cibercultura: desafios para a educao - repositorio.ufba.br · do pesquisador escuta sensível,...

178
139 CAPÍTULO III PESQUISA-FORMAÇÃO: PESQUISANDO EM EDUCAÇÃO ONLINE O método não precede a experiência, o método emerge durante a experiência e se apresenta ao final, talvez para uma nova viagem. Edgar Morin Neste capítulo apresento os princípios epistemológicos e metodológicos da pesquisa-formação em educação online. A discussão é inspirada nos trabalhos de Macedo, Morin, Ardoino, Barbier, Coulon, Freire, Nóvoa e Josso. O objeto que se auto-organiza Pesquisar como um ambiente virtual de aprendizagem pode se constituir como um espaço de formação exigirá dos sujeitos envolvidos em uma vivência de pesquisa capaz de contemplar a dinâmica do movimento. A formação e a prática docente na cibercultura estruturada pela criação e uso de um ambiente virtual de aprendizagem exigem dos sujeitos envolvidos uma bricolagem de concepções epistemológicas e metodológicas capazes de também se transformarem no processo. Coulou nos alerta: Escolher um método é escolher uma teoria. Como nenhuma metodologia se justifica por si mesma, para compreender essa escolha e o seu uso, é preciso aproximá-la da teoria com a qual

Upload: hoanglien

Post on 09-Nov-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 139

    CAPTULO III

    PESQUISA-FORMAO: PESQUISANDO EM EDUCAO

    ONLINE

    O mtodo no precede a experincia, o mtodo emerge durante a experincia e se apresenta ao final, talvez para uma nova viagem.

    Edgar Morin

    Neste captulo apresento os princpios epistemolgicos e

    metodolgicos da pesquisa-formao em educao online. A

    discusso inspirada nos trabalhos de Macedo, Morin, Ardoino,

    Barbier, Coulon, Freire, Nvoa e Josso.

    O objeto que se auto-organiza

    Pesquisar como um ambiente virtual de aprendizagem pode

    se constituir como um espao de formao exigir dos sujeitos

    envolvidos em uma vivncia de pesquisa capaz de contemplar a

    dinmica do movimento. A formao e a prtica docente na

    cibercultura estruturada pela criao e uso de um ambiente virtual

    de aprendizagem exigem dos sujeitos envolvidos uma bricolagem

    de concepes epistemolgicas e metodolgicas capazes de tambm

    se transformarem no processo. Coulou nos alerta:

    Escolher um mtodo escolher uma teoria. Como nenhuma metodologia se justifica por si mesma, para compreender essa escolha e o seu uso, preciso aproxim-la da teoria com a qual

  • 140

    compatvel a at mesmo que ela por vezes representa. (COULON, 1995,p. 99).

    Alain Coulon tem toda razo quando afirma a necessria

    implicao entre mtodo e teoria. A escolha do mtodo est

    diretamente relacionada com a concepo epistemolgica e

    metodolgica do pesquisador e suas parcerias intelectuais. Alm

    disso, o prprio objeto de estudo tambm responsvel por essa

    articulao de saberes, at porque o mesmo emerge e se institui na

    relao dialgica e dialtica entre mtodo/teoria/campo de

    pesquisa.

    Em se tratando de um objeto de estudo que se institui a

    partir de um campo de pesquisa baseado no conceito de organismo

    vivo, autopoiese, que se auto-organiza a partir dos feixes de

    relaes sociotcnicas estabelecidas pelos sujeitos do processo de

    aprendizagem professores, estudantes, tcnicos, aprendentes em

    geral com o ambiente tecnolgico, fundamental vivenciar uma

    metodologia aberta s emergncias, ao novo, ao possvel, ao

    acontecimento.

    Compreender esse processo exigir do pesquisador uma

    metodologia coerente com essa dinmica, uma abordagem de

    pesquisa que o insira no processo como um sujeito implicado nessa

    emergente rede de relaes. Sendo o ciberespao um ambiente

    fecundo de comunicao e aprendizagem, novos processos e

    produtos vm se instituindo. Novas possibilidades formativas vm

    emergindo e conseqentemente novas pesquisas. O ciberespao

    torna-se efetivamente um campo vivo de pesquisa em cincias

    sociais. A educao tem sido uma rea em emergncia,

    principalmente no que se refere construo de novos ambientes e

    cenrios de formao e prtica docente.

  • 141

    Procuramos nessa pesquisa a parceria com abordagens

    epistemolgicas e metodolgicas que nos ajudem a compreender o

    objeto de estudo como um fenmeno33 sociotcnico vivo,

    inquietante e mutante. A cibercultura e seus desdobramentos,

    incluindo aqui a formao de professores, no pode ser estudada e

    muito menos compreendida, como um fenmeno linear, fechado e

    mapeado por prticas simplistas e fragmentadas. O fenmeno exige

    do pesquisador escuta sensvel, olhar atento a seus movimentos e

    desdobramentos, uma aprendizagem formada na ao e pela ao,

    no devir com os sujeitos culturais, compreendendo e interagindo

    com seus etnomtodos, ou seja, suas estratgias de aprender e

    construir conhecimento. Segundo Morin: A ao escapa vontade

    do ator poltico para entrar no jogo das inter-retroaes, recprocas

    do conjunto da sociedade (MORIN, 1996, p. 298).

    O objeto de estudo no pode ser visto como um alvo a ser

    atingido. necessrio perceber o objeto como um ente vivo, que se

    auto-organiza pela complexidade dos processos institudos e

    instituintes onde seres humanos e objetos tcnicos se implicam, se

    transformam e se afetam, produzindo assim modos de ser, de

    pensar e de viver que vm desafiando os processos formativos

    legitimados por uma forma cartesiana, racionalista de conhecer.

    Procuraremos estudar a formao e a prtica docente

    mediadas pela educao online no como objetos dados, mas como

    objetos dando-se, vivos, onde os sentidos dos sujeitos

    cognoscentes pesquisadores e demais sujeitos da pesquisa

    foram mapeados de forma hipertextual a partir de suas aes e

    experincias concretas, vivenciadas no cotidiano de nossas

    interaes no ambiente virtual de aprendizagem, construdo e

    gestado por ns. Para tanto fundamental:

    33 Fenmeno vem do grego fainomenon que deriva do verbo fainestai e significa o que se mostra, o que se manisfesta, o que aparece (Macedo, 2000, p. 43).

  • 142

    procurar a comunicao entre a esfera dos objetos e a dos sujeitos que concebem esses objetos. Trata-se de estabelecer a relao entre cincias naturais e cincias humanas, sem as reduzir umas s outras (pois nem o humano se reduz ao biofsico, nem a cincia biofsica se reduz s suas condies antropossociais e elaborao (MORIN,1999, p. 31).

    Segundo Macedo:

    A aquisio do conhecimento depende de uma interpretao e esta de um ato de volio. Tais idias esto no mago das concepes de ator-autor enquanto noes que apontam para a ao, para a autorizao do Ser do homem (...) Ao pensar no conhecimento como sendo uma conseqncia da subjetividade socializada do Ser, isto , da tomada de conscincia do conhecimento, j questiona-se a relao sujeito-objeto) (MACEDO, 2000, ps. 44-45).

    A pesquisa cientfica neste trabalho procurou agregar os

    saberes para alm dos clssicos saberes cientficos. A objetividade

    cientfica se comunicou com a subjetividade dos sujeitos tecendo

    assim uma relao comunicacional entre produto-processo-

    produtor. As inspiraes no emudecem a empiria, fundam um

    certo empirismo heterodoxo, prenhe de sentidos e significados.

    (MACEDO, 200, p. 36). Ademais, a relao entre os sujeitos uma

    relao intersubjetiva e dialtica onde conceitos e experincia

    ganham forma e se constituem em discurso.

    Como em todo processo interativo, o discurso sempre compreendido por outrem, que lhe atribui significaes. Neste veio, o discurso, ao dar-se significao, o faz como uma obra, isto , dentro de um tipo de codificao num

  • 143

    paradigma no qual compreendido (MACEDO, 2000, p. 49).

    no contexto da fertilidade e da emergncia do fenmeno

    que procuramos compreender e interpretar um evento da

    cibercultura educao online e como este pode contribuir para a

    formao e prtica docente. No possvel produzir conhecimento

    acerca desta problemtica, utilizando-se apenas o repertrio terico

    j sistematizado sobre o tema, nem lanar mo apenas do

    repertrio clssico da cincia moderna. Urge vivenciar, compreender

    e interpretar, estando do lado de dentro da manifestao do

    fenmeno, criando e recriando a empiria e a teoria. Como nos alerta

    Morin:

    o prprio progresso do conhecimento cientfico exige que o observador se inclua em sua observao, o que concebe em sua concepo; em suma, que o sujeito se reintroduza de forma autocrtica e auto-reflexiva em seu conhecimento dos objetos (MORIN, 1999, p. 30).

    necessrio encarnar o objeto, tornar-se membro da

    cibercultura, ir a campo para compreender de forma situada,

    criando dispositivos metodolgicos que permitam que o objeto se

    desvele no contexto do campo da pesquisa. Ademais, a construo

    do outro se d num processo de negociao onde cultura e

    identidade cultural esto em uma contnua efervescncia, como

    espaos inscritos e como histria de atores sociais dentro de uma

    temporalidade (MACEDO, 2000, p. 55).

    Colocar-se no lugar do outro eu virtual, eu em potncia,

    (Serpa, 1999) exige do pesquisador uma escuta e um olhar

    diferenciados. Em vez de ir a campo apenas coletar dados e julgar

    o real a partir do referencial terico, preciso vivenciar o contexto

    cultural, interagir com os sujeitos e seus objetos tcnicos, suas

    produes culturais, seus etnomtodos. At porque ir a campo na

  • 144

    cibercultura e mais especificamente em situao de formao online

    uma grande incoerncia. Em educao online necessrio estar

    no campo, constru-lo com os sujeitos, interagir com os objetos

    tcnicos. Ao se perceber o fenmeno, tem-se que h um correlato

    e que a percepo no se d num vazio, mas em um estar-com-o-

    percebido (MACEDO, 2000, p. 47).

    Estudar o fenmeno in loco requer ateno s diversidades, aos

    discursos, s linguagens. A vida social se constitui, dentre outros

    fatores, atravs da linguagem. A linguagem aqui entendida como

    toda forma de expresso. A linguagem no utilizada como meio.

    reconhecida como matria-prima (ARDOINO, 2003, p. 93). O

    fenmeno precisa ser vivenciado, compreendido, interpretado e

    comunicado. A descrio do cotidiano da pesquisa precisa agregar a

    densidade vivida no campo da pesquisa, bem como suas

    implicaes para a construo e desenvolvimento da cincia.

    Morin que nos alerta: A cincia no cientfica. Sua realidade

    multidimensional. Os efeitos da cincia no so simples nem para o

    melhor, nem para o pior. Eles so profundamente ambivalentes

    (MORIN, 1999, p. 9).

