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23 JULHO 2020 VISÃO 37 AS MÃOS QUE €MBALAM VENTURA CHEGA Há novas suspeitas a ensombrar o Chega, mas o líder do partido está a conquistar empresários e homens de negócios com peso e influência no País e no estrangeiro. Uns prometem ajuda financeira, outros esperam para ver e alguns fazem pontes, esperançados na lotaria política de André Ventura. Os nomes, os interesses e as ramificações internacionais de apoiantes e admiradores do líder da direita radical populista e as histórias de bastidores de quem investe no seu sucesso MIGUEL CARVALHO

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AS MÃOS QUE €MBALAM VENTURA

CHEGA

Há novas suspeitas a ensombrar o Chega, mas o líder do partido está a conquistar empresários e homens de negócios com peso

e influência no País e no estrangeiro. Uns prometem ajuda financeira, outros esperam para ver e alguns fazem pontes,

esperançados na lotaria política de André Ventura. Os nomes, os interesses e as ramificações internacionais de apoiantes

e admiradores do líder da direita radical populista e as histórias de bastidores de quem investe no seu sucesso

M I G U E L C A R V A L H O

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AAquele almoço de quinta-feira, 18 de junho, quase pedia férias antecipadas para os lados da Quinta do Barruncho. Na requintada residência de Loures, fo-ram servidos queijos da serra e de cabra, vichyssoise, garoupa e outras iguarias regadas a colheitas vinícolas de exce-lência. Mas a presença de convidados especiais e os temas em cima da mesa pediam certa solenidade e discrição.

Desafiados por João Maria Bravo, empresários e homens de negócios liga-dos a setores importantes da economia nacional acorreram à propriedade de pergaminhos aristocráticos para ouvir e até aconselhar o mais controverso deputado da nação: André Ventura. Ninguém foi ao engano e o líder do Chega apresentou-se no repasto com o vice-presidente, Diogo Pacheco de Amorim. Trocaram-se ideias sobre propostas e objetivos do partido, discu-tiram-se cenários eleitorais, avaliaram--se necessidades daquela força política e a disponibilidade dos presentes para ajudar a fortalecer Ventura. Embora as versões não coincidam, ter-se-á tam-bém abordado eventuais contributos financeiros para o Chega. “Foi um al-moço para trocar impressões, as pessoas queriam ouvir o André”, garante Diogo Pacheco de Amorim, negando ter dis-cutido questões de dinheiros. “Tive uma atitude discreta na mesa e nem sequer me compete falar desses assuntos…”

VENTURA VAI EM FRENTE…Mas quem eram, afinal, os seletos co-mensais, cujas atividades, em alguns ca-sos, pesam muitos milhões na economia nacional e até além-fronteiras? O que esperam de Ventura e que expectativas alimentam em relação ao Chega?

João Maria Bravo, anfitrião da quinta que, há duas gerações, mantém na famí-lia, é dono do grupo Sodarca, certificado pela NATO, e lidera o fornecimento de armas, munições, tecnologia e equipa-mento militar ao Estado, Forças Arma-das e de segurança. No seu conjunto de empresas inclui-se a Helibravo, com

uma frota de helicópteros e um avião executivo para diversos fins, entre eles o combate a incêndios. Na vigência dos governos socialistas de António Costa, a Sodarca e a Helibravo já faturaram ao Estado perto de 33,3 milhões de euros. O último contrato, celebrado em abril com o Exército, vale mais de 17 milhões.

João Bravo não confunde negócios com política. “Desde 1974 que o País se afunda, e este já é o governo mais caro de sempre. O André é o único que co-loca o dedo na ferida e fala do que que-remos ouvir. Faz propostas honestas, pretende pôr o País na ordem, combater

a impunidade e fazer a economia flo-rescer”, assume o empresário, “farto de Ricardos Salgados, dos tipos do Banco Privado, dos Sócrates e de outros que andaram a brincar connosco”.

Em tempos, apoiou o CDS de Paulo Portas. Nas legislativas, votou PSD.

