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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL ELANE OLIVEIRA SILVA AS CONTRADIÇÕES DO PROGRAMA MINHA CASA, MINHA VIDA PARA O ENFRENTAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL RELATIVAS AO CONTEXTO HABITACIONAL NO MUNICÍPIO DE MARACANAÚ FORTALEZA/CE 2013

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

ELANE OLIVEIRA SILVA

AS CONTRADIÇÕES DO PROGRAMA MINHA CASA, MINHA VIDA

PARA O ENFRENTAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO

SOCIAL RELATIVAS AO CONTEXTO HABITACIONAL NO

MUNICÍPIO DE MARACANAÚ

FORTALEZA/CE 2013

ELANE OLIVEIRA SILVA

AS CONTRADIÇÕES DO PROGRAMA MINHA CASA, MINHA VIDA

PARA O ENFRENTAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO

SOCIAL RELATIVAS AO CONTEXTO HABITACIONAL NO

MUNICÍPIO DE MARACANAÚ

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Serviço Social a Faculdade Cearense - FaC, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel. Orientadora: Profª Ms.Priscila Nottingham de Lima

FORTALEZA/CE 2013

AGRADECIMENTOS

Primeiramente eu agradeço a Deus, que sempre esteve ao meu lado, me deu

forças e sabedoria ao longo desta caminhada.

Aos meus pais, Lúcia e Claudio, por ter me ensinado a ser quem sou; pelo

amor a mim dedicado durante toda a vida.

Ao meu esposo Bruno, que carinhosamente compreendeu minhas ausências

ao longo da construção deste trabalho, me motivou e apoiou em momentos difíceis

desta caminhada.

A minha orientadora, Profª Ms.Priscila Nottingham de Lima, pela atenção,

dedicação e pela experiência teórica e prática que a mim dedicou na construção do

presente trabalho, por sua competência, paciência e atenção neste momento.

As minhas colegas de sala que juntas podemos compartilhar nossas aflições

e angustias ao longo desses 04 anos, que sempre estiveram ao meu lado, me

ajudando e me apoiando, em especial minha amiga Sumara Frota que esteve

sempre comigo me ajudou a superar todos os obstáculos amizade essa que a cada

dia só veio a se fortalecer ultrapassando os âmbitos acadêmicos.

A toda equipe da Coordenadoria de Habitação pela confiança e oportunidade

de aprendizado durante o período de estágio na instituição. Em especial a

Coordenadora Elisier Pinheiro que sempre confiou em meu trabalho bem como as

demais Assistentes socais que contribuíram para meu crescimento acadêmico.

A kilvia Cintia que sempre me ajudou nas horas mais angustiantes ao logo do

estagio e ao longo da construção do presente trabalho, excelente profissional que

levarei de exemplo no meu exercício profissional.

Aos professores da Instituição, pelo acolhimento e disponibilidade sempre

generosa.

Quero agradecer também as professoras e mestres Andréa Cialdine e Ana

Paula Pereira pela honra de aceitarem o convite de participar desta banca e deste

momento tão importante da minha vida.

Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar.

Clarice Lispector

RESUMO O presente trabalho tem por objetivo contribuir para uma análise da conjuntura política do Programa Minha Casa, Minha Vida na contemporaneidade, no contexto do município de Maracanaú, junto aos moradores da comunidade Virgílio Távora III, através da Coordenadoria de Habitação. Tendo o trabalho como categorias centrais a assistência, o programa Minha Casa, Minha vida e a cidadania. Abordaremos o breve histórico da política de habitação no Brasil e Ceará, a dinâmica da Coordenadoria de Habitação do município, bem como a trajetória do Trabalho Técnico Social na entrega das unidades habitacionais. A defesa da cidadania e da participação popular referente a entrega de unidades habitacionais e ao direito da habitação, relatando também a pesquisa de campo na comunidade Virgílio Távora III, e as análises qualitativas no cenário sócio geográfico da referida comunidade. A investigação realizada é do tipo qualitativa, com dados coletados a partir de pesquisa bibliográfica. As escolhas metodológicas aconteceram por meio da pesquisa de campo e documental, tendo como instrumentais de pesquisa a entrevista e a aplicação de questionários com as famílias beneficiadas pelo programa. Trazendo as análises e os resultados no comprometimento da cidadania e da participação popular, bem como o comprometimento da ação da unidade habitacional e do Governo e as assistentes sociais frente ao trabalho social desenvolvido na comunidade na comprovação dos seus direitos. Os resultados da pesquisa proporcionaram a conhecer como são vistas as políticas de habitação pelos entrevistados, bem como a importância de participar de um programa para adquirir uma unidade habitacional beneficiando o usuário que necessita daquele imóvel e uma casa adequada para os mesmos e como a instituições que realiza todo processo e os colaboradores estão na ativa para ajudar na conquista de uma unidade para esses usuários. Palavras-chaves: Política Nacional de Habitação, Programa Minha casa, Minha Vida e Cidadania.

