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CENTRO DE MEDIAÇÃO NA SEGURANÇA PÚBLICA DO ESTADO DE GOIÁS: RELATO DE UM BREVE ESTUDO DE CASO RICARDO FLORENTINO,JOSÉ DOS REIS JUNIOR, LEON DENIS DA COSTA, EDESIO MARTINS, ANDRÉ FRANÇA CORREIA. RESUMO Esta pesquisa buscou analisar a possibilidade de utilizar a mediação de conflito na atividade policial, destacando a implementação de centros de mediação no contexto da Segurança Pública do Estado de Goiás. Para isso, utilizou-se do método bibliográfico, descritivo e qualitativo. Logo, algumas experiências brasileiras em mediação de conflito, demonstram que a viabilização de um local próprio para realização da mediação, sendo o quartel ou distrito policial, tendo policiais, atuando como mediadores, seria de grande contribuição para a sociedade, garantindo uma cultura voltada para prevenção de crimes e administração de conflitos de forma não-violenta. O objetivo deste trabalho foi descrever algumas experiências de centro de mediação na área da Segurança Pública, apresentando um estudo de caso o projeto desenvolvido no município de Goiânia, em 2006, em que implementou-se um projeto de Centro de Mediação de Conflito no 14º Centro Integrado de Operações de Segurança. Palavras - chave: Conflitos. Segurança Pública. Centro de Mediação ABSTRACT This research sought to analyze the possibility of using conflict mediation in police activity, highlighting the implementation of mediation centers in the context of the Public Security of the State of Goiás. For this, we used the bibliographic method, descriptive and qualitative. Therefore, some Brazilian experiences in conflict mediation demonstrate that the feasibility of a proper place for mediation, being the police headquarters or district, having police officers acting as mediators, would be of great contribution to society, guaranteeing a culture focused on Crime prevention and non-violent conflict management. The objective of this work was to describe some experiences of mediation nuclei in the Public Security area, presenting a case study of the project developed in the city of Goiânia, in 2006, in which a Conflict Mediation Center project was implemented in the 14th Center Integrated Security Operations. Keywords: Conflict. Military police. Mediation Center INTRODUÇÃO No Brasil o crime alcança níveis desproporcionais aos investimentos dos gestores públicos em segurança pública. As políticas repressivas de combate a criminalidade mostram-se insuficientes a esta demanda, gerando a sensação de insegurança à sociedade. O que se torna imprescindível a formulação de novas práticas ao combate da violência. Nesse cenário, um modelo de polícia pautado em práticas preventivas ao crime, pode mostrar-se como um fator a mais para alcançar-se a pacificação social. O modelo de Polícia Comunitária já introduzido em vários cenários das policias brasileiras, busca na aproximação das instituições policiais com o cidadão, construir novas formas de resolver problemas que afetam a segurança pública. O que cabe a

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CENTRO DE MEDIAÇÃO NA SEGURANÇA PÚBLICA DO ESTADO DE GOIÁS: RELATO DE UM BREVE ESTUDO DE CASO

RICARDO FLORENTINO,JOSÉ DOS REIS JUNIOR, LEON DENIS DA COSTA, EDESIO MARTINS,

ANDRÉ FRANÇA CORREIA.

RESUMO

Esta pesquisa buscou analisar a possibilidade de utilizar a mediação de conflito na atividade policial, destacando a implementação de centros de mediação no contexto da Segurança Pública do Estado de Goiás. Para isso, utilizou-se do método bibliográfico, descritivo e qualitativo. Logo, algumas experiências brasileiras em mediação de conflito, demonstram que a viabilização de um local próprio para realização da mediação, sendo o quartel ou distrito policial, tendo policiais, atuando como mediadores, seria de grande contribuição para a sociedade, garantindo uma cultura voltada para prevenção de crimes e administração de conflitos de forma não-violenta. O objetivo deste trabalho foi descrever algumas experiências de centro de mediação na área da Segurança Pública, apresentando um estudo de caso o projeto desenvolvido no município de Goiânia, em 2006, em que implementou-se um projeto de Centro de Mediação de Conflito no 14º Centro Integrado de Operações de Segurança. Palavras - chave: Conflitos. Segurança Pública. Centro de Mediação ABSTRACT

This research sought to analyze the possibility of using conflict mediation in police activity, highlighting the implementation of mediation centers in the context of the Public Security of the State of Goiás. For this, we used the bibliographic method, descriptive and qualitative. Therefore, some Brazilian experiences in conflict mediation demonstrate that the feasibility of a proper place for mediation, being the police headquarters or district, having police officers acting as mediators, would be of great contribution to society, guaranteeing a culture focused on Crime prevention and non-violent conflict management. The objective of this work was to describe some experiences of mediation nuclei in the Public Security area, presenting a case study of the project developed in the city of Goiânia, in 2006, in which a Conflict Mediation Center project was implemented in the 14th Center Integrated Security Operations. Keywords: Conflict. Military police. Mediation Center

INTRODUÇÃO

No Brasil o crime alcança níveis desproporcionais aos investimentos dos

gestores públicos em segurança pública. As políticas repressivas de combate a

criminalidade mostram-se insuficientes a esta demanda, gerando a sensação de

insegurança à sociedade. O que se torna imprescindível a formulação de novas

práticas ao combate da violência.

Nesse cenário, um modelo de polícia pautado em práticas preventivas ao

crime, pode mostrar-se como um fator a mais para alcançar-se a pacificação social.

O modelo de Polícia Comunitária já introduzido em vários cenários das policias

brasileiras, busca na aproximação das instituições policiais com o cidadão, construir

novas formas de resolver problemas que afetam a segurança pública. O que cabe a

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polícia e demais integrantes que compõem o sistema de segurança pública ter

conhecimentos da mediação como um instrumento a ser utilizado no cotidiano, a fim

de, facilitar a resolução de conflitos por meio do diálogo.

Destaca-se que quando o cidadão busca os serviços policiais, espera que

além do registro de boletim de ocorrências, possa ser ouvido e que seus conflitos

possam ser resolvidos ou amenizados. Principalmente quando seus problemas

estão vinculados por algum tipo de relação contínua, que de determinada forma,

seja pelo laço familiar, relação de amizade, ou de convivência entre vizinhos, dentre

outros, que pela falha na comunicação ocasiona várias formas de contratempos,

violências e discórdias, ambiente propício para que um policial capacitado em

resolução de conflitos, possa atuar e encaminhar as partes, para um espaço

especifico para realização da mediação e conciliação.

Assim, determinados conflitos, carecem além de um trato humanizado

pelo primeiro operador policial que tenha conhecimento de algum “caso de polícia”,

que ultrapasse a mera lavratura de ocorrências atendidas, criando a possibilidade

de encaminhar essa demanda há um núcleo de mediação e conciliação de conflito,

espaço reservado e especializado neste tipo de intervenção. Nada obsta que desde

o quartel até o distrito policial, bem como, outras instituições de segurança pública,

tenha esse ambiente de resolução de conflitos, compostos de policiais capacitados a

intervir nos conflitos por meio da mediação.

1 MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

Ensina Muszkat (2008, p31)1, que “Os conflitos são constituintes da

condição humana, eles não podem ser vistos como exceções, mas como parte do

nosso cotidiano nas relações interpessoais”. O conflito faz parte da vida social,

tornando-se uma exceção, quando este transformam-se em violência como tentativa

de resolver uma controvérsia podendo chegar a evoluir para crimes e litígios na

seara jurisdicional. Diga-se de passagem, que a falha na comunicação nas relações

interpessoais ocasiona a maior parte dos conflitos.

1 MUSZKAT, Malvina Ester. Guia prático de mediação de conflito em famílias e organizações. 3.ed. Rev. São Paulo: Summus, 2008.

