claus offe - capitalismo desorganizado

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Copyright © by C1aus Offe, 1985 Títulooriginal em inglês: Disorganized Capitalism Copyright © da tradução brasileira: Editora Brasiliense S.A. Nenhuma parte destapublicação pode ser gravada, armazenada em sistemas eletrônicos, fotocopiada, reproduzida pormeios mecânicos ou outros quaisquer sem autorização pvia daeditora. ISBN 85-11-09048-7 Primeira edição, 1989 r edição, 1994 I~ reimpressão, 1995 CAPITALISMO DESORGANIZADO Indicação editorial: Luís Gonzaga Belluzzo Preparão: José W. S. Moraes Revisão: CarmenT. S. Costa e Dirceu A. Scali Jr. Capa: Ettore Bottini sobre pintura de Kurt Schwitters, Merzbild Einunddreissig TRANSFORMAÇÕES CONTEMPORÂNEAS DO TRABALHO E DA POLÍTICA Tradução Wanda Caldeira Brant Revisão da traduçãO Laura Teixeira Motta EDITORA BRASILIENSE S.A. Av. Marquês de São Vicente, 1771 01139-903 - São Paulo- SP Fone (011) 861-3366 - Fax 861-3024 Filiada àABDR editora brasiliense

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Page 1: Claus Offe - Capitalismo Desorganizado

Copyright © by C1aus Offe, 1985Título original em inglês: Disorganized Capitalism

Copyright © da tradução brasileira: Editora Brasiliense S.A.Nenhuma parte desta publicação pode ser gravada,armazenada em sistemas eletrônicos, fotocopiada,

reproduzida por meios mecânicos ou outros quaisquersem autorização prévia da editora.

ISBN 85-11-09048-7Primeira edição, 1989r edição, 1994

I~ reimpressão, 1995CAPITALISMO

DESORGANIZADOIndicação editorial: Luís Gonzaga BelluzzoPreparação: José W. S. Moraes

Revisão: Carmen T. S. Costae Dirceu A. Scali Jr.Capa: Ettore Bottini

sobre pintura de Kurt Schwitters,Merzbild Einunddreissig

TRANSFORMAÇÕES CONTEMPORÂNEASDO TRABALHO E DA POLÍTICA

TraduçãoWanda Caldeira BrantRevisão da traduçãOLaura Teixeira Motta

EDITORA BRASILIENSE S.A.Av. Marquês de São Vicente, 1771

01139-903 - São Paulo - SPFone (011) 861-3366 - Fax 861-3024

Filiada à ABDR editora brasiliense

Page 2: Claus Offe - Capitalismo Desorganizado

Trabalho: a categoria sociológica chave?*

As tradições clássicas da sociedade burguesa, assim como damarxista compartilham do ponto de vista de que_o trabalho é~o social princiEal. Elas concebe~o..cle.d na esua dinâmica central como uma ••..sociedade do trabalho". Cer-tamente todas as sociedades são compe i as a entrar em um"metabolismo com a natureza" através do "trabalho" e a orga-nizar e estabilizar esse metabolismo de tal forma que seus pro-

• Traduzido para a edição inglesa por John Keane. Uma primeira versãodeste ensaio foi apresentada como um paper para a sessão plenária deabertura da Vigésima Convenção da Deutsche GeseIlschaft für Soziologie,Bamberg, outubro de 1982. Este capítulo foi traduzido de uma versãoposterior, intitulada "Arbeit ais soziologische Schüsse1kategorie?", publi-cada in J. Matthes (ed.), Krise der Arbeitsgesellschaft? Verhandlungendes 21. Deutschen Soziologentages in Bamberg, 1982 (Frankfurt, 1983).P.38-65.,1. Ver R. Dahrendorf, "1m Entschwinden der Arbeitsgesellschaft: Wand-Ungender sozialen Konstruktion des menschlichen Lebens·, Merkur, 34(1980),p. 749-60, assim como B. Guggenberger, "Am Ende der Arbeitsge-~ellschaft·, in F. Benseler et alii (eds.), Zukunft der Arbeit (Hamburgo,.982), p. 63-84, e F. R. Volz, Die Arbeitsgesellschaft (Frankfurt, 1982).

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dutos garantam a sobrevivência física de seus membros. Po.tanto, o conceito de uma "sociedade do trabalho" poderia s rdesprezado como uma triv,ialidade sociológica, visto que se rer

fere a uma "eterna necessidade natural da vida social" (Marx~rEntretanto, antes de fazê-lo, é importante deixar claro o papeiespecífico que o trabalho, a divisão de trabalho, as classes tra.

o! balhadoras, as normas de trabalho, a organização do trabalhoe seu correspondente conceito de racionalidade desempenhamna sociologia clássica.

O objetivo da teorização sociológica pode, de maneira geral,ser resumido como a análise dos princípios que formam a estru.tura da sociedade, programam sua integração ou seus conflitose regulam seu desenvolvimento objetivo, sua auto-imagem e seufuturo. Se considerarmos as respostas dadas entre o final doséculo XVIII e o término da Primeira Guerra Mundial às ques-tões que se referem aos princípios de organização da dinâmicadas estruturas sociais, podemos certamente concluir que aotrabalho foi atribuída uma posição chave na teorização socio-lógica. O modelo de uma sociedade burguesa consumista preo-cupada com o trabalho, movida por sua racionalidade e abala·da pelos conflitos trabalhistas, apesar de suas abordagens me·todológicas e construções teóricas diferentes, é o foco da pro-dução teórica de Marx, Weber e Durkheim. Atualmente, aquestão que se coloca é: como preservaremos ~ssa preocupação"materialista" dos clássicos da sociologia?

Antes de examinar criticamente esta questão, gostaria de men-cionar rapidamente três pontos que levaram os cientistas sociaisclássicos e os teóricos políticos a considerarem o trabalho comoa pedra de toque da teoria social.

G) A experiência sociológica dominante no século XIX con-sistm no estabelecimento e crescimento quantitativo rápido dotrabalho em sua forma pura, ou seja, o trabalho que estava se-parado de outras atividades e esferas sociais.2 Este processO de

'f nciação e purificação tornou possível, pela primeira vez nadi ere . . 1 d "t· 6' "personificar" o trabalho na categona socla o ra-hlst rta, . - d f '1' d f

h d r" Este processo inclUl a separaçao a aml Ia a es erabal a o . .' d b lh

dução a divisão entre propnedade pnva a e tra a ode pro , . - . d b .1 'ado assim como a neutraltzaçao gradattva as o nga-

assaart , . 'd' 'd~ ormativas nas quais o trabalho haVia SI o msen o ante-Çoesn . ' 1· ente O ato de trabalhar "ltvre", separado dos vmcu osnorrn . - . . d d' tf d· regulado pelo mercado e nao mais onenta o lte amen-eu aiS, . . . 1'" d f "te para o uso concreto, mas dmgldo pe o açOIte a om~(Max Weber), da co~pulsão est~u~ura~para se obter a_subsls-• . e' por assim dizer a matena-pnma das construçoes teó-tenCla , ,ricas dos clássicos da sociologia.

2. A velha hierarquia entre atividades "vulgares" e "nobres",entre aquelas que são meramente úteis ou necessárias e as ex-pressões de vida significativas, (uma hierarquia c:istalizada namaioria das línguas européias em pares de conceitos como po-nos/ergon, labor/opus, labor/work e Mühe/Werk)3* foi nive-lada e até invertida, na esteira da vitória da reforma teológica,do desenvolvimento da teoria da economia política e da revo-lução burguesa. Já na utopia de Saint-Simon, de uma sociedadeindustrial diligente, não só a riqueza deveria ser aumentada,mas sobretudo seria abolida a dominação das classes improdu-tivas e, assim, ao mesmo tempo a sociedade seria pacificada. ~esfera da compra mediada elo mercado foi sancionada teologi-camen e e dotada de um status ético (como sustentou Weber),ou do status autoritário de "Moisés e os profetas" (Marx) atra-vés a rcompulsão para acumular", induzida pelo próprio mo-do de produção capitalista. Somente Durkheim procurou provarque a pressão contrária, secularizada e imanente desse processo~ ao surgimento de uma solidariedade orgânica, a uma so-ciedaoe burguesa organizada corporativamente, na qual a divi-

2. "A Revolução Industrial destruiu metodicamente o velho sistema,::acordo com o qual o trabalho, a família e o lazer eram semelhan.~desempenhados como um todo indiferenciado." (K. Kumar, "The SoeiCulture of Work", New University Quarterly, 34 (1979), 14.)

• Cf. Nota do Tradutor, p. 10 (N.T.)3. Sobre a história destes conceitos, ver W. Conze, "Arbeit", in W. Conzee R. Koselleck (eds.), Geschtliche Grundbegriffe: Historisches LexikonZUr politisch-sozialen Sprache in Deutschland (Stuttgart, 1972), voI. 1; eH. Arendt, The Human Condition (Nova York, 1958). [Trad. bras.:A. Condição Humana, Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1987.]

