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CGU Controladoria-Geral da União OGU – Ouvidoria-Geral da União Coordenação-Geral de Recursos de Acesso à Informação PARECER Referência: 00700.000379/2015-55 Assunto: Recurso contra decisão denegatória ao pedido de acesso à informação . Restrição de acesso: Sem restrição. Ementa: Parecer – tutela judicial ou administrativa de direitos fundamentais – segredo profissional – pedido desarrazoado – conhecido e desprovido. Órgão ou entidade recorrido (a): Advocacia-Geral da União – AGU. Recorrente: F.L. Senhor Ouvidor-Geral da União, 01. O presente parecer trata de solicitação de acesso à informação com base na Lei nº 12.527/2011, conforme resumo descritivo abaixo apresentado: RELATÓRIO ATO DATA TEOR Pedido 30/07/2015 Solicitação da F.L. referente ao parecer 07/2015-JBT/DPP-PGU-AGU, protocolada em meio físico. Por orientação da CGU/PR e em decorrência do previsto no art. 4º, II da Portaria Interministerial nº 1.254, o pedido e subsequentes recursos estão sendo inseridos no sistema e-SIC, de modo a facilitar o acompanhamento do recorrente acerca do recurso protocolado perante a CGU/PR. O pedido está também cadastrado no sistema SAPIENS da AGU, sob o n.º 00405.020935/2015-44 e serão inseridos no sistema e-SIC os principais documentos do processo. Resposta Inicial 30/07/2015 Este processo administrativo foi instaurado para tratar, no âmbito da Procuradoria-Geral da União, do tema da “incorporação ao Tesouro Nacional de bens pertencentes a alemães, japoneses ou italianos retidos por força do Decreto-Lei n.º 4.166, de 11.03.1942, sob custódia do Banco do Brasil S/A (BB), para constituição de fundo destinado a pagar indenizações de guerra.” O feito versa sobre a análise da questão, que já recebe o adequado qualificativo de histórica, seus desdobramentos anteriores ao conhecimento pela Procuradoria-Geral da União, além de estratégia de atuação da União, além de na seara administrativa, em ações judiciais que envolvem, ou envolverão, as diversas questões relacionadas à incorporação dos referidos bens ao patrimônio público. Em razão disto, cumpre estabelecer formalmente a SITUAÇÃO DE SIGILO PROFISSIONAL neste Processo Administrativo nº 00405.003125/2014-42 (SAPIENS), nos termos da disposição do art. 34, VII, da Lei nº 8.906, de 1994 (Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil) c/c art. 25 do Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil, conforme previsões referenciadas no art. 22 da Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, e no art. 6º, I, do Decreto nº 7.724, de 16 de maio de 2012, observados, portanto, o nítido teor de relevante análise de estratégia de atuação administrativo-processual em favor dos interesses e direitos da União. A medida deve ser

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CGUControladoria-Geral da UniãoOGU – Ouvidoria-Geral da UniãoCoordenação-Geral de Recursos de Acesso à Informação

PARECER

Referência: 00700.000379/2015-55

Assunto: Recurso contra decisão denegatória ao pedido de acesso à informação.

Restrição de acesso: Sem restrição.

Ementa: Parecer – tutela judicial ou administrativa de direitos fundamentais – segredoprofissional – pedido desarrazoado – conhecido e desprovido.

Órgão ou entidade recorrido (a):

Advocacia-Geral da União – AGU.

Recorrente: F.L.

Senhor Ouvidor-Geral da União,

01. O presente parecer trata de solicitação de acesso à informação com base na Lei nº

12.527/2011, conforme resumo descritivo abaixo apresentado:

RELATÓRIOATO DATA TEOR

Pedido 30/07/2015

Solicitação da F.L. referente ao parecer 07/2015-JBT/DPP-PGU-AGU, protocolada emmeio físico. Por orientação da CGU/PR e em decorrência do previsto no art. 4º, II daPortaria Interministerial nº 1.254, o pedido e subsequentes recursos estão sendoinseridos no sistema e-SIC, de modo a facilitar o acompanhamento do recorrente acercado recurso protocolado perante a CGU/PR. O pedido está também cadastrado nosistema SAPIENS da AGU, sob o n.º 00405.020935/2015-44 e serão inseridos no sistemae-SIC os principais documentos do processo.

RespostaInicial

30/07/2015

Este processo administrativo foi instaurado para tratar, no âmbito da Procuradoria-Geralda União, do tema da “incorporação ao Tesouro Nacional de bens pertencentes aalemães, japoneses ou italianos retidos por força do Decreto-Lei n.º 4.166, de11.03.1942, sob custódia do Banco do Brasil S/A (BB), para constituição de fundodestinado a pagar indenizações de guerra.” O feito versa sobre a análise da questão, quejá recebe o adequado qualificativo de histórica, seus desdobramentos anteriores aoconhecimento pela Procuradoria-Geral da União, além de estratégia de atuação da União,além de na seara administrativa, em ações judiciais que envolvem, ou envolverão, asdiversas questões relacionadas à incorporação dos referidos bens ao patrimônio público.Em razão disto, cumpre estabelecer formalmente a SITUAÇÃO DE SIGILOPROFISSIONAL neste Processo Administrativo nº 00405.003125/2014-42 (SAPIENS),nos termos da disposição do art. 34, VII, da Lei nº 8.906, de 1994 (Estatuto da Ordemdos Advogados do Brasil) c/c art. 25 do Código de Ética e Disciplina da Ordem dosAdvogados do Brasil, conforme previsões referenciadas no art. 22 da Lei nº 12.527, de18 de novembro de 2011, e no art. 6º, I, do Decreto nº 7.724, de 16 de maio de 2012,observados, portanto, o nítido teor de relevante análise de estratégia de atuaçãoadministrativo-processual em favor dos interesses e direitos da União. A medida deve ser

formalizada no sistema SAPIENS. Determino, ainda, a adoção, pelo apoioadministrativo, das seguintes operações para instrução e encaminhamento deste feito: A)Lançamento deste Despacho, com respectiva tarefa e atividade. B) Registro de tarefa,atividade e andamento processual “PROCESSO COMO SIGILOSO, CLASSIFICAÇÃODE”, nos exatos moldes do Seq (Id) 158 (2533469) do processo administrativo nº00495.002631/2015-33 (SAPIENS).

Recurso àAutoridade

Superior

10/08/2015

Em 30.7.2015, a ora Recorrente formulou pedido de cópia do Parecer 07/2015. O pedidofoi direcionado à Ilma. Sra. Dra. M.M.M., responsável pela D. Coordenação-Geral deCréditos e Precatórios. No dia seguinte, a ora Recorrente recebeu mensagem do Ilmo. Sr.Dr. H.A.J., Coordenador-Geral de Patrimônio e Meio Ambiente do DPP, comunicando-lhe acerca do indeferimento do pedido. Consta da r. decisão recorrida que o Parecer07/2015 teria sido classificado como sigiloso pelo Diretor do DPP, Ilmo. Sr. Dr. R.D.A.,“por encetar eventual estratégia de atuação da AGU em juízo”: “Recebi a solicitaçãoabaixo, por encaminhamento da Dra. M.M.M., visto que o assunto, no âmbito daProcuradoria-Geral da União, é agora acompanhado pela minha coordenação. Informoque o processo administrativo no qual consta o Parecer 07/2015-JBT/DPP-PGU-AGUfoi classificado pelo Diretor do Departamento de Patrimônio e Probidade comosigiloso, por encetar eventual estratégia de atuação da AGU em juízo, entendendo-seque há sigilo profissional protegido nos termos do art. 34, VII, da Lei n. 8.906/1994 c/cart. 25 do Código de Ética e Disciplina da OAB. Por haver divergência de entendimentoentre a PGFN e a PGU, o caso foi submetido à Consultoria-Geral da União, órgãoresponsável por sanar a divergência no âmbito da AGU.” Neste recurso, a F.L. pede areversão do sigilo decretado pelo Ilmo. Diretor do DPP sobre o Parecer 07/2015, o qualversa sobre participação acionária da F.L. na XXX/SA S.A. (“XXX/SA”). II. FATOS AsAções da F.L. e a postura adotada pela União Federal e pelo Ministério Público. A F.L.é titular de 74.211.825 ações emitidas pela XXX/SA (“Ações”). As Ações da F.L. foramtomadas em garantia pela União durante a Segunda Guerra Mundial (Decreto-Lei nº4.166/42). O vínculo de garantia foi extinto com a edição do Decreto nº 39.869/1956.Em abril de 2012, quando as Ações encontravam-se escrituradas em nome de F.L., oTesouro Nacional solicitou ao Bradesco a remoção do CNPJ da F.L. do cadastroescritural das ações, com a manutenção do nome F.L. no campo relativo à titularidadedas Ações. Apesar de reconhecer que as Ações são de propriedade do investidor F.L., oTesouro suscitou dúvida sobre a possibilidade de homonímia (ou seja, de existir outroacionista da XXX/SA com a denominação F.L., além da empresa inscrita no CNPJ08.797/0001-49, nossa cliente). Em 5.7.2012, a XXX/SA emitiu declaração confirmandoque (i) a F.L., inscrita no CNPJ sob o nº 08.797/0001-49, é a única titular das Ações; e(ii) não consta dos registros societários da XXX/SA (e tampouco da extinta XXX/SA-2)nenhum outro acionista com a denominação F.L. Cumpre frisar que a F.L. está exercendonormalmente os direitos políticos decorrentes das Ações, o que inclui a prerrogativa devotar em assembleias, bem como o direito de preferência em emissões adicionais daXXX/SA. Repetidas vezes chamada a se pronunciar sobre a propriedade das Ações daF.L., a União, por intermédio da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (“PGFN”),afirmou não ser a proprietária, nem reivindicar a propriedade. No Parecer PGFN/CAF/nº2056/2001, a PGFN afasta a possibilidade de transferência de bens que haviam sidotomados em garantia à União Federal, ao afirmar de forma peremptória que “não hánorma legal em vigor que autorize a sua incorporação ao patrimônio da União”. Esteposicionamento é reiterado no Parecer PGFN/CAF/nº 2371/2008, no qual a União afirmaque a incorporação de ações bloqueadas violaria “o direito de propriedade dos legítimosdonos das ações em questão”: “No caso em tela, entretanto, a transferência ilegal datitularidade das ações por parte da Administração para ela mesma é tipicamente um atonulo (não apenas anulável), que não gerou direitos para terceiros, mas sim, pelocontrário, confiscou o direito de propriedade dos legítimos donos das ações em questão(...)”. Em 2013, em resposta dirigida especificamente à F.L. (Parecer PGFN/CAF889/2013), a PGFN reiterou a “inexistência de transferência do direito de propriedade”à União Federal, bem como pela “necessidade de ressarcir integralmente o bem ao seuefetivo proprietário”. Em 17.10.2013, o MP proferiu parecer no qual descarta apropositura de ação pelo rito da ausência, entendo que a questão deve ser resolvida naesfera privada, entre os interessados. (b) Pedido de alvará judicial. Face aos

