cervo, amado luiz. política exterior e relações internacionais do brasil [2003]

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    Poltica exterior e relaesinternacionais do Brasil:

    enfoque paradigmticoAMADO LUIZ CERVO

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    2 AMADO LUIZ CERVO

    Rev. Bras. Polt. Int. 46 (2): 2-22 [2003]* Professor Titular de Relaes Internacionais da Universidade de Braslia. Publicao autorizada peloInstituto Rio Branco.

    Poltica exterior e relaes

    internacionais do Brasil: enfoqueparadigmtico

    AMADO LUIZ CERVO*

    Introduo

    A teoria das relaes internacionais, uma disciplina que j foi consideradanorte-americana, expandiu-se por centros de estudo em todo mundo. Nossaslivrarias exibem manuais que expem escolas de pensamento ou correntes deinterpretao, oriundas de grupos localizados nos mais diversos pases.1Em muitasUniversidades, particularmente no Brasil, ainda se confere lugar privilegiado aosautores norte-americanos. A influncia que deriva sobre a opinio e o modo dever o tema, salutar por um lado, visto haver-se desenvolvido nos Estados Unidosa reflexo mais consistente sobre as relaes internacionais desde a Segunda

    Guerra Mundial, comporta riscos pedaggicos, por outro.Toda teoria envolve uma viso de dentro das relaes internacionais, porqueveicula valores, desgnios e interesses nacionais. Por tal razo, uma teoria alheiapode ser epistemologicamente inadequada para explicar as relaes internacionaisde outro pas e, ainda, ao informar o processo decisrio, pode ser politicamentenociva. Tomemos dois exemplos elementares. Se o choque de civilizaes, comque Samuel Huntington v o mundo posterior Guerra Fria, ou o dilema desegurana, com que R. Jervis interpreta os problemas da paz e da guerra, convmcomo categorias explicativas e inspirao prtica para os acadmicos ou decisores

    norte-americanos, por bvio, no convm aos brasileiros nem como explicaodas relaes internacionais do pas, muito menos como referncias para o processodecisrio2. O conhecimento das relaes internacionais compe o poder comoinstrumento til. Para mentes crticas exerce, conseqentemente, funo preventivadiante de ameaas externas da parte de homens de Estado que tiram inspiraode formulaes introspectivas, derivadas de culturas ou interesses nacionais.

    Essas consideraes comprovam a necessidade que tem cada pas dedestilar teorias alheias e de partir para construes tericas que sejamepistemolgicamente adequadas e socialmente teis. A Amrica Latina delas

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    3POLTICAEXTERIORERELAESINTERNACIONAISDO BRASIL: ENFOQUEPARADIGMTICO

    dispe. Duas so as verses do pensamento latino-americano aplicado s relaesinternacionais: a que expem pensadores voltados para a realidade regional dasrelaes internacionais e a que elaborou-se dentro dos gabinetes dos formuladores

    de polticas e foram historicamente aplicadas.A primeira corrente, raiz dos estudos de Ral Prebisch, envolve o

    pensamento do grupo reunido pela Comisso Econmica para a Amrica Latina(Cepal), desde sua criao ao final da dcada de 1940. Esse grupo inspirouderivaes expressas por Celso Furtado em sua teoria do desenvolvimento e pelosenfoques da dependncia elaborados sobretudo nos anos 1960 e 1970, por Theotoniodos Santos, Ruy Mrio Marini e Fernando Henrique Cardoso entre outros. Opensamento neoliberal irrompeu nos anos 1980 e foi expresso com vigor pela

    comunidade epistmica argentina na dcada seguinte, quando a prpria Cepaladaptou seu modo de ver as relaes internacionais regionais, inventando a versodo regionalismo aberto. A essa altura, contudo, o pensamento cepalino, precursordas verses estruturalistas das teorias do desenvolvimento e da dependncia,tambm operava seu aggiornamento, dando origem correntes neoestruturalistade Osvaldo Sunkel e Ral Bernal-Meza e ao pensamento crtico acerca daglobalizao, exposto nas obras de Mario Rapoport, Roberto Lavagna e AldoFerrer. O componente mental diretor dessa corrente latino-americana foi e continuasendo o estruturalismo. Uma sntese da teoria latino-americana das relaes

    internacionais est sendo preparada por Ral Bernal-Meza3.A segunda corrente do pensamento latino-americano os estudiosos

    deduzem da prtica poltica, ao dela sacar conceitos, por vezes elaborados peloshomens de Estado, por vezes implcitos em sua prxis. A anlise paradigmticaque aplicamos em nossos estudos recentes acerca das relaes internacionais doBrasil e da Amrica Latina revelou-se um mtodo criador de conceitosinstrumentais, cujo conjunto conduz teoria4.

    Nesse texto, expomos, pois, uma reflexo acerca da poltica exterior edas relaes internacionais do Brasil, com o objetivo de elaborar os conceitos quelhes do inteligibilidade orgnica e fornecem, ao mesmo tempo, critrios deavaliao de resultados.

    Componentes de um conceito paradigmtico

    Um paradigma, em cincias humanas e sociais, equivale a uma explanaocompreensiva do real. O uso que dele fazem as cincias exatas e naturais diferente. Nessas ltimas, o paradigma articula em uma teoria uma srie de leis

    cientficas que estabelecem, em princpio, relaes necessrias de causa e efeito.Quando uma lei rejeitada pela experincia, o paradigma cai. Nas cinciashumanas, o paradigma tambm desempenha a superior funo de organizar amatria objeto de observao, porm no apresenta a mesma rigidez cientfica.

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    Esse tido de anlise, nas cincias humanas, restringe-se funo de darinteligibilidade ao objeto, ilumin-lo atravs de conceitos, dar compreenso orgnicaao complexo mundo da vida humana. Em razo dessa versatilidade e flexibilidade,

    no deve o leitor exigir de um paradigma o encaixe de todas as variveis,dependentes, independentes ou intervenientes, na explicao de um tema de estudo.

    A anlise paradigmtica que aplicamos a nosso objeto de estudo, asrelaes internacionais do Brasil, corresponde, antes de tudo, a um mtodo. Temospor fim a construo de conceitos pela via da observao emprica. A histriaconstitui o campo de observao, o laboratrio de experincias sobre as quais nosinclinamos. Coletamos as experincias histricas, da Independncia a nossos dias,em trs nveis, o diplomtico, o poltico e o das relaes internacionais, j que

    nosso mtodo pressupe a articulao dessas trs dimenses da base emprica deobservao.Assim conduzida, a anlise paradigmtica evoca, com efeito, determinados

    pressupostos. Em primeiro plano, por trs de um paradigma, verificamos a existnciade idia de nao que um povo ao menos seus dirigentes faz de si mesmo, aviso que projeta do mundo e o modo como percebe a relao entre esses doiselementos. Tais pressupostos nos levam ao conjunto de valores cultivados, ouseja, identidade cultural, que condiciona os desgnios duradouros da polticaexterior. O paradigma comporta uma cosmoviso, a imagem que uma determinada

    formulao conceitual projeta dos outros povos, naes ou do mundo todo.Em segundo plano, o paradigma comporta percepes de interesse. A

    leitura que os dirigentes fazem dos interesses nacionais sociais, polticos, desegurana, econmicos, culturais modifica-se com a mudana do paradigma.

    Em terceiro plano, o paradigma envolve a elaborao poltica. Nessesentido, condiciona tendncias de mdio ou longo prazos, como tambm explicasuas rupturas. Ou seja, envolve o modo de relacionar o interno ao externo e amanipulao da informao para estabelecer o clculo estratgico e a deciso.

