ciência e conhecimento cotidiano - parte 2
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Ciência e conhecimento cotidianoparte 2
Fernando Gewandsznajder
Formas de conhecimento
• Conhecimento popular• Conhecimento filosófico• Conhecimento religioso• Conhecimento artístico• Conhecimento técnico• Conhecimento científico
A ciência e a atitude crítica
• O método científico consiste na observação da realidade, formulação de problemas, elaboração de hipóteses (para responder a esses problemas), realização de testes e formulação de teorias
Ciência e senso comum
Como explicar esse fenômeno?
Características das Ciências• Utilizam-se de métodos científicos
• As teorias científicas são produzidas quando são encontradas evidências, fatos, provas, pistas
• As teorias científicas podem ser modificadas se não se mostrarem mais capazes de explicar um fenômeno
Características do senso comum e dos mitos• Não utilizam os métodos científicos, nem
precisam de evidências, fatos, provas, pistas
• Dependem das crenças individuais (e de grupos de pessoas), da fé, de dogmas (verdades que não podem ser contestadas), de superstições e de rituais
• São maneiras de se explicar aquilo que não se entende sem a necessidade de provas
Características das mitologias• Mitos são relatos fantásticos e simbólicos, que descrevem e
explicam a origem de fenômenos, seres ou costumes de um povo.
• As narrativas mitológicas geralmente se referem a eventos ocorridos antes da origem do ser humano na Terra ou a histórias envolvendo os primeiros humanos.
• Os mitos sempre incluem seres sobrenaturais ou divindades, que são os autores dos principais acontecimentos relatados. A princípio, portanto, trata-se de relatos fantásticos, e, como tal, não se baseiam em fatos reais.
Características das mitologias
• Entretanto, a mitologia de um povo, além de explicar a origem das coisas, também inclui rituais que se repetem ciclicamente, com festas que celebram o fim de um ano e o começo de outro. O novo ano representa o início de um novo ciclo de criação, quando os campos serão semeados. É fundamental, portanto, que essa data coincida com o início da estação das chuvas, caso contrário as sementes serão perdidas.
• Como, além do significado religioso, os mitos também podem ter um sentido prático para os povos que os criam, alguns deles baseiam-se na observação cuidadosa dos fenômenos naturais. Alguns povos tinham sacerdotes- astronômos que observavam sinais da passagem das estações do ano e o movimento das estrelas e, com base nessas observações, estabeleciam as datas que definiriam um ciclo.
Exemplo de Mito: a Mitologia Grega
Caos: primeiro deus a surgir no universoUrano: deus do céu Gaia: deusa da terra
Origem simplificada dos deuses da mitologia grega
Mitologia dos povos indígenas do Xingu
• Ou seja, são diferentes tipos de conhecimento
• Não dá pra compararmos cada tipo de conhecimento: depende de pra quê eles servem, pra quê são usados
• As ciências são um tipo de conhecimento importante para compreendermos o mundo em que vivemos, os fenômenos e os fatos que ocorrem no dia-a-dia
Ciência e senso comum
• Todos sabemos muitas coisas que nos ajudam no nosso dia-a-dia e que funcionam bem na prática
• P. Ex.: Nas zonas rurais, saber a época certa de plantar e colher
• Senso comum: conjunto de crenças e opiniões, essencialmente de caráter prático, uma vez que procura resolver problemas cotidianos
Ciência e senso comum
• O senso comum também passou por um processo de aprendizagem por ensaio e erro
• Portanto, em certo nível, é também um conhecimento crítico
• No entanto, na maioria das vezes, limita-se a tentar resolver problemas de ordem prática enquanto consiga funcionar
Ciência e senso comum• Predominam, no senso comum, generalizações empíricas de
baixo nível de universalidade, ao invés das leis científicas gerais e universais
• A ausência de testes rigorosos, como a experiência controlada, impede que sejam eliminadas conclusões falsas, mantidas apenas pela tradição
• Assim, a melhora espontânea que alguns apresentam em muitas doenças pode dar a impressão de que os produtos utilizados realmente surtiram algum efeito
Ciência e senso comum• O conhecimento comum fica restrito à descrição da aparência dos
