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Carlos Rodrigues passa a ‘chairman’ e prepara sucessão no BiG O fundador, acionista e presidente do Banco de Investimento Global (BiG) vai passar a ‘chairman’, a partir de 2019. Em declarações ao JE, Carlos Rodrigues explica a mudança do modelo de governo e o plano de sucessão que vai implementar. P21 PUB ey.com BARÓMETRO EY PUB Página 27 ENTREVISTA “Gostava que as cotadas portuguesas não pagassem dividendos” Diogo Santos Teixeira, CEO da gestora de fundos Optimize, expli- ca a estratégia da firma, que passa por uma expansão internacional em Espanha e no Luxemburgo. A empresa não está exposta a ações portuguesas porque, diz, têm pou- ca liquidez, estão caras e focam-se no curto prazo. P24 CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS Cajamar na corrida à compra do banco da CGD em Espanha P21 PUB Chineses querem ter 60% da EDP e prometem colocar o restante em bolsa EDP poderá pronunciar-se hoje sobre OPA da CTG Prospeto diz que chineses querem ter no máximo 60% da EDP, sabe o JE Projeto industrial visa liderança mundial nas renováveis P4 Nº 1940 | 8 junho 2018 JORGE REBELO DE ALMEIDA “Portela deve alargar funcionamento durante a noite” P16 AMBIENTE E RESÍDUOS Mota-Engil vai ter novos parceiros chineses na EGF e na SUMA P4 CRISE NO SPORTING Jaime Marta Soares garante à CMVM que continua em funções P3 Rafael Marchante/Reuters

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Page 1: Chineses querem ter 60% da EDP e prometem colocar o ... · EDP poderá pronunciar-se hoje sobre OPA da CTG ... garante à CMVM que continua em funções CRISE NO SPORTING Regulador

Carlos Rodriguespassa a ‘chairman’e prepara sucessão no BiGO fundador, acionista e presidente do Banco de Investimento Global (BiG) vai passara ‘chairman’, a partir de 2019. Em declarações ao JE, Carlos Rodrigues explicaa mudança do modelo de governo e o plano de sucessão que vai implementar. ● P21

PUB

ey.com

BARÓMETRO EY

PUB

Página 27

ENTREVISTA

“Gostavaque as cotadasportuguesasnão pagassemdividendos”

Diogo Santos Teixeira, CEO dagestora de fundos Optimize, expli-ca a estratégia da firma, que passapor uma expansão internacionalem Espanha e no Luxemburgo. Aempresa não está exposta a açõesportuguesas porque, diz, têm pou-ca liquidez, estão caras e focam-seno curto prazo. ● P24

CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS

Cajamar na corridaà comprado banco da CGDem Espanha ● P21

PUB

Chineses queremter 60% da EDPe prometem colocaro restante em bolsaEDP poderá pronunciar-se hoje sobre OPA da CTG ● Prospeto diz que chineses querem terno máximo 60% da EDP, sabe o JE ●Projeto industrial visa liderançamundial nas renováveis ● P4

Nº 1940 | 8 junho 2018

JORGE REBELO DE ALMEIDA

“Portela devealargarfuncionamentodurante a noite” ● P16

AMBIENTE E RESÍDUOS

Mota-Engil vai ternovos parceiroschineses na EGFe na SUMA ● P4

CRISE NO SPORTING

Jaime Marta Soaresgarante à CMVMque continuaem funções ● P3

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2 | O Jornal Económico, 8 junho 2018

PERSPETIVA

Os populistasàs nossas portas

O que está a acontecer noSporting é um exemplo perfei-to dos perigos do populismo,essa forma de barbárie queestá, cada vez mais, às nossasportas. O que fazer quando umindíviduo como Bruno de Car-valho toma o controlo de umainstituição centenária? O quefazer com um presidente deum clube que se acha no direitode usurpar as funções de outroórgão social, a Mesa da Assem-bleia Geral, que foi igualmenteeleito pelos sócios e tem a mes-ma legitimidade democráticaque a direção? Que fazer pe-rante um dirigente associativoque não compreende que a se-paração de poderes é uma re-gra básica da democracia?

Mas por muito que a situa-ção no Sporting seja preocu-pante, não viria grande mal aomundo se Bruno de Carvalhofosse o único populista a jul-gar-se acima da lei e a fazerconferências de imprensa alu-cinantes. Em Portugal, o popu-lismo vai muito além das dia-tribes do presidente do Spor-ting e de outros líderes de clu-bes. E algumas formas de po-pulismo, como a crescente his-teria anti-turismo, sãoinclusive socialmente aceites.

A recente mini-polémica arespeito do cancelamento deum arraial na freguesia alfaci-nha do Castelo é um bomexemplo disso. Segundo foinoticiado, a Junta de Freguesiade Santa Maria Maior decidiunão autorizar a realização deum arraial que juntaria cercade 600 pessoas, nas festas dos“santos populares”, após ter re-cebido queixas por ruído ex-cessivo e falta de segurança.

A decisão da junta deu rapi-damente origem a um protestopor parte da organização doarraial que, com ampla reper-cussão mediática, acusou a au-tarquia de ceder aos interessesdos donos dos alojamentos lo-cais. Mais uma vez, aqui d’el rei

FILIPE ALVESDiretor

que o turismo está a matar astradições de Lisboa.

De pouco serviu o facto de aJunta de Santa Maria Maior terdesmentido que a decisão este-ja relacionada com o alojamen-to local, dado que as queixasrecebidas eram de moradoresdo bairro do Castelo. Para osjusticeiros das redes sociais epara os ativistas anti-turismo,a culpa é dos turistas, essa gen-te de costumes estranhos queveio “descaracterizar” Lisboa.

A verdade é que (quase) to-dos gostamos de um bom ar-raial de vez em quando, maspoucos queremos ter um ànossa porta, com música nasalturas, centenas de pessoas aconviver na rua e lixo por todoo lado. Mas os grupos anti-tu-rismo só invocam os direitosdos moradores quando estesservem como argumentos paratentar impedir aquilo que algu-mas pessoas não suportam: queoutras pessoas façam negóciocom o turismo e, pasme-se, ga-nhem dinheiro.

Como frequentemente suce-de nos extremos ideológicos,os casos concretos dão muitojeito para defender causas abs-tratas. Mas só quando confir-mam a tese que se quer passar.O populismo também é isto. ●

P.S.: Dos Estados Unidos chegamnotícias de outro populista, bemmais perigoso, que vive na CasaBranca. Donald Trump está con-vencido que érei e que se pode per-doar a si próprio. Mais um que sejulga acima da lei e dos princípiosde uma sociedade democrática. Ademocracia americana tem os me-canismos de ‘checks and balances’necessários para lidar com estetipo de fenómenos. Esperemos,pois, que funcionem.

AVENIDA DA LIBERDADE

6ECONOMIA & POLÍTICA

Um ano depois datragédia de Pedrógãoainda há medidaspor concretizar

8 Novo Códigodas AssociaçõesMutualistas só entraem vigor em 2030

14MUNDO

Pedro Sánchez lideraum governo sitiadonum campo de minas

30 Formatar, importare reter o talento são‘passwords’ na Closer

16EMPRESAS

Jorge Rebelo deAlmeida, líder dosegundo maior grupohoteleiro nacional,continua em fase deexpansão. Mais quatroestão na calha, leia aentrevista

18 Mota-Engil vai ternovos parceiroschineses na EGFe SUMA

24MERCADOS & FINANÇAS

“Gostava que as cotadasportuguesas não pagassemdividendos”, em entrevistaDiogo Santos Teixeira,CEO da OptimizeInvestment Partners

20 BCE em vias de aprovarvenda do Banif BI aoschineses

22 A AJEPC realiza a ediçãodeste ano da FeiraInternacional de Negócios,entre 14 e 16 de junho,com as participaçõesde empresáriosde três continentes

32 “Alteração ao regimede IVA iria contribuir paramanter competitividade”,a entrevista a MiguelFranco de Sousa,Presidente da FederaçãoPortuguesa de Golfe

China Three Gorges quer ficar com50% a 60% da EDP. Os chinesesquerem aumentar a faturação da EDPem 1,5 mil milhões com a integraçãode ativos do Brasil e Alemanhae pôr a EDP na China e PALOP4 PRIMEIRA MÃO

UNIVERSIDADES & EMPREGO

DESPORTO

NESTA EDIÇÃO

O Caderno Especialcom toda a informaçãopara seguiro Campeonato do Mundode Futebol de 2018,e a revista Briefing,disponível em bancasselecionadas

28ADVISORY

Deloitte Digital integra asagências Wingman e Seara

33 Captar assinantesé importante, mas reteré a chave do sucesso

MEDIA & COMUNICAÇÃO

TAMBÉM NESTA EDIÇÃO

O caderno Et Cetera,com um olharde portuguesesque estiveram no paísmais fechado do mundo,e o suplementoImobiliário, que reportaa falta de escritóriosem Lisboa

Os casos concretosdão muito jeitopara defendercausas abstratas.Mas só quandoconfirmam a teseque se quer passar.O populismotambém é isto.

Page 3: Chineses querem ter 60% da EDP e prometem colocar o ... · EDP poderá pronunciar-se hoje sobre OPA da CTG ... garante à CMVM que continua em funções CRISE NO SPORTING Regulador

O Jornal Económico, 8 junho 2018 | 3

A Comissão do Mercado de Valo-res Mobiliários (CMVM) pediuesta semana esclarecimentos aopresidente da mesa da assembleiageral (MAG) do Sporting, JaimeMarta Soares, sobre a instabilidadeque se vive no clube. O supervisortem em mãos a aprovação da emis-são de obrigações que a SAD leo-nina quer realizar e procurou sa-ber se a MAG continua em fun-ções, numa altura em que JaimeMarta Soares e o presidente doclube, Bruno de Carvalho, prota-gonizam uma inédita batalha jurí-dica entre órgãos sociais.

Questionado pelo Jornal Econó-mico, Jaime Marta Soares confir-mou o pedido de esclarecimentopor parte da CMVM. “Contataram--me na terça-feira para esclareci-mentos sobre matérias que podiamter implicações nas decisões daCMVM”, respondeu. O presidenteda MAG explicou ao supervisorquais as suas competências, assegu-rando que, apesar de demissionário,está em “plenas funções”, ao contrá-rio do que tem sido defendido pelopresidente do conselho diretivo doSporting, Bruno de Carvalho.

O Sporting Clube de Portugal e aSporting SGPS são as maioresacionistas da SAD, com 64% do ca-pital. A instabilidade no clube podeter consequências na SAD e na suacapacidade de honrar os compro-missos perante os investidores, naemissão de 15 milhões de euros quepretende realizar. Isto explica opedido de esclarecimentos feitopela CMVM a Jaime Marta Soares.

Esta emissão obrigacionista, queservirá para pagar salários, impos-tos e créditos bancários, só poderáavançar depois de a CMVM apro-var o respetivo prospeto. Mas aCMVM só aprovará o empréstimoobrigacionista após atualizar oprospeto com informação sobre“riscos atuais”. Em causa estão ris-cos que decorrem das recentes de-missões nos órgãos sociais e resci-sões por justa causa dos jogadoresRui Patrício e Daniel Podence, a

que se poderão juntar, nos próxi-mos dias, mais rescisões de outrosjogadores do clube leonino.

Esta semana, o regulador pediutambém esclarecimentos adicio-nais à SAD do Sporting sobre a re-núncia do seu administrador, Gui-lherme Pinheiro. Uma iniciativaque tem por objetivo atualizar oprospeto da emissão obrigacionis-ta relativamente aos ógãos sociaisda SAD, para que os investidores

tenham acesso a informação atua-lizada. E, segundo a CMVM, inte-gra-se no processo conducente àaprovação de um prospecto, qualconhece “várias interacções entre aCMVM e os emitentes”. Nestecaso, o regulador sinaliza que “têmocorrido quase diariamente desen-volvimentos informativos em tor-no da sociedade emitente”.

Batalha entre órgãos sociaisNo início de junho, a direção doclube leonino informou, em co-municado, ter criado uma “Comis-são Transitória da MAG”, substi-tuindo a actual Mesa, que se en-contra demissionária. A direção doclube refere que as várias medidasdeliberadas asseguram “o normalfuncionamento do clube”, bemcomo a “continuidade de proces-sos como o empréstimo obrigacio-nista da SAD e a contratualizaçãoda reestruturação financeira”.

Bruno de Carvalho defende que aAssembleia Geral (AG) extraordiná-ria de 23 de junho para o destituir seencontra “ferida na sua legalidade,ao não respeitar os requisitos e pres-supostos estatutários e legalmenteprevistos para a sua convocação erealização”. O presidente da MAGavançou, entretanto, com uma pro-vidência cautelar, de forma a garan-tir a realização desta AG destitutiva.A Holdimo, segundo maior accio-nista da SAD, também já recorreuaos tribunais ao colocar uma açãoespecial de destituição na SAD, re-querendo a saída dos administrado-res indicados pelo Sporting.

O clube arrisca-se a mergulharnuma batalha jurídica entre osseus órgãos. A direção de Bruno deCarvalho nomeou duas comissõesprovisórias para substituir a MAGe o Conselho Fiscal e marcou elei-ções para estes órgãos. Mas JaimeMarta Soares garante que, apesarde estar demissionário, mantémtodos os seus poderes. Por sua vez,a MAG nomeou uma comissãoprovisória para fazer funcionar oConselho Fiscal e de Disciplina,mas a direção não reconhece estaequipa. Com nenhuma das partesdisposta a ceder, o confronto naJustiça é inevitável. ●

Jaime Marta Soaresgarante à CMVM quecontinua em funções

CRISE NO SPORTING

Regulador pediu esclarecimentos ao presidente da MAG sobre crise noclube. Instabilidade põe em causa emissão de dívida de 15 milhões de euros.

LÍGIA SIMÕ[email protected]

RATING DA SEMANA

A portuguesa OutSystems já vale mais de 1.000 milhões de dólares,depois de uma ronda de financiamento em que captou 360 milhõesde dólares dos norte-americanos KKR e Goldman Sachs. E é umahistória de sucesso que promete continuar, porque o dinheiro agoracaptado vai servir para o unicórnio português acelerar o ritmo deexpansão e reforçar o investimento na pesquisa e desenvolvimentona área da automação de software. O outlook só pode ser positivo.

Por Ricardo Santos Ferreira

A-PAULO ROSADOCEO da OutSystems

RATING:

O único chef português distinguido com duas estrelas Michelin,escolhido como melhor cozinheiro pela Academia Internacional daGastronomia, é também empreendedor e gestor. Depois de fazer doChiado a sua sala de jantar, José Avillez aposta no Porto, com aintegração dos cinco restaurantes da Cafeína de Vasco Mourão. Já são23 restaurantes, que mostram que a aposta na consistência de umaoferta gourmet em Portugal tem pernas para andar. O outlook é positivo.

A-JOSÉ AVILLEZCEO do grupo José Avillez

RATING:

Três anos, uma Taça da Liga e uma Supertaça depois, Jorge Jesuspôs fim à aventura que foi assumir a liderança do futebol doSporting, para se refugiar num muito bom contrato na ArábiaSaudita. Nem a tempestade provocada por ter trocado o Benficapelo Sporting se aproxima do que têm sido as últimas semanas emAlvalade, em que teve de cumprir inúmeros papéis, por força dascircunstâncias. Só um ano sabático poderia ser solução para ajudara esquecer o que se tem passado. O Outlook é estável.

B-JORGE JESUSTreinador do Al-Hilal

RATING:

Os casos em que o Benfica está envolvido acumulam-se. Todoseles envolvendo suspeitas de enorme gravidade, que é impossívelfingir que não existem, apesar do imenso silêncio dos seusdirigentes e da menorização dos processos em casos da guerrilhaclubística no lamaçal em que se transformou o futebol em Portugal.Independentemente do desfecho judicial de todos os processos, háuma questão ética, de comportamento, que também é necessárioter em conta. O Outlook é negativo.

B-LUÍS FILIPE VIEIRAPresidente do Benfica

RATING:

D C- C+ B- B+ A- A+

D C- C+ B- B+ A- A+

D C- C+ B- B+ A- A+

D C- C+ B- B+ A- A+

CRISE “TERÁ DE SERDIRIMIDA NOS TRIBUNAIS”

Pode a secretaria de Estado daJuventude e do Desporto intervirna batalha entre os órgãossociais do Sporting Clube dePortugal, cuja instabilidadedirectiva arrisca a deitar por terrao empréstimo obrigacionista doclube? João Paulo Rebelo,secretário de Estado do Desportogarante que não, apesar doSporting ser uma instituiçãodesportiva de utilidade pública. Ogovernante defende que a criseque se vive no clube leonino teráde ser resolvida nos tribunais.Sobre a instabilidade que seassiste actualmente nos órgãossociais do clube leonino, JoãoPaulo Rebelo defende: “é umaquestão que extravasa ascompetências da secretaria deEstado do Desporto. Terá de serdirimida pelos tribunais”.O governante dá conta que asecretaria de Estado do Desporto“reconhece unicamente autilidade pública desportiva àsfederações desportivas que sãoas entidades que dão o respaldolegal para o financiamento, pois oInstituto Português do Desporto eJuventude (IPDJ) não financiaclubes, mas federações”.Já a atribuição do estatuto deutilidade pública, como é o casodo Sporting, é competência daPresidência do Conselho deMinistros (PCM).

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4 | O Jornal Económico, 8 junho 2018

PRIMEIRAMÃO

China Three Gorgesquer ficar com 50%a 60% da EDP

O plano industrial da China ThreeGorges (CTG) para a EDP é ambi-cioso. Os chineses propõem-se a fa-zer da EDP a maior empresa deenergias limpas do mundo. A EDPRenováveis é por isso essencial paraos chineses.

Para isso têm previsto integrar naEDP as barragens hidroeléctricas daCTG no Brasil e os ativos eólicosque os chineses detêm na Alema-nha. Com isto a EDP passa a adicio-nar 1,1 mil milhões ao seu EBITDAe 1,5 mil milhões de euros à sua fac-turação.

É com a subida de EBITDA quepretendem reduzir a elevada dívidada EDP, que atualmente supera acapitalização bolsista da empresa.

Ora para poderem integrar os ati-vos na EDP é imprescindível queapós a Oferta Pública de Aquisição(OPA) fiquem no mínimo com 50%mais uma ação. O objetivo da CTGé ficar no mínimo com 50% maisuma ação e no máximo com 60% daEDP. Esse é o objetivo que constado projeto do prospeto, que foi en-tregue na CMVM com o pedido deregisto da OPA, e que foi entreguena administração da EDP que deve-rá hoje emitir um relatório de apre-ciação das condições da oferta. Esseobjetivo também explica que a CTGnão se tenha empenhado em ofere-cer um preço indiscutível (oferece3,26 euros por ação) e que mante-nha a intenção de não o subir, mes-mo sabendo de antemão que a ad-ministração da EDP irá considerá--lo baixo, com o argumento, entreoutros, de que não reflete um pré-mio de controle.

A CTG não quer que todos osacionistas vendam na OPA. Recor-de-se que a CTG tem 23,27% daEDP, e precisa para que a condiçãode sucesso da OPA (compra de 50%mais uma ação) se verifique que26,73% do capital (mais uma ação)aceite vender na OPA.

Por outro lado para a CTG essapercentagem é essencial para poder

consolidar integralmente os resul-tados da EDP. Por isso essa é mes-mo uma condição essencial nestaoperação.

“A China Three Gorges quer ofe-recer uma porta de saída para osacionistas que quiserem sair e ofere-ce uma perspectiva de valorizaçãopara quem quiser ficar”, revela fontepróxima do processo.

O facto de querem ter no máximo60% da EDP coincide com o seu ob-jetivo de manter a EDP cotada embolsa com liquidez, que é tambémum objetivo definido no projeto doprospeto.

No entanto, se na OPA compra-rem mais de 60% do capital da EDP,admitem vender em bolsa o rema-nescente até atingir esse limiar. Sen-do expectável que a CNIC (da Repú-blica Popular da China), que tem4,98%, não venda na OPA, a CTGprecisa de convencer mais algunsdos acionistas qualificados a ficaremno capital. Por exemplo a Sonatrach,com 2,38%, poderá ter interesse emficar. Já o Fundo de Pensões do BCP,com 2,11% deverá vender porque asua lógica é a de obter mais-valiasnos investimentos financeiros. Nospróximos meses a CTG prepara-separa iniciar contatos com todos osacionistas qualificados.

O plano industrial proposto pelaCTG à EDP vai hoje ser apresenta-do ao supervisory board da elétrica.

CTG quer EDP na China,Moçambique e AngolaO projeto industrial para a EDP pas-sa por pôr a empresa a abrir na Chi-na, que é o maior consumidor deenergia do mundo. A China ThreeGorges quer também levar a EDPpara Angola e Moçambique, paradominar o mercado dos PALOPs.

Os chineses querem uma EDPcom sede em Portugal mas interna-cionalizada para outros mercados,para lá dos que já tem.

O que prometem no projeto doprospeto? Prometem manter o go-vernance da empresa, referindo-seao modelo de governo, mas sem re-ferência à manutenção dos atuais ad-ministradores. Prometem ainda dis-

tribuir, no mínimo, o mesmo nívelde dividendos que têm sido aprova-dos. “Este plano industrial foi desen-volvido em simetria com o plano denegócios que foi proposto à Assem-bleia Geral pela atual administraçãoda EDP”, realçou a nossa fonte.

Outra vantagem que os chinesesacreditam trazer à EDP é o facto demelhorarem o seu perfil de risco,espelhado no rating. A CTG é ra-ting A (tem suporte do Estado chi-nês) e o perfil financeiro da EDP émais fraco. A S&P atribui à CTGum rating de “A”, com perspectivaestável, já o rating da EDP é deBBB-1, com perspectiva estável.Com o sucesso da OPA a EDP passaa beneficiar do perfil de risco dacasa-mãe e isso melhora o seuWeighted Average Cost Of Capital(WACC), o que na prática quer di-zer que acelera a capacidade de in-vestimento da EDP.

CTG já fez visitas a Bruxelas, aoregulador dos EUA e à ERSEA CTG já se foi apresentar a algunsdo reguladores mais importantes naaprovação da OPA. O Expresso no-ticiou que a CTG já iniciou as con-versações com a Comissão Europeiae o Jornal Económico confirmou.Mas tratou-se de uma “visita de cor-tesia” para tentar perceber quem se-ria o interlocutor de Bruxelas. Apa-rentemente será a Direção Geral daEnergia, não se sabendo se haverátambém intervenção da DG Compeuropeia.O Jornal Económico sabe tambémque a CTG e os seus interlocutoresforam à Comissão de InvestimentoEstrangeiro dos EUA e à FERC (re-gulador da energia dos EUA), e queforam também à ERSE (entidadereguladora nacional do setor). Estescontatos vão continuar nos próxi-mos meses. Fonte conhecedora doprocesso diz que a operação da EDPnos Estados Unidos interessa aoschineses. No entanto, o desenho fi-nal da operação está inevitavelmen-te ligado à decisão dos reguladores,que podem no limite obrigar à ven-da de ativos como remédio para au-torizar a operação. ●

Os chineses querem aumentar a faturação da EDP em 1,5 mil milhões coma integração de ativos do Brasil e Alemanha e pôr a EDP na China e PALOP.

MARIA TEIXEIRA [email protected]

OFERTA PÚBLICA DE AQUISIÇÃO

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O Jornal Económico, 8 junho 2018 | 5

O impacto da venda daEDP e da REN a chineses

Passados cinco exercícios desde avenda da EDP e da REN a acionistaschineses, o desempenho das duasprincipais empresas do setor elétricodo país parece ter tido um impactomisto nas contas nacionais. Por umlado, o período desde a alienação dasparticipações pelo Estado coincidiucom uma queda do investimento dasduas empresas. Por outro, sobretudono caso da EDP, o esforço de desen-dividamento é notório.

As duas vendas foram concretiza-das em 2012, pouco depois do arran-que do programa da troika. A últimafase de privatização da EDP culmi-nou com a venda de 21,35% à ChinaThree Gorges. A segunda fase da re-privatização da REN resultou navenda de 25% do capital da empresa àChina State Grid e 15% à Oman Oil.

A perceção de país resgatado impu-nha-se nos mercados, com o país a vi-ver com juros elevados e dinheiro doFMI e dos fundos europeus. A vendadas empresas, além de gerar um en-caixe que abateu à dívida pública,também transmitiu uma mensagemaos mercados. O reverso da medalhadessas vendas ocorre sobretudo a lon-go prazo. O Estado perdeu o rendi-mento dos dividendos associados aessas participações e igualmente o po-derde definiras opções estratégicas.

Mas até que ponto essa mudançade fundo na EDP e na REN teve re-flexos nas contas económicas do país,nomeadamente no investimento?Especificamente nesta componentedo PIB, o período pós-privatizaçõesmostrou uma queda acentuada dovolume de investimentos. Segundocontas do Jornal Económico combase nos relatórios das empresas, amédiade investimento anual nos cin-co exercícios depois de 2012 fica maisde mil milhões de euros abaixo doque era investido pelas duas empre-sas, em conjunto, no período idênti-co anterior às alienações pelo Estado.

No caso da EDP, o investimentooperacional atingiu uma média de1.865 milhões de euros por ano apósa privatização, uma queda de 32%face à média anual de 2.738 milhões,nos cinco anos antes da venda àCTG. Na REN, a média anual de in-vestimentos dos cinco exercíciosmais recentes ficou em 184 milhõesde euros, uma descida de 48% face aovalor médio do mesmo período an-tes da privatização, de 355 milhões.

As explicações para esta queda sãodiferentes em cada empresa e os ana-listas consideram que não residemna entrada de novos acionistas. “NaEDP, a desaceleração decorre emparte devido ao processo de desala-vancagem realizado pela empresa.No caso da REN, a empresa reduziuo investimento devido a menoresoportunidades de crescimento orgâ-nico da empresa em Portugal”, expli-ca ao Jornal Económico Diana Oli-veira, analista do banco BIG.

No caso da EDP, existe “uma rela-ção intrínseca entre dívida e investi-mento”, já que a empresas do sectorde ‘utilities’ financiam muitas vezes oinvestimento com recurso à emissãode dívida. A elétrica optou assim porum menor ritmo de investimento“de forma a realizar uma desalavan-cagem do seu balanço”, conclui. Defacto, as contas anuais do grupomostram um esforço recorrente dereduzir o passivo: entre 2012 e 2017,a dívida líquida diminuiu em mais dequatro mil milhões de euros.

Parte dos investimentos do grupopassam também pela EDP Renová-veis, controlada a 83% pela EDP. Eneste caso verifica-se que o investi-mento estava a cair quando a ChinaThree Gorges entrou em Portugal,começando a recuperar precisamen-te nessa altura. Entre 2012 e 2017, oinvestimento operacional desta em-presa aumentou de 612 milhões paramais de mil milhões.

