revista ventura

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VENTURA Turismo ecológico e de emoção Junho de 2011, ANO 1 Nº 1 Conhece essa noiva? A cachoeira Véu de Noiva é uma das mais belas paisagens naturais da Baixada Santista, mas pouco visitada ECOLOGIA EM PARCERIA COM EMPRESAS Passeio ecológico ajuda a resolver problemas entre funcionários e exalta suas qualidades VOO DE PARAPENTE Nossa reportagem fez essa aventura e conta como foi E +: Tirolesa, rapel, trilha, praia, canoagem no mangue e passeio de barco pelo rio FAÇA AS MALAS Os cuidados que você precisa tomar antes de sair para acampar

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Produzida por alunos do terceiro ano de Jornalismo da Unisanta em 2011

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Page 1: Revista Ventura

VENTURATurismo ecológico e de emoção Junho de 2011, ANO 1 Nº 1

Conhece essa noiva?

A cachoeira Véu de Noiva é uma das mais belas paisagens naturais da BaixadaSantista, mas pouco visitada

ECOLOGIA EM PARCERIA COM EMPRESASPasseio ecológico ajuda a resolverproblemas entre funcionáriose exalta suas qualidades

VOO de pArApeNTeNossa reportagem fez essa aventura e conta como foi

e +:Tirolesa, rapel,

trilha, praia, canoagem no mangue e passeio de

barco pelo rio

FAçA As mAlAsOs cuidados que você precisa tomar antes de sair para acampar

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Nessa edição nós preparamos...

4 | VENTURA - Junho/2011 VENTURA- Junho/2011 | 5

6 | 15 segundos demuita emoção!

Nossa repórter fez tirolesa e descreve as sensações para você! Conheça também a Trilha do Conde.

12 | É de subirnas pedras!

No Guarujá, quem gosta deesportes radicais pode fazer rapel!

14| Além da visão!Trilha na Serra do Guararu leva visitante à ruína. Conheça a história de um monitor com deficiênciavisual.

18 | Ecologia etrabalho unidos!

Empresas recorrem aoecoturismo para solucionardesavenças de funcionários.

24 | Como uma ave!Voo de parapente e quem vive por isso. Leia aindasobre o contraste entre acidade e o meio ambiente.

32| Mangue, árvores e guará-vermelho!

Visões que a canoagem no manguezal proporciona! A importância da preserva-ção ambiental também faz parte do passeio.

36 | Por cima do rio deItanhaém!

Passeio de barco mostra as belezas naturais que quase ninguém vê.

40 | Três dias de aventura!

Expedição à Ilha do Mon-tão de Trigo promete muitas emoções.

46 | Gosta de surfar?A Prainha Branca é umaótima opção. Saiba por quê!

56 | Quer acampar?Veja o que preparar antes e no que prestar atenção durante!

Diante da tecnologia e das cidades complexas, estamos cada vez mais estressados, trancados horas no trânsito ou em frente ao computador. Esquecemos de respirar o ar puro, passear com a família e contemplar e curtir a natu-reza.

É isso o que a revista Ven-tura trará mensalmente para você — a oportunidade de conhecer novas paisagens que estão o tempo todo per-to de você na Baixada San-tista, mas que são pouco conhecidas ou mesmo lem-bradas.

Nessa viagem pela Ventu-ra, há aventuras para todos os gostos e bolsos! Da ca-noagem no mangue ao pa-rapente. Do esporte solitário à expedição à mais alta e inacessível cachoeira da re-gião — a Véu de Noiva.

A Ventura quer que você reviva o espírito aventureiro que há dentro de cada um de nós. Leia, aproveite as dicas e lembre-se: tudo isso só é possível porque a Natu-reza existe.

Boa leitura e boa viagem!

Caroline Leme,Editora

Natureza e emoção:a Gênese da Ventura

50 |

O caminho até a cachoeira Véude Noiva é difícil, mas apaisagem recompensa!

Uma noiva que todos olham, mas não visitam!

Page 4: Revista Ventura

Um pouco ave, um pouco Tarzan. Sensações da tirolesa

O Instituto litoral Verde promove atividades que pretendem nos aproximar da natureza.

Nossa reportagem foi até lá, viveu a aventurae conta como foi

JÁ peNsOU em VOAr?

Joanna Flora

“Voar não é o que você pensa na cabeça, mas sim o que sente no co-ração”. Com essa frase, no filme Rio, o tucano Rafael tentou explicar à arara Blu como é voar. Posso dizer que foi essa a sensação que tive ao fazer tirolesa. É claro que para quem pular de asa-delta ou parapente, esse tipo de sensação faz bem mais sentido. Mas vou chegar nesse ponto.

Morro de medo de altura, seja de um pri-meiro andar ou de estar dentro de um avião. As-sim, qualquer atividade que envolva estar mais de um pé acima do chão já me arrepia a espinha. Porém, existem momen-tos em que precisamos aceitar e enfrentar de-

safios. Considero essa reportagem um deles.

Não sabia o que me esperava, mas (ainda) não estava com medo. O Instituto Litoral Ver-de é uma ONG que tem como objetivo aproxi-mar as pessoas da na-tureza e da conscienti-zação de preservação ambiental. Uma das ati-vidades que a entidade promove é a tirolesa, na qual um cabo aéreo po-sicionado em dois pon-tos fará com que o pra-ticante deslize por meio de roldanas presas a um cinto.

A aventura não é feita sem a presença de um monitor, que será o res-ponsável por frear o pra-ticante quando ele che-gar perto do ponto final. Para aguardar a che-gada dele fui fazer uma das ramificações da Tri-

lha do Conde. O topo, de onde quem se aven-tura a praticar a tirolesa deslizará, está localiza-do em uma das partes da trilha. Aproveitei para dar mais uma olhada na altura e por onde eu iria passar, isso para ir me acostumando.

— Tem um galho na direção da corda — co-mentei com um dos fun-cionários do Instituto que fez a trilha conosco.

— Relaxa. Quando você for saltar, o cabo cede e aquele galho vai passar bem longe.

Essa foi a respos-ta que obtive. Lá se foi uma desculpa que eu ti-nha para adiar o medo. Quando terminamos a trilha, o monitor não só já tinha chego como já estava com todos os equipamentos de se-gurança e necessários

FOTOS: VITOR RICARDO

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Nossa repórter fazendo a tirolesa para poder narrar essa aventura

Page 5: Revista Ventura

para a atividade, sepa-rados. Não dava mais para fugir. Era a hora de colocar o cinto, capa-cete e saltar. O cinto é ajustado no corpo e pre-so a uma fita que será encaixada no na rolda-na que fica no fio da ti-rolesa.

Próximo passo — ca-pacete, que também re-cebe os devidos ajustes para quem for utilizá-lo.

Estava na hora de su-bir até o ponto do sal-to. Junto com quem for fazer a tirolesa, vai um responsável que pren-derá a fita no cordão de aço que vai até o ponto final. Enquanto isso, o monitor fica perto do fim

do passeio para arrumar aquela corda, citada an-teriormente, que servirá de freio. Eu já estava pronta para salvar, bas-tava um “ok” do monitor e a aventura começaria.

Em meio a brincadei-ras de que já encontra-ram uma onça na re-gião por onde a tirolesa passa e que eu deveria abrir os braços para dar mais emoção, o salto foi autorizado. Não é ne-cessário um empurrão-zinho ou qualquer ajuda desse tipo. A partir do momento em que você vai para a ponta da pe-dra e “senta”, a pressão do peso abaixa a cor-da e a pessoa começa

a “voar”. Não consegui abrir os braços como me foi sugerido, mas isso não interferiu em nada na minha emoção.

Você passa por dentro de um túnel de árvores e plantas que te dão uma sensação que jamais se tem na cidade. Tudo o que eu já tinha visto de flora pela trilha, pareceu nada perto do sentimen-to de passar no meio das misturas de árvores. A corda acabou virando e eu não desci de fren-te. E sim, acabei indo a maior parte do tempo de costas para o ponto fi-nal. Ou seja, pude olhar com mais atenção todas aquelas folhas, galhos e

à minha volta, que aos poucos iam se tornando mais distantes.

“Aos poucos” é for-ma de dizer, já que tudo ocorre muito rápido, mas dura o tempo suficiente para sentir uma liberda-de digna de Tarzan, só que com roupa. Lembrei também de Ed Mota: “Dois mundos distintos são. Deixa o seu destino agir, guiar seu coração por sobre as árvores vi-ver”.

Definitivamente é tipo de sensação que você só vai sentir nessa ati-vidade e nesse lugar. A apenas um pouco mais de uma hora da cidade de Santos, o Instituto Li-

toral Verde tem em vol-ta a Mata Atlântica. Um local totalmente dife-rente do que nós, seres urbanos, estamos acos-tumados. Não é apenas quando se chega ao ins-tituto que se percebe as paisagens. Por todo o caminho da estrada já é possível se maravilhar com a natureza.

Ter a oportunidade de conhecer essa região e ainda realizar essa ativi-dade é o tipo de aventu-ra que todas as pessoas deveriam fazer pelo me-nos uma vez na vida. Afi-nal, não é em qualquer lugar que você pode se sentir um pouco ave ou um pouco Tarzan. Além

das árvores e sons de pássaros que são pos-síveis de perceber no caminho até o ponto final da tirolesa, ain-da corre água que vem da piscina natural e se transforma em uma pe-quena cachoeira. A vida é muito mais do que carros, prédios e polui-ção. Que existem outras formas de viver total-mente desconhecidas, mas que valem muito a pena o nosso tempo para desvendá-las. A tirolesa dura um pouco mais que 15 segundos, mas proporciona uma sensação tão renovado-ra. Quando acaba, você quer saltar mais e mais.

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Com a ajuda de um monitor são colocados os equipamentos de segurança necessários. Depois, é só aproveitar

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A Trilha do CondeEnquanto aguardava

para fazer a tirolesa, apro-veitei e fiz uma das ramifi-cações da Trilha do Con-de. A atividade é dividida em partes, pois existem níveis de dificuldade. Fiz a mais curta, já que estava guardando minha energia para a tirolesa.

Para fazer a trilha, é im-prescindível que se vá de tênis. É a única forma para conseguir firmar os pés nos troncos e pedras, a fim de tomar impulso. Os funcionários do Instituto Litoral Verde alertam para não se apoiar em algumas árvores, pois dependendo da espécie têm espinhos.

Por mais que se perca a atenção na caminhada para admirar a paisagem, é necessário contê-la para que tombos e machuca-dos sejam evitados. As pedras têm limo e a chan-ce de escorregar é muito grande. Digo isso, pois escorreguei várias vezes — mas não caí — e isso rendeu um sacrifício para tirar depois toda a lama do tênis. Sem contar que, às vezes, os passos pre-cisam ser largos; pessoas pequenas como eu têm certa dificuldade e aca-bam pisando em falso.

Deixando as instruções de segurança de lado, e partindo para os detalhes da trilha, não é como des-lizar em um fio em alta ve-locidade. Porém, é preciso ter “pique” para aguentar o passeio, que vale to-talmente o esforço. São subidas e curvas que exi-gem equilíbrio. Não existe

no que se apoiar. Na trilha, não vi nenhum animal. Em todo o trajeto, só ouvi a sinfonia dos pássaros.

A paisagem vista na ti-rolesa pode ser encontra-da em maior abundância na trilha, já que o visitante passa do lado e por cima de todo esse verde. Em alguns trechos, é até pos-sível encontrar pequenas cachoeiras que formam minipiscinas naturais. Nes-sa época do ano, quando o frio está quase batendo à nossa porta, se banhar nas piscinas fica apenas na vontade. Mas no verão é uma ótima opção para se refrescar ou mesmo re-laxar com a água batendo no corpo.

A ida parece bem maior do que a volta, já que no retorno você já se acostu-mou por onde vai passar. Assim, consegue aprovei-tar melhor a paisagem. Os funcionários do instituto fazem esse passeio algu-mas vezes na semana, para que os galhos que estejam no meio do ca-minho possam ser remo-vidos e o visitante não se machuque ou tenha difi-culdade para atravessar. Ainda assim, durante a trilha, eles levam um fa-cão, caso algum obstá-culo precise ser retirado. A primeira ramificação da trilha dura dez minutos e custa R$ 10,00 por pes-soa. Mas as paisagens com as quais o visitante depara e a adrenalina, por ter que tomar cuidado por onde passa, valem o preço. (J.F.)

O Instituto Litoral Verde zela pela preservação da Reserva Particular de Pa-trimônio Natural Tijucopava, onde ele está instalado. O Centro de Estudos do Meio Ambiente, que também fica dentro da reserva, disponi-biliza alguns de seus espa-ços para outras atividades. Como por exemplo, a sala de artesanato. Lá, artesãos da região podem expor e vender produtos. É preciso passar por esse recinto para chegar à sala de palestras. Qualquer entidade pode mi-nistrar esse tipo de evento ou treinamentos voltados para o meio ambiente ou pre-servação ambiental. Alunos que tenham interesse em fazer estudo de campo tam-bém podem utilizá-la me-diante agendamento com antecedência e pagamento

de taxas de manutenção. Existe também uma área

de treinamento em manu-tenção de trilhas, ecoturis-mo e prática de esportes de aventuras. As trilhas são interpretativas e pas-sam pelo Manancial Bari-guy com pequenas quedas d’água e piscinas naturais e áreas históricas dos sé-culos 15 e 16. Bem como restos de uma constru-ção de uma usina gera-dora de energia particular.

