classicos liberais - economia numa Única liÇÃo

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  • 7/30/2019 Classicos Liberais - ECONOMIA NUMA NICA LIO

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    CLSSICOS LIBERAIS REVISTA 38

    ECONOMIA NUMA NICA LIO

    Henry Hazlittpor Roberto Fendt

    PREFCIO

    Este livro analisa as falcias econmicas que, de to prevalecentes, se tornaram umanova ortodoxia. No h um nico governo em qualquer dos principais pases do mundoque no seja influenciado por algumas dessas falcias.

    Talvez a forma mais curta e certa de entender economia seja a dissecao desseserros, em particular do erro central do qual decorrem todos os demais. Essa a hiptesedeste livro e de seu ttulo ambicioso e beligerante, cujo objetivo no expor os erros dealgum autor em particular, mas os erros econmicos que ocorrem em sua forma maisfreqente, mais difundida ou mais influente.

    1. A LIO

    A economia assediada por mais falcias que qualquer outro ramo de conhecimento.Isso no um acidente. As dificuldades inerentes ao objeto j seriam grandes osuficiente se no fossem multiplicadas por um fator que insignificante na fsica,matemtica ou medicina os interesses egostas. Embora cada grupo tenha certos

    interesses econmicos idnticos aos dos demais grupos, cada um tem tambm interessesantagnicos aos dos demais grupos. E, se certas polticas econmicas beneficiariam nolongo prazo a todos, outras polticas beneficiariam somente um grupo, s expensas dosdemais. O grupo que se beneficiaria dessas polticas, tendo um interesse direto nelas,vocalizaria seu apoio de forma plausvel e persistente.

    Alm dos argumentos relacionados ao interesse prprio, h uma tendncia de se verapenas os efeitos imediatos de uma dada poltica ou seus efeitos somente sobre umgrupo em particular, deixando de averiguar quais sero os efeitos de longo prazo dessa

    poltica sobre aquele grupo em particular e sobre todos os demais. a falcia demenosprezar os efeitos secundrios. Nisso talvez resida toda a diferena entre a boa e am economia. O mau economista v apenas o que est diante de seus olhos; o bom

    economista olha tambm ao seu redor.Talvez parea elementar a precauo de averiguar as conseqncias de uma certaao sobre todos. Contudo, quando entramos no campo das polticas pblicas essaverdade ignorada. H pessoas consideradas economistas brilhantes que condenam a

    poupana e recomendam o esbanjamento como salvao econmica; e, quando algumaponta as conseqncias de longo prazo dessas polticas, respondem: No longo prazoestaremos todos mortos.

    Partindo, portanto, das conseqncias de longo prazo pode-se re-sumir toda aeconomia em uma nica lio, e pode-se reduzir essa nica lio a uma nica frase: aarte da economia consiste em considerar no s os efeitos imediatos de qualquer

    poltica, mas tambm os mais remotos; est em descobrir as conseqncias dessa

    poltica no somente para um nico grupo, mas para todos eles.

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    Enunciamos a natureza da lio e das falcias que se interpem no caminho, emtermos abstratos. Passamos agora a ilustrar a lio com exemplos.

    2. A VITRINEQUEBRADA

    Comecemos com o exemplo mais simples possvel: escolhemos, imitando Bastiat,uma vitrine quebrada.Um moleque atira um tijolo numa vitrine de padaria. Junta-se gente, e logo todos

    lembram a si prprios e ao padeiro que, afinal, a desventura tem um lado positivo:resultar em negcio para algum vidraceiro. Quanto custar uma vidraa nova? Cemreais? Afinal, se nunca se quebrassem as vidraas, o que aconteceria com o negcio devidros? E assim, levando adiante o raciocnio, o problema no teria fim. O vidraceiroter cem reais a mais para gastar com seus fornecedores, e assim por diante, at oinfinito. A vidraa quebrada proporcionar dinheiro e emprego em crculos cada vezmaiores.

    A concluso lgica que o moleque, em lugar de ser uma ameaa, foi um benfeitor

    pblico. A multido, naturalmente, est certa em reconhecer que o ato de vandalismotrouxe mais negcios, no primeiro instante, para algum vidraceiro. Porm, o padeiroficou sem os cem reais que pretendia gastar com um terno novo. Como tem quesubstituir a vidraa quebrada, ficar sem o terno; em lugar de uma vidraa e um terno,ter agora somente uma vidraa.

    Em suma, o que o vidraceiro ganhou nesse negcio representa somente o que oalfaiate perdeu. Nenhum emprego novo foi criado. As pessoas naquela multidoestavam apenas pensando em dois elementos da transao: o padeiro e o vidraceiro.Esqueceram a terceira pessoa em potencial envolvida: o alfaiate. Vero, da a um oudois dias, a nova vitrine. Nunca vero o terno extra, exatamente porque ele nunca serconfeccionado. Vem apenas o que est imediatamente diante de seus olhos.

    3. ASBNOSDADESTRUIO

    A falcia da vitrine quebrada, sob uma centena de disfarces, a mais persistente nahistria da economia. Sob as mais variadas formas, todos eles enfatizam as vantagens dadestruio.

    Embora alguns deles no cheguem a dizer que h ganhos lquidos em pequenos atosde vandalismo, vem benefcios quase interminveis nas destruies de grande porte.Afirmam que estamos economicamente melhor na guerra que na paz. E vem o mundo

    prosperar graas ao atendimento de uma enorme demanda acumulada ou

    insatisfeita.Trata-se da falcia da vitrine destruda com novas roupagens. Os que pensam que adestruio traz progresso confundem necessidade com demanda. Quanto mais a guerradestri, quanto mais ela empobrece, maior a necessidade no ps-guerra. Masnecessidade no o mesmo que demanda. A demanda efetiva econmica compreendeno somente a necessidade, mas tambm o correspondente poder aquisitivo.

    Alm disso, h tambm a falcia de pensar o poder aquisitivo somente em termosmonetrios. Mas o dinheiro hoje fabricado pela tipografia; quanto mais moeda foremitida, mais se reduzir o valor de cada unidade monetria, medida essa reduo peloaumento dos preos das mercadorias. Como, porm, a maioria das pessoas tem o hbitoarraigado de pensar em termos monetrios, consideram-se em melhor situao medida

    que o valor monetrio de seus rendimentos e bens aumenta, a despeito de que, emtermos reais, possuam menos e comprem menos. A maioria dos resultados econmicos

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    benficos que o povo atribui guerra , na realidade, devida inflao dos tempos deguerra. Poderiam igualmente ser produzidos pela inflao em tempos de paz.

    Ora, existe uma meia verdade na falcia da demanda insatisfeita, do mesmo modocomo ocorria na da vitrine quebrada. A vitrine quebrada proporcionou mais emprego

    para o vidraceiro; a destruio de casas e cidades incentivou as construtoras e fbricas

    de material de construo, motivada pela necessidade da reconstruo.Para a maioria das pessoas isso parecer um aumento na demanda total. Mas o querealmente aconteceu foi um desvio da demanda de outras mercadorias para essas.Sempre que os negcios aumentam em uma s direo redu-zem-se, forosamente, emoutra. Em resumo, a guerra modificou a direo dos esforos do ps-guerra; modificouo equilbrio e a estrutura das indstrias.

