revista ventura #2

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1 ABRIL 2013 ANO I #2 - ABRIL 2013 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA FREE SHOP ATÉ QUANDO ESPERAR? JOSÉ FREIRE A HISTÓRIA DE UM ARTISTA INJUSTIÇADO FESTA DAS NAÇÕES PÚBLICO RECORDE É ESPERADO EM GUAÍRA TRABALHAR NO EXTERIOR SAIBA MAIS SOBRE AS LEIS E REGRAS AFINAL, O QUE ESTÁ ACONTECENDO? Saiba mais sobre a delicada situação entre índios e proprietários de terras em Guaíra

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Segunda edição da Revista Ventura

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1ABRIL 2013

ANO

I #2

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FREE SHOP

ATÉ QUANDO ESPERAR?

JOSÉ FREIRE

A HISTÓRIA DE UM ARTISTA INJUSTIÇADO

FESTA DAS NAÇÕES

PÚBLICO RECORDE É ESPERADO EM

GUAÍRA

TRABALHAR NO EXTERIOR

SAIBA MAIS SOBRE AS LEIS E REGRAS

AFINAL, O QUE ESTÁ ACONTECENDO?Saiba mais sobre a delicada situação entre índios e proprietários de terras em Guaíra

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Entrevista

UMA CRISE SEM PRECEDENTES

O que de fato está acontecendo em Guaíra? Existem paraguaios infiltrados entre os indígenas? O que querem, afinal, os índios Guarani? O que pensam os agricultores?Essas e outras perguntas foram feitas ao responsável pelo Gabinete de Gerenciamento de Crises criado pela Prefeitura de Guaíra para tratar do assunto. Josemar Ganho, o idealizador do projeto Plataforma Logística Intermodal durante o primeiro mandato de Fabian Vendruscolo (2005 – 2008), tem agora mais essa missão: intermediar uma relação já bastante desgastada entre índios e produtores rurais. Com a habilidade de um estrategista, ele revela dados, desmistifica algumas informações e aponta um caminho para que índios e produtores, ambos vítimas, segundo ele, possam enfim conviver em paz

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EntrevistaJosemar, qual é a natureza da crise?O que está acontecendo em Guaíra e Terra Roxa tem uma dimensão multiescalar. Primeiramente devemos entender a situação local onde existe uma tensão entre as comunidades indígenas e os proprietários rurais e urbanos gerados pela ocupação de terras no município.

Então vamos mudar a pergunta: Qual é a origem desta crise?A migração acentuada de índios da etnia Guarani em direção a Guaíra e Terra Roxa, tendo sua origem o Estado do Mato Grosso do Sul, Paraguai (ainda que não existam evidências reais nesta origem, conforme minhas visitas em 8 aldeias no município de Guaíra, mas cito porque é algo recorrente no senso comum) e a região central do Estado do Paraná. Inicialmente, esta população indígena assentava-se em duas áreas no interior do perímetro urbano de Guaíra, estimados em 140 indígenas no ano de 2007, conforme dados levantados por nós quando da elaboração do Plano Diretor em 2007. Passado este ano, acentuou-se a migração desta etnia, aparentemente de laços consanguíneos, para novas áreas. Sem um motivo conhecido, estas comunidades indígenas começaram a se dividir (informações não oficiais indicam a divisão e conflito no interior destas comunidades motivadas

por necessidades sociais ou poder). Destas duas áreas seguiu-se a ocupação de mais 6 áreas em Guaíra e mais 5 áreas em Terra Roxa, totalizando 13 áreas de

ocupação, com população estima-da em 1.050 índios em Guaíra, e 350 em Terra Roxa.

Qual é a sua percepção destes fatos?Esta migração seria motivada em primeiro lugar pelo agrupamento de famílias com laços consanguí-neos, com a genealogia decorrente do patriarca assentado em uma aldeia mais antiga no interior da área urbana de Guaíra, seguido das características nômades desta etnia, o que obviamente não representaria um contingente de famílias tão numerosas. Entendo que o fator principal esteja rela-

cionado às dificuldades de acesso aos mínimos sociais necessários encontrados nas localidades onde estes índios estavam anteriormente, o que fez com que eles se deslocassem das áreas de conflito no Mato Grosso do Sul em direção a Guaíra e Terra Roxa.

Existe outro fator importante nesta crise?Sim, o fator psicossocial. Existe uma percepção de que os eventos ocorridos com a demarcação de terra da população indígena MARÃIWATSDÉ, em Alto Boa Vista,e

Entendo que o fator principal esteja relacionado às dificuldades de acesso aos mínimos sociais necessários encontrados nas localidades onde estes índios estavam anteriormente, o que fez com que eles se deslocassem das áreas de conflito no Mato Grosso do Sul em direção a Guaíra e Terra Roxa.

Fonte: 2007 - Plano Diretor de Guaíra; Caderno Leitura da Realidade Municipal; 2010 Censo IBGE; Cadernos Municipais do Ipardes; Guaíra; Ano 2013 Estimativas Funai.

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São Felix do Araguaia, no Mato Grosso, e Guarani-Kaio-wá, em Amambai, Mato Grosso do Sul, homologada pelo Decreto n. 277 de 29 de outubro de 1.991, pudessem se repetir em Guaíra e Terra Roxa nas demarcações de Tekoha Marangatu, Tekoha Porã e Tekoha Araguaju. Esta situação gerou uma insegurança coletiva, que é vista como uma ameaça clara à integridade territorial do município e ruptura da ordem federativa, levando inclusive a insegurança, social e territorial, na faixa de fronteira do Paraná. Isto tudo elevou a situação do conflito da esfera fundiária a uma situação de tensão federativa.

Qual é a situação real desta crise neste momento?A realidade é que existe uma grande tensão entre os dois principais atores diretamente envolvidos na crise - índios Guarani e 10 proprietários, rurais e urbanos. À exceção da aldeia de Vila Alta, Tekoha Porã, as demais estão com processo de reintegração de posse em anda-mento no judiciário.

Qual a motivação das ocupações?O primeiro grande motivo da reprodução das ocupações e formação de novas aldeias se dá por motivo de con-flitos internos em seu interior, disputa pelo poder e/ou limitação dos meios de subsistência. O segundo motivo seria a vinda de um contingente de índios da cidade de Japorã, no Mato Grosso do Sul, para o Paraná, onde encontrariam melhor assistência às suas necessidades - e de onde estariam protegidos do conflito lá instau-rado. O terceiro motivo seria o retorno à terra habitada pelas suas famílias em Guaíra e Terra Roxa. Por último, a etnia Guarani guarda uma lenda da busca da “Terra sem Males”, o que a levaria a manter um fluxo constante de movimento.

O que existe de verdade sobre a migração massiva do Mato Grosso do Sul e imigração do Paraguai?Como havia citado, a questão de índios do Paraguai nestas aldeias é mais especulativa que real. Segun-do as informações apuradas, somente foi visto índios paraguaios na área perto da Vila Alta, situado no fundo de vale, próximo ao córrego Carumbeí. Estes índios não são bem vistos nem pela aldeia da Vila Alta e nem pelas demais aldeias por seu comportamento arruacei-ro. Além disso, representam um número insignificante. Segundo informações que obtive, e creio que esta seja a confusão, produtores rurais já trouxeram trabalhadores paraguaios para suas colheitas. Quanto à migração do Mato Grosso do Sul, foi identificada a presença de índios com origem de Porto Lindo, Japorã. Lá se encontram

a questão de índios do Paraguai nestas aldeias é mais especulativa que real

EVOLUÇÃO DA OCUPAÇÃO INDÍGENA EM GUAÍRA

2006

2010 2011 2012

2007 2009

Fonte: ONGDIP

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os subgrupos Laranjaty e Arroyo’i (Guarani), Ñnandé-vapegua (Guarani). Em Japorã, 49,4% da população é indígena. Ou seja, a cidade possui 3.822 índios. Este contingente poderia representar uma ameaça real aos municípios de Guaíra e Terra Roxa no sentido do impacto pela migração massiva. Se isto vier a ocorrer, claro. Mas há evidências de que um município do Mato Grosso do Sul já enviou ônibus com indígenas para Guaíra.

Sabemos que a criminalidade está arraigada em nossa sociedade. Infelizmente, houve uma abor-dagem que consideramos equivocada por parte de alguns veículos de comunicação, que ressaltaram que índios esta-vam roubando em Guaíra. Ora, todos os dias brancos, negros e pardos roubam e nem por isso ressalta-se a etnia do assal-tante. Com exceção, talvez, do negro, mas isso é uma outra espinhosa discussão. Enfim, gostaria que você falasse sobre a questão da criminalidade e sua hipotética relação com as aldeias indígenas.Isto é preocupante. Segundo infor-mações de forças de segurança que atuam em Guaíra e Terra Roxa, existe a possibilidade de duas aldeias, uma em Guaíra e outra em Terra Roxa, servirem de ponto de passagem para ações ilícitas, como contrabando, des-caminho e prostituição infantil. Isto não é uma situação local, esta realidade se manifesta em vários locais no mundo, inclusive na reserva indígena na fronteira com Canadá e Estados Unidos, fronteira considerada a de maior entrada de produtos ilegais no mercado ameri-

cano. Creio mais na coação do crime contra os indíge-nas do que no envolvimento deles diretamente. Outra situação que estamos monitorando é a possibilidade de pistoleiros serem enviados para Guaíra para gerar o caos, garantindo a continuidade de suas ações. Lembro que a doutrina de guerra atual, a chamada de guerra de baixa intensidade, é uma ação planejada de perpetua-ção de conflito para obter vantagens ilícitas com estas situações.

Explique melhor como funciona este conflito de baixa intensidade.Atualmente as guerras não são entre nações contra nações, ainda que elas existam. Hoje a guerra é assimétrica. Os tamanhos são diferentes. Cito como exemplo os acontecimentos em Santa Catarina, como já vimos no Rio de Janeiro e em São Paulo. O crime organizado gera um conflito permanente: seu objetivo não é o poder adminis-trativo e sim o econômico. Assim, enquanto a polícia fica mobilizada com os ataques, eles mantêm as ações criminosas em movimento. Podemos também citar os conflitos

na Colômbia, Ruanda, Sudão, Somália, Etiópia e mais inúmeros outros como adeptos deste movimento. Em nosso caso, uma morte ou uma chacina de índios ou de proprietários de terra levaria a um conflito aberto, gerando uma desestabilização de toda a sociedade. E quem ganharia com isso? Sem dúvida não são os índios e nem os produtores.

Existe a possibilidade de demarcações de terras em Guaíra e Terra Roxa?

Em nosso caso, uma morte ou uma chacina de índios ou de proprietários de terra levaria a um conflito aberto, gerando uma desestabilização de toda a sociedade.

Vista panorâmica de uma das ocupações indígenas em Guaíra.

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Sim, porém não na dimensão que estão falando. Retorno aqui às escalas do conflito. Falamos anteriormente na escala local, agora vamos subir a escala do conflito. Três demarcações estão em curso em nossa região, sendo a Tekoha Marangatu – GTn. 136 de 06.06.2009 – Pot. N 11 de 17.06.10 – GT.Benf. e Tekoha Porã– GTn. 136 de 06.06.2009 –Pot. N. 11 de 17.06.10, em Guaíra, e Tekoha Araguaju - GTn. 136 de 06.06.2009, em Terra Roxa. Seguindo o processo administrativo de demarca-ção de terras indígenas, decreto 1.775 de 8 de janeiro de 1.996, o prazo pode se dar em 255 dias a contar da data da publicação da portaria que constitui o Grupo de Trabalho, lembrando que o prazo de pronunciamen-to dos entes federativos se dá entre a publicação da portaria para formação do grupo de trabalho até a publicação do extrato do relatório proposto, isto é, em média 135 dias. Mas olhando os demais procedimentos, este tempo em geral não é cumprido. Existem casos que demoraram mais de 25 anos. A portaria 303 – Advoca-cia Geral da União, de 16 de julho de 2012, aguardando decisão judicial – assegura a participação dos entes federados no procedimento administrativo de demar-cação das terras indígenas. Neste sentido, a escala do conflito sai das relações locais produtor/indígenas para o conflito federativo, município x federação.

Como assim?A responsabilidade de demarcação é da Funai, entidade subordinada ao Ministério da Justiça, que é subordinado à Presidência da Republica. Desta forma, as demarca-ções podem vir a comprometer a integridade territorial do município.

A questão é simples: você acha que isso vai aconte-cer?

Sim, mas não na escala que se tem falado. Estão falando em 100.000 hectares, isso não tem o menor sentido. Mas vamos esclarecer este fato. Os produtores rurais publicaram folhetos, elaboraram apresentações, e nestas apresentavam estes quantitativos. Como de costume, quando atuo em uma crise gosto de chegar às fontes primárias das informações. Neste sentido, fui ler o decreto de criação do grupo de trabalho e este dava, se não estou enganado, 6 dias para elaboração de uma cartografia da área a ser demarcada. Bem, como venho ao longo dos anos trabalhando como sócio de uma empresa de aerolevantamento e cartografia, a primeira visão que tive é que o que estava se propondo demarcar era uma área muito pequena, pois um trabalho de 6 dias é muito pouco para qualquer coisa que não seja peque-na, o que de fato se confirmou quando fui a Maringá conversar com a Coordenadora do GT que está elabo-rando o laudo antropológico de demarcação destas três aldeias: Tekoha Marangatu, Tekoha Porã, Tekoha Aragua-ju. São as seguintes situações, a aldeia Tekoha Porã, na proposta apresentada, ficaria na área já consolidada, porém com uma ampliação do seu entorno, mais ou menos o que efetivamente já estão ocupando. Situação semelhante é a da aldeia Tekoha Araguaju, em Terra Roxa. Contudo, a situação da aldeia Tekoha Marangatu é diferente. Segundo a antropóloga, esta área, ainda que apresente evidências arqueológicas, não estaria apta a assentamento humano. Desta forma, necessitaria de uma área (lembro que esta área está em litígio com Itaipu e esta já perdeu em primeira e segunda instância do judiciário) ainda em Guaíra para este assentamento. Neste caso, houve a rejeição imediata dos indígenas da comunidade, que não aceitam sair dali e ainda apresen-tam um mapa que propõem uma demarcação que sai

Reunião com produtores rurais no Sindicato Rural Patronal

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desta aldeia até Foz do Iguaçu, região que cobriria toda a área de reserva de Itaipu, entre as cidades de Guaíra, Mercedes, Marechal Cândido Rondon, Pato Bragado, Entre Rios do Oeste, Santa Helena, Missal, Itaipulândia, Medianeira, São Miguel do Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu e Foz do Iguaçu. Ufa, só isso. Creio que a Usina de Itaipu está também dentro desta área (risos).

