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2.... ; ,.4/7; • ir/4 ,/.77/4 / 1;.Kj -a CERTIDÃO DE JULGAMENTO 41' SESSÃO ORDINÁRIA PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS N° 1344 RELATOR: CONSELHEIRO PAULO LÔBO REQUERENTE: DANIEL SOTTOMAIOR PEREIRA REQUERIDO: PRESIDENTE DO TJCE PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS N° 1345 RELATOR: CONSELHEIRO PAULO LÔBO REQUERENTE: DANIEL SOTTOMAIOR PEREIRA REQUERIDO: PRESIDENTE DO TJMG PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS N° 1346 RELATOR: CONSELHEIRO PAULO LÔBO REQUERENTE: DANIEL SOTTOMAIOR PEREIRA REQUERIDO: PRESIDENTE DO TRF 4' R PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS N° 1362 RELATOR: CONSELHEIRO PAULO LÔBO REQUERENTE: DANIEL SOTTOMAIOR PEREIRA INTERESSADO: TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA — TJSC REQUERIDO: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA CERTIFICO que o PLENÁRIO, ao apreciar os processos em epígrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "O Conselho, por maioria, vencido o Conselheiro Relator, decidiu indeferir a proposta de realização de diligência consistente na abertura de audiência pública para que, no prazo de dois meses, quaisquer interessados pudessem oferecer subsídios que favorecessem a formação de marco conceituai mais amplo e pluralista, para decisão do Plenário. Prosseguindo no julgamento quanto ao mérito, após o voto divergente do Conselheiro Oscar Argollo, no sentido de julgar improcedentes os pedidos, que foi acompanhado pelos Conselheiros Alexandre de Moraes, Joaquim Falcão, Marcus Faver, Jirair Aram Meguerian, Douglas Rodrigues, Cláudio Godoy, Germana Moraes, Paulo Schmidt, Eduardo Lorenzoni e Ruth Carvalho, o Relator pediu a retirada dos feitos de pauta, para elaboração de voto de mérito para a próxima sessão. O Conselheiro Alexandre de Moraes juntará declaração de voto escrito. Ausentes, justificadamente, os Conselheiros Antônio de Pádua Ribeiro (Corregedor Nacional de Justiça) e Vantuil Adelo. Presidiu o julgamento a Excelentigima Senhora Conselheira Ellen Grade (Presidente). Plenário, 29 de maio de 2007 1 ; YI;/44 ,71; taro% //// /e1 Presentes à sessão os Excelentíssimos Senhores Conselheiros Ellen Gracie (Presidente), Marcus Faver, Jirair Aram Meguerian, Douglas Rodrigues, Cláudio Godoy, Germana Moraes, Paulo Scbmidt, Eduardo Lorenzoni, Ruth Carvalho, Oscar Argollo, Paulo Lábo, Alexandre de Moraes e Joaquim Falcão. Ausentes, justificadamente, o Procurador-Geral da República e o Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Fez sustentação oral, pela Associação Brasil para Todos, o Sr. Roberto Alves de Almeida. Brasília-DF, 29 de maio de 2007. arco A. M. Mato Diretor de Se taria

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Decisão STF

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  • 2....;n,.4/7; ir/4,/.77/4/1;.Kj-a CERTIDO DE JULGAMENTO

    41' SESSO ORDINRIA

    PEDIDO DE PROVIDNCIAS N 1344 RELATOR: CONSELHEIRO PAULO LBO REQUERENTE: DANIEL SOTTOMAIOR PEREIRA REQUERIDO: PRESIDENTE DO TJCE

    PEDIDO DE PROVIDNCIAS N 1345 RELATOR: CONSELHEIRO PAULO LBO REQUERENTE: DANIEL SOTTOMAIOR PEREIRA REQUERIDO: PRESIDENTE DO TJMG

    PEDIDO DE PROVIDNCIAS N 1346 RELATOR: CONSELHEIRO PAULO LBO REQUERENTE: DANIEL SOTTOMAIOR PEREIRA REQUERIDO: PRESIDENTE DO TRF 4' R