    Isso inevitvel, porque a demanda e a oferta so dois lados da mesma moeda. Aoferta cria demanda porque no fundo demanda. A oferta das coisas que um povofabrica , de fato, tudo o que ele tem para oferecer em troca dos artigos que deseja.

    Nesse sentido, a oferta de trigo pelos fazendeiros constitui sua demanda de automveise outros bens. Tudo isso inerente moderna diviso do trabalho e a uma economia de

    trocas.

    4. OBRASPBLICASSIGNIFICAMIMPOSTOS

    No existe crena mais persistente e mais influente que a de que os gastosgovernamentais so uma panacia para todos os males econmicos. Uma literaturaconsidervel baseia-se nessa falcia, e ela tornou-se parte de uma complexa rede defalcias que se apiam mutuamente.

    O mundo est saturado de pseudo-economistas cheios de planos para obter algumacoisa por nada. Dizem-nos que o governo pode gastar sem tributar; que pode continuar aacumular dvidas sem jamais as liquidar, porque devemos a ns mesmos. Devaneiosdessa natureza foram sempre interrompidos pela insolvncia nacional ou por umainflao galopante. A prpria inflao no passa de uma forma anormal de tributao. claro que sempre necessrio um valor mnimo de despesa pblica para que ogoverno desempenhe suas funes essenciais. Determinadas obras pblicas ruas,estradas, pontes, tneis, bem como a polcia e os bombeiros so necessrias para

    prestar os servios essenciais. Mas h outro tipo de obras pblicas feitas para daremprego ou aumentar a riqueza da comunidade que vale a pena examinar.

    Constri-se uma ponte. Se ela construda para resolver um problema de trfego oude transporte no haveria qualquer objeo a que ela fosse custeada pela tributao. Masse a finalidade da ponte dar emprego, o trfego e o transporte tornam-se

    secundrios.O emprego o que se v de imediato. verdade que determinado grupo deconstrutores recebe mais ocupao, o que no ocorreria, no fosse a ponte. Esta, porm,deve ser paga com os impostos, pois todo o dinheiro gasto tem que ser tirado doscontribuintes. Portanto, para cada emprego pblico, criado pelo projeto da ponte, ficadestrudo, em algum lugar, um emprego privado. Podemos ver os operrios empregadosna construo da ponte. H, entretanto, outras coisas que no vemos porque,infelizmente, no se permitiu que surgissem. So os empregos destrudos pelo dinheirotomado dos contribuintes. Na melhor das hipteses, ocorreu uma transferncia deempregos em decorrncia do projeto.

    Quando se trata de grandes projetos, o perigo da iluso de tica ainda maior. Uma

    termoeltrica, por exemplo, eleva toda uma regio ao mais alto nvel econmico.

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    Atraem-se indstrias, que de outra forma no existiriam. E tudo apresentado como umganho econmico lquido, sem custos.

    Mas se impostos so arrecadados das pessoas e das empresas e gastos em umaparticular regio do pas, por que deveramos nos surpreender se aquela regio se tornarcomparativamente mais rica? Outras regies do pas, deveramos lembrar, se tornam

    comparativamente mais pobres. O projeto to grande que o capital privado no poderiater executado foi de fato feito pelo setor privado pelo capital que foi expropriadopelos impostos (ou, se o dinheiro foi obtido com emprstimos, dever ser pagoeventualmente com impostos).

    Para os projetos pblicos a utilidade secundria; e quanto mais desperdiadormelhor, do ponto de vista do emprego. Sob esse ponto de vista altamente duvidosoque os projetos criados pelos burocratas causem o mesmo aumento de riqueza, por realgasto, que os projetos dos prprios contribuintes, caso pudessem investir em lugar de ter

    parte de seus rendimentos expropriados pelo Estado.

    5. OSIMPOSTOSDESENCORAJAMAPRODUO

    Existe ainda outro fator que torna improvvel que a riqueza criada pela despesa dogoverno seja completamente compensada pela riqueza destruda pelos impostos. Ogoverno nos diz, por exemplo, que somente 40% da renda nacional esto sendotransferidos de fins privados para fins pblicos. Mas esses rgos do governo seesquecem de que esto tirando dinheiro de A para pagar B. E enquanto discorrem sobreos benefcios do processo para B, esquecem-se dos efeitos dessa transferncia sobre A.B visto; A esquecido.

    A incidncia dos impostos tambm desigual, j que a mesma porcentagem doimposto de renda no se aplica a todos. A incidncia maior recai sobre pequena

    porcentagem dos rendimentos da nao; e a receita desse imposto suplementada porimpostos de outra natureza. Impostos sempre afetam as aes e os incentivos daquelesde quem so extrados. Quando uma empresa perde cem centavos por real que perde esomente pode reter 60 centavos por real que ganha, e quando no pode compensar osseus anos de perda contra os anos de ganho, sua polticas so afetadas. Ela deixa deexpandir as suas operaes, ou expande somente aquelas com um mnimo de risco. As

    pessoas que percebem essa situao deixam de criar novas empresas e novos empregos;e outros simplesmente decidem no se tornar empregadores. A longo prazo, osconsumidores deixam de ter produtos melhores e mais baratos e no h melhoria nosalrio real.

    Um certo montante de impostos naturalmente indispensvel para custear as funes

    essenciais do governo. Mas quanto maior a porcentagem da renda do povo subtrada soba forma de impostos e quando a carga tributria vai alm do suportvel, tornam-seinstransponveis os obstculos produo privada e ao emprego.

    6. O CRDITODESVIAAPRODUO

    Tanto o encorajamento do governo aos negcios quanto sua hostilidade devem svezes ser temidos. Este suposto encorajamento quase sempre assume a forma deconcesso direta de crditos governamentais ou de garantia de emprstimos privados. A

    proposta mais freqente dessa espcie a de concesso de mais crdito para osagricultores. Aos olhos do governo, o crdito ofertado pelo sistema financeiro privado

    no nunca suficiente.

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    A f nessas polticas advm de dois atos de impreviso. Um encarar a questoapenas do ponto de vista dos agricultores, que tomam dinheiro emprestado. O outro estem pensar somente na primeira parte da transao.

    Ora, aos olhos de pessoas honestas todos os emprstimos devem ser pagos. Todocrdito dbito. As propostas para o aumento do crdito so, portanto, propostas para o

    aumento do endividamento, e seriam menos atraentes se chamadas por esse nome. Essesemprstimos so de dois tipos: um destina-se a manter a colheita fora do mercado; ooutro destina-se a financiar o capital a terra e os equipamentos. primeira vista hum forte argumento em favor desse segundo tipo de emprstimos. Temos aqui umafamlia pobre, sem meios de subsistncia. Empreste-se dinheiro e permita-se queaumente a sua produtividade; o agricultor poder pagar o emprstimo com a venda desua colheita. O emprstimo autoliquidvel.

    H, no entanto, uma grande diferena entre os emprstimos das instituies privadase pblicas. Todo emprestador privado arrisca seus prprios recursos ou os recursos deterceiros sob sua gesto. Tende, nesse caso, a avaliar com mais cuidado os riscos e asgarantias oferecidas. A razo para os emprstimos do governo emprestar a quem no

    consegue obter emprstimos privados. Isto , o governo tomar riscos com o dinheirodos contribuintes que os emprestadores privados no estariam dispostos a tomar.