Para praticar qualquer atividade no Instituto Litoral Verde é preciso ligar antes. Assim, poderá marcar o passeio em um dia que al-gum monitor esteja dispo-nível. Os telefones são (13) 3305-1512 ou 3305-1752. O Instituto Litoral Verde está localizado no Km 14,5 da Estrada Guarujá-Bertioga.

Áreas históricas dos séculos 15 e 16

Espécies vegetais e animaisPássaros— Cambacica, periquito, tié-da-mata, tucano-do--bico-verde, tucano-do-bico-preto, maritaca verde, beija-flor, bem-te-vi, sabiá-da-mata, chupim (pássaro preto), tico-tico, biguá, andorinha, tangará, sanhaço, surucuá grande- de-bar-riga-amarela, saí-verde.Animais — Preguiça-de- três- dedos, furão, cachorro-do--mato, quatí, esquilo, cotia, rato comum, tatu-peba, gambá, cobra-cipó, perereca, sapo, calango.Flores exóticas — Bromélias de diversas espécies e helicô-nias, entre outrasÁrvores — Diversas espécies arbóreas de grande porte, cipós de vários diâmetros, trepadeiras lenhosas, epífetas (plantas que vivem de outras plantas), samambaia-açu, gesneriáceas (em fase de extinção), gramíneas, manacás, quaresmeiras.Árvores Frutíferas — Cajá-manga, jaqueira, goiabeira, limo-eiro.Esculpidas pela natureza: No meio da trilha, surgem

piscinas naturais com água vinda de uma cachoeira

Os CAmINHOs dA mATA JOANNA FLORA

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O chamado do rapelrealizada no Guarujá, a atividade é opção para quem

deseja fugir da rotineira visita às praias

Vagner de Lima

Saí de casa às dez da manhã de um sábado de maio para fazer rapel no Centro de Estudos do Meio Ambiente, mantido pelo Instituto Litoral Verde. São 45 hectares de Reser-va Particular do Patrimônio Natural. No local, vivem 20 famílias que já estavam instaladas ali antes de vi-rar reserva. Agora, as inva-sões estão proibidas.

Foi só passar pelo portal no começo da estrada que identifica o início do Par-que Serra do Guararu e o calor que eu estava sentin-do transformou-se em uma sensação de leveza. Sentir o ar puro entrando faz qua-se seus pulmões sorrirem.

Menos de dez minutos de estrada e uma tímida placa identifica a entra-da do Cema. Para quem passa apressado de carro deve ser difícil mesmo re-parar que ali há a possibili-dade de se praticar o rapel. O local é pouco visitado. A Prefeitura do Guarujá se preocupa mais em divulgar as praias e o instituto aca-ba fazendo parcerias com agências de turismo para atrair mais visitantes.

Durante a semana é

preciso agendar a visita. Mesmo aos fins de sema-na, é comum não aparecer ninguém por lá. O público em geral são escoteiros, escolas ou gente que tem paixão pela natureza. Bi-ólogos interessados em fotografar aves e turistas de outros países visitam o local. Moradores do Gua-rujá ou de outras cidades da Baixada Santista é mui-to rara. De qualquer modo, aos desatentos que não costumam reparar à sua volta, esqueçam um pouco as praias do Guarujá e se arrisquem a fazer um pro-grama diferente.

A rampa até chegar onde fica a área onde se pratica o rapel é íngreme. Para os sedentários, pode tirar o fôlego. Já imaginei que te-ria de escalar um paredão enorme. Mas pelo contrá-rio, o lugar é super acessí-vel. Crianças, jovens, adul-tos, qualquer um pode fazer o rapel, como me contou o instrutor, Eduardo Mace-na, que foi extremamente atencioso e prestativo.

A área onde está insta-lado o instituto é enorme, e abrange desde a estra-da Guarujá-Bertioga até a praia do outro lado do morro. Uma trilha que ain-

da espera regulamentação para começar a funcionar levará o visitante até o alto do morro onde se pode avistar todo o canal de Ber-tioga. Certamente, por ali, há séculos, os nativos po-diam avistar a chegada de inimigos. Se ali passaram índios, portugueses ou cor-sários não se sabe. Essa certeza só virá quando fo-rem concluídos os estudos da Universidade de São Paulo sobre um sítio ar-queológico perto da trilha. É comum os monitores encontrarem pedaços de utensílios domésticos anti-gos espalhados pela área. Eles são todos guardados e se evita chegar perto do local. Mas o estudo ainda está em fase inicial por fal-ta de investimento.

Talvez esses habitantes tenham praticado rapel sem saber. Sei lá, fugindo de algum inimigo. Tinha chegado a hora de eu ex-perimentar a sensação. O rapel foi criado em 1879 na França por Jean Charlet--Stranton, que se baseou na técnica do alpinismo. Rapel, em francês, é algo como “chamar”. É como se você fosse desafiado a fazer o rapel.

A atividade, que custa

R$10,00, tem que ser feita com segurança. Capacete e o equipamento de pro-teção são fundamentais. Depois de equipado, é só segurar na corda com uma luva para não machucar a mão, controlar o atrito en-tre a corda e uma peça de aço que parece um oito, e ir descendo. Nem precisa de muito esforço. Você deve tomar cuidado só com o limo das pedras para não escorregar, como

aconteceu comigo uma vez durante a atividade. O tempo depende de você. Acredito que tenha desci-do em dez minutos. Entre as pedras corre água que vem da nascente e des-ce até o canal de Bertioga que margeia a estrada lá embaixo.

A sensação é ótima, o contato com a natureza te deixa leve. Passou tão rápido que eu até esqueci dos pernilongos que me

incomodavam, rondando minha cabeça enquanto conversava com o moni-tor. Para quem tem medo de altura, não se preocu-pe. A pedra onde é feito o rapel nem é tão alta, de lá de cima até a pequena piscina natural que se for-ma embaixo quando você desce, o trajeto deve me-dir no máximo dez metros. Super recomendado, para qualquer idade, desde que a pessoa se sinta segura.

Um dIA de HOmem ArANHA

Na hora do rapel é necessário tomar cuidado com o limoDe crianças a idosos, essa é uma ótima opção de lazer em meio à natureza

ARQUIVO DO INSTITUTO LITORAL VERDE

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Trilha ecológica além dos cinco sentidos

No Guarujá, o exercício nas matas pode ser feito na serra do Guararu. Nossa reportagem foi até lá

conferirTássia Martins

O cenário é comum para os aventureiro s. Já para uma recém-aventu-reira como eu nem tanto. A trilha estreita em meio à mata apresenta pou-cas dificuldades. Alguns barrancos próximos de onde se caminha ou en-tão a mata fechada em pontos históricos. Isso mesmo, os visitantes que entrarem na Serra do Guararu irão deparar com destroços dos sécu-los 15 e 18.

O caminho até o local é uma atração à parte. Partindo do Centro do Guarujá, mais precisa-mente da Praça dos Ex-pedicionários, na Praia de Pitangueiras, segui-mos pela rodovia SP 61 — Ariovaldo de Almei-da Viana ou Guarujá--Bertioga. No Km 5,5, o aviso: “Reserva da Ser-ra do Guararu. Respeite a Natureza”. Seguimos pela estrada até nos es-quecermos que estamos no meio da “selva de pe-

dras”, pois a bela paisa-gem verde começa a pre-dominar e um lindo céu em tons de azul e branco emolduram a paisagem. O tempo que se leva para chegar até o local é de aproximadamente 40 minutos de carro.

A entrada da trilha fica bem perto de Bertioga, antes de chegar à balsa que dá acesso à cidade. Deixamos o carro esta-cionado próximo a um bar que beira à estrada e logo começamos a ca-minhada. Confesso que não estava preparada fi-sicamente; então, aden-trei a mata com receio de acordar no dia seguinte com dores musculares de uma recém-aventu-reira. Tranquilizo-me ao ser informada pelo guia da Secretaria de Turis-mo, João Henrique dos Anjos, que não há mui-tos obstáculos na trilha.

Na rota da Serra do Guararu, o cheiro de mato predomina. Muitas árvores nativas da Mata Atlântica, como os ipês

e quaresmeiras, flores-cem no começo do ano. As sementes de algu-mas plantas servem de alimento para os ligeiros esquilos e pássaros. Ali-ás, em um ponto especi-fico da trilha, um cheiro forte impregna no nariz e logo se vê manchas brancas na vegetação. Ali é o “banheiro” dos pássaros.

Depois de caminhar cerca de 20 minutos che-gamos às Ruínas arque-ológicas da Armação das Baleias. Em seguida, encontramos o Forte de São Felipe e a Ermida de Santo Antônio do Guai-bê. João Henrique conta que a Armação das Ba-leias teria dado início à industrialização do País, já que foi a primeira fá-brica a produzir óleo de baleia, que servia na produção de argamassa para construções. Já no Forte foram celebrados os primeiros cultos reli-giosos pelo padre José de Anchieta, em terras tupiniquins.

eCOTUrIsmO e HIsTÓrIA se mIsTUrAm

FOTOs: TÁssIA mArTINs

Quem for se aventurar nessa trilha deve estar atento o tempo todo para não se machucar

FOTOS: TÁSSIA MARTINS

14 | VENTURA - Junho/2011 VENTURA- Junho/2011 | 15

Page 9: Revista Ventura

Hoje, o cenário atrai as mais variadas plantas, borboletas de asas colo-ridas, que no silêncio e calmaria do lugar até se deixam ser fotografadas. Em contraste, algumas paredes dos destroços pichadas por vândalos. O passeio segue e logo deparo com outra trilha: a de acesso para a Prai-nha Branca. Apesar das picadas de mosquitos do tipo borrachudo, no fim do passeio, o saldo é positivo. Seguimos até a trilha que leva à Prai-nha Branca. Lá me sur-preendi com uma vista paradisíaca. O sol esta-va se despedindo e em

Miguel Almeida Flá-vio é um dos monitores da Serra do Guararu. O garoto de apenas 13 anos leva turistas do mundo inteiro para co-nhecer o lugar. Até aí tudo bem, se não fosse por um detalhe. Miguel é cego. Sua deficiência visual no olho esquer-do lhe faz ter apenas 5% de visão e no olho direito, 10%.

A Serra do Guararu está aberta à visitação todos os dias. Quem preferir visitá-la acompanhado de um monitor local precisa agendar pelo telefone (13) 3305-6119. Outras informações na Secretária de Turismo do Guarujá: (13) 3344-4600.

contraste com o mar, formou-se um lindo ce-nário. Depois de nos re-abastecermos com água gelada, João Henrique e eu enfrentamos mais uma longa caminhada, com descida acentuada.

Se você for um aven-tureiro iniciante, não se esqueça de ir com uma roupa leve (tipo de ginás-tica), passe repelente, não leve bolsas pesadas ou muitos acessórios. Uma garrafa de água é o suficiente — isso se só for fazer a caminhada histórica, que dura cer-ca de 45 minutos. Além disso, o passeio só será possível, quando não es-

tiver chovendo. Próximo à balsa exis-

tem estacionamentos, inclusive particulares, que custam R$ 10,00 o dia inteiro. Há também alguns barzinhos. Não precisa pagar para en-trar na trilha. A melhor rota é a opção do cami-nho de baixo, para quem vai conhecer as ruínas. A outra passagem leva ao paraíso da Prainha Bran-ca, habitado por famílias de pescadores. Ali exis-tem pousadas simples que recebem surfistas e turistas que gostam de lugares incomuns e com placas indicativas “Prai-nhaterapia”.

Ruínas, flora e animais são algumas das paisagens proporcionadas por esse roteiro

Ele quebrou os tabus e soube enxergar mui-to além. Incentivado por Silvia Cabral, co-ordenadora do grupo de monitores da Serra do Guararu, o garoto aproveitou a oportuni-dade e hoje é o monitor mirim do local.

Miguel já guiou cin-co grupos, sempre com crianças deficientes visuais. No total, 25

crianças já percorre-ram o percurso histó-rico da Serra do Gua-raru, sendo guiadas por ele. No percurso, é acompanhado por al-gum adulto, mas com o apoio de uma corda com oito nós ele indi-ca as partes culturais e o tipo de vegetação da mata atlântica sem nenhuma dificuldade. (T.M.)