A EDP acaba por ser um espelhodo que o país viveu em termos ma-croeconómicos. As dificuldades definanciamento conduziram a cortesde investimento, que se mantiveramdepois em níveis historicamente bai-xos para reduzir o endividamento,uma vez ultrapassada a crise.

Contudo, há um pormenor ligadoaos novos acionistas e às expectativasde retorno que tinham com o inves-timento que fizeram: os dividendospagos pela EDP mantiveram-se inal-terados e recentemente até aumenta-ram. Em teoria, o grupo poderia terretido mais lucros , diminuindo aparcela para dividendos, para refor-çar a capacidade de investimento.

No caso da REN, a situação é mai-complexa. A empresa é remuneradasobre os ativos que tem e por isso in-teressa-lhe investir. Mas o plano in-vestimentos que apresentou em2015 foi considerado desajustadopela Entidade Reguladora dos Servi-ços Energéticos e o Governo não oaprovou, por temer a sobrecarga dosconsumidores, por via das tarifas.

A empresa desenhou um novoplano, que esteve em consulta públi-ca até final de março. Prevê-se agoraum investimento de 814 mil milhõesde euros na rede nacional de eletrici-dade, um corte de 30% face ao planode 2015. O Governo anunciou em ja-neiro que o novo plano vai ser discu-tido no Parlamento, e a ERSE já elo-giou as novas opções da companhia.

Segundo explicou ao Jornal Eco-nómico fonte oficial da REN, os pla-nos de investimento são elaboradosem função de duas vertentes princi-pais: os planos de licenciamento deinfraestruturas energéticas, que sãoda responsabilidade da Direção Ge-ral de Energia e Geologia (DGEG), eas necessidades de manutenção ouatualização das infraestruturas con-cessionadas, que são da responsabili-dade da REN, seja na área da MuitoAlta Tensão ou no Transporte e Ar-mazenagem de Gás Natural.

Com base nestes dois vectores,realizam-se estudos aprofundadosque são apresentados à DGEG, publi-cados e sujeitos a avaliação da ERSE eaprovação pelo Estado. “Todos os in-vestimentos já aprovados encon-tram-se em desenvolvimento”, notaaempresa, que acrescenta: “A análisedos investimentos feitos pela RENpermite verificar o alinhamento des-ses investimentos com os ciclos dedesenvolvimento de infraestruturasenergéticas que se tem vivido emPortugal (nomeadamente a apostanas renováveis, o desenvolvimentode centrais de ciclo combinado, as in-terligações com Espanha e o projetodo terminal de GNL de Sines) e o fac-to de que a rede de transmissão demuito alta tensão e as infraestruturasde gás natural requererem agora me-nos investimento em expansão”. Ouseja, a questão central do investimen-to reside sobretudo nas oportunida-des que lhe são dadas para investir.

A analista Diana Oliveira frisa ain-da que a redução de investimentosdas empresas já se verificava antes daúltima vaga de privatizações, peloque não pode atribuir-se aos novosacionistas. “As dinâmicas de investi-mento e/ou endividamento estão, nanossa visão, relacionados com outrosfatores, e não com a entrada de no-vos acionistas. A entrada dos novosacionistas coincidiu com um períodode crise na economia nacional e eu-ropeia, com impactos negativos aonível da avaliação de novos investi-mentos e restrições no acesso dasempresas portuguesas ao mercadoobrigacionista”, refere. ●

Desde 2012, as duas companhias investiram em conjunto menos mil milhões deeuros por ano. A queda já vinha de trás e o esforço de desendividamento foi notório.

JOÃO [email protected]

ENERGIA

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6 | O Jornal Económico, 8 junho 2018

ECONOMIA & POLÍTICA

Um ano depoisda tragédia dePedrógão aindahá medidaspor concretizar

Cerca de um ano depois dos incên-dios que devastaram PedrógãoGrande e outros concelhos limí-trofes, o que mudou no sistema deprevenção e combate a incêndiosrurais? Logo após a replicação datragédia em outubro de 2017, nocentro e norte do país, o Governoaprovou um conjunto de medidasem reunião extraordinária doConselho de Ministros. O JornalEconómico faz um balanço sobre aexecução dessas medidas.

“Reformar o modelo”O Governo decidiu “criar, na Pre-sidência do Conselho de Minis-tros, a Agência para a Gestão Inte-grada de Fogos Rurais (AGIF), aquem compete a análise integrada,o planeamento e a coordenação es-tratégica do Sistema de Gestão In-tegrada de Fogos Rurais, incluindoa intervenção operacional qualifi-cada em eventos de elevado risco”.Cerca de oito meses depois, po-rém, esta medida ainda não foiconcretizada. Aliás, o Governo jáadmitiu que a AGIF só vai come-çar a funcionar em 2019.

Entre as competência atribuídasà AGIF destaca-se a de “coordenara elaboração e execução de umnovo Plano Nacional de GestãoIntegrada de Fogos Rurais, combase na vertente de gestão de fogosrurais e na vertente de proteção depessoas e bens contra incêndiosrurais, a aprovar até 30 de abril de2018”. Iniciado o mês de junho,

contudo, esse plano não está pron-to. Aliás, o Governo encomendouesta semana um estudo sobre o “di-mensionamento do dispositivo deresposta de supressão de incêndiosrurais”, para servir de apoio na ela-boração do referido plano, mas sódeverá ser entregue no final deagosto. Em suma, a elaboração doplano está bastante atrasada.

Também compete à AGIF“coordenar um grupo de especia-listas com competências multidis-ciplinares, nomeadamente em me-teorologia, análise do fogo e co-municações e sistemas de apoio àdecisão, envolvendo-os sempreque necessário na resolução de

eventos complexos ou com riscoacrescido”, mas esse grupo aindanão foi formado. Outra medidaatrasada consiste em “criar umabolsa de peritos, junto da AGIF,que possa ser mobilizada em casosde operações de socorro de extre-ma gravidade”, embora os respeti-vos concursos de recrutamento játenham sido lançados.

“Aproximação entreprevenção e combate”O objetivo de “criar, até ao final de2017, uma diretiva única de pre-venção e de combate, para umamaior coordenação de todo o dis-positivo operacional durante todoo ano”, foi cumprido no início de2018. Quanto ao objetivo de “re-ver, até ao final de 2017, o Sistemade Gestão de Operações, garantin-do a adequação do mesmo à com-plexidade das diversas situações deemergência”, também foi cumpri-do com relativo atraso. Por suavez, o processo de revisão e refor-ço da estrutura orgânica do Insti-tuto da Conservação da Natureza eFlorestas, “enquando autoridadeflorestal nacional”, previsto para“até ao final do primeiro trimestrede 2018”, ainda não está concluído.

“Profissionalizaçãoe capacitação”Neste âmbito, a missão de “rever,até ao final do primeiro trimestrede 2018, e reforçar a estrutura or-gânica da ANPC com os objetivosde redefinir a constituição e os cri-térios de designação da sua estru-tura de comando e de criar umacarreira estável e organizada para a

Envolvimento das Forças Armadas, revisão da estrutura orgânicada ANPC e elaboração do Plano Nacional de Gestão Integradade Fogos Rurais são algumas das medidas atrasadas.

GUSTAVO [email protected]

Quanto à decisão de“confiar à Força Aéreao comando e gestãocentralizados dosmeios aéreos decombate a incêndiosflorestais”, a suaconcretização foiadiada para 2019

PREVENÇÃO E COMBATE A INCÊNDIOS RURAIS

respetiva força operacional”, aindaestá por cumprir. Não há sequerum prazo previsto para a conclu-são desse processo.

Por outro lado, o Governo jálançou “procedimentos concursaispara a admissão de militares para aGuarda Nacional Republicana, demodo a reforçar o Grupo de Inter-venção de Proteção e Socorro e oServiço de Proteção da Natureza edo Ambiente em 2018, e de efeti-vos para o Corpo Nacional deAgentes Florestais e guardas flo-restais, bem como para a criaçãode novas equipas de sapadores flo-restais, perfazendo um total de 500até 2019”. São processos em cursomas já em fase adiantada de desen-volvimento.

No que concerne a “reforçar oenvolvimento das Forças Armadasno Sistema de Gestão Integrada deFogos Rurais, designadamenteatravés do desenvolvimento do

apoio militar de emergência, dacriação de um sistema de apoio lo-gístico, de patrulhamento, de in-tervenções de prevenção, rescaldoe vigilância de reacendimentos, ede apoio pós -catástrofe às popula-ções”, o processo está em anda-mento, embora com algumas inde-finições.

Quanto à decisão de “confiar àForça Aérea o comando e gestãocentralizados dos meios aéreos decombate a incêndios florestais pormeios próprios do Estado ou ou-tros que sejam sazonalmente ne-cessários”, a sua concretização foiadiada para 2019, tendo em contaas dificuldades verificadas na con-tração de meios aéreos.

“Reforçar a segurançadas populações”Este é um dos domínios do pacotede medidas com maior taxa de exe-cução. Desde a criação do progra-

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Funcionários judiciais, guardasprisionais, polícias, e profissionaisda GNR juntaram-se aos professo-res para exigir a contagem integraldos nove anos de serviço congela-dos para efeito de progressão nacarreira e querem ser recebidospelo primeiro-ministro e deputa-dos parlamentares.

Representantes sindicais e asso-ciativos destas classes profissionaisestiveram ontem reunidos em Lis-boa e decidiram pedir reuniões aoprimeiro-ministro e à comissão deOrçamento, Finanças e Adminis-tração Pública da Assembleia daRepública para debater a questão.

Estes trabalhadores querem re-cuperar os dois períodos em que ascarreiras dos funcionários públi-cos estiveram congeladas: entre2005 e 2007 e, posteriormente, en-tre 2011 e 2017. As progressões fo-ram congeladas durante o Gover-no de José Sócrates no âmbito deum dos pacotes de austeridade queentrou em vigor em janeiro de2011, altura em que deixou tam-bém de ser possível qualquer valo-rização remuneratória.

Discrepância de 496 milhõesO descongelamento da carreirados cerca de 100 mil professores,considerando a totalidade do tem-po de serviço em que esteve con-gelada (“9 anos, 4 meses e 2 dias”)custaria 618 milhões de euros numano. Se aplicadas as mesmas regrasde descongelamento aos outros550 mil trabalhadores da FunçãoPública, o custo total seria de 510milhões de euros. Tendo em contaos números globais, o custo relati-vo de um professor seria cinco ve-zes superior ao de qualquer outrofuncionário público. Os dados sãodo Governo e ajudam a perceber oque está em jogo no braço-de-fer-ro com os professores.

Recuemos no tempo. As carrei-ras na Administração Pública esti-veram congeladas entre 2005 e2007 e depois entre 2011 e 2017.Ao todo são efetivamente “9 anos,4 meses e 2 dias” de tempo de tra-

balho cuja contagem os professo-res reivindicam. O Governo argu-menta que a lei que congelou ascarreiras determina que o tempoterá parado em 2011, pelo que oque passou desde então não conta.O calendário só voltou a passar afolha para efeito de progressão nacarreira no início deste ano.

Por esta razão, o Governo pro-põe-se recuperar apenas “2 anos, 9meses e 18 dias” de serviço. O im-pacto financeiro desta propostatraduz-se, segundo os dados doexecutivo, em 139 milhões de eu-ros a somar à despesa associada aodescongelamento, que começouem janeiro 2018, e para o qual fo-ram consagrados no Orçamentode Estado já 519 milhões de euros.Contas feitas, o impacto da pro-posta do Governo apresentada aossindicatos dos professores custará,no total, 658 milhões de euros.

Em contrapartida, caso o Go-verno venha a ceder à pressão dosprofessores, a fatura disparariapara 1.154 milhões de euros.

Entre a proposta do Governo e aexigência dos professores há, as-sim, uma diferença de 496 milhõesde euros. Um valor, de facto, pró-ximo do avançado esta terça terça--feira pelo primeiro-ministro. An-tónio Costa disse no Parlamentoque o descongelamento com a re-cuperação de todo o tempo de ser-viço custaria 600 milhões aos co-fres do Estado. ●

Forças de segurançae funcionários judiciaisjuntam-se a reivindicaçõesde professores

Tal como os professores, estas classesprofissionais exigem a contagem integraldos nove anos de serviço congelados.

ALMERINDA ROMEIRAE GUSTAVO [email protected]

Se aplicadas asmesmas regrasaos outros 550 miltrabalhadoresda Função Pública,o custo total seria de510 milhões de euros

CARREIRAS ESPECIAIS DA FUNÇÃO PÚBLICA

ma “Pessoas Seguras” visando pro-mover ações de sensibilização paraa prevenção de comportamentosde risco, medidas de autoproteçãoe realização de simulacros de pla-nos de evacuação, até à criação deuma rede automática de avisos àpopulação em dias de elevado riscode incêndio, passando pela criaçãode um Programa de Proteção deAglomerados Populacionais e deProteção Florestal, denominadocomo “Aldeia Segura”, com medi-das estruturais para proteção depessoas e bens.

Ao nível do Ministério da Edu-cação também já se avançou com oreforço de “práticas pedagógicas,nos ensinos básico e secundário,referentes à valorização dos recur-sos florestais, à sensibilização paraa prevenção de comportamentosde risco e a medidas de autoprote-ção”, assim como a criação do pro-grama “Voluntariado Jovem para a

Natureza e Florestas”, concreti-zando as medidas programadas.

“Aumentar a resiliênciado território”Neste domínio está em curso aaprovação da “revisão dos Progra-mas Regionais de OrdenamentoFlorestal de segunda geração”, apar do objetivo de “promover a suaintegração nos Planos DiretoresMunicipais, garantindo o seuacompanhamento efetivo pelasentidades administrativas e pelosagentes do setor”. A conclusão es-tava prevista “até ao final do pri-meiro semestre de 2018”, pelo queainda não se pode falar em derra-pagem do prazo.

Em sentido contrário, não há re-gisto de iniciativas no âmbito de“promover, através dos instrumen-tos de apoio ao setor, a criação demodelos de silvicultura em mosai-co, incluindo florestas de carvalhos,

castanheiros e outras folhosas, epotenciando a constituição de espa-ços florestais mais diversos e menosvulneráveis ao fogo, principalmen-te nas áreas de maior perigosidade”.

Por outro lado, “criar o PlanoNacional de Gestão de Combustí-veis, numa perspetiva multinível eintegrada, dando concretização aoPlano Nacional do Fogo Controla-do, atribuindo tarefas no âmbitoestrutural às estruturas operacio-nais profissionais e promovendotambém o apoio à cinegética e àpastorícia”, é uma medida que estápraticamente executada. Ao pontode o secretário de Estado das Flo-restas e do Desenvolvimento Ru-ral, Miguel Freitas, já ter determi-nado em despacho de fevereiro de2018 que “o valor do apoio anual éestabelecido em função da áreasubmetida ao pastoreio e em fun-ção do valor do fitovolume obser-vado após um ano de pastoreio”. ●

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8 | O Jornal Económico, 8 junho 2018

ECONOMIA & POLÍTICA

Novo Código dasAssociações Mutualistassó entra em vigor em 2030

O Governo aprovou ontem, emreunião do Conselho de Ministros,um novo Código das AssociaçõesMutualistas que, entre outras alte-rações, “passa a sujeitar ao regimede supervisão as associações mu-tualistas cujo volume bruto anualde quotas das modalidades de be-nefícios de segurança social geri-das em regime de capitalização ex-ceda 5 milhões de euros e o valortotal bruto dos fundos associadosao respetivo financiamento exceda25 milhões de euros”.

Na prática, o Montepio Geral eo Montepio Nacional da Farmáciadeverão ser as duas únicas associa-ções mutualistas que cumprem taisrequisitos e passarão a operar sob aalçada da Autoridade de Supervi-são de Seguros e Fundos de Pen-sões (ASF). Não obstante, segue-seum prazo de 60 dias para “o serviçocompetente da área da segurançasocial” comunicar à ASF “as asso-ciações mutualistas que reúnem osrequisitos”. Outro prazo de 60 diaspara a ASF submeter “a decisãoconjunta dos membros do Gover-no responsáveis pelas áreas das fi-nanças e da segurança social pro-posta fundamentada” das associa-ções mutualistas que reúnem ounão os requisitos previstos. E ain-da mais um prazo de 60 dias para“a decisão conjunta dos membrosdo Governo” ser proferida.

Depois de confirmadas as asso-ciações mutualistas que reúnem osrequisitos, num processo que po-derá estender-se até seis meses, es-sas associações ficam sujeitas a umregime transitório “com o prazo de12 anos” para adaptação ao regimede supervisão. Ou seja, o novo en-quadramento só vai entrar plena-mente em vigor a partir de 2030.

“Nestas questões há semprequem ache que é pouco e quemache que é muito. Nós achamos,até por comparação com outrosperíodos de transição, que 12 anosé um período razoável para proce-der às alterações, nomeadamentena composição dos seus ativos, re-gras de funcionamento”, declarou

ontem o ministro do Trabalho,Solidariedade e Segurança Social,José Vieira da Silva. “É um docu-mento importante que teve umlongo processo de maturação evem concretizar uma responsabili-dade do Governo que vem desde aaprovação da Lei de Bases da Eco-nomia Social”, realçou.

Apesar do hiato de 12 anos, o re-gime transitório confere desdelogo uma série de poderes de su-pervisão à ASF, nomeadamente:“exigir a apresentação de um planodetalhado que inclua as fases e atosessenciais para a adaptação ao re-gime de supervisão”; “exigir a rea-lização de auditorias especiais porentidade independente, por si de-signada, a expensas da associação

mutualista auditada”; “obter infor-mações pormenorizadas sobre asituação das associações mutualis-tas e o conjunto das suas atividadesatravés, nomeadamente, da reco-lha de dados, da exigência de docu-mentos relativos ao exercício daatividade ou de inspeções a efetuarnas instalações das associações”;“proceder à verificação da confor-midade das associações mutualis-tas com as exigências em matériade provisões técnicas, dos requisi-tos de capital, da avaliação dos ele-mentos do ativo e do passivo, dasregras de investimento e dos fun-dos próprios por referência às dis-posições legais, regulamentares eadministrativas em vigor para osetor segurador”; entre outros. ●

Governo aprovou um novo Código das Associações Mutualistasque vai colocar o Montepio Geral e o Montepio Nacional da Farmácia soba supervisão da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões.

GUSTAVO [email protected]

SUPERVISÃO DAS MUTUALISTAS

O problemada natalidade

O ‘timing’ escolhido por Rui Riopara apresentar o projeto do PSDsobre os incentivos de fomentoaos nascimentos (”Uma políticapara a infância”) talvez não tenhasido o melhor. António Costa ti-nha acabado de falar da crise denatalidade durante o último con-gresso do PS. E estas casualida-des, sendo óptimas para gerarepisódios de intriga partidária,têm muitas vezes como conse-quência envenenarem discussõesimportantes, como esta sem dú-vida é: vital para o País e para aprópria União Europeia (UE), atal “avó cansada” de que falou oPapa Francisco, em 2014, noParlamento Europeu.

Os números não mentem.Durante o ano de 2016, nasce-ram 5,1 milhões de bebés na UE,apenas mais 11 mil do que noano anterior. As taxas de natali-dade (nascimentos por 1000 ha-bitantes) mais elevadas nesseano, o último de que há núme-ros, foram apresentadas na Irlan-da (13,5%), Suécia e Reino Unido(11,8%), enquanto as mais baixasforam registadas nos países doSul: Itália (7,8%), Portugal(8,4%), Grécia (8,6%) e Espanha(8,7%), não por acaso os paísesmais afetados pela crise.

A baixa na natalidade é umproblema dos países desenvolvi-dos, nos quais, entre outras ra-zões que não cabem neste espaçoabordar, se planeia com maiorresponsabilidade a vinda de umser humano ao mundo. Consul-tando o sítio pordata.pt, qual-quer pessoa pode visualizarcomo a natalidade tem caído a pi-que na Europa desde 1960. Por-tugal veio de 24,1% para os tais8,4%, o que é brutal.

Neste momento, temos a se-gunda taxa de natalidade maisbaixa entre os 28 Estados-mem-bros da UE e somos (segundo oEurostat) um dos países cuja po-pulação diminuiu. Tivemos, ape-nas, 87 mil nascimentos. É estarealidade que serve de base paraas projecções do INE de um país

cuja população tenderá a dimi-nuir até 2060, dos 10,5 milhõesde pessoas, em 2012, para 8,6 mi-lhões. E também tenderá a enve-lhecer, até ao ponto de criar,muito antes dessa data, proble-mas graves de sustentação ao sis-tema de segurança social, tantono pagamento de reformas comode outras prestações.

Quando se fala de natalidade,está, pois, a falar-se de economiae de justiça social. De futuro. Épor isso que faz todo o sentidocolocar a questão de um ponto devista económico-financeiro, deinvestimento e de ajuda às famí-lias. Financiar em 10.722,50 eu-ros por criança, até aos 18 anos,como defende Rui Rio, entre ou-tras medidas, nem parece muito.E investir entre 400 a 500 mi-lhões de euros anuais neste pro-jeto, se esses forem os númerosfinais, parece-me razoável tendoem atenção o que está em causa.Desculpem as pessoas mais sen-síveis que coloque a questão nes-tes termos mas se os nascimentossão um bom negócio para o País,ao menos que não sejam um pe-sadelo para as famílias.

A discussão deste tema, e tam-bém da demografia de uma for-ma mais geral, é recorrente. Háquatro anos, já o governo de Pas-sos Coelho patrocinara um estu-do, elaborado por uma comissãoindependente e coordenado porJoaquim Azevedo, da Universi-dade Católica, que defendeu vá-rias medidas de incentivo à nata-lidade. Como se sabe, ficou tudona mesma...

Está na altura, agora, de traçarum plano que rasgue legislaturas.Se nem nesta questão puder ha-ver consenso, e rápido, é porqueos partidos ainda estarão maispodres do que parecem. Que raio:basta serem tão expeditos comosão a analisar as questões chama-das de ‘fraturantes’. Não me pare-ce que seja pedir muito. ●

OPINIÃO

JOÃO MARCELINOJornalista

Está na altura detraçar um plano querasgue legislaturas.Se nem nestaquestão puder haverconsenso, é porqueos partidos aindaestão mais podresdo que parecem

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10 | O Jornal Económico, 8 junho 2018

OPINIÃO

Pedro Sáncheze a geringonçasemmotor

À quarta foi de vez e uma moçãode censura derrubou um Governoem Espanha.

Verdade que o partido no poder,o Partido Popular (PP) de Rajoymereceu a censura. A sentença docaso Gürtel não deixa dúvidas.Não foi apenas o corruptor – Cor-rea – e o tesoureiro do PP – Barce-nas – que foram condenados. O PPtambém foi sentenciado a pagaruma multa avultada – 245 mil eu-ros – e vários dos seus membrosforam condenados.

Numa Espanha ainda a braçoscom a questão catalã, esta sentençafoi a oportunidade pela qual Sán-chez ansiava há muito. Até porque

JOSÉ FILIPE PINTOProfessor catedrático

as sondagens não corriam de fei-ção ao PSOE. A regra da quase to-talidade dos partidos socialistas daUnião Europeia. Portugal a fun-cionar como exceção.

Como se tratava de uma moção decensura construtiva, Sánchez sabiaque, em caso de aprovação, seria au-tomaticamente chefe do Governo.Por isso, virou o olhar para este ladoda Península. Afinal, Costa tinha sa-bido transformar uma derrota emvitória e logrado o poder apoiadoem três partidos populistas. Ora, emEspanha também existe um partidopopulista – o Podemos – ansioso porse sentar no Palácio do Poder.

O problema é que o magro pe-cúlio de mandatos do PSOE – ape-nas 84 – adicionado dos deputadosdo Podemos não era suficiente.Porém, as baias éticas do PSOE sãomuito elásticas quando o acesso aopoder está em questão. Por isso,Sánchez estendeu a mão a partidosque põem em causa a unidade ter-ritorial de Espanha.

Que esses partidos sejam nacio-nalistas/independentistas não cau-sou o mínimo constrangimento ao

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líder do PSOE. Talvez por saberque se houvesse eleições agora,como cerca de metade dos eleito-res desejam, não chegaria ao Go-verno e acabaria por ser um líderpartidário a prazo. Era preciso cor-rer o risco. A légua foi cumprida!

Os problemas começam a 2 de Ju-nho. Desde logo porque cinco dosseus pontuais aliados – Podemos,PDeCAT, EH Bildu, ERC e Com-promís – já fizeram saber que nãoaceitam os Pressupostos Gerais doEstado. Aqueles que o PP aprovou eque Sánchez incluiu no programa

que apresentou no Senado. Umaposição que não colheu ninguém desurpresa. Esses partidos limitam-sea manter as posições de sempre.

A enxaqueca não vai demorar.Há um Governo para formar e umpaís para governar. Ao contrário doPS, o PSOE tem menos deputadosdo que os seus “parceiros” juntos. Ocampo de manobra de Sánchez émais reduzido do que aquele que secolocou no horizonte de Costa.

Deste lado da fronteira, a gerin-gonça, malgrado a falta de alinha-mento da direção, resistiu devido à

recuperação económica e à acalmiasocial garantida pelo PCP.

Em Espanha, a situação fia maisfino. O Podemos queria lugar(es)na maquineta. Um desejo nuncacalado. Porém, Sánchez quer imi-tar Costa. Um executivo monoco-lor, embora com independentes.De esquerda, obviamente.

O problema é que geringonça san-chiana não tem motor e os aliados jádeixaram de o ser. A viagem serácurta. Coisa para meses. É provávelque Sánchez desça na próxima para-gem. Depois os eleitores falarão. ●

Os mercadossão o que nos vale

Quando o novo primeiro-ministroitaliano, Giuseppe Conte, nomeoupara ministro das Finanças o euro-céptico Paolo Savona, os mercadosreagiram negativamente, forçandoo presidente da Itália a recusar aproposta de Conte. Ultrapassado oimpasse, os partidos lá chegaram aum acordo e um novo governoacabou por tomar posse. Os merca-dos acalmaram e por agora vai-seandando. Claro que as forças polí-ticas mais extremistas acusaram osmercados de chantagem. Que a Itá-lia não pode ficar refém dos merca-dos, como se a Itália não fosse osmercados ou os mercados não fos-sem a Itália.

