees criacutetico-reflexivas dentro de uma praacutetica

social ndash formaccedilatildeo dos engenheiros ndash estando relacionadas agrave necessidade de transformaccedilotildees

qualitativas de tal praacutetica A constituiccedilatildeo de um contexto formativo (GEPMM) ampliou as

possibilidades de interaccedilotildees entre os sujeitos e os respectivos objetos de suas atividades O

objeto da atividade de Modelagem Matemaacutetica analisada nessa tese eacute constituiacutedo por trecircs

materializaccedilotildees ldquoo peso corporal idealrdquo a agency dos futuros engenheiros e dos docentes

evidenciadas nas interaccedilotildees sujeito-sujeitos e sujeitos-objeto

218

Tal contexto formativo somente foi constituiacutedo a partir do resultado da anaacutelise da

praacutetica social que constitui a formaccedilatildeo em Engenharia institucionalizada podendo ser

considerado como um enunciado embebido por diversas ideologias incluindo as que

compotildeem os discursos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos configurando dessa forma uma nova forma

de atividade na instituiccedilatildeo que amplia as possibilidades de compartilhamento de informaccedilotildees

e construccedilatildeo de parcerias ndash constituindo (criando) um novo objeto para os sistemas de

atividade como resultado de uma busca consciente coletiva e intencional de oportunidades

para inovar no sentido de se fazer o novo renovar promover mudanccedilas substanciais na

praacutetica formativa Sob esse aspecto considero as accedilotildees aqui representadas como inovaccedilotildees no

que tange inclusive agrave constituiccedilatildeo de um novo e expandido espaccedilo formativo relacionado agraves

disciplinas de Caacutelculo ndash atividades de Modelagem Matemaacutetica ndash dentro do sistema de

atividades que eacute orientado pela formaccedilatildeo de engenheiros

O espaccedilo formativo constituiacutedo pelo contexto alternativo mais amplo ndash GEPMM

ndash inclui necessariamente a delimitaccedilatildeo de uma ineacutedita rede de aprendizagem ndash uma parceria

Os sujeitos satildeo cuacutemplices de uma mesma atividade de resoluccedilatildeoentendimento de questotildees-

problema do mundo real O engajamento em tais sistemas de atividade estaacute orientado por

mudanccedilas nas agencys dos docentes e discentes frente agraves suas muacuteltiplas atividades Os

instrumentos que permeiam tal atividade incluem estrateacutegias de Modelagem Matemaacutetica

conhecimentos matemaacuteticos modelos matemaacuteticos e tecnoloacutegicos conhecimentos de

programaccedilatildeo de computadores entre outros

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Neste capiacutetulo busco fazer um tipo de fechamento de ideias a respeito da

investigaccedilatildeo relatada neste texto cujo objetivo central esteve orientado pelo seguinte

questionamento quais aprendizagens expansivas podem ser evidenciadas pelas e nas

atividades desenvolvidas por um Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica

(GEPMM) em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharia

Para tal os dados foram construiacutedos em um contexto institucional que se destina

exclusivamente agrave formaccedilatildeo de engenheiros localizado em uma cidade do interior de Minas

Gerais e os desdobramentos da investigaccedilatildeo foram norteados pela abordagem qualitativa por

meio de uma intervenccedilatildeo formativa (ENGESTROumlM SANNINO 2010b) Essa intervenccedilatildeo se

219

engendrou por meio da constituiccedilatildeo de um GEPMM concebido sob a perspectiva que

considera os conteuacutedos do Caacutelculo como ferramentas ou instrumentos necessaacuterios para a

formaccedilatildeo em Engenharia

Ancorada nos aportes da teoria histoacuterico-cultural da atividade e da aprendizagem

expansiva a investigaccedilatildeo objetivou o estabelecimento de um diaacutelogo com teoacutericos que

discutem Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica focando os contextos de formaccedilatildeo em

Engenharia Sendo assim o GEPMM se configura como um espaccedilo formativo alternativo sob

a perspectiva do Caacutelculo em accedilatildeo

A construccedilatildeo dos dados para a presente investigaccedilatildeo se deu por meio de

observaccedilotildees entrevistas registro de diaacuterio de campo e mensagens eletrocircnicas O processo de

anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados construiacutedos foi desenvolvido com base no proacuteprio processo

de constituiccedilatildeo do GEPMM como um ciclo de accedilotildees potencialmente expansivo

(ENGESTROM SANNINO 2010b) que possibilitou o preenchimento da ldquomatrizrdquo para

anaacutelise da aprendizagem expansiva (ENGESTROumlM 2001)

Aleacutem disso os dados construiacutedos fizeram emergir quatro modalidades analiacuteticas

na tentativa de compreender as possibilidades de aprendizagens expansivas que podem ser

evidenciadas nas e pelas atividades de um GEPMM em um contexto de formaccedilatildeo em

Engenharia Conforme abordado no Capiacutetulo 5 desta tese a constituiccedilatildeo do referido espaccedilo

formativo alternativo (GEPMM) ampliou as possibilidades de interaccedilotildees entre os sujeitos e os

respectivos objetos de suas muacuteltiplas atividades possibilitando aprendizagens expansivas

que se manifestaram como 1) transposiccedilatildeo de fronteiras e construccedilatildeo de redes ndash parcerias 2)

movimento na zona de desenvolvimento proximal da atividade docente-discente 3)

transformaccedilotildees qualitativas do objeto da atividade de Modelagem Matemaacutetica 4) ciclos de

accedilotildees potencialmente expansivas ndash idealizaccedilotildees

Ao analisar a referida intervenccedilatildeo formativa observam-se ainda subsiacutedios

necessaacuterios para considerar que o engajamento nas atividades do GEPMM pode de fato

representar importante papel na formaccedilatildeo continuada de professores suas proacuteprias praacuteticas

ampliando assim os respectivos horizontes de atuaccedilatildeo nas mais diversas dimensotildees

cotidianas de trabalho

Considerando que o momento de encerramento de uma tese natildeo se configura

apenas como um fechamento de ideias uma vez que vaacuterias discussotildees debates estudos e

pesquisas podem se originar dos dados e das questotildees apresentadas tomando por base o

espaccedilo formativo alternativo constituiacutedo pelono GEPMM em um contexto de formaccedilatildeo em

Engenharias entendo que as possibilidades para aprendizagens expansivas se tornam

220

instigantes objetos de pesquisas futuras Para tal como um horizonte possiacutevel a seguinte

pergunta diretriz poderia nortear futuras investigaccedilotildees

Quais aprendizagens expansivas podem ser evidenciadas naspelas interaccedilotildees

tecnomediadas pelo Caacutelculo em accedilatildeo em atividades de Modelagem Matemaacutetica em um

contexto de formaccedilatildeo em Engenharias

Por fim vale ressaltar que uma intervenccedilatildeo e sua interpretaccedilatildeo analiacutetica

constituintes da praacutexis cientiacutefica jamais devem ser consideradas como algo que se impotildee

absolutamente Haacute lugar para diversos esquemas e compreensotildees e por conseguinte

confrontos entre interpretaccedilotildees diversas ldquoSe a interpretaccedilatildeo eacute revelante eacute pois num duplo

sentido ela faz aparecer uma estrutura inteligiacutevel que vale de alguma maneira por si mesma

mas ao mesmo tempo daacute os meios para atingir com sua mediaccedilatildeo uma realidade que nela se

mostra mas sem aiacute se esgotarrdquo (LADRIEgraveRE 1978 p 130)

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Page 2: CÁLCULO EM AÇÃO, MODELAGEM E PARCERIAS ......C146c T Caldeira, Rutyele Ribeiro, 1982- Cálculo em ação, modelagem e parcerias: possibilidades para aprendizagens expansivas em

Rutyele Ribeiro Caldeira

CAacuteLCULO EM ACcedilAtildeO MODELAGEM E PARCERIAS

possibilidades para aprendizagens expansivas

em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias

Tese apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Educaccedilatildeo da Faculdade de Educaccedilatildeo da

Universidade Federal de Minas Gerais como

requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutora

em Educaccedilatildeo

Linha de Pesquisa Educaccedilatildeo Matemaacutetica

Orientadora Profa Dra Jussara de Loiola Arauacutejo

Belo Horizonte

2014

C146c T

Caldeira Rutyele Ribeiro 1982- Caacutelculo em accedilatildeo modelagem e parcerias possibilidades para aprendizagens expansivas em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias Rutyele Ribeiro Caldeira - Belo Horizonte 2014 229 f enc il Tese - (Doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Educaccedilatildeo Orientadora Jussara de Loiola Arauacutejo Bibliografia f 220-229 1 Educaccedilatildeo -- Teses 2 Engenharia -- Estudo e ensino -- Teses 3 Engenheiros -- Ensino profissional -- Teses 4 Calculo -- Estudo e ensino -- Teses I Tiacutetulo II Arauacutejo Jussara de Loiola III Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Educaccedilatildeo CDD- 620007

Catalogaccedilatildeo da Fonte Biblioteca da FaEUFMG

Universidade Federal de Minas Gerais

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo

Tese intitulada ldquoCaacutelculo em accedilatildeo modelagem e parcerias possibilidades para aprendizagens

expansivas em um contexto de formaccedilatildeo em Engenhariasrdquo de autoria da doutoranda Rutyele

Ribeiro Caldeira aprovada pela banca examinadora constituiacuteda pelos seguintes professores

__________________________________________________

Profa Dra Jussara de Loiola Arauacutejo ndash ICExUFMG ndash orientadora

__________________________________________________

Profa Dra Maria Manuela Martins Soares David ndash FaEUFMG

__________________________________________________

Profa Dra Teresinha Fumi Kawasaki ndash FaEUFMG

__________________________________________________

Profa Dra Lourdes Maria Werle de Almeida ndash UEL

__________________________________________________

Profa Dra Sueli Liberatti Javaroni ndash UNESP

__________________________________________________

Prof Dr Francisco Acircngelo Coutinho ndash FaEUFMG ndash suplente

__________________________________________________

Prof Dr Dilhermando Ferreira Campos ndash UFOP ndash suplente

Belo Horizonte 27 de agosto de 2014

A Deus

aos meus pais Joseacute e Mirnaacute

ao meu amor Luciano e

ao priacutencipe da minha vida ndash

meu filho Matheus

Com muito amor

AGRADECIMENTOS

A Deus Pai de toda bondade compaixatildeo amor e sabedoria criador de nossas

vidas do ceacuteu e da terra parceiro de todos os momentos poderoso mestre dos mestres rei dos

reis Obrigada por ter me permitido chegar ateacute aqui por ter me dado forccedilas nos momentos

difiacuteceis

Agrave professora Jussara de Loiola Arauacutejo por toda orientaccedilatildeo pelos encontros e

desencontros pelos debates pelas possibilidades de formaccedilatildeo como pesquisadora por ter sido

tatildeo compreensiacutevel nos momentos difiacuteceis e por ter me ajudado a superaacute-los

Aos membros da banca de qualificaccedilatildeo professoras Manuela Martins Soares

David e professora Lourdes Maria Werle de Almeida pela leitura e importantes

contribuiccedilotildees sugestotildees

Ao professor Orlando Aguiar Filho por ter sido parecerista do meu projeto de

pesquisa

Aos membros do Grupo de Pesquisa e Estudos Histoacuterico-Culturais em Educaccedilatildeo

Matemaacutetica e em Ciecircncias do qual faccedilo parte desde o ano de 2010 por terem me ajudado na

construccedilatildeo de entendimentos acerca da Teoria da Atividade e por terem contribuiacutedo com

criacuteticas e sugestotildees para o desenvolvimento desta pesquisa

A todos os professores que tive em minha vida em especial aos professores

Oliacutempio Hiroshi Miyagaki e Margareth Alves por me ensinarem muitas matemaacuteticas e por

terem me motivado a seguir nos estudos de poacutes-graduaccedilatildeo

Agrave querida professora Rosilene Horta Tavares por ter me ajudado a entender

melhor a sociedade atual e as relaccedilotildees que nela estatildeo permeadas

Agrave querida amiga Nilza Helena por ter sido tatildeo companheira e por ter cuidado de

Matheus no estacionamento da FaE com tanto carinho e amor enquanto eu assistia agraves aulas

Ao meu marido Luciano Nascimento Moreira por ter sido tatildeo amoroso

carinhoso e paciente e por me trazer tantas felicidades Muito obrigada Eu te amo demais da

conta

Ao meu filho Matheus Caldeira Moreira por ter sido tatildeo compreensiacutevel nos

momentos que precisava me dedicar agrave tese e por me trazer tantas alegrias Mamatildee te ama

muito priacutencipe

Aos meus pais Joseacute Caldeira e Mirnaacute Caldeira (in memoriam) pelo apoio e amor

incondicional Sei que sempre estiveram e sempre estaratildeo me abenccediloando onde quer que

estejam ndash na terra ou no ceacuteu

Agrave minha irmatilde gecircmea Josyele Ribeiro Caldeira por ser tatildeo companheira e

presente em minha vida e pelos momentos de debates teoacutericos

Aos meus queridos filhos adotivos Anina Cristina Darinha Cristina e Sininho

Cristina pela incansaacutevel companhia ateacute altas horas da madrugada sempre alegrando os

momentos de intenso estudo

Agrave querida amiga Margarete von Muumlhlen Poll pela revisatildeo do projeto de

doutorado

Agrave professora Maria da Conceiccedilatildeo por ter me aceitado no ano de 2010 como aluna

de disciplina isolada

A todos os colegas e professores da Faculdade de Educaccedilatildeo da UFMG pelo

compartilhamento de saberes e experiecircncias

Aos servidores da secretaria da Poacutes-Graduaccedilatildeo da Faculdade de Educaccedilatildeo da

UFMG pela disponibilidade e atenccedilatildeo

Aos professores e alunos da UNIFEI-Itabira pela colaboraccedilatildeo e dedicaccedilatildeo agrave

construccedilatildeo dos dados desta pesquisa

Aos colegas do grupo de orientaccedilatildeo por terem me recebido de braccedilos abertos e

por sempre me ajudarem nas leituras e criacuteticas dos meus textos

As minhas amigas de infacircncia Graziela Fernanda Maxi Luciana e Vacircnia por

terem sido tatildeo compreensivas nos momentos de isolamento social e por sempre acreditarem

em nossa amizade

A minha cunhada Luciana Nascimento Moreira pelo apoio incondicional e por ter

nos abrigado em BH

A todos vocecircs agradeccedilo imensamente

Valeu

Adeacutelia Prado

Com licenccedila poeacutetica

Quando nasci um anjo esbelto

desses que tocam trombeta anunciou

vai carregar bandeira

Cargo muito pesado pra mulher

esta espeacutecie ainda envergonhada

Aceito os subterfuacutegios que me cabem

sem precisar mentir

Natildeo sou tatildeo feia que natildeo possa casar

acho o Rio de Janeiro uma beleza e

ora sim ora natildeo creio em parto sem dor

Mas o que sinto escrevo Cumpro a sina

Inauguro linhagens fundo reinos

mdash dor natildeo eacute amargura

Minha tristeza natildeo tem pedigree

jaacute a minha vontade de alegria

sua raiz vai ao meu mil avocirc

Vai ser coxo na vida eacute maldiccedilatildeo pra homem

Mulher eacute desdobraacutevel Eu sou

RESUMO

Esta tese apresenta a gecircnese e o desenvolvimento de uma pesquisa que buscou compreender

as possibilidades de aprendizagens expansivas que podem ser evidenciadas nas e pelas

atividades desenvolvidas por um Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica -

GEPMM em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias Ancorada nos aportes da teoria

histoacuterico-cultural da atividade e da aprendizagem expansiva a investigaccedilatildeo objetivou o

estabelecimento de um diaacutelogo com teoacutericos que discutem Modelagem na Educaccedilatildeo

Matemaacutetica focando nos contextos de formaccedilatildeo em Engenharia Os desdobramentos da

pesquisa foram norteados pela abordagem qualitativa por meio de uma intervenccedilatildeo formativa

proposta por Engestroumlm e Sannino (2010b) caracterizada pela constituiccedilatildeo do GEPMM que

se engendrou baseado na premissa de que os conteuacutedos das disciplinas de Caacutelculo ocupam

lugar de ferramentas ou instrumentos necessaacuterios para a formaccedilatildeo em Engenharia ndash um

Caacutelculo em accedilatildeo Com isso o GEPMM se configurou como um espaccedilo formativo alternativo

A construccedilatildeo dos dados para a presente investigaccedilatildeo se deu por meio de observaccedilotildees

entrevistas registro de diaacuterio de campo e mensagens eletrocircnicas O processo de anaacutelise e

interpretaccedilatildeo dos dados construiacutedos foi desenvolvido com base no proacuteprio processo de

constituiccedilatildeo do GEPMM como um ciclo de accedilotildees potencialmente expansivas

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b) que possibilitou o preenchimento da ldquomatrizrdquo para

anaacutelise da aprendizagem expansiva (ENGESTROumlM 2001) Os dados construiacutedos fizeram

emergir quatro modalidades analiacuteticas A constituiccedilatildeo do referido espaccedilo formativo

alternativo ndash GEPMM - ampliou as possibilidades de interaccedilotildees entre os sujeitos e os

respectivos objetos de suas muacuteltiplas atividades possibilitando aprendizagens expansivas que

se manifestaram como 1) transposiccedilatildeo de fronteiras e construccedilatildeo de redes ndash parcerias 2)

movimento na zona de desenvolvimento proximal da atividade docente-discente 3)

transformaccedilotildees qualitativas do objeto da atividade de modelagem matemaacutetica 4) ciclos de

accedilotildees potencialmente expansivas Ao analisar a referida intervenccedilatildeo formativa observa-se

ainda subsiacutedios necessaacuterios para considerar que o engajamento nas atividades do GEPMM

pode de fato representar significativas contribuiccedilotildees para a formaccedilatildeo continuada de

professores em suas proacuteprias praacuteticas ampliando assim os respectivos horizontes de atuaccedilatildeo

nas mais diversas dimensotildees cotidianas de trabalho

Palavras-Chave Teoria da Atividade Aprendizagem Expansiva Modelagem Matemaacutetica

Educaccedilatildeo em Engenharia Caacutelculo em Accedilatildeo Parcerias

ABSTRACT

This thesis presents the genesis and development of a research aimed to understand the

possibilities of expansive learning that can be evidenced in and by the activities developed by

a Group of Studies and Research in Mathematical Modeling - GSRMM in a context of

formation in Engineering Anchored in the contributions of the Historical-Cultural Activity

Theory and Expansive Learning this research aimed to establish a dialogue with theorists

who argue Modeling in Mathematics Education focusing on formation contexts in

Engineering The developments of the research were guided by the qualitative approach

through a formative intervention proposed by Engestroumlm and Sannino (2010) characterized

by the constitution of GSRMM in the context of formation in Engineering The GSRMM it

engender based on the premise that the disciplines of Calculus take place of tools or

instruments necessary for formation in Engineering - A calculus in action With this the

GSRMM appears as an alternative formation space in the context of formation in

Engineering The construction of the data for this research was happened by observations

interviews record field diary and email messages The process of analysis and interpretation

of data built was developed based on the process of formation of GSRMM as a potentially

expansive cycle of actions (ENGESTROM SANNINO 2010) which enabled the completion

of the matrix for the analysis of the expansive learning (ENGESTROM 2001) The data

constructed made emerge four analytical methods in an attempt to understand the possibilities

of expansive learning which can be evidenced in and by a GSRMM activities in the context

of formation in Engineering The constitution of that alternative formation space (GSRMM)

expanded the possibilities of interactions between subjects and their objects of its multiple

activities enabling expansive learning which manifested as 1) across boundaries and

building networks - partnerships 2) move the zone of proximal development of teacher-

student activity 3) qualitative transformations of the object of the activity of mathematical

modeling 4) cycles of potentially expansive actions Analyzing this formation intervention it

is observed also grants necessary to consider that engaging in activities GSRMM may

indeed represent an important role in the continuing education of teachers in their own

practices thus expanding their horizons of action in various dimensions of everyday work

Keywords Activity Theory Expansive Learning Mathematical Modeling Education in

Engineering Calculus in Action Partnerships

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 ndash A estrutura de um sistema de atividade humana 36

FIGURA 2 ndash Os interdependentes sistemas de atividade de estudantes e professor 38

FIGURA 3 ndash Sumaacuterio da generalizaccedilatildeo teoacuterica de Davydov 48

FIGURA 4 ndash Sequecircncia de accedilotildees de aprendizagem em um ciclo de aprendizagem

expansiva 57

FIGURA 5 ndash Os interdependentes sistemas de atividade de estudantes e professor(es)

engajados em atividades (escolares) de Modelagem Matemaacutetica 86

FIGURA 6 ndash Visualizaccedilatildeo da caixa-preta e suas possiacuteveis associaccedilotildees a outras caixas-

pretas 93

Tabela 1 - Matriz para anaacutelise da aprendizagem expansiva 106

FIGURA 7 ndash Paacutegina inicial site UNIFEI-Itabira 109

FIGURA 8 ndash Interconectados sistemas de atividade de professores e estudantes que tem

como objeto a apresentaccedilatildeo dos conteuacutedos do livro de Caacutelculo 125

QUADRO 1 ndash ldquoEquaccedilotildees utilizadas para o caacutelculo do gasto energeacutetico (GET) segundo a

teacutecnica da aacutegua duplamente marcadardquo 146

QUADRO 2 ndash ldquoMatrizrdquo para anaacutelise da aprendizagem expansiva 169

SUMAacuteRIO

SUMAacuteRIO 12

INTRODUCcedilAtildeO A GEcircNESE E OS DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA 13

Consideraccedilotildees iniciais necessaacuterias agrave formulaccedilatildeo da pesquisa 13

Desdobramentos da proposiccedilatildeo da pesquisa 21

Estrutura da tese 27

1 ATIVIDADES FORMATIVAS Agrave LUZ DA TEORIA HISTOacuteRICO- CULTURAL DA

ATIVIDADE E DA APRENDIZAGEM EXPANSIVA 29

11 Meacutetodo da ascensatildeo do abstrato ao concreto de Davydov 45

12 A participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima de Lave 48

13 Aprendizagem expansiva 49

2 CAacuteLCULO E MODELAGEM NA ENGENHARIA CONCEPCcedilOtildeES

PERSPECTIVAS E A ATUAL FORMACcedilAtildeO DO ENGENHEIRO 62

21 Diretrizes Curriculares para a formaccedilatildeo de engenheiros no Brasil 62

22 Caacutelculo em cursos de Engenharia 65

23 Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica concepccedilotildees e perspectivas 70

24 Revisatildeo de literatura sobre pesquisas de Modelagem em Caacutelculo na Educaccedilatildeo em

Engenharia delineando o espaccedilo da presente pesquisa 78

25 Concepccedilatildeo de uma atividade de Modelagem Matemaacutetica assumida em um contexto

de formaccedilatildeo em Engenharias 82

26 Abertura de caixas-pretas como accedilotildees estrateacutegicas com vistas agraves possibilidades de

aprendizagens expansivas relacionadas agraves transformaccedilotildees do objeto de uma atividade de

Modelagem Matemaacutetica 87

3 METODOLOGIA DE PESQUISA E PROCEDIMENTOS 97

31 Por que a abordagem eacute qualitativa 97

32 Qual eacute o contexto e quem satildeo os sujeitos 100

33 Quais foram os procedimentos de construccedilatildeo dos dados 102

331 A constituiccedilatildeo do GEPMM e observaccedilatildeo participante em suas atividades 102

332 As entrevistas iniciais e as finais com os integrantes do GEPMM 104

34 Quais instrumentos foram usados para a anaacutelise 105

35 A formaccedilatildeo do GEPMM pode ser caracterizada como uma intervenccedilatildeo formativa

106

36 O contexto institucional e as aulas de Caacutelculo 108

37 As atividades do GEPMM e os sujeitos envolvidos 111

371 Angel 112

372 Clarice 116

373 Robson 117

374 Taty 119

375 Joseacute 120

376 Pedro 121

4 OS DADOS CONSTRUIacuteDOS E ANALISADOS A CONSTITUICcedilAtildeO DO GEPMM

COMO CICLO DE ACcedilOtildeES POTENCIALMENTE EXPANSIVAS 124

41 Constituiccedilatildeo do GEPMM possibilidades para aprendizagens expansivas 126

411 Interrogatoacuterio 126

412 Anaacutelise da situaccedilatildeo 129

413 Modelagem 132

414 Examinando o novo modelo 133

415 Implementando o novo modelo ndash o GEPMM 136

4151 Os encontros 137

41511 Primeiro encontro 137

41512 Segundo encontro 140

41513 Terceiro encontro 144

41514 Quarto encontro 147

41515 Quinto encontro 149

41516 Sexto encontro 152

41517 Seacutetimo encontro 153

41518 Oitavo encontro 154

41519 Nono encontro 159

415110 Deacutecimo encontro 164

4152 Dando continuidade agraves accedilotildees potencialmente expansivas 166

416 Refletindo sobre o processo 166

417 Consolidando seus resultados em uma nova forma de praacutetica 168

5 MODALIDADES ANALIacuteTICAS 170

51 Primeira modalidade ndash Dialeacutetica da existecircncia da tela invisiacutevel GEPMM como

possibilidade para aprendizagem expansiva por meio da construccedilatildeo de parceria

docente-discente em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias 171

52 Segunda modalidade ndash Os sujeitos a multi-agency e as muacuteltiplas atividades

possibilidade para aprendizagem expansiva como movimento na zona de

desenvolvimento proximal das atividades docente-discente mediante a formaccedilatildeo de

parcerias 178

53 Terceira modalidade ndash Modelagem e a caixa-preta do ldquopeso corporal idealrdquo num

contexto de formaccedilatildeo em Engenharias do Caacutelculo em accedilatildeo agraves aprendizagens expansivas

como transformaccedilotildees qualitativas do objeto da atividade 189

54 Quarta modalidade ndash Multivocalidade e agency evidenciadas pelas interaccedilotildees

tecnomediadas em atividades de Modelagem Matemaacutetica idealizaccedilotildees desencadeadoras

de aprendizagens potencialmente expansivas em um contexto de formaccedilatildeo em

Engenharias 210

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 218

13

INTRODUCcedilAtildeO A GEcircNESE E OS DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA

Neste capiacutetulo procuro delimitar os objetivos e a relevacircncia desta pesquisa a

partir de reflexotildees que surgiram da minha experiecircncia como professora das disciplinas de

Caacutelculo que compotildeem as grades curriculares dos cursos de Engenharia das minhas leituras a

respeito dos processos de ensino e de aprendizagem das disciplinas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia e das leituras proporcionadas pela minha inserccedilatildeo em grupos de estudos e

pesquisa1

Consideraccedilotildees iniciais necessaacuterias agrave formulaccedilatildeo da pesquisa

Atuo como docente do Centro Federal de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica de Minas Gerais

(CEFET-MG) Unidade Timoacuteteo (MG) desde janeiro de 2009 Nessa instituiccedilatildeo sou

responsaacutevel por lecionar disciplinas de Caacutelculo que compotildeem a grade curricular do curso de

Engenharia de Computaccedilatildeo

As disciplinas de Caacutelculo que geralmente compotildeem as grades curriculares dos

cursos de Engenharia perfazem conteuacutedos de uma aacuterea da Matemaacutetica chamada de Caacutelculo

Diferencial e Integral que abarca toacutepicos relacionados ao estudo de funccedilotildees de uma ou vaacuterias

variaacuteveis e vetoriais assim como limites derivadas integrais de funccedilotildees de uma ou vaacuterias

variaacuteveis reais e suas respectivas aplicaccedilotildees2 No CEFETndashMGTimoacuteteo por exemplo tais

conteuacutedos satildeo estudados nas disciplinas de Caacutelculo I e II Aleacutem delas a disciplina de Caacutelculo

III engloba os conteuacutedos das Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias e a disciplina de Caacutelculo IV

engloba os conteuacutedos de Sequecircncias Seacuteries e Transformada de Fourier Jaacute na Universidade

Federal de Itajubaacute em Itabira (UNIFEI-Itabira) as disciplinas que se dedicam a estudar os

conteuacutedos apontados anteriormente satildeo chamadas de Matemaacutetica ndash 0 I III IV V VI Os

1 Grupo de Pesquisa e Estudos Histoacuterico-Culturais em Educaccedilatildeo Matemaacutetica e Ciecircncias da Faculdade de

Educaccedilatildeo (FaE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Grupo de Estudos e Pesquisa em Educaccedilatildeo

Matemaacutetica Modelagem e Tecnologias do Departamento de Matemaacutetica da UFMG 2 Com isso no presente texto quando me refiro agraves disciplinas de Caacutelculo em um contexto de formaccedilatildeo em

Engenharia estou fazendo referecircncia a qualquer disciplina eou conteuacutedos que satildeo englobados nas respectivas

grades curriculares eou ementas que se destinam ao estudo dos toacutepicos apontados no paraacutegrafo anterior

incluindo portanto os conteuacutedos de Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias Sequecircncias Seacuteries e Transformada de

Fourier

14

conteuacutedos de Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias por exemplo satildeo estudados no Caacutelculo III do

CEFET-MGTimoacuteteo e na Matemaacutetica IV da UNIFEI-Itabira

No primeiro semestre de 2009 lecionei a disciplina Caacutelculo I para os ingressantes

do curso de Engenharia de Computaccedilatildeo do CEFET-MG Unidade Timoacuteteo Em muitos

momentos durante o desenvolvimento dessa disciplina os alunos questionavam acerca da

relevacircncia da referida disciplina para a formaccedilatildeo do engenheiro contemporacircneo Eles

questionavam o real objetivo da disciplina e sempre se mostravam desmotivados em aprender

os conteuacutedos Reclamavam que natildeo tinham a formaccedilatildeo Matemaacutetica Baacutesica necessaacuteria para a

compreensatildeo dos conceitos do Caacutelculo que para eles eram muito difiacuteceis de serem

compreendidos Uma fala ainda era recorrente nos diaacutelogos que ocorriam durante as aulas a

possibilidade de uso dos softwares matemaacuteticos como algo que pudesse ldquosubstituirrdquo o estudo

tradicional do Caacutelculo o que para eles poderia minimizar os esforccedilos de aprendizagem

Dullius Arauacutejo e Veit (2011 p 18) enfatizam que tais questionamentos satildeo frequentemente

apontados por alunos dos cursos de Engenharia Nas palavras das autoras

Trabalhando haacute 10 anos com o ensino de Caacutelculo Diferencial e Integral nos cursos

de Engenharia (de Computaccedilatildeo de Automaccedilatildeo e Controle de Produccedilatildeo e

Ambiental) e Quiacutemica Industrial notamos a insatisfaccedilatildeo dos alunos por natildeo

perceberem importacircncia desse conteuacutedo para o seu curso A cada nova turma

repetem-se os questionamentos por que fazer a matildeo essas contas enormes se

existem maacutequinas para isso Por que ldquodecorarrdquo tantas foacutermulas se o dia que precisar

posso buscar em livros ou na internet Por que preciso saber tudo isto afinal

Naquele semestre de 2009 optei por utilizar um trabalho de aplicaccedilatildeo3 realizado

em dupla como uma das formas de avaliaccedilatildeo da disciplina No trabalho objetivei que o

Caacutelculo pudesse assumir um sentido mais uacutetil no curso de Engenharia o que a meu ver

poderia possibilitar um menor distanciamento entre os conceitos do Caacutelculo e as demais

disciplinas que compotildeem a grade curricular dos cursos de Engenharia Sendo assim os

motivos pelos quais essa disciplina estaacute presente nos cursos de Engenharia poderiam se tornar

mais ldquovisiacuteveisrdquo ou perceptiacuteveis para os alunos Aleacutem disso aquele trabalho foi tambeacutem uma

tentativa de mostrar aos alunos que os conceitos estudados na disciplina eram realmente

importantes e necessaacuterios para a formaccedilatildeo do engenheiro e mais do que isso para sua

formaccedilatildeo cidadatilde

3 Pedi que eles procurassem e encontrassem algum problema oriundo de qualquer aacuterea natildeo Matemaacutetica que

pudesse ser solucionado com o auxiacutelio do conteuacutedo abordado naquela disciplina durante o semestre letivo Tal

problema deveria ser de interesse dos alunos que formavam a dupla e se possiacutevel que tivesse alguma relaccedilatildeo ao

curso de Engenharia da Computaccedilatildeo ndash contexto de formaccedilatildeo em questatildeo

15

Poreacutem meus objetivos foram parcialmente satisfeitos A proposta do trabalho

consistia na procura de um problema de natureza natildeo Matemaacutetica que pudesse ser resolvido

por meio da Matemaacutetica e que a soluccedilatildeo fosse interpretada por meio da linguagem do mundo

real Os alunos tinham a liberdade de procurarem inclusive problemas que jaacute estivessem

resolvidos em algum livro ou site restando apenas a tarefa de entender o problema sua

respectiva soluccedilatildeo e apresentar o entendimento no dia estipulado para tal Contudo os alunos

apresentaram dificuldades para a realizaccedilatildeo do trabalho Alguns deles sugeriram que o

trabalho fosse cancelado e que a nota fosse atribuiacuteda agrave uacuteltima prova da disciplina Muitos

apresentaram dificuldades de entendimento quanto ao processo de formulaccedilatildeo do problema

em termos matemaacuteticos (construir expressotildees matemaacuteticas que representassem o problema)

Para eles depois de encontrar a ldquofoacutermulardquo a dificuldade desaparecia pois bastava aplicar

algum meacutetodo ou teacutecnica jaacute estudados na disciplina como por exemplo derivar ou integrar

uma funccedilatildeo

Naquele momento percebi que os alunos demonstravam dificuldades em

matematizar problemas de outras realidades ou seja (re)formular e resolver o problema

matematicamente interpretando sua soluccedilatildeo natildeo apenas matematicamente mas sobretudo no

contexto do qual o problema se originou Desde entatildeo comecei a pensar o que poderia ser

feito para tentar sanar tais dificuldades

Com base em minha experiecircncia como professora de Caacutelculo em cursos de

Engenharia fiquei instigada em compreender qual seria o papel do uso das aplicaccedilotildees de

Caacutelculo na formaccedilatildeo do engenheiro aleacutem de conhecer outras estrateacutegias metodoloacutegicas que

poderiam ser utilizadas para promover uma aprendizagem que possibilitasse a motivaccedilatildeo dos

estudantes por meio da busca pelo entendimento dos conceitos da disciplina focando o

aspecto do uso de tais conceitos em situaccedilotildees oriundas de realidades que natildeo fossem

puramente matemaacuteticas Busquei entatildeo por leituras que pudessem me ajudar nessa

caminhada

Ainda em 2009 visando minimizar as inquietaccedilotildees vividas por mim nas aulas de

Caacutelculo que ministrava no curso de Engenharia de Computaccedilatildeo li alguns artigos e relatos de

experiecircncia Estudei tambeacutem o livro Ensino-aprendizagem com modelagem matemaacutetica

uma nova estrateacutegia de Rodney Bassanezi (BASSANEZI 2006) No referido livro a

Modelagem Matemaacutetica pode ser compreendida como a

arte de transformar problemas da realidade em problemas matemaacuteticos e resolvecirc-los

interpretando suas soluccedilotildees na linguagem do mundo real [] A modelagem

pressupotildee multidisciplinariedade E nesse sentido vai ao encontro das novas

16

tendecircncias que apontam para a remoccedilatildeo de fronteiras entre as diversas aacutereas de

pesquisa (BASSANEZI 2006 p 16)

Aleacutem disso Bassanezi (2006 p 17) afirma que ldquoa modelagem matemaacutetica em

seus vaacuterios aspectos eacute um processo que alia teoria e praacutetica motiva seu usuaacuterio na procura do

entendimento da realidade que o cerca e na busca de meios para agir sobre ela e transformaacute-

lardquo

A Modelagem Matemaacutetica realizada em contextos de Educaccedilatildeo Matemaacutetica difere

da Modelagem Matemaacutetica praticada por profissionais da Matemaacutetica Aplicada Barbosa

(2003) por exemplo entende que a sala de aula configura um ambiente mais complexo onde

inuacutemeras variaacuteveis estatildeo em jogo tais como os objetivos pedagoacutegicos a dinacircmica de trabalho

e a natureza das discussotildees matemaacuteticas Arauacutejo (2002) por sua vez destaca que para os

matemaacuteticos aplicados o trabalho com Modelagem Matemaacutetica tem por objetivo resolver

algum problema natildeo matemaacutetico enquanto no acircmbito da Educaccedilatildeo Matemaacutetica seu objetivo

principal se concentra na formaccedilatildeo matemaacutetica dos alunos ao serem convidados a explorar

matematicamente situaccedilotildees natildeo matemaacuteticas

Um dos argumentos favoraacuteveis agrave inserccedilatildeo da Modelagem4 nas praacuteticas de ensino

mais apresentado pelos estudiosos da aacuterea de Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica consiste

na preparaccedilatildeo para a utilizaccedilatildeo da matemaacutetica em diferentes aacutereas ou seja ldquoos alunos teriam

a oportunidade de desenvolver a capacidade de aplicar matemaacutetica em diversas situaccedilotildees o

que eacute desejaacutevel para moverem-se no dia-a-dia e no mundo do trabalhordquo (BARBOSA 2003 p

3) Considerando minha atuaccedilatildeo como docente das disciplinas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia percebi que a Modelagem Matemaacutetica poderia ser utilizada na tentativa de

propiciar uma melhor formaccedilatildeo matemaacutetica em termos de aplicabilidadeusabilidade para os

alunos de Engenharia respondendo assim aos questionamentos dos alunos sobre os papeacuteis

de tais conteuacutedos na respectiva formaccedilatildeo profissional

No primeiro semestre de 2010 com a intenccedilatildeo de elaborar um projeto de

doutorado que visasse agrave compreensatildeoanaacutelise das possibilidades de ensino-aprendizagem por

meio da Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia procurei por disciplinas oferecidas

pelo programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da UFMG especificamente da linha da

Educaccedilatildeo Matemaacutetica Cursei uma disciplina da linha Educaccedilatildeo Matemaacutetica denominada

Letramento e Numeramento teorias e praacuteticas Nessa disciplina pude refletir acerca de

questotildees relacionadas agrave Educaccedilatildeo Matemaacutetica o que me ajudou a construir o projeto

4 No texto que segue agraves vezes o termo Modelagem seraacute utilizado com referecircncia agrave Modelagem Matemaacutetica

apenas para evitar repeticcedilotildees desnecessaacuterias

17

requerido para o ingresso no Programa da mesma instituiccedilatildeo Participei do processo seletivo e

em agosto de 2010 ingressei no doutorado No projeto inicial a pergunta diretriz era5

De que forma a Modelagem Matemaacutetica aliada a recursos computacionais pode inter-

relacionar a disciplina de Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias6 agraves demais disciplinas

lsquoteacutecnicasrsquo dos cursos de Engenharia

Em todo o ano de 2010 lecionei a disciplina Caacutelculo III que no CEFET-MG

engloba os conteuacutedos das Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias (EDOs) Minha preocupaccedilatildeo

inicial estava focada na inter-relaccedilatildeo da disciplina EDO com as demais disciplinas

denominadas teacutecnicas dos cursos de Engenharia Meu entendimento estava alicerccedilado na

concepccedilatildeo de que as EDOs satildeo por definiccedilatildeo aplicaccedilotildees dos conteuacutedos do Caacutelculo I ndash

limites derivadas e integrais de funccedilotildees reais de uma variaacutevel real Conforme Habre (2002 p

2) ldquoEquaccedilotildees Diferenciais satildeo lindas aplicaccedilotildees de ideias e teacutecnicas do Caacutelculo para

solucionar vaacuterios problemas da vida realrdquo7 Tinha tambeacutem a intenccedilatildeo de considerar a

utilizaccedilatildeo de recursos tecnoloacutegicos computacionais em trabalhos com Modelagem

Matemaacutetica jaacute que ldquohaacute uma certa harmonia na parceria entre a Modelagem Matemaacutetica e

tecnologias informaacuteticas Parece haver uma solicitaccedilatildeo natural pelo uso de computadores eou

calculadoras quando se estaacute desenvolvendo algum trabalho de Modelagem Matemaacuteticardquo

(ARAUacuteJO 2002 p 43)

A maioria dos livros didaacuteticos8 atuais que trata das EDOs as concebe como entes

matemaacuteticos abstratos que podem ser aplicados em vaacuterios ramos da ciecircncia Os autores em

5 ldquoUm dos momentos cruciais no desenvolvimento de uma pesquisa eacute o estabelecimento da pergunta diretriz Eacute

ela que como o proacuteprio nome sugere iraacute dirigir o desenrolar de todo o processo [] elaborar ou melhor

construir uma pergunta diretriz eacute um ponto crucial do qual depende o sucesso da pesquisa [] O processo de

construccedilatildeo da pergunta diretriz de uma pesquisa eacute na maioria das vezes um longo caminho cheio de idas e

vindas mudanccedilas de rumos retrocessos ateacute que apoacutes um certo periacuteodo de amadurecimento surge a pergunta

Um grande problema que percebemos em diversas pesquisas eacute que muitas vezes o caminho natildeo eacute apresentado

pelo autorrdquo (ARAUacuteJO BORBA 2006 p 29 grifo do autores) 6 Na ocasiatildeo da elaboraccedilatildeo do projeto de doutorado estava focada apenas em compreender a Modelagem em

cursos de Engenharia em termos da disciplina Caacutelculo III do CEFET-MG que engloba os conteuacutedos das

Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias que podem ser compreendidas da seguinte forma ldquouma equaccedilatildeo que conteacutem

as derivadas ou diferenciais de uma ou mais variaacuteveis dependentes em relaccedilatildeo a uma ou mais variaacuteveis

independentes eacute chamada de equaccedilatildeo diferencial (ED)rdquo (ZILL CULLEN 2008 p 2 grifo dos autores)

Equaccedilotildees Diferenciais podem ser classificadas em Ordinaacuterias (EDO) ndash quando envolvem funccedilotildees (e suas

derivadas) de apenas uma variaacutevel ndash ou Parciais (EDP) ndash quando envolvem funccedilotildees (e suas derivadas) de mais

de uma variaacutevel 7 Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoDifferential equations are a beautiful application of the ideas and techniques of

calculus to solve various real life problemsrdquo 8 Por exemplo (i) Boyce e Diprima (1996) (ii) Zill e Cullen (2008) (iii) Edwards e Penney (1996) e (iv) Zill

(1997)

18

geral dedicam parte dos capiacutetulos para o estudo das aplicaccedilotildees das EDOs9 separados do

tratamento teoacuterico A dicotomia teoria-aplicaccedilatildeo difundida nos livros de EDO pode fomentar

um debate sobre as metodologias utilizadas pelos professores em tais disciplinas mediante o

que eacute esperado em termos da formaccedilatildeo matemaacutetica dos alunos das Engenharias

Metodologicamente ao trabalharmos com aplicaccedilotildees podemos assumir um

caraacuteter meramente de resoluccedilatildeo de problemas muitas vezes fictiacutecios inventados pelos autores

dos livros didaacuteticos ou adaptados por eles para apenas justificar o estudo de uma teoria

matemaacutetica ou ainda para tornar os conteuacutedos mais ligados a situaccedilotildees de uma dada

ldquorealidaderdquo Poreacutem ao mesmo tempo em que a matemaacutetica pode se justificar mediante a

apresentaccedilatildeo de um problema ainda que fictiacutecio alguma(s) dificuldade(s) pode(m) emergir

em tal praacutetica quando as hipoacuteteses e simplificaccedilotildees necessaacuterias ao entendimento do problema

natildeo satildeo apresentadas ou explicitadas nos livros didaacuteticos Muito difundido nos livros de EDO

o modelo10

que representa a Lei de Newton do Resfriamento de Corpos11

eacute apresentado sem

levar em conta as hipoacuteteses e simplificaccedilotildees para o entendimento da realidade fiacutesica em

questatildeo representada por meio de um modelo matemaacutetico ndash uma EDO

Habre (2000) entende que as Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias devem existir nos

curriacuteculos pois estabeleceriam o elo entre a Matemaacutetica e as demais Ciecircncias Nesse sentido

Bassanezi (2006 p 35) afirma que ldquoA tocircnica dos cursos de graduaccedilatildeo eacute desenvolver

disciplinas matemaacuteticas lsquoaplicaacuteveisrsquo em especial aquelas baacutesicas que jaacute serviram como

auxiliares na modelagem de fenocircmenos de alguma realidade como Equaccedilotildees Diferenciais

Ordinaacuterias e Parciaisrdquo

No contexto dos cursos de Engenharia a Modelagem Matemaacutetica ao pressupor

multidisciplinaridade vai ao encontro do que Fraga Novaes e Dagnino (2010 p 154)

acreditam que ldquoa formaccedilatildeo em engenharia deve se dar a partir de um problema colocado pela

sociedade e a soluccedilatildeo desse problema natildeo apenas teoricamente mas tambeacutem na praacutetica

colocaria a necessidade de se aprender conhecimentos teoacutericosrdquo

Baldino e Cabral (2004 p 139) acreditam que o ensino de disciplinas

matemaacuteticas em cursos de Engenharia se tornou problema apoacutes a reforma universitaacuteria de

1969 que ldquoaboliu a estrutura de caacutetedras e implantou a de departamentos e institutos baacutesicos

9 A esse respeito ver Boyce e Diprima (1996) capiacutetulo 2 seccedilatildeo 25 ndash Aplicaccedilotildees das Equaccedilotildees Lineares de

Primeira Ordem 10

Segundo Bassanezi (2006 p 19) ldquoquando se procura refletir sobre uma porccedilatildeo da realidade na tentativa de

explicar de entender ou de agir sobre ela ndash o processo usual eacute selecionar no sistema argumentos ou paracircmetros

considerados essenciais e formalizaacute-los atraveacutes de um sistema artificial o modelordquo 11

A ldquoLei de Newton do Resfriamento de Corposrdquo afirma que a taxa de resfriamento de um corpo eacute proporcional

agrave diferenccedila entre a temperatura do corpo e a temperatura do meio ambiente

19

seguindo o modelo vigente nos Estados Unidosrdquo Tal departamentalizaccedilatildeo afastou os

conhecimentos ditos baacutesicos dos profissionais promovendo uma cisatildeo dos conhecimentos

Dessa forma os professores que lecionam as disciplinas de Matemaacutetica muitas vezes natildeo

tecircm conhecimento sobre a necessidade dos conteuacutedos que lecionam para a formaccedilatildeo dos

futuros engenheiros Isso pode ser asseverado pelo fato de raramente tais disciplinas

consideradas do ciclo baacutesico serem relacionadas com as demais tanto aquelas do proacuteprio

ciclo baacutesico quanto aquelas da aacuterea teacutecnica ou profissional

Nesse sentido Baldino e Cabral (2004 p 176) refletem sobre uma situaccedilatildeo em

que foi apresentado um problema de aplicaccedilatildeo de EDO na Fiacutesica um sistema massa-mola

Afirmam que ldquonas universidades departamentalizadas essa lsquomateacuteriarsquo eacute considerada de Fiacutesica

e o professor de matemaacutetica natildeo tem o direito de lsquoensinarrsquo a aplicar a segunda lei de Newtonrdquo

Tal regra embora natildeo exista explicitamente pode permear as praacuteticas pedagoacutegicas das

universidades departamentalizadas podendo ser descumprida por exemplo mediante a

inserccedilatildeo de problemas de outras realidades que sejam solucionados com o auxiacutelio de

ferramentas matemaacuteticas

Em cursos de Engenharia as disciplinas de Caacutelculo podem ser consideradas

disciplinas em serviccedilo (BARBOSA 2004a) Essa expressatildeo eacute usada para designar as

disciplinas matemaacuteticas ministradas em graduaccedilotildees que natildeo satildeo de Matemaacutetica Ou seja

trata-se de disciplinas de conteuacutedo matemaacutetico em cursos que natildeo formam matemaacuteticos (ou

professores de matemaacutetica)

Moreno e Azcaacuterate Gimeacutenez (2003) detectam que natildeo haacute clareza nos objetivos

atuais da disciplina Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias o que dificulta o trabalho dos

professores em atribuiacuterem metas a serem alcanccediladas Como consequecircncia acabam ensinando

conteuacutedos que estatildeo nos curriacuteculos tradicionais mas que hoje perderam seu sentido e sua

razatildeo de ser devido aos avanccedilos tecnoloacutegicos Tais autores percebem ldquoa necessidade de um

debate e seacuteria reflexatildeo sobre a utilidade interesse e importacircncia dos atuais conteuacutedos para um

ensino e aprendizagem mediados pelas novas tecnologias e condicionados pelas demandas

sociaisrdquo12

(MORENO AZCAacuteRATE GIMEacuteMEZ 2003 p 278)

A necessidade de repensar os processos pedagoacutegicos utilizados atualmente por

muitos professores de EDO em cursos de Engenharia bem como a inserccedilatildeo das ferramentas

12 Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquola necesidad de un debate y reflexioacuten seria sobre la utilidad intereacutes e

importancia de los contenidos actuales para un aprendizaje y una ensentildeanza mediatizada por las nuevas

tecnologiacuteas y condicionada por las demandas socialesrdquo

20

disponiacuteveis tambeacutem foi enfatizada em uma pesquisa realizada por Dullius Arauacutejo e Veit

(2011 p 20) que nos fornecem o seguinte posicionamento

Comparando o contexto de ensino das EDs hoje em dia com o que se tinha na

metade do seacuteculo passado percebemos que os tipos de alunos satildeo outros as

necessidades e exigecircncias do mercado de trabalho natildeo satildeo as mesmas assim como

as ferramentas disponiacuteveis mas a maioria das aulas continuam em essecircncia sendo

ministradas da mesma forma Os curriacuteculos precisam ser repensados e os avanccedilos

tecnoloacutegicos considerados

O enfoque frequentemente dado agrave disciplina se baseia na apresentaccedilatildeo de uma

EDO e do seu respectivo meacutetodo de resoluccedilatildeo Habre (2002 p 2) afirma que ldquoequaccedilotildees satildeo

usualmente classificadas e para cada classe um meacutetodo de soluccedilatildeo eacute apresentadordquo13

Tal

enfoque pode ser insuficiente sob a perspectiva da utilidade dos conteuacutedos de tal disciplina

nos cursos de Engenharia Encontrar a soluccedilatildeo expliacutecita da EDO sem fazer outros tipos de

anaacutelises a respeito das equaccedilotildees em si e de possiacuteveis usos como ferramentas para a resoluccedilatildeo

de problemas correlatos aos cursos de Engenharia pode se configurar como algo

contraditoacuterio pois pode levar os alunos a uma preocupaccedilatildeo exclusiva com os meacutetodos de

resoluccedilatildeo deixando de lado o objetivo principal que consistiria no entendimento do processo

(ou fenocircmeno) que gerou determinada EDO assim como interpretar suas soluccedilotildees em

consonacircncia com o fenocircmeno que ela representa

Aleacutem disso como afirma Bassanezi (2006 p 125) ldquosomente um grupo reduzido

de equaccedilotildees diferenciais admite soluccedilatildeo na forma de uma funccedilatildeo analiticamente expliacutecitardquo

Com essa abordagem das EDOs deixam-se de lado vaacuterios enfoques relevantes como o

processo da formulaccedilatildeo de modelos bem como o estudo qualitativo com abordagem

substancialmente geomeacutetrica conforme aponta Javaroni (2007 p 20) em sua tese A autora

afirma

[] que o processo de formulaccedilatildeo dos modelos e a interpretaccedilatildeo das soluccedilotildees ou do

comportamento das soluccedilotildees satildeo tatildeo importantes quanto as teacutecnicas de resoluccedilatildeo das

equaccedilotildees diferenciais ordinaacuterias e que este aspecto deve ser trabalhado para que os

alunos desenvolvam capacidades de anaacutelise e interpretaccedilatildeo A questatildeo da

visualizaccedilatildeo eacute essencial no entendimento dos aspectos dinacircmicos de um curso

introdutoacuterio de equaccedilotildees diferenciais e o entendimento da derivada como variaccedilatildeo

de uma curva eacute central na interpretaccedilatildeo de graacuteficos bem como o comportamento das

soluccedilotildees ao longo do tempo e a existecircncia de um estado de equiliacutebrio

13

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoEquations are usually classified and for each class a method of solution is

presentedrdquo

21

A ecircnfase qualitativa permite uma multiplicidade de possibilidades para uma

melhor exploraccedilatildeo dos conteuacutedos abordados em Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias Contudo

deve-se pontuar que devido agrave complexidade da anaacutelise qualitativa de algumas Equaccedilotildees

Diferenciais Ordinaacuterias o uso de softwares eacute imprescindiacutevel Para uma abordagem qualitativa

dos campos de direccedilotildees pode-se utilizar os softwares como Maple eou WinPlot14

entre

outros que permitem a visatildeo e a exploraccedilatildeo do comportamento desses campos de direccedilotildees

bem como o comportamento da proacutepria soluccedilatildeo

Habre (2000) afirma que a abordagem das Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias no

cenaacuterio internacional vem passando por mudanccedilas no acircmbito estrutural tornando-se cada vez

mais visual (geomeacutetrica) e numeacuterica o que ampliaria a visatildeo do aprendiz sobre o conteuacutedo

estudado O autor chama a atenccedilatildeo para o fato de poucas pesquisas estarem sendo

desenvolvidas em relaccedilatildeo ao entendimento dos alunos quanto a essa abordagem Contudo no

acircmbito nacional ldquoem geral as anaacutelises geomeacutetrica e numeacuterica natildeo satildeo abordadas no estudo

dos modelosrdquo (JAVARONI 2007 p 20)

Vale ressaltar que apesar de inicialmente ter feito um levantamento dos estudos

e pesquisas sobre os processos de ensino-aprendizagem de EDO no decorrer do

desenvolvimento da pesquisa ainda na fase de construccedilatildeo teoacuterica decidi15

natildeo ficar restrita

apenas aos conteuacutedos dessa disciplina16

mas passei a considerar os conteuacutedos das disciplinas

de Caacutelculo que permeiam os curriacuteculos dos cursos de Engenharia Tal decisatildeo estava

vinculada ao formato da intervenccedilatildeo que tinha decidido realizar Naquele momento natildeo havia

qualquer garantia que os conteuacutedos de EDO apareceriam na atividade que seria analisada

Contudo durante a fase da construccedilatildeo dos dados para a referida pesquisa conteuacutedos de EDO

estiveram presentes na atividade de modelagem analisada Por esse motivo optei por deixar

no presente texto esse breve levantamento sobre os processos de ensino-aprendizagem de

EDO

Desdobramentos da proposiccedilatildeo da pesquisa

14

A esse respeito ver wwwmaplesoftcom ptwikipediaorgwikiMaple wwwmatufpbbrsergiowinplot 15

Tal decisatildeo foi ancorada no fato de natildeo haver a priori nenhuma garantia de que na atividade de Modelagem

Matemaacutetica constituinte dos dados que foram construiacutedos para a pesquisa relatada nesta tese as EDOs estariam

presentes jaacute que o tema seria escolhido de forma coletiva pelos sujeitos 16

No CEFET-MG a disciplina Caacutelculo III trata dos conteuacutedos de EDO e na instituiccedilatildeo que configurou como

contexto da pesquisa os conteuacutedos de EDO satildeo abordados na disciplina BAC 022 ndash Matemaacutetica IV

22

Apoacutes o ingresso no referido programa de doutorado ainda em 2010 comecei a

participar do Grupo de Pesquisa e Estudos Histoacuterico-Culturais em Educaccedilatildeo Matemaacutetica e

Ciecircncias da Faculdade de Educaccedilatildeo da UFMG do qual a orientadora desta pesquisa eacute

coordenadora na tentativa de buscar um referencial teoacuterico que possibilitasse o

desenvolvimento desta pesquisa Comecei entatildeo a realizar leituras participar das reuniotildees do

grupo e discutir com colegas e professores sobre as teorias denominadas de Histoacuterico-

Culturais originadas nos estudos de Vygotsky

Uma das leituras realizadas em 2010 ndash o texto de Engestroumlm (2002) ndash comeccedilou a

dar um novo direcionamento para a pesquisa Nele eacute abordada a questatildeo da descontinuidade

entre atividades escolares e atividades fora da escola O autor coloca os conhecimentos

escolares como algo encapsulado distante da realidade cotidiana dos indiviacuteduos que

participam de tais praacuteticas e denomina tal fenocircmeno de encapsulaccedilatildeo da aprendizagem

escolar Ao refletir sobre os motivos que levam os indiviacuteduos a participarem de atividades

escolares enfatiza que na maioria das vezes eles natildeo aprendem para a vida mas para a

escola Frequentemente em variadas esferas da sociedade atual ouvimos pessoas falando que

ldquoprecisam estudar para a provardquo e satildeo raras as vezes que ouvimos pessoas falando que

ldquoprecisam estudar para aprenderrdquo Engestroumlm (2002) exemplifica a abordagem de uma

atividade cotidiana ndash a busca pelo entendimento das fases da Lua ndash respondendo agrave pergunta

ldquoPor que a lua muda a sua formardquo Para ele todas as atividades escolares deveriam ser

iniciadas com questotildees-problema que instiguem os participantes a pensarem refletirem e

buscarem entendimento para tal questatildeo Engestroumlm (2002) se apoia em Resnick (1987) que

teceu uma reflexatildeo acerca da descontinuidade e do isolamento entre os conceitos estudados

durante o processo de escolarizaccedilatildeo e o resto daquilo que fazemos nos momentos da vida que

passamos fora da escola Nas palavras do autor

O processo de escolarizaccedilatildeo parece encorajar a ideia de que o ldquojogo da escolardquo eacute

aprender regras simboacutelicas de vaacuterios tipos de que natildeo se supotildee haver muita

continuidade entre o que algueacutem sabe fora da escola e o que se aprende na escola

[hellip] A escolarizaccedilatildeo cada vez mais parece isolada do resto daquilo que fazemos

(RESNICK 1987 p 15 apud ENGESTROumlM 2002 p 176)

Baseando em Engestroumlm (2002) por analogia apropriei-me do termo

encapsulaccedilatildeo para me referir agrave descontinuidade entre as atividades desenvolvidas nas

disciplinas de Caacutelculo e as demais atividades institucionais que compotildeem a formaccedilatildeo do

engenheiro

23

Tomando por base a Teoria da Aprendizagem Expansiva de Engestroumlm (1987)

que propotildee uma concepccedilatildeo ldquoproacutepriardquo de aprendizagem entendendo-a como algo coletivo ndash

natildeo mais centrado apenas na cogniccedilatildeo individual ndash bem como a psicologia histoacuterico-cultural

de Vygotsky entende-se que tal concepccedilatildeo de aprendizagem parece ser uma opccedilatildeo teoacuterica

propiacutecia para a anaacutelise de possiacuteveis aprendizagens que acontecem por meio de praacuteticas de

Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia por se tratar de atividades coletivas

realizadas em grupo e por ser considerada uma praacutetica natildeo padronizada onde natildeo eacute possiacutevel

delinear a priori no planejamento o que aconteceraacute na praacutetica Neste sentido pode-se

entender que praacuteticas de Modelagem muitas vezes satildeo aprendidas enquanto estatildeo sendo

criadas

Aleacutem disso Engestroumlm (2001) aponta que teorias claacutessicas de aprendizagem

focam nos processos em que o sujeito individual adquire algum conhecimento ou habilidade

identificaacutevel fazendo com que o sujeito possa mudar de comportamento atitudes accedilotildees Tais

conhecimentos ou habilidades satildeo tomados como estaacuteveis e bem definidos O professor

competente segundo essas teorias eacute aquele que sabe o conteuacutedo a ser ensinado e aprendido

pelos alunos Contudo Engestroumlm (2001 p 136-137) reflete que muitos dos tipos mais

intrigantes de aprendizagens em organizaccedilotildees de trabalho violam essa pressuposiccedilatildeo

Pessoas e organizaccedilotildees estatildeo a todo tempo aprendendo algo que natildeo eacute estaacutevel nem

mesmo definido ou entendido agrave priori

Em importantes transformaccedilotildees de nossas vidas pessoais e praacuteticas organizacionais

noacutes precisamos aprender novas formas de atividade que ainda natildeo existem Elas satildeo

aprendidas literalmente enquanto estatildeo sendo criadas Natildeo existe professor

competente Teorias padratildeo de aprendizagem tecircm pouco a oferecer se algueacutem quiser

entender tais processos17

A aprendizagem expansiva segundo Engestroumlm (2002 p 196) ldquoexplora os

conflitos e insatisfaccedilotildees existentes entre professores alunos pais e outros implicados na

escolarizaccedilatildeo ou afetados por ela convidando-os a se reunir numa transformaccedilatildeo concreta da

praacutetica correnterdquo Sugere ainda que ldquoos aprendizes precisam antes de tudo ter uma

oportunidade de analisar criticamente e sistematicamente sua atividade presente e suas

contradiccedilotildees internasrdquo (ENGESTROumlM 2002 p 192) Os termos atividade e contradiccedilotildees

17

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoPeople and organizations are all the time learning something that is not stable

not even defined or understood ahead of time In important transformations of our personal lives and

organizational practices we must learn new forms of activity which are not yet there They are literally learned

as they are being created There is no competent teacher Standard learning theories have little to offer if one

wants to understand these processesrdquo

24

internas satildeo conceitos da Teoria da Atividade e seratildeo mais bem definidos no capiacutetulo

seguinte

A anaacutelise sistemaacutetica da atividade presente e suas contradiccedilotildees internas portanto

configura-se como um ponto de partida ou forccedila motriz para transformaccedilotildees expansivas das

praacuteticas sociais devido ao fato de que ldquose o homem vivesse em plena harmonia com a

realidade ou absolutamente conciliado com seu presente natildeo sentiria a necessidade de negaacute-

los idealmente nem de configurar em sua consciecircncia uma realidade ainda inexistenterdquo

(SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 189)

As discussotildees apresentadas por Engestroumlm (1987 2001 2002 2008) me levaram

a refletir sobre as possibilidades de anaacutelise dos fenocircmenos que podem ocorrer em praacuteticas de

Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia utilizando o aporte teoacuterico da

Aprendizagem Expansiva Para Engestroumlm (2002 p 197) a Aprendizagem Expansiva propotildee

romper a encapsulaccedilatildeo da aprendizagem escolar pois o proacuteprio contexto da aprendizagem eacute

alterado Nas palavras do autor ldquoa abordagem da aprendizagem expansiva romperia a

encapsulaccedilatildeo da aprendizagem escolar por uma ampliaccedilatildeo gradual do objeto e do contexto da

aprendizagemrdquo

Entendendo que uma finalidade prefigura idealmente o que ainda natildeo se

conseguiu ou o que ainda se pretende alcanccedilar ldquoao propor objetivos o homem nega uma

realidade efetiva e afirma outra que ainda natildeo existerdquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p

189) Ao analisar sistematicamente as atividades de que participei ateacute tal momento histoacuterico

de minha formaccedilatildeo aliadas agraves leituras e informaccedilotildees que tive acesso apoacutes o ingresso no

referido programa de poacutes-graduaccedilatildeo incluindo a participaccedilatildeo em grupos de pesquisa fui

conduzida agrave produccedilatildeo de novos objetivos que passaram a orientar a pesquisa relatada nesta

tese diferentes daqueles que havia adotado inicialmente mas ainda assim relacionados entre

si

O objetivo didaacutetico-pedagoacutegico impresso no projeto inicial de doutorado

submetido agrave seleccedilatildeo para ingresso no programa de poacutes-graduaccedilatildeo consistia em melhorar a

inter-relaccedilatildeo da disciplina EDO e as demais disciplinas teacutecnicas dos cursos de Engenharia por

meio de atividades de Modelagem Matemaacutetica A questatildeo de pesquisa buscava por anaacutelises

relacionadas agraves formas que a Modelagem Matemaacutetica poderia assumir para o cumprimento de

tal objetivo ou seja usando a terminologia de Engestroumlm (2002) de que forma a Modelagem

Matemaacutetica aliada a recursos computacionais poderia romper com a encapsulaccedilatildeo da

disciplina EDO em cursos de Engenharia Um resultado esperado ainda que hipoteticamente

consistia na melhoria da formaccedilatildeo matemaacutetica dos engenheiros Vale ressaltar que atividades

25

de Modelagem podem assumir diferentes objetivos em diferentes contextos de formaccedilatildeo O

principal objetivo geralmente delimitado pelos professores acaba por definir a perspectiva de

Modelagem (KAISER SRIRAMAN 2006) assumida em determinado contexto formativo

Tal questatildeo seraacute tratada mais formalmente no capiacutetulo seguinte desta tese Por agora detenho-

me em explicitar o que foi alterado em relaccedilatildeo agrave questatildeo de pesquisa

Primeiramente o objetivo principal da pesquisa relatada nesta tese teve uma

essencial mudanccedila no foco Inicialmente a meta da pesquisa era relataranalisar o efeito que a

Modelagem Matemaacutetica poderia causar em cursos de Engenharia no sentido das

possibilidades de inter-relaccedilotildees de EDO com as demais disciplinas dos referidos cursos Apoacutes

reformular o projeto inserindo-lhe ldquolentesrdquo teoacuterico-analiacuteticas ndash as Teorias da Atividade e da

Aprendizagem Expansiva- senti a necessidade de modificar o foco da questatildeo de pesquisa

passei a focar nas possibilidades de aprendizagens expansivas que pudessem ser evidenciadas

pelas e nas atividades desenvolvidas por um grupo de estudos e pesquisa sobre Modelagem

Matemaacutetica em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias Com isso as proacuteprias

aprendizagens expansivas caso ocorressem poderiam possibilitar inclusive o rompimento

da encapsulaccedilatildeo de conteuacutedos estudados nas disciplinas de Caacutelculo pois o proacuteprio contexto

da atividade tradicional de formaccedilatildeo em Engenharia seria18

alterado mediante uma ampliaccedilatildeo

gradual do objeto e do contexto da aprendizagem19

Em segundo lugar a forma que a Modelagem Matemaacutetica assumiria nessa

pesquisa jaacute estava tambeacutem definida como foco de estudos discussotildees e reflexotildees de um

Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica20

(GEPMM) Frequentemente

praacuteticas escolares de Modelagem satildeo concebidas como coletivas ndash realizadas em grupos

Baseada em Engestroumlm (2001) acabei por decidir pela constituiccedilatildeo de um Grupo de Estudos e

Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica jaacute que os sujeitos que porventura aceitassem se engajar

em tais atividades precisariam aprender novas formas de atividade constituindo assim novas

formas de aprendizagem que ainda natildeo existiam no referido contexto formativo Na

instituiccedilatildeo destinada agrave formaccedilatildeo de engenheiros definida como contexto empiacuterico para o

desenvolvimento da presente pesquisa natildeo existiam de fato atividades de Modelagem

Matemaacutetica em formato algum Ao objetivar a anaacutelise das possibilidades de aprendizagens

18

Explicaccedilotildees mais pontuais quanto agraves transformaccedilotildees do objeto e do contexto de aprendizagem podem ser

encontradas no capiacutetulo 1 deste texto 19

Engestroumlm (2002 p 197) enfatiza que ldquoa abordagem da aprendizagem expansiva romperia a encapsulaccedilatildeo da

aprendizagem escolar por uma ampliaccedilatildeo gradual do objeto e do contexto da aprendizagemrdquo 20

Por vezes utilizarei apenas a sigla GEPMM para me referir ao Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem

Matemaacutetica

26

expansivas evidenciadas naspelas atividades de um grupo de Modelagem poderia ndash a

atividade ndash ocorrer dentro ou fora da sala de aula

Finalmente em terceiro lugar estaacute a definiccedilatildeo de que o grupo de Modelagem

realizaria suas atividades fora da sala de aula num formato que possibilitasse estudos

pesquisa e que as atividades pudessem ser documentadas em um longo periacuteodo de tempo

Caso tivesse optado em propor o formato de atividade de Modelagem dentro de sala de aula

de certo teria impliacutecito em tal proposta um prazo que delimitaria a proacutepria questatildeo de

pesquisa Aprendizagens expansivas necessitam de anaacutelises de longo prazo constituem

transformaccedilotildees qualitativas21

em praacuteticas sociais em atividades coletivas e natildeo mudanccedilas em

sujeitos em suas atitudes eou habilidades e competecircncias ainda que as atitudes dos sujeitos

possam ser analisadas em tal quadro teoacuterico-analiacutetico (ENGESTROumlM SANNINO 2010b)

Nesse sentido nesta tese busco analisar possibilidades de aprendizagens expansivas em

praacuteticas formativas sendo aprendidas literalmente enquanto estariam sendo criadas (numa

instituiccedilatildeo destinada agrave formaccedilatildeo de engenheiros) mediante a constituiccedilatildeo de um contexto

formativo mais amplo ndash o GEPMM Isso seraacute mais bem discutido nos demais capiacutetulos desta

tese

Vale ressaltar que tais objetivos e a adequaccedilatildeo das accedilotildees a eles configuraram-se

mediante os ajustes que na maioria das vezes foram tentativas de aproximaccedilatildeo entre as

idealizaccedilotildees impressas em um projeto de pesquisa e uma pesquisa em movimento ndash um

ldquodesignrdquo emergente (ARAUacuteJO BORBA 2006) Uma pesquisa em movimento pressupotildee

aquisiccedilatildeo de novas idealizaccedilotildees necessaacuterias em cada parte cada aglomerado de accedilotildees que estaacute

atrelado agrave finalidade da pesquisa em questatildeo Isso inclui transformaccedilotildees qualitativas em

termos de acesso e incorporaccedilatildeo de teorias agrave pesquisa por parte do pesquisador modificaccedilotildees

relacionadas agrave metodologia e procedimentos para a construccedilatildeo dos dados da referida pesquisa

o que acaba por implicar em modificaccedilotildees na pergunta diretriz

Sendo assim apoacutes aprofundamento teoacuterico e construccedilatildeo dos dados para a presente

pesquisa que seratildeo apresentados nos proacuteximos capiacutetulos outros direcionamentos em relaccedilatildeo

agrave pergunta diretriz se fizeram necessaacuterios Entre idas e vindas recortes e costuras a presente

tese se orientou pela seguinte pergunta diretriz

21

O termo Transformaccedilotildees Qualitativas constituinte da Teoria da Aprendizagem Expansiva de Engestroumlm

(1987) seraacute mais bem definido no capiacutetulo seguinte desta tese Por hora vale ressaltar que transformaccedilotildees

qualitativas sugerem mudanccedilas em praacuteticas sociais

27

Quais aprendizagens expansivas podem ser evidenciadas pelas e nas atividades

desenvolvidas por um Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica

(GEPMM22

) em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias

Estrutura da tese

No capiacutetulo 1 desta tese intitulado Atividades formativas agrave luz da teoria

histoacuterico-cultural da Atividade e da Aprendizagem Expansiva apresento os pressupostos

teoacutericos que foram utilizados na concepccedilatildeo assim como na anaacutelise dos dados construiacutedos

para a presente investigaccedilatildeo

No capiacutetulo 2 intitulado Caacutelculo e Modelagem na Engenharia concepccedilotildees

perspectivas e a atual formaccedilatildeo do engenheiro discorro sobre alguns toacutepicos relacionados ao

contexto da presente investigaccedilatildeo Exponho brevemente a legislaccedilatildeo que normatiza a

formaccedilatildeo de engenheiros no Brasil atualmente aponto alguns aspectos relacionados aos

processos de ensino-aprendizagem das disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia e

nesse contexto apresento a Modelagem Matemaacutetica como um espaccedilo formativo alternativo

Aleacutem disso com base na literatura sobre Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica busco por

concepccedilotildees e perspectivas relacionadas a essa atividade apresentando uma revisatildeo de

literatura com foco na Modelagem em processos de ensino-aprendizagem relacionada agraves

disciplinas de Caacutelculo dos cursos de Engenharia

No capiacutetulo 3 intitulado Metodologia de Pesquisa e Procedimentos explicito os

motivos que fizeram com que a abordagem da presente investigaccedilatildeo fosse qualitativa

apresento os procedimentos e instrumentos para a construccedilatildeo e a anaacutelise dos dados Aleacutem

disso delimito o contexto da pesquisa apresentando o contexto institucional e as aulas de

Caacutelculo assim como a constituiccedilatildeo do contexto alternativo - GEPMM - e os sujeitos nele

envolvidos

No capiacutetulo 4 intitulado Os dados construiacutedos e analisados a constituiccedilatildeo do

GEPMM como ciclo de accedilotildees potencialmente expansivas apresento uma anaacutelise da

constituiccedilatildeo do GEPMM com base no arcabouccedilo teoacuterico apresentado no capiacutetulo 2 mais

especificamente no ciclo de accedilotildees expansivas (ENGESTROumlM SANNINO 2010b) Para tal

22

Vale ressaltar que o GEPMM se configura um espaccedilo formativo alternativo realizando suas accedilotildees fora da sala

de aula tradicional tanto de Caacutelculo quanto das demais disciplinas dos cursos de Engenharia Os motivos que

podem complementar a justificativa para tal escolha metodoloacutegica podem ser encontrados no capiacutetulo 2

28

utilizo os dados construiacutedos para a presente investigaccedilatildeo elaborando inclusive uma resenha

do que aconteceu nos encontros do GEPMM utilizados como corpus de anaacutelise

No capiacutetulo 5 intitulado por Modalidades Analiacuteticas construo um tipo de

arcabouccedilo analiacutetico com o objetivo de satisfazer ao questionamento impresso na pergunta de

pesquisa quais aprendizagens expansivas podem ser evidenciadas pelas e nas atividades

desenvolvidas por um GEPMM em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias Elaboro

quatro modalidades analiacuteticas e as intitulo

1ordf Modalidade =gt Dialeacutetica da Existecircncia da ldquoTelardquo Invisiacutevel GEPMM como

possibilidade para aprendizagem expansiva por meio da construccedilatildeo de parceria

docente-discente num contexto de formaccedilatildeo em Engenharias

2ordf Modalidade =gt Os sujeitos a multi-agency e as muacuteltiplas atividades

possibilidade para aprendizagem expansiva como movimento na zona de

desenvolvimento proximal das atividades docente-discente mediante a formaccedilatildeo

de parcerias

3ordf Modalidade =gt Modelagem e a caixa preta do ldquopeso corporal idealrdquo num

contexto de formaccedilatildeo em Engenharias do Caacutelculo em accedilatildeo agraves aprendizagens

expansivas como transformaccedilotildees qualitativas do objeto da atividade

4ordf Modalidade =gt Multivocalidade e agency evidenciadas pelas interaccedilotildees

tecnomediadas em atividades de Modelagem Matemaacutetica idealizaccedilotildees

desencadeadoras de aprendizagens potencialmente expansivas num contexto de

formaccedilatildeo em Engenharias

No capiacutetulo 6 intitulado Consideraccedilotildees Finais faccedilo um tipo de fechamento de

ideias com respeito agrave investigaccedilatildeo relatada nesta tese Aleacutem disso delimito de antematildeo um

horizonte possiacutevel para nortear pesquisas futuras

29

1 ATIVIDADES23

FORMATIVAS Agrave LUZ DA TEORIA HISTOacuteRICO-

CULTURAL DA ATIVIDADE E DA APRENDIZAGEM EXPANSIVA

Neste capiacutetulo apresento os pressupostos teoacutericos que foram utilizados na

concepccedilatildeo desta pesquisa em especial na anaacutelise dos dados construiacutedos para tal fim

Podendo ser entendida como uma teoria ancorada na Teoria Histoacuterico-Cultural24

a Teoria da Atividade se fundamenta na teoria marxista que estabelece o trabalho como algo

que desempenha papel central no desenvolvimento humano humanizando e possibilitando o

desenvolvimento da cultura que por sua vez influencia e eacute influenciada pelo contexto

histoacuterico-social Sob essa oacutetica as diferenccedilas entre os homens e os outros animais natildeo podem

ser simplesmente explicadas pela evoluccedilatildeo bioloacutegica25

O homem tal como os outros animais cotidianamente se defronta com

necessidades26

que o impulsiona a planejar accedilotildees na tentativa de satisfazer tais necessidades

Contudo o homem se diferencia dos demais animais ldquoao assumir uma posiccedilatildeo de natildeo

indiferenccedila perante a naturezardquo (RIGON ASBAHR MORETTI 2010 p 16) Isto eacute o

homem se apropria da natureza buscando satisfazer necessidades que natildeo estatildeo apenas

relacionadas agrave garantia de sua existecircncia bioloacutegica mas sobretudo cria necessidades

relacionadas agrave sua existecircncia cultural Dessa forma

Ao agir intencionalmente sobre a natureza visando transformaacute-la de modo a

satisfazer suas necessidades produzindo o que deseja e quando deseja o homem ao

mesmo tempo que deixa sobre a natureza as marcas da atividade humana tambeacutem

transforma a si proacuteprio constituindo-se humano Para que toda e qualquer atividade

se configure como humana eacute essencial entatildeo que seja movida por uma

intencionalidade sendo esta por sua vez uma resposta agrave satisfaccedilatildeo das necessidades

que se impotildeem ao homem em sua relaccedilatildeo com o meio em que vive natural ou

culturalizado (RIGON ASBAHR MORETTI 2010 p 17)

Para Saacutenchez Vaacutezquez (1977) a atividade humana pode em alguns casos ter uma

ldquosemelhanccedila externardquo com certos atos dos animais como por exemplo a atividade de caccedila

23

Buscando distinguir o termo atividade do senso comum destacarei usando itaacutelico ndash atividade ndash quando estiver

me referindo agrave teoria da atividade 24

Tem como projeto central estudar a formaccedilatildeo da subjetividade dos indiviacuteduos a partir de seu mundo objetivo

concreto isto eacute a formaccedilatildeo da consciecircncia humana em sua relaccedilatildeo com a atividade (RIGON ASBAHR

MORETTI 2010 p 22) 25

ldquoSegundo Vygotsky o comportamento e a mente humanos devem ser considerados em termos de accedilotildees

intencionais e culturalmente significativas em vez de respostas bioloacutegicas adaptativasrdquo (KOZULIN 2002 p

116) 26

O termo necessidade com base na teoria marxista estaacute relacionado com carecimento ou carecircncia

30

Contudo para o autor somente a atividade humana caracteriza-se essencialmente pela

atividade da consciecircncia da qual eacute inseparaacutevel O autor afirma que a atividade da consciecircncia

[] se desenvolve como produccedilatildeo de objetivos que prefiguram idealmente o

resultado real que se pretende obter mas se manifesta tambeacutem como produccedilatildeo de

conhecimentos isto eacute em forma de conceitos hipoacuteteses teorias ou leis mediante os

quais o homem conhece a realidade (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 191)

A capacidade de planejar accedilotildees que configura de alguma forma a

intencionalidade assim como formas especiacuteficas de linguagem pode ser observada em todos

os tipos de animais Poreacutem

[] a accedilatildeo planejada de todos os animais em seu conjunto natildeo conseguiu imprimir

sobre a terra a marca de sua vontade Isso aconteceu com o aparecimento do homem

Em uma palavra o animal utiliza a natureza exterior e produz modificaccedilotildees nela

pura e simplesmente com sua presenccedila entretanto o homem por meio de

modificaccedilotildees submete-a [a Natureza] a seus fins a domina Eacute esta a suprema

diferenccedila entre o homem e os animais diferenccedila decorrida tambeacutem do trabalho

(ENGELS 2002 p 125)

A faculdade de projetar que delimita e configura a distinccedilatildeo entre homens e os

demais animais foi debatida por Pinto (2005a p 54) que enfatizou que a ldquoessecircncia do

projeto consiste no modo de ser do homem que se propotildee criar novas condiccedilotildees de existecircncia

para sirdquo O autor estaacute em sintonia com a visatildeo de Engels (2002)

O projeto eacute na verdade a caracteriacutestica peculiar porque engendrada no plano do

pensamento da soluccedilatildeo humana do problema da relaccedilatildeo do homem com o mundo

fiacutesico e social [] O poder da accedilatildeo que o homem manifesta sobre a natureza

distingue-se do possuiacutedo pelos demais seres vivos por se exercer em consequecircncia

da capacidade de projetar [] pela accedilatildeo dos homens a realidade se vai povoando de

produtos de fabricaccedilatildeo intencional realizada pelo ser que se tornou projetante

(PINTO 2005a p 55)

Aacutelvaro Pinto (2005a) entende que o homem eacute o uacutenico ser vivo capaz de

manifestarproduzir representaccedilotildees de uma dada realidade no pensamento e a partir dela

fazer emergir ainda no plano mental uma sequecircncia de accedilotildees direcionadas a uma finalidade

ligada a essa realidade Pinto (2005a p 59 grifos meus) esclarece ainda que

O projeto significa o relacionamento da accedilatildeo a uma finalidade em vista da qual satildeo

preparados e dispostos meios necessaacuterios e convenientes O conceito de projeto

revela que o sistema nervoso superior soacute eacute capaz de concebecirc-lo quando supera o

condicionamento hereditaacuterio imposto pelas estruturas invariaacuteveis recebidas

diretamente da natureza tornando-se entatildeo fonte de outras formas de

condicionamento as que procedem no reflexo das coisas efetuando em suas ceacutelulas

31

cerebrais em iacutentimas ligaccedilotildees com o exerciacutecio da atividade em condiccedilotildees sociais

Esta anaacutelise mostra desde jaacute o caraacuteter necessariamente teacutecnico de toda accedilatildeo humana

pois agir significa um modo de ser ligado a alguma finalidade que o indiviacuteduo se

propotildee cumprir

Dessa forma natildeo seria possiacutevel compreender a atividade humana desconsiderando

sua relaccedilatildeo com a consciecircncia pois essas duas categorias na verdade podem ser entendidas

como constituintes de uma unidade dialeacutetica como segue

Nas relaccedilotildees entre consciecircncia e atividade a consciecircncia eacute a forma especificamente

humana do reflexo psiacutequico da realidade ou seja eacute a expressatildeo das relaccedilotildees do

indiviacuteduo com o mundo social cultural e histoacuterico que abre ao homem um quadro

do mundo em que ele mesmo estaacute inserido A consciecircncia refere-se assim agrave

possibilidade humana de compreender o mundo social e individual como passiacuteveis

de anaacutelise (RIGON ASBAHR MORETTI 2010 p 20)

A origem do conceito atividade na psicologia sovieacutetica pode ser encontrada nos

estudos de Vigotski27

(1896-1934) sugerindo que a atividade socialmente significativa pode

ser considerada como um dos fatores que geram a consciecircncia humana (KOZULIN 2002)

Na teoria cultural-histoacuterica das funccedilotildees mentais (ou processos psicoloacutegicos) superiores de

Vigotski bem como nos estudos vigotskianos do desenvolvimento da linguagem e da

formaccedilatildeo de conceitos foi de extrema relevacircncia a incorporaccedilatildeo do conceito de atividade

Kozulin (2002) entende que para Vigotski a consciecircncia eacute construiacuteda de fora para dentro por

meio das relaccedilotildees sociais e aleacutem disso que natildeo haacute distinccedilatildeo entre o mecanismo do

comportamento social e o da consciecircncia

Vigotski buscou em Marx e Hegel pressupostos que fizeram emergir uma teoria

social da atividade humana podendo ser entendida como contrapartida ao naturalismo e agrave

tradiccedilatildeo empirista como afirma Kozulin (2002) De Hegel Vigotski adota ldquouma visatildeo

absolutamente histoacuterica dos estaacutegios de desenvolvimento e das formas de realizaccedilatildeo da

consciecircncia humanardquo (KOZULIN 2002 p 115) Tal historicidade eacute tecida do ponto de vista

da filogecircnese ndash toma como base a histoacuteria evolutiva da espeacutecie humana- da histoacuteria

sociocultural ndash toma como base a (des) e (re)contextualizaccedilatildeo dos instrumentos de mediaccedilatildeo-

e da ontogecircnese ndash considera a evoluccedilatildeo histoacuterica individual na qual a formaccedilatildeo da

personalidade se caracteriza natildeo apenas pelo desenvolvimento bioloacutegico mas sobretudo pela

mediaccedilatildeo sociocultural (WERTSCH 1985 1988)- De Marx Vigotski adota o conceito de

praacutexis humana que grosso modo toma como sendo a atividade histoacuterica concreta gerando

27

A esse respeito ver Consciousness as a problem in the psychology of behavior (VIGOTSKI 1979)

32

os fenocircmenos da consciecircncia Vigotski acreditava que a atividade funciona como uma

ferramenta psicoloacutegica e tem caraacuteter semioacutetico mediacional (KOZULIN 2002)

Leontiev em meados dos anos 1930 faz emergir uma versatildeo revisionista da

Teoria da Atividade de Vigotski na qual entende que ldquoa atividade28

ndash ora como atividade ora

como accedilatildeo ndash desempenha todos os papeacuteis desde objeto ateacute princiacutepio explanatoacuteriordquo

(KOZULIN 2002 p 136) Leontiev aponta que ldquoo desenvolvimento da consciecircncia da

crianccedila ocorre como um resultado do desenvolvimento do sistema de operaccedilotildees psicoloacutegicas

as quais por seu turno satildeo determinadas pelas relaccedilotildees concretas entre a crianccedila e a

realidaderdquo (LEONTIEV 1980 p 186 apud KOZULIN 2002 p 127)

Dessa forma Leontiev considera em suas pesquisas que a atividade praacutetica eacute

transformada em atividade praacutetica e intelectual ndash plano interpsicoloacutegico (entre pessoas e

mediaccedilotildees) transformado em plano intrapsicoloacutegico Leontiev e seus colaboradores satildeo

conhecidos como a segunda geraccedilatildeo da Teoria da Atividade Vigotski sugeriu que a atividade

socialmente significativa eacute o princiacutepio explicativo da consciecircncia ou seja a consciecircncia eacute

construiacuteda de ldquoforardquo para ldquodentrordquo por meio das relaccedilotildees sociais (KOZULIN 2002)

Na teoria de Leontiev ldquoa atividade assumiu duplo papel ndash o de princiacutepio geral e o

de mecanismo concreto de mediaccedilatildeordquo (KOZULIN 2002 p 131) ldquoLeontiev sugeriu o

seguinte desmembramento da atividade atividade corresponde a um motivo accedilatildeo

corresponde a um objetivo e operaccedilatildeo depende de condiccedilotildeesrdquo (KOZULIN 2002 p 131)

Para entendermos melhor tais conceituaccedilotildees vejamos o que o proacuteprio Leontiev

nos apresenta

Natildeo levando o objeto da accedilatildeo por si proacuteprio a agir eacute necessaacuterio que a accedilatildeo surja e

se realize que o seu objeto apareccedila ao sujeito na sua relaccedilatildeo com o motivo da

atividade em que entra esta accedilatildeo Essa accedilatildeo eacute refletida pelo sujeito sob uma forma

perfeitamente determinada sob a forma de consciecircncia do objeto da accedilatildeo enquanto

fim Assim o objeto da accedilatildeo natildeo eacute afinal senatildeo o seu fim imediato conscientizado

(LEONTIEV 2004 p 317)

Vale ressaltar que a atividade correspondente a um motivo eacute algo coletivo e

consciente Jaacute as accedilotildees correspondentes a um objetivo podem ser entendidas como processos

que satildeo subordinados agraves metas individuais ou coletivas considerando a complexa estrutura da

divisatildeo do trabalho humano ou mesmo podem ser entendidas como processos de

cumprimento de objetivos parciais da atividade As accedilotildees e os objetivos correspondem assim

28

ldquoTal conceito de atividade teraacute duas funccedilotildees princiacutepio explicativo da constituiccedilatildeo das funccedilotildees psicoloacutegicas

superiores e da personalidade e ao mesmo tempo objeto de investigaccedilatildeo soacute sendo possiacutevel compreender tais

constituiccedilotildees a partir do estudo da atividaderdquo (RIGON ASBAHR MORETTI 2010 p 22)

33

ao indiviacuteduo engajado em uma atividade e agrave consciecircncia As operaccedilotildees podem ser entendidas

como meios ou procedimentos pelos quais a accedilatildeo eacute executada para satisfazer seu objetivo As

operaccedilotildees sempre correspondem agraves condiccedilotildees que podem ser entendidas como as

ferramentas necessaacuterias para a realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo As condiccedilotildees e as operaccedilotildees podem

ser relacionadas ao indiviacuteduo agrave inconsciecircncia e agrave incorporaccedilatildeo (KAWASAKI 2008 p 108)

ldquoOs motivos portanto pertencem agrave realidade socialmente estruturada de produccedilatildeo e

apropriaccedilatildeo ao passo que as accedilotildees pertencem agrave realidade imediata de objetivos praacuteticosrdquo

(KOZULIN 2002 p 132 itaacutelicos meus)

Para Leontiev (1978) a principal caracteriacutestica que distingue uma atividade da

outra eacute a diferenccedila de seus objetos Para o autor o objeto de uma atividade eacute o que lhe fornece

uma direccedilatildeo determinada uma finalidade constituindo-se dessa forma como seu verdadeiro

motivo Vale ressaltar que para Leontiev o objeto de qualquer atividade humana natildeo eacute algo

neutro nem individual mas sim um objeto da experiecircncia coletiva social pois para ele a

atividade dos outros nos oferece uma base uma gama de possibilidades objetivas que abarca

uma espeacutecie de estrutura especiacutefica das accedilotildees do indiviacuteduo

Eacute preciso entender a atividade levando-se em conta a dinacircmica das necessidades

assim como as diversas formas de executar accedilotildees e operaccedilotildees que podem alterar os processos

constituintes da atividade As accedilotildees podem se transformar em atividades as atividades

podem se transformar em accedilotildees as accedilotildees podem se tornar procedimentos para alcanccedilar um

objetivo configurando-se assim como operaccedilotildees

Para Engestroumlm ldquouma entidade do mundo exterior torna-se um objeto da

atividade quando atende a uma necessidade humana29

rdquo (ENGESTROumlM 2008 p 89 grifos

meus) E para Leontiev (1978) essa reuniatildeo eacute um ldquoato extraordinaacuteriordquo o sujeito constroacutei o

objeto destacando as propriedades que julga serem essenciais para o desenvolvimento da

praacutetica social em que deseja se engajar

Os artefatos mediadores da atividade para Engestroumlm (1987) satildeo considerados

as ferramentas e os signos necessaacuterios para que o sujeito da atividade realize accedilotildees orientadas

para o objetomotivo

Se considerarmos por exemplo a caccedila como uma atividade humana o alimento

(a presa) seria o objeto da atividade pois o alimento eacute o objeto pelo qual a atividade eacute

orientada Tal atividade estaria amparada pela finalidade relacionada a uma necessidade ou

desejo a necessidade de saciar a fome ou desejo de comer uma iguaria As accedilotildees entatildeo

29

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoAn entity in the outside world becomes an object of activity as it meets a

human needrdquo

34

estariam relacionadas aos processos ou objetivos parciais para alcanccedilar o objetivo Para

satisfazer a necessidade pelo alimento eacute preciso executar accedilotildees que natildeo visam diretamente agrave

obtenccedilatildeo do alimento como por exemplo preparar algum equipamento para ser utilizado na

caccedila Para isso seriam necessaacuterias condiccedilotildees para que tais equipamentos possam ser

elaborados como habilidades de construir equipamentos teacutecnicas de extraccedilatildeo de mateacuteria-

prima para a elaboraccedilatildeo dos equipamentos entre outras e ainda precisariam ser

implementadas operaccedilotildees que possibilitem essa fase da atividade de caccedila

A atividade educacional ndash formativa e institucionalizada- foi investigada

profundamente por Davydov que incorporou conceitos de Vigotski e Leontiev para formular

uma teoria sobre o ensino a teoria do ensino desenvolvimental (LIBAcircNEO FREITAS 2006)

Na sociedade informacional Davydov afirma que a tarefa da escola contemporacircnea consiste

em ensinar os aprendizes a se orientarem independentemente que inclui informaccedilotildees oriundas

das comunidades cientiacuteficas - ensinaacute-los a pensar por meio de um ensino que promova o

desenvolvimento mental e psiacutequico (DAVIacuteDOV 1988 p 3 apud LIBAcircNEO FREITAS

2006)

Davydov (1988 apud LIBAcircNEO FREITAS 2006) enfatiza que educaccedilatildeo e

ensino satildeo necessaacuterios para o desenvolvimento humano e que estatildeo amalgamadas agraves

premissas da teoria histoacuterico-cultural de Vigotski que inclui os fatores socioculturais e a

atividade interna dos indiviacuteduos Davydov propotildee um ensino escolar ancorado em atividades

de aprendizagem cujo conteuacutedo do ensino seja a base do ensino desenvolvimental Vale

ressaltar que Davydov natildeo defende a mera transmissatildeo de conteuacutedos mas sim a escola como

promotora de atividades que forneccedilam aos alunos mecanismos para o desenvolvimento de

suas habilidades e competecircncias incluindo aprender por si mesmos

Alguns autores se baseiam em Davydov e tratam dos fenocircmenos educativos como

praacutetica social - como uma atividade Para Rigon Asbahr e Moretti (2010 p 24 grifo meu)

o objeto da atividade pedagoacutegica eacute a transformaccedilatildeo dos indiviacuteduos no processo de

apropriaccedilatildeo dos conhecimentos e saberes por meio desta atividade ndash teoacuterica e

praacutetica ndash eacute que se materializa a necessidade humana de se apropriar dos bens

culturais como forma de constituiccedilatildeo humana

Engestroumlm (2008) entende que tradicionalmente o objeto da atividade do

professor ao participar de praacuteticas escolares pode ser socialmente entendido como sendo o

texto escolar (textos que englobam os livros didaacuteticos apostilas ou ateacute mesmo textos escritos

na lousa pelos professores e reproduzidos nos cadernos dos alunos) e aponta que tais ldquotextos

35

tornam-se um mundo fechado um objeto morto cortado de seu contexto de vidardquo

(ENGESTROumlM 1987 p 101) O autor posiciona tambeacutem os estudantes como parte da

componente objeto da atividade do professor Vale ressaltar que nas praacuteticas escolares

tradicionais comumente observadas em processos de escolarizaccedilatildeo na maioria das

instituiccedilotildees brasileiras de ensino o professor direciona sua atenccedilatildeo agrave transformaccedilatildeo dos

estudantes isto eacute educar significa transformar o estudante no que tange ao entendimento do

mundo e da realidade que o cerca tomando-se por base o texto escolar como referecircncia para

tal transformaccedilatildeo Engestroumlm (2008 p 89) esclarece ainda que

Nessa capacidade construiacuteda relacionada agrave necessidade o objeto ganha forccedila

motivacional que daacute forma e direccedilatildeo para a atividade O objeto determina o

horizonte de objetivos e accedilotildees possiacuteveis A atividade de trabalho dos professores nas

escolas eacute chamada de ensino A atividade dos estudantes nas escolas pode ser

chamada de school-going30

Bernardes (2009) reafirma o posicionamento de Engestroumlm (2008) a respeito do

objeto da atividade da educaccedilatildeo escolar ou seja das praacuteticas educativas escolarizadas como

um direcionamento de accedilotildees objetivando a transformaccedilatildeo do sujeito que aprende sendo este

o primeiro objeto da atividade de ensino A autora ainda afirma existir um segundo objeto

relacionado agrave atuaccedilatildeo profissional do educador sendo alicerccedilado na seguinte questatildeo o quecirc

ensinar e de que forma se organiza o ensino

A seleccedilatildeo e a identificaccedilatildeo do conhecimento teoacuterico-cientiacutefico a ser ensinado na

escola e a definiccedilatildeo das condiccedilotildees adequadas para a materializaccedilatildeo da organizaccedilatildeo

das accedilotildees de ensino na atividade pedagoacutegica requerem que o educador materialize o

segundo objeto da atividade de ensino O produto desta atuaccedilatildeo profissional eacute a

elaboraccedilatildeo de um instrumento que medeia o conhecimento que se objetiva e se

materializa na organizaccedilatildeo das accedilotildees de ensino (BERNARDES 2009 p 237)

Asbahr (2005) enfatiza que a significaccedilatildeo social da atividade pedagoacutegica do

professor seria proporcionar ambientes de aprendizagem que possibilitem aos estudantes se

engajarem em atividades de aprendizagem garantindo-lhes assim apropriaccedilatildeo do

conhecimento natildeo cotidiano A autora afirma que ensino-aprendizagem somente configura

uma atividade coletiva quando satildeo postos em uma uacutenica unidade isto eacute a atividade de ensino

ocorre se e somente se ocorrer a atividade de aprendizagem Dessa forma 30

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoIn this constructed need-related capacity the object gains motivating force

that gives shape and direction to activity The object determines the horizon of possible goals and actions The

work activity of school teachers is called teaching The activity of school students may be called school-goingrdquo

Natildeo encontrei uma traduccedilatildeo considerada por mim como satisfatoacuteria para o que Engestroumlm (1987 2008) chama

de school-going Contudo penso que o autor busca relacionar esse termo agrave ida dos estudantes diariamente agraves

escolas Talvez possa ser traduzido como ldquoida agrave escolardquo

36

O aluno natildeo eacute soacute objeto da atividade do professor mas eacute principalmente sujeito e

constitui-se como tal na atividade ensinoaprendizagem na medida em que participa

ativamente e intencionalmente do processo de apropriaccedilatildeo do saber superando o

modo espontacircneo e cotidiano de conhecer (BASSO 1994 apud ASBAHR 2005 p

114)

Na tentativa de entender os mais diversos fenocircmenos que podem ocorrer nas

praacuteticas escolares de ensino e aprendizagem podemos utilizar o aporte teoacuterico de Engestroumlm

(2001) que propotildee uma estrutura triangular para representar as accedilotildees individuais ou em

grupos constituindo sistemas de atividade coletiva contendo os seguintes elementos sujeito

artefatos ou instrumentos mediadores (ferramentas e signos) objeto comunidade regras

divisatildeo de trabalho e resultado (ENGESTROumlM 2001) como segue

FIGURA 1 ndash A estrutura de um sistema de atividade humana

Fonte ENGESTROumlM 2001 p 135

Os elementos da estrutura da atividade representada na FIG 1 (ENGESTROumlM

2001) podem ser explicados por Engestroumlm (1993)

No modelo o sujeito refere-se ao indiviacuteduo ou subgrupo cujo poder de agir eacute

tomado como ponto de vista na anaacutelise O objeto refere-se agrave ldquomateacuteria primardquo ou ao

ldquoespaccedilo problemardquo para o qual a atividade estaacute direcionada e que eacute moldado ou

transformado em resultados com o auxiacutelio de ferramentas fiacutesicas e simboacutelicas

externas e internas (instrumentos e signos mediadores) A comunidade compreende

indiviacuteduos eou subgrupos que compartilham o mesmo objeto geral A divisatildeo de

trabalho refere-se tanto agrave divisatildeo horizontal de tarefas entre os membros da

comunidade quanto agrave divisatildeo vertical de poder e status Finalmente as regras

referem-se aos regulamentos impliacutecitos e expliacutecitos normas e convenccedilotildees que

37

restringem as accedilotildees e interaccedilotildees no interior do sistema de atividade31

(ENGESTROumlM 1993 p 67 grifos do autor)

Engestroumlm (1987 2002 2008) critica veementemente a inversatildeo de papel que

pode ocorrer com o texto escolar em atividades de ensino-aprendizagem Para ele quando o

texto escolar (os livros didaacuteticos) eacute tomado como objeto da atividade escolar ocorre uma

inversatildeo de papeacuteis o que era para ser um instrumento passa a ser objeto da atividade

Engestroumlm (2008 p 89) ainda esclarece que ldquoem school-going textos assumem o papel de

objeto Este objeto eacute moldado pelos alunos de uma maneira curiosa o resultado de sua

atividade eacute sobretudo o mesmo texto reproduzido e modificado oralmente ou escrito de outra

forma32

rdquo

Sendo assim o objeto da atividade school-going pode ser caracterizado pelos

textos escolares (livros didaacuteticos apostilas etc) e pelos estudantes em formaccedilatildeo ndash alunos E

como objetivo central de tal atividade podemos considerar a transformaccedilatildeo dos indiviacuteduos

no processo de apropriaccedilatildeo dos conhecimentos e saberes (bens histoacutericos e culturais)

impressos nos textos e reproduzidos nas interaccedilotildees Nesse sentido o objetivo consiste na

capacitaccedilatildeo dos alunos para recriar ou refazer o ensinado

Vale pontuar que para Engestroumlm (2001 p 137 grifo meu) as ldquocontradiccedilotildees satildeo

tensotildees estruturais historicamente acumuladas dentro e entre sistemas de atividade33

rdquo Para

ele contradiccedilatildeo natildeo eacute a mesma coisa que problemas ou conflitos O autor esclarece que a

contradiccedilatildeo primaacuteria de atividades no capitalismo estaacute localizada no valor de uso e de troca

das mercadorias Engestroumlm (2001 p 137 grifo meu) enfatiza ainda que

Esta contradiccedilatildeo primaacuteria permeia todos os elementos de nossos sistemas de

atividade Atividades satildeo sistemas abertos Quando um sistema de atividade adota

um novo elemento de fora (por exemplo uma nova tecnologia ou um novo objeto)

ele leva frequentemente a uma contradiccedilatildeo secundaacuteria agravada onde algum antigo

elemento (por exemplo as regras ou a divisatildeo do trabalho) colide com o novo Tais

31

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoIn the model the subject refers to the individual or subgroup whose agency is

chosen as the point of view in the analysis The object refers to the ldquoraw materialrdquo or ldquoproblem spacerdquo at which

the activity is directed and which is molded or transformed into outcomes with the help of physical and

symbolic external an internal tools (mediating instruments and signs) The community comprises multiple

individuals andor subgroups who share the same general object The division of labor refers to both the

horizontal division of tasks between the members of the community and to the vertical division of power and

status Finally the rules refer to the explicit and implicit regulations norms and conventions that constrain

actions and interactions within the activity systemrdquo 32

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoIn school-going text takes the role of the object This object is molded by the

pupils in a curious manner the outcome if their activity is above all the same text reproduced and modified

orally or in written formrdquo 33

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoContradictions are historically accumulating structural tensions within and

between activity systemsrdquo

38

contradiccedilotildees geram distuacuterbios e conflitos mas tambeacutem tentativas inovadoras para

mudar a atividade34

Quando o texto escrito que compotildee livros didaacuteticos adotados durante os processos

de escolarizaccedilatildeo torna-se o objeto da atividade escolar em vez de ser um instrumento que

auxilie o entendimento do mundo podemos perceber que esse texto passa a carregar consigo

uma contradiccedilatildeo interna Engestroumlm (1987 p 102 grifo meu) faz os seguintes apontamentos

Primeiro de tudo ele eacute um objeto morto a ser reproduzido a fim de ganhar notas ou

outros lsquomarcadores de sucessorsquo que cumulativamente determinam o valor futuro do

proacuteprio aluno no mercado de trabalho Por outro lado ele tambeacutem tendenciosamente

aparece como um instrumento vivo de dominaccedilatildeo da proacutepria relaccedilatildeo com a

sociedade fora da escola [] como o objeto da atividade eacute tambeacutem o seu verdadeiro

motivo a natureza inerentemente dupla do motivo da school-going eacute agora visiacutevel35

Vale ressaltar que Engestroumlm (2001 p 136) enfatiza que para localizar qualquer

pesquisa na terceira geraccedilatildeo da Teoria da Atividade eacute preciso analisar no miacutenimo dois

sistemas de atividade interconectados

Na tentativa de exemplificar uma possiacutevel anaacutelise de atividade de aprendizagem

escolar tradicional utilizando a terceira geraccedilatildeo da Teoria da Atividade proposta por

Engestroumlm e seus colaboradores utilizarei um modelo exposto em Engestroumlm (2008 p 89)36

em que eacute apresentada uma unidade de anaacutelise (miacutenima) quando se deseja entender fenocircmenos

da sala de aula tradicional sistemas interconectados de atividade de ensino tradicional

(school-going) No modelo os sistemas de atividade dos professores como sujeitos de sua

proacutepria atividade diferem dos sistemas de atividade dos estudantes ora enquanto sujeitos de

sua proacutepria atividade ora enquanto objeto da atividade dos professores

FIGURA 2 ndash Os interdependentes sistemas de atividade de estudantes e professor

Fonte elabora do pela autora com base em ENGESTROumlM 2001 p 136 37

34

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoThis primary contradiction pervades all elements of our activity systems

Activities are open systems When an activity system adopts a new element from the outside (for example a new

technology or a new object) it often leads to an aggravated secondary contradiction where some old element (for

example the rules or the division of labor) collides with the new one Such contradictions generate disturbances

and conflicts but also innovative attempts to change the activityrdquo 35

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoFirst of all it is a dead object to be reproduced for the purpose of gaining

grades or other lsquosuccess markersrsquo which cumulatively determine the future value of the pupil himself in the labor

market On the other hand it tendentially also appears as a living instrument of mastering onersquos own relation to

society outside the school [] as the object of the activity is also its true motive the inherently dual nature of

motive of school-going is now visiblerdquo 36

Faccedilo nesse modelo uma pequena modificaccedilatildeo com relaccedilatildeo ao objeto da atividade dos dois sistemas

apresentados tomando por base o modelo apresentado por Engestroumlm (2001 p 136) em que eacute exposto um

terceiro objeto que seria o verdadeiro objeto dos sistemas de atividade no qual esse objeto eacute construiacutedo

mediante o compartilhamento dos outros dois objetos 37

Vide nota de rodapeacute anterior

39

O objeto da atividade school-going dos estudantes conforme representado por

Engestroumlm (2008) na FIG 2 pode ser entatildeo considerado como textos escolares (contidos em

livros didaacuteticos) os estudantes se orientam pelo livro e no livro eacute que eles realizam as accedilotildees

de entendimento dos conteuacutedos do ldquomundordquo presos nos textos escolares Os textos escolares

tambeacutem orientam a atividade dos professores Mas natildeo apenas os livros Os estudantes

tambeacutem fazem parte do objeto da atividade dos professores A ldquonuvemrdquo contida no modelo

corresponde a uma idealizaccedilatildeo do objeto da atividade tradicional como um objeto

compartilhado entre estudantes e professor(es) natildeo afirmo portanto que esse objeto seja

realmente compartilhado nas atividade da escola tradicional em sua totalidade

Bernardes (2009 p 240) confirmando o pensamento de Engestroumlm (2008)

esclarece que o motivo da atividade de ensino a ser realizada pelos professores como

sujeitos pode ser entendido(a) como ldquopossibilitar a transformaccedilatildeo da constituiccedilatildeo dos

estudantes por meio do acesso agrave cultura ndash humanizando-osrdquo O objetivo dessa atividade

estaria ancorado em ldquoensinar o conhecimento soacutecio-histoacutericordquo (BERNARDES 2009 p 240)

Jaacute o motivo da atividade de aprendizagem a ser realizada pelos estudantes ora como sujeitos

de sua proacutepria atividade ora como objeto da atividade do professor pode ser entendido como

ldquotornar-se herdeiro da cultura ndash humanizar-serdquo e o objetivo dessa atividade estaria ancorado

em ldquoapropriar-se do conhecimento soacutecio-histoacutericordquo (BERNARDES 2009 p 240)

Tanto para Engestroumlm (2008) quanto para Bernardes (2009) a unidade de anaacutelise

a ser adotada em anaacutelise de atividades formativas seria composta da seguinte forma a

40

atividade pedagoacutegica como sistemas interconectados de atividade ndash a atividade de ensino e a

atividade de aprendizagem (ou school-going para Engestroumlm) realizada por sujeitos

(professores e estudantes) ndash com objetivo relacionado ao acesso e agrave apropriaccedilatildeo da cultura por

meio do acesso e da apropriaccedilatildeo do conhecimento soacutecio-histoacuterico

Com isso cabe um questionamento os estudantes ao se moverem em busca de

satisfazer uma necessidade soacutecio-histoacuterica-cultural ndash humanizar-se ndash com o niacutetido objetivo de

participar da (e ao mesmo tempo agir na) sociedade ao se apropriar do conhecimento soacutecio-

histoacuterico acumulado pelo homem no decorrer de sua historicidade tornam-se eles mesmos

objeto de sua proacutepria atividade Podemos analisaacute-los dessa forma Tornar-se herdeiro da

cultura e se apropriar do conhecimento soacutecio-histoacuterico pode possibilitar ao estudante

transformaccedilotildees em termos de sua proacutepria participaccedilatildeo como ser-no-ldquomundordquo reflete ao

mesmo tempo devido agrave necessidade soacutecio-histoacuterica-cultural que este carrega um ldquomundordquo-

no-ser Dessa forma para analisar por meio da Teoria da Atividade fenocircmenos de ensino-

aprendizagem escolar como interconectados sistemas de atividade eacute necessaacuterio considerar

que ao engajarem em seu proacuteprio processo de escolarizaccedilatildeo (atividade de aprendizagem) os

estudantes satildeo ldquoenquadradosrdquo como objeto de sua proacutepria atividade e natildeo apenas sujeitos jaacute

que a atividade de aprendizagem eacute considerada como uma das componentes dos sistemas de

atividade que perfaz a atividade de ensino-aprendizagem

Dessa forma a atividade tradicional de ensino-aprendizagem constituiacuteda pelos

interconectados sistemas de atividade de alunos e professores cujo objeto eacute o texto escolar

(livros didaacuteticos) e tambeacutem os alunos ndash um objeto a ser compartilhado38

Assim percebemos

que na FIG 2 ocorreraacute num ponto de vista analiacutetico idealizado um compartilhamento entre

os objetos da atividade dos alunos e professor(es) ao considerarmos estes interconectados

sistemas de atividade Ao moldar esculpir construir seu proacuteprio objeto da atividade os

estudantes se tornam objeto de sua proacutepria atividade ndash atividade de aprendizagem ndash fazem

coincidir e passam a compartilhar o objeto da atividade dos professores ndash atividade de ensino

Essa condiccedilatildeo passa entatildeo a se constituir como necessaacuteria para o engajamento de

professores e alunos na atividade de ensino-aprendizagem que na presente pesquisa eacute

tomada como uma unidade de anaacutelise miacutenima utilizando a Teoria da Atividade em sua

denominada por Engestroumlm terceira geraccedilatildeo

38

Na FIG 2 este objeto seria o terceiro deles o idealizado ndash contido na ldquonuvemrdquo o compartilhamento do objeto

da atividade de ensino e do objeto da atividade de aprendizagem

41

Moura et al (2010 p 216 grifos meus) confirmam tal posicionamento com

relaccedilatildeo ao objeto da atividade de aprendizagem focando o conhecimento o conceito e

enfatizando que

Para que a aprendizagem se concretize para os estudantes e se constitua

efetivamente como atividade a atuaccedilatildeo do professor eacute fundamental ao mediar a

relaccedilatildeo dos estudantes com o objeto do conhecimento orientando e organizando o

ensino As accedilotildees do professor na organizaccedilatildeo do ensino devem criar no estudante a

necessidade do conceito fazendo coincidir os motivos da atividade com o objeto de

estudo

Contudo quando Moura et al (2010) enfatizam que os estudantes fazem parte do

objeto da atividade de ensino realizada pelos professores parecem natildeo considerar que a

atividade de ensino somente ocorre em uma diacuteade com a atividade de aprendizagem ldquoNatildeo haacute

docecircncia sem discecircnciardquo (FREIRE 1996 p 21) Soacute haacute ensino quando haacute aprendizagem

Ensina-se algo a algueacutem e esse algueacutem precisa aprender o que foi ensinado para que de fato

se possa dizer que foi ensinado Enquanto ensinar39

pode ser sinocircnimo de instruir ou ajudar

algueacutem a adquirir determinado conhecimento o verbo aprender40

pode ser sinocircnimo de se

instruir ou adquirir determinado conhecimento No entanto Freire (1996 p 23-24 grifo

meu) apesar de natildeo ser um estudiosoadepto da Teoria da Atividade aponta que

Natildeo haacute docecircncia sem discecircncia as duas se explicam e seus sujeitos apesar das

diferenccedilas que os conotam natildeo se reduzem agrave condiccedilatildeo de objeto um do outro

Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender Quem ensina

ensina alguma coisa a algueacutem [] Ensinar inexiste sem aprender [] Natildeo temo

dizer que inexiste validade no ensino de que natildeo resulta um aprendizado em que o

aprendiz natildeo se tornou capaz de recriar ou de refazer o ensinado em que o ensinado

que natildeo foi apreendido natildeo pode ser realmente aprendido pelo aprendiz

Natildeo eacute claro para mim o que Freire (1996) quis dizer quando enfatizou ldquonatildeo se

reduzem agrave condiccedilatildeo de objeto um do outrordquo contudo parece ter relaccedilatildeo direta com sua

rejeiccedilatildeo no que diz respeito agrave crenccedila de que ensinar eacute transferir conhecimento a algueacutem

sendo entatildeo esse algueacutem objeto daquele que transfere o conhecimento Para Freire (1996 p

22 grifos do autor) ldquoensinar natildeo eacute transferir conhecimento mas criar possibilidades para a

sua produccedilatildeo ou a sua construccedilatildeordquo

Sendo assim entendo que Engestroumlm (2008) expotildee interconectados sistemas de

atividade perfazendo a atividade do professor e a atividade dos estudantes (school-going) de 39

httpptwiktionaryorgwikiensinar

httpwwwdiciocombrensinar 40

httpptwiktionaryorgwikiaprender

httpwwwdiciocombraprender

42

forma distinta por perceber que nem sempre acontece de o aluno se reconhecer como objeto

de sua proacutepria atividade de aprendizagem mais do que isso o autor expotildee que a atividade

escolar tradicional descrita na FIG 2 eacute ldquoamplamente considerada alienante para ambos

estudantes e professores41

rdquo (ENGESTROumlM 2008 p 90) Tal alienaccedilatildeo acontece

principalmente pelo objeto da atividade de alunos e professores no processo tradicional de

escolarizaccedilatildeo estar ancorado no livro-texto em vez de o texto representar um instrumento que

auxilie a apropriaccedilatildeo dos conhecimentos como fatos socialmente e historicamente

construiacutedos

Vale ressaltar que a necessidade de apropriaccedilatildeo dos conhecimentos na qualidade

de constructos soacutecio-histoacuterico-culturais eacute (ou deveria ser) comungada por todos os indiviacuteduos

afetados pelo processo de escolarizaccedilatildeo ndash estudantes e professores mais do que eles todos os

indiviacuteduos da sociedade almejam por instruccedilatildeo Eacute na escola que se efetuam as praacuteticas de

instruccedilatildeo baseadas nos conhecimentos institucionalizados pela ciecircncia e referenciados por

todos A necessidade que pode ser atribuiacuteda pelo compartilhamento do conhecimento eacute (ou

deveria ser) comungada por estudantes e professores que ligados a essa necessidade

constroem os respectivos objetos de suas atividades como sujeitos na escola a atividade

educacional escolar cujo objeto eacute o conhecimento a ser compartilhado Aleacutem disso somente

entendo os estudantes como objeto da atividade do professor se eles se reconhecerem como

objeto da proacutepria atividade de aprendizagem ndash enquanto o primeiro instrui o segundo se

instrui inexoravelmente42

Uma observaccedilatildeo importante feita por Engestroumlm (2008) diz respeito agrave

metodologia de anaacutelise e tambeacutem agrave de construccedilatildeo dos dados de uma investigaccedilatildeo quando se

pretende usar a (denominada por ele) terceira geraccedilatildeo da Teoria da Atividade como ldquolenterdquo

teoacuterica Nas palavras dele

Orientadas pelo objetivo accedilotildees instrumentais publicamente roteirizadas satildeo a ponta

facilmente discerniacutevel do iceberg a profundidade da estrutura social da atividade

estaacute por debaixo da superfiacutecie mas oferece estabilidade e ineacutercia para o sistema

Assim o subtriacircngulo superior (sujeito-instrumentos-objeto) da Figura 7 representa

as accedilotildees instrumentais visiacuteveis de professores e alunos O curriacuteculo oculto estaacute

amplamente localizado na parte inferior do diagrama na natureza das regras a

comunidade e a divisatildeo do trabalho da atividade43

(ENGESTROumlM 2008 p 90)

41

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquowidely considered alienating for both students and teachersrdquo 42

Na minha concepccedilatildeo baseada nas ideias de Paulo Freire ensinar e aprender satildeo atividades disjuntas Ensinar

algo a algueacutem Nisso estaacute impresso uma mutualidade no objeto idealizado da atividade de ensino-

-aprendizagem escolar algo (algum conhecimento fenocircmeno conteuacutedo) e algueacutem (aquele que desempenharaacute as

accedilotildees empreendidas pelo aprender) 43

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoGoal-oriented publicly scripted instrumental actions are the easily discernible

tip of the iceberg the deep social structure of activity is underneath the surface but provides stability and inertia

43

Mesmo natildeo sendo necessariamente visiacuteveis do ponto de vista metodoloacutegico de

uma investigaccedilatildeo seratildeo consideradas na presente pesquisa as accedilotildees instrumentais localizadas

na parte inferior do diagrama de Engestroumlm (conforme FIG 1 e FIG 2) tais como as relaccedilotildees

de poder e controle que medeiam regulam e influenciam as relaccedilotildees sociais incluindo o

discurso como um produto histoacuterico-cultural

Ainda seratildeo considerados os seguintes cinco princiacutepios baacutesicos da Teoria da

Atividade44

apontados por Engestroumlm (2001 p 136-137) O primeiro diz respeito ao uso dos

sistemas de atividade como a unidade de anaacutelise Para isso ele apresenta seu sistema

triangular estendido como modelo para organizaccedilatildeo sistecircmica dos elementos que compotildeem a

atividade conforme exemplificado anteriormente na FIG 2 O segundo princiacutepio diz respeito

agrave multivocalidade do sistema de atividade Um sistema de atividades eacute composto por

comunidades com muacuteltiplos pontos de vista tradiccedilotildees e interesses A divisatildeo do trabalho cria

diferentes posiccedilotildees para os partiacutecipes que por sua vez portam suas proacuteprias e diversas

histoacuterias de vida os sistemas de atividade portam ainda muacuteltiplas camadas e vertentes da

histoacuteria gravadas em artefatos mediadores regras e convenccedilotildees O terceiro princiacutepio afirma

que a anaacutelise da atividade e dos componentes que a formam deve sempre ser tomada em sua

historicidade perceber o papel das contradiccedilotildees no movimento de uma atividade torna

possiacutevel tambeacutem a reconstituiccedilatildeo de sua evoluccedilatildeo e do desenvolvimento de suas praacuteticas ao

longo da histoacuteria O quarto princiacutepio que segundo Engestroumlm (2001) deveria ser seguido por

uma pesquisa que utiliza a Teoria da Atividade diz respeito agrave busca pelas contradiccedilotildees

internas dentro da atividade que seriam a forccedila motriz do desenvolvimento podendo ser

expressas por distuacuterbios inovaccedilotildees e mudanccedilas nos sistemas de atividade Finalmente o

quinto princiacutepio proclama a possibilidade de transformaccedilotildees expansivas nos sistemas de

atividade ldquoUma transformaccedilatildeo expansiva eacute realizada quando o objeto e o motivo da atividade

satildeo reconceitualizados adotando um horizonte radicalmente mais amplo de possibilidades do

que no estaacutegio anterior da atividade45

rdquo (ENGESTROumlM 2001 p 137) Para Engestroumlm

(1987) um ciclo completo de transformaccedilotildees expansivas pode ser entendido como uma

jornada coletiva por meio da zona de desenvolvimento proximal da atividade que ldquoeacute a

for the system Accordingly the topmost subtriangles (subject-instruments-object) da Figure 51 represent the

visible instrumental actions of teachers and students The hidden curriculum is largely located in the bottom parts

of the diagram in the nature of the rules the community and the division of labor of the activityrdquo 44

Denominada por Engestroumlm como a terceira geraccedilatildeo da teoria da atividade 45

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoAn expansive transformation is accomplished when the object and motive of

the activity are reconceptualized to embrace a radically wider horizon of possibilities than in the previous mode

of the activityrdquo

44

distacircncia entre as accedilotildees cotidianas dos indiviacuteduos e a historicamente nova forma de atividade

social que pode ser gerada coletivamente como uma soluccedilatildeo para o dilema potencialmente

incorporado nas accedilotildees cotidianasrdquo46

(ENGESTROumlM 1987 p 174)

Engestroumlm (1993) enfatiza que no que tange agrave historicidade de uma atividade a

ser analisada pela Teoria da Atividade a classificaccedilatildeo entre modos e tipos histoacutericos deve ser

realizada Para o autor o modo se refere agrave forma que certa atividade eacute organizada e realizada

pelos participantes em um dado momento O modo ldquose assemelha a um mosaico em constante

evoluccedilatildeo consistindo de vaacuterios interesses paralelos vozes e camadas47

rdquo (ENGESTROumlM

1993 p 68) Contudo um sistema de atividade como um todo tambeacutem representa algum

padratildeo qualitativo historicamente identificaacutevel ndash um tipo ideal ndash de seus componentes e suas

relaccedilotildees internas Partindo de tal diferenciaccedilatildeo Engestroumlm (1993) constroacutei um modelo

conceitual geral que permite analisar esses tipos histoacutericos com base na caracterizaccedilatildeo de

duas variaacuteveis principais o grau de complexidade e o grau de centralizaccedilatildeo O grau de

complexidade tende a ser crescente com o passar do tempo histoacuterico Jaacute o grau de

centralizaccedilatildeo dependeraacute do tipo de atividade a ser analisada Baixos graus de centralizaccedilatildeo e

altos graus de complexidade hipoteticamente corresponderiam a atividades dominadas

coletivamente e expansivamente

Engestroumlm (2002) na tentativa de criar uma maneira proacutepria de possibilitar e

analisar aprendizagens buscou inspiraccedilatildeo em dois autores O primeiro deles Davydov propocircs

uma estrateacutegia de ensino denominada formaccedilatildeo de conceitos teoacutericos pela ascensatildeo do

abstrato ao concreto que busca por meio de uma abstraccedilatildeo primaacuteria uma ldquoceacutelula

germinativardquo formas de deduzir e unificar outras formas de abstraccedilatildeo e generalizaccedilatildeo

transformando essa abstraccedilatildeo primaacuteria em um ldquoconceitordquo que imprime a ceacutelula germinativa

em sua essecircncia Para isso eacute preciso que ldquoos alunos reproduzam o processo atual pelo qual as

pessoas criaram conceitos imagens valores e normasrdquo (DAVYDOV 1988 p 21 apud

ENGESTROumlM 2002 p 185) A segunda autora eacute Jean Lave que propocircs analisar a

aprendizagem como participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima em comunidades de praacutetica Farei uma

breve explanaccedilatildeo dessas duas abordagens48

46

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoIt is the distance between the present everyday actions of the individuals and

the historically new form of the societal activity that can be collectively generated as a solution to the double

bind potentially embedded in the everyday actionsrdquo 47

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoThe mode resembles a continuously evolving mosaic consisting of various

parallel interests voices and layersrdquo 48

Engestroumlm (2002) busca inspiraccedilatildeo nas abordagens desses dois autores e agrega a elas o ldquocontexto da criacuteticardquo

(seraacute exposto posteriormente) para gerar um contexto que segundo ele seja propiacutecio para possibilitar

aprendizagens expansivas e por conseguinte o ldquorompimento da encapsulaccedilatildeordquo da aprendizagem escolar

45

11 Meacutetodo da ascensatildeo do abstrato ao concreto de Davydov

A teoria que Davydov propocircs denominada por meacutetodo da ascensatildeo do abstrato ao

concreto considera que a encapsulaccedilatildeo da aprendizagem49

escolar acontece devido ldquoa um vieacutes

empirista descritivo e classificatoacuteriordquo (ENGESTROumlM 2002 p 186) que permeia o ensino

tradicional e a elaboraccedilatildeo dos curriacuteculos Isso implica em um total desconhecimento por parte

dos alunos da gecircnese dos conhecimentos estudados dentro das escolas Engestroumlm e Sannino

(2010b) explicam que

Uma nova ideia ou conceito teoacuterico eacute inicialmente produzido sob a forma de um

abstrato relaccedilatildeo explicativa simples uma lsquoceacutelula germinativarsquo Esta abstraccedilatildeo

inicial eacute enriquecida passo-a-passo e transformada em um sistema concreto de

muacuteltiplas manifestaccedilotildees em constante desenvolvimento Na atividade de

aprendizagem a ideia inicial simples eacute transformada em um objeto complexo em

uma nova forma de praacutetica Atividade de aprendizagem leva agrave formaccedilatildeo de

conceitos teoacutericos - praacutetica teoricamente apreendida - concreto em riqueza sistecircmica

e multiplicidade de manifestaccedilotildees Neste quadro abstrato refere-se ao parcial

separado do todo concreto50

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 5)

Karel Kosik (1976) pode nos ajudar na compreensatildeo da ascensatildeo do abstrato ao

concreto Buscando em Marx Kosik explora dialeticamente as noccedilotildees de concretude e

abstraccedilatildeo Para isso ele define primeiramente o conceito de pseudoconcreticidade Segundo

ele

O complexo dos fenocircmenos que povoam o ambiente cotidiano e a atmosfera comum

da vida humana que com a sua regularidade imediatismo e evidecircncia penetram na

consciecircncia dos indiviacuteduos agentes assumindo um aspecto independente e natural

constitui o mundo da pseudoconcreticidade A ele pertecem

O mundo dos fenocircmenos externos que se desenvolvem agrave superfiacutecie dos processos

realmente essenciais

O mundo do traacutefico e da manipulaccedilatildeo isto eacute da praxis fetichizada dos homens (a

qual natildeo coincide com a praxis criacutetica revolucionaacuteria da humanidade)

49

O autor aborda a questatildeo da descontinuidade entre atividades escolares e atividades fora da escola

considerando os conhecimentos escolares como algo encapsulado distante da realidade cotidiana dos indiviacuteduos

que participam de tais praacuteticas denominando tal fenocircmeno por encapsulaccedilatildeo da aprendizagem escolar Ao

refletir sobre os motivos que levam os indiviacuteduos a participarem de atividades escolares enfatiza que na maioria

das vezes eles natildeo aprendem para a vida mas para a escola (ENGESTROumlM 2002) 50

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoA new theoretical idea or concept is initially produced in the form of an

abstract simple explanatory relationship a lsquogerm cellrsquo This initial abstraction is step-by-step enriched and

transformed into a concrete system of multiple constantly developing manifestations In learning activity the

initial simple idea is transformed into a complex object into a new form of practice Learning activity leads to

the formation of theoretical concepts ndash theoretically grasped practice ndash concrete in systemic richness and

multiplicity of manifestations In this framework abstract refers to partial separated from the concrete wholerdquo

46

O mundo das representaccedilotildees comuns que satildeo projeccedilotildees dos fenocircmenos externos

na consciecircncia dos homens produto da praxis feitichizada formas ideoloacutegicas de

seu movimento

O mundo dos objetos fixados que datildeo a impressatildeo de ser condiccedilotildees naturais e natildeo

satildeo imediatamente reconheciacuteveis como resultados da atividade social dos homens

(KOSIK 1976 p 15 grifo do autor)

Kosik nos mostra como o pensamento dialeacutetico entre a pseudoconcreticidade e os

fenocircmenos cotidianos estatildeo inteiramente relacionados por meio da consciecircncia dos

indiviacuteduos Diz ainda que para atingir a concreticidade eacute preciso destruir a

pseudoconcreticidade Nas palavras de Kosik (1976)

O pensamento que quer conhecer adequadamente a realidade que natildeo se contenta

com os esquemas abstratos da proacutepria realidade nem com suas simples e tambeacutem

abstratas representaccedilotildees tem de destruir a aparente independecircncia do mundo dos

contatos imediatos de cada dia O pensamento que destroacutei a pseudoconcreticidade

para atingir a concreticidade eacute ao mesmo tempo um processo no curso do qual sob o

mundo da aparecircncia se desvenda o mundo real por traacutes da aparecircncia externa do

fenocircmeno se desvenda a lei do fenocircmeno por traacutes do movimento visiacutevel o

movimento real interno por traacutes do fenocircmeno a essecircncia (KOSIK 1976 p 20)

Vale ressaltar que para Kosik (1976 p 36) ldquoo meacutetodo da ascensatildeo do abstrato ao

concreto eacute o meacutetodo do pensamentordquo atuando nos conceitos que satildeo considerados os

elementos da abstraccedilatildeo Sendo assim o autor explicita que tal ascensatildeo natildeo pode ser

entendida como uma lsquopassagemrsquo de um plano (sensiacutevel) para outro plano (racional) ou seja

para ele tal ascensatildeo consiste em ldquoum movimento no pensamento e do pensamentordquo (KOSIK

1976 p 36) Nesse sentido o autor aponta que

A ascensatildeo do abstrato ao concreto eacute um movimento para o qual todo iniacutecio eacute

abstrato e cuja dialeacutetica consiste na superaccedilatildeo desta abstratividade [] O processo

do pensamento natildeo se limita a transformar o todo caoacutetico das representaccedilotildees no todo

transparente dos conceitos no curso do processo o proacuteprio todo eacute concomitante

delineado determinado e compreendido (KOSIK 1976 p 36-37)

As reflexotildees apontadas por Kosik (1976) podem nos fornecer subsiacutedios

epistemoloacutegicos para o entendimento da estrateacutegia de ascender do abstrato para o concreto de

Davydov A teoria de Davydov aponta para a necessidade de a escola atuar de forma a

direcionar os alunos a descobrirem o ldquonuacutecleordquo ou ldquogermerdquo do assunto acadecircmico a ser

estudado Nas palavras de Davydov (1988)

Ao iniciar o domiacutenio de qualquer mateacuteria curricular os alunos com a ajuda dos

professores analisam o conteuacutedo do material curricular e identificam nele a relaccedilatildeo

geral principal e ao mesmo tempo descobrem que esta relaccedilatildeo se manifesta em

47

muitas outras relaccedilotildees particulares encontradas nesse determinado material Ao

registrar por meio de alguma forma referencial a relaccedilatildeo geral principal

identificada os alunos constroem com isso uma abstraccedilatildeo substantiva do assunto

estudado Continuando a anaacutelise do material curricular eles detectam a vinculaccedilatildeo

regular dessa relaccedilatildeo principal com suas diversas manifestaccedilotildees obtendo assim

uma generalizaccedilatildeo substantiva do assunto estudado Dessa forma as crianccedilas

utilizam consistentemente a abstraccedilatildeo e a generalizaccedilatildeo substantivas para deduzir

(uma vez mais com o auxiacutelio do professor) outras abstraccedilotildees mais particulares e para

uni-las no objeto integral (concreto) estudado Quando os alunos comeccedilam a usar a

abstraccedilatildeo e a generalizaccedilatildeo iniciais como meios para deduzir e unir outras

abstraccedilotildees eles convertem as estruturas mentais iniciais em um conceito que

representa o ldquonuacutecleordquo do assunto estudado Este ldquonuacutecleordquo serve posteriormente agraves

crianccedilas como um princiacutepio geral pelo qual elas podem se orientar em toda a

diversidade do material curricular factual que tecircm que assimilar em uma forma

conceitual por meio da ascensatildeo do abstrato ao concreto (DAVYDOV 1988 p 22

apud LIBAcircNEO 2004 p 17)

Engestroumlm (2002 p 186) enfatiza que a escola tradicional tende a permanecer

inerte ldquoporque seus lsquogermesrsquo nunca satildeo descobertos pelos estudantes e consequentemente

porque os estudantes natildeo tecircm a chance de usar esses lsquogermesrsquo para deduzir explicar predizer

e controlar na praacutetica fenocircmenos e problemas concretos em seu ambienterdquo Davydov

considera seis accedilotildees que devem orientar as atividades de aprendizagem orientadas pelo

meacutetodo da ascensatildeo do abstrato para o concreto Satildeo elas

1) Transformar as condiccedilotildees da tarefa a fim de revelar a relaccedilatildeo universal do objeto

em estudo

2) Modelar a relaccedilatildeo natildeo-identificada numa forma de item especiacutefico graacutefica ou

literal

3) Transformar o modelo da relaccedilatildeo a fim de estudar suas propriedades em sua

ldquoaparecircncia purardquo

4) Construir um sistema de tarefas particulares que satildeo resolvidas por um modo

geral

5) Monitorar o desempenho das accedilotildees precedentes

6) Avaliar a assimilaccedilatildeo do modo geral que resulta da resoluccedilatildeo da tarefa de

aprendizagem dada (DAVYDOV 1988 p 30 apud ENGESTROumlM 2002 p 186)

A FIG 3 mostra as fases da generalizaccedilatildeo teoacuterica proposta por Davydov como o

meacutetodo da ascensatildeo do abstrato ao concreto

48

FIGURA 3 ndash Sumaacuterio da generalizaccedilatildeo teoacuterica de Davydov

Fonte DAVYDOV 1982 p 42 apud ENGESTROumlM 2009 p 326

Engestroumlm (2002 p 188 grifo do autor) aponta que a soluccedilatildeo proposta por

Davydov para resolver a questatildeo da aprendizagem escolar pretende ldquoempurrar a escola para

dentro do mundo tornando-a dinacircmica e teoricamente poderosa no enfrentamento de

problemas praacuteticosrdquo Poreacutem para Engestroumlm (2002) essa estrateacutegia parece natildeo mudar a base

social da aprendizagem escolar mas ldquoao colocar os alunos em contato com os descobridores

do passado a estrateacutegia pode muito bem dar poder aos alunosrdquo (ENGESTROumlM 2002 p

188)

12 A participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima de Lave

Os conceitos fundamentais da abordagem de Jean Lave e Etiene Wenger se

baseiam na Participaccedilatildeo Perifeacuterica Legiacutetima (PPL) em comunidades de praacutetica que propotildeem

a noccedilatildeo de aprendizagem como o movimento gradualmente crescente na participaccedilatildeo de

sujeitos em comunidades de praacutetica Dessa forma ldquoa aprendizagem deve ser analisada como

uma parte integral da praacutetica social em que estaacute ocorrendo Para se mudar ou melhorar a

49

aprendizagem deve se reorganizar a praacutetica socialrdquo (ENGESTROumlM 2002 p 188) Ainda

Engestroumlm (2002) sinaliza que Lave e Wenger sugerem que

a aprendizagem como participaccedilatildeo em comunidades de praacutetica eacute particularmente

efetiva (a) quando os participantes tecircm amplo acesso a diferentes partes da atividade

e terminam procedendo agrave plena participaccedilatildeo nas tarefas nucleares (b) quando haacute

abundante interaccedilatildeo horizontal entre os participantes mediada especialmente por

histoacuterias de situaccedilotildees problemaacuteticas e suas soluccedilotildees e (c) quando as tecnologias e

estruturas da comunidade de praacutetica satildeo transparentes isto eacute quando seus

mecanismos internos estatildeo disponiacuteveis para a inspeccedilatildeo do aprendiz (ENGESTROumlM

2002 p 189)

Sob a oacutetica da aprendizagem como participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima em

comunidades de praacutetica Engestroumlm (2002) enfatiza que nas escolas muitas vezes haacute a

predominacircncia de curriacuteculos ocultos produzidos por meio de experiecircncias e resultados natildeo

intencionais podendo ateacute mesmo ser considerados condenaacuteveis sob o ponto de vista dos

curriacuteculos oficiais Para fundar uma comunidade de praacutetica com base nas sugestotildees apontadas

acima de forma a reorganizar o ensino seria necessaacuteria a identificaccedilatildeo de uma comunidade

de praacutetica que simularia o que os cientistas ou aqueles que aplicam os conhecimentos

cientiacuteficos fazem em suas atividades diaacuterias

Engestroumlm (2002) aponta que a soluccedilatildeo para a questatildeo da encapsulaccedilatildeo da

aprendizagem escolar proposta por Lave e Wenger cujo foco estaacute no entendimento da

aprendizagem como participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima em comunidades de praacutetica que toma

como objeto da referida atividade o contexto de aplicaccedilatildeo praacutetica parece pretender empurrar

o mundo para dentro da escola por meio da criaccedilatildeo de ldquocomunidades de praacutetica do mundo

exterior para dentro da escolardquo (ENGESTROumlM 2002 p 191 grifo do autor)

13 Aprendizagem expansiva

Engestroumlm (2002) toma como ponto de partida as ideias de Davydov e Lave cujas

abordagens se baseiam respectivamente nos contextos da descoberta e da aplicaccedilatildeo e

anexa a esses contextos o contexto da criacutetica

Para Engestroumlm (2002) as atividades escolares que objetivem o rompimento da

encapsulaccedilatildeo da aprendizagem escolar devem iniciar-se com uma criacutetica meticulosa sobre os

conteuacutedos e procedimentos a serem abordadosestudadosaprendidos agrave luz de sua histoacuteria O

50

autor questiona ldquopor que natildeo deixar que os proacuteprios alunos descubram como suas maacutes

concepccedilotildees satildeo manufaturadas na escolardquo (ENGESTROumlM 2002 p 192 grifo meu) Para

isso o autor orienta que inicialmente seria necessaacuteria uma anaacutelise criacutetica dos livros didaacuteticos e

curriacuteculos em aacutereas especiacuteficas de conteuacutedo

Aliados os contextos da descoberta da aplicaccedilatildeo e da criacutetica podem definir o

que Engestroumlm (2002) chama de contexto da aprendizagem por expansatildeo Para o autor

O contexto da criacutetica enfatiza os poderes de resistir questionar contradizer e

debater O contexto da descoberta enfatiza os poderes de experimentar modelar

simbolizar e generalizar O contexto da aplicaccedilatildeo enfatiza os poderes da relevacircncia

social e da aplicabilidade do conhecimento do envolvimento da comunidade e da

praacutetica guiada (ENGESTROumlM 2002 p 193 grifos meus)

Engestroumlm (1987 2002) enfatiza que para o contexto da criacutetica ser plenamente

estabelecido seria necessaacuterio criar um contexto alternativo de aprendizagem de forma que aos

alunos seja inaugurada a possibilidade de elaborar e implementar um novo caminho na

praacutetica um modelo novo de praacutexis um novo modo de fazer e participar do trabalho escolar

ou seja os sujeitos tecircm de aprender algo que natildeo existe a priori ldquoeles adquirem sua atividade

futura enquanto a vatildeo criandordquo (ENGESTROumlM 2002 p 193) O autor afirma que o ldquotripeacuterdquo

ancorado pelos contextos da descoberta da aplicaccedilatildeo e da criacutetica poderia ser considerado

como ldquoo novo e expandido objeto da aprendizagemrdquo (ENGESTROumlM 2002 p 193) escolar

Para Engestroumlm (2002) esse tipo de expansatildeo no objeto implicaria uma completa

transformaccedilatildeo qualitativa da atividade de aprendizagem escolar

Engestroumlm (2001 p 138) inspirado em Bateson (1972) ndash que distingue trecircs niacuteveis

de aprendizagem (tipos I II e III) ndash propotildee uma nova abordagem para a aprendizagem ndash a

expansiva Para Bateson (1972) aprendizagens de niacutevel I estatildeo baseadas no

ldquocondicionamento aquisiccedilatildeo de respostas consideradas corretas em um dado contextordquo51

(ENGESTROumlM 2001 p 138) Aprendizagens de niacutevel II estatildeo relacionadas agrave aprendizagem

de ldquonormas e padrotildees de comportamento caracteriacutesticos do proacuteprio contextordquo52

(ENGESTROumlM 2001 p 138) Dessa forma muitas vezes os proacuteprios contextos podem estar

embebidos por demandas contraditoacuterias que podem impulsionar aprendizagens de niacutevel III

ldquoquando uma pessoa ou um grupo comeccedila a questionar radicalmente o sentido e o

significado do contexto e constroem um contexto alternativo mais amplo Aprendizagem de

51

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoconditioning acquisition of the responses deemed correct in the given

contextrdquo 52

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquorules and patterns of behavior characteristic to the context itselfrdquo

51

niacutevel III eacute essencialmente um empenho coletivordquo53

(ENGESTROumlM 2001 p 138 itaacutelicos

meus) Engestroumlm (2001) utiliza tais ideias de Bateson (1972) e propotildee a Teoria da

Aprendizagem Expansiva

Aprendizagem de niacutevel III eacute vista como atividade de aprendizagem que tem seu

proacuteprio tipo de accedilotildees e instrumentos [hellip] O objeto da atividade da aprendizagem

expansiva eacute todo o sistema de atividades em que os aprendizes estatildeo engajados

Atividades de aprendizagem expansiva produzem culturalmente novos padrotildees de

atividade Aprendizagem expansiva no trabalho produz novas formas de atividade

de trabalho (ENGESTROumlM 2001 p 139 grifo meu)54

As raiacutezes teoacutericas que fundamentam o conceito de aprendizagem expansiva foram

expostas em Engestroumlm e Sannino (2010b) Os autores apontam seis teoacutericos e as ideias

centrais que foram utilizadas como ldquopano de fundordquo teoacuterico para a elaboraccedilatildeo do conceito de

aprendizagem expansiva Da Escola Histoacuterico-Cultural Russa foram usadas seis ideias dos

acadecircmicos Lev Vygotsky Aleksei Leontev Evald Ilrsquoenkov e Vasili Davydov Aleacutem desses

teoacutericos foram utilizadas mais duas ideias oriundas dos trabalhos de Bateson e Bakhtin A

seguir com base em Engestroumlm e Sannino (2010b) farei um breve resumo dessas oito raiacutezes

1) Leontev (1981) considera as atividades coletivas tomando por base a divisatildeo do

trabalho que para ele pode levar agrave separaccedilatildeo de accedilatildeo e atividade Em uma

atividade de caccedila por exemplo cada participante tem um papel diferenciado em

termos de accedilotildees a serem executadas visando a seu engajamento na atividade Uma

accedilatildeo tem um comeccedilo definido e um fim Jaacute uma atividade coletiva se reproduz

sem um ponto final predeterminado mas orientada pelo objeto podendo

acontecer continuidade e ateacute mesmo mudanccedilas dramaticamente descontiacutenuas na

atividade pois a atividade depende das accedilotildees e das condiccedilotildees para sua realizaccedilatildeo

A proacutepria ideia de aprendizagem expansiva que pode ser entendida como um

movimento das accedilotildees para a atividade foi construiacuteda tomando-se por base a

distinccedilatildeo entre accedilatildeo e atividade

2) O conceito Vigotskiano de zona de desenvolvimento proximal (ZDP) que pode

ser entendida como a distacircncia entre o real e o potencial niacutevel de resoluccedilatildeo de

53

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquowhere a person or a group begins to radically question the sense and meaning

of the context and to construct a wider alternative context Learning III is essentially a collective endeavorrdquo 54

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoLearning III is seen as learning activity which has its own typical actions and

tools [] The object of expansive learning is the entire activity system in which the learners are engaged

Expansive learning activity produces culturally new patterns of activity Expansive learning at work produces

new forms of work activityrdquo

52

problemas considerando o real niacutevel como sendo o indiviacuteduo sozinho e o

potencial como sendo o indiviacuteduo orientado por outro(s) indiviacuteduo(s)

considerado(s) mais experiente(s) (ENGESTROumlM SANNINO 2010b)

Engestroumlm (1987) conforme exposto anteriormente com o objetivo de entender a

aprendizagem e o desenvolvimento redefiniu o conceito de ZDP adaptando as

ideias de Vigotski sob o ponto de vista das atividades coletivas gerando assim o

conceito de ZDP da atividade

3) A Teoria da Aprendizagem Expansiva pode ser entendida como uma aplicaccedilatildeo

da Teoria da Atividade devido a sua orientaccedilatildeo para o objeto Na Teoria da

Aprendizagem Expansiva o objeto pode ser considerado com um duplo sentido

tanto mateacuteria prima quanto finalidade da atividade Neste sentido o objeto

carrega consigo o motivo da atividade Sendo assim a ldquoaprendizagem expansiva eacute

um processo de transformaccedilatildeo material de relaccedilotildees vitaisrdquo (ENGESTROumlM

SANNINO 2010b p 4)

4) A Teoria da Atividade pode ser considerada como uma teoria dialeacutetica e sendo

assim o conceito de contradiccedilatildeo desempenha importante papel para a elaboraccedilatildeo

da Teoria da Aprendizagem Expansiva Com base em Ilrsquoenkov (1977 1982 apud

ENGESTROumlM SANNINO 2010b) a Teoria da Aprendizagem Expansiva

concebe as contradiccedilotildees como

[] tensotildees historicamente em evoluccedilatildeo que podem se detectadas e tratadas no real

sistema de atividade No capitalismo a contradiccedilatildeo primaacuteria presente entre valor de

uso e valor de troca eacute inerente a todas as mercadorias e todas as esferas da vida

estatildeo sujeitas a comoditizaccedilatildeo55

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 4 grifo

meu)

Os autores enfatizam que as contradiccedilotildees podem ser entendidas como forccedilas

motrizes da transformaccedilatildeo Para eles o proacuteprio ldquoobjeto de uma atividade eacute sempre

contraditoacuterio internamenterdquo (ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 4 grifos

meus) Neste sentido a contradiccedilatildeo interna presente no objeto de uma atividade

funciona como uma forccedila interna capaz de produzir movimento e direccedilatildeo para a

atividade

55

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquocontradictions as historically evolving tensions that can be detected and dealt

with in real activity systems In capitalism the pervasive primary contradiction between use value and exchange

value is inherent to every commodity and all spheres of life are subject to commoditizationrdquo

53

5) Davydov conforme exposto anteriormente desenvolveu o meacutetodo da ascensatildeo

do abstrato para o concreto que pode ser entendido como um meacutetodo cujo foco

estaacute ancorado na captura da essecircncia de um objeto Engestroumlm e Sannino (2010b)

baseiam-se nas seis accedilotildees tipicamente ideias de aprendizagem prefiguradas por

Davydov e expostas anteriormente no item 11 deste capiacutetulo para elaborar o

conceito de sequecircncia tipicamente ideal de accedilotildees em um ciclo expansivo de

aprendizagem que seraacute exposto mais adiante neste mesmo capiacutetulo desta tese

6) Nos escritos de Vigotski e de seus colaboradores podemos encontrar o

conceito de mediaccedilatildeo que pode ser entendido como accedilotildees que satildeo realizadas

pelos sujeitos de uma atividade por meio das ferramentas e os signos culturais e

orientadas para o objeto da atividade como essecircncia do funcionamento

psicoloacutegico humano Engestroumlm e Sannino (2010b) apontam que a agecircncia do

sujeito - sua capacidade para transformar um contexto eou seu proacuteprio

comportamento- o torna foco central na Teoria da Aprendizagem Expansiva Os

autores esclarecem ainda que

Vygotsky construiu sua metodologia intervencionista de estimulaccedilatildeo dupla neste

insight Em vez de meramente dando ao sujeito uma tarefa para resolver Vygotsky

deu ao sujeito tanto uma tarefa exigente (primeiro estiacutemulo) e um artefato ldquoneutrordquo

ou externamente ambiacuteguo (segundo estiacutemulo) o sujeito poderia encher de

significado e se transformar em um novo signo de mediaccedilatildeo que reforccedilaria suas

accedilotildees e potencialmente levar a ressignificaccedilatildeo da tarefa Aprendizagem expansiva

normalmente exige intervenccedilotildees formativas com base no princiacutepio de estimulaccedilatildeo

dupla56

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 5 grifos meus)

7) A metodologia intervencionista proposta por Vigotski de estimulaccedilatildeo dupla

dialoga com o pensamento do antropoacutelogo Bateson A noccedilatildeo de double bind de

Bateson (1972 apud ENGESTROumlM SANNINO 2010 p 5) configura-se como

uma raiz teoacuterica para a Teoria da Aprendizagem Expansiva e pode ser entendida

como ldquoum social dilema socialmente essencial que natildeo pode ser resolvido por

meio de accedilotildees individuais separadas por si soacute ndash mas em que as accedilotildees de

56

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoVygotsky built his interventionist methodology of double stimulation on this

insight Instead of merely giving the subject a task to solve Vygotsky gave the subject both a demanding task

(first stimulus) and a lsquoneutralrsquo or ambiguous external artifact (second stimulus) the subject could fill with

meaning and turn into a new mediating sign that would enhance his or her actions and potentially lead to

reframing of the task Expansive learning typically calls for formative interventions based of the principle of

double stimulationrdquo

54

cooperaccedilatildeo conjunta podem impulsionar uma historicamente nova forma de

atividade a surgirrdquo57

(ENGESTROumlM 1987 p 165 itaacutelicos do autor)

8) Por uacuteltimo a ideia de multivocalidade de Bakhtin (1982) configura-se como

uma raiz teoacuterica da Teoria da Aprendizagem Expansiva Engestroumlm (1987) aponta

que

Aplicado na pesquisa e aprendizagem expansiva isso significa todas as vozes

contraditoacuterias e complementares dos vaacuterios grupos e estratos no sistema de

atividade em anaacutelise devem ser envolvidas e utilizadas Como Bakhtin mostra que

isso definitivamente inclui as vozes e gecircneros natildeo acadecircmicos de pessoas comuns

Assim em vez da argumentaccedilatildeo claacutessica dentro do uacutenico tipo de discurso

acadecircmico temos conflitantes fogos de artifiacutecio de diferentes tipos de discurso e

linguagens58

(p 315 apud ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 5 grifos do autor)

A proacutepria ldquoaprendizagem expansiva eacute um processo inerentemente de debate

negociaccedilatildeo e orquestraccedilatildeordquo59

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b)

Dando por encerrado o breve resumo das oito ideias que configuram como sendo

as raiacutezes da Teoria da Aprendizagem Expansiva vale ressaltar que eacute nesse processo de

debate confrontamento dessas muacuteltiplas ldquovozes que se travam as disputas de poder e se

instauram as possibilidades de transformaccedilatildeordquo (MATEUS 2005 p 168)

Bakhtin considera que o discurso natildeo eacute individual porque se constroacutei entre pelo

menos dois interlocutores que por sua vez satildeo seres sociais e porque se constroacutei como um

ldquodiaacutelogo entre discursosrdquo ou seja manteacutem relaccedilotildees com outros discursos (BARROS 2007 p

31)

Ainda em Engestroumlm e Sannino (2010b) podemos encontrar os princiacutepios centrais

da Teoria da Aprendizagem Expansiva Para os autores a aprendizagem expansiva busca

compreender processos de aprendizagem nos quais os sujeitos da aprendizagem natildeo satildeo

considerados apenas como indiviacuteduos isolados como eacute feito em teorias tradicionais de

aprendizagem mas passam a ser tratados como coletividades e redes Isso acontece quando os

sujeitos comeccedilam a questionar e criticar a ordem e a loacutegica das atividades que estaacute engajado

Por meio de interaccedilotildees com outros membros da comunidade instituem um grupo uma

57

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoa social societally essential dilemma which cannot be resolved through

separate individual actions alone ndash but in which joint co-operative actions can push a historically new form of

activity into emergencerdquo 58

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoApplied in expansive learning and research this means all the conflicting

and complementary voices of the various groups and strata in the activity system under scrutiny shall be

involved and utilized As Bakhtin shows this definitely includes the voices and non-academic genres of the

common people Thus instead of the classical argumentation within the single academic speech type we get

clashing fireworks of different speech types and languagesrdquo 59

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoExpansive learning is an inherently multi-voiced process of debate

negotiation and orchestrationrdquo

55

coletividade engajada em analisar e modelar colaborativamente um movimento na zona de

desenvolvimento proximal (ZDP) da atividade Ao questionarem os indiviacuteduos refletem e

percebem as contradiccedilotildees historicamente acumuladas nos sistemas de atividade As

contradiccedilotildees podem se manifestar como forma de conflitos dilemas distuacuterbios e inovaccedilotildees

locais Cabe ressaltar que ldquocontradiccedilotildees satildeo mecanismos necessaacuterios mas natildeo suficientes para

a aprendizagem expansiva em um sistema de atividades60

rdquo (ENGESTROumlM SANNINO

2010b p 7)

Durante o processo de aprendizagem expansiva as contradiccedilotildees podem aparecer

das seguintes maneiras

a) Como contradiccedilotildees primaacuterias latentes emergentes dentro de cada e qualquer dos

elementos do sistema de atividade

b) Como contradiccedilotildees secundaacuterias manifestas abertamente entre dois ou mais

elementos do sistema de atividade (por exemplo entre um novo objeto e uma velha

ferramenta)

c) Como contradiccedilotildees terciaacuterias entre um recentemente estabilizado modo de

atividade e remanescentes modos anteriores de atividade

d) Como contradiccedilotildees quaternaacuterias externas entre os receacutem-reorganizados sistemas

de atividade e seus sistemas de atividades ldquovizinhosrdquo61

(ENGESTROumlM SANNINO

2010b p 7 grifos meus)

Engestroumlm e Sannino (2010b) pontuam que existe diferenccedila entre experiecircncias

conflitantes e contradiccedilotildees significativas enquanto as primeiras podem ser analisadas no niacutevel

das accedilotildees de curto prazo a segunda pode ser enquadrada no niacutevel da atividade (e inter-

atividades) e tem um ciclo bem mais longo Dessa forma analisar experiecircncias conflitantes e

contradiccedilotildees significativas produzem anaacutelises em diferentes niacuteveis

As contradiccedilotildees desempenham um papel muito importante na Teoria da

Aprendizagem Expansiva pois se configuram como forccedilas motrizes que ao serem tratadas de

tal forma pelos sujeitos engajados um novo objeto eacute construiacutedo moldado e transformado em

um motivo Nesse momento ocorre entatildeo um ato extraordinaacuterio o encontro da necessidade

com o objeto (ENGESTROumlM SANNINO 2010b) Dessa forma o motivo de uma dada

atividade coletiva passa a se configurar efetivamente para um sujeito mediante o sentido

60

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoContradictions are the necessary but not sufficient engine of expansive

learning in an activity systemrdquo 61

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquo(a) as emerging latent primary contradictions within each and any of the

nodes of the activity system

(b) as openly manifest secondary contradictions between two or more nodes (eg between a new object and an

old tool)

(c) as tertiary contradictions between a newly established mode of activity and remnants of the previous mode of

activity

(d) as external quaternary contradictions between the newly reorganized activity and its neighboring activity

systemsrdquo

56

pessoal que pode ser entendido como o sentido que ldquoexpressa a relaccedilatildeo do motivo da

atividade para o imediato objetivo da accedilatildeordquo62

(LEONTIEV 1978 p 171)

Engestroumlm e Sannino (2010b) utilizam as ideias de Davydov das accedilotildees

tipicamente ideias de aprendizagem descritas anteriormente nesta tese e descrevem uma

sequecircncia tipicamente ideal de accedilotildees epistecircmicas em um ciclo expansivo da seguinte maneira

- A primeira accedilatildeo consiste no questionamento criacutetica ou rejeiccedilatildeo de alguns aspectos

da praacutetica aceita e sabedoria existente Para simplificar chamaremos esta accedilatildeo de

interrogatoacuterio

- A segunda accedilatildeo consiste em analisar a situaccedilatildeo Analisar envolve transformaccedilotildees

mentais discursivas ou praacuteticas da situaccedilatildeo a fim de descobrir mecanismos de causa

ou explicaccedilatildeo Anaacutelise evoca ldquopor quecircrdquo questotildees e princiacutepios explanatoacuterios Um

tipo de anaacutelise eacute a histoacuterico-geneacutetica que pretende explicar a situaccedilatildeo pelo traccedilado

de suas origens e evoluccedilatildeo Outro tipo de anaacutelise eacute a real-empiacuterica que pretende

explicar a situaccedilatildeo pela construccedilatildeo de um quadro de suas relaccedilotildees sistemaacuteticas

internas

- A terceira accedilatildeo consiste no modelamento da relaccedilatildeo explicativa receacutem-descoberta

em alguns meios publicamente observaacuteveis e transmissiacuteveis Isto significa

construccedilatildeo de um modelo expliacutecito simplificado da nova ideia que explica e oferece

soluccedilatildeo para a situaccedilatildeo problemaacutetica

- A quarta accedilatildeo consiste no exame do modelo executando operando e

experimentando-o a fim de compreender plenamente sua dinacircmica potecircncia e

limitaccedilotildees

- A quinta accedilatildeo consiste na implementaccedilatildeo do modelo por meio de aplicaccedilotildees

praacuteticas enriquecimento e extensotildees conceituais

- A sexta e seacutetima accedilatildeo satildeo aquelas de refletir sobre e avaliar o processo e

consolidaccedilatildeo de seus resultados numa estaacutevel nova forma de praacutetica63

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 7 itaacutelicos dos autores negritos meus)

A seguir apresento a FIG 4 que representa a sequecircncia ideal descrita por

Engestroumlm e Sannino (2010b) em que as espessuras das setas indicam a ampliaccedilatildeo da

participaccedilatildeo nas accedilotildees de aprendizagem

62

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoexpresses the relation of motive of activity to the immediate goal of actionrdquo 63

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquo- The first action is that of questioning criticizing or rejecting some aspects

of the accepted practice and existing wisdom For the sake of simplicity we will call this action questioning

- The second action is that of analyzing the situation Analysis involves mental discursive or practical

transformation of the situation in order to find out causes or explanatory mechanisms Analysis evokes ldquowhyrdquo

questions and explanatory principles One type of analysis is historical-genetic it seeks to explain the situation

by tracing its origins and evolution Another type of analysis is actual-empirical it seeks to explain the situation

by constructing a picture of its inner systemic relations

- The third action is that of modeling the newly found explanatory relationship in some publicly observable and

transmittable medium This means constructing an explicit simplified model of the new idea that explains and

offers a solution to the problematic situation

- The fourth action is that of examining the model running operating and experimenting on it in order to fully

grasp its dynamics potentials and limitations

- The fifth action is that of implementing the model by means of practical applications enrichments and

conceptual extensions

- The sixth and seventh actions are those of reflecting on and evaluating the process and consolidating its

outcomes into a new stable form of practicerdquo

57

FIGURA 4 ndash Sequecircncia de accedilotildees de aprendizagem em um ciclo de aprendizagem expansiva

Fonte ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 8

Aleacutem disso Engestroumlm e Sannino (2010b) se baseiam em estudos empiacutericos e

intervencionistas e apontam algumas formas de manifestaccedilatildeo da aprendizagem expansiva em

atividades coletivas aprendizagem expansiva como transformaccedilatildeo do objeto como

movimento na zona de desenvolvimento proximal como ciclos de accedilotildees de aprendizagem

como superaccedilatildeo de limites e construccedilatildeo de redes e como movimentos distribuiacutedos e

descontiacutenuos Farei uma breve exposiccedilatildeo do que seriam as referidas manifestaccedilotildees observadas

nos estudos empiacutericos e intervencionistas citados por Engestroumlm e Sannino (2010b)

1) Aprendizagem expansiva como transformaccedilatildeo do objeto da atividade busca

superar a concepccedilatildeo de aprendizagem como algo individual do sujeito inerente a ele em sua

cogniccedilatildeo ou em seu comportamento A aprendizagem expansiva se manifesta essencialmente

como transformaccedilatildeo do objeto da atividade coletiva O que consequentemente pode

promover transformaccedilotildees qualitativas dos elementos que compotildeem os sistemas de atividade

Vale ressaltar que a expansatildeo pode ser entendida como um processo positivo contudo os

ldquoretrocessosrdquo tambeacutem podem ocorrer nos processos de aprendizagem expansiva Isso porque

o objeto carrega consigo contradiccedilotildees internas que podem alcanccedilar diferentes niacuteveis dentro de

um processo de aprendizagem expansiva como transformaccedilatildeo do objeto o que de certo

58

ocorre como um processo coletivo de negociaccedilatildeo e orquestraccedilatildeo (ENGESTROumlM SANNINO

2010b)

2) Aprendizagem expansiva como movimento na zona de desenvolvimento

proximal da atividade busca superar o paradigma das teorias de aprendizagem que

consideram o sucesso em provas eou outros tipos de testes de desempenho como orientadora

do ensino A aprendizagem expansiva busca superar os dilemas vividos pelos sujeitos em sua

cotidianidade por meio da construccedilatildeo coletiva de uma nova forma de praacutetica tomando por

base o enfrentamento das contradiccedilotildees incorporadas nos sistemas de atividade Entatildeo todo e

qualquer movimento coletivo em busca da minimizaccedilatildeo da distacircncia entre as ldquoaccedilotildeesrdquo

cotidianas dos indiviacuteduos e a historicamente nova forma de atividade como praacutetica social

