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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS II – ALAGOINHAS COLEGIADO DO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA MILENA DA SILVA CARNEIRO CENTRO DE MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE DA BAHIA: EXPERIÊNCIAS UNIVERSITÁRIAS E DESAFIO CULTURAL ALAGOINHAS 2012

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Milena da Silva Carneiro

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Page 1: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

CAMPUS II – ALAGOINHAS COLEGIADO DO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

MILENA DA SILVA CARNEIRO

CENTRO DE MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE DA BAHIA:

EXPERIÊNCIAS UNIVERSITÁRIAS E DESAFIO CULTURAL

ALAGOINHAS

2012

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MILENA DA SILVA CARNEIRO

CENTRO DE MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE DA BAHIA:

EXPERIÊNCIAS UNIVERSITÁRIAS E DESAFIO CULTURAL

Monografia apresentada ao curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus II, Alagoinhas, como requisito para obtenção de titulo em Licenciatura em Educação Física, sob a orientação do Professor Doutor Augusto Cesar Rios Leiro.

ALAGOINHAS

2012

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AGRADECIMENTOS

Nossas histórias de vida são marcadas pelas relações que construímos com

aqueles que cruzam nosso caminho, tanto com aqueles que cativamos amizades de

longas datas, como aquelas pessoas que têm sua passagem temporária. Neste sentido,

na minha jornada de formação acadêmica, tive pessoas dessas duas formas e que, direta

e indiretamente, contribuíram para que esta etapa fosse vencida com êxito. Para tanto,

quero deixar meu sincero agradecimento:

Primeiramente a Deus, pela força concedida diariamente para enfrentar as

dificuldades, por iluminar meu caminho, abençoando-me todos os dias.

Aos meus pais e irmãos, pelo amor incondicional, por representarem meu esteio,

sem nunca limitar esforços para me apoiar em toda minha trajetória acadêmica.

Carinhosamente, agradeço ao meu querido namorado Wender, que esteve ao meu

lado, acompanhando cada conquista ou frustração; não medindo esforços pra me ajudar

no que necessitasse; sempre incentivando meu crescimento profissional, bem como

compreendendo minha ausência nesta etapa que se encerra nesta graduação.

Manolo, Conceição e Matheus, minha gratidão pela acolhida em sua casa, e por se

colocarem sempre disponíveis, não importando dia ou horário, para me levar ao aeroporto

ou à rodoviária, para participar de eventos acadêmicos;

Aos meus tios, primos, avó que sempre demonstraram preocupação comigo, bem

como torceram pelo meu sucesso.

Não podia esquecer meu agradecimento especial à Rauven, Janine e Nino que

permaneceram ao meu lado durante toda esta jornada me fazendo companhia,

protegendo e transmitindo alegria.

Para além da amizade, agradeço também a Anderson, pelas inúmeras vezes que

me socorreu, quando precisei de ajuda técnica na área de informática.

Já nesta reta final de conclusão de curso, a contribuição de D. Lurdes, Geisa e Téo

foi de fundamental importância para a realização das entrevistas. Portanto, fica aqui meu

muito obrigado.

Aos meus amigos, em especial Laís, Grace, Dani, Abigail, Jocileide, Rebeca, que

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não apenas nos momentos de diversão estiveram ao meu lado, mas que também nos

momentos turbulentos me deram apoio;

Aos amigos que fiz ao longo das participações em congressos, em especial a Alan

Kardec bem como àqueles com quem, para além dos eventos acadêmicos, pude

compartilhar experiências em algumas disciplinas do curso, como Andressa, Isis, Alani,

Daiara, Cintia, pela companhia e bons momentos desfrutados juntos, e que certamente

ficarão guardados em nossa memória.

Em nossas vidas, despertamos maior afinidade com algumas pessoas do que com

outras. Assim sendo, durante a graduação, como expressão de admiração, respeito e

carinho, tive, nas imagens dos professores Luiz Rocha e César Leiro, referência de

competência, profissionalismo e dedicação à Educação Física. Portanto, meu

agradecimento, pela amizade, compreensão e por acreditarem em meu potencial.

Principalmente ao prof. César Leiro que sempre depositou confiança em minha

capacidade, dando subsídios para o meu crescimento profissional deixando-me livre pra

que pudesse alçar vôos.

Aos professores Ubiratan Menezes, Francisco Pitanga, Diana Tigre, Magdalânia

Cauby, Eduardo Sá, Nélia Bispo, Normando Carneiro, Gregório Benfica, Ana Simon,

Gleide Sacramento, Mônica Benfica, Valter Abrantes, Maurício Maltez, Martha Benevides,

Neuber Leite e Alan Rocha que fizeram da minha vida acadêmica uma construção do

saber.

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia pelo apoio através do

financiamento de bolsa de Iniciação Cientifica.

Às amigas Arissandra, Juliana Correia, Rita de Cássia e Tatiane firmando ao longo

do curso uma grande parceria intelectual, compartilhando experiências, angústias e

alegrias.

À galera do paredão, Ariane, Janilma, Silas, Guilherme, Ângela, Izandra, Shirley,

Érica pela amizade e pelo que vivemos juntos.

Enfim agradeço a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram na

formação profissional.

Page 5: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

Guardar

Guardar uma coisa não é escondê-la ou

trancá-la. Em cofre não se guarda nada.

Em cofre, perde-se a coisa à vista.

Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por

admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.

Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer

vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é estar

acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela.

Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro.

do que um pássaro sem vôos;

por isso se escreve, por isso se diz, por isso se

publica, por isso se declama e declara um poema:

para guardá-lo;

para que ele, por sua vez, guarde o que se guarda,

guarde o que quer que guarde um poema.

Por isso o lance do poema:

Por guardar-se o que se quer guardar.

Antonio Cícero

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RESUMO Reconhecendo a importância do papel desempenhado pelos Centros de Memória, quanto ao trabalho de preservação da memória, disponibilizando-a de forma organizada e verificando que a Bahia, enquanto primeiro Estado do Brasil, ainda carece de um espaço que acolha a massa documental referente à Educação Física e ao Esporte, a investigação em tela se interessou em discutir as bases teóricas e infraestruturais para a criação de uma instituição desta no Estado. Para tanto, foi realizada uma pesquisa, fundamentada na abordagem qualitativa e do tipo exploratório, que se utilizou, como procedimentos metodológicos, de levantamento da literatura da área, entrevista com o primeiro coordenador dos Centros de Memória da Educação Física do Esporte da Escola de Educação Física de Minas Gerais (CEMEEF) e da Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CEME), bem como de observação dos sítios virtuais desses centros. Este estudo se estruturou em sete capítulos, abarcando desde uma breve discussão conceitual sobre memória e história, como forma de justificar a relevância do trabalho nesta área, atingindo o seu ápice ao discutir algumas experiências universitárias como forma de compreender quais os desafios que teremos que encarar na empreitada de constituição do Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia. Palavras-chave: Centro de Memória. Educação Física. Experiências acadêmicas.

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ABSTRACT

Recognizing the important role played by the Centers for Memory, as the work of preserving the memory, making it available in an organized and verifying that the Bahia State of Brazil as the first, still lacks a space that welcomes the mass of documents relating to Education physical and Sports, research on screen was interested in discussing the theoretical foundations and infrastructure for the creation of an institution in this state. Therefore, a search was conducted, based on a qualitative approach and exploratory type, which was used as methodological procedures, lifting the literature, the first interview with the coordinator of Memory Centers of Physical Education Sports School of Education Physics of Minas Gerais (CEMEEF) and the School of physical Education and Sports, Federal University of Rio Grande do Sul (CEME), as well as observation of virtual sites such centers. This study was structured into seven chapters, ranging from a brief conceptual discussion about memory and history, as a way to justify the relevance of the work in this area, reaching its apex in discussing some university experiences as a way to understand what challenges we must face contract for the establishment of Memory Center of Physical Education and Sports of Bahia. Keywords: Memory Center. Physical Education. Academic experiences.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS FAPESB – Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia UNEB – Universidade do Estado da Bahia GEPEFEL – Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Física, Esporte e Lazer MEL – Grupo de Pesquisa em Memórias, Esporte e Lazer UFBA – Universidade Federal da Bahia CEMEF – Centro de Memória da Educação Física, Esporte e Lazer CEME – Centro de Memória do Esporte UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFPR – Universidade Federal do Paraná EEFFTO – Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais IBRAM – Instituto Brasileiro de Museus IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciências e Cultura CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico FAPEMIG – Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais FAPERGS – Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul PROPESQ-UFRGS – Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul PROREXT – UFRGS – Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

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LISTA DE GRÁFICOS GRAFICO 1 – Número de museus na capital e UF e porcentagem (%) de concentração de museus na capital, 2010 GRÁFICO 2 – Quantidade de convênios firmados e pesquisas desenvolvidas, distribuídos por ano

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LISTA DE IMAGENS IMAGEM 1 – Sítio virtual do Centro de Memória do Esporte da Escola de Educação Física da UFRGS IMAGEM 2 – Sítio virtual do Centro de Memória da Educação Física, do Esporte e do

Lazer – UFMG

IMAGEM 3 – Exposição: "Souvenirs" Olímpicos – Centro de Memória do Esporte (CEME)

IMAGEM 4 – Acervo: Olímpica - Medalha Oficial dos Jogos olímpicos de Lillehammer,

1994

IMAGEM 5 – Processo de identificação de objetos

IMAGEM 6 – Prédio do Centro de Memória da Educação Física, do Esporte e do Lazer da

UFMG

Imagem 7 – Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: Acervo Helio Campos

Page 11: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Recuperação e restauração de imóveis – Bahia, 2003 a 2006 QUADRO 2 – Conservação de imóveis – Bahia, 2006

Page 12: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Relação entre população e número de museus na Bahia, Região Nordeste e Brasil, 2010 TABELA 2 – Distribuição das pesquisas nos nove eixos temáticos, representadas em porcentagem

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 13 2 TENSÃO CONCEITUAL: HISTÓRIA E MEMÓRIA........................................................ 16

2.1 CATEGORIAS DA MEMÓRIA .................................................................................. 18 2.1.1 Tipos de memória............................................................................................... 18 2.1.2 Memória e esquecimento .................................................................................. 20 2.1.3 Temporalidades da memória .............................................................................. 21

3 OS CENTROS DE MEMÓRIA E SUA IMPORTÂNCIA NA PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA ......................................................................................................................... 26

3.1 OS CENTROS DE MEMÓRIA DE EDUCAÇÃO FISICA, ESPORTE E LAZER NO BRASIL ........................................................................................................................... 29

4 O PODER DA MEMÓRIA NUM ESTADO CHAMADO BAHIA ...................................... 31

4.1 O PAPEL DOS EDITAIS: IBRAM E ME ................................................................... 38 5 PERCURSO METODOLÓGICO .................................................................................... 43

5.1 UFMG E UFRGS COMO REFERÊNCIAS ............................................................... 51 6 DESAFIOS HISTÓRICOS E IMEDIATOS ...................................................................... 61 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 65 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 67 APÊNDICE ....................................................................................................................... 70 ANEXOS ............................................................................................................................ 73

Page 14: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

1 INTRODUÇÃO A Universidade, através do ensino, pesquisa e extensão, possui, como um de seus

papéis primordiais, a geração e a difusão do conhecimento. Isso se demonstra por meio

da participação em eventos científicos, publicações em periódicos, bem como pela

confecção de um trabalho de conclusão de curso, expressando um retorno social para

com os investimentos públicos feitos nesta instituição.

Com vistas ao curso de Educação Física da Universidade do Estado da Bahia,

campus II, nos últimos anos, seu crescimento e fortalecimento têm sido notáveis, com

êxito nos aspectos do ensino, da pesquisa e da extensão. Como estudante da graduação,

passei por inúmeras vivências, no decorrer do processo ensino-aprendizagem, que

elucidaram a escolha da temática para a construção do meu trabalho de conclusão de

curso, na modalidade monografia. O trabalho em tela configura a síntese dos esforços

despendidos em minha formação profissional, bem como resulta no término de uma etapa

de minha vida acadêmica.

Remetendo a minha trajetória estudantil dentro da universidade, para além do

conhecimento adquirido nos componentes curriculares, o incentivo à pesquisa, em alguns

deles, foi constante, inclusive com produções submetidas e aprovadas para apresentação

em congressos científicos, despertando, assim, o interesse em me aprofundar neste

campo.

Com este desejo, obtive apoio da FAPESB, através do Programa de Iniciação

Científica, desenvolvendo o subprojeto “Garimpando memórias: os trabalhos

monográficos do curso de Licenciatura em Educação Física do Campus II da UNEB”. Ao

mesmo tempo, aproximei-me das discussões sobre Ordenamento Legal e Políticas

Públicas, uma das linhas de pesquisa do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação

Física, Esporte e Lazer – GEPEFEL – UNEB, e que, mais adiante, numa parceria com o

Grupo MEL – UFBA, possibilitou a minha participação no projeto “Políticas Públicas de

Esporte e Lazer no Estado da Bahia: Diagnóstico e intervenção no Território 18”.

Nesta caminhada na área da pesquisa, pude ainda participar do projeto “Centro de

Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: um desafio histórico”, estudo este

que surge como proposta de escrita monográfica e que busca analisar e resgatar a

Page 15: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

trajetória da Educação Física e do Esporte, bem como discutir as bases teóricas e

infraestruturais para a criação desta instituição no Estado.

A intenção de estudo parte do pressuposto de que, constituir um Centro de

Memória da Educação Física e do Esporte, é um desejo coletivo e uma necessidade

histórica. Uma iniciativa que demanda tempo e passos científicos capazes de reunir e

preservar documentos relacionados ao tema. É evidente que a sociedade, ao longo do

tempo, tem vivenciado inúmeras transformações e que, para entendermos o presente e

planejarmos o futuro, certamente temos o dever de olhar o passado, de modo contextual

e sociocultural.

Para tanto, importa ressaltar o relevo de editais públicos que estimulam a

formulação de políticas públicas plurais e socialmente referenciadas.

Nesse cenário se inscreve o crescente interesse público e o cuidado setorial

visando à preservação da memória documental, preocupando-se em disponibilizá-la de

forma organizada. Com base nisso, os Centros de Memória têm desempenhado esta

tarefa, tornando-se um lugar propício para o estímulo ao ensino e à pesquisa.

A pesquisa como princípio educativo vem encontrando, nos Centros de Memória,

em particular nos da área da Educação Física e do Esporte, um campo fecundo para a

formação de diferentes sujeitos. Possibilidade essa que já se faz presente em muitas

universidades brasileiras. No que tange à área das políticas de preservação da memória,

já são referências nacionais as experiências da Escola de Educação Física de Minas

Gerais (CEMEEF) e o Centro de Memória da Escola de Educação Física e Desportos da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CEME), dentre outras. Porém, ao tratarmos

do Estado da Bahia, do primeiro Estado do Brasil, verificamos a inexistência de iniciativas

e de espaço para acolher tal desafio.

No entanto, apesar de existir um diálogo para a sua criação, o Estado da Bahia

ainda carece de um Centro de Memória na área de Esporte e Lazer. Sendo assim, torna-

se necessária sua criação, organização e consolidação, como forma de enfrentar o

desaparecimento do patrimônio histórico relacionado a esse tema.

Para fazer a discussão sobre a temática comentada até aqui, este trabalho

monográfico encontra-se estruturado em sete capítulos, dispostos da seguinte forma:

Page 16: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

capítulo introdutório busca situar a problemática a ser tratada, justificando sua escolha.

Para desenvolver o trabalho, o levantamento de estudos sobre a área tornou-se de

extrema relevância. Deste modo, procurei dialogar com algumas categorias teóricas, já no

segundo capitulo – “Tensão conceitual: história e memória” – onde faço este exercício,

trazendo aspectos que englobam desde o surgimento de estudos neste campo e até

mesmo de que forma eles influenciam diretamente nosso cotidiano.

Denominado “Os Centros de Memória e sua importância na preservação da

memória”, o terceiro capítulo pontua o papel desempenhado por instituições de

preservação da memória. Assim, neste capítulo, apresento um subtópico específico: “Os

Centros de Memória de Educação Física, Esporte e Lazer no Brasil”, onde apresento a

trajetória desses espaços no País.