Porque os mercados, que as for-

ANDRÉ ABRANTES AMARALAdvogado

ças políticas extremistas italianas, etambém as espanholas, portugue-sas e francesas, tanto criticam são aexpressão da vontade das pessoas.Os mercados não são mais que asnossas escolhas. Somos nós, cida-dãos, que decidimos se vale a penainvestir em dívida pública italiana,ou espanhola ou portuguesa, ou seestas, devido à incompetência dosgovernos na gestão do bem públicoe à intolerância ideológica dos ex-tremistas, se tornou um investi-mento demasiado arriscado, fazen-do subir as respectivas taxas de juroe acabando por trazer alguma razãoa quem governa o Estado.

Foi isso que aconteceu em Itália,tem sucedido em Espanha e salvouPortugal. Foram os mercados, nós,consumidores e investidores, quesalvámos Portugal em 2011. Nessaaltura, foi a subida das taxas de ju-ros que forçou o pedido de ajuda àtroika, sob pena do Estado deixarde pagar salários e pensões, obri-gou Sócrates a demitir-se e a se-rem convocadas novas eleições.Não fossem os mercados e a maio-ria dos portugueses teria ficadosem salários. Não fossem os mer-

cados e Sócrates permaneceria nopoder, controlaria a imprensa e aJustiça. Não fossem os mercados eo PS desapareceria e muitos dossocialistas que hoje estão no go-verno teriam caído em desgraça.

Todos eles devem estar gratos pe-los mercados. Gratos pela clarivi-dência que as pessoas, individual-mente e sem pressões das massas,manifestaram naqueles tempos emque tudo parecia desabar. Pela for-

ma como as pessoas, através das li-vres escolhas que fazem individual-mente e a que se dá o nome de mer-cados, reagiram e trouxeram razoa-bilidade e objectividade ao que seestava a passar. Quando o país pare-cia caminhar para o abismo, os cida-dãos, portugueses e estrangeiros,em consciência e individualmente,libertos da propaganda política, emsegredo, tal qual quando depositamo seu voto na urna, salvaram o país.

Como deram uma ajuda à Itália e ojá o fizeram à França.

Por ser uma força que os políticosextremistas não controlam que estesacusam os mercados de chantagem.Porque não apreciam a liberdade dedecisão. No meio de tanta irraciona-lidade, os mercados, nós, trazemosrazoabilidade e impomos a ordem. ●

O autor escreve segundoa antiga ortografia.

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12 | O Jornal Económico, 8 junho 2018

OPINIÃO

O Inverno do nossodescontentamento

(Em larga medida, o inverno é odeste país, quer porque já é tempode verão, quer porque em muitossectores merecíamos mais. Muitomais, mesmo quando fazemos pormerecer este estranho destino deconsideramos que nos bastamoscom o mediano, com medo de umabismo que esteve sempre à espreitae que aconteceu, justamente, pelanossa inércia. Os últimos dias fo-ram, quanto a mim, pródigos noque de mau se consegue fazer, a co-berto do anonimato, nas designadasredes sociais. Contudo, porque deSteinbeck se passa com facilidadepara Hemingway, sou das que acre-dita que “O Sol nasce Sempre”. E,com isto, regresso à advocacia, cujocongresso, marcado já tarde, se ini-ciou com um número de varieda-des, entre os quais avulta a recusa li-

RITA GARCIA PEREIRAAdvogada

minar, depois revogada, de aceita-ção de comunicações sobre o temaque mais nos preocupa: a CPAS.Repostas a legalidade e a justiça nes-se particular, resta-nos o exotismode algumas propostas que dizemmais sobre a identidade dos autoresdo que sobre os que pretendemabranger.)

Para os que acham que os advogadossão corporativos, deixem que vosdiga que não conheço classe que pa-deça de maior canibalismo do quenós. Estamos sempre prontos a afiara faca no dorso do outro enquantomantemos as regras formais domaior urbanismo. Considerando es-tes vícios pouco privados, não susci-ta grande surpresa que a tentativa delimitar o número destes profissio-nais surja transvestida de medidasmuito objectivas, como seja a deobrigar os que asseguram o apoio ju-diciário a formação obrigatória(principalmente se os que a pro-põem conseguirem fazer mais unsquilómetros a darem umas preten-sas formações em coisa alguma) ou,mais bizarro ainda, a de se exigir queos advogados prestem uma espéciede caução para exercer. Para além daprimeira consubstanciar uma discri-

minação entre uns e outros (ou seja,os que estão inscritos no Acesso aoDireito e os que decidiram que pre-ferem dar borlas a quem escolheremem vez de o fazer ao Estado, grupoonde me incluo), a segunda constituiuma flagrante inconstitucionalidadee representa um claro ataque aosmais novos que não estejam inseri-dos em sociedades ou, como agora éhabitual dizer, em boutiques de ad-vogados. Se antes fui contra a limita-ção do exercício que era imposta porvia do estágio, seja pela sua indeter-minabilidade temporal, seja pelo au-mento retroactivo dos emolumen-tos com o qual nunca me conformei,mantenho a minha posição de prin-cípio. Por estranho que possa pare-cer vindo de uma alma confessada-mente de esquerda, neste caso, a se-lecção dos profissionais tem de serfeita pelo mercado mas após a atri-buição de igualdade de oportunida-des. Aqueles que defendem o con-trário não perceberam que o sentidode usarem toga é o de sermos iguais.E, como tal, não entendendo esteprincípio básico, quem está a maissão eles. ●

A autora escreve segundoa antiga ortografia.

Onomatopeia

São estonteantes as circunvoluções,os volteios e rodeios, com que se pre-tende explicar a situação política emItália, o Brexit, a eleição de Trump, etutti quanti apareça que bata de fren-te com as certezas axiomáticas doneoliberalismo e do fim da história,com o capitalismo, doxa para uns,santo graal para outros!

São os populismos. É a subida daextrema-direita, dos (neo)fascismos.São as derrocadas da social-demo-cracia e dos seus partidos. É a desade-quação, não aggiornamento dos par-tidos tradicionais. É a «maluqueira»do Trump. São (novamente) os rus-sos (parece que sem “comunismo”) eàs vezes os chineses. É esta coisa es-quisita de que os Estados, as grandespotências, da «Civilização Ociden-tal», santos sepulcros da democracia,observadores NATO e natos da legi-timidade das eleições nos países atra-

AGOSTINHO LOPESMembro do Comité Central do PCP

sados e suspeitos de infidelidades de-mocráticas, terem agora as suas pró-prias eleições perturbadas, violadas,decididas pelos russos, via o instru-mental de poderosas multinacionaisnascidas e mantidas nos EUA! Es-cândalo! Foi assim que terá aconteci-do o Brexit, a eleição do Trump, asperdas da democracia cristã deMerkel, o tufão do Macron, varren-do PSF e a direita gaullista, de Chirace Sarkozy, e etc. É a globalização. Sãoas novas tecnologias. É pau é pedra,são as águas da crise do capitalismo,atrapalhando o caminho…

E quando tudo parecia estar a serresolvido na UE e na Zona Euro,Brexit quase digerido; ingleses fora,muito cá por dentro; depois da di-gestão difícil da Grécia; de Portugalcom uma estranha governança, su-portada por radicais de esquerda;ultrapassada a histérica da Le Pen,por um fiel europeísta; vencidas(mas não convencidas com maisuma cambalhota social-democrata esubida ao céu da extrema direita) aseleições alemãs; os refugiados en-tregues aos turcos e uma rasteiraanimação económica, os italianosresolvem estragar tudo…

Ainda não deram por nada. Ou ta-pam os olhos. Há uma crise sistémicaprofunda do sistema capitalista, roí-

do pelas contradições e antagonis-mos do movimento do capital. Pelasguerras e disputas imperialistas. Pelacompetição aguda e brutal do capitaltransnacional e financeiro. Que es-trebucham e não gostam de quemlhes faz frente. Com expressão nomovimento das placas tectónicas dageopolítica, onde as principais po-tências capitalistas fazem torsões emovimentos como o funâmbulo nacorda. Procuram a salvação no seuequilíbrio e no desequilíbrio das po-tências opositoras. Isto é, só não asatiram abaixo da corda se não pude-rem… sacudindo-as para o va-zio…Uma crise na UE (e na ZonaEuro), cantada construção do siste-ma capitalista, que agora é sacudidapor erupções e abalos telúricos polí-tico-económicos, e sociais e cultu-rais. A crise italiana (como o Brexit, eetc…) é só mais um epifenómeno dacrise da UE e da Zona Euro! E nãovai lá com aspirina…

Esta gente é tal e qual um desenhoanimado! O herói ou o vilão, já nãotem terreno, solo, soalho, degrau de-baixo dos pés….Só quando olha parao abismo é que se precipi-ta…fiuuuuuuuuuuuuu…Puum! Somonomatopeico à escolha. O pequenoproblema é que costumam arrastar--nos com eles… para o abismo. ●

Efectividade

Não há dúvida que o negócio defuturo é o tratamento dos dadospessoais, nomeadamente os queincidem sobre consumo, saúde, fi-nanças, dando início a uma novaera de personalização de serviços.O perigo de utilização indevidadesses dados é evidente. Umexemplo são as seguradoras queadorariam ter dados mais sensíveise assim calcular o risco e diferen-ciar o prémio cobrado. Neste sen-tido, o regulamento é bem-vindo,uma vez que os consumidores ten-dem a dar muito mais informaçãodo que pensam e a serem bombar-deados com publicidade de empre-sas sem consentimento.

No entanto, o pânico registadona implementação do Regulamen-to de Protecção de Dados (RGPD)trouxe à memória a loucura do bugdo ano 2000.

O primeiro desafio teve a vercom a criatividade necessária paraabordar o assunto e ao mesmotempo não perder a base de dados.A maioria das empresas demons-trou falta de conhecimento, no-meadamente quanto à necessidadede consentimento tácito por partedo consumidor, tendo-se limitadoa uma informação da alteração dasua política de protecção de dados.

Existem duas leituras possíveis,ou as empresas, mesmo as de gran-de dimensão, não conseguiram im-plementar processos de segregaçãode bases de dados, ou simplesmentedecidiram não perder os contactosque têm na sua posse, fazendo tá-bua rasa do regulamento, arriscan-do eventuais multas. Por falar emmultas, depois de tanta discussãoacerca dos valores em causa, con-clui-se facilmente que não existecapacidade para supervisionar oefectivo cumprimento deste Regu-lamento, quer por falta de meioshumanos e sua formação na CNPD,quer pela dimensão gigantesca dosagentes económicos afectados.

Temos ainda a própria Assem-bleia da República que, não tendodiscutido ou aprovado a nova leide protecção de dados que acolheas disposições do RGPD, preocu-pa-se em isentar o Estado do seucumprimento, ao impedir que estepossa ser multado pela não aplica-ção, fomentando a concorrênciadesleal.

O caso é mais relevante quandose tratam de hospitais públicos que

PEDRO LINOPresidente do conselho de administração

da Dif Broker

trabalham com informação sensí-vel e altamente confidencial, mui-to apetecível para as seguradoras,sem falar discriminação positiva,quando comparado com os custosque o sector privado tem de arcar,com Encarregados e Responsáveispelo tratamento de dados, além danecessidade de alteração de proce-dimentos.

A inexistência de informação es-pecífica ao público em geral acercada entrada em vigor de uma altera-ção legislativa tão importantecomo o RGPD, é elucidativa do li-mite a que chegou a verborreia le-gislativa. A título de exemplo, oscidadãos deviam ter sido informa-dos que as organizações não po-dem pedir documentos ou dadosque contenham informação acercada raça, etnia ou religião.

Muitas questões se levantamcom a implementação deste Regu-lamento, pelo que nos devemosquestionar se é mesmo para cum-prir e quais as consequências paraas empresas. As 88 páginas desteregulamento somam-se às cente-nas de outros produzidos por Bru-xelas e estão a levar ao limite todosos agentes económicos, correndoo perigo de estrangular a activida-de económica.

Sabemos que iniciámos umalonga caminhada, mas mais im-portante é saber se mais do queuma lei, teremos efectividade damesma ou é apenas mais um“check”. ●

O autor escreve segundoa antiga ortografia.

O pânico registadona implementaçãodo Regulamentode Protecçãode Dados trouxeà memóriaa loucurado bug do ano 2000

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14 | O Jornal Económico, 8 junho 2018

MUNDO

Pedro Sánchez lideraum governo sitiadonum campo de minas

A crise na Catalunha, a gestão deum Orçamento de Estado que nãoé o seu; o apoio de um partido (oCiudadanos) que quer ir para elei-ções antecipadas; e de outro (o Po-demos) que considera ser uma es-pécie de traição no seu próprioterreno político; o antigo partidodo poder (o PP) que assegura ir teruma oposição agressiva; e final-mente, nas ruas, a multiplicaçãode manifestações que apelam àmarcação de eleições.

É este o cenário político imedia-to que espera o Partido SocialistaOperário Espanhol (PSOE), men-tor, autor e gestor da moção decensura construtiva (com uma al-ternativa imediata se o governofor derrubado, figura institucionalque não existe em quase lado ne-nhum) que derrubou o governoanterior, liderado por MarianoRajoy – que entretanto decidiudeixar a vida política ativa.

Pedro Sánchez, secretário-geraldo PSOE e novo chefe do governoespanhol, terá por isso que encon-trar equilíbrios constantes paramanter o seu executivo num nívelmínimo de governabilidade. Mas,antes de enveredar por esse cami-nho, que se adivinha sinuoso echeio de armadilhas (esperadas einesperadas), Pedro Sánchez teveque se preocupar com a sua pró-pria casa.

A frente caseiraNesse particular, as coisas pareceterem-lhe corrido bem: conseguiuformar um governo que é umamescla entre os históricos do so-cialismo – onde avulta a figura deJosep Borrell, ex-ministro, ex--presidente do Parlamento Euro-peu, o que pode ser uma ajudapreciosa na frente externa e ‘lastbut not least’, catalão – e as mais

jovens promessas Nadia Calviño(que aceitou deixar a ComissãoEuropeia, onde era diretora) e Isa-bel Celaá (há muito ligada à áreada Educação e que por acaso é bas-ca), entre outras.

Para mais é um executivo total-mente desequilibrado em termosde género, mas ao contrário: qua-tro homens (incluindo o próprioSánchez) para 10 mulheres, o quedá sempre um ar moderno e con-vida à suspensão do abespinha-mento, por muito que isso possairritar os defensores da igualdade.

Agora, segue-se o mais difícil: ocampo minado que Pedro Sánchez

tem à sua frente, a começar pelaquestão catalã. Nessa frente, nadade novo ou de substancialmentepode esperar-se, como afirma aoJornal Económico o politólogoAntónio Costa Pinto: “a Consti-tuição de Sánchez e a mesma queera a de Rajoy”, pelo que o PSOE(cujas posições em relação à inde-pendência da Catalunha não fo-ram sempre as mesmas) poucopode fazer.

E não fará: vai manter as contaspúblicas catalãs sob a alçada do seuexecutivo – o que quer dizer que oartigo 155 se manterá no ativo,mas mais ‘desapertado’ – e, apesardo apoio dos independentistas àmoção de censura, não negociouqualquer tipo de acordo, assegu-rou Pedro Sánchez.

Quanto ao País Basco – regiãoque tem no PSOE (‘autor’ dosGAL, Grupos Antiterroristas deLibertação, criado para matar ele-mentos ativos da ETA Militar) uminimigo de estimação – “é umaquestão de orçamento”, sublinhaCosta Pinto, para afirmar que essaé a parte mais fácil.

Quanto ao apoio da direita e daesquerda, uma quadratura difícil,Sánchez só tem, na ótica de CostaPinto, uma saída: se as coisas cor-rerem mal e o país avançar paraeleições antecipadas, o chefe doexecutivo terá de provar ao eleito-rado que a culpa está num dos lado(ou dos dois, se for caso disso) –no que constitui o único travão aque a situação política evolua ra-pidamente para esse desfecho.

Para já, Pedro Sánchez escuda--se no que é, apesar de tudo, omais fácil: na frente económica.Como recorda António CostaPinto, as semelhanças das opçõeseconómicas do PSOE são bemmais numerosas que as diferençasquando comparadas com a agendado PP, o que pode servir para umatransição sem sobressaltos demaior, se, diz ainda, o discurso en-

volvente tiver mais atenção, comopossivelmente terá, às questõessociais e de igualdade de oportuni-dades.

A frente externaAté porque, nessa frente, as coisasestão a correr razoavelmentebem: a economia cresceu 2,9% noprimeiro trimestre; a criação lí-quida de emprego está a bom ní-vel (apesar de a taxa de desempre-go ser ainda o dobro da portugue-sa); a dívida voltou a descer dabarreira psicológica dos 100% doPIB; e só o défice dá mostras deser de alguma teimosia. Por outrolado, a banca (que contou comuma ajuda da ‘troika’ exclusivapara o sistema) já recuperou dospiores dias da crise e as exporta-ções (apesar de crescerem abaixodo seu concorrente ibérico) estãoa reaquecer.

Ora, este cenário é tudo o que aComissão Europeia e Mário Cen-teno, presidente do Eurogrupo,não querem ver estragado. Numaaltura em que o Brexit está ‘pordias’, a fronteira leste da UniãoEuropeia está a encher-se de euro-céticos e ninguém sabe como aca-bará, se bem se mal, a aventuraitaliana, a União Europeia nãoprecisa de outra dor de cabeça –como com certeza teria se o paísmarcasse eleições antecipadas, oque previsivelmente faria com quefacilmente se repetisse a enormedificuldade de formação de umgoverno estável (como aconteceudurante a maior parte do ano demá memória de 2016).

Ou, dito de outra forma, Co-missão Europeia, Eurogrupo eBCE tudo farão para transferirgovernabilidade ao governo dePedro Sánchez. Resta saber-se seas forças internas estão alinhadascom isso, ou se as idiossincrasiasque as colocam em posições deantagonismo acabarão por serpreponderantes. ●

A governabilidade está longe de estar assegurada, depois da moção de censura construtiva. Mas,com as dificuldades no quadro europeu, a Comissão e o Eurogrupo não querem mais dores de cabeça.

ANTÓNIO FREITAS DE [email protected]

Um cenário deeleições antecipadassó não é mau paraSánchez, se o líderdo PSOE conseguirconvencer os eleitoresque a culpa é doCiudadanos ou doPodemos. Ou dos dois

ESPANHA

Formargoverno“é umdesafiomuitoarriscado”O PSOE tem, entre outrascoisas, de invertera tendência de declínioeleitoral. Para isso,é melhor estar nogoverno que na oposição.

ENTREVISTA ANTÓNIO COSTA PINTOPolitólogo e investigador

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Um governo que começou deuma forma truculenta, comuma posição parlamentarmuito débil. Que futuro tem asua frente o primeiro-ministroPedro Sánchez?Num certo sentido, é relativa-mente simples: esta moção decensura foi uma estrutura deoportunidade para o PSOE, natentativa de inverter uma situa-ção bastante difícil, de algummodo comparável à do PartidoPopular (PP), isto é, desafiado poroutros partidos. O PSOE enfrentao desafio clássico dos partidos so-cialistas europeus, ainda na oposi-ção – logo veremos se é uma es-trutura construtiva, um sistemaque poucos países têm (Alema-nha, Bélgica e pouco mais). Foiuma oportunidade de chegar aopoder e apostar em compromis-sos que atravessam a sociedadeespanhola e que remetem para oconflito na Catalunha e para umanova negociação com os poderesperiféricos. É este fundamental-mente o desafio do PSOE. Estar

no poder, e caso os seus parceirosde moção de censura lhe tornem avida difícil, é poder responsabili-zá-los por eventuais eleições an-tecipadas e pela crise que isso pro-vocará.

Um enorme risco.É um desafio muito arriscado,mas a estrutura de oportunidadefoi boa e portanto o PSOE apro-veitou-a. O pretexto era formal-mente imbatível: o PP acusado decorrupção, negando qualquer res-ponsabilidade.

O PSOE coloca-se nas mãosda esquerda com o Podemose da direita com o Ciudadanos.É uma equação sem solução?Sim, dos novos partidos que desa-fiam a lógica do poder em Espa-nha. O Ciudadanos obviamentepreferia eleições antecipadas, paracavalgar a derrota do PP, mas so-bretudo Sánchez está nas mãos dospoderes periféricos: do nacionalis-mo basco e dos independentistasda Catalunha. Perante uma reação

inicial do PP bastante dura: nin-guém sabe, por exemplo, o que sevai passar com o Orçamento doEstado, que eles próprios progra-maram – e é preciso não esquecerque a negociação com o País Bascopassa normalmente pelo Orça-mento.

Relativamente à questãoda Catalunha, fica-se coma ideia que o PSOE se preparapara não mexer muitonaquilo que o PP fez.Desde logo há a questão constitu-cional. O PSOE não tem a revisãoda Constituição ao seu alcance,sem uma negociação profundacom os restantes partidos. A ques-tão é saber-se se o PSOE tenta pelomenos uma negociação no sentidoda pacificação das relações com aCatalunha – independentementeda questão do artigo 155. Esse seráo desafio mais difícil, na minhaopinião. Não é de crer que haja umsucesso imediato nessa questão.Entre a pressão do Podemos e osnacionalistas periféricos, a vidapromete não ser fácil para este go-verno.

Antecipa a marcaçãode eleições em poucos meses?Poderá ser o caso. Mas repare: deuma forma ou de outra, o grandedesafio do PSOE – como era o doPS português – é inverter a ten-dência de declínio. Para isso, estámelhor agora do que estava naoposição. A não ser que haja umacrise financeira ou uma catástro-fe do género, não programada.Mas, retirando a dinâmica eco-nómica e social ou uma nova cri-se no centro da Europa, em prin-cípio, o PSOE só tem a ganharestando no poder.

Consegue encontrar um nomeque seja um possível sucessorde Mariano Rajoy?Não, mas neste momento issotambém não é muito importante.Por outro lado, é interessante queo novo governo tenha alguns his-tóricos do partido, por exemploJosep Borrell como ministro dosNegócios Estrangeiros, o que de-nota uma tentativa da parte do pri-meiro-ministro de se reconciliarcom as tendências internas do Par-tido Socialista espanhol.

Diria que Pedro Sánchez estáa apostar mais numa linhasocialista que social-democratapró-conservadora?Sob o ponto de vista económico esocial, não é de crer. No âmbitodo discurso, na área dos valores,será mais natural – veja a formacomo jurou [perante o rei FilipeVI], um juramento laico numafórmula que nunca tinha sido uti-lizada até agora. Desse ponto devista, não tem grande diferençaem relação ao Partido Socialistaportuguês. ●

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16 | O Jornal Económico, 8 junho 2018

EMPRESAS

“Portela deve alargarfuncionamento à noite”

Jorge Rebelo de Almeida, presi-dente do Grupo Vila Galé vai pas-sar a gerir 34 unidades hoteleiras,em Portugal e no Brasil, no final de2019, independentemente do re-sultado que surgir do concursopara a concessão por 30 anos deuma unidade hoteleira da Coude-laria de Alter do Chão, a que o em-presário garante ir concorrer.Numa entrevista exclusiva ao Jor-nal Económico, na véspera deinaugurar mais um hotel, em Bra-ga, o empresário revela ainda queo grupo vai passar a barreira dosoito mil quartos após a conclusãodesta fase de expansão, com um in-vestimento superior a 80 milhõesde euros. Mas o empresário alertapara os perigos do setor. Diversifi-cação de destinos e experiências,combate à desertificação dos cen-tros das cidades, aposta no interiore uma solução noturna para ultra-passar os constrangimentos atuaisdo aeroporto Humberto Delgadosão as receitas de Jorge Rebelo deAlmeida para que o turismo conti-nue a crescer em Portugal e com-bata a concorrência acrescida deoutros mercados internacionais.

Como está a decorrera atividade do GrupoVila Galé em 2019?Temos hoje uma previsão de cresci-mento do volume de negócios paraeste ano, embora se registe algumabrandamento em algumas áreas denegócio, como, por exemplo o Al-garve [ver texto ao lado]. A nossaconta de exploração de abril está 4%a 5% superior à do período homólo-go do ano passado. Esperamos en-cerrar este ano com um crescimen-to do volume de 4% a 5%, em linhacom o que aconteceu nos primeirosmeses deste ano, em relação aos cer-ca de 170 milhões de volume de ne-gócios do Vila Galé em 2017. O re-sultado operacional, que em 2017foi de cerca de 40 milhões de euros,deverá crescer numa proporçãomuito parecida com a evolução dovolume de negócios. A nossarev/par também aumentou em re-lação ao período homólogo.

Apesar do crescimentodo turismo nos últimos anos,estes números preocupam-no?Em termos de números, preocu-po-me muito com vários indica-dores, se estão a baixar ou a cres-cer. Para mim, gerir é adivinhar astendências. Mantenho a perspeti-va muito ativa e atenta, dou a voltapelos hotéis e procuro falar muitocom os clientes. O grande segredoda indústria hoteleira é não pensarque está tudo bem feito e tentarperceber o que é que pode agradarainda mais aos clientes. Temos aobrigação de tentar perceber per-manentemente o que é que osclientes querem. Quem não enten-der isto, está perdido. Parece umcontrasenso, mas o futuro da hote-laria passa por dar ao cliente cadavez mais por preços menores. Oprimeiro hotel do Grupo VilaGalé, na Praia da Galé, no Algarve,foi inaugurado há 30 anos. Na al-tura, os nossos clientes estavammuito satisfeitos, mas essa ofertahoje não convencia ninguém.

Parece estar apreensivo...Isto é para dizer que se perdermoso Norte e não percebermos o que éque o cliente quer, podemos per-der acréscimo do turismo. Há maismarés do que marinheiros. Este éum momento bom para o sector,para a economia e para o País, mastemos que continuar a apostar. Porisso, acho uma estupidez dizer quehá turistas a mais. Temos é de criarnovas centralidades dentro da ci-dade de Lisboa, para além dos Je-rónimos e de Belém. Continua ahaver muita procura com muitointeresse por Portugal. A ofertanão está esgotada, mas pode esgo-tar. Já estamos a diversificar, mas épreciso enviar mais gente, mais tu-ristas para o interior.

Como?Há que saber rentabilizar e distri-buir melhor o número de turistas.E também é preciso encher oscentros de cidade com gente local,senão perdem a sua graça. Este éum alerta que temos que deixar.Defendo que temos de ser maispela proatividade e menos pelaproibição. Os centros das cidadesprecisam de gente jovem, de ge-

rente velha, que se chamem em-presas, ateliers de arte. Se chegas aAlfama e vês só hotéis, hostels, res-taurantes, bares e alojamento lo-cal, aquilo perde a graça. E depoistemos de melhorar as condiçõesde acesso dos automóveis aos mo-numentos. Dou como exemplo oacesso ao Palácio da Pena e aoCastelo dos Mouros, em que seproibiu o acesso dos carros e sedisponibilizou um transporte co-letivo para os turistas poderem vi-sitar estes momentos.

