centro de referência ambiental participativo
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Salvador 2007
ALINE OLIVEIRA DA CRUZ
CENTRO DE REFERÊNCIA AMBIENTAL PARTICIPATIVO: UMA OPORTUNIDADE PARA SALVADOR/BA
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ALINE OLIVEIRA DA CRUZ
CENTRO DE REFERÊNCIA AMBIENTAL PARTICIPATIVO: UMA OPORTUNIDADE PARA SALVADOR/BA
Monografia apresentada ao Curso de Pós-graduação em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo, Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção de grau de Especialista. Orientadora: Profª. Drª. Maria Valéria Gaspar de Queiroz Ferreria
Salvador 2007
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AGRADECIMENTOS
Neste pequeno pedaço de papel, gostaria de poder expressar a minha gratidão aos mestres que passaram pela minha vida, pelo auxílio a todo conhecimento que guardo comigo, aos meus pais, pela base de tudo que sou hoje e ao meu amor, pela força dedicada durante a minha fraqueza e, principalmente a minha orientadora querida pela presteza e compreensão perante a este trabalho.
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Não tenho medo de utopias. Elas nos ajudam a
avançar nossos caminhos. Uma Terra respeitada e saudável também é utopia. Mas, há muito de concreto e real que você e eu podemos fazer.
Ávila Coimbra
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RESUMO
É importante lembrar que o desequilíbrio ecológico tem base na crise econômica e social. O município de Salvador, de enorme beleza paisagística e de tanta diversidade cultural, florística e faunística encontra-se em reais condições de maus tratos. Seu processo histórico gerou desigualdades sociais e problemas educacionais, refletidos em problemas ambientais, seja por ignorância ou descaso. Este trabalho tem como objetivo expor a riqueza natural local, apresentar sua população e o seu estado de degradação atual e, propor um modelo de Centro de Referência Ambiental que, através da valorização do mundo natural e da cidadania, dissemine a educação ambiental, incentivando boas práticas ecológicas, construindo valores e atitudes responsáveis em relação ao meio ambiente. Apenas uma reforma na educação básica aliada à educação ambiental trará benefícios e agilizará na renovação do município de Salvador, portanto, vale a pena começar a ajudar a população a entender o processo predatório que ocorre na cidade, a se sensibilizar e lutar pelo ambiente ecologicamente equilibrado e sadio. Assim, sugiro que este projeto piloto seja posto em prática em futuros trabalhos de Educação Ambiental o mais breve possível, e que seja aperfeiçoado e difundo pela Cidade. Palavras-chave: centro de referência ambiental, educação ambiental, prevenção da poluição
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - As quatro dimensões dos CEAs.......................................................................... 23
Figura 2 – Limites Administrativos de Salvador................................................................. 28
Figura 3 - Área de Domínio de Mata Atlântica Original em parte da RMS........................ 31
Figura 4 - Área de Domínio de Mata Atlântica e Situação Atual em parte da RMS........... 31
Figura 5 - Zoneamento da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica em parte da RMS........ 33
Figura 6 - Rio Camurugipe sem mata ciliar e com drenagem artificial............................... 36
Figura 7 - Chafariz do Terreiro de Jesus.............................................................................. 37
Figura 8 - Fonte do Queimado............................................................................................. 37
Figura 9 - Falta sombra nos bairros.................................................................................... 38
Figura 10 - O que fazer com os resíduos............................................................................. 46
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT
ACV
CEA
CI
COELBA
CONAMA
CONDER
CRA
EA
EMBASA
EMTURSA
IBGE
LIMPURB
MEC
MMA
OMS
OPAS
PMS
PROCEL
PROINFA
REDE CEAs
RBMA
RMA
RMS
SEE
SEPLAM
SISNAMA
TECLIM
UNEP
UNIDO
UNESCO
Associação Brasileira de Normas e Técnicas
Análise do Ciclo de Vida
Centro de Educação Ambiental
Conservation International
Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia
Conselho Nacional de Meio Ambiente
Companhia de Desenvolvimento Urbano da Bahia
Centro de Recursos Ambientais
Educação Ambiental
Empresa Baiana de Águas e Saneamento
Empresa de Turismo S/A
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Empresa de Limpeza Urbana
Ministério da Educação
Ministério do Meio Ambiente
Organização Mundial da Saúde
Organização Pan-Americana da Saúde
Prefeitura Municipal de Salvador
Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica
Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia
Rede Brasileira de Centros de Educação Ambiental
Reserva da Biosfera da Mata Atlântica
Rede de Ong’s da Mata Atlântica
Região Metropolitana de Salvador
Síndrome do Edifício Enfermo
Secretaria Municipal do Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente
Sistema Nacional de Meio Ambiente
Rede de Tecnologias Limpas
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 09
1.1. JUSTIFICATIVA........................................................................................................ 11
1.2. OBJETIVOS............................................................................................................... 13
1.2.1. Objetivos Específicos............................................................................................ 13
1.3. METODOLOGIA....................................................................................................... 14
1.4. ESTRUTURA DA MONOGRAFIA.......................................................................... 14
2. PORQUE UM CENTRO DE REFERÊNCIA AMBIENTAL?....... ....................... 16
2.1. CULTURA AMBIENTAL BRASILEIRA................................................................. 16
2.2. EDUCAÇÃO AMBIENTAL...................................................................................... 19
2.3. CENTRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL.............................................................. 22
3. A IMPORTÂNCIA DE UM CENTRO DE REFERÊNCIA PARA
SALVADOR....................................................................................................................
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3.1. SALVADOR: MEIO FÍSICO E POPULAÇÃO......................................................... 28
3.2. SALVADOR: MEIO BIÓTICO E ANTRÓPICO..................................................... 30
4. PROPOSTA DO CENTRO DE REFERÊNCIA AMBIENTAL PARA
SALVADOR...................................................................................................................
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4.1. ESPAÇO FÍSICO, EQUIPAMENTOS E ENTORNO.............................................. 39
4.2. EQUIPE EDUCATIVA............................................................................................. 42
4.3. PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO.................................................................... 43
4.3.1. Princípios do CEA................................................................................................. 43
4.3.2. Missão..................................................................................................................... 44
4.3.3. Objetivos do CEA.................................................................................................. 44
4.3.4. Procedimentos metodológicos e temas a serem abordados............................... 45
4.3.5. Descrição das atividades a serem realizadas...................................................... 47
4.3.6. Delimitação do público......................................................................................... 50
4.3.7. Formas de avaliação da equipe e do próprio CEA............................................ 50
4.4. ESTRATÉGIAS DE SUSTENTABILIDADE.......................................................... 51
5. CONCLUSÃO............................................................................................................. 54
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1. INTRODUÇÃO
Desde 1950, a capital do estado da Bahia vem sofrendo devido ao fenômeno
migratório (BELÉM, 2005), à mecanização agrária, à consolidação do capitalismo e à procura
dos centros urbanos (WESTPHAL, 2000; PAIVA, 2004). Apesar da busca por melhores
condições de vida, o rápido crescimento demográfico ocorreu sem planejamento e infra-
estrutura. A irregularidade da ocupação e a concentração populacional em áreas impróprias,
como a Baía de Itapagipe e a periferia da cidade (PMS, 2006) desequilibrou a situação local,
dando início à deterioração tanto pela parte carente da sociedade, quanto pela parte que
desfrutava o crescimento econômico.
O processo de expansão urbana fora de controle tem causado diversos problemas à
cidade de Salvador. Não raro, no limite urbano, são verificados deslizamentos, inundações,
alagamentos e poluição das águas, causados pelo depósito de resíduos, desmatamento, erosão,
retirada de materiais naturais e pelo desvio, assoreamento e obstrução de mananciais. O
conjunto destes problemas compromete a biodiversidade, ameaçando tanto os ecossistemas
locais (domínio de Mata Atlântica, restingas e manguezais), quanto à saúde da população
(SILVA e SILVA, 2004).
Hoje, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2004), 85%
dos habitantes de Salvador são afrodescendentes, cuja maioria arca com uma realidade
precária sócio-economicamente por não conseguir obter condições financeiras adequadas, fato
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decorrente de serem descendentes de escravos, sofrendo, historicamente, discriminações e
exclusão social e, principalmente, por não terem acesso a uma educação básica de qualidade.
O que não exclui os tantos outros pardos, brancos e amarelos de mesma condições.
Apesar de a crise ambiental atual ser de consentimento mundial, grande parte dos
soteropolitanos não têm noção do que podem fazer em prol da conservação da vida neste
planeta ou ainda não possuem sensibilidade a ponto de contribuir com a minimização dos seus
impactos.
De acordo com o Art. 225 do capítulo VI, do Meio Ambiente, da Constituição Federal
de 05 de outubro de 1988 (BRASIL, 1988): “Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações”. Então, enquanto há tempo, faz se necessárias iniciativas que
reduzam a perda da qualidade ambiental abrangendo os aspectos físico, químico, biológico,
social e cultural da cidade do Salvador através da prevenção da poluição, combatendo a
ignorância ambiental dos cidadãos carentes e a imparcialidade, falta de sensibilidade e
consciência e o consumo irresponsável dos que tem condições e conhecimentos.
Ainda que a capital baiana possua alguns programas sócio-ambientais, eles ainda são
tímidos ou restringidos a pequenas comunidades, a exemplo dos marisqueiros e pescadores, e
enfocam a prevenção dos problemas ambientais apenas com a mitigação e a correção de
medidas que não têm conseguido solucionar estes problemas.
Paralelo a todo este caos, observa-se o início do reconhecimento, por uma parcela
mínima de pessoas, de que os recursos ambientais não são produzidos na mesma velocidade
em que são demandados. Existe uma grande mobilização por parte do governo, de
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universidades e de empresas privadas para a prevenção da poluição1, só que muitas são
voltadas para a indústria e o empresariado, assim como a Rede de Tecnologias Limpas -
TECLIM2 e o projeto Parceiros do Meio Ambiente – Adote uma Pequena Empresa na Área
Ambiental3, do Centro de Recursos Ambientais - CRA. A parte que compete à grande massa
populacional restringe-se a processos de fim de tubo como a reciclagem e a reutilização de
materiais.