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desdobramentos mencionados acima, em 18.11.2013, a F.L. apresentou pedido de alvarápara que o seu CNPJ volte a constar do registro escritural das ações. Tal medidaadministrativa - e portanto, de natureza não-litigiosa - visa permitir que a F.L. retome aplena disponibilidade sobre as Ações de sua propriedade. O alvará (processo nº 4020774-78.2013.8.26.0405) encontra-se em curso perante a 8ª Vara Cível da Comarca de Osasco-SP. A adequação do pedido de alvará foi confirmada pelo Tribunal de Justiça de SãoPaulo (“E. TJSP”) através de acórdão proferido em 3.2.2015. Com base no parecerproferido pela PGFN em 2013, o E. TJSP concluiu que não há oposição por parte daUnião, razão pela qual decidiu-se pelo prosseguimento do processo de alvará. Em junhoúltimo, a XXX/SA manifestou-se espontaneamente nos autos de alvará, tendoconfirmado que a F.L. é a única titular das ações. Em 17.7.2015, a União foi intimada amanifestar-se sobre o pedido de alvará, o que está pendente. (c) Envio do caso aoConsultor-Geral da União – a divergência entre a PGFN e o DPP. Em 23.7.2015, osprocuradores da F.L. obtiveram acesso a novo parecer da PGFN (Parecer PGFN/CAF954/2015). O documento foi fornecido pela Ilma. Sra. Dra. A.P.V.B., Coordenadora-Geral de Assuntos Financeiros da PGFN, com fundamento na Lei de Acesso àInformação. No Parecer PGFN/CAF 954/2015, a PGFN reitera seu posicionamentoanterior, descartando a possibilidade de a União vir a tentar incorporar as Ações da F.L.Porém, a partir do novo parecer da PGFN, é possível constatar que o D. DPPaparentemente adota posicionamento divergente sobre o assunto. O documento contémtranscrições de trechos do Parecer 07/2015-JBT/DPP-PGU-AGU, no qual o D. DPPcogita a possibilidade de a União tentar incorporar as Ações da F.L.: “9. Posteriormente,mediante o Parecer nº PGFN/CAF nº 2379/2013, a PGFN sugeriu que esta Secretariaencaminhasse, por meio de ofício, à PGU cópia do expediente enviado ao MinistérioPúblico, com os pareceres pertinentes da PGFN e da manifestação do MinistérioPúblico do Rio de Janeiro, para que a PGU avaliasse a juridicidade e a conveniência dese dar início por provocação da União ao rito de ausência, tendo em vista quecompetiria à PGU e não à PGFN dar início ao rito judicial de ausência. 10. Em brevesíntese, a PGFU, por intermédio do Parecer nº 07/2015-JBT/DPP-PGU/AGU, de23/02/2015, cópia em anexo, manifestou-se no sentido de que não cabe a adoção daestratégia sugerida de proposição de ações sob o rito de ausência, conforme trechoabaixo transcrito. (...) 11. Ademais, transcrevemos o item 93 do Parecer, o qual defendea prescrição dos pedidos de restituição dos bens dos antigos Súditos do Eixo, sendo, porconseguinte, os bens e os direitos pertencentes à União, devendo estar incorporados aoPatrimônio Nacional. (...) Em se aprovando no âmbito desta PGU a tese principaldefendida neste parecer – ou seja, a prescrição fulminou a potencial pretensão dosantigos Súditos do Eixo sobre eventuais pedidos de restituição desses bens,incorporados em definitivo, por isso, ao Patrimônio da União-, e desde que tambémacolhida pela STN, propõe-se que sejam imediatamente adotados os atos deconsolidação da propriedade da União, não somente sobre as ações, mas também sobreos demais móveis sob a guarda do BB (seja mediante a transferência dos bens passíveisde uso a órgãos públicos, seja mediante a sua doação a museus, seja mediante simplesdescarte, a depender de sua situação e utilidade), encerrando-se a participação daquelaInstituição FInanceira nesse processo, que perdura há mais de 70 anos”. Para a soluçãoda divergência de orientações, a PGFN determinou o envio do expediente à Consultoria-Geral da União (“CGU”), com fundamento no art. 12 do Decreto nº 7.392/2010. Atocontínuo, em 29.7.2015, a F.L. solicitou audiência com o Exmo. Sr. J.L.M.A.J.,Consultor-Geral da União, a quem a Recorrente apresentará provas de que as Ações sãode sua propriedade, o que torna infundada a iniciativa cogitada pelo DPP. No diaseguinte, o Ilmo. Sr. Dr. R.P.M. - Chefe de Gabinete junto à D. CGU – respondeu aprocuradores da F.L. que convocará a empresa para a audiência tão logo a D. CGUconsiga inteirar-se da matéria, considerando a “complexidade do processo”. (d) Negativade pedido de cópia do Parecer 07/2015-JBT/DPP-PGU-AGU – r. decisão recorrida.Enquanto aguarda convocação por parte da D. CGU, a F.L. solicitou cópia do Parecer07/2015 ao D. DPP, órgão emitente. Fê-lo a F.L. com o objetivo de compreender quais osfundamentos invocados pelo D. DPP na tentativa de colocar em dúvida a propriedade daF.L. sobre as Ações, fato confirmado pela XXX/SA. Em 31.7.2015, a F.L. foisurpreendida com a resposta do D. DPP, tendo sido informada de que o Parecer 07/2015foi classificado como sigiloso, “por encetar eventual estratégia de atuação da AGU emjuízo, entendendo-se que há sigilo profissional protegido”. Cumpre mencionar que, em

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maio do ano passado, a F.L. havia solicitado audiência ao Ilmo. Sr. Dr. J.B.T.,Coordenador-Geral de Créditos e Precatórios – órgão vinculado ao D. DPP. Trata-se doprocurador que elaborou o Parecer 07/2015. À época, o Sr. J.B.T. rejeitou o pedido daF.L., alegando que a realização de audiência não seria “válida ou produtiva”. III.RAZÕES PARA REFORMA DA R. DECISÃO RECORRIDA. A Lei de Acesso àInformação entrou em vigor em maio de 2012. Um dos pilares da referida lei é aobservância do princípio da publicidade geral dos atos administrativos, sendo adecretação do sigilo medida excepcional (art. 3º, I). Ao introduzir um diploma regulandoessa questão, o legislador reconhece a necessidade de combater a má-práticaadministrativa, frequentemente materializada a partir da ocultação injustificada de dadose de informações sob o domínio de agentes públicos. A recusa injustificada deinformações é uma conduta grave, passível de responsabilidade funcional dos agentespúblicos envolvidos, que poderão vir ainda a responder por ato de improbidadeadministrativa. 1 O art. 21, caput, da Lei de Acesso à Informação é peremptório quanto àimpossibilidade de negativa de acesso a informações necessárias a tutela de direitosfundamentais: “Art. 21. Não poderá ser negado acesso à informação necessária à tutelajudicial ou administrativa de direitos fundamentais.” Ora, o Parecer 07/2015 tratadiretamente do direito de propriedade da F.L. sobre ações emitidas pela XXX/SA.Portanto, a F.L. tem direito líquido e certo a receber cópia do referido documento.Ademais, a Lei de Acesso à Informação contém rol taxativo de hipóteses que autorizamrestrições de acesso a documentos em poder da Administração Pública. Tais hipótesesestão previstas no art. 23 da referida lei: “Art. 23. São consideradas imprescindíveis àsegurança da sociedade ou do Estado e, portanto, passíveis de classificação asinformações cuja divulgação ou acesso irrestrito possam: I - pôr em risco a defesa e asoberania nacionais ou a integridade do território nacional; II - prejudicar ou pôr emrisco a condução de negociações ou as relações internacionais do País, ou as quetenham sido fornecidas em caráter sigiloso por outros Estados e organismosinternacionais; III - pôr em risco a vida, a segurança ou a saúde da população; IV -oferecer elevado risco à estabilidade financeira, econômica ou monetária do País; V -prejudicar ou causar risco a planos ou operações estratégicos das Forças Armadas; VI- prejudicar ou causar risco a projetos de pesquisa e desenvolvimento científico outecnológico, assim como a sistemas, bens, instalações ou áreas de interesse estratégiconacional; VII - pôr em risco a segurança de instituições ou de altas autoridadesnacionais ou estrangeiras e seus familiares; ou VIII - comprometer atividades deinteligência, bem como de investigação ou fiscalização em andamento, relacionadascom a prevenção ou repressão de infrações.” Verifica-se que a restrição de acessosomente poderá ser decretada se houver risco a (i) soberania nacional; (ii) relação doBrasil com organismos internacionais; (iii) segurança da população; (iv) estabilidademonetária; (v) operações das Forças Armadas; (vi) projetos de pesquisa; (vii) segurançade instituições; e (vii) atividades de inteligência. Nenhuma das exceções previstas na Leide Acesso à Informação foi invocada pela r. decisão recorrida. Portanto, a negativa deacesso ao Parecer 07/2015 é injustificada. O D. DPP alega que o tema abordado noParecer 07/2015 será possivelmente discutido em ação judicial, razão pela qual odocumento seria protegido por sigilo profissional. Ocorre que tal justificativa genéricanão é causa de restrição de acesso, de acordo com a Lei de Acesso à Informação. É fácilcompreender racional do legislador ao deixar de incluir tal hipótese dentre as exceçõesautorizadoras de sigilo. Se a possibilidade de utilização do documento em ação judicialfosse pretexto para negativa de acesso, os órgãos de representação judicial da União –como é o caso da D. AGU – estariam desobrigados a cumprir a Lei de Acesso àInformação, tornando-a letra morta. Portanto, resta demonstrada a necessidade dereforma da r. decisão recorrida, haja vista a imprescindibilidade do Parecer 07/2015 paraa tutela do direito de propriedade da F.L. sobre as Ações, na forma do art. 21, caput, daLei de Acesso à Informação. IV. CONCLUSÃO E PEDIDOS. A PGFN sempre foiabsolutamente transparente ao publicar seus pareceres nos quais descarta a possibilidadede a União tentar expropriar bens de terceiros, dentre os quais as Ações da F.L. naXXX/SA. No respeitoso entender da F.L., o DPP deveria seguir o exemplo da PGFN,passando a assegurar ampla publicidade a todos os documentos que envolvem ingerênciada União sobre ativos que haviam sido tomados em garantia durante a Segunda GuerraMundial. Os fatos envolvidos são notórios, havendo amplo interesse público em buscar-se uma solução definitiva para o assunto, de forma que os proprietários dos bens passem

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ao pleno gozo de seus direitos. Ante o exposto, requer-se a reavaliação do sigilodecretado sobre o Parecer 07/2015-JBT/DPP-PGU-AGU, permitindo-se que a F.L.receba cópia do documento no prazo de cinco dias, conforme previsto no art. 15,parágrafo único, da Lei de Acesso à Informação.

Respostado Recurso

àAutoridade

Superior

20/08/2015

Preliminarmente, verifica-se que este DPP não classificou o sigilo da informação combase na LAI, mas sim com fundamento no Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil(EAOB), mais precisamente no art. 34, VII, da Lei n. 8.906/1994, c/c art. 25 do Códigode Ética e Disciplina da OAB, tendo em vista que o sigilo profissional foi claramenteressalvado pela própria LAI, em seu art. 22, por sua vez regulamentada pelo Decreto n.7.724/2012. Assim, ainda em caráter preliminar, ressalve-se que não são aplicáveis osprazos e ritos da LAI ao presente caso, mas sim os prazos e ritos previstos na Lei doProcesso Administrativo Federal, Lei n. 9.784/1999. No mérito da insurgência, valetranscrever as normas que regem a matéria. O sigilo profissional em geral encontraamparo no art. 5, inciso XIV, da Constituição da República. “XIV - é assegurado a todoso acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercícioprofissional”. Encontrando-se no rol de direitos e garantias individuais, o sigiloprofissional é cláusula pétrea da Constituição. A inviolabilidade do advogado, queengloba, por sua vez, o sigilo das comunicações com seus clientes, o sigilo quanto àestratégia processual que venha a adotar, a proibição de violação do local onde exerceseu ofício, dentre outros aspectos de sua atividade profissional, vem reafirmado no art.133 da Constituição: “Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça,sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites dalei”. Assim, antes de qualquer outra consideração, nem a LAI, nem qualquer outra Lei,aliás nem mesmo o Poder Constituinte Derivado, poderia excepcionar o sigiloprofissional. E nenhuma lei pode excepcionar a inviolabilidade do advogado. O Estatutoda OAB considera o sigilo profissional do Advogado mais do que um direito, mas simum DEVER, considerando sua violação uma infração disciplinar, verbis: “Art. 34.Constitui infração disciplinar: (...) VII - violar, sem justa causa, sigilo profissional”. Maisdo que isso, o advogado pode "recusar-se a depor como testemunha em processo no qualfuncionou ou deva funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou foiadvogado, mesmo quando autorizado ou solicitado pelo constituinte, bem como sobrefato que constitua sigilo profissional;", nos termos do inciso XIX, do art. 7, do EOAB.Tudo quanto acima afirmado encontra amparo nos artigos 25 a 27 do Código de Ética eDisciplina da OAB, senão vejamos: “Art. 25. O sigilo profissional é inerente à profissão,impondo-se o seu respeito, salvo grave ameaça ao direito à vida, à honra, ou quando oadvogado se veja afrontado pelo próprio cliente e, em defesa própria, tenha que revelarsegredo, porém sempre restrito ao interesse da causa. Art. 26.O advogado deve guardarsigilo, mesmo em depoimento judicial, sobre o que saiba em razão de seu ofício,cabendo-lhe recusar-se a depor como testemunha em processo no qual funcionou oudeva funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou tenha sidoadvogado, mesmo que autorizado ou solicitado pelo constituinte. Art. 27. Asconfidências feitas ao advogado pelo cliente podem ser utilizadas nos limites danecessidade da defesa, desde que autorizado aquele pelo constituinte. Parágrafo único.Presumem-se confidenciais as comunicações epistolares entre advogado e cliente, asquais não podem ser reveladas a terceiros.” O advento da Lei de Acesso à Informação -LAI - em nada alterou a disciplina jurídica do sigilo profissional, e menos ainda do sigiloprofissional do advogado. Tanto que ressalvou expressamente, em seu art. 22, as demaisespécies de sigilo previstas no ordenamento jurídico: “Art. 22. O disposto nesta Lei nãoexclui as demais hipóteses legais de sigilo e de segredo de justiça nem as hipóteses desegredo industrial decorrentes da exploração direta de atividade econômica pelo Estadoou por pessoa física ou entidade privada que tenha qualquer vínculo com o poderpúblico”. O Decreto regulamentador da LAI é mais específico: “Art. 6o O acesso àinformação disciplinado neste Decreto não se aplica: I - às hipóteses de sigilo previstasna legislação, como fiscal, bancário, de operações e serviços no mercado de capitais,comercial, profissional, industrial e segredo de justiça; e II - às informações referentes aprojetos de pesquisa e desenvolvimento científicos ou tecnológicos cujo sigilo sejaimprescindível à segurança da sociedade e do Estado, na forma do §1o do art. 7o da Lei no