ABSTRACT

This work aims to contribute to an analysis of the political situation of the Minha Casa Minha Vida program in contemporary times, in the context of Maracanaú , with residents of the community Virgilio Tavora III by Housing Coordinator . With work as central categories assistance, the program my house, my life and citizenship. Discuss the brief history of housing policy in Brazil and Ceará , the dynamics of the Coordinator of Housing municipality as well as the trajectory of Social Work Technician in the delivery of housing units . The defense of citizenship and popular participation for the delivery of housing units and the right to housing, also reporting field research community Virgilio Tavora III , and qualitative analyzes in geographic community partner of that scenario . The research is a qualitative approach, with data collected from the literature. The methodological choices occurred through field research and documentary, with the instrumental research interviews and questionnaires with families benefited from the program. Bringing the analyzes and results in impairment of citizenship and popular participation as well as the commitment of the action of the housing unit and the Government and social workers across the social work community in proof of his rights . The survey results provided to know how they are viewed housing policies by the interviewees as well as the importance of participating in a program to purchase a housing unit benefiting the user of that property and you need a proper home for them and how the institutions performs all process and employees are active to help in the conquest of a drive for those users. Keywords: National Housing Policy, My House, My Life and Citizenship Programme.

LISTA DE SIGLAS

BNH - Banco Nacional da Habitação

CADÚNICO - Cadastro Único

CAIXA - Caixa Econômica Federal

CF - Constituição Federal

CFH - Conselho Federal de Habitação

COAHB - Companhia de Habitação Popular

CP - Carteiras Prediais

CRAS - Centro de Referencia de Assistência Social

FCP - Fundação da Casa Popular

FGTS - Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

PAC - Programa de Aceleração do Crescimento

PETI - Programa de Erradicação Infantil

PLANHAP - Plano Nacional de Habitação Popular

PMCMV - Programa Minha Casa Minha Vida

PNH - Política Nacional de Habitação

PROFILURB - Programa de Lotes Urbanizados

PROMORAR - Programa de Erradicação de Sub-habitação

PSF - Programa de Saúde da Família

SBPE - Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo

SDU - Secretaria de Desenvolvimento Urbano

SEAC - Secretaria Especial de Habitação e Ação Comunitária

SEINFRA - Secretaria de Infra - Estrutura

SEMAM - Secretaria de Meio Ambiente e Controle Urbano

SFH - Sistema Financeiro da Habitação

SRF - Serviço de Recuperação de Favela

LISTA DE QUADROS

Quadro 01: Critérios Nacionais e Locais

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Área comum do empreendimento

Figura 2: Área comum do empreendimento

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 01 - Estado civil dos titulares

GRÁFICO 02 - Sexo dos chefes das famílias

GRÁFICO 03 - Renda dos chefes das famílias x sexo

GRÁFICO 04 - Situação trabalhista x Sexo dos chefes das famílias

GRÁFICO 05 - Composição familiar

GRÀFICO 06 - Pessoas com deficiência

LISTA DE TABELAS

TABELA 01 - Escolaridade dos chefes de família

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................14 1. PERCURSO METODOLÓGICO ...........................................................................16

1.1 Aspectos referentes ao Lócus da Pesquisa ...................................................18

1.2 O Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV)........................................... 20

1.3 Cadastramento da demanda habitacional .................................................... 22

1.4 Critérios de seleção no Programa Minha Casa, Minha Vida ........................ 24

1.4.1. Conhecendo Empreendimento Residencial Virgílio Távora III ..................... 25

1.4.2. Caracterização da População Beneficiária ................................................... 27

2. Contextualizando a Política Habitacional em suas diversas faces ............. 34

2.1. Trabalho técnico social frente à demanda Habitacional.................................. 48

3. DA ESPERANÇA A DECEPÇÃO ..................................................................... 52

3.1 As contradições do Programa Minha Casa, Minha Vida na vida dos Usuários do

Residencial Virgílio Távora III. ................................................................................ 52

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 69 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ..................................................................... 71 APÊNDICE ............................................................................................................ 77 Apêndice A – Roteiro de Entrevistas semi – estruturada aplicada aos moradores e

beneficiados............................................................................................................ 77

Apêndice B - Roteiro de Entrevistas semi – estruturada aplicada às técnicas da

SEINFRA – COHAB ............................................................................................... 78

Apêndice C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................................. 79

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo contribuir para uma análise da

conjuntura do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida na

contemporaneidade no contexto do Município de Maracanaú, junto aos moradores

da comunidade do conjunto Virgílio Távora III através da Coordenadoria de

Habitação de Maracanaú – SEINFRA.