    Por considerar a complexidade destas relaes que Morin nos

    convida a pensar e fazer cincia com conscincia. Conscincia tanto

    no sentido moral (controle tico e poltico) quanto no sentido

    intelectual (aptido auto-reflexiva). Para o autor: Uma cincia

    emprica privada de reflexo e uma filosofia puramente especulativa

    so insuficientes, conscincia sem cincia e cincia sem conscincia

    so radicalmente mutiladas e mutilantes (MORIN,1999, p. 11).

  • 145

    A pesquisa-formao em educao online

    Procuremos compreender a educao online, o uso e

    construo de ambiente virtual de aprendizagem para a formao

    de professores como um objeto que se auto-organiza na

    complexidade das redes de relaes estabelecidas entre os

    participantes e o prprio espao de formao. Neste sentido o

    objeto no pode ser analisado por um mtodo construdo a priori,

    onde o pesquisador no se implica com os sujeitos e muito menos

    com o objeto de estudo. Ademais, concordamos mais uma vez com

    Morin quando este afirma que o mtodo no precede a experincia,

    o mtodo emerge durante a experincia e se apresenta ao final,

    talvez para uma nova viagem (MORIN, 2003, p. 20). Optamos por

    uma concepo de pesquisa baseada na implicao do pesquisador

    com o campo de pesquisa, construindo juntamente com os sujeitos

    envolvidos o conhecimento e o prprio mtodo.

    Assim optamos pelo mtodo da pesquisa-formao inspirado

    nas abordagens de pesquisa-ao em Barbier (2002) e do conceito

    de formao abordado nos trabalhos de Freire (1998), Macedo

    (2000, 2001), Nvoa (1995, 2002, 2004), e pesquisa-formao em

    Josso (2004).

    Para Barbier a pesquisa-ao no uma nova disciplina em

    Cincias Sociais, mas uma maneira filosfica de existir e de fazer

    pesquisa interdisciplinar para um pesquisador implicado (BARBIER,

    2002, p. 85). Ns nos identificamos com esse conceito de pesquisa,

    pois nos colocamos no papel de pesquisadora ativa, envolvida e

    implicada com o processo de formao e de aprendizagem. A

    pesquisa neste caso no um espao para olhar o fenmeno do

    lado de fora, ao contrrio, um espao de formao e auto-

    formao, um espao de implicao, onde o risco, a incerteza, a

  • 146

    desordem sero contemplados sem prejuzo do rigor do fazer

    cincia. Para Barbier (2002) o rigor cientfico no deve ser baseado

    nas medidas quantificveis, mas sim nas questes em noes

    qualitativas, como por exemplo:

    Rigor do quadro simblico no qual a

    expresso do imaginrio e o desdobramento da

    implicao vo poder se produzir;

    Rigor da avaliao permanente da ao

    relativamente aos objetivos intermedirios que se d o

    grupo implicado para avanar em direo ao seu

    objetivo;

    Rigor dos campos conceituais e tericos

    cujas fronteiras so articuladas, sem ignorar suas

    zonas esmaecidas, suas incertezas;

    Rigor da implicao dialtica do

    pesquisador, desse lao entre a complexidade e a

    implicao que Jean-Louis Le Grand chama de

    implexidade.

    Neste sentido, todos os sujeitos do curso online so

    pesquisadores. A autoria da pesquisa compartilhada por todos os

    participantes do projeto: professores-pesquisadores formadores e

    pesquisadores-estudantes. O ambiente virtual foi criado a partir de

    uma proposta pedaggica e de pesquisa inicial que se modificou

    ganhando novos contornos ao longo da pesquisa. Contrariando as

    noes clssicas de pesquisa, o pesquisador no um sujeito

    neutro, no implicado, que v os outros sujeitos como seres

    pesquisados. Na pesquisa-ao, todos so sujeitos, todos so

    potencialmente pesquisadores, ningum objeto. O objeto a

  • 147

    relao entre os autores. Neste sentido, estamos diante do conceito

    de pesquisador coletivo de Barbier (2002).

    O pesquisador coletivo composto por todos os sujeitos

    participantes, atores e autores da pesquisa. A participao coletiva

    condio fundante da pesquisa-ao. No h pesquisa-ao sem

    participao coletiva. necessrio o envolvimento pessoal

    multidimensional, que integre as dimenses do emocional,

    sensorial, imaginativo, criativo e tambm racional e implicado pela

    experincia. Implicar-me consiste sempre em reconhecer

    simultaneamente que eu implico o outro e sou implicado pelo outro

    na sua situao interativa (BARBIER, 2002, p. 101). Alm das

    dimenses de cunho pessoal, cada integrante do grupo precisa

    reconhecer o outro como co-autor da pesquisa. Esta por sua vez

    sempre um processo inacabado, um produto de final aberto. Nesta

    tese o pesquisador coletivo o grupo-sujeito34 composto pelas

    pesquisadoras e pelos cursistas que organizaram em grupos de

    trabalhos mveis, ou seja, os grupos de trabalho foram sempre

    reestruturados a partir dos interesses investigativos de cada

    pesquisador bem como do grupo como um todo.

    A participao do pesquisador coletivo se configura no co-

    gesto dialgica entre os participantes que atuam de forma

    colaborativa e cooperativa. O princpio da autonomia relativa

    estruturante de todo processo da pesquisa. No se trata to-

    somente de uma pesquisa sobre a ao ou para a ao. Mas de uma

    pesquisa em ao (BARBIER, 2002, p. 81).

    34 Barbier (2002) lana mo do conceito de grupo-sujeito de Felix Guattari, oposto ao de grupo-objeto.

  • 148

    A complexidade

    Os estudos sobre complexidade surgem com a dificuldade de

    lidar com o conhecimento na contemporaneidade, num momento

    caracterizado por uma diversidade de crises, no campo dos modos e

    nos meios de produo, nas relaes sociais, nas formas de

    construir, socializar e legitimar saberes e conhecimentos. Segundo

    Morin:

    O paradoxal que essa Cincia Moderna, que tanto contribuiu para elucidar o cosmos, as estrelas, a bactria e, enfim, tantas coisas, completamente cega com respeito a si mesma e a seus poderes; j no sabemos para onde ela nos conduz (MORIN, 1996, p. 276).

    O complexo no corresponde no-explicao e sim

    dificuldade de explicar. a partir deste pressuposto que Morin

    conceitua a complexidade. Um espao/tempo complexo aquele

    caracterizado pela incapacidade de captar todos os processos em

    curso (aes, interaes, retroaes) e pela existncia de

    fenmenos aleatrios, fenmenos estes, que no podem ser

    determinados empiricamente agregando incerteza ao pensamento.

    A realidade torna-se cada vez mais problemtica devido

    emergncia dos fenmenos histrico-culturais e da busca incessante

    pela eliminao da diversidade complexa.

    Tudo se fez, tudo nasceu atravs de encontros aleatrios. Devemos trabalhar com a desordem e a incerteza, e damo-nos conta de que trabalhar com a desordem e a incerteza no significa deixar-se submergir por elas; , enfim, colocar prova um pensamento energtico que as olhe de frente (MORIN, 1996:277).

    Os comportamentos humanos so possveis de previso.

    Contudo, no estamos livres dos acasos, das emergncias.

  • 149

    Toleramos as desordens. A complexidade humana (mquinas

    viventes) marcada tambm pelo princpio da auto-eco-

    organizao. Quando a epistemologia da complexidade destaca que

    o todo pode ser mais que a soma das partes; menos que a soma

    das partes e ao mesmo tempo, mais e menos que as partes,

    porque o mundo do conhecimento deve ser compreendido como um

    sistema e no como um objeto. Ainda assim, para MORIN (1996) o

    prprio sistema pode ser considerado como parte de um

    polissistema e como se estivesse rodeado por um ecossistema,

    oferecendo assim a possibilidade de reconsider-lo em seu

    ambiente (p. 279).

    A contradio tambm elemento da complexidade.

    Parafraseando Herclito, Edgar Morin destaca: Viver de morte,

    morrer de vida. No universo complexo que o homem (mquina

    vivente), a convivncia com a vida e a morte, o amor e o dio, a

    alegria e a tristeza, gera contradies que organizam o modo de

    vida humano, que auto-eco-organizam. Assim so tambm os

    ambientes virtuais de aprendizagem.

    Alguns pesquisadores consideram como ambiente virtual de

    aprendizagem apenas sua infra-estrutura tecnolgica, ou seja, o

    conjunto de interfaces e/ou ferramentas e contedos de um curso.

    Estes so apenas elementos da complexidade do objeto de estudo.

    O espao de aprendizagem e de formao no se institui sem a

    ao dos sujeitos cognoscentes e sua partilha de sentidos. A

    educao online se auto-eco-organiza pela interatividade dos atores

    e suas interfaces tecnolgicas, por exemplo: um frum de discusso

    no se torna frum sem a partilha de sentidos e os discursos dos

    seus interlocutores.

  • 150

    A multirreferencialidade

    Dentre as diversas crticas produo, socializao e

    legitimao de saberes e conhecimentos na atualidade podemos

    destacar a cincia como mais uma referncia e no como mais uma

    grande narrativa. A exuberncia, a abundncia, a riqueza das

    prticas sociais probem concretamente sua anlise clssica por

    meio da decomposio-reduo. (ARDOINO, 1998, p. 26).

    Ademais, os prprios acontecimentos cientficos12 ao longo

    da histria da cincia permitem que iniciemos no s uma discusso

    sobre a necessidade de construo de uma nova cincia, cincia

    transdisciplinar, como nos alerta Morin, mas, sobretudo a

    possibilidade de legitimar outras referncias e/ou saberes e

    conhecimentos. Tal preocupao vem ganhando destaque devido s

    diversas mutaes sociotcnicas vividas neste novo sculo. Nesse

    contexto, podemos lanar mo de mais uma abordagem

    epistemolgica e metodolgica, a multirreferencialidade.

    O conceito de multirreferencialidade pertinente para

    contemplar nos espaos de aprendizagem uma leitura plural de

    seus objetos (prticos ou tericos), sob diferentes pontos de vista,

    que implicam tanto vises especficas quanto linguagens

    apropriadas s descries exigidas, em funo de sistemas de

    referenciais distintos, considerados, reconhecidos explicitamente

    12 Por um lado, as potencialidades da traduo tecnolgica dos conhecimentos acumulados fazem-nos crer no limiar de uma sociedade de comunicao e interactiva libertada das carncias e inseguranas que ainda hoje compem os dias de muitos de ns: o sculo XXI a comear antes de comear. Por outro lado, uma reflexo cada vez mais aprofundada sobre os limites do rigor cientfico ecolgico ou da guerra nuclear faz-nos temer que o sculo XXI termine antes de comear. (SANTOS, 1997, p. 6).

  • 151

    como no redutveis uns aos outros, ou seja, heterogneos

    (ARDOINO, 1998, p. 24).

    A multirreferencialidade, como um novo paradigma, torna-

    se hoje grande desafio. Desafio que precisa ser vivido e gestado,

    principalmente pelos espaos formais de aprendizagem que ainda

    so norteados pelos princpios e prticas de uma cincia moderna.

    Por outro lado, diferentes parcelas da sociedade vm criando novas

    possibilidades de educao e de formao inicial e continuada.

