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  • 8/6/2019 CIG-026 Joao Evangelist A de Souza Lima Neto

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    USO DE INFORMAO GEOGRFICA NA REA DE SADEProf. Dr. Joo Evangelista de Souza Lima NetoDepartamento de Geografia PUC-SP - Brasil

    [email protected]

    Para a anlise do uso da informao geogrfica na rea de sade no Brasil foirealizada uma caracterizao deste uso, tomando-se como base a produo publicada emdois dos principais peridicos da rea de sade pblica no Brasil: os Cadernos de SadePblica, editados pela Escola Nacional de Sade Pblica da Fundao Oswaldo Cruz, e aRevista de Sade Pblica da Faculdade de Sade Pblica da Universidade da So Paulo.

    As duas so as revistas cientficas mais freqentemente utilizadas e estovinculadas a duas grandes instituies que possuem os maiores programas de ps-graduao em sade pblica. So indexadas em bases de dados de reconhecimentointernacional para as cincias da sade, como o MEDLINE, e representam o ncleo duroda publicao de textos cientficos nacionais1.

    Como universo de anlise foram selecionados os artigos publicados no perodo de1999 at 2005, que correspondem aos volumes 15 a 21 dos Cadernos de Sade Pblica, eaos volumes 33 a 39 da Revista de Sade Pblica.

    O perodo analisado refere-se ao momento que a discusso sobre espao e sadefoi definitivamente incorporada pelas reas de Sade e de Geografia no Brasil. Foi nesteperodo que foi constitudo pela Rede Interagencial de Informaes para a Sade (RIPSA)o Comit Temtico Interdisciplinar sobre Anlise de dados espaciais em sade (CTI-GEO) em 1999. Neste mesmo ano foram realizados o simpsio "Anlise de DadosEspaciais em Sade: Mtodos, Problemas e Aplicaes", pela Escola Nacional de SadePblica da Fundao Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), e o VI Congresso Paulista de SadePblica, promovido pela Associao Paulista de Sade Pblica, que apresentou como um

    dos seus eixos temticos o de Espao e Sade. Tambm neste perodo so organizadasas primeiras mesas redondas sobre Geografia da Sade nos Encontros Nacionais deGegrafos de Florianpolis (2000) e de Joo Pessoa (2002), e os dois primeiros SimpsiosNacionais de Geografia da Sade, em Presidente Prudente (2003) e Rio de Janeiro (2005),promovidos pela Associao dos Gegrafos Brasileiros.

    1. Metodologia1

    BARATA, Rita Barradas e GOLDBAUM, Moiss. Perfil dos pesquisadores com bolsa de produtividade empesquisa do CNPq da rea de sade coletiva. Cadernos de Sade Pblica , v.19, n.6, p.1863-1876,nov./dez. 2003.

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    citaes, rene as palavras-chave identificadas com informao geogrfica. O segundogrupo, com 23% das citaes rene as palavras-chave associadas s doenas e vetores,tais como: dengue, esquistossomose e aedes. E o terceiro grupo, com 21% das citaes,rene as palavras-chave associadas a mtodos de avaliao e anlise, tais como anlisepor conglomerados e levantamentos epidemiolgicos.

    Fonte: Cadernos de Sade Pblica, v. 15-21 e Revista de Sade Pblica, v. 33-39 (1999-2005).Levantamento e organizao do autor.

    Das palavras-chave que tm alguma relao com informao geogrfica, foramencontradas 27 com 140 citaes, que constam da tabela 1. As palavras-chave quepredominaram foram anlise espacial, com 25,7% das citaes e distribuio espacial,com 24,3%.

    .

    Tabela 1 Palavras-chave No decitaes

    %

    Anlise Espacial 36 25,7Cidades 2 1,4Clima 4 2,9Conglomerados espao-temporais 1 0,7Distribuio Espacial 34 24,3Ecossistema 8 5,7Espao Geogrfico 4 2,9Estatstica Espacial 2 1,4

    Geografia Mdica 3 2,1Geografia 3 2,1

    Grfico 1 - Grupos de palavras-chave

    30%

    23%

    21%

    5%

    3%3%

    15%

    Informao GeogrficaDoenas e vetoresMtodos de avaliao e anliseIndicadores em sadeProcessos geradores de doenasSadeoutros