“Ainda não conhecia o Ventura, fo-ram os trabalhadores da minha herdade no Alentejo [Vale do Manantio] que me falaram dele com entusiasmo. Até aí, nunca me sentira motivado para me aproximar de um político”, assinala. Mas assim foi. “O André é brilhante, fala uma linguagem simples. Como

JOÃO BRAVO DESAFIA OS EMPRESÁRIOS A APOIAR O CHEGA, ATÉ FINANCEIRAMENTE, E A LEVAR VENTURA AO PODER. “DENTRO DA LEI E COM TRANSPARÊNCIA”

Barruncho Foi nesta quinta que, em junho, Ventura almoçou com homens que movimentam milhões nos seus negócios

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imagina, tenho excelentes contactos nas forças policiais e militares e garanto que ele conta com muitos apoios. Só não existem mais adeptos declarados nessas áreas porque não se podem manifestar”, lamenta João Bravo, expli-cando a razão do almoço: “Ouço falar bem dele em todo o lado e decidi juntar alguns amigos, empresários de sucesso, que desejavam ouvi-lo, perceber para onde vai e o que pretende. Queríamos aconselhá-lo, pois anda muito sozinho e precisa de rodear-se de pessoas ao seu nível, e também perceber como pode-mos ajudar a que tenha mais votos, mais meios e popularidade”, assume, sem se deter: “É importante apoiar o Chega e mobilizar outros empresários à volta do Ventura para que possa ganhar as elei-ções e chegar a primeiro-ministro. Em termos de ajuda financeira – e é óbvio que o partido vai precisar –, far-se-á também o necessário, obviamente den-tro da lei e com transparência.”

Na Quinta do Barruncho, também se amesendou Miguel Félix da Costa,

cuja família liderou, durante 75 anos, a filial portuguesa da multinacional de lubrificantes Castrol. O empresário encabeça a Slil, holding com participa-ções no imobiliário de luxo, hotelaria e turismo, e gere a Sociedade Agrícola de São Cristóvão, na Herdade de Mata Ladrões, em Montemor-o-Novo.

As afinidades deste apaixonado por cavalos e por carros de corrida não são apenas de boca: além de contagiar outros, Miguel participou na recente manifestação do Chega em Lisboa. “O que me levou a apoiar André Ventura foi a preocupação com a política das esquerdas mais radicais que pretendem destruir os nossos valores e cultura”, explicou à VISÃO, resignado à incapa-

CONVENÇÃO TRUMP NÃO CONVIDOU VENTURAOs títulos foram chama-tivos: “Trump convida Ventura para convenção do Partido Republica-no.” O líder do Chega até anunciou a boa nova em conselho nacional, a concretizar-se em agosto, caso a pandemia deixe. O problema são os detalhes. O convite, a que a VISÃO teve acesso, partiu da desconhecida Republican Hispanic Organization, liderada pelo porto-riquenho Jay J. Rodriguez. O grupo – porque disso se trata – será composto, na maioria, por cidadãos daquele arquipélago, que não integra oficialmente os EUA. Porto Rico é um estado livre associado, com direitos limitados e os habitantes nem sequer votam para a presidência. Residente na Flórida, Jay é um produtor de conteú-dos, animador de rádio e comediante com menos seguidores e visualiza-ções do que Ventura e o Chega nas redes sociais. “Não pertencemos às estruturas oficiais repu-blicanas, mas, através de contactos internacio-nais, decidimos convidar o partido de Ventura”, explicou, via telemóvel. Rubricado pelo próprio Jay Rodriguez e com

erros ortográficos, o convite é extensivo a Diogo Pacheco de Amorim e Jorge Pereira, dirigente de uma asso-ciação luso-venezuelana de Espinho.A VISÃO precisou de se-manas, trocas de emails e telefonemas para que Genaro Pedroarias, da Republican National His-panic Assembly (RNHA),

reconhecida oficialmente pelo Partido Republicano, conseguisse indagar de onde partira o convite, quem era Jay Rodriguez e a sua organização. Primei-ro, admitiu que fosse um grupo “independente” ou “impostor”. Só após dias de contactos o prestável dirigente encontrou a agulha no palheiro: “Jay vive em Orlando e tem um grupo pequeno, talvez até seja o único membro.” De resto, esclareceu, nem a RNHA pode convidar estrangeiros para a convenção. “A menos que se trate de um convite pessoal, entre amigos…” Se for esse o caso de Ven-tura, veremos em agosto.

cidade de PSD e CDS, “órfãos de líde-res tipo Sá Carneiro ou Paulo Portas, fazerem oposição eficaz e imporem-se como alternativa política”. Segundo ele, está em curso “um ataque nunca visto aos nossos valores e princípios, ma-nipulado por uma extrema-esquerda insaciável. O desafio do Chega é con-seguir despertar e motivar uma direita adormecida que não vota e apenas sabe criticar. Ventura tem capacidade de mover montanhas e arrastar milhões de potenciais votantes”, crê o empresário, satisfeito por ver no partido guarida para as suas causas: iniciativa privada pujante, “forças de segurança fortes, motivadas e bem equipadas”, dignidade para profissionais de saúde e uma Justi-

MAR

COS

BORG

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bou sufocada em dívidas – e regressou à ribalta com negócios em terra, pelo mar e no céu. Na pele de filantropo da Fundação Mirpuri, faz gala de apoiar pesquisas médicas, a conservação ma-rítima e da vida selvagem, entre outras missões de “responsabilidade social”.