(que pode ser requeridademandada como uma soluccedilatildeo para o dilema potencialmente

incorporado nas accedilotildees cotidianas dos sujeitos) considerado como movimento na zona de

desenvolvimento proximal da atividade pode ser entendido e analisado como processo de

aprendizagem expansiva (ENGESTROumlM SANNINO 2010b)

3) Aprendizagem expansiva como ciclos de accedilotildees de aprendizagem conforme

descrito na FIG 4 busca instaurar uma nova e bem determinada dinacircmica para analisar os

processos de aprendizagem expansiva Um ciclo expansivo de accedilotildees de aprendizagem eacute um

modelo que pode ser usado para analisar processos de transformaccedilotildees em praacuteticas sociais A

praacutetica social na qual os sujeitos participam de alguma forma os afeta podendo-os levar a

perceber tensotildees distuacuterbios eou conflitos e a partir disso sentir a necessidade de questionar

a praacutetica atual buscando assim analisar o contexto visando agrave superaccedilatildeo de tais ocorrecircncias

Estes seriam os primeiros passos rumo ao percurso de todo o ciclo de accedilotildees de aprendizagem

Vale ressaltar que a anaacutelise da praacutetica atual leva o indiviacuteduo a perceber que sozinho ele natildeo

conseguiria modificar as accedilotildees dos outros sujeitos partiacutecipes da atividade tornando assim

necessaacuterio o envolvimento de mais atores no processo de transformaccedilatildeo da atividade Com

isso o dilema social perpassa a fronteira do indiviacuteduo e atinge esferas mais amplas de

coletivos em prol de um mesmo processo de transformaccedilatildeo podendo ser entendido como um

tour pelo ciclo de accedilotildees de aprendizagem

Engestroumlm e Sannino (2010b) consideram que o uso dos ciclos de accedilotildees de

aprendizagem como quadro teoacuterico de anaacutelise de processos de transformaccedilatildeo de praacuteticas

sociais somente deve ser realizado em estudos de longos periacuteodos de tempo ou seja em

longos processos de transformaccedilatildeo Contudo os longos processos de transformaccedilatildeo que

podem ser analisados por ciclos em larga escala envolvem necessariamente numerosos ciclos

menores de accedilotildees de aprendizagem Esses ciclos menores podem ocorrer em periacuteodos mais

59

curtos de tempo talvez em dias ou mesmo horas de anaacutelise intensiva e colaborativa

Engestroumlm (1999) explica que tais ciclos-miniatura podem ser considerados como

potencialmente expansivos e aponta ainda que

Um ciclo expansivo em larga escala de transformaccedilotildees organizacionais sempre

consiste em pequenos ciclos de aprendizagem inovadores No entanto o

aparecimento de pequenos ciclos de aprendizagem inovador natildeo garante por si soacute

que existe um ciclo expansivo acontecendo Pequenos ciclos podem permanecer

eventos isolados e o ciclo global do desenvolvimento organizacional pode tornar-se

estagnado regressivo ou mesmo desmoronar A ocorrecircncia de um ciclo expansivo

completo natildeo eacute comum e ele tipicamente requer esforccedilos concentrados e

intervenccedilotildees deliberadas Com essas ressalvas em mente o ciclo de aprendizagem

expansiva e suas accedilotildees incorporadas podem ser usados para analisar em pequena

escala inovadores processos de aprendizagem64

(p 385 apud ENGESTROumlM

SANNINO 2010b p 11)

Segundo Engestroumlm e Sannino (2010b) a loacutegica que estaacute por traacutes do ciclo

expansivo eacute que um novo ciclo inicia-se toda vez que um padratildeo estaacutevel de atividade comeccedila

a ser questionado Isso pode levar muito tempo talvez anos para se configurar Aleacutem disso a

aprendizagem expansiva pode conter traccedilos de ldquoretrocessordquo o que natildeo deve ser entendido

como algo puramente negativo visto que mesmo que um novo ciclo de accedilotildees expansivas se

inicie devemos levar em conta a tentativa que consequentemente tende a possibilitar um

horizonte mais amplo para novas tentativas Nas palavras dos autores ldquoexpansatildeo

necessariamente envolve tambeacutem a possibilidade de desintegraccedilatildeo e regressatildeo65

rdquo

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 11)

4) Aprendizagem expansiva como transposiccedilatildeo de fronteiras (superaccedilatildeo de

limites) e construccedilatildeo de redes pode ser entendida como uma ldquoexpertise horizontal onde os

praticantes devem mover-se para entre fronteiras para procurar e dar ajuda para encontrar

informaccedilotildees e ferramentas onde quer que elas estejamrdquo66

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b

p 12) Para os autores transpor fronteiras pode significar ldquopisar em solordquo desconhecido

Requer muitas vezes a criaccedilatildeoconstruccedilatildeoformaccedilatildeo coletiva de novos recursos conceituais

que por sua vez demandam esforccedilos criativos dos sujeitos engajados no processo de

64

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoA large-scale expansive cycle of organizational transformation always

consists of small cycles of innovative learning However the appearance of small-scale cycles of innovative

learning does not in itself guarantee that there is an expansive cycle going on Small cycles may remain isolated

events and the overall cycle of organizational development may become stagnant regressive or even fall apart

The occurrence of a full-fledged expansive cycle is not common and it typically requires concentrated effort and

deliberate interventions With these reservations in mind the expansive learning cycle and its embedded actions

may be used as a framework for analyzing small-scale innovative learning processesrdquo 65

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoExpansion necessarily involves also the possibility of disintegration and

regressionrdquo 66

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquohorizontal expertise where practitioners must move across boundaries to seek

and give help to find information and tools wherever they happen to be availablerdquo

60

aprendizagem expansiva Jaacute a construccedilatildeo de redes pode ser entendida como um modo

emergente de colaboraccedilatildeo em organizaccedilotildees O que natildeo pode ser esquecido eacute que a formaccedilatildeo

de redes pode estar relacionada agraves hierarquias niacuteveis organizacionais considerando que os

sujeitos em variadas praacuteticas sociais comumente satildeo levados a se engajar em redes por

exemplo em ambientes de trabalho ldquoAprendizagem em redes organizacionais eacute

frequentemente descrita como movimento horizontal de informaccedilatildeo entre unidades

organizacionaisrdquo67

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 13)

Em uma faacutebrica por exemplo poderiam ser observados diferentes niacuteveis

organizacionais ndash o niacutevel da rede ideoloacutegica o niacutevel do projeto o niacutevel da produccedilatildeo e o niacutevel

dos operaacuterios Soacute que em uma empresa os processos inovadores frequentemente demandam

por coletivos de sujeitos engajados coletivamente em redes cujas ldquofronteirasrdquo podem natildeo

estar assim tatildeo bem definidas levando-se em conta apenas a divisatildeo do trabalho em ldquoclassesrdquo

Sendo assim essa rede de inovaccedilatildeo poderia ser entendida como niacutevel de parceria que

somente seria possiacutevel de ser construiacuteda como um processo de aprendizagem expansiva em

termos digamos mais tradicionais de interaccedilatildeo entre os funcionaacuterios Portanto

ldquoaprendizagem eacute tambeacutem movimento vertical e transposiccedilatildeo de fronteiras entre diferentes

niacuteveis organizacionaisrdquo68

(ENGESTROumlM SANNINO 2010 p 13 grifo meu)

5) Aprendizagem expansiva como movimento distribuiacutedo e descontiacutenuo pode ser

entendida em termos de aprendizagem em redes distribuiacutedas ou aacutereas multi-organizacionais

que apresentam caraacuteter cada vez mais distribuiacutedo e descontiacutenuo considerando aprendizagens

relacionadas ao trabalho (ENGESTROumlM SANNINO 2010b) Os processos coletivos de

aprendizagem expansiva frequentemente se apresentam cheios de lacunas interrupccedilotildees

desentendimentos conflitos e descontinuidades entre comunidades que embora possam

parecer em um primeiro momento potencialmente perturbadores tambeacutem podem representar

oportunidades de aprendizagem (ENGESTROumlM SANNINO 2010b)

Para compreendermos o que Engestroumlm e Sannino (2010b) chamam de natureza

descontiacutenua da aprendizagem expansiva devemos levar em conta as seguintes consideraccedilotildees

de Sannino e Nocon (2008 p 326)

Mesmo se as tentativas de inovaccedilatildeo local aparentemente morrem eles ainda podem

se propagar porque outros podem adotaacute-las e prossegui-las Em outras palavras a

sustentabilidade das inovaccedilotildees natildeo se refere apenas agrave continuidade local mas

67

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquolearning in organizational networks is commonly depicted as horizontal

movement of information between organizational unitsrdquo 68

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquolearning is also vertical movement and boundary crossing between different

organizational levelsrdquo

61

tambeacutem a difusatildeo e adaptaccedilotildees em outros contextos Essas adaptaccedilotildees natildeo

significam necessariamente que uma inovaccedilatildeo eacute ampliada e se torna uma reforma no

sistema mais amplo69

Com isso podemos considerar que todo e qualquer movimento ainda que

descontiacutenuo em processos de aprendizagem expansiva deve ser considerado como um

direcionamento para possiacuteveis aprendizagens expansivas pois mesmo que uma direccedilatildeo

ldquoinicialrdquo seja alterada para uma direccedilatildeo ldquoalternativardquo no decorrer do processo de

aprendizagem os aprendizes engajados em transformaccedilotildees qualitativas em respectivos

sistemas de atividade compartilhados em multiorganizaccedilotildees percorreram um caminho de

mudanccedilas o que natildeo os coloca mais em um patamar de principiantes

Encerro aqui o breve relato das manifestaccedilotildees da aprendizagem expansiva em

transformaccedilotildees de sistemas de atividade conforme abordado e fundamentado por Engestroumlm

e Sannino (2010b)

69

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoeven if local innovation attempts ostensibly die they can still spread because

others may adopt and continue them In other words the sustainability of innovations does not refer only to local

continuity but also to diffusion and adaptations in other settings Such adaptations do not necessarily mean that

an innovation is scaled up and becomes a system wide reformrdquo

62

2 CAacuteLCULO E MODELAGEM NA ENGENHARIA CONCEPCcedilOtildeES

PERSPECTIVAS E A ATUAL FORMACcedilAtildeO DO ENGENHEIRO

Neste capiacutetulo pretendo discorrer sobre alguns toacutepicos relacionados ao contexto

da presente investigaccedilatildeo Primeiramente com o intuito de localizar o foco da pesquisa nas

demandas de formaccedilatildeo profissional em Engenharia faccedilo uma breve exposiccedilatildeo sobre a atual

legislaccedilatildeo que normatiza a formaccedilatildeo de engenheiros no Brasil Em segundo lugar busco

apresentar alguns aspectos relacionados aos processos de ensino-aprendizagem das disciplinas

de Caacutelculo em cursos de Engenharia e nesse contexto de formaccedilatildeo apresento a Modelagem

Matemaacutetica como um espaccedilo formativo alternativo Em terceiro lugar na literatura sobre

Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica busco por concepccedilotildees e perspectivas relacionadas a

essa atividade Em quarto lugar apresento uma revisatildeo de literatura sobre Modelagem

Matemaacutetica em processos de ensino-aprendizagem de Caacutelculo em cursos de Engenharia Em

quinto lugar apresento a concepccedilatildeo da atividade de Modelagem Matemaacutetica assumida no

contexto da pesquisa e por fim apresento a abertura de caixas-pretas como accedilotildees

estrateacutegicas com vistas agraves possibilidades de aprendizagens expansivas relacionadas agraves

transformaccedilotildees do objeto de uma atividade de Modelagem Matemaacutetica

21 Diretrizes Curriculares para a formaccedilatildeo de engenheiros no Brasil

Em 2002 o Conselho Nacional de Educaccedilatildeo (CNE) com a Cacircmara de Educaccedilatildeo

Superior (CES) elaborou as Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduaccedilatildeo em

Engenharia por meio do parecer CNECSE 13622001 publicado no Diaacuterio Oficial da

Uniatildeo em 25 de fevereiro de 2002 que culminou com a publicaccedilatildeo da resoluccedilatildeo CNECES

112002 no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo em 9 de abril de 2002 que estabelecem as diretrizes que

orientam as Instituiccedilotildees de Ensino Superior na elaboraccedilatildeo das estruturas curriculares para a

formaccedilatildeo do engenheiro conforme as demandas da sociedade Nesse documento consta que

O perfil dos egressos de um curso de engenharia compreenderaacute uma soacutelida formaccedilatildeo

teacutecnico cientiacutefica e profissional geral que o capacite a absorver e desenvolver novas

tecnologias estimulando a sua atuaccedilatildeo criacutetica e criativa na identificaccedilatildeo e resoluccedilatildeo

de problemas considerando seus aspectos poliacuteticos econocircmicos sociais ambientais

63

e culturais com visatildeo eacutetica e humaniacutestica em atendimento agraves demandas da

sociedade (BRASIL 2002)

Ainda a resoluccedilatildeo aponta quatorze habilidades e competecircncias necessaacuterias para a

formaccedilatildeo do egresso dos cursos de Engenharia no Brasil Satildeo elas

a) aplicar conhecimentos matemaacuteticos cientiacuteficos tecnoloacutegicos e instrumentais agrave

engenharia

b) projetar e conduzir experimentos e interpretar resultados

c) conceber projetar e analisar sistemas produtos e processos

d) planejar supervisionar elaborar e coordenar projetos e serviccedilos de engenharia

e) identificar formular e resolver problemas de engenharia

f) desenvolver eou utilizar novas ferramentas e teacutecnicas

g) supervisionar a operaccedilatildeo e a manutenccedilatildeo de sistemas

h) avaliar criticamente a operaccedilatildeo e a manutenccedilatildeo de sistemas

i) comunicar-se eficientemente nas formas escrita oral e graacutefica

j) atuar em equipes multidisciplinares

k) compreender e aplicar a eacutetica e responsabilidade profissionais

l) avaliar o impacto das atividades da engenharia no contexto social e ambiental

m) avaliar a viabilidade econocircmica de projetos de engenharia

n) assumir a postura de permanente busca de atualizaccedilatildeo profissional (BRASIL

2002)

Aleacutem disso a resoluccedilatildeo (CNECSE 112002) tambeacutem direciona os cursos de

Engenharia com relaccedilatildeo aos conteuacutedos curriculares e delimita em 30 a carga horaacuteria

miacutenima dos cursos atendendo ao nuacutecleo de conteuacutedos baacutesicos que engloba dentre outros os

conteuacutedos da matemaacutetica Ainda segundo a resoluccedilatildeo 15 da carga horaacuteria miacutenima versaraacute

sobre toacutepicos que entre outros englobam Matemaacutetica Discreta Modelagem Anaacutelise e

Simulaccedilatildeo de Sistemas

Franchi (2002) ao realizar sua pesquisa de doutorado buscou dentre outras

coisas compreender as necessidades profissionais da Engenharia Para a autora o curriacuteculo de

Engenharia deve ser estruturado de modo a atender a tais necessidades Nesse sentido

focando nas disciplinas matemaacuteticas que compotildeem a grade curricular dos referidos cursos a

autora entende que os objetivos devam ser orientados pelo cumprimento agraves necessidades de

formaccedilatildeo considerando que as principais habilidadescompetecircncias do engenheiro atual satildeo

Capacidade de identificar formular e resolver problemas de Engenharia

considerando os aspectos multifuncionais relacionados a eles avaliando os impactos

na sociedade Isto inclui ter soacutelida formaccedilatildeo baacutesica (princiacutepios da ciecircncia que daacute

embasamento teoacuterico agrave sua profissatildeo) ter conhecimentos teacutecnicos (produtos e

processos) e ter conhecimentos natildeo teacutecnicos (sociais poliacuteticos eacuteticos e ambientais)

Inclui tambeacutem a capacidade de buscar as informaccedilotildees e usar ferramentas modernas

para a soluccedilatildeo dos problemas

Criatividade

Espiacuterito criacutetico

Capacidade de comunicaccedilatildeo oral e escrita

64

Capacidade de cooperaccedilatildeo

Capacidade de trabalho em equipe

Capacidade de aprendizagem contiacutenua (autoaprendizagem) (FRANCHI 2002 p

27)

Embora natildeo esteja focando especificamente o olhar para as disciplinas de

Caacutelculo que satildeo estudadas nos cursos de Engenharia mas para todas as disciplinas de

Matemaacutetica70

que satildeo desenvolvidas em tais cursos Franchi (2002) apresenta uma proposta

curricular para nortear os conteuacutedos de Matemaacutetica para os cursos de Engenharia utilizando-

se de recursos de Informaacutetica e de Modelagem Matemaacutetica

Soares e Sauer (2004) apontam para a necessidade de examinar questotildees

relacionadas ao tema ldquoensino-aprendizagem da Matemaacutetica para a Engenhariardquo devido agraves

aparentes dificuldades que os engenheiros apresentam em lidar com conceitos matemaacuteticos

em suas vidas profissionais As autoras afirmam que

As disciplinas baacutesicas do curso de Engenharia precisam capacitar os aprendizes a

relacionar conceitos matemaacuteticos com situaccedilotildees reais e desenvolver raciociacutenio

dedutivo habilitando-os a lerem os textos matemaacuteticos e a interpretarem fenocircmenos

frequentemente do ponto de vista da Fiacutesica Esta ligaccedilatildeo entre o universo fenomenal

da Matemaacutetica e o mundo das relaccedilotildees dos objetos fiacutesicos entre si talvez capture o

que seria competecircncia teacutecnica de mais alto niacutevel para qualquer engenheiro

(SOARES SAUER 2004 p 265 grifo meu)

As autoras neste texto natildeo se utilizam do termo ldquoModelagem Matemaacuteticardquo como

uma possibilidade para o desenvolvimento das competecircncias teacutecnicas para a formaccedilatildeo dos

engenheiros contudo segundo elas a ligaccedilatildeo entre ldquoo universo fenomenal da Matemaacutetica e o

mundo das relaccedilotildees dos objetos fiacutesicosrdquo (SOARES SAUER 2004 p 265) a meu ver pode

ser realizada por meio da Modelagem Burghes e Borrie (1981) sugerem vaacuterios temas da

Fiacutesica que podem ser desenvolvidos por meio da Modelagem com Equaccedilotildees Diferenciais

entre eles Lei de Torricelli Circuitos Eleacutetricos Redes Eleacutetricas Movimento Planetaacuterio

Oscilaccedilotildees Mecacircnicas e Sistema Massa-Mola

Vale ressaltar que com o desenvolvimento da presente pesquisa natildeo pretendo

investigar se a Modelagem Matemaacutetica se configura de fato como uma praacutetica presente ou

mesmo necessaacuteria para o trabalho dos engenheiros A presente pesquisa busca um

alinhamento agraves atuais demandas de formaccedilatildeo matemaacutetica necessaacuterias agrave formaccedilatildeo em

70

Para a autora as disciplinas de Matemaacutetica de cursos de Engenharia englobam os seguintes temas Caacutelculo

Vetorial Caacutelculo Diferencial e Integral Geometria Analiacutetica Aacutelgebra Linear Caacutelculo Numeacuterico Probabilidade

e Estatiacutestica (FRANCHI 2002)

65

Engenharia referendadas pelos pareceres e resoluccedilotildees oficiais por meio da Modelagem

Matemaacutetica

22 Caacutelculo em cursos de Engenharia

Nas Universidades departamentalizadas os docentes que lecionam as disciplinas

de Caacutelculo em cursos de Engenharia geralmente estatildeo subordinados didaacutetica e

pedagogicamente aos departamentos de Matemaacutetica o que pode reforccedilar a manutenccedilatildeo da

falta de reflexatildeo e informaccedilatildeo ldquosobre a necessidade da disciplina que leciona para a formaccedilatildeo

do futuro engenheirordquo (BALDINO CABRAL 2004 p 141) Esse fenocircmeno natildeo estaacute

limitado aos professores das disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia como afirmam

Moreno e Azcaacuterate Gimeacutenez (2003)

No caso de professores de matemaacuteticas de universidade o conhecimento que tecircm

sobre o processo de ensino e aprendizagem eacute fruto da experiecircncia docente e do

efeito da socializaccedilatildeo que lhes fazem repetir os esquemas daqueles professores que

lhes ensinaram em sua eacutepoca de estudantes Os docentes universitaacuterios natildeo

costumam ter nenhuma formaccedilatildeo didaacutetica especiacutefica aleacutem da cientiacutefica que os

capacite a ensinar71

(MORENO AZCAacuteRATE GIMEacuteNEZ 2003 p 267)

No Brasil muitos docentes que lecionam disciplinas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia tiveram pouca ou nenhuma formaccedilatildeo direcionada para serem professores A

legislaccedilatildeo brasileira permite que o portador de diploma de bacharelado ocupe cargos de

docecircncia em niacutevel superior o que inclui os cursos de Engenharia

Os professores de Caacutelculo dos cursos de Engenharia assim como toda a

comunidade envolvida nesse setor tecircm percebido mudanccedilas em relaccedilatildeo ao perfil do alunado

ingressante apoacutes a expansatildeo das Universidades Federais72

e a implantaccedilatildeo do Plano de

Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo das Universidades Federais (Reuni) elaborados e implementados

pelo Governo Federal em 2007 que objetivava dentre outras coisas a democratizaccedilatildeo do

71

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoEn el caso de los professores de matemaacuteticas de universidad el conocimiento

que tienen sobre el proceso de ensentildeanza y aprendizaje es fruto de la experiencia docente y del efecto de la

socializacioacuten que les hace repetir los esquemas de aquellos profesores que les ensentildearon en su eacutepoca de

estudiantes Los docentes universitarios no suelen tener ninguna formacioacuten didaacutectica especiacutefica a parte de la

cientiacutefica que les capacite para ensentildearrdquo 72

A instituiccedilatildeo escolhida para compor os dados para esta pesquisa estaacute incluiacuteda no Plano de Reestruturaccedilatildeo e

Expansatildeo das Universidades Federais

66

acesso de alunos agraves universidades federais Campos (2012 p 28) em sua pesquisa de

doutorado afirma que

No caso de um curso de Engenharia a expectativa eacute que o estudante jaacute traga uma

significativa bagagem em matemaacutetica e ciecircncias que em princiacutepio deveria ter sido

adquirida no ensino fundamental e meacutedio Essas seriam competecircncias esperadas dos

alunos por se tratarem de preacute-requisitos para o ingresso nos cursos que satildeo aferidos

num rigoroso e concorrido vestibular Nesse processo de seleccedilatildeo os estudantes satildeo

submetidos a testes em que todos os conteuacutedos que tradicionalmente passaram a

fazer parte da grade do ensino baacutesico poderatildeo ser cobrados Dessa forma

independentemente do seu histoacuterico escolar sobre aqueles que satildeo aprovados recai

a expectativa de estarem familiarizados com todos esses conteuacutedos o que nem

sempre acontece

O autor aponta que o esperado pela universidade eacute o perfil de um aluno que parece

ser idealizado e natildeo um aluno real Mesmo antes das expansotildees e do Reuni as dificuldades

em relaccedilatildeo agrave aprendizagem das disciplinas de Caacutelculo sempre fizeram parte da rotina

universitaacuteria73

Poreacutem o problema pode ter sido colocado em relevo com o excesso de alunos

em turmas de Caacutelculo aliado a uma possiacutevel sobrecarga de trabalho do professor conforme

apontado por Campos (2012 p 24)

Outra questatildeo apontada estaacute ligada agrave meta de as Universidades terem uma meacutedia de

18 alunos por professor em cursos presenciais Essa taxa foi estabelecida levando

em consideraccedilatildeo o caacutelculo que dava agrave eacutepoca da formulaccedilatildeo do REUNI uma meacutedia

de 145 alunos por professor nas IFES A criacutetica nesse quesito diz respeito agrave forma

como esse caacutelculo foi feito desconsiderando que muitos professores ocupam cargos

administrativos e que algumas disciplinas praacuteticas muito especializadas soacute podem

funcionar com um nuacutemero de alunos muito reduzido Ao natildeo levar essas questotildees

em conta o nuacutemero apresentado no REUNI esconde o fato de jaacute haver turmas

superlotadas aleacutem de natildeo dar o devido peso agrave carga de trabalho dos docentes na

poacutes-graduaccedilatildeo Assim elevar ainda mais o nuacutemero de alunos por sala pode gerar

uma sobrecarga de trabalho dos professores o que prejudicaria o ensino a pesquisa

e o atendimento agrave poacutes-graduaccedilatildeo

Os conteuacutedos geralmente presentes nas ementas das disciplinas de Caacutelculo dos

cursos de Engenharia natildeo sofreram consideraacuteveis mudanccedilas no uacuteltimo seacuteculo

(BIEMBENGUT HEIN 2007) Poreacutem as possibilidades de uso ensino e aprendizagem dos

seus conteuacutedos poderiam ser (re)pensadas em consonacircncia agraves exigecircncias de formaccedilatildeo e

consequentemente atuaccedilatildeo do engenheiro na sociedade atual Biembengut e Hein (2007 p

415) afirmam que o ensino de Caacutelculo em cursos de Engenharia no Brasil se revela

inadequado e insuficientemente ajustado Eles enfatizam que entre as causas principais dessa

situaccedilatildeo podem estar 1) as disciplinas de Caacutelculo satildeo dadas por professores como se fossem

73

Natildeo apenas para estudantes de cursos de Engenharia

67

hermeticamente fechadas 2) a maioria dos profissionais da Engenharia afirma que a

Matemaacutetica aprendida em seus cursos eacute insuficiente para a praacutetica da Engenharia 3) Caacutelculo

Diferencial faz parte dos preacute-requisitos de muitas disciplinas e natildeo eacute ensinado de acordo com

o curso em questatildeo Os autores ainda realccedilam o seguinte

Os estudantes natildeo veem qualquer utilidade para isto e aleacutem disso eles

permanecem obscuros sobre as aplicaccedilotildees futuras do que lhes satildeo ensinados

A matemaacutetica desenvolvida nos primeiros quatro semestres acaba esquecida pelos

estudantes justo quando eles precisam usa-la em suas disciplinas profissionais

Aacutelgebra e Caacutelculo registram maiores iacutendices de evasatildeo e fracasso

Conceitos como funccedilotildees limites derivadas e integrais satildeo ensinados da mesma

maneira para todos os cursos (Quiacutemica Biologia Economia Matemaacutetica) a uacutenica

diferenccedila ocorre na ecircnfase dada pelo professor74

(BIEMBENGUT HEIN 2007 p

415)

Os autores ainda apontam que a ecircnfase eacute dada quase que exclusivamente nas

teacutecnicas e natildeo nas aplicaccedilotildees sem qualquer conexatildeo com a Engenharia ou seja satildeo

negligenciados alguns conceitos fundamentais em detrimento de regras e teacutecnicas Uma

consequecircncia disso segundo Biembengut e Hein (2007 p 416) eacute que ldquoquando esses alunos

futuros profissionais se depararem com um problema ou situaccedilatildeo para avaliar analisar ou

resolver que requeira uma decisatildeo sobre melhor desempenho eles natildeo reconhecem as

ferramentas que eles jaacute adquiriram durante sua educaccedilatildeo75

rdquo

Franchi (2002) aponta para a necessidade de que os conteuacutedos de Matemaacutetica

desenvolvidos em cursos de Engenharia sejam apresentados como uma linguagem de traduccedilatildeo

e equacionamento de fenocircmenos da realidade aleacutem de ferramentas para entendimento e

soluccedilatildeo de problemas relacionados a tais fenocircmenos Pontua ainda que tal maneira de olhar

para a Matemaacutetica em cursos de Engenharia nem sempre eacute percebida pelos alunos e justifica

que isso ocorre devido agrave forma como a Matemaacutetica eacute tradicionalmente abordada nesses

cursos

Outro aspecto que julgo importante ser colocado em relevo eacute a frequente

manutenccedilatildeo das metodologias e do enfoque teoacuterico por parte dos professores de Caacutelculo em

74

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoStudents do not see any use for this and furthermore they remain nuclear

about the future applications of what they are taught

The mathematics developed in the first four semesters ends up forgotten by students just when they need use it in

their professional disciplines

Algebra e Calculus record the highest indices of withdrawal and failure

Concepts like functions limits derivatives and integrals are taught in the same way for all courses (Chemistry

Biology Economics Mathematics etc) the only difference occurring in the many emphasis given by the

teacherrdquo 75

Traduccedilatildeo realizada por min de ldquoWhen these students future professional find themselves with a problem or

situation to evaluate analyze or resolve that requires a decision about better performance they not recognize the

tools that they have already acquired during their educationrdquo

68

cursos de Engenharia que ldquoprocuram livros texto que satildeo em geral mais adequados para eles

mesmos que satildeo os mesmos que foram usados em sua proacutepria educaccedilatildeo e reescrevem-no

para usar em suas respectivas classes76

rdquo (BIEMBENGUT 1997 apud BIEMBENGUT

HEIN 2007 p 416)

Biembengut e Hein (2007) esclarecem que torna-se urgente que os professores

busquem uma reorganizaccedilatildeo de conteuacutedos e meacutetodos de ensino de maneira que permita a

articulaccedilatildeo entre teorias matemaacuteticas e a atividade do engenheiro fazendo com que o meacutetodo

de ensino permita-os enfatizar os princiacutepios fiacutesicos da Engenharia e as teorias matemaacuteticas

ajudem-nos a descrever e a compreender melhor tais fenocircmenos A necessidade de incorporar

alguns conhecimentos natildeo matemaacuteticos pelos docentes das disciplinas de Caacutelculo em cursos

de Engenharia em suas praacuteticas de ensino torna-se indispensaacutevel sob esse ponto de vista

Nesse sentido Franchi (2002) aponta que quando precisam utilizar algum

conteuacutedo de Matemaacutetica em suas disciplinas os professores de disciplinas mais avanccediladas de

cursos de Engenharia frequentemente precisam retomar ou (re)ensinar os conceitos que

necessitam posto que depois de algum tempo os alunos tendem a se esquecer dos conceitos

e teacutecnicas que foram trabalhados nas disciplinas de Matemaacutetica em cursos de Engenharia

Boyce e Diprima (1996 p 1) enfatizam que ldquoa razatildeo principal para resolver

muitas equaccedilotildees matemaacuteticas eacute procurar aprender algo a respeito do processo fiacutesico que a

equaccedilatildeo se propotildee a representarrdquo Soacute que ldquode maneira geral a ecircnfase eacute dada aos meacutetodos de

resoluccedilatildeo das equaccedilotildees diferenciais ordinaacuterias esquecendo-se do problema que origina tal

modelo bem como da interpretaccedilatildeo de suas soluccedilotildeesrdquo (JAVARONI 2007 p 20) Assim

parece que nas disciplinas de Caacutelculo dos cursos de Engenharia essa razatildeo de ser muitas

vezes acaba sendo deixada de lado

A forma de trabalhar as disciplinas de Caacutelculo voltadas para si mesmas e

desligadas das aplicaccedilotildees pode acabar provocando um distanciamento de tais conteuacutedos agrave

realidade dos problemas estudados durante a formaccedilatildeo do engenheiro Hubbard (1994 p 372

apud HABRE 2000 p 455) por exemplo pontua que ldquoexiste uma alarmante discrepacircncia

entre a visatildeo de equaccedilotildees diferenciais como ligaccedilatildeo entre a matemaacutetica e a ciecircncia e o curso

padratildeo de equaccedilotildees diferenciaisrdquo77

Tal discrepacircncia poderia ser minimizada ou amenizada

mediante a apresentaccedilatildeo dos conceitos de Caacutelculo com referecircncia na realidade

76

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoLook for textbooks that are in general better suited to themselves that is the

same that were used in their own education and rewrite them for use in their respective classesrdquo 77

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoThere is a dismaying discrepancy between this view of differential equations

as the link between mathematics and science and the standard course on differential equationsrdquo

69

A partir da anaacutelise de uma situaccedilatildeo real eacute possiacutevel fazer com que o aluno percorra as

etapas de aquisiccedilatildeo do conhecimento iniciando pelo aspecto afetivo (onde ele deve

sentir a Matemaacutetica presente e ter dela uma compreensatildeo preacutevia) passando pela

interpretaccedilatildeo e busca de significado chegando agrave compreensatildeo Conceitos bem

compreendidos podem ser aplicados com mais facilidade O trabalho com os

conceitos a partir de temas externos agrave Matemaacutetica eacute essencialmente interdisciplinar

Olhar para o problema sob a oacutetica de apenas uma disciplina conduz a uma visatildeo

fragmentada da situaccedilatildeo Um estudo amplo considerando os diversos aspectos que o

problema pode envolver sem duacutevida eacute interessante As caracteriacutesticas do problema

indicaratildeo qual o recurso mais adequado para ser utilizado (FRANCHI 2002 p 51)

Uma maneira de apresentar e desenvolver tais problemas ou situaccedilotildees no contexto

dos cursos de Engenharia poderia se dar por meio da Modelagem Matemaacutetica que

basicamente pode ser entendida como a apresentaccedilatildeo de um problema ndash cuja origem pode

estar ou natildeo na aacuterea de atuaccedilatildeo dos futuros engenheiros devendo ser resolvido a partir da

construccedilatildeo de um modelo que possa ser representado por meio da utilizaccedilatildeo de ferramentas

estudadas nas disciplinas de Caacutelculo que inclui as Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias

Camarena (2009 p 123) entende que um modelo matemaacutetico no contexto dos

cursos de Engenharia eacute ldquouma relaccedilatildeo matemaacutetica que descreve objetos ou problemas de

engenhariardquo78

Tal relaccedilatildeo matemaacutetica poderia ser uma equaccedilatildeo um sistema de equaccedilotildees

uma distribuiccedilatildeo de probabilidade entre outros

Barbosa (2004a p 67 grifo do autor) entende ser necessaacuteria a inserccedilatildeo da

Modelagem Matemaacutetica em disciplinas em serviccedilo jaacute que ldquopela sua proacutepria natureza

interdisciplinar a Modelagem eacute a porta de entrada privilegiada para atender a algumas

expectativas dos alunos nos cursos79

de serviccedilordquo

A Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia por se tratar de uma

atividade que pressupotildee interdisciplinaridade desenvolvimento de habilidades de resoluccedilatildeo

de problemas por meio de modelos matemaacuteticos trabalho em equipe e formaccedilatildeo criacutetica em

termos de atuaccedilatildeo social dos futuros engenheiros pode colaborar com o desenvolvimento das

habilidades e competecircncias aclamadas na resoluccedilatildeo como por exemplo ldquoaplicar

conhecimentos matemaacuteticos cientiacuteficos tecnoloacutegicos e instrumentais agrave engenhariardquo ldquoatuar

em equipes multidisciplinaresrdquo e ldquoavaliar o impacto das atividades da engenharia no contexto

social e ambientalrdquo (BRASIL 2002)

Corroborando tal consideraccedilatildeo Franchi (2002 p 74) enfatiza que ldquoo trabalho

com a Modelagem Matemaacutetica pode ajudar a desenvolver nos alunos [dos cursos de

Engenharia] as habilidades necessaacuterias para a resoluccedilatildeo de problemas preparando-o para

78

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoa mathematical relation that describes engineering objects or problemsrdquo 79

Barbosa (2004) utiliza o termo curso em referecircncia agrave disciplina

70

enfrentar situaccedilotildees novas e buscar soluccedilotildeesrdquo A autora enfatiza ainda que a Modelagem

Matemaacutetica propicia o desenvolvimento de habilidades tais como criatividade espiacuterito criacutetico

e capacidade de aprendizagem contiacutenua que satildeo essenciais para a atuaccedilatildeo profissional dos

engenheiros Aleacutem de possibilitar o desenvolvimento natural de habilidades de comunicaccedilatildeo

oral e escrita capacidade de cooperaccedilatildeo e trabalho em equipe (FRANCHI 2002)

No sentido de alinhavar e desenvolver a reflexatildeo aqui proposta a seguir busco

discorrer sobre perspectivas e concepccedilotildees de Modelagem configuradas na Educaccedilatildeo

Matemaacutetica que pressupotildeem um modo mais geral de conceber a Modelagem em diversos

niacuteveis de formaccedilatildeo matemaacutetica e posteriormente seguir no sentido de

especificarexemplificar concepccedilotildees e perspectivas que podem configurar a Modelagem na

formaccedilatildeo em Caacutelculo demandada pelos e nos cursos de Engenharia

23 Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica concepccedilotildees e perspectivas

A Modelagem eacute uma tendecircncia que vem permeando o cenaacuterio da Educaccedilatildeo

Matemaacutetica no Brasil jaacute haacute algum tempo inclusive recentemente passou a ser incorporada

aos documentos oficiais do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) como uma possibilidade para os

processos de ensino-aprendizagem de Matemaacutetica na Educaccedilatildeo Baacutesica (BRASIL 2006)

A Modelagem Matemaacutetica na Educaccedilatildeo Matemaacutetica de acordo com Borba e

Villareal (2005) foi introduzida no Brasil preconizada pelos trabalhos de Paulo Freire e

Ubiratan DrsquoAmbrosio entre o final da deacutecada de 70 e o iniacutecio da deacutecada de 80 Naquela

eacutepoca as atividades de Modelagem eram baseadas em ldquosituaccedilotildees-problemardquo com o foco no

real no cotidiano que desafiassem alunos e professores Vale ressaltar que naquela eacutepoca o

uso de maacutequinas e programas computacionais jaacute permeava os ambientes de Modelagem

Matemaacutetica (MEYER CALDEIRA MALHEIROS 2011)

Podemos afirmar que na deacutecada de 80 a Modelagem Matemaacutetica ganhou forccedila

no paiacutes sob a influecircncia de trabalhos como os de Aristides Barreto Ubiratan DrsquoAmbrosio

Rodney Bassanezi Joatildeo Frederico Meyer entre outros que disseminaram a Modelagem

Matemaacutetica por meio de cursos para a formaccedilatildeo de professores e accedilotildees em salas de aula

(MEYER CALDEIRA MALHEIROS 2011)

Algumas concepccedilotildees de Modelagem Matemaacutetica em contextos escolares foram

apontadas por Barbosa (2001a 2003 2004a) Burak (1992) e Biembengut e Hein (2007

71

2011) Barbosa (2001a p 6) entende que a ldquomodelagem eacute um ambiente de aprendizagem no

qual os alunos satildeo convidados a indagar eou investigar por meio da matemaacutetica situaccedilotildees

oriundas de outras aacutereas da realidaderdquo Para Burak (1992 p 62) a ldquoModelagem Matemaacutetica

constitui-se em um conjunto de procedimentos cujo objetivo eacute estabelecer um paralelo para

tentar explicar matematicamente os fenocircmenos presentes no cotidiano do ser humano

ajudando-o a fazer prediccedilotildees e a tomar decisotildeesrdquo Jaacute Biembengut e Hein (2011) concebem a

Modelagem Matemaacutetica como estrateacutegia teacutecnica ou metodologia de ensino cujo foco estaacute na

obtenccedilatildeo de um modelo matemaacutetico com intuito de ensinar conhecimentos acadecircmicos que

possam ajudar as pessoas em termos das possibilidades de atuaccedilatildeo nos diversos contextos de

vida

Natildeo haacute uma uacutenica definiccedilatildeo de Modelagem Matemaacutetica mas diferentes

concepccedilotildees de Modelagem satildeo assumidas por quem usa Modelagem em contextos

educacionais sempre levando em conta que situaccedilotildees diferentes podem levar a diferentes

conceituaccedilotildees de Modelagem (MEYER CALDEIRA MALHEIROS 2011) Vale ressaltar

que assumo o termo concepccedilatildeo80

designando ldquotanto o ato de conceber quanto o objeto

concebido mas preferivelmente o ato de conceber e natildeo o objeto para o qual deve ser

reservado o termo conceitordquo (ABBAGNANO 2007 p 169 grifo do autor)

Instigada em compreender as concepccedilotildees de Modelagem Matemaacutetica assumidas

por alguns autores que fazem uso da palavra arte em tal conceitualizaccedilatildeo tais como

Bassanezi (2006) e Biembengut e Hein (2011) busquei na internet pelo significado da palavra

ldquoarterdquo e encontrei

Arte (do latim ars significando teacutecnica eou habilidade) geralmente eacute entendida como a atividade humana ligada a manifestaccedilotildees de

ordem esteacutetica ou comunicativa realizada a partir da percepccedilatildeo das emoccedilotildees e das ideias com o objetivo de estimular essas instacircncias da consciecircncia e dando

um significado uacutenico e diferente para cada obra (httpsptwikipediaorgwikiArte 10042013)

Com base no significado acima podemos refletir sobre a concepccedilatildeo de

Modelagem Matemaacutetica assumida por Bassanezi (2006 p 16) que consiste na ldquoarte de

transformar problemas da realidade em problemas matemaacuteticos e resolvecirc-los interpretando

suas soluccedilotildees na linguagem do mundo realrdquo Primeiro o significado da palavra arte pode ser

uma teacutecnica ou habilidade fazendo parte da atividade humana ligada a manifestaccedilotildees de

80

ldquoTatildeo logo um conceito eacute simbolizado para noacutes nossa imaginaccedilatildeo reveste-se de uma concepccedilatildeo privada e

pessoal que soacute podemos distinguir por um processo de abstraccedilatildeo do conceito puacuteblico e comunicaacutevelrdquo (LANGER

apud ABBGNANO 2007 p 169)

72

ordem esteacutetica e comunicativa realizada a partir da percepccedilatildeo de emoccedilotildees e das ideias Dessa

forma a arte de transformar problemas da realidade em problemas matemaacuteticos pode

perpassar por questotildees de ordem esteacutetica e comunicativa que por sua vez tem estreita

relaccedilatildeo com as necessidades dos seres humanos de cooperaccedilatildeo e eacutetica Segundo tal teacutecnica ou

habilidade de transformar problemas da realidade em problemas matemaacuteticos leva em conta

as vivecircncias as subjetividades estreitamente ligadas ao pensamento ao mundo das ideias E

por uacuteltimo a arte tem como objetivo estimular instacircncias da consciecircncia produzir

significados para as obras de arte aqui relacionadas agrave transformaccedilatildeo de problemas reais em

problemas de Matemaacutetica sendo que a uacuteltima instacircncia dessa obra se realiza por meio da

interpretaccedilatildeo das soluccedilotildees na linguagem do mundo real que por sua vez pode possibilitar

novos olhares sobre a realidade

Aleacutem disso Bassanezi (2006 p 38 grifo meu) considera que ldquomais importante do

que os modelos obtidos eacute o processo utilizado a anaacutelise criacutetica e sua inserccedilatildeo no contexto

soacutecio-culturalrdquo Tal posicionamento pode nos levar ao entendimento de que o termo arte

presente em sua concepccedilatildeo de Modelagem Matemaacutetica em termos do processo utilizado

poderia ser resumido nas accedilotildees de transformar (problemas da realidade em problemas

matemaacuteticos) resolver (os problemas matemaacuteticos) e interpretar (suas soluccedilotildees na linguagem

do mundo real) Aleacutem de objetivar a motivaccedilatildeo para o aprendizado da matemaacutetica o autor

acredita que ldquoas discussotildees sobre o tema escolhido favorecem a preparaccedilatildeo do estudante

como elemento participativo da sociedade em que viverdquo (BASSANEZI 2006 p 38)

Biembengut e Hein (2011) concebem a Modelagem Matemaacutetica como um

processo que envolve a obtenccedilatildeo de um modelo podendo ser considerado um processo

artiacutestico visto que para os autores na elaboraccedilatildeo de um modelo aleacutem do conhecimento

matemaacutetico o modelador necessita ter uma dose significativa de intuiccedilatildeo e criatividade para

interpretar o contexto saber discernir qual(is) conteuacutedo(s) matemaacutetico(s) se adapta(m) melhor

e senso luacutedico para jogar com as variaacuteveis escolhidas Nas palavras dos autores ldquoa

modelagem matemaacutetica eacute assim uma arte ao formular resolver e elaborar expressotildees que

valham natildeo apenas para uma soluccedilatildeo particular mas que tambeacutem sirvam posteriormente

como suporte para outras aplicaccedilotildees e teoriasrdquo (BIEMBENGUT HEIN 2011 p 13 grifo

meu)

Aleacutem disso Bassanezi (2006) e Biembengut e Hein (2011) denominam

ldquoModelaccedilatildeo Matemaacuteticardquo o meacutetodo ou estrateacutegia de ensino que utiliza a essecircncia da

modelagem em cursos regulares nos quais haacute um programa curricular a ser cumprido aleacutem

de uma estrutura espacial e organizacional bem definida Tais autores acreditam que o

73

processo de modelagem em tais contextos precisa sofrer algumas alteraccedilotildees considerando o

grau de escolarizaccedilatildeo dos aprendizes o tempo disponibilizado para o desenvolvimento da

atividade ldquoo programa a ser cumprido e o estaacutegio em que o professor se encontra seja em

relaccedilatildeo ao conhecimento da modelagem seja no apoio por parte da comunidade escolar para

implantar mudanccedilasrdquo (BIEMBENGUT HEIN 2003 p 18)

Existem ainda outras concepccedilotildees de Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica

presentes na literatura brasileira das quais podemos destacar proposta para educar

matematicamente considerando a Modelagem como uma concepccedilatildeo de ensino e

aprendizagem (CALDEIRA 2009) estrateacutegia pedagoacutegica na qual os estudantes trabalham em

grupo e satildeo responsaacuteveis pela escolha do tema a ser investigado (BORBA MENEGUETTI

HERMINI 1997) Dentre todas essas concepccedilotildees Meyer Caldeira e Malheiros (2011)

acreditam que

o que as diferencia basicamente eacute a ecircnfase na escolha do problema a ser

investigado que pode partir do professor pode ser um acordo entre professor e

alunos ou entatildeo os estudantes podem escolher o assunto que pretendem investigar

uma postura que se assemelha agrave Modelagem exercida profissionalmente (MEYER

CALDEIRA MALHEIROS 2011 p 81)

Ao passo que o que diferencia as concepccedilotildees de Modelagem pode estar

relacionado ao ldquoproblema da realidaderdquo e agrave escolha dele o que as aproxima eacute segundo

Meyer Caldeira e Malheiros (2011 p 85) um objetivo comum ldquoestudar resolver e

compreender um problema da realidade ou de outra(s) aacuterea(s) do conhecimento utilizando

para isso a Matemaacutetica e obviamente outras disciplinas e ideiasrdquo

Arauacutejo (2002 p 20 grifo da autora) poreacutem acredita que as perspectivas se

diferenciam ldquoagrave medida que se define qual eacute o objetivo de resolver tal problema qual eacute a

realidade na qual o problema estaacute inserido como a matemaacutetica eacute concebida e se relaciona

com esta realidade etcrdquo81

A autora assume o termo ldquoperspectivardquo designando os propoacutesitos

que satildeo delineados pelo professor ao propor a Modelagem Matemaacutetica como uma atividade

em sala de aula Com base nesses propoacutesitos faz-se necessaacuterio definir o papel dos alunos e

professor(es) na atividade principalmente no que diz respeito agrave escolha do ldquoproblema da

realidaderdquo a ser entendidosolucionado

A Modelagem ldquopode criar possibilidades interdisciplinares na sala de aula fato

considerado muito importante (ou ateacute essencial) entre as questotildees de ensino e aprendizagem 81

No escopo deste texto natildeo pretendo discorrer sobre as relaccedilotildees entre matemaacutetica e realidade nem tampouco

realizarei uma discussatildeo do que seriam estes termos Em Arauacutejo (2002) o leitor encontraraacute uma interessante

discussatildeo sobre realidade e matemaacutetica baseada em discussotildees filosoacuteficas

74

mostrando que no caso a Matemaacutetica natildeo eacute uma ciecircncia isolada das outrasrdquo (MEYER

CALDEIRA MALHEIROS 2011 p 85) A integraccedilatildeo da Matemaacutetica com outras aacutereas do

conhecimento pode constituir dessa forma importante contribuiccedilatildeo para a construccedilatildeo do

conhecimento matemaacutetico nos cursos de Engenharia podendo minimizar o que Camarena

(2009) chama de ponto de conflito cognitivo vivenciado pelos futuros engenheiros ldquouma vez

que ele estudou matemaacutetica e engenharia separadamente de modo que quando ele usa as duas

aacutereas do conhecimento estas aacutereas cognitivas estatildeo separadas e ele tem que integraacute-las a fim

de matematizar o problema a ser resolvidordquo82

(CAMARENA 2009 p 117)

Blum (1991) Blum e Leiss (2005) Barbosa (2003) e Bassanezi (2006) apontam

alguns argumentos a favor da inclusatildeo da Modelagem nos curriacuteculos escolares sendo estes

apresentados pelos pesquisadores da aacuterea de Modelagem em Educaccedilatildeo Matemaacutetica que

foram por mim sumarizados da seguinte forma

Argumento formativo os alunos se tornariam mais criativos habilidosos e explorativos em atividades investigativas e de resoluccedilatildeo

de problemas

Argumento de competecircncia criacutetica os alunos estariam preparados para a vida real como cidadatildeos atuantes na sociedade analisando as

formas que a matemaacutetica eacute usada nas praacuteticas sociais

Argumento de utilidade os alunos estariam preparados para utilizar

a matemaacutetica como ferramenta para resolver problemas em diferentes

situaccedilotildees e aacutereas o que eacute importante para atuarem na vida cotidiana e

no trabalho

Argumento motivacionalintriacutenseco os alunos estariam mais

estimulados para o estudo entendimento e interpretaccedilatildeo da proacutepria

matemaacutetica pois vislumbram sua aplicabilidade

Argumento de aprendizagem os alunos teriam mais facilidade em compreender conceitos matemaacuteticos devido agrave possiacutevel conexatildeo com

outros assuntos

Considerando os curriacuteculos dos cursos de Engenharia no Brasil ao assumir as

disciplinas de Caacutelculo como importante arsenal de ferramentas que possibilitaauxilia a

resoluccedilatildeo de problemas e a compreensatildeo de fenocircmenos englobadosestudados nos diversos

cursos de Engenharia o argumento de utilidade poderia ocupar lugar de destaque no debate

para a inclusatildeo da Modelagem nos curriacuteculos destes cursos Vale ressaltar que tal argumento

natildeo exclui os demais apenas poderia ocupar lugar de destaque

82

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquosince he studied mathematics and engineering separately so that when he

uses both knowledge areas these cognitive areas are separated and he has to integrate them in order to

mathematize the problem to be resolvedrdquo

75

Vaacuterios argumentos poreacutem satildeo apresentados como obstaacuteculos para o uso da

Modelagem Matemaacutetica em cursos regulares Tais obstaacuteculos segundo Bassanezi (2006 p

37 grifos do autor) podem ser de trecircs tipos

1) Obstaacuteculos instrucionais - Os cursos regulares possuem um programa que deve

ser desenvolvido completamente[] alguns professores tem duacutevida se as aplicaccedilotildees

e conexotildees com outras aacutereas fazem parte do ensino de Matemaacutetica salientando que

tais componentes tendem a distorcer a esteacutetica a beleza e a universalidade da

Matemaacutetica

2) Obstaacuteculos para os estudantes - O uso da Modelagem foge da rotina do ensino

tradicional e os estudantes natildeo acostumados com o processo podem se perder e se

tornar apaacuteticos nas aulas []

3) Obstaacuteculos para os professores - Muitos professores natildeo se sentem habilitados a

desenvolver modelagem em seus cursos por falta de conhecimento do processo ou

por medo de se encontrarem em situaccedilotildees embaraccedilosas quanto agraves aplicaccedilotildees da

matemaacutetica em aacutereas que desconhecem Acreditam que perderatildeo muito tempo para

preparar as aulas e tambeacutem natildeo teratildeo tempo para cumprir todo o programa do curso

Blum (1991) ainda afirma que do ponto de vista dos professores a inclusatildeo da

Modelagem aumentaria suas demandas de trabalho devido agraves qualificaccedilotildees adicionais e

conhecimentos natildeo matemaacuteticos que satildeo requeridos nesse tipo de atividade

Flemming (2004) ao relatar o desenvolvimento de uma pesquisa sobre o ensino

das Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias mostra um dos obstaacuteculos apontados por Bassanezi

(2006)

A nossa motivaccedilatildeo estava alicerccedilada no fato de que a maioria dos professores natildeo

discute a resoluccedilatildeo de problemas no contexto das equaccedilotildees diferenciais e as razotildees

apontadas satildeo os alunos ainda natildeo dominam os conhecimentos da Fiacutesica e outras

aacutereas requeridas para a interpretaccedilatildeo dos problemas os professores na sua

formaccedilatildeo natildeo tiveram o aprofundamento em diferentes aacutereas da Engenharia

requeridas para o domiacutenio do problema (FLEMMING 2004 p 280)

Considerando os obstaacuteculos apontados acima em cursos de Engenharia aleacutem de

entender como os alunos e professores conduzem suas experiecircncias em Modelagem

Matemaacutetica seria necessaacuterio entender tambeacutem as possibilidades que esse ambiente de

formaccedilatildeo proporciona aos aprendizes sendo eles alunos professores monitores e demais

sujeitos da comunidade acadecircmica que realizam as atividades que objetivam a formaccedilatildeo do

engenheiro contemporacircneo

Um fator muito importante que deve ser considerado quando se pretende usar a

Modelagem em cursos de Engenharia eacute o tempo Geralmente o tempo que deve ser dedicado

ao desenvolvimento de cada parte das disciplinas de Caacutelculo eacute consideradosugerido nos

respectivos planos de ensino Sendo assim o cumprimento de ementasconteuacutedos pode tornar-

76

se para o professor um ponto de tensatildeo que pode influenciar sua decisatildeo quanto agrave

incorporaccedilatildeo da Modelagem em sua praacutetica docente

No que tange a incorporaccedilatildeo da Modelagem Matemaacutetica no decorrer de

disciplinas escolares a adequaccedilatildeo da proposta de ensino elaborada pelo professor deve levar

em conta os conteuacutedos a serem abordados e assim buscar por temas de Modelagem guiados

pelos conteuacutedos Para isso Biembengut e Hein (2007 p 417) sintetizam os estaacutegios do

processo a serem seguidos pelos docentes quando eles se disponibilizam a realizar

Modelagem durante as disciplinas ofertadas em cursos de Engenharia

1) Apresentar uma siacutentese do tema relativo para Engenharia 2) Propor algumas questotildees sobre o tema encorajando os estudantes a responder

3) Selecionar as questotildees que satildeo mais apropriadas para desenvolver o conteuacutedo programaacutetico de matemaacutetica

4) Formular questotildees de tal modo a aumentar o teor de conteuacutedo matemaacutetico necessaacuterio para resolvecirc-lo 5) Apresentar o conteuacutedo programaacutetico de matemaacutetica

6) Propor exemplos anaacutelogos de modo que o conteuacutedo natildeo seja restrito ao modelo assim que o conteuacutedo necessaacuterio eacute suficientemente desenvolvido para responder ou resolver este estaacutegio do trabalho

7) Solicitar aos estudantes fazerem pesquisas sobre o assunto caso seja necessaacuterio 8) Retornar agrave questatildeo que comeccedilou o processo apresentando uma soluccedilatildeo

9) Orientar os estudantes na anaacutelise de seus resultados e sua validaccedilatildeo83

Jaacute Franchi (2002) acredita que a Modelagem deva permear as atividades

desenvolvidas nas disciplinas da aacuterea de Matemaacutetica em cursos de Engenharia Para a autora

a escolha dos conteuacutedos matemaacuteticos a serem abordados em tais disciplinas em cursos de

Engenharia deve ocorrer em funccedilatildeo do contexto histoacuterico Para cada contexto eacute necessaacuterio

antes de qualquer coisa identificar os objetivos alinhados agraves demandas de formaccedilatildeo em

Engenharia e depois escolher conteuacutedos e metodologias que ajudem a atingir tais objetivos

Nesse sentido a estrutura curricular natildeo deve ser algo estaacutetico muito pelo contraacuterio deve

permitir diferentes possibilidades de organizaccedilatildeo que possam ser adaptadas a cada contexto

curso ou momento histoacuterico

83

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquo1) Present a synthesis of the theme relative to Engineering

2) Propose some question about the theme encouraging students to respond

3) Select the question that is most appropriate for developing the programmersquos mathematical content

4) Formulate questions in such a way as to raise he mathematical content necessary for resolving them

5) Present the programmatic mathematical content

6) Propose analogous examples so that the content is not restricted to the model as soon as the necessary content

is sufficiently developed for answering or resolving this stage of the work

7) Solicit students to make research into the subject if deemed necessary

8) Return to the question that began the process presenting a solution

9) Guide the students in analysing their results and its validityrdquo

77

Vale ressaltar que Franchi (2002) apresenta como fruto de sua investigaccedilatildeo uma

proposta curricular para tratar os conteuacutedos de Matemaacutetica em cursos de Engenharia

utilizando de Modelagem e Informaacutetica em consonacircncia agraves exigecircncias de tal formaccedilatildeo

profissional A incorporaccedilatildeo da Modelagem e da Informaacutetica nas praacuteticas de ensino-

aprendizagem cuja finalidade eacute possibilitar a formaccedilatildeo Matemaacutetica dos engenheiros se deu

mediante a implementaccedilatildeo da referida proposta curricular em uma instituiccedilatildeo que se destina agrave

formaccedilatildeo de engenheiros Ou seja o curriacuteculo foi transformado e implementado

Contudo caso o curriacuteculo de uma instituiccedilatildeo natildeo seja modificado (por quaisquer

razotildees) e consequentemente natildeo seja implementada modificaccedilatildeo alguma mesmo assim

seria possiacutevel desenvolver atividades de formaccedilatildeo de Caacutelculo utilizando Modelagem

Matemaacutetica Mas qual seria a melhor forma Seria possiacutevel adequar um curriacuteculo jaacute preacute-

estabelecido e demasiadamente estaacutetico aos objetivos de formaccedilatildeo em Engenharia que atenda

agraves exigecircncias atuais para tal formaccedilatildeo utilizando-se da Modelagem Matemaacutetica Franchi

(2002) considera como necessaacuterio e importante a integraccedilatildeo da Matemaacutetica com as demais

aacutereas dos cursos de Engenharia mediante o desenvolvimento de atividades de Modelagem

poreacutem afirma que natildeo existe um entendimento claro de como isso deve ser feito

Kaiser e Sriraman (2006) se incumbiram de revisar a literatura (em termos de

pesquisas realizadas em vaacuterios paiacuteses do mundo) e sistematizar as perspectivas de Modelagem

em Educaccedilatildeo Matemaacutetica Os autores delimitaram perspectivas que em 2006 podiam ser

consideradas como tendecircncias no debate sobre a Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica

conforme seus objetivos centrais a partir da anaacutelise de artigos apresentados em conferecircncias e

perioacutedicos internacionais tais como ICTMA84

e ZDM85

Vale ressaltar que natildeo haacute qualquer

menccedilatildeo que os autores dos referidos artigos assumam tais perspectivas em todas as

investigaccedilotildees que se propotildeem a desenvolver E mais do que isso natildeo significa que a

perspectiva assumida esteja posta de forma clara e objetiva em cada artigo Sendo assim por

vezes devemos considerar a perspectiva assumida pela leitura dos autores aos textos

publicados nos congressos e perioacutedicos

No Brasil alguns mapeamentos foram realizados na tentativa de estabelecer um

panorama atual das pesquisas em Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica Um deles e talvez o

mais recentemente publicado internacionalmente foi elaborado por Arauacutejo (2010) Como

corpus foram analisados trabalhos apresentados e publicados em eventos ocorridos no paiacutes

84

International Conference on the Teaching of Mathematical Modelling and Applications (ICTMA) 85

The International Journal on Mathematics Education (ZDM)

78

durante os anos de 2006 e 2007 Satildeo eles 14 trabalhos apresentados no III SIPEM86

10

trabalhos apresentados no IX ENEM87

e 32 trabalhos apresentados na CNMEM88

totalizando

56 publicaccedilotildees No artigo a autora esclarece que

Devido agrave sua influecircncia a modelagem em educaccedilatildeo matemaacutetica no Brasil reflete

influecircncias da matemaacutetica aplicada campo principal de trabalho de Bassanezi mas

tem sido marcada principalmente pelos estudos soacutecio-culturais desenvolvidos por

DrsquoAmbrosio no campo da Etnomatemaacutetica89

(ARAUacuteJO 2010 p 338)

Com base nas leituras dos diversos textos mencionados anteriormente observei

que existem diversas concepccedilotildees em atividades de Modelagem Matemaacutetica nos mais diversos

contextos de formaccedilatildeo podendo ser realizadas durante o desenvolvimento de disciplinas

regulares como cursos de formaccedilatildeo de professores iniciaccedilatildeo cientiacutefica pesquisa entre outras

possibilidades A apresentaccedilatildeo do problema pode ser realizada tanto pelo professor quanto

pelos alunos O problema pode ser exposto juntamente com seus dados qualitativos eou

quantitativos Pode ocorrer de os alunos e professor(es) terem que procurar pelos dados

quantitativos ou qualitativos relacionados ao problema proposto Podem ser incluiacutedos tambeacutem

problemas para os quais jaacute foram estabelecidos modelos matemaacuteticos que os representem (as

denominadas aplicaccedilotildees)

A seguir apresento uma revisatildeo de literatura sobre as pesquisas que buscam

analisar os usos da Modelagem Matemaacutetica para propiciar formaccedilotildees em Caacutelculo em cursos

de Engenharia Com isso objetivo delimitar a presente investigaccedilatildeo no contexto da revisatildeo de

literatura

24 Revisatildeo de literatura sobre pesquisas de Modelagem em Caacutelculo na Educaccedilatildeo em

Engenharia delineando o espaccedilo da presente pesquisa

Ao ler por exemplo os anais do Seminaacuterio Internacional de Pesquisa em

Educaccedilatildeo Matemaacutetica (SIPEM)90

que ocorreram trienalmente entre os anos de 2000 e 2012

86

Seminaacuterio Internacional de Pesquisa em Educaccedilatildeo Matemaacutetica 87

Encontro Nacional da Educaccedilatildeo Matemaacutetica 88

Conferecircncia Nacional sobre Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica 89

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoDue to their influence modelling in mathematics education in Brazil reflects

influences from applied mathematics Bassanezirsquos main field of work but has been imprinted mainly by the

socio-cultural studies developed by DrsquoAmbrosio in the field of ethnomathematicsrdquo 90

O SIPEM eacute um seminaacuterio realizado trienalmente e organizado pela Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo

Matemaacutetica (SBEM)

79

foi encontrado apenas um trabalho que faz referecircncia ao uso de Modelagem em cursos de

Engenharia tendo sido apresentado no V SIPEM em 2012 Nele Ferruzzi (2012 p 1)

apresenta resultados de uma pesquisa que buscou investigar ldquoo potencial da Modelagem

Matemaacutetica para o estabelecimento de interaccedilotildees que possuem caracteriacutesticas consideradas

fonte de aprendizagemrdquo em um curso de Engenharia Ambiental A autora se baseia nos

estudos de Vygotsky e considera que a aprendizagem estaacute associada agrave interaccedilatildeo Sendo assim

entende que ldquopropiciar atividades que conduzam agrave interaccedilatildeo pode auxiliar o aluno em seu

aprendizado e deve ser um dos interesses do professorrdquo (FERRUZZI 2012 p 1)

Biembengut e Hein (2007) concebem a Modelagem Matemaacutetica como uma

metodologia de ensino em cursos de Engenharia Aleacutem disso eles esclarecem a ecircnfase dada

por eles nas atividades de Modelagem em cursos de Engenharia

O objetivo deste trabalho eacute criar condiccedilotildees para que os alunos aprendam a fazer

modelos matemaacuteticos aumentando e aperfeiccediloando seus conhecimentos Um grupo

de estudantes sob a supervisatildeo do professor deve ser responsaacutevel pela escolha e

direccedilatildeo de seu proacuteprio trabalho Cabe ao professor criar condiccedilotildees onde eles podem

desenvolver esta autonomia91

(BIEMBENGUT HEIN 2007 p 417)

O desenvolvimento de atividades de Modelagem em sala de aula implica

necessariamente delineamento de especificaccedilotildees que engloba os objetivos para a realizaccedilatildeo

da atividade bem como os papeacuteis que devem ser assumidos por alunos e professores Os

pesquisadores da Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica entendem que tais especificaccedilotildees ao

serem assumidas pelos professores definem uma perspectiva de Modelagem Matemaacutetica

(BARBOSA SANTOS 2007 p 1-2)

Alguns trabalhos sobre Modelagem em Educaccedilatildeo foram apresentados em ediccedilotildees

anuais do Congresso Brasileiro de Educaccedilatildeo em Engenharia (COBENGE) Nas uacuteltimas 10

ediccedilotildees do evento (de 2003 a 2012) dezesseis trabalhos sobre Modelagem Matemaacutetica na

Educaccedilatildeo em Engenharia foram apresentados92

Observe que a meacutedia eacute de menos de dois

trabalhos por ediccedilatildeo do evento O que poderia explicar uma participaccedilatildeo tatildeo inexpressiva

nesse congresso por parte dos pesquisadores em Educaccedilatildeo Matemaacutetica Natildeo sei a resposta

91

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoThe objective of this work is to create conditions in which students learn to

make mathematical models increasing and perfecting their knowledge A group of students under the

supervision of the teacher must be responsible for the choice and direction of their own work It falls to the

teacher to create conditions where they can develop this autonomyrdquo 92

Os anais do evento estatildeo disponiacuteveis no site wwwabengeorgbr Busquei pelo termo Modelagem e li todos os

resumos que obedecessem a essa busca Dentre eles descartei os artigos que se referiam agrave Modelagem

ldquopuramenterdquo sob a oacutetica da Matemaacutetica Aplicada agrave resoluccedilatildeo de problemas da Engenharia restando assim

apenas os artigos que se referiam essencialmente agrave Modelagem sob a oacutetica da formaccedilatildeo Matemaacutetica em

Engenharia

80

para essa pergunta e nem eacute o intuito desta pesquisa descobrir a resposta contudo penso que

esta realidade pode estar relacionada agrave hipoacutetese formulada por Cury (2002) de que ldquoos

professores de disciplinas matemaacuteticas natildeo se consideram professores dos cursos de

Engenharia e por isso natildeo se propotildeem a apresentar seus trabalhos em congressos de ensino

desta aacutereardquo

Em sua pesquisa de doutorado Arauacutejo (2002) analisou uma proposta de

Modelagem Matemaacutetica desenvolvida em uma turma de Caacutelculo do curso de Engenharia

Quiacutemica de uma universidade puacuteblica do Estado de Satildeo Paulo Tal proposta foi implementada

durante o desenvolvimento da disciplina que contempla(va) os conteuacutedos de Caacutelculo

Diferencial e Integral I A pesquisadora analisou atividades de Modelagem Matemaacutetica em

um ambiente de ensino e aprendizagem de Caacutelculo no qual as tecnologias informaacuteticas

estavam presentes com o objetivo de investigar que discussotildees ocorrem e como elas ocorrem

Vale ressaltar que a autora entende que ldquodiscussotildeesrdquo podem ser entendidas como algum tipo

de ldquocomunicaccedilatildeordquo que por sua vez pode exercer influecircncias sobre a ldquoaprendizagemrdquo Para

ela aprendizagem ldquocertamente estaacute ligada a questotildees de comunicaccedilatildeo na Educaccedilatildeo

Matemaacuteticardquo (ARAUacuteJO 2002 p 164)

Ferruzzi (2011) realizou sua pesquisa de doutorado mediante a aplicaccedilatildeo de uma

proposta de Modelagem Matemaacutetica em um curso de Engenharia Ambiental da Universidade

Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute (UTFPR) Tal proposta foi implementada durante o

desenvolvimento da disciplina chamada de Matemaacutetica 2 na referida instituiccedilatildeo que

contempla os conteuacutedos de Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias A pesquisadora desenvolveu

atividades de Modelagem Matemaacutetica com referecircncia nos temas relacionados aos conteuacutedos

de EDO com o objetivo de investigar as interaccedilotildees que emergem durante o desenvolvimento

de atividades de Modelagem Matemaacutetica na sala de aula Como parte da anaacutelise a autora

aponta que os diaacutelogos que emergiram durante as atividades de Modelagem propostas na

investigaccedilatildeo ocorrem com mais frequecircncia do que os diaacutelogos que emergem de praacuteticas

tradicionais de ensino-aprendizagem da referida disciplina Aleacutem disso constatou que as

interaccedilotildees proporcionadas pelo desenvolvimento das atividades de Modelagem atuaram

significativamente no favorecimento da aprendizagem dos alunos

Vale ressaltar que a proposta de modelagem implementada por Ferruzzi (2011 p

24 grifos da autora) foi baseada em um contexto simulado que pode ser entendido como uma

representaccedilatildeo do contexto real Tal contexto tem origem no contexto real sendo reproduzidas

partes de suas caracteriacutesticas Para a autora ldquoo contexto simulado faz referecircncia agrave situaccedilotildees da

vida cotidiana que satildeo retomadas e transformadas em atividades de ensino e aprendizagemrdquo

81

A autora considera aprendizagem na referida pesquisa como um processo de mudanccedila nas

formas discursivas dos alunos

Aleacutem disso Ferruzzi (2011 p 33) considera o conceito vygotskyano de Zona de

Desenvolvimento Proximal (ZDP) como sendo ldquoo desenvolvimento humano em dois niacuteveis o

Niacutevel de Desenvolvimento Real (NDR) e o Niacutevel de Desenvolvimento Potencial (NDP) A

lsquodistacircnciarsquo entre estes dois niacuteveis eacute denominada por Vygotsky como sendo a Zona de

Desenvolvimento Proximal (ZDP)rdquo Nesse sentido as conclusotildees da referida pesquisa satildeo

tomadas em termos de aprendizagens que natildeo poderiam acontecer de modo espontacircneo

sendo entatildeo promovidas pela accedilatildeo intencional do professor Com isso a autora considera

que o professor pode exercer o papel de mediador dos processos de ensino e aprendizagem de

Caacutelculo em um curso de Engenharia por meio de atividades de Modelagem Matemaacutetica

Vale ressaltar que Ferruzzi (2011) investigou as interaccedilotildees que emergem de

atividades de Matemaacutetica em sala de aula da disciplina Matemaacutetica 2 que na UTFPR abarca

os conteuacutedos de EDO considerando que o conhecimento eacute construiacutedo na e pela interaccedilatildeo

enquanto a presente pesquisa buscou analisar as possibilidades de aprendizagens expansivas

evidenciadas em atividades desenvolvidas por um Grupo de Estudos e Pesquisa em

Modelagem Matemaacutetica (GEPMM) em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharia Portanto

interaccedilatildeo e aprendizagem estatildeo intimamente inter-relacionadas em Ferruzzi (2011) Vale

ressaltar que para a referida autora a aprendizagem pode ser entendida como um processo de

mudanccedila nas formas discursivas dos alunos

Tomando-se por base Arauacutejo (2002) e Ferruzzi (2011) percebo que discussotildees

(comunicaccedilotildees) e interaccedilotildees satildeo elementos cuja anaacutelise se torna essencial para investigar

processos de aprendizagem em atividades de Modelagem desenvolvidas em disciplinas de

Caacutelculo em cursos de Engenharia

Buscando esclarecer os conceitos de comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo entendendo-os

como constituintes de discursos que permeiam os mais diversos ambientes de aprendizagem

encontrei em Bakhtin (2010 p 36) o seguinte relacionamento entre comunicaccedilatildeo interaccedilatildeo e

consciecircncia ldquoa loacutegica da consciecircncia eacute a loacutegica da comunicaccedilatildeo ideoloacutegica da interaccedilatildeo

semioacutetica de um grupo social Se privarmos a consciecircncia de seu conteuacutedo semioacutetico e

ideoloacutegico natildeo sobra nadardquo

Tanto em Arauacutejo (2002) quanto em Ferruzzi (2011) as atividades de Modelagem

permearam as demais atividades desenvolvidas em disciplinas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia Sendo assim as atividades de Modelagem estiveram condicionadas agrave adaptaccedilatildeo

ao contexto das referidas disciplinas de Caacutelculo Para tal condicionamento faz-se necessaacuterio

82

supostamente o alinhamento das atividades de Modelagem aos objetivos que satildeo delineados

em cada disciplina

A meu ver outras questotildees podem ser colocadas em relevo quando se desenvolve

Modelagem em salas de aula de disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia o

engajamento dos alunos nas referidas atividades estaria relacionado a quais motivos As

situaccedilotildees-problema natildeo matemaacuteticas em questatildeo estariam condicionadas aos conteuacutedos de

cada disciplina Quais ideologias estariam permeando tais ambientes de aprendizagem

Na intervenccedilatildeo proposta na presente pesquisa entendo os conteuacutedos de Caacutelculo

como ferramentas para a formaccedilatildeo em Engenharia Um Caacutelculo que somente pode ser

concebido em accedilatildeo Caacutelculo como meio natildeo como finalidade Baseado nisso natildeo haacute a priori

como definir os conteuacutedos de Caacutelculo que possam ser utilizados para entendimento de uma

questatildeo-problema natildeo matemaacutetica oriunda de um contexto real ndash razatildeo de ser das atividades

de Modelagem que seja escolhida por um grupo de sujeitos Mais do que isso o foco

principal da referida atividade eacute o entendimento da questatildeo-problema Dessa forma os

conteuacutedos de Caacutelculo satildeo construiacutedos e utilizados para solucionar a questatildeo-problema ndash um

Caacutelculo que jaacute ldquonasceriardquo em accedilatildeo

Tomando-se por base a constituiccedilatildeo do GEPMM como um contexto alternativo

agraves disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia e as atividades que foram nele

desenvolvidas busco analisar as possibilidades de aprendizagens expansivas

25 Concepccedilatildeo de uma atividade de Modelagem Matemaacutetica assumida em um contexto

de formaccedilatildeo em Engenharias

Para Barbosa (2001a p 6) ldquomodelagem eacute um ambiente de aprendizagem no qual

os alunos satildeo convidados a indagar eou investigar por meio da matemaacutetica situaccedilotildees

oriundas de outras aacutereas da realidaderdquo Vale ressaltar que o autor focou seus estudos de

doutoramento na formaccedilatildeo inicial de professores de Matemaacutetica ou seja alunos de

licenciatura em Matemaacutetica Na referida pesquisa de doutorado Barbosa (2001b) orientou-se

pela busca em entender a concepccedilatildeo de Modelagem Matemaacutetica de futuros professores de

Matemaacutetica tendo em vista as experiecircncias matemaacuteticas particularmente com modelagem

vivenciadas pelos licenciandos aliadas as suas concepccedilotildees de Matemaacutetica e de seu ensino

Nesse sentido considero que a Modelagem Matemaacutetica pode perfazer algo aleacutem

do que eacute proposto explicitamente por Barbosa (2001a) devido ao simples fato de que natildeo

83

somente os estudantes podem estar sendo convidados a indagar eou investigar mas acredito

sobretudo que tais ambientes podem assumir importante papel na formaccedilatildeo continuada de

professores em suas proacuteprias praacuteticas93

ampliando assim os respectivos horizontes de

atuaccedilatildeo nas mais diversas dimensotildees cotidianas de trabalho Vale ressaltar que embora

Barbosa (2001a) natildeo exclua as possibilidades de formaccedilatildeo docente continuada em tais

ambientes de aprendizagem ele natildeo se propocircs a focar suas discussotildees nesse possiacutevel aspecto

da atividade

Bassanezi (2006 p 16) entende que a modelagem matemaacutetica consiste na ldquoarte de

transformar problemas da realidade em problemas matemaacuteticos e resolvecirc-los interpretando

suas soluccedilotildees na linguagem do mundo realrdquo A obra artiacutestica pode ser considerada criaccedilatildeo de

uma nova realidade posto que o homem se afirma criando ou humanizando o que toca ndash a

praacutexis artiacutestica que ao ampliar e enriquecer com suas criaccedilotildees a realidade jaacute humanizada

constitui uma praacutexis essencial para o homem (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 198)

Ao considerar a modelagem como arte situando-a na esfera da atividade da

transformaccedilatildeo de uma mateacuteria (problema da realidade) sob uma nova forma (problemas

matemaacuteticos) eacute preciso levar em conta a necessidade humana que o objeto criado ou

produzido seraacute capaz de satisfazer Satildeo as necessidades humanas que configuram e orientam

as atividade de modelagem realizadas por uma coletividade cujo objeto compartilhado

relaciona-se necessariamente com os objetivos centrais a serem alcanccedilados mediante a

realizaccedilatildeo de accedilotildees intencionais adequadas agraves finalidades que por sua vez podem ser

caracterizadas pela(s) perspectiva(s) de modelagem assumida(s) pelos sujeitos engajados em

tal atividade

No contexto da pesquisa relatada no presente texto considero que atividade de

Modelagem Matemaacutetica constituem espaccedilos formativos94

nos quais os sujeitos engajados

dirigem suas accedilotildees em prol do entendimento e da resoluccedilatildeo de questotildees-problema natildeo

matemaacuteticas oriundas das mais variadas esferas da sociedade utilizando necessariamente

instrumentos matemaacuteticos para auxiliaacute-los

93

Formaccedilatildeo continuada de professores em suas proacuteprias praacuteticas quer dizer que os professores aprendem

enquanto vatildeo criando e modificando suas proacuteprias praacuteticas Natildeo precisam necessariamente participar de um

curso de formaccedilatildeo continuada para estarem aprendendo Eles proacuteprios tomam a realidade contraditoacuteria como

ponto de partida e promovem accedilotildees com vistas a modificarem suas praacutexis promovendo assim saltos

qualitativos em sua proacutepria formaccedilatildeo docente 94

Aqui espaccedilo formativo pode ser entendido como algo aleacutem de um lugar fiacutesico Um ambiente que produz um

contexto propiacutecio agrave formaccedilatildeo uma estrateacutegia de formaccedilatildeo que deve conter os mais variados instrumentos

incluindo instrumentos subjetivos e simboacutelicos nos quais os sujeitos dirigem suas accedilotildees orientadas pelos

objetivos de formaccedilatildeo que incluem o compartilhamento de conhecimentos em prol da formaccedilatildeo profissional dos

futuros engenheiros constituindo assim um sistema de atividades cujo objeto compartilhado deve incluir as

questotildees-problema a serem entendidassolucionadas e os futuros engenheiros (estudantes)

84

Cabe aqui uma ressalva como as atividades de Modelagem Matemaacutetica nesta

investigaccedilatildeo satildeo concebidas como espaccedilos formativos em instituiccedilotildees de ensino95

natildeo

podemos desconsiderar que esses espaccedilos perpassam por formas cotidianas de atitudes e

accedilotildees praacuteticas dos professores em exerciacutecio de seu trabalho como natildeo podemos considerar o

trabalho do professor sem levar em conta o(s) objeto(s) de sua atividade tambeacutem devemos

levar em conta que tais atividade perpassam por horizontes historicamente e culturalmente

elaborados de formas cotidianas de atitudes e accedilotildees praacuteticas dos alunos em exerciacutecio de suas

atribuiccedilotildees como estudantes considerando-se entatildeo objeto de sua proacutepria atividade de

formaccedilatildeo escolar institucionalizada

Ainda por considerar que o trabalho do professor consiste em auxiliar

acompanhar orientar e ajudar os estudantes a engajarem e participarem do processo de

formaccedilatildeo e constituiccedilatildeo da proacutepria cidadania em termos da aquisiccedilatildeo de conhecimentos

necessaacuterios para plena participaccedilatildeo social entendo que o trabalho do professor somente se

realiza em sua plenitude mediante o engajamento dos alunos pois para um sujeito auxiliar

eou acompanhar eou orientar eou ajudar outro sujeito torna-se necessaacuterio que esse outro

direcione accedilotildees no mesmo sentido orientadas pelo mesmo fim Nisso natildeo entendo que possa

haver ensino sem aprendizagem Por esse motivo que entendo as atividades de Modelagem

Matemaacutetica como espaccedilos formativos naturalmente imersos em espaccedilos formativos

institucionalizados mais amplos ndash escolas e universidades

Dessa forma podemos atribuir agraves atividade de Modelagem Matemaacutetica em

contextos formativos a necessidade de formaccedilatildeo de estudantes para se tornarem sujeitos

plenamente conscientes autocircnomos e livres mediante a aquisiccedilatildeo da capacidade de agir em

situaccedilotildees problemaacuteticas utilizando os conhecimentos construiacutedos pelo homem em sua

historicidade dentre estes a Matemaacutetica ndash no contexto da presente pesquisa mais

especificamente o Caacutelculo

Contudo natildeo somente estudantes podem estar em processo de formaccedilatildeo ao

participarem deste tipo de atividade mas tambeacutem os professores ao se depararem com

questotildees-problema natildeo oriundas de sua aacuterea de formaccedilatildeo (a Matemaacutetica) podem ser

agraciados com transformaccedilotildees em seus proacuteprios horizontes de accedilotildees cotidianas e de praacuteticas

de trabalho Acredito ainda que os professores ao modificarem suas praacuteticas cotidianas de

trabalho incluindo atividade de modelagem Matemaacutetica acabam por possibilitar um

95

Nesta pesquisa em uma universidade que se destina agrave formaccedilatildeo de engenheiros

85

movimento de transformaccedilotildees qualitativas em sua proacutepria formaccedilatildeo docente ainda que este

natildeo seja necessariamente o objeto principal que oriente tal modificaccedilatildeo

Engestroumlm (2002) enfatiza que os contextos da descoberta da aplicaccedilatildeo praacutetica e

da criacutetica ao serem assumidos podem provocar transformaccedilotildees no objeto da atividade

escolar tornando-o novo e expandido Sendo assim as atividades de Modelagem Matemaacutetica

como um espaccedilo formativo alternativo no qual alunos e professores tem a oportunidade de

elaborar e implementar um novo modo de fazer e participar do trabalho de ensino-

aprendizagem constituem um contexto propiacutecio para ampliar as possibilidades para

aprendizagens expansivas O objeto da atividade escolar tradicional eacute transformado

delegando aos textos escolares o papel de instrumentos e elegendo as questotildees-problema natildeo

matemaacuteticas como um novo e expandido objeto da atividade aleacutem de ser remetido aos

contextos da descoberta da aplicaccedilatildeo e da criacutetica Aleacutem disso os estudantes inicialmente

remetidos ao posto de sujeitos da atividade escolar de aprendizagem passam a configurar

adicionalmente ao objeto natildeo apenas da atividade do professor (ensino) mas sobretudo de

sua proacutepria atividade (aprendizagem) estando assim engajados na atividade de ensino-

aprendizagem que objetiva sua proacutepria formaccedilatildeo mediante tal participaccedilatildeo nas atividades de

Modelagem Matemaacutetica

Dessa forma as atividades de Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia

podem se configurar teoricamente mediante representaccedilatildeo ldquotriangularrdquo elaborada por

Engestroumlm (1987) como sistemas de atividade de ensino-aprendizagem da seguinte forma

86

FIGURA 5 ndash Os interdependentes sistemas de atividade de estudantes e professor(es) engajados em atividades

(escolares) de Modelagem Matemaacutetica

Fonte Elaborado pela autora com base em Engestroumlm (2008)

No desenvolvimento das accedilotildees que necessitam ocorrer para que as questotildees-

problema sejam entendidas resolvidas e solucionadas pelos participantes da atividade pode

ocorrer de algum instrumento ter de ser construiacutedo pelos participantes como por exemplo

alguma ferramenta matemaacutetica Neste caso o professor tem o papel fundamental de orientar

os alunos nessa construccedilatildeo que muitas vezes jaacute faz parte do conhecimento do professor

Contudo em atividades de Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia

contexto desta investigaccedilatildeo pode acontecer (e muitas vezes acontece) de as ferramentas

matemaacuteticas necessaacuterias para o entendimento eou resoluccedilatildeo da questatildeo-problema natildeo

estarem ao alcance ldquodiretordquo de alunos e professores Nesse caso abre-se um horizonte de

possibilidades de aprendizagem que pode tambeacutem constituir a formaccedilatildeo continuada desses

professores engajados na formaccedilatildeo matemaacutetica dos engenheiros Aleacutem disso caso o professor

esteja engajado nesse direcionamento podemos inclusive posicionar como objeto de sua

atividade sua proacutepria formaccedilatildeo continuada em termos da construccedilatildeo coletiva de novas

ferramentas matemaacuteticas o que pode levar agrave necessidade de novas pesquisas na aacuterea de

Matemaacutetica

Ao assumir as atividades de Modelagem Matemaacutetica como sendo um espaccedilo

formativo sendo possiacutevel sua construccedilatildeo dentro ou fora da sala de aula entendo que aos

sujeitos engajados em tais atividade eacute oferecida uma possibilidade de ampliaccedilatildeo gradual do

objeto e do contexto da aprendizagem Aleacutem disso tal espaccedilo formativo alternativo pode

87

possibilitar transformaccedilotildees no sentido de os sujeitos estarem aprendendo novas formas de

atividade direcionadas agrave sua proacutepria formaccedilatildeo Como corpus de anaacutelise para a presente

pesquisa baseio-me em atividades desenvolvidas por um Grupo de Estudos e Pesquisa em

Modelagem Matemaacutetica em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias que realiza suas

accedilotildees fora da sala de aula tradicional tanto de disciplinas de Caacutelculo quanto de disciplinas

ldquoteacutecnicasrdquo composto por alunos e professores de diversos cursos de Engenharia sob a

orientaccedilatildeo da seguinte pergunta diretriz

Quais aprendizagens expansivas podem ser evidenciadas pelas e nas atividades

desenvolvidas por um Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica (GEPMM)

em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias

Como possiacuteveis desdobramentos dessa pergunta estaratildeo

a) o que motivou a participaccedilatildeo dos docentes e discentes no GEPMM

b) Quais contradiccedilotildees ou conflitos estiveram presentes nas atividades do

GEPMM De que forma tais contradiccedilotildees foram exploradas

c) Como os instrumentos que permearam os sistemas de atividade do GEPMM se

relacionam aos sujeitos e aos objetos

26 Abertura de caixas-pretas como accedilotildees estrateacutegicas com vistas agraves possibilidades de

aprendizagens expansivas relacionadas agraves transformaccedilotildees do objeto de uma atividade de

Modelagem Matemaacutetica

[] nossa entrada no mundo da ciecircncia e da tecnologia seraacute pela porta de traacutes a da

ciecircncia em construccedilatildeo e natildeo pela entrada mais grandiosa da ciecircncia acabada

(LATOUR 2000 p 17)

No capiacutetulo 1 pontuei que segundo Engestroumlm (2002) um contexto propiacutecio para

possibilitar aprendizagens expansivas estaria ancorado pelo ldquotripeacuterdquo formado pelos contextos

da descoberta caracterizado pelo meacutetodo da ascensatildeo do abstrato ao concreto proposto por

Davydov da reproduccedilatildeo praacutetica proposto por Jean Lave e da criacutetica proposto por

Engestroumlm (2002) Com base em tal contexto as atividades de Modelagem Matemaacutetica

seriam consideradas como espaccedilos formativos nos quais os sujeitos engajados direcionariam

suas accedilotildees com vistas ao entendimento de questotildees-problema natildeo matemaacuteticas utilizando

88

necessariamente instrumentos matemaacuteticos para auxiliar a resoluccedilatildeoentendimento Com isso

o objeto dos sistemas de atividade seria composto pelas questotildees-problema natildeo matemaacuteticas e

pelos estudantes em formaccedilatildeo Mas como poderiacuteamos caracterizar os instrumentos

matemaacuteticos necessaacuterios no desenvolvimento da referida atividade Sob quais ldquoformasrdquo tais

instrumentos poderiam estar configurados Quais accedilotildees seriam possibilitadas por tais

instrumentos De que forma tais instrumentos se relacionam aos demais instrumentos da

atividade

Segundo Skovsmose (2007 p 113) a noccedilatildeo de Matemaacutetica tem se movido em

muitas direccedilotildees Para ele a terminologia matemaacutetica poderia estar referida ldquoagrave matemaacutetica

pura agrave aplicada agrave matemaacutetica da engenharia agraves teacutecnicas matemaacuteticas imersas na cultura agrave

matemaacutetica das ruas aos caacutelculos de todo tipordquo Afirma ainda que a Matemaacutetica estaacute em toda

parte assim como os computadores e considera o desenvolvimento dos computadores como

um desenvolvimento tecnoloacutegico que pode ser encarado como a materializaccedilatildeo de insights e

teacutecnicas Conclui que Matemaacutetica e Computaccedilatildeo satildeo atividades inter-relacionadas

Skovsmose (2007) considera a tecnologia de maneira ampla que inclui natildeo somente sua

ldquomaquinariardquo mas tambeacutem sua organizaccedilatildeo o conhecimento dos procedimentos de produccedilatildeo

e aqueles para o projeto e para a tomada de decisatildeo

Ao discorrer sobre a (denominada por ele) teoria da representaccedilatildeo da modelagem

matemaacutetica Skovsmose (2007) pontua que o enfoque frequentemente dado a esse tipo de

empreendimento se concentra na verificaccedilatildeo e na exatidatildeo do modelo a ser usado em tal

representaccedilatildeo enquanto o enfoque nos contextos (realidade social) e nas possiacuteveis

consequecircncias do processo de modelar eacute deixado de lado As discussotildees da modelagem

matemaacutetica como teoria da representaccedilatildeo focadas apenas na qualidade da representaccedilatildeo

para o autor estabelecem uma obstruccedilatildeo organizada da proacutepria atividade de modelagem E

sugere que a questatildeo mais importante no que tange os empreendimentos de modelagem

matemaacutetica pode ser designada pela seguinte pergunta ldquoo que a matemaacutetica em accedilatildeo incluirdquo

(SKOVSMOSE 2007 p 115) Sob a oacutetica da Teoria da Atividade esse questionamento

poderia ser a meu ver melhor representado pela seguinte pergunta quais e como se

configuram as accedilotildees possibilitadas pelas ferramentas matemaacuteticas em uma determinada

atividade de modelagem Observe que aqui as accedilotildees se referem aos processos subordinados

agraves metas individuais ou objetivos parciais da atividade Sendo assim a matemaacutetica eacute encarada

como um poderoso instrumento que pode auxiliar o entendimento de questotildees concernentes agraves

realidades natildeo matemaacuteticas Skovsmose (2007) questiona ainda quem constroacutei os modelos

Que aspectos da realidade estatildeo neles incluiacutedos Quem tem acesso aos modelos Os modelos

89

satildeo ldquoconfiaacuteveisrdquo Quem estaacute apto a controlaacute-los Em que sentido eacute possiacutevel falsificar um

modelo E conclui que se tais questotildees natildeo forem adequadamente esclarecidas valores

tradicionais da democracia podem ser corroiacutedos

Ao falar de matemaacutetica em accedilatildeo Skovsmose (2007) se concentra em visualizar

como as concepccedilotildees matemaacuteticas satildeo projetadas na realidade Para ele ldquoquando usamos a

matemaacutetica como uma base para projeto tecnoloacutegico criamos uma ferramenta tecnoloacutegica que

tem de algum modo sido conceitualizada por meio da matemaacuteticardquo (p 123) Observe que

para a Teoria da Atividade os usos das ferramentas tecnoloacutegicas na situaccedilatildeo de artefatos

mediadores das relaccedilotildees possivelmente estabelecidas e implementadas pelos sujeitos

orientados ao objeto estatildeo condicionados aos motivos da atividade relacionados agraves

necessidades humanas

Com vistas ao desenvolvimento de atividades de Modelagem podem estar

incluiacutedas accedilotildees que se referem agrave identificaccedilatildeo e anaacutelise de situaccedilotildees hipoteacuteticas sendo que a

Matemaacutetica auxilia esse processo fornecendo subsiacutedios instrumentais possibilitando

representaccedilotildees de algo ainda natildeo compreendido portanto permite simular alternativas

tecnoloacutegicas para uma dada situaccedilatildeo Sendo assim

A matemaacutetica daacute uma forma de liberdade tecnoloacutegica abrindo um espaccedilo para

situaccedilotildees hipoteacuteticas Neste sentido a matemaacutetica se torna um percurso para a

imaginaccedilatildeo tecnoloacutegica e portanto para o planejamento de processos tecnoloacutegicos

que incluem projeto-accedilatildeo com base matemaacutetica [] O espaccedilo aberto pela

imaginaccedilatildeo tecnoloacutegica poderia muito bem conter situaccedilotildees hipoteacuteticas que natildeo satildeo

acessiacuteveis ao senso comum Um quadro matemaacutetico nos daacute novas alternativas

(SKOVSMOSE 2007 p 123 grifo do autor)

Skovsmose (2007) pontua trecircs aspectos considerados por ele como relevantes no

que diz respeito agrave matemaacutetica em accedilatildeo primeiro considera que por meio da Matemaacutetica eacute

possiacutevel estabelecer um espaccedilo de situaccedilotildees hipoteacuteticas na forma de alternativas

(tecnoloacutegicas) (para uma situaccedilatildeo presente) segundo considera que por meio da Matemaacutetica

eacute possiacutevel investigar detalhes particulares de uma situaccedilatildeo hipoteacutetica embora a Matemaacutetica

tambeacutem cause severas limitaccedilotildees para tal raciociacutenio hipoteacutetico e por uacuteltimo a Matemaacutetica

embasa a modulaccedilatildeo e a constituiccedilatildeo de uma ampla variedade de fenocircmenos sociais e desse

modo ela se torna parte da realidade Com o advento da ciberneacutetica observa-se que muita

tecnologia da informaccedilatildeo se materializa em ldquopacotesrdquo que podem operar conjuntamente com

outros pacotes eles contecircm a matemaacutetica como um ingrediente definidor uma base comum

Os instrumentos matemaacuteticos constituem uma variedade de recursos existentes na

sociedade atual perfazendo ferramentas e signos materializados externamente aos sujeitos

90

(linguagem escrita falada figuras teacutecnicas softwares foacutermulas modelos equaccedilotildees entre

vaacuterios outros) eou internamente aos sujeitos (ferramentas mentais abstraccedilotildees

representaccedilotildees processos psicoloacutegicos memoacuteria etc)

Para compreender a matemaacutetica em accedilatildeo Skovsmose (2007) considera a

Matemaacutetica como uma linguagem refletindo sobre o que poderia ser feito por essa linguagem

particular Aleacutem disso nos conduz agrave seguinte reflexatildeo que visotildees de mundo podem ser

discursivamente constituiacutedas por meio da Matemaacutetica

Se a Matemaacutetica estaacute em todo lugar ndash se natildeo em cena atraacutes da cena ndash espera-se

que toda vez que algueacutem usa de qualquer maneira um computador ele estaacute usando mesmo

que sem consciecircncia disso inuacutemeros dispositivos que somente foram elaborados e

construiacutedos mediante consideraacuteveis avanccedilos de loacutegicas teacutecnicas e resultados matemaacuteticos A

proacutepria aacutelgebra booleana96

que permeia todos os processos ciberneacuteticos eacute oriunda de

conceitos e resultados matemaacuteticos Dessa forma pensar processos educativos em pleno

seacuteculo XXI que se propotildeem possibilitar aos aprendizes uma visatildeo e atuaccedilatildeo criacutetica nessa

sociedade ldquocheia de tecnologiasrdquo ao seu alcance deve necessariamente levar em conta o

domiacutenio do entendimento ldquodescortinadordquo de todos os constructos instrumentais e seus

respectivos usos em diversas praacuteticas sociais que vatildeo muito aleacutem de capacidades de leitura

escrita e contagem

Ubiratan DrsquoAmbroacutesio no final dos anos 90 propocircs um curriacuteculo97

baseado no

tripeacute literacia materacia e tecnoracia buscando abarcar uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo que

atenda agraves exigecircncias da sociedade em cada momento histoacuterico Para ele isso difere e muito

do paradigma curricular que foca na importacircncia acadecircmica de cada disciplina escolar Nas

palavras do autor

Literacia eacute a capacidade de processar informaccedilotildees escrita e falada o que inclui

leitura escrita escritura caacutelculo diaacutelogo ecaacutelogo miacutedia internet na vida cotidiana

(instrumentos comunicativos)

Materacia eacute a capacidade de interpretar e analisar sinais e coacutedigos de propor e utilizar modelos e simulaccedilotildees na vida cotidiana de elaborar abstraccedilotildees sobre representaccedilotildees do real (instrumentos intelectuais)

Tecnoracia eacute a capacidade de usar e combinar instrumentos simples ou complexos inclusive o proacuteprio corpo avaliando suas possibilidades e limitaccedilotildees e a sua adequaccedilatildeo a necessidades e situaccedilotildees diversas (instrumentos materiais)

98

(DrsquoAMBROacuteSIO 2005 p 119)

96

Booleana se refere agrave Aacutelgebra elaborada por George Boole matemaacutetico inglecircs que concluiu seus trabalhos

sobre tal teoria em meados do seacuteculo XIX 97

O autor define curriacuteculo de uma forma muito abrangente ldquoa estrateacutegia da accedilatildeo educativardquo (DrsquoAMBROacuteSIO

2005 p 118) 98

Em inglecircs Literacy matheracy e technoracy Existem outras traduccedilotildees para Literacy como por exemplo

letramento contudo natildeo portam a mesma definiccedilatildeo O letramento estaria mais relacionado com a matheracy

91

Na sociedade atual as capacidades requeridas aos sujeitos abarcam usos e visatildeo

criacutetica de instrumentos de comunicaccedilatildeo intelectuais e materiais Com isso eacute extremamente

necessaacuterio adaptar as praacuteticas escolares para dar conta dessas prioridades A Modelagem

Matemaacutetica por se tratar de uma atividade que busca a resoluccedilatildeo de questotildees-problema de

realidades natildeo matemaacuteticas pode se configurar como um importante espaccedilo formativo

direcionado por essa concepccedilatildeo de educaccedilatildeo proposta por DrsquoAmbroacutesio conforme explicitado

anteriormente

Para Skovsmose (2001 p 89) ldquoo conhecimento reflexivo tem como seu objeto o

uso da matemaacutetica e portanto torna-se importante sair da catedral do conhecimento formal

para se ter uma visatildeo mais geral dessa construccedilatildeordquo Aleacutem disso tal autor faz distinccedilatildeo entre

trecircs tipos de conhecer que podem orientar a educaccedilatildeo matemaacutetica

1) Conhecer matemaacutetico que se refere agrave competecircncia normalmente entendida como

habilidades matemaacuteticas incluindo-se competecircncias na reproduccedilatildeo de teoremas e

provas bem como ao domiacutenio de uma variedade de algoritmos ndash essa competecircncia

estaacute focada na educaccedilatildeo matemaacutetica tradicional e sua importacircncia tem sido

especialmente enfatizada pelo movimento estruturalista ou pela ldquonova matemaacuteticardquo

2) Conhecer tecnoloacutegico que se refere agraves habilidades em aplicar a matemaacutetica e agraves

competecircncias na construccedilatildeo de modelos A importacircncia do conhecer tecnoloacutegico

tem sido enfatizada pela tendecircncia dirigida para aplicaccedilotildees na educaccedilatildeo matemaacutetica

que afirma que ateacute mesmo se os estudantes aprendem matemaacutetica nenhuma

garantia existe de que a competecircncia desenvolvida eacute suficiente quando se trata de

situaccedilotildees de aplicaccedilatildeo Mais do que a matemaacutetica pura tem de ser dominado a fim

de se poder aplicar a matemaacutetica []

3) Conhecer reflexivo que se refere agrave competecircncia de refletir sobre o uso da

matemaacutetica e avaliaacute-lo Reflexotildees tecircm a ver com avaliaccedilotildees das consequecircncias do

empreendimento tecnoloacutegico (SKOVSMOSE 2001 p 115 e 116)

Skovsmose (2001) aponta que as habilidades relacionadas ao conhecer

tecnoloacutegico podem ser consideradas como uma competecircncia extra denominando-a por

competecircncia tecnoloacutegica E esclarece que de maneira geral eacute caracterizada pelo

entendimento necessaacuterio que possibilita o uso de uma ferramenta tecnoloacutegica visando a

alcanccedilar alguns objetivos tecnoloacutegicos

Aleacutem de objetivar a promoccedilatildeo do conhecer reflexivo a educaccedilatildeo matemaacutetica

criacutetica busca por uma educaccedilatildeo em que haja igualdade entre os sujeitos a um niacutevel de

parceria fundando-se nas ideias da ldquopedagogia emancipadorardquo de Paulo Freire (1987)

delimita-se assim um primeiro ponto-chave dessa concepccedilatildeo de educaccedilatildeo ndash ldquoenvolvimento

estando focado apenas na liacutengua oficial do Brasil o portuguecircs No campo do letramento podemos encontrar

conceitos proacuteximos agrave matheracy por exemplo o numeramento Jaacute o termo technoracy estaacute relacionado ao

technological literacy o que poderia ser traduzido por letramento tecnoloacutegico

92

dos estudantes no controle do processo educacionalrdquo (SKOVSMOSE 2001 p 18) Um

segundo ponto-chave dessa concepccedilatildeo eacute a ldquoconsideraccedilatildeo criacutetica de conteuacutedos [] ambos

estudantes e professor devem estabelecer uma distacircncia criacutetica do conteuacutedo da educaccedilatildeordquo

(SKOVSMOSE 2001 p 18 grifo meu) O terceiro e uacuteltimo ponto-chave dessa concepccedilatildeo eacute o

direcionamento do processo de ensino-aprendizagem a problemas existentes fora do contexto

educacional Considerando os trecircs pontos-chave em uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo criacutetica o

autor coloca que o engajamento criacutetico deve fazer parte do processo Citando John Dewey

Skovsmose (2007) pontua que o meacutetodo experimental pode assegurar um novo suporte

pedagoacutegico com vistas ao desenvolvimento democraacutetico

Buscando possibilitar aprendizagens expansivas como transformaccedilotildees no objeto

da atividade de Modelagem uma possiacutevel estrateacutegia a ser considerada pode ser elencar accedilotildees

que objetivem a abertura de caixas-pretas Essa terminologia foi trazida da ldquosociologia da

ciecircnciardquo por Bruno Latour em sua obra Ciecircncia em accedilatildeo como seguir cientistas e

engenheiros sociedade afora devido ao entendimento de que vaacuterios conhecimentos

amplamente difundidos nos curriacuteculos escolares nas ementas das disciplinas partem de

resultados cientiacuteficos frequentemente considerados como inquestionaacuteveis eou verdades

absolutas Latour (2000) traz a noccedilatildeo de caixa-preta como sendo uma expressatildeo usada em

ciberneacutetica sempre que uma maacutequina ou um conjunto de comandos se revela complexo

demais ldquoem seu lugar eacute desenhada uma caixinha preta a respeito da qual natildeo eacute preciso saber

nada senatildeo o que nela entra e o que dela sairdquo (LATOUR 2000 p 14)

Dessa forma uma caixa-preta pode ser entendida como um aparatoobjeto

(conceito fato teacutecnica equaccedilatildeo lei teoria modelo equipamento aparelho maacutequina entre

outras possibilidades) oriundo de resultado de pesquisa cientiacutefica no qual eacute atribuiacutedo um

grau inquestionaacutevel de verdade sendo que sua existecircncia somente se justifica devido as suas

associaccedilotildees com outros aparatosobjetos (que tambeacutem podem ser caixas-pretas) e seus

respectivos usos sociais

O trabalho cientiacutefico estaacute condicionado agrave abertura e ao fechamento de caixas-

pretas Um cientista ao se deparar com possibilidades de investigar certo fenocircmeno X busca

todas as ldquoverdadesrdquo que outros cientistas jaacute estabeleceram sobre esse fenocircmeno Quando as

encontra pode questionaacute-las ou aceitaacute-las Suponha que o cientista resolva questionar uma

caixa-preta P encontrada por ele no processo de investigaccedilatildeo do fenocircmeno X Para isso eacute

necessaacuterio que ele utilize outros instrumentos (incluindo ateacute mesmo outras caixas-pretas) que

objetivem a abertura dessa caixa-preta Apoacutes a abertura ele comeccedila a relacionar essa caixa-

preta P com outras proposiccedilotildees a respeito do fenocircmeno X podendo alterar P ou apenas

93

reafirmar a ldquoverdaderdquo contida em P De qualquer forma o cientista abre e fecha P em certo

momento de sua atividade cientiacutefica Portanto qualquer caixa-preta pode ser aberta

reafirmada ou modificada ou ainda apenas utilizada pelos cientistas

Na vida cotidiana nos deparamos com as mais variadas caixas-pretas Um

reloacutegio por exemplo eacute uma delas sabemos que se o alimentarmos com bateria e cedermos a

ele uma regulagem com a hora oficial (entrada) ele sempre nos forneceraacute as horas (saiacuteda) no

entanto normalmente natildeo sabemos quais os processos ocorrem dentro dessa caixa-preta

Uma foacutermula matemaacutetica pode ser outro exemplo de caixa-preta se tomarmos por exemplo

a foacutermula de caacutelculo dos juros compostos 119862119899 = 1198620(1 + 119894)119899 sabe-se que se forem fornecidos o

capital inicial (1198620) a taxa de juros (119894) e o tempo (119899) (entradas) a foacutermula forneceraacute qual a

quantia (119862119899) (saiacuteda) teraacute depois desse tempo no entanto o que estaacute por traacutes dessa foacutermula e

qual eacute a veracidade dela o usuaacuterio pode natildeo ter conhecimento

Assim de forma representativa podemos visualizar as caixas-pretas da seguinte

forma

FIGURA 6 ndash Visualizaccedilatildeo da caixa-preta e suas possiacuteveis associaccedilotildees a outras caixas-pretas

Fonte Elaborada pela autora com base em Latour (2000)

Observe que as caixas-pretas natildeo se restringem apenas agraves variaacuteveis de entrada e

saiacuteda mas sobretudo ao relacionamento que cada uma delas pode estabelecer com outras

vaacuterias caixas-pretas Em um uacutenico equipamento um computador por exemplo existem

vaacuterias caixas-pretas em seu ldquointeriorrdquo ou seja uma caixa-preta contendo vaacuterias caixas-

pretas que se relacionam internamente

94

Mas porque accedilotildees orientadas pela abertura das caixas-pretas podem ser uacuteteis para

possibilitar aprendizagens expansivas em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias Uma

boa explicaccedilatildeo pode ser encontrada na seguinte reflexatildeo proposta por Latour (2000) como

segue

[] muitos jovens entraram no mundo da ciecircncia mas se tornaram cientistas e

engenheiros o que eles fizeram estaacute visiacutevel nas maacutequinas que usamos nos livros

pelos quais aprendemos nos comprimidos que tomamos nas paisagens que

olhamos nos sateacutelites que cintilam no ceacuteu noturno sobre nossas cabeccedilas Como

fizeram natildeo o sabemos [] quase ningueacutem estaacute interessado no processo de

construccedilatildeo da ciecircncia [] Os fatos e artefatos que esta produz caem sobre suas

cabeccedilas como um fado externo tatildeo estranho desumano e imprevisiacutevel quanto o

Fatum dos antigos romanos (LATOUR 2000 p 33-34)

A grande questatildeo aqui estampada consiste no entendimento de que os conteuacutedos

escolares perpassam pelos resultados cientiacuteficos muitas vezes relacionados a generalizaccedilotildees e

conceituaccedilotildees que num primeiro momento podem parecer ldquoestranhasrdquo aos aprendizes Essa

ldquoestranhezardquo pode muito bem ser anulada ou minimizada na medida em que os aprendizes

consigam adentrar para tais entes entendendo seu processo histoacuterico de construccedilatildeo e mais do

que isso percebendo que todo processo construtivo humano consiste na materializaccedilatildeo das

necessidades sociais e culturais em cada tempo histoacuterico de seu desenvolvimento

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo para desenvolvimento da cidadania emancipaccedilatildeo e

liberdade estaacute motivada pelas possibilidades e usos de conhecimentos em praacuteticas sociais

Nelas os sujeitos engajados carregam consigo as mais diversas experiecircncias vividas

anteriormente em diversos contextos sociais dentre estes os espaccedilos escolares Eacute na escola

que os resultados da ciecircncia satildeo recontextualizados e assumem postos de conteuacutedos a serem

desenvolvidos nas praacuteticas que ali ocorrem A abertura de caixas-pretas se torna portanto

imprescindiacutevel para se alcanccedilar uma formaccedilatildeo libertaacuteria emancipada e cidadatilde nos dias atuais

Mas quem decide quais caixas-pretas devem ser abertas jaacute que natildeo podem ser

todas Acredito que tal decisatildeo deva emergir da coletividade de aprendizes engajados em

cada frente de formaccedilatildeo pautados pelas demandas impostas pela sociedade em cada momento

de sua historicidade num contiacutenuo processo de diaacutelogo e orquestraccedilatildeo

Ao considerarmos o contexto institucional de formaccedilatildeo de engenheiros foco

dessa pesquisa podemos afirmar que os sujeitos partiacutecipes desse contexto tecircm amplo acesso

aos mais variados aparatosobjetos que podem ser entendidos como caixas-pretas Em

atividade de Modelagem Matemaacutetica sendo aqui considerada como um espaccedilo formativo que

se configura como um contexto propiacutecio para possibilitar aprendizagens expansivas por estar

95

baseado no contexto da criacutetica proposto por Engestroumlm (2002) entende-se portanto que tais

caixas-pretas devam ser abertas questionadas e se possiacutevel ou necessaacuterio alteradas ou

modificadas Isso deve fazer parte da formaccedilatildeo de engenheiros que pretendem dar conta da

complexidade e da magnitude do trabalho que os aguarda nas mais variadas esferas da

sociedade atual

Atividades de Modelagem Matemaacutetica podem assim constituir espaccedilos

formativos que possibilitem a abertura de caixas-pretas devido agrave postura investigativa que

pode ser instigada e cultivada nesse contexto Para tal os engajados nesse processo satildeo

orientados pelo questionamento e consequentemente pela modificaccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo ou

certezas cientiacuteficas contidas em fatos aceitos e ateacute entatildeo inquestionaacuteveis que compotildeem cada

caixa-preta Dessa forma muitos fatos e enunciados sociais amplamente aceitos e difundidos

podem ser alterados nas e pelas atividades de Modelagem Matemaacutetica Mais do que isso a

abertura de caixas-pretas pode se revelar como estrateacutegia de formaccedilatildeo na qual os sujeitos satildeo

instigados apoacutes a abertura e possiacutevel confirmaccedilatildeo da ldquoverdaderdquo contida na caixa-preta natildeo

somente a aceitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo de tais certezas cientiacuteficas mas sobretudo agrave tomada de

tais certezas como base (entrada) para a elaboraccedilatildeo de outras certezas ou empreendimentos

cumprindo assim a formaccedilatildeo no que tange agrave produccedilatildeo criativa agrave inovaccedilatildeo e ao

empreendedorismo

As estrateacutegicas accedilotildees com vistas agrave abertura de caixas-pretas num contexto de

formaccedilatildeo em Engenharias correspondem a mudanccedilas qualitativas nos objetos da atividade de

Modelagem Matemaacutetica a questatildeo-problema que por vezes configura como objeto da

atividade de Modelagem Matemaacutetica pode ser considerada num primeiro momento como

uma caixa-preta na qual as accedilotildees devem ser direcionadas visando a sua abertura

Transformaccedilotildees qualitativas do objeto da atividade devem ser consideradas como

aprendizagens expansivas segundo Engestroumlm e Sannino (2010b)

Para concluir este capiacutetulo entendo que uma caixa-preta na verdade nunca eacute

totalmente preta e nem totalmente branca Caso existisse caixa pretas totalmente cinzas ou

totalmente brancas estariacuteamos reforccedilando a ideologia das verdades ldquoabsolutasrdquo e

inquestionaacuteveis assim como o contraacuterio A variaccedilatildeo de cores permitida entre o preto e o

branco configura como pertencente agrave categoria dos infinitos tons de cinza Suponha um

intervalo aberto entre zero e um A uma caixa-preta qualquer seria atribuiacutedo um valor mais

proacuteximo de um do que de zero isto eacute um tom de cinza mais escuro Com a realizaccedilatildeo das

accedilotildees expostas anteriormente a caixa-preta tende a ldquoclarear-serdquo (ou natildeo) sendo entatildeo

atribuiacutedo um valor menor (ou maior) do que o anteriormente atribuiacutedo resultando em um tom

96

de cinza mais claro do que o anterior Tal clarificaccedilatildeo pode ser entendida como um

movimento do escuro para o claro da atuaccedilatildeo ldquocegardquo para a ldquoniacutetidardquo em termos das questotildees

a serem ldquoesclarecidasrdquo por uma determinada atividade de Modelagem Matemaacutetica Ao

considerarmos os sujeitos como objetos da proacutepria atividade formativa o esclarecimento

parte inerente da subjetividade dos sujeitos engajados em tal espaccedilo em inter-relaccedilatildeo ao

objeto da atividade (questatildeo-problema a ser esclarecida) pode atingir um grau de magnitude

compatiacutevel com a participaccedilatildeo resultado da proacutepria experiecircncia na praacutetica social tendendo a

qualitativas modificaccedilotildees na agency e nas interaccedilotildees dos sujeitos na referida atividade

No proacuteximo capiacutetulo apresento os procedimentos utilizados e a metodologia

assumida no desenvolvimento da pesquisa relatada nesta tese

97

3 METODOLOGIA DE PESQUISA E PROCEDIMENTOS

Neste capiacutetulo apresento a abordagem teoacuterico-metodoloacutegica de construccedilatildeo99

e

anaacutelise dos dados o contexto em que esta pesquisa estaacute inserida bem como os procedimentos

metodoloacutegicos que foram adotados para a construccedilatildeo e anaacutelise desses dados

31 Por que a abordagem eacute qualitativa

Esta pesquisa estaacute inserida na aacuterea da Educaccedilatildeo Matemaacutetica localizada na aacuterea de

Ciecircncias Humanas que engloba questotildees relacionadas aos objetos de estudo da Educaccedilatildeo da

Matemaacutetica e da proacutepria Educaccedilatildeo Matemaacutetica Esses campos de pesquisa embora

compartilhem de praacuteticas sociais que na maioria das vezes estatildeo localizadas dentro das

instituiccedilotildees educacionais possuem interesses distintos em termos de pesquisa Mas como

um sujeito (neste caso eu professora de Caacutelculo em cursos de Engenharia) que passou grande

parte da vida trabalhando com Ciecircncias Exatas pode se encorajar a desenvolver uma pesquisa

na aacuterea das Ciecircncias Humanas A resposta para essa pergunta pode ser encontrada no

posicionamento de Arauacutejo e Borba (2006)

E quando um professor (de Matemaacutetica) se dispotildee a realizar uma pesquisa na aacuterea de

Educaccedilatildeo (Matemaacutetica) talvez seja porque ele vem problematizando sua praacutetica o

que poderaacute levaacute-lo a se dedicar com afinco ao desenvolvimento de uma pesquisa

originada desta problematizaccedilatildeo e para isso eacute preciso que ele sintetize suas

inquietaccedilotildees iniciais em uma (primeira) pergunta diretriz (ARAUacuteJO BORBA

2006 p 30)

Foi exatamente problematizando minha proacutepria atividade docente que busquei

pelo entendimento de questotildees relacionadas ao ensino de Caacutelculo em cursos de Engenharia

inicialmente a primeira pergunta diretriz que norteou a presente pesquisa foi de que forma a

Modelagem Matemaacutetica aliada a recursos computacionais pode melhor inter-relacionar a

99

Natildeo uso o termo coleta de dados por entender que o papel do pesquisador pode se configurar como aquele que

constroacutei dados para a pesquisa que se propotildee desenvolver Os dados natildeo podem ser coletados pelo simples

motivo de eles por vezes nem sequer existirem Soacute pode ser coletado o que existe O verbo coletar pode ser

sinocircnimo de juntar ou reunir algum objeto ou coisa Quando se utiliza esse verbo em pesquisas no sentido de

juntar ou reunir dados uma pressuposiccedilatildeo de que jaacute existam os dados a serem reunidos ou juntados eacute

considerada Contudo essa pressuposiccedilatildeo pode assumir caraacuteter falso quando o pesquisador vecirc-se em faces de

construir os dados que necessita visando buscar entendimento para a questatildeo que se propotildee investigar

98

disciplina de Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias agraves demais disciplinas ldquoteacutecnicasrdquo dos cursos

de Engenharia

Poreacutem ainda que Alves-Mazzotti (1999 p 147) considere que ldquoo foco da

pesquisa bem como as categorias teoacutericas e o proacuteprio design100

soacute deveratildeo ser definidos no

decorrer do processo de investigaccedilatildeordquo ela defende que

trabalhar de forma altamente indutiva deixando que o design e a teoria emerjam dos

dados eacute difiacutecil ateacute mesmo para pesquisadores mais experientes Quanto menos

experiente for o pesquisador mais ele precisaraacute de um planejamento cuidadoso sob

a pena de se perder num emaranhado de dados dos quais natildeo conseguiraacute extrair

qualquer significado (ALVES-MAZZOTTI 1999 p 148)

Refletindo acerca dos apontamentos de Alves-Mazzotti (1999) decidi tentar

perceber o movimento do foco e do design da pesquisa aqui relatada na tentativa de mesmo

que informalmente que o planejamento da pesquisa fosse cuidadoso e ao mesmo tempo

adotasse certo grau de flexibilidade Nesse processo de co-construccedilatildeo de foco e design da

pesquisa acabei por delinear a seguinte pergunta diretriz ldquoquais aprendizagens expansivas

podem ser evidenciadas pelas e nas atividades desenvolvidas por um Grupo de Estudos e

Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica (GEPMM) num contexto de formaccedilatildeo em

Engenhariasrdquo

Conforme exposto no capiacutetulo 1 a concepccedilatildeo de aprendizagem assumida na

pesquisa faz parte do referencial teoacuterico conhecido como Teoria Histoacuterico Cultural da

Atividade na qual um dos seus cinco princiacutepios afirma que a anaacutelise da atividade e dos

componentes que a formam deve sempre ser tomada em sua historicidade perceber o papel

das contradiccedilotildees no movimento de uma atividade torna possiacutevel tambeacutem a reconstituiccedilatildeo de

sua evoluccedilatildeo e do desenvolvimento de suas praacuteticas ao longo da histoacuteria Com isso entendo

que a abordagem metodoloacutegica histoacuterico-dialeacutetica que questiona fundamentalmente a visatildeo

estaacutetica da realidade considerando o caraacuteter dinacircmico contraditoacuterio e histoacuterico dos

fenocircmenos educativos deve ser considerada nesta investigaccedilatildeo Essa abordagem

metodoloacutegica considera que

Aquilo que hoje se apresenta diante de nossos olhos eacute apenas uma siacutentese do

processo histoacuterico em transformaccedilatildeo Por isso procura apresentar uma concepccedilatildeo

unitaacuteria coerente e orgacircnica do mundo fazendo da criacutetica seu modelo

100

ldquoO termo lsquodesignrsquo no que se refere agrave pesquisa tem sido traduzido como desenho ou planejamento O design

corresponde ao plano e agraves estrateacutegias utilizadas pelo pesquisador para responder agraves questotildees propostas pelo

estudo incluindo os procedimentos e instrumentos de coleta anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados bem como a

loacutegica que liga entre si diversos aspectos da pesquisardquo (ALVES-MAZZOTTI 1999 p 147)

99

paradigmaacutetico mesmo porque natildeo haacute modelo teoacuterico ou siacutentese por melhor que

seja que decirc conta da realidade (FIORENTINI LORENZATO 2009 p 66)

Para tal abordagem eacute preciso entender os conflitos dos interesses aleacutem de

desvendar as contradiccedilotildees que emergem da realidade conforme preconizado pela Teoria da

Atividade Aleacutem disso natildeo basta compreender a realidade eacute preciso tambeacutem intervir nela

visando agrave emancipaccedilatildeo (libertaccedilatildeo) dos sujeitos (FIORENTINI LORENZATO 2009) O

entendimento dos conflitos de interesses pode ser enquadrado na anaacutelise das regras na

constituiccedilatildeo da comunidade e na divisatildeo do trabalho como referenciados no capiacutetulo 2

segundo a Teoria da Atividade proposta por Engestroumlm (1987) No sentido de natildeo bastar

compreender a realidade mas sobretudo intervir nela entende-se que o papel das

contradiccedilotildees segundo a Teoria da Atividade assumido como constituinte da forccedila motriz

capaz de promover transformaccedilotildees expansivas na atividade reafirma a necessidade de

intervenccedilotildees que podem estar relacionadas agraves possibilidades de emancipaccedilatildeo e liberdade dos

sujeitos partiacutecipes

Aleacutem disso entendo que tal orientaccedilatildeo metodoloacutegica coloca minha pesquisa em

consonacircncia com a abordagem qualitativa de investigaccedilatildeo Bogdan e Biklen (1994) utilizam a

expressatildeo investigaccedilatildeo qualitativa como sendo um termo geneacuterico no qual os dados

construiacutedos satildeo ricos em pormenores descritivos relacionados a pessoas locais e conversas e

o objetivo eacute investigar fenocircmenos em toda sua complexidade em um contexto real

Tendo em vista se tratar de uma investigaccedilatildeo de natureza qualitativa torna-se

pertinente analisar as suas caracteriacutesticas principais Bogdan e Biklen (1994) apresentam-nos

as cinco principais caracteriacutesticas da investigaccedilatildeo qualitativa que foram os princiacutepios

orientadores para esta pesquisa

1 Na investigaccedilatildeo qualitativa a fonte direta de dados101

eacute o ambiente natural

constituindo o investigador o instrumento principal

2 A investigaccedilatildeo qualitativa eacute descritiva

3 Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que

simplesmente pelos resultados ou produtos

4 Os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de forma indutiva

5 O significado eacute de importacircncia vital na abordagem qualitativa

Vale ressaltar que esses cinco princiacutepios orientam poreacutem natildeo necessariamente

definem e nem sequer limitam o uso da abordagem qualitativa em investigaccedilotildees como eacute o

101

Conforme apontado no iniacutecio deste capiacutetulo entendo que na investigaccedilatildeo qualitativa os dados satildeo construiacutedos

no ambiente natural que abriga o objeto da pesquisa

100

caso desta tese Assim podemos definir que a pesquisa se inclui em uma abordagem

qualitativa

Para que as atividades escolares possam ser transformadas expandidas

Engestroumlm (2002) afirma que eacute necessaacuterio antes de tudo questionar radicalmente o sentido e

o significado do contexto e com isso almejar a construccedilatildeo de um contexto alternativo mais

amplo As accedilotildees direcionadas para tal construccedilatildeo segundo Engestroumlm e Sannino (2010b)

podem ser sistematizadas em um ciclo de aprendizagem expansiva conforme explicitado no

capiacutetulo 2 Engestroumlm (2002) sugere que toda e qualquer atividade escolar deveria ser

preconizada por uma criacutetica meticulosa sobre seus conteuacutedos e procedimentos agrave luz de sua

histoacuteria Para o autor o contexto da criacutetica pressupotildee possibilidades de resistecircncia

questionamento contradiccedilatildeo e debate Nele os conteuacutedos e procedimentos satildeo considerados

sob a oacutetica da necessidade da coletividade afetada pela escolarizaccedilatildeo em termos histoacutericos

culturais e sociais

No toacutepico que segue definirei o contexto e os participantes assim como os

instrumentos de construccedilatildeo e anaacutelise de dados

32 Qual eacute o contexto e quem satildeo os sujeitos

Para alcanccedilar o objetivo da presente pesquisa inicialmente busquei uma

instituiccedilatildeo de ensino que se ocupasse da formaccedilatildeo de engenheiros Essa instituiccedilatildeo por

motivos logiacutesticos natildeo poderia estar muito distante da cidade em que resido Aleacutem disso

delimitei que ela fosse mantida pelo poder puacuteblico federal pois nelas a maioria dos

professores se dedica exclusivamente agraves atividades acadecircmicas de ensino pesquisa e

extensatildeo o que torna esses sujeitos propiacutecios ao engajamento como participantes da pesquisa

principalmente no que se refere agrave criaccedilatildeo do Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem

Matemaacutetica

Alves-Mazzotti (1999 p 162) elucida diversas questotildees a respeito da escolha do

campo onde seratildeo construiacutedos os dados bem como a respectiva escolha dos sujeitos nele

contidos

Ao contraacuterio do que ocorre com as pesquisas tradicionais a escolha do campo onde

seratildeo colhidos os dados bem como os participantes eacute proposital isto eacute o

101

pesquisador os escolhe em funccedilatildeo das questotildees de interesse do estudo e tambeacutem das

condiccedilotildees de acesso e permanecircncia no campo e disponibilidade dos sujeitos

Sendo assim a escolha da instituiccedilatildeo tambeacutem estava pautada pela facilidade de

diaacutelogo e entrosamento entre a pesquisadora e os docentes nela lotados que se constituiu

devido ao fato de a pesquisadora jaacute ter sido docente na instituiccedilatildeo escolhida sendo assim jaacute

tendo estabelecida uma relaccedilatildeo de amizade e confianccedila entre seus pares Outro fator que

tambeacutem foi levado em conta na escolha da instituiccedilatildeo foi o fato de a instituiccedilatildeo se dedicar

exclusivamente agrave formaccedilatildeo de engenheiros perfazendo um total de nove cursos oferecidos102

Esse fator foi levado em conta pelo simples motivo de todos os sujeitos supostamente

estarem focados em uma missatildeo comum ldquogerar sistematizar aplicar e difundir

conhecimento ampliando e aprofundando a formaccedilatildeo de cidadatildeos e profissionais

qualificados e contribuir para o desenvolvimento sustentaacutevel do paiacutes visando a melhoria da

qualidade de vidardquo (ESTATUTO UNIFEI 2003 p 2)

Considerando que esta pesquisa busca analisar as possibilidades para

aprendizagens expansivas evidenciadas nas e pelas atividades desenvolvidas por um Grupo de

Estudos e Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica cujo objeto idealizado pode ser entendido

como questotildees-problema natildeo matemaacuteticas e estudantes os sujeitos que estivessem dispostos a

engajarem em tal sistema de atividade poderiam se tornar participantes da pesquisa

A instituiccedilatildeo escolhida foi a Universidade Federal de Itajubaacute (UNIFEI) ndash campus

Itabira O campus expandido da Universidade Federal de Itajubaacute em Itabira foi criado em

agosto de 2008 inaugurando trecircs cursos de graduaccedilatildeo destinados agrave formaccedilatildeo de Engenheiros

Eletricistas de Materiais e de Computaccedilatildeo Na ocasiatildeo apenas dez professores compunham o

quadro de efetivos que lecionavam para cento e cinquenta alunos sendo cinquenta de cada

curso

Depois de escolhida a instituiccedilatildeo onde seria realizada a pesquisa iniciei a ida ao

campo Primeiramente em 16 de dezembro de 2011 reuni-me com o entatildeo diretor do campus

para expor o interesse em construir os dados na UNIFEI e discutir os objetivos da pesquisa

Na ocasiatildeo o diretor se mostrou entusiasmado com a pesquisa e sugeriu alguns nomes de

professores que poderiam se interessar em participar Aleacutem disso ele disse que atividades de

Modelagem Matemaacutetica segundo seu proacuteprio entendimento se aproximavam bastante dos

objetivos de uma abordagem metodoloacutegica que jaacute tinha sido colocada em praacutetica nos cursos

da UNIFEI poreacutem sem sucesso A abordagem a que ele se referia eacute o Problem-Based

102

Engenharia de Computaccedilatildeo Eleacutetrica de Materiais de Produccedilatildeo de Controle e Automaccedilatildeo da Mobilidade de

Sauacutede e Seguranccedila Ambiental Mecacircnica

102

Learning (PBL) que foi traduzida para o portuguecircs como Aprendizagem Baseada em

Problemas Filho e Ribeiro (2006) esclarecem que o PBL se originou na formaccedilatildeo em

Medicina e foi posteriormente empregado em outras formaccedilotildees profissionais sendo que

na formaccedilatildeo profissional a utilizaccedilatildeo do PBL deve necessariamente se adaptar agraves

particularidades da aacuterea de conhecimento aos atores (alunos e professores) agrave

instituiccedilatildeo agraves diretrizes que regem a educaccedilatildeo superior no paiacutes Entretanto algumas

caracteriacutesticas do PBL devem ser contempladas para que um meacutetodo possa ser

reconhecido como tal A caracteriacutestica mais importante no PBL eacute o fato de uma

situaccedilatildeo-problema sempre preceder a apresentaccedilatildeo dos conceitos necessaacuterios para

sua soluccedilatildeo Quer dizer a principal caracteriacutestica que difere o PBL de outros

meacutetodos ativos colaborativos centrados nos alunos no processo e da aprendizagem

baseada em casos (CBL) eacute o emprego de problemas para iniciar enfocar e motivar a

aprendizagem de conteuacutedos especiacuteficos e para promover o desenvolvimento de

habilidades e atitudes profissional e socialmente desejaacuteveis (FILHO RIBEIRO

2006 p 24)

A partir desse momento percebi que atividades geradas pelo PBL realmente se

aproximam metodologicamente de atividades de Modelagem Matemaacutetica em cursos de

Engenharia

Os sujeitos participantes da construccedilatildeo dos dados dessa pesquisa foram alunos e

professores da UNIFEI- campus Itabira No capiacutetulo 4 o contexto e sujeitos que participaram

desta pesquisa seratildeo apresentados com mais detalhes

Na proacutexima secccedilatildeo mostrarei os instrumentos que foram usados para a construccedilatildeo

e anaacutelise dos dados

33 Quais foram os procedimentos de construccedilatildeo dos dados

Para uma pesquisa qualitativa destaca-se a importacircncia da utilizaccedilatildeo de diferentes

procedimentos para a construccedilatildeo dos dados o que se denomina triangulaccedilatildeo que em uma

pesquisa qualitativa consiste na utilizaccedilatildeo de vaacuterios e distintos procedimentos para obtenccedilatildeo

de dados (ALVES-MAZZOTTI 1999)

Visando realizar uma triangulaccedilatildeo os procedimentos de construccedilatildeo e obtenccedilatildeo de

dados foram os seguintes

331 A constituiccedilatildeo do GEPMM e observaccedilatildeo participante em suas atividades

103

Inicialmente visando agrave criaccedilatildeo do GEPMM convidei alunos e professores dos

cursos de Engenharia da UNIFEI-Itabira O convite foi efetuado em 25 de outubro de 2012

na ocasiatildeo em que uma palestra intitulada ldquoModelagem Matemaacutetica e Aprendizagem Baseada

em Problemas convergecircncias possiacuteveisrdquo foi proferida por mim com o objetivo de suscitar o

interesse de alunos e professores em participar do grupo Aleacutem da palestra o convite para a

participaccedilatildeo no grupo foi postado na paacutegina da UNIFEI-Itabira ndash da rede social Facebook103

Foram realizadas entrevistas com os docentes e discentes que participaram do

GEPMM todas as discussotildees que aconteceram durante os encontros foram documentados por

meio de gravaccedilotildees em aacuteudio e viacutedeo aleacutem das notas de campo no diaacuterio de pesquisa (FLICK

2009) com o objetivo de tentar visualizar possiacuteveis aprendizagens expansivas que emergiriam

dos sistemas de atividade do GEPMM No referido projeto a atuaccedilatildeo da pesquisadora se

constitui como uma observaccedilatildeo participante

Segundo Flick (2009) a observaccedilatildeo consiste em uma habilidade cotidiana

metodologicamente sistematizada e aplicada em pesquisas qualitativas e a observaccedilatildeo pode se

caracterizar como participante ou natildeo participante A observaccedilatildeo participante eacute uma das

formas mais comumente utilizada em pesquisas qualitativas podendo ser definida como ldquouma

estrateacutegia de campo que combina simultaneamente a anaacutelise de documentos a entrevista de

respondentes e informantes a participaccedilatildeo e a observaccedilatildeo diretas e introspecccedilatildeordquo (DENZIN

1989 p 157-158 apud FLICK 2009 p 207)

Na observaccedilatildeo participante o pesquisador deve cada vez mais obter acesso ao

campo e agraves pessoas tornar-se um participante das praacuteticas sociais observadas e aleacutem disso a

observaccedilatildeo deve passar por um processo para se tornar cada vez mais concentrada nos

aspectos essenciais agraves questotildees da pesquisa (FLICK 2009 p 208)

A observaccedilatildeo participante pode ser descrita por Spradley (1980) por meio das

seguintes trecircs fases

1 Observaccedilatildeo descritiva ndash no iniacutecio serve para fornecer ao pesquisador uma

orientaccedilatildeo para o campo em estudo Fornece tambeacutem descriccedilotildees natildeo especiacuteficas e

eacute utilizada para apreender o maacuteximo possiacutevel a complexidade do campo e (ao

mesmo tempo) para desenvolver questotildees de pesquisa e linhas de visatildeo mais

concretas

2 Observaccedilatildeo focalizada ndash restringe a perspectiva do pesquisador agravequeles processos

e problemas que forem os mais essenciais para a questatildeo da pesquisa

3 Observaccedilatildeo seletiva ndash ocorre jaacute na fase final da coleta de dados e concentra-se em

encontrar mais indiacutecios e exemplos para os tipos de praacuteticas e processos descobertos

na segunda etapa (SPRADLEY 1980 p 34 apud FLICK 2009 p 207)

103

wwwfacebookcomunifeiitabira

104

Para Spradley (1980 apud FLICK 2009) uma das principais dificuldades da

observaccedilatildeo participante eacute fazer o problema em estudo se tornar ldquovisiacutevelrdquo pois se trata de uma

situaccedilatildeo social Assim a questatildeo principal da observaccedilatildeo participante eacute o que e como

observar para que a observaccedilatildeo se torne um instrumento uacutetil para o entendimento da questatildeo a

ser estudada Na tentativa de minimizar esse problema optei por um longo104

periacuteodo de

construccedilatildeo de dados para que esses dados pudessem me fornecer um leque de informaccedilotildees e

significados minimamente visiacuteveis a respeito da questatildeo e da problemaacutetica desta pesquisa

Delimitei como corpus para anaacutelise o processo de implementaccedilatildeo do GEPMM

sendo este composto pela filmagem em aacuteudio e viacutedeo da palestra ldquoModelagem Matemaacutetica e

Aprendizagem Baseada em Problemas convergecircncias possiacuteveisrdquo pela filmagem dos

primeiros dez encontros realizados no GEPMM e pelas entrevistas realizadas com os

componentes do grupo

Visando a facilitar a comunicaccedilatildeo entre os integrantes do GEPMM foi criado em

outubro de 2012 um grupo fechado no Facebook intitulado Modelagem Unifei Itabira Nesse

espaccedilo compartilhamos artigos documentos e quaisquer outros conteuacutedos ou informaccedilotildees

relacionados ao trabalho do GEPMM

332 As entrevistas iniciais e as finais com os integrantes do GEPMM

Com o objetivo de entender como os sujeitos percebem o papel das disciplinas de

Caacutelculo na formaccedilatildeo do profissional da Engenharia e quais accedilotildees metodoloacutegicas eles tecircm

observado na instituiccedilatildeo (dentro e fora da sala de aula) que busquem o cumprimento dos

papeacuteis apontados por eles mesmos uma entrevista inicial foi realizada Com isso busquei por

indiacutecios de inquietaccedilotildees e ou anaacutelise das atividades formativas de Caacutelculo dominantes na

instituiccedilatildeo que estivessem relacionados ao engajamento dos sujeitos no GEPMM sendo

considerada como uma nova forma de atividade natildeo dominante (SANNINO NOCON 2008)

Aleacutem disso na entrevista inicial realizada individualmente objetivei mais explicitamente a

elucidaccedilatildeo dos motivos que levaram os sujeitos agrave participaccedilatildeo no grupo

104

Longo periacuteodo se refere ao tempo gasto apenas com a construccedilatildeo dos dados que totalizaram 15 meses Esse

periacuteodo geralmente pode ser tido como longo ao considerarmos que o prazo de conclusatildeo do doutorado eacute de 48

meses e antes do 36ordm mecircs todos os dados e o esboccedilo da anaacutelise devem ser apresentados no exame de

qualificaccedilatildeo

105

Roteiro de entrevista inicial

Pergunta 1) Na sua concepccedilatildeo qual eacute o papel das disciplinas de Caacutelculo na

formaccedilatildeo do engenheiro

Pergunta 2) Quais accedilotildees metodoloacutegicas tecircm sido adotadas na instituiccedilatildeo visando

o cumprimento dos papeacuteis apontados anteriormente

Pergunta 3) Quais foram os motivos que o levaram a participar do grupo de

Modelagem Matemaacutetica

As entrevistas finais aconteceram apoacutes os sete primeiros encontros do GEPMM

Nessa fase de construccedilatildeo de dados busquei pelo entendimento dos limites e das

possibilidades que a participaccedilatildeo no grupo pocircde fornecer aos sujeitos participantes Limites e

possibilidades em termos de acesso ao grupo envolvimento com a proposta da atividade

experienciada por eles e possiacuteveis aprendizagens que pudessem ser evidenciadas nas

atividades desenvolvidas pelo GEPMM

Roteiro de entrevista final

Pergunta 1) Como vocecirc caracteriza sua participaccedilatildeo no GEPMM

Pergunta 2) Desde que vocecirc comeccedilou a participar do grupo quais os desafios

encontrados Como vocecirc buscou superar estes desafios

Pergunta 3) O que vocecirc aprendeu com sua participaccedilatildeo no GEPMM ateacute o

presente momento O que ainda espera aprender

34 Quais instrumentos foram usados para a anaacutelise

Engestroumlm (2001) pontua que qualquer teoria de aprendizagem deve buscar

respostas para as seguintes quatro questotildees 1) quem satildeo os sujeitos da aprendizagem 2) Por

que eles estatildeo aprendendo o que os faz esforccedilar 3) O que os faz aprender o que satildeo os

conteuacutedos e resultados da aprendizagem 4) Como fazecirc-los aprender o que satildeo as accedilotildees

chave ou processos de aprendizagem

Engestroumlm (2001) constroacutei um quadro de anaacutelise teoacuterica para a aprendizagem

expansiva cruzando os cinco princiacutepios da Teoria da Atividade agraves quatro questotildees

106

orientadoras para as teorias de aprendizagem Com isso para analisar uma atividade escolar

como uma praacutetica social coletiva por meio da Teoria da Aprendizagem Expansiva de

Engestroumlm eacute necessaacuterio preencher as entradas da seguinte matriz

Sistema de

Atividade como unidade

de anaacutelise

Multivocalidade Historicidade Contradiccedilotildees Ciclos

Expansivos

Quem satildeo os aprendizes

Por que eles

estatildeo aprendendo

O que os faz aprender

Como fazecirc-

los aprender

Tabela 1 - Matriz para anaacutelise da aprendizagem expansiva

Fonte Engestroumlm (2001 p 138)

Tomei como base empiacuterica para o preenchimento da matriz acima trechos das

entrevistas concedidas pelos docentes e discentes que se dispuseram a participar do GEPMM

e selecionei partes das dez reuniotildees do GEPMM documentadas em aacuteudio e viacutedeo que foram

convenientes para responder agrave questatildeo de pesquisa Primeiramente assisti ouvi e transcrevi

as entrevistas realizadas com os docentes e discentes engajados no GEPMM e gravadas em

aacuteudio e viacutedeo Fiz o mesmo com as gravaccedilotildees dos dez primeiros encontros do GEPMM

Selecionei trechos que pudessem me ajudar no preenchimento das entradas da referida matriz

Aleacutem disso extraiacute quatro temas de anaacutelise que convergiram no sentido de responder agrave questatildeo

que norteou a pesquisa Nessa pesquisa tais temas seratildeo denominados por modalidades

analiacuteticas

35 A formaccedilatildeo do GEPMM pode ser caracterizada como uma intervenccedilatildeo formativa

Engestroumlm e Sannino (2010b) afirmam que os ciclos de aprendizagem expansiva

podem ser investigados como processos que ocorrem naturalmente Contudo satildeo processos

bastante raros e difiacuteceis de documentar devido ao seu caraacuteter espacialmente e temporalmente

distribuiacutedo Aleacutem disso os autores apontam que nos processos de aprendizagem expansiva

107

mais importante ainda eacute o atendimento agraves demandas impostas para a soluccedilatildeo de contradiccedilotildees

urgentes em comunidades de trabalho visando sobretudo a atingir qualitativamente novos

modos de atividade de trabalho Tal demanda aliada ao legado intervencionista da teoria

histoacuterico-cultural da atividade ldquotem levado ao desenvolvimento e implementaccedilatildeo de

intervenccedilotildees formativas como uma metodologia para estudar aprendizagem expansivardquo 105

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 15 grifo meu)

Uma conceituaccedilatildeo para definir as intervenccedilotildees formativas decorre do legado

vigotskiano determinado pelo princiacutepio metodoloacutegico da dupla estimulaccedilatildeo As intervenccedilotildees

formativas podem ser entendidas pelo condensamento dos seguintes quatro pontos cruciais

1) Ponto de partida [] os sujeitos enfrentam um objeto problemaacutetico e

contraditoacuterio que eles analisam e expandem pela construccedilatildeo de um novo conceito

cujo conteuacutedo pode natildeo ser totalmente conhecido de antematildeo pelos pesquisadores

2) Processo [] o conteuacutedo e o curso da intervenccedilatildeo estatildeo sujeitos agrave negociaccedilatildeo e a

maneira da intervenccedilatildeo cabe eventualmente aos sujeitos Dupla estimulaccedilatildeo como o

mecanismo central implica que os sujeitos ganham agecircncia e assumem o comando

do processo

3) Resultado [] o objetivo eacute gerar um novo conceito que pode ser usado em outro

contexto como quadro para projetar uma nova soluccedilatildeo localmente apropriada Um

resultado chave da intervenccedilatildeo formativa eacute a agecircncia entre os participantes

4) Papel dos pesquisadores [] o pesquisador objetiva provocar e sustentar um

processo de transformaccedilatildeo expansiva conduzido pelos participantes e pertencente a

eles106

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 15 grifos dos autores)

Dessa forma a intervenccedilatildeo pode ser entendida como uma accedilatildeo intencional

realizada por um agente humano que objetiva uma transformaccedilatildeo qualitativa em determinada

praacutetica social o que inclui que o pesquisador natildeo tem qualquer diferenciaccedilatildeo hieraacuterquica

sobre a intervenccedilatildeo Aleacutem disso segundo Engestroumlm e Sannino (2010b p 15) ldquoos

pesquisadores natildeo devem esperar resultados satisfatoriamente alinhados com seus

esforccedilos107

rdquo

105

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquohas led to the development and implementation of formative interventions

as a methodology for studying expansive learningrdquo 106

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquo

1) Starting point [hellip] they face a problematic and contradictory object which they analyze and expand by

constructing a novel concept the contents of which are not known ahead of time to the researchers

2) Process [hellip] the contents and course of the intervention are subject to negotiation and the shape of the

intervention is eventually up to the subjects Double stimulation as the core mechanism implies that the subjects

gain agency and take charge of the process

3) Outcome [hellip] the aim is to generate new concepts that may be used in other settings as frames for the design

on locally appropriate new solutions A key outcome of formative interventions is agency among the

participants

4) Researcherrsquos role the researcher aims at provoking and sustaining an expansive transformation process led

and owned by the practitionersrdquo 107

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoResearchers should not expect nicely linear results from their effortsrdquo

108

O instrumento metodoloacutegico no qual se baseia na construccedilatildeo coletiva do GEPMM

pode ser entatildeo compreendido como uma intervenccedilatildeo formativa na qual o passado (antes

dela) e o presente (depois dela) tendem a se misturar eou se (con)fundir podendo fazer

emergir contradiccedilotildees Com isso a intervenccedilatildeo formativa pode assumir duplo caraacuteter de

tentar resolver contradiccedilotildees historicamente acumuladas e ao mesmo tempo provocar novos

niacuteveis de contradiccedilatildeo

No que segue apresento o contexto institucional em que os dados foram

construiacutedos Procurarei elucidar de um ponto de vista sociocultural quem satildeo os sujeitos da

pesquisa Assim dividirei o restante do capiacutetulo em duas partes a primeira delas focaraacute a

descriccedilatildeo da instituiccedilatildeo como um todo e das disciplinas de Caacutelculo que nela satildeo ofertados

enquanto a segunda parte focaraacute as atividades desenvolvidas pelo GEPMM Vale ressaltar que

tanto na primeira parte quanto na segunda os sujeitos seratildeo considerados como integrantes e

integradores do contexto isto eacute os sujeitos constituem e satildeo constituiacutedos pelo contexto de

forma indissociaacutevel No fim do capiacutetulo visando a iniciar o preenchimento da matriz para

anaacutelise da aprendizagem expansiva (ENGESTROumlM 2001) apresentada anteriormente busco

responder a pergunta quem satildeo e onde estatildeo os sujeitos da aprendizagem

36 O contexto institucional e as aulas de Caacutelculo

Primeiramente descreverei a instituiccedilatildeo onde os dados foram construiacutedos sua

origem proposta e cursos oferecidos A instituiccedilatildeo escolhida foi a Universidade federal de

Itajubaacute (UNIFEI) ndash campus Itabira Decidi comeccedilar este trabalho com a seguinte imagem

109

FIGURA 7 ndash Paacutegina inicial site UNIFEI-Itabira

Fonte UNIFEI 2013

A Figura 7 foi retirada do site da UNIFEI108

em 17022013 agraves 21h46 No texto

de apresentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo pode-se observar que a gecircnese da UNIFEI-Itabira estaacute

alicerccedilada em uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Itabira-MG a empresa mineradora

Vale (antiga Companhia Vale do Rio Doce (CVRD)) e o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) Na

figura tambeacutem se pode observar uma foto que foi tirada em agosto de 2008 com os primeiros

dez professores do campus e com os primeiros 150 alunos dos cursos de Engenharia da

Computaccedilatildeo de Materiais e Eleacutetrica perfazendo um total de 50 alunos por turma

O campus de Itabira foi consolidado como uma das expansotildees universitaacuterias do

Governo Federal ocorridas entre os anos 2006 e 2010 As condiccedilotildees iniciais de

funcionamento eram precaacuterias109

O campus da UNIFEI em Itabira estaacute incluiacutedo no Plano de

Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo das Universidades Federais Trecircs salas de aula foram emprestadas

por uma instituiccedilatildeo de ensino privada para a universidade nelas ocorriam as aulas dos trecircs

cursos de Engenharia exceto as aulas experimentais que ocorriam em um outro bairro da

cidade num preacutedio tambeacutem emprestado onde funcionava um Instituto de Tecnologia (ITEC)

108

httpwwwunifeiedubrdiversosunifei-campus-itabira 109

Lecionei no campus da Unifei ndash Itabira no segundo semestre do ano de 2008 ou seja no semestre de sua

inauguraccedilatildeo

110

Em marccedilo de 2009 as aulas foram transferidas para o ITEC e todo o

funcionamento do campus expandido de Itabira foi concentrado em algumas poucas salas de

aula denominadas pelos alunos por ldquotendasrdquo (por se pareceram com tendas de circo) Os

professores foram agrupados em gabinetes subdivididos e essa situaccedilatildeo permaneceu ateacute

novembro de 2011 quando um primeiro preacutedio do campus foi entregue Poreacutem devido agrave

escassez de espaccedilo fiacutesico para ocorrerem todas as atividades dos nove110

cursos de

Engenharia algumas turmas permanecem em funcionamento no preacutedio do ITEC Portanto a

vida acadecircmica dos alunos professores e teacutecnicos-administrativos se encontra fisicamente

particionada e literalmente separada por mais de 7 km A prefeitura disponibilizou ocircnibus

para o acesso ao campus visto que por estar localizado no distrito industrial o acesso eacute

difiacutecil e existem poucas linhas de ocircnibus em poucos horaacuterios por dia

O campus da UNIFEI dividido em duas partes na cidade de Itabira uma parte no

ITEC e a outra no distrito industrial da cidade foi palco para a construccedilatildeo de dados para a

pesquisa aqui relatada

As disciplinas da aacuterea de Matemaacutetica da UNIFEI-Itabira satildeo desenvolvidas do

primeiro ao quinto periacuteodo de todos os nove cursos de Engenharia da instituiccedilatildeo Satildeo elas

BAC 000 - Nome Matemaacutetica 0

Ementa Conjuntos Numeacutericos Nuacutemeros reais Polinocircmios Funccedilotildees Funccedilotildees

polinomiais Funccedilotildees exponenciais e logariacutetmicas Funccedilotildees trigonomeacutetricas

Funccedilotildees compostas Limites e continuidade Introduccedilatildeo aos recursos numeacutericos e

computacionais (5 ha semanais = 75 ha semestrais)

BAC 019 - Nome Matemaacutetica I

Ementa Derivadas aplicaccedilotildees de derivadas integrais teoremas fundamentais do

caacutelculo aplicaccedilotildees de integrais e integraccedilatildeo numeacuterica (4ha semanais = 60 ha

semestrais)

BAC 020 - Nome Matemaacutetica II

Ementa Matrizes e sistemas lineares aplicaccedilotildees vetores no plano e no espaccedilo

espaccedilo vetorial subespaccedilo espaccedilo119877119899 autovalores e auto vetores transformaccedilotildees

lineares cocircnicas e quaacutedricas (4ha semanais = 60 ha semestrais)

BAC I21 - Nome Matemaacutetica III

Ementa Sequecircncias e seacuteries derivadas parciais coordenadas polares integrais

duplas (4ha semanais = 60 ha semestrais)

BAC 022 - Nome Matemaacutetica IV

Ementa Equaccedilotildees diferenciais de ordem um Meacutetodos Numeacutericos Equaccedilotildees

diferenciais de ordem dois Equaccedilotildees diferenciais lineares de ordem maior que dois

Soluccedilotildees em seacuterie para equaccedilotildees lineares de ordem dois (4ha semanais = 60 ha

semestrais)

BAC 023 - Nome Matemaacutetica V

Ementa Funccedilotildees vetoriais integrais triplas caacutelculo vetorial (4ha semanais = 60

ha semestrais)

BAC 024 - Nome Matemaacutetica VI

Ementa Transformada de Fourier transformada de Laplace seacuterie de Fourier

110

Engenharia Ambiental da Computaccedilatildeo Mecacircnica de Controle e Automaccedilatildeo de Produccedilatildeo de Materiais de

Sauacutede e Seguranccedila Eleacutetrica e da Mobilidade

111

equaccedilotildees diferenciais parciais e problemas de contorno e valor inicial (4ha

semanais = 60 ha semestrais)111

A disciplina BAC 000 eacute oferecida no primeiro periacuteodo as disciplinas BAC 019 e

020 satildeo oferecidas no segundo periacuteodo as disciplinas BAC 022 e BAC I21 satildeo oferecidas no

terceiro periacuteodo a disciplina BAC 023 eacute oferecida no quarto periacuteodo e a disciplina BAC 024 eacute

oferecida no quinto periacuteodo de todos os nove cursos de Engenharia da UNIFEI-Itabira Vale

ressaltar que apenas a disciplina BAC 020 (Matemaacutetica II) natildeo perfaz conteuacutedos de Caacutelculo

Todas as outras disciplinas de Matemaacutetica na instituiccedilatildeo constituem o corpo de conteuacutedos

conhecido como Caacutelculo Diferencial e Integral

Uma importante112

observaccedilatildeo a respeito das disciplinas de Caacutelculo componentes

das grades curriculares dos cursos de Engenharia da UNIFEI-Itabira eacute o fato de a disciplina

Caacutelculo Numeacuterico natildeo aparecer na grade curricular como forma de uma disciplina uacutenica

Geralmente essa disciplina compotildee as grades curriculares dos cursos de Engenharia por se

tratar de uma importante ferramenta de resoluccedilatildeo de variados problemas da aacuterea da

Engenharia Para Herbster e Brito (2005 p 1)

[] a disciplina Caacutelculo Numeacuterico conforme classificaccedilatildeo do Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo e Cultura eacute disciplina da aacuterea baacutesica de formaccedilatildeo dos cursos de

Engenharia O objetivo geral dessa disciplina eacute introduzir os fundamentos de

Meacutetodos Numeacutericos e aplicar os conhecimentos de programaccedilatildeo jaacute adquiridos na

implementaccedilatildeo computacional dos meacutetodos

Na instituiccedilatildeo os conteuacutedos geralmente englobados na disciplina Caacutelculo

Numeacuterico aparecem ldquodiluiacutedosrdquo nas disciplinas BAC 000 (Introduccedilatildeo aos recursos numeacutericos e

computacionais) BAC 019 (Integraccedilatildeo Numeacuterica) e BAC 022 (Meacutetodos Numeacutericos)

37 As atividades do GEPMM e os sujeitos envolvidos

111

Disponiacutevel em

httpwwwportalacademicounifeiedubrindexphplink=cursosamppaineis=cab1Panel1|cab2Panel1|contPanel1|c

abPanel2|contPanel2|pePanel2ampcursocod=071amplocalcod=C02ampcursomod=NaNampsubsistema=gradampsubsistema

=grad (consulta realizada em 18022013 agraves 17h02) 112

Como foco desta pesquisa ndash as disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia ndash considero todos os

conteuacutedos que geralmente configuram as disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia no Brasil incluindo

assim todas as disciplinas BAC descritas acima exceto a disciplina BAC 020 (Matemaacutetica II) e ainda os

conteuacutedos que configuram a disciplina Caacutelculo Numeacuterico introduccedilatildeo aos meacutetodos numeacutericos e computacionais

Soluccedilatildeo numeacuterica de equaccedilotildees natildeo lineares Interpolaccedilatildeo e aproximaccedilotildees Derivaccedilatildeo e integraccedilatildeo numeacuterica

Meacutetodos numeacutericos de resoluccedilatildeo de sistemas de equaccedilotildees lineares Resoluccedilatildeo de equaccedilotildees diferenciais

ordinaacuterias por meacutetodos numeacutericos

112

Em uma das visitas agrave instituiccedilatildeo conheci uma aluna que cursava o terceiro

periacuteodo do curso de Engenharia da Mobilidade que chamarei de Mary113

Comeccedilamos a

conversar sobre as disciplinas de Caacutelculo que ela jaacute tinha cursado na instituiccedilatildeo Ela comeccedilou

a me dizer que tinha um professor de Caacutelculo cujas aulas ela gostava muito e que ela aprendia

muito participando das atividades que ele propunha Fez vaacuterias comparaccedilotildees em relaccedilatildeo agraves

metodologias utilizadas pelos professores da aacuterea de Matemaacutetica que jaacute tinham sido

professores dela na instituiccedilatildeo Fiquei interessada em conhecer esse professor e convidaacute-lo

para participar da constituiccedilatildeo do GEPMM Anotei o nome do professor no caderno de campo

e posteriormente o encontrei pessoalmente no campus da UNIFEI-Itabira no ITEC Esse

professor seraacute chamado em todo o texto que segue por Angel

No encontro que tive com Angel expliquei quais eram os objetivos da pesquisa

que eu estava desenvolvendo na instituiccedilatildeo quais eram os passos de construccedilatildeo de dados e

como seria a participaccedilatildeo dele nessa jornada caso aceitasse participar Mesmo deixando claro

para mim que ele estava muito atarefado com a docecircncia projetos de pesquisa extensatildeo e

com demandas administrativas ele concordou em participar ativamente da pesquisa Desde

entatildeo a construccedilatildeo de dados pocircde se iniciar ndash a formaccedilatildeo do GEPMM Angel e eu

comeccedilamos entatildeo a planejar os proacuteximos passos para a criaccedilatildeo do GEPMM

371 Angel

Angel eacute licenciado em Matemaacutetica e mestre em Engenharia Eleacutetrica Atua no

serviccedilo puacuteblico federal como docente desde 2011 Anteriormente atuou como professor em

uma instituiccedilatildeo particular de ensino superior localizada na cidade de Belo Horizonte-MG

Angel acredita114

que o papel das disciplinas de Caacutelculo num contexto de

formaccedilatildeo em Engenharias configura-se como uma base formadora no que diz respeito agraves

ferramentas que os alunos vatildeo adquirindo com o objetivo de as aplicarem nas disciplinas

113

Todos os nomes de alunos e professores seratildeo fictiacutecios Com isso objetivo preservar a identidade por

questotildees eacuteticas 114

Todas as descriccedilotildees das concepccedilotildees explicitadas pelo professor Angel satildeo baseadas nas entrevistas inicial e

final concedidas a mim por ele As entrevistas foram gravadas em aacuteudio e viacutedeo No texto que segue todos os

excertos das entrevistas transcritas e citadas foram retirados das entrevistas iniciais e finais realizadas com os

sujeitos que aceitaram o convite de participaccedilatildeo no GEPMM

113

teacutecnicas dos cursos Entatildeo para ele o Caacutelculo eacute considerado como uma base teoacuterica para o

desenvolvimento das disciplinas formadoras ldquode cidadatildeos altamente qualificados para o

exerciacutecio profissionalrdquo (ESTATUTO UNIFEI 2003 p 2) Ao ser questionado a respeito das

propostas metodoloacutegicas que tecircm sido desenvolvidas na UNIFEI-Itabira objetivando o

cumprimento dos papeis das disciplinas de Caacutelculo na formaccedilatildeo em Engenharia apontados

por ele mesmo nos conta

Aqui na instituiccedilatildeo basicamente aqui na UNIFEI campus Itabira pelo menos assim

no grupo nosso da Matemaacutetica porque noacutes somos digamos relativamente isolados

dos grupos das Engenharias entatildeo em termos de nossas reuniotildees e tudo mais a

gente define assim habilidades chaves ou seja em termos de conhecimentos

matemaacuteticos que ele deve ter diante das diversas ferramentas para poder vamos

dizer assim estar delimitando essa base formadora do aluno Agora assim em

termos institucionais a gente natildeo tem reuniotildees perioacutedicas ou algum tipo de

ferramenta ou algum tipo de consultoria externa para estar atuando junto da

instituiccedilatildeo para estar delimitando aiacute essa linha formadora do aluno Entatildeo aiacute a

gente se sente muito livre para estar aplicando esta ou aquela metodologia se der

certo bem se natildeo der tambeacutem ok Entatildeo assim em termos institucionais natildeo tem

nada assim digamos constituiacutedo ou em constituiccedilatildeo pra taacute melhorando isso natildeo

Tem assim que estaacute sendo muito ventilado eacute a questatildeo do PBL Poreacutem estaacute ainda

muito incipiente e agora estaacute mudando de reitor e a gente natildeo sabe o que vai

acontecer

Sobre as metodologias utilizadas por ele e os demais colegas docentes da aacuterea de

Caacutelculo ele nos conta

Ah basicamente assim pelo que eu converso com os outros colegas eacute o meacutetodo

tradicional mesmo livros passar no quadro exerciacutecios nada assim muito diferente

do cotidiano natildeo eu eacute que no semestre passado adotei assim digamos uma

metodologia diferente pra verificar [] assim qual seria a percepccedilatildeo do aluno

diante desse novo modelo entatildeo na primeira etapa do periacuteodo eu adotei o que seria

o procedimento padratildeo aula expositiva exerciacutecios trabalhos em equipe e depois

prova e jaacute na segunda etapa as aulas expositivas foram trocadas para aulas de tirar

duacutevidas entatildeo os alunos se reuniam para desenvolverem exerciacutecios em grupos jaacute

que as aulas jaacute tinham sido disponibilizadas em slides no portal acadecircmico entatildeo o

meu papel era apenas de estar lapidando essas duacutevidas que iriam aparecendo

diante das discussotildees dos grupos Assim para alguns alunos isso foi oacutetimo

principalmente aqueles que jaacute tecircm um bom desempenho nato e outros que jaacute satildeo

preguiccedilosos natildeo querem nada com a dureza encostaram nos outros colegas do

grupo e ficou assim aquele parasitismo durante a segunda etapa do periacuteodo [] aiacute

eu fiz uma avaliaccedilatildeo em dupla e o resultado foi realmente muito bom embora eu

natildeo possa mensurar o quatildeo desse conhecimento individual foi absorvido por cada

aluno

Durante a conversa que tive com a aluna Mary ela relatou sua adaptaccedilatildeo como

aluna da disciplina BAC 020 com a proposta metodoloacutegica descrita anteriormente pelo

professor Angel Ela enfatizou que natildeo gostava de assistir agraves aulas expositivas e que preferia

estudar os slides disponibilizados no portal pelo professor o que ela poderia fazer qualquer

114

dia qualquer horaacuterio e em qualquer lugar Para ela era bem mais produtivo dessa forma

embora alguns colegas dela natildeo tenham se adaptado tatildeo bem a essa proposta de ensino