O quarto capítulo – “Poder da memória num Estado chamado Bahia” – traz

argumentos que demonstram a importância desta unidade federativa, para a constituição

do País que, pela sua diversidade cultural, torna-se um campo fecundo de manifestações

artístico-culturais, que, através de iniciativas do poder público, vêm sendo preservadas ao

longo do tempo. Embora exista uma valiosa contribuição de alguns personagens, que

vêm mostrando seu potencial e consequentemente auxiliando no reconhecimento da

Educação Física e do esporte no País, no que respeita à sua memória, as fontes

documentais estão dispersas, requerendo ações que as acolham e tratem. Neste sentido,

ainda neste capítulo, faço um recorte da parcela de contribuição que os editais públicos

vêm dando a esta tarefa.

Contextualizar os passos percorridos para se elaborar uma pesquisa de caráter

cientifico é ainda necessário. Sendo assim, o quinto capítulo aborda as opções

metodológicas escolhidas para a construção deste trabalho monográfico, bem como

apresenta e discute os dados obtidos nas entrevistas realizadas com duas personagens

importantes no cenário dos centros de memória de esporte no País.

Em seguida, apresento a conjuntura das instituições-memória ligadas ao esporte,

em específico no Estado da Bahia, e, a partir dela, apresento os desafios que teremos de

enfrentar no processo de criação, e até a sua consolidação, de um centro de memória.

Por fim, diante do que foi exposto ao longo deste estudo, trago minhas

considerações finais.

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2 TENSÃO CONCEITUAL: HISTÓRIA E MEMÓRIA

Vivemos numa sociedade marcada pelas crescentes e velozes transformações

tecnológicas, e, juntamente com elas, a facilidade e a rapidez dos meios de comunicação

têm ocasionado uma profusão de informações. Em decorrência destes fatores, a

memória, que possui, como uma de suas funções principais, “reter fatos, dados e/ou

informações bem como retransmiti-las a novas gerações” (VON SIMSON, s.d. p. 1), não é

capaz de lembrar tudo nos mínimos detalhes, requisitando um mecanismo para intervir de

forma que estes não se percam.

Diante desta situação, os Centros de Memória surgem como o lugar propício à

preservação de documentos com valor histórico para a sociedade. No intuito de discutir as

bases teóricas para a edificação de um Centro de Memória, faz-se necessário

compreender os fatores que justificam o trabalho nesta área.

Partindo do entendimento de que a memória e a história como campos do saber

desempenham papel importante, uma vez que possibilitam a análise e a compreensão de

acontecimentos passados que influenciam diretamente o futuro, nossa primeira tarefa é

destacar as contribuições advindas dessas áreas. No plano teórico, existem diversos

estudos voltados para a preservação da memória documental e é a partir deles que

iniciamos este capítulo.

Sabemos, portanto, que os estudos sobre memória já possuem uma longa

caminhada, despertando o interesse de estudiosos. Segundo Fontanelli (2005, p. 17),

com o surgimento da Escola dos Annales, são utilizados vários instrumentos, desde os

mais convencionais e até mesmo depoimentos orais e monumentos, com o objetivo de

constituir a memória nacional.

Diversos são os tipos de abordagem da memória, podendo esta ser explorada por

filósofos, psicólogos, psiquiatras, entre outros, que a estudam isoladamente. Por outro

lado, há estudiosos, como Halbwachs (apud FONTANELLI, 2005, p. 18), que relacionam

a memória com as instituições sociais, sendo considerada, assim, como um fenômeno

social.

Conforme a referida autora, já no final do século XIX, as investigações de Pinto

(1998 apud FONTANELLI, 2005) evidenciam o aparecimento de trabalhos sobre este

Page 18: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

tema, em diversos campos de reflexão, sendo tal evento atribuído às mudanças que

aconteceram nas relações humanas, junto ao processo de urbanização, pelas quais se

passou a privilegiar o presente, desperdiçando as lembranças.

Para entender a relação entre história e memória, é preciso, inicialmente,

compreender o que seja história. Como apontado na literatura, esta tarefa não é fácil, uma

vez que a concepção de história é bastante complexa, pois traz como objeto de estudo as

sociedades humanas.

Percebida a complexidade do assunto, verifica-se uma ampla discussão pelos

estudiosos. Dentre eles, Le Goff (2004 apud FONTANELLI, 2005, p. 20), que a define

como “ciências da evolução das sociedades humanas”, o que será desenvolvido mais

adiante, quando o mesmo autor faz a colocação de ciência do passado em constante

reconstrução.

Sob o entendimento de Bloch (2001 apud OLIVEIRA, 2011, p. 2), a história “é a

ciência dos homens no tempo”. Podemos acrescentar, ainda, que, enquanto elemento

fundante do trabalho de preservação do patrimônio cultural de um país, Goellner (2003, p.

200) trata a história como “reconstrução a partir das fontes que cada sujeito reúne para

construir sua narrativa”. Ou seja, o homem inserido na sociedade se autopermite

reconstruir sua história, ao deixar vestígios que o ajudam nesta tarefa. Portanto, ainda de

acordo com esta autora, a história se situa como a possibilidade de estabelecer ligações

entre várias épocas, evidenciando que o passado é algo que não é passível de mudança,

apenas de aproximação, recorrendo a documentos, imagens, objetos, artefatos, sons e

narrativas, dentre outros elementos.

Já a memória, segundo Belotto (2004 apud COELHO; ASSIS, 2010, p. 6),

compreende “um conjunto de informações e/ou documentos, orgânicos ou não”, que é

fonte material, para arquivos, bibliotecas, centros de documentação e museus, sendo

para isso empregadas diversas metodologias no tratamento de dados.

Diferenciando história e memória, observamos que:

Halbwachs, antes mesmo de Benjamin, já refletira sobre esta questão e separou as duas áreas, considerando a memória como instrumento de trabalho do historiador. Para ele, o historiador precisa manter certo distanciamento temporal dos acontecimentos para poder escrever sobre eles de forma critica. Enquanto que a memória é imediata e, com a ação do tempo ou o distanciamento do grupo, pode ser enfraquecida ou mesmo alterada, em virtude das influências e da alteração do próprio repertorio cultural do individuo. (FONTANELLI, 2005, p. 20)

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Deixando clara, a diferença entre história e memória, a autora considera que a

memória só existe em vista daquele que viveu determinado fato, enquanto a história pode

ser contada por outra pessoa, mesmo que não tenha nascido naquela época, mas que,

através de registros, documentos, é capaz de relatar e refletir o ocorrido.

Ainda com a pretensão de diferenciar memória e história, Fontanelli (2005, p. 21)

fundamenta-se nas análises de David Lowenthal (1998), que esclarece: A função fundamental da memória, por conseguinte, não é preservar o passado, mais sim adapta-lo a fim de enriquecer e manipular o presente. Longe de simplesmente prender-se a experiências anteriores, a memória nos ajuda a entendê-las. Lembranças não são reflexões prontas do passado, mais reconstruções ecléticas, seletivas, baseadas em ações e percepções posteriores e em códigos que são constantemente alterados através dos quais delineamos, simbolizamos e classificamos o mundo à nossa volta. (apud FONTANELLI, 2005, p. 21)

No que se refere à história, segundo Lowenthal,

A história difere da memória não apenas no modo como o conhecimento do passado é adquirido e corroborado, mas também no modo como é transmitido, preservado e alterado. (1998 apud FONTANELLI, 2005, p. 22)

A história, portanto, tem a função de construir a representação crítica do passado,

mantendo vínculo com a modernidade, segundo Pinto (1998 apud FONTANELLI, 2005, p.

22). Assim, ela é um campo de conhecimento que visa discutir, elucidando fatos da

memória coletiva. Para isso, a memória é considerada objeto da história, existindo

dependência entre elas, uma vez que a história precisa da memória e esta é perpetuada e

registrada pela primeira.

2.1 CATEGORIAS DA MÉMORIA

Por categoria entendem-se “os modos mais gerais de se predicar um sujeito”

(MONTEIRO; CARELLI, 2007, p. 4). Tendo em vista que a memória apresenta variadas

características, estabelecemos algumas categorias para compor nossa investigação,

dentre elas: tipos de memória, esquecimento e temporalidade da memória.

2.11Tipos de memória

No entendimento de Von Simson (s.d, p. 1), a memória é a capacidade humana de

reter fatos que aconteceram no passado e retransmiti-los às novas gerações, por meio de

Page 20: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

diferentes suportes (voz, imagem, documentos escritos etc.). Partindo dessa ideia,

podemos trabalhá-la sob dois enfoques: o individual e o coletivo.

Para a memória individual, este autor ainda discorre que é aquela que o indivíduo

guarda sobre suas vivências e experiências. Por estar inserido na sociedade, engloba

também aspectos da memória do grupo social onde ele se formou. Já a memória coletiva,

pode ser caracterizada como aquela formada pelos acontecimentos considerados

importantes e que são guardados como memória oficial da sociedade.

Neste sentido, a memória é individual ou subjetiva, quando se trata das

experiências ao nível do indivíduo, e pode ser social ou coletiva, quando se baseia na

cultura de um agrupamento social e em códigos apreendidos nos processos de

socialização que acontecem no seio da sociedade.

Tanto a memória individual quanto a coletiva são importantes, no entanto, há de se

considerar que a segunda se sobressai sobre a primeira, uma vez que estarmos inseridos

na sociedade e assim somos influenciados por pessoas e pelo contexto de que fazemos

parte.

Complementando esta ideia, em Halbwachs (1990 apud FONTANELLI, 2005, p.

18), vamos encontrar a observação de que “cada memória individual é um ponto de vista

sobre a memória coletiva”. Assim, ela muda de acordo com o local, o contexto, as

pessoas e as relações mantidas com o meio. Tal fato nos explica o porquê de nossas

lembranças serem modificadas, quando relembradas junto daqueles que delas

participaram, visto que, muitas vezes, as lembranças que possuímos não coincidirem com

as de outras pessoas.

Conforme Le Goff (2003, p. 460), algumas das manifestações mais importantes da

memória coletiva se deram no século XIX e início do século XX, por meio de dois

fenômenos. O primeiro, após a Primeira Guerra Mundial, que foi a construção de

monumentos aos mortos, sendo erguido, em vários países, um Túmulo ao Soldado

Desconhecido.

O segundo foi o advento da fotografia, revolucionando a memória, permitindo a sua

guarda, ao longo do tempo, segundo uma ordem cronológica. Para contribuir com tal

afirmação, Le Goff se utiliza das palavras de Pierre Bourdieu (1965, p. 53-54),

evidenciando o significado do álbum de família: A Galeria de Retratos democratizou-se e cada família tem, na pessoa do seu chefe, o seu retratista. Fotografar as suas crianças é fazer-se historiógrafo da sua infância e preparar-lhes, como um legado, a imagem do que foram [...]. O álbum

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de família exprime a verdade da recordação social. Nada se parece menos com a busca artística do tempo perdido que estas apresentações comentadas das fotografias de família, ritos de integração a que a família sujeita os seus novos membros. As imagens do passado dispostas em ordem cronológicas, “ordem de estações” da memória social, evocam e transmitem a recordação dos acontecimentos que merecem ser conservados porque o grupo vê um fator de unificação nos monumentos da sua unidade passada ou, o que é equivalente, porque retêm do seu passado as confirmações da sua unidade presente. [...].

A memória coletiva exerce um papel de grande relevância, podendo ser

demonstrada com a evolução da sociedade, na segunda metade do século XX. Com ela

são incorporadas questões, tanto das sociedades desenvolvidas como daquelas em

desenvolvimento, das classes dominantes e das classes dominadas, que lutam todas pelo

poder, pela vida.

Cabe assinalar que a memória representa, também, um instrumento de poder, isso

se dá a partir do eixo que orienta o trabalho definido pela instituição que realiza a

atividade, de acordo com os objetivos daquele grupo.

2.1.2 Memória e esquecimento

Falar de memória significa mencionar a lembrança e o esquecimento. A título de

curiosidade humana, a maneira de registrar os fatos considerados importantes tem sido

objeto de variadas investigações. Para Von Simson (s.d., p. 4), este processo se “baseia

nas sinapses (ligações eletroquímicas) que conectam o vivido e o experienciado pelos

sentidos com a área cerebral onde se dará o registro”. Para que sejam registradas as

informações, entretanto, torna-se necessário um filtro seletivo, separando o que deve ser

preservado daquilo que deve ser descartado, tarefa em que a cultura apresenta um

importante papel.

Creus (2002 apud FONTANELLI, 2005, p. 28) discorre que “o esquecimento é

imprescindível para evocação da lembrança e para a própria constituição da memória.

Somente lembramos porque somos capazes de esquecer”. Neste sentido, citando os

estudos de Izquierdo (2002), Monteiro e Carelli (2007, p. 2) complementam, explicitando a

necessidade que temos de esquecer para não sobrecarregar a memória. Desta forma,

eles entendem que o esquecimento é um “processo natural e necessário para o melhor

funcionamento da memória”.

Page 22: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

A memória pode ser tratada em três temporalidades distintas, como discutiremos

adiante, sendo que cada uma delas é afetada pelo esquecimento, como aponta Monteiro

e Carelli (2007, p. 12):

Até a memória técnica é constituída de esquecimento. Não é possível memorizar tudo que está disponível, nem na mente humana (oralidade), nem nos “lugares da memória” (escrita), nem mesmo, no Ciberespaço (digital).

Ainda, segundo as autoras, o esquecimento apresenta estreita relação com a

memória oral, uma vez que a transmissão do conhecimento estava baseada

exclusivamente na oralidade, através de ritos e mitos, e aquilo que não fosse reiterado era

esquecido. Já na memória escrita, o conhecimento julgado conveniente de ser preservado

era registrado em suporte, enquanto, na sociedade digital, o esquecimento se torna

constante, devido não haver garantias de preservação da memória. Tal fato é justificado

pela retirada de documentos da rede e a desterritorialização dos signos, que provocam o

esquecimento.

2.1.3 Temporalidades da memória

Falar em memória é trazer para o debate a maneira como o conhecimento é

transmitido ao longo do tempo. Dessa maneira, não se podem negar as diversas

alterações sofridas com a incorporação de novos suportes e técnicas de comunicação. No

entanto, cabe dizer que um antigo suporte não deixou de existir para dar espaço a outro,

mas eles surgiram de forma a se sobreporem aos demais. Neste contexto, portanto, a

memória se divide em três temporalidades distintas: a oral e as memórias técnicas, ou

seja, aquelas mediadas pelos registros do conhecimento, tais como a escrita e o digital.

O ser humano, desde a sua gênese detém uma grande quantidade de informações,

tanto na memória de longo prazo como na temporária. É pertinente dizer, então, que a

utilização da memória biológica foi a primeira forma de transmissão e perpetuação do

saber. Assim, as sociedades orais são consideradas aquelas anteriores à invenção da

escrita, quando se transmitia o conhecimento através da narração de mitos e ritos.

A prevalência da oralidade é uma das características da sociedade, antes da

escrita. Nela, todo conhecimento eram transmitido oralmente, tendo na figura dos mais

velhos o papel de destaque nesta realização. Como o saber só era transmitido por meio

Page 23: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

da fala, não era possível se preservar a memória, o rito, e o mito, sem passar pelo

processo de observação, escuta, repetição, imitação e atuação das pessoas.

Os estudos revelam que neste tipo de sociedade existiam especialistas da

memória, vulgo homens-memória, que eram compostos pelos “genealogistas1”, guardiões

dos códices reais, historiadores da corte, “tradicionalistas”, com o papel de manter a

coesão do grupo, papel este que podia ser desempenhado pelos chefes de família idosos,

bardos e sacerdotes.

É importante dizer que: Os anciões, nessa época, eram considerados sábios guardiões da memória que, por sua vivencia e experiência adquirida com a idade, detinham valiosos conhecimentos e preciosas lembranças. (MONTEIRO; CARELLI 2007, p. 7)

No entanto, cabe falar que, embora muitas pessoas acreditem, os estudos de

Godoy revelam que a memória transmitida nas sociedades sem escrita não é uma

memória “palavra por palavra”. Para chegar a essa conclusão, ele se utilizou do mito do

Bagre, recolhido entre os lodagaas do norte de Gana, verificando a existência de

numerosas variantes do mesmo mito. Para Godoy, nesta sociedade não é desenvolvida

uma aprendizagem mecânica, automática, o que também não implica que tal fato esteja

relacionado à dificuldade objetiva de memorização integral, palavra por palavra, mas pode

estar ligado a uma ideia de “menos apreciável que o fruto de uma evocação inexata”.