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~ ão de trabalho funcionava como uma nova fonte .dade (" h' ") , e soborgamca e mtegração social.4 .

, A proletarização da força de trabalho e o desen dI d' ca eamentmora o consumlsmo movido pela utilização industrial d O

força de trabalho levam à predominância da io I' essaI,, , 'd ' na I ade uf~,cuJos OIScomponentes são diferenciados com . I·

M d mm.reza em arx o que em Weber, ,Estes componentesd 'l'd d ' , compreen·em a raCIOna1 a e tecmca da perseguição dos fins na ' t _

t h 'd tn eraçaoen re umam ade e natureza, e o cálculo economica' I d ' - d mente ra·CIOna a persegUIçao os fins pelos agentes econohm'

d' - ICOS emprocesso e mteraçao (analisado por Weber no exem I dt b'l'd d)" P o acon alI a e racIOnal do capItal. Em Marx há uma -, , , , , ,razao estra.

teglc<;>-t~or~ca,eVld~nte para comparar esses elementos através~a dIS~tnÇ~O"conceltu~l ,en:re os p:ocessos de "produção" e de.valonzaçao , Esta dlstmçao permIte a construção de um cená.

no de desenvolvim~nto ?O qual cada processo é incompatívelcom o outro; a raclOnahdade das unidades de capital concor.rentes torna-se um "entrave" às forças produtivas técnicas. Esteantagonis~o é ,dissolvi~o na luta por uma formação social emque a raclOnaltdade tecnica (não mais a racionalidade econÔ-mi~a) do cap~al pre:alece, Para o marxismo clássico, políticasocI~1 e, rela,ç~es e SIstemas culturais são produtos (apesar datenden:I~ teonca de considerar "efeitos recíprocos") e, em últi.~a analtse, acompanhamentos dependentes' da produção mate.nal" e de, seu~ ~ois aspectos - os processos de "produção" ede valonzaçao, Marx e Weber concordam que a racionalida.de estr é iça da contabilidade do ca itl!Le a separação o tra-balho de todos os critérios do trabalho dofiéStico imediato edo valor ?e uso, do ritmo da fome e da satisfação, é a principalfo~ça subJa::nte à raciQ..nalização"formal" das sociedades capi·tahst~s, Os processos imediatos de trabalho e de proàução saaorgamzados e regulados de acordo com os ditames dessa racio-nalidade, cujos funcionários constituem o corpo burocrático docapital.

Separado das formas de associação familiares e tradicionais,d stituído de proteção política, o trabalho assalariado foi li-

e d~ à organização capitalista e à divisão de trabalho, assimga o aoS processos de pauperização, alienação, racionalizaçãocom 'd - , d d ' A • (e às formas orgamza as e nao-orgamza as e reslstencla eco-'mI'ca política e cultural) inerentes a esses processos, Conse-no • , ,"entemente, todos esses acontecImentos tornaram-se o eIXO

qu I' , 'f' , I fevidente em torno do qua a pesqUIsa clenb ICO-SOCIae a or-mação da teoria giraram, e do ~~al ema~ou tod~ a preocup~ç~oteórica subseqüente com a poltttca socIal. os SIstemas famlha-res e morais, ·a urbanização e a religião, ~ precisamente estepoder determinante abrangente do fato social trabalho (assala-riado) e de suas contradições que, hoje em dia, se tornou socio-logicamente questionáveJ,

Esta tese pode ser confirmada com um breve exame das preo-cupações temáticas, das hipóteses mais ou menos tácitas e dospontos de vista relevantes que governam a ciência social con-.temporânea, A partir deste ponto de observação, é possívelencontrar amplas evidências para a conclusão de que o trabalhoe a posição dos trabalhadores no processo de produção não sãotratados como o princípio básico da organização das estruturas

I sociais; que a dinâmica do desenvolvimento social não é con-cebida como emergente dos conflitos a respeito de quem con-trola a empresa industrial; e que a otimização das relações entremeios e fins técnico-organizacionais ou econômicos através daracionalidade capitalista industrial não é compreendida como aforma de racionalidade precursora de mais desenvolvimentosocial.

Para ilustrar essa conclusão, citarei alguns indicadores preli-minares, Enquanto os estudos sociológicos significativos sobrea indústria e o trabalho realizados na República Federal da Ale-manha na década de 50 ainda enfatizavam a situação dos traba-lhadores na indústria, esperando que esta indicasse o futurod~s~nvolvimento da organização do trabalho e da orientaçãosaCIo-política dos trabalhadores, em inúmeros estudos contem-

4, Ver E, Durkheim, The Division of Labour in Society (Nova York.1960), p, 62, 400 [Trad. port.: A Divisão do Trabalho Social, Lisboa.Presença, 1977,]: "Através da divisão do trabalho o indivíduo torna-seconsciente de sua dependência com relação à sociedade ,.. A divisão dotrabalho torna-se a principal fonte de solidariedade social",

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porâneos a situação do trabalho aparece muito mais como" 1 d umavarIave ependente da "humanização" do trabalho iniciad

pelo Estado e das políticas sociais e trabalhistas Desde o I'n' .a. ICIO(e de forma totalmente plausível), a esfera do trabalho é tratadc~mo, "exte~nament~ c~nstituída", enquanto a sociologia indus~trIal e confmada prIncIpalmente a um ramo específico da p .quisa política aplicada.5 es

A pesquisa sociológica da vida quotidiana e do "mundo viv'-d" b' Io tam em representa um rompimento com a idéia de que aesfera do trabalho tem um poder relativamente privilegiado pa.ra determinar a consciência e a ação social. }..té certo lLontoinclu~~ve,.é realizada a abordagem oposta, segundo a qua'l a~experIenClas e os conflitos engendrados pelo trabalho são vistoscomo conseqüências de interpretações adquiridas fora do traba-lho.

6A limitação do paradigma "centrado no trabalho" é tam-

bé~ enfatizada pelas análises sociológicas do comportamentoeleitoral e da atividade política em geral. Estas levam à conclu-são, por exemplo, de que as variáveis de status sócio-econômi-cas são menos adequadas para prever o comportamento nas elei-ções do que, digamos, as seitas religiosas e a condição de mem-bro de uma igreja. Da mesma forma, os conflitos e ideologiasnacionais e internacionais do Segundo e Terceiro Mundos pa-recem escapar cada vez mais das categorias da "teoria da mo-dernização", tais como produção, crescimento, racionalidadeeconômica e técnica, escassez e distribuição. Também nas socie-dades capitalistas industriais ocidentais, os conflitos sociais e

olíticos predominantes freqüentemente se cruzam com o con-fPJ't distributivo entre trabalho e capital enfatizado pelo con-

10 . 1 . d'to de trabalho social. Além disso, a pesquisa SOCla OrIenta acel . l' . d ..a a política nas sociedades caplta Istas m ustrIalS parecepar .. . ,estar fundamentalmente relacionada às estruturas SOCiaISe asesferas de atividades que ficam às mar~ens ou com?!etame~~efora do domínio do trabalho - áreas tais como famllIa, papels

xuaI's saúde comportamento "desviante", interação entre ase , , , ,administração do Estado e seus clientes: etc. O que tambem. einteressante é a diminuição das tentatIvas de compreend~r arealidade social através das categorias do trabalho assalarIado- da escassez dentro da tradição do materialismo histórico, onde~s esforços para rever e complementar os modelos da realidadesocial "centrados no trabalho" prevalecem atualmente.? Os estu-dos tradicionais de estratificação e mobilidade, que procuraramcompreender o parâmetro estrutural "crucial" da. realid~de ~o-cial em variáveis como status e prestígio ocupaclOnal (mclum-do os status educacionais baseados na renda e nos níveis de

7. Cf. U. Beck, "Auf dem Weg in die individuali~ierte Klassen~esel-lschaft?", manuscrito não publicado (Bamberg, 1981): Todo o parad~g~adas teorias de estratificação de classe deve, dadas as suas contradlçoesimanentes ser debatido baseado em seu realismo" (p. 5). Beck fala deuma "plu;alização de formas de vida ... que romp~ os li~ite: do esquem~solidamente estabelecido da estratificação e da dlferenclaçao ?e classe(p. 52), e de "um 'estrato de renda' que não corresponde ~als a qual-quer espécie de forma de vida adotada" (p. 53) .. S. Hradll e~creve deuma forma semelhante ("Die Ungleichheit der 'Sozlalen Lage:: em.e "AIter-native zum schichtungssoziologischen Modell sozialer Ung:elchhelt , ma-nuscrito não publicado, Munique, 1982, p. 1 sS., 19, 21): A abord~g~msociológica relativa à estratificação não mostr~ toda a esf~:a fenomemcada desigualdade social '" O modelo de deSigualdade utlhzado pela so-ciologia da estratificação evidentemente 'funcionou' melhor no pa~sadodo que atualmente ... Em geral, são exatamente as formas de _deSigual-dade social particularmente evidentes nos últimos ~e~po: que n~o corro-boram os princípios básicos da sociologia da estratlÍlcaçao. Considerou-se(falsamente) que os fatores estruturais específicos (como, por exemplo, arenda e o status) são em grande medida, de fato, igualmente releva~tespara a vida de todos os membros da sociedade". Também ~ompatlvelCom essa tendência é o desenvolvimento e a aplicação do conceito de uma"classe de bem-estar", de R. M. Lepsius, "Soziale Ungleichheit und Klas-senstruktur in der Bundesrepublik DeutscWand", in H. U. Wehler (ed.).Klassen in der Europiiischen Sozialgeschichte (Gõttingen, 1979).