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Destaca Tartuce (2015)2, que historicamente a resolução de conflitos

pode ser feita pela autotutela, onde o indivíduo resolve o conflito por sua própria

força, em algumas situações agindo com legalidade como praticado em legítima

defesa ou agindo contra o ordenamento jurídico quando há o uso arbitrário das

próprias razões; pela autocomposição onde as partes encontram isoladamente ou

em conjunto, a resposta para resolução do conflito, destacando como técnica nestes

casos: a negociação, mediação, conciliação e pela heterocomposição onde uma

terceira parte imparcial é confiada à resolução do conflito, sendo ela pela via arbitral

ou jurisdicional.

De acordo com Sampaio e Braga Neto (2014, p.31)3, que a mediação é:

A mediação é um método de resolução de conflito em que um terceiro independente e imparcial coordena reuniões conjuntas ou separadas com as partes envolvidas em conflito. E um de seus objetivos é estimular o diálogo cooperativo entre elas para que alcancem a solução da controvérsia em que estão envolvidas. Com esse método pacífico tenta-se propiciar momentos da criatividade

A mediação tem participação de um terceiro sujeito, que deverá agir de

forma a facilitar o diálogo e a construção de soluções pelos próprios participantes, o

mediador não cabe intervir ou resolver o conflito, mas agir de forma a facilitar a

negociação entres as partes de forma que juntas possam entrar em acordo.

Para Amorim e Schabbel (2013), o mediador atua como um facilitador da

conversação das partes a encontrar soluções que satisfação mutuamente ambos

interesses e transformando as relações e os vínculos fragilizados. Na conciliação um

terceiro imparcial atua na condução do acordo entre as partes, apresentando-lhes

sugestões, opinando e questionando os litigantes, a fim de evitar os desgastes de

iniciar um processo judicial, além disso, a conciliação fica em uma zona

intermediaria entre a auto e a heterocomposição, dando um fim na disputa, porém

não no conflito.

Costa e Ribeiro (2010, p. 87),4 cita que “ Uma das coisas que tornam a

mediação uma forma pacificadora de solução de conflito, exitosa, é a

2 TARTUCE, Fernanda. Mediação nos conflitos civis. 2.ed. Rev. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015.

3 SAMPAIO, Lia Regina Castaldi; BRAGA NETO, Adolfo. O que é mediação de conflito. São Paulo: Brasiliense, 2014.

4 COSTA, Andreia Sousa; RIBEIRO, Regina A. S. F. A viabilidade da mediação nas relações humanas como medida política e democrática para solução de diferentes conflitos. In: TRABOUISI,

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responsabilidade que as partes têm com as soluções encontradas e seu

cumprimento.” Um dos papéis sociais do mediador é atuar como um educador,

propondo e preconizando formas pacíficas de resolução de conflito, de forma a

ampliar as vias de comunicação entres as partes, devolvendo a estas, a

responsabilidade pela solução de suas controvérsias de forma construtiva, desta

forma, a mediação é uma ferramenta que pode ser empregada em vários contextos:

família, escola, comércio, vizinhança, trabalho e comunidades.

O atual modelo de acesso à justiça com o advento da Constituição de

1988, tem-se aprimorado a fim de facilitar o acesso do cidadão ao Poder Judiciário,

o qual Argachoff e Capez (2011)5, destaca a criação dos Juizados Especiais

Criminais, até a disponibilização de formas alternativas de resolução de conflitos

como mediação, conciliação, negociação e arbitragem. No campo da segurança

pública, destaca-se o uso das duas primeiras, pois, na negociação, as próprias

partes buscam a solução de seus conflitos e na arbitragem, as partes delegam a um

árbitro o poder de decisão e solução de seus dissídios. Já na conciliação e

mediação tem-se a presença de uma terceira pessoa imparcial e neutra ao

problema, que no primeiro caso aponta soluções, enquanto no segundo, ou auxilia a

comunicação entre as partes.

A resolução pacífica de conflito torna-se uma alternativa a mais na

prevenção da violência e na construção de uma cultura de paz, aplicando-se como

mecanismo desse entendimento a mediação de conflitos. Para Nunes (2010)6 a

mediação destina-se a transformar os padrões de comportamento pautados pela

violência e estimular o convívio social em um ambiente cooperativo, no qual os

conflitos possam ser tratados sem confrontos e de modo que as partes tentem

compreender a situação uma da outra.

Carla Sahium (org.).Negociação, Mediação, Conciliação e Arbitragem: coletânea de artigos. Goiânia: Kelps, 2013.

5 CAPEZ, Fernando; ARGACHOFF, Mauro. A legalidade da atuação do Delegado de Polícia como conciliador e a Resolução nº 125 do Conselho Nacional de Justiça. In: BLAZECK, Lima Maurício Souza; MARZAGÃO, Jr. Laerte (org.) Medidas alternativas para Resolução de Conflito Criminais -São Paulo: Quartier Latin, 2013.

6 NUNES, Andrine Oliveira. Segurança pública e mediação de conflitos: a possibilidade de implementação de núcleos de mediação na secretaria de segurança pública e defesa social do Estado do Ceará. Dissertação (mestrado) – Universidade de Fortaleza, 2010.

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Sampaio e Braga Neto (2014)7 esclarece que referente a distinção entre a

mediação e conciliação passa-se pela forma de abordagem do conflito, ou seja, no

primeiro caso é bastante utilizada em conflitos entre partes que possuam

relacionamento significativo ou emocional, de forma contínua, que se prolongam no

tempo. No segundo caso, a conciliação é usualmente empregada em casos em que

as partes se desconhecem e preferem apenas colocar um fim em algum tipo de

controvérsia ou desentendimento.

A Resolução nº 125 do Conselho Nacional de Justiça, de novembro de

20108, dispõe em seu artigo 5º9, a necessidade do Poder Judiciário, em buscar junto

aos demais órgãos públicos e privados, formas de pacificação social, assegurando

às comunidades, formas de solução de seus conflitos. .

O Novo Código de Processo Civil - Lei 13.105/201510 em seu artigo 165,

ao que se refere sobre práticas de resolução de conflitos, estabelece que os

tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis

pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação, e pelo

desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a

autocomposição.

Além disso, a referida lei diferencia a atuação do conciliador e mediador

conforme parágrafos 2º e 3º, do artigo 165:

§ 2o O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem. § 3o O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos.

O Marco Legal da Mediação no Brasil foi a promulgação da Lei

7 SAMPAIO, Lia Regina Castaldi; BRAGA NETO, Adolfo. O que é mediação de conflito. São Paulo: Brasiliense, 2014.

8 BRASIL, CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução Nº 125, de 29 de Novembro de 2010. Dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providências.

9 10 Art. 5º O programa será implementado com a participação de rede constituída por todos os órgãos do Poder Judiciário e por entidades públicas e privadas parceiras, inclusive universidades e instituições de ensino

10 Lei 13.105, 17/03/2015.Código de processo civil Disponível em <http://www2.senado.gov.br/bdsf/handle/id/507525>. Acesso em 23/03/2017.

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13.140/2015, para Braga Neto (2015)11, desde 1990 já era introduzido no Brasil,

idéias sobre mediação de conflitos por especialistas estrangeiros, mormente,

americanos e argentinos. Outro fato de grande importância para o advento da lei da

mediação, foi a implantação da Lei 9.307/1996, que institucionalizava a arbitragem e

mediação. Exsurge que de 1998 deu-se entrada aos projetos de lei que visavam

criar uma regulamentação sobre a mediação e após várias incursões e tramitações

legislativas junto a Câmara dos Deputados e dos Senadores, fora aprovada somente

em 2015.

Dessa forma, em seu parágrafo único, a mediação é definida,

sucintamente, da seguinte forma na Lei 13.140/201512 em seu artigo 1º, parágrafo

único:

“Considera-se mediação a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia”.