A fim de iniciar uma comunicação social sistemática dentro da temática da prevenção
da poluição para, através da informação, sensibilizar a sociedade de forma a contribuir para o
alcance de uma conscientização ambiental e um direcionamento para boas práticas, refletindo
na melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente, esboço neste trabalho um Centro de
Referência Ambiental para a cidade do Salvador.
1.1. JUSTIFICATIVA
Avalia-se que espaços de grande concentração da parte carente da sociedade geram
uma pressão maior sobre os recursos naturais, decorrentes da total desinformação e falta de
recursos, aliada ás debilitadas condições de vida (SILVA e SILVA, 2004).
1 Princípio da Prevenção: consiste em substituir o controle de poluição pela prevenção da geração de resíduos na fonte, evitando a geração e emissões perigosas para o ambiente e o homem ao invés de “curar” os efeitos de tais emissões (CARDOSO, 2004). 2 Rede de pesquisa que tem como objetivo inserir o conceito de tecnologias limpas na prática da produção industrial e, simultaneamente, desenvolver ações que a tornem uma realidade. Esta rede tem capacitado pessoas por meio da realização de cursos de Especialização e Mestrado Profissional em Produção Limpa e desenvolvido vários projetos cooperativos em parceria com diversas empresas do segmento produtivo baiano (TECLIM, 2007).
3 Programa com intuito de apoiar as micro e pequenas empresas na elaboração de um sistema de gestão ambiental, baseado em uma abordagem de Produção mais Limpa, contribuindo para o fortalecimento das cadeias produtivas de diversos segmentos econômicos, onde grandes empresas e cidadãos, voluntariamente, adotam a gestão ambiental das micro e pequenas empresas, pelo período de um ano (CRA, 2007).
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Os pobres, com baixo nível de escolaridade, privados de água tratada e de condições dignas de habitação, têm mais probabilidade de adotar um comportamento destrutivo em relação ao meio ambiente e de degradá-lo com um fluxo nocivo de dejetos. (WESTPHAL, 2000).
Por outro lado, a outra parte que resta da sociedade, a qual concentra praticamente
toda a renda da cidade, tem como meta, neste século, o crescimento desenfreado. No começo
da fase capitalista, a exploração dos recursos naturais era pequena o suficiente para estes
serem considerados inesgotáveis. A realidade é que, de tanto explorar, o ser humano tem
provocado desequilíbrios ambientais globais. O aquecimento global, o efeito estufa, a
poluição acima dos patamares aceitáveis, a diminuição da camada de ozônio e a geração de
resíduos, são provenientes da tecnologia moderna (DEMANBORO, FERRÃO e
MARIOTONI, 2004), conseqüência do modelo de desenvolvimento industrial e da
necessidade de acúmulo de capital e/ou níveis de emprego (SILVA e SILVA, 2004). Estas
situações aliadas ao crescimento populacional elevam os índices de consumo, e, com a falta
de infra-estrutura, incapaz de acolher a essa demanda, reduz a qualidade de vida do meio
ambiente – humano, animal e vegetal (GOUVINHAS e PATRÍCIO, 2004).
A sociedade mais do que nunca tenta converter esta situação ou, ao menos, mitigar os
problemas. A meu ver, em passos curtos e com atitudes ultrapassadas, voltadas a processos de
fim-de-tubo, ou seja, a reciclagem. Identificar o que leva alguém a agredir o meio em que vive
envolve aspectos físicos, psicológicos, econômicos, políticos, históricos, culturais e sociais.
Acreditando nisso, pretendo apresentar uma proposta de um Centro de Educação
Ambiental (CEA) participativo como meio de interferência neste lento processo de suicídio
em massa baseado nas características da população local, do entorno e impactos adversos
sofridos.
Assim, espero contribuir, com este trabalho, para a melhoria da qualidade de vida do
planeta, desenvolvendo um saber que possa compreender o meio ambiente e trabalhar em prol
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da sua conservação, da qual depende todo tipo de vida. Convém lembrar que Meio Ambiente
é tudo o que está ao redor incluindo, o ser humano, ou seja, é o conjunto formado pelo meio
biótico (flora, fauna, seres humanos), abiótico (ar, água, luz, terra) e suas inter-relações e não
simplesmente o meio natural, como muitas pessoas ainda imaginam.
1.2. OBJETIVOS
O objetivo geral deste trabalho monográfico é esboçar um Centro de Referência
Ambiental saudável e participativo para a cidade do Salvador.
1.2.1. Objetivos Específicos
• Apresentar de forma sucinta a cultura ambiental brasileira e aspectos do município de
Salvador no que diz respeito às condições climáticas, ao meio físico, antrópico e ao
bioma local;
• Delinear a parte física de um Centro de Referência Ambiental de arquitetura saudável
e sustentável;
• Elaborar um Programa de Educação Ambiental participativo para o Centro de
Referência Ambiental com foco na prevenção da poluição.
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1.3. METODOLOGIA
Baseada em revisão bibliográfica, esta monografia foi elaborada através de vastas
consultas a livros, anais de congressos nacionais e internacionais, materiais de cursos de
aperfeiçoamento profissional, materiais de aula do curso de especialização em Gerenciamento
e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo e matérias de jornais de acervos particulares
e também por intermédio de freqüentes pesquisas, em base de dados eletrônicos, onde foram
encontradas monografias, dissertações, artigos de periódicos e projetos envolvidos com o
tema.
1.4. ESTRUTURA DA MONOGRAFIA
Esta monografia é estruturada em cinco capítulos, incluindo esta introdução, que
contextualiza o tema da pesquisa, define os objetivos, apresenta a metodologia utilizada e
expõe a abordagem dos tópicos seguintes.
O capítulo dois trata de elementos fundamentais para a sociedade, que são a Cultura e
a Educação, e conceitos-chaves para o entendimento deste trabalho: Educação, Educação
Ambiental, Centros de Educação Ambiental e em particular, Centros de Referência
Ambiental. O embasamento teórico do Centro de Referência Ambiental e da Cultura
Ambiental Brasileira irá demonstrar de forma generalizada a situação pertinente ao assunto
abordado em que o país se encontra.
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O capítulo três apresenta a população e os meios físico, antrópico e biótico da cidade
do Salvador, na qual sugiro que seja implantado um Centro de Referência Ambiental
comentando a sua importância, beleza natural e estado de degradação atual.
O capítulo quatro aborda a proposta de um Centro de Referência Ambiental para
Salvador embasado nas características ambientais locais e na necessidade de mudanças
comportamentais por parte da população local. Nele planejo um caminho para a implantação
de um Centro de Referência Ambiental através do desenvolvimento de idéias de espaço físico,
entorno, equipamentos, projeto político-pedagógico e estratégias para a sua sustentabilidade.
O capítulo cinco, que resultou da análise dos conteúdos abordados na monografia,
verificando a falta de oportunidades da população para o alcance da qualidade de vida e a
importância da reinvenção de hábitos simbiontes com o meio ambiente, conclui sobre a
necessidade de projetos como este para informar a sociedade já que se sabe que a educação
básica é falha no país e não possui a Educação Ambiental embutida na prática. Também
interroga a competência das pessoas em repassar e divulgar informações relativas às questões
ambientais adequando à realidade local para a formação de agentes transformadores. Com o
intuito de implantar este modelo de Centro, sugiro algumas instituições para sua
implementação e fontes para obtenção de recursos.
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2. POR QUE UM CENTRO DE REFERÊNCIA AMBIENTAL?
Devido às características históricas, populacionais, de ocupação, habitacionais e
educacionais, tende cada vez mais a aumentar os conflitos ambientais, conscientemente por
uns e inconscientemente pela maioria dos habitantes. Portanto, a introdução de um Centro de
Referência Ambiental com um programa participativo e permanente de educação ambiental
para todos os cidadãos, com foco na prevenção da poluição, é de extrema urgência.
2.1. CULTURA AMBIENTAL BRASILEIRA
Neste país tropical, onde o que se planta tudo dá, não se estoca comida para o inverno
e nem há marcas de guerras e desastres naturais, há um grande problema cultural, o
desperdício, que desencadeia uma série de impactos adversos, mas que podem ser abolidos do
Brasil. Aqui, é feio economizar e reaproveitar alimentos.
Diferente dos índios que se planejam para dar um futuro digno às suas próximas sete
ou dez gerações (BRAUN, 2005), os descendentes de imigrantes atracados no Brasil desde o
ano de 1500, vislumbram-se com a Carta de Pero Vaz de Caminha (apud UFSC, 2007):
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... atravessavam alguns papagaios essas árvores; verdes uns, e pardos, outros, grandes e pequenos, de sorte que me parece que haverá muitos nesta terra... Todavia segundo os arvoredos são muitos e grandes, e de infinitas espécies, não duvido que por esse sertão haja muitas aves!... entre esse arvoredo que é tanto e tamanho e tão basto e de tanta qualidade de folhagem que não se pode calcular. Há lá muitas palmeiras, de que colhemos muitos e bons palmitos... Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados... Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!...
Coerente com a realidade da época, estes trechos não podem ser mais fonte de
informação para os dias atuais, com exceção para o conhecimento histórico, já que é de
conhecimento de muitos os limites do globo, seus recursos, serviços e assimilação da
quantidade excessiva de resíduos. Estes, além de muitos, são cada vez mais descartáveis,
artificiais, não biodegradáveis, tóxicos, perigosos e de composição desconhecida pelos
decompositores, persistindo por longos períodos de tempo no ambiente e o poluindo.
Segundo uma pesquisa da Market Analysis Brasil (2006), realizada em 2005 com 800
adultos em oito capitais brasileiras, a maioria dos brasileiros julga os problemas ambientais
como “muito sérios” apontando catástrofes naturais, desmatamento, poluição e
desaparecimento de espécies - aspectos indiretamente ligados ao impacto humano. Mesmo
preocupados, não os inclui como importantes problemas mundialmente enfrentados, não
internalizam atitudes ecologicamente corretas em seu cotidiano e nem estão dispostos a
colaborar se tiverem que gastar dinheiro. Apenas a minoria aponta o uso de combustíveis
fósseis - aspectos diretamente associados ao impacto humano - como “muito sério”, ou seja,
inconscientemente ou não, há um descompasso entre as conseqüências ambientais da ação
humana e a preocupação com as necessidades econômicas que dependem do uso de energia.
