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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE PEDAGOGIA ISABELE CARDOSO DOS SANTOS O PAPEL DO LÚDICO NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO FORTALEZA 2013

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE PEDAGOGIA

ISABELE CARDOSO DOS SANTOS

O PAPEL DO LÚDICO NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

FORTALEZA

2013

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ISABELE CARDOSO DOS SANTOS

O PAPEL DO LÚDICO NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Monografia apresentada como requisito

parcial para a obtenção do título de

licenciatura em pedagogia da Faculdade

Cearense, sob a orientação da Professora

Ms. Patrícia Campelo do Amaral.

FORTALEZA

2013

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ISABELE CARDOSO DOS SANTOS

O PAPEL DO LÚDICO NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Monografia apresentada como requisito

parcial para a obtenção do título de

licenciatura em pedagogia da Faculdade

Cearense, tendo sido aprovada pela banca

examinadora composta pelos professores.

Data de aprovação: ____/ ____/____

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________

Professora Ms. Patrícia Campelo do Amaral

_________________________________________________

Professor Esp. Francisco Nazareno Matos Ribeiro

_________________________________________________

Professor Esp. Nívea Maria Pinheiro Costa

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Dedico esta monografia aos meus pais que

sempre me deram muito apoio nos

momentos mais difíceis da minha vida, ao

meu marido, filhos e familiares que

estiveram sempre ao meu lado e nunca

mediram esforços para me ajudar, aos meus

professores que me ensinaram que por mais

que achemos que o nosso conhecimento já

está bem profundo, estamos enganados,

pois o conhecimento é algo que está sempre

se renovando. Obrigada por tudo!

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AGRADECIMENTOS

A Deus, o que seria de mim sem a fé que eu tenho nele.

Aos meus pais Mairton (in memorian) e Sueli, meu esposo Stenio Neto, meus filhos

Gabriele e Saulo e a toda minha família que, com muito carinho e apoio, não

mediram esforços para que eu chegasse até essa etapa da minha vida.

À professora Patrícia Campelo pela paciência na orientação e incentivo que

tornaram possível a conclusão desta monografia.

A todos os professores do curso, que foram tão importantes na minha vida

acadêmica e no desenvolvimento desta monografia.

Aos amigos e colegas, pelo incentivo e pelo apoio constantes.

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“Os ideais que iluminaram o meu caminho

são a bondade, a beleza e a verdade.”

(Albert Einstein)

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RESUMO

Esta monografia buscou, a partir de uma pesquisa bibliográfica, ressaltar a

importância do lúdico para o desenvolvimento e para a aprendizagem da criança

durante o seu processo de alfabetização. Para tanto foi desenvolvida uma

abordagem na qual se pretendeu demonstrar o quanto o lúdico pode contribuir na

efetiva aprendizagem das crianças, superando, desta maneira, as dificuldades que

emergem durante o processo educativo na alfabetização. Ao final desta pesquisa

sobre a importância das atividades lúdicas no processo de alfabetização, pode-se

afirmar que educar não é simplesmente desenvolver a leitura e a escrita, ou

solucionar um problema, ou dar forma a um pensamento. É, antes de tudo,

considerar as necessidades relacionadas ao desenvolvimento da criança, tendo

como foco principal a formação de sua personalidade. A pesquisa demonstrou que

por intermédio do lúdico, a aprendizagem é ativa, dinâmica e contínua,

proporcionando, desta maneira, uma convivência que vai ligar o aprendiz à cultura e

à sociedade, tornando-o sujeito de seu processo educativo. A alfabetização é um

processo de muita importância para a formação de cidadãos, que não se restringe

apenas ao desenvolvimento da leitura e escrita, mas a formação de seres críticos e

reflexivos sobre sua realidade. O lúdico pode ser utilizado como estratégia para o

processo de alfabetização. Portanto se espera que este estudo possa contribuir para

um melhor aproveitamento dos recursos lúdicos quando aplicados ao processo de

aprendizagem na alfabetização.

Palavras-chave: Aprendizagem; Lúdico; Alfabetização.

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ABSTRACT

This monograph sought to highlight the role of playfulness to the development and learning of

the child during the process of literacy. For such a literature in which it was intended to show

how the play can contribute to effective learning for children, overcoming in this way the

difficulties that emerge during this educational process was developed. At the end of this

study can be said that literacy is not simply to develop reading and writing, or solving a

problem, or to form a thought. It is, first of all, consider the child's development-related needs,

focusing mainly on the formation of his personality. Research has shown that through the

playful, learning is active, dynamic and continuous, providing, thus, a coexistence that will

connect the learner to culture and society. It is hoped that this study can contribute to a better

use of recreational resources when applied to the process of learning in literacy.

Keywords: Learning; Playful; Literacy.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................9

2 METODOLOGIA.....................................................................................................11

3 DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM INFANTIL.........................................13

3.1 Fases do Desenvolvimento Infantil.................................................................13

3.2 A Aprendizagem Infantil...................................................................................16

3.2.1 Definição e Considerações Gerais...................................................................17

3.2.2 As Dificuldades de Aprendizagem....................................................................18

4 O LÚDICO..............................................................................................................22

4.1 O Lúdico: Definição e Histórico.......................................................................24

4.2 O Lúdico e a Aprendizagem Infantil................................................................25

4.2.1 Os jogos e brincadeiras.....................................................................................27

4.2.2 A brinquedoteca e os jogos..............................................................................30

5 A ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS....................................................................37

5.1 O processo de alfabetização............................................................................37

5.2 A leitura e a escrita............................................................................................38

5.3 Contribuições do lúdico durante a alfabetização infantil..............................40

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................47

REFERÊNCIAS..........................................................................................................50

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1 INTRODUÇÃO

O referente trabalho busca ressaltar o papel do lúdico para o

desenvolvimento e para a aprendizagem da criança durante o seu processo de

alfabetização. A pesquisa desenvolveu uma abordagem na qual se pretendeu

demonstrar o quanto o lúdico pode contribuir na efetiva aprendizagem das crianças,

superando, desta maneira, as dificuldades que emergem durante este processo

educativo.

Com base nisso surgiram como questionamentos mobilizadores: como se

dá o desenvolvimento e aprendizagem na infância? Como ocorre o processo de

alfabetização? Qual o papel do lúdico no processo de aprendizagem na

alfabetização? Portanto esta pesquisa buscará responder essas perguntas.

A criança necessita de estímulos e oportunidades que alimentem o seu

impulso natural de curiosidade. Dessa forma, o educador poderá utilizar recursos

variados como jogos e brincadeiras. Assim, ela adquire habilidades para resolver

situações do dia-a-dia, desenvolvendo a percepção e a sensação do mundo em que

vive, proporcionando autoconfiança e, consequentemente, independência.

Acredita-se que a educação pelo lúdico leva à aprendizagem espontânea,

ao maior interesse e ao aumento da autonomia. Brincadeiras e jogos são atividades

que têm a capacidade de envolver, unir, socializar, despertar emoções e desejo nas

crianças. Por seu caráter coletivo, os jogos e as brincadeiras permitem que o grupo

se estruture e os pequenos estabeleçam relações ricas de troca, aprendam a

esperar a sua vez, acostumem-se a lidar com regras, conscientizando-se que podem

ganhar ou perder.

O interesse pelo tema surgiu da admiração da pesquisadora pela maneira

como as crianças brincam e a fim de proporcionar um aprendizado prazeroso para

elas. Já foram desenvolvidos alguns estudos acerca do tema em questão em busca

de soluções para melhorar o ensino das crianças especialmente na faixa etária da

Educação Infantil, nível de ensino aberto à iniciativa, criatividade, inovação por parte

dos seus protagonistas. E é nesse sentido que se encaminhou esta pesquisa,

tentando sensibilizar os educadores a analisarem a importância dos jogos,

brinquedos e brincadeiras na construção do conhecimento e como recurso

pedagógico fundamental no processo de ensino e aprendizagem na alfabetização,

processo que em muitas escolas se inicia no ensino infantil.

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O objetivo geral desta monografia é pesquisar sobre o papel do lúdico

para o desenvolvimento e aprendizagem da criança durante o seu processo de

alfabetização.

Já os objetivos específicos são:

• Pesquisar sobre o desenvolvimento e a aprendizagem infantil;

• Discorrer sobre o lúdico e suas contribuições para o processo de

ensino e aprendizagem das crianças;

• Estudar o processo de alfabetização infantil;

• Analisar o papel do lúdico na alfabetização de crianças.

O desenvolvimento desta investigação bibliográfica contou com o

embasamento teórico de importantes autores que são referências para a temática

aqui investigada, dentre os quais se destacam: Piaget (1990), Wallon (1995),

Ferreiro (1995), Vygotsky (1996; 2002), Kishimoto (2001), Teberosky e Colomer

(2003), Soares (2004), Santos (2007) e Almeida (2010).

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2 METODOLOGIA

A metodologia é a aplicação de procedimentos e técnicas que devem ser

observados para construção do conhecimento, com o propósito de comprovar sua

validade e utilidade nos diversos âmbitos da sociedade.

Lakatos e Marconi (2007, p. 80) acrescentam que, além de ser “uma

sistematização de conhecimentos”, metodologia é “um conjunto de proposições

logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenômenos que se

deseja estudar.”

A pesquisa realizada tem fundamentação bibliográfica, que segundo

descreve Saloman (1999): “a pesquisa bibliográfica deve fundamentar-se em

conhecimentos de bibliografia, documentação, envolvendo: identificação,

localização, fichamento e arquivamento, obtenção da informação, redação do

trabalho.”

O método utilizado foi o qualitativo, pois de acordo com Oliveira (2000),

este método:

[…] “sempre” foi considerado como método exploratório e auxiliar na pesquisa científica. No entanto, o autor destaca que o novo paradigma da ciência coloca o método qualitativo dentro de uma outra base de concepção teórica na mensuração, processamento e análise de dados científicos, atribuindo-lhe valor fundamental no desenvolvimento e consolidação da ciência em diferentes áreas.

O período no qual o trabalho foi realizado foi de julho a setembro de 2013.

A análise comentada das opiniões dos autores, tais como Piaget (1990), Wallon

(1995), Ferreiro (1995), Vygotsky (1996; 2002), Kishimoto (2001), Teberosky e

Colomer (2003), Soares (2004), Santos (2007) e Almeida (2010), foi realizada diante

da experiência da pesquisadora, contrapondo com as opiniões científicas.

Na intenção de atingir todos os objetivos aqui mencionados, estruturou-se

esta monografia da seguinte maneira: no primeiro capítulo desenvolveu-se uma

introdução explicando aspectos gerais deste trabalho monográfico; no segundo

capítulo foram apresentados os procedimentos metodológicos adotados pela autora.