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Um monitor especialARQUIVO PESSOAL

Miguel, 13 anos e deficiente visual, é responsável por mostrar o local para os turistas

Page 10: Revista Ventura

Elizabeth Soares

Muito verde, cheiro de mato e de terra, sons de pássaros e outros animais silvestres quebrando o si-lêncio... e colegas de tra-balho reunidos. Não, não é um sonho daqueles em que personagens e am-bientes da sua vida, que aparentemente não têm relação alguma, misturam--se em uma imagem que não faz sentido. Essa cena é real e já aconteceu algumas vezes nas trilhas, cachoeiras, parques eco-lógicos e travessias da Baixada Santista e do Vale do Ribeira.

De acordo com algu-mas agências especiali-zadas em turismo ecoló-gico, é possível despertar características para atuar no mundo corporativo, a partir de experiências que aproximem os homens da natureza. Liderança, au-toconfiança, capacidade de ouvir e cooperar com o gru-po são qualidades que as empresas querem que venham à tona ao optar por essa alternativa nada

eCOlOGIA pOde ser A sOlUçÃO

convencional de treina-mento.

Cercada pelo mar de antigas e modernas cons-truções, a Harpya, empre-sa de Ecoturismo que há 22 anos atua em Santos, se assemelha a uma ilha verde, um pedaço de na-tureza perdido no espaço dominado pelo concreto. Ao entrar pelo portão da modesta casa, que pa-rece totalmente feita de materiais naturais, fui re-cebida por Nina, uma ca-dela dócil e carismática.

Sua dona, Lucia Va-lente, é a responsável pela agência. Há cinco anos ela desenvolve o trabalho de ecoturismo voltado para empresas. Com um sorriso que ten-ta ao mesmo tempo me cumprimentar e se des-culpar pelo arroubo de felicidade com que Nina me recebeu, ela abre a porta da Harpya, que em nada lembra as suntuo-sas e pedantes constru-ções atuais.

Lucia conta um pou-co da história desse tipo de atividade que pouca

gente conhece. Seu in-teresse por essa trilha do ecoturismo começou com o Projeto Coopera-ção, um trabalho de pós--graduação desenvolvido na Universidade Católica de Santos, do qual parti-cipou. O projeto preten-dia desenvolver o coope-rativismo em empresas,

mas com atividades que se davam em ambientes urbanos. Com a troca de experiências entre gru-pos de São Paulo e de outras cidades, duran-te eventos que reuniam agências de ecoturismo, surgiu a ideia de transfe-rir este tipo de trabalho do ambiente urbano para

o ambiente natural.Desde então, Lucia re-

aliza passeios ecológicos com atividades específi-cas para a necessidade de cada empresa. Nessa caminhada, muitas his-tórias foram marcantes. Ela conta que, certa vez, o proprietário de um sa-lão de beleza procurou

a agência para tentar inibir um problema apa-rentemente comum nes-se ambiente, mas que dificultava o a ascensão do seu negócio: a fofoca. “Ele dizia que um funcio-nário sabotava o outro e isso o fazia perder clien-tes”, lembra. Neste caso, o roteiro do passeio foi voltado para a manifes-tação e o reforço das ca-racterísticas positivas de cada membro do grupo e, em seguida, o coope-rativismo.

Ao longo da conversa, notei que o mundo cor-porativo tem sede de pro-fissionais que se desta-quem por qualidades que beneficiem a equipe e, consequentemente, man-tenham ou melhorem o nível da produção. A na-tureza das “virtudes” exi-gidas no perfil do funcio-nário varia de acordo com a expectativa do merca-do. Considerando essa diversidade de metas e perfis, a agência de eco-turismo sugere as trilhas adequadas aos objetivos da empresa-cliente, res-peitando a faixa etária e a capacidade física dos funcionários para deter-minadas atividades.

O passo seguinte é pla-nejar as estratégias para atuar com o grupo. Para isso, Lucia se reúne com o gerente Paulo do Car-mo e uma equipe de mo-nitores que acompanha-rão o grupo pelo “desafio ecológico”. Nessas ativi-dades, os participantes

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O rio jaguareguava é uma das programações da Harpya para as empresas

FOTOS: DIVULGAÇÃO

empresas buscam no turismo ecológico uma alternativa para solucionar problemas entre funcionários

Quando trabalho e ecoturismo caminham juntos

Page 11: Revista Ventura

“Os participantes são estimulados

a trabalhar características

comocapacidade,

cooperação e liderança.

são estimulados a traba-lhar características como capacidade de coopera-ção, liderança, entre ou-tras.

Para que os impactos humanos no ambiente natural não sejam dano-sos ao ecossistema dos locais de visitação, os grupos aceitam no má-ximo 15 pessoas. “Caso a empresa tenha um nú-mero maior de funcioná-rios, estes são divididos. Isso evita, por exemplo, que o cheiro de perfumes ou o excesso de pesso-as pisando nos mesmos locais do solo gerem in-cômodos à fauna e pre-juízos à flora”, explica Lucia.

Mas este trabalho vai além do despertar para características individu-ais e coletivas adorme-cidas, segundo Paulo do Carmo, que trabalha na Harpya há dez anos. Ao longo das atividades, os monitores refletem junto ao grupo questões liga-das ao consumo, sus-tentabilidade, respeito à natureza e à relatividade

do conceito de riqueza e pobreza. Para os res-ponsáveis pela agência, essas reflexões frequen-temente são contrárias à visão das empresas--clientes, interessadas no aumento da produção e dos lucros. “Por isso, precisamos ser sutis”, conclui Paulo.

As consequências de uma experiência como esta podem gerar mu-danças íntimas importan-tes, com reflexos tanto na vida profissional quanto pessoal dos participan-tes. Foi exatamente o que aconteceu com Ana Claudia Ometti em um desses passeios, pro-movido pela empresa de logística internacional na qual trabalhou até 2006. Formada em comércio exterior, na ocasião era

assistente de importa-ção. Ela lembra que no dia do passeio participou de várias atividades e in-teragiu com pessoas di-ferentes das quais tinha maior contato na empre-sa. “Fomos separados em grupos, nos quais as panelinhas foram desfei-tas”.

Envolvida pelo contato com a natureza, talvez inebriada pela natura-lidade, Ana Claudia re-solveu remover o verniz social. Limpa, viu-se me-lhor. E viu também seus companheiros de traba-lho. Despidos dos cra-chás e dos títulos, todos estavam nas mesmas condições. Sentiu-se à vontade entre eles pela primeira vez. Finalmen-te, podia ser ela mes-ma, sem precisar seguir

o padrão de perfil e de comportamento ditado pela empresa.

Contaminados pelo ví-rus da natureza, ainda não identificado, também os chefes mudaram a postura. Desenvergaram a coluna, curvada pelo peso dos cargos, e se es-queceram da dureza que quase sempre vem alia-da ao poder. Por instan-tes, aliviaram-se. Como prêmio ou castigo, foram

compelidos a verificar, ao longo das atividades ao ar livre, que para o grupo alcançar o intento todos precisam ser ou-vidos e ter as opiniões consideradas. Respei-to é isso. Mas será que, como todas as viroses desconhecidas, esta se foi da mesma maneira misteriosa que chegou?

Ana Claudia responde por si. Ela recorda que entrou no mundo corpo-rativo por influência da mãe, que já trabalhava no ramo e possuía con-tatos com empresas de logística internacional. A então adolescente Ana passava por aquela fase de dúvidas quanto ao futuro profissional. Des-lumbrou-se com a possi-bilidade de contato com pessoas do outro lado do mundo. Decidiu cursar comércio exterior, acre-ditando que com o apoio da mãe seria mais fácil conquistar seu espaço no universo do trabalho. E de fato isso ocorreu por certo período.

Mas com o passar do

tempo, como bem en-sina a natureza, até a mais dura das rochas se transforma em poeira. O encanto foi aos poucos soprado para longe. O interesse se decompôs. A adulta Ana Claudia de-cidiu que algumas coi-sas precisavam mudar. Aprendeu com o tem-po que sentia falta dele. Queria e merecia ser mais valorizada por seu trabalho. E nem sempre um desejo como esse pode ser realizado no concorrido mundo dos negócios.

Faça, conheça, pro-duza mais e mais! Estas ordens nunca eram ditas assim, tão claramente, talvez impedidas pela cortina de fumaça dos cigarros dos chefes ou distorcidas pelo verniz inventado e usado pe-los seres humanos, sem restrições. Mas ao deco-dificá-las, a moça franzi-na e de olhar meigo per-cebeu que quanto mais as aceitava, mais era co-brada. Num lampejo, viu que talvez fosse a hora

A empresa especializada em turismo ecológico promove passeios com a finalidade de aflorar as qualidades dos funcionários de acordo com a necessidade da empresa

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Page 12: Revista Ventura

Cuidado com o ‘desestresse’

de desobedecê-las.Como o rio sempre se-

gue o destino em direção ao mar, surgiu no curso de Ana Claudia a pos-sibilidade de trabalhar em contato com a natu-reza. Não teve dúvidas. Hoje, tem uma peque-na empresa que ofere-ce produtos orgânicos a internautas. Distante da rotina que a prendia por oito horas diárias em um escritório, diz ter encontrado no cam-

po, o novo ambiente de trabalho, uma maneira mais sensata e pacien-te de perceber o mun-do: “Da natureza, você não pode cobrar nada. Com ela, você aprende a esperar, a cobrar me-nos do outro e de você mesma. Estou me en-contrando nesse novo ramo, apesar das dificul-dades iniciais, sempre comuns”. Hoje, perce-be-se como uma mulher que conhece a sua na-tureza. Aquele passeio ecoturístico, enxertado às lembranças das expe-riências difíceis, aproxi-mou-a da sua essência. “Mudei muito de vida, mas na verdade sem-pre foi este o meu per-fil. Agradeço por tudo o que tenho, embora às vezes a vida pareça ár-dua”.

Apesar de todas as metamorfoses na his-tória da microempre-sária, ela acredita que não existem fórmulas mágicas e instantâne-

as para a transforma-ção do modo de olhar o mundo. É preciso ter uma sensibilidade já desperta para notar, du-rante um passeio como o oferecido pela empre-sa onde Ana trabalha-va, que o contato com a natureza pode me-lhorar as relações inter-pessoais. “Quem não tem essa sensibilidade, esse olhar para os be-nefícios trazidos pelo contato com a natureza e com os outros seme-lhantes, não consegue perceber, tão rapida-mente, o quanto isso é importante”, conclui.

PASSEIOS PROGRAMAdOS dE ACORdO COM O ObjETIVO dA EMPRESA

Trilha do Rio Jagua-renguava, em BertiogaObjetivo: Resistência, autoconfiança

Travessia Salesópolis/ Boiçucanga, em São SebastiãoObjetivo: Liderança, capacidade de plane-jamento

Parque das Neblinas, Bertioga/MogiObjetivo: Integração

Trilha Praia do Camburi-zinho, em GuarujáObjetivo: Integração, re-sistência

Trilha D´água, em Bertio-ga

Objetivo: Percepção do externo, superação, solidariedade

Reserva indígena do Rio Silveira, em Bertio-gaObjetivo: Adaptação a novos ambientes, con-ceito relativo de rique-za/pobreza

Regina Lopes Tavares, psicóloga especialista em desenvolvimento de competências e técnicas em vivências, concorda com Ana Claudia. Para ela, que há 20 anos se dedica a este trabalho e há 10 presta consultoria em recursos humanos, a transformação de um perfil não ocorre da noi-te para o dia, como num passe de mágica. E um fator preocupante nes-se contexto é o possível despreparo das pessoas que desenvolvem o tra-balho direto com as equi-pes nos ambientes natu-rais.

De acordo com a psi-cóloga, as atividades po-dem ser realizadas para “desestressar” os fun-cionários, mas é impres-cindível a parceria com profissionais capacitados e que possuam experiên-cia em treinamento de vi-vências ao ar livre. Os de-safios impostos ao longo do passeio geram uma tensão que, se não tive-rem o respaldo dos mo-nitores, podem ter con-sequências sérias: “Se as técnicas não forem aplicadas com responsa-bilidade e conhecimen-to, podem desencadear desentendimentos entre os funcionários ou pro-blemas comportamentais que terão o efeito inverso do esperado pela empre-sa”.

Regina também avalia que os empresários pre-cisam ficar atentar para que, contaminados pelo imediatismo, não impo-nham aos funcionários a participação em determi-nadas atividades. “Este tipo de exigência subme-te algumas pessoas a si-tuações que não querem vivenciar, o que pode ser considerado violência psi-cológica”.

Acredito que agora seja possível responder à pergunta que Ana Clau-dia não conseguiu. Tal-vez, o vírus da natureza não sobreviva muito tem-po longe do ar puro e só contamine poucos. Des-tes, possivelmente quase todos forcem o bichinho submicroscópico a incu-bar por longos anos ou por uma vida inteira. Tal-vez, simplesmente o eli-minem quando novamen-te inspiram o ar urbano. (E. S.)

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Fazenda Cabuçu e rio Passariuva são alguns destinos

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Quero voar de novo!Pular de parapente. Muitos têm vontade alguns têm curiosidade, mas poucos têm coragem

Joyce Salles

1,2,3 corre, corre, cor-re até os pés saírem do chão.