A lei da mediação de conflitos, Lei 13.140/2015, dispõem em seu artigo

42, uma posição favorável, ao enfoque comunitário de resolução de controvérsias,

possibilitando várias formas de aplicação, tornando-se viável seu uso em prol de

uma polícia cidadã: “Art. 42. Aplica-se esta Lei, no que couber, às outras formas

consensuais de resolução de conflitos, tais como mediações comunitárias e

escolares, e àquelas levadas a efeito nas serventias extrajudiciais, desde que no

âmbito de suas competências”.

2 POLÍCIA COMUNITÁRIA E MEDIAÇÃO DE CONFLITO

O aumento da violência no Brasil, apresenta-se em um quadro agudo, o

qual, estende-se por diferentes esferas sociais e independente de tratar-se do meio

urbano ou rural, localizando-se até mesmo entre os muros das escolas, onde o

11 BRAGA NETO, Adolfo. Marco legal da Mediação: Lei 13.140/2015 -Comentários iniciais à luz da prática Brasileira. Revista de Arbitragem e Mediação. Vol. 47, ano 12, p259-275. São Paulo: Ed. RT, out.-dez.2015.

12 LEI Nº 13.140, DE 26 DE JUNHO DE 2015. Dispõe sobre a mediação entre particulares como meio de solução de controvérsias e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública; altera a Lei no 9.469, de 10 de julho de 1997, e o Decreto no 70.235, de 6 de março de 1972; e revoga o § 2o do art. 6o da Lei no 9.469, de 10 de julho de 1997. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/Lei/L13140.htm>. Acessado em 15/03/2017.

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ensino da cidadania deveria esta totalmente presente, encontrando-se ameaçada

pelo aumento de caso de violência entre alunos, seja elas por meio de agressões

físicas ou psicológicas, além a mercê de marginais, que buscam fragilizar esse

contexto de ensino, pela prática ou induzimento de crianças e adolescente na vida

do crime, gerando uma sensação ainda maior de insegurança na sociedade.

Assis (2009),13 destaca-se que na Carta Constitucional de 1988, a

segurança pública é pautada a garantir a ordem pública, por meio da prevenção e

repressão a criminalidade, por meio de seus organismos policiais, sendo a maior

missão do Estado, garantir segurança aos cidadãos, bem como, sua incolumidade

física e moral. A segurança da população vem acompanhada da credibilidade das

instituições policiais, em especial às militares, por sua presença direta na

comunidade, sendo preciso que essas instituições, demonstrem que seus

profissionais, encontram-se bem treinados e em harmonia para cooperação de

práticas em segurança pública e combate à criminalidade. .

Contudo, as autoridades públicas, passam a ser cobradas pela sociedade

a implantar meios repressivos de combate a criminalidade que parece incontrolável

(SALES, ALENCAR e FEITOSA, 2009)14. As cidades passam a buscar formas

alternativas de proteção contra a violência, investindo em sistemas de fiscalização

eletrônicas, cercas elétricas, detectores de metais nas portas de bancos e

comércios. Mesmo com estas medidas, continua-se a ver o aumento de crimes,

tornando urgente a criação de novas formas de conter os conflitos sociais.

Considera-se que a segurança pública deve direcionar-se para práticas voltadas

para o exercício da cidadania e proteção dos direitos humanos, onde o fazer policial,

alicerce não só por meio de ações repressivas, mas contemplando também práticas

preventivas, tais como uma prática focada nos princípios de uma Polícia

Comunitária.

A Polícia Comunitária, passa então a ser difundida pelas instâncias

estatais, em um trabalho contínuo com a sociedade de forma a juntos, aproximar a

polícia e comunidade, instigando a deslindar os problemas relacionados com a

13 ASSIS, Jorge Cesar de. Lições de direito para a atividade das polícias militares e das forças armadas. 6ª ed. Curitiba: Atual, 2009.

14 SALES, Lilia Maia de Morais; ALENCAR, Emanuela Cardoso O. de; FEITOSA, Gustavo Raposo. Mediação de Conflitos Sociais, Polícia Comunitária e Segurança Pública. Revista Sequência, nº 58, p. 281-296, jul. 2009.

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segurança pública, dentre outros, no que se refere a implantação do modelo de

polícia comunitária no Estado de Goiás, onde Fernandes e Reis Júnior (2013,

p.10)15 destacam:

Sendo o Policiamento comunitário a filosofia adotada na Polícia Militar do Estado de Goiás (PMGO), como um mecanismo eficiente de humanizar e aproximar a Polícia da comunidade, o que foi instituído oficialmente como doutrina pelo Procedimento Operacional Padrão (POP) 210, é inegável o avanço que esta medida produziu para minimizar a distância historicamente existente entre a polícia, o policial e a comunidade.

A segurança pública, deve ser conduzida como responsabilidade de

todos, buscando abarcar a polícia e a sociedade a criarem formas de lidarem com a

violência. Neste contentamento reflexivo, Ferreira, Nunes e Sales (2009)16

expressam a importância de estimular nos cursos de formação de policiais, praticas

de policiamento para os preceitos dos direitos humanos, aproximando a polícia e a

comunidade na resolução pacífica dos conflitos existentes.

Nesse panorama, a doutrina de polícia comunitária, busca uma nova

formulação institucional, em que, as policias auxiliem a população a apropriar-se de

um papel atuante em face da segurança pública. Araújo e Braga (2007, p.107)

destaca que, “A polícia comunitária não é apenas uma forma de melhorar a imagem

da polícia, ainda que assim ocorra”, mas uma construção de uma cooperação sólida

entre a polícia e as comunidades locais, para que as necessidades destas, possam

ser atendidas da melhor forma, principalmente por meio da prevenção.

A atividade policial necessita cada vez mais, buscar meios de se

aprimorar e de se profissionalizar, possibilitando a formação policial voltada para

reflexão crítica da realidade social em que está intervindo. Nesta cognição,

Guimarães (2000) observa que a sociedade espera uma atuação policial pautada

em ações imparciais, com técnica, voltadas para o respeito do cidadão e na melhoria

da prestação de seus serviços.

Neste diapasão, a mediação de conflitos serve de instrumento para a

atuação de uma polícia comunitária, sendo uma ferramenta valiosa para aproximar a

polícia e a população, pautada na resolução dos conflitos, pela prática da

15 REIS JUNIOR, José dos; FERNANDES, Júlio César Motta, O Policiamento Comunitário como Instrumento de Apoio a Análise Criminal. Conjuntura Econômica Goiânia, nº 27, dez. 2013.

16 SALES, Lilia Maia de Morais; FERREIRA, Plauto Roberto Lima e NUNES, Andrine Oliveira. Segurança Pública, Mediação de Conflitos e Polícia Comunitária: uma interface. In: NEJ -Vol. 14 -n. 3 -p. 62-83 / 3º Quadrimestre 2009.

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comunicação, respeito e incentivo da participação das partes na resolução de seus

problemas.

No que tange a prática da polícia comunitária e a mediação de conflitos,

ensina Prado Soares (2013, p.30),17 que:

Nesse sentido, a mediação de conflito se apresenta como um instrumento extrajudicial preventivo, que pode ser utilizado pelos profissionais que lidam com a segurança pública, como alternativa mais célere e menos gravosa a composição judicial da lide, com a finalidade de estanciar prematuramente as controvérsias, proporcionando diretamente o surgimento de responsabilidades e compromissos entre as partes e indiretamente a convivência harmoniosa da comunidade.

Assim, no desenvolvimento do trabalho de polícia comunitária, a

mediação de conflito apresenta-se como uma ferramenta útil, onde a população

poderá solicitar do policial, a ser um terceiro, apto a ajudar a resolver seus conflitos.