No terceiro capítulo abordou-se o desenvolvimento e a aprendizagem infantil; no

quarto capítulo discorreu-se sobre o lúdico como ferramenta propulsora do

desenvolvimento e aprendizagem infantil; no quinto capítulo comentou-se sobre a

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alfabetização de crianças enfatizando a leitura, a escrita e as contribuições do lúdico

durante esse processo.

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3 DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM INFANTIL

Piaget (1990 apud FURTADO et al., 2009, p. 31) observou, nos seus

estudos, que a criança passa por quatro períodos distintos durante o seu

desenvolvimento. Tais períodos estão relacionados a faixas etárias assim

delimitadas:

1º período: Sensório-motor (0 a 2 anos)

2º período: Pré-operatório (2 a 7 anos)

3º período: Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos)

4º período: Operações formais (11 ou 12 anos em diante)

A caracterização de cada um desses períodos leva em consideração as

formas diferentes de organização mental que vão possibilitar às diferentes maneiras

com as quais o indivíduo vai relacionar-se com a sua realidade contextual. (COLL e

GILLIÈRON, 2007).

3.1 Fases do Desenvolvimento Infantil

Generalizando é possível afirmar que todos os indivíduos vivenciam os

quatro períodos, propostos por Piaget, cumprindo uma mesma sequência,

entretanto, o início e o término de cada um deles pode sofrer variações (pequenas

ou significativas) em decorrência das características da estrutura biológica

específica de cada pessoa e da pluralidade (ou não) dos estímulos proporcionados

pelo meio ambiente no qual ele vive.

Daí porque Furtado et al. (2009, p. 35) afirmam que "a divisão nessas

faixas etárias é uma referência, e não uma norma rígida." A abordagem que se

segue procura falar sobre estes períodos sem, contudo, detalhá-los ao extremo.

• 1º Período: Sensório-motor (0 a 2 anos)

Para Piaget

A criança nasce em um universo para ela caótico, habitado por objetos evanescentes (que desapareceriam uma vez fora do campo da percepção), com tempo e espaço subjetivamente sentidos, e causalidade reduzida ao

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poder das ações, em uma forma de onipotência (1990 apud LA TAILLE, 2003, p. 51).

Da opinião do grande mestre Piaget, pode-se afirmar que o universo que

circunda a criança, levando-se em conta como ponto de partida o seu nascimento é,

pouco a pouco, conquistado mediante o controle da percepção e de alguns

movimentos específicos tais como, a sucção e o movimento dos olhos. (1990 apud

LA TAILLE, 2003).

A criança vai adquirindo habilidades e com isso vai aperfeiçoando os

movimentos relacionados com os seus reflexos naturais e aproxima-se do final do

período sensório-motor já compreendendo que seu mundo “conquistado” é

constituído de “objetos, tempo, espaço, causalidade objetivados e solidários, entre

os quais situa a si mesma como um objeto específico, agente e paciente dos

eventos que nele ocorrem." (LA TAILLE, 2003, p. 53).

Vale ressaltar que a criança, ao nascer, tráz consigo padrões inatos

(reconhecidos pela Biologia como reflexos), logo o desenvolvimento do

comportamento vai ser resultante da interação desses padrões inatos com o meio

ambiente.

Por isso é que este estágio é denominado de sensório-motor, justamente

porque nele a criança adquire o conhecimento por suas próprias ações, não

influenciado por experiência de outras pessoas com as quais convive. Pode-se

concluir que ela constrói esquemas para assimilar o ambiente.

• 2º Período: Pré-operatório (2 a 7 anos)

O marco divisório ou de passagem do período sensório-motor para o pré-

operatório, segundo Piaget (1990 apud LA TAILLE, 2003) é, exatamente, o

surgimento da função simbólica ou semiótica, neste caso, é o que ele denomina de

emergência da linguagem.

Seguindo a linha piagetiana a linguagem é considerada como uma

condição necessária, mas, que sozinha, não é suficiente ao pleno desenvolvimento

da criança, já que neste período vai ocorrer um trabalho de reorganização da ação

cognitiva que não é dado pela linguagem, conforme alerta La Taille (2003).

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Explicando melhor, pode-se dizer que a linguagem não se desenvolverá se não

ocorrer o desenvolvimento da inteligência.

Entretanto, várias pesquisas psicogenéticas conseguem demonstrar,

como as de Piaget (1990), Vygotsky (1996), La Taille (2003) e Furtado (2009), que a

emergência da linguagem provoca alterações significativas em aspectos cognitivos,

afetivos e sociais da criança, já que é, exatamente, esta que vai provocar a

ocorrência de interações interindividuais e, também, vai fornecer, essencialmente, a

capacidade de trabalhar com representações para atribuir significados à realidade.

Estas são ações importantes para a solidificação presencial no mundo em conquista.

No entanto, mesmo considerando o alcance do crescimento

proporcionado pelo desenvolvimento da linguagem é preciso levar em consideração

que a criança não concebe uma realidade da qual não faça parte, devido à ausência

de esquemas conceituais e da lógica. (RAPPAPORT, 2001).

• 3º Período: Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos)

Neste período a criança troca o egocentrismo pelo desejo de estabelecer

relações nas quais o seu ponto de vista pode ser considerado parte integral de uma

convivência natural em que os outros participantes destas relações podem, ou não,

concordar com o mesmo. (RAPPAPORT, 2001).

Vygotsky (1996) ressalta, concordando com Piaget (1990), que este é o

período no qual a criança desenvolve a capacidade de interiorizar as ações, neste

caso, ela será capaz de realizar operações mentalmente e não mais utilizará

somente as ações físicas típicas da inteligência sensório-motora.

Por outro lado, é bom que se ressalte que todos os esquemas conceituais

desenvolvidos por ela bem como as ações executadas mentalmente estarão

relacionadas a objetos ou situações passíveis de serem manipuladas ou imaginadas

de forma concreta. (LA TAILLE, 2003).

• 4º Período: Operações formais (11 ou 12 anos em diante)

A criança, finalmente, dentro de uma sequência de conquistas de

compreensões e de ampliação das suas habilidades/capacidades, vividas nos

períodos anteriores, passa a raciocinar sobre hipóteses, pois já é capaz de formar

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esquemas conceituais abstratos e, por meio deles, ela chega a executar operações

mentais dentro de princípios da lógica formal.

Exatamente como defende Rappaport (2001, p. 62) dizendo que a mesma

adquire "capacidade de criticar os sistemas sociais e propor novos códigos de

conduta: discute valores morais de seus pais e constrói os seus próprios (adquirindo,

portanto, autonomia)."

Este autor tem outra opinião esclarecedora, e diz que:

Esta será a forma predominante de raciocínio utilizada pelo adulto. Seu desenvolvimento posterior consistirá numa ampliação de conhecimentos tanto em extensão como em profundidade, mas não na aquisição de novos modos de funcionamento mental. (RAPPAPORT, 2001, p. 63).

Para Piaget (1990) e Vygotsky (1996) ao findar este período, a criança

atinge a sua forma final de equilíbrio, ou seja, ela chega num patamar intelectual que

vai persistir durante a idade adulta. Entretanto vale ressaltar que isso não quer dizer

que ocorra uma estagnação das funções cognitivas, pelo contrário, novos degraus

serão atingidos com a adolescência que se avizinha.

3.2 A Aprendizagem Infantil

O grande mestre Piaget (1990), nas suas pesquisas, observa que os

conceitos relacionados ao desenvolvimento e à aprendizagem, se inter-relacionam,

e considera, inclusive, que a aprendizagem é a alavanca natural do

desenvolvimento.

Os cientistas afirmam que esta perspectiva piagetiana pode ser

considerada maturacionista, já que ela prioriza o desenvolvimento das funções

biológicas – que é o desenvolvimento - como base para os avanços na

aprendizagem. (PIAGET, 1990; VYGOSTKY, 1996; RAPPAPORT, 2001; LA TAILLE,

2003; FURTADO, 2009).

Rappaport (2001, p. 32) explica que, por outro lado, “a chamada

perspectiva sócio interacionista, sociocultural ou sócio histórica, abordada por

Vygotsky, fala que a relação entre o desenvolvimento e a aprendizagem está

atrelada ao fato de o ser humano viver em meio social.”

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Desta maneira pode-se considerar que o meio social é a verdadeira

alavanca para estes dois processos. Além disso, tem-se a compreensão de que os

dois processos caminham de mãos dadas, mas sem observar momentos de

paralelismo.

3.2.1 Definição e Considerações Gerais

Em Vygotsky, ao contrário de Piaget, o desenvolvimento – especialmente

o psicológico/mental (fruto da convivência social e das maturações orgânicas) –

depende, diretamente, da aprendizagem, já que esta vai ocorrer através dos

processos de internalização de conceitos, os quais são estimulados pela

aprendizagem social, especialmente aquela contextualizada no meio escolar.

(CRECHE FIOCRUZ, 2004).

Vygotsky afirma que o ambiente e práticas específicas que promovem a

aprendizagem influenciam o que Piaget chama de aparato biológico da espécie,

então se não ocorrer a interação do aparato com o meio ambiente não se dará a

aprendizagem. (CASAGRANDE, 2009).

Diante do exposto o certo é que pedagogicamente não se pode esperar

que a criança se desenvolva com o tempo, já que ela não tem por si só instrumentos

naturais que permitam que ela realize, sozinha, essa caminhada que dependerá das

suas aprendizagens mediante as experiências vivenciadas.

Reforçando este raciocínio ela é reconhecida como ser pensante, capaz,

inclusive, de vincular suas ações à representação de mundo em que vive. Neste

ponto é importante ressaltar que a escola é um dos espaços (já que na sua própria

casa e em outros espaços ela também aprende) onde este processo é vivenciado a

partir da interação entre sujeitos. (CASAGRANDE, 2009).

Leva-se em consideração, neste momento de interação dos processos de

ensino e aprendizagem, o conceito daquilo que Vygotsky (1996) chama de Zona de

Desenvolvimento Proximal (ZDP).

Pode-se então afirmar que é justamente na ZDP que a aprendizagem vai

ocorrer. Neste caso a principal função de um educador será favorecer esta

aprendizagem, atuando como mediador entre a criança e o mundo.

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“Como foi destacado anteriormente, é no âmago das interações no interior

do coletivo, das relações com o outro, que a criança terá condições de construir

suas próprias estruturas psicológicas.” (CRECHE FIOCRUZ, 2004, p. 02).

Já é possível perceber que quando ela que ainda não desenvolveu

plenamente as suas habilidades, poderá desenvolvê-las com a ajuda de parceiros

mais habilitados (o educador que atua como mediador, por exemplo).