— UHUUUUUUUUL! Foi esse grito que fi-

cou entalado na minha garganta.

Esportes radicais nun-ca foram minha aptidão, ainda mais um esporte que envolvesse altura. Quando surgiu a ideia de fazer uma reporta-gem sobre parapente, confesso que fiquei com medo. Desde o início.

No meu primeiro con-tato com o esporte, fi-quei mais calma quan-do vi um dos alunos do Morro do Voturuá voan-do pela primeira vez, me pareceu mais tranquilo do que imaginava.

O parapente é uma espécie de para-quedas que já sai aberto, e isso me transmitiu uma sen-sação de segurança.

Conversei com instru-tores, monitores e pilo-tos e a pergunta que não deixava de fazer era:

— Você já se envolveu em algum acidente? — perguntei.

As respostas eram sempre as mesmas

É um pássaro? É um avião?

— Uma vez só, mas nada grave.

Fiquei imaginando que isso era um bom sinal.

Confesso, demorei para tomar coragem. Fui diversas vezes para a rampa e olhar me agra-dava mais do que estar no lugar daquelas pes-soas.

Minhas limitações não estavam apenas no medo, mas também no tempo.

A melhor época para se voar é de janeiro a abril, quando a mãe natureza é mais generosa, e dá condições de voo quase todos os dias. Com a en-trada de uma frente fria, fiquei mais receosa ain-da. Meu celular tocou.

Era Reginaldo, o “Ba-ratta”, instrutor de umas das escolas de parapen-te:

— Alô, Joyce, cor-re aqui para a rampa, o tempo está bom para pu-lar...

Saí correndo de casa, de moto. Ao chegar à rampa — estava deser-ta. Semanas atrás esta-va cheio de pilotos co-lorindo o céu com seus parapentes. Preenchi o formulário com os meus

dados e paguei o voo, R$ 120,00. Depois disso, fui rumo à rampa localizada ao lado da sede. Meus passos já não estavam firmes.A terra já não recebia mais aspegadas domeu tênis.

Na rampa me equipei — capacete e uma es-pécie de mochila, que ia até meu joelho. Nela, um acento (chamado de selete); cintos saiam e prendiam-se em minhas pernas e barriga. O ins-trutor ficou atrás de mim preso pelos mosquetões. Naquele momento, rece-bi a seguinte instrução:

— Coloca a mão para trás e segura no acento. Assim que a gente deco-lar, você a empurra para baixo de forma que sen-te nela.

Por um momento des-contraio dizendo que sou um pouco escandalosa e pergunto se posso gritar. O instrutor respondeu:

— Sem problemas, é o que mais acontece.

O monitor é quem au-xilia, para esperar uma corrente de vento. Segu-ra numa das minhas al-ças e coordena a minha

FOTOS: JOYCE SALLES

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Para quem tem curiosidade, o voo de parapente é uma ótima aventura

Page 14: Revista Ventura

corrida. As pontas dos meus dedos estão gela-das. Não é por conta do frio que faz. Meu coração, que já estava acelerado, parece que vai parar na boca e faz com que mi-nha garganta dê um nó. Lá fui a 180 metros de distância do chão. Minha voz não saiu, meus olhos olhavam para meus pés fixos no chão que em se-gundos ficariam pendu-rados. Na minha cabe-ça não vem nada, mas minhas mãos por conta própria empurram a se-lete e me acomodo. O silêncio paira durante alguns segundos e o ba-rulho do vento comanda. Escuto uma voz:

— Joyce, pode soltar a cadeirinha e segurar es-sas alças.

Meu coração sosse-ga, o medo parece que ficou na rampa — paz — meus olhos não pa-ram, lacrimejam com a batida do vento. Olho para o horizonte. No mar os navios mais parecem barquinhos de brinque-do. Santos, São Vicente,

Praia Grande e Guarujá parece ser uma cidade só. Passo pertinho do morro. “Como é linda a natureza aqui de cima”, penso.

As pessoas que ca-minham na praia, mais parecem formigas, os carros não param na avenida movimentada, mas o vento é o único barulho que ouvimos. Os surfistas que se aven-turam no mar parecem pontinhos.

O voo é tranquilo e de-pois de alguns minutos no ar consigo conversar como se nem estivesse voando bem mais alto que os pequeninos pré-dios de 20 andares da praia.

Cercados por urubus, o instrutor conta que é uma ave preguiçosa e fica em térmicas de ar onde não é preciso bater as asas. É impressionan-te como os pensamentos vêm e vão rapidamente. Uma manobra um pou-co mais ousada para o meu gosto, meu medo volta, mas vai embora

antes mesmo que ficas-se tensa de novo. O ins-trutor pergunta se estou enjoada e respondo que não. Mas depois de ficar olhando muito para bai-xo o enjoo vem me visi-tar e comunico o instru-tor, que então resolver terminar o voo para não haver problemas.

Vamos abaixando, em busca de correntes de vento e tem horas que conseguimos sobrevo-ar o mar. A instrução do pouso é simples:

— Vai saindo da cadei-rinha e quando os seus pés começarem a tocar o chão continua corren-do até eu pousar.

E assim eu faço, an-tes mesmo de tocar no chão vou batendo as pernas no ar. Assim que toco, dou alguns passos e acabo caindo sentada no chão.

— Normal — ele diz.Uma sensação vem, o

enjoo passa, o que me resta é tristeza pelo voo ter terminado.

— Quero de novo! — peço.

Antes do voo todas as instruções são passadas para que as dúvidas sejam esclarecidas

MONITOR ‘CHOCOLATE’

REGINALDO AMARAL

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Momentos antes e durante o voo. Adrenalina a todo vapor

MONITOR ‘CHOCOLATE’

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bate asa, bate asa!O telefone toca no

Clube de Voo livre do Litoral Paulista:

— Alô, bom-dia! Eu gostaria de saber como está o vento aí em cima?

— Olha, está com uma brisinha e aumen-tando — responde a secretária Jurema.

De equipamentos no porta-malas do carro, lá vai Jarbas da Ro-cha, piloto de parapen-te há três anos, sentir a energia da natureza, como ele mesmo inti-tula o seu voo. Ele é comerciante e aos 62 anos pode-se dizer que é um dos mais velhos pilotos do clube. Co-nheceu o esporte atra-vés do neto, que esta-va passeando pela orla de São Vicente e viu os equipamentos no chão. Curioso, o garoto pe-diu para ir ver mais de perto. O avô dedicado levou-o para conver-sar com o piloto. Daí renasceu sua vontade de fazer um voo. Afi-nal, já havia tido uma

experiência em pilotar helicóptero. Na época, por questões financei-ras teve a vontadeamargurada.

Agora, como piloto de parapente, Jarbas não sai mais da rampa. Se bobear, passa o dia todo lá.

— O que é voar? — pergunto.

— É emocionante, é sentir a energia da na-tureza. Quando estou voando a impressão é de tudo estar no meu poder.

Jarbas só lamenta em não conseguir ler a meteorologia:

— Gostaria de poder saber mais, ler as nu-vens, o céu, o vento.

Na beira da rampa, o instrutor Eládio do Nascimento passa as informações pelo rádio comunicador aos alu-nos:

— Bate asa, bate asa! Cuidado com a massa de ar, copiou?

Dono e instrutor da escola WindCoast umas das quatros escolas as-

sociadas no CVLLP e umas das cinco maio-res escolas do País, Eládio, ou Vovô, como é chamado no rádio, está no ramo há 18 anos. Fisioterapeuta formado, conheceu o esporte por conta da mulher que fez um voo e então tomou gosto. Abandonou a profissão e se dedicou ao espor-te. Depois de se formar como piloto, abriu uma escola.

Hoje, com mais de 800 alunos formados, diz que está perdendo

a excitação pela ativi-dade:

— Faço por que gos-to, mas quando chegar em mil alunos forma-dos quero parar. Não tenho mais descanso, trabalho de segunda a segunda, e quero voar por esporte. (J.S.)

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Contraste do urbano O Morro do Votu-

ruá — ou Morro da Asa Delta, em São Vicente — é um con-traste do urbano com o meio ambiente. Ca-sas humildes, crian-ças jogando bola, vi-zinhas sentadas em frente às suas casas jogando conversa fora, ruas asfaltadas. Conforme vamos su-bindo, o asfal to vai se deter iorando, com imensos buracos. Em direção ao morro, as placas dizem: “Voo l ivre”, com setas in-dicando o caminho. As placas estão pen-duradas em árvores e nos postes de luz. As árvores de vár ias espécies ainda pre-dominam no morro. Além de cachorros e gatos, se pode tam-bém encontrar ani-mais exót icos como o macaco-sagui . De-pendendo da sorte, podemos receber a v is i t inha dele, en-quanto aguardamos a vez no voo.

Aos que prefer i rem o acesso à rampa podem chegar ao alto do morro pelo teleféri-co. Paga-se R$15,00 por uma viagem de ida e vol ta. Idosos acima de 60 anos pagam meia, e cr ian-ças menores de oi to

com o meio ambiente

anos não pagam. A duração de subida e descida leva 22 mi-nutos.

Atualmente, a sede do Clube de Voo Li-

vre do Li toral Paul is-ta, que é responsá-vel pela rampa, está passando por refor-mas para ser amplia-da, mas as obras não

interferem em nada nos voos. Os sócios pagam matricula tr i-mestral e as quatro es-colas associadas tam-bém pagam a mesma

taxa. Dinâmica do Ar, WindCoast, Horizon-te e Butterfly são as escolas associadas ao clube.

Além de fazer

voos d e a p t i d ã o — c o m o é c h a m a d o p e l a A g ê n c i a N a -c i o n a l d e A v i a ç ã o C i v i l — , a s e s c o -l a s t a m b é m o f e -r e c e m c u r s o s . O c r o n o g r a m a d o c u r -s o i n c l u i a u l a s t e -ó r i c a s e p r a t i c a s . N a a u l a t e ó r i c a s e a p r ende meteoro lo -g ia , aerod inâmica , aero log ia , regras de t rá fego, noções do espaço aéreo e téc-n icas de p i lo tagem. Já nas au las prá t i -cas a in f lagem do parapente , con t ro le de ve la e t re inamen-to no so lo como de-co la g e m e p o u s o . O c u r s o t o d o s a i p o r R $ 1 , 2 m i l .

D e p o i s d e r e a l i -z a d o o c u r s o e a s p r o v a s , o p i l o t o r e -c e b e uma ca r te i ra de hab i l i t ação des -po r t i va . Os equ ipa -men tos ob r iga tó r ios são c in to , mosque-tão , capace te , pá -ra -quedas e rád io comun i c a d o r. Va l e l e m b r a r q u e e s s a n ã o é u m a m o d a l i -d a d e d e b a i x o c u s -t o , p o i s o p a r a p e n -t e p o d e v a l e r d e R $ 6 m i l a R $ 1 0 m i l , o s o l o ; e R $ 1 2 m i l a R $ 1 4 m i l , o d u p l o .

P a r a o s i n t e r e s -s a d o s e m f a z e r o v o o ú n i c o o p r e ç o é d e R $ 1 2 0 , 0 0 . M a i s i n f o r m a ç õ e s n o t e -l e f o n e ( 1 3 ) 3 5 6 8 -8 0 4 3 . ( J . S . )

No Morro do Voturuá é possível ver as cidades de Santos e São Vicente. Construções e natureza tão perto e tão longe

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se A CANOA NÃO VIrAr....

A diversidade esquecidamuito importante na natureza e pouco lembrada, a beleza

do mangue é cenário de canoagemBruna Dalmas

O barulho da água cortada pela canoa e o remo, o som dos pássa-ros e as vozes humanas presentes é tudo o que se pode ouvir durante as duas horas de canoagem pelo manguezal que cor-ta Praia Grande e São Vi-cente. A beleza pode ser observada antes mesmo de partir. O Portinho de Praia Grande — parque que fica logo na entrada da cidade — agrega vári-as opções de recreação e lazer.

Antes de entrar na água, o guia e sócio-proprie-tário da Caiçaras Expe-

dições, Renato Marches-ini, propõe aos visitantes uma sessão de alonga-mento e passa uma sé-rie de instruções. Dando início ao alongamento o foco é parte superior do corpo, já que costas e braços serão trabalha-dos durante o percurso. “Coloca os braços lá no céu. Inspira e respira. Sinta a natureza e deixa ela sentir você”.

Marchesini diz que a canoa nunca virou ; caso vire, instrui: “Solta o corpo e olha para o céu. A areia do manguezal é fina, como se fosse movediça, pode alcançar a altura da barriga da uma pessoa.

Se alguma embarcação motorizada passar e for-mar uma onda, encare a onda de frente, como os surfistas fazem com a prancha”.