No caso de Lisboa,o que é que se tem de fazer?Lisboa tem de criar mais atrativi-dades, mais dispersas. Porque éque a feira Popular nunca mais saido papel? Temos de avançar com oMuseus dos Descobrimentos, te-mos de dispersar a oferta. Uma ou-tra coisa que eu defendo para Lis-boa é a criação do Museu da Lín-gua Portuguesa. Seria mais um es-forço para criar mais atrativos. Apartir do momento em que nosconsideramos que somos o melhordestino começamos a cair. Temosde ir melhorando as coisas a todo omomento porque a competição tu-rística internacional é enorme.Basta ver a Turquia, que em espa-ço de 15 a 20 anos chegou a 27 mi-

lhões de turistas e agora estão avoltar a fazer um forte ataque paravoltar ao mercado através do peçobaixo. As consequências para o Al-garve só não foram piores porqueo turismo a nível mundial tambémcresceu. Temos de garantir quenão começamos a perder a pedala-da e temos de mostrar os nossosprodutos, que são portugueses.

A falta de um aeroportoalternativo à Portelanão nos está a fazer perderessa pedalada?Entendo que é fundamental e ur-gente retirar os clientes do aero-porto de Lisboa, que está pratica-mente esgotado. Esta situação nãopermite grande crescimento do tu-rismo em Lisboa e em Portugal.Essa é a nossa grande reivindica-ção, da indústria hoteleira, dosagentes turísticos, dos empresáriosda restauração. E o pior é que a so-lução ainda não está encontrada.Penso que até estar operacionalum novo aeroporto complementarà Portela, a única solução para estaprocura de turistas é alargar o ho-rário de funcionamento do actualaeroporto no período nocturno.Entre a uma e as duas, ou entre auma e as três horas da madrugada,o aeroporto deveria estar opera-cional para acomodar esta crescen-te procura. Mas isso é uma questãoque está dependente do Governo,da concessionária [Vinci, proprie-tária da ANA – Aeroportos dePortugal], mas principalmente daspressões europeias por causa doruído, do ambiente.

Falou na necessidade demostrar produtos portugueses.Tem sido essa a estratégiado Vila Galé...Por isso é que recentemente inves-timos cerca de 25 milhões de eurosneste hotel em Sintra. Este é umhotel em Sintra, com Sintra e paraSintra. Sintra tem uma imagemforte a nível mundial, mas tempouca oferta hoteleira. E este é umproduto novo, dirigido para obem-estar, a saúde. Está a corrermuito bem nestas poucas semanasde atividade. Não estou nada preo-cupado e muito menos com o ho-tel que vamos inaugurar em Braga.

Jorge Rebelo de Almeida, líder do segundo maior grupo hoteleiro nacional, continua em fasede expansão. Este fim de semana é inaugurado mais um hotel em Braga. Mais quatro estão na calha.

NUNO MIGUEL [email protected]

ENTREVISTA JORGE REBELO DE ALMEIDA Presidente do Grupo Vila Galé

Vamos concorrer àCoudelaria de Alter doChão. O investimentoprevisto é entre sete eoito milhões de euros.Mas precisamosque o Estadodê uma dinamizaçãoà Coudelaria

Braga é uma cidade com uma ani-mação imensa, com uma vida tre-menda, com muita gente, uma ci-dade com um dinamismo muitogrande, com uma classe empresa-rial muito dinâmica, em que asempresas do sector da construçãocivil já estão a recuperar da crise ecom uma universidade muito en-volvida na cidade.

E há também a aposta do grupono interior: Beja, Évorae os futuros hotéis de Elvase Manteigas. Para quando estãoprevistas essas inaugurações?É uma aposta que vamos manter.Para 2019, prevemos a inaugura-ção de mais dois hotéis, em Elvas,para julho, e em Manteigas, lá maispara o fim do próximo ano.

No ano passado organizou a idade um comboio de Lisboa atéhotel Vila Galé em Beja. Quaisforam os desenvolvimentosdessa iniciativa

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O presidente do Grupo Vila Galé re-conhece que nos primeiros mesesdeste ano o destino turístico do Al-garve tem registado uma quebra emvirtude da concorrência agressiva deoutros mercados concorrentes dabacia do Mediterrâneo, desde Mar-rocos à Turquia, passando pela Tu-nísia e pelo Egipto. “No Algarvehouve uma quebra de turistas, por-que uma das principais dificuldadesfoi que passou nos últimos meses ahaver um aumento de procura pelospaíses da bacia sul do Mediterrâneo,como Marrocos, Tunísia, Egipto eTurquia”, admite Jorge Rebelo deAlmeida.Para o empresário hoteleiro, “nestesúltimos meses, esses países entrarama matar, com promoções imbatíveisde preço no mercado, e o Algarveressentiu-se”. E qual foi o impactodesta ofensiva no Grupo Vila Galé?“Nós não sentimos tanto, mas quemestá só no Algarve, nota mais”, ga-rante. “Em contrapartida, pelo me-nos no nosso caso, Lisboa cresceu,Cascais cresceu. No mercado brasi-leiro, está a haver alguma recupera-ção, apesar destes últimos problemascom a paralisação dos camionistas,que me deixou duas ou três noitesquase sem dormir”, admite o presi-dente do Grupo Vila Galé, acrescen-tando que “o setor do turismo é mui-to sensível às oscilações dos preçosdos combustíveis”.

Quanto ao impacto do ‘Brexit’ noturismo do Algarve, sempre muitoinfluenciado pelos britânicos, JorgeRebelo de Almeida reconhece umefeito “imediato, com a desvaloriza-ção da libra”. “O inglês de classe mé-dia, como precisa de mais libras paracomprar os mesmos euros, sai-lhemais cara a festa e deixa de sair tanto.Mas, penso que a longo prazo háuma relação turística muito dura-doura dos ingleses com o Algarve.Afinal foram eles que criaram o Al-garve”, sublinha o dono do GrupoVila Galé. “Não acredito que o Algar-ve sofra a longo prazo com o ‘Brexit’.Nós, portugueses, temos mais afini-dades com os ingleses do que, porexemplo, com os alemães”, defendeJorge Rebelo de Almeida, que, noentanto, considera que “o mercadoturístico alemão tem ainda muitopotencial de desenvolvimento emPortugal”. ● NMS

O Algarve, aconcorrênciae o ‘Brexit’

O líder do Vila Galé dizque o grupo sentiu menosa quebra de turistas noAlgarve, provocada pelascampanhas agressivasde países mediterrânicos.

TURISMO

para dinamizar o turismono interior?A minha iniciativa do ano passadode levar um comboio ao hotel VilaGalé Beja Clube de Campo nãoteve repercussão até ao momento.A minha intenção foi dizer ao Go-verno que não devia acabar com aslinhas de caminho-de-ferro. Foimostrar uma coisa divertida paraver coisas diferentes no interior.Fiquei à espera que aparecesseminvestidores privados, agências deviagens, que dinamizassem esteserviço. Como empresário, essanão é a minha área de atividade.Continuamos à espera.

Com estas novas unidades,quantos hotéis passao Grupo Vila Galé a gerir?Neste momento, temos 30 hotéis,já contabilizando o hotel de Braga,que vamos inaugurar no próximofim-de-semana [9 de junho] e va-mos passar a ter 34 em 2019, comas aberturas previstas de Touros,

no Brasil, e dos hotéis de Elvas e deManteigas. O grupo vai chegar aofinal do ano com 34. Além do pro-jeto imobiliário VG Sun, no Brasil,vamos inaugurar a 1 de Setembrodeste ano uma nova unidade emTouros, no Rio Grande do Norte.E há ainda o novo hotel que vamoster no Douro, o Vila Galé DouroVineyards, com produção de vi-nho do Douro e enoturismo.

Quais são os pormenoresdesse novo projeto?Será localizado numa quinta quecomprámos, a Quinta da Amen-doeira, na estrada da Régua, juntoao Douro, a seguir à Folgosa, naestrada para o Pinhão. Estamosneste momento a tratar da vinha.As obras vão começar ainda esteano e a inauguração está previstapara o verão do próximo ano. Pre-tendemos fazer um agro-turismocom uma capacidade para 49 ca-mas, mas no primeiro ano só deve-mos ter concluídos oito ou nove

quartos. Vamos rentabilizar a áreaagrícola e fazer produção de vinhona Quinta da Amendoeira. Esta éuma parceria com um amigo meu,o António Parente, que tem umaprodutora de televisão, a SP. Ain-da não lhe consigo dizer o valor fi-nal do investimento neste hotel.

Com as inaugurações previstaspara este ano e para 2019, qualserá dimensão do Grupo VilaGalé em número de quartos?Com estas inaugurações, o GrupoVila Galé deve ultrapassar a bar-reira dos oito mil quartos, em Por-tugal e no Brasil. Isto se não meocorrer mais nenhuma maluquei-ra… [risos].

Qual foi a sua última?Vamos concorrer à Coudelaria deAlter do Chão. Vamos entregaruma proposta até julho, que équando termina o prazo do con-curso lançado pelo Governo. Te-nho de ir a este concurso porque eu

sempre defendi o turismo equestre.Mas tenho de dizer que é precisoque o Estado, o Governo, a própriaCoudelaria de Alter do Chão, dêemuma dinamização, com investi-mento e atração de visitantes, acti-vidades. É necessário mais públicopara dinamizar a Coudelaria.

Qual o investimento previstona Coudelaria e nas unidadesmais recentes?O investimento que prevejo paraCoudelaria de Alter do Chão é naordem dos sete a oito milhões deeuros.Este Vila Galé de Sintra represen-tou um investimento de 25 milhõesde euros. O próximo, o de Touros,é equivalente a um investimento decerca de 30 milhões de euros. Opróximo, o hotel de Braga, foramoito milhões de euros. O de Elvasdeverá representar um investimen-to entre seis e sete milhões de eurose o de Manteigas entre sete e oitomilhões de euros. ●

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EMPRESAS

Mota-Engil vai ter novosparceiros chinesesna EGF e SUMA

Os chineses continuam a conside-rar o setor nacional de recolha etratamento de resíduos como umadas áreas estratégicas de atuação anível empresarial. Mesmo depoisde o grupo estatal chinês FirionInvestments ter vendido a sua po-sição minoritária na estruturaacionista da SUMA e da EGF –Empresa Geral de Fomento, talnão significou uma desistência dosempresários chineses neste setorem Portugal. Pelo contrário, a po-sição da Firion na SUMA e na EGFfoi vendida a um outro grupo chi-nês, o China Tianying Inc., umgrupo privado, sabe o Jornal Eco-nómico. Desta forma, a Mota-En-gil, acionista maioritária da SUMAe da EGF continuará a ter um gru-po chinês como parceiro e sóciopara a área dos resíduos.

Vamos por partes. Em 12 de ou-tubro de 2016 foi notificada à Au-toridade da Concorrência (AdC)uma operação de concentraçãoque consistia na aquisição pela Fi-rion Investments SLU do controloexclusivo sobre a Urbaser. A Ur-baser, era a holding da ACS, grupoliderado por Florentino Pérez,presidente do Real Madrid, para aárea de negócios dos resíduos. Aoperação teve efeito em todos osmercados em que a Urbaser opera,incluindo em Portugal, onde a em-presa espanhola detinha há váriosanos uma posição de 38,5% do ca-pital social da SUMA, empresaconstituída em 1995 para a gestãoe recolha urbana de resíduos.

Em resultado dessa parceria es-tratégica, a Urbaser passou tam-bém a deter uma posição minori-tária equivalente na EGF – Empre-sa Geral de Fomento, quando estafoi privatizada pelo Governo dePedro Passos Coelho. A Mota-En-gil e a Urbaser decidiram concor-rer a este concurso público inter-nacional por intermédio da SUMA

e quando, no final de 2014, o Go-verno de então anunciou a vitóriadesta empresa no processo de pri-vatização, a Urbaser passou tam-bém a deter 38,5% desta empresa.

Com a venda da Urbaser embloco, o grupo chinês Firion In-vestments passou a ter tambémacesso ao mercado português derecolha e tratamento de resíduos,até porque a AdC acabou poraprovar essa operação de aquisi-ção, a 16 de novembro de 2016.

De lá para cá, pouco se soube dainfluência dos chineses na gestãoda SUMA ou da EGF. Contactada,fonte oficial da Mota-Engil escu-sou-se a comentar este assunto.No entanto, o Jornal Económicosabe que nestes menos de doisanos não houve qualquer alteraçãonos órgãos sociais das duas empre-sas imposta pela Firion.

A Firion – é uma sociedade dedireito espanhol, controlada pelaChina Energy Conservation andEnvironmental Protection Group(CECEP), empresa pública direta-mente financiada pelo GovernoCentral Chinês, especializada nasáreas da energia, redução dasemissões e na proteção ambiental,que se dedica à promoção da pou-pança energética, de tecnologiasecológicas e da modernização in-dustrial.

De repente, a 18 de maio passa-do, a AdC é notificada de uma ou-tra operação de concentração en-volvendo a Urbaser. Desta feita, aFirion está vendedora e o grupocomprador é a China Tianying.Inc, de acionistas privados, mas oobjetivo é o mesmo: o controlo ex-clusivo sobre a Urbaser, a parceirada Mota-Engil para os resíduos.

“A China Tianying é uma em-presa sediada na China, sem pre-sença em Portugal, cuja atividadeincide principalmente na incinera-ção de resíduos sólidos urbanoscom vista à geração de energia elé-trica, sendo controlada em exclusi-vo por um particular”, apurou ojornal Económico junto de fonteoficial da AdC. Se não houverqualquer interrupção por pedidosde esclarecimentos de diversaspartes eventualmente interessadasno processo, a AdC tem um prazode 30 dias úteis a partir do passadodia 18 de maio para emitir um pa-recer sobre este negócio, emboranão se vislumbrem polémicas demaior, uma vez que a ChinaTianying não tem qualquer ativi-dade no setor nacional de resíduos.

Os valores desta operação nãosão conhecidos, mas há cerca dedois anos, quando a Urbaser foivendida à Firion Investments, ojornal espanhol especializado emassuntos económicos ‘Cinco Días’avançava que a venda devia renderum encaixe de 1.399 milhões deeuros a Florentino Pérez. Nessa al-tura, a Urbaser reclamava a pre-sença em quatro continentes, ser-

vindo 50 milhões de pessoas e em-pregando 28 mil funcionários. Em2014, a Urbaser tinha conseguidouma facturação consolidada de1.652 milhões de euros.

Esta presença global da Urbaserserá um dos principais atrativospara o interesse consecutivo dosgrupos chineses. Mas a presençano mercado nacional também nãoé de menosprezar. A Mota-Engilreclama a liderança do setor delimpeza urbana e recolha de resí-duos para a SUMA. No ano da pri-vatização, a EGF estava a proces-sar 3,2 milhões de toneladas de re-síduos, o equivalente a 65% daprodução nacional de resíduos,servindo uma população de cercade 6,4 milhões de habitantes emPortugal e faturando cerca de 150milhões de euros por ano. Curio-samente, foi esse o preço – 149,9milhões de euros, mais precisa-mente – que a SUMA pagou ao Es-tado português para garantir a vi-tória no processo de privatizaçãoda EGF.

Além disso, com a SUMA e coma EGF, a Mota-Engil - e o seu maisque provável novo sócio chinêsChina Tianying - marcam presen-ça em outros mercados, comoAngola, Moçambique, CaboVerde, México, Brasil, Omã eCosta do Marfim.

De salientar que um dos sóciosda China Tyaning é o MinshengRoyal Fund Management, umfundo de gestão de ativos resultan-te de uma parceria entre o ChinaMinsheng Banking Corp. (quechegou a estar interessado na com-pra do Novo Banco), o Royal BankofCanada e a China Three Gorges,que está a lançar uma OPA paracontrolar a EDP a 100%. A produ-ção de energia é um dos pontosfortes da EGF, tendo gerado umtotal de 540 GWh no ano passado.

Em novembro do ano passado, aChina Tianying comprou a opera-ção de seguros em Portugal dogrupo francês Groupama por umvalor que não foi revelado. ●

O grupo estatal chinês Firion Investments decidiu vender a sua posição minoritária de 38,5% nestasempresas a um outro grupo chinês, mas do setor privado, o China Tyaning. Concorrência deve aprovar.

NUNO MIGUEL [email protected]

A SUMA e a EGFreclamam a liderançaem Portugalna limpeza urbana,recolha e tratamentode resíduose marcam presençanos mercados deAngola, Moçambique,Cabo Verde, México,Brasil, Omãe Costa do Marfim

RESÍDUOS

O presidente do conselho de admi-nistração da TAP Air Portugal con-sidera que a relação de Portugal – eespecificamente da transportadoraaérea – com a China é fundamentalpara que Lisboa se transforme numhub global, beneficiando da posiçãoestratégica central, entre Ásia e Eu-ropa, de um lado, e o continenteamericano, do outro. “A relação como Oriente era fundamental e já criá-mos essa relação, não só através dovoo direto no qual participamos emcode share, mas também com a par-ticipação do grupo HNA na estrutu-ra acionista da TAP, através do con-sórcio Atlantic Gateway”, diz MiguelFrasquilho, em entrevista ao JornalEconómico.

A TAP tem um voo direto entreLisboa e Pequim, que tem quase umano – foi iniciada em julho do anopassado –, é operado pela Beijing Ca-pital Airlines, subsidiária do grupoHNA. “É a primeira porta aberta douniverso TAP para o Oriente. E éuma operação que tem estado a cor-rer bem com três voos semanais no

Frasquilho dcom a ChinaAo JE, o presidente da TAP, Mser um hub global. E reclama

RICARDO SANTOS FERREIRAE ANTÓNIO [email protected]

AVIAÇÃO

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O Jornal Económico, 8 junho 2018 | 19

inverno e quatro voos semanais noverão, com uma ocupação da aero-nave que nos parece muito razoável”,afirma Frasquilho. “É uma operaçãointeressante, porque permite conec-tar os passageiros chineses em geo-grafias onde a TAP é muito forte,como, por exemplo, o Brasil. Sabeque a forma mais rápida em termosde tempo de chegar de Pequim a SãoPaulo mudando de avião é via Lis-boa? Da mesma forma, do Brasilpara se atingir Pequim, a forma maisrápida é parando em Lisboa”, aponta.

Considera, também, que esta liga-ção terá uma quota-parte da respon-sabilidade na evolução dos númerosrelativos à relação de Portugal com aRepública Popular da China. O nú-mero de visitantes chineses em Por-tugal subiu mais de 40% no ano pas-sado, face a 2016, ultrapassando pelaprimeira vez os 250 mil; as receitassubiram 80%; pela primeira vez, asexportações portuguesas para a Chi-na ultrapassaram 1.000 milhões deeuros. “Penso que não se pode disso-ciar esta evolução muito favoráveldo facto de ter começado a operar ovoo direto entre Pequim e Lisboa”,diz o presidente da TAP. “E pensoque os dados de 2018 serão bastantemais positivos ainda”, acrescenta.

Operação de cargacomeça este anoE podemos esperar uma ligação diá-ria entre Lisboa e Pequim? “Cami-nhamos nessa direção, mas é eviden-te que será o mercado a mandarcomo é que a rota evoluirá”, diz ogestor. Para já, o que va acontecer éum aprofundar operação. “Vamosiniciar a primeira operação total-mente dedicada à carga com um voocom uma aeronave do grupo HNA –um Boeing 747 Cargo. É uma opera-ção que se iniciará ainda este ano.Mais uma vez, agora através da car-ga, a possibilidade de ligar o Ociden-te ao Oriente”, revela. A partir deLisboa, “pode fazer-se a distribuição

de muita carga para os destinos que aTAP serve”, acrescenta.

O reforço da operação é feito atra-vés do aprofundamento da parceriacom o grupo HNA. “O grupo HNAatravés das suas muitas companhiasé um dos maiores grupos também daaviação, na China”, diz Miguel Fras-quilho.

Miguel Frasquilho considera, ain-da, que a relação entre Portugal e aChina vai aprofundar-se. “Penso queestamos num dealbar de um apro-fundamento grande a todos os níveisentre Portugal e a República Popularda China”, diz. “Até porque a formarecíproca como esta relação é vista, émuito positiva”, acrescenta.

Além disso, Portugal funcionacomo ponto centralnarelação com ospaíses de língua oficial portuguesa,nomeadamente no continente africa-no. “Há também uma relação muitoforte [da China] com Angola, comMoçambique. Mesmo em países comuma dimensão mais pequena, como aGuiné Bissaue Cabo Verde e háagorauma relação que se está a iniciar comSão Tomé. Penso que aRepúblicaPo-pular da China não só tem interessenisso como percebeu o papel de Por-tugalpode serfundamentalnesta liga-ção”, dizMiguel Frasquilho. ●

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diz que relaçãoa é fundamental para a TAPMiguel Frasquilho, diz que a relação com o Oriente é fundamental para Lisboauma fatia do crescimento dos números da relação com a China.

MIGUEL FRASQUILHOChairman da TAP

A inspiraçãode Sánchez

Em Espanha, desde 2016 quese especulava sobre a possibi-lidade de o PSOE poder lide-rar uma solução governamen-tal análoga à conseguida emPortugal pelo PS. É facto quenos últimos quatro anos Pe-dro Sánchez rumou ao nossopaís para várias visitas oficiais,tendo também realizado reu-niões de trabalho com o seuhoje duplo homólogo Antó-nio Costa, com quem tem as-sinado acordos de cooperaçãobilateral e com quem criouuma promissora relação decumplicidade que lhe terá per-mitido, segundo ele próprio,tirar lições.

Os dois líderes socialistastêm em comum assumirem achefia do Governo sem teremsido eleitos pela vontade de-mocrática dos respetivos po-vos. Aliás, Pedro Sánchez in-tegrou no seu último orça-mento alternativo soluçõescomuns ao OE português emmatéria fiscal e laboral.

Mas as diferenças parecemvencer.

Os partidos de esquerda quesuportam o Governo portu-guês: PCP e BE são contra aparticipação de Portugal naNATO e defendem a saída doEURO, mas acabam semprepor viabilizar as propostas doExecutivo. Ora em Espanha,Sánchez vai ter que enfrentarproblemas muito mais com-plexos que reportam à própriaidentidade do país. E por issoSánchez terá um problemaque Costa não teve: comoconseguir governar com par-tidos que nem sequer têm omesmo conceito em relaçãoao país? E também como con-seguir governar, nas circuns-tâncias em que o irá fazer,num sistema bicameral: o Se-nado e o Congresso dos De-putados? Sistema que na prá-tica significa que todas as leisaprovadas pelo Congresso dosDeputados têm que ser ratifi-

PEDRO BORGES DE LEMOSAdvogado

cadas pelo Senado, o que difi-culta consensos. Para além dacorrupção que foi o leitmotivda queda de Mariano Rajoy, oPP estava com um projeto quese esgotou numa castigadorasubida de impostos, desigual-dade e confrontação territo-rial. Mas o grande desafio deSánchez, para além de rever-ter estes aspetos negativos,será a aposta da concertaçãopolítica no pacote das políticassociais. Aí é que ele irá confir-mar a sua destreza.

É muito mais imprevisível oque vai acontecer em Espanhado que em Portugal. Isto por-que por cá a esquerda soubeconvergir e a direita demitiu--se de fazer oposição. O maiorpartido da oposição em Portu-gal mudou de líder e guinou àesquerda, estando agora cadavez melhor colocado para sero vencedor simbólico nas elei-ções do próximo ano, não porderrotar Costa, mas por impe-dir que ele venha a governarcom maioria absoluta. Talcomo o vinho também as es-tratégias políticas devem esta-giar em barricas de carvalhopara que amadureçam e evo-luam melhor. Era este o lemaque devia ser seguido por al-guns que, na política portu-guesa, reivindicam resultadosestratosféricos para o seu pró-prio partido sem consistênciade discurso nem definição cla-ra de rota. Caberá agora a Sán-chez, o que desde já se duvida,não acusar parte fraca ao seucamarada luso e equilibrar-seaté ao fim da legislatura em2020. ●

OPINIÃO

Os dois líderessocialistas têm emcomum assumirema chefia doGoverno sem teremsido eleitospela vontadedemocrática dosrespetivos povos

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20 | O Jornal Económico, 8 junho 2018

EMPRESAS

BCE em viasde aprovar avenda do BanifBI aos chineses

A Bison Capital tinha de garantir ocumprimento de requisitos, desi-gnadamente no âmbito da preven-ção do branqueamento de capitais,para poder adquirir o banco de in-vestimento do antigo Banif à Oi-tante e passou no teste do BCE,soube o Jornal Económico junto defonte familiarizada com o assunto.

O Banco Central Europeu(BCE), quando avalia pedidos deaquisição de participações qualifi-cadas de bancos da zona euro, umdos requisitos é o rastreio à origemdos fundos, no âmbito do controloao branqueamento de capitais. OBCE precisava que o Bison Capitalapresentasse garantias do cumpri-mento de regras relativas à pre-venção do branqueamento de ca-pitais, semelhantes às que existemno mercado europeu.

O Mecanismo Único de Super-visão do BCE, que tem que autori-zar a compra de participações qua-lificadas em bancos europeus, co-locou também exigências ao níveldo governance e outros remédios àsociedade de Hong Kong. A BisonCapital apresentou esses remédiosque foram analisados pelo BCE.

O processo de venda do bancoportuguês, propriedade do veículoOitante, aos chineses da Bison Ca-pital está assim em vias de seraprovado pelo supervisor, soube oJornal Económico. E não se podedizer que tenha sido uma análiseprecipitada, pois a Oitante assinouo contrato de venda do Banif Ban-co de Investimento à Bison Capitalem agosto de 2016.

Nessa data a Oitante anunciouque selecionou a proposta apre-sentada pela Bison Capital Finan-cial Holdings (Hong Kong) Limi-ted, por ser aquela que apresenta-va as condições mais favoráveis àmaximização da venda do BanifBI, incluindo a oferta de um valorde compra superior ao valor con-tabilístico dos capitais própriosdo banco.

O banco de investimento tinhacapitais próprios acima de 20 mi-lhões de euros, depois de um au-mento de capital (de 29,4 mi-lhões) feito no âmbito da Resolu-ção do Banif – para compensar osimpactos da saída da instituiçãodo perímetro do Banif. O reforçofoi feito através da conversão dedívida e de depósitos – o BanifBanco de Investimento ficou en-tão com um capital social de 114,4milhões de euros.

A Bison Capital comprometeu--se na altura a fazer um aumentode capital de 10 milhões de eurosno prazo de um ano a contar daefetiva transmissão “das ações,prestações acessórias e obrigaçõessubordinadas”, referia o comuni-

cado na altura. Mas “a efetivatransmissão das ações, prestaçõesacessórias e obrigações subordina-das” estava dependente da obten-ção das autorizações regulatórias.

