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CETCC- CENTRO DE ESTUDOS EM TERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL Kennedy Gomes Martins A APLICAÇÃO DA TERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL NO TRATAMENTO DE LUTO São Paulo 2015

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CETCC- CENTRO DE ESTUDOS EM TERAPIA COGNITIVO-

COMPORTAMENTAL

Kennedy Gomes Martins

A APLICAÇÃO DA TERAPIA COGNITIVO-

COMPORTAMENTAL NO TRATAMENTO DE LUTO

São Paulo

2015

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KENNEDY GOMES MARTINS

A APLICAÇÃO DA TERAPIA COGNITIVO-

COMPORTAMENTAL NO TRATAMENTO DE LUTO

Trabalho de conclusão de curso lato sensu

Área de concentração: Terapia Cognitivo-Comportamental

Orientadora: Profa. Dra. Renata Trigueirinho Alarcon

Coorientadora: Profa. Msc. Eliana Melcher Martins

São Paulo

2015

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Fica autorizada a reprodução e divulgação deste trabalho, desde que citada a fonte.

Martins, Kennedy G.

A Aplicação da Terapia Cognitivo-Comportamental no Tratamento de Luto.

Kennedy Gomes Martins – São Paulo, 2015.

28f + CD-Rom

Trabalho de Conclusão de Curso (especialização) – Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC).

Orientação: Profa. Dra. Renata Trigueirinho Alarcon

Profa. Msc. Eliana Melcher Martins

1,Terapia Cognitivo-Comportamental. 2. Tratamento de Luto. I. Martins, Kennedy Gomes.

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Kennedy Gomes Martins

A Aplicação da Terapia Cognitivo-Comportamental no

Tratamento de Luto

Monografia apresentada ao Centro de Estudos em Terapia

Cognitivo-Comportamental como parte das exigências para

obtenção do título de Especialista em Terapia Cognitivo-

Comportamental

BANCA EXAMINADORA

Parecer: ____________________________________.

Prof. _______________________________________.

Parecer: _____________________________________.

Prof.________________________________________.

São Paulo SP, __ de ____________ de 2015.

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AGRADECIMENTOS

À Profa. Eliana, ao Élcio, pela oportunidade do conhecimento da Terapia Cognitivo-

Comportamental, através do CETCC, instituição que vem colaborando tanto para o

aperfeiçoamento de inúmeros profissionais no Brasil.

Aos Professores, Supervisores e Orientadora pela dedicação e disposição

constante.

Aos amigos e colegas de curso que compartilharam suas experiências enriquecendo

ainda mais o aprendizado.

Aos familiares que compreenderam a ausência nas horas de convívio.

Aos pacientes que são a razão do nosso esforço e o motivo central da

especialização.

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RESUMO

O tema em desenvolvimento refere-se à Aplicação da Terapia Cognitivo-

Comportamental no tratamento de Luto, verificando a possibilidade de sua

contribuição a esse tipo de evento tão estressor que acomete os envolvidos. Para o

desenvolvimento deste trabalho adotou-se o método da revisão bibliográfica em

literatura ouro e em bases de dados nacionais e internacionais. Através de técnicas

e estratégias adequadas, a TCC mostrou-se eficaz na intervenção a este tipo de

tratamento em dois casos estudados. Contudo, as publicações para a terapêutica do

Luto em TCC são escassas, inexistindo praticamente a comprovação de sua eficácia

num número mais expressivo da população, razão pela qual são sugeridas mais

pesquisas e trabalhos para este tipo de intervenção que tanto dificulta a vida dos

indivíduos enlutados.

Palavras-chave: luto, terapia cognitivo-comportamental, morte.

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ABSTRACT

The present study refers to the application of Cognitive-Behavioral Therapy in Grief

Treatment, ascertaining the possibility of its contribution to such stressor period that

affects those involved. Developing this work, it was adopted literature review in gold

and literature in national and international databases´ method. Through techniques

and strategies, CBT was effective of interference to this type of treatment in two

cases that had been studied. However, it is known the publications for Grief

Treatment in CBT are scarce, practically not existing the evidence for its

effectiveness in a significant population´s number, that is the reason it is suggested

that more research and work for this type of intervention has to be made, which

causes more difficulties to individuals in grief.

Keywords: grief, cognitive behavioral therapy, death.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS

RESUMO

ABSTRACT

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................08

2 OBJETIVO ..............................................................................................................17

3 METODOLOGIA .....................................................................................................18

4 RESULTADO E DISCUSSÃO ................................................................................19

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................31

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................................32

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1) INTRODUÇÃO

Apesar dos avanços tecnológicos e científicos, a morte continua sendo a

causa de muitos sofrimentos para a Humanidade.

Quando a morte vem ceifar uma vida, pode trazer consigo profundas

alterações para os indivíduos envolvidos, gerando, comumente, dores físicas,

emocionais e psicológicas, às vezes insuportáveis (PARKES, 1998).

Por ainda estar envolvida por mistérios e crenças, ela gera dificuldades no ser

humano em lidar com sua finitude. Devido a isso, nega-se a morte de todas as

maneiras possíveis, no entanto, ela insiste em fazer parte do dia-a-dia das pessoas.

A morte invade a vida das criaturas através do diversificado mundo das

comunicações, anunciando a dizimação em forma de guerras, fome, epidemias e

doenças, catástrofes naturais, violências nas metrópoles, acidentes automobilísticos,

aéreos e náuticos, degradação do meio ambiente, e outros. Todavia, quanto mais se

nega a morte, mais ela aparece, como a trazer um desafio à Humanidade (SANTOS,

2007).

Para Ariès (2003), um dos maiores historiadores do tema, não é fácil lidar

com a morte, mas ela espera por todos. Deixar de pensar na morte não a evita, nem

retarda. Pensar nela pode ajudar a aceitá-la e a perceber que ela é uma experiência

tão importante e valiosa quanto qualquer outra.

Segundo Santos (2007), a preocupação humana com relação à morte

antecede ao período da história escrita, com estudos arqueológicos encontrando

evidências de tributo aos mortos com flores em locais de enterro datados da idade

de bronze. Nos egípcios da antiguidade havia um otimismo fundamental perante a

morte, onde se permitia aos membros individuais pensar, sentir e agir em relação à

morte de maneira considerada apropriada e eficiente. Em diversas outras culturas da

Idade Antiga encontra-se uma relação de naturalidade, onde todos participavam e

eram autorizados a expressar os sentimentos pela perda, como na mitologia grega;

nos escritos de Esopo sobre Eros e Psique, Hipnos e Tanatos; nas idealizações de

uma região além-túmulo, denominada Hades; nas descrições de Caronte, o

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barqueiro encarregado de levar a alma dos mortos ao seu destino. Na filosofia

também aparecem as discussões das atitudes gregas em relação à morte.

