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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO UNISAL MARIA JOSÉ ALVES CABRAL CONSELHO DE CLASSE E SÉRIE NA ESCOLA PÚBLICA COMO INSTRUMENTO DE EXCLUSÃO. Americana-SP 2011

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO

UNISAL

MARIA JOSÉ ALVES CABRAL

CONSELHO DE CLASSE E SÉRIE NA ESCOLA PÚBLICA

COMO INSTRUMENTO DE EXCLUSÃO.

Americana-SP

2011

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UNISAL

MARIA JOSÉ ALVES CABRAL

CONSELHO DE CLASSE E SÉRIE NA ESCOLA PÚBLICA

COMO INSTRUMENTO DE EXCLUSÃO.

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado do Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação, sob a Orientação da Profa. Dra. Sueli Maria Pessagno Caro

Americana-SP 2011

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C 12c

Cabral, Maria José Alves

Conselho de classe e série na escola pública como instrumento de

exclusão / Maria José Alves Cabral. – Americana: Centro

Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL, 2011.

150 f.

Dissertação (Mestrado em Educação). UNISAL – SP.

Orientadora: Profa. Dra. Sueli Pessagno Caro.

Inclui bibliografia.

1. Exclusão escolar. 2. Conselho de classe – Legislação. 3.

Avaliação educacional. I. Título.

CDD – 370.1934

Catalogação elaborada por Terezinha A. G. Antonio – CRB- 8/2606

Bibliotecária do UNISAL – Unidade Americana

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Conselho de Classe e Série na Escola Pública como Instrumento de Exclusão.

Maria José Alves Cabral

Dissertação apresentada como exigência parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação, no Programa de Mestrado do Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL

Dissertação de Mestrado defendida e aprovada em 22 / 06 /2011, pela comissão julgadora: _____________________________________________

Prof. Dr. Renato K. Soffner – UNISAL

_____________________________________________ Prof. Dr. Manoel Nelito Matheus Nascimento - UFSCar __________________________________________________ Profa. Dra. Sueli Maria Pessagno Caro – UNISAL (orientadora)

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AGRADECIMENTOS Agradecer significa o reconhecimento de que sem a colaboração das pessoas

que fizeram determinado percurso conosco e a ajuda divina o mesmo não se

realizaria. Reconheço e mostro minha gratidão em primeiro lugar:

A Deus pela infinita misericórdia e amparo em todos momentos que

permearam a execução desse trabalho.

A professora orientadora DrªSueli Maria Pessagno Caro,por acreditar que

seria possível a conclusão desse trabalho e sua contribuição para formação de uma

concepção de que é possível investir na criação de um ser humano que seja antes

de tudo um ser social e solidário.

Ao professor Professor Drº Manoel Nelito M. Nascimento, por sua orientação

e esclarecimentos sobre os vários caminhos que permeiam as políticas educacionais

e suas implicações no cotidiano escolar.

Ao Professor Drº Paulo de Tarso Gomes, por possibilitar o entendimento do

pensamento filosófico e sua ligação com as concepções pedagógicas.

Ao Professor Drº Marcos Francisco Martins, pela oportunidade de confrontar

os acontecimentos políticos e escolas filosóficas.

Ao Professor Drº Luis Antonio Groppo; por ampliar a visão sobre educação e

contextualizando com a contemporaneidade.

Ao Professor Drº Renato K. Soffner; que por meio da eficiente coordenação

possibilita um mestrado que prima pela excelência.

Por fim Ao corpo de funcionários do UNISAL lotados nas diversas áreas que

colaboraram direto e indiretamente nesta formação.

Aos professores, alunos e pais das escolas públicas pesquisadas:

EE Carlos Gomes de Campinas – SP e Centro Municipal de Ensino

Profissionalizante Osmar Passarelli Silveira Paulínia - SP, pela colaboração na

realização dessa pesquisa.

Aos alunos em especial, considerando serem estes o motivo da existência da

instituição escolar.

Aos meus filhos:

Rafael Cabral Machado Samira Cabral Machado

Marco Antonio coelho Machado que colaboraram na elaboração desse trabalho.

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Não julgueis para que não sejais julgados.

Pois com o juízo com que julgardes sereis

julgados, e com a medida com que tiverdes

medido, hão de vos medir.

(Mateus cap.7. verso 1,2)

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RESUMO

O eixo principal das análises e reflexões desenvolvidas neste estudo é o conselho de classe e série, como espaço de avaliação, pelo qual passa todo o resultado do processo educativo, desenvolvido pelo coletivo de professores, em suas respectivas disciplinas. O desenvolvimento do estudo teve como embasamento reflexões, análises e pesquisas sobre teóricos da educação brasileira e francesa que examinaram a estreita ligação entre o ensino escolar e exclusão social. A metodologia investigativa utilizada envolveu observação e participação direta nos conselhos e a aplicação de questionários aos pais, professores e alunos. As discussões nos conselhos de classe e série mostram que ocorre uma avaliação oculta e não formal do cotidiano da sala de aula e que esta pode concorrer para ocasionar a repetência e exclusão escolar do aluno. Palavras chaves: Conselho de Classe. Avaliação Escolar . Exclusão Escolar.

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ABSTRACT

The principal point of analysis and reflections developed in this study is the

council of class and grade as an evaluation place, where all the output of educational process that is developed by teachers in the respective subjects of school curriculum happens. The development of the study had as base the reflections, analysis and researches about Brazilian ad French education’s theorists that examined the narrow link between school teaching and social exclusion. The investigative methodology included observation and direct participation in the council of class and grade, and application of questionnaires to the parents, teachers, and students. The discussions in the council of class and grade show that occurs a hidden and no formal evaluation of the day-by-day in the classroom and it can provoke the repetition and school exclusion of the student.

Keywords: Class Council. School Evaluation. School Exclusion

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APEOESP - Associação dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo

AV – Avaliação

CENP - Coordenadoria de Assuntos Pedagógicos

CF - Constituição Federal

CEPAL- Comissão Econômica para América Latina

DEs - Diretorias de Ensino

EF - Ensino Fundamental

EM - Ensino Médio

IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

IDESP - Índice de Desenvolvimento do Estado de São Paulo

INEP - Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais

IPEA - Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira

PCNS - Parâmetros Curriculares Nacionais

PROFIC - Programa de Formação Integral da Criança

SARESP - Sistema de Avaliação do Estado de São Paulo

SEE - Secretaria de Educação Estadual

PREMEM – Programa de expansão e Melhoria do Ensino

UNESCO- Organização das Nações Unidas para Educação a Ciência e a Cultura

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LISTA TABELAS

Tabela I Analfabetismo de 5 a 19 anos entre 1872 a 1900 no Brasil........ P.13

Tabela II Indicadores Demográficos e Econômicos e Taxa de Alfabetização de

5 até 19 anos................................................................................................p.14

Tabela III Indicadores Demográficos e Econômicos e Taxa de Alfabetização

de 1950 1970..,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,.......................................................................p.16

Tabela IV Taxa de Analfabetismo na Faixa Etária de 15 anos ou mais por

Grupos de Idade......................................,,,,,,,,,,,..........................................p.18

Tabela V Ensino Fundamental - Taxas Agregadas de Transição................p.19

TabelaVI Níveis de Proficiência de Matemática – SARESP...........,,,,.........p..96

Tabela VII Níveis de Proficiência de Língua Portuguesa – SARESP-2010.p.96

Tabela VIII Médias de Proficiência da Rede Estadual por Ano/Série e

Disciplina.......................................................................................................p.97

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico.Taxa de Reprovação na América Latina..................................................p.....8

Gráfico I.................................................................................................................p.104

Gráfico II................................................................................................................p.107

Gráfico III...............................................................................................................p.108

Gráfico I V..............................................................................................................p.110

Gráfico V................................................................................................................p.112

Gráfico VI...............................................................................................................p.113

Gráfico VII..............................................................................................................p.114

Gráfico VIII.............................................................................................................p.115

Gráfico IX...............................................................................................................p.118

Gráfico X................................................................................................................p.120

Gráfico XI...............................................................................................................p.122

GráficoXII...............................................................................................................p.124

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INTRODUÇÃO.............................................................................................................8

CAPITULO1 - EDUCAÇÃO BRASILEIRA: UMA HISTÓRIA DE EXCLUSÃO .......... 12

11.. Historia dos conselhos de classe e Série ....................................................... 20

1.2. Composição do conselho de classe série ..................................................... 24

1.3. Conselho de classe e série - Avaliação e Aprendizagem ............................... 25

1.4. Conselho de classe saberes incorporados - tempo de aprendizagem interior e julgamento subjetivo ............................................................................................. 27

1.5. Conselho de Classe e Série: uma visão crítica .............................................. 32

CAPÍTULO 2 - AVALIAÇÃO ..................................................................................... 39

2.1 Avaliação na Idade Média............................................................................... 41

2.2 Avaliação no Período Renascentista .............................................................. 43

2.3. Avaliação na Idade Moderna e o Realismo na Pedagogia ............................. 47

2.4 - Avaliação no Período Contemporâneo ......................................................... 53

2.5. A avaliação da aprendizagem ........................................................................ 55

3. O CONSELHO DE CLASSE E A LEGISLAÇÃO ATUAL DE AVALIAÇÃO NA REDE DE ENSINO PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO ................................. 58

3.1. O neoliberalismo e as políticas educacionais no Estado de São Paulo.......... 64

3.2. Redemocratização da Rede Estadual e Políticas de Estado Mínimo ............. 67

3.3. A Progressão Continuada .............................................................................. 73

3.4. Histórico do sistema de Progressão Continuada ........................................... 75

3.5 Ciclos e Progressão Continuada................................................................... . ..83

3.6. Política de avaliação do Estado de São Paulo............................................. ...88

3.7. Característica do SARESP .......................................................................... . ..90

3.8. As Políticas de Avaliação Externa e o impacto nas práticas avaliativas...... .103

4. REFLEXÃO SOBRE A PESQUISA REALIZADA................................................ 106

.. 4.1. Analise de pesquisa e gráficos dos professores.............................................107

4.2 Gráficos com resultados da questões dos Professores.................................109

.. 4.2 Analise da pesquisa e gráficos dos alunos......................................................123

4.3 analise da pesquisa dos pais e responsaveis ...............................................127

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. ... ....132

REFERÊNCIAS...................................................................................................... ..136

APÊNDICES.......................................................................................................... ..143

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INTRODUÇÃO

Um dos principais papéis reservados à educação consiste antes de tudo, dotar a

humanidade de capacidade de dominar o seu próprio desenvolvimento. Ela deve, de fato,

fazer com que cada um tome o seu destino nas mãos e contribua para o progresso da

sociedade em que vive, baseando o desenvolvimento na participação responsável dos

indivíduos e das comunidades.

Relatório Jacques Delors. (2004: 82)

O cenário de repetência escolar na educação pública brasileira é uma

realidade que persiste por décadas e, como resultado, temos um gotejar continuo de

indivíduos com seus insucessos escolares. Este fato tem sido objeto de investigação

de inúmeros trabalhos e persiste ainda a cultura da repetência, a qual permanece

como mostra a estatística abaixo:

TAXA DE REPROVAÇÃO NA AMERÍCA LATINA

GRÁFICO - Fonte: IBGE, Síntese dos Indicadores Sociais, 2007 – repetência na 8ª série

De acordo com UNESCO, no 2º ciclo do ensino fundamental a reprovação era

de 19% em 2007, evoluiu para 24,5% em 2008. Ainda segundo indicadores, do

IBGE, Síntese dos Indicadores Sociais de 2007, o Brasil é o país que mais reprova

na América Latina. Portanto, faz-se necessário investigar por quais caminhos e

mecanismos se legitimam esse insucesso escolar.

Nesta pesquisa, delimitou-se como objeto de análise os Conselhos de Classe

e Série por se apresentarem como uma das prováveis instâncias que podem

contribuir para fomentar essa exclusão. Por uma questão metodológica, será

2,90% 4,40% 6,60%

9,90% 12%

18,70%

0

0,05

0,1

0,15

0,2

mundo América Latina Argentina Portugal Haiti Brasil

Taxa de reprovação do Brasil é a maior dos países do cone sul

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analisado o conselho de classe e série da EE. Carlos Gomes, do município de

Campinas no estado de São Paulo. As observações e análises foram retiradas dos

acontecimentos vivenciados na unidade escolar por esta professora e notei que a

rotina escolar tem criado uma avaliação desumana e unilateral no qual o aluno não

participa das decisões que colaborarão para definir, sua aprovação ou retenção e

exclusão social.

Tais fatos levam as interrogações pertinentes ao exercício da cidadania e

democracia, negadas aos alunos no momento em que são julgados sem terem a

oportunidade de participação nas instâncias que decidirão seu futuro escolar. Desse

modo, as instâncias decisórias escolares se transformam em uma correlação de

forças desiguais e converte-se em jogo de poder. Assim, esse espaço de decisão e

ação pedagógica perde o sentido. A ação reflexiva e formativa da avaliação se perde

quando ela é desvirtuada e carregada de impressões pessoais ficando

estereotipada, porque um julgamento nunca é isento de subjetividade, que por sua

vez provoca uma ―miopia‖ e impede a percepção do outro como sujeito de direitos.

Para a efetivação do presente estudo foram utilizados os seguintes

documentos: planilhas, espelho de notas, observação da participação nos conselhos

de classe e série, anotações de comentários e observações proferidas pelos

participantes durante as reuniões. Foi executada a pesquisa de campo em que

foram aplicados questionários abertos para os agentes envolvidos no processo

educativo: aos pais duas questões, aos alunos duas questões e aos professores um

com três questões e outro com nove questões.

Os instrumentos mencionados possibilitaram a realização do trabalho de

investigação da instância deliberativa, conselho de classe e série e análise das

possíveis causas determinantes que levam esse espaço a se transformar no

instrumento de eliminação da escola, concorrendo assim para alimentar a exclusão

social.

Porém a escola isoladamente não é a responsável pelo grave quadro de

exclusão social em que se encontra grande parte da população, mas pode colaborar

para o agravamento da situação. E isso pode acontecer por intermédio da escola, de

suas organizações burocráticas e instâncias, quando se apresentam como um

espaço de seleção contínua.

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Durante séculos, o conjunto da população tem sido vitima de formas cruéis de

exploração. No Brasil, tal processo de exploração ficou marcado com a vinda dos

negros africanos para atender ao regime escravocrata que perdurou do século XVI

até o final do século XIX.

A escola, com origem no sistema de exploração econômica, foi uma escola

excludente e seletiva concorrendo para o agravamento do contexto de exclusão.

Nesta perspectiva a organização burocrática da escola, como por exemplo, o

conselho de classe e série vem colaborar ratificando o fracasso do aluno, o conselho

como um espaço privilegiado no qual passa todo resultado do processo educativo e

que abriga ideologias, práticas educativas diversificadas e, portanto, pode tornar-se

um espaço seletivo.

A seletividade ocorre muitas vezes de forma inconsciente por meio das

instâncias e dos agentes envolvidos no processo educativo. Temos uma escola

burguesa na qual se produz uma educação estranha aos interesses das classes

populares. Dessa forma a escola tem produzido um conhecimento cujo objetivo

limita-se a formação para o trabalho, ou seja, a recomposição dos quadros no

mercado e também permanece como lócus privilegiado onde se reproduz os valores

e o modo de vida da classe dominante. A educação para a vida, visando

proporcionar o direito de ser ou o exercício da cidadania, ainda não se materializou.

Para entender esta escola ambígua se faz necessário contextualizá-la

historicamente, identificando os papéis que lhe foram atribuídos, sobretudo no final

do século XX. Nesse período ocorrem intensas mudanças educacionais provocadas

pela globalização e reestruturação da economia mundial, provocando profundas

crises sociais bem como enfraquecimento dos Estados nacionais, extinguindo

fronteiras e disseminando a miséria nos países periféricos.

Na realização do presente estudo, foram considerados os autores pioneiros

que se preocuparam com as questões de exclusão social, repetência, evasão

escolar, Historia da Educação e legislações a cerca da educação estadual paulista.

Considerando que o problema aqui estudado é o conselho de classe como

instrumento de exclusão, procura-se refazer o trajeto histórico em que se construiu o

cenário de repetência porque, obrigatoriamente, a retenção escolar passa pelo

conselho de classe e série.

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O trabalho está estruturado da seguinte forma:

No primeiro capitulo é traçado um histórico da origem dos conselhos na

França, bem como a implantação das primeiras experiências no Brasil, que teve a

intenção de instituir uma avaliação integral.

O segundo capítulo aborda a ligação intrínseca entre avaliação e conselho de

classe, o estudo sobre o significado da avaliação nos períodos da Idade Antiga até o

período contemporâneo e a avaliação da aprendizagem e sua relação com os

conselhos de classe e série.

O capítulo três traz o estudo sobre o conselho de classe e série e a sua

relação com avaliação instituída no ciclo básico da rede pública de São Paulo. A

análise compreende o período que se inicia em 1984, quando se dá a primeira

gestão do PMDB com a política de redemocratização da Rede de Educação após o

período da Ditadura Militar, até a gestão do atual PSDB, partido que governa o

estado de São Paulo desde 1995 e os ideais neoliberais implantados nas políticas

educacionais no estado: Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de

São Paulo (SARESP), progressão continuada e as práticas educativas.

No último capítulo é feito uma análise das questões distribuídas aos pais, aos

alunos e aos professores com intuito de obter respostas sobre as indagações

pertinentes ao conselho de classe e série e os respectivos gráficos para uma melhor

visualização dos resultados e comparações das respostas obtidas de cada um dos

questionários, bem como das considerações finais e a referência bibliográfica.

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CAPITULO1 - EDUCAÇÃO BRASILEIRA: UMA HISTÓRIA DE EXCLUSÃO

Ao falar da exclusão social, que ocorre de forma quase imperceptível através

da escola pública brasileira, não podemos esquecer que o Brasil historicamente

excluiu seus filhos economicamente e culturalmente, negando através de séculos, o

acesso ao saber. O sistema de ensino tem perpetuado tal exclusão, pois antes não

havia oferta de vagas para todos; hoje, abrigam quase todos em seu interior, mas

sem proporcionar o acesso ao conhecimento integral.

Segundo Romanelli (1973), no Brasil, até o final da década de 1920, as

camadas dominantes tinham como objetivo manter um sistema de ensino que

atendesse a seus interesses e status. Organizava assim, um ensino de forma

―fragmentária‖, no qual as disciplinas não se articulavam entre si formando um

conjunto de saberes e práticas que proporcionasse uma formação integral com

vistas ao trabalho. Dessa forma, o ensino era constituído de modo a preparar os

burgueses para ocupar os postos de serviços mais almejados. Sendo assim, o

acesso ao ensino ficou limitado aos filhos da elite brasileira, que recebiam uma

educação humanística, enquanto a educação profissional da população era ignorada

Uma vez que a economia não fazia exigências à escola em termos de

demanda econômica de recursos humanos; que a herança cultural havia sido

criada a partir da importação de modelos e pensamentos provenientes da

Europa; e que a estratificação social, predominante dual na época colonial,

havia destinado à escola apenas parte da aristocracia ociosa; que essa

demanda social de educação, mesmo quando englobou no seu perfil os

extratos médios urbanos, procurou sempre na escola uma forma de adquirir

ou manter status, alimentando, além disso, um preconceito contra o trabalho

que não fosse intelectual e uma vez, enfim, que todos esses aspectos se

integravam, é possível afirmar-se que a educação escolar existente com

origem na ação pedagógica dos Jesuítas correspondia exatas necessidades

da sociedade como um todo. A função social da escola era, então, a de

fornecer os elementos que iriam preencher os quadros da política, da

administração publica e formar a inteligência do regime.

(ROMANELLI, 1973, p. 45)

Page 18: CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO … · Conselho de Classe e Série na Escola Pública como Instrumento de Exclusão. ... metodologia investigativa utilizada envolveu

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No final do século XIX para a grande maioria da população, o ensino era

considerado dispensável a ponto de termos quase 80% da população analfabeta. Ao

analisarmos os dados referentes à educação no Brasil, observamos que a taxa de

escolarização era de apenas 9% de crianças e jovens de 5 a 19 anos de idade.

- TAXA DE ANALFABETISMO DE 5 A 19 ANOS ENTRE 1872 A 1900 NO BRASIL

N

Nº População recenseada no Brasil

Taxa de analfabetismo população de

5 anos ou mais

1

872 9.930.478 82,3

1

890 14.333.915 82,6

Tabela I Fonte: IBGE apud BOTELHO, Tarcisio. Contando os milhões da nossa historia.

(Rio de Janeiro), ano 1 nº4 p. 9, fev. 2004.

A tabela acima mostra a situação alarmante em carência educacional, pois

de quase 10 milhões de habitantes em 1872, apenas 17,7% estavam na escola. É

necessário registrar que não estão contabilizados na estatística as crianças e

adolescentes negros, uma vez que seus progenitores não eram considerados

cidadãos.

No ano de 1871 entrou em vigor a lei do ventre livre que libertava os filhos de

escravos nascidos após a sua promulgação. Por volta de 1885, passava de

quatrocentos mil o número de crianças negras nascidas livres. No entanto, para

essas crianças negras, a educação era considerada perigosa e desnecessária como

escreve Marcos Vinicius Fonseca.

A não difusão de habilidades como a leitura e escrita, o combate às

influências da raça negra na sociedade e a proibição aos escravos de

terem acesso a estabelecimentos de ensino, constituíram-se

importantes mecanismos de controle para uma sociedade que contava

com grande número de trabalhadores escravizados.

(FONSECA, 2001, p. 30)

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Na tabela abaixo, observamos uma pequena melhora em relação ao

analfabetismo se comparar os números apresentados entre 1872 e 1900, totalizando

um período de dezoito anos, mas o problema ainda persistia fortemente.

INDICADORES DEMOGRÁFICOS E ECONÔMICOS E TAXA DE ALFABETIZAÇÃO DE 5 ATÉ 19 ANOS

Indicadores 1900 1920 1940 1950

População total 17.438.434 30.635.605 41.236.315 51.944.397

Densidade demográfica 2,06 3,62 4,88 6,14

Renda per capita em dólares 55 90 180 -

% população urbana 10 16 31 36

% de analfabetos

(15 anos e mais) 65,3 69,9 56,2 50,0

Tabela II Fontes: Lourenço Filho, M. B. Redução das taxas de analfabetismo no Brasil entre 1900 e

1960: descrição e análise. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Rio de Janeiro, v. 44, n. 100, p. 250-272,

out./dez. 1965; Fundação IBGE, Séries Estatísticas Retrospectivas, 1970.

A estatística apresentada no tabela 2 nos leva a algumas considerações: a

primeira, que fica já evidente ao observarmos os dados acima, é que o

analfabetismo assolava o país e continuava principalmente entre jovens até 19 anos,

não sendo contabilizada a população adulta. Outro fato que agravou a situação é

que após a abolição do regime escravocrata em 1888, houve um aumento de

contingente e isso geraria um novo cenário social e de carências educacionais num

quadro já tão precário. Não esqueçamos que, para a população negra, o acesso a

cultura era mais difícil porque incluía o preconceito e o pouco domínio da língua

portuguesa falada, condição para ser alfabetizado. Faltava para essa parcela da

população, o capital cultural básico, ou seja, o código de acesso à cultura

historicamente acumulada que era o domínio da língua falada. Não se observa no

Brasil preocupação ou algum movimento com relação à população de escravos em

relação ao domínio da língua portuguesa. Por outro lado verificamos que havia já em

1854, legislação proibindo o ensino a negros. Esta legislação limitou o acesso ao

ensino e deixa claro quais pessoas que não teriam esse direito como observamos no

decreto que institui a Reforma Couto Ferraz:

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DECRETO Nº 1.331A- de Fevereiro de 1854.

ART.69. ―Não serão admitidos à matrícula, nem poderão

frequentar as escolas:

§ 1º Os meninos que padecerem moléstias contagiosas.

§ 2.º Os que não tiverem sido vacinados.

§ 3.º Os ―escravos‖

(COLEÇÃO DAS LEIS DO IMPERIO DO BRASIL,1854)

(TOMO 17, 2ª PARTE , SECÇAO 12ª p.59)

Portanto, em 1854, legitimou por meio da legislação, o que era considerado

normal; os escravos, escravo liberto e toda sua prole a exclusão, negando-lhes o

conhecimento. Sendo assim, mesmo que os senhores se propusessem a arcar com

os custos, da educação dos seus cativos, a educação com características escolares

era proibida aos escravos. Um exemplo dessa situação era o regulamento de ensino

dos colégios de Artes Mecânicas das Províncias. O Rio Grande do Sul, Rio de

Janeiro e Espírito Santo, amparadas na Reforma Couto Ferraz, vedava a matrícula

às crianças de cor preta, mesmo as libertas. Assim, vivia os negros sem os

conhecimentos elementares da leitura e sem perspectiva de mudança, uma vez que

a escola era para a elite e seus filhos e as poucas vagas ofertadas as classes

populares eram insuficientes. (PRIMITIVO, Moacyr, p.39).

A situação começa a mudar no século XX quando a crescente industrialização

gera demanda de mão de obra, o que torna necessário uma educação para todos,

inclusive para as populações libertas.

Assim, visualizamos uma mostra da realidade do final do século XIX e início

do século XX, com suas contradições, conflitos inerentes a uma sociedade em

transformação, em que gradativamente se sai de um sistema de economia agrária e

para uma recém instalada industrialização, que trazia consigo a necessidade de mão

de obra mais qualificada. A escola, no entanto, não acompanha tal mudança,

permanecendo atrelada aos interesses da elite brasileira, e ignora as necessidades

e anseios do povo.

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INDICADORES DEMOGRÁFICOS E ECONÔMICOS E TAXA DE ALFABETIZAÇÃO DE 1950/1970

Indicadores 1950 1960 1970

População total 51.944.397 70.119.071 94.501.554

Densidade demográfica 6,14 8,39 11,18

Renda per capita em dólares - 236 -

% população urbana 36 46 56

% de analfabetos (15 anos e mais) 50,0 39,5 33,1

Tabela III Fontes: Lourenço Filho M. B. Redução das taxas de analfabetismo no Brasil entre 1900 e 1960: descrição e

análise Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Rio de Janeiro, v. 44, n. 100, p. 250-272, out./dez. 1965; Fundação IBGE,

Séries Estatísticas Retrospectivas, 1970.

A evolução de um modelo exclusivamente agrário–exportador para

um modelo parcialmente urbano-industrial afetou o equilíbrio estrutural

dos fatores influentes no sistema educacional pela inclusão de novas e

crescentes necessidades de recursos humanos para ocupar funções

nos setores secundários e terciários da economia. O modelo

econômico em emergência passou, então a fazer solicitações à

escola.

(ROMANELLI, 1978, p. 46)

A autora escreve que em quase toda a história brasileira as bases políticas

assentaram-se mais no poder exercido pelos dos donos de terra e nos interesses

dos latifundiários, ou seja, numa minoria aristocrática agrária. Sendo assim, a

organização do ensino mostrou-se sempre fragmentada, devido aos interesses

particulares dessa minoria burguesa. Dentro desse contexto, a escola qualificava os

representantes da política local em que estava inserida atendendo as esferas mais

altas do antigo regime. O monopólio da cultura oferecido pelas escolas era garantia

de postos burocráticos e nível mais elevado de atuação no que diz respeito à prática

profissional, isto é, a área administrativa do mercado de trabalho recém surgido com

a recente industrialização no Brasil.

Este quadro de monopólio do mecanismo de acesso a cultura continuou se

arrastando, mas isso não significa que não houve luta por parte dos educadores e

da população para mudar. O exemplo do manifesto dos Pioneiros (1932) e das lutas

travadas pela população em busca da expansão do ensino para atender suas

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necessidades de formação. Os poucos avanços verificados e a leve redução do

analfabetismo se deveu aos intensos enfrentamentos.

O Brasil continuou apresentando descompasso entre educação e

desenvolvimento. Na década de 1930, o ensino expandiu-se fortemente por causa

do crescimento sensível da demanda social de educação. Isso se deu devido a dois

fatores: o crescimento demográfico e a urbanização. O crescimento demográfico é

responsável pela demanda de educação e a urbanização, pela evolução da

demanda. Mas a expansão do ensino foi deficiente porque ocorreu de forma

quantitativa e em seu aspecto estrutural. Entre as deficiências podemos apontar: a

oferta insuficiente de vagas nas escolas; o baixo rendimento do sistema escolar; a

discriminação social acentuada. (ROMANELLI, 1978)

Ainda no aspecto cultural, havia a manutenção e expansão de uma escola

voltada para atender uma pequena elite, ignorando as transformações sócio-

econômicas e culturais que a sociedade atravessava, alijando o povo em seu direito

de aprender. Para Romanelli 1978, é esta inadequação que define a defasagem e o

desenvolvimento brasileiro após os anos 1930 e na década de 50 em que metade da

população não era alfabetizada, conforme se observa no Quadro 3.

Os mecanismos de seleção dentro da escola perpetuam-se, mudando apenas

a roupagem e, aos antigos; novos mecanismos são inseridos com novas formas de

coibir o acesso da população ao saber.

Um exemplo é o dos exames de admissão para cursar as séries

subseqüentes, instituído em1931, pelo decreto nº 19.890 e que vigorou até 1977.

Esse permaneceu como um eficiente filtro às etapas posteriores de educação

durante quarenta anos, quando foi revogado e surgiram outros mecanismos, como a

instituição dos conselhos de classe e série em 1977. Embora tendo em seu princípio

um ideal democrático que possibilitaria uma visão do rendimento integral do aluno,

na prática acaba por se transformar em uma instância legitimadora de exclusão, no

qual se retinha por falta de décimos nos conselhos finais.

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TAXA DE ANALFABETISMO NA FAIXA ETÁRIA DE 15 ANOS OU MAIS POR GRUPOS DE IDADE.

BRASIL - 1970 - 1996

Ano 15 anos

ou mais

15 a 19

Anos

20 a 24

Anos

25 a 29

Anos

30 a 39

Anos

40 a 49

Anos

50 anos

ou mais

1970 33,6 24,3 26,5 29,9 32,9 38,5 48,4

1980 25,4 16,5 15,6 18,0 24,0 30,8 43,9

1981 20,1 12,1 12,2 12,7 15,3 23,8 38,3

1995 5,6 6,8 7,5 9,3 11,0 16,7 32,7

1996 14,7 6,0 7,1 8,1 10,2 15,5 31,5

Tabela IV Nota: Exclusiva a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá em 1995 e

1996. Fonte: IBGE - PNAD 1996

Segundo o IBGE, em 1982 a taxa anual de repetência no primeiro ano do

primeiro grau atingia (52,4%) da população matriculada. O Brasil historicamente é

um país cuja desigualdade permeou suas várias fases, principalmente por sua

economia ter sido essencialmente agrária e com regime de exploração de mão de

obra escravocrata, o que justifica e cristaliza a injustiça social proveniente do

sistema.