Entretanto, a Oitante já teve derepor os fundos próprios para ficaracima dos mínimos legais (17,5milhões de euros).

Com estes processos concluídos,a Oitante, sociedade gerida porMiguel Barbosa, ficará ainda emcarteira com uma participação noespanhol Banca Pueyo, que deveráser alienada até ao final deste ano,e a Banif Gestão de Ativos, socie-dade que não se encontra em pro-cesso de venda. Além destes ativos,a Oitante continua a gerir umavasta carteira de imobiliário.

Dos ativos do antigo Baniftransferidos para a Oitante foramvendidos a seguradora Açoreana,uma posição de 78% no BanifMal-ta, o BanifPensões (alienado à ges-tora de ativos Patris), a sociedadede titularização de créditosGamma (vendida ao SantanderTotta) e a plataforma de ‘servicing’(comprada pela Altamira, mas queainda espera autorizações regula-mentares). A Oitante vendeu ain-da a participação de 2% da SIBS euma participação na Rioforte (so-ciedade do ramo não financeiro doex-GES), que está insolvente. In-formação que não é, no entanto,oficial.

No início do ano foi noticiadopelo Jornal Económico que o ges-tor e empresário Rui Alpalhãocomprou a Banif Capital, socieda-de de capital de risco que fazia par-te do grupo Banif.

Contatada, fonte oficial da Oi-tante não comentou. ●

O supervisor vai aprovar a venda do Banif BI ao chineses da Bison Capitaldepois de terem passado no teste do controlo ao branqueamento de capitais.

MARIA TEIXEIRA [email protected]

AUTORIZAÇÃO DE COMPRA VAI SER CONCEDIDA

O atual Presidente do Conselho deAdministração do Banco de Investi-mento Global (BiG), com funçõesexecutivas e acionista com 11,31%vai deixar de ser CEO do banco quefundou.

Ao Jornal Económico, Carlos Ro-drigues confirmou a mudança demodelo de governo do banco demodo a criar uma Comissão Executi-va que ficará com a gestão correntedo banco. Nesse novo modelo CarlosRodrigues passará a Presidente doConselho de Administração nãoexecutivo (Chairman).

“Como atingirei a idade da refor-ma comuniquei em novembro pas-sado ao Banco de Portugal e aosmeus acionistas na Assembleia Geralo plano de sucessão”, disse CarlosRodrigues.

O ainda CEO do BiG disse que “apartir da Assembleia Geral deabril/maio de 2019 a gestão correnteserá delegada numa Comissão Exe-cutiva”. O fundador do BiG disse queas escolhas de nomes só terão lugarna AG de 2019, altura em que serãoanunciados o Presidente e os vice--Presidentes da Comissão Executiva.

O atual Conselho de Administra-ção foi reeleito por quatro anos e écomposto por 5 membros executi-vos, que controlam e gerem o BiGdirectamente numa base diária. Esteorgão é eleito para mandatos de qua-tro anos e todos os membros sãoexecutivos com experiência bancá-ria. Cada um é igualmente um acio-nista minoritário, em base indiviual.

Para além de Carlos Rodrigues, aadministração é composta por Ni-

Carlos Rodrigues vaipassar a ‘chairman’ do BiG

O presidente e fundador do BiG comunicouao regulador bancário e à AG o seu planode sucessão para a liderança do banco.

GOVERNANCE

MIGUEL BARBOSAPresidente Oitante

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O Jornal Económico, 8 junho 2018 | 21

Os sinaispreocupantesdas mudanças emItália e Espanha

O governo socialista tem be-neficiado, desde que tomouposse, de uma conjuntura in-ternacional favorável. Os pre-ços do petróleo em baixa nomercado internacional, a der-rota de tensões populistas empaíses de referência na UE e oBanco Central Europeu pros-seguindo a política de q́uan-titative easing´com a comprade generosas fatias da dívidaportuguesa, permitiram a An-tónio Costa viver dois anos emeio de relativa estabilidade,governando em condiçõesfrancamente mais favoráveisdo que o seu antecessor.

O panorama parece, porém,estar em vias de se alterar. OBCE não tardará a pôr fim aosestímulos artificiais às econo-mias que teimam em divergirda média europeia e avizi-nham-se tempos turbulentosna terceira e quarta economiasda zona euro. Desde logo emItália, onde acaba de tomarposse uma inédita coligaçãoentre os populistas do CincoEstrelas e os extremistas xe-nófobos da Liga – forças polí-ticas que têm como inquietan-te denominador comum ocombate às instituições euro-peias e à moeda única. Mas,também em Espanha, ondeacaba de cair o executivo con-servador de Mariano Rajoy,que cedeu o lugar ao socialistaPedro Sánchez, com a maioriapolítica mais frágil de semprena Câmara dos Deputados.Isto ameaça trazer mais insta-bilidade, num cenário já per-turbado pelos impulsos inde-pendentistas da Catalunha.

Não esqueçamos que Espa-nha é o nosso maior parceirocomercial e qualquer pertur-bação adicional no país vizi-

JORGE JORDÃOPresidente da Confederação

dos Serviços de Portugal

nho pode ter efeitos negativosdeste lado da fronteira.

Atendendo ao risco do re-gresso à crise das dívidas so-beranas devido à instabilidadepolitica naqueles dois países e,em particular, ao peso da dívi-da pública italiana, Portugalpoderá encontrar dificuldadesadicionais para financiar a suaeconomia, tornando-se o ser-viço da dívida num fardo cadavez mais difícil de sustentar.

Ao contrário do que fez aIrlanda, por exemplo, temossido demasiado lentos noreembolso da dívida. Desper-diçámos oportunidades deuma conjuntura altamente fa-vorável para levar a cabo deci-sivas reformas estruturais ten-dentes a atrair o investimento,designadamente a aposta con-tinuada numa maior flexibili-zação laboral e uma reduçãoplaneada do IRC.

Não cuidámos de neutrali-zar algumas das nossas maio-res vulnerabilidades, ficandomais expostos aos riscos demudanças gravosas na con-juntura, que, infelizmente, pa-recem estar agora a desenro-lar-se.

Não foi por falta de avisoque as reformas ficaram porfazer em tempo útil. Se os diasde forte turbulência regressa-rem à economia portuguesa,só poderemos queixarmo-nosde nós próprios. ●

OPINIÃO

Ao contráriodo que feza Irlanda,por exemplo,temos sidodemasiado lentosno reembolsoda dívida

Já estão identificadas as propostasde compra do Banco Caixa Geralque têm condições de passar à fasedas propostas vinculativas, a reco-mendação é feita ao Governo quetem a última palavra.

O Executivo tem de aprovar emConselho de Ministros, para cadaum dos processos, quem passa à se-gunda fase do concurso.

O grupo cooperativo espanholCajamar, com sede em Almeria naAndaluzia, é um dos candidatos apassar à segunda fase para ficar como Banco Caixa Geral.

O jornal espanhol “Vozpopuli”avançou com a notícia que o Caja-mar contratou o banco de investi-mento Nomura para o assessorar naoferta. Com este projecto, o bancorural de Almeria quer expandir-separa dois mercados onde não tempresença, a Galiza e a Extremadura,diz o periódico.

Na corrida para passar à fase deofertas vinculativas está também oAbanca. O interesse do Abanca nobanco espanhol da CGD foi confir-mado em abril por Juan Carlos Esco-tet, dono (com 87,5%) do banco comsede na Corunha e presidente nãoexecutivo da instituição que com-prou em Portugal o negócio do reta-lho do Deutsche Bank.

O Banco Caixa Geral tem 524 co-laboradores em Espanha e uma redede 110 balcões distribuídos princi-palmente em Cáceres, Badajoz, Pon-tevedra e Madrid.

Seu principal negócio é o bancode retalho, onde, segundo a im-prensa espanhola, tem 126.000clientes com cerca de 2.200 milhõesde euros em crédito. O segmento deprivate banking adiciona outros2.600 clientes com 500 milhões emdepósitos. Nas empresas, possui1.300 clientes com 500 milhões deem euros em crédito. No total, obanco tem ativos de cerca de 5.000milhões. A entidade teve lucros26,4 milhões no ano passado.

Cabe ao Governo analisar lista deconcorrentes que passarão à fase fi-nal. Isto é, a fase de aceitar propos-tas vinculativas.

O Governo aprovou no passadodia 24 de maio em Conselho deMinistros os cadernos de encargoscom as condições para a venda dosbancos da Caixa Geral de Depósi-

tos na África do Sul e em Espanha.“Depois de terem sido recolhidas

as intenções dos potenciais interes-sados em cada uma das operações, oGoverno aprova e dá a conhecer ascondições específicas a que devemobedecer as vendas diretas”, referia ocomunicado na altura. O Governoacrescentou ainda que a próxima faseé a “seleção dos interessados que pas-sam à fase seguinte dos referidosprocessos de alienação”.

Em causa está a venda do BancoCaixa Geral, em Espanha, e do Mer-cantile Bank, na África do Sul.

“Com a aprovação desta resolução,o Governo conclui mais um impor-tante passo no sentido da execuçãodo calendário dos compromissos as-sumidos no âmbito do plano estraté-gico da CGD, subjacente ao plano derecapitalização garantido pelo Esta-do”, referia ainda o comunicado.

A redução da operação da CGDfora de Portugal (nomeadamenteEspanha, França, África do Sul eBrasil) foi acordada em 2017 entre oEstado e a Comissão Europeia comocontrapartida da recapitalização dobanco público.

A CGD já disse que vai vender obanco espanhol mas mantém a su-cursal em Espanha.

Já no que se refere à alienação doBanco Caixa Geral – Brasil, PauloMacedo já disse que era uma “situa-ção mais difícil”, devido à situaçãopolítica naquele país e por ser umaoperação mais pequena.

Sobre a operação da CGD emFrança, o CEO da Caixa afirmou quea vai manter, tendo negociado issocom as autoridades.

A CGD teve lucros 68 milhõesno 1º trimestre do ano, o que com-para com prejuízos de 38,6 milhõesno mesmo período de 2017, sendoque 38 milhões de euros vieram daatividade internacional. Neste oBanco Caixa Geral (Espanha) con-tribuiu com 9,3 milhões de euros.Quanto aos contributos da restanteatividade internacional, o BNUMacau contribuiu com 15 milhões,a sucursal de França com sete mi-lhões e o BCI Moçambique tam-bém com sete milhões.

Em 2017, a CGD encerrou as su-cursais de Londres, ilhas Caimão,Macau Offshore e Zhuhai (na Chi-na). ● MTA

Cajamar na corridaà compra do BancoCaixa Geral

A CGD já tem a short-list para passar à fasedas propostas vinculativas mas espera a decisãodo Governo. O Cajamar e Abanca estão na lista.

BANCO DA CGD EM ESPANHAStil

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cholas Racich, Mário Bolota, PauloFigueiredo e Ricardo Pinho.

Neste momento, como todos osmembros do conselho de adminis-tração são membros executivos (sis-tema monista), não existe uma co-missão executiva e as posições dopresidente do conselho de adminis-tração e de CEO estão concentradosna mesma pessoa. Este órgão incluiigualmente um Vice-Presidente /COO.

Carlos Rodrigues iniciou a suacarreira bancária em Nova Iorquehá mais de 30 anos e foi um dos res-ponsáveis pelo lançamento do pri-meiro novo banco privado - BancoManufacturers Hanover, posterior-mente conhecido como Banco Che-mical - estabelecido em Portugalapós a liberalização do sector bancá-rio e a abertura do sector financeiroà iniciativa privada em 1984. O Ma-nufacturers Hanover Trust que sefundiu com o Chemical BankingCorporation, são os antecessores doactual JP Morgan Chase.

Em 1998, dois anos após a vendado Banco Chemical Portugal ao gru-po de banca de retalho de AntónioChampalimaud, em 1996, CarlosRodrigues e um conjunto de compag-nons de route com o mesmo percursobancário fundaram o BiG.● MTA

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22 | O Jornal Económico, 8 junho 2018

EMPRESAS

“A FIN serve para Portugalpassar a estar no centro”

A edição de 2018 da Feira Interna-cional de Negócios (FIN) vai de-correr entre os dias 14 e 16 de ju-nho, na Exponor, em Matosinhos.Alberto Carvalho Neto, líder pelaAssociação de Jovens EmpresáriosPortugal - China (AJEPC), res-ponsável pelo evento, em parceriacom a Federação Sino PLPE, acre-dita que este é “um projeto onde alíngua portuguesa acaba por serum fator de internacionalização”.

Ao Jornal Económico, o empre-sário e dirigente associativo expli-cou que o encontro faz parte deum projeto a 10 anos da AJEPC,com o mote “Três eventos, TrêsContinentes em Português”. Nofundo, trata-se de uma triangula-ção em três feiras: a FIN no Porto,a PLPEX (Países de Língua Portu-guesa Exportador), que se realizano mês de outubro em Macau e aedição da FIN Brasil, que decorreu

em março. Alberto Carvalho Netodescreve estes três eventos comoestando “bem balizados no tempo,para que consigamos arranjar umprograma cronológico onde osempresários das esferas da Europa,África, e América do Sul saibamexatamente onde se reunir paradiscutir projetos”.

O responsável salienta que “aideia é concentrar e promoverPortugal de acordo com a diplo-macia económica e também da suaposição geoestratégica e geopolíti-ca, para apoiar também estes paí-ses na negociação da sua relaçãocom a China”.

O programa da FIN 2018 incluivárias iniciativas e irá contar com apresença de grupos de empresáriosda União Europeia (UE) mas tam-bém da América-Latina, com re-presentantes do Brasil e México.

“Acima de tudo tentamos criarum ambiente de negócio denetwork, que tente unir um poucomais os dois lados do Atlântico, fa-zendo com que Portugal deixe de

ser um país lateral, ou bastanteafastado do centro da União Euro-peia, para passarmos a ser o centrodesta relação”, refere.

Dos 60 oradores que vão partici-par na edição deste ano da FIN, odestaque vai para as presenças deMaickel Melamed, economistaque já foi embaixador da Boa Von-tade das Nações Unidas e VicenteFox Quesada, antigo Presidente doMéxico, entre 2000 e 2006.

Uma das grandes novidades daFIN 2018 é o “One-to-One”. Estaação permite que as empresas quese inscrevam na Feira Internacio-nal de Negócios possam candida-tar-se para reunir com empresá-rios, ou oradores que normalmen-te não estão acessíveis, explicandoo porquê de quererem essa reu-nião. Caso sejam escolhidos, terãouma conversa privada durante10/20 minutos. “Acaba por serbastante bom para quem esteja àprocura de um investimento, ouqueira exportar os seus produtos”salienta Alberto Carvalho Neto. ●

RODOLFO [email protected]

FEIRA INTERNACIONAL DE NEGÓCIOS 2018

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ALBERTOCARVALHO NETOPresidente da AJEPCA Associação de JovensEmpresários Portugal Chinatem um plano a dez anos queprevê a realização de trêsgrandes eventosinternacionais: a FIN no Porto,a PLPEX em Macau e a FINBrasil. “A ideia é concentrar epromover Portugal de acordocom a diplomacia económicae também a sua posiçãogeoestratégica e geopolítica”,defendeu.

“Acima de tudotentamos criar umambiente de negócioque tente unir os doislados do Atlânticoe fazendo com quePortugal deixede ser um país lateral,para passarmosa ser o centro dessarelação”, defendeuo empresário

A AJEPC, liderada por Alberto Carvalho Neto, realiza a edição deste ano da Feira Internacional de Negócios (FIN) entre 14 e 16de junho, com participações vindas de três continentes. Vicente Fox (na foto), ex-presidente do México, é um dos presentes.

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O Jornal Económico, 8 junho 2018 | 23

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EmpresasFamiliares – algunsdesafios (II)

Na sequência do que referi-mos no nosso último artigovamos referir algumas maté-rias que, em contexto de em-presa familiar, assumem umadimensão específica:

1) Estratégia ePlaneamentoA cada momento as empresasnecessitam de planear o quevão fazer, como, com que re-cursos e com que objectivos.É verdade para todas, mas as-sume no universo que trata-mos algumas especificidades.Desde logo a de, nessa defini-ção estratégica, envolver afamília e promover o alinha-mento entre os interesses daempresa e dos seus accionis-tas, e os interesses da Famí-lia. Por outro lado, importaque a expectativa de resulta-dos seja a adequada às expec-tativas da família relativa-mente à empresa.

2) Separação depatrimóniosDurante muito tempo, e comalguma razão, a percepçãodominante foi a de que ascontas e o património da em-presa, do empresário e da fa-mília, eram uma e a mesmacoisa. Hoje já não será assim,mas é bom ter a clarividênciade ter presente os inconve-nientes de tal situação, paraque não aconteça. Esta sepa-ração é essencial para a so-brevivência da empresa e dafamília empresária, enquantotais. A par disso é essencialsalvaguardar a distinção, paraaqueles que trabalham na em-presa, entre remunerações dotrabalho e remunerações docapital – umas não compen-sam as outras.

3) ComunicaçãoSabemos que o tempo dehoje é o tempo da comunica-ção. E sabemos também quecom frequência às empresasfamiliares se cola uma certaideia de opacidade. É um de-safio importante ultrapassareste desafio que, nestas em-presas, assume algumas ca-racterísticas particulares.Por um lado, comunicandointernamente como instru-mento essencial de alinha-mento estratégico e de moti-vação dos colaboradores.Comunicando externamentecom eficácia e transparência.Comunicando com e entre aFamília como forma de pro-mover o seu alinhamentocom a estratégia da empresae, também, como instrumen-to de promoção de coesão econhecimento, tanto maisimportante quanto maismembros tiver a Família .

4) SucessãoCom frequência este é carac-terizado como o “desafio dosdesafios“. E é verdade que odesafio da sucessão assumeespecificidades únicas nasempresas familiares, bemcomo é verdade que não exis-tem respostas únicas. Há,contudo, um conjunto deabordagens que pode facilitaruma sucessão com êxito:Uma preparação longa, em-penhada e participada. Umapresença relevante de profis-sionais na gestão das empre-sas que possam assegurar acontinuidade das operações.A informação aos membrosda família da evolução e daestratégia das empresas A ca-pacidade de ultrapassar e ra-cionalizar os conflitos, sobre-valorizando a continuidadeempresarial. A distinção en-tre funções de gestão de fun-ções accionistas.

Outros desafios se colocamà generalidade das Empresasfamiliares e, alguns há, que se-rão específicos de alguns sec-tores, de algumas geografias ede algumas culturas.

Aqui ficaram enunciados al-guns dos que nos parecem sermais comuns. ●

LUÍS PARREIRÃOGestor

FAMILIA & COMPANHIA

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24 | O Jornal Económico, 8 junho 2018

MERCADOS & FINANÇAS

“Gostava queas cotadasportuguesasnão pagassemdividendos”

Os detalhes da transação ainda nãopodem ser anunciados, mas umdos principais objetivos já pode. Avenda de 23% do capital vai ajudarà sociedade gestora de fundos in-dependente Optimize a ultrapassarfronteiras e colocar os produtosnoutros mercados. A operação,noticiada pelo Jornal Económico a25 de maio, ainda está a ser finali-zada e os detalhes sobre os valoresenvolvidos e a identidade do in-vestidor deverão ser divulgadosem meados de junho. Em entrevis-ta, Diogo Santos Teixeira, CEO daOptimize, adianta, no entanto, queo comprador da participação “éportuguês e do setor”.

Questionado sobre o que poderámudar na estratégia da empresa,Santos Teixeira começa por expli-car que Portugal é um mercado re-lativamente pequeno e que temencolhido em termos de ativos ge-ridos, ao contrário do que sucedeno resto da Europa.

“Face a esta realidade, há duasmaneiras de continuar a crescer.Ganhar quota de mercado e a Op-timize tem feito isso. A segunda éde ir para outros mercados. Umdos nossos objetivos é de ir parafora de Portugal e propormos osnossos fundos, que têm boas per-formances a outros clientes”, refere.

Sobre as geografias que tem emmente, o CEO revela que Espanhaé uma delas, mas não a única. “Anossa intenção é de, em breve,transpor alguns dos nossos fundospara o Luxemburgo, para poderemser distribuídos fora de Portugal”.

A transação e o foco na expan-são ocorrem num período de tran-sição nos mercados. Após um 2017“ótimo” em termos do desempe-nho dos fundos da Optimize, esteano teve um bom início, mas agestora, que comercializa PlanosPoupança Reforma (PPR), duasgamas de fundos e gestão privada,tem de ser prudente. “O desafioenquanto gestores é que estamos

num período um bocado chave emtermos da gestão de uma carteiradiversificada. O objetivo é sempreum objetivo patrimonial, de gestãode médio e longo prazo do patri-mónio dos nossos clientes, quenão são gestores institucionais, é ocliente final e que procura é renta-bilizar a sua poupança e não tersurpresas”, adianta Santos Teixei-ra. “Temos uma abordagem relati-vamente prudente e que necessa-riamente incorpora títulos de ren-da fixa, obrigações. No contextoatual de taxas de juro, no contextode subida ligeira de algumas taxasde juro como as americanas, mastambém as portuguesas que come-çaram a subir ultimamente, é difí-cil dar rentabilidade aos clientes”.

Riscos: juros, Itália e tarifasA Optimize tenta compensar issocom uma abordagem internacio-nal em termos de obrigações, comuma componente forte em dóla-res, que para além de ofereceremmaior rentabilidade, também têmuma componente de câmbio quepode ser gerida taticamente.

No outro lado das alocações - asações - o cenário é muito mais po-sitivo. “Quanto mais exposição àsações os nossos clientes tiverem,maior nos tempos recentes têmsido a rentabilidade”, frisa. O CEOrecorda, no entanto, que o iníciodo ano foi um período de receiosnas bolsas e que alguns desses per-sistem, nomeadamente os de subi-

A gestora de fundos, que quer expandir para Espanha e Luxemburgo, não estáexposta a empresas portuguesas - têm pouca liquidez e focam-se no curto prazo.

SHRIKESH LAXMIDAS ELEONOR MATEUS [email protected]

ENTREVISTA DIOGO SANTOS TEIXEIRA CEO da Optimize Investment Partners

das de taxas de juros, as tensões emtermos de comércio internacional,e os problemas políticos em Itália.

“Já se fala há 10 anos do proble-ma da Itália, mas ele está se a cris-talizar cada vez mais e no sentidode uma possível luta entre o Go-verno italiano e as instâncias euro-peias que define um abalar da con-fiança que os investidores interna-cionais e locais podem ter sobre azona euro, as taxas de juro, o cres-cimento económico. Podemos en-trar numa espiral negativa, de an-tecipação negativa.

“Isto tudo num contexto onde osmercados americanos estão relati-vamente caros, para não dizer bas-tante caros”. Santos Teixeira acre-dita que as ações americanas estãonuma zona de valorização dema-siado forte para os níveis de taxasde juro atuais, o que explica a esco-lha da Optimize de aumentar a ex-posição às obrigações americanas.

“Nas empresas americanas, asúnicas ações que eu ainda acho ra-zoáveis em termos de preços são asgrandes tecnológicas. Não tenhoqualquer problema em valorizar

uma Amazon ou uma Facebookem 25 vezes os seus resultados,porque têm potencial de cresci-mento, um nível de margem abso-lutamente extraordinário”, avança,reiterando que a maior parte dossetores americanos “estão hoje de-masiados caros”.

Sem exposição ao PSI 20Deste lado do Atlântico, “não esta-mos nos mesmos níveis, mas co-meça a haver em alguns setorestambém sinais de uma euforia,como o do luxo, o da saúde, o dasfarmacêuticas”, vinca. “Por outrolado há setores que eu continuo anão explicar em termos de subva-lorização e portanto continuamosa apostar neles, como o setor auto-móvel, um bocado do setor finan-ceiro, também algumas empresasviradas para as tecnologias. Aindahá sítios para investir, mas é preci-so tomar opções, não é estar inves-tido no índice”.

Apesar de ver oportunidadesnas ações europeias, as portugue-sas estão de momento fora dosfundos da Optimize, por dois mo-

Eu prefiro uma Tesla a‘destruir’ o dinheirodos acionistas, a fazerprojetos malucos e ater ideias malucasmas a tentar, do quegestores de empresaspagos para distribuirdividendos

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O Jornal Económico, 8 junho 2018 | 25

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tivos. O primeiro está relacionadocom a liquidez. “Quando olhamospara as cotadas portuguesas, aque-las que poderiam entrar nas nossascarteiras tendo em conta o nível deliquidez que exigimos para poderter uma linha corresponde a me-nos de 10 cotadas”. Mesmo nessas,há um problema de valorização.“Consideramos que as cotadasportuguesas estão hoje um poucocaras face às perspectivas de cresci-mento dos seus resultados”.

O segundo motivo provoca umareação mais complexa, e crítica,por parte do gestor. “Tem a vercom a forma como as cotadas por-tuguesas lidam com a questão dosdividendos. É tanto uma questãode natureza dessas cotadas, poismuitas delas têm como maioresacionistas famílias, como tambémuma grande parte dos outros acio-nistas serem pessoas individuaisque entendem que um dividendoelevado é um bom negócio”.

Santos Teixeira salienta o casodos CTT, para tentar percebercomo uma empresa que valia masde 10 euros por ação há três anos e

vale hoje menos de 3 euros e aomesmo tempo distribui um divi-dendo que corresponde a mais de12% do valor da empresa em bolsa.

É um dividendo generoso? “Sim,mas não é generoso pela sua renta-bilidade. Comparei com os cor-reios alemães, holandeses e ingle-ses, que oferecem uma realidademuito diferente, onde os dividen-dos são inferiores, mas são cotadasque progrediram o pagamento di-videndos nos últimos anos. Nãotenho nada contra os CTT, subs-crevi para os nossos fundos na al-tura da privatização, mas rapida-mente dei conta que de facto nãose estava a escrever história do fu-turo, estava se a escrever uma his-tória de uma venda a prazo de umaentidade que não promove sufi-cientemente o crescimento, nãoconsegue utilizar o dinheiro que osacionistas têm na empresa sobre aforma de reservas que acumulouao longo dos anos.”

O CEO tem uma posição clarasobre o assunto: “eu gostava que ascotadas portuguesas não pagassemdividendos”. Sublinha que empre-

sas como a Amazon e a Faceboknão pagam dividendos e que, noentanto, quem investiu nessas em-presas há três ou quatro anos estáhoje muito melhor do que queminvestiu em cotadas portuguesasque pagam dividendos altos.