(GODOY apud LE GOFF, 2003 p. 426)

Desta maneira, a reprodução mnemônica2, palavra por palavra, estaria relacionada

à escrita, como apontado por Le Goff (2003, p. 426), enquanto a sociedade sem escrita,

excetuando algumas práticas de memorização ne varietur3, dá à memória mais liberdade

e poder criativo.

O surgimento da escrita desencadeou inúmeras transformações na memória

coletiva, pois, através dela, os acontecimentos poderiam ser registrados em suporte, não

1 Profissional que atua no ramo da genealogia, ou seja, estuda a origem, a evolução e a disseminação das famílias e respectivos sobrenomes ou apelidos. Mais informações em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Genealogia>. Acesso em: 19.jun.2012. 2 São, tipicamente, verbais, e utilizados para memorizar listas ou fórmulas, e se baseiam em formas simples de memorizar maiores construções, baseados no princípio de que a mente humana tem mais facilidade de memorizar dados quando estes são associados a informação pessoal, espacial ou de caráter relativamente importante, do que dados organizados de forma não sugestiva (para o indivíduo) ou sem significado aparente. Mais informações em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Mnem%C3%B3nica>. Acesso em: 19,jun.2012 3 Trata-se de uma locução latina que significa: “Para que nada seja mudado”; usada para indicar reprodução muito fiel. (Pequeno Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa, 11ª Ed., Ed. GAMA)." Informações retirada do site: http://www.maconaria.net/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=125. Acesso em: 19.jun.2012

Page 24: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

sendo mais atribuída exclusivamente à memória biológica a guarda de informações. Com

a escrita também foram desenvolvidas duas formas de memória: a primeira surge da

comemoração, por meio de monumentos e inscrições, e a segunda aparece nos

documentos.

Notadamente a primeira forma de memória pode ser verificada em Le Goff (2003,

p. 427), quando nos elenca alguns exemplos, tais como: Na mesopotâmia, predominavam as estelas, nas quais os reis quiseram imortalizar os seus feitos através de representações figuradas, acompanhadas de uma inscrição, desde o III milênio, como atesta a estela dos Abutrs (Paris, Museu do Louvre), em que o rei Eannatum de Lagash (cerca de 2470) fez conservar, através de imagens e de inscrições, a lembrança de uma vitória [...]. Na época assíria, a estela tomou a forma de obelisco, tais como o de Assurbelkala ( final do II milênio) em Nívine (Londres, British Museum) e o obelisco negro de Salmanassar III, proveniente de Nimrud, que imortalizava uma vitória do rei no pais de Nousri (cerca de 892).

Dentre os suportes de inscrição dos acontecimentos estão a argila, as tábuas de

cera, os pergaminhos, o papiro e o papel. Também havia outros materiais que serviam de

suporte para a escrita, tais como a pedra e o mármore. A esses dois era acrescida a

função de arquivos, pelo caráter de sua durabilidade e ostentação.

No que tange aos documentos, vistos como a segunda forma de memória ligada à

escrita, vale ressaltar que eles possuem, em si, um caráter de monumento. Assim sendo,

tivemos várias experiências até chegarmos à escrita em papel. Antes disso, foram feitas

tentativas sobre o osso, a pele, o estofo, na antiga Rússia, como aponta Le Goff (2003, p.

428), a folha de palmeira, na Índia, a carapaça de tartaruga, na China, e por fim o papiro,

o pergaminho e o papel.

Para Monteiro e Carelli (2007, p. 7), com o advento da escrita, os suportes da

memória tornam-se uma extensão da memória biológica humana e, desta forma, se

separam do sujeito, tornando-se algo morto, objetivo e impessoal. Ao mesmo tempo,

estes suportes permitem que o saber se torne disponível, acessível, estocável,

consultável, possibilitando, assim, que seja objeto de análise e exame.

Neste sentido, Godoy (1977 apud Le Goff, p. 429) contribui, apresentando duas

funções principais da escrita: “uma é o armazenamento de informações, que permite

comunicar através do tempo e do espaço, e fornece ao homem um processo de

marcação, memorização e registro; a outra, [assegura] a passagem da esfera auditiva à

visual”

Page 25: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

Com o surgimento da escrita, foi gerada a tendência de separar os fatos que

devem ser registrados em suporte. Esses registros permitem a conservação da memória,

por maior tempo, de forma fiel, com maior durabilidade e objetividade.

Nas últimas décadas, viemos acompanhando o grande desenvolvimento das

tecnologias digitais. Com a utilização de novas técnicas, verificaram-se abundantes

transformações na maneira de produzir e preservar o conhecimento. Corroborando com

esta afirmativa, Le Goff (2003, p. 462) observa que “o desenvolvimento da memória no

século XX, sobretudo depois de 1950, constitui uma verdadeira revolução da memória, e

a memória eletrônica não é senão um elemento, sem dúvida o mais espetacular”.

No entanto, é pertinente falar que, ao mesmo tempo em que o avanço tecnológico

favoreceu a disseminação do saber, propiciando ao homem uma facilidade no acesso à

informação, fez surgir uma inquietação quanto aos desafios e problemas vindouros, com o

uso deste novo dispositivo. Melhor esclarecendo, não seria equivocado dizer que a

rapidez e a facilidade de acesso aos meios de comunicação têm gerado uma quantidade

exorbitante de informações, assim, diante desta realidade, o homem praticamente tem

consumido estes dados de forma acrítica.

Além dessas considerações, ainda nos estudos de Fontanelli (2005, p. 26),

podemos observar que este aumento na produção de conhecimento fez com que se

tornasse impossível, bem como desnecessário, memorizar as informações. Assim,

correlacionando tal fato ao incremento da internet como meio de comunicação, a autora

considera que o caráter efêmero das informações é um dos fatores para que não se

memorize tudo aquilo que se produz.

Uma das preocupações quanto a este tipo de memória é que os registros feitos

pelos dispositivos digitais não garantem a preservação da memória. A partir desta

afirmativa, nos valemos da opinião de Battelle (2006 apud MONTEIRO; CARELLI, 2007,

p. 11), expressando que a “Web não tem memória”. Isso pode ser vastamente percebido

devido à atualização das fontes que, para além da inserção de dados, implica também na

retirada de conteúdos antes disponibilizados nestes espaços.

Ainda de acordo com estas autoras, os mecanismos de busca trazem sua

importância para a memória digital, uma vez possibilitarem a lembrança dos conteúdos

que estão disponíveis para a consulta dos indivíduos. No entanto, para elas, o objetivo de

um site como o google, atualmente uma das maiores plataformas de processamento de

dados, é a busca e não a preservação de dados.

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Outro fator de preocupação, agora apontado por Ferreira e Amaral (2004 apud

MONTEIRO; CARELLI, 2007, p. 10) é de “que o arquivamento digital não apresenta a

linearidade temporal das memórias anteriores”. Assim, a narração de um acontecimento

passado se dá de forma fragmentada e descontínua. Portanto, para que a exista uma

memória cultural digital, estas autoras mencionam a opinião de Battelle, dizendo que seria

preciso criar um eixo de tempo em que os arquivos da internet fossem disponibilizados

em uma cópia, para cada dia do ano.

3 OS CENTROS DE MEMÓRIA E SUA IMPORTÂNCIA NA PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA

Page 27: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

O trabalho de preservação dos saberes históricos vem despertando o interesse de

homens e mulheres, nos últimos tempos. Tal situação é ocasionada por se perceber a

relevância de evocar o passado para se entender a vida cotidiana. Trata-se de

compreender a identidade de um povo, na perspectiva em que “é a memória que nos dá a

sensação de pertencimento e existência, daí a importância dos lugares de memória para

as sociedades humanas e para os indivíduos” (RIBEIRO, 2007 apud MONTEIRO;

CARELLI, 2007, p. 2).

É inegável que “Preservar a memória torna-se necessário porque a memória

representa a presença de um passado no presente ao referir-se a uma reconstrução

psíquica e intelectual de um passado que nunca é apenas individual, mas de um indivíduo

inserido num contexto familiar, social, político, cultural e econômico”. (GOELLNER, 2003,

p. 200)

O trabalho com memória “não nos aprisiona ao passado mas nos conduz com

muito maior segurança para o enfrentamento dos problemas atuais” (VON SIMSON, s.d.,

p. 3). Corroborando essa ideia, nos valemos daquele dito popular de que “devemos

aprender com o passado”, para frisar o valor de se preservar a memória como elemento a

nos auxiliar nas decisões futuras.

Assim sendo, a preocupação com a preservação das memórias tem levado o

homem a tomar cuidados para que estas não se percam ao longo do tempo. Neste

sentido, o papel que antigamente era desempenhado pelos mais velhos, atualmente vem

sendo substituído por instituições especializadas, que trabalham no intuito de garantir

condições satisfatórias para a preservação da memória documental, seja ela escrita, oral,

ou iconográfica.

De acordo com Linhares e Figueiredo (2011, p. 2):

Ao passo que as diferentes sociedades no mundo se constroem e se modificam são produzidos os registros que testemunham e servem de base para o conhecimento e a reavaliação deste processo pelas gerações futuras, tais registros constituem o que chamamos de documentos.

Do mesmo modo que a sociedade tem sofrido mudanças, a concepção de

documento passou por alterações, deixando de ser aquele texto escrito e oficial para ser

representado por todo e qualquer suporte que sirva de interpretação de um passado.

Desta forma, para Lima, Moreno e Possas (2009, p. 2), o conceito de documento engloba

Page 28: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

uma carta, um livro anotado, uma escultura, fotografias, objetos pessoais e poemas,

dentre outros. No entanto, “para que cumpram sua função social, administrativa, jurídica,

técnica, científica, cultural, artística e/ou histórica é necessário que estejam preservados,

organizados e acessíveis” (TESSITORE, 2003, p. 8).

É preciso, ainda, nos atentarmos para o fato de que “guardamos do passado

apenas cacos, vestígios, reminiscências” (CHAGAS apud LIMA; MORENO; POSSAS,

2009, p. 2), assim sendo, através dos documentos temos uma possível visão daquele

acontecimento, constituindo numa provável versão.

No intuito de desempenhar a função de preservar a memória, em Tessitore (2003,

p. 11), encontramos quatro tipos de entidades incumbidas dessa tarefa, que são os

museus, arquivos, bibliotecas e centros de documentação. Entretanto, apesar de todos

desempenharem o papel de guarda e difusão dos documentos, cada uma deles se torna

diferente, pelo tipo de documento e procedimentos técnicos empregados no tratamento do

seu acervo.

Ao tomar o Centro de Memória da Educação Física e Esporte como objeto de

estudo, notadamente as questões postas por Tessitore (2003, p. 15), o aproximam de um

centro de documentação:

Possui documentos arquivísticos, bibliográficos e/ou museológicos, constituindo conjuntos orgânicos (fundos de arquivo) ou reunidos artificialmente, sob a forma de coleções, em torno de seu conteúdo; ser um órgão colecionador e/ou referenciador; ter acervo constituído por documentos únicos ou múltiplos, produzidos por diversas fontes geradoras; possuir como finalidade o oferecimento da informação cultural, científica ou social especializada; realizar o processamento técnico de seu acervo, segundo a natureza do material que custodia.

No entanto, Linhares e Figueiredo (2011, p. 4) observam que “todo Centro de

Memória se constitui enquanto Centro de Documentação mas não o contrário”. Para

tanto, estabelecem que os Centros de Memórias se caracterizam numa perspectiva

histórica, quando a constituição do acervo prima pela preservação e difusão da memória

dos sujeitos e instituições.

Atualmente, tem se verificado uma política de formação de rede de memórias. Esta

é baseada em adesões voluntárias que visam cooperação, troca de informações e

experiências, sendo promovidos cursos, encontros, que discutem aspectos técnicos

relacionados à preservação da memória (RODRIGUES, 2011, p. 26).

Page 29: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

Segundo Silva (1999, p. 56), os centros de memória e documentação tornaram-se

característicos da ambiência acadêmica, cuidando de preservar o patrimônio arquivístico

e, em alguns casos, museológico. Mas, à frente, essa mesma autora explica que devido à

ausência de consciência e vontade política quanto à preservação documental e pela

grande quantidade de papéis públicos, em relação aos privados, esta função acabou

sendo transferida para as instituições de nível superior.

Complementando a discussão, um dos motivos que levam as universidades a

intervir neste sentido tem sido a grande dificuldade de acesso a fontes de pesquisa para o

desenvolvimento de estudos. Um dos fatores determinantes nesse quadro foi a ausência

de instituições que tratassem de preservar o patrimônio documental brasileiro, juntamente

com o descaso dos poderes públicos, das instituições privadas e particulares, bem como

a falta de recursos humanos especializados e de recursos financeiros investidos nestas

iniciativas.

Dessa maneira, Silva (1999, p. 57) ainda diz que: A solução encontrada foi criar na universidade, centros especializados na preservação e organização dessas fontes, trazendo para perto do pesquisador o material necessário ao desenvolvimento de suas pesquisas. Dessa forma, resolvia-se o problema do acesso ás fontes e, ao mesmo tempo, envolvia-se a universidade na tarefa premente de participar dos esforços de preservação da memória, nacional ou regional, conforme o caso.

Em Linhares e Figueiredo (2011) são sinalizadas, como principais diretrizes dos

Centros de Memória, “a função de preservação documental, recuperação da informação

de modo a disponibilizá-la para pessoas em geral bem como preservar a memória dos

sujeitos e instituições sociais firmando assim a identidade coletiva”. Para tanto, os acervos

que constituem tais Centros são compostos por documentos de origens diversas, sendo

adquiridos através de permutas, compras ou doação.

Cabe salientar que não basta apenas preservar, como aponta Fontanelli (2005, p.

23), pois este material deve ser armazenado, organizado de forma a disponibilizá-lo para

pesquisadores que produzirão novos conhecimentos.

Em vista disso, Simson (s.d., p. 3) considera que as instituições-memória possuem

esta tarefa de coletar, tratar, recuperar e organizar os documentos, colocando à

disposição da sociedade a memória de um grupo social, que é retida em suportes

materiais diversos. Atualmente, são inúmeros os suportes que registram e conservam a

Page 30: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

memória. Dentre eles, citamos os documentos escritos, imprensa, fotografia, vídeos,

discos, CDs, DVDs, disquetes etc.

É importante destacar o trabalho, elaborado por Tessitore (2003), “Como implantar

Centros de Documentação”, que vem se tornando uma referência para aqueles que

almejam participar desta empreitada. Este trabalho consiste num verdadeiro manual

passo a passo de cada medida a ser tomada para criação destes espaços. Assim, a

referida autora expõe elementos imprescindíveis, desde a necessidade de se definir a

área na qual a instituição irá trabalhar, como deve ser tratada a massa documental, nos

procedimentos de arranjo e descrição dos fundos e coleções, a conservação dos

documentos e o atendimento ao público. Além disso, aborda quais profissionais devem

compor o quadro de pessoal, bem como a função de cada um deles em um centro, e, por

fim, trata da infraestrutura necessária ao desempenho de sua função.

Como a própria autora revela neste estudo, a dinâmica de trabalho num centro de

memória despende esforço para a aquisição, o armazenamento e o processamento

técnico do acervo que acolhe. Sendo que ainda “devido à variedade de materiais reunidos

ele apresenta características biblioteconômica, arquivística e museológica” (TESSITORE,

2003, p. 15).

3.1 OS CENTROS DE MEMÓRIA DE EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE E LAZER NO

BRASIL

Nos últimos anos, tem sido constante a produção de trabalhos relacionados à

história da Educação Física, Esporte e Lazer. Geralmente vinculados a projetos de

pesquisa desenvolvidos em universidades, com o auxílio de alguns órgãos de

financiamento, temos, nesses documentos, registros oficiais, reportagens, depoimentos

de personagens importantes, variadas fontes de investigação.