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    Geoprocessamento 3 2,1Indstria 2 1,4Informao geogrfica em Sade 1 0,7Mtodos Geogrficos 1 0,7Poluio Ambiental 5 3,6Populao 2 1,4Planejamento Urbano 1 0,7Recursos naturais 2 1,4Regionalizao 1 0,7Saneamento 4 2,9Sade Urbana 2 1,4Sensoriamento remoto 1 0,7Sistema de Informao Geogrfica 9 6,4Sistemas de informao 3 2,1Topografia mdica 1 0,7

    Urbanizao 4 2,9Zonas Urbanas 1 0,7total 140 100Fonte: Cadernos de Sade Pblica, v. 15-21 e Revista de Sade Pblica,

    v. 33-39 (1999-2005). Levantamento e organizao do autor.

    USO DE SISTEMAS DE INFORMAO GEOGRFICA - SIGEm relao ao uso de Sistemas de Informao Geogrfica SIG, 53 trabalhos

    (52%) utilizaram-se de SIG, enquanto que 49 (48%) no o fizeram, como pode ser observado na tabela 2.

    Tabela 2 Uso de SIGNo de

    trabalhos%

    Usou SIG 53 52No usou SIG 49 48

    Fonte: Cadernos de Sade Pblica, v. 15-21 eRevista de Sade Pblica, v. 33-39 (1999-2005). Levantamento e organizao do autor.

    USO DE INFORMAO GEOGRFICACom relao ao uso de informao geogrfica, 46 trabalhos (45,1%) utilizaram-sede informao geogrfica, ainda que 9 deles (8,8%) somente para caracterizao da reade estudo. Portanto, somente 37 (36,3%) dos mesmos utilizaram algum nvel deinformao geogrfica para anlise, ainda que parcial, do seu objeto de estudo, ousimplesmente para a definio do conceito de espao com que trabalharam. No entanto, amaioria (54%) dos trabalhos analisados no se utilizaram de informao geogrfica, nemmesmo para a caracterizao da rea de estudo, como pode ser observado na tabela 3.

    Tabela 3 Uso de Informao Geogrfica

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    No detrabalhos

    %

    Usou informao geogrficana anlise

    37 36,3

    Usou informao geogrfica

    apenas na caracterizao

    9 8,8

    No usou informaogeogrfica

    56 54,9

    Fonte: Cadernos de Sade Pblica, v. 15-21 e Revista deSade Pblica, v. 33-39 (1999-2005).Levantamento e organizao do autor.

    USO DE INFORMAO GEOGRFICA E DE SIGComo podemos observar no grfico 2, o uso de informao geogrfica por parte dos

    trabalhos que no se utilizaram de SIG foi de 44,9%, enquanto que, entre os trabalhos que

    fizeram uso de SIG, a utilizao de informao geogrfica foi de 45,3%. Se destacarmosque 9,5% (5 trabalhos) utilizaram-se da informao geogrfica apenas para acaracterizao da rea de estudo, podemos observar que somente 35,8% dos trabalhosque se utilizaram da metodologia do SIG foram os que efetivamente usaram informaogeogrfica para a anlise do seu objeto de estudo. Situao semelhante encontramosentre os no usurios de SIG: 8,2% destes utilizaram-se da informao geogrfica apenaspara a caracterizao da rea de estudo e 36,7% foram os que efetivamente usaram

    informao geogrfica para a anlise do seu objeto de estudo.

    Fonte: Cadernos de Sade Pblica, v. 15-21 e Revista de Sade Pblica, v. 33-39 (1999-2005).Levantamento e organizao do autor.

    ESCALA DE ANLISE

    Grfico 2 - Utilizao de informao geogrfica emrelao ao uso de SIG

    0%

    20%

    40%60%

    80%

    100%

    120%

    Usou SIG No usou SIG

    No usou informaogeogrfica

    Usou informaogeogrfica s nacaracterizaoUsou informaogeogrfica na anlise

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    Dos trabalhos analisados apenas 12 (11,8%), como podemos observar na tabela 4,no definiram uma escala geogrfica de anlise, pois se tratam de estudos tericos.