Temos que trabalhar, portanto, com a estimativa das potencialidades da criança, potencialidades estas que, para tornarem-se desenvolvimento efetivo, exigem que o processo de aprendizagem, os mediadores e as ferramentas estejam distribuídas em um ambiente adequado. (VASCONCELLOS e VALSINER, 2005, p. 32).

Pode-se concluir então que existe uma interação natural entre o

desenvolvimento e a aprendizagem, que ocorre da seguinte maneira: união de um

contexto cultural (meio ambiente), com o aparato biológico básico resultará, sob a

promoção de mecanismos de aprendizagem provocados por mediadores, no pleno

desenvolvimento da criança.

Mas Vygotsky (1996, p. 33) faz um último e muito importante alerta: “o

processo de aprendizagem deve ser olhado por uma ótica prospectiva, ou seja, não

se deve focalizar o que a criança aprendeu, mas sim o que ela está aprendendo.”

3.2.2 As Dificuldades de Aprendizagem

Aquilo que é chamado de dificuldade de aprendizagem está relacionado a

um distúrbio que pode ter origem em uma série de problemas que podem ser

cognitivos, emocionais ou neurológicos e que pode afetar qualquer área do

desempenho escolar.

Para Brandão e Vieira (1992, p.13), este termo e suas múltiplas

implicações (dificuldades e distúrbios):

Tratam de uma defasagem entre o desempenho real e o observável de uma criança e o que é esperado dela quando é comparada com a média das crianças de uma mesma faixa etária, tanto no aspecto cognitivo como em uma visão psicrométrica.

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Já Kiguel (1996), assume o posicionamento de que as dificuldades de

aprendizagem devem ser consideradas como incapacidades funcionais ou

dificuldades encontradas na aprendizagem de uma ou de várias disciplinas.

Entretanto a dificuldade de aprendizagem específica relaciona-se a uma

perturbação num ou mais dos processos psicológicos básicos relacionados à

compreensão ou à utilização da linguagem (seja ela falada ou escrita) que pode ser

diagnosticada através da constatação de uma aptidão imperfeita de escutar, pensar,

ler, escrever, soletrar, ou fazer cálculos matemáticos. (CORREIA, 2001).

Diante destas informações apresenta-se a necessidade de considerar, de

acordo com Gusmão (2001), que dificuldade de aprendizagem pode representar

uma falha no processo da aprendizagem que, consequentemente, pode provocar o

não aproveitamento escolar.

Vale ressaltar que o não aproveitamento escolar não é provocado

unicamente pela dificuldade de aprendizagem, por isso é preciso levar em

consideração o ato de ensinar e as relações entre educador e educando fatores

esses que envolvem direta ou indiretamente esta complexa teia. (CASAGRANDE,

2009).

É preciso levar em consideração que o desenvolvimento de uma criança

começa no interior da família, então os pais são responsáveis em criar um ambiente

saudável, onde impere a confiança mútua e no qual a família poderá perceber as

primeiras dificuldades de seus filhos.

Amaral (2004, p. 03) explica que:

Desde os primeiros momentos de vida a criança encontra-se dependente dos outros para sobreviver. Para que conquiste sua independência é preciso um processo de desenvolvimento evolutivo para buscar uma personalidade madura e harmoniosa com a combinação de fatores constitucionais, desenvolvimento psicomotor, intelectual e afetivo social, com a integração destes elementos a criança vai traçando seu perfil e sua identidade se completando com um modelo de conduto. No momento em que a criança começa a frequentar a escola, seus colegas e professores fazem parte de sua família; e é nesta fase da vida da criança que se pode perceber melhor se ela tem algum tipo de dificuldade de aprendizagem.

Percebe-se como a escola é um ambiente novo, a criança começará a ter

novos desafios, diferentes dos que ela já enfrentava no seu lar, isto porque os

convívios são diferentes, o próprio ambiente é diferente.

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Amaral (2004, p. 04) discorre sobre as principais transtornos de

aprendizagem, classificando-as em:

• Dislexia: dificuldade que aparece na leitura, impedindo o aluno de ser fluente,

pois faz trocas ou omissões de letras, inverte sílabas, apresenta leitura lenta,

dá pulos de linhas ao ler um texto, etc. Estudiosos afirmam que sua causa

vem de fatores genéticos, mas nada foi comprovado pela medicina.

• Disgrafia: normalmente vem associada à dislexia, porque se o aluno faz

trocas e inversões de letras consequentemente encontra dificuldade na

escrita. Além disso, está associada a letras mal traçadas e ilegíveis, letras

muito próximas e desorganização ao produzir um texto.

• Discalculia: dificuldade para cálculos e números. De um modo geral os

portadores não identificam os sinais das quatro operações e não sabem usá-

los, não entendem enunciados de problemas, não conseguem quantificar ou

fazer comparações, não entendem sequências.

• Dislalia: é a dificuldade na emissão da fala. Apresenta pronúncia inadequada

das palavras, com trocas de fonemas e sons errados, tornando-as confusas.

Manifesta-se mais em pessoas com problemas no palato, flacidez na língua

ou lábio leporino.

• Disortografia: é a dificuldade na linguagem escrita e também pode aparecer

como consequência da dislexia. Suas principais características são: troca de

grafemas, desmotivação para escrever, aglutinação ou separação indevida

das palavras, falta de percepção e compreensão dos sinais de pontuação e

acentuação.

• TDAH: O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é um problema

de ordem neurológica, que trás consigo sinais evidentes de inquietude,

desatenção, falta de concentração e impulsividade. Hoje em dia é muito

comum se ver crianças e adolescentes sendo rotulados como DDA (Distúrbio

de Déficit de Atenção), porque apresentam alguma agitação, nervosismo e

inquietação, fatores que podem advir de causas emocionais. É importante

que esse diagnóstico seja feito por um médico e outros profissionais

capacitados.

Levar o aluno a pensar e buscar informações para o seu desenvolvimento

educacional, cultural e pessoal é uma das tarefas primordiais e básicas da

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educação. Atualmente, vive-se um momento em que as necessidades dos alunos

com dificuldade de aprendizagem estão cada dia mais presentes no dia a dia.

Para tanto é primordial que se leve em consideração essas dificuldades,

não como fracassos, mas como desafios a serem enfrentados, e ao trabalhá-las

também se lida respectivamente com as dificuldades existentes na vida, dando-lhes

a oportunidade de serem independentes e de se reconstruírem enquanto seres

humanos e indivíduos. (AMARAL, 2004).

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4 O LÚDICO

Com a evolução da espécie, do desenvolvimento, do pensamento e da

linguagem através dos séculos e do avanço da ciência, o brincar também passa a

ser objeto de pesquisa e a ter sua importância cada vez mais reconhecida no campo

do desenvolvimento infantil. Consequentemente um novo olhar é lançando sobre a

criança e seu brincar.

O brincar é o caminho que possibilita a flexibilidade, a recriação, às

relações e a comunicação entre os homens. (BATESON, 1977 apud AMARAL,

2004).

Brincadeiras são formas de comunicação que permitem partilhar

significados e conceber regras (BATESON, 1977 apud AMARAL, 2004; BRUNER,

1996) para desenvolver e educar as crianças. Pelo brincar se pode compartilhar

valores culturais e significações, expressar ideias, compartilhar emoções, aprender a

tomar decisões, cooperar, socializar e utilizar a motricidade.

Com a urbanização, industrialização e novos modos de vida, esqueceu-se

a criança, encurtou-se a infância, tornando aquela um precoce aprendiz. Em 1840,

Froebel (1912 apud AMARAL, 2004) introduziu o lúdico nos jardins de infância. Nas

Cartas às Mães (FROEBEL, 1912 apud AMARAL, 2004), orientava-as para

brincarem com seus filhos, estimularem a representação simbólica, utilizando

músicas, danças, movimento e o corpo. Sua proposta incluía a formação das

jardineiras, o uso de brinquedos (de construção) para ensinar números, formas,

conceitos.

O espaço para aprender é restrito à sala de atividades, decorrente das

concepções de educação. O ambiente de aprendizagem deve abranger todo o

contexto, avançar nos espaços públicos e privados, envolvendo pais, comunidade e

outros agentes, o que parece não ocorrer. (NÓVOA, 1992 apud KISHIMOTO, 2001).

O corpo carrega a dimensão de integrar emoções, contatos sociais e

relações. (WALLON, 1995 apud FREITAS, 2003). O cotidiano de nossas práticas

tende a separar o corpo de outras dimensões. É mais uma vez a violência simbólica

(BIARNÈS, 1999) de construções sociais que esquecem a criança, o brincar, o

prazer, a emoção, a parceria, a socialização e a recriação.

A brincadeira, seja simbólica ou de regras, não tem apenas um caráter de

diversão ou de passatempo. Pela brincadeira a criança, sem a intencionalidade,

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estimula uma série de aspectos que contribuem tanto para o desenvolvimento

individual do ser quanto para o social.

Primeiramente a brincadeira desenvolve os aspectos físicos e sensoriais.

Os jogos sensoriais, de exercício e as atividades físicas que são promovidas pelas

brincadeiras auxiliam a criança a desenvolver os aspectos referentes à percepção,

habilidades motoras, força e resistência e até as questões referentes à

termorregulação e controle de peso. (SMITH, 1982 apud FREITAS, 2003).

A forma como o professor fará a intervenção durante a brincadeira irá

definir o curso desta. Bomtempo (2006) coloca que a intervenção do professor deve

revitalizar, clarificar, explicar o brincar e não dirigir as atividades, pois quando a

brincadeira é dirigida por um adulto com um determinado objetivo ela perde o seu

significado, lembrando que a mesma deve possuir um fim em si mesma.

Spodek e Saracho (1998, p. 45 apud CORDAZZO e VIEIRA, 2006, p.14):

Distinguem dois modos de intervenção por parte do professor durante a brincadeira, o participativo e o dirigido. No modo participativo a interação do professor visa à aprendizagem incidental durante a brincadeira. As crianças acham um problema e o professor, como que um membro a mais no jogo, tenta junto com o grupo encontrar a solução, estimulando estas a utilizarem a imaginação e a criatividade. No modo dirigido o professor aproveita a brincadeira para inserir a aprendizagem de conteúdos escolares e dirigir as atividades para situações não lúdicas, causando uma desvalorização do brincar, que deixa de ser espontâneo, impedindo o desenvolvimento da criatividade.

É evidente a relação que permeia os temas brincadeira e aprendizagem.

Spodek e Saracho (1998 apud CORDAZZO e VIEIRA, 2006) confirmam isto ao

enfatizarem que a introdução do brincar no currículo escolar estimula o

desenvolvimento físico, cognitivo, criativo, social e a linguagem da criança.