Apesar de Sócrates nunca ter escrito nada, seu brilhante discípulo Platão

(427-347 A.C) fornece através do Fédon, as últimas palavras de Sócrates, bem

como suas conversações a respeito da morte e do morrer. Sócrates ensinava que a

arte de morrer nada mais era que aceitar a morte como a separação da alma do

corpo. Para o grande filósofo, o medo da morte devia-se ao fato de que ninguém

saberia exatamente o que aconteceria no momento em que chegasse. Reflexionava

que se a pessoa não tivesse mais dúvida do que realmente acontecesse no

momento da morte, este medo ficaria sem fundamento ou sem razão de ser. Para o

eminente filósofo, não havia nada de trágico sobre a morte e as pessoas deveriam

morrer em uma atitude de reverência, agradecimento e paz, com paciência e

aceitação (SANTOS, 2007).

No início da Idade Média, segundo o entendimento de Ariès (2000), a morte

era domada. Os doentes sabiam quando iam morrer, pois não havia hospitais e,

apesar dos conhecimentos precários das ciências médicas, se tinha alguma noção

sobre determinados processos mórbidos. O doente, dessa maneira, ao pressentir

uma doença incurável, chamava os parentes, os amigos íntimos, os conhecidos da

vila para o ritual da despedida. As crianças também participavam desse processo. O

fim da vida não era considerado sinônimo de morte física. A morte era vista como

um sono. Daí a expressão, na atualidade, do “agora ele descansa em paz”.

Entretanto, com a ascensão da Igreja, com o Concílio de Nicéia convocado

por Constantino, começa-se a existir a ideia do julgamento no momento da morte.

Ela passa, então, a ser representada como uma figura desfigurada, pesada, de

horror. O significado da morte passa a ser representado por um esqueleto

segurando uma foice. Vem dessa concepção os dizeres de que a morte “ceifa” uma

vida individual ou coletiva (SANTOS, 2007).

Santos (2007) ainda relata que as transformações na vida cultural e

intelectual foram acompanhadas por mudanças na maneira como as pessoas se

relacionavam com a morte. Com a revolução científica ocorrida nos séculos XV e

XVI e com o Iluminismo, no século XVIII, aparecem os desafios às noções

tradicionais de autoridade e estabelece-se uma ênfase na razão e no intelecto. A

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morte não era mais significada somente no âmbito do sagrado. Com o declínio da

visão religiosa e a ascensão do modelo científico do final do século XVIII e todo o

século XIX, inicia-se a introdução de uma nova forma de morte e morrer que não só

perpetuará como aumentará o medo da morte.

Por volta de 1750, com as primeiras conquistas da Revolução Industrial na

Europa, destaca-se a ascensão de uma poderosa classe burguesa e seus novos

valores sócio-econômicos e morais. Estabelecem-se melhores condições higiênico

sanitárias e de saúde pública; construções de grandes hospitais, equipados com

nova tecnologia desenvolvida pelas pesquisas na área médica. Essas conquistas, no

entanto, repercutirão na maneira de ver e tratar a morte no Ocidente, tornando-a

cada vez mais distante, impessoal e destituída de sentido (SANTOS, 2007).

Um tipo novo de morrer apareceu daí e seguiu-se durante o século XX. A

sociedade expulsa a morte. O indivíduo perde o controle e o poder sobre o seu

morrer e é obrigado a se colocar sob a dependência do ambiente. A morte passa a

ser reprimida, escondida, solitária, assume um sentido de fracasso. Não se passa

mais da maneira antiga, com suavidade, na presença dos entes queridos à beira do

leito de morte, e com a naturalidade que deveria ter. Antes domada, torna-se

selvagem (ARIÈS, 2000).

Como visto, no passado, observam-se muitas formas de perceber a morte.

Hoje a morte é vista como um tabu, envolvida por mistérios, e,

independentemente da forma ou causa, ocorrem frequentes negações sobre esse

tema obscuro e encoberto, um assunto do qual não podemos fugir, pois mais cedo

ou mais tarde vamos nos deparar com essa situação (SANTOS, 2007) e

(COMBINATO e QUEIROZ, 2006).

Dentre os diversos determinantes de sofrimento e alterações psicofísicas que

a morte pode trazer, cabe destacar a forma como ela ocorre, pois acredita-se que

estas influenciam diretamente no enlutado, seja na intensidade, seja na durabilidade

dos sintomas. Kovács (2007) salienta que, quando ocorre a perda devido a alguma

doença de longa duração, ou uma morte natural e esperada, as pessoas têm um

tempo maior para expressarem os sentimentos que acompanham essas perdas,

preparando-se e até se conformando mais rapidamente com a partida do ente

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querido. Os vários sintomas sociais e psíquicos são vivenciados durante o curso da

experiência e são facilitadores da vivência do luto. Em outros casos, com perdas

súbitas, o processo de elaboração do luto se torna mais complexo, pois surge o

elemento surpresa, gerando maiores dificuldades e sofrimento.

Literalmente, segundo o Dicionário Aurélio, o luto é um sentimento de pesar

ou tristeza pela morte de alguém; tristeza profunda causada por grande calamidade;

dor, mágoa, aflição.

Kovács (2007) define o luto como um processo de elaboração diante de uma

perda de uma pessoa com quem vínculos foram estabelecidos. É a vivência da

morte de forma consciente. Ele faz parte naturalmente de nossa existência

caracterizando-nos como humanos. É quando a ligação se desfaz de forma

irreversível, quando se trata de morte concreta, e, às vezes, o sentimento de perda é

mais sofrido do que a própria morte.

Kübler-Ross (1997), uma das principais referências no assunto, propõe cinco

estágios para a efetivação do luto: a negação e o isolamento, a raiva, a barganha, a

depressão e a aceitação.

No primeiro estágio, a negação e o isolamento funcionam como um

mecanismo de defesa temporário que alivia o impacto da notícia, onde a pessoa

recusa-se a confrontar-se com a situação. Embora seja o primeiro, pode aparecer

em outros momentos.

No segundo estágio, a raiva, é o momento onde as pessoas externalizam a

revolta que estão sentindo. Tornam-se agressivos por vezes. Buscam um culpado e

têm início vários questionamentos, com a intenção de aliviar o grande sofrimento e

revolta pela perda.

No terceiro estágio, a barganha, é uma tentativa de negociar, geralmente com

Deus ou mesmo com os profissionais de saúde que a acompanham, no intuito de

adiar os temores diante da situação.

No quarto estágio, a depressão aparece em duas características: reativa e

preparatória. A depressão reativa ocorre quando surgem outras perdas devido à

perda por morte. Por exemplo, além de perder o ente querido, perde o emprego, e,

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consequentemente, tem uma falência financeira. A depressão preparatória é o

momento em que começa a aceitação. A pessoa fica mais quieta, reflexiva,

processando a experiência vivida.