Apaixonado por vela, golfe, ténis e passeios a cavalo, segundo a biografia oficial, Paulo é CEO da Mirpuri In-vestments e gere negócios na aviação, imobiliário, florestas, agricultura e saúde, com ramificações internacionais. O gigante Airbus A380 estacionado no aeroporto de Beja, cedido em regime de leasing por um fundo alemão de

investimentos à HiFly, propriedade da família Mirpuri, permitiu à companhia aérea ser contratada pelo Governo para trazer da China 30 toneladas de material de proteção e combate ao coronavírus, voo cujo contrato valeu à empresa perto de 95 mil euros. Solicitado a detalhar as razões da sua presença na Quinta do Barruncho, Paulo Mirpuri fez saber, através da sua assessoria, que se limitou a ir a um almoço “para o qual também foi convidado André Ventura”.

Sócio do escritório de advogados BSGG, João Pedro Gomes conheceu o líder do Chega nessa ocasião. “Não sou de esquerda, mas não pertenço

ça que “acabe com a corrupção que ela própria criou e fomenta”.

Miguel Félix da Costa diz-se “enver-gonhado” com o panorama: “O primei-ro-ministro endivida o País como nunca se viu e aumenta os impostos para níveis impensáveis.” Virou-se então para Ven-tura, “líder inteligente, corajoso e capaz de devolver-nos a esperança e a alegria de viver num País mais justo, organi-zado e feliz”. Conheceu-o num almoço particular. Ficaram à conversa e o clique foi imediato. Esteve com o deputado na manif de apoio ao mundo rural no ano passado, num jantar da distrital de Lisboa e, há semanas, na Quinta do Barruncho: “O motivo do almoço foi o de mostrar a nossa solidariedade e disponibilidade para ajudar André Ventura na sua caminhada e também [expressar] a nossa preocupação sobre a atual situação política.”

Habituado ao cheiro das tintas, Car-los Barbot é daqueles que não se im-pressionam com o facto de o Chega ser pintado com cores de direita radical ou extrema-direita. “Sou contra posições racistas e xenófobas. Mas o Ventura veio abanar o sistema, pôr as pessoas a pensar, e isso é positivo”, assume o patrão do império industrial Barbot, cujos negócios vão das famosas tintas ao imobiliário, e de Portugal continental às ex-colónias (Angola, Moçambique e Cabo Verde), com passagem também pela Zona Franca da Madeira.

O empresário, cônsul honorário do Paraguai no Porto, foi à Quinta do Barruncho “por mera curiosidade” e de espírito aberto. “Queria ouvir o Ventura e encontrei o que esperava: uma pessoa frontal, que diz o que pensa”, explica. Regressou a casa com boas vibrações. “Ele abre o leque à direita, que estava muito limitado. Se temos um Bloco de Esquerda, também podemos ter um «Bloco» de direita, não?”, questiona, retórico, Carlos Barbot, que saiu mais cedo do almoço, sem ouvir falar de dinheiros. “Apoio financeiro ao Che-ga? Daqui até às eleições admito muita coisa”, graceja. “Não tenho posições fe-chadas e apoio quem faz bom trabalho. Gosto muito do presidente socialista da câmara de Gaia, Eduardo Rodrigues, e do que Rui Rio tem feito no PSD. Por agora, estou muito curioso para ver o percurso de Ventura…”

Paulo Côrte-Real Mirpuri foi outro dos convidados. E disse presente.

Apesar de fugir aos holofotes da Im-prensa, o empresário não anda fora do radar. Liderou a Air Luxor – que aca-

MIGUEL FELIX DE COSTAEMPRESÁRIO

ANDRÉ VENTURADEPUTADO E LÍDER DO CHEGA

PAULO MIRPURIEMPRESÁRIO

JOÃO MARIA BRAVOEMPRESÁRIO

DIOGO PACHECO DE AMORIMVICE-PRESIDENTE DO CHEGA

À MESA PODER DE MILHÕESQuem foram alguns dos empresários, homens de negócios e advogados que almoçaram com Ventura e Diogo Pacheco de Amorim na Quinta do Barruncho, em Loures?