    A anlise paradigmtica converge, enfim, para dois tipos de resultados.Dela se espera, por um lado, o efeito cognitivo, uma vez que o paradigma organizaa matria, sempre complexa, difusa e disparatada quando se trata docomportamento humano, conferindo-lhe o grau possvel de inteligibilidade orgnica.Existe, por outro, o efeito operacional. Um paradigma inclui um modo de proceder,no caso, de fazer poltica exterior ou de controlar as relaes internacionais. Aanlise paradigmtica h de colher as determinaes internas e os condicionamentosexternos, os fins da poltica, o peso da idia de nao a construir e da cosmoviso.Tomado como referencial, o paradigma vigente permite avaliar o desempenho dos

    dirigentes e da sociedade organizada. A produo de um conceito paradigmticopressupe a longa durao, porque sobre ela se aplica naturalmente, no servindo anlise de conjunturas, a no ser a reverso, na medida em que essas conjunturasdo tempo curto nele encontrem sua localizao cognitiva e operacional.

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    5POLTICAEXTERIORERELAESINTERNACIONAISDO BRASIL: ENFOQUEPARADIGMTICO

    Os pases abrigam sempre suas polticas exteriores e seu modelo deinsero internacional dentro de paradigmas. Tomemos exemplos, cujo grau deelaborao no cabe discutir aqui, com a simples finalidade de ilustrar o conceito.

    A Unio Sovitica esteve sob a tentao de mover-se em funo da revoluotransnacional ou do interesse concreto nacional. Os Estados Unidos descobriramseu manifest destiny, como a Frana de De Gaulle seu grand dessein. Durantea segunda metade do sculo XX, observamos os paradigmas globais da GuerraFria e da coexistncia pacfica. O Japo, aps a Segunda Guerra Mundial, situou-se sob o guarda-chuva nuclear norte-americano e construiu sua potncia combase na cooperao econmica regional e na internacionalizao de suas empresas.A China transitou da relao especial com a Unio Sovitica para o confronto, a

    teoria dos trs mundos, dos dois mundos e, enfim, para a realizao de interessesconcretos de seu desenvolvimento. A Argentina de Juan Domingo Pern avanousua Terceira Posio.

    Quando orientaes externas dessa natureza so pesquisadas, utilizando-se o mtodo aqui proposto, podem converter-se conceitualmente em paradigmasde poltica exterior e relaes internacionais dos respectivos pases ou grupo depases.

    As relaes internacionais do Brasil deram origem a quatro paradigmas: oliberal-conservador que se estende do sculo XIX a 1930, o Estado desenvolvimentista,

    entre 1930 e 1989, O Estado normal e o Estado logstico, sendo que os trs ltimoscoexistem e integram o modelo brasileiro de relaes internacionais, de 1990 anossos dias. Identificamos e definimos essas experincias luz dos pressupostosmetodolgicos e epistemolgicos que definimos anteriormente.

    Com o objetivo de elaborar conceitos claros e de poder compar-los entresi, selecionamos para os quatro paradigmas idnticos componentes tericos queaplicamos ao estudo de cada caso, como se fossem critrios de definio.Primeiramente, buscamos as origens do paradigma. Quais as causas, internas eexternas, que se encontram em sua gnese? Que fatores explicam sua continuidadee que outros preparam a transio para novo paradigma? Procedemos, a seguir, identificao de seus parmetros. Julgamos conveniente distinguir dois conjuntosde componentes do paradigma, o bloco mental, composto de ideologia e poltica, eo bloco duro, composto de percepo de interesses nacionais, relaes econmicasinternacionais e impactos sobre a formao nacional.

    O paradigma liberal-conservador do sculo XIX e da Primeira Repblica

    (1810-1930)

    Os estudos de Adam Watson, Hedley Bull e Brunello Vigezzi acerca dasociedade internacional europia do incio do sculo XIX e do sistema internacionaldela decorrente constituem adequado ponto de partida para entender o secular

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    paradigma liberal-conservador implementado pelos pases da Amrica Latina desdesuas independncias5.

    Pela primeira vez na Histria, um sistema internacional de escala global

    estendeu-se sobre o planeta, a partir de valores, princpios e interesses europeus.A sociedade internacional europia vinha sendo erguida na esfera poltica, desdeo congresso de Vesteflia de 1644, homogeneizando instituies, mas foi asuperioridade econmica dos europeus, advinda do avano relativamente aos outrospovos, que acabou por convert-la em sistema internacional universal. Por essarazo, o sistema internacional vigente no sculo XIX, feito de regras de condutapadronizadas, converteu-se em poderoso instrumento de expanso dos interessesdas potncias capitalistas europias.

    Os europeus impuseram periferia do capitalismo, Amrica Latina, aoImprio Otomano e ao continente asitico, em um primeiro momento, fricanegra ao final do sculo, o modo de fazer comrcio, de organizar produo e atmesmo de criar instituies polticas e sociais. Eram os tratados bilaterais de entoo instrumento desse ordenamento jurdico, poltico e econmico. O Brasil firmoucom as potncias capitalistas cerca de duas dezenas deles, entre 1810 e 18286.

    O contedo essencial do modelo de relaes internacionais definido peloseuropeus era a chamada poltica das portas abertas. A periferia no tinha opo,quando firmava tratados: abria seu mercado aos manufaturados europeus e voltava-

    se para atividades primrias. O liberalismo europeu continha apenas uma face,para fora. Os pases europeus somente aceitaro o liberalismo para dentro quandodispuserem de vantagens comparativas intangveis, como o conhecimento, atecnologia e a organizao empresarial. A economia ricardiana, de prevalncia dolivre comrcio, primeiro na periferia e depois no centro, induziu, desse modo, adiviso internacional do trabalho, na qual a periferia, como a Amrica Latina,voltava-se para relaes em que prevaleciam as vantagens comparativas de tiponatural. Centro e periferia submeteram-se, como evidencia a pesquisa dos latino-americanos desde 1950, a funes complementares que reproduziriamsimultaneamente as condies de desenvolvimento e de subdesenvolvimento.

    Os negociadores brasileiros dos tratados da poca da independnciacogitaram em fazer valer os direitos dos plantadores e exportadores de produtosprimrios, mas nem mesmo estes foram aceitos pelos negociadores europeus,cujos mercados admitiam to somente os produtos oriundos da colnia respectiva.Os brasileiros cederam, portando, o mercado de manufaturados, bloqueando amodernizao capitalista interna, em troca de nada. O grupo socialmentehegemnico ir beneficiar-se, com o tempo, desse esquema de intercmbio, quando

    a diplomacia brasileira, a duras penas, abriu mercados para os produtos daagroexportao. Sem isso, o af de consumo de manufaturados por parte dosproprietrios de terras, apesar das baixas tarifas de importao fixadas pelostratados, dificilmente se verificaria.

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    A ideologia que os dirigentes brasileiros esposaram no sculo XIX era oliberalismo de matriz europia. Esse liberalismo estendia-se construo dasinstituies polticas do Estado monrquico e, depois, do republicano, como

    organizao da sociedade, exceo feita ao regime da escravido. O liberalismodeterminava o modo de se organizar a produo, de se fazer o comrcio e deportar-se com o exterior, nos domnios das finanas e do comrcio. A ideologialiberal est presente sobretudo poca da Regncia (1831-1840) quando se moldamas instituies do Estado nacional e se trava a grande polmica em torno dacentralizao e descentralizao do poder. Est presente na dcada de 1840, aoexpirarem os tratados desiguais da poca da Independncia, quando se trava outrodebate acirrado entre livre-cambistas e protecionistas em torno da poltica

    alfandegria e de comrcio exterior. Prevalece durante a segunda metade dosculo XIX e durante a Primeira Repblica na mentalidade do grupo social quedetinha o poder econmico e configurava o poltico.