“Eu prefiro uma Tesla a ‘des-truir’ o dinheiro dos acionistas, afazer projetos malucos e a terideias malucas mas a tentar, do quegestores de empresas pagos paradistribuir dividendos. É muito fá-cil assinar um cheque da empresa adistribuir aos acionistas, é muitomais complicado pôr esse dinheiroa render”, acrescenta.

Para Santos Teixeira “infeliz-mente estamos demasiado nessaperspectiva de gestão patrimonialdas empresas a curto prazo do quea muito longo prazo, no sentido decrescer e de deixar uma empresamaior aos filhos”.

A solução passa “por trabalhotanto do lado dos acionistas comodos gestores para que a bolsa por-tuguesa se tornar mais atrativapara quem não é particular nemdono da empresa”, conclui. ●

“Não é só quantidade,falta qualidadenas nossas poupanças”

Portugal tem um problema dequantidade de poupança, uma ca-racterística da economia que é am-plamente conhecida. Diogo SantosTeixeira, CEO da Optimize, alerta,contundo, que esse não é o único -existe também um problema dequalidade.

“Temos uma característica ímparem relação a outros mercados que é opeso dos depósitos e dos depósitos aprazo. Nos outros países, há um pesoelevado de poupanças garantidas,mas sob a forma de seguros de vidaou de PPR garantidos”, refere, adian-tando que esses produtos podem serparcialmente investidos pelas segu-radoras ou pelas gestoras em empre-sas, via ações ou obrigações, para fi-nanciar a economia. Os depósitosservem essencialmente para finan-ciar crédito, principalmente hipote-cário e ao consumo.

“A poupança investida em de-pósitos, pelas regras de investi-mento que os bancos têm, podeser transformada em crédito ouinvestida de forma extremamentesegura, nomeadamente em dívidapública, seja portuguesa ou de ou-tros Estados. Os bancos estão re-lativamente limitados do uso pro-dutivo que podem fazer dessapoupança”, explica o CEO. “Háuma primeira consequência deperda de controlo dos portugue-ses sobre a sua economia e a se-gunda é o empobrecimento, aprazo, de uma parte significativada população que vai ter reformasmuito inferiores aos valores queconsidera necessários para viverconfortavelmente”.

Santos Teixeira acredita que o Es-tado tem um papel importante emincentivar certas poupanças e ga-rantir que estas sejam mais produti-vas. “Em Portugal, há uma fiscalida-de relativamente simples, de 28%para tudo, quer sejam depósitos,mais valias, rendimentos de ações,retornos de ações… Tudo”.

Adianta que “a partir do momen-to em que não se faz distinção emtermos fiscais, não há incentivo,pelo menos fiscal, para ir para de-terminado veículo. Uma das formasde responder a isso é diferenciar afiscalidade que é feita entre os váriostipos de produto”.

Questionado sobre o desempenhodas autoridades, recorda que o temaestá nos programas dos governos

desde 2011. “O Governo de PassosCoelho tinha no seu programa o in-centivo à poupança. Se o aumentodas taxas de IRS sobre a poupança foiuma realidade, ainda não vi a partedo incentivo”.

“Foi a realidade, mas é também arealidade do governo atual. As ini-ciativas ou não existiram ou forammeramente sobre temáticas muitoespecíficas. Mais uma vez, a urgênciaestá na poupança para a reforma”,sublinha.

O CEO adianta que enquanto nãohouver um mecanismo forte de in-centivo à poupança para a reformados portugueses, o problema não es-tará tratado. “Em termos de priorida-des, essa é a primeira. A segunda é di-ferenciar os instrumentos de pou-pança e incentivar um bocado maisde tomada de risco, pois não faz sen-tido ter depósitos a prazo a serem ta-xados da mesma forma que um in-vestimento mais arriscado”.

O perfil do investidor português égeralmente conservador, mas SantosTeixeira diz que já vê variações gera-cionais. “Vemos nos nossos clientesuma abordagem do risco diferenteentre gerações, com clientes maisnovos, sem dúvida, a terem umaabordagem mais arriscada sobre assuas poupanças”.

“Não vejo problema que as pes-soas tenham uma abordagem pru-dente sobre as suas poupanças, no-meadamente no contexto que vive-mos nos últimos anos em Portugal.O problema tem a ver com não se-leccionarem muito bem os riscosaos quais se estão a expor”, frisa.

Em relação à literacia financeirados portugueses, afirma que “é penaque não haja suficientemente per-ceção de todos os riscos, não só dorisco de uma ação cair 5%”.

Explica que há um foco sobre al-guns tipos de risco e uma perceçãomuito menor de outros riscos, aosquais as pessoas estão realmenteexpostas e que podem fazer muitomais estragos do que apenas terum fundo PPR que não tem garan-tia de capital. “É de facto esse tra-balho de informação e divulgaçãoque tem de ser feito por todos. Te-mos de construir essa consciênciafinanceira, dos riscos económicose dos riscos dos ativos que as pes-soas podem ter no seu bolso, nobanco ou em termos de compro-missos que assumiram”. ●

As poupanças dos portugueses não são investidasde forma produtiva, o que penaliza a economiae aumenta o empobrecimento, explica o gestor.

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26 | O Jornal Económico, 8 junho 2018

MERCADOS & FINANÇAS

Depois das fortes descidas dosmercados acionistas do sul da Eu-ropa, no início da semana anterior,esta semana foi pautada pela recu-peração. O PSI20 e o IBEX35, deMadrid, têm recuperado, apesar deos contornos políticos em Itáliacontinuarem a penalizar o seuprincipal índice acionista, o FTSE-MIB, de Milão. A diferença(spreads) entre a rentabilidade(yield) das obrigações do tesouroitalianas e a rentabilidade das obri-gações soberanas portuguesas e es-panholas tem alargado muito des-de o início de maio, espelhando aforte preocupação do mercadoquanto à evolução política em Itá-lia. À altura, a yield a 10 anos daOT italiana cotava nos 1,5% eatualmente duplicou para os 3%.

A banca da Europa mediterrâni-ca continua a ser penalizada pelo

comportamento da dívida sobera-na de cada país. Em Itália, o princi-pal banco privado, o Unicredit, jáse encontra em mínimos desdeabril do ano passado. Só desde iní-cio de maio perdeu cerca de 20%. OBCP também foi penalizado, em-bora já registe alguma recuperaçãodesde o selloffdo dia 29 de maio. OSantander recuperou apenas 3%dos quase 20% perdidos. Em suma,temos alguma recuperação dosmercados do sul da Europa, masmais pelo bom comportamento desectores da pasta de papel e do reta-lho e não devido à banca.

Nos EUA, o excelente desempe-nho em bolsa das empresas tecno-lógicas, nomeadamente as bigtech(denominadas FANG), e as boasperspetivas para este sector leva-ram o Nasdaq100 a novos máxi-mos históricos.

Os dados relativos ao mercadode trabalho continuam robustos deacordo com a divulgação do rela-tório do emprego a 1 de junho. Ataxa de desemprego foi a mais bai-

xa desde dezembro de 1969, nos3.8%, número só igualado em abrilde 2000. Os indicadores de ativida-de divulgados no início do mêstêm mostrado uma economia nor-te-americana sustentada, o que ca-tapultou os índices Dow Jones eS&P500 para novos ganhos, a taxade juro de longo prazo voltou paraníveis abaixo dos 3% (ie, a yield daOT dos EUA a 10 anos), porém, ainflação tem vindo a aumentarconsecutivamente desde novem-bro do ano passado e encontrava--se nos 2,5% em abril. Espera-seque a inflação de maio, que vai ser

divulgada a 12 de junho, disparepara os 2,7%! O emprego e a infla-ção vão continuar a pressionar aReserva Federal dos EUA a au-mentar as taxas de juro mais rapi-damente e com maior frequência.

O futuro sobre as alterações na“Fed Funds Rate”, cotado na bolsa dederivados de Chicago (CME Group),aponta neste momento para umaprobabilidade de 91% de subida dataxa de juro da Fed em 25 pontosbase de 1,75% para 2% na próximareunião da Reserva Federal, a 13 dejunho. A probabilidade de se mantercomo está é de apenas 9%. ●

Uma semanade tréguas

Europa recupera, mas ainda com a crise italianaem pano de fundo. Tecnológicas e dados robustosda economia dão alento nos Estados Unidos.

PAULO ROSAEconomista e Senior Traderdo Banco Carregosa

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rsFECHO DA SEMANA

MATÉRIAS-PRIMAS

PETRÓLEODonald Trump pediu à OPEP para

aumentar a produção diária em, pelomenos, um milhão de barris. A Arábia

Saudita, que em nome da OPEP tem tidoconversações com a Rússia, e ambos vão

aumentar a produção, em mais de um milhão debarris, a partir do segundo semestre. Os stocksde petróleo nos EUA aumentaram quando eraesperado que diminuíssem. Estes dois fatores

têm contribuído para um aliviar da alta dopetróleo que se verifica há um ano,

desde 21 de junho de 2017.

AÇÕESBCP E PAPEL

O BCP vai entrar para o índiceEuronext Vigeo 120, onde já seencontra a EDP, e tem mantido,

provavelmente por esse facto, um melhorcomportamento que as demais cotadas do

sector bancário espanhol e italiano. Os títulosligados, direta ou indiretamente, ao sector dapasta de papel continuam a verificar máximoshistóricos, como é o caso da Altri, Navigator eSemapa. Vários fatores têm contribuído para

este bom desempenho: a consecutivasubida do preço da pasta de papel hámais de um ano, as consolidações e

fusões neste sector a nívelmundial e a subida do

dólar.

CAMBIALUSD/TRY

A lira turca estancou perdas doúltimo mês, de mais de 20%, com um

mínimo histórico contra o dólar americanoa 23 de maio. Esta hemorragia foi extinguida,

talvez provisoriamente, após o Banco Central daTurquia ter subido significativamente a taxa dejuro de 13,5% para 16,5% nesse mesmo dia.

Ontem, voltou a aumentar, para 17,75%. O fortecrescimento da economia tem sido acompanhado

por uma galopante subida da inflação e dodéfice público. É prioritário estabilizar ainflação e controlar as contas públicas,

sob pena de a taxa de juro da liracontinuar a subir, impedindo a

desvalorização damoeda.

11 DE JUNHOÍNDICESNA CONSTRUÇÃOE INDÚSTRIAPORTUGUESASInstituto Nacionalde Estatística prevê divulgaro Índice de Produção,Emprego, Remuneraçõese Horas Trabalhadasna Construçãoe Obras Públicas e o Índicede Volume de Negócios,Emprego, Remuneraçõese Horas Trabalhadasna Indústria de abril.

12 DE JUNHOINFLAÇÃO NACIONALÍndice de Preçosno Consumidor e ÍndiceHarmonizado de Preçosno Consumidor referentesa maio serão divulgadospelo Instituto Nacionalde Estatística.

JUROS EM PORTUGALBanco de Portugal apresentanovos dados sobre as taxasde juro de novas operaçõesde empréstimos e depósitosna nota de informaçãoestatística.

13 DE JUNHOPRODUÇÃO INDUSTRIALE EMPREGO NA UNIÃOEUROPEIAEurostat publica os dadospreliminares sobre aprodução industrial na zonaeuro e na União Europeiaem abril e as contasnacionais de emprego doprimeiro trimestre de 2018.

PREVISÃO DA ECONOMIAALEMÃGerman Zentrum fürEuropäischeWirtschaftsforschungdeterminará a expectativados investidoresinstitucionais alemães parajunho através do Índicede Sentimento Económico.

14 DE JUNHOPOLÍTICA MONETÁRIAEUROPEIAReunião de políticamonetária do Conselhodo Banco Central Europeuem Riga, na Letónia.

TÍTULOS DE DÍVIDAE AÇÕESBanco de Portugal publicaa nota de informaçãoestatística sobre emissõesde títulos.

15 DE JUNHOCUSTO DO TRABALHONA EUROPAEurostat torna públicosos dados preliminares sobreo custo laboral na zona euroe na União Europeiano primeiro trimestre de 2018.

EM AGENDA

Com o apoio de

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BARÓMETROO Jornal Económico, 8 junho 2018 | 27

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A Comissão Europeia publicou recente-mente o relatório anual que avalia o nívelde Digitalização da Economia e da Socie-dades dos países membros da UE, IDES2018. Todos os Estados-Membros melho-raram a sua avaliação, e se e é verdade quea pontuação geral de Portugal aumentouligeiramente, é de referir que o fez numaproporção menor do que a média da EU.Portugal ocupa agora o 16.º lugar do Índi-ce entre os 28 Estados-Membros da UE,quando em 2017 ocupava o 15º lugar,confirmando a tendência do ano anterior,uma vez que em 2016 ocupava o 14º lugar.

Para a descida em relação ao ano passa-do terão contribuído o “Índice de preçosda banda larga”, na dimensão “Conectivi-dade”, (desde março de 2011 que os pre-ços das telecomunicações crescem maisem Portugal do que na UE), mas princi-palmente os indicadores relativos às di-mensões “Integração das Tecnologias Di-gitais” e “Serviços Públicos Digitais”.

Na “Integração das Tecnologias Digi-tais” pelas empresas, houve uma reduçãosubstancial da percentagem das mesmasque utilizam a partilha de informações eas tecnologias de identificação por radio-frequência (RFID), bem como uma redu-ção de PME que efetuam vendas online.Indicadores estes, em que Portugal apre-sentava melhores resultados do que amaioria dos seus congéneres no passado.Espera-se que as iniciativas resultantes daestratégia nacional para a digitalizaçãoIndústria 4.0 invertam definitivamenteesta tendência.

Na última dimensão acima referida,“Serviços Públicos Digitais”, a diminuiçãoverificada no indicador relativo aos “Uti-lizadores de serviços de administraçãopública online” seria pouco expectável,tendo este passado a refletir os utilizado-res da administração pública (AP) online,em percentagem dos utilizadores da In-ternet, que necessitam de apresentar for-mulários à AP. A maior surpresa, no en-tanto, refere-se à posição de Portugal emrelação às políticas de dados abertos,“Open Data”. Com a descida da posiçãorelativa (25ª em 2017), Portugal ocupaagora a penúltima posição de todos ospaíses da EU (27ª), apenas suplantandoMalta. A definição de políticas de intero-perabilidade, gestão de informação e devalorização dos dados, carece claramentede grande atenção durante o ano de 2018,para que se consiga melhorar substancial-mente este indicador. Um sinal positivodado nesse sentido foi o lançamento hátrês semanas de uma nova versão do por-tal nacional de dados abertos pela Agênciapara a Modernização Administrativa.

De salientar a dimensão “Capital Hu-mano”, em que apesar da queda na posi-ção relativa em comparação com os ou-tros Estados Membros, registou uma me-lhoria em termos absolutos em todos osindicadores. Espera-se que a iniciativaINCoDe.2030 venha trazer melhoriassubstanciais no longo prazo, idealmentejá com reflexos nos resultados do próxi-mo ano. ●

Portugal Digital: Sociedade,Economia e Estado

De salientar a dimensão“Capital Humano”,em que apesar da quedana posição relativaem comparação com osoutros Estados Membros,registou umamelhoriaem termos absolutosem todos os indicadores

As recentes disposições normativas emiti-das pelo International Accouting StandardsBoard (IASB), com especial destaque para aIFRS 9 – Instrumentos financeiros, IFRS 15– Rédito de Contratos com Clientes, IFRS16 – Locações e IFRS 17 – Contratos de se-guros, reforçam não só o crescente dinamis-mo do IASB na prossecução do seu propósi-to de uniformização e melhoria do relato fi-nanceiro, mas simultaneamente o carácterimpactante das novas normas contabilísti-cas e de relato financeiro nas organizações.Os impactos não se resumem às questõescontabilísticas e financeiras sendo necessá-rio aferir os impactos no negócio, nas tran-sações e acima de tudo nos sistemas de in-formação.

Os novos modelos de reconhecimento emensuração inerentes às referidas normasirão exigir modificações ao sistema de En-terprise Resource Planning (ERP) atual-mente utilizado na recolha e reporte da in-formação financeira, com impactos nosprocessos e sistemas de tesouraria, instru-mentos financeiros, gestão de ativos e fatu-ração, entre outros.

Num momento em que a função finan-ceira se depara com uma rápida transfor-mação financeira e tecnológica, com a in-trodução da robotics process automation(RPA), blockchain, advanced analytics ebig data torna-se essencial repensar a ar-quitetura de sistemas e do próprio ERPtendo em consideração um diagnóstico deIFRS robusto que permita mapear os re-quisitos normativos, maximizando o cus-to-benefício dessa mesma transformação.A adoção de novas normas deve ser enca-rada como uma oportunidade para repen-sar o nível de informação e automatizaçãoque as organizações hoje dispõem e seexiste potencial para a criação de valoratravés da recolha de melhor informaçãode gestão e maior eficiência nos processosinternos.

Os processos de implementação recen-tes têm demonstrado ser muito mais doque apenas uma mera alteração contabi-lística, impactando processos e procedi-mentos internos que vão desde o ambien-te de controlo e a informação de gestão àformação necessária para endereçar astransações e os sistemas de forma diferen-te, num efetivo processo de gestão da mu-dança.

Nesta medida as organizações têm hoje aoportunidade de encarar as recentes altera-ções normativas como um efeito catalisa-dor da transformação financeira de umaforma transversal, aproveitando a oportu-nidade para reformular o sistema de ERP etoda a restante arquitetura de sistemas,conjuntamente com a automatização deprocessos. ●

As novasIFRS: mais doque alteraçõescontabilísticas

Com o apoio de

BRUNO CURTO MARQUESSenior Manager, Government& Public Sector at EY

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28 | O Jornal Económico, 8 junho 2018

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Deloitte Digitalintegra as agênciasWingman e Seara

“Temos de ser muito mais rápidosdo que éramos, conseguir trans-formarmo-nos a nós próprios eagregar competências”. É destaforma que Bruno Costa Cabral,partner da Deloitte e líder da De-loitte Digital, descreve os princi-pais desafios da nova área de negó-cio da consultora, num mundo di-gital e onde os clientes procuramcada vez mais ofertas multidisci-plinares.

A Deloitte Digital combina ascompetências globalmente reco-nhecidas da Deloitte nos processosde transformação do negócio e im-plementação tecnológica com asde uma agência digital de classemundial. Assim, no dia 4 de junho,

a Deloitte anunciou a integraçãoda Wingman e da Seara, líderesnacionais em experiência digital,criatividade, design e tecnologia. Acombinação de competências re-sulta numa consultora digital inte-grada, com uma capacidade únicaem projetos de transformação denegócios. “Começámos por serconcorrentes, a seguir parceiros e,a partir de determinada altura, fa-zia sentido juntar esforços e ter-mos uma oferta mais complemen-tar”, acrescenta Bruno Costa Ca-bral ao Jornal Económico.

A Wingman, fundada em 2008,e a Seara, no mercado desde 2000,têm crescido exponencialmente aolongo da sua história, contandoatualmente com mais de 150 pro-fissionais. Para esta rápida expan-são contribuiu também a capacida-de de criar relações duradouras

com os seus clientes, acompa-nhando-os ao longo dos anos e naevolução dos seus negócios.

“Temos trilhado um caminhomuito sólido e de crescimento,reunindo uma equipa multidisci-plinar, altamente qualificada, e umportefólio de clientes do qual nosorgulhamos. A integração numarede internacional como a Deloitteirá garantir acesso a novas fontesde conhecimento, a novas oportu-nidades de negócio e, fundamen-talmente, irá permitir às nossaspessoas ter perspetivas de evolu-ção mais vastas”, destacam, por suavez, José Pedro Vicente e José Au-gusto Silva, partners da Wingmane da Seara.

As áreas do digitalO digital é dividido em três áreas:‘digital transformation’, ‘digital

ANTÓNIO [email protected]

INOVAÇÃO

ADVOGADOS, CONSULTORES E BANCOS DE INVESTIMENTO

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experience’ e ‘digital to the core’.A primeira está relacionada comtudo o que tem a ver com a trans-formação de negócio, a segundarelacionada com a experiência e aterceira refere-se a toda a parte di-gital dentro das organizações.“Trabalhamos o mercado todo,não há uma faixa do mercado quenós não trabalhemos”, explicaBruno Costa Cabral.

“Sentimos que esta combinaçãoestratégica de competências permi-tirá a criação e execução de modelosdigitais de maior impacto, que os lí-deres de negócio atualmente pro-curam, mas também a disponibili-zação de uma oferta de serviçosmais completa. Estamos conscien-tes dos desafios que o futuro digitaltraz para as organizações e quere-mos estar na linha da frente, junta-mente com os nossos clientes. Esteé, por isso, um movimento naturalpara nós”, acrescentam os partnersda Wingman e da Seara.

Hoje em dia, a integração conse-gue servir o mercado e os clientesde uma forma completa - definiçãode estratégia de produto, de estra-tégia comercial, implementação detecnologia ou definição de ‘userexperience’. Ou seja, de tudo o queé necessário até á própria opera-ção. Ao utilizar soluções móveis,web e sociais inovadoras as empre-sas aumentam o impacto do digitalnos seus clientes, colaboradores eparceiros.

“Nós vamos conseguir ajudaruma série de empresas a transfor-mar a sua mecânica de funciona-mento interna, a eficiência e a ma-neira de comunicar de uma formamais digital. O que se chama de‘digital workplace’. E com as com-petências que nós conseguimosreunir é um trabalho completa-mente multidisciplinar, desde ‘hu-man capital’, a processos internos,a comunicação e a conteúdos”, su-blinha Bruno Costa Cabral.

Sobre os temas da inteligênciaartificial e blockchain, os partnersexplicam que existem factores ace-leradores de processos. Para JoséPedro Vicente, responsável pelaWingman, há mais capacidade decomputação, para começar a apli-car no conjunto de áreas lógicas derobotização e de machine learning.“Às vezes pode parecer uma dis-rupção porque agora está toda agente a falar muito disso mas não ébem uma disrupção. É uma conti-nuação de um caminho que já exis-tia com uma grande aceleração nosúltimos anos e previsível nos pró-ximos”, conta.

Já Bruno Costa Cabral, líder daDeloitte Digital, destaca alguns ti-pos de especialização que são im-portantes e diferenciadores. “Eutenho especialistas para cada umadas indústrias, quer de retalho,quer da área financeira, quer detransportes. E, portanto, aí é umvalor acrescentado para os nossosclientes”, conclui. ●

A combinação de competências resulta numa consultora digital integrada,com uma capacidade transversal a todos os projetos de transformação de negócios.

“Começámos por serconcorrentes, a seguirparceiros e, a partirde determinadaaltura, fazia sentidojuntar esforçose termosuma oferta maiscomplementar”,diz Bruno CostaCabral, partnerda Deloitte e líderda Deloitte Digital

José Pedro Vicente, responsável pela Wingman, José Augusto Silva, responsável pela Seara, e Bruno Costa Cabral, partner da Deloitte e líder da Deloitte Digital

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O Jornal Económico, 8 junho 2018 | 29

“Transformaçãodigital é transversala todos os setores”

A Ad Age distinguiu a AccentureInteractive como a maior rede di-gital a nível mundial, no seuAgency Report 2018. É o terceiroano consecutivo em que a Accen-ture Interactive é distinguida, nes-ta avaliação de mais de 600 agên-cias, redes e empresas a nívelmundial. Em entrevista, PedroPombo, managing director da Ac-centure Digital em Portugal, ex-plica a estratégia da firma.

O que representa estadistinção para a Accenture?Pelo terceiro ano consecutivo, aAd Age nomeia a Accenture Inter-active como a maior rede digital anível mundial, no seu 2018Agency Report. Este ranking re-força a nossa posição como líderes(no ano fiscal de 2017, a AccentureInteractive teve receitas de 6,5 milmilhões de dólares [5,5 mil mi-lhões de euros], com um cresci-mento anual de 35%), e reflete aprocura cada vez maior para osnossos serviços de customer expe-rience, num mercado altamentecompetitivo.

Esta nomeação vem também su-blinhar que o nosso modelo – umnovo tipo de agência que se dedicaa reinventar experiências e trans-formar a forma como as empresaspensam fundamentalmente sobreos seus clientes e negócios – é ummodelo de sucesso adaptado às ne-cessidades do mercado.

À medida que a tecnologia evo-lui e as expetativas dos clientes au-mentam, as empresas reconhecema necessidade de se adaptarem emelhorarem, e procuram os nos-sos serviços para os ajudar nessajornada. Estar no lugar cimeiro emtermos de receitas, ao mesmo tem-po que continuamos a impulsionara inovação e criação de valor paraos nossos clientes, é um feito ex-traordinário.

Porquê a aposta, da vossaparte, nesta área de negócio?

Vivemos na economia da expe-riência. Consequentemente, acre-ditamos que o futuro pertence aquem criar as melhores experiên-cias para os seus clientes. Nos diasque correm, as marcas são cons-truídas graças a uma série de expe-riências interconetadas que osconsumidores têm com uma em-presa, por canais distintos, e cadavez mais digitais. O nosso modelofoi construído com o objetivo dereunir a mistura exata de skills detransformação digital e de negó-cio, por forma a garantir as melho-res experiências de cliente, emtoda a sua jornada.

O que significa, exatamente,essa “mistura exata de skillsde transformação digitale de negócio”?Internamente dizemos que a Ac-centure Interactive é composta departes iguais de criatividade,know-how de negócio e tecnologia.Temos uma equipa bastante di-versa, com talento em todas estasáreas. Especificamente, em servicedesign, CX, UX, marketing digitale personalização, conteúdos, ecommerce. A este skill-set acresceo talento no desenvolvimento deprojetos tecnológicos e de conhe-cimento vertical das indústriasonde trabalhamos, característicaspelas quais a Accenture é reconhe-cida no mercado desde o seu iní-cio. E é esta diversidade de talentoque fica patente na inovação, am-plitude e profundidade das ideiasque as equipas produzem, na suacapacidade de concretização, e naforma como são relevantes para osnossos clientes.

Em que setores de atividade,entre os vossos clientes, notammais procura por este tipode competências?Atualmente, diria que a procurapor este tipo de serviços é trans-versal aos diversos sectores de ati-vidade, visto que a transformaçãodigital não é algo específico deapenas um sector. Mesmo inter-namente, a Accenture Digital étransversal a todas as áreas de ne-gócio.

Estão a reforçar a equipa comprofissionais especializadosnestes “skills?”Sim. A Accenture Interactive, paraalém de ser a maior agência digitaldo mundo, é também a que crescea um ritmo mais acelerado. Assim,estamos continuamente em buscado talento que nos acompanheneste crescimento e jornada detransformação. E para além dosskills já referidos, creio que teruma mente irrequieta e curiosa sãocaracterísticas comuns que encon-tro no talento que reside na Ac-centure Interactive. ●

Com uma faturação de 5,5 mil milhões de euros, a Accenture Interativefoi distinguida como a maior rede digital a nível mundial, pelo terceiro ano.