Isto tem sentido?Nenhum. É proposta para não resolver e sim para con-flitar. E digo mais: não tem apelo em lugar algum, nem mesmo nas outras aldeias. Porém, devemos ter aten-ção, pois tem gente que pensa assim. Como a Comissão Guarani Yvy Rupa (CGY), organização fundada e gerida por lideranças Guarani de diversas aldeias de todo o Sul e Sudeste do Brasil com o intuito de articular nacio-nalmente a luta desse povo pela recuperação de seu território tradicional, segundo eles, usurpado paulatina-mente desde a invasão europeia. Pois não sei se é mera coincidência, mas a evolução da migração indígena em Guaíra coincide com a data posterior à formação desta organização, em 2007. Outra organização que poderia apoiar esta ideia é o Conselho Indigenista Missionário. Não digo a instituição em si, mas tenho certeza que pes-soas que lá atuam pensam desse modo.

O que querem os índios?Os índios das aldeias do Porto Sete Quedas e da Asso-ciação dos Pescadores querem permanecer na terra. Estes teriam grande resistência em sair. A aldeia de Vila Alta necessita da regularização fundiária e precisa

limitar a capacidade de índios. A do córrego Carumbeí é questão de reassentamento, pois o local não permite assentamento humano. As demais tribos tem expec-tativa de definição de algumas terras, com acesso aos mínimos sociais; escola, saúde, água potável e acesso a trabalho e geração de renda. De fato, a situação da maioria deles é sub-humana, com limitação das neces-sidades mais básicas, como água potável e garantia mí-nima diária de calorias. Os índios são quase flagelados.

O que a prefeitura tem feito a respeito deste tema?Ainda antes da posse do prefeito Fabian, já estávamos discutindo esta situação. No mês de dezembro estive-mos em Brasília, na Casa Civil, Ministério da Justiça e outros órgãos para tratarmos deste assunto. Só não esperávamos a evolução desse clima de tensão tão rápi-da quanto ocorreu. Isto levou o Fabian a propor a criação do Gabinete de Gerenciamento de Crises – G-Crises. Este órgão permanentemente subordinado ao Gabinete do Prefeito, e por mim coordenado, foi instituído com a finalidade de estabelecer as políticas e as ações de gerenciamento da crise, bem como estabelecer uma mesa de negociação em regime de cooperação entre as partes e instituições integrantes dos poderes públicos municipal, estadual e federal com o objetivo de pactuar uma saída comum a este conflito.

Quais foram os passos dados até agora?Realizamos uma primeira reunião com os caciques das 13 aldeias de Guaíra e Terra Roxa. Estiveram presen-tes nesta reunião os prefeitos de Guaíra e Terra Roxa,

Cadastramento de famílias indígenas promovido pela prefeitura de Guaíra.

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dois deputados estaduais, o juiz federal, procuradores federais do Ministério Público e Funai. Nesta reunião, tiramos algumas ações, tais como minha visita a todas as aldeias para levantar a realidade de cada uma, a elaboração de um cadastro de todos os indígenas e a inserção deles no Sistema Único de Cadastro Nacional. Dentro deste período, pudemos elaborar um diagnóstico mais apurado sobre a realidade. No mês de março, con-versamos com os donos de terras e proprietários rurais. Pretendemos com isso esboçar as bases de um acordo para a solução do conflito e partirmos para um pacto entre as unidades da federação - município, estado e União.

Qual é a sua maior preocupação?Muitas. Reafirmando: existem muitas escalas neste conflito, porém duas eu gostaria de destacar. A primeira, e a que mais me espantou, é um fator psicossocial. Vi nestes dias em Guaíra algo muito ruim, ainda que muito localizado. Estou me referindo a um clima de xenofobia, animosidade, antagonismo de parte da sociedade para com os indígenas, situação muito semelhante ao relata-do em situações pré-conflito. Como em Ruanda, quando os tutsis foram exterminados pelos hutus; ou ainda em Darfur, no Sudão, quando os muçulmanos pastores mas-sacraram os cristãos agricultores. Sem falar no conflito Israel-Palestina e a questão judaica na Segunda Guerra, quando o extermínio foi dado como solução final. Tem uma teoria chamada de Caos, e uma chamada de teoria da complexidade dinâmica. A parte mais popular desta teoria é que se uma borboleta bater suas asas no Brasil este vento pode causar um furacão na Europa. O que quer dizer isto? Que um problema aparentemente isolado, passível de resolução, pode gerar um conflito aberto e generalizado com proporções inimagináveis. No entanto, tenho repetido, vejo claramente que os índios e os produtores são duas vítimas. A outra preocupação

envolve ação e omissão. Ação do Estado do Paraná, que pouco está contribuindo com uma solução, e quando in-tervém causa ainda mais problemas. Veja o caso do Ha-milton Seriguele, da Secretaria de Assuntos Fundiários do Paraná. Ele chega, coloca os índios num helicóptero, sobrevoa a Ilha Grande e fala de um grande programa de assentamento de indígenas. Classifico este ato como altamente irresponsável, pois sabemos dos problemas ambientais da Ilha historicamente. Falar deste assenta-mento em um parque federal, que não é sua jurisdição, criar a expectativa de que Guaíra, por meio do parque, será o paraíso, com casa, comida e roupa lavada (risos), é em primeiro lugar brincar com as pessoas, pois se isso não der certo ele simplesmente vai responder que o Governo Federal não quis e não quer resolver. Primeiro, isso é fazer política com coisa muito séria. Segundo, levanta expectativas e agrava a situação com a vinda de mais indígenas para Guaíra com esta esperança. E, por fim, o Governo Federal, que, creio, agora está tomando consciência do grave problema, pois até então estava se omitindo. A entrada do Governo Federal com reuniões em Brasília, inclusive com a participação do prefeito Fabian, atribuo aos produtores rurais, que se mobiliza-ram, e, para desespero de alguns (risos), trancaram a passagem do carrinho, igual aquele de maca que vemos em jogo de futebol, em que estava a presidente na chegada ao Show Rural de Cascavel, passando assim o recado. Teve gente que não gostou, mas esta iniciativa teve resultado.

Existe solução para este problema? Qual é a sua opinião?Eu, na posição de mediador, não trabalho com opinião e sim com cenários, pois trabalhar com opinião com esta realidade é muito cartesiano, não ajuda. Aqui o método de raciocínio deve ser o dialético. Neste sentido, trabalho com o cenário de que as áreas demarcadas em Guaíra serão pequenas e em locais já preexistentes. Não sei como fica a Tekoha Marangatu, que pode ter uma decisão judicial favorável, porém em uma área não apropriada. As demais aldeias terão que passar por um processo de negociação para a busca de alternativas de um assentamento indígena que possa dar as condições de vida necessárias a estas comunidades, numa solução pactuada com os proprietários de terra, e governos municipal, estadual e federal. Seguindo estes acordos, o cadastro que estamos fazendo é um recorte, trataremos somente com as famílias indígenas que cadastrarmos, não aceitaremos mais famílias a partir deste momento. E, por último, esta solução depende claramente da situ-ação dos indígenas no Mato Grosso do Sul. Lá se deve buscar uma solução, caso contrário esta realidade vira um saco sem fundo.

Vi nestes dias em Guaíra algo muito ruim, ainda que muito localizado. Estou me referindo a um clima de xenofobia, animosidade, antagonismo de parte da sociedade para com os indígenas, situação muito semelhante ao relatado em situações pré-conflito. Como em Ruanda, quando os tutsis foram exterminados pelos hutus

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SUMÁRIO

nota do editorO projeto de Plataforma Intermodal ainda é o grande projeto es-tratégico de Guaíra. O governo do estado, convencido pelo poten-cial da proposta, também já aceitou levantar essa bandeira. Falta agora o apoio fundamental do Governo Federal, que tem dado mostras de que vai mesmo investir pesado no setor de infra-estrutura de transportes, lançando inclusive pacotes de conces-são para investimentos nos modais hidroviário e ferroviário. É a chance de Guaíra emplacar seu projeto logístico e se encaixar de vez como protagonista de uma região que historicamente nunca foi privilegiada pelos governos. Se der certo, a cidade terá chances de subir de patamar de im-portância. Se não der, será mais um dos retumbantes fracassos, verdadeira ducha de água fria, tal como foi o fim das Sete Quedas e o abandono da construção da Usina de Ilha Grande. Por falar em desenvolvimento, Ventura se dedicou a entender me-lhor a chamada “causa indígena”, que tem mobilizado a cidade de forma poucas vezes vista. O assunto, que tomou as ruas da cidade, tem sido alvo de diversas versões, muitas delas conflitantes. Pes-quisamos diversas fontes, entrevistamos muitos profissionais e tentamos dar um panorama sobre o que de fato está acontecendo. É importante que tenhamos em mente que além de desenvolvi-mento econômico, é preciso desenvolvimento humano. Aliás, não há verdadeiro desenvolvimento econômico que não englobe uma melhor qualidade de vida a todos. Boa leitura!

Variedades ............................................. 16Dois mil e TREZE

Boas Histórias ....................................... 18Quando compor não é exatamente uma escolha

Economia ............................................... 20Quando teremos Free Shop em Guaíra?

Desenvolvimento .................................. 23De volta para o futuro

Capa ........................................................ 26Afinal, o que está acontecendo?

Cultura .................................................... 38Esse tal de tererê

Educação ................................................ 40“Brincadeira de criança, como é”... necessário

Informativo ............................................ 44Saiba quais são as regras para trabalhar no Mercosul

ExpedienteDIREÇÃO GERALNader HamdanREDATOR CHEFECristian Aguazo

DIREÇÃO DE ARTENader Hamdan

REP. COMERCIALDiego Adriano do Prado

Editora Ventura17.341.715/0001-00Av. Mate Laranjeiras, 586 - Guaíra/PR44 9980 070844 9983 [email protected]

Conselho EditorialAlessandro Alves de Andrade, Cristian Aguazo, Diego Adriano do Prado, Fabia-no Vianna, Fábio Bolonhezi de Moraes, Nader Hamdan e Rita de Cássia RibeiroTiragem5.000 exemplares (Gráfica Lex)

Os artigos e opiniões não refletem, necessariamente, a opinião desta publicação.

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Carros ..................................................... 48Por que os carros no Brasil são tão caros?

Panóptico ............................................... 51Música, cinema & literatura

Bem-estar .............................................. 54Conheça alguns mitos que rondam as academias

Saúde ...................................................... 57Elimine as gordurinhas indesejadas comendo frutas

Cidades ................................................... 58Festa das Nações deve ter recorde de público

Click ........................................................ 60Escolha da rainha da Festa das Nações

Ilustração ............................................... 64Artista curitibano retrata suas impressões sobre Guaíra

Internet................................................... 67Foi o que disseram por aí...

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O ano de 2013 mal começou e já deu muito o que falar. Quem é que ima-ginou que em menos de 90 dias tan-ta coisa ruim pudesse acontecer? Tudo bem que mudanças aconte-cem o tempo todo, mas a impressão que se tem é que 2013 iniciou de for-ma meteórica. Meteórica! Assisti-mos estupefatos a queda dos mete-oritos na Rússia, a renúncia do papa (não que isso seja negativo, talvez não seja, mas não deixa de ser sur-preendente), a morte de 240 pessoas numa boate em Santa Maria/RS.Em Guaíra, as mortes do jornalista Celestino Eloy Foletto, do dentis-ta Sérgio Dal Molin, do empresário Edemundo Bridi e da professora Lilian Carla Arguello Basqueira co-moveram a sociedade. Igualmente lamentadas foram as perdas dos jo-vens Ricardo Chlad e Nayara Frey de Matos.No mundo político, a morte de Hugo Chávez atraiu os holofotes do mun-

do inteiro. Só mesmo a morte de Fidel Castro renderia mais assunto (apesar dos rumores de que ele tam-bém tenha morrido, tudo indica que o eterno comandante- en- jefe da ilha continua vivo).Na esfera musical, uma geração de brasileiros foi pega de surpresa com a morte de Alexandre Magno Abrão, o Chorão, vocalista da banda Char-lie Brown Jr. O trágico destino do cantor (que teve um fim semelhan-te a dos grandes rock stars) rendeu comentário até do Guns N`Roses, mítico grupo estadunidense.Mas até que ponto se pode afirmar que um ano é triste ou alegre, se isso é extremamente relativo e os julga-mentos subjetivos demais?Como justificar com catástrofes o adjetivo de um ano, se elas sempre aconteceram e sempre vão aconte-cer (a despeito do calendário), pelo menos até segunda ordem?

A exposição (imposição?) midiáti-ca de certa forma nos dita o rótulo dos anos. De 2001 lembramos muito bem. De 1985, 1988 e 1992 qualquer brasileiro que conheça um pouqui-nho de política não vai se esquecer, tampouco os militares – e a esquer-da ideológica – de 31 de março de 1964. Há quem diga que 1968 foi o ano que ainda não acabou. O que dizer de 2012 e o anunciado fim do mundo? Alguém se lembra da virada do milênio em 2000? Você, amante do futebol e da Fórmula 1, se recor-da de 1994? Experimente falar sobre de 1.789 com os historiadores. En-fim, muitos são anos marcados na história, por este ou por aquele mo-tivo, para este ou para aquele grupo.

O romancista americano John Fante escreveu um livro intitulado “1933 foi um ano ruim”. Que 2013 não seja assim.

Por Cristian Aguazo

Dois mil e TREZEInício de ano surpreende com mortes, renúncia histórica e flagrante de fenômeno natural

Variedades

Flagra do meteoro invadindo o céu na Rússia.

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O olhar tranquilo e o jeito tímido enganam. O homem por trás destas características tem muito a exibir. Quando ainda tinha 12 anos um ta-lento começou a brotar na cabeça do então garoto José Freire, 58 anos, natural de Mandaguaçu/PR. E este talento não parou mais de acom-panhá-lo. Compor canções passou a ser o seu hobby, ou o seu vício - como ele mesmo classifica.A idade adulta chegou e os 20 anos que Freire viveu em São Paulo não o fizeram perder o velho hábito. Cos-tume que ele trouxe para Guaíra em 1986, quando desembarcou com mulher e filhos na cidade onde seu irmão residia. “A cidade parecia um bagaço, a Sete Quedas tinha acaba-do, mas essa atmosfera me inspirou muito. Guaíra sempre teve os seus encantos”, diz, relembrando.De fato, Freire sempre teve afinida-

Boas Histórias

de com Guaíra. Tanto que ele foi o autor do hino da Festa das Nações, tocada há muitos anos nos comer-ciais e na abertura do maior evento do município. “Fiz a música na épo-ca do prefeito Mário Barbosa. Até hoje é uma das que eu mais gosto”, conta, sorrindo.A atividade intensa lhe rendeu a im-pressionante marca de ter ultrapas-sado 2.000 canções. O estilo varia. Freire garante que já fez de tudo, do rock ao forró. “Mas o que mais gosto é o estilo povão, meio Amado Batis-ta”, revela.Depois que passou a vender suas composições, o compositor foi descoberto pelas gravadoras. Uma delas passou a encomendar perio-dicamente os seus serviços depois que a música “Bailão de Primeira”, gravada pelo então desconhecido conjunto Corpo e Alma, tornou-se

Você conhece José Severino Freire? Não? Pois estamos falando

de um compositor intenso, que reside em Guaíra e tem uma his-tória interessante para

contar. Quem é da cidade com certeza já

ouviu pelo menos uma música sua. Refiro-

-me ao hino da Festa das Nações, aquele do refrão “Canta, Guaíra,

canta/ Canta suas emoções”...