    PEDIDO DE PROVIDNCIAS N 1362 RELATOR: CONSELHEIRO PAULO LBO REQUERENTE: DANIEL SOTTOMAIOR PEREIRA INTERESSADO: TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SANTA CATARINA TJSC REQUERIDO: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIA

    CERTIFICO que o PLENRIO, ao apreciar os processos em epgrafe, em sesso realizada nesta data, proferiu a seguinte deciso:

    "O Conselho, por maioria, vencido o Conselheiro Relator, decidiu indeferir a proposta de realizao de diligncia consistente na abertura de audincia pblica para que, no prazo de dois meses, quaisquer interessados pudessem oferecer subsdios que favorecessem a formao de marco conceituai mais amplo e pluralista, para deciso do Plenrio. Prosseguindo no julgamento quanto ao mrito, aps o voto divergente do Conselheiro Oscar Argollo, no sentido de julgar improcedentes os pedidos, que foi acompanhado pelos Conselheiros Alexandre de Moraes, Joaquim Falco, Marcus Faver, Jirair Aram Meguerian, Douglas Rodrigues, Cludio Godoy, Germana Moraes, Paulo Schmidt, Eduardo Lorenzoni e Ruth Carvalho, o Relator pediu a retirada dos feitos de pauta, para elaborao de voto de mrito para a prxima sesso. O Conselheiro Alexandre de Moraes juntar declarao de voto escrito. Ausentes, justificadamente, os Conselheiros Antnio de Pdua Ribeiro (Corregedor Nacional de Justia) e Vantuil Adelo. Presidiu o julgamento a Excelentigima Senhora Conselheira Ellen Grade (Presidente). Plenrio, 29 de maio de 2007 1;

    YI;/44,71; taro% /////e1

    Presentes sesso os Excelentssimos Senhores Conselheiros Ellen Gracie (Presidente), Marcus Faver, Jirair Aram Meguerian, Douglas Rodrigues, Cludio Godoy, Germana Moraes, Paulo Scbmidt, Eduardo Lorenzoni, Ruth Carvalho, Oscar Argollo, Paulo Lbo, Alexandre de Moraes e Joaquim Falco.

    Ausentes, justificadamente, o Procurador-Geral da Repblica e o Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.

    Fez sustentao oral, pela Associao Brasil para Todos, o Sr. Roberto Alves de Almeida.

    Braslia-DF, 29 de maio de 2007.

    arco A. M. Mato Diretor de Se taria

  • fh ( IfIrf% lai/e/f:

    PEDIDO DE PROVIDNCIAS 1344

    RELATOR

    CONSELHEIRO TEC/0 LINS E SILVA REQUERENTE DANIEL SOTTOMAIOR PEREIRA REQUERIDO PRESIDENTE DO TJCE ASSUNTO UTILIZAO DE PATRIMNIO ESTATAL PARA

    DIVULGAR CRENAS RELIGIOSAS. VIOLAO DE PRINCPIOS CONSTITUICIONAIS.

    7%; 1/1"11 1/441 /7f te

    tese exordial, mas acaba concluindo em seu desfavor. Pugna pelo provimento dos presentes embargos para anular a

    sesso de julgamento. bem como suprir os vcios indigitados, conferindo-lhes efeito infringente.

    Em sntese, o relatrio.

    II- VOTO iYr 1- RELATRIO

    Trota-se de Pedido de Esclarecimentos formulado pelo Requerente (fls. 121/124), apontando vcios no procedimento e no contedo do acrdo de fls. 108/116, de relatoria do Conselheiro Oscar Argollo.

    Inicialmente, alega o Requerente que houve inverso da ordem de votao, dado que antes da apreciao da preliminar suscitado pelo Relator - envolvendo proposta de diligncia consistente na abertura de audincia pblica -, foi aberta divergncia, cuja deciso meritria acabou prevalecendo, em manifesto afronta ao Regimento Interno deste CNJ.

    Prossegue em seus argumentos, sustentando que o acrdo recorrido foi omisso quanto anlise dos princpios constitucionais do laicismo estatal, da igualdade, da liberdade de conscincia e de crena, da no discriminao e da impessoalidade.

