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Ciências Sociais

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Page 1: Ciencias Sociais Unidade I

Ciências Sociais

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Professora conteudista: Josefa Alexandrina Silva

Page 3: Ciencias Sociais Unidade I

Ciências Sociais

Unidade I

1 INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO CIENTÍFICO SOBRE O SOCIAL ......................................................41.1 As origens do pensamento científico sobre o social .................................................................41.2 A sociologia pré-científica ...................................................................................................................61.3 O pensamento científico sobre o social .........................................................................................8

2 TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS DO SÉCULO XVIII ................................................................................... 102.1 Revoluções burguesas ........................................................................................................................ 10

2.1.1 Revolução Francesa ............................................................................................................................... 102.1.2 Revolução Industrial ...............................................................................................................................11

3 AS PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES DO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO CLÁSSICO ...................... 133.1 Émile Durkheim e o pensamento positivista ............................................................................ 13

3.1.1 A relação indivíduo x sociedade ....................................................................................................... 143.1.2 Os fatos sociais e a consciência coletiva ....................................................................................... 153.1.3 Solidariedade mecânica e orgânica ................................................................................................. 16

3.2 Karl Marx e o materialismo histórico e dialético .................................................................... 173.2.1 Classes sociais ........................................................................................................................................... 183.2.2 Ideologia e alienação ............................................................................................................................ 183.2.3 Salário, valor, lucro, mais-valia ......................................................................................................... 193.2.4 A amplitude da contribuição de Karl Marx .................................................................................. 20

3.3 Max Weber e a busca das conexões de sentido ....................................................................... 203.3.1 Ação social e tipo ideal ......................................................................................................................... 213.3.2 A tarefa do cientista .............................................................................................................................. 223.3.3 A ética protestante e o espírito do capitalismo ......................................................................... 223.3.4 Teoria da burocracia e os tipos de dominação ........................................................................... 23

Unidade II

4 A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE CAPITALISTA NO BRASIL ................................................................. 264.1 Industrialização e formação da sociedade de classes ........................................................... 264.2 O capitalismo dependente ................................................................................................................ 27

5 GLOBALIZAÇÃO E SUAS CONSEQUÊNCIAS ........................................................................................... 285.1 A globalização comercial e financeira ......................................................................................... 285.2 Retrocesso do poder sindical ........................................................................................................... 295.3 As novas tecnologias .......................................................................................................................... 305.4 A globalização cultural ...................................................................................................................... 30

Sumário

Page 4: Ciencias Sociais Unidade I

6 TRANSFORMAÇÕES DO TRABALHO ......................................................................................................... 326.1 O processo de precarização do trabalho ..................................................................................... 326.2 Desemprego estrutural e informalidade ..................................................................................... 33

7 POLÍTICA E RELAÇÕES DE PODER: PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E DIREITOS DO CIDADÃO ..... 347.1 Política, poder e Estado ..................................................................................................................... 347.2 Democracia e cidadania .................................................................................................................... 357.3 Participação política ............................................................................................................................ 35

8 QUESTÕES URBANAS ..................................................................................................................................... 368.1 A cidade e seus problemas ............................................................................................................... 368.2 Violência urbana ................................................................................................................................... 37

9 MOVIMENTOS SOCIAIS ................................................................................................................................. 379.1 A sociedade em movimento ............................................................................................................ 379.2 Movimentos da sociedade em rede .............................................................................................. 39

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Apresentação da disciplina

Prezados alunos

O objetivo deste texto é fornecer aos alunos do SEPI material de apoio para o acompanhamento da disciplina Ciências Sociais. A primeira questão a explicitar é: qual o sentido do aprendizado das ciências sociais na formação universitária?

As ciências sociais se definem a partir da possibilidade de o homem contemporâneo compreender a realidade social na qual vive a partir de uma perspectiva científica.

A seguir, citamos a definição de três autores.1

A sociologia, como ciência, segundo Mills (1965), é um conhecimento capaz de conduzir o homem comum a compreender os nexos que ligam sua vida individual aos processos sociais mais gerais. Como o homem comum não tem consciência da complexidade da realidade social, o autor afirma que a superação dessa condição de alienação se dá com o desenvolvimento do que chama “imaginação sociológica”, que possibilita “usar a informação e desenvolver a razão”.

Ianni (1988) afirma que o mundo depende da sociologia para ser explicado, para ser compreendido, e que sem a sociologia talvez o mundo seria mais confuso e incógnito. A sociologia atuaria, assim, como “autoconsciência” da sociedade.

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1www.sbsociologia.com.br/congresso

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Outro autor que se volta para refletir sobre o sentido da sociologia, Giddens (2001), atribui a essa ciência um papel central para a compreensão das forças sociais que vêm transformando nossas vidas. Para ele, a vida social tornou-se episódica, fragmentária e marcada por incertezas, para cujo entendimento deve contribuir o pensamento sociológico.

Todos nós vivemos em sociedade e, pela nossa condição humana, somos capazes de elaborar uma visão do mundo, formular hipóteses e opiniões sobre os eventos sociais. Mas isso ainda não é ciência. O que vai caracterizar a reflexão científica sobre o social é a utilização de métodos adequados de análise, de formulação de teorias.