Dentro deste modelo econômico é que a organização da escola brasileira teve

sua origem, assim teremos uma escola que atendia somente aos anseios da elite

agrária brasileira. Para o povo, havia certa quantidade de lugares nas poucas

escolas primárias públicas, de onde os alunos poderiam seguir para as escolas

normais e técnico-profissionais mantidas pelo poder público.

Observamos aqui a dualidade da escola reforçando e dividindo os estudantes

em duas categorias, uma privilegiada e a outra destinada à exclusão pela falta de

formação. Assim, o caráter elitista da educação brasileira fez com que durante

décadas não fizesse parte das prioridades nacionais e, muito menos, de debates

que envolvessem a sociedade, um acesso escolar com equidade.

Os governos brasileiros ignoraram do mesmo modo a crescente classe

média, bem como suas necessidades e aspirações de formação. Não havia

expansão do sistema de ensino para toda população, nem mesmo para as camadas

em ascensão social existente, que embora fosse reduzida, aspirava ao ensino

superior.

O aumento no número de estabelecimentos de ensino no país foi resultado de

pressão e lutas populares. No campo educacional, essa luta se traduziu da seguinte

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forma: de um lado a pressão social de educação, cada vez mais crescente e

exigente; e do outro, o controle das elites mantidas no poder, que buscavam, por

todos os meios, conter a pressão popular pela distribuição limitada de escolas e

manter, pelo uso de legislação, o caráter elitizante da educação. Assumindo uma

característica de luta de classes, a expansão da educação obedeceu às normas da

instabilidade de uma sociedade profundamente marcada por uma cultura seletiva e

burguesa.

Como podemos observar, os interesses da elite é responsável pelo

surgimento de uma escola promotora de exclusão social e a repetência é resultado

desse processo, no qual o Brasil assume a dianteira entre os países que mais

reprova:

ENSINO FUNDAMENTAL - TAXAS AGREGADAS DE TRANSIÇÃO

Brasil - 1981 - 2010

Ano Promoção Repetência Evasão

1981 58% 36 6%

1985 58% 36 6%

1990 60% 34 6%

1995 65% 31 4%

1998 67% 29 4%

2000 68% 28 4%

2002 70% 27 3%

2004 71% 26 3%

2005 72% 26 3%

2008 73% 24 2%

2010 75% 23 2%

Tabela V Fonte: MEC/INEP/SEEC (* )Dados estimados

O quadro acima caracteriza bem a escola brasileira, por meio de seus

mecanismos burocráticos de eliminação de excedente, foi sutilmente deixando pelo

caminho, ao longo do século, um a um, milhões ficaram sem oportunidades. Deixou,

assim, de cumprir seu papel primordial, o de socializar o saber. Também negou a

oportunidade de formação ao cidadão impedindo o acesso e domínio do saber e

consequentemente impedindo formação de pessoas autônomas.

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1.1. Historia dos conselhos de classe e Série

Os conselhos de classe e série tiveram sua origem na França em 1945,

primeiramente, em classes experimentais e, de forma espontânea, nos

estabelecimentos educacionais que consideravam a importância da iniciativa. A

finalidade era de orientar o acesso ao ensino técnico ou clássico francês segundo a

aptidão do aluno.

Rocha (1986) afirma que em 1959 com a reforma educacional da França

foram criados três tipos de conselhos: conselho para avaliar as turmas, conselho de

orientação Institucional e o conselho de orientação. Os objetivos da reforma foi o de

democratizar o ensino para as classes populares possibilitando o acesso as diversas

modalidades de ensino.

Dalben (1994) faz os seguintes relatos sobre a criação do sistema francês de

conselhos:

Por ocasião da reforma de ensino francesa de 1959, foram instituídos

três tipos de conselhos; o conselho de classe, no âmbito da turma; o

conselho de orientação; no âmbito do estabelecimento; e o conselho

Departamental de Orientação, em esfera mais ampla. Essa reforma

almejava declaradamente organizar um sistema escolar fundado na

observação sistemática e continua dos alunos, com vista a oferecer,

a cada um, o ensino que corresponda a seus gostos e aptidões.

(DALBEN, 1994, p.26)

Segundo Dalben 1994, o conselho de classe foi instituído como experiência

no Brasil no momento em que novas idéias e práticas pedagógicas constavam na

agenda de lutas dos pioneiros da educação nova. O anseio por concretizar

melhorias nas condições de aprendizagem possibilita a abertura para experiências

inovadoras como é o caso da metodologia de avaliação coletiva francesa. O

conselho funcionava de uma forma multidisciplinar: coordenado por um professor

orientador ou pelo diretor e o vice-diretor da instituição escolar, o inspetor geral

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responsável pela turma, um médico, um assistente social ou enfermeira, um

conselheiro de orientação, os professores da turma, outros inspetores, dois alunos

eleitos por seus pares como delegados de turma e os pais. E conselho tinha por

função elaborar pareceres sobre os alunos com objetivo de serem transmitidas as

famílias, que recebiam orientação quanto ao acesso dos alunos às diferentes

modalidades de ensino.

No Brasil, o Conselho de classe foi introduzido nas práticas pedagógicas com

a intenção de valorizar e incentivar o trabalho coletivo. Essa experiência foi trazida

ao Brasil por um grupo de professores que estagiavam no Instituto de Pesquisas de

Serves na França. A escola francesa tinha o objetivo de fazer uma avaliação coletiva

e global do aluno por meio de reuniões periódicas, inicialmente quinzenais e

posteriormente, mensais. Faziam leituras e relatos das dificuldades de

aprendizagem de suas respectivas classes e, de cada aluno, em separado.

Rocha (1982, p.19) afirma que a França neste período passava por várias

reformas com o objetivo de democratizar o seu sistema de ensino e a instituição dos

conselhos foi resultado destas mudanças educacionais implantadas por ocasião da

reforma.

Com relação ao Brasil, as primeiras instituições escolares a adotar a nova

metodologia avaliativa foram o Colégio Santa Cruz de São Paulo e de São João Del

Rei em Minas Gerais o Centro Educacional de Niterói (RJ), o Colégio Brasileiro de

Almeida (RJ) e o colégio de aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro

que, em 1959, institui os conselhos de classe com grande aceitação por parte dos

docentes. Os conselhos de classe e série seriam implantados de forma indireta

através do Premem1.

Posteriormente, a (lei 5.692 / 71) traça as diretrizes para a operacionalização

nas escolas públicas nacionais. Antes da referida lei, os conselhos de classe e série

não eram instituídos de maneira formal, apareciam como prática espontânea nas

instituições escolares que visualizavam sua importância para o processo de

avaliação de forma integral.

1 Programa de Expansão e Melhoria do Ensino ( PREMEN - MEC).

http://www.jusbrasil.com.br/diarios/3292974/dou-secao-1-14-11-1974-pg-31

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O estado de Minas Gerais foi o primeiro a instituir as novas diretrizes que

implantaram os conselhos de classe e série de forma oficial na rede pública

estadual.

Para Dalben (1994), um conselho de classe deve ter a participação direta dos

profissionais que desenvolvem trabalho pedagógico com as turmas para avaliação,

de forma a possibilitar-lhes a oportunidade de analisarem e discutirem o processo de

trabalho desenvolvido em sala de aula. O docente, ao participar desse processo,

coloca para reflexão sua própria prática pedagógica, tanto em termos de

relacionamento com os alunos como o seu fazer pedagógico em relação conteúdos,

metodologias, procedimentos didáticos, sistema de avaliação/recuperação e outros.

Sempre estão presente os registros de desempenho, os sucessos, os

fracassos com suas razões e as alternativas de superação. A relação

professor/aluno entra com um peso forte na dimensão do conjunto de teias que se

estabelecem nos seus processos sociais e seus conflitos. Nesse sentido, encontram

espaço para as reflexões e reorganização de procedimentos e atitudes. De forma

oficial aqui no Brasil, a (lei 4.024 de 1961), que desde 1948 começou a ser pensada

e debatida em tramitação pelo congresso durante treze anos, desencadeia o

compromisso dos docentes com a avaliação dos alunos.

As legislações básicas que regem os conselhos são: (Decreto n° 10.623/77),

(Decreto n° 11.625/78), (Parecer nº 67/98) (normas regimentais básicas). O

Parecer67/98*2 explicita o que é um conselho de classe série sua composição, sua

abrangência, os pontos em que possui poder deliberativo e aplicação prática,

afirmando que é o colegiado responsável pelo processo coletivo de

acompanhamento e avaliação do ensino e da aprendizagem:

Capitulo III Dos colegiados:3

a) ―Reúne-se para debater as questões do ensino e da

aprendizagem;

b) Possibilita a inter-relação entre profissionais e alunos, entre

2 http://www.ceesp.sp.gov.br/Pareceres/pa_67_98.htm

3 http://www.publicado.com.br/ud/map78.htm

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turnos e entre séries e turmas;

c) Propicia o debate permanente sobre o processo de ensino e de

aprendizagem

d) Orienta o processo de gestão do ensino.

e) favorece a integração e seqüência dos conteúdos curriculares

de cada série e classe.

O conselho de classe se converte em um espaço democrático quando todos

os envolvidos no processo escolar têm participação garantida, inclusive os próprios

alunos que estão sempre ausentes nas decisões sobre sua vida escolar. Para

Rocha, o conselho de classe é uma reunião dos professores de uma turma com

múltiplos objetivos: ―Avaliar o aproveitamento dos alunos e a turma como um todo,

com objetivo de chegar a um conhecimento mais profundo do aluno e promover a

interação dos professores e de elementos da equipe escolar‖. (ROCHA, 1986, p.9)

Mas tal espaço pode caminhar em sentido inverso se não respeitados o fim

para qual foi instituído, bem como o percurso de luta histórica desde os pioneiros da

educação no Brasil. Estes lutavam por uma educação nova, democrática, no qual o

processo pedagógico tivesse plena liberdade para ocorrer e houvesse um espaço

para discussão coletiva, para que o aluno fosse avaliado de forma integral.

Um espaço mais rico de transformação da pratica pedagógica e,

talvez, dos mais mal aproveitados nas escolas é o conselho de classe.

Queremos repensar a estrutura do conselho de classe, para dar mais

sentido e coerência ao processo de avaliação que a escola desenvolve

e ajuda mudar a prática educativa.

(CRUZ, 2005, p. 11)

Uma característica do conselho de classe é sua natureza democrática ao

proporcionar um espaço rico para o debate, a visão integral do desempenho do

aluno e reflexão sobre a prática pedagógica. Mas este, em algum momento do

processo histórico escolar, se perdeu. Cruz 2005, alerta que a prática tem revelado

que as reuniões dos conselhos de classes se tornaram meros momentos em que se

discutem as notas e conceitos, enquanto alguns discutem problemas

comportamentais da turma ou do aluno.

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1.2. Composição do conselho de classe série

Nas escolas estaduais de São Paulo, os conselhos são presididos pelo diretor

com participação de professores da mesma classe, conselho de classe e pelos

professores de igual série, conselho de série. De acordo com as normas

regimentais, alunos também devem participar dos conselhos.

O conselho de classe faz parte da organização burocrática da escola, com

suas atribuições reguladas por lei. Com relação à legislação dos conselhos de

classe e série, o (decreto 67/98 seção II artigos 204) orienta as escolas no sentido

de esclarecer os procedimentos a serem adotados nas escolas públicas de São

Paulo com relação aos conselhos de classe e série. Embora as funções e objetivos

dos conselhos de classes estejam bem definidos em lei, tal instância democrática de

decisões tem se desvirtuado e foge em muitos momentos aos objetivos pelos quais

foram criados em algumas instituições escolares públicas. Assim, dentro do espaço

escolar o conselho passa a adquirir implicações diversas à proposta inicial que é a

avaliação de forma global do desempenho do aluno, bem como promover a inclusão

social através do avanço na aprendizagem. Também é uma instância para se

discutir o projeto pedagógico, sua adequação em função do ritmo de aprendizagem

do aluno durante o ano letivo.Em tese seria uma forma de promover uma regulação

no ritmo das aprendizagens, considerando que este proporciona uma analise geral

em todas as disciplinas.

4 Seção II Dos Conselhos de Classe e Série:

I - possibilitar a inter-relação entre profissionais e alunos, entre turnos e entre séries e turmas; II - propiciar o debate permanente sobre o processo de ensino e de aprendizagem; III - favorecer a integração e seqüência dos conteúdos curriculares de cada série/classe; IV- orientar o processo de gestão do ensino. § Artigo 21 - Os conselhos de classe e série serão constituídos por todos os professores da mesma classe ou série e contarão com a participação de alunos de cada classe, independentemente de sua idade. § Artigo 22 - Os conselhos de classe e série deverão se reunir, ordinariamente, uma vez por bimestre, ou quando convocados pelo diretor. § Artigo 23 - O regimento escolar disporá sobre a composição, natureza e atribuições dos conselhos de classe e série. (PARECER CEE nº. 67/ 98 - CEF/CEM - Aprovado em 18-03-98) Disponível em http://www.ceesp.sp.gov.br/Pareceres/pa_67_98.htm

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1.3. Conselho de classe e série - Avaliação e Aprendizagem

A relação do conselho e aprendizagem é indissociável, principalmente, se

considerarmos que somente podemos avaliar o que ensinamos. O processo de

avaliação consiste em examinar minuciosamente uma determinada situação em

todos os aspectos em que ela se apresenta. O problema, neste caso, é o quanto

nosso aluno assimilou da aprendizagem que participou e como avaliá-la. Para essa

tarefa, deve estar claro na proposta pedagógica o compromisso de garantir efetiva

aprendizagem e o ponto de partida será uma avaliação diagnóstica. Ela fornece

subsídios para formular o plano de ensino a partir das necessidades apresentadas

na avaliação efetuada.

Tal avaliação, sem caráter de emitir juízos, servirá para o profissional

conhecer a diversidade de alunos que compõe as suas turmas, suas características

individuais, sua história com a educação escolar e se necessita ou não de atenção

individualizada.

A partir da avaliação inicial é possível criar registros individuais para

acompanhar a evolução do aluno e propor intervenções pedagógicas quando

necessário, refletindo sobre a situação que se apresenta: em quais componentes

apresentam dificuldades e por quais motivos. Quais habilidades ainda não

desenvolveram, e propor soluções para fazer com que venham a adquiri-la. Quais

foram os aspectos de maior de maior crescimento e o que possibilitou o crescimento.

Quais alterações serão necessárias na prática pedagógica durante o ano letivo e

que necessita ser trabalhada.

Porém, uma avaliação somente terá sentido se for resultado de um claro

objetivo do que se deseja alcançar após o desenvolvimento das disciplinas que

serão o meio utilizado para desenvolver as habilidades dos alunos e que propiciarão

a ampliação de suas estruturas de conhecimento, possibilitando o seu domínio em

determinada área de conhecimento. Para isso, devem-se fazer os questionamentos

e observações com relação às habilidades pretendidas ao trabalhar os conteúdos.

A clareza deve permear o processo educativo e somente se pode avaliar o

conteúdo ou aprendizagem efetivamente realizada e desenvolvida em sala de aula.

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Nesse sentido, as subjetividades devem ser policiadas para não interferirem nas

avaliações da aprendizagem.

Sendo assim, os comportamentos que consideramos ―inadequados‖, ―atitudes

negativas‖, ―opção sexual‖, ―culturas de rua‖, ―comportamento agressivo‖, ―o/a

educadinho (a)‖, ―o/a bonito (a)‖, ―aparência grosseira‖, ―o que não terá futuro devido

sua historia pregressa‖, (o/a) ―preguiçoso‖, ―o/a vulgar‖, (o/a) ―fraquinho‖ (a), mas

―bonzinho‖ (a) e, soma se a esta lista, uma interminável fila de caracterizações que

tendem a interferir na avaliação cotidiana e, no momento do conselho de classe,

colaborarão definitivamente para agravar a situação do aluno estigmatizando-o,

porque no conselho de classe e série é um momento em que todos se sentem mais

livres para se expressarem.

Dessa forma, as características pessoais, de personalidade e comportamento,

bem como a sua origem social e a situação civil dos genitores, não devem entrar na

composição da média do aluno, pois o foco tem que ser a aprendizagem.

O conselho, um espaço rico em aprendizagens, é a instância que pode

fornecer uma visão clara de todas as disciplinas que este aluno estudou. É um

momento de repensar os conteúdos e o ritmo na aprendizagem do educando: quais

áreas o aluno apresenta dificuldade? De que maneira as interferências pedagógicas

lhe permitirão avançar para um aprendizado pleno? Como melhorar sua

aprendizagem?

Os anseios particulares e a falta de espaço de discussões para o encaminhamento

de problemas que o professor detecta, constituem-se como motivos da perda de

objetividade durante os conselhos.

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1.4. Conselho de classe saberes incorporados - tempo de aprendizagem

interior e julgamento subjetivo

Sem deixar de levar em consideração as diferenças, cada individuo tem seu

tempo interior e ritmo interior de aprendizagem. O professor deve ter um olhar

diversificado sobre o conjunto da classe para detectar as dificuldades individuais,

pois outro problema é como ensinar a alguém que não se conhece?

O questionamento nos remete a outra questão pertinente que implicará no

sucesso ou fracasso da aprendizagem: é preciso conhecer a pessoa a quem será

ministrado aulas, conhecer os valores, a que e como são atribuídos estes valores,

sua cultura, seu habitus É relevante saber, a partir da cultura formal, quais áreas

precisam ser reforçadas, se o sistema de ensino possui classes de recuperação

para atender a todos os casos de defasagem em disciplinas que compõe a grade

curricular.

O domínio dos códigos de acesso ao mundo do conhecimento faz-se

necessário caso intencionamos mudar a correlação de forças existente na

sociedade. Sobre a conquista desses códigos, desta linguagem escreve:

Um dos principais mecanismos de conservação social é a linguagem.

Ela é a mais inatingível das conquistas, pois a mais forte herança

cultural é a linguagem. É nesta que estão todos os valores e

experiências de uma classe. A linguagem falada está muito distante

da linguagem utilizada no meio acadêmico. Resumindo, a principal

função da língua é: conservar os valores que fundamentam a ordem

social. (BOURDIEU, 2007, p.56).

Nessa perspectiva, a função social da escola é prover meios para que o

indivíduo saia da cegueira intelectual que o mantém preso e alienado no sistema de

exploração capitalista.

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A ampliação do universo e repertório, e o acesso democrático aos códigos e

significados devem permear as ações cotidianas na instituição escolar, com o

objetivo de emancipar o indivíduo ao qual foi negado o direito ao conhecimento e,

mesmo no interior da escola, pode continuar por todos os anos que a frequentar sem

se apossar do conhecimento.

O autor afirma que o observado acima ocorre na escola de forma dissimulada

e quase imperceptível:

Com efeito, para que sejam favorecidos os mais favorecidos e

desfavorecidos os mais desfavorecidos, é necessário e suficiente

que a escola ignore, no âmbito dos conteúdos do ensino que

transmite, dos métodos e técnicas de transmissão e dos critérios de

avaliação, as desigualdades culturais entre as crianças das

diferentes classes sociais. Em outras palavras, tratando todos os

educandos, por mais desiguais que sejam de fato, como iguais de

direitos e deveres, o sistema escolar é levado a dar sua sanção às

desigualdades iniciais diante da cultura.

(BOURDIEU, 2007, p.53)

Esclarece que o acesso à pesquisa científica e a obras culturais permanece

restrito às classes privilegiadas que têm oportunidades mais numerosas, mais

duradouras, mais extensas de freqüentar museus, viagens turísticas enriquecendo a

prática cultural. (BOURDIEU, 2007). As crianças que povoam as escolas públicas na

sua grande e esmagadora maioria não possuem acesso aos bens culturais, ficando

com sua concepção de vida, gostos e estética moldados pela mídia que possui

compromisso com as classes privilegiadas e que somente visam lucro.

Ao levar uma prática limitada à sala de aula, a função social da escola, cujo

objetivo maior é a emancipação, ficará comprometida definitivamente, pois ―dar‖ o

mínimo não é o suficiente para promover o acesso aos bens culturais. E, utilizar a

argumentação de que o aluno apresenta dificuldades de interpretação e de

assimilação ou que não possuem pré-requisitos é permitir a continuidade da

situação inicial de quando chegaram à escola, é legitimar a miséria.

O professor e a gestão da escola, mesmo que em separado, pode fazer

muito, se não se esconderem sob alegação de que o ―sistema‖ assim quer que

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―façamos‖ e continuarem com as práticas e saberes oferecidos aos alunos, quase

sempre, sem significados para a vida dos mesmos; o que faz com que alguns fiquem

anualmente pelo caminho para, futuramente, ocuparem vagas em subempregos,

que não exigirão domínio de conhecimento ou qualificação.

No interior da escola, os docentes continuam como formigas operárias, a de

colocar nas fileiras as peças para reprodução do complexo sistema social em que

vivemos.

É fato que alunos oriundos de famílias com poder aquisitivo comprometidos

apresentem um repertório cultural menor ao adentrar a instituição escolar e, que

apesar de apresentarem dificuldades, poderão adquiri-lo no seu ritmo de

aprendizagem, pois vale lembrar que todo conhecimento é adquirido e a escola não

deve ser o local onde os alunos sejam alijados em seu direito básico à ―vida‖ em seu

sentido pleno.

A escola deve entender que o campo social é um lócus de luta de classes no

qual cada indivíduo lutará com os meios que dispõe, ou seja, os meios dos quais

seu espaço social lhe oportuniza. Dessa forma, os educadores que também são

pertencentes a esta mesma classe trabalhadora, mas conhecedores dos

mecanismos e do funcionamento das estruturas de manutenção de poder podem,

mediatizados por uma prática pedagógica humana e uma avaliação democrática,

envolver os alunos em um processo e emancipação.

Bourdieu (2007) descreve o espaço social como um campo de lutas no qual

os (indivíduos e grupos) elaboram estratégias que permitem manter ou melhorar sua

posição social. Estas estratégias estão relacionadas aos diferentes tipos de capital:

O econômico, sob suas diferentes formas e fatores de produção

(terras, fábricas, trabalho) e do conjunto de bens econômicos

(dinheiro, patrimônio, bens materiais) acumulado, reproduzido e

ampliado por meio de estratégias específicas de investimentos

culturais e à obtenção ou manutenção de relações sociais que podem

possibilitar o estabelecimento de vínculos economicamente úteis a

curto e longo prazo; e o cultural, que são as atitudes e disposições

familiares, bem como o investimento propriamente escolar, como

tempo de dedicação e aquisição de bens culturais e que são

elementos definidores das chances objetivas do estudante acumular

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capital cultural, e, por conseguinte, obter êxito escolar. Desse modo,

―não há distinção propriamente escolar que não possa ser relacionada

a um conjunto de diferenças sociais sistematicamente associadas.

(Bourdieu, 2007p. 77).

Analisando os aspectos que compõem as estruturas sociais e sua influência

nas pessoas e, considerando as categorias de capital que o autor explicita, as ações

pedagógicas dos professores deverão ser orientadas no sentido de propiciar um

aprendizado de aproximação com o saber e não de estranhamento, que pode formar

uma barreira, prejudicando o processo de aprendizagem.

Paulo Freire 2009 apresenta a forma de promover tal libertação em

―Pedagogia do Oprimido‖ em que denuncia a forte opressão exercida pelo sistema

capitalista sobre os indivíduos. O domínio desse sistema extrapola a relação

trabalhista, provoca a alienação total do ser com o objetivo principal de explorar para

manter os privilégios da classe dominante, que somente continuará existindo se

persistir a exploração física e intelectual da pessoa por meio das ideologias impostas

por essa classe. Para manter esse domínio, promove um esvaziamento do ser

dominado, o qual não oferece resistência ao ―opressor‖. A pessoa desenvolve sua

personalidade nesse mundo, o único que passou a se considerado e legítimo, com

imposição de verdades que não foram construídas pelo conjunto da população

―despossuída‖, mas que pelos mecanismos de opressão da classe dominante passa

a aderir aos valores e a vivenciá-los com naturalidade. É uma ação desprovida de

consciência critica, uma pseudo opção.

Os valores que o professor possui, portanto, são os valores que a classe

dominante possui e a medida do nosso juízo é a medida dos valores introjetados

pelos dos modelos da elite. E é nessa perspectiva de juízo de valor que o aluno é

avaliado. Nesse caso antes de tudo é necessário passarmos por uma

―desideoligização‖ que é o processo de libertação, que segundo Freire (2009)

consiste na conscientização do indivíduo, em primeiro lugar. O oprimido necessita

perceber a situação de opressão em que vive, para que ele possa recuperar sua

humanidade roubada devido ao processo profundo de coisificação sofrida no

sistema capitalista.

―Os oprimidos, como objetos, quase “coisas”, não têm finalidades. As suas são as

finalidades que lhes prescrevemos opressores”. (Freire, Paulo. p.53, 2009, Vozes)

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Segundo Gramsci, citado por Martins (p.92, 2008) sobre a ideologia:

Gramsci (2008) refere que algumas instituições colaboram para

repassar as ideologias como: sindicatos, igrejas e a escola. E a escola

estará colaborando para a valoração ou depreciação de nossos

alunos, quando fizer a manutenção dos valores burgueses e adotar

estes como parâmetros nas suas avaliações subjetivas.

(MARTINS, Marcos F, p.92, 2008)

Freire (2009, p.37) alerta que existe uma pedagogia do opressor e que esta

não pode promover uma educação para a libertação, porque está a serviço da

manutenção da ordem.

A pedagogia do oprimido, que não pode ser elaborada pelos

opressores, é um dos instrumentos para esta descoberta crítica – a

dos oprimidos por si mesmos e a dos opressores pelos oprimidos,

como manifestações da desumanização

(FREIRE, Paulo, 2009.p.37,Vozes)

A educação para libertação só pode ser executada pelos excluídos e não por

aquele que os oprime. O autor afirma ainda que o educador, comprometido com a

práxis libertadora, sabe que a vocação primeira do homem é humanizar-se, e deve,

portanto acreditar no seu potencial e do educando, eliminando a forma de ensino

verticalizada que é o da transmissão de saberes e promover uma aprendizagem

significativa, com uma avaliação reflexiva que deve ocorrer dentro de uma relação

dialógica a serviço da promoção do homem.

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1.5. Conselho de Classe e Série: uma visão crítica

Essa parte do trabalho apresenta uma análise crítica do Conselho de Classe

e Série com base nas obras Sandra Lian Zákia de Sousa e Ângela Imaculada

Loureiro de Freitas Dalben, que possibilitam entender o conselho como instância

avaliativa a qual teve várias transfigurações desde a sua implantação.

O Conselho de Classe e Série inicialmente traz para a instituição escolar

pública, o diálogo, o debate e o trabalho em grupo, criando uma prática democrática

em que todos poderiam visualizar os resultados individuais alcançados pelos alunos

nas respectivas disciplinas. O trabalho solitário do professor deu lugar a um

colegiado que permite observar o percurso de cada aluno, considerando que os

resultados devam ser socializados entre todos os professores, permitindo também

redirecionar as ações pedagógicas da escola. A partir dos resultados, podem fazer

interferências pedagógicas, modificando a trajetória inicialmente proposta por cada

educador em função da evolução de seus alunos. Sendo assim, abre-se a

possibilidade de mudar o fazer pedagógico; desacelerar ou acelerar os estudos

respeitando os tempos individuais de aprendizagem. Assim, é possível pensar em

uma nova perspectiva de educação e incorporar novas formas de avaliar o aluno,

dando a ele o direito de participar ativamente de seu aprendizado, segundo a

perspectiva que os tempos atuais exigem dessa instância. A experiência inicialmente

rica se torna, com o decorrer do tempo, destituída dos significados iniciais da

proposta. De acordo com Sousa (1998), a mesma passou ser um lócus para se:

Discutir comportamentos negativos de alunos (sem a preocupação

de procurar as razões dessas atitudes e buscar soluções para

posteriores providencias a serem tomadas pela direção da escola;

Discriminar conceitos negativos, realizando uma avaliação sob certo

aspecto ―maniqueísta‖, rotulando bons e maus alunos, esses últimos

vistos sob o prisma de pré-conceitos cristalizados: o aluno não tem

pré-requisitos, não gosta de estudar, não dá para coisa, tem

problemas familiares que interferem diretamente sobre seu

desempenho, não quer saber de nada, e assim por diante.

(SOUSA, 1998)

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De acordo com Souza (1998), alguns fatores contribuíram para que o

conselho adquirisse a conotação em que se apresenta atualmente. Entre possíveis

causadores está à idéia de educação nos moldes tradicionais em que persiste no

cotidiano escolar, o desejo cristalizado de formar o aluno ideal, passivo, sem voz e

vez; reconhecedor de que nada sabe. Nessa mesma linha de pensamento, não há

necessidade de transparência, diálogo ou decisões coletivas sobre a aprendizagem

do aluno porque a autoridade máxima, neste caso, é o professor que tem o papel de

juiz, cuja palavra é lei e suas decisões são decretos que devem ser executados e

cumpridos. Desta forma, a verdade ocorre a partir do conhecimento perfeito que

emana da escola personificada na figura do professor.

Outro problema que nos apresenta é que a forma de pensar a mensuração e

os conteúdos não evoluiu de acordo com as novas propostas de avaliação, que

valoriza o qualitativo ao invés do quantitativo. Assim, continua-se somando todas as

notas atribuídas ao aluno e fazendo a média aritmética, que na maioria dos casos

não leva em consideração se houve evolução ou não e o porquê de tal desempenho.

Sobre esta situação Sandra L. Z. Souza relata:

O conceito, enquanto forma de representação de um dado

julgamento, tem-se confundido com a própria finalidade da avaliação.

No entanto, as informações obtidas quanto à aprendizagem do aluno,

que usualmente são ―traduzidas‖ em uma dada forma de

representação (conceito, nota, níveis etc.), deveriam constituir-se em

indicadores para orientação e condução do processo de ensino. E,

assim a discussão da qual se deveria ocupar os integrantes da

Escola seria a análise do projeto e do processo de trabalho,

possibilitadores de tal aprendizagem.