E, por fim, o quinto estágio que é a aceitação. Quando alcança esse estágio,

a pessoa encontra-se mais serena diante da situação de morte. Consegue expressar

de forma mais clara e organizada seus sentimentos, emoções, frustrações e

dificuldades.

Para Parkes (1998), outro pesquisador sobre o tema, define o processo do

luto também em cinco estágios: alarme, torpor, procura, depressão e

recuperação/organização.

A primeira fase, o alarme, caracteriza-se pelo estresse causado pela morte,

gerando reações fisiológicas, como aumento da pressão arterial e frequência

cardíaca.

A fase seguinte é o torpor, onde o sujeito tenta proteger-se do desespero

agudo, aparentando estar afetado apenas superficialmente.

Na fase da procura, como na própria acepção da palavra, ocorre uma busca

pelo ser perdido.

A fase da depressão é caracterizada pela desesperança em relação ao futuro

e pelo isolamento social.

Na fase de recuperação e organização, o indivíduo passa por adaptações a

sua vida e consegue considerar a continuidade de sua existência.

Ainda quanto à elaboração das perdas, Bowlby (1998), divide o processo do

luto em quatro fases: o entorpecimento, o anseio, a desorganização e o desespero,

e, a reorganização.

Na primeira fase, o entorpecimento, a pessoa passa por uma sensação de

choque e negação da realidade, tentando defender-se por algumas horas.

A segunda fase, o anseio, é caracterizada pela busca do ser perdido que

pode durar meses e anos. É comum o enlutado ver sinais da pessoa falecida em

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tudo. Ele escuta a voz do morto o chamando, sente o cheiro, sonha muito

frequentemente, escuta passos e tem a impressão de que o morto está presente.

A terceira fase é a desorganização e desespero, o momento de

enfrentamento da realidade, o que é muito difícil, onde é comum surgirem

sentimentos de raiva, tristeza e desesperança.

E a quarta fase é a reorganização. Surge o momento da pessoa ressignificar

a vida, adotando novos papéis.

Em qualquer dos modelos adotados, é preciso ressaltar que as fases do luto

têm finalidade apenas didática, não apresentando uma sequência fixa e nem todas

as pessoas passam por todas elas.

Kovács (1996) salienta, no entanto, que a identificação dessas fases no

paciente é importante, pois de acordo com a fase em que se encontra, o sujeito

apresentará necessidades específicas, que deverão ser compreendidas e atendidas

adequadamente.

Parkes (1998) menciona alterações no curso do processo do luto,

apresentando os seguintes tipos complicados: crônico, adiado e inibido.

No Luto Crônico há um prolongamento de forma indefinida no processo,

possivelmente mais presente em relações com forte conteúdo de dependência.

O Luto Adiado caracteriza-se quando a pessoa não entra em contato com a

perda, não consegue expressar os seus sentimentos, e não procede à elaboração.

No Luto Inibido, como o próprio nome diz, a expressão do luto está inibida e

seus sinais estão ausentes.

Um outro tipo de luto é o Antecipatório, que Kovács (2007) define quando

ocorre antes da morte. O sujeito elabora a perda durante o processo de morrer,

assim, quando a morte propriamente dita ocorre, o trabalho do luto já foi elaborado.

Acontece, geralmente, em situações de longo adoecimento.

O processo do luto evoca sentimentos fortes e, por vezes, ambivalentes

necessitando de tempo e espaço para sua elaboração. A ocorrência da perda de

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uma pessoa significativa tem uma potencialidade intensa de desorganização

(KOVÁCS, 1992).

Pode, inclusive, interferir a ponto de incapacitar a pessoa de ressolucionar

esse problema, levando o indivíduo a desenvolver um funcionamento disfuncional

como resposta à perda para um tipo de luto complicado, causando desconforto,

alterando funções, aumentando níveis de ansiedade (PARKER, 1998)

Nesse sentido, o modelo da Terapia Cognitivo-Comportamental traz em sua

estrutura teórica e prática uma variedade de técnicas e estratégias que podem

auxiliar o manejo do luto.

Para Wright; Basco e Thase (2008) a Terapia Cognitivo-Comportamental –

TCC, é uma abordagem que se baseia em dois princípios centrais: o primeiro é que

as cognições têm uma supremacia sobre as emoções e os comportamentos, com

características de controle, e, o segundo, é um reverso, onde o comportamento ou a

forma de agir, pode afetar profundamente os padrões de pensamento e as emoções.

Os autores acima esclarecem que, os antigos filósofos estóicos como Cícero,

Sêneca já falavam desses elementos cognitivos antes da introdução da TCC.

Epicteto dizia que, “os homens não se perturbam pelas coisas que acontecem, mas

sim pelas opiniões sobre as coisas” (ARRIANO,org.2007). Zoroastro, filósofo persa,

tinha em seus princípios: pensar bem, agir bem e falar bem. O budismo considerava

que a cognição determinava o comportamento humano. Dalai Lama (2006) relata

que “se pudermos reorientar nossos pensamentos e emoções e reorganizar nosso

comportamento, então poderemos não só aprender a lidar com o sofrimento mais

facilmente, mas, sobretudo e em primeiro lugar, evitar que muito dele surja”.

Filósofos europeus, durante o século XIX e XX, como Kant, Heidegger, Jaspers

continuaram nesses princípios de que um pensamento saudável pode reduzir a

angústia ou dar maior sensação de bem-estar. Frankl (1992), psiquiatra austríaco,

aprisionado pelos nazistas no campo de Auschwitz, afirmou que o indivíduo ao dar

um sentido à vida, ajuda a servir como um antídoto para o desespero e a desilusão.

Beck (2013) relata que inicialmente Dr. Beck, seu pai, trabalhava para trazer

uma demonstração mais efetiva da psicanálise para a medicina. Tinha em seu

conceito que a depressão era mantida pelo modelo da raiva retroflexa (hostilidade

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voltada a si mesmo). Porém, em suas pesquisas percebeu que a causa dos

sintomas da depressão (sentimentos e emoções) eram originados pela cognição

distorcida da realidade, e que nos pensamentos de seus pacientes sempre surgiam

um viés negativo sobre si, os outros e o mundo. Passou, então, a tratá-los através

de uma reestruturação cognitiva, obtendo bons resultados, inclusive iguais aos

pacientes com o uso da medicação. Dois anos depois, em 1979, junto com outros

colaboradores sistematizou o modelo da Terapia Cognitivo-Comportamental,

publicando o primeiro manual de TCC-Terapia Cognitivo-Comportamental.

Muitos teóricos também contribuíram para o desenvolvimento da TCC, como

Karen Horney, Alfred Adler, George Kelly, Albert Ellis, Richard Lazarus, Albert

Bandura e vários outros.