Logo, destaca Prado Soares (2003), que a prática da mediação pelo policial

carecerá de capacitação específica para o exercício desta função, podendo atuar de

forma a gerir conflitos na comunidade ou realizando o devido encaminhamento para

que a mediação seja feita por outros profissionais habilitados.

Nassaro (2012)18 destaca a importância na atividade policial, em haver o

uso da mediação e da conciliação de conflito, como meios alternativos para

pacificação social. Nesta azafama o policial militar, por exemplo, é o primeiro agente

do Estado, a chegar no local do conflito, e muitas vezes não depara-se com crimes,

ou se a caracterizam, ficam circunscritas no contexto das ações penais privadas e

condicionadas a representação, frustrando o cidadão que clama por resolução de

sua conturbação.

No caso de implantação de um Centro de Mediação de conflito, funciona

um movimento de construção do verdadeiro senso de pertencimento social, nesses

núcleos, o mediador – um Policial, capacitado pelos órgãos de segurança pública e

por demais instituições que atuam no campo da mediação de conflitos, podem

17 PRADO SOARES, Inês Virginia. Segurança Pública na agenda Brasiliera de Direitos Humanos: a mediação de conflito e a educação como instrumentos. In: BLAZECK, Lima Maurício Souza; MARZAGÃO, Jr. Laerte (org.) Medidas alternativas para Resolução de Conflito Criminais -São Paulo: Quartier Latin, 2013.

18 NASSARO, Adilson Luís Franco. O policial militar pacificador social: emprego o policial. Revista do Laboratório de Estudos da Violência da UNESP/Marília. Ano 2012 – Ed. 10 – Dezembro, p.40-56, 2012.

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desenvolver um trabalho de modo a facilitar o diálogo entre as partes conflitantes,

em um ambiente formal para resolução de conflitos.

Nesse tipo serviço, tem-se um espaço destinado a promoção de práticas

alternativas de resolução de conflitos, com mediadores habilitados ao atendimento

da população, em conflitos relacionados a problema de convivência, atritos nos

relacionamentos interpessoais e pequenas desordens na comunidade, que caso não

seja assistido pelo poder público, podem transformar-se em crimes.

3 OS NÚCLEO DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

A mediação de conflitos, torna-se um instrumento necessário a ser

abordado nos currículos policiais, trazendo um discurso de resolução de conflitos

pautados no diálogo. Não significa que o modelo repressivo de polícia deva ser

abandonado, mais que dependendo da situação, usar a mediação para administrar

possíveis controvérsias, pode ser mais benéfico para sociedade.

Por outro lado, em uma estratégia de polícia comunitária, o policial como

o representante do Estado mais próximo da comunidade no momento em que os

conflitos e as controvérsias se instalam, podem fazer uso da mediação como

técnica, e auxiliar as pessoas a resolverem seus problemas, sem o emprego de

força ou violência.

Nassaro (2012),19 destaca que não há impedimento para que o policial

realize a mediação ou conciliação, diferenciando que no primeiro caso traduz em um

acordo conduzido, enquanto no segundo, um acordo sugestionado, mas em ambos

os casos, com a cooperação voluntariedade das partes. Na seara civil, tratando-se

de bens disponíveis, conforme o artigo 784, inciso III, do Novo Código de Processo

Civil, o agente de segurança pública, pode formalizar a termo, o acordo entre as

partes, que poderá ser utilizado como título extrajudicial. Além de que, os acordos

feitos por mediadores e conciliadores credenciados pelos tribunais justiça também

possuem estaus de títulos extrajudiciais. No plano penal, a autocomposição também

19 NASSARO, Adilson Luís Franco. O policial militar pacificador social: emprego o policial. Revista do Laboratório de Estudos da Violência da UNESP/Marília. Ano 2012 – Ed. 10 – Dezembro, p.40-56, 2012.

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pode ser utilizada, desde que não seja empregada na matéria das ações penais

incondicionadas.

Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais: (…) II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas; IV - o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal;

Referente aos tipos de casos envolvendo ilícitos civis e ilícitos penais que

podem ser passíveis de acordo por meio da mediação ou conciliação, os quais

Nassaro (2012, destaca os seguintes:1) acidentes de trânsito sem vítimas: nesta

hipótese considera os prejuízos ocasionados, em que deve ser tratados em

conformidade com o direito civil; 2) outros prejuízos e danos: tratam-se de ilícitos

civis de deterioração e destruição que não constituem infração penal de dano

conforme artigo 163 do Código Penal; 3) divergências entre dois vizinhos por

incômodos diversos e desentendimentos em geral: vários tipos de conflito entre

pessoas e vizinhos pode ser mediados, desde que não constituam crime de

perturbação do sossego, que caracteriza contravenção penal, cuja ação, é

incondicionada por tratar-se de dano a coletividade (artigo 17 da Lei de

Contravenções penais). 4) lesão corporal leve (art. 129, caput, do CP): constituem

infrações de menor potencial ofensivo, dependendo da representação do ofendido;

5) demais infrações penais de ação privada ou de ação pública condicionada à

representação do ofendido: desde que não seja de ação incondicionada, pode o

ofendido dispor da forma que achar oportuna de seu direito de representar/queixar-

se.

Esclarece Campi (2015),20 que a mediação de conflitos deve ser utilizada

em bens disponíveis, ou seja, bens sobre os quais as próprias partes podem decidir

o que fazer, tal como danos e dívidas. Por outro lado, os crimes de menor potencial

ofensivo classificados pela Lei 9099/95, cuja pena máxima não seja superior a 02

(dois) anos, suportaria ser usada a mediação ou conciliação de conflitos, impedindo

que estes transforme em crimes mais graves.

20 CAMPI, Simone Casemiro. Mediação de conflitos na atuação policial. Artigo apresentado ao CAESP/2015, da Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária, em cooperação técnica com a Universidade Estadual de Goiás, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Altos Estudos de Segurança Pública, 2015.

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Nos conflitos em torno de direitos disponíveis regulados por normas de Direito Civil e naqueles de ordem penal em que a ação penal seja privada ou mesmo pública, condicionada à representação do ofendido, o emprego de técnicas de mediação por policiais têm o condão de pacificar os conflitos em sua flagrância, ao contrário da via judicial, notadamente mais tardia (CAMPI,2015, p.13)

Dessa forma, existências de locais próprios para a prática da mediação,

pode contribuir ainda mais, para o estabelecimento de uma cultura de paz e

cidadania, que o policial possa encaminhar casos que carecem de um trabalho de

mediação específico. No entanto , Muskat (2008, p.13),21 considera que “A mediação

implica um saber, uma episteme, resultante de vários outros saberes, cuja

transversalidade fornecerá o instrumental para uma prática que pressupõe a

planificação e aplicação de uma série de passos ordenados no tempo”. Ou seja,

embora a mediação possa ser amplamente utilizada na prática diária das pessoas,

que por meio da intuição ou experiência de vida buscam solucionar seus conflitos, a

mediação de conflito também se mostra um instrumento que provém de estudos e

aperfeiçoamento do conhecimento, cujo emprego carece de preparo e formação

para sua aplicação.

Camargo (2015)22 relata que em algumas realidades policiais locais,

vislumbra a necessidade de investir no aumento de quantidade horas/aulas, em

disciplinas relacionadas com a resolução de conflitos. Em análise da Matriz

Curricular do Curso de Formação de Praças da PM-GO (PMGO, 2014) percebe-se

que das 945 (novecentas e quarenta e cinco) horas, da carga horária acadêmica

previstas na matriz curricular do curso CFP 2014, apenas 25 (vinte e cinco) horas,

conforme a ementa é voltada para práticas de pacificação social, tratando-se da

disciplina de Polícia Comunitária.