    Tabela 4 Escala de anliseMunicipal 44 43,1%Estadual 14 13,7%Local 13 12,7%Regional 10 9,8%Nacional 8 7,8%Global 1 1,0%sem definio 12 11,8%total 102 100%

    Fonte: Cadernos de Sade Pblica, v. 15-21 e Revista de Sade Pblica,v. 33-39 (1999-2005). Levantamento e organizao do autor.

    Dos 90 trabalhos que definiram uma escala de anlise, quase a metade (48,9%)optou pela escala municipal como podemos observar no grfico 5. A forte presena deanlises em escala local (bairros e distritos municipais) com 14,4% dos trabalhos, confirmaa preferncia pelos nveis de anlise que permitem um maior detalhamento.

    Fonte: Cadernos de Sade Pblica, v. 15-21 e Revista de Sade Pblica, v. 33-39 (1999-2005).Levantamento e organizao do autor.

    ESCALA E USO DE SIGEntre os 49 trabalhos que fizeram uso de SIG e definiram uma escala de anlise

    (como podemos observar no grfico 6) 31 (63,3%) optaram pela escala municipal com forteconcentrao, em comparao com os demais nveis de anlise: o estadual com 16,3%, olocal com 12,2% e o nacional com 8,2%. Entre os 41 trabalhos que no fizeram uso deSIG, a distribuio da opo pelos nveis de escala foi menos concentrada, com 13

    Grfico 5: Escala de anlise

    48,9%

    15,6% 14,4% 11,1% 8,9%1,1%

    0%10%20%30%40%50%60%

    municipal estadual local regional nacional globalnveis de anlise

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    trabalhos (31,7%) optando pela escala municipal, 10 (24,4%) pela escala regional, 7 (17%)pela local, 6 (14,7%) pela estadual, 4 (9,8%) pela nacional e 1 (2,4%) pela global.

    Fonte: Cadernos de Sade Pblica, v. 15-21 e Revista de Sade Pblica, v. 33-39 (1999-2005).Levantamento e organizao do autor.

    ESCALA E USO DE INFORMAO GEOGRFICA

    Entre os 29 trabalhos que fizeram uso de informao geogrfica e definiram umaescala de anlise, como podemos observar no grfico 7, ocorreu uma diversidade deescalas de anlise selecionadas, com uma maior concentrao na escala municipal(37,9%), mas com destaque tambm para as escalas local (20,7%), e estadual (17,2%).Completam o quadro as escalas regional (10,4%), nacional (10,4%) e global (3,4%). J nostrabalhos que no se utilizaram de informao geogrfica ou o fizeram apenas paracaracterizao da rea de estudo, ocorreu uma maior concentrao em algumas escalasde anlise. Nos 9 trabalhos que usaram a informao geogrfica apenas na caracterizaoda rea de estudo, predominaram as escalas municipal (44,5%) e estadual (44,5%),complementadas pela escala regional (11%). J nos 52 trabalhos que no usaraminformao geogrfica na anlise do seu objeto de estudo, 55,8% definiram como escalade anlise a municipal, restando aos demais nveis de anlise uma menor participao,com 13,5% para a escala local, 11,5% para a regional, 9,6% para a estadual e 9,6% para anacional.

    Grfico 6 - Escalas de anlise e uso de SIG

    0%10%20%30%

    40%50%60%70%80%90%

    100%

    usou SIG No usou SIG

    GlobalNacionalRegionalLocalEstadualMunicipal

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    Fonte: Cadernos de Sade Pblica, v. 15-21 e Revista de Sade Pblica, v. 33-39 (1999-2005).Levantamento e organizao do autor.

    CONCEITOS

    Dos 102 trabalhos analisados, apenas 37 (36,3%) citam algum conceito ou nooutilizada pela Geografia, com um total de 51 referncias. Dentre os conceitos de Geografiamais presentes nos trabalhos analisados destaca-se o conceito de espao, com 29,4%do total, como podemos observar na tabela 5. Somando-se o uso deste conceito com apresena da noo de distribuio espacial, podemos perceber uma forte percepo daespacialidade do processo sade-doena, em cerca de 31% dos trabalhos que citaramconceitos de Geografia.