Iniciamos nosso curso discutindo o processo de formação de um pensamento científico sobre o mundo social. Mas, afinal, o que se estuda nessa disciplina? Vamos procurar conhecer, sob a perspectiva científica, a sociedade capitalista na qual estamos todos imersos. Para tanto, é necessário refletir sobre os fundamentos desse modelo de organização social que se desenvolveu na Europa a partir do século XV.

Num segundo momento, vamos discutir rapidamente um conjunto de transformações sociais ocorridas na Europa, no século XVIII, que conduziu o sistema capitalista (nosso objeto de estudo) a se afirmar como hegemônico no mundo.

Em seguida, vamos discorrer sobre as principais contribuições de autores clássicos da sociologia. O objetivo desse item é refletirmos conjuntamente sobre a pertinência das análises desses autores para a compreensão do mundo atual.

Não podemos deixar de discutir a sociedade brasileira, por isso vamos abordar como se deu a inserção do Brasil

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no sistema capitalista: a industrialização, a urbanização, procurando compreender de que maneira criamos um sistema econômico dependente de recursos e tecnologia externos.

De posse de referências mais consistentes sobre o sistema capitalista, vamos nos voltar para a compreensão da sociedade atual. Discutiremos o que é globalização, o impacto das novas tecnologias e, em seguida, analisaremos as transformações que têm conduzido aos processos de precarização do trabalho, do desemprego e da informalidade.

É usual encontrarmos pessoas simples que atribuem todas as mazelas de sua existência ao governo e “aos políticos”. Como queremos fugir do senso comum, vamos refletir: afinal, o que é política? Poder? Qual o papel do Estado? É importante a participação política?

Dedicaremos os últimos tópicos do nosso curso para discutir as questões urbanas. Sabemos, hoje, que a maior parte da população brasileira vive em áreas urbanas com inúmeros problemas, como a questão ambiental e a violência. Não podemos deixar de discutir sob uma perspectiva científica esses problemas.

Por fim, vamos tratar dos movimentos sociais, pois a vida em sociedade é extremamente dinâmica e marcada por lutas constantes de grupos sociais que defendem interesses específicos.

No final, espera-se que vocês, alunos, tenham desenvolvido um olhar mais crítico sobre a sociedade, o que, com certeza, contribuirá para seu aprimoramento profissional.

Bons estudos !

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1 INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO CIENTÍFICO SOBRE O SOCIAL

1.1 As origens do pensamento científico sobre o social

Desde que o ser humano desenvolveu a capacidade de pensar, busca explicações para os fenômenos que o circundam. A partir dessa preocupação básica, o homem torna-se produtor de conhecimento sobre o mundo. Num primeiro momento, as explicações sobre o funcionamento da natureza e da vida humana são dadas a partir de mitos, depois se cria a religião, a filosofia e a ciência.

O conhecimento mítico manifesta-se através de um conjunto de histórias, lendas, crenças. Os mitos carregam mensagens que traduzem os costumes de um povo e constituem um discurso explicativo da vida social. O mito explica-se pela fé, sem a necessidade de comprovação.

Segundo Meksenas, (1993, p. 39), “o mito fez com que o ser humano procurasse entender o mundo através do sentimento e da busca da ordem das coisas”.

À medida que o homem desenvolve sua consciência, sente necessidade de descobrir as leis que regem o mundo e procura entendê-lo de um modo racional. Enquanto o mito, através de histórias, contribui para o homem aceitar o mundo, a filosofia ajuda a compreender o porquê das coisas.

O conhecimento filosófico também é valorativo, mas se apoia na formulação de hipóteses, é pautado na razão e tem como finalidade buscar uma representação coerente da realidade estudada. Como afirma Lakatos, (2006, p. 19), “o conhecimento filosófico é caracterizado pelo esforço da razão pura para questionar os problemas humanos e poder discernir

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entre o certo e o errado, unicamente recorrendo às luzes da razão humana”.

A importância da civilização grega (300 a.C.) para a história da humanidade foi o nascimento da filosofia nessa civilização. Para aprofundar os estudos, vale a pena a leitura de autores como Platão e Aristóteles.

Como afirmava Sócrates, “não existe no mundo conhecimento pronto, acabado, e se desejamos chegar à raiz do conhecimento, devemos – em primeiro lugar – criticar o que já conhecemos”. 2

O conhecimento religioso apoia-se em doutrinas valorativas3 e suas verdades são consideradas indiscutíveis. É um tipo de conhecimento que não se apoia na razão e na experimentação, mas na fé da revelação divina.

O conhecimento religioso impôs-se como conhecimento dominante no mundo ocidental durante o período medieval. O cristianismo impediu o desenvolvimento de outras formas de conhecer a realidade e se constituiu num saber “todo poderoso”, que justificava o poder de uma instituição: a Igreja Católica.

As transformações que ocorreram no mundo a partir do século XVI, com as grandes navegações e a internacionalização do comércio, são acompanhadas pela crítica ao poder eclesiástico para explicar a realidade.