Com isso, os brasileiros praticam a insustentabilidade. A falta de associação e reflexão
da Análise do Ciclo de Vida4 (AVC) dos produtos e serviços causa a ilusão de que depois de
4 A análise inclui o ciclo de vida completo do produto, processo ou atividade, abrangendo a extração e o processamento da matéria-prima; fabricação, transporte e distribuição; uso/reuso/manutenção; reciclagem; e disposição final. Permite avaliar a carga ambiental associada com o produto, processo ou atividade, para identificar e quantificar a energia e os materiais usados e liberados para o meio ambiente, para avaliar o impacto destes, e para avaliar e implementar oportunidades para melhorar os efeitos sobre o meio ambiente (CARDOSO, 2004).
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passar pelo consumidor/cliente, não existem mais problemas, como se num passe de mágica,
os impactos adversos (extração de recursos naturais, poluição do ar, da água e do solo) da
atividade desaparecessem.
Apesar da informação do confronto desleal do aumento da população e do consumo
desenfreado do estilo de vida capitalista versus a insuficiência dos serviços da natureza para
os desperdícios atuais, a eterna promessa de fartura natural ilimitada e beleza abundante
fazem com que quem tem o controle do poder, jogue fora recursos financeiros, naturais e
intelectuais. Somando-se a falta de conhecimento por parte da população, a exclusão da
agenda pública e, a desorganização, desestruturação e corrupção, por parte do governo,
característicos de um país em desenvolvimento, não faz com que medidas necessárias sejam
tomadas em prol de uma mudança de comportamento.
Independente do tipo de desperdício, o mal causado acaba sendo global, todos perdem.
Perde-se água, energia elétrica, alimento, dinheiro e tempo. A ineficiência, a qualidade abaixo
dos padrões e a falta de planejamento e manutenção de produtos/serviços causam gastos
excessivos para novas compras e/ou reparos que causam insatisfação no consumidor que não
adquire mais tais produtos/serviços e são motivos para muitas reclamações influenciando no
nome do produtor e fazendo com que caiam as vendas, os preços, os lucros, os salários, o
ânimo, dentre outros (BORGES, 1995).
No Brasil, perde-se 50% da água potável captada por causa de vazamentos e sistemas
ilegais (FERNANDES, FIORI e PIZZO, 2004). Pouco diferente, na Bahia, este número
encontra-se na casa dos 46%. Na construção civil, de todos os materiais adquiridos, 20% saem
como entulho. O custo desses 20% gasto na aquisição ainda multiplica-se na mão-de-obra, no
transporte, tratamento e destino final do material gastos desnecessariamente. Na agricultura,
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estima-se a perda de 30% dos produtos contados no manuseio, transporte, armazenagem e
comercialização. Este percentual pode chegar a 100% no caso de vegetais (BORGES, 1995).
Apesar de o Brasil ser líder mundial de reciclagem de latas de alumínio e líder
americano de reciclagem de embalagens Tetra Pak, os ganhos da prefeitura e de empresas
inclusas na Região Metropolitana de Salvador (RMS), ainda são tímidos, segundo a Empresa
de Limpeza Urbana (LIMPURB), das 4 toneladas diárias de resíduos produzidos, Salvador
recicla apenas 2%, mesmo com o aumento de volume em 75% no verão. Parece pouco, mas o
ex-presidente da LIMPURB, Fábio Mota, afirmou que esse número já economiza
mensalmente nos cofres públicos trezentos mil reais (R$ 300.000,00), pois, a prefeitura paga a
empresas terceirizadas por tonelada de resíduos recolhidos que custam sessenta e oito reais
(R$68,00) cada tonelada. Se a meta da LIMPURB para 2008 for alcançada (reciclar 15%)
haverá mais economia de dinheiro que poderá ser usado na educação e saúde e a abertura de
oportunidades, gerando renda para mais 900 pessoas (FUNKLE, 2007).
2.2. EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Segundo Ferreira (2005), a Educação consiste em um processo de desenvolvimento da
capacidade física, intelectual e moral do ser humano. Weid [199-?] entende como um
processo de formação de sujeitos críticos, responsáveis e participantes que compreendem e
interferem sobre a realidade para a solução de problemas, ou seja, é basicamente o
desenvolvimento de cidadãos ativos e transformadores. E ainda completa afirmando que um
dos maiores problemas atuais da educação básica brasileira é a falta de ligação entre a escola
e a realidade dos alunos.
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A Educação Ambiental (EA) está inserida no conceito da educação. Soma-se a esta a
busca de soluções para a crise ambiental. A compreensão da biodiversidade (cultural,
biológica, ética) é uma ação da EA que traz mudanças de hábitos, respeito à natureza e um
estilo de vida ecológico, solidário e coletivo (WEID, [199-?]).
A Lei Federal 9.795, de 27 de abril de 1999 (BRASIL, 1999), que dispõe sobre a
Política Nacional da Educação Ambiental, define a EA como “processos por meio dos quais o
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”. E, assim como o meio ambiente, a
Educação Ambiental também é de responsabilidade de todos, cabendo ao Poder Público, às
instituições educativas, aos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente
(SISNAMA), aos meios de comunicação de massa, às empresas, entidades de classe,
instituições públicas e privadas e à sociedade como um todo fazer a sua parte, seja
incentivando, disseminando, promovendo ou até participando de ações da EA.
A Lei citada assim define os princípios e objetivos da EA:
Art. 4° São princípios básicos da educação ambiental: I – o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo; II – a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade; III – o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade; IV – a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais; V – a garantia de continuidade e permanência do processo educativo; VI – a permanente avaliação crítica do processo educativo; VII – a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais; VIII – o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural. Art. 5° São objetivos fundamentais da educação ambiental: I – o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos; II – a garantia de democratização das informações ambientais; III – o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social;
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IV – o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; V – o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade; VI – o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia; VII – o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade.
Como processo permanente, deve constar em todos os níveis e modalidades do
processo educacional, do modo formal ou informal. A EA formal abrange o currículo escolar
nas unidades de ensino públicas e privadas englobando todos os cursos, nas diversas
disciplinas e etapas da educação. A EA informal é voltada à sensibilização do coletivo quanto
aos seus direitos e deveres sobre o meio ambiente. É esta última modalidade que será
abordada neste trabalho.
Além desses conceitos, a EA tem grandes tendências que são nomeadas de acordo com
suas formas de atuação. São elas: Conservacionista; Educação ao ar livre; Gestão ambiental
ou Política, Economia ecológica, Biológica, Comemorativa e Crítica para a Sociedade
Sustentável. A primeira corrente atua como defensora da fauna e flora através de excursões e
lutas conservacionistas. Na segunda, encontra-se o trabalho de antigos naturalistas como
escoteiros, ecoturistas e admiradores do contato com a natureza. A terceira corrente tem
características políticas e participa das lutas nos movimentos sociais em detrimento dos
aspectos naturais. A quarta, age nas diversas organizações não-governamentais e associações
ambientalistas defendendo tecnologias alternativas no trato do uso da terra, no uso da energia,
no tratamento dos resíduos, etc. A quinta tendência tem ênfase na biologia e nos livros
didáticos já a sexta categoria enfoca na comemoração de datas do calendário ambiental. A
última baseia-se na realidade, adequando-se aos interesses e demandas, fortalecendo a
cidadania (MAGALHÃES et al., 2004).
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Para este trabalho, o ideal é trabalhar com a mistura das correntes Políticas e Sócio-
ambientais, fornecendo informações ambientais e sensibilizando os soteropolitanos para o
surgimento de ações individuais e coletivas e usando o poder da população enquanto
consumidores e cidadãos para conquistas políticas em prol da melhoria da qualidade
ambiental.
Acredito que a introdução da EA na vida das pessoas, complementa a atual e defasada
formação escolar e até familiar (em alguns casos), fazendo com que o aprendiz entenda
profundamente e de forma concreta as relações interdependentes existentes entre o meio
biofísico e o social e mude seus conceitos e ações consigo mesmo e com o mundo.
Na América Latina, a Educação Ambiental foi contemplada tardiamente, comparada
aos países desenvolvidos e por motivos diferentes. Nela, há atitudes voltadas para a solução
de problemas sócio-econômicos, culturais e políticos e não apenas para problemas de
abundância e desperdício, que apesar de também serem conseqüências do analfabetismo, do
desemprego, da insalubridade, da falta de cultura e da corrupção, são os problemas ambientais
dos países de “primeiro mundo” (SILVA e SORRENTINO, [200-]).
2.3. CENTRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
A Constituição Federal de 1988, o boom da temática verde e a ECO 925 foram fatores
relevantes para a formalização dos Centros de Educação Ambiental (CEAs), em 1993, pelo
5 ECO-92 ou Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, buscou meios de conciliar o desenvolvimento sócio-econômico com a conservação e proteção dos ecossistemas da Terra. Contribuiu para a disseminação do conceito do desenvolvimento sustentável e para a conscientização de que os danos ao meio ambiente são de responsabilidade maior dos países desenvolvidos. A Agenda 21, principal documento produzido na ECO-92, é um programa que viabiliza o desenvolvimento ambientalmente racional com métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica.
23
Ministério da Educação (MEC), que os formalizou como ferramentas complementares do
ensino formal, resultado do I Encontro Nacional de Centros de Educação Ambiental.
Apesar de não estar escrito na Lei da Política Nacional de Educação Ambiental
referências sobre os CEAs, propriamente dito (SILVA e SORRENTINO, [200-]), mas
considerando-os como programas de Educação Ambiental (referenciados na legislação
acima), cabe ao MEC e ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) se empenhar para a
implantação e avaliação de CEAs, conforme incisos V e X do artigo 3° do decreto 4.281 de
25 de junho de 2002 (BRASIL, 2002), que regulamenta a Lei 9.795.
De lá pra cá, várias iniciativas arcaram com a implantação destes centros, desde
pequenas propriedades rurais até instituições multinacionais, mas ainda é assunto recente no
espaço ambiental, com pouca definição, fomentação teórica e troca de experiências (SILVA e
SORRENTINO, [200-]).