Entretanto, para que isto ocorra com sucesso, Bomtempo (2006) ressalta que é

necessário que os professores estejam capacitados e, acima de tudo, conscientes

de que atividades e experiências alternativas, como o brincar, promovem a

aprendizagem na criança.

Os educadores precisam manter a compreensão de que a vida de uma

criança é bem mais frágil e, portanto, complexa quando comparada à vida de um

adulto. Desta maneira todo esforço adaptativo promovido pela criança se concentra

na necessidade natural que ela tem, e que é, inclusive, cobrada pela sociedade, que

consiste em aprender para poder sobreviver. No desenvolvimento deste processo a

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criança vai aproveitando o que aprende nos jogos e vai estruturando a sua

personalidade. (SANTOS, 2007).

Muito embora a primeira estrutura do jogo do exercício seja elaborada nos

dois primeiros anos de vida da criança, ela não deixa de se manifestar, também, na

fase adulta. Neste caso as aprendizagens são caracterizadas, no caso do jogo do

exercício, como um objetivo essencial para o desenvolvimento estrutural da mesma.

Então, neste momento da sua vida, ela percebe o seu aprendizado o

prazer funcional, por isso que ela não considera o trabalho como um sacrifício e sim

como uma atividade que também produz satisfação. (SANTOS, 2007).

Além disso, a partir do jogo simbólico, a criança pode conhecer, dentro de

um olhar caracterizado como cognitivo, a possibilidade de experimentar papéis,

atuar através de representações ou de dramatizações. Todas estas representações

terão, no futuro, uma importância bem significativa na sua vida cotidiana, inclusive

no seu trabalho.

4.1 O Lúdico: Definição e Histórico

Definem-se como atividades lúdicas, todas as que envolvem o jogo, o

brincar, o riso, o engraçado. Atualmente, atividades dessa natureza permeiam o

cotidiano escolar e mostram de uma maneira simples sua relevância nesse contexto.

No princípio, jogos e brincadeiras eram compartilhados entre adultos e

crianças. Com a evolução da sociedade essas atividades lúdicas assumem a feição

de atividade infantil, em que o valor central é a educação espontânea da criança.

Nos dias de hoje, graças a uma série de mudanças nas leis de proteção à

infância, a criança é vista como sujeito que tem, entre outros direitos, o de brincar. A

importância da atividade lúdica foi reconhecida pela própria legislação.

A Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em 1959, redigiu no seu

7º artigo da Declaração Universal dos Direitos da Criança que: “[...] toda criança terá

direito de brincar e divertir-se cabendo à sociedade e às autoridades públicas

garantirem a ela o direito pleno desse direito.” (ONU, 1959).

Vale ressaltar que as habilidades próprias da criança relacionadas ao ato

de brincar possibilitam um espaço para resolução dos problemas que a cerca. Ao

longo desta pesquisa é possível observar, na opinião dos autores estudados, que o

ato de brincar é mais do que a simples satisfação de desejos.

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Dallabona e Mendes (2000, p.05) argumentam que:

O brincar é o fazer em si, um fazer que requer tempo e espaços próprios; um fazer que se constitui de experiências culturais, que são universais e próprio da saúde porque facilita o crescimento, conduz aos relacionamentos grupais, podendo ser uma forma de comunicação consigo mesmo e com os outros.

Entretanto, no mundo capitalista atual, o que se observa, de forma

lamentável, é que o lúdico está sendo excluído do universo da educação infantil.

Dallabona e Mendes (2000, p.05) explicam que "as crianças estão brincando cada

vez menos por inúmeras razões: uma delas é o amadurecimento precoce; outra é a

redução violenta do espaço físico e do tempo de brincar."

Concordando com os autores destaca-se as muitas horas para outras

atividades tais como aulas de inglês, natação, computação, dança, pintura, etc. Além

disso não se pode esquecer das muitas horas nas quais as crianças passam diante

da televisão divertindo-se com jogos violentos e cercadas de brinquedos eletrônicos

que vão minando as necessárias interações sociais e a liberdade de criação e de

expressão, indispensáveis para a formação do adulto.

4.2 O Lúdico e a Aprendizagem Infantil

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil em seu

artigo 4º afirmam que:

[...] a criança, centro do planejamento curricular, é sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos [...]. (BRASIL, 2009, p.133).

E no seu artigo 8º:

A proposta pedagógica das instituições de Educação Infantil deve ter como objetivo garantir à criança o acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação com outras crianças. (BRASIL, 2009, p. 135).

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O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil afirma ainda

que:

Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo, poder se comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde representar determinado papel na brincadeira faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais. (BRASIL, 1998, p. 23).

A brincadeira constitui, pois, uma das estratégias básicas para o trabalho

pedagógico com as crianças na Educação Infantil.

O fato de existir como direito positivo já mostra o quanto o assunto é

importante. Para Cruz e Petralanda (2004), o que chama a atenção é a concepção

de desenvolvimento integral da pessoa e a importância atribuída à ludicidade neste

processo. As autoras afirmam que: “[...] uma vez que a brincadeira é, acima de tudo,

um palco de desenvolvimento e aprendizado (não só escolar) que precisa se fazer

presente nas salas de aula.” (CRUZ e PETRALANDA, 2004, p. 213).

Para o filósofo e antropólogo Gilles Brougère, realizador de pesquisas

sobre o brinquedo e sobre as relações entre brincadeira, educação e a pedagogia

pré-escolar, a brincadeira pressupõe uma aprendizagem social: “Na sua brincadeira

a criança não se contenta em desenvolver comportamentos, mas manipula as

imagens, as significações simbólicas que constituem uma parte da impregnação

cultural à qual está submetida.” (BROUGÈRE, 2000, p. 47). Ele ainda afirma: “A

criança aprende, justamente, a compreender, dominar, e depois produzir uma

situação específica distinta de outras situações.” (BROUGÈRE, 2000, p. 98).

Para a criança, o brincar é algo natural e simples que não precisa ser

ensinado por ninguém. É brincando que ela experimenta possibilidades novas

usando sua curiosidade e imaginação. Nesse sentido, Brougère conclui: “A criança

pode, sem riscos, inventar, criar, tentar, nesse universo.” (2000, p. 103).

Outro autor, que enfatiza a relação entre brincar e criar, é Château (1987,

apud CRUZ e PETRALANDA, 2004, p. 215), ao dizer que: “A seriedade do jogo

implica um distanciamento do ambiente real, desse distanciamento surge a

possibilidade de criação. O distanciamento leva a criança a um mundo onde ela tem

todo poder, onde pode criar.’’

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Portanto, nesse contexto o lúdico assume diversas funções para o

desenvolvimento da criança. Pode-se afirmar que a sua função está em criar

condições para o desenvolvimento integral da mesma (emocional, psicomotor, social

e cognitivo), partindo de objetos concretos, situações imaginárias e interações

sociais, estabelecendo relações com o mundo e construindo conhecimento sobre ele

e sobre si mesma.

É pelo jogo, pelo brinquedo, que crescem a alma e a inteligência. É pela tranquilidade, pelo silêncio – pelos quais os pais às vezes se alegram erroneamente – que se anunciam frequentemente no bebê as graves deficiências mentais. Uma criança que não sabe brincar, uma miniatura de velho, será um adulto que não saberá pensar. (CHÂTEAU, 1987 apud CRUZ e PETRALANDA, 2004, p. 213).

Nos momentos das brincadeiras, é que, em especial, as interações são

estabelecidas com as outras crianças oportunizando possibilidades de fazerem

combinações, oporem-se defendendo seus pontos de vista, disputando ou realizando

trocas promovendo assim aprendizagens significativas.

É nesse sentido que Antunes (2003) aponta para a importância da

brincadeira na Educação Infantil. Segundo o autor, o prazer, alegria e satisfação

proporcionados pela brincadeira constituem um fim desejável em si mesmo. A estes

benefícios acrescentam-se outros como a estimulação das inteligências, o

desenvolvimento de competências e a ativação de relações sociais, ensinando

procedimentos e propondo atitudes positivas para um crescimento saudável e

integral.

4.2.1 Os jogos e brincadeiras

É o adulto na figura do professor, portanto, que, na instituição infantil

ajuda a estruturar o campo das brincadeiras na vida das crianças. É ele que

organiza sua base estrutural por meio da oferta de determinados objetos, fantasias,

brinquedos ou jogos, da delimitação e arranjos dos espaços e do tempo para

brincar.

A brincadeira de faz-de-conta, os jogos de construção e aqueles que

possuem regras, como os jogos-de-tabuleiro, jogos tradicionais didáticos, corporais,

etc. propiciam a ampliação dos conhecimentos infantis por meio de atividade lúdica.

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Vários autores como Kishimoto (2001), Antunes (2003), Bomtempo (2006)

e Almeida (2010) têm caracterizado a brincadeira como atividade ou ação própria da

criança, voluntaria, espontânea, delimitada no tempo e no espaço, prazerosa,

constituída por reforçadores positivos intrínsecos com um fim em si mesma e tendo

uma relação íntima com a criança.

São várias as dificuldades que existem com relação à definição e

caracterização da brincadeira, entretanto, é certo que a mesma assume um papel

fundamental na infância e numa concepção sócio cultural a brincadeira mostra como

a criança interpreta e assimila o mundo, os objetos, a cultura, as relações e os

afetos das pessoas, sendo um espaço característico da infância.

Portanto o professor é mediador, deve conhecer e considerar as

singularidades das crianças de diferentes idades, assim como as diversidades de

hábitos, costumes, valores, crenças, etnias, etc. das crianças comas quais trabalha,

respeitando suas diferenças e ampliando seus passos de socialização.

O educador deve ser considerado medidor entre as crianças e os objetos

do conhecimento, organizando e propiciando espaços e situações de aprendizagens

que articulam os recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas

de cada criança e aos seus conhecimentos prévios e aos conteúdos referentes aos

diferentes campos do conhecimento humano. (SANTOS, 2007).

Desde a Antiguidade as crianças participam de diversas brincadeiras

como forma de diversão e recreação. Jogos de demolir e construir, rolar aros,

cirandas, pular obstáculos, etc. são exemplos de brincadeiras desse tempo.

(ROBLES, 2007).

Na era do Romantismo a brincadeira passou a ser vista como expressão da criança e a infância a ser compreendida como um período de desenvolvimento específico e com características próprias. Neste período as principais brincadeiras eram: piões, cavalinhos de pau, bola etc. (KISHIMOTO, 1996 apud ROBLES, 2007, p.02).