Com a desagregação do mundo feudal, é conferida ao saber científico uma importância única: a necessidade histórica de formular um saber que permita estabelecer um critério de verdade funcional.

A razão, ou a capacidade racional do homem de conhecer, é definida como elemento essencial que se colocaria frontalmente

2 Citado por Meksenas, 1993.3 O termo “valorativo” é empregado aqui com o sentido de emitir

juízo de valor.

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contra o dogmatismo e a autoridade eclesial, criando-se uma nova atitude diante da possibilidade de explicar os fatos sociais. (Costa, 2005, p. 29)

O conhecimento científico pauta-se na realidade concreta, é baseado na experimentação e não apenas na razão. É um saber que possui uma ordenação lógica e busca constantemente se repensar. A característica elementar do pensamento científico é a busca constante da verdade por meio do desenvolvimento de métodos de análise.

Portanto, mito, religião, filosofia e ciência são formas de conhecimento produzidas pelo ser humano. O sentido da busca de conhecimento é chegar à verdade.

O compromisso da universidade é com o conhecimento científico. Portanto, foge a nossos objetivos discutir os problemas sociais com base no pensamento religioso ou no senso comum.

1.2 A sociologia pré-científica

O termo “sociologia pré-científica” foi emprestado da professora Cristina Costa, que se refere ao pensamento social anterior ao desenvolvimento da sociologia como ciência. Trata-se do pensamento filosófico que se desenvolveu a partir do Renascimento e se estende até o Iluminismo.4

Nesta unidade, vamos citar a contribuição de alguns filósofos para a compreensão das transformações sociais que culminaram no desenvolvimento do capitalismo, que pretendemos analisar no decorrer deste curso.

A partir do século XV, significativas mudanças ocorrem na Europa. Começa uma nova era para a organização do trabalho, o conhecimento humano sofre modificações. O ser humano deixa de apenas explicar ou questionar racionalmente a

Ponto de reflexão:

Qual a diferença entre conhecimento mítico, filosófico e científico?

Por que a universidade é o espaço do pensamento científico?

4 Movimento filosófico do século XVIII, que partia da convicção de ser a razão fonte de conhecimento.

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natureza para se preocupar com a questão de como utilizá-la melhor. Essa nova forma de conhecimento da natureza e da sociedade, na qual a experimentação e a observação são fundamentais, aparece nesse momento, representada pelo pensamento de Maquiavel (1469-1527), Galileu Galilei (1564-1642), Francis Bacon (1561-1626), René Descartes (1596-1650).

O pensamento social do Renascimento se expressa na criação imaginária de mundos ideais que mostrariam como a realidade deveria ser, sugerindo, entretanto, que tal sociedade seria construída pelos homens com sua ação e não pela crença ou pela fé.

Thomas Morus (1478-1535), em A Utopia, defende a igualdade e a concórdia. Concebe um modelo de sociedade no qual todos têm as mesmas condições de vida e executam em rodízio os mesmos trabalhos.

Maquiavel, em sua obra O Príncipe, afirma que o destino da sociedade depende da ação dos governantes. Analisa as condições de fazer conquistas, reinar e manter o poder. A importância dessa obra reside no tratamento dado ao poder, que passa a ser visto a partir da razão e da habilidade do governante para se manter no poder, separando a análise do exercício do poder da ética.

Segundo Costa (2005, p. 35), as ideias de Thomas Morus e Maquiavel expressam os valores de uma sociedade em mudança, portadora de uma visão laica5 da sociedade e do poder.

Com o Iluminismo, as ideias de racionalidade e liberdade se convertem em valores supremos. A racionalidade, nesse contexto, é compreendida como a capacidade humana de pensar e escolher. Liberdade significa que as relações entre os homens devem ser pautadas na liberdade contratual. No

5 Laica: Expressa uma concepção de sociedade em que há uma separação entre Estado e religião, que exclui as igrejas do exercício do poder político.

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plano político, isso significa a livre escolha dos governantes, colocando em xeque o poder dos monarcas. Os filósofos iluministas concebiam a política como uma coletividade organizada e contratual. O poder surge como uma construção lógica e jurídica.

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), em sua obra O contrato social, afirma que a base da sociedade estava no interesse comum pela vida social, no consentimento unânime dos homens em renunciar a suas vontades em favor de toda a comunidade (Costa,: 2005, p. 48). Rousseau identificou na propriedade privada a fonte das injustiças sociais e defendeu um modelo de sociedade pautada em princípios de igualdade.

Diferentemente de Rousseau, John Locke (1632-1704) reconhecia entre os direitos individuais o respeito à propriedade. Defendia que os princípios de organização social fossem codificados em torno de uma Constituição.

Concluímos que a sociologia pré-científica é caracterizada por estudos sobre a vida social que não tinham como preocupação central conhecer a realidade como ela era e sim propor formas ideais de organização social. O pensamento filosófico de então já concebia diferenças entre indivíduo e coletividade, “porém”, como afirma Costa (2005, p. 49), “presos ainda ao princípio da individualidade, esses filósofos entendiam a vida coletiva como a fusão de sujeitos, possibilitada pela manifestação explícita das suas vontades”.