O diálogo com a história tida campo teórico nos permite reconstruir o passado, a

partir dos vestígios deixados pelo homem. Sendo assim: Recorrer, portanto, á pesquisa histórica para melhor conhecer o esporte moderno significa recorrer a textos, imagens, sons, objetos, monumentos, equipamentos, vestes, ou seja, - memórias – entendendo-as como possibilidades de compreender que ali estão escritas sensações, ideologias, valores, mensagens e preconceitos que permitem conhecer parte do tempo onde foram produzidos e que podem nos auxiliar a compreender um tempo. GOELLNER, 2003, 2005, p. 80)

Page 31: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

Valendo-nos destas informações, é perceptível a visibilidade que os centros de

memória vêm conquistando no Brasil, principalmente na ambiência acadêmica. Dentre

algumas instituições que priorizam a política de preservação da memória, podemos citar o

“Museu da Escola de Minas Gerais, que faz parte do Centro de Referencia do Professor,

o Centro de Memória da UNICAMP, o Projeto de Estudos e Documentação Educação e

Sociedade (PROEDES)” (MORO; GODOY, s.d, p. 4). Tratando-se da Educação Física,

atualmente, grande parte das universidades públicas brasileiras possui espaços que se

dedicam à preservação das práticas corporais, esportivas e de lazer.

Na esteira dessas instituições, temos o Centro de Memória do Esporte (CEME),

na UFRGS, e o Centro de Memória da Escola de Educação Física de Minas Gerais

(CEMEEF), que são considerados como locais de referência na área, em vista da vasta

experiência adquirida ao longo de mais de 10 anos de história.

No entanto, trazendo para o debate Goellner (2005, p. 82), podemos afirmar que

algumas iniciativas comprometidas com a preservação, recuperação e socialização, já

poderiam ser vistas no Brasil há algum tempo atrás. Portanto, a priori, não se trata de

uma realidade nova, pois tais iniciativas eram estruturadas a partir do interesse individual,

de colecionadores, que formavam seu acervo particular, sendo que a maioria deles ainda

não foi disponibilizada para acesso público. Como exemplo: - O acervo de Gerson Sabino, jornalista de Belo Horizonte, que desde a década de 30 colecionou artefatos relacionados ao futebol visto ter participado de todas as Copas do Mundo até o ano da sua morte, em 1998. [...] - A coleção de livros de Mario Cantarino, localizada em sua residência na cidade de Brasília. O professor Mario começou a reunir diferentes obras desde o final dos anos 40, reunindo um acervo bibliográfico que se constitui, hoje, na maior biblioteca particular do Brasil sobre Educação Física e Esportes [...]. - [...] o Museu de Educação Física, organizado pelo professor Jair Jordão Ramos de modo informal e particular em sua própria residência, no Rio de Janeiro.

Além destes exemplos, que figuram os acervos particulares relacionados à

memória do esporte no País, a autora elucida que alguns clubes, a partir dos anos 80 do

século XX, têm desempenhado o papel de preservar a memória esportiva e olímpica do

Brasil. Para citar alguns, vamos ter o Arquivo Histórico do Clube Espéria, de São Paulo

(1989); o Museu do Grêmio Football Porto Alegrense (1988); o Centro de Memória Hans

Nobiling, ligado ao Esporte Club Pinheiros, em São Paulo (1991); o Memorial Sogipa

pertencente à Sociedade de Ginástica Porto Alegre; o Flu-Memória, vinculado ao

Fluminense Football Club, no Rio de Janeiro (1995); o Centro de Documentação do

Comitê Olímpico Brasileiro (1996) e o Acervo Histórico do Minas Tênis Clube.

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Também a partir dos anos 80, surgiram algumas iniciativas institucionais no Brasil,

como o Centro de Memória Esportiva De Vaney, vinculado à Secretaria Municipal de

Esportes de Santos, onde seu acervo engloba materiais datados desde 1938. No que

tange aos centros de memória e de documentação, estes despontaram há pouco tempo

atrás, como anteriormente dito, vinculados às Universidades, em sua maioria, públicas.

Em pesquisa, Rodrigues (2011, p. 27) aponta que as universidades, instituições e

clubes esportivos têm desempenhado papel extremamente significativo para a área do

esporte, não apenas por conservarem objetos e documentos, mas, entrelaçados a esta

tarefa, podem-se desvendar experiências que nos ajudam a compreender o presente.

Colaborando com esta discussão, a referida autora cita a análise de Vago (2008

apud RODRIGUES, 2011) sobre esses centros, ponderando que seus acervos contêm

diferentes tipos de informações e documentos que revelam as ações humanas, dos

governos e entidades, seja vivenciando, organizando ou usufruindo das práticas

esportivas e que, assim, podem contribuir para a compreensão das representações

atreladas ao esporte.

Referindo-se a estes espaços, Linhares e Figueiredo (2011, p. 5) enfatizam que: A maioria dos centros de memória estabelece como um dos objetivos principais: a preservação, a organização, reconstrução e disponibilização da memória que está relacionada com suas respectivas áreas de especialização. O Centro de Memória do Esporte Londrinense tem como objetivo: “cumprir a missão de resgatar, organizar, preservar e disponibilizar a memória esportiva londrinense” (PIRES, A.G.M.[s/d], p. 1) ; o Centro de Memória do Departamento de Educação Física da UFPR: “ recuperar, preservar e divulgar a memória da antiga Escola de Educação Física e das Práticas corporais no Estado do Paraná” (AZEVEDO, L.C.S et al. [s/d], p1); o Centro de memória da Educação Física da EEFFTO da UFMG “

Para Rodrigues (2011, p. 28), existe uma necessidade de atenção e ações

diferenciadas para que os documentos e objetos possam ser disponibilizados ao público.

Sendo assim, para lidarem com os acervos que abrigam, as instituições devem contar

com trabalhos complementares, como o de preservação, pesquisa e comunicação.

Um dos pontos-chave para que a memória seja preservada, segundo a autora

supracitada, consiste em produzir conhecimento sobre ela. Desta forma, a existência de

programas de pesquisa permanente, nestes espaços, contribui para gerar conhecimento

sobre as investigações em curso.

4 O PODER DA MEMÓRIA NUM ESTADO CHAMADO BAHIA

Page 33: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

Considerado primeiro Estado brasileiro, a Bahia destaca-se pela sua riqueza

histórica e cultural. Primeiramente, podemos atribuir tal relevo à importância desta

unidade federativa na constituição do País, uma vez que foram as terras baianas as

primeiras a serem avistadas pelos portugueses, em 1500, assim como suas cidades as

primeiras a se formarem no Brasil.

Como podemos verificar, no documento produzido pelo Instituto Brasileiro de

Museus, intitulado “Museus em Números”, o contexto em que se deu a formação do

Estado da Bahia contribuiu para a diversidade cultural de seu povo. Para isso, alguns

fatores foram determinantes, tais como a sua localização estratégica, que estimulou a

exploração por nações europeias, a implantação do sistema colonial e a incorporação de

diversas tradições culturais, a economia escravagista baseada na monocultura de fumo e

açúcar, tendo a mão de obra originária dos povos africanos.

Desta maneira, constituída por múltiplas culturas provenientes das interações entre

povos, a Bahia torna-se um Estado rico em suas manifestações artístico-culturais. Cabe

frisar que estas manifestações refletem a sua própria história, bem como mantêm vivas

suas tradições e costumes.

Para além do patrimônio imaterial4, possuímos também uma vasta riqueza de

construções, datadas do período colonial, muitas delas tombadas pelo Instituto do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a exemplo dos conjuntos arquitetônicos das

cidades de Cachoeira e Porto Seguro e alguns edifícios na cidade de Salvador.

Vale destacar a relevância que o Pelourinho representa para o País, atribuída pelo

seu valor arquitetônico, artístico e paisagístico, sendo tombado pela Organização das

Nações Unidas para Educação, Ciências e Cultura – UNESCO, como Patrimônio da

Humanidade.

Outro local que figura a grande potencialidade da Bahia, no que se refere à

memória, é o Museu do Estado, criado pela Lei nº 1255, de 23 de julho de 1918, foi aberto

com retrato de personalidades locais e uma lápide comemorativa, em mármore. Assim, se

tornaria um lugar oficial para recolher estandartes de guerra e relíquias sagradas,

consideradas parte do patrimônio histórico da Bahia e do Brasil. Nesta ocasião, o discurso

4 A Unesco define como Patrimônio Cultural Imaterial “as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural”. Mais informações em: <http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=10852&retorno=paginaIphan>. Acesso em: 03.jul.2012

Page 34: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

do deputado Fiel Fontes, reproduzido nos Annaes do Archivo Publico da Bahia (Sessão

de 13 de junho de 1918), já apontava argumentos sobre a importância deste espaço, pois

segundo ele, traria: progresso do Estado, para aquelles que aqui vierem visitar esta Capital possam admirar o valor da Bahia, que é grande, em tudo, nas artes, na sciencia, e mesmo na occasião em que tem sido preciso demonstrar o seu valor cívico tem sido inexcedível, tem sido extraordinária. Que fiquem nos nossos museus, como patrimônio do Estado, documentos dos nossos antepassados e que isto nos sirva de estimulo para que procuremos cumprir o nosso dever; para que possam coroar de brilho, de dignidade esta tradição; e que as gerações futuras, nos fazendo justiça, enveredem pelo mesmo caminho, sigam a mesma rota e a Bahia possa figurar como primeira entre os Estados da Federação Brasileira. (CERAVOLO, 2011, p.10)

Não obstante a relevância dos patrimônios aqui citados, podemos sinalizar que,

abrangendo todo o território estadual, encontramos igrejas e construções que se

caracterizam de cunho histórico. Somente em Salvador, segundo a publicação “Museus

em números” são totalizadas 350 igrejas católicas, espalhadas por toda cidade, algumas

delas datadas dos séculos XVII e XVIII.

Cientes do valor que estes patrimônios representam, sejam edificados ou

imateriais, cabe despender esforços que assegurem a sua preservação, bem como a

memória do Estado. Neste sentido, algumas políticas têm sido executadas pelo Instituto

do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, a Fundação Pedro Calmon e o Arquivo

Público da Bahia.

De acordo com o portal da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, verificamos

que, em 2010, algumas iniciativas foram surgindo, no intuito de reforçar a importância da

preservação da história e da memória do Estado. Neste ensejo, tivemos a parceria,

firmada com o jornal A Tarde, por meio do Projeto “História da Bahia: da memória

impressa ao conteúdo digital”, pelo qual foi realizada a digitalização de todo conteúdo do

jornal mais antigo em circulação no Estado, permitindo, com isso, o acesso do público aos

registros jornalísticos da memória do Estado, de 1912 até hoje.

Outra iniciativa deu-se por meio do Centro de Memória da Bahia, que integra a

Fundação Pedro Calmon e conta com um acervo bibliográfico e títulos especializados que

abordam a História da Bahia. Neste espaço são oferecidos cursos que tratam desta

temática, bem como são desenvolvidas algumas ações, como o Projeto Octávio

Mangabeira, que busca transcrever e analisar as correspondências deste governador,

durante seu primeiro exílio (1930-1934) na Europa.

Page 35: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

Ainda nesta matéria encontramos o Arquivo Público do Estado, avaliado como o

segundo mais importante do País que, em 2010, completou 120 anos de existência e

recebeu reconhecimento internacional, sendo nomeado pela UNESCO para integrar o

Registro Nacional do Programa Memória do Mundo, no mesmo ano, pelo conjunto

documental “Registros da Entrada de Passageiros no Porto de Salvador: 1855-1964”.

Em trabalho conjunto com o Centro de Memória da Bahia, foram preservados e

catalogados cerca de 1,7 milhão de documentos. Esta tarefa somente foi possível, a partir

de investimentos em torno de R$ 500 mil reais, no desenvolvimento do Projeto de

Modernização do Laboratório de Restauração e Encadernação do Arquivo Público da

Bahia, com a execução do projeto de descontaminação e conservação do acervo e dos

depósitos do Arquivo Público da Bahia e a aquisição de uma máquina híbrida para o

laboratório de microfilmagem.

A partir do exposto, averiguamos que o poder público tem se esforçado para

preservar o patrimônio e a memória do Estado. Para tanto, existem ações permanentes

que tratam de recuperar, restaurar e conservar o patrimônio arquitetônico e histórico

cultural, evitando sua degradação e desaparecimento.

Nesta perspectiva, de acordo com o Relatório de atividades do ano de 2006 do

Governo do Estado da Bahia, através do IPAC, vários imóveis e sítios históricos foram

recuperados, restaurados e conservados. Para demonstrar, seguem dois quadros: o

primeiro lista todas as obras que sofreram recuperação e foram restauradas, no período

de 2003 a setembro de 2006.

QUADRO 1 Recuperação e restauração de imóveis

Bahia 2003- 2006 OBRAS

CONCLUÍDA

2006 (*) Antigo Posto de Saúde – Lençóis

Biblioteca Municipal Urbano Duarte – Lençóis

Conjunto do Carmo: Igreja da Ordem Primeira, Ordem Terceira e Casa de Oração – Cachoeira

Forte do Barbalho Modulo A ( parcial) – Salvador

Forte Santo Antonio Além do Carmo ( Forte da Capoeira) – Salvador

Igreja Nossa Senhora do Rosário do Sagrado Coração do Monte Formoso ( Igreja do Rosarinho) e Cemitério –

Cachoeira

Museu do Recolhimento dos Humildes (1ª e 2ª etapa) – Santo Amaro

Sede do IPAC – Salvador

Page 36: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

Palacete Martins Catharino – Museu Rodin Bahia – Salvador

Sede do IPHAN – Lençóis

Terreiro Pilão de Prata – Salvador

Catedral Nossa Senhora Sant’ana – Caetité – Etapa Final

2005 Arquivo Público do Estado – Salvador

Catedral de São Sebastião – Ilhéus

Gregório de Matos, 29 – Salvador

Igreja de São Miguel – Itacaré

Igreja do Bonfim – Salvador

Museu de Arte da Bahia ( projeto luminotécnico) – Salvador

Museu de Arte Moderna da Bahia ( galpão oficina) – Salvador

2004 Casa de Ana Nery – Cachoeira

Casa de Câmara e Cadeia – Cachoeira

Casa dos Santos da Ordem terceira do São Francisco – Salvador

Escola Azevedo Fernandes – Salvador

Igreja da lapinha – Salvador

Igreja de Bom Jesus dos Navegantes – Barra

Igreja Nossa Senhora da Ajuda – Salvador

Mercado Público – Lençóis

Museu Tempostal – Salvador

Prefeitura Municipal – Lençóis

2003

Casa de Cultura Américo Simas – São Felix

Igreja das Missões – Jacobina

Igreja Nossa Senhora da Ajuda – Jaguaripe

Igreja de Santo Antonio – Jacobina

Igreja de São Bartolomeu – Maragogipe

Igreja de São José de Itaporã – Muritiba

Igreja do Bom Jesus – Piatã

Catedral Nossa Senhora Santana – Caetité – 1ª etapa

Palácio da Aclamação ( anexo Sede Conselho estadual de Cultura) – Salvador

Prefeitura Municipal – Mucugê

Teatro Miguel Santana – Salvador

EM ANDAMENTO 7ª Etapa do Centro Histórico de Salvador – Salvador

Arquivo Público Municipal – Lençóis

Casa de Cultura Afrânio Peixoto e Anfiteatro – Lençóis

Gregório de Matos, 31 – Salvador

Igreja Nossa Senhora do Rosário – Cachoeira

Page 37: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

Quarteirão Leite Alves – Futuro Campus da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – Cachoeira

Rua Ana Nery, 02 – Cachoeira

Rua Benjamim Constant, 17 – Cachoeira

Rua Sete de setembro, 34 – Cachoeira

Fonte: SCT/Ipac.

(*) Dados até setembro.

No quadro 2, podemos observar que também foram realizados investimentos no

sentido de conservar alguns imóveis.

QUADRO 2 CONSERVAÇÃO DE IMÓVEIS

BAHIA, 2006 (*) OBRAS

CONCLUIDA

Biblioteca Central dos Barris – Salvador

Igreja do Sacramento – Rio de Contas

Igreja Nossa Senhora Santana – Rio Vermelho

Largo do Pelourinho, 16 – Salvador

Museu de Arte da Bahia – Salvador

Museu Tempostal – Salvador

Rua das Laranjeiras, 12 – Salvador

Rua do Bispo, 29 e 30 – Salvador

Rua Gregório de Matos, 41 – Salvador

Rua João de Deus, 18 – Salvador

Rua Padre Agostinho, 03- Salvador

Rua Ribeiro dos Santos, 50 - Salvador

EM ANDAMENTO

Palácio da Aclamação – Salvador

Palácio Rio Branco – Salvador

Praça da Aclamação, 04 – Cachoeira

Solar Ferrão

Fonte: SCT/Ipac.

(*) Dados até setembro.