Logo, a inclusão de novas práticas pedagógicas, a fim de promover uma

cultura policial pautada no respeito aos direitos humanos, proximidade com a

comunidade e cooperação na solução de problemas relacionados à segurança

pública, devem estar presentes na formação policial, de forma continuada, buscando

aprimorar a atuação dos profissionais de segurança pública. Por outro lado, na

21 MUSZKAT, Malvina Ester. Guia prático de mediação de conflito em famílias e organizações. 3.ed. Rev. São Paulo: Summus, 2008.

22 CAMARGO, Vinícius Araújo De. Aplicabilidade e a importância das técnicas de administração de conflitos para o policiamento preventivo na Polícia Militar Goiana. Artigo apresentado ao Comando da Academia de Polícia Militar como requisito parcial para conclusão do Curso de Formação de Oficiais, 2015.

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esfera da segurança pública, destaca-se a inclusão de projetos voltados para

mudança de um paradigma de polícia, que valoriza apenas a atuação reativa,

passando também a adotar formas preventivas de combate a violência e

criminalidade.

3.1 As experiências de mediação nas UPPS no Rio de Janeiro

Nesta junção de nexo, Mourão e Strozenberg (2015),23 apresentam

algumas iniciativas que merecem destaque, como os trabalhos de Mediação de

Conflitos, realizados nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) pela Polícia Militar

do Estado do Rio de Janeiro. Previamente os trabalhos policiais nas UPPs,

começaram em 2008 com a ocupação de favelas por policiais militares e,

posteriormente, de forma gradativa passou-se a utilizar policiais à paisana,

capacitados para prática de mediações de conflitos. Os trabalhos com a mediação

eram realizados nas instalações das UPPs, em locais públicos e nos centros

comunitários. Em 2010, por meio de uma parceria técnica com o Tribunal de Justiça

do Rio de Janeiro e a Secretaria de Segurança Pública do Estado, os policiais

militares do programa passam a receber capacitação profissional em mediação por

este órgão juridicíonais.

O programa foi instalado em diversas Unidades de Polícia Pacificadora

(UPPs), implementando centros de mediação de conflitos nas UPPs, neste

incitamento, Mourão e Strozenberg (2015), relatam que o primeiro centro de

mediação, foi na UPP da favela de Formiga, em seguida, foram criados novos

centros nos morros do Borel, Pavão-Pavãozinho, Providência, Santa Marta, Batan,

Rocinha e na própria sede da Coordenadoria da Polícia Militar. Conjuntamente com

o Ministério Público local, criava-se plantões itinerantes de mediação de conflitos,

oferecendo suporte jurídico e homologando os acordos alcançados pelos

mediadores.

Para Mourão e Strozenberg (2015) pesquisa realizada com aplicação de

questionários, em uma amostra geral de 2002 agentes (1.896 soldados e 106

cabos), que atuaram na ocupação das favelas, e com respostas fornecidas por 16

23 MOURÃO, Barbara Musumeci; STROZEMBERG, Pedro. Mediação de conflitos nas UPPs: notícias de uma experiência. –1. ed. – Rio de Janeiro: CESeC, 2015.

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agentes identificados, nesta amostra como sendo mediadores, por meio de

entrevista, mostra que na percepção dos mediadores nas UPPs, os principais

conflitos são: violências e conflitos familiares (41%); conflitos inespecíficos na

comunidade (28%) e brigas de vizinhança (17,7%), conquanto a posse e uso de

drogas motivou 84,4% dos conflitos; o tráfico 68%; rixas/vias de fato 48,6%;

violência doméstica, 46,5%, perturbação do sossego 72,3% e desacato 68,8%.

Na amostra geral, a maioria dos entrevistados (65,2%), também acredita

que a mediação deve ser feita por uma equipe especializada e apenas 16% crêem

que esse não é um trabalho para a polícia. Sobre as atividades cotidianas, mostram

que a maioria do efetivo das UPPs (88,8%), realizam funções tipicamente

repressivas, como abordar e revistar suspeitos (56,8% com muita frequência),

enquanto o grupo de mediadores, praticamente não se envolve com esse tipo de

atividade. Em relação a aproximação e parceria com os moradores, na amostra

geral, o percentual dos que jamais tomam parte em encontros da comunidade chega

a 80,4%. Os mediadores em a relação da polícia com a população, sentimentos

positivos, como simpatia, aceitação e admiração, diferentemente da maior parte dos

seus pares na amostra geral, apresentando entre estes 61% de resposta negativas,

considerando um comportamento hostil por parte da comunidade, à policia.

3.2 O Núcleo de Mediação de conflito na 30ª Delegacia de Polícia Civil de

Fortaleza

Noutra vertente, Sales e Damaceno (2013)24 citam o Projeto Piloto do

Núcleo de Mediação de conflito na 30ª Delegacia de Polícia Civil de Fortaleza,

situada no bairro Jungurussu, onde uma equipe de seis bolsistas de pesquisa da

Universidade de Fortaleza, qualificados em mediação de conflitos, aturam no

período de agosto de 2010 a outubro de 2011, visando solucionar os conflitos que

foram registrados naquela delegacia. Nesse período, o 30º DP, registrou 579 casos,

24 SALES, Livia Maia de Morais, DAMASCENO, Mara Livia Moreira. Mediação e Segurança Pública: A delegacia de Polícia como instrumento de inovação na Resolução de conflitos.In: BLAZECK, Lima Maurício Souza; MARZAGÃO, Jr. Laerte (org.) Medidas alternativas para Resolução de Conflito Criminais -São Paulo: Quartier Latin, 2013.

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onde constatou-se que 72% (417) dos casos, seriam adequados à mediação de

conflito. Ressalta-se que destes 417 casos, 119 desistiram da mediação, 26 não

aderiram e 75 casos não foram trabalhados por não conseguir manter contato com o

demandado ou demandante, o que totalizou a soma de 220 casos que não foram

mediados. Os tipos de casos atendidos pelo núcleo de mediação foram: ameaças,

desentendimentos e brigas de vizinhos, cobrança de dívidas, injurias, difamações,

violação de domicílio, lesões corporais, calúnias, danos e perturbações do sossego

alheio.

Sales e Damaceno (2013), observam que os casos mais atendidos no

núcleo de mediação, foram infrações de menor potencial ofensivo, sendo realizadas

197 mediações, onde 170 obtiveram acordo, representando 86% do total, e 27

mediações não obtiveram acordos, ou seja 14% destas. Corroborando-se que o

Núcleo de Mediação mostrou-se como uma experiência positiva, favorecendo na

diminuição de Termos Circunstanciado de Ocorrência e de Boletins de Ocorrência

na delegacia nesse período que foi encetado.

A experiência da mediação policial na cidade de Fortaleza, implementado

na 30ª Delegacia de Polícia Civil de Fortaleza, para Nunes (2010),25 mostrou-se

viável, uma vez que permite aliar conceitos de segurança cidadã e segurança

pública. Assim, é possível, que a polícia atue de forma a integrar em suas práticas o

respeito a dignidade humana e direitos humanos, aproximando a sociedade e o

órgão estatal, bem como, mostrando que esta última também é responsável em criar

soluções para seus conflitos sociais.

3.3 Os Núcleos de Mediação Comunitária na PMSP

Nassaru (2012),26 esclarece que desde 1990 a Polícia Militar do Estado

de São Paulo busca consolidar em sua instituição a filosofia de Polícia Comunitária,

visando aproximar policiais e comunidades locais por meio de instalação de Bases

25 NUNES, Andrine Oliveira. Segurança pública e mediação de conflitos: a possibilidade de implementação de núcleos de mediação na secretaria de segurança pública e defesa social do Estado do Ceará. Dissertação (mestrado) – Universidade de Fortaleza, 2010

26 NASSARO, Adilson Luís Franco. O policial militar pacificador social: emprego o policial. Revista do Laboratório de Estudos da Violência da UNESP/Marília. Ano 2012 – Ed. 10 – Dezembro, p.40-56, 2012

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Comunitárias de Segurança, favorecendo para um contexto favorável às

experiências em mediação de conflito. O Comando da Polícia Militar do Estado de

São Paulo, através da implantação dos Núcleos de Mediação Comunitária em

alguns municípios paulistas, administrados pela instituição Militar, cujos os

mediadores são policiais, verificou-se que os atendimentos estavam relacionados

com conflitos familiares, conflitos de vizinhos, conflitos financeiros e perturbações do

sossego.