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a partidos. Se lá estivesse o Rui Rio, também iria. Com o António Costa é que não, já o ouço muitas vezes…”, ironiza o ex-presidente da Associação das Sociedades de Advogados de Por-tugal. A conversa, relata, andou à volta das propostas de Ventura para gerar riqueza e diminuir o peso do Estado. “É um advogado brilhante, podia estar a ganhar muito dinheiro num gran-de escritório, mas anda por aí a dar o litro. A imagem de extremista que lhe colam é um exagero…”. Outro convida-do, Francisco Sá Nogueira, gerente da área turística da Helibravo, empresário e experiente consultor do setor, no qual

foi vice-presidente da Espírito Santo Viagens e CEO da Netviagens, recusou falar à VISÃO de um assunto que con-sidera “de natureza privada”. Quanto ao empresário e produtor agrícola João Ortigão Costa, outro dos presentes, a VISÃO não conseguiu contactá-lo nas diversas tentativas feitas, incluindo por correio eletrónico.

PONTES E BASTIDORESQuem não faz segredo da presença na Quinta do Barruncho é Francisco Cruz Martins. O advogado, apontado como dos mais ativos na promoção do líder do Chega e a fazer pontes para ele junto de diversos setores, nega tal importância, mas fala à vontade sobre o almoço. “Um grupo de amigos, mui-tos deles empresários, queriam ouvir o Ventura, conhecer as suas ideias, fazer perguntas”, explica. “Não falámos de financiamentos ao Chega, até ficava mal estarmos ali a discutir essas questões. Mas, no final, o sentimento geral foi no sentido de termos de ajudar o Chega e o André nisto. Quem quiser dar dinheiro, dá, sabendo-se que terá de contactar o partido para tal e fazê-lo dentro da lei.”

A fama de facilitador de negócios na área imobiliária acompanha Cruz Martins há anos. Em fevereiro de 2014, o advogado foi sequestrado por três indivíduos junto à sua casa no Estoril, e depois esfaqueado, espancado e até martelado num dedo, a pretexto de uma alegada dívida de três milhões de euros ao empresário António Leal da Silva. O seu papel num caso de burla ao Estado angolano, que a ele teria recorrido como testa de ferro na compra de ações do BANIF, e a passagem pela administração do polémico empreendimento Vale do Lobo ficaram no currículo.

Ex-sócio da Legalworks de Rui Go-mes da Silva, antigo vice-presidente do Benfica e padrinho de casamento de André Ventura, Cruz Martins admi-nistra as imobiliárias Mocaja e Xaroco, ambas pertencentes à Breteuil Strate-gies, sediada no Chipre, um dos mais importantes paraísos fiscais europeus. O

nome do advogado, de resto, foi ampla-mente citado no escândalo dos “Papéis do Panamá”, por causa das ligações a sociedades offshore. Nada que o impor-tunasse: “Quando estive no estrangeiro, tive várias. Era por causa dos negócios lá fora. Se fosse contribuinte em Portugal, tinha de declarar em Portugal. Estando lá fora, não tinha. Não é nada do outro mundo. Tudo normal”, referiu então.

Cruz Martins autointitula-se “liberal de direita e democrata-cristão”.

Gosta do Chega. “Fazia falta um partido assim. O André está a abanar o statu quo e ataca os compadrios po-líticos”, reforça. Caçador, o advogado ouviu aos parceiros de tiro em Mértola, “pessoas humildes”, as razões do voto em Ventura nas legislativas: o abandono das pessoas do campo, a desertificação do mundo rural. “Só ouço falar bem do gajo, que quer que lhe diga? Isto é um País de esquerda, dificilmente ele será primeiro-ministro, mas fazia falta um tipo assim.”

Quem lho apresentou foi o amigo e dirigente nacional do Chega, Salvador Posser de Andrade. O encontro pro-porcionou-se no restaurante Parlatório, próximo da Assembleia, poiso habitual de ambos. “Só contactei com o Ventura quando ele já era deputado”, garante Cruz Martins. “Não, foi antes. Apre-sentei-os por altura da fundação do partido”, esclarece o administrador da Coporgest, detalhando: “Usei os meus contactos para dar a conhecer o André a certas personalidades, muitos deles empresários e intelectuais. Organiza-ram-se almoços e jantares e, agora, é uma bola de neve. O André é uma figura fascinante, quase mítica, gera muita curiosidade.”