    As manifestaes polticas da ideologia liberal-conservadora foramcoerentes, sem deixar, contudo, de exibir algumas contradies. A face liberalexplica a assinatura dos tratados desiguais e, depois deles, a poltica aduaneira, ouseja o fato de estabelecer-se o Brasil na condio perifrica de modo permanente.A face conservadora explica o malogrado projeto de industrializao dos anos1840, a determinao de exercer um certo controle sobre o subsistema platino de

    relaes internacionais e a negociao firme das fronteiras do territrio nacional.Subservincia e soberania temperavam a poltica exterior e o modelo de inserointernacional do pas na vigncia do paradigma liberal-conservador, com inclinaoprevalecente da primeira tendncia na esfera econmica e da segunda na esferapoltica e geopoltica.

    O bloco duro das relaes internacionais do pas, da independncia a 1930inclui, como vimos, a percepo dos interesses nacionais, as relaes econmicasinternacionais e os impactos sobre a formao nacional.

    Os liberais-conservadores brasileiros procediam leitura do interessenacional, evocando um conceito de sociedade simples, composta fundamentalmentede dois segmentos: os grandes proprietrios das terras e donos do poder, e o restoda sociedade, fossem escravos, ex-escravos, trabalhadores livres, imigrantes. Umasociedade estabelecida em sua infncia, feita de plantadores e exportadores decaf, acar e outros pequenos produtos da terra, que a nada mais aspirava, nasamargas palavras do senador da Monarquia, Sales Torres Homem. Aquelesdirigentes confundiam, logicamente, o interesse nacional com os prprios interesses,ou seja, os do grupo scio-econmico hegemnico: dispor de mo-de-obra, exportar

    os frutos da lavoura e importar bens de consumo diversificados. A diplomacia daagroexportao, conceito elaborado por Clodoaldo Bueno, no explica toda a polticaexterior do Brasil, mas retrata a essncia da funcionalidade do Estado na reaexterna. Tendo sido apropriado pelas elites sociais, o Estado manobrava um processo

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    decisrio em poltica exterior voltado, primordialmente, quela leitura restrita dointeresse nacional que fazia.

    Compreendemos, assim, o esquema de relaes econmicas internacionais

    a que se submeteu o Brasil durante bem mais de um sculo: exportaes primriase importaes industriais, prestgio externo como convinha a oligarquias dedominao interna e crdito junto praa de Londres para enfrentar eventuaisproblemas de balano de pagamentos.

    Os impactos sobre a formao nacional so bem conhecidos de nossoshistoriadores. Iluso de modernidade em ilhas urbanas de consumo ou fazendasinterioranas e atraso econmico da nao. Os analistas da Cepal elaboraramconceitos tardios acerca do acoplamento dependente centro-periferia que

    alimentava simultaneamente o desenvolvimento e o subdesenvolvimento, como sefossem verso e reverso de idnticos mecanismos. Houve, contudo, homens deEstado e mentes esclarecidas que, desde a poca da Independncia, protestavamcontra o modelo de insero internacional que mantinha o pas margem doprogresso capitalista. Ncia Vilela Luz retratou a luta pela industrializao. Foiintermitente e inglria essa luta, desde o projeto de D. Joo VI em 1808, a reaodo Parlamento, desde 1827, contra os tratados desiguais, o livrinho de Nicolau deArajo Vergueiro sobre a fbrica de ferro de Ipanema, escrito em 1828, a irrupodo pensamento industrialista nos anos 1840, o debate entre industrialistas e liberais

    radicais por ocasio da votao da lei aduaneira, enfim, a revolta de intelectuais,tenentistas, modernistas e outros na dcada de 19207.

    O paradigma do Estado desenvolvimentista entre 1930 e 1989

    Durante os anos da depresso capitalista e no contexto da Segunda GuerraMundial, a Amrica Latina revelou extraordinrio dinamismo econmico que trouxeao mundo moderno os grandes pases como o Brasil, o Mxico e a Argentina.Impactos externos e internos agiam como elementos propulsores da transformao.No caso do Brasil, os de fora foram a queda de importaes e exportaes devida crise econmica dos anos 1930, a disputa pelo mercado e pelo sistema produtivoda parte das potncias capitalistas, a diviso do mundo em blocos e a polticanorte-americana de boa vizinhana de Franklin D. Roosevelt. Por dentro, assistia-se ao despertar de novas foras que requeriam a modernizao. A depresso,paradoxalmente, conduziu os pases capitalistas avanados de regresso aoprotecionismo e a solues nacionalistas e a Amrica Latina a um processo demodernizao.

    Os impulsos internos advinham especialmente dos que criticavam adependncia e o atraso histrico e das demandas de uma sociedade que se haviatransformado. Massas urbanas a requerer emprego e renda, burguesia nacionalvida por oportunidades de negcios, militares a procura de meios com que prover

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    a segurana, intelectuais e polticos de mentalidade revolucionria. Manobrar emmeio diviso do mundo em blocos foi uma possibilidade concreta que perceberamos novos dirigentes, conduzidos ao poder por eleies, como no Mxico e na

    Argentina, ou por uma revoluo, como a de 1930 no Brasil.As condies para a gnese de novo paradigma de relaes internacionais

    estavam assentadas. Os dirigentes rompem com a diplomacia da agroexportaoe conferem nova funcionalidade ao Estado, contando com o apoio do pensamentodiplomtico, da imprensa e da opinio pblica popular.

    A mudana paradigmtica dos anos 1930-40 ocorreu como se fosse ummovimento latino-americano. Traos comuns a diversos pases da regio fornecemos componentes tericos do novo modelo de insero internacional: a) introduzir a

    diplomacia econmica nas negociaes externas; b) promover a indstria por modoa satisfazer s demandas da sociedade; c) transitar da subservincia autonomiadecisria com o fim de realizar ganhos recprocos nas relaes internacionais; d)implementar projeto nacional de desenvolvimento assertivo tendo em vista superardesigualdades entre naes; e) cimentar o todo pelo nacionalismo econmico,imitando a conduta das grandes potncias.

    O paradigma em construo apresenta, pois, um perfil caracterizado portrs componentes: a) conscincia da transio; b) desenvolvimento como vetor dapoltica exterior; c) realismo de conduta. E confere nova funcionalidade ao setorexterno, inventando o modelo de insero internacional: a) realizar interesses deuma sociedade complexa; b) conceber o desenvolvimento como expanso daindstria; c) prover de eficincia a poltica exterior mediante autonomia decisria,cooperao externa, poltica de comrcio exterior flexvel e no doutrinria,subordinao da poltica de segurana, da guerra e da paz, aos fins econmicos enegociao simultnea com os grandes e os vizinhos.

    Embora tenham sido lanados e definidos com bastante clareza durante adepresso capitalista e a Segunda Guerra Mundial, os parmetros do paradigma

    desenvolvimentista seriam depurados e aperfeioados nas dcadas seguintes,integrando, assim, o modelo de insero internacional para o pas por um perodode sessenta anos. Expomos, a seguir, essa evoluo para a maturidade.