(SOUSA, 1986)

O conselho se torna um espaço de concepções diversas não resultando em

mudanças de comportamento e de práticas em função dos alunos. Propõe, assim,

trabalhar as diferenças buscando colocar em prática as propostas educacionais que

as contemplem. A escola, sendo uma micro-representação da sociedade, abriga em

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seu interior concepções diferenciadas que é um indicativo de que há espaço para

uma construção de um colegiado democrático. Ressalta-se a evidência de que mais

importante do que o consenso é a convivência com a diversidade; sugerindo que

uma reflexão profunda pode emergir do conflito, o que torna esse espaço produtivo e

ao mesmo tempo em que resgata a sua finalidade:

Os confrontos e conflitos que emergem nos conselhos de classe e

série não tem tido força para impulsionar o movimento de reflexão

sobre essas divergentes posições. Penso ser fundamental o

reconhecimento de que há na organização escolar posições que se

contrapõem à tendência dominante de ―olhar a situação do aluno‖.

Assim, para além de se buscar o consenso no momento do conselho

de classe, penso que seria mais produtivo se esse espaço servisse

para que fossem explicitadas, trabalhadas e aprofundadas as

diferenças, que são expressão de projetos educacionais e sociais em

realização na Escola.

(SOUZA, Ideias p. 58, 1986

)

A autora afirma que o colegiado perde o foco no momento em que o espaço

torna-se um classificador de notas azuis e vermelhas sem atrelar a estes números a

causa original, que pode o sucesso ou aprendizagem não adquirida, sendo que em

ambos os casos deve haver intervenções. No primeiro, é necessária para solidificar

e ampliar ainda mais o conhecimento adquirido; já no segundo, uma vez identificado

os motivos da não assimilação do aprendizado, as interferências devem ser feitas a

fim de para se buscar novos caminhos para a efetivação do conhecimento dentro do

tempo individual do aluno. Nesta reflexão, a autora busca mostrar a fragilidade da

idéia de conselho:

Busco explicitar a inconsistência da própria concepção de conselho

de classe, subjacente às orientações que normatizam sua

organização e funcionamento, ao associar seu sentido,

essencialmente, a função classificatória da avaliação e, ainda, ao

buscar contemporizar uma ênfase na avaliação como

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responsabilidade individual do professor com a avaliação como

responsabilidade coletiva dos profissionais da Escola.

(SOUSA, P.48, ideias 1998)

O conselho ganha sentido real e cumpre uma função primordial de

proporcionar condições de identificar e, conseqüentemente, de diagnosticar,

propondo soluções para que a aprendizagem se efetue dentro da Escola.

Os conselhos deliberativos da escola devem deixar de ser ―um ritual

burocrático‖ e se tornar um condutor das transformações das práticas pedagógicas,

redefinido assim as ações no interior da Escola.

O Conselho de Classe, a meu ver, ganhará sentido se vier a se

configurar como espaço não só possibilitador da analise do

desempenho do aluno e, mais do desempenho da própria Escola, de

forma conjunta e cooperativa pelos que integram a organização

escolar (professores e outros profissionais, alunos e pais), como

também de proposição de rumos para a ação, rompendo-se com as

finalidades classificatórias e seletivas a que tem servido.

(SOUSA, p.58, ideias, 1998)

Ao longo do tempo, o conselho de classe sofreu transformações e veio a se

desvirtuar, ou seja, perdeu o sentido inicial para o qual foi instituído. Passou de um

colegiado, cujo objetivo era fazer a análise dos resultados dos processos educativos

de forma global, para um espaço que transforma a avaliação integral do aluno em

um ritual burocrático. Este colegiado, muitas vezes, presta um desserviço, pois é

utilizado para ―discriminar‖, ‖rotular‖ e, por vezes, construir uma avaliação negativa,

―maniqueísta‖. Assim, a sua função primordial de avaliar o processo de ensino-

aprendizagem se perde. Os embates, que ocorrem no âmbito do conselho de classe,

não conseguem acumular forças que possam resultar em ações positivas e provocar

mudanças de comportamento a partir das reflexões e neste espaço que poderiam vir

em forma de projetos que aglutinassem várias tendências em benefício da escola e,

sobretudo, que devessem privilegiar o acompanhamento da evolução do domínio do

conhecimento pelo aluno.

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Outra pesquisadora que merece destaque na questão da análise dos

Conselhos de classe e série é Ângela Dalben. Em ―Conselho de Classe e Série e

trabalho escolar‖ (1994), a autora apresenta um conflito de difícil solução quando se

refere ao Conselho de Classe e série ideal e o Conselho de Classe real - aquele que

de fato acontece no âmbito da escola pública -, que se torna um verdadeiro dilema

na organização e trabalho escolar, interferindo nas tomadas de decisões e rumos

que estes possam ter. Este fato ocorre porque a instância almejada entra em

confronto com a realidade, que é percebida durante a condução dos trabalhos na

reunião de conselho e de seus resultados.

É Interessante observar que a idéia de conselho de classe ―ideal‖, e

de Conselho de Classe ―real‖ estará presente o tempo todo neste

trabalho. As potencialidades do Conselho, aquilo que ele poderia ser

e já foi entram em constante oposição com aquilo que a realidade

objetiva atual apresenta para o seu funcionamento.

(DALBEN, 1994, P. 86)

Um dos graves problemas vividos pelos conselhos são as análises que

ocorrem de forma isolada, pois cada professor mensura as atividades e as

transforma em conceitos. A ação solitária de observar a evolução do aluno induz a

algumas distorções porque impedem uma visão global. É nesse momento que se

observa a manifestação da subjetividade, que pode comprometer uma avaliação que

tem por obrigação ser criteriosa e isenta, sendo que a mesma está intimamente

ligada aos valores, por vezes negativos, que são introjetados durante a vida e práxis

do professor.

O professor, ao vivenciar o cotidiano da sala de aula, leva consigo as

verdades que representa o seu meio social e a tendência é reproduzir na escola, em

escala menor, os tipos de relações da sociedade. A educação é efetuada sob a ótica

de uma sociedade de contradições e a escola organiza-se tendo como parâmetro a

forma como está posta as estruturas sociais, o que explica a divisão do

conhecimento em disciplinas isoladas. Essa é umas das críticas registradas pela

autora, que cita outro importante pesquisador da Educação o escritor Lukesi:

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A avaliação escolar tem estado, no Brasil, a serviço de uma

pedagogia dominante, a qual está a serviço de um modelo social

dominante. Pode-se identificar esse modelo como liberal-

conservador, preso especialmente a três pedagogias, que, apesar de

diferentes, relacionam-se entre, com objetivo comum de conservar a

mesma configuração estrutural da sociedade. São elas: a pedagogia

tradicional, a escolanovista e a tecnicista.

1986 apud DALBEN, 1994, p.13)

A idéia de reprodução das relações sociais no interior da escola, defendida

por Lukesi, é reforçada com a exposição do pensamento da autora com relação à

forma fragmentada do conhecimento proporcionado pela escola.

Existe uma relação compartimentada e individualista de trabalho de

cada professor, que se atém ao aspecto ―sem média ou não‖ em sua

disciplina e, ainda, a visão compartimentada do aluno, que entra

como objeto de discussão apenas quanto ao seu rendimento em uma

ou mais disciplinas, isoladamente do processo coletivo de analise da

relação professor x aluno x conhecimento. Não se encontra, portanto,

um processo de analise dos significados desses resultados, não se

tem a percepção da relação dialética entre quantidade x qualidade,

uma visão dialética do processo pedagógico desenvolvido.

(DALBEN, 1994, P.118)

A materialização da idéia da reprodução das realizações sociais fica clara

quando cada integrante do corpo docente encaminha o resultado do trabalho

pedagógico em forma de notas. A autora ainda afirma que, normalmente, as

análises já se encontram fechadas, concluídas e com o perfil do aluno também

definido, ou seja, um produto acabado dentro de sua especialização. Desse modo,

cada professor isola-se em seu espaço de trabalho e especialidade, não permitindo

que haja crítica ou interferência nas suas ações.

A autora entende que o espaço escolar reproduz as relações sociais

existentes na sociedade que se baseia em um modelo excludente. Sendo assim, a

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escola, inserida nesta sociedade, tende a transpor os modelos de organização para

seu interior e, como resultado, temos uma visão fragmentada do processo educativo

proporcionado também pelas divisões das disciplinas. A forma fragmentada de

perceber os resultados pode levar a esta distorção e não proporciona um diálogo

mais profundo entre o significado de quantidade e qualidade. Chega-se à conclusão

de que a dinâmica do conselho, da forma que está posta, de fato leva tal espaço a

reproduzir as relações de poder existentes na sociedade e que pode sim, contribuir

para a manutenção da ordem social segundo Dalben:

Conclui-se, com isso, que o conselho de classe tem reproduzido as

relações hegemônicas da sociedade, carregando um processo de

trabalho que reflete uma concepção de relação pedagógica

semelhante, contribuindo para a manutenção da ordem social

vigente.

(DALBEN,1994,P. 192)

As duas autoras apontam a fragilidade das ações, bem como os discursos

existentes na instância conselho de classe. Os trabalhos delas convergem e

apontam os pontos críticos do processo avaliativo escolar, que necessita de reflexão

para que ocorram mudanças; redefinindo o papel do conselho de classe a fim de

acompanhar, de fato o processo educativo.

Um dos caminhos possíveis é o apontado por Paulo Freire (2004), que

concorda que a escola reproduz a ideologia da classe dominante porque está

inserida dentro de uma sociedade de classes, escreve:

Neste caso, então, a escola indiscutivelmente reproduz e sempre

reproduziu a ideologia da classe que esta no poder. Daí sua não-

neutralidade. Mas acontece é que a escola vive intensamente,

através de nos as contradições que se dão na sociedade. A escola

então, de um lado se dá também independentemente do querer e do

poder, ela se da no jogo das contradições. Ao fazer isso, ela termina

por contradizer também a ideologia que ela por tarefa deveria

reproduzir. Na medida em que agente compreende o papel da

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escola, a relação entre escola e sociedade e a estrutura dominante

em termos dinâmicos, dialéticos, e contraditórios e não mecanicista

agente então compreende melhor isso.

(FREIRE, 2004, p. 37)

Paulo Freire (2004), ao afirmar que há de fato uma reprodução, também

aponta que por meio de uma relação educativa dialógica, é possível superar as

contradições, o que seria uma saída para escola, de forma dinâmica, criar

mecanismos de resistência ao processo excludente que se encontra na estruturada

a sociedade.

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CAPÍTULO 2 - AVALIAÇÃO

Etimologicamente, avaliar significa fazer uma apreciação cuidadosa, de modo

a permitir a formação de uma opinião, de um juízo justo, correto e a tomada de

consciência do mesmo; ajuizar, determinar a valia de, apreciar, calcular, julgar56.

O homem passou por incontáveis avaliações para provar sua capacidade

diante dos inúmeros obstáculos que se apresentaram em seu cotidiano, ao construir

sua historia nas várias fases de sua jornada.

No decurso da vida, passamos por diferentes formas de avaliação o tempo

todo e ela é inerente as ações que pretendemos executar e as que efetivamente

executamos.

As decisões sobre os diversos atos que rotineiramente vivenciamos precedem

de avaliação. Inconscientemente, exercemos a avaliação ao verificar se

conseguimos desenvolver determinadas ações com eficiência e para isso nos

provemos de meios para realizar a tarefa pretendida. No mundo contemporâneo, a

avaliação é condição para o sucesso de um determinado empreendimento, é

quando analisamos todas as condicionantes que interferirão de modo positivo ou

negativo nos resultados. No processo educativo, ela é condição para que este se

realize. As várias etapas das aprendizagens somente serão possíveis

acompanhadas de uma avaliação permanente, eficaz e que deve acompanhar todo

o percurso necessário na obtenção do conhecimento.

A avaliação em educação é carregada de intencionalidade e deve objetivar o

acompanhamento minucioso da aprendizagem que a pessoa avaliada está sendo

submetida. Este acompanhamento, com rigor, é que será responsável pelo sucesso

ou fracasso no resultado final e na educação, se o objetivo traçado de ensino foi

alcançado ou não. Caso o resultado for negativo, esta indicará o caminho a seguir

5 FERREIRA, Aurélio B. de Hollanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed.

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p.205

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para reorganização da metodologia utilizada, porque são diversos os caminhos das

aprendizagens e uma das características da avaliação que deve ser reforçada é a

sua face democrática. Se o caminho seguido foi diferente do traçado inicialmente, a

avaliação por certo deverá ser também proporcionar a possibilidade de um novo

trajeto.

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2.1 Avaliação na Idade Média

O pensamento Agostiniano influenciou a Idade Média durante muitos séculos

e conforme sua concepção Deus ilumina a mente do ser humano e torna possível o

pensamento correto.Para Agostinho, o homem receberia de Deus o conhecimento

das verdades eternas‖.

A memória e as coisas inatas

Por esta razão, aprender estas noções de que não haurimos as

imagens pelos sentidos, mas que sem imagens vemos no nosso interior tais

como são em si mesmas – achamos que consiste em coligir pelo pensamento

aquelas coisas que a memória encerrava dispersas e desordenadas e em

obrigá-las, pela força da atenção, a estarem sempre como que à mão e a

apresentarem-se com facilidade ao esforço costumado do nosso espírito.

Quanta destas espécies nos traz a nossa memória as quais já antes

havíamos encontrado e – como já me exprimi – as tivemos como que à mão!

Nós somos de parecer que já aprendemos e conhecemos estas coisas7. Mas

se deixar de recordá-las, ainda que seja por pequeno espaço de tempo, de

novo imergem e como que escapam para esconderijos mais profundos. É

assim, como se fossem novos, é necessário pensar, segunda vez, nesses

conhecimentos existentes na memória – pois não têm outra habitação – e

junta-los (cogenda) novamente, para que se possa saber.Quer dizer,

precisamos de os coligir (colligenda), subtraindo-os a uma espécie de

dispersão. E daqui (cogenda, cogo) é que vem (cogitar); pois (cogo) e cogito

são como ago e agito, facio e (facito). Porém a inteligência reivindicou como

próprio este verbo (cogito), de tal maneira que só ao ato de juntar (cogere) no

espírito, e não em qualquer parte, é que propriamente se chama ―pensar

(cogitare).

(Santo Agostinho, 1973, p.203-204)

7 Alusão a teoria da reminiscência. Segundo Santo Agostinho, ―Deus iluminando a nossa mente

deporia em nós muitos, conhecimentos que viriam depois a ser utilizado pela alma, à medida que os recordasse. Santo Agostinho adotou assim em parte a teoria platônica das idéias, segundo a qual a alma, ao encarnar num corpo, trazia do outro mundo as imagens das coisas. Aprender seria, portanto, recordar o que vira noutros tempos‖. (N. do T. Os pensadores 1972 pag.203)

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A Idade Média é o período compreendido entre 476 d.C., com a tomada de

Roma pelos hérulos, que eram os povos germânicos do sul da Escandinávia, até

1453 d.C., com o advento da conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos.

Durante o período medieval, a avaliação consistia em memorizar e repetir

fielmente as orientações do mestre, sendo assim ―a atenção e a memória eram os

agrupamentos operatórios mais valorizados nas escolas desta época.

(SOEIRO & AVELINE, 1982, p.12)

Segundo ARANHA (2002) os parâmetros da educação na Idade Média se

fundamentavam na concepção do homem como criação divina, de passagem pela

terra e que devia cuidar primeiro da alma e da vida eterna. Este pensamento

permeava as relações regulando todo modo de vida medieval.

O modo de produção fora dos burgos era rigorosamente regulado pelas

corporações de oficio. Para alguém ingressar tinha que produzir uma obra prima em

determinada especialidade, após recebia o titulo de mestre e a licença para montar o

negócio. O licenciado podia ter em sua casa vários aprendizes para auxiliá-lo e

serem formados na profissão. Quando estes completavam seu aprendizado, eram

submetidos a um exame para se tornarem oficiais e, para efetuá-los esses exames,

era exigido do aluno o pagamento de uma taxa extremamente alta que deixava de

fora a quase totalidade dos aprendizes. Somente os filhos dos mestres tinham

possibilidade de custeá-la, ficando os mais pobres, fora do processo.

A educação assim não é transmitida pelo professor, considerando que o

saber esta no interior de cada um. O saber nessa perspectiva vem do interior do

individuo, isto é possível porque segundo a verdade medieval ―Cristo habita o

homem interior‖. Desta forma, a educação se dá por um processo de auto-educação

possibilitada pela iluminação Divina. Nesse período, a verdade e o conhecimento

eram transmitidos de forma oralizada e somente a igreja detinha o domínio cultural,

pois a grande maioria da população era iletrada. A avaliação, neste caso, verificava

a memorização fiel do conteúdo passado ao aluno que repetia igual ao que lhe foi

ensinado.

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2.2 Avaliação no Período Renascentista

A nova imagem do homem.

Quero que ele tenha nascido fidalgo e de casa nobre (...) Que

seja conhecido entre todos os outros como ousado, forte e leal ao

príncipe que serve. Que seja, como se diz, homem de bem: isto

compreende a prudência, a bondade, a coragem, o domínio de si

(...) Acho que sua principal, sua verdadeira profissão, deve ser

a das armas; sendo admitido como mestre em todos os exercícios que

convenham a um soldado. O primeiro, a meu ver, é saber manejar

todos os tipos de armas a pé e a cavalo. Acharia também aproveitável

que conhecesse a arte da luta.

Quero que o homem da corte seja bem instruído nas letras e

que conheça não apenas o latim, mas o grego. (...) Que conheça os

poetas e também os oradores e historiadores, e, além disso, que saiba

escrever em verso e prosa, particularmente nossa língua: além do

prazer que terá, não lhe faltara temas de conversação com as damas.

(...) Eu o elogiarei também se souber diversas línguas estrangeiras,

particularmente o espanhol e o francês, porque o uso de ambos é

muito difundido na Itália (...) Quero ainda mencionar mais uma coisa

que, visto a importância que lhe concedo, não gostaria de ver

esquecida: é a ciência do desenho e a arte de pintar.

(Baldassare. Castiglione 8,apud. Aranha, pág. 86, 2002)

O ideal descrito acima eram características que se desejavam para o novo

homem, passado a rigidez do período medieval, para um tempo auspicioso e de

grandes conquistas que se aproximava. No Renascimento houve uma substancial

mudança no comportamento no tocante a pessoa humana, que passa ser o centro

do universo, porém a forma de se avaliar não mudou mesmo o aluno agora vivendo

8 Baldassare Castiglione, Político aristocrata nascido em Aldeia de Casatico na Toscana, autor de O

Cortesão tornou-se arbitro das maneiras aristocráticas do Renascimento e ofereceu o modelo do novo cavalheiro da época. Ofereceu o modelo do novo cavalheiro da época.

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um novo tempo que estabeleceu outras demandas. O foco agora não é mais o

futuro da alma, mas o presente do homem material. As pessoas possuem diferentes

necessidades e, portanto, necessitam de uma nova escola que esteja em

consonância com este novo comportamento da sociedade e que possa lhes oferecer

uma educação e atenção individualizada que respeite as aptidões naturais de cada

aluno.

Mais devemos observar que, embora tenha modificado a concepção acerca

do ser humano, o tipo de avaliação praticado permanece em forma de chamada oral

de exercícios, ou seja, de verificação. Durante este período, em que se faziam os

exames orais, veremos a seguinte observação:

Os jesuítas se mostravam bastante exigente com a didática,

recomendando a repetição dos exercícios a fim de facilitar a

memorização. Para praticá-la à exaustão, os mestres recebem auxilio

dos melhores alunos, chamados decuriões9 responsáveis por nove

colegas, de quem tomam as lições de cor, recolhem os exercícios e

marcam num caderno os erros e faltas diversa. Aos sábados as

classes inferiores repetem as lições da semana toda: vem daí a

expressão sabatina usada durante muito tempo para indicar formas de

avaliação.

(ARANHA, 2002, p 93)

A escola permanece sendo um lugar que não possuía nenhum atrativo e,

costumeiramente, levava os adolescentes a ter uma péssima impressão, como

afirma Comênio que aos dezesseis anos escreveu sobre a sua escola secundaria de

Prerov, sentindo-se profundamente decepcionado.

É um lugar de seriedade sombria, sem atrativos, onde jovens

estudantes, mal saídos da infância, são considerados adultos em

miniatura e obrigados adotar as atitudes de adulto. Noções mais ou

menos eruditas, de pouca ou nenhuma valia para a vida pratica, lhes

9 No exercito romano, uma decúria era um corpo de cavalaria e infantaria composto de dez soldados

que tinha por chefe o decurião.

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são inculcadas à custa de memorização. Verbalismo excessivo,

muita decoração e pouco

entendimento.O latim, língua indispensável para quem aspira a uma

carreira culta, é ensinado a partir da gramática e de textos clássicos

distanciados do interesse infantil. ―A letra com pancada entra‖ faz

reinar na sala de aula, a palmatória e outros castigos corporais.

(COMÊNIO, 1992, p. 17)

Comênio é o mais velho de sua turma e, portanto, não só percebe, mas

vivência e sofre com as conseqüências das falhas da escola do seu tempo e,

principalmente, com a falta de metodologia reinante, principal motivo que o levará a

elaborar sua metodologia revolucionária, a primeira de seu tempo e ainda dirá:

Na educação da juventude usou-se quase sempre de um método tão

duro que as escolas são consideradas como espantalhos das

crianças ou câmaras de tortura das inteligências (...) o que se pode

inculcar e infundir suavemente nos espíritos é neles impresso

violentamente, ou melhor, é neles enterrado e ensacado. O que pode

ser posto diante dos olhos de modo claro e distinto é apresentado de

modo obscuro e confuso e intricado, como por meio de enigmas. O

próprio estudo da língua latina, ó bom Deus, como é intricado, como

é penoso, como é longo.

(COMÊNIO, 1992, p.19)

A prática descrita acima permanece ainda por alguns séculos sem sofrer

alteração, mesmo com a proposta revolucionaria de Comênio10 que muda a

perspectiva da pedagogia, em que se preocupa com o ser social e indica essa ideia

ao defender a democratização da educação e uma aprendizagem que tenha origem

na realidade social do envolvido no processo educativo. Defende ainda que se

aprende fazendo e fazendo algo que tenha relação com a vida. E sobre tal

concepção, ele descreve em seu método explicitando da seguinte forma:

10

Amós Comênius 1592-1670, nascido na Moravia. Autor do livro Didático Magna

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Aprenda a fazer fazendo.

Os mecânicos não detêm os aprendizes das suas artes com

especulações teóricas, mas põem-nos imediatamente a trabalhar, para

que aprendam a fabricar fabricando, a esculpir esculpindo, a pintar, a

dançar dançando etc. Portanto, também nas escolas, deve aprender-

se a escrever escrevendo, a falar falando, a cantar cantando, a

raciocinar raciocinando, para que as escolas não sejam senão oficinas

onde se trabalha fervidamente. Assim, finalmente, pelos bons

resultados da prática, todos experimentarão a verdade do provérbio:

fazendo aprendemos a fazer (fabricando, fabricamur). Mostre-se o uso

dos instrumentos, mais com a prática que com palavras, isto é mais

com exemplos que com regras.

(Comênio,apud Aranha, 2002, 104)

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2.3. Avaliação na Idade Moderna e o Realismo na Pedagogia

No século XVII ocorreram profundas mudanças e que podem ser percebidas

na sociedade agora considerada moderna. Tais mudanças modificaram

definitivamente a pedagogia vigente até então e foi por meio das suas idéias que

originaram no Racionalismo e Renascimento.

Dois pensadores que modificariam a forma de pensar e, sobretudo de pensar

a educação, foram Amos Comênio e John Locke. A crença no poder da razão e na

capacidade de discernir o próprio caminho, a autonomia do ser humano tem sua

expressão máxima nesse período. Assim, o homem moderno busca uma educação

do fazer concreto e não as teorias vazias de experiências. A pedagogia moderna

vem responder a esses anseios pelas obras e metodologia difundidas por Comênio.

Os pedagogos, influenciados por uma atmosfera da racionalidade, buscavam

uma metodologia que tratasse da realidade na educação, cujo objetivo fosse torná-la

mais interessante e eficaz, e que mantivesse uma ligação direta com a vida real. Tal

educação deveria ser oposta a anterior oferecida na Idade Média e na

Renascentista. A contribuição, nesse sentido, foi dada por Comênio que tomou para

si a pedagogia como sacerdócio e durante toda sua existência promoveu uma

educação social, tornando-se o maior educador do século XVII. Segundo Aranha11

2002 Comenio escreve ―(...) cumpre-nos agora demonstrar que nas escolas é preciso

ensinar tudo a todos (...)”. Outro fator é que a classe burguesa, enriquecida, assume

padrões aristocráticos e deseja uma educação que permita formar o homem de

negócios.

As escolas modernas são estruturadas por uma intensa articulação de leigos,

de educadores, de religiosos, de nobres e de outra parcela da população que queria

formar mão de obra operária para suprir a efervescente vida comercial. A avaliação

escolar, nesse período, acontecia em forma de ―verificação‖, que é para burguesia

uma forma de selecionar e classificar alguns para ocupar os postos de serviços e,

dessa forma, instalar a exclusão social.

11

Op. cit., 100-101

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O século XVII foi fecundo em idéias que despertariam a consciência política

dos ingleses e influenciariam definitivamente o mundo. Entre os pensadores que

mais destacaram neste período está John Locke (1632-1704) que defendia a idéia

de que o Estado deveria ser organizado a partir de um acordo entre os cidadãos. O

pensador não aceitava a submissão do indivíduo ao estado. Segundo Locke, em seu

livro ―Segundo Tratado sobre o Governo Civil‖ (1689) os homens primitivos eram

inseguros e temiam ser atacados por parte dos inimigos que poderiam saquear seus

bens, tomarem suas propriedades, escravizá-los e matá-los. Sendo assim, para se

proteger, os homens primitivos haviam se unido em sociedade e estabeleceram um

pacto para criar o Estado. Está aqui um pensamento revolucionário para a época,

quando ele diz que o Estado foi criação dos homens e não de Deus, diferente do

que afirmavam os soberanos, ou seja, foi criado a partir de um contrato para

proteger a vida, a propriedade e a liberdade dos homens.

Está implícito também que, como o Estado tinha sido criado por acordo entre

os indivíduos, então os homens tinham o direito de mudar o governo e, se o Estado

fosse tirânico, os cidadãos tinham o direito de se rebelar contra a opressão. Locke é

o pai do liberalismo político e defende que o Estado não pode sufocar as liberdades

individuais. Assim, cada pessoa tem o direito de escolher suas próprias idéias

religiosas, políticas ou filosóficas, de falar em público, de escrever seus

pensamentos e artigos defendendo suas convicções, ou seja, a liberdade de

expressão, sem se esquecer que o mais importante para o liberal é o direito à

propriedade12 e à liberdade individual.

Locke defendia que um homem só é realmente livre quando possui uma

propriedade e faz dela o que bem entende. Mas tal liberdade tem um limite e para

exercê-la deve existir uma lei, aprovada pela maioria dos cidadãos, que impeça que

um indivíduo prejudique a liberdade do outro.

Os princípios fundamentais do liberalismo político são:

Os governos só existem para atender aos interesses individuais.

12

Esta noção funda-se na idéia de que os homens, ao nascerem, tornam-se naturalmente proprietários da própria vida e da liberdade, podendo igualmente dispor delas para poder viver em paz na sociedade,orientados pela razão. (MARTINS, F.M. p.12).

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Devem proteger a propriedade privada, a liberdade, a segurança e a

Vida.

Quando o governo não atende aos interesses individuais, os cidadãos

têm o direito de colocar outros homens para exercer o governo.

Os homens responsáveis pelo governo representam os cidadãos. Eles

São escolhidos a por meio do voto.

A lei deve ser a mesma para todos. O próprio governo deve se

submete às leis.

A lei deve representar a vontade a vontade da maioria dos cidadãos.

O governo não tem o direito de interferir na vida privada de um

cidadão que cumpre a lei. Tem de respeitar sua propriedade, sua vida

e sua liberdade.

.(SHIMIDT Mario. As idéias Revolucionárias de John Locke. p.25-42, 2008)

Nesse tempo, a Inglaterra abandonou o absolutismo e adotou o regime

político liberal. Caso o governo não agradasse aos cidadãos, eles tinham o direito de

eleger outros representantes para o parlamento. Porém, é importante observar que

na Inglaterra do século XVII até o XIX, somente os médios e grandes proprietários

de terras é que tinham direito de votar.

Os princípios liberais ingleses influenciaram outros importantes movimentos

como: a proclamação da República pelas treze colônias da América do Norte em

1776; e os filósofos iluministas da França no século XVIII admiraram a monarquia

parlamentar inglesa e as ideias filosóficas de Locke.

Vejamos alguns dos fragmentos dos escritos do filósofo Locke:

(...) Ninguém pode ser expulso e submetido ao poder político de outra

pessoa sem dar consentimento.

(...) O grande objetivo da união dos homens em comunidades,

submetidos a um governo, é a preservação da propriedade.

(...) Não possuem autoridade o homem ou vários que passarem a

fazer lei sem que o povo tenha escolhido passarem a fazer lei sem que

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o povo os tenha escolhido para essa tarefa. Então, o povo não esta

obrigado a obedecer.

(...) sempre que os legisladores tentam tirar e destruir a propriedade

do povo, ou reduzi-lo à escravidão sob poder arbitrário, o povo pode

entrar em guerra contra o governo

(...) quem julgará se o governo age contrariamente ao encargo

recebido? A isto respondo: O povo será juiz.

(MARTINS, F.M. LOCKE p.12 2008).

As contribuições de Locke para a Educação Moderna estão claras ao

introduzir ideia de uma mente desprovida de conceitos e como afirma o autor um

papel em branco:

Todas as idéias derivam da sensação ou reflexão. Suponhamos que

a mente é, como dissemos, um papel em branco, desprovida de

todos os caracteres, sem quaisquer idéias; como ela será suprida?

De onde lhe provém este vasto estoque, que a ativa e que a ilimitada

fantasia do homem pintou nela com uma variedade quase infinita?

De onde apreende todos os materiais da razão e do conhecimento A

isso respondo, numa palavra, da experiência. Todo o nosso

conhecimento está nela fundado, e dela deriva fundamentalmente o

próprio conhecimento. Empregada tantos nos objetos sensíveis

externos como nas operações internas de nossas mentes, que são

por nós mesmos percebidos e refletidos, nossa observação supre

nossos entendimentos com todos os materiais do pensamento.

Dessas duas fontes de conhecimento jorram todas nossas idéias, ou

as que possivelmente teremos.

LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano. 2.ed. São

Paulo Coleção, Os Pensadores (Abril Cultural, 1978)

Para se contrapor ao racionalismo de Descartes, Locke desenvolveu uma

concepção de mente infantil e de educação no qual o professor tem um papel central

no desenvolvimento da criança e para que isto ocorra, o mestre deve proporcionar

experiências ricas e que auxiliem a criança no uso da razão. Locke orientava os

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adultos de que a criança deveria ser submetida a educação desde tenra idade para

que esta pudesse adquirir bons hábitos, porque os menores são mais receptíveis e

flexíveis. A criança devia aprender por meio de repetição das atividades, ou seja, na

escola utilizava-se a cópia.

A escola utilizava de castigos físicos no seu sistema de ensino,

principalmente com os maiores, os adolescentes, e Locke eram contrários, porque

despertaria na criança uma resistência ao aprendizado. Era contrario também a

política de recompensa, tão usual ―docinhos e presentes‖, porque poderia tirar o foco

da criança que deveria ser o estudo, mas deveria ser incentivado o interesse no

mérito e ao respeito porque isto a faria escolher a retidão.

Sobre a forma de educação utilizada, Áries 1981 relata que:

(...) nos séculos XIV ao XVII houve o estabelecimento e o

desenvolvimento de um sistema disciplinar cada vez mais rigoroso.

Era uma forma de disciplina humilhante; que não se aplicava apenas

à infância: nos XV e XVI, o castigo corporal se generalizou, ao

mesmo tempo em que uma concepção autoritária, hierarquizada e

absolutista da sociedade. Mas entre os adultos, nem todos eram

submetidos ao castigo corporal. Ao contrario, as crianças e jovens,

qualquer que fosse sua condição, eram submetidos ao castigo

corporal. Ao contrario, as crianças e jovens, qualquer que fosse sua

condição, eram submetidas a um regime comum e eram igualmente

surradas. O castigo fazia parte da atitude diante da infância. Mas a

preocupação em humilhar a infância, para distingui-la e melhorá-la se

atenuaria ao longo do século XIII. (ÁRIES ano, 1981 p.68)

John Locke criou uma nova concepção de infância que possui etapas de

desenvolvimento e necessita de atenção. Esse pensamento a respeito da criança e

adolescente levaria, no século XIX, a se pensar uma nova educação que levasse em

conta o ser em desenvolvimento. Contrapondo-se, dessa forma, ao modelo de

educação medieval. O estudo, até então, tinha ênfase no ensino do latim,

caracterizando um descaso com a língua nativa, e o cálculo. A pedagogia usada é

realista e recusa o excesso de lógica; ressalta o estudo de história, de geografia e

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das ciências sociais; valorizava a educação física, pois tinha a concepção de que o

jogo constitui um excelente auxiliar da educação, uma vez que o exercício físico e o

desafio mostravam a possibilidade de superação dos próprios limites. O pensador

era membro da classe burguesa e, por isso, valorizava o estudo de contabilidade e

escrituração comercial, preparando o aluno para a vida prática. Fazia parte também

de sua proposta o ensino de um ofício, como a jardinagem e a carpintaria, sem que

isso significasse valorizar o trabalho manual, mas devido à necessidade de

desenvolver uma atividade segundo a perspectiva da escola ativa.

Defendia uma educação regida com o propósito de tornar o espírito dócil e

obediente. Era uma época de transição, por isso conservam-se os valores antigos,

ao mesmo tempo em que descobriam novos pontos de vistas. Para Locke, o objetivo

da educação é a formação do caráter e não a formação apenas intelectual, por isso

propõe uma educação que tenha como meta o desenvolvimento completo, físico,

moral e intelectual para formar o homem gentil.

A educação do burguês deve ocorrer em casa, evitando a escola, porque

poderia não conseguir acompanhar a educação com o rigor necessário. A idéia de

dualidade da educação aparece nesse posicionamento ao defender que a educação

dos filhos dos burgueses deva ser diferenciada da oferecida pela escola para o

conjunto da população. Locke deixa claro quais áreas do conhecimento o jovem

burguês deve receber para sua formação: deveria ter profundo conhecimento do

mundo dos negócios, porque o objetivo maior era a preservação e ampliação do

lucro; deveria, portanto, transformar em grande negociador o jovem burguês com

habilidades voltadas para as relações públicas, porque era condição para relações

comerciais bem sucedidas. Assim, os jovens deveriam realizar parte do aprendizado

fora do país para ter domínio de línguas estrangeiras e conhecer novas culturas no

momento em que as fronteiras comerciais se alargavam cada vez mais.

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2.4 - Avaliação no Período Contemporâneo

O importante pensador francês Rousseau fez a seguinte afirmação:

Nascemos fracos, por isso precisamos de forças. Nascemos

desprovidos de tudo, por isso temos necessidade de assistência.

Nascemos estúpidos, por isso precisamos de juízo. Tudo o que não

temos ao nascer, e precisamos adultos, é nos dado pela educação.

Essa educação nos vem da natureza, ou dos homens ou das coisas.

(ROUSSEAU, 1995, P. 10)

Compreende-se por contemporâneo, o período que abrange desde a

Revolução Francesa em 1789, até os dias atuais e teve início com o ideário

iluminista e a importância da razão em lugar do pensamento mítico. Conhecido

como século das luzes e da glorificação da razão humana, com seu poder de

interpretar o mundo, a exemplo do homem renascentista que pregava uma

separação entre a vida material e a espiritual.

Nesse período, os filósofos franceses Rousseau, Voltaire, Diderot,

D´,Alembert e Helvetius acreditam que o ensino era o único meio de livrar o homem

do obscurantismo e do misticismo religioso.

Dentre os pensadores, Rousseau foi o mais importante porque suas obras

anteciparam o ideário da Revolução Francesa e constituíram também um divisor na

história da pedagogia, transformando-a no que é hoje o pensamento pedagógico

contemporâneo. Isso ocorreu porque o foco desviou dos professores e colocaram-se

os interesses pedagógicos no aluno. Rousseau defende que o homem tenha uma

educação integral em proveito próprio, para si mesmo. A educação era, até este

período, ainda centrada na formação do homem para Deus ou para vida em

sociedade.

Rousseau não valoriza o ensino por meio da transmissão de saberes. Para

ele, a criança deve ser estimulada a pensar porque o aprendizado não é um

processo exterior, mas é interno e inerente ao desenvolvimento da criança. O

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principio mais importante de Rousseau é de que o homem é bom por natureza e a

sociedade é que o corrompe. Ele via a criança como ser integral e não ―uma

miniatura do adulto‖ e instituiu as várias fases da infância ou do desenvolvimento

infantil, tornando-se o precursor da pedagogia de John Dewey (1859-1952) e Maria

Montessori (1870-1952). É ele quem lança, assim, os ideais para o que viria a ser a

Escola Nova.

(Aranha, 2002, pág.122).

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2.5. A avaliação da aprendizagem

Na contemporaneidade, a quantificação objetiva do aprendizado foi alvo de

intensas pesquisas e experimentos, principalmente no século XIX e começo do

século XX.

O rendimento escolar sempre foi alvo de avaliação por parte dos mestres. Na

Idade Média era utilizada a ―chamada oral‖ que era uma forma de examinar se os

alunos tinham memorizado o ensinamento transmitido.

Tal prática permaneceu até o século XIX, quando foram introduzidas

gradativamente as perguntas escritas. Com a expansão do ensino, ocorrida a partir

do Renascimento, e o conseqüente aumento da quantidade de alunos por mestre, a

tomada de lição individual ficou muito difícil e, além disso, as perguntas escritas

poderiam ser aplicadas a uma grande quantidade de alunos ao mesmo tempo,

dando assim início a um novo tipo de avaliação Segundo Haydt 1997, que era a

prova escrita:

O primeiro estudo de que se tem notícia sobre o aperfeiçoamento das

provas aplicadas nas escolas públicas é de 1845 em Boston. (...) Um

grupo de educadores elaborou cuidadosamente as provas escritas,

que abrangeram as matérias estudadas, e incluíram instruções para

sua aplicação e correção, no final desse estudo sobre qualidade do

ensino, as escolas eram classificadas de acordo com os resultados

obtidos por seus alunos.

(HAYDT, 1997, p.83)

O estudo realizado em Boston, nos Estados Unidos em 1845, levou Horace

Mann, secretário de Educação, a realizar um estudo semelhante no estado norte-

americano de Massachuseutts e visitar as escolas públicas sob sua jurisdição e

averiguar, através da inspeção, o quanto a qualidade de ensino estava

comprometida, traçando assim um diagnóstico sobre as fragilidades existentes no

sistema educacional do estado de Massachuseutts. Ao término da inspeção,

divulgaram-se os resultados que muito desagradaram ao professorado.

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Haydt 1997 escreve que:

Ofendidos com a crítica os professores reagiram, mas acabaram por

concordar em submeter seus alunos a uma prova escrita sobre as

matérias lecionadas. Foi instituído um grupo composto por professores

e membros das comissões escolares locais com intuito de preparar

questões escritas sobre Aritmética, História, Geografia, Ciências,

vocabulário e Gramática. Ao todo foram elaboradas 154 questões, que

foram respondidas por 530 alunos da mesma série, escolhidos de um

total de 7.526 alunos. Os alunos submetidos à prova escrita estavam

na faixa de 13 anos e eram considerados os melhores da série

examinada (...) Os resultados ratificaram as observações de Horace

Mann e confirmaram suas criticas sobre as deficiências do ensino (...).

É atribuída a Horace Mann a introdução de provas escritas nas

escolas em substituição ao exame oral, que, até então, prevalecia.

(HAYDT, 1997, 84)

Segundo Haydt 1997, os resultados positivos das pesquisas, para tentar

corrigir imperfeições nos sistemas educacionais, foram sendo estimulados a partir da

experiência pioneira de Mann e, assim, em 1864, George Fisher elabora questões

de Exatas, Matemática, Gramática e Composição com intuito de classificá-los de

acordo com o aprendizado e com as notas atribuídas entre zero e cinco. Construiu,

também, uma lista padronizada para classificar amostras de caligrafia.

Posteriormente, em 1895, o professor de psicologia comportamental e

educador norte americano James M. Rice no uso de suas experiências concluiu que

era necessário adotar medidas mais concretas para avaliar o progresso das

aprendizagens. Sua preocupação com a qualidade do ensino levou-o a fazer

experimentos com milhares de alunos em diversos estados da Alemanha. Realizou

testes com redação, fazendo a leitura de uma história e a observação de uma

gravura e nesta prova era verificada também a ortografia. Também elaborou testes

de aritmética e linguagem. Rice é considerado pioneiro no campo das pesquisas

sobre a mensuração escolar e foi também precursor dos testes objetivos de

rendimento.

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Ao término de sua pesquisa, Rice chegou à conclusão que o sucesso ou

insucesso do aluno tem relação direta com outros fatores que estão presentes no

ato de avaliar: como registra em suas observações:

O maior ou menor sucesso obtido pelos alunos dependia de inúmeras

variáveis, independentes dos mesmos, tais como: o tempo despendido

pelo professor com ditados de palavras, a freqüência com que esses

exercícios eram feitos, o modo e o número de vezes que cada palavra

era pronunciada.

(HAYDT, 1997 pág.85)

As pesquisas efetuadas pelos pioneiros, James. M.R, George Fisher e Horace

Mann foram decisivas para a reflexão das práticas avaliativas, foram os primeiros a

realizar testes de escolaridade abriram caminho para os estudos da avaliação da

aprendizagem.

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3. O CONSELHO DE CLASSE E A LEGISLAÇÃO ATUAL DE AVALIAÇÃO NA REDE DE

ENSINO PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Ao fazermos uma incursão pelo atual sistema de avaliação no Estado de São

Paulo, a Progressão Continuada não se pode perder de vista o contexto nacional e

mundial que originou esse sistema, implantado a partir de 1997. Também temos que

estudar a política educacional dos sucessivos governos que estiveram à frente da

política estadual paulista, após o regime militar, já que foram decisivos para preparar

a rede de ensino para implantação do sistema hoje em vigor.

A Progressão Continuada é prevista no art. 32 parágrafo 2 da nova LDBN

como recomendação e surge como uma proposta de flexibilização, afirmando que,

os estabelecimentos que utilizam progressão regular por série podem adotar no

ensino fundamental o regime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação

do processo de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo sistema

de ensino. (BRASIL, Lei nº 9394/96)

A LBDN, em seu art. 22, traz os objetivos da educação abrangendo todos os níveis

educacionais:

Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o

educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o

exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho

e em estudos posteriores. (BRASIL, Lei nº 9394/96)

O art. 23 explica como deve ser organizada a educação básica –

que engloba a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o

Ensino Médio.

Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries anuais,

períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de

estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na competência e

em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que

o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar.

(BRASIL, Lei nº 9394/96)

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Esses artigos da (Lei nº 9394/96podem ser entendidos como uma tentativa de

manter as diretrizes educacionais sintonizadas com a nova concepção de educação.

Concepção que carrega em si as contradições resultantes das forças antagônicas,

representadas pelas lutas da sociedade por meio dos movimentos sociais diversos e

sindicatos para construção de uma legislação que atendesse às reivindicações

populares a respeito da educação e também aos interesses de uma elite empresarial

voraz em busca de ampliação de mercado visando à lucratividade com o ensino

privado.Segundo GADOTTI 1999:

O processo de discussão da LDB teve início ainda durante os debates

para elaboração do capítulo da educação na Constituição. Com a

promulgação da Constituição, em 05 de outubro 1988, os debates em

torno de uma nova lei de diretrizes e bases se intensificaram. Foram

três anos de trabalhos e negociações que envolveram os partidos, os

fóruns de entidades científicas, sindicatos, centrais sindicais, entidades

profissionais e numerosos educadores.

(A formação do Educador e a Nova LDB) (Moacir Gadotti, IPF)

(GADOTTI, ano1999, p.1)

A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação foi gestada a partir dos anos

80 e a Constituição de 88 já previa a elaboração de lei complementar para criar as

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN). A LDBN traz, em seus artigos, o

retrato de um período conturbado, provocado pela crise mundial do petróleo e a luta

das elites para se recomporem após essa crise através da implantação do ideário

neoliberal nos países periféricos, caracterizando os anos 80 como década de

intensa movimentação de ordem econômica, política e social.

A sociedade buscava, dentro dos diversos movimentos sociais e políticos, a

redemocratização do país em função do desgaste provocado pelo regime militar,

que vigorou por mais de duas décadas. No campo econômico, o neoliberalismo

avança derrubando antigas concepções de fronteiras geofísicas e mundializando a

economia, introduzindo conceitos e práticas mercadológicas para o campo social.

No Brasil, esse período se caracteriza também pelas intensas lutas sociais, por

abertura política (campanhas das ―Diretas Já‖ e redemocratização) e para por fim à

segregação dos direitos individuais e coletivos.

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Tais fatos ocorriam dentro de um cenário mais amplo, em nível mundial, e

mostravam uma movimentação dos países centrais, após a crise mundial do

petróleo, em busca de sua recomposição e tendo como alvo central a destruição do

Estado e do bem estar social no molde Keynesiano13, porque este é visto como

oneroso. Em seu lugar, surge a defesa de um estado mais moderno mais leve, ideia

que compõe o conjunto de doutrinas neoliberais.

A ideia básica do neoliberalismo é eliminar a participação do Estado na

economia e conceder total liberdade ao mercado para investidores de capital

externos, seus conjuntos de medidas são segundo (SHIMIDT 2004):

Privatização da economia - As empresas estatais são

vendidas sob a alegação de que as empresas de iniciativa privada

possuem mais recursos para investir do que o governo e, além disso,

os governos não sabem administrar. Propaga a concepção que a

iniciativa privada é mais eficiente, mais moderna, mais lucrativa e

produz com melhor qualidade.

Liberação do mercado - São eliminados todos os

mecanismos legais considerados como barreira ao livre comércio e

investimentos, como taxas alfandegárias, com objetivo de facilitar as

importações. Os investidores de capitais externos podem fazer seu

dinheiro circular livremente e do mesmo modo sair do país quando

melhor lhes aprouverem.

Antinacionalismo - As empresas nacionais não devem

receber ajuda dos governos porque se cria proteção para empresas

nacionais, consideradas ineficientes, impede a livre competitividade e

ainda que o capital estrangeiro, que traz o progresso, possa se

instalar.

13

Keynesianismo - doutrina econômica resultante do pensamento de John M. Keynes (1883-1946), qualificada de ―revolução keynesiana‖, dada à rápida adesão dos economistas. As propostas da chamada ―revolução keynesiana‖ foram feitas no momento em que a economia mundial sofria o impacto da Grande Depressão, que se estendeu por toda a década de 1930 até o início da Segunda Guerra Mundial. De fato, sob o estímulo de grandes despesas governamentais, impostas pelo conflito mundial, a crise do desemprego deu lugar à escassez de mão-de-obra na maioria dos países capitalistas. Esta era a comprovação da eficácia das propostas keynesianas. Surgiu a convicção de que o capitalismo poderia ser salvo desde que os governos soubessem fazer uso de seu poder de cobrar impostos, reduzir juros, contrair empréstimos e gastar dinheiro. (SANDRONI, 1999, p. 324).

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Menos Impostos - Os donos de capitais e banqueiros

devem pagar menos impostos. O motivo segundo os defensores do

neoliberalismo é ―que são os ricos que investem na economia. Se

eles pagarem menos impostos terão mais capital disponível para

investir e gerar empregos. Além disso, lucrarão mais e os lucros são o

grande propulsor da economia moderna‖.

Corte nos gastos públicos - Os governos gastam

dinheiro demais. Quando as dividas se acumulam, os governos

aumentam impostos e emitem papel-moeda, provocando a inflação e

sufocando a economia. Considera que os trabalhadores e as pessoas,

em geral, possuem muitos direitos sociais, o que somente colabora

para onerar o Estado. Sendo assim, os gastos com políticas sociais

tais como; aposentadorias saúde, educação, e ajuda aos

desempregados devem ser redirecionados.

Privatização dos serviços públicos - Tendo como idéia

principal que o mercado pode regular tudo e com eficiência, o ideário

de privatizações é defendido, principalmente, nos serviços essenciais

como saúde e educação. A previdência deve ter um sistema

complementar, permitindo que empresas explorarem estes ramos,

sendo que até presídios podem ser terceirizados. A justificativa para

tais ações é a mesma: empresas privadas administram melhor,

oferecem melhores serviços e os consumidores podem escolher.

Flexibilização do mercado de trabalho - Em nome de

uma economia mais dinâmica é preciso que o empresariado tenha

mais facilidade para contratar e demitir empregados. Isto significa

flexibilização das leis trabalhistas, porque estas protegem demais os

trabalhadores e é um prêmio para os empregados ineficientes,

portanto devem ser eliminadas tais leis ou direitos.

(SHIMIDT, Mario, O Neoliberalismo p.311. Nova História Critica)

Após a queda das ditaduras na América Latina, os governos que as

sucederam adotaram as medidas econômicas neoliberais e assim as políticas de

Estado mínimo se instala como experiência, primeiramente, no Chile e Brasil, nos

anos 90, com o governo eleito de forma direta que desenvolve uma política de

consentimento de acordo com SILVA (2002):

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Nas duas últimas décadas, houve explicita intervenção político-

ideológica e financeira do Banco Mundial e do FMI nas decisões

econômicas e sociais do país, avalizada pelo consentimento do

governo federal e das elites dirigentes. E m primeiro lugar, houve o

estreitamento das relações entre as equipes que elaboraram um

conjunto de políticas de ajuste rigidamente controladas pelos

dirigentes nacionais para todos os setores. As instituições, Banco

Mundial e Fundo Monetário, não só captam os recursos nos países

capitalistas avançados, como vêem a possibilidade de triplicá-los por

meio de aplicações, de taxas de juros e de empréstimos ao Brasil,

especialmente nos anos de 1980 a 1990, revelando sua capacidade

de construção de ideologias que legitimam e justificam a intervenção

nas economias dependentes. Em segundo lugar, a assertiva de

prioridade em educação básica, inscrita nos documentos do banco

mundial, esta revestida de sentido diferente ao que almeja a sociedade

civil e entidades organizadas, ou seja, a centralidade do banco funda-

se na diminuição ou na privatização gradual desse direito, por meio do

enfraquecimento das instituições escolares e cientificas e de nenhum

aumento dos percentuais do PIB para a educação publica (3,7%) dos

gastos totais ou (2,5) dos gastos correntes, da redução das verbas

públicas e, ainda, pela superficialidade e pela banalização que vem

sendo submetida a formação profissional.

(SILVA, 2002, p.125)

Os neoliberais têm agora novas formas de ação e conceitos que são

absolvidos no cotidiano das pessoas quase sem resistências, o neoliberalismo atual

é um conjunto de regras práticas de ação (ou recomendações), particularmente

dirigidas a governos e de reformas das suas políticas.

É importante observar que os neoliberais têm conceitos, não ideologia, o que

leva as pessoas a absorverem as novas concepções sem resistência, incorporando-

as no seu cotidiano. Elencam-se, abaixo, alguns destes conceitos:

Gastar é ruim. ―É bom ter prioridades.

É ruim exigir programas. Precisamos de parcerias, não de governo

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Forte.

Falem de necessidades nacionais, não de demandas de interesses

Especiais.

Exija crescimento, não distribuição.

Acima de tudo tratem do futuro. Repudiem o passado

Ao cabo de pouco tempo as idéias neoliberais começam a soar como

combinações aleatórias de palavras mágicas.

(SCHNEIDER, 1989, p. 7 apud DRAIBE, 1993, p. 89).

E, por ultimo, a tese do Estado Mínimo: O Mercado constitui o melhor e mais

eficiente mecanismo de alocação de recursos, a redução do Estado (do seu papel e

de suas funções e obrigações) é o móvel dessa ideologia.

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3.1. O neoliberalismo e as políticas educacionais no Estado de São Paulo

A ideologia neoliberal caracteriza-se pelo ideal de um Estado não

intervencionista, deixando um mercado de livre concorrência, ou seja, livre para

auto-regulação. Um Estado sem fronteiras geofísicas formando assim as

macroeconomias mundiais.

Porém, esta livre concorrência tem fragilizado as indústrias nacionais e

exterminando as micro-empresas, principalmente, nos países emergentes, isso se

mostra claro nas junções de indústrias nacionais, internacionais e a interferência na

soberania dos países.

A reestruturação dos mercados é uma das conseqüências dessa política de

mercado sem fronteiras e, para o trabalhador, sabemos que se traduz no

desemprego e no arrocho salarial, provocado em parte pelo excessivo número de

trabalhadores fora do mercado de trabalho.

A não intervenção do Estado na economia e a defesa de um Estado mínimo

levaram os governos a ver as necessidades básicas sociais - saúde, habitação e

educação - como custo para o erário público, porque na ótica neoliberal o Estado

tem que desonerar-se de encargos sociais14.

Essa nova forma de pensar, que vem da hegemonia dos valores de mercado,

tem reflexo sobre a organização escolar, introduzindo linguagens mercadológicas:

metas, qualidade, eficiência. Influenciando na construção do projeto pedagógico, nos

métodos de avaliação e, conseqüentemente, sobre o papel social da escola.

A teoria do capital humano, de T. W. Schultz, expressa o valor econômico da

educação, impregna os governos e influencia as práticas pedagógicas.

A partir dos anos 1970, com a difusão da teoria do capital humano,

expressando o valor econômico da educação, os governos nacionais e

as instituições financeiras internacionais passaram a concebê-la como

parte intrínseca do projeto de desenvolvimento econômico. Essa lógica

coloca a educação pública como bem econômico que deve responder,

da mesma maneira que uma mercadoria, à lei da oferta e da demanda.

14

Nova História Critica. Nova Geração.

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Tratada pelos técnicos e economistas como mercadoria de exploração

mercantil dos empresários, a educação pública passou a ser

submetida à lógica da produtividade e competitividade, favorecendo o

deslocamento do debate do eixo educacional pedagógico entre os

educadores, políticos e empresários, para ser manipulado no terreno

dos valores econômicos.

(BIANCHETTI,1996 p. 96) (FRIGOTTO, 1999, p. 54)

A educação acaba absorvendo os valores de um mercado competitivo e traz

para o interior da escola a ideologia mercadológica. Os currículos educacionais têm

sido modificados e fica claro que atende aos interesses da nova ordem mundial.

Observamos na escola cada vez mais os discursos de autonomia e

descentralização, que na prática significam descentralização das obrigações que o

Estado teria para com a escola, como custo com a manutenção e sobrevivência,

mas mantêm o controle dos conteúdos. A escola, na forma que está proposta, deve

organizar-se dentro da lógica empresarial voltada às necessidades de mercado.

Dessa forma, a educação acaba sendo uma mercadoria, mais um bem a ser

consumido no mercado educacional. E quando é defendida, tal ideia desconstitui a

escola como espaço público de construção de conhecimento e formação de sujeitos

históricos conscientes e politizados. Assim, apaga-se na sociedade a ideia da

educação pública como direito social e como conquista democrática, resultante de

lutas e enfrentamento do povo.

Ao transportarmos o pensamento neoliberal para o interior da escola o

fazemos na forma de uma pedagogia da competição, de mérito individual e até

achamos que a ―concorrência‖ é necessária para o avanço dos alunos e, dessa

forma, ir preparando-os para o mercado competitivo. Procedendo assim,

esquecemos as diferenças dos menos favorecidos socialmente e as ideias de

igualdade e solidariedade se extinguem definitivamente. Por consequência,

inclusive, da desvalorização e do desrespeito à dignidade da pessoa humana como

atributo inalienável e indisponível de cada ser que, sendo único, possui um valor

intrínseco inestimável que acaba sendo desconsiderado, pois só o melhor, o que

demonstra aptidão para sobreviver no mercado competitivo merece apoio.

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No caso das avaliações, fazemos uma padronização que estão em

conformidade com as necessidades de mercado, pois avaliamos ―quantidade‖,

―aparência‖, ―competitividade‖, ―eficiência‖, segundo a visão das classes dominantes.

Tomamos como referência a ―produção‖ do ―melhor aluno‖ da classe e

avaliamos os demais por comparação à competência, à qualidade e à eficiência

deste, que servirá como parâmetro para os demais. Porém, o que é mais importante

é o percurso que o aluno refez dentro do conhecimento, isto no seu tempo interior.

Diferenciar e reconhecer os vários tempos individuais se faz necessário para avaliar

com justiça, sem comparações e sem estabelecer parâmetros para estas

comparações.

Quando construímos uma avaliação baseada em padronizações, estamos

seguindo na contramão dos ideários de democracia, participação, inclusão e do

exercício de cidadania dos alunos. Formamos juízos de valores, julgamos,

sentenciamos e o veredicto final sempre é retenção do aluno - seja por defasagem

de conteúdo, por indisciplina, pouca produtividade, falta de interesse e outros

julgamentos subjetivos - ou a promoção do aluno para série seguinte, mesmo que

este esteja esvaziado de saber.

Dessa maneira, anos após anos, vamos eliminando e minando as chances de

inclusão numa sociedade historicamente injusta. Não levando em consideração que

o fato de estar na escola já é seu indicativo de busca de mudança social, já que

milhares permanecem fora do universo escolar devido às barreiras que a vida lhes

impõe.

Mas a distorção do olhar sobre a avaliação foi produzida e introjetada pelos

mecanismos de políticas educacionais, adotadas a partir de gestões sucessivas nos

anos 80 até o momento vigente, e para se entender melhor essa situação, faz-se

necessário abordar as políticas estaduais paulista dentro do contexto educacional.

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3.2. Redemocratização da Rede Estadual e Políticas de Estado Mínimo

Coube a André Franco Montoro, eleito pelo PMDB em 1982 como o primeiro

governador de São Paulo após o regime de ditadura militar, introduzir novas políticas

educacionais e sua bandeira era Participação e Descentralização. A sua gestão

ocorre de 1983 a 1986 e o grande desafio era enfrentar o elevado número de

reprovações e evasão escolar, bem como a democratização do ensino e a garantia

de igualdade de acesso na educação. O principal objetivo, com relação à educação,

era introduzir mudanças no sistema de ensino.

Ao assumir, tendo como vice-governador Orestes Quércia, implantou uma

política descentralizadora criando, em São Paulo, quarenta e duas regionais de

governo e dando início à municipalização do ensino. Outras medidas foram tomadas

em relação à educação: criou o (PROFIC) (Programa de Formação Integral da

Criança), o Estatuto do Magistério e um fórum de educação estadual. Implantou

ainda na educação, em 1984, o ciclo básico (CB) através do (Decreto n° 21.833) e

instituiu, no Ensino Fundamental I, ciclos com duração de dois anos na tentativa de

reorganizar o ensino e eliminar o altíssimo número de reprovações nas séries

iniciais. Desta forma, um novo sistema de avaliação foi introduzido como mostra o

artigo 1º do inciso I da lei que explicita seu objetivo:

É instituído, o ciclo básico no ensino de primeiro grau das

escolas da rede estadual com as seguintes finalidades:

I – Assegurar ao aluno o tempo necessário para superar as

etapas de alfabetização, segundo seu ritmo de aprendizagem

e suas características sócio-culturais;

II – proporcionar condições que favoreçam o desenvolvimento

das habilidades cognitivas e de expressão do aluno previstas

nas demais áreas dos currículos;

III – garantir às escolas a flexibilidade necessária para a

organização do currículo, no que tange ao agrupamento de

alunos, métodos e estratégias e de ensino, conteúdos

programáticos e critérios de avaliação do processo de ensino-

aprendizagem. . (SÃO PAULO, 28-12 1983)

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A iniciativa enfrentou certo grau de resistência, considerando que não houve

um tempo para o debate, para o entendimento da proposta por parte dos

professores e nem para saber a realidade da sala de aula, pois foi uma

determinação da Secretaria de Educação e de seus especialistas.

Outro ponto a ser considerado é que a implantação não teve o suporte dos

novos parâmetros curriculares estaduais. Segundo Duran, Alves e Palma Filho:

Estudos sobre o processo de implantação do ciclo básico

realizados ainda em 1984 indicaram que, passado o impacto inicial, os

aspectos positivos da medida começaram a ser percebidos por parte

dos educadores. Mas para parcela significativa dos professores e

diretores e diretores persistiam questões extremamente problemáticas:

inexistência de espaço físico nas escolas, inviabilizando a efetivação

das medidas previstas, apoio suplementar aos alunos, reuniões de

professores; falta de um coordenador pedagógico para orientar os

trabalhos; alta rotatividade do corpo docente das escolas; necessidade

de reduzir o contingente de alunos por classe; resistência de rever os

critérios de remanejamento de alunos, cujo índice era alto em razão da

tentativa de homogeneização das turmas procedimento (considerado

correto na proposta inicial do ciclo básico; indefinição de parâmetros

claros para avaliação dos alunos que concluíram o ciclo básico em

1985. DURAN, ALVES e PALMA FILHO, 2006, p.95)

Em 1987 Orestes Quércia foi empossado como governador do Estado de São

Paulo, com mandato até 1990. A política adotada foi de continuidade da gestão

anterior e prosseguindo as reformas iniciadas, como a descentralização e o avanço

das municipalizações.