    Aponto, ainda, obscuridades no acrdo questionado, na medida em que determinados conceitos utilizados so "vagos" e "abstratos", tais como "cultura crista brasileira", tambm ressaltando que o entendimento do Relator de "que o ' Estado no tem o direito de se imiscuir nos costumes e tradies reconhecidos moralmente pela sociedade" contrrio idia do constitucionalismo brasileiro, que busca, sobretudo, prestigiar a justia social.

    Por fim, suscita contradio entre a fundamentao e a concluso do acrdo, porquanto o voto do Relatar traz argumentos que do vg/

    Absolutamente improcedentes os argumentos oferecidos. Com a devida vnia, no h falar em inverso da ordem de

    julgamento, porquanto a prestao jurisdicional foi outorgada, em observncia s regras processuais e ao Regimento Interno deste CNJ.

    De fato, embora o Conselheiro Paulo Lobo, Relator do voto vencido, tenha votado no sentido de determinar a abertura de audincia pblica, para posterior deciso Plenria, certo que este Conselho, por maioria, decidiu indeferir a proposta de realizao de diligncia, prosseguindo no julgamento do mrito. nos termos do voto divergente do Conselheiro Oscar Argollo, julgando improcedente o pedido (Certido de Julgamento/fl. 100).

    Quanto alegao de que o acrdo est eivado dos vcios de omisso, contradio e obscuridade, igualmente no assiste razo ao Recorrente.

    Como se nota, consto do acrdo embargado exposio claro das razes que levaram ao indeferimento do pedido, cuja motivao passo a reprisar (fls. 108/116):

    O EXMO. SR. CONSELHEIRO OSCAR ARGOLLO: J mencionei-pedindo vnia aos eminentes Conselheiros sobre a distino que fao entre o interesse pblico primrio e o interesse pblico secundrio. O primeiro decorre da vontade da sociedade. expressem dos direitos individuais; enquanto o segundo est afeto as questes relativas s vontades das pessoas jurdicas de direito pblico.

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    Data mxima vnia, no seduz atualmente o argumento de que havendo certo "interesse pblico", ele deve prevalecer sobre os interesses individuais. O objetivo ao invocar uma pretensa proteo para algo "que de lodos" e que no pertence a ningum em particular uma articulao falacioso.

    O interesse pblico. de modo geral, em sua essncia (lato scnsu), deve ser dirigido o defesa dos direitos individuais predominantes. ainda que tais direitos individuais sejam tratados coletivamente. a exata situao que se apresenta nos autos do presente processo.

    O critrio para a identificao do direito coletivo Voto sentir) apontado pelo Requerente conto violado - aqui viabilizado pela legitimidade postulatria paro argir sobre um pretenso interesse pblico, cujocompetncia e iniciativa para legislar o respeito pertencemo poder diverso - no reside no mero exame do assunto abstratamente considerado, mas na apreciao do norma jurdica que aponta violada: o Inciso 1, do artigo 19. do Constituio Federal.

    A propsito. urge dizer que o povo brasileiro. por intermdio do Poder Legislativo, mediante Constituio Federal promulgada e vigente, concedeu ao Estado o objetivo fundamental de assegurar a toda sociedade o exerccio dos direitos sociais e individuais, o liberdade, a segurana, o bem-estar e o justia- figura essa aqui representada peia ao do Estado atravs do Poder Judicirio -como valores supremos de uma sociedade fraterna. pluralista e sem preconceitos, fundado no harmonio sociol, buscando construir uma coletividade livre. justa e solidria, onde todos so iguais perante o lei sem distino de qualquer natureza, garantida a inviolabilidade do direito a liberdade, pois ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei, sendo inviolvel o liberdade de conscincia e de crena.