    A emergncia de atividades (presenciais e/ou a distncia,

    estruturadas por dispositivos comunicacionais diversos), cursos

    (livres, supletivos, de qualificao profissional), atividades culturais

    diversas, artsticas, religiosas, esportivas, comunitrias comeam a

    ganhar neste novo tempo uma relevncia social bastante fecunda.

    Tal acontecimento vem promovendo a legitimao de novos espaos

    de aprendizagem, que tentam fugir do reducionismo que separa os

    ambientes de produo e os de aprendizagem (...), espaos que

    articulam, intencionalmente, processos de aprendizagem e de

    trabalho (BURNHAM, 2000, p. 299).

    Os sujeitos que vivem e interagem nos espaos

    multirreferenciais de aprendizagem expressam na escola

    insatisfaes profundas, pondo em xeque o currculo fragmentado,

    legitimando inclusive espaos diversos, que h bem pouco tempo

    no gozavam do status de espaos de aprendizagem atravs da

    autoria dos saberes construdos pela itinerncia dos processos.

    pela necessidade de legitimar tais saberes e tambm competncias

    que diversos espaos de trabalho esto certificando os sujeitos pelo

    reconhecimento do saber fazer competncia independentemente

    de uma suposta formao institucional especfica, como por

    exemplo, as experincias formais de formao inicial.

  • 152

    Para que a diversidade de linguagens, produes e

    experincias de vida sejam de fato contempladas de forma

    multirrefencializada, nos e pelos espaos de aprendizagem, os

    saberes precisam ganhar visibilidade e mobilidade coletiva, ou seja,

    os sujeitos do conhecimento precisam ter sua alteridade

    reconhecida, sentindo-se implicados numa produo coletiva,

    dinmica e interativa que rompa com os limites do tempo e do

    espao geogrfico. Para tanto as novas tecnologias digitais podero

    estruturar novas prticas curriculares e pedaggicas.

    A emergncia das noes subsunoras

    Pesquisar antes de tudo inquietar-se, questionar a

    realidade procurando respostas sempre temporrias, pois no

    contato com as mesmas, novas inquietaes engendram-se

    levando-nos a uma busca incessante de novas respostas e

    explicaes. Nesse processo, o pesquisador busca em princpio

    parcerias intelectuais e tericas colocando a teoria num lugar de

    destaque. Contudo, o objeto s se desvela na interface entre o

    referencial terico e o campo de pesquisa.

    Nas tradies mais clssicas de pesquisa, comum apoiar-se

    no referencial terico para compreender o campo de pesquisa, como

    se este s tivesse importncia ao legitimar ou no o referencial

    terico adotado. Essa tradio no contempla nossa necessidade e

    no nos ajudar na compreenso e desnudamento do nosso objeto

    de pesquisa.

    O campo de pesquisa aqui entendido como espao fundante

    e seminal, dele emergiro as falas autorizadas dos sujeitos, que

    juntamente com o referencial terico engendraro a autoria do

    professor-pesquisador na construo do processo-produto da

    pesquisa acadmica.

  • 153

    A autoria do pesquisador se constitui no dilogo sistematizado

    no formato dissertativo, produto de final aberto, entre a teoria e a

    prtica da empiria. A realidade da pesquisa, bem como seu

    processo e resultado, um retrato da subjetividade do pesquisador

    e a interpretao objetiva do dilogo deste pesquisador com a

    teoria e a empiria. Para Macedo:

    medida que a leitura interpretativa dos dados se d s vezes por vrias oportunidades aparecem significados e acontecimentos, recorrncias, ndices representativos de fatos observados, contradies profundas, relaes estruturadas, ambigidades marcantes (MACEDO, 2000, p. 204).

    Nesse complexo jogo surgem, estabelecem e se atualizam as

    noes subsunoras. As noes subsunoras so as categorias

    analticas, frutos da anlise e interpretao dialgica entre empiria e

    teoria num processo de aprendizagem significativa. Para Ausubel

    (apud MOREIRA, 1982), a aprendizagem significativa um processo

    dinmico em que uma nova informao ancora-se em conceitos

    relevantes preexistentes na estrutura cognitiva estrutura

    hierrquica de conceitos que so abstraes da experincia dos

    indivduos do sujeito aprendente que se atualiza sempre que um

    novo conceito significado.

    Numa realidade de pesquisa acadmica as noes

    subsunoras so sempre atualizadas quando o pesquisador acessa

    uma nova informao seja pelo contato terico e/ou emprico. O

    estabelecimento consciente e criativo das noes subsunoras exige

    do pesquisador a mobilizao de competncias terico-analticas e

    hermenuticas, implicando operaes cognitivas como:

    Distino do fenmeno em elementos significativos;

    exame minucioso destes elementos;

  • 154

    Codificao dos elementos examinados;

    Reagrupamento dos elementos por noes subsunoras;

    sistematizao textual do conjunto;

    Produo de uma meta-anlise ou uma nova

    interpretao do fenmeno estudado; estabelecimento

    de relaes e/ou conexes entre as noes subsunoras

    e seus elementos (MACEDO, 2000, p. 204).

    As noes subsunoras sofrem um processo dinmico e

    evolutivo ao longo do desenvolvimento da pesquisa acadmica.

    Geralmente, tudo comea a partir do estabelecimento do

    anteprojeto de pesquisa, que na maior parte das vezes fruto de

    experincias anteriores agregadas a constantes inquietaes

    terico-prticas, evoluindo sempre que o pesquisador interage com

    novas informaes, advindas tanto da reviso da literatura quanto

    das relaes e implicaes estabelecidas com os sujeitos e os

    dispositivos da pesquisa de campo.

    Ao nos defrontarmos com a realidade, temos que compreender que esta no cabe num conceito, preciso construir um certo distanciamento terico, a fim de edificarmos, durante as observaes, uma disponibilidade face aos acontecimentos em curso. Ao concluir a coleta de informaes, as inspiraes tericas so retomadas fazendo-as trabalhar criticamente no mbito das interpretaes sadas do estudo concreto. Neste encontro, tensionado pelos saberes j sistematizados e dados vivos da realidade, nasce um conhecimento que se quer sempre enriquecido pelo ato reflexivo de questionar, de manter-se curioso (MACEDO, 2000, p. 206-207).

    preciso ento, utilizar estratgias e dispositivos que possam

    no s acompanhar a dinmica e evoluo dos conceitos

    subsunores e da prpria aprendizagem significativa do

  • 155

    pesquisador, bem como desenvolver meios e dispositivos que

    potencializem o processo de aquisio e atualizao dos mesmos.

    Neste sentido a prtica da cartografia cognitiva pode se constituir

    numa importante interface.

    Potencializando a cartografia cognitiva com o uso de software

    Os conceitos subsunores so amplamente potencializados

    quando o pesquisador procura de forma estratgica a interface

    entre os saberes tcitos e os explcitos, ou seja: procurar

    externalizar os conceitos das suas redes neurais para sua expresso

    fora da mente. Este processo pode se dar na produo de um texto,

    uma obra de arte ou cientfica, enfim em vrias linguagens e formas

    de expresso. Contudo, os estudos da cartografia cognitiva vm

    demonstrando que quanto mais conseguirmos nos expressar com

    formas que se aproximam das nossas estruturas cognitivas, mais

    visvel torna-se o processo de construo do conhecimento e, neste

    sentido, mais e melhores formas de ressignificar a aprendizagem e

    as noes subsunoras.

    O pensamento construdo por redes e associaes.

    Produzimos novos saberes em rede hipertextual, no pensamos

    linearmente. Um novo saber se conecta com um saber j construdo

    podendo ser atualizado e at mesmo refutado. Tudo depende da

    nossa produo de sentidos, de como significamos, de como

    fazemos cincia. Conforme nos alerta Morin:

    O conhecimento no uma coisa pura, indpendente de seus instrumentos e no s de suas ferramentas mentais, mas tambm de seus instrumentos mentais que so os conceitos; a teoria cientfica uma atividade organizadora da mente, tambm o dilogo com o mundo dos fenmenos. Isso quer dizer que preciso

  • 156

    conceber a teoria cientfica como uma construo. (MORIN, 1999, p. 44).

    Assim sendo, o uso de mapas conceituais se constitui como

    um dispositivo fecundo para novas aprendizagens. A expresso da

    rede de pensamento cartografia cognitiva pode ser

    externalizada / internalizada / externalizada num movimento

    dinmico como um retrato hipertextual da mente a partir dos

    mapas conceituais.

    Vejamos a seguir o mapa conceitual criado por Okada (2004).

    Fonte: curso online Uso de software na pesquisa qualitativa.

  • Os mapas conceituais so diagramas que indicam relaes,

    conexes ou associaes entre os conceitos. A organizao dos

    mapas conceituais depender nica e exclusivamente do

    pensamento do pesquisador, de como ele vem estruturando suas

    idias a partir da sua interao com seu objeto de estudo, seja no

    campo terico, no campo emprico ou na sua interface. Para

    confeccionar um mapa conceitual que expresse a cartografia

    cognitiva do pesquisar necessrio o uso de interfaces sejam elas

    atmicas (lpis e papel) ou digitais (softwares).

    O uso de software potencializa a construo dos mapas

    conceituais pelas flexibilidade e plasticidade prprias das

    tecnologias digitais. Com apenas alguns cliques na tela do

    computador e a seleo de alguns comandos de formatao e

    arquivamento dos dados. Como elaborar mapas conceituais? O

    assunto principal registrado na tela, dentro de um retngulo

    atravs de um conceito claro e significativo. Logo em seguida e

    abaixo, os conceitos que tm relao direta com o tema inicial so

    anotados em retngulos inferiores e setas descritivas so

    estabelecidas entre os elementos. Os conceitos mais especficos,

    so estabelecidos sempre abaixo e a estrutura vai se ramificando

    como uma rvore. Os conceitos subjacentes podem ser definidos

    nas laterais em paralelo. Novas setas podem surgir, e algumas

    imagens podem acompanhar as palavras. As cores ficam a critrio

    do cartgrafo.

    Nos mapas conceituais alguns aspectos so importantes:

    Escolher o tema a ser abordado e definir o objetivo

    principal a ser perseguido;

    Registrar os conceitos iniciais e definir uma seqncia

    hierarquizada;

  • 159

    Identificar as conexes entre os elementos atravs de

    linhas: a) indicar o propsito da conexo registrando na

    linha o propsito da ligao; b) pesquisar o significado

    das palavras-chave para selecion-las de modo mais

    claro e preciso conforme o assunto abordado; c)

    permitir sesses de feedback, de modo que atravs de

    outras opinies seja possvel rever seus conceitos, e

    avaliar o instrumento utilizado, de modo a enfatizar

    sempre os pontos mais relevantes do assunto.

    Aprendizagem implica modificaes na estrutura cognitiva e

    no apenas acrscimos. Para uma aprendizagem significativa

    importante considerar:

    Conceitos registrados nos diversos nveis devem

    representar o contexto abordado;

    A organizao hierrquica facilita a apreenso dos

    conceitos; novas idias e conceitos devem ser

    "potencialmente significativos" para o aluno;

    Ao estabelecer conexes entre os novos conceitos e os

    j existentes, as estruturas cognitivas podero

    apreender com mais facilidade e relembrar o significado

    com mais clareza.