Quando compor

não é exatamente

uma escolha

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um sucesso. Segundo ele, foi aí que a gravadora USA Discos Produções Fonográficas, do Rio Grande do Sul, passou a encomendar mais traba-lhos. “No extremo sul eles valorizam mais o compositor”, aponta.A música mais recente se chama “Por Você”, gravada pela dupla Edy e Alex.SucessoA história mais intrigante, contudo, tem a ver com a importância dos direitos autorais. Como não tinha o costume de registrar suas canções, Freire passou a ter alguns proble-mas com os créditos depois que ven-dia as suas músicas. E quis o destino que uma destas caísse no gosto de milhões de pessoas. A música ven-dida não levou seu nome, mas foi gravada por aquela que se tornaria uma das três maiores duplas do Bra-sil, Leandro e Leonardo. A canção, cujo nome omitiremos, tocou no rádio um belo dia e a esposa de Frei-re ouviu. “Minha mulher me disse: acabou de tocar no rádio aquela sua música. Estranhei. Depois, descobri que foi aquela que vendi. Entrei em contato com o homem que a com-prou de mim e ele fez um acordo comigo. Eu não posso provar que fiz

a música, infelizmente. Mas com ela ganhei o dinheiro com o qual com-prei a minha casa”, conta.Essa não foi a única vez em que o su-cesso bateu na trave do gol de Freire. A canção “Beijo Estranho” chegou a ser gravada por Gian e Giovani, mas o produtor do disco a cortou da ver-são final que foi para o álbum. “O Pinóquio resolveu cortar. É normal no processo de gravação”, explica, referindo-se ao produtor mais famo-so do meio sertanejo.Engana-se quem pensa, porém, que ele acha que estas são suas melhores canções. Freire nem mesmo as colo-ca entre as melhores. “Eu acho que tenho outras mais interessantes. ‘Disque’ é a minha preferida e nun-ca foi gravada. Gosto muito também desta da Festa das Nações, que na verdade se chama Por Ti Uma Can-ção”, afirma.DificuldadesApesar de amar a arte, Freire jamais conseguiu viver exclusivamente dela. Segundo ele, é difícil a vida de um compositor, especialmente hoje em dia. “Nos anos 70, você procu-rava um produtor e eles o ouviam por pelo menos uns dois minutos. Se interessasse, eles encaminhavam

para a gravadora avaliar. Hoje você se aproxima e eles dizem: ‘tô de saco cheio de ouvir música’. Na verdade eles possuem um grupo de compo-sitores e se mantêm nesse círculo fe-chado. O artista hoje é um fantoche na mão da indústria”, expõe.O autor também reclama da hege-monia de um tipo de música que se afasta cada vez mais de seu estilo. “Hoje para fazer sucesso é preciso falar de bebedeira, balada e mulhe-rada. É este o linguajar, perdeu-se a poesia. É só o que eles querem, não tem espaço para mais nada além disso”, argumenta.Apesar de tudo, o compositor esti-ma que já chegou a ganhar mais de 90 mil reais com direitos autorais ao longo dos anos. “Ainda hoje recebo um pouquinho. Compor é um vício. Ás vezes acordo com uma frase e uma melodia na cabeça. É estranho. E é desde pequeno, rapaz. A profes-sora falava alguma coisa na escola e já me vinha alguma coisa na cabe-ça”, explica.Questionado se foi ele quem esco-lheu a arte ou se foi ela quem o es-colheu, ele não pensa muito: “Fui escolhido”, arremata.E quem somos nós para duvidar.Por Cristian AguazoCartaz de filme em que José atuou como figurante.

Letra de sua mais famosa canção.

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Quando é que teremos free shop em Guaíra?

Economia

Ventura foi buscar informações a respeito do projeto que prevê lojas francas para vinte e oito cidades de fronteira, entre elas Guaíra

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No final do ano passado, uma notícia ganhou as páginas do Brasil inteiro: a presidente Dilma havia sancionado o projeto de lei que autoriza a criação de lojas francas, conhecidas como free shops, em vinte e oito cidades de fronteira internacional que sofrem com a concorrência dos vizinhos. A lei foi publicada no Diário Oficial da União no dia 10 de outubro de 2012 com apenas um veto da presidente Dilma Rousseff. A ideia da proposta é estimular o consumo de produtos nacionais pelo turista estrangeiro, devido ao preço menor cobrado nessas lojas francas por causa da isenção dos tributos de importação. Mercado-rias importadas também podem ser compradas nesses estabelecimen-tos com suspensão dos tributos.Pelo texto, o pagamento pelos produtos poderá se dar com moeda nacional ou estrangeira, como o dólar. “A autorização poderá ser concedida às sedes de municípios caracterizados como cidades gême-as de cidades estrangeiras na linha de fronteira do Brasil, a critério da autoridade competente”, diz o projeto.Entretanto, de lá pra cá nada mais foi publicado e muita gente em Guaíra ficou sem entender nada. De fato, como funcionará o free shop? O projeto de autoria do presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT), não prevê se as compras serão restritas a estrangeiros e nem os pré-requisitos para abertura dos estabelecimentos, cabendo à Re-ceita Federal a regulamentação da instalação destas lojas. A equipe da revista Ventura procu-rou o chefe da Receita em Guaíra, Hussein Jaha, mas ele preferiu encaminhar nossa reportagem para Ivair Hoffmann, de Foz do Iguaçu. Em contato por telefone, Hoffmann optou por não comentar, alegando

que estas informações ainda não foram repassadas e que qualquer decisão cabe ao alto escalão da Receita Federal em Brasília. Ou seja, no país das filas não tem como fugir: o jeito é esperar. O que já se sabeA previsão é de que 28 municípios brasileiros sejam beneficiados com a nova lei. Desse total, 03 municí-pios estão localizados no Paraná: Guaíra, Foz do Iguaçu e Barracão. O pagamento pelos produtos pode-rá ser em real ou moeda estrangei-ra, como o dólar.A regulamentação da lei será feita pela Receita Federal, responsável pela fiscalização das lojas francas e por qualquer ilícito que possa ocorrer.Não há data máxima estabelecida para regulamentação.Há interesse de comerciantes locais e de investidores, inclusive estran-geiros, na instalação de free shops nessas cidades.A venda nas chamadas lojas francas

só será autorizada para pessoas físicas.O que falta definirSe as compras serão restritas a estrangeiros ou também serão permitidas a brasileiros em trânsito internacional.Se for permitida a venda para bra-sileiros em trânsito internacional, como será possível identificá-los e diferenciá-los de pessoas que viajariam às fronteiras apenas para compras.Quais seriam os pré-requisitos para abertura de free shops. Se poderão ser brasileiros e estrangeiros, se ha-verá prioridade para comerciantes locais ou que tenham histórico de negócios na região. No Uruguai, por exemplo, os interessados precisam ter histórico no comércio.Cota máxima para compra por estrangeiros. Hoje, nos free shops uruguaios, é permitido US$ 300 por pessoa. Nos aeroportos internacio-nais, a cota máxima é de US$ 500Por Cristian Aguazo, com informações do jornal Zero Hora

Free Shop em Puerto Iguazú, divisa com Foz do Iguaçú.

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De volta para o futuroCom apoio do governo e da iniciativa privada, Plataforma Intermodal de Guaíra poderá se transformar num dos maiores centros logísticos do país. Geografia privilegiada da região é apontada como o grande diferencial

Desenvolvimento

Galpão da Cia. Matte Laranjeira, atual Cine Teatro Sete Quedas.

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A disposição dos governos do Para-ná e do Mato Grosso do Sul em le-var adiante o projeto da Plataforma Intermodal de Guaíra reacendeu a discussão sobre a importância ge-ográfica da região Oeste e sobre a necessidade de investimentos em infraestrutura de transporte no país. Grande produtor de grãos, os estados enfrentam problemas com o sistema de escoamento da produ-ção agrícola e tem nas rodovias um modelo dispendioso, lento e estran-gulado.Ao contrário de países como os Estados Uni-dos, o Brasil não explora o seu potencial hidroviário e praticamente abandonou o modal ferro-viário. A falta de alternativas no transporte de cargas ficou evidente nos últimos anos, quando o Brasil, apesar do cres-cimento econô-mico e dos acor-dos com países emergentes da Ásia, escanca-rou toda sua li-mitação na área, justamente no pe-ríodo em que mais está exportando.InvestidoresDiante da necessidade, o Governo Federal lançou um pacote de con-cessões para investimentos da ini-ciativa privada na modernização dos portos nacionais. Contratados para fazerem parte do plano de re-estruturação do Porto de Santos, a Duisport (uma das maiores empre-sas do mundo em logística) conhe-ceu em 2011 o projeto da Platafor-ma Logística de Guaíra e iniciou

uma aproximação que culminou na assinatura de um pré-termo de co-operação com o Pacto Oeste, grupo formado por 11 municípios para de-fender os interesses do programa. A carta de intenções foi assinada pe-los diretores da empresa no dia 05 de maio de 2011, no prédio da Pre-feitura de Guaíra. Na época, impressionados com o tamanho do Rio Paraná, os alemães fizeram questão de conhecer a área destinada à construção do Porto In-

ção do poderoso mercado chinês. “O governo federal sabe que precisa in-vestir em infraestrutura. Na verdade, chegamos ao fim de uma primeira e longa etapa, que era fazer com que o governo liberasse recursos e assu-misse esse projeto como prioritário. O governo do Paraná entendeu isso e agora precisamos fazer com que o governo federal também aposte no projeto. Um estudo de viabilidade técnica foi encomendado. Se houver de fato a institucionalização nacio-

Economia

termodal. “Eu conhecia Guaíra so-mente pelo Google, mas conhecer a região pessoalmente é muito mais interessante. Nós queremos muito estabelecer essa parceria e achar logo a peça certa para montarmos o grande quebra-cabeça”, disse en-tão Thomas Schlipköther, diretor da empresa. Segundo o atual secretário munici-pal de Planejamento e idealizador da Plataforma Intermodal, Josemar Ganho, de lá pra cá o governo entrou em contato com outros investidores, tendo despertado inclusive a aten-

nal, o que esperamos que aconteça, pois existe o interesse do Ministério dos Transportes, aí sim teremos um arranjo grandioso, já que a intenção é fazer a ligação com o Mato Gros-so do Sul, Paraguai e, numa terceira etapa, com outros países do Merco-sul como Chile e Argentina”, explica Josemar.CorredorCom apoio do Governo do Estado e do Governo Federal, serão realiza-dos investimentos na integração da hidrovia Paraná - Tietê, na expansão da Ferroeste, na melhoria das rodo-

Tecnologia utilizada a favor da logística, na época.

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vias BR-277 e BR-163 e na base aeroportuá-ria de cargas. “Guaíra está em um centro es-tratégico que permite o cadenciamento de mercadorias. Este mó-dulo vai integrar a re-gião Oeste do Paraná, o eixo do Paraguai que vai de Salto del Guairá até Assunção, e o Tró-pico de Capricórnio, que envolve Paraguai, Chile, Argentina, Bra-sil e Uruguai. Dessa forma, teremos um corredor bioceânico interligando o Pacífico ao Atlântico”, conclui Josemar.O projeto de fortalecer a logística e o transpor-te na região Oeste ga-nhou força a partir da observação do cenário internacional, confor-me explicita Josemar. “O cenário aponta para mais consumo de pro-teína animal por conta da ascensão da nova classe média na Índia e na China e pressão da demanda por comida no Oriente Médio. Sen-do assim, haverá au-mento na procura por grãos, gado, frango e suíno, produtos fortes na região”, disse.Para se ter uma ideia da magnitude do pro-jeto, estima-se que no futuro este corredor será o maior centro logístico do interior do continente e deve integrar a infraestru-tura regional, nacional e continental. E tudo isso passando pela

base que será construída em Guaíra. A história se repeteSe a Plataforma Logística sair do papel, a cidade fronteiriça de pouco mais de 30 mil habitantes deverá se transformar em protagonista de um novo tempo. Centro irradiador de produtos de primeira necessidade, a antiga “cidade das Sete Quedas” voltará a ter sua vocação natural aproveitada. Há mais de cem anos, a Companhia Matte Laranjeira utili-zava o então Porto Guaíra (atual Vila Velha) como base para o transporte da erva-mate até Buenos Aires (de lá seguia para a Europa). Valendo-se dos modais hidroviário e ferroviário (a primeira ferrovia do Oeste foi ins-talada aqui), a empresa transformou o vilarejo em modelo para toda a região. “Guaíra tinha uma organiza-ção invejável, teve sua área urbana toda planejada e produzia até peças industriais. Faz muito tempo que os homens de visão perceberam como utilizar o potencial da fronteira”, co-menta Ramón Adolpho Britez, ser-vidor público aposentado e filho de um funcionário da Companhia. Muito antes disso, por volta de 1552, os espanhóis se estabeleceram na região - então densamente povoa-da por índios Guarani. “A geografia sempre foi determinante para todos os povos. Os índios não viviam aqui à toa. Eles estavam aqui por causa das belezas naturais, das riquezas, mas também utilizavam o espa-ço como um refúgio. Vale lembrar também que essa região do Guairá engloba alguns ramais do famoso Caminho de Peabiru, que interliga-va de Leste a Oeste o continente Sul--Americano. É ingenuidade pensar que os espanhóis fundaram a Ciu-dad Real del Guairá por acaso, por exemplo. Os jesuítas também não desembarcaram por acaso. Tudo foi muito estudado, pode ter certe-za”, lembra a historiadora Jéssica de Lima da Silva.Por Cristian Aguazo

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Ventura tenta esclarecer pontos obscuros nos discursos antagônicos sobre a chamada “causa indígena”. As versões para o fato são muitas. Mas até que ponto podemos comprovar a veracidade das informações que circulam no dia a dia? Com o objetivo de ouvir os dois lados da história para poder entender melhor o

AFINAL, O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

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AFINAL, O QUE ESTÁ ACONTECENDO?assunto, nossa equipe de reportagem procurou agricultores, compareceu a encontros promovidos por diversas entidades, ouviu funcionários da Funai e participou até mesmo de rituais indígenas. Saiba quem são alguns dos agentes envolvidos, como pensam, o que fazem, e quais as possibilidades de demarcação de terras em Guaíra.