    A cultura e tradio - fundamentos de nossa evoluo social -inseridas numa sociedade oferecem aos cidados em geral

    exposio permanente de smbolos representativos. com os quais

    convivemos pacificamente. v.g.: o crucifixo, o escudo. a esttua, etc. So interesses, ou melhor, comportamentos individuais inseridos. Pela culfiga, no direito coletivo, mas somente porque a esse conjunto pertence, e porque tais interesses podem ser trotados coletivamente, mas no para serem entendidos como violadores de outros interesses ou direitos individuais. privados e de cunho religioso. que a tradio da sociedade respeito e no contesta, porque no se sente agredida ou violado.

    Entendo. com todos os vnias, que manter um crucifixo numa

    sola de audincias pblicas de Tribunal de Justia no toma o Estado - ou o Poder Judicirio - clerical, nem viola o preceito constitucional invocado (CF.ort. 19. 1), porque a exposio de tal smbolo no ofende o Interesse pblico primrio (o sociedade), ao contrario, preserva-o, garantindo interesses individuais culturalmente solidificados e amparados na ordem constitucional. como o coso deste costume, que representa as tradies de nossa sociedade.

    Por outro lado. no h, dota vnia, no ordenamento juridico ptrio qualquer proibio poro o uso de qualquer simbolo religioso em qualquer ambiente de rgo do Poder Judicirio, sendo da tradio brasileiro a ostentao eventual sem que, com isso, se observe repdio da sociedade, que consagra um costume ou comportamento como aceitvel.

    O estudo dos costumes, a tica (g.ethas), seja diante do carter do ao, seja pelo modo de ser ou de se comportar do agente diante de um fato, construido atravs dos tempos e distingue os valores e atribui a idia de comportamento autorizado ou repudiado. O costume (I. consuefudo), como fonte e regra do direito, tem por fundamento de seu valor o tradio e no o autoridade do legislador. Alias, o costume o uso geral, permanente e notrio, observado por todos no convico de corresponder a uma necessidade juridico.

    O costume de expor, eventualmente. em dependncias ou ambiente de rgo pblico a imagem de um crucifixo corresponde. sem embargos, a uma necessidade jurdica, de acordo com os homenagens devidas a Justia. Trota-se de representao. ainda que religiosa, do respeito devido quele local. O crucifixo um simbolo que homenageio principias ticos e representa. especialmente, a paz. Atinai, a luta pelo Direito o meio para alcanar a Paz. conforme ensinou Ihering em seu famoso opsculo proferido em Viena em 1872.

    O simbolismo nado mais e se no ca representao concreto de um conceito abstrato, a transformar smbolos em fenmenos visveis de alguma idia. a idia sob a forma de imagem, de tal formo que a idia age permanentemente sobre imagem, tornando-o um smbolo da mero representao de uma idia. Nada mais, nada menos.

    O Estado laico tem a noo de liberdade de crena como um comportamento derivado da liberdade de conscincia. patrimnio do liberdade interna do indivduo.

    Assim que, o individuo, no Estado laico. tem absoluta autonomia, ou seja: pode ser ateu, agnstico. ou optar por uma religio, ou no. H. portanto, pleno autonomia privada, cabendo ao Estado proibir a coao: a chamada imunidade de coao. Estado no tem o direito de se imiscuir nos costumes e tradies reconhecidos moralmente pela sociedade. Portanto, se costume a palavra chave para a compreenso dos conceitos de tica e moral. a tradio se insere no mesmo contexto, uma vez que deve ser vista como um conjunto de padres de comportamentos socialmente condicionados e permitidos. E no podemos ignorar a manifestao cultural da religio nas tradies brasileiras, que hoje no representa qualquer submisso ao Poder clerical.

    A manifestao cultural, forjado pela tradio, de exposio de crucifixo em dependncia ou ambiente de Tribunal de Justio, como elemento representativo do interesse publico secundrio (vontade do rgo pblico), tem exemplo no solo da Plenrio do Excelso Pretrio, quando se v, ao fundo, no painel construdo em mrmore ege-bahio, pelo artista plstico Alhos Bulco, acima do

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    Vg/

    escudo de armas brasileiro. um crucifixo confeccionado em pau-brasil, obro de Alfredo Ceschiotti.