  • Mapa conceitual criado pela autora

  • O exerccio de mapear permite que o pesquisador possa

    visualizar sua cartografia cognitiva, facilitando a construo do

    conhecimento em todo o processo da pesquisa. O mapeamento

    hipertextual permitiu ver o objeto da cibercultura e a formao de

    professores no como um fato puro e simplesmente registrado num

    manual ou receiturio calcados em uma s verdade, sistematizada

    apenas por conceitos e discursos desconectados da prxis. preciso

    reconhecer os sujeitos da pesquisa como seres de prxis. Ser de

    prxis aquele que alm de pensar o mundo e o mundo dos

    homens, imagina-se tambm parte indestacvel destes mundos;

    age sobre eles e com eles, por conseguinte, o seu saber e o seu

    fazer remetem-lhe para dentro de uma cultura cientfica e humana

    ao mesmo tempo (MACEDO, 2000, p. 38).

    Vrios so os softwares disponveis no ciberespao. Nesta

    pesquisa utilizamos os softwares Cmap e Nestor. Vejamos:

    1 O Cmap Tools (http://www.uwf.com) foi desenvolvido pelo

    IHMC University of West Florida, sob a superviso do Dr. Alberto J.

    Caas. um software de download gratuito que permite construir,

    navegar, compartilhar mapas conceituais de forma individual ou

    colaborativa. Ao clicar na tela, surgem retngulos e os conceitos

    podem ser registrados e depois interligados por linhas. Estas

    conexes podem ser explicitadas com uma descrio da relao.

    Nos mapas podem ser inseridos links para texto, figuras, vdeos,

    sons, vdeos e URLs, e tambm apontar para outros mapas que

    possuam alguma relao entre os conceitos.

    No CMap a organizao dos mapas agrupada por projetos

    que podero conter vrios mapas armazenados em servidores,

    locais ou distribudos, que so conectados atravs da web para

    possibilitar seu compartilhamento. Os mapas podem ser salvos nos

    formatos html e JavaScript.

  • 162

    2 O Nestor Web Cartograher

    (http://www.gate.cnrs.fr/~zeiliger/nestor/nestor.htm) um

    software desenvolvido no Centro de Pesquisa Nacional Cientfica em

    Lyon-Frana por Romain Zeiliger. Sua instalao tambm pode ser

    feita atravs de download gratuito. Com o Nestor possvel

    elaborar mapas conceituais, mapas da mente, mapas web.

    A pesquisa e a prtica pedaggica como dispositivos de formao docente

    No nova no meio acadmico a idia de conceber a prtica

    docente como prtica de pesquisa. Vrios so os trabalhos que

    anunciaram e vm anunciando que ensinar muito mais que

    transmitir informaes sistematizadas ou arquitetar situaes

    instrucionais que orientem processos de ensino e aprendizagem.

    Freire (1996) j afirmava que ensinar ser epistemologicamente

    curioso, isso implica a construo ou participao da construo do

    conhecimento do objeto.

    Neste sentido, o professor-pesquisador sobretudo aquele

    que aprende enquanto ensina e que ensina enquanto aprende. Ser

    epistemologicamente curioso implica a capacidade de aprender, de

    que decorre a de ensinar, sugere ou, mais do que isso implica a

    nossa habilidade de aprender a substantividade do objeto

    apreendido. Aprender construir, reconstruir, constatar para

    mudar, o que no se faz sem abertura ao risco e aventura do

    esprito (FREIRE, 1996, p. 77).

    Assumimos nessa pesquisa o papel de pesquisadora-

    aprendente. Assim o pesquisador no apenas quem constata o

    que ocorre, mas tambm intervm como sujeito de ocorrncias. Ser

    sujeito de ocorrncias no contexto de pesquisa e prtica pedaggica

  • 163

    implica conceber a pesquisa-formao como processo de produo

    de conhecimentos sobre problemas vividos pelo sujeito em sua ao

    docente. A pesquisa-formao contempla a possibilidade da

    mudana das prticas, bem como dos sujeitos em formao. Assim,

    a pessoa , simultaneamente, objeto e sujeito da formao.

    (NVOA, 2004, p. 15).

    Neste veio, a coletividade tambm o sujeito de ocorrncias.

    Assim todo o conjunto de contedos e estratgias da e na ao

    docente deve emergir a partir dos problemas, temas e necessidades

    de todos os sujeitos pesquisadores. A pesquisa-formao no

    dicotomiza a ao de conhecer da ao de atuar, prpria das

    pesquisas ditas aplicadas. O pesquisador coletivo, no se limita

    a aplicar saberes existentes, as estratgias de aprendizagem e os

    saberes emergem da troca e da partilha de sentidos de todos os

    envolvidos.

    Conceber a pesquisa e a prtica docente em educao online

    como estratgia e no apenas como programa nos mostra que

    possvel no subutilizar o potencial das tecnologias digitais mais

    especificamente o potencial dos ambientes virtuais de

    aprendizagem. J constatamos em outras pesquisas que o uso de

    tecnologias e interfaces digitais potencializa o dilogo, a autoria

    coletiva e apartilha de sentidos em mltiplas linguagens e mdias.

    Entretanto, constatamos tambm que se essas tecnologias forem

    utilizadas num contexto de pesquisa e prticas docentes

    transmissoras, baseadas no modelo comunicacional da cultura e das

    mdias de massa, pouca ou quase nenhuma mudana ocorrer em

    termos de educao, comunicao e conseqentemente de

    aprendizagem (Santos, 2002).

    Neste sentido, a pesquisa e prtica docente em educao

    online deve partir da concepo de estratgia e no apenas de

    programa. O conceito que adotamos concebe a estratgia como a

  • 164

    arte de utilizar as informaes que aparecem na ao, de integr-

    las, de formular esquemas de ao e de estar apto para reunir o

    mximo de certezas para enfrentar a incerteza (MORIN, 1999, p.

    192).

    Conceber a pesquisa e a prtica docente como estratgia vai

    de encontro ao conceito de programa e/ou desenho instrucional

    muito utilizado em projetos de tecnologia educacional. No cenrio

    das prticas e projetos de EaD, nas diversas geraes em que a

    educao online est em emergncia, o conceito de desenho

    instrucional vem sendo bastante empregado, questionado e

    ressignificado.

    Uma prtica pedaggica baseada no conceito de programa se

    caracteriza pela seqencializao, normalmente linear, de todo o

    processo de ensino-aprendizagem. O ensino concebido como

    trajetria e no como itinerncia. Na trajetria os aprendentes so

    guiados por instrues e aulas predeterminadas que compem

    conseqentemente um conjunto de mdulos, e estes o curso como

    um todo. O ensino como itinerncia arquitetado no movimento

    complexo da formao coletiva a partir do contexto sociotcnico e

    cultural dos sujeitos bem como das suas mediaes e estratgias

    cognitivas. Foi pela opo de prtica pedaggica como itinerncia

    estratgica que nossa pesquisa-formao em educao online tem

    se constitudo como espao de formao docente.

    Vejamos a seguir o quadro sinptico:

  • 165

    Diferenas entre programa e estratgia

    MTODO PROGRAMA ESTRATGIA

    Organizao predeterminada da ao;

    Encontra recursos, faz contornos, realiza investimentos e desvios;

    Necessita de condies estveis repetio do mesmo no mesmo, dose fraca e superficial de risco e de obstculos;

    Necessita da instabilidade aberta, evolutiva, enfrenta o improviso, o novo, situaes aleatrias, utiliza o risco, o obstculo, a diversidade;

    Tolera dose fraca e superficial de erros;

    Tira proveito e necessita de seus erros, para a concorrncia, iniciativa, deciso e reflexo;

    Ignora o contexto; Depende do contexto. No existe um mtodo fora das condies em que se encontra o sujeito;

    Cincia clssica Arte e Cincia Busca acabamento eficaz e eficiente dos processos.

    Tenso entre o inacabamento e a sntese da ltima interpretao possvel.

    Quadro criado pela autora a partir de Morin, Ciurana e Motta (2003).

    a partir dessa inspirao metodolgica e epistemolgica que

    nossa pesquisa-formao em educao online foi desenvolvida.

    Assim, procuramos criar um dispositivo de pesquisa e prtica

    pedaggica em que os sujeitos envolvidos pudessem partilhar

    saberes de forma complexa e multirreferencial. Nessa rede de

    relaes, autorias variadas emergiram da interface

    teoria/prtica/tecnologias digitais.

  • 166

    O campo de pesquisa no ciberespao: criando e gestando o dispositivo de pesquisa-formao e prtica docente em educao online

    Como se d o processo formativo em educao online? Um

    ambiente virtual de aprendizagem no ciberespao poder se

    constituir em um espao de formao? Como agregar pesquisadores

    implicados em uma pesquisa coletiva?

    Como refletir acerca dessas questes no seria possvel fora

    de um contexto concreto de formao, foi necessrio criar um

    dispositivo capaz de fazer emergir um campo de pesquisa que

    agregasse cenrios de aprendizagem e de formao. O conceito

    tratado aqui inspirado em Ardoino, que entende o dispositivo

    como uma organizao de meios materiais e/ou intelectuais,

    fazendo parte de uma estratgia de conhecimento de um objeto

    (ARDOINO, 2003, p. 80).

    Neste sentido, surge a idia coletiva de criar e professorar um

    curso online, onde os pesquisadores envolvidos pudessem discutir

    suas inquietaes acadmicas num espao que abrigasse vrios

    pesquisadores geograficamente dispersos, mas que a partir do

    conceito de educao online pudessem construir e socializar saberes

    e conhecimentos a partir da mediao pedaggica estruturada por

    tecnologias digitais, mais especificamente pelo ambiente virtual de

    aprendizagem, AVA.

    O AVA foi ento criado como dispositivo para fazer emergir

    um campo de pesquisa que, a princpio, configurou-se no cenrio de

    duas pesquisas de doutoramento. A primeira, pela UFBA, fruto

    dessa reflexo, procurou verificar como a educao online, o uso e

    construo de ambiente virtual de aprendizagem pode se constituir

    como uma espao de pesquisa e formao. A segunda, pela PUC-

  • 167

    SP, procurou investigar como a cartografia e uso de softwares de

    mapeamento poderiam contribuir na investigao acadmica. A

    idia de criar um dispositivo coletivo36 se justificou pelo desafio de

    produzir conhecimento de forma coletiva e interinstitucional, atitude

    pouco vivenciada nos meios acadmicos e educacionais.

    36 Nosso encontro ocorreu na PUC-SP no incio de nossas pesquisas de Mestrado. Edma ([email protected]) fazia pesquisa de campo sobre ambientes virtuais de aprendizagem no Programa de Comunicao e Semitica. O projeto foi orientado pelo Prof. Dr. Nelson Pretto coordenador do GEC/UFBA, Grupo de Pesquisa em Educao e Comunicao. Alexandra ([email protected]) investigava o software Nestor Web Cartographer no Programa de Educao: Currculo. O projeto foi orientado pelo Prof. Dra. Maria Cndida Moraes.