O modelo cognitivo propõe que o pensamento disfuncional influencia o humor

e o comportamento do indivíduo e está presente em todos os transtornos

psicológicos. Quando as pessoas aprendem a avaliar seu pensamento de forma

mais realista e adaptativa, elas obtêm uma melhora em seu estado emocional e no

seu comportamento (BECK, 2013).

O modelo cognitivo pressupõe, portanto, que as emoções, os

comportamentos e a fisiologia de uma pessoa são influenciados pelas percepções

que ela tem dos eventos. Não é a situação em si que determina o que a pessoa vai

sentir. É como ela interpreta ou significa a situação (BECK, 2013).

O tratamento em TCC está baseado em uma conceituação ou compreensão

de cada paciente, identificando suas crenças específicas e padrões de

comportamento. Para que haja uma efetiva e duradoura melhora no humor e no

comportamento do paciente, o terapeuta cognitivo trabalha num nível mais profundo

de cognições: as crenças básicas do paciente sobre si mesmo, seu mundo e as

outras pessoas, a chamada tríade cognitiva. A modificação dessas crenças

disfuncionais subjacentes é que produz as mudanças mais perenes. Essas crenças

são construídas desde a infância, através das experiências que o indivíduo vai

vivenciando e compondo significados sobre si mesmo, sobre os outros, sobre o

mundo (BECK, 2013).

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As crenças mais centrais ou crenças nucleares são tão primordiais, relevantes

e profundas que geralmente o indivíduo nem reflete ou avalia para si mesmo. A

pessoa considera essas ideias como verdades absolutas. É como as coisas são. Por

exemplo: “Eu sou um fracasso”, “Eu sou incapaz de ser amado”, “Eu sempre sou

abandonado” (BECK, 2013).

Beck, et al. (1997) ressaltam que reavaliando e corrigindo seu pensamento, o

paciente aprende a dominar problemas e situações que ele previamente considerou

insuperáveis.

Rangé (1998) enfatiza que a TCC é uma abordagem ativa, diretiva e

estruturada usada no tratamento de uma variedade de problemas psiquiátricos,

fundamentada no modelo cognitivo e caracteriza-se pela aplicação de uma

variedade de procedimentos clínicos como introspecção, insight, teste de realidade e

aprendizagem visando aperfeiçoar discriminações e corrigir concepções

equivocadas que se supõe basearem comportamentos, sentimentos e atitudes

perturbadas. Essa terapia tem se mostrado efetiva no tratamento de inúmeros

problemas por tratar-se de um procedimento breve, efetivo dentro de seus limites,

objetivo, sistemático, de aprendizado relativamente simples, verificável e que, por

tudo isso, pode ser de grande utilidade.

Quando acontece a morte de uma pessoa com quem se construiu um vínculo

afetivo, tende a causar inúmeras intercorrências na vida do indivíduo, gerando, em

muitas situações, grandes alterações e sofrimentos em seus funcionamentos

cognitivos, emocionais e comportamentais. Por esse motivo, esse trabalho busca

avaliar a aplicação da terapia cognitivo comportamental para o tratamento de

enlutados.

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2) OBJETIVO

O objetivo deste trabalho foi investigar a aplicação da Terapia Cognitivo-

Comportamental para o tratamento de luto, através de revisão bibliográfica,

verificando a possibilidade de sua contribuição para este tipo de evento tão estressor

e angustiante, que é a perda de uma pessoa querida.

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3) METODOLOGIA

Trata-se de um trabalho de revisão bibliográfica de publicações impressas e

disponíveis online.

Foram selecionados todos os trabalhos de aplicação da Terapia Cognitivo-

Comportamental para o tratamento de luto, através de pesquisas nas bases de

dados LILACS, IBECS, MEDLINE, SciELO, PubMed, Google Acadêmico, PsycInfo,

Bireme/BVS, utilizando-se das palavras-chave: luto, terapia cognitivo

comportamental, morte, bereaved, bereavement, mourning, cognite behavioral

therapy, death, assim como pesquisas na Literatura Ouro.

Critérios de inclusão: todos os trabalhos que envolveram pesquisa com

terapia cognitivo-comportamental em enlutados.

Critérios de exclusão: trabalhos que não abordaram o tema em seu escopo.

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4) RESULTADO E DISCUSSÃO

Foram encontrados nas bases de dados citadas, quatro artigos sobre a

utilização da Terapia Cognitivo-Comportamental no tratamento de luto, e, um na

Literatura Ouro, sendo dois artigos de intervenção/aplicação de protocolo de

atendimento (SILVA; NARDI, 2010) e (SILVA; NARDI, 2011); e, dois de

revisão/reflexão bibliográfica (BOTH; ALVES; PEREIRA, 2012) e (BASSO; WAINER,

2011), e, um capítulo na Literatura Ouro apresentando um protocolo de atendimento

padronizado, dividido em 12 sessões (SILVA; RANGÉ; NARDI, 2011).

Inicialmente, em todos os estudos analisados, os achados em comum

apresentados nos trabalhos, referem-se ao quadro clínico do indivíduo enlutado. A

perda de um ente querido é um fator gerador de muito estresse. Se não for

elaborada de uma forma funcional, pode trazer inúmeras repercussões na vida de

um indivíduo. Salientam que o luto apresenta sinais e sintomas específicos, tanto

emocionais quanto cognitivos e comportamentais (SILVA; NARDI, 2010; SILVA;

NARDI, 2011; BOTH; ALVES; PEREIRA, 2012 e BASSO; WAINER, 2011). Os

principais são:

Sentimentos: tristeza, raiva, culpa e autorrecriminação, ansiedade, solidão,

fadiga, choque, anseio pela presença do outro, emancipação, alívio,

estarrecimento, desamparo.

Cognições: descrença, confusão, preocupação, sensação de presença,

alucinações, considerando que as cognições negativas desempenham papel

importante no desenvolvimento das questões emocionais no processo do luto.

Comportamentos: transtornos do sono, transtornos do apetite, comportamento

aéreo, isolamento social, sonhos com a pessoa morta, passeio a lugares que

lembrem a pessoa morta, portar objetos que pertenciam a ela, choro,

hiperatividade.

Físicos: vazio no estômago, aperto no peito, nó na garganta, falta de ar,

fraqueza muscular, boca seca, falta de energia, hipersensibilidade ao barulho,

sensação de despersonalização.

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Os autores evidenciam, nesse sentido, o cuidado especial com a elaboração

de um diagnóstico diferencial entre luto e quadros depressivos. No luto, esses

sintomas são reconhecidos como apropriados às circunstâncias, enquanto nos

pacientes deprimidos eles causam prejuízo funcional prolongado e são

vinculados a crenças disfuncionais (SILVA & NARDI, 2010). Enquanto no luto os

sintomas tendem a diminuir com o passar do tempo, na depressão eles podem

piorar. (SILVA; RANGÉ & NARDI, 2011).

