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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO LESTE DE MINAS GERAIS – UnilesteMG Programa de Pós-Graduação em Engenharia Industrial ANDERSON LERIS ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE PERFIL METÁLICO TUBULAR EM ACO ESTRUTURAL ASTM A572 GRAU 50 APÓS CURVAMENTO PELO PROCESSO DE INDUÇÃO ELETROMAGNETICA Coronel Fabriciano 2010

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO LESTE DE MINAS GERAIS – UnilesteMG Programa de Pós-Graduação em Engenharia Industrial

ANDERSON LERIS

ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE PERFIL METÁLICO TUBULAR EM ACO ESTRUTURAL ASTM A572 GRAU 50 APÓS CURVAMENTO PELO

PROCESSO DE INDUÇÃO ELETROMAGNETICA

Coronel Fabriciano 2010

ANDERSON LERIS

ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE PERFIL METÁLICO TUBULAR EM ACO ESTRUTURAL ASTM A572 GRAU 50 APÓS CURVAMENTO PELO

PROCESSO DE INDUÇÃO ELETROMAGNETICA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Industrial do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Engenharia Industrial Orientadora: Professora Dra. Cláudia Nazaré dos Santos

Coronel Fabriciano 2010

ANDERSON LERIS

ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE PERFIL METÁLICO TUBULAR EM AÇO ESTRUTURAL ASTM A572 GRAU 50 APÓS CURVAMENTO PELO

PROCESSO DE INDUÇÃO ELETROMAGNETICA

Dissertação de Mestrado submetida à banca examinadora designada pelo conselho de

Curso do Programa de Pós-Graduação em engenharia, Mestrado em Engenharia

Industrial, do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do grau de Mestre em Engenharia Industrial

Aprovada em 29 de março de 2011 Por:

__________________________________ Cláudia Nazaré Santos, Dra.

Prof. PPGE/Unileste-MG.

______________________________________ Fabrício Moura Dias, Dr. Prof. PPGE/Unileste-MG.

__________________________________ Tulio Magno Fuzessy de Melo, Dr.

Pesquisador Especialista Sênior/USIMINAS

À minha família e a todos os meus amigos, colegas e professores, que se fizeram presentes durante esta fase de minha vida.

AGRADECIMENTOS

À minha esposa Eloide, pela compreensão e incentivo.

Aos meus filhos Bianca e Bernardo por entenderem minha ausência durante os

momentos de estudo e sempre me receberem com sorrisos, abraços e beijos.

Aos meus pais, José Paulo e Ana Rosalina pelos ensinamentos, pelo incentivo e por

sempre acreditarem em meu potencial.

Aos meus irmãos Elerson e Ana Paula pela força e incentivo.

À professora Doutora Cláudia Nazaré Santos pelo tempo disponibilizado, pelo bom

humor, pelas contribuições acadêmicas, pela paciência e pela amizade.

Ao Ricardo Mota e Antonio Cezar Amaral por terem me dado a oportunidade de

conhecer o processo estudado neste trabalho e pelo incentivo.

A Turma do “GGP”, ao pessoal da “ENGENHARIA” e aos demais colegas de trabalho

pelo incentivo e colaboração.

Aos colegas Flávio Romualdo, Carlos Reis e José Eduardo Salles por me ajudarem

incentivando e compartilhando conhecimentos.

Ao pesquisador, Professor Doutor Tulio Magno Fuzessy de Melo por sempre estar

disponível para me auxiliar quando necessitei.

Aos colegas de mestrado com os quais compartilhei os mesmos objetivos e

inquietações.

Aos professores do mestrado pelos ensinamentos, pelo incentivo e colaboração.

Aos demais familiares e amigos que torceram por mim.

Ao Doutor Fabio Domingos Pannoni pelas contribuições técnicas.

Ao centro de pesquisa da USIMINAS por realizar e os ensaios de dureza e as imagens

das microestruturas e das fraturas deste trabalho.

À USIMINAS MECÂNICA S/A por ter cedido os materiais para as amostras e pela

realização dos ensaios mecânicos deste trabalho.

À PROTUBO por se disponibilizar a fornecer informações técnicas referentes ao

processo de curvamento por indução eletromagnética.

RESUMO O aço é largamente utilizado na fabricação de estruturas metálicas bem como em

outras utilizações. Para atender estas aplicações, inúmeros são os processos para

transformá-lo. Dentre os processos utilizados, podemos citar o processo de curvamento

por indução eletromagnética, responsável pelo curvamento por aquecimento localizado,

seguido de conformação mecânica a quente e resfriamento rápido. Esse processo é

capaz de alterar as propriedades do material e dependendo da composição química,

estrutura cristalina, formato e tamanho de grãos. Tais alterações podem não ser

favoráveis para determinadas aplicações. Neste trabalho foram estudados tubos em

aço estrutural da norma ASTM A 572 Gr 50 curvados pelo processo de indução e

comparados com os mesmos tubos não processados. Foram realizados ensaios

mecânicos de tração, Charpy e dobramento conforme norma ASTM A 370 para ambos

os casos. Observou-se que houve uma mudança na microestrutura do material, de

forma heterogênea da face externa para a face interna devido à diferente taxa de

resfriamento que ocorreu nas regiões. O limite de escoamento não apresentou

aumento significativo, ao contrário do limite de resistência. Pôde-se observar também

um aumento da dureza superficial do tubo curvado de maneira que o processo de

curvamento por indução eletromagnética não comprometeu as propriedades

mecânicas, apresentando-se como uma aplicação favorável em estruturas metálicas.

Palavras-chave: Aço. Curvamento por indução eletromagnética. Propriedades. Construção em Aço.

ABSTRACT

The steel is widely used in the manufacture of steel structures and other uses to meet

these applications, there are a lot of processes to transform it. Among the procedures

used, we can mention the electromagnetic induction bending process, responsible for

bending by localized heating, followed by the hot forming and rapid cooling. This

process can change the properties of the material, depending on its chemical

composition, structure , shape and size of grains such changes may not be favorable for

certain applications. The structural pipes made with steel following the standard

ASTM A 572 Gr 50, bent by the process of induction and compared with the same tubes

unprocessed in this study. Mechanical tests of tensile test, Charpy V-notch test, and

bending test were performed following ASTM A 370 standard for both cases. It was

observed that there was a change in the microstructure of the material heterogeneities

of the outside to the inside face due to different rate of cooling that occurred in the

regions, the elastic limit is not increased significantly, contrary to the ultimate strength.

One can also observe an increase in surface hardness of the bended tube, the bending

process by electromagnetic induction did not compromise the mechanical properties

presenting itself as a favorable application in steel structures.

KEY WORDS: Steel, Induction Bending, Properties, Steel Construction.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Reatividade geral de importantes elementos no aço...................................... 18

Figura 2: Efeito de diferentes mecanismos de endurecimento na temperatura de

transição. ....................................................................................................................... 20

Figura 3: Efeito do teor de carbono nas curvas de temperatura de transição dos aços

perlíticos ferrítícos ......................................................................................................... 21

Figura 4: Aumento incremental na dureza após a têmpera para silício e outros quatro

elementos de liga .......................................................................................................... 22

Figura 5: a) Laminador Mannesmann b) Rolo laminador-mandrilador .......................... 24

Figura 6: Processo de Extrusão de Tubos. a) Mandrilamento b) Extrusão ................... 24

Figura 7: Processo de fabricação U-O-E de tubos. ....................................................... 26

Figura 8: Processo de fabricação de tubos com SAW helicoidal .................................. 27

Figura 9: Processo de fabricação de tubos com ERW longitudinal ............................... 28

Figura 10: De a) para c) seqüência de calandragem de chapas para a fabricação de

tubos – calandra de 3 rolos. .......................................................................................... 29

Figura 11: De a) para c) seqüência de calandragem de chapas para a fabricação de

tubos – calandra de 4 rolos ........................................................................................... 29

Figura 12: Desenho esquemático de curvamento de tubos por prensagem ................. 31

Figura 13: Desenho esquemático de curvamento de tubos a frio com 3 rolos .............. 31

Figura 14: Desenho esquemático de curvamento de tubos a frio com 4 rolos. ............. 32

Figura 15: Curvamento de tubos por cortes em V a) Tubo reto b) Corte em V c)

Emenda da região cortada d) Tubo curvado ................................................................. 32

Figura 16: Arco de grande diâmetro fabricado pelo processo de curvamento por cortes

em V. ............................................................................................................................. 33

Figura 17: Esquema do curvamento por indução eletromagnética ............................... 34

Figura 18: Processo de curvamento – Vista Geral ........................................................ 35

Figura 19: Curvamento por indução – a) garra do equipamento b) bobina de

aquecimento c) resfriamento com água após o aquecimento d) anel aquecido no tubo

...................................................................................................................................... 35

Figura 20: Estação Cidade Nova no Rio de Janeiro onde foram utilizados tubos

curvados por indução eletromagnética .......................................................................... 36

Figura 21: Distribuição esquemática de temperatura ao longo da espessura da parede

do tubo. ......................................................................................................................... 37

Figura 22: Redução da espessura no extradorso da curva com a variação da relação

RM / D (raio médio/diâmetro). ....................................................................................... 38

Figura 23: Aumento da espessura no intradorso da curva com a variação da relação

RM / D (raio médio/diâmetro). ....................................................................................... 38

Figura 24: Distribuição de deformação de tração e compressão em uma curva de raio

de 5 vezes o diâmetro (48" x 24 mm - Aço API Grau X65)............................................ 39

Figura 25: Efeito da taxa de aquecimento na temperatura de transformação (A3) – H.F =

faixa de temperatura que compreende ao aquecimento por indução. ........................... 40

Figura 26: Efeito da taxa e da temperatura de curvamento no tamanho de grão

austenítico. .................................................................................................................... 41

Figura 27: Diâmetro médio do grão (alternativamente, número de grão ASTM) em

função da temperatura de austenitização para o aço 1060 austenitizado por 6 minutos e

2 horas. ......................................................................................................................... 42

Figura 28: Diagrama de transformação com resfriamento contínuo para aços de alta

resistência ..................................................................................................................... 43

Figura 29: Estação de metrô Cidade Nova – RJ - Fase de Montagem ......................... 44

Figura 30: Aeroporto Santos Dumont - RJ .................................................................... 45