12.527, de 2011”. Não se nega que os órgãos públicos tenham o dever de prestar

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informações aos cidadãos, na forma da Constituição, da LAI e até de outros diplomaslegais específicos, mas não se trata de direito absoluto do administrado nem de deverabsoluto da Administração. Uma dessas exceções é justamente o sigilo profissional doadvogado, igualmente aplicável ao advogado público, seja por não haver ressalva legalquanto à advocacia pública, seja porque, quando os entes da administração pública sãoquestionados em juízo, eles se igualam aos particulares na defesa de seus direitos einteresses. Em Juízo, o Estado, representado pela Advocacia Pública, desveste-se de seupoder de Administração para se sujeitar à decisão do Estado-Juiz, tanto quanto oparticular. Nesse sentido, o Estado tem o mesmo direito de se defender e de serrepresentado por advogado que os demais cidadãos e pessoas jurídicas têm. Ocorre que aAdvocacia Pública, ao contrário da advocacia privada, não pode traçar uma estratégia deatuação sem a formação de um processo administrativo com a consequente aprovaçãodas autoridades legalmente designadas para autorizar o conteúdo de sua manifestaçãojudicial. Assim, a estratégia de atuação de um ente público não pode ser definida apenasatravés de contatos telefônicos, e-mails, ou documentos secretos (embora o conteúdo desuas manifestações possa ser sigiloso), pois há uma necessidade, imposta pela lei, deaprovação da estratégia de atuação pela autoridade competente. Isso porque o Advogadoda União, o Procurador da Fazenda ou o Procurador Federal (o mesmo valendo paraProcuradores de Estados e Municípios) não podem decidir ao seu talante, uma estratégianacional de atuação da União e respectivos entes da administração indireta. Daí anecessidade de um processo administrativo. Mas essa necessidade de formação de umprocesso administrativo não outorga aos particulares que têm interesses contrapostos aoda Administração o direito de conhecer o conteúdo dessa estratégia traçada por meio deum parecer, ou outra manifestação jurídica, sob pena de ofensa ao sigilo profissional doadvogado público. No caso em tela, a AGU jamais sonegou a informação à F.L. de quehouve divergência desta PGU com o entendimento da PGFN, e que o caso, em razãodesta divergência, foi submetido à apreciação da Consultoria-Geral da União (CGU),órgão legalmente responsável por dirimir os conflitos de interpretação e de atribuição noseio da AGU. Tanto que na própria peça recursal da F.L., menciona-se novo parecer daPGFN que contém transcrições de trechos do PARECER 07/2015-JBT/DPP/PGU/AGU,o qual pretende a recorrente acessar na íntegra. Assim, a recorrente está ciente de que aPGU não concorda com a tese da PGFN. Por isso, não há segredo de que a União possavir a se contrapor aos interesses da F.L., mas os fundamentos do PARECER 07/2015-JBT/DPP/PGU/AGU não lhe devem ser revelados, pois encetam futura estratégia deatuação da AGU em Juízo, a depender 1) do posicionamento da CGU e 2) de eventualdiscussão judicial. Consigne-se, ademais, que embora o caso da F.L. demande soluçãoadministrativa aparentemente mais urgente do que os demais, o PARECER 07/2015-JBT/DPP/PGU/AGU analisou, em profundidade, todo o histórico legislativo acerca dotema, bem como as consequências da disciplina legal e infralegal da apreensão de bensdos Súditos do Eixo, por ocasião da 2a. Guerra Mundial. Ocorre que a apreensão citadaenvolveu não apenas ações ou valores mobiliários, mas também bens móveis e imóveis,havendo consequências jurídicas para toda uma miríade de situações que foramabordadas no PARECER 07/2015-JBT/DPP/PGU/AGU e que extrapolam, em muito, ocaso específico da F.L. Em outras palavras, aludido Parecer, se mantido pela CGU,redundará em orientação a todas as unidades da PGU no Brasil, motivo pelo qual nãopode ser divulgado a advogados particulares sob pena de vulnerar e comprometer aestratégia contenciosa da União, visto que o tema "Súditos do Eixo" tem enormepotencial litigioso. A pretensão da recorrente, num raciocínio a contrario sensuequivaleria a uma pretensão da AGU de conhecer a estratégia processual que ela encetacom a própria banca de advogados que a representa. Seria absurdo que a AGUpretendesse conhecer documentos, arquivos eletrônicos, pastas de trabalho, cartas etc.trocados entre a F.L. e o Pinheiro Neto Advogados, justamente porque isso ofenderiatodo o conjunto de normas citados na presente Nota, relativos ao sigilo profissional e doAdvogado. Por essas razões, considerando-se a manutenção do DESPACHO N°600/2015-RDA/DPP/PGU/AGU pelo Exmo. Sr. Diretor do DPP (art. 56, parágrafo 1, daLei n. 9.784/1999, evento 4, id. 4122386), em atenção ao Despacho n. 600/2015-RDA/DPP/PGU/AGU, eleva-se a questão à apreciação do Exmo. Sr. Procurador-Geralda União, sugerindo-se seja o recurso da F.L. conhecido e improvido.

Recurso à 31/08/2015

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AutoridadeMáxima

Nos termos da r. decisão recorrida, a Exma. Subprocuradora-Geral da União negouprovimento ao recurso pelo qual a ora Recorrente pleiteou acesso ao Parecer 07/2015, delavra do Departamento de Patrimônio e Probidade da PGU (“DPP”). A r. decisão adotacomo razões de decidir (i) a Nota Técnica nº 117/2015-HAJ/DPP/PGU/AGU, produzidapelo Ilmo. Sr. H.A.J., Coordenador-Geral de Patrimônio e Meio-Ambiente da PGU; e (ii)o Despacho nº 607/2015-RDA/DPP/PGU/AGU, exarado pelo Ilmo. Sr. R.D.A., Diretordo DPP. Segundo argumentado pelo Ilmo. Coordenador-Geral de Patrimônio e MeioAmbiente, o Parecer 07/2015 endereçaria “futura estratégia de atuação da AGU emjuízo”, razão pela qual o documento estaria coberto pelo dever de sigilo profissional,previsto na Lei nº 8.906/1994 (“Estatuto da OAB”). No respeitoso entender do Ilmo.Diretor do DPP, o fato de a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (“PGFN”) tertornado público o Parecer PGFN/CAF 954/2015 não alteraria as conclusões do DPP, “jáque se está diante de órgãos distintos e com competências e atribuições tambémdistintas”. Portanto, todas as três autoridades acima referidas pronunciaram-se pelamanutenção do sigilo sobre o Parecer 07/2015, documento esse cujo tema central é aparticipação acionária da F.L. na XXX/SA S.A. (“XXX/SA”). A r. decisão recorridaviola frontalmente o art. 21, caput, LAI. Isso porque o Parecer 07/2015 contéminformações necessárias à tutela administrativa e judicial do direito fundamental depropriedade da F.L. sobre as referidas ações. Nesse sentido, a D. Controladoria-Geral daUnião (“Controladoria”) tem decidido que a existência de processo judicial não pode serinvocada como pretexto para a negativa de acesso a documentos necessários à tutela dedireitos fundamentais (parecer nº 99901.000714/2013-54). Roga-se a manifestação de V.Exa., autoridade máxima dessa D. PGU, de forma que a F.L. possa submeter a questão àControladoria caso a r. decisão recorrida venha a ser mantida no julgamento desterecurso. II. FATOS. (a) As Ações da F.L. e a postura adotada pela União Federal e peloMinistério Público. A F.L. é titular de 74.211.825 ações emitidas pela XXX/SA(“Ações”). As Ações da F.L. foram tomadas em garantia pela União durante a SegundaGuerra Mundial (Decreto-Lei nº 4.166/42). O vínculo de garantia foi extinto com aedição do Decreto nº 39.869/1956. Em abril de 2012, quando as Ações encontravam-seescrituradas em nome de F.L., o Tesouro Nacional solicitou ao Bradesco a remoção doCNPJ da F.L. do cadastro escritural das ações, com a manutenção do nome F.L. nocampo relativo à titularidade das Ações. Apesar de reconhecer que as Ações são depropriedade do investidor F.L., o Tesouro suscitou dúvida sobre a possibilidade dehomonímia (ou seja, de existir outro acionista da XXX/SA com a denominação F.L.,além da empresa inscrita no CNPJ 08.797/0001-49, nossa cliente). Em 5.7.2012, aXXX/SA emitiu declaração confirmando que (i) a F.L., inscrita no CNPJ sob o nº08.797/0001-49, é a única titular das Ações; e (ii) não consta dos registros societários daXXX/SA (e tampouco da extinta XXX/SA-2) nenhum outro acionista com adenominação F.L. Cumpre frisar que a F.L. está exercendo normalmente os direitospolíticos decorrentes das Ações, o que inclui a prerrogativa de votar em assembleias,bem como o direito de preferência em emissões adicionais da XXX/SA. Repetidas vezeschamada a se pronunciar sobre a propriedade das Ações da F.L., a União, por intermédioda Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (“PGFN”), afirmou não ser a proprietária,nem reivindicar a propriedade. No Parecer PGFN/CAF/nº 2056/2001, a PGFN afasta apossibilidade de transferência de bens que haviam sido tomados em garantia à UniãoFederal, ao afirmar de forma peremptória que “não há norma legal em vigor que autorizea sua incorporação ao patrimônio da União”. Este posicionamento é reiterado no ParecerPGFN/CAF/nº 2371/2008, no qual a União afirma que a incorporação de açõesbloqueadas violaria “o direito de propriedade dos legítimos donos das ações emquestão”: “No caso em tela, entretanto, a transferência ilegal da titularidade das açõespor parte da Administração para ela mesma é tipicamente um ato nulo (não apenasanulável), que não gerou direitos para terceiros, mas sim, pelo contrário, confiscou odireito de propriedade dos legítimos donos das ações em questão (...)”. Em 2013, emresposta dirigida especificamente à F.L. (Parecer PGFN/CAF 889/2013), a PGFNreiterou a “inexistência de transferência do direito de propriedade” à União Federal,bem como pela “necessidade de ressarcir integralmente o bem ao seu efetivoproprietário”. Em 17.10.2013, o MP proferiu parecer no qual descarta a propositura deação pelo rito da ausência, entendo que a questão deve ser resolvida na esfera privada,entre os interessados. (b) Pedido de alvará judicial. Face aos desdobramentosmencionados acima, em 18.11.2013, a F.L. apresentou pedido de alvará para que o seu