5. Es~a.mudança d~ ~er~pectiva, assim como a tese de uma "determinação:spec1Ílc~mente pohtlca dos processos industriais, que necessitam de uma,superaçao da separação científica e prática entre a indústria e a política",e de~onstrada in G. Dõrr e F. Naschold, "Arbeitspolitische Entwicklun.gen m ~er ~ndu~trie~rbeit", in G. Schmidt et alii (eds.), Materialien zurIndustrzesozlOlogle, tlragem especial de Kolner Zeitschrilt lür Soziologie~nd ~ozialI!~ychologie (1982), p. 433-56; e U. Jürgens e F. Naschold,Arbeltspohtlk, Entwicklungstendenzen und Politikformen", in 1. Hesse

(ed.), ~~rwaltu:,gswissenschalt und Politikwissenschalt, tiragem especialde Polltlsche Vlerteliahresschrilt (1982).~. Ver, por exemplo, a contribuição sintomática (e igualmente programá-tl.ca) de B. Mahnkopf, "Das kulturtheoretische Defizit industriesoziolo-glsc.h~r Forschung", Prokla, 12 (1982), p. 41-60; cf. C. F. Sabel, Work andPolitlcs: The Division 01 Labour in Industry (Cambridge, 1982).

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consumo), também tiveram de ser submetidos a uma rev' -t'd d d . Isao, nosen I o e arem maIs atenção a variáveis como sexo 'd d

t t f 'I' 'd' ,Ia es ~ ~s .amI lar,. sau e, Identidade étnica, direitos coletivo 'eXlgenclas legaIs. s e

Em vista dessas impressões do estado da pesquisa cient'f',I A • I IcaSOCla contemporanea, talvez não seja muito arriscado afiq d f "d ( rmarue a e esa ng~ ~ tanto analítica quanto normativo-política)dos modelos SOCIaIScentradbs no trabalho e na renda d

. "d ' e oscntenos e raclOnalidade é hoje um tema preferido dos ' t', , ClenIS-tas SOCIaISconservadores, ao passo que os cientistas socI'al'd'b' , s eme ItO com a tradIção do materialismo histórico ou com a t' ,. h'f eo-r~a cntIca oJe reqüente:rp.ente rejeitam esses modelos e categnas, até mais decididamente do que os trabalhos teór' o-, , ICOSeempIrlCOSda escola de Frankfurt o fizeram, em favor de um enfo-que sobre um "mundo vivido" que deve ser defendido contra~ransgre~sões econômicas e/ou políticas, Por outro lado, essasImpressoes e observações também sugerem a necessidade de seo,~jet~r à i?éia de que os temas e preferências conceituais daClenCla socIal em qualquer conjuntura específica não precisamne~ess~riame~te nos dizer algo exato sobre as mudanças na pró-pna vIda _socIal. Essas impressões podem simplesmente refletiras conf,usoes de uma compreensão científico-social que fracassaou ,de:l~te pr~maturamente quando confrontada com a tarefasoclOlogl~aAcI~ssicade estabelecer o ponto de origem da estru-tura _e dmamlca ~a sociedade no trabalho, na produção, nas:elaçoes de propnedade e no cálculo econômico racional. SeISSOacontecesse, seria preciso uma teoria sociológica da trans-formação do domínio de seu objeto - e não meramente a elas-sifi~ação empírica de temas e perspectivas em mudança _ queenta~ pu~esse nos propiciar uma explicação mais sólida dar:one?taçao dos interesses das pesquisas na linha de estudodIscutIda _anterio.rmente, Por sua vez, isso estimularia as seguin-tes qu:stoes: eXIstem indicações de uma diminuição no poderdetermmante objetivo do trabalho, da produção e da compraem ·relação às condições sociais e ao desenvolvimento socialcomo um todo? A sociedade está objetivamente menos confi-gurada p~lo fato do trabalho? A esfera da produção e do tra-balho esta perdendo sua capacidade de determinar a estrutura

O desenvolvimento da sociedade mais ampla? E os di-e _zer, apesar do fato de uma parte esmaga~a da populaçao de-ender do salário, que o trabalho se tornou menos importa~te

~anto para os indivíduos quanto para a coletividade? Podemos,então, falar de uma "implosão" da categoria trabalho? Na pró-xima seção, concentrar-nos-emos sobre três pontos que pode-riam justificar uma resposta positiva a essas questões,

Observando a centralidade do trabalho, surge a primeira sé-rie de dúvidas assim que sua vasta heterogeneidade empírica éexaminada com profundidade, Que uma pessoa "trabalhe" nosentido formal de ser "empregada" é um fato que até agora temse aplicado a um segmento sempre crescente da população.~En:..tretanto, esse fato tem cada vez menos importância para o con-teúdo da atividade social, para a percepção de interesses, estilode vida e assim por diante. Descobrir que alguém é um "em-pregado" não surpreende e não é muito informativo, visto quea expansão relativa do trabalho assalariado dependente coincidecom sua diferenciação interna, Essa diferenciação não pode maisser compreendida adequadamente pelo conceito tradicional de"divisão do trabalho", à medida que ela também encerra a dis-tinção entre aqueles que estão sujeitos à divisão de trabalho eos que não estão, ou que estão, mas em um grau muito menor.

Apesar dessa diferenciação e da diversidade da realidade so-cial do trabalho, a hipótese de sua unidade e coerência internaé normalmente formulada através da referência a cinco argu-mentos sociológicos: 1 o critério comum da dependência daforça de trabalho (que não possui propriedade) com relação aosalário; 2, a subordinação d~sa força de trabalho ao controleorganizado da administração(3, o risco permanente de interrup-Çõesna capacidade de receber salários dos trabalhadores, devi-do a fatores subjetivos (por exemplo, doenças, ~dentes) ouobjetivos, como mudanças técnicas e econômicas; 4, a homoge-

• Jnelzação indireta do trabalho, que resulta da presença e do

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monopólio de representação das amplas associações SI' d' .5 Ih I· n leaIS'·. o orgu o co etIvo dos produtores uma consciência 'fi . .' qUe re.eXlvamente expressa a teona do valor do trabalho e I( I d " Oeoocanas pa avras a Cntlca do Programa de Gotha) como" fde toda a riqueza e de toda a cultura". a onte

~e, e em que medida, esses atributos supostamente homo e.-.:lI1 nelzantes podem ser preservados contra a diversificação b~

'?j tiva do trabalho social é ~ma questão que permanece semor~~posta. Mas essa preservaçao parece tanto mais duvidosa. . - quantomaIs as sltuaçoes de trabalho específicas são marca das por

1'- dumaamp a vanaça~ .n~ .ren a, nas qualificações, na estabilidade doemprego, na vlslblhdade e reconhecimento social no stress

'd d' " nasoportum a es de carreIra, nas possibilidades de comunicaçãona autonomia. Sintomas de heterogeneidade cresce!lt.e-Qolo e

d"d --~----' - C.aJ11em U;I a se o trabalho assalariado dependente enquanto talpode ~m a ter um significado preciso e compartilhado pela po-~ulaçao traba~hador~ seus interesses e atitudes sociais e polí.tIcos. Esses smtomas levantam a possibilidade de o trabaihoem certo senti:d0, ter-se tomado "abstrato", de tal forma qu;pode ser consIderado apenas uma categoria estatística descriti-va, e não uma categoria analítica para explicar as estruturassociais, os conflitos e a ação. De qualquer maneira, é claro queos processos multidimensionais de diferenciação, que têm sidodemonstrados de forma convincente em numerosos estudos so-bre a segmentação do mercado de trabalho, a polarização dasqualificações dos trabalhadores, assim como a transformaçãoeconômica, organizacional e técnica das condições de trabalho,tomam menos significativo o fato de ser um "empregado" enão mais um ponto de partida para associações e identidadescoletivas de fundo cultural, organizacional e político.