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De um lado, os produtores rurais. De outro, os índios. De um lado, a Fu-nai. De outro, o bloco ruralista. De um lado, as ONGs internacionais. De outro, os nacionalistas. Alguns insistirão: de um lado, a esquerda radical e revisionista. Do outro, a di-reita conservadora e reacionária. Difícil não ser atingido pelos discur-sos que tomaram conta das ruas de Guaíra nos últimos meses. Os enfo-ques mudam consideravelmente, mas nunca o assunto. A verdade é que o tema “demarcação de terras indígenas” está em evidência e a tro-ca de acusações baseada nas frases que lemos acima é constante. “Infe-lizmente, a situação ficou tensa de-mais. Precisamos buscar o consen-so e entender que ambas as partes estão na verdade sendo vítimas”, opina Josemar Ganho, que tenta, via prefeitura, aplacar os ânimos. Uma das maneiras de ler o impas-se é pela perspectiva da defesa da propriedade privada. “Este também é um direito constitucional. Com tantas terras públicas, não vejo por

que desapropriar”, comenta Silva-nir Rosset, presidente do Sindica-to Rural Patronal. Os agricultores reclamam que quando adquiriram suas terras poucos índios residiam em Guaíra, e que a recente migra-ção tem fundo político. Além disso, os produtores defendem o direito à terra, que, ressaltam, foi comprada dentro da legalidade e são altamen-te produtivas. No mês de março, uma ONG foi criada com o objetivo “de defender os interesses da cida-de”, que, segundo o grupo, está sob a ameaça de uma grande desapro-priação. “O que aconteceu em algu-mas cidades do Brasil pode também acontecer com Guaíra. É possível até mesmo que a cidade inteira seja desapropriada, como aconteceu em Suiá Missu. Eles dizem que não, mas temos evidências de que também a área urbana será afetada”, afirma uma empresária, que preferiu não se identificar. Em entrevista ao jornal Rio Parana-zão, o presidente da Organização Não Governamental Direito de Pro-

priedade (ONGDIP), João Weber, sa-lientou a necessidade de defesa dos interesses dos agricultores. “Aqui não há litígio, nunca houve, não há grilagem de terras. Foi uma coloni-zação muito antiga e muito correta”, disse. A ONGDIP teve adesão em massa por parte da sociedade guairense. Segundo a organização, as pessoas se sentem indefesas porque sempre cumpriram a lei e agora a lei não os está amparando. Uma das integran-tes, que prefere não se identificar, também critica o posicionamento de pessoas ligadas à Funai e ao Cimi (Conselho Missionário Indigenista, da Igreja Católica), que num ma-nifesto acusou alguns agricultores guairenses e políticos da região de xenofobia. “A ONG não luta contra o índio verdadeiro, aquele que não quer isso que a Funai quer. Vale lem-brar que em Guaíra e na região nada foi tomado de ninguém, a terra não era dos índios, era do governo. Mas nós não enxergamos o índio como vilão, sabemos que eles são massa de manobra de gente de fora que está de olho nas nossas riquezas. O Cimi é formado por pretensos ideó-logos, é parceiro de ONGs interna-cionais. A Funai é hoje uma grande ONG que mantém os índios na mi-séria”, disparou. A maioria dos produtores hoje des-confia de interesses de ONGs inter-nacionais nas riquezas do Brasil. A tese é a de que os índios seriam massa de manobra para que outros países pudessem frear o desenvol-vimento nacional, com intenção inclusive de se aproveitar das de-marcações para futuramente se beneficiarem. “Muitos não perce-bem que ONGs internacionais e instituições estão tomando nossos territórios onde há minério, aquífe-ro Guarani, etc, havendo, portanto, interesses muito maiores do que o povo pensa. O problema não é o ín-dio, mas o que está por trás disso”,

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afirmou Silvanir Rosset em entrevis-ta ao jornal O Presente. O prefeito de Guaíra, Fabian Ven-druscolo, e o presidente do Sindi-cato concordam que a Funai de-tém um privilégio muito grande no processo de demarcação e sugerem mudanças. “Não se pode deixar para um único órgão, a Funai, fazer a de-marcação e desapropriação. Isso tem que acabar. É preciso dar au-toridade ao Congresso Nacional”, opinou Rosset. A sugestão de Ven-druscolo é de que o tema seja de-batido em audiência no Congresso Nacional, que, segundo ele, deve ser a instância deliberativa sobre assun-tos dessa natureza. Outra sugestão é a contratação de uma assessoria es-pecializada para questionar laudos e pedir respeito ao direito ao contra-ditório. No final do mês de março, os agricul-tores ameaçaram até mesmo parar de produzir. Conhecido como uma região agrícola de grande capacida-de, o Oeste do Paraná tem um peso

importante na balança comercial. “Essa seria uma forma de protesta-rem, pressionarem e chamarem a atenção para um problema que está mais calmo nesse momento, mas que não foi resolvido e não deixou de existir”, falou Fabian. Ainda no mês de março, duas gran-des reuniões mobilizaram a socie-dade. A primeira aconteceu em Terra Roxa, durante encontro da Caciopar (Coordenadoria das Asso-ciações Comerciais do Paraná). Na oportunidade, o prefeito de Guaíra mencionou que alguns projetos es-truturais importantes podem ser limitados caso haja um grande pro-cesso de demarcação. Na mesma reunião, o deputado estadual Elio Rusch afirmou que as pessoas não podem se calar e devem mesmo se mobilizar “para defender os interes-ses de quem trabalha e produz”. A outra reunião aconteceu no dia 25, na Unipar. Com o anfiteatro comple-tamente lotado, advogados, lideran-ças comunitárias, agricultores e em-

presários discutiram longamente o assunto. A principal preocupação do prefeito foi com relação à inte-gridade territorial do município, já que demarcações poderiam afetar a área destinada ao Porto Intermodal, um projeto que deve recolocar Gua-íra como cidade protagonista em toda a região e até mesmo em nível nacional. A reunião foi amplamente divulgada na imprensa e também nas redes sociais. Por fim, outra dura crítica susten-tada nas redes sociais é a de que existem paraguaios infiltrados entre os indígenas. “As invasões são pla-nejadas, estão até trazendo gente do Paraguai. O próprio Ferdinando, funcionário da Funai em Guaíra, já confirmou isso”, afirmam.

No meio do imbróglioParalelamente às polêmicas, um grupo de profissionais vinculados à Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) está estudando a cultura Guarani na região. Trata-

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Quando o proprietário do famoso Supermerca-do Neves resolveu abandonar o ramo comercial para se dedicar à vida no campo, ele não ima-ginava o quão delicada ficaria a sua situação. Nascido em Miraí/MG, Simeão Lopes Neves passou por Santa Tereza do Oeste/PR e Para-nhos/MS até se estabelecer em Guaíra no ano de 1982. O pequeno empresário ganhou a vida aqui: seu mercado cresceu, ganhou popularida-de e Neves passou a participar ativamente da vida social de Guaíra, tendo sido inclusive can-didato a prefeito em duas oportunidades. Com o passar dos anos, veio a vontade de aban-donar o lado comercial para se dedicar à agri-cultura. A propriedade, de 241 hectares, com-prada há 20 anos, passou a ser então a principal fonte de renda da família. Tudo parecia dentro da normalidade, até que a ocupação indígena o alcançasse em março do ano passado. “Os índios alegam que ali foi um antigo cemi-tério indígena, mas nunca ninguém provou nada. Quando houve a invasão, fui falar com o cacique e ele me disse para procurar a justiça”, recorda. Questionado sobre o que espera para o desfe-cho do caso, Neves é enfático: “Quero saber dos meus direitos, se a Constituição vale alguma coisa, porque eles estão demarcando a terra e é a justiça quem deve decidir. Comprei a minha terra com muito sacrifício e agora sou mal tra-tado, como se fosse um invasor”, conclui.

Ilson Soares, 24 anos, é o cacique da aldeia Teko-há Y´Hovy, que significa Rio Azul. Nascido em Inácio Martins, região central do estado, Ilson viveu também em Jaraguá, distrito da cidade de São Paulo. Sua vinda a Guaíra deve-se ao fato de ter se casado com a filha de uma liderança Guarani que retornou à região depois de mui-tos anos. “Meu sogro conta que vivia à margem do rio. Ele conta que quando a Itaipu começou a trabalhar, começou também a contratar pes-soas para trabalhar na usina. Eles também pe-diam para que as famílias se retirassem, porque

as terras iam ficar debaixo d’água”.Ilson tem se incomodado com algumas afir-mações. “Muitas vezes a gente ouve dizer que os indígenas estão impedindo o progresso, ou que o índio não trabalha, até espalharavm fai-xas pela cidade dizendo que invasão indígena não combina com ordem e progresso. Eu não sei bem dizer o progresso de quem, porque nós não progredimos em nada, não tivemos pro-gresso nenhum. A gente não está tentando im-pedir progresso de ninguém também. A gente já perdeu muito com o tal do progresso; ele já nos tirou nossas terras, parte da nossa cultura e hoje lutamos para manter essa parte da cultura que ainda nos resta. Nesse espaço de terra os planos que temos são o de plantar as sementes da nossa cultura, como o milho branco, amen-doim, para que a gente possa fazer nossas co-midas típicas, como muitas vezes temos feito. Queremos a demarcação porque sem ela não tem como o governo investir em saúde e educa-ção, que é o que também precisamos”, explica.

"O cacique me mandou procurar a justiça"

"Já fomos ameaçados"

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-se do Coletivo Kuairá, grupo mul-tidisciplinar que é fruto do projeto Encontros da Cidadania: Os Povos Indígenas e seus Direitos, do progra-ma Universidade Sem Fronteiras em parceria com a Associação Cultura Araguaia e Unioeste. O grupo é formado pelo professor da Unioeste/Cascavel, Paulo Porto Borges; pelo mestrando pela Uni-versidad Autónoma de Asunción, Romualdo de Amorim, de Guaíra; pela engenheira agrônoma, Rita de Cássia Ribeiro; pelo graduando em letras na Unioeste/Cascavel, Toni Bandeira; pelo diretor da Escola Estadual Indígena Itamarã, Mau-ro Dietrich, de Diamante do Oeste; pela professora da Escola Indígena de Marangatu, Cláudia Regina de Oliveira; pelo acadêmico de geogra-fia, Roberto Dias, e pelo professor indígena Guarani da aldeia Maran-gatu, Rufino Deni. “O coletivo surgiu da vontade de entender a cultura indígena Guara-ni, bem como a preocupação com a questão do direito e da cidadania.

Participamos de diversas reuniões com as lideranças e a preocupação deles era sempre a de manter a lín-gua, a espiritualidade religiosa, atra-vés dos xamãs e xamói, da atividade de agricultura de subsistência, uma vez que eles desejam plantar o mi-lho, a mandioca, o amendoim. Um fato curioso foi os Guarani deseja-rem resgatar a plantação do milho nativo, extinto com o passar das épocas. No entanto, há no México uma biblioteca que possui todas as variedades de semente do milho. A questão das terras tradicionais está sempre na pauta das reuniões das lideranças. O Guarani quer viver em seu território, cuidar da sua gente, manter seus hábitos culturais. Afi-nal, em mais de quinhentos anos de contato com o ‘homem branco’, o Guarani conseguiu manter sua tra-dição e seus rituais. E eu afirmo que eles são os mesmos narrados por historiadores de outras épocas. O que mudou um pouco foi a forma de suas aldeias, pois estas não possuí-am muitas casas. Portanto, o objeti-

vo do Coletivo Kuairá é o de resgatar essa historicidade e disponibilizá-la para a comunidade científica atra-vés de artigos de autoria de seu membros, bem com em comunica-ções em seminários, fóruns e con-gresso que envolva essa temática”, explicou Romualdo de Amorim.

Outro ladoA outra maneira de entender o pro-blema é pela perspectiva histórica e sociológica. A história mostra que os povos nativos foram engolidos pela cultura do “homem branco”. A situ-ação de miséria destes povos quase sempre comoveu os movimentos sociais, pastorais e a sociedade de modo geral. Vivendo à margem, os Guarani aceitaram o contato, per-deram parte de sua cultura, mas resistiram bravamente ao longo dos séculos. Outras etnias não tiveram o mesmo destino e num confronto di-reto foram exterminadas. Em Gua-íra, até o início da década passada o convívio era relativamente bom, não lembrando em nada a cisão

Cerimônia religiosa Guarani.

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1 Produtores rurais: Ao contrário do que pode pa-recer, nem todas as áreas ocupadas são de grandes proprietários rurais. Há pequenos agricultores que estão preocupados com a ocupação indígena. Mui-tos temem uma desapropriação forçada e uma in-denização abaixo do mercado. Além disso, muitos apelam para o sentimento. “Não é só o índio que possui uma ligação com a terra”, afirmou um des-tes agricultores. Outro argumento é de que as terras são altamente produtivas. “O pessoal do MST invade terras improdutivas. Talvez por isso nenhum deles ousou desembarcar aqui”, raciocina o agricultor A.S, que prefere não se identificar. Vale lembrar que no passado muitos pequenos produtores de terra fo-ram prejudicados com o processo de formação do lago de Itaipu. Não por acaso o movimento forma-do por arrendatários, ilhéus e pequenos produtores que não tinham como barganhar com a Usina foi um dos embriões do MST. A causa na época teve tanta importância que a 1ª Romaria da Terra do Paraná, organizada pela Pastoral da Terra, órgão vinculado à Igreja Católica, foi realizada em Guaíra no ano de 1985. 2 Índios: Ao contrário do que diz senso comum, o índio não deixa de ser índio por não estar mais na floresta (que floresta?!). O contato com o homem branco é um fato, mas as características biológicas, étnicas e culturais os diferenciam. O conceito de et-nia deriva do grego ethnos, cujo significado é povo. A etnia representa a consciência de um grupo de pes-soas que se diferencia dos outros. Esta diferencia-ção ocorre em função de aspectos culturais, históri-cos, linguísticos, artísticos, religiosos etc. 3 Antropologia: Apesar das supostas defesas às cegas à causa indígena, a antropologia é uma ciência e, em tese, os antropólogos possuem mais repertó-rio para julgamentos sobre a questão se compara-dos a nós, de certa forma leigos no assunto. 4 Propriedade privada: O respeito à propriedade privada é um argumento legítimo, querendo ou não. Não se pode desmerecer o indivíduo que adquiriu sua terra dentro do que estabelece o estado de di-reito. 5 Igualdade: Todo o indivíduo é igual perante a lei. Mas não dá para negar que para que uma sociedade consiga ser mais igualitária do ponto de vista social, é preciso reequilibrar a balança, que no Brasil está longe de estar em igualdade de condições. A ideia é