Figura 31: Corrimãos curvados ..................................................................................... 45

Figura 32: Passarela estação cidade nova – RJ - Fase de Montagem. ........................ 46

Figura 33: Dimensão das amostras curvas ................................................................... 47

Figura 34: Dimensão da amostra não curvada .............................................................. 48

Figura 35: Corpo de Prova de ensaio de Charpy .......................................................... 49

Figura 36: Corpo de prova de Tração tubo curvo .......................................................... 49

Figura 37: Corpo de prova de Tração tubo reto ............................................................ 49

Figura 38: Regiões de retirada dos CPS: 1 Linha neutra oposta à solda; 2 Intradorso e

3 extradorso; ................................................................................................................. 51

Figura 39: Posição das imagens metalográficas ........................................................... 51

Figura 40: Posições de medição de dureza a) Tubo curvado b) Tubo reto. .................. 52

Figura 41: Microestrutura Tubo reto - Identificação das fases - BA: Bainita - FE: Ferrita -

PE: Perlita ..................................................................................................................... 53

Figura 42: Microestrutura Tubo reto - Resoluções de 500X e 1000X - 1) Próximo a face

externa 2) No centro da espessura 3) Próximo à face interna; ..................................... 54

Figura 43: Microestrutura típica do Tubo curvado - Identificação das fases - BA: Bainita

- FE: Ferrita - BA: bainita - MA: Martensita .................................................................... 55

Figura 44: Microestrutura Intradorso - Resoluções de 500X e 1000X - 1) Próximo a face

externa 2) No centro da espessura 3) Próximo à face interna; ..................................... 56

Figura 45: Microestrutura Extradorso - Resoluções de 500X e 1000X - 1) Próximo a

face externa 2) No centro da espessura 3) Próximo à face interna; .............................. 58

Figura 46: Microestrutura Linha Neutra - Resoluções de 500X e 1000X - 1) Próximo a

face externa 2) No centro da espessura 3) Próximo à face interna; .............................. 59

Figura 47: Microestrutura comparativo - Resoluções de 500X e 1000X - 1) À 2mm da

Face externa 2) No centro da espessura 3) À 2mm da face interna; ............................ 61

Figura 48: Resultados dos ensaios de dureza ao longo da espessura para o extradorso,

intradorso, linha neutra e tubo reto. ............................................................................... 63

Figura 49: Resultado dos ensaios de tração ................................................................. 65

Figura 50: Resultado dos ensaios de tração longitudinal das soldas ............................ 66

Figura 51 - Relação LR/LE ............................................................................................ 66

Figura 52: Alongamento no ensaio de tração ................................................................ 67

Figura 53 - Resultado dos ensaios de Charpy, Tubo reto, Linha Neutra, Extradorso e

Intradorso. ..................................................................................................................... 68

Figura 54: Imagem da fratura do ensaio de Charpy - MEV 1000X - Tubo reto ............. 69

Figura 55: Imagem da fratura do ensaio de Charpy - MEV 1000X - Tubo Curvado –

Intradorso ...................................................................................................................... 70

Figura 56: Imagem da fratura do ensaio de Charpy - MEV 1000X - Tubo Curvado –

Extradorso ..................................................................................................................... 71

Figura 57: Imagem da fratura do ensaio de Charpy - MEV 1000X - Tubo Curvado –

Linha Neutra .................................................................................................................. 71

Figura 58: Corpo de prova de dobramento - Região da solda - Tubo curvado .............. 72

Figura 59: Corpo de prova de dobramento - Região da solda – Tubo reto ................... 72

Figura 60: Variação dimensional como medido após o curvamento ............................. 73

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Equivalência entre aços estruturais das normas NBR e ASTM .................... 16

Quadro 2: Composição química dos aços estruturais (% em massa) ........................... 17

Quadro 3: Propriedades mecânicas dos aços estruturais ............................................. 17

Quadro 4: Fórmulas para a determinação de carbono equivalente ............................... 20

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

A1 Temperatura da reação eutetóide do diagrama de equilíbrio Fe-C;

A3 Temperatura de transformação alotrópica de fases em aços no

aquecimento, da ferrita para austenita; ABCEM Associação Brasileira de Construção Metálica ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas Acm Temperatura de transformação Fe3C; AL Alongamento no ensaio de tração (%) AR Alta resistência na norma NBR7007 ASTM American Society for Testing and Materials BA Bainita; C° Graus Celsius CBCA Centro Brasileiro de Construção em Aço; CCT Transformação com esfriamento contínuo; CE Carbono equivalente; CLR Comprimento de trinca; COR Resistência à corrosão na norma NBR7007; CP Corpo de prova; CSR Sensibilidade ao trincamento; D Diâmetro; DIMPLES Microcavidades DRY WALL Sistema construtivo a seco que utiliza chapas de gesso

acartonado fixadas sobre estruturas metálicas FE Ferrita Fe Estrutura cúbica de corpo centrado abaixo da temperatura de

912°C no diagrama ferro carbono também chamado de Ferrita.

Fe Estrutura cúbica de face centrada. Localizada entre 1390ºC e

912ºC também chamada de Austenita. HF Faixa de taxa de aquecimento correspondente ao aquecimento

por indução eletromagnética durante o curvamento de tubos; HV Dureza Vickers HV5 Dureza Vickers com 5Kg LE Limite de escoamento; LR Limite de resistência; MA Martensita MR Média resistência na norma NBR7007 NBR Associação Brasileira de Normas Técnicas; PCM Parâmetro de trinca; PE Perlita RM Raio Médio; SAW Soldagem a arco submerso; STEEL FRAMING Painéis formados por guias e montantes estruturais; U-O-E Etapas do processo de fabricação de tubos com costura

(conformação em “U”, fechamento em “O” e expansão “E”);

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13

2. REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................... 15 2.1 Aços estruturais ............................................................................................ 15 2.2 Fabricação de Tubos .................................................................................... 22 2.2.1 Tubos sem costura ........................................................................................ 23 2.2.1.1 Tubos laminados ............................................................................................. 23 2.1.1.2 Tubos Extrudados ........................................................................................... 24 2.1.2 Tubos com costura ........................................................................................ 25 2.1.2.1 Tubos fabricados pelo processo U-O-E ........................................................ 25 2.1.2.2 Tubos fabricados pelo processo SAW helicoidal......................................... 26 2.1.2.3 Tubos fabricados pelo processo ERW .......................................................... 27 2.1.2.4 Tubos fabricados pelo processo de calandragem ....................................... 28 2.2 Curvamento de perfis metálicos tubulares ................................................. 30 2.2.1 Curvamento de tubos a frio .......................................................................... 30 2.2.2 Curvamento de tubos a quente .................................................................... 33 2.2.2.1 Curvamento por indução eletromagnética .................................................... 34 2.2.2.1.1 Variáveis do processo de curvamento por indução eletromagnética.............. 36

2.2.2.1.1.1 Espessura da parede ................................................................. 37 2.2.2.1.1.2 Temperatura de curvamento ..................................................... 39 2.2.2.1.1.3 Velocidade de resfriamento ....................................................... 42

2.3 Aplicação de tubos em estruturas metálicas ............................................. 44

3. MATERIAIS E PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS............................................. 47 3.1 Materiais ........................................................................................................ 47 3.2 Procedimentos Experimentais ..................................................................... 48 3.3 Propriedades Mecânicas e Metalografia ..................................................... 50

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................ 52 4.1 Microestruturas ............................................................................................. 52 4.1.1 Tubo Reto ....................................................................................................... 52 4.2 Tubo Curvado ................................................................................................ 55 4.2.1 Tubo Curvado – Intradorso ........................................................................... 56 4.2.2 Tubo Curvado – Extradorso .......................................................................... 58 4.2.3 Tubo Curvado - Linha Neutra ........................................................................ 59 4.2.4 Comparação entre as microestruturas e as propriedades ......................... 60 4.3 Ensaio de Dureza .......................................................................................... 62 4.4 Ensaio de Tração .......................................................................................... 64 4.5 Ensaio de Charpy .......................................................................................... 67 4.6 Imagens das fraturas do ensaio de Charpy ................................................ 69 4.7 Ensaio de dobramento longitudinal na solda ............................................. 72

5. CONCLUSÃO ........................................................................................................... 74

6. SUGESTÃO PARA TRABALHOS FUTUROS ......................................................... 75

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 76

13

1.INTRODUÇÃO

Até a década de 80, o uso de estruturas metálicas nas áreas da

construção industrial e comercial era pouco conhecido no Brasil. Na área da

construção residencial, o assunto nem era cogitado por arquitetos e engenheiros, e

muito menos pelos proprietários ou investidores. Fatores histórico-culturais

decorrentes da falta de produtos siderúrgicos adequados colaboraram com essa

realidade. Entretanto, este cenário mudou positivamente nos últimos anos, tanto

com relação a materiais e tecnologias disponíveis quanto à demanda por sistemas

sustentáveis e de baixo desperdício.

O aço tem sido utilizado em diversas aplicações estruturais. Segundo o

Centro Brasileiro de Construção em Aço - CBCA, em 2008, o consumo aparente de

produtos siderúrgicos cresceu 9%, atingindo a marca recorde de 24 milhões de

toneladas. Dentre os setores consumidores finais, o destaque foi o setor da

construção civil, cujo consumo foi 21,3% superior ao observado em 2007. Este setor

ampliou sua participação no consumo aparente de 30,0% em 2007 para 33,4%, em

2008 além de contribuir com o resultado recorde do segmento imobiliário, contribuiu

também como a boa performance da construção em aço.

Ainda de acordo com o CBCA a demanda na construção em aço

apresentou expressivo crescimento de 18% em 2007 em relação ao ano de 2008,

dessa forma, a demanda cresceu 6,8% ao ano no período 2002-2008, enquanto o

consumo total da construção civil cresceu 6,6% ao ano no mesmo período. Os

dados apontam que, de uma demanda total superior a 2,8 milhões de toneladas para

construção em aço, os principais destaques foram os aços planos revestidos,

destinados a telhas, perfis steel framing e perfis drywall, que passou de 502 mil

toneladas em 2007, para 729 mil toneladas (+ 45,1%) em 2008. A demanda dos

perfis e tubos para estruturas cresceu de 284 mil toneladas para 411 mil toneladas

(+ 44,7%) no mesmo período.