Jaime Nogueira Pinto, cuja aura de ideólogo e de aglutinador das famílias da direita – nacionalista, conservadora e liberal – não renega, despertou para Ventura logo após a saída deste do PSD. Conheceu-o, lembra à VISÃO, num jan-tar em casa do “amigo e correligionário de longa data”, Posser de Andrade. No recente livro sobre as origens do parti-

CARLOS BARBOTEMPRESÁRIO

JOÃO PEDRO GOMESADVOGADO

FRANCISCO CRUZ MARTINSADVOGADO

“É NATURAL QUE COMECE A APARECER MAIS DINHEIRO E ALGUNS AMIGOS POSSAM AJUDAR-NOS A TORNAR O CHEGA MAIOR”, DIZ O DIRIGENTE NACIONAL POSSER DE ANDRADE

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do, da autoria do investigador Riccardo Marchi, a versão é outra. “O futuro di-rigente do Chega, Salvador Posser de Andrade – com um passado no CDS e no PND de Manuel Monteiro – recorda ter sido alertado para a figura de Ven-tura, em outubro de 2018, por Jaime Nogueira Pinto”, lê-se. Na verdade, Jaime e Ventura já se conheciam, pelo menos, desde março de 2017, quando apresentaram a obra O Efeito Trump e o Brexit, da autoria do advogado e fundador do Chega, Jorge Castela. “Foi o Jaime quem primeiro falou do Matteo Salvini ao André, num jantar. Ele nem sequer sabia quem era o líder da Liga Norte”, conta um amigo de ambos.

Jaime Nogueira Pinto não fez apenas isso. “Tive conversas com André Ven-tura como tenho com muitos outros políticos portugueses, da extrema-di-reita ao PCP”, esclarece. “O seu projeto pareceu interessante por ter princípios de direita nacional e independente. E, nesse espírito, organizei um jantar para amigos que não o conheciam e tinham curiosidade. Não fiz nenhum peditório nem pedidos de financiamento, nem financiei o Chega”, afirma, assumin-do apenas papel de mediador para que avaliassem o projeto de Ventura em nome do combate ao “marxismo cultural” e ao “politicamente correto”. Por agora, mantém o “apoio crítico”, tal como fez, assinala, “em relação a todos os líderes ou movimentos políticos que se aproximaram dos valores políticos que me interessam – independência nacional e princípios de orientação permanente inspirados no cristianismo e na tradição ocidental”.

No início, “não havia muito dinhei-ro”, garante Posser de Andrade. “Foi um trabalho hercúleo. Uns davam dois ou três mil euros, e os meus contactos também serviram para angariar ajuda financeira, dentro dos limites legais, claro. Eu próprio contribuí”, recorda o dirigente nacional. Salvador promo-veu encontros reservados para o efeito no luxuoso Hotel Palácio, no Estoril. “Mas a maior parte foi em minha casa.” Embora associado por dirigentes da fase inicial a essas reuniões para “an-gariação de fundos”, Francisco Cruz Martins garante nunca ter posto os pés na unidade hoteleira nem participado em sessões desse tipo, mais privadas. “Os valores que se recolheram em Portugal, no início, não eram muito significativos”, rememora Pedro Pe-restrello, antigo fundador do Chega, hoje desfiliado. “Mas a partir de certa

altura, estranhamente, deixou de haver problemas de dinheiro.” No primeiro balanço anual que entregou na Entidade das Contas e Financiamentos Políticos, o Chega declarou apenas 24 mil euros nas legislativas que elegeram Ventura, uma pechincha, tendo em conta a im-pressionante campanha nacional feita.

Sobre os primórdios do Chega, Posser de Andrade assinala o facto de ter recorrido a laços privilegiados na área empresarial, mas as reações foram diferentes: uns pediram en-contros com Ventura, “outros tiveram de ser abordados por mim”. Todos, contudo, “demonstraram abertura para reunir com o presidente”. Estes contactos, descreve Marchi no seu li-vro, decorreram antes das legislativas e tornaram-se mais fáceis depois do 6 de outubro de 2019.

Nessa época, o empresário com li-gações à Chamusca, Eduardo Amaral

NUNO AFONSOUM PÉ NO PSD E OUTRO NO CHEGA?O vice-presidente do Chega e chefe de gabinete de André Ventura no Parlamento ter-se-á desvinculado de militante do PSD apenas a 2 de abril de 2019, quase três meses depois de ter sido um dos primeiros seis signatários da inscrição da nova formação política no Tribunal Constitucional (TC). A carta enviada tem data de 19 de fevereiro, mas só chegou ao partido em abril. A direção “laranja” recusou fornecer elementos à VISÃO, escudando-se na proteção de dados, mas, ao que apurámos, a saída de Nuno Afonso foi imediatamente oficializada.“Desfiliei-me do PSD antes de existir o Chega”, desmente o próprio. “Neste momento [terça, 7], não tenho presente a data exata em que a desfiliação foi confirmada e não tive oportunidade, em 24 horas, de procurar os documentos que o comprovam. Não obstante, garanto que sempre pautei a minha vida pelo estreito cumprimento das regras e, neste caso, não foi diferente”, explicou. A VISÃO deu então mais dias a Nuno Afonso para enviar os dados que sustentam as suas declarações, mas, na noite de sexta, 17, o dirigente informou que tal não seria possível. A entrega da documentação para formalizar a inscrição do Chega ocorreu a 23 de janeiro de 2019, altura em que Nuno Afonso ainda era militante do PSD. Meses antes, Ventura teria advertido os elementos do núcleo-duro da urgência de se desvincularem das formações políticas a que pertencessem. Quanto à legalização do Chega no TC, o processo só seria concluído em abril por terem sido detetadas diversas irregularidades. A suspeita do crime de falsificação de mais de 1 300 assinaturas no âmbito deste caso, no qual o vice-presidente é um dos visados, está a ser investigada pelo Ministério Público.

