classificaÇÃo trinÁria das sentenÇas

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS DISCIPLINA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL II PROFA Ms. NEIRE DIVINA MENDONÇA 12 – SENTENÇA 12.1 – Conceito a) - Art. 162. (...) § 1 o Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei. Com a alteração do artigo 162 passou-se então do critério topológico, já referido, a acolher-se o do conteúdo do ato, sendo que já que não é a localização do ato que lhe dá a natureza, mas sim, a sua substância. O importante das sentenças “é o seu conteúdo, preestabelecido por lei de forma expressa e taxativa, que as distingue dos demais pronunciamentos do juiz”, referindo, neste sentido, os artigos 267 e 269 do Código de Processo Civil . Assim, sentença passou a ser definida como o ato do juiz que implica algumas das hipóteses previstas no artigo 267 (que trata da “extinção” do processo sem “resolução” de mérito) ou no artigo 269 (que trata das situações de “resolução” do mérito. Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: I - quando o juiz indeferir a petição inicial; Il - quando ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes; III - quando, por não promover os atos e diligências que Ihe competir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias; IV - quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo;

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Page 1: CLASSIFICAÇÃO TRINÁRIA DAS SENTENÇAS

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

DISCIPLINA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL II

PROFA Ms. NEIRE DIVINA MENDONÇA

12 – SENTENÇA

12.1 – Conceito

a) - Art. 162. (...)

§ 1o Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts.

267 e 269 desta Lei.

Com a alteração do artigo 162 passou-se então do critério topológico, já referido, a

acolher-se o do conteúdo do ato, sendo que já que não é a localização do ato que lhe dá a

natureza, mas sim, a sua substância.

O importante das sentenças “é o seu conteúdo, preestabelecido por lei de forma

expressa e taxativa, que as distingue dos demais pronunciamentos do juiz”, referindo, neste

sentido, os artigos 267 e 269 do Código de Processo Civil.

Assim, sentença passou a ser definida como o ato do juiz que implica algumas das

hipóteses previstas no artigo 267 (que trata da “extinção” do processo sem “resolução” de

mérito) ou no artigo 269 (que trata das situações de “resolução” do mérito.

Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito:

I - quando o juiz indeferir a petição inicial;

Il - quando ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes;

III - quando, por não promover os atos e diligências que Ihe competir, o autor

abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;

IV - quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de

desenvolvimento válido e regular do processo;

V - quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa

julgada;

Vl - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade

jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual;

Vll - pela convenção de arbitragem;

Vlll - quando o autor desistir da ação;

IX - quando a ação for considerada intransmissível por disposição legal;

X - quando ocorrer confusão entre autor e réu;

XI - nos demais casos prescritos neste Código.

 

Art. 269. Haverá resolução de mérito:

I - quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido do autor;

II - quando o réu reconhecer a procedência do pedido;

III - quando as partes transigirem;

IV - quando o juiz pronunciar a decadência ou a prescrição;

V - quando o autor renunciar ao direito sobre que se funda a ação.

Page 2: CLASSIFICAÇÃO TRINÁRIA DAS SENTENÇAS

Ocorre que, muito embora as mudanças procedidas, a terminologia continuou

imperfeita e passível de críticas: no artigo 269 o legislador, para adequá-lo ao novo

conceito da sentença, retirou o termo “extinção do processo”; entretanto no artigo 267,

o legislador generalizou os casos ali presentes e manteve a alusão à “extinção”, sendo

que nestes casos tampouco o procedimento estará finalizado, eis que ainda poderá o

processo ter seguimento para execução das verbas sucumbenciais.

Da mesma forma não há extinção do processo, por exemplo, no caso de

reconhecimento da incompetência absoluta (267, IV, parágrafo 2º do CPC) eis que os

autos serão remetidos ao juízo competente. Sem, falar que ambos os artigos, 267 e

269, permaneceram sob o título “DA EXTINÇÃO DO PROCESSO”.

12.2 - Classificação quanto à Tutela Pleiteada: Teorias Trinária e Quinária

Expostas estas premissas pode-se afirmar que, tradicionalmente, a doutrina

processual costuma classificar as sentenças segundo a tutela jurisdicional pleiteada.

A classificação realmente importante das sentenças (considerando tanto a decisão do

juiz singular como o acórdão dos tribunais) é a que leva em conta a natureza do bem jurídico

visado pelo julgamento, ou seja, a espécie de tutela jurisdicional concedida à parte.