De acordo com NUIC et. al. (2003), os perfis tubulares apresentam algumas

características que propiciam vantagens para a aplicação estrutural, tais como: a

forma da seção favorável aos esforços de compressão e torção; os perfis redondos

possuem uma área de pintura reduzida, quando comparada com outros tipos de

perfis; maior vida útil na proteção contra a corrosão; reduzido coeficiente de arrasto;

14

facilidade para a composição de estruturas mistas e para a proteção contra incêndio.

Sob o ponto de vista das instalações, os perfis tubulares também podem ser

utilizados para serviços, como por exemplo, passagens de tubulações elétrica e

hidráulica em seu interior. Além de todas estas características, este tipo de estrutura

pode ser bastante explorado sob o ponto de vista estético.

A utilização de estruturas tubulares em aço requer vários processos de

fabricação visando à adequação às especificações da engenharia e da arquitetura.

Alguns processos, como o curvamento por indução eletromagnética, não possuem

normas específicas para a fabricação de estruturas sendo necessária a confirmação

da manutenção das propriedades mínimas requeridas no projeto.

Neste estudo busca-se analisar as propriedades mecânicas de um tubo

fabricado a partir de chapas de aço estrutural da norma ASTM A 572 Gr 50 utilizado

na fabricação de um edifício após o processo de curvamento por indução

eletromagnética, comparando-as com os requisitos dos documentos normativos

pertinentes. Neste trabalho foram utilizados tubos com 18” de diâmetro e 14 e 19

mm de espessura. Foram realizados ensaios mecânicos de tração, Charpy e

dobramento conforme norma ASTM A 370 (2009) e ensaio de dureza conforme

norma NBR NM6507-1 (2008) em regiões curvadas do tubo e obtidas micrografias,

visando comparar as propriedades mecânicas antes e depois do curvamento por

indução eletromagnética.

15

2.REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Aços estruturais

O aço é a liga metálica mais utilizada na atualidade devido ao custo de

produção, aplicabilidade e versatilidade.

Segundo PANNONI (2005) o grande uso do aço pode ser atribuído às

notáveis propriedades desta liga, à abundância das matérias-primas necessárias à

sua produção e o seu preço competitivo. O aço pode ser produzido em uma enorme

variedade de características controladas de modo a atender um uso específico. O

produto final pode ser algo como um bisturi cirúrgico, um arranha-céu, uma ponte

gigantesca ou um petroleiro, um reator nuclear ou um fogão.

PANNONI (2005) destaca que existem mais de 3500 tipos diferentes de

aços, aproximadamente 75% deles desenvolvidos nos últimos 20 anos. Isso mostra

a grande evolução que o setor tem experimentado.

O aço pode ser definido como baixo carbono, médio carbono e alto

carbono conforme o percentual de carbono presente na sua estrutura. Os aços de

baixo carbono possuem um máximo de 0,3% deste elemento e apresentam grande

ductilidade, são bons para o trabalho mecânico e soldagem, sendo pouco

temperáveis, utilizados na construção de edifícios, pontes, navios, automóveis,

dentre outros. Os aços de médio carbono possuem de 0,3% a 0,6% de carbono e

são utilizados em engrenagens, bielas e outros componentes mecânicos; São aços

que, temperados e revenidos, atingem boa tenacidade e resistência. Aços de alto

carbono possuem mais do que 0,6% de carbono e apresentam elevada dureza e

resistência após têmpera. São comumente utilizados em trilhos, molas,

engrenagens, componentes agrícolas sujeitos ao desgaste, pequenas ferramentas

etc. (BARREIRO, 1974).

Na construção civil, o interesse maior está nos chamados aços estruturais

de média e alta resistência mecânica. Fazem parte desse grupo, todos os aços que,

devido à sua resistência, ductilidade e outras propriedades, são adequados para a

utilização em elementos da construção sujeitos a carregamento. Os principais

requisitos para os aços destinados à aplicação estrutural são: elevado limite de

escoamento, elevada tenacidade, boa soldabilidade, homogeneidade

16

microestrutural, susceptibilidade de corte por chama sem endurecimento e boa

trabalhabilidade em operações tais como corte, furação e dobramento, sem que se

originem fissuras ou outros defeitos (CBCA, 2010).

Os aços estruturais podem ser classificados de acordo com o limite de

escoamento mínimo especificado: aço carbono de média resistência (limites de

escoamento mínimo – LE, 195 a 259 MPa), aço de alta resistência e baixa liga (LE,

290 a 395 MPa) e aços tratados termicamente (LE, 630 a 700 MPa) (CBCA, 2010).

Os aços de alta resistência e baixa liga são utilizados toda vez que se

deseja aumentar a resistência mecânica permitindo um acréscimo da carga unitária

da estrutura ou proporcionar uma diminuição de seção, melhorar a resistência à

corrosão atmosférica, resistência ao choque e o limite de fadiga e elevar a relação

do limite de escoamento para o limite de resistência à tração, sem perda apreciável

da ductilidade (CBCA, 2010).

A tendência moderna no sentido de se utilizar estruturas cada vez

maiores tem levado os engenheiros, projetistas e construtores a utilizar aços de

maior resistência, os chamados aços de alta resistência e baixa liga, de modo a

evitar estruturas cada vez mais pesadas (CBCA, 2010).

A NBR 8800 (2008) classifica os aços em estruturais, como aqueles que

possuem resistência ao escoamento máximo de 450 MPa e relação entre limite de

resistência (LR) e limite escoamento (LE) não inferior a 1,18, desde que o aço seja

classificado como estrutural por norma brasileira ou estrangeira.

Já a NBR 7007 (2002), possui outras quatro classificações: MR 250,

AR 350, AR 415 e AR 350 COR, em que MR é média resistência, AR alta resistência

e COR maior resistência à corrosão atmosférica. Existe uma equivalência entre as

normas NBR e a ASTM, para os aços estruturais como apresentado no Quadro 1.

Quadro 1: Equivalência entre aços estruturais das normas NBR e ASTM

Fonte: O Autor, 2010

17

Estas normas apresentam valores para as composições químicas e as

resistências mecânicas, que podem ser vistas no

Quadro 2 e no Quadro 3 respectivamente, sendo que as cores iguais

indicam a equivalência dos aços estruturais entre as duas normas.

Quadro 2: Composição química dos aços estruturais (% em massa)

Fonte: O Autor, 2010

Quadro 3: Propriedades mecânicas dos aços estruturais

Fonte: O Autor, 2010

18

O ensaio de Charpy é classificado como opcional conforme determinação

de projeto e especificação e deve ser especificado na compra do aço, conforme

determinam as normas NBR7007 (2002), NBR8800 (2008) e ASTM A 0006 (2009).

Muitas propriedades e algumas características dos diferentes tipos de

aços são afetadas pela composição química dos mesmos. Os elementos de liga

desempenham uma importante função na determinação da microestrutura e nas

propriedades dos aços em geral. Sua influência é obtida através de seus efeitos em

solução sólida e, principalmente, de seus efeitos como precipitados

(BATISTA, 2005).

A Figura 1 apresenta a porção da tabela periódica ao redor do ferro e

inclui vários elementos que são adicionados nos aços juntamente com outros

elementos de liga como manganês, cromo, molibdênio e níquel. Alguns elementos

tendem ser mais reativos do que outros. Tais elementos irão combinar com

elementos como carbono, nitrogênio, oxigênio e enxofre para formar carbonetos,

nitretos, óxidos e sulfetos. Estes compostos químicos que se fundem a temperaturas

muito altas tendem a ser muito duros e frágeis (VERHOEVEN, 2007).

Figura 1: Reatividade geral de importantes elementos no aço Fonte: VERHOEVEN, 2007

19

Segundo VERHOEVEN (2007), quando manganês e outros elementos

são adicionados nas ligas ferro carbono, três importantes linhas no diagrama de

fases A3 (Temperatura de transformação alotrópica de fases em aços no

aquecimento, da ferrita para austenita), A1 (Temperatura da reação eutetóide do

diagrama de equilíbrio Fe-C) e Acm (Temperatura de transformação Fe3C),

moverão um pouco. Os elementos como manganês e níquel movem a linha A1 para

baixo e o cromo e o molibdênio a movem para cima.

ATKINS et. al. (1980) mostram as equações que confirmam a variação

das linhas A1 e A3. Esta variação os autores chamam de “A faixa crítica que

aquecimento entre A1 e A3”, sendo que o símbolo do elemento químico corresponde

à % em peso do elemento de liga.

A1 (ºC) = 723 - 20,7 Mn-16,9 Ni + 29,1 Si +16,9 Cr + 290 As + 6,38 W

A3 (ºC) = 910 – 203 – 15,2 Ni + 44,7 Si + 104 V + 31,5 Mo + 13,1 W

O aço ASTM A 572 Gr 50 além do ferro, é composto pelos elementos

químicos carbono, manganês, silício e enxofre, como apresentado no

Quadro 2.

Historicamente o carbono é considerado o elemento que oferece a menor

relação custo/beneficio para aumentar a resistência mecânica nos aços estruturais

(BATISTA, 2005).

A influência da composição química na soldabilidade é usualmente

descrita quantitativamente em termos de carbono equivalente e o

Quadro 4 mostra algumas fórmulas elaboradas por diferentes

pesquisadores. Todas as fórmulas revelam que a redução na quantidade de carbono

resulta em melhoria na soldabilidade (HULKA, 1993).

20

Quadro 4: Fórmulas para a determinação de carbono equivalente

Fonte: HULKA, 1993

Comparado com outros mecanismos de endurecimento como refino de

grão, endurecimento por precipitação e encruamento, o aumento percentual do

carbono é considerado o menos desejável (BATISTA, 2005). Conforme mostrado na

Figura 2, o aumento do percentual de carbono promove o aumento da resistência do

material, causando entretanto, a elevação da temperatura de transição no ensaio de

impacto Charpy.

Figura 2: Efeito de diferentes mecanismos de endurecimento na temperatura de transição. Fonte: HULKA, 1993

21

O fato do C não ser preferencialmente utilizado como mecanismo de

endurecimento pode ser observado pelo seu efeito na tenacidade (BATISTA, 2005).