Nesse período, têm início os primeiros financiamentos por recomendação do

Banco Mundial para melhoria das escolas que atendiam à população mais carente.

Para assegurar um ciclo de completa alfabetização, foi ampliado para dois anos o

tempo para o aprendizado do aluno e os que não avançassem nesse período

permaneceria um ano a mais no (CB), conforme a Resolução (SE 13/84)

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A recomendação também ocorre no sentido da avaliação e que a mesma

deveria respeitar o ritmo da aprendizagem dos alunos.

As realizações desse governo foram: implantação da jornada única docente e

discente (Decreto 28.170/88), continuidade das municipalizações da pré-escola e a

descentralização do pessoal de apoio das escolas da rede pública. Para efetivação

dessas mudanças, reorganizou a jornada dos professores e alunos, introduziu as

disciplinas de Artes e Educação Física. Os demais níveis de ensino permaneceram

sem alteração, considerando que a prioridade por recomendação do próprio Banco

Mundial recaía sobre o ensino de 1ª a 4ª séries.

O governo seguinte de Luís Antonio Fleury Filho, no período de gestão 1991 a

1994, institui um programa de reforma na educação paulista e implantou o programa

de Qualidade Total15 dentro dos moldes neoliberais na educação. O discurso era de

que a escola seria dotada de autonomia e o modelo baseado na qualidade total

objetivava o racionamento de custo. O governo Fleury, em sua proposta de

reorganização do ensino, criou a escola Padrão que veio acompanhada de

mudanças não somente na estrutura, mas na organização do pessoal,

equipamentos, recursos humanos e a reforma dos prédios.

Teve início os financiamentos com as agências externas e o estabelecimento

de metas para educação, de acordo com os compromissos firmados com o Banco

Mundial e (CEPAL).

Como resultado dessa reorganização, o (PROFIC) foi extinto, com a

transferência de responsabilidades. Os Centros de Convivência Infantil foram

transferidos da área de Educação para Secretaria do Menor. Continuou o avanço

das municipalizações e, com a intenção de que os integrantes do quadro do

magistério não solicitassem remoção, houve a restrição ao direito de remoção do

docente a cada três anos.

Além dessas mudanças, ainda houve a transferência da Divisão de

Supervisão e Apoio às Escolas Técnicas Estaduais para a Secretaria de Ciência,

Tecnologia e Desenvolvimento Econômico. O que se observa é o desmonte de

15

Qualidade total é uma técnica de administração multidisciplinar formada por um conjunto de programas, ferramentas e métodos aplicados no controle do processo de produção das empresas, para obter bens e serviços pelo menor custo e melhor qualidade, objetivando atender as exigências e a satisfação dos clientes.Freferick Taylor (1856- 1915) Administração Cientifica (princípios de qualidade total), Controle Estatístico de Processos (Walter A. Shewhart 1891-1967), Administração por Objetivos (Peter Drucker 1909- 2005)

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várias ações da administração anterior com o objetivo de adequar ao ideário

neoliberal que foi introduzido nesta administração e a adequação da estrutura para o

novo projeto deste governo, a Escola Padrão.

De acordo com (BITAR, 2003, p.267), todas essas iniciativas visavam diminuir

despesas e delimitar o campo de atuação da Secretaria de Educação para o projeto

que se encontrava em ―gestação‖, prestes a vir à tona, que seria a instituição da

Escola Padrão.

A Escola Padrão foi instituída através do Decreto Lei Estadual nº 34.035, de

22 de outubro de 1991, e sua implantação precedeu de intensa atividade

envolvendo a formação de professores, via Faculdades conveniadas, para a nova

forma de trabalho que seria o desenvolvimento de projetos perpassando todas as

disciplinas.

Segundo Utsumi 1995, p.37, a Secretaria de Educação produziu manuais,

estabeleceu diretriz e normas legais que foram publicadas entre os meses de

dezembro de 1991 e o inicio do ano letivo de 1992. Tal proposta de escola teve uma

curta trajetória, enfrentou obstáculo em nível de logística e aplicabilidade

considerando a extensão da rede estadual de educação paulista, não chegando a

atender e atingir a contento todos os profissionais que a materializariam esta

proposta. Utsumi relata em sua pesquisa as dificuldades enfrentadas. ―Até fevereiro

de 94, continuavam apenas estes sete centros, o que dificultava a atualização dos

profissionais de outras cidades. Alguns cursos oferecidos e de sua inadequação à sala de

aula.

((UTSUMI, 1995, P.48)

A Escola Padrão foi a marca do governo Fleury e findou juntamente com os

12 anos da hegemonia do PMDB no governo do Estado de São Paulo em dezembro

de 1994.

Em 1995, Mario Covas (PSDB) assumiu o governo paulista e teve início o

desmonte do projeto da Escola Padrão, pois consideraram que este não tinha

atingido seu objetivo que era a qualidade do ensino. Foi lançado então mais um

programa de reorganização do ensino na Secretaria de Educação, sendo um dos

objetivos a introdução de medidas de reestruturação da rede de ensino, algumas

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iguais às já existentes na gestão anterior, e que estavam em pleno desenvolvimento

como afirma OLIVEIRA, S.R.. F.1999 em Formulação de políticas educacionais:

Os Decretos n.º 40.510/5 e nº 40.473/95, bem como resolução (SE 269), de

05 de dezembro de 1995 SP fixavam a reforma do ensino em três pilares centrais, a

saber:

A racionalização e reforma da estrutura administrativa, a descentralização e

desconcentração dos recursos e mudanças no modelo de gestão.

As medidas tomadas por esta gestão foram:

―Reorganização da rede física e informatização da rede;

Mudança no padrão de gestão;

Delegação de competências administrativas e financeiras às

delegacias de ensino;

Melhoria da qualidade de ensino com iniciativas no campo pedagógico,

de avaliação e na carreira docente;

Regime de progressão continuada;

Flexibilização curricular;

Mudança na concepção de avaliação;

( Instituição do SARESP, SEE-SP Decretos n.º 40.510/5- nº 40.473/95).

Fica claro que a reforma se amoldava dentro do ideário neoliberal e todas as

ações tomadas dentro do programa de reorganização das escolas da rede pública,

dessa gestão e das anteriores, eram no sentido de transferência de

responsabilidades para os municípios e a conseqüente diminuição de custos com a

educação. Portanto, a Progressão Continuada juntamente com o SARESP compõe

o sistema de controle de custo com a educação através dos índices de aprovação

nessa gestão e que permanecerá até 2014. Sobre a política de Estado Mínimo,

Marília Fonseca relata:

Reorganização do quadro de pessoal (...) diminuição dos encargos

financeiros do Estado na área da educação, em consonância com as

políticas de ajuste. Privatização dos níveis mais elevados de ensino,

especialmente o superior. A prioridade dos recursos voltada para o

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ensino primário. Cesta de insumos educacionais que se mostraram

determinantes para o desempenho escolar dos alunos de países como

Brasil, segundo estudos internos do Banco. Assim, bibliotecas,

material instrucional e livro texto foram privilegiados em detrimento de

fatores humanos, como formação, experiência e salário do professor.

(FONSECA 2007, p. 56)

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3.3. A Progressão Continuada

A Progressão Continuada foi implantada no Estado de São Paulo através da

(Deliberação da CEE nº. 9/ 97) e (indicação do CEE N.º 08 1997), fundamentada na

LDB nº. 9.394 / 96, no artigo 2º e na Lei estadual n.º 10.403, de 6 de julho de 1971.

O Estado de São Paulo teve sua primeira experiência com regime de

progressão continuada entre 1969 e 1972, ainda no regime militar, e retornou com o

governo de Franco Montoro, quando se institui o ciclo básico em 1984 na tentativa

de eliminar o alto índice retenção escolar nas séries iniciais e democratizar o acesso

ao ensino. Na gestão Mario Covas, tal experiência foi estendida ao Ensino

Fundamental II com o regime de ciclos.

Objetivamente, a progressão começou em 1998 e ficou organizada em dois

ciclos, compreendendo o Ciclo I -1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries e Ciclo II - 4ª, 5ª, 6ª, 7ª e 8ª

séries. A partir da (Lei nº 11.274/06), houve a ampliação da educação básica para

nove anos, sendo que os ciclos ficaram assim dispostos: o primeiro corresponde aos

primeiros cinco anos (chamados anos iniciais do ensino fundamental) em que é

desenvolvido, usualmente, em classes com um único professor regente; o segundo

corresponde aos anos finais (6º ao 9ª ano), nos quais o trabalho pedagógico é

desenvolvido por uma equipe de professores especialistas em diferentes disciplinas.

O que se esperava com a nova organização do ensino era eliminar a ideia de

ano letivo e adequar às ações pedagógicas ao ritmo de aprendizagem do aluno, o

qual pode avançar na aquisição do saber.

Os ciclos funcionam nas etapas do processo do ensino, respeitando a cultura

que o aluno adquiriu anteriormente à sua chegada à instituição escolar, registrando

a sua evolução - se o aluno está avançando dentro dos saberes - sendo,

conseqüentemente, possível uma intervenção em qualquer tempo dentro do ciclo,

com o objetivo único a promoção do aluno para o próximo ciclo.

A avaliação ocorre no último ano de cada ciclo, após o aluno ter seu

aprendizado desenvolvido, respeitando seu tempo de assimilação individual. O

sistema proporciona o acompanhamento e reconhecimento das diferenças, o que

não acontece com a seriação em que todos são considerados iguais no ponto de

partida e, portanto, espera-se que, durante o processo de aquisição do saber e ao

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final do ano, todos estejam no mesmo patamar. O ciclo evita, assim, o número cada

vez maior de repetência escolar, que tradicionalmente se verificou no Brasil.

O sistema de seriação configurou um quadro de exclusões, tendo a escola

como maior responsável.

A reprovação fez o Brasil, do início do século passado, apresentar números

alarmantes de excluídos da incipiente rede de escola pública que não atendia a

todos e os que nela adentravam ainda enfrentavam um rigoroso processo de

seleção.

Na década de 1920, segundo censo contido na publicação da Fundação

IBGE: Séries Estatísticas Retrospectivas, 1970, numa população de (12.703.07), a

taxa de escolarização era de apenas (8.99%) e sobre esta seletividade, o ensino de

fato era destinado aos filhos da elite brasileira, conforme afirmações:

Se lembrar que a educação popular estava abandonada e de que a

educação média era meramente propedêutica, pode se ajuizar o

quanto a educação foi minimizada, a ponto de transformar-se em mera

ilustração e preparação para o exercício de funções, nas quais a

retórica tem papel mais importante que a criatividade. (...) A cultura

transmitida pela escola ―guardava, pois, o timbre aristocrático.

(ROMANELI, 1978, p. 41)

A educação, no inicio do século XX, comprovadamente não tinha no ensino

das camadas populares o seu objetivo maior.

Nesse contexto - de evasão, de retenção e de insuficiência de vagas para o

conjunto da população -, é que se amadurece a idéia de progressão continuada na

educação brasileira, utiliza-se de estudos e de pesquisas feitos no exterior para

possível implantação no Brasil. Assim, os pioneiros brasileiros buscaram experiência

em países que já tinham implantado ou estavam com classes experimentais para

fazer suas reflexões, buscando com isso contribuir para a eliminação da repetência.

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3.4. Histórico do sistema de Progressão Continuada

Jeferson Mainardes (1998) em seu artigo ―Promoção Automática em Questão:

argumentos, implicações e possibilidades‖, faz uma pesquisa profunda do processo

de exclusão e a tentativa de implantação da progressão automática no Brasil como

forma de eliminar a repetência já no começo do século. A grave questão da

repetência vem atravessando décadas intermináveis como mostram estatísticas, ver

(quadro1 pág. 14).

Em artigos publicados na década de 1950, alguns educadores se mostravam

preocupados com o problema da repetência. Já no ano de 1918, Sampaio Dória

Secretário de Educação do Estado de São Paulo propôs a promoção automática

para os alunos que tivessem frequentado um ano com aproveitamento e somente os

com muita defasagem seriam retidos. Em 1921, Oscar Thompson diretor geral de

ensino de SP na conferência de educação no ensino primário recomendou a

aprovação em massa. A temática progressão automática permeou assim os debates

em meados do século XX. Tais debates foram reforçados com o discurso do então

Presidente da República Juscelino Kubitschek defendendo a idéia da promoção

automática. O que vem provar que o Brasil há muito convive com o problema da

exclusão provocada pelas altas taxas de repetência. (MAINARDES 1998, Pág.17)

Trata-se dessa temática o artigo de Claudia. O. Fernandes relatando o estudo

de Martin Wilson (1954) sobre a experiência inglesa de adequação série e idade

realizada na Inglaterra:

A Inglaterra vem praticando, de todo coração, há cerca de 20 ou anos,

a prática de promoção por idade (...) o ato Educacional de 1994 (...)

praticamente recomenda que toda criança inglesa passe para escola

secundária aos 11anos.

(WILSON, 1954, p.57 apud FERNANDES, 2000)

De acordo com Claudia. O. Fernandes, Dante Moreira Leite16 escreveu o

artigo ―Promoção automática e adequação do currículo ao desenvolvimento‖ no qual

16

Cientista social. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php. Acesso 20/06/2010.

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faz um estudo sobre a reprovação e o papel da escola na sociedade. Baseia suas

teses na psicologia e pedagogia.

Numa sociedade de extrema diferenciação de trabalho, importa

despertar e manter as diferenças de interesse; num mundo em

transformação rápida e constante, importa preparar o aluno para

ajustar-se a situações novas, não repetir soluções apresentadas. Se

pensarmos nestas condições peculiares da sociedade em que

vivemos, perceberemos imediatamente que a classe homogênea, de

ideal educacional, passou a ser apenas um problema didático.

(LEITE,1959, p.19 apud FERNANDES, 2000)

Fernandes, C.O 1997, em sua pesquisa escreve que LEITE (1959, pág.19),

em seus argumentos em defesa da promoção automática, justifica-se baseando a

questão da aprendizagem em autores como Dewey, Herbert Wright, Miller

(psicólogos) e reafirma que a promoção automática:

(...) é a única solução coerente para a pedagogia poder lidar com as

diferenças de interesse e de desenvolvimento ao longo das faixas

etárias. A organização das series por idade resolve o problema dos

diferentes interesses decorrentes de idades diferentes: ―a única

solução para esse problema é a promoção automática- que se fará

por idade de sete anos no primeiro ano as de 8 no segundo e assim

por diante‖(...) (Leite,1959, p. 28). (...) autor aprofunda sobre a

instituição da promoção automática e afirma que esta não pode ter

sucesso isoladamente. Implica uma ―transformação radical da escola,

na medida em que transformam seus objetivos básicos e que

professores e alunos passarão a viver em torno de outros valores e

aspirações.

(LEITE, 1959 apud

FERNANDES, 1997)

A leitura do artigo permite a impressão de que foi escrito nos nossos dias

atuais, considerando que a inclusão do respeito às individualidades e a defesa da

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proposta de ciclos estão presentes na maioria dos debates educacionais. Os

princípios norteadores estão inseridos na progressão continuada vigente hoje no

estado de São Paulo, porém foram escritos na década de 1950.

Uma descrição sobre como se organiza uma escola sem reprovação, foi

escrita por Wilson (1954), que orienta sobre a diversidade de tempos e de ritmo dos

alunos, bem como deve ser a avaliação da aprendizagem. Relata a experiência

inglesa em ―Avaliação e Promoção nas Escolas Inglesas‖ (1954, p.57) no qual afirma

que, há vinte ou trinta anos atrás, a Inglaterra vinha praticando a promoção por

idade. Embora a experiência inglesa defenda a promoção, o faz em função de sua

organização administrativa e burocrática, de acordo com FERNANDES, 1997, p. 83,

os debates prosseguiam no país. Em 1956, Matos (1956) afirma que o professor é

responsável pelos altos índices de reprovação e o motivo desencadeador é a falta

de formação adequada e a ineficiência escolar. Afirma que a escola é um direito e,

portanto, não deve se tornar uma agência selecionadora de talentos privilegiados,

mas deve proporcionar educação e cultura a serviço da juventude e da democracia e

sobre esta função de democratizar o ensino Matos 1956, escreve:

Não será por certo cortando mais da metade dos jovens nela

matriculados que haverá possibilidade de prosseguir nos

estudos, que a escola brasileira tanto primária como

secundaria cumprirá esta sua nobre lição.

(MATOS, 1956, pág. 257 apud FERNANDES pág.9 1997)

A revista pedagógica RBEP traz o discurso de JK enaltecendo as

experiências estrangeiras e relaciona a promoção com o progresso, defende uma

escola menos seletiva:

(...) onde as aptidões não são uniformes, no qual as diferenças são

consideradas, e a sociedade precisa tanto das mais altas, quanto das

mais modestas. Não mais se marca com ferrete da reprovação, em

nenhuma fase do curso. Terminado este é ela classificada para o

gênero de atividade a que se tenha mostrado mais propenso. De

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forma racional a reforma seria econômica e prática, evitando o ônus

da repetência e os males da evasão escolar. (RBEP, 1957, p. 144)

Fernandes (1997, p.9) alerta que, na realidade, fica evidente a questão

econômica, o que reforça a necessidade de implantação da promoção automática.

Almeida Junior, em seu discurso ―Repetência ou Promoção Automática‖, no

congresso estadual em Ribeirão Preto, comenta sobre o fato que lhe chamou mais a

atenção na ―Conferencia Regional sobre Educação Gratuita e Obrigatória‖

promovida pela UNESCO em Lima no Peru. O documento continha dados

estatísticos e sugeria a adoção de políticas de promoção automática nos países da

América Latina, que poderiam seguir o exemplo do sistema inglês e recomendava:

Revisão do sistema de promoções na escola primária, com o fim de

torná-lo menos seletivo; Estudo, com participação do pessoal

docente primário; Um regime de promoções baseado na idade

cronológica dos alunos e em outros aspectos de valor pedagógico, e

aplicável, em caráter experimental, aos primeiros graus da escola.

(ALMEIDA JUNIOR, 1957, p.3)

Em 1958, o jornal o Estado de São Paulo publicou uma critica de autoria de

Luis Pereira, mostrando as contradições presentes na idéia de promoção

automática, afirmando que o sucesso da implantação desse sistema nos países de

Primeiro Mundo se deve a superação dos problemas.

(...) tratava-se, pois de fundamentação proveniente da constatação

de deficiências de certos alunos e não da existência de precárias

condições materiais e pessoais do funcionamento escolar‖ (...)

eliminasse as altas porcentagens de repetência, não afetaria de

modo direto e profundo os fatores desse fenômeno e que levaria à

perda de um valioso termômetro do funcionamento do sistema

escolar primário – os índices de repetência.

(Fernandes, pág.11 Promoção Automática na

Década de 50)

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E finalmente, encerrando as publicações na revista (RBEP) sobre a promoção

automática, há o artigo da professora Heloisa Marinho que mostra os benefícios da

inserção mais cedo da criança na escola, no antigo jardim da infância. A proposta é

bem atual porque a partir de 2006 começou-se o movimento pelo ensino de nove

anos, em que o último ano da antiga pré-escola é hoje o primeiro ano do ensino

fundamental. Segundo a professora, após a realização de pesquisa comparativa no

Rio de Janeiro, entre crianças que não foram matriculadas no jardim da infância e as

que tinham freqüentado, concluiu-se que as crianças que fizeram o jardim da

infância apresentaram um grau de desenvolvimento muito maior do que as que não

fizeram.

De forma geral, a ideia que passava desde a recomendação da (UNESCO),

bem como a defesa dos teóricos para implantação da promoção automática nos

anos 50 - como Leite, Almeida Junior e o próprio presidente da republica JK -, é que

a escola era convocada a redefinir seu papel e redescobrir sua função social. A

década desenvolvimentista demandava um novo Brasil, menos seletivo, que

acolhesse seus próprios filhos oferecendo-lhes oportunidade de crescer junto com a

nova fase que o país estava vivendo. Esses são os pensamentos que convergem

para os ideais da escola nova, expressos na RBEP e sua bandeira nos primeiros

vinte anos, segundo Patto 1996, pág., 87 in (Fernandes 2000) Os argumentos a

favor da implantação foram muitos desde o inicio de debate a cerca deste tema e o

ideal de renovação se faz sentir também no pensamento do presidente Juscelino

Kubitschek, em seu discurso em defesa de uma nova educação e da promoção

automática proferida às professoras de Belo Horizonte:

As necessidades sociais de nosso tempo estão a exigir que a escola

primária se transforme. (...) Entre os pedagogos modernos, já não se

considera a escola primária simples estagio para aprendizagem dos

rudimentos da leitura, da escrita e do calculo. Há de integrá-lo na

economia nacional.

(KUBITSCHEK, 1957, p.143 apud FERNANDES, 2000)

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As idéias relacionadas à promoção automática tiveram inicio nas discussões

realizadas e implantadas na Inglaterra desde o início do século XX, como afirmou H.

Martin Wilson.

Mainardes (1998, p.17) afirma que a UNESCO, na Primeira Reunião

Internacional de Ministros de Educação realizada em Genebra, recomendava tal

modalidade escolar para países do terceiro mundo com problemas de cobertura na

área rural. Continua o autor:

No período de 1968 a 1972, o estado de São Paulo implantou um

sistema de promoção automática que só retornaria em 1984, no

governo de Montoro com a implantação do Ciclo Básico. Outros

estados também adotaram o sistema e foram eles: Santa Catarina

(1970-1984), Rio de Janeiro (1979–1984). Todas estas experiências

eram tentativas de fazer uma escola mais justa e sem exclusão

provocada por um sistema de avaliação seletiva e que tinha como

resultado a repetência e a evasão escolar. (MAINARDES 1998, p.17)

Fernandes (1997), em sua pesquisa, comprova que a partir da 3ª Reunião

Anual de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED) em 1979, é que se

introduziu um novo cunho político e teórico às discussões anteriores acerca do tema

da promoção automática. Aprofundando as análises sobre a seletividade escolar no

1º grau, os debates levaram às justificativas teóricas para as políticas educacionais

que visavam à implantação de sistemas de avaliação que traziam uma perspectiva

de não-reprovação, seja em séries, níveis ou ciclos. A novidade, em relação às

propostas anteriores, se inseria na análise de que a implantação da promoção

automática não deveria vir desacompanhada de uma série de outras medidas, não

só no nível das políticas educacionais, como também no nível intra-escolar.

A promoção automática exige como afirmou Almeida Junior (1957, p.11),

atividades complementares para dar suporte e garantir sucesso e, neste sentido,

estas medidas seriam:

Aumento da escolaridade primária;

Ingresso antecipado em pelo menos um ano, defendia no

máximo sete anos;

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Formação continua do professor;

Modificação na concepção de ensino primário, abolindo a

seletividade;

Revisão dos critérios de promoção (semelhante à dos ingleses,

Ou seja, que todas as crianças deviam ser submetidas ao

conjunto dos estímulos propostos nas diferentes séries do

programa. (Fernandes, 1997.p.11)

É necessária, segundo o autor, uma reorganização estrutural, de

administração central e nas práticas pedagógicas, sem as quais não se obtém

sucesso. Leite (1959) reforça as argumentações de Almeida Junior e acrescenta

outros argumentos de cunho psicopedagógicos em defesa da promoção, afirmando

que as conseqüências negativas para crianças e adolescentes eram: sentimento de

incapacidade (desprestigio diante de si), perda da noção de seu nível de realização,

não reconhecimento dos valores da escola e evasão escolar por parte dos alunos

repetentes que procuram dessa forma, evitar frustrações constantes.

Entendia que as reprovações escolares eram mais graves que a reprovação

social, porque o individuo não tem oportunidade nem de abandonar e, atividade.

Abandonar a escola era se preparar mal para a vida adulta, segundo Leite, (1959) e

para os seguintes problemas, propunha possíveis soluções:

O desnível entre os alunos - propunha a adoção de metodologia

diversificada, diversificação das tarefas, orientação de tarefas para

grupos de cada classe e mais interação entre os próprios alunos;

A adequação do currículo ao desenvolvimento do educando -

propunha, sobretudo, resumi-lo retirando os itens inadequados à

idade dos alunos (já que todos na mesma classe seriam da mesma

idade);

Relação quantidade x qualidade do currículo - afirmava que

aprender quantitativamente menos conteúdos não significa

aprender com menos qualidade e, vice versa, aprender

quantitativamente mais conteúdos não significa aprender melhor.

((In: Mainardes, 1994, p.19)

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Na década de 60, alguns sistemas de ensino no país adotaram e realizaram

experiências com o sistema de ciclos: o estado de Santa Catarina nas series iniciais

de 1970 a 1984 e posteriormente em todo ensino fundamental; no Rio de Janeiro

nas 1ª e 2ª séries de 1979 a 1984; foi novamente instituída em São Paulo no ano de

1968; em Minas Gerais em 1985 e nos estados do Paraná e Goiás em 1988. Nos

anos 90, as administrações municipais de São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte

adotaram também o sistema de ciclos. (Fernandes, 1997, p. 5) O entendimento em

torno da adoção de ciclos e da promoção automática avançou por todo país e

culminou com sua inserção na nova LDB (Lei nº 9394/96).

Embora a discussão da promoção automática tenha permeado as várias

décadas do inicio do século XX até a década de 80 e tenha sido implementada em

alguns sistemas de ensino no país, tanto estaduais quanto municipais, é pertinente

lembrar que existe uma substancial diferença entre promoção e a progressão

automática.

Iniciou-se, ainda no século passado, um debate sobre repetência e o injusto

sistema educacional brasileiro e buscavam-se soluções mais adequadas. Com o

tempo, qualificaram-se as discussões em torno da promoção automática e

chegamos hoje ao sistema implantado desde 1997.

No caso da promoção automática, o aluno vai sendo promovido para séries,

etapas ou fases subseqüentes sem ter adquirido habilidades e competências, ou

seja, sem o desenvolvimento das habilidades necessárias para a promoção.

No entanto, a concepção de progressão trabalha a realidade do aluno

contextualizando-a. É necessário ainda um acompanhamento contínuo das

aprendizagens e aplicação de recuperação paralela, visando sanar as defasagens

de aprendizagens apresentadas pelo aluno.

Atualmente vários autores defendem a progressão continuada como forma de

democratizar o ensino, ou ainda, sob a ótica psicológica, pedagógica, sociológica.

Mas se analisada sob uma visão política e econômica, apresenta-se dentro das

perspectivas neoliberais, com objetivo único de fazer avançar alunos, considerando

que a permanência deles na escola por repetidos, anos tendem a onerar os cofres

públicos.

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3.5. Ciclos e Progressão Continuada

A escola seriada refletia uma realidade social do começo do século XX que

possuía uma dinâmica social totalmente oposta aos dias atuais. A escola organizada

neste período refletia o sistema organizacional da divisão do trabalho e estava

presente na fraca organização escolar do início do século.

Ao adotar, em seu interior, o esquema utilizado na divisão do trabalho próprio

da produção manufatureira, a escola passava a reproduzir práticas inerentes ao

cotidiano das fábricas. Machado (1994) faz os seguintes registros, em sua tese de

doutorado, sobre a padronização uniformizada das fábricas e sua adoção pela

escola:

Produção padronizada e uniformizada na escola se apresenta na

divisão das classes em séries e na fragmentação do currículo;

Homogeneização dos alunos por idade ou rendimento;

Separação do conhecimento em disciplinas isoladas;

Formação do professor na disciplina isolada;

Uniformização do ensino e das aprendizagens em modelos únicos;

Realização do percurso da aprendizagem do simples ao complexo

com exigência do pré-requisito;

Classificação conforme a qualidade e reprovar quando necessários

como refugos da produção;

Integração, no processo educativo, da distinção entre conceber e

executar o produto, ocorrendo à separação entre o sujeito que

concebe e o objeto produzido, entre o professor que ensina e o aluno

que aprende, entre ensino e aprendizagem, entre escola e trabalho.

. (Machado, 1994, Pág. 34)

A proposta de ciclos e da progressão em São Paulo fundamenta-se na ideia

do estado democrático, em que a pessoa é sujeito de direitos, e tem o objetivo

primeiro de superar a concepção da escola seriada.

Aprovada em 1997, a (Indicação (CEE Nº. 8/97) e a (Deliberação CEE n°

9/97) pelo Conselho Estadual de Educação, entra em vigor em 1998 até a presente

data, tendo como objetivos principais a superação da cultura da repetência

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tradicionalmente normatizada na escola pública, a criação de uma nova cultura da

promoção e da superação dos obstáculos que impediam o aluno de avançar.

A LDB/96 prevê que:

A educação básica poderá organizar–se em séries anuais, períodos

semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos,

grupos não seriados, com base na idade, na competência e em

outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o

interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar. :

BRASIL, LEI Nº 9394/96, art. 23.

Nos termos da seção III, art.32, Inciso IV da mesma lei,

§ 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino

fundamental em ciclos.

§ 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular por série

podem adotar no ensino fundamental o regime de progressão

continuada, sem prejuízo da avaliação do processo de ensino

aprendizagem, observadas as normas do respectivo sistema de

ensino ―(...) (BRASIL, LEI Nº 9394/96)

Os sistemas de ensino estaduais e municipais podem, na forma da lei,

instituir, se assim desejarem, em o regime de progressão continuada e ciclos.

O ciclo é uma modalidade de organização de ensino que possibilita uma

adequação ao ritmo e tempo do aluno, respeitando suas limitações e permitindo-o

avançar de forma mais flexível, considerando que o ciclo não está preso em ano

letivo tradicional. Também garante um ensino contextualizado e de acordo com os

anseios da sociedade nos quais a escola e o aluno estão inseridos, isso

proporcionará uma aprendizagem efetiva e uma diminuição significativa dos índices

de reprovação escolar que é um dos fatores da exclusão social.

Do ponto de vista das práticas pedagógicas, a novidade é que a avaliação

ocorre de forma continua durante todo processo de aprendizagem e não

simplesmente ao final deste. A avaliação se torna diagnostica e cumulativa sobre o

conjunto do trabalho educativo realizado, pois se avalia o trabalho pedagógico e sua

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eficácia a partir do domínio de aprendizagem que o aluno adquiriu nas determinadas

áreas a que foi submetido.