Hélder Antunes O CEO de uma empresa de cibersegurança vê em Ventura “ar fresco” e admite colaborar com o partido

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Neto, descendente de um antigo de-putado da ditadura, deu outro tipo de ajuda. “Confirmo que a minha casa em Alcântara foi sede provisória do Chega. Realizaram lá reuniões e guardaram material”, conta o dono da sociedade de consultoria e investimentos imobiliários Gavião Real. “É óbvio que há afinidade ideológica com o partido. Não cederia a chave nem emprestaria a casa se assim não fosse, mas não digo mais nada sem falar com os dirigentes.”

Durante algum tempo, o Chega tam-bém funcionou em casa de Ventura, mas o partido está como novo: abriu recen-temente a sua sede, nas proximidades do Parlamento, no mesmo edifício da embaixada da Suécia, na Rua Miguel Lupi. “O André, agora, tem é de traba-lhar menos. Já lhe disse que é urgente nomear um secretário-geral”, revela Posser de Andrade, desafiando Ventura a fazer orelhas moucas à conflitualidade

interna e às guerras de protagonismo, dedicando-se em exclusivo a dar a cara pelo partido e a cultivar relações exter-nas que possam suportá-lo. “Havendo a perspetiva de o partido crescer e ter mais deputados”, projeta Posser de An-drade, “é natural que comece a aparecer mais dinheiro e alguns amigos possam ajudar-nos a tornar o Chega maior”.

ERA UMA VEZ NA AMÉRICA…Tornar o Chega maior quase poderia ser uma adaptação caseira do slogan de campanha de Donald Trump, o famoso Make America Great Again. Nem de propósito: o dinheiro de um açoriano de nascença radicado nos EUA e o crescente poder de José Lourenço, seu conselheiro e presidente da distrital do Porto do Chega, estão na origem de suspeitas de financiamento, conflitos e dissidências no partido.

A direção de Ventura e o próprio

César do Paço, ex-cônsul honorário de Portugal em Palm Coast (Flórida) – cargo do qual foi exonerado, a seu pedido, em maio –, desmentem do-nativos ao Chega, mas a proximidade é questionada. Dono da multinacional Summit Nutritionals, César comerciali-za, à escala global, matérias-primas para as indústrias farmacêutica, veterinária e alimentar.

O seu poder financeiro, as boas re-lações com o Chega e as iniciativas em conjunto alimentam conspirações. Além dos encontros com a direção do partido, César participou no comício do Porto, onde ocorreu a célebre saudação nazi que o Ministério Público investiga, fi-nanciou uma doação de equipamentos aos bombeiros de Carnaxide no âmbito de uma ação do Chega e, não fosse a pandemia, Ventura teria participado em Cabo Verde na tomada de posse de Deanna, esposa do empresário, como consulesa honorária daquele país, à margem da promoção internacional do partido.

Através do advogado José Carvalho Araújo, César do Paço reivindicou à VISÃO o seu carácter “apartidário” e garante ter amigos em todos os qua-drantes políticos, aqui e nos EUA. “A sua filantropia e solidariedade diri-gem-se apenas a causas e projetos sociais, culturais e, sobretudo, àqueles que corajosamente defendem a paz e a segurança de pessoas e bens, como é o caso das forças policiais e associações humanitárias”.

O facto de o conselheiro José Lou-renço ocupar lugar de relevo no Chega “não tem qualquer outro significado ou influência na sua equidistância”. E, novamente através do advogado, asse-gura: o empresário “nunca financiou ou alguma vez financiará qualquer partido.” A memória, contudo, também falha: o CDS confirmou oficialmente à VISÃO ter recebido uma transferência

CÉSAR DO PAÇO, AGORA PRÓXIMO DO CHEGA, DIZ NUNCA TER FINANCIADO PARTIDOS. MAS O CDS CONFIRMA A ENTRADA DE 10 MIL EUROS EM 2019

Próximos? Relações do Chega com o empresário César do Paço (à esquerda) estão a causar celeuma interna