Naturalmente, nas primeiras fases do desenvolvimento do ca-pitalismo industrial, a formação de uma identidade coletiva ba-seada no trabalho como fonte de toda a riqueza social foi tudo,

8. A esse respeito, ver R. G. Heinze et aUi, "Sind die Gewerkschajtenfür 'alIe' da?" in O. Jacobi, E. Schmidt e W. Mõller-Jentsch (eds.),Moderne Zeiten - alte Rezepte, Kritisches Gewerkschajtsjahrbueh1980/81 (Berlim, 1980), p. 62·77, e o capítulo "Diversidade de Interessese Unidade Sindical", neste volume.

os óbvia, t possível que a contribuição involuntária domen , d d' -' d f'tal à solidane a e, ou seja, a concentraçao macIça a orçacapl , d d d' d f 'd trabalho homogenelza a e estan ar Iza a na orma orgam·e , nal da produção industrial em grande escala (como anali-zaclO

sada por Marx) tenl:a, ajudado a unir os trabalhado~e:. tantob'etiva quanto subJetIvamente. Entretanto, as condlçoes do

~~rcado de trabalho e, conseqüentemente, a mobilidade verti-I e horizontal do trabalho sempre colocaram os trabalhadores

ca " . AI' ,em confronto, ao nível dos interesses, com o tnangu o magl-co" - os objetivos sempre parcialmente incompatíveis de salá-rios crescentes, estabilidade no emprego e melhoria das condi-ções de trabalho - e com o dilema, situado ao nível dos meios,entre a perseguição individual ou coletiva dos interesses, entrea "luta dentro do sistema de salários" e a "luta contra o sist -ma de salários", A diferenciação interna contínua da coletivi-dade dos trabalhadores assalariados, assim como a erosão dosalicerces culturais e políticos de uma identidade coletiva cen-trada no trabalho, ampliaram esses dilemas das formas de tra-balho assalariado contemporâneas a ponto de o fato social otrabalho assalariado ou .da dependência com relação ao salárionão serem mais· o fôco de intenção coletiva e de divisão sociale política. No que diz respeito aos conteúdos objetivo e subje-tivo da experiência, muitas atividades assalariadas nada maistêm em comum a não ser o nome "trabalho".

Alguém pode tentar criticar esta conclusão como prematurae subjetiva, e contrapor que é a mesmíssima lógica da valori-zação do capital que domina as formas de trabalho e fomentaa variação crescente das mesmas, O poder de persuasão dessaobjeção me parece limitado, pois as inúmeras rupturas no tra-balho assalariado pretensamente unificado e com uma "formadeterminada" (assim como o impacto de tais rupturas sobre os 'indivíduos, organizações e ações políticas) são tão evidentesqUe não podem ser teoricamente vulgarizadas. Durante a dé-cada de 70, quatro dessas rupturas foram centro de atenção daSOciologia da indústria, do trabalho, da estratificação e da teoriade classes. Em primeiro lugar, foi feita a distinção entre merca-;!os de trabéilho primário e secundário, e internos e externos.Segundo, ficou claro que cada' vez mais a produção de bens eserviços ocorre' fora da estrutura institucional do trabalho ass'::i

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lariado formal e contratual, ou seja, em áreas onda - - " e Os trab-2!es nao sao empregados", mas membros d f a·

, 'I' b e atnl IomlCI IOS, mem ros de instituições compulsórias eto 'd' d Como eXér's e preSI IOS, ou e uma economia subterrânea se 'I CI·cnmina lza a, Terceiro, particularmente os so "1 mI egal ou

CIOogos ma .tas concentraram-se na divisão vertical da hiera' rxlS·tl ,.'di' rqyla dos tra 11a ores assa anados e no crescimento das 12.0siÇ:- d a-, Intermediárias" ou "heterogêneas" (E O W' hto)es e classe

. . ng nas .a epen encia com relação ao salário coincide com 'I ualS"-, alguma na.

tlclpaçao na autondade formal. Finalmente os so "1 --b lh ' , CIOogos dotra a o enfatIzaram as diferenças entre as formas d t b

"produtivo" e os "serviços". e ra alho

Este último. po~to, ao qual me dedicarei aqui, tornou-se abase das exphcaçoes macrossociológicas da "socI'edad d' "d '" e e ser.VIÇOS pos-m ustnal emergente (Bell) , Embora seJ'a • I

. I' 'd posslvemc u~r . a" m~lOr parte o trabalho desempenhado no setor "se-cundano ~IStOe, que produz mercadorias industrializadas) sobum deno~m~dor comum abstrato - o da produtividade técni.c~ orgamzaclOnal e da lucratividade econômica _ esses crité-riOS perdem sua clareza (relativa) quando o trabalho se toma"ref!exivo", como acontece com a maior parte do trabalho emse:~lÇos no s~tor "terciário", Nas sociedades capitalistas indus-tn~Is, o creSCImento contínuo e estável da produção do trabalhoSOCIal empregado na produção de serviços indica que os pro-~Iemas de escassez e de eficiência, que determinam a raciona-h.dade da produção de mercadorias industrializadas, são acres-CIdos dos problemas de ordem e de normalização, que nãop,od~m ser tr~tados adequadamente por meio da supremaciatec~Ica e economica sobre a escassez, mas requerem uma racio-nahda?e separada do trabalho em serviços. Uma característica~ssenclal ~do trabalhador em serviços "re lexlvo e que e eprocessa e mantém o próprio traballio;9 no setor de serVIçoS, a

d - é fundamentada conceitual e organizacionalmente,orO uçao . , 'd d

,Jo-:- as empresas privadas como nas públicas, as ahVI a esTanto n '"

, orno ensino, tratamentos de saude, planejamento, orgam-taiS c ,. _ .·0 negociação, controle, admmlstraçao e assessona - ou

za,ça , s atividades de prevenção, de absorção e pl'ocessamen-seja, a , l'd d - d teto dos riscos e desvIOS da norma I a e - sao esmaga oramen

d dentes do salário, exatamente da mesma forma que naepen , 'dd ção industrial de mercadorias. Entretanto, essas ahVI a-

pro u , " , p' , d'des de serviços dIferenCiam-se em dOIS aspectos, nmelro: eVI-do à heterogeneidade dos "casos" processados nos serVIços e

ltos níveis de incerteza a respeito de onde e quando elesaos ai' ,em uma função de produção técnica que re aCIOne msu-

ocorr , d 'I' dmos e produtos freqüentemente não pode ser fixa a e utI Iza acomo um crit' io de controle de desempenho adequado dotrabalho, Segundo o trabalho em serviços diferencia-se do tra-balho produtivo pela falta de um "critério d~ eficiên~ia econô-mica" claro e indiscutível, do qual se podena dedUZir estrate-gicamente o tipo e a qualidade, o lugar e o tempo do trabalho"conveniente". Não há um critério como este porque o produtode vários serviços públicos, assim como daqueles desempenha-dos pelos "empregados" em firmas do setor privado, não é o"lucro" monetário mas os "usos" concretos; freqüentem ente,eles ajudam a evitar perdas, cujo volume quantitativo não po-de ser facilmente determinado exatamente porque elas sãoevitadas.

No que diz respeito à racionalidade técnica do trabalho emserviços, sua não-estandardização deve ser, em grande parte,admitida e substituída por qualidades como capacidade de inte-ração, consciência da responsabilidade, empatia e experiênciaprática adquirida, Em lugar dos critérios de racionalidade estra-tégico-econômicos incertos, encontramos estimativas baseadas noCostume, no discernimento político ou no consenso profissional.

9. Cf. T. Berger e C. Offe, "Die Entwicklungsdynamik des DienstIeis-tun~ssek~o.rs", Leviathan, 8, 1 (1980), 41-75; U, Berger e C. Offe, "DasRatlOn,allSIerung~?iIemma der AngestelItenarbeit", in T. Kocka (ed,), Anges-;ellte 1m l!uropalschen Vergleich (Gottingen, 1981), p. 39-58; e C, 9ff~O ~res~lmento do Setor de Serviços", neste volume. A importanCI

QuantItatIva da divisão dos ..trabalhadores em geral" em formas de Ira-

balho produtivo e de produção de serviços só se torna clara se não sede .. .. 'sagrega (como geralmente se faz) de acordo com os setores, e simde. acordo Com as ocupações. O minicenso realizado em 1980 na Repú-bhca Federal da Alemanha indicou que aproximadamente 27% dos tra-ba.lhadores assalariados estão envolvidos em atividades relacionadasPrtncipalmente com a fabricação e a produção de produtos materiais.enq d 'uanto uma esmagadora porcentagem de 73% pI'O uz serviços.