O sucesso da modalidade de ensino requer a adaptação de todos os

envolvidos, bem como das instâncias decisórias da unidade escolar onde será

implantado o sistema. Teóricos que estudaram a questão da progressão automática

referiram-se aos suportes necessários a esse regime, sem os quais não se atingiria

o objetivo. Noronha (2001, p. 119) elenca alguns destes suportes:

Elaboração da proposta pedagógica com todos integrantes da comunidade

escolar;

Introdução gradativa dos Ciclos;

Garantia do funcionamento dos Conselhos de Escola como espaço efetivo de

discussão;

Apoio técnico-pedagógico às equipes escolares para discussão e

encaminhamento de soluções dos deslocamentos que essa sistemática

requer;

Discussão coletiva para elaboração de proposta de avaliação e estudo do

sentido e significado da avaliação nos Ciclos;

Discussão e elaboração coletiva de propostas metodológicas para trabalhar o

processo ensino aprendizagem;

Previsão de mecanismos que garantam à própria escola fazer o controle e

avaliação do sistema de Ciclos;

Organização do uso do material didático-pedagógico, biblioteca, midiateca,

sala ambiente) no trabalho com Ciclos;

Garantia do (HTPC) para discussões sobre a evolução da aprendizagem dos

alunos;

Garantia dos coordenadores pedagógicos para Ciclos e períodos;

Elaboração de um projeto racional de implantação dos Ciclos, com

etapas de avaliação, controle, correção de rumos;

Discussão com a comunidade (alunos e pais) sobre o significado do

ciclo e como se pode contribuir para que este sistema funcione como

medida de inclusão escolar;

Discussão das formas e processos de recuperação no decorrer do

Ciclo.

(NORONHA, 2001)

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A progressão continuada não pode ser executada isoladamente ou

burocraticamente, mas deve nortear o projeto político-pedagógico e, por seu

intermédio , promover a democratização da educação e o acesso aos códigos que

permitirão o exercício real da cidadania. Esta nova concepção rompe com o ranço

das práticas herdadas do período militar, em que as avaliações eram carregadas de

autoritarismo por parte do professor, como a nota de comportamento que podia

reprovar o aluno independentemente do seu rendimento escolar, portanto tinha-se

uma avaliação que era: classificatória, seletiva, punitiva e excludente.

A progressão modifica a concepção de avaliação, que era vista como

oportunidade para punir e passa ter um papel regulador das aprendizagens.

Avaliação da aprendizagem na progressão deve acontecer ao longo do processo e

deve ser: contínua e cumulativa, diagnóstica e formativa.

Para que a progressão continuada, sob a forma de ciclos ou blocos, se

traduza em medidas que visem realmente garantir a melhoria da qualidade de

ensino, e não simplesmente melhorar os índices oficiais de repetência e evasão

escolar, é preciso que haja um envolvimento de todos os profissionais da Educação

- professores, administração alunos e pais. Uma reorganização do espaço e do

tempo da escola, com a garantia de condições de trabalho para os professores e de

estudo para os alunos. Contudo para que a proposta se efetive na prática escolar

cotidiana,um novo conceito de avaliação deve constar no regimento escolar,

conforme (PARECER CEE nº. 67/98), intitulado "Normas Regimentais Básicas para

as Escolas Estaduais‖.

Do processo de avaliação, Capítulo I, Dos Princípios:

(§ artigo 32) - A avaliação da escola, no que concerne a sua estrutura,

organização, funcionamento e impacto sobre a situação do ensino e

da aprendizagem, constitui um dos elementos para reflexão e

transformação da prática escolar e terá como princípio o

aprimoramento da qualidade do ensino.

artigo 40) - A avaliação interna do processo de ensino e de

aprendizagem, responsabilidade da escola, será realizada de forma

contínua, cumulativa e sistemática, tendo como um de seus objetivos o

diagnóstico da situação de aprendizagem de cada aluno, em relação à

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programação curricular prevista e desenvolvida em cada nível e etapa

da escolaridade.

artigo 41 – A avaliação interna do processo de ensino e de

aprendizagem tem por objetivos:

§2 diagnosticar e registrar os progressos do aluno e suas dificuldades;

§3- possibilitar que os alunos auto-avaliem sua aprendizagem;

§4- orientar o aluno quanto aos esforços necessários para superar as

dificuldades;

§5- fundamentar as decisões do conselho de classe quanto à

necessidade de procedimentos paralelos ou intensivos de reforço e

recuperação da aprendizagem, de classificação e reclassificação de

alunos;

§6- orientar as atividades de planejamento e replanejamento dos

conteúdos curriculares.

Os registros de avaliação serão definidos pela escola, desde que

contemplem síntese bimestral e final em cada disciplina

art. 42, §1º, portanto, não podendo ser síntese mensal, trimestral ou

semestral (por exemplo), não podendo, vigorar no presente ano letivo.

art. 8617. Durante o ano letivo de 1998, os resultados da avaliação

do rendimento escolar dos alunos serão traduzidos em sínteses

bimestrais e finais ...................................(PARECER CEE nº. 67/98)

Regulamentando o regime de progressão continuada, o governo paulista

esperava diminuir o número cada vez maior de repetência, instituir uma nova

concepção sobre o ensino aprendizagem e sobre os processos de aquisição dos

mesmos, introduzindo também uma nova concepção de avaliação junto ao

professorado, gestores, pais, alunos e comunidade na rede estadual paulista.

17 Artigo 86 - Durante o ano letivo de 1998, os resultados da avaliação do rendimento escolar dos

alunos serão traduzidos em sínteses bimestrais e finais, através das menções A, B, C, expressando rendimento

satisfatório, e D e E, rendimento insatisfatório.

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3.6. Política de avaliação do Estado de São Paulo

O SARESP (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São

Paulo) foi criado pela da (Deliberação Nº. 27 em 1996), no governo de Mario Covas,

com objetivo de avaliar o desempenho da aprendizagem na rede pública estadual,

além de estabelecer um mecanismo de avaliação em consonância com o sistema de

avaliação nacional, o (SAEB/MEC). O diagnóstico oferecido pelos resultados das

avaliações permite ao governo planejar as políticas públicas direcionadas à

educação. Permite ainda criar propostas de intervenções para as unidades

escolares, na condução de políticas de formação contínua para os docentes da rede

pública, e também traçar o perfil de futuros docentes que vierem a ingressar na

Rede Estadual.

Segundo o governo paulista, a avaliação proporcionava dinamização ao

sistema, proporcionando as tomadas decisões pelo Órgão Central de maneira mais

racional. As delegacias de ensino e as unidades escolares são beneficiadas pelo

sistema de avaliação ao se apropriarem dos resultados para direcionar suas ações.

Os motivos para a implantação do sistema de avaliação são:

A imprescindibilidade de recuperar o padrão de qualidade do

ensino ministrado no Estado de São Paulo;

A importância em subsidiar o processo de tomada de decisões

que objetivem melhoria da administração do sistema educacional

através de resultados avaliativos cientificamente apurados;

A necessidade de informar a sociedade e a comunidade

educacional sobre o desempenho do sistema de ensino;

A necessidade das delegacias de ensino e Unidades Escolares

obterem resultados imediatos para tomada de decisões, em seus

níveis de atuação.

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Os objetivos específicos do SARESP são:

I-―desenvolver um sistema de avaliação de desempenho dos alunos do

ensino fundamental e médio do Estado de São Paulo, que subsidie a

Secretaria da Educação nas tomadas de decisão quanto à política

Educacional do Estado;

II - Verificar o desempenho dos alunos nas séries do ensino

fundamental e médio, bem como nos diferentes componentes

curriculares, de modo a fornecer ao sistema de ensino, às equipes

técnico-pedagógicas das Delegacias de ensino, e às Unidades

Escolares informações que subsidiem:

a) a capacitação dos recursos humanos do magistério;

b) a reorientação da proposta pedagógica desses níveis de ensino, de

modo a aprimorá-la;

c) a viabilização da articulação dos resultados da avaliação com o

planejamento escolar, a capacitação e o estabelecimento de metas

para o projeto de cada escola, em especial a correção do fluxo

escolar.

(SEE-SP- deliberação nº. 27 em 1996)

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3.7. Característica do SARESP-SP

De acordo com a deliberação nº 27 que trata da do SARESP na Rede Pública

Estadual de São Paulo a essa avaliação institucional possui algumas características

e função assim especificadas:

É um processo sistemático, gradativo e continuo de avaliação, com

aplicações anuais.

Abrange todas as escolas e alunos da rede estadual

(obrigatoriamente); e para as escolas das redes municipais e

particulares que aderirem ao sistema de avaliação.

Propõe uma cultura de avaliação no âmbito da rede estadual.

Fornece as escolas resultados imediatos.

Estabelece um fluxo de informações entre os órgãos centrais da

Secretaria Estadual de Educação (SEE), as Diretorias de Ensino

(DE´s), as escolas e as demais.

Disponibiliza aos estudantes e suas famílias, bem como à sociedade

civil em geral, informações consistentes sobre a qualidade do ensino

oferecido no Estado.

(SEE-SP- deliberação nº. 27 em 1996)

São utilizados dois instrumentos de Avaliação para se obter informações que

servirão de subsídios para os docentes: uma prova escrita contendo trinta questões

objetivas e uma proposta de redação – sendo narrativa para o Ensino Fundamental,

e dissertativo, para o Ensino Médio. As questões são baseadas nas propostas

curriculares da SEE e nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNS), Segundo a

SEE-SP.

O SARESP possibilita estudos longitudinais18; que são aqueles que

permitem a análise dos eventos, fatos, fenômenos em uma linha

18

Um estudo longitudinal é uma pesquisa que busca encontrar correlação entre variáveis, através de observações repetidas dos mesmos itens ao longo de um ex 2001 tenso período de tempo - frequentemente várias décadas. É um tipo de estudo observacional. São muito usados em psicologia para estudar tendências no desenvolvimento comportamental na vida de um indivíduo, uma vez que acompanham exatamente as mesmas pessoas. Disponível em: http://saresp.fde.sp.gov.br/2005/subpages/conheca.htm)

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contínua no tempo. Assim, por exemplo, no SARESP podem-se

analisar a evolução dos mesmos alunos em anos seguidos: 1996,

1997, 1998 e demais anos.

(BITTAR, 2003, p.11)

O documento de implantação previa a continuidade da avaliação para os anos

de 1997 e 1998. Esse mesmo raciocínio de estudo longitudinal pode ser adotado

com relação à escola e à delegacia de ensino. (Resolução nº 27, 03, 1996). A forma

de organização desta avaliação envolvia todos profissionais da rede de ensino e era

uma estratégia para que todos se sentissem co-participantes do processo,

principalmente na análise dos dados e na utilização dos mesmos. A avaliação tinha

como alvo os alunos matriculados nas escolas públicas estaduais, seus gestores,

professores, coordenadores e comunidade escolar, tendo como objetivo verificar a

evolução de aprendizagem e a qualidade de ensino.

A avaliação ocorreu de forma gradativa. Em 1996, ano de sua implantação,

realizaram os exames a 3ª e 7ª séries e o objetivo era avaliar os conhecimentos do

ano anterior, ou seja, das 2ª e 6ª series respectivamente. As provas para o Ciclo I

continham questões de Matemática e Português e as do Ciclo II de Geografia,

História e Ciências.

Em 1997, foram avaliadas as 4ª e 8ª séries e, novamente, as questões eram

referentes às disciplinas: Português, Matemática, Geografia e Ciências. E, pela

primeira vez, o Ensino Médio é avaliado nas disciplinas de Português (inclusive com

prova de Redação) e Matemática.

Na edição de 1998, optou-se por fazer a avaliação das 2ª e 6ª séries do

Ensino Fundamental nas disciplinas de Português (questões objetivas e prova de

redação), Matemática e Ciências; já para o Ensino Médio, as questões foram das

disciplinas de Português (questões objetivas e redação), Química, Física, Biologia e

História.

No ano de 1999, a prova foi suspensa e voltou a ocorrer no ano seguinte, no

qual foram avaliados os alunos das 5ª e 6ª séries do Ensino Fundamental e 3º ano

do Ensino Médio. Assim, foram avaliados todos os alunos que estavam na Rede

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Estadual no momento da implantação do SARESP, alternadamente entre os anos de

1996 a 2000. Em 2000, os alunos foram avaliados Português, Matemática, Biologia,

Geografia, Ciências e História. A outra inovação é que os professores

coordenadores e diretores, nessa edição, também tiveram que responder a um

questionário que foi analisado pela Supervisão de Ensino de cada DE.

Uma mudança de impacto significativa para os professores ocorreria em 2001

com (Resolução SE nº. 124, de 13 de novembro de 2001), e os alunos passavam a

ser avaliados na 4ª e 8ª séries, mas com introdução de questões que avaliassem a

competências e habilidades dos alunos. Nesse período, os docentes tiveram cursos

de formação contínua para entenderem o novo jeito de avaliar por competências e

habilidades. Porém, o que causou grande debate e revolta nos professores foi o

novo objetivo para a avaliação nesta resolução:

―Aferir, junto aos alunos, as condições para continuidade de seus

estudos no Ciclo II ou no Ensino Médio, uma vez que seus resultados

constituirão em indicador essencial para promoção do aluno.‖

(São Paulo, Resolução SE 124/2001, art. 2).

Pela primeira vez utiliza-se o SARESP, que é uma avaliação externa a

unidade escolar e lhe confere a condição promover o aluno, retirando do professor a

responsabilidade de avaliar o resultado do trabalho realizado em sala de aula e de

promover ou não o aluno para a série ou ciclo seguinte. Isso teve grande

repercussão na rede estadual, gerando protestos e reação da categoria.

Ao final da avaliação em 2001, com base nos resultados, a Secretaria de

Educação encaminhou os alunos com rendimento insatisfatório para recuperação

intensiva em janeiro de 2002. Após, foram submetidos a uma nova avaliação e

encaminhados para série seguinte em caso de resultado positivo, conforme

(Resolução SE 14, de 18 de janeiro de 2002).

No ano de 2002, a secretária de educação do Estado de São Paulo, Rose

Neubauer deixou o cargo, pasta que ocupava desde 1995, ano em que teve início a

administração Mario Covas. Em seu lugar, assume Gabriel Chalita, e ainda neste

ano o SARESP ocorre seguindo o esquema da gestão da secretária anterior, porém

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o novo secretário não utiliza os resultados da avaliação para promoção dos alunos

como fez sua antecessora.

Novas mudanças viriam e no ano de 2003, o SARESP se torna obrigatório

para todos os alunos da rede estadual, exceto os alunos da Educação de Jovens e

Adultos (EJA). A (Resolução 120/2003) traz no artigo 2º que os alunos seriam

avaliados com objetivo de verificar se as aprendizagens para aquele nível ocorreram

de forma satisfatória por meio de ―uma prova de leitura e escrita com vistas à

avaliação das habilidades básicas previstas ao final de cada série.‖

Nos anos de 2003 e 2004, as avaliações do SARESP mantiveram sem

alteração em seu formato da avaliação e mantinha–se a abrangência para toda

Rede Estadual de Educação. A alteração ocorreu em 2005 com a introdução da

prova de Matemática que havia sido aplicada pela ultima vez em 2000.

Em 2006, o Estado de São Paulo está sob novo comando, mas a filosofia e

política educacional continua. O novo governo e sua equipe implantaram algumas

mudanças no sistema de avaliação, porém de ordem administrativa e de condução,

porque a essência da avaliação continuou. Os objetivos, segundo a nova Secretária

Maria Lucia Carvalho Vasconcelos, eram avaliar os resultados da aplicação desse

sistema na rede e para tanto promoveu um seminário com todos os gestores,

supervisores e professores coordenadores, professores de Português, Matemática e

os ATP dessas mesmas disciplinas e o objetivo era:

1 -Aprofundar conhecimentos sobre avaliação educacional e escolar;

2 - Refletir sobre as características e objetivos de diferentes sistemas

de avaliação;

3 - Refletir sobre as relações entre avaliação externa e avaliação

interna;

4 - Discutir, identificar e propor ações que articulem metodologias de

ensino e projetos educacionais, tendo em vista o enfrentamento dos

dados de desempenho das últimas avaliações .

(Caderno de Memórias CENP/SEE/SP, 2007. p. 4)

Ocorrem mudanças também na organização do ensino e é criado a Escola de

Período Integral.

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100

A Secretária da Educação, no uso de suas atribuições, e considerando; as

expectativas e as demandas apontadas pelas equipes escolares na operacionalização das

diretrizes estabelecidas pela Resolução SE-7, 18/01/2006, quando do processo de

implantação da Escola de Tempo Integral; a diversidade dos fatores que, diuturnamente,

podem comprometer o desenvolvimento e a qualidade das atividades programadas pelas

equipes escolares, com especial referência às Oficinas Curriculares; a necessidade de se

otimizar, pedagógica e didaticamente, o funcionamento e a organização da matriz curricular

dessas Oficinas; a importância dos ajustes na consolidação da oferta de um ensino público

de qualidade, a promover aprendizagens e experiências bem sucedidas. Resolve:

Artigo 2º - A Escola de Tempo Integral funcionará obrigatoriamente

nos turnos da manhã e da tarde, tendo sua organização curricular

constituída por componentes do currículo básico do Ensino

Fundamental e por eixos temáticos das Oficinas Curriculares.

(São Paulo, Resolução SE 77, de 29-11-2006)

A docência da rede estadual não recebe bem tal medida, a insatisfação

gerada é muito grande, o que seria uma ótima oportunidade para uma educação

escolar integral se transforma, segundo professores da Rede, em depósito de

crianças em período integral, considerando que as escolas não possuíam atividades

educativas.

Em janeiro de 2007, José Serra assumiu a gestão estadual e, em julho do

mesmo ano, a (SE) lançou o plano de metas a serem atingidas até 2010, que

continha metas ambiciosas como melhora no nível de ensino em 10% com resultado

no índice de desempenho nas avaliações estaduais e nacionais do Ensino

Fundamental e Médio, definindo também as seguintes ações para o Sistema de

Avaliação:

Realização, no mês de outubro, do SARESP com avaliação das

seguintes séries: Ensino Fundamental (1ª, 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, 7ª, 8ª) e

Ensino Médio 3ª série.

A avaliação das escolas estaduais (obrigatória) e municipais (por

adesão) permitirá a comparação dos resultados do SARESP com

avaliações nacionais (SAEB e PROVA BRASIL), servirá como critério

de acompanhamento das metas a serem atingidas pelas escolas.

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Participação de toda Rede na Prova Brasil em novembro 2007.

Realização de programas de capacitação da rede para participação

do SARESP e da Prova Brasil.

Capacitação dos professores para o uso dos resultados do SARESP

no planejamento Pedagógico, das escolas em fevereiro de 2008.

Divulgação dos resultados do SARESP 2007 para todas as escolas,

professores país e alunos em março de 2008.

Redução de 50% nas taxas de reprovação da 8ª série.

Redução de 50% nas taxas de reprovação no Ensino Médio.

Descentralização e/ou municipalização do programa de

alimentação escolar nos 30 municípios ainda centralizados.

(Lei 13123 08/07/2008)

Essas e outras medidas complementares fizeram instalar na rede estadual de

ensino uma cultura de trabalho por metas. A escola, assim como uma empresa, tem

que atingir as metas previstas, ou seja, aumentar o índice de rendimento das

aprendizagens que seria comparável ao produto final de qualquer processo

produtivo de uma fábrica.

O SARESP 2007 é precedido de orientações contidas na (Resolução 68/2007)

que lista as seguintes séries: 1ª, 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, 7ª, 8ª para a avaliação em Língua

Portuguesa e Matemática. Outros programas ocorreram nesse período como: Ler e

Escrever, São Paulo faz Escola, Recuperação da Aprendizagem e Diversificação

Curricular do Ensino Médio.

As metas paulistas anunciadas em 2007 não foram cumpridas de acordo com

a reportagem do jornal a Folha Online:

Governo de SP não cumpre suas metas para a educação. Gestões

Alckmin e Serra não atingiram os índices de redução de repetência e

evasão. Em três dos quatro indicadores, a situação chegou a piorar;

governo Serra culpa herança da gestão Alckmin, ambos do

PSDB.(...) e continua o texto esclarecendo que: O governo paulista

não conseguiu cumprir nenhuma das quatro metas a que se propôs

para a melhoria na qualidade do ensino na rede estadual, para o

período entre 2004 e 2007.O objetivo era, no geral, reduzir a

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repetência e a evasão dos alunos, tanto no ensino fundamental (1ª a

8ª série) quanto no ensino médio (antigo colegial). Em três dos

quatro indicadores, a situação chegou a piorar. Foi o caso, por

exemplo, da reprovação no ensino médio: a meta era diminuir de

9,3% para 7% proporção de alunos que repetem o ano. A taxa,

porém, subiu para 17,6%. O único que melhorou -evasão no ensino

médio- ficou abaixo da meta (era 8,4%, esperava-se 6%, mas Ficou

em (6,5%)

Os objetivos foram determinados pelo então governador Geraldo

Alckmin (PSDB) no Plano Plurianual 2004-2007.

(Takahashi, 2008)

Em 2008, intensifica-se o estado de tensão com o Programa de Qualidade na

Escola (PQE)19,a SEE-SP que tem como objetivo de melhorar a qualidade do ensino

no Estado de São Paulo

Para realizar a tarefa, o Programa de Qualidade da Escola avalia anualmente

cada escola estadual paulista de maneira objetiva, a fim de acompanhar a qualidade

do serviço educacional prestado e propõe metas para o aprimoramento da qualidade

do ensino que as escolas oferecem, a partir do Índice de Desenvolvimento da

Educação do Estado de São Paulo (IDESP)20. Assim, o programa cumpre o papel

de apoiar o trabalho das equipes escolares no esforço da melhoria da educação e

de permitir que os pais de alunos e a comunidade possam acompanhar a evolução

da escola pública paulista.

(Nesse ano, a SEE-SP divulgou o IDESP de 2007 da 4ª e 8ª séries do Ensino

Fundamental 9EF) e da 3ª série do Ensino Médio (EM) para cada escola estadual

paulista, bem como as metas de qualidade para o ano de 2008.

19

O IDESP (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo) é um indicador de qualidade das séries iniciais (1ª a 4ª séries) e finais (5ª a 8ª séries) do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Na avaliação de qualidade das escolas feita pelo IDESP consideram-se dois critérios complementares: o desempenho dos alunos nos exames do SARESP e o fluxo escolar. O IDESP tem o papel de dialogar com a escola, fornecendo um diagnóstico de sua qualidade, apontando os pontos em que precisa melhorar e sinalizando sua evolução ano a ano. http://idesp.edunet.sp.gov.br/Arquivos/Nota_tecnica2009.pdf. 20

http://idesp.edunet.sp.gov.br/o_que_e.asp acessado em 21/11/2009 Idesp.edunet.sp.gov.br/arquivos/notatecnicapqe2008.pdf Acessado em/21/12/2011//2010

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Outras mudanças estavam previstas, por exemplo, na avaliação do Ensino

Fundamental são acrescentadas as disciplinas de Ciências e na do Ensino Médio,

as disciplinas de Biologia, Física e Química. O Conselho de Educação propõe a

adesão sem obrigatoriedade das escolas particulares. A estrutura e organização da

rede escolar pública estadual, bem como seus objetivos permanecem. Evidencia-se

assim, o controle das ações pedagógicas e a materialização dos resultados dessa

ação em forma de rendimento escolar.

Em 2009, por sua vez, divulgou-se o IDESP 2008 para as mesmas séries,

além das respectivas metas para 2009. Além disso, a SEE-SP desenvolveu um

programa especial de acompanhamento e apoio às escolas com os menores valores

do IDESP nas 4ª e 8ª séries do EF e na 3ª série do EM, em ambos os anos. A nota

técnica apresenta as formas de cálculo do IDESP, do Índice de Cumprimento de

Metas e do Adicional por Qualidade (IQ), que regem o pagamento da bonificação por

resultado.

Atingir a meta para ter participação nos resultados significa para o professor,

o direito a bônus financeiro. Para que isso ocorra, o rendimento escolar dos alunos

não pode ser igual e nem inferior ao ano anterior. Dessa forma, a escola tem que

superar seus limites e os dos demais competidores, que são as outras unidades

escolares com todos seus problemas. Instaura-se um esquema de competição e

policiamento, fazendo nascer outro problema - o da responsabilização pelos

fracassos,no qual um professor acusa o outro de não se esforçar para fazer

formação, não dar aula direito, de faltar muito. Porém, como ―equipe‖, os fracassos

terão que ser socializados e cobrados entre os integrantes da comunidade escolar.

Novas mudanças foram introduzidas e a avaliação tornou-se optativa para as

escolas particulares, conforme a (Deliberação CEE nº84/2009), dispõe sobre

regulação, supervisão e avaliação das instituições de Educação Básica no Estado

de São Paulo.

O conselho Estadual de Educação, no uso de suas atribuições e com base na

(Lei 9394), de 20 de dezembro de 1996, e na (Indicação CEE nº 84/2009) que trás a

seguinte determinação:

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§ ―Art. 1º - Os resultados obtidos no SARESP integrarão a avaliação

de qualidade das instituições privadas que ministram ensino

fundamental e médio no Sistema de Ensino no Estado de São Paulo.

§ Art. 2º- As instituições deverão inscrever-se no SARESP, na forma

determinada por Resolução anual a ser expedida pela Secretaria

Estadual de Educação.

(CEE84/2009 DOE 20/03/2009, Seção I p.67)

Em abril de 2009, Paulo Renato Souza assumiu como novo Secretário de

Educação do Estado de São Paulo. No seu discurso na posse do cargo nota-se a

opção pela continuidade da Política Educacional com ênfase na avaliação de

resultados:

Na área da pedagogia os avanços foram notáveis. Desenvolveram-

se conceitos referentes à capacidade de aprender e se definiram as

habilidades e competências necessárias. Neste ponto, ouso dizer

que a pedagogia deu um grande salto no conhecimento empírico,

pois passou a contar com indicadores quantitativos para fixar metas

e objetivos para todo o ensino básico, dentro das novas exigências

da sociedade do conhecimento. Mais importante ainda, foram

desenvolvidos instrumentos de medição destas habilidades e

competências, através de sofisticados sistemas de avaliação de

alunos. Foram construídas escalas de aprendizagem que permitem

comparações no tempo e no espaço das habilidades e competências

dos estudantes. A partir desses avanços é possível contar com

instrumentos precisos e de caráter universal para medir aquilo que se

espera da escola na sociedade do conhecimento: Desenvolver a

capacidade de aprender de nossos jovens.

(Discurso de Posse Secretário de Educação SEE-SP ,SOUZA Paulo Renato , 2009)

Segundo (IDESP), no resultado do (SARESP) 2009, somente 40,5% das

escolas paulistas do ensino fundamental atingiram as metas de qualidade de ensino.

A troca de gestores,na Secretária de Educação não provocou mudança na condução

das políticas educacionais para o Estado de São Paulo. A transferência de

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responsabilidade tem sido uma constante nesse modelo de administração: transfere-

se para os pais,os quais que transferem para os professores e esses conclamam a

comunidade a participar da escola, a fim de socializar os problemas gerados pelo

sistema educacional.

Alguns desses problemas foram relatados no seguinte artigo, publicado pela

Secretaria de Educação- (SEE-SP) em notícias de 14/04/2009:

De acordo com os dados apresentados nesta sexta-feira pela

Secretaria Estadual de Educação, os alunos que concluíram o ensino

médio recuaram 4,4 pontos na escada de avaliação de rendimento do

SARESP, com 269,4 contra 273,8 apresentados no ano anterior em

uma escala que varia de zero a 500. Além disso, a porcentagem de

alunos que se enquadram no nível insuficiente (abaixo do básico)

subiu quatro pontos percentuais, de 54,3% para 58,3%. Dessa forma,

conclui-se que mais da metade dos alunos que concluíram o ensino

médio no Estado de São Paulo não sabiam o conteúdo básico da

disciplina de matemática, e continua: Já os alunos que apresentaram

conhecimento suficiente (básico ou adequado) caíram mais de 4%,

variando de 45,3% em 2008 para 41,2 no ano passado. Os alunos que

se enquadram no nível de conhecimento avançado teve alteração de

apenas 0,1% para cima, indo de 0,4% para 0,5%. Para o secretário

estadual de Educação, Paulo Renato Souza, a queda no rendimento

dos alunos do ensino médio em matemática acontece devido a

inúmeros fatores, como a rebeldia dos alunos, complexidade do

conteúdo lecionado nesta série e a falta de preparo dos professores.

(SEE-SP, 14/04/2009)

Não obstante, as sucessivas trocas de secretários e suas políticas

educacionais, as reorganizações curriculares (as mais recentes ocorreram em 2006

e 2008) e os resultados obtidos só vêm comprovar a ineficiência da Educação

Paulista. Em todas as avaliações externas – (SAEB), (SARESP) e (IDEB) - os

estudantes paulistas tem apresentado resultados preocupantes, como reconheceu a

própria Secretaria de Educação e lança a Resolução SE-6 tomando medidas:

A Secretaria da Educação, considerando que:

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Os indicadores de aprendizagem do aluno evidenciados nas

avaliações externas, principalmente no SARESP, demonstram a

necessidade de efetiva ação para melhoria da qualidade de ensino;

cabe à escola garantir a todos os seus alunos oportunidades de

aprendizagem, redirecionando ações de modo a que os alunos

superem as dificuldades diagnosticadas;

a recuperação constitui parte integrante dos processos de ensino e de

aprendizagem e tem como princípio básico o respeito à diversidade de

características e de ritmos de aprendizagem dos alunos;

a necessidade de assegurar condições que favoreçam a

implementação de atividades de recuperação paralela, por meio de

ações significativas e diversificadas que atendam à pluralidade das

demandas existentes em cada escola.

(Resolução SE 6, de 24- 1 – 2008 - DOE 25/01/2008)

Nesse ano em 1996, medidas de caráter intervencionista foram anunciadas

pelo governo paulista em forma de uma recuperação para todos os Ciclos que

aconteceu no início do período letivo, com material pronto com todas as atividades

de recuperação que deveria durar 45 dias. O material didático foi em formato de

jornal, motivo pelo qual foi apelidado de ―jornalzinho‖. O impacto foi muito forte

porque desorganizou toda a concepção de processo educativo desenvolvido pelo

professor e as avaliações ocorreram orientadas por um material estranho aos

docentes e sem a participação dos mesmos na elaboração e o primeiro bimestre

nesse ano começa somente em março com número de dias letivos menor.