As pesquisas revelaram que é frequente a busca por serviços de emergência

médica por pessoas que sofreram perdas recentes. Pacientes enlutados tendem a

uma maior necessidade de atendimento médico do que a população geral, um maior

número de internações e maior vulnerabilidade a problemas psicossomáticos (SILVA

& NARDI, 2010).

Os postulados da TCC apontam que ao longo de nossas vidas são

construídas e adquiridas cognições sobre si mesmo, sobre o mundo e sobre o

futuro, e não ser raro as pessoas tenderem a fazer interpretações errôneas acerca

das situações. Através desses erros de pensamento, acaba-se proporcionando

sofrimentos emocionais, físicos e psicológicos. A situação da perda de um ente

querido pode ser situação ativadora dessas crenças disfuncionais.

As crenças a respeito da perda de um ente querido serão ativadas e

processadas pelo entendimento que o indivíduo tem em relação à morte, ou seja, a

reação dependerá do estilo de enfrentamento e dos padrões anteriormente

aprendidos e internalizados, interferindo e refletindo, principalmente, na alteração

emocional e comportamental, devido aos erros do pensamento. Segundo, Beck

(2013), e, Whight; Basco e Thase (2008), os principais são:

PENSAMENTO ABSOLUTISTA OU DICOTÔMICO (Tudo ou Nada,

Polarizado, Branco e Preto) – tudo o que acontece, você interpreta como

totalmente mau ou totalmente bom. Você enxerga uma situação em apenas

duas categorias, em vez de em um continuum.

CATASTROFIZAÇÃO – você prevê negativamente o que vai ocorrer, sem

pensar em outra possibilidade.

ADIVINHAÇÃO – você vê o problema antecipadamente, prevendo o futuro

negativo.

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DESQUALIFICAR O POSITIVO – o resultado positivo que você alcança entra

em conflito com a visão negativa de si mesmo e você desqualifica seu valor.

RACIOCÍNIO EMOCIONAL – você acha que algo deve ser verdade porque

você “sentiu” intensamente, ignorando ou desvalorizando as evidências ao

contrário da lógica e da razão.

ROTULAÇÃO – você coloca em você ou nos outros um rótulo fixo ou global

sem considerar que as evidências possam levar mais razoavelmente a uma

conclusão menos desastrosa.

MAXIMIZAÇÃO/MINIMIZAÇÃO – quando você se avalia ou avalia outra

pessoa ou uma situação, você irracionalmente maximiza o lado negativo e/ou

minimiza o positivo.

FILTRO MENTAL OU ABSTRAÇÃO SELETIVA – você dá uma atenção

indevida a um detalhe negativo em vez de ver a situação como um todo.

LEITURA MENTAL – você acredita que sabe o que os outros estão

pensando, não levando em consideração outras possibilidades muito mais

prováveis.

SUPERGENERALIZAÇÃO – você faz uma conclusão negativa de um

acontecimento isolado e estende para todas as outra áreas de sua vida.

PERSONALIZAÇÃO – você assume a culpa de tudo ou acredita que os

outros estão agindo de forma negativa, por sua causa, sem considerar

explicações mais plausíveis para tais comportamentos.

IMPERATIVOS (“deveria”, “tenho que”) – você tem uma ideia fixa, inflexiva de

como você ou os outros devem se comportar e hipervaloriza o quão ruim será

se essas expectativas não forem correspondidas.

VITIMIZAÇÃO – você considera-se sempre injustiçado ou não entendido. Se

recusa ou tem dificuldade em assumir a sua responsabilidade sobre o que

aconteceu.

INFERÊNCIA ARBITRÁRIA OU VISÃO EM TÚNEL – você sempre faz

conclusões negativas de uma situação, sem ter nenhuma evidência concreta.

Verificou-se no processo de luto a importância dos processos cognitivos.

Pensamentos voltados para a perda e o luto pode dificultar a adaptação, assim

como ficar ruminando a ideia da perda, fixando-se aos significados angustiantes.

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Essa atitude dificulta a adaptação, levando a quadros de depressão alguns meses

depois da perda.

Quanto ao período mais propício para prevenção de episódios depressivos

após o luto, os estudos de SILVA & NARDI (2010) e (2011) apontam para aquele

próximo à ocorrência da morte. Desse modo, os pacientes que tiverem iniciado o

acompanhamento terapêutico logo após o episódio podem ter um benefício maior,

embora novos estudos serão necessários para avaliar a real influência do período

transcorrido após a perda na eficácia terapêutica, não apenas em relação à

prevenção de episódios depressivos, mas também em relação a outros sinais e

sintomas do luto.

Os trabalhos de Basso e Nardi (2011), e de Both et al. (2012), convergem

para um entendimento de que a Terapia Cognitivo-Comportamental deve minimizar

os efeitos emocionais causados pela perda de um ente querido, observando o seu

funcionamento disfuncional e as alterações cognitivas e comportamentais, a fim de

possibilitar o desenvolvimento de readequação do enlutado. A meta da terapia é a

de servir como uma facilitadora no processo de readaptação do indivíduo. A melhor

abordagem a esses pacientes deverá se dar de forma empática, entendendo o

momento que o indivíduo vive, identificando recursos disponíveis e avaliando as

principais preocupações do paciente. Num primeiro momento é importante a

definição das principais preocupações do paciente. O que está passando pela sua

cabeça, como está interpretando a situação. Em seguida, prioriza-se a preocupação

hierarquicamente em níveis de incômodo, e, posteriormente, aborda-se cada uma,

levando em consideração também a rede de apoio social do paciente para auxiliá-lo

na tomada de decisões, pois possivelmente o enlutado encontra-se em estados

psicológico e emocional prejudicados.

Enfatizam que o terapeuta deve estimular a autoeficácia do enlutado, para

que ele tenha conhecimento das suas capacidades estratégicas e condições para

lidar com esse momento difícil (BASSO & NARDI, 2011;BOTH et.al.,2012).