No ano de 2011, no 26º Batalhão de Polícia Militar implementou um

projeto denominado Mediação Comunitária na Base, desenvolvido no município de

Francisco Morato, na Base Comunitária de Segurança – Laranjeiras, onde por meio

de quatro policiais militares, em horário de folga, habilitados em cursos de mediação

pela Secretaria Estadual da Justiça e da Defesa da Cidadania, em parceria com o

Instituto de Mediação e Arbitragem do Brasil. Assim, conforme Nassaro (2012)

clarifica que os atendimentos, aconteciam em locais reservados para a mediação,

por meio da cooperação das partes, atendendo conflitos entre vizinhos, questões

familiares, cumprimento ou descumprimento de direitos e deveres do cidadão,

desentendimento no trabalho e no trânsito, sendo ao final dos trabalhos lavrado um

termo de mediação.

Nassaro (2012), ainda destaca uma pesquisa recente no âmbito do

Comando de Policiamento do Interior-1 (CPI-1), região do Vale do Paraíba e Litoral

Norte, região que abrange 39 municípios e uma população de 2.264.597 habitantes,

que, em 2011, do total de 48.347 atendimentos ao mês/média mensal, classificaram-

se 7.496 como perturbação do sossego e 5.735 como desinteligência, cuja lógica,

faz pensar na possibilidade de mediação ou conciliação de tais casos, a fim de evitar

o consumo de tempo, com atendimento via 190 e de deslocamento local de viaturas,

viabilizando um ganho operacional ao dispor de viaturas livres para o policiamento

preventivo.

3.4 Projeto Mediar - 5ª Delegacia Distrital e da 4ª Delegacia Seccional Leste, na

Cidade de Belo Horizonte - MG

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Em Minas Gerais, Melo e Prudente (2013),27 citam o Projeto Mediar 5ª

Delegacia Distrital e da 4ª Delegacia Seccional Leste, na cidade de Belo Horizonte –

MG, implementado desde o ano de 2006, desde, o foco do projeto Mediar é evitar o

agravamento destes tipos de conflitos, por meio da mediação de conflitos com base

no policiamento orientado para solução de problemas, utilizando da filosofia e

práticas da polícia comunitária e de alguns fundamentos de Justiça Restaurativa.

De acordo com Melo e Prudente (2013), no projeto Mediar, a mediação de

conflitos eram utilizadas em conflitos de menor proporção, tais como, brigas

familiares, de vizinhança e até mesmo infrações penais de menor

potencial ofensivo como ameaças, lesões corporais, perturbação do sossego e

outros recorrentes previstas na Lei nº 9099/95, que instituiu os Juizados Especiais

Criminais.

Alguns dos resultados alcançados com implantação do núcleo de

mediação, dentro dos distritos policiais em Belo Horizonte são:

Os resultados da implantação de um núcleo de mediação dentro de uma unidade policial em Belo Horizonte são encontrados na redução dos números das ocorrências policiais de 1681 para 916, configurando uma diminuição de 45,5% das ocorrências; diminuição de 13% nos Termos Circunstanciados de Ocorrência (TCO); no fato de que 51% dos casos encaminhados ao distrito policial foram mediados; e dos casos encaminhados que não foram decorrentes de registros policiais foram 91% mediados (NUNES 2010, p.115).

Melo e Prudente (2013), informam que aplicação do Projeto Mediar,

funcionava da seguinte forma: o cidadão ao procurar a delegacia, era atendido por

um policial que realizava a triagem e conforme o caso, realiza o encaminhamento

para o serviço de mediação; o sujeito ao conversar com os mediadores apresentava

a proposta de mediação, e caso houvesse o aceite, era encaminhado uma

notificação com data e hora, convidando a outra parte para participar da mediação; a

outra parte ao comparecer era ouvida em sessão individual e depois em sessão

conjunta com a outra parte; na sessão de conciliação havendo composição entre as

partes, era elaborado um termo de acordo e demais medidas legais; o termo era

encaminhado ao delegado que lavrava um termo circunstanciado de ocorrência a

ser encaminhado ao Juizado Especial de Justiça.

27 MELO, Anderson Alcântara Silva; PRUDENTE, Neemias Moretti. Projeto Mediar: Práticas Restaurativas e a Experiência Desenvolvida pela Polícia Civil de Minas Gerais. 2013.

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4 METODOLOGIA

A pesquisa foi desenvolvida pelo método bibliográfico com uma

metodologia do tipo, onde entrevistou-se dois policiais (um militar e um civil) que

atuaram como mediadores no Centro de Atendimento a Vítima e Mediação de

Conflito – CAV, no 14º CIOPS, no município de Goiânia, no período de 2006 a 2009

quando o projeto funcionou, para buscar melhor compreender o fenômeno estudo.

Destaca-se que neste trabalho não identificou as falas/relatos das entrevistas

citadas neste estudo, a fim de, não identificar os participantes.

Foi utilizada a técnica de entrevista semi-estruturada, com perguntas

abertas, tratando sobre os seguintes tópicos: história do centro de mediação;

experiência que foi visualizada; tipos de caso atendidos; resultados percebidos;

correlação com a mediação de conflito e segurança pública.

O contato inicial com os entrevistados ocorreu-se por meio de

informações, mediante conversas informais com policiais militares de Goiânia de

conhecimento deste pesquisador, onde foi levantado o telefone dos participantes e

realizado contato com mesmo. As entrevistas ocorreram na biblioteca da Academia

da Polícia Militar de Goiás, com duração de aproximadamente 40 minutos,

informando os participantes dos objetivos e proposta da pesquisa realizada, sendo

apresentado um Termo de Consentimento Livre Esclarecido, aos mesmos.

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 O Centro de Atendimento a Vítima e Mediação de Conflito (Cav) em Goiânia

- GO

Conforme o Curso Nacional de Polícia Comunitária (SENASP, 2006),28

por meio do programa PRONASCI (Programa Nacional de Segurança Pública com

28 CURSO NACIONAL DE POLÍCIA COMUNITÁRIA. Grupo de Trabalho, Portaria SENASP nº 014/2016 – Brasília – DF. Secretaria Nacional de Segurança Pública -SENASP, 2006.

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Cidadania, que produziu o Curso Nacional de Multiplicador de Polícia Comunitária –

CNMPC), que incentivou a implantação da prática e filosofia em Polícia Comunitária,

em vários entes da Federação, cita-se as experiências em Goiás em policiamento

comunitário.

Neste contexto, com a implantação do 14ª Centro integrado de Operações

de Segurança - CIOPS, no Município de Goiânia, efetivado com o apoio da

Secretaria da Segurança Pública e Justiça do Estado de Goiás. O 14ª CIOPS

constitui uma instalação única, onde o cidadão, diuturnamente encontra os serviços

da Polícia Militar (30ºBPM), da Polícia Civil e do Corpo de Bombeiros Militar,

funcionando num mesmo ambiente, e atuando num modelo de Polícia Comunitária,

buscando aproximar-se do cidadão, priorizando ações preventivas de combate ao

crime e identificação de demais demandas sociais, presentes no dia a dia dessas

comunidades (SENASP, 2006).