Segundo a Rede Brasileira de Centros de Educação Ambiental - REDE CEAs (2007),
um Centro de Educação Ambiental é toda aquela iniciativa que contemple, essencialmente, as
quatro dimensões abaixo apontadas (Fig. 1):
Figura 1 – As quatro dimensões dos CEAs (Fonte: REDE CEAs, 2007)
1) Espaço Físico, Equipamentos e Entorno: como exemplo concreto e recurso pedagógico, o
edifício deve ser, preferencialmente, ecológico (projeto, construção, materiais de construção e
uso racional de recursos), adequado à legislação vigente;
24
2) Equipe Educativa: formada de profissionais em número suficiente para a implementação
das atividades propostas pelo CEA, com desejável caráter multidisciplinar e que busque atuar
sempre de forma interdisciplinar;
3) Projeto Político-Pedagógico: deve explicitar a missão, objetivos e princípios do CEA,
descrever as atividades realizadas, delimitar o público, procedimentos metodológicos, formas
de avaliação da equipe e do próprio CEA, dentre outros pontos a serem contemplados no
projeto do CEA;
4) Estratégias de Sustentabilidade: delineamento de um plano de sustentabilidade para
qualquer iniciativa que se proponha um CEA.
Este conceito é um ponto de partida dado pela Rede CEAs (2007), não se tratando de
algo encerrado, até pela diversidade de CEAs e sua infinidade de denominações: Centros de
Meio Ambiente, Núcleo de Educação Ambiental, Museus de Meio Ambiente, Centro de
Visitantes, etc. Tal pluralidade fez com que a Rede CEAs dividissem-os em 8 classes: Centros
de Interpretação/de Visitantes, Centros de Referência em EA, Centros de Informação, Centros
de Formação, Centros de Elaboração/Execução de Projetos, Centros de Mobilização/Agitação
Comunitária, Centros Rurais Agroecológicos/Sítios Ecológicos e Museus, Zoológicos, Jardins
Botânicos, Parques Urbanos. Estas outras classes se diferem pela localização (rural, urbano,
unidades de conservação), público atendido, tipos de atividades realizadas e principais
funções exercidas.
Nesta diversidade de CEAs, os Centros de Referência em Educação Ambiental,
desempenham o papel de difusores/disponibilizadores de informações, articulando educadores
ambientais e suas respectivas instituições/projetos, e apoiando a elaboração e implementação
de projetos e programas de EA numa escala local/regional/estadual, geralmente em área
urbana e patrocinados por instituições públicas (prefeituras, órgãos públicos federais e
estaduais, universidades e prefeituras) (REDE CEAs, 2007).
25
Não se tem um levantamento completo de quantos CEAs existem no Brasil, nem de
como e onde se desenvolvem ou regridem, sem histórico e grau de fidelidade com a EA.
Através de uma iniciativa de profissionais que compõem a REDE CEAs, têm-se o
credenciamento de alguns CEAs, compondo um banco de dados, o qual indica a existência de
275 CEAs no Brasil, 39 no Nordeste, 11 na Bahia e 06 em Salvador (REDE CEAs, 2007),
sendo nitidamente desproporcional a quantidade de iniciativas entre as regiões e a densidade
populacional. Sabe-se que a maioria dos projetos pilotos de responsabilidade do MEC não
foram postos em prática e, os que saíram do papel, não renderam o esperado (SILVA e
SORRENTINO, [200-]).
Silva e Sorrentino ([200-]) apontam apenas quatro trabalhos brasileiros que tem o
CEA como tema de estudo. Apesar de pouco estudados, muitos autores citam o Brasil como
potencial de ações e projetos.
LONDRES, SILVA E SORRENTINO (2002) pesquisaram alguns CEAs brasileiros e
detectaram que:
• Empresas, prefeituras, universidades, ONGs e iniciativas particulares, governos
estaduais e federal sustentam os CEAs, dando características distintas de acordo com
as iniciativas e princípios de cada patrocinador;
• As iniciativas urbanas são escassas, o que dificulta o acesso da grande massa
populacional, que é urbana; para o município de Salvador, 96% da sua população é
urbana (PMS, 2006);
• A maioria das edificações são pré-existentes e adaptadas;
• Em torno de apenas 25% das estruturas utilizaram materiais de construção alternativos
como coberturas verdes, solo-cimento, refugo de mineradora, bambu e pedra, bem
como tecnologias limpas a exemplo de energia solar, roda d’água e reciclagem de
papel;
26
• O público-alvo é centrado no público escolar, mas bastante diversificado de acordo
com o gerenciador: ONGs - profissionais, professores, alunos de todas as séries e
comunidades rurais; Empresas - profissionais, professores e alunos primários;
Unidades de Conservação - alunos do pré à 9ªsérie; Universidades - alunos do ensino
médio, superior e comunidades rurais;
• Das atividades realizadas, aproximadamente 72% são visitas orientadas e palestras;
• Os temas mais abordados são natureza e meio ambiente, pouco se falando sobre
energia, água, resíduos, efluentes, emissões e conservação.
Nesta pesquisa, eles observaram que as ONGs são as que mais se empenham para
atender pilares dos CEAs, priorizando as atividades relacionadas às questões ambientais, com
mais atividades, utilizando materiais ecológicos e utilizando tecnologias limpas. Diferente das
empresas, o que pode ser um indício de utilizar o nome “CEAs” para divulgação de um
Marketing Verde, e das universidades, que não se dispõem a mudar estruturas ou atividades
para melhor atendimento à demanda educacional.
Atualmente, os CEAs enfrentam dificuldades de diversas ordens que devem ser
compreendidas e solucionadas. Na ordem ecológica, os edifícios e as atividades estão
impactando mais do que deveria um Centro de Referência. Na social, a baixa divulgação do
CEA o torna pouco conhecido e visitado pela comunidade local. Quando do aspecto
pedagógico, enfrenta problemas antigos de desinteresse do professorado devido à falta de
reconhecimento e a má remuneração e também pela falta de equipes fixas. As dificuldades
políticas estão relacionadas às incertezas nas trocas partidárias e ao futuro do CEA. Por fim,
os obstáculos de ordem econômica ocorrem pela dificuldade de encontrar quem financie e
apóie os programas (SILVA e SORRENTINO, [200-]).
27
3. A IMPORTÂNCIA DE UM CENTRO DE REFERÊNCIA PARA SA LVADOR
A primeira capital do Brasil traz consigo um histórico desumano cheio de
desigualdades e escasso de oportunidades. Apesar de ser a capital da Alegria e Patrimônio
Cultural da Humanidade, está longe de ser exemplo de vida. Mais da metade da população
vive em más condições (SILVA e SILVA, 2004), sempre em busca de alimento, saúde,
educação e moradia, direitos básicos de cidadão. Como estas pessoas podem pensar em
preservação do meio ambiente se elas mal conseguem sobreviver? Complementar à defasada
e degradante educação básica, o projeto proposto busca mostrar que pequenas atitudes geram
grandes mudanças, podendo ser negativas ou positivas e alertar os soteropolitanos sobre seus
direitos e informar seus deveres a serem cumpridos.
Cada um fazendo a sua parte “agir localmente” seja consumindo menos, dispondo
corretamente seus resíduos, exigindo saneamento básico ou aproveitando melhor os alimentos
contribui para a melhoria do todo “pensar globalmente”: menos doenças de veiculação pelo
lixo, menos volumes de resíduos nos aterros, menos poluição, melhor qualidade na
alimentação (comida saudável não é cara), dentre outros. Ou seja, se o Centro conseguir
transferir à comunidade esse aprendizado, surtirá como efeito mais saúde, educação e
segurança. Portanto, por sua importância histórica, cultural, estética e natural e degradação
sofrida ao longo dos tempos (referenciada adiante) se faz urgente a tomada de medidas como
28
a implantação de um Centro voltado para a prevenção da poluição e conservação do meio
ambiente.
3.1. SALVADOR: MEIO FÍSICO E POPULAÇÃO
Situada no Recôncavo Baiano, Salvador conta com 707km² de extensão territorial
(IBGE, 2000) e é limitada a Oeste pela Baía de Todos os Santos, ao Sul e a Leste pelo Oceano
Atlântico e ao Norte pelos Municípios de Candeias, São Francisco do Conde, Simões Filho e
Lauro de Freitas (Fig. 2). Na direção a estes municípios é que se caminha a expansão da
Cidade (Secretaria Municipal do Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente, SEPLAM,
2005).
Figura 2 – Limites Administrativos de Salvador (Fonte: SEPLAM, 2007)
Sua posição geográfica (latitude sul 12°55’34” e longitude oeste 38°31’12”) e altitude
de 8 m em relação ao nível do mar (PMS, 2005; AMBIENTE BRASIL, 2005) confere-lhe
clima intertropical (tropical úmido). Sua condição litorânea oriental assegura à Cidade
umidade relativa do ar da ordem de 80%, com alto índice de precipitação pluviométrica ao
29
longo do ano (SEPLAM, 2005). Durante os anos de 1961 a 1990, a média de precipitação em
Salvador foi de 173,33 mm mensal, variando entre 110 e 340 mm e, o período de estiagem em
Salvador varia entre 7 a 24 dias por mês (TOMAZ, 2003), situação bastante favorável à
captação de água de chuva.
Salvador está entre as cidades mais ensolaradas do mundo, com 2.465,9 horas anuais
de sol, tem dias claros em todas as estações do ano e apresenta temperatura média de 25,3°C
(EMTURSA, 2007) e conta com uma brisa refrescante constante que vem do mar, com média
de 6 m/s (COELBA, 2005) com predominância nas direções sudeste no outono-inverno,
nordeste na primavera-verão e leste de outubro a março. O vento secundário, com direção sul,
é intenso nos meses de maio e julho, e está associado a períodos chuvosos (SANJUÀN,
2003). Este quadro representa uma ótima possibilidade para o uso de tecnologias limpas como
as energias solar e eólica e para uma arquitetura saudável com ventilação e iluminação
natural.
Salvador possui um contingente populacional significativo, sendo a terceira cidade do
país em população (SEPLAM, 2006) com 2.631.831 habitantes em 2004 (PMS, 2006) onde,
cerca de 1.295.900 são pobres (nível abaixo do rendimento mínimo que não permite adiquirir
bens essenciais) (SILVA e SILVA, 2003).