Page 38: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

Cabe dizer que os recursos angariados para estas obras surgem a partir de

projetos e programas, a exemplo do Programa Monumenta5, nas cidades de Cachoeira e

Lençóis, que resulta de contrato de empréstimo entre o Banco Interamericano de

Desenvolvimento – BID e a União.

Em se tratando de iniciativas de preservação do patrimônio histórico e da memória

do Estado, salientamos que estas não se resumem apenas àquelas elencadas até então.

O IPAC vem dando atenção também à recuperação de bens móveis, principalmente obras

religiosas, assim como ao tombamento de diferentes bens importantes para a história e a

cultura da Bahia.

Tendo em vista a proposta deste capítulo de se fundamentar em elementos que

corroborem a força da memória nesta unidade federativa, consideramos pertinente a

opção de levantar o patrimônio edificado que passou por recuperação, restauração e

conservação, para assim ampliar nosso olhar sobre a imensidão de nossos bens

históricos e culturais.

Repleta de significados históricos na formação da identidade nacional e de seu

povo, a Bahia possui ainda diversos museus que fazem o papel de guarda e preservação

da memória. Como outra forma de visualizar a riqueza desta terra, no que se refere ao

seu teor histórico, podemos recorrer, mais uma vez, à publicação “Museus em números”. 6 Ainda que os dados aferidos estejam relacionados aos museus, podemos acompanhar a

proporção, nas esferas estadual, regional e nacional, conforme as tabelas e gráficos a

seguir.

TABELA 1 – RELAÇÃO ENTRE POPULAÇÃO E NÚMERO DE MUSEUS NA BAHIA, REGIÃO NORDESTE E BRASIL, 2010

5 Monumenta é um programa de recuperação sustentável do patrimônio histórico urbano brasileiro, sob tutela federal. 6 “Museus em números” é uma publicação periódica, com edições trimestrais, onde o Ministério da Cultura, por meio do Instituto Brasileiro de Museus, traz para o público informações levantadas pelo Cadastro Nacional de Museus e que servem de referência para o planejamento de políticas públicas, bem como ao desenvolvimento de pesquisa e participação setorial.

Page 39: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

Se compararmos o número de museus existentes na Bahia e no Nordeste,

veremos que este Estado detém grande parte destas instituições. Assim como, de acordo

com esta publicação, a capital, Salvador, considerada a terceira cidade mais populosa do

Brasil, concentrando 46,7% dos museus baianos, é também o terceiro município brasileiro

com o maior número de instituições museológicas. Além disso, dentre os 417 municípios

que fazem parte desta unidade federativa, 55 possuem instituições museais.

GRÁFICO 1 – NÚMEROS DE MUSEUS NA CAPITAL E UF E PORCENTAGEM (%) DE CONCENTRAÇÃO DE MUSEUS NA CAPITAL, 2010

No que tange à área de Educação Física, Esporte e Lazer, é notória a

potencialidade do Estado na revelação de variados sujeitos envolvidos nestas práticas e

que assim contribuíram direta e indiretamente para o seu desenvolvimento.

No entanto, ainda que comprovada a existência de estudos dispersos sobre sua

história, do ponto de vista de Silva et al. ( 2006, p. 2), pode-se concluir que: Existe uma carência no que se refere ao estudo histórico, sistematizado e catalogado das manifestações da Cultura Corporal, Educação Física, em sua expressão cultural popular. Em contrapartida, este estado, matriz cultural do Brasil, apresenta uma diversidade de expressões culturais, uma amplitude de manifestações populares que contribuíram e contribuem para configuração de uma identidade cultural, tanto no próprio estado quanto no país.

Page 40: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

4.1 O PAPEL DOS EDITAIS: IBRAM E ME

É bem verdade que atualmente temos voltado nossos olhares para a questão dos

editais públicos, priorizando a elaboração de projetos como forma de obter apoio de

órgãos de financiamento. Tratando-se de ações voltadas para a preservação da memória

da Educação Física, Esporte e Lazer, para efeitos deste trabalho, buscaremos discutir o

papel dos editais de duas fontes de financiamento: a primeira o instituto Brasileiro de

Museus, que tem um caráter específico no fomento da área museológica e, a segunda, o

Ministério dos Esportes, que por meio da Rede Cedes estimula a produção de

conhecimento científico e tecnológico sobre o esporte e o lazer.

Para discutir o papel dos editais do Ministério do Esporte é importante,

primeiramente, contextualizar a conjuntura da qual surgem estas iniciativas. Assim sendo,

vale ressaltar que, por muitos anos, o esporte esteve vinculado a secretarias e

departamentos dentro de Ministérios já consolidados. Isso pode ser aferido

cronologicamente no exposto por Alves e Pierante (2007, p. 12): Em 1937, o tema começou a ganhar relevância no âmbito federal com a criação da Divisão de Educação Física, vinculada ao Ministério da Educação e Saúde, posteriormente reorganizado como Ministério de Educação e Cultura. [...] Apenas em 1970 a Divisão de Educação Física foi transformada no Departamento de Educação Física e Desportos, ainda vinculada ao Ministério da Educação e Cultura (MEC). [...] Em 1978, o esporte passou a ser alvo de regulação por uma secretaria, dando início a uma troca de seu nome e de sua vinculação. Em 1995, o então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, criou o Ministério Extraordinário do Esporte, sendo a secretaria substituída pelo Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto (INDESP), separado do MEC e subordinado ao novo ministério. Extinto o ministério extraordinário, foi criado o Ministério do Esporte e Turismo, responsável pelas duas áreas até 2002. Pela primeira vez na história do Brasil, foi criado no ano seguinte, sem qualquer menção a caráter extraordinário, o Ministério do Esporte.

Por outras vias, cabe trazer para a discussão que a concepção de esporte tem

sofrido diversas modificações, ao longo dos anos. Assim, aquela velha ideia do esporte

meramente como uma atividade de lazer vem sendo substituída e ganha notoriedade uma

nova concepção. Assim sendo, foi incorporada uma visão de atividade econômica

estritamente relacionada a uma prática que inclui pessoas e que, por sua vez, contribui

para amenizar os problemas referentes à saúde e à educação.

A partir deste panorama, a criação de um ministério próprio possibilitou a

organização de uma política governamental efetiva, sendo elaborados e instituídos

Page 41: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

programas e ações, tais como Programa Segundo Tempo, Bolsa Atleta, Esporte e Lazer

da Cidade, Lei Agnelo-Piva de 2003 e a lei de incentivo fiscal ao esporte, em 2006.

Como uma forma de melhor organizar, estruturar e planejar propostas voltadas

para os mais diversos campos que o esporte abrange, foi realizada uma divisão interna,

levando-se em consideração a divisão por segmentos esportivos, segundo a UNESCO.

Para isso, o Ministério dos Esportes dispõe de secretarias específicas que tratam do

esporte de rendimento, do esporte educacional, de esporte e lazer, além de uma que

aborda questões relacionadas apenas ao futebol.

Uma das ações programáticas do Ministério dos Esportes foi a implantação da

Rede CEDES, reunindo diferentes Instituições de Ensino Superior e sendo composta por

grupo de pesquisa de uma mesma instituição ou de outras. De acordo com Schwartz et al.

(2010, p. 44): A Rede CEDES visa estimular esses Grupos a produzir e difundir conhecimentos voltados para o aperfeiçoamento e a qualificação de projetos, programas e políticas públicas de esporte recreativo e de lazer, por meio da produção e difusão de conhecimentos fundamentados.

Deste modo, a partir de acordo firmado entre a Universidade e a Rede CEDES, são

financiados pelo Ministério dos Esportes variados projetos de pesquisa, tendo como

princípio o fomento às políticas públicas de esporte recreativo e de lazer.

Um indicador bastante importante de avaliação das ações da Rede CEDES é o

estudo feito por Schwartz et al. (2010, p. 50), pois nele encontramos informações

referentes aos projetos de pesquisa, apoiados de 2003 até 2010. Neste período,

observamos que foram firmados 129 convênios, sendo que alguns destes convênios

subsidiavam mais de uma pesquisa, totalizando 208 pesquisas ao todo. Esses dados

podem ser acompanhados, de acordo com o ano, no gráfico a seguir.

GRÁFICO 2 – QUANTIDADE DE CONVÊNIOS FIRMADOS E PESQUISAS DESENVOLVIDAS, DISTRIBUÍDOS POR ANO

Page 42: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

A título de curiosidade, vale destacar que, até o ano de 2006, este apoio se dava a

partir de convite direto aos grupos de pesquisa que desenvolviam estudos voltados para

esporte e lazer e seus aspectos políticos. Depois disso, elaborava-se um projeto a ser

executado que era encaminhado para revisão por equipe gestora do Ministério dos

Esportes.

Somente a partir de 2007 é que o financiamento de projetos de pesquisa passou a

ser feito com base em editais públicos. Divulgados no site oficial do Ministério do Esporte,

estes editais definiam temas norteadores para os pesquisadores elaborarem seu projeto.

Cabe frisar que estes temas eram definidos levando-se em conta os déficits na área e que

mereciam enfoque.

Atendo-se aos eixos temáticos definidos para receber propostas de projetos de

pesquisa, encontramos:

1. “Memória do esporte e do lazer”; 2. “Perfil do esporte e lazer”; 3. “Programas integrados de esporte e lazer”; 4. “Desenvolvimento de programas sociais de esporte e delazer”; 5. “Observatório do esporte”; 6. “Gestão de esporte e de lazer”; 7. “Avaliação de políticas e programas de esporte e de lazer”; 8. “Infraestrutura de esporte e de lazer”; 9. “Sistema Nacional de Esporte e Lazer”.

Pelo caráter deste trabalho, buscaremos analisar a participação de projetos

relacionados ao eixo “Memória do esporte e lazer”. Assim, de acordo com Schwartz et al.

Page 43: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

(2010, p. 56), foi o que teve maior incidência com 19,58% das pesquisas, como a tabela 2

permite verificar.

TABELA 2 – DISTRIBUIÇÃO DAS PESQUISAS NOS NOVE EIXOS TEMÁTICOS, REPRESENTADAS EM PORCENTAGEM

Ainda segundo a referida autora, estas pesquisas visaram resgatar a história de

algum tipo de modalidade esportiva, ou de clube/instituição, ou mesmo de jogos e

brincadeiras tradicionais e regionais, vivenciadas no âmbito do lazer.

Partindo agora para o Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM, como instituição que

angaria verbas para o desenvolvimento de ações voltadas para preservação da memória,

como descrito no seu sítio virtual, seus editais públicos integram as ações empreendidas

pelo Ministério da Cultura, no âmbito da Política Nacional de Museus. Através deles é

desempenhado um conjunto de ações voltadas para o desenvolvimento das instituições

museológicas e para o fomento à criação de novas instituições de memória que

representem a diversidade social, étnica e cultural do País.

Com a intenção de garantir o acesso aos recursos públicos, de forma democrática

e descentralizada, é que o IBRAM promove seus editais. Segundo palavras do então

presidente da instituição, José do Nascimento Junior, no Programa de Fomento aos

Museus 2012, estas iniciativas surgem como “elemento estratégico para legitimação do

direito à memória do povo brasileiro”.

De acordo com informações disponibilizadas no seu sítio virtual, em 2011, foram

investidos mais de 16 milhões de reais em 10 editais públicos. Neste ano de 2012, serão

lançados também mais 10 editais, com a previsão orçamentária de cerca de 10 milhões

de reais para apoiar e premiar iniciativas, tais como construção e a modernização de

museus, o incentivo a artistas contemporâneos e a experiências voltadas para a memória.

Page 44: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

Vale ressaltar que este ano teremos um edital público específico, voltado para a Memória

do Esporte Olímpico, destinado a selecionar e a premiar iniciativas de preservação da

memória nesta área, com o objetivo de apoiar ações de divulgação, preservação e difusão

de acervo.

Page 45: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

5 PERCURSO METODOLÓGICO

Ao adentrar no trato metodológico para desenvolver esta produção monográfica,

considero importante fazer uma discussão sucinta sobre conhecimento, ciência, pesquisa

e métodos.

Adquirido com o tempo, através de nossas vivências cotidianas, estamos sempre

em contato com o conhecimento. Esta afirmação incide também no fato de que cada

indivíduo obtém um determinado conhecimento, independentemente do seu grau de

instrução. Melhor esclarecendo, trago o exemplo, citado por Lakatos e Marconi (2010, p.

57), quando falam que um camponês, mesmo iletrado, sabe identificar o momento certo

para semear, colher, a necessidade de utilizar adubos, os cuidados para que a plantação

não seja infestada por pragas ou ervas daninhas. Fazendo alusão ainda ao sistema de

cultivo, o mesmo autor faz referência a diferentes épocas, apontando os métodos

utilizados e como o homem se apropriara do conhecimento para melhores resultados.

Com isso, ele evidenciou dois tipos de conhecimento, aquele popular, transmitido de

geração a geração e baseado nas experiências pessoais e o outro, científico, com o

usufruto de procedimentos testados.

Para além destes dois tipos, em Lakatos e Marconi (2001 apud Mattos 2004, p.

10), verificamos variadas formas de conhecimento, dentre elas: o religioso e o filosófico.

Importa registrar que, no trabalho em questão, estaremos discutindo o conhecimento

científico. Assim, segundo Cervo e Bervian (2002 apud Mattos, 2004, p. 10), o

conhecimento científico: Procura conhecer não só os fenômenos ou os objetos, mas também suas causas, leis e conseqüências, revisando e reavaliando idéias, pensamentos, hipóteses e resultados de um determinado fato ou acontecimento.

Neste molde, a produção monográfica encontra espaço para se desenvolver, uma

vez que, depois de perpassar diversas experiências, se realiza o aprofundamento em

determinada temática. Esta tarefa, de acordo com Salomon (2001 apud Mattos, 2004, p.

8) consiste num “trabalho científico que observa, acumula e organiza informações,

sistematicamente e de maneira padronizada, as quais posteriormente são expostas em

forma de texto, redigido pelo pesquisador”.

Como exposto em Mattos (2004, p. 10), o surgimento da ciência está diretamente

relacionado à necessidade que os homens e mulheres possuem de saberem o porquê

dos acontecimentos. Neste sentido, Minayo (1994, p. 9) fala que, do ponto de vista

Page 46: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

antropológico, sempre houve uma preocupação do homem com o conhecimento da

realidade. Ainda esse mesmo autor faz uma constatação, quando aponta que: As tribos primitivas, através dos mitos, explicaram e explicam os fenômenos que cercam a vida e a morte, o lugar dos indivíduos na organização social, seus mecanismos de poder, controle e reprodução. Dentro de dimensões históricas imemoriais até nossos dias, as religiões e filosofias tem sido poderosos instrumentos explicativos dos significados da existência individual e coletiva.

Portanto, é diante da busca do homem por explicações e soluções para demandas

do cotidiano que a ciência se define, podendo ser entendida como a sistematização de

um conhecimento. Em face disso, temos as diversas ciências (Matemática, Física,

Fisiologia, Biologia, Sociais etc.), que possuem características distintas. Para Minayo

(1994, p. 10), a “ciência é apenas uma forma de expressão desta busca, não exclusiva,

não conclusiva, não definitiva”.

Sob o prisma de Thomas e Nelson (2002 apud Mattos 2004, p. 10), a ciência pode

ser entendida como uma investigação disciplinada, que requer a utilização de métodos

específicos e de forma controlada. Desta forma, este autor acredita que o fazer ciência

implica não apenas ter um conjunto de procedimentos a sua disposição, é preciso

escolher o mais adequado aos objetivos a serem atingidos.

No entanto, ainda que vários autores busquem definir a ciência, a definição

proposta por Trujillo Ferrari, no livro “Metodologia da ciência”, parece ser a mais completa,

do ponto de vista de Lakatos e Marconi (2010, p. 62):

Entendemos por ciências uma sistematização de conhecimentos, um conjunto de proposições logicamente correlacionados sobre o comportamento de certos fenômenos que se deseja estudar: “ A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido a verificação.”

Considerada uma atividade básica da ciência, a pesquisa caracteriza-se como uma

tarefa estruturada, que busca a solução de problemas. Para Andrade (2001 apud Mattos,

2004, p. 11), a pesquisa “é um conjunto de procedimentos sistemáticos que objetiva

encontrar a solução de determinado problema proposto fazendo menção de métodos

científicos.

Para fazer uma pesquisa científica, deve-se ter um assunto de interesse a

investigar, procurando por respostas quanto às indagações propostas.