1.3 O pensamento científico sobre o social

Até aqui percebemos que a preocupação em conhecer e explicar os fenômenos sociais sempre foi uma preocupação da humanidade. A explicação com base científica, porém, é fruto da sociedade moderna, industrial e capitalista. A formação da sociologia no século XIX significou que o

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pensamento sobre o social se desvinculou das tradições morais e religiosas.

Como afirma Costa (2005, p. 18), tornava-se necessário entender as bases da vida social humana e da organização da sociedade por meio de um pensamento que permitisse a observação, o controle e a formulação de explicações plausíveis, que tivessem credibilidade num mundo pautado pelo racionalismo.

Augusto Comte (1798-1857) foi o autor que desenvolveu, pela primeira vez, reflexões sobre o mundo social sob bases científicas. Em sua análise sobre o mundo social, compreendia a sociedade como um grande organismo, no qual cada parte possui uma função específica. O bom funcionamento do corpo social dependeria da atuação de cada órgão.

Segundo Comte, ao longo da história a sociedade teria passado por três fases: a teológica, a metafísica e a científica. Concebia a fase teológica como aquela em que os homens recorriam à vontade de Deus para explicar os fenômenos da natureza. Na segunda fase, o homem já seria capaz de utilizar conceitos abstratos, mas é somente na terceira fase, que corresponde à sociedade industrial, que o conhecimento passaria a se pautar pela descoberta de leis objetivas que determinariam os fenômenos.

Comte procurou estudar o que já havia sido acumulado em termos de conhecimentos e métodos por outras ciências, como a matemática, a biologia e a física, para saber quais deles poderiam ser utilizados na sociologia.

O conhecimento sociológico permite ao homem transpor os limites de sua condição particular, para percebê-la como parte de uma totalidade mais ampla, que é o todo social. Isso faz da sociologia um conhecimento indispensável num mundo que, à

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6 As revoluções burguesas foram: Revolução Gloriosa (1680), na Inglaterra, Revolução Francesa (1789), Independência Americana (1776) e Revolução Industrial inglesa, a partir de 1750. Enfocaremos em nosso curso somente as Revoluções Francesa e Industrial, por constituírem as duas faces de um mesmo processo: a consolidação do regime capitalista moderno.

medida que cresce, cada vez mais diferencia e isola os homens e os grupos entre si.

2 TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS DO SÉCULO XVIII

2.1 Revoluções burguesas

Por revoluções burguesas entende-se um conjunto de movimentos que ocorreram no século XVIII na Europa e nos Estados Unidos. O que caracterizou esses movimentos foi sua capacidade de suplantar as formas de organização social feudais.6

A importância dessas revoluções é que estimularam o desenvolvimento do capitalismo, pondo fim às monarquias absolutistas, e contribuíram para a eliminação de barreiras que impediam o livre desenvolvimento econômico.

2.1.1 Revolução Francesa

No final do século XVIII, a monarquia francesa procurava garantir os privilégios da nobreza em um contexto no qual crescia a miséria do povo. A burguesia se opunha ao regime monárquico, pois ele não permitia a livre constituição de empresas, o que impedia a burguesia de realizar seus interesses econômicos.

Em 1789, com a mobilização das massas em torno da defesa da igualdade e da liberdade, a burguesia tomou o poder e passou a atuar contra os fundamentos da sociedade feudal. Procurou organizar o Estado de forma independente do poder religioso e promoveu profundas inovações na área econômica ao criar medidas para favorecer o desenvolvimento de empresas capitalistas.

As massas que participaram da revolução, logo foram surpreendidas pelas medidas da burguesia, que proibiu as

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manifestações populares e passou a reprimir os movimentos contestatórios com violência.

2.1.2 Revolução Industrial

A Revolução Industrial eclodiu na Inglaterra, na segunda metade do século XVIII. Ela significou algo mais do que a introdução da máquina a vapor e o aperfeiçoamento dos métodos produtivos. A revolução nasceu sob a égide da liberdade: permitir aos empresários industriais que desenvolvessem e criassem novas formas de produzir e enriquecer.

Aparecimento da máquina a vapor

Aumento da produção

Melhoria nos transportes

Crescimento das cidades

Desse modo, a Revolução Industrial constituiu uma autêntica revolução social que se manifestou por transformações profundas na estrutura institucional, cultural, política e social.

O desenvolvimento de técnicas levou os empresários a incrementar o processo produtivo e a aumentar as taxas de lucro. Interessando-se cada vez mais pelo aperfeiçoamento das técnicas de produção, visavam produzir mais com menos gente. A relação de classes que passa a existir entre a burguesia e os trabalhadores é orientada pelo contrato – o que permite inferir: liberdade econômica é democracia política. Temos o trabalhador livre para escolher um emprego qualquer e o empresário livre para empregar quem desejar (Meksenas, 1991, p. 47). Essa situação significou uma profunda transformação na maneira de os homens se relacionarem.

Ponto de reflexão:

O trabalho sempre foi uma fonte de riquezas?