O (SARESP) de 2010, não difere dos anos anteriores com relação aos

resultados e mantém os índices preocupantes nesta modalidade de avaliação Em

2010 segundo a secretaria foram avaliados todos os alunos do 3º ano, 5º, 7º e 9º

anos do ensino fundamental e da 3ª série do Ensino Médio. O resultado mostra que

(58,3%) dos alunos do Ensino Médio não adquiriram domínio do conhecimento nas

áreas estudadas. A avaliação efetuada pelo SARESP 2010 numa pontuação que vai

de 0 a 500 pontos os alunos atingiram a média de 269,4. A Nota de português no 9º

ano (antiga 8ª) ficou em 229,2 e 206,6, em Matemática:

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Níveis de Proficiência 5º EF 7º Níveis de Proficiência de Matemática – SARESPº 5E55ª5 5º EF

Nº de proficiencia 5ª EF 7ª EF 9ª EF 3º EM

Abaixo do

Básico

<175 <200 <225 275

Básico 175<225 200 a< 250 225<300 275<350

Adequado 225a<275 250<a300 300<a350 350<400

Avançado >

- 275

>

- 300

>

- 350

>

- 400

Tabela VI Fonte: http://saresp.fde.sp.gov.br/2010/pdf/Resultados_gerais_da_Rede_Estadual.pdf

A pior situação foi considerada em português no 9º ano do Ensino

fundamental, já que esta disciplina possibilita o entendimento das demais. No ano

passado, a nota média do Estado em Português, foi de 229,2. A escala vai de

(0 a 500) pontos:

Níveis de Proficiência 5º EF 7º Níveis de Proficiência de Língua Portuguesa – SARESP- 2010E55ª5 5º EF

Nºde proficiência 5ª EF 7ª EF 9ª EF 3º EM

Abaixo do Básico <150 <175 <200 250

Básico 150<200 175 a< 225 200<275 250<300

Adequado 200a<250 225<a275 275<a325 300<375

Avançado >250

-

>275

-

> 250

-

>375

-

Tabela VII Fonte: http://saresp.fde.sp.gov.br/2010/pdf/Resultados_gerais_da_Rede_Estadual.pdf

Este é o último (SARESP) em que a Secretaria de Educação encontra-se sob o

comando de Paulo Renato Souza. Estes foram os resultados:

Médias de Proficiência da Rede Estadual por ano/série e disciplina – SARESP 2010

ANO /SÉRIE Média de Proficiência por Disciplina

PORTUGUÊS MATEMÁTICA CIÊNCIAS E CIÊNCIAS DA NATUREZA

5º EF 190,4 204,6 -

7º EF 203,7 212,1 222,5

9º EF 229,2 243,3 247,9

3ª EM 265,7 269,2 269,2

Tabela VIII Fonte: http://saresp.fde.sp.gov.br/2010/pdf/Resultados_gerais_da_Rede_Estadual.pdf

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Em 06/01/2011 a Secretaria de Educação de São Paulo está com novo gestor

e passa agora a comandar o secretario Herman Voorwald.Novas medidas são

anunciadas na expectativa de melhorar o ensino no Estado de São Paulo.

Segundo o novo Secretario de Educação Herman Voorwald, a repetência ou

reprovação não solucionam as deficiências do processo de aprendizado, além de

serem insuficientes para determinar a capacidade ou não de cada aluno aprender.

Muitas vezes a falha está no método e não no indivíduo e, por isso, uma avaliação a

cada seis meses, por exemplo, pode apontar o que de fato o aluno aprendeu,alem

de indicar o que precisa ser suprido por meio de uma recuperação imediata.21

A proposta é que a avaliação da Rede Estadual, o SARESP, sofrerá modificações

para 2011 e a pretensão é que ocorram duas avaliações por ano e a implantação de

mais um ciclo no sistema de progressão continuada.

21

http://www.educacao.sp.gov.br/noticias

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3.8. As Políticas de Avaliação Externa e o impacto nas práticas avaliativas

Com objetivo de eliminar o baixo desempenho educacional e o problema

crônico de repetência, a Secretaria de Educação nas últimas décadas tem lançado

medidas que causaram uma ruptura nos tênues laços que possuem com os

trabalhadores da Educação.

A cada medida, a descrença e o descrédito têm avançado sobre o

professorado da Rede Estadual Pública de São Paulo. A impotência diante das

medidas que prosseguem, ano após ano, a deteriorar o ensino, tem levado alguns

professores a abandonar a carreira do magistério.

Políticas desenvolvidas desde a década de 90 pelo PSDB e que se

mantiveram por quase 20 anos na condução do Estado não provocaram uma

evolução nos setores sociais, principalmente na educação. A marca dessa

administração são as medidas de cunho liberal, como fica evidente quando

analisamos as sucessivas gestões no mesmo partido, entre elas a política de

descentralização dos serviços com a municipalização das escolas em que se

transfere para municípios a obrigação de oferecer o Ensino Fundamental.

O fato é que o esquema intervencionista do governo aponta para a perda da

autonomia do professor, que fica sem a possibilidade de decidir sobre o conteúdo e

nem sobre as avaliações aplicadas. Todas as ações lançadas desautorizam e não

consideram os envolvidos no processo educativo, alunos e professores, que não

possuem nenhuma vez e voz. Prova disso é que a notícia sobre a recuperação de

janeiro simplesmente foi colocada na web para ciência da Rede, não houve

preocupação coma forma de comunicar para os professores e alunos, interessados

diretos ou uma ação propriamente pensada na escola. É pertinente lembrar que o

sistema de Progressão Continuada, instituído em São Paulo, não se constituiu em

um mecanismo eficiente para melhorar a qualidade de ensino. Os herdeiros da

progressão continuada povoam as escolas e as ruas, não sendo incomum encontrar

os que ―passaram‖ pela escola e dela não levaram nada.

Os herdeiros da progressão continuada têm, em sucessivos anos, desde sua

implantação, apresentado resultados insatisfatórios, se não em todas as disciplinas,

sempre, em alguma disciplina, o aluno não evolui.

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Tal progressão é esvaziada da sua essência, porque não se faz acompanhar

de medidas que propiciem a permanência do adolescente na escola. Sendo assim, a

superlotação das salas de aula é incoerente com o sistema de progressão

continuada, porque a mesma exige um acompanhamento contínuo das

aprendizagens e intervenções quando necessárias.

Além das salas lotadas, outros fatores vêm somar para que a construção do

conhecimento não se efetive de maneira satisfatória no processo educativo,

influenciando a falta de qualidade de ensino, como a baixa remuneração salarial dos

docentes que são obrigados a ter uma jornada dupla ou tripla de trabalho para

manter a sobrevivência e desprestígio por parte da administração.

A característica coercitiva da administração se mostra quando se atrela o

desempenho da rede ao bônus pago anualmente aos profissionais da educação

pública estadual paulista. Há, também, a intervenção nas ações pedagógicos dos

professores como considerar a nota do SARESP como fator determinante para que

houvesse a aprovação do aluno, fato que ocorreu em 2001, quando pouquíssimos

alunos não foram promovidos, desrespeitando assim o princípio de autonomia

pedagógica e a capacidade do professor de avaliar o seu próprio trabalho.

As resoluções são publicadas sempre no sentido de reverter os resultados

negativos que se tornam constantes na educação paulista, mas as pesquisas têm

provado que a superação desta doença crônica na sociedade, que é a exclusão

escolar, ainda não foi curada.

Em relação ao conselho de classe, pode-se afirmar que tem sido usado como

veiculo de legitimação das resoluções e determinações impostas pela política de

progressão continuada. Nessa perspectiva, o Conselho não avalia e, do mesmo

modo, a idéia de avaliação integral proporcionada por ser instância deliberativa, se

perde, pois os professores não têm mais a oportunidade de observar o percurso do

aluno em cada disciplina. Desconsideram as intervenções que, embora sejam

recomendadas, se concretizem e se efetivem como mecanismo diagnosticador que

possibilita nova tomada de decisão-ação. Assim, o conselho somente poderá

ratificar a promoção de todos os alunos pelo regime de progressão continuada e

eventualmente declarar a retenção de alunos por excesso de falta, confirmando a

evasão escolar.

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111

As instâncias deliberativas que compõe o sistema escolar - Conselhos de

classe/série e o Conselho de Escola - têm se desvirtuado, pois muitas vezes são

usadas como uma maneira de expulsar da escola os alunos considerados

―inadequados‖, ―indisciplinados‖, e que não se enquadram nas normas e moldes

escolares.Tal ação é sempre amparada pelo discurso de que ―o sistema quer que

aprove, então vamos aprovar‖ ou ―sabendo ou não vão passar‖. E assim, um

contingente imenso de jovens continua predestinado ao insucesso, por não

receberem do poder público uma educação que seja garantia de emancipação e de

cidadania.

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112

4. REFLEXÃO SOBRE A PESQUISA REALIZADA

A pesquisa de campo sobre o Conselho de classe/série foi realizada em

escolas públicas, estadual e municipal, a partir do ano de 2009. O corpus da

pesquisa é constituído por questionários diferenciados aplicados aos professores,

pais e alunos. Foram respondidos no total 135 questionários, sendo cinqüenta

questionários por professores, setenta por alunos e quinze pelos pais. Os

questionários foram elaborados com o objetivo de verificar:

O significado e grau de importância atribuída ao Conselho de classe e

série pela totalidade dos entrevistados;

Se o Conselho de classe e série pode colaborar para a exclusão social;

Se existe correspondência entre as aspirações dos entrevistados ao

que de fato acontece nos conselhos de classe e séries;

Se as decisões tomadas no Conselho de classe e série tem

apresentado resultados em benefício do aluno;

Se de fato, o resultado da aprendizagem recebe uma criteriosa

investigação e apreciação por parte do coletivo de professores.

As escolas pesquisadas foram: EE Carlos Gomes, região central de

Campinas/SP que oferece as seguintes modalidades de ensino: Ensino

Fundamental e Ensino Médio regular diurno e (EJA) no período noturno; e CEMEP

Prof. Osmar Passarelli Silveira, em Paulínia-SP, que oferece cursos técnicos em

Turismo, Gestão Administrativa e Informática concomitante com o Ensino Médio

(período integral) e Informática modular (período noturno).

O perfil dos alunos das referidas escolas é parecido, pois no Ensino Médio

regular a faixa etária é de quatorze a dezoito anos no período diurno e no período

noturno a idade, para os que ingressam, giram em torno dos dezoito anos, mas não

é raro encontrar adultos que retornam à escola para completar sua formação após

anos de interrupção. Na Educação de Jovens e Adultos (EJA) o perfil dos alunos

tem se modificado nos últimos anos, pois anteriormente a maioria deles eram

adultos, agora é formada por jovens com média de dezoito anos.

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113

4.1.ANALISE DE PESQUISA E GRÁFICOS DOS PROFESSORES

Analisando as respostas dos professores, percebe-se de forma clara a

reivindicação para que os seus pares façam uma avaliação global do aluno que

possibilite um diagnóstico e encaminhamento de problemas, mas admitem que em

muitos casos ocorram injustiças nas decisões. Manifestaram também o desejo de

que as avaliações se realizem por áreas de conhecimentos e que o aluno seja

avaliado em seus avanços nessas áreas.

Pode-se concluir que se há solicitação para que seja feita uma avaliação

global é porque esta não está ocorrendo nos conselhos de classe e série. A mesma

lógica se aplica a solicitação de coerência e justiça ao se julgar os alunos.

A solicitação de avaliação global por parte dos docentes nos leva a observar

que a fragmentação é uma constante na educação, as disciplinas não apresentam

relação entre si gerando, por conseqüência,um ensino compartimentado. A

Interação das disciplinas se faz necessária no sentido de construir uma

aprendizagem e avaliação global, que no caso significa uma interdisciplinaridade.

Sobre esse tema, Japiassu (1976, p. 74) observa que ―(...) a interdisciplinaridade

caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de

interação real das disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa‖.

Tal modalidade de trabalho possibilita a troca de experiência, amplia os

horizontes para fora dos limites da própria disciplina e acima de tudo permite um

acompanhamento integral do aluno.

Ainda sobre o tema, a pesquisadora Ivani Fazenda (1994) considera que para

trabalhar de forma multidisciplinar é condição:

(...) uma condição especial ante o conhecimento, que se evidencia

no reconhecimento das competencias, incompetencias,possibilidades

e limites da própria disciplina e de seus agentes, no conhecimento e

na valorização suficientes das demais disciplinas e dos que a

sustentam. Nesse sentido, torna-se fundamental haver indivíduos

capacitados para escolha da melhor forma e sentido da participação

e, sobretudo no reconhecimento da provisoriedade das posições

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114

assumidas, no procedimento de questionar. Tal atitude conduzira,

evidentemente, a criação das expectativas de prosseguimento e

abertura a novos enfoques ou apartes. E para finalizar, a

Metodologia interdisciplinar parte de uma liberdade cientifica,

alicerça-se no diálogo e na colaboração, funda-se no desejo de

inovar, de criar de ir além e suscita-se na arte de pesquisar, não

objetivando apenas a valorização técnico-produtiva ou material, mas,

sobretudo, possibilitando um acesso humano, no qual desenvolve a

capacidade criativa de transformar a concreta realidade mundana e

histórica numa aquisição maior de educação em sentido lato,

humanizante e libertador do próprio sentido de ser no mundo.

(FAZENDA, 1994, p.69)

A autora confirma desse modo que os conhecimentos transitam entre si com

uma intencionalidade, que é a de buscar a formação integral do aluno. Sendo assim

a proposta da interdisciplinaridade ainda se faz necessária e pode conduzir a

resolução desse problema apresentado pelos professores, que é a necessidade de

uma avaliação global.

O pedido de autonomia aparece na pesquisa; os professores se queixam da

interferência da direção da escola, da Diretoria de Ensino em muitos casos que

envolvem a avaliação, promoção e retenção. Sobre as reflexões acima e as

situações analisadas no cotidiano escolar foram efetuadas pesquisas

acompanhadas de gráficos referentes a cada um dos envolvidos direto ou

indiretamente no conselho de classe o professor e o aluno:

Page 115: CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO … · Conselho de Classe e Série na Escola Pública como Instrumento de Exclusão. ... metodologia investigativa utilizada envolveu

115

4.2.GRÁFICOS COM RESULTADO DAS QUESTÕES DOS PROFESSORES

Gráfico1

A resposta a questão (um) evidencia o anseio do professor para que haja uma

avaliação integral do aluno e que se tenha um o olhar pedagógico que resulte em

abrangência completa. Essa expectativa nos fornece um claro indicativo de que a

avaliação global desejada não é uma realidade nas escolas pesquisadas.

Originamos de uma cultura que concebe o conhecimento de forma

compartimentada em que cada professor avalia individualmente a sua disciplina.

Não é incomum se ouvir as expressões ―sua disciplina‖, ―minha disciplina‖, a

disciplina de matemática, a de física e assim por diante. Isso transmite a idéia de

individualidade na condução da aprendizagem. Uma tarefa solitária na maioria das

vezes, como assinala o professor B na resposta sobre sua expectativa com relação

ao conselho: “Não possuo expectativas porque cada professor somente enxerga a

sua disciplina, ou seja, de forma compartimentada”.

8

2

20

2

8

5 5

0

5

10

15

20

25

COERÊNCIA RESPEITO A

AUTONOMIA DE

AVALIAR

QUE A AVALIAÇÃO

SEJA GLOBAL

REFLEXÃO SOBRE

A PRÁTICA

PEDAGÓGICA

MENOS

INDIVIDUALISMO

QUE NOS AJUDE A

FORMAR OPINIÃO

NÃO TENHO

OPINIÃO

FORMADA

1º Qual sua expectativa em relação ao conselho de classe e serie ao encaminhar para apreciação dos professores os resultados

individuais de seus alunos?

Page 116: CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO … · Conselho de Classe e Série na Escola Pública como Instrumento de Exclusão. ... metodologia investigativa utilizada envolveu

116

Quanto à expressão do professor ―menos individualismo‖, remete-nos a forma

fragmentária de organização do currículo brasileiro. Ao produzirmos uma formação

por disciplina, criamos uma separação dos saberes aprendidos pelos alunos.

Almejamos uma avaliação integral a partir de um conjunto de disciplinas sem

conexão entre si. O aluno divide-se em várias áreas como se o cérebro tivesse

vários compartimentos e estes, no momento em que forem solicitados, serão

acionados. E, se para a solução de determinado problema for necessário o domínio

dos conceitos de várias disciplinas, o indivíduo tem que acioná-los individualmente e

fazer a conexão entre eles para tentar chegar à solução. No entanto, se o estudo e a

avaliação fossem efetuados por áreas, os avanços e intervenções de aprendizagens

ocorreriam também por áreas de conhecimento e não individualizadas por

disciplinas de forma estanques.

A cultura da divisão por especialidade (disciplinas) está profundamente

introjetada no imaginário pedagógico e por ela fomos condicionados em nossa

formação. A aspiração é que os pares não pensem nas especificidades de suas

disciplinas, o que reforça a idéia que não existe uma avaliação global.

O desejo é que a avaliação ocorra principalmente por área de conhecimento e

o percurso nas disciplinas que a compõe fosse objeto de intervenção toda vez que

se fizer necessário, e, ao mesmo tempo se faria somatória das notas das diversas

disciplinas que comporiam a média bimestral, representando a totalidade apreendida

dos conceitos assimilados.

A proposta é que a disciplina deixe de ser o foco e passe a compor de fato

uma área de conhecimento e para atingir tal objetivo, e deve-se criar uma nova

cultura de avaliação a ser incorporada.

Sobre as áreas de conhecimento segundo os PCNS (2000) o conhecimento

esta divididos em três áreas interligadas, são elas:Linguagens, códigos e suas

tecnologias que compreende as disciplinas de Português, Artes, Inglês e Educação

Física; Ciências da natureza, Matemática e suas tecnologias com as disciplinas de,

Biologia, Física, Química e Matemática e Ciências Humanas e suas tecnologias

compõe esta área, geografia,História,Filosofia e Sociologia.(PCNS,p.18.MEC)22

22

Page 117: CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO … · Conselho de Classe e Série na Escola Pública como Instrumento de Exclusão. ... metodologia investigativa utilizada envolveu

117

A orientação dos PCNS com relação às áreas é no sentido de integração dos

conhecimentos comuns entre as disciplinas e afirma que o entrelaçamento de

disciplina tem como principio:

(...) a reunião daqueles conhecimentos que compartilham objetos de

estudo e, portanto, mais facilmente se comunicam, criando condições

para que a prática escolar se desenvolva numa perspectiva de

interdisciplinaridade. A estruturação por área de conhecimento

justifica-se por assegurar uma educação cientifica e tecnológica, na

qual conceito, aplicação e solução de problemas são combinados

com uma revisão dos componentes socioculturais orientados por

uma visão epistemológica que concilie humanismo e tecnologia ou

humanismo numa sociedade tecnológica.

(PCNS, p.19. MEC)

E com relação à avaliação dentro da área de conhecimento esta deveria

avaliar o trajeto dentro do conjunto das disciplinas que compõe a área de

conhecimento e não de forma isolada dentro de sua especificidade. Porque o estudo

acontece por área e a avaliação da aprendizagem vem ocorrendo ocorre de forma

não integralizada.

Quando se fala em avaliação não podemos esquecer que há alguns itens a

serem considerados, como:

Quais os anseios e dificuldades?

O que significa a porcentagem de conhecimentos não assimilados em

relação à totalidade assimilada?

Como trabalhar o percentual não alcançado, sem prejuízo do

conhecimento adquirido durante o percurso da aprendizagem?

Como estabelecer precisão nas tomadas de decisões objetivando a

aprendizagem e a promoção?

Outro ponto a ser lembrado é que a promoção não deve ser o objetivo

primeiro do processo educativo, mas sim a conseqüência do desenvolvimento e

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118

apropriação do conhecimento pelo aluno e, desta forma, o resultado favorável é a

aprovação.

Gráfico 2

Os professores pesquisados concordam que o conselho de classe e série é

uma instância avaliativa e com poder decisório, mas é necessário o estabelecimento

de objetivos claros nas deliberações para que representem o resultado das

discussões, ou seja, a vontade do coletivo de professores. Sendo assim, o saber, as

abrangências e os limites desta instância é uma condição para que o conselho de

classe cumpra sua função de avaliar.

Nesse sentido, os assuntos tipificados por alguns professores como

―paralelos‖ ao ambiente escolar nem sempre correspondem aos objetivos propostos

para um conselho, e não deveriam constar da pauta de discussões em prejuízo da

avaliação do processo de ensino aprendizagem como evidencia a resposta de três

professores. Conforme afirma ainda um dos professores pesquisados: ―Raramente,

2 3 5

15

5 7

0

2

4

6

8

10

12

14

16

SIM NÃO , PORQUE OS

ASSUNTOS

TRATADOS NEM

SEMPRE

CORRESPONDE AO

OBJETIVO

PROPOSTO PARA

UM CONSELHO DE

CLASSE

NÃO, DEVIDO O

POUCO TEMPO

PARA DECISÕES

NÃO, TERIA QUE

SER MAIS

OBJETIVO

NEM SEMPRE AS

DECISÕES NEM

SEMPRE SÃO

JUSTAS

SIM, SEMPRE

ENTRAMOS EM

ACORDO

2º Com relação às decisões tomadas nos conselhos, elas sempre são satisfatórias?

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119

indicam estratégias, e que pouco ajudam no problema particular de cada aluno em

especifico. Geralmente, os conselhos enumeram os problemas dos alunos e os

encaminhamentos são protocolares apenas‖.

O descontentamento ressalta-se ao observarmos, na (FIGURA 2), que quinze

professores solicitaram mais objetividade (―conselho mais objetivo‖), bem como a

eliminação de conversas paralelas que é uma rotina nessas reuniões. O resultado é

que há ( 38%) dos docentes insatisfeitos com os procedimentos e encaminhamentos

do conselho.

O resultado evidencia um desvio de finalidade, segundo a resposta de 0% dos

professores, é que “nem sempre as decisões são justas” e um dos motivos, alegado

por outros 10%, é o ―pouco tempo para discussões dos assuntos pertinentes à

evolução do aluno em suas aprendizagens‖.

Para 14% dos entrevistados, as tomadas de decisões são satisfatórias;

concordam com os procedimentos e resultados dos conselhos, não vislumbrando

necessidade de mudanças na condução dos trabalhos, embora reconheçam que há

problemas, os participantes sempre entram num acordo.

E por fim, 4% dos professores estão absolutamente satisfeitos com os

encaminhamentos e resultados dos conselhos de classe, para essa parcela o

conselho ocorre dentro da lei e, portanto, não há prejuízos para o aluno.

Page 120: CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO … · Conselho de Classe e Série na Escola Pública como Instrumento de Exclusão. ... metodologia investigativa utilizada envolveu

120

Gráfico 3

Nessa questão foi solicitado ao professor que registrasse os eventuais

problemas que contribuem para que não haja uma boa condução dos conselhos de

classe e série. De acordo com as respostas, temos um quadro geral que reflete a

realidade do que ocorre nas reuniões em que 20% dos entrevistados se mostram

insatisfeitos com o conselho de classe e série porque são abordados assuntos que

consideram inadequados para discussão. Um exemplo é ―discutir somente alunos

problemáticos‖, pois consideram que estes casos não têm soluções e assim

esperam que a instância tenha funcionalidade, conforme comprova a seguinte

resposta: “Que o conselho seja objetivo e menos dispersivo. Perde-se muito tempo

com histórias de vida dos alunos, que não acrescentam muita coisa”. Em função

desta realidade é que surgem as inúmeras distorções, segundo um dos

entrevistados: “Os conselhos de classe deveriam nos ajudar a estabelecer

procedimentos para melhorar ou encaminhar determinadas alunos que estão fora do

padrão, mas não é o que acontece‖. Sendo assim, o que de fato acontece na

prática é o desvirtuamento dessa instância quando não se tem a clareza dos seus

objetivos primordiais; quando não há apropriação desse espaço como ideal para

fazer o acompanhamento das aprendizagens e praticar uma avaliação positiva e

democrática: “Às vezes os conselhos fogem dos objetivos, no momento em que há

perda de foco falando da vida dos alunos, sem conseguir resolvê-los”.

10

2

10

5

10

8

5

0

2

4

6

8

10

12

NÃO DISCUTIR

SOMENTE ALUNOS

PROBLEMÁTICOS

LAMENTAÇÕES E

CONVERSAS

PARALELAS

NÃO ENVOLVER

PROBLEMAS

PESSOAIS DOS

ALUNOS NOS

CONSELHOS

OPINIÕES

CONFLITANTES

ABSTEVE DE

OPINAR

TEMPO ESCASSO FALTA DE

ORGANIZAÇÃO

3º Na sua opinião, quais assuntos ou atitudes podem atrapalhar o andamento dos conselhos de classe?

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121

Somados a estes, há mais 10% de professores que afirmam que o espaço

não deveria ser utilizado para falar dos problemas dos alunos - “Não envolver

problemas pessoais dos alunos nos conselhos” - porque consideram que as

aprendizagens ocorrem de forma independente do envolvimento emocional do

aluno. Muitas vezes, é desconsiderado o emocional e foca-se somente no conteúdo,

contudo o aluno é um todo e devem-se levar em conta, no momento de fazer a

avaliação, todos os condicionantes que possam influenciar o desempenho do aluno

para que não se cometam injustiças.

Outros problemas colaboram para o insucesso dos conselhos de classe. Para

oito professores o tempo é escasso para as discussões e para outros cinco, as

opiniões conflitantes nem sempre permitem uma tomada de decisão coerente,

expresso na seguinte afirmação: “Nem sempre e nem todos os professores possuem

o mesmo sistema de avaliação, o que diferencia muito o resultado final entre as

variadas disciplinas, dificultando uma decisão justa e coesa”. Isso vem gerar uma

situação muito desagradável de impotência frente às situações que exigem uma

tomada de decisão, afetando a falta de organização nos conselhos, de acordo com

cinco outros entrevistados.

Gráfico 4

2 2

1

2

3

SIM NÃO OS ALUNOS SÃO MUITO ROTULADOS

PELOS PROFESSORES

NÃO, PORQUE NEM SEMPRE SÃO

ÉTICAS

NÃO A HISTÓRIA DE VIDA DO PROFESSOR INFLUÊNCIA

SIM A MELHOR DECISÃO PARA O

ALUNO

4º Com relação às decisões tomadas nos conselhos com relação aos alunos são sempre imparciais?

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122

De um total de cinquenta entrevistados, apenas dez responderam a questão

acima, sendo que 30% entendem que as decisões são legitimas, contemplam e

traduzem o que a coletividade conclui sobre os resultados, considerando serem

imparciais e representativas da maioria dos professores e que o colegiado deve

analisar o desempenho dos alunos com bom senso e responsabilidade. Outros 20%

entendem que as decisões não são imparciais porque fatores como a subjetividade

impedem tal avaliação e, neste caso, o histórico de cada professor compromete os

resultados cuja conclusão é que ―o histórico de vida do professor influencia nas

decisões”. O que vem a confirmar a ideia de que o rendimento não é avaliado em

sua essência, mas a avaliação é composta por fatores externos a aprendizagem

como as atitudes e comportamento dos alunos frente a escola. Porém, as atitudes

que pesam na composição da avaliação não são igualmente analisadas quando o

aluno não os possui.

Bourdieu (2006) afirma que o ―ethos‖ é o conjunto de valores que o meio

transmite. Assim, o comportamento e atitudes são inerentes ao meio social do aluno.

Portanto, ao avaliar não queremos os resultados baseados nos valores que já

introjetamos, mas devemos avaliar e valorizar o que foi produzido e ampliar seu

universo enriquecendo-o com os valores e atitudes desejados para a convivência em

sociedade.

De acordo ainda com 20% das respostas, os “alunos são muito rotulados

pelos professores”.Um dos prováveis motivos para que ocorra tal fato, seja devido a

situação de aderência em que nos encontramos em relação ao opressor, como

afirma Paulo FREIRE (2009, p.35), assim reproduzimos os conceitos da classe

dominadora e é por isso também que as decisões do conselho de classe e série

nem sempre são éticas, conforme ressaltam 10% dos entrevistados, uma vez que a

nossa ética é também é a do dominador e ao internalizarmos seus princípios e

valores, acabamos por repeti-los:

Os oprimidos assumem uma postura que chamamos de ―aderência‖

ao opressor. Nestas circunstancias, não chegam a ―admira-lo‖, o que

os levaria a objetivá-lo, a descobri-lo fora de si. Ao fazermos esta

afirmação, não queremos dizer que os oprimidos, neste caso, não se

saibam oprimidos. O seu conhecimento de si mesmos como

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oprimidos, se encontra, contudo, prejudicado pela ―imersão‖ em que

se acham na realidade opressora. ―Reconhecerem-se‖, a este nível,

contrários ao outro, não significa ainda lutar pela superação da

contradição. Dai esta quase aberração: um dos pólos da contradição

pretendendo não a libertação, mas a identificação com o seu

contrário.

(FREIRE 2009, p.35)

As palavras de Paulo Freire aplicam-se a todos envolvidos no processo

educativo e, principalmente, para o docente que tem a tarefa de ser o agente

mediador entre o conhecimento e o aluno. Pode-se assim efetuar essa mediação no

sentido de libertação, da continuidade, e da opressão e manutenção do sistema de

coisas.

Gráfico-5

O conjunto de respostas da questão cinco se refere aos assuntos paralelos

que comprometem os resultados e colaboram definitivamente para que não haja

objetividade. Para 33% dos entrevistados, o comportamento e postura dos alunos

interferem nas decisões sobre o rendimento verificado pelo conselho, evidenciando

a dificuldade em se desvincular atitudes e comportamento do conjunto de produção

3

4

3

2

SIM, A INDISCIPLINA E O

COMPROMETIMENTO DO

ALUNO

COMPORTAMENTO E

POSTURA DO ALUNO

ASSUNTOS REFERENTE A

ORIGEM E VIDA PESSOAL

FALTA DE OBJETIVIDADE

5º Existe algum outro componente ou atitude que interfere nas decisões coletivas que não seja estritamente a avaliação da aprendizagem do aluno nas reuniões de conselhos de classe?

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do aluno. Nessa mesma linha de análise, a indisciplina e o comprometimento dos

alunos foram componentes citados por 25% dos professores e que têm um peso

considerável nas reuniões. Juntando-se a estes assuntos, outros 25% afirmam que

tratar da vida pessoal dos alunos contribuem negativamente nas decisões coletivas.

Todas as respostas anteriores corroboram com a opinião dos demais 16%que

apontam a falta de objetividade nas reuniões, como afirma o professor a seguir:

―Colocar o texto do professor aqui‖.