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Os critérios de racionalidade desenvolvidos para a utilização econtrole da força de trabalho na produção capitalista de mcadorias só podem ser transferidos para a "produção" de ord er·e normalidade realizada pelos serviços dentro de estreitos I'e~

ImI-tes e, nesse caso, somente através d ma redução característid . l'd d "f I" . cano grau e raCIOna1 a e orma. ReCIprocamente isso SI' •. , gm·

ftca que enquanto a esfera do trabalho em serviço (públicosprivados) não for de· alguma forma "liberada" do regime deracionalidade econômica formal baseada no salário, ela se tom:um "corpo estranho" separado, mas funcionalmente necessáriolimitado e~tern~mente (m~s ?ão estrutur~do internamente) po;aquela racIOnabdade economIca. E esta diferenciação dentro doco~cei~o de trabalho que me parece constituir o ponto de apoioma~s Importante do argumento segundo o qual não se podemais falar de um tipo de racionalidade basicamente unificadoque organize e governe toda a esfera de trabal~Portanto, o crescimento do trabalho mediador, regulador,

ordenador e normalizante desempenhado no setor de serviçoscertamente não pode ser interpretado através do modelo deuma "totalização" da racionalidade do trabalho baseada naprodução técnica organizacional economicamente eficiente demercadorias pelos trabalhadores assalariados. Em vez disso, p0-de ser interpretado através do modelo de "retorno dos repri-midos", no sentido de um aumento dos "problemas de segundaordem" e dos "custos de complexidade" que se acumularamdevido à mobilização dos trabalhadores assalariados; sob esteponto de vista, esses problemas e custos requerem agora umdomínio através de trabalhadores ocupados em serviços de váriOltipos (por exemplo, educação, terapia, policiamento, comunica-ções) para ,que a "ordem" seja prese ada em uma sociedadebaseada no consumismo racional·formal. \A racionalidade "sutantiva'" baseada nas normas, que ora reprimida com êxito notrabalho produtivo e na transformação da força de trab~em uma "mercadoria" vendável, volta à tona, por assim diZefAcusando a repressão da racionalidade "substantiva" na erido trabalho assalariado, ela toma a forma de números ~reseende trabalhadores e profissionais qualificados em servIÇOS,tarefa principal é garantir institucionalmente a existênciaatravés de um tipo especial de trabalho.

A ambivalência e a independência desse tipo de trabalho so-cial resulta do fato de ele ser um "corpo estranho indispensá-vel", Ele assegura e padroniza as precondiçães e os limites deum tipo de trabalho ao qual ele próprio não pertence. Aomesmo tempo que funciona como um "sentinela e regulador"(Marx) do trabalho e do processo de valorização, ele é parcial-mente isento da disciplina imediata de uma racionalidade so-cial consumista e de suas respectivas limitações de realizaçãoe de produtividade. Como um agente da sintetização conscientedos sistemas e processos sociais, o trabalhador da "nova classe"de serviços desafia e questiona a sociedade do trabalho e seuscritérios de racionalidade (realização, produtividade, cresci-mento) em nome d0f.:-:CTitériosde valor substantivos, qualitati-vos e "humanos".lO (Nas sociedades "pós-industriais" a subdi-visão de "trabalhadores como um todo" em "produtores" e"produtores de produção", portanto, não prejudica simples-mente a unidade estrutural do trabalho social e sua racionali-dade dominante. Ela desafia também os critérios de racionali-dade que guiam (e possivelmente limitam) a troca com a natu-reza mediada socialmente. Essa linha de conflito é evidentehoje em dia, em várias tensões culturais e políticas entre o~trabalhadores do setor público (e parte do pessoal de serviçosdo setor privado) e os protagonistas do modelo da sociedade dotrabalho pertencentes à velha classe média e à classe operáriaindustrial.ll

A partir de um ponto de vista sociológico, parece-me alta-ment' ..• e Inconsistente apenas denunciar a "nova classe" e seunovo hedonismo" como um corpo estranho sem ao mesmotempo refletir acerca de sua indispensabilidade funcional. Atual-mente ess t't d IA' b .I " a a I u e po emIca o scurece e eqUIpara questõesre attvas' A

C I a genese e ao crescimento da influência estrutural eu tural das " I ' , " .e novas c asses medIas que trabalham em serViçosm uma ' d dsocle a e do trabalho consumista, que gera lacunas

10. Cf. B B .Schelsky ·D·ruce-B~lggS (ed.), The New Class (Nova York, 1979); e H.11. Cf D I~ Arbelt tun die aflderen (Opladen, 1975).YOtk. '197:~lel Bell, The Cultural Contradictions of Capitalism (Nova

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funcionais e sofre déficits de ordem, segurança e normalidadeSe a vigilância, a regulamentação, a segurança e a programaçã~dos processos sociais propiciadas pela nOva classe média sãouma necessidade gerada por essas lacunas funcionais, e se essesserviços (que certamente não são limitados ao setor estatal)somente podem tornar-se completamente funcionais quando sãorelativamente autônomos e mobilizados contra as imposições eas restrições do trabalho assalariado, então é absurdo denunciarem nome da racionalidade e do ethos de uma "sociedade d~trabalho intacta", aqueles grupos funcionais que só podemprestar serviços a essa sociedade do trabalho assumindo umponto de vista "reflexivo", estrutural e culturalmente em tensãocom ela. {Visto desta forma, estamos agora diante de uma ambi.güidade sociologicamente explicável no conceito de trabalho.Essa ambigüidade é de grande importância para o patamar con.ceitual básico da sociologia e para a consideração dos critériosde racionalidade ambíguos e contraditórios cristalizados na re.lação entre "produção eficiente" e "manutenção efetiva daorde~

TRABALHO: A CATEGORIA SOCIOLÓGICA CHAVE?

[ "o trabalho teve o poder de irradiação de vida pora qua . I" 12n. d os outros aspectos de sua estrutura SOCla .unIr to os . .S .ologicamente falando, existem dois mecanismos pnncI-. OCI poderiam garantir que o trabalho desempenha um pa-

pa:sc;:t:al na organização da existência individual.: (1) ao mvelpe . _ oeial o trabalho pode ser normatlvamente san-da mtegraçao s , _ d . t'onado como um dever ou (2) ao nível da integraçao o. SIS.e-

Cl de ser estabelecido como uma necessidade. No pnmeIroma, po d'd h esta e mo-o o trabalho é o ponto central e uma VI a on . A •

~:~m'enteboa; no segundo, é a mera condição de sobre:lvenclaf'· 13 A freqüentemente sustentada perda de centralIdade eISlca. . _ .deradade relevância subjetiva do trabalho - a proposlçao COOSI. d

. conseqüentemente deveria ser demonstrada e explIca aaquI - . erantepor meio de fatores e acontecimentos que tornam moptm desses mecanismos ou ambos.

Para começar, o poder convincente da idéia do ,trabalh~ co-mo um dever ético do homem provavelmente ~st~ se t.e~mte-grando, não só devido à desagregação das, tradlçoes r~ IglOsasou culturais secularizadas. Tampouco esta enfraquecIdo. so-mente devido ao crescimento de um hedonismo cons~mlsta,cuja propagação arruína a infra-estrutura moral das socIedades

Uma segunda série de dúvidas a respeito da centralidade dotrabalho está relacionada à avaliação subjetiva do trabalho en-tre a população trabalhadora. Qual o si nificado do oassalariado para o modo de viêlã e para a consciência-dos tra=balhadores assalariados dependentes em geral? Que orientaçõese estímulos desenvolvem em relação às esferas do trabalho eda atividade econômica? Nesse sentido, o que é paradoxal éque, ao mesmo tempo que uma parcela sempre crescente dapopulação participa do trabalho assalariado dependente, há umdecIínio no grau em que o trabalho assalariado, digamos, "par-ticipa" na vida dos indivíduos envolvendo-os e ajustando-os dediferentes maneiras. Essa descentralização do trabalho em rela-ção a outras esferas da vida, seu confinamento às margens dabiografia são confirmados por muitos diagnósticos contempO-râneos. Dahrendorf, por exemplo, descreve o fim de uma era

12. R. Dahrendorf, "1m Entschwinden der Arbeitsg~~ellschaft": p. 75~.13. Visto que esses dois casos (e suas variantes empmcas) s6 dizem r: .peito à "ligação" motivacional dos trabalhadores a seu tr~balho, nao

. . .. t b lh "puro" (ou seja em suasalientam a possibilidade de que o ra a o . 'forma moderna de uma esfera de ação social especial, extremament~

'. .. d . e' do com elementos extral-dIferenciada) possa ser relahvlza o e ennqu CI r .dos da esfera'da família e do consumo, de um lado, e das esferas po Ihcas-Públicas do outro. Esta possibilidade de "desdiferenc.iar"_ tra~a~~~baeoutras esferas da vida (através de programas de humamzaçao ? d -lho ou da expansão da ajuda mútua e das atividades pessoais .•en~rodo lar) domina a maior parte da discussão contemporânea das cle~bcla.s

I, . . d "f t do trabalho" Ver as contn UI-po Ihcas e sociais a respeito o u uro .. bÇões in F. Benseler et alii (eds.), Die Zunkunft der ~rbelt1~~~m[;::~,1982)' A Gorz Farewell to the Working Class (Lon res, . .

,. , . l' R' de Janeirobras.: Adeus ao Proletariado: Para além do Socla Ismo, 10 f d 'F K T be Die Zunkun t esorense-Universitária, 1982]; J. Strasser e . rau , b lho"Fortschritts(Bonn, 1981); e C. Offe, "O Futuro do Mercado de Tra a ,neste volume.