Ao longo dos 50 anos de crescimento da cidade, a população de Salvador aumentou
em seis vezes o seu número. Seu crescimento populacional está diminuindo lentamente à
medida que a longevidade está crescendo. Apesar de na última década o índice de crescimento
atingir 1,8%, normal quando comparado ao nível da região Nordeste, ainda é o dobro dos
valores encontrados nas regiões Sul e Sudeste - São Paulo com 0,9% e Porto Alegre com
0,8% (SEPLAM, 2006). Este inchaço populacional (densidade populacional x área) tem
causado pressões sobre os espaços e serviços, onde a expansão dos assentamentos ocorre em
áreas de importante contribuição para o equilíbrio dos ecossistemas locais e para a própria
30
saúde dos habitantes. Em relação à população economicamente ativa, 21,8% estão
desempregados, ou seja, aproximadamente 397 mil pessoas (BICHARA, 2007).
3.2. SALVADOR: MEIO BIÓTICO E ANTRÓPICO
Salvador encontra-se em áreas remanescentes de Mata Atlântica (Fig. 3). Na cidade
também podem ser encontrados manguezais e restingas, importantes biomas brasileiros,
pertencentes ao domínio da Mata Atlântica, que diversificados pela posição geográfica e pelo
clima.
A ocupação do território onde a cidade está desenvolvida, devido ao crescimento
desordenado, vem destruindo quase que 100% da vegetação nativa. O que se percebe
atualmente na Cidade, nas regiões mais povoadas e nas ocupadas desde o período colonial,
são índices quase nulos de áreas verdes (Fig. 4) (BELÉM, 2005).
Necessita-se de ações prioritárias para a Mata Atlântica, considerando como uma das
ações mais urgentes sob a ótica da conservação. A Mata Atlântica é um doente terminal com
menos de 10% de chance de sobrevivência, que necessita de cuidados urgentes para não
morrer (MENCONI, 2004). Seus rios abastecem cidades e metrópoles brasileiras,
beneficiando mais de 100 milhões de pessoas (MMA, 2000; RMA, 2005) e parte da RMS está
contida nesta área.
Originalmente, a Mata Atlântica ocupava 1,3 milhão de km² do território brasileiro. Os
impactos dos ciclos de exploração e a concentração das maiores cidades e núcleos industriais
fizeram com que a vegetação natural fosse reduzida drasticamente. A devastação foi maior
nas áreas planas da região costeira e na faixa litorânea do Nordeste, onde resta menos de 1%
31
da floresta original e de que lugar Salvador está localizada. A situação atual faz da Mata
Atlântica um dos cinco primeiros Hotspots do mundo, região biologicamente rica (mais de
1.500 espécies endêmicas de plantas) e ameaçada (com perda de mais de 3/4 de sua vegetação
original) (CI, 1999; CI, 2007).
Figura 3 - Área de Domínio de Mata Atlântica Original em parte da RMS
(Fonte: SOS MATA ATLÂNTICA, 2006)
Figura 4 - Área de Domínio de Mata Atlântica Atual em parte da RMS
(Fonte: SOS MATA ATLÃNTICA, 2006)
32
A Mata Atlântica, bioma declarado como Reserva da Biosfera pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura - UNESCO (DESMATAMENTO ZERO,
2005), abriga altos níveis de riqueza biológica e de endemismo. Por isso, possui um programa
de zoneamento voltado para a sua preservação e para áreas antropomorfizadas, que de acordo
com a RBMA (2006), ficam definidas as seguintes zonas:
• Zona Núcleo – protege a biodiversidade e corresponde às Unidades de Conservação
de proteção integral6;
• Zona de Amortecimento – conhecida também como Tampão, situada no entorno das
zonas núcleo, ou entre elas, minimiza os impactos negativos sobre estes núcleos e
promove a qualidade de vida das populações da área, especialmente as comunidades
tradicionais (indígenas, de pescadores e marisqueiros);
• Zona de Transição - envolvem as zonas de amortecimento e núcleo. Destina-se ao
monitoramento, à educação ambiental e à integração da Reserva com o seu entorno,
onde predominam áreas urbanas, agrícolas e industriais.
Neste sentido, Salvador está inserido em zonas núcleo e de amortecimento (Fig. 5) e
atendendo a esta situação, foram criadas UCs de proteção integral que estão apresentadas no
Quadro 1, havendo 11 parques e 02 reservas ecológicas.
6 Unidades de Conservação de proteção integral como Parques e Reservas Ecológicas são áreas importantes quanto à biodiversidade e, protegidas por lei, a fim de conservar os ecossistemas nelas contidos, com possibilidade apenas do uso indireto dos recursos naturais (PMS, 2006).
33
Figura 5 - Zoneamento da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica em parte da RMS
(Fonte: SOS MATA ATLÂNTICA, 2006)
A Avenida Paralela, localizada em Salvador e que faz parte da Zona Núcleo da
Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, vem sofrendo intervenções devidas à especulação
imobiliária imposta e aos interesses políticos. Atualmente, esta área foi autorizada para
construções residenciais e, pronta para justificar sua degradação, a Prefeitura diz que a área
vai gerar novos empregos através da construção civil.
34
Quadro 1 - Unidades de Conservação de Proteção Integral em Salvador (Fonte: PMS, 2006)
UNIDADE DE CONSERVAÇÃO LOCAL/BAIRRO BIOMA ÁREA
Parque Zoobotânico Getúlio Vargas Ondina Mata Atlântica 18 ha
Parque Ilha dos Frades Ilha dos Frades Mata Atlântica 910 ha
Parque Metropolitano Ipitanga I Simões Filho e
Salvador Mata Atlântica 667 ha
Parque Joventino Silva (da Cidade) Pituba Mata Atlântica e
Restinga 70 ha
Parque Metropolitano de Pituaçu Pituaçu Mata Atlântica 440 ha
Parque São Bartolomeu Subúrbio
Ferroviário Mata Atlântica e
Manguezal 75 ha
Parque Metropolitano de Pirajá Subúrbio
Ferroviário Mata Atlântica 1.550 ha
Parque das Lagoas e Dunas do Abaeté
Itapuã, Stela Mares e Praia do Flamengo
Restinga e Mata Atlântica
1.410 ha
Jardim Botânico de Salvador Mata dos Oitis Mata Atlântica 1.378 ha
Parque do Cascão Cabula Mata Atlântica -
Parque do Manguezal do Passa Vaca
Foz dos Rios Passa Vaca e Jaguaribe
(Pituaçu) Manguezal Indefinida
Reserva Ecológica Municipal Ilha de Maré
Ilha de Maré Mata Atlântica e
Manguezal 1.278 ha
Reserva Estadual Cotegipe / CIA Salvador e Simões
Filho Mata Atlântica 118 ha
A cultura afro-brasileira encontra parceria e refúgio em duas destas unidades. O
Parque São Bartolomeu é considerado sagrado pelo Candomblé com suas cachoeiras e plantas
medicinais e sagradas que serve como santuário para cultos religiosos. O Jardim Botânico de
Salvador possui um espaço etnobotânico que desenvolve pesquisas científicas para conhecer,
conservar e preservar as espécies vegetais utilizadas nesta religião (PMS, 2006).
A restinga é um ecossistema associado da Mata Atlântica composta por terras baixas e
depósitos marinhos, sobre os quais situa-se a floresta ombrófila densa atlântica. Os cordões
arenosos, as dunas e a linha de praia suportam a vegetação herbácea pioneira e herbácea
arbustiva. Poucos são os seus remanescentes preservados em Unidades de Conservação,
35
principalmente pela ocupação urbana das planícies litorâneas (MANTOVANI, 2003), como
foi o caso dos bairros de Stela Mares e Praia do Flamengo. É importante preservar a restinga
em zonas urbanas costeiras, pois o solo é altamente poroso e a água da chuva infiltra com
facilidade reduzindo os riscos de enchentes e os custos de obras de drenagens. A restinga
ainda possui uma diversidade biológica medicinal, ornamental e paisagística (orquídeas e
bromélias). Sua destruição ocasiona a erosão do solo pelo vento e marés formando dunas
móveis, causando riscos tanto para o ambiente costeiro como para a população local
(INSTITUTO SEA SHEPHERD BRASIL, 2005).
Ainda fazendo parte das Formações Pioneiras, o manguezal é um dos ecossistemas
mais produtivos do planeta, é o local de reprodução e alimentação de espécies estuarinas. Este
ambiente é, também, de grande importância social, já que muitas pessoas dependem dos
alimentos fornecidos pelo manguezal para sobreviver, seja comercializando ou utilizando na
própria alimentação (SILVA e SILVA, 2004).
Como as melhores áreas (com vertentes menos inclinadas) estão pouco disponíveis ou
com ocupação já instalada ou constituindo reservas de especulação imobiliária, sobram os
piores terrenos para habitação onde a ocupação se dá apoiada em obras de terraplanagem
(corte ou aterro), desrespeitando a inclinação do terreno e das áreas situadas nos limites
urbanos, desprovidas da infra-estrutura básica para o assentamento; este é o caso de áreas
próximas aos leitos dos rios ocupados que conduzem a impactos ambientais mais expressivos
como o lançamento in natura de esgoto (BELÉM, 2005).
Apesar da farta rede hídrica de Salvador e da grande importância histórica devido a
sua utilização como manancial de abastecimento de água para a população local, os corpos
d’água urbanos de Salvador estão condenados ao fim pela degradação acima citada,
desmatamento das matas ciliares, artificialização das drenagens e recebimento do esgoto
sanitário (Fig. 6). Em relação a este último ponto, 75% da população soteropolitana até o
36
ano1995 não eram atendidos por sistema público de esgotamento sanitário, sendo seus
esgotos lançados em redes de drenagem. Em 2003, este índice chegou a menos de 50%, com a
rede de esgoto da concessionária estadual de água e esgoto já atendendo a 1.326.376
habitantes após a implantação do Programa Bahia Azul7 (SEPLAM, 2006).