Em seguida perguntei ao professor Angel se ele costumava abordar algum tipo de

aplicaccedilatildeo em suas aulas

Eu gosto muito dessa questatildeo praacutetica assim porque eu vejo o seguinte na minha

concepccedilatildeo vocecirc tem que ensinar pros alunos aquelas habilidades matemaacuteticas

mesmo a operacionalizar trabalhar com estruturas matemaacuteticas obter o resultado

e aleacutem disso eu sempre tento assim na medida do possiacutevel linkar aquele assunto

com algum conteuacutedo praacutetico Soacute que como a turma eacute vamos dizer assim muito

heterogecircnea em termos de vaacuterias engenharias natildeo tem como eu focar por exemplo

um problema especiacutefico de Engenharia Eleacutetrica ou um problema especiacutefico de

Engenharia Mecacircnica ou um problema especiacutefico da Computaccedilatildeo entatildeo agraves vezes eu

seleciono um problema que eacute direcionado agrave parte eleacutetrica igual por exemplo

Sistemas Lineares eu comecei com uma parte motivacional a partir de um problema

de circuito eleacutetrico Entatildeo eu dei laacute vaacuterias fontes de energia de um circuito todo

montado resistor e tudo mais entatildeo vocecirc usa aquelas leis da eleacutetrica cai em um

sistema linear e depois resolve [] pelo menos eu jaacute dei um horizonte para ele jaacute

vislumbrar ndash olha isso daqui eu realmente vou precisar laacute pra frente

Depois disso questionei-o sobre algum tipo de parceria entre grupos de

professores de aacutereas correlatas na instituiccedilatildeo Perguntei se por exemplo o grupo de

professores da aacuterea de Fiacutesica desenvolvia algum tipo de trabalho juntamente com os

professores da aacuterea da Matemaacutetica Ele respondeu

Eu pelo menos em termos de reuniatildeo nunca houve Eacute soacute mesmo os grupos da

matemaacutetica grupo da fiacutesica grupo da engenharia de materiais grupo da

engenharia de produccedilatildeo sempre aqueles grupos segregados [] eu acho que seria

fantaacutestico se houvesse essa integraccedilatildeo que muitas vezes um professor laacute de por

exemplo laacute do curso de Engenharia da Mobilidade de construccedilatildeo civil ele taacute laacute

fazendo experimentos e gerando resultados seraacute que ele natildeo poderia estar

utilizando os conhecimentos de um professor da aacuterea de matemaacutetica [aponta para

ele mesmo] para estar melhorando os experimentos com algo que ele ainda natildeo

saiba usar de matemaacutetica Seria interessante tambeacutem para os alunos poderem ver

essa interligaccedilatildeo soacute que haacute aquela questatildeo assim vamos dizer assim das vaidades

intriacutensecas da carreira de docente que realmente torna essa tarefa um pouco

complicada [risos]

Logo apoacutes esse momento questionei-o se aleacutem da vaidade quais seriam outros

motivos pelos quais essa interligaccedilatildeo entre as aacutereas natildeo acontecia na instituiccedilatildeo Ele responde

que a questatildeo da ldquoautonomia universitaacuteriardquo eacute adotada de forma ampla nas universidades

federais no Brasil ou seja os docentes geralmente trabalham de forma autocircnoma sem se

preocupar com o que o colega estaacute fazendo ou deixando de fazer Ele acredita que para que

mudanccedilas ocorram as ordens tecircm que ser dadas ldquode cima para baixordquo115

Poreacutem mesmo que

115

Nas palavras de Angel durante a entrevista inicial

115

mudanccedilas sejam impostas esbarrariam na questatildeo da ldquovaidaderdquo116

dos docentes na vontade

deles de dialogar trabalhar realmente em equipe Ele conta que anteriormente ao trabalho

como servidor puacuteblico trabalhou em uma instituiccedilatildeo de ensino superior da rede particular e

que laacute os professores tinham o dever de participar de reuniotildees e seminaacuterios para discutirem as

praacuteticas pedagoacutegicas Nesses seminaacuterios eles compartilhavam experiecircncias boas e ruins

faziam leituras discutiam e refletiam acerca das posturas de cada um Para Angel era muito

bom conhecer as praacuteticas pedagoacutegicas dos colegas Isso o fazia (re)pensar sua proacutepria praacutetica

e o ajudava a tomar atitudes futuras para melhoraacute-la Apoacutes esse relato perguntei se ele sentia

que essa obrigaccedilatildeo (de participar destas atividades semestrais) exercia algum tipo de

influecircncia na atitude dos professores durante o semestre Ele respondeu

Ah um pouco sim porque querendo ou natildeo emprego privado cecirc sabe como eacute que eacute

neacute Entatildeo assim digamos se vocecirc taacute no ritmo taacute tudo dando certo vocecirc se perpetua

naquela empresa caso contraacuterio vocecirc eacute excluiacutedo Entatildeo assim havia um

direcionamento pra taacute tendo justamente esses novos meacutetodos esses novos meios de

ensino em prol da instituiccedilatildeo porque senatildeo vocecirc era cortado da instituiccedilatildeo

Em seguida questionei o professor se na opiniatildeo dele esse tipo de ambiente de

discussatildeo estava faltando na UNIFEI Ele respondeu que sim natildeo soacute na UNIFEI mas em

muitas universidades federais citando vaacuterios exemplos de colegas que trabalham nessas

instituiccedilotildees e reafirmou que a questatildeo da autonomia dos professores acaba criando essa

cultura do individualismo entre os professores das universidades tornando esse problema uma

questatildeo delicada

Em suma com base na entrevista inicial concedida a mim o professor Angel

parece se preocupar em estabelecer relaccedilotildees entre as disciplinas lecionadas por ele nos cursos

de Engenharia da UNIFEI-Itabira e outras aacutereas do conhecimento estaacute sempre aberto para

responder as duacutevidas trazidas pelos alunos sente falta de um ambiente de discussatildeo a respeito

das questotildees pedagoacutegicas dos cursos de Engenharia percebe que questotildees individuais

relacionadas agrave subjetividade dos professores podem estar impedindo mudanccedilas que poderiam

melhorar a educaccedilatildeo em Engenharia fornecida pela UNIFEI-Itabira preocupa-se em motivar

os alunos apresentando questotildees que abordam problemas oriundos de aacutereas correlatas agraves

disciplinas natildeo matemaacuteticas dos cursos de Engenharia critica o predomiacutenio de aulas

expositivas e incentiva uma participaccedilatildeo mais ativa dos alunos demonstra perceber na

contemporaneidade que os recursos tecnoloacutegicos disponiacuteveis podem ser poderosos aliados

116

Nas palavras de Angel durante a entrevista inicial

116

nos processos de ensino-aprendizagem em cursos de Engenharia e por fim parece ser um

professor aberto ao diaacutelogo

Objetivando dar prosseguimento agrave apresentaccedilatildeo dos sujeitos partiacutecipes do

GEPMM retomarei o momento apoacutes a palestra117

ter sido proferida por mim na UNIFEI-

Itabira em outubro de 2012 ocasiatildeo em que o convite para participaccedilatildeo no grupo foi feito agrave

comunidade e tambeacutem a data do primeiro encontro do grupo foi marcada Ao teacutermino da

palestra uma professora denominada por mim de Clarice veio ateacute mim (ainda estava agrave frente

do auditoacuterio) informando que gostaria de participar do grupo Agradeci a disponibilidade e a

reencontrei no primeiro encontro

372 Clarice

Clarice eacute bacharel em Matemaacutetica e mestre em Matemaacutetica Aplicada Atua como

docente no serviccedilo puacuteblico federal desde 2009

Com base na entrevista inicial percebi que a professora Clarice acredita que as

disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia desempenham importante papel para uma

soacutelida formaccedilatildeo desse perfil profissional Contudo ao ser questionada afirma que sempre

escuta de seus colegas docentes das disciplinas teacutecnicas dos cursos de Engenharia que

Caacutelculo eacute importante que natildeo eacute para ela aprovar alunos sem o devido conhecimento que o

Caacutelculo eacute essencial e com isso ela acredita na importacircncia das disciplinas de Caacutelculo

realmente tomando-as como disciplinas baacutesicas no sentido estrito da palavra ndash base Afirma

ainda que nunca viu o trabalho do engenheiro para saber como eacute realmente a importacircncia do

Caacutelculo nesse trabalho Com base nas falas dos colegas professoresengenheiros ela afirma

que alunos que natildeo aprendem bem Caacutelculo ficam prejudicados em sua formaccedilatildeo como

engenheiros pois ela supotildee que o Caacutelculo eacute preacute-requisito118

de outras vaacuterias disciplinas na

grade curricular nas quais o Caacutelculo deve ser bastante uacutetil e indispensaacutevel para o

entendimento dos conteuacutedos dessas disciplinas (teacutecnicas)

117

Palestra intitulada por ldquoModelagem Matemaacutetica e Aprendizagem Baseada em Problemas convergecircncias

possiacuteveisrdquo A palestra foi proferida por mim em 25 de outubro de 2012 com o objetivo de suscitar o interesse de

alunos e professores em participarem do grupo sendo gravada em aacuteudio e viacutedeo 118

Natildeo haacute preacute-requisito formal de disciplinas na UNIFEI-Itabira A professora Clarice de certo estava referindo

a outras instituiccedilotildees brasileiras que em sua grande maioria estabelecem disciplinas de Caacutelculo como preacute-

requisito para outras disciplinas dos cursos de Engenharia Ou ainda ela estivesse se referindo a preacute-requisitos de

conteuacutedos natildeo de disciplinas

117

Clarice afirma que na instituiccedilatildeo as disciplinas de Caacutelculo natildeo tecircm sido

trabalhadas de forma a cumprir efetivamente seu papel dentro dos cursos de Engenharia

Depois de assistir agrave palestra ela afirma ter pensado sobre o assunto e que acredita que a

Modelagem Matemaacutetica pode ser uma possibilidade para o ensino em Engenharia Nas

palavras dela

Inclusive eu tava conversando com uns colegas outro dia que uma disciplina

interessante seria tipo um curso de Modelagem Matemaacutetica como uma disciplina

eletiva para aqueles interessados e assim por diante noacutes natildeo estamos exatamente

trabalhando o Caacutelculo com aplicaccedilotildees para os alunos as aplicaccedilotildees satildeo teoacutericas

mesmo coisas baacutesicas mesmo

Ela demonstrou incocircmodo em relaccedilatildeo agraves aulas mais teoacutericas afirmando que ateacute

onde ela tinha conhecimento as disciplinas de Caacutelculo nos cursos de Engenharia da Unifei-

Itabira eram baseadas apenas nas teorias que configuram os livros didaacuteticos de Caacutelculo Nas

palavras de Clarice

Como noacutes aqui muitos de noacutes eu natildeo posso falar por todos os professores eu natildeo

conheccedilo o meacutetodo de trabalho de todos eles mas ateacute o momento que eles

comentam comigo eles falam que a aula eacute mais teoacuterica mesmo eacute passar o que taacute

no livro ali e fica muita coisa sem passar porque a aula eacute muito pouca neacute Chega a

quase ser ruim porque o curso eacute incompleto entatildeo seria um curso de Modelagem

Seria para visar as aplicaccedilotildees mesmo colocar num periacuteodo onde os alunos jaacute

tenham visto as disciplinas baacutesicas e focar em aplicaccedilotildees apenas para ele ver ali

ter um contato mesmo com aplicaccedilotildees poderiacuteamos tratar de teoria como jaacute tem em

alguns livros de aplicaccedilotildees muito bons inclusive de Equaccedilotildees Diferenciais e

buscarmos tambeacutem problemas do dia a dia para colocar laacute entatildeo eu sei que tem

professores aqui que gostam dessa aacuterea mas no momento seria bom mas natildeo eacute real

ainda porque falta professor para colocar uma disciplina assim

Clarice me pareceu ser uma profissional aberta a mudanccedilas em busca de novas

possibilidades em prol da melhoria do desempenho de seu trabalho como professora e

dedicada as suas atribuiccedilotildees no cargo que ocupa na instituiccedilatildeo

373 Robson

Ainda no dia da palestra outro professor que seraacute denominado de Robson

manifestou-se interessado em participar do GEPMM Ele natildeo eacute professor de nenhuma

disciplina de Caacutelculo na UNIFEI-Itabira Ele eacute graduado e mestre em Engenharia Metaluacutergica

118

e doutor em Ensino de Ciecircncias e Matemaacuteticas Atua como docente na UNIFEI-Itabira desde

2010 O professor Robson aleacutem de ser graduado em Engenharia tambeacutem possui graduaccedilatildeo

em Licenciatura em Computaccedilatildeo e Odontologia Ele mesmo se define como uma pessoa de

formaccedilatildeo ecleacutetica e afirma sofrer um pouco com isso

Robson demonstrou acreditar que as disciplinas de Caacutelculo satildeo de crucial

importacircncia para a formaccedilatildeo dos engenheiros pois para ele o trabalho do engenheiro

consiste da aplicaccedilatildeo de conceitos matemaacuteticos fiacutesicos e quiacutemicos na resoluccedilatildeo de

problemas por exemplo de construccedilatildeo manutenccedilatildeo projeto e operaccedilatildeo sendo estes tiacutepicos

do trabalho da aacuterea de engenharia

Robson nos contou ainda que apoacutes a reforma universitaacuteria ocorrida no Brasil

em 1968 as disciplinas que compotildeem a grade curricular dos cursos de Engenharia foram

atribuiacutedas a departamentos Pontuou que com a departamentalizaccedilatildeo das universidades

esperava-se que os docentes que lecionassem disciplinas correlatas estivessem mais ldquopertordquo

para poderem trocar informaccedilotildees compartilhar conhecimentos e trabalharem coletivamente

Contudo em sua visatildeo os professores ficaram especializados ateacute demais nas aacutereas mas

apenas nelas Conta-nos ainda que antes de 1968 os docentes que lecionavam as disciplinas

de Caacutelculo em cursos de Engenharia eram engenheiros e apoacutes 1968 os docentes para

lecionarem qualquer disciplina de Matemaacutetica em qualquer curso de graduaccedilatildeo passaram a

ser formados em departamentos de Matemaacutetica

Natildeo soacute na instituiccedilatildeo mas o que a gente observa em vaacuterias instituiccedilotildees eacute que existe

um certo distanciamento entre os matemaacuteticos e os outros professores em geral dos

cursos de Engenharia salvo alguns trabalhos que a gente acompanha na tentativa

de se juntar essas aacutereas por meio de projetos transversais projetos

interdisciplinares multidisciplinares eacute alguma coisa que junte os profissionais

diferentes mas normalmente essas aacutereas estatildeo bem desconexas porque na

contrataccedilatildeo de professores normalmente vocecirc pega matemaacuteticos puros agora o

que taacute faltando muito satildeo professores que tenham assim conceitos de Educaccedilatildeo

Matemaacutetica [] os matemaacuteticos que noacutes temos aqui na instituiccedilatildeo eles estatildeo um

pouco distanciados em relaccedilatildeo aos engenheiros

Ainda que o convite para a participaccedilatildeo no grupo tenha sido amplamente feito na

instituiccedilatildeo poucos alunos o aceitaram No primeiro encontro apenas dois alunos

participaram a Taty e o Joseacute Taty aceitou o convite feito na paacutegina da UNIFEI na rede social

Facebook e Joseacute aceitou o convite feito em sala de aula pela professora Clarice jaacute que era

aluno dela naquele semestre Ambos se mudaram para Itabira para cursarem Engenharia na

UNIFEI Taty veio de uma cidade do interior de Satildeo Paulo e Joseacute veio de uma cidade do

interior de Minas Gerais

119

374 Taty

Taty cursava o sexto periacuteodo do curso de Engenharia da Computaccedilatildeo e estava

concluindo uma pesquisa na qual era bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Afirmou natildeo estar

gostando da aacuterea que estava atuando como pesquisadora e decidiu participar do grupo

Durante a entrevista inicial ao ser questionada sobre o papel das disciplinas de Caacutelculo em

cursos de engenharia Taty afirmou ser de ldquoextrema importacircnciardquo pois o que diferencia a

formaccedilatildeo em engenharia em sua concepccedilatildeo seria ldquojuntar todas as disciplinas do ciclo

baacutesico fiacutesica quiacutemica matemaacutetica com as disciplinas de formaccedilatildeo especiacuteficardquo Contudo

parece que tal junccedilatildeo natildeo ocorre de forma expliacutecita nos cursos da instituiccedilatildeo A proacutepria

estrutura curricular que separa os conteuacutedos em disciplinas parece contradizer ou mesmo natildeo

reforccedilar a concepccedilatildeo de formaccedilatildeo em engenharia apontada pela aluna

Em seguida questionei a aluna quais seriam especificamente os papeacuteis das

disciplinas de Caacutelculo no curso de Engenharia da Computaccedilatildeo Para ela

no curso de Computaccedilatildeo a matemaacutetica que a gente vecirc eacute uma parte bem loacutegica neacute

aleacutem da loacutegica o curso tem muitas mateacuterias da parte de eletrocircnica neacute eletrocircnica

digital analoacutegica e principalmente na digital a gente usa muito Aacutelgebra Booleana

e a aacutelgebra Booleana ela tem nos postulados eacute semelhante agrave Aacutelgebra Linear ateacute

certo ponto Na parte de computaccedilatildeo a gente vecirc mais a questatildeo da loacutegica e se vocecirc

for direcionar sua carreira vocecirc vai trabalhar com conceitos de BigData que

envolve necessariamente conhecimento mais avanccedilados de matemaacutetica ou

computaccedilatildeo graacutefica que envolve Aacutelgebra Linear

Naquele momento percebi que a aluna poderia natildeo ter entendido bem a pergunta

pois ela estava focando em conhecimentos matemaacuteticos ligados agrave Aacutelgebra e meu interesse

eram os conhecimentos do Caacutelculo Entatildeo refiz a pergunta e ela respondeu ldquoNossa Rutyele

que difiacutecil heinrdquo Apoacutes alguns instantes pensando Taty continua ldquoentatildeo Rutyele eu tocirc

achando complicado achar uma resposta pra vocecirc porque por exemplo eu sei que o pessoal

de Eleacutetrica usa em mil coisas mas natildeo eacute o meu caso entatildeo eu natildeo sei te dizer ainda saberdquo

Embora Taty tenha afirmado que os conteuacutedos de Caacutelculo sejam importantes para a formaccedilatildeo

em Engenharia ela natildeo sabe descrever qual seria o papel dessas disciplinas em seu curso Ela

continuou

120

O que eu vivencio eacute uma seacuterie de Caacutelculos dados em sequecircncia seguindo assim

uma certa [] buscando coerecircncia mesmo no desenvolvimento dos conceitos neacute

comeccedilando da parte mais simples limite derivada depois integraccedilatildeo depois

seacuteries neacute tem uma sequecircncia que a gente vai acompanhando e a partir de

determinado ponto que geralmente inicia no segundo periacuteodo com Fiacutesica I vocecirc jaacute

comeccedila a ter disciplinas que exige m esse conhecimento e vocecirc vai aplicaacute-lo caso

vocecirc tenha aprendido independentemente na disciplina isolada de Caacutelculo I

Caacutelculo II Caacutelculo III daiacute vocecirc vai comeccedilar a aplicar isso nas especiacuteficas neacute em

eletromagnetismo em mecacircnica dos soacutelidos mecacircnica dos fluidos

Com isso Taty pareceu demonstrar que em sua concepccedilatildeo as disciplinas de

Caacutelculo compotildeem uma base para o desenvolvimento de outras disciplinas que configuram as

grades curriculares dos cursos de Engenharia Ela pareceu ser uma aluna comprometida com

os estudos e estar preocupada em obter uma boa formaccedilatildeo para que possa ter um perfil como

engenheira diferenciado dos demais egressos dos cursos de Engenharia Aleacutem disso apesar

de naquele momento estar cursando o sexto periacuteodo do curso de Engenharia da Computaccedilatildeo

e ainda natildeo ter feito a disciplina BAC 022 (EDO) que faz parte do terceiro periacuteodo do

referido curso demonstrou natildeo ter tido grandes dificuldades no que diz respeito agrave aprovaccedilatildeo

nas disciplinas matemaacuteticas

375 Joseacute

O aluno Joseacute cursava o segundo semestre do curso de Engenharia Mecacircnica e era

aluno da disciplina BAC 019 sob a responsabilidade da professora Clarice O convite para a

participaccedilatildeo no grupo foi reforccedilado nas salas de aula de algumas disciplinas por alguns

professores como foi feito por Clarice nas turmas que lecionava

Joseacute demonstrou ser um aluno com atitude e postura reflexivas em relaccedilatildeo a sua

formaccedilatildeo profissional Natildeo demonstrou estar acostumado ainda com o ritmo de estudos da

Universidade e demonstrou sentir-se desconfortaacutevel ao perceber certo distanciamento entre os

alunos e os professores das disciplinas de Caacutelculo que ele jaacute havia cursado Ao ser

questionado sobre os papeacuteis das disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia apontou

para o desenvolvimento do raciociacutenio loacutegico da socializaccedilatildeo e do trabalho em equipe

O Caacutelculo desenvolve o raciociacutenio loacutegico mas tambeacutem pelo o que eu observo aqui

na faculdade ele tambeacutem eacute um meio de socializar De ajudar a pessoa tambeacutem a se

expressar melhor Pelo que eu vejo eu tenho dificuldade aiacute eu chego perto de uma

pessoa se a pessoa tambeacutem tem e tambeacutem qualquer coisa que vocecirc faz pode virar

uma coisa em conjunto neacute Entatildeo eu acho que o Caacutelculo tambeacutem desenvolve essa

121

parte para trabalhar em equipe de vocecirc entender a dificuldade do outro tambeacutem E

ele aplica em qualquer aacuterea que o engenheiro vaacute mexer desde dar aula ateacute na parte

de gerecircncia mesmo qualquer situaccedilatildeo o engenheiro vai ter que usar ou natildeo

depende da situaccedilatildeo mas ele vai precisar saber aplicar tudo que ele aprendeu no

Caacutelculo

Joseacute demonstrou ainda insatisfaccedilatildeo com relaccedilatildeo agraves metodologias utilizadas pelos

professores com os quais ele teve contato na instituiccedilatildeo

O Caacutelculo aqui que a gente vecirc eacute soacute a parte teoacuterica mesmo A gente por exemplo

quando vai fazer algumas questotildees resolver qualquer exerciacutecio a gente natildeo vecirc por

exemplo ah eu tenho um cilindro tal e eu quero o maacuteximo volume possiacutevel a gente

natildeo vecirc a gente natildeo consegue fazer a otimizaccedilatildeo tambeacutem [] a gente fez aquele

trabalho de Caacutelculo [se referindo a um trabalho de Aplicaccedilatildeo proposto pela

professora Clarice] e muita gente teve dificuldade porque natildeo sabia o que fazer

Natildeo tem como tipo eu pego o volume e aiacute o quecirc que eu faccedilo Vou fazer a derivada

o quecirc que eu vou fazer Sabe a pessoa fica sem visatildeo ela natildeo consegue ela natildeo

sabe [] eacute como se vocecirc tivesse uma viseira [gesticula com as duas matildeos proacuteximas

ao rosto] soacute vendo a parte teoacuterica a gente natildeo vecirc a aplicabilidade [] No maacuteximo

que a gente consegue ver alguma aplicabilidade eacute aplicaccedilatildeo direta em outras

disciplinas como a Fiacutesica Alguns alunos estatildeo vendo Estatiacutestica mas fora isso a

gente natildeo consegue pegar uma situaccedilatildeo ldquocruardquo e aplicar o Caacutelculo Num problema

cotidiano por exemplo ah eu vou construir um suporte pra colocar minhas caixas

o quecirc que eu posso fazer Qual que eacute o tamanho ideal Sabe a gente pode usar

Caacutelculo pra fazer isso mas agraves vezes a gente natildeo consegue fazer

Percebo assim que Joseacute teceu uma reclamaccedilatildeo sobre a falta de metodologias que

objetivem ir aleacutem da parte teoacuterica e assim alcanccedilar as aplicaccedilotildees Ele demonstrou perceber

as utilidades dos conteuacutedos do Caacutelculo para a formaccedilatildeo do engenheiro Afirma ainda ter

dificuldades em entender natildeo somente os conceitos mas tambeacutem a resoluccedilatildeo de algum

exerciacutecio que seja considerado aplicaccedilatildeo dos conceitos

376 Pedro

Pedro comeccedilou a participar do grupo a partir da terceira reuniatildeo do grupo Ele

aceitou participar do grupo mediante convite do aluno Joseacute Os dois eram alunos do segundo

periacuteodo do curso de Engenharia Mecacircnica e cursavam a disciplina BAC 019 sob a

responsabilidade da professora Clarice Ele demonstrou ser um aluno bem criacutetico e engajado

em sua formaccedilatildeo profissional embora tambeacutem demonstrasse sentir dificuldades de adequaccedilatildeo

em relaccedilatildeo agraves metodologias utilizadas pelos professores de Caacutelculo Quando questionado

durante a entrevista inicial sobre os papeacuteis das disciplinas de Caacutelculo em cursos de

122

Engenharia ele disse que basicamente desenvolve o raciociacutenio loacutegico ldquovocecirc aprende a

interpretar informaccedilotildees de uma maneira mais clarardquo aleacutem de ser um embasamento teoacuterico

para a formaccedilatildeo do engenheiro O aluno demonstrou acreditar que no trabalho desenvolvido

na aacuterea da Engenharia ldquoCaacutelculo torna-se fundamental natildeo soacute Caacutelculo mas como qualquer

outra disciplina relacionada agrave matemaacuteticardquo

Sobre as metodologias que tecircm sido utilizadas pelos professores de Caacutelculo que

possibilitam a apropriaccedilatildeo dos papeacuteis que tais disciplinas desempenham em cursos de

Engenharia Pedro demonstra insatisfaccedilatildeo quanto ao distanciamento entre os professores de

Caacutelculo e as dificuldades dos alunos Ele pensa que o grupo de professores da Matemaacutetica

precisa refletir sobre uma nova didaacutetica para possibilitar aprendizagem de alunos reais da

UNIFEI e natildeo de alunos idealizados por eles

Querendo ou natildeo alguns alunos chegam despreparados na Universidade isso eacute

fato natildeo adianta natildeo eacute agrave toa que tem o Caacutelculo Zero [refere-se agrave disciplina BAC

000] e muitas pessoas agraves vezes tem dificuldades de matemaacutetica baacutesica entatildeo eacute uma

realidade O ideal seria vocecirc ter alunos completamente capacitados e interessados

Soacute que se vocecirc tem uma Universidade que vocecirc ainda tem que edificar ela uma

Universidade nova que aleacutem de infraestrutura vocecirc precisa ainda criar matildeo de

obra por assim dizer vocecirc precisa de alunos capacitados que depois vatildeo levar o

nome da Universidade pra fora natildeo adianta vocecirc trabalhar com o ideal vocecirc tem

que ser real noacutes temos tais alunos noacutes temos que adaptar nossa didaacutetica para tais

alunos Depois se a Universidade se estruturar vatildeo vir alunos mais bem preparados

ou entatildeo a proacutepria infraestrutura o proacuteprio ambiente universitaacuterio vai forccedilar os

alunos a levarem mais a seacuterio Mas o momento que a Universidade vive precisa de

uma adaptaccedilatildeo da didaacutetica por parte dos professores para o que acontece na

realidade e natildeo para o que aconteceria se fosse a situaccedilatildeo ideal

O discurso do aluno estaacute embebido de questotildees que satildeo apontadas frequentemente

por professores de Caacutelculo em cursos de Engenharia A questatildeo da falta de preparo dos alunos

ingressantes em cursos de Engenharia com relaccedilatildeo agrave Matemaacutetica Baacutesica eacute recorrente em

congressos da aacuterea de Educaccedilatildeo em Engenharia119

Nesse momento consigo encontrar entatildeo subsiacutedios para responder agrave seguinte

pergunta ldquoQuem satildeo e onde estatildeo os sujeitos da aprendizagemrdquo Satildeo docentes e discentes

que realizam suas atividades na UNIFEI-Itabira Docentes da aacuterea de Matemaacutetica e

Engenharia Os discentes que atuaram como sujeitos dessa pesquisa satildeo pessoas jovens todos

com menos de 20 anos de idade que se engajam na atividade orientada pela aquisiccedilatildeo de

formaccedilatildeo profissional em niacutevel de graduaccedilatildeo em Engenharia

119

A esse respeito veja os anais do Congresso Brasileiro de Educaccedilatildeo em Engenharia (COBENGE) disponiacuteveis

no site wwwabengeorgbr

123

Foi nesse contexto universitaacuterio que se destina exclusivamente agrave formaccedilatildeo de

engenheiros contando com a disponibilidade dos sujeitos apontados acima que construiacute os

dados para a referida pesquisa

124

4 OS DADOS CONSTRUIacuteDOS E ANALISADOS A CONSTITUICcedilAtildeO DO GEPMM

COMO CICLO DE ACcedilOtildeES POTENCIALMENTE EXPANSIVAS

Engestroumlm (2002 p 183) aponta que quando o texto escolar (os textos dos livros

didaacuteticos) eacute representado como o objeto da atividade em vez de serem apenas instrumentos

que ajudam no entendimento do mundo haacute um empobrecimento nos recursos instrumentais

aleacutem de impactar os sujeitos da aprendizagem ndash os estudantes ndash que satildeo deixados com seus

proacuteprios dispositivos que para o autor inclui as habilidades de estudo laacutepis borracha papel

Esse tipo de abordagem tradicionalmente desenvolvida nas aulas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia (CAMPOS 2012 BIEMBENGUT HEIN 2007 FRANCHI 2002) acaba por

privilegiar um tipo de raciociacutenio que Resnick (1987) chama de ldquoraciociacutenio do siacutembolo-

destacado-do-referenterdquo (p 18 apud ENGESTROumlM 2002 p 183) Tal raciociacutenio eacute

notadamente valorizado nos meacutetodos tradicionais para a formaccedilatildeo em Caacutelculo A comeccedilar

pelas avaliaccedilotildees que satildeo realizadas majoritariamente por provas escritas individuais e sem

consulta salvo algumas poucas exceccedilotildees No ensino tradicional de Caacutelculo em cursos de

Engenharia a principal atividade eacute orientada pelo Caacutelculo como conteuacutedo conhecimento

historicamente acumulado impresso nos livros didaacuteticos em suas mais variadas abordagens

guiados como objetos da atividade

A atividade tradicional de formaccedilatildeo em Caacutelculo sendo considerada como uma

praacutetica social com base em Engestroumlm (2008) pode ser representada por meio do seguinte

esquema triangular

125

FIGURA 8 ndash Interconectados sistemas de atividade de professores e estudantes que tem como objeto a

apresentaccedilatildeo dos conteuacutedos do livro de Caacutelculo

Fonte Elaborado pela autora

Nesse tipo de contexto formativo o seguinte questionamento se faz extremamente

pertinente por que e para que um aluno estuda Caacutelculo Natildeo pretendo no escopo desta tese

responder explicitamente a essa questatildeo apenas pretendo sinalizar uma reflexatildeo que se faz

necessaacuteria para analisar os motivos pelos quais os sujeitos estiveram engajados no GEPMM

Charlot (2013) pontua que na ida agrave escola os alunos aparentemente estatildeo

engajados em uma atividade formativa mas que frequentemente agem por um motivo natildeo

relacionado com o proacuteprio saber Para o autor no caso real encontram-se muitos alunos que

estudam para tirar uma boa nota passar nas disciplinas conseguir um diploma e

consequentemente receber um salaacuterio que o torne uma pessoa de sucesso Jaacute no caso ideal o

aluno idealizado pelas instituiccedilotildees e sobretudo pelos professores seria aquele que estudaria

porque se interessaria pelo conteuacutedo estudado

Na loacutegica que estaacute se tornando dominante estuda-se (quando se estuda) para ter

boas notas passar de ano ser aprovado no vestibular ter um bom emprego motivo

e objetivo discordam Portanto natildeo existe mais atividade Sendo assim qual eacute a

significaccedilatildeo do que o aluno faz na escola Leontiev responderia que se trata de

accedilotildees Podemos dizer tambeacutem que eacute um trabalho um trabalho alienado

(CHARLOT 2013 p 154)

A estrutura da atividade de formaccedilatildeo tradicional pode ser considerada segundo

Engestroumlm (2008) como alienante tanto para alunos quanto para professores Tomando por

126

base tal reflexatildeo poderiacuteamos nos questionar estariam mesmo realizando um trabalho

alienado Caso afirmativo qual seria o niacutevel de alienaccedilatildeo do trabalho que os alunos e

professores desenvolvem em disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia Acredito que a

compreensatildeo de tais questionamentos se faz necessaacuteria para analisar as aprendizagens

expansivas possibilitadas pela constituiccedilatildeo do GEPMM no referido contexto de formaccedilatildeo em

Engenharias

41 Constituiccedilatildeo do GEPMM possibilidades para aprendizagens expansivas

Como jaacute esclarecido na Introduccedilatildeo desta tese esta pesquisa se originou de

inquietaccedilotildees relacionadas ao trabalho que venho desenvolvendo ao longo de vaacuterios anos

como docente em cursos de Engenharia Durante todo esse percurso tenho me deparado com

vaacuterios aspectos que julgo contraditoacuterios com relaccedilatildeo aos processos de ensino-aprendizagem

das disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia A proposta da pesquisa aqui relatada

constitui dessa forma uma expressatildeo do eu ndash sujeito ndash em face da realidade adotando certo

posicionamento frente agrave realidade das praacuteticas sociais que tenho participado na situaccedilatildeo de

docente de disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia mostrando certa atitude diante de

uma situaccedilatildeo real presente

Nesse sentido inicio a anaacutelise usando a Teoria da Atividade como suporte teoacuterico

com a intenccedilatildeo de verificar se a criaccedilatildeo do referido grupo pode se configurar como um

miniciclo de accedilotildees de aprendizagem expansiva (ENGESTROumlM SANNINO 2010b)

Com isso posso dizer que comeccedilo o esboccedilo das ideias desta pesquisa

interrogando os processos de ensino-aprendizagem que passei a participar desde que me

inseri neste trabalho Aleacutem de mim percebi durante a construccedilatildeo dos dados desta pesquisa

que outros indiviacuteduos partiacutecipes do mesmo contexto (alunos e professores dos cursos de

Engenharia) tambeacutem comungam as mesmas ou algumas das inquietaccedilotildees A seguir apresento

algumas dessas inquietaccedilotildees que estiveram abrigadas na primeira etapa de accedilotildees em

miniciclo de aprendizagem expansiva o interrogatoacuterio

411 Interrogatoacuterio

127

Engestroumlm e Sannino (2010b) explicitam que uma sequecircncia ldquoidealrdquo de accedilotildees

epistecircmicas em um ciclo expansivo se inicia com o interrogatoacuterio que consiste no

questionamento na criacutetica ou na rejeiccedilatildeo de alguns aspectos de uma praacutetica socialmente

aceita ou uma sabedoria existente em uma comunidade Nessa primeira parte da sequecircncia de

accedilotildees que satildeo necessaacuterias para analisar esse processo com o aporte teoacuterico da aprendizagem

expansiva aponto algumas facetas da praacutetica tradicional de ensino-aprendizagem de Caacutelculo

que foram incluiacutedas sob a forma de questionamentos eou interrogaccedilotildees pelos sujeitos que

participam dela ndash alunos e professores dos cursos de Engenharia Natildeo estou dizendo que todos

os integrantes do GEPMM as questionam e interrogam ao mesmo tempo e nem que tais

questionamentos ocorreram durante o planejamento e o desenvolvimento das atividades do

grupo

Vale ressaltar que o objeto de uma atividade possui inerentemente uma natureza

dual eacute ao mesmo tempo ldquoalgo dado e algo projetado ou antecipadordquo120

(ENGESTROumlM

2008 p 88) O objeto de uma atividade eacute tambeacutem seu verdadeiro motivo (ENGESTROumlM

1987) Processos de mudanccedila objetivam necessariamente a construccedilatildeo de um novo objeto e

consequentemente correspondentes novos motivos a serem cultivados

Durante a entrevista inicial alguns motivos que levaram os sujeitos a aceitarem o

convite para participaccedilatildeo no GEPMM foram explicitados Tais motivos podem demonstrar ou

explicitar questionamentos que tecircm origem em questotildees que compotildeem as praacuteticas tradicionais

de ensino de Caacutelculo em cursos de Engenharia Com base em excertos das transcriccedilotildees das

gravaccedilotildees das entrevistas iniciais realizadas com os sujeitos podemos notar que

Para o docente Angel o grupo ldquopropicia uma questatildeo de um diaacutelogo entre os

colegas de mesma aacuterea e talvez estar criando em ambiente de discussatildeo das praacuteticas de

ensino e tentar melhorar ou evoluir essa questatildeo do ensino tradicional que eacute muito aplicado

e difundido nas Universidades Federaisrdquo Afirma ainda que acredita que ao participarem do

GEPMM os alunos sairiam com uma visatildeo mais ampliada da conexatildeo que existe entre as

disciplinas baacutesicas e as aplicadas para que possam vislumbrar problemas da realidade

A docente Clarice afirmou que o interesse em participar do grupo estaria

motivado pela possibilidade de ver a Matemaacutetica em accedilatildeo ndash sendo utilizada Nesse sentido

ldquoabrir novos caminhosrdquo de atuaccedilatildeo ter novos conhecimentos novas possibilidades ldquonatildeo

120

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquosomething given and something projected or anticipatedrdquo

128

ficar sempre no baacutesicordquo e ldquomelhorar como professorardquo seriam os principais motivos para ter

aceitado o convite de participaccedilatildeo no GEPMM segundo Clarice

O docente Robson demonstrou a meu ver que estaria insatisfeito com os modos

ldquodesconexosrdquo de ensino de Caacutelculo nos cursos de Engenharia da instituiccedilatildeo que os

professores de Caacutelculo natildeo abordam questotildees de aplicaccedilotildees reais em suas disciplinas e que

quando tentam abordar consideram questotildees e exemplos de livros didaacuteticos Tais exemplos

para ele satildeo ldquodesconexos da realidade porque o proacuteprio matemaacutetico natildeo vivenciou aquilo e

natildeo tem certeza se eacute daquele jeito natildeo conhece bem as variaacuteveis envolvidas entatildeo

normalmente as pessoas que ensinam matemaacutetica acabam caindo nos problemas

tradicionaisrdquo O docente afirmou que disseminar esse tipo de praacutetica ndash a da Modelagem

Matemaacutetica ndash seria um dos motivos para ter aceitado o convite e ter participado do GEPMM

Contudo natildeo explicitou os outros

Sendo assim os docentes demonstraram que ao aceitarem o convite para

participarem do grupo seguem orientados pela incorporaccedilatildeo de conhecimentos de

Matemaacutetica em accedilatildeo ndash em conexatildeo com as mais diversas aacutereas do conhecimento ndash que

desejam melhorar ou evoluir como docentes no sentido de abrir novas possibilidades e formas

de atuaccedilatildeo e almejam a disseminaccedilatildeo das praacuteticas de Modelagem Matemaacutetica em outros

contextos outras instituiccedilotildees e sob outras perspectivas

Tomando-se por base que os professores desejam melhorar ou evoluir o trabalho

que se dispotildeem a desenvolver como proponentes e participantes de praacuteticas de ensino-

-aprendizagem de disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia decidi tentar pontuar quais

seriam tais melhorias ou seja se haacute algo que possa ser melhorado ou evoluiacutedo significa que

haacute algo que precisa ser transformado modificado e nisso residem as possibilidades para

aprendizagens expansivas Mas o quecirc poderia ou precisaria ser transformado Com base na

revisatildeo de literatura sobre os processos de ensino-aprendizagem de Caacutelculo em cursos de

Engenharia apresentada no Capiacutetulo 2 exponho a seguir quatro questionamentos que podem

ser considerados como essecircncia no que diz respeito agraves transformaccedilotildees em tais processos

a) como adequar as metodologias utilizadas em disciplinas de Caacutelculo em cursos

de Engenharia em consonacircncia com os objetivos gerais para a formaccedilatildeo dos

engenheiros

b) Como fazer com que os estudantes participem ativamente dos proacuteprios

processos formativos de aprendizagem no que tange as disciplinas de Caacutelculo em

cursos de Engenharia

129

c) Como romper com a encapsulaccedilatildeo das disciplinas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia

d) Como melhorar a interaccedilatildeo entre os sujeitos da aprendizagem em disciplinas

de Caacutelculo em cursos de Engenharia

Essas quatro questotildees foram elaboradas por mim com o intuito de analisar as

possibilidades de aprendizagens expansivas que podem ser desenvolvidas em atividades

desenvolvidas pelo GEPMM constituiacutedo na UNIFEI com o objetivo inicial de construccedilatildeo de

dados empiacutericos para esta pesquisa Esses questionamentos e criacuteticas foram compartilhados

entre os integrantes do referido grupo no decorrer dos encontros e durante as entrevistas

Depois disso passamos para a segunda etapa das accedilotildees de aprendizagem que consiste na

anaacutelise da situaccedilatildeo atual a fim de descobrir as causas ou explicaccedilotildees sobre o que foi

questionado

412 Anaacutelise da situaccedilatildeo

Engestroumlm e Sannino (2010b) explicitam que uma segunda accedilatildeo que compotildee uma

sequecircncia tipicamente ldquoidealrdquo em um ciclo expansivo consiste na anaacutelise da situaccedilatildeo atual

Para os autores analisar envolve transformaccedilotildees mentais discursivas ou ateacute mesmo praacuteticas

da situaccedilatildeo atual com o intuito de descobrir mecanismos de causa eou explicaccedilatildeo

Considero como o iniacutecio dessa fase o momento em que comecei a procurar por

outras metodologias que poderiam ser utilizadas no desenvolvimento das disciplinas de

Caacutelculo em cursos de Engenharia bem antes de iniciar esta pesquisa Fiz diversas leituras na

aacuterea de Educaccedilatildeo Matemaacutetica na tentativa de elaborar ainda que apenas em termos de

projetos futuros outras possibilidades que pudessem tornar meu trabalho como docente de

disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia menos contraditoacuterio sob minha proacutepria

concepccedilatildeo Apoacutes iniciar a fase da construccedilatildeo dos dados desta pesquisa pude perceber in loco

mediante observaccedilotildees e entrevistas que os questionamentos e criacuteticas podem ser explicados

eou causados pela construccedilatildeo histoacuterico-cultural das praacuteticas de ensino-aprendizagem de

Caacutelculo em cursos de Engenharia

Por um lado as praacuteticas de ensino-aprendizagem de Caacutelculo realizadas na

instituiccedilatildeo satildeo basicamente amparadas pelo meacutetodo tradicional de ensino conforme exposto

130

no Capiacutetulo anterior Por outro lado haacute uma perceptiacutevel distacircncia entre as metodologias

utilizadas em tais praacuteticas na instituiccedilatildeo e os papeacuteis que as disciplinas de Caacutelculo deveriam

exercer na formaccedilatildeo em Engenharia sob a concepccedilatildeo dos professores e estudantes que

participaram da construccedilatildeo dos dados para essa investigaccedilatildeo

Conforme visto no capiacutetulo anterior durante as entrevistas iniciais os sujeitos

apontaram que as disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia deveriam exercer papel de

ferramentas que serviriam como base para o desenvolvimento da formaccedilatildeo do engenheiro ou

seja um Caacutelculo que deveria ser por definiccedilatildeo desenvolvido em praacuteticas de ensino-

-aprendizagem como conteuacutedo em accedilatildeo como instrumento da atividade formativa e natildeo

apenas como parte do objeto conforme visto no iniacutecio deste capiacutetulo

Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas iniciais os docentes Angel Clarice e Robson

atentaram para a necessidade de diaacutelogo entre os docentes que lecionam disciplinas de

Caacutelculo e os demais docentes dos cursos de Engenharia assim como a necessidade de

conexatildeo entre os conteuacutedos de Caacutelculo e os demais conteuacutedos das disciplinas teacutecnicas dos

referidos cursos Para eles o distanciamento causado pela departamentalizaccedilatildeo pode

configurar como ponto-chave para tais questionamentos

Ainda no que diz respeito agraves entrevistas iniciais os alunos principalmente Joseacute e

Pedro apontam para a necessidade de adaptaccedilatildeo da didaacutetica dos professores para dar conta

dos alunos reais que ingressam na instituiccedilatildeo Para eles haacute um niacutetido distanciamento entre os

professores e os alunos durante o desenvolvimento das praacuteticas formativas de Caacutelculo em

cursos de Engenharia Tal distanciamento seraacute mais bem analisado mais adiante ainda neste

capiacutetulo

Por uacuteltimo uma criacutetica que se faz emergente no que diz respeito agraves praacuteticas

tradicionais de ensino-aprendizagem de Caacutelculo em cursos de Engenharia concentra-se na

formaccedilatildeo em termos de habilidades individuais As tradicionais praacuteticas que se destinam a

desenvolver a formaccedilatildeo em Caacutelculo nos cursos de Engenharia acabam por privilegiar o

desenvolvimento de habilidades e competecircncias individuais que estatildeo na maioria das vezes

ancoradas nos conteuacutedos de Caacutelculo de forma ldquopurardquo ndash o Caacutelculo pelo Caacutelculo ou seja ser

competente em Caacutelculo pode ser resumido em conseguir traccedilar graacuteficos resolver derivadas e

integrais por exemplo natildeo significando que tais competecircncias e habilidades sejam

trabalhadas sob a concepccedilatildeo de um Caacutelculo como ferramenta para o

entendimentodesenvolvimentosoluccedilatildeo de problemas reais ndash o Caacutelculo em accedilatildeo

Como visto nos Capiacutetulos 1 e 2 desta tese para o desenvolvimento de habilidades

e competecircncias de Caacutelculo em accedilatildeo por se tratar de uma formaccedilatildeo cujo objeto pode ser

131

entendido como questotildees-problema reais nas quais os conteuacutedos de Caacutelculo se configuram

como ferramentas da atividade faz-se necessaacuterio o desenvolvimento de ampliaccedilatildeo das

possibilidades de interaccedilatildeo entre os sujeitos devido a sua proacutepria natureza O trabalho

coletivo passa a predominar em relaccedilatildeo ao trabalho individual Natildeo basta apenas saber

resolver uma integral eacute preciso saber quando e onde usar uma integral para que uma questatildeo-

problema real possa ser entendidasolucionada A aluna Taty durante a entrevista inicial

aponta que em trabalhos em grupo mais praacuteticos ldquovocecirc acaba aprendendo muito maisrdquo

ldquoacho que esse eacute o trabalho do engenheirordquo

Com isso a situaccedilatildeo das praacuteticas formativas de Caacutelculo em cursos de Engenharia

comeccedila a parecer sob a forma de dilemas que na verdade abrigam contradiccedilotildees

historicamente acumuladas em tais sistemas de atividade Os dilemas nos ajudam a delimitar

possibilidades para transformaccedilotildees expansivas que podem tambeacutem ser entendidas ou

analisadas como movimento na zona de desenvolvimento proximal da atividade Nesse

sentido algumas facetas121

podem ser explicitadas da seguinte forma

a) metodologias utilizadas nas disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia

VERSUS o papel das disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia

b) disciplinas de Caacutelculo focadas em processos de formaccedilatildeo em termos de

aprendizagens individuais VERSUS demandas externas clamam pelo trabalho em

equipe ndash aprendizagens coletivas

c) docentes de Caacutelculo em redes fechadas (somente matemaacuteticos) VERSUS

parcerias com docentes de variadas aacutereas de atuaccedilatildeo em cursos de Engenharia

d) atividade docente desvinculada da atividade discente VERSUS parceria

docente-discente formando uma rede de aprendizagem

Apoacutes essas facetas terem sido explicitadas passamos para a terceira etapa das

accedilotildees de aprendizagem que consiste no modelamento de um novo horizonte de praacutetica cujas

possibilidades de implementaccedilatildeo precisam necessariamente extrapolar as fronteiras do

pensar e agir individual e passar para um patamar de construccedilatildeo coletiva rumo a

transformaccedilotildees qualitativas da praacutetica atual

121

Na teoria da aprendizagem expansiva double bind pode significar dilema ou ldquoface de dois gumesrdquo ou ainda

ldquoduas faces da moedardquo Decidi usar facetas

132

413 Modelamento122

Segundo Engestroumlm e Sannino (2010b) apoacutes a situaccedilatildeo (ou fenocircmeno ou praacutetica

social) ser questionada e analisada pelos sujeitos faz-se necessaacuterio que tal anaacutelise decirc origem a

uma nova forma de praacutetica uma nova atividade Para que isso se concretize eacute necessaacuterio que

os sujeitos consigam construir moldar e transformar um novo objeto por meio de accedilotildees que

objetivem tal modelamento

Antes mesmo de iniciar o processo de construccedilatildeo dos dados para a presente

investigaccedilatildeo a Modelagem Matemaacutetica conforme a concebo pareceu estar alinhada aos

objetivos de formaccedilatildeo de Caacutelculo em cursos de Engenharia Todas as leituras que fiz me

conduziram ao entendimento de que a Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia

poderia constituir um novo horizonte de praacutetica para os sujeitos partiacutecipes dos processos de

ensino-aprendizagem de disciplinas de Caacutelculo nesses cursos profissionalizantes123

Segundo Engestroumlm e Sannino (2010b) a aprendizagem expansiva se concentra

em processos nos quais os sujeitos satildeo transformados de indiviacuteduos isolados em coletivos e

redes Nesse sentido quando a construccedilatildeo dos dados empiacutericos para esta pesquisa se iniciou

na verdade o objetivo era que tal rede fosse tecida

A Modelagem Matemaacutetica sendo considerada como uma praacutetica formativa

inovadora em relaccedilatildeo agraves praacuteticas tradicionais de ensino-aprendizagem de Caacutelculo em cursos

de Engenharia pode ser tomada pelos participantes como um modelo que busca possibilitar

soluccedilotildees para os dilemas expostos anteriormente Acreditando nisso embarquei em uma

jornada rumo agraves possibilidades de movimento na zona de desenvolvimento proximal da

atividade formativa de Caacutelculo em cursos de Engenharia No campo cheguei soacute mas natildeo

permaneci soacute a rede comeccedilou a ser tecida E foi o grupo se constituiu

Sendo assim a constituiccedilatildeo do GEPMM podendo ser considerada como accedilatildeo de

modelamento que segundo Engestroumlm e Sannino (2010b) objetiva a construccedilatildeo de um novo

horizonte de praacutetica visando agrave minimizaccedilatildeo dos dilemas potencialmente incorporados nas

formas de atividade vigentes poderia possibilitar

122

Aqui Modelamento eacute considerado como a terceira fase das estrateacutegicas accedilotildees do ciclo de aprendizagem

expansiva elaborado por Engestroumlm (1987) conforme explicitado no Capiacutetulo 1 deste texto 123

A formaccedilatildeo em Engenharia pode tambeacutem ser entendida como profissionalizante pois objetiva a formaccedilatildeo do

profissional de Engenharia ndash o engenheiro

133

a) a construccedilatildeo de espaccedilos formativos nos quais o objeto da atividade seria

constituiacutedo por questotildees-problema natildeo matemaacuteticas e estudantes engajados em

sua proacutepria formaccedilatildeo (o que poderia se aproximar dos objetivos gerais que

perpassam a formaccedilatildeo dos engenheiros)

b) engajamento coletivo dos estudantes na resoluccedilatildeo de problemas natildeo

matemaacuteticos (o que pode estar mais proacuteximo das demandas externas que

proclamam o trabalho em equipe ndash aprendizagens coletivas)

c) possibilidades de parcerias (interdisciplinares) com docentes de variadas

aacutereas de atuaccedilatildeo em cursos de Engenharia (o que poderia promover o

rompimento da encapsulaccedilatildeo das disciplinas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia)

d) atividade de aprendizagem mediante parceria docente-discente formando uma

rede de aprendizagem (o que poderia ampliar quantitativamente e

qualitativamente as interaccedilotildees docente-discentes)

Vale ressaltar que a construccedilatildeo do GEPMM ao ser tomado como um modelo em

um ciclo de accedilotildees potencialmente expansivas acaba por se configurar como um elo entre as

disciplinas de Caacutelculo e as demais disciplinas que constituem a formaccedilatildeo do engenheiro na

instituiccedilatildeo estudada o que poderia minimizar o ponto de conflito cognitivo apontado por

Camarena (2009) Tal ponto de conflito pode ser entendido como uma tensatildeo que os

engenheiros vivenciam quando precisam integrar duas ou mais aacutereas do conhecimento tais

como o Caacutelculo e outras aacutereas teacutecnicas da Engenharia a fim de matematizar um problema a

ser resolvido Tal minimizaccedilatildeo pode ser relacionada com o rompimento da encapsulaccedilatildeo das

disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia

414 Examinando o novo modelo

Segundo Engestroumlm e Sannino (2010b) a quarta accedilatildeo constituinte de uma

sequecircncia ldquoidealrdquo em um ciclo expansivo seria caracterizada pelo exame do modelo Essa

etapa consistiria em pocircr em praacutetica o modelo executaacute-lo ou operaacute-lo a fim de compreender

sua dinacircmica potencial e limitaccedilotildees Para isso se fez necessaacuteria a criaccedilatildeo de uma rede de

aprendizagem composta por alunos e professores que aceitaram o convite para participaccedilatildeo

134

no GEPMM A parceria estabelecida mediante a criaccedilatildeo de tal rede possibilita a ampliaccedilatildeo do

movimento de informaccedilotildees entre os docentes que atuam em diversas aacutereas por meio da

potencializaccedilatildeo da busca e consequentemente encontro de informaccedilotildees e ferramentas

necessaacuterias para o entendimento e a resoluccedilatildeo das questotildees-problemas que configuram o

objeto da atividade de Modelagem

Aleacutem da parceria entre os professores das mais diversas aacutereas de atuaccedilatildeo a

criaccedilatildeo dessa nova rede poderia possibilitar tambeacutem um cruzamento vertical de fronteiras

por meio das interaccedilotildees entre estudantes e professores pois em instituiccedilotildees escolares alunos

e professores constituem redes hieraacuterquicas de interaccedilotildees A parceria entre eles acaba por

cruzar os limites entre as redes o que poderia tornar a atividade de alunos e professores uma

uacutenica atividade a atividade de aprendizagem

Com isso poderiacuteamos analisar que a construccedilatildeo de tais ambientes configuraria

potencial mudanccedila no objeto da atividade de aprendizagem e ainda a construccedilatildeo de redes

possibilitada pelo cruzamento de fronteiras entre niacuteveis hieraacuterquicos e institucionais na

instituiccedilatildeo por meio de parcerias docente-docente e discentes-docente ambas ocorrendo em

um mesmo espaccedilo fiacutesico em uma mesma praacutetica institucionalizada em prol de um mesmo

objetivo Esses dois movimentos poderiam configurar mutuamente aprendizagens

expansivas como veremos mais adiante no presente texto

Por se tratar de uma intervenccedilatildeo formativa optei pela criaccedilatildeo do GEPMM em vez

de tentar introduzir a Modelagem Matemaacutetica dentro das salas de aula das disciplinas de

Caacutelculo Essa opccedilatildeo metodoloacutegica em termos da construccedilatildeo dos dados mostrou-se

necessaacuteria apoacutes ter assumido a Teoria da Atividade e da Aprendizagem Expansiva como lente

teoacuterica para a anaacutelise dos dados da presente pesquisa Aleacutem disso eu temia que as regras e a

divisatildeo do trabalho dentro das salas de aula de Caacutelculo permanecessem invioladas mesmo

com uma possiacutevel introduccedilatildeo da Modelagem nas demais accedilotildees de ensino que ocorrem durante

o desenvolvimento das disciplinas de Caacutelculo E mais do que isso o objeto da atividade de

alguns alunos durante todo o desenvolvimento das disciplinas de Caacutelculo independentemente

da metodologia adotada poderia permanecer orientado pela aprovaccedilatildeo na disciplina

satisfazendo a necessidade de prosseguir no curso visando agrave obtenccedilatildeo do diploma de

engenheiro

Sendo assim tal intervenccedilatildeo externa as proacuteprias disciplinas de Caacutelculo

configuraria como um espaccedilo formativo alternativo cujo objetivo preliminar seria o

questionamento agrave proacutepria divisatildeo do conhecimento em disciplinas como ocorre

tradicionalmente em cursos de Engenharia no Brasil Neste sentido a proposta da criaccedilatildeo do

135

GEPMM alia-se agraves ideias de formaccedilatildeo em Engenharia com base no foco em questotildees-

problema das mais diversas aacutereas onde os conhecimentos de Caacutelculo sejam instrumentos ou

ferramentas que auxiliam o respectivo entendimentoresoluccedilatildeo natildeo pretendendo assim

minimizar os dilemas vivenciados por alunos e professores durante as praacuteticas das disciplinas

tradicionais de Caacutelculo em cursos de Engenharia Vale ressaltar que seria contraditoacuterio

afirmar que tal enfoque pudesse ser plenamente estabelecido se tomaacutessemos como contexto as

disciplinas de Caacutelculo as disciplinas de Caacutelculo possuem conteuacutedos estabelecidos nos Planos

de Ensino e qualquer enfoque formativo incluindo a Modelagem Matemaacutetica estaria

orientado pelo Plano de Ensino Com isto as atividades de Modelagem constituiriam de

abordagem para dar sentido ou motivar ou mesmo propiciar aprendizagens dos conteuacutedos jaacute

estabelecidos nas ementas Com isto o objeto das atividades seriam os proacuteprios conteuacutedos do

Caacutelculo e a Modelagem Matemaacutetica seria um instrumento para tal ensinoaprendizagem

O espaccedilo formativo caracterizado no e pelo GEPMM se configura como um

contexto propiacutecio para possibilitar aprendizagens expansivas por estar baseado nos contextos

da descoberta da aplicaccedilatildeo praacutetica e da criacutetica conforme exposto no Capiacutetulo 1 Tal espaccedilo

formativo alternativo agraves praacuteticas tradicionais de formaccedilatildeo institucionalizadas nas e pelas

universidades pode ser caracterizado mediante ldquoampliaccedilatildeo gradual do objeto e do contexto da

aprendizagemrdquo (ENGESTROumlM 2002 p 197) Nele os aprendizes embarcam em uma

jornada ao longo da Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) da Atividade124

que segundo

Engestroumlm (1987 p 174) pode ser entendida como a ldquodistacircncia entre as accedilotildees cotidianas dos

indiviacuteduos e a historicamente nova forma de atividade social que pode ser gerada

coletivamente como soluccedilatildeo para o dilema potencialmente incorporado nas accedilotildees cotidianasrdquo

Engestroumlm (2001) pontua que atividades de aprendizagem expansiva buscam

produzir culturalmente novos padrotildees de atividade que nesta pesquisa podem ser manifestos

pelas e nas atividades desenvolvidas no GEPMM devido agrave necessidade de os aprendizes

aprenderem novas formas de atividade enquanto as vatildeo criando

Eacute importante ressaltar que no GEPMM o Caacutelculo eacute considerado como um dos

instrumentos necessaacuterios agrave resoluccedilatildeoentendimento das questotildees-problema natildeo matemaacuteticas

Sendo assim em atividades de Modelagem Matemaacutetica constantemente faz-se necessaacuterio a

aquisiccedilatildeo de novas125

ferramentas de Caacutelculo para os sujeitos partiacutecipes da presente

124

Aqui podemos entender atividade no sentido de Sistemas de Atividade que os sujeitos assumem na posiccedilatildeo

de docentes e discentes de cursos de Engenharia 125

Podemos entender tais accedilotildees com vistas agrave aquisiccedilatildeo de novas ferramentas de Caacutelculo para os sujeitos

partiacutecipes de uma atividade de modelagem seguindo por analogia agraves accedilotildees que visam agrave construccedilatildeoaquisiccedilatildeo de

uma lanccedila ou um arco e flecha em uma atividade de caccedila

136

atividade o que se configura sob essa anaacutelise como accedilotildees estrategicamente necessaacuterias ao

alcance de objetivos parciais orientados pela atividade em questatildeo Mais adiante no que tange

agrave anaacutelise especiacutefica dos instrumentos de Caacutelculo em atividades de Modelagem num contexto

de formaccedilatildeo em Engenharias seguirei orientada pelo seguinte questionamento quais e como

se configuram as accedilotildees possibilitadas pelas ferramentas de caacutelculo em uma determinada

atividade de modelagem

Ao optar pela dinacircmica do modelo de atividade (Modelagem Matemaacutetica) sendo

implementada extra sala de aula (GEPMM) algumas limitaccedilotildees poderiam ocorrer configurar

trabalho extra (horas gastas a mais) ocircnus intensificaccedilatildeo do trabalho incompatibilidade de

horaacuterios entre outras Com isso sobraria menos tempo para realizar as demais atividades que

compotildeem a formaccedilatildeo em Engenharia na UNIFEI tanto para estudantes quanto para

professores Outra possiacutevel limitaccedilatildeo poderia surgir pela estrutura fiacutesica da instituiccedilatildeo jaacute

levando em conta o fato de ser um campus ldquoem construccedilatildeordquo precisariacuteamos de um espaccedilo

fiacutesico para abrigar o grupo

415 Implementando o novo modelo ndash o GEPMM

Com base em Engestroumlm e Sannino (2010b) a quinta accedilatildeo que constitui uma

sequecircncia ldquoidealrdquo em um ciclo expansivo consiste na implementaccedilatildeo do modelo por meio de

suas aplicaccedilotildees em praacuteticas Durante o iniacutecio da construccedilatildeo dos dados da pesquisa relatada

nesta tese procurei por ldquoaliadosrdquo pessoas que compartilhassem as mesmas insatisfaccedilotildees e

que aceitassem o convite de ldquoembarcarrdquo nessa jornada coletiva de transformaccedilotildees Contudo

natildeo obtive sucesso algum nessa primeira ldquoempreitadardquo

Natildeo desisti continuei realizando accedilotildees de negociaccedilatildeo e orquestraccedilatildeo por meio de

conversas com docentes e discentes buscando pelos tatildeo esperados ldquoaliadosrdquo Foi entatildeo que

Angel aceitou o convite Decidimos elaborar e proferir a palestra e apoacutes a palestra mais dois

docentes aceitaram o convite Clarice e Robson

Deliberamos126

algumas accedilotildees estruturais para que o grupo pudesse iniciar sua

jornada encontrar horaacuterios compatiacuteveis traccedilar horizontes de atuaccedilatildeo delimitaccedilatildeo de regras

entre outras

126

Todas as interaccedilotildees nessa parte foram realizadas por meio de mediaccedilotildees possibilitadas pelo grupo ldquovirtualrdquo

criado na rede social Facebook intitulado Modelagem Unifei Itabira

137

Ao serem questionados sobre os motivos que teriam orientado as respectivas

participaccedilotildees nas entrevistas iniciais os alunos Taty Joseacute e Pedro apontaram que gostariam

de ver uma Matemaacutetica mais aplicada uma Matemaacutetica na praacutetica objetivando terem uma

visatildeo diferenciada dos demais no mercado de trabalho futuramente Nas palavras de Taty

ldquoeu espero que no final deste projeto neacute eu consiga ter uma habilidade maior em abstrair

matematicamente os problemas do dia a diardquo Pedro pontuou ldquoeacute uma coisa na qual vocecirc vai

precisar vocecirc vai ter que aplicar o Caacutelculo em muitas aacutereas de atividade para um

engenheirordquo

Com base nas gravaccedilotildees em aacuteudio e viacutedeo dos encontros do GEPMM farei a

seguir um breve relato das accedilotildees que se fizeram presentes durante os dez primeiros encontros

do referido grupo

4151 Os encontros

Agora relatarei o que aconteceu durante os dez127

primeiros encontros realizados

no GEPMM que adotarei como corpus de anaacutelise Depois disso retornarei ao miniciclo de

accedilotildees de aprendizagem expansiva com o intuito de explicitar a sexta e a seacutetima accedilotildees

refletindo sobre o processo de implementaccedilatildeo do novo modelo e consolidando seus

resultados em uma nova forma de praacutetica

41511 Primeiro encontro

O primeiro encontro do GEPMM ocorreu em 01112012 (quinta-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice dos estudantes Joseacute e Taty e com a minha

participaccedilatildeo desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e pesquisadora

Nesse primeiro encontro comeccedilamos a estabelecer regras para questotildees

burocraacuteticas do grupo tais como quantos seriam os integrantes se o grupo seria formalizado

como projeto de extensatildeo ou grupo de pesquisa no CNPq entre outras questotildees Esclareci

127

Considero os dez primeiros encontros devido ao fato de ter que cumprir prazos com relaccedilatildeo agraves exigecircncias

estipuladas no regimento do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em que estou inserida como alunapesquisadora

138

para os alunos Joseacute e Taty128

quais satildeo os objetivos do grupo e da minha pesquisa

Estabelecemos coletivamente que o grupo seria constituiacutedo por quatro docentes e seis

estudantes totalizando dez participantes

A docente Clarice teceu a seguinte criacutetica em relaccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Matemaacutetica no

Brasil ldquomuito se fala pouco se praticardquo E seguiu falando que os alunos de Caacutelculo satildeo

muito desmotivados e acrescentou ldquomuito aluno ali se sente tatildeo incapaz ele natildeo acredita

nele por isso ele se ferrardquo A aluna Taty interveio ldquomas eu acho que isso natildeo eacute culpa do

professor saberdquo A docente Clarice respondeu agrave aluna em tom de voz alterado ldquoMas eacute

tambeacutem um deverrdquo Bakhtin129

(1992 p 396) destaca que a entonaccedilatildeo consiste em uma

expressatildeo focircnica da avaliaccedilatildeo social e para ele ldquoo tom natildeo eacute determinado pelo material do

conteuacutedo do enunciado ou pela vivecircncia do locutor mas pela atitude do locutor para com a

pessoa do interlocutor (a atitude para com sua posiccedilatildeo social para com sua importacircncia

etc)rdquo Aqui uma anaacutelise da entonaccedilatildeo da fala da docente Clarice poderia ser tecida pela

hierarquia e lugar social que alunos e professores ocupam nas instituiccedilotildees universitaacuterias e as

respectivas regras que podem compor o ldquocurriacuteculo ocultordquo tais como professor ldquosempre tem

razatildeordquo a fala do professor natildeo ldquodeverdquo ser questionada e aluno ldquodeverdquo ficar inerte agraves posiccedilotildees

do professor afinal que dita as regras eacute o professor e ao aluno cabe cumpri-las Contudo no

GEPMM natildeo haacute pontos a serem distribuiacutedos pelo professor e isto pode acabar confundindo as

respectivas visotildees sobre as posiccedilotildees sociais nesta praacutetica Neste caso alunos e professores tem

o mesmo grau de importacircncia e hierarquia

No decorrer do encontro Clarice pontuou que nunca havia visto o trabalho do

engenheiro ldquoNunca parei pra pensar nisso Sempre pensei assim ah ele aprendeu as contas

baacutesicas laacute e pronto Mas natildeo vai porque o outro [que sabe mais] vai passar na frente dele [no

mercado de trabalho]rdquo Nesse ponto a docente pareceu estar preocupada com a qualidade da

formaccedilatildeo matemaacutetica que tem sido oferecida nas propostas tradicionais de ensino-

aprendizagem de Caacutelculo em cursos de Engenharia A docente seguiu falando

Eu falo assim no iniacutecio do curso no primeiro dia de aula ah eu ensino Caacutelculo natildeo

tenho noccedilatildeo muito de aplicaccedilotildees aiacute depois vocecircs vatildeo usar [risos] Tipo assim eu

natildeo sei quando mesmo Depois vocecircs vatildeo usar em vaacuterios conteuacutedos porque os

proacuteprios professores [de outras disciplinas ndash natildeo matemaacuteticas] falam comigo Tem

um professor da Mecacircnica que falou comigo o aluno chega laacute sem saber Caacutelculo e

ele precisa de Caacutelculo pra caramba na minha mateacuteria Caacutelculo I mesmo Sabe E

chega sem saber

128

Que natildeo puderam assistir agrave palestra mas viram o convite na rede social Facebook e o aceitaram 129

Conforme explicitado no Capiacutetulo 1 desta tese uma das raiacutezes da teoria da aprendizagem expansiva eacute a teoria

da linguagem e discurso de Bakhtin Por esse motivo sempre que possiacutevel utilizarei tal teoria para analisar falas

e discursos que ocorreram durante a construccedilatildeo dos dados para a investigaccedilatildeo relatada nesta tese

139

Nessa fala da docente percebemos que ela pareceu estar preocupada em natildeo

conseguir responder agraves expectativas dos estudantes ou mesmo dos outros professores das

demais disciplinas quanto agraves aplicaccedilotildees do Caacutelculo e aleacutem disso demonstrou sentir-se

incomodada em ouvir outro docente criticar a formaccedilatildeo matemaacutetica dos estudantes

A aluna Taty nos mostrou suas concepccedilotildees e expectativas em relaccedilatildeo a sua

participaccedilatildeo no GEPMM como aluna do curso de Engenharia de Computaccedilatildeo

Acho que a matemaacutetica eacute a mateacuteria mais poderosa que tem cecirc quer resolver um

problema de verdade Cecirc quer ser um engenheiro Cecirc quer uma resposta Tudo eacute

modelagem As melhores aacutereas da Computaccedilatildeo as que datildeo mais dinheiro cecirc tem

que ser bom de matemaacutetica Entatildeo eu acho um desperdiacutecio a gente ter 500

professores de Matemaacutetica aqui e ficar na sala de aula vendo nada Adoro gosto

muito acho muito legal mas soacute isso Entendeu Vocecirc pode sair daqui muito mais

potente Eacute aproveitar o que a faculdade estaacute te oferecendo

Podemos perceber que a estudante posicionou que suas accedilotildees de aprendizagem

estatildeo relacionadas ao objetivo de ldquoformaccedilatildeo com qualidaderdquo (uma boa formaccedilatildeo potente

aliada ao conhecimento) pois parece desejar ter um bom retorno financeiro no mercado de

trabalho depois de se formar engenheira Eacute niacutetido tambeacutem que sua proacutepria formaccedilatildeo ocupa

lugar privilegiado enquanto objeto de sua atividade ou seja ela parece ter consciecircncia que

ldquoobter conhecimentosrdquo e ldquoadquirir habilidadesrdquo constituem parte fundamental para a sua

proacutepria formaccedilatildeo

Esclareci para os parceiros que inicialmente natildeo gostaria de trabalhar em um

problema muito complexo Naquele momento minha preocupaccedilatildeo estava relacionada agraves

possiacuteveis desistecircncias de integrantes do grupo principalmente alunos caso achassem o

trabalho complexo demais

A discussatildeo sobre ensino de Caacutelculo em cursos de Engenharia continuou embora

este natildeo fosse especificamente o tema do primeiro encontro e a docente Clarice pontuou ldquoO

aluno de Caacutelculo I ele acha que tudo pode jogar no computador que tudo ele joga na

calculadora que ele natildeo vai trabalhar Ele natildeo sabe que vai ter que por a matildeo na massa Ele

acha que eacute pegar uma equaccedilatildeo e resolverrdquo A aluna Taty respondeu ldquoPorque o Caacutelculo I eacute

muito assim vocecirc chega no trecircs [Caacutelculo III] vocecirc nem pega mais na calculadora [risos]rdquo

Neste momento percebi que havia muitas questotildees inerentes agraves disciplinas de

Caacutelculo em cursos de Engenharia na quais os sujeitos demonstravam interesse em debatecirc-las

e como na instituiccedilatildeo natildeo havia um espaccedilo para tais discussotildees e debates eles acabavam

acontecendo nos encontros do GEPMM

140

Prosseguimos o encontro tentando esboccedilar algumas questotildees de interesse dos

integrantes do grupo que poderiam ser tomadas como objetos da atividade de Modelagem do

grupo

a) Angel falou sobre a infraestrutura na UNIFEI preacutedio 2 atrasado restaurante

atrasado

b) Joseacute falou sobre o fluxo de tracircnsito na cidade de Itabira

c) Eu falei sobre prazos para o mineacuterio de ferro extraiacutedo pela empresa Vale nas

minas de Itabira acabar

d) Joseacute falou sobre a poluiccedilatildeo sonora causada pelas explosotildees nas minas da Vale

e) Taty falou sobre a iniciaccedilatildeo cientiacutefica dela relaccedilotildees de gecircnero na construccedilatildeo

civil

f) Eu falei sobre as possibilidades de estudarmos as relaccedilotildees de gecircnero no trabalho

do engenheiro (Clarice fala que natildeo tem vontade de trabalhar com isso)

Apoacutes combinarmos de pensar em casa com calma em mais inquietaccedilotildees que

pudessem ser de interesse do grupo encerramos a reuniatildeo

41512 Segundo encontro

O segundo encontro do GEPMM ocorreu em 08112012 (quinta-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice dos estudantes Joseacute e Taty e com a minha

participaccedilatildeo desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e pesquisadora

Expus para os parceiros que pensei em um problema que haacute muito tempo me

incomoda o problema do peso corporal ideal Expliquei para eles que gostaria de entender

melhor matematicamente a questatildeo do ganho ou perda de peso considerando somente os

fatores alimentaccedilatildeo e exerciacutecios fiacutesicos Denominei naquele momento esse problema como

ldquoa foacutermula da sauacutederdquo e posicionei ainda que ldquoO peso da pessoa eacute fundamental pra vocecirc saber

[] uma das variaacuteveis eacute a massa da pessoa depende da massa da pessoa para vocecirc saber o

tanto que ele queima [] um gordo queima muito mais raacutepido do que quem eacute magrordquo

Clarice completou ldquoAh mais tem um equiliacutebrio depois ele para com aquela queimaccedilatildeordquo

141

Taty pontuou ldquoeacute depende da taxa de gordura da taxa de massa muscular [] achei

fantaacutesticordquo

Aqui o leitor poderia questionar ou estar refletindo sobre a escolha do tema natildeo

pertencer diretamente agrave tradicional aacuterea de Engenharia nem a disciplinas especiacuteficas dos

cursos Contudo o tema perfaz a questatildeo da interdisciplinaridade e da transposiccedilatildeo das

fronteiras disciplinares e curriculares Imagine se nenhum engenheiro ou fiacutesico ou

matemaacutetico tivesse dedicado esforccedilos para o entendimento de processos e fenocircmenos

relacionados com a aacuterea da sauacutede atualmente natildeo teriacuteamos algum aparelho de raio X ou de

ressonacircncia magneacutetica Aleacutem disso a UNIFEI-Itabira oferece entre outros os cursos de

Engenharia da Sauacutede e Seguranccedila e Engenharia Ambiental Com a escolha desse tema

poderia acontecer ainda de estarmos buscando e efetivando de alguma maneira ainda que

impliacutecita o rompimento da encapsulaccedilatildeo de conteuacutedos relacionados com a aacuterea de

Engenharia de Sauacutede e Seguranccedila com os outros cursos oferecidos pela instituiccedilatildeo mediante

a transposiccedilatildeo de fronteiras e a formaccedilatildeo de redes ndash parcerias

Logo em seguida a aluna Taty nos contou que jaacute havia sido atleta e que corria 8

km e o aluno Joseacute nos contou que fazia trilha de bicicleta Eles ficaram realmente muito

interessados pelo tema proposto por mim Aleacutem deles a docente Clarice tambeacutem disse que

achou o tema oacutetimo ldquoachei o mais interessante delesrdquo

O docente Angel permaneceu desde o iniacutecio do encontro manuseando seu

computador portaacutetil e somente depois de 30 minutos de reuniatildeo o perguntei se ele havia

achado o tema interessante Ele pediu para eu repetir os temas ateacute entatildeo levantados e parece

preferir o problema do tracircnsito dizendo ldquotranquilo assim tem que ir laacute medir com o

cronocircmetro verificar ou seja tem um trabalho aiacute neacute de coleta de dados um pouco chata

durante uma semanardquo Ao perceber que todos os parceiros olharam para ela a aluna Taty

logo disse ldquoAh natildeo gente natildeo olha pra mim natildeo gente Tocirc fazendo um monte de coleta de

dados jaacute Me recuso cara [] Eu sento e leio 60 artigos se vocecircs quiserem faccedilo resumo de

todos pra vocecircs natildeo tocirc brincando Eu tocirc fazendo uma coleta gigantescardquo

Naquele momento estava estabelecido um dilema entre as idealizaccedilotildees de objetos

das atividades que pretendiacuteamos realizar Tratava-se de pensar elaborar num plano da

consciecircncia coletiva um resultado ideal ndash uma finalidade jaacute que ldquoo que se pretende obter

existe primeiro idealmente como mero produto da consciecircncia e os diversos atos do processo

se articulam ou estruturam de acordo com o resultado que se daacute primeiro no tempo isto eacute o

resultado idealrdquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 187) Ainda que o resultado real se

142

distancie do ideal trata-se de adequar intencionalmente o ideal ao real ainda que para isso

seja necessaacuterio se assemelhar pouco ou ateacute mesmo nada com a finalidade original

Nesse momento podemos perceber que por jaacute ter participado de programas de

iniciaccedilatildeo cientiacutefica na UNIFEI a aluna Taty demonstrou conhecer uma possiacutevel divisatildeo de

trabalho que pode ser adotada por alguns docentes orientadores nas atividades de iniciaccedilatildeo

cientiacutefica os alunos potildeem a matildeo na massa coletam dados fazem resumo de artigos entre

outras e os orientadores auxiliam na escrita dos relatoacuterios e na anaacutelise dos dados coletados

O posicionamento da aluna Taty de fato ldquoimpactourdquo nas decisotildees do grupo

Alterou modificou a atividade que naquele momento estava sendo idealizada por noacutes

coletivamente Como estavam participando das reuniotildees portanto do grupo apenas dois

estudantes como os docentes procederiam para coletar os dados para tratar do problema do

tracircnsito em Itabira Isso nos levou a deixar esse problema para ser tratado em outro momento

quando tivermos mais alunos para realizar as accedilotildees de coleta de dados

Com isso apoacutes debatermos mais um pouco definimos que a primeira questatildeo-

problema a ser tratada por noacutes seria o emagrecimento em termos de alimentaccedilatildeo e exerciacutecios

fiacutesicos Naquele momento estava traccedilado idealmente um resultado que orientaria as accedilotildees

do grupo uma finalidade entender a questatildeo problemaacutetica do peso corporal ideal isso

configurou uma atividade essencialmente da consciecircncia humana tomada em sua coletividade

por meio da negociaccedilatildeo e debate em que os sujeitos expotildeem seus pontos de vista e suas

idealizaccedilotildees oriundas de suas experiecircncias anteriores suas inquietaccedilotildees mediante as quais

concebem a realidade ainda inexistente mas jaacute traccedilada pela consciecircncia por meio da

idealizaccedilatildeo de seu objeto

Sendo assim ldquonatildeo se trata apenas de antecipaccedilatildeo ideal do que estaacute por vir mas

sim de algo que aleacutem disso queremos que venhardquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 191)

expressatildeo de uma necessidade humana socialmente incorporada que se configura como

causa das accedilotildees e ao mesmo tempo determina as accedilotildees presentes Contudo tal antecipaccedilatildeo

ideal do futuro natildeo implica necessariamente que desejamos de fato sua existecircncia real ou

sequer pretendamos contribuir para que assim seja Desejar uma atividade na realidade

requer sobretudo elencar uma finalidade estampada nas accedilotildees que devem ser realizadas para

tal fim Para isso eacute necessaacuterio entender que toda finalidade pressupotildee determinado

conhecimento da realidade que os sujeitos negam idealmente e dessa forma idealizam accedilotildees

em prol de um resultado tambeacutem idealizado

Com isso podemos analisar que devido ao entendimento de que a questatildeo do

peso corporal ideal dependia de alguns paracircmetros que poderiam ou natildeo ser levados em conta

143

decidiu-se por negar idealmente as formas presentes de entender tal questatildeo (como tiacutenhamos

entendido ateacute aquele momento) e partir para a produccedilatildeo coletiva de conhecimento O objetivo

portanto configurava-se pelas estrateacutegicas accedilotildees de abertura da caixa-preta do peso corporal

ideal

Naquele momento pontuei que ldquoum gordo queima muito mais raacutepido do que

quem eacute magrordquo Taty ponderou ldquoeacute depende da taxa de gordura da taxa de massa

muscularrdquo Tiacutenhamos portanto o conhecimento digamos inicial de que o peso influenciava

na queima de gordura proporcionada pelas atividades fiacutesicas mas como quantificar essa

influecircncia Estariam outros paracircmetros relacionados com tal influecircncia como por exemplo a

taxa de gordura ou a taxa de massa muscular Ou seja algum(ns) conhecimento(s) da

realidade estava(m) sendo negado(s) idealmente naquele momento o que fez emergir uma

finalidade para orientar nossas accedilotildees

Estaacutevamos dispostos a entender essa questatildeo problemaacutetica buscando informaccedilotildees

incorporando variados instrumentos que possibilitassem o acesso a apropriaccedilatildeo e a produccedilatildeo

de conhecimentos relacionados ao peso corporal ideal perseguindo sempre o objetivo que

segue mediante alteraccedilotildees na alimentaccedilatildeo e nos exerciacutecios fiacutesicos como quantificar

mudanccedilas no peso corporal com vistas a alcanccedilar efetivamente o peso corporal ideal Por se

tratar de quantificaccedilotildees tiacutenhamos naquele momento o conhecimento de que algum

instrumento matemaacutetico seria necessaacuterio para alcanccedilarmos o objetivo estabelecido poreacutem

natildeo sabiacuteamos de antematildeo qual(is) instrumento(s) seria(m) esse(s) e como ele(s) nos

ajudaria(m) nessa atividade

Sabiacuteamos por exemplo que o iacutendice de massa corporal (IMC) representado por

uma equaccedilatildeo matemaacutetica130

eacute considerado o mesmo para homens e mulheres

independentemente da idade Mas suspeitaacutevamos que um homem de 80 anos perdesse peso

de forma diferente que uma mulher de 18 anos considerando mudanccedilas na alimentaccedilatildeo e nos

exerciacutecios fiacutesicos Mas qual seria essa diferenccedila Como ela poderia ser quantificada Tais

questionamentos abarcavam o objetivo explicitado anteriormente ao decidirmos dedicar

esforccedilos no entendimento da problemaacutetica questatildeo do peso corporal ideal

Depois disso o docente Angel que permaneceu manuseando seu computador

portaacutetil navegando na internet convidou-nos para submetermos um projeto ao CNPq pois

havia um edital aberto sobre relaccedilotildees de gecircnero e trabalho e aiacute poderiacuteamos elaborar o projeto

para pesquisar as relaccedilotildees de gecircnero e trabalho na aacuterea de Engenharia Contou-nos que

130

119868119872119862 =119901119890119904119900

1198861198971199051199061199031198862

144

poderiacuteamos dar bolsas aos alunos no valor de R$ 400 A aluna Taty exclamou ldquoNossa que

lindo Que belezardquo

Angel disse que teriacuteamos que realizar uma ldquoforccedila tarefa urgenterdquo porque o prazo

seria ateacute o dia 14 daquele mecircs (ou seja teriacuteamos apenas seis dias para construir o projeto)

Taty disse que tinha o projeto escrito sobre gecircnero e somente teriacuteamos que adaptaacute-lo para a

aacuterea da Engenharia Decidimos por lutar contra o tempo e escrever esse projeto para a

submissatildeo131

Vale ressaltar que ainda que possa parecer estranho natildeo percebi naquele

momento qualquer inadequaccedilatildeo sobre o que o grupo havia coletivamente decidido fazer Na

verdade mesmo que suspeitasse que o CNPq natildeo fosse aprovar o referido projeto visualizei

tal elaboraccedilatildeo como uma possibilidade de aprendizagem para os sujeitos engajados Uma

anaacutelise mais pontual que se refere a tal construccedilatildeo seraacute tecida mais adiante nesta tese

Finalizamos a reuniatildeo combinando as tarefas que cada um desenvolveria durante a

semana para que no proacuteximo encontro pudeacutessemos continuar trabalhando focados no

projeto a ser submetido no CNPq e tambeacutem na problemaacutetica ldquofoacutermula da sauacutederdquo Deliberamos

que cada um dos integrantes ficaria responsaacutevel por ler dois artigos sobre a questatildeo do

emagrecimento considerando alimentaccedilatildeo e exerciacutecios fiacutesicos como paracircmetros

41513 Terceiro encontro

O terceiro encontro do GEPMM ocorreu em 13112012 (terccedila-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel Clarice e Robson dos estudantes Joseacute Pedro e Taty e

com a minha participaccedilatildeo desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e

pesquisadora

Como esse encontro ocorreu na terccedila-feira natildeo tiacutenhamos sala reservada para nos

reunirmos Entatildeo comeccedilamos o encontro em uma sala e em poucos minutos descobrimos que

a sala estava reservada para uma aula Sem termos lugar para nos reunirmos a convite do

professor Robson fomos para um amplo laboratoacuterio de eleacutetrica onde estava ocorrendo em

paralelo ao nosso encontro uma aula de eletricidade praacutetica Depois de chegarmos agrave sala a

cacircmera que foi utilizada para realizar as gravaccedilotildees em aacuteudio e viacutedeo inesperadamente

131

E o submetemos na data limite ndash dia 14 de novembro de 2012 Contudo o CNPq natildeo o aprovou O parecer

questionou sobre a aacuterea de atuaccedilatildeo dos docentes que iriam executaacute-lo

145

interrompeu as filmagens Por esse motivo o relato desse encontro se baseia em alguns

minutos de gravaccedilatildeo em aacuteudio e viacutedeo e nas anotaccedilotildees em caderno de campo

Comeccedilamos o encontro discutindo o artigo132

de Scagliusi e Lancha Juacutenior

(2005) que trata do gasto energeacutetico por meio da teacutecnica da ldquoaacutegua duplamente marcadardquo

Nesse artigo no QUADRO 1 os autores apresentam alguns modelos matemaacuteticos que satildeo

utilizados para o caacutelculo do gasto energeacutetico segundo a teacutecnica da aacutegua duplamente marcada

Percebemos que nas equaccedilotildees denominadas pelos autores por ldquofoacutermulas matemaacuteticasrdquo

contidas no referido quadro alguns valores (constantes) natildeo ficam claros pra noacutes isto eacute os

valores aparecem nas foacutermulas contudo a razatildeo do aparecimento natildeo eacute explicitada no texto

Por exemplo o que significa o valor 3044 ou 1104 na equaccedilatildeo 3 Ou ainda 081 ou 067 na

equaccedilatildeo 4 Natildeo conseguimos encontrar respostas para esses questionamentos no referido

artigo e decidimos apoacutes a reuniatildeo ir agrave busca de alguns artigos referenciados nele como por

exemplo Weir (1949) e Black Prentice e Coward (1986)

Ainda durante a discussatildeo do artigo Scagliusi e Lancha Juacutenior (2005) na paacutegina

542 nos deparamos com um termo fiacutesico-quiacutemico ndash o deuteacuterio Nunca ouvi falar sobre esse

conceito nem o docente Angel nem a docente Clarice A partir dessa duacutevida os alunos Joseacute e

Pedro nos esclareceram com propriedade sobre o que se baseava esse conceito Joseacute e Pedro

utilizaram instrumentos da oralidade que ecoavam vozes oriundas de discursos da fiacutesico-

-quiacutemica escolar (discurso didaacutetico pedagoacutegico) que provavelmente eles haviam tido

acessointeragido durante formaccedilatildeo escolar em niacutevel meacutedio e que estavam guardadas em suas

memoacuterias

Naquele momento podemos perceber ainda que ocorreu uma inversatildeo de papeacuteis

entre alunos e professores noacutes professores aprendemos com os alunos e eles alunos nos

ensinaram Por meio de interaccedilotildees mediadas pela oralidade (linguagem falada) todos noacutes

sujeitos da atividade passamos a ter acesso a informaccedilotildees relacionadas ao deuteacuterio que

estariam suportadas na memoacuteria dos alunos e teriam sido acessadas naquele momento com o

intuito de suprir a necessidade de que todos compartilhassem desse saber Isso somente se

tornou possiacutevel pois aceitamos o convite de formarmos uma parceria de aprendizagem entre

alunos e professores o que nos tira da zona de conforto em que haacute predomiacutenio de controle e

previsibilidade e nos coloca na zona de risco na qual incertezas e imprevisibilidades

imperam (BORBA PENTEADO 2001)

132

Encontrado por mim a partir de buscas na internet e anteriormente ao encontro compartilhado com os demais

parceiros no grupo ldquovirtualrdquo da Modelagem Unifei Itabira na rede social Facebook

146

Naquele encontro a questatildeo do peso corporal ideal ainda estava digamos

nebulosa para noacutes nossas accedilotildees e idealizaccedilotildees eram realizadas mediante negociaccedilatildeo e

interaccedilatildeo com os (instrumentos) que tiacutenhamos em matildeos ndash o artigo estudado no qual

encontramos a QUADRO 1 ndash por meio de habilidades de leitura e interpretaccedilatildeo (linguagem

escrita que inclui a linguagem matemaacutetica escrita) e nossa corporeidade ndash possibilitou

interaccedilotildees por meio de habilidades de debater discutir e interagir uns com os outros

(linguagem falada que inclui a linguagem Matemaacutetica falada e gestos)

QUADRO 1 ndash ldquoEquaccedilotildees utilizadas para o caacutelculo do gasto energeacutetico (GET) segundo a teacutecnica da aacutegua

duplamente marcadardquo

Fonte SCAGLIUSI LANCHA JUacuteNIOR 2005 p 543

Finalizamos a reuniatildeo deliberando que em casa leriacuteamos com calma os artigos

Weir (1949) e Black Prentice e Coward (1986) citados no artigo de Scagliusi e Lancha

Juacutenior (2005)

147

41514 Quarto encontro

O quarto encontro do GEPMM ocorreu em 22112012 (quinta-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice e com a minha participaccedilatildeo

desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e pesquisadora133

Comeccedilamos o encontro discutindo o artigo de Weir (1949) Observamos que esse

artigo eacute bem antigo Angel com o artigo impresso em matildeos apontou para o artigo e disse

ldquoagora tem que ver como que interpreta essas questotildees analisa porque agraves vezes vai entrar

em aacutereas assim mais complexas que a gente poderaacute natildeo entenderrdquo Respondi a ele ldquoIsso eu

tambeacutem jaacute consegui perceber Angel Por isso eu tocirc pensando para este tema a gente tentar

arrumar um nutricionista neacute porque ele jaacute taacute na aacuterea pra ele ajudar a gente a entender O

que vocecircs acham da ideiardquo E Angel respondeu

Ah eacute bacana porque querendo ou natildeo agindo dessa forma a gente taacute [] gerando

interdisciplinaridade neacute Porque a gente taacute pegando professores da matemaacutetica

professores da matemaacutetica mais pura professores da matemaacutetica mais aplicada

pessoas da aacuterea de nutriccedilatildeo Entatildeo eacute um ambiente bem [interdisciplinar]

A professora Clarice tambeacutem se manifestou favoraacutevel agrave integraccedilatildeo de uma

nutricionista a nossa rede de aprendizagem Seguimos com as discussotildees sobre o artigo de

Weir (1949) em que pontuei

a gente vecirc um ldquosisteminhardquo linear aqui de cara Que eacute o que ele [o autor] deve ter

estudado Taacute vendo Entatildeo assim vamos ter que entender porque eacute daqui que

surgem aqueles nuacutemeros que estatildeo laacute naquelas outras equaccedilotildees [me refiro ao artigo

de Scagliusi e Lancha Juacutenior (2005)] [] igual aqui [aponto para a tela do meu

computador portaacutetil onde leio o artigo de Weir (1949) na tela] ele taacute usando

carboidratos a proteiacutena e a gordura [] talvez a gente possa fazer tentar fazer

uma modelagem mais precisa do metabolismo porque vocecircs lembram [] a

questatildeo do metabolismo basal que eacute aquela coisa do repouso seu organismo taacute

gastando a questatildeo da alimentaccedilatildeo que vocecirc taacute acrescentando e do que vocecirc gasta

com as coisas do natildeo repouso neacute entatildeo satildeo essas trecircs categorias que a gente teria

que analisar pra poder eacute achar essa foacutermula que a gente quer ndash este modelo Entatildeo

num primeiro momento estamos estudando essa questatildeo que eacute do metabolismo

basal que ele tem a ver tambeacutem com o que vocecirc taacute comendo Taacute vendo que aiacute jaacute taacute

misturando essas duas coisas neacute Que tem a ver com o oxigecircnio que tem a ver com

133

Os estudantes Joseacute Pedro e Taty natildeo puderam participar justificando excesso de trabalhos e estudos

acadecircmicos Tambeacutem justificando o mesmo motivo natildeo participaram dos demais encontros (quinto sexto

seacutetimo oitavo nono e deacutecimo) Uma anaacutelise mais pontual sobre esse acontecimento seraacute realizada mais adiante

nesta tese no Capiacutetulo 6 mais especificamente na modalidade analiacutetica descrita em 62

148

o gaacutes carbocircnico que vocecirc libera que eacute aquela questatildeo da maacutescara que o aluno

falou neacute na aula passada entatildeo essa coisas elas se misturam neacute

Questionei tambeacutem a metodologia do estudo realizado por Weir (1949)

apontando que os alimentos da eacutepoca eram outros as gorduras consumidas antes eram em

sua maioria oriundas de fontes animais hoje em dia as gorduras vecircm de fontes vegetais E

qual seria o impacto dessa mudanccedila na vida das pessoas Coincidentemente aliado a isso o

nuacutemero de casos de cacircncer tem crescido de forma assustadora

E continuei falando ldquopois eacute eu tocirc pensando [] numa questatildeo aqui relacionada

laacute a nebulosos [Teoria Fuzzy] porque [] se cada um desses paracircmetros aiacute gordura tipos de

alimentos e tudo mais cecirc tem uma certa variabilidade natildeo temrdquo Angel e Clarice

responderam que sim e Angel esclareceu

Entatildeo vocecirc poderia tratar com aquela parte laacute daqueles agrupamentos neacute onde

aqui vocecirc tem o centro e a variabilidade [aponta com uma matildeo representando o

centro e a outra se movimenta em volta] [] e vocecirc jaacute gerar os agrupamentos e

encontrar um modelo nebuloso para o metabolismo humano [] A gente jaacute tem que

pensar alto a gente tem que pensar em publicaccedilatildeo [risos]

Clarice concordou ldquoIsso aiacuterdquo seguiu nos contando que pensou em um problema

para ser colocado na lista de problemas a serem trabalhados no grupo Vale ressaltar que

Clarice ateacute entatildeo natildeo havia em nenhum momento se posicionado com algum

questionamento que pudesse vir a ser trabalhado no grupo Nas palavras dela

Eu queria fazer uma pesquisa eacute pegar os preccedilos eacute o custo de vida hoje e o salaacuterio

miacutenimo atual eacute o preccedilo de alimentaccedilatildeo eacute passagem de ocircnibus o valor do

combustiacutevel [] e ver como que vai taacute isso daqui a 2 anos [] tenho certeza que vai

dar uma diferenccedila boa com relaccedilatildeo ao salaacuterio miacutenimo neacute [] Isso explica neacute na

minha leiga opiniatildeo a violecircncia gente Natildeo tem como As pessoas natildeo tatildeo

conseguindo viver mais com um salaacuterio miacutenimo [] eu tenho muito interesse nisso

Interesse de indignaccedilatildeo mesmo

Angel e eu gostamos dessa proposta de Clarice e a colocamos na lista de

questotildees-problema do grupo Encerramos o encontro deliberando os estudos em casa ler em

profundidade de entendimento o artigo de Weir (1949)

No dia 29112012 comecei uma conversa com uma docente do Departamento de

Nutriccedilatildeo da Universidade Federal de Outro Preto (UFOP) Convidei-a para participar das

discussotildees do grupo sobre o tema ldquofoacutermula da sauacutederdquo mesmo que apenas virtualmente por

meio das redes sociais ou por outro meio de comunicaccedilatildeo a distacircncia Ela aceitou o convite e

passou assim a ser uma parceira em nossos esforccedilos coletivos

149

No dia 01ordm122012 a docente da UFOP nos indicou um livro134

que pode ser

acessado na internet No mesmo dia compartilhei com os demais parceiros o link no grupo

Modelagem Unifei Itabira na rede social Facebook

41515 Quinto encontro

O quinto encontro do GEPMM ocorreu em 06122012 (quinta-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel e Robson e com a minha participaccedilatildeo

desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e pesquisadora

No iniacutecio da reuniatildeo Angel justificou a ausecircncia de Clarice com o fato de ela ter

que se empenhar em um trabalho a ser entregue ainda naquela semana ao professor da

disciplina que eles (Angel e Clarice) cursavam como alunos natildeo regulares do programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Engenharia Eleacutetrica na UFMG

Comentei com os parceiros que o livro digital que a docente da UFOP nos indicou

poderia nos ajudar na resoluccedilatildeo do problema do peso corporal ideal No mesmo site encontrei

vaacuterios artigos e livros interessantes Com o auxiacutelio de um pen-drive compartilhei o arquivo

digital que continha o livro com os parceiros Angel e Robson pois eles ainda natildeo o tinham

A seguir descrevo uma interaccedilatildeo entre noacutes ao discutirmos o livro que a docente

do Departamento de Nutriccedilatildeo da UFOP nos indicou

Eu Cecirc lembra um dia que a gente colocou o peso da pessoa ele influencia na

atividade [fiacutesica] Olha pra vocecirc ver que interessante tem um graacutefico na paacutegina

891 que ele [o autor] coloca ndash atividade fiacutesica coloca as quilocalorias gastas por

hora e coloca o gasto da pessoa Ele coloca o impacto do peso no gasto de energia

neacute Nas velocidades 234 ou 5 Agora qual atividade eacute essa Entatildeo a gente podia

partir desses dados que estatildeo aqui por exemplo talvez fixando em um capiacutetulo ou

outro

Angel aqui eacute caminhando

Eu eacute caminhando Taacute vendo que interessante eu acho assim interessantiacutessimo

isso Agora cecirc vecirc que tudo aqui eacute linear neacute Seraacute que daria pra gente pegar esses

mesmos dados e tentar trata-los de outra maneira Taacute vendo oh cecirc caminhar na

velocidade 2 se vocecirc tiver 60 kg cecirc vai queimar 150 calorias mas se vocecirc tiver 130

kg cecirc vai queimar 300 e tantas calorias [] ele [o autor] colocou homens e

mulheres

Robson de repente natildeo tem tanta diferenccedila homens e mulheres

Eu tem pior eacute que tem

Robson [em tom surpreso] tem Tem

134

Livro intitulado Dietary reference intakes for energy carbohydrate fiber fat fatty acids cholesterol

protein and amino acids (macronutrients) Disponiacutevel em ltwwwnapeducatalogphprecord_id=10490gt

150

Eu por exemplo o consumo de proteiacutenas em homens e mulheres ele eacute assim

assustador menos A mulher precisa consumir bem menos proteiacutenas do que o

homem

Robson seacuterio Incriacutevel heim Bem interessante

Eu laacute na paacutegina 893 ele divide soacute pro homem Esse ldquomrdquo aiacute eacute minuto () aiacute depois

ele coloca o das mulheres Olha como eacute diferente Robson

Robson humhum Aiacute eu fico pensando como eacute que ele tirou esses valores Neacute

Tem duas possibilidades ou ele tira da pessoa ali fazendo o tal exerciacutecio eacute

coletando assim as perdas de calor aquela coisa de taacute numa cacircmara fechada e tal

mas eu acho que de repente pegou um enfoque teoacuterico que eacute a queimadas calorias

por meio das reaccedilotildees que gerariam o ciclo de KREBS que eacute a queima de toda

energia eu noacutes temos nas ceacutelulas [] No nosso corpo tem dois processos baacutesicos o

catabolismo e o anabolismo Os processos metaboacutelicos levam a duas coisas no

catabolismo o alimento que vocecirc come ele tende a construir outras coisas por

exemplo massa muscular eacute construir tecidos e depois tem o anabolismo que vocecirc

tem processos que tendem a gerar energia e gerar subprodutos

Eu Angel Robson esse mph seria o ritmo a velocidade [apontando para o livro

em arquivo aberto na tela do meu computador portaacutetil] Olha que chique Robson

ele coloca para vaacuterias atividades voleibol andando 2 mph taacute vendo ele tem a

velocidade esse mph ndash aeroacutebica tecircnis ciclismo moderado

Em busca de mais informaccedilotildees sobre a problemaacutetica nos dirigimos agrave paacutegina 900

do mesmo livro na qual encontramos algumas tabelas explicativas Observando as tabelas

comecei a socializar com os parceiros uma seacuterie de ideias sobre a questatildeo perseguida por noacutes

como segue

O que eu pensei de iniacutecio era a gente criar uma equaccedilatildeo que vocecirc daacute de entrada a

atividade que vocecirc estaacute fazendo tipo assim como se vocecirc pudesse fazer uma

medida de tudo o que vocecirc faz ao longo de uma semana [] pra conseguir fazer um

cronograma do que fazer em termos de atividade fiacutesica e do que comer em termos

de alimentaccedilatildeo pra te dar um resultado que vocecirc jaacute queira Soacute que isso a gente taacute

vendo depende de vocecirc ser homem depende de vocecirc ser mulher depende de seu

peso taacute vendo tem vaacuterios [] porque assim quando a gente vai num

nutricionista eles te datildeo uma foacutermula como se todo mundo fosse igual entendeu

E aiacute pelo o que eu tocirc vendo aqui principalmente com esse livro [] eacute que cada

pessoa depende do peso da idade depende do seu gecircnero e depende da sua altura

neacute essas variaacuteveis satildeo as miacutenimas pra vocecirc ter uma foacutermula []

Apoacutes o compartilhamento dessas ideias Angel se mostrou bem animado e

acrescentou ldquomas a gente pode fazer um software pra fazer isso uai [] primeira coisa que a

gente tem que fazer eacute levantar todas as equaccedilotildees que me datildeo essa resposta e depois a partir

dessas equaccedilotildees chegar em talvezrdquo

Em seguida seguimos discutindo e interagindo como segue

Eu Na verdade vai dar um sistema Vai dar um sistema de interdependecircncia aqui

[aponto para trecircs lugares distintos na mesa como se representassem trecircs lsquocaixinhasrsquo]

[] as variaacuteveis peso altura gecircnero e idade na verdade elas natildeo vatildeo ser variaacuteveis

elas vatildeo ser uma constante ou seja ela eacute variaacutevel do ponto de vista de cada um

[cada pessoa] mas para a foacutermula ela vai ser uma constante [] aiacute a gente coloca

essa variaacuteveis soacute com coeficientes da equaccedilatildeo

151

Robson nossa vocecirc eacute show de bola heim

Angel tem alguma equaccedilatildeo aiacute [no livro] jaacute pronta

Eu natildeo nenhuma pronta

Robson mas essa abordagem vai facilitar a montagem da equaccedilatildeo

Eu inclusive perguntei agrave docente da UFOP e ela falou que eacute isso aqui que a gente

tem entendeu Eacute isso e natildeo tem nada aleacutem disso entendeu

Angel hoje isso daqui [o livro] entatildeo eacute o supra sumo do que tem sobre isso

Eu exatamente eacute o resumo de tudo o que se tem entendeu Que eacute o que eles

[nutricionistas] se apoiam mesmo eacute nesse livro Vamos tentar achar a questatildeo da

taxa de [] porque todos os trecircs satildeo energias neacute Tipo assim melhorando esse

modelo baacutesico seria o tanto de atividade fiacutesica ou seja o gasto caloacuterico porque

na verdade essas trecircs coisas satildeo energias tanto do alimento que eacute energia que

entra quanto do exerciacutecio que eacute uma energia que sai desse sistema e o basal

tambeacutem eacute uma energia que vai taacute sendo gasta Vamos tentar equacionar como se

fosse assim o gasto energeacutetico a taxa de energia natildeo importando se ela eacute uma

taxa positiva ou uma taxa negativa O quecirc que vocecircs acham

Robson razoaacutevel

Eu porque se a gente coloca assim as trecircs equaccedilotildees como taxas de energia neacute eacute

claro que elas vatildeo se alterar neacute uma vai ser sei laacute P a outra Q a outra R

Angel Taacute mais aiacute se vocecirc pensar na questatildeo de classe jaacute tem que pensar no que

vocecirc taacute querendo vincular edo pra depois encontrar o resto eacute essa que eacute a sua

ideia Aiacute cecirc teria que pensar qual seria a antiderivada dessa taxa relacionada a

essa parte de dieta porque laacute na parte de fiacutesica de Caacutelculo a gente sabe o quecirc que

estaacute relacionado com o quecirc agora nessa parte daqui eu jaacute natildeo sei [risos]

Eu entatildeo a gente vai ter que buscar nos dados que a gente jaacute tem mapeados nesse

livro por exemplo Talvez a gente pudesse comeccedilar com a terceira que eacute a parte da

atividade fiacutesica entendeu [] eu natildeo sei se vai dar pra ser uma edo bonitinha ou

se na verdade isso daiacute eacute um trem nebuloso entendeu Porque cada um vai se

subdividindo entre outros e outras

Com essas informaccedilotildees em matildeos decidimos por aceitar e acatar o que nos foi

informado pela docente do Departamento de Nutriccedilatildeo da UFOP Segui criticando a

ldquopadronizaccedilatildeordquo das consultas de nutricionistas e educadores fiacutesicos ldquovocecirc vai consulta faz

tudo o que o profissional te falou e natildeo vecirc resultados Qual o problemardquo

Encerramos o quinto encontro deliberando que deveriacuteamos ler com mais

profundidade o livro indicado pela docente da nutriccedilatildeo

Depois disso na manhatilde do dia 17122012 veacutespera do sexto encontro do

GEPMM na sala dos professores da instituiccedilatildeo em que leciono ao folhear uma revista

chamada Caacutelculo (ano 2 nuacutemero 20 setembro de 2012 editora segmento) li a seguinte frase

na parte inferior da capa ldquoEXTRA EMAGRECER DEMORA TREcircS ANOSrdquo Na mateacuteria

da revista obtive a seguinte informaccedilatildeo

Carson e Kevin dois cientistas americanos descobriram que o corpo reage aos

novos haacutebitos alimentares de modo exponencial (mais ou menos do tipo 119890minus119909)

Quanto maior o peso de Ivan [uma personagem da mateacuteria] mais depressa ele perde

peso ao comeccedilar uma nova dieta a perda de peso desacelera bastante ndash quanto mais

peso Ivan perde mais devagar ele perde peso (o mesmo vale para ganhar peso uma

pessoa gorda se ingerir 10 calorias desnecessaacuterias engordaraacute mais que uma pessoa

magra) O modelo matemaacutetico dos dois cientistas usa um grande nuacutemero de

variaacuteveis para ver como o corpo deve comportar incluindo altura sexo peso grau

152

de atividade fiacutesica ingestatildeo de calorias perfil dos alimentos ingeridos tempo entre

as refeiccedilotildees O problema eacute que tal modelo serve bem para cientistas e

nutricionistas mas natildeo serve para pessoas comuns [] Os dois pesquisadores

colocaram um simulador no portal do NIH que pode ser usado tanto por

nutricionistas quanto por pacientes (httpbwsimulatorniddknihgov) [] Ele

mostra graacuteficos tambeacutem (p 29 grifo meu)

Ao chegar em casa imediatamente acessei o site

httpbwsimulatorniddknihgov para tentar entender o que os pesquisadores fizeram desde

o iniacutecio percebi que o que eles fizeram convergia bem com as nossas ideias

Imediatamente apoacutes acessar o site compartilhei essas informaccedilotildees com os demais

parceiros do grupo incluindo a docente135

do Departamento de Nutriccedilatildeo da UFOP

41516 Sexto encontro

O sexto encontro do GEPMM ocorreu em 18122012 (terccedila-feira) e contou com a

participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice e com a minha participaccedilatildeo desempenhando duplo

papel ndash participante do grupo e pesquisadora

Comecei o encontro contando para os parceiros como tive acesso a essa nova

fonte de informaccedilotildees conforme jaacute relatado acima Pegamos meu computador portaacutetil e

acessamos o site httpbwsimulatorniddknihgov em busca de reconhecer as potencialidades

deste (incriacutevel) novo instrumento Nisso comeccedilamos a seguinte interaccedilatildeo

Eu Ela [a docente da UFOP] me explicou o seguinte a pessoa quando faz o

exerciacutecio fiacutesico [] o exerciacutecio fiacutesico altera o metabolismo basal que eacute aquele de

repouso ele vai acelerar o metabolismo basal e aiacute agraves vezes vamos supor que a

pessoa comeccedila a fazer uma dieta ela comia 2500 calorias por dia passa pra 2000

ou seja o organismo dela tava acostumado com 500 calorias a mais Na teoria

assim que natildeo eacute a teoria de verdade a gente ia achar que essa pessoa vai

emagrecer

Clarice Mas eu juro que vai emagrecer Natildeo me desmente [risos]

Eu Natildeo vai emagrecer necessariamente Por quecirc Porque seu organismo ele vai

lutar pra manter a gordura porque isso eacute uma questatildeo de sobrevivecircncia do

organismo Entatildeo o organismo vai fazer o quecirc Ele vai comeccedilar a economizar o

seu gasto [] enquanto mais muacutesculos a pessoa tem mais eacute o gasto [] e tem mais

vamos supor vocecirc passou de 2500 para 2000 natildeo emagreceu e desistiu da dieta aiacute

135

A referida docente natildeo faz parte dos sujeitos que constituem os dados construiacutedos para a presente pesquisa

apesar de ter participado na resoluccedilatildeo da modelagem do peso corporal ideal Decidi natildeo consideraacute-la como

sujeito por natildeo ser uma participante do contexto formativo analisado ndash formaccedilatildeo em Engenharias Na atividade

de Modelagem analisada nesta parte da tese a docente pode ser considerada como uma fonte externa de

informaccedilotildees

153

vocecirc volta a comer 2500 aiacute vocecirc vira uma baleia Porque ele [o organismo]

acostumou a viver com 2000

Angel Efeito ldquoreboterdquo

Eu Pra engordar eacute exponencial [] Como de fato o exerciacutecio impacta no

metabolismo com o passar do tempo Ela [a docente da UFOP] natildeo soube me dar

essa resposta []

Clarice Eacute mais ou menos assim olha vocecirc fez regime emagreceu passe o resto da

vida fazendo exerciacutecio e regime

Eu Exatamente isso

Com essa afirmaccedilatildeo compreendemos melhor a problemaacutetica estudada por noacutes

Em seguida pontuo que no httpbwsimulatorniddknihgov os pesquisadores

oferecem um campo de resultados para a questatildeo da ldquodieta de manutenccedilatildeordquo jaacute levando em

conta esse entendimento de que satildeo necessaacuterias adaptaccedilotildees permanentes na dieta para manter-

-se com o peso desejado o que muitas vezes pode ser conhecido como ldquoreeducaccedilatildeo

alimentarrdquo

Encerramos o encontro deliberando que precisaacutevamos estudar as equaccedilotildees que

estavam por traacutes ou ldquodentrordquo do software que compilava os resultados no site

httpbwsimulatorniddknihgov Tais equaccedilotildees podem ser encontradas no mesmo site ou

pelo link httpbwsimulatorniddknihgovHall_Lancet_Webappendixpdf

41517 Seacutetimo encontro

O seacutetimo encontro do GEPMM ocorreu em 07022013 (quinta-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice e com a minha participaccedilatildeo

desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e pesquisadora

A docente Clarice comeccedilou a reuniatildeo tecendo o seguinte comentaacuterio ldquoO que eu

acho interessante eacute que quando vocecirc propocircs o tema eu natildeo me animei tanto nem o Angel

quanto os alunosrdquo A docente reclamou da natildeo participaccedilatildeo dos alunos que inicialmente

mostraram-se interessados e depois foram deixando de participar totalmente do grupo

Nesse seacutetimo encontro tentamos discutir136

detalhadamente conceitos e modelos

presentes no artigo que diz respeito agrave Modelagem Matemaacutetica Dinacircmica do peso corporal137

Contudo natildeo conseguimos entendecirc-lo em sua totalidade e entatildeo combinamos de sozinhos

136

Tal discussatildeo seraacute mais bem relatada e analisada mais adiante neste mesmo capiacutetulo 137

O texto pode ser encontrado em httpbwsimulatorniddknihgovHall_Lancet_Webappendixpdf

154

em casa estudarmos o artigo e depois num proacuteximo encontro socializarmos nossos

entendimentos com os demais sujeitos do grupo

41518 Oitavo encontro

O oitavo encontro do GEPMM ocorreu em 16042013138

(terccedila-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice e com a minha participaccedilatildeo

desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e pesquisadora

Anteriormente ao oitavo encontro a docente Clarice havia manifestado desejo em

desenvolver atividades de Modelagem Matemaacutetica nas turmas da disciplina Caacutelculo II que ela

lecionava naquele semestre letivo Contudo percebi que ela se sentia ainda insegura quanto

ao desenvolvimento de tal atividade devido ao fato de as turmas serem compostas por 75

alunos ela temia que os alunos pudessem ter dificuldades de realizaccedilatildeo da atividade visto

que apenas um professor natildeo daria conta de auxiliar 75 alunos de uma soacute vez Sabendo desse

desejo de Clarice comecei a reuniatildeo com o objetivo de idealizarmos as accedilotildees necessaacuterias para

tal efetivaccedilatildeo na realidade da sala de aula das turmas de Caacutelculo II sob a responsabilidade de

Clarice e Angel Segue o trecho extraiacutedo da transcriccedilatildeo das gravaccedilotildees em aacuteudio e viacutedeo do

oitavo encontro

Eu Bom antes de a gente comeccedilar a discutir o artigo em si [que havia sido

estudado no encontro anterior e seria retomado neste] eu queria falar das coisas

extras extra artigo no momento Primeiro eacute a proposta da Clarice sobre a gente

fazer a modelagem no dia 30 na sala [de aula]

Clarice Natildeo No dia 30 fazer na sala natildeo no dia 30 preparar ela pra fazer

Eu Preparar eacute a partir do dia 30 pra depois do dia 30 laacute pelo final de maio

Angel Seria a Modelagem em Caacutelculo II

Clarice Eacute Na minha sala e na sua como um trabalho e a Rutyele vai nos ajudar

Nesse momento podemos perceber um ldquogeacutermemrdquo de atividade sendo elaborado

um novo objeto sendo traccedilado e esboccedilado ainda num plano da consciecircncia coletiva dos

sujeitos partiacutecipes Podemos analisar que os docentes estavam em busca de transformaccedilotildees

efetivas de suas atividades de ensino dentro da sala de aula As discussotildees do grupo as

leituras as interaccedilotildees mediadas por finalidades podem ter suscitado a necessidade de negar

138

O mecircs de marccedilo foi de feacuterias para os docentes e discentes da UNIFEI devido agrave greve histoacuterica da categoria

docente das universidades federais brasileiras ocorrida no ano de 2012 Dessa forma somente no dia 16 de abril

conseguimos nos reunir novamente

155

de alguma forma as praacuteticas presentes dentro da sala de aula e propor uma nova forma de

atividade um contexto alternativo que idealmente modificaria o objeto das aulas tradicionais

das disciplinas de Caacutelculo naquele periacuteodo (especificamente da disciplina Caacutelculo II) A

negaccedilatildeo se deve ao fato de que ldquose o homem aceitasse sempre o mundo como ele eacute e se por

outro lado aceitasse sempre a si mesmo em seu estado atual natildeo sentiria a necessidade de

transformar o mundo nem de transformar-serdquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 192)

Um novo e expandido objeto estava por ser configurado Tiacutenhamos um contexto

real a ser considerado a realidade da disciplina de Caacutelculo II a ementa da disciplina a cultura

jaacute definida pela praacutetica tradicional de ensino de Caacutelculo II o tempo delimitado para a

realizaccedilatildeo das atividades entre outros fatores Enfim o objeto do scholl-going estaria

convivendo com esse novo objeto que naquele momento estava sendo moldado

coletivamente Mas com qual finalidade estaacutevamos moldando este novo objeto Por um lado

devemos considerar o fato de que ldquoa relaccedilatildeo entre pensamento e accedilatildeo requer a mediaccedilatildeo das

finalidades que o homem se propotildeerdquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 192) Por outro lado

para que as finalidades natildeo fiquem limitadas a meros desejos ou fantasias se torna necessaacuteria

antes de qualquer coisa a realizaccedilatildeo de idealizaccedilotildees de forma a conhecer a priori o objeto

que orientaria as ldquoaccedilotildeesrdquo da atividade antes mesmo de ele se tornar real ou seja isso requer

ldquoum conhecimento de seu objeto dos meios e instrumentos para transformaacute-lo e das

condiccedilotildees que abrem ou fecham as possibilidades dessa realizaccedilatildeordquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ

1977 p 192) Nesse sentido continuamos com as idealizaccedilotildees do novo objeto

Angel Sim Taacute mais aiacute essa modelagem eacute com base no conteuacutedo de Caacutelculo II e

Seacuteries

Clarice Natildeo O tempo todo

Angel Modelagem geneacuterica qualquer coisa

Eu Eacute Qualquer coisa

Clarice Eacute porque agraves vezes a gente acha mais interessante algum que envolva

campos ou equaccedilotildees diferenciais

Angel Taacute mais aiacute essa proposta vai ser pra eles fazerem durante o resto do

semestre

Clarice Natildeo a gente vai fazer em uma das aulas

Eu Em duas aulas no maacuteximo Fazer algo simples Levar um probleminha bem

simples do mundo real e que eles faccedilam Aiacute se vocecircs quiserem depois que isso ah

natildeo a gente quer gastar uma semana ou um mecircs aiacute a gente pode pensar em algo

com esta duraccedilatildeo entendeu

Clarice Natildeo daacute pra gastar um mecircs natildeo Toma muita aula Eu acho [risos]

Eu Eacute Tem esse problema

Observemos que naquele momento um dilema potencialmente incorporado veio

agrave tona como propor atividades de Modelagem Matemaacutetica em salas de aula da disciplina de

Caacutelculo II em cursos de Engenharia e ao mesmo tempo cumprir a ementa da disciplina

156

Adicione ainda o fato de ser a primeira vez que os professores participariam de atividades de

modelagem em sala de aula Nesse dilema os professores continuam realizando idealizaccedilotildees

em busca de um novo objeto que estaria relacionado ao objetivo de ensinar os conteuacutedos de

Caacutelculo II de forma que tais conteuacutedos sejam tomados como instrumentos de uma atividade

em vez de objeto

Dessa forma havia um desejo de transformar e modificar o ldquoolharrdquo sobre os

conteuacutedos de caacutelculo tornando-os caacutelculo em accedilatildeo como instrumentos mediadores de accedilotildees

realizadas pelos sujeitos (discentes de cursos de Engenharia) orientados pelo objeto (questatildeo-

problema natildeo matemaacutetica) em vez de sempre estarem sendo tomados como objeto de uma

atividade (school-going) historicamente e tradicionalmente constituiacuteda Na tentativa de

minimizar a tensatildeo entre cumprir a ementa e propor atividades de Modelagem em sala de

aula continuamos dialogando e tentando idealizar um objeto considerando os meios os

instrumentos e as condiccedilotildees para sua realizaccedilatildeo

Eu Ela [a Clarice] pode separar os alunos por curso Fazer os grupos por curso

Tipo assim oh vocecirc eacute aluno da Mecacircnica Vocecirc soacute pode ficar em grupo de gente da

Mecacircnica entendeu Ela pode fazer isso Porque aiacute natildeo precisa ser o mesmo tema

pra todo mundo Inclusive eles mesmos podem trazer os modelos de soluccedilatildeo e

socializar ldquopro restordquo da turma Entatildeo mesmo que o cara laacute da Mobilidade natildeo

tenha nada a ver digamos num primeiro momento com a Mecacircnica mas agraves vezes o

problema que os meninos da Mecacircnica vatildeo resolver vai tambeacutem ter neacute produzir

um significado bacana pros outros

Angel [Balanccedila a cabeccedila assertivamente]

Clarice [Balanccedila a cabeccedila assertivamente]

Angel Eacute aquela parte laacute de vaacuterias variaacuteveis que envolvem volumes e tudo mais daacute

pra pensar umas situaccedilotildees reais assim bem bacanas ligadas agrave produccedilatildeo ou alguma

coisa do gecircnero Ou problemas ateacute aiacute jaacute puxando a sardinha neacute pro meu lado de

Otimizaccedilatildeo neacute que utiliza multiplicadores de Lagrange e tudo mais que eacute uma

parte tambeacutem que eles vatildeo ter que ver

Clarice Eacute

Eu Eu acho que problemas de otimizaccedilatildeo daria pra fazer em todas as aacutereas

Clarice [Balanccedila a cabeccedila assertivamente] Humhum

Eu Igual da Produccedilatildeo da [] de todas as aacutereas ali daacute E usaria a mesma

matemaacutetica neacute assim a mesma ferramenta pra ser resolvido [o problema]

Angel Sim daacute

Eu Vamos pensar Dia 30 a gente senta e discute o quecirc que seria mais viaacutevel de

fazer

Angel Humhum Beleza

Clarice [Balanccedila a cabeccedila assertivamente]

No referido momento estaacutevamos colocando em relevo as condiccedilotildees para a

realizaccedilatildeo da atividade baseados no cumprimento de alguns conteuacutedos da ementa da

157

disciplina dentre eles os Multiplicadores de Lagrange139

que por sua vez abarcam outros

conteuacutedos a serem estudados pelos alunos na referida disciplina dentre os quais podemos

enfatizar o conceito de derivada parcial Sendo assim poderiacuteamos escolher questotildees-

-problema que abarcassem tais conteuacutedos constituindo condiccedilotildees iniciais de um processo que

elencaria outros conteuacutedos abarcados na ementa da disciplina de forma a consideraacute-los

instrumentos necessaacuterios para a resoluccedilatildeoentendimento de tal questatildeo-problema Nesse

sentido os conteuacutedos de Caacutelculo II poderiam ser desenvolvidos sob a orientaccedilatildeo de uma

finalidade um objeto definido como sendoestando mais proacuteximo do objeto a ser considerado

no que tange ao objetivo de formaccedilatildeo em Engenharia

Nisso o que pode ser colocado em relevo eacute a proacutepria finalidade da constituiccedilatildeo do

GEPMM na UNIFEI-Itabira Estando baseado no contexto da aprendizagem expansiva que

se aproxima das finalidades preconizadas pela abordagem do PBL conforme exposto no

Capiacutetulo 3 deste texto o contexto que define e ao mesmo tempo eacute definido pelo grupo como

um espaccedilo formativo enfatiza a necessidade de se elaborar novas formas de praacuteticas

formativas que aconteccedilam uma atividade objetiva real isto eacute uma nova forma de praacutexis

formativa Vale ressaltar que o objetivo da presente pesquisa sempre esteve vinculado a tal

finalidade com o intuito de estudaranalisar o que acontece em termos de aprendizagens

expansivas nesse contexto formativo

Depois de termos dedicado esforccedilos na idealizaccedilatildeo de um novo objeto a ser

levado para as praacutexis formativas que ocorrem no decorrer da disciplina Caacutelculo II

comeccedilamos a interaccedilatildeo uns com os outros por meio de linguagem falada e gestos e com o

texto140

(artigo) estudado na reuniatildeo anterior mediado pela linguagem escrita que inclui a

linguagem escrita matemaacutetica impressa no texto no que tange aos modelos matemaacuteticos

suportados por tal miacutedia O seguinte trecho extraiacutedo das transcriccedilotildees da filmagem em aacuteudio e

viacutedeo do oitavo encontro nos mostra outras accedilotildees que se fizeram necessaacuterias para darmos

continuidade agrave atividade presente cujo objeto consistia no que denominados por peso corporal

ideal A saber

Eu [Com o texto do webappendix em matildeos] Entatildeo olha soacute eu dei uma procurada

eacute pra tentar entender essas equaccedilotildees entatildeo eu cheguei na seguinte conclusatildeo esse

glicogecircnio ele eacute um hormocircnio que ele eacute ativado pela insulina do sangue Entatildeo ele

tem relaccedilatildeo direta com a insulina Aiacute eu fui olhar na () dei uma procurada na

internet e achei umas coisas por exemplo eacute a insulina tem um hormocircnio ligado a

139

Teoria desenvolvida pelo matemaacutetico Lagrange cuja utilidade se encontra na resoluccedilatildeo de problemas de

otimizaccedilatildeo que sob certas condiccedilotildees admitem maacuteximos e miacutenimos locais de funccedilotildees de n variaacuteveis

condicionados a uma restriccedilatildeo Para mais detalhes confira Gonccedilalves e Flemming (2007) 140

O texto pode ser encontrado em httpbwsimulatorniddknihgovHall_Lancet_Webappendixpdf

158

ela que satildeo responsaacuteveis por armazenar gordura no organismo e tem esse

glucagon ou glucacon e um outro hormocircnio que chama hsl que ele eacute responsaacutevel

por fazer o papel contraacuterio que eacute queimar a gordura E aiacute eacute () entatildeo esse

glicogen [continuo apontando a lapiseira para o texto impresso] que tem aqui esse

glicogecircnio ele eacute algo que eacute ativado pela insulina do sangue Quando vocecirc ingere

carboidrato que eacute a massa neacute essas coisas que eacute accediluacutecares a insulina ela tem que

ser ativada pra poder combater isso digerir isso no seu organismo E aiacute

dependendo do tanto de carboidrato que vocecirc come sempre esse G ele eacute ativado

pelo carboidrato ingerido entendeu Entatildeo na verdade essa parte aqui oh esse

[indico com a lapiseira no texto] na verdade ela eacute sempre uma coisa () esse

1198701198921198662 na verdade ele fica sempre maior do que o carboidrato que vocecirc ingere

porque esse G ele eacute ativado pelo CI no organismo Entendeu

Clarice [Olha pra mim com ar de interrogaccedilatildeo Em seguida balanccedila a cabeccedila

assertivamente] Humhum

Angel Humhum

Eu Entatildeo essa parcela 1198701198661198662 taacute vendo que o 119870119866 eacute o 119862119868119887 sobre 119866119894119899119894119905

2 Eacute como se

vocecirc tivesse pegando aqui um zero neacute [no sentido de condiccedilatildeo inicial] Esse 119870119866

Angel Humhum [balanccedila a cabeccedila assertivamente]

Eu Esse 119870119866 eacute pra exatamente manter essa parcela aqui sempre uma parcela o

1198701198661198662maior do que o 119862119868

Angel Taacute mais aiacute vai dar negativo uai Se 1198701198661198662 eacute maior que 119862119868 entatildeo essa

diferenccedila vai dar um sinal negativo

Eu Eacute [balanccedilo a cabeccedila assertivamente] pra dar um resultado negativo Porque aiacute

quando vocecirc joga isso daqui oh [aponto pras equaccedilotildees da paacutegina 2] menos o que era

negativo fica mais [no sentido de ser positivo] Entendeu

Angel Hum Hum Humhum

Eu Entatildeo menos o que seria um decrescimento digamos assim aiacute vai ficar mais

aqui oh Vocecirc lembra que eacute o que a gente tava discutindo na uacuteltima reuniatildeo que era

essa questatildeo aqui de tentar entender [direciono a pergunta para Angel]

Angel Eacute porque os dois termos satildeo iguais o que diferencia eacute o 1 minus 119901 e 119901 Eu Isso Humhum

Angel Aiacute um tava relacionado ao corpo gordo neacute e o outro ao corpo ldquoleanrdquo que eacute

o corpo fino neacute vamos dizer assim neacute magro

Eu Humhum Massa magra e massa gorda

Angel Isso exatamente Que a gente natildeo tinha entendido porque que daria um

resultado () ambos dariam pelo jeito positivo

Observemos que neste momento uma accedilatildeo adicional pocircde ser percebida a busca

de informaccedilotildees na internet As possibilidades de buscas de informaccedilotildees foram potencialmente

ampliadas nos uacuteltimos anos com o crescente acesso e uso de instrumentos de busca na

internet Podemos considerar inclusive que a maioria de nossas atuais atividades cotidianas

pode ser mediada pela internet O uso da internet configurou-se como um importante

instrumento podendo ser considerado como facilitador no que tange ao acesso agraves informaccedilotildees

relacionadas ao objeto de nossa atividade Anaacutelises mais pontuais sobre tais possibilidades

interativas seratildeo mais bem evidenciadas mais adiante ainda neste capiacutetulo

Seguimos ateacute o fim do oitavo encontro interagindo com o artigo em questatildeo

dedicando esforccedilos para o pleno entendimento dos modelos ali impressos Contudo

terminamos a reuniatildeo ainda com uma interrogaccedilatildeo relacionada agrave deacutecima equaccedilatildeo impressa no

referido artigo ldquode onde ele [o autor] tirou esse modelordquo pergunto eu Clarice pontua que o

159

autor citou a referecircncia [20] para chegar ao modelo (10)141

Seguimos debatendo sobre nossa

duacutevida e chegamos agrave conclusatildeo de que o autor isolou a variaacutevel peso (119861119882) na equaccedilatildeo (9) e

derivou em relaccedilatildeo ao tempo chegando assim na equaccedilatildeo (10)142

Combinamos de tentar

fazer isso com calma em casa e vermos se essa seria a resposta para o questionamento exposto

anteriormente Encerramos a reuniatildeo com a seguinte reflexatildeo

Clarice Eacute mais ainda fica aquela coisa neacute achamos que eacute isso [gesticula com os

dedos no sentido de entre aspas]

Eu Eacute mais quem que confirma que eacute neacute A gente tinha que ter algueacutem assim mais

da nutriccedilatildeo pra poder ()

Clarice Pra poder confirmar essas coisas neacute

Eu Porque assim o que os nuacutemeros dizem Os nuacutemeros dizem isso Mas eacute isso

mesmo Como obter algueacutem pra falar natildeo eacute isso mesmo

Clarice Isso Fica um pouco de interrogaccedilatildeo neacute

Eu Humhum Entatildeo aiacute agora Clarice eu acho que o proacuteximo passo eacute a gente eacute

entender esse restinho neacute e eu acho que agora taacute bem mais simples

Clarice Eacute eu acho que aqui a gente termina dia 30

Como estaacutevamos enganadas quanto agrave simplicidade do que estaria por vir A

certeza que tiacutenhamos naquele momento eacute de que ainda havia uma interrogaccedilatildeo quanto ao

entendimento daquela equaccedilatildeo de onde o autor tirou a equaccedilatildeo (10)

41519 Nono encontro

O nono encontro do GEPMM ocorreu em 30042013 (terccedila-feira) e contou com a

participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice e com a minha participaccedilatildeo desempenhando duplo

papel ndash participante do grupo e pesquisadora

Comeccedilamos a reuniatildeo discutindo sobre a necessidade de encontrarmos alunos

para nos ajudar na finalizaccedilatildeo da atividade de entendimentosoluccedilatildeo da problemaacutetica questatildeo

do peso corporal ideal Como poderiacuteamos recompensar o engajamento dos alunos no grupo

distribuiccedilatildeo de pontos na disciplina Caacutelculo II Oferecimento de bolsas de pesquisa As duas

alternativas pareceram problemaacuteticas num primeiro momento Primeiro quanto agrave

possibilidade de distribuiccedilatildeo de pontos podemos considerar o seguinte trecho extraiacutedo da

transcriccedilatildeo das filmagens da oitava reuniatildeo

141

httpbwsimulatorniddknihgovHall_Lancet_Webappendixpdf 142

A equaccedilatildeo (10) [120578119865+120588119865+120572120578119871+120572120588119871

(1minus120573)(1+120572)]119889119861119882

119889119905= Δ119864119868 minus

1

(1minus120573)[120574119865+120572120574119871

(1+120572)+ 120575] (119861119882 minus 1198611198820)

160

Eu [] Aiacute na hora que vocecirc oferece 10 pontos eles vecircm participar

Clarice Porque eu tenho alunos que natildeo tiram 10 em 100 [risos] Entatildeo 10 pontos

pra ele eacute um brinde [] E os alunos aqui tem uma preocupaccedilatildeo enorme com

coeficiente

Eu Mas vocecirc acha que ele [o aluno] viria e que ele faria o serviccedilo ou natildeo

Clarice Viria mas como eacute que eu tocirc te falando porque faria o serviccedilo [balanccedila a

cabeccedila negativamente] Natildeo natildeo faria Talvez nos primeiros dias ele tentaria mas eu

natildeo sei ateacute onde ele conseguiria A preocupaccedilatildeo eacute apenas ponto ponto e ponto

Naquele momento a opccedilatildeo de distribuiccedilatildeo de pontos pareceu natildeo resolver o

problema da falta de interesse por parte dos alunos no que diz respeito agrave participaccedilatildeo no

grupo Parece ser consensual entre noacutes docentes que geralmente os alunos dedicam esforccedilos

sempre na direccedilatildeo da obtenccedilatildeo de pontos para serem aprovados nas disciplinas

especialmente nas disciplinas de Caacutelculo que satildeo responsaacuteveis por grande parte das

reprovaccedilotildees em cursos de Engenharia podendo ateacute mesmo ser consideradas como fator de

desistecircncia e evasatildeo desses cursos Caso os docentes decidissem pela distribuiccedilatildeo de pontos

nas respectivas disciplinas de Caacutelculo que lecionavam para que os alunos participassem do

GEPMM a Teoria da Atividade nos ajuda a perceber que os alunos poderiam estar orientados

para a pontuaccedilatildeo a ser obtida e natildeo para o objeto idealizado do GEPMM - resoluccedilatildeo das

questotildees-problema natildeo matemaacuteticas e a proacutepria formaccedilatildeo

Em segundo lugar o oferecimento de bolsas aos alunos que aceitassem o convite

de participaccedilatildeo no grupo estaria condicionado ao registro do GEPMM no diretoacuterio de grupos

de estudos e pesquisas do CNPq sendo que somente docentes que possuem o tiacutetulo de

doutorado podem registrar grupos de pesquisa em tal diretoacuterio O uacutenico docente que estaria

portanto em condiccedilotildees de registrar o GEPMM seria o Robson que possui o tiacutetulo de doutor

Contudo Robson havia ateacute entatildeo participado apenas do terceiro e do quinto encontro do

GEPMM sempre se mostrava ocupado demais ou em viagens de trabalho Mesmo assim

estando restritos a tal condiccedilatildeo insistimos com Robson para que ele registrasse o grupo no

diretoacuterio do CNPq

Dando prosseguimento ao relato do nono encontro Angel nos contou que havia

mudado a dinacircmica da disciplina de Caacutelculo II e que em certos momentos trabalharia com

problemas reais que tivessem relaccedilatildeo aos conteuacutedos da referida disciplina Isso pode

demonstrar que realmente Angel estaacute motivado a realizar mudanccedilas quanto agraves praacutexis

formativas que ele tem participado como docente da disciplina de Caacutelculo II em cursos de

Engenharia Angel pontuou tambeacutem mudanccedilas no que se refere ao trabalho em equipe dentro

de sala de aula e acabou gerando a seguinte discussatildeo

161

Angel [] eu mudei essa questatildeo de disciplina e agora tudo tem que ser feito em

equipe Entatildeo eles [os alunos] jaacute chegam jaacute forma laacute os grupinhos laacute que vai ficar

ateacute o final do semestre e tudo mais e assim eu vejo que existe essa interaccedilatildeo igual

eu passo nos grupos laacute tem um que fala mais e que sabe mais explicando pros

outros colegas discutindo o assunto entendeu Entatildeo assim nossa eu fico

satisfeitiacutessimo Entendeu vendo esse tipo de conduta

Clarice Natildeo ponho muita feacute natildeo Muito pouca feacute [risos] Noacute [balanccedila a cabeccedila

indicando negatividade]

Eu Mais eacute Clarice tem que mudar eacute isso O problema eacute que o ensino tradicional

ele taacute falido haacute muitos anos e a gente natildeo consegue perceber

Clarice Pois eacute mais eu tocirc dizendo assim eacute infelizmente igual no meu grupo [na

sala de aula de Caacutelculo II em que leciona] posso passar isso laacute alguns vatildeo me

enganar entendeu Eu tocirc chateada por isso mesmo porque tatildeo tentando me

enganar

Eu Natildeo mais eles [alguns alunos] vatildeo tentar burlar o sistema Sempre vai ter

Angel Claro

Clarice Isso Eles montam o grupo laacute agraves vezes sim o seu grupo tem sete [alunos] e

tem trecircs interessados os outros humhum humhum e sabe Natildeo sei Entatildeo assim

natildeo eacute ainda ()

Angel Taacute mais aiacute como que vocecirc mapeia e pune esses que estatildeo igual eu falei laacute

()

Clarice Natildeo pune Vocecirc natildeo consegue punir num trabalho()

Angel Na avaliaccedilatildeo uai

Observe que nessa discussatildeo dois fatores principais quanto ao trabalho em grupo

sendo realizado dentro da praacutexis formativa em salas de aula de Caacutelculo II podem ser

colocados em relevo Por um lado ao realizar atividades em grupo os alunos tecircm ampliadas

as possibilidades de interaccedilotildees o que sem duacutevida pode ampliar as possibilidades de

aprendizagens por outro lado os alunos que natildeo se engajarem na atividade de fato acabam

podendo mais facilmente tentar ldquoburlarrdquo o controle exercido pelo professor principalmente no

que tange agrave puniccedilatildeo que pode inclusive continuar a ser exercido pela avaliaccedilatildeo escrita

individual e na maioria das vezes sem consulta conforme preconizado por Angel que seguiu

nos contando

Angel Igual por exemplo igual porque eu adoto muito esse meacutetodo porque eacute da

onde que eu dei aula que eacute laacute no Pitaacutegoras que tem muito essa questatildeo de equipe e

tudo mais e depois avaliar o individual Entatildeo o quecirc que eacute Como que eu moldei

essa questatildeo aqui mais ou menos adaptado ao que tinha laacute vocecirc tem o quecirc as

atividades em equipe e tem as avaliaccedilotildees individuais Entatildeo laacute no Pitaacutegoras vocecirc

sempre trabalhava com 70 30 setenta a parte de prova e trinta das notas de

trabalho em equipe Porque todo mundo tem que aprender a lidar em equipe a

trabalhar em equipe neacute aquelas coisas todas Entatildeo no Caacutelculo II eu tocirc sempre

fazendo esse meio termo primeira etapa claacutessica e a segunda etapa essa parte de

atividade em equipe e avaliaccedilatildeo individual Entatildeo o quecirc que acontece Cada

unidade do livro vamos dizer assim eu seleciono laacute oito dez exerciacutecios pra seres

desenvolvidos em sala entatildeo eu tocirc vendo olhando os grupos como que taacute o niacutevel de

discussatildeo o quecirc que taacute acontecendo entendeu Todas as aulas jaacute foram

disponibilizadas os slides entatildeo eles jaacute tem todas as ferramentas na matildeo

Clarice Vocecirc pocircs no portal [referindo-se ao portal acadecircmico ndash uma plataforma

digital]

162

Angel No portal e tambeacutem num site laacute onde taacute os slides que a proacutepria editora [do

livro texto] fornece Eacute claro que tem que fazer umas correccedilotildees-zinhas neacute Mas a

editora jaacute facilita tremendamente Entatildeo o que acontece Cada aula entatildeo eles

natildeo sabem quais os exerciacutecios que eu vou pedir porque eu passo na aula entatildeo

eles jaacute tecircm que ir para aquele momento de atividade em equipe sabendo um pouco

do assunto Porque como que eles vatildeo discutir com os outros colegas laacute sem saber

nada

Uma anaacutelise que pode ser feita com base nesse excerto eacute de que o docente Angel

desejava que os alunos tivessem uma participaccedilatildeo mais ativa em seus proacuteprios processos

formativos Acreditava que o conhecimento preacutevio eacute importante para a construccedilatildeo do

conhecimento aleacutem de valorizar a ampliaccedilatildeo das possibilidades de interaccedilatildeo quando o

trabalho eacute realizado em grupos ndash uma coletividade de sujeitos Contudo parece que o objeto

dessa nova atividade ldquomoldadardquo por ele e compartilhada conosco por meio da linguagem

falada e dos gestos que estaria presente na praacutexis formativa das aulas de Caacutelculo II sob sua

responsabilidade pouco se diferencia qualitativamente do objeto do school-going de

Engestroumlm (2008) Nesse caso o objeto da atividade continua sendo os conteuacutedos de Caacutelculo

II conforme apresentaccedilatildeo do livro-texto soacute que agora suportados pela miacutedia slides lidos na

tela de um computador com o auxiacutelio de um software Ainda natildeo podemos deixar de enfatizar

que ao considerar uma atividade na qual os sujeitos tenham ativa participaccedilatildeo no processo

Angel atribui como objeto possivelmente compartilhado nas atividades de alunos e

professores os proacuteprios alunos ora sujeitos ora objeto possivelmente compartilhado O que

ele pretendia inclusive com as alteraccedilotildees na referida praacutexis formativa era potencializar o

compartilhamento de tal objeto ndash alunos mediante a valorizaccedilatildeo e o empreendimento da

participaccedilatildeo ativa em tal atividade

Depois de expor as transformaccedilotildees que Angel teria efetuado em sua atividade

docente Clarice comeccedilou por justificar a impossibilidade de propor trabalhos em grupo com

os alunos naquele semestre letivo pelo simples fato de que ela estava lecionando num

auditoacuterio cujas cadeiras eram ldquofixas e terriacuteveisrdquo Declarou ainda que esperava que a situaccedilatildeo

da infraestrutura da instituiccedilatildeo melhorasse para que nos semestres seguintes ela pudesse

lecionar em salas de aula normais com cadeiras moacuteveis possibilitando assim alteraccedilotildees

quanto agrave questatildeo da valorizaccedilatildeo do trabalho em grupo versus o trabalho individual em

disciplinas de Caacutelculo II Pontuou tambeacutem a questatildeo da natildeo obrigaccedilatildeo do cumprimento de

preacute-requisitos na instituiccedilatildeo ou seja natildeo era necessaacuteria a aprovaccedilatildeo em Caacutelculo I para efetuar

a matriacutecula em Caacutelculo II por exemplo Clarice nos contou

163

Clarice Eu acho Rutyele que a partir do periacuteodo que vem vai ser melhor trabalhar

com Caacutelculo I Caacutelculo II inclusive nesse sentido Qual que eacute o problema nesse

periacuteodo eacute que pelo menos 60 dos meus alunos dos 150 natildeo passou em Caacutelculo I

natildeo Natildeo passou em Caacutelculo I entatildeo taacute sem saber o baacutesico do baacutesico mesmo

Angel A Clarice taacute num horizonte bom eu tocirc com 90 eu tocirc com as turmas do

professor X [um professor famoso na instituiccedilatildeo por ter altos iacutendices de reprovaccedilatildeo]

[risos]

Clarice Entatildeo assim esses alunos [] eles praticamente natildeo tem condiccedilotildees de

trabalhar sozinhos sem exposiccedilatildeo oral natildeo Na minha visatildeo natildeo Porque igual eu

poderia citar nomes assim igual fulano fulano e fulano que praticamente cecirc tem

que pegar na matildeo ele taacute sem preacute-requisito nenhum e quando vocecirc potildee ele pra ler

igual jaacute aconteceu igual o menino vem tirar duacutevida aqui comigo aiacute eu falo ah o

que eacute que taacute escrito Isso e isso mas soacute que taacute faltando uma coisa de antes Entatildeo

quando eu tocirc expondo eu tenho que ficar voltando lembra laacute em Caacutelculo I era

assim Aiacute aqui em Caacutelculo II eacute assim Agora tem preacute-requisito a partir do periacuteodo

que vem Aiacute eu por exemplo vou explicar derivada lembra laacute em Caacutelculo I

Derivada era assim era isso lembra Ah aqui eacute assim Olha como mudou

Clarice demonstrou com isso natildeo acreditar que alunos que tenham sido

reprovados em Caacutelculo I consigam dar conta de participarem efetivamente das atividades

propostas por Angel em sua nova proposta pedagoacutegica Imediatamente Angel posicionou-se

ldquoigual como que explica dois alunos laacute que tiraram praticamente quase 100 na minha prova

laacute de Caacutelculo II e foram reprovados em Caacutelculo I Se vocecirc ver a prova do menino que linda

a prova escrito tudo certinho os caminhos uma coisa assim ma-ra-vi-lho-sardquo Com essa

fala Angel buscou contrapor o receio que Clarice havia demonstrado anteriormente

explicitando que alunos que haviam sido reprovados em Caacutelculo I com outro professor (que

adota a forma tradicional de desenvolver as disciplinas de Caacutelculo acostumando-se inclusive

com iacutendices proacuteximos de 90 de reprovaccedilatildeo) poderiam dar conta sim de trabalhar de forma

mais ativa sem exposiccedilatildeo oral dos conteuacutedos pelo professor

Seguimos a reuniatildeo discutindo sobre a idealizaccedilatildeo da atividade que iriacuteamos

aplicar em sala de aula de Caacutelculo II cujos docentes eram Clarice e Angel conforme exposto

anteriormente Nisso Clarice comeccedilou a folhear o livro-texto143

da disciplina e disse ldquoeu

tinha pegado aqui do livro era um de maacuteximo e miacutenimo mesmo Soacute que eu ia falar com vocecirc

[referindo-se a noacutes ndash eu e Angel] uma coisa assim por exemplordquo e continuou folheando o

livro querendo encontrar algo especiacutefico Em seguida entregou-me o livro aberto em uma

paacutegina especiacutefica apontando para mim com o dedo indicador qual seria sua sugestatildeo Ela

sugeria o ldquoprojeto de uma caccedilambardquo (STEWART 2006 p 961) que consistiria em

determinar as dimensotildees de uma caccedilamba de entulho com tampa com o objetivo de minimizar

143

Livro de autoria de James Stewart intitulado por Caacutelculo volume 2 5 ediccedilatildeo Confira referecircncia completa em

STEWART (2006)

164

seu custo de produccedilatildeo Decidimos acatar a sugestatildeo de Clarice e combinamos o

desenvolvimento da atividade para o mecircs de julho de 2013

415110 Deacutecimo encontro

O deacutecimo encontro do GEPMM ocorreu em 14052013 (terccedila-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice e com a minha participaccedilatildeo

desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e pesquisadora

Comeccedilamos a reuniatildeo com Clarice nos contando que na aula de Caacutelculo II que

ela havia desenvolvido depois do encontro anterior do GEPMM (nono encontro) ficou claro

para ela que os alunos realmente natildeo estavam prestando atenccedilatildeo poucos se concentravam

segundo ela Com isso ela decidiu ldquomudar o meacutetodo de ensinordquo mesmo parecendo ainda natildeo

acreditar que ele funcionasse mas tambeacutem acreditava que pior do que a aula expositiva natildeo

poderia ser Pareceu-me que ela havia se apropriado das ideias compartilhadas por Angel no

decorrer do uacuteltimo encontro e resolveu consideraacute-las como uma possibilidade para o

desenvolvimento de suas aulas

Em seguida voltamos a planejar a atividade de modelagem que seria realizada no

decorrer das aulas de Caacutelculo II nas turmas sob a responsabilidade de Clarice e Angel

Descobrimos por meio de um aluno da professora Clarice que existia um manual em PDF144

disponibilizado na internet e amplamente difundido e utilizado pelos alunos da instituiccedilatildeo

que consistia em um conjunto de soluccedilotildees de todos os exerciacutecios propostos no livro-texto

incluindo uma resoluccedilatildeo para o ldquoprojeto de uma caccedilambardquo (STEWART 2006 p 961) Com

isso desistimos de levar tal projeto como havia sugerido a docente Clarice Propusemos-nos a

pensar em outra questatildeo-problema para que em um proacuteximo encontro pudeacutessemos debater e

decidir coletivamente qual seria nossa escolha

Ateacute aquele momento continuaacutevamos a insistir com Robson no que diz respeito ao

registro do grupo de pesquisa no diretoacuterio do CNPq Somente apoacutes tal registro eacute que

poderiacuteamos concorrer agraves chamadas puacuteblicas mediante a submissatildeo de projetos que

viabilizassem o oferecimento de bolsas para os alunos que estivessem dispostos a participar

144

Para mais informaccedilotildees acesse a paacutegina httpptwikipediaorgwikiPortable_document_format

165

ativamente do GEPMM aleacutem do suprimento de outras demandas que seriam impostas no

decorrer das atividades do grupo

Depois disso voltamos agrave problemaacutetica questatildeo do peso corporal ideal no sentido

de idealizarmos o presente objeto da atividade para estabelecer possibilidades de

transformaccedilatildeo Traccedilaacutevamos naquele momento uma primaacuteria idealizaccedilatildeo do objeto a ser

criado por noacutes no futuro sob a orientaccedilatildeo do objetivo de criar um modelo teoacuterico que seria

base para o desenvolvimento de um software utilizando instrumentos de Caacutelculo e da Teoria

Fuzzy para a referida questatildeo-problema partindo dos modelos matemaacuteticos impressos no

artigo145

estudado por noacutes e das informaccedilotildees contidas no livro sugerido pela docente da

UFOP Segue o traccedilado das idealizaccedilotildees baseado em trechos extraiacutedos das transcriccedilotildees das

filmagens em aacuteudio e viacutedeo do deacutecimo encontro do GEPMM

Eu [] eu acho que laacute [no livro indicado pela docente da UFOP] seria a fonte que

a gente pegaria pros dados E aiacute o quecirc que eu pensei em fazer Fazer eacute dividido em

trecircs coisas o metabolismo basal a taxa basal ela eacute influenciada pelo que vocecirc

come e pelas atividades que vocecirc taacute fazendo neacute que satildeo aquelas trecircs caixas - que eacute

o metabolismo basal que eacute a energia ingerida e a energia desprendida pra vocecirc

fazer as atividades fiacutesicas que vocecirc faz neacute Entatildeo o quecirc que vocecirc teria O basal ele

eacute afetado pelos outros entatildeo eacute um sistema onde a gente teria trecircs tipo equaccedilotildees

fuzzy uma primeira que taacute sendo afetada pelos outros e a gente taria vendo como

que isso afeta neacute E faria uma caixa que seria uma equaccedilatildeo pra o gasto caloacuterico

ou seja cecirc vai andar 10 minutos a peacute cecirc vai pegar um ocircnibus entatildeo isso aiacute seriam

dados que a proacutepria pessoa falaria [cederia como valores de entrada para o

programa-software a ser desenvolvido] Entatildeo teria que ter o campo aberto

entendeu

Angel Humhum

Eu Tipo assim aquele () uma sequecircncia de vaacuterias atividades [gesticulo com as

matildeos imitando uma lista] pra pessoa clicar em cima da que ela faz Entendeu Por

exemplo ah eu ando de bicicleta Taacute mais quanto tempo em minutos por semana

Aiacute a pessoa colocaria ah eu ando 180 minutos de bicicleta entendeu

Clarice Humhum [balanccedila a cabeccedila assertivamente]

Eu Entatildeo teria que ter uma caixinha pra pessoa colocar a atividade fiacutesica e uma

caixinha pra colocar o tempo daquela atividade fiacutesica No que a pessoa iria digitar

isso eacute o programa vai buscar no banco de dados dele que eacute baseado no livro e jaacute

vai somar fazer a soma de tudo e jaacute vai dar o resultado final Mais ou menos o que

aquele programinha do pessoal aiacute faz [aponto o dedo indicador para o texto que

estava (impresso em papel) sobre a mesa]

Com isso reafirmamos a necessidade de encontrarmos pessoas para participarem

de tal atividade mais parceiros Aleacutem disso ainda natildeo tiacutenhamos entendido plenamente

mediante as interaccedilotildees com o texto escrito (Hall-Lancet) e entre noacutes sujeitos integrantes do

GEPMM todas as equaccedilotildees que representavam o fenocircmeno da mudanccedila do peso corporal

com relaccedilatildeo agraves alteraccedilotildees na dieta e nos exerciacutecios fiacutesicos Percebemos que um texto escrito

sob a forma de um artigo cientiacutefico poderia natildeo dar conta de representar impressotildees 145

httpbwsimulatorniddknihgovHall_Lancet_Webappendixpdf

166

suficientemente necessaacuterias para o entendimento de uma pesquisa em movimento A equaccedilatildeo

(10)146

ainda natildeo estava clara para noacutes Natildeo sabiacuteamos como o autor havia chegado naquele

modelo matemaacutetico Sabiacuteamos que era uma equaccedilatildeo diferencial ordinaacuteria Poreacutem como ela

estaria representando o fenocircmeno Quais hipoacuteteses que estavam sendo consideradas Tais

questotildees seratildeo mais bem analisadas mais adiante no presente texto

4152 Dando continuidade agraves accedilotildees potencialmente expansivas

Dando por encerrado o relato do que aconteceu durante os dez primeiros

encontros do GEPMM retornarei ao miniciclo de accedilotildees de aprendizagem potencialmente

expansivas analisando a sexta e a seacutetima accedilatildeo sob o ponto de vista colocado em relevo

anteriormente que considera um ciclo menos longo (miniciclo) como sendo potencialmente

expansivo

416 Refletindo sobre o processo

Segundo Engestroumlm e Sannino (2010b) apoacutes iniciada a fase de implementaccedilatildeo do

modelo que nesta pesquisa aconteceu por meio da constituiccedilatildeo do GEPMM eacute necessaacuterio

refletir sobre todo o processo com o intuito de avaliaacute-lo e caso seja necessaacuterio modificaacute-lo

Sendo assim torna-se necessaacuteria a reflexatildeo sobre a implementaccedilatildeo do novo modelo de

atividade sob a forma de uma praacutexis inovadora em um contexto especiacutefico visando a

modificar eou adaptar o modelo agraves exigecircncias demandas e limitaccedilotildees que se revelavam nas

formas de praacutexis frequentemente utilizadas em tal contexto de formaccedilatildeo jaacute que

a produccedilatildeo do objeto ideal eacute inseparaacutevel da produccedilatildeo do objeto real material e

ambas nada mais satildeo do que o anverso e o reverso de uma mesma moeda ou os dois

lados de um mesmo processo A forma que o sujeito quer imprimir agrave mateacuteria existe

como forma geratriz na consciecircncia mas a forma que se plasma definitivamente na

mateacuteria natildeo eacute a mesma ndash nem a duplicaccedilatildeo ndash da que preacute-existia originariamente Eacute

certo que o resultado definitivo estava preacute-figurado idealmente mas o definitivo eacute

exatamente o resultado real e natildeo o ideal (projeto ou finalidade original) O modelo

anterior soacute pode se realizar no transcurso de um processo ao fim do qual natildeo se

146

[120578119865+120588119865+120572120578119871+120572120588119871

(1minus120573)(1+120572)]119889119861119882

119889119905= Δ119864119868 minus

1

(1minus120573)[120574119865+120572120574119871

(1+120572)+ 120575] (119861119882 minus 1198611198820)

167

alcanccedila tudo que se havia projetado (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUES 1977 p 249 grifos

meus)

Nesse sentido percebemos que alguns ajustes e modificaccedilotildees eram necessaacuterios

para que pudeacutessemos dar continuidade a nossa atividade O primeiro deles foi com relaccedilatildeo a

pouca ou quase nenhuma participaccedilatildeo dos estudantes147

Poucos aceitaram o convite ndash apenas

trecircs Desses um desistiu e os outros pouco comparecem agraves reuniotildees Por esse motivo

pensamos em oferecer ldquoalgo em trocardquo para que conseguiacutessemos mais aceites por parte dos

alunos Nas turmas da disciplina Caacutelculo II nas quais os docentes Clarice e Angel lecionam

pensamos em oferecer 10 pontos para os alunos que aceitassem o convite mas desistimos da

ideia devido a questotildees eacuteticas e metodoloacutegicas Estaacutevamos na expectativa de conseguirmos

no miacutenimo mais quatro alunos para participarem do grupo O segundo ajuste diz respeito a

uma possiacutevel modificaccedilatildeo na dinacircmica do modelo (a atividade de Modelagem) os docentes

Angel e Clarice demonstraram o desejo de levar atividades de Modelagem Matemaacutetica para

comporem as disciplinas de Caacutelculo II que lecionam com outros tipos de metodologias tais

como aulas expositivas por exemplo Para darmos conta de analisar essa possiacutevel adaptaccedilatildeo

do modelo talvez seja necessaacuterio a retomada do ponto de vista analiacuteticoreflexivo agrave fase

quatro do miniciclo de accedilotildees expansivas e examinarmos novamente o mesmo modelo ndash

atividade de Modelagem Matemaacutetica agora podendo assumir outro formato contextual e

dinacircmico em um cenaacuterio no qual aconteceram e continuaratildeo acontecendo outros tipos de

praacutexis formativas ndash a sala de aula da disciplina Caacutelculo II O terceiro ajuste se relaciona agrave

necessidade de encontrarmos um parceiro que tenha formaccedilatildeo na aacuterea de Computaccedilatildeo mais

especificamente que se interesse por programaccedilatildeo e por Teoria Fuzzy Percebemos no

decorrer do processo de implementaccedilatildeo que precisamos de um parceiro com tal formaccedilatildeo

pois atualmente para um pleno entendimento da ciecircncia ldquoem construccedilatildeordquo que perpassa as

atividades de Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia torna-se necessaacuterio

compreender em sua plenitude o que haacute por traacutes dos algoritmos dos softwares dos

programas executaacuteveis entre outros para a partir daiacute iniciarmos um processo de inovaccedilatildeo

Vale a pena ressaltar que a necessidade de encontrarmos um parceiro da aacuterea da

Computaccedilatildeo ocorreu mediante a idealizaccedilatildeo de um novo modelo para dar conta da

problemaacutetica do peso corporal ideal Ao mesmo tempo em que esta necessidade possa parecer

um fator que torne o desenvolvimento de atividades de Modelagem Matemaacutetica em cursos de

147

Mais adiante neste texto especificamente no Capiacutetulo 5 ndash ao descrever a modalidade analiacutetica 2 em 52 ndash

com base nas entrevistas finais concedidas a mim pelos referidos estudantes farei uma anaacutelise sobre a

participaccedilatildeo e o respectivo abandono do GEPMM

168

Engenharia mais difiacutecil podendo ateacute mesmo ajudar a reforccedilar a crenccedila de que fazer

modelagem eacute difiacutecil que os alunos e professores natildeo estatildeo preparados para o

desenvolvimento de tais atividades por outro lado pode ser um importante contexto que

possibilite inovaccedilatildeo e produccedilatildeo de conhecimentos mediante uma atividade de caraacuteter

verdadeiramente interdisciplinar que envolva estudos e pesquisa em sua gecircnese

417 Consolidando seus resultados em uma nova forma de praacutetica

Ateacute o final do ano de 2013148

o GEPMM dedicava esforccedilos na tentativa de

estabelecer essa fase do miniciclo de accedilotildees expansivas como um horizonte de accedilotildees futuras

Portanto o miniciclo ainda natildeo havia se fechado Engestroumlm (1999) enfatiza que ldquoa

ocorrecircncia de um ciclo expansivo completo natildeo eacute comum e ele tipicamente requer esforccedilos

concentrados e intervenccedilotildees deliberadasrdquo (p 385 apud ENGESTROumlM SANNINO 2010b p

12)

Com essa ressalva podemos analisar a construccedilatildeo do GEPMM como um

miniciclo potencialmente expansivo de accedilotildees cujo objetivo (ainda que idealmente) consistiu

na modificaccedilatildeo ou complementaccedilatildeo das praacutexis formativas relacionadas agraves disciplinas de

Caacutelculo na instituiccedilatildeo universitaacuteria tomada como palco da presente investigaccedilatildeo

Como um fechamento provisoacuterio dessa primeira parte da anaacutelise procedo com o

preenchimento da matriz para a anaacutelise da aprendizagem expansiva conforme preconizado

por Engestroumlm (2001) e exposta no Capiacutetulo 3 da presente tese levando em conta os dados

construiacutedos para esta pesquisa como segue

148

Durante o ano de 2014 o GEPMM natildeo se reuniu Os docentes dedicavam esforccedilos agraves respectivas pesquisas de