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Aspectos importantes da Revolução Industrial

1. ‘A produção passa a ser organizada em grandes unidades fabris, onde predomina uma intensa divisão do trabalho.

2. Aumento sem precedentes na produção de mercadorias.

3. Concentração da produção industrial em centros urbanos.

4. Surgimento de um novo tipo de trabalhador: o operário.

A Revolução Industrial desencadeou uma maciça migração do campo para cidade, tornando as áreas urbanas o palco de grandes transformações sociais. Formam-se as multidões que revelam nas ruas uma nova face do desenvolvimento do capitalismo: a miséria.

No interior das fábricas, as condições de trabalho eram ruins. As fábricas não possuíam ventilação, iluminação e os trabalhadores eram submetidos a jornadas de trabalho de até 16 horas por dia. Era usual nas fábricas a presença de mulheres e crianças, a partir de 5 anos, atuando na linha de produção. Quanto aos homens, amargavam a condição de desemprego.

Os problemas sociais inerentes à Revolução Industrial foram inúmeros: aumento da prostituição, suicídio, infanticídio, alcoolismo, criminalidade, violência, doenças epidêmicas, favelas, poluição, migração desordenada...

Por fim, é preciso esclarecer que os problemas acima expostos são típicos da sociedade capitalista, e que eles tornavam a vida em sociedade altamente complexa; por isso, precisamos de uma ciência para explicar os nexos que compõem a realidade.

Ponto de Reflexão:

Nos dias de hoje, as condições de vida dos trabalhadores melhoraram?

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3 AS PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES DO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO CLÁSSICO

Nesta unidade, vamos estudar o pensamento sociológico clássico, que consiste na compreensão dos três princípios explicativos da realidade social. É usual alunos nos perguntarem qual a razão de se estudar pensadores que viveram no século XIX.

A importância da compreensão das principais matrizes do pensamento social se deve a sua capacidade de explicar o mundo contemporâneo. A atualidade de suas obras significa que elas não foram corroídas pelo tempo e que são capazes de lançar luz na compreensão do mundo contemporâneo.

Nesta unidade, é importante compreender o conjunto de princípios fundamentais que formam a teoria social desses autores e seus principais conceitos.

3.1 Émile Durkheim e o pensamento positivista

O Positivismo é uma corrente de pensamento que surgiu no século XIX na Europa e foi fortemente influenciada pela crescente valorização da ciência como fonte de obtenção da verdade. O Positivismo se inspirou no método de investigação das ciências da natureza, e a biologia foi considerada como referência. A sociedade era passível de compreensão e o homem possuía uma natureza social.

As pesquisas sobre o funcionamento do corpo humano conduziram os positivistas a pensar a sociedade como um grande organismo social, constituído de partes integradas e coesas que deveriam funcionar harmonicamente. Desse modo, é preciso conhecer sua anatomia e descobrir as causas de suas doenças.

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Outra forte influência do pensamento positivista foi o darwinismo social, que consistiu na crença de que as sociedades mudariam e evoluiriam num mesmo sentido.

Émile Durkheim (1858-1917) foi o pensador francês que deu à sociologia o status de disciplina acadêmica. Viveu em uma época de grandes crises econômicas e sociais, que causavam desemprego e miséria entre os trabalhadores. As frequentes ondas de suicídio eram analisadas como indício de que a sociedade era incapaz de exercer controle sobre o comportamento de seus membros.

Acreditava que os problemas de sua época não eram de natureza econômica, mas de natureza moral, pois as regras de conduta não estavam funcionando. Via a necessidade de criação de novos hábitos e comportamentos no homem moderno visando ao bom funcionamento da sociedade.

3.1.1 A relação indivíduo x sociedade

Ao nascer, o indivíduo encontra a sociedade pronta e acabada. As maneiras de se comportar, de sentir as coisas, de curtir a vida, já foram estabelecidas pelos outros e possuem a qualidade de ser coercitivas (Martins, 1990, p. 49). A imposição do social sobre o individual é que determina nosso comportamento, por isso o comportamento social deve ser pautado nas regras socialmente aprovadas. Veja como Durkheim, (1985, p. 2), exemplifica essa questão:

Se não me submeto às convenções mundanas, se ao me vestir não levo em consideração os usos seguidos em meu país e na minha classe, o riso que provoco e o afastamento em que os outros me conservam produzem os mesmos efeitos de uma pena propriamente dita. (...) Não sou obrigado a falar o mesmo idioma que meus compatriotas, nem empregar as moedas legais, mas é impossível agir de outra maneira. (...) Se sou industrial,

Ponto de reflexão:

Durkheim acreditava que os problemas de sua época eram de natureza moral. E atualmente? Nossos problemas são de natureza moral ou econômica?

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nada me proíbe de trabalhar utilizando processos e técnicas do século passado, mas, se o fizer, terei a ruína como resultado inevitável.

Portanto, não existe espaço para manifestação da individualidade, pois é o social que determina nosso comportamento individual, atuando como uma verdadeira “camisa de força” sobre nossas individualidades.