    Observe-se o que est sendo emprestado no propriamente dinheiro, mas capital uma fazenda, por exemplo. A fazenda emprestada a A no pode ser emprestada a B. Aquesto saber se A ou B quem obter a fazenda. Isso nos leva aos mritos de A e B eo que cada um contribui para a produo.

    H uma estranha idia de que crdito algo que o banqueiro d a uma pessoa.Crdito, ao contrrio, algo que a pessoa j tem. Ela leva o crdito ao banco consigo;esta a razo pela qual o banqueiro lhe faz um emprstimo. O banqueiro no est dandoalgo em troca de nada, mas est meramente trocando um ativo mais lquido por ummenos lquido. Quando o banqueiro erra em sua avaliao no somente o banqueiroque perde, mas toda a comunidade, j que os valores que se supunha que seriam

    produzidos pelo emprestador no se materializam, e os recursos se perdem.Portanto, A, que tem crdito, que receberia o emprstimo de um banqueiro privado.

    Mas a o governo entra no negcio de emprstimos com caridosa disposio e emprestaa B. A ficar privado de ter uma fazenda. A talvez seja forado a desistir de ter uma, ou

    porque as taxas de juros subiram como resultado das operaes do governo, ou porque,em virtude dessas operaes, os preos das fazendas subiram. O resultado lquido dasoperaes de crdito do governo no foi aumentar a riqueza produzida pelacomunidade, mas reduzi-la, pois o efetivo capital disponvel (constitudo de fazendas,tratores, etc.) foi colocado em mos de pessoas menos eficientes, em vez de ser

    destinado aos mais eficientes e dignas de confiana.O caso torna-se ainda mais claro se passarmos das fazendas para outros ramos denegcios. Prope-se freqentemente que o governo assuma riscos demasiado grandes

    para a indstria privada. Significa isso que se deve permitir aos burocratas assumiremriscos com o dinheiro dos contribuintes, riscos que ningum est disposto a assumircomo seu. Tal poltica acarretaria males de muitas espcies, especialmente ofavoritismo, pela concesso de emprstimos a amigos ou em troca de subornos.Aumentaria a exigncia de uma poltica socialista: se o governo vai arcar com os riscos,

    por que no receber tambm os lucros?Em suma, no h como escapar de concluir que essa poltica desperdiar capital e

    reduzir a produo, j que colocar o capital escasso da sociedade em mos dos mais

    ineficientes.

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    7. A MALDIODAMAQUINARIA

    Entre as mais viveis de todas as iluses econmicas est a crena de que a mquinacria desemprego. Sempre que h prolongado desemprego em massa, a mquina queleva a culpa. A crena de que as mquinas causam desemprego leva a concluses

    ridculas. No somente cada novo aperfeioamento tecnolgico causa desemprego,como o processo foi iniciado quando o homem primitivo fez os primeiros esforos parapoupar para si trabalho e esforo inteis.

    Consideremos o que disse Adam Smith em A riqueza das naes, publicado em1776. O primeiro captulo intitula-se Da diviso do trabalho; na segunda pgina desse

    primeiro capitulo o autor nos conta que um operrio no familiarizado com o uso damquina utilizada numa fbrica de alfinetes dificilmente faria um alfinete por dia ecertamente no poderia fazer vinte. Mas com o uso dessa mquina ele pode fazer 4.800alfinetes por dia. Assim, j no tempo de Adam Smith a mquina havia posto fora detrabalho 240 a 4.800 operrios fabricantes de alfinetes para cada um que permanecessetrabalhando. Poderia haver situao pior que essa?

    Certamente sim, j que a Revoluo Industrial mal comeava. A oposio smquinas seria racional se somente o futuro imediato fosse considerado. Dos 50 milteceles de meias ingleses, poucos escaparam da fome e da misria nos 40 anos que seseguiram introduo das mquinas. Mas a crena de que as mquinas deslocariam

    permanentemente os operrios no se revelou verdadeira. No final do sculo XIX, aindstria de meias estava empregando cem homens para cada operrio que empregavano incio do sculo. O mesmo ocorreu na Grande Depresso da dcada de 1930.

    Se de fato fosse verdade que a introduo da mquina que poupa mo-de-obra umapermanente causa do crescente desemprego e da misria, todo progresso tcnico seria,portanto, no somente intil, mas tambm prejudicial. Teorias falsas como essas notm consistncia lgica, mas so perniciosas s pelo fato de serem aceitas. Vejamos,

    portanto, o que acontece quando se introduzem aperfeioamentos tcnicos e mquinasque poupam mo-de-obra tendo em mente que nem todos os avanos tecnolgicosdesempregam mo-de-obra.

    Suponhamos que um fabricante de roupas instale uma mquina que permitedispensar metade dos empregados. Isso, primeira vista, parece evidente desemprego.Mas a prpria mquina exigiu trabalho para ser construda, criando empregos que, deoutra forma, no existiriam. Contudo, h ainda uma perda lquida de emprego acontabilizar e, nesse ponto, parece que os trabalhadores tiveram uma perda lquida deemprego e o fabricante de roupas mais lucros que anteriormente. Mas precisamentedesse lucro extra que se originam os ganhos sociais subseqentes. O lucro extra ou ser

    usado (1) para expandir as suas operaes, comprando mais mquinas para produzirmais casacos; ou (2) ser investido em outra empresa; ou (3) ser gasto em aumento doconsumo. Em qualquer das trs opes estar indiretamente criando tantos empregoscomo os que cessou de dar diretamente.

    Em suma e tudo bem pesado, as mquinas, os aperfeioamentos tecnolgicos, aautomao e a eficincia no deixam os homens sem trabalho.

    8. ESQUEMASDEDIFUSODOTRABALHO

    Os sindicatos operrios em vrias partes do mundo procuram obrigar as empresas aempregar mais atravs de esquemas de reduo da jornada de trabalho. Tais prticas, e a

    tolerncia do pblico para com elas, originam-se da mesma falcia fundamental que o

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    temor das mquinas. a crena de que um processo mais eficiente de produo destriempregos, e seu corolrio natural, de que um processo menos eficiente os cria.

    Aliada a essa falcia est a crena de que existe apenas uma quantidade fixa detrabalho a ser feito no mundo e que, se no podemos aument-la, inventando processosmais complicados de produo, podemos, pelo menos, pensar nos meios de difundi-los

    pelo maior nmero possvel de pessoas.Um dos esquemas mais comuns a proposta de reduzir a semana de trabalho,geralmente por meio de lei, baseado na crena de que isso difundiria o trabalho ecriaria mais empregos. Qual o verdadeiro efeito de tais planos?

    Consideremos primeiro o caso em que a semana de trabalho seja reduzida dequarenta para trinta horas, sem modificao no salrio-hora. Embora um nmero maiorde operrios esteja empregado, cada um estar trabalhando menor nmero de horas eno haver, portanto, nenhum aumento lquido em homens-hora. Os operriosanteriormente empregados subsidiaro os que estavam anteriormente desempregados.