    Tabela 5 Conceitos de GeografiaEspao 15 29,4%Regio 12 23,5%Territrio 3 5,9%Zonas fitogeogrficas 3 5,9%Urbanizao 3 5,9%Escala geogrfica 2 3,9%Redes 2 3,9%Regionalizao 2 3,9%Distribuio espacial 1 2%

    Unidades espaciais 1 2%Plo de atrao 1 2%Migrao 1 2%Clima 1 2%Lugar 1 2%Territorializao 1 2%Globalizao 1 2%Interland 1 2%TOTAL 52 100%Fonte: Cadernos de Sade Pblica, v. 15-21 e Revista

    de Sade Pblica, v. 33-39 (1999-2005).Levantamento e organizao do autor.

    Grfico 7 - Escalas de anlise e o uso de Informao Geogrfica

    0%20%40%60%80%

    100%120%

    usou IG usou IG s nacaracterizao

    No usou IG

    GlobalNacionalRegionalLocalEstadualMunicipal

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    No entanto, como podemos observar no grfico 8, a forte predominncia deconceitos ligados definio da rea de estudo (regio, territrio, zonas, lugar, unidadesespaciais, regionalizao, territorializao, escala geogrfica e interland) com 51%, indicao carter operacional como a informao geogrfica encarada. Ou seja, a informaogeogrfica utilizada, predominantemente, para a delimitao da rea de estudo, sendomarginal a sua utilizao para explicar as caractersticas do fenmeno em estudo, queocorre com a utilizao dos conceitos vinculados anlise de processos de organizaodo espao geogrfico, tais como urbanizao, globalizao, clima, plo de atrao, redes emigrao (18%), ainda que estes no sejam exclusivos da Geografia. A percepo geral daespacialidade do processo sade-doena destacada por 31% dos conceitosapresentados nos trabalhos, sobretudo atravs do conceito de espao.

    Fonte: Cadernos de Sade Pblica, v. 15-21 e Revista de Sade Pblica, v. 33-39 (1999-2005).Levantamento e organizao do autor.

    CONCEITOS E USO DE SIGDentre os 53 trabalhos que fizeram uso de SIG, apenas 30,2% citam algum conceito

    ou noo utilizada pela Geografia. Entre os 49 trabalhos que no fizeram uso de SIG, aporcentagem dos que citam algum conceito de Geografia um pouco maior: 36,7%. Dosconceitos citados pelos trabalhos que fizeram uso de SIG, como podemos observar nogrfico 9, h uma forte predominncia de conceitos ligados definio da rea de estudocom 52,2%. E tambm um grande destaque para a noo de espacialidade, com 34,8%,

    Grfico 8: Conceitos e noes utilizadas

    51%

    31%

    18%

    definio de rea espacialidade anlise de processos

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    em detrimento dos conceitos vinculados anlise de processos de organizao do espaogeogrfico, com apenas 13%.

    No caso dos trabalhos que no fizeram uso de SIG, h uma predominncia dosconceitos ligados definio da rea de estudo (50%) e vinculados percepo daespacialidade (28,6%) do processo sade-doena, no entanto, os conceitos vinculados anlise de processos de organizao do espao geogrfico, ao contrrio dos trabalhos quefizeram uso de SIG, apresentam uma forte presena, com 21,4%.

    Fonte: Cadernos de Sade Pblica, v. 15-21 e Revista de Sade Pblica, v. 33-39 (1999-2005).Levantamento e organizao do autor.

    3. DiscussoA utilizao de informao geogrfica nos trabalhos desenvolvidos na rea de sade

    est claramente identificada com a utilizao de Sistemas de Informao Geogrfica (SIG),ou seja, entende-se, sobretudo na rea de sade, que ao utilizar-se de SIG, se esttrabalhando com informao geogrfica, e que o conceito de espao dos SIG o deespao geogrfico, tanto que, freqentemente, os pesquisadores que trabalham com SIG,buscam em autores de Geografia uma definio de espao que embase a anliseespacial que desenvolvem atravs do SIG. Dessa forma ignoram que o espao analisadopelo SIG no o espao geogrfico, mas nica e simplesmente o espaocomputacionalmente representado2.

    Em muitos casos isso gera uma certa confuso, pois como os SIG trabalham cominformao georreferenciada, a utilizao de informao geogrfica no vinculadaautomaticamente ao uso deste instrumento. Mais do que isso, podemos constatar que a2 CMARA, Gilberto e MONTEIRO, Antnio M. Vieira. Conceitos bsicos em Cincia da Geoinformao. In:

    CMARA, G. et al.Introduo Cincia da Geoinformao . So Jos dos Campos: INPE, 2001, p. 2.