Entende-se a partir dos resultados apresentados que há vários

condicionantes que contribuem para que as reuniões do conselho de classe e série

se tornem um espaço de conflitos e ausência de encaminhamentos, uma vez que

não se mantém o foco na avaliação da aprendizagem, colaborando definitivamente

para que a função do conselho não se concretize.

Gráfico- 6

O conselho se apresenta, nessa questão como espaço de debate, no qual

cada integrante expõe democraticamente suas avaliações individuais para que se

possa se chegar a um consenso coletivo sobre a situação do aluno.

2

5

3

SIM, RESPEITAM AS OPINIÕES NEM SEMPRE CONVERGEM

JÁ MUDEI DE OPINIÃO DIANTE DE ARGUMENTOS DE COLEGAS

6º Os pares respeitam sua decisão ou autonomia para avaliar o seu aluno ou já teve que mudar alguma vez em função de interferência de uma maioria e mesmo de alguém com discurso mais convincente perante o conselho?

Page 125: CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO … · Conselho de Classe e Série na Escola Pública como Instrumento de Exclusão. ... metodologia investigativa utilizada envolveu

125

Com base nas respostas sobre o exercício da autonomia nas decisões dos

professores em relação aos seus alunos, 50% afirmam que as idéias nem sempre

convergem para um consenso, 30% alegam ter mudado de opinião sobre seus

alunos em função de argumentos mais convincentes de colegas. No entanto, tais

mudanças frequentemente não são feitas com a finalidade de ajudar o aluno, mas

sim de se somar com a dos demais professores, formando um bloco de matérias

mínimas para que seja possível a reprovação do aluno, por exemplo.

Embora a visão da maioria sobre as decisões do conselho não seja positiva,

os 20% restantes acreditam que os pares respeitam suas decisões, como assiná-la

um professor: “As decisões refletem o que o grupo de professores entende sobre o

processo educativo, portanto são satisfatórias”. Esta afirmação torna-se perigosa

porque nem sempre a maioria está correta e corre-se o risco de não refletir a justiça

e coerência.

Gráfico 7-

De acordo com os resultados, 80% dos professores acreditam que a

participação dos alunos no conselho de classe e série seria bem vinda,

SIM, ACREDITO NÃO, NUNCA

OBSERVEI ALUNOS EM CONSELHO

ACHO QUE AS DECISÕES

SERIAM MAIS JUSTAS

NÃO

4 2

4 1

7º Você acredita que a participação do aluno no conselho de classe pode trazer alguma contribuição?

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126

considerando que traria mais transparência ao processo de avaliação, porém os

(20%) restantes afirmam nunca terem visto alunos participando dos conselhos,

embora isso seja previsto pela legislação educacional.

Artigo 20 - Os conselhos de classe e série, enquanto colegiados

responsáveis pelo processo coletivo de acompanhamento e

avaliação do ensino e da aprendizagem organizar-se-ão de forma a:

§ I - possibilitar a inter-relação entre profissionais e alunos, entre

turnos e entre séries e turmas;

Artigo 21 - Os conselhos de classe e série serão constituídos por

todos os professores da mesma classe ou série e contarão com a

participação de alunos de cada classe, independentemente de sua

idade.

(SÃO PAULO. Parecer CEE, Nº 67/98, de 18 de Março de 1998)

O dado positivo é que, apesar de não se ter a prática de convocar os alunos

para fazerem parte do conselho de classe e série, a maioria dos entrevistados

entende ser positiva tal iniciativa, pois seria mais democrático e transparente o

resultado do colegiado, visto que os alunos fariam parte do processo que avalia sua

vida escolar e poderiam entender melhor a sua situação, contribuindo inclusive, para

melhorar o processo de ensino aprendizagem.

Gráfico- 8

0

5

10

15

presença de todos os

professores

não falar dos problemas

particulares de aluno

não NÃO RESPONDEU

15 10 10

15

8º Há alguma estratégia que você indicaria para aperfeiçoarmos as reuniões de nossos conselhos?

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127

Na questão oito, quinze professores propõem a presença de todo corpo

docente nas reuniões de conselho de classe e série. Uma das leituras possíveis

para a análise dessas respostas é de que há uma expectativa de que as

deliberações sejam conjuntas e representem de fato a posição do grupo. A

aspiração pela presença de todo corpo docente evidencia que isso não ocorre

normalmente.

Outra sugestão é ―Não falar de problemas particulares de alunos”, o que nos

remete a ideia da não compreensão da integralidade do aluno como pessoa pelos

entrevistados. Isso não é novidade, pois esse mesmo ponto de vista já foi exposto

em uma das respostas a questão três, como se o aluno pudesse ser dividido da

seguinte forma: um fora da escola vivendo suas emoções boas ou ruins e outro, que

ao adentrar o espaço escolar, se desliga das suas experiências pessoais, como se

houvesse uma tecla da aprendizagem que ao ser acionada, fizesse o aluno somente

pensar e executar de forma perfeita, as atividades propostas. Os que pensam dessa

forma esquecem-se de que o resultado da aprendizagem depende de como o aluno

interage fora da escola e que, num dia pode estar bem no outro, pode estar

deprimido, podendo apresentar uma instabilidade emocional durante as avaliações.

O aluno é um ser biopsicossocial, portanto não podemos desvincular o seu lado

social do seu estado psicológico, porque os sentimentos e emoções são inerentes

ao ser humano, que é também um ser biológico e está sujeito a constantes

mudanças provocadas por um corpo em transformação. Na realidade, o que o

professor almeja é um aluno possuidor de vários compartimentos com funções

diversas para serem acionadas ou desligadas quando se achar mais conveniente.

A ausência de respostas de quinze professores somadas a de dez que

responderam simplesmente ―Não‖ indicam que as reuniões de conselho de classe e

série são pouco significativas dentro do processo ensino aprendizagem para cerca

de 50 % dos entrevistados. Podem-se ainda inferir outras ideias sobre as

abstenções:

1°- Que não está claro para este professor o significado do conselho de

classe e suas implicações na vida escolar dos alunos;

2º- Que não houve a percepção do conselho como espaço democrático

aberto, no qual os professores podem dialogar com seus pares para encontrar

soluções para seus alunos e para a melhoria para sua prática pedagógica;

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128

3º- Que não admitem que a reflexão sobre a sua prática pedagógica se dá

através da interação com os seus pares e que o seu isolamento constitui um dos

elementos para o insucesso do aluno;

4º- Que um forte individualismo, provocado às vezes pelo isolamento em sua

sala de aula com seus alunos, o leva a tomar atitudes rápidas para problemas do

cotidiano que muitas vezes são efêmeros.

Há algumas implicações para os alunos, quando o conselho de classe e série

não atinge o seu objetivo, a saber:

1º - A avaliação, sob a perspectiva de um único professor, impede avaliação

integral do aluno;

2º - Desestímulo ao aluno que não percebe seu esforço valorizado e avaliado

de forma justa;

3º - A não observação dos diversos mecanismos utilizados por diferentes

professores com vistas a resolver os problemas apresentados em sala, ou seja, a

socialização das ideias em beneficio dos alunos;

4º - Prática pedagógica limitada, impossibilitando o enriquecimento do

processo pedagógico objetivando o sucesso do aluno.

Na realidade, todos os envolvidos no processo educativo saem perdendo

quando não há consciência dos significados, da abrangência e dos limites que um

determinado instrumento avaliativo possui, porque nenhuma proposta inovadora que

vise a promoção de alunos terá resultados significativos se ao aplicá-las houver

sectarismo, práticas individualistas e uma concepção de avaliação que não

contemple as diferenças individuais e os diversos caminhos para se desenvolver a

aprendizagem.

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129

4. 2 ANALISE DA PESQUISA E GRÁFICOS DOS ALUNOS

A pesquisa foi realizada por meio de um questionário, em que constam duas

questões abertas sobre o significado do conselho de classe e sobre a expectativa

dos entrevistados em relação ao conselho, e foi aplicado aos alunos de 8ª séries do

Ensino Fundamental e do Ensino Médio regular e técnico de duas escolas públicas

da Região Metropolitana de Campinas.

As respostas catalogadas foram diversificadas, abrangendo desde o

desconhecimento a respeito do conselho até uma preocupação com retenção e

possíveis injustiças que os alunos poderiam sofrer.

0

2

4

6

8

10

12

14

6 6

8

10

5

10

13

8

2 2

QUESTÃO 1º - VOCÊ SABE O QUE É UM CONSELHO DE CLASSE E SÉRIE?

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130

Temos o seguinte quadro de respostas para a referida questão: 18,57% dos

alunos acreditam que é uma reunião em que os docentes ―discutem o desempenho

dos alunos” individualmente e da sua classe Conjunto dos alunos; 8,57% crêem que

é o lugar em que se ―discute a situação dos alunos”, isto é, a evolução da

aprendizagem, resposta similar a anterior; 14,29% dizem que é espaço onde os

alunos são ―julgados‖. Então, para esses adolescentes há uma ideia de tribunal no

qual o professor é juiz e os alunos são os réus que serão absolvidos (aprovados) ou

condenados reprovados; 14,29% afirmam ser o conselho o “local onde tomam

atitudes sobre os alunos”, remetendo à ideia de que o aluno não participa

ativamente nas decisões sobre sua vida escolar e fica a mercê das atitudes tomadas

pelo corpo de docentes, responsável pela sua trajetória escolar; 11,43% dizem ser

―o lugar onde solucionam problemas”, portanto o conselho é visto como um espaço

em que, por meio do diálogo entre o colegiado de professores, de forma

democrática, é possível mediar os conflitos e solucionar os atritos inerentes as

relações originadas no cotidiano de sala de aula; 7,14% acham que nos conselhos

se discute o comportamento do aluno, essa resposta poderia ser somada a dos que

pensam que são ocasiões em que se discute o desempenho ou a situação dos

alunos, uma vez que isso deveria levar a uma busca de soluções, a se traçar

diagnósticos e fazer encaminhamentos com vistas a resolver conflitos; 11,43% não

tem ideia do que representa o conselho de classe; 8,57% responderam

simplesmente ―sim‖, o que não quer dizer que de fato saibam da importância,

dimensão e o impacto que tais reuniões tem na sua vida escolar; 2,86% acham que

os professores debatem ideias e outros 2,86% que o assunto é a melhoria do

ensino.

Ao analisar o conjunto de respostas, nota-se que um número significativo de alunos

entende a função do conselho, mesmo que rotineiramente não se faça uma

discussão com eles sobre o assunto, o que leva a uma porcentagem menor de

alunos perceberem o conselho como um tribunal no qual se formulem sentenças a

respeito deles ou não reconheçam a importância desta instância na vida deles

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131

Gráfico - 10

Com a questão 2 pretende-se saber qual é a expectativa dos alunos em

relação ao conselho de classe e série. Os alunos expressam claramente o que

desejam que os professores verifiquem, como exemplificado na resposta a seguir:

“Espero que discuta o aprendizado do aluno e das séries, se está bom ou regular,

valorizar o desempenho do aluno.” Para o aluno é claro que as discussões devem

ser em torno do desempenho das aprendizagens e reafirmam tal pensamento em

diferentes respostas.

Uma porcentagem de 25,71% dos alunos desejam o debate entre os

professores sobre o desenvolvimento da aprendizagem da sala e que o resultado

seja a melhoria de ensino para todos, conforme a resposta dada por um dos alunos:

“Espero que discutam a situação dos alunos e procurem formas de melhorar a

situação de cada um.” As respostas acima se complementam, porque ao verificar o

desempenho do aluno individualmente e ao debater a situação deles, isso deveria

resultar na melhoraria do processo de ensino aprendizagem.

20% mostram uma preocupação com a justiça na hora da avaliação dos

alunos no conselho, somado a 17,14% que reivindicam uma análise individual dos

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

14 12

18

2

20

2 2

QUESTÃO 2º -O QUE VOCÊ ESPERA DO CONSELHO DE CLASSE E SÉRIE?

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alunos, sem que haja comparação entre o que alcançou plenamente os objetivos

estabelecidos e o que não os alcançou; e que fossem avaliados os esforços, os

avanços ou os retrocessos dentro de um conjunto de fatores condicionantes que

podem apontar resultados diversos.

A solicitação de 5,72% de alunos, por meio das respostas ―que organizem a

escola‖ 2,86% e ―que solucionem problemas‖ 2,86%, deve ser observada como

indicadores de possíveis caminhos para que a escola se torne democrática e que

promova a solução de conflitos que não devem ser encarados como apenas como

negativos, porque são inerentes ao cotidiano de uma instituição que abriga em seu

interior indivíduo com histórias de vida diversificada. Nesse caso, a promoção de

uma educação que prime pela convivência com os diferentes tipos de pensamentos

deve ser constante, incentivando a valorização do ser humano e sua inserção e

acolhida no coletivo na comunidade escolar.

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133

4.3 ANALISE DA PESQUISA E GRÁFICOS DOS PAIS

Foi aplicado a 15 pais e / ou responsáveis um questionário contendo duas

questões que versavam sobre a opinião que tinham a respeito das decisões

tomadas pelo conselho de classe e série das escolas onde seus filhos estudam.

Gráfico -11

0

1

2

3

4

5

6

Que sejam

justos

Uma avaliação

completa

Que o aluno

melhore o seu

desempenho

Que ajude o

aluno

Não

prejudique

6

3

2 2 2

1º) O que você espera do conselho de classe e série com relação as decisões tomadas sobre o seu filho?

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40% dos pais e responsáveis têm a preocupação, a exemplo dos alunos, de que nos

conselhos de classe e série não se cometessem injustiças e que houvesse uma

avaliação ―completa‖ de seus filhos. Essa é a vontade confirmada pelas seguintes

respostas de um pai: “Espero que o conselho analise o aluno como um todo, seu

esforço pessoal e comprometimento” e que “a decisão final seja justa e objetiva”.

13,3 % esperavam que as decisões não prejudicassem os alunos, isso reflete

também um desejo por justiça, uma vez que foi a maior reivindicação dos pais para

os professores no conselho. Sendo assim, 53,3 % têm a expectativa de que haja

justiça na avaliação dos alunos. O que é uma amostra preocupante e nos leva a

indagar sobre a representação negativa da escola como um lugar onde se cometem

injustiças.

Para 20% é necessário que se faça uma avaliação completa. Mas o que isso

significa? Vejamos o que uma mãe respondeu: “Eu espero uma avaliação completa,

não só no âmbito escolar, mas que seja levada em consideração toda a estrutura do

aluno seja familiar, escolar e emocional. E se ele tem alguma deficiência que já vem

de outras séries.” Não há dúvida que há o desejo de uma avaliação integral ou

global, como se costuma dizer no meio docente.

A fala “que o aluno melhore o seu desempenho” 13,3% e que “ajude o aluno”

esses 13,3% são igualmente relevantes, pois apontam caminhos que devemos

seguir e traz em si o desejo de um acompanhamento contínuo e sistemático do seu

desenvolvimento do seu filho.

Algumas falas complementares às respostas dos entrevistados merecem

atenção e análise, visto que contém uma mensagem implícita. Por exemplo, “que

sejam coerentes e justos em suas decisões” converge para o ponto do processo de

ensino aprendizagem em que deveria haver um acompanhamento contínuo e

intervenções sistemáticas todas as vezes que se fizessem necessárias, pois se o

professor notou a dificuldade de um aluno e não fez nada para ajudá-lo, também não

pode penalizá-lo por isso. Outro exemplo, “Não, porque muitas vezes as decisões

são tomadas pelo que o aluno é, baseado em seu comportamento, se é bonzinho,

se si dá bem com todos, mas esquece que o aluno tem que mostrar a grande

capacidade como está seu desempenho dentro e fora de uma sala de aula. Porque

a gente não vê se o bolo é bom pela sua beleza e sim pelo sabor.” E a mãe

completa seu raciocínio de forma brilhante: “Assim o aluno, também não deve ser

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avaliado pela sua característica e pelo seu comportamento, e sim pelo seu

desempenho”. O anseio é que o conselho de classe e série se torne um espaço de

avaliação, no qual o aluno seja respeitado em suas individualidades e que seja

analisado o seu avanço no processo de ensino aprendizagem; respeitando os

tempos de aprender e as respostas individuais.

O conjunto das respostas dos entrevistados mostra que para eles é clara a

função do conselho de classe e série. Por outro lado, a escola que habita o

imaginário popular é a que carece de melhoria e que a educação não se pode

desconsiderar os anseios da sociedade em relação ao que considera ideal na

instituição escolar.

Gráfico - 12

46,7% dos pais e responsáveis entrevistados consideram injustas as decisões

tomadas sobre seus filhos. Isso reflete a insatisfação dos pais com a instituição

escolar ao mostrar discordância sobre os caminhos tomados em relação aos alunos.

Para modificar a situação uma das entrevistadas sugere: “Acredito também que a

escola tem que ter como parceria (fundamental) a família, pois só assim se tem uma

0

1

2

3

4

5

6

7

Sim, pois reprovam os alunos que não

estudaram

NÃO, NÃO SÃO JUSTAS

Não, pois os alunos merem uma chance

5

7

3

2º) Você considera adequada as decisões tomadas nestes conselhos?

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136

educação e ensino de qualidade.” Tal proposta parece ser um caminho eficaz na

busca de soluções, pois o acompanhamento e a participação da família na formação

do filho são fundamentais, não só nos momentos em que é solicitado pela escola o

seu comparecimento para resolver conflitos em que seus filhos estejam envolvidos,

conforme uma mãe registra: “O conselho de classe é interessante, mas não tem

como tomar decisão de uma pessoa que só convive em sala de aula por 55 minutos,

sendo muito pouco tempo. Por isso todos os conselhos de classe têm que ter a

participação dos pais do aluno que irão tomar as decisões. Afinal o que conta não é

o aluno ser bonzinho e sim o que ele teve a oferecer como aluno e sua participação

em sala de aula.” A escola deve indicar caminhos e procedimentos para que haja

uma colaboração da família na construção do conhecimento da criança ou jovem,

assim envolvendo-os no processo de ensino aprendizagem, o que trará benefícios a

toda a comunidade escolar.

Há uma solicitação recorrente, tanto por parte dos alunos quanto dos pais, de

que seja feita uma avaliação dos alunos, observando-os individualmente e de forma

integral, como assinala o depoimento desta mãe: “Tenho uma filha na 2ª série.

Espero que o conselho de classe pense nas necessidades da minha filha, no que

será melhor para o seu desenvolvimento físico, psicológico, motor, emocional, enfim

que pense em seu desenvolvimento como um todo. Que pense qual a melhor

estratégia para seu aprendizado, que corrija falhas hoje para que no futuro seja uma

pessoa com caráter. Acredito também que a escola tem que ter como parceria

(fundamental) a família, pois só assim se tem uma educação e ensino de qualidade”.

Para 20% as decisões do conselho não são justas, pois não há uma

aprendizagem com acompanhamento e intervenções sistemáticas. Uma mãe

expressa seu ponto de vista afirmando que as decisões dos professores são

tomadas baseadas no comportamento dos alunos e não no seu desempenho

intelectual.

Por fim, 33,3% concordam com as decisões do conselho de classe e série,

reconhecendo que os alunos reprovados não estudaram e por isso é justo o

resultado recebido.

Finalizando o capítulo, podemos verificar que as três categorias trabalhadas:

professores, alunos e pais mostram uma angústia em comum, ou seja, a

preocupação com relação ao acompanhamento da aprendizagem dos alunos que

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deve ser individualizado, considerando-se as necessidades educacionais de cada

um.

Outro ponto de convergência entre os entrevistados é com relação à justiça

na avaliação dos alunos, pois muitas vezes o rendimento escolar pode ser afetado

por problemas diversos, como indisciplina, desinteresse, falta de concentração, além

de fatores emocionais e sociais que podem contribuir para o fracasso escolar.

Todos reconhecem a importância dos conselhos de classe e série e por isso

desejam maior participação nessa instância deliberativa. Para que haja

transparência, coerência e justiça nas avaliações dos alunos, não se preocupando

somente com a aprovação ou retenção, é necessário que se aplique a legislação

educacional que indica a participação dos alunos nos conselhos, podendo ser

estendida também aos pais e responsáveis, havendo uma maior integração entre

todas as esferas da comunidade escolar.

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138

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O exercício da profissão de professor de Ensino Fundamental, de Ensino

Médio regular e técnico possibilitou condições de observar e questionar a construção

e resultados das avaliações no cotidiano escolar, sobretudo durante as reuniões

coletivas de docentes. Percebe-se a inconsistência e fragilidade de elementos que

compõem as avaliações e tomadas de decisões durante o conselho de classe, que

se baseiam em comportamentos e atitudes, definindo para melhor ou pior o conceito

do aluno.

O conselho é de fato uma instância de avaliação da qual advêm decisões

carregadas de subjetividade que se tornam um complicador de dimensões, muitas

vezes, inimagináveis na vida dos alunos. Situações que originam indagações

relativas à justiça, dada a forma como se torna complexo o ato de avaliar a

aprendizagem em que se confundem critérios não mensuráveis - como

―comprometimento‖, ―boas maneiras‖, ―interação com o grupo‖ e ―participação‖ - com

mensuráveis, isto é, as produções dos alunos. Não há debate sobre o processo de

ensino aprendizagem, pois ficou delineada a seguinte situação apontada pela

pesquisa realizada e muitas respostas não evidenciam que o conjunto de

professores entende qual é a função primordial do conselho de classe.

Em segundo lugar, fica claro que o conselho deliberativo carece de

objetividade, aliás, um dos itens mais citados pelos próprios docentes, deixando

evidente que a falta de critérios e objetivos previamente estabelecidos para a

reunião à torna esvaziada de significado. Trazendo, consequentemente, a questão

do tratamento diferenciado que se dá ao aluno em relação ao seu comportamento

ou ao conjunto de suas atitudes em detrimento do desenvolvimento de sua

aprendizagem efetiva.

A falta de expectativa dos professores em relação ao conselho de classe

mostra o grau de desgaste que o colegiado, responsável por analisar todo resultado

do trabalho pedagógico, está submetido.

Por último, não se observa o cumprimento do que a legislação estabelece em

relação à função do conselho de avaliar e debater as questões de ensino

aprendizagem. A LDB indica que deve haver a participação do aluno nos conselhos

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escolares, mas nas escolas que foram objeto desta pesquisa isto não ocorre, o que

dificulta uma maior transparência nas decisões e debates em torno das questões

educacionais.

As conclusões acima nos levam a visualizar um colegiado sem unidade, pois

não forma um todo em função do ensino aprendizagem que é o objetivo final do

conselho de classe, assim a produção de resultados negativos ocorre

sucessivamente. Além disso, os docentes não possuem expectativas e não as têm

porque não estão claros, ao encaminhar os resultados das avaliações para o

conselho, quais os limites e abrangências do colegiado. Nesse estudo, a partir das

observações realizadas, evidenciaram-se quais as práticas que contribuem para

transformar um espaço, a princípio democrático, em um instrumento de legitimação

da exclusão escolar.

Na busca de possíveis respostas foi consultada bibliografia com estudos já

realizados sobre conselho de classe e série, repetência e exclusão escolar. O

embasamento teórico proporcionado pelo estudo da história da educação e das

ciências sociais foi necessário para ampliar a visão sobre o tema pesquisado. Para o

desenvolvimento foram revisitados os escritos sobre educação que investigaram as

causas que mantêm a população brasileira alijada de seu direito à educação e

autores que já realizaram este percurso de forma científica, considerados os

pioneiros no estudo da exclusão social e escolar no Brasil. Os estudos efetuados

evidenciam, através de dados já expostos, que se construiu, ao longo dos anos, uma

cultura da repetência que mantém estreita ligação com o imaginário de excelência

em educação que influencia os meios educacionais. O que traz preocupação é que

há de fato uma exclusão concretizada mediante a maioria dos resultados dos

conselhos de classe que, geralmente, determinam a retenção ou exclusão do aluno,

geralmente do mais carente e desprovido do capital cultural conforme denunciam as

pesquisas realizadas. As causas possíveis de a escola retirar de seu interior os que

mais precisam dela estão ligadas ao entendimento claro da finalidade da educação

na qual se destaca a socialização do conhecimento.

O trabalho não teve a pretensão de esgotar o assunto e nem mesmo dar

receita de soluções, mas sim de refletir sobre a temática em questão e provocar uma

discussão sobre o assunto, especialmente sobre o papel da escola frente à sua

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responsabilidade na promoção do ensino e no avanço dos alunos rumo a sua

emancipação como pessoa humana.

O Brasil desde sua ocupação, segundo demonstraram os estudos

referenciados, não teve a educação popular como prioridade e o ensino é oferecido

sempre em função de determinados interesses que não são exatamente os do povo.

A pesquisa buscou entender o funcionamento do conselho de classe e série,

quais as impressões e imagens dos professores, alunos e pais sobre o tema e a

conclusão das análises das respostas dos entrevistados tem mostrado que outros

fatores condicionantes colaboram para que a escola se torne um meio de exclusão,

principalmente a baixa qualidade de ensino que faz os alunos ―passarem‖ pela

escola com objetivos diversos: se divertir, fazerem amizades, passear, namorar e

outros atos que são reflexos da sociedade atual como usar drogas e agir com

violência. Enfim, a escola se torna um espaço para se fazer quase tudo, exceto

aprender. Nessa perspectiva, as instâncias escolares em que se deve ter a

participação da comunidade, como as (APM´s Associação de Pais e Mestres) e os

conselhos de escola, concorrem para agravar a situação já precária das instituições

educacionais públicas, mesmo que não sejam as únicas responsáveis, pois não

agem para mudar a situação descrita, uma vez que são nessas é reuniões que

exercemos a democracia.

Os problemas apontados são amplamente conhecidos e as soluções também.

Um exemplo são as de âmbito político, como as lutas sociais, não somente as que

dizem respeito ao magistério, em que toda a sociedade pode cobrar do Poder

Público políticas públicas em benefício dos mais carentes e dos excluídos. Tais

ações são fundamentais porque tem reflexo direto em todas as esferas da nossa

sociedade e também nas instituições escolares.

No cotidiano escolar, uma saída possível seria a prática reflexiva na qual deve

haver mais solidariedade e mais desprendimento para socializar as experiências e

as soluções, tornando-nos capaz de enxergar e tratar o aluno com mais

humanidade, pois somos todos feitos da mesma essência, somos todos iguais. Por

último, pode-se apontar uma ação mais concreta: a) aplicar de fato a legislação dos

conselhos, inserindo o aluno e dando-lhe vez e voz nos colegiados, b) trazer

representantes da comunidade e a participação objetiva dos pais. Por fim, estreitar

os laços mediatizados pelo diálogo, porque é dialogando com o outro é que torna

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possível o reconhecimento,e aproximação entre os seres tornando possível

visualizar as necessidades do indivíduo. E a concretude, se efetivará somente por

meio de uma prática pedagógica dialógica resolvendo grande parte dos problemas

educacionais do cotidiano escolar.

É importante observar que segundo Caro 2004:

Não havendo soluções miraculosas, sabe-se que, constantemente, as

mudanças vêm com a conscientização, o conhecimento, o

fortalecimento democrático, o estudo o aprofundamento e as

pesquisas cientificam que mostram caminhos de transformação.

(CARO, S.M.P., 2004)

Nessa perspectiva os caminhos possíveis que se apresentam são os de

articulação política, setor público e sociedade na busca de soluções efetivas para os

problemas educacionais. A educação por meio de seus representantes nas

instituições escolares e sociedade civil podem e devem construir uma educação que

atenda as necessidades de toda sociedade.

O século XXI espera e necessita que cada um compreenda e coloque em exercício

o que há de melhor em si, novos saberes e experiências para que tenhamos

educandos com uma formação humana e integral, que observe o todo do indivíduo e

veja o homem como de fato é, um ser biopsicosocial e também espiritual

.

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SÃO PAULO. SEE-SP. Resolução nº. 269 05/12/95. Institui normas para reorganização da rede estadual.

SÃO PAULO. SEE-SP. Decreto 34.035/91. Institui a Escola Padrão.

SÃO PAULO. SEE-SP. Decreto 10.623/77. Legislação Conselho de Classe e Série.

SÃO PAULO. SEE-SP. Decreto 21.833 /83. Institui o Programa de Formação Integral da Criança.

SÃO PAULO. SEE-SP. Decreto 28.170/88. Institui a Jornada Única Docente.

SÃO PAULO. SEE-SP. Decreto 40.473/2111/95. Institui o programa de reorganização das escolas da rede publica estadual de SP.

SÃO PAULO. SEE-SP. Decreto 40.510/04/11/95. Reorganização das Escolas Estaduais.

SÃO PAULO. SEE-SP. Deliberação da CEE- nº 9/97. O programa dinheiro direto na escola.

SÃO PAULO. SEE-SP. Indicação CEE- nº 08/97. Institui a Progressão continuada.

SÃO PAULO. SEE-SP. Lei Estadual nº. 10.403/71. Institui normas e Reorganiza o Conselho Estadual de Educação.

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APÊNDICES

Apêndice. 1

QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PAIS

1º - O que você espera do conselho de classe e série com relação às decisões a serem

tomadas sobre o seu filho?

2º - Você considera adequadas as decisões tomadas nos conselhos?

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APÊNDICE 2

QUESTIONÁRIO I - APLICADO AOS PROFESSORES

1º - Qual sua expectativa com relação ao conselho de classe e série?

2º - Com relação às decisões tomadas nos conselhos, elas sempre são

satisfatórias?

3º - Há alguma estratégia para a reunião de conselhos que você indicaria?

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QUESTIONÁRIO II - PROFESSORES

1º - Qual sua expectativa em relação ao conselho de classe e série ao

encaminhar para apreciação dos professores os resultados individuais de seus

alunos?

2º- Com relação às decisões tomadas nos conselhos, elas sempre são

satisfatórias?

3º - Em sua opinião, quais assuntos ou atitudes podem atrapalhar o

andamento dos conselhos de classe?

4º - Com relação as decisões tomadas nos conselhos relacionada aos alunos

, são sempre imparciais?

5º - Existe algum outro componente ou atitude que interfere nas decisões

coletivas que não seja estritamente a avaliação da aprendizagem do aluno nas

reuniões de conselho de classe?

6º - Os pares respeitam sua decisão ou autonomia para avaliar, ou você já

mudou de opinião alguma vez em função de interferências; como discurso mais

convincente perante o conselho?

7º - Você acredita que a participação do aluno no conselho de classe pode

trazer alguma contribuição?

8º - Há alguma estratégia para as reuniões de conselho, que você indicaria

para aperfeiçoarmos as reuniões?

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APÊNDICE 4

QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ALUNOS

1º - Você sabe o que é um conselho de classe e série?

2º - O que você espera do conselho de classe e série?