fenômenos, não examinando suas causas e seus efeitos mais profundos
• Ervas e produtos que apenas provocam o desaparecimento ou a melhora de sintomas de doenças sem curá-las; a doença pode progredir
• No entanto, muitas ervas e plantas tiveram alguns de seus efeitos corroborados por meio de testes controlados: chá de erva-doce (cólicas)
• Outras ervas não têm o efeito que as práticas populares lhes atribuem: chá de castanha, isolar o paciente em quarto escuro ou outras simpatias e crendices contra mordida de cobra
Ciência e senso comum• Perigo de aceitarmos acriticamente práticas e crenças populares que podem
causar efeitos prejudiciais a longo prazo: plantas como confrei podem causar lesões sérias ao fígado, a longo prazo; erva digital (chás cardiotônico e diurético) pode causar problemas cardíacos se consumida em excesso
• Eficácia restrita a certas doenças e só podem ser usados com limitações, que só podem ser estabelecidas por testes controlados
• Isso não significa que não possamos aproveitar plantas e ervas no tratamento de certas doenças
• Mas isto deve ser feito através de pesquisas científicas, que permitem conhecer, de forma mais precisa, tanto seus efeitos benéficos como os efeitos prejudiciais
Ciência e religião• Muitos filósofos e cientistas defendem a ideia de que não há necessariamente
um conflito entre religião e ciência
• Para eles, a ciência trabalha com hipóteses que podem ser testadas experimentalmente, com fenômenos que podem ser detectados e medidos por instrumentos, como a matéria e a energia
• Já a religião trata da esfera espiritual, de Deus, da alma, do livre-arbítrio. Esse e outros temas não podem ser testados do mesmo modo; portanto, não podem ser provados nem negados cientificamente – nem por isso deixam de ser importantes.
• Assim, para eles, uma pessoa pode ser religiosa e aceitar, por exemplo, que Deus criou um Universo regido por leis científicas
Ciência e religião
• Segundo Shermer (2011), há três formas de encarar a relação entre ciência e religião
– O modelo de mundos iguais– O modelo de mundos separados– O modelo de mundos conflitantes
Ciência e religião (Shermer, 2011)1) O modelo de mundos iguais: Ciência e religião lidam com os mesmos assuntos e não só existe sobreposição e conciliação como algum dia a ciência poderá subordinar a religião completamente.
Um exemplo é a cosmologia de Frank Tipler (1994), baseada no princípio antrópico e na eventual ressurreição de todos os humanos por meio de uma realidade virtual de supercomputador, num futuro distante do universo. Muitos humanistas e psicólogos evolucionistas preveem um tempo em que a ciência não só poderá explicar o propósito da religião, mas a substituirá por uma moralidade e ética seculares e viáveis.
Ciência e religião (Shermer, 2011)
1) O modelo de mundos iguais
Ciência e religião (Shermer, 2011)
2) O modelo de mundos separados: Ciência e religião lidam com assuntos diferentes, não entram em conflito nem se sobrepõem, e devem coexistir pacificamente.
Charles Darwin, Stephen Jay Gould e muitos outros cientistas defendem esse modelo.
Ciência e religião
2) O modelo de mundos separados
“Não vejo como a ciência e a religião podem ser unificadas, ou mesmo sintetizadas, sob qualquer esquema comum de explicação ou análise: mas tampouco entendo por que as duas experiências devem ser conflitantes. A ciência tenta documentar o caráter factual do mundo natural, desenvolvendo teorias que coordenem e expliquem esses fatos. A religião, por sua vez, opera na esfera igualmente importante, mas completamente diferente, dos desígnios, significados e valores humanos – assuntos que a esfera factual da ciência pode até esclarecer, mas nunca solucionar. De modo semelhante, enquanto os cientistas devem agir segundo princípios éticos, alguns específicos à sua profissão, a validade desses princípios nunca pode ser deduzida das descobertas factuais da ciência”(Stephen Jay Gould, Pilares do tempo: ciência e religião na plenitude da vida, 2002, p. 12)
“O inimigo não é a religião, mas o dogmatismo e a intolerância, uma tradição tão antiga quanto a espécie humana e impossível de ser extinta sem uma eterna vigilância (...)” (p. 118).