Toda investigação se inicia por um problema com uma questão, com uma dúvida ou com uma pergunta, articulada a conhecimentos anteriores, mais que também podem demandar a criação de novos referenciais. (MINAYO, 1994, p. 18)

Page 47: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

Articulada a essa afirmação há uma necessidade de usar uma metodologia

específica. Minayo (1994 p. 16) entende metodologia como “o caminho do pensamento e

a prática exercida na abordagem da realidade”. Geralmente, partindo da ideia de meio

para alcançar um objetivo, na literatura, verificamos que as definições de método não

sofrem muita divergência. Assim, de acordo com Lakatos e Marconi (2001 apud Mattos,

2004, p. 12), o método é compreendido como o “conjunto de atividades sistemáticas e

racionais que permitem alcançar um objetivo, traçando o caminho a ser seguido,

detectando erros e auxiliando nas decisões do pesquisador”. Já Cervo e Bervian (2002

apud Mattos 2004, p. 12) tratam como “um meio de acesso para atingir um resultado,

dando condições de selecionar os processos mais adequados para chegar-se a um

melhor resultado”.

No entanto, refletir acerca dos caminhos e trilhas metodológicas, através das quais

são planejadas e implementadas as políticas públicas de esporte e lazer, pressupõe,

antes de tudo, uma incursão pelos debates a respeito da problemática relativa à produção

do conhecimento, em especial, nas ciências sociais. Tal tarefa passa a ser exigida, ainda

mais, quando a pretensão está voltada a entender os fundamentos dessas políticas: os

sujeitos políticos que as fazem, como as fazem e para quem são feitas. Justifica-se,

também, esse percurso, pelo entender de Minayo (1994, p. 16), que “metodologia inclui as

concepções teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas que possibilitam a construção

da realidade e o sopro divino do potencial criativo da investigação”.

Assim, considerando o caráter multidisciplinar dos estudos sobre memória, sua

associação com diferentes áreas do conhecimento – educação, política, história,

arquivologia, sociologia, antropologia – e o desafio de entender suas implicações junto às

políticas públicas de esporte e lazer, parte-se do princípio de que é preciso assumir, nesta

pesquisa, um enfoque não linear, para apreender os aspectos envolvidos na

implementação da memória, como política pública de esporte e lazer. Procura-se

relacionar, ao mesmo tempo, conteúdos educacionais, políticos, sociológicos,

antropológicos, econômicos e históricos, de modo a compreender as relações que

ocorrem no âmbito dessas política.

É preciso perceber a riqueza das modificações sofridas historicamente e, com isso,

reconhecer o conhecimento de senso comum como coadjuvante na compreensão da

realidade, uma vez ser espaço de expressão dos sujeitos alijados do processo, em

Page 48: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

decorrência de uma ciência que se considera a dona da verdade, castrando a

subjetividade dos atores sociais – os principais responsáveis pela construção e

transformação permanente dessas mutações.

Para tanto, a presente investigação está centrada numa abordagem qualitativa que,

conforme Minayo (2001, p. 21), “trabalha com o universo de significados, motivos,

aspirações, crenças, valores, atitudes”.

Podemos dizer que esta pesquisa é caracterizada como qualitativa, do tipo

exploratório, que, baseado nos estudos de Gil (2002), tem como objetivo proporcionar

maior familiaridade com o problema, na busca de torná-lo explícito, trazendo um

planejamento flexível, que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos

ao fato estudado.

Como em qualquer pesquisa científica, uma das tarefas iniciais foi o levantamento

da literatura, de forma a adquirir um conhecimento prévio sobre o assunto. A procura por

fontes bibliográficas da área permite ao pesquisador verificar se já existem estudos iguais,

semelhantes ou complementares, em algum aspecto, evitando a duplicação de esforços.

Valendo-se de livros, monografias, teses e artigos científicos, para esta tarefa,

foram consultados autores, como Fontanelli (2005), Coelho e Assis (2010), Goellner

(2003), Oliveira (2011), Le Goff (2003), Monteiro e Carelli (2007), que trazem um debate

sobre memória e história. Tessitore (2003) e Fontanelli (2005) apresentam uma

discussão ampliada sobre as instituições que trabalham com a memória. E mais

especificamente, na área de Educação Física, buscamos os estudos de Goellner (2003 e

2005), Lima; Moreno e Possas (2009), Moraes e Begossi (2011), que tratam das

experiências dos Centros de Memória da Educação Física e do Esporte.

Tendo em vista atingir os objetivos desejados, a ciência lança mão de inúmeras

técnicas, podendo a aproximação da realidade ser realizada segundo procedimentos

diretos ou indiretos. Para o estudo em questão, escolhemos a pesquisa documental, que

é um procedimento indireto de coleta de dados, e que possui como principal característica

a natureza da fonte ser restrita a documentos. Neste sentido, Gil (2002, p. 45)

complementa, alertando que este tipo de pesquisa faz uso de “materiais que não

receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa”.

De acordo com Bravo (1991 apud Silva et al., 2009, p. 4556), são documentos:

Page 49: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

Todas as realizações produzidas pelo homem que se mostram como indícios de sua ação e que podem revelar suas idéias, opiniões e formas de atuar e viver.

Partindo deste entendimento, em Lakatos e Marconi (2010), os documentos podem

ser classificados em:

- escritos: subdivididos em documentos oficiais, publicações parlamentares, documentos

jurídicos, fontes estatísticas; e

- outros: englobam fontes iconográficas, fotografias, objetos, canções folclóricas,

vestuários e folclore.

Considerando as experiências da Escola de Educação Física de Minas Gerais

(CEMEEF) e do Centro de Memória da Escola de Educação Física e Desportos da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CEME) como referências na política de

preservação da memória do esporte, optamos por investigá-las extraindo possíveis

contribuições teóricas e infraestruturais que nos auxiliem na edificação do Centro de

Memória do Esporte no Estado da Bahia.

Imagem 1 – Sítio virtual do Centro de memória do Esporte da Escola de Educação Física da

UFRGS. Na visão de Cellard (2008 apud SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009, p. 2),

Os documentos escritos constitui uma fonte extremamente preciosa para todo pesquisador nas ciências sociais. Ele é evidentemente, insubstituível em qualquer reconstituição referente a um passado relativamente distante, pois não é raro que ele represente a quase totalidade dos vestígios da atividade humana em

Page 50: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

determinadas épocas. Além disso, muito freqüentemente, ele permanece como o único testemunho de atividades particulares ocorridas num passado recente.

Para além destas duas instituições investigadas achamos pertinente em nosso

estudo fazer um levantamento dos Centros de Memória da Educação Física e do Esporte

no Brasil. Desta forma foi realizada uma busca na internet, inclusive no sítio virtual do

IBRAM, para verificar se disponibilizava esses dados, porém nada encontramos. Tendo

em vista a realização do I Encontro Nacional de Centros de Memória no Brasil ser

promovido pelo Centro de Memória da Escola de Educação Física da UFMG, através de

contato, obtivemos esta informação através do professor Tarcísio Mauro Vago.

Como mecanismo de qualificar o estudo, ainda se utilizou de uma das abordagens

técnicas mais usuais, no trabalho de campo, que é a entrevista. Minayo (2001, p. 57)

alega que, através dela, o pesquisador busca captar informes nas entrelinhas das falas

dos atores sociais. Portanto, a entrevista não consiste numa simples conversa, mas, por

meio dela, tem-se a ambição de aferir dados, sendo uma atividade de coleta de fatos

relatados diante daquele que vivenciou a realidade que se está analisando.

Para compor a amostragem desta pesquisa, escolhemos dois personagens

importantes neste cenário: a professora Silvana Goellner, da UFRGS, e o professor

Tarcísio Mauro Vago, da UFMG. Cabe salientar que o critério de escolha deu-se, levando

em consideração o primeiro coordenador do centro de memória da Educação Física e do

Esporte, de cada uma das instituições focalizadas.

Fricker e Mattar (1999 apud VASCONCELOS; GUEDES, s.d., p. 2) explicitam que: O questionário, ou método de comunicação, experimenta diferentes modalidades de implementação, seja em função da sua natureza, das características dos prestadores de informação, dos recursos disponíveis para a investigação ou de exigências do delineamento da própria pesquisa que se conduz. Há fundamentalmente três modalidades usuais: entrevista pessoal, entrevista por telefone ou questionário autopreenchido.

Devido às questões geográficas e à distância para a realização das entrevistas,

estas aconteceram de forma virtual, sendo possível pelo expressivo e crescente

desenvolvimento tecnológico consolidado no aprimoramento da área de computacional e

de redes, tendo a internet como importante ferramenta de aprendizado.

Cabe frisar que, para realização da entrevista, foram levados em consideração os

ensinamentos de Mattar (1996 apud VASCONCELOS; GUEDES, s.d., p. 6), quando falam

que devemos nos atentar para a “possibilidade de fazer usos combinados de métodos de

pesquisa, de acordo com o perfil da amostra”. Salientamos que, na pesquisa em questão,

Page 51: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

se contou com a utilização do Skype, um instrumento de videochamada para a sua

realização.

Assim, a entrevista se deu a partir de um roteiro que, segundo Minayo (2006, p.

189), consiste em uma “lista de temas que desdobram os indicadores qualitativos de uma

investigação”, sendo composta por 10 perguntas que abordam aspectos históricos,

estruturais e de funcionamento (ver modelo no Apêndice A).

Para isso, antes de realizarmos as entrevistas, apresentamos um Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (ver Apêndice B), que foi assinado pelos sujeitos da

investigação, pelo qual se descreviam os objetivos da pesquisa e assumíamos o

compromisso de utilizar os depoimentos exclusivamente para seus fins.

Tendo em vista a quantidade de material produzido e que necessita de

interpretação, no tratamento desses dados, utilizamos a técnica de análise de conteúdo.

Por análise de conteúdo, entende-se uma técnica que “possibilita a descrição do

conteúdo manifesto e latente das comunicações” (GIL, 2002, p. 89). Esta se desenvolve

em três fases: a pré-análise, onde é feita a escolha dos documentos; a exploração do

material, que abrange a escolha das unidades, enumeração e classificação; e, por fim, o

tratamento e a interpretação dos dados.

5.1 UFMG E UFRGS COMO REFERÊNCIAS

Entre os discursos dos sujeitos investigados e a observação dos sítios virtuais do

Centro de Memória da Escola de Educação Física de Minas Gerais (CEMEEF) e do

Centro de Memória da Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal

do Rio Grande do Sul (CEME), neste momento, trago os dados encontrados e analisados.

Primeiramente, esclareço que este exercício é feito com a intenção de apontar

elementos fundamentais para o entendimento do que é, como se estrutura e funciona um

centro de memória. Portanto, ao apresentar as experiências da UFMG e da UFRGS, na

preservação da memória da Educação Física e do Esporte, não temos a pretensão de

estabelecer um modelo pronto e acabado, que deva ser seguido por aqueles que desejem

trilhar este caminho. No entanto, é evidente que a sabedoria adquirida junto àqueles que

possuem um trabalho consolidado contribuirá e muito na empreitada de guarda,

organização e preservação da memória de uma determinada área, no nosso caso, a área

de Educação Física.

Page 52: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

Com base nestas considerações, a opção de investigar os Centros de Memória de

Esporte da UFMG e UFRGS decorre, principalmente, por já possuírem um trabalho

reconhecido e por serem pioneiros neste segmento no País.

Como fonte rica de informações, a visita aos espaços virtuais dessas instituições foi

pertinente ao estudo, uma vez que, através de sua organização, pudemos verificar

aspectos históricos, estruturais e de funcionamento.

Recorrer aos sítios virtuais destas instituições também nos fez perceber o valioso

instrumento que as tecnologias têm colocado atualmente à disposição de todos os que

tenham interesse em usufruí-las. Através deles, são disponibilizadas eletronicamente

informações que indicam a forma como os pesquisadores têm tratado a massa

documental que está sob sua guarda.

Imagem 2 – Sítio virtual do Centro de Memória da Educação Física, do Esporte e do Lazer –

UFMG.

Em Callado e Ferreira (2004 apud Silva et al. 2009, p. 4558), isso vai ser muito

importante, uma vez que para estes autores os espaços de pesquisa são definidos pela

natureza do estudo. Assim, a localização dos documentos pode ser muito diversificada,

exigindo que o pesquisador tenha um conhecimento dos tipos de registro e informações

Page 53: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

que aquela instituição abriga. Desta forma, as consultas aos sites destas instituições

permitem averiguar os materiais e o teor que se encontra explícito nestes documentos.

Consideramos que o levantamento de informações sobre os Centros de Memória

da Educação Física e do Esporte no Brasil foi importante, uma vez que nos apontou

indícios de como este movimento vem se configurando no país.

Nesta tarefa o professor Tarcísio Mauro Vago demonstrou que: Do sul ao norte do país existe um centro de memória em esporte na Escola de Educação Física da UFRGS onde a coordenadora é a professora Silvana Goelnner; no Rio Grande do Sul eu não sei como está a dinâmica neste momento, mas há uma mobilização junto a outro centro de memória na Federal do Rio Grande a FURGS. Subindo um pouco temos o Centro de Memória da Escola de Educação Física do Paraná cuja coordenadora foi a professora Vera Luiza Moro não sei se ela ainda esta lá, mais certamente esta envolvida. No Rio de Janeiro existe o Centro de Memória de Enezil Penna Marinho ele tinha um caráter mais virtual do que presencial. O nosso aqui em Belo Horizonte que vocês conhecem. No espírito Santo tem o grupo de estudo que não é bem um centro de memória, é um grupo de estudos o Proteoria onde estão lá o Omar Schneider e o prof. Amarilio Ferreira Neto que coordena o Proteoria e tem muita experiência em História da Educação Física com uma importante coleção de livros que é a Pesquisa histórica em Educação Física. Aqui em Minas Gerais além do nosso aqui tem um movimento em Belo Horizonte mesmo ligado a Secretaria do Esporte e da Juventude que está coordenado pela professora Marilita Arantes Rodrigues, mas me parece que foi desativado, me parece, houve pouco movimento. Em Muzambinho onde existe a escola de educação física se está organizando um centro de memória. Aqui em Minas Gerais ainda na Universidade Federal de Juiz de Fora sob os cuidados do professor Carlos Fernando da Cunha Junior tem um grupo de estudo que não é bem um centro de memória é um grupo de estudo que tem uma produção muito interessante. [...] Na Bahia estão tentando organizar, mais um pouco pra cima temos o da Federal do Sergipe coordenada pela professora Priscila Kelly Figueiredo, o CEMEFEL que é o Centro de Memória em Educação Física, Esporte e Lazer da Escola de Educação Física do Sergipe.

Na ocasião, o referido professor salientou que alguns dos nomes citados não se

configuram num Centro de Memória, propriamente dito, com acervos materiais, mas são

grupos de pesquisa que se interessam pela Educação Física, Esporte e Lazer e

produzem sobre a temática.

Partindo da ideia de que a criação de um centro de memória geralmente acontece

numa instituição, a partir do momento que seus membros se conscientizam da relevância

do papel desempenhado por estes centros, não meramente como depósitos de objetos,

documentos velhos, mas meios pelos quais se consegue visualizar experiências vivas que

ajudam a compreender algumas indagações do nosso cotidiano, procuramos verificar,

junto dos sujeitos investigados, qual a concepção possuíam do papel de um centro de

memória no âmbito de uma universidade.

Page 54: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

Para esta questão, o Prof. Tarcísio iniciou sua fala, citando Jacques Le Goff,

quando nos diz que o historiador luta contra o esquecimento. Assim, para ele, num

primeiro momento, o centro tem como função enfrentar este desafio, por meio da guarda

de documentos que ajudam a contar a história de uma instituição ou, ainda, de uma área,

neste caso, a área de Educação Física. Outro fator elencado que justifica a existência de

um centro é a pesquisa, na qual pode ser utilizada a própria massa documental que o

centro abriga, como fonte de investigação. Ainda de acordo com o entrevistado, a

combinação destas duas funções gera outra, que é a de produzir conhecimento,

configurando aquilo que Le Goff descreve como uma maneira de lutar contra o

apagamento de uma história, que envolveu pessoas, em diferentes lugares e momentos

da história.

Sobre esta mesma questão, Silvana nos apresentou o ponto de vista de que a

universidade, principalmente a pública, tem como função primordial a produção e a

disponibilização de estratégias de acesso ao conhecimento. O Centro de Memória atende

amplamente a esta função, sendo que, em suas palavras, “além de preservar a memória

por meio da guarda de documentos de natureza distinta, um centro de memória pode

possibilitar a produção de diferentes histórias”.