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CNPJ volte a constar do registro escritural das ações. Tal medida administrativa - eportanto, de natureza não-litigiosa - visa permitir que a F.L. retome a plenadisponibilidade sobre as Ações de sua propriedade. O alvará (processo nº 4020774-78.2013.8.26.0405) encontra-se em curso perante a 8ª Vara Cível da Comarca de Osasco-SP. A adequação do pedido de alvará foi confirmada pelo Tribunal de Justiça de SãoPaulo (“E. TJSP”) através de acórdão proferido em 3.2.2015. Com base no parecerproferido pela PGFN em 2013, o E. TJSP concluiu que não há oposição por parte daUnião, razão pela qual decidiu-se pelo prosseguimento do processo de alvará. Em junhoúltimo, a XXX/SA manifestou-se espontaneamente nos autos de alvará, tendoconfirmado que a F.L. é a única titular das ações. Em 17.7.2015, a União foi intimada amanifestar-se sobre o pedido de alvará, não tendo oferecido resposta até a presente data.(c) Envio do caso ao Consultor-Geral da União – a divergência entre a PGFN e o DPP.Em 23.7.2015, os procuradores da F.L. obtiveram acesso a novo parecer da PGFN(Parecer PGFN/CAF 954/2015). O documento foi fornecido pela Ilma. Sra. Dra.A.P.V.B., Coordenadora-Geral de Assuntos Financeiros da PGFN, com fundamento naLei de Acesso à Informação. No Parecer PGFN/CAF 954/2015, a PGFN reitera seuposicionamento anterior, descartando a possibilidade de a União vir a tentar incorporaras Ações da F.L. Porém, a partir do novo parecer da PGFN, é possível constatar que o D.DPP aparentemente adota posicionamento divergente sobre o assunto. O documentocontém transcrições de trechos do Parecer 07/2015-JBT/DPP-PGU-AGU, no qual o D.DPP cogita a possibilidade de a União tentar incorporar as Ações da F.L.: “9.Posteriormente, mediante o Parecer nº PGFN/CAF nº 2379/2013, a PGFN sugeriu queesta Secretaria encaminhasse, por meio de ofício, à PGU cópia do expediente enviadoao Ministério Público, com os pareceres pertinentes da PGFN e da manifestação doMinistério Público do Rio de Janeiro, para que a PGU avaliasse a juridicidade e aconveniência de se dar início por provocação da União ao rito de ausência, tendo emvista que competiria à PGU e não à PGFN dar início ao rito judicial de ausência. 10.Em breve síntese, a PGFU, por intermédio do Parecer nº 07/2015-JBT/DPP-PGU/AGU,de 23/02/2015, cópia em anexo, manifestou-se no sentido de que não cabe a adoção daestratégia sugerida de proposição de ações sob o rito de ausência, conforme trechoabaixo transcrito. (...) 11. Ademais, transcrevemos o item 93 do Parecer, o qual defendea prescrição dos pedidos de restituição dos bens dos antigos Súditos do Eixo, sendo, porconseguinte, os bens e os direitos pertencentes à União, devendo estar incorporados aoPatrimônio Nacional. (...) Em se aprovando no âmbito desta PGU a tese principaldefendida neste parecer – ou seja, a prescrição fulminou a potencial pretensão dosantigos Súditos do Eixo sobre eventuais pedidos de restituição desses bens,incorporados em definitivo, por isso, ao Patrimônio da União-, e desde que tambémacolhida pela STN, propõe-se que sejam imediatamente adotados os atos deconsolidação da propriedade da União, não somente sobre as ações, mas também sobreos demais móveis sob a guarda do BB (seja mediante a transferência dos bens passíveisde uso a órgãos públicos, seja mediante a sua doação a museus, seja mediante simplesdescarte, a depender de sua situação e utilidade), encerrando-se a participação daquelaInstituição Financeira nesse processo, que perdura há mais de 70 anos”. Para a soluçãoda divergência de orientações, a PGFN determinou o envio do expediente à Consultoria-Geral da União (“CGU”), com fundamento no art. 12 do Decreto nº 7.392/2010. Atocontínuo, em 29.7.2015, a F.L. solicitou audiência com o Exmo. Sr. J.L.M.A.J.,Consultor-Geral da União, a quem a Recorrente apresentará provas de que as Ações sãode sua propriedade, o que torna infundada a iniciativa cogitada pelo DPP. No diaseguinte, o Ilmo. Sr. Dr. R.P.M. - Chefe de Gabinete junto à D. CGU – respondeu aprocuradores da F.L. que convocará a empresa para a audiência tão logo a D. CGUconsiga inteirar-se da matéria, considerando a “complexidade do processo”. (d) Negativade pedido de cópia do Parecer 07/2015-JBT/DPP-PGU-AGU. Enquanto aguardaconvocação por parte da D. CGU, a F.L. solicitou cópia do Parecer 07/2015 ao D. DPP,órgão emitente. Fê-lo a F.L. com o objetivo de compreender quais os fundamentosinvocados pelo D. DPP na tentativa de colocar em dúvida a propriedade da F.L. sobre asAções, fato confirmado pela XXX/SA e pelos cadastros escriturais emitidos pelainstituição custodiante (docs. nº 8 e 9). Cumpre mencionar que, em maio do ano passado,a F.L. havia solicitado audiência ao Ilmo. Sr. Dr. J.B.T., Coordenador-Geral de Créditos ePrecatórios – órgão vinculado ao D. DPP. Trata-se do procurador que elaborou o Parecer07/2015. À época, o Sr. J.B.T. rejeitou o pedido da F.L., alegando que a realização de

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audiência não seria “válida ou produtiva”. Em 31.7.2015, a F.L. foi surpreendida com aresposta do D. DPP, tendo sido informada de que o Parecer 07/2015 foi classificadocomo sigiloso, “por encetar eventual estratégia de atuação da AGU em juízo,entendendo-se que há sigilo profissional protegido”. A F.L. interpôs recursoadministrativo contra a referida decisão, o qual veio a ser indeferido em 20.8.2015, nostermos da r. decisão recorrida, de lavra da Exma. Subprocuradora Geral da União. III.RAZÕES PARA A REFORMA DA R. DECISÃO RECORRIDA. A Lei de Acesso àInformação entrou em vigor em maio de 2012. Um dos pilares da referida lei é aobservância do princípio da publicidade geral dos atos administrativos, sendo adecretação do sigilo medida excepcional (art. 3º, I). Ao introduzir um diploma regulandoessa questão, o legislador reconhece a necessidade de combater a má-práticaadministrativa, frequentemente materializada a partir da ocultação injustificada de dadose de informações sob o domínio de agentes públicos. A recusa injustificada deinformações é uma conduta grave, passível de responsabilidade funcional dos agentespúblicos envolvidos, que poderão vir ainda a responder por ato de improbidadeadministrativa. O art. 21, caput, da Lei de Acesso à Informação é peremptório quanto àimpossibilidade de negativa de acesso a informações necessárias a tutela de direitosfundamentais: “Art. 21. Não poderá ser negado acesso à informação necessária à tutelajudicial ou administrativa de direitos fundamentais.” Ora, o Parecer 07/2015 tratadiretamente do direito de propriedade da F.L. sobre ações emitidas pela XXX/SA.Portanto, a F.L. tem direito líquido e certo a receber cópia do referido documento.Ademais, a Lei de Acesso à Informação contém rol taxativo de hipóteses que autorizamrestrições de acesso a documentos em poder da Administração Pública. Tais hipótesesestão previstas no art. 23 da referida lei: “Art. 23. São consideradas imprescindíveis àsegurança da sociedade ou do Estado e, portanto, passíveis de classificação asinformações cuja divulgação ou acesso irrestrito possam: I - pôr em risco a defesa e asoberania nacionais ou a integridade do território nacional; II - prejudicar ou pôr emrisco a condução de negociações ou as relações internacionais do País, ou as quetenham sido fornecidas em caráter sigiloso por outros Estados e organismosinternacionais; III - pôr em risco a vida, a segurança ou a saúde da população; IV -oferecer elevado risco à estabilidade financeira, econômica ou monetária do País; V -prejudicar ou causar risco a planos ou operações estratégicos das Forças Armadas; VI- prejudicar ou causar risco a projetos de pesquisa e desenvolvimento científico outecnológico, assim como a sistemas, bens, instalações ou áreas de interesse estratégiconacional; VII - pôr em risco a segurança de instituições ou de altas autoridadesnacionais ou estrangeiras e seus familiares; ou VIII - comprometer atividades deinteligência, bem como de investigação ou fiscalização em andamento, relacionadascom a prevenção ou repressão de infrações.” Verifica-se que a restrição de acessosomente poderá ser decretada se houver risco a (i) soberania nacional; (ii) relação doBrasil com organismos internacionais; (iii) segurança da população; (iv) estabilidademonetária; (v) operações das Forças Armadas; (vi) projetos de pesquisa; (vii) segurançade instituições; e (vii) atividades de inteligência. Tais previsões legais estão em linhacom o art. 5º, XXXIII, da Constituição, segundo o qual devem ser mantidas comosigilosas apenas as informações imprescindíveis à segurança do Estado. In casu, sequer écogitada a possibilidade de o Parecer 07/2015 endereçar questões afetas à soberanianacional. Portanto, a negativa de acesso ao documento viola norma constitucional, pois omotivo declinado não corresponderia sequer em tese à exceção autorizadora do sigilo. Ar. decisão recorrida invoca como fundamento o art. 27, parágrafo único, do Estatuto daOAB, o qual prevê a confidencialidade da comunicação trocada entre advogado e cliente(art. 27, parágrafo único, daquele diploma). A própria LAI teria ressalvado a incidênciade hipóteses de sigilo previstas na legislação esparsa, contexto no qual estaria inserido osigilo profissional entre advogado e cliente. Tal interpretação decorreria do art. 22 daLAI, verbis: “Art. 22. O disposto nesta Lei não exclui as demais hipóteses legais desigilo e de segredo de justiça nem as hipóteses de segredo industrial decorrentes daexploração direta de atividade econômica pelo Estado ou por pessoa física ou entidadeprivada que tenha qualquer vínculo com o poder público.” Segundo consta da NotaTécnica nº 117/2015-HAJ/DPP/PGU/AGU, “o sigilo profissional é cláusula pétrea daConstituição (...) nenhuma lei pode excepcionar a inviolabilidade do advogado”. Odireito de propriedade da Recorrente sobre as Ações sequer foi considerado nessaanálise. O maior equívoco em que incorre a r. decisão recorrida é supor que o sigilo

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profissional é uma regra absoluta, prevalecendo inclusive sobre direitos fundamentais.Essa não foi a opção do Constituinte e tampouco do legislador ordinário. Há um conflitoaparente entre o art. 21 da LAI – pelo qual não poderá ser negado acesso a documentonecessário a tutela de direito fundamental – e o art. 22 da lei, o qual preserva as hipótesesde sigilo profissional, dentre os quais aquele previsto no Estatuto da OAB. Diz-seaparente porque o próprio legislador ordinário resolveu potencial conflito entre osmencionados dispositivos. O art. 21, caput, é peremptório ao vedar a negativa deinformação necessária à tutela de direito fundamental. Ainda que o sigilo profissionalfosse potencial causa de restrição de acesso, a hipótese seria afastada em se tratando deinformação imprescindível para a tutela da propriedade – indiscutivelmente inserida norol dos direitos fundamentais. Em tal situação, o dever de sigilo profissional é mitigadoem prol do direito fundamental do administrado. A tese ora ventilada foi aceita pelaControladoria responsável por fiscalizar a conduta de servidores federais. Em pareceremitido em 24.1.2014, a Controladoria concluiu que a existência de processo judicial nãopode ser invocada como pretexto para a negativa de acesso a documentos necessários àtutela de direitos fundamentais, “à luz do artigo 21 da Lei nº 12.527/11”: “26. (...) nãohá impedimento para que a Lei de Acesso à Informação seja utilizada, ainda que existaprocesso judicial em andamento. Nesse aspecto, a Lei é clara ao estender o direito docidadão a esse tipo de situação, de forma a possibilitar o uso das ferramentas de acessoà informação para obtenção de informações necessárias à tutela judicial ouadministrativa de direitos fundamentais. À luz do artigo 21 da Lei nº 12.527/11 (...) 27.Não só esse artigo nos permite concluir que a existência de processo judicial não afastaa aplicação da Lei de Acesso à Informação como também expõe, de forma clara, aimpossibilidade de ser negado acesso a informações necessárias à tutela judicial dedireitos fundamentais”. Se a mera possibilidade de utilização do documento em açãojudicial fosse pretexto para negativa de acesso, a LAI seria tornada letra morta. A rigor,toda a documentação produzida pela União poderá vir a ser utilizada em processojudicial em algum momento. Com base nesse falso pretexto, todas as informações empoder de órgãos de representação judicial – como a PGU – poderiam ser ocultadas dosadministrados. É justamente esse tipo de prática que a LAI visa censurar. Não faz omenor sentido a tentativa da r. decisão recorrida de atribuir peso absoluto ao sigiloprofissional, quando a opção do legislador foi claramente por privilegiar os direitosfundamentais. Portanto, o parecer da Controladoria é digno de aplauso. Em recentejulgado, o E. Superior Tribunal de Justiça (“E. STJ”) prestigiou o direito à informação doimpetrante, tendo decidido que a negativa de acesso a documento era infundada, “pois ocaso não envolve informações cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade edo Estado”: “O art. 5º, XXXIII, da CF/88 assegura o direito à informação de interesseparticular, como o exercício do direito de petição perante a própria AdministraçãoPública ou a defesa de um direito individual perante o Judiciário, ou de interessecoletivo, como a defesa do patrimônio público, desde que respeitados o direito àintimidade e as situações legais de sigilo. 2. Na espécie, inexiste justificativa para nãose conceder a certidão solicitada, pois o caso não envolve informações cujo sigilo sejaimprescindível à segurança da sociedade e do Estado. 3. O não fornecimento dacertidão pleiteada constitui ilegal violação de direito líquido e certo do impetrante deacesso à informação de interesse coletivo, assegurado pelo art. 5º, XXXIII, daConstituição Federal e regulamentado pela Lei n. 12.527/2011 (Lei de Acesso àInformação). 4. Agravo regimental não provido”. Na mesma linha, o E. TribunalRegional Federal da 1ª Região (“E. TRF 1ª Região”) decidiu pela concessão desegurança em hipótese envolvendo recusa indevida de acesso à informação:“CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. PEDIDO DE VISTA DEPROCESSO ADMINISTRATIVO. ART. 7º. INCISOS XII E XV, DA LEI Nº. 8.906/94.ALEGAÇÃO DE SIGILO. IMPROCEDENTE. FALTA DE AMPARO LEGAL. ACESSO ÀINFORMAÇÃO. GARANTIA CONSTITUCIONAL. ART. 5º, XXXIII, CF. SEGURANÇACONCEDIDA. O acesso à informação para defesa de direito, seja este oriundo deinteresse coletivo ou geral, é garantia constitucional (art. 5º, XXXIII), a qual deve serprestada no prazo legal, sob pena de responsabilidade, ressalvando-se apenas aquelasinformações cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado, oque não é o caso”. Constata-se que os tribunais têm conferida ampla eficácia ao direitodos administrados de receber documentos em poder de órgãos públicos, o qual sofremitigação apenas em se tratado de informações imprescindíveis para a segurança do