Para uma compreensão da temática de habitação, pontuaremos um breve

relato da política habitacional no Brasil no segundo capítulo deste ensaio

monográfico, a partir do ano de 1930 discorrendo até a atualidade. Mas adiante

falaremos de um dos programas interligados a habitação, o programa Minha Casa

Minha Vida-MCMV (Lei nº 11.977/2009) que é objeto de análise da nossa temática,

foi formulado pela Secretaria Nacional de Habitação e surge no âmbito dessa nova

conjuntura institucional.

Atualmente o programa Minha Casa Minha Vida, é o programa de moradia

popular, que visa atender um milhão de famílias de baixa renda, mediante a

construção de moradias. O programa tem objetivo de proporcionar a aquisição de

empreendimentos habitacionais de moradia popular na planta, para famílias com

renda bruta de até três salários mínimos, cabem às prefeituras municipais o

cadastramento das famílias interessadas, o acompanhamento no processo de

entregas das unidades e o pós-obra, que compreende a implementação dos

trabalhos técnicos sociais. E nessa atual conjuntura que se objetiva a pesquisa na

percepção dos usuários do Residencial Virgilio Távora III sobre a entrega da unidade

habitacional pelo programa Minha Casa, Minha Vida.

O interesse pela temática da habitação ocorreu através do estágio que

realizamos na Coordenadoria de Habitação da Prefeitura de Maracanaú, vinculada a

Secretária de Infra Estrutura e Controle Urbano, que é a unidade executora dos

programas de habitação no município. A relevância desta pesquisa reside na

necessidade de uma melhor análise da compreensão em relação aos usuários

beneficiados pelo programa a Política habitacional buscando uma maior

15

compreensão da execução dos seus direitos que permite a afirmação da cidadania e

transparência na aplicação dos recursos públicos.

As ações acontecem junto aos moradores do empreendimento Virgilio Távora

III, localiza-se no loteamento Parque Tijuca, bairro Cágado no município de

Maracanaú pertence ao Cartório de Registros de Imóveis da 2º Zona, do 2º Oficio de

Registro de Imóveis de Maracanaú- CE. O empreendimento é composto por 224

unidades habitacionais, tendo como perfil marcante famílias com renda de 0 a 2

salários mínimos e as mulheres como chefes de família.

Para este estudo temos como objetivos específicos: Identificar qual era a

realidade de habitação dos usuários anterior ao programa; Conhecer o perfil

socioeconômico das famílias beneficiadas com o empreendimento habitacional;

Identificar as mudanças que o Programa Habitacional possa ter propiciado na vida

das famílias beneficiadas.

O presente trabalho monográfico foi divido em três capítulos sendo o primeiro

sobre o percurso metodológico, o segundo trata do contexto histórico da política

habitacional no Brasil a partir do Governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva

(2002-2010), até a atualidade, e o Terceiro capítulo contemplou o campo da

pesquisa e as análises qualitativas, construídas através da pesquisa de campo

realizada na comunidade Virgílio Távora III, bem como o percurso metodológico

trabalhado para a obtenção dos dados. Para a aplicação da pesquisa utilizamos a

entrevista semiestruturada.

16

1. PERCURSO METODOLÓGICO

O interesse pela temática da habitação ocorreu através do estágio que

realizamos na Coordenadoria de Habitação da Prefeitura de Maracanaú, vinculada a

Secretária de Infra Estrutura e Controle Urbano, que é a unidade executora dos

programas de habitação no município, sendo o Serviço Social o setor responsável

pelo acompanhamento e o trabalho técnico social para implementação dos projetos

habitacionais.

A relevância em pesquisar esta temática originou-se ao longo das

experiências vivenciadas durante um ano e oito meses, sendo possível manter

contato com as famílias usuárias do programa habitacional do município desde sua

identificação a partir de encaminhamentos do Centro de Referência da Assistência

Social – (CRAS) e da Defesa Civil, até á entrega dos imóveis. Tornando-se possível

compreender a dinâmica dessas famílias e acompanhar a espera delas até

receberem o apartamento. Desta forma, o presente trabalho contribui para uma

análise da conjuntura política do Programa Minha Casa, Minha Vida na

contemporaneidade, no contexto do município de Maracanaú.

A pesquisa proposta possui natureza qualitativa que é própria das ciências

sociais, onde considera que o nível da realidade não pode ser quantificado, portanto

leva-se em consideração a interpretação de aspectos subjetivos. Segundo Minayo

“[...] a pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos,

aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais

profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser

reduzidos à operacionalização de variáveis”, pois nas ciências sociais os

pesquisadores, ao empregarem métodos qualitativos, estão preocupados mais com

o processo social do que com a estrutura social, buscando entender e explicar o

contexto e os fatores determinantes para a compreensão do mesmo. (MINAYO,

1994, p.10)

A metodologia que será utilizada na realização da presente pesquisa contará

com a pesquisa bibliográfica, através de levantamentos bibliográficos sobre os

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seguintes temas: Habitação, Assistência e Programa Minha Casa, Minha Vida.