Com base na Figura 3, observa-se que o aumento do teor de carbono promove a

elevação da temperatura de transição no ensaio de Charpy.

Figura 3: Efeito do teor de carbono nas curvas de temperatura de transição dos aços perlíticos ferrítícos Fonte: HULKA, 1993

Uma alta relação manganês/carbono (Mn/C) acarreta em melhor

tenacidade para um mesmo nível de resistência. Por outro lado, se for necessária

resistência a trincas induzidas por hidrogênio, é prudente limitar o teor de Mn em

1,2%, entretanto, se o teor de C for reduzido para 0,02% um teor bem maior de Mn

pode ser tolerado (BATISTA, 2005).

HULKA (1993) o manganês é usualmente utilizado em substituição ao

carbono nos aços soldáveis, induzindo uma melhor resistência. O manganês é o

elemento mais comumente utilizado para melhorar a resistência em aços de alta

resistência e baixa liga.

O Mn também possui um efeito marcante na temperabilidade do aço.

Quando aumenta de 1,4 para 1,6 e deste para 1,80% a microestrutura transforma-se

de ferrita-perlita para ferrita-perlita-bainita e para ferrita-bainita respectivamente

(BATISTA, 2005).

22

VERHOEVEN (2007) descreve que além da temperatura os elementos de

liga têm grande influência no aumento da dureza da liga. A Figura 4 mostra aumento

de dureza com o incremento dos quatro principais elementos de liga utilizados nos

aços ligados.

Figura 4: Aumento incremental na dureza após a têmpera para silício e outros quatro elementos de liga Fonte: VERHOEVEN, 2007

Conforme mostrado por BATISTA (2005), o processo de fabricação de

aços de alta resistência e baixa liga produz aços com baixos teores de enxofre,

aproximadamente 0,005 a 0,010%. É usual utilizar estes valores para garantir o

alongamento requerido e alta energia de Charpy. Adicionalmente, o controle do

formato de inclusões de enxofre através da adição de cálcio (Ca) (globulização das

inclusões) ajuda a prevenir a formação de sulfeto de manganês (MnS) de forma

alongada.

23

2.2 Fabricação de Tubos

Segundo DOYLE et. al. (1978), os perfis tubulares possuem, na maioria

das vezes, seções circulares, quadradas e retangulares. Sua fabricação pode ser

laminada a quente, dobrada a frio ou extrudada e podem ser classificados em dois

tipos, sem costura e com costura (solda). Os tubos sem costura são produzidos por

processo de laminação a quente, a partir de bloco maciço de seção redonda de aço,

o qual será laminado e perfurado por mandril, obtendo-se dessa maneira, suas

dimensões finais. São resfriados em leito de resfriamento, até temperatura ambiente,

e, por possuírem uniforme distribuição de massa em torno de seu centro, mantém

temperatura praticamente constante ao longo de todo o seu comprimento e em

qualquer ponto de sua seção transversal Os tubos com costura são aqueles a partir

de chapas de aço calandrada e costurados (soldados) no encontro das mesmas.

A utilização dos tubos dos respectivos processos depende das

características do material a ser aplicado, o diâmetro nominal, espessura da parede

dentre outros.

2.2.1 Tubos sem costura

Os tubos sem costura podem ser produzidos por laminação ou extrusão.

No Brasil são produzidos com diâmetros externos padronizados que

variam de 26,9 a 355,6 mm e espessura de parede de 2,3 a 8 mm, com

comprimento máximo até 15.000 mm (V&M DO BRASIL, 2010).

2.2.1.1 Tubos laminados

De acordo com DOYLE et. al. (1978) e HELMAN (2005) os tubos

laminados são produzidos a partir de barra circular maciça de aço que, após ser

aquecida até a temperatura de laminação, é empurrada por dois cilindros oblíquos

que rotacionam e transladam contra um mandril fixo, sendo este último responsável

pelo furo interno do tubo, conforme a Figura 5. Desta forma se consegue um tubo

bruto, que sofrerá conformação de acabamento através de laminadores perfiladores.

24

Figura 5: a) Laminador Mannesmann b) Rolo laminador-mandrilador Fonte: DIETER, 1983

2.1.1.2 Tubos Extrudados

O processo de fabricação de tubos por extrusão é o processo onde a

barra de aço é “empurrada” contra a matriz conformadora, com redução da sua

seção transversal. A parte ainda não extrudada fica contida num recipiente ou

cilindro.( DOYLE, et. al., 1978). O processo de extrusão pode ser visto na Figura 6

Figura 6: Processo de Extrusão de Tubos. a) Mandrilamento b) Extrusão Fonte: DIETER, 1983

A extrusão pode ser feita a frio ou a quente dependendo da ductilidade do

material. Cada tarugo é extrudado individualmente, o que caracteriza a extrusão

25

como um processo semi-contínuo. A extrusão pode ser combinada com operações

de forjamento, nesse caso denomina-se extrusão fria.

2.1.2 Tubos com costura

Os tubos com costura são fabricados a partir de chapas de aço laminadas

que são conformadas e soldadas para se garantir a continuidade do tubo. Estes

tubos podem ser fabricados por processos automáticos (U-O-E, ERW e SAW

helicoidal) ou calandrados. Em se tratando de tubos fabricados por processos

automáticos os mesmos podem possuir dimensões padronizadas com diâmetros

externos de 114,3 a 2540 mm, espessuras que variam de 4,4 a 31,8 mm e

comprimentos até 13.000 mm, dependendo do processo.

2.1.2.1 Tubos fabricados pelo processo U-O-E

Conforme BATISTA (2005) e MEIRELES (2009) no processo U-O-E as

chapas são primeiramente prensadas adquirindo a configuração em “U”, em seguida

sofrem nova prensagem visando obter o formado “O”. Depois o tubo formado é

soldado pelo processo SAW (soldagem a arco submerso), primeiramente no lado

interno e posteriormente no lado externo do tubo. As próximas etapas são os

ensaios não destrutivos como ultra-som, expansão (E), gamagrafia, teste

hidrostático e outros, que visam à verificação da continuidade da solda e a ausência

de defeitos. Todo o processo está esquematizado na Figura 7.

26

Figura 7: Processo de fabricação U-O-E de tubos. Fonte: TENARIS CONFAB, 2010

A expansão, que visa a corrigir eventuais deformações provenientes da

soldagem e conferir ao tubo o diâmetro correto dentro das tolerâncias normativas, é

então realizada. Um segundo teste de ultra-som é realizado, seguido pelo teste de

raio X, bizelamento e pesagem.

2.1.2.2 Tubos fabricados pelo processo SAW helicoidal

A Figura 8 apresenta um esquema deste processo, em um diagrama

simplificado apresentado por TENARIS CONFAB (2010).

27

Figura 8: Processo de fabricação de tubos com SAW helicoidal Fonte: TENARIS CONFAB, 2010

A primeira etapa do processo é a formação dos tubos pelo processo

contínuo helicoidal com a soldagem simultânea por arco submerso. Os testes

hidrostáticos são então realizados, seguidos por ensaios não destrutivos,

dimensionais e de laboratório.

2.1.2.3 Tubos fabricados pelo processo ERW

O processo de fabricação ERW pode ser visto através do diagrama

simplificado apresentado na Figura 9.

28

Figura 9: Processo de fabricação de tubos com ERW longitudinal Fonte: TENARIS CONFAB, 2010

Este processo consiste na fabricação de tubos a partir de bobinas de aço

que após o desbobinamento do aço, ocorre à formação do tubo que é realizada

através de rolos. A próxima etapa é a soldagem por resistência elétrica em alta

freqüência. Em seguida são feitas a calibragem, corte, testes hidrostáticos e de

laboratórios seguidos de ensaios não destrutivos.

2.1.2.4 Tubos fabricados pelo processo de calandragem

Uma forma muito comum de fabricação de tubos é a fabricação por

calandragem de chapas seguida de soldagem. O processo consiste em curvar uma

chapa passando-a entre rolos em um equipamento chamado calandra, obtendo-se o

tubo no diâmetro desejado.

29

Segundo FRANCO (1977), a operação é realizada por meio de grupos

cilíndricos que podem ser dispostos de vários modos, conforme apresentados nas

Figuras 10 e 11. A Figura 10 apresenta a seqüência de calandragem com 3 rolos e

a Figura 11 com 4 rolos.

Figura 10: De a) para c) seqüência de calandragem de chapas para a fabricação de tubos – calandra de 3 rolos. Fonte: FRANCO, 1977

Figura 11: De a) para c) seqüência de calandragem de chapas para a fabricação de tubos – calandra de 4 rolos Fonte: FRANCO, 1977

Os tubos calandrados podem ser fabricados com dimensões não

padronizadas, com tolerâncias que atendem às diversas normas de fabricação e

soldagem.

30

2.2 Curvamento de perfis metálicos tubulares

A escolha do processo de curvamento depende de uma série de fatores

como raio da curva, espessura da parede e diâmetro do tubo, comprimento do tubo,

variações dimensionais permitidas, dentre outros. O curvamento pode ser realizado

pelos processos de conformação a frio ou a quente como descreve

DUTTA. et. al. (1998), havendo diferentes procedimentos que podem ser aplicados

para estes fins. Dentre os vários processos disponíveis o curvamento dos tubos

pode ser feito pelo processo de calandragem dos perfis (conformação a frio), ou

através do processo de indução de alta freqüência (conformação a quente).

2.2.1 Curvamento de tubos a frio

O processo de curvamento a frio possui custo menor que o curvamento a

quente, sendo normalmente utilizado. Pode ser utilizado para conformar uma gama

enorme de diâmetros e espessuras, mas possui limitações como deformações nos

tubos e raio de curvatura (COLLIE, 2008).

O curvamento por prensagem consiste em apoiar o tubo entre dois rolos

fixos e prensar o centro do tubo, como apresentado na Figura 12. É um processo

que pode ser realizado mantendo a parte central fixa e movendo as extremidades

conforme descrevem DUTTA et. al. (1998). Este processo é utilizado para

curvamento de arcos de 180° com um grande faixa de dimensões, entretanto a

prensagem localizada promove pouca precisão e aparência ruim em comparação

com outros processos mecânicos.