    Aps um semestre letivo de muita discusso em 2000, continuamos interagindo pelo ciberespao, com alguns encontros presenciais tendo como cenrios o sol de Salvador e o frio de So Paulo. Aps dois anos, refletindo sobre nossos trabalhos, estudos de casos, teorias e prticas, conclumos nossas pesquisas. Em 2002, defendemos nossas dissertaes e iniciamos os nossos projetos de doutorado. Atualmente, Alexandra investiga o uso de mapas em projetos acadmicos e Edma investiga como a cibercultura, a educao online e a pesquisa-formao podem contribuir para a formao do docente-pesquisador.

    Esta pesquisa atualmente integra as pesquisas do grupo de pesquisa FORMACCE, coordenado pelo Prof. Dr. Roberto Sidney Macedo, orientador do projeto de tese. Nesse turbilho de idias, resolvemos unir nossas investigaes numa pesquisa-formao, o que nos levou a ministrar juntas o curso online sobre Uso de Software da Pesquisa Qualitativa, que pode ser acessado pela URL: www.cogeae.pucsp.br. Nossas produes so obras abertas e um convite para novas inteligncias coletivas. Exemplos de nossas mediaes podem ser verificados tambm nas URLs: www.projeto.org.br/cartografia e www.projeto.org.br/emapbooks .

    mailto:[email protected]:[email protected]://www.cogeae.pucsp.br/http://www.projeto.org.br/cartografiahttp://www.projeto.org.br/emapbooks

  • 168

    Como a educao online pode contribuir para a

    formao de docentes e pesquisadores na

    cibercultura?

    Como a cartografia cognitiva pode contribuir

    na investigao acadmica?

    Edma Santos Doutoranda: UFBA E-mail: [email protected] Orientador: Roberto Macedo

    Alexandra Okada Doutoranda: PUC-SP E-mail: [email protected] Orientador: Fernando Almeida

    Inspiradas pela complexidade que procura tecer junto e no

    de forma simplificada procuramos desenvolver um mtodo de

    pesquisa e prtica docente que articulasse sempre nossos projetos

    prvios com as emergncias do processo. Concordamos com Morin,

    quando afirma que:

    O mtodo uma estratgia do sujeito que tambm se apia sem segmentos programados que so revistos em funo da dialgica entre essas estratgias e o prprio caminhar. O mtodo simultaneamente programa e estratgia e, por retrao de seus resultados, pode modificar o programa; portanto o mtodo aprende (MORIN, 2003, p. 28).

  • 169

    Assim como o mtodo aprende, todos os sujeitos envolvidos

    tambm o fazem. Um curso online concebido como estratgia

    itinerante se modifica tanto por conta das histrias e itinerncias de

    vida dos sujeitos envolvidos como pelos seus contedos tericos,

    metodolgicos e tecnolgicos previamente planejados pelos

    docentes.

  • 170

    CAPTULO IV

    PRTICA DOCENTE: O PROGRAMA ABERTO S ESTRATGIAS

    Ensinar exige pesquisa: no h ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago (...). Pesquiso para conhecer o que ainda no conheo e comunicar ou anunciar a novidade.

    Paulo Freire

    Neste captulo, trago a anlise dos dados no contexto da

    prtica docente engendrada a partir da criao coletiva de um AVA

    ambiente virtual de aprendizagem. Procuro descrever densamente

    o processo e desenvolvimento da pesquisa-formao como prtica

    docente em educao online. Esta prtica apresentada a partir do

    conceito de estratgia (Morin, 1999) que procurou articular

    recursivamente a idia de projeto interativo-hipertextual e a

    promoo de um dispositivo de pesquisa-formao a partir do uso

    de interfaces comunicacionais e gneros textuais.

    Em pesquisa-formao o dispositivo de pesquisa e prtica

    docente vai se constituindo no processo a partir da autoria do

    pesquisador-coletivo. Contudo, devemos partir de uma

    intencionalidade pedaggica que vai se auto-organizando como nos

    sugere Edgar Morin. De onde partimos? Por onde devemos

    comear? Estas questes nos mobilizaram na construo da

    proposta do projeto pedaggico para nosso curso online.

    Sendo nosso dispositivo um curso online procuramos agregar

    a no-linearidade dos processos. Portanto, no trataremos aqui de

    elencar linearmente (1 faa isso, 2 faa aquilo, 3...) os passos de

  • 171

    um projeto pedaggico como comumente nos orientvamos pelos

    clssicos manuais didticos. Todos os elementos de um

    planejamento educacional so vivos e se articulam entre si.

    Muitas vezes um planejamento comea por uma inquietao de

    pesquisa ou problema; outras, por nos depararmos com um recurso

    didtico interessante e da j surgem idias de como us-los em

    nossas atividades docentes. Enfim, o planejamento poder comear

    por qualquer n da rede. Vejamos a seguir o mapa do planejamento

    que inspirou a arquitetura do nosso dispositivo de pesquisa e

    prtica pedaggica, visto como um hipertexto que se auto-organiza

    a partir na nossa ao criadora. Na rede tudo interage com tudo.

  • 172

    Projeto Pedaggico em rede

    Mapa elaborado pela autora

  • Como elaborar um projeto para educao online? O problema da pesquisa

    Na perspectiva de uma pedagogia significativa, principalmente

    baseada na idia de projeto pedaggico, no devemos criar um

    curso baseado em respostas j prontas e encadeado linearmente

    como se costumava fazer em prticas pedaggicas bancrias. Se

    todo o curso j for encadeado dessa maneira no sobrar espao

    para a dvida e a construo colaborativa do conhecimento.

    Em vez apenas da pedagogia da resposta, devemos mediar

    tambm a pedagogia da pergunta, ou seja, devemos, juntamente

    com os pesquisadores envolvidos, elaborar um projeto de

    aprendizagem baseado na concepo de que ensino tambm

    investigao e no apenas transmisso de informao. Mas como

    pr essa idia em prtica? importante que o projeto seja norteado

    por problemas encarnados, de cunho existncial, ou seja, uma

    questo ou questes norteadas que instiguem os sujeitos do

    processo busca e construo do conhecimento e da sua prpria

    formao.

  • 174

    Todo problema deve partir da necessidade do grupo. O nosso

    curso online foi norteado inicialmente por duas questes centrais.

    Os pesquisadores que se inscreveram e se colocaram disposio

    para a partilha de sentidos se identificaram com os problemas das

    pesquisadoras-formadoras. Nosso papel na docncia online

    provocar e mediar a construo do conhecimento e no transmitir

    respostas prontas em forma de instruo.

  • 175

    Projeto: do desenho instrucional ao desenho educacional

    Se percorrermos todo o mapa do planejamento, refletindo e

    sistematizando cada conceito a partir da nossa realidade

    educacional, estaremos fazendo na prtica um desenho

    instrucional37. O termo no novo, mas ressurge com fora total no

    atual contexto da EAD e mais especificamente da educao online.

    A cibercultura vem promovendo novas possibilidades de socializao

    e aprendizagem mediadas pelo ciberespao e no caso especfico da

    educao formal pelos ambientes virtuais de aprendizagem (AVA).

    importante no reduzirmos o termo educao ao termo

    instruo. Blikstein e Zuffo (2003) nos alertam: A profisso da

    moda o design instrucional. Ora, sabemos da semitica que a

    forma com que nomeamos as coisas no gratuita. Se j

    comeamos assumindo que estamos falando de instruo, alguma

    coisa est errada.

    De onde vem o conceito de desenho instrucional?

    Historicamente o conceito de desenho instrucional vem

    acompanhando a evoluo das teorias educacionais, inspiradas pela

    Psicologia da Aprendizagem e em seus contextos sociotcnicos.

    Vejamos o quadro trazido por Filatro (2004, p. 73):

    37 Neste trabalho, optamos pela expresso desenho educacional por entendermos que um projeto de educao no pode se reduzir ao conceito de instruo.

  • 176

    Influncias sobre o design instrucional a partir da dcada de 1960

    Perodo 1960-1975 1976-1988 1988-atualmente

    Teoria da

    instruo

    Comportamentalista Movendo-se em

    direo ao

    cognitivismo

    Seguindo a corrente em

    direo ao

    construtivismo

    nfase Comportamento

    observvel

    Processamento

    interno

    Construo individual e

    coletiva de

    conhecimento

    Paradigma

    Psicolgico

    Psicologia

    comportamental

    Psicologia do

    processamento

    da informao

    Construo do

    conhecimento/mediao

    social

    Status do

    design

    instrucional

    Emergente Engajado no

    desenvolvimento

    de teorias e

    modelos

    Engajado na redefinio

    Fonte primria: G. Brent Wilson & Peggy Cole, Cognitive Teaching Models, em David. H. Johansen (org.), Handbook of Research in Instructional Technology (New York: Scholastic Press, 1996).

    Entendemos por desenho educacional todo projeto de

    planejamento, acompanhamento e avaliao de situaes variadas

    de aprendizagem. O desenho educacional envolve desde os

    aspectos filosficos aos metodolgicos de um percurso de

    aprendizagem seja do projeto pedaggico mais amplo at a

    arquitetura de cada aula ou atividade especfica. Acreditamos que

    um desenho instrucional deve ser capaz de:

  • 177

    Apoiar e orientar a mobilizao de mltiplas competncias

    cognitivas, habilidades e atitudes, oferecendo-lhes situaes

    pelas quais possam construir o conhecimento;

    Criar processos e materiais didticos que procurem atingir os

    objetivos de aprendizagem;

    Articular cada material com os demais de um conjunto, de

    maneira a evitar uma proposta de aprendizagem fragmentada

    e descontextualizada;

    Otimizar o acesso informao a partir de diferentes meios e

    recursos tecnolgicos e miditicos permitindo que o grupo-

    sujeito ressignifique a informao construindo o

    conhecimento.

    Inspirado nesses objetivos, nosso dispositivo de pesquisa e

    prtica docente se constituiu pela recursividade de duas dimenses

    fundantes:

    A prtica pedaggica interativa e hipertextual na

    pesquisa-formao;

    A infra-estrutura comunicacional como interfaces

    e dispositivos de pesquisa-formao.

  • 178

    A prtica pedaggica interativa e hipertextual na pesquisa-formao

    A metodologia do curso privilegiou a construo coletiva de

    conhecimentos partindo do tema de interesse do participante,

    priorizando a interao entre todos, acesso ao material de apoio e

    leituras, troca de informaes, discusso e reflexo em grupo e

    individual. A dinmica foi organizada em dois encontros presenciais

    e encontros online, com debates e reflexes, atividades e estudos

    de casos, organizados em:

    a) 24 horas de atividades remotas, correspondentes a oito

    semanas com aulas de trs horas, com problematizaes e desafios,

    construes e anlises de mapas, com a respectiva mediao,

    discusses e debates sobre pesquisa qualitativa com alguns

    professores especialistas;

    b) 6 horas em dois encontros presenciais de 3 horas cada. A

    navegao e interatividade no ambiente foram anunciadas na

    agenda do prprio ambiente, com mapas para orientao criados ao

    longo do processo a partir do mapeamento das itinerncias dos

    pesquisadores envolvidos.