    O que ocorrer se os lderes sindicais demandarem um aumento do salrio-hora deforma a compensar a perda de rendimento de seus associados? A primeira e mais bvia

    conseqncia ser a elevao dos custos de produo. A segunda, um nvel dedesemprego tambm maior. As empresas menos eficientes sero eliminadas e osoperrios menos eficientes perdero o emprego. O desemprego ser maior queanteriormente.

    Os esquemas de difuso do trabalho, em resumo, apiam-se na mesma espcie deiluso por ns j considerada. As pessoas que os defendem pensam apenas no empregoque eles proporcionariam a determinadas pessoas ou grupos; no chegam a considerarqual seria o efeito completo sobre todo mundo.

    9. A DISPERSODETROPASEBUROCRATAS

    Quando, depois de cada grande guerra, feita a desmobilizao das foras armadas,existe sempre o grande receio de que no haja nmero suficiente de empregos paraabsorv-los. O receio do desemprego surge porque as pessoas encaram o processosomente sob um nico aspecto.

    Vem soldados desmobilizados entrarem no mercado de trabalho. Onde est opoder aquisitivo para empreg-los? Se o oramento pblico est equilibrado, aresposta simples. O governo deixar de sustentar esses soldados. Os recursosretornaro aos contribuintes que, com eles, compraro bens adicionais. A demanda doscivis aumentar e dar emprego aos soldados desmobilizados.

    O mesmo raciocnio aplica-se aos funcionrios civis do governo sempre que so

    mantidos em nmero excessivo e no executam servios para a comunidadeequivalentes remunerao que percebem. No entanto, sempre que se faz qualqueresforo para reduzir o nmero de funcionrios desnecessrios certa a grita que selevanta, afirmando que esse ato deflacionrio.

    Mais uma vez a falcia resulta do fato de serem encarados os efeitos deste atosomente sobre os funcionrios demitidos e sobre determinados empresrios que deledependem. Mais uma vez nos esquecemos de que se esses burocratas no foremmantidos nos cargos, os contribuintes conservaro o dinheiro que, anteriormente, lhesfora tirado para sustentar os funcionrios. Novamente nos esquecemos de que orendimento e o poder aquisitivo dos contribuintes se elevam da mesma forma que o dosantigos funcionrios se reduz.

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    Quando no podemos encontrar um argumento melhor para a manuteno dequalquer grupo de funcionrios que o de manter o poder aquisitivo deles, sinal de quechegou o momento de nos desembaraarmos dessas pessoas.

    10. O FETICHEDOPLENOEMPREGO

    O objetivo econmico de qualquer nao, como de qualquer indivduo, obter osmelhores resultados com o mnimo de esforo. Todo o progresso econmico dahumanidade consiste em obter maior produo com o mesmo trabalho.

    Traduzido em termos nacionais, esse primeiro princpio significa que nossoverdadeiro objetivo maximizar a produo. Fazendo isso, o pleno emprego isto , aausncia de ociosidade involuntria torna-se subproduto necessrio. No podemos,continuamente, ter a mxima produo sem pleno emprego. Mas podemos muitofacilmente ter pleno emprego sem a plena produo.

    Nada mais fcil que conseguir o pleno emprego, desde que esteja divorciado doobjetivo da plena produo e considerado, em si, como um fim. Nossos legisladores, no

    entanto, no apresentam no Congresso projetos de lei para produo plena, e sim parapleno emprego. Salrios e emprego so discutidos como se no tivessem qualquerrelao com produtividade e produo. Em toda parte constri-se o meio para o fim, e o

    prprio fim esquecido.Podemos esclarecer nosso pensamento se colocarmos nossa principal nfase no lugar

    em que deve estar na poltica que maximizar a produo.

    11. QUEMPROTEGIDO PELASTARIFAS?

    Uma simples exposio das polticas econmicas dos governos, em todo o mundo, de causar desespero a qualquer pessoa que estude seriamente economia.

    Desde que apareceu, h 175 anos, A riqueza das naes, o livre comrcio foidiscutido milhares de vezes, mas talvez nunca com mais direta simplicidade e fora doque naquela obra. Smith apoiava sua tese numa proposio fundamental: Em todo pas,sempre e deve ser do interesse da grande massa do povo comprar tudo o que desejadaqueles que vendem mais barato. Esta afirmao to evidente continuou Smith

    que parece ridculo dar-se ao trabalho de prov-la; nem seria jamais suscitada nohouvesse o sofisma de negociantes e fabricantes interessados, que confundem o sensocomum da humanidade.

    Mas o que levou as pessoas a suporem que o que era prudncia na conduta de todafamlia poderia ser loucura na de um grande reino? Foi toda uma rede de falcias, da

    qual a humanidade ainda no pode desvencilhar-se. E a principal delas a falciafundamental de que trata este livro a de considerar somente os efeitos imediatos deuma tarifa sobre determinados grupos e esquecer seus efeitos a longo prazo sobre toda acomunidade.

    Um fabricante pede ao governo proteo contra as importaes sob a forma de umatarifa aduaneira que equalize o preo do concorrente importado ao do produto nacional;no argumenta em causa prpria, mas de seus empregados. Se puder provar que serforado a abandonar o mercado se a tarifa no for imposta, seus argumentos seroconsiderados conclusivos pelo governo.

    Mas a falcia est em considerar apenas esse fabricante e seus empregados, ouapenas o setor industrial especfico. Est em observarem-se apenas os resultados

    imediatos vistos e descuidar daqueles que no so vistos, porque esto impedidos desurgir.

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    Suponhamos que uma determinada indstria, j existente, seja protegida por umadeterminada tarifa. Revoga-se a tarifa: o fabricante abandona o mercado e os operriosso dispensados. Esse o resultado imediato que se v. Mas h outros resultados que,embora mais difceis de perceber, no so menos imediatos nem menos reais. O produtoconcorrente importado agora est disponvel aos consumidores a um preo menor. O

    ganho de renda pode ser usado para comprar outros produtos nacionais, aumentando oemprego em outros setores industriais.Mas os resultados no param a. Ao importarem o produto, os consumidores esto

    pagando aos produtores estrangeiros dlares para que possam adquirir mercadoriasnacionais. Pelo fato de termos permitido aos estrangeiros vender-nos mais, permitimosque eles comprem mais de ns. Tudo considerado, o fato que o emprego no sereduziu em nosso pas, e tanto ns como o pas estrangeiro aumentaram sua produo. Amo-de-obra est mais plenamente empregada nos dois pases, produzindo de maneiramais eficiente que anteriormente; consumidores em ambos os pases esto em melhorsituao do que antes da eliminao da tarifa.

    A tarifa foi apresentada como um meio de beneficiar o produtor s expensas do

    consumidor. Em certo sentido est certo. Os que so a favor dela pensam apenas nosinteresses dos produ-tores beneficiados pela tarifa. Esqueceram-se dos interesses dosconsumidores, que ficam prejudicados por serem forados a pagar estes direitos. Mas astarifas no beneficiam todos os produtores, somente os protegidospor ela. Prejudicamos consumidores e especialmente os exportadores nacionais.