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capitalistas industriais.14 A força obrigatória-..da éf do trab .lho pode ter sido enfraqueclda também pelo fato de ela gera~.mente so po erfuncionar em condições que (pelo menos emcerta mecIida) permitem aos trabalhaâores participarem de setrabalho como pessoas reconhecidas que atuam moralmente. H~muitas dúvidas se, e em que áreas do trabalho social, esta pre.condição está sendo satisfeita hoje em dia.15 À medida que sãomodelados pelo padrão de "taylorização", os processos de racio-nalização técnica e organizacional parecem, ao contrário, resul.tar na eliminação do "fator humano" e de suas faculdades mo-rais da produção industrial.16 Do ponto de vista da estratégiada empresa, é totalmente racional tornar o processo de produ.ção o mais independente possível desse "fator humano", espe-cialmente porque ele pode sempre produzir incerteza e distúr.bio. Entretanto, à medida que as precondições estruturais e oespaço autônomo para as orientações "morais" em relação aotrabalho são eliminadas pela racionalização, essas orientaçõesnão podem ser esperadas nem demandadas .. Junto com a degrajdação do trabalho e a extinção das especializações profissionaisfreqüentemente observadas, 17 a dimensão subjetiva do trabalho

_ o conjunto de obrigações e direitos associados à "dignidadedo produtor" e ao seu reconhecimento social - também éenfraquecida. Max Weber considerou a vocação para o trabalhocomo uma precondição do trabalho assalariado e do "espíritodo capitalismo". Atualmente, o prognóstico de que "a condutaracional de vida baseada na idéia da vocação" definirá nossasvidas "até que a última tonelada de carvão de pedra seja quei-mada"18 provavelmente será contestado.Uma razão a mais para a depreciação moral e a diminuição

da importância subjetiva da esfera do trabalho é a desintegra-ção das esferas sociais da vida que são organizadas de acordocom categorias de trabalho e de emprego e complementadaspela tradição de família, pela filiação a organizações, pelo con-sumo do lazer e pelas instituições educacionais. Hoje em dia,como assinala Michael Schumann, "a localização (sociocultu-ral) do contexto de vida do proletário está radicalmente emdeclínio".19 A tentativa de interpretar o contexto de vida comoum todo em termos da centralidade da esfera do trabalho tam-bém é cada vez mais implausível, devido à estrutura do tempode trabalho e sua situação na história da vida das pessoas. Umacontinuidade biográfica entre o que alguém está preparado parafazer .e o que está realmente fazendo profissionalmente, da mes-ma forma que uma continuidade ocupacional durante toda avida produtiva de alguém, hoje já é algo excepcional. Além disso,a proporção do tempo de trabalho na vida de uma pessoa di-minuiu consideravelmente; as horas livres também aumentaram

14. Esse hedonismo é bastante evidente na indústria de turismo e delazer, cujos prospectos funcionam ocasionalmente como um manifestocontra o trabalho. Considere, por exemplo, o seguinte anúncio publicadono Neue Westfalische Zeitung em 17 de março de 1982: "Leve seu lazera sério. Ele é a parte mais importante de sua vida!".15. Cf. H. Braverman, Labour and Monopoly Capital: The Degradationof Work in the 20th Century (Nova York, 1974) [Trad. bras.: Trabalhoe Capital Monopolista: A Degradação do Trabalho no Século XX, Riode Janeiro, Zahar, 1977]. Numerosos estudos de sociologia industrial con-firmam a tendência à "expropriação de qualificações, experiência e conhe-cimento" (E. Hildebrandt, "Arbeit im Wande1: Subjektive EinsteIlungenund geseIlschaftliche Wertung", Stimme der Arbeit, 22, 3 (1980),p. 75 ss.): "A iniciativa própria, o pensamento criativo, a capacidade d~tomar decisões e a responsabilidade social como atributos humanos prI-mários não só se tornam supérfluos, mas são extintos como causadoresde disfunções. Pouco a pouco, o processo de produção obriga os traba-lhadores assalariados dependentes a abandonarem sua competência ocu~a-cional e social, a organização de seu próprio trabalho e suas própriasidéias a respeito do trabalho concreto·.16. K. Kumar, "The Social Culture of Work", p. 15. k17. Cf. R. Crusius e M. Wilke, Einheitsgewerkschaft und Berufspoliti(Frankfurt, 1982), principalmente p. 174-230.