Sobre a importância do ato de brincar para o desenvolvimento psíquico do

ser Bettelheim (1991, p.45 apud COLUCCI, 2000, p. 03) afirma que:

Nenhuma criança brinca espontaneamente só para passar o tempo. Sua escolha é motivada por processos íntimos, desejos, problemas, ansiedades. O que está acontecendo com a mente da criança determina suas atividades lúdicas; brincar é sua linguagem secreta, que devemos respeitar mesmo se não entendemos.

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A criança quando brinca cria situações imaginárias em que se comporta

como se estivesse agindo no mundo adulto. Como se pode ver o jogo é uma

atividade que tem a própria razão de ser e contém em si mesma, o seu objetivo. É

fundamental diferenciar as formas de jogos nas diferentes fases da infância.

Segundo Vygotsky (1996) os objetos ditam a ela a ação que deve ser

executada. Por isso que quando vê uma cadeira ele se assenta, uma escada é para

subir e uma vassoura é para varrer. Esse autor ainda afirma que o brinquedo cria, na

zona de desenvolvimento proximal, momentos de memória inter-relacionados e é

através deles que a criança obtém as suas maiores aquisições.

Já Piaget (1990), afirma que através da brincadeira a criança pode

demonstrar o nível cognitivo na construção de conhecimentos. Na educação, não se

pode deixar de referir ao Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

(1998) que ressalta a importância da brincadeira quando afirma que, educar significa

propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas.

Quando a criança brinca de faz de conta, por exemplo, procura saber o

que o outro pensa para tentar ordenar seu comportamento com o do seu parceiro,

desta maneira ela busca regular suas ações de acordo com regras sociais e

culturais.

Para Vygotsky (1996) a criança, ao brincar de faz de conta, cria uma

situação imaginaria podendo assumir diferentes papéis como o de um adulto. Ela

passa a se comportar como se fosse realmente mais velha, seguindo as regras que

esta situação propõe.

Alguns autores como Almeida (2000) e Antunes (2003) afirmam que a

criança enquanto brinca se constitui como individuo diferente dos demais, entra, em

contato com diferentes papeis sociais e evolui quanto à diferenciação.

Para Piaget (1990) a criança deve estar envolvida em atividades que

exigem raciocínio, soluciona problemas, possibilitando a construção de

conhecimentos e enriquecendo seu desenvolvimento intelectual.

Através da brincadeira ela revive situações que envolvem emoções,

causam alegria, ansiedade, medo e raiva. No entanto aquela pode e deve privilegiar

o contexto educacional.

A escola, atenta aos inúmeros benefícios que a brincadeira traz, bem

como nas possibilidades que ela cria de se trabalhar diferentes conteúdos de forma

lúdica. Por isso aquela deve lutar sempre para que tais atividades sejam

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privilegiadas e bem aceitas pelas crianças e pelos adultos responsáveis. (ALMEIDA,

2000).

É bom saber que não são necessários espaços muito estruturados ou

objetos complexos para que ocorra uma brincadeira. Espaços simples com objetos

fáceis de serem encontrados e manipulados aliados do educador também propiciam

aprendizagens.

As brincadeiras como: esconde-esconde, pega-pega, passa-anel, bingo,

boliche, morto vivo, queimada, pular corda; favorecem varias habilidades e

conhecimentos que propiciam cooperação, estabelecimento de regras e levam o

individuo (a criança) a se colocar no lugar do outro. (ANTUNES, 2003).

Vários tipos de brincadeira que podem ser realizadas com bebes exigem

certos tipos de conhecimentos, como por exemplo: brincadeiras com fantoches,

bonecas e carrinhos (para a criança dramatizar), blocos de construção (favorecendo

a descoberta de conceitos como tamanho, forma, quantidade, relações espaciais,

noção de espaço e causalidade além da imaginação e criatividade), quebra-cabeça

(para estimular o raciocínio, a concentração e o desenvolvimento psicomotor além

da cooperação e socialização), brincadeiras na água e na areia (que permitem a

exploração, o exercício motor e a socialização), brincadeiras tradicionais (como

amarelinha, pião, pipa, as quais possibilitam a compreensão de elementos

folclóricos que despertam a criança para determinados períodos históricos) e, por

fim, as brincadeiras de faz de conta, que trabalham com a imaginação, imitação,

possibilitam o desenvolvimento social, afetivo, além dos processos de raciocínio.

(ANTUNES, 2003).

O brincar pressupõe uma aprendizagem, sendo assim o professor terá o

papel fundamental de inserir a criança na brincadeira, criando espaços e

oportunidades.

4.2.2 A brinquedoteca e os jogos

O mundo proporciona à criança a compreensão de muitas coisas através

do brincar. A brinquedoteca é um espaço mágico criado para dar oportunidades às

crianças de brincar de forma enriquecedora. “A brinquedoteca é o espaço criado

com o objetivo de proporcionar estímulos para que a criança possa brincar

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livremente. É um espaço onde acontece uma interação educacional.” (SILVA, 2004

apud SANTOS, 2007, p. 13).

Nesse sentido, pode-se dizer que é um lugar onde tudo convida a

explorar, a sentir, a experimentar e a fantasiar. A brinquedoteca possibilita o acesso

a uma grande variedade de brinquedos, pois é o espaço preparado para estimular a

criança a brincar.

A valorização do brinquedo propiciou a criação da brinquedoteca que

oferece novos espaços de exploração lúdica, iniciada na Europa a partir dos anos

1960 e chegou ao Brasil em 1980, levando as instituições a voltarem a atenção para

o brincar infantil, desenvolvendo diversas funções como: a pedagógica oferecendo a

possibilidade de seleção de “bons” brinquedos e de qualidade no brincar; a social

possibilitando que crianças procedentes de famílias economicamente

desfavorecidas possam jogar com brinquedos que em outras circunstâncias não

teriam acesso; a comunitária favorecendo que crianças joguem em grupo e

aprendam a respeitar, a ajudar e a receber ajuda, a cooperar e a compreender aos

demais; a de comunicação familiar contemplando o resgate do jogo no seio das

famílias; a de animar o bairro já que pode chegar ao bairro onde grandes e

pequenos se encontram, onde as crianças façam novas amizades e os pais possam

se relacionar com os educadores e profissionais da área entre si em um ambiente

lúdico, relaxado e tranquilo.

A oportunização do brincar assumiu, através da brinquedoteca, características próprias, voltadas para a necessidade de melhor atender as crianças. Como consequência deste fato, seu papel dentro do campo da educação cresceu e hoje podemos afirmar, com segurança, que ela é um agente de mudança do ponto de vista educacional. (SANTOS, 2007, p. 13).

Nessa mudança pode-se destacar a importância dada às escolhas da

criança e ao desenvolvimento das atividades segundo as suas necessidades. Neste

espaço, a comunicação entre ela e o educador se faz constantemente necessária e

presente, pois é por meio do desejo expressado pela mesma que o educador

participa do seu livre brincar, mediando as suas interações com as das outras

crianças e com o brinquedo em si.

A brinquedoteca é o lugar que proporciona a convivência da criança com

seus iguais, contribuindo fortemente para o seu desenvolvimento social. Pois ela

aprenderá a colaborar, compartilhar e tornar-se paciente frente à espera do

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momento oportuno para brincar com o objeto antes escolhido pelo amigo e, também,

aceitar a escolha do outro frente a brincadeira decidida.

Conforme Cunha (2005 apud BORGHETI e SILVA, 2010, p.41):

Proporcionar um espaço onde a criança possa brincar sem cobranças e sem sentir que está perdendo tempo; Estimular o desenvolvimento de uma vida interior rica e da capacidade de concentrar a atenção; Estimular a operatividade das crianças; Favorecer o equilíbrio emocional; Dar oportunidade à expansão de potencialidades; Desenvolver a inteligência, criatividade e sociabilidade; Proporcionar acesso maior de brinquedos, de experiências e de descobertas; Dar oportunidade para que aprenda a jogar e a participar; Incentivar a valorização do brinquedo como atividade geradora de desenvolvimento intelectual, emocional e social; Enriquecer o relacionamento entre as crianças e suas famílias; Valorizar os sentimentos afetivos e cultivar a sensibilidade.

O principal objetivo da brinquedoteca é, acima de tudo, fazer as crianças

felizes.

Brinquedoteca é o espaço para brincar. Não é preciso acrescentar mais objetivos, é preciso valorizar a ação da criança que brinca. Se as relações entre os brinquedistas e as crianças forem corretas, se tiverem a dimensão que podem e devem ter, resultados surpreendentes irão aparecer. (SANTOS, 2007, p. 21).

O educador brinquedista tem que estar comprometido com valores,

princípios e atitudes que influenciarão na formação e na compreensão de mundo

dessas crianças. Mais ainda, acredita-se que ele deve ser o parceiro no brincar e no

processo de internalização de conceitos, ideias, linguagem, competências, etc.

As crianças na brinquedoteca têm várias opções de diversão, como

brinquedos, jogos, fantasias, livros, revistinhas, sucatas, bonecos, fantoches e muito

mais. A brinquedoteca é um lugar cheio de cantinhos especiais: cantinho do faz-de-

conta, cantinho dos jogos de mesa, cantinho de jogos de construção, cantinho dos

jogos tradicionais, casa de bonecas, etc. É importante ressaltar que estes cantinhos

não são fixos, mas podem se transformar em espaços de interação para a criança.

Como há um número limitado de participantes em cada cantinho as

crianças aprendem a esperar sua vez para realizarem tal atividade e se organizam

desenvolvendo a cooperação.

Outro fator importante para a sua aprendizagem é a construção de sua

autonomia e isso é priorizado na brinquedoteca, pois a impossibilidade de o

educador estar em vários cantos ao mesmo tempo, faz com que a criança busque,

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seja em conjunto, seja individualmente, a solução para os seus problemas. Além

disso, observa-se o desenvolvimento da autonomia quando cada criança guarda a

sua própria bolsa no espaço que lhe é reservado na brinquedoteca.

“Lá as crianças podem ser livres para descobrirem novos significados em

resposta a novas experiências, ao invés de serem conduzidas para adquirir

significados criados por outros.” (SANTOS, 2007, p. 21).

Pode-se dizer que a brinquedoteca é uma oficina de criação lúdica, onde

crianças experimentam, conhecem, exploram e manipulam diversos brinquedos,

construindo assim seu próprio conhecimento, desenvolvendo autonomia, criatividade

e liberando suas fantasias.

Lá existem brinquedos variados, novos, usados, de madeira, plástico,

metal, pano, brinquedos que vão realizar sonhos ou simplesmente estimular a

criança a brincar livremente. (SANTOS, 2007).