Ciência e religião (Shermer, 2011)
3) O modelo de mundos conflitantes: Uma está certa e a outra está errada e não pode haver conciliação dos dois pontos de vista.
Esse modelo é sustentado predominantemente por alguns ateus e pelos criacionistas, que costumam estar em conflito.
Ciência na Inquisição Espanhola
Museu da Inquisição – Cartagena das Índias, Colômbia
Livros proibidos pela Inquisição Espanhola:Kant – Crítica da Razão PuraGustave Flaubert – Madame Bovary (1857) – romance realistaRusseau – O contrato socialVictor Hugo – Nossa senhora de Paris
Livros proibidos pela Inquisição Espanhola
René Descartes – Princípios de filosofia (1644)Marquês de Sade – Justine (Os infortúnios da virtude) 1791 – Histórias eróticas
Livros proibidos pela Inquisição EspanholaNicolau Copérnico – Das Revoluções dos Corpos Celestes (1543)
Index Librorum Prohibitorum (1559-1966)
• Lista de publicações proibidas pela Igreja Católica Apostólica Romana;
• Promulgado pelo Papa Pio IVe abolido pelo Papa Paulo VI;
• Nessa lista estavam livros que iam contra os dogmas da Igreja e quetinham conteúdo tido como impróprio
Ciência e religião• Segundo Gould (2002), ciência e religião são “magistérios não
interferentes”
• Segundo ele, a ciência desenvolve teorias para explicar o universo natural
• A religião, por sua vez, tenta explicar o universo moral, trabalhando em uma esfera diferente: a dos desígnos, significados e valores humanos.
• Ciência tenta compreender os fatos, enquanto a religião procura estabelecer finalidades e distinguir o certo do errado, o bem do mal
Ciência e religião• Segundo Gould (2002), só há conflito quando ciência e
religião tentam invadir o território uma da outra
• Ciência e religião atendem a necessidades humanas diferentes
• A ciência não nos diz como as coisas deveriam ser, ou seja, não nos fornece valores éticos
• Esses temas são tratados pela filosofia (ética) e pela religião
A teoria da evolução e a religião• Muitos religiosos admitem que livros com a Bíblia não devem ser
interpretados ao pé da letra;
• O mais importante seriam as mensagens espirituais;
• Por essa linha, a teoria da evolução não entra em conflito com a religião
• Uma pessoa religiosa poderia aceitar que a matéria do ser humano evoluiu de outros animais, sem deixar de acreditar que as características mais importantes do homem sejam espirituais e tenham origem divina
Evolução
• O que significa?– Processo de transformações ao longo do tempo.– Nem sempre essas transformações são para
melhor.– Ao longo do tempo, algumas coisas aparecem e
outras desaparecem.