18. M. Weber, The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism (NovaYork, 1958) [Trad. bras.: A Etica Protestante e o Espírito do Capitalismo,4.' ed., Pioneira, 1985], p. 181. Hoje em. dia, os conhecidos sentimentos~ observações acerca do "afastamento interior" contrastam com a "idéiade uma vocação": "Muitas pessoas, inclusive aquelas que trabalhamduramente, têm separado sua conduta de vida e sua auto-imagemde ~~a experiência de trabalho ... sem desenvolverem uma nova formae 1 entidade além do trabalho" (F. R. Volz, Die Arbeitsgesellschaft,p. 46 55.).

~~~t~'h Schumann, "Entwicklungen. des Arbeiterbewusstseins", Gewerks-do S~Fe Monatshefte, 3D (1979), p. 157. Em um relatório de pesquisafór I I, um dos trabalhadores entrevistados reduziu esta questão a umapar~u a concisa: "Atualmente,· ninguém mais é propriamente criado

ser um trabalhador".

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e provavelmente vão aumentar mais aind 'as experiências paralelas as orI'e t _ a, o que sIgnifica qUel' d ' n açoes e outras n 'a em aquelas baseadas no trabalh C ecessIdades

te?t~s,~A descontinuidade na bio~r:~i:o ;~ :~:~a~do proemi.~hmo da parte do tempo de trabaího na vida dea o e o de.~odem reforçar a concepção do trabalho co uma pessoaentre outros" e re ativizar sua f _ mo um Interes

t d-' , unçao como uma d?Aqu~~ Ident!pa e pessoal e sociãJ.2' À medid .ee ra de

nenCIa (ou a previsão) de desem 22 a que a expe_luntário da vida de trabalh prego23 ou o afastamento invo-- o crescem o efeito d' f

çao moral e da auto-estigmatiza -' d a es Igmatiza.provavelmente desaparece porqu:ao I~era da pelo desemprego(principalmente se o desemprego " a em e um certo limite'- e concentrado em tglOes ou em certos ramos d t' 'd d _ cer as re-. I e a IVI a e) nao se pod .

SIvemente considerá-Io responsável I f e maIS plau-viduaI. À luz dos dados e prognósti:;s o ra~as~o ou culpa indi·não parece de todo irrealista es rar economI~~s do Fr~sente,absorção potencial do mercado dr: trab~l~ dechnlO drastIc~ naprovavelmente essas condições redu ,_ ~;o fu~uro próxImo;médios de trabalho como Ztrao aIn a maIS os períodostarão o crescimento de uma proporção da vida, ou fomen-nalizado" da esfera do um amplo setor da população "margi-

emprego remunerado,24Consideradas juntas, essas' A. _ .

ser improvável que o trabalh~IrcunstancIas ?ao a Impressão decontinuem a desem h ' o empreendImento e a compraque integra d" pen ~r um papel central como uma norma

e trlge a eXIstência I Tpessoa. ampouco parece pro-

20. CL R. Dahrendorf "I E h'"O tempo liberado p'el m b nt~c ~mden der Arbeitsgesellschaft", p. 753:uma estrutura deficient" a ~evlaçao do trabalho é livre no sentido dedescobertas empíricas s eb· atur?lmente, essa tese é relativizada pelasficam o efeito restritivoodre tas atitudes em relação ao lazer, que identi·externos estabelecidos I o ra:~~ho sobr~ a esfera do lazer, Os limitestamento físico nervo pe o t:a

la o consistem, subjetivamente, no esgo-

, so e socla ou no d t' Ia força de trabalho e b' t' eses Imu o que ele produz sobreformas de lazer ins~itu~o~a:rz:~ente no fato de que a .maior parte dasem grande medida de d d' as (por exemplo, o tUflSmo) dependemde tlma "estruturação" r~~ r lsponível. Apesar disto, não se pode falarde uma "limitação" ou de uaze: .pelo. t.rabalho, e sim fundamentalmente21. D. Anthony ex li m .condlClOnamento" desse lazer.

p ca a santidade do trabalho na cultura ocidental.

• ideologia do trabalho", pelo mecanismo de redução da dissonância,aomo uma exaltação normativa da realidade (1nternational Social Science;ournal, 32, 3 (1980), p. 419 ss,): "Como o trabalho tem sido o destino dohomem desde tempos imemoriais, o homem tem revestido o trabalho comalgo da importância que ele acredita ser inerente à vida". Entretanto, osubstrato dessas normas culturais encontra-se em fase de dissolução:

•Os pontos de vista tradicionais requerem agora sérias modificaçõesEssas mudanças têm várias conseqüências. Elas ameaçam a continui-

d~de da 'ideologia do trabalho' porque tornam desnecessário e inútilpara a sociedade salientar a importância dominante do trabalho e aadesão fanática às suas disciplinas. Elas confirmam também que a unidadecoincidente do espaço da vida e do trabalho não existe mais; pareceprovável que a vida dos homens se torne, em diversos aspectos, inde-pendente do trabalho". Ver também D. Anthony, The Ideology of Work(Londres, 1977); C. Jenkins e B. Sherman, The Collapse of Work (Londres,1977).22. Todas as .indicações sugerem que o que Kumar conclui para a Grã-Bretanha é válido também para o continente europeu ocidental: "Estamosdiante de um futuro no qual o desemprego será uma experiência normal,não anômala, da população" (K. Kumar, "The Social Culture of Work",p.25).23. Na República Federal da Alemanha, por exemplo, um 'em cada doisoperários e um em cada três empregados de "colarinho-branco" sãoaposentados do emprego remunerado antes de completar a idade limite,e um em cada seis operários e um em cada dez empregados de "colarinho-branco" tornam-se cronicamente incapazes para o emprego remuneradoantes de atingir 50 anos. Essas transformações da estrutura temporal esocial da existência "pós-industrial" são freqüentemente reforçadas pordiferentes expectativas: "Quanto mais tempo as pessoas gastam fora daforça de trabalho remunerada, antes, depois e durante uma carreira detrabalho, mais elas descobrem que o trabalho não é mais um focosuficiente para organizar suas vidas" (F. Block e L. Hirschhorn, "NewProductive Forces and the Contradictions of Contemporary Capitalism:A Post-Industrial Perspective", Theory and Society, 7 (1979), p. 374).24. Essa questão certamente não deveria ser excessivamente simplificada,p.or~~e a descentralização moral do trabalho resulta em um déficit deslgmflcado como tal. Esse déficit, que acompanha a experiência do~esempr~go, pode ser interpretado como um fenômeno produzido pela.:So~gantzação do "mundo vivido". A reação veemente contra a expe-

nenCla (prevista) e a favor do trabalho "significativo", que facilita aauto-realização, deve ser encontrada particularmente entre os jovens.como mostra o exemplo dos Estados Unidos descrito por Berger. Essa~utora mostra que esta reação é fundamentalmente organizada em favor•os serviços organizados pelo Estado e, neste sentido, é irrealista ed7s:rtJturalmente inadequada". Berger aponta o problema de uma" contra-t l~ao entre aspirações ocupacionais e o mercado de ocupações existen-;h (B. Berger, "People Work, the Youth Culture and the Labour Market".

e Public Interest, 35 (1974), p. 61).

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~ável que uma norma de referência como essa POSsa ,tIcamente reativada ou reivindicada. Tentativas rece t sedr~ohor " n es e 'remora lzar o trabalho e tratá-lo como uma categorl' o

• h • h a central deXlstencla umana devem portanto ser consl'derad a. . " as Comosmto~a, mUlto mais do que uma cura, de crise. um

~Asslm, uma maior importância poderia ser atribuI'd

d '. a ao se-gun o mecamsmo caractenzado acima para condicionar a a 'otude das pessoas em relação ao trabalho _ regul ~It ' d' . amental'aoa raves o Incentivo positivo das recompensas obtida 1 r

balho / t' 1 . s pe O trao' , e ou es Imu o negativo da privação que deve ser evitadaatraves do trabalho. Esses mecanismos correspondem' 1-". 1" a re açaoInstrumenta com o trabalho neutralizada moralmente d '

G d h ' escntapor o torpe. Entretanto, como eu disse anterionnente go t 'd 'f' 1 ' sanae especI ~c~r.a guns dos obstáculos que também parecem blo-quear a eflcacla desse mecanismo;.../ .

Antes de tu~o, rec~ntes estudos de psicologia econômica indioca~ .qu;s o efeIto. estimulante do salário opera de maneira assi-n:etnca. O creSCImento da renda individual e da coletiva (prin-cIpalmente) não aumenta (ou aumenta muito pouco) o senti-me,nto ~,e ben:-~star ou de satisfação coletiva, e pode até dimionUl-Io~ A ~tIlt~ade _marginal do dinheiro é diferente para areduçao da msatIsfaçao e para a produção de satisfação."26 Emoutras palavras, o ef~ito estimulante de alterações na renda,pelo meno.s em um mvel de renda relativamente alto, só apa-,r~ce negativamente, como um efeito de punição. "As mercado-nas e a renda para comprá-Ias são relacionadas somente demaneira :nuito fraca com as coisas que fazem as pessoas felizes:autonomIa, auto-estima, felicidade da família lazer livre dete~s.ões, amizades",27 ao mesmo tempo que a '''satisfação comatIVIdades que não são de trabalho contribui mais do que qual-quer outro fator para a satisfação na vida".28 Portanto, espe-

25. Cf.. T. Scitovsky, The Joyless Economy (Nova York, 1976), e R. E,Lane, ~arkets and the Satisfaction of Human Wants" Journal o/E~onomlc !ssue~, .12 (1978), p. 799-827, e o conhecido arg~mento de F.Hlr~h: SOCIal Lu!'lIts to Growth (Londres, 1977) [Trad. bras.: LimitesSOCIaISdo Cresc~mento, Rio de Janeiro, Zahar, .1979].26. R .. C. Lane, Markets and the Satisfaction of Human Wants", p. S03,27. Ibldem, p. 815.28. Ibidem, p. 817.

1 ões sobre os efeitos estimulantes positivos da renda cres-cu aç . d 1 'b'l'd d Ite podem perder mUlto e sua p ausI lia e, pe o menoscen l'veis de salários e de saturação com os bens de consumoaOSnalcançados na Europa Ocidental.

Se as mudanças positivas e negativas da renda têm apenasf 'tos de incentivo limitados sobre a quantidade e a qualidade

e el . I" ddos esforços de trabalho, conseqüentemente ISSOse ap lca am ais se compararmos a renda com a "desutilidade" experimen-