    Cada participante trabalhou com a sua temtica de interesse,

    com o seu projeto de pesquisa, aproveitando durante cada mdulo

    para aprofundar seu contexto investigativo. Desse modo, tivemos

    atividades individuais e em grupo para discutir e aprofundar

    conceitos sobre mapeamento e a utilizao dos softwares Cmap e

    Nestor, articulao das informaes e anlises, interpretao dos

    mapas para desenvolvimento de um paper. No final do curso, os

    participantes apresentaram as suas produes cientficas (mapa e

    paper) que foram publicadas na URL www.projeto.org.br/emapbook

    e na Comunidade Nestor, no CNRS em Lyon. As atividades

    http://www.projeto.org.br/emapbook

  • 179

    privilegiaram a interatividade entre todos os pesquisadores atravs

    das interfaces sncronas e assncronas do AVA COGEAE.

    Contexto Os sujeitos da pesquisa

    Todo planejamento educacional deve contemplar a questo da

    contextualizao. Contextualizar considerar as singularidades e

    pluralidades tanto dos sujeitos aprendentes quanto do espao de

    aprendizagem, ou instituio.

    Qual o perfil sociocognitivo dos pesquisadores? Ou seja, como

    gostam de se relacionar e de aprender?

    Quais as condies tecnolgicas?

    Quais so os principais setores e reas envolvids no projeto

    de pesquisa?

    Procuramos mapear as singularidades utilizando uma ficha de

    inscrio38.

    GRUPO-SUJEITO

    Nome e Estado Formao Inicial Pesquisa e docncia Alexandra Okada (SP)

    Graduao em Computao no ITA, Especializao em Marketing, Mestrado e Doutorado em Educao pela PUC-SP

    Doutoranda em Educao pela PUC-SP, professora do ensino fundamental da Escola Dante

    ngela Cava (RJ) Enfermeira, doutora em Enfermagem

    Professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, leciona a disciplina Metodologia da Pesquisa na Graduao e Ps-

    38 Ver anexo.

  • 180

    graduao stricto sensu.

    Beltrina (SP) Graduada em Jornalismo,especializao e Mestrado em Bogot (Colmbia) em Planejamento Urbano e Desenvolvimento regional, e Doutorado na ECA/USP.

    Pesquisadora no grupo da PUC, o Nepe, estudava: o fenmeno do envelhecimento. Docente de Metodologia da Pesquisa na Ps-graduao em Gerontologia. Editora da revista Kairs e mentora do Portal do Envelhecimento.

    Carmen Ldia (SP) Graduao em Adm. de Empresas, especializao ESPM, Mestrado e Doutorado na FGV.

    Professora de marketing da FEA-PUC.

    Cristina Puoli (SP) Graduada em Psicologia Gerente de uma equipe de 5 pessoas (gerentes e analistas de pesquisa qualitativa de mercado)

    Dauci Sousa (RJ Niteri)

    Graduada em Pedagogia, Especialista em Psicopedagogia pela PUC-RJ, mestre em Educao pela UNIVERSO

    Professora de Metodologia da Pesquisa e Psicopedagia da UNIVERSO

    Edma Oliveira (BA/RJ)

    Graduao em Pedagogia UCSAL, especializao em Metodologia do Ensino Superior pela UNEB, Mestrado e Doutorado em educao pela UFBA

    Docente no Ensino Superior, Formao de professores. Pesquisa docncia e pesquisa na cibercultura com nfase na Educao Online.

    Ftima Fernandes (RJ)

    Professora de Pesquisa de Marketing e Metodologia Cientfica na Faculdade de Comunicao da UFRJ

    Fernando Lobo (GO) Graduao e mestrado em Histria pela Universidade Federal de Gois

    Pesquisador na rea de Paleografia transcrio de documentos histricos.

    Jos Heleno (SP) Graduao em Cincias Contbeis e em Administrao de Empresas pela PUC/SP.

    Docente na FEA/PUC-SP

    Marialda Christoffel (RJ Niteri)

    Enfermeira, doutora em Enfermagem

    Professora adjunta do Departamento

  • 181

    Materno-Infantil Faculdade de Enfermagem da UERJ. Coordenadora o Curso de Especializao em Enfermagem Neonatal e um Projeto de Extenso

    Miua Tanaka (SP So Bernardo do Campo)

    Graduao em Matemtica, Mestrado em Educao pela PUC-SP

    Professora de Matemtica no ciclo bsico dos cursos de engenharia e cincia da computao na FEI Faculdade de Engenharia Industrial em So Bernardo do Campo (SP)

    Mnica Mandaji (SP) Graduao em

    Jornalismo. Mestrado na ECA/USP, na rea de Jornalismo,Tecnologia e Mercado defendendo um tema relacionado ao Marketing Cultural. Doutorado em Educao.

    Professora na PUC-SP no departamento de Artes, lecion na Faculdade Europan, em Cotia. Pesquisa para o doutorado sobre interatividade na web, professora capacitadora do Teia do saber, projeto do governo estadual junto a professores do ensino fundamental, em que ministra aulas de novas tecnologias aplicadas a educao

    Paulo Melo (SP) Graduado em Adm. de Empresas e Cincias Contbeis, com pos-graduao em Controladoria e Adm. Contbil e Financeira, atualmente cursa MBA em Contabilidade pela PUC e incia o Mestrado em Educao e Currculo

    Pesquisa a aproximao da empresa e escola, foco em mensurao de ativos intangveis.

    Sandra Leste (SP) Mestre e Doutora em Educao

    Docente e pesquisadora em Educao ambiental e rural

    Silvia Lizpitt (SP) Graduao em Letras, Mestre Ensino em

    Funcionria Aux. administrativo do

  • 182

    Cincias da Sade no CEDESS Centro de Desenvolvimento do Ensino Superior em Sade, da UNIFESP Universidade Federal de So Paulo (Escola Paulista de Medicina)

    CEDESS Centro de Desenvolvimento do Ensino Superior em Sade, da UNIFESP Universidade Federal de So Paulo (Escola Paulista de Medicina. Pesquisa, autora de "A inter-relao docente/hipertexto: uma avaliao a partir do livro-texto digital "Aprendendo a Estudar"

    Silvio Yoshiro (SP) Graduao em Economia na USP e em Administrao na FGV, Mestre em Administrao Pblica e Doutor em Economia de Empresas, ambos na FGV-SP

    Professor de Comrcio Internacional do Departamento de Economia da PUC/SP e da ESPM.

    Terezinha Richartz (MG Varginha)

    Sociloga, Mestre e doutoranda em Cincias Sociais PUC-SP

    Professora de Sociologia e Metodologia Cientfica na Universidade Vale do Rio Verde (UNINCOR), no Centro Universitrio do Sul de Minas (UNIS) e na Faculdade Cenecista de Varginha (FACECA).

    Vnia Dohme (SP) Graduada em Cincias

    Jurdicas e Sociais pela PUC, ps-graduada em Marketing pela ESPM e mestre em Educao, Arte e Histria da Cultura no Mackenzie.

    Professora na Faculdade de Cincias Econmicas, Contbeis e Adminidtrativas da Faculdade Presbiteriana Mackenzie e pesquisadora do Ncleo de Estudos do Terceiro Setor da mesma Universidade.

    Vera S Graduao em Medicina, Especialista em Psiquiatra pela UNIFESP e analista Junguiana pela Sociedade Brasileira de Psiciologia Analtica; Mestre Cincias Sociais da PUC-SP

    Pesquisadora sobre invases de sites brasileiros.

  • 183

    Competncias

    O conceito de competncias vem sendo muito divulgado nos

    atuais documentos oficiais do sistema educacional brasileiro, bem

    como nos referenciais mais atualizados na rea da educao em

    seus diversos nveis e modalidades. Contudo, cabe esclarecer que

    esse conceito no novo e que assume ao longo da histria da

    educao caractersticas bem especficas e correspondem aos vrios

    momentos e interesses histricos, polticos, econmicos e

    ideolgicos como nos alerta Deluiz39. Em nosso curso online

    tratamos o conceito de competncia como capacidade de agir

    eficazmente em um determinado tipo de situao, apoiada em

    conhecimentos, mas sem limitar-se a eles (PERRENOUD, 1999).

    Quando estamos aprendendo a dirigir um automvel, temos

    que aprender a coordenar simultaneamente nossos vrios sentidos

    e agregar a essa coordenao tcnicas bem especficas. Neste

    processo estamos frente ao conceito de competncia. Quando j

    sabemos dirigir, estamos diante do conceito de habilidade, pois o

    ato de dirigir em si no mais nos desafia. Contudo, se estivermos

    dirigindo e por algum motivo precisarmos nos "livrar" de um

    obstculo tendo que tomar decises rpidas, estamos novamente

    frente ao conceito de competncia.

    preciso ter clareza sobre o que iremos mobilizar em nossos

    estudantes/aprendentes, do ponto de vista social, cognitivo,

    atitudinal e procedimental. Ou seja, precisamos refletir sobre a

    questo da mobilizao e construo de competncias. No tem

    sentido elaborar um curso online que no agregue valor aos saberes

    j existentes do grupo. Aos saberes j construdos podemos

    denominar de habilidades. Toda habilidade um saber que o sujeito

    39 Cf. DELUIZ. Neise. In: http://www.senac.br/informativo/BTS/273/voltec273b.htm . .

    http://www.senac.br/informativo/BTS/273/voltec273b.htm

  • 184

    j construiu, ou seja, saber que no mais o desafia. Contudo,

    poderemos lanar mo das habilidades para mobilizarmos novas

    competncias.

    Sabamos que a maior parte dos pesquisadores envolvidos

    nunca participara de cursos online como espao de formao. Nosso

    desafio foi criar as condies iniciais e contnuas para que o

    dispositivo se constitusse de fato em um dispositivo de formao

    para todos os sujeitos envolvidos.

    O curso Uso de Software na Pesquisa Qualitativa

    (www.cogeae.pucsp.br) foi ministrado no ambiente virtual do

    COGEAE, seu objetivo principal foi formar pesquisadores e

    proporcionar meios efetivos para anlise, definio, criao e

    acompanhamento de atividades online e apoio educao

    presencial, envolvendo processos interativos e interfaces

    tecnolgicas, permitindo ao grupo-sujeito do processo criar

    atividades correlatas em seu ambiente de pesquisa e trabalho. Os

    objetivos de aprendizagem deste curso so:

    Discutir conceitos relevantes sobre mapas e a pesquisa

    qualitativa (sua complexidade e dinmica no-linear);

    Conhecer alguns exemplos de mapas utilizados em projetos

    acadmicos e refletir sobre benefcios, dificuldades, obstculos

    e novas aplicaes;

    Conhecer e aplicar alguns recursos dos softwares: Cmap e

    Nestor Web Cartographer;

    Elaborar mapas para facilitar a anlise e produo de

    conhecimento na pesquisa qualitativa.

    A partir dos objetivos, procurou-se formar uma comunidade

    virtual de pesquisa por meio da vivncia em atividades online e no

    desenvolvimento de um projeto significativo para subsidiar a

    reflexo terica e a prtica profissional. Desse modo, o ambiente

  • 185

    virtual procurou orientar o processo num ambiente interativo e

    flexvel, no qual os contedos e atividades foram disponibilizados no

    decorrer do processo, principalmente de acordo com os interesses e

    necessidades do grupo no ambiente COGEAE.