A teoria da evolução e a religião
• Uma pessoa religiosa pode aceitar que Deus criou o processo de evolução para criar a diversidade de vida e para originar criaturas com livre-arbítrio, alma e capacidade de discernir entre o bem e o mal (Collins, 2007)
• O que a ciência faz é propor leis, modelos e teorias com poder de predição e com aplicações práticas
• Se essas leis foram ou não criadas por Deus, isso está fora do alcance da ciência
A teoria da evolução e a religião• Consenso na comunidade científica de que há evidências
suficientes para aceitar que as espécies evoluíram e que essa evolução ocorreu, em linhas gerais, da maneira como a teoria atual explica
• Alguns grupos religiosos defendem a ideia de que os seres vivos foram criados por Deus exatamente como está escrito na Bíblia, negando assim a teoria científica da evolução
• Já outras religiões aceitam a teoria da evolução
Evidências da teoria da evolução• Sequência de fósseis, inclusive as dezenas de fósseis de transição
entre mamíferos terrestres e baleias ou entre ancestrais de peixes e anfíbios;
• Presença de estruturas homólogas, como as semelhanças na estrutura dos ossos da nadadeira da baleia, da asa do morcego e do braço humano
• Presença de órgãos vestigiais, como o nosso cóccix
Evidências da teoria da evolução• Mudanças nas frequências gênicas em populações observadas na natureza e no
laboratório ;
• Semelhanças nos ácidos nucleicos (DNAs e RNAs) entre espécies diferentes;
• Presença de pseudogenes – “genes fósseis”, que são versões inativas de genes ativos nos ancestrais de uma espécie – no genoma das espécies;
• Evidências da biogeografia;
• Resistência de bactérias a antibióticos, dos insetos a inseticidas ou do vírus da AIDS os antivirais;
• Origem de novas epidemias de gripe;
A teoria da evolução
• Isso não quer dizer que a teoria da evolução não possa ser corrigida, modificada ou até substituída por uma teoria melhor, ou seja, com maior capacidade explicativa e de predição;
• Mas, enquanto isso não acontecer, ela continuará sendo a melhor explicação científica para um grande número de fatos
Evidências que sustentam a teoria da evolução: registro fóssil
Evidências que sustentam a teoria da evolução: similaridades morfológicas
cavalo
zebra
jumento
Evidências que sustentam a teoria da evolução: semelhanças embriológicas
• Estruturas vestigiais são remanescentes de estruturas que tiveram função nos ancestrais, mas cuja utilização foi reduzida por uma mudança na utilização de nichos ecológicos (modos de vida).
Evidências que sustentam a teoria da evolução: estruturas vestigiais
Evidências que sustentam a teoria da evolução: estruturas vestigiais
Apêndice:
função original era digerir celulose e hoje protege contra infecções por bactérias simbióticas que ajudam na digestão
Evidências que sustentam a teoria da evolução: estruturas vestigiais
Espécies de peixes que vivem em cavernas completamente escuras têm olhos vestigiais, não funcionais. Quando seus ancestrais com visão acabaram vivendo em cavernas, não havia mais nenhuma seleção natural para manter a função dos olhos desses peixes. Então, peixes com visão melhor não mais competiam com os de pior visão. Hoje, esses peixes ainda têm olhos – mas eles não são funcionais e não é uma adaptação; eles são apenas subprodutos da história evolutiva desses peixes.
• A atual distribuição de animais e plantas se deve à história de sua dispersão a partir de seus pontos de origem. Quanto mais tempo os continentes tenham estado isolados um do outro, mais diferentes são os organismos que habitam cada região.
Evidências que sustentam a teoria da evolução: biogeografia
O Aepycamelus ("camelo alto"), apelidado de camelo-girafa, foi um ancestral dos atuais camelos que viveu nos Estados Unidos durante a época do Mioceno, há 10 milhões de anos. Chegava a 3 m de altura e pesava 570 kg.Vivia em pequenos grupos, comendo as folhas mais altas das savanas, como as girafas. Migrando para a Ásia e África, deu origem aos camelos e dromedários de hoje. O Aepycamelus tinha cabeça pequena, pescoço e pernas longos, cauda curta e pés "almofadados". Pode ter sido extinto com a mudança de temperatura no fim do Mioceno.
Espécies: Aepycamelus alexandrae, A. bradyi, A. elrodi, A. giraffinus, A. latus,A. major, A. priscus, A. proceras, A. robustus e A. stocki
Camelo modernoOs camelos (Camelus) constituem um gênero de ungulados artiodáctilos (com um par de dedos de apoio em cada pata) que contém duas espécies: o dromedário (Camelus dromedarius), de uma corcova e o camelo-bactriano (Camelus bactrianus), de dois sacos. Ambos são nativos de áreas secas e desérticas da Ásia e Norte da África. Ambas as espécies são domesticadas, que fornecem leite e carne, e são animais de tração. Os humanos têm domesticados camelos há milhares de anos.
LhamasAlpacas
Guanaco
Vicunha
• Quanto mais próximo o parentesco evolutivo entre dois organismos, mais semelhantes são as respectivas moléculas como, por exemplo, seus materiais genéticos.
Evidências que sustentam a teoria da evolução: evidências moleculares