Doutorado

169

QUADRO 2 ndash ldquoMatrizrdquo para anaacutelise da aprendizagem expansiva

Fonte Elaborada pela autora

A seguir darei continuidade agrave anaacutelise baseando-me principalmente em alguns

momentos da construccedilatildeo dos dados desta pesquisa Trechos extraiacutedos das transcriccedilotildees das

entrevistas iniciais dos estudantes Joseacute e Pedro da entrevista final do aluno Joseacute e das

gravaccedilotildees do nono encontro do GEPMM aleacutem de trechos extraiacutedos das transcriccedilotildees das

gravaccedilotildees do segundo encontro do GEPMM quando dedicaacutevamos esforccedilos para a submissatildeo

do projeto agrave chamada do CNPq e trechos extraiacutedos das entrevistas finais com os alunos e

professores partiacutecipes do GEPMM e finalmente momentos que perpassaram a problemaacutetica

abordada pelo GEPMM com relaccedilatildeo ao tema denominado por mim como peso corporal ideal

Os momentos escolhidos para serem analisados mais pontualmente constituem importante

arcabouccedilo argumentativo para responder agrave pergunta de pesquisa

Vale a pena ressaltar que com base nos referidos momentos decidi elaborar

anaacutelises temaacuteticas e as denominei por modalidades ou seja modalidades analiacuteticas Para tal

quatro modalidades seratildeo explicitadas no texto que segue

170

5 MODALIDADES ANALIacuteTICAS

Neste capiacutetulo tenho por objetivo apresentar um arcabouccedilo argumentativo na

tentativa de responder ao questionamento impresso na pergunta diretriz149

que norteou a

investigaccedilatildeo relatada na presente tese Para tal construo quatro modalidades analiacuteticas

Na primeira modalidade baseio-me em trechos extraiacutedos das transcriccedilotildees das

entrevistas iniciais concedidas a mim pelos estudantes Joseacute e Pedro da entrevista final do

aluno Joseacute e das gravaccedilotildees do nono encontro do GEPMM Teccedilo uma anaacutelise a respeito da

existecircncia de uma ldquotelardquo invisiacutevel podendo ser considerada um instrumento que

supostamente permeou as aulas tradicionais de Caacutelculo em que os alunos Pedro e Joseacute

haviam participado no contexto da presente pesquisa

Na segunda modalidade baseio-me em trechos extraiacutedos das transcriccedilotildees das

gravaccedilotildees do segundo encontro do GEPMM quando dedicaacutevamos esforccedilos para a submissatildeo

do projeto agrave chamada do CNPq aleacutem de trechos extraiacutedos das entrevistas finais com os alunos

e professores partiacutecipes do GEPMM Teccedilo uma anaacutelise focada nas muacuteltiplas atividades

demandadas aos sujeitos da investigaccedilatildeo pelo contexto institucional em questatildeo e nas agencys

evidenciadas no decorrer da constituiccedilatildeo do GEPMM assim como das atividades nele

desenvolvidas

Na terceira modalidade baseio-me no momento da construccedilatildeo dos dados que

objetivou o desenvolvimento da modelagem cujo tema foi denominado por ldquopeso corporal

idealrdquo Utilizo a teoria das caixas-pretas como estrateacutegia de anaacutelise das transformaccedilotildees

qualitativas do objeto da referida atividade

Finalmente a quarta modalidade se ancora nas interaccedilotildees tecnomediadas

evidenciadas nopelo desenvolvimento da atividade de modelagem denominada por ldquopeso

corporal idealrdquo Foco as idealizaccedilotildees possibilitadas pela multivocalidade e agency atuando

como desencadeadoras de aprendizagens potencialmente expansivas principalmente no que

diz respeito aos processos produtivos e inovadores na referida atividade

149

Pergunta diretriz Quais aprendizagens expansivas podem ser evidenciadas pelas e nas atividades

desenvolvidas por um Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica em um contexto de formaccedilatildeo

em Engenharias

171

51 Primeira modalidade ndash Dialeacutetica da existecircncia da tela invisiacutevel GEPMM como

possibilidade para aprendizagem expansiva por meio da construccedilatildeo de parceria

docente-discente em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias

Na sociedade em rede a virtualidade eacute a fundaccedilatildeo da realidade atraveacutes de novas

formas de comunicaccedilatildeo socializaacutevel (CASTELLS 2006 p 24)

Inicio esta parte da anaacutelise tomando por base uma fala do aluno Pedro na

entrevista inicial ele contou que durante as aulas de Caacutelculo que havia tido na graduaccedilatildeo agraves

vezes achava que estava assistindo a uma videoaula ao inveacutes de uma aula presencial Nas

palavras dele

Falta um pouco mais de [] entendimento Agraves vezes alguns professores natildeo levam

em conta algumas dificuldades que alguns alunos tecircm [] agraves vezes falta um pouco

de sensibilidade com a dificuldade do aluno agraves vezes uma didaacutetica um pouco mais

proacutexima do aluno Agraves vezes parece que vocecirc estaacute vendo uma videoaula ao inveacutes de

ter uma aula presencial [] Por parte do grupo de professores falta uma aula uma

didaacutetica um pouco mais proacutexima do aluno dos problemas do aluno e ajudar ele a

solucionar esses problemas

Na entrevista inicial concedida a mim Pedro demonstrou se sentir incomodado

devido ao distanciamento percebido por ele entre alunos e professor nas aulas de Caacutelculo

Naquele momento da construccedilatildeo dos dados para a referida pesquisa ainda natildeo tinha

percebido tal descontentamento este se tornou consciente para mim apoacutes a entrevista com

aluno Pedro que se mostrou muito inquieto quanto a essa questatildeo alunos de um lado da

ldquotelardquo e docentes do outro Uma possiacutevel anaacutelise sobre essa inquietaccedilatildeo se encontra na

dimensatildeo dos sujeitos e as possibilidades de interaccedilatildeo estabelecidas pelas regras que regem a

atividade em questatildeo a aula tradicional de Caacutelculo Percebi que a participaccedilatildeo desse aluno no

GEPMM estava ligada agraves possibilidades de ldquoestar pertordquo dos professores no sentido de que

no grupo era ldquopermitidordquo interagir com os professores150

Julgo importante pontuar nesse momento que durante a entrevista inicial com o

aluno Joseacute algumas falas convergem com as mesmas inquietaccedilotildees demonstradas por Pedro

Joseacute parece se sentir constrangido em iniciar interaccedilotildees verbais com os professores durante as

aulas de Caacutelculo com o objetivo de sanar duacutevidas ele parece acreditar que o momento uacutenico

150

Cabe ressaltar que ainda que a participaccedilatildeo dos alunos tenha ocorrido apenas nos primeiros encontros ou

seja os alunos acabaram abandonando o GEPMM natildeo acredito que esta parte da anaacutelise fique fragilizada devido

a isto pois nesta parte busco analisar os motivos que levaram os dois alunos em questatildeo a aceitarem o convite de

participaccedilatildeo no grupo e natildeo especificamente o desenvolvimento das atividades do grupo A parceria estabelecida

entre alunos e professores eacute que estaacute sendo analisada como uma forma de desenvolvimento da aprendizagem

expansiva

172

que isso seja ldquopermitidordquo seja o final das aulas Vale ressaltar que o aluno Joseacute eacute considerado

por Clarice como um aluno muito bom ndash que se preocupa com a aprendizagem com seu

proacuteprio processo formativo podendo ser considerado ateacute mesmo como um ldquotipo rarordquo de

aluno ldquoeacute raro eu ter aluno como Joseacuterdquo pontua151

Clarice Nas palavras de Joseacute

O aluno tem sempre aquela coisa noacute Ele eacute meu professor Haacute um distanciamento

Vocecirc pensa eu soacute sou um aluno e ele eacute meu professor Ele natildeo vai querer ficar me

dando atenccedilatildeo no final da aula porque eu tenho duacutevidas Muitos professores agraves

vezes natildeo datildeo atenccedilatildeo pro aluno Veem o aluno assim mas natildeo quer incocircmodo

sabe Os alunos chegam nos professores mas taacute faltando os professores chegarem

nos alunos porque eles tem que ver que isso aqui eacute um grupo de pessoas

Observe que o que eacute ldquopermitidordquo muitas vezes natildeo eacute visiacutevel nem expliacutecito nas

accedilotildees pois pode estar ldquoescondidordquo no curriacuteculo oculto como um instrumento oculto

configurado pelas regras e divisatildeo do trabalho ou seja na parte de baixo do triacircngulo de

Engestroumlm conforme explicitei no Capiacutetulo 1 desta tese

Contudo essa ldquotelardquo pode natildeo existir na percepccedilatildeo dos docentes configurando

apenas um instrumento necessaacuterio para constituir uma regra implicitamente ldquoocultardquo ao aluno

eacute permitido se dirigir aos professores das disciplinas de Caacutelculo quando ele jaacute estudou

anteriormente jaacute adquiriu certo niacutevel de aceitaccedilatildeo para participar de uma interaccedilatildeo com o

professor

Campos (2012) ao realizar sua pesquisa de doutorado investigou uma proposta

pedagoacutegica para a disciplina Caacutelculo Diferencial e Integral na UFMG e constatou que o

distanciamento caracteriza a relaccedilatildeo entre o professor e seus alunos E pontua

Como algueacutem que programa um computador o docente expotildee com rigor os

conteuacutedos que deveratildeo ser articulados na resoluccedilatildeo das questotildees das provas No

momento da correccedilatildeo ele afere a quatildeo proacuteximo da resposta correta o aluno chegou e

confere uma nota que certificaria o quanto o aluno apreendeu de suas aulas Sua

participaccedilatildeo se daria apenas nos dois momentos extremos do ato na apresentaccedilatildeo do

conteuacutedo e na correccedilatildeo das provas Caberia ao aluno preencher o que falta entre

esses dois eventos (CAMPOS 2012 p 34)

Sendo assim para dar conta das atividades de formaccedilatildeo em Caacutelculo configura-se

como um preacute-requisito indispensaacutevel a participaccedilatildeo ativa dos estudantes no que tange ao

desenvolvimento de autonomia e determinaccedilatildeo para buscar informaccedilotildees eou outros

instrumentos que os auxilie nessa jornada Desse modo sob essa perspectiva o docente

151

Trecho retirado das transcriccedilotildees das filmagens do nono encontro do GEPMM Falaacutevamos sobre o perfil dos

alunos que haviam aceitado o convite para participarem do grupo e os possiacuteveis motivos que pudessem explicar

a falta de assiduidade deles nas reuniotildees

173

imprime em sua consciecircncia uma forma idealizada de um dos objetos de sua atividade ndash os

estudantes O grande problema eacute que muitas vezes os estudantes por si soacute natildeo conseguem

atingir esse preacute-requisito Natildeo conseguem ser de fato na realidade objetiva um objeto real

para serem assim transformados pela praacutexis formativa proposta pelos docentes de Caacutelculo

Isso pode explicar os altos iacutendices de reprovaccedilatildeo e evasatildeo em instituiccedilotildees federais de ensino

superior o que resulta num real desperdiacutecio de recursos puacuteblicos

Isso pode implicar um enorme ldquovaacutecuordquo entre os sujeitos da atividade de

aprendizagem tradicional de Caacutelculo em cursos de Engenharia o que pode criar ldquofronteirasrdquo

interativas muitas vezes produzindo duas atividades distintas a atividade de ensino do

professor de um lado da ldquotelardquo e a atividade de aprendizagem dos alunos do outro lado da

ldquotelardquo Aleacutem disso muitas vezes eacute dada ldquopermissatildeordquo ao aluno que natildeo quer participar das

aulas pelos docentes que natildeo verificam a assiduidade dos alunos em suas aulas e natildeo

reprovam por mais de 25 de ausecircncia (que eacute preconizado nos curriacuteculos e nas normativas)

Mas precisamos levar em conta que os docentes das disciplinas de Caacutelculo na

UNIFEI-Itabira lecionam em turmas com em meacutedia 75 alunos Suponha que cada aluno

queira realizar uma uacutenica interaccedilatildeo com o docente durante uma aula que tem duraccedilatildeo de

1h40 Considere que o aluno gaste apenas 10 segundos para elaborar sua fala e que o docente

gaste apenas mais 20 segundos para se pronunciar em resposta a essa fala do aluno Com isso

seriam gastos 375 minutos da aula Esse excessivo nuacutemero de alunos em sala de aula pode

favorecer a manutenccedilatildeo da ldquotelardquo

Outra observaccedilatildeo eacute que essa ldquotelardquo em muito se diferencia da tela de um

computador utilizado como instrumento um artefato mediador em cursos a distacircncia A tela

do computador usada no atual ensino a distacircncia permite interaccedilotildees entre alunos professores

e tutores por meio de mediaccedilotildees por chat ou e-mails Jaacute a ldquotelardquo cuja suposta existecircncia seja

invisiacutevel aos olhos de alguns impede mesmo que de forma oculta que se estabeleccedilam

interaccedilotildees entre os sujeitos que dividem um mesmo espaccedilo fiacutesico delimitando suas accedilotildees em

dois contextos distintos ou seja em duas atividades disjuntas paralelas cuja miacutenima relaccedilatildeo

eacute estabelecida pelo objeto que se configura pela apresentaccedilatildeo contida nos livros-texto dos

conteuacutedos de Caacutelculo resultando em aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo nas referidas disciplinas

O professor estaacute imerso em uma instituiccedilatildeo que o ldquoamarrardquo de uma forma ou

outra se ele natildeo cumprir a ementa eacute ldquopunidordquo tem que aprovar a maioria possiacutevel de alunos

senatildeo as turmas ficam mais cheias ainda ou ele tem que dar mais aulas nisso algo pode estar

sendo roubado dele que a meu ver seria extremamente importante para a plena realizaccedilatildeo de

seu trabalho ndash o tempo para o oacutecio e para a reflexatildeo

174

Mais do que isso os alunos ldquofabricadosrdquo pela cultura tradicional de ensino por

natildeo serem formados para questionar as praacuteticas vigentes acabam por se tornar meros

reprodutores dando assim a manutenccedilatildeo necessaacuteria para que essas praacuteticas sejam reforccediladas

Os docentes que hoje atuam nas disciplinas de Caacutelculo na UNIFEI tambeacutem foram afetados

pelas praacuteticas tradicionais de ensino provavelmente tambeacutem particionadas por uma ldquotelardquo

invisiacutevel aos olhos de seus professores agrave eacutepoca contudo natildeo lhes foi adicionada formaccedilatildeo

criacutetico-reflexiva suficiente para romper com os ciclos de reproduccedilatildeo de tais praacuteticas que

continuam vigentes Campos (2012 p 35) apontou que professores e alunos que se formam

em instituiccedilotildees que cobiccedilam as praacuteticas tradicionais de ensino-aprendizagem passam tambeacutem

a consideraacute-las como ldquoreferencial de excelecircncia no ensino o que torna a organizaccedilatildeo

acadecircmica mais apegada a suas praacuteticas e resistente a mudanccedilasrdquo

Vale ressaltar que o aluno Pedro durante a entrevista inicial pareceu estar

entusiasmado em participar do GEPMM pois para ele o grupo poderia se transformar em um

elo e aproximar os professores dos alunos diminuindo o distanciamento entre eles fazendo

com que os professores passem a reconhecer as dificuldades dos alunos e assim possam

melhorar sua didaacutetica

A anaacutelise que aqui proponho estaacute baseada na loacutegica dialeacutetica marxista que se

limita a uma forma de pensar a realidade considerando-a em constante mudanccedila mediante o

desenvolvimento do tripeacute tese antiacutetese e siacutentese O meacutetodo de anaacutelise dialeacutetico consiste na

siacutentese de termos contraacuterios ndash tese e antiacutetese (LEFEBVRE 1991) Assim como na dialeacutetica

marxista a burguesia corresponde agrave tese e o proletariado agrave antiacutetese fazendo emergir a

superaccedilatildeo da sociedade de classes pelo comunismo uma siacutentese decorrente das crises do

capitalismo pleiteadas pelos conflitos entre burguesia e proletariado (LEFEBVRE 1991)

esboccedilo essa parte da anaacutelise como a dialeacutetica da existecircncia da ldquotelardquo invisiacutevel

De um lado configura-se a hipoacutetese de que nas referidas aulas de Caacutelculo que o

aluno Pedro havia participado existia um instrumento ndash a ldquotelardquo invisiacutevel Nisso constituiria a

tese Na mesma realidade em questatildeo ndash as aulas tradicionais de Caacutelculo que o aluno Pedro

havia participado na instituiccedilatildeo ndash do outro lado estariam os professores que poderiam natildeo

perceberem que a suposta ldquotelardquo existe A antiacutetese eacute a inexistecircncia da ldquotelardquo invisiacutevel Dessa

forma estaria travado o esboccedilo da dialeacutetica da existecircncia da ldquotelardquo invisiacutevel A siacutentese como

sendo algo de natureza diferente mas ao mesmo tempo conservando elementos da tese e da

antiacutetese constitui-se por um processo dialoacutegico conduzido pela discussatildeo e embate de

contrapostos

175

Vale ressaltar que a siacutentese pode ser entendida como um grau mais elevado na

anaacutelise dialeacutetica em relaccedilatildeo agrave tese e agrave antiacutetese Aleacutem disso a siacutentese daacute origem a uma nova

tese que seraacute contraposta com uma nova antiacutetese e assim por diante iniciando novos ciclos

dialeacuteticos (LEFEBVRE 1991) Com isso a anaacutelise dialeacutetica da existecircncia da ldquotelardquo invisiacutevel

nos leva a possibilidades de elaboraccedilatildeo de uma siacutentese do que de melhor cada uma das faces

do contraposto nos apresenta Conforme exposto anteriormente eacute fatiacutedico que caso a tese (a

existecircncia da ldquotelardquo invisiacutevel) seja confirmada eacute preciso que ela seja destruiacuteda em prol de

melhorias e avanccedilos na natureza do processo aqui analisado

De toda forma eacute importante frisar que quando o aluno Pedro decidiu se engajar

no GEPMM de alguma forma ele desconfia que a ldquotelardquo natildeo existiria em tal contexto

alternativo mais amplo De fato a ldquotelardquo ainda que invisiacutevel natildeo permeou as ldquoatividadesrdquo de

Modelagem Matemaacutetica conforme implementado na UNIFEI por meio do GEPMM A

ausecircncia desse instrumento (oculto escondido invisiacutevel) provoca mudanccedilas quantitativas e

qualitativas nas interaccedilotildees entre os sujeitos da atividade que passam a buscar informaccedilotildees de

forma coletiva e passam a construir novos instrumentos para resolverem as peculiares

questotildees-problema que direcionam as accedilotildees em tais atividades Alunos e professores se

tornam sujeitos parceiros na referida atividade Estabelece-se mutuamente um fluxo contiacutenuo

de compartilhamento de informaccedilotildees o que acaba por transpor as fronteiras (ENGESTROumlM

SANNINO 2010b) ldquotela adentrordquo fazendo emergir uma nova rede uma ineacutedita parceria

docente-discente

Assim sendo os sujeitos engajados nessa atividade passam a pertencer a uma

mesma hierarquia horizontal de fluxo informacional natildeo podendo assim estar permanecer

distanciados apartados e segregados Tornam-se sujeitos de uma mesma atividade orientada

pelos seguintes objetos os estudantes em formaccedilatildeo e a questatildeo-

-problema natildeo matemaacutetica cujos artefatos mediadores incluem os conteuacutedos de Caacutelculo sob a

forma de modelos mais especificamente considerando os dados construiacutedos para esta

pesquisa as EDOs e outros instrumentos tecnoloacutegicos que incluem dentre outros o software

que foi criado com o objetivo de possibilitar simulaccedilotildees de mudanccedilas de peso corporal

mediante alteraccedilotildees na dieta e nos exerciacutecios fiacutesicos (Human Weight Simulator ndash HWS)

Aleacutem disso supondo a existecircncia da ldquotelardquo em aulas tradicionais de Caacutelculo ela

acaba por elevar o professor a um patamar de configuraccedilatildeo como uma voz uma vocalidade

que ecoa na atividade como um locutor do discurso do Caacutelculo acadecircmico como se ele

estivesse realmente de outro lado em outro ambiente como se o aluno fosse mesmo assistir

a uma videoaula Esse mesmo patamar pode ser ocupado pelo autor do livro-texto utilizado

176

nas aulas tradicionais de Caacutelculo em cursos de Engenharia a vocalidade do autor ecoa e

participa das atividades dentro da sala de aula e se diferencia da vocalidade que ecoa do

professor apenas pela miacutedia (meio) que as suportam ndash no caso do autor a miacutedia eacute impressa

nas paacuteginas do livro sob a forma de linguagem escrita e no caso do professor a voz ecoa

suportada pela linguagem falada e pela linguagem escrita quando utiliza o quadro branco

para principalmente reproduzir paacuteginas do livro-texto

Campos (2012 p 34 grifos do autor) destaca que a narrativa construiacuteda por ele

com o objetivo de relatar como ocorrem as aulas de Caacutelculo na UFMG poderia ser

considerada como se ele ldquoestivesse assistindo agrave cena atraveacutes de um vidro que o impedisse de

ouvir as muacuteltiplas vozes presentesrdquo o que nos leva a crer que tal regra oculta natildeo faz parte

apenas do curriacuteculo oculto presente nas salas de aula de Caacutelculo da UNIFEI mas tambeacutem de

outras instituiccedilotildees como nesse caso na UFMG

As atividades de Modelagem Matemaacutetica desenvolvidas no GEPMM se propotildeem

como potencialmente ldquodestruidorasrdquo de tal ldquotelardquo mediante a construccedilatildeo de uma rede de

aprendizagem na qual os docentes satildeo sujeitos pertencentes a uma mesma hierarquia

horizontal de fluxo informacional que os discentes o que acaba por promover transposiccedilotildees

de fronteiras (ENGESTROumlM SANNINO 2010b) e consequentemente a ampliaccedilatildeo de

possibilidades de interaccedilotildees entre os sujeitos

Portanto em atividades de Modelagem Matemaacutetica os parceiros ndash alunos e

professores ndash natildeo podem assumir outro lugar senatildeo o de sujeitos de uma mesma atividade

Dessa forma a ldquotelardquo presente (mesmo que de forma oculta e invisiacutevel em aulas tradicionais

de Caacutelculo) precisa necessariamente ser ldquoquebradardquo para que a formaccedilatildeo dessa nova

parceria se torne possiacutevel Somente por meio da transposiccedilatildeo desta fronteira eacute que se

tornariam possiacuteveis movimentos para aleacutem de alunos procurarem ajuda e professores darem a

ajuda (tirar duacutevidas) alcanccedilando assim um patamar de parceria na qual os sujeitos buscam e

encontram informaccedilotildees ou as constroem onde quer que elas estejam

Durante a construccedilatildeo dos dados da presente pesquisa alguns momentos podem

ser colocados em relevo no que diz respeito agraves possibilidades de diaacutelogos entre docentes e

discentes que num processo de negociaccedilatildeo e orquestraccedilatildeo formataram e orientaram as

atividades do GEPMM

No primeiro encontro eacute possiacutevel perceber que os alunos ali presentes falavam

livremente e participavam das decisotildees e regras estabelecidas pelos integrantes Natildeo havia

distinccedilatildeo entre alunos e professores todos falavam contavam ldquocasosrdquo e exprimiam suas

opiniotildees Joseacute por exemplo nos contou um caso sobre um funcionaacuterio de uma empresa de

177

grande porte localizada na cidade de Ipatinga-MG que ao desenvolver suas atividades de

trabalho ldquoteimourdquo com um engenheiro dizendo que o resultado do processo seria negativo o

engenheiro natildeo considerou a opiniatildeo do funcionaacuterio e no final do processo o funcionaacuterio

estava certo Logo em seguida a professora Clarice falou que os alunos de Caacutelculo satildeo

desmotivados demais e que o resultado disso muitas vezes eacute a reprovaccedilatildeo A aluna Taty

interveio ldquomas eu acho que isso natildeo eacute culpa do professorrdquo A docente Clarice rebateu em

tom de voz aparentemente alterado ldquomas eacute tambeacutem um deverrdquo Em seguida a aluna Taty

pontuou que em turmas de 75 alunos seria muito difiacutecil o professor acompanhar essa questatildeo

da motivaccedilatildeo

No segundo encontro do GEPMM um momento de tensatildeo ocorreu quando ao

perceber que o docente Angel pareceu preferir o problema do tracircnsito e afirmou olhando para

os alunos que havia um trabalho de coleta de dados in loco que deveria ser realizada pelos

alunos a aluna Taty imediatamente se posicionou dizendo ldquoah natildeo gente natildeo olha pra mim

natildeo gente Tocirc fazendo um monte de coleta de dados jaacute Me recuso cara [] Eu sento e leio

60 artigos se vocecircs quiserem faccedilo resumo de todos pra vocecircs natildeo tocirc brincando Eu tocirc

fazendo uma coleta gigantescardquo Entendo que naquele momento o posicionamento assertivo

da aluna impactou no que seria a decisatildeo do grupo no que diz respeito agrave escolha do primeiro

tema a ser abordado O grupo poderia ter tomado outro rumo se a aluna natildeo tivesse se

posicionado

No terceiro encontro durante a discussatildeo do artigo Scagliusi e Lancha Juacutenior

(2005) na paacutegina 542 deparamo-nos com um termo fiacutesico-quiacutemico ndash o deuteacuterio Noacutes

docentes natildeo sabiacuteamos o que significava esse termo e fomos agraciados pela fala dos alunos

Joseacute e Pedro esclarecendo com propriedade sobre o que se tratava esse conceito

Com base nesses trechos extraiacutedos das gravaccedilotildees em aacuteudio e viacutedeo das primeiras

trecircs reuniotildees do GEPMM os diaacutelogos entre os sujeitos seguem em um ritmo almejado

quando uma parceria eacute estabelecida entre niacuteveis hierarquicamente distintos em instituiccedilotildees

Aleacutem disso explicitarei mais adiante neste mesmo capiacutetulo outros trechos extraiacutedos das

transcriccedilotildees das filmagens de outras reuniotildees do GEPMM que reafirmam a formaccedilatildeo de

parcerias docente-discente e docente-docente sendo que essa uacuteltima se refere agrave parceria

instituiacuteda natildeo apenas por docentes que lecionam disciplinas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia Ainda que os alunos tenham abandonado o GEPMM natildeo significa que tal

parceria natildeo tenha se concretizado Cabe ressaltar que segundo Engestroumlm e Sannino (2010b)

a transposiccedilatildeo de fronteiras entre niacuteveis organizacionais ou hierarquias tais como entre

alunos e professores pode representar uma forma de aprendizagem expansiva quando ocorre

178

movimentos verticais de informaccedilotildees entre os niacuteveis Para os autores uma parceria funda-se

por meio de interaccedilotildees entre niacuteveis hieraacuterquicos distintos em prol da realizaccedilatildeo de uma

atividade comum ndash um objeto compartilhado - na qual os aprendizes buscam informaccedilotildees

onde quer que elas estejam e o fluxo informacional eacute livre

Desse modo podemos entender as atividades realizadas no e pelo GEPMM como

sendo de alto grau de complexidade e baixo grau de centralizaccedilatildeo o que segundo Engestroumlm

(1993) caracteriza um tipo histoacuterico de atividade a ser considerado de domiacutenio coletivo e

expansivo A construccedilatildeo de tal ldquorede alternativardquo mediante a constituiccedilatildeo das referidas

parcerias pode entatildeo ser entendida como um tipo de aprendizagem expansiva

Com isso encerro a anaacutelise da dialeacutetica da existecircncia da ldquotelardquo invisiacutevel

enfatizando que por meio da construccedilatildeo da parceria docente-discente possibilitada nopelo

engajamento nas atividades desenvolvidas pelo GEPMM a ldquotelardquo natildeo existe nem mesmo de

forma invisiacutevel devido ao fluxo informacional ser livre e as interaccedilotildees entre docentes e

discentes serem constituiacutedas em uma uacutenica rede de aprendizagem

52 Segunda modalidade ndash Os sujeitos a multi-agency e as muacuteltiplas atividades

possibilidade para aprendizagem expansiva como movimento na zona de

desenvolvimento proximal das atividades docente-discente mediante a formaccedilatildeo de

parcerias

Satildeo os homens por certo que com sua praacutexis formam e mantecircm essa estrutura satildeo

eles que desenvolvem as forccedilas produtivas e que contraem determinadas relaccedilotildees na

produccedilatildeo independente de sua consciecircncia e vontade (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ

1977 p 189)

A agency segundo a Teoria da Atividade de Engestroumlm (1987) pode ser

entendida como um adjetivo inerente agraves possibilidades de accedilatildeo dos sujeitos engajados em

uma atividade tais como a condiccedilatildeo de realizar uma accedilatildeo ndash agente os meios ou modos pelos

quais a accedilatildeo eacute executada ndash instrumentalidade ou operaccedilatildeo poder ou capacidade de realizar

uma accedilatildeo ndash desempenho ou performance maneira de atuar de agir Sistematicamente a meu

ver a agency pode ser considerada como a atitude dos sujeitos em implementar

procedimentos para alcanccedilar o objetivo de uma accedilatildeo Sendo assim vale ressaltar que a agency

se torna visiacutevel nas accedilotildees no relacionamento na mediaccedilatildeo nas interaccedilotildees e natildeo como algo

pertencente aos sujeitos (DANIELS et al 2010)

A formaccedilatildeo de parcerias estaria sob essa anaacutelise relacionada agrave constituiccedilatildeo de

redes de aprendizagem em um contiacutenuo e descontiacutenuo movimento de transposiccedilatildeo de

179

fronteiras institucionalmente configuradas por artefatos histoacutericos culturais que podem estar

mediando as relaccedilotildees entre os sujeitos e os demais instrumentos de uma atividade de forma

impliacutecita ou invisiacutevel como por exemplo a dialeacutetica da existecircncia da ldquotelardquo invisiacutevel em

salas de aula de Caacutelculo como um instrumento que estaria permeando tal contexto

Eacute importante ressaltar que os sujeitos engajados no GEPMM participam a priori

de atividades originais primaacuterias cujos objetos podem estar alinhados ou natildeo no

desenvolvimento de variadas formas de praacutexis acadecircmica instituiacutedas em tal contexto

formativo Nesse caso pontualmente refiro-me aos interconectados sistemas de atividade

originais dos quais participam conjuntamente docentes e discentes dos cursos de Engenharia

da instituiccedilatildeo UNIFEI-Itabira De um lado de uma mesma moeda refiro-me aos sistemas de

atividade de trabalho que os docentes ldquodesenhamrdquo e colocam em praacutetica no decorrer das

variadas formas de trabalho situadas nas instituiccedilotildees que se dedicam exclusivamente agrave

formaccedilatildeo superior em Engenharia do outro lado dessa mesma moeda situam-se os sistemas

de atividade dos quais participam os discentes no mesmo contexto Observe que os tais

sistemas de atividade satildeo interconectados indissoluvelmente ndash amalgamados

Nesse sentido os discentes que participam das atividades orientadas pela

formaccedilatildeo em Engenharia desde o iniacutecio do engajamento nas referidas praacutexis formativas

objetivam obter o tiacutetulo de engenheiro com vistas a satisfazer uma necessidade humana

contemporacircnea obter um diploma de engenheiro Natildeo pretendo na referida anaacutelise discorrer

sobre as ideologias discursos e enunciados sociais que estatildeo por traacutes de tal orientaccedilatildeo apenas

a defino como existente e norteadora Para que essa finalidade seja de fato concretizada na

realidade os discentes de cursos de Engenharia precisam elaborar antes de tudo num plano

da atividade consciente um planejamento das accedilotildees necessaacuterias para tal fazendo

necessariamente parte da agency Sendo assim no contexto de formaccedilatildeo analisada nesta tese

um objeto primaacuterio original emerge dos sistemas de atividade dos discentes ndash o diploma de

engenheiro

Quando se tornam discentes de cursos de Engenharia na UNIFEI-Itabira os

sujeitos passam a pertencer a uma comunidade de praacutetica orientada pela e na formaccedilatildeo em

Engenharia Mas poderiam ser consideradas possibilidades para o desenvolvimento de

aprendizagens como participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima (PPL)152

(LAVE WENGER 2002) as

152

ldquoVer a aprendizagem como participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima significa que a aprendizagem natildeo eacute simplesmente

uma condiccedilatildeo para tornar-se membro mas eacute em si mesma uma forma em evoluccedilatildeo do tornar-se membrordquo

(LAVE WENGER 2002 p 170)

180

formas de praacutexis frequentemente realizadas153

no referido contexto institucional Em geral a

resposta para essa pergunta infelizmente tende a ser negativa Primeiro os participantes natildeo

tem amplo acesso a diferentes partes da atividade formativa em questatildeo Quando se tornam

discentes de tais cursos os sujeitos tecircm acesso agraves grades curriculares sob a forma escrita de

plano de curso particionado em vaacuterias disciplinas a serem cumpridas mas de forma alguma

veem ou participam na realidade concreta das diversas praacuteticas que constituem tal formaccedilatildeo

Em segundo lugar os participantes natildeo percebem lsquoabundacircnciarsquo nas interaccedilotildees horizontais

entre eles que na maioria das vezes tambeacutem natildeo eacute mediada por situaccedilotildees problemaacuteticas e

suas soluccedilotildees Pelo contraacuterio na maior parte do tempo dedicado agrave formaccedilatildeo os discentes se

esforccedilam para entender situaccedilotildees hipoteacuteticas fictiacutecias e teoacutericas impressas e sugeridas por

autores de livros didaacuteticos muitos deles traduzidos de outras liacutenguas oriundos de outras

culturas resultando em produtos que por definiccedilatildeo se distanciam dos interesses e

necessidades de uma comunidade especiacutefica Finalmente em terceiro lugar as tecnologias e

estruturas da instituiccedilatildeo natildeo satildeo transparentes Os aprendizes muitas vezes natildeo tecircm acesso ao

que estaacute por traacutes dos mecanismos internos e portanto natildeo satildeo convidados a inspecionaacute-los

Logo a participaccedilatildeo dos discentes em tais praacuteticas de fato ocorre mas natildeo pode

ser considerada em geral como resultante em uma aprendizagem legiacutetima pela e na

participaccedilatildeo em praacutexis firmada em tal contexto formativo Isso se deve ao fato da proacutepria

instituiccedilatildeo ser um artefato histoacuterico cultural que implicitamente ou invisivelmente medeia as

relaccedilotildees dos participantes nas praacutexis (DANIELS et al 2010a p 123) Considerando essa

anaacutelise toda e qualquer praacutexis realizada orientada pela finalidade de formar engenheiros

estaria subordinada agraves possibilidades de mediaccedilatildeo que a proacutepria instituiccedilatildeo submete aos

participantes ainda que de forma impliacutecita ou invisiacutevel entre as quais podemos enfatizar as

relaccedilotildees de poder e controle

Uma forma de controle expliacutecita que pode ser nitidamente observada na

instituiccedilatildeo estudada eacute o curriacuteculo uma grade curricular formada por disciplinas a serem

desenvolvidas pelos docentes e discentes constituiacutedas por conteuacutedos padronizados a serem

ldquoA participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima refere-se tanto ao desenvolvimento de identidades de habilidades

competentes na praacutetica quanto agrave reproduccedilatildeo e transformaccedilatildeo das comunidades de praacuteticardquo (LAVE WENGER

2002 p 171) 153

Refiro-me nesse momento da anaacutelise agraves praacuteticas tradicionais de formaccedilatildeo em Engenharia desenvolvidas em

instituiccedilotildees que se destinam agrave formaccedilatildeo em niacutevel de graduaccedilatildeo em Engenharia contexto de nosso estudo Em

grande parte pode ser caracterizada pelo uso em demasia de aulas expositivas cujo objeto assumido pode ser

resumido pela apresentaccedilatildeo dos conteuacutedos das respectivas disciplinas conforme preconizado nos livros-texto

pela valorizaccedilatildeo do desenvolvimento de habilidades e competecircncias individuais pelo uso de testes e avaliaccedilotildees

padronizadas cujo objetivo consiste na reproduccedilatildeo dos discursos desenvolvidos durante as aulas e pelo

distanciamento entre professores e alunos durante as atividades de formaccedilatildeo ndash a praacutexis formativa em

Engenharia

181

desenvolvidos e por cargas horaacuterias definidas a priori e sobretudo sob o controle das

avaliaccedilotildees que ditam quem cumpriu e quem natildeo cumpriu tais exigecircncias resultando em

aprovaccedilotildees ou reprovaccedilotildees nas disciplinas da grade curricular Esse ldquopoderiordquo acaba por

delimitar ou preacute-fabricar as accedilotildees que os estudantes iratildeo desenvolver assim como as decisotildees

sobre outras formas de participaccedilatildeo em praacuteticas extracurriculares na instituiccedilatildeo Ou seja satildeo

estabelecidas dessa forma accedilotildees prioritaacuterias orientadas pela aprovaccedilatildeo nas disciplinas

principalmente nas disciplinas que ldquonormalmenterdquo resultam em altos iacutendices de reprovaccedilatildeo

Durante a construccedilatildeo dos dados para a presente pesquisa vaacuterios foram os

momentos que o ldquopoderiordquo explicitado anteriormente se manifestou Entre eles podemos

colocar em relevo momentos extraiacutedos das transcriccedilotildees das entrevistas finais realizadas com

os alunos que haviam participado do GEPMM Para responder a primeira pergunta (ldquocomo

vocecirc caracteriza sua participaccedilatildeo no GEPMMrdquo) os estudantes usaram adjetivos do tipo

ldquoinsuficienterdquo ldquomiacutenimardquo ldquoirrelevanterdquo e ldquodeixa a desejarrdquo Mas como a participaccedilatildeo foi

considerada por eles mesmos tatildeo digamos ldquoinexpressivardquo se eles mesmos reconheceram de

antematildeo as possibilidades de aprendizagens mediante a participaccedilatildeo no GEPMM conforme

demonstraram nas entrevistas iniciais e durante os encontros do grupo Possiacuteveis respostas

para tal indagaccedilatildeo podem ser encontradas nas respostas que eles mesmos deram para a

segunda pergunta (ldquodesde que vocecirc comeccedilou a participar do grupo quais os desafios

encontrados Como vocecirc buscou superar estes desafiosrdquo) feita a eles por mim durante a

realizaccedilatildeo das entrevistas finais Taty pontua que o principal desafio consiste na proacutepria

essecircncia da atividade ldquomodelar alguma situaccedilatildeo eacute uma coisa muito complicada porque tem

muitas variaacuteveisrdquo Enfatiza que para superar esse desafio ela precisaria ter tido mais tempo

para maior dedicaccedilatildeo agrave atividade Afirma ainda que a falta de tempo estaria relacionada agrave

realizaccedilatildeo de outras atividades discentes entre as quais se destacam as vaacuterias mateacuterias

(disciplinas) que estaria cursando e a iniciaccedilatildeo cientiacutefica que estaria concluindo naquele

semestre Taty ainda sugere a existecircncia de um dilema incorporado nos sistemas de atividade

que ela participa na posiccedilatildeo de discente de um curso de Engenharia Nas palavras de Taty

Por um lado eu acho um desperdiacutecio tantas oportunidades na faculdade e a gente

natildeo poder muita gente natildeo aproveitar neacute como eu jaacute disse mesmo o fato de termos

professores tatildeo bons e agraves vezes tatildeo dispostos neacute A desenvolver um trabalho que

vocecirc taacute vendo e os outros natildeo estatildeo por outro lado o tempo eacute curto neacute as mateacuterias

satildeo difiacuteceis e se vocecirc leva a seacuterio mesmo vocecirc tem que estudar muito tempo neacute

entatildeo pra fazer um trabalho desse [] eu atribuo essa dificuldade agrave falta de tempo

182

Os alunos Pedro e Joseacute tambeacutem consideraram a falta de tempo como constituinte

do principal desafio encontrado na participaccedilatildeo no GEPMM Pedro ainda admitiu ter tido

dificuldades em participar do GEPMM devido a natildeo ter um ldquoinglecircs muito fluenterdquo o que

para ele dificultou a leitura dos textos Nas palavras de Pedro

Eu natildeo tenho um inglecircs muito fluente entatildeo muitas vezes tinha que buscar

significados de palavras de expressatildeo entatildeo isso garrou um pouco na hora de eu

ler os artigos [] Eu sei que se eu tirar tempo de estudo pra dedicar agrave modelagem

eu sei que vou tomar pau Isso eacute tranquilo [] Eu faccedilo o projeto [referindo-se agraves

atividades do GEPMM] mas chega na disciplina aiacute eu natildeo consigo fazer nada

entatildeo pra mim neste caso natildeo seria vantajoso neste semestre participar do

projeto

Sendo assim fica niacutetido que existe uma lei que rege os sistemas de atividade dos

alunos no que tange agrave sua proacutepria formaccedilatildeo em Engenharia delimitando as modalidades das

atuaccedilotildees na qual tem que sujeitar sua vontade Tal lei poderia ser expressa pelo fim sendo

constituiacuteda pela prefiguraccedilatildeo ideal do resultado material concreto que se quer alcanccedilar ndash o

diploma de engenheiro Mesmo tendo a vontade de participar do GEPMM percebendo as

possibilidades de formaccedilatildeo em tal atuaccedilatildeo os alunos veem diante de si um objeto

ldquodesalinhadordquo nos sistemas de atividades que pode ateacute mesmo impossibilitar o resultado

concreto que desejam alcanccedilar Dessa forma o fim o produto o objeto da atividade dos

sistemas primaacuterios de atividade (diploma) entra em contradiccedilatildeo com a atividade presente

(GEPMM) que passa a natildeo exercer mais o papel de orientar accedilotildees podendo ateacute mesmo se

tornar um objeto fluido nulo colocado como uma vontade em contradiccedilatildeo com a realidade

Engestroumlm (2010a) enfatiza que objetos que orientam as atividades humanas satildeo

oriundos de preocupaccedilotildees eou desconfortos sendo capazes de gerar e focalizar nossas

atenccedilotildees nos motivar fazer-nos esforccedilar e atribuir sentido agraves nossas accedilotildees Nas e pelas

ldquoatividades as pessoas constantemente mudam e criam novos objetos Os novos objetos

frequentemente natildeo satildeo produtos intencionais de uma atividade simples mas consequecircncias

inintencionais de muacuteltiplas atividadesrdquo (ENGESTROumlM 2010a p 304)

Nesse sentido os alunos que haviam aceitado o convite para participaccedilatildeo no

GEPMM (sujeitos de muacuteltiplas atividades cujo resultado esperado seria a formaccedilatildeo em

Engenharia) natildeo viram condiccedilotildees objetivas para sua realizaccedilatildeo para a materializaccedilatildeo de tal

participaccedilatildeo ainda que ela se fizesse anteriormente constituinte de um fim um objeto

idealizado que havia se fluidificado na realidade

Saacutenchez Vaacutezquez (2002 p 231) nos apresenta uma relaccedilatildeo dialeacutetica entre a

finalidade e a causalidade ldquojaacute que embora os fins conduzam agrave transformaccedilatildeo da realidade

183

esta impotildee limites que aqueles natildeo podem transporrdquo Somente as accedilotildees concretas que

disponham de meios concretos para sua realizaccedilatildeo podem resolver a contradiccedilatildeo histoacuterica

que abarca a finalidade como expressatildeo de uma contradiccedilatildeo entre ldquoo futuro e o presente entre

o ideal e o real entre a realidade a ser transformada e a realidade inexistente jaacute prefigurada

pela consciecircnciardquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 2002 p 231) Assim podemos analisar a natildeo

assiduidade e a participaccedilatildeo incipiente dos alunos que haviam aceitado o convite para

comporem o GEPMM como uma resposta agrave realidade pois ldquonatildeo se podem aceitar meios que

sendo eficazes em relaccedilatildeo a um fim particular contribuam para corromper fins mais

elevadosrdquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 2002 p 233) Tal resposta eacute decorrente da agency

configurada pela implementaccedilatildeo de procedimentos com vistas ao realinhamento ao fim mais

elevado

Durante a entrevista final a aluna Taty disse que acha mais faacutecil participar de

atividades formativas tradicionais (regidas por provas individuais) do que de atividades em

grupo mais interdisciplinares e praacuteticas apesar de afirmar que em sua concepccedilatildeo o meacutetodo

tradicional natildeo tem nada a ver com a formaccedilatildeo do engenheiro Para ela as atividades em

grupo possibilitam mais aprendizagens eacute ldquomuito mais legalrdquo ldquomuito mais interessanterdquo e

ldquoesse eacute o trabalho do engenheirordquo Contudo parece ter caracterizado um objetivo que diz

respeito agraves disciplinas de Caacutelculo que compotildeem a grade curricular do curso de Engenharia no

qual eacute aluna Nas palavras de Taty ldquoeu quero aprovar mais do que isso eu quero passar bem

na mateacuteria [] eu gosto de passar bem em Caacutelculo [] eu quero saber fazer a provardquo Com

isso podemos entender que um fim particular (relacionado agrave formaccedilatildeo em Caacutelculo) estava

traccedilado idealmente como alinhado ao fim mais elevado ndash obter o diploma de engenheira

Dessa forma percebemos um ldquodesalinhamentordquo entre o objeto do GEPMM e o

objeto original primaacuterio que constitui os sistemas de atividade da aluna Taty cujo resultado

se materializa no diploma de engenheira Tal ldquodesalinhamentordquo se tornou visiacutevel aos nossos

olhos pela participaccedilatildeo incipiente da aluna no GEPMM A proacutepria participaccedilatildeo incipiente faz

parte da agency sendo configurada como uma maneira de agir de atuar A aluna nos contou

que ao cursar uma disciplina especiacutefica do curso de Engenharia havia realizado um trabalho

em grupo e que teria se empenhado bastante e aprendido muita coisa de ldquoanaloacutegicardquo mesmo

sem ter feito a disciplina de Analoacutegica formalmente Afirmou que ldquoa interaccedilatildeo o trabalho

em grupo [] uma semana de laboratoacuterio e vocecirc aprende coisa que assim agraves vezes em uma

mateacuteria inteira ficava bem mais ou menosrdquo Observe que como o trabalho em grupo que a

aluna nos contou foi uma atividade avaliativa que resultaria em pontuaccedilatildeo estaria bem

ldquoalinhadardquo aos objetivos de ser aprovada eou ter boas notas na referida disciplina Talvez isso

184

corrobore a suspeita de que se as atividades de Modelagem resultassem em pontuaccedilatildeo em

alguma disciplina de fato os alunos participariam de forma mais efetiva do que pudemos

observar na construccedilatildeo dos dados para a presente pesquisa Sendo assim para que os alunos

participassem efetivamente das atividades do GEPMM tornaram-se necessaacuterios ajustes ao

modelo conforme explicitei anteriormente

Com base nas ideias de Leontiev ainda poderiacuteamos analisar que na verdade os

alunos apenas cumprem o que eacute demandado no contrato didaacutetico institucionalizado ndash estudar

para serem aprovados nas disciplinas eou obterem boas notas ndash e isso constitui ou influencia

fortemente a agency observaacutevel nos procedimentos implementados Contudo com isso os

sujeitos foram desapropriados e desapropriam a si mesmos do sentido do que fazem pois a

atividade formativa acaba perdendo sua especificidade restando-lhes apenas um trabalho

alienado quer se trate do aluno ou do professor ldquoe esse trabalho temos de admiti-lo eacute chato

muito aborrecidordquo (CHARLOT 2013 p 154) O aluno Pedro acabou confirmando essa

concepccedilatildeo Nas palavras dele extraiacutedas das transcriccedilotildees da entrevista inicial podemos ver

Quanto a Caacutelculo a visatildeo que a gente tem infelizmente eacute que eacute uma coisa chata eacute

blaacuteblaacuteblaacute Eu jaacute ouvi de alguns colegas que Caacutelculo natildeo eacute uma coisa que vocecirc usa

tanto muita gente natildeo tem noccedilatildeo da importacircncia do Caacutelculo [] esse mito que se

tem ldquoah o caacutelculo eacute difiacutecil mas natildeo tem importacircnciardquo acaba desestimulando o

pessoal e aiacute sim que vocecirc agraves vezes consegue ateacute ser aprovado na disciplina mas natildeo

tem um aprendizado real

O aluno Pedro ainda expocircs na entrevista inicial que em sua visatildeo faltavam

projetos que objetivassem mostrar para os alunos a ldquoverdadeira importacircncia do Caacutelculo e que

estimulassem os alunos a entenderem o assunto a estudarem maisrdquo demonstrando acreditar

que o GEPMM pode cumprir esse objetivo Contudo ao deixar de participar do GEPMM por

falta de tempo e por parecer priorizar a aprovaccedilatildeo nas disciplinas o aluno acabou por

promover uma possiacutevel desapropriaccedilatildeo de si mesmo do sentido do que faz ndash sujeito em

formaccedilatildeo agravequele que deseja se apropriar de conhecimentos ndash restando-lhe apenas um

trabalho alienado subtraiacutedo de seu desejo manifestado ter ldquoum aprendizado realrdquo

Cabe ressaltar que os dilemas vivenciados pelos alunos quanto agrave participaccedilatildeo no

GEPMM especialmente a participaccedilatildeo em muacuteltiplas atividades demandadas pela formaccedilatildeo

em Engenharia versus a falta de tempo para darem conta de participarem efetivamente das

referidas atividades pode ter resultado na decisatildeo de deixarem de participar dos encontros do

GEPMM Isso natildeo aconteceu somente com os alunos O docente Robson por exemplo

participou de apenas dois encontros do GEPMM atribuindo suas ausecircncias a outras demandas

185

de trabalho como viagens a congressos participaccedilatildeo de bancas de conclusatildeo de cursos e

atividades administrativas A docente Clarice apoacutes o deacutecimo encontro enviou um e-mail a

todos os integrantes do GEPMM informando que em virtude do iniacutecio de seu processo de

doutoramento teria que se ausentar do GEPMM por pelo menos alguns anos Todas essas

atitudes perfazem a agency inerente agraves repostas dos sujeitos agraves referidas demandas

Ainda no segundo encontro do GEPMM escolhemos o primeiro tema a ser

desenvolvido por noacutes ndash ldquopeso corporal idealrdquo Apoacutes tal escolha o professor Angel

compartilhou uma informaccedilatildeo que acabara de ter acesso por meio do manuseio de seu

notebook que permanecia ligado e conectado na internet informando-nos sobre um edital

aberto no site do CNPq Tal edital era sobre gecircnero e relaccedilotildees de trabalho O professor Angel

se mostrou muito animado em elaborarmos um projeto para submetermos agrave ampla

concorrecircncia preconizada pelo referido edital

Decidimos construir um projeto para submissatildeo ainda que tiveacutessemos apenas seis

dias corridos incluindo saacutebado e domingo para tal confecccedilatildeo Taty tentou ajudar nessa

empreitada e disse ter o projeto inteiro escrito sobre gecircnero e somente teriacuteamos que ldquoadaptaacute-

lordquo para a aacuterea da Engenharia A aluna referiu-se ao projeto que ela estava desenvolvendo

como bolsista de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica Decidimos lutar contra o tempo e escrever esse projeto

para a submissatildeo O projeto foi intitulado Relaccedilotildees de Gecircnero no Trabalho das Engenheiras

do Setor industrial uma anaacutelise das condiccedilotildees de trabalho e das competecircncias e habilidades

matemaacuteticas cujo objetivo principal era ldquocompreender as relaccedilotildees de gecircnero estabelecidas no

trabalho das engenheiras que atuam em empresas do setor industrial mineiro por meio do

entendimento das condiccedilotildees de trabalho e das habilidades e competecircncias matemaacuteticas

requeridas na atuaccedilatildeo laboral da aacuterea especificamente estudadardquo E os objetivos especiacuteficos

eram

- Caracterizar as condiccedilotildees de trabalho de mulheres engenheiras das principais

empresas do setor industrial mineiro da regiatildeo do Vale do Accedilo e da cidade de

Itabira

- Estabelecer as diferenccedilas proporcionais de gecircnero na ocupaccedilatildeo de cargos de

engenharia buscando analisar as peculiaridades de cada uma das classes de

trabalhadores ndash homens e mulheres

- Analisar as competecircncias e habilidades matemaacuteticas requeridas para a efetiva

atuaccedilatildeo em cargos de engenharia ocupados por mulheres e sua respectiva

comparaccedilatildeo entre os mesmos cargos ocupados por homens

- Utilizar os resultados da pesquisa como aporte teoacuterico para a tomada de decisotildees

relacionadas aos curriacuteculos dos cursos de Engenharia da UNIFEI no que se refere agrave

questatildeo de gecircnero ainda deixada de lado nos projetos pedagoacutegicos dos cursos assim

como o fornecimento dos mesmos subsiacutedios para que outras instituiccedilotildees possam

fazer uso

186

- Aplicar os resultados como agentes que podes motivar os estudantes dos cursos de

Engenharia da UNIFEI a refletirem sobre questotildees relacionadas ao gecircnero no

trabalho e na formaccedilatildeo em engenharia

Submetemos o trabalho na data limite ndash dia 14 de novembro de 2012 Contudo o

CNPq natildeo o aprovou O parecer questionou sobre a aacuterea de atuaccedilatildeo dos docentes que iriam

executaacute-lo ou seja por natildeo termos produccedilatildeo cientiacutefica na aacuterea fomos impedidos de realizar a

pesquisa a menos que quiseacutessemos fazecirc-la sem ter projeto algum submetido e

consequentemente sem ter auxiacutelios financeiros para sua execuccedilatildeo

Mas por que em um grupo que originalmente orientaria suas atividades pelos

objetos materializados por questotildees-problema matemaacuteticos e estudantes de Engenharia

tomaria uma pesquisa sobre gecircnero no trabalho de Engenharia como objeto de uma atividade

paralela Tentarei analisar a referida atividade como constituinte de sistemas de atividade

hiacutebridos ndash muacuteltiplos contextos de atividades paralelos e as respectivas multi-agencys

(DANIELS et al 2010a)

A estrutura do trabalho docente em instituiccedilotildees federais de ensino superior

brasileiras estaacute baseada no tripeacute ensino-pesquisa-extensatildeo Tais instituiccedilotildees estatildeo entre as

instituiccedilotildees puacuteblicas mais submetidas a avaliaccedilotildees de desempenho A grande questatildeo que se

faz necessaacuterio pontuar eacute que tais avaliaccedilotildees podem muito bem verificar quantitativamente o

desempenho de tais instituiccedilotildees pelas quantidades de diplomas concedidos e artigos

publicados poreacutem natildeo conseguem captar bem os conteuacutedos inerentes aos diplomados e agrave

qualidade das publicaccedilotildees Nesse sentido em artigo publicado no jornal Folha de SPaulo o

professor Joseacute Maria Alves da Silva154

do Departamento de Economia da Universidade

Federal de Viccedilosa-MG esclarece que

Tirando o que eacute gasto na elaboraccedilatildeo de projetos produccedilatildeo em massa de artigos

preenchimento de relatoacuterios atualizaccedilatildeo de curriacuteculos participaccedilotildees cada vez mais

frequentes em bancas reuniotildees etc sobra pouco tempo para pensar e outras

finalidades importantes como aperfeiccediloar metodologias de ensino ou enriquecer

conteuacutedos disciplinares Quando o ldquoprodutivismordquo impera na academia aulas

conferecircncias e palestras brilhantes ou qualquer outro tipo de comunicaccedilatildeo fora dos

meios reconhecidos natildeo contam por mais que sirvam para solucionar problemas

enriquecer espiacuteritos ou abrir novos caminhos de pensamento (SILVA 2012)

Nesse sentido a participaccedilatildeo no GEPMM poderia ateacute constituir importante meio

para a formaccedilatildeo dos sujeitos partiacutecipes em termos de abrir novos caminhos de pensamento

solucionar problemas da realidade natildeo matemaacutetica em questatildeo eou ajudar na melhoria da

154

Doutor em Economia

187

praacutetica mas de todo modo fora dos meios reconhecidos natildeo ldquocontardquo natildeo soma natildeo produz

ldquoquantidaderdquo nas avaliaccedilotildees de desempenho Sendo assim o objeto da referida atividade

paralela a transforma natildeo em uma atividade vital dos sujeitos e sim em puro meio de

ldquosubsistecircnciardquo Naquele momento reflexotildees sobre qual a importacircncia e a quem serviria aquilo

que estariacuteamos produzindo parecem natildeo ter acontecido Estava constituiacuteda uma atividade

alienada Aqui assumo o termo alienaccedilatildeo em Marx Alienaccedilatildeo no sentido de perpetuar a

dicotomia entre os que pensam e os que executam devido agrave inserccedilatildeo dos sujeitos no sistema

de formaccedilatildeo superior estabelecido nas e pelas universidades federais brasileiras que refletem

a organizaccedilatildeo do modo de produccedilatildeo capitalista ndash alienaccedilatildeo como fenocircmeno social

Saacutenchez Vaacutezquez (1977) busca em Marx a relaccedilatildeo alienante que pode ser

estabelecida entre os sujeitos e seus objetos ndash demandas sociais ndash em uma atividade humana

enfatizando uma possiacutevel ldquodesgovernanccedilardquo um verdadeiro runaway object (ENGESTROumlM

2010a)

As palavras de Marx (1845) em sua obra A ideologia alematilde esclarecem que

O poder social isto eacute a forccedila de produccedilatildeo multiplicada que nasce por obra da

cooperaccedilatildeo dos diversos indiviacuteduos sob a accedilatildeo da divisatildeo do trabalho aparece diante

desses indiviacuteduos por natildeo se tratar de uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria mas sim natural

natildeo como um poder proacuteprio associado e sim como um poder alheio situado agrave

margem deles que natildeo sabem de onde vem nem para onde vai e que por

conseguinte jaacute natildeo podem dominar (p 33 apud SAacuteNHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p

442)

Realmente natildeo podiacuteamos dominar o objeto configurado pelono referido projeto

submetido ao CNPq O proacuteprio contexto institucional estava permeado pelo modo de

produccedilatildeo e de exploraccedilatildeo do sistema capitalista imposto pela burguesia tendencioso agrave

perpetuaccedilatildeo da dicotomia entre os trabalhadores intelectuais e os trabalhadores teacutecnicos entre

os produtoresconstrutores e os operadores Com isso o contexto implicava em nossa natildeo

reflexatildeo permaneciacuteamos sem saber qual a importacircncia da referida atividade e a quem ela

serviria O que pensaacutevamos poderia estar desconectado do que pretendiacuteamos executar Nas

palavras de Angel retiradas das transcriccedilotildees do segundo encontro do GEPMM podemos

encontrar a seguinte ponderaccedilatildeo ldquonossa eacute dinheiro demais Satildeo oito milhotildees soacute pra

projetinhos para falar de mulherrdquo De fato Angel natildeo parece realmente estar ldquopreocupadordquo

com as questotildees de gecircnero no trabalho em Engenharia e mais do que isso parece natildeo

perceber a real importacircncia de se pesquisar a respeito desse tema Com isso percebemos que

ao menos para Angel o objeto principal da atividade natildeo parece estar alinhado ao seu motivo

188

Atualmente as avaliaccedilotildees de desempenho tendem a controlar externamente o

trabalho docente cujo objeto de sua atividade pode se tornar alheio aos sujeitos Nesse

sentido seria pertinente questionar qual valor de uso e de troca estaria permeado em tal

objeto contraditoacuterio Sendo assim o valor de uso referindo-se agrave utilidade de tal objeto

(projeto submetido ao edital do CNPq) poderia estar configurado pela materializaccedilatildeo dos

objetivos principal e especiacuteficos expostos anteriormente neste texto Adicionalmente o valor

de troca para os docentes parece estar restrito a uma quantificaccedilatildeo nos meios de

reconhecimento e controle do trabalho docente em instituiccedilotildees federais de ensino superior

brasileiras entre eles o curriacuteculo Lattes e os ldquonuacutemerosrdquo da CAPES e do CNPq Jaacute para os

discentes o valor de troca parecia estar relacionado com as possibilidades de ganhos reais

financeiros mediante o fornecimento de bolsas de pesquisa cujo valor seria de R$ 400

mensais No valor de troca poderiam ser encontrados os motivos que impulsionaram tal

atividade que articulariam uma necessidade a tal objeto Contudo os dados construiacutedos para

a presente pesquisa natildeo me fornecem subsiacutedios para tecer uma anaacutelise rigorosa sobre os

motivos que impulsionaram tal atividade apenas uma sinalizaccedilatildeo conforme descriccedilatildeo

anterior

Estaria em todo caso configurada uma parceria possibilitada pela participaccedilatildeo

dos sujeitos no referido grupo que sem duacutevida alguma permitiu uma movimentaccedilatildeo na Zona

de Desenvolvimento Proximal (ZDP) das atividades docente-discente devido a uma

diminuiccedilatildeo do distanciamento historicamente constituiacutedo entre docentes e discentes

permitindo e facilitando as interaccedilotildees e o diaacutelogo entre os docentes e portanto favorecendo o

desenvolvimento coletivo de iniciativas (agency) que ressaltem a satisfaccedilatildeo de demandas na

condiccedilatildeo de trabalhadores de universidades brasileiras na contemporaneidade Pesquisa e

inovaccedilatildeo cientiacutefica surgem nesse caso como ldquonovasrdquo praacuteticas sociais que atendem agraves

necessidades impostas pelas universidades Nesse sentido um processo mediado pelo agir

comunicativo ocorreu e se materializou no referido projeto submetido ao CNPq Da mesma

forma que juntamos forccedilas e conseguimos elaboraacute-lo poderiacuteamos fazecirc-lo em outros editais

que fossem abertos posteriormente

Sendo assim as possibilidades de interaccedilatildeo mediadas pela linguagem pelo

diaacutelogo entre os parceiros do GEPMM parece ser um fator preponderante para natildeo somente a

elaboraccedilatildeo de projetos de pesquisa a serem submetidos em editais do CNPq mas sobretudo

para a ampliaccedilatildeo das possibilidades de reflexatildeo acerca de sua proacutepria atividade docente

Desse modo estaria configurado um importante espaccedilo de formaccedilatildeo continuada

para os docentes com relaccedilatildeo agraves muacuteltiplas atividades (ensino pesquisa extensatildeo) que

189

desenvolvem na instituiccedilatildeo Docentes que lecionam disciplinas de Caacutelculo atuando

conjuntamente com docentes de outras aacutereas dos cursos de Engenharia e com alunos em

formaccedilatildeo podem ser considerados parceiros Uma rede de aprendizagem foi configurada no e

pelo GEPMM A aprendizagem expansiva a partir do movimento da ZDP da atividade

docente somente se materializou pela construccedilatildeo de redes ndash parceria uma reflexatildeo que cabe

aqui eacute que juntos coletivamente a atividade dos sujeitos docentes e discentes de cursos de

Engenharia pode assumir uma nova forma possivelmente com um objeto mais alinhado aos

atuais objetivos da formaccedilatildeo em Engenharia

53 Terceira modalidade ndash Modelagem e a caixa-preta do ldquopeso corporal idealrdquo num

contexto de formaccedilatildeo em Engenharias do Caacutelculo em accedilatildeo agraves aprendizagens expansivas

como transformaccedilotildees qualitativas do objeto da atividade

[] todos os atores estatildeo fazendo alguma coisa com a caixa preta () eles natildeo a

transmitem pura e simplesmente mas acrescentam elementos seus ao modificarem o

argumento fortalececirc-lo e incorporaacute-lo em novos contextos (LATOUR 2000 p

171)

A sociedade atual vem passando por importantes transformaccedilotildees nos uacuteltimos anos

mediante avanccedilo e difusatildeo de ferramentas de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo Castells (2005 p

17) pontua que a ldquosociedade emergente tem sido caracterizada como sociedade de informaccedilatildeo

ou sociedade do conhecimentordquo apesar de demonstrar no referido texto que natildeo concorda

com tal terminologia O autor afirma ainda que ldquoa tecnologia eacute condiccedilatildeo necessaacuteria mas natildeo

suficiente para a emergecircncia de uma nova forma de organizaccedilatildeo social baseada em redesrdquo

(CASTELLS 2005 p 17) segundo ele ldquodifundir a Internet ou colocar mais computadores

nas escolas por si soacute natildeo constituem necessariamente grandes mudanccedilas sociaisrdquo

(CASTELLS 2005 p 18)

Considero assim que ldquoa sociedade em rede155

eacute a sociedade de indiviacuteduos em

rederdquo (CASTELLS 2005 p 22) global baseada em redes globais em que a comunicaccedilatildeo em

redes transcende fronteiras e pode ser entendida como segue

A comunicaccedilatildeo constitui o espaccedilo puacuteblico ou seja o espaccedilo cognitivo em que as

mentes das pessoas recebem informaccedilatildeo e formam os seus pontos de vista atraveacutes do

processamento de sinais da sociedade no seu conjunto Por outras palavras enquanto

155

ldquoA sociedade em rede em termos simples eacute uma estrutura social baseada em redes operadas por tecnologias

de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo fundamentadas na microelectroacutenica e em redes digitais de computadores que

geram processam e distribuem informaccedilatildeo a partir de conhecimento acumulado nos noacutes dessas redesrdquo

(CASTELLS 2005 p 20)

190

a comunicaccedilatildeo interpessoal eacute uma relaccedilatildeo privada formada pelos actores da

interacccedilatildeo os sistemas de comunicaccedilatildeo mediaacuteticos criam os relacionamentos entre

instituiccedilotildees e organizaccedilotildees da sociedade e as pessoas no seu conjunto natildeo enquanto

indiviacuteduos mas como receptores colectivos de informaccedilatildeo mesmo quando a

informaccedilatildeo final eacute processada por cada indiviacuteduo de acordo com as suas proacuteprias

caracteriacutesticas pessoais (CASTELLS 2005 p 22)

Mas de que forma podemos entender e relacionar os termos informaccedilatildeo

conhecimento e saber em tal sociedade Como as tecnologias estariam relacionadas a esses

termos Nesse sentido considero que ldquoas pessoas integraram as tecnologias nas suas vidas

ligando a realidade virtual com a virtualidade real vivendo em vaacuterias formas tecnoloacutegicas de

comunicaccedilatildeo articulando-as conforme as suas necessidadesrdquo (CASTELLS 2005 p 22 grifo

meu)

Com o intuito de tentar responder ou ao menos propor uma breve reflexatildeo sobre

os termos informaccedilatildeo conhecimento e saber comeccedilarei com a premissa de que no sentido

amplo uma ldquoinformaccedilatildeo eacute um dado que se encontra no mundo objetivo exterior ao

indiviacuteduordquo (MICOTTI 1999 p 154) constitui um dado que pode ser ldquolidordquo acessado e

compreendido Alguns autores pontuam imprecisotildees envolvidas na noccedilatildeoconceito de

informaccedilatildeo na sociedade atual Para Mattelart (2006) por exemplo

A tendecircncia a assimilar a informaccedilatildeo a um termo proveniente da estatiacutestica

(datadados) e a ver informaccedilatildeo somente onde haacute dispositivos teacutecnicos se acentuaraacute

Assim instalar-se-aacute um conceito puramente instrumental de sociedade da

informaccedilatildeo Com a atopia social do conceito apagar-se-atildeo as implicaccedilotildees

sociopoliacuteticas de uma expressatildeo que supostamente designa o novo destino do mundo

(MATTELART 2006 p 71)

No sentido exposto por Mattelart (2006) pode ser inclusa a noccedilatildeo de informaccedilatildeo

de Micotti (1999 p 155) na qual ldquouma informaccedilatildeo conteacutem um suporte e uma semacircnticardquo

para Micotti (1999) uma mesma semacircntica (ideia conceito) poderia ser conduzida por

diferentes suportes (desenho imagem enunciado verbal) que percorreriam um mesmo canal

(por exemplo oacutetico acuacutestico etc) Micotti (1999 p 155) afirma ainda que ldquoas informaccedilotildees

penetram nos sistemas de tratamento ndash o corpo humano eacute um deles O indiviacuteduo as submete a

uma seacuterie de accedilotildees e as transforma em conhecimentordquo

No que tange agrave noccedilatildeo de conhecimento Mattelart (2006) se apoia em Machlup

(1962 p 69 grifo do autor) e esclarece que ldquoinformar eacute uma atividade mediante a qual o

conhecimento eacute transmitido conhecer eacute resultado de ter sido informadordquo Nisso Micotti

(1999) esclarece que

191

o conhecimento eacute o resultado de uma experiecircncia pessoal com as informaccedilotildees Ele eacute

subjetivo relaciona-se com as vivecircncias e as atividades de cada pessoa ao passo que

o saber tem aspectos subjetivos (individuais) e sociais Eacute individual e deste ponto de

vista eacute tambeacutem conhecimento envolve a apropriaccedilatildeo de informaccedilatildeo por um sujeito

eacute interpessoal ndash o saber individual eacute confrontado com os saberes dos outros

(MICOTTI 1999 P 155)

Com isso o saber pode ser considerado como um objeto autocircnomo registrado nos

livros ou em quaisquer outros artefatos culturais e tecnoloacutegicos podendo tambeacutem tornar-se

enunciado acionado em interaccedilotildees diversas no sentido de ser uma informaccedilatildeo disponibilizada

para outros indiviacuteduos nas interaccedilotildees e suportadas por miacutedias diversas Sendo assim o saber

pode ser considerado como uma relaccedilatildeo cognitiva produto de uma interaccedilatildeo156

traccedilado na e

pela historicidade e submetido aos processos coletivos de validaccedilatildeo e transmissatildeo

(CHARLOT 2000)

Sendo assim informaccedilatildeo conhecimento e saber assumem caracteriacutesticas distintas

poreacutem inter-relacionadas (MICOTTI 1999) Para que uma informaccedilatildeo se torne conhecimento

eacute necessaacuteria uma internalizaccedilatildeo uma interpretaccedilatildeo daquela informaccedilatildeo por parte dos sujeitos

gerando conhecimento no entanto tal conhecimento se transforma em saber mediante anaacutelise

rigorosa de uma coletividade ndash a comunidade cientiacutefica a sociedade ndash por meio de accedilotildees e

interaccedilotildees diaacutelogo e orquestraccedilatildeo (MICOTTI 1999) Desta forma ldquoo saber compreende

informaccedilatildeo e conhecimentordquo (MICOTTI 1999 p 155)

Ainda pretendo discorrer sobre o papel das interaccedilotildees com os modelos que

permearam o GEPMM durante os dez primeiros encontros no que tange agraves interaccedilotildees (e

agency) necessaacuterias para a elucidaccedilatildeo dos modelos assim como as possibilidades de

interaccedilotildees tecnomediadas157

oferecidas por tais instrumentos ou artefatos mediadores Atribuo

dois modelos tecnomatemaacuteticos como fundamentais para auxiliar o entendimento da questatildeo

escolhida por noacutes para ser solucionada coletivamente no GEPMM conforme os atributos de

nossas agency bem como o acesso aos demais instrumentos necessaacuterios para possibilitar as

accedilotildees em prol de atingir tal objetivo O primeiro deles constituiacutedo por um sistema de

156

O termo interaccedilatildeo aqui assumido eacute oriundo da teoria bakhtiniana de discurso que carrega a definiccedilatildeo de

sujeito como um sujeito social que pertence a uma classe social na qual dialogam os diferentes discursos da

sociedade Aleacutem disso os diaacutelogos entre interlocutores se cruzam aos diaacutelogos entre discursos Sendo assim ldquoo

dialogismo interacional de Bakhtin desloca o conceito de sujeito que perde o papel de centro ao ser substituiacutedo

por diferentes vozes sociais que fazem dele um sujeito histoacuterico e ideoloacutegicordquo (BARROS 2007 p 27 grifo

meu) 157

A tecnomediaccedilatildeo eacute entendida neste texto como sendo as interaccedilotildees mediadas por artefatos tecnoloacutegicos que

incluem as mais variadas ferramentas ou suportes tecnoloacutegicos tais como a proacutepria Matemaacutetica e os recursos

ciberneacuteticos aleacutem de englobar diversos suportes de mediaccedilatildeo tais como a linguagem transmitida sob a forma

oral escrita e por gestos

192

equaccedilotildees diferenciais ordinaacuterias (EDO)158

fornece-nos o comportamento da variaccedilatildeo das

massas magra e gorda que compotildee fundamentalmente o ldquopeso corporalrdquo com base em

mudanccedilas energeacuteticas ndash variaccedilatildeo alimentar e variaccedilatildeo de atividade fiacutesica O segundo deles

constituiacutedo por uma implementaccedilatildeo computacional baseada no primeiro modelo em uma

tecnologia de interface para a internet podendo ser acessado por meio da execuccedilatildeo de um

programa desenvolvido usando a linguagem Java159

ndash um simulador160

Na atividade de modelagem desenvolvida pelo GEPMM durante a construccedilatildeo

dos dados para a presente pesquisa cujo tema consistiu na questatildeo do ldquopeso corporal idealrdquo eacute

necessaacuterio pontuar que o objeto da referida atividade havia sido esboccedilado idealmente pelos

sujeitos partiacutecipes originado de uma sugestatildeo feita por mim No momento da sugestatildeo

algumas indagaccedilotildees jaacute faziam parte do repertoacuterio de informaccedilotildees que possuiacuteamos Jaacute

conheciacuteamos algo sobre a questatildeo Dessa forma naquele momento um objeto nos era posto

apenas e somente em relaccedilatildeo a outras informaccedilotildees Para fins de anaacutelise definirei tal objeto

como caixa-preta do ldquopeso corporal idealrdquo inicial ndash 1198621198750 Nesse sentido Ladriegravere (1978) pode

nos ajudar a entender a configuraccedilatildeo de tal objeto

Eacute verdade que moldamos a natureza a partir de nossas proacuteprias representaccedilotildees e que

deste modo nos damos a noacutes mesmos a base de novas interpretaccedilotildees A visatildeo que

temos da natureza natildeo eacute nem uniforme nem imutaacutevel Mas as coisas se passam

assim com muito mais razatildeo para a realidade social que remodelamos sem cessar

mesmo sem o saber agrave luz das interpretaccedilotildees atraveacutes das quais a aprendemos por

meio das quais nos situamos em face dela conformemente agraves quais compreendemos

nosso lugar no jogo das interaccedilotildees [] partimos sempre de uma interpretaccedilatildeo

natural mas dela passamos por uma interpretaccedilatildeo construiacuteda que eacute como que uma

esquematizaccedilatildeo preacutevia agrave escolha do modelo (LADRIEgraveRE 1978 p 147 grifos

meus)

O objetivo da atividade de Modelagem analisada nesta parte da tese poderia estar

definido como entendersolucionar a problemaacutetica questatildeo de quantificar as variaccedilotildees do

158

120588119866

119889119866

119889119905= 119862119868 minus 119896119866119866

2

120588119865119889119865

119889119905= (1 minus 119901) (119864119868 minus 119864119864 minus 120588119866

119889119866

119889119905)

120588119871119889119871

119889119905= 119901(119864119868 minus 119864119864 minus 120588119866

119889119866

119889119905)

onde 119866 corresponde ao Glicogecircnio 119862119868 corresponde aos carboidratos

de entrada 119864119868 denota a energia de entrada 119864119864 a energia gasta 119865 massa gorda 119871 massa magra os demais satildeo

coeficientes que dependem de correlaccedilatildeo de dados iniciais Tal sistema culmina na seguinte EDO linear de

primeira ordem [120578119865+120588119865+120572120578119871+120572120588119871

(1minus120573)(1+120572)]119889119861119882

119889119905= Δ119864119868 minus

1

(1minus120573)[120574119865+120572120574119871

(1+120572)+ 120575] (119861119882 minus 1198611198820) Equaccedilotildees disponiacuteveis em

httpwwwniddknihgovresearch-fundingat-niddklabs-branchesLBMintegrative-physiology-sectionbody-

weight-simulatorDocumentsHall_Lancet_Web_Appendixpdf Acesso em 19112014 159

Para maiores informaccedilotildees ver httpjavacompt_BRdownloadwhatis_javajsp 160

Simulador disponiacutevel em httpwwwniddknihgovresearch-fundingat-niddklabs-

branchesLBMintegrative-physiology-sectionbody-weight-simulatorPagesbody-weight-simulatoraspx Acesso

em 19112014

193

peso corporal mediante alteraccedilotildees na dieta e nos exerciacutecios fiacutesicos cuja meta seria atingir um

peso corporal desejadoideal Tiacutenhamos o conhecimento por exemplo que aumento de

atividades fiacutesicas tende a diminuiccedilatildeo no peso corporal enquanto diminuiccedilotildees de calorias

ingeridas tendem a diminuir o peso corporal uma pessoa com peso corporal maior queima

mais calorias do que uma pessoa com peso corporal menor em uma mesma atividade fiacutesica eacute

necessaacuterio ingerir alimentos de trecircs em trecircs horas uma pessoa deve ingerir entre 2000 e

2500 calorias por dia entre outras informaccedilotildees que se relacionavam agrave 1198621198750 naquele momento

moldando-a sob nossos olhares Configurava-se um objeto a ser transformado resultando em

um entendimento lsquomais clarorsquo sobre tal questatildeo de forma que instrumentos de Caacutelculo

fossem utilizados no processo de Modelagem

Clarear no sentido de ldquoacinzentarrdquo do cinza escuro (tendendo ao preto) para tons

mais claros de cinza Sendo assim orientados pelo objetivo acima exposto o objeto de nossa

atividade ao acessarmos informaccedilotildees que por sua vez geraram conhecimentos acerca da

problemaacutetica modificou a cor da caixa-preta tornando-a cada vez mais clara (ou natildeo)

mediante as interaccedilotildees entre os sujeitos e as referidas fontes e recursos que suportavam as

informaccedilotildees entre elas alguns artigos cientiacuteficos Vale ressaltar que ldquoverdadesrdquo cientiacuteficas

(impressas em artigos cientiacuteficos lidos pelos integrantes do grupo) transformam-se em

comunicaccedilatildeo pelas e nas interaccedilotildees que por sua vez carregam o saber nela contidos

promovendogerando o entendimento ldquoclareandordquo as questotildees da sociedade

Ainda eacute importante salientar que 1198621198750 se constitui uma ceacutelula geacutermen

Davydoviana que seria uma primaacuteria abstraccedilatildeo da realidade em questatildeo ndash a problemaacutetica

questatildeo do peso corporal ideal ndash jaacute que naquele momento nada de ldquoconcretordquo havia sido

produzido Havia apenas uma transformaccedilatildeo nos modos como pensaacutevamos a realidade ndash a

problemaacutetica-questatildeo que estaria sendo tomada como o objeto da atividade com um

conhecimento a ser construiacutedo pela e na atividade de Modelagem que partiria daquela

abstraccedilatildeo primaacuteria e seria mediante o desencadeamento do processo elevada a um concreto

pensado161

Durante a realizaccedilatildeo da entrevista final a aluna Taty ressaltou que natildeo imaginava

que o problema do peso corporal ideal fosse ter tantas variaacuteveis apesar de desconfiar que teria

Matemaacutetica ou seja que a Matemaacutetica seria instrumento para a realizaccedilatildeo da Modelagem

Contudo ressaltou que havia pensado que ldquofosse ser uma coisa mais faacutecil mais superficial

161

ldquo[] O meacutetodo que permite elevar-se do abstrato ao concreto nada mais eacute do que o modo como o pensamento

se apropria do concreto sob a forma do concreto pensado Mas natildeo eacute de modo algum o proacuteprio concretordquo

(MARX 1845 apud SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 204)

194

[] o problema se multiplicou [] eacute como se o problema fosse uma raiz e criou um monte de

galhinhos Muitos galhinhosrdquo Naquele momento da entrevista a observaccedilatildeo de Taty quanto

agraves ramificaccedilotildees inesperadas que levaram a uma expansatildeo natural do problema fazia todo o

sentido Teriacuteamos sim que trabalhar em vaacuterios ramos de uma ldquoaacutervorerdquo um objeto

desgovernado162

Engestroumlm (2010a p 304) afirma que um objeto desgovernado pode ser um

ldquoobjeto poderosamente emancipatoacuterio que abre radicalmente novas possibilidades de

desenvolvimento e bem estar163

rdquo

Sendo assim a ascensatildeo da abstraccedilatildeo primaacuteria 1198621198750 a um concreto conceitual

expandido poderia natildeo fazer parte de uma ascensatildeo linear de baixo pra cima mas parece

percorrer os vaacuterios ldquogalhinhos de uma aacutervorerdquo conforme reflexatildeo de Taty ou as trilhas e

micorrizas164

conforme apontamento de Engestroumlm (2010a) O autor se refere agraves micorrizas

para tentar analisar atividades que acontecem em uma sociedade de indiviacuteduos em rede cujos

caminhos do objeto de uma referida atividade podem ser destinados a percorrer os noacutes de uma

micorriza ou de uma verdadeira rede neural natural Nesse sentido localizamos 1198621198750 no

inicial momento da atividade de Modelagem como uma ldquocaixa-pretardquo que poderia estar

localizada em um dos noacutes de uma micorriza ou de uma rede neural natural Com isso

instalam-se 119899 possibilidades iniciais para 1198621198750 comeccedilar a se mover sob os caminhos da

micorriza

Na atividade analisada nesta parte da tese demonstraremos os caminhos e os noacutes

que constituiacuteram o movimento do objeto de nossa atividade mediante as possibilidades de

interaccedilotildees firmadas na e pela atividade que inclui claramente o acesso e o tratamento das

informaccedilotildees que por sua vez geraram conhecimentos que promoveram a movimentaccedilatildeo ndash

trajetoacuteria do objeto em questatildeo

No decorrer da atividade de modelagem do peso corporal ideal os textos ndash artigos

cientiacuteficos ndash podem ser entendidos como miacutedias que suportam modelos matemaacuteticos ndash

podem ser considerados aparatos da razatildeo165

(SKOVSMOSE 2007) e ao mesmo tempo o

162

Runaway object (ENGESTROumlM 2010a) 163

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquopowerfully emancipatory objects that open up radically new possibilities of

development and well-beingrdquo 164

Engestroumlm (2010a) entende que uma micorriza eacute uma associaccedilatildeo mutualiacutestica do tipo simbioacutetica na qual a

relaccedilatildeo mutualiacutestica estaria baseada na vantagem muacutetua de interaccedilatildeo entre duas espeacutecies que se beneficiariam

reciprocamente Tal associaccedilatildeo eacute existente em algumas espeacutecies de fungos e raiacutezes de algumas plantas Em

Engestroumlm (2008) podemos encontrar ainda a premissa de que as equipes que constituem e satildeo constituiacutedas em

coletividades que assumem atividades orientadas deveriam ser pensadas atualmente sob a oacutetica da sociedade em

rede Sendo assim as equipes coexistiriam a uma relaccedilatildeo de noacutes de uma rede da atual sociedade em rede 165

Skovsmose (2007) pontua que

1) o ldquoaparato da razatildeordquo eacute uma complexidade construiacuteda que inclui uma variedade de teacutecnicas cientiacuteficas e

tecnoloacutegicas cruciais para o desenvolvimento e manutenccedilatildeo tecnoloacutegica

195

conjunto desses aparatos da razatildeo (modelos matemaacuteticos) constitui suporteembasamento

para a elaboraccedilatildeo do software bwsimulator Com isso podemos refletir que ldquomodelos criam

modelos e uma camada de matemaacutetica sobre a outra se finca na realidaderdquo (SKOVSMOSE

2007 p 127)

Nesse sentido podemos considerar ainda que o proacuteprio objeto inicial 1198621198750 pode ser

considerado como um aparato da razatildeo (SKOVSMOSE 2007) Nisso o autor enfatiza a

complexidade em entenderexplicar a produccedilatildeo de conhecimento sob a oacutetica dos aparatos da

razatildeo Haacute uma posta dificuldade ou impossibilidade de transposiccedilatildeo das fronteiras deem tais

aparatos Para isso o autor indica a necessidade de colocarmos a tecnologia disponiacutevel em

accedilatildeo a fim de avaliar como ela trabalha O autor esclarece ainda que ldquoconstruccedilotildees

tecnoloacutegicas ainda natildeo realizadas (isto eacute situaccedilotildees hipoteacuteticas) podem ser especificadas em

detalhes pela modelagem matemaacutetica e o raciociacutenio hipoteacutetico pode se tornar um instrumento

essencial para indicar as implicaccedilotildeesrdquo (SKOVSMOSE 2007 p 140)

No que tange agrave atividade de modelagem realizada pelo GEPMM que pretendeu a

abertura da caixa-preta do peso corporal ideal o aparato da razatildeo definido pelos conteuacutedos

de Caacutelculo incluindo as Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias (EDOs) foi de crucial importacircncia

para possibilitar a avaliaccedilatildeo das consequecircncias das accedilotildees sociotecnoloacutegicas criadas nos e

pelos outros aparatos da razatildeo que permearam tal atividade Esses outros aparatos da razatildeo

emergiram nas accedilotildees e interaccedilotildees mediadas por variados artefatos entre eles artigos

cientiacuteficos livros e softwares de simulaccedilatildeo

As questotildees de acesso agrave informaccedilatildeo ou caminhos para o acesso devem ser

colocadas em relevo no que tange agraves transformaccedilotildees do objeto da referida atividade de

modelagem A seguir darei continuidade a essa parte da anaacutelise explicitando as

transformaccedilotildees qualitativas do objeto da atividade para tal explicitarei a formaccedilatildeo de outras

quatro caixas-pretas (ou cinzas) a saber 1198621198751 1198621198752 1198621198753 e 1198621198754 esboccedilando assim um

movimento de ascensatildeo do abstrato ao concreto no sentido do ldquoclareamentordquo da questatildeo do

peso corporal ideal

Quando 1198621198750 foi tomada como objeto da atividade de modelagem podiacuteamos

caracterizar traccedilos de relaccedilotildees com outras caixas-pretas na verdade 1198621198750 coexistia a tais

2) o ldquoaparato da razatildeordquo estabelece propensotildees da sociedade para uma accedilatildeo sociotecnoloacutegica que somente torna-

se possiacutevel pela matemaacutetica em accedilatildeo

3) o ldquoaparato da razatildeordquo estaacute se desenvolvendo em saltos imprevisiacuteveis seguindo uma rota fluida na qual novas

competecircncias satildeo continuamente postas nessa enorme caixa de ferramentas do projeto tecnoloacutegico

4) o ldquoaparato da razatildeordquo inclui novos padrotildees de qualidade que orienta-se pela criaccedilatildeo de um novo discurso por

meio de uma variedade de elementos da ciecircncia

5) o ldquoaparato da razatildeordquo representa a unificaccedilatildeo do conhecimento do poder sendo considerado uma constelaccedilatildeo

de conhecimento disponiacutevel

196

relaccedilotildees Tiacutenhamos o conhecimento por exemplo que 1198621198750 relacionava-se com os modelos

matemaacuteticos com taxas de consumo energeacutetico taxas de metabolismo nutriccedilatildeo educaccedilatildeo

fiacutesica bioquiacutemica entre outras caixas-pretas Mas como 1198621198750 se relacionava a elas

pretendiacuteamos entender jaacute tendo como premissa que instrumentos de Caacutelculo seriam

necessaacuterios para tal ldquoclareamentordquo Natildeo imaginaacutevamos naquele momento que instrumentos

de programaccedilatildeo de computadores e softwares emergiriam como artefatos mediadores na

referida atividade nem tampouco como essas caixas-pretas se relacionariam agraves outras

Dividirei o processo de ldquoclareamentordquo de 1198621198750 em quatro saltos (de 1198621198750 a 1198621198754)

podendo ser caracterizados pelo acesso e pela interaccedilatildeo com os artefatos mediadores que

permearam a atividade Categorizarei os artefatos mediadores (119860119872119894 119894 = 1hellip 4) da seguinte

maneira chamarei de 1198601198721 o conjunto de todos os artefatos que mediaram a atividade de

modelagem da problemaacutetica questatildeo do peso corporal ideal ateacute o momento que encontrei e

interagi com a revista Caacutelculo na sala dos professores do CEFET-MG-Timoacuteteo natildeo

incluindo as informaccedilotildees da revista em 1198601198721 Esse momento ocorreu entre o quinto e o sexto

encontro do GEPMM Aleacutem disso 1198601198722 seraacute considerado como a uniatildeo de 1198601198721 com o

conjunto unitaacuterio cujo elemento seja a revista Caacutelculo166

Seguindo com essa construccedilatildeo

definirei 1198601198723 como sendo a uniatildeo de 1198601198722 com o conjunto unitaacuterio cujo elemento seja o

software bwsimulator167

e finalmente definirei 1198601198724 como sendo a uniatildeo de 1198601198723 com o

conjunto formado pela coleccedilatildeo de modelos matemaacuteticos e suas relaccedilotildees ao fenocircmeno da

mudanccedila de peso corporal sob a forma de linguagem escrita cujo suporte eacute o artigo cientiacutefico

webappendix168

Conforme exposto no Capiacutetulo 2 desta tese entendo que uma caixa-preta na

verdade nunca eacute nem totalmente preta e nem totalmente branca ou seja nem 1198621198750 era

totalmente preta nem 1198621198754 seraacute totalmente branca depois de aberta 1198621198750 havia sido construiacuteda

pelos sujeitos do grupo num processo de interaccedilatildeo entre eles mediante inquietaccedilotildees

resultando em uma abstraccedilatildeo primaacuteria da problemaacutetica questatildeo do peso corporal ideal Caso

essa afirmativa fosse falsa estariacuteamos reforccedilando a ideologia das verdades ldquoabsolutasrdquo e

inquestionaacuteveis assim como o contraacuterio A variaccedilatildeo de cores permitida entre o preto e o

branco pertence agrave categoria dos infinitos tons de cinza Entre tais infinitos tons de cinza

destacam-se as 119862119875119894 119894 = 0hellip 4

166

Revista intitulada Caacutelculo (ano 2 nuacutemero 20 setembro de 2012 editora segmento) 167

httpbwsimulatorniddknihgov 168

httpbwsimulatorniddknihgovHall_Lancet_Webappendixpdf

197

Sendo assim a caixa-cinza resultante de um primeiro niacutevel da transformaccedilatildeo

qualitativa do objeto da atividade ndash 1198621198751 pocircde ser visualizada tomando-se por base as

seguintes caracteriacutesticas resultado do conhecimento produzido pelo acesso e pela interaccedilatildeo

com as informaccedilotildees contidas em 1198601198721 sobre 1198621198750 As accedilotildees que foram realizadas nesse sentido

aconteceram durante o segundo terceiro quarto e quinto encontros do GEPMM e nas

interaccedilotildees entre os sujeitos e instrumentos contidos em 1198601198721 fora desses momentos num

sentido espacial e fiacutesico Aleacutem das interaccedilotildees face a face entre sujeitos faz-se necessaacuterio

incluir as interaccedilotildees mediadas por instrumentos de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo baseados nas e

pelas tecnologias computacionais incluindo a internet tais como e-mails e a rede social

Facebook Um instrumento foi construiacutedo pelos sujeitos do GEPMM como resultado da

apropriaccedilatildeo dos conhecimentos contidos em artefatos de 1198601198721 gerando um modelo idealizado

(tambeacutem contido em 1198601198721) para representar a problemaacutetica questatildeo do peso corporal ideal O

seguinte trecho foi extraiacutedo das transcriccedilotildees das filmagens do quinto encontro do GEPMM

Nele podemos observar um modelo matemaacutetico emergente ainda nebuloso

Eu Na verdade vai dar um sistema Vai dar um sistema de interdependecircncia aqui

[aponto para trecircs lugares distintos na mesa como se representassem trecircs

ldquocaixinhasrdquo] () as variaacuteveis peso altura gecircnero e idade na verdade elas natildeo vatildeo

ser variaacuteveis elas vatildeo ser uma constante ou seja ela eacute variaacutevel do ponto de vista

de cada um [cada pessoa] mas para a foacutermula ela vai ser uma constante () aiacute a

gente coloca essa variaacuteveis soacute com coeficientes da equaccedilatildeo () porque todos os trecircs

satildeo energias neacute Tipo assim melhorando esse modelo baacutesico seria o tanto de

atividade fiacutesica ou seja o gasto caloacuterico porque na verdade essas trecircs coisas satildeo

energias tanto do alimento que eacute energia que entra quanto do exerciacutecio que eacute uma

energia que sai desse sistema e o basal tambeacutem eacute uma energia que vai taacute sendo

gasta Vamos tentar equacionar como se fosse assim o gasto energeacutetico a taxa de

energia natildeo importando se ela eacute uma taxa positiva ou uma taxa negativa O quecirc

que vocecircs acham

Robson razoaacutevel

Eu porque se a gente coloca assim as trecircs equaccedilotildees como taxas de energia neacute eacute

claro que elas vatildeo se alterar neacute uma vai ser sei laacute P a outra Q a outra R

Angel Taacute mais aiacute se vocecirc pensar na questatildeo de classe jaacute tem que pensar no que

vocecirc taacute querendo vincular edo pra depois encontrar o resto eacute essa que eacute a sua

ideia Aiacute cecirc teria que pensar qual seria a antiderivada dessa taxa relacionada a

essa parte de dieta porque laacute na parte de fiacutesica de Caacutelculo a gente sabe o quecirc que

estaacute relacionado com o quecirc agora nessa parte daqui eu jaacute natildeo sei [risos]

Eu entatildeo a gente vai ter que buscar nos dados que a gente jaacute tem mapeados nesse

livro por exemplo Talvez a gente pudesse comeccedilar com a terceira que eacute a parte da

atividade fiacutesica entendeu () eu natildeo sei se vai dar pra ser uma edo bonitinha ou

se na verdade isso daiacute eacute um trem nebuloso entendeu Porque cada um vai se

subdividindo entre outros e outras

Naquele momento apesar de natildeo termos ainda uma escrita matemaacutetica formal

tiacutenhamos um modelo emergente um novo instrumento sendo construiacutedo pelas e nas

interaccedilotildees entre noacutes ndash sujeitos ndash e os instrumentos que permeavam a atividade Esse novo

198

instrumento idealizado acabava por promover uma transformaccedilatildeo qualitativa no objeto da

atividade gerando assim a 1198621198751 ou seja a questatildeo do peso corporal havia se modificado

qualitativamente mediante a interaccedilatildeo com tal artefato mediador ndash o modelo emergente

Ainda podemos analisar que outro resultado da atividade realizada pelo grupo ateacute aquele

momento estaria estampado em 1198621198751 relacionado agrave idealizaccedilatildeo de um novo objeto para a

atividade que somente pocircde ser realizada mediante apropriaccedilatildeo do referido novo instrumento

Refiro-me aqui a idealizaccedilatildeo que objetivou a construccedilatildeo de um software - um modelo

tecnoloacutegico- como resultado das accedilotildees orientadas pela e na atividade de modelagem em

questatildeo

Contudo depois do quinto encontro tive acesso a uma informaccedilatildeo que de fato

levou a alteraccedilotildees nas trilhas do movimento de transformaccedilatildeo do objeto da atividade de

modelagem analisada nesta parte da tese Refiro-me agrave revista Caacutelculo169

Em 17 de dezembro

de 2012 ao realizar as atividades de docecircncia no CEFET-MG-Timoacuteteo (instituiccedilatildeo na qual

sou professora) deparei-me com a referida revista sobre a mesa da sala dos professores Li o

que estava escrito na capa da revista Nela estava contida a seguinte frase ldquoExtra Emagrecer

demora trecircs anosrdquo Imediatamente abri a revista e comecei a folhear as paacuteginas em busca da

mateacuteria completa Nesse sentido tal accedilatildeo estava direcionada ao cumprimento de objetivos

parciais relacionados agrave atividade de modelagem na qual participava no GEPMM Ao realizar

interaccedilotildees mediadas pelas informaccedilotildees impressas sob a forma de linguagem escrita grafadas

nas paacuteginas da referida revista inaugurava-se uma nova fase um novo caminho uma nova

trajetoacuteria para a atividade de modelagem Estaria entatildeo constituiacutedo o conjunto 1198601198722 como

uniatildeo dos instrumentos que permeavam a atividade anteriormente a esse momento

adicionando ao conjunto 1198601198721 esse novo instrumento A importacircncia desse novo instrumento

natildeo se restringia agraves informaccedilotildees nele contidas mas sobretudo as que estariam por vir

Sendo assim a caixa-cinza resultante de um segundo niacutevel da transformaccedilatildeo

qualitativa do objeto da atividade ndash 1198621198752 ndash pocircde ser visualizada tomando-se por base as

seguintes caracteriacutesticas resultado do conhecimento produzido pelo acesso e interaccedilatildeo com as

informaccedilotildees contidas em 1198601198722 sobre 1198621198751 As accedilotildees que foram realizadas nesse sentido

aconteceram entre o quinto e o sexto encontro do GEPMM Sendo assim a caixa-cinza 2

pode ser considerada como resultado das interaccedilotildees mediadas pelas teacutecnicas de leitura e

apropriaccedilatildeo de informaccedilotildees contidas na revista Caacutelculo considerada como novo instrumento

de mediaccedilatildeo que permeou a atividade alterando seu rumo sua trajetoacuteria Tal instrumento foi

169

Revista intitulada por Caacutelculo (ano 2 nuacutemero 20 setembro de 2012 editora segmento)

199

utilizado com o objetivo de adequaccedilatildeo do objeto ainda idealizado uma abstraccedilatildeo de segundo

niacutevel rumo a um objeto real ndash concreto conceitual expandido Dessa forma a leitura da

mateacuteria da revista Caacutelculo possibilitou um movimento na ZDP da atividade entre as

ldquoidealizaccedilotildeesrdquo elaboradas no niacutevel 1 levando agrave alteraccedilatildeo de rota de rumo a um objeto

desorientado

Na verdade o acesso realizado por mim ao site httpbwsimulatorniddknihgov

ocorreu numa segunda-feira (17122012) dia anterior ao sexto encontro do GEPMM Mesmo

estando distantes (no sentido de que eu estava na cidade de Timoacuteteo-MG a 100 km de Itabira-

MG) utilizei a rede social Facebook e enviei imediatamente uma mensagem aos integrantes

do GEPMM e agrave docente do Departamento de Nutriccedilatildeo da UFOP O intuito dessa accedilatildeo seria o

compartilhamento horizontal de informaccedilotildees entre os integrantes do grupo com o intuito de

pensarmos juntos baseados nas informaccedilotildees que acessaacutessemos assim como os demais

instrumentos que pudessem mediar nossas accedilotildees mesmo distantes fisicamente uns dos outros

No iniacutecio do sexto encontro que ocorreu em 18122012 perguntei aos parceiros

se eles tinham acessado o grupo virtual de modelagem no Facebook e consequentemente

visto minha mensagem sobre o acesso agraves informaccedilotildees contidas na mateacuteria da revista Caacutelculo

mas eles responderam que natildeo que natildeo tinham acessado o grupo no Facebook e

consequentemente natildeo haviam sido informados sobre a ldquotalrdquo nova informaccedilatildeo Pois bem

decidi compartilhar naquele momento as novas informaccedilotildees

Com o auxiacutelio de um computador portaacutetil acessamos ainda durante o sexto

encontro o site httpbwsimulatorniddknihgov e comeccedilamos nossa anaacutelise sobre o modelo

que acabara de ser imerso na atividade de modelagem Estaria entatildeo constituiacutedo o conjunto

1198601198723 como uniatildeo dos instrumentos que permeavam a atividade anteriormente a esse

momento adicionando ao conjunto 1198601198722 esse novo instrumento Sendo assim a caixa-cinza 3

resultante de um terceiro niacutevel da transformaccedilatildeo qualitativa do objeto da atividade ndash 1198621198753 ndash

pocircde ser visualizada tomando-se por base as seguintes caracteriacutesticas resultado do

conhecimento produzido pelo acesso e interaccedilatildeo com as informaccedilotildees contidas em 1198601198723 sobre

1198621198752 As accedilotildees que foram realizadas nesse sentido aconteceram na maioria das vezes no sexto

encontro do GEPMM

No sexto encontro realizamos algumas simulaccedilotildees com o auxiacutelio do bwsimulator

nessas interaccedilotildees sujeito-instrumento-objeto esperaacutevamos obter respostas para nossas

inquietaccedilotildees no que tange agrave problemaacutetica questatildeo por noacutes estudada modelada e ateacute entatildeo

tomada sob a forma de 1198621198753 Nesse sentido Kaptelinin (1996) pontua que uma das mais

200

importantes funccedilotildees dos instrumentos computacionais na estrutura da atividade humana

parece ser a extensatildeo da estrutura cognitiva referida pela Teoria da Atividade como o

Plano de Accedilotildees Internas (PAI) da atividade natildeo apenas como acreditam alguns autores que a

mais importante funccedilatildeo dos instrumentos computacionais seria a extensatildeo da memoacuteria nesse

sentido a principal funccedilatildeo dos instrumentos computacionais nas atividades humanas

consistiria na funccedilatildeo de simulaccedilatildeo170

de resultados potenciais de eventos possiacuteveis antes

mesmo de realizar accedilotildees na realidade

Sendo assim as interaccedilotildees tecnomediadas pelos artefatos computacionais

corresponderiam a um salto cognitivo estrutural da proacutepria atividade humana Poreacutem como

avaliar esse salto sob o ponto de vista de anaacutelises pela Teoria da Atividade De certo eacute

necessaacuteria uma anaacutelise para aleacutem dos instrumentos para aleacutem de tentar explicitar o papel

deles em uma dada atividade humana Eacute necessaacuterio antes de qualquer coisa analisar onde

por quem para quecirc e como satildeo usadas as tecnologias computacionais em atividades humanas

Anaacutelises que focam o(s) papel(eacuteis) de softwares ou outras tecnologias computacionais em

atividades humanas parecem desconsiderar o fato de que a natureza em si natildeo constroacutei

softwares nem quaisquer outros instrumentos ciberneacuteticos todos eles satildeo produtos dos

homens da atividade humana e constituem energia cientiacutefica ou inovadora materializada

Sendo assim o software somente existe e deve ser considerado como um artefato que medeia

as interaccedilotildees ou as possibilidades delas entre os sujeitos e o objeto da atividade analisada

Com isso uma anaacutelise que aqui se faz oportuna estaria baseada nas interaccedilotildees

entre os sujeitos mediadas pelo artefato Human Weight Simulator (HWS171

) e para aleacutem de

analisar as formas de interaccedilatildeo explicitar as possibilidades geradas por tais interaccedilotildees no que

tange ao movimento da proacutepria atividade de modelagem em questatildeo

O acesso ao site httpbwsimulatorniddknihgov somente foi possibilitado

mediante acesso agrave revista Caacutelculo pertencente ao conjunto 1198601198722 Natildeo somente o acesso mas

principalmente as interaccedilotildees entre sujeito e discursos nela contidos Constituiu-se dessa

forma o conjunto 1198601198723 Os sujeitos passaram entatildeo a interagir com os instrumentos de 1198601198723

realizando accedilotildees mediadas por seus elementos com vistas a modificar 1198621198752 e gerar 1198621198753 A

seguir explicitarei algumas das interaccedilotildees-chave que podem ser ressaltadas em tal processo

170

Nesse sentido Skovsmose (2007) enfatiza que ldquoconstruccedilotildees tecnoloacutegicas ainda natildeo realizadas (isto eacute

situaccedilotildees hipoteacuteticas) podem ser especificadas em detalhes pela modelagem matemaacutetica e o raciociacutenio hipoteacutetico

pode se tornar um instrumento essencial para indicar as implicaccedilotildeesrdquo (p 160) 171

httpbwsimulatorniddknihgov

201

a) Interaccedilatildeo dos sujeitos com os instrumentos de 1198601198723 mediante teacutecnicas de

leitura e manipulaccedilatildeo do software

b) interaccedilotildees tecnomediadas pelo software geradas por simulaccedilotildees

c) interaccedilotildees entre os sujeitos gerando novas conjecturas sobre o objeto 1198621198752 o

modificando

Com base em tais interaccedilotildees foram possibilitadas as seguintes accedilotildees

subordinadas ao sentido de transformaccedilatildeo de 1198621198752 em 1198621198753

a) anaacutelise criacutetica das limitaccedilotildees do modelo tecnoloacutegico e ao mesmo tempo edo-

embasado bwsimulator e idealizaccedilotildees no sentido de melhorar tal modelo

construindo outro modelo tecnoloacutegico e ao mesmo tempo fuzzy-embasado

b) necessidade de entendimento do que estaacute dentro da caixa-preta bwsimulator

No que tange agrave anaacutelise criacutetica do modelo bwsimulator ressaltamos a

categorizaccedilatildeo de energia de entrada mediante o somatoacuterio de calorias a serem ingeridas pela

pessoa por dia e os exerciacutecios fiacutesicos que satildeo definidos sem levar em conta a modalidade e o

tempo de atividade Com base em tal anaacutelise idealizamos um modelo que categorizasse a

energia de entrada com base em alimentos a serem ingeridos e suas respectivas calorias e que

os exerciacutecios fiacutesicos fossem assinalados mediante modalidade e tempo diaacuterio Para tal

mediante interaccedilotildees entre os sujeitos da atividade trouxemos para a cena alguns discursos

entre eles o discurso do Caacutelculo o discurso da Nutriccedilatildeo o discurso da Educaccedilatildeo Fiacutesica e o

discurso da Teoria Fuzzy A inserccedilatildeo das ldquovozesrdquo da professora de Nutriccedilatildeo da UFOP via

Facebook e das vaacuterias aacutereas e conhecimentos cientiacuteficos foram demandadas para a execuccedilatildeo

das accedilotildees estrateacutegicas com vistas agrave abertura da caixa-preta do ldquopeso corporal idealrdquo

Tiacutenhamos assim uma nova configuraccedilatildeo uma nova estrutura de atividade

possibilitada pela e na multivocalidade discursiva que nela ecoava sob o aspecto de um Plano

de ldquoAccedilotildeesrdquo Internas (PAI) da proacutepria atividade Tal plano seraacute discutido com maiores

riquezas de detalhes mais adiante no presente texto

Finalmente orientados pela abertura da caixa-preta bwsimulator acessamos o

artigo disponibilizado em httpbwsimulatorniddknihgov intitulado Dynamic mathematical

model of body weight change in adults Estaria entatildeo constituiacutedo o conjunto 1198601198724 como

uniatildeo dos instrumentos que permeavam a atividade anterior a esse momento adicionando ao

202

conjunto 1198601198723 esse novo instrumento Sendo assim a caixa-cinza 4 resultante de um quarto

niacutevel da transformaccedilatildeo qualitativa do objeto da atividade ndash 1198621198754 ndash pocircde ser visualizada

tomando-se por base as seguintes caracteriacutesticas resultado do conhecimento produzido pelo

acesso e interaccedilatildeo com as informaccedilotildees contidas em 1198601198724 sobre 1198621198753 As accedilotildees que foram

realizadas nesse sentido aconteceram na maioria das vezes nos seacutetimo e oitavo encontros do

GEPMM e em outros momentos que seratildeo expostos mais adiante nesta tese

Nessa parte da anaacutelise da atividade em questatildeo podemos tomar os conteuacutedos do

Caacutelculo em accedilatildeo instrumentos indispensaacuteveis para a realizaccedilatildeo das accedilotildees de abertura da 1198621198753

e consequentemente geraccedilatildeo da 1198621198754 Com isso consideramos tais instrumentos necessaacuterios

para a realizaccedilatildeo de accedilotildees e interaccedilotildees em 1198621198753 com vistas agraves transformaccedilotildees qualitativas no

objeto da atividade traccedilando um movimento uma trajetoacuteria Uma observaccedilatildeo que se faz

necessaacuteria eacute que um instrumento em si natildeo produz alteraccedilotildees na trajetoacuteria de uma atividade

mas somente ao considerarmos o instrumento em accedilatildeo eacute que podemos perceber o movimento

possibilitado por ele Nesse sentido as atividades de Modelagem Matemaacutetica se tornam

instrumentos para possibilitar abertura de caixas-pretas devido agrave consideraccedilatildeo primaacuteria que

consiste em tomar a matemaacutetica em accedilatildeo em tais atividades ndash matemaacutetica como um

instrumento para o entendimentoresoluccedilatildeo de questotildees-problema natildeo matemaacuteticas

Dessa forma uma pergunta essencial deve ser feita e consequentemente

respondida nesta parte da anaacutelise quais os limites e as possibilidades de accedilotildees foram

estabelecidos nas e pelas interaccedilotildees mediadas por tal instrumento ndash o Caacutelculo em accedilatildeo

Sendo assim buscaremos respostas para tal questatildeo considerando o Caacutelculo em

accedilatildeo sob dois olhares como instrumento que possibilita a abertura de caixas-pretas e como

instrumento que limita ou dificulta a abertura de caixas-pretas Mas como poderia um

mesmo instrumento possibilitar e limitar aberturas de caixas-pretas Aqui estaacute a

demonstraccedilatildeo de que eacute preciso ir aleacutem de analisar o papel de um instrumento em uma

atividade e ampliar o espectro de anaacutelise para as interaccedilotildees mediadas por tais instrumentos

Cabe ressaltar que quando fazemos isso estamos assumindo um foco de anaacutelise que busca

respostas para os seguintes questionamentos quem quando por que e como usou o

instrumento na atividade

Focando a atividade de modelagem analisada nesta parte da tese seria

interessante responder os seguintes questionamentos no que se refere mais especificamente

aos instrumentos de caacutelculo em accedilatildeo utilizados pelos sujeitos da atividade nas accedilotildees que

tangem o entendimentoapropriaccedilatildeo dos tambeacutem instrumentos da atividade bwsimulator e o

203

artigo intitulado Dynamic mathematical model of body weight change in adults Valem

ressaltar que bwsimulator e o artigo podem ser considerados caixas-pretas a serem abertas

modificadas e ou fechadas na atividade de modelagem analisada nesta parte da tese que

dessa forma se configura como uma atividade de produccedilatildeo de conhecimentos e saberes

As Tecnologias da Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo (TICs) possibilitaram o acesso agrave

ciecircncia mediante acesso ao simulador e consequentemente ao artigo (texto cientiacutefico) que

expotildee um modelo matemaacutetico para representar as mudanccedilas de peso corporal em adultos

Contudo tal acesso se restringe a uma ciecircncia visualmente pronta e acabada e natildeo a uma

ciecircncia em construccedilatildeo Para entendermos esses instrumentos seria entatildeo necessaacuterio tomaacute-los

como produtos da construccedilatildeo humana orientada por finalidades e demandas especiacuteficas da

proacutepria sociedade natildeo os considerando assim como produtos prontos mas sobretudo como

produtos em contiacutenua construccedilatildeo e reconstruccedilatildeo

Se por um lado o acesso agrave ciecircncia pronta foi possibilitado mediante a caixa-preta

do simulador disponiacutevel a todos por meio do site httpbwsimulatorniddknihgov (antes

teriacuteamos apenas um artigo repleto de matemaacutetica e paracircmetros bem distante da realidade dos

usuaacuterios dos seres da sociedade pacientes educadores fiacutesicos nutricionistas apoacutes o advento

da ciberneacutetica essa ciecircncia estaacute acessiacutevel) pode ser considerado uma maravilha por outro

lado o acesso agrave ciecircncia em construccedilatildeo se tornou mais limitado

Nesse sentido configurado diante de noacutes estaria uma caixa-preta (artigo

cientiacutefico) dentro da outra (bwsimulator) ndash sobrepostas e inter-relacionadas Sendo assim

podemos perceber que enquanto mais prospera a ciecircncia e a tecnologia mais opaca e obscura

elas podem se tornar A dificuldade em se abrir as caixas-pretas pode produzir ldquohorroresrdquo no

que se refere ao entendimento da ciecircncia em construccedilatildeo pois ldquoquanto mais complexo o

processo de identificar consequecircncias de possiacuteveis accedilotildees tecnoloacutegicas ocorrerem mais temos

que confiar no aparato da razatildeo e mais circular eacute o processordquo (SKOVSMOSE 2007 p 162)

Dessa forma podemos considerar que aumentou o acesso agrave ciecircncia e ao mesmo tempo

limitou a abertura de caixas-pretas e consequentemente a tomada de consciecircncia criacutetica e

controle da proacutepria atividade por parte dos sujeitos

No que se refere agrave abertura da caixa-preta do artigo (texto cientiacutefico) intitulado

Dynamic mathematical model of body weight change in adults deparamo-nos com outras

caixas-pretas que traziam lsquoagrave cenarsquo enunciados172

oriundos do discurso da fisiologia humana

172

Para Bakhtin o enunciado eacute o produto de uma enunciaccedilatildeo ou de um contexto histoacuterico social cultural etc Eacute

preciso observar que as relaccedilotildees do discurso com a enunciaccedilatildeo com o contexto soacutecio-histoacuterico ou com o ldquooutrordquo

satildeo para Bakhtin relaccedilotildees entre discursos-enunciados Por essa razatildeo utiliza os termos intertextualidade para se

204

do discurso do Caacutelculo em accedilatildeo e do discurso cientiacutefico Sendo assim o texto eacute de fato um

tecido de muitas vozes ou de muitos discursos ldquoque se entrecruzam se completam

respondem umas agraves outras ou polemizam entre si no interior do textordquo (BARROS 2007 p

31 grifo do autor) Ainda para Bakhtin o sentido do texto e dos seus discursos internos

depende da relaccedilatildeo entre os sujeitos que se constroacutei na produccedilatildeo e na interpretaccedilatildeo dos

textos

Com isso podemos considerar o caacutelculo em accedilatildeo em duas ldquofrentesrdquo analiacuteticas no

que se refere agrave abertura da caixa-preta amparada pelono artigo cientiacutefico referido

anteriormente de autoria de Kevin Hall e seus colaboradores mais especificamente ao

apecircndice do artigo que suporta os modelos matemaacuteticos que representam o fenocircmeno das

mudanccedilas de peso corporal em adultos humanos De um lado estaria configurado um caacutelculo

em accedilatildeo como instrumento ndash linguagem usada na produccedilatildeo do texto cujos sujeitos da accedilatildeo

coincidem com os sujeitos autores do texto De outro lado estaria configurado um caacutelculo em

accedilatildeo como instrumento indispensaacutevel agrave abertura da caixa-preta do proacuteprio texto cujos

sujeitos da accedilatildeo satildeo os integrantes do GEPMM e as realizam com vistas agrave interpretaccedilatildeo do

proacuteprio texto Para interpretar o texto foi entatildeo necessaacuterio avaliar a sua produccedilatildeo

Isso posto o caacutelculo em accedilatildeo foi necessariamente ldquocolocado em cenardquo a fim de

avaliar como o Caacutelculo em accedilatildeo operava ldquopor traacutes da cenardquo Nesse sentido o aparato da

razatildeo (Caacutelculo em accedilatildeo) foi utilizado por noacutes integrantes do GEPMM como um instrumento

de avaliaccedilatildeo e criacutetica do aparato da razatildeo impresso sob a forma de linguagem escrita no

artigo referido anteriormente Skovsmose (2007 p 162 grifos meus) pontua que ldquoo aparato

da razatildeo torna-se essencial para construir os instrumentos de avaliaccedilatildeo das consequecircncias das

accedilotildees sociotecnoloacutegicas criadas pelo proacuteprio aparato da razatildeordquo

As avaliaccedilotildees e criacuteticas tecidas por noacutes integrantes do GEPMM ao conteuacutedo do

artigo (texto) assim como ao software bwsimulator caracterizavam-se na maioria das vezes

pelas sugestotildees feitas por Skovsmose (2007) quem construiu os modelos Que aspectos da

realidade estatildeo neles incluiacutedos Quem tem acesso aos modelos Os modelos satildeo

ldquoconfiaacuteveisrdquo Quem estaacute apto a controlaacute-los Levando em conta que se tais questotildees natildeo

forem adequadamente esclarecidas valores tradicionais da democracia podem ser corroiacutedos

Na tentativa de responder a tais questionamentos podemos pontuar os seguintes

esclarecimentos173

referir aos ldquodiaacutelogos entre discursosrdquo e dialogismo para se referir aos ldquodiaacutelogos entre interlocutoresrdquo (BARROS

2007) 173

Seratildeo mais bem explicitados mais adiante neste texto

205

a) os modelos matemaacuteticos (edos) suportados pelo referido artigo e o modelo

tecnoloacutegico bwsimulator foram construiacutedos pela equipe do pesquisador Kevin D

Hall

b) por um lado acreditamos que o modelo bwsimulator estaacute disponiacutevel e acessiacutevel

a todos (via internet) sob o ponto de vista de uso e possibilidades de simulaccedilotildees

por outro lado nos modelos matemaacuteticos (edos) mesmo estando disponiacuteveis a

todos haacute uma possiacutevel restriccedilatildeo em termos da acessibilidade jaacute que nem todos

tem acesso agrave linguagem matemaacutetica em uso em accedilatildeo (edo)

c) acreditamos que mais pessoas estariam aptas a controlar o bwsimulator do que

controlar as edos contudo o coacutedigo do software bwsimulator natildeo eacute disponiacutevel a

todos somente a grupos de pesquisa enquanto as edos satildeo disponiacuteveis a todos via

internet

d) quanto agrave confiabilidade nos modelos acreditamos que o Caacutelculo em accedilatildeo

utilizado no empreendimento de construccedilatildeo dos modelos (edos e bwsimulator)

limita ou dificulta avaliaccedilotildees e consequentes criacuteticas a tais modelos tornando

difiacutecil a tarefa de confiar ou natildeo neles Como o coacutedigo-fonte do software

bwsimulator ainda natildeo eacute disponiacutevel a todos (apenas a grupos de pesquisa) sob o

ponto de vista da democracia e do compartilhamento de saberes percebemos uma

iminente corrosatildeo

e) os aspectos da realidade que estatildeo inclusos nos modelos matemaacuteticos (edos) e

no modelo tecnoloacutegico (bwsimulator) natildeo satildeo os mesmos apesar de o modelo

bwsimulator estar baseado nas edos que estatildeo configuradas no artigo (texto)

Contudo nem todas edos foram usadas e mais do que isso foi necessaacuterio assumir

ldquomenosrdquo aspectos da realidade nas edos do que no bwsimulator

Sendo assim a abertura de 1198621198754 somente pocircde ocorrer mediante o imprescindiacutevel

auxiacutelio do caacutelculo em accedilatildeo que inclui as EDOs em accedilatildeo Por um lado sob o uso dos sujeitos

responsaacuteveis pela construccedilatildeo dos modelos anteriormente citados os pesquisadores liderados

por Kevin Hall o caacutelculo em accedilatildeo parece ser instrumento que pode limitar ou dificultar a

abertura da caixa-preta 1198621198754 mas por outro lado sob o uso dos sujeitos do GEPMM parece

ser um instrumento que pode ampliar as possibilidades de tal abertura

No entanto farei uma anaacutelise das interaccedilotildees que se fizeram necessaacuterias entre as

quais a finalidade estava orientada pela abertura de 1198621198754 Conforme exposto anteriormente

206

ateacute o final do oitavo encontro a certeza que tiacutenhamos eacute de que ainda havia uma interrogaccedilatildeo

quanto ao entendimento de uma equaccedilatildeo no referido artigo de onde o(s) autor(es)

ldquotirou(raram)rdquo a equaccedilatildeo (10) Pensaacutevamos que a tarefa de entendimento do processo de

construccedilatildeo da referida equaccedilatildeo era de simples entendimento mas estaacutevamos enganados

Teacutecnicas de leitura habilidades matemaacuteticas (edo) conhecimentos de Nutriccedilatildeo e

Fisiologia foram chamados ldquoagrave cenardquo para possibilitar a abertura de 1198621198754 mas ainda foi pouco

Permanecia uma dificuldade uma limitaccedilatildeo do processo um gap algo estava ldquoescondidordquo

natildeo conseguiacuteamos enxergar sozinhos Ao chegar em casa depois do oitavo encontro tentei de

todas as formas que me eram possiacuteveis decifrar o que estava ldquoescondidordquo no referido texto

entre as equaccedilotildees (9) e (10) mas meus esforccedilos foram em vatildeo Nisso tornou-se necessaacuterio o

estabelecimento de novas parcerias ampliaccedilatildeo da rede de aprendizagem mediante o chamado

para compor a ldquocenardquo aos autores do referido texto e do bwsimulator

Tomei a atitude174

de enviar um e-mail para Kevin Hall pedindo maiores

esclarecimentos quanto agrave equaccedilatildeo (10) No mesmo dia obtive uma resposta do autor tambeacutem

por e-mail enfatizando que a equaccedilatildeo teria surgido da referecircncia [20] contida no artigo e me

enviou o artigo em pdf Li o artigo todo percebi que a equaccedilatildeo (13) do artigo [20] enviado

por Kevin Hall era parecida com a equaccedilatildeo (10) mas que havia sutis diferenccedilas que me

direcionavam ao natildeo entendimento dos ldquoporquecircsrdquo do que estaria por traacutes daquele amontoado

de equaccedilotildees e afirmativas Decidi entatildeo enviar um novo e-mail para Kevin questionando-o

sobre o quecirc pra mim ainda estava ldquoescondidordquo no texto limitando o entendimento Kevin

enviou-me um manuscrito com um processo de derivaccedilatildeo e me disse que ao ler aquele

manuscrito tudo estaria explicado Imediatamente iniciei a leitura e depois de ter lido

percebi que natildeo estava tudo explicado na verdade as duacutevidas haviam se intensificado

Para obter a equaccedilatildeo (10) Kevin Hall e seus colaboradores supuseram que a

funccedilatildeo de Forbes dada por 120572 equiv119889119871

119889119865=

119862

119865 em que 119862 = 104 119896119892 eacute o paracircmetro de Forbes era

constante Vale ressaltar que 119865 eacute a massa gorda (fat mass) e 119871 eacute a massa magra (lean mass)

Se 120572 eacute constante isso implica que 119889119871 = 120572 119889119865 e consequentemente 119871 minus 1198710 = 120572 (119865 minus 1198650)

Tudo isso foi usado para obter a equaccedilatildeo (10) Soacute que ao tomar 120572 constante um valor inicial

de massa gorda 1198650 precisamente foi fixado 120572 =119862

1198650 Nisso 119871 minus 1198710 =

119862

1198650 (119865 minus 1198650) o que

implica 119871 =119862

1198650 (119865 minus 1198650) + 1198710 Contudo logo em seguida agrave equaccedilatildeo (10) no texto os autores

afirmam que ldquopara modestas mudanccedilas de peso 120572 pode ser considerado aproximadamente

174

Atitude gerada pela necessidade apontada entender a equaccedilatildeo (10)

207

constante com 119865 fixado em seu valor inicial 1198650rdquo175

Isso jaacute tinha sido levado em conta para

obter a equaccedilatildeo (10)

Temos aqui um problema como 120572(119905) =119862

119865(119905) jaacute foi tomada como constante na

equaccedilatildeo (10) a funccedilatildeo 119865(119905) precisou necessariamente ser assumida como constante Isso

acaba por extinguir a meu ver a utilidade do modelo Ora se o objetivo eacute estimar mudanccedilas

no peso corporal com o tempo tomado como sendo a soma aritmeacutetica das massas gorda e

magra que se relacionam mediante a funccedilatildeo 120572 que por sua vez depende do tempo ao tomar

a funccedilatildeo 120572 como constante implica natildeo haver qualquer mudanccedila na massa gorda ndash 119865(119905) e

consequentemente na massa magra ndash 119871(119905) que tambeacutem precisa necessariamente ser

assumida como constante Sendo assim sem variaccedilotildees de massas gorda e magra o peso

permanece o mesmo sem alteraccedilotildees

Com base nisso questionei ao Kevin Hall novamente via e-mail sobre tal

hipoacutetese ter sido considerada no artigo Ele respondeu que isso natildeo atrapalha em nada os

resultados pois o modelo implementado no bwsimulator natildeo assume 120572 constante (apesar de a

EDO (10) assumir) E aponta ainda que tal ldquolinearizaccedilatildeordquo foi feita principalmente para

escrever a EDO de primeira ordem (10) de maneira linear a intenccedilatildeo do grupo dele natildeo foi

ldquoderivarrdquo nem implementar no bwsimulator tal EDO mas que tal modelo ldquocorrespondiardquo a

uma EDO de ordem superior natildeo linear obtida pelo grupo dele no passado

Naquele momento o artigo estava mais claro as equaccedilotildees faziam mais sentido e

todos esses entendimentos precisavam ser compartilhados com os demais sujeitos do grupo

Uma importante observaccedilatildeo que se faz necessaacuteria eacute a de que sem internet sem e-mail os

autores do texto dificilmente poderiam atuar em nossa atividade da maneira que atuaram Eacute

fato que ao acessarmos o texto (artigo) e acessarmos o bwsimulator jaacute haviacuteamos feito o uso

da internet como instrumento que permeou a atividade fazendo com que seus autores

atuassem em nossa atividade por meio das diversas vozes impressas sob a forma de linguagem

escrita (que inclui a linguagem matemaacutetica) e sob a forma da linguagem tecnoloacutegica impressa

no software mas de uma forma qualitativamente diferente

O instrumento e-mail de nada teria auxiliado em nossa atividade se o autor Kevin

Hall natildeo tivesse aceitado participar na situaccedilatildeo de ator social de toda a interaccedilatildeo O modelo

de sociedade em rede permite possibilita o compartilhamento de conhecimentos e saberes

Mas isso natildeo garante necessariamente que tal compartilhamento ocorra Possuir acessar um

175

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoFor modest weight changes 120572 can be considered to be approximately

constant with 119865 fixed at its initial value 1198650rdquo (HALL et al 2011 p 4)

208

instrumento de comunicaccedilatildeo como o e-mail portanto natildeo assegura papel algum em uma

atividade Apenas abre um leque de possibilidades de accedilatildeo e interaccedilatildeo entre seres humanos

Podendo se tornar um artefato mediador de relaccedilotildees entre sujeitos e objetos de uma atividade

Outro ponto-chave considerado na presente anaacutelise toma por base uma informaccedilatildeo

fornecida por e-mail enviado a mim por Kevin Hall que consiste na seguinte afirmaccedilatildeo o

modelo implementado no bwsimulator natildeo assume 120572 constante No momento que li essa

afirmaccedilatildeo no e-mail imediatamente me perguntei ldquoseraacute mesmo que no software isso natildeo eacute

assumidordquo Ou seja ao processar uma informaccedilatildeo fazemos julgamentos quanto a sua

veracidade Em seguida pensei que de fato eles natildeo devem ter usado pois caso contraacuterio as

simulaccedilotildees natildeo se tornariam possiacuteveis De toda forma desejava confirmar isso pois caso

contraacuterio teriacuteamos que ldquoconfiarrdquo no que estava por traacutes do software e isso definitivamente

natildeo era nosso objetivo Mas como poderiacuteamos ter acesso ao que estaacute atraacutes da ldquocenardquo

promovida pelo software As simulaccedilotildees possibilitadas por tal instrumento estariam

simulando quais realidades

Novamente enviei um e-mail para Kevin Hall perguntando sobre o software em

termos de acesso aos coacutedigos internos agrave programaccedilatildeo aos recursos que estariam por traacutes da

interface homem-maacutequina estabelecidas no bwsimulator Ele me encaminhou ao setor de

transferecircncia de tecnologia para que eu pudesse obter mais detalhes sobre o acesso aos

coacutedigos O acesso aos coacutedigos somente nos foi dado mediante assinatura de termo de

compromisso assumindo-os para fins de ensino e pesquisa e sobretudo mediante assinatura

da instituiccedilatildeo a qual sou vinculada ndash CEFET-MG Sendo assim somente pesquisadores

podem ter acesso aos coacutedigos Natildeo se trata de um software livre nem de coacutedigo aberto Nesse

sentido trago uma reflexatildeo de Castells (2005) sobre o direito de propriedade e a democracia

da comunicaccedilatildeo como segue

Aderindo agrave democracia da comunicaccedilatildeo concorda-se com a democracia directa algo

que nenhum estado aceitou ao longo da histoacuteria Admitir o debate para redefinir os

direitos de propriedade acerta em cheio no coraccedilatildeo da legitimidade capitalista

Aceitar que os utilizadores satildeo produtores de tecnologia desafia o poder do

especialista Entatildeo uma poliacutetica inovadora mas pragmaacutetica teraacute de encontrar o

meio caminho entre o que eacute social e politicamente exequiacutevel em cada contexto e a

promoccedilatildeo das condiccedilotildees culturais e organizacionais para a criatividade na qual a

inovaccedilatildeo o poder a riqueza e a cultura se alicerccedilam na sociedade em rede

(CASTELLS 2005 p 29 grifo meu)

Nesse sentido parece que haacute uma iminente corrosatildeo do que poderia ser um

processo democraacutetico de comunicaccedilatildeo No que se refere aos conhecimentos impressos no

artigo natildeo parece ter problema algum o estabelecimento de uma comunicaccedilatildeo aparentemente

209

democraacutetica mas quando a propriedade intelectual dos desenvolvedores do software estava

sendo posta em risco aiacute a comunicaccedilatildeo democraacutetica se tornou fluida corroiacuteda

As intenccedilotildees do grupo liderado por Kevin Hall satildeo claras a difusatildeo do

conhecimento tecnoloacutegico somente se daacute em niacutevel de utilizaccedilatildeo (operaccedilatildeo) em vez de

produccedilatildeo (desenvolvimento) Os resultados das pesquisas realizadas por eles estatildeo

disponiacuteveis a todos por meio da internet sob a forma do bwsimulator O que serviria de base

para os coacutedigos tambeacutem estaacute disponiacutevel sob a forma do artigo (texto) Poreacutem a

disponibilizaccedilatildeo do artigo e o que o ampara natildeo parece ser considerada transferecircncia de

tecnologia ao contraacuterio do que ampara o software Nisso acordos internacionais que visam a

(re)definiccedilatildeo dos direitos de propriedade intelectual tornam-se ldquofundamentais para a

preservaccedilatildeo da inovaccedilatildeo e para a dinamizaccedilatildeo da criatividade das quais depende o progresso

humano antes e agorardquo (CASTELLS 2005 p 28)

Skovsmose (2007 p 186) denomina por construtores certo grupo de pessoas que

estaacute desenvolvendo e mantendo um aparato da razatildeo Para o autor tudo que eacute ensinado na

educaccedilatildeo superior deveria enfrentar o paradoxo da razatildeo para que os estudantes conheccedilam a

ambivalecircncia incluiacuteda no aparato da razatildeo O autor afirma que ldquoa matemaacutetica pode ser

disponiacutevel em pacotes que exigem capacidade para serem usados embora os detalhes sobre

como o pacote funciona podem natildeo ser entendidos pelas pessoas que operam com elesrdquo

(SKOVSMOSE 2007 p 187) Tais pacotes poderiam e muitas vezes trazem a Matemaacutetica

fora da superfiacutecie da situaccedilatildeo uma Matemaacutetica impliacutecita ldquoescondidardquo Em tais situaccedilotildees o

grupo de pessoas que opera tais pacotes eacute denominado por operadores que estatildeo tambeacutem

operando com matemaacutetica em accedilatildeo

Nesse sentido podemos perceber um niacutetido alinhamento entre a estrateacutegia de

abertura de caixas-pretas como um objetivo geral para a educaccedilatildeo matemaacutetica superior que

toma como objeto a formaccedilatildeo de construtores em vez de meros operadores Mais

especificamente eacute preciso promover um espaccedilo formativo em que natildeo se possa admitir a

formaccedilatildeo em Engenharia de operadores pois caso isso permaneccedila o desenvolvimento e a

manutenccedilatildeo dos aparatos da razatildeo continuaratildeo nas matildeos de poucos frequentemente cidadatildeos

de paiacuteses ricos e poderosos que na situaccedilatildeo de detentores do conhecimento e da tecnologia

tendem a colaborar com uma nova forma de colonizaccedilatildeo

Com isso pretende-se instaurar um espaccedilo criacutetico-formativo que num primeiro

momento pode ateacute parecer ilusatildeo ou utopia devido agrave dificuldade de entendimento de tantas

caixas-pretas amontoadas sobre e entre si mesmas Contudo ao se considerar as incertezas

proporcionadas pelos ldquodesgovernadosrdquo aparatos da razatildeo que proveem recursos para mais

210

desenvolvimento tecnoloacutegico torna-se necessaacuterio promover experiecircncias formativas no

sentido de fomentar a elaboraccedilatildeo de inovadores instrumentos de criacutetica descoberta e

reproduccedilatildeo praacutetica amparados pelos subsiacutedios fornecidos pelos aparatos da razatildeo

ldquoanterioresrdquo

Dessa forma o objeto da atividade aqui analisada como constituinte de um

espaccedilo formativo mais amplo - que se destina agrave formaccedilatildeo dos profissionais da Engenharia-

transforma-se gradativamente na medida em que as accedilotildees orientadas pelas e nas

transformaccedilotildees qualitativas da caixa-preta do ldquopeso corporal idealrdquo que configurou como

questatildeo-problema escolhida pelos sujeitos engajados no GEPMM a ser

entendidasolucionada ndash ldquoclareadardquo ndash ou seja qualitativamente modificada eou

transformada e portanto expandida

54 Quarta modalidade ndash Multivocalidade e agency evidenciadas pelas interaccedilotildees

tecnomediadas em atividades de Modelagem Matemaacutetica idealizaccedilotildees desencadeadoras

de aprendizagens potencialmente expansivas em um contexto de formaccedilatildeo em

Engenharias

A matemaacutetica constitui sem duacutevida tatildeo-somente um momento da processatildeo Por si

mesma ela ainda natildeo diz o que possibilita a captura da forma na concretude do

existente A essecircncia natildeo eacute o uacuteltimo fundamento Mas se a matematizaccedilatildeo natildeo eacute a

palavra final do ser nem a uacuteltima palavra sobre o ser ela nos abre em todo caso uma

regiatildeo de transparecircncia com a qual o espiacuterito humano estaacute como que naturalmente

harmonizado (LADRIEgraveRE 1978 p 165)

Configurando-se como uma das bases que constituem a Teoria da Atividade de

Engestroumlm (1987) as ideias do teoacuterico Mikhail Bakhtin tendo desenvolvido suas

investigaccedilotildees na aacuterea de filosofia da linguagem cujas origens podem ser encontradas no

marxismo fornecem a noacutes os subsiacutedios conceituais para dar conta de analisar as interaccedilotildees

que podem ser constituidoras de idealizaccedilotildees de aprendizagem em movimento de

aprendizagem expansiva

O conceito de multivocalidade tambeacutem atribuiacutedo a Bakhtin aplicado na presente

pesquisa como base analiacutetica para aprendizagens expansivas configura-se como muacuteltiplas

vozes podendo ser caracterizadas como contraditoacuterias e complementares dos vaacuterios grupos e

estratos que constituem as interaccedilotildees no sistema de atividade em anaacutelise que inclui as vozes e

gecircneros natildeo acadecircmicos de pessoas comuns constituindo argumentaccedilotildees que englobam

diferentes tipos de discurso e linguagem (BARROS 2007)

211

As interaccedilotildees podem ser caracterizadas por accedilotildees realizadas entre os sujeitos e o

objeto da atividade formativa de Modelagem Matemaacutetica aqui analisada por meio dos

artefatos mediadores que incluem as ferramentas e os signos culturais Segundo Bakhtin

(2010) o agir humano soacute se realiza mediante a interaccedilatildeo e o dizer natildeo pode ser considerado

independente do agir As interaccedilotildees verbais para Bakhtin (2010) constituem as mais variadas

formas de enunciaccedilatildeo impregnadas pelas ideologias que permeiam os fenocircmenos sociais

dando base a situaccedilotildees concretas que possibilitam os atos de fala As interaccedilotildees verbais natildeo se

restringem aos diaacutelogos que constituem claramente uma das formas mais importantes de

interaccedilatildeo verbal contudo pode-se compreender a palavra ldquodiaacutelogordquo num sentido mais amplo

isto eacute natildeo apenas como a comunicaccedilatildeo em voz alta de pessoas face a face mas toda

comunicaccedilatildeo verbal de qualquer tipo que seja como por exemplo um ato de fala impresso

em um livro ou em uma mensagem escrita em um e-mail

A tecnomediaccedilatildeo eacute entendida neste texto como sendo as interaccedilotildees mediadas por

artefatos tecnoloacutegicos que incluem as mais variadas ferramentas ou suportes tecnoloacutegicos

tais como a proacutepria Matemaacutetica e os recursos ciberneacuteticos aleacutem de englobar diversos suportes

de mediaccedilatildeo tais como a linguagem transmitida sob a forma oral escrita e por gestos A

linguagem eacute considerada por Bakhtin (2010) como um fato soacutecio ideoloacutegico e configura como

formas discursivas que veiculam por meio dos atos de fala as mais diferenciadas ideologias

estampadas nos mais diversos tipos significantes de enunciaccedilatildeo de natureza social

configurada como o produto do ato de fala

Com base nesses pressupostos pretendo agora esboccedilar uma anaacutelise das

interaccedilotildees perceptivelmente constituintes eou constituidoras das atividades do GEPMM Para

tal busco no corpus empiacuterico de dados construiacutedos durante a investigaccedilatildeo ndash elaboraccedilatildeo e

implementaccedilatildeo do GEPMM os atos de fala que explicitem a multivocalidade e a agency

evidenciadas naspelas interaccedilotildees dos sujeitos partiacutecipes

Na entrevista final quando questionada o que teria aprendido com a participaccedilatildeo

no GEPMM a professora Clarice pontuou ldquoa matemaacutetica taacute em todo lugarrdquo afirmou que ao

estar mais acostumada com uma Matemaacutetica mais teoacuterica e natildeo ter costume com uma

matemaacutetica em accedilatildeo sua participaccedilatildeo no GEPMM trouxe enriquecimento com relaccedilatildeo a isso

E confirmou ldquopensar o problema matematicamente eu natildeo tinha pensado Pensei agora

pensei no grupordquo Nesse sentido podemos aferir que as interaccedilotildees tecnomediadas ocorridas

no GEPMM possibilitaram uma ampliaccedilatildeo no repertoacuterio da docente Clarice no que diz

respeito agraves idealizaccedilotildeesvisualizaccedilotildees de uma matemaacutetica em accedilatildeo

212

O docente Angel tambeacutem demonstrou transformaccedilotildees em suas ideias mediante as

interaccedilotildees possibilitadas na e pela atividade de modelagem desenvolvida pelo GEPMM Na

entrevista final ele pontuou que natildeo esperava ter visto uma Matemaacutetica tatildeo complexa em um

problema da aacuterea de sauacutede ou seja uma matemaacutetica em accedilatildeo na aacuterea de sauacutede agindo de

forma natildeo superficial Nas palavras dele

Eu tive essa visatildeo mais ampliada da matemaacutetica [] eu imaginava uma matemaacutetica

mais baacutesica neacute mais elementar porque a gente pensa ah o pessoal da sauacutede natildeo

deve ser tatildeo assim aprofundado nas matemaacuteticas pra poder chegar em resultados

tatildeo bacanas [] tinha equaccedilotildees diferenciais tinha vaacuterias teacutecnicas matemaacuteticas

interessantiacutessimas aplicadas com um fim laacute comum

Com isso podemos perceber que o docente Angel tambeacutem parece ter tido uma

ampliaccedilatildeo no repertoacuterio no que diz respeito agraves idealizaccedilotildees que a matemaacutetica em accedilatildeo pode

possibilitar Afirmou ainda nunca ter tido a oportunidade de ver equaccedilotildees diferenciais em

outros contextos nas palavras dele ldquoa gente fica naquele lsquomundinhorsquo ali [] e transita por

ali entatildeo nunca tive curiosidade de procurar alguma matemaacutetica mais avanccedilada em outras

aacutereas entendeurdquo

Para a aluna Taty ter participado do GEPMM foi enriquecedor pelas

possibilidades de discussatildeo em grupo Extraiacutedas das transcriccedilotildees da gravaccedilatildeo da entrevista

final as palavras de Taty nos dizem ldquoA discussatildeo em grupo foi muito produtiva [] e

tambeacutem neacute essa questatildeo da articulaccedilatildeo neacute acho que a gente tem que aprender a trabalhar

porque quando vocecirc tem pessoas pra trabalhar junto com vocecirc em uma coisa as coisas saem

melhoresrdquo

A aluna pontuou ainda que ao participar do grupo pocircde reafirmar sob sua

concepccedilatildeo a importacircncia da atividade de pesquisa Ainda que a participaccedilatildeo da aluna possa

ser considerada incipiente Para ela as pessoas ldquopodem descobrir coisas que ningueacutem

descobriu antesrdquo acredita que nisso consiste ldquoo grande diferencialrdquo porque as pessoas ficam

repetindo muito reproduzindo muito e acabam natildeo percebendo que as inovaccedilotildees surgem

muitas vezes de resultados de pesquisa Durante toda a construccedilatildeo dos dados para a pesquisa

relatada nesta tese percebi que a aluna Taty realmente objetiva ter uma boa formaccedilatildeo para

conseguir ter o diferencial no mercado de trabalho Esse foi na minha visatildeo o principal

motivo do engajamento no GEPMM fazer a diferenccedila no mercado de trabalho A aluna

delimita ainda como um horizonte de ldquoaccedilotildeesrdquo para materializar tal objetivaccedilatildeo um Plano de

Accedilotildees Internas - PAI (KAPTELININ 1996) de sua proacutepria atividade formativa em

Engenharia aprendizagens de Caacutelculo e outros instrumentos matemaacuteticos que estejam aleacutem

213

dos preconizados nos planos e nas ementas das disciplinas de Caacutelculo Nas palavras de Taty

extraiacutedas das transcriccedilotildees do primeiro encontro do GEPMM

As melhores aacutereas da Computaccedilatildeo as que datildeo mais dinheiro cecirc tem que ser bom de

matemaacutetica Entatildeo eu acho um desperdiacutecio a gente ter 500 professores de

Matemaacutetica aqui e ficar na sala de aula vendo nada Adoro gosto muito acho

muito legal mas soacute isso Entendeu Vocecirc pode sair daqui muito mais potente

Com essa fala podemos analisar que apesar de o objeto das atividades

desenvolvidas pelono GEPMM estar orientado pelas questotildees-problema natildeo matemaacuteticas e

pelos estudantes em formaccedilatildeo os motivos que direcionam o engajamento nas atividades satildeo

atribuiacutedos a um sentido pessoal que norteia as accedilotildees dos sujeitos inclusive orienta as decisotildees

de engajamento ou natildeo em atividades Por que a aluna se engajou nas atividades do

GEPMM Porque deseja ter um bom salaacuterio ganhar mais dinheiro Nesse caso um bom

emprego eou muito dinheiro seriam os motivos evidenciados pela aluna em seus atos de fala

Tal objetivo estaacute relacionado a uma necessidade social ser bem-sucedido Para tal ela esboccedila

um Plano de Accedilotildees Internas (PAI) (KAPTELININ 1996) para sua proacutepria atividade

formativa Encontra a possibilidade de participar do GEPMM Percebe que as finalidades satildeo

alinhadas Engaja-se nas atividades do grupo Quando natildeo consegue realizar as atividades ou

accedilotildees relacionadas aos objetivos de ser aprovada nas disciplinas regulares e tambeacutem terminar

o projeto de iniciaccedilatildeo cientiacutefica a aluna reconceitualiza o PAI anulando ou tornando-as

minimizadas em prol de um realinhamento dos objetivos orientados nospelos sistemas de

atividade de formaccedilatildeo em engenharia ao motivo Uma voz do sistema capitalista de produccedilatildeo

estaria dessa forma ecoando na atividade a voz do mercado de trabalho Eacute possiacutevel notar

que tal voz pode ser ouvida nos mais diversos modos de atividade contemporacircneos pois

representa uma ideologia enunciada pelos sujeitos sociais Bakhtin (2010 p 125 grifo do

autor) pontua que ldquoo centro organizador de toda enunciaccedilatildeo de toda expressatildeo natildeo eacute interior

mas exterior estaacute situado no meio social que envolve o indiviacuteduordquo

Baseado nisso podemos enfatizar que uma ideologia que envolve a maioria dos

sujeitos de nossa sociedade que consiste na relaccedilatildeo de desejonecessidade em ser bem--

sucedido ter um bom emprego eou ganhar um bom salaacuterio Nesse sentido Charlot (2013 p

181) pontua ldquoao passo que se fala em sociedade do saber o saber estaacute perdendo o seu valor de

uso para virar soacute valor de trocardquo Esse fato pode encontrar suas origens na proacutepria sociedade

globalizada atual que por natureza incita a concorrecircncia permanente promulgando um

individualismo cada vez mais perceptiacutevel nas relaccedilotildees sociais Nisso residiria uma

214

contradiccedilatildeo fundamental primaacuteria constituinte dos mais variados tipos e modos histoacutericos de

atividades Ter poder ser potente ter um bom emprego e ser bem-sucedido satildeo desejos

baseados em ideologias da proacutepria sociedade capitalista Essa loacutegica da concorrecircncia

portanto pode ser parte das ideologias que ecoam nas vozes dos alunos em formaccedilatildeo em

Engenharia e pode ser considerado ldquoum sintoma de ferida antropoloacutegicardquo (CHARLOT 2013

p 182) Ferida dor e sofrimento podem ser originados por essa ideologia Quando um aluno

natildeo consegue colocar em praacutetica o PAI de sua proacutepria atividade de formaccedilatildeo ou ainda quando

o PAI natildeo eacute eficiente na realidade ele sofre Uma ferida eacute aberta podendo provocar muita

dor Reprovaccedilotildees e ou qualquer outro tipo de resultado que seja ldquodesalinhadordquo ao objetivo

delimitado pela ideologia da concorrecircncia pode acabar trazendo um desconforto para os

sujeitos que participam das atividades formativas natildeo somente para os alunos

Nisso a atividade de formaccedilatildeo em Engenharia pode ser analisada como um

trabalho alienado tanto para os alunos quanto para os professores Mas por um lado como

pensar em uma atividade de formaccedilatildeo profissionalizante sem pensar em saber e conhecimento

como objetivos principais Por outro lado como garantir uma formaccedilatildeo consistente

alinhando-se os objetivos restritamente de forma a garantir um bom salaacuterio As instituiccedilotildees

destinadas agrave formaccedilatildeo em Engenharia estatildeo configuradas socialmente apenas como um

caminho uma trajetoacuteria uma rede orientada pelo emprego (ou por um bom emprego) Como

minimizar essa contradiccedilatildeo primaacuteria emergente dos sistemas de atividade de formaccedilatildeo em

Engenharia Seria possiacutevel Natildeo pretendo e nem tenho condiccedilotildees para tentar responder a

esses questionamentos mas percebo que o quadro teoacuterico utilizado no desenvolvimento da

pesquisa aqui relatada ndash Teoria da Atividade ndash pode nos ajudar a seguir adiante em pesquisas

futuras que objetivem focar em tais questotildees Vale ressaltar que ldquoo trabalho do professor natildeo

eacute o de resolver as contradiccedilotildees mas de esclarececirc-las e evidenciar as vaacuterias formas de

legitimidade que podem existir em cada umardquo (CHARLOT 2013 p 175)

A formaccedilatildeo de uma rede coletiva de aprendizagens mediante as mais variadas

possibilidades de interaccedilotildees tecnomediadas foi estabelecida com a constituiccedilatildeo do GEPMM ndash

uma parceria Vale ressaltar que a multivocalidade esteve presente nos encontros do GEPMM

devendo ser analisada como suporte para idealizaccedilotildees de futuras realizaccedilotildees e

empreendimentos inovadores tornando a abertura reafirmaccedilatildeo eou modificaccedilatildeo das caixas-

pretas (modelos matemaacuteticos e computacionais) como accedilotildees estrategicamente necessaacuterias

para a formaccedilatildeo de agentes do desenvolvimento cientiacutefico tecnoloacutegico cultural e

socioeconocircmico demandados pelana formaccedilatildeo dos Engenheiros na atualidade

215

Castells (2005) pontua a existecircncia de uma contradiccedilatildeo crescente entre autonomia

e capacidade de inovaccedilatildeo necessaacuterias para o trabalho em empresas em rede Para o autor tal

contradiccedilatildeo somente pode ser minimizada mediante a ldquoeducaccedilatildeo baseada no modelo de

aprender a aprender ao longo da vida e preparada para estimular a criatividade e a inovaccedilatildeo

de forma a ndash e com o objectivo de ndash aplicar esta capacidade de aprendizagem a todos os

domiacutenios da vida social e profissionalrdquo (CASTELLS 2005 p 28) Sendo assim o autor

assume a criatividade e a inovaccedilatildeo como fatores-chave da criaccedilatildeo de valor e da mudanccedila

social na sociedade em rede Contudo o autor sinaliza para a necessidade de redefiniccedilatildeo dos

direitos de propriedade intelectual cujo iniacutecio se deu com a jaacute enraizada praacutetica do software

de fonte aberta como constituintes de uma comunicaccedilatildeo sem obstaacuteculos fundamentais para a

difusatildeo de um desenvolvimento tecnoloacutegico que responda agraves necessidades humanas de todo o

planeta Dessa forma a reforma do capitalismo perpassa a questatildeo do direito agrave propriedade

intelectual fator decisivo para a constituiccedilatildeo de uma democracia global

Vale ressaltar que ldquoa introduccedilatildeo da tecnologia soacute por si natildeo assegura nem a

produtividade nem a inovaccedilatildeo nem melhor desenvolvimento humanordquo (CASTELLS 2005

p 26) Por esse motivo foco esta parte da anaacutelise na multivocalidade e na agency

evidenciadas pelasnas interaccedilotildees tecnomediadas nas atividades de um GEPMM e natildeo apenas

e de forma limitada aos artefatos mediadores ndash os modelos matemaacutetico e computacional

Uma multivocalidade hiacutebrida oriunda da hibridade discursiva foi observada nas

atividades do GEPMM aqui analisadas A resoluccedilatildeo de problemas coletiva e a produccedilatildeo de

conhecimentos especificamente no que tange agrave questatildeo problemaacutetica do ldquopeso corporal

idealrdquo representaram notadamente uma substancial expansatildeo do repertoacuterio dos sujeitos

partiacutecipes da referida atividade Ao objeto da referida atividade destaca-se uma dimensatildeo

real objetiva e outra futura ou imaginaacuteria Nesse sentido ao mesmo tempo em que ele ndash o

objeto ndash era tomado na atividade praacutetica objetiva real do GEPMM configurava-se uma

dimensatildeo futura intencional projetiva idealizada do ldquomesmordquo objeto mediante accedilotildees de

idealizar ndash idealizaccedilotildees Ambas as dimensotildees somente podem ser analisadas em face da

multivocalidade a ser observada naspelas interaccedilotildees tecnomediadas

No momento que dedicaacutevamos esforccedilos para a abertura da caixa-cinza 3 (1198621198753)

estaacutevamos engajados em uma anaacutelise criacutetica do modelo constituiacutedo por vaacuterias EDOs e

implementado como o bwsimulator ndash um aparato da razatildeo Como resultado de tal anaacutelise e

reflexatildeo detiacutenhamos em nossa imaginaccedilatildeo em nossas ideias sobre tal instrumento da referida

atividade uma limitaccedilatildeo do fenocircmeno na realidade Detiacutenhamos naquele momento a

compreensatildeo de que a problemaacutetica questatildeo do ldquopeso corporal idealrdquo na realidade era muito

216

mais complexa do que a representaccedilatildeo fornecida pelo bwsimulator tanto em termos dos

alimentos ingeridos que fornecem a energia de entrada quanto aos exerciacutecios fiacutesicos que

fazem parte do consumo energeacutetico Estaacutevamos certos de que havia limitaccedilotildees conceituais da

realidade a ser modelada ndash a problemaacutetica questatildeo do ldquopeso corporal idealrdquo e o modelo

emergente da matematizaccedilatildeo e da respectiva implementaccedilatildeo computacional Precisaacutevamos

abrir a caixa-cinza 4 (1198621198754) para avaliarmos se tal limitaccedilatildeo era resultante de uma possiacutevel

limitaccedilatildeo teoacuterica conceitual da proacutepria matemaacutetica em accedilatildeo

Para tal pode-se destacar um discurso trazido agrave cena por dois partiacutecipes da

atividade aqui analisada ndash Teoria Fuzzy Tal discurso acadecircmico-cientiacutefico ecoou em vaacuterios

momentos da anaacutelise dos modelos referidos anteriormente e somente pocircde ser em virtude de

experiecircncias anteriores vivenciadas pelos dois partiacutecipes Tal vocalidade ali ecoada trouxe agrave

cena um novo instrumento uma nova ferramenta uma nova caixa-preta a ser aberta ndash os

discursos da Teoria Fuzzy Mais do que isso originou-se como uma necessidade para a

elaboraccedilatildeoproduccedilatildeo de um novo modelo um novo instrumento que levaria a uma

transformaccedilatildeo qualitativa do objeto da atividade em questatildeo referindo-se tanto agrave mudanccedila de

niacutevel da caixa-preta do ldquopeso corporal idealrdquo (rumo a uma caixa cinza 5) quanto agraves

emergentes e necessaacuterias possibilidades de interaccedilotildees tecnomediadas entre os sujeitos da

parceria no que tange ao compartilhamento de informaccedilotildees constituintes de conhecimentos e

consequentemente saberes necessaacuterios para tal empreendimento Tiacutenhamos assim uma nova

configuraccedilatildeo uma nova estrutura de atividade possibilitada pela e na multivocalidade

discursiva que nela ecoava sob o aspecto de um Plano de Accedilotildees Internas (PAI) da proacutepria

atividade

O Plano de Accedilotildees Internas (PAI) da atividade estava se reconfigurando

Idealizaccedilotildees que preconizam a realizaccedilatildeo do empreendimento foram evidenciadas nos

discursos trazidos agrave cena pela fala dos sujeitos projetar o uso da Teoria Fuzzy para a

construccedilatildeo de um novo modelo ndash tanto matemaacutetico quanto tecnoloacutegico

Poderiacuteamos inclusive pensar em um modelo tecnoloacutegico no qual a Matemaacutetica

natildeo poderia dele ser isolada nem vice-versa Um modelo tecnomatemaacutetico A Matemaacutetica

estaria aqui operando com o que poderia ser ou poderia se tornar ndash uma idealizaccedilatildeo orientada

pela Matemaacutetica contida no PAI Tal idealizaccedilatildeo poderia ser considerada como um elo entre

o que eacute e o que poderia vir a ser ndash uma nova orientaccedilatildeo uma nova finalidade Nesse sentido a

existecircncia de idealizaccedilotildees que objetivem alternativas para um fenocircmeno real se torna parte

indispensaacutevel do processo de modelagem cujo pressuposto essencial segundo Bassanezi

(2006) consiste no entendimento de que nenhum modelo deve ser considerado definitivo

217

podendo sempre ser melhorado e poderiacuteamos dizer que um bom modelo eacute aquele que propicia

a formulaccedilatildeo de novos modelos sendo essa reformulaccedilatildeo dos modelos uma das partes

fundamentais do processo de modelagem O autor pontua que isso pode ser evidenciado se

considerarmos que

Os fatos conduzem constantemente a novas situaccedilotildees

Qualquer teoria eacute passiacutevel de modificaccedilotildees

As observaccedilotildees satildeo acumuladas gradualmente de modo que novos fatos suscitam

novos questionamentos

A proacutepria evoluccedilatildeo da Matemaacutetica fornece novas ferramentas para traduzir a

realidade (teoria do Caos Teoria Fuzzy etc) (BASSANEZI 2006 p 31)

Contudo tal idealizaccedilatildeo contida no PAI da atividade somente pode ser

considerada como uma sequecircncia de accedilotildees ideais que podem fazer emergir fendas entre tal

idealizaccedilatildeo e o que viraacute a ser uma atividade real objetiva ndash concretizaccedilatildeo da idealizaccedilatildeo ndash

fazendo surgir uma objetivaccedilatildeo considerada aqui como transformaccedilatildeo de algo subjetivo em

algo objetivo ndash accedilotildees planejadas transformadas em accedilotildees executadas pelos sujeitos partiacutecipes

da atividade

Para isso uma accedilatildeo inicial a ser realizada na atividade praacutetica consistiu no

entendimento da Teoria Fuzzy mediante interaccedilotildees que possibilitaram o compartilhamento de

informaccedilotildees sobre tal arcabouccedilo teoacuterico permitindo a elaboraccedilatildeo desse novo instrumento que

passaria a permear a referida atividade Percebemos ainda a necessidade de uso e combinaccedilatildeo

de todos os instrumentos matemaacuteticos e tecnoloacutegicos que permearam a referida atividade para

o empreendimento configurado por tal nova construccedilatildeo se tornar de fato real Entre os

instrumentos que necessariamente permeavam a atividade podemos destacar conhecimentos

matemaacuteticos (Caacutelculo EDO Fuzzy) estrateacutegias de modelagem matemaacutetica modelos

matemaacuteticos modelos tecnoloacutegicos e estrateacutegias de programaccedilatildeo de computadores

Como consideraccedilatildeo final a essa parte da anaacutelise pontuo que a sequecircncia de

interaccedilotildees de aprendizagem se configura com caracteres cujo ldquoenquadramentordquo enunciativo

remete a significados resultantes de argumentaccedilotildees criacutetico-reflexivas dentro de uma praacutetica

social ndash formaccedilatildeo dos engenheiros ndash estando relacionadas agrave necessidade de transformaccedilotildees

qualitativas de tal praacutetica A constituiccedilatildeo de um contexto formativo (GEPMM) ampliou as

possibilidades de interaccedilotildees entre os sujeitos e os respectivos objetos de suas atividades O

objeto da atividade de Modelagem Matemaacutetica analisada nessa tese eacute constituiacutedo por trecircs

materializaccedilotildees ldquoo peso corporal idealrdquo a agency dos futuros engenheiros e dos docentes

evidenciadas nas interaccedilotildees sujeito-sujeitos e sujeitos-objeto

218

Tal contexto formativo somente foi constituiacutedo a partir do resultado da anaacutelise da

praacutetica social que constitui a formaccedilatildeo em Engenharia institucionalizada podendo ser

considerado como um enunciado embebido por diversas ideologias incluindo as que

compotildeem os discursos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos configurando dessa forma uma nova forma

de atividade na instituiccedilatildeo que amplia as possibilidades de compartilhamento de informaccedilotildees

e construccedilatildeo de parcerias ndash constituindo (criando) um novo objeto para os sistemas de

atividade como resultado de uma busca consciente coletiva e intencional de oportunidades

para inovar no sentido de se fazer o novo renovar promover mudanccedilas substanciais na

praacutetica formativa Sob esse aspecto considero as accedilotildees aqui representadas como inovaccedilotildees no

que tange inclusive agrave constituiccedilatildeo de um novo e expandido espaccedilo formativo relacionado agraves

disciplinas de Caacutelculo ndash atividades de Modelagem Matemaacutetica ndash dentro do sistema de

atividades que eacute orientado pela formaccedilatildeo de engenheiros

O espaccedilo formativo constituiacutedo pelo contexto alternativo mais amplo ndash GEPMM

ndash inclui necessariamente a delimitaccedilatildeo de uma ineacutedita rede de aprendizagem ndash uma parceria

Os sujeitos satildeo cuacutemplices de uma mesma atividade de resoluccedilatildeoentendimento de questotildees-

problema do mundo real O engajamento em tais sistemas de atividade estaacute orientado por

mudanccedilas nas agencys dos docentes e discentes frente agraves suas muacuteltiplas atividades Os

instrumentos que permeiam tal atividade incluem estrateacutegias de Modelagem Matemaacutetica

conhecimentos matemaacuteticos modelos matemaacuteticos e tecnoloacutegicos conhecimentos de

programaccedilatildeo de computadores entre outros

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Neste capiacutetulo busco fazer um tipo de fechamento de ideias a respeito da

investigaccedilatildeo relatada neste texto cujo objetivo central esteve orientado pelo seguinte

questionamento quais aprendizagens expansivas podem ser evidenciadas pelas e nas

atividades desenvolvidas por um Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica

(GEPMM) em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharia

Para tal os dados foram construiacutedos em um contexto institucional que se destina

exclusivamente agrave formaccedilatildeo de engenheiros localizado em uma cidade do interior de Minas

Gerais e os desdobramentos da investigaccedilatildeo foram norteados pela abordagem qualitativa por

meio de uma intervenccedilatildeo formativa (ENGESTROumlM SANNINO 2010b) Essa intervenccedilatildeo se

219

engendrou por meio da constituiccedilatildeo de um GEPMM concebido sob a perspectiva que

considera os conteuacutedos do Caacutelculo como ferramentas ou instrumentos necessaacuterios para a

formaccedilatildeo em Engenharia

Ancorada nos aportes da teoria histoacuterico-cultural da atividade e da aprendizagem

expansiva a investigaccedilatildeo objetivou o estabelecimento de um diaacutelogo com teoacutericos que

discutem Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica focando os contextos de formaccedilatildeo em