Pautando-se neste critério as sentenças seriam classificadas de três formas:

declaratórias (positivas ou negativas), constitutivas e condenatórias. É por isso que se

fala em classificação trinária das sentenças.

A classificação trinária se disseminou e angariou inúmeros adeptos. Todavia, aos

poucos se observou que, em nosso ordenamento, também existiam as chamadas tutela

mandamental e tutela executiva lato sensu, razão pela qual se passou a defender uma

classificação quinária das sentenças, conforme a modalidade de tutela jurisdicional

almejada. O professor Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, fiel defensor da teoria

quinária, é bastante contundente no tema da classificação das sentenças:

Na tentativa de justificar a classificação trinária, os estudiosos procuraram demonstrar

que essas novas modalidades de tutelas jurisdicionais nada mais seriam do que

subespécies das condenatórias, sendo inadequada, portanto, a classificação quinária. As

sentenças mandamentais, por exemplo, para os adeptos da corrente trinária, não constituem

uma tutela diferenciada, porque elas se reduziriam, na verdade, às sentenças de

condenação.

12.2.1 - Sentenças declaratórias

Page 3: CLASSIFICAÇÃO TRINÁRIA DAS SENTENÇAS

A sentença declaratória encontra fundamento legal no artigo 4.º do Código de

Processo Civil, onde se encontra expresso que:

O interesse do autor pode limitar-se à declaração: I - da existência ou da

inexistência de relação jurídica; II - da autenticidade ou falsidade de

documento.

Admite-se, ainda, a ação declaratória quando já tenha ocorrido a violação do direito

do demandante. Denota-se, assim, que a sentença meramente declaratória somente pode

ter como objeto uma relação jurídica ou a análise de um documento.

A sentença declaratória pode ser analisada sob dois ângulos. Ela pode conter uma

declaração de procedência (declaratória positiva) ou de improcedência (declaratória

negativa).

Tenha ela cunho positivo ou negativo, é possível afirmar que as sentenças

declaratórias gozam de efeito ex tunc, isto é, retroagem à data em que a relação jurídica

declarada se formou, ou à data em que a falsificação do documento se consumou.

Produz, assim, um efeito declaratório.

12.2.2 - Sentenças constitutivas

As sentenças constitutivas são bastante semelhantes às sentenças declaratórias.

Aquelas, a teor destas, também possuem uma declaração em seu comando. Não se limitam,

porém, apenas à declaração. Apresentam um elemento a mais, um traço diferenciador.

Assim, além da declaração, as sentenças constitutivas criam, modificam ou

extinguem uma relação jurídica. A declaração, portanto, de existência ou inexistência de

uma relação jurídica é antecedente lógico para que se possa processar a modificação ou

mesmo a extinção de uma relação jurídica anteriormente existente para que se justifique a

criação de uma nova relação jurídica.

Nessa linha de pensamento a sentença constitutiva pode ser: constitutiva criativa,

constitutiva modificativa e constitutiva extintiva.

Ao contrário do que ocorre nas sentenças declaratórias, o Código de Processo Civil

não faz menção às sentenças constitutivas. Sua aceitação deflui, assim, da análise da

redação dada a alguns artigos do referido codex, podendo-se mencionar, ilustrativamente,

os seguintes textos: a) artigo 10, IV - que tenham por objeto o reconhecimento, a

constituição ou a extinção de ônus sobre imóveis de um ou de ambos os cônjuges; b)

artigo 259, V - quando o litígio tiver por objeto a existência, validade, cumprimento,

modificação ou rescisão de negócio jurídico, o valor do contrato.

Seu efeito é, portanto, constitutivo.

Page 4: CLASSIFICAÇÃO TRINÁRIA DAS SENTENÇAS

12.2.3 - Sentenças condenatórias

 Por meio da sentença de condenação o juiz declara a existência da relação

jurídica afirmada pelo demandante (caráter declaratório da condenação) e aponta a

sanção que incidirá sobre o demandado se ele se recusar a cumprir a sentença.

Essa sanção nada mais é do que a possibilidade de autorizar o demandante a iniciar,

com fulcro na sentença prolatada e não cumprida, o processo de execução, a fim de

satisfazer o direito reconhecido e declarado na decisão.

A sentença de condenação funciona, portanto, como título executivo e, ao

contrário das sentenças meramente declaratórias e das sentenças constitutivas, não

satisfaz, por si só, a pretensão do autor, pois este precisará mover o processo executivo

para que o bem da vida requerido lhe seja definitivamente entregue. O efeito dessa sentença

seria, assim, condenatório.