31

Figura 12: Desenho esquemático de curvamento de tubos por prensagem Fonte: Adaptado de DUTTA. et. al. (1999)

Outro processo descrito por DUTTA. et. al. (1998), é o curvamento por

calandragem, que pode ser obtido com a passagem da peça de trabalho (tubo)

através de rolos. O processo mais utilizado é a calandra com 3 rolos, que tracionam

o tubo. O rolo central é responsável pela determinação do raio, como pode ser visto

na Figura 13.

Figura 13: Desenho esquemático de curvamento de tubos a frio com 3 rolos Fonte: DUTTA. et. al., (1998)

A calandra com 4 rolos também pode ser utilizada, sendo que somente

dois rolos são de tração e os outros dois são movidos, um deles, o indicado como

“D” se movimento que determina o raio de curvamento do tubo conforme Figura 14.

32

Figura 14: Desenho esquemático de curvamento de tubos a frio com 4 rolos. Fonte: DUTTA. et. al., (1998)

Para curvamentos onde se faz necessário grandes raios, curvas

aproximadas podem ser obtidas unindo-se partes de tubos cortados em ângulos

apropriados, conforme DUTTA et. al. (1998).

O processo de curvamento por cortes em V permite a execução de curvas

aproximadas por emenda de seguimentos retos cortados com as extremidades em V

e emendados. A Figura 15 mostra esquematicamente o curvamento com cortes em

V. Seguindo a seqüência, a Figura 15 a), mostra o curvo reto, em b) pode-se

visualizar o tubo com os cortes em V. Em c) vê-se a emenda de uma das

extremidades gerando um semicírculo aproximado e em d) pode ser vista a emenda

das duas extremidades formando uma curva aproximada.

Figura 15: Curvamento de tubos por cortes em V a) Tubo reto b) Corte em V c) Emenda da região cortada d) Tubo curvado Fonte: O Autor, 2010

33

A Figura 16 mostra um arco, que compõe a estrutura de uma passarela,

fabricado com tubos curvados pelo processo de curvamento por cortes em V.

Figura 16: Arco de grande diâmetro fabricado pelo processo de curvamento por cortes em V. Fonte: Revista Arquitetura e Aço, 2010.

Este processo é utilizado para tubos com grandes diâmetros e grande raio

de curvatura onde outros processos não podem ser utilizados.

2.2.2 Curvamento de tubos a quente

Existem alguns processos comumente utilizados para o curvamento a

quente de tubos.

COLLIE et. al. (2008) e DUTTA et. al. (1998) citam o processo de

curvamento por forjamento a quente, utilizado para a fabricação de curvas de raios

pequenos para tubos de médio e grande diâmetro.

34

O curvamento por indução eletromagnética é citado por diversos autores

(BATISTA (2005), MEIRELES (2009) DUTTA et. al. (1998) e COLLIE et. al. (2008))

como o processo que permite o maior faixa de raios e diâmetros.

O processo de curvamento por indução eletromagnética será abordado

em detalhes por ter sido utilizado no processo de curvamento dos tubos deste

trabalho.

2.2.2.1 Curvamento por indução eletromagnética

BATISTA (2005) descreve que, no processo de curvamento a quente por

indução eletromagnética, uma das extremidades do tubo é empurrada por um

impulsor e a outra é fixada por um braço giratório que guia o tubo até a completa

conformação da curva, como pode ser visualizado na Figura 17.

Figura 17: Esquema do curvamento por indução eletromagnética Fonte: ISHIKAWA et. al. (2002)

De acordo com BATISTA (2005), MEIRELES (2009) e DUTTA (1998) é

através do ajuste do braço giratório que se determina o raio a ser obtido forçando o

tubo a mudar de direção continuamente durante a movimentação do impulsor. Logo

após o impulsor, o tubo passa pela bobina de indução eletromagnética que cria um

campo magnético altamente concentrado que induz um potencial elétrico no tubo

criando um fluxo de corrente.

35

A Figura 18 mostra uma visão Geral do equipamento para curvamento

por indução eletromagnética em operação.

Figura 18: Processo de curvamento – Vista Geral Fonte: Protubo, (2010)

Na Figura 19 pode-se visualizar a garra, (a) que é parte do equipamento e

que determina o raio de curvamento, a bobina responsável pelo aquecimento (b), o

anel aquecido no tubo (d) e o local onde ocorre o resfriamento com água (c) logo

após o aquecimento.

Figura 19: Curvamento por indução – a) garra do equipamento b) bobina de aquecimento c) resfriamento com água após o aquecimento d) anel aquecido no tubo Fonte: Protubo, (2010)

36

A resistência do tubo a este fluxo provoca um aquecimento rápido e

localizado. Imediatamente após passar pela bobina, o tubo é resfriado com jato de

água.

O curvamento por indução eletromagnética pode ser utilizado para

diversos fins, incluindo a fabricação de estruturas metálicas. A Figura 20 mostra uma

estação de metrô fabricada com tubos curvados por este processo.

Figura 20: Estação Cidade Nova no Rio de Janeiro onde foram utilizados tubos curvados por indução eletromagnética Fonte: Arquitetura e Aço, 2010

O processo de curvamento por indução eletromagnética é influenciado

pelo controle de algumas variáveis que serão detalhadas a seguir.

2.2.2.1.1 Variáveis do processo de curvamento por indução eletromagnética

MEIRELES (2009) apresenta as seguintes variáveis que podem

influenciar as propriedades do tubo curvado: diâmetro, espessura, raio, velocidade

37

de curvamento, temperatura de curvamento, velocidade de resfriamento e

composição química.

A espessura da parede do tubo, o diâmetro e o raio da curva dependem

do projeto da curva em questão. MEIRELES (2009) destaca ainda que as condições

de curvamento podem ser influenciadas pela dimensão do tubo reto, pelo raio de

curvamento e pela composição química do aço.

2.2.2.1.1.1 Espessura da parede

A obtenção de uniformidade de propriedades em processo de curvamento

a quente por indução é uma tarefa bastante complexa e requer tanto um elevado

grau de conhecimento metalúrgico quanto uma seleção adequada da composição

química e do metal da solda. Porém, mesmo quando estas condições são

favoráveis, o controle de processo pode ser difícil. As curvas fabricadas a partir de

um tubo com um aço específico podem não resultar em propriedades iguais aos do

tubo original. Entretanto, as curvas podem exibir propriedades compatíveis com as

exigências das condições de serviço (BATISTA, 2005).

Durante o processo de curvamento, o tubo é aquecido localmente em

uma faixa de cerca de 100 mm dependendo da largura da bobina utilizada, como

descrito por MEIRELES (2009). HU et. al. (1999) apresentam a distribuição

esquemática de temperatura causada pelo aquecimento dinâmico de indução, com o

tubo sendo empurrado na direção Z a uma velocidade de 1 a 2 mm/s durante o

processo de curvamento, conforme a Figura 21.

Figura 21: Distribuição esquemática de temperatura ao longo da espessura da parede do tubo. Fonte: HU et. al., 1999

38

Durante o processo o material sofre grande deformação plástica, sendo

que o extradorso (região tracionada da curva) sofre redução de espessura, enquanto

o intradorso (região comprimida) sofre aumento de espessura, como destaca

MUTHMANN et. al. (2006), e pode ser observado com os gráficos das Figuras 22 e

23. HU et. al., (1999) também destaca que o tubo poderá apresentar ovalização

após o processo de curvamento.

Figura 22: Redução da espessura no extradorso da curva com a variação da relação RM / D (raio médio/diâmetro). Fonte: MUTHMANN E. et. al. (2006)

Figura 23: Aumento da espessura no intradorso da curva com a variação da relação RM / D (raio médio/diâmetro). Fonte: MUTHMANN E. et. al. (2006)

39

A Figura 24 mostra a distribuição de deformação de tração e compressão

em uma curva de raio equivalente a 5 vezes o diâmetro (48" x 24 mm - Aço API

Grau X65) durante o curvamento. Observa-se que região do intradorso sofreu

compressão e a região do extradorso tração, o que confirma o aumento e redução

de espessura.

A região mais clara refere-se mostra a tração e a região mais escura a

compressão.

Figura 24: Distribuição de deformação de tração e compressão em uma curva de raio de 5 vezes o diâmetro (48" x 24 mm - Aço API Grau X65) Fonte: MUTHMANN E. et. al., (2006)

2.2.2.1.1.2 Temperatura de curvamento

Segundo MEIRELES (2009) a temperatura de curvamento deve ser

suficientemente alta para elevar a plasticidade do aço e garantir qualidade

dimensional da peça (reduzindo a ovalização da região curvada). Porém, isso pode

promover o crescimento do grão austenítico.

Nos aços em que o percentual de carbono excede os 0,02% em peso, o

carbono é redistribuído entre a austenita e a ferrita durante a formação da ferrita. O

teor de 0,02% em peso é a máxima solubilidade de carbono no Fe, e, portanto, a

austenita na interface Fe /Fe é enriquecida em carbono. Este processo tem um

efeito distinto na cinética de transformação. Devido à difusão no volume da

40

austenita, o carbono contido próximo à interface diminui, o qual gera força motriz

para mais transformação, como descreve QIU et. al. (1999).

As temperaturas de transformação variam conforme o percentual de

carbono e, quando ultrapassadas, todo o material terá se convertido em austenita.

Com o tempo e/ou o aumento da temperatura, os grãos de austenita crescem devido

aos grãos vizinhos menos estáveis. A velocidade de transformação é diretamente

proporcional ao aumento de temperatura (COLPAERT, 1983).

HASHIMOTO et. al. (1986) destaca que quando a temperatura de

curvamento e a taxa de resfriamento são altas, a resistência do tubo curvado tende

a ser alta devido à transformação austenítica seguida de resfriamento rápido,

garantindo uma microestrutura refinada e acicular.

Segundo MEIRELES (2009), as principais características do processo de

curvamento por indução são as altas taxas de aquecimento e o curto tempo na

temperatura de curvamento.

A relação da temperatura de transformação ferrita-austenita no

aquecimento (A3) com a taxa de aquecimento empregada é mostrada no trabalho de

HASHIMOTO et. al. (1986). Nesta relação os autores mostraram que a temperatura

A3 aumentou consideravelmente com as taxas superiores a 20°C/s, entretanto não

houve grandes mudanças observadas no aquecimento correspondente à taxa da

indução a alta freqüência (taxas entre 10 a 20°C/s). Também foi encontrada uma

microestrutura fina no tubo curvado.