Engenharia Sendo assim o GEPMM se configura como um espaccedilo formativo alternativo sob

a perspectiva do Caacutelculo em accedilatildeo

A construccedilatildeo dos dados para a presente investigaccedilatildeo se deu por meio de

observaccedilotildees entrevistas registro de diaacuterio de campo e mensagens eletrocircnicas O processo de

anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados construiacutedos foi desenvolvido com base no proacuteprio processo

de constituiccedilatildeo do GEPMM como um ciclo de accedilotildees potencialmente expansivo

(ENGESTROM SANNINO 2010b) que possibilitou o preenchimento da ldquomatrizrdquo para

anaacutelise da aprendizagem expansiva (ENGESTROumlM 2001)

Aleacutem disso os dados construiacutedos fizeram emergir quatro modalidades analiacuteticas

na tentativa de compreender as possibilidades de aprendizagens expansivas que podem ser

evidenciadas nas e pelas atividades de um GEPMM em um contexto de formaccedilatildeo em

Engenharia Conforme abordado no Capiacutetulo 5 desta tese a constituiccedilatildeo do referido espaccedilo

formativo alternativo (GEPMM) ampliou as possibilidades de interaccedilotildees entre os sujeitos e os

respectivos objetos de suas muacuteltiplas atividades possibilitando aprendizagens expansivas

que se manifestaram como 1) transposiccedilatildeo de fronteiras e construccedilatildeo de redes ndash parcerias 2)

movimento na zona de desenvolvimento proximal da atividade docente-discente 3)

transformaccedilotildees qualitativas do objeto da atividade de Modelagem Matemaacutetica 4) ciclos de

accedilotildees potencialmente expansivas ndash idealizaccedilotildees

Ao analisar a referida intervenccedilatildeo formativa observam-se ainda subsiacutedios

necessaacuterios para considerar que o engajamento nas atividades do GEPMM pode de fato

representar importante papel na formaccedilatildeo continuada de professores suas proacuteprias praacuteticas

ampliando assim os respectivos horizontes de atuaccedilatildeo nas mais diversas dimensotildees

cotidianas de trabalho

Considerando que o momento de encerramento de uma tese natildeo se configura

apenas como um fechamento de ideias uma vez que vaacuterias discussotildees debates estudos e

pesquisas podem se originar dos dados e das questotildees apresentadas tomando por base o

espaccedilo formativo alternativo constituiacutedo pelono GEPMM em um contexto de formaccedilatildeo em

Engenharias entendo que as possibilidades para aprendizagens expansivas se tornam

220

instigantes objetos de pesquisas futuras Para tal como um horizonte possiacutevel a seguinte

pergunta diretriz poderia nortear futuras investigaccedilotildees

Quais aprendizagens expansivas podem ser evidenciadas naspelas interaccedilotildees

tecnomediadas pelo Caacutelculo em accedilatildeo em atividades de Modelagem Matemaacutetica em um

contexto de formaccedilatildeo em Engenharias

Por fim vale ressaltar que uma intervenccedilatildeo e sua interpretaccedilatildeo analiacutetica

constituintes da praacutexis cientiacutefica jamais devem ser consideradas como algo que se impotildee

absolutamente Haacute lugar para diversos esquemas e compreensotildees e por conseguinte

confrontos entre interpretaccedilotildees diversas ldquoSe a interpretaccedilatildeo eacute revelante eacute pois num duplo

sentido ela faz aparecer uma estrutura inteligiacutevel que vale de alguma maneira por si mesma

mas ao mesmo tempo daacute os meios para atingir com sua mediaccedilatildeo uma realidade que nela se

mostra mas sem aiacute se esgotarrdquo (LADRIEgraveRE 1978 p 130)

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C146c T

Caldeira Rutyele Ribeiro 1982- Caacutelculo em accedilatildeo modelagem e parcerias possibilidades para aprendizagens expansivas em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias Rutyele Ribeiro Caldeira - Belo Horizonte 2014 229 f enc il Tese - (Doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Educaccedilatildeo Orientadora Jussara de Loiola Arauacutejo Bibliografia f 220-229 1 Educaccedilatildeo -- Teses 2 Engenharia -- Estudo e ensino -- Teses 3 Engenheiros -- Ensino profissional -- Teses 4 Calculo -- Estudo e ensino -- Teses I Tiacutetulo II Arauacutejo Jussara de Loiola III Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Educaccedilatildeo CDD- 620007

Catalogaccedilatildeo da Fonte Biblioteca da FaEUFMG

Universidade Federal de Minas Gerais

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo

Tese intitulada ldquoCaacutelculo em accedilatildeo modelagem e parcerias possibilidades para aprendizagens

expansivas em um contexto de formaccedilatildeo em Engenhariasrdquo de autoria da doutoranda Rutyele

Ribeiro Caldeira aprovada pela banca examinadora constituiacuteda pelos seguintes professores

__________________________________________________

Profa Dra Jussara de Loiola Arauacutejo ndash ICExUFMG ndash orientadora

__________________________________________________

Profa Dra Maria Manuela Martins Soares David ndash FaEUFMG

__________________________________________________

Profa Dra Teresinha Fumi Kawasaki ndash FaEUFMG

__________________________________________________

Profa Dra Lourdes Maria Werle de Almeida ndash UEL

__________________________________________________

Profa Dra Sueli Liberatti Javaroni ndash UNESP

__________________________________________________

Prof Dr Francisco Acircngelo Coutinho ndash FaEUFMG ndash suplente

__________________________________________________

Prof Dr Dilhermando Ferreira Campos ndash UFOP ndash suplente

Belo Horizonte 27 de agosto de 2014

A Deus

aos meus pais Joseacute e Mirnaacute

ao meu amor Luciano e

ao priacutencipe da minha vida ndash

meu filho Matheus

Com muito amor

AGRADECIMENTOS

A Deus Pai de toda bondade compaixatildeo amor e sabedoria criador de nossas

vidas do ceacuteu e da terra parceiro de todos os momentos poderoso mestre dos mestres rei dos

reis Obrigada por ter me permitido chegar ateacute aqui por ter me dado forccedilas nos momentos

difiacuteceis

Agrave professora Jussara de Loiola Arauacutejo por toda orientaccedilatildeo pelos encontros e

desencontros pelos debates pelas possibilidades de formaccedilatildeo como pesquisadora por ter sido

tatildeo compreensiacutevel nos momentos difiacuteceis e por ter me ajudado a superaacute-los

Aos membros da banca de qualificaccedilatildeo professoras Manuela Martins Soares

David e professora Lourdes Maria Werle de Almeida pela leitura e importantes

contribuiccedilotildees sugestotildees

Ao professor Orlando Aguiar Filho por ter sido parecerista do meu projeto de

pesquisa

Aos membros do Grupo de Pesquisa e Estudos Histoacuterico-Culturais em Educaccedilatildeo

Matemaacutetica e em Ciecircncias do qual faccedilo parte desde o ano de 2010 por terem me ajudado na

construccedilatildeo de entendimentos acerca da Teoria da Atividade e por terem contribuiacutedo com

criacuteticas e sugestotildees para o desenvolvimento desta pesquisa

A todos os professores que tive em minha vida em especial aos professores

Oliacutempio Hiroshi Miyagaki e Margareth Alves por me ensinarem muitas matemaacuteticas e por

terem me motivado a seguir nos estudos de poacutes-graduaccedilatildeo

Agrave querida professora Rosilene Horta Tavares por ter me ajudado a entender

melhor a sociedade atual e as relaccedilotildees que nela estatildeo permeadas

Agrave querida amiga Nilza Helena por ter sido tatildeo companheira e por ter cuidado de

Matheus no estacionamento da FaE com tanto carinho e amor enquanto eu assistia agraves aulas

Ao meu marido Luciano Nascimento Moreira por ter sido tatildeo amoroso

carinhoso e paciente e por me trazer tantas felicidades Muito obrigada Eu te amo demais da

conta

Ao meu filho Matheus Caldeira Moreira por ter sido tatildeo compreensiacutevel nos

momentos que precisava me dedicar agrave tese e por me trazer tantas alegrias Mamatildee te ama

muito priacutencipe

Aos meus pais Joseacute Caldeira e Mirnaacute Caldeira (in memoriam) pelo apoio e amor

incondicional Sei que sempre estiveram e sempre estaratildeo me abenccediloando onde quer que

estejam ndash na terra ou no ceacuteu

Agrave minha irmatilde gecircmea Josyele Ribeiro Caldeira por ser tatildeo companheira e

presente em minha vida e pelos momentos de debates teoacutericos

Aos meus queridos filhos adotivos Anina Cristina Darinha Cristina e Sininho

Cristina pela incansaacutevel companhia ateacute altas horas da madrugada sempre alegrando os

momentos de intenso estudo

Agrave querida amiga Margarete von Muumlhlen Poll pela revisatildeo do projeto de

doutorado

Agrave professora Maria da Conceiccedilatildeo por ter me aceitado no ano de 2010 como aluna

de disciplina isolada

A todos os colegas e professores da Faculdade de Educaccedilatildeo da UFMG pelo

compartilhamento de saberes e experiecircncias

Aos servidores da secretaria da Poacutes-Graduaccedilatildeo da Faculdade de Educaccedilatildeo da

UFMG pela disponibilidade e atenccedilatildeo

Aos professores e alunos da UNIFEI-Itabira pela colaboraccedilatildeo e dedicaccedilatildeo agrave

construccedilatildeo dos dados desta pesquisa

Aos colegas do grupo de orientaccedilatildeo por terem me recebido de braccedilos abertos e

por sempre me ajudarem nas leituras e criacuteticas dos meus textos

As minhas amigas de infacircncia Graziela Fernanda Maxi Luciana e Vacircnia por

terem sido tatildeo compreensivas nos momentos de isolamento social e por sempre acreditarem

em nossa amizade

A minha cunhada Luciana Nascimento Moreira pelo apoio incondicional e por ter

nos abrigado em BH

A todos vocecircs agradeccedilo imensamente

Valeu

Adeacutelia Prado

Com licenccedila poeacutetica

Quando nasci um anjo esbelto

desses que tocam trombeta anunciou

vai carregar bandeira

Cargo muito pesado pra mulher

esta espeacutecie ainda envergonhada

Aceito os subterfuacutegios que me cabem

sem precisar mentir

Natildeo sou tatildeo feia que natildeo possa casar

acho o Rio de Janeiro uma beleza e

ora sim ora natildeo creio em parto sem dor

Mas o que sinto escrevo Cumpro a sina

Inauguro linhagens fundo reinos

mdash dor natildeo eacute amargura

Minha tristeza natildeo tem pedigree

jaacute a minha vontade de alegria

sua raiz vai ao meu mil avocirc

Vai ser coxo na vida eacute maldiccedilatildeo pra homem

Mulher eacute desdobraacutevel Eu sou

RESUMO

Esta tese apresenta a gecircnese e o desenvolvimento de uma pesquisa que buscou compreender

as possibilidades de aprendizagens expansivas que podem ser evidenciadas nas e pelas

atividades desenvolvidas por um Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica -

GEPMM em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias Ancorada nos aportes da teoria

histoacuterico-cultural da atividade e da aprendizagem expansiva a investigaccedilatildeo objetivou o

estabelecimento de um diaacutelogo com teoacutericos que discutem Modelagem na Educaccedilatildeo

Matemaacutetica focando nos contextos de formaccedilatildeo em Engenharia Os desdobramentos da

pesquisa foram norteados pela abordagem qualitativa por meio de uma intervenccedilatildeo formativa

proposta por Engestroumlm e Sannino (2010b) caracterizada pela constituiccedilatildeo do GEPMM que

se engendrou baseado na premissa de que os conteuacutedos das disciplinas de Caacutelculo ocupam

lugar de ferramentas ou instrumentos necessaacuterios para a formaccedilatildeo em Engenharia ndash um

Caacutelculo em accedilatildeo Com isso o GEPMM se configurou como um espaccedilo formativo alternativo

A construccedilatildeo dos dados para a presente investigaccedilatildeo se deu por meio de observaccedilotildees

entrevistas registro de diaacuterio de campo e mensagens eletrocircnicas O processo de anaacutelise e

interpretaccedilatildeo dos dados construiacutedos foi desenvolvido com base no proacuteprio processo de

constituiccedilatildeo do GEPMM como um ciclo de accedilotildees potencialmente expansivas

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b) que possibilitou o preenchimento da ldquomatrizrdquo para

anaacutelise da aprendizagem expansiva (ENGESTROumlM 2001) Os dados construiacutedos fizeram

emergir quatro modalidades analiacuteticas A constituiccedilatildeo do referido espaccedilo formativo

alternativo ndash GEPMM - ampliou as possibilidades de interaccedilotildees entre os sujeitos e os

respectivos objetos de suas muacuteltiplas atividades possibilitando aprendizagens expansivas que

se manifestaram como 1) transposiccedilatildeo de fronteiras e construccedilatildeo de redes ndash parcerias 2)

movimento na zona de desenvolvimento proximal da atividade docente-discente 3)

transformaccedilotildees qualitativas do objeto da atividade de modelagem matemaacutetica 4) ciclos de

accedilotildees potencialmente expansivas Ao analisar a referida intervenccedilatildeo formativa observa-se

ainda subsiacutedios necessaacuterios para considerar que o engajamento nas atividades do GEPMM

pode de fato representar significativas contribuiccedilotildees para a formaccedilatildeo continuada de

professores em suas proacuteprias praacuteticas ampliando assim os respectivos horizontes de atuaccedilatildeo

nas mais diversas dimensotildees cotidianas de trabalho

Palavras-Chave Teoria da Atividade Aprendizagem Expansiva Modelagem Matemaacutetica

Educaccedilatildeo em Engenharia Caacutelculo em Accedilatildeo Parcerias

ABSTRACT

This thesis presents the genesis and development of a research aimed to understand the

possibilities of expansive learning that can be evidenced in and by the activities developed by

a Group of Studies and Research in Mathematical Modeling - GSRMM in a context of

formation in Engineering Anchored in the contributions of the Historical-Cultural Activity

Theory and Expansive Learning this research aimed to establish a dialogue with theorists

who argue Modeling in Mathematics Education focusing on formation contexts in

Engineering The developments of the research were guided by the qualitative approach

through a formative intervention proposed by Engestroumlm and Sannino (2010) characterized

by the constitution of GSRMM in the context of formation in Engineering The GSRMM it

engender based on the premise that the disciplines of Calculus take place of tools or

instruments necessary for formation in Engineering - A calculus in action With this the

GSRMM appears as an alternative formation space in the context of formation in

Engineering The construction of the data for this research was happened by observations

interviews record field diary and email messages The process of analysis and interpretation

of data built was developed based on the process of formation of GSRMM as a potentially

expansive cycle of actions (ENGESTROM SANNINO 2010) which enabled the completion

of the matrix for the analysis of the expansive learning (ENGESTROM 2001) The data

constructed made emerge four analytical methods in an attempt to understand the possibilities

of expansive learning which can be evidenced in and by a GSRMM activities in the context

of formation in Engineering The constitution of that alternative formation space (GSRMM)

expanded the possibilities of interactions between subjects and their objects of its multiple

activities enabling expansive learning which manifested as 1) across boundaries and

building networks - partnerships 2) move the zone of proximal development of teacher-

student activity 3) qualitative transformations of the object of the activity of mathematical

modeling 4) cycles of potentially expansive actions Analyzing this formation intervention it

is observed also grants necessary to consider that engaging in activities GSRMM may

indeed represent an important role in the continuing education of teachers in their own

practices thus expanding their horizons of action in various dimensions of everyday work

Keywords Activity Theory Expansive Learning Mathematical Modeling Education in

Engineering Calculus in Action Partnerships

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 ndash A estrutura de um sistema de atividade humana 36

FIGURA 2 ndash Os interdependentes sistemas de atividade de estudantes e professor 38

FIGURA 3 ndash Sumaacuterio da generalizaccedilatildeo teoacuterica de Davydov 48

FIGURA 4 ndash Sequecircncia de accedilotildees de aprendizagem em um ciclo de aprendizagem

expansiva 57

FIGURA 5 ndash Os interdependentes sistemas de atividade de estudantes e professor(es)

engajados em atividades (escolares) de Modelagem Matemaacutetica 86

FIGURA 6 ndash Visualizaccedilatildeo da caixa-preta e suas possiacuteveis associaccedilotildees a outras caixas-

pretas 93

Tabela 1 - Matriz para anaacutelise da aprendizagem expansiva 106

FIGURA 7 ndash Paacutegina inicial site UNIFEI-Itabira 109

FIGURA 8 ndash Interconectados sistemas de atividade de professores e estudantes que tem

como objeto a apresentaccedilatildeo dos conteuacutedos do livro de Caacutelculo 125

QUADRO 1 ndash ldquoEquaccedilotildees utilizadas para o caacutelculo do gasto energeacutetico (GET) segundo a

teacutecnica da aacutegua duplamente marcadardquo 146

QUADRO 2 ndash ldquoMatrizrdquo para anaacutelise da aprendizagem expansiva 169

SUMAacuteRIO

SUMAacuteRIO 12

INTRODUCcedilAtildeO A GEcircNESE E OS DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA 13

Consideraccedilotildees iniciais necessaacuterias agrave formulaccedilatildeo da pesquisa 13

Desdobramentos da proposiccedilatildeo da pesquisa 21

Estrutura da tese 27

1 ATIVIDADES FORMATIVAS Agrave LUZ DA TEORIA HISTOacuteRICO- CULTURAL DA

ATIVIDADE E DA APRENDIZAGEM EXPANSIVA 29

11 Meacutetodo da ascensatildeo do abstrato ao concreto de Davydov 45

12 A participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima de Lave 48

13 Aprendizagem expansiva 49

2 CAacuteLCULO E MODELAGEM NA ENGENHARIA CONCEPCcedilOtildeES

PERSPECTIVAS E A ATUAL FORMACcedilAtildeO DO ENGENHEIRO 62

21 Diretrizes Curriculares para a formaccedilatildeo de engenheiros no Brasil 62

22 Caacutelculo em cursos de Engenharia 65

23 Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica concepccedilotildees e perspectivas 70

24 Revisatildeo de literatura sobre pesquisas de Modelagem em Caacutelculo na Educaccedilatildeo em

Engenharia delineando o espaccedilo da presente pesquisa 78

25 Concepccedilatildeo de uma atividade de Modelagem Matemaacutetica assumida em um contexto

de formaccedilatildeo em Engenharias 82

26 Abertura de caixas-pretas como accedilotildees estrateacutegicas com vistas agraves possibilidades de

aprendizagens expansivas relacionadas agraves transformaccedilotildees do objeto de uma atividade de

Modelagem Matemaacutetica 87

3 METODOLOGIA DE PESQUISA E PROCEDIMENTOS 97

31 Por que a abordagem eacute qualitativa 97

32 Qual eacute o contexto e quem satildeo os sujeitos 100

33 Quais foram os procedimentos de construccedilatildeo dos dados 102

331 A constituiccedilatildeo do GEPMM e observaccedilatildeo participante em suas atividades 102

332 As entrevistas iniciais e as finais com os integrantes do GEPMM 104

34 Quais instrumentos foram usados para a anaacutelise 105

35 A formaccedilatildeo do GEPMM pode ser caracterizada como uma intervenccedilatildeo formativa

106

36 O contexto institucional e as aulas de Caacutelculo 108

37 As atividades do GEPMM e os sujeitos envolvidos 111

371 Angel 112

372 Clarice 116

373 Robson 117

374 Taty 119

375 Joseacute 120

376 Pedro 121

4 OS DADOS CONSTRUIacuteDOS E ANALISADOS A CONSTITUICcedilAtildeO DO GEPMM

COMO CICLO DE ACcedilOtildeES POTENCIALMENTE EXPANSIVAS 124

41 Constituiccedilatildeo do GEPMM possibilidades para aprendizagens expansivas 126

411 Interrogatoacuterio 126

412 Anaacutelise da situaccedilatildeo 129

413 Modelagem 132

414 Examinando o novo modelo 133

415 Implementando o novo modelo ndash o GEPMM 136

4151 Os encontros 137

41511 Primeiro encontro 137

41512 Segundo encontro 140

41513 Terceiro encontro 144

41514 Quarto encontro 147

41515 Quinto encontro 149

41516 Sexto encontro 152

41517 Seacutetimo encontro 153

41518 Oitavo encontro 154

41519 Nono encontro 159

415110 Deacutecimo encontro 164

4152 Dando continuidade agraves accedilotildees potencialmente expansivas 166

416 Refletindo sobre o processo 166

417 Consolidando seus resultados em uma nova forma de praacutetica 168

5 MODALIDADES ANALIacuteTICAS 170

51 Primeira modalidade ndash Dialeacutetica da existecircncia da tela invisiacutevel GEPMM como

possibilidade para aprendizagem expansiva por meio da construccedilatildeo de parceria

docente-discente em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias 171

52 Segunda modalidade ndash Os sujeitos a multi-agency e as muacuteltiplas atividades

possibilidade para aprendizagem expansiva como movimento na zona de

desenvolvimento proximal das atividades docente-discente mediante a formaccedilatildeo de

parcerias 178

53 Terceira modalidade ndash Modelagem e a caixa-preta do ldquopeso corporal idealrdquo num

contexto de formaccedilatildeo em Engenharias do Caacutelculo em accedilatildeo agraves aprendizagens expansivas

como transformaccedilotildees qualitativas do objeto da atividade 189

54 Quarta modalidade ndash Multivocalidade e agency evidenciadas pelas interaccedilotildees

tecnomediadas em atividades de Modelagem Matemaacutetica idealizaccedilotildees desencadeadoras

de aprendizagens potencialmente expansivas em um contexto de formaccedilatildeo em

Engenharias 210

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 218

13

INTRODUCcedilAtildeO A GEcircNESE E OS DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA

Neste capiacutetulo procuro delimitar os objetivos e a relevacircncia desta pesquisa a

partir de reflexotildees que surgiram da minha experiecircncia como professora das disciplinas de

Caacutelculo que compotildeem as grades curriculares dos cursos de Engenharia das minhas leituras a

respeito dos processos de ensino e de aprendizagem das disciplinas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia e das leituras proporcionadas pela minha inserccedilatildeo em grupos de estudos e

pesquisa1

Consideraccedilotildees iniciais necessaacuterias agrave formulaccedilatildeo da pesquisa

Atuo como docente do Centro Federal de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica de Minas Gerais

(CEFET-MG) Unidade Timoacuteteo (MG) desde janeiro de 2009 Nessa instituiccedilatildeo sou

responsaacutevel por lecionar disciplinas de Caacutelculo que compotildeem a grade curricular do curso de

Engenharia de Computaccedilatildeo

As disciplinas de Caacutelculo que geralmente compotildeem as grades curriculares dos

cursos de Engenharia perfazem conteuacutedos de uma aacuterea da Matemaacutetica chamada de Caacutelculo

Diferencial e Integral que abarca toacutepicos relacionados ao estudo de funccedilotildees de uma ou vaacuterias

variaacuteveis e vetoriais assim como limites derivadas integrais de funccedilotildees de uma ou vaacuterias

variaacuteveis reais e suas respectivas aplicaccedilotildees2 No CEFETndashMGTimoacuteteo por exemplo tais

conteuacutedos satildeo estudados nas disciplinas de Caacutelculo I e II Aleacutem delas a disciplina de Caacutelculo

III engloba os conteuacutedos das Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias e a disciplina de Caacutelculo IV

engloba os conteuacutedos de Sequecircncias Seacuteries e Transformada de Fourier Jaacute na Universidade

Federal de Itajubaacute em Itabira (UNIFEI-Itabira) as disciplinas que se dedicam a estudar os

conteuacutedos apontados anteriormente satildeo chamadas de Matemaacutetica ndash 0 I III IV V VI Os

1 Grupo de Pesquisa e Estudos Histoacuterico-Culturais em Educaccedilatildeo Matemaacutetica e Ciecircncias da Faculdade de

Educaccedilatildeo (FaE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Grupo de Estudos e Pesquisa em Educaccedilatildeo

Matemaacutetica Modelagem e Tecnologias do Departamento de Matemaacutetica da UFMG 2 Com isso no presente texto quando me refiro agraves disciplinas de Caacutelculo em um contexto de formaccedilatildeo em

Engenharia estou fazendo referecircncia a qualquer disciplina eou conteuacutedos que satildeo englobados nas respectivas

grades curriculares eou ementas que se destinam ao estudo dos toacutepicos apontados no paraacutegrafo anterior

incluindo portanto os conteuacutedos de Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias Sequecircncias Seacuteries e Transformada de

Fourier

14

conteuacutedos de Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias por exemplo satildeo estudados no Caacutelculo III do

CEFET-MGTimoacuteteo e na Matemaacutetica IV da UNIFEI-Itabira

No primeiro semestre de 2009 lecionei a disciplina Caacutelculo I para os ingressantes

do curso de Engenharia de Computaccedilatildeo do CEFET-MG Unidade Timoacuteteo Em muitos

momentos durante o desenvolvimento dessa disciplina os alunos questionavam acerca da

relevacircncia da referida disciplina para a formaccedilatildeo do engenheiro contemporacircneo Eles

questionavam o real objetivo da disciplina e sempre se mostravam desmotivados em aprender

os conteuacutedos Reclamavam que natildeo tinham a formaccedilatildeo Matemaacutetica Baacutesica necessaacuteria para a

compreensatildeo dos conceitos do Caacutelculo que para eles eram muito difiacuteceis de serem

compreendidos Uma fala ainda era recorrente nos diaacutelogos que ocorriam durante as aulas a

possibilidade de uso dos softwares matemaacuteticos como algo que pudesse ldquosubstituirrdquo o estudo

tradicional do Caacutelculo o que para eles poderia minimizar os esforccedilos de aprendizagem

Dullius Arauacutejo e Veit (2011 p 18) enfatizam que tais questionamentos satildeo frequentemente

apontados por alunos dos cursos de Engenharia Nas palavras das autoras

Trabalhando haacute 10 anos com o ensino de Caacutelculo Diferencial e Integral nos cursos

de Engenharia (de Computaccedilatildeo de Automaccedilatildeo e Controle de Produccedilatildeo e

Ambiental) e Quiacutemica Industrial notamos a insatisfaccedilatildeo dos alunos por natildeo

perceberem importacircncia desse conteuacutedo para o seu curso A cada nova turma

repetem-se os questionamentos por que fazer a matildeo essas contas enormes se

existem maacutequinas para isso Por que ldquodecorarrdquo tantas foacutermulas se o dia que precisar

posso buscar em livros ou na internet Por que preciso saber tudo isto afinal

Naquele semestre de 2009 optei por utilizar um trabalho de aplicaccedilatildeo3 realizado

em dupla como uma das formas de avaliaccedilatildeo da disciplina No trabalho objetivei que o

Caacutelculo pudesse assumir um sentido mais uacutetil no curso de Engenharia o que a meu ver

poderia possibilitar um menor distanciamento entre os conceitos do Caacutelculo e as demais

disciplinas que compotildeem a grade curricular dos cursos de Engenharia Sendo assim os

motivos pelos quais essa disciplina estaacute presente nos cursos de Engenharia poderiam se tornar

mais ldquovisiacuteveisrdquo ou perceptiacuteveis para os alunos Aleacutem disso aquele trabalho foi tambeacutem uma

tentativa de mostrar aos alunos que os conceitos estudados na disciplina eram realmente

importantes e necessaacuterios para a formaccedilatildeo do engenheiro e mais do que isso para sua

formaccedilatildeo cidadatilde

3 Pedi que eles procurassem e encontrassem algum problema oriundo de qualquer aacuterea natildeo Matemaacutetica que

pudesse ser solucionado com o auxiacutelio do conteuacutedo abordado naquela disciplina durante o semestre letivo Tal

problema deveria ser de interesse dos alunos que formavam a dupla e se possiacutevel que tivesse alguma relaccedilatildeo ao

curso de Engenharia da Computaccedilatildeo ndash contexto de formaccedilatildeo em questatildeo

15

Poreacutem meus objetivos foram parcialmente satisfeitos A proposta do trabalho

consistia na procura de um problema de natureza natildeo Matemaacutetica que pudesse ser resolvido

por meio da Matemaacutetica e que a soluccedilatildeo fosse interpretada por meio da linguagem do mundo

real Os alunos tinham a liberdade de procurarem inclusive problemas que jaacute estivessem

resolvidos em algum livro ou site restando apenas a tarefa de entender o problema sua

respectiva soluccedilatildeo e apresentar o entendimento no dia estipulado para tal Contudo os alunos

apresentaram dificuldades para a realizaccedilatildeo do trabalho Alguns deles sugeriram que o

trabalho fosse cancelado e que a nota fosse atribuiacuteda agrave uacuteltima prova da disciplina Muitos

apresentaram dificuldades de entendimento quanto ao processo de formulaccedilatildeo do problema

em termos matemaacuteticos (construir expressotildees matemaacuteticas que representassem o problema)

Para eles depois de encontrar a ldquofoacutermulardquo a dificuldade desaparecia pois bastava aplicar

algum meacutetodo ou teacutecnica jaacute estudados na disciplina como por exemplo derivar ou integrar

uma funccedilatildeo

Naquele momento percebi que os alunos demonstravam dificuldades em

matematizar problemas de outras realidades ou seja (re)formular e resolver o problema

matematicamente interpretando sua soluccedilatildeo natildeo apenas matematicamente mas sobretudo no

contexto do qual o problema se originou Desde entatildeo comecei a pensar o que poderia ser

feito para tentar sanar tais dificuldades

Com base em minha experiecircncia como professora de Caacutelculo em cursos de

Engenharia fiquei instigada em compreender qual seria o papel do uso das aplicaccedilotildees de

Caacutelculo na formaccedilatildeo do engenheiro aleacutem de conhecer outras estrateacutegias metodoloacutegicas que

poderiam ser utilizadas para promover uma aprendizagem que possibilitasse a motivaccedilatildeo dos

estudantes por meio da busca pelo entendimento dos conceitos da disciplina focando o

aspecto do uso de tais conceitos em situaccedilotildees oriundas de realidades que natildeo fossem

puramente matemaacuteticas Busquei entatildeo por leituras que pudessem me ajudar nessa

caminhada

Ainda em 2009 visando minimizar as inquietaccedilotildees vividas por mim nas aulas de

Caacutelculo que ministrava no curso de Engenharia de Computaccedilatildeo li alguns artigos e relatos de

experiecircncia Estudei tambeacutem o livro Ensino-aprendizagem com modelagem matemaacutetica

uma nova estrateacutegia de Rodney Bassanezi (BASSANEZI 2006) No referido livro a

Modelagem Matemaacutetica pode ser compreendida como a

arte de transformar problemas da realidade em problemas matemaacuteticos e resolvecirc-los

interpretando suas soluccedilotildees na linguagem do mundo real [] A modelagem

pressupotildee multidisciplinariedade E nesse sentido vai ao encontro das novas

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tendecircncias que apontam para a remoccedilatildeo de fronteiras entre as diversas aacutereas de

pesquisa (BASSANEZI 2006 p 16)

Aleacutem disso Bassanezi (2006 p 17) afirma que ldquoa modelagem matemaacutetica em

seus vaacuterios aspectos eacute um processo que alia teoria e praacutetica motiva seu usuaacuterio na procura do

entendimento da realidade que o cerca e na busca de meios para agir sobre ela e transformaacute-

lardquo

A Modelagem Matemaacutetica realizada em contextos de Educaccedilatildeo Matemaacutetica difere

da Modelagem Matemaacutetica praticada por profissionais da Matemaacutetica Aplicada Barbosa

(2003) por exemplo entende que a sala de aula configura um ambiente mais complexo onde

inuacutemeras variaacuteveis estatildeo em jogo tais como os objetivos pedagoacutegicos a dinacircmica de trabalho

e a natureza das discussotildees matemaacuteticas Arauacutejo (2002) por sua vez destaca que para os

matemaacuteticos aplicados o trabalho com Modelagem Matemaacutetica tem por objetivo resolver

algum problema natildeo matemaacutetico enquanto no acircmbito da Educaccedilatildeo Matemaacutetica seu objetivo

principal se concentra na formaccedilatildeo matemaacutetica dos alunos ao serem convidados a explorar

matematicamente situaccedilotildees natildeo matemaacuteticas

Um dos argumentos favoraacuteveis agrave inserccedilatildeo da Modelagem4 nas praacuteticas de ensino

mais apresentado pelos estudiosos da aacuterea de Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica consiste

na preparaccedilatildeo para a utilizaccedilatildeo da matemaacutetica em diferentes aacutereas ou seja ldquoos alunos teriam

a oportunidade de desenvolver a capacidade de aplicar matemaacutetica em diversas situaccedilotildees o

que eacute desejaacutevel para moverem-se no dia-a-dia e no mundo do trabalhordquo (BARBOSA 2003 p

3) Considerando minha atuaccedilatildeo como docente das disciplinas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia percebi que a Modelagem Matemaacutetica poderia ser utilizada na tentativa de

propiciar uma melhor formaccedilatildeo matemaacutetica em termos de aplicabilidadeusabilidade para os

alunos de Engenharia respondendo assim aos questionamentos dos alunos sobre os papeacuteis

de tais conteuacutedos na respectiva formaccedilatildeo profissional

No primeiro semestre de 2010 com a intenccedilatildeo de elaborar um projeto de

doutorado que visasse agrave compreensatildeoanaacutelise das possibilidades de ensino-aprendizagem por

meio da Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia procurei por disciplinas oferecidas

pelo programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da UFMG especificamente da linha da

Educaccedilatildeo Matemaacutetica Cursei uma disciplina da linha Educaccedilatildeo Matemaacutetica denominada

Letramento e Numeramento teorias e praacuteticas Nessa disciplina pude refletir acerca de

questotildees relacionadas agrave Educaccedilatildeo Matemaacutetica o que me ajudou a construir o projeto

4 No texto que segue agraves vezes o termo Modelagem seraacute utilizado com referecircncia agrave Modelagem Matemaacutetica

apenas para evitar repeticcedilotildees desnecessaacuterias

17

requerido para o ingresso no Programa da mesma instituiccedilatildeo Participei do processo seletivo e

em agosto de 2010 ingressei no doutorado No projeto inicial a pergunta diretriz era5

De que forma a Modelagem Matemaacutetica aliada a recursos computacionais pode inter-

relacionar a disciplina de Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias6 agraves demais disciplinas

lsquoteacutecnicasrsquo dos cursos de Engenharia

Em todo o ano de 2010 lecionei a disciplina Caacutelculo III que no CEFET-MG

engloba os conteuacutedos das Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias (EDOs) Minha preocupaccedilatildeo

inicial estava focada na inter-relaccedilatildeo da disciplina EDO com as demais disciplinas

denominadas teacutecnicas dos cursos de Engenharia Meu entendimento estava alicerccedilado na

concepccedilatildeo de que as EDOs satildeo por definiccedilatildeo aplicaccedilotildees dos conteuacutedos do Caacutelculo I ndash

limites derivadas e integrais de funccedilotildees reais de uma variaacutevel real Conforme Habre (2002 p

2) ldquoEquaccedilotildees Diferenciais satildeo lindas aplicaccedilotildees de ideias e teacutecnicas do Caacutelculo para

solucionar vaacuterios problemas da vida realrdquo7 Tinha tambeacutem a intenccedilatildeo de considerar a

utilizaccedilatildeo de recursos tecnoloacutegicos computacionais em trabalhos com Modelagem

Matemaacutetica jaacute que ldquohaacute uma certa harmonia na parceria entre a Modelagem Matemaacutetica e

tecnologias informaacuteticas Parece haver uma solicitaccedilatildeo natural pelo uso de computadores eou

calculadoras quando se estaacute desenvolvendo algum trabalho de Modelagem Matemaacuteticardquo

(ARAUacuteJO 2002 p 43)

A maioria dos livros didaacuteticos8 atuais que trata das EDOs as concebe como entes

matemaacuteticos abstratos que podem ser aplicados em vaacuterios ramos da ciecircncia Os autores em

5 ldquoUm dos momentos cruciais no desenvolvimento de uma pesquisa eacute o estabelecimento da pergunta diretriz Eacute

ela que como o proacuteprio nome sugere iraacute dirigir o desenrolar de todo o processo [] elaborar ou melhor

construir uma pergunta diretriz eacute um ponto crucial do qual depende o sucesso da pesquisa [] O processo de

construccedilatildeo da pergunta diretriz de uma pesquisa eacute na maioria das vezes um longo caminho cheio de idas e

vindas mudanccedilas de rumos retrocessos ateacute que apoacutes um certo periacuteodo de amadurecimento surge a pergunta

Um grande problema que percebemos em diversas pesquisas eacute que muitas vezes o caminho natildeo eacute apresentado

pelo autorrdquo (ARAUacuteJO BORBA 2006 p 29 grifo do autores) 6 Na ocasiatildeo da elaboraccedilatildeo do projeto de doutorado estava focada apenas em compreender a Modelagem em

cursos de Engenharia em termos da disciplina Caacutelculo III do CEFET-MG que engloba os conteuacutedos das

Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias que podem ser compreendidas da seguinte forma ldquouma equaccedilatildeo que conteacutem

as derivadas ou diferenciais de uma ou mais variaacuteveis dependentes em relaccedilatildeo a uma ou mais variaacuteveis

independentes eacute chamada de equaccedilatildeo diferencial (ED)rdquo (ZILL CULLEN 2008 p 2 grifo dos autores)

Equaccedilotildees Diferenciais podem ser classificadas em Ordinaacuterias (EDO) ndash quando envolvem funccedilotildees (e suas

derivadas) de apenas uma variaacutevel ndash ou Parciais (EDP) ndash quando envolvem funccedilotildees (e suas derivadas) de mais

de uma variaacutevel 7 Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoDifferential equations are a beautiful application of the ideas and techniques of

calculus to solve various real life problemsrdquo 8 Por exemplo (i) Boyce e Diprima (1996) (ii) Zill e Cullen (2008) (iii) Edwards e Penney (1996) e (iv) Zill

(1997)

18

geral dedicam parte dos capiacutetulos para o estudo das aplicaccedilotildees das EDOs9 separados do

tratamento teoacuterico A dicotomia teoria-aplicaccedilatildeo difundida nos livros de EDO pode fomentar

um debate sobre as metodologias utilizadas pelos professores em tais disciplinas mediante o

que eacute esperado em termos da formaccedilatildeo matemaacutetica dos alunos das Engenharias

Metodologicamente ao trabalharmos com aplicaccedilotildees podemos assumir um

caraacuteter meramente de resoluccedilatildeo de problemas muitas vezes fictiacutecios inventados pelos autores

dos livros didaacuteticos ou adaptados por eles para apenas justificar o estudo de uma teoria

matemaacutetica ou ainda para tornar os conteuacutedos mais ligados a situaccedilotildees de uma dada

ldquorealidaderdquo Poreacutem ao mesmo tempo em que a matemaacutetica pode se justificar mediante a

apresentaccedilatildeo de um problema ainda que fictiacutecio alguma(s) dificuldade(s) pode(m) emergir

em tal praacutetica quando as hipoacuteteses e simplificaccedilotildees necessaacuterias ao entendimento do problema

natildeo satildeo apresentadas ou explicitadas nos livros didaacuteticos Muito difundido nos livros de EDO

o modelo10

que representa a Lei de Newton do Resfriamento de Corpos11

eacute apresentado sem

levar em conta as hipoacuteteses e simplificaccedilotildees para o entendimento da realidade fiacutesica em

questatildeo representada por meio de um modelo matemaacutetico ndash uma EDO

Habre (2000) entende que as Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias devem existir nos

curriacuteculos pois estabeleceriam o elo entre a Matemaacutetica e as demais Ciecircncias Nesse sentido

Bassanezi (2006 p 35) afirma que ldquoA tocircnica dos cursos de graduaccedilatildeo eacute desenvolver

disciplinas matemaacuteticas lsquoaplicaacuteveisrsquo em especial aquelas baacutesicas que jaacute serviram como

auxiliares na modelagem de fenocircmenos de alguma realidade como Equaccedilotildees Diferenciais

Ordinaacuterias e Parciaisrdquo

No contexto dos cursos de Engenharia a Modelagem Matemaacutetica ao pressupor

multidisciplinaridade vai ao encontro do que Fraga Novaes e Dagnino (2010 p 154)

acreditam que ldquoa formaccedilatildeo em engenharia deve se dar a partir de um problema colocado pela

sociedade e a soluccedilatildeo desse problema natildeo apenas teoricamente mas tambeacutem na praacutetica

colocaria a necessidade de se aprender conhecimentos teoacutericosrdquo

Baldino e Cabral (2004 p 139) acreditam que o ensino de disciplinas

matemaacuteticas em cursos de Engenharia se tornou problema apoacutes a reforma universitaacuteria de

1969 que ldquoaboliu a estrutura de caacutetedras e implantou a de departamentos e institutos baacutesicos

9 A esse respeito ver Boyce e Diprima (1996) capiacutetulo 2 seccedilatildeo 25 ndash Aplicaccedilotildees das Equaccedilotildees Lineares de

Primeira Ordem 10

Segundo Bassanezi (2006 p 19) ldquoquando se procura refletir sobre uma porccedilatildeo da realidade na tentativa de

explicar de entender ou de agir sobre ela ndash o processo usual eacute selecionar no sistema argumentos ou paracircmetros

considerados essenciais e formalizaacute-los atraveacutes de um sistema artificial o modelordquo 11

A ldquoLei de Newton do Resfriamento de Corposrdquo afirma que a taxa de resfriamento de um corpo eacute proporcional

agrave diferenccedila entre a temperatura do corpo e a temperatura do meio ambiente

19

seguindo o modelo vigente nos Estados Unidosrdquo Tal departamentalizaccedilatildeo afastou os

conhecimentos ditos baacutesicos dos profissionais promovendo uma cisatildeo dos conhecimentos

Dessa forma os professores que lecionam as disciplinas de Matemaacutetica muitas vezes natildeo

tecircm conhecimento sobre a necessidade dos conteuacutedos que lecionam para a formaccedilatildeo dos

futuros engenheiros Isso pode ser asseverado pelo fato de raramente tais disciplinas

consideradas do ciclo baacutesico serem relacionadas com as demais tanto aquelas do proacuteprio

ciclo baacutesico quanto aquelas da aacuterea teacutecnica ou profissional

Nesse sentido Baldino e Cabral (2004 p 176) refletem sobre uma situaccedilatildeo em

que foi apresentado um problema de aplicaccedilatildeo de EDO na Fiacutesica um sistema massa-mola

Afirmam que ldquonas universidades departamentalizadas essa lsquomateacuteriarsquo eacute considerada de Fiacutesica

e o professor de matemaacutetica natildeo tem o direito de lsquoensinarrsquo a aplicar a segunda lei de Newtonrdquo

Tal regra embora natildeo exista explicitamente pode permear as praacuteticas pedagoacutegicas das

universidades departamentalizadas podendo ser descumprida por exemplo mediante a

inserccedilatildeo de problemas de outras realidades que sejam solucionados com o auxiacutelio de

ferramentas matemaacuteticas

Em cursos de Engenharia as disciplinas de Caacutelculo podem ser consideradas

disciplinas em serviccedilo (BARBOSA 2004a) Essa expressatildeo eacute usada para designar as

disciplinas matemaacuteticas ministradas em graduaccedilotildees que natildeo satildeo de Matemaacutetica Ou seja

trata-se de disciplinas de conteuacutedo matemaacutetico em cursos que natildeo formam matemaacuteticos (ou

professores de matemaacutetica)

Moreno e Azcaacuterate Gimeacutenez (2003) detectam que natildeo haacute clareza nos objetivos

atuais da disciplina Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias o que dificulta o trabalho dos

professores em atribuiacuterem metas a serem alcanccediladas Como consequecircncia acabam ensinando

conteuacutedos que estatildeo nos curriacuteculos tradicionais mas que hoje perderam seu sentido e sua

razatildeo de ser devido aos avanccedilos tecnoloacutegicos Tais autores percebem ldquoa necessidade de um

debate e seacuteria reflexatildeo sobre a utilidade interesse e importacircncia dos atuais conteuacutedos para um

ensino e aprendizagem mediados pelas novas tecnologias e condicionados pelas demandas

sociaisrdquo12

(MORENO AZCAacuteRATE GIMEacuteMEZ 2003 p 278)

A necessidade de repensar os processos pedagoacutegicos utilizados atualmente por

muitos professores de EDO em cursos de Engenharia bem como a inserccedilatildeo das ferramentas

12 Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquola necesidad de un debate y reflexioacuten seria sobre la utilidad intereacutes e

importancia de los contenidos actuales para un aprendizaje y una ensentildeanza mediatizada por las nuevas

tecnologiacuteas y condicionada por las demandas socialesrdquo

20

disponiacuteveis tambeacutem foi enfatizada em uma pesquisa realizada por Dullius Arauacutejo e Veit

(2011 p 20) que nos fornecem o seguinte posicionamento

Comparando o contexto de ensino das EDs hoje em dia com o que se tinha na

metade do seacuteculo passado percebemos que os tipos de alunos satildeo outros as

necessidades e exigecircncias do mercado de trabalho natildeo satildeo as mesmas assim como

as ferramentas disponiacuteveis mas a maioria das aulas continuam em essecircncia sendo

ministradas da mesma forma Os curriacuteculos precisam ser repensados e os avanccedilos

tecnoloacutegicos considerados

O enfoque frequentemente dado agrave disciplina se baseia na apresentaccedilatildeo de uma

EDO e do seu respectivo meacutetodo de resoluccedilatildeo Habre (2002 p 2) afirma que ldquoequaccedilotildees satildeo

usualmente classificadas e para cada classe um meacutetodo de soluccedilatildeo eacute apresentadordquo13

Tal

enfoque pode ser insuficiente sob a perspectiva da utilidade dos conteuacutedos de tal disciplina

nos cursos de Engenharia Encontrar a soluccedilatildeo expliacutecita da EDO sem fazer outros tipos de

anaacutelises a respeito das equaccedilotildees em si e de possiacuteveis usos como ferramentas para a resoluccedilatildeo

de problemas correlatos aos cursos de Engenharia pode se configurar como algo

contraditoacuterio pois pode levar os alunos a uma preocupaccedilatildeo exclusiva com os meacutetodos de

resoluccedilatildeo deixando de lado o objetivo principal que consistiria no entendimento do processo

(ou fenocircmeno) que gerou determinada EDO assim como interpretar suas soluccedilotildees em

consonacircncia com o fenocircmeno que ela representa

Aleacutem disso como afirma Bassanezi (2006 p 125) ldquosomente um grupo reduzido

de equaccedilotildees diferenciais admite soluccedilatildeo na forma de uma funccedilatildeo analiticamente expliacutecitardquo

Com essa abordagem das EDOs deixam-se de lado vaacuterios enfoques relevantes como o

processo da formulaccedilatildeo de modelos bem como o estudo qualitativo com abordagem

substancialmente geomeacutetrica conforme aponta Javaroni (2007 p 20) em sua tese A autora

afirma

[] que o processo de formulaccedilatildeo dos modelos e a interpretaccedilatildeo das soluccedilotildees ou do

comportamento das soluccedilotildees satildeo tatildeo importantes quanto as teacutecnicas de resoluccedilatildeo das

equaccedilotildees diferenciais ordinaacuterias e que este aspecto deve ser trabalhado para que os

alunos desenvolvam capacidades de anaacutelise e interpretaccedilatildeo A questatildeo da

visualizaccedilatildeo eacute essencial no entendimento dos aspectos dinacircmicos de um curso

introdutoacuterio de equaccedilotildees diferenciais e o entendimento da derivada como variaccedilatildeo

de uma curva eacute central na interpretaccedilatildeo de graacuteficos bem como o comportamento das

soluccedilotildees ao longo do tempo e a existecircncia de um estado de equiliacutebrio

13

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoEquations are usually classified and for each class a method of solution is

presentedrdquo

21

A ecircnfase qualitativa permite uma multiplicidade de possibilidades para uma

melhor exploraccedilatildeo dos conteuacutedos abordados em Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias Contudo

deve-se pontuar que devido agrave complexidade da anaacutelise qualitativa de algumas Equaccedilotildees

Diferenciais Ordinaacuterias o uso de softwares eacute imprescindiacutevel Para uma abordagem qualitativa

dos campos de direccedilotildees pode-se utilizar os softwares como Maple eou WinPlot14

entre

outros que permitem a visatildeo e a exploraccedilatildeo do comportamento desses campos de direccedilotildees

bem como o comportamento da proacutepria soluccedilatildeo

Habre (2000) afirma que a abordagem das Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias no

cenaacuterio internacional vem passando por mudanccedilas no acircmbito estrutural tornando-se cada vez

mais visual (geomeacutetrica) e numeacuterica o que ampliaria a visatildeo do aprendiz sobre o conteuacutedo

estudado O autor chama a atenccedilatildeo para o fato de poucas pesquisas estarem sendo

desenvolvidas em relaccedilatildeo ao entendimento dos alunos quanto a essa abordagem Contudo no

acircmbito nacional ldquoem geral as anaacutelises geomeacutetrica e numeacuterica natildeo satildeo abordadas no estudo

dos modelosrdquo (JAVARONI 2007 p 20)

Vale ressaltar que apesar de inicialmente ter feito um levantamento dos estudos

e pesquisas sobre os processos de ensino-aprendizagem de EDO no decorrer do

desenvolvimento da pesquisa ainda na fase de construccedilatildeo teoacuterica decidi15

natildeo ficar restrita

apenas aos conteuacutedos dessa disciplina16

mas passei a considerar os conteuacutedos das disciplinas

de Caacutelculo que permeiam os curriacuteculos dos cursos de Engenharia Tal decisatildeo estava

vinculada ao formato da intervenccedilatildeo que tinha decidido realizar Naquele momento natildeo havia

qualquer garantia que os conteuacutedos de EDO apareceriam na atividade que seria analisada

Contudo durante a fase da construccedilatildeo dos dados para a referida pesquisa conteuacutedos de EDO

estiveram presentes na atividade de modelagem analisada Por esse motivo optei por deixar

no presente texto esse breve levantamento sobre os processos de ensino-aprendizagem de

EDO

Desdobramentos da proposiccedilatildeo da pesquisa

14

A esse respeito ver wwwmaplesoftcom ptwikipediaorgwikiMaple wwwmatufpbbrsergiowinplot 15

Tal decisatildeo foi ancorada no fato de natildeo haver a priori nenhuma garantia de que na atividade de Modelagem

Matemaacutetica constituinte dos dados que foram construiacutedos para a pesquisa relatada nesta tese as EDOs estariam

presentes jaacute que o tema seria escolhido de forma coletiva pelos sujeitos 16

No CEFET-MG a disciplina Caacutelculo III trata dos conteuacutedos de EDO e na instituiccedilatildeo que configurou como

contexto da pesquisa os conteuacutedos de EDO satildeo abordados na disciplina BAC 022 ndash Matemaacutetica IV

22

Apoacutes o ingresso no referido programa de doutorado ainda em 2010 comecei a

participar do Grupo de Pesquisa e Estudos Histoacuterico-Culturais em Educaccedilatildeo Matemaacutetica e

Ciecircncias da Faculdade de Educaccedilatildeo da UFMG do qual a orientadora desta pesquisa eacute

coordenadora na tentativa de buscar um referencial teoacuterico que possibilitasse o

desenvolvimento desta pesquisa Comecei entatildeo a realizar leituras participar das reuniotildees do

grupo e discutir com colegas e professores sobre as teorias denominadas de Histoacuterico-

Culturais originadas nos estudos de Vygotsky

Uma das leituras realizadas em 2010 ndash o texto de Engestroumlm (2002) ndash comeccedilou a

dar um novo direcionamento para a pesquisa Nele eacute abordada a questatildeo da descontinuidade

entre atividades escolares e atividades fora da escola O autor coloca os conhecimentos

escolares como algo encapsulado distante da realidade cotidiana dos indiviacuteduos que

participam de tais praacuteticas e denomina tal fenocircmeno de encapsulaccedilatildeo da aprendizagem

escolar Ao refletir sobre os motivos que levam os indiviacuteduos a participarem de atividades

escolares enfatiza que na maioria das vezes eles natildeo aprendem para a vida mas para a

escola Frequentemente em variadas esferas da sociedade atual ouvimos pessoas falando que

ldquoprecisam estudar para a provardquo e satildeo raras as vezes que ouvimos pessoas falando que

ldquoprecisam estudar para aprenderrdquo Engestroumlm (2002) exemplifica a abordagem de uma

atividade cotidiana ndash a busca pelo entendimento das fases da Lua ndash respondendo agrave pergunta

ldquoPor que a lua muda a sua formardquo Para ele todas as atividades escolares deveriam ser

iniciadas com questotildees-problema que instiguem os participantes a pensarem refletirem e

buscarem entendimento para tal questatildeo Engestroumlm (2002) se apoia em Resnick (1987) que

teceu uma reflexatildeo acerca da descontinuidade e do isolamento entre os conceitos estudados

durante o processo de escolarizaccedilatildeo e o resto daquilo que fazemos nos momentos da vida que

passamos fora da escola Nas palavras do autor

O processo de escolarizaccedilatildeo parece encorajar a ideia de que o ldquojogo da escolardquo eacute

aprender regras simboacutelicas de vaacuterios tipos de que natildeo se supotildee haver muita

continuidade entre o que algueacutem sabe fora da escola e o que se aprende na escola

[hellip] A escolarizaccedilatildeo cada vez mais parece isolada do resto daquilo que fazemos

(RESNICK 1987 p 15 apud ENGESTROumlM 2002 p 176)

Baseando em Engestroumlm (2002) por analogia apropriei-me do termo

encapsulaccedilatildeo para me referir agrave descontinuidade entre as atividades desenvolvidas nas

disciplinas de Caacutelculo e as demais atividades institucionais que compotildeem a formaccedilatildeo do

engenheiro

23

Tomando por base a Teoria da Aprendizagem Expansiva de Engestroumlm (1987)

que propotildee uma concepccedilatildeo ldquoproacutepriardquo de aprendizagem entendendo-a como algo coletivo ndash

natildeo mais centrado apenas na cogniccedilatildeo individual ndash bem como a psicologia histoacuterico-cultural

de Vygotsky entende-se que tal concepccedilatildeo de aprendizagem parece ser uma opccedilatildeo teoacuterica

propiacutecia para a anaacutelise de possiacuteveis aprendizagens que acontecem por meio de praacuteticas de

Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia por se tratar de atividades coletivas

realizadas em grupo e por ser considerada uma praacutetica natildeo padronizada onde natildeo eacute possiacutevel

delinear a priori no planejamento o que aconteceraacute na praacutetica Neste sentido pode-se

entender que praacuteticas de Modelagem muitas vezes satildeo aprendidas enquanto estatildeo sendo

criadas

Aleacutem disso Engestroumlm (2001) aponta que teorias claacutessicas de aprendizagem

focam nos processos em que o sujeito individual adquire algum conhecimento ou habilidade

identificaacutevel fazendo com que o sujeito possa mudar de comportamento atitudes accedilotildees Tais

conhecimentos ou habilidades satildeo tomados como estaacuteveis e bem definidos O professor

competente segundo essas teorias eacute aquele que sabe o conteuacutedo a ser ensinado e aprendido

pelos alunos Contudo Engestroumlm (2001 p 136-137) reflete que muitos dos tipos mais

intrigantes de aprendizagens em organizaccedilotildees de trabalho violam essa pressuposiccedilatildeo

Pessoas e organizaccedilotildees estatildeo a todo tempo aprendendo algo que natildeo eacute estaacutevel nem

mesmo definido ou entendido agrave priori

Em importantes transformaccedilotildees de nossas vidas pessoais e praacuteticas organizacionais

noacutes precisamos aprender novas formas de atividade que ainda natildeo existem Elas satildeo

aprendidas literalmente enquanto estatildeo sendo criadas Natildeo existe professor

competente Teorias padratildeo de aprendizagem tecircm pouco a oferecer se algueacutem quiser

entender tais processos17

A aprendizagem expansiva segundo Engestroumlm (2002 p 196) ldquoexplora os

conflitos e insatisfaccedilotildees existentes entre professores alunos pais e outros implicados na

escolarizaccedilatildeo ou afetados por ela convidando-os a se reunir numa transformaccedilatildeo concreta da

praacutetica correnterdquo Sugere ainda que ldquoos aprendizes precisam antes de tudo ter uma

oportunidade de analisar criticamente e sistematicamente sua atividade presente e suas

contradiccedilotildees internasrdquo (ENGESTROumlM 2002 p 192) Os termos atividade e contradiccedilotildees

17

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoPeople and organizations are all the time learning something that is not stable

not even defined or understood ahead of time In important transformations of our personal lives and

organizational practices we must learn new forms of activity which are not yet there They are literally learned

as they are being created There is no competent teacher Standard learning theories have little to offer if one

wants to understand these processesrdquo

24

internas satildeo conceitos da Teoria da Atividade e seratildeo mais bem definidos no capiacutetulo

seguinte

A anaacutelise sistemaacutetica da atividade presente e suas contradiccedilotildees internas portanto

configura-se como um ponto de partida ou forccedila motriz para transformaccedilotildees expansivas das

praacuteticas sociais devido ao fato de que ldquose o homem vivesse em plena harmonia com a

realidade ou absolutamente conciliado com seu presente natildeo sentiria a necessidade de negaacute-

los idealmente nem de configurar em sua consciecircncia uma realidade ainda inexistenterdquo

(SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 189)

As discussotildees apresentadas por Engestroumlm (1987 2001 2002 2008) me levaram

a refletir sobre as possibilidades de anaacutelise dos fenocircmenos que podem ocorrer em praacuteticas de

Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia utilizando o aporte teoacuterico da

Aprendizagem Expansiva Para Engestroumlm (2002 p 197) a Aprendizagem Expansiva propotildee

romper a encapsulaccedilatildeo da aprendizagem escolar pois o proacuteprio contexto da aprendizagem eacute

alterado Nas palavras do autor ldquoa abordagem da aprendizagem expansiva romperia a

encapsulaccedilatildeo da aprendizagem escolar por uma ampliaccedilatildeo gradual do objeto e do contexto da

aprendizagemrdquo

Entendendo que uma finalidade prefigura idealmente o que ainda natildeo se

conseguiu ou o que ainda se pretende alcanccedilar ldquoao propor objetivos o homem nega uma

realidade efetiva e afirma outra que ainda natildeo existerdquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p

189) Ao analisar sistematicamente as atividades de que participei ateacute tal momento histoacuterico

de minha formaccedilatildeo aliadas agraves leituras e informaccedilotildees que tive acesso apoacutes o ingresso no

referido programa de poacutes-graduaccedilatildeo incluindo a participaccedilatildeo em grupos de pesquisa fui

conduzida agrave produccedilatildeo de novos objetivos que passaram a orientar a pesquisa relatada nesta

tese diferentes daqueles que havia adotado inicialmente mas ainda assim relacionados entre

si

O objetivo didaacutetico-pedagoacutegico impresso no projeto inicial de doutorado

submetido agrave seleccedilatildeo para ingresso no programa de poacutes-graduaccedilatildeo consistia em melhorar a

inter-relaccedilatildeo da disciplina EDO e as demais disciplinas teacutecnicas dos cursos de Engenharia por

meio de atividades de Modelagem Matemaacutetica A questatildeo de pesquisa buscava por anaacutelises

relacionadas agraves formas que a Modelagem Matemaacutetica poderia assumir para o cumprimento de

tal objetivo ou seja usando a terminologia de Engestroumlm (2002) de que forma a Modelagem

Matemaacutetica aliada a recursos computacionais poderia romper com a encapsulaccedilatildeo da

disciplina EDO em cursos de Engenharia Um resultado esperado ainda que hipoteticamente

consistia na melhoria da formaccedilatildeo matemaacutetica dos engenheiros Vale ressaltar que atividades

25

de Modelagem podem assumir diferentes objetivos em diferentes contextos de formaccedilatildeo O

principal objetivo geralmente delimitado pelos professores acaba por definir a perspectiva de

Modelagem (KAISER SRIRAMAN 2006) assumida em determinado contexto formativo

Tal questatildeo seraacute tratada mais formalmente no capiacutetulo seguinte desta tese Por agora detenho-

me em explicitar o que foi alterado em relaccedilatildeo agrave questatildeo de pesquisa

Primeiramente o objetivo principal da pesquisa relatada nesta tese teve uma

essencial mudanccedila no foco Inicialmente a meta da pesquisa era relataranalisar o efeito que a

Modelagem Matemaacutetica poderia causar em cursos de Engenharia no sentido das

possibilidades de inter-relaccedilotildees de EDO com as demais disciplinas dos referidos cursos Apoacutes

reformular o projeto inserindo-lhe ldquolentesrdquo teoacuterico-analiacuteticas ndash as Teorias da Atividade e da

Aprendizagem Expansiva- senti a necessidade de modificar o foco da questatildeo de pesquisa

passei a focar nas possibilidades de aprendizagens expansivas que pudessem ser evidenciadas

pelas e nas atividades desenvolvidas por um grupo de estudos e pesquisa sobre Modelagem

Matemaacutetica em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias Com isso as proacuteprias

aprendizagens expansivas caso ocorressem poderiam possibilitar inclusive o rompimento

da encapsulaccedilatildeo de conteuacutedos estudados nas disciplinas de Caacutelculo pois o proacuteprio contexto

da atividade tradicional de formaccedilatildeo em Engenharia seria18

alterado mediante uma ampliaccedilatildeo

gradual do objeto e do contexto da aprendizagem19

Em segundo lugar a forma que a Modelagem Matemaacutetica assumiria nessa

pesquisa jaacute estava tambeacutem definida como foco de estudos discussotildees e reflexotildees de um

Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica20

(GEPMM) Frequentemente

praacuteticas escolares de Modelagem satildeo concebidas como coletivas ndash realizadas em grupos

Baseada em Engestroumlm (2001) acabei por decidir pela constituiccedilatildeo de um Grupo de Estudos e

Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica jaacute que os sujeitos que porventura aceitassem se engajar

em tais atividades precisariam aprender novas formas de atividade constituindo assim novas

formas de aprendizagem que ainda natildeo existiam no referido contexto formativo Na

instituiccedilatildeo destinada agrave formaccedilatildeo de engenheiros definida como contexto empiacuterico para o

desenvolvimento da presente pesquisa natildeo existiam de fato atividades de Modelagem

Matemaacutetica em formato algum Ao objetivar a anaacutelise das possibilidades de aprendizagens

18

Explicaccedilotildees mais pontuais quanto agraves transformaccedilotildees do objeto e do contexto de aprendizagem podem ser

encontradas no capiacutetulo 1 deste texto 19

Engestroumlm (2002 p 197) enfatiza que ldquoa abordagem da aprendizagem expansiva romperia a encapsulaccedilatildeo da

aprendizagem escolar por uma ampliaccedilatildeo gradual do objeto e do contexto da aprendizagemrdquo 20

Por vezes utilizarei apenas a sigla GEPMM para me referir ao Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem

Matemaacutetica

26

expansivas evidenciadas naspelas atividades de um grupo de Modelagem poderia ndash a

atividade ndash ocorrer dentro ou fora da sala de aula

Finalmente em terceiro lugar estaacute a definiccedilatildeo de que o grupo de Modelagem

realizaria suas atividades fora da sala de aula num formato que possibilitasse estudos

pesquisa e que as atividades pudessem ser documentadas em um longo periacuteodo de tempo

Caso tivesse optado em propor o formato de atividade de Modelagem dentro de sala de aula

de certo teria impliacutecito em tal proposta um prazo que delimitaria a proacutepria questatildeo de

pesquisa Aprendizagens expansivas necessitam de anaacutelises de longo prazo constituem

transformaccedilotildees qualitativas21

em praacuteticas sociais em atividades coletivas e natildeo mudanccedilas em

sujeitos em suas atitudes eou habilidades e competecircncias ainda que as atitudes dos sujeitos

possam ser analisadas em tal quadro teoacuterico-analiacutetico (ENGESTROumlM SANNINO 2010b)

Nesse sentido nesta tese busco analisar possibilidades de aprendizagens expansivas em

praacuteticas formativas sendo aprendidas literalmente enquanto estariam sendo criadas (numa

instituiccedilatildeo destinada agrave formaccedilatildeo de engenheiros) mediante a constituiccedilatildeo de um contexto

formativo mais amplo ndash o GEPMM Isso seraacute mais bem discutido nos demais capiacutetulos desta

tese

Vale ressaltar que tais objetivos e a adequaccedilatildeo das accedilotildees a eles configuraram-se

mediante os ajustes que na maioria das vezes foram tentativas de aproximaccedilatildeo entre as

idealizaccedilotildees impressas em um projeto de pesquisa e uma pesquisa em movimento ndash um

ldquodesignrdquo emergente (ARAUacuteJO BORBA 2006) Uma pesquisa em movimento pressupotildee

aquisiccedilatildeo de novas idealizaccedilotildees necessaacuterias em cada parte cada aglomerado de accedilotildees que estaacute

atrelado agrave finalidade da pesquisa em questatildeo Isso inclui transformaccedilotildees qualitativas em

termos de acesso e incorporaccedilatildeo de teorias agrave pesquisa por parte do pesquisador modificaccedilotildees

relacionadas agrave metodologia e procedimentos para a construccedilatildeo dos dados da referida pesquisa

o que acaba por implicar em modificaccedilotildees na pergunta diretriz

Sendo assim apoacutes aprofundamento teoacuterico e construccedilatildeo dos dados para a presente

pesquisa que seratildeo apresentados nos proacuteximos capiacutetulos outros direcionamentos em relaccedilatildeo

agrave pergunta diretriz se fizeram necessaacuterios Entre idas e vindas recortes e costuras a presente

tese se orientou pela seguinte pergunta diretriz

21

O termo Transformaccedilotildees Qualitativas constituinte da Teoria da Aprendizagem Expansiva de Engestroumlm

(1987) seraacute mais bem definido no capiacutetulo seguinte desta tese Por hora vale ressaltar que transformaccedilotildees

qualitativas sugerem mudanccedilas em praacuteticas sociais

27

Quais aprendizagens expansivas podem ser evidenciadas pelas e nas atividades

desenvolvidas por um Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica

(GEPMM22

) em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias

Estrutura da tese

No capiacutetulo 1 desta tese intitulado Atividades formativas agrave luz da teoria

histoacuterico-cultural da Atividade e da Aprendizagem Expansiva apresento os pressupostos

teoacutericos que foram utilizados na concepccedilatildeo assim como na anaacutelise dos dados construiacutedos

para a presente investigaccedilatildeo

No capiacutetulo 2 intitulado Caacutelculo e Modelagem na Engenharia concepccedilotildees

perspectivas e a atual formaccedilatildeo do engenheiro discorro sobre alguns toacutepicos relacionados ao

contexto da presente investigaccedilatildeo Exponho brevemente a legislaccedilatildeo que normatiza a

formaccedilatildeo de engenheiros no Brasil atualmente aponto alguns aspectos relacionados aos

processos de ensino-aprendizagem das disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia e

nesse contexto apresento a Modelagem Matemaacutetica como um espaccedilo formativo alternativo

Aleacutem disso com base na literatura sobre Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica busco por

concepccedilotildees e perspectivas relacionadas a essa atividade apresentando uma revisatildeo de

literatura com foco na Modelagem em processos de ensino-aprendizagem relacionada agraves

disciplinas de Caacutelculo dos cursos de Engenharia

No capiacutetulo 3 intitulado Metodologia de Pesquisa e Procedimentos explicito os

motivos que fizeram com que a abordagem da presente investigaccedilatildeo fosse qualitativa

apresento os procedimentos e instrumentos para a construccedilatildeo e a anaacutelise dos dados Aleacutem

disso delimito o contexto da pesquisa apresentando o contexto institucional e as aulas de

Caacutelculo assim como a constituiccedilatildeo do contexto alternativo - GEPMM - e os sujeitos nele

envolvidos

No capiacutetulo 4 intitulado Os dados construiacutedos e analisados a constituiccedilatildeo do

GEPMM como ciclo de accedilotildees potencialmente expansivas apresento uma anaacutelise da

constituiccedilatildeo do GEPMM com base no arcabouccedilo teoacuterico apresentado no capiacutetulo 2 mais

especificamente no ciclo de accedilotildees expansivas (ENGESTROumlM SANNINO 2010b) Para tal

22

Vale ressaltar que o GEPMM se configura um espaccedilo formativo alternativo realizando suas accedilotildees fora da sala

de aula tradicional tanto de Caacutelculo quanto das demais disciplinas dos cursos de Engenharia Os motivos que

podem complementar a justificativa para tal escolha metodoloacutegica podem ser encontrados no capiacutetulo 2

28

utilizo os dados construiacutedos para a presente investigaccedilatildeo elaborando inclusive uma resenha

do que aconteceu nos encontros do GEPMM utilizados como corpus de anaacutelise

No capiacutetulo 5 intitulado por Modalidades Analiacuteticas construo um tipo de

arcabouccedilo analiacutetico com o objetivo de satisfazer ao questionamento impresso na pergunta de

pesquisa quais aprendizagens expansivas podem ser evidenciadas pelas e nas atividades

desenvolvidas por um GEPMM em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias Elaboro

quatro modalidades analiacuteticas e as intitulo

1ordf Modalidade =gt Dialeacutetica da Existecircncia da ldquoTelardquo Invisiacutevel GEPMM como

possibilidade para aprendizagem expansiva por meio da construccedilatildeo de parceria

docente-discente num contexto de formaccedilatildeo em Engenharias

2ordf Modalidade =gt Os sujeitos a multi-agency e as muacuteltiplas atividades

possibilidade para aprendizagem expansiva como movimento na zona de

desenvolvimento proximal das atividades docente-discente mediante a formaccedilatildeo

de parcerias

3ordf Modalidade =gt Modelagem e a caixa preta do ldquopeso corporal idealrdquo num

contexto de formaccedilatildeo em Engenharias do Caacutelculo em accedilatildeo agraves aprendizagens

expansivas como transformaccedilotildees qualitativas do objeto da atividade

4ordf Modalidade =gt Multivocalidade e agency evidenciadas pelas interaccedilotildees

tecnomediadas em atividades de Modelagem Matemaacutetica idealizaccedilotildees

desencadeadoras de aprendizagens potencialmente expansivas num contexto de

formaccedilatildeo em Engenharias

No capiacutetulo 6 intitulado Consideraccedilotildees Finais faccedilo um tipo de fechamento de

ideias com respeito agrave investigaccedilatildeo relatada nesta tese Aleacutem disso delimito de antematildeo um

horizonte possiacutevel para nortear pesquisas futuras

29

1 ATIVIDADES23

FORMATIVAS Agrave LUZ DA TEORIA HISTOacuteRICO-

CULTURAL DA ATIVIDADE E DA APRENDIZAGEM EXPANSIVA

Neste capiacutetulo apresento os pressupostos teoacutericos que foram utilizados na

concepccedilatildeo desta pesquisa em especial na anaacutelise dos dados construiacutedos para tal fim

Podendo ser entendida como uma teoria ancorada na Teoria Histoacuterico-Cultural24

a Teoria da Atividade se fundamenta na teoria marxista que estabelece o trabalho como algo

que desempenha papel central no desenvolvimento humano humanizando e possibilitando o

desenvolvimento da cultura que por sua vez influencia e eacute influenciada pelo contexto

histoacuterico-social Sob essa oacutetica as diferenccedilas entre os homens e os outros animais natildeo podem

ser simplesmente explicadas pela evoluccedilatildeo bioloacutegica25

O homem tal como os outros animais cotidianamente se defronta com

necessidades26

que o impulsiona a planejar accedilotildees na tentativa de satisfazer tais necessidades

Contudo o homem se diferencia dos demais animais ldquoao assumir uma posiccedilatildeo de natildeo

indiferenccedila perante a naturezardquo (RIGON ASBAHR MORETTI 2010 p 16) Isto eacute o

homem se apropria da natureza buscando satisfazer necessidades que natildeo estatildeo apenas

relacionadas agrave garantia de sua existecircncia bioloacutegica mas sobretudo cria necessidades

relacionadas agrave sua existecircncia cultural Dessa forma

Ao agir intencionalmente sobre a natureza visando transformaacute-la de modo a

satisfazer suas necessidades produzindo o que deseja e quando deseja o homem ao

mesmo tempo que deixa sobre a natureza as marcas da atividade humana tambeacutem

transforma a si proacuteprio constituindo-se humano Para que toda e qualquer atividade

se configure como humana eacute essencial entatildeo que seja movida por uma

intencionalidade sendo esta por sua vez uma resposta agrave satisfaccedilatildeo das necessidades

que se impotildeem ao homem em sua relaccedilatildeo com o meio em que vive natural ou

culturalizado (RIGON ASBAHR MORETTI 2010 p 17)

Para Saacutenchez Vaacutezquez (1977) a atividade humana pode em alguns casos ter uma

ldquosemelhanccedila externardquo com certos atos dos animais como por exemplo a atividade de caccedila

23

Buscando distinguir o termo atividade do senso comum destacarei usando itaacutelico ndash atividade ndash quando estiver

me referindo agrave teoria da atividade 24

Tem como projeto central estudar a formaccedilatildeo da subjetividade dos indiviacuteduos a partir de seu mundo objetivo

concreto isto eacute a formaccedilatildeo da consciecircncia humana em sua relaccedilatildeo com a atividade (RIGON ASBAHR

MORETTI 2010 p 22) 25

ldquoSegundo Vygotsky o comportamento e a mente humanos devem ser considerados em termos de accedilotildees

intencionais e culturalmente significativas em vez de respostas bioloacutegicas adaptativasrdquo (KOZULIN 2002 p

116) 26

O termo necessidade com base na teoria marxista estaacute relacionado com carecimento ou carecircncia

30

Contudo para o autor somente a atividade humana caracteriza-se essencialmente pela

atividade da consciecircncia da qual eacute inseparaacutevel O autor afirma que a atividade da consciecircncia

[] se desenvolve como produccedilatildeo de objetivos que prefiguram idealmente o

resultado real que se pretende obter mas se manifesta tambeacutem como produccedilatildeo de

conhecimentos isto eacute em forma de conceitos hipoacuteteses teorias ou leis mediante os

quais o homem conhece a realidade (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 191)

A capacidade de planejar accedilotildees que configura de alguma forma a

intencionalidade assim como formas especiacuteficas de linguagem pode ser observada em todos

os tipos de animais Poreacutem

[] a accedilatildeo planejada de todos os animais em seu conjunto natildeo conseguiu imprimir

sobre a terra a marca de sua vontade Isso aconteceu com o aparecimento do homem

Em uma palavra o animal utiliza a natureza exterior e produz modificaccedilotildees nela

pura e simplesmente com sua presenccedila entretanto o homem por meio de

modificaccedilotildees submete-a [a Natureza] a seus fins a domina Eacute esta a suprema

diferenccedila entre o homem e os animais diferenccedila decorrida tambeacutem do trabalho

(ENGELS 2002 p 125)

A faculdade de projetar que delimita e configura a distinccedilatildeo entre homens e os

demais animais foi debatida por Pinto (2005a p 54) que enfatizou que a ldquoessecircncia do

projeto consiste no modo de ser do homem que se propotildee criar novas condiccedilotildees de existecircncia

para sirdquo O autor estaacute em sintonia com a visatildeo de Engels (2002)

O projeto eacute na verdade a caracteriacutestica peculiar porque engendrada no plano do

pensamento da soluccedilatildeo humana do problema da relaccedilatildeo do homem com o mundo

fiacutesico e social [] O poder da accedilatildeo que o homem manifesta sobre a natureza

distingue-se do possuiacutedo pelos demais seres vivos por se exercer em consequecircncia

da capacidade de projetar [] pela accedilatildeo dos homens a realidade se vai povoando de

produtos de fabricaccedilatildeo intencional realizada pelo ser que se tornou projetante

(PINTO 2005a p 55)

Aacutelvaro Pinto (2005a) entende que o homem eacute o uacutenico ser vivo capaz de

manifestarproduzir representaccedilotildees de uma dada realidade no pensamento e a partir dela

fazer emergir ainda no plano mental uma sequecircncia de accedilotildees direcionadas a uma finalidade

ligada a essa realidade Pinto (2005a p 59 grifos meus) esclarece ainda que

O projeto significa o relacionamento da accedilatildeo a uma finalidade em vista da qual satildeo

preparados e dispostos meios necessaacuterios e convenientes O conceito de projeto

revela que o sistema nervoso superior soacute eacute capaz de concebecirc-lo quando supera o

condicionamento hereditaacuterio imposto pelas estruturas invariaacuteveis recebidas

diretamente da natureza tornando-se entatildeo fonte de outras formas de

condicionamento as que procedem no reflexo das coisas efetuando em suas ceacutelulas

31

cerebrais em iacutentimas ligaccedilotildees com o exerciacutecio da atividade em condiccedilotildees sociais

Esta anaacutelise mostra desde jaacute o caraacuteter necessariamente teacutecnico de toda accedilatildeo humana

pois agir significa um modo de ser ligado a alguma finalidade que o indiviacuteduo se

propotildee cumprir

Dessa forma natildeo seria possiacutevel compreender a atividade humana desconsiderando

sua relaccedilatildeo com a consciecircncia pois essas duas categorias na verdade podem ser entendidas

como constituintes de uma unidade dialeacutetica como segue

Nas relaccedilotildees entre consciecircncia e atividade a consciecircncia eacute a forma especificamente

humana do reflexo psiacutequico da realidade ou seja eacute a expressatildeo das relaccedilotildees do

indiviacuteduo com o mundo social cultural e histoacuterico que abre ao homem um quadro

do mundo em que ele mesmo estaacute inserido A consciecircncia refere-se assim agrave

possibilidade humana de compreender o mundo social e individual como passiacuteveis

de anaacutelise (RIGON ASBAHR MORETTI 2010 p 20)

A origem do conceito atividade na psicologia sovieacutetica pode ser encontrada nos

estudos de Vigotski27

(1896-1934) sugerindo que a atividade socialmente significativa pode

ser considerada como um dos fatores que geram a consciecircncia humana (KOZULIN 2002)

Na teoria cultural-histoacuterica das funccedilotildees mentais (ou processos psicoloacutegicos) superiores de

Vigotski bem como nos estudos vigotskianos do desenvolvimento da linguagem e da

formaccedilatildeo de conceitos foi de extrema relevacircncia a incorporaccedilatildeo do conceito de atividade

Kozulin (2002) entende que para Vigotski a consciecircncia eacute construiacuteda de fora para dentro por

meio das relaccedilotildees sociais e aleacutem disso que natildeo haacute distinccedilatildeo entre o mecanismo do

comportamento social e o da consciecircncia

Vigotski buscou em Marx e Hegel pressupostos que fizeram emergir uma teoria

social da atividade humana podendo ser entendida como contrapartida ao naturalismo e agrave

tradiccedilatildeo empirista como afirma Kozulin (2002) De Hegel Vigotski adota ldquouma visatildeo

absolutamente histoacuterica dos estaacutegios de desenvolvimento e das formas de realizaccedilatildeo da

consciecircncia humanardquo (KOZULIN 2002 p 115) Tal historicidade eacute tecida do ponto de vista

da filogecircnese ndash toma como base a histoacuteria evolutiva da espeacutecie humana- da histoacuteria

sociocultural ndash toma como base a (des) e (re)contextualizaccedilatildeo dos instrumentos de mediaccedilatildeo-

e da ontogecircnese ndash considera a evoluccedilatildeo histoacuterica individual na qual a formaccedilatildeo da

personalidade se caracteriza natildeo apenas pelo desenvolvimento bioloacutegico mas sobretudo pela

mediaccedilatildeo sociocultural (WERTSCH 1985 1988)- De Marx Vigotski adota o conceito de

praacutexis humana que grosso modo toma como sendo a atividade histoacuterica concreta gerando

27

A esse respeito ver Consciousness as a problem in the psychology of behavior (VIGOTSKI 1979)

32

os fenocircmenos da consciecircncia Vigotski acreditava que a atividade funciona como uma

ferramenta psicoloacutegica e tem caraacuteter semioacutetico mediacional (KOZULIN 2002)

Leontiev em meados dos anos 1930 faz emergir uma versatildeo revisionista da

Teoria da Atividade de Vigotski na qual entende que ldquoa atividade28

ndash ora como atividade ora

como accedilatildeo ndash desempenha todos os papeacuteis desde objeto ateacute princiacutepio explanatoacuteriordquo

(KOZULIN 2002 p 136) Leontiev aponta que ldquoo desenvolvimento da consciecircncia da

crianccedila ocorre como um resultado do desenvolvimento do sistema de operaccedilotildees psicoloacutegicas

as quais por seu turno satildeo determinadas pelas relaccedilotildees concretas entre a crianccedila e a

realidaderdquo (LEONTIEV 1980 p 186 apud KOZULIN 2002 p 127)

Dessa forma Leontiev considera em suas pesquisas que a atividade praacutetica eacute

transformada em atividade praacutetica e intelectual ndash plano interpsicoloacutegico (entre pessoas e

mediaccedilotildees) transformado em plano intrapsicoloacutegico Leontiev e seus colaboradores satildeo

conhecidos como a segunda geraccedilatildeo da Teoria da Atividade Vigotski sugeriu que a atividade

socialmente significativa eacute o princiacutepio explicativo da consciecircncia ou seja a consciecircncia eacute

construiacuteda de ldquoforardquo para ldquodentrordquo por meio das relaccedilotildees sociais (KOZULIN 2002)

Na teoria de Leontiev ldquoa atividade assumiu duplo papel ndash o de princiacutepio geral e o

de mecanismo concreto de mediaccedilatildeordquo (KOZULIN 2002 p 131) ldquoLeontiev sugeriu o

seguinte desmembramento da atividade atividade corresponde a um motivo accedilatildeo

corresponde a um objetivo e operaccedilatildeo depende de condiccedilotildeesrdquo (KOZULIN 2002 p 131)

Para entendermos melhor tais conceituaccedilotildees vejamos o que o proacuteprio Leontiev

nos apresenta

Natildeo levando o objeto da accedilatildeo por si proacuteprio a agir eacute necessaacuterio que a accedilatildeo surja e

se realize que o seu objeto apareccedila ao sujeito na sua relaccedilatildeo com o motivo da

atividade em que entra esta accedilatildeo Essa accedilatildeo eacute refletida pelo sujeito sob uma forma

perfeitamente determinada sob a forma de consciecircncia do objeto da accedilatildeo enquanto

fim Assim o objeto da accedilatildeo natildeo eacute afinal senatildeo o seu fim imediato conscientizado

(LEONTIEV 2004 p 317)

Vale ressaltar que a atividade correspondente a um motivo eacute algo coletivo e

consciente Jaacute as accedilotildees correspondentes a um objetivo podem ser entendidas como processos

que satildeo subordinados agraves metas individuais ou coletivas considerando a complexa estrutura da

divisatildeo do trabalho humano ou mesmo podem ser entendidas como processos de

cumprimento de objetivos parciais da atividade As accedilotildees e os objetivos correspondem assim

28

ldquoTal conceito de atividade teraacute duas funccedilotildees princiacutepio explicativo da constituiccedilatildeo das funccedilotildees psicoloacutegicas

superiores e da personalidade e ao mesmo tempo objeto de investigaccedilatildeo soacute sendo possiacutevel compreender tais

constituiccedilotildees a partir do estudo da atividaderdquo (RIGON ASBAHR MORETTI 2010 p 22)

33

ao indiviacuteduo engajado em uma atividade e agrave consciecircncia As operaccedilotildees podem ser entendidas

como meios ou procedimentos pelos quais a accedilatildeo eacute executada para satisfazer seu objetivo As

operaccedilotildees sempre correspondem agraves condiccedilotildees que podem ser entendidas como as

ferramentas necessaacuterias para a realizaccedilatildeo da operaccedilatildeo As condiccedilotildees e as operaccedilotildees podem

ser relacionadas ao indiviacuteduo agrave inconsciecircncia e agrave incorporaccedilatildeo (KAWASAKI 2008 p 108)

ldquoOs motivos portanto pertencem agrave realidade socialmente estruturada de produccedilatildeo e

apropriaccedilatildeo ao passo que as accedilotildees pertencem agrave realidade imediata de objetivos praacuteticosrdquo

(KOZULIN 2002 p 132 itaacutelicos meus)

Para Leontiev (1978) a principal caracteriacutestica que distingue uma atividade da

outra eacute a diferenccedila de seus objetos Para o autor o objeto de uma atividade eacute o que lhe fornece

uma direccedilatildeo determinada uma finalidade constituindo-se dessa forma como seu verdadeiro

motivo Vale ressaltar que para Leontiev o objeto de qualquer atividade humana natildeo eacute algo

neutro nem individual mas sim um objeto da experiecircncia coletiva social pois para ele a

atividade dos outros nos oferece uma base uma gama de possibilidades objetivas que abarca

uma espeacutecie de estrutura especiacutefica das accedilotildees do indiviacuteduo

Eacute preciso entender a atividade levando-se em conta a dinacircmica das necessidades

assim como as diversas formas de executar accedilotildees e operaccedilotildees que podem alterar os processos

constituintes da atividade As accedilotildees podem se transformar em atividades as atividades

podem se transformar em accedilotildees as accedilotildees podem se tornar procedimentos para alcanccedilar um

objetivo configurando-se assim como operaccedilotildees

Para Engestroumlm ldquouma entidade do mundo exterior torna-se um objeto da

atividade quando atende a uma necessidade humana29

rdquo (ENGESTROumlM 2008 p 89 grifos

meus) E para Leontiev (1978) essa reuniatildeo eacute um ldquoato extraordinaacuteriordquo o sujeito constroacutei o

objeto destacando as propriedades que julga serem essenciais para o desenvolvimento da

praacutetica social em que deseja se engajar

Os artefatos mediadores da atividade para Engestroumlm (1987) satildeo considerados

as ferramentas e os signos necessaacuterios para que o sujeito da atividade realize accedilotildees orientadas

para o objetomotivo

Se considerarmos por exemplo a caccedila como uma atividade humana o alimento

(a presa) seria o objeto da atividade pois o alimento eacute o objeto pelo qual a atividade eacute

orientada Tal atividade estaria amparada pela finalidade relacionada a uma necessidade ou

desejo a necessidade de saciar a fome ou desejo de comer uma iguaria As accedilotildees entatildeo

29

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoAn entity in the outside world becomes an object of activity as it meets a

human needrdquo

34

estariam relacionadas aos processos ou objetivos parciais para alcanccedilar o objetivo Para

satisfazer a necessidade pelo alimento eacute preciso executar accedilotildees que natildeo visam diretamente agrave

obtenccedilatildeo do alimento como por exemplo preparar algum equipamento para ser utilizado na

caccedila Para isso seriam necessaacuterias condiccedilotildees para que tais equipamentos possam ser

elaborados como habilidades de construir equipamentos teacutecnicas de extraccedilatildeo de mateacuteria-

prima para a elaboraccedilatildeo dos equipamentos entre outras e ainda precisariam ser

implementadas operaccedilotildees que possibilitem essa fase da atividade de caccedila

A atividade educacional ndash formativa e institucionalizada- foi investigada

profundamente por Davydov que incorporou conceitos de Vigotski e Leontiev para formular

uma teoria sobre o ensino a teoria do ensino desenvolvimental (LIBAcircNEO FREITAS 2006)

Na sociedade informacional Davydov afirma que a tarefa da escola contemporacircnea consiste

em ensinar os aprendizes a se orientarem independentemente que inclui informaccedilotildees oriundas

das comunidades cientiacuteficas - ensinaacute-los a pensar por meio de um ensino que promova o

desenvolvimento mental e psiacutequico (DAVIacuteDOV 1988 p 3 apud LIBAcircNEO FREITAS

2006)

Davydov (1988 apud LIBAcircNEO FREITAS 2006) enfatiza que educaccedilatildeo e

ensino satildeo necessaacuterios para o desenvolvimento humano e que estatildeo amalgamadas agraves

premissas da teoria histoacuterico-cultural de Vigotski que inclui os fatores socioculturais e a

atividade interna dos indiviacuteduos Davydov propotildee um ensino escolar ancorado em atividades

de aprendizagem cujo conteuacutedo do ensino seja a base do ensino desenvolvimental Vale

ressaltar que Davydov natildeo defende a mera transmissatildeo de conteuacutedos mas sim a escola como

promotora de atividades que forneccedilam aos alunos mecanismos para o desenvolvimento de

suas habilidades e competecircncias incluindo aprender por si mesmos

Alguns autores se baseiam em Davydov e tratam dos fenocircmenos educativos como

praacutetica social - como uma atividade Para Rigon Asbahr e Moretti (2010 p 24 grifo meu)

o objeto da atividade pedagoacutegica eacute a transformaccedilatildeo dos indiviacuteduos no processo de

apropriaccedilatildeo dos conhecimentos e saberes por meio desta atividade ndash teoacuterica e

praacutetica ndash eacute que se materializa a necessidade humana de se apropriar dos bens

culturais como forma de constituiccedilatildeo humana

Engestroumlm (2008) entende que tradicionalmente o objeto da atividade do

professor ao participar de praacuteticas escolares pode ser socialmente entendido como sendo o

texto escolar (textos que englobam os livros didaacuteticos apostilas ou ateacute mesmo textos escritos

na lousa pelos professores e reproduzidos nos cadernos dos alunos) e aponta que tais ldquotextos

35

tornam-se um mundo fechado um objeto morto cortado de seu contexto de vidardquo

(ENGESTROumlM 1987 p 101) O autor posiciona tambeacutem os estudantes como parte da

componente objeto da atividade do professor Vale ressaltar que nas praacuteticas escolares

tradicionais comumente observadas em processos de escolarizaccedilatildeo na maioria das

instituiccedilotildees brasileiras de ensino o professor direciona sua atenccedilatildeo agrave transformaccedilatildeo dos

estudantes isto eacute educar significa transformar o estudante no que tange ao entendimento do

mundo e da realidade que o cerca tomando-se por base o texto escolar como referecircncia para

tal transformaccedilatildeo Engestroumlm (2008 p 89) esclarece ainda que

Nessa capacidade construiacuteda relacionada agrave necessidade o objeto ganha forccedila

motivacional que daacute forma e direccedilatildeo para a atividade O objeto determina o

horizonte de objetivos e accedilotildees possiacuteveis A atividade de trabalho dos professores nas

escolas eacute chamada de ensino A atividade dos estudantes nas escolas pode ser

chamada de school-going30

Bernardes (2009) reafirma o posicionamento de Engestroumlm (2008) a respeito do

objeto da atividade da educaccedilatildeo escolar ou seja das praacuteticas educativas escolarizadas como

um direcionamento de accedilotildees objetivando a transformaccedilatildeo do sujeito que aprende sendo este

o primeiro objeto da atividade de ensino A autora ainda afirma existir um segundo objeto

relacionado agrave atuaccedilatildeo profissional do educador sendo alicerccedilado na seguinte questatildeo o quecirc

ensinar e de que forma se organiza o ensino

A seleccedilatildeo e a identificaccedilatildeo do conhecimento teoacuterico-cientiacutefico a ser ensinado na

escola e a definiccedilatildeo das condiccedilotildees adequadas para a materializaccedilatildeo da organizaccedilatildeo

das accedilotildees de ensino na atividade pedagoacutegica requerem que o educador materialize o

segundo objeto da atividade de ensino O produto desta atuaccedilatildeo profissional eacute a

elaboraccedilatildeo de um instrumento que medeia o conhecimento que se objetiva e se

materializa na organizaccedilatildeo das accedilotildees de ensino (BERNARDES 2009 p 237)

Asbahr (2005) enfatiza que a significaccedilatildeo social da atividade pedagoacutegica do

professor seria proporcionar ambientes de aprendizagem que possibilitem aos estudantes se

engajarem em atividades de aprendizagem garantindo-lhes assim apropriaccedilatildeo do

conhecimento natildeo cotidiano A autora afirma que ensino-aprendizagem somente configura

uma atividade coletiva quando satildeo postos em uma uacutenica unidade isto eacute a atividade de ensino

ocorre se e somente se ocorrer a atividade de aprendizagem Dessa forma 30

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoIn this constructed need-related capacity the object gains motivating force

that gives shape and direction to activity The object determines the horizon of possible goals and actions The

work activity of school teachers is called teaching The activity of school students may be called school-goingrdquo

Natildeo encontrei uma traduccedilatildeo considerada por mim como satisfatoacuteria para o que Engestroumlm (1987 2008) chama

de school-going Contudo penso que o autor busca relacionar esse termo agrave ida dos estudantes diariamente agraves

escolas Talvez possa ser traduzido como ldquoida agrave escolardquo

36

O aluno natildeo eacute soacute objeto da atividade do professor mas eacute principalmente sujeito e

constitui-se como tal na atividade ensinoaprendizagem na medida em que participa

ativamente e intencionalmente do processo de apropriaccedilatildeo do saber superando o

modo espontacircneo e cotidiano de conhecer (BASSO 1994 apud ASBAHR 2005 p

114)

Na tentativa de entender os mais diversos fenocircmenos que podem ocorrer nas

praacuteticas escolares de ensino e aprendizagem podemos utilizar o aporte teoacuterico de Engestroumlm

(2001) que propotildee uma estrutura triangular para representar as accedilotildees individuais ou em

grupos constituindo sistemas de atividade coletiva contendo os seguintes elementos sujeito

artefatos ou instrumentos mediadores (ferramentas e signos) objeto comunidade regras

divisatildeo de trabalho e resultado (ENGESTROumlM 2001) como segue

FIGURA 1 ndash A estrutura de um sistema de atividade humana

Fonte ENGESTROumlM 2001 p 135

Os elementos da estrutura da atividade representada na FIG 1 (ENGESTROumlM

2001) podem ser explicados por Engestroumlm (1993)

No modelo o sujeito refere-se ao indiviacuteduo ou subgrupo cujo poder de agir eacute

tomado como ponto de vista na anaacutelise O objeto refere-se agrave ldquomateacuteria primardquo ou ao

ldquoespaccedilo problemardquo para o qual a atividade estaacute direcionada e que eacute moldado ou

transformado em resultados com o auxiacutelio de ferramentas fiacutesicas e simboacutelicas

externas e internas (instrumentos e signos mediadores) A comunidade compreende

indiviacuteduos eou subgrupos que compartilham o mesmo objeto geral A divisatildeo de

trabalho refere-se tanto agrave divisatildeo horizontal de tarefas entre os membros da

comunidade quanto agrave divisatildeo vertical de poder e status Finalmente as regras

referem-se aos regulamentos impliacutecitos e expliacutecitos normas e convenccedilotildees que

37

restringem as accedilotildees e interaccedilotildees no interior do sistema de atividade31

(ENGESTROumlM 1993 p 67 grifos do autor)

Engestroumlm (1987 2002 2008) critica veementemente a inversatildeo de papel que

pode ocorrer com o texto escolar em atividades de ensino-aprendizagem Para ele quando o

texto escolar (os livros didaacuteticos) eacute tomado como objeto da atividade escolar ocorre uma

inversatildeo de papeacuteis o que era para ser um instrumento passa a ser objeto da atividade

Engestroumlm (2008 p 89) ainda esclarece que ldquoem school-going textos assumem o papel de

objeto Este objeto eacute moldado pelos alunos de uma maneira curiosa o resultado de sua

atividade eacute sobretudo o mesmo texto reproduzido e modificado oralmente ou escrito de outra

forma32

rdquo

Sendo assim o objeto da atividade school-going pode ser caracterizado pelos

textos escolares (livros didaacuteticos apostilas etc) e pelos estudantes em formaccedilatildeo ndash alunos E

como objetivo central de tal atividade podemos considerar a transformaccedilatildeo dos indiviacuteduos

no processo de apropriaccedilatildeo dos conhecimentos e saberes (bens histoacutericos e culturais)

impressos nos textos e reproduzidos nas interaccedilotildees Nesse sentido o objetivo consiste na

capacitaccedilatildeo dos alunos para recriar ou refazer o ensinado

Vale pontuar que para Engestroumlm (2001 p 137 grifo meu) as ldquocontradiccedilotildees satildeo

tensotildees estruturais historicamente acumuladas dentro e entre sistemas de atividade33

rdquo Para

ele contradiccedilatildeo natildeo eacute a mesma coisa que problemas ou conflitos O autor esclarece que a

contradiccedilatildeo primaacuteria de atividades no capitalismo estaacute localizada no valor de uso e de troca

das mercadorias Engestroumlm (2001 p 137 grifo meu) enfatiza ainda que

Esta contradiccedilatildeo primaacuteria permeia todos os elementos de nossos sistemas de

atividade Atividades satildeo sistemas abertos Quando um sistema de atividade adota

um novo elemento de fora (por exemplo uma nova tecnologia ou um novo objeto)

ele leva frequentemente a uma contradiccedilatildeo secundaacuteria agravada onde algum antigo

elemento (por exemplo as regras ou a divisatildeo do trabalho) colide com o novo Tais

31

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoIn the model the subject refers to the individual or subgroup whose agency is

chosen as the point of view in the analysis The object refers to the ldquoraw materialrdquo or ldquoproblem spacerdquo at which

the activity is directed and which is molded or transformed into outcomes with the help of physical and

symbolic external an internal tools (mediating instruments and signs) The community comprises multiple

individuals andor subgroups who share the same general object The division of labor refers to both the

horizontal division of tasks between the members of the community and to the vertical division of power and

status Finally the rules refer to the explicit and implicit regulations norms and conventions that constrain

actions and interactions within the activity systemrdquo 32

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoIn school-going text takes the role of the object This object is molded by the

pupils in a curious manner the outcome if their activity is above all the same text reproduced and modified

orally or in written formrdquo 33

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoContradictions are historically accumulating structural tensions within and

between activity systemsrdquo

38

contradiccedilotildees geram distuacuterbios e conflitos mas tambeacutem tentativas inovadoras para

mudar a atividade34

Quando o texto escrito que compotildee livros didaacuteticos adotados durante os processos

de escolarizaccedilatildeo torna-se o objeto da atividade escolar em vez de ser um instrumento que

auxilie o entendimento do mundo podemos perceber que esse texto passa a carregar consigo

uma contradiccedilatildeo interna Engestroumlm (1987 p 102 grifo meu) faz os seguintes apontamentos

Primeiro de tudo ele eacute um objeto morto a ser reproduzido a fim de ganhar notas ou

outros lsquomarcadores de sucessorsquo que cumulativamente determinam o valor futuro do

proacuteprio aluno no mercado de trabalho Por outro lado ele tambeacutem tendenciosamente

aparece como um instrumento vivo de dominaccedilatildeo da proacutepria relaccedilatildeo com a

sociedade fora da escola [] como o objeto da atividade eacute tambeacutem o seu verdadeiro

motivo a natureza inerentemente dupla do motivo da school-going eacute agora visiacutevel35

Vale ressaltar que Engestroumlm (2001 p 136) enfatiza que para localizar qualquer

pesquisa na terceira geraccedilatildeo da Teoria da Atividade eacute preciso analisar no miacutenimo dois

sistemas de atividade interconectados

Na tentativa de exemplificar uma possiacutevel anaacutelise de atividade de aprendizagem

escolar tradicional utilizando a terceira geraccedilatildeo da Teoria da Atividade proposta por

Engestroumlm e seus colaboradores utilizarei um modelo exposto em Engestroumlm (2008 p 89)36

em que eacute apresentada uma unidade de anaacutelise (miacutenima) quando se deseja entender fenocircmenos

da sala de aula tradicional sistemas interconectados de atividade de ensino tradicional

(school-going) No modelo os sistemas de atividade dos professores como sujeitos de sua

proacutepria atividade diferem dos sistemas de atividade dos estudantes ora enquanto sujeitos de

sua proacutepria atividade ora enquanto objeto da atividade dos professores

FIGURA 2 ndash Os interdependentes sistemas de atividade de estudantes e professor

Fonte elabora do pela autora com base em ENGESTROumlM 2001 p 136 37

34

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoThis primary contradiction pervades all elements of our activity systems

Activities are open systems When an activity system adopts a new element from the outside (for example a new

technology or a new object) it often leads to an aggravated secondary contradiction where some old element (for

example the rules or the division of labor) collides with the new one Such contradictions generate disturbances

and conflicts but also innovative attempts to change the activityrdquo 35

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoFirst of all it is a dead object to be reproduced for the purpose of gaining

grades or other lsquosuccess markersrsquo which cumulatively determine the future value of the pupil himself in the labor

market On the other hand it tendentially also appears as a living instrument of mastering onersquos own relation to

society outside the school [] as the object of the activity is also its true motive the inherently dual nature of

motive of school-going is now visiblerdquo 36

Faccedilo nesse modelo uma pequena modificaccedilatildeo com relaccedilatildeo ao objeto da atividade dos dois sistemas

apresentados tomando por base o modelo apresentado por Engestroumlm (2001 p 136) em que eacute exposto um

terceiro objeto que seria o verdadeiro objeto dos sistemas de atividade no qual esse objeto eacute construiacutedo

mediante o compartilhamento dos outros dois objetos 37

Vide nota de rodapeacute anterior

39

O objeto da atividade school-going dos estudantes conforme representado por

Engestroumlm (2008) na FIG 2 pode ser entatildeo considerado como textos escolares (contidos em

livros didaacuteticos) os estudantes se orientam pelo livro e no livro eacute que eles realizam as accedilotildees

de entendimento dos conteuacutedos do ldquomundordquo presos nos textos escolares Os textos escolares

tambeacutem orientam a atividade dos professores Mas natildeo apenas os livros Os estudantes

tambeacutem fazem parte do objeto da atividade dos professores A ldquonuvemrdquo contida no modelo

corresponde a uma idealizaccedilatildeo do objeto da atividade tradicional como um objeto

compartilhado entre estudantes e professor(es) natildeo afirmo portanto que esse objeto seja

realmente compartilhado nas atividade da escola tradicional em sua totalidade

Bernardes (2009 p 240) confirmando o pensamento de Engestroumlm (2008)

esclarece que o motivo da atividade de ensino a ser realizada pelos professores como

sujeitos pode ser entendido(a) como ldquopossibilitar a transformaccedilatildeo da constituiccedilatildeo dos

estudantes por meio do acesso agrave cultura ndash humanizando-osrdquo O objetivo dessa atividade

estaria ancorado em ldquoensinar o conhecimento soacutecio-histoacutericordquo (BERNARDES 2009 p 240)

Jaacute o motivo da atividade de aprendizagem a ser realizada pelos estudantes ora como sujeitos

de sua proacutepria atividade ora como objeto da atividade do professor pode ser entendido como

ldquotornar-se herdeiro da cultura ndash humanizar-serdquo e o objetivo dessa atividade estaria ancorado

em ldquoapropriar-se do conhecimento soacutecio-histoacutericordquo (BERNARDES 2009 p 240)

Tanto para Engestroumlm (2008) quanto para Bernardes (2009) a unidade de anaacutelise

a ser adotada em anaacutelise de atividades formativas seria composta da seguinte forma a

40

atividade pedagoacutegica como sistemas interconectados de atividade ndash a atividade de ensino e a

atividade de aprendizagem (ou school-going para Engestroumlm) realizada por sujeitos

(professores e estudantes) ndash com objetivo relacionado ao acesso e agrave apropriaccedilatildeo da cultura por

meio do acesso e da apropriaccedilatildeo do conhecimento soacutecio-histoacuterico

Com isso cabe um questionamento os estudantes ao se moverem em busca de

satisfazer uma necessidade soacutecio-histoacuterica-cultural ndash humanizar-se ndash com o niacutetido objetivo de

participar da (e ao mesmo tempo agir na) sociedade ao se apropriar do conhecimento soacutecio-

histoacuterico acumulado pelo homem no decorrer de sua historicidade tornam-se eles mesmos

objeto de sua proacutepria atividade Podemos analisaacute-los dessa forma Tornar-se herdeiro da

cultura e se apropriar do conhecimento soacutecio-histoacuterico pode possibilitar ao estudante

transformaccedilotildees em termos de sua proacutepria participaccedilatildeo como ser-no-ldquomundordquo reflete ao

mesmo tempo devido agrave necessidade soacutecio-histoacuterica-cultural que este carrega um ldquomundordquo-

no-ser Dessa forma para analisar por meio da Teoria da Atividade fenocircmenos de ensino-

aprendizagem escolar como interconectados sistemas de atividade eacute necessaacuterio considerar

que ao engajarem em seu proacuteprio processo de escolarizaccedilatildeo (atividade de aprendizagem) os

estudantes satildeo ldquoenquadradosrdquo como objeto de sua proacutepria atividade e natildeo apenas sujeitos jaacute

que a atividade de aprendizagem eacute considerada como uma das componentes dos sistemas de

atividade que perfaz a atividade de ensino-aprendizagem

Dessa forma a atividade tradicional de ensino-aprendizagem constituiacuteda pelos

interconectados sistemas de atividade de alunos e professores cujo objeto eacute o texto escolar

(livros didaacuteticos) e tambeacutem os alunos ndash um objeto a ser compartilhado38

Assim percebemos

que na FIG 2 ocorreraacute num ponto de vista analiacutetico idealizado um compartilhamento entre

os objetos da atividade dos alunos e professor(es) ao considerarmos estes interconectados

sistemas de atividade Ao moldar esculpir construir seu proacuteprio objeto da atividade os

estudantes se tornam objeto de sua proacutepria atividade ndash atividade de aprendizagem ndash fazem

coincidir e passam a compartilhar o objeto da atividade dos professores ndash atividade de ensino

Essa condiccedilatildeo passa entatildeo a se constituir como necessaacuteria para o engajamento de

professores e alunos na atividade de ensino-aprendizagem que na presente pesquisa eacute

tomada como uma unidade de anaacutelise miacutenima utilizando a Teoria da Atividade em sua

denominada por Engestroumlm terceira geraccedilatildeo

38

Na FIG 2 este objeto seria o terceiro deles o idealizado ndash contido na ldquonuvemrdquo o compartilhamento do objeto

da atividade de ensino e do objeto da atividade de aprendizagem

41

Moura et al (2010 p 216 grifos meus) confirmam tal posicionamento com

relaccedilatildeo ao objeto da atividade de aprendizagem focando o conhecimento o conceito e

enfatizando que

Para que a aprendizagem se concretize para os estudantes e se constitua

efetivamente como atividade a atuaccedilatildeo do professor eacute fundamental ao mediar a

relaccedilatildeo dos estudantes com o objeto do conhecimento orientando e organizando o

ensino As accedilotildees do professor na organizaccedilatildeo do ensino devem criar no estudante a

necessidade do conceito fazendo coincidir os motivos da atividade com o objeto de

estudo

Contudo quando Moura et al (2010) enfatizam que os estudantes fazem parte do

objeto da atividade de ensino realizada pelos professores parecem natildeo considerar que a

atividade de ensino somente ocorre em uma diacuteade com a atividade de aprendizagem ldquoNatildeo haacute

docecircncia sem discecircnciardquo (FREIRE 1996 p 21) Soacute haacute ensino quando haacute aprendizagem

Ensina-se algo a algueacutem e esse algueacutem precisa aprender o que foi ensinado para que de fato

se possa dizer que foi ensinado Enquanto ensinar39

pode ser sinocircnimo de instruir ou ajudar

algueacutem a adquirir determinado conhecimento o verbo aprender40

pode ser sinocircnimo de se

instruir ou adquirir determinado conhecimento No entanto Freire (1996 p 23-24 grifo

meu) apesar de natildeo ser um estudiosoadepto da Teoria da Atividade aponta que

Natildeo haacute docecircncia sem discecircncia as duas se explicam e seus sujeitos apesar das

diferenccedilas que os conotam natildeo se reduzem agrave condiccedilatildeo de objeto um do outro

Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender Quem ensina

ensina alguma coisa a algueacutem [] Ensinar inexiste sem aprender [] Natildeo temo

dizer que inexiste validade no ensino de que natildeo resulta um aprendizado em que o

aprendiz natildeo se tornou capaz de recriar ou de refazer o ensinado em que o ensinado

que natildeo foi apreendido natildeo pode ser realmente aprendido pelo aprendiz

Natildeo eacute claro para mim o que Freire (1996) quis dizer quando enfatizou ldquonatildeo se

reduzem agrave condiccedilatildeo de objeto um do outrordquo contudo parece ter relaccedilatildeo direta com sua

rejeiccedilatildeo no que diz respeito agrave crenccedila de que ensinar eacute transferir conhecimento a algueacutem

sendo entatildeo esse algueacutem objeto daquele que transfere o conhecimento Para Freire (1996 p

22 grifos do autor) ldquoensinar natildeo eacute transferir conhecimento mas criar possibilidades para a

sua produccedilatildeo ou a sua construccedilatildeordquo

Sendo assim entendo que Engestroumlm (2008) expotildee interconectados sistemas de

atividade perfazendo a atividade do professor e a atividade dos estudantes (school-going) de 39

httpptwiktionaryorgwikiensinar

httpwwwdiciocombrensinar 40

httpptwiktionaryorgwikiaprender

httpwwwdiciocombraprender

42

forma distinta por perceber que nem sempre acontece de o aluno se reconhecer como objeto

de sua proacutepria atividade de aprendizagem mais do que isso o autor expotildee que a atividade

escolar tradicional descrita na FIG 2 eacute ldquoamplamente considerada alienante para ambos

estudantes e professores41

rdquo (ENGESTROumlM 2008 p 90) Tal alienaccedilatildeo acontece

principalmente pelo objeto da atividade de alunos e professores no processo tradicional de

escolarizaccedilatildeo estar ancorado no livro-texto em vez de o texto representar um instrumento que

auxilie a apropriaccedilatildeo dos conhecimentos como fatos socialmente e historicamente

construiacutedos

Vale ressaltar que a necessidade de apropriaccedilatildeo dos conhecimentos na qualidade

de constructos soacutecio-histoacuterico-culturais eacute (ou deveria ser) comungada por todos os indiviacuteduos

afetados pelo processo de escolarizaccedilatildeo ndash estudantes e professores mais do que eles todos os

indiviacuteduos da sociedade almejam por instruccedilatildeo Eacute na escola que se efetuam as praacuteticas de

instruccedilatildeo baseadas nos conhecimentos institucionalizados pela ciecircncia e referenciados por

todos A necessidade que pode ser atribuiacuteda pelo compartilhamento do conhecimento eacute (ou

deveria ser) comungada por estudantes e professores que ligados a essa necessidade

constroem os respectivos objetos de suas atividades como sujeitos na escola a atividade

educacional escolar cujo objeto eacute o conhecimento a ser compartilhado Aleacutem disso somente

entendo os estudantes como objeto da atividade do professor se eles se reconhecerem como

objeto da proacutepria atividade de aprendizagem ndash enquanto o primeiro instrui o segundo se

instrui inexoravelmente42

Uma observaccedilatildeo importante feita por Engestroumlm (2008) diz respeito agrave

metodologia de anaacutelise e tambeacutem agrave de construccedilatildeo dos dados de uma investigaccedilatildeo quando se

pretende usar a (denominada por ele) terceira geraccedilatildeo da Teoria da Atividade como ldquolenterdquo

teoacuterica Nas palavras dele

Orientadas pelo objetivo accedilotildees instrumentais publicamente roteirizadas satildeo a ponta

facilmente discerniacutevel do iceberg a profundidade da estrutura social da atividade

estaacute por debaixo da superfiacutecie mas oferece estabilidade e ineacutercia para o sistema

Assim o subtriacircngulo superior (sujeito-instrumentos-objeto) da Figura 7 representa

as accedilotildees instrumentais visiacuteveis de professores e alunos O curriacuteculo oculto estaacute

amplamente localizado na parte inferior do diagrama na natureza das regras a

comunidade e a divisatildeo do trabalho da atividade43

(ENGESTROumlM 2008 p 90)

41

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquowidely considered alienating for both students and teachersrdquo 42

Na minha concepccedilatildeo baseada nas ideias de Paulo Freire ensinar e aprender satildeo atividades disjuntas Ensinar

algo a algueacutem Nisso estaacute impresso uma mutualidade no objeto idealizado da atividade de ensino-

-aprendizagem escolar algo (algum conhecimento fenocircmeno conteuacutedo) e algueacutem (aquele que desempenharaacute as

accedilotildees empreendidas pelo aprender) 43

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoGoal-oriented publicly scripted instrumental actions are the easily discernible

tip of the iceberg the deep social structure of activity is underneath the surface but provides stability and inertia

43

Mesmo natildeo sendo necessariamente visiacuteveis do ponto de vista metodoloacutegico de

uma investigaccedilatildeo seratildeo consideradas na presente pesquisa as accedilotildees instrumentais localizadas

na parte inferior do diagrama de Engestroumlm (conforme FIG 1 e FIG 2) tais como as relaccedilotildees

de poder e controle que medeiam regulam e influenciam as relaccedilotildees sociais incluindo o

discurso como um produto histoacuterico-cultural

Ainda seratildeo considerados os seguintes cinco princiacutepios baacutesicos da Teoria da

Atividade44

apontados por Engestroumlm (2001 p 136-137) O primeiro diz respeito ao uso dos

sistemas de atividade como a unidade de anaacutelise Para isso ele apresenta seu sistema

triangular estendido como modelo para organizaccedilatildeo sistecircmica dos elementos que compotildeem a

atividade conforme exemplificado anteriormente na FIG 2 O segundo princiacutepio diz respeito

agrave multivocalidade do sistema de atividade Um sistema de atividades eacute composto por

comunidades com muacuteltiplos pontos de vista tradiccedilotildees e interesses A divisatildeo do trabalho cria

diferentes posiccedilotildees para os partiacutecipes que por sua vez portam suas proacuteprias e diversas

histoacuterias de vida os sistemas de atividade portam ainda muacuteltiplas camadas e vertentes da

histoacuteria gravadas em artefatos mediadores regras e convenccedilotildees O terceiro princiacutepio afirma

que a anaacutelise da atividade e dos componentes que a formam deve sempre ser tomada em sua

historicidade perceber o papel das contradiccedilotildees no movimento de uma atividade torna

possiacutevel tambeacutem a reconstituiccedilatildeo de sua evoluccedilatildeo e do desenvolvimento de suas praacuteticas ao

longo da histoacuteria O quarto princiacutepio que segundo Engestroumlm (2001) deveria ser seguido por

uma pesquisa que utiliza a Teoria da Atividade diz respeito agrave busca pelas contradiccedilotildees

internas dentro da atividade que seriam a forccedila motriz do desenvolvimento podendo ser

expressas por distuacuterbios inovaccedilotildees e mudanccedilas nos sistemas de atividade Finalmente o

quinto princiacutepio proclama a possibilidade de transformaccedilotildees expansivas nos sistemas de

atividade ldquoUma transformaccedilatildeo expansiva eacute realizada quando o objeto e o motivo da atividade

satildeo reconceitualizados adotando um horizonte radicalmente mais amplo de possibilidades do

que no estaacutegio anterior da atividade45

rdquo (ENGESTROumlM 2001 p 137) Para Engestroumlm

(1987) um ciclo completo de transformaccedilotildees expansivas pode ser entendido como uma

jornada coletiva por meio da zona de desenvolvimento proximal da atividade que ldquoeacute a

for the system Accordingly the topmost subtriangles (subject-instruments-object) da Figure 51 represent the

visible instrumental actions of teachers and students The hidden curriculum is largely located in the bottom parts

of the diagram in the nature of the rules the community and the division of labor of the activityrdquo 44

Denominada por Engestroumlm como a terceira geraccedilatildeo da teoria da atividade 45

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoAn expansive transformation is accomplished when the object and motive of

the activity are reconceptualized to embrace a radically wider horizon of possibilities than in the previous mode

of the activityrdquo

44

distacircncia entre as accedilotildees cotidianas dos indiviacuteduos e a historicamente nova forma de atividade

social que pode ser gerada coletivamente como uma soluccedilatildeo para o dilema potencialmente

incorporado nas accedilotildees cotidianasrdquo46

(ENGESTROumlM 1987 p 174)

Engestroumlm (1993) enfatiza que no que tange agrave historicidade de uma atividade a

ser analisada pela Teoria da Atividade a classificaccedilatildeo entre modos e tipos histoacutericos deve ser

realizada Para o autor o modo se refere agrave forma que certa atividade eacute organizada e realizada

pelos participantes em um dado momento O modo ldquose assemelha a um mosaico em constante

evoluccedilatildeo consistindo de vaacuterios interesses paralelos vozes e camadas47

rdquo (ENGESTROumlM

1993 p 68) Contudo um sistema de atividade como um todo tambeacutem representa algum

padratildeo qualitativo historicamente identificaacutevel ndash um tipo ideal ndash de seus componentes e suas

relaccedilotildees internas Partindo de tal diferenciaccedilatildeo Engestroumlm (1993) constroacutei um modelo

conceitual geral que permite analisar esses tipos histoacutericos com base na caracterizaccedilatildeo de

duas variaacuteveis principais o grau de complexidade e o grau de centralizaccedilatildeo O grau de

complexidade tende a ser crescente com o passar do tempo histoacuterico Jaacute o grau de

centralizaccedilatildeo dependeraacute do tipo de atividade a ser analisada Baixos graus de centralizaccedilatildeo e

altos graus de complexidade hipoteticamente corresponderiam a atividades dominadas

coletivamente e expansivamente

Engestroumlm (2002) na tentativa de criar uma maneira proacutepria de possibilitar e

analisar aprendizagens buscou inspiraccedilatildeo em dois autores O primeiro deles Davydov propocircs

uma estrateacutegia de ensino denominada formaccedilatildeo de conceitos teoacutericos pela ascensatildeo do

abstrato ao concreto que busca por meio de uma abstraccedilatildeo primaacuteria uma ldquoceacutelula

germinativardquo formas de deduzir e unificar outras formas de abstraccedilatildeo e generalizaccedilatildeo

transformando essa abstraccedilatildeo primaacuteria em um ldquoconceitordquo que imprime a ceacutelula germinativa

em sua essecircncia Para isso eacute preciso que ldquoos alunos reproduzam o processo atual pelo qual as

pessoas criaram conceitos imagens valores e normasrdquo (DAVYDOV 1988 p 21 apud

ENGESTROumlM 2002 p 185) A segunda autora eacute Jean Lave que propocircs analisar a

aprendizagem como participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima em comunidades de praacutetica Farei uma

breve explanaccedilatildeo dessas duas abordagens48

46

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoIt is the distance between the present everyday actions of the individuals and

the historically new form of the societal activity that can be collectively generated as a solution to the double

bind potentially embedded in the everyday actionsrdquo 47

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoThe mode resembles a continuously evolving mosaic consisting of various

parallel interests voices and layersrdquo 48

Engestroumlm (2002) busca inspiraccedilatildeo nas abordagens desses dois autores e agrega a elas o ldquocontexto da criacuteticardquo

(seraacute exposto posteriormente) para gerar um contexto que segundo ele seja propiacutecio para possibilitar

aprendizagens expansivas e por conseguinte o ldquorompimento da encapsulaccedilatildeordquo da aprendizagem escolar

45

11 Meacutetodo da ascensatildeo do abstrato ao concreto de Davydov

A teoria que Davydov propocircs denominada por meacutetodo da ascensatildeo do abstrato ao

concreto considera que a encapsulaccedilatildeo da aprendizagem49

escolar acontece devido ldquoa um vieacutes

empirista descritivo e classificatoacuteriordquo (ENGESTROumlM 2002 p 186) que permeia o ensino

tradicional e a elaboraccedilatildeo dos curriacuteculos Isso implica em um total desconhecimento por parte

dos alunos da gecircnese dos conhecimentos estudados dentro das escolas Engestroumlm e Sannino

(2010b) explicam que

Uma nova ideia ou conceito teoacuterico eacute inicialmente produzido sob a forma de um

abstrato relaccedilatildeo explicativa simples uma lsquoceacutelula germinativarsquo Esta abstraccedilatildeo

inicial eacute enriquecida passo-a-passo e transformada em um sistema concreto de

muacuteltiplas manifestaccedilotildees em constante desenvolvimento Na atividade de

aprendizagem a ideia inicial simples eacute transformada em um objeto complexo em

uma nova forma de praacutetica Atividade de aprendizagem leva agrave formaccedilatildeo de

conceitos teoacutericos - praacutetica teoricamente apreendida - concreto em riqueza sistecircmica

e multiplicidade de manifestaccedilotildees Neste quadro abstrato refere-se ao parcial

separado do todo concreto50

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 5)

Karel Kosik (1976) pode nos ajudar na compreensatildeo da ascensatildeo do abstrato ao

concreto Buscando em Marx Kosik explora dialeticamente as noccedilotildees de concretude e

abstraccedilatildeo Para isso ele define primeiramente o conceito de pseudoconcreticidade Segundo

ele

O complexo dos fenocircmenos que povoam o ambiente cotidiano e a atmosfera comum

da vida humana que com a sua regularidade imediatismo e evidecircncia penetram na

consciecircncia dos indiviacuteduos agentes assumindo um aspecto independente e natural

constitui o mundo da pseudoconcreticidade A ele pertecem

O mundo dos fenocircmenos externos que se desenvolvem agrave superfiacutecie dos processos

realmente essenciais

O mundo do traacutefico e da manipulaccedilatildeo isto eacute da praxis fetichizada dos homens (a

qual natildeo coincide com a praxis criacutetica revolucionaacuteria da humanidade)

49

O autor aborda a questatildeo da descontinuidade entre atividades escolares e atividades fora da escola

considerando os conhecimentos escolares como algo encapsulado distante da realidade cotidiana dos indiviacuteduos

que participam de tais praacuteticas denominando tal fenocircmeno por encapsulaccedilatildeo da aprendizagem escolar Ao

refletir sobre os motivos que levam os indiviacuteduos a participarem de atividades escolares enfatiza que na maioria

das vezes eles natildeo aprendem para a vida mas para a escola (ENGESTROumlM 2002) 50

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoA new theoretical idea or concept is initially produced in the form of an

abstract simple explanatory relationship a lsquogerm cellrsquo This initial abstraction is step-by-step enriched and

transformed into a concrete system of multiple constantly developing manifestations In learning activity the

initial simple idea is transformed into a complex object into a new form of practice Learning activity leads to

the formation of theoretical concepts ndash theoretically grasped practice ndash concrete in systemic richness and

multiplicity of manifestations In this framework abstract refers to partial separated from the concrete wholerdquo

46

O mundo das representaccedilotildees comuns que satildeo projeccedilotildees dos fenocircmenos externos

na consciecircncia dos homens produto da praxis feitichizada formas ideoloacutegicas de

seu movimento

O mundo dos objetos fixados que datildeo a impressatildeo de ser condiccedilotildees naturais e natildeo

satildeo imediatamente reconheciacuteveis como resultados da atividade social dos homens

(KOSIK 1976 p 15 grifo do autor)

Kosik nos mostra como o pensamento dialeacutetico entre a pseudoconcreticidade e os

fenocircmenos cotidianos estatildeo inteiramente relacionados por meio da consciecircncia dos

indiviacuteduos Diz ainda que para atingir a concreticidade eacute preciso destruir a

pseudoconcreticidade Nas palavras de Kosik (1976)

O pensamento que quer conhecer adequadamente a realidade que natildeo se contenta

com os esquemas abstratos da proacutepria realidade nem com suas simples e tambeacutem

abstratas representaccedilotildees tem de destruir a aparente independecircncia do mundo dos

contatos imediatos de cada dia O pensamento que destroacutei a pseudoconcreticidade

para atingir a concreticidade eacute ao mesmo tempo um processo no curso do qual sob o

mundo da aparecircncia se desvenda o mundo real por traacutes da aparecircncia externa do

fenocircmeno se desvenda a lei do fenocircmeno por traacutes do movimento visiacutevel o

movimento real interno por traacutes do fenocircmeno a essecircncia (KOSIK 1976 p 20)

Vale ressaltar que para Kosik (1976 p 36) ldquoo meacutetodo da ascensatildeo do abstrato ao

concreto eacute o meacutetodo do pensamentordquo atuando nos conceitos que satildeo considerados os

elementos da abstraccedilatildeo Sendo assim o autor explicita que tal ascensatildeo natildeo pode ser

entendida como uma lsquopassagemrsquo de um plano (sensiacutevel) para outro plano (racional) ou seja

para ele tal ascensatildeo consiste em ldquoum movimento no pensamento e do pensamentordquo (KOSIK

1976 p 36) Nesse sentido o autor aponta que

A ascensatildeo do abstrato ao concreto eacute um movimento para o qual todo iniacutecio eacute

abstrato e cuja dialeacutetica consiste na superaccedilatildeo desta abstratividade [] O processo

do pensamento natildeo se limita a transformar o todo caoacutetico das representaccedilotildees no todo

transparente dos conceitos no curso do processo o proacuteprio todo eacute concomitante

delineado determinado e compreendido (KOSIK 1976 p 36-37)

As reflexotildees apontadas por Kosik (1976) podem nos fornecer subsiacutedios

epistemoloacutegicos para o entendimento da estrateacutegia de ascender do abstrato para o concreto de

Davydov A teoria de Davydov aponta para a necessidade de a escola atuar de forma a

direcionar os alunos a descobrirem o ldquonuacutecleordquo ou ldquogermerdquo do assunto acadecircmico a ser

estudado Nas palavras de Davydov (1988)

Ao iniciar o domiacutenio de qualquer mateacuteria curricular os alunos com a ajuda dos

professores analisam o conteuacutedo do material curricular e identificam nele a relaccedilatildeo

geral principal e ao mesmo tempo descobrem que esta relaccedilatildeo se manifesta em

47

muitas outras relaccedilotildees particulares encontradas nesse determinado material Ao

registrar por meio de alguma forma referencial a relaccedilatildeo geral principal

identificada os alunos constroem com isso uma abstraccedilatildeo substantiva do assunto

estudado Continuando a anaacutelise do material curricular eles detectam a vinculaccedilatildeo

regular dessa relaccedilatildeo principal com suas diversas manifestaccedilotildees obtendo assim

uma generalizaccedilatildeo substantiva do assunto estudado Dessa forma as crianccedilas

utilizam consistentemente a abstraccedilatildeo e a generalizaccedilatildeo substantivas para deduzir

(uma vez mais com o auxiacutelio do professor) outras abstraccedilotildees mais particulares e para

uni-las no objeto integral (concreto) estudado Quando os alunos comeccedilam a usar a

abstraccedilatildeo e a generalizaccedilatildeo iniciais como meios para deduzir e unir outras

abstraccedilotildees eles convertem as estruturas mentais iniciais em um conceito que

representa o ldquonuacutecleordquo do assunto estudado Este ldquonuacutecleordquo serve posteriormente agraves

crianccedilas como um princiacutepio geral pelo qual elas podem se orientar em toda a

diversidade do material curricular factual que tecircm que assimilar em uma forma

conceitual por meio da ascensatildeo do abstrato ao concreto (DAVYDOV 1988 p 22

apud LIBAcircNEO 2004 p 17)

Engestroumlm (2002 p 186) enfatiza que a escola tradicional tende a permanecer

inerte ldquoporque seus lsquogermesrsquo nunca satildeo descobertos pelos estudantes e consequentemente

porque os estudantes natildeo tecircm a chance de usar esses lsquogermesrsquo para deduzir explicar predizer

e controlar na praacutetica fenocircmenos e problemas concretos em seu ambienterdquo Davydov

considera seis accedilotildees que devem orientar as atividades de aprendizagem orientadas pelo

meacutetodo da ascensatildeo do abstrato para o concreto Satildeo elas

1) Transformar as condiccedilotildees da tarefa a fim de revelar a relaccedilatildeo universal do objeto

em estudo

2) Modelar a relaccedilatildeo natildeo-identificada numa forma de item especiacutefico graacutefica ou

literal

3) Transformar o modelo da relaccedilatildeo a fim de estudar suas propriedades em sua

ldquoaparecircncia purardquo

4) Construir um sistema de tarefas particulares que satildeo resolvidas por um modo

geral

5) Monitorar o desempenho das accedilotildees precedentes

6) Avaliar a assimilaccedilatildeo do modo geral que resulta da resoluccedilatildeo da tarefa de

aprendizagem dada (DAVYDOV 1988 p 30 apud ENGESTROumlM 2002 p 186)

A FIG 3 mostra as fases da generalizaccedilatildeo teoacuterica proposta por Davydov como o

meacutetodo da ascensatildeo do abstrato ao concreto

48

FIGURA 3 ndash Sumaacuterio da generalizaccedilatildeo teoacuterica de Davydov

Fonte DAVYDOV 1982 p 42 apud ENGESTROumlM 2009 p 326

Engestroumlm (2002 p 188 grifo do autor) aponta que a soluccedilatildeo proposta por

Davydov para resolver a questatildeo da aprendizagem escolar pretende ldquoempurrar a escola para

dentro do mundo tornando-a dinacircmica e teoricamente poderosa no enfrentamento de

problemas praacuteticosrdquo Poreacutem para Engestroumlm (2002) essa estrateacutegia parece natildeo mudar a base

social da aprendizagem escolar mas ldquoao colocar os alunos em contato com os descobridores

do passado a estrateacutegia pode muito bem dar poder aos alunosrdquo (ENGESTROumlM 2002 p

188)

12 A participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima de Lave

Os conceitos fundamentais da abordagem de Jean Lave e Etiene Wenger se

baseiam na Participaccedilatildeo Perifeacuterica Legiacutetima (PPL) em comunidades de praacutetica que propotildeem

a noccedilatildeo de aprendizagem como o movimento gradualmente crescente na participaccedilatildeo de

sujeitos em comunidades de praacutetica Dessa forma ldquoa aprendizagem deve ser analisada como

uma parte integral da praacutetica social em que estaacute ocorrendo Para se mudar ou melhorar a

49

aprendizagem deve se reorganizar a praacutetica socialrdquo (ENGESTROumlM 2002 p 188) Ainda

Engestroumlm (2002) sinaliza que Lave e Wenger sugerem que

a aprendizagem como participaccedilatildeo em comunidades de praacutetica eacute particularmente

efetiva (a) quando os participantes tecircm amplo acesso a diferentes partes da atividade

e terminam procedendo agrave plena participaccedilatildeo nas tarefas nucleares (b) quando haacute

abundante interaccedilatildeo horizontal entre os participantes mediada especialmente por

histoacuterias de situaccedilotildees problemaacuteticas e suas soluccedilotildees e (c) quando as tecnologias e

estruturas da comunidade de praacutetica satildeo transparentes isto eacute quando seus

mecanismos internos estatildeo disponiacuteveis para a inspeccedilatildeo do aprendiz (ENGESTROumlM

2002 p 189)

Sob a oacutetica da aprendizagem como participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima em

comunidades de praacutetica Engestroumlm (2002) enfatiza que nas escolas muitas vezes haacute a

predominacircncia de curriacuteculos ocultos produzidos por meio de experiecircncias e resultados natildeo

intencionais podendo ateacute mesmo ser considerados condenaacuteveis sob o ponto de vista dos

curriacuteculos oficiais Para fundar uma comunidade de praacutetica com base nas sugestotildees apontadas

acima de forma a reorganizar o ensino seria necessaacuteria a identificaccedilatildeo de uma comunidade

de praacutetica que simularia o que os cientistas ou aqueles que aplicam os conhecimentos

cientiacuteficos fazem em suas atividades diaacuterias

Engestroumlm (2002) aponta que a soluccedilatildeo para a questatildeo da encapsulaccedilatildeo da

aprendizagem escolar proposta por Lave e Wenger cujo foco estaacute no entendimento da

aprendizagem como participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima em comunidades de praacutetica que toma

como objeto da referida atividade o contexto de aplicaccedilatildeo praacutetica parece pretender empurrar

o mundo para dentro da escola por meio da criaccedilatildeo de ldquocomunidades de praacutetica do mundo

exterior para dentro da escolardquo (ENGESTROumlM 2002 p 191 grifo do autor)

13 Aprendizagem expansiva

Engestroumlm (2002) toma como ponto de partida as ideias de Davydov e Lave cujas

abordagens se baseiam respectivamente nos contextos da descoberta e da aplicaccedilatildeo e

anexa a esses contextos o contexto da criacutetica

Para Engestroumlm (2002) as atividades escolares que objetivem o rompimento da

encapsulaccedilatildeo da aprendizagem escolar devem iniciar-se com uma criacutetica meticulosa sobre os

conteuacutedos e procedimentos a serem abordadosestudadosaprendidos agrave luz de sua histoacuteria O

50

autor questiona ldquopor que natildeo deixar que os proacuteprios alunos descubram como suas maacutes

concepccedilotildees satildeo manufaturadas na escolardquo (ENGESTROumlM 2002 p 192 grifo meu) Para

isso o autor orienta que inicialmente seria necessaacuteria uma anaacutelise criacutetica dos livros didaacuteticos e

curriacuteculos em aacutereas especiacuteficas de conteuacutedo

Aliados os contextos da descoberta da aplicaccedilatildeo e da criacutetica podem definir o

que Engestroumlm (2002) chama de contexto da aprendizagem por expansatildeo Para o autor

O contexto da criacutetica enfatiza os poderes de resistir questionar contradizer e

debater O contexto da descoberta enfatiza os poderes de experimentar modelar

simbolizar e generalizar O contexto da aplicaccedilatildeo enfatiza os poderes da relevacircncia

social e da aplicabilidade do conhecimento do envolvimento da comunidade e da

praacutetica guiada (ENGESTROumlM 2002 p 193 grifos meus)

Engestroumlm (1987 2002) enfatiza que para o contexto da criacutetica ser plenamente

estabelecido seria necessaacuterio criar um contexto alternativo de aprendizagem de forma que aos

alunos seja inaugurada a possibilidade de elaborar e implementar um novo caminho na

praacutetica um modelo novo de praacutexis um novo modo de fazer e participar do trabalho escolar

ou seja os sujeitos tecircm de aprender algo que natildeo existe a priori ldquoeles adquirem sua atividade

futura enquanto a vatildeo criandordquo (ENGESTROumlM 2002 p 193) O autor afirma que o ldquotripeacuterdquo

ancorado pelos contextos da descoberta da aplicaccedilatildeo e da criacutetica poderia ser considerado

como ldquoo novo e expandido objeto da aprendizagemrdquo (ENGESTROumlM 2002 p 193) escolar

Para Engestroumlm (2002) esse tipo de expansatildeo no objeto implicaria uma completa

transformaccedilatildeo qualitativa da atividade de aprendizagem escolar

Engestroumlm (2001 p 138) inspirado em Bateson (1972) ndash que distingue trecircs niacuteveis

de aprendizagem (tipos I II e III) ndash propotildee uma nova abordagem para a aprendizagem ndash a

expansiva Para Bateson (1972) aprendizagens de niacutevel I estatildeo baseadas no

ldquocondicionamento aquisiccedilatildeo de respostas consideradas corretas em um dado contextordquo51

(ENGESTROumlM 2001 p 138) Aprendizagens de niacutevel II estatildeo relacionadas agrave aprendizagem

de ldquonormas e padrotildees de comportamento caracteriacutesticos do proacuteprio contextordquo52

(ENGESTROumlM 2001 p 138) Dessa forma muitas vezes os proacuteprios contextos podem estar

embebidos por demandas contraditoacuterias que podem impulsionar aprendizagens de niacutevel III

ldquoquando uma pessoa ou um grupo comeccedila a questionar radicalmente o sentido e o

significado do contexto e constroem um contexto alternativo mais amplo Aprendizagem de

51

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoconditioning acquisition of the responses deemed correct in the given

contextrdquo 52

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquorules and patterns of behavior characteristic to the context itselfrdquo

51

niacutevel III eacute essencialmente um empenho coletivordquo53

(ENGESTROumlM 2001 p 138 itaacutelicos

meus) Engestroumlm (2001) utiliza tais ideias de Bateson (1972) e propotildee a Teoria da

Aprendizagem Expansiva

Aprendizagem de niacutevel III eacute vista como atividade de aprendizagem que tem seu

proacuteprio tipo de accedilotildees e instrumentos [hellip] O objeto da atividade da aprendizagem

expansiva eacute todo o sistema de atividades em que os aprendizes estatildeo engajados

Atividades de aprendizagem expansiva produzem culturalmente novos padrotildees de

atividade Aprendizagem expansiva no trabalho produz novas formas de atividade

de trabalho (ENGESTROumlM 2001 p 139 grifo meu)54

As raiacutezes teoacutericas que fundamentam o conceito de aprendizagem expansiva foram

expostas em Engestroumlm e Sannino (2010b) Os autores apontam seis teoacutericos e as ideias

centrais que foram utilizadas como ldquopano de fundordquo teoacuterico para a elaboraccedilatildeo do conceito de

aprendizagem expansiva Da Escola Histoacuterico-Cultural Russa foram usadas seis ideias dos

acadecircmicos Lev Vygotsky Aleksei Leontev Evald Ilrsquoenkov e Vasili Davydov Aleacutem desses

teoacutericos foram utilizadas mais duas ideias oriundas dos trabalhos de Bateson e Bakhtin A

seguir com base em Engestroumlm e Sannino (2010b) farei um breve resumo dessas oito raiacutezes

1) Leontev (1981) considera as atividades coletivas tomando por base a divisatildeo do

trabalho que para ele pode levar agrave separaccedilatildeo de accedilatildeo e atividade Em uma

atividade de caccedila por exemplo cada participante tem um papel diferenciado em

termos de accedilotildees a serem executadas visando a seu engajamento na atividade Uma

accedilatildeo tem um comeccedilo definido e um fim Jaacute uma atividade coletiva se reproduz

sem um ponto final predeterminado mas orientada pelo objeto podendo

acontecer continuidade e ateacute mesmo mudanccedilas dramaticamente descontiacutenuas na

atividade pois a atividade depende das accedilotildees e das condiccedilotildees para sua realizaccedilatildeo

A proacutepria ideia de aprendizagem expansiva que pode ser entendida como um

movimento das accedilotildees para a atividade foi construiacuteda tomando-se por base a

distinccedilatildeo entre accedilatildeo e atividade

2) O conceito Vigotskiano de zona de desenvolvimento proximal (ZDP) que pode

ser entendida como a distacircncia entre o real e o potencial niacutevel de resoluccedilatildeo de

53

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquowhere a person or a group begins to radically question the sense and meaning

of the context and to construct a wider alternative context Learning III is essentially a collective endeavorrdquo 54

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoLearning III is seen as learning activity which has its own typical actions and

tools [] The object of expansive learning is the entire activity system in which the learners are engaged

Expansive learning activity produces culturally new patterns of activity Expansive learning at work produces

new forms of work activityrdquo

52

problemas considerando o real niacutevel como sendo o indiviacuteduo sozinho e o

potencial como sendo o indiviacuteduo orientado por outro(s) indiviacuteduo(s)

considerado(s) mais experiente(s) (ENGESTROumlM SANNINO 2010b)

Engestroumlm (1987) conforme exposto anteriormente com o objetivo de entender a

aprendizagem e o desenvolvimento redefiniu o conceito de ZDP adaptando as

ideias de Vigotski sob o ponto de vista das atividades coletivas gerando assim o

conceito de ZDP da atividade

3) A Teoria da Aprendizagem Expansiva pode ser entendida como uma aplicaccedilatildeo

da Teoria da Atividade devido a sua orientaccedilatildeo para o objeto Na Teoria da

Aprendizagem Expansiva o objeto pode ser considerado com um duplo sentido

tanto mateacuteria prima quanto finalidade da atividade Neste sentido o objeto

carrega consigo o motivo da atividade Sendo assim a ldquoaprendizagem expansiva eacute

um processo de transformaccedilatildeo material de relaccedilotildees vitaisrdquo (ENGESTROumlM

SANNINO 2010b p 4)

4) A Teoria da Atividade pode ser considerada como uma teoria dialeacutetica e sendo

assim o conceito de contradiccedilatildeo desempenha importante papel para a elaboraccedilatildeo

da Teoria da Aprendizagem Expansiva Com base em Ilrsquoenkov (1977 1982 apud

ENGESTROumlM SANNINO 2010b) a Teoria da Aprendizagem Expansiva

concebe as contradiccedilotildees como

[] tensotildees historicamente em evoluccedilatildeo que podem se detectadas e tratadas no real

sistema de atividade No capitalismo a contradiccedilatildeo primaacuteria presente entre valor de

uso e valor de troca eacute inerente a todas as mercadorias e todas as esferas da vida

estatildeo sujeitas a comoditizaccedilatildeo55

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 4 grifo

meu)

Os autores enfatizam que as contradiccedilotildees podem ser entendidas como forccedilas

motrizes da transformaccedilatildeo Para eles o proacuteprio ldquoobjeto de uma atividade eacute sempre

contraditoacuterio internamenterdquo (ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 4 grifos

meus) Neste sentido a contradiccedilatildeo interna presente no objeto de uma atividade

funciona como uma forccedila interna capaz de produzir movimento e direccedilatildeo para a

atividade

55

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquocontradictions as historically evolving tensions that can be detected and dealt

with in real activity systems In capitalism the pervasive primary contradiction between use value and exchange

value is inherent to every commodity and all spheres of life are subject to commoditizationrdquo

53

5) Davydov conforme exposto anteriormente desenvolveu o meacutetodo da ascensatildeo

do abstrato para o concreto que pode ser entendido como um meacutetodo cujo foco

estaacute ancorado na captura da essecircncia de um objeto Engestroumlm e Sannino (2010b)

baseiam-se nas seis accedilotildees tipicamente ideias de aprendizagem prefiguradas por

Davydov e expostas anteriormente no item 11 deste capiacutetulo para elaborar o

conceito de sequecircncia tipicamente ideal de accedilotildees em um ciclo expansivo de

aprendizagem que seraacute exposto mais adiante neste mesmo capiacutetulo desta tese

6) Nos escritos de Vigotski e de seus colaboradores podemos encontrar o

conceito de mediaccedilatildeo que pode ser entendido como accedilotildees que satildeo realizadas

pelos sujeitos de uma atividade por meio das ferramentas e os signos culturais e

orientadas para o objeto da atividade como essecircncia do funcionamento

psicoloacutegico humano Engestroumlm e Sannino (2010b) apontam que a agecircncia do

sujeito - sua capacidade para transformar um contexto eou seu proacuteprio

comportamento- o torna foco central na Teoria da Aprendizagem Expansiva Os

autores esclarecem ainda que

Vygotsky construiu sua metodologia intervencionista de estimulaccedilatildeo dupla neste

insight Em vez de meramente dando ao sujeito uma tarefa para resolver Vygotsky

deu ao sujeito tanto uma tarefa exigente (primeiro estiacutemulo) e um artefato ldquoneutrordquo

ou externamente ambiacuteguo (segundo estiacutemulo) o sujeito poderia encher de

significado e se transformar em um novo signo de mediaccedilatildeo que reforccedilaria suas

accedilotildees e potencialmente levar a ressignificaccedilatildeo da tarefa Aprendizagem expansiva

normalmente exige intervenccedilotildees formativas com base no princiacutepio de estimulaccedilatildeo

dupla56

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 5 grifos meus)

7) A metodologia intervencionista proposta por Vigotski de estimulaccedilatildeo dupla

dialoga com o pensamento do antropoacutelogo Bateson A noccedilatildeo de double bind de

Bateson (1972 apud ENGESTROumlM SANNINO 2010 p 5) configura-se como

uma raiz teoacuterica para a Teoria da Aprendizagem Expansiva e pode ser entendida

como ldquoum social dilema socialmente essencial que natildeo pode ser resolvido por

meio de accedilotildees individuais separadas por si soacute ndash mas em que as accedilotildees de

56

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoVygotsky built his interventionist methodology of double stimulation on this

insight Instead of merely giving the subject a task to solve Vygotsky gave the subject both a demanding task

(first stimulus) and a lsquoneutralrsquo or ambiguous external artifact (second stimulus) the subject could fill with

meaning and turn into a new mediating sign that would enhance his or her actions and potentially lead to

reframing of the task Expansive learning typically calls for formative interventions based of the principle of

double stimulationrdquo

54

cooperaccedilatildeo conjunta podem impulsionar uma historicamente nova forma de

atividade a surgirrdquo57

(ENGESTROumlM 1987 p 165 itaacutelicos do autor)

8) Por uacuteltimo a ideia de multivocalidade de Bakhtin (1982) configura-se como

uma raiz teoacuterica da Teoria da Aprendizagem Expansiva Engestroumlm (1987) aponta

que

Aplicado na pesquisa e aprendizagem expansiva isso significa todas as vozes

contraditoacuterias e complementares dos vaacuterios grupos e estratos no sistema de

atividade em anaacutelise devem ser envolvidas e utilizadas Como Bakhtin mostra que

isso definitivamente inclui as vozes e gecircneros natildeo acadecircmicos de pessoas comuns

Assim em vez da argumentaccedilatildeo claacutessica dentro do uacutenico tipo de discurso

acadecircmico temos conflitantes fogos de artifiacutecio de diferentes tipos de discurso e

linguagens58

(p 315 apud ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 5 grifos do autor)

A proacutepria ldquoaprendizagem expansiva eacute um processo inerentemente de debate

negociaccedilatildeo e orquestraccedilatildeordquo59

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b)

Dando por encerrado o breve resumo das oito ideias que configuram como sendo

as raiacutezes da Teoria da Aprendizagem Expansiva vale ressaltar que eacute nesse processo de

debate confrontamento dessas muacuteltiplas ldquovozes que se travam as disputas de poder e se

instauram as possibilidades de transformaccedilatildeordquo (MATEUS 2005 p 168)

Bakhtin considera que o discurso natildeo eacute individual porque se constroacutei entre pelo

menos dois interlocutores que por sua vez satildeo seres sociais e porque se constroacutei como um

ldquodiaacutelogo entre discursosrdquo ou seja manteacutem relaccedilotildees com outros discursos (BARROS 2007 p

31)

Ainda em Engestroumlm e Sannino (2010b) podemos encontrar os princiacutepios centrais

da Teoria da Aprendizagem Expansiva Para os autores a aprendizagem expansiva busca

compreender processos de aprendizagem nos quais os sujeitos da aprendizagem natildeo satildeo

considerados apenas como indiviacuteduos isolados como eacute feito em teorias tradicionais de

aprendizagem mas passam a ser tratados como coletividades e redes Isso acontece quando os

sujeitos comeccedilam a questionar e criticar a ordem e a loacutegica das atividades que estaacute engajado

Por meio de interaccedilotildees com outros membros da comunidade instituem um grupo uma

57

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoa social societally essential dilemma which cannot be resolved through

separate individual actions alone ndash but in which joint co-operative actions can push a historically new form of

activity into emergencerdquo 58

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoApplied in expansive learning and research this means all the conflicting

and complementary voices of the various groups and strata in the activity system under scrutiny shall be

involved and utilized As Bakhtin shows this definitely includes the voices and non-academic genres of the

common people Thus instead of the classical argumentation within the single academic speech type we get

clashing fireworks of different speech types and languagesrdquo 59

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoExpansive learning is an inherently multi-voiced process of debate

negotiation and orchestrationrdquo

55

coletividade engajada em analisar e modelar colaborativamente um movimento na zona de

desenvolvimento proximal (ZDP) da atividade Ao questionarem os indiviacuteduos refletem e

percebem as contradiccedilotildees historicamente acumuladas nos sistemas de atividade As

contradiccedilotildees podem se manifestar como forma de conflitos dilemas distuacuterbios e inovaccedilotildees

locais Cabe ressaltar que ldquocontradiccedilotildees satildeo mecanismos necessaacuterios mas natildeo suficientes para

a aprendizagem expansiva em um sistema de atividades60

rdquo (ENGESTROumlM SANNINO

2010b p 7)

Durante o processo de aprendizagem expansiva as contradiccedilotildees podem aparecer

das seguintes maneiras

a) Como contradiccedilotildees primaacuterias latentes emergentes dentro de cada e qualquer dos

elementos do sistema de atividade

b) Como contradiccedilotildees secundaacuterias manifestas abertamente entre dois ou mais

elementos do sistema de atividade (por exemplo entre um novo objeto e uma velha

ferramenta)

c) Como contradiccedilotildees terciaacuterias entre um recentemente estabilizado modo de

atividade e remanescentes modos anteriores de atividade

d) Como contradiccedilotildees quaternaacuterias externas entre os receacutem-reorganizados sistemas

de atividade e seus sistemas de atividades ldquovizinhosrdquo61

(ENGESTROumlM SANNINO

2010b p 7 grifos meus)

Engestroumlm e Sannino (2010b) pontuam que existe diferenccedila entre experiecircncias

conflitantes e contradiccedilotildees significativas enquanto as primeiras podem ser analisadas no niacutevel

das accedilotildees de curto prazo a segunda pode ser enquadrada no niacutevel da atividade (e inter-

atividades) e tem um ciclo bem mais longo Dessa forma analisar experiecircncias conflitantes e

contradiccedilotildees significativas produzem anaacutelises em diferentes niacuteveis

As contradiccedilotildees desempenham um papel muito importante na Teoria da

Aprendizagem Expansiva pois se configuram como forccedilas motrizes que ao serem tratadas de

tal forma pelos sujeitos engajados um novo objeto eacute construiacutedo moldado e transformado em

um motivo Nesse momento ocorre entatildeo um ato extraordinaacuterio o encontro da necessidade

com o objeto (ENGESTROumlM SANNINO 2010b) Dessa forma o motivo de uma dada

atividade coletiva passa a se configurar efetivamente para um sujeito mediante o sentido

60

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoContradictions are the necessary but not sufficient engine of expansive

learning in an activity systemrdquo 61

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquo(a) as emerging latent primary contradictions within each and any of the

nodes of the activity system

(b) as openly manifest secondary contradictions between two or more nodes (eg between a new object and an

old tool)

(c) as tertiary contradictions between a newly established mode of activity and remnants of the previous mode of

activity

(d) as external quaternary contradictions between the newly reorganized activity and its neighboring activity

systemsrdquo

56

pessoal que pode ser entendido como o sentido que ldquoexpressa a relaccedilatildeo do motivo da

atividade para o imediato objetivo da accedilatildeordquo62

(LEONTIEV 1978 p 171)

Engestroumlm e Sannino (2010b) utilizam as ideias de Davydov das accedilotildees

tipicamente ideias de aprendizagem descritas anteriormente nesta tese e descrevem uma

sequecircncia tipicamente ideal de accedilotildees epistecircmicas em um ciclo expansivo da seguinte maneira

- A primeira accedilatildeo consiste no questionamento criacutetica ou rejeiccedilatildeo de alguns aspectos

da praacutetica aceita e sabedoria existente Para simplificar chamaremos esta accedilatildeo de

interrogatoacuterio

- A segunda accedilatildeo consiste em analisar a situaccedilatildeo Analisar envolve transformaccedilotildees

mentais discursivas ou praacuteticas da situaccedilatildeo a fim de descobrir mecanismos de causa

ou explicaccedilatildeo Anaacutelise evoca ldquopor quecircrdquo questotildees e princiacutepios explanatoacuterios Um

tipo de anaacutelise eacute a histoacuterico-geneacutetica que pretende explicar a situaccedilatildeo pelo traccedilado

de suas origens e evoluccedilatildeo Outro tipo de anaacutelise eacute a real-empiacuterica que pretende

explicar a situaccedilatildeo pela construccedilatildeo de um quadro de suas relaccedilotildees sistemaacuteticas

internas

- A terceira accedilatildeo consiste no modelamento da relaccedilatildeo explicativa receacutem-descoberta

em alguns meios publicamente observaacuteveis e transmissiacuteveis Isto significa

construccedilatildeo de um modelo expliacutecito simplificado da nova ideia que explica e oferece

soluccedilatildeo para a situaccedilatildeo problemaacutetica

- A quarta accedilatildeo consiste no exame do modelo executando operando e

experimentando-o a fim de compreender plenamente sua dinacircmica potecircncia e

limitaccedilotildees

- A quinta accedilatildeo consiste na implementaccedilatildeo do modelo por meio de aplicaccedilotildees

praacuteticas enriquecimento e extensotildees conceituais

- A sexta e seacutetima accedilatildeo satildeo aquelas de refletir sobre e avaliar o processo e

consolidaccedilatildeo de seus resultados numa estaacutevel nova forma de praacutetica63

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 7 itaacutelicos dos autores negritos meus)

A seguir apresento a FIG 4 que representa a sequecircncia ideal descrita por

Engestroumlm e Sannino (2010b) em que as espessuras das setas indicam a ampliaccedilatildeo da

participaccedilatildeo nas accedilotildees de aprendizagem

62

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoexpresses the relation of motive of activity to the immediate goal of actionrdquo 63

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquo- The first action is that of questioning criticizing or rejecting some aspects

of the accepted practice and existing wisdom For the sake of simplicity we will call this action questioning

- The second action is that of analyzing the situation Analysis involves mental discursive or practical

transformation of the situation in order to find out causes or explanatory mechanisms Analysis evokes ldquowhyrdquo

questions and explanatory principles One type of analysis is historical-genetic it seeks to explain the situation

by tracing its origins and evolution Another type of analysis is actual-empirical it seeks to explain the situation

by constructing a picture of its inner systemic relations

- The third action is that of modeling the newly found explanatory relationship in some publicly observable and

transmittable medium This means constructing an explicit simplified model of the new idea that explains and

offers a solution to the problematic situation

- The fourth action is that of examining the model running operating and experimenting on it in order to fully

grasp its dynamics potentials and limitations

- The fifth action is that of implementing the model by means of practical applications enrichments and

conceptual extensions

- The sixth and seventh actions are those of reflecting on and evaluating the process and consolidating its

outcomes into a new stable form of practicerdquo

57

FIGURA 4 ndash Sequecircncia de accedilotildees de aprendizagem em um ciclo de aprendizagem expansiva

Fonte ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 8

Aleacutem disso Engestroumlm e Sannino (2010b) se baseiam em estudos empiacutericos e

intervencionistas e apontam algumas formas de manifestaccedilatildeo da aprendizagem expansiva em

atividades coletivas aprendizagem expansiva como transformaccedilatildeo do objeto como

movimento na zona de desenvolvimento proximal como ciclos de accedilotildees de aprendizagem

como superaccedilatildeo de limites e construccedilatildeo de redes e como movimentos distribuiacutedos e

descontiacutenuos Farei uma breve exposiccedilatildeo do que seriam as referidas manifestaccedilotildees observadas

nos estudos empiacutericos e intervencionistas citados por Engestroumlm e Sannino (2010b)

1) Aprendizagem expansiva como transformaccedilatildeo do objeto da atividade busca

superar a concepccedilatildeo de aprendizagem como algo individual do sujeito inerente a ele em sua

cogniccedilatildeo ou em seu comportamento A aprendizagem expansiva se manifesta essencialmente

como transformaccedilatildeo do objeto da atividade coletiva O que consequentemente pode

promover transformaccedilotildees qualitativas dos elementos que compotildeem os sistemas de atividade

Vale ressaltar que a expansatildeo pode ser entendida como um processo positivo contudo os

ldquoretrocessosrdquo tambeacutem podem ocorrer nos processos de aprendizagem expansiva Isso porque

o objeto carrega consigo contradiccedilotildees internas que podem alcanccedilar diferentes niacuteveis dentro de

um processo de aprendizagem expansiva como transformaccedilatildeo do objeto o que de certo

58

ocorre como um processo coletivo de negociaccedilatildeo e orquestraccedilatildeo (ENGESTROumlM SANNINO

2010b)

2) Aprendizagem expansiva como movimento na zona de desenvolvimento

proximal da atividade busca superar o paradigma das teorias de aprendizagem que

consideram o sucesso em provas eou outros tipos de testes de desempenho como orientadora

do ensino A aprendizagem expansiva busca superar os dilemas vividos pelos sujeitos em sua

cotidianidade por meio da construccedilatildeo coletiva de uma nova forma de praacutetica tomando por

base o enfrentamento das contradiccedilotildees incorporadas nos sistemas de atividade Entatildeo todo e

qualquer movimento coletivo em busca da minimizaccedilatildeo da distacircncia entre as ldquoaccedilotildeesrdquo

cotidianas dos indiviacuteduos e a historicamente nova forma de atividade como praacutetica social

(que pode ser requeridademandada como uma soluccedilatildeo para o dilema potencialmente

incorporado nas accedilotildees cotidianas dos sujeitos) considerado como movimento na zona de

desenvolvimento proximal da atividade pode ser entendido e analisado como processo de

aprendizagem expansiva (ENGESTROumlM SANNINO 2010b)

3) Aprendizagem expansiva como ciclos de accedilotildees de aprendizagem conforme

descrito na FIG 4 busca instaurar uma nova e bem determinada dinacircmica para analisar os

processos de aprendizagem expansiva Um ciclo expansivo de accedilotildees de aprendizagem eacute um

modelo que pode ser usado para analisar processos de transformaccedilotildees em praacuteticas sociais A

praacutetica social na qual os sujeitos participam de alguma forma os afeta podendo-os levar a

perceber tensotildees distuacuterbios eou conflitos e a partir disso sentir a necessidade de questionar

a praacutetica atual buscando assim analisar o contexto visando agrave superaccedilatildeo de tais ocorrecircncias

Estes seriam os primeiros passos rumo ao percurso de todo o ciclo de accedilotildees de aprendizagem

Vale ressaltar que a anaacutelise da praacutetica atual leva o indiviacuteduo a perceber que sozinho ele natildeo

conseguiria modificar as accedilotildees dos outros sujeitos partiacutecipes da atividade tornando assim

necessaacuterio o envolvimento de mais atores no processo de transformaccedilatildeo da atividade Com

isso o dilema social perpassa a fronteira do indiviacuteduo e atinge esferas mais amplas de

coletivos em prol de um mesmo processo de transformaccedilatildeo podendo ser entendido como um

tour pelo ciclo de accedilotildees de aprendizagem

Engestroumlm e Sannino (2010b) consideram que o uso dos ciclos de accedilotildees de

aprendizagem como quadro teoacuterico de anaacutelise de processos de transformaccedilatildeo de praacuteticas

sociais somente deve ser realizado em estudos de longos periacuteodos de tempo ou seja em

longos processos de transformaccedilatildeo Contudo os longos processos de transformaccedilatildeo que

podem ser analisados por ciclos em larga escala envolvem necessariamente numerosos ciclos

menores de accedilotildees de aprendizagem Esses ciclos menores podem ocorrer em periacuteodos mais

59

curtos de tempo talvez em dias ou mesmo horas de anaacutelise intensiva e colaborativa

Engestroumlm (1999) explica que tais ciclos-miniatura podem ser considerados como

potencialmente expansivos e aponta ainda que

Um ciclo expansivo em larga escala de transformaccedilotildees organizacionais sempre

consiste em pequenos ciclos de aprendizagem inovadores No entanto o

aparecimento de pequenos ciclos de aprendizagem inovador natildeo garante por si soacute

que existe um ciclo expansivo acontecendo Pequenos ciclos podem permanecer

eventos isolados e o ciclo global do desenvolvimento organizacional pode tornar-se

estagnado regressivo ou mesmo desmoronar A ocorrecircncia de um ciclo expansivo

completo natildeo eacute comum e ele tipicamente requer esforccedilos concentrados e

intervenccedilotildees deliberadas Com essas ressalvas em mente o ciclo de aprendizagem

expansiva e suas accedilotildees incorporadas podem ser usados para analisar em pequena

escala inovadores processos de aprendizagem64

(p 385 apud ENGESTROumlM

SANNINO 2010b p 11)

Segundo Engestroumlm e Sannino (2010b) a loacutegica que estaacute por traacutes do ciclo

expansivo eacute que um novo ciclo inicia-se toda vez que um padratildeo estaacutevel de atividade comeccedila

a ser questionado Isso pode levar muito tempo talvez anos para se configurar Aleacutem disso a

aprendizagem expansiva pode conter traccedilos de ldquoretrocessordquo o que natildeo deve ser entendido

como algo puramente negativo visto que mesmo que um novo ciclo de accedilotildees expansivas se

inicie devemos levar em conta a tentativa que consequentemente tende a possibilitar um

horizonte mais amplo para novas tentativas Nas palavras dos autores ldquoexpansatildeo

necessariamente envolve tambeacutem a possibilidade de desintegraccedilatildeo e regressatildeo65

rdquo

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 11)

4) Aprendizagem expansiva como transposiccedilatildeo de fronteiras (superaccedilatildeo de

limites) e construccedilatildeo de redes pode ser entendida como uma ldquoexpertise horizontal onde os

praticantes devem mover-se para entre fronteiras para procurar e dar ajuda para encontrar

informaccedilotildees e ferramentas onde quer que elas estejamrdquo66

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b

p 12) Para os autores transpor fronteiras pode significar ldquopisar em solordquo desconhecido