Quanto à criação destes centros de Memória, as falas de ambos os entrevistados

evidenciam que estão estritamente relacionados a um primeiro movimento, de

professores e funcionários das respectivas instituições, promovendo discussões sobre a

importância desta iniciativa e em busca de apoio.

Para tanto, a criação do Centro de Memória da Escola de Educação Física da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1997, contou com o papel de destaque

da professora Janice Mazo e da bibliotecária Rosália Camargo. Enquanto, em Minas

Gerais, apesar de já existir um movimento dentro da Escola de Educação Física, pela

equipe da biblioteca, para organizar documentos históricos, este só ganhou maior impulso

com a entrada do professor Tarcísio Mauro Vago, em 2001, naquela instituição, quando

foi retomada, ainda que de forma amadora, a organização do centro de memória. Deste

modo, este espaço se caracterizou como: Lugar de recuperação, preservação, conservação e divulgação da memória da área da Educação Física: local de encontro entre memória e história. Constitui como espaço formativo e educativo, de reflexão da e sobre a Educação Física, e no qual o ensino, a pesquisa e a extensão são praticas que ali tomam lugar. (LIMA; MORENO; POSSAS, 2009, p. 2)

Page 55: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

Convém salientar que, além do contexto particular e das condições que definiram a

criação destes espaços, verificamos que o apoio dos departamentos da universidade e de

órgãos de fomento tem sido de extrema importância para a afirmação das iniciativas

desenvolvidas nesses centros. De acordo com as falas, este apoio se dá

fundamentalmente por meio de editais públicos, como o da Rede CEDES, do CNPq e da

própria universidade, na concessão, por exemplo, de bolsas para estudantes. Para além

disso, o Prof. Tarcísio conta que outra forma de apoio, recebida pela universidade, que

tem sido a vinculação do Centro de Memória à Rede de museus, espaços de ciências e

cultura da UFMG, com orçamento anual. Também existe aquela ajuda esporádica,

quando acontece algum evento, atingida com projetos destinados à Pró-Reitoria de

Extensão, para o financiamento de passagens e hospedagem para convidados.

Levando em consideração o posicionamento de Chagas (2006 apud LIMA;

MORENO; POSSAS, 2009, p. 2), quando afirma que “não há sentido para preservação,

tampouco trabalho preservacionista eficaz, se este não for acompanhado pelo trabalho

educativo e pela participação”, podemos dizer que os centros de memória vêm cumprindo

esta tarefa, de forma positiva, desenvolvendo ações que vão além da recuperação,

preservação e divulgação da massa documental que acolhem. Corroborando com esta

afirmativa, em Goellner (2003, p. 202), verificamos que o Centro de Memória do Esporte

(CEME) tem buscado: - implementar a produção científica no campo da história e da memória esportiva brasileira; - realizar exposições permanentes e itinerantes que tematizam a cultura corporal brasileira (esportes, dança, ginástica etc.); - oferecer oficinas para escolas de educação básica (públicas e privadas), bem como para centros comunitários e associações de moradores de bairros de Porto Alegre e grande Porto Alegre; - possibilitar aos interessados (pesquisadores e simpatizantes) informações relacionadas à memória esportiva gaúcha e brasileira; - organizar ciclos de vídeo e debates temáticos; -disponibilizar o acervo via recursos computacionais (home-page, internet, comutação.

Em face da variedade de atividades que são desenvolvidas pelo Centro de

Memória, a professora Silvana Goellner afirmou que existe uma grande procura, por parte

de pesquisadores, estudantes de graduação, pós-graduação e jornalistas, que têm

naquele espaço uma fonte rica para a elaboração de estudos. Já as atividades

educativas, tais como seminários e oficinas, conseguem envolver, principalmente, os

Page 56: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

alunos do ensino fundamental e médio; já as exposições organizadas pelo centro têm um

público diversificado, uma vez que são abertas para a comunidade, em geral.

Ainda para a referida professora, o fomento de atividades diversas, tais como a

exposições, oficinas temáticas, mostras fotográficas, podem ser utilizadas como

ferramentas para tornar o espaço mais interativo e atraente ao público. Por outro lado, o

professor Tarcísio pensa que o próprio acervo do Centro de Memória já consegue chamar

a atenção do público, como verificamos em sua fala: O que torna o Centro de Memória atrativo é possibilidade de ver estes documentos, de manipular estes documentos e de conhecer aquilo que se pensou, se imaginou e se produziu para área de educação física em diferentes momentos da nossa história. É a possibilidade de ver como uma área foi sendo constituída ao longo de 10, 50 anos.

Imagem 3 – Exposição: "Souvenirs" Olímpicos – Centro de Memória do Esporte (CEME) Fonte: Disponível em: <www.esef.ufrgs.br>. Acesso em: 18.jun.2012.

Um dos primeiros passos para a edificação de um centro de memória é reunir

documentos que passam a constituir o seu acervo. Nesta tarefa, segundo os

depoimentos, foram realizadas buscas, em suas respectivas bibliotecas, no intuito de

mapear o acervo já existente, encontrando obras e documentos importantes que corriam

o risco de serem descartados. Nos porões, dos chamados “arquivos mortos” da Escola de

Educação Física “vieram os documentos produzidos pela instituição ao longo de sua

história, como atas, ofícios, jornais, revistas, apostilas, fotografias, dentre outros”

(LINHARES; CUNHA; VIANA, s.d., p. 2). Posteriormente, foram desenvolvidas atividades

de sensibilização, com ex-professores e ex-servidores, buscando ampliar o acervo já

Page 57: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

existente. Assim, houve algumas iniciativas individuais de doação de acervos específicos,

por alguns deles, e até mesmo pelas famílias de professores já falecidos.

De acordo com Goellner (2003, p. 202), Atualmente o acervo do CEME comporta aproximadamente 4.500 livros sobre a Educação Física, lazer, dança, esporte publicados antes de 1960; 250 vídeos e filmes com temáticas relativas a essas práticas sociais; 4000 fotografias; inúmeros artefatos como vestuários, medalhas, troféus, painéis, banners, cartazes, distintivos, bandeiras, enfim, uma imensa lista de peças, varias delas raras.

Imagem 4 – Acervo: Olímpica -– Medalha Oficial dos Jogos Olímpicos de Lillehammer, 1994. Fonte: Disponível em: <www.esef.ufrgs.br>. Acesso em: 18.jun.2012.

Cabe frisar que para reunir e organizar os acervos são necessários passos

científicos, sendo estes constituídos e ampliados paulatinamente, o que envolve, como

Linhares, Cunha e Viana (s.d., p. 2) observam, o “compromisso dos pesquisadores e

acadêmicos do Centro com a recuperação de documentos institucionais. [...] o interesse

de eventuais doadores que, tomando ciência da existência do CEMEF, passam a

identificá-lo como um lugar de memória e guarda de suas trajetórias acadêmicas e

pessoais”.

Um dos pontos que merece atenção é que a própria dinâmica diária de um centro

de memória revela a necessidade de realizarmos constantes escolhas, como

caracterizam Lima, Moreno e Possas (2009, p. 2): Este trabalho nos motiva a estabelecer muitas questões, buscando caminhos, retificando opções, aprendendo com a experiência: o que e como preservar? Qual melhor lugar pra cada tipo de documento? Quando e como restaurar e higienizar os documentos?

Page 58: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

Tendo em vista que não podemos preservar todo tipo de documento, faz-se

necessária a existência de uma política para a formação de acervos em um centro de

memória. Segundo a Prof.ª Silvana Goellner, essa política recai, sobretudo, na aceitação

de acervos que mantenham relação com as coleções e com o objetivo daquela instituição.

Para o professor Tarcísio, todo museu, arquivo ou centro de memória, apesar de

serem coisas distintas, deve possuir uma política que estabeleça critérios e que defina

quais documentos faz sentido preservar. Como forma de visualizarmos este aspecto, cita

o exemplo da coleção dos 30 anos da Escola de Educação Física da UFMG, acervo em

que faz sentido guardar apenas documentos relativos ao período. Assim sendo, através

de parceria com a direção da escola, passaram a ser responsáveis por todos os

documentos que correspondessem aos 30 primeiros anos daquele estabelecimento de

ensino superior. Desta forma, conta, atualmente, com documentos diversos, como

fotografias, livros, documentos institucionais, entre outros, compreendidoa entre 1952 e

1982.

Em Linhares, Cunha e Viana (s.d., p. 7), vamos encontrar o seguinte

esclarecimento sobre a importância de se elaborar uma “Política de desenvolvimento de

coleções”: A “Política de Desenvolvimento de Coleções” estabelece critérios que determinam a aquisição, a manutenção e/ou o descarte de materiais bibliográficos, arquivístivos ou museológicos. Por meio dessa Política o acervo do CEMEF vai ganhando identidade própria. O que preservar e como preservar? Como construir critérios e ordenamentos? Que diálogos estabelecer com doadores e colaboradores? Questões como essas, ao serem respondidas, constroem a autenticidade de nosso trato com a memória.

Tudo isto parte do princípio que de “nada adianta um centro de memória receber

todas as doações a ele oferecidas, se não possuir condições reais para tratar, organizar,

processar tecnicamente e disponibilizar os documentos aos usuários” (LINHARES;

CUNHA; VIANA, s.d., p. 7).

Enveredando pelo caminho da preservação memorial da Educação Física e do

Esporte, e entendendo que “os documentos de arquivos refletem a vida da instituição que

os produziu” (MOGARRO, 2005 apud MORO; GODOY, s.d., p. 4), precisamos ter clara a

necessidade de um conjunto de intervenções com vistas a coletar, tratar, recuperar,

preservar e colocar à disposição da população todo esse conhecimento.

Page 59: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

Neste sentido, faz-se necessário dominar técnicas apuradas de higienização,

conservação e identificação de documentos. É válido destacar, portanto, que, após o

trabalho de identificação, que consiste no reconhecimento de objetos, ou mesmo de

pessoas ou lugares em fotografias, o processo de catalogação deste material torna-se

fundamental, visto facilitar, posteriormente, a sua localização.

Imagem 5 – Processo de identificação de objetos. Fonte: Disponível em: <www.cemef.eeffto.ufmg.br>. Acesso em: 18.jun.2012

Sabemos, no entanto, que este serviço não é fácil e que muitas dificuldades

precisam ser enfrentadas, diariamente, pelas equipes que trabalham neste segmento.

Estas dificuldades se tornam ainda maiores, quando estamos engatinhando, sendo que

algumas delas só conseguimos superar, ao longo do tempo, e fruto de muitos esforços.

A exemplo disso, verificamos que um dos principais problemas enfrentados por

aqueles que almejam criar um centro de memória está relacionado a “espaços físicos

adequados (com desumidificadores, materiais não alcalinos para a guarda de fotografias,

mobiliário adequado, combate a agentes nocivos, como fungos, traças, cupim etc.)”. Em

relação a esta dificuldade, pode-se dizer que ambos os centros de memória investigados

conseguiram vencer este desafio e hoje contam com uma boa infraestrutura física.

É importante destacar que os recursos para a construção destes espaços partem

da elaboração e da submissão de projetos a editais públicos. No caso do prédio que

abriga o Centro de Memória da UFMG, segundo informação obtida na entrevista, este foi

construído a partir de iniciativas deste tipo, obtendo financiamento do Ministério da

Ciência e Tecnologia, através da FINEP, juntamente com o Ministério dos Esportes, em

Page 60: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

2006, sendo que a UFMG entrou com uma contrapartida para completar a obra. Cabe

salientar que, por meio desses projetos, obteve-se o apoio de agências de financiamento,

tais como CNPq, FAPEMIG e Ministério dos Esportes, para a aquisição de todos os

equipamentos pertencentes ao centro.

Imagem 6 – Prédio do Centro de Memória da Educação Física, do Esporte e do Lazer da UFMG. Fonte: Disponível em: <http://www.cemef.eeffto.ufmg.br/>. Acesso em: 18.jun.2012.

Apesar de já ter superado a falta de pessoal especializado em biblioteconomia,

esta foi considerada outra dificuldade enfrentada pelo trabalho inicial do Centro de

Memória da UFRGS. Dificuldade esta que ainda incide no Centro de Memória da UFMG,

juntamente com a carência de profissional lotado para o trabalho de secretaria. Como diz

o professor Tarcisio Nós somos cinco professores interessadíssimos na história da educação física mais nós não somos da área de arquivologia, nós somos professores pesquisadores e estudantes que estamos desenvolvendo pesquisas. Entendemos de fazer pesquisa mais estamos aprendendo mesmo que as duras penas, procurando ajuda de um grande amigo arquivologista mais ele não é do centro de memória, é um professor do curso de arquivologia que vem nos ajudando.

Ele ainda observa que tem havido um diálogo com a direção da Escola de

Educação Física sobre a necessidade de se possuir um profissional da área de

arquivologia, mas, até o momento, esse pleito não foi atendido. Também salientou que,

para ajudar nesta atividade, vem sendo contratado um bolsista, por meio de verbas

angariadas em projetos de pesquisa.

Page 61: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

Outra ordem de dificuldade está relacionada à questão dos recursos financeiros

fixos, pois toda a receita decorre da aprovação de projetos de pesquisas que são

idealizados para o Centro. Assim, existe uma preocupação, neste sentido, uma vez que,

embora seja interessante, pode chegar um momento em que o Centro não consiga mais

contar com a aprovação de nenhum de seus projetos. Consequentemente, pela ausência

de financiamento permanente, destinado a higienizar, guardar e restaurar os acervos, há

uma dificuldade também em mantê-los em condições adequadas.

Representando muitas vezes a porta de entrada de recursos financeiros para uma

instituição, consideramos os projetos de pesquisas como elementos que movimentam e

dão vida a um centro de memória. Assim sendo, destacamos, por fim, os projetos de

pesquisa desenvolvidos por ambos os centros. Entre outras informações que podem ser

acessadas, ao fazer uma consulta no sítio virtual dos respectivos centros, verificamos que

é oferecida uma breve descrição de cada um dos projetos a eles vinculados.

Desta maneira, encontramos alguns projetos já concluídos e outros em andamento.

De acordo com os dados obtidos na entrevista junto ao Centro de Memória do Esporte

(CEME), o de maior destaque tem sido “Garimpando memórias: esporte, educação física,

lazer e dança no Brasil” 7, que objetiva preservar e divulgar a memória das práticas

corporais e esportivas brasileiras. Este é um projeto que já recebeu apoio de várias

agências de fomento, tais como CNPq, FAPERGS, PROPESQ-UFRGS, PROREXT –

UFRGS, Rede Cedes e Ministério do Esporte, e que resultou em diversas produções

científicas, na modalidade monografia e artigos para revistas.

Tratando-se do Centro de Memória da Educação Física, do Esporte e do Lazer

(CEMEF), encontramos, em seu sítio virtual, sete projetos de pesquisa concluídos e mais

cinco em andamento (ver listagem no Anexo A).

Conforme explicita o Prof. Tarcisio cada um dos projetos em andamento tem sido

coordenado por um dos professores que integra o Centro de Memória. Dentre eles,

temos “A Biotipologia no Brasil em meados do século XX: Juvenil Rocha Vaz e a clínica

propedêutica da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro”, sob a coordenação da

professora Ana Carolina Vimieiro Gomes, onde se tematiza a história do processo de

7 Saiba mais em: <http://www.repositorioceme.ufrgs.br/community-list>. Acesso em: 12. Jul. 2012.

Page 62: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

constituição de campos de conhecimentos científicos no Brasil. Busca-se, ainda, analisar

a acomodação a um modelo de cientificidade no âmbito das ciências biomédicas,

baseado em pressupostos de quantificação e de qualificação dos fenômenos corporais.

Ainda foram citados os seguintes projetos: “Modelos pedagógicos, formação

docente e práticas escolares: o ensino da Educação Física em Belo Horizonte (1947-

1977)”, sob os cuidados da professora Meily Assbú Linhales; “Histórias de Educação

Física na Cultura Escolar: investigações sobre a escolarização da disciplina no norte-

nordeste de Minas Gerais (1900-1940)”, desenvolvido pelo professor Tarcisio Mauro

Vago; “Garimpando, organizando e divulgando a memória no CEMEF”, coordenado pela

professora Andrea Moreno, e o projeto “A educação dos sentidos na história: o tempo livre

como possibilidade de formação (entre os anos finais do séc. XIX e os anos iniciais do

séc. XXI) – fase I (2011 – 2013)”, do professor Marcus Aurélio Taborda.