Figura 25: Efeito da taxa de aquecimento na temperatura de transformação (A3) – H.F = faixa de temperatura que compreende ao aquecimento por indução. Fonte: HASHIMOTO et. al. (1986).

41

HASHIMOTO et. al. (1986) mostraram também que diferentes taxas de

aquecimento do processo de curvamento não afetam significativamente o tamanho

de grão austenítico para temperaturas de curvamento inferiores a 1000°C para um

aço da norma API X70 (Figura 26).

Figura 26: Efeito da taxa e da temperatura de curvamento no tamanho de grão austenítico. Fonte: HASHIMOTO et. al. (1986).

Conforme VERHOEVEN (2007) o crescimento de grão da austenita é

muito sensível à temperatura de austenitização, e por isto é importante não

austenitizar a uma temperatura muito mais alta que a necessária para homogeneizar

a austenita. A Figura 27 mostra o tamanho do grão da austenita de um aço

SAE 1060 mantido por 6 minutos e 2 horas com o crescente aumento de

temperatura de austenitização. Pode se observar que se mantendo por 6 minutos a

uma temperatura crescente de 760°C para 930°C, triplica-se o tamanho do grão de

33 para 94 mm. O crescimento de grão é muito mais sensível à temperatura do que

ao tempo. Por exemplo, mantendo a temperatura a 930°C de 6 para 120 minutos,

(um fator de 20 vezes), o tamanho de grão aumenta de 94 para 174 mm um fator de

apenas 1,85 vezes.

42

Figura 27: Diâmetro médio do grão (alternativamente, número de grão ASTM) em função da temperatura de austenitização para o aço 1060 austenitizado por 6 minutos e 2 horas. Fonte: VERHOEVEN, 2007

Segundo KRAUSS et. al (1995), as microestruturas das chapas de aços

baixo carbono comerciais consistem tipicamente de estrutura formada de grãos de

ferrita equiaxiais. A cementita pode também estar presente em colônias de perlita

em aços laminados a quente, ou como partículas esferoidais dispersas em aços

laminados a frio.

2.2.2.1.1.3 Velocidade de resfriamento

MEIRELES (2009) destaca que a taxa de resfriamento é um dos

parâmetros mais importantes do processo, pois influencia fortemente na resistência

do aço. A microestrutura e as propriedades mecânicas de um tubo curvado por

indução eletromagnética mudam diferentemente em cada região curvada do tubo. O

intradorso, região interna da curva, onde ocorrem deformações de compressão,

sofre menor taxa de resfriamento por possuir espessura mais elevada. O contrário

ocorre no extradorso, região externa da curva (onde ocorrem deformações de

tração), sofre maior taxa de resfriamento por possuir espessura reduzida em relação

às demais regiões. E as linhas neutras, regiões da curva que não sofrem

43

deformações normais, sofrem taxas de resfriamento intermediárias entre intradorso e

extradorso.

Se um aço é resfriado rapidamente a partir da região de austenitização,

os tipos de fases, e suas quantidades relativas, ou sua composição não podem ser

mais estimados por diagramas de fases. Velocidades de resfriamento mais baixas

irão resultar misturas de perlita + ferrita para aços baixo carbono e perlita +

cementita para aços alto carbono, mas o volume de perlita irá depender da taxa de

resfriamento. Com o aumento das taxas de resfriamento, serão formadas também

bainita ou martensita. (VERHOEVEN, 2007).

A variação destas fases, seus percentuais e a dureza (uma boa estimativa

de resistência) pode ser vista na curva de transformação com resfriamento contínuo

(CCT) de um aço de alta resistência com composição química similar ao aço

ASTM A 572 Gr 50 (Figura 28). Pode-se observar que, com o aumento da taxa de

resfriamento, aumentam os percentuais de bainita e martensita, com conseqüente

redução de perlita e aumento de dureza.

Figura 28: Diagrama de transformação com resfriamento contínuo para aços de alta resistência Fonte: AMERICAN SOCIETY OF METALS, (1977)

44

2.3 Aplicação de tubos em estruturas metálicas

A utilização de perfis tubulares permite não só a construção de estruturas

metálicas convencionais como também a utilização como elemento de decoração. A

Figura 29 apresenta uma moderna estrutura de uma estação de metrô, fabricada em

arcos compostos com tubos curvados pelo processo de indução eletromagnética.

A estação de metrô Cidade Nova no Rio de Janeiro, por exemplo, utilizou

tubos curvados pelo processo de curvamento por indução eletromagnética. A Figura

29 mostra a estação ainda na fase de montagem.

Figura 29: Estação de metrô Cidade Nova – RJ - Fase de Montagem Fonte: Leris, 2010

De acordo com NUIĆ et. al. (2010) existem inúmeras vantagens na

utilização dos perfis tubulares como seção transversal favorável aos esforços, área

de pintura reduzida, maior vida útil na proteção anticorrosão, além de serem

utilizados para a passagem de tubulações elétricas, hidráulica em seu interior. Outro

45

aspecto abordado pela autora é que este tipo de estrutura pode ser bastante

explorada do ponto de vista estético.

A Figura 30 mostra a aplicação de estruturas tubulares no edifício do

aeroporto Santos Dumont no Rio de Janeiro.

Figura 30: Aeroporto Santos Dumont - RJ Fonte: Metálica, 2010

Estruturas tubulares podem ainda ser utilizadas para a fabricação de

componentes simples, porém com grande apelo estético como pode ser visto na

Figura 31, ou em estruturas mais complexas como a passarela da Figura 32.

Figura 31: Corrimãos curvados Fonte: Metálica, 2010.

46

Figura 32: Passarela estação cidade nova – RJ - Fase de Montagem. Fonte: Leris, 2010.

FREITAS et. al. (2009) destacam, porém, que em aplicações estruturais a

utilização de materiais inadequados pode causar oscilações na estabilidade da

estrutura da obra, exigindo reparos posteriores, podendo chegar até, na queda da

construção, causando risco às pessoas que circulam pelo local. Os autores citam

ainda que a preocupação com a parte arquitetônica e espacial faz com que, em

alguns casos, os elementos estruturais, fundamentais para o sucesso da obra,

fiquem em segundo plano.

47

3. MATERIAIS E PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS

3.1Materiais

Foram utilizadas amostras de tubos fabricados em aço estrutural

ASTM A 572 Gr 50, fabricado na CONFAB pelo processo U-O-E a partir de chapas

produzidas pela USIMINAS. Foram retiradas amostras de tubos curvados pelo

processo de indução eletromagnética pela PROTUBO e tubos não curvados.

Para garantir a aplicabilidade dos resultados, nos processos para a

fabricação de estruturas metálicas, optou-se por não executar curvas específicas

para este estudo, sendo utilizadas partes de curvas que utilizaram os mesmos

parâmetros. Foram retiradas 5 amostras de tubos curvos e 1 amostra de tubo reto.

Todos os corpos de prova (CPS) foram confeccionados no sentido do comprimento

dos tubos. As dimensões das amostras de onde foram retirados os corpos de prova

são mostradas nas Figuras 33 e 34.

Figura 33: Dimensão das amostras curvas Fonte: O Autor, 2010

48

Figura 34: Dimensão da amostra não curvada Fonte: O Autor, 2010

3.2 Procedimentos Experimentais

Para o curvamento foram utilizados os parâmetros apresentados na

Tabela 1, conforme informação recebida da PROTUBO.

Tabela 1: Parâmetros de curvamento

Fonte: Protubo, (2009)

Para a avaliação das propriedades mecânicas foram realizados seguintes

ensaios:

1. Ensaio de Charpy no sentido longitudinal nas 3 posições da curva

(Figura 38) e no tubo reto, sendo 5 CPs para cada posição, nas

temperaturas de 0°C e 20°C conforme a norma ASTM A 370 (2009);

49

Figura 35: Corpo de Prova de ensaio de Charpy Fonte: Adaptado de ASTM A370, 2009

2. Ensaio de tração longitudinal em 8 corpos de prova para cada posição

no tubo reto e no tubo curvado conforme ASTM A 370 (2009) em uma

máquina modelo Klato 50, da marca Klato.

Figura 36: Corpo de prova de Tração tubo curvo Fonte: Adaptado de ASTM A370 (2009)

Figura 37: Corpo de prova de Tração tubo reto Fonte: Adaptado de ASTM A370 (2009)

3. Ensaios de tração longitudinal na solda tanto para o tubo reto quanto

para o tubo curvado, seguindo os critérios contidos na norma

50

ASTM A 370 (2009) em uma máquina modelo Klato 50, da marca

Klato.

4. Ensaios de dureza HV 5Kgf conforme norma NBR NM6507-1 (2008);

5. Ensaio de dobramento longitudinal na solda conforme normas

ASTM A 370 (2009) em uma máquina modelo Klato 50, da marca

Klato.

Foram obtidas micrografias óticas, além de análises da fratura do ensaio

de Charpy à 20º C, em microscópio eletrônico de varredura (MEV) com ampliação

de 1000X.

Os corpos de prova (CPS) foram retirados por oxicorte, sendo as regiões

termicamente afetadas retiradas durante a fase de usinagem.

As peças curvadas tiveram o raio de curvatura de 7632 mm, tornando a

corda máxima de 1 mm não sendo necessário o desempeno dos CPS antes da

usinagem, tanto para o ensaio de Charpy quanto para o de tração.

3.3 Propriedades Mecânicas e Metalografia

As análises consistiram em caracterizações microestrutural e mecânica do

tubo reto na condição recebida e do tubo curvado. O tubo curvado foi caracterizado

mecanicamente em suas três principais regiões: intradorso, extradorso e linha neutra

oposta à solda (Figura 38). Foram realizados também ensaios de tração e

dobramento da região da solda longitudinalmente.

51

Figura 38: Regiões de retirada dos CPS: 1 Linha neutra oposta à solda; 2 Intradorso e 3 extradorso; Fonte: O Autor, 2010

Foram retiradas três micrografias ao longo da espessura do tubo

conforme a Figura 39.

Figura 39: Posição das imagens metalográficas Fonte: O Autor, 2010.