Requer muitas vezes a criaccedilatildeoconstruccedilatildeoformaccedilatildeo coletiva de novos recursos conceituais

que por sua vez demandam esforccedilos criativos dos sujeitos engajados no processo de

64

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoA large-scale expansive cycle of organizational transformation always

consists of small cycles of innovative learning However the appearance of small-scale cycles of innovative

learning does not in itself guarantee that there is an expansive cycle going on Small cycles may remain isolated

events and the overall cycle of organizational development may become stagnant regressive or even fall apart

The occurrence of a full-fledged expansive cycle is not common and it typically requires concentrated effort and

deliberate interventions With these reservations in mind the expansive learning cycle and its embedded actions

may be used as a framework for analyzing small-scale innovative learning processesrdquo 65

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoExpansion necessarily involves also the possibility of disintegration and

regressionrdquo 66

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquohorizontal expertise where practitioners must move across boundaries to seek

and give help to find information and tools wherever they happen to be availablerdquo

60

aprendizagem expansiva Jaacute a construccedilatildeo de redes pode ser entendida como um modo

emergente de colaboraccedilatildeo em organizaccedilotildees O que natildeo pode ser esquecido eacute que a formaccedilatildeo

de redes pode estar relacionada agraves hierarquias niacuteveis organizacionais considerando que os

sujeitos em variadas praacuteticas sociais comumente satildeo levados a se engajar em redes por

exemplo em ambientes de trabalho ldquoAprendizagem em redes organizacionais eacute

frequentemente descrita como movimento horizontal de informaccedilatildeo entre unidades

organizacionaisrdquo67

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 13)

Em uma faacutebrica por exemplo poderiam ser observados diferentes niacuteveis

organizacionais ndash o niacutevel da rede ideoloacutegica o niacutevel do projeto o niacutevel da produccedilatildeo e o niacutevel

dos operaacuterios Soacute que em uma empresa os processos inovadores frequentemente demandam

por coletivos de sujeitos engajados coletivamente em redes cujas ldquofronteirasrdquo podem natildeo

estar assim tatildeo bem definidas levando-se em conta apenas a divisatildeo do trabalho em ldquoclassesrdquo

Sendo assim essa rede de inovaccedilatildeo poderia ser entendida como niacutevel de parceria que

somente seria possiacutevel de ser construiacuteda como um processo de aprendizagem expansiva em

termos digamos mais tradicionais de interaccedilatildeo entre os funcionaacuterios Portanto

ldquoaprendizagem eacute tambeacutem movimento vertical e transposiccedilatildeo de fronteiras entre diferentes

niacuteveis organizacionaisrdquo68

(ENGESTROumlM SANNINO 2010 p 13 grifo meu)

5) Aprendizagem expansiva como movimento distribuiacutedo e descontiacutenuo pode ser

entendida em termos de aprendizagem em redes distribuiacutedas ou aacutereas multi-organizacionais

que apresentam caraacuteter cada vez mais distribuiacutedo e descontiacutenuo considerando aprendizagens

relacionadas ao trabalho (ENGESTROumlM SANNINO 2010b) Os processos coletivos de

aprendizagem expansiva frequentemente se apresentam cheios de lacunas interrupccedilotildees

desentendimentos conflitos e descontinuidades entre comunidades que embora possam

parecer em um primeiro momento potencialmente perturbadores tambeacutem podem representar

oportunidades de aprendizagem (ENGESTROumlM SANNINO 2010b)

Para compreendermos o que Engestroumlm e Sannino (2010b) chamam de natureza

descontiacutenua da aprendizagem expansiva devemos levar em conta as seguintes consideraccedilotildees

de Sannino e Nocon (2008 p 326)

Mesmo se as tentativas de inovaccedilatildeo local aparentemente morrem eles ainda podem

se propagar porque outros podem adotaacute-las e prossegui-las Em outras palavras a

sustentabilidade das inovaccedilotildees natildeo se refere apenas agrave continuidade local mas

67

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquolearning in organizational networks is commonly depicted as horizontal

movement of information between organizational unitsrdquo 68

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquolearning is also vertical movement and boundary crossing between different

organizational levelsrdquo

61

tambeacutem a difusatildeo e adaptaccedilotildees em outros contextos Essas adaptaccedilotildees natildeo

significam necessariamente que uma inovaccedilatildeo eacute ampliada e se torna uma reforma no

sistema mais amplo69

Com isso podemos considerar que todo e qualquer movimento ainda que

descontiacutenuo em processos de aprendizagem expansiva deve ser considerado como um

direcionamento para possiacuteveis aprendizagens expansivas pois mesmo que uma direccedilatildeo

ldquoinicialrdquo seja alterada para uma direccedilatildeo ldquoalternativardquo no decorrer do processo de

aprendizagem os aprendizes engajados em transformaccedilotildees qualitativas em respectivos

sistemas de atividade compartilhados em multiorganizaccedilotildees percorreram um caminho de

mudanccedilas o que natildeo os coloca mais em um patamar de principiantes

Encerro aqui o breve relato das manifestaccedilotildees da aprendizagem expansiva em

transformaccedilotildees de sistemas de atividade conforme abordado e fundamentado por Engestroumlm

e Sannino (2010b)

69

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoeven if local innovation attempts ostensibly die they can still spread because

others may adopt and continue them In other words the sustainability of innovations does not refer only to local

continuity but also to diffusion and adaptations in other settings Such adaptations do not necessarily mean that

an innovation is scaled up and becomes a system wide reformrdquo

62

2 CAacuteLCULO E MODELAGEM NA ENGENHARIA CONCEPCcedilOtildeES

PERSPECTIVAS E A ATUAL FORMACcedilAtildeO DO ENGENHEIRO

Neste capiacutetulo pretendo discorrer sobre alguns toacutepicos relacionados ao contexto

da presente investigaccedilatildeo Primeiramente com o intuito de localizar o foco da pesquisa nas

demandas de formaccedilatildeo profissional em Engenharia faccedilo uma breve exposiccedilatildeo sobre a atual

legislaccedilatildeo que normatiza a formaccedilatildeo de engenheiros no Brasil Em segundo lugar busco

apresentar alguns aspectos relacionados aos processos de ensino-aprendizagem das disciplinas

de Caacutelculo em cursos de Engenharia e nesse contexto de formaccedilatildeo apresento a Modelagem

Matemaacutetica como um espaccedilo formativo alternativo Em terceiro lugar na literatura sobre

Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica busco por concepccedilotildees e perspectivas relacionadas a

essa atividade Em quarto lugar apresento uma revisatildeo de literatura sobre Modelagem

Matemaacutetica em processos de ensino-aprendizagem de Caacutelculo em cursos de Engenharia Em

quinto lugar apresento a concepccedilatildeo da atividade de Modelagem Matemaacutetica assumida no

contexto da pesquisa e por fim apresento a abertura de caixas-pretas como accedilotildees

estrateacutegicas com vistas agraves possibilidades de aprendizagens expansivas relacionadas agraves

transformaccedilotildees do objeto de uma atividade de Modelagem Matemaacutetica

21 Diretrizes Curriculares para a formaccedilatildeo de engenheiros no Brasil

Em 2002 o Conselho Nacional de Educaccedilatildeo (CNE) com a Cacircmara de Educaccedilatildeo

Superior (CES) elaborou as Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduaccedilatildeo em

Engenharia por meio do parecer CNECSE 13622001 publicado no Diaacuterio Oficial da

Uniatildeo em 25 de fevereiro de 2002 que culminou com a publicaccedilatildeo da resoluccedilatildeo CNECES

112002 no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo em 9 de abril de 2002 que estabelecem as diretrizes que

orientam as Instituiccedilotildees de Ensino Superior na elaboraccedilatildeo das estruturas curriculares para a

formaccedilatildeo do engenheiro conforme as demandas da sociedade Nesse documento consta que

O perfil dos egressos de um curso de engenharia compreenderaacute uma soacutelida formaccedilatildeo

teacutecnico cientiacutefica e profissional geral que o capacite a absorver e desenvolver novas

tecnologias estimulando a sua atuaccedilatildeo criacutetica e criativa na identificaccedilatildeo e resoluccedilatildeo

de problemas considerando seus aspectos poliacuteticos econocircmicos sociais ambientais

63

e culturais com visatildeo eacutetica e humaniacutestica em atendimento agraves demandas da

sociedade (BRASIL 2002)

Ainda a resoluccedilatildeo aponta quatorze habilidades e competecircncias necessaacuterias para a

formaccedilatildeo do egresso dos cursos de Engenharia no Brasil Satildeo elas

a) aplicar conhecimentos matemaacuteticos cientiacuteficos tecnoloacutegicos e instrumentais agrave

engenharia

b) projetar e conduzir experimentos e interpretar resultados

c) conceber projetar e analisar sistemas produtos e processos

d) planejar supervisionar elaborar e coordenar projetos e serviccedilos de engenharia

e) identificar formular e resolver problemas de engenharia

f) desenvolver eou utilizar novas ferramentas e teacutecnicas

g) supervisionar a operaccedilatildeo e a manutenccedilatildeo de sistemas

h) avaliar criticamente a operaccedilatildeo e a manutenccedilatildeo de sistemas

i) comunicar-se eficientemente nas formas escrita oral e graacutefica

j) atuar em equipes multidisciplinares

k) compreender e aplicar a eacutetica e responsabilidade profissionais

l) avaliar o impacto das atividades da engenharia no contexto social e ambiental

m) avaliar a viabilidade econocircmica de projetos de engenharia

n) assumir a postura de permanente busca de atualizaccedilatildeo profissional (BRASIL

2002)

Aleacutem disso a resoluccedilatildeo (CNECSE 112002) tambeacutem direciona os cursos de

Engenharia com relaccedilatildeo aos conteuacutedos curriculares e delimita em 30 a carga horaacuteria

miacutenima dos cursos atendendo ao nuacutecleo de conteuacutedos baacutesicos que engloba dentre outros os

conteuacutedos da matemaacutetica Ainda segundo a resoluccedilatildeo 15 da carga horaacuteria miacutenima versaraacute

sobre toacutepicos que entre outros englobam Matemaacutetica Discreta Modelagem Anaacutelise e

Simulaccedilatildeo de Sistemas

Franchi (2002) ao realizar sua pesquisa de doutorado buscou dentre outras

coisas compreender as necessidades profissionais da Engenharia Para a autora o curriacuteculo de

Engenharia deve ser estruturado de modo a atender a tais necessidades Nesse sentido

focando nas disciplinas matemaacuteticas que compotildeem a grade curricular dos referidos cursos a

autora entende que os objetivos devam ser orientados pelo cumprimento agraves necessidades de

formaccedilatildeo considerando que as principais habilidadescompetecircncias do engenheiro atual satildeo

Capacidade de identificar formular e resolver problemas de Engenharia

considerando os aspectos multifuncionais relacionados a eles avaliando os impactos

na sociedade Isto inclui ter soacutelida formaccedilatildeo baacutesica (princiacutepios da ciecircncia que daacute

embasamento teoacuterico agrave sua profissatildeo) ter conhecimentos teacutecnicos (produtos e

processos) e ter conhecimentos natildeo teacutecnicos (sociais poliacuteticos eacuteticos e ambientais)

Inclui tambeacutem a capacidade de buscar as informaccedilotildees e usar ferramentas modernas

para a soluccedilatildeo dos problemas

Criatividade

Espiacuterito criacutetico

Capacidade de comunicaccedilatildeo oral e escrita

64

Capacidade de cooperaccedilatildeo

Capacidade de trabalho em equipe

Capacidade de aprendizagem contiacutenua (autoaprendizagem) (FRANCHI 2002 p

27)

Embora natildeo esteja focando especificamente o olhar para as disciplinas de

Caacutelculo que satildeo estudadas nos cursos de Engenharia mas para todas as disciplinas de

Matemaacutetica70

que satildeo desenvolvidas em tais cursos Franchi (2002) apresenta uma proposta

curricular para nortear os conteuacutedos de Matemaacutetica para os cursos de Engenharia utilizando-

se de recursos de Informaacutetica e de Modelagem Matemaacutetica

Soares e Sauer (2004) apontam para a necessidade de examinar questotildees

relacionadas ao tema ldquoensino-aprendizagem da Matemaacutetica para a Engenhariardquo devido agraves

aparentes dificuldades que os engenheiros apresentam em lidar com conceitos matemaacuteticos

em suas vidas profissionais As autoras afirmam que

As disciplinas baacutesicas do curso de Engenharia precisam capacitar os aprendizes a

relacionar conceitos matemaacuteticos com situaccedilotildees reais e desenvolver raciociacutenio

dedutivo habilitando-os a lerem os textos matemaacuteticos e a interpretarem fenocircmenos

frequentemente do ponto de vista da Fiacutesica Esta ligaccedilatildeo entre o universo fenomenal

da Matemaacutetica e o mundo das relaccedilotildees dos objetos fiacutesicos entre si talvez capture o

que seria competecircncia teacutecnica de mais alto niacutevel para qualquer engenheiro

(SOARES SAUER 2004 p 265 grifo meu)

As autoras neste texto natildeo se utilizam do termo ldquoModelagem Matemaacuteticardquo como

uma possibilidade para o desenvolvimento das competecircncias teacutecnicas para a formaccedilatildeo dos

engenheiros contudo segundo elas a ligaccedilatildeo entre ldquoo universo fenomenal da Matemaacutetica e o

mundo das relaccedilotildees dos objetos fiacutesicosrdquo (SOARES SAUER 2004 p 265) a meu ver pode

ser realizada por meio da Modelagem Burghes e Borrie (1981) sugerem vaacuterios temas da

Fiacutesica que podem ser desenvolvidos por meio da Modelagem com Equaccedilotildees Diferenciais

entre eles Lei de Torricelli Circuitos Eleacutetricos Redes Eleacutetricas Movimento Planetaacuterio

Oscilaccedilotildees Mecacircnicas e Sistema Massa-Mola

Vale ressaltar que com o desenvolvimento da presente pesquisa natildeo pretendo

investigar se a Modelagem Matemaacutetica se configura de fato como uma praacutetica presente ou

mesmo necessaacuteria para o trabalho dos engenheiros A presente pesquisa busca um

alinhamento agraves atuais demandas de formaccedilatildeo matemaacutetica necessaacuterias agrave formaccedilatildeo em

70

Para a autora as disciplinas de Matemaacutetica de cursos de Engenharia englobam os seguintes temas Caacutelculo

Vetorial Caacutelculo Diferencial e Integral Geometria Analiacutetica Aacutelgebra Linear Caacutelculo Numeacuterico Probabilidade

e Estatiacutestica (FRANCHI 2002)

65

Engenharia referendadas pelos pareceres e resoluccedilotildees oficiais por meio da Modelagem

Matemaacutetica

22 Caacutelculo em cursos de Engenharia

Nas Universidades departamentalizadas os docentes que lecionam as disciplinas

de Caacutelculo em cursos de Engenharia geralmente estatildeo subordinados didaacutetica e

pedagogicamente aos departamentos de Matemaacutetica o que pode reforccedilar a manutenccedilatildeo da

falta de reflexatildeo e informaccedilatildeo ldquosobre a necessidade da disciplina que leciona para a formaccedilatildeo

do futuro engenheirordquo (BALDINO CABRAL 2004 p 141) Esse fenocircmeno natildeo estaacute

limitado aos professores das disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia como afirmam

Moreno e Azcaacuterate Gimeacutenez (2003)

No caso de professores de matemaacuteticas de universidade o conhecimento que tecircm

sobre o processo de ensino e aprendizagem eacute fruto da experiecircncia docente e do

efeito da socializaccedilatildeo que lhes fazem repetir os esquemas daqueles professores que

lhes ensinaram em sua eacutepoca de estudantes Os docentes universitaacuterios natildeo

costumam ter nenhuma formaccedilatildeo didaacutetica especiacutefica aleacutem da cientiacutefica que os

capacite a ensinar71

(MORENO AZCAacuteRATE GIMEacuteNEZ 2003 p 267)

No Brasil muitos docentes que lecionam disciplinas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia tiveram pouca ou nenhuma formaccedilatildeo direcionada para serem professores A

legislaccedilatildeo brasileira permite que o portador de diploma de bacharelado ocupe cargos de

docecircncia em niacutevel superior o que inclui os cursos de Engenharia

Os professores de Caacutelculo dos cursos de Engenharia assim como toda a

comunidade envolvida nesse setor tecircm percebido mudanccedilas em relaccedilatildeo ao perfil do alunado

ingressante apoacutes a expansatildeo das Universidades Federais72

e a implantaccedilatildeo do Plano de

Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo das Universidades Federais (Reuni) elaborados e implementados

pelo Governo Federal em 2007 que objetivava dentre outras coisas a democratizaccedilatildeo do

71

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoEn el caso de los professores de matemaacuteticas de universidad el conocimiento

que tienen sobre el proceso de ensentildeanza y aprendizaje es fruto de la experiencia docente y del efecto de la

socializacioacuten que les hace repetir los esquemas de aquellos profesores que les ensentildearon en su eacutepoca de

estudiantes Los docentes universitarios no suelen tener ninguna formacioacuten didaacutectica especiacutefica a parte de la

cientiacutefica que les capacite para ensentildearrdquo 72

A instituiccedilatildeo escolhida para compor os dados para esta pesquisa estaacute incluiacuteda no Plano de Reestruturaccedilatildeo e

Expansatildeo das Universidades Federais

66

acesso de alunos agraves universidades federais Campos (2012 p 28) em sua pesquisa de

doutorado afirma que

No caso de um curso de Engenharia a expectativa eacute que o estudante jaacute traga uma

significativa bagagem em matemaacutetica e ciecircncias que em princiacutepio deveria ter sido

adquirida no ensino fundamental e meacutedio Essas seriam competecircncias esperadas dos

alunos por se tratarem de preacute-requisitos para o ingresso nos cursos que satildeo aferidos

num rigoroso e concorrido vestibular Nesse processo de seleccedilatildeo os estudantes satildeo

submetidos a testes em que todos os conteuacutedos que tradicionalmente passaram a

fazer parte da grade do ensino baacutesico poderatildeo ser cobrados Dessa forma

independentemente do seu histoacuterico escolar sobre aqueles que satildeo aprovados recai

a expectativa de estarem familiarizados com todos esses conteuacutedos o que nem

sempre acontece

O autor aponta que o esperado pela universidade eacute o perfil de um aluno que parece

ser idealizado e natildeo um aluno real Mesmo antes das expansotildees e do Reuni as dificuldades

em relaccedilatildeo agrave aprendizagem das disciplinas de Caacutelculo sempre fizeram parte da rotina

universitaacuteria73

Poreacutem o problema pode ter sido colocado em relevo com o excesso de alunos

em turmas de Caacutelculo aliado a uma possiacutevel sobrecarga de trabalho do professor conforme

apontado por Campos (2012 p 24)

Outra questatildeo apontada estaacute ligada agrave meta de as Universidades terem uma meacutedia de

18 alunos por professor em cursos presenciais Essa taxa foi estabelecida levando

em consideraccedilatildeo o caacutelculo que dava agrave eacutepoca da formulaccedilatildeo do REUNI uma meacutedia

de 145 alunos por professor nas IFES A criacutetica nesse quesito diz respeito agrave forma

como esse caacutelculo foi feito desconsiderando que muitos professores ocupam cargos

administrativos e que algumas disciplinas praacuteticas muito especializadas soacute podem

funcionar com um nuacutemero de alunos muito reduzido Ao natildeo levar essas questotildees

em conta o nuacutemero apresentado no REUNI esconde o fato de jaacute haver turmas

superlotadas aleacutem de natildeo dar o devido peso agrave carga de trabalho dos docentes na

poacutes-graduaccedilatildeo Assim elevar ainda mais o nuacutemero de alunos por sala pode gerar

uma sobrecarga de trabalho dos professores o que prejudicaria o ensino a pesquisa

e o atendimento agrave poacutes-graduaccedilatildeo

Os conteuacutedos geralmente presentes nas ementas das disciplinas de Caacutelculo dos

cursos de Engenharia natildeo sofreram consideraacuteveis mudanccedilas no uacuteltimo seacuteculo

(BIEMBENGUT HEIN 2007) Poreacutem as possibilidades de uso ensino e aprendizagem dos

seus conteuacutedos poderiam ser (re)pensadas em consonacircncia agraves exigecircncias de formaccedilatildeo e

consequentemente atuaccedilatildeo do engenheiro na sociedade atual Biembengut e Hein (2007 p

415) afirmam que o ensino de Caacutelculo em cursos de Engenharia no Brasil se revela

inadequado e insuficientemente ajustado Eles enfatizam que entre as causas principais dessa

situaccedilatildeo podem estar 1) as disciplinas de Caacutelculo satildeo dadas por professores como se fossem

73

Natildeo apenas para estudantes de cursos de Engenharia

67

hermeticamente fechadas 2) a maioria dos profissionais da Engenharia afirma que a

Matemaacutetica aprendida em seus cursos eacute insuficiente para a praacutetica da Engenharia 3) Caacutelculo

Diferencial faz parte dos preacute-requisitos de muitas disciplinas e natildeo eacute ensinado de acordo com

o curso em questatildeo Os autores ainda realccedilam o seguinte

Os estudantes natildeo veem qualquer utilidade para isto e aleacutem disso eles

permanecem obscuros sobre as aplicaccedilotildees futuras do que lhes satildeo ensinados

A matemaacutetica desenvolvida nos primeiros quatro semestres acaba esquecida pelos

estudantes justo quando eles precisam usa-la em suas disciplinas profissionais

Aacutelgebra e Caacutelculo registram maiores iacutendices de evasatildeo e fracasso

Conceitos como funccedilotildees limites derivadas e integrais satildeo ensinados da mesma

maneira para todos os cursos (Quiacutemica Biologia Economia Matemaacutetica) a uacutenica

diferenccedila ocorre na ecircnfase dada pelo professor74

(BIEMBENGUT HEIN 2007 p

415)

Os autores ainda apontam que a ecircnfase eacute dada quase que exclusivamente nas

teacutecnicas e natildeo nas aplicaccedilotildees sem qualquer conexatildeo com a Engenharia ou seja satildeo

negligenciados alguns conceitos fundamentais em detrimento de regras e teacutecnicas Uma

consequecircncia disso segundo Biembengut e Hein (2007 p 416) eacute que ldquoquando esses alunos

futuros profissionais se depararem com um problema ou situaccedilatildeo para avaliar analisar ou

resolver que requeira uma decisatildeo sobre melhor desempenho eles natildeo reconhecem as

ferramentas que eles jaacute adquiriram durante sua educaccedilatildeo75

rdquo

Franchi (2002) aponta para a necessidade de que os conteuacutedos de Matemaacutetica

desenvolvidos em cursos de Engenharia sejam apresentados como uma linguagem de traduccedilatildeo

e equacionamento de fenocircmenos da realidade aleacutem de ferramentas para entendimento e

soluccedilatildeo de problemas relacionados a tais fenocircmenos Pontua ainda que tal maneira de olhar

para a Matemaacutetica em cursos de Engenharia nem sempre eacute percebida pelos alunos e justifica

que isso ocorre devido agrave forma como a Matemaacutetica eacute tradicionalmente abordada nesses

cursos

Outro aspecto que julgo importante ser colocado em relevo eacute a frequente

manutenccedilatildeo das metodologias e do enfoque teoacuterico por parte dos professores de Caacutelculo em

74

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoStudents do not see any use for this and furthermore they remain nuclear

about the future applications of what they are taught

The mathematics developed in the first four semesters ends up forgotten by students just when they need use it in

their professional disciplines

Algebra e Calculus record the highest indices of withdrawal and failure

Concepts like functions limits derivatives and integrals are taught in the same way for all courses (Chemistry

Biology Economics Mathematics etc) the only difference occurring in the many emphasis given by the

teacherrdquo 75

Traduccedilatildeo realizada por min de ldquoWhen these students future professional find themselves with a problem or

situation to evaluate analyze or resolve that requires a decision about better performance they not recognize the

tools that they have already acquired during their educationrdquo

68

cursos de Engenharia que ldquoprocuram livros texto que satildeo em geral mais adequados para eles

mesmos que satildeo os mesmos que foram usados em sua proacutepria educaccedilatildeo e reescrevem-no

para usar em suas respectivas classes76

rdquo (BIEMBENGUT 1997 apud BIEMBENGUT

HEIN 2007 p 416)

Biembengut e Hein (2007) esclarecem que torna-se urgente que os professores

busquem uma reorganizaccedilatildeo de conteuacutedos e meacutetodos de ensino de maneira que permita a

articulaccedilatildeo entre teorias matemaacuteticas e a atividade do engenheiro fazendo com que o meacutetodo

de ensino permita-os enfatizar os princiacutepios fiacutesicos da Engenharia e as teorias matemaacuteticas

ajudem-nos a descrever e a compreender melhor tais fenocircmenos A necessidade de incorporar

alguns conhecimentos natildeo matemaacuteticos pelos docentes das disciplinas de Caacutelculo em cursos

de Engenharia em suas praacuteticas de ensino torna-se indispensaacutevel sob esse ponto de vista

Nesse sentido Franchi (2002) aponta que quando precisam utilizar algum

conteuacutedo de Matemaacutetica em suas disciplinas os professores de disciplinas mais avanccediladas de

cursos de Engenharia frequentemente precisam retomar ou (re)ensinar os conceitos que

necessitam posto que depois de algum tempo os alunos tendem a se esquecer dos conceitos

e teacutecnicas que foram trabalhados nas disciplinas de Matemaacutetica em cursos de Engenharia

Boyce e Diprima (1996 p 1) enfatizam que ldquoa razatildeo principal para resolver

muitas equaccedilotildees matemaacuteticas eacute procurar aprender algo a respeito do processo fiacutesico que a

equaccedilatildeo se propotildee a representarrdquo Soacute que ldquode maneira geral a ecircnfase eacute dada aos meacutetodos de

resoluccedilatildeo das equaccedilotildees diferenciais ordinaacuterias esquecendo-se do problema que origina tal

modelo bem como da interpretaccedilatildeo de suas soluccedilotildeesrdquo (JAVARONI 2007 p 20) Assim

parece que nas disciplinas de Caacutelculo dos cursos de Engenharia essa razatildeo de ser muitas

vezes acaba sendo deixada de lado

A forma de trabalhar as disciplinas de Caacutelculo voltadas para si mesmas e

desligadas das aplicaccedilotildees pode acabar provocando um distanciamento de tais conteuacutedos agrave

realidade dos problemas estudados durante a formaccedilatildeo do engenheiro Hubbard (1994 p 372

apud HABRE 2000 p 455) por exemplo pontua que ldquoexiste uma alarmante discrepacircncia

entre a visatildeo de equaccedilotildees diferenciais como ligaccedilatildeo entre a matemaacutetica e a ciecircncia e o curso

padratildeo de equaccedilotildees diferenciaisrdquo77

Tal discrepacircncia poderia ser minimizada ou amenizada

mediante a apresentaccedilatildeo dos conceitos de Caacutelculo com referecircncia na realidade

76

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoLook for textbooks that are in general better suited to themselves that is the

same that were used in their own education and rewrite them for use in their respective classesrdquo 77

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoThere is a dismaying discrepancy between this view of differential equations

as the link between mathematics and science and the standard course on differential equationsrdquo

69

A partir da anaacutelise de uma situaccedilatildeo real eacute possiacutevel fazer com que o aluno percorra as

etapas de aquisiccedilatildeo do conhecimento iniciando pelo aspecto afetivo (onde ele deve

sentir a Matemaacutetica presente e ter dela uma compreensatildeo preacutevia) passando pela

interpretaccedilatildeo e busca de significado chegando agrave compreensatildeo Conceitos bem

compreendidos podem ser aplicados com mais facilidade O trabalho com os

conceitos a partir de temas externos agrave Matemaacutetica eacute essencialmente interdisciplinar

Olhar para o problema sob a oacutetica de apenas uma disciplina conduz a uma visatildeo

fragmentada da situaccedilatildeo Um estudo amplo considerando os diversos aspectos que o

problema pode envolver sem duacutevida eacute interessante As caracteriacutesticas do problema

indicaratildeo qual o recurso mais adequado para ser utilizado (FRANCHI 2002 p 51)

Uma maneira de apresentar e desenvolver tais problemas ou situaccedilotildees no contexto

dos cursos de Engenharia poderia se dar por meio da Modelagem Matemaacutetica que

basicamente pode ser entendida como a apresentaccedilatildeo de um problema ndash cuja origem pode

estar ou natildeo na aacuterea de atuaccedilatildeo dos futuros engenheiros devendo ser resolvido a partir da

construccedilatildeo de um modelo que possa ser representado por meio da utilizaccedilatildeo de ferramentas

estudadas nas disciplinas de Caacutelculo que inclui as Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias

Camarena (2009 p 123) entende que um modelo matemaacutetico no contexto dos

cursos de Engenharia eacute ldquouma relaccedilatildeo matemaacutetica que descreve objetos ou problemas de

engenhariardquo78

Tal relaccedilatildeo matemaacutetica poderia ser uma equaccedilatildeo um sistema de equaccedilotildees

uma distribuiccedilatildeo de probabilidade entre outros

Barbosa (2004a p 67 grifo do autor) entende ser necessaacuteria a inserccedilatildeo da

Modelagem Matemaacutetica em disciplinas em serviccedilo jaacute que ldquopela sua proacutepria natureza

interdisciplinar a Modelagem eacute a porta de entrada privilegiada para atender a algumas

expectativas dos alunos nos cursos79

de serviccedilordquo

A Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia por se tratar de uma

atividade que pressupotildee interdisciplinaridade desenvolvimento de habilidades de resoluccedilatildeo

de problemas por meio de modelos matemaacuteticos trabalho em equipe e formaccedilatildeo criacutetica em

termos de atuaccedilatildeo social dos futuros engenheiros pode colaborar com o desenvolvimento das

habilidades e competecircncias aclamadas na resoluccedilatildeo como por exemplo ldquoaplicar

conhecimentos matemaacuteticos cientiacuteficos tecnoloacutegicos e instrumentais agrave engenhariardquo ldquoatuar

em equipes multidisciplinaresrdquo e ldquoavaliar o impacto das atividades da engenharia no contexto

social e ambientalrdquo (BRASIL 2002)

Corroborando tal consideraccedilatildeo Franchi (2002 p 74) enfatiza que ldquoo trabalho

com a Modelagem Matemaacutetica pode ajudar a desenvolver nos alunos [dos cursos de

Engenharia] as habilidades necessaacuterias para a resoluccedilatildeo de problemas preparando-o para

78

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoa mathematical relation that describes engineering objects or problemsrdquo 79

Barbosa (2004) utiliza o termo curso em referecircncia agrave disciplina

70

enfrentar situaccedilotildees novas e buscar soluccedilotildeesrdquo A autora enfatiza ainda que a Modelagem

Matemaacutetica propicia o desenvolvimento de habilidades tais como criatividade espiacuterito criacutetico

e capacidade de aprendizagem contiacutenua que satildeo essenciais para a atuaccedilatildeo profissional dos

engenheiros Aleacutem de possibilitar o desenvolvimento natural de habilidades de comunicaccedilatildeo

oral e escrita capacidade de cooperaccedilatildeo e trabalho em equipe (FRANCHI 2002)

No sentido de alinhavar e desenvolver a reflexatildeo aqui proposta a seguir busco

discorrer sobre perspectivas e concepccedilotildees de Modelagem configuradas na Educaccedilatildeo

Matemaacutetica que pressupotildeem um modo mais geral de conceber a Modelagem em diversos

niacuteveis de formaccedilatildeo matemaacutetica e posteriormente seguir no sentido de

especificarexemplificar concepccedilotildees e perspectivas que podem configurar a Modelagem na

formaccedilatildeo em Caacutelculo demandada pelos e nos cursos de Engenharia

23 Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica concepccedilotildees e perspectivas

A Modelagem eacute uma tendecircncia que vem permeando o cenaacuterio da Educaccedilatildeo

Matemaacutetica no Brasil jaacute haacute algum tempo inclusive recentemente passou a ser incorporada

aos documentos oficiais do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) como uma possibilidade para os

processos de ensino-aprendizagem de Matemaacutetica na Educaccedilatildeo Baacutesica (BRASIL 2006)

A Modelagem Matemaacutetica na Educaccedilatildeo Matemaacutetica de acordo com Borba e

Villareal (2005) foi introduzida no Brasil preconizada pelos trabalhos de Paulo Freire e

Ubiratan DrsquoAmbrosio entre o final da deacutecada de 70 e o iniacutecio da deacutecada de 80 Naquela

eacutepoca as atividades de Modelagem eram baseadas em ldquosituaccedilotildees-problemardquo com o foco no

real no cotidiano que desafiassem alunos e professores Vale ressaltar que naquela eacutepoca o

uso de maacutequinas e programas computacionais jaacute permeava os ambientes de Modelagem

Matemaacutetica (MEYER CALDEIRA MALHEIROS 2011)

Podemos afirmar que na deacutecada de 80 a Modelagem Matemaacutetica ganhou forccedila

no paiacutes sob a influecircncia de trabalhos como os de Aristides Barreto Ubiratan DrsquoAmbrosio

Rodney Bassanezi Joatildeo Frederico Meyer entre outros que disseminaram a Modelagem

Matemaacutetica por meio de cursos para a formaccedilatildeo de professores e accedilotildees em salas de aula

(MEYER CALDEIRA MALHEIROS 2011)

Algumas concepccedilotildees de Modelagem Matemaacutetica em contextos escolares foram

apontadas por Barbosa (2001a 2003 2004a) Burak (1992) e Biembengut e Hein (2007

71

2011) Barbosa (2001a p 6) entende que a ldquomodelagem eacute um ambiente de aprendizagem no

qual os alunos satildeo convidados a indagar eou investigar por meio da matemaacutetica situaccedilotildees

oriundas de outras aacutereas da realidaderdquo Para Burak (1992 p 62) a ldquoModelagem Matemaacutetica

constitui-se em um conjunto de procedimentos cujo objetivo eacute estabelecer um paralelo para

tentar explicar matematicamente os fenocircmenos presentes no cotidiano do ser humano

ajudando-o a fazer prediccedilotildees e a tomar decisotildeesrdquo Jaacute Biembengut e Hein (2011) concebem a

Modelagem Matemaacutetica como estrateacutegia teacutecnica ou metodologia de ensino cujo foco estaacute na

obtenccedilatildeo de um modelo matemaacutetico com intuito de ensinar conhecimentos acadecircmicos que

possam ajudar as pessoas em termos das possibilidades de atuaccedilatildeo nos diversos contextos de

vida

Natildeo haacute uma uacutenica definiccedilatildeo de Modelagem Matemaacutetica mas diferentes

concepccedilotildees de Modelagem satildeo assumidas por quem usa Modelagem em contextos

educacionais sempre levando em conta que situaccedilotildees diferentes podem levar a diferentes

conceituaccedilotildees de Modelagem (MEYER CALDEIRA MALHEIROS 2011) Vale ressaltar

que assumo o termo concepccedilatildeo80

designando ldquotanto o ato de conceber quanto o objeto

concebido mas preferivelmente o ato de conceber e natildeo o objeto para o qual deve ser

reservado o termo conceitordquo (ABBAGNANO 2007 p 169 grifo do autor)

Instigada em compreender as concepccedilotildees de Modelagem Matemaacutetica assumidas

por alguns autores que fazem uso da palavra arte em tal conceitualizaccedilatildeo tais como

Bassanezi (2006) e Biembengut e Hein (2011) busquei na internet pelo significado da palavra

ldquoarterdquo e encontrei

Arte (do latim ars significando teacutecnica eou habilidade) geralmente eacute entendida como a atividade humana ligada a manifestaccedilotildees de

ordem esteacutetica ou comunicativa realizada a partir da percepccedilatildeo das emoccedilotildees e das ideias com o objetivo de estimular essas instacircncias da consciecircncia e dando

um significado uacutenico e diferente para cada obra (httpsptwikipediaorgwikiArte 10042013)

Com base no significado acima podemos refletir sobre a concepccedilatildeo de

Modelagem Matemaacutetica assumida por Bassanezi (2006 p 16) que consiste na ldquoarte de

transformar problemas da realidade em problemas matemaacuteticos e resolvecirc-los interpretando

suas soluccedilotildees na linguagem do mundo realrdquo Primeiro o significado da palavra arte pode ser

uma teacutecnica ou habilidade fazendo parte da atividade humana ligada a manifestaccedilotildees de

80

ldquoTatildeo logo um conceito eacute simbolizado para noacutes nossa imaginaccedilatildeo reveste-se de uma concepccedilatildeo privada e

pessoal que soacute podemos distinguir por um processo de abstraccedilatildeo do conceito puacuteblico e comunicaacutevelrdquo (LANGER

apud ABBGNANO 2007 p 169)

72

ordem esteacutetica e comunicativa realizada a partir da percepccedilatildeo de emoccedilotildees e das ideias Dessa

forma a arte de transformar problemas da realidade em problemas matemaacuteticos pode

perpassar por questotildees de ordem esteacutetica e comunicativa que por sua vez tem estreita

relaccedilatildeo com as necessidades dos seres humanos de cooperaccedilatildeo e eacutetica Segundo tal teacutecnica ou

habilidade de transformar problemas da realidade em problemas matemaacuteticos leva em conta

as vivecircncias as subjetividades estreitamente ligadas ao pensamento ao mundo das ideias E

por uacuteltimo a arte tem como objetivo estimular instacircncias da consciecircncia produzir

significados para as obras de arte aqui relacionadas agrave transformaccedilatildeo de problemas reais em

problemas de Matemaacutetica sendo que a uacuteltima instacircncia dessa obra se realiza por meio da

interpretaccedilatildeo das soluccedilotildees na linguagem do mundo real que por sua vez pode possibilitar

novos olhares sobre a realidade

Aleacutem disso Bassanezi (2006 p 38 grifo meu) considera que ldquomais importante do

que os modelos obtidos eacute o processo utilizado a anaacutelise criacutetica e sua inserccedilatildeo no contexto

soacutecio-culturalrdquo Tal posicionamento pode nos levar ao entendimento de que o termo arte

presente em sua concepccedilatildeo de Modelagem Matemaacutetica em termos do processo utilizado

poderia ser resumido nas accedilotildees de transformar (problemas da realidade em problemas

matemaacuteticos) resolver (os problemas matemaacuteticos) e interpretar (suas soluccedilotildees na linguagem

do mundo real) Aleacutem de objetivar a motivaccedilatildeo para o aprendizado da matemaacutetica o autor

acredita que ldquoas discussotildees sobre o tema escolhido favorecem a preparaccedilatildeo do estudante

como elemento participativo da sociedade em que viverdquo (BASSANEZI 2006 p 38)

Biembengut e Hein (2011) concebem a Modelagem Matemaacutetica como um

processo que envolve a obtenccedilatildeo de um modelo podendo ser considerado um processo

artiacutestico visto que para os autores na elaboraccedilatildeo de um modelo aleacutem do conhecimento

matemaacutetico o modelador necessita ter uma dose significativa de intuiccedilatildeo e criatividade para

interpretar o contexto saber discernir qual(is) conteuacutedo(s) matemaacutetico(s) se adapta(m) melhor

e senso luacutedico para jogar com as variaacuteveis escolhidas Nas palavras dos autores ldquoa

modelagem matemaacutetica eacute assim uma arte ao formular resolver e elaborar expressotildees que

valham natildeo apenas para uma soluccedilatildeo particular mas que tambeacutem sirvam posteriormente

como suporte para outras aplicaccedilotildees e teoriasrdquo (BIEMBENGUT HEIN 2011 p 13 grifo

meu)

Aleacutem disso Bassanezi (2006) e Biembengut e Hein (2011) denominam

ldquoModelaccedilatildeo Matemaacuteticardquo o meacutetodo ou estrateacutegia de ensino que utiliza a essecircncia da

modelagem em cursos regulares nos quais haacute um programa curricular a ser cumprido aleacutem

de uma estrutura espacial e organizacional bem definida Tais autores acreditam que o

73

processo de modelagem em tais contextos precisa sofrer algumas alteraccedilotildees considerando o

grau de escolarizaccedilatildeo dos aprendizes o tempo disponibilizado para o desenvolvimento da

atividade ldquoo programa a ser cumprido e o estaacutegio em que o professor se encontra seja em

relaccedilatildeo ao conhecimento da modelagem seja no apoio por parte da comunidade escolar para

implantar mudanccedilasrdquo (BIEMBENGUT HEIN 2003 p 18)

Existem ainda outras concepccedilotildees de Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica

presentes na literatura brasileira das quais podemos destacar proposta para educar

matematicamente considerando a Modelagem como uma concepccedilatildeo de ensino e

aprendizagem (CALDEIRA 2009) estrateacutegia pedagoacutegica na qual os estudantes trabalham em

grupo e satildeo responsaacuteveis pela escolha do tema a ser investigado (BORBA MENEGUETTI

HERMINI 1997) Dentre todas essas concepccedilotildees Meyer Caldeira e Malheiros (2011)

acreditam que

o que as diferencia basicamente eacute a ecircnfase na escolha do problema a ser

investigado que pode partir do professor pode ser um acordo entre professor e

alunos ou entatildeo os estudantes podem escolher o assunto que pretendem investigar

uma postura que se assemelha agrave Modelagem exercida profissionalmente (MEYER

CALDEIRA MALHEIROS 2011 p 81)

Ao passo que o que diferencia as concepccedilotildees de Modelagem pode estar

relacionado ao ldquoproblema da realidaderdquo e agrave escolha dele o que as aproxima eacute segundo

Meyer Caldeira e Malheiros (2011 p 85) um objetivo comum ldquoestudar resolver e

compreender um problema da realidade ou de outra(s) aacuterea(s) do conhecimento utilizando

para isso a Matemaacutetica e obviamente outras disciplinas e ideiasrdquo

Arauacutejo (2002 p 20 grifo da autora) poreacutem acredita que as perspectivas se

diferenciam ldquoagrave medida que se define qual eacute o objetivo de resolver tal problema qual eacute a

realidade na qual o problema estaacute inserido como a matemaacutetica eacute concebida e se relaciona

com esta realidade etcrdquo81

A autora assume o termo ldquoperspectivardquo designando os propoacutesitos

que satildeo delineados pelo professor ao propor a Modelagem Matemaacutetica como uma atividade

em sala de aula Com base nesses propoacutesitos faz-se necessaacuterio definir o papel dos alunos e

professor(es) na atividade principalmente no que diz respeito agrave escolha do ldquoproblema da

realidaderdquo a ser entendidosolucionado

A Modelagem ldquopode criar possibilidades interdisciplinares na sala de aula fato

considerado muito importante (ou ateacute essencial) entre as questotildees de ensino e aprendizagem 81

No escopo deste texto natildeo pretendo discorrer sobre as relaccedilotildees entre matemaacutetica e realidade nem tampouco

realizarei uma discussatildeo do que seriam estes termos Em Arauacutejo (2002) o leitor encontraraacute uma interessante

discussatildeo sobre realidade e matemaacutetica baseada em discussotildees filosoacuteficas

74

mostrando que no caso a Matemaacutetica natildeo eacute uma ciecircncia isolada das outrasrdquo (MEYER

CALDEIRA MALHEIROS 2011 p 85) A integraccedilatildeo da Matemaacutetica com outras aacutereas do

conhecimento pode constituir dessa forma importante contribuiccedilatildeo para a construccedilatildeo do

conhecimento matemaacutetico nos cursos de Engenharia podendo minimizar o que Camarena

(2009) chama de ponto de conflito cognitivo vivenciado pelos futuros engenheiros ldquouma vez

que ele estudou matemaacutetica e engenharia separadamente de modo que quando ele usa as duas

aacutereas do conhecimento estas aacutereas cognitivas estatildeo separadas e ele tem que integraacute-las a fim

de matematizar o problema a ser resolvidordquo82

(CAMARENA 2009 p 117)

Blum (1991) Blum e Leiss (2005) Barbosa (2003) e Bassanezi (2006) apontam

alguns argumentos a favor da inclusatildeo da Modelagem nos curriacuteculos escolares sendo estes

apresentados pelos pesquisadores da aacuterea de Modelagem em Educaccedilatildeo Matemaacutetica que

foram por mim sumarizados da seguinte forma

Argumento formativo os alunos se tornariam mais criativos habilidosos e explorativos em atividades investigativas e de resoluccedilatildeo

de problemas

Argumento de competecircncia criacutetica os alunos estariam preparados para a vida real como cidadatildeos atuantes na sociedade analisando as

formas que a matemaacutetica eacute usada nas praacuteticas sociais

Argumento de utilidade os alunos estariam preparados para utilizar

a matemaacutetica como ferramenta para resolver problemas em diferentes

situaccedilotildees e aacutereas o que eacute importante para atuarem na vida cotidiana e

no trabalho

Argumento motivacionalintriacutenseco os alunos estariam mais

estimulados para o estudo entendimento e interpretaccedilatildeo da proacutepria

matemaacutetica pois vislumbram sua aplicabilidade

Argumento de aprendizagem os alunos teriam mais facilidade em compreender conceitos matemaacuteticos devido agrave possiacutevel conexatildeo com

outros assuntos

Considerando os curriacuteculos dos cursos de Engenharia no Brasil ao assumir as

disciplinas de Caacutelculo como importante arsenal de ferramentas que possibilitaauxilia a

resoluccedilatildeo de problemas e a compreensatildeo de fenocircmenos englobadosestudados nos diversos

cursos de Engenharia o argumento de utilidade poderia ocupar lugar de destaque no debate

para a inclusatildeo da Modelagem nos curriacuteculos destes cursos Vale ressaltar que tal argumento

natildeo exclui os demais apenas poderia ocupar lugar de destaque

82

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquosince he studied mathematics and engineering separately so that when he

uses both knowledge areas these cognitive areas are separated and he has to integrate them in order to

mathematize the problem to be resolvedrdquo

75

Vaacuterios argumentos poreacutem satildeo apresentados como obstaacuteculos para o uso da

Modelagem Matemaacutetica em cursos regulares Tais obstaacuteculos segundo Bassanezi (2006 p

37 grifos do autor) podem ser de trecircs tipos

1) Obstaacuteculos instrucionais - Os cursos regulares possuem um programa que deve

ser desenvolvido completamente[] alguns professores tem duacutevida se as aplicaccedilotildees

e conexotildees com outras aacutereas fazem parte do ensino de Matemaacutetica salientando que

tais componentes tendem a distorcer a esteacutetica a beleza e a universalidade da

Matemaacutetica

2) Obstaacuteculos para os estudantes - O uso da Modelagem foge da rotina do ensino

tradicional e os estudantes natildeo acostumados com o processo podem se perder e se

tornar apaacuteticos nas aulas []

3) Obstaacuteculos para os professores - Muitos professores natildeo se sentem habilitados a

desenvolver modelagem em seus cursos por falta de conhecimento do processo ou

por medo de se encontrarem em situaccedilotildees embaraccedilosas quanto agraves aplicaccedilotildees da

matemaacutetica em aacutereas que desconhecem Acreditam que perderatildeo muito tempo para

preparar as aulas e tambeacutem natildeo teratildeo tempo para cumprir todo o programa do curso

Blum (1991) ainda afirma que do ponto de vista dos professores a inclusatildeo da

Modelagem aumentaria suas demandas de trabalho devido agraves qualificaccedilotildees adicionais e

conhecimentos natildeo matemaacuteticos que satildeo requeridos nesse tipo de atividade

Flemming (2004) ao relatar o desenvolvimento de uma pesquisa sobre o ensino

das Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias mostra um dos obstaacuteculos apontados por Bassanezi

(2006)

A nossa motivaccedilatildeo estava alicerccedilada no fato de que a maioria dos professores natildeo

discute a resoluccedilatildeo de problemas no contexto das equaccedilotildees diferenciais e as razotildees

apontadas satildeo os alunos ainda natildeo dominam os conhecimentos da Fiacutesica e outras

aacutereas requeridas para a interpretaccedilatildeo dos problemas os professores na sua

formaccedilatildeo natildeo tiveram o aprofundamento em diferentes aacutereas da Engenharia

requeridas para o domiacutenio do problema (FLEMMING 2004 p 280)

Considerando os obstaacuteculos apontados acima em cursos de Engenharia aleacutem de

entender como os alunos e professores conduzem suas experiecircncias em Modelagem

Matemaacutetica seria necessaacuterio entender tambeacutem as possibilidades que esse ambiente de

formaccedilatildeo proporciona aos aprendizes sendo eles alunos professores monitores e demais

sujeitos da comunidade acadecircmica que realizam as atividades que objetivam a formaccedilatildeo do

engenheiro contemporacircneo

Um fator muito importante que deve ser considerado quando se pretende usar a

Modelagem em cursos de Engenharia eacute o tempo Geralmente o tempo que deve ser dedicado

ao desenvolvimento de cada parte das disciplinas de Caacutelculo eacute consideradosugerido nos

respectivos planos de ensino Sendo assim o cumprimento de ementasconteuacutedos pode tornar-

76

se para o professor um ponto de tensatildeo que pode influenciar sua decisatildeo quanto agrave

incorporaccedilatildeo da Modelagem em sua praacutetica docente

No que tange a incorporaccedilatildeo da Modelagem Matemaacutetica no decorrer de

disciplinas escolares a adequaccedilatildeo da proposta de ensino elaborada pelo professor deve levar

em conta os conteuacutedos a serem abordados e assim buscar por temas de Modelagem guiados

pelos conteuacutedos Para isso Biembengut e Hein (2007 p 417) sintetizam os estaacutegios do

processo a serem seguidos pelos docentes quando eles se disponibilizam a realizar

Modelagem durante as disciplinas ofertadas em cursos de Engenharia

1) Apresentar uma siacutentese do tema relativo para Engenharia 2) Propor algumas questotildees sobre o tema encorajando os estudantes a responder

3) Selecionar as questotildees que satildeo mais apropriadas para desenvolver o conteuacutedo programaacutetico de matemaacutetica

4) Formular questotildees de tal modo a aumentar o teor de conteuacutedo matemaacutetico necessaacuterio para resolvecirc-lo 5) Apresentar o conteuacutedo programaacutetico de matemaacutetica

6) Propor exemplos anaacutelogos de modo que o conteuacutedo natildeo seja restrito ao modelo assim que o conteuacutedo necessaacuterio eacute suficientemente desenvolvido para responder ou resolver este estaacutegio do trabalho

7) Solicitar aos estudantes fazerem pesquisas sobre o assunto caso seja necessaacuterio 8) Retornar agrave questatildeo que comeccedilou o processo apresentando uma soluccedilatildeo

9) Orientar os estudantes na anaacutelise de seus resultados e sua validaccedilatildeo83

Jaacute Franchi (2002) acredita que a Modelagem deva permear as atividades

desenvolvidas nas disciplinas da aacuterea de Matemaacutetica em cursos de Engenharia Para a autora

a escolha dos conteuacutedos matemaacuteticos a serem abordados em tais disciplinas em cursos de

Engenharia deve ocorrer em funccedilatildeo do contexto histoacuterico Para cada contexto eacute necessaacuterio

antes de qualquer coisa identificar os objetivos alinhados agraves demandas de formaccedilatildeo em

Engenharia e depois escolher conteuacutedos e metodologias que ajudem a atingir tais objetivos

Nesse sentido a estrutura curricular natildeo deve ser algo estaacutetico muito pelo contraacuterio deve

permitir diferentes possibilidades de organizaccedilatildeo que possam ser adaptadas a cada contexto

curso ou momento histoacuterico

83

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquo1) Present a synthesis of the theme relative to Engineering

2) Propose some question about the theme encouraging students to respond

3) Select the question that is most appropriate for developing the programmersquos mathematical content

4) Formulate questions in such a way as to raise he mathematical content necessary for resolving them

5) Present the programmatic mathematical content

6) Propose analogous examples so that the content is not restricted to the model as soon as the necessary content

is sufficiently developed for answering or resolving this stage of the work

7) Solicit students to make research into the subject if deemed necessary

8) Return to the question that began the process presenting a solution

9) Guide the students in analysing their results and its validityrdquo

77

Vale ressaltar que Franchi (2002) apresenta como fruto de sua investigaccedilatildeo uma

proposta curricular para tratar os conteuacutedos de Matemaacutetica em cursos de Engenharia

utilizando de Modelagem e Informaacutetica em consonacircncia agraves exigecircncias de tal formaccedilatildeo

profissional A incorporaccedilatildeo da Modelagem e da Informaacutetica nas praacuteticas de ensino-

aprendizagem cuja finalidade eacute possibilitar a formaccedilatildeo Matemaacutetica dos engenheiros se deu

mediante a implementaccedilatildeo da referida proposta curricular em uma instituiccedilatildeo que se destina agrave

formaccedilatildeo de engenheiros Ou seja o curriacuteculo foi transformado e implementado

Contudo caso o curriacuteculo de uma instituiccedilatildeo natildeo seja modificado (por quaisquer

razotildees) e consequentemente natildeo seja implementada modificaccedilatildeo alguma mesmo assim

seria possiacutevel desenvolver atividades de formaccedilatildeo de Caacutelculo utilizando Modelagem

Matemaacutetica Mas qual seria a melhor forma Seria possiacutevel adequar um curriacuteculo jaacute preacute-

estabelecido e demasiadamente estaacutetico aos objetivos de formaccedilatildeo em Engenharia que atenda

agraves exigecircncias atuais para tal formaccedilatildeo utilizando-se da Modelagem Matemaacutetica Franchi

(2002) considera como necessaacuterio e importante a integraccedilatildeo da Matemaacutetica com as demais

aacutereas dos cursos de Engenharia mediante o desenvolvimento de atividades de Modelagem

poreacutem afirma que natildeo existe um entendimento claro de como isso deve ser feito

Kaiser e Sriraman (2006) se incumbiram de revisar a literatura (em termos de

pesquisas realizadas em vaacuterios paiacuteses do mundo) e sistematizar as perspectivas de Modelagem

em Educaccedilatildeo Matemaacutetica Os autores delimitaram perspectivas que em 2006 podiam ser

consideradas como tendecircncias no debate sobre a Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica

conforme seus objetivos centrais a partir da anaacutelise de artigos apresentados em conferecircncias e

perioacutedicos internacionais tais como ICTMA84

e ZDM85

Vale ressaltar que natildeo haacute qualquer

menccedilatildeo que os autores dos referidos artigos assumam tais perspectivas em todas as

investigaccedilotildees que se propotildeem a desenvolver E mais do que isso natildeo significa que a

perspectiva assumida esteja posta de forma clara e objetiva em cada artigo Sendo assim por

vezes devemos considerar a perspectiva assumida pela leitura dos autores aos textos

publicados nos congressos e perioacutedicos

No Brasil alguns mapeamentos foram realizados na tentativa de estabelecer um

panorama atual das pesquisas em Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica Um deles e talvez o

mais recentemente publicado internacionalmente foi elaborado por Arauacutejo (2010) Como

corpus foram analisados trabalhos apresentados e publicados em eventos ocorridos no paiacutes

84

International Conference on the Teaching of Mathematical Modelling and Applications (ICTMA) 85

The International Journal on Mathematics Education (ZDM)

78

durante os anos de 2006 e 2007 Satildeo eles 14 trabalhos apresentados no III SIPEM86

10

trabalhos apresentados no IX ENEM87

e 32 trabalhos apresentados na CNMEM88

totalizando

56 publicaccedilotildees No artigo a autora esclarece que

Devido agrave sua influecircncia a modelagem em educaccedilatildeo matemaacutetica no Brasil reflete

influecircncias da matemaacutetica aplicada campo principal de trabalho de Bassanezi mas

tem sido marcada principalmente pelos estudos soacutecio-culturais desenvolvidos por

DrsquoAmbrosio no campo da Etnomatemaacutetica89

(ARAUacuteJO 2010 p 338)

Com base nas leituras dos diversos textos mencionados anteriormente observei

que existem diversas concepccedilotildees em atividades de Modelagem Matemaacutetica nos mais diversos

contextos de formaccedilatildeo podendo ser realizadas durante o desenvolvimento de disciplinas

regulares como cursos de formaccedilatildeo de professores iniciaccedilatildeo cientiacutefica pesquisa entre outras

possibilidades A apresentaccedilatildeo do problema pode ser realizada tanto pelo professor quanto

pelos alunos O problema pode ser exposto juntamente com seus dados qualitativos eou

quantitativos Pode ocorrer de os alunos e professor(es) terem que procurar pelos dados

quantitativos ou qualitativos relacionados ao problema proposto Podem ser incluiacutedos tambeacutem

problemas para os quais jaacute foram estabelecidos modelos matemaacuteticos que os representem (as

denominadas aplicaccedilotildees)

A seguir apresento uma revisatildeo de literatura sobre as pesquisas que buscam

analisar os usos da Modelagem Matemaacutetica para propiciar formaccedilotildees em Caacutelculo em cursos

de Engenharia Com isso objetivo delimitar a presente investigaccedilatildeo no contexto da revisatildeo de

literatura

24 Revisatildeo de literatura sobre pesquisas de Modelagem em Caacutelculo na Educaccedilatildeo em

Engenharia delineando o espaccedilo da presente pesquisa

Ao ler por exemplo os anais do Seminaacuterio Internacional de Pesquisa em

Educaccedilatildeo Matemaacutetica (SIPEM)90

que ocorreram trienalmente entre os anos de 2000 e 2012

86

Seminaacuterio Internacional de Pesquisa em Educaccedilatildeo Matemaacutetica 87

Encontro Nacional da Educaccedilatildeo Matemaacutetica 88

Conferecircncia Nacional sobre Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica 89

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoDue to their influence modelling in mathematics education in Brazil reflects

influences from applied mathematics Bassanezirsquos main field of work but has been imprinted mainly by the

socio-cultural studies developed by DrsquoAmbrosio in the field of ethnomathematicsrdquo 90

O SIPEM eacute um seminaacuterio realizado trienalmente e organizado pela Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo

Matemaacutetica (SBEM)

79

foi encontrado apenas um trabalho que faz referecircncia ao uso de Modelagem em cursos de

Engenharia tendo sido apresentado no V SIPEM em 2012 Nele Ferruzzi (2012 p 1)

apresenta resultados de uma pesquisa que buscou investigar ldquoo potencial da Modelagem

Matemaacutetica para o estabelecimento de interaccedilotildees que possuem caracteriacutesticas consideradas

fonte de aprendizagemrdquo em um curso de Engenharia Ambiental A autora se baseia nos

estudos de Vygotsky e considera que a aprendizagem estaacute associada agrave interaccedilatildeo Sendo assim

entende que ldquopropiciar atividades que conduzam agrave interaccedilatildeo pode auxiliar o aluno em seu

aprendizado e deve ser um dos interesses do professorrdquo (FERRUZZI 2012 p 1)

Biembengut e Hein (2007) concebem a Modelagem Matemaacutetica como uma

metodologia de ensino em cursos de Engenharia Aleacutem disso eles esclarecem a ecircnfase dada

por eles nas atividades de Modelagem em cursos de Engenharia

O objetivo deste trabalho eacute criar condiccedilotildees para que os alunos aprendam a fazer

modelos matemaacuteticos aumentando e aperfeiccediloando seus conhecimentos Um grupo

de estudantes sob a supervisatildeo do professor deve ser responsaacutevel pela escolha e

direccedilatildeo de seu proacuteprio trabalho Cabe ao professor criar condiccedilotildees onde eles podem

desenvolver esta autonomia91

(BIEMBENGUT HEIN 2007 p 417)

O desenvolvimento de atividades de Modelagem em sala de aula implica

necessariamente delineamento de especificaccedilotildees que engloba os objetivos para a realizaccedilatildeo

da atividade bem como os papeacuteis que devem ser assumidos por alunos e professores Os

pesquisadores da Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica entendem que tais especificaccedilotildees ao

serem assumidas pelos professores definem uma perspectiva de Modelagem Matemaacutetica

(BARBOSA SANTOS 2007 p 1-2)

Alguns trabalhos sobre Modelagem em Educaccedilatildeo foram apresentados em ediccedilotildees

anuais do Congresso Brasileiro de Educaccedilatildeo em Engenharia (COBENGE) Nas uacuteltimas 10

ediccedilotildees do evento (de 2003 a 2012) dezesseis trabalhos sobre Modelagem Matemaacutetica na

Educaccedilatildeo em Engenharia foram apresentados92

Observe que a meacutedia eacute de menos de dois

trabalhos por ediccedilatildeo do evento O que poderia explicar uma participaccedilatildeo tatildeo inexpressiva

nesse congresso por parte dos pesquisadores em Educaccedilatildeo Matemaacutetica Natildeo sei a resposta

91

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoThe objective of this work is to create conditions in which students learn to

make mathematical models increasing and perfecting their knowledge A group of students under the

supervision of the teacher must be responsible for the choice and direction of their own work It falls to the

teacher to create conditions where they can develop this autonomyrdquo 92

Os anais do evento estatildeo disponiacuteveis no site wwwabengeorgbr Busquei pelo termo Modelagem e li todos os

resumos que obedecessem a essa busca Dentre eles descartei os artigos que se referiam agrave Modelagem

ldquopuramenterdquo sob a oacutetica da Matemaacutetica Aplicada agrave resoluccedilatildeo de problemas da Engenharia restando assim

apenas os artigos que se referiam essencialmente agrave Modelagem sob a oacutetica da formaccedilatildeo Matemaacutetica em

Engenharia

80

para essa pergunta e nem eacute o intuito desta pesquisa descobrir a resposta contudo penso que

esta realidade pode estar relacionada agrave hipoacutetese formulada por Cury (2002) de que ldquoos

professores de disciplinas matemaacuteticas natildeo se consideram professores dos cursos de

Engenharia e por isso natildeo se propotildeem a apresentar seus trabalhos em congressos de ensino

desta aacutereardquo

Em sua pesquisa de doutorado Arauacutejo (2002) analisou uma proposta de

Modelagem Matemaacutetica desenvolvida em uma turma de Caacutelculo do curso de Engenharia

Quiacutemica de uma universidade puacuteblica do Estado de Satildeo Paulo Tal proposta foi implementada

durante o desenvolvimento da disciplina que contempla(va) os conteuacutedos de Caacutelculo

Diferencial e Integral I A pesquisadora analisou atividades de Modelagem Matemaacutetica em

um ambiente de ensino e aprendizagem de Caacutelculo no qual as tecnologias informaacuteticas

estavam presentes com o objetivo de investigar que discussotildees ocorrem e como elas ocorrem

Vale ressaltar que a autora entende que ldquodiscussotildeesrdquo podem ser entendidas como algum tipo

de ldquocomunicaccedilatildeordquo que por sua vez pode exercer influecircncias sobre a ldquoaprendizagemrdquo Para

ela aprendizagem ldquocertamente estaacute ligada a questotildees de comunicaccedilatildeo na Educaccedilatildeo

Matemaacuteticardquo (ARAUacuteJO 2002 p 164)

Ferruzzi (2011) realizou sua pesquisa de doutorado mediante a aplicaccedilatildeo de uma

proposta de Modelagem Matemaacutetica em um curso de Engenharia Ambiental da Universidade

Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute (UTFPR) Tal proposta foi implementada durante o

desenvolvimento da disciplina chamada de Matemaacutetica 2 na referida instituiccedilatildeo que

contempla os conteuacutedos de Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias A pesquisadora desenvolveu

atividades de Modelagem Matemaacutetica com referecircncia nos temas relacionados aos conteuacutedos

de EDO com o objetivo de investigar as interaccedilotildees que emergem durante o desenvolvimento

de atividades de Modelagem Matemaacutetica na sala de aula Como parte da anaacutelise a autora

aponta que os diaacutelogos que emergiram durante as atividades de Modelagem propostas na

investigaccedilatildeo ocorrem com mais frequecircncia do que os diaacutelogos que emergem de praacuteticas

tradicionais de ensino-aprendizagem da referida disciplina Aleacutem disso constatou que as

interaccedilotildees proporcionadas pelo desenvolvimento das atividades de Modelagem atuaram

significativamente no favorecimento da aprendizagem dos alunos

Vale ressaltar que a proposta de modelagem implementada por Ferruzzi (2011 p

24 grifos da autora) foi baseada em um contexto simulado que pode ser entendido como uma

representaccedilatildeo do contexto real Tal contexto tem origem no contexto real sendo reproduzidas

partes de suas caracteriacutesticas Para a autora ldquoo contexto simulado faz referecircncia agrave situaccedilotildees da

vida cotidiana que satildeo retomadas e transformadas em atividades de ensino e aprendizagemrdquo

81

A autora considera aprendizagem na referida pesquisa como um processo de mudanccedila nas

formas discursivas dos alunos

Aleacutem disso Ferruzzi (2011 p 33) considera o conceito vygotskyano de Zona de

Desenvolvimento Proximal (ZDP) como sendo ldquoo desenvolvimento humano em dois niacuteveis o

Niacutevel de Desenvolvimento Real (NDR) e o Niacutevel de Desenvolvimento Potencial (NDP) A

lsquodistacircnciarsquo entre estes dois niacuteveis eacute denominada por Vygotsky como sendo a Zona de

Desenvolvimento Proximal (ZDP)rdquo Nesse sentido as conclusotildees da referida pesquisa satildeo

tomadas em termos de aprendizagens que natildeo poderiam acontecer de modo espontacircneo

sendo entatildeo promovidas pela accedilatildeo intencional do professor Com isso a autora considera

que o professor pode exercer o papel de mediador dos processos de ensino e aprendizagem de

Caacutelculo em um curso de Engenharia por meio de atividades de Modelagem Matemaacutetica

Vale ressaltar que Ferruzzi (2011) investigou as interaccedilotildees que emergem de

atividades de Matemaacutetica em sala de aula da disciplina Matemaacutetica 2 que na UTFPR abarca

os conteuacutedos de EDO considerando que o conhecimento eacute construiacutedo na e pela interaccedilatildeo

enquanto a presente pesquisa buscou analisar as possibilidades de aprendizagens expansivas

evidenciadas em atividades desenvolvidas por um Grupo de Estudos e Pesquisa em

Modelagem Matemaacutetica (GEPMM) em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharia Portanto

interaccedilatildeo e aprendizagem estatildeo intimamente inter-relacionadas em Ferruzzi (2011) Vale

ressaltar que para a referida autora a aprendizagem pode ser entendida como um processo de

mudanccedila nas formas discursivas dos alunos

Tomando-se por base Arauacutejo (2002) e Ferruzzi (2011) percebo que discussotildees

(comunicaccedilotildees) e interaccedilotildees satildeo elementos cuja anaacutelise se torna essencial para investigar

processos de aprendizagem em atividades de Modelagem desenvolvidas em disciplinas de

Caacutelculo em cursos de Engenharia

Buscando esclarecer os conceitos de comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo entendendo-os

como constituintes de discursos que permeiam os mais diversos ambientes de aprendizagem

encontrei em Bakhtin (2010 p 36) o seguinte relacionamento entre comunicaccedilatildeo interaccedilatildeo e

consciecircncia ldquoa loacutegica da consciecircncia eacute a loacutegica da comunicaccedilatildeo ideoloacutegica da interaccedilatildeo

semioacutetica de um grupo social Se privarmos a consciecircncia de seu conteuacutedo semioacutetico e

ideoloacutegico natildeo sobra nadardquo

Tanto em Arauacutejo (2002) quanto em Ferruzzi (2011) as atividades de Modelagem

permearam as demais atividades desenvolvidas em disciplinas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia Sendo assim as atividades de Modelagem estiveram condicionadas agrave adaptaccedilatildeo

ao contexto das referidas disciplinas de Caacutelculo Para tal condicionamento faz-se necessaacuterio

82

supostamente o alinhamento das atividades de Modelagem aos objetivos que satildeo delineados

em cada disciplina

A meu ver outras questotildees podem ser colocadas em relevo quando se desenvolve

Modelagem em salas de aula de disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia o

engajamento dos alunos nas referidas atividades estaria relacionado a quais motivos As

situaccedilotildees-problema natildeo matemaacuteticas em questatildeo estariam condicionadas aos conteuacutedos de

cada disciplina Quais ideologias estariam permeando tais ambientes de aprendizagem

Na intervenccedilatildeo proposta na presente pesquisa entendo os conteuacutedos de Caacutelculo

como ferramentas para a formaccedilatildeo em Engenharia Um Caacutelculo que somente pode ser

concebido em accedilatildeo Caacutelculo como meio natildeo como finalidade Baseado nisso natildeo haacute a priori

como definir os conteuacutedos de Caacutelculo que possam ser utilizados para entendimento de uma

questatildeo-problema natildeo matemaacutetica oriunda de um contexto real ndash razatildeo de ser das atividades

de Modelagem que seja escolhida por um grupo de sujeitos Mais do que isso o foco

principal da referida atividade eacute o entendimento da questatildeo-problema Dessa forma os

conteuacutedos de Caacutelculo satildeo construiacutedos e utilizados para solucionar a questatildeo-problema ndash um

Caacutelculo que jaacute ldquonasceriardquo em accedilatildeo

Tomando-se por base a constituiccedilatildeo do GEPMM como um contexto alternativo

agraves disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia e as atividades que foram nele

desenvolvidas busco analisar as possibilidades de aprendizagens expansivas

25 Concepccedilatildeo de uma atividade de Modelagem Matemaacutetica assumida em um contexto

de formaccedilatildeo em Engenharias

Para Barbosa (2001a p 6) ldquomodelagem eacute um ambiente de aprendizagem no qual

os alunos satildeo convidados a indagar eou investigar por meio da matemaacutetica situaccedilotildees

oriundas de outras aacutereas da realidaderdquo Vale ressaltar que o autor focou seus estudos de

doutoramento na formaccedilatildeo inicial de professores de Matemaacutetica ou seja alunos de

licenciatura em Matemaacutetica Na referida pesquisa de doutorado Barbosa (2001b) orientou-se

pela busca em entender a concepccedilatildeo de Modelagem Matemaacutetica de futuros professores de

Matemaacutetica tendo em vista as experiecircncias matemaacuteticas particularmente com modelagem

vivenciadas pelos licenciandos aliadas as suas concepccedilotildees de Matemaacutetica e de seu ensino

Nesse sentido considero que a Modelagem Matemaacutetica pode perfazer algo aleacutem

do que eacute proposto explicitamente por Barbosa (2001a) devido ao simples fato de que natildeo

83

somente os estudantes podem estar sendo convidados a indagar eou investigar mas acredito

sobretudo que tais ambientes podem assumir importante papel na formaccedilatildeo continuada de

professores em suas proacuteprias praacuteticas93

ampliando assim os respectivos horizontes de

atuaccedilatildeo nas mais diversas dimensotildees cotidianas de trabalho Vale ressaltar que embora

Barbosa (2001a) natildeo exclua as possibilidades de formaccedilatildeo docente continuada em tais

ambientes de aprendizagem ele natildeo se propocircs a focar suas discussotildees nesse possiacutevel aspecto

da atividade

Bassanezi (2006 p 16) entende que a modelagem matemaacutetica consiste na ldquoarte de

transformar problemas da realidade em problemas matemaacuteticos e resolvecirc-los interpretando

suas soluccedilotildees na linguagem do mundo realrdquo A obra artiacutestica pode ser considerada criaccedilatildeo de

uma nova realidade posto que o homem se afirma criando ou humanizando o que toca ndash a

praacutexis artiacutestica que ao ampliar e enriquecer com suas criaccedilotildees a realidade jaacute humanizada

constitui uma praacutexis essencial para o homem (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 198)

Ao considerar a modelagem como arte situando-a na esfera da atividade da

transformaccedilatildeo de uma mateacuteria (problema da realidade) sob uma nova forma (problemas

matemaacuteticos) eacute preciso levar em conta a necessidade humana que o objeto criado ou

produzido seraacute capaz de satisfazer Satildeo as necessidades humanas que configuram e orientam

as atividade de modelagem realizadas por uma coletividade cujo objeto compartilhado

relaciona-se necessariamente com os objetivos centrais a serem alcanccedilados mediante a

realizaccedilatildeo de accedilotildees intencionais adequadas agraves finalidades que por sua vez podem ser

caracterizadas pela(s) perspectiva(s) de modelagem assumida(s) pelos sujeitos engajados em

tal atividade

No contexto da pesquisa relatada no presente texto considero que atividade de

Modelagem Matemaacutetica constituem espaccedilos formativos94

nos quais os sujeitos engajados

dirigem suas accedilotildees em prol do entendimento e da resoluccedilatildeo de questotildees-problema natildeo

matemaacuteticas oriundas das mais variadas esferas da sociedade utilizando necessariamente

instrumentos matemaacuteticos para auxiliaacute-los

93

Formaccedilatildeo continuada de professores em suas proacuteprias praacuteticas quer dizer que os professores aprendem

enquanto vatildeo criando e modificando suas proacuteprias praacuteticas Natildeo precisam necessariamente participar de um

curso de formaccedilatildeo continuada para estarem aprendendo Eles proacuteprios tomam a realidade contraditoacuteria como

ponto de partida e promovem accedilotildees com vistas a modificarem suas praacutexis promovendo assim saltos

qualitativos em sua proacutepria formaccedilatildeo docente 94

Aqui espaccedilo formativo pode ser entendido como algo aleacutem de um lugar fiacutesico Um ambiente que produz um

contexto propiacutecio agrave formaccedilatildeo uma estrateacutegia de formaccedilatildeo que deve conter os mais variados instrumentos

incluindo instrumentos subjetivos e simboacutelicos nos quais os sujeitos dirigem suas accedilotildees orientadas pelos

objetivos de formaccedilatildeo que incluem o compartilhamento de conhecimentos em prol da formaccedilatildeo profissional dos

futuros engenheiros constituindo assim um sistema de atividades cujo objeto compartilhado deve incluir as

questotildees-problema a serem entendidassolucionadas e os futuros engenheiros (estudantes)

84

Cabe aqui uma ressalva como as atividades de Modelagem Matemaacutetica nesta

investigaccedilatildeo satildeo concebidas como espaccedilos formativos em instituiccedilotildees de ensino95

natildeo

podemos desconsiderar que esses espaccedilos perpassam por formas cotidianas de atitudes e

accedilotildees praacuteticas dos professores em exerciacutecio de seu trabalho como natildeo podemos considerar o

trabalho do professor sem levar em conta o(s) objeto(s) de sua atividade tambeacutem devemos

levar em conta que tais atividade perpassam por horizontes historicamente e culturalmente

elaborados de formas cotidianas de atitudes e accedilotildees praacuteticas dos alunos em exerciacutecio de suas

atribuiccedilotildees como estudantes considerando-se entatildeo objeto de sua proacutepria atividade de

formaccedilatildeo escolar institucionalizada

Ainda por considerar que o trabalho do professor consiste em auxiliar

acompanhar orientar e ajudar os estudantes a engajarem e participarem do processo de

formaccedilatildeo e constituiccedilatildeo da proacutepria cidadania em termos da aquisiccedilatildeo de conhecimentos

necessaacuterios para plena participaccedilatildeo social entendo que o trabalho do professor somente se

realiza em sua plenitude mediante o engajamento dos alunos pois para um sujeito auxiliar

eou acompanhar eou orientar eou ajudar outro sujeito torna-se necessaacuterio que esse outro

direcione accedilotildees no mesmo sentido orientadas pelo mesmo fim Nisso natildeo entendo que possa

haver ensino sem aprendizagem Por esse motivo que entendo as atividades de Modelagem

Matemaacutetica como espaccedilos formativos naturalmente imersos em espaccedilos formativos

institucionalizados mais amplos ndash escolas e universidades

Dessa forma podemos atribuir agraves atividade de Modelagem Matemaacutetica em

contextos formativos a necessidade de formaccedilatildeo de estudantes para se tornarem sujeitos

plenamente conscientes autocircnomos e livres mediante a aquisiccedilatildeo da capacidade de agir em

situaccedilotildees problemaacuteticas utilizando os conhecimentos construiacutedos pelo homem em sua

historicidade dentre estes a Matemaacutetica ndash no contexto da presente pesquisa mais

especificamente o Caacutelculo

Contudo natildeo somente estudantes podem estar em processo de formaccedilatildeo ao

participarem deste tipo de atividade mas tambeacutem os professores ao se depararem com

questotildees-problema natildeo oriundas de sua aacuterea de formaccedilatildeo (a Matemaacutetica) podem ser

agraciados com transformaccedilotildees em seus proacuteprios horizontes de accedilotildees cotidianas e de praacuteticas

de trabalho Acredito ainda que os professores ao modificarem suas praacuteticas cotidianas de

trabalho incluindo atividade de modelagem Matemaacutetica acabam por possibilitar um

95

Nesta pesquisa em uma universidade que se destina agrave formaccedilatildeo de engenheiros

85

movimento de transformaccedilotildees qualitativas em sua proacutepria formaccedilatildeo docente ainda que este

natildeo seja necessariamente o objeto principal que oriente tal modificaccedilatildeo

Engestroumlm (2002) enfatiza que os contextos da descoberta da aplicaccedilatildeo praacutetica e

da criacutetica ao serem assumidos podem provocar transformaccedilotildees no objeto da atividade

escolar tornando-o novo e expandido Sendo assim as atividades de Modelagem Matemaacutetica

como um espaccedilo formativo alternativo no qual alunos e professores tem a oportunidade de

elaborar e implementar um novo modo de fazer e participar do trabalho de ensino-

aprendizagem constituem um contexto propiacutecio para ampliar as possibilidades para

aprendizagens expansivas O objeto da atividade escolar tradicional eacute transformado

delegando aos textos escolares o papel de instrumentos e elegendo as questotildees-problema natildeo

matemaacuteticas como um novo e expandido objeto da atividade aleacutem de ser remetido aos

contextos da descoberta da aplicaccedilatildeo e da criacutetica Aleacutem disso os estudantes inicialmente

remetidos ao posto de sujeitos da atividade escolar de aprendizagem passam a configurar

adicionalmente ao objeto natildeo apenas da atividade do professor (ensino) mas sobretudo de

sua proacutepria atividade (aprendizagem) estando assim engajados na atividade de ensino-

aprendizagem que objetiva sua proacutepria formaccedilatildeo mediante tal participaccedilatildeo nas atividades de

Modelagem Matemaacutetica

Dessa forma as atividades de Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia

podem se configurar teoricamente mediante representaccedilatildeo ldquotriangularrdquo elaborada por

Engestroumlm (1987) como sistemas de atividade de ensino-aprendizagem da seguinte forma

86

FIGURA 5 ndash Os interdependentes sistemas de atividade de estudantes e professor(es) engajados em atividades

(escolares) de Modelagem Matemaacutetica

Fonte Elaborado pela autora com base em Engestroumlm (2008)

No desenvolvimento das accedilotildees que necessitam ocorrer para que as questotildees-

problema sejam entendidas resolvidas e solucionadas pelos participantes da atividade pode

ocorrer de algum instrumento ter de ser construiacutedo pelos participantes como por exemplo

alguma ferramenta matemaacutetica Neste caso o professor tem o papel fundamental de orientar

os alunos nessa construccedilatildeo que muitas vezes jaacute faz parte do conhecimento do professor

Contudo em atividades de Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia

contexto desta investigaccedilatildeo pode acontecer (e muitas vezes acontece) de as ferramentas

matemaacuteticas necessaacuterias para o entendimento eou resoluccedilatildeo da questatildeo-problema natildeo

estarem ao alcance ldquodiretordquo de alunos e professores Nesse caso abre-se um horizonte de

possibilidades de aprendizagem que pode tambeacutem constituir a formaccedilatildeo continuada desses

professores engajados na formaccedilatildeo matemaacutetica dos engenheiros Aleacutem disso caso o professor

esteja engajado nesse direcionamento podemos inclusive posicionar como objeto de sua

atividade sua proacutepria formaccedilatildeo continuada em termos da construccedilatildeo coletiva de novas

ferramentas matemaacuteticas o que pode levar agrave necessidade de novas pesquisas na aacuterea de

Matemaacutetica

Ao assumir as atividades de Modelagem Matemaacutetica como sendo um espaccedilo

formativo sendo possiacutevel sua construccedilatildeo dentro ou fora da sala de aula entendo que aos

sujeitos engajados em tais atividade eacute oferecida uma possibilidade de ampliaccedilatildeo gradual do

objeto e do contexto da aprendizagem Aleacutem disso tal espaccedilo formativo alternativo pode

87

possibilitar transformaccedilotildees no sentido de os sujeitos estarem aprendendo novas formas de

atividade direcionadas agrave sua proacutepria formaccedilatildeo Como corpus de anaacutelise para a presente

pesquisa baseio-me em atividades desenvolvidas por um Grupo de Estudos e Pesquisa em

Modelagem Matemaacutetica em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias que realiza suas

accedilotildees fora da sala de aula tradicional tanto de disciplinas de Caacutelculo quanto de disciplinas

ldquoteacutecnicasrdquo composto por alunos e professores de diversos cursos de Engenharia sob a

orientaccedilatildeo da seguinte pergunta diretriz

Quais aprendizagens expansivas podem ser evidenciadas pelas e nas atividades

desenvolvidas por um Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica (GEPMM)

em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias

Como possiacuteveis desdobramentos dessa pergunta estaratildeo

a) o que motivou a participaccedilatildeo dos docentes e discentes no GEPMM

b) Quais contradiccedilotildees ou conflitos estiveram presentes nas atividades do

GEPMM De que forma tais contradiccedilotildees foram exploradas

c) Como os instrumentos que permearam os sistemas de atividade do GEPMM se

relacionam aos sujeitos e aos objetos

26 Abertura de caixas-pretas como accedilotildees estrateacutegicas com vistas agraves possibilidades de

aprendizagens expansivas relacionadas agraves transformaccedilotildees do objeto de uma atividade de

Modelagem Matemaacutetica

[] nossa entrada no mundo da ciecircncia e da tecnologia seraacute pela porta de traacutes a da

ciecircncia em construccedilatildeo e natildeo pela entrada mais grandiosa da ciecircncia acabada

(LATOUR 2000 p 17)

No capiacutetulo 1 pontuei que segundo Engestroumlm (2002) um contexto propiacutecio para

possibilitar aprendizagens expansivas estaria ancorado pelo ldquotripeacuterdquo formado pelos contextos

da descoberta caracterizado pelo meacutetodo da ascensatildeo do abstrato ao concreto proposto por

Davydov da reproduccedilatildeo praacutetica proposto por Jean Lave e da criacutetica proposto por

Engestroumlm (2002) Com base em tal contexto as atividades de Modelagem Matemaacutetica

seriam consideradas como espaccedilos formativos nos quais os sujeitos engajados direcionariam

suas accedilotildees com vistas ao entendimento de questotildees-problema natildeo matemaacuteticas utilizando

88

necessariamente instrumentos matemaacuteticos para auxiliar a resoluccedilatildeoentendimento Com isso

o objeto dos sistemas de atividade seria composto pelas questotildees-problema natildeo matemaacuteticas e

pelos estudantes em formaccedilatildeo Mas como poderiacuteamos caracterizar os instrumentos

matemaacuteticos necessaacuterios no desenvolvimento da referida atividade Sob quais ldquoformasrdquo tais

instrumentos poderiam estar configurados Quais accedilotildees seriam possibilitadas por tais

instrumentos De que forma tais instrumentos se relacionam aos demais instrumentos da

atividade

Segundo Skovsmose (2007 p 113) a noccedilatildeo de Matemaacutetica tem se movido em

muitas direccedilotildees Para ele a terminologia matemaacutetica poderia estar referida ldquoagrave matemaacutetica

pura agrave aplicada agrave matemaacutetica da engenharia agraves teacutecnicas matemaacuteticas imersas na cultura agrave

matemaacutetica das ruas aos caacutelculos de todo tipordquo Afirma ainda que a Matemaacutetica estaacute em toda

parte assim como os computadores e considera o desenvolvimento dos computadores como

um desenvolvimento tecnoloacutegico que pode ser encarado como a materializaccedilatildeo de insights e

teacutecnicas Conclui que Matemaacutetica e Computaccedilatildeo satildeo atividades inter-relacionadas

Skovsmose (2007) considera a tecnologia de maneira ampla que inclui natildeo somente sua

ldquomaquinariardquo mas tambeacutem sua organizaccedilatildeo o conhecimento dos procedimentos de produccedilatildeo

e aqueles para o projeto e para a tomada de decisatildeo

Ao discorrer sobre a (denominada por ele) teoria da representaccedilatildeo da modelagem

matemaacutetica Skovsmose (2007) pontua que o enfoque frequentemente dado a esse tipo de

empreendimento se concentra na verificaccedilatildeo e na exatidatildeo do modelo a ser usado em tal

representaccedilatildeo enquanto o enfoque nos contextos (realidade social) e nas possiacuteveis

consequecircncias do processo de modelar eacute deixado de lado As discussotildees da modelagem

matemaacutetica como teoria da representaccedilatildeo focadas apenas na qualidade da representaccedilatildeo

para o autor estabelecem uma obstruccedilatildeo organizada da proacutepria atividade de modelagem E

sugere que a questatildeo mais importante no que tange os empreendimentos de modelagem

matemaacutetica pode ser designada pela seguinte pergunta ldquoo que a matemaacutetica em accedilatildeo incluirdquo

(SKOVSMOSE 2007 p 115) Sob a oacutetica da Teoria da Atividade esse questionamento

poderia ser a meu ver melhor representado pela seguinte pergunta quais e como se

configuram as accedilotildees possibilitadas pelas ferramentas matemaacuteticas em uma determinada

atividade de modelagem Observe que aqui as accedilotildees se referem aos processos subordinados

agraves metas individuais ou objetivos parciais da atividade Sendo assim a matemaacutetica eacute encarada

como um poderoso instrumento que pode auxiliar o entendimento de questotildees concernentes agraves

realidades natildeo matemaacuteticas Skovsmose (2007) questiona ainda quem constroacutei os modelos

Que aspectos da realidade estatildeo neles incluiacutedos Quem tem acesso aos modelos Os modelos

89

satildeo ldquoconfiaacuteveisrdquo Quem estaacute apto a controlaacute-los Em que sentido eacute possiacutevel falsificar um

modelo E conclui que se tais questotildees natildeo forem adequadamente esclarecidas valores

tradicionais da democracia podem ser corroiacutedos

Ao falar de matemaacutetica em accedilatildeo Skovsmose (2007) se concentra em visualizar

como as concepccedilotildees matemaacuteticas satildeo projetadas na realidade Para ele ldquoquando usamos a

matemaacutetica como uma base para projeto tecnoloacutegico criamos uma ferramenta tecnoloacutegica que

tem de algum modo sido conceitualizada por meio da matemaacuteticardquo (p 123) Observe que

para a Teoria da Atividade os usos das ferramentas tecnoloacutegicas na situaccedilatildeo de artefatos

mediadores das relaccedilotildees possivelmente estabelecidas e implementadas pelos sujeitos

orientados ao objeto estatildeo condicionados aos motivos da atividade relacionados agraves

necessidades humanas

Com vistas ao desenvolvimento de atividades de Modelagem podem estar

incluiacutedas accedilotildees que se referem agrave identificaccedilatildeo e anaacutelise de situaccedilotildees hipoteacuteticas sendo que a

Matemaacutetica auxilia esse processo fornecendo subsiacutedios instrumentais possibilitando

representaccedilotildees de algo ainda natildeo compreendido portanto permite simular alternativas

tecnoloacutegicas para uma dada situaccedilatildeo Sendo assim

A matemaacutetica daacute uma forma de liberdade tecnoloacutegica abrindo um espaccedilo para

situaccedilotildees hipoteacuteticas Neste sentido a matemaacutetica se torna um percurso para a

imaginaccedilatildeo tecnoloacutegica e portanto para o planejamento de processos tecnoloacutegicos

que incluem projeto-accedilatildeo com base matemaacutetica [] O espaccedilo aberto pela

imaginaccedilatildeo tecnoloacutegica poderia muito bem conter situaccedilotildees hipoteacuteticas que natildeo satildeo

acessiacuteveis ao senso comum Um quadro matemaacutetico nos daacute novas alternativas

(SKOVSMOSE 2007 p 123 grifo do autor)

Skovsmose (2007) pontua trecircs aspectos considerados por ele como relevantes no

que diz respeito agrave matemaacutetica em accedilatildeo primeiro considera que por meio da Matemaacutetica eacute

possiacutevel estabelecer um espaccedilo de situaccedilotildees hipoteacuteticas na forma de alternativas

(tecnoloacutegicas) (para uma situaccedilatildeo presente) segundo considera que por meio da Matemaacutetica

eacute possiacutevel investigar detalhes particulares de uma situaccedilatildeo hipoteacutetica embora a Matemaacutetica

tambeacutem cause severas limitaccedilotildees para tal raciociacutenio hipoteacutetico e por uacuteltimo a Matemaacutetica

embasa a modulaccedilatildeo e a constituiccedilatildeo de uma ampla variedade de fenocircmenos sociais e desse

modo ela se torna parte da realidade Com o advento da ciberneacutetica observa-se que muita

tecnologia da informaccedilatildeo se materializa em ldquopacotesrdquo que podem operar conjuntamente com

outros pacotes eles contecircm a matemaacutetica como um ingrediente definidor uma base comum

Os instrumentos matemaacuteticos constituem uma variedade de recursos existentes na

sociedade atual perfazendo ferramentas e signos materializados externamente aos sujeitos

90

(linguagem escrita falada figuras teacutecnicas softwares foacutermulas modelos equaccedilotildees entre

vaacuterios outros) eou internamente aos sujeitos (ferramentas mentais abstraccedilotildees

representaccedilotildees processos psicoloacutegicos memoacuteria etc)

Para compreender a matemaacutetica em accedilatildeo Skovsmose (2007) considera a

Matemaacutetica como uma linguagem refletindo sobre o que poderia ser feito por essa linguagem

particular Aleacutem disso nos conduz agrave seguinte reflexatildeo que visotildees de mundo podem ser

discursivamente constituiacutedas por meio da Matemaacutetica

Se a Matemaacutetica estaacute em todo lugar ndash se natildeo em cena atraacutes da cena ndash espera-se

que toda vez que algueacutem usa de qualquer maneira um computador ele estaacute usando mesmo

que sem consciecircncia disso inuacutemeros dispositivos que somente foram elaborados e

construiacutedos mediante consideraacuteveis avanccedilos de loacutegicas teacutecnicas e resultados matemaacuteticos A

proacutepria aacutelgebra booleana96

que permeia todos os processos ciberneacuteticos eacute oriunda de

conceitos e resultados matemaacuteticos Dessa forma pensar processos educativos em pleno

seacuteculo XXI que se propotildeem possibilitar aos aprendizes uma visatildeo e atuaccedilatildeo criacutetica nessa

sociedade ldquocheia de tecnologiasrdquo ao seu alcance deve necessariamente levar em conta o

domiacutenio do entendimento ldquodescortinadordquo de todos os constructos instrumentais e seus

respectivos usos em diversas praacuteticas sociais que vatildeo muito aleacutem de capacidades de leitura

escrita e contagem

Ubiratan DrsquoAmbroacutesio no final dos anos 90 propocircs um curriacuteculo97

baseado no

tripeacute literacia materacia e tecnoracia buscando abarcar uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo que

atenda agraves exigecircncias da sociedade em cada momento histoacuterico Para ele isso difere e muito

do paradigma curricular que foca na importacircncia acadecircmica de cada disciplina escolar Nas

palavras do autor

Literacia eacute a capacidade de processar informaccedilotildees escrita e falada o que inclui

leitura escrita escritura caacutelculo diaacutelogo ecaacutelogo miacutedia internet na vida cotidiana

(instrumentos comunicativos)

Materacia eacute a capacidade de interpretar e analisar sinais e coacutedigos de propor e utilizar modelos e simulaccedilotildees na vida cotidiana de elaborar abstraccedilotildees sobre representaccedilotildees do real (instrumentos intelectuais)

Tecnoracia eacute a capacidade de usar e combinar instrumentos simples ou complexos inclusive o proacuteprio corpo avaliando suas possibilidades e limitaccedilotildees e a sua adequaccedilatildeo a necessidades e situaccedilotildees diversas (instrumentos materiais)

98

(DrsquoAMBROacuteSIO 2005 p 119)

96

Booleana se refere agrave Aacutelgebra elaborada por George Boole matemaacutetico inglecircs que concluiu seus trabalhos

sobre tal teoria em meados do seacuteculo XIX 97

O autor define curriacuteculo de uma forma muito abrangente ldquoa estrateacutegia da accedilatildeo educativardquo (DrsquoAMBROacuteSIO

2005 p 118) 98

Em inglecircs Literacy matheracy e technoracy Existem outras traduccedilotildees para Literacy como por exemplo

letramento contudo natildeo portam a mesma definiccedilatildeo O letramento estaria mais relacionado com a matheracy

91

Na sociedade atual as capacidades requeridas aos sujeitos abarcam usos e visatildeo

criacutetica de instrumentos de comunicaccedilatildeo intelectuais e materiais Com isso eacute extremamente

necessaacuterio adaptar as praacuteticas escolares para dar conta dessas prioridades A Modelagem

Matemaacutetica por se tratar de uma atividade que busca a resoluccedilatildeo de questotildees-problema de

realidades natildeo matemaacuteticas pode se configurar como um importante espaccedilo formativo

direcionado por essa concepccedilatildeo de educaccedilatildeo proposta por DrsquoAmbroacutesio conforme explicitado

anteriormente

Para Skovsmose (2001 p 89) ldquoo conhecimento reflexivo tem como seu objeto o

uso da matemaacutetica e portanto torna-se importante sair da catedral do conhecimento formal

para se ter uma visatildeo mais geral dessa construccedilatildeordquo Aleacutem disso tal autor faz distinccedilatildeo entre

trecircs tipos de conhecer que podem orientar a educaccedilatildeo matemaacutetica

1) Conhecer matemaacutetico que se refere agrave competecircncia normalmente entendida como

habilidades matemaacuteticas incluindo-se competecircncias na reproduccedilatildeo de teoremas e

provas bem como ao domiacutenio de uma variedade de algoritmos ndash essa competecircncia

estaacute focada na educaccedilatildeo matemaacutetica tradicional e sua importacircncia tem sido

especialmente enfatizada pelo movimento estruturalista ou pela ldquonova matemaacuteticardquo

2) Conhecer tecnoloacutegico que se refere agraves habilidades em aplicar a matemaacutetica e agraves

competecircncias na construccedilatildeo de modelos A importacircncia do conhecer tecnoloacutegico

tem sido enfatizada pela tendecircncia dirigida para aplicaccedilotildees na educaccedilatildeo matemaacutetica

que afirma que ateacute mesmo se os estudantes aprendem matemaacutetica nenhuma

garantia existe de que a competecircncia desenvolvida eacute suficiente quando se trata de

situaccedilotildees de aplicaccedilatildeo Mais do que a matemaacutetica pura tem de ser dominado a fim

de se poder aplicar a matemaacutetica []

3) Conhecer reflexivo que se refere agrave competecircncia de refletir sobre o uso da

matemaacutetica e avaliaacute-lo Reflexotildees tecircm a ver com avaliaccedilotildees das consequecircncias do

empreendimento tecnoloacutegico (SKOVSMOSE 2001 p 115 e 116)

Skovsmose (2001) aponta que as habilidades relacionadas ao conhecer

tecnoloacutegico podem ser consideradas como uma competecircncia extra denominando-a por

competecircncia tecnoloacutegica E esclarece que de maneira geral eacute caracterizada pelo

entendimento necessaacuterio que possibilita o uso de uma ferramenta tecnoloacutegica visando a

alcanccedilar alguns objetivos tecnoloacutegicos

Aleacutem de objetivar a promoccedilatildeo do conhecer reflexivo a educaccedilatildeo matemaacutetica

criacutetica busca por uma educaccedilatildeo em que haja igualdade entre os sujeitos a um niacutevel de

parceria fundando-se nas ideias da ldquopedagogia emancipadorardquo de Paulo Freire (1987)

delimita-se assim um primeiro ponto-chave dessa concepccedilatildeo de educaccedilatildeo ndash ldquoenvolvimento

estando focado apenas na liacutengua oficial do Brasil o portuguecircs No campo do letramento podemos encontrar

conceitos proacuteximos agrave matheracy por exemplo o numeramento Jaacute o termo technoracy estaacute relacionado ao

technological literacy o que poderia ser traduzido por letramento tecnoloacutegico

92

dos estudantes no controle do processo educacionalrdquo (SKOVSMOSE 2001 p 18) Um

segundo ponto-chave dessa concepccedilatildeo eacute a ldquoconsideraccedilatildeo criacutetica de conteuacutedos [] ambos

estudantes e professor devem estabelecer uma distacircncia criacutetica do conteuacutedo da educaccedilatildeordquo

(SKOVSMOSE 2001 p 18 grifo meu) O terceiro e uacuteltimo ponto-chave dessa concepccedilatildeo eacute o

direcionamento do processo de ensino-aprendizagem a problemas existentes fora do contexto

educacional Considerando os trecircs pontos-chave em uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo criacutetica o

autor coloca que o engajamento criacutetico deve fazer parte do processo Citando John Dewey

Skovsmose (2007) pontua que o meacutetodo experimental pode assegurar um novo suporte

pedagoacutegico com vistas ao desenvolvimento democraacutetico

Buscando possibilitar aprendizagens expansivas como transformaccedilotildees no objeto

da atividade de Modelagem uma possiacutevel estrateacutegia a ser considerada pode ser elencar accedilotildees

que objetivem a abertura de caixas-pretas Essa terminologia foi trazida da ldquosociologia da

ciecircnciardquo por Bruno Latour em sua obra Ciecircncia em accedilatildeo como seguir cientistas e

engenheiros sociedade afora devido ao entendimento de que vaacuterios conhecimentos

amplamente difundidos nos curriacuteculos escolares nas ementas das disciplinas partem de

resultados cientiacuteficos frequentemente considerados como inquestionaacuteveis eou verdades

absolutas Latour (2000) traz a noccedilatildeo de caixa-preta como sendo uma expressatildeo usada em

ciberneacutetica sempre que uma maacutequina ou um conjunto de comandos se revela complexo

demais ldquoem seu lugar eacute desenhada uma caixinha preta a respeito da qual natildeo eacute preciso saber

nada senatildeo o que nela entra e o que dela sairdquo (LATOUR 2000 p 14)

Dessa forma uma caixa-preta pode ser entendida como um aparatoobjeto

(conceito fato teacutecnica equaccedilatildeo lei teoria modelo equipamento aparelho maacutequina entre

outras possibilidades) oriundo de resultado de pesquisa cientiacutefica no qual eacute atribuiacutedo um

grau inquestionaacutevel de verdade sendo que sua existecircncia somente se justifica devido as suas

associaccedilotildees com outros aparatosobjetos (que tambeacutem podem ser caixas-pretas) e seus

respectivos usos sociais

O trabalho cientiacutefico estaacute condicionado agrave abertura e ao fechamento de caixas-

pretas Um cientista ao se deparar com possibilidades de investigar certo fenocircmeno X busca

todas as ldquoverdadesrdquo que outros cientistas jaacute estabeleceram sobre esse fenocircmeno Quando as

encontra pode questionaacute-las ou aceitaacute-las Suponha que o cientista resolva questionar uma

caixa-preta P encontrada por ele no processo de investigaccedilatildeo do fenocircmeno X Para isso eacute

necessaacuterio que ele utilize outros instrumentos (incluindo ateacute mesmo outras caixas-pretas) que

objetivem a abertura dessa caixa-preta Apoacutes a abertura ele comeccedila a relacionar essa caixa-

preta P com outras proposiccedilotildees a respeito do fenocircmeno X podendo alterar P ou apenas

93

reafirmar a ldquoverdaderdquo contida em P De qualquer forma o cientista abre e fecha P em certo

momento de sua atividade cientiacutefica Portanto qualquer caixa-preta pode ser aberta

reafirmada ou modificada ou ainda apenas utilizada pelos cientistas

Na vida cotidiana nos deparamos com as mais variadas caixas-pretas Um

reloacutegio por exemplo eacute uma delas sabemos que se o alimentarmos com bateria e cedermos a

ele uma regulagem com a hora oficial (entrada) ele sempre nos forneceraacute as horas (saiacuteda) no

entanto normalmente natildeo sabemos quais os processos ocorrem dentro dessa caixa-preta

Uma foacutermula matemaacutetica pode ser outro exemplo de caixa-preta se tomarmos por exemplo

a foacutermula de caacutelculo dos juros compostos 119862119899 = 1198620(1 + 119894)119899 sabe-se que se forem fornecidos o

capital inicial (1198620) a taxa de juros (119894) e o tempo (119899) (entradas) a foacutermula forneceraacute qual a

quantia (119862119899) (saiacuteda) teraacute depois desse tempo no entanto o que estaacute por traacutes dessa foacutermula e

qual eacute a veracidade dela o usuaacuterio pode natildeo ter conhecimento

Assim de forma representativa podemos visualizar as caixas-pretas da seguinte

forma

FIGURA 6 ndash Visualizaccedilatildeo da caixa-preta e suas possiacuteveis associaccedilotildees a outras caixas-pretas

Fonte Elaborada pela autora com base em Latour (2000)

Observe que as caixas-pretas natildeo se restringem apenas agraves variaacuteveis de entrada e

saiacuteda mas sobretudo ao relacionamento que cada uma delas pode estabelecer com outras

vaacuterias caixas-pretas Em um uacutenico equipamento um computador por exemplo existem

vaacuterias caixas-pretas em seu ldquointeriorrdquo ou seja uma caixa-preta contendo vaacuterias caixas-

pretas que se relacionam internamente

94

Mas porque accedilotildees orientadas pela abertura das caixas-pretas podem ser uacuteteis para

possibilitar aprendizagens expansivas em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias Uma

boa explicaccedilatildeo pode ser encontrada na seguinte reflexatildeo proposta por Latour (2000) como

segue

[] muitos jovens entraram no mundo da ciecircncia mas se tornaram cientistas e

engenheiros o que eles fizeram estaacute visiacutevel nas maacutequinas que usamos nos livros

pelos quais aprendemos nos comprimidos que tomamos nas paisagens que

olhamos nos sateacutelites que cintilam no ceacuteu noturno sobre nossas cabeccedilas Como

fizeram natildeo o sabemos [] quase ningueacutem estaacute interessado no processo de

construccedilatildeo da ciecircncia [] Os fatos e artefatos que esta produz caem sobre suas

cabeccedilas como um fado externo tatildeo estranho desumano e imprevisiacutevel quanto o

Fatum dos antigos romanos (LATOUR 2000 p 33-34)

A grande questatildeo aqui estampada consiste no entendimento de que os conteuacutedos

escolares perpassam pelos resultados cientiacuteficos muitas vezes relacionados a generalizaccedilotildees e

conceituaccedilotildees que num primeiro momento podem parecer ldquoestranhasrdquo aos aprendizes Essa

ldquoestranhezardquo pode muito bem ser anulada ou minimizada na medida em que os aprendizes

consigam adentrar para tais entes entendendo seu processo histoacuterico de construccedilatildeo e mais do

que isso percebendo que todo processo construtivo humano consiste na materializaccedilatildeo das

necessidades sociais e culturais em cada tempo histoacuterico de seu desenvolvimento

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo para desenvolvimento da cidadania emancipaccedilatildeo e

liberdade estaacute motivada pelas possibilidades e usos de conhecimentos em praacuteticas sociais

Nelas os sujeitos engajados carregam consigo as mais diversas experiecircncias vividas

anteriormente em diversos contextos sociais dentre estes os espaccedilos escolares Eacute na escola

que os resultados da ciecircncia satildeo recontextualizados e assumem postos de conteuacutedos a serem

desenvolvidos nas praacuteticas que ali ocorrem A abertura de caixas-pretas se torna portanto

imprescindiacutevel para se alcanccedilar uma formaccedilatildeo libertaacuteria emancipada e cidadatilde nos dias atuais

Mas quem decide quais caixas-pretas devem ser abertas jaacute que natildeo podem ser

todas Acredito que tal decisatildeo deva emergir da coletividade de aprendizes engajados em

cada frente de formaccedilatildeo pautados pelas demandas impostas pela sociedade em cada momento

de sua historicidade num contiacutenuo processo de diaacutelogo e orquestraccedilatildeo

Ao considerarmos o contexto institucional de formaccedilatildeo de engenheiros foco

dessa pesquisa podemos afirmar que os sujeitos partiacutecipes desse contexto tecircm amplo acesso

aos mais variados aparatosobjetos que podem ser entendidos como caixas-pretas Em

atividade de Modelagem Matemaacutetica sendo aqui considerada como um espaccedilo formativo que

se configura como um contexto propiacutecio para possibilitar aprendizagens expansivas por estar

95

baseado no contexto da criacutetica proposto por Engestroumlm (2002) entende-se portanto que tais

caixas-pretas devam ser abertas questionadas e se possiacutevel ou necessaacuterio alteradas ou

modificadas Isso deve fazer parte da formaccedilatildeo de engenheiros que pretendem dar conta da

complexidade e da magnitude do trabalho que os aguarda nas mais variadas esferas da

sociedade atual

Atividades de Modelagem Matemaacutetica podem assim constituir espaccedilos

formativos que possibilitem a abertura de caixas-pretas devido agrave postura investigativa que

pode ser instigada e cultivada nesse contexto Para tal os engajados nesse processo satildeo

orientados pelo questionamento e consequentemente pela modificaccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo ou

certezas cientiacuteficas contidas em fatos aceitos e ateacute entatildeo inquestionaacuteveis que compotildeem cada

caixa-preta Dessa forma muitos fatos e enunciados sociais amplamente aceitos e difundidos

podem ser alterados nas e pelas atividades de Modelagem Matemaacutetica Mais do que isso a

abertura de caixas-pretas pode se revelar como estrateacutegia de formaccedilatildeo na qual os sujeitos satildeo

instigados apoacutes a abertura e possiacutevel confirmaccedilatildeo da ldquoverdaderdquo contida na caixa-preta natildeo

somente a aceitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo de tais certezas cientiacuteficas mas sobretudo agrave tomada de

tais certezas como base (entrada) para a elaboraccedilatildeo de outras certezas ou empreendimentos

cumprindo assim a formaccedilatildeo no que tange agrave produccedilatildeo criativa agrave inovaccedilatildeo e ao

empreendedorismo

As estrateacutegicas accedilotildees com vistas agrave abertura de caixas-pretas num contexto de

formaccedilatildeo em Engenharias correspondem a mudanccedilas qualitativas nos objetos da atividade de

Modelagem Matemaacutetica a questatildeo-problema que por vezes configura como objeto da

atividade de Modelagem Matemaacutetica pode ser considerada num primeiro momento como

uma caixa-preta na qual as accedilotildees devem ser direcionadas visando a sua abertura

Transformaccedilotildees qualitativas do objeto da atividade devem ser consideradas como

aprendizagens expansivas segundo Engestroumlm e Sannino (2010b)

Para concluir este capiacutetulo entendo que uma caixa-preta na verdade nunca eacute

totalmente preta e nem totalmente branca Caso existisse caixa pretas totalmente cinzas ou

totalmente brancas estariacuteamos reforccedilando a ideologia das verdades ldquoabsolutasrdquo e

inquestionaacuteveis assim como o contraacuterio A variaccedilatildeo de cores permitida entre o preto e o

branco configura como pertencente agrave categoria dos infinitos tons de cinza Suponha um

intervalo aberto entre zero e um A uma caixa-preta qualquer seria atribuiacutedo um valor mais

proacuteximo de um do que de zero isto eacute um tom de cinza mais escuro Com a realizaccedilatildeo das

accedilotildees expostas anteriormente a caixa-preta tende a ldquoclarear-serdquo (ou natildeo) sendo entatildeo

atribuiacutedo um valor menor (ou maior) do que o anteriormente atribuiacutedo resultando em um tom

96

de cinza mais claro do que o anterior Tal clarificaccedilatildeo pode ser entendida como um

movimento do escuro para o claro da atuaccedilatildeo ldquocegardquo para a ldquoniacutetidardquo em termos das questotildees

a serem ldquoesclarecidasrdquo por uma determinada atividade de Modelagem Matemaacutetica Ao

considerarmos os sujeitos como objetos da proacutepria atividade formativa o esclarecimento

parte inerente da subjetividade dos sujeitos engajados em tal espaccedilo em inter-relaccedilatildeo ao

objeto da atividade (questatildeo-problema a ser esclarecida) pode atingir um grau de magnitude

compatiacutevel com a participaccedilatildeo resultado da proacutepria experiecircncia na praacutetica social tendendo a

qualitativas modificaccedilotildees na agency e nas interaccedilotildees dos sujeitos na referida atividade

No proacuteximo capiacutetulo apresento os procedimentos utilizados e a metodologia

assumida no desenvolvimento da pesquisa relatada nesta tese

97

3 METODOLOGIA DE PESQUISA E PROCEDIMENTOS

Neste capiacutetulo apresento a abordagem teoacuterico-metodoloacutegica de construccedilatildeo99

e

anaacutelise dos dados o contexto em que esta pesquisa estaacute inserida bem como os procedimentos

metodoloacutegicos que foram adotados para a construccedilatildeo e anaacutelise desses dados

31 Por que a abordagem eacute qualitativa

Esta pesquisa estaacute inserida na aacuterea da Educaccedilatildeo Matemaacutetica localizada na aacuterea de

Ciecircncias Humanas que engloba questotildees relacionadas aos objetos de estudo da Educaccedilatildeo da

Matemaacutetica e da proacutepria Educaccedilatildeo Matemaacutetica Esses campos de pesquisa embora

compartilhem de praacuteticas sociais que na maioria das vezes estatildeo localizadas dentro das

instituiccedilotildees educacionais possuem interesses distintos em termos de pesquisa Mas como

um sujeito (neste caso eu professora de Caacutelculo em cursos de Engenharia) que passou grande

parte da vida trabalhando com Ciecircncias Exatas pode se encorajar a desenvolver uma pesquisa

na aacuterea das Ciecircncias Humanas A resposta para essa pergunta pode ser encontrada no

posicionamento de Arauacutejo e Borba (2006)

E quando um professor (de Matemaacutetica) se dispotildee a realizar uma pesquisa na aacuterea de

Educaccedilatildeo (Matemaacutetica) talvez seja porque ele vem problematizando sua praacutetica o

que poderaacute levaacute-lo a se dedicar com afinco ao desenvolvimento de uma pesquisa

originada desta problematizaccedilatildeo e para isso eacute preciso que ele sintetize suas

inquietaccedilotildees iniciais em uma (primeira) pergunta diretriz (ARAUacuteJO BORBA

2006 p 30)

Foi exatamente problematizando minha proacutepria atividade docente que busquei

pelo entendimento de questotildees relacionadas ao ensino de Caacutelculo em cursos de Engenharia

inicialmente a primeira pergunta diretriz que norteou a presente pesquisa foi de que forma a

Modelagem Matemaacutetica aliada a recursos computacionais pode melhor inter-relacionar a

99

Natildeo uso o termo coleta de dados por entender que o papel do pesquisador pode se configurar como aquele que

constroacutei dados para a pesquisa que se propotildee desenvolver Os dados natildeo podem ser coletados pelo simples

motivo de eles por vezes nem sequer existirem Soacute pode ser coletado o que existe O verbo coletar pode ser

sinocircnimo de juntar ou reunir algum objeto ou coisa Quando se utiliza esse verbo em pesquisas no sentido de

juntar ou reunir dados uma pressuposiccedilatildeo de que jaacute existam os dados a serem reunidos ou juntados eacute

considerada Contudo essa pressuposiccedilatildeo pode assumir caraacuteter falso quando o pesquisador vecirc-se em faces de

construir os dados que necessita visando buscar entendimento para a questatildeo que se propotildee investigar

98

disciplina de Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias agraves demais disciplinas ldquoteacutecnicasrdquo dos cursos

de Engenharia

Poreacutem ainda que Alves-Mazzotti (1999 p 147) considere que ldquoo foco da

pesquisa bem como as categorias teoacutericas e o proacuteprio design100

soacute deveratildeo ser definidos no

decorrer do processo de investigaccedilatildeordquo ela defende que

trabalhar de forma altamente indutiva deixando que o design e a teoria emerjam dos

dados eacute difiacutecil ateacute mesmo para pesquisadores mais experientes Quanto menos

experiente for o pesquisador mais ele precisaraacute de um planejamento cuidadoso sob

a pena de se perder num emaranhado de dados dos quais natildeo conseguiraacute extrair

qualquer significado (ALVES-MAZZOTTI 1999 p 148)

Refletindo acerca dos apontamentos de Alves-Mazzotti (1999) decidi tentar

perceber o movimento do foco e do design da pesquisa aqui relatada na tentativa de mesmo

que informalmente que o planejamento da pesquisa fosse cuidadoso e ao mesmo tempo

adotasse certo grau de flexibilidade Nesse processo de co-construccedilatildeo de foco e design da

pesquisa acabei por delinear a seguinte pergunta diretriz ldquoquais aprendizagens expansivas

podem ser evidenciadas pelas e nas atividades desenvolvidas por um Grupo de Estudos e

Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica (GEPMM) num contexto de formaccedilatildeo em

Engenhariasrdquo

Conforme exposto no capiacutetulo 1 a concepccedilatildeo de aprendizagem assumida na

pesquisa faz parte do referencial teoacuterico conhecido como Teoria Histoacuterico Cultural da

Atividade na qual um dos seus cinco princiacutepios afirma que a anaacutelise da atividade e dos

componentes que a formam deve sempre ser tomada em sua historicidade perceber o papel

das contradiccedilotildees no movimento de uma atividade torna possiacutevel tambeacutem a reconstituiccedilatildeo de

sua evoluccedilatildeo e do desenvolvimento de suas praacuteticas ao longo da histoacuteria Com isso entendo

que a abordagem metodoloacutegica histoacuterico-dialeacutetica que questiona fundamentalmente a visatildeo

estaacutetica da realidade considerando o caraacuteter dinacircmico contraditoacuterio e histoacuterico dos

fenocircmenos educativos deve ser considerada nesta investigaccedilatildeo Essa abordagem

metodoloacutegica considera que

Aquilo que hoje se apresenta diante de nossos olhos eacute apenas uma siacutentese do

processo histoacuterico em transformaccedilatildeo Por isso procura apresentar uma concepccedilatildeo

unitaacuteria coerente e orgacircnica do mundo fazendo da criacutetica seu modelo

100

ldquoO termo lsquodesignrsquo no que se refere agrave pesquisa tem sido traduzido como desenho ou planejamento O design

corresponde ao plano e agraves estrateacutegias utilizadas pelo pesquisador para responder agraves questotildees propostas pelo

estudo incluindo os procedimentos e instrumentos de coleta anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados bem como a

loacutegica que liga entre si diversos aspectos da pesquisardquo (ALVES-MAZZOTTI 1999 p 147)

99

paradigmaacutetico mesmo porque natildeo haacute modelo teoacuterico ou siacutentese por melhor que

seja que decirc conta da realidade (FIORENTINI LORENZATO 2009 p 66)

Para tal abordagem eacute preciso entender os conflitos dos interesses aleacutem de

desvendar as contradiccedilotildees que emergem da realidade conforme preconizado pela Teoria da

Atividade Aleacutem disso natildeo basta compreender a realidade eacute preciso tambeacutem intervir nela

visando agrave emancipaccedilatildeo (libertaccedilatildeo) dos sujeitos (FIORENTINI LORENZATO 2009) O

entendimento dos conflitos de interesses pode ser enquadrado na anaacutelise das regras na

constituiccedilatildeo da comunidade e na divisatildeo do trabalho como referenciados no capiacutetulo 2

segundo a Teoria da Atividade proposta por Engestroumlm (1987) No sentido de natildeo bastar

compreender a realidade mas sobretudo intervir nela entende-se que o papel das

contradiccedilotildees segundo a Teoria da Atividade assumido como constituinte da forccedila motriz

capaz de promover transformaccedilotildees expansivas na atividade reafirma a necessidade de

intervenccedilotildees que podem estar relacionadas agraves possibilidades de emancipaccedilatildeo e liberdade dos

sujeitos partiacutecipes

Aleacutem disso entendo que tal orientaccedilatildeo metodoloacutegica coloca minha pesquisa em

consonacircncia com a abordagem qualitativa de investigaccedilatildeo Bogdan e Biklen (1994) utilizam a

expressatildeo investigaccedilatildeo qualitativa como sendo um termo geneacuterico no qual os dados

construiacutedos satildeo ricos em pormenores descritivos relacionados a pessoas locais e conversas e

o objetivo eacute investigar fenocircmenos em toda sua complexidade em um contexto real

Tendo em vista se tratar de uma investigaccedilatildeo de natureza qualitativa torna-se

pertinente analisar as suas caracteriacutesticas principais Bogdan e Biklen (1994) apresentam-nos

as cinco principais caracteriacutesticas da investigaccedilatildeo qualitativa que foram os princiacutepios

orientadores para esta pesquisa

1 Na investigaccedilatildeo qualitativa a fonte direta de dados101

eacute o ambiente natural

constituindo o investigador o instrumento principal

2 A investigaccedilatildeo qualitativa eacute descritiva

3 Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que

simplesmente pelos resultados ou produtos

4 Os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de forma indutiva

5 O significado eacute de importacircncia vital na abordagem qualitativa

Vale ressaltar que esses cinco princiacutepios orientam poreacutem natildeo necessariamente

definem e nem sequer limitam o uso da abordagem qualitativa em investigaccedilotildees como eacute o

101

Conforme apontado no iniacutecio deste capiacutetulo entendo que na investigaccedilatildeo qualitativa os dados satildeo construiacutedos

no ambiente natural que abriga o objeto da pesquisa

100

caso desta tese Assim podemos definir que a pesquisa se inclui em uma abordagem

qualitativa

Para que as atividades escolares possam ser transformadas expandidas

Engestroumlm (2002) afirma que eacute necessaacuterio antes de tudo questionar radicalmente o sentido e

o significado do contexto e com isso almejar a construccedilatildeo de um contexto alternativo mais

amplo As accedilotildees direcionadas para tal construccedilatildeo segundo Engestroumlm e Sannino (2010b)

podem ser sistematizadas em um ciclo de aprendizagem expansiva conforme explicitado no

capiacutetulo 2 Engestroumlm (2002) sugere que toda e qualquer atividade escolar deveria ser

preconizada por uma criacutetica meticulosa sobre seus conteuacutedos e procedimentos agrave luz de sua

histoacuteria Para o autor o contexto da criacutetica pressupotildee possibilidades de resistecircncia

questionamento contradiccedilatildeo e debate Nele os conteuacutedos e procedimentos satildeo considerados

sob a oacutetica da necessidade da coletividade afetada pela escolarizaccedilatildeo em termos histoacutericos

culturais e sociais

No toacutepico que segue definirei o contexto e os participantes assim como os

instrumentos de construccedilatildeo e anaacutelise de dados

32 Qual eacute o contexto e quem satildeo os sujeitos

Para alcanccedilar o objetivo da presente pesquisa inicialmente busquei uma

instituiccedilatildeo de ensino que se ocupasse da formaccedilatildeo de engenheiros Essa instituiccedilatildeo por

motivos logiacutesticos natildeo poderia estar muito distante da cidade em que resido Aleacutem disso

delimitei que ela fosse mantida pelo poder puacuteblico federal pois nelas a maioria dos

professores se dedica exclusivamente agraves atividades acadecircmicas de ensino pesquisa e

extensatildeo o que torna esses sujeitos propiacutecios ao engajamento como participantes da pesquisa

principalmente no que se refere agrave criaccedilatildeo do Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem

Matemaacutetica

Alves-Mazzotti (1999 p 162) elucida diversas questotildees a respeito da escolha do

campo onde seratildeo construiacutedos os dados bem como a respectiva escolha dos sujeitos nele

contidos

Ao contraacuterio do que ocorre com as pesquisas tradicionais a escolha do campo onde

seratildeo colhidos os dados bem como os participantes eacute proposital isto eacute o

101

pesquisador os escolhe em funccedilatildeo das questotildees de interesse do estudo e tambeacutem das

condiccedilotildees de acesso e permanecircncia no campo e disponibilidade dos sujeitos

Sendo assim a escolha da instituiccedilatildeo tambeacutem estava pautada pela facilidade de

diaacutelogo e entrosamento entre a pesquisadora e os docentes nela lotados que se constituiu

devido ao fato de a pesquisadora jaacute ter sido docente na instituiccedilatildeo escolhida sendo assim jaacute

tendo estabelecida uma relaccedilatildeo de amizade e confianccedila entre seus pares Outro fator que

tambeacutem foi levado em conta na escolha da instituiccedilatildeo foi o fato de a instituiccedilatildeo se dedicar

exclusivamente agrave formaccedilatildeo de engenheiros perfazendo um total de nove cursos oferecidos102

Esse fator foi levado em conta pelo simples motivo de todos os sujeitos supostamente

estarem focados em uma missatildeo comum ldquogerar sistematizar aplicar e difundir

conhecimento ampliando e aprofundando a formaccedilatildeo de cidadatildeos e profissionais

qualificados e contribuir para o desenvolvimento sustentaacutevel do paiacutes visando a melhoria da

qualidade de vidardquo (ESTATUTO UNIFEI 2003 p 2)

Considerando que esta pesquisa busca analisar as possibilidades para

aprendizagens expansivas evidenciadas nas e pelas atividades desenvolvidas por um Grupo de

Estudos e Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica cujo objeto idealizado pode ser entendido

como questotildees-problema natildeo matemaacuteticas e estudantes os sujeitos que estivessem dispostos a

engajarem em tal sistema de atividade poderiam se tornar participantes da pesquisa

A instituiccedilatildeo escolhida foi a Universidade Federal de Itajubaacute (UNIFEI) ndash campus

Itabira O campus expandido da Universidade Federal de Itajubaacute em Itabira foi criado em

agosto de 2008 inaugurando trecircs cursos de graduaccedilatildeo destinados agrave formaccedilatildeo de Engenheiros

Eletricistas de Materiais e de Computaccedilatildeo Na ocasiatildeo apenas dez professores compunham o

quadro de efetivos que lecionavam para cento e cinquenta alunos sendo cinquenta de cada

curso

Depois de escolhida a instituiccedilatildeo onde seria realizada a pesquisa iniciei a ida ao

campo Primeiramente em 16 de dezembro de 2011 reuni-me com o entatildeo diretor do campus

para expor o interesse em construir os dados na UNIFEI e discutir os objetivos da pesquisa

Na ocasiatildeo o diretor se mostrou entusiasmado com a pesquisa e sugeriu alguns nomes de

professores que poderiam se interessar em participar Aleacutem disso ele disse que atividades de

Modelagem Matemaacutetica segundo seu proacuteprio entendimento se aproximavam bastante dos

objetivos de uma abordagem metodoloacutegica que jaacute tinha sido colocada em praacutetica nos cursos

da UNIFEI poreacutem sem sucesso A abordagem a que ele se referia eacute o Problem-Based

102

Engenharia de Computaccedilatildeo Eleacutetrica de Materiais de Produccedilatildeo de Controle e Automaccedilatildeo da Mobilidade de

Sauacutede e Seguranccedila Ambiental Mecacircnica

102

Learning (PBL) que foi traduzida para o portuguecircs como Aprendizagem Baseada em

Problemas Filho e Ribeiro (2006) esclarecem que o PBL se originou na formaccedilatildeo em

Medicina e foi posteriormente empregado em outras formaccedilotildees profissionais sendo que

na formaccedilatildeo profissional a utilizaccedilatildeo do PBL deve necessariamente se adaptar agraves

particularidades da aacuterea de conhecimento aos atores (alunos e professores) agrave

instituiccedilatildeo agraves diretrizes que regem a educaccedilatildeo superior no paiacutes Entretanto algumas

caracteriacutesticas do PBL devem ser contempladas para que um meacutetodo possa ser

reconhecido como tal A caracteriacutestica mais importante no PBL eacute o fato de uma

situaccedilatildeo-problema sempre preceder a apresentaccedilatildeo dos conceitos necessaacuterios para

sua soluccedilatildeo Quer dizer a principal caracteriacutestica que difere o PBL de outros

meacutetodos ativos colaborativos centrados nos alunos no processo e da aprendizagem

baseada em casos (CBL) eacute o emprego de problemas para iniciar enfocar e motivar a

aprendizagem de conteuacutedos especiacuteficos e para promover o desenvolvimento de

habilidades e atitudes profissional e socialmente desejaacuteveis (FILHO RIBEIRO

2006 p 24)

A partir desse momento percebi que atividades geradas pelo PBL realmente se

aproximam metodologicamente de atividades de Modelagem Matemaacutetica em cursos de

Engenharia

Os sujeitos participantes da construccedilatildeo dos dados dessa pesquisa foram alunos e

professores da UNIFEI- campus Itabira No capiacutetulo 4 o contexto e sujeitos que participaram

desta pesquisa seratildeo apresentados com mais detalhes

Na proacutexima secccedilatildeo mostrarei os instrumentos que foram usados para a construccedilatildeo

e anaacutelise dos dados

33 Quais foram os procedimentos de construccedilatildeo dos dados

Para uma pesquisa qualitativa destaca-se a importacircncia da utilizaccedilatildeo de diferentes

procedimentos para a construccedilatildeo dos dados o que se denomina triangulaccedilatildeo que em uma

pesquisa qualitativa consiste na utilizaccedilatildeo de vaacuterios e distintos procedimentos para obtenccedilatildeo

de dados (ALVES-MAZZOTTI 1999)

Visando realizar uma triangulaccedilatildeo os procedimentos de construccedilatildeo e obtenccedilatildeo de

dados foram os seguintes

331 A constituiccedilatildeo do GEPMM e observaccedilatildeo participante em suas atividades

103

Inicialmente visando agrave criaccedilatildeo do GEPMM convidei alunos e professores dos

cursos de Engenharia da UNIFEI-Itabira O convite foi efetuado em 25 de outubro de 2012

na ocasiatildeo em que uma palestra intitulada ldquoModelagem Matemaacutetica e Aprendizagem Baseada

em Problemas convergecircncias possiacuteveisrdquo foi proferida por mim com o objetivo de suscitar o

interesse de alunos e professores em participar do grupo Aleacutem da palestra o convite para a

participaccedilatildeo no grupo foi postado na paacutegina da UNIFEI-Itabira ndash da rede social Facebook103

Foram realizadas entrevistas com os docentes e discentes que participaram do

GEPMM todas as discussotildees que aconteceram durante os encontros foram documentados por

meio de gravaccedilotildees em aacuteudio e viacutedeo aleacutem das notas de campo no diaacuterio de pesquisa (FLICK

2009) com o objetivo de tentar visualizar possiacuteveis aprendizagens expansivas que emergiriam

dos sistemas de atividade do GEPMM No referido projeto a atuaccedilatildeo da pesquisadora se

constitui como uma observaccedilatildeo participante

Segundo Flick (2009) a observaccedilatildeo consiste em uma habilidade cotidiana

metodologicamente sistematizada e aplicada em pesquisas qualitativas e a observaccedilatildeo pode se

caracterizar como participante ou natildeo participante A observaccedilatildeo participante eacute uma das

formas mais comumente utilizada em pesquisas qualitativas podendo ser definida como ldquouma

estrateacutegia de campo que combina simultaneamente a anaacutelise de documentos a entrevista de

respondentes e informantes a participaccedilatildeo e a observaccedilatildeo diretas e introspecccedilatildeordquo (DENZIN

1989 p 157-158 apud FLICK 2009 p 207)

Na observaccedilatildeo participante o pesquisador deve cada vez mais obter acesso ao

campo e agraves pessoas tornar-se um participante das praacuteticas sociais observadas e aleacutem disso a

observaccedilatildeo deve passar por um processo para se tornar cada vez mais concentrada nos

aspectos essenciais agraves questotildees da pesquisa (FLICK 2009 p 208)

A observaccedilatildeo participante pode ser descrita por Spradley (1980) por meio das

seguintes trecircs fases

1 Observaccedilatildeo descritiva ndash no iniacutecio serve para fornecer ao pesquisador uma

orientaccedilatildeo para o campo em estudo Fornece tambeacutem descriccedilotildees natildeo especiacuteficas e

eacute utilizada para apreender o maacuteximo possiacutevel a complexidade do campo e (ao

mesmo tempo) para desenvolver questotildees de pesquisa e linhas de visatildeo mais

concretas

2 Observaccedilatildeo focalizada ndash restringe a perspectiva do pesquisador agravequeles processos

e problemas que forem os mais essenciais para a questatildeo da pesquisa

3 Observaccedilatildeo seletiva ndash ocorre jaacute na fase final da coleta de dados e concentra-se em

encontrar mais indiacutecios e exemplos para os tipos de praacuteticas e processos descobertos

na segunda etapa (SPRADLEY 1980 p 34 apud FLICK 2009 p 207)

103

wwwfacebookcomunifeiitabira

104

Para Spradley (1980 apud FLICK 2009) uma das principais dificuldades da

observaccedilatildeo participante eacute fazer o problema em estudo se tornar ldquovisiacutevelrdquo pois se trata de uma

situaccedilatildeo social Assim a questatildeo principal da observaccedilatildeo participante eacute o que e como

observar para que a observaccedilatildeo se torne um instrumento uacutetil para o entendimento da questatildeo a

ser estudada Na tentativa de minimizar esse problema optei por um longo104

periacuteodo de

construccedilatildeo de dados para que esses dados pudessem me fornecer um leque de informaccedilotildees e

significados minimamente visiacuteveis a respeito da questatildeo e da problemaacutetica desta pesquisa

Delimitei como corpus para anaacutelise o processo de implementaccedilatildeo do GEPMM

sendo este composto pela filmagem em aacuteudio e viacutedeo da palestra ldquoModelagem Matemaacutetica e

Aprendizagem Baseada em Problemas convergecircncias possiacuteveisrdquo pela filmagem dos

primeiros dez encontros realizados no GEPMM e pelas entrevistas realizadas com os

componentes do grupo

Visando a facilitar a comunicaccedilatildeo entre os integrantes do GEPMM foi criado em

outubro de 2012 um grupo fechado no Facebook intitulado Modelagem Unifei Itabira Nesse

espaccedilo compartilhamos artigos documentos e quaisquer outros conteuacutedos ou informaccedilotildees

relacionados ao trabalho do GEPMM

332 As entrevistas iniciais e as finais com os integrantes do GEPMM

Com o objetivo de entender como os sujeitos percebem o papel das disciplinas de

Caacutelculo na formaccedilatildeo do profissional da Engenharia e quais accedilotildees metodoloacutegicas eles tecircm

observado na instituiccedilatildeo (dentro e fora da sala de aula) que busquem o cumprimento dos

papeacuteis apontados por eles mesmos uma entrevista inicial foi realizada Com isso busquei por

indiacutecios de inquietaccedilotildees e ou anaacutelise das atividades formativas de Caacutelculo dominantes na

instituiccedilatildeo que estivessem relacionados ao engajamento dos sujeitos no GEPMM sendo

considerada como uma nova forma de atividade natildeo dominante (SANNINO NOCON 2008)

Aleacutem disso na entrevista inicial realizada individualmente objetivei mais explicitamente a

elucidaccedilatildeo dos motivos que levaram os sujeitos agrave participaccedilatildeo no grupo

104

Longo periacuteodo se refere ao tempo gasto apenas com a construccedilatildeo dos dados que totalizaram 15 meses Esse

periacuteodo geralmente pode ser tido como longo ao considerarmos que o prazo de conclusatildeo do doutorado eacute de 48

meses e antes do 36ordm mecircs todos os dados e o esboccedilo da anaacutelise devem ser apresentados no exame de

qualificaccedilatildeo

105

Roteiro de entrevista inicial

Pergunta 1) Na sua concepccedilatildeo qual eacute o papel das disciplinas de Caacutelculo na

formaccedilatildeo do engenheiro

Pergunta 2) Quais accedilotildees metodoloacutegicas tecircm sido adotadas na instituiccedilatildeo visando

o cumprimento dos papeacuteis apontados anteriormente

Pergunta 3) Quais foram os motivos que o levaram a participar do grupo de

Modelagem Matemaacutetica

As entrevistas finais aconteceram apoacutes os sete primeiros encontros do GEPMM

Nessa fase de construccedilatildeo de dados busquei pelo entendimento dos limites e das

possibilidades que a participaccedilatildeo no grupo pocircde fornecer aos sujeitos participantes Limites e

possibilidades em termos de acesso ao grupo envolvimento com a proposta da atividade

experienciada por eles e possiacuteveis aprendizagens que pudessem ser evidenciadas nas

atividades desenvolvidas pelo GEPMM

Roteiro de entrevista final

Pergunta 1) Como vocecirc caracteriza sua participaccedilatildeo no GEPMM

Pergunta 2) Desde que vocecirc comeccedilou a participar do grupo quais os desafios

encontrados Como vocecirc buscou superar estes desafios

Pergunta 3) O que vocecirc aprendeu com sua participaccedilatildeo no GEPMM ateacute o

presente momento O que ainda espera aprender

34 Quais instrumentos foram usados para a anaacutelise

Engestroumlm (2001) pontua que qualquer teoria de aprendizagem deve buscar

respostas para as seguintes quatro questotildees 1) quem satildeo os sujeitos da aprendizagem 2) Por

que eles estatildeo aprendendo o que os faz esforccedilar 3) O que os faz aprender o que satildeo os

conteuacutedos e resultados da aprendizagem 4) Como fazecirc-los aprender o que satildeo as accedilotildees

chave ou processos de aprendizagem

Engestroumlm (2001) constroacutei um quadro de anaacutelise teoacuterica para a aprendizagem

expansiva cruzando os cinco princiacutepios da Teoria da Atividade agraves quatro questotildees

106

orientadoras para as teorias de aprendizagem Com isso para analisar uma atividade escolar

como uma praacutetica social coletiva por meio da Teoria da Aprendizagem Expansiva de

Engestroumlm eacute necessaacuterio preencher as entradas da seguinte matriz

Sistema de

Atividade como unidade

de anaacutelise

Multivocalidade Historicidade Contradiccedilotildees Ciclos

Expansivos

Quem satildeo os aprendizes

Por que eles

estatildeo aprendendo

O que os faz aprender

Como fazecirc-

los aprender

Tabela 1 - Matriz para anaacutelise da aprendizagem expansiva

Fonte Engestroumlm (2001 p 138)

Tomei como base empiacuterica para o preenchimento da matriz acima trechos das

entrevistas concedidas pelos docentes e discentes que se dispuseram a participar do GEPMM

e selecionei partes das dez reuniotildees do GEPMM documentadas em aacuteudio e viacutedeo que foram

convenientes para responder agrave questatildeo de pesquisa Primeiramente assisti ouvi e transcrevi

as entrevistas realizadas com os docentes e discentes engajados no GEPMM e gravadas em

aacuteudio e viacutedeo Fiz o mesmo com as gravaccedilotildees dos dez primeiros encontros do GEPMM

Selecionei trechos que pudessem me ajudar no preenchimento das entradas da referida matriz

Aleacutem disso extraiacute quatro temas de anaacutelise que convergiram no sentido de responder agrave questatildeo

que norteou a pesquisa Nessa pesquisa tais temas seratildeo denominados por modalidades

analiacuteticas

35 A formaccedilatildeo do GEPMM pode ser caracterizada como uma intervenccedilatildeo formativa

Engestroumlm e Sannino (2010b) afirmam que os ciclos de aprendizagem expansiva

podem ser investigados como processos que ocorrem naturalmente Contudo satildeo processos

bastante raros e difiacuteceis de documentar devido ao seu caraacuteter espacialmente e temporalmente

distribuiacutedo Aleacutem disso os autores apontam que nos processos de aprendizagem expansiva

107

mais importante ainda eacute o atendimento agraves demandas impostas para a soluccedilatildeo de contradiccedilotildees

urgentes em comunidades de trabalho visando sobretudo a atingir qualitativamente novos

modos de atividade de trabalho Tal demanda aliada ao legado intervencionista da teoria

histoacuterico-cultural da atividade ldquotem levado ao desenvolvimento e implementaccedilatildeo de

intervenccedilotildees formativas como uma metodologia para estudar aprendizagem expansivardquo 105

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 15 grifo meu)

Uma conceituaccedilatildeo para definir as intervenccedilotildees formativas decorre do legado

vigotskiano determinado pelo princiacutepio metodoloacutegico da dupla estimulaccedilatildeo As intervenccedilotildees

formativas podem ser entendidas pelo condensamento dos seguintes quatro pontos cruciais

1) Ponto de partida [] os sujeitos enfrentam um objeto problemaacutetico e

contraditoacuterio que eles analisam e expandem pela construccedilatildeo de um novo conceito

cujo conteuacutedo pode natildeo ser totalmente conhecido de antematildeo pelos pesquisadores

2) Processo [] o conteuacutedo e o curso da intervenccedilatildeo estatildeo sujeitos agrave negociaccedilatildeo e a

maneira da intervenccedilatildeo cabe eventualmente aos sujeitos Dupla estimulaccedilatildeo como o

mecanismo central implica que os sujeitos ganham agecircncia e assumem o comando

do processo

3) Resultado [] o objetivo eacute gerar um novo conceito que pode ser usado em outro

contexto como quadro para projetar uma nova soluccedilatildeo localmente apropriada Um

resultado chave da intervenccedilatildeo formativa eacute a agecircncia entre os participantes

4) Papel dos pesquisadores [] o pesquisador objetiva provocar e sustentar um

processo de transformaccedilatildeo expansiva conduzido pelos participantes e pertencente a

eles106

(ENGESTROumlM SANNINO 2010b p 15 grifos dos autores)

Dessa forma a intervenccedilatildeo pode ser entendida como uma accedilatildeo intencional

realizada por um agente humano que objetiva uma transformaccedilatildeo qualitativa em determinada

praacutetica social o que inclui que o pesquisador natildeo tem qualquer diferenciaccedilatildeo hieraacuterquica

sobre a intervenccedilatildeo Aleacutem disso segundo Engestroumlm e Sannino (2010b p 15) ldquoos

pesquisadores natildeo devem esperar resultados satisfatoriamente alinhados com seus

esforccedilos107

rdquo

105

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquohas led to the development and implementation of formative interventions

as a methodology for studying expansive learningrdquo 106

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquo

1) Starting point [hellip] they face a problematic and contradictory object which they analyze and expand by

constructing a novel concept the contents of which are not known ahead of time to the researchers

2) Process [hellip] the contents and course of the intervention are subject to negotiation and the shape of the

intervention is eventually up to the subjects Double stimulation as the core mechanism implies that the subjects

gain agency and take charge of the process

3) Outcome [hellip] the aim is to generate new concepts that may be used in other settings as frames for the design

on locally appropriate new solutions A key outcome of formative interventions is agency among the

participants

4) Researcherrsquos role the researcher aims at provoking and sustaining an expansive transformation process led

and owned by the practitionersrdquo 107

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoResearchers should not expect nicely linear results from their effortsrdquo

108

O instrumento metodoloacutegico no qual se baseia na construccedilatildeo coletiva do GEPMM

pode ser entatildeo compreendido como uma intervenccedilatildeo formativa na qual o passado (antes

dela) e o presente (depois dela) tendem a se misturar eou se (con)fundir podendo fazer

emergir contradiccedilotildees Com isso a intervenccedilatildeo formativa pode assumir duplo caraacuteter de

tentar resolver contradiccedilotildees historicamente acumuladas e ao mesmo tempo provocar novos

niacuteveis de contradiccedilatildeo

No que segue apresento o contexto institucional em que os dados foram

construiacutedos Procurarei elucidar de um ponto de vista sociocultural quem satildeo os sujeitos da

pesquisa Assim dividirei o restante do capiacutetulo em duas partes a primeira delas focaraacute a

descriccedilatildeo da instituiccedilatildeo como um todo e das disciplinas de Caacutelculo que nela satildeo ofertados

enquanto a segunda parte focaraacute as atividades desenvolvidas pelo GEPMM Vale ressaltar que

tanto na primeira parte quanto na segunda os sujeitos seratildeo considerados como integrantes e

integradores do contexto isto eacute os sujeitos constituem e satildeo constituiacutedos pelo contexto de

forma indissociaacutevel No fim do capiacutetulo visando a iniciar o preenchimento da matriz para

anaacutelise da aprendizagem expansiva (ENGESTROumlM 2001) apresentada anteriormente busco

responder a pergunta quem satildeo e onde estatildeo os sujeitos da aprendizagem

36 O contexto institucional e as aulas de Caacutelculo

Primeiramente descreverei a instituiccedilatildeo onde os dados foram construiacutedos sua

origem proposta e cursos oferecidos A instituiccedilatildeo escolhida foi a Universidade federal de

Itajubaacute (UNIFEI) ndash campus Itabira Decidi comeccedilar este trabalho com a seguinte imagem

109

FIGURA 7 ndash Paacutegina inicial site UNIFEI-Itabira

Fonte UNIFEI 2013

A Figura 7 foi retirada do site da UNIFEI108

em 17022013 agraves 21h46 No texto

de apresentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo pode-se observar que a gecircnese da UNIFEI-Itabira estaacute

alicerccedilada em uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Itabira-MG a empresa mineradora

Vale (antiga Companhia Vale do Rio Doce (CVRD)) e o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) Na

figura tambeacutem se pode observar uma foto que foi tirada em agosto de 2008 com os primeiros

dez professores do campus e com os primeiros 150 alunos dos cursos de Engenharia da

Computaccedilatildeo de Materiais e Eleacutetrica perfazendo um total de 50 alunos por turma

O campus de Itabira foi consolidado como uma das expansotildees universitaacuterias do

Governo Federal ocorridas entre os anos 2006 e 2010 As condiccedilotildees iniciais de

funcionamento eram precaacuterias109

O campus da UNIFEI em Itabira estaacute incluiacutedo no Plano de

Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo das Universidades Federais Trecircs salas de aula foram emprestadas

por uma instituiccedilatildeo de ensino privada para a universidade nelas ocorriam as aulas dos trecircs

cursos de Engenharia exceto as aulas experimentais que ocorriam em um outro bairro da

cidade num preacutedio tambeacutem emprestado onde funcionava um Instituto de Tecnologia (ITEC)

108

httpwwwunifeiedubrdiversosunifei-campus-itabira 109

Lecionei no campus da Unifei ndash Itabira no segundo semestre do ano de 2008 ou seja no semestre de sua

inauguraccedilatildeo

110

Em marccedilo de 2009 as aulas foram transferidas para o ITEC e todo o

funcionamento do campus expandido de Itabira foi concentrado em algumas poucas salas de

aula denominadas pelos alunos por ldquotendasrdquo (por se pareceram com tendas de circo) Os

professores foram agrupados em gabinetes subdivididos e essa situaccedilatildeo permaneceu ateacute

novembro de 2011 quando um primeiro preacutedio do campus foi entregue Poreacutem devido agrave

escassez de espaccedilo fiacutesico para ocorrerem todas as atividades dos nove110

cursos de

Engenharia algumas turmas permanecem em funcionamento no preacutedio do ITEC Portanto a

vida acadecircmica dos alunos professores e teacutecnicos-administrativos se encontra fisicamente

particionada e literalmente separada por mais de 7 km A prefeitura disponibilizou ocircnibus

para o acesso ao campus visto que por estar localizado no distrito industrial o acesso eacute

difiacutecil e existem poucas linhas de ocircnibus em poucos horaacuterios por dia

O campus da UNIFEI dividido em duas partes na cidade de Itabira uma parte no

ITEC e a outra no distrito industrial da cidade foi palco para a construccedilatildeo de dados para a

pesquisa aqui relatada

As disciplinas da aacuterea de Matemaacutetica da UNIFEI-Itabira satildeo desenvolvidas do

primeiro ao quinto periacuteodo de todos os nove cursos de Engenharia da instituiccedilatildeo Satildeo elas

BAC 000 - Nome Matemaacutetica 0

Ementa Conjuntos Numeacutericos Nuacutemeros reais Polinocircmios Funccedilotildees Funccedilotildees

polinomiais Funccedilotildees exponenciais e logariacutetmicas Funccedilotildees trigonomeacutetricas

Funccedilotildees compostas Limites e continuidade Introduccedilatildeo aos recursos numeacutericos e

computacionais (5 ha semanais = 75 ha semestrais)

BAC 019 - Nome Matemaacutetica I

Ementa Derivadas aplicaccedilotildees de derivadas integrais teoremas fundamentais do

caacutelculo aplicaccedilotildees de integrais e integraccedilatildeo numeacuterica (4ha semanais = 60 ha

semestrais)

BAC 020 - Nome Matemaacutetica II

Ementa Matrizes e sistemas lineares aplicaccedilotildees vetores no plano e no espaccedilo

espaccedilo vetorial subespaccedilo espaccedilo119877119899 autovalores e auto vetores transformaccedilotildees

lineares cocircnicas e quaacutedricas (4ha semanais = 60 ha semestrais)

BAC I21 - Nome Matemaacutetica III

Ementa Sequecircncias e seacuteries derivadas parciais coordenadas polares integrais

duplas (4ha semanais = 60 ha semestrais)

BAC 022 - Nome Matemaacutetica IV

Ementa Equaccedilotildees diferenciais de ordem um Meacutetodos Numeacutericos Equaccedilotildees

diferenciais de ordem dois Equaccedilotildees diferenciais lineares de ordem maior que dois

Soluccedilotildees em seacuterie para equaccedilotildees lineares de ordem dois (4ha semanais = 60 ha

semestrais)

BAC 023 - Nome Matemaacutetica V

Ementa Funccedilotildees vetoriais integrais triplas caacutelculo vetorial (4ha semanais = 60

ha semestrais)

BAC 024 - Nome Matemaacutetica VI

Ementa Transformada de Fourier transformada de Laplace seacuterie de Fourier

110

Engenharia Ambiental da Computaccedilatildeo Mecacircnica de Controle e Automaccedilatildeo de Produccedilatildeo de Materiais de

Sauacutede e Seguranccedila Eleacutetrica e da Mobilidade

111

equaccedilotildees diferenciais parciais e problemas de contorno e valor inicial (4ha

semanais = 60 ha semestrais)111

A disciplina BAC 000 eacute oferecida no primeiro periacuteodo as disciplinas BAC 019 e

020 satildeo oferecidas no segundo periacuteodo as disciplinas BAC 022 e BAC I21 satildeo oferecidas no

terceiro periacuteodo a disciplina BAC 023 eacute oferecida no quarto periacuteodo e a disciplina BAC 024 eacute

oferecida no quinto periacuteodo de todos os nove cursos de Engenharia da UNIFEI-Itabira Vale

ressaltar que apenas a disciplina BAC 020 (Matemaacutetica II) natildeo perfaz conteuacutedos de Caacutelculo

Todas as outras disciplinas de Matemaacutetica na instituiccedilatildeo constituem o corpo de conteuacutedos

conhecido como Caacutelculo Diferencial e Integral

Uma importante112

observaccedilatildeo a respeito das disciplinas de Caacutelculo componentes

das grades curriculares dos cursos de Engenharia da UNIFEI-Itabira eacute o fato de a disciplina

Caacutelculo Numeacuterico natildeo aparecer na grade curricular como forma de uma disciplina uacutenica

Geralmente essa disciplina compotildee as grades curriculares dos cursos de Engenharia por se

tratar de uma importante ferramenta de resoluccedilatildeo de variados problemas da aacuterea da

Engenharia Para Herbster e Brito (2005 p 1)

[] a disciplina Caacutelculo Numeacuterico conforme classificaccedilatildeo do Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo e Cultura eacute disciplina da aacuterea baacutesica de formaccedilatildeo dos cursos de

Engenharia O objetivo geral dessa disciplina eacute introduzir os fundamentos de

Meacutetodos Numeacutericos e aplicar os conhecimentos de programaccedilatildeo jaacute adquiridos na

implementaccedilatildeo computacional dos meacutetodos

Na instituiccedilatildeo os conteuacutedos geralmente englobados na disciplina Caacutelculo

Numeacuterico aparecem ldquodiluiacutedosrdquo nas disciplinas BAC 000 (Introduccedilatildeo aos recursos numeacutericos e

computacionais) BAC 019 (Integraccedilatildeo Numeacuterica) e BAC 022 (Meacutetodos Numeacutericos)

37 As atividades do GEPMM e os sujeitos envolvidos

111

Disponiacutevel em

httpwwwportalacademicounifeiedubrindexphplink=cursosamppaineis=cab1Panel1|cab2Panel1|contPanel1|c

abPanel2|contPanel2|pePanel2ampcursocod=071amplocalcod=C02ampcursomod=NaNampsubsistema=gradampsubsistema

=grad (consulta realizada em 18022013 agraves 17h02) 112

Como foco desta pesquisa ndash as disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia ndash considero todos os

conteuacutedos que geralmente configuram as disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia no Brasil incluindo

assim todas as disciplinas BAC descritas acima exceto a disciplina BAC 020 (Matemaacutetica II) e ainda os

conteuacutedos que configuram a disciplina Caacutelculo Numeacuterico introduccedilatildeo aos meacutetodos numeacutericos e computacionais

Soluccedilatildeo numeacuterica de equaccedilotildees natildeo lineares Interpolaccedilatildeo e aproximaccedilotildees Derivaccedilatildeo e integraccedilatildeo numeacuterica

Meacutetodos numeacutericos de resoluccedilatildeo de sistemas de equaccedilotildees lineares Resoluccedilatildeo de equaccedilotildees diferenciais

ordinaacuterias por meacutetodos numeacutericos

112

Em uma das visitas agrave instituiccedilatildeo conheci uma aluna que cursava o terceiro

periacuteodo do curso de Engenharia da Mobilidade que chamarei de Mary113

Comeccedilamos a

conversar sobre as disciplinas de Caacutelculo que ela jaacute tinha cursado na instituiccedilatildeo Ela comeccedilou

a me dizer que tinha um professor de Caacutelculo cujas aulas ela gostava muito e que ela aprendia

muito participando das atividades que ele propunha Fez vaacuterias comparaccedilotildees em relaccedilatildeo agraves

metodologias utilizadas pelos professores da aacuterea de Matemaacutetica que jaacute tinham sido

professores dela na instituiccedilatildeo Fiquei interessada em conhecer esse professor e convidaacute-lo

para participar da constituiccedilatildeo do GEPMM Anotei o nome do professor no caderno de campo

e posteriormente o encontrei pessoalmente no campus da UNIFEI-Itabira no ITEC Esse

professor seraacute chamado em todo o texto que segue por Angel

No encontro que tive com Angel expliquei quais eram os objetivos da pesquisa

que eu estava desenvolvendo na instituiccedilatildeo quais eram os passos de construccedilatildeo de dados e

como seria a participaccedilatildeo dele nessa jornada caso aceitasse participar Mesmo deixando claro

para mim que ele estava muito atarefado com a docecircncia projetos de pesquisa extensatildeo e

com demandas administrativas ele concordou em participar ativamente da pesquisa Desde

entatildeo a construccedilatildeo de dados pocircde se iniciar ndash a formaccedilatildeo do GEPMM Angel e eu

comeccedilamos entatildeo a planejar os proacuteximos passos para a criaccedilatildeo do GEPMM

371 Angel

Angel eacute licenciado em Matemaacutetica e mestre em Engenharia Eleacutetrica Atua no

serviccedilo puacuteblico federal como docente desde 2011 Anteriormente atuou como professor em

uma instituiccedilatildeo particular de ensino superior localizada na cidade de Belo Horizonte-MG

Angel acredita114

que o papel das disciplinas de Caacutelculo num contexto de

formaccedilatildeo em Engenharias configura-se como uma base formadora no que diz respeito agraves

ferramentas que os alunos vatildeo adquirindo com o objetivo de as aplicarem nas disciplinas

113

Todos os nomes de alunos e professores seratildeo fictiacutecios Com isso objetivo preservar a identidade por

questotildees eacuteticas 114

Todas as descriccedilotildees das concepccedilotildees explicitadas pelo professor Angel satildeo baseadas nas entrevistas inicial e

final concedidas a mim por ele As entrevistas foram gravadas em aacuteudio e viacutedeo No texto que segue todos os

excertos das entrevistas transcritas e citadas foram retirados das entrevistas iniciais e finais realizadas com os

sujeitos que aceitaram o convite de participaccedilatildeo no GEPMM

113

teacutecnicas dos cursos Entatildeo para ele o Caacutelculo eacute considerado como uma base teoacuterica para o

desenvolvimento das disciplinas formadoras ldquode cidadatildeos altamente qualificados para o

exerciacutecio profissionalrdquo (ESTATUTO UNIFEI 2003 p 2) Ao ser questionado a respeito das

propostas metodoloacutegicas que tecircm sido desenvolvidas na UNIFEI-Itabira objetivando o

cumprimento dos papeis das disciplinas de Caacutelculo na formaccedilatildeo em Engenharia apontados

por ele mesmo nos conta

Aqui na instituiccedilatildeo basicamente aqui na UNIFEI campus Itabira pelo menos assim

no grupo nosso da Matemaacutetica porque noacutes somos digamos relativamente isolados

dos grupos das Engenharias entatildeo em termos de nossas reuniotildees e tudo mais a

gente define assim habilidades chaves ou seja em termos de conhecimentos

matemaacuteticos que ele deve ter diante das diversas ferramentas para poder vamos

dizer assim estar delimitando essa base formadora do aluno Agora assim em

termos institucionais a gente natildeo tem reuniotildees perioacutedicas ou algum tipo de

ferramenta ou algum tipo de consultoria externa para estar atuando junto da

instituiccedilatildeo para estar delimitando aiacute essa linha formadora do aluno Entatildeo aiacute a

gente se sente muito livre para estar aplicando esta ou aquela metodologia se der

certo bem se natildeo der tambeacutem ok Entatildeo assim em termos institucionais natildeo tem

nada assim digamos constituiacutedo ou em constituiccedilatildeo pra taacute melhorando isso natildeo

Tem assim que estaacute sendo muito ventilado eacute a questatildeo do PBL Poreacutem estaacute ainda

muito incipiente e agora estaacute mudando de reitor e a gente natildeo sabe o que vai

acontecer

Sobre as metodologias utilizadas por ele e os demais colegas docentes da aacuterea de

Caacutelculo ele nos conta

Ah basicamente assim pelo que eu converso com os outros colegas eacute o meacutetodo

tradicional mesmo livros passar no quadro exerciacutecios nada assim muito diferente

do cotidiano natildeo eu eacute que no semestre passado adotei assim digamos uma

metodologia diferente pra verificar [] assim qual seria a percepccedilatildeo do aluno

diante desse novo modelo entatildeo na primeira etapa do periacuteodo eu adotei o que seria

o procedimento padratildeo aula expositiva exerciacutecios trabalhos em equipe e depois

prova e jaacute na segunda etapa as aulas expositivas foram trocadas para aulas de tirar

duacutevidas entatildeo os alunos se reuniam para desenvolverem exerciacutecios em grupos jaacute

que as aulas jaacute tinham sido disponibilizadas em slides no portal acadecircmico entatildeo o

meu papel era apenas de estar lapidando essas duacutevidas que iriam aparecendo

diante das discussotildees dos grupos Assim para alguns alunos isso foi oacutetimo

principalmente aqueles que jaacute tecircm um bom desempenho nato e outros que jaacute satildeo

preguiccedilosos natildeo querem nada com a dureza encostaram nos outros colegas do

grupo e ficou assim aquele parasitismo durante a segunda etapa do periacuteodo [] aiacute

eu fiz uma avaliaccedilatildeo em dupla e o resultado foi realmente muito bom embora eu

natildeo possa mensurar o quatildeo desse conhecimento individual foi absorvido por cada

aluno

Durante a conversa que tive com a aluna Mary ela relatou sua adaptaccedilatildeo como

aluna da disciplina BAC 020 com a proposta metodoloacutegica descrita anteriormente pelo

professor Angel Ela enfatizou que natildeo gostava de assistir agraves aulas expositivas e que preferia

estudar os slides disponibilizados no portal pelo professor o que ela poderia fazer qualquer

114

dia qualquer horaacuterio e em qualquer lugar Para ela era bem mais produtivo dessa forma

embora alguns colegas dela natildeo tenham se adaptado tatildeo bem a essa proposta de ensino

Em seguida perguntei ao professor Angel se ele costumava abordar algum tipo de

aplicaccedilatildeo em suas aulas

Eu gosto muito dessa questatildeo praacutetica assim porque eu vejo o seguinte na minha

concepccedilatildeo vocecirc tem que ensinar pros alunos aquelas habilidades matemaacuteticas

mesmo a operacionalizar trabalhar com estruturas matemaacuteticas obter o resultado

e aleacutem disso eu sempre tento assim na medida do possiacutevel linkar aquele assunto

com algum conteuacutedo praacutetico Soacute que como a turma eacute vamos dizer assim muito

heterogecircnea em termos de vaacuterias engenharias natildeo tem como eu focar por exemplo

um problema especiacutefico de Engenharia Eleacutetrica ou um problema especiacutefico de

Engenharia Mecacircnica ou um problema especiacutefico da Computaccedilatildeo entatildeo agraves vezes eu

seleciono um problema que eacute direcionado agrave parte eleacutetrica igual por exemplo

Sistemas Lineares eu comecei com uma parte motivacional a partir de um problema

de circuito eleacutetrico Entatildeo eu dei laacute vaacuterias fontes de energia de um circuito todo

montado resistor e tudo mais entatildeo vocecirc usa aquelas leis da eleacutetrica cai em um

sistema linear e depois resolve [] pelo menos eu jaacute dei um horizonte para ele jaacute

vislumbrar ndash olha isso daqui eu realmente vou precisar laacute pra frente

Depois disso questionei-o sobre algum tipo de parceria entre grupos de

professores de aacutereas correlatas na instituiccedilatildeo Perguntei se por exemplo o grupo de

professores da aacuterea de Fiacutesica desenvolvia algum tipo de trabalho juntamente com os

professores da aacuterea da Matemaacutetica Ele respondeu

Eu pelo menos em termos de reuniatildeo nunca houve Eacute soacute mesmo os grupos da

matemaacutetica grupo da fiacutesica grupo da engenharia de materiais grupo da

engenharia de produccedilatildeo sempre aqueles grupos segregados [] eu acho que seria

fantaacutestico se houvesse essa integraccedilatildeo que muitas vezes um professor laacute de por

exemplo laacute do curso de Engenharia da Mobilidade de construccedilatildeo civil ele taacute laacute

fazendo experimentos e gerando resultados seraacute que ele natildeo poderia estar

utilizando os conhecimentos de um professor da aacuterea de matemaacutetica [aponta para

ele mesmo] para estar melhorando os experimentos com algo que ele ainda natildeo

saiba usar de matemaacutetica Seria interessante tambeacutem para os alunos poderem ver

essa interligaccedilatildeo soacute que haacute aquela questatildeo assim vamos dizer assim das vaidades

intriacutensecas da carreira de docente que realmente torna essa tarefa um pouco

complicada [risos]

Logo apoacutes esse momento questionei-o se aleacutem da vaidade quais seriam outros

motivos pelos quais essa interligaccedilatildeo entre as aacutereas natildeo acontecia na instituiccedilatildeo Ele responde

que a questatildeo da ldquoautonomia universitaacuteriardquo eacute adotada de forma ampla nas universidades

federais no Brasil ou seja os docentes geralmente trabalham de forma autocircnoma sem se

preocupar com o que o colega estaacute fazendo ou deixando de fazer Ele acredita que para que

mudanccedilas ocorram as ordens tecircm que ser dadas ldquode cima para baixordquo115

Poreacutem mesmo que

115

Nas palavras de Angel durante a entrevista inicial

115

mudanccedilas sejam impostas esbarrariam na questatildeo da ldquovaidaderdquo116

dos docentes na vontade

deles de dialogar trabalhar realmente em equipe Ele conta que anteriormente ao trabalho

como servidor puacuteblico trabalhou em uma instituiccedilatildeo de ensino superior da rede particular e

que laacute os professores tinham o dever de participar de reuniotildees e seminaacuterios para discutirem as

praacuteticas pedagoacutegicas Nesses seminaacuterios eles compartilhavam experiecircncias boas e ruins

faziam leituras discutiam e refletiam acerca das posturas de cada um Para Angel era muito

bom conhecer as praacuteticas pedagoacutegicas dos colegas Isso o fazia (re)pensar sua proacutepria praacutetica

e o ajudava a tomar atitudes futuras para melhoraacute-la Apoacutes esse relato perguntei se ele sentia

que essa obrigaccedilatildeo (de participar destas atividades semestrais) exercia algum tipo de

influecircncia na atitude dos professores durante o semestre Ele respondeu

Ah um pouco sim porque querendo ou natildeo emprego privado cecirc sabe como eacute que eacute

neacute Entatildeo assim digamos se vocecirc taacute no ritmo taacute tudo dando certo vocecirc se perpetua

naquela empresa caso contraacuterio vocecirc eacute excluiacutedo Entatildeo assim havia um

direcionamento pra taacute tendo justamente esses novos meacutetodos esses novos meios de

ensino em prol da instituiccedilatildeo porque senatildeo vocecirc era cortado da instituiccedilatildeo