    O bloco mental do paradigma desenvolvimentista compe-se de uma varivelideolgica e outra poltica. Irrompeu, por certo, na Amrica Latina, e com maiorfora no Brasil, a ideologia desenvolvimentista, que penetrou a opinio pblica,a vida poltica e os estudos scio-econmicos, entre os anos 1950 e 1980. Oshomens de Estado mais contaminados por essa ideologia foram Getlio Vargas,

    Juscelino Kubitschek e Ernesto Geisel. Entre os intelectuais construtores dodesenvolvimentismo figuram Ral Prebisch, Celso Furtado, Aldo Ferrer, Theotoniodos Santos, Ruy Mauro Marini, Roberto Lavagna, Mario Rapoport, Ral Bernal-Meza, Osvaldo Sunkel.

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    A vertente desenvolvimentista desse pensamento latino evoluiu, desde asformulaes do grupo da Cepal, que elaborou nos anos 1950 uma teoriaoriginalmente inspirada na prtica poltica de Vargas, entre 1930 e 1945. Dos

    conceitos originais de Prebisch centro-periferia, indstria, mercado interno, rendasalarial, deteriorao dos termos de troca teoria do desenvolvimento de CelsoFurtado, que insiste sobre o componente da desigualdade tecnolgica, a correntechega aos enfoques dependentistas dos anos 1960 e 1970, que aprofundam oestudo da relao entre dominao e dependncia, por meio da anlise estrutural.Tudo ser referido ao conceito de poder nas relaes internacionais por OsvaldoSunkel e, por Ferrer, estratgia de conduzir-se por vantagens comparativas naturais(Amrica Latina) ou intangveis (pases desenvolvidos).

    A teoria latino-americana das relaes internacionais, na expresso deBernal-Meza, comporta, em nosso entender, como elementos ideolgicos, alm dodesenvolvimentismo acima definido, o liberalismo e o ocidentalismo, bem como acultura da democracia. A varivel poltica do bloco mental que compe o paradigmasob anlise volta-se para a superao da assimetria capitalista pela promoo dodesenvolvimento e pressupe a autonomia decisria, sem o que nada se alcananessa via.

    Durante dcadas, a ideologia desenvolvimentista fez a unanimidade noBrasil, mas no fez o entendimento poltico. Dividiram-se dirigentes e intelectuaisbrasileiros, como tambm as correntes de opinio pblica, em torno do modelo dedesenvolvimento a implementar. O desenvolvimento associado s foras externasdo capitalismo, de estreitos vnculos polticos, geopolticos e econmicos com amatriz do sistema, os Estados Unidos, tido por recomendvel por Eurico GasparDutra (1946-1950), Castelo Branco (1964-1967), Fernando Collor de Melo (1990-1992) e Fernando Henrique Cardoso (1994-2002). O desenvolvimento autnomo,tocado essencialmente pelas foras da nao, criador de autonomia poltica e deforte ncleo econmico, tido por recomendvel por Getlio Vargas, Joo Goulart e

    Ernesto Geisel. Essas duas estratgias, na verdade, no abriram guerra entre si,como ocorreu na Argentina, ao contrrio, proveram pelo dilogo e pelainterpenetrao, um modelo misto de desenvolvimento, fechado e aberto em dosesequilibradas. Racional e de flego no tempo longo.

    Concluda a definio dos parmetros mentais do paradigmadesenvolvimentista, resta-nos examinar os do bloco duro.

    A percepo dos interesses nacionais dos desenvolvimentistas, autoridades,profissionais e intelectuais, trabalha com o conceito de sociedade complexa, em

    transformao, rumo ao progresso econmico. Essa nova leitura deixa para trs oconceito de sociedade simples, composta de apenas dois estratos, que comandavaas decises de liberais-conservadores no passado. Desde a era Vargas, consignou-se ao Estado satisfazer necessidades de empresrios, industrialistas, agricultores,

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    operrios, camponeses, militares e outros segmentos. Lidava-se, portanto, comum conceito de interesse nacional mltiplo, cabendo diplomacia, nas relaesexteriores, equacionar a soma de interesses segmentados, cujas exigncias por

    vezes colidiam, tendo em mente o destino da nao.O desenvolvimento correspondia ao conceito operativo destinado a

    balancear a funcionalidade do Estado. Tornou-se o vetor da poltica exterior. Aacepo do desenvolvimento, conceito sociolgico complexo, por abranger oeconmico e o social, restringiu-se, na mente dos tomadores de deciso, por modoa contemplar essencialmente duas variveis: a industrializao e o crescimentoeconmico. A industrializao, porque por meio dela julgava-se preencher asdemandas da sociedade complexa, empurrando o conjunto em direo

    modernidade do capitalismo. O elevado ritmo de crescimento, porque por meiodele recuperar-se-ia o atraso histrico. A poltica exterior destinava-se a preencherrequisitos desse desenvolvimento assim concebido, trazendo de fora trs insumosem apoio aos esforos internos: capital complementar poupana nacional, cinciae tecnologia e mercados externos, com que transitar da substituio de importaes substituio de exportaes.

    O paradigma surtiu efeitos articulados em trs fases sucessivas, de formano muito rgida, porm suficientemente diferenciadas: a fase de implantao deuma grande indstria de transformao, obra dos anos 1950 e 1960 e do

    empreendimento estrangeiro, a fase de implantao da indstria de base,consolidada nos anos 1970 a partir de empreendimentos pioneiros do Estado jexistentes, e a fase de inovao tecnolgica em alguns setores de ponta, iniciadanos anos 1970 pelos setores de atividade, tanto o pblico quanto o privado, econtinuada nas dcadas a seguir.

    No obstante haver desencadeado permanente polmica acerca do graude abertura, no longo prazo, a estratgia de desenvolvimento entendeu a abertura,tanto do sistema produtivo quando do mercado de consumo, como categoriasdecisrias funcionais: maior ou menor grau de abertura a empreendimentos ouprodutos externos eram dosados pelo impacto que produziriam sobre odesenvolvimento em si. Assim, poderia convir maior proteo a um setor deatividades, a determinado segmento do mercado, bem como ao conjunto do sistemaprodutivo com o fim de induzir sua expanso pelo empreendimento nacional ouestrangeiro.

    Os impactos do paradigma desenvolvimentista sobre a formao nacionalforam de natureza a romper o modelo de dependncia acoplada centro-periferia,conceituado pelo pensamento estruturalista de matriz cepalina. Tiveram razo,

    portanto, os pensadores estruturalistas que sugeriam mecanismos de superaode assimetrias internacionais navegando no prprio sistema capitalista, contra ostericos da dependncia que sugeriam saltar fora do sistema para atingir os mesmosresultados.

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    A estratgia desenvolvimentista manteve-se durante dcadas e por certorequeria esse tempo longo para conduzir o pas a outra fase de sua histria, o quefez em sessenta anos8.

    O paradigma do Estado normal (1990-2002)

    O paradigma do Estado normal foi a grande inveno da inteligncia polticalatino-americana da dcada de 1990. Irrompeu com tamanha fora, coerncia econvergncia regional entre os pases, que nada se lhe compara em outras partesdo mundo. As origens no foram apenas externas, como por vezes se supe, ouseja, a miragem de uma globalizao benigna e as recomendaes do centro do

    capitalismo. Uma vertente do pensamento latino-americano sobreviveu prevalncia do estruturalismo cepalino e aflorou ao final do sculo XX.Desde os anos 1950, com efeito, registravam-se experincias monetaristas

    de governo, efmeras sempre, caracterizadas por estratgia alheia aos pressupostosdas polticas desenvolvimentistas. De fato, um dos problemas crnicos enfrentadospelos dirigentes latino-americanos foi o da estabilidade econmica, perturbadapela inflao. Os estruturalistas entendiam que haveria de superar-se com medidasde longo prazo, ao passo que os monetaristas estavam inclinados ao tratamentode choque.