    No campo do direito administrativo. merece observao um julgado do Colendo Tribunal de Justia do Estado de So Paulo, in verbis:

    EMENTA: Mandado de Segurana - .Autoridade coatora - Presidente da Assemblia Legislativa cio Estado Retirada de crucifico da sala da Presidncia da Assemblia, sem aquiescncia dos depurados

    -Alegao da violao ao disposto no artigo 59 inciso VI da Constituio da Repblica - lnadmissibilldade - Hiptese em que a atitude do Presidente da Assemblia Incua para violentar a garantia constitucional, eis que Cl aludida sala to local de culto religioso -Carncia decretada. Na hiptese, no ficou demonstrado que a presena ou no de crucifixo na parede seja condio paro o exerccio de mandato dos deputados ou restrio de qualquer prerrogativa Ademais. a colocao de enfeite, quadro e outros objetos nas paredes atribuio da Mesa da Assemblia (artigo 14, inciso 11, Regulamento interno). ou seja, de mbito estritamente administrativo, no ensejando violncia o garantia constitucional do artigo 5. inciso Vi da Constituio da Repblica. (Relatar: Des. Rebouas de Carvalho - Mandado de Segurana n. 13.405 -So Paulo, em 02.10.91).

    Com efeito, conforme se depreende do aludido decisium. "...a presena ou no de crucifixo no parede, ... ou o colocao de enfeite, quadro e outros objetos nos poredes atribuio ... de mbito estritamente administrativo, no ensejando violncia a garantia constitucional do artigo 5. Inciso VI da Constituio da Republica". Vate dizer: o fato no constitui violao a qualquer direito individual ou coletivo. posto que a 'hiptese ... incua para violentar a garantia constitucional, eis que a aludida sala no local de culto religioso".

    Afigura-se, ademais disso, no referido julgado. a prevalncia do artigo 99 da Constituio Federal: "Ao Poder Judicirio assegurado autonomia administrativa...". No cabe. pois. ao Egrgio Conselho o controle administrativo sobre a exposio e disposio de objetos ou simbolos religiosos nos dependncias dos Tribunais de Justia, face autonomia administrativa que possuem.

    A matria dos autos, produto de vetusta e ultrapassada discusso, agora repristinada, no merece guarida, eis que a redao do inciso I. do artigo 19, do Constituio Federal, apenas veda o Unio, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios estabelecer cultos religiosos ou igrejas. subvenciona-los, embaraar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relaes de dependncia ou aliana, ressalvada, na forma da lei, o colaborao de interesse pblico, previses que no implicam em vedoo paro a exposio de smbolo religioso em ambiente de rgo pblico, ou que a exposio foz o Estado se tomar clerical.

    Ainda no campo do direito administrativo, tio aqueles que aludem sobre a presena de smbolos religiosos em dependncias

    de rgos pblicos como sendo urna apropriao indevido do espao pblico por interesses privados, porque o interesse particular pode fazer tudo que a lei no probe, mas o Administrao Pblico s pode fazer aquilo que o lei determina.

    No particular, dato mximo vnia, entendo que o interpretao no tem lugar, porque no h no ordenamento qualquer norma jurdica vigente que determine o colocao de smbolo religioso - que seria uma negao ao Estudo laico. como tambm no h lei que proba tal colocao. Prevalece, portanto. o principio fundamental do interesse pblico, de garantir direitos individuais e. ao mesmo tempo, coletivos, uma vez que todos so iguais perante a lei e "ningum ser obrigado a fazer ou deixar defazer alguma coisa seno em virtude de ler (CF. art. 5, II).

    Observe-se o ilustrado Celso Ribeiro Bastos quando preleciona que:

    "A liberdade de organizao religioso tem uma dimenso multo importante no seu relacionamento com o Estado. Trs modelos so possveis: fuso, unio e separao. O Brasil enquadra-se inequivocadamente neste Olmo desde o advento da Repblica, com a edio do Decreto/ 29-A, de 17 de Janeiro de 1890, que instaurou a separao entre a igreja e o Estado. O Estado brasileiro tornou-se desde ento laico"

    Tenho, portanto, que h muito vivemos num Estado laico, desde 1890, sem estabelecer, subvencionar, embaraar, ou de alguma formo se associar com qualquer culta religioso, exatamente nos termos do inciso I, do artigo 19, do Constituio Federo!. Alis, em meados do mesmo sculo XIX, em Portugal ocorreu experincia semelhante. decerto mais radical, mais vivo, dado a cultura ento vigente.