simples: muitas vezes para atingir o mesmo peso, é preciso reforçar com investimentos a parte da ba-lança que está mais leve. É claro, tudo isso deve ser feito sem que nenhuma parte seja diretamente pre-judicada. 6 Demarcação de 100 mil hectares e a desapro-priação de toda a cidade: Todos os profissionais entrevistados – anti e pró-demarcação – concordam que o número é exagerado e que é um absurdo uma cidade como Guaíra perder a sua integridade arbitra-riamente. Mas vale ressaltar que a chance de Guaí-ra ser riscada do mapa enquanto município para se tornar um aldeamento é zero. 7 ONGs internacionais e Funai: Pelo que se sabe até agora (ou seja, o que se pode afirma como certe-za e não como especulação), apenas ONGs que de-fendem os direitos humanos estão atuando na re-gião (atuam no mundo inteiro). Vale lembrar que as terras demarcadas são juridicamente da União. Ou seja, qualquer exploração às riquezas do país pode sofrer a intervenção do Governo Federal. Aliás, todo mundo (inclusive os índios) tem direito ao solo da terra, nunca ao subsolo. Por isso, ninguém pode ex-trair riquezas sem a autorização do governo.Outra crítica recorrente na cidade é contra a Funai. A Funai é um órgão governamental criado em 1967 (substituindo o Serviço de Proteção ao índio) pelo governo militar. A Funai defende exclusivamente o interesse dos povos nativos. Não dá para esperar outra coisa do órgão, é essa a função deles. Compete à Funai promover a educação básica aos índios, de-marcar, assegurar e proteger as terras por eles tradi-cionalmente ocupadas, estimular o desenvolvimento de estudos e levantamentos sobre os grupos indíge-nas. A Fundação tem, ainda, a responsabilidade de defender as comunidades indígenas; de despertar o interesse da sociedade nacional pelos índios e suas causas; e de gerir o seu patrimônio e fiscalizar suas terras, impedindo ações predatórias de garimpeiros, posseiros, madeireiros e quaisquer outras que ocor-ram dentro de seus limites e que representem um risco à vida e à preservação desses povos. Isso tudo de acordo com a Constituição de 1988. E cabe ressal-tar que essa política indigenista esteve em vigor em todas as constituições republicanas do Brasil. 8 Suiá Missú: As pessoas tentam fazer um paralelo entre o que aconteceu lá e o que está acontecendo aqui, mas a verdade é que existem diferenças. Suiá

12 coisas para levar em consideração

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Missú leva o nome de uma fazenda da década de 60, localizada no município de Alto Boa Vista, que pas-sou por fazenda de criação de gado ao domínio por uma empresa petrolífera italiana, na década de 80. A região sempre foi habitada por índios da etnia A’uwe (ou xavante, como denominaram os portugueses), que haviam saído da região de Goiás e migrado para oeste quando da colonização portuguesa na região, a fim de fugir ao contato com o “branco”. Durante o período em que a região foi sendo vendida e ocupada por não-índios, os A’uwe tiveram que sair da região, muitas vezes sendo transportados para outras regi-ões pelo próprio governo, o que desencadeou, entre outras consequências, a morte de vários indígenas por epidemias de sarampo, por exemplo. Na década de 90, a empresa petrolífera ENI/Agip, que era dona das terras da antiga Suiá Missu, se comprometeu a devolver as terras aos indígenas. Essa decisão gerou insatisfação entre políticos e fazendeiros locais. Há documentações sobre o incentivo por parte desses dois grupos da invasão das terras, declarada indí-gena pela Portaria 363, de 01/10/93, do Ministro da Justiça, a fim de tentar evitar que elas fossem efeti-vamente ocupadas apenas por não-índios. Essa ati-tude gerou a vinda de posseiros e ocupação da área já declarada indígena, o que ao longo dos anos in-tensificou o problema, uma vez que pessoas agiram de má-fé na ocupação de um território que já era de posse federal e estava em processo de ser demar-cado indígena. Ao longo das décadas de 90 e anos 2000, foram inúmeros conflitos. Em 1998, durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso, a terra é de-marcada através do decreto presidencial. Em 2000, a Justiça Federal determina o retorno dos A’uwe ao seu território tradicional. Em 2007, a Justiça de-termina a retirada de não-índios da terra indígena Marãiwatsédé, que chamamos Suiá Missu, o que só acontece em 2012. Para quem quiser outras infor-mações, há vários processos online sobre o período mencionado que tratam da situação na região e os procedimentos adotados pela Justiça para resolver os conflitos.9 Iguatemi: Aqui sim um paralelo pode ser feito. O caso Iguatemi chama a atenção pela quantidade de terras demarcadas em favor dos indígenas. 41,5 mil hectares na cidade de Iguatemi estão passando pelo processo de demarcação de terra indígena. Foram concluídas as duas primeiras fases, o estudo antro-pológico e a aceitação por parte da Funai e publica-ção de um resumo do estudo no Diário Oficial. A ter-ceira fase é a de contestação, em que os donos das 46 propriedades localizadas na área que deve ser

demarcada devem mover processos comprovando a posse de boa-fé da propriedade ou mesmo contes-tar a legitimidade do estudo antropológico. Segundo o que consta na Funai, no MS houve uma política governamental na década de 20, que criou 8 aldeamentos e reuniu neles todos os índios do Estado, tirando eles de suas terras ancestrais. Com isso, o Estado pôde comercializar as terras outrora indígenas para particulares. O conflito no Estado provém da vontade indígena de retornar às áreas ocupadas anteriormente pela etnia. Por outro lado, temos também a posse de boa-fé de produtores que adquiriram suas terras do Estado e temem se-rem retirados da região e terem uma baixa indeniza-ção por suas terras.10 Diálogo e bom senso: A resolução do impasse não pode ser ventilada com saídas violentas, tam-pouco preconceituosas (preconceito que muitas vezes é visto de ambas as partes – defensores da causa indígena e pessoas que são contra). O diálogo aqui será fundamental para que se entre em con-senso. Saídas que não prejudiquem as propriedades legalizadas e demarcações em áreas públicas são apontadas como a solução mais fácil. O que se es-pera é bom senso da sociedade (que deve entender que o índio não pode continuar à margem), da Funai, da justiça e do governo federal. 11 Contribuição dos agricultores: Desnecessário pontuar a contribuição dos agricultores para a nos-sa sociedade. Todos sabem o quão importante é a atividade e o quanto eles estão intimamente ligados ao município. Numa cidade em que a maior fonte de renda vem da agricultura, qualquer impacto pode acarretar em problemas sociais e econômicos. 12 Contribuição indígena: Por outro lado, os índios contribuíram e muito em nossa cultura. O chimarrão e o tererê são influências diretas do Guarani. A fari-nha de mandioca, o tabaco e o amendoim são outras heranças. Outro benefício que herdamos da intensa relação dos índios e a floresta é em relação às plan-tas e ervas medicinais. Boldo todo mundo conhece. E não se engane, ainda hoje existe muita contribui-ção: Os Guarani têm cooperado na preservação de uma espécie vegetal em extinção: o palmito-juçara (Euterpe edulis). O extrativismo sustentável da plan-ta praticado pelos Guarani tem sido a principal espe-rança de sobrevivência da espécie. Isso sem contar na elogiável língua Guarani, cuja influência é inegá-vel (Itaipu, por exemplo, é uma palavra Guarani). Vale lembrar que o Guarani é a língua mais falada entre os povos nativos do mundo e é a terceira língua do Mercosul.

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que existe hoje. A tensão começou quando houve um aumento popu-lacional indígena, culminando com uma intensa troca de farpas entre as partes. Para o indigenista da Funai, Diogo Oliveira, as críticas levantadas pelos agricultores carecem de provas e de fonte segura. “Falar é fácil. Na ver-dade, há um equívoco muito grande em Guaíra. As pessoas buscam re-ferências na internet e geralmente aparecem com informações pra lá de duvidosas, que não possuem ne-nhum respaldo acadêmico ou forte evidência que possa ser levado em conta num tribunal, num processo sério como é o nosso. Nós, ao con-trário, nos baseamos em leis e em estudos científicos”, asseverou. Diogo também contesta a informa-ção de que a cidade será desapro-priada e de que a reivindicação in-dígena é de 100 mil hectares. “Quem falou sobre 100 mil hectares foi uma pessoa ligada ao governo do estado. É uma informação que não procede,

não tem nem como ser tudo isso. E a cidade de Guaíra não será desapro-priada, isso é loucura”. Outro ponto questionado pelo in-dianista é o da versão de que em Guaíra nunca existiu índio. “Che-garam até mesmo a dizer que em Guaíra nunca teve índio. Todos os historiadores confirmam a existên-cia de milhares de índios em Ciu-dad Real del Guairá. Quando che-ga a Companhia Matte Laranjeira para colonizar, junto com a venda das terras para a Matte foi vendido o direito de usar a mão de obra dos índios. A grande parte, praticamen-te todos os índios que tem mais de 70, 80 anos, trabalhou para a Matte. O Cláudio, da Tekoha Porã, é um exemplo emblemático. Ele provavel-mente é o morador mais velho nas-cido em Guaíra, está para completar 98 anos, nasceu e sempre viveu aqui. Ele conta a história de toda a cida-de com um nível de detalhe como poucos guairenses tem capacidade de contar. Como foi trabalhar para a

Matte Laranjeira, como saiu a Matte e entrou a Bacia do Prata, como foi a chegada das empresas madeireiras, como foi a fundação da cidade, todo esse processo ele acompanhou. E é uma ingenuidade extrema pensar que ele era o único que estava aqui em Guaíra esse tempo todo. Assim, temos vários e vários relatos de ín-dios mais idosos. Tem um bairro que fazia parte de Guaíra, chamado Vila Guarani (hoje pertence à Terra Roxa), e não é à toa”, aponta.Sobre o fato de existirem paraguaios em meio aos índios, Diogo é enfáti-co: “A gente tem uma linha divisória bastante clara e os índios também tem de quem é índio e quem não é. Muitas vezes eles falam ‘eu não sou brasileiro, eu não sou paraguaio, eu sou índio’. E ser índio quer dizer ser diferenciado, uma identidade dife-renciada que por muitos anos foi ne-gada a eles. Até o presente momen-to, a gente não conseguiu identificar de fato pessoas paraguaias não in-dígenas. O que existiu e o que ainda

Infográfico

Capa

Como funcionam as demarcações de terras indígenas? As demarcações de áreas indígenas obedecem ao decreto No 1.775, de 8 de janeiro de 1996, que dita os procedimentos administrativos e prazos. Podemos dividir o processo em sete etapas:

A Funai nomeia um grupo técnico, coordenado por um antropólogo para realizar estudos complementares. Ao final dessa etapa, que ainda pode contar com outros membros da comunidade científica ou de órgãos públicos estaduais ou federais, que não estejam vinculados à Funai, o grupo técnico emite um relatório técnico da região a ser demarcada. Esse relatório é regulamentado pela Portaria 14, do Ministério da Justiça, de 09 de janeiro de 1996

A Funai analisa o relatório e aprova ou não o trabalho. Uma vez aprovado, deve ser elaborado e publicado num prazo de 15 dias um “resumo do mesmo no Diário Oficial da União e no Diário Oficial da unidade federada onde se localizar a área sob demarcação, acompanhado de memorial descritivo e mapa da área.

Essa fase é chamada de contestação até 90 dias após a publicação do resumo da Funai, da segunda fase. Após esse período de contestação, a Funai tem um prazo de 60 dias para emitir pareceres acerca das contestações apresentadas no período anterior.

O Ministério Público, com um prazo de 30 dias, após o recebimento dos pareceres da Funai, deve decidir por três caminhos acerca da demarcação: 1. declarar os limites da terra indígena e determinar sua demarcação; 2. prescrevendo as diligências que julgar necessárias ao processo num prazo de 90 dias; 3. desaprovar a demarcação.

Caso a demarcação seja determinada, nessa fase é que se dá a demarcação física do local e o assentamento de possíveis moradores da região considerada indígena.

Tendo-se cumprido todo o procedimento previsto em lei da demarcação, ela é oficializada através da homologação do decreto que demarca a área indígena, na esfera da Presidência da República.

Na última fase, decorridos 30 dias após a homologação do decreto de demarcação, a terra é registrada “em cartório imobiliário da comarca correspondente e na Secretaria do Patrimônio da União do Ministério da Fazenda”.

procedimentoe 1996, que dita os p tivosdminpde 1996, que dita os procedimentos administrativos ee 1996, que dita os procedimentos administrativos eos administrativos pas:em se

aNa última

divi procesvidir o pprzos. Podemos dprazos. demprae pe e etapem setee prazos. Podemos dip cesso em secesso em se

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Como funcionam as demarcações de terras indígenas? As demarcações de áreas indígenas obedecem ao decreto No 1.775, de 8 de janeiro de 1996, que dita os procedimentos administrativos e prazos. Podemos dividir o processo em sete etapas:

A Funai nomeia um grupo técnico, coordenado por um antropólogo para realizar estudos complementares. Ao final dessa etapa, que ainda pode contar com outros membros da comunidade científica ou de órgãos públicos estaduais ou federais, que não estejam vinculados à Funai, o grupo técnico emite um relatório técnico da região a ser demarcada. Esse relatório é regulamentado pela Portaria 14, do Ministério da Justiça, de 09 de janeiro de 1996

A Funai analisa o relatório e aprova ou não o trabalho. Uma vez aprovado, deve ser elaborado e publicado num prazo de 15 dias um “resumo do mesmo no Diário Oficial da União e no Diário Oficial da unidade federada onde se localizar a área sob demarcação, acompanhado de memorial descritivo e mapa da área.

Essa fase é chamada de contestação até 90 dias após a publicação do resumo da Funai, da segunda fase. Após esse período de contestação, a Funai tem um prazo de 60 dias para emitir pareceres acerca das contestações apresentadas no período anterior.

O Ministério Público, com um prazo de 30 dias, após o recebimento dos pareceres da Funai, deve decidir por três caminhos acerca da demarcação: 1. declarar os limites da terra indígena e determinar sua demarcação; 2. prescrevendo as diligências que julgar necessárias ao processo num prazo de 90 dias; 3. desaprovar a demarcação.

Caso a demarcação seja determinada, nessa fase é que se dá a demarcação física do local e o assentamento de possíveis moradores da região considerada indígena.

Tendo-se cumprido todo o procedimento previsto em lei da demarcação, ela é oficializada através da homologação do decreto que demarca a área indígena, na esfera da Presidência da República.