    Em 1989-90 elegeram-se presidentes neoliberais em todos os grandesEstados da Amrica Latina e os monetaristas, de formao norte-americana emsua grande maioria, alojaram-se nos postos decisrios. Tratamentos de choque,de corte neoliberal, foram aplicados pelos governos de Augusto Pinochet no Chile,Carlos Sal Menem na Argentina, Alberto Fujimori no Peru, Carlos Andrs Prezna Venezuela, Fernando Collor de Melo no Brasil, e Carlos Salinas de Gortari noMxico. Era o triunfo do monetarismo sobre o estruturalismo, no pensamento e naprxis. Os detentores desse chamado pensamento nico partiram em guerra contra

    a estratgia de induo do desenvolvimento pela via assertiva das polticas deEstado. Assim como antes se havia operado uma reduo do conceito dedesenvolvimento para o de expanso industrial e crescimento econmico, operou-se agora outra reduo, a da funcionalidade do Estado. Para os monetaristas,consignava-se ao Estado a funo de prover a estabilidade econmica, logo reduzida estabilidade monetria, e ao mercado todo o mais, a promoo do prpriodesenvolvimento, por suposto.

    A corrente de pensamento monetarista de matriz neoliberal reforou-se

    quando a prpria Cepal fez autocrtica. Ela adaptou seu pensamento, cedendo scircunstncias imperantes e formulando a doutrina do regionalismo aberto, umaverso mais inclinada para o lado do neoliberalismo do que do estruturalismodesenvolvimentista.

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    13POLTICAEXTERIORERELAESINTERNACIONAISDO BRASIL: ENFOQUEPARADIGMTICO

    Experincias neoliberais hispano-americanas precederam a brasileira,mesmo porque o Brasil avanara mais que todos os outros pases da regio pelocaminho do desenvolvimento, convertendo-se na oitava potncia econmica do

    mundo, com um parque industrial moderno e uma agricultura competitiva. Saltardesse paradigma histrico que to concretos e profcuos efeitos assegurara, paraoutro, no era uma deciso estratgica fcil de tomar. Mas o exemplo provocativoda vizinhana aguou os mentores de mudana e o governo brasileiro acabou poraceitar a tendncia da moda.

    As determinaes externas constituem outro fator de peso na gnese doEstado normal. Com efeito, o endividamento latino-americano dos anos 1980, cujoaumento deveu-se elevao das taxas de juro durante os mandatos de Ronald

    Reagan, converteu os pases da regio em grandes esmoleiros internacionais. Abusca desenfreada de recursos externos abriu uma porta pela qual os comandospassariam. O denominado Consenso de Washington conjugou-se com exignciasdo Banco Mundial, do Fundo Monetrio Internacional e dos governos, sobretudo onorte-americano. Os dirigentes da Amrica Latina haveriam de seguir as instruesdo centro, sem o que os emprstimos no seriam concedidos.

    O conjunto dessas instrues dizia respeito abertura dos mercados deconsumo, abertura dos mercados de valores, abertura do sistema produtivo e deservios, eliminao do Estado empresrio, privatizaes, supervit primrio,proteo ao capital e ao empreendimento estrangeiros e adaptao das instituiese da legislao por modo a produzir esse novo ordenamento. Ser normal, na felizexpresso de Domingo Cavallo, Ministro de Relaes Exteriores do governo deMenem, significava dar cumprimento a esse conjunto de instrues. Ser normalconverteu-se na aspirao de praticamente todos os governos latino-americanosa partir de 1989-90. Competiam, alis, entre si, nesse af de ser normal, aplicandotratamentos de choque com evidente intuito exibicionista.

    De um ponto de vista ideolgico e tambm poltico, nenhum pas revelou

    mais coerncia e consistncia do que a Argentina na adoo do novo paradigma.O aparecimento de uma comunidade epistmica, composta de intelectuais,

    jornalistas, diplomatas, empresrios, legisladores e dirigentes causou profundaimpresso nos pases vizinhos, enfraquecendo no Brasil as resistncias mudanaque se operava. A experincia Argentina constituiu, portanto, mais um fatorexplicativo da origem do paradigma normal.

    No Brasil, o pensamento e a prtica poltica de Fernando Henrique Cardosonortearam a nova fase. Seus numerosos escritos evidenciam o impacto das

    circunstncias que o elevaram condio de terico brasileiro do pensamentonico. Seu conceito de mudana, implacvel estratgia sem alternativa, e decircunstncias imperantes, mecanismos de causalidade necessria, transformadosem padro de conduta de Estado, introduziram a era Cardoso, que se estendeu de

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    1993 a 2002, embora nela possamos incluir o governo do primeiro Fernando, de1990 a 1992. Teramos, assim, uma era Cardoso longa, entre 1990 e 2002.

    Entendida a origem do Estado normal, examinemos seus parmetros,

    iniciando pelos que compem o bloco mental.O pensamento neoliberal reformulou a economia poltica clssica e a

    keynesiana, alando-se em nova doutrina econmica e poltica com MiltonFriedman. Os neoliberais sugeriam um choque de mercado para reanimar ocambaleante capitalismo da poca da Guerra Fria. Margaret Thatcher e RonaldReagan deram-lhes ouvido. Desencadeava-se, desse modo, nova onda, que tomouvulto com o fim da Unio Sovitica e o colapso do socialismo real. Penetrou aAmrica Latina pela via do pensamento monetarista e do regionalismo aberto da

    Cepal. Os neocepalinos propunham uma simbiose, combinando abertura ampla daeconomia, requerida pela globalizao, com integrao bilateral ou regional, feitade preferncias comerciais por modo a controlar eventuais efeitos negativos daabertura.

    Essas circunstncias no explicam, contudo, o substrato ideolgico doparadigma normal, a inveno latino-americana. Isso porque, em sua base, viceja,para alm da ideologia, uma crena. O neoliberalismo transformou-se na AmricaLatina em mais um fundamentalismo tpico do fim do sculo XX, quandoaparentemente o conflito ideolgico amainava em todo o mundo. Misto de crena,

    f e utopia, esse fundamentalismo pouco carregava de cincia em seu bojo. Opensamento de Cardoso e sua equipe mudam-se os tempos, tempos demudana, expresses estampadas em ttulos de livros por eles publicados estmais para o catecismo e a igreja do que para o manual e a academia9. Seus textose sua prtica poltica revelam, com efeito, a f em frmulas convencionais docredo neoliberal, f sobretudo no imprio do mercado como indutor dodesenvolvimento.

    Converter o substrato ideolgico e religioso do paradigma normal empadres de comportamento poltico exigia, sim, boa dose de racionalidade, de queno careciam os homens de Estado brasileiros da era Cardoso. O elo estabeleceu-se, pois, da doutrina poltica, da ideologia poltica e da crena poltica. O quepara a mais elementar anlise crtica um enigma, para os estrategistas normais coerncia. Adotar, por exemplo, a abertura econmica como estratgia, semnenhuma estratgia de insero adequada no mundo da interdependncia global10.Sacrificar a autonomia decisria aos comandos do centro capitalista, simplesmenteporque suas instrues erigiam o imprio do mercado.