Os artigos sugerem algumas estratégias essenciais para ajudar o enlutado a

produzir uma resposta saudável, utilizando mecanismos e comportamentos que

possam ser aprendidos ou modificados. Enfatizam que tanto as estratégias quanto

as técnicas terapêuticas, foram listadas aleatoriamente, e não exigem,

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necessariamente, uma ordem específica, pois isso tende a variar de acordo com

cada paciente. Basso & Wainer (2011) propõem as seguintes estratégias

terapêuticas:

a) RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS – é usada para avaliar como e o que o

enlutado está priorizando. Nesse momento, busca-se a melhora na habilidade

de ressolucionar problemas, maximizando o que está funcional e diminuindo a

complexidade dos mesmos (NEZU & NEZU, 1999). É importante que o

paciente consiga verificar a existência de distorções cognitivas que

impossibilitam a busca e a tentativa de alternativas saudáveis. Ainda, é

fundamental a construção de estratégias e recursos que podem facilitar e

auxiliar no enfrentamento da situação problemática: “Será que não haveria

outras formas de lidar com essa situação?”; “Que empecilhos podemos

encontrar?”; “Haveria algum recurso disponível que pudesse nos auxiliar

nesse momento?” (NEZU & NEZU, 1999).

b) AUTOMONITORAMENTO – aumentar a capacidade de metacognição, com

intuito de o paciente perceber como pensa e passa a ter sentimentos e

comportamentos devido às crenças. Recomenda-se que, diante de uma

situação aversiva, o paciente identifique o que está fazendo, pensando,

sentindo. É o pensar sobre o pensamento. “Desde quando fulano faleceu, as

pessoas não me procuram mais. Se esse pensamento fosse verdade, como

me sentiria?” (FLAVELL, 1979)

c) TREINO DE HABILIDADES SOCIAIS – aumentar e ensinar novas

habilidades cognitivas como o automonitoramento, habilidades verbais e,

principalmente, comportamentais, para que o enlutado consiga perceber e

lidar melhor com o ambiente (CABALLO, 1999). Neste caso, recomenda-se

que possam ser listadas algumas situações em que o paciente apresenta

dificuldades para resolver. Na maioria das vezes, os pacientes enlutados

encontram-se deprimidos e tendem a antecipar sentimentos negativos, bem

como avaliam erroneamente o grau de dificuldade. Diante das situações

listadas e por meio de um ensaio comportamental, avalia-se como o paciente

se comportaria em determinada situação, e juntos, paciente e terapeuta,

treinam uma resposta adaptativa: “Já que treinamos em sessão, o que você

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acha de tentar aplicar nas situações que, num primeiro momento, você

consideraria embaraçosas?”; “O que aconteceria se você tentasse?”

d) ESTRATÉGIAS DE COPING – o conjunto das estratégias utilizadas pelas

pessoas para adaptarem-se a circunstâncias adversas, ou seja, uma resposta

cognitiva e comportamental ao estresse, com objetivo de suavizar

características aversivas. É preciso que os pacientes busquem novas

estratégias de enfrentamento, frente às anteriormente internalizadas. Indica-

se o levantamento de outros eventos adversos na vida dos enlutados e quais

estratégias foram úteis para amenizar os sintomas gerados: “Quando você se

encontrou numa situação difícil, como você lidou com ela?”; “Se uma pessoa

amiga estivesse na mesma situação na qual você se encontra, que conselho

daria a ela?” (LISBOA et.al., 2005)

e) REESTRUTURAÇÃO COGNITIVA – numa colaboração entre paciente e

terapeuta, identifica-se pensamentos irracionais e catastróficos, exame das

evidências favoráveis e contrárias aos pensamentos distorcidos, a fim de

avaliar e perceber outros pensamentos mais adaptativos (BECK, 1997).

Nesse momento, pode ser usado o modelo A-B-C (A-situação, B-pensamento,

C-consequência) para auxiliar o paciente a identificar a situação perturbadora

e o pensamento automático: “O que aconteceu para eu me sentir assim?”; “O

que passou pela minha cabeça?”. Identificado esse pensamento, o segundo

passo é avaliar a veracidade desse pensamento: “Que evidências eu tenho

para comprovar esse pensamento?”; “Esse pensamento é realista?”. Num

último momento, orienta-se o paciente a desafiar e substituir o pensamento

por afirmações mais racionais: “Qual vantagem tenho em manter esse

pensamento irracional?”; “Qual seria o pensamento saudável nessa

situação?”

f) PREVENÇÃO E RECAÍDA – psicoeducar o enlutado quanto ao seu

funcionamento, suas dificuldades e também sua autoeficácia (BECK, et al.,

1997). No decorrer do processo psicoterapêutico, foi lhe orientado a utilizar

estratégias e habilidades para lidar de maneira eficaz com o problema

percebido. Ao se deparar com outras situações, terá recursos para enfrentar

possíveis problemas: “Quais os primeiros indícios de um evento adverso?”;

“Que situações são consideradas como situação de risco?”; “Que estratégias

disponíveis me auxiliariam neste momento?” (BECK, et al.,1997).

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g) MOTIVAÇÃO – indivíduos sem motivação não conseguirão obter êxito no

processo terapêutico. Uma forma de o terapeuta trabalhar a motivação e o

vínculo do paciente seria mantendo as emoções em equilíbrio. Dessa forma,

o enlutado é encorajado a desenvolver resolução dos seus problemas de

acordo com as suas próprias habilidades. A motivação consiste em um

conjunto operacional de mecanismos biopsicossociais que estimulam

determinada ação, podendo servir para alcançar objetivos ou fugir de algo

incômodo. Sendo assim, quanto mais motivado o indivíduo, mais resultado

positivo a terapia irá produzir, pois as ações desenvolvem comportamentos

de acordo com a estimulação do paciente por parte do terapeuta (LIEURY;

FENOUILLET, 2000)

Basso & Wainer (2011) propõe também algumas técnicas para auxiliar no

processo terapêutico do luto, partindo do pressuposto de que é a maneira como

o indivíduo interpreta uma situação que faz com que ele tenha sentimentos e

emoções, por diversas vezes, desagradáveis e causadoras de sofrimento. As

técnicas irão servir como instrumento para identificar esses pensamentos

disfuncionais, que geram interpretações catastróficas e errôneas. As principais

técnicas que se reportam ao processo terapêutico do luto são:

a) PSICOEDUCAÇÃO – momento em que o terapeuta explica ao paciente o

modelo da terapia e também o funcionamento disfuncional do paciente,

para promover a compreensão deste perante a perda sofrida (BECK,

2013).

b) REGISTRO DE PENSAMENTO DISFUNCIONAIS (RPD) – o RPD é um

instrumento bastante utilizado para verificar quais pensamentos passaram

pela mente do paciente diante de uma determinada situação, e, a partir

desses pensamentos, pode-se utilizar outra técnica, a flecha descendente

para encontrar as crenças centrais que geraram tais emoções e

comportamentos ao paciente (BECK, 1997).

c) ROLE-PLAY – é a simulação de um evento em que o paciente e terapeuta

identificam qual pensamento ocorreu naquele certo momento, para

promover formas de manejo e enfrentamento mais funcionais. O paciente

dramatiza o que diria para alguém que estivesse na mesma situação e o

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mesmo problema que ele, tentando mostrar a disfuncionabilidade da

crença da pessoa (BECK, 1997).

d) DESCOBERTA GUIADA – esta técnica busca descobrir significados mais

profundos com base na informação dada pelo paciente. O que ele atribui,

pensa e entende perante uma situação. Perguntas como: “O que significa

isso para você?”. “Se isso fosse verdade, o que quer dizer de você?” são

utilizadas para evocar as crenças centrais (BECK, 1997).

e) DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA – paciente e terapeuta

hierarquizam quais situações são mais ansiogênicas ao paciente, e,

gradativamente, do menor ao maior evento ansiogênico, há a confrontação

deste com a finalidade de dessensibilização (RALPH, 1999).