Em meio a estas experiências em policiamento comunitário, no 14ª

CIOPS, foi implantado também um Centro de Atendimento a Vítima e Mediação de

Conflito - CAV, oferecendo um ambiente de escuta especializada, destinado à

buscas alternativas pacíficas de resolução de conflitos. Neste centro policial era

reservado uma sala exclusiva para realização do atendimento a comunidade, tendo-

se uma preocupação de proporcionar um espaço acolhedor, com instalações

confortáveis, com cadeiras, sofás, água, ar condicionado, etc.

O projeto iniciou em 2005, com um policial civil,29 com graduação em

psicologia que realizava os atendimentos, e posteriormente em 2007, um policial

militar30 também com formação em psicologia que passou a compor a equipe de

atendimento, sendo que o projeto finalizou suas ações em 2009.

A busca pelo serviço de mediação oferecido, dava-se pela procura das

pessoas aos serviços oficiais e de praxes da Delegacia pelas pessoas, a fim de,

realizar alguma queixa ou registro de ocorrência. O Delegado Titular realizava uma

triagem e realizava o encaminhamento para o CAV, que posteriormente entrava em

contato com o comunicante do fato, que deu origem ao Boletim de Ocorrência.

29 Entrevistou-se um Escrivão de Polícia Civil do Estado de Goiás que atuou como mediador, à época.

30 Entrevistou-se um 1º Tenente da Polícia Militar do Estado de Goiás que atuou como mediador, à época.

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Algumas ocorrências registradas por polícias militares no 30º BPM, que

eram detectadas a necessidade de atendimento de mediação, tinham uma cópia do

Boletim de Ocorrência, encaminhada ao CAV, para conhecimento, e em um

segundo momento, os mediadores faziam um Mandado de Notificação e encaminha

as partes convidando a participar da mediação de conflito, estipulando dia e a hora

do atendimento. Notava-se que a simples medida de notificar os envolvidos no

conflito, já gerava um grande impacto psicológico nas partes, devido as formalidades

de ter que comparecer na presença de um mediador, diante do reclamante ou

reclamado, em um espaço policial (14ºCIOPS), mesmo sendo esclarecido a não

obrigatoriedade de participar da mediação.

Na medida em que o serviço tornava-se conhecido, passaram a surgir

demandas de casos encaminhados por policiais militares ou policiais civis que

atuavam naquela localidade, ou mesmo por membros da comunidade, sendo que

alguns casos antes, mesmo de adotar qualquer medida legal pelo distrito policial,

como registro de ocorrência, eram direcionada imediatamente ao atendimento no

CAV, para realização da mediação, coexistindo a possibilidade de que nesta

intervenção, a parte sanava suas dúvidas ou queixas.

No primeiro momento, as partes do conflito eram convidadas a participar

da mediação, sendo notificadas ou encaminhadas diretamente ao CAV, após o

mediador atendia cada uma das partes, de forma separada, ouvindo o ponto de vista

e percepções sobre a problemática, e depois reunia-se com ambas as partes, onde

o mediador conduzia o processo, direcionando para resolução do conflito. No início

de casa seção de atendimento, as partes eram alertadas sobre a importância do

respeito de ouvir e falar, quando permitido pelo mediador, onde cada uma das partes

expunha seus problemas a outra parte, e depois o mediador buscava expor de forma

objetiva, cada ponto de vista, buscando incentivar que mutuamente chegassem a

uma solução ou acordo.

Porém, em todos os casos em que se realizavam a mediação lavrava-se

um termo de mediação, para registrar e reforçar o pacto ali firmado entre as partes.

Nos casos provenientes de registro de ocorrência, o termo de acordo era

redirecionado ao Delegado, para fins de despacho e encaminhamento para as

Autoridades Competente, tais como Juizados Especiais, a fim de homologação, e

havia a orientação das partes, sobre a existência dos juizados cíveis e demais

direitos, caso algumas deste decidisse em renunciar a mediação. Um dos

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mediadores citou o seguinte caso exemplificativo entre um desentendimento de

vizinhos:

O homem fez uma construção que provocou rachadura no muro da mulher. Não houve entendimento entre as partes e a mulher procurou o Juizado Cível. Na data da primeira audiência o homem não compareceu. O Juiz enviou notificação determinando que até a data tal o homem cobrisse a despesa de reparo do muro. Ainda assim não houve acordo porque as partes não conseguiam conversar a respeito. A mulher procurou o núcleo de Mediação. Lá foi feito o levantamento do que seria necessário para o reparo e o custo final envolvido. O homem foi chamado ao núcleo de Mediação e lhe foi apresentado a demanda e os valores do reparo. O homem prontamente concordou em cobrir o prejuízo causado e justificou que não o tinha feito porque todas as tentativas de conversa com a mulher tinha resultado em discussão. Assim, foi feito um acordo por escrito em que a parte solicitante se dizia ressarcida. Tal acordo deveria ser apresentado no juizado para finalização da demanda, o que ocorreu.

Os tipos de casos atendidos envolviam crises conjugais, crises entre pais

e filhos e demandas relacionadas a danos materiais, cobrança de dívidas. Outros

casos tratavam de possíveis delitos contra a pessoa, tais como injúria, calúnia,

difamação e ameaça. No entanto, não atendia-se casos envolvendo violência contra

a mulher, o qual era encaminhado automaticamente para a Delegacia da Mulher.

Observa-se que em alguns casos os mediadores, faziam visitas

comunitárias a algumas das partes, ou até mesmos nos locais dos conflitos, no

intuito de se verificar se alguns dos fatos narrados no centro de mediação,

correspondia com a real problemática a ser mediada, a exemplo, briga de vizinhos

por causa de problemas com mau acondicionamento do lixo, um dos mediadores

buscava verificar, in loco, se realmente havia uma demanda real (mau cheiro/ mau

tratamento do lixo).

Contudo, observaram os mediadores que em princípio a grande maioria

dos conflitos, eram passíveis de mediação, necessitando apenas que as partes

estejam aptas a cooperarem, e muitas vezes, esse convencimento se dava, quando

as partes eram ouvidas e compreendidas.

Destaca-se, o relato de um dos policiais mediadores, referente a

experiência do núcleo de mediação implantado no 14º CIOPS:

A experiência se mostrou eficaz na medida em que executávamos as fases do atendimento, a saber, o contato, o atendimento com a escuta diferenciada, a objetivação das demandas, intervenção e resultados. Os casos de demandas envolvendo conflitos, a celeridade e abrangência do atendimento facilitava cada finalização. Primeiro porque se oferecia escuta empática e segundo, porque grande parte dos conflitos residem no fato de que a pessoa quer ter razão. Ao permitir que a pessoa se expresse sem julgamentos é aberto um canal eficiente para a mediação.

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Estatisticamente diminuímos a quantidade de Termos Circunstanciados de Ocorrência que eram formalizados na delegacia, o que tinha um efeito positivo não apenas na própria unidade policial, como também nos fóruns especiais criminais que deixavam de atender demandas solucionadas na própria delegacia. Acresce-se a isso, o fato de que o sentimento de bom atendimento é maior na medida em que a demanda é tratada ao tempo em que ela acontece, fato que não ocorria nos Juizados, visto que as audiências aconteciam tardiamente. No entanto, todas as mediações eram realizadas por consentimento das partes que abriam mão do seu direito de representar criminalmente.

Por se tratar de um projeto-piloto, não foi criado um método para

mensurar os resultados alcançados pelo CAV, bem como, referente a avaliação do

índice de satisfação da comunidade. No entanto, os mediadores informaram que a

percepção que era transmitida pela comunidade e por quem foi atendido no centro

de mediação, era positiva. Porém o projeto não teve continuidade por problemas

institucionais, como custo, dispêndio de efetivo para os trabalhos, dentre outras

prioridades institucionais, no âmbito da segurança Pública.