    Grfico 9 - Conceitos e uso de SIG

    0%20%40%60%80%

    100%

    No usa SIG Usa SIG

    definio de rea espacialidade anlise geogrfica

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    recente expanso na utilizao dos SIG, na rea de sade, no tem funcionado como umindutor da utilizao de informao geogrfica nesta rea. Como podemos observar nosdados apresentados, pouco mais de um tero (35,8%) dos trabalhos desenvolvidos comuso de SIG so os que efetivamente utilizam informao geogrfica. O mesmo vale para ouso dos conceitos da Geografia, que s ocorre em 30,2% dos artigos que se utilizaram deSIG. Enquanto entre os trabalhos que no utilizam SIG, o uso de informao geogrficachega a ser ligeiramente maior (36,7%), valor que tambm se repete no caso do uso dosconceitos de Geografia nestes trabalhos.

    No entanto, o mesmo no ocorre em relao ao uso de mapas. A sua utilizao,sobretudo na anlise do objeto de estudo, bastante estimulada pelo uso dos SIG. O usodos SIG tem um papel significativo na mudana da forma como os mapas so utilizados,predominantemente na rea de sade. Na maioria dos trabalhos que se utilizam de SIG, omapa deixa de ser uma mera ilustrao, como ocorria com a Geografia Mdica tradicional3,para tornar-se um elemento de anlise dos dados, o que acaba possibilitando aincorporao da informao geogrfica (o que nem sempre ocorre). Contudo, aindaocorrem alguns casos (26,2%) em que mesmo a utilizao do SIG no impede que o mapaseja tratado como ilustrao e, at mesmo, denominado de figura4.

    A utilizao do mapa em conjunto com o uso de informao geogrfica ocorrefundamentalmente quando os mapas so utilizados como instrumento de anlise do objetode estudo (54,3%). Ou seja, quanto mais o mapa deixa de ser encarado como merailustrao, maior o uso de informao geogrfica.

    Das 140 citaes de palavras-chave com alguma relao com informaogeogrfica, 50% restringem-se a duas, que so anlise espacial (25,7%) e distribuioespacial (24,3%). Ambas esto associadas ao uso de SIG, pois a distribuio espacial desenvolvida com auxlio de SIG em 53% dos artigos que citam essa palavra-chave, j a

    anlise espacial realizada com auxlio de SIG em 83% dos artigos que a citam. Essasduas palavras-chave caracterizam a viso predominante nos artigos analisados sobre qualseja a contribuio da Geografia na rea de sade, que a de distribuir espacialmente osdados sobre as doenas, mas no analis-los. A distribuio espacial das doenas analisada sem o uso de informao geogrfica em 79,4% dos artigos que citam essa

    3 LIMA NETO, Joo E. S.O espao do dengue: reflexes sobre a anlise espacial do dengue. 2000.Dissertao (Mestrado) - FFLCH. Universidade de So Paulo, So Paulo.

    4 LEAL, Carmen Helena Seoane e WNSCH FILHO, Victor. Mortalidade por leucemias relacionada

    industrializao. Revista de Sade Pblica , v.36, n.4, p.400-8, 2002. ROJAS, Maritza; ESPINOSA, C. eSEIJAS, D. Asociacin entre plomo en sangre y parmetros sociodemogrficos en poblacin infantil.Revista de Sade Pblica , v.37, n.4, p.503-9, 2003.

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    palavra-chave. E a anlise espacial desenvolvida, tambm sem o uso de informaogeogrfica, em 63,8% dos artigos que a citam.

    A anlise espacial, tal como desenvolvida, predominantemente atravs dautilizao de SIG, trata-se, na verdade, da distribuio dos dados numa dada rea, noexiste anlise espacial, pois esta trata-se, na grande maioria dos casos, de umaidentificao de reas onde a sade precria, necessitando de ateno diferenciada 5. Aanlise da influncia da organizao do espao sobre a sade, ou seja, a anlisegeogrfica do espao e sua influncia sobre o processo sade-doena, ocorre de formareduzida. Os estudos que trabalham com anlise espacial desenvolvem,predominantemente, a mesma linha de trabalho da Geografia Mdica tradicional, ou seja,descrevendo variaes geogrficas na distribuio das doenas 6. Dessa forma, anliseespacial, na perspectiva dos autores analisados, no a anlise geogrfica daorganizao do espao, trata-se de um conjunto de tcnicas de tratamento de dados, queenvolve a manipulao de dados com base na integrao de informaes com refernciasespaciais7, est mais prxima da Estatstica Espacial do que da Geografia.