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de vários estados”. Por cá, apoia o Mo-vimento Zero e é membro honorário e consultor da Associação Portuguesa de Criminologia, organização em que convivem dirigentes do Chega, ele-mentos da Polícia Judiciária e militares experientes. Fanático da defesa e do apoio às forças de segurança, o antigo cônsul exibe com frequência as ajudas às corporações policiais, que incluem armas, coletes antibala, carros e os famosos cães K-9. “Tem o coração do tamanho dos EUA”, descreve Lourenço. “É de uma educação sublime, dos mais altos valores”, mas “duro ao nível de negócios”. O Portuguese Times costu-ma destacar as suas ações de filantropia e as fotografias com ilustres da política portuguesa, por exemplo, mas não se trata de conteúdo editorial. “É publi-cidade paga. Cada página custa 600 a 700 dólares”, confirmaram à VISÃO fontes da direção do jornal.

Exibindo uma “capacidade financeira fora do comum” e apesar de recordado, nos EUA, como “ferrenho benfiquista”, César do Paço está em negociações para ser acionista da SAD do clube de Fer-nando Madureira, líder da claque Super Dragões, e patrocina a secção de boxe do FC Porto. “Até já ouvi dizer que ele ia comprar o Canelas para lavar dinhei-ro…”, ironizou José Lourenço.

Em território americano, as versões são mais desencontradas.

mente, como todos sabem, quando alertou o Governo português sobre irregularidades e possíveis crimes de um funcionário consular, eles tentaram varrer o assunto para debaixo do tapete e ignoraram questões que deviam ser levadas muito a sério”.

Primo de Miguel Frasquilho, chair-man da TAP, Hélder Antunes trabalhou com vários governos nas áreas da tec-nologia, educação e empreendedoris-mo, mas hoje vê o País “capturado por interesses obscuros e pela corrupção”. Com exceções: mesmo não conhecendo Ventura pessoalmente, Hélder é amigo do líder do Chega nas redes sociais e considera-o “um sopro de ar fresco”, mesmo nem sempre estando de acordo com ele. “Adoro as suas intervenções no Parlamento”, sustenta, mas considera existir, “com cumplicidade dos média”, uma estratégia para silenciar Ventura e o partido. “Adoro o facto de levanta-rem questões que a máquina política do sistema deseja enterrar”, assume. “Conheço algumas pessoas do Chega e aplaudo-as por terem coragem de falar

Segundo relatos de cinco ex-colabo-radores de César do Paço e respeitados líderes de instituições da emigração portuguesa nos EUA, que solicitaram anonimato por recearem represálias ou estarem obrigados a acordos de confidencialidade, o percurso do ex--cônsul e empresário é controverso. “Era uma figura estranha à comunidade, mas foi-se infiltrando nos eventos do consulado. Depois, começou a apare-cer rodeado de seguranças e sempre com o objetivo de chegar a posições cimeiras. Moral e eticamente, nunca se poderá estar à vontade com ele. O que faz é atirar dinheiro para cima de toda a gente”, descrevem-no. As autoridades americanas retiraram a César do Paço o privilégio de atravessar rapidamen-te, e com procedimentos inspetivos mínimos, as fronteiras do país, mas o empresário garante que tal se deveu a uma confusão de nomes, entretanto solucionada.

Em sua defesa, sai o açoriano e amigo de infância Hélder Fragueiro Antunes, parceiro de César do Paço em alguns negócios. Para o ex-exe-cutivo da Cisco, tecnólogo e CEO da CyVolve, empresa especializada em cibersegurança, as contribuições de César para a comunidade emigrante e o País “são notórias e incontestá-veis. Financiou do seu próprio bolso as operações do consulado e, infeliz-

WEBWISE (Portugal)TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO

Sócios: Céu Ferreira e Adalberto Barata

Site: Webwise.pt

Localização web: Portugal

SOLIDTIER (Dubai)TECNOLOGIA

Registada por Pedro Bettencourt de Figueiredo

(companheiro de Céu Ferreira e responsável técnico da NEURONS)

Localização Web: Portugal

“Espelhos”/Duplicações: Porto e Lisboa

NEURONS PARADISE (Portugal)TRANSPORTE DE PASSAGEIROS, ENCOMENDAS E

PROGRAMAÇÃO INFORMÁTICA

Sócios: João Pereira da Silva e Maria Céu Ferreira

Domínio registado: neurons.pt

Localização web: EUA

NOTA: JOÃO PEREIRA DA SILVA É AINDA ADMINISTRADOR

DA SOSTEN TECNOLOGIE (ITÁLIA)

CONTRATO

Na rua O Chega organizou, a 27 de junho, uma manif em Lisboa com mais de mil pessoas

Page 9: CHEGA AS MÃOS QUE €MBALAM VENTURA - Clube de ......23 JULHO 2020 VISÃO 37AS MÃOS QUE €MBALAM VENTURA CHEGA Há novas suspeitas a ensombrar o Chega, mas o líder do partido está

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sobre assuntos considerados ‘politica-mente incorretos’.”