Figura 6 – Rio Camurugipe sem mata ciliar e com drenagem artificial
(Foto: Yvan Freitas Cunha) (Fonte: PMS, 2006)
Sobre as fontes de água existentes em Salvador, estas eram o principal manancial de
abastecimento da população até 1850, sendo a administração feita por aguadeiros e
botadeiras. Visando sua conservação, durante o século XVIII, o governo municipal decretou
normas de utilização das fontes. Com a substituição do abastecimento da cidade pela empresa
de saneamento básico Companhia do Queimado, que tinha como manancial o rio
Camurugipe, veio a degradação e a contaminação das fontes de água, provenientes de
7 O Programa Bahia Azul do Governo do Estado realiza desde os primeiros anos da década de 1970 a implantação do sistema de esgotamento sanitário de Salvador e das cidades de grande porte do Estado, é o maior programa de saneamento ambiental em execução na América do Sul. Já resulta na recuperação de áreas degradas e das condições de balneabilidade de diversas praias além da melhoria dos indicadores de saúde pública. No total, serão gastos US$ 600 milhões e a meta é beneficiar mais de 2,5 milhões de pessoas que vivem nos municípios que circundam a Baía de Todos os Santos, devendo alcançar uma cobertura de 80% da população até a conclusão programa (Empresa Baiana de Águas e Saneamento - EMBASA, 2007).
37
atividades humanas pelo lançamento a céu aberto de esgotos ou por infiltração através de
fossas rudimentares negras. Atualmente, restam pouco mais da metade das fontes (17) de
cerca de 30 fontes existentes no século XVIII. Algumas ainda são conservadas por serem
patrimônio histórico/cultural da cidade (Fig. 7) e apesar do abandono (Fig. 8), a qualidade da
água das fontes classifica-se como doce e de boa qualidade físico-química (PMS, 2006).
Figura 7 – Chafariz do Terreiro de Jesus Figura 8 – Fonte do Queimado
(Foto: Yvan Freitas Cunha) (Fonte: PMS, 2006) (Foto: Yvan Freitas Cunha) (Fonte: PMS, 2006)
As ações acima citadas somadas à falta de saneamento básico (má disposição dos
resíduos sólidos e tratamento de esgoto sanitário), ao intenso desmatamento e ao excesso de
impermeabilização do solo causado pelo asfalto e pelo concreto resultam em deslizamentos
nas encostas das bacias e nos assentamentos, erosão do solo, enchentes e alagamentos,
poluição das praias e dos rios urbanos, transporte de resíduos e poluentes, aparecimento de
doenças de veiculação hídrica, proliferação de vetores, escassez dos recursos naturais,
degradação dos ecossistemas remanescentes e desequilíbrio do clima local. Estes problemas
refletem seus efeitos nas espécies da fauna e flora local e nos habitantes locais. A figura 9
mostra um bairro de Salvador com intensa urbanização e impermeabilização do solo e
baixíssimo percentual verde.
38
Figura 9 – A falta de sombra nos bairros provoca desconforto ambiental (Fonte: BELÉM, 2005)
Assim, será de grande importância a implantação de um CEA com este foco para o
resgate da beleza e riqueza biológica indiscutível da cidade do Salvador e para a emergência
da educação ambiental e cidadania da população.
39
4. PROPOSTA DO CENTRO DE REFERÊNCIA AMBIENTAL PARA SALVADOR
Depois de esclarecer o que vem a ser um Centro de Referência Ambiental, de lembrar
a particularidade que é a cidade de Salvador, proponho um Centro de Referência Ambiental
que possa interferir na situação de degradação pela qual esta cidade passa e estimular a
construção de uma consciência ambiental na população, tornando-a cidadãos ativos e
transformadores.
4.1. ESPAÇO FÍSICO, EQUIPAMENTOS E ENTORNO
A edificação do Centro deve ser adequada de acordo com os padrões de uma habitação
saudável que, segundo a Organização Pan-Americano da Saúde (OPAS) e a Organização
Mundial da Saúde - OMS (1998), engloba enfoques sociológicos e técnicos os quais norteiam
para uma melhor localização, construção, uso e manutenção do espaço. Este conceito
relaciona a qualidade e segurança dos materiais utilizados, ao processo de construção, a
adequação da ergonomia, comunicação, vizinhança, energia e a educação sanitária.
40
A especialidade da habitação acima somada ao (re)aproveitamento de elementos
naturais e dos resíduos gerados, a racionalização da água e a eficiência energética
caracterizam uma construção sustentável. O sucesso depende do menor impacto causado ao
ambiente físico, químico, biológico, social e cultural e do fechamento do ciclo de materiais
circulantes dentro da edificação. Para tal, devem-se adotar medidas que exigem a quebra de
certos paradigmas da sociedade atual, dentre alguns posso citar a falta de confiança em
produtos naturais e de novos produtos, mais econômicos.
Ao contrário da atual situação, em que a maioria dos CEAs encontram-se no meio
rural, a localização do centro será em região urbana, pois segundo Silva e Sorrentino ([200-]),
esta proporciona relevantes avanços nas atuações junto às comunidades.
O Centro de Referência Ambiental terá critérios para a elaboração do projeto, sua
construção e manutenção, servindo de exemplo para a população com os itens abaixo, que
atendem as características ambientais locais sem prejuízos:
• Equipe treinada para não refazer trabalhos, não desperdiçar materiais e gerenciar os
resíduos na construção;
• Fornecedores certificados, regularizados e cadastrados nos órgãos ambientais
competentes;
• Pesquisa de redução de consumo de materiais e energia pré, durante e pós-uso;
• Planejamento da melhor localização do terreno e sua micro-localização;
• Adequação do projeto à paisagem e não do terreno ao projeto;
• Conservação da maior parte da vegetação nativa para a manutenção da qualidade do ar
(microclima, partículas poluidoras, umidade, temperatura), absorção de ruídos e
estética;
• Valorização e aplicação da antropometria dentro dos ambientes e inclusão da
acessibilidade para deficientes físicos;
41
• Materiais construtivos, para mobília e decoração (artesanato) naturais, locais,
renováveis, reciclados, biocompatíveis, livres de substâncias tóxicas e de fabricação
limpa (madeiras certificadas, adobe, solo-cimento, bambu, tijolo cru, cimento
ecológico, cimento com titânio) visando o menor impacto e a manutenção da saúde e
conforto ambiental;
• Arquitetura com o aproveitamento natural da ventilação e luminosidade;
• Sistema energético renovável e limpo (solar, eólico), independente de energias
poluidoras e esgotáveis (combustíveis fósseis, carvão vegetal) que não contribua para
a desapropriação e não impacte novas áreas para a construção de hidrelétricas;
• Equipamentos e instalações elétricas, hidráulicas e mecânicas eficientes e econômicas;
• Eletrodomésticos aprovados com o Selo PROCEL8;
• Reuso de águas cinzas originárias de banho, pias e tanques para fins menos nobres
como lavar calçadas, regar plantas e dar descargas;
• Tratamento de águas negras originárias de vasos sanitários com uma estação de
tratamento de efluentes e posterior reuso em fins não-potáveis como rega de plantas e
em descargas sanitárias;
• Captação de água pluvial através de um sistema coletor no telhado e posterior
armazenamento para fins não-potáveis;
• Manutenção de horta orgânica (livre de substâncias químicas como fertilizantes e
defensivos agrícolas) para elaboração de lanches para as visitas e
• Gestão dos resíduos sólidos gerados no Centro com enfoque na redução,
reaproveitamento, compostagem e coleta seletiva.
8 O Selo PROCEL DE ECONOMIA DE ENERGIA é um produto do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica – PROCEL que orienta o consumidor indicando os produtos de melhor eficiência energética na categoria e objetiva estimular a fabricação e a comercialização de produtos mais eficientes, contribuindo para o desenvolvimento tecnológico e a redução de impactos ambientais (WIKIPÈDIA, 2007).
42
Sugere-se que o Centro seja dividido em recepção, biblioteca, auditório, salão de
exposições, sala de reuniões, sala da equipe, banheiros, copa/cozinha interativa, jardim
externo e tenha recursos audiovisuais feitos pela equipe pedagógica do Centro (banners,
folders, home-page, manuais e cartilhas) bem como produzidos externamente externos
(vídeos, filmes e documentários).
4.2. EQUIPE EDUCATIVA
A equipe do Centro será composta por profissionais das diversas ciências tais como
administração, arquitetura, biologia, economia, engenharia, jornalismo, química. O grupo
multidisciplinar integra as necessidades do projeto de modo a não excluir nenhuma área das
atividades propostas, sempre enfocando num todo, ligando os diversos pontos de vista de
qualquer situação.
A reciclagem da equipe será feita através da participação em eventos (congressos,
encontros, simpósios) ligados às áreas pertinentes, ampliando seus conhecimentos e gerando
novas idéias.
Estagiários, voluntários e a comunidade do entorno serão convocados para se integrar
ao CEA, trazendo contribuições e mão-de-obra às atividades. O programa de estágio deve ter
caráter interdisciplinar, devendo cada estagiário fazer um rodízio no período de um ano,
passando por todas as divisões do Centro.
É importante a presença dos profissionais por serem permanentes, e não rotativos
como os estagiários e voluntários, dando andamento contínuo e sempre mantendo em dia os
projetos e as atividades do Centro.
43
4.3. PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
O projeto político-pedagógico deve estar disponível ao público interessado e atender
aos princípios básicos e objetivos fundamentais da Educação Ambiental, anteriormente
citados.
Da Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, o Projeto há de ser fiel principalmente ao princípio X, art. 2° “educação ambiental
a todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para
participação ativa na defesa do meio ambiente” e ao objetivo V, art. 4° “à difusão de
tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à
formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade
ambiental e do equilíbrio ecológico”.
4.3.1. Princípios do CEA
� Apesar de a pressão cair sobre o setor industrial e agropecuário, é importante
saber que na verdade, o meio urbano é um dos maiores poluidores. Um estudo
aponta que as cidades ocupam 2% da superfície terrestre e consomem 76% da
madeira industrializada e 60% da água doce (VASCONCELOS, 2002). Para onde
vão todos os produtos poluentes das indústrias? Para que existe a pecuária e a
agricultura? Não é porque os problemas extrapolam os limites da nossa visão que
eles desaparecem, eles continuam poluindo, mas longe da consciência da maioria da
população. Porém, se o consumidor exige produtos/serviços sócio-ecologicamente
44
corretos, os demais fornecedores terão de se adequar. É em função desta
consciência que o Centro deverá trabalhar.