    A predominncia das escalas municipal e local de anlise deve-se facilidade deobteno de dados, sobretudo na escala municipal, mas tambm facilidade demanipulao de dados que a utilizao do SIG propicia. No caso da utilizao da escalalocal, deve-se tambm facilidade de obteno de dados organizados pelos setorescensitrios, que permitem a anlise por bairros, que ressaltam os diferenciais internos dacidade8. Isso faz com que a abrangncia da anlise, em muitos trabalhos, seja municipal,mas as unidades bsicas de anlise sejam os bairros, os distritos ou regiesadministrativas. Os trabalhos que no utilizaram SIG, como esto menos presos a dadosestatsticos oficiais, apresentam uma maior diversificao das escalas de anlise.

    Na quase totalidade dos trabalhos analisados, os autores utilizam as divises

    administrativas (municpios, estados, distritos, e outras divises administrativas), e noapresentam propostas de regionalizao. Quando se aproximam disto, fazem propostas deaglomerao de bairros ou setores censitrios9, apesar de alguns autores destacarem5 SANTOS, Simone M., BARCELLOS, Christovam, CARVALHO, Marilia S et al. Deteco de aglomerados

    espaciais de bitos por causas violentas em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, 1996.Cad. SadePblica , v.17, n.5, set./out. 2001, p.1142.

    6 Id., ibid., p. 1142.7 TOMAZELLI, Jeane, CZERESNIA, Dina e BARCELLOS, Christovam. Distribuio dos casos de AIDS em

    mulheres no Rio de Janeiro, de 1982 a 1997: uma anlise espacial. Cad. Sade Pblica , v.19, n.4, jul./ago. 2003, p. 1051.

    8

    Id., ibid., p. 1058.9 Como pode ser observado em ANDRADE, Carla Loureno Tavares de e SZWARCWALD, CliaLandmann. Anlise espacial da mortalidade neonatal precoce no Municpio do Rio de Janeiro, 1995-1996.

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    que evidente que vetor e reservatrio no respeitam as linhas arbitrrias da diviso dereas administrativas10. Isso corroborado pela diminuta utilizao dos conceitos deGeografia, tais como os de regionalizao (presente em 2 artigos), territorializao (1artigo) ou escala geogrfica (2 artigos). Ou seja, a utilizao da informao geogrfica naanlise do objeto de estudo, que j reduzida (36,3%), se mostra menos presente aindaquando se trata de discutir a delimitao da rea de estudo. O que acaba determinando oslimites da rea de estudo so, a abrangncia territorial das instituies vinculadas aosservios de sade, e a disponibilidade de acesso aos dados secundrios, o que ajuda aentender a predominncia do municpio como a unidade espacial de anlise do processosade-doena 11.

    A produo analisada ficou concentrada em instituies situadas na Regio Sudestecom 68,3% das citaes, e mais especificamente nos estados do Rio de Janeiro e SoPaulo que, sozinhos, acumularam 61,5% das citaes, e em duas grandes instituies, aFIOCRUZ (incluindo ENSP) e a USP (incluindo o campus de Ribeiro Preto), reunindo 59citaes, ou seja, 36,6% de todas as citaes de instituies. A despeito do fato dessasduas instituies serem as responsveis pela publicao dos peridicos analisados, essesresultados refletem processos histricos que vm contribuindo tanto para a concentraoda pesquisa e da produo cientfica em determinadas regies e estados, como para atendncia da produo de conhecimentos cientficos sobre determinados locais raramenteconsiderar suas inter-relaes com outros nveis ou escalas, que podem incluir desde omunicpio ao estado, at os nveis nacional, regional e internacional. Por exemplo, dos 6textos que envolveram instituies da Amrica Latina, nenhum tratou dos problemasconsiderando sua inter-relao com escala global, apenas um fez referncia situao deoutro pas vizinho com relao aos problemas de sade similares. Diminuindo a escalapara a nacional, dos sete textos que tiveram o Brasil como unidade de anlise, apenas um

    situou as mudanas no quadro de sade do pas na sua inter-relao com as mudanasque vinham ocorrendo no plano ou escala internacional. De modo geral, regies, estados,municpios ou localidades de municpios foram tratados como unidades espaciais deanlise isoladas e no nas suas inter-relaes e interdependncia com os outros nveis ouescalas de anlise.