O guia também conta que a canoagem nessa região é feita há mais de 500 anos. Começou com os índios. Hoje, o passeio ecoturístico é equipado com canoas canadenses. “Se o remo está do lado esquerdo, a canoa vai para a direita e vice e ver-sa”, diz. O equipamento tem três assentos. Quem fica na parte traseira pos-sui 80% da direção. Para participar da canoagem, não é preciso ter ex-

periência. Crianças a par-tir de sete anos já podem embarcar. O guia segue de acordo com o ritmo do grupo, que precisa ter de quatroa 11 integrantes para ser realizada.

Após as primeiras re-madas, quem dá as boas-vindas é o guará-vermelho, ameaçado de extinção. Durante o per-curso, é facilmente nota-do em bandos quase que o tempo todo. De longe, parecem frutas frescas em árvores, de tão inten-sa que é a sua coloração. Marchesini, que também é professor de ecologia, vai explicando sobre o ecossistema do man-

guezal, pertencente ao bioma de Mata Atlântica. Toda paisagem, fauna, flora e interações com o homem é vista de perto e encanta os olhos de quem nunca esteve em um contato tão próximo.

La existem 17 espé-cies fixas de aves. Entre elas, o socó-dorminhoco, a garça e o exibido biguá, que faz pose em cima de um galho com as asas abertas. Existem também os pássaros transitórios, como a batuíra, que na ocasião, ainda estava em território brasileiro, e em breve deverá migrar para o Canadá, em busca do calor do verão.

O caminho é perma-nentemente parecido. A água possui uma vasta expansão. As árvores de mangue possuem raízes grandes para suportar a maré que sobe e desce. Em alguns momentos era possível bater com o remo na areia de tão perto que a canoa chegava de-las. O roteiro segue pelo estuário de Praia Grande, passa por São Vicente e retorna. Mas também é possível ter acesso a Mongaguá e Itanhaém.

Infelizmente, Marches-ini conta que a busca por ecoturismo nessa época do ano é pequena em comparação ao verão.

FOTOS: BRUNA DALMAS

O passeio é uma oportunidade de conhecer outras partes de Praia Grande e São Vicente

No percurso, o visitante ainda tem o prazer de ver a ave guará-vermelho

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“No fim do ano, tivemos que recusar as buscas porque não havia mais dia disponível. Essa é a melhor época para se praticar, porque não ha o risco de pancadas de chu-va no meio do caminho”.

Explica que o passeio é importante para consci-entizar o público sobre a preservação ambiental e chamar a atenção para necessidade de cuidar da natureza. Diversas vezes foi possível ver garrafas pet e sacolas plásticas trazidas pelo mar. O re-sultado da devastação do homem não para por aí. Inacreditavelmente, no meio das árvores de mangue, bem adentro do manguezal, foi possív-

el visualizar até mesmo uma poltrona estofada e um ventilador.

Buscando pela inter-net, a secretária de in-dústria naval Adriana de Souza Batista descobriu o que tinha tudo a ver com o que procurava. “Foi maravilhoso, além das minhas expectativas. Você só tem noção de preservação quando está em um ambiente agredi-do de fato”. É capaz de mudar a visão das pes-soas? Ela garante que sim: “Pretendo não usar mais sacolas plásticas. Hoje, é o maior inimigo ambiental”.

Depois de duas ho-ras praticamente im-perceptíveis, é possível

sentir uma pequena dor nas costas. Os insetos não incomodam e dificil-mente são notados no momento. Mas é impor-tante não esquecer o re-pelente para eventuais picadas de borrachudos.

No retorno à base, en-tre 17h30 e 18 horas, revoadas de diversas espécies de aves se en-caminhavam às árvores recolhendo-se até o dia seguinte. “De noite, elas não conseguem enxer-gar, por isso dormem cedo.”, explica Rena-to Marchesini. Ao olhar para o céu, avistava-se inúmeros pássaros so-brevoando a canoa. Um momento inexistente na civilização.

Você sabe o que é um

manguezal?

O manguezal é com-posto de água do mar e de rio. A cada seis horas a maré muda. O local é rico em peixes e crus-táceos. Também e con-siderado uma espécie de berçário, pois diver-sos peixes usam o local para desova.

A canoagem da Cai-çaras Expedições pode ser feita todos os dias, exceto quartas-feiras.

O agendamento deve programado com pelo menos três dias de an-tecedência pelo telefo-ne (13) 3466-6905.

O preço é de R$ 34,00, mas pode sofrer alterações.

Para que todos estejam preparados, informações

essenciais são dadas pelo

instrutor

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A BOrdO dO AlVICelesTe...

Navegar é preciso!longe da rotina das grandes cidades, turistas se divertem no

rio ItanhaemAline Almeida

Duas horas e sete mi-nutos de imersão. Ve-locidade: 10 km/h. O destino? Pouco importa. Aqui, como em nossas vidas, é o caminho que interessa. As curvas que serão escolhidas, a bri-sa que irá compartilhar com o sol a missão de enfeitiçar os tripulantes serão os carros-chefes.

O barco é simples, com oito bancos que ajeitam até três pesso-as. Pequenas e brancas acomodações que se tornam tronos, tamanha é a sensação de ma-jestade que se apodera desses aspirantes de

desbravadores. Os olhos denunciam a

surpresa. Será deslum-bramento com o verde da Mata Atlântica pre-servada? Ou o negro das águas que espe-lham a paisagem? E o sol? Ora, o equilíbrio é que transforma feições ao longo do percurso.

O passeio pelo Rio Itanhaém ocorre duas vezes ao dia, às 9h30 e 15h30, quando se al-cança o número mínimo de seis passageiros. A saída é no píer da Ala-meda Emídio de Souza, na Praia dos Sonhos. Desde o primeiro passo adentrando a embarca-ção até o motor ser liga-

do, nota-se a tensão. No teto, estão cinco coletes salva-vidas, e dentro da cabine de comando es-tão mais 15, além de três cadeiras. Os dois con-dutores não solicitam que os coletes sejam uti-lizados. E os tripulantes parecem não se impor-tar com o acessório de segurança.

Alviceleste, o barco é desamarrado, e a via-gem se inicia. O ron-co do motor, próximo à paisagem urbana não destoa, ainda. A saída é bem próxima da praia, na Boca da Barra, e o rumo que seguirá não é o mar, é rio. Se a ordem, digamos natural, dele é

seguir no sentido de um oceano, então o esquife está remando contra a ‘maré’ do rio. Flutua no agora denominado Rio Itanhaém. Sua cor som-bria dissimula sua ori-gem.

De início flutua sob a ponte Sertório Domicia-no da Silva, conhecida com ponte do Rio Ita-nhaém. Após algumas centenas de metros é a vez da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega ser vencida. O cais é visua-lizado. É o Píer do Gua-raú. Ele fica à direita, e sobre ele pescadores, comerciantes, turistas e visitantes se espalham.

A partir daí, Itanhaém urbana tornar-se-á Ama-zônia Paulista, devido a grande diversidade de flora, fauna e bacia hi-drográfica extensa. No barco, os quatro tripu-lantes já não visualizam a civilização. Começam a submergir lentamente, sem notar. Se no início o rio não é tão largo, após alguns minutos suas margens vão ficando cada vez mais distantes uma da outra. Ao contrá-rio disto, os olhos vão se estreitando, com a admi-ração explícita.

A embarcação não tre-pida muito, é possível caminhar com facilidade e segurança. O primeiro a se aventurar no convés é Luis Marcoto Sakamo-to. Ele deixa seu banco para trás e segue para a proa do barco. Após bre-ve observação, retorna

satisfeito.Após breves minutos

a paisagem recebe o vi-sitante. O singelo barco de pesca branco e ver-melho, com traços visí-veis de ferrugem, está na margem, até então imóvel. O capitão segu-ra sua vara, seu leme. Olha para os curiosos que estão perscrutan-do a região. Outros bar-quinhos, com um, dois ou três pescadores são avistados ao longo do caminho.

Eles já estão alcan-çando a grande bifurca-ção à frente. A esquerda é escolhida. Adentram então, no braço do Rio Preto. Por lá a vegeta-ção flutuante simula a grama de um campo de futebol. Nas margens, a vegetação muda. Ga-lhos retorcidos que pa-recem ter a pretensão de se conectar com as águas. Alguns, ao longe,

FOTOS: ALINE ALMEIDA

Disponível em dois horários, o passeio de barco dura em torno de duas horas

Belas paisagens naturais podem ser vistas no caminho

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parecem corpos estendi-dos sobre a água negra.

Agora quem aparece são as alegres vitórias--régias. Ao longo das margens do negro rio, elas dançam no com-passo do movimento flu-vial, sem se importarem com a passagem da em-barcação. Formam de-senhos, traços e formas que seduzem quem as admira.

Após mais de uma hora de passeio, come-çam os passageiros a avistarem construções ao longo das margens. É aí que as feições alte-ram-se. Passam da mais profunda sensação de distância da realidade para a profunda e triste sensação de saber como o homem pode alcançar o ápice do egoísmo.

Um paraíso como este é invadido por intrusos que além de fincarem suas instalações, fazem isso o mais próximo pos-sível das margens. A pai-sagem antes intocável, agora surge com comér-

cios, casas, quiosques. Depois de quase uma

hora no barco, agora é a vez dos passageiros desbravarem a terra fir-me. Chega o momento de desembarcarem por 45 minutos. A parada é em uma lanchonete no bairro Country Clube. Lá espalhadas estão 25 mesas. Assim que atra-ca, os passageiros se-guem, em fila indiana, pela pequena ponte que separa o rio e o comér-cio. Os responsáveis pela embarcação auto-rizam a descida, ape-sar do receio acerca da ponte, que visivelmente irá tremer quando pas-sarem.

Os quatro passam len-tamente pela precária construção e alcançam a firmeza da terra. Ainda em duplas, fazem seus pedidos, andam pelo lo-cal e comentam sobre o passeio. Luis Marcoto Sakamoto e o filho Rafa-el sentam em uma mesa e parecem relembrar cada pedaço do pas-

seio realizado. Os dois moram em São Bernar-do do Campo e a famí-lia possui uma casa de veraneio a 16 anos em Itanhaém. É a primeira vez que realizam o pas-seio. Mas como ficaram sabendo da incursão ao paraíso? “Eu vi no site Globo.com, o jornalista Márcio Canuto recomen-dou”. Rafael Sakamoto aprovou a dica. “Gostei mesmo. Foi muito bom”.

Luis, pai de Rafael, não aparentar ter os mencionados 56 anos. Ele, que trabalha em São Paulo, sabe bem como duas horas assim são importantes. “A gen-te que fica no trânsito quase esse mesmo tem-po, dá valor para isso!”. Os outros dois tripulan-tes chegam à mesa ocu-pada por Luís e Rafael e a roda de conversa tem protagonista. A viagem conecta as pessoas, tem o poder de ligá-las. A professora e pedagoga Lucia Gualberto Badan mora em Santo André e estava de passagem pela cidade na casa da mãe. Ela fica fascinada pelo trajeto. “O verde é impressionante. Vale a pena”.

Seduzidos pelo poder da aventura, eles divi-dem não só a porção que é servida. Dividem o valor daquele momen-to. A conversa segue ani-mada. Luis conta como chegou ali. “Eu já havia tentado fazer o passeio outras vezes, mas não

deu certo. Hoje, conse-gui, e gostei”. Se a pro-fessora Lucia indica, não restam dúvidas. “Reco-mendo sim. É excelente”.

Bom, o passeio possui esta escala definida em seu itinerário. Qual será o acordo que existe en-tre os proprietários dos barcos que ali atracam e a lanchonete? É algo que está na cabeça de to-dos, mas não é proferido por ninguém. A proprietá-ria do comércio, Vania Gi-nalva Gonçalves, nega a existência de algum pac-to financeiro. Ela o mari-do mantêm o negócio há 17 anos; os filhos estão no local, espalhados pelo balcão, interior da cozi-nha e mesas.

Além do comércio de alimentos, os filhos são sustentados por outros meios de renda. “Pes-camos com nossos dois barquinhos e vende-mos os peixes que não usamos aqui”. A renda aumenta na tempora-da, quando eles alugam caiaques pelo valor de R$ 5,00.

É hora de voltar — A conversa está em no auge quando o cordial Ademir Rosa Garcia, marinheiro auxiliar de convés, convoca o re-torno da trupe ao bar-co. Todos se despedem, dão a última apreciada no estilo de vida da fa-mília e seguem de volta pela sofrível ponte até o convés.

Ainda trocam ideia com Jorge Luis Gama da

Silva acerca dos peixes que são encontrados no rio. “Aqui tem muito ro-balo”. Com simpatia, o também apicultor Jorge liga o barco para a últi-ma parte do passeio.

Retornam pelo mes-mo caminho da ida. Agora os condutores ex-plicam que quando na ida passaram por uma bifurcação e entraram à esquerda, escolheram o Rio Preto. Caso tives-sem escolhido a direita, teriam adentrado o Rio Branco.

Despedida — Assim como em qualquer via-gem, o retorno traz con-sigo a sensação de que momentos bons duram frações de segundos. Agora, o sol começa a abandoná-los, tornando a sensação ainda mais pungente. A paisagem não é mais a mesma. Ela agora se prepara para receber a Lua. E vai se transformando ao longo do retorno.