3.1.2 Os fatos sociais e a consciência coletiva

Para Durkheim, a sociologia deveria ocupar-se dos fatos sociais de natureza coletiva, os quais se apresentam ao indivíduo como exteriores e coercitivos. Ele assinala o caráter impositivo dos fatos sociais.

Eis aqui um conceito fundamental para analisar a sociedade.

Os fatos sociais são todos aqueles que tenham três características:

1. exterioridade: ou seja, não foi criado por nós, é exterior a nossa vontade.

2. coercitividade: enquadra nosso comportamento, atua pela intimidação e induz o homem à aceitação das regras a despeito de seus anseios e opções pessoais.

3. generalidade: qualidade do que é geral, ou seja, atinge um grande número de pessoas na sociedade.

Os fatos sociais podem ser normais ou patológicos. Um fato social normal é aquele que desempenha alguma função importante para sua adaptação ou evolução, como, por exemplo, o crime7. Um fato patológico, porém, é aquele que se encontra fora dos limites permitidos pela ordem social.

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7 O crime é visto como um fato social normal, pois em todas as sociedades, em todas as épocas, sempre existiram criminosos. O crime exerce uma função social importante, que é a de reforçar os valores morais, de renovar os laços de solidariedade de uma sociedade. Quando os crimes fogem do controle da sociedade, porém, tornam-se uma patologia.

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Os fatos sociais são considerados patológicos quando as leis não funcionam. Quando as regras não estão claramente estabelecidas, estaríamos diante da anomia.

Por consciência coletiva entende-se um conjunto de ideias comuns que formam a base para uma consciência da sociedade. Cada um de nós possui uma consciência individual, que faz parte de nossa personalidade. Existe também uma consciência coletiva, formada pelas ideias comuns que estão presentes em todas as consciências individuais de uma sociedade.

A consciência coletiva está difusa na sociedade e por isso ela é exterior ao indivíduo. Significa que a consciência coletiva não é o que o indivíduo pensa, mas o que a sociedade pensa. Ela age sobre o indivíduo de maneira coercitiva, exercendo uma autoridade sobre o modo de o indivíduo agir no meio social.

Assim, a consciência coletiva age como a moral vigente na sociedade. Ela define em uma sociedade o que é considerado imoral, reprovável ou criminoso (Costa, 2005, p. 86).

É possível sentirmos a força da consciência coletiva nos intensos debates públicos que temos em nossa sociedade, nos últimos tempos, sobre a legalização do aborto, a descriminalização do uso de drogas, dentre outros.

3.1.3 Solidariedade mecânica e orgânica

Outro conceito importante de Durkheim é o de solidariedade mecânica, que significa a união de pessoas a partir da semelhança na religião, na tradição ou nos sentimentos. Já a solidariedade orgânica é a união de pessoas a partir da dependência que uma tem da outra para realizar alguma atividade social. O que une o grupo é a dependência que cada um tem da atividade do

Ponto de reflexão:

O desemprego é um fato social? Por quê?

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outro. Essa união é dada pela especialização de funções. Desse modo, o autor considerava a crescente divisão do trabalho como uma possibilidade de aumento da solidariedade entre os homens.

O único espaço para o exercício da individualidade é na especialização do trabalho. Ele considera que instituições que no passado exerciam papel de integração social, como a Igreja e a família, perderam sua eficácia. A partir de então, a sociedade moderna leva os indivíduos a se agruparem segundo suas atividades profissionais. A profissão assume importância cada vez maior na vida social, torna-se herdeira da família, substituindo-a.

Para Durkheim, a sociologia, como ciência, deve manter a neutralidade diante dos fatos sociais, ou seja, a sociologia não deve se envolver com a política. Toda reforma social deve estar baseada primeiramente no conhecimento prévio e científico da sociedade e não na ação política.

A função da sociologia seria detectar e buscar soluções para os problemas sociais, restaurando a normalidade e convertendo-se em técnica de controle social.

Enfim, não há espaço nesta elaboração teórica para o exercício da liberdade individual. Durkheim vê o ser humano como um ser passivo, não como sujeito capaz de atuar para a transformação social.

3.2 Karl Marx e o materialismo histórico e dialético

Karl Marx (1818-1883) foi um pensador que recebeu influências de várias ciências e influenciou a atuação política de várias gerações que o sucederam. Vamos iniciar nossa exposição discutindo seu método de análise da realidade.

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Foi fortemente influenciado pelo filósofo Hegel (1770-1831), que sistematizou os princípios da dialética: as coisas possuem movimento e estão relacionadas umas com as outras. Assim, a realidade é um constante devir, marcada pela luta dos opostos (ex: vida x morte, saúde x doença etc.). Nesse modelo de análise, é a contradição que atua como verdadeiro motor do pensamento.

Partindo da análise da base material da sociedade, a estrutura econômica8, Karl Marx busca colocar em evidência os antagonismos e contradições do capitalismo.

3.2.1 Classes sociais

As desigualdades são a base da formação das classes sociais. As duas classes sociais básicas — burguesia x proletariado — mantêm relação de exploração, ao mesmo tempo que são complementares, pois uma só existe em relação à outra.