Segundo Gil 2002, através da pesquisa bibliográfica “[...] é possível ao investigador

à cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que

poderia pesquisar diretamente”. Assim, por meio da pesquisa bibliográfica analisarei

várias publicações, já que a sua finalidade é colocar o pesquisador em contato com

o que já se produziu e registrou a respeito do seu tema de pesquisa. (GIL, 2002,

p.65).

Também utilizarei a pesquisa documental, que conforme Pádua (1997) é

compreendida como aqueles realizados a partir de documentos, contemporâneos ou

retrospectivos, considerados cientificamente autênticos (p.62). Para Souza todo e

qualquer trabalho acadêmico requer um conhecimento sobre os livros, artigos,

periódicos de modo impresso, eletrônico, sendo imprescindível um processo

metodológico, certo caminho a seguir, como forma de ser racional e econômica para

aquele que realiza a pesquisa. (SOUZA, 2001, p.59).

Nesse sentido, analisaremos registros produzidos pelos profissionais da

instituição, tais como: atas, relatórios, diagnóstico social, encaminhamentos, Gil

(2002) afirma que a pesquisa documental apresenta uma série de vantagens.

“Primeiramente, há que considerar que os documentos constituem fonte rica e

estável de dados. Como os documentos subsistem ao longo do tempo, torna-se a

mais importante fonte de dados em qualquer pesquisa de natureza histórica.”

Para o universo de amostra desta pesquisa serão trabalhados dois grupos: o

primeiro grupo compreende as famílias que antes moravam na colônia Antônio Justa

na qual caracteriza-se como área de risco e o segundo grupo compreende as

assistentes sociais que trabalham no órgão da Secretaria de Infra Estrutura

(SEINFRA) incluindo a técnica do empreendimento ressaltando que a mesma

também é assistente social. Realizarei a coleta dos dados, através de entrevistas

semiestruturadas. Conforme Triviños (1987) a “entrevista semiestruturada tem como

característica questionamentos básicos que são apoiados em teorias e hipóteses

que se relacionam ao tema da pesquisa” (p.146). Logo, será possível identificar que

mudanças o PMCMV trouxe para suas vidas, pois a entrevista semiestruturada

possibilitará recolher dados qualitativos comparáveis, tornando-se possível

apreender, de forma mais profunda, a realidade vivenciada por essas famílias.

18

Segundo Mattos (2005, p. 48) o investigador tem uma lista de questões ou

tópicos para serem preenchidos ou respondidos, como se fosse um guia. Já May

(2004) afirma que a diferença central “é o seu caráter aberto”, ou seja, o entrevistado

responde as perguntas dentro de sua concepção, mas, não se trata de deixá-lo falar

livremente. O pesquisador não deve perder de vista o seu foco. Gil (1999, p. 120)

explica que “o entrevistador permite ao entrevistado falar livremente sobre o

assunto, mas, quando este se desvia do tema original, esforça-se para a sua

retomada”. Percebe-se que nesta técnica, o pesquisador não pode se utilizar de

outros entrevistadores para realizar a entrevista mesmo porque, faz-se necessário

um bom conhecimento do assunto.

Na pesquisa de campo, segundo Gil, “o pesquisador realiza a maior parte do

trabalho pessoalmente, pois é enfatizada a importância de o pesquisador ter tido ele

mesmo uma experiência direta com a situação de estudo” (GIL, 2002, p. 53).

Portanto, a pesquisa de campo será realizada através da observação participante,

caracterizada pela participação real do pesquisador com a comunidade ou grupo.

Para Mann (1996) a observação participante é uma tentativa de colocar o

observador e o observado do mesmo lado, tornando-se o observador um membro do

grupo de modo que vivem e trabalham dentro do sistema.

Assim, o intuito desse trabalho é analisar as repercussões do Programa

Minha Casa, Minha Vida na realidade dos usuários, considerando que o direito a

moradia compreende muito mais que uma unidade habitacional, entende-se que a

garantia da segurança habitacional pode promover mudanças profundas e

significativas tanto no modo de relacionamento entre os membros do grupo familiar,

quanto na sociedade na qual estão inseridos, resgatando vínculos, autoestima e

possibilitando o exercício da cidadania dos sujeitos envolvidos.

1.1 Aspectos referentes ao Lócus da Pesquisa.

O campo selecionado para o estudo proposto, conforme anteriormente

mencionado, trata-se da Coordenadoria de Habitação da Prefeitura Municipal de

Maracanaú, localizada na Avenida III, nº 268 – Jereissati I, na qual foi criada pela

19

Secretaria de Obras no ano de 2005, devido ao alto índice de famílias residindo em

locais impróprios para moradia e principalmente pela pressão dos movimentos

sociais.