Para Tarcísio Mauro Vago, “um centro de memória não existe sem pesquisa”.

Partindo desta consideração, verificamos que estas instituições vêm sendo assistidas

pelos projetos que desenvolvem. Assim, afirmamos que a pesquisa e a guarda de

documentos caminham juntas, mas este duplo movimento nos leva a um terceiro, que é o

de produzir e colocar este conhecimento em circulação.

Neste sentido, ambos os centros vêm cumprindo este papel, podendo-se verificar a

participação de seus membros em variados eventos científicos, nacionais e

internacionais, divulgando seus trabalhos. Outra dimensão fundamental é que a própria

dinâmica do centro de memória propicia a formação de seus pesquisadores, através de

participações nas reuniões do centro, da leitura e discussão de textos, resultando em

teses e dissertações entre outros produtos acadêmicos.

Page 63: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

6 DESAFIOS HISTÓRICOS E IMEDIATOS

O interesse acadêmico pela preservação da memória histórica tem acarretado a

intensificação de iniciativas com vistas a enfrentar o apagamento da história. Neste

sentido, a trajetória até aqui esboçada nos aponta que várias ações que têm sido

desenvolvidas com este fim. No entanto, ao buscar na literatura referências e

esclarecimentos que ajudassem a compreender a atual conjuntura de ações direcionadas

à preservação da memória da Educação Física e do Esporte no Estado da Bahia, o

resultado obtido foi frustrante: quase nada há a esse respeito, especificamente. O que

existe, até então, como os estudos de Carneiro e Leiro (2012, p. 1) apontam, são poucos

trabalhos relacionados à história e à memória, bem como algumas iniciativas midiáticas

espalhadas.

Assim, reconhecendo a importância de preservamos a memória documental e,

utilizando-a como aliada na tarefa de compreender o passado, de forma contextual e

sociocultural, no presente, para que venha a auxiliar o planejamento de um futuro,

conferimos a necessidade de criar espaços que acolham, preservem documentos e que a

partir deles gerem conhecimentos sobre determinada área.

Neste sentido, os centros de memória se inscrevem como campo especializado na

tarefa de recuperar e preservar a memória de determinadas práticas corporais,

instituições ou personagens importantes, sendo que, nos últimos anos, tem havido um

crescimento no número de locais desse tipo, principalmente no âmbito das universidades

públicas.

Tratando-se da realidade baiana, no que se refere a espaços que façam o trabalho

de guardiões da memória do esporte, encontramos o Memorial do Esporte Clube Bahia8,

criado em 2004, e que, de acordo com o site Avante Esquadrão, representa o maior

passo dado em prol da manutenção e do resgate do patrimônio histórico do Esquadrão de

Aço. Nele está disponível um vasto acervo de fotografias de torcedores e personalidades,

bem como os 56 troféus mais importantes da trajetória deste time.

Entretanto, articulado ao fazer científico, bem como forma abrangente que acolha o

patrimônio histórico da área de educação física e do esporte, como um todo, podemos

dizer que, apesar do desejo coletivo, a Bahia ainda carece de iniciativas desse porte. O

que ocorre, até então, é um projeto para criação do Centro de Memória da Educação

8 Maiores informações em: <http://www.avanteesquadrao.com/>. Acesso em: 21.jul.2012.

Page 64: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

Física e do Esporte da Bahia, que se encontra em trâmite, na Universidade Federal da

Bahia, através do Grupo MEL/CNPq, numa parceria com o Departamento de Educação

do Campus II da Universidade do Estado da Bahia, e que conta com o apoio da

Secretaria Estadual do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte da Bahia.

Acreditamos, portanto, que um centro de memória, enquanto espaço de pesquisa,

ensino e extensão, atende à perspectiva apresentada por Leiro (2005, p. 2), quando alega

que “a edificação de espaços públicos de estudo e pesquisa deve considerar o

compromisso com uma educação socialmente referenciada, com a proficiência dos

estudantes e com a produção crítica e inovadora de conhecimentos”.

Tendo em vista potencializar as fontes documentais esportivas relativas ao Estado

da Bahia, somos desafiados a criar, organizar e posteriormente a consolidar o Centro de

Memória da Educação Física e Esporte para Bahia. Para tanto, a criação de um centro de

memória demanda um enfrentamento de questões teórico-metodológicas, tendo em vista

um melhor cuidado de seu acervo.

Neste propósito, é notável a necessidade de aplicação de técnicas específicas para

o levantamento, organização e disponibilização de documentos, sendo que, certamente, o

aprofundamento dos conceitos e noções na área de arquivologia contribuirá na lida

cotidiana com os acervos. Além disso, a partilha de experiências com outras instituições

que desenvolvem este trabalho torna-se de fundamental importância, pelo rico

aprendizado obtido nestas interações, o que consequentemente aprimora as ações.

Para Carneiro e Leiro (2012, p. 2), constituir um Centro de Memória exige

esforços contínuos, sendo seu acervo formado paulatinamente. Neste sentido, Fontanelli9

(2005) demonstra que o trabalho de construir um espaço desses se divide em algumas

tarefas, tais como:

definir os objetivos da instituição ao constituir um Centro de Memória;

delimitar a missão do Centro;

delimitar o público ao qual atenderá;

compor uma equipe multidisciplinar que cuidará do desenvolvimento do projeto,

assim como da administração;

definir o organograma do centro;

9 Tomamos por base o trabalho de Goulart (2005 apud Fontanelli 2005, p. 89-93),

Page 65: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

fazer o levantamento histórico e o diagnóstico das fontes documentais com vistas a

planejar o trabalho;

realizar treinamento da equipe que irá compor o centro, sobre a forma de produzir,

identificar e acondicionar os documentos;

definir a natureza dos acervos;

realizar campanhas internas e externas, como forma de recuperar e resgatar

documentos;

elaborar, junto à equipe, uma política de formação do acervo, que defina as normas

para aceitar ou não as doações de objetos e documentos para aquele centro;

com base na política de formação do acervo, avaliar e realizar uma triagem dos

documentos;

registrar a entrada dos documentos para posterior classificação;

estabelecer arranjos e descrição dos fundos arquivisticos;

disponibilizar as informações e o acervo para seu público;

promover atividades para a divulgação do acervo do centro;

realizar pesquisas com base nos documentos do acervo do Centro; e

promover intercâmbio entre centros de memória, com vistas a aprimorar as

técnicas de trabalho.

Tendo em vista os pontos destacados, consideramos que alguns deles são

primazes para organizarmos os primeiros passos de criação de um centro de memória.

Não menos importantes, outros precisam de tempo para que venham a se desenvolver.

No que tange ao Centro de Memória da Educação Física do Esporte da Bahia, um

dos desafios imediatos é a formação/ampliação de seu acervo. Para isso, há a

necessidade de possuir todo um aparato técnico e de infraestrutura que venha a tratar e

abrigar, em condições adequadas, os seus documentos. Cabe registrar que um dos

primeiros a ser formado/ou em construção é o acervo de Helio Campo, que desenvolve

um verdadeiro resgate da educação física baiana.

Page 66: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

Imagem 7 – Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia (Acervo Helio Campos).

É importante lembrar que iniciativas desse tipo envolvem custos, sendo necessário

um capital financeiro para que aconteçam com maior afinco. Como já salientado em

outros capítulos, a elaboração de projetos de pesquisa e sua submissão a editais de

agências de fomento tem sido um dos meios para se conseguir investimentos em

aquisição de material permanente, aperfeiçoamento da equipe técnica e manutenção da

infraestrutura destes espaços, dentre outros.

Neste esforço, o projeto intitulado “Centro de Memória da Educação Física e

Esporte na Bahia: um desafio histórico” criou subsídios para elaborar e encaminhar

projetos para editais públicos, com vistas a contribuir com a edificação de um lugar para

acolher a memória da Educação Física e do Esporte baianos. Assim, cabe ficarmos

atentos a futuras oportunidades evidenciadas em editais.

Page 67: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse trabalho monográfico buscou criar bases teóricas e infraestruturais para a

edificação do Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia, utilizando

para isso algumas experiências universitárias, bem como o levantamento de estudos

sobre a temática.

Ainda principiante no projeto de pesquisa que originou este trabalho monográfico,

aspirava, ao terminá-lo, apresentar, como resultado, o centro de memória já organizado.

No entanto, pude compreender que este tipo de iniciativa não se materializa de uma hora

para outra, pois demandaria tempo, maiores conhecimentos e investimentos.

À luz desta constatação, era preciso compreender o que é, como se estrutura e

funciona um Centro de Memória. Confirmando, assim aquele saber de que, para intervir

diante de uma realidade, necessitamos primeiramente conhecê-la. Nesta empreitada,

foram realizadas leituras e aprofundamentos sobre o campo de conhecimento em pauta,

esclarecendo muitos pontos.

Pensamos que o trabalho de preservação, recuperação e divulgação de

documentos e objetos históricos, para além da perpetuação da tradição de um povo, e de

suas diversas práticas corporais, torna-se um rico instrumento para a elaboração de

políticas públicas setoriais na área da Educação Física, Esporte e Lazer.

Tendo o foco no Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia,

acreditamos que a estrutura que alicerçou este trabalho foi pertinente, uma vez que

conseguirmos percorrer vários aspectos que mostraram, por exemplo, a importância de

iniciativas como esta para o resgate e a preservação de histórias de vida que envolveram

pessoas, em diferentes contextos, e que por meio delas podemos também entender

questões do nosso cotidiano; também a partir do conhecimento daqueles que possuem

maior experiência na área, apresentamos alguns passos importantes que nos ajudarão a

construir e fortalecer um centro de memória do Esporte e do Lazer no Estado

Ficou evidente que constituir um Centro de Memória não é uma tarefa fácil, sendo

necessário todo um conjunto de ações. Mesmo aqueles que já possuem um trabalho já

consolidado no dia a dia, ainda se defrontam com inúmeras dificuldades, requerendo

pessoas comprometidas e flexíveis.

Page 68: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

Entretanto, como anteriormente dissemos, nossa intenção neste estudo não foi a

de apresentar um modelo pronto, que mostrasse pontos a seguir na construção do centro

de memória, nem tão pouco esgotar o assunto. Assim, consideramos que há muitos

caminhos a serem percorridos.

Espero que mais adiante possa contribuir, de outra maneira, com esta iniciativa,

podendo disputar editais públicos que venham a auxiliar os trabalhos do centro, tornando-

se um espaço consolidado e reconhecido no País.

.

Page 69: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

REFERÊNCIAS

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Ciências sociais, São Leopoldo, ano I, n. I, jul. 2009. Disponível em: <http://www.rbhcs.com/index_arquivos/Artigo.Pesquisa%20documental.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2012. SILVA, Zélia Lopes da; (Org.). Arquivos, patrimônio e memória: trajetórias e perspectivas. São Paulo: UNESP; FAPESP, 1999. SCHWARTZ, Gisele Maria; et al. Gestão da informação sobre esporte recreativo e lazer: balanço da Rede CEDES. Várzea Paulista: Fontoura, 2010. VASCONCELLOS, Liliana; GUEDES, Luis Fernando A. E-Surveys: vantagens e limitações dos questionários eletrônicos via internet no contexto da pesquisa científica. Disponível em: <http://www.ead.fea.usp.br/Semead/10semead/sistema/resultado/trabalhosPDF/420.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2012. VON SIMSON, Olga Rodrigues de Moraes. Memória, cultura e poder na sociedade do esquecimento. Disponível em: <www.ufpa.br/nupe/artigo1.htm>. Acesso em: 20 out. 2011. TESSITORE, Viviane. Como implantar centros de documentação. São Paulo: Arquivo do Estado; Imprensa Oficial, 2003.

Page 73: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

APÊNDICE A

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA Departamento de Educação – Campus II

Curso de Licenciatura em Educação Física

Roteiro de Entrevista

1. Qual a importância de um Centro de Memória na Universidade?

2. Faça um breve relato da história do centro. Quais foram os primeiros passos até a

criação, organização e consolidação?

3. Como foi edificado o acervo do centro de memória? Existe uma política de formação do acervo?

4. Qual o perfil do público que visita o centro de memória?

5. Como tornar estes espaços mais atraentes e interativos para o público?

6. Quais as principais dificuldades enfrentadas pela equipe na tarefa de arquivamento

e guarda de documentos?

7. Existe apoio de departamentos da universidade, órgãos públicos neste trabalho de preservação da memória?

8. Como se dá este apoio?

9. Quais são os subprojetos do centro?

10. No site do Centro de Memória verificamos a composição da equipe do CEME. Essa

equipe é formada por quais profissionais? Existe uma formação especifica para realizar este trabalho?

Page 74: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

APÊNDICE B

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA Departamento de Educação – Campus II

Curso de Licenciatura em Educação Física

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu_____________________________________________________, declaro por meio

deste termo, que concordei em ser entrevistado (a) na pesquisa referente ao projeto

intitulado Centro de Memória da Educação Física e Esporte na Bahia: um desafio histórico

vincluado ao Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Física, Esporte e Lazer –

GEPEFEL/UNEB e que resulta no trabalho monográfico denominado Desafio de

edificação do Centro de Memórias da EF da Bahia, sob orientação do prof. Dr. Augusto

César Rios Leiro.

Afirmo que aceitei participar por minha própria vontade, sem receber qualquer incentivo

financeiro e com a finalidade exclusiva de colaborar para o sucesso da pesquisa.

Minha colaboração se fará de forma pública, por meio de questionário eletrônico

encaminhado por email. O acesso e a análise dos dados coletados se farão apenas por

mim juntamente com o orientador, sendo divulgados apenas os dados diretamente

relacionados aos objetivos da pesquisa.

_____________________________, ____ de _________________ de _____

Assinatura do (a) participante: ______________________________

Assinatura do (a) pesquisador (a): __________________________________

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ANEXO A

Lista das Pesquisas – Centro de Memória da Educação Física, do Esporte e do Lazer (CEMEF) I - Em andamento:

A Biotipologia no Brasil em meados do século XX: Juvenil Rocha Vaz e a clínica propedêutica da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro

Histórias de Educação Física na Cultura Escolar: investigações sobre a

escolarização da disciplina no norte-nordeste de Minas Gerais (1900-1940)

Garimpando, organizando e divulgando a memória no CEMEF

Modelos pedagógicos, formação docente e práticas escolares: o ensino da Educação Física em Belo Horizonte (1947-1977)

Núcleo de Pesquisas sobre a Educação dos Sentidos e das Sensibilidades –

NUPESS

II - Concluídas:

Circularidade de modelos pedagógicos e formação de professores de Educação Física em Belo Horizonte: vestígios de práticas no acervo do CEMEF/UFMG (1950-1980)

A PRÁTICA DO ESPORTE NA FORMAÇÃO DE PROFESSORAS DA ESCOLA

NORMAL MODELO DA CAPITAL: pistas para uma compreensão da educação physica a partir da trajetória da professora Lúcia Joviano (Belo Horizonte, 1916-1935)

O CEMEF/UFMG como lugar de memória e pesquisa da história do esporte em

Minas Gerais: organização e conservação de acervos

Memória de esportes e ruas de recreio (1940-1980)

SENTIDOS E SENSIBILIDADES: a educação do corpo na Escola Normal Modelo da capital (Belo Horizonte, 1906-1930)

Eu vou te contar uma história... Memórias de Esportes e Ruas de Recreio (1940-

1970)

Levantamento e catalogação de fontes pra o estudo da educação do corpo em Belo Horizonte (1891-1930)

Page 76: Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: experiências universitárias e desafio cultural

ANEXO B

Lista de projetos e pesquisas – Centro de Memória do Esporte (CEME)

1. Acervo Brasileiro de História Oral em Esporte e Educação Física

2. ESEF 70 Anos - (1940-2010)

3. Garimpando Memórias: esporte, educação física, lazer e dança no Brasil

4. Gênero e raça em programas de esporte e lazer

5. GRECCO - Grupo de Estudos sobre Corpo e Cultura

6. Memória do Programa Segundo Tempo

7. Mulheres atletas: o esporte como um espaço de visibilidade feminina

8. O Sport que virou esporte, o Sport que virou Desporto

9. Recônditos da Memória: o acervo pessoal de Inezil Penna Marinho

10. Rede Cedes - Núcleo UFRGS