A brinquedoteca é uma excelente ideia dentro ou fora das escolas, porque

a criança hoje está diante de uma sociedade multicultural geradora de contradições

e conflitos, uma sociedade industrial informatizada e eletrônica, na qual o mundo do

brinquedo se torna cada vez mais sofisticado e caro, enfim uma sociedade

individualista, emergencial, materialista e consumista, orientada para a competência.

Criar novos espaços lúdicos para que a criança brinque em uma época

em que a urbanização crescente coloca o ser humano em um universo espacial

pequeno e restrito, é um grande desafio para todos. Como resposta a essa realidade

a brinquedoteca é um espaço de enriquecimento educativo.

Segundo Brougère (2000) o brinquedo é marcado por seu valor simbólico.

Porém nem por isso, ele é não-funcional, na medida em que essa dimensão

funcional vem, justamente se fundir com seu valor simbólico, com sua significação

enquanto imagem. E continua dizendo que: “O brinquedo não parece definido por

uma função precisa: trata-se, antes de tudo, de um objeto que a criança manipule

livremente, sem estar condicionado às regras ou a princípios de utilização de outra

natureza.” (2000, p.13). Ainda segundo o autor, o brinquedo é um objeto infantil. O

jogo, ao contrário, pode ser destinado tanto para a criança quanto para o adulto.

Para o professor do Instituto de Psicologia da USP Lino de Macedo foi

Piaget (1896-1980) quem deixou as contribuições mais valiosas sobre o jogo infantil,

pois este o classificou em quatro tipos:

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• De exercício: que se caracteriza pela repetição de uma ação pelo prazer que

ela proporciona e é uma das primeiras atividades lúdicas do bebê. É o que

acontece quando ele joga objetos no chão diversas vezes ou balança o

chocalho sem parar;

• Simbólico: envolve o faz-de-conta, a representação que ocorre quando as

crianças brincam de pirata, de escolinha, de casinha ou de super-heróis.

Também acontece quando as crianças manipulam objetos atribuindo a eles

significados diferentes do habitual, como tratar um cabo de vassoura como

cavalo;

• De regras: é o que exige que os participantes cumpram normas e passem a

considerar outros fatores que influenciam no resultado, como atenção,

concentração, raciocínio e sorte;

• De construção: nele a atividade principal é construir e usar diversos objetos

para criar um novo. Pode ser uma cidade com blocos de madeira ou um

aviãozinho com sucata. (ALMEIDA, 2010).

Kishimoto (1996) também citou modalidades de brincadeiras presentes na

Educação Infantil:

• Jogo educativo: entendido como recurso que ensina, desenvolve e educa de

forma prazerosa, o brinquedo educativo materializa-se no quebra-cabeça, nos

brinquedos de tabuleiro, nos brinquedos de encaixe, nos múltiplos brinquedos

e brincadeiras, cuja concepção exigiu um olhar para o desenvolvimento

infantil: móbiles destinados à percepção visual, sonora ou motora; carrinhos

munidos de pinos que se encaixam para desenvolver a coordenação motora,

parlendas para a expressão da linguagem, brincadeiras envolvendo músicas,

danças, expressão motora, gráfica e simbólica. Seu uso destina-se a

situações de ensino-aprendizagem e de desenvolvimento infantil.

• Brincadeiras tradicionais infantis: incorporada a mentalidade popular

expressando-se, sobretudo, pela oralidade. Guarda a produção espiritual de

um povo em certo período histórico. Assume características de anonimato,

tradicionalidade, transmissão oral, conservação, mudança e universalidade.

Tem a função de perpetuar a cultura infantil, desenvolver formas de

convivência social e permitir o prazer de brincar.

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• Brincadeiras de faz-de-conta: também conhecida como simbólica, de

representação de papéis ou sociodramática, é a que deixa mais evidente a

presença da situação imaginária. Provém de experiências anteriores

adquiridas pelas crianças em diferentes contextos. Ao brincar de faz-de-conta

a criança está aprendendo a criar símbolos.

• Brincadeiras de construção: os jogos de construção são considerados de

grande importância por enriquecer a experiência sensorial, estimular a

criatividade e desenvolver habilidades das crianças. Desta forma, quando

está construindo, a criança está expressando suas representações mentais,

além de manipular objetos.

Nos seus estudos sobre jogos, Vygotsky (1896-1934) deu atenção aos

jogos de representação. Ele afirmou que não existe brincadeira sem regras, partindo

do princípio que os pequenos se envolvem nas atividades de faz-de-conta para

entender o mundo em que vivem. Para isso, usam a imaginação.

Para Vygotsky (2002, p. 25):

[...] a brincadeira cria para as crianças uma zona de desenvolvimento proximal que não é outra coisa se não a distância entre o nível atual de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver independentemente um problema, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de um problema, sob a orientação de um adulto ou de um companheiro mais capaz.

Essa perspectiva aborda a importância do adulto – seja na família, seja na

escola – como um forte elo entre as crianças e os objetos, para que elas possam

experimentar novas vivências. Ele é então um mediador do conhecimento infantil

atento às questões das crianças para ajudá-las a compreender o mundo em que

vivem.

A brincadeira auxilia a criança a entender as experiências que os adultos

vivenciam. Partindo dela, pode-se estabelecer um importante papel do brincar para a

educação. A brincadeira favorece a interação sociocultural das crianças.

Wallon (1995) considera que a cultura infantil se baseia na cultura adulta,

transformada no brincar, para uma melhor compreensão por parte das crianças.

Sob essa abordagem, a brincadeira infantil deve ocupar um importante papel,

encarando-se estas como sujeitos socioculturais, agentes construtores do seu

próprio conhecimento.

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A brincadeira, de forma geral, deve ser incluída no currículo de todas as

instituições que lidam com a Educação Infantil, pois essa é uma maneira de se fazer

valer todo o potencial que o lúdico proporciona ao desenvolvimento infantil.

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5 A ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS

5.1 O processo de alfabetização

Soares (2004, p.12) afirma: “não basta aprender a ler e a escrever. As

pessoas se alfabetizam, aprendem a ler e escrever, mas não necessariamente

incorporam a prática da leitura e da escrita.” Continuando o esse raciocínio é

possível perceber que uma pessoa, sem letramento pode até se alfabetizar,

entretanto não vai desenvolver competências para usar esta ferramenta que lhe foi

ensinada.

Neste ponto compreende-se que é um verdadeiro desperdício o indivíduo

dispor de um conhecimento muito valioso, mas não saber utilizá-lo,

semelhantemente com o que acontece com os novos aparelhos de celular que, por

passarem por constantes atualizações, oferecem serviços que o dono não sabe

usufruir.

Portanto, desta maneira, se a alfabetização ocorrer sem o letramento o

indivíduo não vai poder empregar tudo que tomou conhecimento na sua vida porque,

de fato, não sabe utilizar estes conhecimentos na sua plenitude.

Para Soares (2004, p.34):

O termo letramento surgiu porque apareceu um fenômeno novo que não existia antes, ou, se existia, não nos dávamos conta dele, e, como não dávamos conta dele, não tínhamos nome para ele. Se pudéssemos dar um sentido amplo à palavra alfabetização, tornaria desnecessário o uso da palavra letramento, porém ainda não podemos juntá-las, pois não é isso que acontece em todos os processos alfabetizadores.

Scarpa (2006) alerta que ainda existem educadores que confiam na

simples decodificação de símbolos e acham que, ao ensinarem desse modo, a

alfabetização baseada nessa codificação será suficiente para a criança.

Com certeza não será. É preciso chamar atenção para duas fases do

letramento, sendo que a primeira pode estar baseada no simples reconhecimento e

na cópia de letras, sílabas e palavras. Já a segunda deverá passar por um

planejamento intencional que promova práticas sociais mediadas pela leitura e pela

escrita, para que, deste modo as crianças possam desenvolver competências e

resolvam situações de vida contextualizadas. (SCARPA, 2006).

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5.2 A leitura e a escrita

A escola caracteriza-se como um ambiente no qual se busca o pleno

desenvolvimento de uma série de competências que vão assegurar ao educando

uma convivência mais bem sucedida dentro de uma sociedade cada vez mais

exigente quanto à qualificação individual. Dentro deste contexto as habilidades de

construção da escrita e da leitura não poderiam ser excluídas das informações e das

competências a serem trabalhadas no processo de ensino e aprendizagem.

(SANTOS e MATOS, 2008).

Para tanto é preciso compreender que se vivem hoje as exigências

emergentes do início do século, que são voltadas para o aprimoramento de funções

sociais nas quais as habilidades de escrita e leitura são as mais frequentemente

necessárias. (SANTOS e MATOS, 2008).

A escrita geralmente discorre de diversas maneiras. Há quem use letras

minúsculas, outras cursivas ou em letras de forma. “A invenção da escrita foi um

processo histórico de construção de um sistema de representação, não um processo

de um sistema de representação, não um processo de codificação.” (FERREIRO,

1995, p. 12).

Através do surgimento dos livros, e da imprensa a escrita tornou-se

acessível para a sociedade. Jornais e revistas passaram a fazer parte do dia-a-dia

das pessoas. A leitura e a escrita ficaram sendo suportes comuns na vida das

pessoas.

Porém, para a sociedade atual não basta que o indivíduo reconheça e

reproduza os signos que formam a palavra, pois isoladas e fora de contexto não

bastam. É necessário que a criança e o adolescente sejam capazes de compreender

e interpretar textos, bem como, produzir textos próprios. (VYGOTSKY, 2002).

Cagliari (1998, p. 15) afirma que,

Na antiguidade, os alunos alfabetizavam-se aprendendo a ler algo já escritoe depois copiado. Começavam com palavras e depois passavam para textos famosos, que eram estudados exaustivamente. Finalmente, passavam a escrever seus próprios textos. O trabalho de leitura e cópia era o segredo da alfabetização.

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A sua fase de aprendizagem é basicamente trazida de seus

conhecimentos prévios participando ativamente dos processos envolvidos nessa

aquisição mesmo antes de ler e escrever convencionalmente, formulando,

analisando, e percebendo suas hipóteses sobre leitura e escrita das quais participa

constantemente.

O aprendizado antes da escolarização envolvendo leitura e escrita

apresenta-se como um fato sem conexão e somente primeiramente na sua própria

casa convivendo com seus parentes e depois, em seguida, na escola as mesmas

constituirão sentido na vida da criança, elaborando hipóteses para oralidade através

da escrita. Ao ser colocada para escrever, questiona sinais e como deverá escrevê-

los.

Para Smolka (1988, apud FURTADO, 2009, p. 110):

[...] as crianças aprendem a escrever escrevendo e, para isso, lançam mão de vários esquemas: perguntam, procuram, imitam, copiam, inventam, combinam [...] As crianças aprendem um modo de serem leitoras e escritoras porque experimentam a escrita nos seus contextos de utilização.