Os segundos voam, os minutos fogem do con-

trole quando percebem não é apenas o passeio que está acabando. Em cada semblante estam-pa-se a sensação de que ter feito o passeio foi uma belíssima esco-lha. Ao mesmo tempo perguntam-se: Por que não fiz isso antes?

A tristeza se dá não somente pelo término e sim pela consciência da realidade que os espe-ra fora daquele branco convés. Saem sorrindo do barco. Despedem--se um dos outros e se-guem silenciosos pela alameda. O barco estará sempre lá. Com horário marcado, com seus ban-cos aguardando novos e velhos exploradores que certamente voltarão.

O passeio

R$ 25,00 adultosR$ 10,00 crianças (até 10 anos)

Telefone(13) 3426 2126

Cada banco do barco acomoda até três pessoasComércios as margens dividem lugar com a natureza

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TrÊs dIAs de AVeNTUrA

Uma expedição à

A cultura caiçara explorada em uma viagem ecológicapelo litoral Norte de são paulo

Ilha do Montão de Trigo

Jéssica Amador

A expedição à Ilha do Montão de Trigo — nome originado pela topogra-fia em forma de mon-te — dura três dias e é uma verdadeira aventu-ra. Distante 13 quilôme-tros do continente possui uma comunidade que até pouco tempo por não manter contato com pes-soas que não fossem do próprio local acabou im-primindo à ilha a alcunha de “ilha dos monstros”.

Como só se relaciona-vam entre si havia pro-blemas genéticos, o que não ocorre mais.

Atualmente, vivem lá dez famílias, com 50 pessoas, conhecidos por monteiros, que unem o ecoturismo ao desenvol-vimento sustentável. O empresário do turismo Rafael Chitolina Benci-venga descobriu a ilha quando fazia expedições pelo Litoral Norte, em 2006. Por não ter con-tato com quem vivia na

ilha, os caiçaras diziam que os moradores da ilha eram “bichos selva-gens”.

Num certo dia, no acampamento da Barra do Sahy, Rafael conhe-ceu um morador da ilha que tinha ido ao continen-te para comprar combus-tível. Então, ao se ofere-cer para buscar de carro o que os moradores pre-cisassem, ele despertou a admiração do habitan-te longínquo. A parti daí, surgiu a amizade entre

eles.“No início, tinham um

pé atrás porque as pes-soas que se aproxima-vam não queriam nada mais do que roubar o seu espaço”, conta Benci-venga. Com o passar do tempo, ele foi ganhando a confiança dos morado-res e pediu para visitar: “Quando cheguei lá, me encantei. Hoje, a ilha é a menina dos meus olhos”.

Ninguém sabia ao cer-to quando a Ilha do Mon-tão de Trigo começou a ser habitada. Conta uma dessas lendas marítimas que os moradores seriam descendentes dos so-breviventes de um nau-frágio, ocorrido há mais

de três séculos. Com a ajuda de um historiador, foi feito o levantamento histórico e cultural do lo-cal e se descobriu que é habitado desde 1700. Os moradores prezam a qualidade de vida e, consequentemente, têm uma vitalidade superior. “As nossas atividades na ilha são voltadas ba-sicamente para o desen-volvimento sustentável do local. Lá, não existe nem energia elétrica. Eles assistem TV com o auxílio de baterias de carros”.

Monitores foram for-mados por Rafael para que pudessem mostrar os visitantes as particu-

laridades do local. O primeiro dia do pas-

seio começa com a mon-tagem do acampamento. Logo após, os visitantes encontram o morador mais antigo que conta histórias da vida caiça-ra. Já no segundo dia, começam as atividades propriamente ditas. O vi-sitante tem que ter fôle-go de sobra.

A trilha para o pon-to mais alto do Montão de Trigo dura cerca de quatro horas, mesclan-do contato com a natu-reza e atividade física moderada. Ao voltar, os visitantes saboreiam um típico almoço caiçara, peixe com banana.

FOTOS: DIVULGAÇÃO

A experiência de três dias proporciona visitas a piscinas naturais e cavernas

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Page 22: Revista Ventura

Neste mesmo dia, após o descanso do al-moço, é a hora de explo-rar cavernas e grutas de água repletas de misté-rios e com fauna exótica. Durante as três horas de mergulho, o visitante en-contrará as mais varia-das espécies de peixes e crustáceos como piabas, pargos, bodiões, sale-mas, lagostas, carangue-jos, garoupas e badejos. De vez em quando é pos-sível avistar peixes de grande porte, alguns dos quais são extremamente ariscos. Os peixes frade fazem um espetáculo à parte, solitários ou em duplas são facilmente encontrados entre as pe-dras.

No terceiro e último dia começa-se bem cedinho: já habituados ao local, os visitantes são convi-dados pelos caiçaras a

contemplar o amanhe-cer visto de dentro da água. A atividade fei-ta com os guias locais inclui pesca esportiva e de quebra, eles ga-rantem o alimento para o almoço. Após a pes-ca, ainda há o mergulho para explorar as piscinas

naturais e cavernas su-baquáticas da região.

A aventura à Ilha do Montão de Trigo está quase chegando ao fim. Os visitantes voltam do mergulho, almoçam o que pescaram e, em seguida, levantam acampamento rumo ao continente.

Os dez mandamentos do ecoturismo

No Brasil, a Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura fiscaliza em-presas do ramo e criou o Programa Aventura Se-gura que tem como base os 10 Mandamentos do Turista de Aventura Consciente.

1 — Pedir referências e conferir se a empre-sa que oferece o serviço está formalizada e se tem alvará de funcionamento.

2 — Verificar se a em-presa oferece seguro que cubra atividades de aven-tura e natureza. O seguro é uma segurança adicio-nal para os clientes caso qualquer coisa fora do planejado ocorrer e asse-gura que vai haver algum tipo de assistência.

3 — Verificar se a em-presa conhece e aplica as normas técnicas bra-sileiras para a atividade que oferece. Pergunte à empresa se ela tem um Sistema de Gestão da Segurança (SGS) im-plementado, conforme a norma.

Toda empresa de Turis-mo de Aventura deve ter um SGS funcionando em suas atividades. O siste-ma ajuda as empresas a se organizarem para dar o máximo de segurança para os clientes e dimi-nuir os acidentes. Caso acidentes ocorram, a em-

presa saberá reagir bem.4 — Os equipamentos

devem estar em boas condições de uso. É ne-cessário ficar atento ao estado do material (apa-rência, limpeza e condi-ções de armazenamen-to).

5 — Lembre-se: sem-pre que tirar os pés do chão esteja de capace-te e na água de colete. Empresas sérias ofere-cem equipamentos que aumentam a segurança, a diversão e o conforto durante o passeio.

6 — Aja de acordo com as regras ambientais em sua aventura: não faça fogo, não contamine o rio e ande sempre por trilhas demarcadas. Produza pouco lixo e traga-o de volta. Turismo de Aven-tura é feito na natureza, temos que ser responsá-veis com o uso dos espa-ços que visitamos.

7 — Conferir o estado do estojo de primeiros

socorros que a empre-sa está levando e tenha na sua mochila seus re-médios específicos. É importante sempre estar preparado para o inespe-rado.

8 — Ser responsável é fundamental. Conheça e respeite seus limites.

Cada pessoa deve sa-ber como fazer ativida-des que sejam divertidas, emocionantes e que este-jam dentro do seu limite.

9 — Hidrate-se, ali-mente-se e mantenha-se aquecido. A melhor pes-soa para cuidar de você é você mesmo! Água, alimentação e filtro solar não podem faltar na mo-chila.

10 — Conheça o Pro-grama Aventura Segura e descubra o nosso País de um jeito novo. Busque empresas aderidas ao Programa Aventura Se-guras nos destinos. Pra-tique turismo de aventura com consciência. (J.A.)

O primeiro passo ao chegar é montar o acampamento

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O que éecoturismo

O ecoturismo tem como característica o turismo responsável voltado para atividades realizadas em conjunto com o meio ambiente. Dessa forma, o prati-cante aprecia e entra em contato direto com natureza promovendo bem-estar e desenvolvi-mento das populações nativas que, muitas ve-zes, vivem isoladas em meio à natureza.

O que muitos não sabem é que para pra-ticar esse turismo al-

gumas regras devem ser respeitadas. O prin-cipal é saber que o eco-turismo visa equilibrar a exploração turística propriamente dita, com a manutenção das ca-racterísticas naturais do ecossistema.

Características

• Visita a ambientes na-turais com experiência de vivência dentro da na-tureza.• Prática em pequenos grupos, com atividades físicas mais intensas do que outras formas de tu-rismo.

• Os praticantes, em tese, são pessoas es-clarecidas e bem-edu-cadas, conscientes de questões relacionadas à ecologia e ao desen-volvimento sustentável.• Baixo impacto am-biental.• Patrocina a conser-vação ambiental.• Proporciona projetos que promovam igual-dade e redução da po-breza em comunida-des nativas.

Fonte: Associação Bra-sileira das Empresas de Ecoturismo e Turis-mo de Aventura

Diversão, atividade física e ecologiaAs operadoras de eco-

turismo oferecem diver-sas opções de passeio. Em Santos, a acade-mia de ginástica Radical Life tem como proposta praticar ginástica de for-ma natural. O objetivo é buscar equilíbrio entre o corpo e a mente. Segun-do o proprietário Rafael Chitolina Bencivenga, a intenção da operadora de turismo ecológico de aventura é unir atividade física às novas desco-bertas, formando uma consciência ecológica e o desenvolvimento sus-tentável nos participan-tes. Ele, como educador físico, acredita que com o treinamento dado, é possível conciliar as ati-vidades na academia com o condicionamento físico proporcionado pe-los esportes radicais que intensificam a muscula-tura.

Banana boat — Os grupos têm que ter no mínimo quatro e no má-ximo dez pessoas. A embarcação leva os par-ticipantes que têm dis-ponível, como item de segurança colete salva vidas, bote de apoio e a companhia de um instru-tor ou guia.

Mergulho livre — Ini-ciantes ou ao na prática de mergulho podem par-ticipar dessa atividade que une atividade física

leve e contato com a na-tureza, principalmente o ecossistema marinho. Di-versas espécies da fauna marinha poderão ser ob-servadas como tartarugas, peixes de diversas espé-cies e tamanhos, cavalos marinhos,arraias além de paisagens subaquáticas formadas por rochedos e paredes de corais.

Os participantes embar-cam a bordo de uma lan-cha, mas outros tipos de embarcações podem ser utilizados para a pratica de outras atividades como ca-noa polinésia e caiaques. Colete salva-vidas, equipa-mento de mergulho (pé de pato, máscara, snorkel – tubo que contém um bocal e permite respirar o ar do ambiente pela boca, sem levantar a cabeça da água — e boia sinalizadora são indispensáveis. O instru-tor e o guia acompanham o passeio. Além disso, o participante tem direito também a tirar fotos suba-quáticas. Os grupos são de dois a 12 participantes, dependendo da atividade.

Canoa polinésia — O passeio feito por uma em-barcação típica da coloni-zação das ilhas polinésias e havaianas com 14 me-tros de comprimento.

Remo, colete salva vi-das, bote de apoio e a pre-sença do instrutor estão inclusos no passeio, e o participante também po-

derá poder tirar fotos. Os grupos levam no mínimo quatro e no máximo seis pessoas.

Caiaques — Caia-ques duplos ou individu-ais podem ser usados para esta prática que une atividade física leve e contato com a nature-za. Além do roteiro tradi-cional, o passeio passa também pelo Rio Sahy. Remos, colete salva--vidas, bote de apoio e o guia acompanham o pas-seio. Os grupos variam de um a dez pessoas.

Trekking (trilhas) — Saindo da Ponta da Praia em Santos, o ro-teiro agora é na cidade do Guarujá. Lá são re-alizadas trilhas na Praia do Góes. Há 10 anos a trilha era intransitável. Os moradores locais foram treinados, ganha-ram uma profissão e de quebra, aumentaram sua renda. O número de visitantes cresceu, e a segurança também, já que não havia melho-res guias do que os pró-prios moradores.

Informações sobre valores e itinerários: Rafael Bencivega –

www.radicallife.com.br(13) 3227.1773(13) 9786.3131 ID 40721*4Avenida Senador Fei-

jó, 173, 1º andar, San-tos (SP). (J.A.)A Radical Life reune atividade física e divertimento em suas atividades ecológicas

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NA CrIsTA dA ONdA

Paraíso escondidoA prainha Branca é a parada certa para

aqueles que procuram boas ondasLarissa Pimentel

Localizada na divisa entre Guarujá e Bertio-ga, a Praia Branca — ou Prainha Branca — é uma ótima opção para quem gosta de trilhas e aprecia praias tranquilas e ondas perfeitas. O ca-minho é pela Estrada do Guararu, seguindo até a Rodovia Ariovaldo de Almeida Viana, a partir do Guarujá. No trecho, várias praias podem ser encontradas, a maioria em condomínios fecha-dos, como as praias de San Pedro e Iporanga.