Em seguida questionei o professor se na opiniatildeo dele esse tipo de ambiente de

discussatildeo estava faltando na UNIFEI Ele respondeu que sim natildeo soacute na UNIFEI mas em

muitas universidades federais citando vaacuterios exemplos de colegas que trabalham nessas

instituiccedilotildees e reafirmou que a questatildeo da autonomia dos professores acaba criando essa

cultura do individualismo entre os professores das universidades tornando esse problema uma

questatildeo delicada

Em suma com base na entrevista inicial concedida a mim o professor Angel

parece se preocupar em estabelecer relaccedilotildees entre as disciplinas lecionadas por ele nos cursos

de Engenharia da UNIFEI-Itabira e outras aacutereas do conhecimento estaacute sempre aberto para

responder as duacutevidas trazidas pelos alunos sente falta de um ambiente de discussatildeo a respeito

das questotildees pedagoacutegicas dos cursos de Engenharia percebe que questotildees individuais

relacionadas agrave subjetividade dos professores podem estar impedindo mudanccedilas que poderiam

melhorar a educaccedilatildeo em Engenharia fornecida pela UNIFEI-Itabira preocupa-se em motivar

os alunos apresentando questotildees que abordam problemas oriundos de aacutereas correlatas agraves

disciplinas natildeo matemaacuteticas dos cursos de Engenharia critica o predomiacutenio de aulas

expositivas e incentiva uma participaccedilatildeo mais ativa dos alunos demonstra perceber na

contemporaneidade que os recursos tecnoloacutegicos disponiacuteveis podem ser poderosos aliados

116

Nas palavras de Angel durante a entrevista inicial

116

nos processos de ensino-aprendizagem em cursos de Engenharia e por fim parece ser um

professor aberto ao diaacutelogo

Objetivando dar prosseguimento agrave apresentaccedilatildeo dos sujeitos partiacutecipes do

GEPMM retomarei o momento apoacutes a palestra117

ter sido proferida por mim na UNIFEI-

Itabira em outubro de 2012 ocasiatildeo em que o convite para participaccedilatildeo no grupo foi feito agrave

comunidade e tambeacutem a data do primeiro encontro do grupo foi marcada Ao teacutermino da

palestra uma professora denominada por mim de Clarice veio ateacute mim (ainda estava agrave frente

do auditoacuterio) informando que gostaria de participar do grupo Agradeci a disponibilidade e a

reencontrei no primeiro encontro

372 Clarice

Clarice eacute bacharel em Matemaacutetica e mestre em Matemaacutetica Aplicada Atua como

docente no serviccedilo puacuteblico federal desde 2009

Com base na entrevista inicial percebi que a professora Clarice acredita que as

disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia desempenham importante papel para uma

soacutelida formaccedilatildeo desse perfil profissional Contudo ao ser questionada afirma que sempre

escuta de seus colegas docentes das disciplinas teacutecnicas dos cursos de Engenharia que

Caacutelculo eacute importante que natildeo eacute para ela aprovar alunos sem o devido conhecimento que o

Caacutelculo eacute essencial e com isso ela acredita na importacircncia das disciplinas de Caacutelculo

realmente tomando-as como disciplinas baacutesicas no sentido estrito da palavra ndash base Afirma

ainda que nunca viu o trabalho do engenheiro para saber como eacute realmente a importacircncia do

Caacutelculo nesse trabalho Com base nas falas dos colegas professoresengenheiros ela afirma

que alunos que natildeo aprendem bem Caacutelculo ficam prejudicados em sua formaccedilatildeo como

engenheiros pois ela supotildee que o Caacutelculo eacute preacute-requisito118

de outras vaacuterias disciplinas na

grade curricular nas quais o Caacutelculo deve ser bastante uacutetil e indispensaacutevel para o

entendimento dos conteuacutedos dessas disciplinas (teacutecnicas)

117

Palestra intitulada por ldquoModelagem Matemaacutetica e Aprendizagem Baseada em Problemas convergecircncias

possiacuteveisrdquo A palestra foi proferida por mim em 25 de outubro de 2012 com o objetivo de suscitar o interesse de

alunos e professores em participarem do grupo sendo gravada em aacuteudio e viacutedeo 118

Natildeo haacute preacute-requisito formal de disciplinas na UNIFEI-Itabira A professora Clarice de certo estava referindo

a outras instituiccedilotildees brasileiras que em sua grande maioria estabelecem disciplinas de Caacutelculo como preacute-

requisito para outras disciplinas dos cursos de Engenharia Ou ainda ela estivesse se referindo a preacute-requisitos de

conteuacutedos natildeo de disciplinas

117

Clarice afirma que na instituiccedilatildeo as disciplinas de Caacutelculo natildeo tecircm sido

trabalhadas de forma a cumprir efetivamente seu papel dentro dos cursos de Engenharia

Depois de assistir agrave palestra ela afirma ter pensado sobre o assunto e que acredita que a

Modelagem Matemaacutetica pode ser uma possibilidade para o ensino em Engenharia Nas

palavras dela

Inclusive eu tava conversando com uns colegas outro dia que uma disciplina

interessante seria tipo um curso de Modelagem Matemaacutetica como uma disciplina

eletiva para aqueles interessados e assim por diante noacutes natildeo estamos exatamente

trabalhando o Caacutelculo com aplicaccedilotildees para os alunos as aplicaccedilotildees satildeo teoacutericas

mesmo coisas baacutesicas mesmo

Ela demonstrou incocircmodo em relaccedilatildeo agraves aulas mais teoacutericas afirmando que ateacute

onde ela tinha conhecimento as disciplinas de Caacutelculo nos cursos de Engenharia da Unifei-

Itabira eram baseadas apenas nas teorias que configuram os livros didaacuteticos de Caacutelculo Nas

palavras de Clarice

Como noacutes aqui muitos de noacutes eu natildeo posso falar por todos os professores eu natildeo

conheccedilo o meacutetodo de trabalho de todos eles mas ateacute o momento que eles

comentam comigo eles falam que a aula eacute mais teoacuterica mesmo eacute passar o que taacute

no livro ali e fica muita coisa sem passar porque a aula eacute muito pouca neacute Chega a

quase ser ruim porque o curso eacute incompleto entatildeo seria um curso de Modelagem

Seria para visar as aplicaccedilotildees mesmo colocar num periacuteodo onde os alunos jaacute

tenham visto as disciplinas baacutesicas e focar em aplicaccedilotildees apenas para ele ver ali

ter um contato mesmo com aplicaccedilotildees poderiacuteamos tratar de teoria como jaacute tem em

alguns livros de aplicaccedilotildees muito bons inclusive de Equaccedilotildees Diferenciais e

buscarmos tambeacutem problemas do dia a dia para colocar laacute entatildeo eu sei que tem

professores aqui que gostam dessa aacuterea mas no momento seria bom mas natildeo eacute real

ainda porque falta professor para colocar uma disciplina assim

Clarice me pareceu ser uma profissional aberta a mudanccedilas em busca de novas

possibilidades em prol da melhoria do desempenho de seu trabalho como professora e

dedicada as suas atribuiccedilotildees no cargo que ocupa na instituiccedilatildeo

373 Robson

Ainda no dia da palestra outro professor que seraacute denominado de Robson

manifestou-se interessado em participar do GEPMM Ele natildeo eacute professor de nenhuma

disciplina de Caacutelculo na UNIFEI-Itabira Ele eacute graduado e mestre em Engenharia Metaluacutergica

118

e doutor em Ensino de Ciecircncias e Matemaacuteticas Atua como docente na UNIFEI-Itabira desde

2010 O professor Robson aleacutem de ser graduado em Engenharia tambeacutem possui graduaccedilatildeo

em Licenciatura em Computaccedilatildeo e Odontologia Ele mesmo se define como uma pessoa de

formaccedilatildeo ecleacutetica e afirma sofrer um pouco com isso

Robson demonstrou acreditar que as disciplinas de Caacutelculo satildeo de crucial

importacircncia para a formaccedilatildeo dos engenheiros pois para ele o trabalho do engenheiro

consiste da aplicaccedilatildeo de conceitos matemaacuteticos fiacutesicos e quiacutemicos na resoluccedilatildeo de

problemas por exemplo de construccedilatildeo manutenccedilatildeo projeto e operaccedilatildeo sendo estes tiacutepicos

do trabalho da aacuterea de engenharia

Robson nos contou ainda que apoacutes a reforma universitaacuteria ocorrida no Brasil

em 1968 as disciplinas que compotildeem a grade curricular dos cursos de Engenharia foram

atribuiacutedas a departamentos Pontuou que com a departamentalizaccedilatildeo das universidades

esperava-se que os docentes que lecionassem disciplinas correlatas estivessem mais ldquopertordquo

para poderem trocar informaccedilotildees compartilhar conhecimentos e trabalharem coletivamente

Contudo em sua visatildeo os professores ficaram especializados ateacute demais nas aacutereas mas

apenas nelas Conta-nos ainda que antes de 1968 os docentes que lecionavam as disciplinas

de Caacutelculo em cursos de Engenharia eram engenheiros e apoacutes 1968 os docentes para

lecionarem qualquer disciplina de Matemaacutetica em qualquer curso de graduaccedilatildeo passaram a

ser formados em departamentos de Matemaacutetica

Natildeo soacute na instituiccedilatildeo mas o que a gente observa em vaacuterias instituiccedilotildees eacute que existe

um certo distanciamento entre os matemaacuteticos e os outros professores em geral dos

cursos de Engenharia salvo alguns trabalhos que a gente acompanha na tentativa

de se juntar essas aacutereas por meio de projetos transversais projetos

interdisciplinares multidisciplinares eacute alguma coisa que junte os profissionais

diferentes mas normalmente essas aacutereas estatildeo bem desconexas porque na

contrataccedilatildeo de professores normalmente vocecirc pega matemaacuteticos puros agora o

que taacute faltando muito satildeo professores que tenham assim conceitos de Educaccedilatildeo

Matemaacutetica [] os matemaacuteticos que noacutes temos aqui na instituiccedilatildeo eles estatildeo um

pouco distanciados em relaccedilatildeo aos engenheiros

Ainda que o convite para a participaccedilatildeo no grupo tenha sido amplamente feito na

instituiccedilatildeo poucos alunos o aceitaram No primeiro encontro apenas dois alunos

participaram a Taty e o Joseacute Taty aceitou o convite feito na paacutegina da UNIFEI na rede social

Facebook e Joseacute aceitou o convite feito em sala de aula pela professora Clarice jaacute que era

aluno dela naquele semestre Ambos se mudaram para Itabira para cursarem Engenharia na

UNIFEI Taty veio de uma cidade do interior de Satildeo Paulo e Joseacute veio de uma cidade do

interior de Minas Gerais

119

374 Taty

Taty cursava o sexto periacuteodo do curso de Engenharia da Computaccedilatildeo e estava

concluindo uma pesquisa na qual era bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Afirmou natildeo estar

gostando da aacuterea que estava atuando como pesquisadora e decidiu participar do grupo

Durante a entrevista inicial ao ser questionada sobre o papel das disciplinas de Caacutelculo em

cursos de engenharia Taty afirmou ser de ldquoextrema importacircnciardquo pois o que diferencia a

formaccedilatildeo em engenharia em sua concepccedilatildeo seria ldquojuntar todas as disciplinas do ciclo

baacutesico fiacutesica quiacutemica matemaacutetica com as disciplinas de formaccedilatildeo especiacuteficardquo Contudo

parece que tal junccedilatildeo natildeo ocorre de forma expliacutecita nos cursos da instituiccedilatildeo A proacutepria

estrutura curricular que separa os conteuacutedos em disciplinas parece contradizer ou mesmo natildeo

reforccedilar a concepccedilatildeo de formaccedilatildeo em engenharia apontada pela aluna

Em seguida questionei a aluna quais seriam especificamente os papeacuteis das

disciplinas de Caacutelculo no curso de Engenharia da Computaccedilatildeo Para ela

no curso de Computaccedilatildeo a matemaacutetica que a gente vecirc eacute uma parte bem loacutegica neacute

aleacutem da loacutegica o curso tem muitas mateacuterias da parte de eletrocircnica neacute eletrocircnica

digital analoacutegica e principalmente na digital a gente usa muito Aacutelgebra Booleana

e a aacutelgebra Booleana ela tem nos postulados eacute semelhante agrave Aacutelgebra Linear ateacute

certo ponto Na parte de computaccedilatildeo a gente vecirc mais a questatildeo da loacutegica e se vocecirc

for direcionar sua carreira vocecirc vai trabalhar com conceitos de BigData que

envolve necessariamente conhecimento mais avanccedilados de matemaacutetica ou

computaccedilatildeo graacutefica que envolve Aacutelgebra Linear

Naquele momento percebi que a aluna poderia natildeo ter entendido bem a pergunta

pois ela estava focando em conhecimentos matemaacuteticos ligados agrave Aacutelgebra e meu interesse

eram os conhecimentos do Caacutelculo Entatildeo refiz a pergunta e ela respondeu ldquoNossa Rutyele

que difiacutecil heinrdquo Apoacutes alguns instantes pensando Taty continua ldquoentatildeo Rutyele eu tocirc

achando complicado achar uma resposta pra vocecirc porque por exemplo eu sei que o pessoal

de Eleacutetrica usa em mil coisas mas natildeo eacute o meu caso entatildeo eu natildeo sei te dizer ainda saberdquo

Embora Taty tenha afirmado que os conteuacutedos de Caacutelculo sejam importantes para a formaccedilatildeo

em Engenharia ela natildeo sabe descrever qual seria o papel dessas disciplinas em seu curso Ela

continuou

120

O que eu vivencio eacute uma seacuterie de Caacutelculos dados em sequecircncia seguindo assim

uma certa [] buscando coerecircncia mesmo no desenvolvimento dos conceitos neacute

comeccedilando da parte mais simples limite derivada depois integraccedilatildeo depois

seacuteries neacute tem uma sequecircncia que a gente vai acompanhando e a partir de

determinado ponto que geralmente inicia no segundo periacuteodo com Fiacutesica I vocecirc jaacute

comeccedila a ter disciplinas que exige m esse conhecimento e vocecirc vai aplicaacute-lo caso

vocecirc tenha aprendido independentemente na disciplina isolada de Caacutelculo I

Caacutelculo II Caacutelculo III daiacute vocecirc vai comeccedilar a aplicar isso nas especiacuteficas neacute em

eletromagnetismo em mecacircnica dos soacutelidos mecacircnica dos fluidos

Com isso Taty pareceu demonstrar que em sua concepccedilatildeo as disciplinas de

Caacutelculo compotildeem uma base para o desenvolvimento de outras disciplinas que configuram as

grades curriculares dos cursos de Engenharia Ela pareceu ser uma aluna comprometida com

os estudos e estar preocupada em obter uma boa formaccedilatildeo para que possa ter um perfil como

engenheira diferenciado dos demais egressos dos cursos de Engenharia Aleacutem disso apesar

de naquele momento estar cursando o sexto periacuteodo do curso de Engenharia da Computaccedilatildeo

e ainda natildeo ter feito a disciplina BAC 022 (EDO) que faz parte do terceiro periacuteodo do

referido curso demonstrou natildeo ter tido grandes dificuldades no que diz respeito agrave aprovaccedilatildeo

nas disciplinas matemaacuteticas

375 Joseacute

O aluno Joseacute cursava o segundo semestre do curso de Engenharia Mecacircnica e era

aluno da disciplina BAC 019 sob a responsabilidade da professora Clarice O convite para a

participaccedilatildeo no grupo foi reforccedilado nas salas de aula de algumas disciplinas por alguns

professores como foi feito por Clarice nas turmas que lecionava

Joseacute demonstrou ser um aluno com atitude e postura reflexivas em relaccedilatildeo a sua

formaccedilatildeo profissional Natildeo demonstrou estar acostumado ainda com o ritmo de estudos da

Universidade e demonstrou sentir-se desconfortaacutevel ao perceber certo distanciamento entre os

alunos e os professores das disciplinas de Caacutelculo que ele jaacute havia cursado Ao ser

questionado sobre os papeacuteis das disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia apontou

para o desenvolvimento do raciociacutenio loacutegico da socializaccedilatildeo e do trabalho em equipe

O Caacutelculo desenvolve o raciociacutenio loacutegico mas tambeacutem pelo o que eu observo aqui

na faculdade ele tambeacutem eacute um meio de socializar De ajudar a pessoa tambeacutem a se

expressar melhor Pelo que eu vejo eu tenho dificuldade aiacute eu chego perto de uma

pessoa se a pessoa tambeacutem tem e tambeacutem qualquer coisa que vocecirc faz pode virar

uma coisa em conjunto neacute Entatildeo eu acho que o Caacutelculo tambeacutem desenvolve essa

121

parte para trabalhar em equipe de vocecirc entender a dificuldade do outro tambeacutem E

ele aplica em qualquer aacuterea que o engenheiro vaacute mexer desde dar aula ateacute na parte

de gerecircncia mesmo qualquer situaccedilatildeo o engenheiro vai ter que usar ou natildeo

depende da situaccedilatildeo mas ele vai precisar saber aplicar tudo que ele aprendeu no

Caacutelculo

Joseacute demonstrou ainda insatisfaccedilatildeo com relaccedilatildeo agraves metodologias utilizadas pelos

professores com os quais ele teve contato na instituiccedilatildeo

O Caacutelculo aqui que a gente vecirc eacute soacute a parte teoacuterica mesmo A gente por exemplo

quando vai fazer algumas questotildees resolver qualquer exerciacutecio a gente natildeo vecirc por

exemplo ah eu tenho um cilindro tal e eu quero o maacuteximo volume possiacutevel a gente

natildeo vecirc a gente natildeo consegue fazer a otimizaccedilatildeo tambeacutem [] a gente fez aquele

trabalho de Caacutelculo [se referindo a um trabalho de Aplicaccedilatildeo proposto pela

professora Clarice] e muita gente teve dificuldade porque natildeo sabia o que fazer

Natildeo tem como tipo eu pego o volume e aiacute o quecirc que eu faccedilo Vou fazer a derivada

o quecirc que eu vou fazer Sabe a pessoa fica sem visatildeo ela natildeo consegue ela natildeo

sabe [] eacute como se vocecirc tivesse uma viseira [gesticula com as duas matildeos proacuteximas

ao rosto] soacute vendo a parte teoacuterica a gente natildeo vecirc a aplicabilidade [] No maacuteximo

que a gente consegue ver alguma aplicabilidade eacute aplicaccedilatildeo direta em outras

disciplinas como a Fiacutesica Alguns alunos estatildeo vendo Estatiacutestica mas fora isso a

gente natildeo consegue pegar uma situaccedilatildeo ldquocruardquo e aplicar o Caacutelculo Num problema

cotidiano por exemplo ah eu vou construir um suporte pra colocar minhas caixas

o quecirc que eu posso fazer Qual que eacute o tamanho ideal Sabe a gente pode usar

Caacutelculo pra fazer isso mas agraves vezes a gente natildeo consegue fazer

Percebo assim que Joseacute teceu uma reclamaccedilatildeo sobre a falta de metodologias que

objetivem ir aleacutem da parte teoacuterica e assim alcanccedilar as aplicaccedilotildees Ele demonstrou perceber

as utilidades dos conteuacutedos do Caacutelculo para a formaccedilatildeo do engenheiro Afirma ainda ter

dificuldades em entender natildeo somente os conceitos mas tambeacutem a resoluccedilatildeo de algum

exerciacutecio que seja considerado aplicaccedilatildeo dos conceitos

376 Pedro

Pedro comeccedilou a participar do grupo a partir da terceira reuniatildeo do grupo Ele

aceitou participar do grupo mediante convite do aluno Joseacute Os dois eram alunos do segundo

periacuteodo do curso de Engenharia Mecacircnica e cursavam a disciplina BAC 019 sob a

responsabilidade da professora Clarice Ele demonstrou ser um aluno bem criacutetico e engajado

em sua formaccedilatildeo profissional embora tambeacutem demonstrasse sentir dificuldades de adequaccedilatildeo

em relaccedilatildeo agraves metodologias utilizadas pelos professores de Caacutelculo Quando questionado

durante a entrevista inicial sobre os papeacuteis das disciplinas de Caacutelculo em cursos de

122

Engenharia ele disse que basicamente desenvolve o raciociacutenio loacutegico ldquovocecirc aprende a

interpretar informaccedilotildees de uma maneira mais clarardquo aleacutem de ser um embasamento teoacuterico

para a formaccedilatildeo do engenheiro O aluno demonstrou acreditar que no trabalho desenvolvido

na aacuterea da Engenharia ldquoCaacutelculo torna-se fundamental natildeo soacute Caacutelculo mas como qualquer

outra disciplina relacionada agrave matemaacuteticardquo

Sobre as metodologias que tecircm sido utilizadas pelos professores de Caacutelculo que

possibilitam a apropriaccedilatildeo dos papeacuteis que tais disciplinas desempenham em cursos de

Engenharia Pedro demonstra insatisfaccedilatildeo quanto ao distanciamento entre os professores de

Caacutelculo e as dificuldades dos alunos Ele pensa que o grupo de professores da Matemaacutetica

precisa refletir sobre uma nova didaacutetica para possibilitar aprendizagem de alunos reais da

UNIFEI e natildeo de alunos idealizados por eles

Querendo ou natildeo alguns alunos chegam despreparados na Universidade isso eacute

fato natildeo adianta natildeo eacute agrave toa que tem o Caacutelculo Zero [refere-se agrave disciplina BAC

000] e muitas pessoas agraves vezes tem dificuldades de matemaacutetica baacutesica entatildeo eacute uma

realidade O ideal seria vocecirc ter alunos completamente capacitados e interessados

Soacute que se vocecirc tem uma Universidade que vocecirc ainda tem que edificar ela uma

Universidade nova que aleacutem de infraestrutura vocecirc precisa ainda criar matildeo de

obra por assim dizer vocecirc precisa de alunos capacitados que depois vatildeo levar o

nome da Universidade pra fora natildeo adianta vocecirc trabalhar com o ideal vocecirc tem

que ser real noacutes temos tais alunos noacutes temos que adaptar nossa didaacutetica para tais

alunos Depois se a Universidade se estruturar vatildeo vir alunos mais bem preparados

ou entatildeo a proacutepria infraestrutura o proacuteprio ambiente universitaacuterio vai forccedilar os

alunos a levarem mais a seacuterio Mas o momento que a Universidade vive precisa de

uma adaptaccedilatildeo da didaacutetica por parte dos professores para o que acontece na

realidade e natildeo para o que aconteceria se fosse a situaccedilatildeo ideal

O discurso do aluno estaacute embebido de questotildees que satildeo apontadas frequentemente

por professores de Caacutelculo em cursos de Engenharia A questatildeo da falta de preparo dos alunos

ingressantes em cursos de Engenharia com relaccedilatildeo agrave Matemaacutetica Baacutesica eacute recorrente em

congressos da aacuterea de Educaccedilatildeo em Engenharia119

Nesse momento consigo encontrar entatildeo subsiacutedios para responder agrave seguinte

pergunta ldquoQuem satildeo e onde estatildeo os sujeitos da aprendizagemrdquo Satildeo docentes e discentes

que realizam suas atividades na UNIFEI-Itabira Docentes da aacuterea de Matemaacutetica e

Engenharia Os discentes que atuaram como sujeitos dessa pesquisa satildeo pessoas jovens todos

com menos de 20 anos de idade que se engajam na atividade orientada pela aquisiccedilatildeo de

formaccedilatildeo profissional em niacutevel de graduaccedilatildeo em Engenharia

119

A esse respeito veja os anais do Congresso Brasileiro de Educaccedilatildeo em Engenharia (COBENGE) disponiacuteveis

no site wwwabengeorgbr

123

Foi nesse contexto universitaacuterio que se destina exclusivamente agrave formaccedilatildeo de

engenheiros contando com a disponibilidade dos sujeitos apontados acima que construiacute os

dados para a referida pesquisa

124

4 OS DADOS CONSTRUIacuteDOS E ANALISADOS A CONSTITUICcedilAtildeO DO GEPMM

COMO CICLO DE ACcedilOtildeES POTENCIALMENTE EXPANSIVAS

Engestroumlm (2002 p 183) aponta que quando o texto escolar (os textos dos livros

didaacuteticos) eacute representado como o objeto da atividade em vez de serem apenas instrumentos

que ajudam no entendimento do mundo haacute um empobrecimento nos recursos instrumentais

aleacutem de impactar os sujeitos da aprendizagem ndash os estudantes ndash que satildeo deixados com seus

proacuteprios dispositivos que para o autor inclui as habilidades de estudo laacutepis borracha papel

Esse tipo de abordagem tradicionalmente desenvolvida nas aulas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia (CAMPOS 2012 BIEMBENGUT HEIN 2007 FRANCHI 2002) acaba por

privilegiar um tipo de raciociacutenio que Resnick (1987) chama de ldquoraciociacutenio do siacutembolo-

destacado-do-referenterdquo (p 18 apud ENGESTROumlM 2002 p 183) Tal raciociacutenio eacute

notadamente valorizado nos meacutetodos tradicionais para a formaccedilatildeo em Caacutelculo A comeccedilar

pelas avaliaccedilotildees que satildeo realizadas majoritariamente por provas escritas individuais e sem

consulta salvo algumas poucas exceccedilotildees No ensino tradicional de Caacutelculo em cursos de

Engenharia a principal atividade eacute orientada pelo Caacutelculo como conteuacutedo conhecimento

historicamente acumulado impresso nos livros didaacuteticos em suas mais variadas abordagens

guiados como objetos da atividade

A atividade tradicional de formaccedilatildeo em Caacutelculo sendo considerada como uma

praacutetica social com base em Engestroumlm (2008) pode ser representada por meio do seguinte

esquema triangular

125

FIGURA 8 ndash Interconectados sistemas de atividade de professores e estudantes que tem como objeto a

apresentaccedilatildeo dos conteuacutedos do livro de Caacutelculo

Fonte Elaborado pela autora

Nesse tipo de contexto formativo o seguinte questionamento se faz extremamente

pertinente por que e para que um aluno estuda Caacutelculo Natildeo pretendo no escopo desta tese

responder explicitamente a essa questatildeo apenas pretendo sinalizar uma reflexatildeo que se faz

necessaacuteria para analisar os motivos pelos quais os sujeitos estiveram engajados no GEPMM

Charlot (2013) pontua que na ida agrave escola os alunos aparentemente estatildeo

engajados em uma atividade formativa mas que frequentemente agem por um motivo natildeo

relacionado com o proacuteprio saber Para o autor no caso real encontram-se muitos alunos que

estudam para tirar uma boa nota passar nas disciplinas conseguir um diploma e

consequentemente receber um salaacuterio que o torne uma pessoa de sucesso Jaacute no caso ideal o

aluno idealizado pelas instituiccedilotildees e sobretudo pelos professores seria aquele que estudaria

porque se interessaria pelo conteuacutedo estudado

Na loacutegica que estaacute se tornando dominante estuda-se (quando se estuda) para ter

boas notas passar de ano ser aprovado no vestibular ter um bom emprego motivo

e objetivo discordam Portanto natildeo existe mais atividade Sendo assim qual eacute a

significaccedilatildeo do que o aluno faz na escola Leontiev responderia que se trata de

accedilotildees Podemos dizer tambeacutem que eacute um trabalho um trabalho alienado

(CHARLOT 2013 p 154)

A estrutura da atividade de formaccedilatildeo tradicional pode ser considerada segundo

Engestroumlm (2008) como alienante tanto para alunos quanto para professores Tomando por

126

base tal reflexatildeo poderiacuteamos nos questionar estariam mesmo realizando um trabalho

alienado Caso afirmativo qual seria o niacutevel de alienaccedilatildeo do trabalho que os alunos e

professores desenvolvem em disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia Acredito que a

compreensatildeo de tais questionamentos se faz necessaacuteria para analisar as aprendizagens

expansivas possibilitadas pela constituiccedilatildeo do GEPMM no referido contexto de formaccedilatildeo em

Engenharias

41 Constituiccedilatildeo do GEPMM possibilidades para aprendizagens expansivas

Como jaacute esclarecido na Introduccedilatildeo desta tese esta pesquisa se originou de

inquietaccedilotildees relacionadas ao trabalho que venho desenvolvendo ao longo de vaacuterios anos

como docente em cursos de Engenharia Durante todo esse percurso tenho me deparado com

vaacuterios aspectos que julgo contraditoacuterios com relaccedilatildeo aos processos de ensino-aprendizagem

das disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia A proposta da pesquisa aqui relatada

constitui dessa forma uma expressatildeo do eu ndash sujeito ndash em face da realidade adotando certo

posicionamento frente agrave realidade das praacuteticas sociais que tenho participado na situaccedilatildeo de

docente de disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia mostrando certa atitude diante de

uma situaccedilatildeo real presente

Nesse sentido inicio a anaacutelise usando a Teoria da Atividade como suporte teoacuterico

com a intenccedilatildeo de verificar se a criaccedilatildeo do referido grupo pode se configurar como um

miniciclo de accedilotildees de aprendizagem expansiva (ENGESTROumlM SANNINO 2010b)

Com isso posso dizer que comeccedilo o esboccedilo das ideias desta pesquisa

interrogando os processos de ensino-aprendizagem que passei a participar desde que me

inseri neste trabalho Aleacutem de mim percebi durante a construccedilatildeo dos dados desta pesquisa

que outros indiviacuteduos partiacutecipes do mesmo contexto (alunos e professores dos cursos de

Engenharia) tambeacutem comungam as mesmas ou algumas das inquietaccedilotildees A seguir apresento

algumas dessas inquietaccedilotildees que estiveram abrigadas na primeira etapa de accedilotildees em

miniciclo de aprendizagem expansiva o interrogatoacuterio

411 Interrogatoacuterio

127

Engestroumlm e Sannino (2010b) explicitam que uma sequecircncia ldquoidealrdquo de accedilotildees

epistecircmicas em um ciclo expansivo se inicia com o interrogatoacuterio que consiste no

questionamento na criacutetica ou na rejeiccedilatildeo de alguns aspectos de uma praacutetica socialmente

aceita ou uma sabedoria existente em uma comunidade Nessa primeira parte da sequecircncia de

accedilotildees que satildeo necessaacuterias para analisar esse processo com o aporte teoacuterico da aprendizagem

expansiva aponto algumas facetas da praacutetica tradicional de ensino-aprendizagem de Caacutelculo

que foram incluiacutedas sob a forma de questionamentos eou interrogaccedilotildees pelos sujeitos que

participam dela ndash alunos e professores dos cursos de Engenharia Natildeo estou dizendo que todos

os integrantes do GEPMM as questionam e interrogam ao mesmo tempo e nem que tais

questionamentos ocorreram durante o planejamento e o desenvolvimento das atividades do

grupo

Vale ressaltar que o objeto de uma atividade possui inerentemente uma natureza

dual eacute ao mesmo tempo ldquoalgo dado e algo projetado ou antecipadordquo120

(ENGESTROumlM

2008 p 88) O objeto de uma atividade eacute tambeacutem seu verdadeiro motivo (ENGESTROumlM

1987) Processos de mudanccedila objetivam necessariamente a construccedilatildeo de um novo objeto e

consequentemente correspondentes novos motivos a serem cultivados

Durante a entrevista inicial alguns motivos que levaram os sujeitos a aceitarem o

convite para participaccedilatildeo no GEPMM foram explicitados Tais motivos podem demonstrar ou

explicitar questionamentos que tecircm origem em questotildees que compotildeem as praacuteticas tradicionais

de ensino de Caacutelculo em cursos de Engenharia Com base em excertos das transcriccedilotildees das

gravaccedilotildees das entrevistas iniciais realizadas com os sujeitos podemos notar que

Para o docente Angel o grupo ldquopropicia uma questatildeo de um diaacutelogo entre os

colegas de mesma aacuterea e talvez estar criando em ambiente de discussatildeo das praacuteticas de

ensino e tentar melhorar ou evoluir essa questatildeo do ensino tradicional que eacute muito aplicado

e difundido nas Universidades Federaisrdquo Afirma ainda que acredita que ao participarem do

GEPMM os alunos sairiam com uma visatildeo mais ampliada da conexatildeo que existe entre as

disciplinas baacutesicas e as aplicadas para que possam vislumbrar problemas da realidade

A docente Clarice afirmou que o interesse em participar do grupo estaria

motivado pela possibilidade de ver a Matemaacutetica em accedilatildeo ndash sendo utilizada Nesse sentido

ldquoabrir novos caminhosrdquo de atuaccedilatildeo ter novos conhecimentos novas possibilidades ldquonatildeo

120

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquosomething given and something projected or anticipatedrdquo

128

ficar sempre no baacutesicordquo e ldquomelhorar como professorardquo seriam os principais motivos para ter

aceitado o convite de participaccedilatildeo no GEPMM segundo Clarice

O docente Robson demonstrou a meu ver que estaria insatisfeito com os modos

ldquodesconexosrdquo de ensino de Caacutelculo nos cursos de Engenharia da instituiccedilatildeo que os

professores de Caacutelculo natildeo abordam questotildees de aplicaccedilotildees reais em suas disciplinas e que

quando tentam abordar consideram questotildees e exemplos de livros didaacuteticos Tais exemplos

para ele satildeo ldquodesconexos da realidade porque o proacuteprio matemaacutetico natildeo vivenciou aquilo e

natildeo tem certeza se eacute daquele jeito natildeo conhece bem as variaacuteveis envolvidas entatildeo

normalmente as pessoas que ensinam matemaacutetica acabam caindo nos problemas

tradicionaisrdquo O docente afirmou que disseminar esse tipo de praacutetica ndash a da Modelagem

Matemaacutetica ndash seria um dos motivos para ter aceitado o convite e ter participado do GEPMM

Contudo natildeo explicitou os outros

Sendo assim os docentes demonstraram que ao aceitarem o convite para

participarem do grupo seguem orientados pela incorporaccedilatildeo de conhecimentos de

Matemaacutetica em accedilatildeo ndash em conexatildeo com as mais diversas aacutereas do conhecimento ndash que

desejam melhorar ou evoluir como docentes no sentido de abrir novas possibilidades e formas

de atuaccedilatildeo e almejam a disseminaccedilatildeo das praacuteticas de Modelagem Matemaacutetica em outros

contextos outras instituiccedilotildees e sob outras perspectivas

Tomando-se por base que os professores desejam melhorar ou evoluir o trabalho

que se dispotildeem a desenvolver como proponentes e participantes de praacuteticas de ensino-

-aprendizagem de disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia decidi tentar pontuar quais

seriam tais melhorias ou seja se haacute algo que possa ser melhorado ou evoluiacutedo significa que

haacute algo que precisa ser transformado modificado e nisso residem as possibilidades para

aprendizagens expansivas Mas o quecirc poderia ou precisaria ser transformado Com base na

revisatildeo de literatura sobre os processos de ensino-aprendizagem de Caacutelculo em cursos de

Engenharia apresentada no Capiacutetulo 2 exponho a seguir quatro questionamentos que podem

ser considerados como essecircncia no que diz respeito agraves transformaccedilotildees em tais processos

a) como adequar as metodologias utilizadas em disciplinas de Caacutelculo em cursos

de Engenharia em consonacircncia com os objetivos gerais para a formaccedilatildeo dos

engenheiros

b) Como fazer com que os estudantes participem ativamente dos proacuteprios

processos formativos de aprendizagem no que tange as disciplinas de Caacutelculo em

cursos de Engenharia

129

c) Como romper com a encapsulaccedilatildeo das disciplinas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia

d) Como melhorar a interaccedilatildeo entre os sujeitos da aprendizagem em disciplinas

de Caacutelculo em cursos de Engenharia

Essas quatro questotildees foram elaboradas por mim com o intuito de analisar as

possibilidades de aprendizagens expansivas que podem ser desenvolvidas em atividades

desenvolvidas pelo GEPMM constituiacutedo na UNIFEI com o objetivo inicial de construccedilatildeo de

dados empiacutericos para esta pesquisa Esses questionamentos e criacuteticas foram compartilhados

entre os integrantes do referido grupo no decorrer dos encontros e durante as entrevistas

Depois disso passamos para a segunda etapa das accedilotildees de aprendizagem que consiste na

anaacutelise da situaccedilatildeo atual a fim de descobrir as causas ou explicaccedilotildees sobre o que foi

questionado

412 Anaacutelise da situaccedilatildeo

Engestroumlm e Sannino (2010b) explicitam que uma segunda accedilatildeo que compotildee uma

sequecircncia tipicamente ldquoidealrdquo em um ciclo expansivo consiste na anaacutelise da situaccedilatildeo atual

Para os autores analisar envolve transformaccedilotildees mentais discursivas ou ateacute mesmo praacuteticas

da situaccedilatildeo atual com o intuito de descobrir mecanismos de causa eou explicaccedilatildeo

Considero como o iniacutecio dessa fase o momento em que comecei a procurar por

outras metodologias que poderiam ser utilizadas no desenvolvimento das disciplinas de

Caacutelculo em cursos de Engenharia bem antes de iniciar esta pesquisa Fiz diversas leituras na

aacuterea de Educaccedilatildeo Matemaacutetica na tentativa de elaborar ainda que apenas em termos de

projetos futuros outras possibilidades que pudessem tornar meu trabalho como docente de

disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia menos contraditoacuterio sob minha proacutepria

concepccedilatildeo Apoacutes iniciar a fase da construccedilatildeo dos dados desta pesquisa pude perceber in loco

mediante observaccedilotildees e entrevistas que os questionamentos e criacuteticas podem ser explicados

eou causados pela construccedilatildeo histoacuterico-cultural das praacuteticas de ensino-aprendizagem de

Caacutelculo em cursos de Engenharia

Por um lado as praacuteticas de ensino-aprendizagem de Caacutelculo realizadas na

instituiccedilatildeo satildeo basicamente amparadas pelo meacutetodo tradicional de ensino conforme exposto

130

no Capiacutetulo anterior Por outro lado haacute uma perceptiacutevel distacircncia entre as metodologias

utilizadas em tais praacuteticas na instituiccedilatildeo e os papeacuteis que as disciplinas de Caacutelculo deveriam

exercer na formaccedilatildeo em Engenharia sob a concepccedilatildeo dos professores e estudantes que

participaram da construccedilatildeo dos dados para essa investigaccedilatildeo

Conforme visto no capiacutetulo anterior durante as entrevistas iniciais os sujeitos

apontaram que as disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia deveriam exercer papel de

ferramentas que serviriam como base para o desenvolvimento da formaccedilatildeo do engenheiro ou

seja um Caacutelculo que deveria ser por definiccedilatildeo desenvolvido em praacuteticas de ensino-

-aprendizagem como conteuacutedo em accedilatildeo como instrumento da atividade formativa e natildeo

apenas como parte do objeto conforme visto no iniacutecio deste capiacutetulo

Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas iniciais os docentes Angel Clarice e Robson

atentaram para a necessidade de diaacutelogo entre os docentes que lecionam disciplinas de

Caacutelculo e os demais docentes dos cursos de Engenharia assim como a necessidade de

conexatildeo entre os conteuacutedos de Caacutelculo e os demais conteuacutedos das disciplinas teacutecnicas dos

referidos cursos Para eles o distanciamento causado pela departamentalizaccedilatildeo pode

configurar como ponto-chave para tais questionamentos

Ainda no que diz respeito agraves entrevistas iniciais os alunos principalmente Joseacute e

Pedro apontam para a necessidade de adaptaccedilatildeo da didaacutetica dos professores para dar conta

dos alunos reais que ingressam na instituiccedilatildeo Para eles haacute um niacutetido distanciamento entre os

professores e os alunos durante o desenvolvimento das praacuteticas formativas de Caacutelculo em

cursos de Engenharia Tal distanciamento seraacute mais bem analisado mais adiante ainda neste

capiacutetulo

Por uacuteltimo uma criacutetica que se faz emergente no que diz respeito agraves praacuteticas

tradicionais de ensino-aprendizagem de Caacutelculo em cursos de Engenharia concentra-se na

formaccedilatildeo em termos de habilidades individuais As tradicionais praacuteticas que se destinam a

desenvolver a formaccedilatildeo em Caacutelculo nos cursos de Engenharia acabam por privilegiar o

desenvolvimento de habilidades e competecircncias individuais que estatildeo na maioria das vezes

ancoradas nos conteuacutedos de Caacutelculo de forma ldquopurardquo ndash o Caacutelculo pelo Caacutelculo ou seja ser

competente em Caacutelculo pode ser resumido em conseguir traccedilar graacuteficos resolver derivadas e

integrais por exemplo natildeo significando que tais competecircncias e habilidades sejam

trabalhadas sob a concepccedilatildeo de um Caacutelculo como ferramenta para o

entendimentodesenvolvimentosoluccedilatildeo de problemas reais ndash o Caacutelculo em accedilatildeo

Como visto nos Capiacutetulos 1 e 2 desta tese para o desenvolvimento de habilidades

e competecircncias de Caacutelculo em accedilatildeo por se tratar de uma formaccedilatildeo cujo objeto pode ser

131

entendido como questotildees-problema reais nas quais os conteuacutedos de Caacutelculo se configuram

como ferramentas da atividade faz-se necessaacuterio o desenvolvimento de ampliaccedilatildeo das

possibilidades de interaccedilatildeo entre os sujeitos devido a sua proacutepria natureza O trabalho

coletivo passa a predominar em relaccedilatildeo ao trabalho individual Natildeo basta apenas saber

resolver uma integral eacute preciso saber quando e onde usar uma integral para que uma questatildeo-

problema real possa ser entendidasolucionada A aluna Taty durante a entrevista inicial

aponta que em trabalhos em grupo mais praacuteticos ldquovocecirc acaba aprendendo muito maisrdquo

ldquoacho que esse eacute o trabalho do engenheirordquo

Com isso a situaccedilatildeo das praacuteticas formativas de Caacutelculo em cursos de Engenharia

comeccedila a parecer sob a forma de dilemas que na verdade abrigam contradiccedilotildees

historicamente acumuladas em tais sistemas de atividade Os dilemas nos ajudam a delimitar

possibilidades para transformaccedilotildees expansivas que podem tambeacutem ser entendidas ou

analisadas como movimento na zona de desenvolvimento proximal da atividade Nesse

sentido algumas facetas121

podem ser explicitadas da seguinte forma

a) metodologias utilizadas nas disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia

VERSUS o papel das disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia

b) disciplinas de Caacutelculo focadas em processos de formaccedilatildeo em termos de

aprendizagens individuais VERSUS demandas externas clamam pelo trabalho em

equipe ndash aprendizagens coletivas

c) docentes de Caacutelculo em redes fechadas (somente matemaacuteticos) VERSUS

parcerias com docentes de variadas aacutereas de atuaccedilatildeo em cursos de Engenharia

d) atividade docente desvinculada da atividade discente VERSUS parceria

docente-discente formando uma rede de aprendizagem

Apoacutes essas facetas terem sido explicitadas passamos para a terceira etapa das

accedilotildees de aprendizagem que consiste no modelamento de um novo horizonte de praacutetica cujas

possibilidades de implementaccedilatildeo precisam necessariamente extrapolar as fronteiras do

pensar e agir individual e passar para um patamar de construccedilatildeo coletiva rumo a

transformaccedilotildees qualitativas da praacutetica atual

121

Na teoria da aprendizagem expansiva double bind pode significar dilema ou ldquoface de dois gumesrdquo ou ainda

ldquoduas faces da moedardquo Decidi usar facetas

132

413 Modelamento122

Segundo Engestroumlm e Sannino (2010b) apoacutes a situaccedilatildeo (ou fenocircmeno ou praacutetica

social) ser questionada e analisada pelos sujeitos faz-se necessaacuterio que tal anaacutelise decirc origem a

uma nova forma de praacutetica uma nova atividade Para que isso se concretize eacute necessaacuterio que

os sujeitos consigam construir moldar e transformar um novo objeto por meio de accedilotildees que

objetivem tal modelamento

Antes mesmo de iniciar o processo de construccedilatildeo dos dados para a presente

investigaccedilatildeo a Modelagem Matemaacutetica conforme a concebo pareceu estar alinhada aos

objetivos de formaccedilatildeo de Caacutelculo em cursos de Engenharia Todas as leituras que fiz me

conduziram ao entendimento de que a Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia

poderia constituir um novo horizonte de praacutetica para os sujeitos partiacutecipes dos processos de

ensino-aprendizagem de disciplinas de Caacutelculo nesses cursos profissionalizantes123

Segundo Engestroumlm e Sannino (2010b) a aprendizagem expansiva se concentra

em processos nos quais os sujeitos satildeo transformados de indiviacuteduos isolados em coletivos e

redes Nesse sentido quando a construccedilatildeo dos dados empiacutericos para esta pesquisa se iniciou

na verdade o objetivo era que tal rede fosse tecida

A Modelagem Matemaacutetica sendo considerada como uma praacutetica formativa

inovadora em relaccedilatildeo agraves praacuteticas tradicionais de ensino-aprendizagem de Caacutelculo em cursos

de Engenharia pode ser tomada pelos participantes como um modelo que busca possibilitar

soluccedilotildees para os dilemas expostos anteriormente Acreditando nisso embarquei em uma

jornada rumo agraves possibilidades de movimento na zona de desenvolvimento proximal da

atividade formativa de Caacutelculo em cursos de Engenharia No campo cheguei soacute mas natildeo

permaneci soacute a rede comeccedilou a ser tecida E foi o grupo se constituiu

Sendo assim a constituiccedilatildeo do GEPMM podendo ser considerada como accedilatildeo de

modelamento que segundo Engestroumlm e Sannino (2010b) objetiva a construccedilatildeo de um novo

horizonte de praacutetica visando agrave minimizaccedilatildeo dos dilemas potencialmente incorporados nas

formas de atividade vigentes poderia possibilitar

122

Aqui Modelamento eacute considerado como a terceira fase das estrateacutegicas accedilotildees do ciclo de aprendizagem

expansiva elaborado por Engestroumlm (1987) conforme explicitado no Capiacutetulo 1 deste texto 123

A formaccedilatildeo em Engenharia pode tambeacutem ser entendida como profissionalizante pois objetiva a formaccedilatildeo do

profissional de Engenharia ndash o engenheiro

133

a) a construccedilatildeo de espaccedilos formativos nos quais o objeto da atividade seria

constituiacutedo por questotildees-problema natildeo matemaacuteticas e estudantes engajados em

sua proacutepria formaccedilatildeo (o que poderia se aproximar dos objetivos gerais que

perpassam a formaccedilatildeo dos engenheiros)

b) engajamento coletivo dos estudantes na resoluccedilatildeo de problemas natildeo

matemaacuteticos (o que pode estar mais proacuteximo das demandas externas que

proclamam o trabalho em equipe ndash aprendizagens coletivas)

c) possibilidades de parcerias (interdisciplinares) com docentes de variadas

aacutereas de atuaccedilatildeo em cursos de Engenharia (o que poderia promover o

rompimento da encapsulaccedilatildeo das disciplinas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia)

d) atividade de aprendizagem mediante parceria docente-discente formando uma

rede de aprendizagem (o que poderia ampliar quantitativamente e

qualitativamente as interaccedilotildees docente-discentes)

Vale ressaltar que a construccedilatildeo do GEPMM ao ser tomado como um modelo em

um ciclo de accedilotildees potencialmente expansivas acaba por se configurar como um elo entre as

disciplinas de Caacutelculo e as demais disciplinas que constituem a formaccedilatildeo do engenheiro na

instituiccedilatildeo estudada o que poderia minimizar o ponto de conflito cognitivo apontado por

Camarena (2009) Tal ponto de conflito pode ser entendido como uma tensatildeo que os

engenheiros vivenciam quando precisam integrar duas ou mais aacutereas do conhecimento tais

como o Caacutelculo e outras aacutereas teacutecnicas da Engenharia a fim de matematizar um problema a

ser resolvido Tal minimizaccedilatildeo pode ser relacionada com o rompimento da encapsulaccedilatildeo das

disciplinas de Caacutelculo em cursos de Engenharia

414 Examinando o novo modelo

Segundo Engestroumlm e Sannino (2010b) a quarta accedilatildeo constituinte de uma

sequecircncia ldquoidealrdquo em um ciclo expansivo seria caracterizada pelo exame do modelo Essa

etapa consistiria em pocircr em praacutetica o modelo executaacute-lo ou operaacute-lo a fim de compreender

sua dinacircmica potencial e limitaccedilotildees Para isso se fez necessaacuteria a criaccedilatildeo de uma rede de

aprendizagem composta por alunos e professores que aceitaram o convite para participaccedilatildeo

134

no GEPMM A parceria estabelecida mediante a criaccedilatildeo de tal rede possibilita a ampliaccedilatildeo do

movimento de informaccedilotildees entre os docentes que atuam em diversas aacutereas por meio da

potencializaccedilatildeo da busca e consequentemente encontro de informaccedilotildees e ferramentas

necessaacuterias para o entendimento e a resoluccedilatildeo das questotildees-problemas que configuram o

objeto da atividade de Modelagem

Aleacutem da parceria entre os professores das mais diversas aacutereas de atuaccedilatildeo a

criaccedilatildeo dessa nova rede poderia possibilitar tambeacutem um cruzamento vertical de fronteiras

por meio das interaccedilotildees entre estudantes e professores pois em instituiccedilotildees escolares alunos

e professores constituem redes hieraacuterquicas de interaccedilotildees A parceria entre eles acaba por

cruzar os limites entre as redes o que poderia tornar a atividade de alunos e professores uma

uacutenica atividade a atividade de aprendizagem

Com isso poderiacuteamos analisar que a construccedilatildeo de tais ambientes configuraria

potencial mudanccedila no objeto da atividade de aprendizagem e ainda a construccedilatildeo de redes

possibilitada pelo cruzamento de fronteiras entre niacuteveis hieraacuterquicos e institucionais na

instituiccedilatildeo por meio de parcerias docente-docente e discentes-docente ambas ocorrendo em

um mesmo espaccedilo fiacutesico em uma mesma praacutetica institucionalizada em prol de um mesmo

objetivo Esses dois movimentos poderiam configurar mutuamente aprendizagens

expansivas como veremos mais adiante no presente texto

Por se tratar de uma intervenccedilatildeo formativa optei pela criaccedilatildeo do GEPMM em vez

de tentar introduzir a Modelagem Matemaacutetica dentro das salas de aula das disciplinas de

Caacutelculo Essa opccedilatildeo metodoloacutegica em termos da construccedilatildeo dos dados mostrou-se

necessaacuteria apoacutes ter assumido a Teoria da Atividade e da Aprendizagem Expansiva como lente

teoacuterica para a anaacutelise dos dados da presente pesquisa Aleacutem disso eu temia que as regras e a

divisatildeo do trabalho dentro das salas de aula de Caacutelculo permanecessem invioladas mesmo

com uma possiacutevel introduccedilatildeo da Modelagem nas demais accedilotildees de ensino que ocorrem durante

o desenvolvimento das disciplinas de Caacutelculo E mais do que isso o objeto da atividade de

alguns alunos durante todo o desenvolvimento das disciplinas de Caacutelculo independentemente

da metodologia adotada poderia permanecer orientado pela aprovaccedilatildeo na disciplina

satisfazendo a necessidade de prosseguir no curso visando agrave obtenccedilatildeo do diploma de

engenheiro

Sendo assim tal intervenccedilatildeo externa as proacuteprias disciplinas de Caacutelculo

configuraria como um espaccedilo formativo alternativo cujo objetivo preliminar seria o

questionamento agrave proacutepria divisatildeo do conhecimento em disciplinas como ocorre

tradicionalmente em cursos de Engenharia no Brasil Neste sentido a proposta da criaccedilatildeo do

135

GEPMM alia-se agraves ideias de formaccedilatildeo em Engenharia com base no foco em questotildees-

problema das mais diversas aacutereas onde os conhecimentos de Caacutelculo sejam instrumentos ou

ferramentas que auxiliam o respectivo entendimentoresoluccedilatildeo natildeo pretendendo assim

minimizar os dilemas vivenciados por alunos e professores durante as praacuteticas das disciplinas

tradicionais de Caacutelculo em cursos de Engenharia Vale ressaltar que seria contraditoacuterio

afirmar que tal enfoque pudesse ser plenamente estabelecido se tomaacutessemos como contexto as

disciplinas de Caacutelculo as disciplinas de Caacutelculo possuem conteuacutedos estabelecidos nos Planos

de Ensino e qualquer enfoque formativo incluindo a Modelagem Matemaacutetica estaria

orientado pelo Plano de Ensino Com isto as atividades de Modelagem constituiriam de

abordagem para dar sentido ou motivar ou mesmo propiciar aprendizagens dos conteuacutedos jaacute

estabelecidos nas ementas Com isto o objeto das atividades seriam os proacuteprios conteuacutedos do

Caacutelculo e a Modelagem Matemaacutetica seria um instrumento para tal ensinoaprendizagem

O espaccedilo formativo caracterizado no e pelo GEPMM se configura como um

contexto propiacutecio para possibilitar aprendizagens expansivas por estar baseado nos contextos

da descoberta da aplicaccedilatildeo praacutetica e da criacutetica conforme exposto no Capiacutetulo 1 Tal espaccedilo

formativo alternativo agraves praacuteticas tradicionais de formaccedilatildeo institucionalizadas nas e pelas

universidades pode ser caracterizado mediante ldquoampliaccedilatildeo gradual do objeto e do contexto da

aprendizagemrdquo (ENGESTROumlM 2002 p 197) Nele os aprendizes embarcam em uma

jornada ao longo da Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) da Atividade124

que segundo

Engestroumlm (1987 p 174) pode ser entendida como a ldquodistacircncia entre as accedilotildees cotidianas dos

indiviacuteduos e a historicamente nova forma de atividade social que pode ser gerada

coletivamente como soluccedilatildeo para o dilema potencialmente incorporado nas accedilotildees cotidianasrdquo

Engestroumlm (2001) pontua que atividades de aprendizagem expansiva buscam

produzir culturalmente novos padrotildees de atividade que nesta pesquisa podem ser manifestos

pelas e nas atividades desenvolvidas no GEPMM devido agrave necessidade de os aprendizes

aprenderem novas formas de atividade enquanto as vatildeo criando

Eacute importante ressaltar que no GEPMM o Caacutelculo eacute considerado como um dos

instrumentos necessaacuterios agrave resoluccedilatildeoentendimento das questotildees-problema natildeo matemaacuteticas

Sendo assim em atividades de Modelagem Matemaacutetica constantemente faz-se necessaacuterio a

aquisiccedilatildeo de novas125

ferramentas de Caacutelculo para os sujeitos partiacutecipes da presente

124

Aqui podemos entender atividade no sentido de Sistemas de Atividade que os sujeitos assumem na posiccedilatildeo

de docentes e discentes de cursos de Engenharia 125

Podemos entender tais accedilotildees com vistas agrave aquisiccedilatildeo de novas ferramentas de Caacutelculo para os sujeitos

partiacutecipes de uma atividade de modelagem seguindo por analogia agraves accedilotildees que visam agrave construccedilatildeoaquisiccedilatildeo de

uma lanccedila ou um arco e flecha em uma atividade de caccedila

136

atividade o que se configura sob essa anaacutelise como accedilotildees estrategicamente necessaacuterias ao

alcance de objetivos parciais orientados pela atividade em questatildeo Mais adiante no que tange

agrave anaacutelise especiacutefica dos instrumentos de Caacutelculo em atividades de Modelagem num contexto

de formaccedilatildeo em Engenharias seguirei orientada pelo seguinte questionamento quais e como

se configuram as accedilotildees possibilitadas pelas ferramentas de caacutelculo em uma determinada

atividade de modelagem

Ao optar pela dinacircmica do modelo de atividade (Modelagem Matemaacutetica) sendo

implementada extra sala de aula (GEPMM) algumas limitaccedilotildees poderiam ocorrer configurar

trabalho extra (horas gastas a mais) ocircnus intensificaccedilatildeo do trabalho incompatibilidade de

horaacuterios entre outras Com isso sobraria menos tempo para realizar as demais atividades que

compotildeem a formaccedilatildeo em Engenharia na UNIFEI tanto para estudantes quanto para

professores Outra possiacutevel limitaccedilatildeo poderia surgir pela estrutura fiacutesica da instituiccedilatildeo jaacute

levando em conta o fato de ser um campus ldquoem construccedilatildeordquo precisariacuteamos de um espaccedilo

fiacutesico para abrigar o grupo

415 Implementando o novo modelo ndash o GEPMM

Com base em Engestroumlm e Sannino (2010b) a quinta accedilatildeo que constitui uma

sequecircncia ldquoidealrdquo em um ciclo expansivo consiste na implementaccedilatildeo do modelo por meio de

suas aplicaccedilotildees em praacuteticas Durante o iniacutecio da construccedilatildeo dos dados da pesquisa relatada

nesta tese procurei por ldquoaliadosrdquo pessoas que compartilhassem as mesmas insatisfaccedilotildees e

que aceitassem o convite de ldquoembarcarrdquo nessa jornada coletiva de transformaccedilotildees Contudo

natildeo obtive sucesso algum nessa primeira ldquoempreitadardquo

Natildeo desisti continuei realizando accedilotildees de negociaccedilatildeo e orquestraccedilatildeo por meio de

conversas com docentes e discentes buscando pelos tatildeo esperados ldquoaliadosrdquo Foi entatildeo que

Angel aceitou o convite Decidimos elaborar e proferir a palestra e apoacutes a palestra mais dois

docentes aceitaram o convite Clarice e Robson

Deliberamos126

algumas accedilotildees estruturais para que o grupo pudesse iniciar sua

jornada encontrar horaacuterios compatiacuteveis traccedilar horizontes de atuaccedilatildeo delimitaccedilatildeo de regras

entre outras

126

Todas as interaccedilotildees nessa parte foram realizadas por meio de mediaccedilotildees possibilitadas pelo grupo ldquovirtualrdquo

criado na rede social Facebook intitulado Modelagem Unifei Itabira

137

Ao serem questionados sobre os motivos que teriam orientado as respectivas

participaccedilotildees nas entrevistas iniciais os alunos Taty Joseacute e Pedro apontaram que gostariam

de ver uma Matemaacutetica mais aplicada uma Matemaacutetica na praacutetica objetivando terem uma

visatildeo diferenciada dos demais no mercado de trabalho futuramente Nas palavras de Taty

ldquoeu espero que no final deste projeto neacute eu consiga ter uma habilidade maior em abstrair

matematicamente os problemas do dia a diardquo Pedro pontuou ldquoeacute uma coisa na qual vocecirc vai

precisar vocecirc vai ter que aplicar o Caacutelculo em muitas aacutereas de atividade para um

engenheirordquo

Com base nas gravaccedilotildees em aacuteudio e viacutedeo dos encontros do GEPMM farei a

seguir um breve relato das accedilotildees que se fizeram presentes durante os dez primeiros encontros

do referido grupo

4151 Os encontros

Agora relatarei o que aconteceu durante os dez127

primeiros encontros realizados

no GEPMM que adotarei como corpus de anaacutelise Depois disso retornarei ao miniciclo de

accedilotildees de aprendizagem expansiva com o intuito de explicitar a sexta e a seacutetima accedilotildees

refletindo sobre o processo de implementaccedilatildeo do novo modelo e consolidando seus

resultados em uma nova forma de praacutetica

41511 Primeiro encontro

O primeiro encontro do GEPMM ocorreu em 01112012 (quinta-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice dos estudantes Joseacute e Taty e com a minha

participaccedilatildeo desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e pesquisadora

Nesse primeiro encontro comeccedilamos a estabelecer regras para questotildees

burocraacuteticas do grupo tais como quantos seriam os integrantes se o grupo seria formalizado

como projeto de extensatildeo ou grupo de pesquisa no CNPq entre outras questotildees Esclareci

127

Considero os dez primeiros encontros devido ao fato de ter que cumprir prazos com relaccedilatildeo agraves exigecircncias

estipuladas no regimento do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em que estou inserida como alunapesquisadora

138

para os alunos Joseacute e Taty128

quais satildeo os objetivos do grupo e da minha pesquisa

Estabelecemos coletivamente que o grupo seria constituiacutedo por quatro docentes e seis

estudantes totalizando dez participantes

A docente Clarice teceu a seguinte criacutetica em relaccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Matemaacutetica no

Brasil ldquomuito se fala pouco se praticardquo E seguiu falando que os alunos de Caacutelculo satildeo

muito desmotivados e acrescentou ldquomuito aluno ali se sente tatildeo incapaz ele natildeo acredita

nele por isso ele se ferrardquo A aluna Taty interveio ldquomas eu acho que isso natildeo eacute culpa do

professor saberdquo A docente Clarice respondeu agrave aluna em tom de voz alterado ldquoMas eacute

tambeacutem um deverrdquo Bakhtin129

(1992 p 396) destaca que a entonaccedilatildeo consiste em uma

expressatildeo focircnica da avaliaccedilatildeo social e para ele ldquoo tom natildeo eacute determinado pelo material do

conteuacutedo do enunciado ou pela vivecircncia do locutor mas pela atitude do locutor para com a

pessoa do interlocutor (a atitude para com sua posiccedilatildeo social para com sua importacircncia

etc)rdquo Aqui uma anaacutelise da entonaccedilatildeo da fala da docente Clarice poderia ser tecida pela

hierarquia e lugar social que alunos e professores ocupam nas instituiccedilotildees universitaacuterias e as

respectivas regras que podem compor o ldquocurriacuteculo ocultordquo tais como professor ldquosempre tem

razatildeordquo a fala do professor natildeo ldquodeverdquo ser questionada e aluno ldquodeverdquo ficar inerte agraves posiccedilotildees

do professor afinal que dita as regras eacute o professor e ao aluno cabe cumpri-las Contudo no

GEPMM natildeo haacute pontos a serem distribuiacutedos pelo professor e isto pode acabar confundindo as

respectivas visotildees sobre as posiccedilotildees sociais nesta praacutetica Neste caso alunos e professores tem

o mesmo grau de importacircncia e hierarquia

No decorrer do encontro Clarice pontuou que nunca havia visto o trabalho do

engenheiro ldquoNunca parei pra pensar nisso Sempre pensei assim ah ele aprendeu as contas

baacutesicas laacute e pronto Mas natildeo vai porque o outro [que sabe mais] vai passar na frente dele [no

mercado de trabalho]rdquo Nesse ponto a docente pareceu estar preocupada com a qualidade da

formaccedilatildeo matemaacutetica que tem sido oferecida nas propostas tradicionais de ensino-

aprendizagem de Caacutelculo em cursos de Engenharia A docente seguiu falando

Eu falo assim no iniacutecio do curso no primeiro dia de aula ah eu ensino Caacutelculo natildeo

tenho noccedilatildeo muito de aplicaccedilotildees aiacute depois vocecircs vatildeo usar [risos] Tipo assim eu

natildeo sei quando mesmo Depois vocecircs vatildeo usar em vaacuterios conteuacutedos porque os

proacuteprios professores [de outras disciplinas ndash natildeo matemaacuteticas] falam comigo Tem

um professor da Mecacircnica que falou comigo o aluno chega laacute sem saber Caacutelculo e

ele precisa de Caacutelculo pra caramba na minha mateacuteria Caacutelculo I mesmo Sabe E

chega sem saber

128

Que natildeo puderam assistir agrave palestra mas viram o convite na rede social Facebook e o aceitaram 129

Conforme explicitado no Capiacutetulo 1 desta tese uma das raiacutezes da teoria da aprendizagem expansiva eacute a teoria

da linguagem e discurso de Bakhtin Por esse motivo sempre que possiacutevel utilizarei tal teoria para analisar falas

e discursos que ocorreram durante a construccedilatildeo dos dados para a investigaccedilatildeo relatada nesta tese

139

Nessa fala da docente percebemos que ela pareceu estar preocupada em natildeo

conseguir responder agraves expectativas dos estudantes ou mesmo dos outros professores das

demais disciplinas quanto agraves aplicaccedilotildees do Caacutelculo e aleacutem disso demonstrou sentir-se

incomodada em ouvir outro docente criticar a formaccedilatildeo matemaacutetica dos estudantes

A aluna Taty nos mostrou suas concepccedilotildees e expectativas em relaccedilatildeo a sua

participaccedilatildeo no GEPMM como aluna do curso de Engenharia de Computaccedilatildeo

Acho que a matemaacutetica eacute a mateacuteria mais poderosa que tem cecirc quer resolver um

problema de verdade Cecirc quer ser um engenheiro Cecirc quer uma resposta Tudo eacute

modelagem As melhores aacutereas da Computaccedilatildeo as que datildeo mais dinheiro cecirc tem

que ser bom de matemaacutetica Entatildeo eu acho um desperdiacutecio a gente ter 500

professores de Matemaacutetica aqui e ficar na sala de aula vendo nada Adoro gosto

muito acho muito legal mas soacute isso Entendeu Vocecirc pode sair daqui muito mais

potente Eacute aproveitar o que a faculdade estaacute te oferecendo

Podemos perceber que a estudante posicionou que suas accedilotildees de aprendizagem

estatildeo relacionadas ao objetivo de ldquoformaccedilatildeo com qualidaderdquo (uma boa formaccedilatildeo potente

aliada ao conhecimento) pois parece desejar ter um bom retorno financeiro no mercado de

trabalho depois de se formar engenheira Eacute niacutetido tambeacutem que sua proacutepria formaccedilatildeo ocupa

lugar privilegiado enquanto objeto de sua atividade ou seja ela parece ter consciecircncia que

ldquoobter conhecimentosrdquo e ldquoadquirir habilidadesrdquo constituem parte fundamental para a sua

proacutepria formaccedilatildeo

Esclareci para os parceiros que inicialmente natildeo gostaria de trabalhar em um

problema muito complexo Naquele momento minha preocupaccedilatildeo estava relacionada agraves

possiacuteveis desistecircncias de integrantes do grupo principalmente alunos caso achassem o

trabalho complexo demais

A discussatildeo sobre ensino de Caacutelculo em cursos de Engenharia continuou embora

este natildeo fosse especificamente o tema do primeiro encontro e a docente Clarice pontuou ldquoO

aluno de Caacutelculo I ele acha que tudo pode jogar no computador que tudo ele joga na

calculadora que ele natildeo vai trabalhar Ele natildeo sabe que vai ter que por a matildeo na massa Ele

acha que eacute pegar uma equaccedilatildeo e resolverrdquo A aluna Taty respondeu ldquoPorque o Caacutelculo I eacute

muito assim vocecirc chega no trecircs [Caacutelculo III] vocecirc nem pega mais na calculadora [risos]rdquo

Neste momento percebi que havia muitas questotildees inerentes agraves disciplinas de

Caacutelculo em cursos de Engenharia na quais os sujeitos demonstravam interesse em debatecirc-las

e como na instituiccedilatildeo natildeo havia um espaccedilo para tais discussotildees e debates eles acabavam

acontecendo nos encontros do GEPMM

140

Prosseguimos o encontro tentando esboccedilar algumas questotildees de interesse dos

integrantes do grupo que poderiam ser tomadas como objetos da atividade de Modelagem do

grupo

a) Angel falou sobre a infraestrutura na UNIFEI preacutedio 2 atrasado restaurante

atrasado

b) Joseacute falou sobre o fluxo de tracircnsito na cidade de Itabira

c) Eu falei sobre prazos para o mineacuterio de ferro extraiacutedo pela empresa Vale nas

minas de Itabira acabar

d) Joseacute falou sobre a poluiccedilatildeo sonora causada pelas explosotildees nas minas da Vale

e) Taty falou sobre a iniciaccedilatildeo cientiacutefica dela relaccedilotildees de gecircnero na construccedilatildeo

civil

f) Eu falei sobre as possibilidades de estudarmos as relaccedilotildees de gecircnero no trabalho

do engenheiro (Clarice fala que natildeo tem vontade de trabalhar com isso)

Apoacutes combinarmos de pensar em casa com calma em mais inquietaccedilotildees que

pudessem ser de interesse do grupo encerramos a reuniatildeo

41512 Segundo encontro

O segundo encontro do GEPMM ocorreu em 08112012 (quinta-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice dos estudantes Joseacute e Taty e com a minha

participaccedilatildeo desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e pesquisadora

Expus para os parceiros que pensei em um problema que haacute muito tempo me

incomoda o problema do peso corporal ideal Expliquei para eles que gostaria de entender

melhor matematicamente a questatildeo do ganho ou perda de peso considerando somente os

fatores alimentaccedilatildeo e exerciacutecios fiacutesicos Denominei naquele momento esse problema como

ldquoa foacutermula da sauacutederdquo e posicionei ainda que ldquoO peso da pessoa eacute fundamental pra vocecirc saber

[] uma das variaacuteveis eacute a massa da pessoa depende da massa da pessoa para vocecirc saber o

tanto que ele queima [] um gordo queima muito mais raacutepido do que quem eacute magrordquo

Clarice completou ldquoAh mais tem um equiliacutebrio depois ele para com aquela queimaccedilatildeordquo

141

Taty pontuou ldquoeacute depende da taxa de gordura da taxa de massa muscular [] achei

fantaacutesticordquo

Aqui o leitor poderia questionar ou estar refletindo sobre a escolha do tema natildeo

pertencer diretamente agrave tradicional aacuterea de Engenharia nem a disciplinas especiacuteficas dos

cursos Contudo o tema perfaz a questatildeo da interdisciplinaridade e da transposiccedilatildeo das

fronteiras disciplinares e curriculares Imagine se nenhum engenheiro ou fiacutesico ou

matemaacutetico tivesse dedicado esforccedilos para o entendimento de processos e fenocircmenos

relacionados com a aacuterea da sauacutede atualmente natildeo teriacuteamos algum aparelho de raio X ou de

ressonacircncia magneacutetica Aleacutem disso a UNIFEI-Itabira oferece entre outros os cursos de

Engenharia da Sauacutede e Seguranccedila e Engenharia Ambiental Com a escolha desse tema

poderia acontecer ainda de estarmos buscando e efetivando de alguma maneira ainda que

impliacutecita o rompimento da encapsulaccedilatildeo de conteuacutedos relacionados com a aacuterea de

Engenharia de Sauacutede e Seguranccedila com os outros cursos oferecidos pela instituiccedilatildeo mediante

a transposiccedilatildeo de fronteiras e a formaccedilatildeo de redes ndash parcerias

Logo em seguida a aluna Taty nos contou que jaacute havia sido atleta e que corria 8

km e o aluno Joseacute nos contou que fazia trilha de bicicleta Eles ficaram realmente muito

interessados pelo tema proposto por mim Aleacutem deles a docente Clarice tambeacutem disse que

achou o tema oacutetimo ldquoachei o mais interessante delesrdquo

O docente Angel permaneceu desde o iniacutecio do encontro manuseando seu

computador portaacutetil e somente depois de 30 minutos de reuniatildeo o perguntei se ele havia

achado o tema interessante Ele pediu para eu repetir os temas ateacute entatildeo levantados e parece

preferir o problema do tracircnsito dizendo ldquotranquilo assim tem que ir laacute medir com o

cronocircmetro verificar ou seja tem um trabalho aiacute neacute de coleta de dados um pouco chata

durante uma semanardquo Ao perceber que todos os parceiros olharam para ela a aluna Taty

logo disse ldquoAh natildeo gente natildeo olha pra mim natildeo gente Tocirc fazendo um monte de coleta de

dados jaacute Me recuso cara [] Eu sento e leio 60 artigos se vocecircs quiserem faccedilo resumo de

todos pra vocecircs natildeo tocirc brincando Eu tocirc fazendo uma coleta gigantescardquo

Naquele momento estava estabelecido um dilema entre as idealizaccedilotildees de objetos

das atividades que pretendiacuteamos realizar Tratava-se de pensar elaborar num plano da

consciecircncia coletiva um resultado ideal ndash uma finalidade jaacute que ldquoo que se pretende obter

existe primeiro idealmente como mero produto da consciecircncia e os diversos atos do processo

se articulam ou estruturam de acordo com o resultado que se daacute primeiro no tempo isto eacute o

resultado idealrdquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 187) Ainda que o resultado real se

142

distancie do ideal trata-se de adequar intencionalmente o ideal ao real ainda que para isso

seja necessaacuterio se assemelhar pouco ou ateacute mesmo nada com a finalidade original

Nesse momento podemos perceber que por jaacute ter participado de programas de

iniciaccedilatildeo cientiacutefica na UNIFEI a aluna Taty demonstrou conhecer uma possiacutevel divisatildeo de

trabalho que pode ser adotada por alguns docentes orientadores nas atividades de iniciaccedilatildeo

cientiacutefica os alunos potildeem a matildeo na massa coletam dados fazem resumo de artigos entre

outras e os orientadores auxiliam na escrita dos relatoacuterios e na anaacutelise dos dados coletados

O posicionamento da aluna Taty de fato ldquoimpactourdquo nas decisotildees do grupo

Alterou modificou a atividade que naquele momento estava sendo idealizada por noacutes

coletivamente Como estavam participando das reuniotildees portanto do grupo apenas dois

estudantes como os docentes procederiam para coletar os dados para tratar do problema do

tracircnsito em Itabira Isso nos levou a deixar esse problema para ser tratado em outro momento

quando tivermos mais alunos para realizar as accedilotildees de coleta de dados

Com isso apoacutes debatermos mais um pouco definimos que a primeira questatildeo-

problema a ser tratada por noacutes seria o emagrecimento em termos de alimentaccedilatildeo e exerciacutecios

fiacutesicos Naquele momento estava traccedilado idealmente um resultado que orientaria as accedilotildees

do grupo uma finalidade entender a questatildeo problemaacutetica do peso corporal ideal isso

configurou uma atividade essencialmente da consciecircncia humana tomada em sua coletividade

por meio da negociaccedilatildeo e debate em que os sujeitos expotildeem seus pontos de vista e suas

idealizaccedilotildees oriundas de suas experiecircncias anteriores suas inquietaccedilotildees mediante as quais

concebem a realidade ainda inexistente mas jaacute traccedilada pela consciecircncia por meio da

idealizaccedilatildeo de seu objeto

Sendo assim ldquonatildeo se trata apenas de antecipaccedilatildeo ideal do que estaacute por vir mas

sim de algo que aleacutem disso queremos que venhardquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 191)

expressatildeo de uma necessidade humana socialmente incorporada que se configura como

causa das accedilotildees e ao mesmo tempo determina as accedilotildees presentes Contudo tal antecipaccedilatildeo

ideal do futuro natildeo implica necessariamente que desejamos de fato sua existecircncia real ou

sequer pretendamos contribuir para que assim seja Desejar uma atividade na realidade

requer sobretudo elencar uma finalidade estampada nas accedilotildees que devem ser realizadas para

tal fim Para isso eacute necessaacuterio entender que toda finalidade pressupotildee determinado

conhecimento da realidade que os sujeitos negam idealmente e dessa forma idealizam accedilotildees

em prol de um resultado tambeacutem idealizado

Com isso podemos analisar que devido ao entendimento de que a questatildeo do

peso corporal ideal dependia de alguns paracircmetros que poderiam ou natildeo ser levados em conta

143

decidiu-se por negar idealmente as formas presentes de entender tal questatildeo (como tiacutenhamos

entendido ateacute aquele momento) e partir para a produccedilatildeo coletiva de conhecimento O objetivo

portanto configurava-se pelas estrateacutegicas accedilotildees de abertura da caixa-preta do peso corporal

ideal

Naquele momento pontuei que ldquoum gordo queima muito mais raacutepido do que

quem eacute magrordquo Taty ponderou ldquoeacute depende da taxa de gordura da taxa de massa

muscularrdquo Tiacutenhamos portanto o conhecimento digamos inicial de que o peso influenciava

na queima de gordura proporcionada pelas atividades fiacutesicas mas como quantificar essa

influecircncia Estariam outros paracircmetros relacionados com tal influecircncia como por exemplo a

taxa de gordura ou a taxa de massa muscular Ou seja algum(ns) conhecimento(s) da

realidade estava(m) sendo negado(s) idealmente naquele momento o que fez emergir uma

finalidade para orientar nossas accedilotildees

Estaacutevamos dispostos a entender essa questatildeo problemaacutetica buscando informaccedilotildees

incorporando variados instrumentos que possibilitassem o acesso a apropriaccedilatildeo e a produccedilatildeo

de conhecimentos relacionados ao peso corporal ideal perseguindo sempre o objetivo que

segue mediante alteraccedilotildees na alimentaccedilatildeo e nos exerciacutecios fiacutesicos como quantificar

mudanccedilas no peso corporal com vistas a alcanccedilar efetivamente o peso corporal ideal Por se

tratar de quantificaccedilotildees tiacutenhamos naquele momento o conhecimento de que algum

instrumento matemaacutetico seria necessaacuterio para alcanccedilarmos o objetivo estabelecido poreacutem

natildeo sabiacuteamos de antematildeo qual(is) instrumento(s) seria(m) esse(s) e como ele(s) nos

ajudaria(m) nessa atividade

Sabiacuteamos por exemplo que o iacutendice de massa corporal (IMC) representado por

uma equaccedilatildeo matemaacutetica130

eacute considerado o mesmo para homens e mulheres

independentemente da idade Mas suspeitaacutevamos que um homem de 80 anos perdesse peso

de forma diferente que uma mulher de 18 anos considerando mudanccedilas na alimentaccedilatildeo e nos

exerciacutecios fiacutesicos Mas qual seria essa diferenccedila Como ela poderia ser quantificada Tais

questionamentos abarcavam o objetivo explicitado anteriormente ao decidirmos dedicar

esforccedilos no entendimento da problemaacutetica questatildeo do peso corporal ideal

Depois disso o docente Angel que permaneceu manuseando seu computador

portaacutetil navegando na internet convidou-nos para submetermos um projeto ao CNPq pois

havia um edital aberto sobre relaccedilotildees de gecircnero e trabalho e aiacute poderiacuteamos elaborar o projeto

para pesquisar as relaccedilotildees de gecircnero e trabalho na aacuterea de Engenharia Contou-nos que

130

119868119872119862 =119901119890119904119900

1198861198971199051199061199031198862

144

poderiacuteamos dar bolsas aos alunos no valor de R$ 400 A aluna Taty exclamou ldquoNossa que

lindo Que belezardquo

Angel disse que teriacuteamos que realizar uma ldquoforccedila tarefa urgenterdquo porque o prazo

seria ateacute o dia 14 daquele mecircs (ou seja teriacuteamos apenas seis dias para construir o projeto)

Taty disse que tinha o projeto escrito sobre gecircnero e somente teriacuteamos que adaptaacute-lo para a

aacuterea da Engenharia Decidimos por lutar contra o tempo e escrever esse projeto para a

submissatildeo131

Vale ressaltar que ainda que possa parecer estranho natildeo percebi naquele

momento qualquer inadequaccedilatildeo sobre o que o grupo havia coletivamente decidido fazer Na

verdade mesmo que suspeitasse que o CNPq natildeo fosse aprovar o referido projeto visualizei

tal elaboraccedilatildeo como uma possibilidade de aprendizagem para os sujeitos engajados Uma

anaacutelise mais pontual que se refere a tal construccedilatildeo seraacute tecida mais adiante nesta tese

Finalizamos a reuniatildeo combinando as tarefas que cada um desenvolveria durante a

semana para que no proacuteximo encontro pudeacutessemos continuar trabalhando focados no

projeto a ser submetido no CNPq e tambeacutem na problemaacutetica ldquofoacutermula da sauacutederdquo Deliberamos

que cada um dos integrantes ficaria responsaacutevel por ler dois artigos sobre a questatildeo do

emagrecimento considerando alimentaccedilatildeo e exerciacutecios fiacutesicos como paracircmetros

41513 Terceiro encontro

O terceiro encontro do GEPMM ocorreu em 13112012 (terccedila-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel Clarice e Robson dos estudantes Joseacute Pedro e Taty e

com a minha participaccedilatildeo desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e

pesquisadora

Como esse encontro ocorreu na terccedila-feira natildeo tiacutenhamos sala reservada para nos

reunirmos Entatildeo comeccedilamos o encontro em uma sala e em poucos minutos descobrimos que

a sala estava reservada para uma aula Sem termos lugar para nos reunirmos a convite do

professor Robson fomos para um amplo laboratoacuterio de eleacutetrica onde estava ocorrendo em

paralelo ao nosso encontro uma aula de eletricidade praacutetica Depois de chegarmos agrave sala a

cacircmera que foi utilizada para realizar as gravaccedilotildees em aacuteudio e viacutedeo inesperadamente

131

E o submetemos na data limite ndash dia 14 de novembro de 2012 Contudo o CNPq natildeo o aprovou O parecer

questionou sobre a aacuterea de atuaccedilatildeo dos docentes que iriam executaacute-lo

145

interrompeu as filmagens Por esse motivo o relato desse encontro se baseia em alguns

minutos de gravaccedilatildeo em aacuteudio e viacutedeo e nas anotaccedilotildees em caderno de campo

Comeccedilamos o encontro discutindo o artigo132

de Scagliusi e Lancha Juacutenior

(2005) que trata do gasto energeacutetico por meio da teacutecnica da ldquoaacutegua duplamente marcadardquo

Nesse artigo no QUADRO 1 os autores apresentam alguns modelos matemaacuteticos que satildeo

utilizados para o caacutelculo do gasto energeacutetico segundo a teacutecnica da aacutegua duplamente marcada

Percebemos que nas equaccedilotildees denominadas pelos autores por ldquofoacutermulas matemaacuteticasrdquo

contidas no referido quadro alguns valores (constantes) natildeo ficam claros pra noacutes isto eacute os

valores aparecem nas foacutermulas contudo a razatildeo do aparecimento natildeo eacute explicitada no texto

Por exemplo o que significa o valor 3044 ou 1104 na equaccedilatildeo 3 Ou ainda 081 ou 067 na

equaccedilatildeo 4 Natildeo conseguimos encontrar respostas para esses questionamentos no referido

artigo e decidimos apoacutes a reuniatildeo ir agrave busca de alguns artigos referenciados nele como por

exemplo Weir (1949) e Black Prentice e Coward (1986)

Ainda durante a discussatildeo do artigo Scagliusi e Lancha Juacutenior (2005) na paacutegina

542 nos deparamos com um termo fiacutesico-quiacutemico ndash o deuteacuterio Nunca ouvi falar sobre esse

conceito nem o docente Angel nem a docente Clarice A partir dessa duacutevida os alunos Joseacute e

Pedro nos esclareceram com propriedade sobre o que se baseava esse conceito Joseacute e Pedro

utilizaram instrumentos da oralidade que ecoavam vozes oriundas de discursos da fiacutesico-

-quiacutemica escolar (discurso didaacutetico pedagoacutegico) que provavelmente eles haviam tido

acessointeragido durante formaccedilatildeo escolar em niacutevel meacutedio e que estavam guardadas em suas

memoacuterias

Naquele momento podemos perceber ainda que ocorreu uma inversatildeo de papeacuteis

entre alunos e professores noacutes professores aprendemos com os alunos e eles alunos nos

ensinaram Por meio de interaccedilotildees mediadas pela oralidade (linguagem falada) todos noacutes

sujeitos da atividade passamos a ter acesso a informaccedilotildees relacionadas ao deuteacuterio que

estariam suportadas na memoacuteria dos alunos e teriam sido acessadas naquele momento com o

intuito de suprir a necessidade de que todos compartilhassem desse saber Isso somente se

tornou possiacutevel pois aceitamos o convite de formarmos uma parceria de aprendizagem entre

alunos e professores o que nos tira da zona de conforto em que haacute predomiacutenio de controle e

previsibilidade e nos coloca na zona de risco na qual incertezas e imprevisibilidades

imperam (BORBA PENTEADO 2001)

132

Encontrado por mim a partir de buscas na internet e anteriormente ao encontro compartilhado com os demais

parceiros no grupo ldquovirtualrdquo da Modelagem Unifei Itabira na rede social Facebook

146

Naquele encontro a questatildeo do peso corporal ideal ainda estava digamos

nebulosa para noacutes nossas accedilotildees e idealizaccedilotildees eram realizadas mediante negociaccedilatildeo e

interaccedilatildeo com os (instrumentos) que tiacutenhamos em matildeos ndash o artigo estudado no qual

encontramos a QUADRO 1 ndash por meio de habilidades de leitura e interpretaccedilatildeo (linguagem

escrita que inclui a linguagem matemaacutetica escrita) e nossa corporeidade ndash possibilitou

interaccedilotildees por meio de habilidades de debater discutir e interagir uns com os outros

(linguagem falada que inclui a linguagem Matemaacutetica falada e gestos)

QUADRO 1 ndash ldquoEquaccedilotildees utilizadas para o caacutelculo do gasto energeacutetico (GET) segundo a teacutecnica da aacutegua

duplamente marcadardquo

Fonte SCAGLIUSI LANCHA JUacuteNIOR 2005 p 543

Finalizamos a reuniatildeo deliberando que em casa leriacuteamos com calma os artigos

Weir (1949) e Black Prentice e Coward (1986) citados no artigo de Scagliusi e Lancha

Juacutenior (2005)

147

41514 Quarto encontro

O quarto encontro do GEPMM ocorreu em 22112012 (quinta-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice e com a minha participaccedilatildeo

desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e pesquisadora133

Comeccedilamos o encontro discutindo o artigo de Weir (1949) Observamos que esse

artigo eacute bem antigo Angel com o artigo impresso em matildeos apontou para o artigo e disse

ldquoagora tem que ver como que interpreta essas questotildees analisa porque agraves vezes vai entrar

em aacutereas assim mais complexas que a gente poderaacute natildeo entenderrdquo Respondi a ele ldquoIsso eu

tambeacutem jaacute consegui perceber Angel Por isso eu tocirc pensando para este tema a gente tentar

arrumar um nutricionista neacute porque ele jaacute taacute na aacuterea pra ele ajudar a gente a entender O

que vocecircs acham da ideiardquo E Angel respondeu

Ah eacute bacana porque querendo ou natildeo agindo dessa forma a gente taacute [] gerando

interdisciplinaridade neacute Porque a gente taacute pegando professores da matemaacutetica

professores da matemaacutetica mais pura professores da matemaacutetica mais aplicada

pessoas da aacuterea de nutriccedilatildeo Entatildeo eacute um ambiente bem [interdisciplinar]

A professora Clarice tambeacutem se manifestou favoraacutevel agrave integraccedilatildeo de uma

nutricionista a nossa rede de aprendizagem Seguimos com as discussotildees sobre o artigo de

Weir (1949) em que pontuei

a gente vecirc um ldquosisteminhardquo linear aqui de cara Que eacute o que ele [o autor] deve ter

estudado Taacute vendo Entatildeo assim vamos ter que entender porque eacute daqui que

surgem aqueles nuacutemeros que estatildeo laacute naquelas outras equaccedilotildees [me refiro ao artigo

de Scagliusi e Lancha Juacutenior (2005)] [] igual aqui [aponto para a tela do meu

computador portaacutetil onde leio o artigo de Weir (1949) na tela] ele taacute usando

carboidratos a proteiacutena e a gordura [] talvez a gente possa fazer tentar fazer

uma modelagem mais precisa do metabolismo porque vocecircs lembram [] a

questatildeo do metabolismo basal que eacute aquela coisa do repouso seu organismo taacute

gastando a questatildeo da alimentaccedilatildeo que vocecirc taacute acrescentando e do que vocecirc gasta

com as coisas do natildeo repouso neacute entatildeo satildeo essas trecircs categorias que a gente teria

que analisar pra poder eacute achar essa foacutermula que a gente quer ndash este modelo Entatildeo

num primeiro momento estamos estudando essa questatildeo que eacute do metabolismo

basal que ele tem a ver tambeacutem com o que vocecirc taacute comendo Taacute vendo que aiacute jaacute taacute

misturando essas duas coisas neacute Que tem a ver com o oxigecircnio que tem a ver com

133

Os estudantes Joseacute Pedro e Taty natildeo puderam participar justificando excesso de trabalhos e estudos

acadecircmicos Tambeacutem justificando o mesmo motivo natildeo participaram dos demais encontros (quinto sexto

seacutetimo oitavo nono e deacutecimo) Uma anaacutelise mais pontual sobre esse acontecimento seraacute realizada mais adiante

nesta tese no Capiacutetulo 6 mais especificamente na modalidade analiacutetica descrita em 62

148

o gaacutes carbocircnico que vocecirc libera que eacute aquela questatildeo da maacutescara que o aluno

falou neacute na aula passada entatildeo essa coisas elas se misturam neacute

Questionei tambeacutem a metodologia do estudo realizado por Weir (1949)

apontando que os alimentos da eacutepoca eram outros as gorduras consumidas antes eram em

sua maioria oriundas de fontes animais hoje em dia as gorduras vecircm de fontes vegetais E

qual seria o impacto dessa mudanccedila na vida das pessoas Coincidentemente aliado a isso o

nuacutemero de casos de cacircncer tem crescido de forma assustadora

E continuei falando ldquopois eacute eu tocirc pensando [] numa questatildeo aqui relacionada

laacute a nebulosos [Teoria Fuzzy] porque [] se cada um desses paracircmetros aiacute gordura tipos de

alimentos e tudo mais cecirc tem uma certa variabilidade natildeo temrdquo Angel e Clarice

responderam que sim e Angel esclareceu

Entatildeo vocecirc poderia tratar com aquela parte laacute daqueles agrupamentos neacute onde

aqui vocecirc tem o centro e a variabilidade [aponta com uma matildeo representando o

centro e a outra se movimenta em volta] [] e vocecirc jaacute gerar os agrupamentos e

encontrar um modelo nebuloso para o metabolismo humano [] A gente jaacute tem que

pensar alto a gente tem que pensar em publicaccedilatildeo [risos]

Clarice concordou ldquoIsso aiacuterdquo seguiu nos contando que pensou em um problema

para ser colocado na lista de problemas a serem trabalhados no grupo Vale ressaltar que

Clarice ateacute entatildeo natildeo havia em nenhum momento se posicionado com algum

questionamento que pudesse vir a ser trabalhado no grupo Nas palavras dela

Eu queria fazer uma pesquisa eacute pegar os preccedilos eacute o custo de vida hoje e o salaacuterio

miacutenimo atual eacute o preccedilo de alimentaccedilatildeo eacute passagem de ocircnibus o valor do

combustiacutevel [] e ver como que vai taacute isso daqui a 2 anos [] tenho certeza que vai

dar uma diferenccedila boa com relaccedilatildeo ao salaacuterio miacutenimo neacute [] Isso explica neacute na

minha leiga opiniatildeo a violecircncia gente Natildeo tem como As pessoas natildeo tatildeo

conseguindo viver mais com um salaacuterio miacutenimo [] eu tenho muito interesse nisso

Interesse de indignaccedilatildeo mesmo

Angel e eu gostamos dessa proposta de Clarice e a colocamos na lista de

questotildees-problema do grupo Encerramos o encontro deliberando os estudos em casa ler em

profundidade de entendimento o artigo de Weir (1949)

No dia 29112012 comecei uma conversa com uma docente do Departamento de

Nutriccedilatildeo da Universidade Federal de Outro Preto (UFOP) Convidei-a para participar das

discussotildees do grupo sobre o tema ldquofoacutermula da sauacutederdquo mesmo que apenas virtualmente por

meio das redes sociais ou por outro meio de comunicaccedilatildeo a distacircncia Ela aceitou o convite e

passou assim a ser uma parceira em nossos esforccedilos coletivos

149

No dia 01ordm122012 a docente da UFOP nos indicou um livro134

que pode ser

acessado na internet No mesmo dia compartilhei com os demais parceiros o link no grupo

Modelagem Unifei Itabira na rede social Facebook

41515 Quinto encontro

O quinto encontro do GEPMM ocorreu em 06122012 (quinta-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel e Robson e com a minha participaccedilatildeo

desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e pesquisadora

No iniacutecio da reuniatildeo Angel justificou a ausecircncia de Clarice com o fato de ela ter

que se empenhar em um trabalho a ser entregue ainda naquela semana ao professor da

disciplina que eles (Angel e Clarice) cursavam como alunos natildeo regulares do programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Engenharia Eleacutetrica na UFMG

Comentei com os parceiros que o livro digital que a docente da UFOP nos indicou

poderia nos ajudar na resoluccedilatildeo do problema do peso corporal ideal No mesmo site encontrei

vaacuterios artigos e livros interessantes Com o auxiacutelio de um pen-drive compartilhei o arquivo

digital que continha o livro com os parceiros Angel e Robson pois eles ainda natildeo o tinham

A seguir descrevo uma interaccedilatildeo entre noacutes ao discutirmos o livro que a docente

do Departamento de Nutriccedilatildeo da UFOP nos indicou

Eu Cecirc lembra um dia que a gente colocou o peso da pessoa ele influencia na

atividade [fiacutesica] Olha pra vocecirc ver que interessante tem um graacutefico na paacutegina

891 que ele [o autor] coloca ndash atividade fiacutesica coloca as quilocalorias gastas por

hora e coloca o gasto da pessoa Ele coloca o impacto do peso no gasto de energia

neacute Nas velocidades 234 ou 5 Agora qual atividade eacute essa Entatildeo a gente podia

partir desses dados que estatildeo aqui por exemplo talvez fixando em um capiacutetulo ou

outro

Angel aqui eacute caminhando

Eu eacute caminhando Taacute vendo que interessante eu acho assim interessantiacutessimo

isso Agora cecirc vecirc que tudo aqui eacute linear neacute Seraacute que daria pra gente pegar esses

mesmos dados e tentar trata-los de outra maneira Taacute vendo oh cecirc caminhar na

velocidade 2 se vocecirc tiver 60 kg cecirc vai queimar 150 calorias mas se vocecirc tiver 130

kg cecirc vai queimar 300 e tantas calorias [] ele [o autor] colocou homens e

mulheres

Robson de repente natildeo tem tanta diferenccedila homens e mulheres

Eu tem pior eacute que tem

Robson [em tom surpreso] tem Tem

134

Livro intitulado Dietary reference intakes for energy carbohydrate fiber fat fatty acids cholesterol

protein and amino acids (macronutrients) Disponiacutevel em ltwwwnapeducatalogphprecord_id=10490gt

150

Eu por exemplo o consumo de proteiacutenas em homens e mulheres ele eacute assim

assustador menos A mulher precisa consumir bem menos proteiacutenas do que o

homem

Robson seacuterio Incriacutevel heim Bem interessante

Eu laacute na paacutegina 893 ele divide soacute pro homem Esse ldquomrdquo aiacute eacute minuto () aiacute depois

ele coloca o das mulheres Olha como eacute diferente Robson

Robson humhum Aiacute eu fico pensando como eacute que ele tirou esses valores Neacute

Tem duas possibilidades ou ele tira da pessoa ali fazendo o tal exerciacutecio eacute

coletando assim as perdas de calor aquela coisa de taacute numa cacircmara fechada e tal

mas eu acho que de repente pegou um enfoque teoacuterico que eacute a queimadas calorias

por meio das reaccedilotildees que gerariam o ciclo de KREBS que eacute a queima de toda

energia eu noacutes temos nas ceacutelulas [] No nosso corpo tem dois processos baacutesicos o

catabolismo e o anabolismo Os processos metaboacutelicos levam a duas coisas no

catabolismo o alimento que vocecirc come ele tende a construir outras coisas por

exemplo massa muscular eacute construir tecidos e depois tem o anabolismo que vocecirc

tem processos que tendem a gerar energia e gerar subprodutos

Eu Angel Robson esse mph seria o ritmo a velocidade [apontando para o livro

em arquivo aberto na tela do meu computador portaacutetil] Olha que chique Robson

ele coloca para vaacuterias atividades voleibol andando 2 mph taacute vendo ele tem a

velocidade esse mph ndash aeroacutebica tecircnis ciclismo moderado

Em busca de mais informaccedilotildees sobre a problemaacutetica nos dirigimos agrave paacutegina 900

do mesmo livro na qual encontramos algumas tabelas explicativas Observando as tabelas

comecei a socializar com os parceiros uma seacuterie de ideias sobre a questatildeo perseguida por noacutes

como segue

O que eu pensei de iniacutecio era a gente criar uma equaccedilatildeo que vocecirc daacute de entrada a

atividade que vocecirc estaacute fazendo tipo assim como se vocecirc pudesse fazer uma

medida de tudo o que vocecirc faz ao longo de uma semana [] pra conseguir fazer um

cronograma do que fazer em termos de atividade fiacutesica e do que comer em termos

de alimentaccedilatildeo pra te dar um resultado que vocecirc jaacute queira Soacute que isso a gente taacute

vendo depende de vocecirc ser homem depende de vocecirc ser mulher depende de seu

peso taacute vendo tem vaacuterios [] porque assim quando a gente vai num

nutricionista eles te datildeo uma foacutermula como se todo mundo fosse igual entendeu

E aiacute pelo o que eu tocirc vendo aqui principalmente com esse livro [] eacute que cada

pessoa depende do peso da idade depende do seu gecircnero e depende da sua altura

neacute essas variaacuteveis satildeo as miacutenimas pra vocecirc ter uma foacutermula []

Apoacutes o compartilhamento dessas ideias Angel se mostrou bem animado e

acrescentou ldquomas a gente pode fazer um software pra fazer isso uai [] primeira coisa que a

gente tem que fazer eacute levantar todas as equaccedilotildees que me datildeo essa resposta e depois a partir

dessas equaccedilotildees chegar em talvezrdquo

Em seguida seguimos discutindo e interagindo como segue

Eu Na verdade vai dar um sistema Vai dar um sistema de interdependecircncia aqui

[aponto para trecircs lugares distintos na mesa como se representassem trecircs lsquocaixinhasrsquo]

[] as variaacuteveis peso altura gecircnero e idade na verdade elas natildeo vatildeo ser variaacuteveis

elas vatildeo ser uma constante ou seja ela eacute variaacutevel do ponto de vista de cada um

[cada pessoa] mas para a foacutermula ela vai ser uma constante [] aiacute a gente coloca

essa variaacuteveis soacute com coeficientes da equaccedilatildeo

151

Robson nossa vocecirc eacute show de bola heim

Angel tem alguma equaccedilatildeo aiacute [no livro] jaacute pronta

Eu natildeo nenhuma pronta

Robson mas essa abordagem vai facilitar a montagem da equaccedilatildeo

Eu inclusive perguntei agrave docente da UFOP e ela falou que eacute isso aqui que a gente

tem entendeu Eacute isso e natildeo tem nada aleacutem disso entendeu

Angel hoje isso daqui [o livro] entatildeo eacute o supra sumo do que tem sobre isso

Eu exatamente eacute o resumo de tudo o que se tem entendeu Que eacute o que eles

[nutricionistas] se apoiam mesmo eacute nesse livro Vamos tentar achar a questatildeo da

taxa de [] porque todos os trecircs satildeo energias neacute Tipo assim melhorando esse

modelo baacutesico seria o tanto de atividade fiacutesica ou seja o gasto caloacuterico porque

na verdade essas trecircs coisas satildeo energias tanto do alimento que eacute energia que

entra quanto do exerciacutecio que eacute uma energia que sai desse sistema e o basal

tambeacutem eacute uma energia que vai taacute sendo gasta Vamos tentar equacionar como se

fosse assim o gasto energeacutetico a taxa de energia natildeo importando se ela eacute uma

taxa positiva ou uma taxa negativa O quecirc que vocecircs acham

Robson razoaacutevel

Eu porque se a gente coloca assim as trecircs equaccedilotildees como taxas de energia neacute eacute

claro que elas vatildeo se alterar neacute uma vai ser sei laacute P a outra Q a outra R

Angel Taacute mais aiacute se vocecirc pensar na questatildeo de classe jaacute tem que pensar no que

vocecirc taacute querendo vincular edo pra depois encontrar o resto eacute essa que eacute a sua

ideia Aiacute cecirc teria que pensar qual seria a antiderivada dessa taxa relacionada a

essa parte de dieta porque laacute na parte de fiacutesica de Caacutelculo a gente sabe o quecirc que

estaacute relacionado com o quecirc agora nessa parte daqui eu jaacute natildeo sei [risos]

Eu entatildeo a gente vai ter que buscar nos dados que a gente jaacute tem mapeados nesse

livro por exemplo Talvez a gente pudesse comeccedilar com a terceira que eacute a parte da

atividade fiacutesica entendeu [] eu natildeo sei se vai dar pra ser uma edo bonitinha ou

se na verdade isso daiacute eacute um trem nebuloso entendeu Porque cada um vai se

subdividindo entre outros e outras

Com essas informaccedilotildees em matildeos decidimos por aceitar e acatar o que nos foi

informado pela docente do Departamento de Nutriccedilatildeo da UFOP Segui criticando a

ldquopadronizaccedilatildeordquo das consultas de nutricionistas e educadores fiacutesicos ldquovocecirc vai consulta faz

tudo o que o profissional te falou e natildeo vecirc resultados Qual o problemardquo

Encerramos o quinto encontro deliberando que deveriacuteamos ler com mais

profundidade o livro indicado pela docente da nutriccedilatildeo

Depois disso na manhatilde do dia 17122012 veacutespera do sexto encontro do

GEPMM na sala dos professores da instituiccedilatildeo em que leciono ao folhear uma revista

chamada Caacutelculo (ano 2 nuacutemero 20 setembro de 2012 editora segmento) li a seguinte frase

na parte inferior da capa ldquoEXTRA EMAGRECER DEMORA TREcircS ANOSrdquo Na mateacuteria

da revista obtive a seguinte informaccedilatildeo

Carson e Kevin dois cientistas americanos descobriram que o corpo reage aos

novos haacutebitos alimentares de modo exponencial (mais ou menos do tipo 119890minus119909)

Quanto maior o peso de Ivan [uma personagem da mateacuteria] mais depressa ele perde

peso ao comeccedilar uma nova dieta a perda de peso desacelera bastante ndash quanto mais

peso Ivan perde mais devagar ele perde peso (o mesmo vale para ganhar peso uma

pessoa gorda se ingerir 10 calorias desnecessaacuterias engordaraacute mais que uma pessoa

magra) O modelo matemaacutetico dos dois cientistas usa um grande nuacutemero de

variaacuteveis para ver como o corpo deve comportar incluindo altura sexo peso grau

152

de atividade fiacutesica ingestatildeo de calorias perfil dos alimentos ingeridos tempo entre

as refeiccedilotildees O problema eacute que tal modelo serve bem para cientistas e

nutricionistas mas natildeo serve para pessoas comuns [] Os dois pesquisadores

colocaram um simulador no portal do NIH que pode ser usado tanto por

nutricionistas quanto por pacientes (httpbwsimulatorniddknihgov) [] Ele

mostra graacuteficos tambeacutem (p 29 grifo meu)

Ao chegar em casa imediatamente acessei o site

httpbwsimulatorniddknihgov para tentar entender o que os pesquisadores fizeram desde

o iniacutecio percebi que o que eles fizeram convergia bem com as nossas ideias

Imediatamente apoacutes acessar o site compartilhei essas informaccedilotildees com os demais

parceiros do grupo incluindo a docente135

do Departamento de Nutriccedilatildeo da UFOP

41516 Sexto encontro

O sexto encontro do GEPMM ocorreu em 18122012 (terccedila-feira) e contou com a

participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice e com a minha participaccedilatildeo desempenhando duplo

papel ndash participante do grupo e pesquisadora

Comecei o encontro contando para os parceiros como tive acesso a essa nova

fonte de informaccedilotildees conforme jaacute relatado acima Pegamos meu computador portaacutetil e

acessamos o site httpbwsimulatorniddknihgov em busca de reconhecer as potencialidades

deste (incriacutevel) novo instrumento Nisso comeccedilamos a seguinte interaccedilatildeo

Eu Ela [a docente da UFOP] me explicou o seguinte a pessoa quando faz o

exerciacutecio fiacutesico [] o exerciacutecio fiacutesico altera o metabolismo basal que eacute aquele de

repouso ele vai acelerar o metabolismo basal e aiacute agraves vezes vamos supor que a

pessoa comeccedila a fazer uma dieta ela comia 2500 calorias por dia passa pra 2000

ou seja o organismo dela tava acostumado com 500 calorias a mais Na teoria

assim que natildeo eacute a teoria de verdade a gente ia achar que essa pessoa vai

emagrecer

Clarice Mas eu juro que vai emagrecer Natildeo me desmente [risos]

Eu Natildeo vai emagrecer necessariamente Por quecirc Porque seu organismo ele vai

lutar pra manter a gordura porque isso eacute uma questatildeo de sobrevivecircncia do

organismo Entatildeo o organismo vai fazer o quecirc Ele vai comeccedilar a economizar o

seu gasto [] enquanto mais muacutesculos a pessoa tem mais eacute o gasto [] e tem mais

vamos supor vocecirc passou de 2500 para 2000 natildeo emagreceu e desistiu da dieta aiacute

135

A referida docente natildeo faz parte dos sujeitos que constituem os dados construiacutedos para a presente pesquisa

apesar de ter participado na resoluccedilatildeo da modelagem do peso corporal ideal Decidi natildeo consideraacute-la como

sujeito por natildeo ser uma participante do contexto formativo analisado ndash formaccedilatildeo em Engenharias Na atividade

de Modelagem analisada nesta parte da tese a docente pode ser considerada como uma fonte externa de

informaccedilotildees

153

vocecirc volta a comer 2500 aiacute vocecirc vira uma baleia Porque ele [o organismo]

acostumou a viver com 2000

Angel Efeito ldquoreboterdquo

Eu Pra engordar eacute exponencial [] Como de fato o exerciacutecio impacta no

metabolismo com o passar do tempo Ela [a docente da UFOP] natildeo soube me dar

essa resposta []

Clarice Eacute mais ou menos assim olha vocecirc fez regime emagreceu passe o resto da

vida fazendo exerciacutecio e regime

Eu Exatamente isso

Com essa afirmaccedilatildeo compreendemos melhor a problemaacutetica estudada por noacutes

Em seguida pontuo que no httpbwsimulatorniddknihgov os pesquisadores

oferecem um campo de resultados para a questatildeo da ldquodieta de manutenccedilatildeordquo jaacute levando em

conta esse entendimento de que satildeo necessaacuterias adaptaccedilotildees permanentes na dieta para manter-

-se com o peso desejado o que muitas vezes pode ser conhecido como ldquoreeducaccedilatildeo

alimentarrdquo

Encerramos o encontro deliberando que precisaacutevamos estudar as equaccedilotildees que

estavam por traacutes ou ldquodentrordquo do software que compilava os resultados no site

httpbwsimulatorniddknihgov Tais equaccedilotildees podem ser encontradas no mesmo site ou

pelo link httpbwsimulatorniddknihgovHall_Lancet_Webappendixpdf

41517 Seacutetimo encontro

O seacutetimo encontro do GEPMM ocorreu em 07022013 (quinta-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice e com a minha participaccedilatildeo

desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e pesquisadora

A docente Clarice comeccedilou a reuniatildeo tecendo o seguinte comentaacuterio ldquoO que eu

acho interessante eacute que quando vocecirc propocircs o tema eu natildeo me animei tanto nem o Angel

quanto os alunosrdquo A docente reclamou da natildeo participaccedilatildeo dos alunos que inicialmente

mostraram-se interessados e depois foram deixando de participar totalmente do grupo

Nesse seacutetimo encontro tentamos discutir136

detalhadamente conceitos e modelos

presentes no artigo que diz respeito agrave Modelagem Matemaacutetica Dinacircmica do peso corporal137

Contudo natildeo conseguimos entendecirc-lo em sua totalidade e entatildeo combinamos de sozinhos

136

Tal discussatildeo seraacute mais bem relatada e analisada mais adiante neste mesmo capiacutetulo 137

O texto pode ser encontrado em httpbwsimulatorniddknihgovHall_Lancet_Webappendixpdf

154

em casa estudarmos o artigo e depois num proacuteximo encontro socializarmos nossos

entendimentos com os demais sujeitos do grupo

41518 Oitavo encontro

O oitavo encontro do GEPMM ocorreu em 16042013138

(terccedila-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice e com a minha participaccedilatildeo

desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e pesquisadora

Anteriormente ao oitavo encontro a docente Clarice havia manifestado desejo em

desenvolver atividades de Modelagem Matemaacutetica nas turmas da disciplina Caacutelculo II que ela

lecionava naquele semestre letivo Contudo percebi que ela se sentia ainda insegura quanto

ao desenvolvimento de tal atividade devido ao fato de as turmas serem compostas por 75

alunos ela temia que os alunos pudessem ter dificuldades de realizaccedilatildeo da atividade visto

que apenas um professor natildeo daria conta de auxiliar 75 alunos de uma soacute vez Sabendo desse

desejo de Clarice comecei a reuniatildeo com o objetivo de idealizarmos as accedilotildees necessaacuterias para

tal efetivaccedilatildeo na realidade da sala de aula das turmas de Caacutelculo II sob a responsabilidade de

Clarice e Angel Segue o trecho extraiacutedo da transcriccedilatildeo das gravaccedilotildees em aacuteudio e viacutedeo do

oitavo encontro

Eu Bom antes de a gente comeccedilar a discutir o artigo em si [que havia sido

estudado no encontro anterior e seria retomado neste] eu queria falar das coisas

extras extra artigo no momento Primeiro eacute a proposta da Clarice sobre a gente

fazer a modelagem no dia 30 na sala [de aula]

Clarice Natildeo No dia 30 fazer na sala natildeo no dia 30 preparar ela pra fazer

Eu Preparar eacute a partir do dia 30 pra depois do dia 30 laacute pelo final de maio

Angel Seria a Modelagem em Caacutelculo II

Clarice Eacute Na minha sala e na sua como um trabalho e a Rutyele vai nos ajudar

Nesse momento podemos perceber um ldquogeacutermemrdquo de atividade sendo elaborado

um novo objeto sendo traccedilado e esboccedilado ainda num plano da consciecircncia coletiva dos

sujeitos partiacutecipes Podemos analisar que os docentes estavam em busca de transformaccedilotildees

efetivas de suas atividades de ensino dentro da sala de aula As discussotildees do grupo as

leituras as interaccedilotildees mediadas por finalidades podem ter suscitado a necessidade de negar

138

O mecircs de marccedilo foi de feacuterias para os docentes e discentes da UNIFEI devido agrave greve histoacuterica da categoria

docente das universidades federais brasileiras ocorrida no ano de 2012 Dessa forma somente no dia 16 de abril

conseguimos nos reunir novamente

155

de alguma forma as praacuteticas presentes dentro da sala de aula e propor uma nova forma de

atividade um contexto alternativo que idealmente modificaria o objeto das aulas tradicionais

das disciplinas de Caacutelculo naquele periacuteodo (especificamente da disciplina Caacutelculo II) A

negaccedilatildeo se deve ao fato de que ldquose o homem aceitasse sempre o mundo como ele eacute e se por

outro lado aceitasse sempre a si mesmo em seu estado atual natildeo sentiria a necessidade de

transformar o mundo nem de transformar-serdquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 192)

Um novo e expandido objeto estava por ser configurado Tiacutenhamos um contexto

real a ser considerado a realidade da disciplina de Caacutelculo II a ementa da disciplina a cultura

jaacute definida pela praacutetica tradicional de ensino de Caacutelculo II o tempo delimitado para a

realizaccedilatildeo das atividades entre outros fatores Enfim o objeto do scholl-going estaria

convivendo com esse novo objeto que naquele momento estava sendo moldado

coletivamente Mas com qual finalidade estaacutevamos moldando este novo objeto Por um lado

devemos considerar o fato de que ldquoa relaccedilatildeo entre pensamento e accedilatildeo requer a mediaccedilatildeo das

finalidades que o homem se propotildeerdquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 192) Por outro lado

para que as finalidades natildeo fiquem limitadas a meros desejos ou fantasias se torna necessaacuteria

antes de qualquer coisa a realizaccedilatildeo de idealizaccedilotildees de forma a conhecer a priori o objeto

que orientaria as ldquoaccedilotildeesrdquo da atividade antes mesmo de ele se tornar real ou seja isso requer

ldquoum conhecimento de seu objeto dos meios e instrumentos para transformaacute-lo e das

condiccedilotildees que abrem ou fecham as possibilidades dessa realizaccedilatildeordquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ

1977 p 192) Nesse sentido continuamos com as idealizaccedilotildees do novo objeto

Angel Sim Taacute mais aiacute essa modelagem eacute com base no conteuacutedo de Caacutelculo II e

Seacuteries

Clarice Natildeo O tempo todo

Angel Modelagem geneacuterica qualquer coisa

Eu Eacute Qualquer coisa

Clarice Eacute porque agraves vezes a gente acha mais interessante algum que envolva

campos ou equaccedilotildees diferenciais

Angel Taacute mais aiacute essa proposta vai ser pra eles fazerem durante o resto do

semestre

Clarice Natildeo a gente vai fazer em uma das aulas

Eu Em duas aulas no maacuteximo Fazer algo simples Levar um probleminha bem

simples do mundo real e que eles faccedilam Aiacute se vocecircs quiserem depois que isso ah

natildeo a gente quer gastar uma semana ou um mecircs aiacute a gente pode pensar em algo

com esta duraccedilatildeo entendeu

Clarice Natildeo daacute pra gastar um mecircs natildeo Toma muita aula Eu acho [risos]

Eu Eacute Tem esse problema

Observemos que naquele momento um dilema potencialmente incorporado veio

agrave tona como propor atividades de Modelagem Matemaacutetica em salas de aula da disciplina de

Caacutelculo II em cursos de Engenharia e ao mesmo tempo cumprir a ementa da disciplina

156

Adicione ainda o fato de ser a primeira vez que os professores participariam de atividades de

modelagem em sala de aula Nesse dilema os professores continuam realizando idealizaccedilotildees

em busca de um novo objeto que estaria relacionado ao objetivo de ensinar os conteuacutedos de

Caacutelculo II de forma que tais conteuacutedos sejam tomados como instrumentos de uma atividade

em vez de objeto

Dessa forma havia um desejo de transformar e modificar o ldquoolharrdquo sobre os

conteuacutedos de caacutelculo tornando-os caacutelculo em accedilatildeo como instrumentos mediadores de accedilotildees

realizadas pelos sujeitos (discentes de cursos de Engenharia) orientados pelo objeto (questatildeo-

problema natildeo matemaacutetica) em vez de sempre estarem sendo tomados como objeto de uma

atividade (school-going) historicamente e tradicionalmente constituiacuteda Na tentativa de

minimizar a tensatildeo entre cumprir a ementa e propor atividades de Modelagem em sala de

aula continuamos dialogando e tentando idealizar um objeto considerando os meios os

instrumentos e as condiccedilotildees para sua realizaccedilatildeo

Eu Ela [a Clarice] pode separar os alunos por curso Fazer os grupos por curso

Tipo assim oh vocecirc eacute aluno da Mecacircnica Vocecirc soacute pode ficar em grupo de gente da

Mecacircnica entendeu Ela pode fazer isso Porque aiacute natildeo precisa ser o mesmo tema

pra todo mundo Inclusive eles mesmos podem trazer os modelos de soluccedilatildeo e

socializar ldquopro restordquo da turma Entatildeo mesmo que o cara laacute da Mobilidade natildeo

tenha nada a ver digamos num primeiro momento com a Mecacircnica mas agraves vezes o

problema que os meninos da Mecacircnica vatildeo resolver vai tambeacutem ter neacute produzir

um significado bacana pros outros

Angel [Balanccedila a cabeccedila assertivamente]

Clarice [Balanccedila a cabeccedila assertivamente]

Angel Eacute aquela parte laacute de vaacuterias variaacuteveis que envolvem volumes e tudo mais daacute

pra pensar umas situaccedilotildees reais assim bem bacanas ligadas agrave produccedilatildeo ou alguma

coisa do gecircnero Ou problemas ateacute aiacute jaacute puxando a sardinha neacute pro meu lado de

Otimizaccedilatildeo neacute que utiliza multiplicadores de Lagrange e tudo mais que eacute uma

parte tambeacutem que eles vatildeo ter que ver

Clarice Eacute

Eu Eu acho que problemas de otimizaccedilatildeo daria pra fazer em todas as aacutereas

Clarice [Balanccedila a cabeccedila assertivamente] Humhum

Eu Igual da Produccedilatildeo da [] de todas as aacutereas ali daacute E usaria a mesma

matemaacutetica neacute assim a mesma ferramenta pra ser resolvido [o problema]

Angel Sim daacute

Eu Vamos pensar Dia 30 a gente senta e discute o quecirc que seria mais viaacutevel de

fazer

Angel Humhum Beleza

Clarice [Balanccedila a cabeccedila assertivamente]

No referido momento estaacutevamos colocando em relevo as condiccedilotildees para a

realizaccedilatildeo da atividade baseados no cumprimento de alguns conteuacutedos da ementa da

157

disciplina dentre eles os Multiplicadores de Lagrange139

que por sua vez abarcam outros

conteuacutedos a serem estudados pelos alunos na referida disciplina dentre os quais podemos

enfatizar o conceito de derivada parcial Sendo assim poderiacuteamos escolher questotildees-

-problema que abarcassem tais conteuacutedos constituindo condiccedilotildees iniciais de um processo que

elencaria outros conteuacutedos abarcados na ementa da disciplina de forma a consideraacute-los

instrumentos necessaacuterios para a resoluccedilatildeoentendimento de tal questatildeo-problema Nesse

sentido os conteuacutedos de Caacutelculo II poderiam ser desenvolvidos sob a orientaccedilatildeo de uma

finalidade um objeto definido como sendoestando mais proacuteximo do objeto a ser considerado

no que tange ao objetivo de formaccedilatildeo em Engenharia

Nisso o que pode ser colocado em relevo eacute a proacutepria finalidade da constituiccedilatildeo do

GEPMM na UNIFEI-Itabira Estando baseado no contexto da aprendizagem expansiva que

se aproxima das finalidades preconizadas pela abordagem do PBL conforme exposto no

Capiacutetulo 3 deste texto o contexto que define e ao mesmo tempo eacute definido pelo grupo como

um espaccedilo formativo enfatiza a necessidade de se elaborar novas formas de praacuteticas

formativas que aconteccedilam uma atividade objetiva real isto eacute uma nova forma de praacutexis

formativa Vale ressaltar que o objetivo da presente pesquisa sempre esteve vinculado a tal

finalidade com o intuito de estudaranalisar o que acontece em termos de aprendizagens

expansivas nesse contexto formativo

Depois de termos dedicado esforccedilos na idealizaccedilatildeo de um novo objeto a ser

levado para as praacutexis formativas que ocorrem no decorrer da disciplina Caacutelculo II

comeccedilamos a interaccedilatildeo uns com os outros por meio de linguagem falada e gestos e com o

texto140

(artigo) estudado na reuniatildeo anterior mediado pela linguagem escrita que inclui a

linguagem escrita matemaacutetica impressa no texto no que tange aos modelos matemaacuteticos

suportados por tal miacutedia O seguinte trecho extraiacutedo das transcriccedilotildees da filmagem em aacuteudio e

viacutedeo do oitavo encontro nos mostra outras accedilotildees que se fizeram necessaacuterias para darmos

continuidade agrave atividade presente cujo objeto consistia no que denominados por peso corporal

ideal A saber

Eu [Com o texto do webappendix em matildeos] Entatildeo olha soacute eu dei uma procurada

eacute pra tentar entender essas equaccedilotildees entatildeo eu cheguei na seguinte conclusatildeo esse

glicogecircnio ele eacute um hormocircnio que ele eacute ativado pela insulina do sangue Entatildeo ele

tem relaccedilatildeo direta com a insulina Aiacute eu fui olhar na () dei uma procurada na

internet e achei umas coisas por exemplo eacute a insulina tem um hormocircnio ligado a

139

Teoria desenvolvida pelo matemaacutetico Lagrange cuja utilidade se encontra na resoluccedilatildeo de problemas de

otimizaccedilatildeo que sob certas condiccedilotildees admitem maacuteximos e miacutenimos locais de funccedilotildees de n variaacuteveis

condicionados a uma restriccedilatildeo Para mais detalhes confira Gonccedilalves e Flemming (2007) 140

O texto pode ser encontrado em httpbwsimulatorniddknihgovHall_Lancet_Webappendixpdf

158

ela que satildeo responsaacuteveis por armazenar gordura no organismo e tem esse

glucagon ou glucacon e um outro hormocircnio que chama hsl que ele eacute responsaacutevel

por fazer o papel contraacuterio que eacute queimar a gordura E aiacute eacute () entatildeo esse

glicogen [continuo apontando a lapiseira para o texto impresso] que tem aqui esse

glicogecircnio ele eacute algo que eacute ativado pela insulina do sangue Quando vocecirc ingere

carboidrato que eacute a massa neacute essas coisas que eacute accediluacutecares a insulina ela tem que

ser ativada pra poder combater isso digerir isso no seu organismo E aiacute

dependendo do tanto de carboidrato que vocecirc come sempre esse G ele eacute ativado

pelo carboidrato ingerido entendeu Entatildeo na verdade essa parte aqui oh esse

[indico com a lapiseira no texto] na verdade ela eacute sempre uma coisa () esse

1198701198921198662 na verdade ele fica sempre maior do que o carboidrato que vocecirc ingere

porque esse G ele eacute ativado pelo CI no organismo Entendeu

Clarice [Olha pra mim com ar de interrogaccedilatildeo Em seguida balanccedila a cabeccedila

assertivamente] Humhum

Angel Humhum

Eu Entatildeo essa parcela 1198701198661198662 taacute vendo que o 119870119866 eacute o 119862119868119887 sobre 119866119894119899119894119905

2 Eacute como se

vocecirc tivesse pegando aqui um zero neacute [no sentido de condiccedilatildeo inicial] Esse 119870119866

Angel Humhum [balanccedila a cabeccedila assertivamente]

Eu Esse 119870119866 eacute pra exatamente manter essa parcela aqui sempre uma parcela o

1198701198661198662maior do que o 119862119868

Angel Taacute mais aiacute vai dar negativo uai Se 1198701198661198662 eacute maior que 119862119868 entatildeo essa

diferenccedila vai dar um sinal negativo

Eu Eacute [balanccedilo a cabeccedila assertivamente] pra dar um resultado negativo Porque aiacute

quando vocecirc joga isso daqui oh [aponto pras equaccedilotildees da paacutegina 2] menos o que era

negativo fica mais [no sentido de ser positivo] Entendeu

Angel Hum Hum Humhum

Eu Entatildeo menos o que seria um decrescimento digamos assim aiacute vai ficar mais

aqui oh Vocecirc lembra que eacute o que a gente tava discutindo na uacuteltima reuniatildeo que era

essa questatildeo aqui de tentar entender [direciono a pergunta para Angel]

Angel Eacute porque os dois termos satildeo iguais o que diferencia eacute o 1 minus 119901 e 119901 Eu Isso Humhum

Angel Aiacute um tava relacionado ao corpo gordo neacute e o outro ao corpo ldquoleanrdquo que eacute

o corpo fino neacute vamos dizer assim neacute magro

Eu Humhum Massa magra e massa gorda

Angel Isso exatamente Que a gente natildeo tinha entendido porque que daria um

resultado () ambos dariam pelo jeito positivo

Observemos que neste momento uma accedilatildeo adicional pocircde ser percebida a busca

de informaccedilotildees na internet As possibilidades de buscas de informaccedilotildees foram potencialmente

ampliadas nos uacuteltimos anos com o crescente acesso e uso de instrumentos de busca na

internet Podemos considerar inclusive que a maioria de nossas atuais atividades cotidianas

pode ser mediada pela internet O uso da internet configurou-se como um importante

instrumento podendo ser considerado como facilitador no que tange ao acesso agraves informaccedilotildees

relacionadas ao objeto de nossa atividade Anaacutelises mais pontuais sobre tais possibilidades

interativas seratildeo mais bem evidenciadas mais adiante ainda neste capiacutetulo

Seguimos ateacute o fim do oitavo encontro interagindo com o artigo em questatildeo

dedicando esforccedilos para o pleno entendimento dos modelos ali impressos Contudo

terminamos a reuniatildeo ainda com uma interrogaccedilatildeo relacionada agrave deacutecima equaccedilatildeo impressa no

referido artigo ldquode onde ele [o autor] tirou esse modelordquo pergunto eu Clarice pontua que o

159

autor citou a referecircncia [20] para chegar ao modelo (10)141

Seguimos debatendo sobre nossa

duacutevida e chegamos agrave conclusatildeo de que o autor isolou a variaacutevel peso (119861119882) na equaccedilatildeo (9) e

derivou em relaccedilatildeo ao tempo chegando assim na equaccedilatildeo (10)142

Combinamos de tentar

fazer isso com calma em casa e vermos se essa seria a resposta para o questionamento exposto

anteriormente Encerramos a reuniatildeo com a seguinte reflexatildeo

Clarice Eacute mais ainda fica aquela coisa neacute achamos que eacute isso [gesticula com os

dedos no sentido de entre aspas]

Eu Eacute mais quem que confirma que eacute neacute A gente tinha que ter algueacutem assim mais

da nutriccedilatildeo pra poder ()

Clarice Pra poder confirmar essas coisas neacute

Eu Porque assim o que os nuacutemeros dizem Os nuacutemeros dizem isso Mas eacute isso

mesmo Como obter algueacutem pra falar natildeo eacute isso mesmo

Clarice Isso Fica um pouco de interrogaccedilatildeo neacute

Eu Humhum Entatildeo aiacute agora Clarice eu acho que o proacuteximo passo eacute a gente eacute

entender esse restinho neacute e eu acho que agora taacute bem mais simples

Clarice Eacute eu acho que aqui a gente termina dia 30

Como estaacutevamos enganadas quanto agrave simplicidade do que estaria por vir A

certeza que tiacutenhamos naquele momento eacute de que ainda havia uma interrogaccedilatildeo quanto ao

entendimento daquela equaccedilatildeo de onde o autor tirou a equaccedilatildeo (10)

41519 Nono encontro

O nono encontro do GEPMM ocorreu em 30042013 (terccedila-feira) e contou com a

participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice e com a minha participaccedilatildeo desempenhando duplo

papel ndash participante do grupo e pesquisadora

Comeccedilamos a reuniatildeo discutindo sobre a necessidade de encontrarmos alunos

para nos ajudar na finalizaccedilatildeo da atividade de entendimentosoluccedilatildeo da problemaacutetica questatildeo

do peso corporal ideal Como poderiacuteamos recompensar o engajamento dos alunos no grupo

distribuiccedilatildeo de pontos na disciplina Caacutelculo II Oferecimento de bolsas de pesquisa As duas

alternativas pareceram problemaacuteticas num primeiro momento Primeiro quanto agrave

possibilidade de distribuiccedilatildeo de pontos podemos considerar o seguinte trecho extraiacutedo da

transcriccedilatildeo das filmagens da oitava reuniatildeo

141

httpbwsimulatorniddknihgovHall_Lancet_Webappendixpdf 142

A equaccedilatildeo (10) [120578119865+120588119865+120572120578119871+120572120588119871

(1minus120573)(1+120572)]119889119861119882

119889119905= Δ119864119868 minus

1

(1minus120573)[120574119865+120572120574119871

(1+120572)+ 120575] (119861119882 minus 1198611198820)

160

Eu [] Aiacute na hora que vocecirc oferece 10 pontos eles vecircm participar

Clarice Porque eu tenho alunos que natildeo tiram 10 em 100 [risos] Entatildeo 10 pontos

pra ele eacute um brinde [] E os alunos aqui tem uma preocupaccedilatildeo enorme com

coeficiente

Eu Mas vocecirc acha que ele [o aluno] viria e que ele faria o serviccedilo ou natildeo

Clarice Viria mas como eacute que eu tocirc te falando porque faria o serviccedilo [balanccedila a

cabeccedila negativamente] Natildeo natildeo faria Talvez nos primeiros dias ele tentaria mas eu

natildeo sei ateacute onde ele conseguiria A preocupaccedilatildeo eacute apenas ponto ponto e ponto

Naquele momento a opccedilatildeo de distribuiccedilatildeo de pontos pareceu natildeo resolver o

problema da falta de interesse por parte dos alunos no que diz respeito agrave participaccedilatildeo no

grupo Parece ser consensual entre noacutes docentes que geralmente os alunos dedicam esforccedilos

sempre na direccedilatildeo da obtenccedilatildeo de pontos para serem aprovados nas disciplinas

especialmente nas disciplinas de Caacutelculo que satildeo responsaacuteveis por grande parte das

reprovaccedilotildees em cursos de Engenharia podendo ateacute mesmo ser consideradas como fator de

desistecircncia e evasatildeo desses cursos Caso os docentes decidissem pela distribuiccedilatildeo de pontos

nas respectivas disciplinas de Caacutelculo que lecionavam para que os alunos participassem do

GEPMM a Teoria da Atividade nos ajuda a perceber que os alunos poderiam estar orientados

para a pontuaccedilatildeo a ser obtida e natildeo para o objeto idealizado do GEPMM - resoluccedilatildeo das

questotildees-problema natildeo matemaacuteticas e a proacutepria formaccedilatildeo

Em segundo lugar o oferecimento de bolsas aos alunos que aceitassem o convite

de participaccedilatildeo no grupo estaria condicionado ao registro do GEPMM no diretoacuterio de grupos

de estudos e pesquisas do CNPq sendo que somente docentes que possuem o tiacutetulo de

doutorado podem registrar grupos de pesquisa em tal diretoacuterio O uacutenico docente que estaria

portanto em condiccedilotildees de registrar o GEPMM seria o Robson que possui o tiacutetulo de doutor

Contudo Robson havia ateacute entatildeo participado apenas do terceiro e do quinto encontro do

GEPMM sempre se mostrava ocupado demais ou em viagens de trabalho Mesmo assim

estando restritos a tal condiccedilatildeo insistimos com Robson para que ele registrasse o grupo no

diretoacuterio do CNPq

Dando prosseguimento ao relato do nono encontro Angel nos contou que havia

mudado a dinacircmica da disciplina de Caacutelculo II e que em certos momentos trabalharia com

problemas reais que tivessem relaccedilatildeo aos conteuacutedos da referida disciplina Isso pode

demonstrar que realmente Angel estaacute motivado a realizar mudanccedilas quanto agraves praacutexis

formativas que ele tem participado como docente da disciplina de Caacutelculo II em cursos de

Engenharia Angel pontuou tambeacutem mudanccedilas no que se refere ao trabalho em equipe dentro

de sala de aula e acabou gerando a seguinte discussatildeo

161

Angel [] eu mudei essa questatildeo de disciplina e agora tudo tem que ser feito em

equipe Entatildeo eles [os alunos] jaacute chegam jaacute forma laacute os grupinhos laacute que vai ficar

ateacute o final do semestre e tudo mais e assim eu vejo que existe essa interaccedilatildeo igual

eu passo nos grupos laacute tem um que fala mais e que sabe mais explicando pros

outros colegas discutindo o assunto entendeu Entatildeo assim nossa eu fico

satisfeitiacutessimo Entendeu vendo esse tipo de conduta

Clarice Natildeo ponho muita feacute natildeo Muito pouca feacute [risos] Noacute [balanccedila a cabeccedila

indicando negatividade]

Eu Mais eacute Clarice tem que mudar eacute isso O problema eacute que o ensino tradicional

ele taacute falido haacute muitos anos e a gente natildeo consegue perceber

Clarice Pois eacute mais eu tocirc dizendo assim eacute infelizmente igual no meu grupo [na

sala de aula de Caacutelculo II em que leciona] posso passar isso laacute alguns vatildeo me

enganar entendeu Eu tocirc chateada por isso mesmo porque tatildeo tentando me

enganar

Eu Natildeo mais eles [alguns alunos] vatildeo tentar burlar o sistema Sempre vai ter

Angel Claro

Clarice Isso Eles montam o grupo laacute agraves vezes sim o seu grupo tem sete [alunos] e

tem trecircs interessados os outros humhum humhum e sabe Natildeo sei Entatildeo assim

natildeo eacute ainda ()

Angel Taacute mais aiacute como que vocecirc mapeia e pune esses que estatildeo igual eu falei laacute

()

Clarice Natildeo pune Vocecirc natildeo consegue punir num trabalho()

Angel Na avaliaccedilatildeo uai

Observe que nessa discussatildeo dois fatores principais quanto ao trabalho em grupo

sendo realizado dentro da praacutexis formativa em salas de aula de Caacutelculo II podem ser

colocados em relevo Por um lado ao realizar atividades em grupo os alunos tecircm ampliadas

as possibilidades de interaccedilotildees o que sem duacutevida pode ampliar as possibilidades de

aprendizagens por outro lado os alunos que natildeo se engajarem na atividade de fato acabam

podendo mais facilmente tentar ldquoburlarrdquo o controle exercido pelo professor principalmente no

que tange agrave puniccedilatildeo que pode inclusive continuar a ser exercido pela avaliaccedilatildeo escrita

individual e na maioria das vezes sem consulta conforme preconizado por Angel que seguiu

nos contando

Angel Igual por exemplo igual porque eu adoto muito esse meacutetodo porque eacute da

onde que eu dei aula que eacute laacute no Pitaacutegoras que tem muito essa questatildeo de equipe e

tudo mais e depois avaliar o individual Entatildeo o quecirc que eacute Como que eu moldei

essa questatildeo aqui mais ou menos adaptado ao que tinha laacute vocecirc tem o quecirc as

atividades em equipe e tem as avaliaccedilotildees individuais Entatildeo laacute no Pitaacutegoras vocecirc

sempre trabalhava com 70 30 setenta a parte de prova e trinta das notas de

trabalho em equipe Porque todo mundo tem que aprender a lidar em equipe a

trabalhar em equipe neacute aquelas coisas todas Entatildeo no Caacutelculo II eu tocirc sempre

fazendo esse meio termo primeira etapa claacutessica e a segunda etapa essa parte de

atividade em equipe e avaliaccedilatildeo individual Entatildeo o quecirc que acontece Cada

unidade do livro vamos dizer assim eu seleciono laacute oito dez exerciacutecios pra seres

desenvolvidos em sala entatildeo eu tocirc vendo olhando os grupos como que taacute o niacutevel de

discussatildeo o quecirc que taacute acontecendo entendeu Todas as aulas jaacute foram

disponibilizadas os slides entatildeo eles jaacute tem todas as ferramentas na matildeo

Clarice Vocecirc pocircs no portal [referindo-se ao portal acadecircmico ndash uma plataforma

digital]

162

Angel No portal e tambeacutem num site laacute onde taacute os slides que a proacutepria editora [do

livro texto] fornece Eacute claro que tem que fazer umas correccedilotildees-zinhas neacute Mas a

editora jaacute facilita tremendamente Entatildeo o que acontece Cada aula entatildeo eles

natildeo sabem quais os exerciacutecios que eu vou pedir porque eu passo na aula entatildeo

eles jaacute tecircm que ir para aquele momento de atividade em equipe sabendo um pouco

do assunto Porque como que eles vatildeo discutir com os outros colegas laacute sem saber

nada

Uma anaacutelise que pode ser feita com base nesse excerto eacute de que o docente Angel

desejava que os alunos tivessem uma participaccedilatildeo mais ativa em seus proacuteprios processos

formativos Acreditava que o conhecimento preacutevio eacute importante para a construccedilatildeo do

conhecimento aleacutem de valorizar a ampliaccedilatildeo das possibilidades de interaccedilatildeo quando o

trabalho eacute realizado em grupos ndash uma coletividade de sujeitos Contudo parece que o objeto

dessa nova atividade ldquomoldadardquo por ele e compartilhada conosco por meio da linguagem

falada e dos gestos que estaria presente na praacutexis formativa das aulas de Caacutelculo II sob sua

responsabilidade pouco se diferencia qualitativamente do objeto do school-going de

Engestroumlm (2008) Nesse caso o objeto da atividade continua sendo os conteuacutedos de Caacutelculo

II conforme apresentaccedilatildeo do livro-texto soacute que agora suportados pela miacutedia slides lidos na

tela de um computador com o auxiacutelio de um software Ainda natildeo podemos deixar de enfatizar

que ao considerar uma atividade na qual os sujeitos tenham ativa participaccedilatildeo no processo

Angel atribui como objeto possivelmente compartilhado nas atividades de alunos e

professores os proacuteprios alunos ora sujeitos ora objeto possivelmente compartilhado O que

ele pretendia inclusive com as alteraccedilotildees na referida praacutexis formativa era potencializar o

compartilhamento de tal objeto ndash alunos mediante a valorizaccedilatildeo e o empreendimento da

participaccedilatildeo ativa em tal atividade

Depois de expor as transformaccedilotildees que Angel teria efetuado em sua atividade

docente Clarice comeccedilou por justificar a impossibilidade de propor trabalhos em grupo com

os alunos naquele semestre letivo pelo simples fato de que ela estava lecionando num

auditoacuterio cujas cadeiras eram ldquofixas e terriacuteveisrdquo Declarou ainda que esperava que a situaccedilatildeo

da infraestrutura da instituiccedilatildeo melhorasse para que nos semestres seguintes ela pudesse

lecionar em salas de aula normais com cadeiras moacuteveis possibilitando assim alteraccedilotildees

quanto agrave questatildeo da valorizaccedilatildeo do trabalho em grupo versus o trabalho individual em

disciplinas de Caacutelculo II Pontuou tambeacutem a questatildeo da natildeo obrigaccedilatildeo do cumprimento de

preacute-requisitos na instituiccedilatildeo ou seja natildeo era necessaacuteria a aprovaccedilatildeo em Caacutelculo I para efetuar

a matriacutecula em Caacutelculo II por exemplo Clarice nos contou

163

Clarice Eu acho Rutyele que a partir do periacuteodo que vem vai ser melhor trabalhar

com Caacutelculo I Caacutelculo II inclusive nesse sentido Qual que eacute o problema nesse

periacuteodo eacute que pelo menos 60 dos meus alunos dos 150 natildeo passou em Caacutelculo I

natildeo Natildeo passou em Caacutelculo I entatildeo taacute sem saber o baacutesico do baacutesico mesmo

Angel A Clarice taacute num horizonte bom eu tocirc com 90 eu tocirc com as turmas do

professor X [um professor famoso na instituiccedilatildeo por ter altos iacutendices de reprovaccedilatildeo]

[risos]

Clarice Entatildeo assim esses alunos [] eles praticamente natildeo tem condiccedilotildees de

trabalhar sozinhos sem exposiccedilatildeo oral natildeo Na minha visatildeo natildeo Porque igual eu

poderia citar nomes assim igual fulano fulano e fulano que praticamente cecirc tem

que pegar na matildeo ele taacute sem preacute-requisito nenhum e quando vocecirc potildee ele pra ler

igual jaacute aconteceu igual o menino vem tirar duacutevida aqui comigo aiacute eu falo ah o

que eacute que taacute escrito Isso e isso mas soacute que taacute faltando uma coisa de antes Entatildeo

quando eu tocirc expondo eu tenho que ficar voltando lembra laacute em Caacutelculo I era

assim Aiacute aqui em Caacutelculo II eacute assim Agora tem preacute-requisito a partir do periacuteodo

que vem Aiacute eu por exemplo vou explicar derivada lembra laacute em Caacutelculo I

Derivada era assim era isso lembra Ah aqui eacute assim Olha como mudou

Clarice demonstrou com isso natildeo acreditar que alunos que tenham sido

reprovados em Caacutelculo I consigam dar conta de participarem efetivamente das atividades

propostas por Angel em sua nova proposta pedagoacutegica Imediatamente Angel posicionou-se

ldquoigual como que explica dois alunos laacute que tiraram praticamente quase 100 na minha prova

laacute de Caacutelculo II e foram reprovados em Caacutelculo I Se vocecirc ver a prova do menino que linda

a prova escrito tudo certinho os caminhos uma coisa assim ma-ra-vi-lho-sardquo Com essa

fala Angel buscou contrapor o receio que Clarice havia demonstrado anteriormente

explicitando que alunos que haviam sido reprovados em Caacutelculo I com outro professor (que

adota a forma tradicional de desenvolver as disciplinas de Caacutelculo acostumando-se inclusive

com iacutendices proacuteximos de 90 de reprovaccedilatildeo) poderiam dar conta sim de trabalhar de forma

mais ativa sem exposiccedilatildeo oral dos conteuacutedos pelo professor

Seguimos a reuniatildeo discutindo sobre a idealizaccedilatildeo da atividade que iriacuteamos

aplicar em sala de aula de Caacutelculo II cujos docentes eram Clarice e Angel conforme exposto

anteriormente Nisso Clarice comeccedilou a folhear o livro-texto143

da disciplina e disse ldquoeu

tinha pegado aqui do livro era um de maacuteximo e miacutenimo mesmo Soacute que eu ia falar com vocecirc

[referindo-se a noacutes ndash eu e Angel] uma coisa assim por exemplordquo e continuou folheando o

livro querendo encontrar algo especiacutefico Em seguida entregou-me o livro aberto em uma

paacutegina especiacutefica apontando para mim com o dedo indicador qual seria sua sugestatildeo Ela

sugeria o ldquoprojeto de uma caccedilambardquo (STEWART 2006 p 961) que consistiria em

determinar as dimensotildees de uma caccedilamba de entulho com tampa com o objetivo de minimizar

143

Livro de autoria de James Stewart intitulado por Caacutelculo volume 2 5 ediccedilatildeo Confira referecircncia completa em

STEWART (2006)

164

seu custo de produccedilatildeo Decidimos acatar a sugestatildeo de Clarice e combinamos o

desenvolvimento da atividade para o mecircs de julho de 2013

415110 Deacutecimo encontro

O deacutecimo encontro do GEPMM ocorreu em 14052013 (terccedila-feira) e contou

com a participaccedilatildeo dos docentes Angel e Clarice e com a minha participaccedilatildeo

desempenhando duplo papel ndash participante do grupo e pesquisadora

Comeccedilamos a reuniatildeo com Clarice nos contando que na aula de Caacutelculo II que

ela havia desenvolvido depois do encontro anterior do GEPMM (nono encontro) ficou claro

para ela que os alunos realmente natildeo estavam prestando atenccedilatildeo poucos se concentravam

segundo ela Com isso ela decidiu ldquomudar o meacutetodo de ensinordquo mesmo parecendo ainda natildeo

acreditar que ele funcionasse mas tambeacutem acreditava que pior do que a aula expositiva natildeo

poderia ser Pareceu-me que ela havia se apropriado das ideias compartilhadas por Angel no

decorrer do uacuteltimo encontro e resolveu consideraacute-las como uma possibilidade para o

desenvolvimento de suas aulas

Em seguida voltamos a planejar a atividade de modelagem que seria realizada no

decorrer das aulas de Caacutelculo II nas turmas sob a responsabilidade de Clarice e Angel

Descobrimos por meio de um aluno da professora Clarice que existia um manual em PDF144

disponibilizado na internet e amplamente difundido e utilizado pelos alunos da instituiccedilatildeo

que consistia em um conjunto de soluccedilotildees de todos os exerciacutecios propostos no livro-texto

incluindo uma resoluccedilatildeo para o ldquoprojeto de uma caccedilambardquo (STEWART 2006 p 961) Com

isso desistimos de levar tal projeto como havia sugerido a docente Clarice Propusemos-nos a

pensar em outra questatildeo-problema para que em um proacuteximo encontro pudeacutessemos debater e

decidir coletivamente qual seria nossa escolha

Ateacute aquele momento continuaacutevamos a insistir com Robson no que diz respeito ao

registro do grupo de pesquisa no diretoacuterio do CNPq Somente apoacutes tal registro eacute que

poderiacuteamos concorrer agraves chamadas puacuteblicas mediante a submissatildeo de projetos que

viabilizassem o oferecimento de bolsas para os alunos que estivessem dispostos a participar

144

Para mais informaccedilotildees acesse a paacutegina httpptwikipediaorgwikiPortable_document_format

165

ativamente do GEPMM aleacutem do suprimento de outras demandas que seriam impostas no

decorrer das atividades do grupo

Depois disso voltamos agrave problemaacutetica questatildeo do peso corporal ideal no sentido

de idealizarmos o presente objeto da atividade para estabelecer possibilidades de

transformaccedilatildeo Traccedilaacutevamos naquele momento uma primaacuteria idealizaccedilatildeo do objeto a ser

criado por noacutes no futuro sob a orientaccedilatildeo do objetivo de criar um modelo teoacuterico que seria

base para o desenvolvimento de um software utilizando instrumentos de Caacutelculo e da Teoria

Fuzzy para a referida questatildeo-problema partindo dos modelos matemaacuteticos impressos no

artigo145

estudado por noacutes e das informaccedilotildees contidas no livro sugerido pela docente da

UFOP Segue o traccedilado das idealizaccedilotildees baseado em trechos extraiacutedos das transcriccedilotildees das

filmagens em aacuteudio e viacutedeo do deacutecimo encontro do GEPMM

Eu [] eu acho que laacute [no livro indicado pela docente da UFOP] seria a fonte que

a gente pegaria pros dados E aiacute o quecirc que eu pensei em fazer Fazer eacute dividido em

trecircs coisas o metabolismo basal a taxa basal ela eacute influenciada pelo que vocecirc

come e pelas atividades que vocecirc taacute fazendo neacute que satildeo aquelas trecircs caixas - que eacute

o metabolismo basal que eacute a energia ingerida e a energia desprendida pra vocecirc

fazer as atividades fiacutesicas que vocecirc faz neacute Entatildeo o quecirc que vocecirc teria O basal ele

eacute afetado pelos outros entatildeo eacute um sistema onde a gente teria trecircs tipo equaccedilotildees

fuzzy uma primeira que taacute sendo afetada pelos outros e a gente taria vendo como

que isso afeta neacute E faria uma caixa que seria uma equaccedilatildeo pra o gasto caloacuterico

ou seja cecirc vai andar 10 minutos a peacute cecirc vai pegar um ocircnibus entatildeo isso aiacute seriam

dados que a proacutepria pessoa falaria [cederia como valores de entrada para o

programa-software a ser desenvolvido] Entatildeo teria que ter o campo aberto

entendeu

Angel Humhum

Eu Tipo assim aquele () uma sequecircncia de vaacuterias atividades [gesticulo com as

matildeos imitando uma lista] pra pessoa clicar em cima da que ela faz Entendeu Por

exemplo ah eu ando de bicicleta Taacute mais quanto tempo em minutos por semana

Aiacute a pessoa colocaria ah eu ando 180 minutos de bicicleta entendeu

Clarice Humhum [balanccedila a cabeccedila assertivamente]

Eu Entatildeo teria que ter uma caixinha pra pessoa colocar a atividade fiacutesica e uma

caixinha pra colocar o tempo daquela atividade fiacutesica No que a pessoa iria digitar

isso eacute o programa vai buscar no banco de dados dele que eacute baseado no livro e jaacute

vai somar fazer a soma de tudo e jaacute vai dar o resultado final Mais ou menos o que

aquele programinha do pessoal aiacute faz [aponto o dedo indicador para o texto que

estava (impresso em papel) sobre a mesa]

Com isso reafirmamos a necessidade de encontrarmos pessoas para participarem

de tal atividade mais parceiros Aleacutem disso ainda natildeo tiacutenhamos entendido plenamente

mediante as interaccedilotildees com o texto escrito (Hall-Lancet) e entre noacutes sujeitos integrantes do

GEPMM todas as equaccedilotildees que representavam o fenocircmeno da mudanccedila do peso corporal

com relaccedilatildeo agraves alteraccedilotildees na dieta e nos exerciacutecios fiacutesicos Percebemos que um texto escrito

sob a forma de um artigo cientiacutefico poderia natildeo dar conta de representar impressotildees 145

httpbwsimulatorniddknihgovHall_Lancet_Webappendixpdf

166

suficientemente necessaacuterias para o entendimento de uma pesquisa em movimento A equaccedilatildeo

(10)146

ainda natildeo estava clara para noacutes Natildeo sabiacuteamos como o autor havia chegado naquele

modelo matemaacutetico Sabiacuteamos que era uma equaccedilatildeo diferencial ordinaacuteria Poreacutem como ela

estaria representando o fenocircmeno Quais hipoacuteteses que estavam sendo consideradas Tais

questotildees seratildeo mais bem analisadas mais adiante no presente texto

4152 Dando continuidade agraves accedilotildees potencialmente expansivas

Dando por encerrado o relato do que aconteceu durante os dez primeiros

encontros do GEPMM retornarei ao miniciclo de accedilotildees de aprendizagem potencialmente

expansivas analisando a sexta e a seacutetima accedilatildeo sob o ponto de vista colocado em relevo

anteriormente que considera um ciclo menos longo (miniciclo) como sendo potencialmente

expansivo

416 Refletindo sobre o processo

Segundo Engestroumlm e Sannino (2010b) apoacutes iniciada a fase de implementaccedilatildeo do

modelo que nesta pesquisa aconteceu por meio da constituiccedilatildeo do GEPMM eacute necessaacuterio

refletir sobre todo o processo com o intuito de avaliaacute-lo e caso seja necessaacuterio modificaacute-lo

Sendo assim torna-se necessaacuteria a reflexatildeo sobre a implementaccedilatildeo do novo modelo de

atividade sob a forma de uma praacutexis inovadora em um contexto especiacutefico visando a

modificar eou adaptar o modelo agraves exigecircncias demandas e limitaccedilotildees que se revelavam nas

formas de praacutexis frequentemente utilizadas em tal contexto de formaccedilatildeo jaacute que

a produccedilatildeo do objeto ideal eacute inseparaacutevel da produccedilatildeo do objeto real material e

ambas nada mais satildeo do que o anverso e o reverso de uma mesma moeda ou os dois

lados de um mesmo processo A forma que o sujeito quer imprimir agrave mateacuteria existe

como forma geratriz na consciecircncia mas a forma que se plasma definitivamente na

mateacuteria natildeo eacute a mesma ndash nem a duplicaccedilatildeo ndash da que preacute-existia originariamente Eacute

certo que o resultado definitivo estava preacute-figurado idealmente mas o definitivo eacute

exatamente o resultado real e natildeo o ideal (projeto ou finalidade original) O modelo

anterior soacute pode se realizar no transcurso de um processo ao fim do qual natildeo se

146

[120578119865+120588119865+120572120578119871+120572120588119871

(1minus120573)(1+120572)]119889119861119882

119889119905= Δ119864119868 minus

1

(1minus120573)[120574119865+120572120574119871

(1+120572)+ 120575] (119861119882 minus 1198611198820)

167

alcanccedila tudo que se havia projetado (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUES 1977 p 249 grifos

meus)

Nesse sentido percebemos que alguns ajustes e modificaccedilotildees eram necessaacuterios

para que pudeacutessemos dar continuidade a nossa atividade O primeiro deles foi com relaccedilatildeo a

pouca ou quase nenhuma participaccedilatildeo dos estudantes147

Poucos aceitaram o convite ndash apenas

trecircs Desses um desistiu e os outros pouco comparecem agraves reuniotildees Por esse motivo

pensamos em oferecer ldquoalgo em trocardquo para que conseguiacutessemos mais aceites por parte dos

alunos Nas turmas da disciplina Caacutelculo II nas quais os docentes Clarice e Angel lecionam

pensamos em oferecer 10 pontos para os alunos que aceitassem o convite mas desistimos da

ideia devido a questotildees eacuteticas e metodoloacutegicas Estaacutevamos na expectativa de conseguirmos

no miacutenimo mais quatro alunos para participarem do grupo O segundo ajuste diz respeito a

uma possiacutevel modificaccedilatildeo na dinacircmica do modelo (a atividade de Modelagem) os docentes

Angel e Clarice demonstraram o desejo de levar atividades de Modelagem Matemaacutetica para

comporem as disciplinas de Caacutelculo II que lecionam com outros tipos de metodologias tais

como aulas expositivas por exemplo Para darmos conta de analisar essa possiacutevel adaptaccedilatildeo

do modelo talvez seja necessaacuterio a retomada do ponto de vista analiacuteticoreflexivo agrave fase

quatro do miniciclo de accedilotildees expansivas e examinarmos novamente o mesmo modelo ndash

atividade de Modelagem Matemaacutetica agora podendo assumir outro formato contextual e

dinacircmico em um cenaacuterio no qual aconteceram e continuaratildeo acontecendo outros tipos de

praacutexis formativas ndash a sala de aula da disciplina Caacutelculo II O terceiro ajuste se relaciona agrave

necessidade de encontrarmos um parceiro que tenha formaccedilatildeo na aacuterea de Computaccedilatildeo mais

especificamente que se interesse por programaccedilatildeo e por Teoria Fuzzy Percebemos no

decorrer do processo de implementaccedilatildeo que precisamos de um parceiro com tal formaccedilatildeo

pois atualmente para um pleno entendimento da ciecircncia ldquoem construccedilatildeordquo que perpassa as

atividades de Modelagem Matemaacutetica em cursos de Engenharia torna-se necessaacuterio

compreender em sua plenitude o que haacute por traacutes dos algoritmos dos softwares dos

programas executaacuteveis entre outros para a partir daiacute iniciarmos um processo de inovaccedilatildeo

Vale a pena ressaltar que a necessidade de encontrarmos um parceiro da aacuterea da

Computaccedilatildeo ocorreu mediante a idealizaccedilatildeo de um novo modelo para dar conta da

problemaacutetica do peso corporal ideal Ao mesmo tempo em que esta necessidade possa parecer

um fator que torne o desenvolvimento de atividades de Modelagem Matemaacutetica em cursos de

147

Mais adiante neste texto especificamente no Capiacutetulo 5 ndash ao descrever a modalidade analiacutetica 2 em 52 ndash

com base nas entrevistas finais concedidas a mim pelos referidos estudantes farei uma anaacutelise sobre a

participaccedilatildeo e o respectivo abandono do GEPMM

168

Engenharia mais difiacutecil podendo ateacute mesmo ajudar a reforccedilar a crenccedila de que fazer

modelagem eacute difiacutecil que os alunos e professores natildeo estatildeo preparados para o

desenvolvimento de tais atividades por outro lado pode ser um importante contexto que

possibilite inovaccedilatildeo e produccedilatildeo de conhecimentos mediante uma atividade de caraacuteter

verdadeiramente interdisciplinar que envolva estudos e pesquisa em sua gecircnese

417 Consolidando seus resultados em uma nova forma de praacutetica

Ateacute o final do ano de 2013148

o GEPMM dedicava esforccedilos na tentativa de

estabelecer essa fase do miniciclo de accedilotildees expansivas como um horizonte de accedilotildees futuras

Portanto o miniciclo ainda natildeo havia se fechado Engestroumlm (1999) enfatiza que ldquoa

ocorrecircncia de um ciclo expansivo completo natildeo eacute comum e ele tipicamente requer esforccedilos

concentrados e intervenccedilotildees deliberadasrdquo (p 385 apud ENGESTROumlM SANNINO 2010b p

12)

Com essa ressalva podemos analisar a construccedilatildeo do GEPMM como um

miniciclo potencialmente expansivo de accedilotildees cujo objetivo (ainda que idealmente) consistiu

na modificaccedilatildeo ou complementaccedilatildeo das praacutexis formativas relacionadas agraves disciplinas de

Caacutelculo na instituiccedilatildeo universitaacuteria tomada como palco da presente investigaccedilatildeo

Como um fechamento provisoacuterio dessa primeira parte da anaacutelise procedo com o

preenchimento da matriz para a anaacutelise da aprendizagem expansiva conforme preconizado

por Engestroumlm (2001) e exposta no Capiacutetulo 3 da presente tese levando em conta os dados

construiacutedos para esta pesquisa como segue

148

Durante o ano de 2014 o GEPMM natildeo se reuniu Os docentes dedicavam esforccedilos agraves respectivas pesquisas de

Doutorado

169

QUADRO 2 ndash ldquoMatrizrdquo para anaacutelise da aprendizagem expansiva

Fonte Elaborada pela autora

A seguir darei continuidade agrave anaacutelise baseando-me principalmente em alguns

momentos da construccedilatildeo dos dados desta pesquisa Trechos extraiacutedos das transcriccedilotildees das

entrevistas iniciais dos estudantes Joseacute e Pedro da entrevista final do aluno Joseacute e das

gravaccedilotildees do nono encontro do GEPMM aleacutem de trechos extraiacutedos das transcriccedilotildees das

gravaccedilotildees do segundo encontro do GEPMM quando dedicaacutevamos esforccedilos para a submissatildeo

do projeto agrave chamada do CNPq e trechos extraiacutedos das entrevistas finais com os alunos e

professores partiacutecipes do GEPMM e finalmente momentos que perpassaram a problemaacutetica

abordada pelo GEPMM com relaccedilatildeo ao tema denominado por mim como peso corporal ideal

Os momentos escolhidos para serem analisados mais pontualmente constituem importante

arcabouccedilo argumentativo para responder agrave pergunta de pesquisa

Vale a pena ressaltar que com base nos referidos momentos decidi elaborar

anaacutelises temaacuteticas e as denominei por modalidades ou seja modalidades analiacuteticas Para tal

quatro modalidades seratildeo explicitadas no texto que segue

170

5 MODALIDADES ANALIacuteTICAS

Neste capiacutetulo tenho por objetivo apresentar um arcabouccedilo argumentativo na

tentativa de responder ao questionamento impresso na pergunta diretriz149

que norteou a

investigaccedilatildeo relatada na presente tese Para tal construo quatro modalidades analiacuteticas

Na primeira modalidade baseio-me em trechos extraiacutedos das transcriccedilotildees das

entrevistas iniciais concedidas a mim pelos estudantes Joseacute e Pedro da entrevista final do

aluno Joseacute e das gravaccedilotildees do nono encontro do GEPMM Teccedilo uma anaacutelise a respeito da

existecircncia de uma ldquotelardquo invisiacutevel podendo ser considerada um instrumento que

supostamente permeou as aulas tradicionais de Caacutelculo em que os alunos Pedro e Joseacute

haviam participado no contexto da presente pesquisa

Na segunda modalidade baseio-me em trechos extraiacutedos das transcriccedilotildees das

gravaccedilotildees do segundo encontro do GEPMM quando dedicaacutevamos esforccedilos para a submissatildeo

do projeto agrave chamada do CNPq aleacutem de trechos extraiacutedos das entrevistas finais com os alunos

e professores partiacutecipes do GEPMM Teccedilo uma anaacutelise focada nas muacuteltiplas atividades

demandadas aos sujeitos da investigaccedilatildeo pelo contexto institucional em questatildeo e nas agencys

evidenciadas no decorrer da constituiccedilatildeo do GEPMM assim como das atividades nele

desenvolvidas

Na terceira modalidade baseio-me no momento da construccedilatildeo dos dados que

objetivou o desenvolvimento da modelagem cujo tema foi denominado por ldquopeso corporal

idealrdquo Utilizo a teoria das caixas-pretas como estrateacutegia de anaacutelise das transformaccedilotildees

qualitativas do objeto da referida atividade

Finalmente a quarta modalidade se ancora nas interaccedilotildees tecnomediadas

evidenciadas nopelo desenvolvimento da atividade de modelagem denominada por ldquopeso

corporal idealrdquo Foco as idealizaccedilotildees possibilitadas pela multivocalidade e agency atuando

como desencadeadoras de aprendizagens potencialmente expansivas principalmente no que

diz respeito aos processos produtivos e inovadores na referida atividade

149

Pergunta diretriz Quais aprendizagens expansivas podem ser evidenciadas pelas e nas atividades

desenvolvidas por um Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica em um contexto de formaccedilatildeo

em Engenharias

171

51 Primeira modalidade ndash Dialeacutetica da existecircncia da tela invisiacutevel GEPMM como

possibilidade para aprendizagem expansiva por meio da construccedilatildeo de parceria

docente-discente em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharias

Na sociedade em rede a virtualidade eacute a fundaccedilatildeo da realidade atraveacutes de novas

formas de comunicaccedilatildeo socializaacutevel (CASTELLS 2006 p 24)