    Cad. Sade Pblica , v.17, n.5, p.1199-1210, set./out. 2001.10 CAMARGO-NEVES, Vera L. Fonseca de, KATZ, Gizelda, RODAS, Lilian A. Colebrusco et al. Utilizao de

    ferramentas de anlise espacial na vigilncia epidemiolgica de leishmaniose visceral americana -

    Araatuba, So Paulo, Brasil, 1998-1999.Cad. Sade Pblica , v.17, n.5, set./out. 2001, p. 1265.11 SKABA, Daniel A.; CARVALHO, Marilia S; BARCELLOS, Christovam et al. Geoprocessamento dos dadosda sade: o tratamento dos endereos. Cad. Sade Pblica , v.20, n.6, p.1753-1756, nov./dez. 2004.

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    A produo coletiva dos trabalhos, com 82,2% sendo da autoria de 2 ou maisautores, e 59,8% com 2 ou mais instituies envolvidas em cada artigo, refora umatendncia, para a rea de sade na Amrica Latina 12, de coletivizao do trabalhocientfico, marcada por uma diminuio relativa do nmero de artigos publicados por investigadores isolados e uma tendncia de maior cooperao entre instituies.

    A marcante presena de cooperao entre as instituies de ensino e pesquisa e asinstituies vinculadas aos servios de sade na elaborao dos trabalhos aqui analisados,com 41,8% dos trabalhos desenvolvidos por duas ou mais instituies, mostra o fortecarter aplicado das anlises que envolvem informao geogrfica ou, mais exatamente,Sistemas de Informao Geogrfica, pois 69,6% destes trabalhos fizeram uso de SIG.

    A concentrao de citaes de autores de Geografia em poucas obras, e maisainda, em poucos autores, indica, de um lado, o reconhecimento destes autores pelospesquisadores da rea de sade. De outro lado, tambm pode indicar a falta deconhecimento, por parte destes pesquisadores, sobre a produo mais recente na rea deGeografia, sobretudo na temtica de Geografia da Sade, pois apenas 21,9% das obras deGeografia citadas nos artigos analisados so referentes Geografia da Sade. A utilizaodas obras de Milton Santos est relaciona sua discusso sobre o conceito de espao,tanto que em alguns trabalhos, a nica informao extrada do texto de Milton Santos apenas a definio de espao 13. Isso se deve tambm ao equivoco de muitospesquisadores, que no so gegrafos nem especialistas em SIG que, ao utilizarem-se deSIG, acreditam estar analisando o espao geogrfico, quando na verdade esto lidandocom o espao computacionalmente representado. O que ocorre com o conceito de espaogeogrfico, em muitos destes trabalhos, que ele, como destaca Milton Santos, no passade uma metfora que no permite teorizaes 14.

    O uso impreciso dos termos geogrficos, com os respectivos conceitos sendo

    apresentados de modo excessivamente simplificado, ou mesmo equivocado, ocorre em

    12 PELLEGRINI FILHO, Alberto; GOLDBAUM, Moiss e SILVI, John. Production of scientific articles abouthealth in six Latin American countries, 1973-1992. Rev. Pan. de Salud Publica , v.1, n.1, p.23-34, jan.1997.

    13 XIMENES, Ricardo Arraes de Alencar, MARTELLI, Celina Maria Turchi, SOUZA, Wayner Vieira de et al.Vigilncia de doenas endmicas em reas urbanas: a interface entre mapas de setores censitrios eindicadores de morbidade. Cadernos de Sade Pblica , v.15, n.1, p.53-62, jan./mar. 1999; MORAISNETO, O. L. de et al. Diferenas no padro de ocorrncia da mortalidade neonatal e ps-neonatal noMunicpio de Goinia, Brasil, 1992-1996: anlise espacial para identificao das reas de risco.Cadernosde Sade Pblica , v.17, n.5, p.1241-1250, set./out. 2001; COSTA, M. da C. N.et al . Mortalidade infantil e

    condies de vida: a reproduo das desigualdades sociais em sade na dcada de 90. Cadernos deSade Pblica , v.17, n.3, p.555-567, maio/jun. 2001.14 SANTOS, Milton.A natureza do espao : tcnica e tempo, razo e emoo. S. Paulo: Edusp, 2002, p. 87.