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Estado, exatamente como previsto no art. 5º, XXXIII, da Constituição. Não se temnotícia de um acórdão sequer no qual a garantia de acesso à informação haja sidoafastada ante a possibilidade de o documento vir a ser futuramente apresentado peloórgão público no âmbito de ação judicial. A r. decisão recorrida tenta, ainda, estabeleceranalogia com a confidencialidade da comunicação trocada entre F.L. e seus advogados.Nesse sentido, confira-se os itens 28 e 29 da Nota Técnica nº 117/2015-HAJ/DPP/PGU/AGU: “28. A pretensão da recorrente, num raciocínio a contrario sensuequivaleria a uma pretensão da AGU de conhecer a estratégia processual que ela encetacom a própria banca de advogados que a representa. 29. Seria absurdo que a AGUpretendesse conhecer documentos, arquivos eletrônicos, pastas de trabalho, cartas etc.trocados entre a F.L. e o Pinheiro Neto Advogados, justamente porque isso ofenderiatodo o conjunto de norma citados na presente Nota, relativos ao sigilo profissional e doAdvogado”. Com todo o respeito, a comparação é totalmente descabida. O DPP é umente público, sujeito ao princípio constitucional da publicidade (art. 37, caput). O deverde publicidade é inaplicável a empresas privadas – categoria na qual a F.L. está inserida.Tanto isso é verdade que a LAI instituiu procedimentos a serem observados pela União,Estados, Distrito Federal e Municípios, com o fim de garantir o acesso a informações(art. 1º, caput). A observância de tais procedimentos constitui dever de naturezavinculada, extensível a todos os órgãos da União. Não há margem de discricionariedadea permitir que o Administrador deixe de aplicar a LAI ao seu bel prazer, mormente em setratando do fornecimento de informação necessária à tutela de direito fundamental (art.21, caput). Em diversos trechos, a r. decisão recorrida transparece uma certa indisposiçãoem relação à LAI. Consta do item 3 da Nota Técnica que “este DPP não classificou osigilo da informação com base na LAI, mas sim com fundamento no Estatuto da Ordemdos Advogados do Brasil (EOAB)”. Em seguida, afirma-se que “não são aplicáveis osprazos e ritos da LAI ao presente caso, mas sim os prazos e ritos previstos na Lei doProcesso Administrativo Federal (...)”. Parece-se pretender a aplicação da lei geral, emdetrimento da lei especial – quando o correto seria o contrário. O Despacho nº 607/2015-RDA/DPP/PGU/AGU, proferido pelo Ilmo. Dr. Diretor do DPP, chega a fazer menção aum suposto “equívoco da requerente no sentido de efetuar postulação comfundamentação material e procedimental na Lei de Acesso à Informação” (item 2). Éinócuo o esforço das autoridades referidas no sentido de tentar afastar a incidência daLAI. Tal postura deverá ser oportunamente censurada pelos órgãos de controle, na esteirado parecer proferido recentemente pela Controladoria. Nesta seara, resta à F.L. apenasreiterar o pedido de acesso ao Parecer 07/2015, haja vista a imprescindibilidade de taldocumento para que a Recorrente possa tutelar seu direito de propriedade sobre as açõesna XXX/SA, na forma do art. 21, caput, da LAI. IV. CONCLUSÃO E PEDIDOS. APGFN sempre foi absolutamente transparente ao publicar seus pareceres nos quaisdescarta a possibilidade de a União tentar expropriar bens de terceiros, dentre os quais asAções da F.L. na XXX/SA. No respeitoso entender da F.L., a PGU deveria seguir oexemplo da PGFN, passando a assegurar ampla publicidade a todos os documentos queenvolvem ingerência da União sobre ativos que haviam sido tomados em garantiadurante a Segunda Guerra Mundial. Os fatos envolvidos são notórios, havendo amplointeresse público em buscar-se uma solução definitiva para o assunto, de forma que osproprietários dos bens passem ao pleno gozo de seus direitos. Ante o exposto, requer-se areforma da r. decisão recorrida, o que acarretará na reavaliação do sigilo decretado sobreo Parecer 07/2015-JBT/DPP-PGU-AGU, permitindo-se que a F.L. receba cópia dodocumento no prazo de cinco dias, conforme previsto no art. 15, parágrafo único, daLAI.

Respostado Recurso

àAutoridade

Máxima

09/09/2015

Trata-se de novo recurso administrativo interposto com fundamento no art. 15, parágrafoúnico, da Lei n. 12.527/2011, conhecida como Lei de Acesso à Informação (LAI), contradecisão, agora, da Exma. Sra. Subprocuradora-Geral da União, lançada no Despacho n.01298/2015/GAB/PGU/AGU (evento 6, id. 4170220), que manteve anterior decisão doExmo. Sr. Diretor do DPP, que por sua vez indeferiu acesso ao Parecer 07/2015-JBT/DPP/PGU/AGU. O recurso interposto por F.L., empresa alemã, dirigido ao Exmo.Sr. Procurador Geral da União, basicamente renova a insurgência anterior, jádevidamente rechaçada por meio da NOTA n. 117/2015-HAJ/DPP/PGU/AGU (evento 5,id. 4107522), agregando alguns argumentos que, em síntese, consistem nas seguintes

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teses: 2.1.) a empresa tem direito a conhecer o Parecer 07/2015-JBT/DPP/PGU/AGUpois nele se discute propriedade da empresa, direito constitucional fundamental; 2.2) aLAI se aplica ao caso pois o DPP é órgão público; 2.3) o rol da LAI é taxativo quanto àsexceções que autorizam o sigilo, as quais não incluiriam o sigilo profissional; 2.4) osigilo profissional não é regra absoluta, comportando exceções; 2.5) a existência deprocesso judicial não é razão que justifica o sigilo. Eis o sucinto relatório, passa-se àbreve análise. O novo recurso em nada altera os fundamentos da NOTA n. 117/2015-HAJ/DPP/PGU/AGU, lançados com bastante clareza e suficiente fundamentaçãoconstitucional e legal. Inicialmente, embora a questão analisada no Parecer 07/2015-JBT/DPP/PGU/AGU possa reflexamente atingir o pleito da F.L. junto ao TesouroNacional, ele trata de questão muito mais ampla, conforme já asseveramos na Nota 117:“24. Por isso, não há segredo de que a União possa vir a se contrapor aos interesses daF.L., mas os fundamentos do PARECER 07/2015-JBT/DPP/PGU/AGU não lhe devemser revelados, pois encetam futura estratégia de atuação da AGU em Juízo, a depender 1)do posicionamento da CGU e 2) de eventual discussão judicial. 25. Consigne-se,ademais, que embora o caso da F.L. demande solução administrativa aparentemente maisurgente do que os demais, o PARECER 07/2015-JBT/DPP/PGU/AGU analisou, emprofundidade, todo o histórico legislativo acerca do tema, bem como as consequênciasda disciplina legal e infralegal da apreensão de bens dos Súditos do Eixo, por ocasião da2a. Guerra Mundial”. No entanto, não é sequer a Consultoria-Geral da União (CGU), oumesmo qualquer órgão da AGU, quem irá deferir ou não o pleito da F. L., quanto ao seusuposto direito de propriedade sobre as ações da atual XXX/SA. Essa decisão cabe àSecretaria do Tesouro Nacional (STN), pois o que a empresa pretende é o levantamentode um bloqueio administrativo sobre ações que ela alegadamente defende serem suas.Acrescente-se que o documento produzido pelo DPP não é um documento que façaprova da propriedade ou de qualquer outro direito de cidadão ou de empresa, de formaque ele sequer tem o potencial de malferir qualquer direito fundamental. O Parecer07/2015-JBT/DPP/PGU/AGU consubstancia uma tese jurídica que poderá ser acolhida(ou não) no âmbito da AGU e que poderá ou não subsidiar decisão administrativa daSTN. Mas sobretudo o Parecer 07/2015-JBT/DPP/PGU/AGU se volta a subsidiar aestratégia de atuação da União em Juízo, portanto ele é um documento destinado àsunidades da PGU. Acrescente-se que a PGFN provocou esta PGU a mover centenas,talvez milhares de ações de declaração de ausência, medida processual com a qual estaPGU tampouco concordou. Observe-se que a posição da PGFN não foi peloreconhecimento do direito de propriedade da F.L., tendo aquele órgão entendido que osbens confiscados dos súditos do eixo são bens de ausentes. Nunca se negou seja o DPPórgão público, mas ele pertence à estrutura da AGU, prevista no artigo 131 daConstituição, função essencial à justiça tanto quanto a advocacia privada, prevista noartigo 133 da Lei Maior. A advocacia pública é, portanto, nas suas manifestaçõesteóricas, tributária do sigilo profissional tanto quanto a advocacia privada. Demais disso,o sigilo do Parecer 07/2015-JBT/DPP/PGU/AGU tem termo incerto, porém consistenteem um dos seguintes eventos: 14.1. se suas teses forem rechaçadas pela CGU/AGU;14.2. por ocasião da dedução dessas teses em juízo, se acaso sobrevier processo judicialenvolvendo fatos, pessoas ou direitos relacionados aos súditos do Eixo. Em outraspalavras, mais cedo ou mais tarde, seu conteúdo será revelado, sem nenhumadificuldade. O sigilo decretado é, portanto, momentâneo, e não há direito potencialmentevulnerado da recorrente que obrigue a AGU revelar um documento teórico, que não émeio de prova e que está protegido pelo sigilo profissional. No limite, a interpretaçãopretendida pela recorrente revoga o sigilo profissional constitucionalmente protegido,bem como o próprio artigo 22 da LAI, de clareza solar ao reconhecer outros sigilos alémdaqueles por ela disciplinados. Quanto aos documentos fornecidos por órgãos públicos àadvocacia pública, eles podem ser requeridos diretamente aos órgãos que os produzem,pois a AGU não produz documentos que façam provas de direitos ou de situações de fatoe/ou que digam respeito a direitos fundamentais dos cidadãos: ela não expede alvarás,licenças, registros etc., que são o objeto primordial da LAI. A própria LAI é muito claraao dispor sobre a existência de sigilos específicos dispostos na legislação esparsa, comobem demonstrado na NOTA n. 117/2015-HAJ/DPP/PGU/AGU. Pretender interpretá-lade outra forma é criar disposição normativa que o Legislador não previu. Por fim, osigilo não foi decretado com base na existência de processo judicial, não havendo o quese considerar a respeito.

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Recurso àCGU

21/09/2015

Nos termos da r. decisão recorrida, o Exmo. Sr. Procurador-Geral da União negouprovimento ao recurso pelo qual a ora Recorrente pleiteou acesso ao Parecer 07/2015, delavra do Departamento de Patrimônio e Probidade da PGU (“DPP”). O Recorrido ratificadecisão anterior da Ilma. Sra. Subprocuradora-Geral da União (decisão nº01298/2015/GAB/PGU/AGU, também pelo indeferimento da pretensão da F.L. A r.decisão adota como razões de decidir (i) as notas técnicas produzidas pelo Ilmo. Sr.Coordenador-Geral de Patrimônio e Meio-Ambiente do DPP; e (ii) o despacho exaradopelo Ilmo. Sr. Diretor do referido órgão. Verifica-se que este recurso foi precedido damanifestação de quatro servidores vinculados à D. PGU - inclusive da autoridademáxima daquele órgão, o Exmo. Sr. Procurador-Geral da União, que proferiu a r. decisãorecorrida. Tendo em vista as reiteradas manifestações da D. PGU pelo indeferimento dapretensão da F.L. fundada na LAI, mostra-se cabível a interposição de recurso à essa D.CGU, conforme previsto no art. 16, § 1º, daquele diploma. (b) Objetivo da F.L.: reversãode sigilo decretado sobre o Parecer 07/2015. Neste recurso, a F.L. pede a reversão dosigilo decretado pelo Ilmo. Diretor do DPP sobre o Parecer 07/2015, o qual versa sobreparticipação acionária da F.L. na XXX/SA S.A. (“XXX/SA”). Trata-se de documentoessencial à tutela do direito de propriedade, cujo acesso jamais poderia ter sido negado,ex vi do disposto no art. 21 da LAI. Ao longo deste recurso, será demonstrado que o DPPviolou os requisitos previstos na LAI para a classificação de documento sigiloso (art. 16,III e art. 16, IV), razão pela qual essa D. CGU deverá tornar público o Parecer nº07/2015, o que importará na reforma da r. decisão recorrida. II. FATOS. (a) As Ações daF.L. e a postura adotada pela União Federal e pelo Ministério Público. A F.L. é titularde 74.211.825 ações emitidas pela XXX/SA (“Ações”). As Ações da F.L. foram tomadasem garantia pela União durante a Segunda Guerra Mundial (Decreto-Lei nº 4.166/42). Ovínculo de garantia foi extinto com a edição do Decreto nº 39.869/1956. Em abril de2012, quando as Ações encontravam-se escrituradas em nome de F.L., o TesouroNacional solicitou ao Bradesco a remoção do CNPJ da F.L. do cadastro escritural dasações, com a manutenção do nome F.L. no campo relativo à titularidade das Ações.Apesar de reconhecer que as Ações são de propriedade do investidor F.L., o Tesourosuscitou dúvida sobre a possibilidade de homonímia (ou seja, de existir outro acionistada XXX/SA com a denominação F.L., além da empresa inscrita no CNPJ 08.797/0001-49, ora Recorrente). Em 5.7.2012, a XXX/SA emitiu declaração confirmando que (i) aF.L., inscrita no CNPJ sob o nº 08.797/0001-49, é a única titular das Ações; e (ii) nãoconsta dos registros societários da XXX/SA (e tampouco da extinta XXX/SA-2) nenhumoutro acionista com a denominação F.L. Cumpre frisar que a F.L. está exercendonormalmente os direitos políticos decorrentes das Ações, o que inclui a prerrogativa devotar em assembleias, bem como o direito de preferência em emissões adicionais daXXX/SA. Repetidas vezes chamada a se pronunciar sobre a propriedade das Ações daF.L., a União, por intermédio da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (“PGFN”),afirmou não ser a proprietária, nem reivindicar a propriedade. No Parecer PGFN/CAF/nº2056/2001, a PGFN afasta a possibilidade de transferência de bens que haviam sidotomados em garantia à União Federal, ao afirmar de forma peremptória que “não hánorma legal em vigor que autorize a sua incorporação ao patrimônio da União”. Esteposicionamento é reiterado no Parecer PGFN/CAF/nº 2371/2008, no qual a União afirmaque a incorporação de ações bloqueadas violaria “o direito de propriedade dos legítimosdonos das ações em questão”: “No caso em tela, entretanto, a transferência ilegal datitularidade das ações por parte da Administração para ela mesma é tipicamente um atonulo (não apenas anulável), que não gerou direitos para terceiros, mas sim, pelocontrário, confiscou o direito de propriedade dos legítimos donos das ações em questão(...)” Em 2013, em resposta dirigida especificamente à F.L. (Parecer PGFN/CAF889/2013), a PGFN reiterou a “inexistência de transferência do direito de propriedade”à União Federal, bem como pela “necessidade de ressarcir integralmente o bem ao seuefetivo proprietário”. Em 17.10.2013, o MP proferiu parecer no qual descarta apropositura de ação pelo rito da ausência, entendo que a questão deve ser resolvida naesfera privada, entre os interessados. (b) Pedido de alvará judicial. Face aosdesdobramentos mencionados acima, em 18.11.2013, a F.L. apresentou pedido de alvarápara que o seu CNPJ volte a constar do registro escritural das ações. Tal medida