A criança quando chega à escola é capaz de representar o ato de ler:

manuseando livros, organizando-os, usando-os com atenção. Essa concepção de

leitura é a motivação necessária para que o aluno valorize o seu desenvolvimento e

o processo de alfabetização em si. Suas ideias sobre escrita e a estrutura da

linguagem escrita se desenvolve através de experiências cotidianas nas quais

convive com um acervo significativo de portadores textuais: clássicos infantis, gibis,

revistas, faixas, placas, televisão, entre outros. Criando deste modo hipóteses de

leitura e escrita. (TEBEROSKY e COLOMER, 2003).

Segundo Teberosky e Colomer (2003, p. 36):

As práticas escolares e extra-escolares de leitura e de escrita produzem efeitos sobre o desenvolvimento em uma típica relação de causa recíproca, como o “efeito Mateus”. As crianças que realizam práticas de leitura ampliam o vocabulário e tiram maior proveito da leitura e da escrita e, reciprocamente, a leitura lhes contribui para ampliar o vocabulário.

A partir do momento em que se inicia o processo, a escrita passa a ser o

seu foco de atenção, levando em conta os estímulos oferecidos. A sua interação

com a língua escrita através de revistas, jornais, livros, a criança irá compreender a

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visão de mundo utilizando jogos com símbolos interpretando assim fatos cotidianos

que lhes são significativos. Desta forma a língua escrita será considerada uma forma

representativa da linguagem falada. Com isso quando a criança direciona sua

atenção para ela, como um objeto substituto do sinal gráfico que acaba referindo-se

a outro significante sendo o som da fala correspondente a uma forma de pensar com

elaboração. A formação dos símbolos através de desenhos, jogos com símbolos

constituirão caminhos que serão ampliados através do aprender brincando com o

lúdico, jogos e brincadeiras. (TEBEROSKY e COLOMER, 2003).

Certamente a construção da escrita é um processo longo, a ser percorrido

pela criança. Ela irá explorar hipóteses escritas até chegar ao nível convencional. É

certo que existe uma enorme diferença entre a escrita copiada e a espontânea,

contudo a primeira é uma reprodução proposta através da imitação de outra pessoa.

E a escrita espontânea é estabelecida através da construção e compreensão do

conhecimento.

Ao compreender como funciona o sistema alfabético diferenciando o

desenho da escrita, a criança passa a superar a primeira etapa, compreendendo que

o ato de ler com suas letras e formas se combina estruturando seus conhecimentos

de leitura.

De outro fato que se dá como exemplo, é o que consiste quando a criança

distingue entre o que está escrito e o que se pode ler, ou seja, um adulto lê um

trecho do texto e posteriormente pede que a criança leia o que está escrito

separando por palavras, frases e o que pode ser lido em todo o texto. Dessa forma

tudo que está escrito representa o que as crianças podem representar por dados

escritos, e a leitura se dá através de uma interpretação a partir de uma elaboração

do que pode estar escrito. Quando a criança interpreta um texto, isso significa que

consegue ler toda a oração localizando nomes, substantivos e objetos que fazem

parte do seu cotidiano. (TEBEROSKY e COLOMER, 2003).

5.3 Contribuições do lúdico durante a alfabetização infantil

O desenvolvimento infantil ocorre num processo acelerado de mudanças,

e as crianças estão desenvolvendo suas potencialidades precocemente em relação

às teorias existentes. (ALMEIDA, 2010).

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Durante o desenrolar da vida do ser humano as diferentes áreas do

cérebro se desenvolvem por meio de estímulos que a criança recebe ao longo dos

sete primeiros anos de vida. Como os estímulos são diferentes, as reações também

são diferentes.

Atualmente pais trabalham fora, as famílias são menos numerosas e as

crianças frequentam, desde cedo, berçários, creches e escolinhas maternais, onde

recebem estímulos diferentes dos que recebiam quando eram criadas em casa pelos

irmãos e levadas para a escola aos sete anos. (ALMEIDA, 2010).

O educador precisa saber lidar com as crianças que são levadas a escola

a partir dos sete anos. Já que, nos dias atuais, as que entram mais cedo nessa

instituição, em sua maioria parecem mais espertas e se desenvolvem antes do

tempo previsto, pois algumas habilidades foram estimuladas mais cedo. (ANTUNES,

2003).

A criança expressa suas vontades e seu intelecto é muito mais ativo.

Embora apresente diferentes formas de ansiedade, de medo, e de insegurança com

as quais o educador tem que estar preparado para lidar.

Apesar dos avanços tecnológicos, tem-se hoje educadores preparados,

mas também grande número de crianças imaturas e com dificuldades motoras que

necessitam suprir as desvantagens para o desenvolvimento de suas potencialidades

como pessoa e o lúdico é essencial para este desenvolvimento. (ANTUNES, 2003).

No entanto o desenvolvimento infantil precisa acontecer, ao mesmo

tempo, nas diferentes áreas para que haja o equilíbrio necessário entre estas e o

individuo como um todo.

Durante a alfabetização quando o desenvolvimento acontece apenas

numa área, certamente outras ficarão em atraso e a criança ficara desequilibrada de

alguma forma. O educador deve tem em mente que é importante conhecer as

características do aprendiz, para saber quais são as potencialidades que estão

sendo desenvolvidas, quais as esquecidas, quais os transtornos que esse

desequilíbrio pode causar no desenvolvimento do indivíduo e como podem estimular

a criança para o processo ensino-aprendizagem.

Sabe-se que quando ela passa grande parte do seu tempo diante do jogo

eletrônico, fica hiper estimulada sua área cognitiva, mas sua área afetiva e motora

ficam esquecidas. (ALMEIDA, 2010). Portanto o lúdico deve ser utilizado para

propiciar o desenvolvimento completo do ser.

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A criança deve ser vista em três dimensões: a corporal, a afetiva e a

cognitiva, que devem ser desenvolvidas simultaneamente. Estas três dimensões são

totalmente atendidas pelas atividades lúdicas. Nestas a criança utiliza, de forma

eficiente, os sentidos e cabe aos educadores, vê-la como um ser completo, porem

inexperiente, com quem devem ter tempo de trabalhar e que precisam propiciar

oportunidades de pleno desenvolvimento.

Os métodos tradicionais de ensino não atraem mais a criança: ela quer

participar, questionar e não consegue ficar parada horas a fio, sentada, ouvindo uma

aula expositiva. Daí porque é essencial a prática das atividades lúdicas durante o

processo de alfabetização.

Observamos, portanto, a seguinte questão: se o educando mudou, o

educador tem que acompanhá-lo, embora mude toda a sua rotina. A criança da

atualidade é extremamente questionadora, não guarda dúvidas, ela quer saber o

“por quê” e ”para quê” quando os conteúdos são direcionados a elas. Portanto, o

professor deve saber como ela aprende e como ensiná-la. (ALMEIDA, 2010).

A aprendizagem, através da ludicidade compartilhada através dos jogos

ou qualquer tipo de brincadeira torna mais fácil à assimilação das crianças e é válido

este método até a fase adulta.

O lúdico em si possui componentes do cotidiano e o envolvimento

desperta o interesse do aprendiz, que se torna sujeito ativo do processo à confecção

dos próprios jogos e ainda, muito mais emocionante do que apenas jogar.

(ALMEIDA, 2010).

Durante as atividades lúdicas, quando a criança confecciona seu próprio

jogo (ou brincadeira), ela se sente mais motivada e segura.

Quando a criança é muito tímida e possui baixa autoestima e sentimento

de inferioridade, apresentará mais dificuldades para escolher ou decidir o seu

trabalho, ou o que vai fazer.

Muitas não conseguem superar suas séries iniciais, vão, a cada ano,

carregando um sentimento de frustração e, muitas vezes, discriminadas pelos

colegas, e, às vezes até pelos professores, tornam-se crianças arredias e relaxadas

com o seu material, não se relacionam mais, criando sérios problemas em sala de

aula. Cabe ao professor, dedicar-se cada vez mais a este tipo de criança.

(ALMEIDA, 2010).

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Com o lúdico a criança aprende brincando através de jogos que a fazem

desenvolver suas potencialidades. O professor pode adaptar o conteúdo

programático ao jogo, em que estará trabalhando a motricidade, a área cognitiva e

afetiva de seus alunos. (ALMEIDA, 2010).

Ao inter-relacionar diversas áreas de conhecimento, o professor atende

às necessidades do educando de modo que o mesmo seja sujeito ativo de seu

processo de ensino e aprendizagem.

É preciso que o professor tenha consciência que na brincadeira as

crianças recriam e estabilizam aquilo que sabem sobre as mais diversas esferas do

conhecimento, em uma atividade espontânea e imaginativa.

Com o lúdico, por meio dos jogos e brincadeiras, o educando encontra

apoio para superar suas dificuldades de aprendizagem, melhorando o seu

relacionamento com o mundo.

Não se pode esquecer que a brincadeira é uma linguagem infantil que

mantém um vínculo social com aquilo que é o “não brincar”. O principal indicador da

brincadeira, entre as crianças, é o papel que assumem enquanto brincam. A

brincadeira favorece a auto estima das crianças, auxiliando-as a trabalhar

progressivamente em suas aquisições de forma criativa.

Vale ressaltar que é importante conhecer as características do aprendiz,

para aprender quais são as potencialidades e dificuldades do mesmo.

A utilização dos jogos na educação é algo muito discutido: enquanto para

alguns educadores o uso do lúdico é apenas para descontrair as crianças, fazendo

com que as mesmas cheguem calmas em sala de aula para “receberem” os

conteúdos; para outros, a ludicidade leva à atitudes de indisciplina; há ainda aqueles

que acreditam na ludicidade como um meio que a educação deve buscar para

desenvolver a criatividade e o raciocínio crítico de forma prazerosa nos educandos.

(RETONDAR, 2007).

Através dos estudos de Piaget (1970 apud FURTADO, 2009), pode-se

perceber a importância do jogo para o processo de ensino e aprendizagem durante

a alfabetização. Nesse contexto o jogo é considerado como uma importante

atividade na alfabetização de crianças, uma vez que lhes permite o desenvolvimento

afetivo, motor, cognitivo, social e moral, além da aprendizagem de conceitos.

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Vygotsky (1996), também atribui relevante papel ao ato de jogar/brincar

na constituição do pensamento infantil. A criança, através da brincadeira, reproduz o

discurso externo e o internaliza, construindo seu próprio pensamento.

A linguagem, segundo Vygotsky (1996), tem importante papel no

desenvolvimento cognitivo da criança à medida que sistematiza suas experiências e

ainda colabora na organização dos processos em andamento.