� As legislações pertinentes às atividades do CEA e a troca de informações com
instituições em geral serão de fundamental importância para o seu funcionamento,
mas sempre se buscará ser pró-ativo, buscando o progresso.
4.3.2. Missão
O ser humano é o único elo entre o meio ambiente natural e construído. A biosfera, os
países e as cidades, muitos habitat da vida, são formados, também, por pessoas ou delas
precisam ser respeitados. Pessoas que apenas usufruem das suas vantagens, mas que deveriam
deveriam ser cidadãs, participativas e construtoras do bem. Portanto, o CEA terá como
missão:
� Trazer a realidade para perto do cotidiano do visitante para obtenção de ações
concretas, facilitando e fixando o aprendizado. Será como fazê-lo acordar de um
sonho onde o final pode ser muito melhor do qual, possivelmente, nos aguarda;
� Ajudar a sociedade a identificar os bens e o ambiente público como sua
propriedade e a zelar para sua preservação e conservação, pois este é um bem
comum e fruto do dinheiro de todos os cidadãos.
4.3.3. Objetivos do CEA
� Divulgar informações ambientais de nível global, estadual e municipal
relevantes aos moradores da cidade;
45
� Ampliar o diálogo ambiental com os cidadãos da capital baiana
proporcionando o entendimento da degradação ambiental e suas conseqüências;
� Incentivar a prevenção da poluição no cotidiano dos soteropolitanos mostrando
aplicações práticas e provando seus benefícios;
� Servir de exemplo para ampliação e/ou multiplicação de programas em outros
lugares do mundo por meio de parcerias e divulgação do trabalho.
4.3.4. Procedimentos metodológicos e temas a serem abordados
Aprender fazendo e vendo estudos de casos será o ponto forte para sensibilização e
futura construção da consciência ambiental dos participantes.
Durante a visita, a todo o momento, o público será estimulado a cooperar e a interagir
sendo participativo em assuntos relevantes e de interesse local e pessoal, ligados ao seu dia-a-
dia. Ensinar que o esforço conjunto através de pequenas ações cidadãs, individuais ou
coletivas podem trazer muitos benefícios para si e a comunidade, como ligar para algum
Serviço de Atendimento ao Consumidor e deixar sua sugestão ou reclamação, ter em sua
agenda telefônica números como Disk Meio Ambiente e Disk Embasa para denúncias ou
informações, comprar produtos ecologicamente corretos e evitar desperdícios ou ir a
audiências públicas.
Diferente dos programas conservacionistas, defensores da fauna e flora, o Centro
abordará assuntos voltados a uma melhor qualidade de vida (conservação de energia e de
recursos naturais). A figura 10 terá destaque nas visitas para que os visitantes assimilem a
importância de priorizar etapas e a minimização de resíduos, efluentes e emissões, refletindo
antes de gerar e o que fazer após gerado.
46
Figura 10 – O que fazer com os resíduos (Fonte: NASCIMENTO et al., 2002)
Alguns temas a serem abordados no Centro:
� Agricultura orgânica, livre de defensores agrícolas;
� Indústria com produção e tecnologias limpas9;
� Construção saudável e sustentável;
� Recursos naturais: água, ar e solo;
� Manejo sustentável de resíduos sólidos: modelos sustentáveis de
aproveitamento de recursos aliando conhecimentos tradicionais e técnicos a
descartes seguros e corretos;
� Consumo consciente e estilo de vida saudável, visando transformar o consumo
em um ato de cidadania. Adicionando bem estar pessoal e considerando as
possibilidades ambientais e as necessidades sociais;
� Avaliação do ciclo de vida dos produtos/serviços;
� Compras verdes: maneira de consumir gerando menos impactos negativos,
adquirindo produtos ambientalmente corretos, verificando nos rótulos dos
produtos seus efeitos e seus componentes, rejeitando mercadorias danosas ao meio
9 Produção mais Limpa significa a aplicação contínua de uma estratégia econômica, ambiental e tecnológica integrada aos processos e produtos, a fim de aumentar a eficiência no uso das matérias-primas, água e energia através da não-geração, minimização ou reciclagem de resíduos gerados em todos os setores produtivos (UNEP/UNIDO, 2006).
47
ambiente, evitando transgênicos, produtos com componentes bioacumuladores,
não-degradáveis e optando por produtos orgânicos, naturais, biodegradáveis, de
fabricação local, de produção limpa, econômicos, ecoeficientes10 e selos verdes;
� Prevenção da poluição através da eliminação ou minimização de
produtos/serviços com susbstâncias ou produtos contaminantes e tóxicos;
� Uso racional da água, através de mudanças culturais e a adoção de algumas
medidas tecnológicas, utilizando os recursos hídricos de forma consciente, sem
desperdícios, fazendo manutenções preventivas em instalações hidráulicas,
preservando nascentes e cursos d’água, reutilizando-os sempre que possível e
captando águas pluviais;
� Cidadania, através do real entendimento entre a interdependência dos meios
biofísicos e o social, da construção de comportamentos e realização de boas
práticas, o indivíduo cumpre seus deveres e exige seus direitos de educação, saúde,
alimentação, informação e bem estar coletivo, autodenominando-se como um
cidadão.
4.3.5. Descrição das atividades a serem realizadas
� Visita ao Centro de Referência Ambiental
A visita ao Centro será planejada de forma que o visitante veja todas as áreas
trabalhadas, mas podendo restringir a um tema específico. Todos os temas terão aplicação
prática ou serão exemplificados com objetos, terão expostas soluções para os problemas
abordados e serão baseados na legislação ambiental e de saúde.
10 Ecoeficiência é dirigida para a distribuição de produtos e serviços a preço competitivo que satisfaçam as necessidades humanas e garantam a qualidade de vida, ao mesmo tempo em que, progressivamente, reduzam os impactos ambientais e a demanda por recursos naturais ao longo do seu ciclo de vida, a um nível no mínimo igual a capacidade de suporte da terra (WORLD..., 2003 apud CARDOSO, 2004).
48
Na chegada, os visitantes irão se cadastrar no sistema de controle de visitantes (nome,
escolaridade, idade, bairro, motivo da visita, data da visita) e será iniciada a jornada de
conhecimentos pelo auditório, onde será passado um filme sobre a cidade do Salvador,
destacando suas riquezas, seus recursos, os impactos benéficos e adversos sofridos e uma
projeção negativa da cidade futuramente. Dando continuidade, será dada uma pequena
palestra sobre o Centro (princípios, objetivos, materiais disponíveis, equipe e atividades) e
seus temas trabalhados (citados no item anterior).
Na sala de exposições serão retratados diversos estudos de caso de atividades que se
adequaram e tiveram sucesso ambiental, obtidos através de divulgação de resultados de
consultorias e de pesquisas externas concluídas, e as últimas notícias referentes aos temas
abordados. Haverá também um banner para cada tema (cidadania, recursos naturais e seus
serviços, produtos ecológicos), acompanhados de maquetes e objetos para exemplificação.
No jardim externo, simulações (poluição de águas, do ar e formas de recuperação,
erosão, decomposição) serão feitas em pequenos experimentos para avaliação, espanto e
sensibilização de todos. Concluídas as experiências serão mostradas imagens de situações
reais, seus efeitos e suas correções.
Os visitantes serão convidados a conhecer a estrutura física do Centro: o projeto, a
fase de construção, os materiais construtivos, a bioarquitetura, os equipamentos e objetos
ecoeficientes, as instalações, a compostagem, a estação de tratamento de efluentes, o sistema
de captação de água de chuva e os sistemas solar e eólico, evidenciando suas aplicações,
importância e benfeitorias.
Voltando ao interior da edificação, outro vídeo será passado com projeções positivas
do nosso futuro e será solicitada a elaboração de uma redação resumindo o que foi aprendido
e o assunto de maior interesse. Os visitantes também preencherão fichas de sugestões para
avaliação e melhoria contínua do Centro.
49
Na cozinha interativa será explícito a importância de uma alimentação saudável e
como adquirí-la, acabando com o mito de que alimentação saudável é cara, ao contrário,
frutas, verduras e legumes são encontrados em qualquer feira-livre. Lanches serão
confeccionados pelos próprios visitantes com alimentos orgânicos da horta do CEA ou de
pequenos produtores. Nutricionistas divulgarão algumas receitas de partes não utilizadas pela
população, mas que tenham valores nutritivos e sabor agradável além do alerta para não
desperdiçá-los. Como aproximadamente 60% dos resíduos sólidos gerados em Salvador são
materiais orgânicos, há uma grande possibilidade de reaproveitamento, basta utilizar as partes
“não-convencionais” como talos e cascas das frutas, verduras e legumes em novas receitas já
que são muito nutritivos ou como produto na produção de composto orgânico e planejar
melhor a alimentação, evitando o desperdício (PMS, 2006).
Finalizando, no jardim externo, serão entregues manuais de boas práticas ambientais
para o dia-a-dia feito em papel reciclado, impresso frente e verso e no modo rascunho e
distribuído o lanche natural e nutritivo feito com alimentos orgânicos, integrais e naturais
(sem conservantes ou elementos artificiais) e sem utilização de materiais descartáveis.
Na biblioteca, livros e vídeos de diversos temas estarão á disposição do público para
consulta durante todo o expediente do CEA.
� Auxílio e Consultoria
A equipe de engenharia, arquitetura, advocacia, administração, biologia, economia e
química também dará auxílio e pequenas consultorias a pequenas empresas e à sociedade civil
na implantação de projetos de construção saudável e sustentável, na obtenção de tecnologias
limpas, na fabricação de produtos ecologicamente corretos com componentes de baixo ou
nenhum impacto ambiental, na realização de atividades domésticas, empresariais e industriais
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com menos desperdício e mais responsabilidade e na adequação jurídica quanto à legislação
ambiental pertinente à área trabalhada.
� Parcerias
A equipe de jornalismo, pedagogia e comunicação poderá realizar parcerias com
programas de TV e jornais que divulgarão informações do CEA para novas visitas e
ampliarão o diálogo com o público local sobre as questões ambientais.