A Coordenadoria de Habitação (COHAB), de acordo com dados do guia

institucional (2013), tem como missão efetivar o direito à moradia digna para os

moradores de baixa renda em Maracanaú. Atualmente, a COHAB tem como objetivo

dar resposta ao déficit habitacional de Maracanaú, através de programas que visam

à provisão de habitações.

Para responder a esse déficit habitacional, em 2009, foi criado o Programa

Minha Casa Minha Vida (PMCMV), programa do governo federal, que visa atender a

população desprovida de recursos para obtenção de uma moradia própria. Com

esse objetivo, a COHAB tem trabalhado para identificar as famílias que necessitam

de moradia com a finalidade de encaminhá-las ao PMCMV. A política geral adotada

pela instituição é a de habitação, em consonância com a Política Nacional de

Habitação. Essa política foi uma conquista do governo Lula, construção inspirada na

tese desenvolvida no 1Projeto Moradia, elaborado no ano 2000. Essa mesma tese

prevê também a construção do Ministério das Cidades e a elaboração de uma

política urbana com propostas como: saneamento, transporte/trânsito, planejamento

estratégico além da habitação (MARICATO, 2003, 20).

Nessa perspectiva, a Política Nacional de Habitação tem como componentes

principais: a integração urbana de assentamentos precários, urbanização,

regularização fundiária, a provisão de habitação e a integração da política de

habitação à política de desenvolvimento urbano, que definem as linhas mestras de

sua ação. A elaboração e implementação da PNH obedecem a princípios e diretrizes

que têm como principal meta garantir a população, especialmente a de baixa renda,

o acesso à habitação digna, e considera fundamental para atingir seus objetivos a

integração entre a política habitacional e a política nacional de desenvolvimento

urbano.

1 O projeto Moradia é um projeto que inclui uma proposta para reconstruir as nossas cidades deterioradas pela ocupação irregular do solo, que é resultado da falta de alternativas habitacionais para a maior parte da população. Enchentes, desmoronamentos, poluição dos recursos hídricos, erosões, violência, são acontecimentos que viraram rotina no Brasil urbano. Projeto Moradia aponta mecanismos para baratear a produção e facilitar o acesso ao crédito para as camadas médias e baixas. E, necessariamente, para subsidiar a moradia dos mais pobres, que não têm renda suficiente para pagar por ela.

20

O Plano Nacional de Habitação, desenvolvido pela Secretaria Nacional de

Habitação, estabelece metas de médio e longo prazo; as linhas de financiamento e

os programas de provisão, urbanização e modernização da produção habitacional a

serem implementadas a partir das prioridades regionais de intervenção e critérios

para a distribuição regional de recursos, de acordo com o déficit habitacional de

cada estado e município.

A expressão da questão social que sofre intervenção do Serviço Social é a

da falta de moradia adequada para os moradores de Maracanaú. Diariamente,

realizamos atendimento e visitas domiciliares que refletem a variedade de problemas

referentes à moradia inadequada: casas com péssima estrutura e sem as mínimas

condições de higiene, casas sem banheiro, barracos, casas de taipa, aluguéis caros,

coabitação, casa cedida, enfim, situações que afligem uma parte considerável da

população e que consiste em um problema importante e decisivo.

No momento, estão em andamento os seguintes projetos:

Minha Casa Minha Vida: tem o objetivo de atender as necessidades de

habitação da população de baixa renda, garantindo o acesso à

moradia digna com padrões mínimos de sustentabilidade, segurança e

habitabilidade. Atualmente, está sendo desenvolvidos três projetos

dentro do Programa Minha Casa Minha Vida: Residencial Blanchard

Girão no Parque Jari, Residencial Virgílio Távora no Parque Tijuca e

Residencial Demócrito Dummar no Timbó.

Aluguel Social: que tem o objetivo de prover, em caráter provisório,

moradias as famílias vítimas de desastres naturais ou cujas moradias

estejam sob eminente desabamento, ou ofereçam riscos para a família;

1.2 O Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV).

Em reação à crise financeira internacional de 2008, o Governo tomou uma

série de medidas anticíclicas para manter o ritmo do crescimento econômico do país,

estimulando notadamente o setor da construção civil. Neste contexto, o governo

federal, em julho de 2009, através da Lei 11.977, lança o Programa Minha Casa

21

Minha Vida – PMCMV. Este, operacionalizado pela CAIXA, representa um marco na

política de acesso à moradia, articulando ações do governo federal em parceria com

os estados, municípios e iniciativa privada.

A Caixa Econômica Federal é a executora do Programa, tendo como função

a elaboração e execução dos contratos de repasse de recurso, bem como o

acompanhamento físico e social da obra. À Prefeitura coube executar os trabalhos

necessários à consecução do objeto contratado, observando critérios de qualidade

técnica, os prazos e os custos previstos contratualmente e prestar contas dos

recursos transferidos pela União.