Com o PSD “em frangalhos”, Hélder admite simpatias por Ventura. E até pode ir mais longe. “Sou a favor do que o Chega está a fazer e, se puder ser útil e tiver tempo para isso, porque não?”, questiona, disponível para trabalhar abertamente com todos “pelo bem de Portugal”. Na Noruega, Hélder é pró-ximo do parlamentar do Partido do Progresso (FRP, no original), Himanshu Gulati, a pedido do qual fez duas con-ferências sobre segurança cibernética, mas nega vínculos comerciais com o deputado ou ligações ao partido, que considera de “direita libertária”. Na Imprensa internacional, o FRP é asso-ciado, com frequência, à direita radical populista e a posições racistas e anti--imigração.

PORTUGAL, ITÁLIA, DUBAIAos olhos de empresários e figuras que pesam e decidem milhões no

mundo dos negócios, o Chega reve-la-se, pelos vistos, cada vez mais atra-tivo. Mas o mediatismo e o extremar da sociedade portuguesa através das propostas e controvérsias protago-nizadas por Ventura também atraem adeptos, não obstante polémicas in-ternas e ameaças de abandono por parte de dezenas de militantes. Mas há também quem suba degraus: Ana Vi-tória Ferreira, da Nova Aliança Igreja Cristã, é a nova conquista evangélica no conselho nacional.

Enquanto isso, o Chega também vai investindo no digital. Literalmente: a VISÃO encontrou exemplos de propa-ganda paga pelo partido ao Facebook. Uma das páginas, associada a André Ventura, despertou curiosidade: é ge-rida por quatro pessoas em Portugal e duas... na Noruega.

Em fevereiro, a direção do partido decidiu profissionalizar a gestão das inscrições e a manutenção da base de dados, agilizando também a partilha

de informação interna e externa, da comunicação do líder com as bases à difusão de propaganda na internet e nas redes sociais, em colaboração com a equipa existente. Foi contratada a Neurons Paradise, de João Pereira da Silva e da gestora Céu Ferreira, criada a 31 de outubro de 2019. Neste momento, confirmou o demissionário Gerardo Pedro à VISÃO, a empresa já “tem acesso ao servidor”.

A sede da Neurons e a residência do angolano João Pereira da Silva coincidem.

As atividades são variadas: trans-porte de passageiros em veículos des-caracterizados (TVDE), entrega de encomendas e programação informá-tica. João tem ainda uma sociedade de componentes eletrónicos, em Viterbo (Itália). Já a sócia-gerente da Neurons está ligada à Webwise, prestadora de serviços na área informática. As rami-ficações desta chegam ao Dubai, onde outra sociedade, a Solidtier, foi regista-da por Pedro Bettencourt Figueiredo, companheiro de Céu Ferreira – de cujo endereço foram também troca-dos emails com o partido – e respon-sável técnico da Neurons. “Quem faz a gestão do cliente Chega é o João. A Webwise fornecia software à Solidtier, mas a empresa já não existe. O Pedro Figueiredo é um consultor externo altamente qualificado na gestão tec-nológica de recursos”, explicou.

João Pereira da Silva recusou, à pri-meira, falar com a VISÃO. De novo con-tactado, acedeu, recusando dar detalhes do contrato. Foi motorista da Uber até ao ano passado, assume-se de direita e combate “a hegemonia cultural da esquerda”. Quanto à difusão de perfis falsos associados ao Chega, ri-se e des-conversa: “O que encontrei foi, isso sim, um grande movimento, espontâneo e voluntarioso. É uma cultura diferente de outros partidos. Ainda há um certo idealismo...”

Idealismo e sintonia. Em rede.Em resposta a uma caricatura de

Ventura (o Hitlerilas) feita por Ricardo Araújo Pereira no programa Isto é Go-zar com Quem Trabalha, da SIC, João Pereira da Silva partilhou, pelas 15h11 de 8 de junho, a sua criação original desse dia: a caricatura do humorista trajado de Estaline, sugerindo a partilha.

Às 17h38, uma página do Facebook associada a André Ventura fazia o mesmo.

O Stalinelarilas fez então o seu cami-nho. Em massa. [email protected]

CHEGA CONTRATOU EMPRESA PARA GERIR A BASE DE DADOS E INFORMAÇÃO CUJAS RAMIFICAÇÕESPASSAM POR ITÁLIA E PELO DUBAI

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