    Equipe

    Um galo sozinho no tece uma manh Ele precisa sempre de outros galos.

    De um que apanhe esse grito que ele E o lance a outro; de um outro galo

    Que apanhe o grito que o galo antes E o lance a outro; e de outros galos

    Que com muitos outros galos se cruzem Os fios de sol de seus gritos de galo,

    Para que a manh, desde uma teia tnue, Se v tecendo, entre os galos.

    Joo Cabral de Melo Neto

    Ser que um projeto de curso online pode ser desenvolvido

    por apenas um autor? Assim como o galo no poema de Joo Cabral

    de Melo Neto, um professor no pode trabalhar sozinho num projeto

    de curso online. Uma das principais competncias do professor e

    pesquisador em cursos online a capacidade de trabalhar de forma

    coletiva. Em educao online necessrio o intercmbio com

    diversos profissionais. Vejamos o quadro a seguir:

  • 186

    Especialistas e suas principais atividades

    ESPECIALISTAS ATIVIDADES

    Conteudista Cria e seleciona contedos normalmente na forma de texto explicativo/dissertativo e prepara o programa do curso.

    Web-roteirista Articula o contedo atravs de um roteiro que o potencializa a partir do uso de linguagens e formatos variados (hipertexto, mixagem e multimdia).

    Webdesigner Desenvolve o roteiro, criado pelo web-roteirista, criando a esttica/arte final do contedo a partir das potencialidades da linguagem digital.

    Programador Desenvolve os AVA ambientes virtuais de aprendizagem, criando programas e interfaces de comunicao sncrona e assncrona, atividades programadas, gerenciamento de arquivos, banco de dados. Enfim toda parte do processo que exija programao de computadores.

    Instructional Designer (esse profissional normalmente um educador com experincia em Tecnologia Educacional).

    Analisa as necessidades, constri o desenho do ambiente de aprendizagem, seleciona as tecnologias de acordo as necessidades de aprendizagem e condies estruturais dos cursistas, avalia os processos de construo e uso do curso. Alm disso, media o trabalho de toda a equipe de especialistas.

    Fonte: SANTOS, Edma. Articulao de saberes na EAD online: por uma rede interdisciplinar e interativa de conhecimentos em ambientes virtuais de aprendizagem. In: SILVA, M. (org.) Educao online. So Paulo: Edies Loyola, 2003, p. 218-219.

  • 187

    Em nosso curso online as pesquisadoras-formadoras foram

    mediadoras de todo processo do desenho educacional. Interagimos

    com a equipe do COGEAE que nos ajudou a criar o AVA desde a

    formatao do roteiro para a linguagem informtica at o apoio

    (principalmente no suporte tcnico) ao grupo ao longo do processo.

    Nas clssicas equipes de EaD a autoria do professor

    normalmente de caracteriza da seguinte maneira:

    Professor/autor elabora contedos para materiais didticos de EAD;

    Professor/instrutor ministra aulas complementares ao material didtico, sncrona ou assincronamente, intermediadas por tecnologias (chats, fruns, videoconferncia, televiso, etc.) ou presencialmente;

    Professor/tutor auxilia os autores e instrutores e, principalmente aos alunos, a serem bem sucedidos no processo de ensino/aprendizagem. No tem permisso para modificar os contedos e linhas pedaggicas propostas pelos autores/coordenadores do curso.40

    No partilhamos da idia de autoria centrada apenas na figura

    do professor conteudista. A autoria em educao online deve ser

    descentralizada, sendo a equipe envolvida, a autora de todo

    processo. Em algumas equipes essa fragmentao uma realidade.

    Contudo, devemos evit-la. O trabalho em equipe pode assumir

    diversas formas de articulao de saberes. Neste trabalho optamos

    pela articulao interdisciplinar e multirreferencial. Toda a equipe

    em nossa pesquisa foi formada pelas professoras-doutorandas e em

    40 Cf. Produo de material didtico para cursos distncia na Web. SBPC n. 53, Salvador/BA, julho 2001.

  • 188

    co-autoria com o webdesigner do COGEAE. Todos os docentes-

    pesquisadores-cursistas contriburam e participaram do

    planejamento e gesto dos contedos de aprendizagem, pois

    participaram efetivamente com suas narrativas formativas nos

    dispositivos e interfaces do AVA.

    Atividades

    Em todo planejamento educacional as atividades de

    aprendizagem correspondem VIDA do projeto. O que isso

    significa? So as atividades que fazem a mobilizao das

    competncias. nessa fase do projeto que devemos virtualizar ou

    prever o que ser vivenciado pelos pesquisadores no contexto da

    prtica pedaggica. Como j discutimos o conhecimento no algo

    que pode ser transmitido. O que podemos transmitir so as

    informaes. O conhecimento o tratamento crtico das

    informaes e o cenrio desse tratamento organizado pelas

    atividades. fundamental que para cada conjunto de competncias

    que queremos mobilizar que pensemos em atividades concretas e

    variadas.

    Em educao online importante garantir tanto atividades

    individuais quanto colaborativas e cooperativas. preciso garantir

    aos sujeitos envolvidos vivncias e diversos desafios sociocognitivos

    e poltico-culturais referentes ao ato de pesquisar.

    As atividades procuraram provocar no pesquisador

    inquietaes e processos de desequilbrio/equilbrio/desegulibrio.

    (Piaget, 1990). Mas como provocar inquietaes? Como desafiar os

    pesquisadores para novas e melhores aprendizagens? Mediar a

    aprendizagem entre aquilo que o pesquisador j souber

    (conhecimento REAL) e o que o pesquisador no souber e poder

    saber (conhecimento POTENCIAL). na interface (ZONA DE

  • 189

    DESENVOLVIMENTO PROXIMAL ZDP) entre o REAL e o POTENCIAL

    que procuramos atuar pedaggica e, sobretudo, intencionalmente,

    pois o que em um momento ZDP em outro REAL (Vygotsky,

    1993, 1994).

    Ento como devemos criar e mediar zonas de

    desenvolvimento proximais em cursos online? Na prtica da

    pesquisa e prtica pedaggica procuramos criar e mobilizar (ZDP)

    sugerindo atividades baseadas nas seguintes estratgias:

    SENSIBILIZAR fundamental fazer emergir os saberes

    tcitos dos cursistas. Por saberes tcitos podemos considerar

    todo o repertrio de saberes que os cursistas trazem e que a

    priori no foram socializados nas comunidades de

    aprendizagem. Estes saberes seriam o conhecimento REAL

    aquilo que sabemos sobre um determinado assunto. Pare que

    os saberes tcitos se tornem explcitos podemos utilizar

    estratgias e recursos que provoquem um debate inicial.

    Sugestes: apresentar um texto curto, charge, figura, gif,

    msica.

    PROBLEMATIZAR a sensibilizao atravs de um recurso que

    faa o cursista expor seu saber inicial deve ser acampanhada

    por uma provocao que faa o sujeito aprendiz ter dvida

    sobre o conhecimento que possui. Afinal aprender no

    apenas reforar o que j sabemos, muito pelo contrrio,

    problematizar o que sabemos, entrar em contato com

    informaes diversas e reconstruir esses saberes produzindo

    um saber novo! Sugestes: A partir da apresentao de um

    recurso problematizar o tema, levantar questionamentos! A

    problematizao far o cursista ter dvidas e o provocar a

    buscar novos saberes e fontes de informaes variadas.

  • 190

    PRODUZIR fundamental lanar desafios, problematizaes

    e a partir disso orientar a PRODUO do conhecimento. O

    conhecimento novo produzido a partir do tratamento crtico

    das informaes. Neste momento novas leituras devem ser

    sugeridas, atividades de produo variada devem ser

    mediadas. Em cursos online devemos disponibilizar

    informaes em hipertextos, incentivar debates em chats e

    fruns de discusso, incentivar a produo individual e

    coletiva utilizando diversas interfaces ou canais de

    comunicao.

    AVALIAR Avaliar negociar, debater, criar critrios de

    verificao da aprendizagem. Diagnosticar se os objetivos

    educacionais e as competncias foram mobilizadas, para s

    assim tomar decises sobre novas estratgias de mobilizao.

    Para isso devemos em todo processo observar e acompanhar

    os debates e os produtos da aprendizagem. Avaliar no s

    diagnosticar. diagnosticar para INTERVIR e isso significa

    atuar e mediar novas ATIVIDADES!

  • 191

    Avaliao dos processos e da aprendizagem

    A avaliao foi concebida como um processo pedaggico

    intencional, onde todos os pesquisadores-aprendentes puderam

    mapear seus percursos de aprendizagem numa dinmica inclusiva e

    crtica da realidade. Os percursos explicitam mais a mobilizao de

    competncias do que seus resultados analisados separadamente.

    Essa abordagem prima pela nfase nos processos, na cultura, sendo

    os produtos resultados dessa prtica interativa na qual os sujeitos

    puderam acompanhar os acontecimentos, imprevistos,

    manifestaes observveis, interpretar uma multiplicidade de

    significantes.

    Utilizando o dilogo como princpio, a avaliao se expressa

    na troca de saberes que so diagnosticados, criticados e

    reorientados por todo o grupo. A interfaces online (blogs, frum de

    discusso, chat e o portflio) se configuraram como um espaos de

    avaliao personalizada, onde cada sujeito pode expressar sua

    itinerncia individual, se identificando ou no com outros sujeitos.

    Desse modo surgiram tambm os grupos de trabalho cooperativos

    em funo dos projetos e parcerias. A avaliao da aprendizagem

    foi contemplada nas seguintes dimenses:

    auto-avaliao o avaliador o autor da ao, da

    produo ou da performance avaliada;

    co-avaliao o avaliador um par da ao, da

    produo ou da performance avaliada;

    hetero-avaliao o avaliador um ator mais

    experiente, geralmente o professor da atividade, no

    tratamento do objeto de estudo a ser avaliado.

  • 192

    Exemplos:

    Auto-avaliao

    Justificando atrasos ...11 Maio, 17:23

    41 views, 1 comentrios

    Justificando atrasos...

    Acabo de enviar um e-mail para a lista de discusso onde prometi continuar neste "canal" alguns comentrios sobre a apresentao do meu Referencial Terico e Metodologia para os meus colegas e equipe docente do Mestrado. Um dos instrumentos que usarei na pesquisa o NESTOR para, a partir dos mapas construdos pelos sujeitos numa leitura exploratria de um livro-texto digital, avaliar estilos de navegao (alm de questionrio e grupo focal). O NESTOR fez o maior sucesso, por ser novidade para a platia e pelo potencial de uso em diversos momentos do desenvolvimento de um projeto de pesquisa. Para fundamentar tericamente minha metodologia inclui no Referencial Terico um captulo sobre Cartografia Cognitiva (em construo), por enquanto s est na minha cabecinha). Como nas disciplinas do Mestrado j tnhamos usado e abusado dos mapas conceituais e os autores privilegiados pelos docentes foram Ausubel e Vygostki, a platia j estava bastante sensibilizada para receber os conceitos, o que, sem dvida, facilitou muito minha apresentao. Para apresentar os caminhos percorridos na elaborao da Introduo e Referencial Terico construi no CMaps um Mapa Conceitual a partir dos tpicos do Sumrio, que, alm de oferecer uma vista "panormica" dos contedos abordados, me ajudou durante o processo de elaborao a identificar lacunas e excessos, ou seja a organizar e articular melhor os temas abordados. Chega. Escrevi demais.

    http://cogeae.dialdata.com.br/soft/blog/index.php?month=5&year=2004&wapl=Silvia##

  • 193

    Blog [Silvia] O Uso do Software na Pesquisa Qualitativa Justificando atrasos... [Blog] Edma comentou...