ma h N '1"t da subjetivamente com relação ao trabal o. a SOClOogla m-;utrial, uma série de pesquisas sugere a noção de uma lacunacrescente entre os aumentos da "desutilidade" do trabalhoobsel\ ados, de um lado, e o declínio observado na satisfaçãointrín1eca e na renda derivada do trabalho, do outro. Durantea década de 70, a força de trabalho de modo geral sensibilizou-se para (e se tornou crítica com respeito a) o. stres~ físico epsicológico causado pelo trabalho e seus respectlvos nscos paraa saúde e para a perda de qualificação. Isso resultou em umaumento da atividade sindical acerca das condições de trabalho,e ocasionalmente estimulou, inclusive (fora dos sindicatos),questões sobre se a luta para melhorar as condições de traba-lho deveria ser abandonada como irrealizável, e substituída poruma luta contra o trabalho em sua forma industrial. Acima detudo, essa sensibilização conseguiu "reconhecimento diplomáti-co" na forma de programas estatais pela "humanização" do tra-balho. Tudo isso é reforçado por uma sensibilização crescenteem relação aos custos sociais e ecológicos da produção, incluin-do aqueles não necessariamente concentrados no local de tra-balho e em empresas específicas. Se esse desenvolvimento podeser explicado mais pela violação crescente de demandas cons-tantes relativas à qualidade do trabalho ou pelo aumento dessas~emandas (ou seja, em relação à "defesa de necessidades" ouas "demandas crescentes") é uma questão aberta. Não obstante,o qUeé claro é que essas demandas permanecem, na maior partedas vezes, não-satisfeitas. Se a sensibilização crescente entreamplos setores da força de trabalho em relação à utilidade ne-gativa do trabalho assalariado coincidisse com um declínio novalor de uso, (sentido) de seus produtos, poderíamos então pro-vavelmente esperar uma perda crescente da relevância subjetivado trabalho assalariado ou uma aceitação decrescente de suas

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do bem-estar de "reindividualizar" as relações de troca dmercados de trabalho e de capital, através da redução d OS

b'l'd d' as res-ponsa lIa es generah21t: do Estado pelo bem-estar '~ ' , SOCialeeconomlco da SOCiedade.Um tratamento radical como ess

, d lt ". d' 'd 1" e atra·ves a vo a ao m IVI ua Ismo" e a "regulamentação peld " '1 l' o meroca o pOSSlvemente co ocarIa seriamente em risco a reI t'

h . , 1 d ' alVaarmoma SOCla a SOCIedade do trabalho que historI'caf' 1 ' , mente01 a cançada apenas atraves de um sistema de distribu' -

'd~' l' Içao epreVI encla co etlvas garantido pelo Estado. Nesse sistema odhaver pouca confiança no individualismo e no efeito dis~ l,e

1 ., d Clp l-nante e egltlma or direto da dificuldade econômica comod 'd' um, os meI~s e mtegra~ão da sociedade. A propósito, esse pontoe espeCIalmente confIrmado pelas recentes análises marxista

f ' ~que en atlzam que o mecanismo do exército de reserva de ummodo geral perdeu sua eficácia devido, entre outros fatores, aocaráter crescentemente "heterogêneo" do trabalho social (dis.cutido anteriormente Y/

Um fortalecimento do consumismo universal ou uma dimi.nuição das reivindicações salariais e das expectativas em rela.ção à qualidade do trabalho dificilmente devem ser tambémesperados como resultado da experiênci~ de longo prazo dodesemprego e do subemprego em massa, De novo, isso acon.tecerá fundamentalmente quando o desemprego estiver concen.trado em certos bairros, cidades, regiões, setores econômicos,g,rupos ét?ic?s, ou etários, Em vez de estimular o desejo aquisi-tIVOdos, mdlvlduos, essas situações evidentemente levam aque·les afetados adversamente a um afastamento fatalista ou ainterpretações coletivas próprias, que responsabilizam as poU-ticas econômica, do mercado de trabalho e social do Estadopor esses grupos marginalizados e desprivilegiados, A impor-tância claramente crescente das barreiras "atribuídas", quebloqueiam a entrada no mercado de trabalho em geral ou emsuas partes preferidas, por definição torna impossível venceressas barreiras através da adaptação individual. Mesmo quando

essa adaptação não é logicamente excluída, a vontade de adap-e é empiricamente distribuída de forma paradoxal: esfor-

tar-S 'l'd d ' 1 - f 't d'de retreinamento e de mobll a e reglOna sao elos es-~ d 'proporcionalmente por aqueles grupos de emprega os cUJa po-. ·0 nO mercado de trabalho é a que menos os compele a~~ . -

Ocurar a reciclagem e a realocação; ao mesmo tempo, sao

pr , . d 'dA'tamente aqueles menos movelS em termos e reSI enCla e~:aqualificação os mais ameaçados pela possibilidade de desem·prego. _ .

Esses aspectos paradoxais do mercado de trabalho sao eVI-dentes na Grã-Bretanha, na Itália e na América do Norte, estimulam o prognóstico de que em qualquer lugar que o desem-

prego estrutural for concentrado, poderão se desenvolver sub-culturas baseadas em uma empobrecida "economia informal"ou "economia paralela"; os membros dessas subculturas pro-vavelmente devem ser pelo menos passivamente hostis aos va-lores e regras legais da "sociedade do trabalho", e poderiamacilmente formar-se em uma "cultura do desemprego" subpro-

letária, uma "não-classe de não-trabalhadores" (Gorz). Na Re-pública Federal da Alemanha há também indicações de uma"sociedade dividida" emergente, marcada por um núcleo pro-dutivo e um grupo em expansão de pobres sustentados peloEstado.33 Gerhard Brandt, por exemplo, distingue entre umapolarização "simples" da população assalariada, uma polariza-ção que poderia ser descrita por meio de categorias sociológi-cas tradicionais como qualificação e autonomia, e uma polari-zação "ampliada" localizada entre as regiões centrais da socie-dade do trabalho e os "não-qualificados e permanentemente

'I d "34desempregados ou as pessoas Irregu armente emprega as ,

33. Cf. J. Esser et aUi, "Krisenregulierung, Mechanismen und Vorausset-lungen", Leviathan, 7 (1979), p. 79-96.34. G. Brandt "Die Zukunft der Arbeit in der 'nachindustriellen' Gc-sellschaft", m'anuscrito não publicado (Frankfurt, 1980), p. 19. Maisexata é a observação de C. Deutschmann: "Não os conflitos de trabalhoge~ados pela 'subsunção real', mas muito mais uma falta geral de trabalho,a Impossibilidade de basear a previdência social no trabalho, parece estar-se desenvolvendo como o problema social dominante do fu~uro" (" D~sTheorem der reellen Subsumption der Arbeit unter das Kapltal und dlegegenwiirtigen Tendenzen der Automation", manuscrito não publicado).(Frankfurt, 1981)

32. ~f. a importante contribuição de S. Bowles e H. Gintis, "The Cris~of Liberal Democratic Capitalism: The Case of the United States,Politics and Society, 11 (1982), p. 51-93; assim como J. Berger, "Wan~'lungen von Krisenmechanismen im wohIfahrtsstaatlichen KapitalismuS ,Das Argument, 46 (1981), p. 81-94.

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, ~m termos gerais, essas descobertas e reflexões científico..clals brevemente resumidas relativas à relevância subo . so.

t '1 d '- JetlVaeao po enCla e orgamzaçao da defesa do balho apont'" d . amparauma cnse a sociedade do trabalho", ma sociedad .

1· 'd . e capltaIsta m ustnal altamente avançada, dirigida por um Estado d -bem-:star altamente desenvolvido, tende evidentemente a exclu~porçoes crescentes da força de trabalho social da parti" _

f d ' Clpaçaona es era o trabalho assalanado. E essa sociedade não td' '- em àsua Isposlçao os recursos culturais ou as sanções econA .

, 'b'l' . Omtcasnecessanas para esta I lzar a centralidade subjetiva da o '- b rtenta·çao para o tra alho, empreendimento e salários através deI, d nor-mas cu turals ou a compulsão silenciosa dos processos d

mercado, O trabal~o não só f~i deslocado objetivamente de se~st~tus de uma real~~Aad~de vida central e evidente por si pró-~rIa,; como conseq~~ncla desse desenvolvimento objetivo, masmtelramente contrano aos valores oficiais e aos padrões delegitimação dessa sociedade, o trabalho está perdendo tambémseu papel subjetivo de força estimulante central na atividadedos trabalhador~

ez e de produção, há então nitidamente necessidade de um]escass "d'. ma conceitual que ajude a planejar detalha amente as areasslste . M' , , •

da realidade social nao mtetramente determmadas pelas esferasd trabalho e da produção,oUma proposta teórica elaborada, fundamentada na história

da teoria sociológica, e que poderi~ satisfazer ess~ n~cessidadentra-se desenvolvida na Theone des kemmumkatzven Ban-enco IA .

d lns de Habermas.35 Em um importante e sempre po emlco~andono dos paradigmas teóricos clássicos, Habermas retrata

a estrutura e a dinâmica das sociedades modernas não comoam antagonismo enraizado na esfera da produção, mas como um~hoque entre os "subsistemas da ação racional intencional",mediado, de um lado, pelo dinheiro e pelo poder e, poroutro, por um "mundo vivido", que "obstinadamente" resistea esses sistemas. Por mais de duas décadas, Habermas elaborouuma crítica da "predominância epistemológica do trabalho" nomarxismo;36 apesar de todas as contrové~sias e ambigüidadesque a acompanham, essa crítica corresponde a uma corrente"antiprodutivista" dentro da tradição marxista da teoria e pes-quisa sociológica. As suposições de que a fábrica não é o centrode relações de dominação nem o lugar dos mais importantesconflitos sociais de que os parâmetros "meta-sociais" (porexemplo, o econômico) do desenvolvimento social foram substi-tuídos por uma "autoprogramação da sociedade" e de que, pelomenos para as sociedades ocidentais, tornou-se altamente ilu-sório equiparar o desenvolvimento das forças produtivas àemancipação humana - todas essas hipóteses e convicções,encontradas principalmente entre teóricos franceses como Fou-cault, Touraine e Gorz, penetraram tão profundamente emnosso pensamento que a "ortodoxii:l" marxista não tem maismuita respeitabilidade científico-social. Talvez as referênciascrescentes aos "modos de vida" (em vez de referir-se aos maisortodoxos "modos de produção") e à "vida quotidiana" na so-

Se é verdade que as formas contemporâneas de atividade s0-cial normalmente designadas como "trabalho" não têm umaracionalidade comum nem características empíricas comparti-lhadas, e se nesse sentido o trabalho não é apenas objetiva-mente amorfo, mas também está se tornando subjetivamenteperiférico, surge então uma questão: quais os conceitos socio-lógicos de estrutura e de conflito apropriados para descreveruma sociedade que, no sentido aqui abordado, deixou de seruma "sociedade de trabalho"? Se a consciência social não devmais ser reconstruída como consciência de classe, se a culturacognitiva não está mais relacionada fundamentalmente ao desen-volvimento das forças produtivas, se o sistema político deixOUde se preocupar basicamente em garantir as relações de pro-dução e em administrar os conflitos de distribuição e, fiot-mente, se os problemas centrais colocados por essa soc~eda/não podem mais ser respondidos em termos das categorias e

~'. J. Habermas, Theorie des kommunikativen Handelns (Frankfurt amT am, 1981) [Trad. esp.: Teoria de la Acción Comunicativa, Madri,kaurus, 1987], 2 V.; ver também a crítica de J. Berger, "Theorie des3~rnrnuni.kativenHandelns", Telos, 57 (1983), p. 194-205.( d A. Giddens, "Labour and Interaction', in J. B. Thompson e D. Helde s.), Habermas: Critical Debates (Londres, 1982), p. 152,

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