    O efeito de uma tarifa, portanto, modificar a estrutura da produo. Aumentam asindstrias que so relativamente ineficientes e reduzem aquelas que so relativamenteeficientes. Seu efeito lquido , portanto, a reduo da eficincia no pas. Com isso, alongo prazo reduz o salrio real ao reduzir a eficincia, a produo e a riqueza.

    12. A DETERMINAODEEXPORTAR

    Somente o medo patolgico de importar, que afeta todas as naes, excede o desejoardente e patolgico de exportar. Logicamente nada poderia ser mais inconsistente. Alongo prazo, a importao e a exportao (apropriadamente definidas) devem igualar-se. a exportao que paga a importao, e vice-versa. Quando decidimos aumentar aexportao estamos tambm decidindo aumentar a importao.

    A razo disso simples. Um exportador brasileiro vende para um importadoramericano e pago em dlares. No pode pagar seus custos internos em dlares. Ouadquire mercadorias estrangeiras com os dlares ou os vende a um banco em troca dereais, com os quais pagar os salrios de seus operrios e os seus fornecedores

    domsticos. O banco, por seu turno, vender os dlares para quem quiser importar ouefetuar outros pagamentos de servios a fornecedores no exterior.

    13. PREOSMNIMOS

    O argumento em favor de preos mnimos (de paridade) para os produtos agrcolas mais ou menos o seguinte: a agricultura bsica e a mais importante de todas asatividades econmicas. Deve ser preservada a todo custo. Alm disso, a prosperidade detodos depende da prosperidade do agricultor. Se ele no tiver poder aquisitivo paracomprar os produtos da indstria, esta definhar.

    O argumento fundamental que aqui nos interessa o seguinte: se obtiver preos mais

    altos para seus produtos, o agricultor poder comprar mais produtos da indstria e assim

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    torn-la prspera e proporcionar pleno emprego. No importa nesse argumento, claro,se o fazendeiro obtm ou no o denominado preo de paridade.

    14. A SALVAODAINDSTRIA X

    As ante-salas do governo esto repletas de representantes do ramo de atividade X.Ele est enfermo. Est morrendo. Precisa ser salvo. Somente poder salvar-se por umatarifa, atravs de preos mais altos ou mediante um subsdio. Se consentirmos em suamorte, trabalhadores iro para a rua. Os proprietrios de suas casas, o supermercado, aslojas e os cinemas locais perdero negcios, e a depresso se espalhar em crculos cadavez maiores.

    bvio que isso nada mais que uma simples forma generalizada do que acabamosde considerar. Nela, a indstria X era a agricultura. H, entretanto, um nmeroinfindvel de indstrias X.

    Dado esse fato, existem sempre inmeros esquemas para salvar indstrias. H doistipos principais de tais propostas. Uma, afirmar que a indstria X est superlotada e

    procurar impedir que outras firmas ou outros trabalhadores nela ingressem atravs deuma reserva de mercado. Outra, o argumento de que a indstria X precisa seramparada, diretamente, por meio de subsdio governamental.

    Ora, se o ramo de atividade X, comparado aos outros, est realmente superlotado,no necessitar de legislao coercitiva para impedir que novos capitais ou novostrabalhadores nele ingressem. Novos capitais no costumam precipitar-se para indstriasque estejam definhando.

    Se novos capitais e nova mo-de-obra so mantidos fora fora da indstria X, pormeio de monoplios, cartis, unio sindicalista ou legislao, isso priva os capitais e amo-de-obra da livre escolha. Fora os investidores a colocarem seu dinheiro onde osdividendos lhes paream menos promissores que na indstria X. Perdida a oportunidadede investir em segmento de maior rentabilidade, reduz-se a produo, com reflexo num

    padro de vida mais baixo.Idnticos resultados se seguiriam a qualquer tentativa para salvar a indstria X

    atravs de subsdio direto, tirado do errio pblico. Os contribuintes e as demaisindstrias perderiam, precisamente, tanto quanto o pessoal da indstria X ganharia.

    O resultado que tambm (e da que vem a perda lquida para a nao consideradacomo um todo) o capital e o trabalho da mo-de-obra so desviados de indstrias nasquais esto mais eficientemente empregados para uma indstria na qual sero menoseficientemente empregados. Cria-se menos riqueza. O padro de vida mdio torna-semais baixo, comparado com o que teria sido.

    15. COMOFUNCIONAOSISTEMADEPREOS

    Como dever ser solucionado o problema de alocar trabalho e capital a fim deatender s milhares de necessidades diferentes da sociedade? Dever, precisamente, sersolucionado pelo sistema de preos. Soluciona-se atravs das constantes modificaesnas inter-relaes de custo de produo, preos e lucros.

    Fixam-se os preos mediante a relao entre oferta e demanda. Quando as pessoasdesejam uma maior quantidade de um bem, oferecem mais por ele. O preo sobe.Aumentam os lucros dos fabricantes. Havendo agora maior lucro na fabricao desse

    bem que na de outros artigos, quem j se encontra nesta atividade expande sua produo

    e outras pessoas so atradas para este setor. Esse aumento da oferta reduz ento o preoe a margem de lucro at que esta margem de lucro alcance o nvel geral de lucros das

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    outras indstrias. Ou, ento, a demanda do artigo pode cair; ou, talvez, haja prejuzo emfabric-lo. Nesse caso, os produtores marginais, isto , os menos eficientes, seroexcludos do mercado. O produto ser, ento, fabricado apenas pelos produtores maiseficientes, que operam a custos mais baixos. A oferta do artigo cair ou deixar deexpandir-se.

    Os preos, portanto, so determinados pela oferta e pela procura, e a procura determinada pela intensidade das necessidades dos consumidores e pelo que estes tmpara oferecer em troca. verdade que a oferta , em parte, determinada pelo custo deproduo. O que o artigo custou no passado, para ser produzido, no pode determinar-lhe o valor, que depender da atualrelao entre oferta e a procura. Mas as expectativasdos homens de negcios, no tocante ao que um artigo ir custar em sua fabricao futurae qual ser o seu preo futuro, determinaram quanto dele ser fabricado. H, portanto,uma tendncia constante para o preo de um artigo e seu custo marginal de reproduose igualarem, mas no porque esse custo marginal de produo determina diretamente o

    preo.Muitos perguntam: por que os empresrios no produzem at a plena capacidade

    dos processos tcnicos modernos? Ora, numa economia em equilbrio, determinadaindstria poder expandir-se somente s expensas de outras, pois a qualquer momentoos fatores de produo so limitados. Uma indstria somente pode expandir-sedesviando para si mo-de-obra, terreno e capital, que poderiam ser empregados emoutras indstrias. E quando uma indstria se contrai ou deixa de expandir sua produoisso no significa necessariamente que ocorreu um declnio lquido na produoagregada. A contrao, nesse ponto, talvez possa ter simplesmente liberado trabalho ecapital, a fim de permitir a expanso de outras indstrias. errneo, portanto, ver emuma reduo na produo de determinado setor uma diminuio da produo total.

    Segue-se que, para a sade de uma economia dinmica, to essencial deixar quepeream as indstrias moribundas, como deixar que cresam as indstrias prsperas,pois as indstrias agonizantes absorvem mo-de-obra e capital que deveriam serliberados para as indstrias em expanso.