De acordo com Holanda (2011) a situação de pobreza de grande parte da

população impede que o problema habitacional seja resolvido pelo mercado. Assim,

a ocupação irregular de terrenos, públicos ou privados para construção de casas

populares colocam-se como alternativa, desenhando a trajetória da luta pela

moradia popular. Em complemento, Rodrigues (1992, p.12) afirma que “morar, é

uma necessidade básica dos indivíduos, é no interior da casa que se realizam outras

necessidades, é na casa onde se dorme, tem-se privacidade, faz-se as refeições,

realiza-se a higiene pessoal, etc.”

A esse respeito Silva (1992) afirma que:

Parte importante dos segmentos sociais de baixa renda, ou mesmo os sem renda, não têm acesso à habitação em forma de mercadoria do setor formal da economia, esta compreendida como uma habitação que tenha ao mesmo tempo valor de uso e valor de troca. Assim, este contingente que constitui parte do exército industrial de reserva, soluciona ao seu modo este problema, optando, ou melhor, dizendo, acatando para si a única via possível de se manter na cidade abrigado. (SILVA, 1992: 104).

O PMCMV promove a construção de novas unidades habitacionais,

impulsionando a economia e oferecendo novas oportunidades de desenvolvimento

para o país. Essas habitações são voltadas às camadas da população com baixa

renda, dispondo de relevantes subsídios, principalmente para a faixa de 0 a 3

salários mínimos. Imóveis antes inalcançáveis a esta faixa de renda familiar

tornaram-se possíveis em decorrência dos subsídios que representam, hoje, até

88% do valor do imóvel.

22

No Brasil, foram contratados mais de um 1,5 milhões de unidades

habitacionais de abril de 2009 até abril de 2013. Estas obras geram cada vez mais

milhares de empregos e representam uma significativa contribuição para o

aceleramento da economia, diminuindo os efeitos da crise financeira internacional no

Brasil. Assim as rendas familiares exigidas para a liberação do subsídio dividiram-se

em três categorias: famílias com renda até três salários mínimos cujo subsídio é

integral, famílias com renda de três a seis salários mínimos e as famílias com renda

de seis a dez salários mínimos.

Segundo a Lei 11.977(2009) terão como prioridades de beneficiamento as

famílias: residentes em áreas de risco ou insalubres ou que tenham sido

desabrigadas, famílias com mulheres responsáveis pela unidade familiar e as

famílias que façam parte pessoas com deficiência. O objetivo principal do PMCMV é

diminuir o valor da prestação da casa própria, proporcionando que as famílias

possam pagar as prestações. Os Estados, municípios e o Distrito Federal serão

responsáveis pelo recrutamento e seleção das famílias bem como a execução do

trabalho técnico social e pós-ocupação dos empreendimentos implantados.

1.3 Cadastramento da demanda habitacional.

De acordo com Braúna (2010), a política de habitação de Maracanaú deu-se

a partir da década de 1990, com criação de mutirões no município, que realizaram a

construção de empreendimentos habitacionais com recursos federais e municipais,

provendo1182 moradias. As ações de enfrentamento dessa questão se deram

através da adesão aos programas do governo que são orientados pela Política

Nacional de Habitação - PNH.

Segundo os dados da Coordenadoria de Habitação, no período de 2005 a

2008, foram realizados vários levantamentos, visitas domiciliares e aplicação de

fichas cadastrais junto às famílias em situação de vulnerabilidade habitacional,

oriundas de inúmeras áreas do município. Também foi realizado mapeamento da

necessidade habitacional através da demanda espontânea2. Dessa forma,

2 Usuários que procuram a Coordenadoria de Habitação por iniciativa própria, objetivando a inclusão nos

programas habitacionais municipais.

23

identificou-se a demanda de 1.888 (um mil, oitocentos e oitenta e oito) cadastros,

conforme registros da Coordenadoria de Habitação.

Conforme os dados do Diagnostico Social de Maracanaú (2011), a

Prefeitura Municipal de Maracanaú efetuou, no período de maio a agosto de 2009, o

cadastramento das pessoas interessadas em participar do Programa Minha Casa

Minha Vida. O público selecionado para o empreendimento Virgílio Távora I, II e III é

oriundo dos seguintes bairros: Parque Tijuca, Jaçanaú, Mucunã,Cágado e Luzardo

Viana. Vale ressaltar que as áreas anteriormente citadas compreendem realidades

críticas, ou seja, áreas nas quais as famílias estão expostas a vários tipos de riscos

(físicos e sociais), sendo apontados como os principais: desabamentos, inundações

causadas pelas chuvas, bem como a precariedade das edificações devido ao

material utilizado para a construção dos imóveis (madeira, plástico).