Na última fase, decorridos 30 dias após a homologação do decreto de demarcação, a terra é registrada “em cartório imobiliário da comarca correspondente e na Secretaria do Patrimônio da União do Ministério da Fazenda”.

procedimentoe 1996, que dita os p tivosdminpde 1996, que dita os procedimentos administrativos ee 1996, que dita os procedimentos administrativos eos administrativos pas:em se

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divi procesvidir o pprzos. Podemos dprazos. demprae pe e etapem setee prazos. Podemos dip cesso em secesso em se

acontece aqui é que no processo de expulsão dos índios daqui alguns deles foram levados para o Paraguai. Muitos deles nasceram aqui, foram para o Paraguai e voltaram. Assim como com os brasiguaios, que não deixam de ser brasileiros porque moram no Paraguai. Então esses ín-dios também não deixam de ser bra-sileiros”, justificou.O indigenista fala que esta estratégia de negação não é novidade e sempre foi usada para negar o direito aos ín-dios. “É a mesma prática que se ti-nha na época da Companhia Matte Laranjeira. Se você pega os registros históricos, tem referência aos para-guaios, aos mensus (uma derivação do espanhol mensualista. Eram a mão de obra quase absoluta em-pregada nos trabalhos de extração). Esses mensus eram índios e nunca foi reconhecida a indianidade de-les. Por quê? Porque os índios tem direito à terra desde o princípio do indigenato, desde 1680, e esse direi-to à terra foi reforçado em 1934 com

a constituição republicana. Então, negar a identidade desses índios era uma maneira de negar o direito que eles tinham a ter um espaço adequa-do para continuar vivendo, continu-ar com sua cultura”, mencionou.Quanto à hipótese das terras de-marcadas caírem em mãos estran-geiras, Diogo rebate: “Entendam que a terra demarcada não é dos índios, é da União. Está na lei. Os ín-dios têm direito à terra e não ao sub-solo. Portanto, não dá para explorar minerais. Sendo a terra do governo, se algum outro país estiver afetando a nossa soberania, basta uma inter-venção. Nós da Funai somos brasi-leiros e também queremos um país mais rico. E ser um país mais rico passa necessariamente por ser um país mais justo”, conclui. Antes da equipe de reportagem sair de uma das aldeias visitadas, onde entrevistamos o funcionário do ór-gão federal, um índio teceu um co-mentário: “A sociedade está se mo-bilizando e está conseguindo apoio.

Alguns foram até pra Cascavel en-tregar uma carta pra presidente. Eu apenas faço uma pergunta: Se nós não tivéssemos a ajuda técnica da Funai e não tivéssemos reivindican-do essas terras, alguém teria olhado pra gente? Nós seríamos lembra-dos? Alguém se importaria em repa-rar que a gente existe? Nós teríamos chamado a atenção das pessoas, dos agricultores e do prefeito?”Oficialmente, apenas duas áreas em Guaíra estão em processo de estudo antropológico; a Tekoha Porã, aldeia mais antiga da cidade, localizada na Vila Alta, e a Tekoha Marangatu, que fica nas proximidades do Porto In-ternacional Sete Quedas. Os demais aldeamentos enfrentam processos judiciais de reintegração de posse e ainda não estão em processo de es-tudo formal da Funai. Pelo que foi apurado pela Revista Ventura, as chances de demarcação das aldeias Porã e Marangatu são grandes. Por Cristian Aguazo

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A origem da famosa bebida feita com a infusão da erva-mate (Ilex paraguariensis) está diretamente ligada à cultura dos índios Guarani. Mas foi a partir da Guerra do Chaco (1932 – 1935), entre Paraguai e Bo-lívia, que a bebida foi aperfeiçoada, sendo consumida tal como conhe-cemos hoje. Segundo historiadores, o hábito de beber água com erva era comum entre os indígenas, que apresentaram o costume aos jesuí-tas. Os europeus logo perceberam os benefícios da erva-mate, pois, como sabemos, a infusão é riquíssi-ma em cafeína - daí o seu poder re-vigorante. Outra versão da origem é que os indígenas ao levarem o gado de um lugar para outro em comiti-vas, usavam a erva para coar a água dos rios, evitando assim a doença barriga d’água.Além do atrativo da bebida em si, o tererê é apreciado quase como um

ritual, já que a prática é relacionada ao convívio social. Muitas ervas são usadas para fazer o tradicional tererê paraguaio, sendo as mais comuns a menta’i (hortelã), kapi’i katî, erva de santa lúcia, kokú (cocum), cedrón Paraguay, cedrón kapií, cola de caballo (rabo de cava-lo) e burrito (burrinho). No Paraguai, existem varias indús-trias que processam a Ilex Para-guariensis. No mercado existem 42 marcas oficialmente registradas, sendo as mais populares a Kurupy, Campesino, Pajarito e Colón.O Paraguai exporta anualmente 618.374 quilos de erva mate para países como o Japão, Brasil, Líbano, Estados Unidos, Chile, Síria, Ale-manha, Canadá, Bolívia, Espanha, China, Coreia do Sul, Croácia, Israel, Suécia, Taiwan e Uruguai. No Brasil, o maior produtor de erva-mate é o Paraná.

Prepare um delicioso tererê

Os tradicionalistas torcem o nariz para a prática de colo-car suco artificial em contato com a erva-mate. Acham um verdadeiro horror tomar com refrigerante, mas toleram o uso do limão, muito popular

no Brasil.No Paraguai costuma-se adi-cionar ervas e plantas medici-nais à água. E é seguindo esse conceito que iremos reprodu-zir uma famosa receita de te-

rerê puro-sangue. - Pegue dois ou três galhos de cocu (Koku, ou ainda cocum), retire e lave suas folhas e colo-que junto com um litro e meio

de água potável- Acrescente meia folha de pa-

riparoba- Bata tudo no liquidificador, coe e acrescente meio galho

de burrito. - Sirva com bastante gelo e

aproveite!

Esse tal de tererêPopular em Guaíra, Terra Roxa e em todo o estado do Mato Grosso do Sul, o tererê é a bebida oficial do Paraguai, reconhecida através da lei 4.261/2011 (no país vizinho, comemora-se o dia do tererê no último sába-do de fevereiro).

Cultura

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Toda criança tem o direito de brin-car, como já prevê o artigo VII da de-claração dos direitos da criança. E não é por acaso! Quem é que não se lembra do mundo mágico infantil?O ato de brincar possibilita várias experiências de aprendizagem: da coordenação motora à sociabilida-de, a brincadeira torna o aprendiza-

do mais divertido.O simples ato de empilhar blocos, correr pela casa ou passar horas conversando com os próprios brin-quedos faz parte do processo natu-ral de aprendizagem das crianças.Contudo, permitir que a criança brinque não significa que ela pode fazer tudo. É preciso cuidado para

“Brincadeira de criança, como é”... necessário.

Não perca tempo e nem passe vontade, separe um tempo para seus filhos, sobrinhos ou netos. Os maiores tesouros são aqueles que ficam guardados na lembrança. Participe deste processo de descoberta; brin-que, gire, compartilhe e com certeza a felicidade compensará todo o

cansaço

Entre em nossa Fanpage e deixe um recado sobre

um brinquedo ou lembrança

de infância. Seu comentário pode

sair na próxima edição da revista!

facebook.com/RevistaVentura

Educação

Alunos da rede municipal de ensino de Guaíra

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que o ato de brincar não se torne justificativa para os erros da crian-ça. Assim, o ideal é que as ativida-des sejam monitoradas pelos pais e responsáveis, e, sempre que pos-sível, os pais devem participar das brincadeiras dos filhos, pois através delas eles podem ensinar valores do cotidiano, como ganhar e perder, além de seguir regras externas à re-alidade.Estudos revelam que a brincadeira é importante para todas as áreas do conhecimento. Exatamente por isso o ambiente escolar também deve manter espaços e materiais para que as crianças possam desenvol-ver atividades lúdicas, que são nada mais que um auxílio ao processo de aprendizagem. Para a pedagoga Elaine Kaiber, pro-fessora na escola municipal Maria de Lourdes Arantes Pereira, “o sim-ples fato de ilustrar o conhecimento em formas de brincadeira faz com que a criança compreenda de forma mais simples o objetivo das ativi-dades, tornando mais prazeroso o processo de ensino e aprendizagem, principalmente na educação infan-til”.

DicasEstabeleça um horário para a crian-ça brincar. É importante que a brin-cadeira nunca extrapole o limite das atividades diárias, como o dever de casa e outras atividades do seu co-tidiano.Brinque com seus filhos. Mesmo após um dia cansativo reserve um tempo para eles. E nesse mo-mento vale tudo! De cavalinho a super-herói, pois assim você estará participando do desenvolvimen-to intelectual e social de seu filho, descobrindo suas facilidades, limi-tações e reforçando seus laços de amor e afeto.Lembre-se: mais importante que o brinquedo em si é o ato de brincar. Quantos de nós não criamos nos-sos próprios brinquedos enquanto crianças? Do “boizinho de batata” até a boneca de espiga de milho, não importa. Crianças ainda não tem noção de valor financeiro, limitam--se ao valor sentimental e afetivo. Portanto, não se sinta frustrado se elas nem notarem determina-dos brinquedos “mais caros”, afinal todos temos lembranças daquele brinquedo favorito.

Respeite as faixas etárias:Até os 2 anosNesta fase, a brincadeira tem que estimular os sentidos. Correr, pu-xar carrinhos, escalar objetos, jogar com bolinhas de pelúcia são ativi-dades recomendadas.3 a 4 anos Começam as brincadeiras de faz de conta. As crianças respondem a brincadeiras de casinha, de trânsito, escolinha e atividades cotidianas.5 a 6 anos Os jogos motores (de movimento) e os de representação ( faz de conta) continuam e se aprimoram. Surgem os jogos coletivos, de campo ou de mesa: jogos de tabuleiro, futebol, brincadeiras de roda.7 anos acima A criança está apta a participar e se divertir com todos os tipos de jogos aprendidos, mas com graus de difi-culdade maiores.E por último: procure espaços ade-quados para que a criança possa brincar de maneira prazerosa e se-gura, como a garagem de casa, pra-ças ou espaços especializados em proporcionar essas atividades.Por Diego Prado

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Quem são e quantos são os agricultores familiares de Guaíra? Os números são impressionantes: 84% dos agricultores guairenses são considerados “familia-res”, ou seja, possuem área inferior a 40 alqueires, retiram o seu sustento da terra e ocupam mão-de-obra familiar para as tarefas agrícolas.A agricultura de commodities represen-tadas especialmente pelas culturas de soja e milho é amplamente divulgada na mídia dada a sua importância na balan-ça comercial. Mas e a agricultura fami-liar? Qual a importância deste segmento para a agricultura? A resposta é simples: esta importância está presente no “pão nosso de cada dia”, no prato do brasileiro composto por arroz, feijão, legumes e saladas.A agricultura familiar é responsável pela produção dos principais alimentos consumidos pela população brasileira: 84% da mandioca, 67 % do feijão, 54 % do leite, 49 % do milho, 40 % de aves e ovos e 58 % de suínos. Sem contar com uma gama variada de frutíferas, que fazem parte da “sobremesa”: banana, laranja,

Agricultura Familiar e o “feijão” nosso de cada dia

Coluna

melão, melancia, uva, caqui, entre tantas outras. Um dos exemplos de agricultor familiar guairense é o feirante Horácio Bachega, que explorando uma área de 4 alqueires consegue manter sua família dentro dos padrões do conforto. Da sua chácara localizada na comunidade São Domingos, saem semanalmente mais de 1000 unidades de alface, cheiro verde, brócolis, abastecendo com verduras fres-cas e saudáveis, os mercados locais.A atividade agrícola familiar contribui para o fortalecimento da economia local, gerando empregos na área rurais e renda para as famílias envolvidas. No Brasil, o setor agropecuário familiar é responsável pela geração de emprego, produção de alimentos voltada especial-mente para autoconsumo, tendo assim além do caráter de impacto social (evi-tando o êxodo rural), o econômico.Rita de Cássia Ribeiro é funcionária da Emater

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Saiba quais são as regras para trabalhar em

países do MercosulDesde que entrou em vigor, o Mercosul tem buscado uma maior integra-

ção entre países da América do Sul. As aproximações vão desde o aspecto econômico até o cultural. Mas até que ponto podemos transitar por estes países em segurança? Como fazer para trabalhar no Paraguai? O que um

paraguaio precisa comprovar para poder trabalhar no Brasil?Essas e outras questões ainda são uma incógnita para muita gente.

Informativo

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Em 2010, os governos do Brasil, Argentina, Para-guai, Chile, Bolívia, Peru e Uruguai assinaram um acordo. O acordo permite uma residência tempo-rária inicial de dois anos mediante a apresentação dos seguintes documentos às autoridades migra-tórias do país onde se quer residir ou aos setores de assuntos consulares das representações diplo-máticas do país onde se deseja residir, no caso de ainda estar no país de origem:

>Passaporte válido e em vigor ou cédula de identi-dade ou certificado de nacionalidade expedido pelo agente consular do país de origem do requerente, credenciado no país de recepção, de forma tal que resulte comprovada a identidade e a nacionalidade do requerente;>Certidão de nascimento e comprovação do estado civil da pessoa e certificado de nacionalização ou na-turalização quando for o caso;>Antecedentes criminais do Brasil: justiça estadual, federal e Polícia Federal>Certidão negativa de antecedentes judiciais e/o penais e/ou policiais no país de origem ou nos que tenha residido o requerente durante os cinco anos anteriores à sua chegada ao país de recepção ou ao momento de sua solicitação junto ao Consulado, conforme o caso;>Declaração juramentada da inexistência de antece-dentes internacionais penais ou policiais;>Certidão negativa de antecedentes judiciais e/ou penais e/ou policiais do requerente no país de re-cepção, se já se encontrar no Estado em que deseja residir;>Se for exigido pela legislação interna do Estado Par-te de ingresso: atestado médico expedido pela auto-ridade médica migratória ou outra sanitária oficial do país de origem ou recepção, conforme o caso, que comprove a aptidão psicofísica do requerente, em conformidade com as normas internas do país de recepção;>Pagamento da taxa de serviço, segundo disponham as respectivas legislações internas.>Duas 3X4 coloridas, fundo branco, sem data>Comprovante de endereço>Originais das taxas de GRU pagas, código 140082 (R$ 64, 58) e 140120 (R$ 124, 23)>Documentos expedidos fora do Brasil devem ser le-galizados pelo consulado brasileiro no país que emi-tiu o documento ou no consulado do país do Brasil.

>CuidadoAntes de aceitar qualquer oferta de trabalho que im-plique na mudança do seu local de residência, você deve se informar exaustivamente sobre o emprega-dor que oferece o emprego, sobre a natureza, condi-ções, características e normativas relacionadas com a atividade que você irá desenvolver, além de conse-guir uma série de referências de contatos no local de destino que possam informá-lo ou ajudá-lo em caso de necessidade, como são os contatos dos serviços oferecidos pelas forças de segurança, escritórios de denúncias etc.Lamentavelmente, nossa região não está alheia à existência de organizações criminosas que fa-zem ofertas de trabalho fraudulentas, as quais, em alguns casos, só buscam obter informação pessoal com fins comerciais ou fraudar trabalhadores por meio do pedido de envio de dinheiro para supostos gastos administrativos produzidos por potenciais empregos, mas que também utilizam ofertas de trabalho fraudulentas como forma de aliciar pesso-as que podem acabar sendo vítimas do tráfico com a finalidade de exploração laboral ou sexual.Por isso, antes de tudo, entre em contato com o seu consulado. Para obter esse assessoramento, não é preciso ter todos os documentos em mãos.