Basso & Wainer (2011) referem-se a um outro tipo dentre as psicoterapias

cognitivo-comportamentais no tratamento do luto, a Terapia do Esquema.

Esquemas são as maneiras habituais por meio das quais o indivíduo vê as

coisas. Por exemplo, a depressão caracteriza-se por esquemas relacionados à

perda, privação e fracasso; a ansiedade é caracterizada por esquemas relacionados

a ameaça ou medo de fracasso; e a raiva caracteriza-se por esquemas relacionados

a insulto, humilhação ou violação de regras. Pesquisas sobre personalidade indicam

que as pessoas diferem nos temas subjacentes à depressão, ansiedade ou raiva. Se

o indivíduo tem um esquema sobre uma questão específica, pode tentar compensar

essa vulnerabilidade. Por exemplo, se a pessoa tem um esquema de fracasso, pode

trabalhar excessivamente, tentando compensar a percepção de que pode acabar

sendo inferior ou não ter um desempenho à altura de seus padrões de perfeição. Se

o esquema é de abandono, o indivíduo pode compensá-lo dedicando todo o seu

tempo a uma outra pessoa. Ou, pode constantemente buscar reasseguramento junto

a outro de forma a sentir-se seguro, mas não se sente bem, continuando a ver sinais

de que pode ser abandonado. Dessa forma, tentar compensar os esquemas

subjacentes pode criar problemas adicionais (LEAHY, 2006).

Outro processo que cria problemas é a esquiva do esquema. Isto significa que

a pessoa tenta evitar o enfrentamento de quaisquer questões que toquem seu

esquema. Por exemplo, um indivíduo tem um esquema de fracasso. Sua ideia é de

que deve ser realmente incompetente. Uma maneira pela qual pode evitar testar

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esse esquema é nunca encarar tarefas ou situações desafiadoras ou abandona

rapidamente as tarefas. Outra forma pela qual as pessoas evitam os esquemas é

por intermédio de fuga emocional com o uso de substâncias ou comportamentos

extremos, como beber muito, usar drogas para aliviar seus sentimentos, comer

compulsivamente ou mesmo atuar sexualmente. O indivíduo sente que lidar com os

pensamentos e sentimentos é tão doloroso que precisa evitá-los ou fugir deles com

esses comportamentos que viciam. Tais comportamentos escamoteiam seus medos,

e, assim, seus sentimentos ruins retornam novamente. Esses esquemas negativos

ou disfuncionais vão sendo construídos desde a infância nos relacionamentos com

os pais, irmãos, colegas e parceiros (LEAHY, 2006).

Basso & Wainer (2011), relatam que a maioria das pessoas que passam por

situações de estresse, como a perda de um ente querido, desenvolve respostas de

enfrentamento desadaptativas, ou seja, utilizam-se de estratégias para conseguir

lidar com o evento traumático. Segundo Young, Klosko e Weishaar (2008), em

algum momento os Esquemas Iniciais Disfuncionais latentes, caracterizados por um

conjunto de crenças globais e enraizadas com pressuposições e regras acerca do

mundo, podem ser ativados devido a uma situação, alterando e predominando sobre

humor bem como sobre o comportamento de um indivíduo.

Lutar, fugir, paralisar-se são as principais respostas à ameaça. Nos

esquemas, essas respostas são denominadas de hipercompensação, evitação e

resignação. É através desses processos que os esquemas continuam ativos na vida

psíquica de um indivíduo (YOUNG; KLOSKO; WEISHAAR, 2008).

Diante de uma situação de perda de um ente querido, o indivíduo pode ativar

algumas dessas respostas no intuito de amenizar os sentimentos provocados.

Esquemas de privação emocional, abandono, defectividade, além de

esquemas de inibição emocional, são caracterizados, principalmente, por uma

evitação na expressão de sentimentos e pensamentos. São mecanismos defensivos

que barram emoções desagradáveis ao indivíduo que podem ser encontrados nas

fases do luto, negando ou entorpecendo suas emoções, gerando resposta de

enfrentamento desadaptativa frente à situação de perda por morte (BASSO &

WAINER, 2011).

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Crenças do esquema de abandono também são ativadas, fazendo com que o

enlutado passe a buscar incessantemente pela pessoa que partiu,

hipergeneralizando: “Se perdi o fulano, vou perder as outras pessoas também”. A

barganha também tem relação com a manutenção de um esquema, pois envolve

perdas e ganhos. É o momento em que o indivíduo faz acordos ou negociações com

a intenção de alcançar algo profundamente desejado. Ou tudo ou nada: “Se Deus

não atender meu pedido, não sei o que será de mim” (BASSO & WAINER, 2011).

A personalização aparece quando os indivíduos assumem a culpa pelo fato

ocorrido: “Se eu estivesse lá com ela, não teria morrido”. Além dos sentimentos de

culpa e de revolta, surgem os sentimentos de raiva consigo mesmos. A raiva é

percebida como uma prévia aceitação da realidade, caracterizada por esquemas de

abuso: “Ela não podia ter morrido dessa forma e feito isso comigo” (BASSO &

WAINER, 2011).

Já a depressão, o desespero e a desorganização poderão ser encontrados

quando são ativados os esquemas de dependência/incompetência, de fracasso, de

negativismo/pessimismo e de vulnerabilidade, por não conseguirem enfrentar a

situação sozinhos. Crenças e erros cognitivos poderão manifestar-se, como:

catastrofização, abstração seletiva, pensamento dicotômico: “Eu não conseguirei

suportar a perda da minha filha”; “Minha vida acabou”; “Não sei mais o que fazer;

estou sem rumo”; “Nunca mais vou sair dessa tristeza total” (BASSO & WAINER,

2011).

Essas comparações feitas com o ponto de vista cognitivo revelam a

importância dos esquemas nos pensamentos e nos comportamentos das pessoas

que passaram por perdas de entes queridos.

O impacto gerado por uma perda pode ser tão doloroso que dificulta os

indivíduos a terem uma recuperação saudável. Assim, por meio da Terapia dos

Esquemas e dos erros de pensamento a Terapia Cognitivo-Comportamental vai

poder auxiliar os pacientes enlutados na busca de uma reorganização, alívio e

melhor aceitação da perda do ente querido.

Os artigos de Silva & Nardi (2010) e (2011) apresentaram os resultados de

uma intervenção da Terapia Cognitivo-Comportamental no tratamento de luto, em

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duas pacientes, a partir de um protocolo padronizado de atendimento publicado por

Silva (2009).