    O bloco duro do paradigma normal percepo dos interesses nacionais,

    relaes econmicas internacionais e impactos sobre a formao nacional reservaoutras surpresas ao analista.Os dirigentes normais esterilizaram, de pronto, duas idias-fora do

    paradigma desenvolvimentista: as idias de interesse nacional e de projeto nacional

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    de desenvolvimento. Pedro Malan, o poderoso Ministro da Fazenda da era Cardoso,declarou que um pas como o Brasil no poderia sonhar com projeto nacional, algoreservado apenas a grandes potncias. No mundo da globalizao, entendiam

    aqueles dirigentes, interesses nacionais se diluem na ordem tecida pelo ordenamentomultilateral das relaes internacionais, a chamada governana global. Polticaexterior tornava-se conceito fora de moda, mero ornamento da ao do Estado,visto que no se lhe consignava mais a realizao de interesses concretos. Porisso mesmo, durante a era Cardoso, o Itamaraty trocava amide de ministro oumantinha por vrios anos quem no manifestasse vontade forte ou pensamentoprprio.

    As relaes econmicas internacionais do Brasil, promovidas pelos

    estrategistas normais, encaminharam a destruio do patrimnio nacional construdoem sessenta anos de esforos. Os mecanismos de privatizao das empresaspblicas, exigida pelo centro de comando capitalista, foram alm das instruesrecebidas, ao dar preferncia ao capital e s empresas estrangeiros. A aberturado mercado financeiro e dos bancos adaptou-se, porm, quelas instrues, quegarantiam o livre fluxo de capitais especulativos. A especulao e a alienao deativos de empresas privatizadas ou de empresas privadas vendidas ao exteriorabriram, naturalmente, duas novas vias de transferncia de renda ao centro, quese somaram tradicional via dos servios da dvida externa. A renda do pas

    passou a migrar para fora tambm pela via dos dividendos e do movimento decapitais. Os normais no pensaram em remdios de equilbrio a tais mecanismos,a no ser a busca desenfreada de capitais com que enfrentar o dficit das contas.Viviam da iluso de divisas, ao tempo em que dilapidavam o patrimnio nacional.

    Sem projeto de desenvolvimento e sem recursos, a era Cardoso, era dosnormais, provocou a estagnao da economia brasileira e interrompeu um ciclo desessenta anos de desenvolvimento caracterizado pelas mais elevadas taxas decrescimento entre os pases do mundo capitalista.

    Os impactos do Estado normal sobre a formao nacional so percebidosde trs maneiras, uma positiva e duas negativas. O choque da abertura despertouempresrios brasileiros do setor pblico e privado, acomodados que andavam aoabrigo de um protecionismo exacerbado a que havia conduzido o paradigma anterior.O mercado interno, amplo e reservado, lhes bastava ento. Com a abertura, parafazer face inundao de produtos estrangeiros, foram forados a modernizarsuas plantas e mtodos. A resposta foi positiva e, desse modo, o choque da aberturacontribuiu para elevar a produtividade sistmica da economia brasileira e galgarmais um degrau rumo modernizao.

    Os impactos negativos verificaram-se, por um lado, com o aprofundamentode dependncias estruturais e, por outro, com o regresso histrico. Dando razoaos estruturalistas latino-americanos, que assentavam planos de ao sobre objetivosde longo prazo, os normais, com seus choques de mercado, fizeram ressurgir

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    dependncias que os primeiros haviam identificado e combatido. As dependnciasfinanceira, empresarial e tecnolgica, promovidas novamente, elevaram avulnerabilidade externa do pas a nveis crticos. Ao empurrar, ademais, a economia

    nacional para o setor primrio, onde a mantiveram os liberais-conservadores daIndependncia a 1930, regredia-se, de certo modo, ao sculo XIX.

    O paradigma do Estado normal, em suma, foi o caminho aberto pelainteligncia poltica latino-americana nos anos 1990. Todos os governos sedispuseram a trilh-lo galope, mas no o fizeram no mesmo ritmo e com amesma coerncia. Em toda parte, o paradigma revelava seus trs parmetrosessenciais: subservincia na esfera poltica, destruio na esfera econmica eregresso do ponto de vista estrutural e histrico.

    Dentre os grandes Estados da regio, a Argentina de Menem pode sertomada como prottipo de aplicao daqueles parmetros, enquanto o Brasil deCardoso manifestou as maiores hesitaes quanto ao ritmo e coerncia a adotardiante do novo modelo de insero internacional. A coexistncia paradigmtica,embora possa parecer paradoxal ao analista, concretizou-se na era Cardoso,dominada por um homem, cuja personalidade sempre revelou incoerncias tericase hesitaes operacionais. Cardoso ofereceu o espetculo da dana dos paradigmas:o desenvolvimentista, que agonizava mas no morria, o normal, que emergia deforma prevalecente, e o logstico, que se ensaiava ao mesmo tempo11.

    O paradigma do Estado logstico

    A introduo do paradigma logstico durante a era Cardoso no passou deum ensaio. Assim mesmo, podemos conceitu-lo, do mesmo modo que o fizemospara os outros trs, extraindo, porm, da reflexo certos elementos que os dirigentesdeixam de fornecer com sua timidez operacional. Antes de tudo, convm dirigir aateno para possveis explicaes que se encontrem na origem do modelo de

    insero internacional que se mesclava com os outros dois. Nosso esforo chegaa trs consideraes.

    Em primeiro lugar, o malogro das experincias neoliberais latino-americanasfazia-se prever desde sua instalao no incio da dcada de 1990. Claramentepelos seus crticos, na forma de dvida por outros. Foi confirmado, doze anosdepois, por estudos que avaliaram os resultados das experincias12. Relatrios daCepal revelaram que 43% da populao latino-americana, cerca de 280 milhes,viviam em nveis de pobreza em 2003. Na passagem do milnio, a opinio pblica

    derrubava, pela via eleitoral, os governos de perfil neoliberal. Por outro lado, durantea fase de experincias neoliberais, os polticos jogavam opinio pblica apreciaescontraditrias acerca da globalizao, o conceito de globalizao benigna,pregada pela comunidade epistmica que assessorou o governo de Menem, e de

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    globalizao assimtrica, uma consistente teoria elaborada pelo ecltico FernandoHenrique Cardoso, que a divulgava em escritos, entrevistas e discursos.

    Em segundo lugar, percebiam os dirigentes brasileiros que seus colegas

    do centro no procediam do mesmo modo, ou seja, no aplicavam em sua gestopblica os preceitos que passavam periferia latino-americana. O intriganteexemplo de comportamento poltico, observado tanto nas decises internas quantonos foros multilaterais onde se construa o ordenamento econmico global, levantavadvidas quanto ao acerto de se aplicar as instrues neoliberais. Por que noimitar aquele tipo de comportamento dos poderosos?

    Uma terceira explicao para a introduo do paradigma logstico residiana sobrevivncia do pensamento crtico no Brasil e em toda a Amrica Latina.

    Com efeito, esse pensamento crtico, de reconhecimento tardio, era explcito econsistente ao ponto de podermos considerar uma postura ideolgica o termopensamento nico, aplicado aos liberais radicais. Na Argentina, o pensamentocrtico confrontava a comunidade epistmica nas Universidades, na imprensa enas livrarias e contava com intelectuais de peso como Aldo Ferrer, Mario Rapoport,Roberto Lavagna e Ral Bernal-Meza. No Mxico, exibiam-se as obras de OsvaldoSunkel13.

    No Brasil, seja-nos permitido referir duas manifestaes do pensamentocrtico. Dentro do prprio Itamaraty, o modelo normal de insero internacional

    implementado pelo governo Cardoso no recolhia a unanimidade do pensamentodiplomtico. Alguns expoentes embaixadores do quadro, a exemplo de RubensRicupero, Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimares, lanavam dvidas acercado acerto das decises na rea externa. Especialmente este ltimo, enquanto dirigiuo Instituto de Pesquisa de Relaes Internacionais do Itamaraty, promoveu inmerosencontros, reunindo estudiosos e empresrios, e lanou algumas sries de livrosque evidenciavam a crtica ao paradigma que impregnava o processo decisrioem relaes internacionais14.