A taxa pode ser paga em qualquer banco. Boleto ban-cário obtido na internet no endereço www.dpf.gov.br, em GRU para estrangeiros, com unidade arrecadado-ra: Delegacia de Polícia Federal em Guaíra. Dúvidas podem ser sanadas pelo telefone (44) 3642 9130.

>Fronteiriços paraguaios que pretendem vir ao BrasilPara quem é fronteiriço e pretende apenas trabalhar legalmente, o processo é mais simples. Basta apre-sentar uma declaração de matrícula ou promessa de emprego em empresa legalizada, com firma reco-nhecida em cartório, apresentar atestado de antece-dentes criminais do país de origem legalizado pelo consulado brasileiro, atestado de residência na cida-de limítrofe, cópia da cédula de identidade autentica-da em cartório, certidão consular original (fornecida pelo consulado do país), duas fotos 3X4 coloridas e recolher a taxa de R$ 64, 85.De acordo com o artigo 21 da lei 6515/80, o fronteiri-ço não pode residir no Brasil. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone 3642 2711.

Por Cristian Aguazo

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Coluna

Já há alguns anos o tema referente à demarcação dos territó-rios indígenas em nossa região (Oeste do Paraná e Cone Sul do Mato Grosso do Sul) vem saltando aos olhos e ouvidos da população comum com cada vez mais força, posto que a mo-vimentação indígena vem se tornando cada vez maior, tendo um crescimento surreal, especialmente na cidade de Guaíra.A atual ideia de demarcação de terras indígenas teve sua ori-gem nos antigos aldeamentos coloniais. Tais aldeamentos eram formas de controle sobre os povos indígenas, e seus territórios divididos entre aliados e hostis. Os povos indígenas receberam tratamento diferenciado dos poderes coloniais. Os considerados aliados eram, por meio dos descimentos, aldeados próximos às vilas nascentes. Ali se concentravam prestando-se como proteção contra os po-vos “hostis” e como estoque de mão de obra para os traba-lhos da economia colonial. Dessa maneira, eram considera-dos “vassalos úteis”.Os povos hostis para os colonos permaneciam fora de con-trole, não aldeados, constituindo-se em ameaça. O aldea-mento era a concretização de uma forma de controle territo-rial e social sobre os nativos.A indefinição, o “descontrole” sobre os povos nativos reque-ria e até hoje requer a premência em definir-lhes o trato de terra onde estarão contidos e assentados, liberando assim o restante do espaço para a expansão e ocupação colonial. A urgência contemporaneamente reiterada, até pelos movi-mentos de apoio aos índios, revela o inconfessável temor de uma ameaça ao projeto colonial. Talvez não seja por outro motivo que em diferentes momen-tos recentes de nossa história, procurou-se fixar prazos para a conclusão da demarcação das terras indígenas no Estatuto do Índio de 1973 e Constituição Federal de 1988, onde foram fixados prazos para a conclusão das demarcações de terras indígenas no Brasil. E ainda se empunhe essa bandeira com o vigor de quem defende os índios e desconhece a dinâmica social que vem tecendo a malha do território brasileiro, cujo limite temporal não será dado por decreto, por lei ou por outro instrumento que não uma negociação cujo resultado seja justo para aqueles que efetivamente respeitam e vivem da terra.As ações coloniais históricas acima expostas acontecem hoje da mesma forma. Com certeza absoluta, quem coman-da as ações destas pessoas é o próprio homem branco. São aqueles que com informação privilegiada tentam de alguma forma tirar proveito da situação, afinal, o homem é o lobo do homem. Do ponto de vista conceitual, terra indígena é um conceito jurídico, referido à legislação vigente, prescrita pela Lei n.º 6001 de 1973, em seu art. 17, e a Constituição Federal de 1988,

art. 231. O domínio das terras indígenas é da União, aos índios cabe o usufruto exclusivo, a posse sobre elas. A demarcação dessas terras é um processo administrativo de natureza declarató-ria, ou seja, o Estado reconhece um território indígena ex-plicitando seus limites e declarando o seu interior como de posse permanente indígena.Portanto, terra indígena é para o Estado e a sociedade na-cional um conceito jurídico, ao tempo em que para os índios o território é o espaço de uso e de definição segundo suas representações sociais.Ao que me lembre, pois nasci aqui, raramente se via um ín-dio como transeunte em nossa cidade, sendo que todas as al-deias nos entornos do município sempre lá estiveram. Ocor-re que nos últimos anos esta população aumentou de forma assombrosa, fato que só me leva a crer que está existindo uma migração forçada de povos indígenas para esta região.O que se comenta é que grande parte dos índios hoje em Guaíra estão sendo trazidos do Paraguai e registrados em território nacional, causando daí a grande problemática hoje abordada.Em um exame superficial sobre o tema, tive conhecimento de que existem algumas determinações judiciais de reinte-gração de posse que tiveram seu prazo esgotado sem cum-primento, ou seja, é o Estado perdendo sua “soberania”, tendo um de seu poder colocado em descrédito ante o des-cumprimento de suas decisões.Lembro que li em algum lugar que o “filé” das áreas indíge-nas no Brasil já foi demarcada, restando agora somente a carne de pescoço, ou seja, lugares com densidade populacio-nal elevada, onde tais demarcações trariam ações judiciais infindáveis. É o homem branco querendo tomar a terra do homem branco. É, com absoluta certeza, alguém tentando levar vantagem sobre alguém, sempre é isso. E no meio disso tudo os índios, manipulados como sempre, desde o início de nossa colonização.Agora é esperar, no final tudo termina como está. Mas quem tem terra como alvo de demarcação ainda vai ter um desgas-te mental e financeiro muito grande, quer seja para custear as demandas judiciais, quer seja para pagar propinas para não ver seu território demarcado. Penso que no final tudo acaba bem.Ao longo dos 512 anos de colonização no Brasil, eu, mesmo que leigo no assunto indígena, consigo verificar de forma cla-ra que índio não quer terra, índio quer ser homem branco, sempre quis. Índio quer ser brasileiro, quer saúde, educação, moradia, comida. Porém, eles vão conhecer a triste realida-de, vão saber que nem o homem branco no Brasil possui isso!Fábio Bolonhezi Moraes é Advogado.

Índio quer terra para homem branco

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Os preços altos de veículos no Brasil são consequência de um conjunto de fatores. A carga tributária cobra-da de modo excessivo, gastos ele-vados com matéria-prima, mão de obra e logística de em alguns carros; falta de competitividade, margem de lucro maior do que em muitos países, demanda crescente e con-sumidores dispostos a pagar mais por carros de luxo, são algumas das causas que faz do mercado automo-bilístico nacional algo prejudicial ao bolso dos brasileiros.Alguns países importam carros do Brasil e os vendem mais baratos que no mercado nacionalMesmo quem importa veículos que são feitos em fábricas que ficam no Brasil, muitas vezes acabam venden-do o item mais barato do que é co-mercializado no mercado nacional. Nos Estados Unidos, por exemplo, a carga tributária que incide sobre um automóvel médio é de apenas 5,7%, no Brasil chega a 30,4%, o que justi-fica essa diferença de tabela.Na conta de um carro comercializa-do para os brasileiros estão embuti-dos os impostos diretos (IPI, ICMS

e PIS/Cofins). Se somados também os impostos indiretos essa conta fica ainda maior. Já no Japão e na Alemanha, considerados referên-cia no setor, a carga tributária é de 9,1% e de 16%, respectivamente, o que comprova como os brasileiros pagam impostos demais nos carros que compram.Importância da indústria automoti-va no BrasilA indústria automotiva correspon-de a 21% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial e 5% do PIB total. Segundo dados da Anfavea, entre 2002 e 2011, o setor cresceu 145%. Volkswagen, Fiat, GM e Ford con-centravam 98% do mercado nacio-nal há três décadas. Hoje dominam quase 70%. Mesmo diante da queda na participação relativa, as quatro montadoras não encolheram por-que a produção brasileira aumentou quase três vezes e meia nos últimos 30 anos.O que isso interfere na sua vida? É muito simples: o governo não inter-fere como deve com relação aos ju-ros porque não é interessante para ele correr o risco de perder essas

empresas. Em outros países, por exemplo, é obrigatório incluir vá-rios itens de proteção nos carros, que vão muito além do nosso “su-per” cinto de segurança. Mas o go-verno brasileiro sabe que se impor essa condição acabará tendo que diminuir a arrecadação para os pre-ços dos carros não subirem no país. Enquanto isso, os brasileiros pagam caro pelo veículo e tem direito a me-nos qualidade que em locais como a Argentina, onde as exigências são maiores para se colocar um auto-móvel em circulação.Fonte: Grande Fm e Veja

Por que os carros no Brasil são tão caros?

Uma verdade inconveniente:Um importado no Brasil pode custar até 3 vezes ou mais do

que em seu país de origem

Carros

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Para Ler

Música, Cinema & Literatura

Panóptico

Garagem LíricaMarcelo Montenegro

Marcelo Montenegro é uma das vozes mais interessantes da novíssi-

ma poesia brasileira. O tom des-pojado envolve e não esconde um

artista habilidoso com as palavras. Sua poesia é bastante imagética,

urbana, que nos surpreende ao jo-gar luz aos pequenos flagrantes do dia a dia. Não é por acaso que já o

chamaram de o “Manoel de Barros urbano”. O escritor Marçal Aquino

tem razão: a escrita de Montenegro “se deixa contaminar pela vertigem

poética do cinema, sem que isso implique qualquer risco para sua

natureza literária”.

Confiras as melhores dicas de CDs, Filmes e Livros, selecionados por nós, da Ventura, para que seu entretenimento e lazer seja sempre rico em cultura e bom gosto.

MarighellaMário Magalhães

Quem foi, afinal, Carlos Marighella? A biografia lançada no final do ano

passado joga luz ao mais famoso guerrilheiro brasileiro. Com fôlego de romance e muita informação, a narrativa percorre a vida, a obra e

a militância do controverso mulato baiano que foi deputado federal, poeta e estrategista da guerrilha no Brasil. Vigiado pela CIA, mo-nitorado pela KGB, a história de

Marighella contém muitas nuanças, muitas delas desconhecidas pelos

seus detratores e também pelos seus entusiastas. O livro foi desta-

que na categoria não-ficção do ano passado e foi escrita pelo premiado

jornalista Mário Magalhães.

A Visita Cruel do TempoJennifer Egan

Trama envolvente e com narrativa ousada e experimental, A Visita

Cruel do Tempo entrelaça várias histórias, vozes e perspectivas,

todas elas atravessadas pelo tempo, este conceito implacável. De São Francisco dos anos 1970 à Nova

York de um futuro próximo, cabe tudo dentro do caleidoscópio da

escritora Jennifer Egan. Os sonhos podem resistir ao tempo? A Visi-

ta Cruel do Tempo responde essa pergunta contando essas histórias

sobre música, sobrevivência e mor-te. Obra vencedora do Pulitzer, do

National Book Critics Circle Award e do LA Times Book Prize no ano de

2011, A Visita Cruel do Tempo foi publicada no Brasil no ano passado.

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ParaOuvir

Para Assistir

Wrecking BallBruce Springsteen

Bruce Springsteen mostrou no ano passado que ainda é o “Boss” do

rock americano. Com seu décimo sétimo disco de estúdio, Bruce des-

bancou Adele do topo da Bilboard e provou que o bom e velho rock and roll ainda dá pé. Wrecking Ball é um trabalho recheado de boas canções,

bem ao estilo que consagrou o ar-tista de New Jersey, entre o folk rock

e o rock de arena. As letras conti-nuam boas, o som continua agradá-vel. Destaque para as faixas We Take

Care Of Our Own, This Depression e Land Of Hope And Dreams.

WarU2

Lançado em 28 de fevereiro de 1983, War é o terceiro álbum da

banda irlandesa que viria a ser um dos maiores nomes rock dos anos

1980. O disco foi o primeiro grande sucesso comercial do grupo, ba-

tendo Michael Jackson no topo das paradas britânicas. Destaque para

o clássico Sunday Blody Sunday e para as faixas 40 e New Year’s Day.

Se você gosta de rememorar, eis War, 30 anos depois.

ClaridãoSILVA

Talvez a maior surpresa de 2012 na música brasileira, o capixaba SILVA estreou com o pé direito com o seu Claridão. O acabamento das músi-

cas, os arranjos criativos e a sonori-dade pop raramente vista por aqui

ganham o ouvinte logo de cara. A roupagem eletrônica é delicada, mi-

nimalista, muito bem construída. A impressão que dá é de estarmos

ouvindo uma banda estrangeira. O vocal lembra Los Hermanos, bem como as temáticas, embora as le-

tras sejam o ponto fraco do álbum, vale a pena apreciar.

NoPablo Larraín

Longametragem chileno que con-correu ao Oscar de melhor filme es-trangeiro, No é um daqueles filmes

históricos que enchem os olhos e abrem a mente. A história aborda os últimos momentos da ditadura

militar chilena, que pressionada pela comunidade internacional

aceita realizar um plebiscito para definir se deve ou não continuar no poder. Os líderes da oposição

resolvem então contratar René Saavedra (Gael García Bernal) para

coordenar a campanha contra a manutenção de Pinochet.

Argo (Oscar de Melhor Filme)Ben Affleck

Em 1979, o Xá que tentou ociden-talizar o Irã é deposto pelo aiatolá

Khomeini. Como o antigo líder ganhou asilo nos Estados Unidos, que havia apoiado seu governo de

opressão ao povo iraniano, as ruas de Teerã são tomadas por protestos

cada vez mais violentos. Um deles acontece em frente à embaixada do

Estados Unidos, que acaba sendo invadida. Seis diplomatas ameri-

canos conseguem escapar do local pouco antes da invasão, refu-

giando-se na casa do embaixador canadense. A CIA envia então um

especialista em exfiltração, Tony Mendez (Ben Affleck). Baseada em

uma história real.

AmorMichael Haneke

Filme francês vencedor da Palma de Ouro em Cannes e do Oscar 2013 na categoria melhor filme estrangeiro,

Amor é brilhantemente dirigido pelo diretor austríaco Michael

Hanaken. Sensível e impiedoso, Amor conta a história de Georges

(Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva), um casal de

aposentados que costumava dar au-las de música. Certo dia, Anne sofre um derrame e fica com um lado do corpo paralisado. O casal de idosos

passa por graves obstáculos, que colocarão o seu amor em teste.