Para coleta de dados sobre os referidos beneficiários, foi adotado um

formulário padrão, aplicado por ocasião de visitas domiciliares e/ou entrevistas

individuais, objetivando apreender o perfil básico das famílias, as condições de

moradia, assim como a infraestrutura urbana acessível à comunidade. Também foi

adotada a estratégia de observação "in loco” 3, constituindo-se num relevante

período para apreciação mais aprofundada das condições de vida, moradia e

sociabilidade da população Maracanauenses. Essas informações são coletadas e

analisadas de modo objetivo e subjetivo, haja vista que o objeto de estudo em

questão não se reduz somente a números, mas valores e visões de mundo que lhes

são próprios.

No ano de 2002, no município de Maracanaú, foi implantado o CADÚNICO,

que ficou sob jurisdição da Secretaria de Assistência Social e Cidadania. O referido

cadastro apresenta a situação socioeconômica da população da cidade, por meio de

recursos, tais como: mapeamento e identificação das famílias de baixa renda. Essas

informações constantes no banco de dados do CADÚNICO possibilitam a

identificação das famílias residentes em áreas adjacentes ao empreendimento,

contribuindo, de forma imprescindível para o mapeamento da demanda habitacional

3 "in loco" (latim) significa "no local". Disponível em: http://br.answers.yahoo.com/question. Acesso dia

04/09/2013 às 15h00min h.

24

do município, complementando o quantitativo já identificado pela Coordenadoria de

Habitação.

Vale frisar que para as famílias cadastradas pelo CADÚNICO do município

que necessitavam de moradia adotou-se a estratégia de analisá-las segundo os

critérios de prioridade (como por exemplo: pessoas idosas, pessoas com deficiência,

famílias chefiadas por mulheres, dentre outros), verificado pela equipe social dos

respectivos órgãos, a saber: Secretaria de Assistência Social e Coordenadoria de

Habitação.

No que se refere às demandas do município, vale frisar que atualmente há

mais de 8.030 (oito mil e trinta) famílias cadastradas. Destas 1.712 (um mil e

setecentos) será contemplada com unidades habitacional em cinco

empreendimentos4 destes já foram entregues os seguintes residenciais: Virgílio

Távora I, II e III, residencial Jornalista Blanchard Girão e o residencial Napoleão

Bonaparte, futuramente será entregue o residencial Demócrito Dummar I, II e III do

Programa Minha Casa, Minha Vida em andamento no município.

1.4 Critérios de seleção no Programa Minha Casa, Minha Vida.

É necessário que as famílias beneficiadas, no âmbito do Programa Minha

Casa, Minha Vida, atendam, obrigatoriamente, aos critérios de elegibilidade,

nacionais da Portaria 610 do Ministério das Cidades, de 26 de dezembro de 2011 e

as locais da Resolução Administrativa nº29, do Conselho Municipal de Habitação de

Interesse Social de Maracanaú, de 26 de fevereiro de 2013, como demonstra no

quadro 01 a seguir:

Quadro 01:

Critérios nacionais Critérios Locais:

4 Residencial Virgílio Távora, localizado no Parque Tijuca; Residencial Jornalista Demócrito Dummar,

no Timbó, Residencial Jornalista Blanchard Girão, localizado no Jari e Residencial Napoleão Bonaparte, localizado no Luzardo Viana.

25

Famílias residentes em áreas de risco ou

insalubres ou que tenham sido

desabrigadas

Famílias que apresentam forma de

ocupação do imóvel do tipo aluguel

oneroso ao orçamento familiar ou

situação de coabitação ou moradia

cedida;

Famílias com mulheres responsáveis

pela unidade familiar

Famílias que residam ou trabalhem

próximo ao empreendimento;

Famílias de que façam parte pessoas

com deficiência.

Famílias que se encontram em

situação de vulnerabilidade social e

que recebam acompanhamento

socioassistencial.

1.4.1. Conhecendo Empreendimento Residencial Virgílio Távora III.

O residencial multifamiliar de interesse social Virgílio Távora III,

implementado através do Programa Minha Casa, Minha Vida, localiza-se no

loteamento Parque Tijuca, bairro Cágado, no município de Maracanaú/CE,

compreendendo área total de 13.539,30 m² e área total construída de 9.854,91m².

Segundo a Caixa Econômica Federal, no que se refere à descrição estrutural

o empreendimento Virgilio Távora III, estrutura-se da seguinte forma: O

empreendimento é composto por 224 (duzentos e vinte e quatro) unidades

habitacionais, distribuídos em 28 (vinte e oito) blocos. Cada bloco é composto de 08

(oito) apartamentos com padrão popular, sendo 04 (quatro) no pavimento térreo e 04

(quatro) no pavimento superior. Todos os blocos estão enumerados de 01 (um) a 28

(vinte e oito). A área física do apartamento é composta de: sala, cozinha, banheiro e

02 (dois) quartos. Possui vagas para estacionamento rotativo de carro e moto,

consta uma área de lazer, parquinho e campo de futebol. Como veremos a seguir

nas fotos meramente ilustrativa da área física, retirada durante reunião de

assembleia mensal.