Inicio esta parte da anaacutelise tomando por base uma fala do aluno Pedro na

entrevista inicial ele contou que durante as aulas de Caacutelculo que havia tido na graduaccedilatildeo agraves

vezes achava que estava assistindo a uma videoaula ao inveacutes de uma aula presencial Nas

palavras dele

Falta um pouco mais de [] entendimento Agraves vezes alguns professores natildeo levam

em conta algumas dificuldades que alguns alunos tecircm [] agraves vezes falta um pouco

de sensibilidade com a dificuldade do aluno agraves vezes uma didaacutetica um pouco mais

proacutexima do aluno Agraves vezes parece que vocecirc estaacute vendo uma videoaula ao inveacutes de

ter uma aula presencial [] Por parte do grupo de professores falta uma aula uma

didaacutetica um pouco mais proacutexima do aluno dos problemas do aluno e ajudar ele a

solucionar esses problemas

Na entrevista inicial concedida a mim Pedro demonstrou se sentir incomodado

devido ao distanciamento percebido por ele entre alunos e professor nas aulas de Caacutelculo

Naquele momento da construccedilatildeo dos dados para a referida pesquisa ainda natildeo tinha

percebido tal descontentamento este se tornou consciente para mim apoacutes a entrevista com

aluno Pedro que se mostrou muito inquieto quanto a essa questatildeo alunos de um lado da

ldquotelardquo e docentes do outro Uma possiacutevel anaacutelise sobre essa inquietaccedilatildeo se encontra na

dimensatildeo dos sujeitos e as possibilidades de interaccedilatildeo estabelecidas pelas regras que regem a

atividade em questatildeo a aula tradicional de Caacutelculo Percebi que a participaccedilatildeo desse aluno no

GEPMM estava ligada agraves possibilidades de ldquoestar pertordquo dos professores no sentido de que

no grupo era ldquopermitidordquo interagir com os professores150

Julgo importante pontuar nesse momento que durante a entrevista inicial com o

aluno Joseacute algumas falas convergem com as mesmas inquietaccedilotildees demonstradas por Pedro

Joseacute parece se sentir constrangido em iniciar interaccedilotildees verbais com os professores durante as

aulas de Caacutelculo com o objetivo de sanar duacutevidas ele parece acreditar que o momento uacutenico

150

Cabe ressaltar que ainda que a participaccedilatildeo dos alunos tenha ocorrido apenas nos primeiros encontros ou

seja os alunos acabaram abandonando o GEPMM natildeo acredito que esta parte da anaacutelise fique fragilizada devido

a isto pois nesta parte busco analisar os motivos que levaram os dois alunos em questatildeo a aceitarem o convite de

participaccedilatildeo no grupo e natildeo especificamente o desenvolvimento das atividades do grupo A parceria estabelecida

entre alunos e professores eacute que estaacute sendo analisada como uma forma de desenvolvimento da aprendizagem

expansiva

172

que isso seja ldquopermitidordquo seja o final das aulas Vale ressaltar que o aluno Joseacute eacute considerado

por Clarice como um aluno muito bom ndash que se preocupa com a aprendizagem com seu

proacuteprio processo formativo podendo ser considerado ateacute mesmo como um ldquotipo rarordquo de

aluno ldquoeacute raro eu ter aluno como Joseacuterdquo pontua151

Clarice Nas palavras de Joseacute

O aluno tem sempre aquela coisa noacute Ele eacute meu professor Haacute um distanciamento

Vocecirc pensa eu soacute sou um aluno e ele eacute meu professor Ele natildeo vai querer ficar me

dando atenccedilatildeo no final da aula porque eu tenho duacutevidas Muitos professores agraves

vezes natildeo datildeo atenccedilatildeo pro aluno Veem o aluno assim mas natildeo quer incocircmodo

sabe Os alunos chegam nos professores mas taacute faltando os professores chegarem

nos alunos porque eles tem que ver que isso aqui eacute um grupo de pessoas

Observe que o que eacute ldquopermitidordquo muitas vezes natildeo eacute visiacutevel nem expliacutecito nas

accedilotildees pois pode estar ldquoescondidordquo no curriacuteculo oculto como um instrumento oculto

configurado pelas regras e divisatildeo do trabalho ou seja na parte de baixo do triacircngulo de

Engestroumlm conforme explicitei no Capiacutetulo 1 desta tese

Contudo essa ldquotelardquo pode natildeo existir na percepccedilatildeo dos docentes configurando

apenas um instrumento necessaacuterio para constituir uma regra implicitamente ldquoocultardquo ao aluno

eacute permitido se dirigir aos professores das disciplinas de Caacutelculo quando ele jaacute estudou

anteriormente jaacute adquiriu certo niacutevel de aceitaccedilatildeo para participar de uma interaccedilatildeo com o

professor

Campos (2012) ao realizar sua pesquisa de doutorado investigou uma proposta

pedagoacutegica para a disciplina Caacutelculo Diferencial e Integral na UFMG e constatou que o

distanciamento caracteriza a relaccedilatildeo entre o professor e seus alunos E pontua

Como algueacutem que programa um computador o docente expotildee com rigor os

conteuacutedos que deveratildeo ser articulados na resoluccedilatildeo das questotildees das provas No

momento da correccedilatildeo ele afere a quatildeo proacuteximo da resposta correta o aluno chegou e

confere uma nota que certificaria o quanto o aluno apreendeu de suas aulas Sua

participaccedilatildeo se daria apenas nos dois momentos extremos do ato na apresentaccedilatildeo do

conteuacutedo e na correccedilatildeo das provas Caberia ao aluno preencher o que falta entre

esses dois eventos (CAMPOS 2012 p 34)

Sendo assim para dar conta das atividades de formaccedilatildeo em Caacutelculo configura-se

como um preacute-requisito indispensaacutevel a participaccedilatildeo ativa dos estudantes no que tange ao

desenvolvimento de autonomia e determinaccedilatildeo para buscar informaccedilotildees eou outros

instrumentos que os auxilie nessa jornada Desse modo sob essa perspectiva o docente

151

Trecho retirado das transcriccedilotildees das filmagens do nono encontro do GEPMM Falaacutevamos sobre o perfil dos

alunos que haviam aceitado o convite para participarem do grupo e os possiacuteveis motivos que pudessem explicar

a falta de assiduidade deles nas reuniotildees

173

imprime em sua consciecircncia uma forma idealizada de um dos objetos de sua atividade ndash os

estudantes O grande problema eacute que muitas vezes os estudantes por si soacute natildeo conseguem

atingir esse preacute-requisito Natildeo conseguem ser de fato na realidade objetiva um objeto real

para serem assim transformados pela praacutexis formativa proposta pelos docentes de Caacutelculo

Isso pode explicar os altos iacutendices de reprovaccedilatildeo e evasatildeo em instituiccedilotildees federais de ensino

superior o que resulta num real desperdiacutecio de recursos puacuteblicos

Isso pode implicar um enorme ldquovaacutecuordquo entre os sujeitos da atividade de

aprendizagem tradicional de Caacutelculo em cursos de Engenharia o que pode criar ldquofronteirasrdquo

interativas muitas vezes produzindo duas atividades distintas a atividade de ensino do

professor de um lado da ldquotelardquo e a atividade de aprendizagem dos alunos do outro lado da

ldquotelardquo Aleacutem disso muitas vezes eacute dada ldquopermissatildeordquo ao aluno que natildeo quer participar das

aulas pelos docentes que natildeo verificam a assiduidade dos alunos em suas aulas e natildeo

reprovam por mais de 25 de ausecircncia (que eacute preconizado nos curriacuteculos e nas normativas)

Mas precisamos levar em conta que os docentes das disciplinas de Caacutelculo na

UNIFEI-Itabira lecionam em turmas com em meacutedia 75 alunos Suponha que cada aluno

queira realizar uma uacutenica interaccedilatildeo com o docente durante uma aula que tem duraccedilatildeo de

1h40 Considere que o aluno gaste apenas 10 segundos para elaborar sua fala e que o docente

gaste apenas mais 20 segundos para se pronunciar em resposta a essa fala do aluno Com isso

seriam gastos 375 minutos da aula Esse excessivo nuacutemero de alunos em sala de aula pode

favorecer a manutenccedilatildeo da ldquotelardquo

Outra observaccedilatildeo eacute que essa ldquotelardquo em muito se diferencia da tela de um

computador utilizado como instrumento um artefato mediador em cursos a distacircncia A tela

do computador usada no atual ensino a distacircncia permite interaccedilotildees entre alunos professores

e tutores por meio de mediaccedilotildees por chat ou e-mails Jaacute a ldquotelardquo cuja suposta existecircncia seja

invisiacutevel aos olhos de alguns impede mesmo que de forma oculta que se estabeleccedilam

interaccedilotildees entre os sujeitos que dividem um mesmo espaccedilo fiacutesico delimitando suas accedilotildees em

dois contextos distintos ou seja em duas atividades disjuntas paralelas cuja miacutenima relaccedilatildeo

eacute estabelecida pelo objeto que se configura pela apresentaccedilatildeo contida nos livros-texto dos

conteuacutedos de Caacutelculo resultando em aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo nas referidas disciplinas

O professor estaacute imerso em uma instituiccedilatildeo que o ldquoamarrardquo de uma forma ou

outra se ele natildeo cumprir a ementa eacute ldquopunidordquo tem que aprovar a maioria possiacutevel de alunos

senatildeo as turmas ficam mais cheias ainda ou ele tem que dar mais aulas nisso algo pode estar

sendo roubado dele que a meu ver seria extremamente importante para a plena realizaccedilatildeo de

seu trabalho ndash o tempo para o oacutecio e para a reflexatildeo

174

Mais do que isso os alunos ldquofabricadosrdquo pela cultura tradicional de ensino por

natildeo serem formados para questionar as praacuteticas vigentes acabam por se tornar meros

reprodutores dando assim a manutenccedilatildeo necessaacuteria para que essas praacuteticas sejam reforccediladas

Os docentes que hoje atuam nas disciplinas de Caacutelculo na UNIFEI tambeacutem foram afetados

pelas praacuteticas tradicionais de ensino provavelmente tambeacutem particionadas por uma ldquotelardquo

invisiacutevel aos olhos de seus professores agrave eacutepoca contudo natildeo lhes foi adicionada formaccedilatildeo

criacutetico-reflexiva suficiente para romper com os ciclos de reproduccedilatildeo de tais praacuteticas que

continuam vigentes Campos (2012 p 35) apontou que professores e alunos que se formam

em instituiccedilotildees que cobiccedilam as praacuteticas tradicionais de ensino-aprendizagem passam tambeacutem

a consideraacute-las como ldquoreferencial de excelecircncia no ensino o que torna a organizaccedilatildeo

acadecircmica mais apegada a suas praacuteticas e resistente a mudanccedilasrdquo

Vale ressaltar que o aluno Pedro durante a entrevista inicial pareceu estar

entusiasmado em participar do GEPMM pois para ele o grupo poderia se transformar em um

elo e aproximar os professores dos alunos diminuindo o distanciamento entre eles fazendo

com que os professores passem a reconhecer as dificuldades dos alunos e assim possam

melhorar sua didaacutetica

A anaacutelise que aqui proponho estaacute baseada na loacutegica dialeacutetica marxista que se

limita a uma forma de pensar a realidade considerando-a em constante mudanccedila mediante o

desenvolvimento do tripeacute tese antiacutetese e siacutentese O meacutetodo de anaacutelise dialeacutetico consiste na

siacutentese de termos contraacuterios ndash tese e antiacutetese (LEFEBVRE 1991) Assim como na dialeacutetica

marxista a burguesia corresponde agrave tese e o proletariado agrave antiacutetese fazendo emergir a

superaccedilatildeo da sociedade de classes pelo comunismo uma siacutentese decorrente das crises do

capitalismo pleiteadas pelos conflitos entre burguesia e proletariado (LEFEBVRE 1991)

esboccedilo essa parte da anaacutelise como a dialeacutetica da existecircncia da ldquotelardquo invisiacutevel

De um lado configura-se a hipoacutetese de que nas referidas aulas de Caacutelculo que o

aluno Pedro havia participado existia um instrumento ndash a ldquotelardquo invisiacutevel Nisso constituiria a

tese Na mesma realidade em questatildeo ndash as aulas tradicionais de Caacutelculo que o aluno Pedro

havia participado na instituiccedilatildeo ndash do outro lado estariam os professores que poderiam natildeo

perceberem que a suposta ldquotelardquo existe A antiacutetese eacute a inexistecircncia da ldquotelardquo invisiacutevel Dessa

forma estaria travado o esboccedilo da dialeacutetica da existecircncia da ldquotelardquo invisiacutevel A siacutentese como

sendo algo de natureza diferente mas ao mesmo tempo conservando elementos da tese e da

antiacutetese constitui-se por um processo dialoacutegico conduzido pela discussatildeo e embate de

contrapostos

175

Vale ressaltar que a siacutentese pode ser entendida como um grau mais elevado na

anaacutelise dialeacutetica em relaccedilatildeo agrave tese e agrave antiacutetese Aleacutem disso a siacutentese daacute origem a uma nova

tese que seraacute contraposta com uma nova antiacutetese e assim por diante iniciando novos ciclos

dialeacuteticos (LEFEBVRE 1991) Com isso a anaacutelise dialeacutetica da existecircncia da ldquotelardquo invisiacutevel

nos leva a possibilidades de elaboraccedilatildeo de uma siacutentese do que de melhor cada uma das faces

do contraposto nos apresenta Conforme exposto anteriormente eacute fatiacutedico que caso a tese (a

existecircncia da ldquotelardquo invisiacutevel) seja confirmada eacute preciso que ela seja destruiacuteda em prol de

melhorias e avanccedilos na natureza do processo aqui analisado

De toda forma eacute importante frisar que quando o aluno Pedro decidiu se engajar

no GEPMM de alguma forma ele desconfia que a ldquotelardquo natildeo existiria em tal contexto

alternativo mais amplo De fato a ldquotelardquo ainda que invisiacutevel natildeo permeou as ldquoatividadesrdquo de

Modelagem Matemaacutetica conforme implementado na UNIFEI por meio do GEPMM A

ausecircncia desse instrumento (oculto escondido invisiacutevel) provoca mudanccedilas quantitativas e

qualitativas nas interaccedilotildees entre os sujeitos da atividade que passam a buscar informaccedilotildees de

forma coletiva e passam a construir novos instrumentos para resolverem as peculiares

questotildees-problema que direcionam as accedilotildees em tais atividades Alunos e professores se

tornam sujeitos parceiros na referida atividade Estabelece-se mutuamente um fluxo contiacutenuo

de compartilhamento de informaccedilotildees o que acaba por transpor as fronteiras (ENGESTROumlM

SANNINO 2010b) ldquotela adentrordquo fazendo emergir uma nova rede uma ineacutedita parceria

docente-discente

Assim sendo os sujeitos engajados nessa atividade passam a pertencer a uma

mesma hierarquia horizontal de fluxo informacional natildeo podendo assim estar permanecer

distanciados apartados e segregados Tornam-se sujeitos de uma mesma atividade orientada

pelos seguintes objetos os estudantes em formaccedilatildeo e a questatildeo-

-problema natildeo matemaacutetica cujos artefatos mediadores incluem os conteuacutedos de Caacutelculo sob a

forma de modelos mais especificamente considerando os dados construiacutedos para esta

pesquisa as EDOs e outros instrumentos tecnoloacutegicos que incluem dentre outros o software

que foi criado com o objetivo de possibilitar simulaccedilotildees de mudanccedilas de peso corporal

mediante alteraccedilotildees na dieta e nos exerciacutecios fiacutesicos (Human Weight Simulator ndash HWS)

Aleacutem disso supondo a existecircncia da ldquotelardquo em aulas tradicionais de Caacutelculo ela

acaba por elevar o professor a um patamar de configuraccedilatildeo como uma voz uma vocalidade

que ecoa na atividade como um locutor do discurso do Caacutelculo acadecircmico como se ele

estivesse realmente de outro lado em outro ambiente como se o aluno fosse mesmo assistir

a uma videoaula Esse mesmo patamar pode ser ocupado pelo autor do livro-texto utilizado

176

nas aulas tradicionais de Caacutelculo em cursos de Engenharia a vocalidade do autor ecoa e

participa das atividades dentro da sala de aula e se diferencia da vocalidade que ecoa do

professor apenas pela miacutedia (meio) que as suportam ndash no caso do autor a miacutedia eacute impressa

nas paacuteginas do livro sob a forma de linguagem escrita e no caso do professor a voz ecoa

suportada pela linguagem falada e pela linguagem escrita quando utiliza o quadro branco

para principalmente reproduzir paacuteginas do livro-texto

Campos (2012 p 34 grifos do autor) destaca que a narrativa construiacuteda por ele

com o objetivo de relatar como ocorrem as aulas de Caacutelculo na UFMG poderia ser

considerada como se ele ldquoestivesse assistindo agrave cena atraveacutes de um vidro que o impedisse de

ouvir as muacuteltiplas vozes presentesrdquo o que nos leva a crer que tal regra oculta natildeo faz parte

apenas do curriacuteculo oculto presente nas salas de aula de Caacutelculo da UNIFEI mas tambeacutem de

outras instituiccedilotildees como nesse caso na UFMG

As atividades de Modelagem Matemaacutetica desenvolvidas no GEPMM se propotildeem

como potencialmente ldquodestruidorasrdquo de tal ldquotelardquo mediante a construccedilatildeo de uma rede de

aprendizagem na qual os docentes satildeo sujeitos pertencentes a uma mesma hierarquia

horizontal de fluxo informacional que os discentes o que acaba por promover transposiccedilotildees

de fronteiras (ENGESTROumlM SANNINO 2010b) e consequentemente a ampliaccedilatildeo de

possibilidades de interaccedilotildees entre os sujeitos

Portanto em atividades de Modelagem Matemaacutetica os parceiros ndash alunos e

professores ndash natildeo podem assumir outro lugar senatildeo o de sujeitos de uma mesma atividade

Dessa forma a ldquotelardquo presente (mesmo que de forma oculta e invisiacutevel em aulas tradicionais

de Caacutelculo) precisa necessariamente ser ldquoquebradardquo para que a formaccedilatildeo dessa nova

parceria se torne possiacutevel Somente por meio da transposiccedilatildeo desta fronteira eacute que se

tornariam possiacuteveis movimentos para aleacutem de alunos procurarem ajuda e professores darem a

ajuda (tirar duacutevidas) alcanccedilando assim um patamar de parceria na qual os sujeitos buscam e

encontram informaccedilotildees ou as constroem onde quer que elas estejam

Durante a construccedilatildeo dos dados da presente pesquisa alguns momentos podem

ser colocados em relevo no que diz respeito agraves possibilidades de diaacutelogos entre docentes e

discentes que num processo de negociaccedilatildeo e orquestraccedilatildeo formataram e orientaram as

atividades do GEPMM

No primeiro encontro eacute possiacutevel perceber que os alunos ali presentes falavam

livremente e participavam das decisotildees e regras estabelecidas pelos integrantes Natildeo havia

distinccedilatildeo entre alunos e professores todos falavam contavam ldquocasosrdquo e exprimiam suas

opiniotildees Joseacute por exemplo nos contou um caso sobre um funcionaacuterio de uma empresa de

177

grande porte localizada na cidade de Ipatinga-MG que ao desenvolver suas atividades de

trabalho ldquoteimourdquo com um engenheiro dizendo que o resultado do processo seria negativo o

engenheiro natildeo considerou a opiniatildeo do funcionaacuterio e no final do processo o funcionaacuterio

estava certo Logo em seguida a professora Clarice falou que os alunos de Caacutelculo satildeo

desmotivados demais e que o resultado disso muitas vezes eacute a reprovaccedilatildeo A aluna Taty

interveio ldquomas eu acho que isso natildeo eacute culpa do professorrdquo A docente Clarice rebateu em

tom de voz aparentemente alterado ldquomas eacute tambeacutem um deverrdquo Em seguida a aluna Taty

pontuou que em turmas de 75 alunos seria muito difiacutecil o professor acompanhar essa questatildeo

da motivaccedilatildeo

No segundo encontro do GEPMM um momento de tensatildeo ocorreu quando ao

perceber que o docente Angel pareceu preferir o problema do tracircnsito e afirmou olhando para

os alunos que havia um trabalho de coleta de dados in loco que deveria ser realizada pelos

alunos a aluna Taty imediatamente se posicionou dizendo ldquoah natildeo gente natildeo olha pra mim

natildeo gente Tocirc fazendo um monte de coleta de dados jaacute Me recuso cara [] Eu sento e leio

60 artigos se vocecircs quiserem faccedilo resumo de todos pra vocecircs natildeo tocirc brincando Eu tocirc

fazendo uma coleta gigantescardquo Entendo que naquele momento o posicionamento assertivo

da aluna impactou no que seria a decisatildeo do grupo no que diz respeito agrave escolha do primeiro

tema a ser abordado O grupo poderia ter tomado outro rumo se a aluna natildeo tivesse se

posicionado

No terceiro encontro durante a discussatildeo do artigo Scagliusi e Lancha Juacutenior

(2005) na paacutegina 542 deparamo-nos com um termo fiacutesico-quiacutemico ndash o deuteacuterio Noacutes

docentes natildeo sabiacuteamos o que significava esse termo e fomos agraciados pela fala dos alunos

Joseacute e Pedro esclarecendo com propriedade sobre o que se tratava esse conceito

Com base nesses trechos extraiacutedos das gravaccedilotildees em aacuteudio e viacutedeo das primeiras

trecircs reuniotildees do GEPMM os diaacutelogos entre os sujeitos seguem em um ritmo almejado

quando uma parceria eacute estabelecida entre niacuteveis hierarquicamente distintos em instituiccedilotildees

Aleacutem disso explicitarei mais adiante neste mesmo capiacutetulo outros trechos extraiacutedos das

transcriccedilotildees das filmagens de outras reuniotildees do GEPMM que reafirmam a formaccedilatildeo de

parcerias docente-discente e docente-docente sendo que essa uacuteltima se refere agrave parceria

instituiacuteda natildeo apenas por docentes que lecionam disciplinas de Caacutelculo em cursos de

Engenharia Ainda que os alunos tenham abandonado o GEPMM natildeo significa que tal

parceria natildeo tenha se concretizado Cabe ressaltar que segundo Engestroumlm e Sannino (2010b)

a transposiccedilatildeo de fronteiras entre niacuteveis organizacionais ou hierarquias tais como entre

alunos e professores pode representar uma forma de aprendizagem expansiva quando ocorre

178

movimentos verticais de informaccedilotildees entre os niacuteveis Para os autores uma parceria funda-se

por meio de interaccedilotildees entre niacuteveis hieraacuterquicos distintos em prol da realizaccedilatildeo de uma

atividade comum ndash um objeto compartilhado - na qual os aprendizes buscam informaccedilotildees

onde quer que elas estejam e o fluxo informacional eacute livre

Desse modo podemos entender as atividades realizadas no e pelo GEPMM como

sendo de alto grau de complexidade e baixo grau de centralizaccedilatildeo o que segundo Engestroumlm

(1993) caracteriza um tipo histoacuterico de atividade a ser considerado de domiacutenio coletivo e

expansivo A construccedilatildeo de tal ldquorede alternativardquo mediante a constituiccedilatildeo das referidas

parcerias pode entatildeo ser entendida como um tipo de aprendizagem expansiva

Com isso encerro a anaacutelise da dialeacutetica da existecircncia da ldquotelardquo invisiacutevel

enfatizando que por meio da construccedilatildeo da parceria docente-discente possibilitada nopelo

engajamento nas atividades desenvolvidas pelo GEPMM a ldquotelardquo natildeo existe nem mesmo de

forma invisiacutevel devido ao fluxo informacional ser livre e as interaccedilotildees entre docentes e

discentes serem constituiacutedas em uma uacutenica rede de aprendizagem

52 Segunda modalidade ndash Os sujeitos a multi-agency e as muacuteltiplas atividades

possibilidade para aprendizagem expansiva como movimento na zona de

desenvolvimento proximal das atividades docente-discente mediante a formaccedilatildeo de

parcerias

Satildeo os homens por certo que com sua praacutexis formam e mantecircm essa estrutura satildeo

eles que desenvolvem as forccedilas produtivas e que contraem determinadas relaccedilotildees na

produccedilatildeo independente de sua consciecircncia e vontade (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ

1977 p 189)

A agency segundo a Teoria da Atividade de Engestroumlm (1987) pode ser

entendida como um adjetivo inerente agraves possibilidades de accedilatildeo dos sujeitos engajados em

uma atividade tais como a condiccedilatildeo de realizar uma accedilatildeo ndash agente os meios ou modos pelos

quais a accedilatildeo eacute executada ndash instrumentalidade ou operaccedilatildeo poder ou capacidade de realizar

uma accedilatildeo ndash desempenho ou performance maneira de atuar de agir Sistematicamente a meu

ver a agency pode ser considerada como a atitude dos sujeitos em implementar

procedimentos para alcanccedilar o objetivo de uma accedilatildeo Sendo assim vale ressaltar que a agency

se torna visiacutevel nas accedilotildees no relacionamento na mediaccedilatildeo nas interaccedilotildees e natildeo como algo

pertencente aos sujeitos (DANIELS et al 2010)

A formaccedilatildeo de parcerias estaria sob essa anaacutelise relacionada agrave constituiccedilatildeo de

redes de aprendizagem em um contiacutenuo e descontiacutenuo movimento de transposiccedilatildeo de

179

fronteiras institucionalmente configuradas por artefatos histoacutericos culturais que podem estar

mediando as relaccedilotildees entre os sujeitos e os demais instrumentos de uma atividade de forma

impliacutecita ou invisiacutevel como por exemplo a dialeacutetica da existecircncia da ldquotelardquo invisiacutevel em

salas de aula de Caacutelculo como um instrumento que estaria permeando tal contexto

Eacute importante ressaltar que os sujeitos engajados no GEPMM participam a priori

de atividades originais primaacuterias cujos objetos podem estar alinhados ou natildeo no

desenvolvimento de variadas formas de praacutexis acadecircmica instituiacutedas em tal contexto

formativo Nesse caso pontualmente refiro-me aos interconectados sistemas de atividade

originais dos quais participam conjuntamente docentes e discentes dos cursos de Engenharia

da instituiccedilatildeo UNIFEI-Itabira De um lado de uma mesma moeda refiro-me aos sistemas de

atividade de trabalho que os docentes ldquodesenhamrdquo e colocam em praacutetica no decorrer das

variadas formas de trabalho situadas nas instituiccedilotildees que se dedicam exclusivamente agrave

formaccedilatildeo superior em Engenharia do outro lado dessa mesma moeda situam-se os sistemas

de atividade dos quais participam os discentes no mesmo contexto Observe que os tais

sistemas de atividade satildeo interconectados indissoluvelmente ndash amalgamados

Nesse sentido os discentes que participam das atividades orientadas pela

formaccedilatildeo em Engenharia desde o iniacutecio do engajamento nas referidas praacutexis formativas

objetivam obter o tiacutetulo de engenheiro com vistas a satisfazer uma necessidade humana

contemporacircnea obter um diploma de engenheiro Natildeo pretendo na referida anaacutelise discorrer

sobre as ideologias discursos e enunciados sociais que estatildeo por traacutes de tal orientaccedilatildeo apenas

a defino como existente e norteadora Para que essa finalidade seja de fato concretizada na

realidade os discentes de cursos de Engenharia precisam elaborar antes de tudo num plano

da atividade consciente um planejamento das accedilotildees necessaacuterias para tal fazendo

necessariamente parte da agency Sendo assim no contexto de formaccedilatildeo analisada nesta tese

um objeto primaacuterio original emerge dos sistemas de atividade dos discentes ndash o diploma de

engenheiro

Quando se tornam discentes de cursos de Engenharia na UNIFEI-Itabira os

sujeitos passam a pertencer a uma comunidade de praacutetica orientada pela e na formaccedilatildeo em

Engenharia Mas poderiam ser consideradas possibilidades para o desenvolvimento de

aprendizagens como participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima (PPL)152

(LAVE WENGER 2002) as

152

ldquoVer a aprendizagem como participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima significa que a aprendizagem natildeo eacute simplesmente

uma condiccedilatildeo para tornar-se membro mas eacute em si mesma uma forma em evoluccedilatildeo do tornar-se membrordquo

(LAVE WENGER 2002 p 170)

180

formas de praacutexis frequentemente realizadas153

no referido contexto institucional Em geral a

resposta para essa pergunta infelizmente tende a ser negativa Primeiro os participantes natildeo

tem amplo acesso a diferentes partes da atividade formativa em questatildeo Quando se tornam

discentes de tais cursos os sujeitos tecircm acesso agraves grades curriculares sob a forma escrita de

plano de curso particionado em vaacuterias disciplinas a serem cumpridas mas de forma alguma

veem ou participam na realidade concreta das diversas praacuteticas que constituem tal formaccedilatildeo

Em segundo lugar os participantes natildeo percebem lsquoabundacircnciarsquo nas interaccedilotildees horizontais

entre eles que na maioria das vezes tambeacutem natildeo eacute mediada por situaccedilotildees problemaacuteticas e

suas soluccedilotildees Pelo contraacuterio na maior parte do tempo dedicado agrave formaccedilatildeo os discentes se

esforccedilam para entender situaccedilotildees hipoteacuteticas fictiacutecias e teoacutericas impressas e sugeridas por

autores de livros didaacuteticos muitos deles traduzidos de outras liacutenguas oriundos de outras

culturas resultando em produtos que por definiccedilatildeo se distanciam dos interesses e

necessidades de uma comunidade especiacutefica Finalmente em terceiro lugar as tecnologias e

estruturas da instituiccedilatildeo natildeo satildeo transparentes Os aprendizes muitas vezes natildeo tecircm acesso ao

que estaacute por traacutes dos mecanismos internos e portanto natildeo satildeo convidados a inspecionaacute-los

Logo a participaccedilatildeo dos discentes em tais praacuteticas de fato ocorre mas natildeo pode

ser considerada em geral como resultante em uma aprendizagem legiacutetima pela e na

participaccedilatildeo em praacutexis firmada em tal contexto formativo Isso se deve ao fato da proacutepria

instituiccedilatildeo ser um artefato histoacuterico cultural que implicitamente ou invisivelmente medeia as

relaccedilotildees dos participantes nas praacutexis (DANIELS et al 2010a p 123) Considerando essa

anaacutelise toda e qualquer praacutexis realizada orientada pela finalidade de formar engenheiros

estaria subordinada agraves possibilidades de mediaccedilatildeo que a proacutepria instituiccedilatildeo submete aos

participantes ainda que de forma impliacutecita ou invisiacutevel entre as quais podemos enfatizar as

relaccedilotildees de poder e controle

Uma forma de controle expliacutecita que pode ser nitidamente observada na

instituiccedilatildeo estudada eacute o curriacuteculo uma grade curricular formada por disciplinas a serem

desenvolvidas pelos docentes e discentes constituiacutedas por conteuacutedos padronizados a serem

ldquoA participaccedilatildeo perifeacuterica legiacutetima refere-se tanto ao desenvolvimento de identidades de habilidades

competentes na praacutetica quanto agrave reproduccedilatildeo e transformaccedilatildeo das comunidades de praacuteticardquo (LAVE WENGER

2002 p 171) 153

Refiro-me nesse momento da anaacutelise agraves praacuteticas tradicionais de formaccedilatildeo em Engenharia desenvolvidas em

instituiccedilotildees que se destinam agrave formaccedilatildeo em niacutevel de graduaccedilatildeo em Engenharia contexto de nosso estudo Em

grande parte pode ser caracterizada pelo uso em demasia de aulas expositivas cujo objeto assumido pode ser

resumido pela apresentaccedilatildeo dos conteuacutedos das respectivas disciplinas conforme preconizado nos livros-texto

pela valorizaccedilatildeo do desenvolvimento de habilidades e competecircncias individuais pelo uso de testes e avaliaccedilotildees

padronizadas cujo objetivo consiste na reproduccedilatildeo dos discursos desenvolvidos durante as aulas e pelo

distanciamento entre professores e alunos durante as atividades de formaccedilatildeo ndash a praacutexis formativa em

Engenharia

181

desenvolvidos e por cargas horaacuterias definidas a priori e sobretudo sob o controle das

avaliaccedilotildees que ditam quem cumpriu e quem natildeo cumpriu tais exigecircncias resultando em

aprovaccedilotildees ou reprovaccedilotildees nas disciplinas da grade curricular Esse ldquopoderiordquo acaba por

delimitar ou preacute-fabricar as accedilotildees que os estudantes iratildeo desenvolver assim como as decisotildees

sobre outras formas de participaccedilatildeo em praacuteticas extracurriculares na instituiccedilatildeo Ou seja satildeo

estabelecidas dessa forma accedilotildees prioritaacuterias orientadas pela aprovaccedilatildeo nas disciplinas

principalmente nas disciplinas que ldquonormalmenterdquo resultam em altos iacutendices de reprovaccedilatildeo

Durante a construccedilatildeo dos dados para a presente pesquisa vaacuterios foram os

momentos que o ldquopoderiordquo explicitado anteriormente se manifestou Entre eles podemos

colocar em relevo momentos extraiacutedos das transcriccedilotildees das entrevistas finais realizadas com

os alunos que haviam participado do GEPMM Para responder a primeira pergunta (ldquocomo

vocecirc caracteriza sua participaccedilatildeo no GEPMMrdquo) os estudantes usaram adjetivos do tipo

ldquoinsuficienterdquo ldquomiacutenimardquo ldquoirrelevanterdquo e ldquodeixa a desejarrdquo Mas como a participaccedilatildeo foi

considerada por eles mesmos tatildeo digamos ldquoinexpressivardquo se eles mesmos reconheceram de

antematildeo as possibilidades de aprendizagens mediante a participaccedilatildeo no GEPMM conforme

demonstraram nas entrevistas iniciais e durante os encontros do grupo Possiacuteveis respostas

para tal indagaccedilatildeo podem ser encontradas nas respostas que eles mesmos deram para a

segunda pergunta (ldquodesde que vocecirc comeccedilou a participar do grupo quais os desafios

encontrados Como vocecirc buscou superar estes desafiosrdquo) feita a eles por mim durante a

realizaccedilatildeo das entrevistas finais Taty pontua que o principal desafio consiste na proacutepria

essecircncia da atividade ldquomodelar alguma situaccedilatildeo eacute uma coisa muito complicada porque tem

muitas variaacuteveisrdquo Enfatiza que para superar esse desafio ela precisaria ter tido mais tempo

para maior dedicaccedilatildeo agrave atividade Afirma ainda que a falta de tempo estaria relacionada agrave

realizaccedilatildeo de outras atividades discentes entre as quais se destacam as vaacuterias mateacuterias

(disciplinas) que estaria cursando e a iniciaccedilatildeo cientiacutefica que estaria concluindo naquele

semestre Taty ainda sugere a existecircncia de um dilema incorporado nos sistemas de atividade

que ela participa na posiccedilatildeo de discente de um curso de Engenharia Nas palavras de Taty

Por um lado eu acho um desperdiacutecio tantas oportunidades na faculdade e a gente

natildeo poder muita gente natildeo aproveitar neacute como eu jaacute disse mesmo o fato de termos

professores tatildeo bons e agraves vezes tatildeo dispostos neacute A desenvolver um trabalho que

vocecirc taacute vendo e os outros natildeo estatildeo por outro lado o tempo eacute curto neacute as mateacuterias

satildeo difiacuteceis e se vocecirc leva a seacuterio mesmo vocecirc tem que estudar muito tempo neacute

entatildeo pra fazer um trabalho desse [] eu atribuo essa dificuldade agrave falta de tempo

182

Os alunos Pedro e Joseacute tambeacutem consideraram a falta de tempo como constituinte

do principal desafio encontrado na participaccedilatildeo no GEPMM Pedro ainda admitiu ter tido

dificuldades em participar do GEPMM devido a natildeo ter um ldquoinglecircs muito fluenterdquo o que

para ele dificultou a leitura dos textos Nas palavras de Pedro

Eu natildeo tenho um inglecircs muito fluente entatildeo muitas vezes tinha que buscar

significados de palavras de expressatildeo entatildeo isso garrou um pouco na hora de eu

ler os artigos [] Eu sei que se eu tirar tempo de estudo pra dedicar agrave modelagem

eu sei que vou tomar pau Isso eacute tranquilo [] Eu faccedilo o projeto [referindo-se agraves

atividades do GEPMM] mas chega na disciplina aiacute eu natildeo consigo fazer nada

entatildeo pra mim neste caso natildeo seria vantajoso neste semestre participar do

projeto

Sendo assim fica niacutetido que existe uma lei que rege os sistemas de atividade dos

alunos no que tange agrave sua proacutepria formaccedilatildeo em Engenharia delimitando as modalidades das

atuaccedilotildees na qual tem que sujeitar sua vontade Tal lei poderia ser expressa pelo fim sendo

constituiacuteda pela prefiguraccedilatildeo ideal do resultado material concreto que se quer alcanccedilar ndash o

diploma de engenheiro Mesmo tendo a vontade de participar do GEPMM percebendo as

possibilidades de formaccedilatildeo em tal atuaccedilatildeo os alunos veem diante de si um objeto

ldquodesalinhadordquo nos sistemas de atividades que pode ateacute mesmo impossibilitar o resultado

concreto que desejam alcanccedilar Dessa forma o fim o produto o objeto da atividade dos

sistemas primaacuterios de atividade (diploma) entra em contradiccedilatildeo com a atividade presente

(GEPMM) que passa a natildeo exercer mais o papel de orientar accedilotildees podendo ateacute mesmo se

tornar um objeto fluido nulo colocado como uma vontade em contradiccedilatildeo com a realidade

Engestroumlm (2010a) enfatiza que objetos que orientam as atividades humanas satildeo

oriundos de preocupaccedilotildees eou desconfortos sendo capazes de gerar e focalizar nossas

atenccedilotildees nos motivar fazer-nos esforccedilar e atribuir sentido agraves nossas accedilotildees Nas e pelas

ldquoatividades as pessoas constantemente mudam e criam novos objetos Os novos objetos

frequentemente natildeo satildeo produtos intencionais de uma atividade simples mas consequecircncias

inintencionais de muacuteltiplas atividadesrdquo (ENGESTROumlM 2010a p 304)

Nesse sentido os alunos que haviam aceitado o convite para participaccedilatildeo no

GEPMM (sujeitos de muacuteltiplas atividades cujo resultado esperado seria a formaccedilatildeo em

Engenharia) natildeo viram condiccedilotildees objetivas para sua realizaccedilatildeo para a materializaccedilatildeo de tal

participaccedilatildeo ainda que ela se fizesse anteriormente constituinte de um fim um objeto

idealizado que havia se fluidificado na realidade

Saacutenchez Vaacutezquez (2002 p 231) nos apresenta uma relaccedilatildeo dialeacutetica entre a

finalidade e a causalidade ldquojaacute que embora os fins conduzam agrave transformaccedilatildeo da realidade

183

esta impotildee limites que aqueles natildeo podem transporrdquo Somente as accedilotildees concretas que

disponham de meios concretos para sua realizaccedilatildeo podem resolver a contradiccedilatildeo histoacuterica

que abarca a finalidade como expressatildeo de uma contradiccedilatildeo entre ldquoo futuro e o presente entre

o ideal e o real entre a realidade a ser transformada e a realidade inexistente jaacute prefigurada

pela consciecircnciardquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 2002 p 231) Assim podemos analisar a natildeo

assiduidade e a participaccedilatildeo incipiente dos alunos que haviam aceitado o convite para

comporem o GEPMM como uma resposta agrave realidade pois ldquonatildeo se podem aceitar meios que

sendo eficazes em relaccedilatildeo a um fim particular contribuam para corromper fins mais

elevadosrdquo (SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 2002 p 233) Tal resposta eacute decorrente da agency

configurada pela implementaccedilatildeo de procedimentos com vistas ao realinhamento ao fim mais

elevado

Durante a entrevista final a aluna Taty disse que acha mais faacutecil participar de

atividades formativas tradicionais (regidas por provas individuais) do que de atividades em

grupo mais interdisciplinares e praacuteticas apesar de afirmar que em sua concepccedilatildeo o meacutetodo

tradicional natildeo tem nada a ver com a formaccedilatildeo do engenheiro Para ela as atividades em

grupo possibilitam mais aprendizagens eacute ldquomuito mais legalrdquo ldquomuito mais interessanterdquo e

ldquoesse eacute o trabalho do engenheirordquo Contudo parece ter caracterizado um objetivo que diz

respeito agraves disciplinas de Caacutelculo que compotildeem a grade curricular do curso de Engenharia no

qual eacute aluna Nas palavras de Taty ldquoeu quero aprovar mais do que isso eu quero passar bem

na mateacuteria [] eu gosto de passar bem em Caacutelculo [] eu quero saber fazer a provardquo Com

isso podemos entender que um fim particular (relacionado agrave formaccedilatildeo em Caacutelculo) estava

traccedilado idealmente como alinhado ao fim mais elevado ndash obter o diploma de engenheira

Dessa forma percebemos um ldquodesalinhamentordquo entre o objeto do GEPMM e o

objeto original primaacuterio que constitui os sistemas de atividade da aluna Taty cujo resultado

se materializa no diploma de engenheira Tal ldquodesalinhamentordquo se tornou visiacutevel aos nossos

olhos pela participaccedilatildeo incipiente da aluna no GEPMM A proacutepria participaccedilatildeo incipiente faz

parte da agency sendo configurada como uma maneira de agir de atuar A aluna nos contou

que ao cursar uma disciplina especiacutefica do curso de Engenharia havia realizado um trabalho

em grupo e que teria se empenhado bastante e aprendido muita coisa de ldquoanaloacutegicardquo mesmo

sem ter feito a disciplina de Analoacutegica formalmente Afirmou que ldquoa interaccedilatildeo o trabalho

em grupo [] uma semana de laboratoacuterio e vocecirc aprende coisa que assim agraves vezes em uma

mateacuteria inteira ficava bem mais ou menosrdquo Observe que como o trabalho em grupo que a

aluna nos contou foi uma atividade avaliativa que resultaria em pontuaccedilatildeo estaria bem

ldquoalinhadardquo aos objetivos de ser aprovada eou ter boas notas na referida disciplina Talvez isso

184

corrobore a suspeita de que se as atividades de Modelagem resultassem em pontuaccedilatildeo em

alguma disciplina de fato os alunos participariam de forma mais efetiva do que pudemos

observar na construccedilatildeo dos dados para a presente pesquisa Sendo assim para que os alunos

participassem efetivamente das atividades do GEPMM tornaram-se necessaacuterios ajustes ao

modelo conforme explicitei anteriormente

Com base nas ideias de Leontiev ainda poderiacuteamos analisar que na verdade os

alunos apenas cumprem o que eacute demandado no contrato didaacutetico institucionalizado ndash estudar

para serem aprovados nas disciplinas eou obterem boas notas ndash e isso constitui ou influencia

fortemente a agency observaacutevel nos procedimentos implementados Contudo com isso os

sujeitos foram desapropriados e desapropriam a si mesmos do sentido do que fazem pois a

atividade formativa acaba perdendo sua especificidade restando-lhes apenas um trabalho

alienado quer se trate do aluno ou do professor ldquoe esse trabalho temos de admiti-lo eacute chato

muito aborrecidordquo (CHARLOT 2013 p 154) O aluno Pedro acabou confirmando essa

concepccedilatildeo Nas palavras dele extraiacutedas das transcriccedilotildees da entrevista inicial podemos ver

Quanto a Caacutelculo a visatildeo que a gente tem infelizmente eacute que eacute uma coisa chata eacute

blaacuteblaacuteblaacute Eu jaacute ouvi de alguns colegas que Caacutelculo natildeo eacute uma coisa que vocecirc usa

tanto muita gente natildeo tem noccedilatildeo da importacircncia do Caacutelculo [] esse mito que se

tem ldquoah o caacutelculo eacute difiacutecil mas natildeo tem importacircnciardquo acaba desestimulando o

pessoal e aiacute sim que vocecirc agraves vezes consegue ateacute ser aprovado na disciplina mas natildeo

tem um aprendizado real

O aluno Pedro ainda expocircs na entrevista inicial que em sua visatildeo faltavam

projetos que objetivassem mostrar para os alunos a ldquoverdadeira importacircncia do Caacutelculo e que

estimulassem os alunos a entenderem o assunto a estudarem maisrdquo demonstrando acreditar

que o GEPMM pode cumprir esse objetivo Contudo ao deixar de participar do GEPMM por

falta de tempo e por parecer priorizar a aprovaccedilatildeo nas disciplinas o aluno acabou por

promover uma possiacutevel desapropriaccedilatildeo de si mesmo do sentido do que faz ndash sujeito em

formaccedilatildeo agravequele que deseja se apropriar de conhecimentos ndash restando-lhe apenas um

trabalho alienado subtraiacutedo de seu desejo manifestado ter ldquoum aprendizado realrdquo

Cabe ressaltar que os dilemas vivenciados pelos alunos quanto agrave participaccedilatildeo no

GEPMM especialmente a participaccedilatildeo em muacuteltiplas atividades demandadas pela formaccedilatildeo

em Engenharia versus a falta de tempo para darem conta de participarem efetivamente das

referidas atividades pode ter resultado na decisatildeo de deixarem de participar dos encontros do

GEPMM Isso natildeo aconteceu somente com os alunos O docente Robson por exemplo

participou de apenas dois encontros do GEPMM atribuindo suas ausecircncias a outras demandas

185

de trabalho como viagens a congressos participaccedilatildeo de bancas de conclusatildeo de cursos e

atividades administrativas A docente Clarice apoacutes o deacutecimo encontro enviou um e-mail a

todos os integrantes do GEPMM informando que em virtude do iniacutecio de seu processo de

doutoramento teria que se ausentar do GEPMM por pelo menos alguns anos Todas essas

atitudes perfazem a agency inerente agraves repostas dos sujeitos agraves referidas demandas

Ainda no segundo encontro do GEPMM escolhemos o primeiro tema a ser

desenvolvido por noacutes ndash ldquopeso corporal idealrdquo Apoacutes tal escolha o professor Angel

compartilhou uma informaccedilatildeo que acabara de ter acesso por meio do manuseio de seu

notebook que permanecia ligado e conectado na internet informando-nos sobre um edital

aberto no site do CNPq Tal edital era sobre gecircnero e relaccedilotildees de trabalho O professor Angel

se mostrou muito animado em elaborarmos um projeto para submetermos agrave ampla

concorrecircncia preconizada pelo referido edital

Decidimos construir um projeto para submissatildeo ainda que tiveacutessemos apenas seis

dias corridos incluindo saacutebado e domingo para tal confecccedilatildeo Taty tentou ajudar nessa

empreitada e disse ter o projeto inteiro escrito sobre gecircnero e somente teriacuteamos que ldquoadaptaacute-

lordquo para a aacuterea da Engenharia A aluna referiu-se ao projeto que ela estava desenvolvendo

como bolsista de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica Decidimos lutar contra o tempo e escrever esse projeto

para a submissatildeo O projeto foi intitulado Relaccedilotildees de Gecircnero no Trabalho das Engenheiras

do Setor industrial uma anaacutelise das condiccedilotildees de trabalho e das competecircncias e habilidades

matemaacuteticas cujo objetivo principal era ldquocompreender as relaccedilotildees de gecircnero estabelecidas no

trabalho das engenheiras que atuam em empresas do setor industrial mineiro por meio do

entendimento das condiccedilotildees de trabalho e das habilidades e competecircncias matemaacuteticas

requeridas na atuaccedilatildeo laboral da aacuterea especificamente estudadardquo E os objetivos especiacuteficos

eram

- Caracterizar as condiccedilotildees de trabalho de mulheres engenheiras das principais

empresas do setor industrial mineiro da regiatildeo do Vale do Accedilo e da cidade de

Itabira

- Estabelecer as diferenccedilas proporcionais de gecircnero na ocupaccedilatildeo de cargos de

engenharia buscando analisar as peculiaridades de cada uma das classes de

trabalhadores ndash homens e mulheres

- Analisar as competecircncias e habilidades matemaacuteticas requeridas para a efetiva

atuaccedilatildeo em cargos de engenharia ocupados por mulheres e sua respectiva

comparaccedilatildeo entre os mesmos cargos ocupados por homens

- Utilizar os resultados da pesquisa como aporte teoacuterico para a tomada de decisotildees

relacionadas aos curriacuteculos dos cursos de Engenharia da UNIFEI no que se refere agrave

questatildeo de gecircnero ainda deixada de lado nos projetos pedagoacutegicos dos cursos assim

como o fornecimento dos mesmos subsiacutedios para que outras instituiccedilotildees possam

fazer uso

186

- Aplicar os resultados como agentes que podes motivar os estudantes dos cursos de

Engenharia da UNIFEI a refletirem sobre questotildees relacionadas ao gecircnero no

trabalho e na formaccedilatildeo em engenharia

Submetemos o trabalho na data limite ndash dia 14 de novembro de 2012 Contudo o

CNPq natildeo o aprovou O parecer questionou sobre a aacuterea de atuaccedilatildeo dos docentes que iriam

executaacute-lo ou seja por natildeo termos produccedilatildeo cientiacutefica na aacuterea fomos impedidos de realizar a

pesquisa a menos que quiseacutessemos fazecirc-la sem ter projeto algum submetido e

consequentemente sem ter auxiacutelios financeiros para sua execuccedilatildeo

Mas por que em um grupo que originalmente orientaria suas atividades pelos

objetos materializados por questotildees-problema matemaacuteticos e estudantes de Engenharia

tomaria uma pesquisa sobre gecircnero no trabalho de Engenharia como objeto de uma atividade

paralela Tentarei analisar a referida atividade como constituinte de sistemas de atividade

hiacutebridos ndash muacuteltiplos contextos de atividades paralelos e as respectivas multi-agencys

(DANIELS et al 2010a)

A estrutura do trabalho docente em instituiccedilotildees federais de ensino superior

brasileiras estaacute baseada no tripeacute ensino-pesquisa-extensatildeo Tais instituiccedilotildees estatildeo entre as

instituiccedilotildees puacuteblicas mais submetidas a avaliaccedilotildees de desempenho A grande questatildeo que se

faz necessaacuterio pontuar eacute que tais avaliaccedilotildees podem muito bem verificar quantitativamente o

desempenho de tais instituiccedilotildees pelas quantidades de diplomas concedidos e artigos

publicados poreacutem natildeo conseguem captar bem os conteuacutedos inerentes aos diplomados e agrave

qualidade das publicaccedilotildees Nesse sentido em artigo publicado no jornal Folha de SPaulo o

professor Joseacute Maria Alves da Silva154

do Departamento de Economia da Universidade

Federal de Viccedilosa-MG esclarece que

Tirando o que eacute gasto na elaboraccedilatildeo de projetos produccedilatildeo em massa de artigos

preenchimento de relatoacuterios atualizaccedilatildeo de curriacuteculos participaccedilotildees cada vez mais

frequentes em bancas reuniotildees etc sobra pouco tempo para pensar e outras

finalidades importantes como aperfeiccediloar metodologias de ensino ou enriquecer

conteuacutedos disciplinares Quando o ldquoprodutivismordquo impera na academia aulas

conferecircncias e palestras brilhantes ou qualquer outro tipo de comunicaccedilatildeo fora dos

meios reconhecidos natildeo contam por mais que sirvam para solucionar problemas

enriquecer espiacuteritos ou abrir novos caminhos de pensamento (SILVA 2012)

Nesse sentido a participaccedilatildeo no GEPMM poderia ateacute constituir importante meio

para a formaccedilatildeo dos sujeitos partiacutecipes em termos de abrir novos caminhos de pensamento

solucionar problemas da realidade natildeo matemaacutetica em questatildeo eou ajudar na melhoria da

154

Doutor em Economia

187

praacutetica mas de todo modo fora dos meios reconhecidos natildeo ldquocontardquo natildeo soma natildeo produz

ldquoquantidaderdquo nas avaliaccedilotildees de desempenho Sendo assim o objeto da referida atividade

paralela a transforma natildeo em uma atividade vital dos sujeitos e sim em puro meio de

ldquosubsistecircnciardquo Naquele momento reflexotildees sobre qual a importacircncia e a quem serviria aquilo

que estariacuteamos produzindo parecem natildeo ter acontecido Estava constituiacuteda uma atividade

alienada Aqui assumo o termo alienaccedilatildeo em Marx Alienaccedilatildeo no sentido de perpetuar a

dicotomia entre os que pensam e os que executam devido agrave inserccedilatildeo dos sujeitos no sistema

de formaccedilatildeo superior estabelecido nas e pelas universidades federais brasileiras que refletem

a organizaccedilatildeo do modo de produccedilatildeo capitalista ndash alienaccedilatildeo como fenocircmeno social

Saacutenchez Vaacutezquez (1977) busca em Marx a relaccedilatildeo alienante que pode ser

estabelecida entre os sujeitos e seus objetos ndash demandas sociais ndash em uma atividade humana

enfatizando uma possiacutevel ldquodesgovernanccedilardquo um verdadeiro runaway object (ENGESTROumlM

2010a)

As palavras de Marx (1845) em sua obra A ideologia alematilde esclarecem que

O poder social isto eacute a forccedila de produccedilatildeo multiplicada que nasce por obra da

cooperaccedilatildeo dos diversos indiviacuteduos sob a accedilatildeo da divisatildeo do trabalho aparece diante

desses indiviacuteduos por natildeo se tratar de uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria mas sim natural

natildeo como um poder proacuteprio associado e sim como um poder alheio situado agrave

margem deles que natildeo sabem de onde vem nem para onde vai e que por

conseguinte jaacute natildeo podem dominar (p 33 apud SAacuteNHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p

442)

Realmente natildeo podiacuteamos dominar o objeto configurado pelono referido projeto

submetido ao CNPq O proacuteprio contexto institucional estava permeado pelo modo de

produccedilatildeo e de exploraccedilatildeo do sistema capitalista imposto pela burguesia tendencioso agrave

perpetuaccedilatildeo da dicotomia entre os trabalhadores intelectuais e os trabalhadores teacutecnicos entre

os produtoresconstrutores e os operadores Com isso o contexto implicava em nossa natildeo

reflexatildeo permaneciacuteamos sem saber qual a importacircncia da referida atividade e a quem ela

serviria O que pensaacutevamos poderia estar desconectado do que pretendiacuteamos executar Nas

palavras de Angel retiradas das transcriccedilotildees do segundo encontro do GEPMM podemos

encontrar a seguinte ponderaccedilatildeo ldquonossa eacute dinheiro demais Satildeo oito milhotildees soacute pra

projetinhos para falar de mulherrdquo De fato Angel natildeo parece realmente estar ldquopreocupadordquo

com as questotildees de gecircnero no trabalho em Engenharia e mais do que isso parece natildeo

perceber a real importacircncia de se pesquisar a respeito desse tema Com isso percebemos que

ao menos para Angel o objeto principal da atividade natildeo parece estar alinhado ao seu motivo

188

Atualmente as avaliaccedilotildees de desempenho tendem a controlar externamente o

trabalho docente cujo objeto de sua atividade pode se tornar alheio aos sujeitos Nesse

sentido seria pertinente questionar qual valor de uso e de troca estaria permeado em tal

objeto contraditoacuterio Sendo assim o valor de uso referindo-se agrave utilidade de tal objeto

(projeto submetido ao edital do CNPq) poderia estar configurado pela materializaccedilatildeo dos

objetivos principal e especiacuteficos expostos anteriormente neste texto Adicionalmente o valor

de troca para os docentes parece estar restrito a uma quantificaccedilatildeo nos meios de

reconhecimento e controle do trabalho docente em instituiccedilotildees federais de ensino superior

brasileiras entre eles o curriacuteculo Lattes e os ldquonuacutemerosrdquo da CAPES e do CNPq Jaacute para os

discentes o valor de troca parecia estar relacionado com as possibilidades de ganhos reais

financeiros mediante o fornecimento de bolsas de pesquisa cujo valor seria de R$ 400

mensais No valor de troca poderiam ser encontrados os motivos que impulsionaram tal

atividade que articulariam uma necessidade a tal objeto Contudo os dados construiacutedos para

a presente pesquisa natildeo me fornecem subsiacutedios para tecer uma anaacutelise rigorosa sobre os

motivos que impulsionaram tal atividade apenas uma sinalizaccedilatildeo conforme descriccedilatildeo

anterior

Estaria em todo caso configurada uma parceria possibilitada pela participaccedilatildeo

dos sujeitos no referido grupo que sem duacutevida alguma permitiu uma movimentaccedilatildeo na Zona

de Desenvolvimento Proximal (ZDP) das atividades docente-discente devido a uma

diminuiccedilatildeo do distanciamento historicamente constituiacutedo entre docentes e discentes

permitindo e facilitando as interaccedilotildees e o diaacutelogo entre os docentes e portanto favorecendo o

desenvolvimento coletivo de iniciativas (agency) que ressaltem a satisfaccedilatildeo de demandas na

condiccedilatildeo de trabalhadores de universidades brasileiras na contemporaneidade Pesquisa e

inovaccedilatildeo cientiacutefica surgem nesse caso como ldquonovasrdquo praacuteticas sociais que atendem agraves

necessidades impostas pelas universidades Nesse sentido um processo mediado pelo agir

comunicativo ocorreu e se materializou no referido projeto submetido ao CNPq Da mesma

forma que juntamos forccedilas e conseguimos elaboraacute-lo poderiacuteamos fazecirc-lo em outros editais

que fossem abertos posteriormente

Sendo assim as possibilidades de interaccedilatildeo mediadas pela linguagem pelo

diaacutelogo entre os parceiros do GEPMM parece ser um fator preponderante para natildeo somente a

elaboraccedilatildeo de projetos de pesquisa a serem submetidos em editais do CNPq mas sobretudo

para a ampliaccedilatildeo das possibilidades de reflexatildeo acerca de sua proacutepria atividade docente

Desse modo estaria configurado um importante espaccedilo de formaccedilatildeo continuada

para os docentes com relaccedilatildeo agraves muacuteltiplas atividades (ensino pesquisa extensatildeo) que

189

desenvolvem na instituiccedilatildeo Docentes que lecionam disciplinas de Caacutelculo atuando

conjuntamente com docentes de outras aacutereas dos cursos de Engenharia e com alunos em

formaccedilatildeo podem ser considerados parceiros Uma rede de aprendizagem foi configurada no e

pelo GEPMM A aprendizagem expansiva a partir do movimento da ZDP da atividade

docente somente se materializou pela construccedilatildeo de redes ndash parceria uma reflexatildeo que cabe

aqui eacute que juntos coletivamente a atividade dos sujeitos docentes e discentes de cursos de

Engenharia pode assumir uma nova forma possivelmente com um objeto mais alinhado aos

atuais objetivos da formaccedilatildeo em Engenharia

53 Terceira modalidade ndash Modelagem e a caixa-preta do ldquopeso corporal idealrdquo num

contexto de formaccedilatildeo em Engenharias do Caacutelculo em accedilatildeo agraves aprendizagens expansivas

como transformaccedilotildees qualitativas do objeto da atividade

[] todos os atores estatildeo fazendo alguma coisa com a caixa preta () eles natildeo a

transmitem pura e simplesmente mas acrescentam elementos seus ao modificarem o

argumento fortalececirc-lo e incorporaacute-lo em novos contextos (LATOUR 2000 p

171)

A sociedade atual vem passando por importantes transformaccedilotildees nos uacuteltimos anos

mediante avanccedilo e difusatildeo de ferramentas de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo Castells (2005 p

17) pontua que a ldquosociedade emergente tem sido caracterizada como sociedade de informaccedilatildeo

ou sociedade do conhecimentordquo apesar de demonstrar no referido texto que natildeo concorda

com tal terminologia O autor afirma ainda que ldquoa tecnologia eacute condiccedilatildeo necessaacuteria mas natildeo

suficiente para a emergecircncia de uma nova forma de organizaccedilatildeo social baseada em redesrdquo

(CASTELLS 2005 p 17) segundo ele ldquodifundir a Internet ou colocar mais computadores

nas escolas por si soacute natildeo constituem necessariamente grandes mudanccedilas sociaisrdquo

(CASTELLS 2005 p 18)

Considero assim que ldquoa sociedade em rede155

eacute a sociedade de indiviacuteduos em

rederdquo (CASTELLS 2005 p 22) global baseada em redes globais em que a comunicaccedilatildeo em

redes transcende fronteiras e pode ser entendida como segue

A comunicaccedilatildeo constitui o espaccedilo puacuteblico ou seja o espaccedilo cognitivo em que as

mentes das pessoas recebem informaccedilatildeo e formam os seus pontos de vista atraveacutes do

processamento de sinais da sociedade no seu conjunto Por outras palavras enquanto

155

ldquoA sociedade em rede em termos simples eacute uma estrutura social baseada em redes operadas por tecnologias

de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo fundamentadas na microelectroacutenica e em redes digitais de computadores que

geram processam e distribuem informaccedilatildeo a partir de conhecimento acumulado nos noacutes dessas redesrdquo

(CASTELLS 2005 p 20)

190

a comunicaccedilatildeo interpessoal eacute uma relaccedilatildeo privada formada pelos actores da

interacccedilatildeo os sistemas de comunicaccedilatildeo mediaacuteticos criam os relacionamentos entre

instituiccedilotildees e organizaccedilotildees da sociedade e as pessoas no seu conjunto natildeo enquanto

indiviacuteduos mas como receptores colectivos de informaccedilatildeo mesmo quando a

informaccedilatildeo final eacute processada por cada indiviacuteduo de acordo com as suas proacuteprias

caracteriacutesticas pessoais (CASTELLS 2005 p 22)

Mas de que forma podemos entender e relacionar os termos informaccedilatildeo

conhecimento e saber em tal sociedade Como as tecnologias estariam relacionadas a esses

termos Nesse sentido considero que ldquoas pessoas integraram as tecnologias nas suas vidas

ligando a realidade virtual com a virtualidade real vivendo em vaacuterias formas tecnoloacutegicas de

comunicaccedilatildeo articulando-as conforme as suas necessidadesrdquo (CASTELLS 2005 p 22 grifo

meu)

Com o intuito de tentar responder ou ao menos propor uma breve reflexatildeo sobre

os termos informaccedilatildeo conhecimento e saber comeccedilarei com a premissa de que no sentido

amplo uma ldquoinformaccedilatildeo eacute um dado que se encontra no mundo objetivo exterior ao

indiviacuteduordquo (MICOTTI 1999 p 154) constitui um dado que pode ser ldquolidordquo acessado e

compreendido Alguns autores pontuam imprecisotildees envolvidas na noccedilatildeoconceito de

informaccedilatildeo na sociedade atual Para Mattelart (2006) por exemplo

A tendecircncia a assimilar a informaccedilatildeo a um termo proveniente da estatiacutestica

(datadados) e a ver informaccedilatildeo somente onde haacute dispositivos teacutecnicos se acentuaraacute

Assim instalar-se-aacute um conceito puramente instrumental de sociedade da

informaccedilatildeo Com a atopia social do conceito apagar-se-atildeo as implicaccedilotildees

sociopoliacuteticas de uma expressatildeo que supostamente designa o novo destino do mundo

(MATTELART 2006 p 71)

No sentido exposto por Mattelart (2006) pode ser inclusa a noccedilatildeo de informaccedilatildeo

de Micotti (1999 p 155) na qual ldquouma informaccedilatildeo conteacutem um suporte e uma semacircnticardquo

para Micotti (1999) uma mesma semacircntica (ideia conceito) poderia ser conduzida por

diferentes suportes (desenho imagem enunciado verbal) que percorreriam um mesmo canal

(por exemplo oacutetico acuacutestico etc) Micotti (1999 p 155) afirma ainda que ldquoas informaccedilotildees

penetram nos sistemas de tratamento ndash o corpo humano eacute um deles O indiviacuteduo as submete a

uma seacuterie de accedilotildees e as transforma em conhecimentordquo

No que tange agrave noccedilatildeo de conhecimento Mattelart (2006) se apoia em Machlup

(1962 p 69 grifo do autor) e esclarece que ldquoinformar eacute uma atividade mediante a qual o

conhecimento eacute transmitido conhecer eacute resultado de ter sido informadordquo Nisso Micotti

(1999) esclarece que

191

o conhecimento eacute o resultado de uma experiecircncia pessoal com as informaccedilotildees Ele eacute

subjetivo relaciona-se com as vivecircncias e as atividades de cada pessoa ao passo que

o saber tem aspectos subjetivos (individuais) e sociais Eacute individual e deste ponto de

vista eacute tambeacutem conhecimento envolve a apropriaccedilatildeo de informaccedilatildeo por um sujeito

eacute interpessoal ndash o saber individual eacute confrontado com os saberes dos outros

(MICOTTI 1999 P 155)

Com isso o saber pode ser considerado como um objeto autocircnomo registrado nos

livros ou em quaisquer outros artefatos culturais e tecnoloacutegicos podendo tambeacutem tornar-se

enunciado acionado em interaccedilotildees diversas no sentido de ser uma informaccedilatildeo disponibilizada

para outros indiviacuteduos nas interaccedilotildees e suportadas por miacutedias diversas Sendo assim o saber

pode ser considerado como uma relaccedilatildeo cognitiva produto de uma interaccedilatildeo156

traccedilado na e

pela historicidade e submetido aos processos coletivos de validaccedilatildeo e transmissatildeo

(CHARLOT 2000)

Sendo assim informaccedilatildeo conhecimento e saber assumem caracteriacutesticas distintas

poreacutem inter-relacionadas (MICOTTI 1999) Para que uma informaccedilatildeo se torne conhecimento

eacute necessaacuteria uma internalizaccedilatildeo uma interpretaccedilatildeo daquela informaccedilatildeo por parte dos sujeitos

gerando conhecimento no entanto tal conhecimento se transforma em saber mediante anaacutelise

rigorosa de uma coletividade ndash a comunidade cientiacutefica a sociedade ndash por meio de accedilotildees e

interaccedilotildees diaacutelogo e orquestraccedilatildeo (MICOTTI 1999) Desta forma ldquoo saber compreende

informaccedilatildeo e conhecimentordquo (MICOTTI 1999 p 155)

Ainda pretendo discorrer sobre o papel das interaccedilotildees com os modelos que

permearam o GEPMM durante os dez primeiros encontros no que tange agraves interaccedilotildees (e

agency) necessaacuterias para a elucidaccedilatildeo dos modelos assim como as possibilidades de

interaccedilotildees tecnomediadas157

oferecidas por tais instrumentos ou artefatos mediadores Atribuo

dois modelos tecnomatemaacuteticos como fundamentais para auxiliar o entendimento da questatildeo

escolhida por noacutes para ser solucionada coletivamente no GEPMM conforme os atributos de

nossas agency bem como o acesso aos demais instrumentos necessaacuterios para possibilitar as

accedilotildees em prol de atingir tal objetivo O primeiro deles constituiacutedo por um sistema de

156

O termo interaccedilatildeo aqui assumido eacute oriundo da teoria bakhtiniana de discurso que carrega a definiccedilatildeo de

sujeito como um sujeito social que pertence a uma classe social na qual dialogam os diferentes discursos da

sociedade Aleacutem disso os diaacutelogos entre interlocutores se cruzam aos diaacutelogos entre discursos Sendo assim ldquoo

dialogismo interacional de Bakhtin desloca o conceito de sujeito que perde o papel de centro ao ser substituiacutedo

por diferentes vozes sociais que fazem dele um sujeito histoacuterico e ideoloacutegicordquo (BARROS 2007 p 27 grifo

meu) 157

A tecnomediaccedilatildeo eacute entendida neste texto como sendo as interaccedilotildees mediadas por artefatos tecnoloacutegicos que

incluem as mais variadas ferramentas ou suportes tecnoloacutegicos tais como a proacutepria Matemaacutetica e os recursos

ciberneacuteticos aleacutem de englobar diversos suportes de mediaccedilatildeo tais como a linguagem transmitida sob a forma

oral escrita e por gestos

192

equaccedilotildees diferenciais ordinaacuterias (EDO)158

fornece-nos o comportamento da variaccedilatildeo das

massas magra e gorda que compotildee fundamentalmente o ldquopeso corporalrdquo com base em

mudanccedilas energeacuteticas ndash variaccedilatildeo alimentar e variaccedilatildeo de atividade fiacutesica O segundo deles

constituiacutedo por uma implementaccedilatildeo computacional baseada no primeiro modelo em uma

tecnologia de interface para a internet podendo ser acessado por meio da execuccedilatildeo de um

programa desenvolvido usando a linguagem Java159

ndash um simulador160

Na atividade de modelagem desenvolvida pelo GEPMM durante a construccedilatildeo

dos dados para a presente pesquisa cujo tema consistiu na questatildeo do ldquopeso corporal idealrdquo eacute

necessaacuterio pontuar que o objeto da referida atividade havia sido esboccedilado idealmente pelos

sujeitos partiacutecipes originado de uma sugestatildeo feita por mim No momento da sugestatildeo

algumas indagaccedilotildees jaacute faziam parte do repertoacuterio de informaccedilotildees que possuiacuteamos Jaacute

conheciacuteamos algo sobre a questatildeo Dessa forma naquele momento um objeto nos era posto

apenas e somente em relaccedilatildeo a outras informaccedilotildees Para fins de anaacutelise definirei tal objeto

como caixa-preta do ldquopeso corporal idealrdquo inicial ndash 1198621198750 Nesse sentido Ladriegravere (1978) pode

nos ajudar a entender a configuraccedilatildeo de tal objeto

Eacute verdade que moldamos a natureza a partir de nossas proacuteprias representaccedilotildees e que

deste modo nos damos a noacutes mesmos a base de novas interpretaccedilotildees A visatildeo que

temos da natureza natildeo eacute nem uniforme nem imutaacutevel Mas as coisas se passam

assim com muito mais razatildeo para a realidade social que remodelamos sem cessar

mesmo sem o saber agrave luz das interpretaccedilotildees atraveacutes das quais a aprendemos por

meio das quais nos situamos em face dela conformemente agraves quais compreendemos

nosso lugar no jogo das interaccedilotildees [] partimos sempre de uma interpretaccedilatildeo

natural mas dela passamos por uma interpretaccedilatildeo construiacuteda que eacute como que uma

esquematizaccedilatildeo preacutevia agrave escolha do modelo (LADRIEgraveRE 1978 p 147 grifos

meus)

O objetivo da atividade de Modelagem analisada nesta parte da tese poderia estar

definido como entendersolucionar a problemaacutetica questatildeo de quantificar as variaccedilotildees do

158

120588119866

119889119866

119889119905= 119862119868 minus 119896119866119866

2

120588119865119889119865

119889119905= (1 minus 119901) (119864119868 minus 119864119864 minus 120588119866

119889119866

119889119905)

120588119871119889119871

119889119905= 119901(119864119868 minus 119864119864 minus 120588119866

119889119866

119889119905)

onde 119866 corresponde ao Glicogecircnio 119862119868 corresponde aos carboidratos

de entrada 119864119868 denota a energia de entrada 119864119864 a energia gasta 119865 massa gorda 119871 massa magra os demais satildeo

coeficientes que dependem de correlaccedilatildeo de dados iniciais Tal sistema culmina na seguinte EDO linear de

primeira ordem [120578119865+120588119865+120572120578119871+120572120588119871

(1minus120573)(1+120572)]119889119861119882

119889119905= Δ119864119868 minus

1

(1minus120573)[120574119865+120572120574119871

(1+120572)+ 120575] (119861119882 minus 1198611198820) Equaccedilotildees disponiacuteveis em

httpwwwniddknihgovresearch-fundingat-niddklabs-branchesLBMintegrative-physiology-sectionbody-

weight-simulatorDocumentsHall_Lancet_Web_Appendixpdf Acesso em 19112014 159

Para maiores informaccedilotildees ver httpjavacompt_BRdownloadwhatis_javajsp 160

Simulador disponiacutevel em httpwwwniddknihgovresearch-fundingat-niddklabs-

branchesLBMintegrative-physiology-sectionbody-weight-simulatorPagesbody-weight-simulatoraspx Acesso

em 19112014

193

peso corporal mediante alteraccedilotildees na dieta e nos exerciacutecios fiacutesicos cuja meta seria atingir um

peso corporal desejadoideal Tiacutenhamos o conhecimento por exemplo que aumento de

atividades fiacutesicas tende a diminuiccedilatildeo no peso corporal enquanto diminuiccedilotildees de calorias

ingeridas tendem a diminuir o peso corporal uma pessoa com peso corporal maior queima

mais calorias do que uma pessoa com peso corporal menor em uma mesma atividade fiacutesica eacute

necessaacuterio ingerir alimentos de trecircs em trecircs horas uma pessoa deve ingerir entre 2000 e

2500 calorias por dia entre outras informaccedilotildees que se relacionavam agrave 1198621198750 naquele momento

moldando-a sob nossos olhares Configurava-se um objeto a ser transformado resultando em

um entendimento lsquomais clarorsquo sobre tal questatildeo de forma que instrumentos de Caacutelculo

fossem utilizados no processo de Modelagem

Clarear no sentido de ldquoacinzentarrdquo do cinza escuro (tendendo ao preto) para tons

mais claros de cinza Sendo assim orientados pelo objetivo acima exposto o objeto de nossa

atividade ao acessarmos informaccedilotildees que por sua vez geraram conhecimentos acerca da

problemaacutetica modificou a cor da caixa-preta tornando-a cada vez mais clara (ou natildeo)

mediante as interaccedilotildees entre os sujeitos e as referidas fontes e recursos que suportavam as

informaccedilotildees entre elas alguns artigos cientiacuteficos Vale ressaltar que ldquoverdadesrdquo cientiacuteficas

(impressas em artigos cientiacuteficos lidos pelos integrantes do grupo) transformam-se em

comunicaccedilatildeo pelas e nas interaccedilotildees que por sua vez carregam o saber nela contidos

promovendogerando o entendimento ldquoclareandordquo as questotildees da sociedade

Ainda eacute importante salientar que 1198621198750 se constitui uma ceacutelula geacutermen

Davydoviana que seria uma primaacuteria abstraccedilatildeo da realidade em questatildeo ndash a problemaacutetica

questatildeo do peso corporal ideal ndash jaacute que naquele momento nada de ldquoconcretordquo havia sido

produzido Havia apenas uma transformaccedilatildeo nos modos como pensaacutevamos a realidade ndash a

problemaacutetica-questatildeo que estaria sendo tomada como o objeto da atividade com um

conhecimento a ser construiacutedo pela e na atividade de Modelagem que partiria daquela

abstraccedilatildeo primaacuteria e seria mediante o desencadeamento do processo elevada a um concreto

pensado161

Durante a realizaccedilatildeo da entrevista final a aluna Taty ressaltou que natildeo imaginava

que o problema do peso corporal ideal fosse ter tantas variaacuteveis apesar de desconfiar que teria

Matemaacutetica ou seja que a Matemaacutetica seria instrumento para a realizaccedilatildeo da Modelagem

Contudo ressaltou que havia pensado que ldquofosse ser uma coisa mais faacutecil mais superficial

161

ldquo[] O meacutetodo que permite elevar-se do abstrato ao concreto nada mais eacute do que o modo como o pensamento

se apropria do concreto sob a forma do concreto pensado Mas natildeo eacute de modo algum o proacuteprio concretordquo

(MARX 1845 apud SAacuteNCHEZ VAacuteZQUEZ 1977 p 204)

194

[] o problema se multiplicou [] eacute como se o problema fosse uma raiz e criou um monte de

galhinhos Muitos galhinhosrdquo Naquele momento da entrevista a observaccedilatildeo de Taty quanto

agraves ramificaccedilotildees inesperadas que levaram a uma expansatildeo natural do problema fazia todo o

sentido Teriacuteamos sim que trabalhar em vaacuterios ramos de uma ldquoaacutervorerdquo um objeto

desgovernado162

Engestroumlm (2010a p 304) afirma que um objeto desgovernado pode ser um

ldquoobjeto poderosamente emancipatoacuterio que abre radicalmente novas possibilidades de

desenvolvimento e bem estar163

rdquo

Sendo assim a ascensatildeo da abstraccedilatildeo primaacuteria 1198621198750 a um concreto conceitual

expandido poderia natildeo fazer parte de uma ascensatildeo linear de baixo pra cima mas parece

percorrer os vaacuterios ldquogalhinhos de uma aacutervorerdquo conforme reflexatildeo de Taty ou as trilhas e

micorrizas164

conforme apontamento de Engestroumlm (2010a) O autor se refere agraves micorrizas

para tentar analisar atividades que acontecem em uma sociedade de indiviacuteduos em rede cujos

caminhos do objeto de uma referida atividade podem ser destinados a percorrer os noacutes de uma

micorriza ou de uma verdadeira rede neural natural Nesse sentido localizamos 1198621198750 no

inicial momento da atividade de Modelagem como uma ldquocaixa-pretardquo que poderia estar

localizada em um dos noacutes de uma micorriza ou de uma rede neural natural Com isso

instalam-se 119899 possibilidades iniciais para 1198621198750 comeccedilar a se mover sob os caminhos da

micorriza

Na atividade analisada nesta parte da tese demonstraremos os caminhos e os noacutes

que constituiacuteram o movimento do objeto de nossa atividade mediante as possibilidades de

interaccedilotildees firmadas na e pela atividade que inclui claramente o acesso e o tratamento das

informaccedilotildees que por sua vez geraram conhecimentos que promoveram a movimentaccedilatildeo ndash

trajetoacuteria do objeto em questatildeo

No decorrer da atividade de modelagem do peso corporal ideal os textos ndash artigos

cientiacuteficos ndash podem ser entendidos como miacutedias que suportam modelos matemaacuteticos ndash

podem ser considerados aparatos da razatildeo165

(SKOVSMOSE 2007) e ao mesmo tempo o

162

Runaway object (ENGESTROumlM 2010a) 163

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquopowerfully emancipatory objects that open up radically new possibilities of

development and well-beingrdquo 164

Engestroumlm (2010a) entende que uma micorriza eacute uma associaccedilatildeo mutualiacutestica do tipo simbioacutetica na qual a

relaccedilatildeo mutualiacutestica estaria baseada na vantagem muacutetua de interaccedilatildeo entre duas espeacutecies que se beneficiariam

reciprocamente Tal associaccedilatildeo eacute existente em algumas espeacutecies de fungos e raiacutezes de algumas plantas Em

Engestroumlm (2008) podemos encontrar ainda a premissa de que as equipes que constituem e satildeo constituiacutedas em

coletividades que assumem atividades orientadas deveriam ser pensadas atualmente sob a oacutetica da sociedade em

rede Sendo assim as equipes coexistiriam a uma relaccedilatildeo de noacutes de uma rede da atual sociedade em rede 165

Skovsmose (2007) pontua que

1) o ldquoaparato da razatildeordquo eacute uma complexidade construiacuteda que inclui uma variedade de teacutecnicas cientiacuteficas e

tecnoloacutegicas cruciais para o desenvolvimento e manutenccedilatildeo tecnoloacutegica

195

conjunto desses aparatos da razatildeo (modelos matemaacuteticos) constitui suporteembasamento

para a elaboraccedilatildeo do software bwsimulator Com isso podemos refletir que ldquomodelos criam

modelos e uma camada de matemaacutetica sobre a outra se finca na realidaderdquo (SKOVSMOSE

2007 p 127)

Nesse sentido podemos considerar ainda que o proacuteprio objeto inicial 1198621198750 pode ser

considerado como um aparato da razatildeo (SKOVSMOSE 2007) Nisso o autor enfatiza a

complexidade em entenderexplicar a produccedilatildeo de conhecimento sob a oacutetica dos aparatos da

razatildeo Haacute uma posta dificuldade ou impossibilidade de transposiccedilatildeo das fronteiras deem tais

aparatos Para isso o autor indica a necessidade de colocarmos a tecnologia disponiacutevel em

accedilatildeo a fim de avaliar como ela trabalha O autor esclarece ainda que ldquoconstruccedilotildees

tecnoloacutegicas ainda natildeo realizadas (isto eacute situaccedilotildees hipoteacuteticas) podem ser especificadas em

detalhes pela modelagem matemaacutetica e o raciociacutenio hipoteacutetico pode se tornar um instrumento

essencial para indicar as implicaccedilotildeesrdquo (SKOVSMOSE 2007 p 140)

No que tange agrave atividade de modelagem realizada pelo GEPMM que pretendeu a

abertura da caixa-preta do peso corporal ideal o aparato da razatildeo definido pelos conteuacutedos

de Caacutelculo incluindo as Equaccedilotildees Diferenciais Ordinaacuterias (EDOs) foi de crucial importacircncia

para possibilitar a avaliaccedilatildeo das consequecircncias das accedilotildees sociotecnoloacutegicas criadas nos e

pelos outros aparatos da razatildeo que permearam tal atividade Esses outros aparatos da razatildeo

emergiram nas accedilotildees e interaccedilotildees mediadas por variados artefatos entre eles artigos

cientiacuteficos livros e softwares de simulaccedilatildeo

As questotildees de acesso agrave informaccedilatildeo ou caminhos para o acesso devem ser

colocadas em relevo no que tange agraves transformaccedilotildees do objeto da referida atividade de

modelagem A seguir darei continuidade a essa parte da anaacutelise explicitando as

transformaccedilotildees qualitativas do objeto da atividade para tal explicitarei a formaccedilatildeo de outras

quatro caixas-pretas (ou cinzas) a saber 1198621198751 1198621198752 1198621198753 e 1198621198754 esboccedilando assim um

movimento de ascensatildeo do abstrato ao concreto no sentido do ldquoclareamentordquo da questatildeo do

peso corporal ideal

Quando 1198621198750 foi tomada como objeto da atividade de modelagem podiacuteamos

caracterizar traccedilos de relaccedilotildees com outras caixas-pretas na verdade 1198621198750 coexistia a tais

2) o ldquoaparato da razatildeordquo estabelece propensotildees da sociedade para uma accedilatildeo sociotecnoloacutegica que somente torna-

se possiacutevel pela matemaacutetica em accedilatildeo

3) o ldquoaparato da razatildeordquo estaacute se desenvolvendo em saltos imprevisiacuteveis seguindo uma rota fluida na qual novas

competecircncias satildeo continuamente postas nessa enorme caixa de ferramentas do projeto tecnoloacutegico

4) o ldquoaparato da razatildeordquo inclui novos padrotildees de qualidade que orienta-se pela criaccedilatildeo de um novo discurso por

meio de uma variedade de elementos da ciecircncia

5) o ldquoaparato da razatildeordquo representa a unificaccedilatildeo do conhecimento do poder sendo considerado uma constelaccedilatildeo

de conhecimento disponiacutevel

196

relaccedilotildees Tiacutenhamos o conhecimento por exemplo que 1198621198750 relacionava-se com os modelos

matemaacuteticos com taxas de consumo energeacutetico taxas de metabolismo nutriccedilatildeo educaccedilatildeo

fiacutesica bioquiacutemica entre outras caixas-pretas Mas como 1198621198750 se relacionava a elas

pretendiacuteamos entender jaacute tendo como premissa que instrumentos de Caacutelculo seriam

necessaacuterios para tal ldquoclareamentordquo Natildeo imaginaacutevamos naquele momento que instrumentos

de programaccedilatildeo de computadores e softwares emergiriam como artefatos mediadores na

referida atividade nem tampouco como essas caixas-pretas se relacionariam agraves outras

Dividirei o processo de ldquoclareamentordquo de 1198621198750 em quatro saltos (de 1198621198750 a 1198621198754)

podendo ser caracterizados pelo acesso e pela interaccedilatildeo com os artefatos mediadores que

permearam a atividade Categorizarei os artefatos mediadores (119860119872119894 119894 = 1hellip 4) da seguinte

maneira chamarei de 1198601198721 o conjunto de todos os artefatos que mediaram a atividade de

modelagem da problemaacutetica questatildeo do peso corporal ideal ateacute o momento que encontrei e

interagi com a revista Caacutelculo na sala dos professores do CEFET-MG-Timoacuteteo natildeo

incluindo as informaccedilotildees da revista em 1198601198721 Esse momento ocorreu entre o quinto e o sexto

encontro do GEPMM Aleacutem disso 1198601198722 seraacute considerado como a uniatildeo de 1198601198721 com o

conjunto unitaacuterio cujo elemento seja a revista Caacutelculo166

Seguindo com essa construccedilatildeo

definirei 1198601198723 como sendo a uniatildeo de 1198601198722 com o conjunto unitaacuterio cujo elemento seja o

software bwsimulator167

e finalmente definirei 1198601198724 como sendo a uniatildeo de 1198601198723 com o

conjunto formado pela coleccedilatildeo de modelos matemaacuteticos e suas relaccedilotildees ao fenocircmeno da

mudanccedila de peso corporal sob a forma de linguagem escrita cujo suporte eacute o artigo cientiacutefico

webappendix168

Conforme exposto no Capiacutetulo 2 desta tese entendo que uma caixa-preta na

verdade nunca eacute nem totalmente preta e nem totalmente branca ou seja nem 1198621198750 era

totalmente preta nem 1198621198754 seraacute totalmente branca depois de aberta 1198621198750 havia sido construiacuteda

pelos sujeitos do grupo num processo de interaccedilatildeo entre eles mediante inquietaccedilotildees

resultando em uma abstraccedilatildeo primaacuteria da problemaacutetica questatildeo do peso corporal ideal Caso

essa afirmativa fosse falsa estariacuteamos reforccedilando a ideologia das verdades ldquoabsolutasrdquo e

inquestionaacuteveis assim como o contraacuterio A variaccedilatildeo de cores permitida entre o preto e o

branco pertence agrave categoria dos infinitos tons de cinza Entre tais infinitos tons de cinza

destacam-se as 119862119875119894 119894 = 0hellip 4

166

Revista intitulada Caacutelculo (ano 2 nuacutemero 20 setembro de 2012 editora segmento) 167

httpbwsimulatorniddknihgov 168

httpbwsimulatorniddknihgovHall_Lancet_Webappendixpdf

197

Sendo assim a caixa-cinza resultante de um primeiro niacutevel da transformaccedilatildeo

qualitativa do objeto da atividade ndash 1198621198751 pocircde ser visualizada tomando-se por base as

seguintes caracteriacutesticas resultado do conhecimento produzido pelo acesso e pela interaccedilatildeo

com as informaccedilotildees contidas em 1198601198721 sobre 1198621198750 As accedilotildees que foram realizadas nesse sentido

aconteceram durante o segundo terceiro quarto e quinto encontros do GEPMM e nas

interaccedilotildees entre os sujeitos e instrumentos contidos em 1198601198721 fora desses momentos num

sentido espacial e fiacutesico Aleacutem das interaccedilotildees face a face entre sujeitos faz-se necessaacuterio

incluir as interaccedilotildees mediadas por instrumentos de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo baseados nas e

pelas tecnologias computacionais incluindo a internet tais como e-mails e a rede social

Facebook Um instrumento foi construiacutedo pelos sujeitos do GEPMM como resultado da

apropriaccedilatildeo dos conhecimentos contidos em artefatos de 1198601198721 gerando um modelo idealizado

(tambeacutem contido em 1198601198721) para representar a problemaacutetica questatildeo do peso corporal ideal O

seguinte trecho foi extraiacutedo das transcriccedilotildees das filmagens do quinto encontro do GEPMM

Nele podemos observar um modelo matemaacutetico emergente ainda nebuloso

Eu Na verdade vai dar um sistema Vai dar um sistema de interdependecircncia aqui

[aponto para trecircs lugares distintos na mesa como se representassem trecircs

ldquocaixinhasrdquo] () as variaacuteveis peso altura gecircnero e idade na verdade elas natildeo vatildeo

ser variaacuteveis elas vatildeo ser uma constante ou seja ela eacute variaacutevel do ponto de vista

de cada um [cada pessoa] mas para a foacutermula ela vai ser uma constante () aiacute a

gente coloca essa variaacuteveis soacute com coeficientes da equaccedilatildeo () porque todos os trecircs

satildeo energias neacute Tipo assim melhorando esse modelo baacutesico seria o tanto de

atividade fiacutesica ou seja o gasto caloacuterico porque na verdade essas trecircs coisas satildeo

energias tanto do alimento que eacute energia que entra quanto do exerciacutecio que eacute uma

energia que sai desse sistema e o basal tambeacutem eacute uma energia que vai taacute sendo

gasta Vamos tentar equacionar como se fosse assim o gasto energeacutetico a taxa de

energia natildeo importando se ela eacute uma taxa positiva ou uma taxa negativa O quecirc

que vocecircs acham

Robson razoaacutevel

Eu porque se a gente coloca assim as trecircs equaccedilotildees como taxas de energia neacute eacute

claro que elas vatildeo se alterar neacute uma vai ser sei laacute P a outra Q a outra R

Angel Taacute mais aiacute se vocecirc pensar na questatildeo de classe jaacute tem que pensar no que

vocecirc taacute querendo vincular edo pra depois encontrar o resto eacute essa que eacute a sua

ideia Aiacute cecirc teria que pensar qual seria a antiderivada dessa taxa relacionada a

essa parte de dieta porque laacute na parte de fiacutesica de Caacutelculo a gente sabe o quecirc que

estaacute relacionado com o quecirc agora nessa parte daqui eu jaacute natildeo sei [risos]

Eu entatildeo a gente vai ter que buscar nos dados que a gente jaacute tem mapeados nesse

livro por exemplo Talvez a gente pudesse comeccedilar com a terceira que eacute a parte da

atividade fiacutesica entendeu () eu natildeo sei se vai dar pra ser uma edo bonitinha ou

se na verdade isso daiacute eacute um trem nebuloso entendeu Porque cada um vai se

subdividindo entre outros e outras

Naquele momento apesar de natildeo termos ainda uma escrita matemaacutetica formal

tiacutenhamos um modelo emergente um novo instrumento sendo construiacutedo pelas e nas

interaccedilotildees entre noacutes ndash sujeitos ndash e os instrumentos que permeavam a atividade Esse novo

198

instrumento idealizado acabava por promover uma transformaccedilatildeo qualitativa no objeto da

atividade gerando assim a 1198621198751 ou seja a questatildeo do peso corporal havia se modificado

qualitativamente mediante a interaccedilatildeo com tal artefato mediador ndash o modelo emergente

Ainda podemos analisar que outro resultado da atividade realizada pelo grupo ateacute aquele

momento estaria estampado em 1198621198751 relacionado agrave idealizaccedilatildeo de um novo objeto para a

atividade que somente pocircde ser realizada mediante apropriaccedilatildeo do referido novo instrumento

Refiro-me aqui a idealizaccedilatildeo que objetivou a construccedilatildeo de um software - um modelo

tecnoloacutegico- como resultado das accedilotildees orientadas pela e na atividade de modelagem em

questatildeo

Contudo depois do quinto encontro tive acesso a uma informaccedilatildeo que de fato

levou a alteraccedilotildees nas trilhas do movimento de transformaccedilatildeo do objeto da atividade de

modelagem analisada nesta parte da tese Refiro-me agrave revista Caacutelculo169

Em 17 de dezembro

de 2012 ao realizar as atividades de docecircncia no CEFET-MG-Timoacuteteo (instituiccedilatildeo na qual

sou professora) deparei-me com a referida revista sobre a mesa da sala dos professores Li o

que estava escrito na capa da revista Nela estava contida a seguinte frase ldquoExtra Emagrecer

demora trecircs anosrdquo Imediatamente abri a revista e comecei a folhear as paacuteginas em busca da

mateacuteria completa Nesse sentido tal accedilatildeo estava direcionada ao cumprimento de objetivos

parciais relacionados agrave atividade de modelagem na qual participava no GEPMM Ao realizar

interaccedilotildees mediadas pelas informaccedilotildees impressas sob a forma de linguagem escrita grafadas

nas paacuteginas da referida revista inaugurava-se uma nova fase um novo caminho uma nova

trajetoacuteria para a atividade de modelagem Estaria entatildeo constituiacutedo o conjunto 1198601198722 como

uniatildeo dos instrumentos que permeavam a atividade anteriormente a esse momento

adicionando ao conjunto 1198601198721 esse novo instrumento A importacircncia desse novo instrumento

natildeo se restringia agraves informaccedilotildees nele contidas mas sobretudo as que estariam por vir

Sendo assim a caixa-cinza resultante de um segundo niacutevel da transformaccedilatildeo

qualitativa do objeto da atividade ndash 1198621198752 ndash pocircde ser visualizada tomando-se por base as

seguintes caracteriacutesticas resultado do conhecimento produzido pelo acesso e interaccedilatildeo com as

informaccedilotildees contidas em 1198601198722 sobre 1198621198751 As accedilotildees que foram realizadas nesse sentido

aconteceram entre o quinto e o sexto encontro do GEPMM Sendo assim a caixa-cinza 2

pode ser considerada como resultado das interaccedilotildees mediadas pelas teacutecnicas de leitura e

apropriaccedilatildeo de informaccedilotildees contidas na revista Caacutelculo considerada como novo instrumento

de mediaccedilatildeo que permeou a atividade alterando seu rumo sua trajetoacuteria Tal instrumento foi

169

Revista intitulada por Caacutelculo (ano 2 nuacutemero 20 setembro de 2012 editora segmento)

199

utilizado com o objetivo de adequaccedilatildeo do objeto ainda idealizado uma abstraccedilatildeo de segundo

niacutevel rumo a um objeto real ndash concreto conceitual expandido Dessa forma a leitura da

mateacuteria da revista Caacutelculo possibilitou um movimento na ZDP da atividade entre as

ldquoidealizaccedilotildeesrdquo elaboradas no niacutevel 1 levando agrave alteraccedilatildeo de rota de rumo a um objeto

desorientado

Na verdade o acesso realizado por mim ao site httpbwsimulatorniddknihgov

ocorreu numa segunda-feira (17122012) dia anterior ao sexto encontro do GEPMM Mesmo

estando distantes (no sentido de que eu estava na cidade de Timoacuteteo-MG a 100 km de Itabira-

MG) utilizei a rede social Facebook e enviei imediatamente uma mensagem aos integrantes

do GEPMM e agrave docente do Departamento de Nutriccedilatildeo da UFOP O intuito dessa accedilatildeo seria o

compartilhamento horizontal de informaccedilotildees entre os integrantes do grupo com o intuito de

pensarmos juntos baseados nas informaccedilotildees que acessaacutessemos assim como os demais

instrumentos que pudessem mediar nossas accedilotildees mesmo distantes fisicamente uns dos outros

No iniacutecio do sexto encontro que ocorreu em 18122012 perguntei aos parceiros

se eles tinham acessado o grupo virtual de modelagem no Facebook e consequentemente

visto minha mensagem sobre o acesso agraves informaccedilotildees contidas na mateacuteria da revista Caacutelculo

mas eles responderam que natildeo que natildeo tinham acessado o grupo no Facebook e

consequentemente natildeo haviam sido informados sobre a ldquotalrdquo nova informaccedilatildeo Pois bem

decidi compartilhar naquele momento as novas informaccedilotildees

Com o auxiacutelio de um computador portaacutetil acessamos ainda durante o sexto

encontro o site httpbwsimulatorniddknihgov e comeccedilamos nossa anaacutelise sobre o modelo

que acabara de ser imerso na atividade de modelagem Estaria entatildeo constituiacutedo o conjunto

1198601198723 como uniatildeo dos instrumentos que permeavam a atividade anteriormente a esse

momento adicionando ao conjunto 1198601198722 esse novo instrumento Sendo assim a caixa-cinza 3

resultante de um terceiro niacutevel da transformaccedilatildeo qualitativa do objeto da atividade ndash 1198621198753 ndash

pocircde ser visualizada tomando-se por base as seguintes caracteriacutesticas resultado do

conhecimento produzido pelo acesso e interaccedilatildeo com as informaccedilotildees contidas em 1198601198723 sobre

1198621198752 As accedilotildees que foram realizadas nesse sentido aconteceram na maioria das vezes no sexto

encontro do GEPMM

No sexto encontro realizamos algumas simulaccedilotildees com o auxiacutelio do bwsimulator

nessas interaccedilotildees sujeito-instrumento-objeto esperaacutevamos obter respostas para nossas

inquietaccedilotildees no que tange agrave problemaacutetica questatildeo por noacutes estudada modelada e ateacute entatildeo

tomada sob a forma de 1198621198753 Nesse sentido Kaptelinin (1996) pontua que uma das mais

200

importantes funccedilotildees dos instrumentos computacionais na estrutura da atividade humana

parece ser a extensatildeo da estrutura cognitiva referida pela Teoria da Atividade como o

Plano de Accedilotildees Internas (PAI) da atividade natildeo apenas como acreditam alguns autores que a

mais importante funccedilatildeo dos instrumentos computacionais seria a extensatildeo da memoacuteria nesse

sentido a principal funccedilatildeo dos instrumentos computacionais nas atividades humanas

consistiria na funccedilatildeo de simulaccedilatildeo170

de resultados potenciais de eventos possiacuteveis antes

mesmo de realizar accedilotildees na realidade

Sendo assim as interaccedilotildees tecnomediadas pelos artefatos computacionais

corresponderiam a um salto cognitivo estrutural da proacutepria atividade humana Poreacutem como

avaliar esse salto sob o ponto de vista de anaacutelises pela Teoria da Atividade De certo eacute

necessaacuteria uma anaacutelise para aleacutem dos instrumentos para aleacutem de tentar explicitar o papel

deles em uma dada atividade humana Eacute necessaacuterio antes de qualquer coisa analisar onde

por quem para quecirc e como satildeo usadas as tecnologias computacionais em atividades humanas

Anaacutelises que focam o(s) papel(eacuteis) de softwares ou outras tecnologias computacionais em

atividades humanas parecem desconsiderar o fato de que a natureza em si natildeo constroacutei

softwares nem quaisquer outros instrumentos ciberneacuteticos todos eles satildeo produtos dos

homens da atividade humana e constituem energia cientiacutefica ou inovadora materializada

Sendo assim o software somente existe e deve ser considerado como um artefato que medeia

as interaccedilotildees ou as possibilidades delas entre os sujeitos e o objeto da atividade analisada

Com isso uma anaacutelise que aqui se faz oportuna estaria baseada nas interaccedilotildees

entre os sujeitos mediadas pelo artefato Human Weight Simulator (HWS171

) e para aleacutem de

analisar as formas de interaccedilatildeo explicitar as possibilidades geradas por tais interaccedilotildees no que

tange ao movimento da proacutepria atividade de modelagem em questatildeo

O acesso ao site httpbwsimulatorniddknihgov somente foi possibilitado

mediante acesso agrave revista Caacutelculo pertencente ao conjunto 1198601198722 Natildeo somente o acesso mas

principalmente as interaccedilotildees entre sujeito e discursos nela contidos Constituiu-se dessa

forma o conjunto 1198601198723 Os sujeitos passaram entatildeo a interagir com os instrumentos de 1198601198723

realizando accedilotildees mediadas por seus elementos com vistas a modificar 1198621198752 e gerar 1198621198753 A

seguir explicitarei algumas das interaccedilotildees-chave que podem ser ressaltadas em tal processo

170

Nesse sentido Skovsmose (2007) enfatiza que ldquoconstruccedilotildees tecnoloacutegicas ainda natildeo realizadas (isto eacute

situaccedilotildees hipoteacuteticas) podem ser especificadas em detalhes pela modelagem matemaacutetica e o raciociacutenio hipoteacutetico

pode se tornar um instrumento essencial para indicar as implicaccedilotildeesrdquo (p 160) 171

httpbwsimulatorniddknihgov

201

a) Interaccedilatildeo dos sujeitos com os instrumentos de 1198601198723 mediante teacutecnicas de

leitura e manipulaccedilatildeo do software

b) interaccedilotildees tecnomediadas pelo software geradas por simulaccedilotildees

c) interaccedilotildees entre os sujeitos gerando novas conjecturas sobre o objeto 1198621198752 o

modificando

Com base em tais interaccedilotildees foram possibilitadas as seguintes accedilotildees

subordinadas ao sentido de transformaccedilatildeo de 1198621198752 em 1198621198753

a) anaacutelise criacutetica das limitaccedilotildees do modelo tecnoloacutegico e ao mesmo tempo edo-

embasado bwsimulator e idealizaccedilotildees no sentido de melhorar tal modelo

construindo outro modelo tecnoloacutegico e ao mesmo tempo fuzzy-embasado

b) necessidade de entendimento do que estaacute dentro da caixa-preta bwsimulator

No que tange agrave anaacutelise criacutetica do modelo bwsimulator ressaltamos a

categorizaccedilatildeo de energia de entrada mediante o somatoacuterio de calorias a serem ingeridas pela

pessoa por dia e os exerciacutecios fiacutesicos que satildeo definidos sem levar em conta a modalidade e o

tempo de atividade Com base em tal anaacutelise idealizamos um modelo que categorizasse a

energia de entrada com base em alimentos a serem ingeridos e suas respectivas calorias e que

os exerciacutecios fiacutesicos fossem assinalados mediante modalidade e tempo diaacuterio Para tal

mediante interaccedilotildees entre os sujeitos da atividade trouxemos para a cena alguns discursos

entre eles o discurso do Caacutelculo o discurso da Nutriccedilatildeo o discurso da Educaccedilatildeo Fiacutesica e o

discurso da Teoria Fuzzy A inserccedilatildeo das ldquovozesrdquo da professora de Nutriccedilatildeo da UFOP via

Facebook e das vaacuterias aacutereas e conhecimentos cientiacuteficos foram demandadas para a execuccedilatildeo

das accedilotildees estrateacutegicas com vistas agrave abertura da caixa-preta do ldquopeso corporal idealrdquo

Tiacutenhamos assim uma nova configuraccedilatildeo uma nova estrutura de atividade

possibilitada pela e na multivocalidade discursiva que nela ecoava sob o aspecto de um Plano

de ldquoAccedilotildeesrdquo Internas (PAI) da proacutepria atividade Tal plano seraacute discutido com maiores

riquezas de detalhes mais adiante no presente texto

Finalmente orientados pela abertura da caixa-preta bwsimulator acessamos o

artigo disponibilizado em httpbwsimulatorniddknihgov intitulado Dynamic mathematical

model of body weight change in adults Estaria entatildeo constituiacutedo o conjunto 1198601198724 como

uniatildeo dos instrumentos que permeavam a atividade anterior a esse momento adicionando ao

202

conjunto 1198601198723 esse novo instrumento Sendo assim a caixa-cinza 4 resultante de um quarto

niacutevel da transformaccedilatildeo qualitativa do objeto da atividade ndash 1198621198754 ndash pocircde ser visualizada

tomando-se por base as seguintes caracteriacutesticas resultado do conhecimento produzido pelo

acesso e interaccedilatildeo com as informaccedilotildees contidas em 1198601198724 sobre 1198621198753 As accedilotildees que foram

realizadas nesse sentido aconteceram na maioria das vezes nos seacutetimo e oitavo encontros do

GEPMM e em outros momentos que seratildeo expostos mais adiante nesta tese

Nessa parte da anaacutelise da atividade em questatildeo podemos tomar os conteuacutedos do

Caacutelculo em accedilatildeo instrumentos indispensaacuteveis para a realizaccedilatildeo das accedilotildees de abertura da 1198621198753

e consequentemente geraccedilatildeo da 1198621198754 Com isso consideramos tais instrumentos necessaacuterios

para a realizaccedilatildeo de accedilotildees e interaccedilotildees em 1198621198753 com vistas agraves transformaccedilotildees qualitativas no

objeto da atividade traccedilando um movimento uma trajetoacuteria Uma observaccedilatildeo que se faz

necessaacuteria eacute que um instrumento em si natildeo produz alteraccedilotildees na trajetoacuteria de uma atividade

mas somente ao considerarmos o instrumento em accedilatildeo eacute que podemos perceber o movimento

possibilitado por ele Nesse sentido as atividades de Modelagem Matemaacutetica se tornam

instrumentos para possibilitar abertura de caixas-pretas devido agrave consideraccedilatildeo primaacuteria que

consiste em tomar a matemaacutetica em accedilatildeo em tais atividades ndash matemaacutetica como um

instrumento para o entendimentoresoluccedilatildeo de questotildees-problema natildeo matemaacuteticas

Dessa forma uma pergunta essencial deve ser feita e consequentemente

respondida nesta parte da anaacutelise quais os limites e as possibilidades de accedilotildees foram

estabelecidos nas e pelas interaccedilotildees mediadas por tal instrumento ndash o Caacutelculo em accedilatildeo

Sendo assim buscaremos respostas para tal questatildeo considerando o Caacutelculo em

accedilatildeo sob dois olhares como instrumento que possibilita a abertura de caixas-pretas e como

instrumento que limita ou dificulta a abertura de caixas-pretas Mas como poderia um

mesmo instrumento possibilitar e limitar aberturas de caixas-pretas Aqui estaacute a

demonstraccedilatildeo de que eacute preciso ir aleacutem de analisar o papel de um instrumento em uma

atividade e ampliar o espectro de anaacutelise para as interaccedilotildees mediadas por tais instrumentos

Cabe ressaltar que quando fazemos isso estamos assumindo um foco de anaacutelise que busca

respostas para os seguintes questionamentos quem quando por que e como usou o

instrumento na atividade

Focando a atividade de modelagem analisada nesta parte da tese seria

interessante responder os seguintes questionamentos no que se refere mais especificamente

aos instrumentos de caacutelculo em accedilatildeo utilizados pelos sujeitos da atividade nas accedilotildees que

tangem o entendimentoapropriaccedilatildeo dos tambeacutem instrumentos da atividade bwsimulator e o

203

artigo intitulado Dynamic mathematical model of body weight change in adults Valem

ressaltar que bwsimulator e o artigo podem ser considerados caixas-pretas a serem abertas

modificadas e ou fechadas na atividade de modelagem analisada nesta parte da tese que

dessa forma se configura como uma atividade de produccedilatildeo de conhecimentos e saberes

As Tecnologias da Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo (TICs) possibilitaram o acesso agrave

ciecircncia mediante acesso ao simulador e consequentemente ao artigo (texto cientiacutefico) que

expotildee um modelo matemaacutetico para representar as mudanccedilas de peso corporal em adultos

Contudo tal acesso se restringe a uma ciecircncia visualmente pronta e acabada e natildeo a uma

ciecircncia em construccedilatildeo Para entendermos esses instrumentos seria entatildeo necessaacuterio tomaacute-los

como produtos da construccedilatildeo humana orientada por finalidades e demandas especiacuteficas da

proacutepria sociedade natildeo os considerando assim como produtos prontos mas sobretudo como

produtos em contiacutenua construccedilatildeo e reconstruccedilatildeo

Se por um lado o acesso agrave ciecircncia pronta foi possibilitado mediante a caixa-preta

do simulador disponiacutevel a todos por meio do site httpbwsimulatorniddknihgov (antes

teriacuteamos apenas um artigo repleto de matemaacutetica e paracircmetros bem distante da realidade dos

usuaacuterios dos seres da sociedade pacientes educadores fiacutesicos nutricionistas apoacutes o advento

da ciberneacutetica essa ciecircncia estaacute acessiacutevel) pode ser considerado uma maravilha por outro

lado o acesso agrave ciecircncia em construccedilatildeo se tornou mais limitado

Nesse sentido configurado diante de noacutes estaria uma caixa-preta (artigo

cientiacutefico) dentro da outra (bwsimulator) ndash sobrepostas e inter-relacionadas Sendo assim

podemos perceber que enquanto mais prospera a ciecircncia e a tecnologia mais opaca e obscura

elas podem se tornar A dificuldade em se abrir as caixas-pretas pode produzir ldquohorroresrdquo no

que se refere ao entendimento da ciecircncia em construccedilatildeo pois ldquoquanto mais complexo o

processo de identificar consequecircncias de possiacuteveis accedilotildees tecnoloacutegicas ocorrerem mais temos

que confiar no aparato da razatildeo e mais circular eacute o processordquo (SKOVSMOSE 2007 p 162)

Dessa forma podemos considerar que aumentou o acesso agrave ciecircncia e ao mesmo tempo

limitou a abertura de caixas-pretas e consequentemente a tomada de consciecircncia criacutetica e

controle da proacutepria atividade por parte dos sujeitos

No que se refere agrave abertura da caixa-preta do artigo (texto cientiacutefico) intitulado

Dynamic mathematical model of body weight change in adults deparamo-nos com outras

caixas-pretas que traziam lsquoagrave cenarsquo enunciados172

oriundos do discurso da fisiologia humana

172

Para Bakhtin o enunciado eacute o produto de uma enunciaccedilatildeo ou de um contexto histoacuterico social cultural etc Eacute

preciso observar que as relaccedilotildees do discurso com a enunciaccedilatildeo com o contexto soacutecio-histoacuterico ou com o ldquooutrordquo

satildeo para Bakhtin relaccedilotildees entre discursos-enunciados Por essa razatildeo utiliza os termos intertextualidade para se

204

do discurso do Caacutelculo em accedilatildeo e do discurso cientiacutefico Sendo assim o texto eacute de fato um

tecido de muitas vozes ou de muitos discursos ldquoque se entrecruzam se completam

respondem umas agraves outras ou polemizam entre si no interior do textordquo (BARROS 2007 p

31 grifo do autor) Ainda para Bakhtin o sentido do texto e dos seus discursos internos

depende da relaccedilatildeo entre os sujeitos que se constroacutei na produccedilatildeo e na interpretaccedilatildeo dos

textos

Com isso podemos considerar o caacutelculo em accedilatildeo em duas ldquofrentesrdquo analiacuteticas no

que se refere agrave abertura da caixa-preta amparada pelono artigo cientiacutefico referido

anteriormente de autoria de Kevin Hall e seus colaboradores mais especificamente ao

apecircndice do artigo que suporta os modelos matemaacuteticos que representam o fenocircmeno das

mudanccedilas de peso corporal em adultos humanos De um lado estaria configurado um caacutelculo

em accedilatildeo como instrumento ndash linguagem usada na produccedilatildeo do texto cujos sujeitos da accedilatildeo

coincidem com os sujeitos autores do texto De outro lado estaria configurado um caacutelculo em

accedilatildeo como instrumento indispensaacutevel agrave abertura da caixa-preta do proacuteprio texto cujos

sujeitos da accedilatildeo satildeo os integrantes do GEPMM e as realizam com vistas agrave interpretaccedilatildeo do

proacuteprio texto Para interpretar o texto foi entatildeo necessaacuterio avaliar a sua produccedilatildeo

Isso posto o caacutelculo em accedilatildeo foi necessariamente ldquocolocado em cenardquo a fim de

avaliar como o Caacutelculo em accedilatildeo operava ldquopor traacutes da cenardquo Nesse sentido o aparato da

razatildeo (Caacutelculo em accedilatildeo) foi utilizado por noacutes integrantes do GEPMM como um instrumento

de avaliaccedilatildeo e criacutetica do aparato da razatildeo impresso sob a forma de linguagem escrita no

artigo referido anteriormente Skovsmose (2007 p 162 grifos meus) pontua que ldquoo aparato

da razatildeo torna-se essencial para construir os instrumentos de avaliaccedilatildeo das consequecircncias das

accedilotildees sociotecnoloacutegicas criadas pelo proacuteprio aparato da razatildeordquo

As avaliaccedilotildees e criacuteticas tecidas por noacutes integrantes do GEPMM ao conteuacutedo do

artigo (texto) assim como ao software bwsimulator caracterizavam-se na maioria das vezes

pelas sugestotildees feitas por Skovsmose (2007) quem construiu os modelos Que aspectos da

realidade estatildeo neles incluiacutedos Quem tem acesso aos modelos Os modelos satildeo

ldquoconfiaacuteveisrdquo Quem estaacute apto a controlaacute-los Levando em conta que se tais questotildees natildeo

forem adequadamente esclarecidas valores tradicionais da democracia podem ser corroiacutedos

Na tentativa de responder a tais questionamentos podemos pontuar os seguintes

esclarecimentos173

referir aos ldquodiaacutelogos entre discursosrdquo e dialogismo para se referir aos ldquodiaacutelogos entre interlocutoresrdquo (BARROS

2007) 173

Seratildeo mais bem explicitados mais adiante neste texto

205

a) os modelos matemaacuteticos (edos) suportados pelo referido artigo e o modelo

tecnoloacutegico bwsimulator foram construiacutedos pela equipe do pesquisador Kevin D

Hall

b) por um lado acreditamos que o modelo bwsimulator estaacute disponiacutevel e acessiacutevel

a todos (via internet) sob o ponto de vista de uso e possibilidades de simulaccedilotildees

por outro lado nos modelos matemaacuteticos (edos) mesmo estando disponiacuteveis a

todos haacute uma possiacutevel restriccedilatildeo em termos da acessibilidade jaacute que nem todos

tem acesso agrave linguagem matemaacutetica em uso em accedilatildeo (edo)

c) acreditamos que mais pessoas estariam aptas a controlar o bwsimulator do que

controlar as edos contudo o coacutedigo do software bwsimulator natildeo eacute disponiacutevel a

todos somente a grupos de pesquisa enquanto as edos satildeo disponiacuteveis a todos via

internet

d) quanto agrave confiabilidade nos modelos acreditamos que o Caacutelculo em accedilatildeo

utilizado no empreendimento de construccedilatildeo dos modelos (edos e bwsimulator)

limita ou dificulta avaliaccedilotildees e consequentes criacuteticas a tais modelos tornando

difiacutecil a tarefa de confiar ou natildeo neles Como o coacutedigo-fonte do software

bwsimulator ainda natildeo eacute disponiacutevel a todos (apenas a grupos de pesquisa) sob o

ponto de vista da democracia e do compartilhamento de saberes percebemos uma

iminente corrosatildeo

e) os aspectos da realidade que estatildeo inclusos nos modelos matemaacuteticos (edos) e

no modelo tecnoloacutegico (bwsimulator) natildeo satildeo os mesmos apesar de o modelo

bwsimulator estar baseado nas edos que estatildeo configuradas no artigo (texto)

Contudo nem todas edos foram usadas e mais do que isso foi necessaacuterio assumir

ldquomenosrdquo aspectos da realidade nas edos do que no bwsimulator

Sendo assim a abertura de 1198621198754 somente pocircde ocorrer mediante o imprescindiacutevel

auxiacutelio do caacutelculo em accedilatildeo que inclui as EDOs em accedilatildeo Por um lado sob o uso dos sujeitos

responsaacuteveis pela construccedilatildeo dos modelos anteriormente citados os pesquisadores liderados

por Kevin Hall o caacutelculo em accedilatildeo parece ser instrumento que pode limitar ou dificultar a

abertura da caixa-preta 1198621198754 mas por outro lado sob o uso dos sujeitos do GEPMM parece

ser um instrumento que pode ampliar as possibilidades de tal abertura

No entanto farei uma anaacutelise das interaccedilotildees que se fizeram necessaacuterias entre as

quais a finalidade estava orientada pela abertura de 1198621198754 Conforme exposto anteriormente

206

ateacute o final do oitavo encontro a certeza que tiacutenhamos eacute de que ainda havia uma interrogaccedilatildeo

quanto ao entendimento de uma equaccedilatildeo no referido artigo de onde o(s) autor(es)

ldquotirou(raram)rdquo a equaccedilatildeo (10) Pensaacutevamos que a tarefa de entendimento do processo de

construccedilatildeo da referida equaccedilatildeo era de simples entendimento mas estaacutevamos enganados

Teacutecnicas de leitura habilidades matemaacuteticas (edo) conhecimentos de Nutriccedilatildeo e

Fisiologia foram chamados ldquoagrave cenardquo para possibilitar a abertura de 1198621198754 mas ainda foi pouco

Permanecia uma dificuldade uma limitaccedilatildeo do processo um gap algo estava ldquoescondidordquo

natildeo conseguiacuteamos enxergar sozinhos Ao chegar em casa depois do oitavo encontro tentei de

todas as formas que me eram possiacuteveis decifrar o que estava ldquoescondidordquo no referido texto

entre as equaccedilotildees (9) e (10) mas meus esforccedilos foram em vatildeo Nisso tornou-se necessaacuterio o

estabelecimento de novas parcerias ampliaccedilatildeo da rede de aprendizagem mediante o chamado

para compor a ldquocenardquo aos autores do referido texto e do bwsimulator

Tomei a atitude174

de enviar um e-mail para Kevin Hall pedindo maiores

esclarecimentos quanto agrave equaccedilatildeo (10) No mesmo dia obtive uma resposta do autor tambeacutem

por e-mail enfatizando que a equaccedilatildeo teria surgido da referecircncia [20] contida no artigo e me

enviou o artigo em pdf Li o artigo todo percebi que a equaccedilatildeo (13) do artigo [20] enviado

por Kevin Hall era parecida com a equaccedilatildeo (10) mas que havia sutis diferenccedilas que me

direcionavam ao natildeo entendimento dos ldquoporquecircsrdquo do que estaria por traacutes daquele amontoado

de equaccedilotildees e afirmativas Decidi entatildeo enviar um novo e-mail para Kevin questionando-o

sobre o quecirc pra mim ainda estava ldquoescondidordquo no texto limitando o entendimento Kevin

enviou-me um manuscrito com um processo de derivaccedilatildeo e me disse que ao ler aquele

manuscrito tudo estaria explicado Imediatamente iniciei a leitura e depois de ter lido

percebi que natildeo estava tudo explicado na verdade as duacutevidas haviam se intensificado

Para obter a equaccedilatildeo (10) Kevin Hall e seus colaboradores supuseram que a

funccedilatildeo de Forbes dada por 120572 equiv119889119871

119889119865=

119862

119865 em que 119862 = 104 119896119892 eacute o paracircmetro de Forbes era

constante Vale ressaltar que 119865 eacute a massa gorda (fat mass) e 119871 eacute a massa magra (lean mass)

Se 120572 eacute constante isso implica que 119889119871 = 120572 119889119865 e consequentemente 119871 minus 1198710 = 120572 (119865 minus 1198650)

Tudo isso foi usado para obter a equaccedilatildeo (10) Soacute que ao tomar 120572 constante um valor inicial

de massa gorda 1198650 precisamente foi fixado 120572 =119862

1198650 Nisso 119871 minus 1198710 =

119862

1198650 (119865 minus 1198650) o que

implica 119871 =119862

1198650 (119865 minus 1198650) + 1198710 Contudo logo em seguida agrave equaccedilatildeo (10) no texto os autores

afirmam que ldquopara modestas mudanccedilas de peso 120572 pode ser considerado aproximadamente

174

Atitude gerada pela necessidade apontada entender a equaccedilatildeo (10)

207

constante com 119865 fixado em seu valor inicial 1198650rdquo175

Isso jaacute tinha sido levado em conta para

obter a equaccedilatildeo (10)

Temos aqui um problema como 120572(119905) =119862

119865(119905) jaacute foi tomada como constante na

equaccedilatildeo (10) a funccedilatildeo 119865(119905) precisou necessariamente ser assumida como constante Isso

acaba por extinguir a meu ver a utilidade do modelo Ora se o objetivo eacute estimar mudanccedilas

no peso corporal com o tempo tomado como sendo a soma aritmeacutetica das massas gorda e

magra que se relacionam mediante a funccedilatildeo 120572 que por sua vez depende do tempo ao tomar

a funccedilatildeo 120572 como constante implica natildeo haver qualquer mudanccedila na massa gorda ndash 119865(119905) e

consequentemente na massa magra ndash 119871(119905) que tambeacutem precisa necessariamente ser

assumida como constante Sendo assim sem variaccedilotildees de massas gorda e magra o peso

permanece o mesmo sem alteraccedilotildees

Com base nisso questionei ao Kevin Hall novamente via e-mail sobre tal

hipoacutetese ter sido considerada no artigo Ele respondeu que isso natildeo atrapalha em nada os

resultados pois o modelo implementado no bwsimulator natildeo assume 120572 constante (apesar de a

EDO (10) assumir) E aponta ainda que tal ldquolinearizaccedilatildeordquo foi feita principalmente para

escrever a EDO de primeira ordem (10) de maneira linear a intenccedilatildeo do grupo dele natildeo foi

ldquoderivarrdquo nem implementar no bwsimulator tal EDO mas que tal modelo ldquocorrespondiardquo a

uma EDO de ordem superior natildeo linear obtida pelo grupo dele no passado

Naquele momento o artigo estava mais claro as equaccedilotildees faziam mais sentido e

todos esses entendimentos precisavam ser compartilhados com os demais sujeitos do grupo

Uma importante observaccedilatildeo que se faz necessaacuteria eacute a de que sem internet sem e-mail os

autores do texto dificilmente poderiam atuar em nossa atividade da maneira que atuaram Eacute

fato que ao acessarmos o texto (artigo) e acessarmos o bwsimulator jaacute haviacuteamos feito o uso

da internet como instrumento que permeou a atividade fazendo com que seus autores

atuassem em nossa atividade por meio das diversas vozes impressas sob a forma de linguagem

escrita (que inclui a linguagem matemaacutetica) e sob a forma da linguagem tecnoloacutegica impressa

no software mas de uma forma qualitativamente diferente

O instrumento e-mail de nada teria auxiliado em nossa atividade se o autor Kevin

Hall natildeo tivesse aceitado participar na situaccedilatildeo de ator social de toda a interaccedilatildeo O modelo

de sociedade em rede permite possibilita o compartilhamento de conhecimentos e saberes

Mas isso natildeo garante necessariamente que tal compartilhamento ocorra Possuir acessar um

175

Traduccedilatildeo realizada por mim de ldquoFor modest weight changes 120572 can be considered to be approximately

constant with 119865 fixed at its initial value 1198650rdquo (HALL et al 2011 p 4)

208

instrumento de comunicaccedilatildeo como o e-mail portanto natildeo assegura papel algum em uma

atividade Apenas abre um leque de possibilidades de accedilatildeo e interaccedilatildeo entre seres humanos

Podendo se tornar um artefato mediador de relaccedilotildees entre sujeitos e objetos de uma atividade

Outro ponto-chave considerado na presente anaacutelise toma por base uma informaccedilatildeo

fornecida por e-mail enviado a mim por Kevin Hall que consiste na seguinte afirmaccedilatildeo o

modelo implementado no bwsimulator natildeo assume 120572 constante No momento que li essa

afirmaccedilatildeo no e-mail imediatamente me perguntei ldquoseraacute mesmo que no software isso natildeo eacute

assumidordquo Ou seja ao processar uma informaccedilatildeo fazemos julgamentos quanto a sua

veracidade Em seguida pensei que de fato eles natildeo devem ter usado pois caso contraacuterio as

simulaccedilotildees natildeo se tornariam possiacuteveis De toda forma desejava confirmar isso pois caso

contraacuterio teriacuteamos que ldquoconfiarrdquo no que estava por traacutes do software e isso definitivamente

natildeo era nosso objetivo Mas como poderiacuteamos ter acesso ao que estaacute atraacutes da ldquocenardquo

promovida pelo software As simulaccedilotildees possibilitadas por tal instrumento estariam

simulando quais realidades

Novamente enviei um e-mail para Kevin Hall perguntando sobre o software em

termos de acesso aos coacutedigos internos agrave programaccedilatildeo aos recursos que estariam por traacutes da

interface homem-maacutequina estabelecidas no bwsimulator Ele me encaminhou ao setor de

transferecircncia de tecnologia para que eu pudesse obter mais detalhes sobre o acesso aos

coacutedigos O acesso aos coacutedigos somente nos foi dado mediante assinatura de termo de

compromisso assumindo-os para fins de ensino e pesquisa e sobretudo mediante assinatura

da instituiccedilatildeo a qual sou vinculada ndash CEFET-MG Sendo assim somente pesquisadores

podem ter acesso aos coacutedigos Natildeo se trata de um software livre nem de coacutedigo aberto Nesse

sentido trago uma reflexatildeo de Castells (2005) sobre o direito de propriedade e a democracia

da comunicaccedilatildeo como segue

Aderindo agrave democracia da comunicaccedilatildeo concorda-se com a democracia directa algo

que nenhum estado aceitou ao longo da histoacuteria Admitir o debate para redefinir os

direitos de propriedade acerta em cheio no coraccedilatildeo da legitimidade capitalista

Aceitar que os utilizadores satildeo produtores de tecnologia desafia o poder do

especialista Entatildeo uma poliacutetica inovadora mas pragmaacutetica teraacute de encontrar o

meio caminho entre o que eacute social e politicamente exequiacutevel em cada contexto e a

promoccedilatildeo das condiccedilotildees culturais e organizacionais para a criatividade na qual a

inovaccedilatildeo o poder a riqueza e a cultura se alicerccedilam na sociedade em rede

(CASTELLS 2005 p 29 grifo meu)

Nesse sentido parece que haacute uma iminente corrosatildeo do que poderia ser um

processo democraacutetico de comunicaccedilatildeo No que se refere aos conhecimentos impressos no

artigo natildeo parece ter problema algum o estabelecimento de uma comunicaccedilatildeo aparentemente

209

democraacutetica mas quando a propriedade intelectual dos desenvolvedores do software estava

sendo posta em risco aiacute a comunicaccedilatildeo democraacutetica se tornou fluida corroiacuteda

As intenccedilotildees do grupo liderado por Kevin Hall satildeo claras a difusatildeo do

conhecimento tecnoloacutegico somente se daacute em niacutevel de utilizaccedilatildeo (operaccedilatildeo) em vez de

produccedilatildeo (desenvolvimento) Os resultados das pesquisas realizadas por eles estatildeo

disponiacuteveis a todos por meio da internet sob a forma do bwsimulator O que serviria de base

para os coacutedigos tambeacutem estaacute disponiacutevel sob a forma do artigo (texto) Poreacutem a

disponibilizaccedilatildeo do artigo e o que o ampara natildeo parece ser considerada transferecircncia de

tecnologia ao contraacuterio do que ampara o software Nisso acordos internacionais que visam a

(re)definiccedilatildeo dos direitos de propriedade intelectual tornam-se ldquofundamentais para a

preservaccedilatildeo da inovaccedilatildeo e para a dinamizaccedilatildeo da criatividade das quais depende o progresso

humano antes e agorardquo (CASTELLS 2005 p 28)

Skovsmose (2007 p 186) denomina por construtores certo grupo de pessoas que

estaacute desenvolvendo e mantendo um aparato da razatildeo Para o autor tudo que eacute ensinado na

educaccedilatildeo superior deveria enfrentar o paradoxo da razatildeo para que os estudantes conheccedilam a

ambivalecircncia incluiacuteda no aparato da razatildeo O autor afirma que ldquoa matemaacutetica pode ser

disponiacutevel em pacotes que exigem capacidade para serem usados embora os detalhes sobre

como o pacote funciona podem natildeo ser entendidos pelas pessoas que operam com elesrdquo

(SKOVSMOSE 2007 p 187) Tais pacotes poderiam e muitas vezes trazem a Matemaacutetica

fora da superfiacutecie da situaccedilatildeo uma Matemaacutetica impliacutecita ldquoescondidardquo Em tais situaccedilotildees o

grupo de pessoas que opera tais pacotes eacute denominado por operadores que estatildeo tambeacutem

operando com matemaacutetica em accedilatildeo

Nesse sentido podemos perceber um niacutetido alinhamento entre a estrateacutegia de

abertura de caixas-pretas como um objetivo geral para a educaccedilatildeo matemaacutetica superior que

toma como objeto a formaccedilatildeo de construtores em vez de meros operadores Mais

especificamente eacute preciso promover um espaccedilo formativo em que natildeo se possa admitir a

formaccedilatildeo em Engenharia de operadores pois caso isso permaneccedila o desenvolvimento e a

manutenccedilatildeo dos aparatos da razatildeo continuaratildeo nas matildeos de poucos frequentemente cidadatildeos

de paiacuteses ricos e poderosos que na situaccedilatildeo de detentores do conhecimento e da tecnologia

tendem a colaborar com uma nova forma de colonizaccedilatildeo

Com isso pretende-se instaurar um espaccedilo criacutetico-formativo que num primeiro

momento pode ateacute parecer ilusatildeo ou utopia devido agrave dificuldade de entendimento de tantas

caixas-pretas amontoadas sobre e entre si mesmas Contudo ao se considerar as incertezas

proporcionadas pelos ldquodesgovernadosrdquo aparatos da razatildeo que proveem recursos para mais

210

desenvolvimento tecnoloacutegico torna-se necessaacuterio promover experiecircncias formativas no

sentido de fomentar a elaboraccedilatildeo de inovadores instrumentos de criacutetica descoberta e

reproduccedilatildeo praacutetica amparados pelos subsiacutedios fornecidos pelos aparatos da razatildeo

ldquoanterioresrdquo

Dessa forma o objeto da atividade aqui analisada como constituinte de um

espaccedilo formativo mais amplo - que se destina agrave formaccedilatildeo dos profissionais da Engenharia-

transforma-se gradativamente na medida em que as accedilotildees orientadas pelas e nas

transformaccedilotildees qualitativas da caixa-preta do ldquopeso corporal idealrdquo que configurou como

questatildeo-problema escolhida pelos sujeitos engajados no GEPMM a ser

entendidasolucionada ndash ldquoclareadardquo ndash ou seja qualitativamente modificada eou

transformada e portanto expandida

54 Quarta modalidade ndash Multivocalidade e agency evidenciadas pelas interaccedilotildees

tecnomediadas em atividades de Modelagem Matemaacutetica idealizaccedilotildees desencadeadoras

de aprendizagens potencialmente expansivas em um contexto de formaccedilatildeo em

Engenharias

A matemaacutetica constitui sem duacutevida tatildeo-somente um momento da processatildeo Por si

mesma ela ainda natildeo diz o que possibilita a captura da forma na concretude do

existente A essecircncia natildeo eacute o uacuteltimo fundamento Mas se a matematizaccedilatildeo natildeo eacute a

palavra final do ser nem a uacuteltima palavra sobre o ser ela nos abre em todo caso uma

regiatildeo de transparecircncia com a qual o espiacuterito humano estaacute como que naturalmente

harmonizado (LADRIEgraveRE 1978 p 165)

Configurando-se como uma das bases que constituem a Teoria da Atividade de

Engestroumlm (1987) as ideias do teoacuterico Mikhail Bakhtin tendo desenvolvido suas

investigaccedilotildees na aacuterea de filosofia da linguagem cujas origens podem ser encontradas no

marxismo fornecem a noacutes os subsiacutedios conceituais para dar conta de analisar as interaccedilotildees

que podem ser constituidoras de idealizaccedilotildees de aprendizagem em movimento de

aprendizagem expansiva

O conceito de multivocalidade tambeacutem atribuiacutedo a Bakhtin aplicado na presente

pesquisa como base analiacutetica para aprendizagens expansivas configura-se como muacuteltiplas

vozes podendo ser caracterizadas como contraditoacuterias e complementares dos vaacuterios grupos e

estratos que constituem as interaccedilotildees no sistema de atividade em anaacutelise que inclui as vozes e

gecircneros natildeo acadecircmicos de pessoas comuns constituindo argumentaccedilotildees que englobam

diferentes tipos de discurso e linguagem (BARROS 2007)

211

As interaccedilotildees podem ser caracterizadas por accedilotildees realizadas entre os sujeitos e o

objeto da atividade formativa de Modelagem Matemaacutetica aqui analisada por meio dos

artefatos mediadores que incluem as ferramentas e os signos culturais Segundo Bakhtin

(2010) o agir humano soacute se realiza mediante a interaccedilatildeo e o dizer natildeo pode ser considerado

independente do agir As interaccedilotildees verbais para Bakhtin (2010) constituem as mais variadas

formas de enunciaccedilatildeo impregnadas pelas ideologias que permeiam os fenocircmenos sociais

dando base a situaccedilotildees concretas que possibilitam os atos de fala As interaccedilotildees verbais natildeo se

restringem aos diaacutelogos que constituem claramente uma das formas mais importantes de

interaccedilatildeo verbal contudo pode-se compreender a palavra ldquodiaacutelogordquo num sentido mais amplo

isto eacute natildeo apenas como a comunicaccedilatildeo em voz alta de pessoas face a face mas toda

comunicaccedilatildeo verbal de qualquer tipo que seja como por exemplo um ato de fala impresso

em um livro ou em uma mensagem escrita em um e-mail

A tecnomediaccedilatildeo eacute entendida neste texto como sendo as interaccedilotildees mediadas por

artefatos tecnoloacutegicos que incluem as mais variadas ferramentas ou suportes tecnoloacutegicos

tais como a proacutepria Matemaacutetica e os recursos ciberneacuteticos aleacutem de englobar diversos suportes

de mediaccedilatildeo tais como a linguagem transmitida sob a forma oral escrita e por gestos A

linguagem eacute considerada por Bakhtin (2010) como um fato soacutecio ideoloacutegico e configura como

formas discursivas que veiculam por meio dos atos de fala as mais diferenciadas ideologias

estampadas nos mais diversos tipos significantes de enunciaccedilatildeo de natureza social

configurada como o produto do ato de fala

Com base nesses pressupostos pretendo agora esboccedilar uma anaacutelise das

interaccedilotildees perceptivelmente constituintes eou constituidoras das atividades do GEPMM Para

tal busco no corpus empiacuterico de dados construiacutedos durante a investigaccedilatildeo ndash elaboraccedilatildeo e

implementaccedilatildeo do GEPMM os atos de fala que explicitem a multivocalidade e a agency

evidenciadas naspelas interaccedilotildees dos sujeitos partiacutecipes

Na entrevista final quando questionada o que teria aprendido com a participaccedilatildeo

no GEPMM a professora Clarice pontuou ldquoa matemaacutetica taacute em todo lugarrdquo afirmou que ao

estar mais acostumada com uma Matemaacutetica mais teoacuterica e natildeo ter costume com uma

matemaacutetica em accedilatildeo sua participaccedilatildeo no GEPMM trouxe enriquecimento com relaccedilatildeo a isso

E confirmou ldquopensar o problema matematicamente eu natildeo tinha pensado Pensei agora

pensei no grupordquo Nesse sentido podemos aferir que as interaccedilotildees tecnomediadas ocorridas

no GEPMM possibilitaram uma ampliaccedilatildeo no repertoacuterio da docente Clarice no que diz

respeito agraves idealizaccedilotildeesvisualizaccedilotildees de uma matemaacutetica em accedilatildeo

212

O docente Angel tambeacutem demonstrou transformaccedilotildees em suas ideias mediante as

interaccedilotildees possibilitadas na e pela atividade de modelagem desenvolvida pelo GEPMM Na

entrevista final ele pontuou que natildeo esperava ter visto uma Matemaacutetica tatildeo complexa em um

problema da aacuterea de sauacutede ou seja uma matemaacutetica em accedilatildeo na aacuterea de sauacutede agindo de

forma natildeo superficial Nas palavras dele

Eu tive essa visatildeo mais ampliada da matemaacutetica [] eu imaginava uma matemaacutetica

mais baacutesica neacute mais elementar porque a gente pensa ah o pessoal da sauacutede natildeo

deve ser tatildeo assim aprofundado nas matemaacuteticas pra poder chegar em resultados

tatildeo bacanas [] tinha equaccedilotildees diferenciais tinha vaacuterias teacutecnicas matemaacuteticas

interessantiacutessimas aplicadas com um fim laacute comum

Com isso podemos perceber que o docente Angel tambeacutem parece ter tido uma

ampliaccedilatildeo no repertoacuterio no que diz respeito agraves idealizaccedilotildees que a matemaacutetica em accedilatildeo pode

possibilitar Afirmou ainda nunca ter tido a oportunidade de ver equaccedilotildees diferenciais em

outros contextos nas palavras dele ldquoa gente fica naquele lsquomundinhorsquo ali [] e transita por

ali entatildeo nunca tive curiosidade de procurar alguma matemaacutetica mais avanccedilada em outras

aacutereas entendeurdquo

Para a aluna Taty ter participado do GEPMM foi enriquecedor pelas

possibilidades de discussatildeo em grupo Extraiacutedas das transcriccedilotildees da gravaccedilatildeo da entrevista

final as palavras de Taty nos dizem ldquoA discussatildeo em grupo foi muito produtiva [] e

tambeacutem neacute essa questatildeo da articulaccedilatildeo neacute acho que a gente tem que aprender a trabalhar

porque quando vocecirc tem pessoas pra trabalhar junto com vocecirc em uma coisa as coisas saem

melhoresrdquo

A aluna pontuou ainda que ao participar do grupo pocircde reafirmar sob sua

concepccedilatildeo a importacircncia da atividade de pesquisa Ainda que a participaccedilatildeo da aluna possa

ser considerada incipiente Para ela as pessoas ldquopodem descobrir coisas que ningueacutem

descobriu antesrdquo acredita que nisso consiste ldquoo grande diferencialrdquo porque as pessoas ficam

repetindo muito reproduzindo muito e acabam natildeo percebendo que as inovaccedilotildees surgem

muitas vezes de resultados de pesquisa Durante toda a construccedilatildeo dos dados para a pesquisa

relatada nesta tese percebi que a aluna Taty realmente objetiva ter uma boa formaccedilatildeo para

conseguir ter o diferencial no mercado de trabalho Esse foi na minha visatildeo o principal

motivo do engajamento no GEPMM fazer a diferenccedila no mercado de trabalho A aluna

delimita ainda como um horizonte de ldquoaccedilotildeesrdquo para materializar tal objetivaccedilatildeo um Plano de

Accedilotildees Internas - PAI (KAPTELININ 1996) de sua proacutepria atividade formativa em

Engenharia aprendizagens de Caacutelculo e outros instrumentos matemaacuteticos que estejam aleacutem

213

dos preconizados nos planos e nas ementas das disciplinas de Caacutelculo Nas palavras de Taty

extraiacutedas das transcriccedilotildees do primeiro encontro do GEPMM

As melhores aacutereas da Computaccedilatildeo as que datildeo mais dinheiro cecirc tem que ser bom de

matemaacutetica Entatildeo eu acho um desperdiacutecio a gente ter 500 professores de

Matemaacutetica aqui e ficar na sala de aula vendo nada Adoro gosto muito acho

muito legal mas soacute isso Entendeu Vocecirc pode sair daqui muito mais potente

Com essa fala podemos analisar que apesar de o objeto das atividades

desenvolvidas pelono GEPMM estar orientado pelas questotildees-problema natildeo matemaacuteticas e

pelos estudantes em formaccedilatildeo os motivos que direcionam o engajamento nas atividades satildeo

atribuiacutedos a um sentido pessoal que norteia as accedilotildees dos sujeitos inclusive orienta as decisotildees

de engajamento ou natildeo em atividades Por que a aluna se engajou nas atividades do

GEPMM Porque deseja ter um bom salaacuterio ganhar mais dinheiro Nesse caso um bom

emprego eou muito dinheiro seriam os motivos evidenciados pela aluna em seus atos de fala

Tal objetivo estaacute relacionado a uma necessidade social ser bem-sucedido Para tal ela esboccedila

um Plano de Accedilotildees Internas (PAI) (KAPTELININ 1996) para sua proacutepria atividade

formativa Encontra a possibilidade de participar do GEPMM Percebe que as finalidades satildeo

alinhadas Engaja-se nas atividades do grupo Quando natildeo consegue realizar as atividades ou

accedilotildees relacionadas aos objetivos de ser aprovada nas disciplinas regulares e tambeacutem terminar

o projeto de iniciaccedilatildeo cientiacutefica a aluna reconceitualiza o PAI anulando ou tornando-as

minimizadas em prol de um realinhamento dos objetivos orientados nospelos sistemas de

atividade de formaccedilatildeo em engenharia ao motivo Uma voz do sistema capitalista de produccedilatildeo

estaria dessa forma ecoando na atividade a voz do mercado de trabalho Eacute possiacutevel notar

que tal voz pode ser ouvida nos mais diversos modos de atividade contemporacircneos pois

representa uma ideologia enunciada pelos sujeitos sociais Bakhtin (2010 p 125 grifo do

autor) pontua que ldquoo centro organizador de toda enunciaccedilatildeo de toda expressatildeo natildeo eacute interior

mas exterior estaacute situado no meio social que envolve o indiviacuteduordquo

Baseado nisso podemos enfatizar que uma ideologia que envolve a maioria dos

sujeitos de nossa sociedade que consiste na relaccedilatildeo de desejonecessidade em ser bem--

sucedido ter um bom emprego eou ganhar um bom salaacuterio Nesse sentido Charlot (2013 p

181) pontua ldquoao passo que se fala em sociedade do saber o saber estaacute perdendo o seu valor de

uso para virar soacute valor de trocardquo Esse fato pode encontrar suas origens na proacutepria sociedade

globalizada atual que por natureza incita a concorrecircncia permanente promulgando um

individualismo cada vez mais perceptiacutevel nas relaccedilotildees sociais Nisso residiria uma

214

contradiccedilatildeo fundamental primaacuteria constituinte dos mais variados tipos e modos histoacutericos de

atividades Ter poder ser potente ter um bom emprego e ser bem-sucedido satildeo desejos

baseados em ideologias da proacutepria sociedade capitalista Essa loacutegica da concorrecircncia

portanto pode ser parte das ideologias que ecoam nas vozes dos alunos em formaccedilatildeo em

Engenharia e pode ser considerado ldquoum sintoma de ferida antropoloacutegicardquo (CHARLOT 2013

p 182) Ferida dor e sofrimento podem ser originados por essa ideologia Quando um aluno

natildeo consegue colocar em praacutetica o PAI de sua proacutepria atividade de formaccedilatildeo ou ainda quando

o PAI natildeo eacute eficiente na realidade ele sofre Uma ferida eacute aberta podendo provocar muita

dor Reprovaccedilotildees e ou qualquer outro tipo de resultado que seja ldquodesalinhadordquo ao objetivo

delimitado pela ideologia da concorrecircncia pode acabar trazendo um desconforto para os

sujeitos que participam das atividades formativas natildeo somente para os alunos

Nisso a atividade de formaccedilatildeo em Engenharia pode ser analisada como um

trabalho alienado tanto para os alunos quanto para os professores Mas por um lado como

pensar em uma atividade de formaccedilatildeo profissionalizante sem pensar em saber e conhecimento

como objetivos principais Por outro lado como garantir uma formaccedilatildeo consistente

alinhando-se os objetivos restritamente de forma a garantir um bom salaacuterio As instituiccedilotildees

destinadas agrave formaccedilatildeo em Engenharia estatildeo configuradas socialmente apenas como um

caminho uma trajetoacuteria uma rede orientada pelo emprego (ou por um bom emprego) Como

minimizar essa contradiccedilatildeo primaacuteria emergente dos sistemas de atividade de formaccedilatildeo em

Engenharia Seria possiacutevel Natildeo pretendo e nem tenho condiccedilotildees para tentar responder a

esses questionamentos mas percebo que o quadro teoacuterico utilizado no desenvolvimento da

pesquisa aqui relatada ndash Teoria da Atividade ndash pode nos ajudar a seguir adiante em pesquisas

futuras que objetivem focar em tais questotildees Vale ressaltar que ldquoo trabalho do professor natildeo

eacute o de resolver as contradiccedilotildees mas de esclarececirc-las e evidenciar as vaacuterias formas de

legitimidade que podem existir em cada umardquo (CHARLOT 2013 p 175)

A formaccedilatildeo de uma rede coletiva de aprendizagens mediante as mais variadas

possibilidades de interaccedilotildees tecnomediadas foi estabelecida com a constituiccedilatildeo do GEPMM ndash

uma parceria Vale ressaltar que a multivocalidade esteve presente nos encontros do GEPMM

devendo ser analisada como suporte para idealizaccedilotildees de futuras realizaccedilotildees e

empreendimentos inovadores tornando a abertura reafirmaccedilatildeo eou modificaccedilatildeo das caixas-

pretas (modelos matemaacuteticos e computacionais) como accedilotildees estrategicamente necessaacuterias

para a formaccedilatildeo de agentes do desenvolvimento cientiacutefico tecnoloacutegico cultural e

socioeconocircmico demandados pelana formaccedilatildeo dos Engenheiros na atualidade

215

Castells (2005) pontua a existecircncia de uma contradiccedilatildeo crescente entre autonomia

e capacidade de inovaccedilatildeo necessaacuterias para o trabalho em empresas em rede Para o autor tal

contradiccedilatildeo somente pode ser minimizada mediante a ldquoeducaccedilatildeo baseada no modelo de

aprender a aprender ao longo da vida e preparada para estimular a criatividade e a inovaccedilatildeo

de forma a ndash e com o objectivo de ndash aplicar esta capacidade de aprendizagem a todos os

domiacutenios da vida social e profissionalrdquo (CASTELLS 2005 p 28) Sendo assim o autor

assume a criatividade e a inovaccedilatildeo como fatores-chave da criaccedilatildeo de valor e da mudanccedila

social na sociedade em rede Contudo o autor sinaliza para a necessidade de redefiniccedilatildeo dos

direitos de propriedade intelectual cujo iniacutecio se deu com a jaacute enraizada praacutetica do software

de fonte aberta como constituintes de uma comunicaccedilatildeo sem obstaacuteculos fundamentais para a

difusatildeo de um desenvolvimento tecnoloacutegico que responda agraves necessidades humanas de todo o

planeta Dessa forma a reforma do capitalismo perpassa a questatildeo do direito agrave propriedade

intelectual fator decisivo para a constituiccedilatildeo de uma democracia global

Vale ressaltar que ldquoa introduccedilatildeo da tecnologia soacute por si natildeo assegura nem a

produtividade nem a inovaccedilatildeo nem melhor desenvolvimento humanordquo (CASTELLS 2005

p 26) Por esse motivo foco esta parte da anaacutelise na multivocalidade e na agency

evidenciadas pelasnas interaccedilotildees tecnomediadas nas atividades de um GEPMM e natildeo apenas

e de forma limitada aos artefatos mediadores ndash os modelos matemaacutetico e computacional

Uma multivocalidade hiacutebrida oriunda da hibridade discursiva foi observada nas

atividades do GEPMM aqui analisadas A resoluccedilatildeo de problemas coletiva e a produccedilatildeo de

conhecimentos especificamente no que tange agrave questatildeo problemaacutetica do ldquopeso corporal

idealrdquo representaram notadamente uma substancial expansatildeo do repertoacuterio dos sujeitos

partiacutecipes da referida atividade Ao objeto da referida atividade destaca-se uma dimensatildeo

real objetiva e outra futura ou imaginaacuteria Nesse sentido ao mesmo tempo em que ele ndash o

objeto ndash era tomado na atividade praacutetica objetiva real do GEPMM configurava-se uma

dimensatildeo futura intencional projetiva idealizada do ldquomesmordquo objeto mediante accedilotildees de

idealizar ndash idealizaccedilotildees Ambas as dimensotildees somente podem ser analisadas em face da

multivocalidade a ser observada naspelas interaccedilotildees tecnomediadas

No momento que dedicaacutevamos esforccedilos para a abertura da caixa-cinza 3 (1198621198753)

estaacutevamos engajados em uma anaacutelise criacutetica do modelo constituiacutedo por vaacuterias EDOs e

implementado como o bwsimulator ndash um aparato da razatildeo Como resultado de tal anaacutelise e

reflexatildeo detiacutenhamos em nossa imaginaccedilatildeo em nossas ideias sobre tal instrumento da referida

atividade uma limitaccedilatildeo do fenocircmeno na realidade Detiacutenhamos naquele momento a

compreensatildeo de que a problemaacutetica questatildeo do ldquopeso corporal idealrdquo na realidade era muito

216

mais complexa do que a representaccedilatildeo fornecida pelo bwsimulator tanto em termos dos

alimentos ingeridos que fornecem a energia de entrada quanto aos exerciacutecios fiacutesicos que

fazem parte do consumo energeacutetico Estaacutevamos certos de que havia limitaccedilotildees conceituais da

realidade a ser modelada ndash a problemaacutetica questatildeo do ldquopeso corporal idealrdquo e o modelo

emergente da matematizaccedilatildeo e da respectiva implementaccedilatildeo computacional Precisaacutevamos

abrir a caixa-cinza 4 (1198621198754) para avaliarmos se tal limitaccedilatildeo era resultante de uma possiacutevel

limitaccedilatildeo teoacuterica conceitual da proacutepria matemaacutetica em accedilatildeo

Para tal pode-se destacar um discurso trazido agrave cena por dois partiacutecipes da

atividade aqui analisada ndash Teoria Fuzzy Tal discurso acadecircmico-cientiacutefico ecoou em vaacuterios

momentos da anaacutelise dos modelos referidos anteriormente e somente pocircde ser em virtude de

experiecircncias anteriores vivenciadas pelos dois partiacutecipes Tal vocalidade ali ecoada trouxe agrave

cena um novo instrumento uma nova ferramenta uma nova caixa-preta a ser aberta ndash os

discursos da Teoria Fuzzy Mais do que isso originou-se como uma necessidade para a

elaboraccedilatildeoproduccedilatildeo de um novo modelo um novo instrumento que levaria a uma

transformaccedilatildeo qualitativa do objeto da atividade em questatildeo referindo-se tanto agrave mudanccedila de

niacutevel da caixa-preta do ldquopeso corporal idealrdquo (rumo a uma caixa cinza 5) quanto agraves

emergentes e necessaacuterias possibilidades de interaccedilotildees tecnomediadas entre os sujeitos da

parceria no que tange ao compartilhamento de informaccedilotildees constituintes de conhecimentos e

consequentemente saberes necessaacuterios para tal empreendimento Tiacutenhamos assim uma nova

configuraccedilatildeo uma nova estrutura de atividade possibilitada pela e na multivocalidade

discursiva que nela ecoava sob o aspecto de um Plano de Accedilotildees Internas (PAI) da proacutepria

atividade

O Plano de Accedilotildees Internas (PAI) da atividade estava se reconfigurando

Idealizaccedilotildees que preconizam a realizaccedilatildeo do empreendimento foram evidenciadas nos

discursos trazidos agrave cena pela fala dos sujeitos projetar o uso da Teoria Fuzzy para a

construccedilatildeo de um novo modelo ndash tanto matemaacutetico quanto tecnoloacutegico

Poderiacuteamos inclusive pensar em um modelo tecnoloacutegico no qual a Matemaacutetica

natildeo poderia dele ser isolada nem vice-versa Um modelo tecnomatemaacutetico A Matemaacutetica

estaria aqui operando com o que poderia ser ou poderia se tornar ndash uma idealizaccedilatildeo orientada

pela Matemaacutetica contida no PAI Tal idealizaccedilatildeo poderia ser considerada como um elo entre

o que eacute e o que poderia vir a ser ndash uma nova orientaccedilatildeo uma nova finalidade Nesse sentido a

existecircncia de idealizaccedilotildees que objetivem alternativas para um fenocircmeno real se torna parte

indispensaacutevel do processo de modelagem cujo pressuposto essencial segundo Bassanezi

(2006) consiste no entendimento de que nenhum modelo deve ser considerado definitivo

217

podendo sempre ser melhorado e poderiacuteamos dizer que um bom modelo eacute aquele que propicia

a formulaccedilatildeo de novos modelos sendo essa reformulaccedilatildeo dos modelos uma das partes

fundamentais do processo de modelagem O autor pontua que isso pode ser evidenciado se

considerarmos que

Os fatos conduzem constantemente a novas situaccedilotildees

Qualquer teoria eacute passiacutevel de modificaccedilotildees

As observaccedilotildees satildeo acumuladas gradualmente de modo que novos fatos suscitam

novos questionamentos

A proacutepria evoluccedilatildeo da Matemaacutetica fornece novas ferramentas para traduzir a

realidade (teoria do Caos Teoria Fuzzy etc) (BASSANEZI 2006 p 31)

Contudo tal idealizaccedilatildeo contida no PAI da atividade somente pode ser

considerada como uma sequecircncia de accedilotildees ideais que podem fazer emergir fendas entre tal

idealizaccedilatildeo e o que viraacute a ser uma atividade real objetiva ndash concretizaccedilatildeo da idealizaccedilatildeo ndash

fazendo surgir uma objetivaccedilatildeo considerada aqui como transformaccedilatildeo de algo subjetivo em

algo objetivo ndash accedilotildees planejadas transformadas em accedilotildees executadas pelos sujeitos partiacutecipes

da atividade

Para isso uma accedilatildeo inicial a ser realizada na atividade praacutetica consistiu no

entendimento da Teoria Fuzzy mediante interaccedilotildees que possibilitaram o compartilhamento de

informaccedilotildees sobre tal arcabouccedilo teoacuterico permitindo a elaboraccedilatildeo desse novo instrumento que

passaria a permear a referida atividade Percebemos ainda a necessidade de uso e combinaccedilatildeo

de todos os instrumentos matemaacuteticos e tecnoloacutegicos que permearam a referida atividade para

o empreendimento configurado por tal nova construccedilatildeo se tornar de fato real Entre os

instrumentos que necessariamente permeavam a atividade podemos destacar conhecimentos

matemaacuteticos (Caacutelculo EDO Fuzzy) estrateacutegias de modelagem matemaacutetica modelos

matemaacuteticos modelos tecnoloacutegicos e estrateacutegias de programaccedilatildeo de computadores

Como consideraccedilatildeo final a essa parte da anaacutelise pontuo que a sequecircncia de

interaccedilotildees de aprendizagem se configura com caracteres cujo ldquoenquadramentordquo enunciativo

remete a significados resultantes de argumentaccedilotildees criacutetico-reflexivas dentro de uma praacutetica

social ndash formaccedilatildeo dos engenheiros ndash estando relacionadas agrave necessidade de transformaccedilotildees

qualitativas de tal praacutetica A constituiccedilatildeo de um contexto formativo (GEPMM) ampliou as

possibilidades de interaccedilotildees entre os sujeitos e os respectivos objetos de suas atividades O

objeto da atividade de Modelagem Matemaacutetica analisada nessa tese eacute constituiacutedo por trecircs

materializaccedilotildees ldquoo peso corporal idealrdquo a agency dos futuros engenheiros e dos docentes

evidenciadas nas interaccedilotildees sujeito-sujeitos e sujeitos-objeto

218

Tal contexto formativo somente foi constituiacutedo a partir do resultado da anaacutelise da

praacutetica social que constitui a formaccedilatildeo em Engenharia institucionalizada podendo ser

considerado como um enunciado embebido por diversas ideologias incluindo as que

compotildeem os discursos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos configurando dessa forma uma nova forma

de atividade na instituiccedilatildeo que amplia as possibilidades de compartilhamento de informaccedilotildees

e construccedilatildeo de parcerias ndash constituindo (criando) um novo objeto para os sistemas de

atividade como resultado de uma busca consciente coletiva e intencional de oportunidades

para inovar no sentido de se fazer o novo renovar promover mudanccedilas substanciais na

praacutetica formativa Sob esse aspecto considero as accedilotildees aqui representadas como inovaccedilotildees no

que tange inclusive agrave constituiccedilatildeo de um novo e expandido espaccedilo formativo relacionado agraves

disciplinas de Caacutelculo ndash atividades de Modelagem Matemaacutetica ndash dentro do sistema de

atividades que eacute orientado pela formaccedilatildeo de engenheiros

O espaccedilo formativo constituiacutedo pelo contexto alternativo mais amplo ndash GEPMM

ndash inclui necessariamente a delimitaccedilatildeo de uma ineacutedita rede de aprendizagem ndash uma parceria

Os sujeitos satildeo cuacutemplices de uma mesma atividade de resoluccedilatildeoentendimento de questotildees-

problema do mundo real O engajamento em tais sistemas de atividade estaacute orientado por

mudanccedilas nas agencys dos docentes e discentes frente agraves suas muacuteltiplas atividades Os

instrumentos que permeiam tal atividade incluem estrateacutegias de Modelagem Matemaacutetica

conhecimentos matemaacuteticos modelos matemaacuteticos e tecnoloacutegicos conhecimentos de

programaccedilatildeo de computadores entre outros

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Neste capiacutetulo busco fazer um tipo de fechamento de ideias a respeito da

investigaccedilatildeo relatada neste texto cujo objetivo central esteve orientado pelo seguinte

questionamento quais aprendizagens expansivas podem ser evidenciadas pelas e nas

atividades desenvolvidas por um Grupo de Estudos e Pesquisa em Modelagem Matemaacutetica

(GEPMM) em um contexto de formaccedilatildeo em Engenharia

Para tal os dados foram construiacutedos em um contexto institucional que se destina

exclusivamente agrave formaccedilatildeo de engenheiros localizado em uma cidade do interior de Minas

Gerais e os desdobramentos da investigaccedilatildeo foram norteados pela abordagem qualitativa por

meio de uma intervenccedilatildeo formativa (ENGESTROumlM SANNINO 2010b) Essa intervenccedilatildeo se

219

engendrou por meio da constituiccedilatildeo de um GEPMM concebido sob a perspectiva que

considera os conteuacutedos do Caacutelculo como ferramentas ou instrumentos necessaacuterios para a

formaccedilatildeo em Engenharia

Ancorada nos aportes da teoria histoacuterico-cultural da atividade e da aprendizagem

expansiva a investigaccedilatildeo objetivou o estabelecimento de um diaacutelogo com teoacutericos que

discutem Modelagem na Educaccedilatildeo Matemaacutetica focando os contextos de formaccedilatildeo em

Engenharia Sendo assim o GEPMM se configura como um espaccedilo formativo alternativo sob

a perspectiva do Caacutelculo em accedilatildeo

A construccedilatildeo dos dados para a presente investigaccedilatildeo se deu por meio de

observaccedilotildees entrevistas registro de diaacuterio de campo e mensagens eletrocircnicas O processo de

anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados construiacutedos foi desenvolvido com base no proacuteprio processo

de constituiccedilatildeo do GEPMM como um ciclo de accedilotildees potencialmente expansivo

(ENGESTROM SANNINO 2010b) que possibilitou o preenchimento da ldquomatrizrdquo para

anaacutelise da aprendizagem expansiva (ENGESTROumlM 2001)

Aleacutem disso os dados construiacutedos fizeram emergir quatro modalidades analiacuteticas

na tentativa de compreender as possibilidades de aprendizagens expansivas que podem ser

evidenciadas nas e pelas atividades de um GEPMM em um contexto de formaccedilatildeo em

Engenharia Conforme abordado no Capiacutetulo 5 desta tese a constituiccedilatildeo do referido espaccedilo

formativo alternativo (GEPMM) ampliou as possibilidades de interaccedilotildees entre os sujeitos e os

respectivos objetos de suas muacuteltiplas atividades possibilitando aprendizagens expansivas

que se manifestaram como 1) transposiccedilatildeo de fronteiras e construccedilatildeo de redes ndash parcerias 2)

movimento na zona de desenvolvimento proximal da atividade docente-discente 3)

transformaccedilotildees qualitativas do objeto da atividade de Modelagem Matemaacutetica 4) ciclos de

accedilotildees potencialmente expansivas ndash idealizaccedilotildees

Ao analisar a referida intervenccedilatildeo formativa observam-se ainda subsiacutedios

necessaacuterios para considerar que o engajamento nas atividades do GEPMM pode de fato

representar importante papel na formaccedilatildeo continuada de professores suas proacuteprias praacuteticas

ampliando assim os respectivos horizontes de atuaccedilatildeo nas mais diversas dimensotildees

cotidianas de trabalho

Considerando que o momento de encerramento de uma tese natildeo se configura

apenas como um fechamento de ideias uma vez que vaacuterias discussotildees debates estudos e

pesquisas podem se originar dos dados e das questotildees apresentadas tomando por base o

espaccedilo formativo alternativo constituiacutedo pelono GEPMM em um contexto de formaccedilatildeo em

Engenharias entendo que as possibilidades para aprendizagens expansivas se tornam

220

instigantes objetos de pesquisas futuras Para tal como um horizonte possiacutevel a seguinte

pergunta diretriz poderia nortear futuras investigaccedilotildees

Quais aprendizagens expansivas podem ser evidenciadas naspelas interaccedilotildees

tecnomediadas pelo Caacutelculo em accedilatildeo em atividades de Modelagem Matemaacutetica em um

contexto de formaccedilatildeo em Engenharias

Por fim vale ressaltar que uma intervenccedilatildeo e sua interpretaccedilatildeo analiacutetica

constituintes da praacutexis cientiacutefica jamais devem ser consideradas como algo que se impotildee

absolutamente Haacute lugar para diversos esquemas e compreensotildees e por conseguinte

confrontos entre interpretaccedilotildees diversas ldquoSe a interpretaccedilatildeo eacute revelante eacute pois num duplo

sentido ela faz aparecer uma estrutura inteligiacutevel que vale de alguma maneira por si mesma

mas ao mesmo tempo daacute os meios para atingir com sua mediaccedilatildeo uma realidade que nela se

mostra mas sem aiacute se esgotarrdquo (LADRIEgraveRE 1978 p 130)

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