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administrativa - e portanto, de natureza não-litigiosa - visa permitir que a F.L. retome aplena disponibilidade sobre as Ações de sua propriedade. O alvará (processo nº 4020774-78.2013.8.26.0405) encontra-se em curso perante a 8ª Vara Cível da Comarca de Osasco-SP. A adequação do pedido de alvará foi confirmada pelo Tribunal de Justiça de SãoPaulo (“E. TJSP”) através de acórdão proferido em 3.2.2015. Com base no parecerproferido pela PGFN em 2013, o E. TJSP concluiu que não há oposição por parte daUnião, razão pela qual decidiu-se pelo prosseguimento do processo de alvará. Em junhoúltimo, a XXX/SA manifestou-se espontaneamente nos autos de alvará, tendoconfirmado que a F.L. é a única titular das ações. Em 17.7.2015, a União foi intimada amanifestar-se sobre o pedido de alvará, não tendo oferecido resposta até a presente data.(c) Envio do caso ao Consultor-Geral da União –divergência entre a PGFN e o DPP.Em 23.7.2015, os procuradores da F.L. obtiveram acesso a novo parecer da PGFN(Parecer PGFN/CAF 954/2015). O documento foi fornecido pela Ilma. Sra. Dra.A.P.V.B., Coordenadora-Geral de Assuntos Financeiros da PGFN, com fundamento naLei de Acesso à Informação. No Parecer PGFN/CAF 954/2015, a PGFN reitera seuposicionamento anterior, descartando a possibilidade de a União vir a tentar incorporaras Ações da F.L. Porém, a partir do novo parecer da PGFN, é possível constatar que o D.DPP aparentemente adota posicionamento divergente sobre o assunto. O documentocontém transcrições de trechos do Parecer 07/2015-JBT/DPP-PGU-AGU, no qual o D.DPP cogita a possibilidade de a União tentar incorporar as Ações da F.L.: “9.Posteriormente, mediante o Parecer nº PGFN/CAF nº 2379/2013, a PGFN sugeriu queesta Secretaria encaminhasse, por meio de ofício, à PGU cópia do expediente enviadoao Ministério Público, com os pareceres pertinentes da PGFN e da manifestação doMinistério Público do Rio de Janeiro, para que a PGU avaliasse a juridicidade e aconveniência de se dar início por provocação da União ao rito de ausência, tendo emvista que competiria à PGU e não à PGFN dar início ao rito judicial de ausência. 10.Em breve síntese, a PGFU, por intermédio do Parecer nº 07/2015-JBT/DPP-PGU/AGU,de 23/02/2015, cópia em anexo, manifestou-se no sentido de que não cabe a adoção daestratégia sugerida de proposição de ações sob o rito de ausência, conforme trechoabaixo transcrito. (...) 11. Ademais, transcrevemos o item 93 do Parecer, o qual defendea prescrição dos pedidos de restituição dos bens dos antigos Súditos do Eixo, sendo, porconseguinte, os bens e os direitos pertencentes à União, devendo estar incorporados aoPatrimônio Nacional. (...) Em se aprovando no âmbito desta PGU a tese principaldefendida neste parecer – ou seja, a prescrição fulminou a potencial pretensão dosantigos Súditos do Eixo sobre eventuais pedidos de restituição desses bens,incorporados em definitivo, por isso, ao Patrimônio da União-, e desde que tambémacolhida pela STN, propõe-se que sejam imediatamente adotados os atos deconsolidação da propriedade da União, não somente sobre as ações, mas também sobreos demais móveis sob a guarda do BB (seja mediante a transferência dos bens passíveisde uso a órgãos públicos, seja mediante a sua doação a museus, seja mediante simplesdescarte, a depender de sua situação e utilidade), encerrando-se a participação daquelaInstituição Financeira nesse processo, que perdura há mais de 70 anos”. Para a soluçãoda divergência de orientações, a PGFN determinou o envio do expediente à Consultoria-Geral da União (“Consultoria”), com fundamento no art. 12 do Decreto nº 7.392/2010. AD. Consultoria determinou a abertura do expediente nº 00405.020935/2015-44 para asolução da controvérsia suscitada. Em 29.7.2015, a F.L. solicitou audiência com o Exmo.Sr. J.L.M.A.J., Consultor-Geral da União. Em 30.7.2015, o Ilmo. Sr. R.P.M. respondeu aprocuradores da F.L. que convocará a empresa para a audiência tão logo a D. Consultoriaconsiga inteirar-se da matéria, considerando a “complexidade do processo”. A F.L.permanece no aguardo da designação de audiência para que possa expor o caso ao Exmo.Sr. Consultor-Geral. (d). Negativa de pedido de acesso ao Parecer 07/2015-JBT/DPP-PGU-AGU – primeiro recurso administrativo. Enquanto aguarda convocação por parteda D. Consultoria-Geral da União, a F.L. solicitou cópia do Parecer 07/2015 ao D. DPP,órgão emitente. Fê-lo a F.L. com o objetivo de compreender quais os fundamentosinvocados pelo D. DPP na tentativa de colocar em dúvida a propriedade da F.L. sobre asAções, fato confirmado pela XXX/SA e pelos cadastros escriturais emitidos pelainstituição custodiante. Cumpre mencionar que, em maio do ano passado, a F.L. haviasolicitado audiência ao Ilmo. Sr. Dr. J.B.T., Coordenador-Geral de Créditos e Precatórios– órgão vinculado ao D. DPP. Trata-se do procurador que elaborou o Parecer 07/2015. Aépoca, o Sr. J.B.T. rejeitou o pedido da F.L., alegando que a realização de audiência não

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seria “válida ou produtiva”. Em 31.7.2015, a F.L. foi surpreendida com a resposta doDPP, tendo sido informada de que o Parecer 07/2015 foi classificado como sigiloso, “porencetar eventual estratégia de atuação da AGU em juízo, entendendo-se que há sigiloprofissional protegido”. A F.L. interpôs recurso administrativo contra a referida decisão,o qual veio a ser indeferido em 20.8.2015. Nos termos da decisão proferida pela Ilma.Sra. Procuradora da União, a circunstância de a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional(“PGFN”) ter tornado público o Parecer PGFN/CAF 954/2015 não alteraria asconclusões da PGU, “já que se está diante de órgãos distintos e com competências eatribuições também distintas”. Decidiu-se, ainda, que “o sigilo profissional é cláusulapétrea da Constituição (...) nenhuma lei pode excepcionar a inviolabilidade doadvogado”. O direito de propriedade da Recorrente sobre as Ações sequer foiconsiderado nessa análise. (e) Indeferimento de recurso administrativo pelo Exmo.Procurador-Geral da União – a r. decisão recorrida. Em 31.8.2015, a F.L. interpôsrecurso ao Exmo. Procurador-Geral da União, reiterando o pedido de acesso ao Parecer07/2015. Em 9.9.2015, sobreveio a r. decisão recorrida, pela qual foi mantida a negativade acesso ao referido documento. Consta da r. decisão recorrida que o Parecer nº 07/2015seria de interesse restrito dos órgãos de representação judicial da União, por endereçarestratégia ainda em discussão no âmbito da AGU. Segundo o Recorrido, o Parecer nº07/2015 será tornado público caso a tese ali endereçada venha a ser (i) rejeitada peloConsultor-Geral da União; ou (ii) ventilada em juízo pela União. Portanto, “mais cedoou mais tarde, seu conteúdo será revelado, sem nenhuma dificuldade”, o que tornariaprecipitado o pedido da F.L. III. RAZÕES PARA A REFORMA DA R. DECISÃORECORRIDA. A Lei de Acesso à Informação entrou em vigor em maio de 2012. Um dospilares da referida lei é a observância do princípio da publicidade geral dos atosadministrativos, sendo a decretação do sigilo medida excepcional (art. 3º, I). Aointroduzir um diploma regulando essa questão, o legislador reconhece a necessidade decombater a má-prática administrativa, frequentemente materializada a partir da ocultaçãoinjustificada de dados e de informações sob o domínio de agentes públicos. A recusainjustificada de informações é uma conduta grave, passível de responsabilidadefuncional dos agentes públicos envolvidos, que poderão vir ainda a responder por ato deimprobidade administrativa. O art. 21, caput, da Lei de Acesso à Informação éperemptório quanto à impossibilidade de negativa de acesso a informações necessárias atutela de direitos fundamentais: “Art. 21. Não poderá ser negado acesso à informaçãonecessária à tutela judicial ou administrativa de direitos fundamentais.” Ora, o Parecer07/2015 trata diretamente do direito de propriedade da F.L. sobre ações emitidas pelaXXX/SA. Portanto, a F.L. tem direito líquido e certo a receber cópia do referidodocumento. Ademais, a Lei de Acesso à Informação contém rol taxativo de hipóteses queautorizam restrições de acesso a documentos em poder da Administração Pública. Taishipóteses estão previstas no art. 23 da referida lei: “Art. 23. São consideradasimprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado e, portanto, passíveis declassificação as informações cuja divulgação ou acesso irrestrito possam: I - pôr emrisco a defesa e a soberania nacionais ou a integridade do território nacional; II -prejudicar ou pôr em risco a condução de negociações ou as relações internacionais doPaís, ou as que tenham sido fornecidas em caráter sigiloso por outros Estados eorganismos internacionais; III - pôr em risco a vida, a segurança ou a saúde dapopulação; IV - oferecer elevado risco à estabilidade financeira, econômica oumonetária do País; V - prejudicar ou causar risco a planos ou operações estratégicosdas Forças Armadas; VI - prejudicar ou causar risco a projetos de pesquisa edesenvolvimento científico ou tecnológico, assim como a sistemas, bens, instalações ouáreas de interesse estratégico nacional; VII - pôr em risco a segurança de instituiçõesou de altas autoridades nacionais ou estrangeiras e seus familiares; ou VIII -comprometer atividades de inteligência, bem como de investigação ou fiscalização emandamento, relacionadas com a prevenção ou repressão de infrações.” Verifica-se que arestrição de acesso somente poderá ser decretada se houver risco a (i) soberania nacional;(ii) relação do Brasil com organismos internacionais; (iii) segurança da população; (iv)estabilidade monetária; (v) operações das Forças Armadas; (vi) projetos de pesquisa;(vii) segurança de instituições; e (vii) atividades de inteligência. Tais previsões legaisestão em linha com o art. 5º, XXXIII, da Constituição, segundo o qual devem sermantidas como sigilosas apenas as informações imprescindíveis à segurança do Estado.In casu, sequer é cogitada a possibilidade de o Parecer 07/2015 endereçar questões afetas