Esse protocolo é composto por técnicas tanto cognitivas quanto

comportamentais, que buscou a psicoeducação das pacientes em relação ao

processo de enlutamento, a redução dos sinais e sintomas típicos do luto, a

instrumentalização das pacientes para a reformulação de papéis, considerando a

necessidade de readaptação à vida, e o investimento em novos projetos futuros.

O protocolo é dividido em três meses, com sessões realizadas

semanalmente. No primeiro mês, são fornecidos esclarecimentos quanto ao

processo de luto considerando suas diferentes fases referidas no trabalho de Parker

(1998). O paciente aprende a identificar sinais e sintomas, assim como técnicas para

controle de ansiedade e da depressão em momentos agudos. Recebe treinamento

em mudança de foco. É enfatizado o reconhecimento da realidade da perda, assim

como o compartilhamento dessa experiência. Há a elaboração de um ritual de

despedida, respeitando as crenças e a cultura do paciente. No segundo mês, são

trabalhadas as questões como a resolução de problemas pendentes entre o sujeito e

o ser perdido, criação de uma rede social de apoio, reorganização dentro do sistema

familiar e redistribuição de papéis. O terceiro mês tem o objetivo de propiciar a

readaptação da pessoa à vida cotidiana, organização dos horários de atividades

semanais, considerando a ausência do ser perdido, facilitando o investimento em

novos projetos de vida e novas relações, além da prevenção de recaída (SILVA,

2009).

O progresso das pacientes foi acompanhado ao longo das doze semanas

através dos Inventários Beck (escalas de autorrelato que medem a intensidade de

depressão, ansiedade, desesperança e de suicídio), sendo aplicadas semanalmente

as escalas BDI (Inventário Beck de Depressão) e BAI (Inventário Beck de

Ansiedade). O BHS (Inventário Beck de Desesperança) foi aplicado no início e no

término do protocolo. Outros instrumentos, além dos de Aaron Beck, empregados

também no início e no término, foram AC (Atenção Concentrada), Cambraia (2003),

e, AS (Atenção Sustentada), Sisto (2006); QSG (Questionário de Saúde Geral),

Goldberg (1996), e, ISSL (Inventário de Sintomas de Stress de Lipp), Lipp (2000).

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Nas duas pacientes, a intervenção da Terapia Cognitivo-Comportamental,

mostrou-se eficaz, conforme abaixo, em todos os instrumentos utilizados:

a) Ansiedade – de grave, inicialmente em ambas, passou a moderada e leve.

b) Depressão – de grave a moderado.

c) Desesperança – de moderada para leve.

d) Estresse – em exaustão para resistência (de 95% para 50%).

e) Desejo de morte – (de 100% para 45%) e (de 95% para 20%).

f) Desconfiança em relação ao próprio desempenho – (de 90% para 40%) e

(85% para 35%).

g) Distúrbios do sono – (de 100% para 55%) e (de 95% para 45%).

h) Distúrbios psicossomáticos – (de 95% para 60%) e (de 95% para 55%).

Os resultados da aplicação da Terapia Cognitivo-Comportamental para o

tratamento do luto, nestes dois estudos, demonstraram a utilidade da TCC, tanto na

redução de sintomas físicos quanto psíquicos na elaboração do luto (SILVA &

NARDI, 2010; SILVA & NARDI, 2011).

Na Literatura Ouro, Rangé & Cols.(2011), encontra-se a única publicação de

um protocolo de atendimento ao enlutado no enfoque da TCC, também dividido em

doze sessões realizadas com intervalo de uma semana entre elas. Neste trabalho os

autores apresentam a sistematização do tratamento sessão por sessão com

objetivos, agenda e formulários complementares, demonstrando, didaticamente, sua

aplicação.

Analisando os artigos de intervenção/aplicação de protocolo de atendimento

não encontramos como os autores aplicaram a TCC para chegarem aos resultados

apresentados. Nos artigos de revisão/reflexão bibliográfica depara-se com uma

teoria razoável, porém, desvestida de um protocolo sistematizado para sua

aplicação. No capítulo literário, alcança-se esse protocolo de atendimento

padronizado para o luto, no entanto, desvestido também de uma comprovação em

seu resultado.

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5) CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme o estudo realizado, constata-se que o processo do luto é difícil e

acarreta problemas biopsicossociais e comportamentais nos indivíduos. A dor em

consequência da perda de alguém importante na vida gera desorganização e

confusão no modo de perceber o mundo, as relações e as possibilidades futuras.

De acordo com os pressupostos teóricos da TCC, os comportamentos são

gerados pelos pensamentos, que na maioria das vezes apresentam-se

disfuncionais, desadaptativos, causando sofrimento aos indivíduos, inabilitando e

incapacitando na reorganização de suas vidas numa situação estressora como é a

perda de alguém próximo.

A Terapia Cognitivo-Comportamental por ser breve, estruturada, focal, tende a

ter uma importante contribuição para o alívio dos sintomas gerados pela perda de

um ente querido, mostrando-se efetiva em dois casos apresentados.

Contudo, as publicações nacionais e internacionais, voltadas para a

terapêutica do luto nesta abordagem são escassas tanto na literatura como nas

bases de dados, sendo praticamente ausentes estudos sobre a eficácia da TCC

para o tratamento do luto numa amostragem maior, atingindo uma abrangência mais

dilatada da população.

Neste sentido, sugere-se que novas pesquisas e trabalhos possam ser

realizados, colocando à disposição dos profissionais interessados em TCC e luto

materiais atualizados e imensamente úteis para a ajuda a essas pessoas sofridas

que buscam a psicoterapia como recurso de alívio e de readaptação à vida, como

nessa narrativa tocante: “Eu preciso continuar vivendo, doutor. Minha filha morreu

em plena juventude. Ajude-me para que eu também não morra, embora estando

viva”.

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Termo de Responsabilidade Autoral

Eu Kennedy Gomes Martins, afirmo que o presente trabalho e suas devidas

partes são de minha autoria e que fui devidamente informado da responsabilidade

autoral sobre seu conteúdo.

Responsabilizo-me pela monografia apresentada como Trabalho de

Conclusão de Curso de Especialização em Terapia Cognitivo Comportamental, sob

o título “A Aplicação da Terapia Cognitivo-Comportamental no Tratamento de

Luto”, isentando, mediante o presente termo, o Centro de Estudos em Terapia

Cognitivo-Comportamental (CETCC), meu orientador e coorientador de quaisquer

ônus consequentes de ações atentatórias à "Propriedade Intelectual", por mim

praticadas, assumindo, assim, as responsabilidades civis e criminais decorrentes

das ações realizadas para a confecção da monografia.

São Paulo (SP), 07 de novembro de 2015.

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