GABRIEL [email protected]

CONSULTORIA

PEDRO POMBO‘Managing Director’da Accenture Digital

“A procura por este tipo deserviços é transversal aosdiversos setores de atividade,visto que a transformaçãodigital não é específica de umsetor”

É neto de portugueses?Saiba como pedira nacionalidade

A alteração legislativadatadade Ju-nho de 2017 já não é novidade. Amesma veio atribuir aos netos deportugueses nascidos no estran-geiro a possibilidade de pedir quelhes seja atribuída a nacionalidadeportuguesa. Com esta atribuição,os efeitos da nacionalidade retroa-gem à data do nascimento, o quevai permitir que os seus descen-dentes venham a obter, igualmen-te, a nacionalidade portuguesa.

A lei faz, contudo, dependeresta atribuição da demonstraçãode “efetiva ligação à comunidadenacional”. Este conceito, em sivago, tem levantado dúvidas noseio da comunidade de interessa-dos em obter a nacionalidade poresta via. Com efeito, o conceito deligação à comunidade portuguesacarece de alguma concretização,razão pela qual veio a lei especifi-car, a título exemplificativo, os cri-térios aos quais atende a Conser-vatória dos Registos Centrais (or-ganismo responsável pela análisedestes pedidos) no momento dadecisão sobre o pedido formulado.

Elencadas na lei constam comoprovas de ligação à comunidade, aresidência legal em território na-cional; as deslocações regulares aPortugal; a propriedade em nomedo Requerente há mais de trêsanos ou contratos de arrendamen-to celebrado há mais de três anos,relativos a imóveis sitos em Portu-gal; a residência ou ligação a umacomunidade histórica portuguesano estrangeiro ou a participaçãoregular nos cinco anos que antece-dem à data do pedido na vida cul-tural da comunidade portuguesado país onde resida o Requerente(nomeadamente nas atividadesdas associações culturais e recrea-

tivas portuguesas dessas comuni-dades).

Estes requisitos, como se disse,são exemplificativos, já que, emcada caso concreto, o neto de por-tuguês poderá juntar todos os ele-mentos que dispõe para funda-mentar o seu direito à nacionalida-de portuguesa.

Com efeito, temos assistido aocrescente número de pedidos for-mulados por netos de portuguesesatravés da junção de comprovati-vos de entrada e estadia em Portu-gal (carimbos no passaporte, foto-grafias comprovativas da estadiaem território nacional); compro-vativos de participação nas ativi-dades ligadas à comunidade histó-rico-cultural portuguesa; com-provativos de frequência de cur-sos de língua e cultura portuguesa;comprovativos de manutenção derelações negociais e de investi-mento em Portugal ou compro-vativos de intenção de residir emPortugal, com o agregado fami-liar, aqui exercendo a sua ativida-de profissional e frequentandoensino escolar.

Antes de avançar com qualquerpedido, importa, contudo, obteros documentos que comprovam aligação familiar ao ascendente dosegundo grau da linha reta. É aquique a maior parte dos potenciaisinteressados tem encontrado difi-culdades. Uma vez que a própriaConservatória não faz pesquisas,os pedidos de nacionalidade de-vem ser devidamente acompanha-dos do assento de nascimento oubatismo do avô/avó português.

Embora, em determinadas si-tuações, seja difícil obter os mes-mos (já que, antigamente, os regis-tos não eram informatizados), nãoé caso para pôr de parte a ideia deavançar com o pedido de naciona-lidade. Com certos dados pessoaissobre os avós portugueses, e me-diante pagamento das devidas ta-xas, é possível pedir aos ArquivosDistritais a realização de pesquisasnos seus livros de registo com vistaà localização dos assentos de nasci-mento e batismo, antigamente ar-quivados juntos dos centros paro-quiais e igrejas.

De salientar que, embora sepossa configurar num processomoroso, o Requerente de nacio-nalidade que veja o pedido aprova-do, gozará dos mesmos direitosque qualquer nacional português,podendo solicitar a emissão docartão de cidadão e do passaporteportuguês, abrindo portas para acirculação e fixação de residênciaem todo o Espaço Schengen. ●

OPINIÃO

SARA BARROSOAssociada da Área de Clientes

Privados da CCA Ontier

CARLA MATOSSócia e Coordenadora da Área

de Clientes Privados da CCA Ontier

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30 | O Jornal Económico, 8 junho 2018

UNIVERSIDADES & EMPREGO

Formar, importare reter o talento são‘passwords’na Closer

Captar, desenvolver e reter o ta-lento é um desafio contínuo paraqualquer empresa.“O valor daspessoas tem muito a ver com o queestão a fazer e com o que isso re-presenta para uma empresa. Nestemomento, aqui na Closer até tería-mos capacidade para contratarmais se tivéssemos clientes dispos-tos a pagar mais”, explica Fernan-

do Matos, CEO desta empresaportuguesa de Data Science, espe-cializada em Business Intelligence,Advanced Analytics e Artificial In-telligence, que opera e compete nomercado global.

No escritório do 15.º andar daTorre 1 das Amoreiras, em Lisboa,onde a chave da porta é a impres-são digital, o ambiente de trabalhoé vincadamente multicultural.AoJornal Económico, Fernando Ma-tos afirma: “7,5% dos nossos efeti-vos são estrangeiros.” Como

exemplo de países de origem de al-guns colaboradores, Catarina Vas-concelos, responsável pelos Re-cursos Humanos da tecnológica,aponta o Irão, a Venezuela, os Ca-marões, o Brasil, a Alemanha e aMacedónia.

Atualmente trabalham na Clo-ser duas centenas de pessoas, a lar-ga maioria jovens qualificados.Um número ainda assim insufi-ciente para fazer face ao cresci-mento do negócio. “Estamos acrescer e temos necessidades em

vários domínios”, diz FernandoMatos. Para responder a estas ne-cessidades, a Closer está a contra-tar para oportunidades nacionais einternacionais, perfis que se esten-dem por várias áreas, como Pro-gramação, Análise e Gestão e Busi-ness Intelligence.

Além da competência técnica,que capacidades valorizam noscandidatos?

“As soft skills mais valorizadassão capacidade analítica e de pro-blem solving, espírito crítico e de

Esta empresa portuguesa de Data Science, que emprega cerca de 200 pessoas, quer recrutarmais uma centena de profissionais para responder ao crescimento do negócio.

ALMERINDA [email protected]

TECNOLOGIA

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equipa, ser estruturado, metódi-co”, explica a responsável de RH.

O objetivo é contratar uma cen-tena de pessoas até final do ano,uma meta que a ser alcançada setraduziria num crescimento de50% dos recursos humanos. Embo-ra o impacto financeiro das vendassó se faça sentir no próximo ano, ocrescimento previsto para este anoé já de 40%, o que atirará a fatura-ção para os 11 milhões de euros.

Brasil e Europa são os principaismercados da Closer, que opera di-retamente em quatro países do ve-lho continente: Reino Unido, Suí-ça, Suécia (desde este ano) e Ma-cedónia. “Continuamos a crescerno Brasil, sobretudo na área deimplantação de soluções de robó-tica e de optimização de operaçõesatravés da robótica. Temos feitovários projetos e aumentado aprodutividade dessas operaçõesem mais de 30%.”

No escritório de Londres desen-volvem-se sobretudo projetos deAdvanced Analytics, Data Science,Banca, Seguros e Telecomunica-ções, entre outros.

Em Lisboa está em desenvolvi-mento um dos projetos interna-cionais da Closer: um centro decompetências de Data Science parauma empresa financeira suíça.Consistiu na criação de uma equi-pa multidisciplinar composta por

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O Jornal Económico, 8 junho 2018 | 31

A Closer é uma tecnológica portu-guesa de Data Science especializadaem Business Intelligence, AdvancedAnalytics e Artificial Intelligence,áreas que enfrentam carência decompetências e recursos.

As escolas portuguesasformam jovens em númerosuficente para responderàs necessidades do mercado?Para as necessidades não. As neces-sidades e não falo só a nível nacio-nal, mas também a nível europeu emundial, são muito maiores do queos recursos que existem neste mo-mento. Antes da Associação deData Science, que recentemente aju-dámos a criar, eu, individualmente,e alguns de nós participámos emvárias iniciativas no sentido de ten-tar trazer pessoas para a tecnologia,como o Girls on IT.

O que pode ser feito a nível dopaís para aumentar a capacida-de e responder às necessidades?Há duas vertentes muito impor-tantes que poderão ser trabalha-das. Uma é sensibilizar os jovenspara a importância das saídas pro-fissionais que esta área tem. Ocrescimento da procura vai obri-gar a uma melhoria das condiçõesda oferta. A outra é trazer pessoasde fora para estudar cá, para se fi-xarem em Portugal. Temos umpaís extraordinário e normalmen-te quem vem gosta de ficar. For-mar, reter e importar são três ve-tores fundamentais no equilíbrioentre a oferta e a procura.

Os data scientists poderão vira ser os profissionais melhorpagos da área das teconologias?Das tecnologias, sem dúvida. Osdata scientists são as novas estrelasdo mercado. Não tenho dúvida ne-nhuma que isso vai acontecer epor duas razões: a necessidadecrescente de profissionais, pelamais valia que trazem ao mundocada vez mais tecnológico em quevivemos; e a escassez, devido à

complexidade que está associadaao trabalho em si.

A atividade de Data Sciencenão parece estar ao alcancede qualquer um, sobretudonão parece ser para o alunode 10 a Matemáticaque se arrastou para a escola…Não, claramente! Esta área é para ogeek tech da programação. É umaprofissão para o ‘tal tipo’ que temuma cabeça especial, que concilia acapacidade Matemática com a aber-tura de espírito da Consultoria deGestão. Basicamente, nestaáreaesta-mos em cima de pilhas de informa-ção que queremos optimizar comvista a uma solução que gera maisbenefício. Não basta programar.Como aumentou exponencialmentea informação e a capacidade compu-tacional, há uma explosão de oportu-nidades de negócio que nascem emcima da qualidade do tratamento dainformação. É muito difícil hoje en-contrar um data scientistque seja bomem todas as vertentes, precisamenteporque se trata de uma área muitoabrangente. Há de facto uma compo-nente que habitualmente se associa aesta área, que é a componente analíti-ca da Matemática, mas Data Science émuito mais abrangente. ●

“Data Scientistssão as novasestrelasdo mercado”O aumento da procura e a escassez da ofertadestes profissionais, devido à complexidadedo trabalho, vão fazer crescer os salários.

FERNANDO MATOS CEO da CloserPROFISSIONAISPRECISAM-SE...

A Closer está a contratar paraoportunidades nacionaise internacionais, perfisque se estendem por váriasáreas, como Programação,Análise e Gestão e BusinessIntelligence.”No que respeita àprogramação, o focotecnológico assenta em Javae C#.Na área de Business,a Closer está a recrutar:Business Analyst(T-SQL, EXTJS, UNIX),Sap Consultant (SD, MM, FI,CO/FO, WM), ProjectManager (Scrum, Agile,Financial instruments, banca),Functional Analyst (T- SQL,banca e francês obrigatório),Functional Tester (ISTQB,banca e francês obrigatório).Na área de BusinessIntelligence procuram-se:data scientist, developersQlikView/QlikSense, dataanalyst, business intelligencedeveloper, developer powerBI, SAS consultant,PL/SQL developer,developer spotfire/tableau,consultant BI Microsoft,com experiência em SAS, R,Python, SQL, Tableau, PowerBI, Power Pivot, SSIS, SSAS,SSRS, DAX.

data scientists, developers e analistasde ciências atuariais.

Cátia Silva trabalha na Closer hácerca de três anos e meio, tendoentrado diretamente após a facul-dade, quando estava a concluir odoutoramento.“Não tinha expe-riência profissional, mas senti quehouve uma aposta no meu poten-cial”, salienta. Hoje como managerdo centro de competências, liderauma equipa altamente internacio-nal (oito nacionalidades) num pro-jeto bastante importante para umcliente também estrangeiro.

No Centro de Competências, acomunicação é feita em inglês. Ha-mid Khosravani, iraniano a viverem Lisboa, destaca a ”dinâmica in-ternacional” da equipa dos proje-tos e a oportunidade de crescerprofissionalmente e partilhar co-nhecimentos. “A diversidade quetemos nos nossos projetos permi-te-me melhorar a minha experiên-cia na resolução de desafios indus-triais”. No mesmo sentido vão aspalavras do português Diogo Pi-res, que também integra o grupo:“Uma equipa internacional permi-te um brainstorming eficiente, poisas diferentes culturas permitemque os problemas que surjam se-jam atacados por várias frentes epercepções, pois toda a gente tembackgrounds e pontos de vista dis-tintos.” ●

Como aumentouexponencialmentea informaçãoe a capacidadecomputacional,há uma explosãode oportunidadesde negócio quenascem no tratamentoda informação

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DESPORTO

“Alteração ao regimede IVA iria contribuirparamantercompetitividade”

Como é que a prática do golfeestá a crescer em Portugale a inserir-se no designadoturismo de negócios?Em 2017 o número de praticantesfederados cresceu 8% face a 2016,sendo um dos países que maiscresceu em termos percentuais.Este crescimento assentou, emgrande parte, nos escalões mais jo-vens, precisamente aqueles em quea Federação Portuguesa de Golfemais apostou.Em termos globais, incluindo o tu-rismo de golfe, registaram-se, em2017, perto de 2 milhões de voltasde golfe, o que significa um cresci-

mento na ordem dos 4%, no mesmoperíodo. Isto é resultado de um tra-balho muito estruturado por partedos operadores de golfe nacionaisque têm tido a capacidade de semanter na liderança neste setor.É importante referir que cerca de420 mil estrangeiros visitam anual-mente o país para jogar golfe e ge-ram cerca de 120 milhões de eurosde receitas diretas.O golfe é hoje uma indústria quecontribui ativamente para a pro-moção de Portugal enquanto des-tino turístico de excelência, cola-bora no combate aos custos com asazonalidade e cria milhares depostos de trabalho.O turismo de negócios, tal como eleé hoje entendido, tem especificida-des próprias que, para já, não in-

cluem o golfe nos seus programas.No entanto muitos destes turistas,que têm contacto com o nosso país,acabam por regressar propositada-mente para jogar golfe.Hoje, temos instalações de golfe denorte a sul de Portugal Continental,na Madeira e nos Açores, o que fazcom que tenhamos uma oferta cadavez mais diversificada apresentandounidades hoteleiras de qualidadebem próximas dos campos de golfe.Pensamos que este é um factor fun-damental para atrair este tipo de tu-ristas quando o tempo livre é, nor-malmente, limitado.

De que forma é que o golfeem Portugal está a suscitaro interesse das empresasde forma a colocar esta

O golfe em Portugal atrai 420 mil estrangeiros anualmentee gera cerca de 120 milhões de euros de receitas diretas.

JOSÉ CARLOS [email protected]

ENTREVISTA MIGUEL FRANCO DE SOUSA Presidente da Federação Portuguesa de Golfe

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modalidade na rota do turismode negócios?O golfe é um produto fundamental-mente exportador e deve ser tratadocomo tal. Portugal tem de ser umpaís competitivo numa arena queconta com uma competição ferozpor parte de destinos estabelecidos eemergentes.No que aos campos de golfe diz res-peito temos uma oferta muito vastae de qualidade superior, apresen-tando um leque de produtos turísti-cos complementares únicos, reu-nindo quase todas as condições paracrescermos em todas as vertentes.Quando digo quase todas, falo, na-turalmente, da questão do IVA apli-cado ao golfe que penaliza, exclusi-vamente, a indústria do turismo degolfe. Como referi, estamos numambiente de elevada concorrência,o que é salutar, mas são necessáriasmedidas urgentes no que à reduçãodo IVA diz respeito.Esta alteração ao regime de IVAaplicada à prática do golfe iria con-tribuir para que Portugal se manti-vesse competitivo em termos depreço, por um lado e, por outro,que se efetuassem investimentosna requalificação das instalaçõescom uma clara aposta na qualidadede todos os serviços ligados à prá-tica da modalidade e, consequente-mente, potenciar a criação de em-prego com o aumento da procura eoferta de qualidade.

O que procuram as empresasquando pretendem inseriresta modalidade numa visitade negócios ao nosso país?O golfe é uma modalidade desporti-va com mais de 60 milhões de prati-cantes em todo o mundo e cujo per-fil é muito atrativo para as empresasque queiram comunicar atravésdesse segmento.A proximidade dos campos de golfedos principais centros urbanos / ne-gócios é um factor crítico de suces-so, pois o tempo disponível por par-te de uma pessoa que viaja em negó-cios é limitado.Outro factor prende-se com a quali-dade dos campos bem como as ins-talações que os equipam. O perfildeste segmento é, normalmente,exigente e procura obter experiên-cias únicas e de qualidade. Nessesentido, tanto Lisboa como o Porto,estão numa situação muito atrativapara este mercado que cresce expo-nencialmente.

De que forma é que o golfeem Portugal tem vindoa crescer ao nível da atraçãode marcas e patrocínios?Ao nível dos patrocínios, para asatividades internas, existe uma claraevolução com especial incidêncianos últimos dois anos.A Federação Portuguesa de Golfetem procurado desenvolver umaestratégia de atração de patrocí-nios que assenta no desenvolvi-mento de produtos e eventos que

se adequam às necessidades de co-municação das empresas. Abando-námos o modelo de patrocínio ge-neralista à Federação.Desta forma foi possível garantirum retorno superior para as marcasque a nós se associam, bem comopotenciar a relação das marcas comos consumidores em momentoschave da nossa atividade. A ativaçãodas marcas no decorrer dos nossoseventos são cada vez mais presentese procuradas.Ao nível dos grandes eventos inter-nacionais ainda sentimos algumadificuldade em captar a atenção das“big brands”. Regra geral, são even-tos com orçamentos muito elevadostendo, fundamentalmente, umaprojeção mediática internacional, oque de certa forma pode ser limita-dora para a generalidade das marcasque não operam de forma global.Os grandes eventos internacionaisainda têm uma dependência finan-ceira muito elevada dos apoios doestado, o que não deixa de fazer sen-tido, nomeadamente por parte doTurismo de Portugal, que é o prin-cipal patrocinador de eventos des-portivos internacionais, com o ob-jectivo de cimentar a nossa posiçãoenquanto um destino turístico emgeral e para o desporto em particu-lar. E o golfe é uma modalidade úni-ca para a promoção e divulgação damarca Portugal.

Como é que o golfe tem vindoa atrair patrocínios e de queforma é que este interessetem vindo a crescernos últimos anos?É preciso assegurar que as marcassintam o retorno do seu investi-mento e que pode ser medido deduas formas: a primeira, pelo re-torno relativo à exposição das mar-cas nos canais de comunicação,onde a televisão tem, naturalmen-te, um papel fundamental e a se-gunda prende-se com a potencia-ção da relação das marcas com osconsumidores.Esta última obriga a que estes even-tos se realizem cada vez mais pertodos grandes centros urbanos de for-ma que o acesso aos mesmos seja rá-pido e facilitado por parte dos con-vidados das marcas.Estamos perante uma oportunidadede desenvolver uma estratégia demédio-longo prazo para grandeseventos internacionais de golfe, aco-modando o melhor de dois cenários:aexposição mediáticadaprincipal re-gião de golfe do país e a potenciaçãoda relação das marcas com os consu-midores com a realização de eventosnos grandes centros urbanos.É fundamental que Portugal, en-quanto o melhor destino de golfe doMundo, caminhe no sentido de or-ganizar eventos de golfe que se coa-dunem com essa posição. Para isso, énecessário desenvolver uma estraté-gia de médio-longo prazo que cul-mine com um torneio do EuropeanTour enquadrado na Rolex Series. ●

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O Jornal Económico, 8 junho 2018 | 33

MEDIA & COMUNICAÇÃO

Captarassinantes éimportante, masreter é a chavedo sucesso

“Podemos encher um balde a conta--gotas ou com uma mangueira, masse o balde tiver um buraco, em qual-quer dos casos estará vazio no diaseguinte”. A frase sobre a importân-cia de reter os clientes é de Jeff Be-zos, dono da Amazon e do “Wa-shington Post”, mas foi referida porMiki Toliver King, vice-presidentede marketing do jornal norte-ame-ricano, no Estoril esta quinta-feira,na septuagésima edição do WorldNews Media Congress.

O evento, que decorre no Cen-tro de Congressos do Estoril desdequarta-feira e termina hoje, reúnecentenas de CEOs, publishers e di-retores de jornais de todo o mundopara discutir a liberdade da im-prensa e soluções para sustentabi-lidade do negócio das notícias.

Toliver King discursava numdos painéis mais concorridos docertame - as receitas dos leitores.Na introdução ao tema, o modera-dor Nick Tjaadastra, da World As-sociation of Newspapers, explicoulogo o estado da arte. “Se há dois

anos estávamos a discutir as recei-tas da publicidade, hoje o foco estánas receitas das assinaturas”.

“A pergunta passou de ser sobrecomo convencer os leitores a pagarpelo conteúdo para sobre comoconvencê-los a voltar sempre e a re-novar”, explicou.

O caso do “Washington Post” éreconhecido como um dos sucessosa nível mundial na criação de umaforte e leal base de assinantes, ten-do ultrapassado a marca de um mi-lhão de assinaturas no meio do anopassado. Toliver King salientouque o site do jornal recebe umamédia de 88 milhões de visitas úni-cas por mês atualmente, um dispa-ro de 84% face ao início de 2015.Uma grande parte dessa tendênciadeve-se ao aumento das assinatu-ras, explicou, salientando que osassinantes faziam 41 pageviews pormês, 14 vezes mais que as 3 page-views dos leitores sem assinatura.

Segundo Toliver King, na cap-tação de assinaturas é crucial o jor-nal saber comunicar bem o quetem de diferenciador e o que ofe-rece (o value proposition) e ir tes-tando diferentes formas de con-vencer os leitores a assinar, seja via

NoWorld News Media Congress, que termina hojeno Estoril, o caso do “Washington Post” foi usadocomo exemplo de sucesso na gestão de assinatura.

SHRIKESH [email protected]

RECEITAS DIGITAIS

O valordo conteúdo

As exigências dos consumido-res refletem a necessidade deuma comunicação personali-zada, relevante e interativa. Asabordagens estratégicas dasmarcas reinventam-se paraconquistar posicionamento,credibilidade e fidelização.

Será o conteúdo um dosprincipais fatores de sucessopara garantir uma verdadeirarelação de confiança entre outilizador e a marca?

A tendência indica que odesenvolvimento de conteú-dos tem aumentado nos últi-mos anos de forma exponen-cial, quer na diversidade, querna maneira como são distri-buídos. Sabendo que as RedesSociais são determinantespara alavancar grande parte dainformação disponível nomeio digital, são numerosas asformas de contar histórias oudar a conhecer as notíciasmais recentes sobre um setorou atividade.

O Stoytelling é uma estra-tégia de Marketing que con-siste na criação de narrativaspara conquistar audiênciasde forma relevante, contra-riando assim a massificaçãode informação com a qualsomos impactados diaria-mente para comprar produ-tos ou adoptar comporta-mentos padronizados.

Quantas vezes nos deixá-mos já inspirar por vídeos pu-blicitários ou imagens quecontam pequenas histórias?

As marcas que exploramcontinuamente este tipo deabordagens encontraram umaforma eficiente de fidelizar oseu publico alvo através deapelos emocionais ou mensa-gens envolventes. Mas co-nhecer a audiência, escolheros canais adequados e a alturacerta para divulgar os conteú-dos, também são ingredientesfundamentais para o sucessodesta estratégia.

JOÃO NEVESDirector de DesenvolvimentoDigital da Nova Expressão

O Brand Content chega-nosmuitas vezes através de for-matos criativos menos con-vencionais, criando relevânciacom o impacto visual e pelotipo de suporte utilizado, sen-do que o principal objetivo écriar experiências únicas everdadeiramente marcantespara os consumidores.

Se a diversidade e credibili-dade fazem parte de uma sóli-da estratégia para a utilizaçãode conteúdos, também a com-ponente tecnológica na formaem que são distribuídos é im-portante dado que o consumode pesquisas, vídeos e artigosatravés de dispositivos móveisnão irá parar de aumentar.

Convém já agora ter emconta que nem só de históriasse faz bom conteúdo. Deixan-do de lado muitas vezes a ver-tente comercial as marcasapostam em conteúdos infor-mativos e úteis para o seu pú-blico-alvo. Assim, os Tuto-riais ou White Papers ganhamrelevância para muitos consu-midores que procuram infor-mação fácil de apreender emmanuais, documentos deapoio técnico para resoluçãode problemas, vídeos explica-tivos ou infografias.

Este tipo de informação édisponibilizado de forma di-dática com o intuito de parti-lhar conhecimento, dando vi-sibilidade à marca de formamais ou menos subliminar.

Chegar ao ponto em que sãoos consumidores à procura doconteúdo produzido ou dispo-nibilizado por determinadamarca é definitivamente o so-nho de qualquer Marketeer. ●

OPINIÃO

Será o conteúdoum dos principaisfatores de sucessopara garantir umaverdadeira relaçãode confiança entreo utilizadore a marca?

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as newsletters. paywalls após a leiturade um número determinado de ar-tigos ou anúncios no próprio con-teúdo e em várias partes do site.

“Já no que toca à retenção das as-sinaturas, na renovação, na redu-ção do churn, a chave reside no en-gagement, no contato regular como leitor”, explicou.

As mais de 70 newsletters que o“Washington Post” produz repre-sentam uma ferramenta poderosapara atingir ambos estes objetivos.

“Expõem o leitor ao nosso con-teúdo, ajudam a comunicar com oleitor, e em alguns casos fazem re-cordar que tem uma assinatura eque a deve usar”, frisou ToliverKing.

Adiantou que até maio de 2017cerca de um terço da perda de assi-naturas do jornal digital eram in-voluntárias, ou seja, de leitores quenão queriam necessariamente des-continuar a compra, mas que poralgum motivo, por exemplo umproblema no método de pagamen-to, a renovação não era processa-da. “O que começámos a fazer foicomunicar com esse leitores nãosó por correio eletrónico, mastambém diretamente no site dojornal para incentivar a atualizaçãodos dados e permitir a renovação”.

Segundo a norte-americana,medidas como essa permitiram au-mentar em 6% e 12% a retenção deassinaturas mensais e anuais, res-petivamente. “Além da eliminar osobstáculos à transação, o que fize-mos foi realmente focar em conse-guir que o assinante veja o “Wa-shington Post” como parte da roti-na diária, que utilize o jornal deforma quase inconsciente, que sejaum hábito”, sublinhou. “Isso en-volve também tornar mais fácil aoleitor a partilha de conteúdos viaredes sociais”.