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à soberania nacional. Portanto, a negativa de acesso ao documento viola normaconstitucional, pois o motivo declinado não corresponderia sequer em tese à exceçãoautorizadora do sigilo. A análise da PGU está calcada no art. 27, parágrafo único, doEstatuto da OAB, o qual prevê a confidencialidade da comunicação trocada entreadvogado e cliente (art. 27, parágrafo único, daquele diploma). A própria LAI teriaressalvado a incidência de hipóteses de sigilo previstas na legislação esparsa, contexto noqual estaria inserido o sigilo profissional entre advogado e cliente. Tal interpretaçãodecorreria do art. 22 da LAI, verbis: “Art. 22. O disposto nesta Lei não exclui as demaishipóteses legais de sigilo e de segredo de justiça nem as hipóteses de segredo industrialdecorrentes da exploração direta de atividade econômica pelo Estado ou por pessoafísica ou entidade privada que tenha qualquer vínculo com o poder público.” A D. PGUsupõe ser sigilo profissional uma regra absoluta, prevalecendo inclusive sobre direitosfundamentais. Porém, essa não foi a opção do Constituinte e tampouco do legisladorordinário. Há um conflito aparente entre o art. 21 da LAI – pelo qual não poderá sernegado acesso a documento necessário a tutela de direito fundamental – e o art. 22 da lei,o qual preserva as hipóteses de sigilo profissional, dentre os quais aquele previsto noEstatuto da OAB. Diz-se aparente porque o próprio legislador ordinário resolveupotencial conflito entre os mencionados dispositivos. O art. 21, caput, é peremptório aovedar a negativa de informação necessária à tutela de direito fundamental. Ainda que osigilo profissional fosse potencial causa de restrição de acesso, a hipótese seria afastadaem se tratando de informação imprescindível para a tutela da propriedade –indiscutivelmente inserida no rol dos direitos fundamentais. Em tal situação, o dever desigilo profissional é mitigado em prol do direito fundamental do administrado. A tese oraventilada foi aceita por essa D. CGU, em parecer emitido em 24.1.2014. Naquelaoportunidade, concluiu-se que a existência de processo judicial não pode ser invocadacomo pretexto para a negativa de acesso a documentos necessários à tutela de direitosfundamentais, “à luz do artigo 21 da Lei nº 12.527/11”: “26. (...) não há impedimentopara que a Lei de Acesso à Informação seja utilizada, ainda que exista processo judicialem andamento. Nesse aspecto, a Lei é clara ao estender o direito do cidadão a esse tipode situação, de forma a possibilitar o uso das ferramentas de acesso à informação paraobtenção de informações necessárias à tutela judicial ou administrativa de direitosfundamentais. À luz do artigo 21 da Lei nº 12.527/11 (...) 27. Não só esse artigo nospermite concluir que a existência de processo judicial não afasta a aplicação da Lei deAcesso à Informação como também expõe, de forma clara, a impossibilidade de sernegado acesso a informações necessárias à tutela judicial de direitos fundamentais”. Sea mera possibilidade de utilização do documento em ação judicial fosse pretexto paranegativa de acesso, a LAI seria tornada letra morta. A rigor, toda a documentaçãoproduzida pela União poderá vir a ser utilizada em processo judicial em algum momento.Com base nesse falso pretexto, todas as informações em poder de órgãos derepresentação judicial – como a PGU – poderiam ser ocultadas dos administrados. A LAIatribui à D. CGU papel ativo no combate desse tipo de prática. Não faz o menor sentidoa tentativa do Recorrido de atribuir peso absoluto ao sigilo profissional, quando a opçãodo legislador foi claramente por privilegiar os direitos fundamentais. Portanto, o parecerdessa D. CGU (item 53 acima) é digno de aplauso. Em recente julgado, o E. SuperiorTribunal de Justiça (“E. STJ”) prestigiou o direito à informação do impetrante, tendodecidido que a negativa de acesso a documento era infundada, “pois o caso não envolveinformações cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”: “Oart. 5º, XXXIII, da CF/88 assegura o direito à informação de interesse particular, comoo exercício do direito de petição perante a própria Administração Pública ou a defesade um direito individual perante o Judiciário, ou de interesse coletivo, como a defesa dopatrimônio público, desde que respeitados o direito à intimidade e as situações legais desigilo. 2. Na espécie, inexiste justificativa para não se conceder a certidão solicitada,pois o caso não envolve informações cujo sigilo seja imprescindível à segurança dasociedade e do Estado. 3. O não fornecimento da certidão pleiteada constitui ilegalviolação de direito líquido e certo do impetrante de acesso à informação de interessecoletivo, assegurado pelo art. 5º, XXXIII, da Constituição Federal e regulamentado pelaLei n. 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação). 4. Agravo regimental não provido”.Na mesma linha, o E. Tribunal Regional Federal da 1ª Região (“E. TRF 1ª Região”)decidiu pela concessão de segurança em hipótese envolvendo recusa indevida de acessoà informação: “CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. PEDIDO DE

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VISTA DE PROCESSO ADMINISTRATIVO. ART. 7º. INCISOS XII E XV, DA LEINº. 8.906/94. ALEGAÇÃO DE SIGILO. IMPROCEDENTE. FALTA DE AMPAROLEGAL. ACESSO À INFORMAÇÃO. GARANTIA CONSTITUCIONAL. ART. 5º,XXXIII, CF. SEGURANÇA CONCEDIDA. O acesso à informação para defesa dedireito, seja este oriundo de interesse coletivo ou geral, é garantia constitucional (art. 5º,XXXIII), a qual deve ser prestada no prazo legal, sob pena de responsabilidade,ressalvando-se apenas aquelas informações cujo sigilo seja imprescindível à segurançada sociedade e do Estado, o que não é o caso”. Constata-se que os tribunais têmconferida ampla eficácia ao direito dos administrados de receber documentos em poderde órgãos públicos, o qual sofre mitigação apenas em se tratado de informaçõesimprescindíveis para a segurança do Estado, exatamente como previsto no art. 5º,XXXIII, da Constituição. Não se tem notícia de um acórdão sequer no qual a garantia deacesso à informação haja sido afastada ante a possibilidade de o documento vir a serfuturamente apresentado pelo órgão público no âmbito de ação judicial. A D. PGU tenta,ainda, estabelecer analogia com a confidencialidade da comunicação trocada entre F.L. eseus advogados. Nesse sentido, confira-se os itens 28 e 29 da Nota Técnica nº 117/2015-HAJ/DPP/PGU/AGU: “28. A pretensão da recorrente, num raciocínio a contrario sensuequivaleria a uma pretensão da AGU de conhecer a estratégia processual que ela encetacom a própria banca de advogados que a representa. 29. Seria absurdo que a AGUpretendesse conhecer documentos, arquivos eletrônicos, pastas de trabalho, cartas etc.trocados entre a F.L. e o Pinheiro Neto Advogados, justamente porque isso ofenderiatodo o conjunto de norma citados na presente Nota, relativos ao sigilo profissional e doAdvogado”. Chega-se a afirmar que “a advocacia pública é, portanto, nas suasmanifestações teóricas, tributária do sigilo profissional tanto quanto a advocaciaprivada” (Nota nº 118/2015-HAJ/DPP-PGU-AGU). Com todo o respeito, a comparaçãoé totalmente descabida. O DPP é um ente público, sujeito ao princípio constitucional dapublicidade (art. 37, caput). O dever de publicidade é inaplicável a empresas privadas –categoria na qual a F.L. está inserida. Tanto isso é verdade que a LAI instituiuprocedimentos a serem observados pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios,com o fim de garantir o acesso a informações (art. 1º, caput). A observância de taisprocedimentos constitui dever de natureza vinculada, extensível a todos os órgãos daUnião. Não há margem de discricionariedade a permitir que o Administrador deixe deaplicar a LAI ao seu bel prazer, mormente em se tratando do fornecimento deinformação necessária à tutela de direito fundamental (art. 21, caput). A D. PGU revelaindisposição em aplicar as disposições previstas na LAI. O Ilmo. Sr. Coordenadordaquele órgão afirma que “este DPP não classificou o sigilo da informação com base naLAI, mas sim com fundamento no Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (EOAB)”.Segundo a referida autoridade, “não são aplicáveis os prazos e ritos da LAI ao presentecaso, mas sim os prazos e ritos previstos na Lei do Processo Administrativo Federal(...)”. O Despacho nº 607/2015-RDA/DPP/PGU/AGU, proferido pelo Ilmo. Dr. Diretordo DPP, afirma ter havido um “equívoco da requerente no sentido de efetuar postulaçãocom fundamentação material e procedimental na Lei de Acesso à Informação” (item 2).Frise-se que o referido órgão já foi alertado algumas vezes por essa D. CGU a cumprir ostrâmites previstos no referido diploma. Exemplificativamente, mencione-se parecerproferido pelo Exmo. Sr. Ouvidor-Geral da União em 2014, pelo qual foi determinado àAGU que “reavalie os fluxos internos para assegurar a observância das normasrelativas ao acesso à informação, de forma eficiente e adequada aos objetivos legais”.Em março do ano corrente, a AGU foi orientada sobre a necessidade de “observar osprazos recursais determinados pelo Decreto nº 7.724/2012”. Tais recomendações foramignoradas no presente caso, lamentavelmente. Improcede a justificativa declinada peloRecorrido de que a restrição de sigilo seria momentânea. Essa colocação é inócua, pois aLAI não contém alusão a um critério temporal. Pouco importa se a intenção do órgãorecorrido é esconder o documento da parte interessada em caráter definitivo ou apenastemporário. A decretação de sigilo deve ser avaliada objetivamente, de acordo com ashipóteses taxativamente elencadas no art. 23 da LAI. A F.L. tem uma razão concreta parater acesso imediato ao Parecer 07/2015: a necessidade de elaborar manifestação ao D.Consultor-Geral nos autos do expediente nº 00405.020935/2015-44, que trata de Açõesde propriedade da empresa Recorrente na XXX/SA. Nesse sentido, o art. 3º da Lei nº9.784/1999 – invocada pela própria PGU – assegura à parte em processo administrativoos direitos de (i) ter ciência da tramitação dos processos administrativos em que tenha a

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condição de interessada (inciso II); e (ii) formular alegações e apresentar documentosantes da tomada de decisão (inciso III). Tais dispositivos materializam as garantias dodevido processo legal e da ampla defesa, conferindo ao administrado a possibilidade departicipar ativamente da instrução do processo administrativo, sobretudo quando adecisão puder impactar direito fundamental. A Recorrente necessita ter acesso imediatoao Parecer nº 07/2015 para que possa posicionar-se nos autos do expediente nº00405.020935/2015-44, em trâmite perante a D. Consultoria-Geral da União. 2 De nadaadiantará a disponibilização do documento após a decisão do Exmo. Sr. Consultor-Geralnos autos daquele procedimento. Conforme mencionado no item 28 acima, a F.L. estáem vias de ser convocada para audiência naquele órgão. Portanto, a r. decisão recorridacolide com as garantias do contraditório e da ampla defesa, que asseguram à parte odireito de obter cópia de documentos necessários à elaboração de defesa antes da tomadade decisão pela autoridade competente – no caso, o Exmo. Sr. Consultor-Geral da União.V. CONCLUSÃO E PEDIDOS. A PGFN sempre foi absolutamente transparente aopublicar seus pareceres nos quais descarta a possibilidade de a União tentar expropriarbens de terceiros, dentre os quais as Ações da F.L. na XXX/SA. No respeitoso entenderda F.L., a PGU deveria ter seguido o exemplo da PGFN, passando a assegurar amplapublicidade a todos os documentos que envolvem ingerência da União sobre ativos quehaviam sido tomados em garantia durante a Segunda Guerra Mundial. Os fatosenvolvidos são notórios, havendo amplo interesse público em buscar-se uma soluçãodefinitiva para o assunto, de forma que os proprietários dos bens passem ao pleno gozode seus direitos. Ante o exposto, roga-se a essa D. CGU a reforma da r. decisão recorrida,o que acarretará na reavaliação do sigilo decretado sobre o Parecer 07/2015-JBT/DPP-PGU-AGU, permitindo-se que a F.L. receba cópia do documento no prazo de até cincodias, conforme previsto no art. 16, § 1º, da LAI.

Solicitaçãode

Esclareci-mentos

Adicionais

16/11/2015

A CGU encaminhou Solicitação de Esclarecimentos Adicionais, com o seguinte teor: (1)Em que consiste o expediente nº 00405.020935/2015-44, em trâmite na Consultoria-Geral da União – CGU/AGU? (2) Que tipo de decisão foi ou será tomada no expedientenº 00405.020935/2015-44? (3) O expediente nº 00405.020935/2015-44 continuatramitando na Consultoria-Geral da União – CGU/AGU, ou já foi finalizado? (4) Odocumento solicitado (parecer nº 07/2015-JBT/DPP-PGU-AGU) ainda é considerado umdocumento preparatório, nos termos do art. 20, do Decreto nº 7724/2012, para oexpediente nº 00405.020935/2015-44? (5) O documento solicitado (parecer 07/2015-JBT/DPP-PGU-AGU) ainda é considerado um documento preparatório, nos termos doart. 20, do Decreto nº 7724/2012, para uma eventual futura ação judicial? (6) AAdvocacia-Geral da União – AGU entende que no atual momento já há possibilidade deentrega da informação solicitada? Caso negativo, justificar.