A classe média, os pequenos industriais, os pequenos comerciantes e camponeses vão-se proletarizando à medida que seu pequeno capital não lhes permite concorrer com a grande indústria. Ocorre então uma simplificação dos antagonismos9, passando a existir duas classes fundamentais: a burguesia e o proletariado.

3.2.2 Ideologia e alienação

Marx concebe a ideologia como um sistema de inversão da realidade, em que as ideias da classe dominante aparecem como as ideias dominantes em uma época. Procura, assim, ocultar a verdadeira natureza das relações de produção pautadas na exploração.

A ideologia burguesa tem como objetivo fazer com que as pessoas não percebam que a sociedade é dividida em classes

8 Para esse autor, os fatos econômicos constituem a base sobre a qual se apoiam outros níveis de realidade, como a religião, a arte e a política.

9 Antagonismo: oposição, luta, incompatibilidade.

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sociais. Ela contribui para a manutenção das estruturas de dominação.

Por alienação, entende-se a perda da consciência da realidade concreta. No capitalismo, a propriedade privada e o assalariamento separam o trabalhador dos meios de produção e do fruto do trabalho; dessa forma, ao vender sua força de trabalho, o trabalhador se aliena, pois não se vê como produtor das riquezas.

A alienação política significa que o princípio da representatividade não garante ao trabalhador a participação política efetiva, pois ele não se vê como um ser capaz de intervir nos destinos políticos da sociedade.

A partir desses conceitos é possível compreender por que os setores oprimidos da sociedade não se rebelam contra o sistema, pois o sistema de dominação social é introjetado na cabeça dos oprimidos, que passam a ver com naturalidade a desigualdade e a opressão.

3.2.3 Salário, valor, lucro, mais-valia

O salário é o valor da força de trabalho, considerada no capitalismo como uma mercadoria qualquer. O salário deve corresponder à quantia que permita ao trabalhador alimentar-se, vestir-se, cuidar dos filhos, garantindo a reprodução de suas condições de vida e as de sua família.

O trabalho é fonte de criação de valor, então, é difícil explicar que aqueles que mais trabalham são os que têm menos dinheiro.Para Marx, todo assalariado ganha menos do que a riqueza que produz. A diferença entre o valor da riqueza produzida e o salário é o que denominamos lucro. Se o capitalista pagasse ao assalariado o valor da riqueza que este produziu, não haveria exploração.

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Ao estabelecer relação entre salário e produtividade, Marx conclui que o empresário, ao pagar os salários aos trabalhadores, nunca paga a estes o que eles realmente produziram. Por mais-valia entende-se a diferença entre o preço de custo da força de trabalho (salário) e o valor da mercadoria produzida. Em outras palavras, é o valor excedente produzido pelo trabalhador, que fica com o capitalista.

3.2.4 A amplitude da contribuição de Karl Marx

Esse pensador considera que o capitalismo se baseia na exploração do trabalho, uma exploração oculta, mascarada. A dominação burguesa não se restringe ao campo econômico, ela se estende ao campo político. Ela vê no Estado mais uma instituição para reprimir a classe trabalhadora.

No plano cultural, a dominação burguesa dá-se pelo controle dos meios de comunicação de massa, difundindo valores e concepções da burguesia.

A teoria de Karl Marx tem longo alcance e adquiriu dimensões de ideal revolucionário e de ação política efetiva. Ela teve ampla repercussão em todo o mundo, incentivando a formação de partidos marxistas e sindicatos contestadores da ordem.

3.3 Max Weber e a busca das conexões de sentido

Max Weber (1864-1920) tinha como preocupação compreender a racionalidade, pois o capitalismo levou a uma crescente racionalização da sociedade, conduzindo à mecanização das relações humanas.

Sua preocupação central é compreender a maneira como a razão podia apreender o conhecimento, pois os acontecimentos

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são compreendidos não pela sua concretude, mas pela maneira como são interiorizados pelos indivíduos.

Desse modo, é preciso entender a ação dos indivíduos, suas intenções e motivações.

3.3.1 Ação social e tipo ideal

Ação social é qualquer ação que um indivíduo pratica, orientando-se pela ação dos outros. Por exemplo, um eleitor define seu voto orientando-se pela ação dos demais eleitores. Embora o ato de votar seja individual, a compreensão do ato só é possível se percebermos que a escolha feita por ele tem como referência o conjunto dos demais eleitores (Tomazzi, 1993, p. 20).

Os tipos de ação social identificados por Max Weber são:

Tipos de ação social Elemento polarizador

Racional por valor Valor (determinado pela crença em um valor considerado importante).

Racional por fim Finalidade (determinada pelo cálculo racional que coloca fins e organiza os meios).

Tradicional afetiva Tradição (determinada por um costume ou hábito).Sentimento (determinado por afetos ou estados sentimentais) .

A partir dessa classificação é possível perceber que o homem dá sentido a sua ação. Cada sujeito age levado por um motivo que se orienta pela tradição, pelos interesses racionais ou pela emotividade.

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Ponto de reflexão:

O ato de comprar uma mercadoria pode ser considerado uma ação social?