    O insuspeito historiador e pensador portugus Alexandre Herculano, feroz combatente do Estado clerical, distinguiu muito bem o situao, afirmando, com toda pertinncia. aue o interesse individual contido no cultura de uma sociedade no afeta ou viola qualquer tipo de interesse coletivo, sobretudo quando - aqui. aludindo presena do simbolismo - o foto 'no perturba ou tolhe os direitos e ao de outrem ou dos outros".

    Por assim ver, na medida em que no vislumbro a invocada inconslitucionalidode no prtica apontada, muito menos qualquer ilegolidade, dada o ausncia de norma jurdica especifica em vigor, contendo obrigao de fazer ou de no fazer, considerando que o interesse pblico primrio (o sociedade), por sua legitima representao, o Poder Legislativo, nenhuma norma juridico expediu sobre o matria, e assim, por entender que essa matria no se comporta no controle exercido pelo Egrgio Conselho. sendo de competncia nica, exclusiva, interna e totalmente autnomo dos Tribunais de Justia, detentores do interesse pblico /1 secundrio: e por considerar que a presena de um smbolo religioso, in caso o crucifixo, numa dependncia de qualquer rgo do Poder Judicirio no viola, agride. discrimina ou. sequer.

    6,

  • 27/ ..v.vra:, 1..r.;,% ,..477.1 1/4.4../

    "perturba ou tolhe os direitos e ao de outrem ou dos outros" (sic), so razes poro no acolher a pretenso.

    Pedindo vnia, ao eminente Conselheiro Relator, ouso discordar do proposto, poro dispensar qualquer Consulto Pblica -at porque, o meu juizo. incua. face a cultura crist brasileiro -para votar, no mrito, no sentido do total improcedncia da pretenso.

    Realmente, h no julgado proferido indicao clara e objetiva das razes determinantes da concluso alvitrada, no se configurando omisso, obscuridade ou proposies inconciliveis a merecer reparao.

    No verdade, inconformado com o resultado do Julgamento. pretende o Embargante a reapreciao da matria sob o prisma que lhe favorvel, o que no se coaduna com a medida processual eleita, em face do art. 21 do Regimento Interno.

    Portanto, apreciados os elementos de convico produzidos nos momentos processuais adequados e no se prestando o pedido de esclarecimentos ao reexame da matria, conheo do pedido apenas para prestar os esclarecimentos supra.

    como voto. Cincia ao Requerente, aps, arquive-se.

    Brasilia,(17 dd-JulHQ de 2007\ u .

    Conselheiro TEQI RJMS E SILVA Relator

    Vg! '7

  • PEDIDO DE PROVIDNCIAS no. 1344 e apensos

    DECLARAO DE VOTO

    O interesse pblico primrio deve ser traduzido como defesa dos direitos individuais e no abstraes totalitrias de valores ou objetivos coletivos, que pertencem ao mundo do totalitarismo e de intervenes arbitrrias do poder poltico.

    A deciso de manter um crucifixo numa sala de audincias de Tribunal de Justia no torna o Estado clerical e, data maxiina iwnia, nem ofende nenhum interesse pblico, uma vez que, ao contrrio, preserva-o, ao garantir aos cidados a concretizao de uma liberdade. Como diria Alexandre Herculano', no perturba ou tolhe os direitos e aco de outrem ou das outros (Cartas, I, p. 213).

    Destarte, julgo improcedente o pedido.

    Sala das Sesses,

    1 Alexandre Herculano de Carvalho e .Arajo (Lisboa. 28.03.1810 Santarm, 13.09.1877), escritor, historiador, jornalista e poeta portugus.

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