    "Chega escrevi demias"!!!??? Nada disso, Silvia! Use e abuse desse espao. Registre sua aprendizagem, suas descobertas, pois estas so referncias para a aprendizagem de todos ns. Fico feliz com sua produo. Fiquei imaginando como foi a sua apresentao no mestrado. Que lega, hem?! Mas conta mais... quais as questes levantadas ? Conta mais... como o uso dos softwares est ajudando na sua produo?

    Co-avaliao

    17 Maio, 08:52 Reaproveita

    r

    7 views, 0

    comentrios

    Reaproveitar

    A ordem da poca reciclar, mas para os ambientalistas, antes necessrio, reutilizar, e estou fazendo isso com as idias... acho que pode, n? rs bem, respondi um email pra Vera e estou compartilhando aqui. Aproveito pra perguntar, se algum conhece/leu Heidegger, vou tentar perguntar no frum tb...ele 'tudo de bom'...rs "Oi, Vera, agradeo o envio da sua produo. li e gostei muito!

    http://cogeae.dialdata.com.br/soft/blog/?wapl=Edmeahttp://cogeae.dialdata.com.br/soft/blog/index.php?month=5&year=2004&wapl=san##http://cogeae.dialdata.com.br/soft/blog/index.php?month=5&year=2004&wapl=san##

  • 194

    se for um texto "interativo", acrescentaria algum comentrio sobre as categorias analticas que o autor coloca, pois exatamente sobre isso que estou 'enveradando' na minha tese, se tiverem algum material tb sobre isso, adoraria receber, a gente fala muito de categorias, mas sei pouco sobre isso: como constru-las adequadamente? fora isso, gostaria de colocar q no contribu no mapa pois aqui ele no abre, dia 22 estarei com vcs e espero que a gente consiga terminar algumas pendncias, (vou usar isso no meu blog) um abrao, boa semana! Sandra"

    24 Junho, 01:46 Auto-avalia

    2 views, 0

    comentrios

    Auto-avaliao

    Caros colegas, Chegamos ao final do curso, com um gostinho de quero mais. Agora, que o semestre letivo (sou professora) est acalmando, fico pensando nas leituras que gostaria de ter feito ou aprofundado. Gostaria de ter a oportunidade de ler os outros textos do mdulo 3, conhecer a discusso com os autores (que oportunidade nos foi dada parabns equipe), olhar os trabalhos dos outros grupos, enfim, tudo que o curso nos ofereceu e que, infelizmente, no pude faz-lo no devido tempo. Agora que posso, espero que o ambiente do curso permanea disponvel por mais alguns dias. No incio, tive muitas dificuldades com o Nestor e, mesmo agora, sei que ainda preciso explorar muito as suas ferramentas isso com o tempo eu aprendo. Importante mesmo o potencial que o Nestor e o Cmap tm para dinamizar a aprendizagem, o aprender fazendo, construir o prprio caminho para a aprendizagem. Sensacional, tudo a ver com o meu projeto de pesquisa.

    http://cogeae.dialdata.com.br/soft/blog/index.php?month=6&year=2004&wapl=miua##http://cogeae.dialdata.com.br/soft/blog/index.php?month=6&year=2004&wapl=miua##

  • 195

    A formao de grupos de acordo seu estgio de pesquisa, muito "acolhedor" ningum fica inibido porque iniciante ou por qualquer outra crena. Bom lembrar, tambm, que todos poderiam dar seus "palpites" em outros grupos. Outro aspecto que merece destaque a interao e participao dos grupos os fruns foram riqussimos observaes pertinentes, informaes novas, contribuies, bom humor, ambiente agradvel. Tudo isso graas a todos, alunos e mediadores ( Ale e Ma, vocs foram timas ). Um grande abrao, Miua

    O contedo interativo e hipertextual

    Em educao online devemos considerar que os contedos

    no podem ser reduzidos ao conjunto de assuntos que devem ser

    apresentados pelos pesquisadores-estudantes. Contedo todo o

    conjunto de informaes cientficas, tecnolgicas, estticas e do

    cotidiano e universo de saberes dos sujeitos envolvidos do

    processo. Nesse contexto no devemos separar contedo de forma.

    preciso considerar que os contedos no so apenas informaes

    estticas. Muito pelo contrrio o contedo vivo, se transforma e

    ressignificado ao longo de todo o curso pelos professores e

    principalmente pelos cursistas, quando os mesmos imprimem seus

    sentidos e partilham suas experincias.

    Nas prticas convencionais de EAD, o contedo de

    responsabilidade do conteudista e cabe ao designer instrucional

    desenhar o curso articulando os saberes em uma equipe de

    produo. Em nosso curso online todos os envolvidos foram

    conteudistas, pois procuramos articular o nosso desenho

    instrucional prvio com a emergncia dos debates ao longo de todo

    o curso. Procuramos mapear os contedos de forma hierrquica e

  • 196

    hipertextual, agregando a informao (contedo/assunto

    propriamente dito) s atividades e desafios engendrando assim um

    desenho instrucional vivo, autopoitico.

    Para facilitar a organizao e articulao dos contedos

    utilizamos as tcnicas dos mapas conceituais e dos mapas da web.

    As tcnicas nos ajudaram a organizar melhor como os contedos

    que iramos discutir bem como nos permitiram articul-los entre si e

    principalmente com os canais de comunicao ou interfaces digitais

    (dirios online, fruns, chats, portflio, etc.).

    O contedo do nosso curso online foi organizado em trs

    mdulos (distribudos ao longo de 8 semanas), cada um dos

    mdulos focando reas temticas complementares, assim

    organizados:

    I. Mapeando informao

    Apresentao dos participantes e seus projetos de pesquisa;

    explorao do software Nestor Web Cartographer: download,

    instalao, recursos

    Processo de desenvolvimento de mapas: Concept

    Maps, Mind Maps e Web Maps, preferencialmente aplicados

    aos projetos

    Documentao como mtodo de registro:

    documentao temtica, bibliogrfica e geral

  • 197

    II. Pesquisa qualitativa

    Pesquisa qualitativa: mtodos de coleta, obteno

    e registro de dados e observaes

    Pesquisa qualitativa: anlise textual, temtica,

    interpretativa

    Organizao dos registros e observaes por meio

    de mapas e mapeamento de categorias e anlises

    III. Desenvolvimento e reflexo sobre mapas na

    pesquisa qualitativa

    Desenvolvimento de mapas aplicados na pesquisa

    qualitativa

    Anlise dos mapas elaborados em grupos,

    avaliao e feedback do curso.

    O mdulo I foi mediado por agendas semanais e traziam as

    instrues com indicao de leituras e orientao para debates

    interativos que aconteceram nas modalidades comunicacionais

    sncronas e assncronas.

    Vejamos a seguir tais orientaes:

    MDULO I. MAPEANDO INFORMAO

    Mapas um guia para organizao (aula 3 19/04 a 23/04) (Novo)

    Leituras III.a O dilogo entre a teoria e a empiria, mapeando as noes subsunoras com o uso de software Verso: DOC | HTML

    http://cogeae.dialdata.com.br/soft/520/1/1/midia/texto3.dochttp://cogeae.dialdata.com.br/soft/520/1/1/midia/texto31.php

  • 198

    Atividade Coletiva III.a Mapeando Conceitos

    Atividade Individual III.b Memorial Reflexivo

    CHAT 21/04 (quarta-feira) "Discusso teoria-prtica" 20h 25/04 (domingo todos) "Ponto de encontro" 21h30 Frum: Discusso em grupo...

    Mapas um guia para organizao (aula 2 05/04 a 16/04)

    Leituras II.a Navegar sem Mapa?

    Atividade II.a - Apresentao do Projeto com Cmap e Nestor

    CHAT 06/04 (tera-feira) 8h 15/04 (quinta-feira) 20h

    Frum: Discusso em grupo...

    Mapas um guia para organizao (aula 1 29/03 a 02/01)

    Leituras I.2 Cartografia Cognitiva Concept Maps, Mind Maps e Web Maps

    Atividade I.b- Apresentao do Projeto atravs de um MindMap

    CHAT 31/04 (quarta-feira) 20h

    Frum: Projeto de investigao

    INTRODUO (aula presencial)

    Preparando o Ambiente

    http://cogeae.dialdata.com.br/soft/520/1/1/modulos/atividade4.phphttp://cogeae.dialdata.com.br/soft/520/1/1/modulos/atividade4.phphttp://cogeae.dialdata.com.br/soft/520/1/1/modulos/atividade5.phphttp://cogeae.dialdata.com.br/soft/520/1/1/modulos/atividade5.phphttp://cogeae.dialdata.com.br/soft/forum/index.php?forum=dgrupos&realm=defaulthttp://cogeae.dialdata.com.br/soft/520/1/1/midia/navegarsemmapa.dochttp://cogeae.dialdata.com.br/soft/520/1/1/modulos/atividade3.phphttp://cogeae.dialdata.com.br/soft/520/1/1/modulos/atividade3.phphttp://cogeae.dialdata.com.br/soft/forum/index.php?forum=dgrupos&realm=defaulthttp://cogeae.dialdata.com.br/soft/520/1/1/modulos/texto2.phphttp://cogeae.dialdata.com.br/soft/520/1/1/modulos/texto2.phphttp://cogeae.dialdata.com.br/soft/520/1/1/modulos/atividade2.phphttp://cogeae.dialdata.com.br/soft/520/1/1/modulos/atividade2.phphttp://cogeae.dialdata.com.br/soft/forum/index.php?forum=forum2&realm=default

  • 199

    Roteiro de download do Software Nestor. Roteiro de download do Software Cmap.

    Leitura I.1 Uso de software na pesquisa qualitativa: ponto de partida.

    Atividade I.a Apresentao dos participantes com Mapa

    Frum: Introduo ao curso

    As palavras sublinhadas so no AVA links, elos de ligao, que

    remetiam o pesquisador-estudante a outros textos (hipertextos),

    sejam leituras de informaes e contedos ou discusses nas

    interfaces sncronas e assncronas (fruns de discusso, chat). A

    partir das emergncias do mdulo 1, ou seja, descobertas, dvidas,

    interesses de pesquisa e aprofundamento de conceitos e ou

    procedimentos desenhamos o mdulo 2 no formato de mapa.

    Denominamos neste caso o mapa dos mdulos de hipermap.

    Hipermap em nosso AVA era o hipertexto do desenho instrucional

    em forma de mapas. Vejamos a seguir o desenho do mdulo 2:

    http://cogeae.dialdata.com.br/soft/520/1/1/modulos/roteiro1.p