    16. A ESTABILIZAODOSPREOSDASMERCADORIAS

    Tentativas para elevar de forma permanente os preos de determinadas mercadoriasacima dos nveis naturais de mercado tm fracassado tantas vezes, de modo todesastroso e to notrio, que grupos requintados de presso, e os burocratas sobre osquais eles atuam, raramente confessam com franqueza esse objetivo. Afirmam apenasque o produto est, naquele momento, sendo vendido por preo muito abaixo do nvel

    natural. A menos que se aja prontamente, sero os produtores expulsos do mercado.Tudo o que realmente se deseja fazer corrigir essas violentas e loucas flutuaes depreos. No se est procurando elev-lo, mas apenas estabiliz-lo.

    Considerem-se os produtores de trigo. Mesmo que os fazendeiros tivessem quelanar toda a produo no mercado em um nico ms do ano o preo no serianecessariamente inferior ao de qualquer outro ms, pois os especuladores, na esperanade obter lucro, fariam a maior parte de suas compras nessa ocasio. Continuariamcomprando, at que o preo subisse a um ponto em que no vissem mais oportunidadesde lucro futuro. O resultado seria estabilizarem-se os preos dos produtos agrcolasdurante todo o ano.

    precisamente por existir uma classe profissional de especuladores para assumir

    esses riscos que os fazendeiros no tm necessidade de assumi-los. Podero proteger-seatravs dos mercados. Em condies normais, portanto, quando os especuladores esto

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    desempenhando bem sua tarefa os lucros dos fazendeiros dependero de sua habilidadeem atividades nas fazendas e no nas flutuaes do mercado.

    O caso diferente, porm, quando o estado intervm ou comprando a produo dosfazendeiros ou emprestando-lhes dinheiro para armazenar as colheitas. Quando ogoverno intervm, o celeiro sempre normal torna-se, de fato, um celeiro sempre poltico.

    Encoraja-se o fazendeiro, com o dinheiro dos contribuintes, a reter excessivamente suaproduo. Estoques excessivos ficam afastados do mercado. O efeito assegurar,temporariamente, um preo mais alto; mas faz-lo provocar mais tarde um preo muitomais baixo, pois a falta artificial que se cria nesse ano, ao retirar-se do mercado parte deuma colheita, implica excesso artificial para o ano seguinte.

    Os partidrios da poltica de restries geralmente respondem que essa queda naproduo o que, de um modo ou de outro, acontece em uma economia de mercado.H, entretanto, conforme vimos no captulo precedente, uma diferena fundamental.

    Numa economia de mercado competitivo os produtores de custos elevados, osineficientes, que so postos margem pela queda dos preos. Os mais capazes, os quetrabalham nas melhores terras, no tm que restringir a produo. Pelo contrrio, se a

    queda no preo foi sintoma de mais baixo custo mdio de produo, refletido noaumento da oferta, ento o afastamento dos fazendeiros marginais em terras marginaiscapacita os bons fazendeiros, nas terras boas, a expandirem sua produo.

    17. TABELAMENTODEPREOSPELOGOVERNO

    Examinemos, agora, alguns dos resultados das tentativas do governo para manter ospreos dos produtos abaixo dos seus nveis naturais no mercado.

    Quando o governo procura fixar preos mximos para apenas poucos produtos queconsidera necessrios fundamenta-se no fato de que essencial que o pobre possaobt-lo a custo razovel.

    O argumento para tabelamento do preo desses produtos ser mais ou menos oseguinte: se deixarmos, por exemplo, a carne merc do mercado livre a alta serforada pela concorrncia, de sorte que somente os ricos podero adquiri-la. Os pobresno tero a carne na proporo de suas necessidades, mas apenas na proporo de seu

    poder aquisitivo. Se for mantido baixo o preo, todos tero o seu justo quinho.Ora, no podemos manter o preo de qualquer mercadoria abaixo do preo do

    mercado sem que isso traga, com o tempo, duas conseqncias. A primeira aumentar aprocura da mercadoria. Sendo esta mais barata, as pessoas sentem-se tentadas a comprarmais, e podem faz-lo. A segunda conseqncia reduzir a oferta.

    Se no fizssemos mais nada, a fixao de um preo mximo para determinada

    mercadoria teria como conseqncia provocar sua falta. Isso, porm, precisamente ocontrrio do que os controladores governamentais a princpio pretendiam fazer. Com otempo, algumas dessas conseqncias se tornam evidentes para os controladores, que,ento, adotam processos de controle numa tentativa de afast-las. Entre esses processosfiguram o racionamento, o controle do custo, os subsdios e o tabelamento geral.

    O tabelamento de preos poder parecer, durante breve perodo, ter sido coroado dexito. Entretanto, quanto mais tempo estiver em vigor, tanto mais aumentaro suasdificuldades. A conseqncia natural de um controle geral, visando perpetuardeterminado nvel histrico de preos, ser uma economia inteiramente engessada.

    Cada um de ns, em sntese, pensa poder manobrar as foras polticas de modo abeneficiar-se mais com o subsdio, do que perde com o imposto, ou beneficiar-se com

    um aumento para seu produto (enquanto o custo da matria-prima que usa est contidolegalmente) e, ao mesmo tempo, beneficiar-se com o controle dos preos, como

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    consumidor. A esmagadora maioria, entretanto, estar ludibriando-se a si mesmo, poisno s deve haver, pelo menos, perda e ganho idnticos nessa manobra poltica de

    preos como pode haver mais perda que ganho, porque o tabelamento desencoraja edesorganiza o emprego e a produo.

    18. ASCONSEQNCIASDOCONTROLEDEALUGUIS

    O controle de aluguis de casas e apartamentos pelo governo uma forma especialde controle de preos. As suas conseqncias so iguais s do controle de preos emgeral, porm algumas exigem considerao especial.

    O controle dos aluguis imposto, inicialmente, sob a alegao de que o suprimentode casas no elstico, isto , a crise de moradia no pode ser solucionadaimediatamente. Em conseqncia, o governo, prevendo os aumentos de aluguis,

    protege os inquilinos da extorso e da explorao, imaginando no causar nenhum danoreal aos proprietrios e sem desencorajar novas construes.

    O controle de aluguis, todavia, discrimina em favor daqueles que j ocupam casas

    ou apartamentos, custa daqueles que se encontram do lado de fora. Permitindo que osaluguis aumentem de preo, aos nveis de mercado livre, permitir-se- a todos osinquilinos, atuais ou potenciais, oportunidade igual na oferta de espao.

    Os efeitos do controle de aluguis tornam-se piores quanto mais tempo continuaresse controle. Novas moradias no so construdas porque no h incentivos paraconstru-las, e as existentes se deterioram pela perda de interesse dos proprietrios emconserv-las.

    Sobrevivem apenas as moradias de luxo, usualmente fora do controle de aluguis.Os efeitos, a longo prazo, desse artifcio discriminatrio so exatamente o oposto do queseus advogados pretendiam: os construtores e proprietrios de apartamentos de luxo soincentivados e premiados, enquanto so desincentivados os construtores e proprietriosde moradias para as pessoas de baixa renda.