Acerca da importância de se usar dos métodos alternativos de resolução

de conflitos na segurança pública, destaca-se o seguinte relato de um dos policias

envolvidos com esta experiência do centro de mediação:

A Mediação ou outras técnicas de resolução pacífica de problemas, em minha opinião, tem um grande potencial de solucionar demandas de forma rápida e eficiente. Legalmente não há um impedimento para que a área de Segurança Pública faça uso de tais técnicas. No entanto, a cultura predominante é a de formalização de procedimentos policiais, que é certa, mas nem sempre a mais eficiente. O outro extremo são demandas que chegam à Polícia e sãoengavetadas. Talvez a criação de núcleos de Mediação seja um caminho alternativo que precisa ser melhor considerado dentro das polícias. Pela filosofia de Polícia Comunitária a Mediação de Conflitos seria um canal de aproximação entre polícia e comunidade. Sua aplicabilidade na Polícia Militar precisa ser considerada como uma responsabilidade institucional, dado ser um meio de prevenção da violência, que em relações sociais pode se tratar de violência continuada. A mediação, nesse sentido, seria uma forma de promover uma cultura de paz.

Assim, os resultados com a mediação de conflito, estavam em

consonância com a filosofia de uma polícia comunitária, favorecendo a aproximação

da polícia e comunidade, para que caminhem em direção a uma cultura da paz,

onde os cidadãos percebam sua autonomia em resolver seus conflitos

satisfatoriamente. Outros ganhos que pode ser observar, mesmo que o propósito

final não seja este, é a: diminuição de processos judiciais; diminuição da lavratura de

Termos Circunstanciado de Ocorrência; melhor aproveitamento do tempo de

patrulhamento preventivo pelas polícias militares ao não atenderem ocorrências

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desnecessária; imagem institucional a validada de forma positiva pela sociedade e

satisfação com o serviço prestado pelos policiais.

Sabe-se da importância do poder judiciário em promover a pacificação

dos conflitos sociais, mas observando que a evolução dos casos de conflito para

casos de violência, pode se dar situações em que o Estado, não consiga intervir de

forma rápida em sua resolução.

Nesse contexto, a Polícia Militar como um dos primeiros representantes

do Estado, a ter contato na origem das controvérsias surgidas na comunidade, por

meio da mediação de conflitos, bem como, pela conciliação, passa a aplicar o

diálogo como meio de resolução destas controvérsias. E mesmo nos distritos

policiais, nos possíveis crimes de menor potencial ofensivo, desde que não trate de

ação pública incondicionada, é viável a utilização de práticas alternativas de

resolução de conflitos.

Vislumbrando que tais conflitos, se não obtiveram um trato preventivo por

parte do poder público, poderiam caminhar para crimes vultuosos que muito

desestabiliza a Segurança Pública no país, principalmente quando se fala em

homicídios, um dos crimes mais grave contra a vida.

Assim, a mediação e a conciliação, são formas alternativas de resolução

de conflitos válidos para o atendimento do cidadão, gerando indubitavelmente, um

complemento importantíssimo para a segurança pública, e para os ideais de uma

polícia comunitária. A idéia de um Núcleo de Mediação, dentro das instituições de

Segurança Pública, possibilita criar uma cultura de transformação dos conflitos, por

meio da resolução pacífica entre as partes, contudo, somente esta prática, não

reduzirá os índices de criminalidade, mas sem dúvida, poderá ser bastante

significativa na realidade vivencial das pessoas que forem atendidas por programas

de mediação.

Conquanto, mediante a implantação de uma Polícia Comunitária dentro

das instituições de Segurança Pública, promovendo soluções conjuntas com a

comunidade para os problemas relacionados à criminalidade e com o aumento da

violência, a mediação e as práticas alternativas de resolução de conflitos, são

formas das Instituições buscarem aperfeiçoamento de suas práticas organizacionais,

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instigando os meios institucionais, de solucionarem problemas que afetam a toda

sociedade.

Destarte, por trás dos índices estatísticos, que contabilizam o número de

ocorrências, termos circunstanciados de ocorrência, e outros dados contabilizados,

existe uma gama de relações interpessoais que podem ser assistidas por meio da

mediação de conflitos, em centros de mediação, promovendo a continuidade dos

atendimentos policiais, tornando-se um instrumento concreto de promoção da

cidadania, além de aproximando o cidadão da polícia.

Distintas práticas no plano Institucional dos órgãos de segurança, devem

ser implementados em seus currículos dos cursos de formação de policiais,

disciplinas voltadas para práticas de policiamento preventivo, o que tornaria

imprescindível a formulação de metodologias nos cursos de formação de novos

policiais militares, instrumentalizando-os com as práticas de mediação de conflitos,

conciliação, aumentando seu repertório de atuação, junto à comunidade por meio da

conversação.

Por conseguinte, torna-se relevante, a implementação de núcleo de

mediação conflito, na seara da segurança pública, como local de resgate de

relações desajustadas, que carecem de um atendimento técnico, em um local

adequado, tendo o policial como agente transformador de relações conflituosas,

prestando um serviço diferenciado à sociedade, visando promover a cidadania, a

autonomia e a alteridade destes cidadãos.

Contudo, algumas experiências em mediação mostram-se inviáveis, se

estas não fizerem parte da proposta estratégica dos comandos dos órgão de

Segurança Pública, bem como, quando os recursos humanos encontram-se

escasso, devendo priorizar as atribuições originais de policiamento, dentre outros

problemas Institucionais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As experiências de mediação de conflitos no âmbito policial, não trata de

uma resposta única ao problema da criminalidade, mas em um campo onde novas

estratégias de combate a violências são discutidas, a resolução de conflitos por meio

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da mediação, valoriza o paradigma dos direitos humanos e promove ainda uma

aproximação entre cidadão e policial.

Nesse novo arquétipo, a atuação do policial passará a transpor as

estatísticas de ocorrências atendidas, passando a intervir diretamente nos

problemas sociais enfrentados pela comunidade, em meio a um espaço destinado a

autocomposição dos conflitos, aperfeiçoando as práticas policiais de cumprir com o

dever constitucional de promover o policiamento ostensivo e preventivo.

Com a introdução da mediação de conflitos nas atividades policiais, todos

tendem a ganhar: a Polícia Militar, aumentando seu repertório de atuação, intervindo

tanto de forma repressiva, quanto preventiva; por meio de orientações e reuniões

com moradores na busca de soluções para a comunidade, conforme os

ensinamentos da polícia comunitária, além da participação direta na resolução de

seus conflitos por meio da mediação; resolução de ocorrências que denotam tempo

dos agentes de segurança pública e prevenção de crimes oriundos de conflitos.

Para essas práticas pacíficas de resolução de conflitos, várias

experiências mostram que o ordenamento jurídico, favorece para que o policial atue

como mediado ou conciliador, tanto de forma imediata, em meio aos atendimentos

realizados no policiamento ostensivo, quanto na continuidade do trato dos dissídios

sociais, ao serem encaminhados para núcleos específicos de mediação de conflito.

Toda uma gama de ocorrências, que vão desde desentendimentos e

conflitos relacionais e contínuos, como brigas familiares ou de vizinhos, podem ter

uma resolução pacifica por meio da ação policial, capacitada para o pleno

atendimento em mediação ou conciliação de conflito, pactuando acordos em termos,

que podem tornassem títulos extrajudiciais, bem como, pela desistência de queixar-

se, quando tratar-se de possíveis crimes mediante a representação do ofendido.

A sociedade passa por mudanças, em diferentes níveis sociais,

econômicos, políticos, tecnológico, dentre outros, o que demanda novas soluções

institucionais, bem como a participação da sociedade nas políticas de Segurança

Pública. Nesta percepção a implementação dos núcleos de mediação ou conciliação

de conflito, mostram-se como métodos positivos na rotina policial, ajudando a

propagar uma atuação pautada nos princípios de uma polícia comunitária, por meio

da prática de pacificação social dos conflitos.

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