A escola deve tomar o comportamento lúdico como modelo para estimular

um comportamento escolar voltado para a aprendizagem. Cabe, entretanto ao

educador, procurar desenvolver outras habilidades que possam, também, resultar

em momentos de aprendizagem, desta maneira o educando não terá apenas o jogo

como ferramenta que o estimule a compreender e a interpretar as novas situações

que o mundo, com certeza, vai oferecer.

O professor precisa trabalhar o uso dos jogos em um contexto sócio-

educacional que permita o crescimento pessoal e grupal dos educandos para que a

compreensão/contextualização das atividades e das informações compartilhadas

com os colegas e com o professor possam se converter em uma aprendizagem

ativa.

Observam-se muitas vezes jogos de regras modificados sendo usados

em sala de aula com o intuito de compartilhar e fixar conteúdos de uma disciplina, de

uma forma mais agradável e atraente para os alunos.

No entanto, não se pode esquecer que, mais do que o jogo em si, o que

vai promover uma boa aprendizagem é o clima de discussão e troca, com o

professor permitindo tentativas e respostas divergentes ou alternativas, tolerando os

erros, promovendo a sua análise e não simplesmente corrigindo-os ou avaliando o

produto final.

É claro que não existem recomendações com as quais todo o trabalho

desenvolvido pelo professor vá garantir sempre o tão desejado sucesso na

aprendizagem, mas com pesquisas constantes e um bom planejamento pode-se

almejar resultados bem positivos.

Neste ponto a figura atuante do professor se sobressai pela sua

importância já que ele poderá sugerir o uso de jogos que potencialmente estimulem

as iniciativas dos alunos, gerando pesquisas para a exploração e para a construção

de um conhecimento novo.

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Dependendo da abordagem e do preparo do profissional, o uso do lúdico

na alfabetização é um recurso tanto para avaliação como para intervenção em

processos de aprendizagem. Numa abordagem que evita atacar o sintoma de frente,

o lúdico é o recurso ideal, pois promove a ativação dos recursos da criança sem

ameaçá-la.

Piaget (1970, apud FURTADO, 2009, p. 32), afirma que:

O jogo é um tipo de atividade particularmente poderosa para o exercício da vida social e da atividade construtiva da criança. Esta afirmação fortalece a compreensão do jogo como uma atividade que congrega as pessoas e diminui as desavenças.

Numa visão educacional que procura integrar os fatores cognitivos e

afetivos que atuam nos níveis conscientes e inconscientes da conduta, não se pode

deixar de lado a importância do símbolo que age com toda sua força integradora e

auto terapêutica no jogo, atividade simbólica por excelência.

Abrir canais para o simbólico do inconsciente não é só promover a brincadeira de "faz de conta" ou o desenho. Qualquer jogo, mesmo os que envolvem regras ou uma atividade corporal, dá espaço para a imaginação, a fantasia e a projeção de conteúdos afetivos, mais ou menos conscientes, além, é claro, de toda a organização lógica que está ali implícita. (PIAGET, 1970, apud FURTADO, 2009, p. 03)

A criança ao jogar se depara com uma situação-problema gerada pelo

jogo e tenta resolvê-la, a fim de alcançar o seu objetivo (ganhar o jogo). Para tanto,

cria procedimentos, organiza-se em forma de estratégias e os avalia em função dos

resultados obtidos que podem ser bons ou maus.

Na tentativa de resolver a situação-problema, caso os procedimentos

empregados conduzam ao fracasso, o sujeito poderá experimentar conflitos e

contradições. Na medida em que avalia os resultados do jogo, busca as razões dos

mesmos.

A tomada de consciência torna-se inevitável, desencadeando

mecanismos de equilibração por meio de regulações ativas, as quais implicam

escolhas deliberadas, com efeito, novos e mais eficazes meios são criados a fim de

alcançar os objetivos propostos pelo jogo.

Neste ponto é importante o educador perceber que, ao empregar o lúdico,

o que vai proporcionar o desenvolvimento e a aprendizagem, durante a

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alfabetização, não é o jogo em si, mas a ação de jogar, que depende da

compreensão das regras do jogo.

Favorecer situações educacionais que permitam, durante a alfabetização,

uma melhor compreensão da escrita e da leitura associada a um bom

desenvolvimento cognitivo matemático vai proporcionar o pleno desenvolvimento da

aprendizagem das crianças.

Por ser o jogo a situação lúdica preferida pela criança, é necessário que o

educador possa aproveitá-lo ao máximo. Durante o jogo, ele pode observar como a

criança se expressa, a sua forma de pensar e utilizar todo o seu potencial para

tentar resolver os desafios.

Através dessa situação o professor pode descobrir quais os seus recursos

de pensamento, caminhos percorridos, reconhecimento de erros e tentativas para a

sua superação, levantamento de hipóteses, estratégias de ataque e defesa, entre

outros, para em seguida planejar melhor todo o processo de alfabetização das

crianças.

De posse destas informações e diante das observações realizadas nos

momentos em que as crianças estão desenvolvendo atividades lúdicas (inclusive as

de resolução de problemas) o professor pode desenvolver um planejamento de

modo a aperfeiçoar a sua atuação e a aumentar a sua interação com as crianças

sempre almejando a aprendizagem das mesmas.

Durante a alfabetização o lúdico é fundamental para o desenvolvimento

da criança, por isso é imprescindível que o educador proporcione situações-

problema a serem solucionadas pela criança, tais como jogo da memória, quebra

cabeças individual e por equipe, labirintos, desafios matemáticos simples, entre

outros, para que estas situações sejam revistas e analisadas, e a mesma faça uma

pausa para pensar sobre o jogo e o que pode melhorar no seu desempenho.

Por meio dessas intervenções, a criança vai percebendo, gradativamente,

que algumas de suas ações são inadequadas, sendo levada a construir outros

esquemas de ações superiores aos anteriormente adotados.

Dessa forma, a questão do erro que é tão difícil de ser trabalhada na

escola, pode, através do lúdico, ser direcionada para análise e busca de um

conjunto de ações que podem ser favoráveis à aprendizagem.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final desta pesquisa monográfica sobre a importância das atividades

lúdicas no processo de alfabetização, chega-se ao atendimento dos

questionamentos feitos no início desta pesquisa. Com relação ao primeiro

questionamento (como se dá o desenvolvimento e aprendizagem na infância?)

pode-se afirmar que promover a aprendizagem não é simplesmente desenvolver a

leitura e a escrita, ou solucionar um problema, ou dar forma a um pensamento. É,

antes de tudo, considerar as necessidades relacionadas ao desenvolvimento da

criança, tendo como foco principal a formação de sua personalidade.

O segundo questionamento (como ocorre o processo de alfabetização?) a

presente investigação respondeu ao considerar que a alfabetização acontece

através de atividades práticas de leitura e de escrita, sendo assim admite-se que a

alfabetização é fortalecida por meio das relações interativas entre os educandos e o

educador.

Já quanto ao terceiro questionamento (qual o papel do lúdico no processo

de aprendizagem na alfabetização?) a pesquisa demonstrou que por intermédio do

lúdico, a aprendizagem é ativa, dinâmica e contínua, proporcionando, desta maneira,

uma convivência que vai ligar o aprendiz à cultura e à sociedade.

Esta pesquisa faz refletir o quanto é importante que o educador

alfabetizador dos anos iniciais tenha consciência de que a educação é favorecida

pelo lúdico para a edificação pedagógica, que vai permitir à criança resolver, com

mais tranquilidade, os problemas relativos à sua escolaridade e vai prepará-la para

uma salutar convivência social.

Entretanto é preciso alertar que o estudo lúdico na alfabetização não deve

ser entendido como uma forma simples de lazer que provoca distração e sim como

uma ferramenta pedagógica que tem comprovada importância no desenvolvimento

dessa aprendizagem.

Por meio desta pesquisa é possível considerar que a utilização dos jogos

e brincadeiras na educação infantil é fator preponderante no desenvolvimento e no

aprendizado do educando, principalmente no tocante à alfabetização.

Através do brincar a criança se vê em diversas situações em que a vida

real e o concreto sozinhos não dariam conta de ensinar. As simulações ampliam o

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seu universo criativo "dando asas à imaginação", colocando-a em situações de

poder e de convívio social que talvez só fossem vivenciadas na vida adulta.

Este estudo demonstra que a brincadeira pode possibilitar uma avaliação

de valores individuais e coletivos, permitir a comparação, estimular a competição,

tornar necessária a cooperação, enfim, aspectos inerentes a cada criança são

expostos e consequentemente analisados e avaliados de forma ampla, rápida e

eficaz pelo discente.

Na alfabetização tem-se como sugestão que o lúdico pode ser

desenvolvido através de jogos, sugere-se, entretanto, que o educador desenvolva

com os seus alunos novos jogos, utilizando basicamente material alternativo, o que

os motivará mais ainda na utilização dos mesmos.

Também se apresenta a recomendação da utilização de textos variados

que poderão se constituir em excelentes recursos para incentivar a participação,

integração e comunicação dos alunos. Para tanto, propõe-se que o educador

ofereça materiais variados e interessantes e que venham a estimular a imaginação

infantil, alicerce de toda a formação teórica, pedagógica e pessoal do educando.

Importante ressaltar que os jogos, ao serem utilizados pelo educador no espaço

escolar, devem ser devidamente planejados.

Faz-se necessário também que os educadores sejam capacitados para o

trabalho com o lúdico, utilizando-o como ferramenta de ensino e aprendizagem

durante a alfabetização. Nesse contexto, cabe à escola essa capacitação e

estimulação, assim como investimento nesse procedimento.

Considera-se que os objetivos descritos no início desta investigação

foram plenamente atendidos pelas discussões enriquecidas pelas opiniões dos

estudiosos e pelas opiniões da autora no desenvolvimento dos capítulos que

estruturaram esta monografia.

Portanto espera-se que este estudo possa contribuir para um melhor

aproveitamento dos recursos lúdicos, quando aplicados ao processo de

aprendizagem na alfabetização. Porém, mais estudos são necessários para o

desenvolvimento de mais metodologias que potencializem a alfabetização infantil.

Diante das opiniões oferecidas julga-se plenamente possível que o emprego

do lúdico na escola é fundamental para a promoção de jogos (jogos das vogais,

abcdário - diferentes níveis, jogo do alfabeto, jogo da ordem dos numerais, jogo da

memória, completando a leitura, leitura em grupo, etc.). que favoreçam a

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aprendizagem, melhorando, inclusive, o desempenho da maioria dos alunos e

favorecendo, desta maneira, todo o processo de alfabetização dos mesmos.

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