    Quando os controles de preos e racionamentos so aplicados em artigos de consumoimediato, como po, por exemplo, os padeiros podem simplesmente se recusar acontinuar a fazer po e vend-lo. Obviamente, uma crise se instala de imediato, e os

    polticos so compelidos a abandonar o controle. Mas a moradia muito durvel. Podelevar muitos anos antes que os inquilinos comecem a sentir os resultados dodesencorajamento de novas construes e de manuteno e reparos normais.

    Assim, voltamos a nossa lio bsica. A presso para o controle de aluguis vemdaqueles que consideram apenas os benefcios imaginados a curto prazo, para um grupoda populao. Mas quando consideramos seus efeitos a longo prazo sobre todos,

    incluindo os prprios inquilinos, reconhecemos que o controle de aluguis no somente ftil mas altamente destrutivo, quanto mais rigoroso for e quanto mais tempopermanecer como prtica.

    19. SALRIOMNIMO

    O salrio um preo como outro qualquer. Qualquer tentativa de elev-lo pordecreto estar fadada ao fracasso. A primeira coisa que acontece, por exemplo, ao serdecretado que ningum receber menos que R$ 350 por semana de 40 horas quequalquer pessoa que no valha R$ 350 por semana ser empregada.

    No se pode fazer com que algum merea receber determinada importncia

    tornando ilegal o oferecimento de importncia menor. Ele est simplesmente sendoprivado do direito de ganhar a importncia que suas aptides e situao permitem

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    ganhar; ao mesmo tempo, a comunidade est sendo privada dos modestos servios queele pode prestar. , em suma, substituir o salrio baixo pelo desemprego. Todos estosendo prejudicados, sem qualquer compensao.

    No nossa inteno alegar que no haja meios de elevar os salrios. Queremos,simplesmente, assinalar que o mtodo aparentemente simples de elev-los por decreto

    errado, e o pior de todos. A melhor maneira de elevar salrios aumentar aprodutividade do trabalho. Quanto mais o trabalhador produz, tanto mais aumenta ariqueza de toda a comunidade. Quanto mais produz, tanto mais seus servios tm valor

    para os consumidores e, portanto, para os empregadores. E quanto mais operar a valerpara o empregador, tanto maior salrios ganhar. O salrio real vem da produo, node decretos governamentais.

    Assim sendo, a poltica governamental deveria ser dirigida no no sentido de impormais exigncias onerosas ao empregador, mas, ao contrrio, no de encorajar polticasque j favoream os lucros, que levem o empregador a investir em mquinas melhores emais modernas, possibilitando o aumento da produtividade dos trabalhadores. Em suma,encorajar o acmulo de capital, aumentando tanto ao nvel de emprego como de

    salrios.

    20. OSSINDICATOSAUMENTAMOSSALRIOS?

    A crena de que os sindicatos podem elevar os salrios de todos os trabalhadores uma das grandes iluses de nossa poca. A seduo resulta da falha em no sereconhecer que os salrios so, basicamente, determinados pela produtividade dotrabalho.

    Isso no significa que os sindicatos no possam desempenhar funes teis oulegtimas. O mercado de trabalho no funciona perfeitamente. A sua funo primordial garantir que os seus membros recebam pelos servios que prestam, informando overdadeiro valor de mercado por seus servios.

    fcil, porm, para os sindicatos, conforme provou a experincia especialmentecom o auxlio de uma legislao trabalhista que impe obrigaes apenas para osempregadores , ir alm de suas legtimas funes, agir irresponsavelmente e abraaruma poltica de curta viso e anti-social. Fazem-no, por exemplo, sempre que procuramfixar os salrios de seus membros acima do valor real de mercado. Tal tentativa sempreacarreta desemprego. Isso, porm, s pode ser obtido atravs de alguma forma deintimidao ou coero.

    A greve o caso mais bvio do emprego de intimidao e fora para exigir econservar os salrios dos membros de um determinado sindicato acima do valor real do

    mercado de trabalho. Quando os operrios empregam a intimidao e a violncia paraimpedir o empregador de contratar novos operrios permanentes para substitu-los ocaso torna-se discutvel. Os piquetes estaro sendo usados no s contra o patro, mascontra outros operrios. Esses outros esto dispostos a aceitar os empregos que osantigos empregados deixaram vagos, e pelos salrios que os antigos estavam rejeitando.Se, portanto, os antigos operrios passarem a impedir pela fora que novostrabalhadores os substituam, impedem que estes escolham a melhor alternativa que seabre para eles e fora-os a aceitar alternativas piores. Os grevistas, portanto, estoempregando a fora para manter sua posio privilegiada contra outros operrios.

    Somos, assim, levados a concluir que sindicatos, embora possam conseguir poralgum tempo um aumento no salrio nominal para seus membros custa dos

    empregadores e mais ainda custa dos trabalhadores no-sindicalizados, na realidade

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    no conseguem, a longo prazo e para todo o conjunto dos trabalhadores, um aumento

    dos salrios reais.A crena de que isso possvel apia-se numa srie de iluses. Uma delas a falcia

    dopost hoc, ergo propter hoc, que v o enorme aumento de salrios, na segunda metadedo sculo, como decorrncia, principalmente, do crescimento do investimento de

    capitais e do progresso cientfico e tecnolgico, e o atribui a sindicatos, porque essestambm cresceram durante o mesmo perodo. Mas o erro mais responsvel por essailuso considerar que o aumento de salrios, causado pelas exigncias dos sindicatos,traz benefcios a curto prazo para determinados trabalhadores, que mantm seusempregos, deixando de examinar os efeitos desse aumento sobre o emprego, a produoe o custo de vida de todos os trabalhadores, inclusive os que foraram o aumento.

    21. O PREO JUSTO

    Autores amadores em assuntos econmicos esto sempre pedindo preos e salriosjustos. Essas nebulosas concepes de justia econmica vm-nos dos tempos

    medievais e se opem dos economistas clssicos, para quem preos funcionais so osque estimulam o maior volume de produo e vendas, e salrios funcionais so os quetendem a criar o mais alto volume de emprego e salrios.

    Uma concepo mais adequada de que salrios de equilbrio so os que resultam daigualdade entre oferta e procura de trabalho. Se, atravs de ao governamental ou

    particular, se procura elevar os preos acima do seu valor de equilbrio, reduz-se aprocura e, portanto, reduz-se tambm a produo. Se se tenta reduzir os preos abaixode seu nvel de equilbrio, a conseqente reduo ou eliminao dos lucros significaruma queda na produo. Forar os preos, portanto, quer para cima quer para baixo deseus nveis de equilbrio, ter como resultado a reduo no volume de empregos e

    produo abaixo daquele em que poderia ficar, se a situao fosse outra.Quanto aos preos, salrios e lucros que devem determinar a distribuio desse

    produto, os melhores preos no so os mais elevados, mas os que estimulam o maiorvolume de produo e vendas. As melhores taxas de salrio no so as mais elevadas,mas as que resultam em plena produo, pleno emprego e maior folha de pagamento. Osmelhores lucros, do ponto de vista no s da indstria como do trabalho, no so osmais baixos, mas os que encorajaram a maior parte das pessoas a tornarem-seempregadores ou a proporcionar maior nmero de empregos que antes. Se procurarmosdirigir a economia em benefcio de um nico grupo ou classe prejudicaremos oudestruiremos todos os grupos, inclusive os membros da prpria classe em benefcio daqual estivemos tentando dirigi-la.