Esclareci-mentos

Adicionais

18/11/2015

Em que consiste o expediente nº 00405.020935/2015-44, em trâmite na Consultoria-Geral da União – CGU/AGU? R: O NUP 00405.020935/2015-44 versa sobre recursoadministrativo da requerente F.L. contra despacho do diretor do DPP/PGU que indeferiuo acesso ao Parecer nº 07/2015-JBT/DPP-PGU-AGU. (2) Que tipo de decisão foi ou serátomada no expediente nº 00405.020935/2015-44? R: O processo versava apenas orecurso hierárquico mas, consultando hoje o NUP no sistema SAPIENS, verificamos quea CGU/AGU prosseguiu com expedição de ofícios relativos, entretanto, ao processoprincipal, que versa sobre perdimento de ações dos súditos do Eixo como consequênciade legislação do século passado que previa esse perdimento em favor da União comoforma de ressarcir os prejuízos sofridos pelo Brasil na 2ª. Guerra Mundial. (3) Oexpediente nº 00405.020935/ 2015-44 continua tramitando na Consultoria-Geral daUnião – CGU/AGU, ou já foi finalizado? R: Conforme informações da Consultoria-Geral da União, em consulta ao processo indicado, informamos que os autos00405.003125/2014-42 encontram-se na Consultoria-Geral da União para análisejurídica de divergência verificada entre manifestações da PGFN e PGU, sendo que noatual momento estão sendo aguardadas respostas à diligências solicitadas dedeterminados Órgãos. Neste passo, não há manifestação conclusiva da Consultoria-Geralda União até o momento sobre o assunto. (4) O documento solicitado (parecer nº07/2015-JBT/DPP-PGU-AGU) ainda é considerado um documento preparatório, nos

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termos do art. 20, do Decreto nº 7724/2012, para o expediente nº 00405.020935/2015-44? R: Entendemos que a LAI e seu decreto regulamentador são inaplicáveis ao caso,pois o sigilo estabelecido é o sigilo profissional do Advogado, previsto na Constituiçãoda República e no Estatuto da OAB. É uma hipótese de sigilo extravagante à LAI,expressamente admitida na LAI. Mas sem dúvida o Parecer nº 07/2015-JBT/DPP-PGU-AGU será utilizado como razão de decidir pela CGU/AGU, vez que ela foi provocada àvista de divergência entre a PGU e a PGFN, órgãos da AGU. (5) O documento solicitado(parecer 07/2015-JBT/DPP-PGU-AGU) ainda é considerado um documentopreparatório, nos termos do art. 20, do Decreto nº 7724/2012, para uma eventual futuraação judicial? R: A prevalecer o entendimento do Parecer nº 07/2015-JBT/DPP-PGU-AGU, ele servirá de fundamento para defesa judicial dos interesses da União em açãojudicial. No mais, reportamo-nos ao item anterior. (6) A Advocacia-Geral da União –AGU entende que no atual momento já há possibilidade de entrega da informaçãosolicitada? Caso negativo, justificar. R: Não. Pelas razões acima, combinadas com oexposto nas manifestações sobre os recursos da requerente.

É o relatório.

Análise

02. Quanto ao cumprimento do art. 21, do Decreto nº 7.724/2012, observa-se que consta da

resposta que a autoridade que proferiu a decisão, em primeira instância, era hierarquicamente

superior à que adotou a decisão inicial. Outrossim, consta que a autoridade que proferiu a decisão,

em segunda instância, foi o dirigente máximo do órgão/entidade.

03. No que tange aos requisitos de admissibilidade, registre-se que o recurso foi apresentado à

CGU de forma tempestiva e recebido na esteira do disposto no caput e § 1º, do art. 16, da Lei nº

12.527/2011, bem como em respeito ao prazo de 10 (dez) dias previsto no art. 23, do Decreto nº

7.724/2012, nestes termos:

Lei nº 12.527/2011Art. 16. Negado o acesso a informação pelos órgãos ou entidades do Poder ExecutivoFederal, o requerente poderá recorrer à Controladoria-Geral da União, quedeliberará no prazo de 5 (cinco) dias se:[...]§ 1º O recurso previsto neste artigo somente poderá ser dirigido à ControladoriaGeral da União depois de submetido à apreciação de pelo menos uma autoridadehierarquicamente superior àquela que exarou a decisão impugnada, que deliberaráno prazo de 5 (cinco) dias.

Decreto nº 7.724/2012Art. 23. Desprovido o recurso de que trata o parágrafo único do art. 21 ou infrutíferaa reclamação de que trata o art. 22, poderá o requerente apresentar recurso no

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prazo de dez dias, contado da ciência da decisão, à Controladoria-Geral da União,que deverá se manifestar no prazo de cinco dias, contado do recebimento do recurso.

04. Cumpre destacar que o pedido encontra-se dentro do escopo da Lei de Acesso à Informação,

conforme previsto no art. 7º da mesma Lei, pois incide sobre informação produzida e/ou acumulada

por órgãos ou entidades da Administração Pública. Tal pedido resume-se ao acesso ao parecer nº

07/2015-JBT/DPP-PGU-AGU (doravante parecer nº 07/2015).

05. A recorrente argumenta, em resumo, que se trata de documento essencial à tutela do direito

de propriedade e que, por isso, o pedido não poderia ser negado por força do art. 21, da Lei nº

12.527/2011. Cumpre lembrar que o Parágrafo Único, do art. 42, do Decreto nº 7.724/2012,

determina que “o requerente deverá apresentar razões que demonstrem a existência de nexo entre

as informações requeridas e o direito que se pretende proteger.”

06. Sergio Cavalieri Filho, na obra “Programa de Responsabilidade Civil” (São Paulo: Atlas, 2012,

10ª ed.), define nexo causal como “elemento referencial entre a conduta e o resultado, é através

dele que poderemos concluir quem foi o causador do dano” (p. 62). Ou seja, o nexo de que trata o

Parágrafo Único, do art. 42, do Decreto nº 7.724/2012, consiste, em suma, no vínculo existente

entre a conduta do agente e o resultado por ela produzido. No caso em tela, não podemos

responsabilizar a AGU, ou o parecer nº 07/2015, por uma eventual perda do direito de propriedade.

Essa perda só poderá ocorrer, salvo exceções previstas em lei, mediante sentença judicial transitada

em julgado. A conduta do agente AGU potencialmente se resumirá na representação da União em

ação judicial cabível.

07. O documento solicitado poderá, ou não, ser utilizado em ação judicial oposta pela União, por

intermédio de seu representante legal, face ao recorrente. Mesmo assim, o argumento da

aplicabilidade do art. 21, da Lei nº 12.527/2011, não merece prevalecer, visto que o contraditório e

a ampla defesa, bem como a igualdade entre as partes litigantes, estão assegurados desde já ao

recorrente no curso de qualquer processo judicial.

08. A recorrida, por sua vez, argumenta que a LAI e o Decreto nº 7.724/2012 são inaplicáveis ao

caso, “pois o sigilo estabelecido é o sigilo profissional do Advogado, previsto na Constituição da

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República e no Estatuto da OAB.” Mais precisamente, a recorrida refere-se ao art. 133, da

Constituição da República e ao art. 34, inciso VII, da Lei nº 8.906/1994 (Estatuto da OAB). Além

disso, a recorrida entende que essas normas estão ressalvadas pelo art. 22, da Lei nº 12.527/2011.

Seguem citações:

Constituição da RepúblicaArt. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolávelpor seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.

Lei nº 8.906/1994Art. 34. Constitui infração disciplinar:[...]VII - violar, sem justa causa, sigilo profissional.

Lei nº 12.527/2011Art. 22. O disposto nesta Lei não exclui as demais hipóteses legais de sigilo e desegredo de justiça nem as hipóteses de segredo industrial decorrentes da exploraçãodireta de atividade econômica pelo Estado ou por pessoa física ou entidade privadaque tenha qualquer vínculo com o poder público.

09. No entanto, uma vez aceito esse argumento pela CGU, tem-se, no limite da apreciação de

mérito, que “todas as informações em poder dos órgãos de representação judicial [...] poderiam ser

ocultadas dos administrados”, segundo assevera com cabimento a recorrente.

10. Portanto, para uma conclusão mais acurada do caso, faz-se necessário lembrar o contexto no

qual ele está inserido, conforme a recorrida traz à luz:

Ocorre que a apreensão citada envolveu não apenas ações ou valores mobiliários,mas também bens móveis e imóveis, havendo consequências jurídicas para toda umamiríade de situações que foram abordadas no PARECER 07/2015-JBT/DPP/PGU/AGU e que extrapolam, em muito, o caso específico da F.L. Emoutras palavras, aludido Parecer, se mantido pela CGU, redundará em orientação atodas as unidades da PGU no Brasil, motivo pelo qual não pode ser divulgado aadvogados particulares sob pena de vulnerar e comprometer a estratégiacontenciosa da União, visto que o tema "Súditos do Eixo" tem enorme potenciallitigioso. (grifos nossos)

11. Dessa forma, está-se diante de um caso de pedido desarrazoado, conforme previsto no inciso

II, do art. 13, do Decreto nº 7.724/2012, in verbis:

Decreto nº 7.724/2012Art. 13. Não serão atendidos pedidos de acesso à informação:

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[...]II - desproporcionais ou desarrazoados; ou[...] (grifos nossos)

12. A análise da razoabilidade passa pela ponderação das opções disponíveis ao caso concreto,

com o objetivo de atingir a solução mais adequada para o interesse público, ou seja, aquela que

concilia os maiores benefícios com os menores prejuízos possíveis. Márcio Camargo Cunha Filho e

Vítor César Silva Xavier, na obra “Lei de Acesso à Informação: teoria e prática” (Rio de Janeiro:

Lumen Juris, 2014), definem os motivos pelos quais um pedido de acesso à informação desarrazoado

não pode ser atendido, como segue:

A razão pública é a orientação político-jurídica atribuídaconstitucionalmente ao Estado que determina a legitimidade para assuas ações. Dessa forma, o Estado deve pautar a sua conduta, porexemplo, na economicidade, na efetividade, na celeridade, no bem-comum e nos bons costumes. Assim, as ações do Estado devem serordenadas em termos de prioridades e atender aos pedidos de acesso àinformação é apenas um dos diversos deveres constitucionalmenteprevistos. Por isso, um pedido de informações feito ao Estado precisaestar em conformidade com a razão pública, pois, do contrário, oEstado estará proibido de atendê-la, conforme prescrito no inciso II doart. 13 do Decreto 7.724/2012. (p. 344-5)

13. A desarrazoabilidade do pedido formulado pela recorrente, in casu, reside no fato de ser

presumível a criação de diferenças entre as partes litigantes em um futuro e possível processo

judicial, fato que contraria frontalmente o interesse público. Partindo do pressuposto de que o parecer

nº 07/2015 contém informações relativas à estratégia de atuação da AGU em um tema de grande

potencial litigioso, como é o caso do assunto “Súditos do Eixo”, a divulgação do seu conteúdo tende

a comprometer a atuação do órgão de representação judicial da União. Caso isso aconteça, a

vulnerabilidade a que a recorrida fica exposta ultrapassa em muito os liames caso em análise, pois

poderia servir de precedente administrativo a ser utilizado em ulteriores pedidos de acesso à

informação. Tais pedidos poderiam redundar na inviabilidade de formulação de estratégias de

advocacia no âmbito da Administração Pública, fato que inegavelmente contraria o interesse público.

Conclusão

14. De todo o exposto, opina-se pelo conhecimento e, no mérito, pelo desprovimento do

recurso interposto, visto entender tratar-se de pedido desarrazoado.

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GABRIEL CALEFFI ESTIVALETAnalista de Finanças e Controle

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D E C I S Ã O

No exercício das atribuições a mim conferidas pela Portaria n. 1.567, da Controladoria-Geral da

União, de 22 de agosto de 2013, adoto, como fundamento deste ato, o parecer acima, para decidir

pelo desprovimento do recurso interposto, nos termos do art. 23, do Decreto 7.724/2012, no âmbito

do pedido de informação nº 00700.000379/2015-55, direcionado à Advocacia-Geral da União –

AGU.

LUÍS HENRIQUE FANANOuvidor-Geral da União

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PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICAControladoria-Geral da União

Folha de Assinaturas

Referência: PROCESSO nº 00700.000379/2015-55

Documento: PARECER nº 4397 de 18/12/2015

Assunto: Lei de Acesso à Informação

Ouvidor

Assinado Digitalmente em 18/12/2015

GILBERTO WALLER JUNIOR

Signatário(s):

aprovo.

Relação de Despachos:

Assinado Digitalmente em 18/12/2015

Ouvidor

GILBERTO WALLER JUNIOR

Este despacho foi expedido eletronicamente pelo SGI. O código para verificação da autenticidade deste

documento é: 140815fd_8d307d31ce8b5ae