Toliver King explicou ainda queo jornal recentemente lançou emfase beta uma experiência diferen-ciada de leitura para os assinantes,com um interface mais clean doque no site geral. “Aumentou deforma significativa o tempo que osleitores permanecem nas páginas etambém a frequência com a qualnavegam de uma página para outradentro do site”.

A equipa de retenção do “Wa-shington Post” tem uma tarefaconstante de estudar o comporta-mento dos assinantes através dedata analytics, para identificar osque podem ter uma tendência paranão renovar.

Esse processo envolve represen-tantes da redação, pois são os jor-nalistas que conhecem melhor osconteúdos e que podem sugerir ostemas e as peças que poderão serusados não só para atrair os assi-nantes, mas também para mantê--los ativos e prontos a renovar.

Bezos pôs uma tropa de jornalis-tas, informáticos e marketeers atrabalhar a certificar que o baldenão tenha um furo. ●

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34 | O Jornal Económico, 8 junho 2018

ÚLTIMA

Esta semana escrevo do aeroportoFrancisco Sá Carneiro no Porto àespera de embarcar para Lisboa. Ovoo está atrasado uma hora e meia.A greve nos comboios, iniciada napassada segunda-feira, afectoutambém os voos, a começar pelaponte aérea entre as duas cidades,com a maior parte dos bilhetes es-gotados e o preço mais elevado queo habitual.

Os trabalhadores ferroviáriosrealizaram a greve contra a possibi-lidade de circulação de comboioscom um único agente. No primeiro

CARTAS AO DIRETOR

SOFIA AFONSO FERREIRAConsultora de Comunicação

Inferno especial

RES PUBLICA

FICHA TÉCNICA

Publicado semanalmente à sexta-feira. Propriedade – Megafin Sociedade Editora SA. Registo na ERCS nº 223731. NIPC 507657551 º Estatuto Editorial disponível em www.jornaleconomico.pt N.º de Depósito Legal: 245365/06- Sede – Avenida Casal Ribeiro, n.º 15, 3.º, 1000-090 Lisboa. Morada da redacção – Rua Vieirada Silva, 45, 1350-342, Lisboa. Tel. 217 655 300. Diretor – Filipe Alves. Diretor Adjunto – Shrikesh Laxmidas. Subdiretor – Ricardo Santos Ferreira. Diretor de Arte – Mário Malhão. Redatora Principal – Lígia Simões Grandes Repórteres – António Sarmento, Nuno Miguel Silva e Maria Teixeira AlvesRedação – Almerinda Romeira, Ana Pina (coordenadora de Opinião), Ânia Ataíde, António Freitas de Sousa (delegação do Porto), Fernanda Pedro (Imobiliário), Gustavo Sampaio, Joana Almeida, José Carlos Lourinho (coordenador do Online), Leonor Mateus Ferreira, Mariana Bandeira, Rita Paz (coordenadora do Online) eSónia Bexiga Correspondentes Regionais – Eduardo Varanda (Minho), Joaquim Lopes (Centro), Patrícia Gaspar e Ruben Pires (Económico Madeira) Paginação e Produção – Rute Marcelino (coordenadora e designer) e Fábio Gomes (tratamento de imagem). Fotografia – Cristina Bernardo. Diretor Geral – Vítor NorinhaInovação e Marketing – Joel Saraiva Informática – Pedro Gonçalves. Área Comercial – Cláudia Sousa (diretora), Ana Catarino, Cristina Marques, Elsa Soares, Isabel Silva, Joel Saraiva (Analista de Media), Luis Medeiros (Branded Content) e Maria João Pratas (conferências) Recepção e portaria – Luís Oliveira.Área Financeira – Florbela Rodrigues, Pedro Madeira e Sérgio Araújo (operações). Administração – Luís Figueiredo Trindade – Impressão – Empresa Gráfica Funchalense SA, R. Capela Nossa Senhora da Conceição, 2715-511 Morelena. Distribuição – Vasp – Distribuidora de Publicações, SA – Quinta do Grajal, VendaSeca, 2739-511 Agualva, Cacém. Assinaturas: [email protected] Tiragem – 15 mil exemplares. Nenhuma parte desta publicação, incluindo textos, fotografias e ilustrações, pode ser reproduzida por quaisquer meios sem prévia autorização do editor.

dia, e segundo dados disponibiliza-dos pela CP, a greve suprimiu 10 li-gações internacionais (66%), 60comboios regionais (72%), 114comboios urbanos de Lisboa (98%)e 36 urbanos do Porto (72%).

O Sindicato Ferroviário da Re-visão e Comercial itinerante indi-cou que a adesão à greve obrigou auma paralisação de 90% dos com-boios de mercadorias e de passa-geiros em todo o país, nas zonasurbanas de Lisboa atingiu os 100%e 95% no Porto.

Os sindicatos que convocaram agreve consideram que a circulaçãode comboios só com um agente põeem causa a segurança ferroviária detrabalhadores, utentes e mercado-rias, e defendem que é necessárioque não subsistirem dúvidas no Re-gulamento Geral de Segurança. Osferroviários rejeitam alterações aoRGS com o objetivo de reduzir cus-tos operacionais e consideram quea redação do mesmo, em discussãonos últimos meses, deixa em aberto

a possibilidade de os operadores de-cidirem se colocam um ou doisagentes nos comboios. Reparem no“deixa em aberto”. E no que consis-te essa falha na segurança? Nin-guém sabe. São fornecidos núme-ros, dados, evidências? Parece quenão é importante explicar.

Quando aparecer o primeirosindicato em Portugal que propo-nha uma greve onde os meios de

Tudo indica que a Lola vai nascerno primeiro trimestre de 2019. Elaainda não saberá, mas vai ser a pri-meira funcionária pública automa-tizada e a sua carreira iniciar-se-ána Loja do Cidadão no Porto,como assistente pessoal do espaçopúblico. A sua missão é tornartodo o processo de acesso à Loja doCidadão mais simples e intuitivo eencaminhar corretamente os cida-dãos para os serviços pretendidos.

Ou seja, depois de uma vaca voa-dora, o Governo vai apostar norobô Lola, que nasce no contexto do‘Simplex’, o conhecido programainiciado pelo Governo de José Só-

CARTAS AO DIRETOR

EDUARDOTEIXEIRAEconomista

A Lola voadoracrates que tem permanecido comobandeira socialista desde 2006. Ago-ra, pela mão da ministra Maria Ma-nuel Leitão Marques e ainda sem tercumprido alguns dos seus objetivos,nomeadamente o de ‘papel zero’ noEstado, irá integrar o que dizem sernovos desenvolvimentos e melho-rias – entre eles, a Lola.

A Lola, e as Lolas que lhe suce-derão, encerrará serviços públicosde proximidade, tirará empregopúblico aos cidadãos? E como seráfeito o imprescindível atendimen-to personalizado? Dará resposta àsnecessidades das pessoas que pro-curam ser atendidas presencial-mente numa repartição pública ouloja do cidadão porque não conse-guem resolver os seus problemasatravés da internet?

Será esta uma pura ação demarketing? Será que a ministra e oGoverno nestes três anos evoluí-ram no ‘Simplex’? Será que a eradigital impõe a criação do funcio-nário público digital? E como seriase, em vez de uma repartição pú-blica, o modelo fosse testado nas

Aprecio quandoos sindicatosconvocam uma grevenuma segunda-feiraa seguir a um fimde semanaprolongadacomo a dos comboios

A verdade é quea Lola não teráuma carreiraprofissional,nem remuneração,nem direitosou encargos

Stressem Itália reveladesestruturaçãodo mercado

É verdade que a ascensão de umGoverno populista ao poder emItália incrementa significativa-mente aos factores de risco da dí-vida soberana do país, mas seráisso justificação suficiente paraum aumento assustador da volati-lidade e para uma subida das taxasde juro a curto prazo sem prece-dentes?

Para além do montante de dívi-da italiana, uma fotografia funda-mental da situação actual de Itáliapara o curto prazo não levantagrandes alertas. A maturidademédia da dívida do Estado é demais de 7 anos; o custo médiodesta dívida tem margem paracontinuar a cair, mesmo depois darecente subida das taxas de juro(!); o sector financeiro tem vindoa trabalhar relativamente bem nasua recapitalização; a balança co-mercial tem melhorado significa-tivamente. Entre outros factoresque tornam pouco provável que asubida das taxas de juro tenha umefeito de contágio sistémico... Oreceio reside por isso no rumoque o novo Governo possa tomara médio prazo, mas também emrelação a isso a reacção do merca-do pareceu exagerada. As pro-messas de indisciplina orçamentale a perspectiva de divergência daEuropa são preocupantes, no en-tanto existem vários constrangi-mentos constitucionais a algumasdas principais linhas de acção dacoligação, o que significa que amaterialização de tais receios nãoé de todo certa.

Neste caso não parecem tersido, somente, os factores funda-mentais do caso italiano que pro-vocaram o stress no mercado de

BERNARDO SILVA CÂNCIOBiG – Banco de Investimento Global

dívida soberana. Para os queacompanharam a dívida soberanade perto nesses dias, a falta de li-quidez e profundidade no merca-do foi o algo que saltou à vista. Énormal que a liquidez seja maisreduzida em dias de stress, princi-palmente num dos lados do mer-cado (comprador ou vendedor),mas nos dias em que as taxas dejuro da dívida italiana mais subi-ram existiam estranhamente pou-cos dealers a “fazer” o mercado eainda menos liquidez do que seriade esperar. O que muito prova-velmente exacerbou a subida dastaxas de juro, e consequentemen-te o stress.

Esta falta de liquidez e de pro-fundidade do mercado é, na mi-nha opinião, causada em grandemedida pelo excesso de regulaçãoa que o sector financeiro tem vin-do a ser sujeito ao longo dos últi-mos anos. Com os vários cons-trangimentos à actividade, com ascomplexas exigências de capital -que encostam as instituições fi-nanceiras aos activos soberanosde maneira a acederem aos requi-sitos de capital – e com as imposi-ções de controlos de risco, os re-guladores estão a distorcer o mer-cado de tal forma que estão, elessim, a criar uma nova fonte de ris-co sistémico.

As intenções do regulador sãoobviamente boas, mas as medidasque foram implementadas pare-cem ter afastado do mercado osplayers que tendiam, noutrostempos, a absorver/negociar osactivos sob stress. Fosse porqueconseguiam ver para além dos re-ceios de curto prazo, ou porquetinham mais margem para assu-mir o risco. O afastamento destesplayers é sem dúvida um prejuízopara o mercado, que terá que sehabituar a ocasionais picos extre-mos de volatilidade, e às conse-quências que isso possa trazer. Nocaso de Itália, as consequências davolatilidade podem até ser benig-nas, na medida em que servemcomo dissuasor de políticas de-masiado radicais. Noutros casos, ahistória pode ser diferente… ●

OPINIÃO

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O Jornal Económico, 8 junho 2018 | 35

Tempestadeperfeitano imobiliário

O preço das casas está a su-bir rapidamente e a criar umapressão cada vez difícil de sus-tentar para a classe média.Esta é uma conclusão possívelque se pode retirar de um es-tudo do Banco de Portugalpublicado nos últimos dias eque liga a subida do preço dahabitação a interesses dos es-trangeiros (residentes não ha-bituais) e ao turismo.

Mas será que esta é a leituracorreta? Quando conversa-mos com gente do setor, no-meadamente a nível de pro-motores imobiliários e se-nhorios, a ideia que fica ébastante diferente. Antes demais, o parque imobiliáriohabitacional em Portugal nãopode ser tratado como umtodo. Uma coisa é a habitaçãonos centros de Lisboa e Por-to, outra é o preço da habita-ção nos arredores, que sãodormitórios, e depois vem oresto do país. E comecemospor esta última parte. O par-que imobiliário na províncianão se valorizou, houve subi-das modestas em zonas dedormitório, continuam a su-bir os preços nas duas maio-res cidades e entrou-se na es-peculação nas zonas históri-cas das duas cidades.

E chegados aqui vamos res-ponder a três questões. A im-portância do património imo-biliário é relevante para osportugueses? O mais recenterelatório da SaeR diz, no tra-balho “A habitação como he-rança patrimonial dos babyboomers” e tendo por base da-dos de 2015, que “o valor dopatrimónio dos particulares,englobando o património dasfamílias e das instituições par-ticulares de solidariedade so-cial, ascendia a 630 mil mi-lhões de euros, cerca de 350%do PIB”, para mais à frente os

analistas da SaeR concluíremque, “genericamente, as famí-lias portuguesas apresentamuma situação patrimonial só-lida, com o valor da dívidaacumulada a representaraproximadamente 26% do to-tal dos ativos”. A resposta éque o imobiliário é relevante.

O segundo é perceber se oimobiliário nacional funcionacomo um offshore para di-nheiro vivo e como paraísofiscal para alguns. A questãonão é fácil, porque não sabe-mos se por cada “visto Gold”há uma investigação aprofun-dada sobre a proveniência dodinheiro. É curioso perceber--se que há ruas em Lisboa queestão a ser compradas por em-presários de países asiáticosque conhecemos habitual-mente pela pobreza da popu-lação e da sociedade em geral,mas que aqui são verdadeiros“poços de ouro”. Por outrolado, temos por cá cada vezmais franceses e naturais doNorte da Europa que ficamisentos de pagamento de im-postos durante 10 anos e ape-nas precisam “fingir” que cáhabitam 180 dias por ano.Claro que houve reabilitaçãohabitacional nos cascos histó-ricos, mas, muita dela, feitadentro do conceito de reabili-tação do pladur, o que paraentendidos é suficiente!

E o último tema é recor-rente: Lisboa precisa de 25mil habitações para a classemédia e a preço compatívelpara manter os nativos na ci-dade. Compete às entidadespúblicas resolver o drama, ouseja, reabilitar e construironde as pessoas querem vivere não para onde os queremmandar viver. ●

IRONIA E MAIÊUTICA

VÍTOR NORINHADiretor Geral da Megafin

Os bancáriose o labirintoda Segurança Social

Estamos perante um clássico: aocidadão nenhuma falha é toleradanas suas obrigações perante as Fi-nanças e a Segurança Social. Aomenor lapso, o cidadão já sabeque a coima é garantida. O con-trário, porém, quase sempre não éverdade. Regra geral, ao Estado épermitido o que não é ao cidadão,sem que daí decorra qualquer tipode sanção.

Estarei a exagerar um pouco,porventura, mas vem isto a propó-sito do que se está a passar na Se-gurança Social por estes dias, emque as respostas aos pedidos depensões chegam a demorar, nal-guns casos, sete longos meses.

Os atrasos são um facto impos-sível de escamotear e o próprioministro do Trabalho, Solidarie-dade e Segurança Social já reco-nheceu que o tempo médio entrea entrada do requerimento dapensão e a sua atribuição é “exces-sivo”. Daí, aliás, a sua decisão dereforçar a Segurança Social commais 200 trabalhadores, sendoque a maior parte vai ser canaliza-da precisamente para o CentroNacional de Pensões.

É certo que estes atrasos sãotransversais a todos os pedidos dereforma e não afectam apenas osbancários. Infelizmente, no casodos bancários aos atrasos geraisacrescem problemas adicionaisque agravam ainda mais a demorana atribuição e pagamento daspensões pela Segurança Social.

Tal é o caso das pensões dos an-tigos trabalhadores do BANIF. Te-nho conhecimento de diversos ca-sos de trabalhadores a quem foi re-cusada a atribuição de pensão dereforma. Uma recusa que decorreunicamente do desconhecimentoda lei pelos funcionários da Segu-rança Social quanto ao novo regi-me aprovado em 2017. Problemasque se repetem no caso dos traba-lhadores do antigo BPN, cujo regi-me legal específico tem vindo a ge-rar agravada demora na respostapor parte da Segurança Social.

PAULO GONÇALVES MARCOSPresidente da direcção do SNQTB e doConselho Directivo do SAMS Quadros

OPINIÃO

Os problemas específicos dosbancários não se ficam por aqui.Importa ainda salientar o facto deo subsídio de doença, pago pelasrespectivas Instituições de Crédi-to, ser tributado em sede IRS, aocontrário do que sucede quantoaos subsídios de doença recebidospelos restantes trabalhadores porconta de outrem. Dois pesos e duasmedidas porquê?

Por último, mas não em último,queria ainda alertar que o simula-dor de pensões de reforma, recen-temente disponibilizado pela Se-gurança Social, induz em erro osbancários e ex-bancários quanto àspensões a receber futuramente.Por manifesta inadequação face àrealidade concreta dos bancários,tendo em conta o seu regime espe-cífico previdencial, o simuladorindica uma pensão inflacionadaface à que efectivamente virá a serrecebida.

Por tudo isto, dirigi uma cartaao senhor ministro Vieira da Silvaalertando para estes problemas epara a necessidade de uma urgentee justa resolução. Enderecei igual-mente uma carta à Comissão deTrabalho e Segurança Social soli-citando uma audiência de modo aque seja também possível dar co-nhecimento ao Parlamento do aci-ma exposto.

O Estado é suposto ser uma pes-soa bem na sua relação com os ci-dadãos. É apenas isso que quero e épara isso que darei sempre quepossível o meu contributo. ●

transporte substituam a paraliza-ção pela não cobrança de bilhetes,teremos finalmente greves queafectam as empresas e o governoem vez de dar cabo da paciênciaaos utentes.

Também aprecio quando os sin-dicatos convocam uma greve numasegunda-feira a seguir a um fim desemana prolongada como a doscomboios. Ou na véspera de SantosPopulares na capital como a greveda Trastejo e Soflusa agendada paraos próximos dias 11 e 12 de Junho.Deveria existir um inferno especialsó para este tipo de decisões.

Ao tribunal arbitral a greve dostransportes fluviais ter sido preci-samente convocada em dias degrande enchente e deslocação depessoas entre Lisboa e a MargemSul, não lhe pareceu importante edecretou não fixar serviços míni-mos para o transporte de passagei-ros pelas empresas. Os passageirostêm duas pontes, autocarros e car-ros privados, bicicletas e patins,qual é o problema? E o que preten-dem os sindicatos com a greve? “Avalorização salarial dos trabalha-dores da empresa.” Mas não esta-mos em tempos de pujança econó-mica como nunca vista e os tem-pos de austeridade enterrados parasempre no passado? ●

escolas, nos tribunais, nos hospi-tais e centros de saúde?

A verdade é que a Lola não teráuma carreira profissional, nem re-muneração, nem direitos ou en-cargos. Também não terá família,não ficará de baixa por doença,não fará greve nem reivindicarámelhores condições laborais. Masserá pioneira numa nova etapatecnológica do Simplex. E preten-de substituir o insubstituível quesão os seres humanos, ainda queapresente um rosto humanizado.

Num momento social particu-larmente complexo, em que o Go-verno ainda não conseguiu resol-ver todas as promessas que assu-miu com os partidos da frente deesquerda, nomeadamente com odescongelamento de carreiras dosprofessores, nem consegue darresposta às urgentes necessidadesdo nosso Sistema Nacional de Saú-de, vem agora introduzir o concei-to do funcionário público robot.Talvez fosse melhor colocar aspessoas em primeiro e fazer voar aLola para o seu mundo virtual. ●

O simuladorde pensõesde reforma,recentementedisponibilizado pelaSegurança Social,induz em erroos bancáriose ex-bancáriosquanto às pensõesa receber futuramente

Claro que houvereabilitaçãohabitacional noscascos históricos,mas, muita dela,feita dentrodo conceitode reabilitaçãode pladur

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ÚLTIMA

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Deutsche Bank estuda fusãocom o Commerzbank

O chairman do Deutsche Bank,Paul Achleitner, falou com os seusacionistas de topo sobre a possibili-dade de uma fusão com o rivalCommerzbank, avançou ontem aBloomberg. Isto porque o maiorbanco alemão está a passar por umareestruturação com vista ao turna-round, diz a agência que cita fontesfamiliarizadas com o assunto.

O chairman do Deutsche Bankdiscutiu a fusão dos dois bancos ale-mães com os seus acionistas de topoe com membros do Governo ale-mão, segundo a Bloomberg.

Embora atualmente não haja dis-

cussões formais entre os dois bancose tal movimento não esteja iminen-te, o presidente do Deutsche Bankestá em conversas com as partes in-teressadas sobre um possível acordono futuro, segundo as fontes daagência noticiosa.

Há acionistas comuns aos doisbancos. O fundo norte-americanoBlackRock tem 5,11% do DeutscheBank e 5% do Commerzbank.

O fundo Cerberus é também umacionista comum. No Commerzbanktem 5% e o co-fundador e presidenteexecutivo (CEO) da Cerberus CapitalManagement, o bilionário norte--americano Steve Feinberg, é donode 3% do Deutsche Bank.

O Commerzbank é no entanto de-tido em 15% pela República Federal

da Alemanha, ao passo que oDeustche Bank é totalmente privado.

No entanto, segundo a Bloom-berg, o tombo de 39% das ações doDeustche Bank desde o início do anosão um obstáculo à fusão, já que re-sultariam numa maior diluição daposição dos investidores e potencial-mente obrigaria a um aumento decapital e à desvalorização das ações.

Os dois bancos chegaram a terconversações no verão de 2016, masdecidiram por não avançar para ne-nhum acordo e, em vez disso, opta-ram por se concentrar na reestrutu-ração dos seus próprios negócios.

As ações do Commerzbank fecha-ram a sessão de quinta-feira a subir1,32% e as do Deutsche Bank valori-zaram 0,64%. ● Bloomberg

MARIA TEIXEIRA [email protected]

Tribunal de Contas repete críticas às contasdo Estado e da Região Autónoma dos AçoresO Tribunal de Contas continua aser crítico quanto à forma como oEstado apresenta contas, subli-nhando que a Conta da Adminis-tração Central e a Conta da Segu-rança Social de 2016 “estão afeta-das por erros materialmente rele-vantes”. O mesmo acontece com aa Região Autónoma dos Açores.

No relatório de atividades e con-tas da entidade presidida por VítorCaldeira, divulgado esta madruga-da, registam-se “reservas sobre alegalidade, a contabilização, o con-trolo interno e a correção finan-ceira, enfatizando, ainda, um con-

junto de deficiências que persistemde anos anteriores”.

O Tribunal de Contas fez 75 reco-mendações à Assembleia da Repúbli-ca e ao Governo no ano passado,sendo que 80% delas são recorrentes.Diz que, embora estivesse prevista autilização de um novo referencialdesde 1 de janeiro, “as auditorias rea-lizadas identificaram constrangi-mentos e atrasos, com organismos areconhecer a impossibilidade de efe-tuar a transição no prazo fixado”. As-sim, “caso não sejam tomadas açõesreforçadas, fica em risco a elaboraçãodas demonstrações orçamentais e fi-

nanceiras da CGE [conta geral doEstado] de 2019, inviabilizando arespetiva certificação pelo Tribunal”.

O número de atos e contratoscontrolados pelo Tribunal aumen-tou 22,8% no ano passado, para3.538, relativos a 518 entidades erepresentando um volume finan-ceiro de 4,6 mil milhões de euros.Regista-se que foi recusado o vistoa 39 processos, com um volume fi-nanceiro de 118 milhões de euros.Foram remetidos 92 processos Mi-nistério Público, para decisão cominfrações evidenciadas. Destes, 18foram para julgamento. ● MR

FUSÕES E AQUISIÇÕES

O Chairman do Deutsche Bank, Paul Achleitner, falou com os seusacionistas e com o Governo sobre uma possível fusão com o seu rival.

A Associação Nacional de Trans-portes Públicos Rodoviários deMercadorias (ANTRAM) e o Go-verno assinaram ontem um acor-do com medidas imediatas de subi-da do limiar do gasóleo profissio-nal dos 30 mil para os 35 mil litrose de fiscalização ao setor.

O secretário de Estado das In-fraestruturas, Guilherme d’Olivei-ra Martins, esteve ontem reunidocom a ANTRAM e no final do en-contro assinaram um protocolonegocial “com vista à implementa-ção de medidas imediatas, de curtoprazo, e medidas que vão ser im-plementadas até ao final desteano”, conforme explicou o gover-nante aos jornalistas no final da as-sinatura.

Para aplicação “imediata” estáprevista a ampliação do limiar donúmero de litros de 30 para 35 millitros, abaixo do valor de 50 mil li-tros que era a proposta inicial daANTRAM, e “medidas de fiscali-zação concreta ao setor”, por partedo IMT e das autoridades policiais,para garantir que a legislação écumprida, nomeadamente ao níveldos períodos de descanso, horáriode trabalho e outras questões.

“Somos sensíveis às soluções queo setor quer apresentar. Estamosdisponíveis para continuar a tra-balhar e a dignificar o setor”, disseo secretário de Estado, sublinhan-do que “ambas as partes estão satis-feitas”.

Até ao final do ano, o Governocompromete-se ainda, ao abrigodo acordo hoje assinado, a avaliaro regime fiscal em sede de IVA(nomeadamente a aplicação doIVA devido pelo adquirente), a ati-vidade seguradora no setor e a im-plementação de medidas de regu-lamentação nacional e ao nível eu-ropeu.

“São medidas com impacto e querefletem as necessidades dos trans-portadores de mercadorias paraadequação da realidade europeia ànacional e que o governo está sen-sível a estudar e a avaliar em con-junto com outras associações”, dis-se Guilherme d’Oliveira Martins.

Da parte da ANTRAM, o presi-dente Gustavo Paulo Duarte reco-nheceu a importância de ter sidoencontrada uma plataforma de en-

tendimento para o curto-médioprazo com o Governo.

“O que nós queremos é uma ver-dadeira regulação do setor, medi-das que promovam a eficiência e aestratégia, nomeadamente medi-das fiscais para quem melhor pen-sa na estratégia. Somos um setorforte, não precisamos de balões deoxigénio”, disse o responsável.

O Governo irá nos próximosdias reunir-se também com a As-sociação Nacional das Transporta-doras Portuguesas (ANTP), paraigualmente chegar a acordo doponto de vista de medidas a imple-mentar e depois de na segunda-fei-ra terem realizado uma reunião detrabalho com esta associação.

A 28 de maio, a ANTP realizouum protesto para reclamar a regu-lamentação do setor, a criação deuma Secretaria de Estado dedicadaexclusivamente aos Transportes, aobrigatoriedade de pagamento noperíodo máximo de 30 dias e acriação de um mecanismo para quea inflação também seja refletida nosetor dos transportes. ● Lusa

Governo assinaacordo comANTRAM

Acordo prevê medidas de subida do limitardo gasóleo profissional dos 30 mil paraos 35 mil litros, bem como de fiscalização do setor.

TRANSPORTES

GUILHERME W. OLIVEIRAMARTINSSecretário de Estadodas Infraestruturas