4.3.6. Delimitação do público
O CEA estará aberto a qualquer cidadão soteropolitano ou de qualquer outra
naturalidade interessado nos assuntos ambientais locais, sejam eles estudantes, professores,
famílias, pequenos comerciantes ou profissionais das áreas.
� Visitas individuais ou em pequenos grupos de até cinco pessoas que não
necessite agendar serão recebidos por qualquer pessoa já capacitada pelo
Centro;
� Grupos maiores (máximo de 30 pessoas) devem agendar horário para um
melhor atendimento (personalização de palestras quanto ao tema, idade e
disponibilidade do pessoal do CEA).
4.3.7. Formas de avaliação da equipe e do próprio CEA
Seguindo orientação definida no Decreto 4.281, de 25 de junho de 2002:
Art. 3° Compete ao Órgão Gestor (Ministérios Estaduais do Meio Ambiente e Educação): I – avaliar e intermediar, se for o caso, programas e projetos da área de educação ambiental, inclusive supervisionando a recepção e emprego dos recursos públicos e privados aplicados em atividades dessa área;
51
VI – promover o levantamento de programas e projetos desenvolvidos na área de Educação Ambiental e o intercâmbio de informações; VII – indicar critérios e metodologias qualitativas e quantitativas para a avaliação de programas e projetos de Educação Ambiental.
Anualmente, antes da renovação do programa político-pedagógico do ano posterior,
profissionais de outros CEAs e do MEC serão convidados a avaliarem o Centro. Esta
avaliação juntamente com as opiniões declaradas pelo público durante as visitas e dos
próprios componentes do Centro através de experiências com outras atividades ou de eventos
externos participados como congressos, encontros ou simpósios será a base para reavaliação
contínua do CEA. Desta forma, a equipe fixa do Centro poderá melhorar o programa político-
pedagógico atendendo a demanda e as correções sugeridas.
4.4. ESTRATÉGIAS DE SUSTENTABILIDADE
Vasconcelos (2002) define que o desenvolvimento sustentável tem dimensões
ambientais, econômicas, sociais, políticas, culturais e éticas, e preocupações presentes e
futuras das sociedades, com a produção e o consumo de bens e serviços, com o atendimento
das necessidades básicas, com a conservação e preservação dos ecossistemas, com os direitos
humanos e com o resgate da cidadania, com os mecanismos de participação social e
descentralização do poder de decisão, com a cultura política e com os valores, atitudes e
ideologias.
“O conceito de que o meio ambiente é uma restrição para o desenvolvimento está cedendo lugar para um novo conceito, ou seja, de que o meio ambiente é uma alternativa de oportunidades que pode e deve harmonizar a proteção dos recursos naturais com o crescimento econômico e a geração de rendas, e assim, fundamentar o tripé da sustentabilidade (ambiental, econômico e social)” (LAVORATO, [2005?]).
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Apesar da ótima notícia citada anteriormente, o atual modismo da palavra
“sustentabilidade” tem levado a vulgarização deste conceito e a sua exaustão. Empresas mal
intencionadas liberam na mídia a todo o momento propagandas um tanto enganosas a fim de
fazer seu Marketing Verde e ganhar mais consumidores “superficialmente” verdes. Assim
considero que as empresas de transporte rodoviário que divulgam “ar-condicionado
ecológico” (ar-condicionado com ausência de CFC), não estão fazendo mais do que a
obrigação perante a legislação atual.
Friend (1994, apud SALDANHA, BRADLEY e DANTAS, 2000) considera a
Biosfera como o mais complexo e sofisticado sistema, resultado de bilhões de anos de
sucessão ecosistêmica e seleção natural, onde vive e prospera com a entrada de energia solar,
com imensa diversidade e interconexão, coordenada por competição e cooperação e sem
desperdícios.
Aprender com o mundo natural e disseminar tal aprendizado, é auxiliar o
entendimento profundo das questões ecológicas, acrescentando conhecimentos importantes na
população e fazendo com que o termo “sustentabilidade” seja utilizado corretamente e que as
pessoas interajam mais harmonicamente com o mundo.
Entendendo que a espécie homo sapiens sapiens se tornou uma verdadeira praga no
mundo, causando alterações climáticas, perda de solos férteis, desaparecimento de espécies da
fauna e flora, poluição dos recursos hídricos, surgimento e reaparecimento de doenças e
aumento da freqüência da ressonância da Terra (dando a impressão de que o tempo está
acelerado), a sustentabilidade deve estar inserida 24h em suas práticas cotidianas.
O Centro terá o menor impacto possível com o projeto do edifício desenvolvido para
utilizar ao máximo os recursos naturais renováveis durante o tempo de uso (aproveitamento
de luminosidade e ventilação natural, sistema de energia solar e eólica), para não gerar
desperdícios como uma obra de construção civil convencional, cheia de retrabalhos e, tratar,
53
reutilizar e dar o melhor destino aos resíduos produzidos. Terá também a prática de exigir
fornecedores e prestadores de serviços licenciados e certificados sócio-ambientalmente,
comprar materiais de escritório e de cozinha ecológicos (papel reciclado, copos de alumínio e
de cerâmica) e reutilizá-los ao máximo, comprar materiais de limpeza biodegradáveis e
adquirir materiais decorativos e construtivos alternativos e equipamentos hidráulicos e
elétricos ecoeficientes.
Como os sistemas naturais ainda são os mais perfeitos, com interações eficientes e
democráticas, as atividades serão voltadas para mostrar estas características e provar que
podemos aprender com a natureza e reproduzi-la com um ciclo fechado.
Após o público conhecer as possibilidades e estratégias durante a visita, espera-se que
eles se sensibilizem, internalizem responsabilidades sobre o meio em que estão inseridos,
criem e amadureçam boas idéias.
De acordo com o decreto 4.281, de 25 de junho de 2002:
Art. 3° Compete ao Órgão Gestor: V – estimular e promover parcerias entre instituições públicas e privadas, com ou sem fins lucrativos, objetivando o desenvolvimento de práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre questões ambientais; X – definir critérios considerando, inclusive, indicadores de sustentabilidade, para apoio institucional e alocação de recursos a projetos da área não formal.
Sugiro em busca do Poder Público federal, estadual e/ou municipal, para que
vinculado à Unidades de Ensino (universidades, escolas, ONGs) e às empresas públicas e
privadas, implementem projetos como este e alocar recursos para sua realização.
54
5. CONCLUSÃO
Na cidade do Salvador, dentre tanta beleza e riqueza de recursos e serviços naturais
oferecidos, o caos encontrou espaço na falta de oportunidades da população em obter
educação, emprego, infra-estrutura e cuidados, que interferiu na dinâmica natural e causou o
desequilíbrio ambiental (ecológico, econômico e social) visto atualmente e que tende a
aumentar caso a situação não mude, por ter de suprir suas necessidades e sobreviver.
O ser humano, com telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor (Ilha das
Flores, 1989), tornou-se mais primitivo e irracional do que qualquer espécie. Nenhuma
espécie cria substâncias que o ambiente depois não possa reciclá-lo, compete para ter mais
bens materiais que outra, polui ou destrói sua casa, seu habitat nem se envenena com
poluentes, substâncias artificiais, agrotóxicos e hormônios. É simples, basta olharmos como
as coisas funcionam naturalmente e copiá-las, respeitando o tempo e o processo de reposição
e renovação dos elementos vitais, a água, o solo e o ar.
Para alcançarmos a sustentabilidade, os consumidores devem rever seus padrões de
consumo e economizar como nos tempos de crise, onde a valorização de tudo e o combate ao
desperdício faz boas idéias e práticas emergirem naturalmente. O poder público deve
melhorar a educação básica, gerar renda, equilibrar as desigualdades sociais e acabar com a
negligência dos serviços públicos para dar uma chance de renovação ao mundo. Enquanto
55
houver analfabetismo, desemprego, insalubridade, falta de cultura e corrupção, ao invés da
população se preocupar com o bem-estar global, ela terá primeiro de vencer a miséria, a fome,
a ignorância existente e a predatória cultura norte-americana persistente entre nós.
Devemos, principalmente, educar para a obtenção de novos conceitos e hábitos, para
uma nova maneira de ver a vida onde o ser humano não domina nada e nem compete com seu
semelhante, sendo apenas um integrante do todo que age em prol da qualidade de vida, sem
ser mais nada do que o outro.
Quanto disso tudo é repassado às crianças e aos jovens? A sociedade está capacitada
para repassar esta responsabilidade aos futuros tomadores de decisões? Quanto disso é levado
para a vida real?
Se os assuntos apresentados neste trabalho ficarem na teoria, sem que cada um ponha
a sua “mão na massa” e se sinta responsável e gratificado pela sua ação, seja por uma
denúncia de atos ilegais ou por uma renúncia de objetos supérfluos e assuntos superficiais,
não teremos um futuro promissor.
O Centro de Referência Ambiental deve estar disponível para todos que queiram
aprender, agir e repassar boas práticas que contribuam para um desenvolvimento sem devastar
o meio ambiente.
Idealizadores de CEAs devem buscar seus direitos e recorrer ao órgão gestor definido
na Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, para promoção da implementação e auxílio financeiro de
CEAs.
Além de todas as reflexões feitas ao longo desta monografia, faço minhas as palavras
de Ferreira (1997) “uma comunidade só alcançará o desenvolvimento se tiver senso de
responsabilidade e de participação ativa e acesso à informação”.
Fica então, a proposta para implementação deste projeto piloto para trabalhos futuros
para seu aperfeiçoamento e disseminação entre a população da cidade do Salvador e
56
possivelmente do Brasil, adicionando mais uma experiência ao carente acervo de dados
empíricos sobre Educação Ambiental no país.
Estamos esperando o colapso global para tomarmos atitudes? Acredito que não, então,
mãos-na-massa!
REFERÊNCIAS
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Universidade Federal da Bahia, Salvador.
Autorizo a reprodução [parcial ou total] deste trabalho
para fins de comutação bibliográfica.
Salvador, 18 de outubro de 2007.
Aline Oliveira da Cruz
UFBA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA POLITÉCNICA
DEPTº DE ENGENHARIA AMBIENTAL - DEA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO
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