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    diversos trabalhos, sobretudo com relao aos conceitos de espao 15 e regio16. O quetambm ocorre o uso de expresses caractersticas da terminologia da Geografia semque se configurem em termos geogrficos, pois esto desvinculadas dos respectivosconceitos. Isso ocorre, sobretudo, com expresses de uso mais coloquial como territrio17

    e espao 18. Para que expresses tais como espao, territrio e regio sejam entendidoscomo termos geogrficos preciso que os respectivos conceitos tambm sejam utilizados,pois termo uma unidade lingstica que designa um conceito19.

    Dentre os conceitos de Geografia levantados nos artigos analisados, h umapredominncia (51%) dos conceitos ligados definio da rea de estudo (regio,territrio, etc.), pouco variando entre usurios de SIG (52%) ou no (50%). No entanto,com relao utilizao de conceitos vinculados analise de processos de organizaodo espao geogrfico (plo de atrao, redes, etc.) a diferena significativa. Entre osusurios de SIG a utilizao destes conceitos de apenas 13%, enquanto que entre osno usurios de SIG, a utilizao destes conceitos chega a 21,4%, reforando umatendncia, j assinalada, de pouca utilizao da informao geogrfica na anlise doprocesso sade-doena, sobretudo nos trabalhos que se utilizam de SIG.

    Em suma, essa, alis, uma das principais caractersticas dessa produo da reade sade aqui analisada, que se utiliza, de alguma forma, da informao geogrfica: o fazpouco, e quando faz, no na anlise do seu objeto. A impreciso e o pouco uso (30,2%)dos conceitos de Geografia indicam a dificuldade dos profissionais da rea da sade em seapropriarem do conhecimento produzido pela Geografia.

    15 COSTA, M. da C. N. et al . Mortalidade infantil e condies de vida: a reproduo das desigualdadessociais em sade na dcada de 90. Cadernos de Sade Pblica , v.17, n.3, p.555-567, maio/jun. 2001;

    BRAGA, C. et al. Avaliao de indicador scio-ambiental utilizado no rastreamento de reas de transmissode filariose linftica em espaos urbanos. Cadernos de Sade Pblica , v.17, n.5, p.1211-1218, set./out.2001; BARBOSA, C. S. et al. Ecoepidemiologia da esquistossomose urbana na ilha de Itamarac, Estadode Pernambuco. Revista de Sade Pblica , v.34, n.4, p.337-341, ago. 2000.

    16 PINHEIRO, R. S. et al. Mercados hospitalares em rea urbana: uma abordagem metodolgica. Cad.Sade Pblica , v.17, n.5, p.1111-1121, set./out. 2001; SANTOS, J. L. et al. Incidence rate and spatio-temporal clustering of type 1 diabetes in Santiago, Chile, from 1997 to 1998.Rev. Sade Pblica , v.35, n.1,p. 96-100, 2001.

    17 SOUZA, W. V. et al . Aplicao de modelo bayesiano emprico na anlise espacial da ocorrncia dehansenase. Revista de Sade Pblica , v.35, n.5, p.474-480, out. 2001.

    18 MARTINS, Cludia Maria e ALMEIDA, Mrcia Furquim de. Fecundidade e diferenciais intra-urbanos dedesenvolvimento humano, So Paulo, Brasil, 1997.Revista de Sade Pblica , v.35, n.5, p.421-427, out.2001; OLIVEIRA, L. M. et al. Riscos reprodutivos em regio prxima ao plo petroqumico de Triunfo no Sul

    do Brasil.Revista de Sade Pblica , v.36, n.1, p.81-87, fev. 2002.19 KRIEGER, M.G. & MACIEL, A.M.B. (orgs.)Temas de Terminologia . Porto Alegre; So Paulo: Editora daUFRGS; Humanitas/USP, 2001, p. 68.