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O tipo ideal é um recurso metodológico que permite dar um enfoque ao pesquisador em meio à variedade de fenômenos observáveis na vida social. Consiste basicamente em enfatizar determinados traços da realidade, mesmo que eles não se apresentem assim nas situações efetivamente observáveis.

3.3.2 A tarefa do cientista

Há uma fronteira que separa o cientista, homem do saber, do político, homem da ação. E qual a relação entre ciência e política, ou entre o cientista e o político?

Concebendo o cientista como o homem do saber, das análises frias e penetrantes, e o político como o homem de ação e decisão, comprometido com as questões práticas, identifica dois tipos de ética: a ética do cientista é a ética da convicção, e a ética do político é a da responsabilidade. Cabe ao cientista oferecer ao político o entendimento claro de sua conduta.

3.3.3 A ética protestante e o espírito do capitalismo

Weber busca examinar as implicações das orientações religiosas na conduta econômica dos indivíduos. Por meio de pesquisas constatou que para algumas seitas protestantes puritanas o êxito econômico era um indício da bênção de Deus.

A partir de dados estatísticos, que mostravam a proeminência de adeptos da Reforma entre os grandes homens de negócio, procura estabelecer as conexões entre a doutrina protestante e o desenvolvimento do capitalismo. Conclui que os valores como a disciplina, a poupança, a austeridade e a propensão ao trabalho foram fundamentais para o desenvolvimento do capitalismo. Portanto, é possível estabelecer relação entre religião e sociedade, na medida em que a primeira dá aos indivíduos um

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conjunto de valores que são transformados em motivos de ação. (Costa, 2005, p. 101)

A motivação protestante para o trabalho é encará-lo como uma vocação, como um fim absoluto em si mesmo e não como o ganho material obtido através dele. Ao buscar sair-se bem na profissão, mostrando sua própria virtude e vocação e renunciando aos prazeres materiais, o protestante puritano se adapta facilmente ao mercado de trabalho.

Ao analisar os valores do catolicismo e do protestantismo, conclui que os últimos revelam a tendência ao racionalismo econômico que predomina no capitalismo.

3.3.4 Teoria da burocracia e os tipos de dominação

A burocracia tem uma presença marcante na sociedade moderna e é definida como uma estrutura social na qual a direção das atividades coletivas fica a cargo de um aparelho impessoal, hierarquicamente organizado, que deve agir segundo critérios impessoais e métodos racionais. Burocracia designa poder, controle e alienação e é baseada na razão e no direito.

A burocracia surge de necessidades técnicas de coordenação e supervisão, da necessidade de planejar a produção, proteger o indivíduo e dar tratamento igualitário às partes interessadas.

Abaixo, algumas características da burocracia:

1. Todas as burocracias têm uma divisão explícita de trabalho, cada posição com um conjunto limitado de responsabilidades.

2. As normas que governam o comportamento, em qualquer posição, são explícitas, claras e codificadas em forma escrita.

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3. Posições diferentes são ordenadas hierarquicamente, com posições e postos mais altos supervisionando os mais baixos.

4. Os indivíduos devem reprimir emoções e paixões quando desempenham seus papéis designados.

5. As pessoas ocupam posições por competência técnica e não por atributos pessoais.

6. As posições e postos não pertencem às pessoas, mas às organizações.

A burocratização tende a generalizar-se em todos os setores da vida social: econômico, político e cultural.

Sim, pois sem ela as organizações se perderiam na improvisação e no arbítrio. Para Weber, a função da burocracia é reduzir conflitos e a das regras é economizar esforços, pois ambas eliminam a necessidade de encontrar uma nova solução para cada problema, além de facilitar a padronização e igualdade no tratamento de muitos casos.

Os tipos puros de dominação encontrados em uma sociedade são classificados em:

• dominação tradicional: a legitimidade desse tipo de dominação vem da crença dos dominados de que há qualidade na maneira como nossos antepassados resolveram seus problemas. É caracterizada por uma relação de fidelidade política;

• dominação carismática: a legitimidade vem do carisma, da crença em qualidades excepcionais de alguém para dirigir um grupo social. Nesse tipo de dominação há uma devoção afetiva ao dominador, que geralmente é portador de poder intelectual ou de oratória;

Ponto de reflexão:

A burocracia é necessária?

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Ponto de reflexão:

Como a dominação é exercida em seu trabalho?

• dominação racional legal: a legitimidade provém da crença na justiça das leis. Nesse caso, o povo obedece porque crê que elas são decretadas segundo procedimentos corretos.

Max Weber não considerava o capitalismo injusto, irracional ou anárquico. As instituições, como a grande empresa, constituíam demonstração de uma organização racional, que desenvolvia suas atividades dentro de um padrão de eficiência e precisão. (Martins, 1990, p. 68)

Sua crítica à burocracia é que ela levou a um desencantamento com o mundo, mecanizando as relações humanas. Para Weber, a racionalidade do capitalismo conduziu-nos a um mundo cada vez mais intelectualizado e artificial, que abandonou para sempre os aspectos mágicos e intuitivos do pensamento. Sua visão dos tempos modernos era melancólica e pessimista.

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