    Na academia, por outro lado, um grupo de estudiosos das relaesinternacionais da Universidade de Braslia, recentemente denominadoEscola deBraslia por Bernal-Meza, difundia severas interpretaes, em seminrios, salasde aula, livros e por meio da Revista Brasileira de Poltica Internacional15.Nesse ambiente, onde prevalecia o pensamento crtico sem fazer a unanimidade,desenvolvemos nossos prprios trabalhos, ao lado de Luiz Alberto Moniz Mandeira,Jos Flvio Sombra Saraiva, Argemiro Procpio Filho, Antnio Carlos MoraesLessa, Antnio Augusto Canado Trindade, Alcides Costa Vaz, Estvo Chavesde Rezende Martins, Antnio Jorge Ramalho da Rocha, Carlos Roberto Pio da

    Costa Filho.O pensamento crtico no postulava o retorno puro e simples do paradigmadesenvolvimentista, embora disso eram acusados seus cultores, de forma por vezesgrotesca, pela equipe de Cardoso, que os qualificava de saudosistas e neoburros.

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    Julgava conveniente, contudo, para a formao nacional, transitar do paradigmadesenvolvimentista ao logstico, e no tomar o caminho normal, mergulhando nasubservincia, destruio e regresso.

    Recorremos, mais uma vez, aos dois componentes do bloco mental, ideologiae poltica, com o objetivo de identificar e esclarecer os parmetros da estratgialogstica.

    A ideologia subjacente ao paradigma do Estado logstico associa umelemento externo, o liberalismo, a outro interno, o desenvolvimentismo brasileiro.Funde a doutrina clssica do capitalismo com o estruturalismo latino-americano.Admite, portanto, manter-se na ordem do sistema ocidental, recentementeglobalizado.

    Na esfera poltica, o paradigma logstico, como experincia brasileira oulatino-americana, comprova uma criatividade ainda maior. Recupera a autonomiadecisria, sacrificada pelos normais, e adentra pelo mundo da interdependnciaimplementando um modelo decisrio de insero autnoma. Seu escopo final, asuperao de assimetrias entre as naes, ou seja, elevar o patamar nacional aonvel das naes avanadas. Diferencia-se do paradigma desenvolvimentista, como qual convive sem conflito, ao transferir sociedade as responsabilidades doEstado empresrio. Diferencia-se do normal, consignando ao Estado no apenasa funo de prover a estabilidade econmica, mas a de secundar a sociedade na

    defesa de seus interesses, na suposio de que no convm sejam simplesmenteentregues s leis do mercado. Por fim, o Estado logstico imita o comportamentodas naes avanadas, particularmente os Estados Unidos, visto como prottipodo modelo. A poltica exterior volta-se realizao de interesses nacionaisdiversificados: dos agricultores, combatendo subsdios e protecionismo, porqueconvm competitividade do agronegcio brasileiro; dos empresrios, amparandoa concentrao e o desenvolvimento tecnolgico; dos operrios, defendendo seuemprego e seu salrio; dos consumidores, ampliando seu acesso sociedade dobem-estar.

    A percepo dos interesses brasileiros pelos dirigentes logsticos equivale percepo de interesses de uma sociedade avanada. Eles julgam necessria,possvel e conveniente a introduo de remdios de equilbrio interdependnciaglobal, por modo a transitar da dependncia estrutural interdependncia real.

    No campo das relaes econmicas internacionais, o comportamentologstico se depara, primeiramente, com o desafio de remover entulhos operacionaisacumulados pela estratgia do liberalismo radical: atenuar a dependncia tecnolgicae financeira, promovendo a inovao produtiva e a sada da condio de esmoleiro

    internacional. Com isso, restringir a vulnerabilidade externa.O desafio criativo consiste em reforar o ncleo econmico duro nacional,por modo a al-lo em termos comparativos ao ncleo forte de naes avanadase a abrir o caminho a sua internacionalizao. Com efeito, o paradigma

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    desenvolvimentista havia nacionalizado a economia internacional, reunindo, porm,ao termo de sessenta anos, as trs condies para internacionalizar certos setoresde atividade: grande mercado, disponibilidade de capital e competitividade

    empresarial. No fosse a hecatombe normal que se abateu sobre o ncleo fortede matriz nacional, a lgica da Histria poderia haver triunfado, e o Brasil transitadodo paradigma desenvolvimentista para o logstico, desde 1990.

    Como vimos, o reforo do ncleo duro nacional supe, no padro logstico,o repasse de responsabilidades do Estado empresrio sociedade. No lhe repugna,contudo, o empreendimento estatal, conquanto este eleve seu desempenho aonvel de competitividade sistmica global. Mas seu foco consiste, precisamente,em dar apoio logstico aos empreendimentos, pblico ou privado, de preferncia

    privado, com o fim de robustec-lo em termos comparativos internacionais. Assimprocedem os governos dos pases centrais Estados Unidos, Europa e Japo, attulo de exemplos protegendo empresas, tecnologia e capitais de matriz nacional,estimulando seu fortalecimento interno e sua expanso global, zelando pelo empregoe pelo bom salrio dos trabalhadores, ampliando o bem-estar do consumidor.

    O comportamento do Estado logstico, como se percebe, descola-se dateoria estruturalista e se aproxima dos requisitos da teoria realista das relaesinternacionais. Supe concluda a fase desenvolvimentista e projeta nova etapa.Pe em marcha dois componentes de conduta advogados pelos realistas: a

    construo de meios de poder e sua utilizao para fazer valer vantagenscomparativas, no mais as naturais, mas as de natureza intangvel, como a cincia,a tecnologia e a capacidade empresarial.

    Os impactos do ensaio de paradigma logstico sobre a formao nacional,durante a era Cardoso, no foram desprezveis. Situam-se mais do lado daesperana do que da vida real. Criaram-se expectativas de viabilidade de grandesempreendimentos nacionais, nas reas de minerao e siderurgia, energia, indstriaaeronutica, tecnologia espacial e nuclear, indstria alimentcia e outras. Vislumbrou-se, ademais, a possibilidade da transio do paradigma desenvolvimentista aologstico, sugerida pela racionalidade histrica. Realizavam-se, em certa doze,expetativas de ingresso na sociedade madura do sistema capitalista, induzida pelocomportamento dos grandes que se procurava imitar. Sonhava-se com onivelamento pelo alto do bem-estar social e do desenvolvimento econmico.Iniciava-se a internacionalizao econmica, sobretudo pela vizinhana, concebida,enfim, como remdio aos desequilbrios estruturais.

    Concluso

    Os dirigentes do governo de Luiz Incio Lula da Silva, inaugurado em2003, contemplam trs estratgias de insero internacional postas em marchapelos governos brasileiros, com maior ou menor apoio social, entre 1930 e 2002.

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    Nosso estudo procurou, para cada uma delas, esclarecer as origens, identificar oscomponentes mentais e materiais e avaliar os impactos sobre a formao nacional.Esse esforo de reflexo nos conduziu inveno de conceitos e a sua articulao

    no que poderamos denominar teoria paradigmtica das relaes internacionaisdo Brasil.