Para a realização das análises por microscopia ótica, as amostras foram

inicialmente lixadas em politriz de disco manual utilizando lixas de 100 a 1200 mesh,

posteriormente polidas com pasta de diamante de 4 e 1 µm em politriz de disco

manual e logo após atacadas com nital 4% para revelar a microestrutura

As micrografias foram obtidas por microscopia ótica, em um microscópio

ótico modelo Axio A1M da marca Zeiss, do Laboratório de Metalurgia Física do

Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da USIMINAS.

52

Os ensaios de dureza foram realizados ao longo da espessura em 25

pontos nas 3 posições de interesse (intradorso, extradorso e linha neutra) e em 16

posições para o tubo não curvado, conforme indicado na Figura 40, utilizando-se um

Durômetro FV ARS 9000 marca Future Tech corporation.

Figura 40: Posições de medição de dureza a) Tubo curvado b) Tubo reto. Fonte: O Autor, 2010 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Microestruturas

As imagens das microestruturas nas várias posições são apresentadas a

seguir, nas resoluções de 500X e 1000X (Figura 42 a Figura 47). As imagens foram

tiradas próximo à face externa (1), no centro da espessura (2) e próximo à face

interna (3) de acordo com o esquema apresentado na Figura 39. Também são

apresentadas as durezas na região de cada uma das imagens.

4.1.1 Tubo Reto

O tubo reto apresentou uma microestrutura com tamanhos de grãos

heterogêneos e parcialmente alongados devido ao trabalho a frio sendo composta

basicamente por fases ferrita + Perlita + bainita, como pode ser visto na Figura 41.

53

Figura 41: Microestrutura Tubo reto - Identificação das fases - BA: Bainita - FE: Ferrita - PE: Perlita Fonte: O Autor (2010);

Existe uma predominância de ferrita, seguida de perlita e bainita em todas

as posições, sendo as imagens bem similares em todas as posições (Figura 42).

54

Figura 42: Microestrutura Tubo reto - Resoluções de 500X e 1000X - 1) Próximo a face externa 2) No centro da espessura 3) Próximo à face interna; Fonte: O Autor (2010);

A ferrita é a solução sólida de carbono no ferro alfa e origina-se na zona

crítica, durante o resfriamento, por transformação alotrópica do ferro gama. É a

forma estável à temperatura ambiente. Pode manter em solução sólida pequenas

quantidades de impurezas (Si, P, Mn e etc.) e no máximo 0,025% de carbono a

723°C. É apresentada na cor branca com contornos pretos ao microscópio após

ataque químico. É pouco dura e resistente (COLPAERT, 1983).

Perlita é o constituinte micrográfico formado por finas lamelas justapostas

de ferrita e cementita e apresenta dureza intermediária entre a ferrita e cementita

(COLPAERT, 1983).

55

Segundo MEIRELES (2009) a bainita possui microestrutura de ripas

paralelas de ferrita com uma numerosa precipitação de cementita na forma de

grânulos ou bastonetes no interior ou entre as ripas.

O alinhamento microestrutural (bandeamento) presente nas micrografias

de todas as imagens do tubo reto se deve à segregação de elementos de liga,

principalmente Mn, que tem um teor significativo nesse aço em se comparando com

os demais aços estruturais (

Quadro 2). Isto está de acordo com COLPAERT (1983) que diz ser

comum encontrar os constituintes dispostos em linhas paralelas para aços

laminados. Essa segregação, normal em aços microligados com elementos como o

Mn, acontece no lingotamento e se mantém no produto.

A região reta do tubo apresentou dureza média de 184 HV (5Kg), sendo

quase uniforme ao longo da espessura.

4.2 Tubo Curvado

Os tubos curvados apresentaram uma microestrutura formada por ferrita,

bainita e martensita como mostrado na Figura 43.

Figura 43: Microestrutura típica do Tubo curvado - Identificação das fases - BA: Bainita - FE: Ferrita - BA: bainita - MA: Martensita Fonte: O Autor (2010)

56

A martensita é uma solução sólida supersaturada de carbono, que possui

grande dureza, resultante do resfriamento brusco da austenita. É formada de finas

estrias, difíceis de serem focadas ao microscópio (COLPAERT, 1983).

4.2.1 Tubo Curvado – Intradorso

O intradorso apresentou uma microestrutura similar às outras regiões do

tubo curvado, formada por ferrita, bainita e martensita. A região próxima à face

externa apresentou mais martensita e menos bainita, enquanto a região interna

menos martensita e mais bainita.

Figura 44: Microestrutura Intradorso - Resoluções de 500X e 1000X - 1) Próximo a face externa 2) No centro da espessura 3) Próximo à face interna; Fonte: O Autor, 2010

57

A microestrutura apresentada é refinada e observa-se um aumento de

martensita com conseqüente redução de bainita na região mais próxima da face

externa (Figura 44), o que é justificado pelo gradiente de resfriamento conforme

discutido por MEIRELES (2009) e apresentado por HU et. al. (1999) (Figura 21).

Observa-se também que o tamanho de grão aumenta de forma discreta da face

externa para a face interna do tubo, devido ao gradiente da temperatura de

resfriamento.

58

4.2.2 Tubo Curvado – Extradorso

O extradorso seguiu o mesmo perfil encontrado no intradorso com

variações microestruturais ao longo da espessura, além de uma microestrutura

formada por ferrita, bainita e martensita. Houve um aumento de martensita com

conseqüente redução de bainita na região mais próxima da face externa (Figura 45).

Figura 45: Microestrutura Extradorso - Resoluções de 500X e 1000X - 1) Próximo a face externa 2) No centro da espessura 3) Próximo à face interna; Fonte: O Autor, 2010

MEIRELES (2009) encontrou valores significativamente menores para

dureza na região do extradorso em comparação com o intradorso, devido à redução

da espessura. Porém no caso dos tubos em estudo no presente trabalho as

59

reduções de dureza não foram tão significativas devido à pequena variação de

espessura em virtude do grande raio de curvamento.

4.2.3 Tubo Curvado - Linha Neutra

A linha neutra apresentou microestruturas semelhantes às encontradas

no extradorso e intradorso, com a mesma variação ao longo da espessura (Figura

46).

Figura 46: Microestrutura Linha Neutra - Resoluções de 500X e 1000X - 1) Próximo a face externa 2) No centro da espessura 3) Próximo à face interna; Fonte: O Autor, 2010

A linha neutra apresentou valores maiores de dureza em comparação ao

intradorso e extradorso o que é compatível com as imagens obtidas e que também

60

foi observado por MEIRELES (2009). Tanto as imagens quanto os valores de dureza

podem ser justificados pelo maior volume de água presente na linha neutra em

relação a outras regiões de curvamento (Figura 19)

4.2.4 Comparação entre as microestruturas e as propriedades

Na Figura 47 tem-se o comparativo entre as microestruturas para o tubo reto

e para cada uma das partes do tubo curvo. Não houve variação significativa da

microestrutura do tubo reto ao longo da espessura. É possível notar uma grande

diferença entre a microestrutura apresentada para o tubo reto em comparação às

microestruturas do tubo curvo devido ao gradiente térmico do curvamento por

indução eletromagnética e a rápida austenitização seguida do resfriamento

acentuado.

61

Figura 47: Microestrutura comparativo - Resoluções de 500X e 1000X - 1) À 2mm da Face externa 2) No centro da espessura 3) À 2mm da face interna; Fonte: O Autor, 2010

Observa-se nas micrografias da Figura 47 uma microestrutura mais

refinada e um aumento de dureza. STEIN et. al. (2005) mostram que a rápida

austenitização seguida de resfriamento rápido, como o ocorrido no curvamento por

indução, propicia uma microestrutura mais refinada com conseqüente aumento de

dureza no aço estudado por eles.

O tamanho de grãos em um metal influencia nas suas propriedades

mecânicas, sendo que um material de granulação fina é mais duro e mais resistente

do que o mesmo material com uma granulação grosseira. Isso porque o primeiro

possui uma maior área total de contornos de grãos para dificultar o movimento das

62

discordâncias. A redução no tamanho do grão não melhora apenas a resistência,

mas também a tenacidade de muitas ligas. As propriedades mecânicas à

temperatura ambiente de um metal com granulação fina em geral são superiores

(apresentam maior resistência e tenacidade) àquelas exibidas pelos metais com

grãos mais grosseiros (ROBERT, 1982).

Apesar de haver uma pequena variação microestrutural ao longo da

espessura para cada uma das partes (intradorso, extradorso e linha neutra) dos

tubos curvados, as imagens são similares entre cada uma das posições (externa,

centro e interna) comparando-as entre si.

No Intradorso os valores de dureza foram intermediários ao extradorso e

linha neutra, sendo maiores na face externa, 392 HV5, 219 HV5 no centro e

202 HV5 na face interna. Esta variação é esperada devido ao efeito do gradiente de

temperatura durante o processo de curvamento e foi observado também no

extradorso e na linha neutra. No extradorso os valores obtidos foram 348HV5 na

região 1, 216 HV5 na região 2 e 212 HV5 na região 3. A linha neutra apresentou as

durezas 409 HV5, 221 HV5 e 216 HV5 para as regiões 1, 2 e 3 respectivamente. Os

valores de dureza foram maiores do que nas outras regiões, o que foi observado em

outros trabalhos como o elaborado por MEIRELES (2009).

O aumento de LR foi visível em todos os tubos curvados e estão

compatíveis com as microestruturas obtidas, as durezas e os ensaios de Charpy.

4.3 Ensaio de Dureza

A Figura 48 apresenta os resultados do ensaio de dureza. Os resultados

mostram que houve um aumento na dureza ao longo da espessura em todas as

posições do tubo. Comparando o tubo curvado com o tubo não curvado, o fato

também pode ser explicado pela mudança microestrutural do material.

O diagrama da Figura 28 mostra que a composição da microestrutura em

seus percentuais de ferrita, perlia, bainita e martensita é alterada em função da

velocidade de resfriamento do material. Observa-se que o aumento de dureza é

proporcional à mudança microestrutural.

MEIRELES (2009) observa que a mudança microestrutural ocorre devido à

variação da velocidade de resfriamento ao longo da espessura uma vez que os jato

63

de água são aplicados do lado externo do tubo, o que confirma as maiores durezas

próximo à superfície externa para todas as 3 posições.