A Praia Branca tem o acesso menos restrito, mas não mais fácil. Para chegar, o visitante deve estar preparado para ca-minhar. Escadas no co-meço da trilha, bem con-servada, com corrimões de madeira e cestos de lixo ao longo do cami-nho. No meio da cami-nhada, o piso muda. Em vez de escadas, chão de pedra (como parale-lepípedo). A mata é mais fechada e mesmo em um dia ensolarado não se consegue ter noção de como está o tempo

fora dali. Ha muito baru-lho de animais, e varios mosquitos.

O caminho é estreito, com partes íngremes, que podem tirar o fôlego do visitante desprepara-do. A caminhada leva por volta de 30 minutos. No final, já se pode no-tar que existem morado-res no local e algumas pousadas e campings para quem procura pas-sar mais tempo no local.

Na chegada, a mata fechada dá lugar a uma praia com cerca de 300 metros de extensão, céu aberto, areia fina e mar agitado com muitas on-das.

O que também pode ser visto a primeira vis-ta, do lado direito, são cadeiras e mesas de plásticos espalhadas na areia, em frente a um bar. Esse é o Larica´s Bar, o mais antigo do local, com 22 anos de existência.

O bar é construído com troncos de madeira e as telhas de palha dão um ar rústico que entra no clima do surfe. Do bar sai o som que embala os surfistas, um grande am-

plificador toca as mais diversas músicas no es-tilo surf music, é claro. Há também um palco, para os dias mais movi-mentados de tempora-da; ao lado, uma mesa de sinuca, uma outra opção de distração para os frequentadores.

Marcilene Lemos, so-cia do local, conta que a maior parte do movi-mento é na temporada, de novembro até o car-naval. “Mas enquanto faz sol, ainda tem bas-tante gente”.

Quando o inverno che-ga o movimento é tão baixo que o bar chega a fechar durante esse pe-ríodo. Marcilene diz que

o estabelecimento co-meçou com a avó dela e foi passando de pai para filho. Hoje, quem toma conta do bar é ela, e da pousada que leva o mesmo nome que tam-bém pertence a sua fa-mília , quem gerencia é seu irmão Marcos.

A comerciante conta que assistência médica, educação, diversão os moradores buscam em Bertioga que é a cidade mais próxima.

Ela conta que a prai-nha é bem tranquila e sem perigos, e que só em época de muito mo-vimento que eles se pre-ocupam um pouco mais, por não conhecerem os turistas direito, mas que fora isso não tem o que se preocupar.

A pousada e uma das mais confortáveis do lo-cal, com piscina à dispo-sição dos clientes. Lou-ise Carvalheiro trabalha na recepção da pousada e diz que assim como no bar, a procura é sempre

maior nas férias e no ve-rão.

Louise, que se mudou há três meses para prai-nha, morava em Campi-nas. Ela diz que gosta do local, que é calmo e bastante tranquilo. As di-árias custam R$120,00, fins de semana por ca-sal, com direito a café da manhã; e R$80,00 as diárias durante a sema-na, sem café da manhã.

Existem outras pousa-das na prainha com os mais variados valores e alguns campings que ficam na faixa de R$ 25,00 a R$ 50,00.

Surfistas — Mesmo em dias de mar mais tranquilo, os surfistas podem encontrar ondas de boa formação que dão boa condição para a pratica do esporte. O que se pode encontrar na praia são muitos sur-fistas, alguns da região, como o engenheiro Pe-dro Guimarães, de 23 anos. Apesar de morar de frente para praia, no

quebra-mar, em Santos, ele gosta de explorar praias diferentes com ondas mais desafiado-ras como as da Praia Branca. “Sinto falta de não surfar com mais fre-quência”.

O veterinário Gusta-vo Creton, de 27 anos, mora em Jaguariúna, in-terior de São Paulo, diz que morou um ano na Austrália e conheceu a maioria das praias. “Lá, em algumas praias as ondas são melhores e maiores, mas as praias brasileiras são mais be-las. Entre essas incluo a de Camburi”. O veteriná-rio gosta de esportes ra-dicais e como não pode praticar os esportes com a frequência que gos-taria arrumou outras opções em sua propria cidade, como o wake-board. Além deste, tam-bém pratica skate, mas não o tradicional, mas o longboard, que possibi-lita manobras de veloci-dade mais arriscadas.

FOTOS: LARISSA PIMENTEL

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As ondas da Prainha Branca chamam a atenção dos surfistas, que têm esse local como um dos “points”

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Quando estamos em praia mais distantes e com ondas de boa for-mação, logo podemos notar na areia as na-moradas dos surfistas, sentadas, aguardando. Algumas têm a sorte de serem amigas de outras garotas.

Esse é o caso da se-cretária Fabiola Vagner, de 27 anos. Ela é casada com um surfista de fim de semana. “Não recla-mo pois sempre quis um namorado surfista, e eu gosto de praia, mas as vezes é cansativo”.

Cansa porque o tem-po demora para passar para quem está na areia

apenas se “queimando”. Por isso, ela aconselha a ir preparada: “Sempre levar, algum livro, revista, MP3 ou Ipod carregados; não esquecer do protetor solar e, no caso da Praia Branca, em que se tem fazer a trilha, o repelente é indispensável Toalha e lanche não podem faltar”.

Fabiola acompanha o marido mesmo em dias que o tempo não está muito bom, “Só não pode estar chovendo, por isso antes dele entrar no mar sempre aviso: ‘Se come-çar a chover olha para areia e veja se eu estou mandando você sair da água’. (L.P.)

Mulher de surfista Se você vem de São Paulo, saiba como chegarDE CARRO:Pegue a Rodovia

dos Imigrantes e depois a Piaçague-ra — Guarujá. Siga para Bertioga. Che-gando lá, siga para a balsa. Atravesse--a e siga a trilha a pé.

Há vários estacio-namentos próximos à balsa em Bertioga. O preço é R$ 20,00 por 12 horas. É mais seguro deixar o car-ro no estacionamen-to do que na rua. Do outro lado da balsa, bem no pé da trilha, há também outro es-tacionamento.

DE TREM:Pegando o trem

em São Paulo, siga

para a Estação Brás e pegue o trem para a Estação Estudantes. Depois, pegue um ônibus Viação Bre-da — (11) 4790-5882 / 4790-5882 — ou uma van para Bertio-ga, que chegará em frente à balsa. Deste ponto em diante, é só atravessar e subir a trilha.

Esta é a forma mais econômica para quem sai de São Paulo. Se você mora na Zona Leste é rápido che-gar, pois está linha de trem cruza a região. Se você for de outros lugares, o trajeto será mais longo. O preço do ônibus Breda de Mogi (Estação Estu-dantes) até a Balsa

de Bertioga custa R$ 16,50.

DE ÔNIBUS:Saindo de São Pau-

lo, o ideal é ir para a Rodoviária do Jaba-quara e pegar o ôni-bus para Bertioga. Desça no ponto final dele que fica a cem metros da balsa. De-pois, é só atravessar a balsa e subir a tri-lha para a Praia Bran-ca. Quem faz o traje-to do Jabaquara para Bertioga é a Viação Ultra (13) 3316-6579 / 3316-6579. O custo para ir a Bertioga é de R$ 26,00 e R$ 22,00 para voltar até o Ja-baquara.

Horários: 6h10, 8h, 10h20, 13h30, 15h20

e 18h10Caso você não

consiga pegar esse ônibus, a opção é ir para o Guarujá e de lá pegar um ônibus de linha até a balsa que vai pra Bertioga. Ai é só pegar a tri-lha. Outra empresa que faz o trajeto São Paulo até Bertioga é a Viação Litorânea. Telefone (11) 3219-3649/ 3219-3649. Os ônibus saem do Terminal Rodoviário do Tiete nos seguin-tes horários: 6h30, 8h30, 10h30, 13h30, 16h30.

Em todos os casos é aconselhável con-ferir antes os pre-ços.

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Alguns vão sozinhos, outros levam as namoradas ou esposas. Caso não surfem, a calmaria e a paisagem fazem o passeio valer a pena

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A 400 meTrOs de AlTUrA!

A noiva distanteA cachoeira Véu de Noiva é vista por

muitas pessoas, mas poucas avisitam. A reportagem da Ventura

foi até láFelipe dos Santos

Quase sempre o bom observador pode avistar das rodovias Anchieta e Imigrantes um filete de branco mesclado ao ver-de imponente da Costa da Mata Atlântica. Este fio perdido no meio da serra é a Cachoeira Véu da Noiva. Não é sempre, porém, que se pode vê--la. As condições climá-ticas, o rumo do vento, o céu limpo e aberto e a posição ideal facilitam o espetáculo.

A cachoeira fica no Parque Ecológico Pe-requê, em Cubatão. A descida da serra de car-ro pode levar de 20 a 35 minutos, dependendo do trânsito e da pista em que se está. No parque, o Rio Perequê e as ca-choeiras dão um show de beleza. O Véu da Noi-va fica no topo da serra, a 400 metros de altura, numa trilha difícil de ser

vencida em meio à biodi-versidade da Mata Atlân-tica. Mas o esforço com-pensa.

Ao chegar em fren-te ao parque é possível testemunhar o contraste entre a natureza e as in-dústrias ao redor. Uma placa desejando as bo-as-vindas foi pintada re-centemente. No dia da visita, era possível sentir o cheiro de tinta fresca. Ao ultrapassar a placa de boas-vindas, o visitante percorre um quilômetro de asfalto até a porta-ria do Parque Perequê. Neste quilometro, trava--se o duelo de tons entre o verde e o cinza. A in-tromissão das indústrias termina após a chegada à entrada principal. Do portão pintado de ver-de em diante somente a natureza predomina. Na esquerda, o verde e o rio desembocam estrada afora. Na direita, o cinza representa os contêine-res protegidos por mu-ros com cercas elétricas.

O Perequê permane-ceu anos fechado e ina-cessível ao público. A relação entre o parque e a empresa Rhodia nun-ca foi de harmonia. Em 1976, esta assume defi-nitivamente que, diante da falta de espaço físi-co no interior da fábrica, despejou clandestina-mente rejeitos tóxicos ao redor do parque. Depois de anos enfrentando problemas judiciais, em janeiro de 2002 a Rhodia

FOTOS: FELIPE DOS SANTOS

anunciou a sua retirada da região, sem oferecer, no entanto, garantias quanto ao cumprimento das obrigações impostas perante o imenso passi-vo socioambiental.

Travou-se, então, a luta para a recuperação do Parque Ecológico Pe-requê e de suas belezas naturais. Nesse período, chegar ao Véu da Noi-va era praticamente im-possível. Aventureiros

corriam sérios riscos, inclusive de morte. Sem mencionar os riscos de ser atacado por animais selvagens e peçonhen-tos que habitam a mata. O local ficou praticamen-te abandonado e o aces-so às cachoeiras era precário. Até hoje a trilha deve ser percorrida com a presença de um guia. Agora, o Perequê ofe-rece uma boa estrutura para os visitantes.

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O caminho não é fácil, mas o esforço é compensado

Mesmo antes de chegar na cachoeira, o visual já é lindo

Page 27: Revista Ventura

A noiva à nossaespera

Com ajuda do guia Wellington Pinheiro, fun-cionário do parque, fo-mos conhecer o Véu da Noiva, a maior e mais inacessível cachoeira da região. O chão batido de terra, misturado com pedra, dificulta a cami-nhada. A cada passo, o trecho fica mais difícil. O nível da água do Pere-quê não é fundo, o que possibilita andar pelo rio. Mas as dificuldades per-sistem. A correnteza e as pedras enormes e escor-regadias dificultam o tra-jeto pela água.

Antes de chegar à tri-lha principal, o verde, o barulho das aves e os ru-ídos do rio se misturam aos gritos da criançada,

ao aroma de churrasco e ao forró. São homens e mulheres que frequen-tam o trecho como lazer. Contudo, toda a algazar-ra vai ficando para trás e as águas correntes ganham força, aliadas ao verde predominan-te na aventura. Distante da “civilização”, a brisa é mais forte. O repelen-te não espanta mais os borrachudos que iniciam o ataque contra os que insistem em chegar ao Véu da Noiva. É como se a natureza reclamas-se: “O que vocês estão fazendo aqui?” Um cor-redor cercado de árvores — foram homologadas 178 espécies no parque — e plantas raras é o pri-meiro indício das dificul-dades e da aventura que

estão por vir. O guia para e avisa:

— A partir de agora, estamos sendo observa-dos pela natureza. Aqui, é o habitar dela e nós so-mos os estranhos...

A secretária Patrícia Dantas Pereira dos San-tos, que fazia a trilha co-migo, segue com passos firmes atrás e diz:

— Impressionante, o clima é bem diferente nesta parte da trilha.

Wellington fala sobre as espécies vegetais neste trecho da mata. Seguindo a trilha, apon-ta:

— Olhem o buraco na-quele tronco de árvore ali... Vocês podem ver?