    Os estudos de relaes internacionais que se expandem no pas desde1990 havero de checar a consistncia ou a fragilidade de nossos conceitos,alargando, como convm, o campo de observao emprica sobre os quais seassentam. As relaes internacionais do Brasil constituem por todos os ttulos umlaboratrio de experincias histricas ricas e variadas. Agregam correntes fortesde pensamento e estratgias de ao criativas. Que sejam iluminadas por conceitos

    e teorias elaborados nos centros de estudo do norte desenvolvido, no por modo areproduzi-los na rea cognitiva, de forma acrtica, muito menos por modo aoperacionaliz-los na esfera dirigente, de forma subserviente. Convm ao estudoe ao comportamento poltico, em nosso entender, destilar o conhecimento alheiona qumica do pensamento brasileiro e latino-americano com o fim de aprofundaro conhecimento de nossa prpria realidade e nos habilitar a implementar estratgiasde ao que conduzam a bom termo o processo de desenvolvimento.

    Outubro de 2003

    Notas

    1 SARAIVA. Jos Flvio Sombra. Relaes internacionais. Dois Sculos de Histria. Braslia:IBRI, 2001, 2 v.

    2 HUNTINGTON, Samuel. The Clash of Civilizations and the Remaking of the WorldOrder. New York: Simon and Schuster, 1996. JERVIS, Robert. Cooperation under the SecurityDilemma. Wold Politics, v. 30, n. 2, Jannuary 1978, p. 167-214.

    3 BERNAL-MEZA, Ral. Teora de relaciones internacionales: el pensamientolatinoamericano (originais cedidos pelo autor). Cf. CERVO, Amado Luiz. A poltica exterior

    da Argentina: 1945-2000. In: Guimares, S. P. Argentina: vises brasileiras. Braslia: IPRI,2000, p. 11-88.

    4 CERVO, Amado Luiz. Relaes internacionais da Amrica Latina: velhos e novosparadigmas. Braslia: IBRI, 2001. CERVO, Amado Luiz & BUENO, Clodoaldo. Histria dapoltica exterior do Brasil. Braslia: EdUnB, 2002. CERVO, Amado Luiz (org.) O desafiointernacional; a poltica exterior do Brasil de 1930 a nossos dias . Braslia: EdUnB, 1994.CERVO, Amado Luiz & RAPOPORT, Mario (orgs.). Histria do Cone Sul. Rio de Janeiro:Revan, 1998. Ver abordagem similar desenvolvida por Celso LAFER em seu livro A identidadeinternacional do Brasil: passado, presente e futuro (So Paulo: Perspectiva, 2001).

    5 WATSON, Adam. The evolution of international society: a comparative historical analysis.

    London and New York: Routledge, 1992. BULL, Hedley & WATSON, Adam. Lespansionedella societ internazionale. Milano: Jaca Book, 1994. Ver a longa apresentao de BrunelloVigezzi sobre o trabalho do British Committee on the Theory of International Politics,p. XI-XCVIII.

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    6 Ver CERVO, Amado Luiz. O parlamento brasileiro e as relaes exteriores (1826-1889).Braslia: Ed. Univ. de Braslia, 1981.

    7 Pequena bibliografia sobre o perodo: LUZ, Ncia Vilela. A luta pela industrializao noBrasil (1808-1930). So Paulo: Difel, 1978. GOES FILHO, Synesio Sampaio. Navegantes,bandeirantes, diplomatas: um ensaio sobre a formao das fronteiras do Brasil. So Paulo:Martins Fontes, 1999. MAGNOLI, Demtrio. O corpo da ptria. So Paulo: UNESP, 1997.FREITAS, Caio de. George Canning e o Brasil. So Paulo: Ed. Nacional, 1958, 2 v.GRAHAM, Richard. Gr-Bretanha e o incio da modernizao no Brasil . So Paulo:Brasiliense, 1973. MANCHESTER, Alan K. Preeminncia inglesa no Brasil. So Paulo:Brasiliense, 1973. BANDEIRA, Moniz. O expansionsimo brasileiro. Rio de Janeiro:Philobiblion, 1985. ALMEIDA, Paulo Roberto de. Formao da diplomacia econmica noBrasil: as relaes econmicas internacionais no Imprio. So Paulo: Senac, 2001. BUENO,Clodoaldo. A Repblica e sua poltica exterior (1889-1902). Marlia: UNESP; Braslia,IPRI, 1995. BUENO, Clodoaldo. A poltica externa da Primeira Repblica: os anos de

    apogeu. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003. GARCIA. Eugnio Vargas. O Brasil e a Liga dasNaes (1919-1926). Porto Alegre: Ed. da Universidade, 2000.

    8 Pequena bibliografia sobre o perodo: ABREU, Marcelo de Paiva. O Brasil e a economiamundial (1929-1945). In: Fausto, B. (org.) Histria geral da civilizaao brasileira. SoPaulo: Difel, 1984, v. 11, p. 9-49. MOURA, Gerson. Autonomia na dependncia; a polticaexterna brasileira de 1935 a 1942. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. Idem. Sucessos eiluses; relaes internacionais do Brasil durante e aps a Segunda Guerra Mundial .

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    9 CARDOSO, Fernando Henrique. Poltica externa em tempos de mudana. Braslia:FUNAG, 1994. LAFER, Celso. Mudam-se os tempos: diplomacia brasileira, 2001-2002.Braslia: FUNAG, 2002.

    10 Ver, entre outras obras de Gilbeto DUPAS: Tenses contemporneas entre o pblico e oprivado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003; O Brasil e as novas dimenses da seguranainternacional. So Paulo: Alfa-Omega, 1999. Economia global e excluso social. Paz eTerra, vrias edies.

  • 7/29/2019 cervo, amado luiz. poltica exterior e relaes internacionais do brasil [2003]

    22/22

    22 AMADO LUIZ CERVO

    11 CERVO, Amado Luiz. Relaes internacionais do Brasil: um balano da era Cardoso. RevistaBrasileira de Poltica Internacional, ano 45, n. 2, 2002, p. 5-35.

    12 BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. As polticas neoliberais e a crise da Amrica Latina.Revista Brasileira de Poltica Internacional, ano 45, n. 2, p. 135-146, 2002. CERVO,Amado Luiz. Sob o signo neoliberal: as relaes internacionais da Amrica Latina. RevistaBrasileira de Poltica Internacional, ano 43, n. 2, p. 5-27, 2000.

    13 Um balano de suas obras em Ral Bernal-Meza, Teoria das relaes internacionais, cit.14 Ver as publicaes da FUNAG, Ministrio das Relaes Exteriores.15 Ver a coleo Relaes Internacionais, de dez volumes, organizada por Jos Flvio Sombra

    Saraiva, e publicada pelo Instituto Brasileiro de Relaes Internacionais, entre 2001-2003. Vertambm as colees da Editora da UnB, Relaes Internacionais, por ns organizada, eO Brasil e o Mundo, por Saraiva.

    Resumo

    O artigo analisa a insero internacional dos pases latino-americanos noperodo que se inicia nos princpios do sculo XIX chegando at os nossos dias.Tendo como base principalmente o caso brasileiro, mas no deixando de comentaras experincias argentina e mexicana, o autor identifica e descreve os quatroparadigmas norteadores da formulao da poltica externa desses pases ao longodesses dois sculos.

    Abstract

    The article analyzes the iternational insertion of Latin-American countriesduring the time-period that starts in the beginning of the 19th century up to nowadays.Having Brazils case as the main basis, and without forgetting to comment theArgentinean and the Mexican experiences, the author traces the four leadingparadigms of the prescribed foreign policy of these countries during the last twocenturies.

    Palavras-chave: Poltica Externa Brasileira; Desenvolvimento; Dependncia.Key words: Brazilian Foreign Policy; Development; Dependence.