    22. A FUNODOLUCRO

    Muitos ficam indignados simples meno da palavra lucro. Isso indica como pequena a compreenso que se tem da funo vital que ele exerce em nossa economia.Numa economia livre, na qual salrios, custos e de preos so deixados livre ao domercado competitivo, a perspectiva de lucros decide que artigos sero fabricados, emque quantidade e que artigos no sero produzidos. Se no h lucro na fabricao dedeterminado artigo sinal de que o trabalho e o capital dedicados sua produo estomal dirigidos; o valor dos recursos consumidos na fabricao do artigo maior que ovalor do prprio artigo.

    Uma das funes dos lucros enviar e dirigir os fatores da produo de modo aserem distribudos entre milhares de artigos diferentes, de conformidade com a procura.

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    Nenhum burocrata, por mais brilhante que seja, poder, arbitrariamente, solucionar esseproblema. As liberdades de preos e de lucros elevam a produo ao mximo e reduzema escassez mais depressa que qualquer outro sistema. Preos tabelados e lucroslimitados arbitrariamente s podero prolongar o dficit e reduzir a produo e onmero de empregos. Finalmente, funo dos lucros fazer constante presso sobre o

    dirigente de todo negcio competitivo para que reduza custos e aumente a eficincia.Em suma, os lucros, que resultam da relao entre o custo e os preos, no s nosdizem qual a mercadoria mais econmica para produzir, mas tambm quais os meiosmais econmicos para produzi-la.

    23. A MIRAGEMDAINFLAO

    O erro que mais se evidencia e, tambm, o mais antigo e persistente, sobre o qualrepousa a atrao da inflao, est em confundir dinheiro com riqueza. Considerar ariqueza como o dinheiro, ouro ou prata, escreveu Adam Smith h quase dois sculos, uma noo popular que deriva, naturalmente, da dupla funo da moeda, como

    instrumento de trocas e medida de valor (. . .) Para enriquecer preciso ter dinheiro, ena linguagem comum riqueza e dinheiro so considerados, sob certo aspecto,sinnimos.

    Os inflacionistas de maior renome reconhecem que qualquer aumento substancial daquantidade de moeda reduzir o poder aquisitivo de cada unidade monetria (o que omesmo que o aumento dos preos das mercadorias). Isso, porm, no os perturba. Pelocontrrio, essa precisamente a razo porque desejam a inflao. Alguns deles alegamque esse resultado torna melhor a posio dos devedores pobres. Outros apontam que oremdio essencial para a cura de uma depresso, para facilitar a decolagem daindstria e atingir o pleno emprego.

    H inmeras formas atravs das quais ocorre um aumento da quantidade de dinheiro.Digamos que surge porque o governo faz mais gastos do que arrecada com impostos. O

    primeiro efeito desses gastos ser a elevao dos preos dos bens e servios compradospelo governo e a colocao do dinheiro adicional em mos dos fornecedores e seusempregados. O gasto desses recursos elevar os preos pelo aumento da demanda dosque tm a renda aumentada.

    Isso no quer dizer, porm, que a riqueza e os rendimentos relativos permaneam osmesmos. Pelo contrrio, a inflao afeta a fortuna de um grupo diferentemente dafortuna de outros. Os primeiros grupos a receberem o dinheiro adicional sero os mais

    beneficiados. Os grupos que no tenham tido qualquer aumento de renda monetriosero compelidos a pagar preos mais elevados para os bens que compram, passando

    para um padro de vida mais baixo que o anterior.Pode ser que se a inflao for detida alguns anos depois o resultado venha a ser,digamos, um aumento mdio de 25% no rendimento monetrio, um aumento mdio deigual porcentagem nos preos, ambos razoavelmente distribudos por todos os grupos.Isso, porm, no eliminar os ganhos e perdas do perodo de transio.

    Assim, a inflao simplesmente um outro exemplo de nossa lio fundamental.Poder na verdade trazer a grupos favorecidos durante um curto perodo certos

    benefcios, mas somente custa de outros. E, a longo prazo, a inflao causa desastrosasconseqncias para a toda a comunidade. Mesmo uma inflao relativamente baixadistorce a estrutura da produo, promovendo a expanso de algumas indstrias custade outros. Isso implica em m aplicao e desperdcio de capital. Quando a inflao cai,

    a inverso mal dirigida do capital quer em maquinaria, fbricas, quer em edifcios e

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    estruturas no poder proporcionar dividendos adequados, e perde grande parte de seuvalor.Como ocorre com qualquer outro imposto, a inflao desencoraja toda prudncia e

    parcimnia. Encoraja um esbanjamento e toda espcie de desperdcio inconsciente, etorna muitas vezes mais lucrativo especular que produzir. Invariavelmente termina em

    amarga desiluso e colapso.

    24. O ASSALTOPOUPANA

    Desde tempos imemoriais a sabedoria proverbial tem ensinado a virtude da poupanae prevenido contra as conseqncias da prodigalidade e do desperdcio. Os economistasclssicos, refutando as falcias de seus prprios dias, mostraram que a poltica deeconomizar, que visava o melhor interesse individual, visava tambm os melhoresinteresses da nao. Mostraram que o poupador nacional, ao fazer proviso para seu

    prprio futuro, no estava prejudicando, mas auxiliando toda a comunidade.Atualmente, porm, a virtude da poupana e sua defesa pelos economistas clssicos

    mais uma vez esto sendo atacadas por outras supostas razes, ao passo que a teoriaoposta, a de gastar, est em voga.

    Em sntese, o que as pessoas ignoram que, no mundo moderno, poupana apenas outra forma de gastar. A diferena est em que se entrega o dinheiro a outrem,que o despende a fim de aumentar a produo. Uma falcia diz que as indstrias que

    produzem para o consumo so criadas sob a expectativa de certa procura, e que se aspessoas se inclinam a economizar contrariam aquela expectativa e do origem depresso.

    Outra falcia a de que poupana s vezes usada para indicarentesouramento eoutras vezes para indicar investimento, sem qualquer distino precisa entre essestermos. Diversas causas podem explicar porque alguns guardam dinheiro em casa, mascertamente esse entesouramento pequeno. Dizer que poupana igual aentesouramento voltar ao erro que j examinamos: o esquecimento de que aquilo que economizado em bens de consumo despendido em bens de capital, e que essapoupana no significa necessariamente a retrao no gasto total.

    Ainda outra falcia aponta que poupana e investimento so iguais apenas poracidente. Mas o aumento da poupana criar sua prpria procura pela reduo das taxasde juros de maneira natural, induzindo um aumento no investimento. O oposto elevariaa taxa de juros e naturalmente induziria uma reduo nos investimentos. Portanto,exceto por um pequeno entesouramento para fazer face s transaes normais daeconomia, poupana e investimento tendero a igualar-se pelo mecanismo da taxa de

    juros.Finalmente, h os que acham que h um limite capacidade da economia emabsorver novos investimentos. Mas no haver um excesso de capital at que o pasmais atrasado esteja to bem equipado tecnologicamente quanto o mais adiantado e atque a fbrica mais ineficiente do pas se coloque altura da fbrica com equipamentomais moderno e aprimorado.