O tronco de árvore não é grande, por isso é fácil enxergar o buraco. Foi feito por um pica-pau. Essa espécie de ave ha-bita essa parte da sel-va. Pouco mais de 300 metros depois da marca do pica-pau, Wellington mostra um buraco de uns 30 centímetros no solo: é uma toca possivelmente feita por cobras jarara-cas ou jaracuçu, que fi-cam submersas no solo. Nessa primeira parte da caminhada, avistamos a samambaia de metro ou arborescente, o xaxim.

— Essas plantas eram muito comuns em resi-dências. Hoje, é proibida a retirada delas — avisa Wellington

Nesse corredor, a Mata Atlântica ainda não é tão severa, mas as borbole-tas de várias cores so-

brevoam sobre nós. Já bem distante da entrada principal do parque, ao andarmos, sentimos algo nos rostos. São teias de aranhas. É possível en-contrar no caminho va-riedades de aranhas, até mesmo venenosas.

Fim da primeira parte da trilha. Após este tre-cho é preciso atravessar o rio. Agora, a tarefa fi-cou um pouco mais fácil, isso porque as chuvas fortes de maio provoca-ram deslizamentos que arrastaram mais pedras para o meio do rio, sobre as quais tentávamos nos equilibrar.

A próxima parada é bem mais difícil. A natu-reza parece neste mo-mento não querer que adentremos a mata. O corredor fica mais es-treito. Em determinados pontos, passarmos com o glúteo no chão. O suor começa tomar conta dos corpos, as gargantas ressecam e a sede au-menta junto às dificulda-des do percurso.

Uma trégua da nature-za no meio do caminho. Wellington nos apresen-ta as bromélias. Elas nascem no solo, mas há as que preferem as sombras nos troncos de árvores e as que procu-ram luzes difusas. As bromélias são capazes de grande absorção de água, por isso a aduba-ção líquida é a mais re-comendável para o seu cultivo. Bebemos então a água que brotava des-

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WELLIGTON PINHEIRO

Durante o trajeto, o visitante se depara com algumas maravilhas da natureza.

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sas plantas. Depois, o guia nos instruiu:

— Sempre que estive-rem numa aventura no meio da mata, a cada 200 metros façam uma marca nos troncos das árvores. Isso evita que vocês se percam. Co-nheço bem essa trilha, por isso não preciso de-marcar o caminho.

Em seguida, avista-mos os cipós, uma plan-ta lenhosa e trepadeira, firme como corda. Típico das florestas tropicais, o cipó nasce próximo a uma árvore da espécie já existente. Esse pro-cesso ocorre para que as árvores mais novas assimilarem os nutrien-tes das mais velhas, até as árvores mais antigas morrerem. Todo este processo é facilmente visto na trilha rumo ao Véu da Noiva.

— Muito cuidado onde colocam as mãos —

alerta o guia. — Nem sempre os que estão en-trelaçados nas árvores são cipós; às vezes, são cobras e a defesa delas são os ataques.

As cobras que costu-mam ficar nesse tipo de árvores não são veneno-sas, mas o ferimento de-mora a cicatrizar. Após uma hora e meia de aventura é preciso atra-vessar um pedaço com-plicado, até mesmo para quem está acostumado a fazer aventura. Para fa-cilitar o acesso que a na-tureza insiste em dificul-tar, foram coladas duas cordas para uma traves-sia por um barranco bem estreito. Uma pedra com uns 80 centímetros — mal passam os dois pés juntos — fica rente à en-costa da mata. É preciso segurar bem firme e se apoiar na corda a cada passo. O vento no corpo e as pedrinhas caindo no

precipício, que não é tão fundo observando-se de cima da pedra. Mas uma queda daquela altura pode levar à morte.

— Será que vou conse-guir? — indagou Patrícia.

Depois de passar o su-foco da corda e do preci-pício, mais uma ribancei-ra a ser escalada. Agora, escorregamos muito nas pedras e as águas da ca-choeira dificultam mais ainda a travessia. Após meia hora neste último trecho, enfim chegamos ao Véu da Noiva. No total foram duas horas e cinco minutos de caminhada até a última cachoeira do parque.

— Graças a Deus, aqui estamos! Este é o Véu da Noiva — apresenta Wellington.

Os aventureiros vi-bram e até mesmo gri-tam de alegria. As vozes multiplicadas formam ecos. A acústica natural

é reproduzida pelas ár-vores, pelos pássaros, aves e tudo o que cer-ca esse natural cenário fantástico. O filete visto das rodovias Anchieta ou Imigrantes agora é uma cascata enorme e violentíssima de água. Nesse momento, o clima e os sentimentos se mis-turam. O alívio, a surpre-sa, o impacto, o medo, a brisa, o suor, o cansaço, a maravilha selvagem e indiferente à nossa pre-sença. Tudo se funde no topo, a 400 metros acima do nível do mar.

Embora seja a última cachoeira do parque é possível seguir a trilha: claro, à medida que se segue a viagem a trilha fica mais difícil ainda e exige maior preparo físi-co e mental. De acordo com Wellington, depois da cachoeira existem

dois rios absolutamente límpidos, os mais puros da região. O Sol aparece e complementa o espe-táculo. Os seus raios se unem aos reflexos dos chuviscos da água jorra-da da cachoeira e forma um mini arco-íris. A tem-peratura da água é muito gelada. Após duas horas de caminhada e aventu-ra, vale a pena banhar--se nas bordas do Véu da Noiva.

A descida proporciona os mesmo sentimentos, mas o que fica gravado na mente é a sensação de êxtase que a nature-za proporciona. Depois de cumprir a trilha de vol-ta, do portal do Parque Ecológico Perequê olhei para o topo. Como há centenas e centenas de anos, o Véu da Noiva es-corria brilhante e majes-toso pela Serra do Mar.

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O visitante faz o passeio monitorado. Dessa forma, vários riscos podem ser evitados

Para chegar ao Véu da Noiva é fundamen-tal levar água e frutas para consumir durante a trilha, pois a camin-hada é desgastante e exige muito esforço físico. Além de água, levamos maçãs, banan-as e laranjas. Usamos roupas velhas: calça de moletom, blusa, boné e botas apropriadas. A aventura possibilita o uso de máquina digital ou filmadora, desde que protegidas com bolsas impermeáveis.

Para visitar a cachoe-ira e o Parque Ecológi-co Perequê não é pre-ciso pagar nada. Para marcar a aventura ligue para: (13) 9797 6915 e agendar com a admin-istração, que disponibi-lizará um guia. O nosso foi Wellington Pinheiro, de 46 anos e há 22 en-volvido com trabalhos na natureza. Ela atua também como autôno-mo na recuperação dos manguezais e na fauna e flora de Cubatão. A Prefeitura o convidou para fazer parte do quadro de funcionários do parque e dar con-tinuidade ao trabalho de educação ambiental.

É importante o uso de roupas confortáveis

O quelevar

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pArA ACAmpAr

No acampamento‘selvagem’

Uma prática quase extinta: acampar!Carlos Norberto

de Souza

No livro Na Natureza Selvagem, o jornalis-ta Jon Krakauer refaz a trajetória real do jo-vem idealista Christo-pher McLandess, que abandonou o conforto de uma existência ma-

terialista e um futuro brilhante, para, sozinho e sem dinheiro, e sem revelar à família seu paradeiro, viajar pelos Estados Unidos dos aventureiros, rumo ao Alasca, onde pretendia passar o resto de seus dias vivendo da terra, da natureza. Sua ins-

piração principal era o escritor Jack London. Seus planos, porém, fo-ram interrompidos pelo frio e pela inanição. Claro que, se você de-seja uma aventura ou simplesmente se diver-tir, este é um péssimo exemplo a ser seguido.

Existem diversas

paisagens em que é possível montar sua barraca e estender o saco de dormir: praia, mata, fazenda, serra, e quantas mais a na-tureza produzir. E dois tipos de camping (em inglês, acampamen-to): o organizado e o selvagem. Nesse tipo há maior comodidade, pois é oferecido toda a infraestrutura: desde banheiros-químicos e energia elétrica até vi-gilância. É uma boa pe-dida para os campistas inexperientes.

Mas se você gosta de se isolar, de ficar em contato com a natureza, é preciso não empor-

calhar o meio ambien-te — carregar sempre sacolas para recolher o lixo produzido. Se-gundo o soldado da 1ª Companhia da Polícia Militar Ambiental, João da Silva, quem é sur-preendido jogando lixo pode ser apenas adver-tido ou multado. Além do mais, cortar árvores em área de preserva-ção permanente é cri-me ambiental. A pena varia de um a três anos de prisão, ou multa, ou ambas.

Por causa da gran-de área de abrangên-cia, as ações da Polícia Ambiental para inibir agressões ao meio am-

biente dependem das denúncias dos cida-dãos. Santos, Cuba-tão, São Vicente, Praia Grande, Guarujá e Ber-tioga e cidades do Lito-ral Sul, Mongaguá, Ita-nhaém, Peruíbe e Pedro de Toledo pertencem à zona de fiscalização da 1ª Companhia do 3º Batalhão da Polícia Mi-litar Ambiental, sediada no Guarujá.

Ao acender fogueira, é necessário tomar cui-dado com fagulhas para não incendiar a mata. Deve montá-la em um local sem vegetação seca em volta, porque pode alastrar o fogo. De preferência, cercada de

FOTOS: DIVULGAÇÃO

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Os acampamentos estão mais organizado. Porém, alguns cuidados ainda são tomados

Antes de sair para acampar é importante ter certeza que nada está sendo esquecido

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pedras ou num buraco no chão. Causar incên-dio em mata ou floresta é crime sujeito à pena de dois a quatro anos de cadeia. E, seguin-do o bom-senso, não a acenda ao lado da bar-raca — por motivos ób-vios!

Por questão de pra-ticidade, alimentos en-latados e de preparo instantâneo são ideais para matar a fome de maneira fácil e rápida. Já em caso de expe-dição por vários dias, é melhor a comida de-sidratada. Não pode-mos esquecer de água para consumo, pois de-sidratada é a comida, não você. E, antes de acampar, faça um re-conhecimento do lugar onde armará a barraca. Pergunte a alguém que conheça o local — não deixe de levar repelen-te para mosquitos.

De acordo com o blog Turismo Consciente na Costa da Mata Atlânti-ca (http://www.blogcai-cara.com/), o terreno deve ser plano, regu-lar e elevado para, em caso de chuva, escapar de alagamentos. E tam-bém permeável (que absorva a água), como gramado e areia, por-que a terra tende a ab-sorver menos a água, “além de sujar mais a barraca” .Ao fazer cam-ping na praia, deve-se ficar abrigado do vento e da maré. Outra dica do blog é: não deixar

restos de alimentos ao redor da barraca, pois atraem animais, e você acaba transgredindo a regra de não jogar lixo no ambiente.

O funcionário públi-co, Guilherme Antunes, de 27 anos, costumava acampar com mais fre-

quência desde os tem-pos de colégio. Sempre pelas bandas do Litoral Norte, alcançando a di-visa do Rio de Janeiro. “Ilhabela, Praia de Cas-telhanos, Paúba e Trin-dade”, cita alguns luga-res. “A gente conhece muita gente diferente,

com outras experiên-cias e outras bagagens de vida. Troca muita ideia e compartilha de momentos bons. Boa música, violão e céu es-trelado, praia com gen-te bonita entre outras coisas que fazem valer a viagem”, relembra.

Mas contratempos já ocorreram: como che-gar ao camping e en-contrar tudo “absolu-tamente lotado”. Ou, na praia, a chuva ala-gar tudo e transformar num “deus-nos-acu-da”. “Ou saber de gen-te que já foi assaltado

ou maltratado pela po-lícia por preconceitos idiotas.” Mas os pon-tos positivos prevale-ceram: “Momento bom foi ter que dividir barra-ca apertada com duas meninas que conheci na praia porque a de-las rasgou”.

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Comida desidratada ou enlatadas e de preparo instantâneo, muita água e sacos de lixo precisam fazer parte da lista do que levar na hora de acampar

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EditoraCaroline Leme([email protected])

Editores de ArteJoanna Flora([email protected])Vagner de Lima([email protected])

RepórteresAline Almeida([email protected])Bruna Dalmas([email protected])Carlos Norberto([email protected])Elizabeth Soares([email protected])Felipe dos Santos([email protected])Jéssica Amador([email protected])

VenturaJoanna Flora([email protected])Joyce Salles([email protected])Larissa Pimentel([email protected])Tássia Martins([email protected])Vagner de Lima([email protected])

Esta revista é produzida pelosalunos do 3º ano de Jornalismo daFaculdade de Artes e Comunicação, da Universidade Santa Cecília.

Diretor da FaACHumberto ChalloubCoordenador do CursoRobson BastosProfessor-responsávelMárcio Calafiori

Turismo ecológico e de emoção

O voo de parapente é uma ótima oportunidade para ver as cidades de cima