Figura 48: Resultados dos ensaios de dureza ao longo da espessura para o extradorso, intradorso, linha neutra e tubo reto. Fonte: O Autor, 2010

Comparando as regiões analisadas, observa-se que a face externa da parede

do tubo apresentou maior dureza em relação à face interna. O valor da dureza

reduziu gradativamente ao longo da espessura, resultado compatível com o

gradiente de taxa de resfriamento seguindo o resfriamento brusco na superfície

externa, como apresentado por HU et. al. (1999) e MEIRELES (2009).

A linha neutra apresentou maior dureza seguida pelo intradorso e extradorso

e tubo reto. Estes resultados eram esperados uma vez que o aquecimento foi acima

da temperatura de austenitização seguido de resfriamento rápido. O aumento de

dureza é compatível com a taxa de resfriamento utilizada como parâmetro de

curvamento do tubo e consequentemente com a microestrutura obtida, tendo como

base a curva CCT da Figura 28.

64

4.4 Ensaio de Tração

O ensaio de tração apresentou resultados superiores aos valores minimos

exigidos pela norma do aço ASTM A 572 Gr 50 (2007) podem ser vistos Tabela 2

para o LE e para o LR.

Tabela 2: Resultados obtidos no ensaio de tração e valores das normas

Fonte: O Autor, 2010

Com base no gráfico da Figura 49, pode-se observar um aumento significativo

no LR dos tubos curvados, porém não houve o mesmo aumento para o LE. GORNI

et. al. (2002) sugerem que esse aumento no LR pode ser explicado pelo aumento

da fração volumétrica de perlita que eleva o limite de resistência do material sem

afetar seu limite de escoamento.

O intradorso apresentou maior LR seguida pela linha neutra e extradorso e

tubo reto, seguindo o perfil diferente dos resultados do ensaio de dureza.

65

Figura 49: Resultado dos ensaios de tração Fonte: O Autor, 2010

ISHIKAWA et. al. (2002) destacam que a resistência do solda de emenda do

tubo é também importante para a integridade dos tubos curvados. A avaliação das

emendas soldadas permite a verificação da continuidade das propriedades

mecânicas em todo o corpo do tubo.

Os resultados do ensaio de tração longitudinal da solda para o tubo reto

apresentou resultado acima do LR mínimo (450 MPa) exigido pela norma para o LR

como pode ser visto na Figura 50.

66

Figura 50: Resultado dos ensaios de tração longitudinal das soldas Fonte: O Autor, 2010

Para a relação de LR/LE os valores apresentados (Figura 51) foram todos

acima do valor mínimo especificado pela norma, inclusive para o tubo reto.

Observou-se um aumento considerável desta relação para os tubos curvados. Este

aumento apresentado pode ser considerado como consequência do aumento do

limite de ruptutura conforme destacado por ISHIKAWA et. al. (2002).

Figura 51 - Relação LR/LE Fonte: O Autor, 2010

67

Os resultados do alongamento (AL), que é determinado como 18% mínimo

pela norma NBR 8008 (2008), estão apresentados na Figura 52. Os valores foram

todos acima do mínimo requerido.

Observa-se que as posições do tubo curvado apresentaram valores menores

do que do tubo reto. Esta diminuição já era esperada, refletindo o comportamento

mecânico do material, ou seja, aumento do LR, diminuição do AL como destaca

JUNIOR (2007).

Figura 52: Alongamento no ensaio de tração Fonte: O Autor, 2010

4.5 Ensaio de Charpy

A norma ASTM A 572 Gr 50 (2007) não especifica um valor de referência

para o Charpy, este deve ser especificado pelo comprador. No trabalho em questão

foram escolhidos os valores de 0ºC e 20ºC por estarem mais próximos das

temperaturas de trabalho da estrutura em que os tubos foram utilizados.

Com base nos resultados obtidos pelo ensaio de Charpy (Figura 53),

observou-se um aumento significativo na absorção de energia para o tubo após o

curvamento nas 3 posições (intradorso, extradorso e linha neutra) o que é

68

compatível com a microestrutura obtida após o curvamento, como será mostrado à

frente.

Figura 53 - Resultado dos ensaios de Charpy, Tubo reto, Linha Neutra, Extradorso e Intradorso. Fonte: O Autor

O aumento da energia absorvida no ensaio de Charpy observado sugere

que ocorreu a formação uma microestrutura com grãos de tamanhos heterogêneos

para uma microestrutura refinada proveniente da velocidade de resfriamento como

também observado por MEIRELES (2009).

Um menor tamanho de grão austenítico proporciona a formação de uma

microestrutura mais fina após o resfriamento e conseqüentemente, uma melhor

tenacidade como observado por BATISTA (2005).

Outro fator a ser considerado para o pequeno valor de energia absorvida

no ensaio de Charpy do tubo não curvado é introdução de encruamento devido ao

trabalho a frio na conformação da chapa para a fabricação do tubo pelo processo U-

O-E. BOTT et. al (2003) mostram a menor energia absorvida no ensaio de impacto

devido ao referido processo de fabricação de tubos, antes do curvamento.

69

4.6 Imagens das fraturas do ensaio de Charpy

Metais que possuem estrutura cúbica de corpo centrado, como aços

ferríticos, possuem transição dúctil-frágil. Esta transição pode ocorrer devido ao

aumento de tensão do material, composição química, variação de temperatura tanto

em trabalho quanto em tratamento térmico (Becker et. al., 1999).

A Figura 54 mostra a fratura de um dos CPs de ensaio de Charpy do tubo

não curvado. Observa-se que há uma predominância de fraturas frágeis com facetas

de clivagem e algumas microcavidades esféricas (dimples) que indicam alguns

pontos de fratura dúctil, conforme Becker et. al. (1999).

Figura 54: Imagem da fratura do ensaio de Charpy - MEV 1000X - Tubo reto Fonte: Usiminas, 2010

A Figura 55 mostra a imagem da fratura do intradorso. Observa-se que há

uma predominância de facetas de clivagem, com algumas microcavidades, porém

em menor quantidade que o apresentado para a fratura do tubo reto, sugerindo que

a fratura também tem aspecto predominantemente frágil.

70

Figura 55: Imagem da fratura do ensaio de Charpy - MEV 1000X - Tubo Curvado – Intradorso Fonte: USIMINAS, 2010

As Figuras 56 e 57 seguem o mesmo padrão da Figura 55. É importante

observar que há uma compatibilidade entre os resultados de dureza obtidos, os

resultados dos ensaios de Charpy, resultados dos ensaios de tração e as imagens

de fratura apresentadas, reforçando a relação entre aspectos microestruturais e as

propriedades estudadas.

71

Figura 56: Imagem da fratura do ensaio de Charpy - MEV 1000X - Tubo Curvado – Extradorso Fonte: USIMINAS (2010)

Figura 57: Imagem da fratura do ensaio de Charpy - MEV 1000X - Tubo Curvado – Linha Neutra Fonte: USIMINAS, 2010

72

4.7 Ensaio de dobramento longitudinal na solda

O dobramento longitudinal, que neste caso é um ensaio qualitativo, foi

realizado na solda e aprovado tanto para o tubo reto quanto para o tubo curvo, uma

vez que os corpos de prova não apresentaram nenhuma fissura ou trinca após o

dobramento. Os corpos de prova foram polidos e atacados com nital 4% para se

revelar a região da solda, estas imagens dos corpos de prova dobrados podem ser

vistos nas Figuras 58 e 59.

Figura 58: Corpo de prova de dobramento - Região da solda - Tubo curvado Fonte: O Autor (2010)

Figura 59: Corpo de prova de dobramento - Região da solda – Tubo reto Fonte: O Autor (2010)

73

A partir do relatório dimensional fornecido pela empresa PROTUBO foram

computados os dados que constam na Figura 60. A variação de espessura refere-se

somente ao extradorso, que sofre redução de espessura. A ovalização foi medida no

diâmetro externo do tubo.

Figura 60: Variação dimensional como medido após o curvamento Fonte: O Autor, 2010

Os valores apresentados dentro dos parâmetros estabelecidos pela

norma ASTM A 0006 (2009) utilizados como referência para espessura de chapa

que está em torno de 5%. Os resultados apresentados mostram valores máximos

próximos de 1,8% bem abaixo dos 5% da norma. O que demonstra que a redução

da espessura foi pequena e dentro de parâmetros da norma. Esta redução pequena

da espessura pode estar ligada ao raio de curvatura que foi muito grande (7632 mm)

gerando uma relação de 16,7 RM/D.

74

5.CONCLUSÃO

Observou-se uma mudança na microestrutura do material, de forma

heterogênea da face externa para a face interna, devido às diferentes taxas de

resfriamento que ocorreram nessas regiões. Quanto ao limite de escoamento não

houve aumento significativo para todas as partes do tubo curvado diferente do limite

de resistência que sofreu aumento para todas as partes do tubo curvado,

corroborando para o aumento da relação LR/LE dentro dos limites estabelecidos

pela norma. A energia de impacto mostrou-se comparativamente maior em todas as

posições do tubo curvado em relação ao tubo reto foi possível observar um aumento

da dureza superficial do tubo curvado.

Em conseqüência dos diferentes gradientes de temperatura houve, nos

tubos curvados, uma heterogeneidade microestrutural entre as posições (linha

neutra, intradorso e extradorso) e também ao longo da espessura, também devido

aos diferentes gradientes de temperatura durante o resfriamento.

Para o aço estudado o processo de curvamento por indução

eletromagnética não comprometeu as propriedades mecânicas, havendo inclusive

melhorias significativas nestas propriedades, sendo assim considera-se favorável a

sua aplicação desse método em estruturas metálicas apesar de apresentar

heterogeneidades ao longo da espessura da parede do tubo curvado.

75

6.SUGESTÃO PARA TRABALHOS FUTUROS

Uma vez que existe uma gama de aços estruturais, sugere-se a avaliação

e estudo de aços estruturais diferentes do que dói utilizado nesse trabalho, como o

ASTM A 588 Gr C. Além disto, avaliar e comparar as variações nas propriedades

mecânicas e microestruturais da região da solda dos tubos após o curvamento.

76

7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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