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Conheça alguns

mitos que rondam as academias

É muito comum ouvir, pelos corredores das academias, mulheres comentando que estão

malhando mais e, em vez de perder peso, estão engordando. Jairo Diogenes, coordenador técnico

do Levitas (SP), explica por que essas e outras afirmações são lendas que rondam a ginástica.

‘‘Estou malhando com frequência e me alimentando bem, mas continuo engordando!’’

Explicação: quando uma pessoa pratica exercícios com regularidade, ela ganha peso magro e diminui

a gordura corporal. Mas essa inversão muitas vezes não é percebida na balança.

‘‘Para ter uma barriga tanquinho é preciso fazer abdominais todos os dias’’.

Explicação: como qualquer outro músculo, os da barriga também precisam descansar de 24 a 48

horas para se recomporem e definirem.‘‘Quanto maior a dor após o treino, melhor o

resultado?’’Explicação: sentir desconforto pode ser sinônimo

de trabalho muscular excessivo ou realizado de maneira errada.

‘‘Como quero perder peso, o ideal é treinar sem comer nada?’’

Explicação: o corpo precisa de energia para funcionar. Sem se alimentar, ele armazena

mais gordura, para conseguir manter-se em funcionamento.

A importância de um bom profissional ao seu lado:O professor é muito mais do que um instrutor que

ensina no treinamento de musculação, ele acaba sendo o exemplo e a motivação para os alunos. O

bom professor é aquele que oferece orientação, estímulos, atenção e carisma. Não basta saber quais os melhores treinamentos, ele tem de ser

dedicado e ter paciência, dos alunos mais jovens ao mais velho, a presença de um profissional é

fundamental.Treinar com agasalhos ajudar a perder peso mais

rápido:Mito: Muita gente acredita que ao treinar super

agasalhado vai suar mais, perder mais calorias e emagrecer mais rápido. Infelizemtne, o mito não

é verdade. O exercício realizado nessas condições somente promove a elevação da temperatura corporal e leva o praticante da atividade a um

quadro de desidratação, que acelera ainda mais o processo de fadiga. Ou seja, você vai ter vai acabar

malhando menos.E você? Conhece mais algum mito ou gostaria de

tirar dúvida? Acesse nossa fanpage e interaja!www.facebook.com/RevistaVentura

Atenção: os músculos precisam descansar de 24 a 48 horas para se

recomporem e definirem.Respeito esse tempo!

Bem Estar

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Pera Ela tem seu mérito e não só a popular maçã - na

hora de enxugar os quilos extras. Pesquisa do Instituto de Medicina Social da Universidade do Rio

Janeiro -- e publicada no o Journal of Nutrition, uma das mais respeitadas revistas americanas sobre

nutrição -- mostrou que as mulheres que comeram três peras por dia durante 12 semanas consumiram menos calorias e perderam mais peso do que as que

não ingeriram nenhuma fruta. A pera tem a grande vantagem de ser bem fibrosa. Concentra, em média, 3 gramas de fibras totais por 100 gramas. Ela tam-bém é grande fonte de fibras insolúveis, que estão relacionadas à prevenção de prisão de ventre e de

doenças como diverticulite e câncer de cólon.Grapefruit e suas irmãs

Quer uma razão para reverenciar essa fruta? Ingerir metade de uma grapefruit ou tomar seu suco antes

de cada refeição pode ajudar na perda de até meio quilo por semana, mesmo que você não mude abso-lutamente nada na sua dieta. Passado esse período,

descobriram que componentes da fruta ajudam a regular a produção de insulina, um hormônio que está intimamente ligado ao estoque de gordura.

Níveis baixos de insulina também contribuem para afastar o apetite por mais tempo quando os índices estão elevados, o hormônio estimula o hipotálamo, região do cérebro que, entre outras funções, regula a fome. Se anda difícil encontrar grapefruit na sua

cidade, aposte em duas outras variedades: a laranja--pêra e a laranja-bahia, elas contêm os mesmos

compostos e atuam da mesma forma no emagreci-mento, garante.

Banana verde Nesse estágio, ela faz a balança se render graças a um amido resistente que ainda marca presença no macarrão integral, no feijão branco, na lentilha, na

cevada e no pão com grãos integrais, que têm alto poder de saciedade. Esse efeito ficou mais do que

comprovado em uma pesquisa americana realizada pela Universidade do Estado de Louisiana e publi-

cada no Journal of Obesity. De acordo com o estudo, esse amido estimula hormônios que fazem o orga-nismo se sentir satisfeito e sinalizam que é hora de parar de comer. Outro dado: um pequeno estudo da

Universidade do Colorado revelou que a queima de gordura foi 23% maior entre os pacientes que inclu-

íram alimentos ricos nesse amido. Dá para comer banana verde? Sim. Você encontra receitas ótimas

na internet ou no livro “Yes, nós temos Bananas” (editora Senac), de Heloísa de Freitas Valle.

Amêndoas Esta também é de cair o queixo: um farto punhado

de amêndoas, cheia de gorduras - benéficas, diga-se - é capaz de reduzir o peso. E não só ele: a barriga

também! Isso é o que mostra um estudo realizado no City of Hope National Medical Center in Duar-te, Califórnia, nos Estados Unidos, e publicado no

International Journal of Obesity. Em seis meses, os pacientes que adotaram diariamente 84 gramas da fruta oleaginosa (cerca de 70 unidades!) reduziram

18% do peso e 14% da medida na cintura. O colesterol ruim (LDL) também diminuiu 15% e os triglicérides,

29%. O grupo que se deliciou com as amêndoas perdeu também 56% a mais de gordura corporal

em comparação com a turma que ingeriu o mesmo número de calorias na forma de carboidratos com-

plexos, que estão nos cereais integrais, no arroz, nos pães, nas massas e nas batatas. Além das fibras, que afastam a fome por mais tempo, a amêndoa

contém ômega-3, gordura do bem que ajuda a esti-mular os hormônios da saciedade, afirma a médica

ortomolecular Heloísa Rocha.Revista Saúde.

Conheça 4 frutas que ajudam a eliminar aquelas gordurinhas indesejáveis

Conheça 4 frutas que ajudam a eliminar aquelas gordurinhas indesejáveis

Saúde

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Há muito tempo a Festa das Nações de Guaíra não mexia tanto com o público de Guaíra e região. A 37ª

edição do maior evento municipal promete ter recorde de público,

especialmente pela luxuosa grade de shows, a maior da história. Este

ano, Jota Quest, Michel Teló e Luan Santana serão as grandes atrações.

Além das três grandes atrações, foram confirmadas as participações

de Jeann & Julio, Conrado e Alek-sandro e Marcos e Belutti.

A grade de programação inicia na terça-feira, 30 de abril, com os

shows de Jeann e Julio e Conrado e Aleksandro. Na quarta-feira, 01º de

maio, é a vez dos mineiros do Jota Quest animarem a festa. No dia 02

(quinta-feira), Michel Teló fará uma apresentação que desde já promete lotar o Centro Náutico. Não menos

aguardado será o show de Luan Santana, a grande estrela da sexta--feira, 03 de maio. No sábado (04),

Marcos e Belutti comandam a festa.Estacionamento pago, entrada

gratuita e ingressos para os shows

à parte Para entrar no Centro Náutico, bas-

ta pagar o estacionamento. Como os shows foram terceirizados para

a empresa LG, de Londrina, uma arena será montada nas proximida-des do lago. Para assistir aos shows

é preciso adquirir os ingressos (quiosque nas proximidades do

Chafariz, Farmácias Globo e Umua-rama e Polaco Tur).

O preço do passaporte (que dá direito a assistir a todos os shows)

está orçado em R$ 80. Os ingressos antecipados para Jeann & Julio e

Conrado e Aleksandro custam R$ 20 e para as demais atrações R$ 25.A taxa de estacionamento custará

R$ 15 em todas as noites. Motos pagam R$ 5.

Já o camarote (com capacidade para 15 pessoas) para todas as noites está sendo vendido a R$

2.500. Quem preferir pode acessar o camarote apenas por uma noite.

Neste caso, as vagas no camarote estão sendo comercializadas por R$

1.000, exceto na terça e no sábado

(04), cujo preço é de R$ 750.“Para entrar nas Marinas basta pa-

gar o estacionamento. Apenas para assistir os maiores shows é que

serão cobrados os valores citados. No palco do anfiteatro, acontecerão

shows com talentos locais todos o dias e sem a cobrança de ingresso”,

reiterou Osmar Volpatto, presidente da Comissão Organizadora.

Show de prêmios O tradicional show de prêmios

deste ano (que acontece na tarde do dia 05 de maio, domingo) tem cartelas comercializadas a R$ 20.

Os participantes concorrerão a um Ford Ka 0 Km, uma lancha e uma

Honda Bizz. “Consideramos o preço dentro dos padrões, especialmente porque os prêmios são atraentes e

o lucro revertido para as entidades beneficentes. É sempre bom res-

saltar que esta festa é beneficente”, afirmou Volpatto.

Nesta tarde não será cobrada a taxa de estacionamento.Por Cristian Aguazo.

Festa das Nações deve ter recorde de público

Festa das Nações deve ter recorde de público

Cidades

Fonte: Divulgação Assessoria de Imprensa - Prefeitura Municipal de Guaíra.

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Click

Escolha da Rainha da 37ª Festa das Nações

CORTESIA

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Coluna

Sempre que crimes contra a vida venham a envol-ver pessoas de conhecimento nacional, a perma-nência do tribunal do Júri no ordenamento bra-sileiro acaba sendo questionada. Recentemente, o ex-goleiro Bruno do Flamengo foi condenado a 22 anos de prisão, inicialmente em regime fecha-do. Muitos que acompanharam o caso, e digo por mim também, queriam uma pena maior.É certo que nos primeiros anos da faculdade de direito, qualquer acadêmico acaba se seduzindo fácil pelo instituto de Direito Processual Penal, conhecido como tribunal do Júri. Este instituto fundou-se na Inglaterra por volta do século XIII, após Concílio de Latrão ter extinguido as ordá-lias e os juízes de Deus. Surgiu com um claro e pertinente caráter espiritual e religioso, pois era constituído por doze membros relembrando os apóstolos de Cristo. Conquistou rápida aprova-ção na época da Revolução Francesa, em virtude da forte antipatia à classe dos magistrados histo-ricamente vinculada à nobreza.No Brasil, o tribunal do Júri foi instituído através do Decreto Imperial editado em 18.06.1822, com-petindo-lhe restritamente julgar os crimes de im-prensa. A Constituição Federal promulgada em 1988, ao instituir o Estado Democrático destina-do a garantir tudo quanto disposto no seu preâm-bulo, recepcionou o tribunal do Povo. Atualmen-te, está localizado no artigo 5º, XXXVIII, de nossa Magna Carta e no Código de Processo Penal.Resumindo, o tribunal do Júri é composto por um Juiz de Direito (presidente do Tribunal), e por vinte e um jurados, dentre os quais sete serão sor-teados para constituir o Conselho de Sentença.Aqui chega onde eu queria. O instituto do Júri é democrático, por outro lado, apesar de concor-dar com os ideais de justiça, é preciso pontuar que há tempos o tribunal popular está corrom-pido pela possibilidade da falta de um justo jul-gamento do acusado. Isto porque são escolhidas pessoas leigas parar compor o corpo de jurados,

as quais são facilmente induzidas a julgar de acordo com suas emoções, revelando uma total falta de técnica, que pode acarretar na absolvição de um acusado que certamente seria condenado dentro dos critérios processuais. A instauração do tribunal do Júri, hoje, apenas passa de um teatro armado para satisfazer a imprensa e ludi-briar a sociedade que, mal informada acerca do que realmente vem a ser um julgamento popular, imagina ser essa a melhor forma de se condenar um infrator.O desembargador Paulo Sérgio Rangel do Nasci-mento assevera que da forma que o tribunal do Júri funciona no Brasil não se faz justiça, nem quando o réu é condenado nem quando ele é ab-solvido pelos jurados. Alega que as decisões dos jurados são motivadas pelas mais variadas – e despropositadas – razões. “Já ouvi a justificativa de que o réu foi absolvido porque ‘coitado’, ele é bonitinho. O perigo dessa decisão é que se traba-lhou com direito penal do autor. Um autor feio como eu, se sentar no banco dos réus, será con-denado. O que se está levando em consideração é a aparência física do réu” afirma. Se a justificativa para absolvição fosse conhecida, conclui, esse re-sultado seria anulado, “Como não é dito, a defesa ou acusação não sabe e, portanto, não pode im-pugnar. Em plena democracia, há uma decisão às escuras, oculta”. Atualmente, muitos são os juristas que defen-dem a retirada do tribunal do Júri de nosso or-denamento, por inúmeros motivos. A meu ver, existem pontos éticos de justiça, pontos esses, universais, que excessivamente prestigiam o sen-so comum popular. Existe a justiça real refletida no senso comum, e a justiça ideal, em que há questionamentos. O tribunal do Júri é um senso comum, e na busca por justiça ideal precisa ser questionado.Alessandro Alves de Andrade é advogado

Ideias e ideais de Justiça

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“Precisei pisar no solo guairense, andar pelas ruas, visitar os lugares, para entender de verdade - ou ao menos um pouco mais - o amor que conecta o povo desta cidade. Ainda é um mistério para mim, mas é bom que seja. Descobrir mais a cada viagem, a cada mergulho no Parana-zão. Obrigado a todos pela hospitalidade e por me receberem tão bem, um curitibano cinza se metendo em solo alaranjado. Um turista curio-so, que voltou feliz, repleto de causos e imagens.”

Ilustração

Relato de Fabiano Vianna, ilustrador e criador da premiada revista Lama, depois de fazer

um passeio turístico que culminou com o passeio de barco pelo rio Paraná.

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“Bora ‘educar’ os dourados,

fui”!

“E tem gente que não

entende a saudade que os guairenses

sentem”

Agora eu entendo um

pouco melhor a relação afetuosa

e intensa que une as pessoas

de Guaíra”.

“A gente descobre, com a delicadeza,

que a vida nos brinda a golpes de pincel com cores

dramáticas e trágicas e cômicas”

“Ás vezes fico em dúvida se realmente é melhor ouvir besteira do

que ser surda”

“O pior não é ver a morte de um artista

que sabia o que falava...e sim ver

pessoas postando coisas terríveis,

desejando a morte de outras pessoas.

Vamos acordar meu povo!”

João Carlos Medeiros,

aproveitando a abertura

da pesca no rio Paraná

Fabiano Vianna,

ilustrador e idealizador da revista

Lama, de Curitiba

Carlinhos de Jah, via

facebook

Maris Melo, via facebook

Rocío Fabiane, psicanalista guairense radicada em Campo Grande/MS

Clorinda Eloy, sobre um vídeo antigo sobre as Sete Quedas que virou mania nas redes sociais

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