26

Figura 1: Área comum do empreendimento

FONTE: Coordenadoria de Habitação de Maracanaú 2012.

Figura 2: Área comum do empreendimento

FONTE: Coordenadoria de Habitação de Maracanaú 2012.

27

Segundo a prefeitura municipal de Maracanaú a comunidade é

atendida pelos seguintes equipamentos: Educação: foram disponibilizadas 04

(quatro) escolas municipais e 01 (uma) estadual. Saúde: foram

disponibilizados 01 (um) posto de saúde, 01(uma) equipe do Programa de

saúde da família – PSF. Assistência: foi disponibilizado o Centro de Referência

de Assistência Social – CRAS Mucunã e 01 (um) Pólo ABC do Luzardo Viana.

Segurança: foi disponibilizado 01 (uma) equipe do Ronda do Quarteirão. Para

melhor compreensão das informações, segue abaixo fotografias do

empreendimento durante a realização de atividades pré-contratuais.

1.4.2. Caracterização da População Beneficiária

Os dados apresentados a seguir estão de acordo com o Diagnóstico

Social (2012) do próprio empreendimento, que foram tabulados a partir dos

cadastrados socioeconômicos e organizados por eixos, possibilitando a

elaboração do perfil das famílias beneficiárias e, portanto, a apreensão da

realidade social destas. Dentre os eixos trabalhados têm-se: estado civil,

profissão, renda, sexo, escolaridade e etc.

Frente à multiplicidade da estrutura familiar contemporânea, cabe

destacar a importância do perfil sócio familiar para subsidiar a elaboração do

trabalho técnico social.

GRÁFICO 01 – ESTADO CIVIL DOS TITULARES

28

87

15

42

16,27%

50,58%

8,73%

24,42%

0 20 40 60 80 100

União estável

Solteiro

Separado

Casado

Estado civil dos titulares

28

FONTE: Cadastro Socioeconômico Virgílio Távora – Maracanaú/2012

No que se referem ao estado civil dos beneficiários titulares, os dados

revelam que os solteiros são a parcela mais significativa da amostra,

representados por 50,58%, reafirmando a condição prioritária dada às

mulheres chefes de família no momento do processo seletivo, já que do total de

responsáveis pela unidade familiar, 95,35% destes são do sexo feminino.

Ressalta-se que o número de casados também é relevante na amostragem,

caracterizado por 24,42% do total, seguido pelos casais em união estável com

16,27%.

TABELA 01 – ESCOLARIDADE DOS CHEFES DE FAMÍLIA

Escolaridade dos chefes de família

ESPECIFICAÇÃO QUANTIDADE %

NÃO ALFABETIZADO 04 2.32

ALFABETIZADO 03 1,70

FUNDAMENTAL

INCOMPLETO 70 40,70

FUNDAMENTAL

COMPLETO 18 10,46

MÉDIO INCOMPLETO 29 16,86

MÉDIO COMPLETO 47 27,32

SUPERIOR

COMPLETO 01 0,58

TOTAL 172 100,00%

FONTE: Cadastro Socioeconômico Virgílio Távora – Maracanaú/2012

29

A tabela acima revela dados preocupantes no que tange a escolaridade

dos responsáveis pela unidade familiar, principalmente, que possuem

predominantemente apenas o nível fundamental incompleto. Ou seja, partir da

tabulação, identificou-se que 40,7% da amostra não concluíram o ensino

fundamental (1° ao 9° ano).

Portanto, partindo do pressuposto de que as mulheres representam o

maior percentual de titularidade dos imóveis (95,35%), logo, a não conclusão

do ensino fundamental afeta, consideravelmente, o sexo feminino,

evidenciando relações desiguais de gênero neste contexto. Igualmente, essa

condição as impossibilita de prosseguir nos demais níveis escolares (médio,

superior, etc.) e obter melhores oportunidades no mercado de trabalho.

Salienta-se ainda que, a dificuldade de ingressar no ensino de

qualidade e a necessidade de inserção precoce no mercado de trabalho

contribuem para que as pessoas interrompam e/ou abandonem os estudos. Por

conseguinte, a falta e/ou pouca qualificação profissional, decorrentes da

reduzida escolaridade ou ausência desta, não favorecem a melhoria das

condições de vida da população em análise.

GRÁFICO 02 – SEXO DOS CHEFES DE FAMÍLIA

FONTE: Cadastro Socioeconômico Virgílio Távora – Maracanaú/2012.

FEMININO

MASCULINO

0

100

200 164

8

95,35

4,65

SEXO COM CHEFES DE FAMÍLIA

QUANTIDADE

%

30

Os titulares do sexo feminino representam o maior quantitativo da

amostragem totalizando 95,35%. Constata-se, desta forma, que o critério de

priorização das mulheres chefes de família foi amplamente atendido, conforme

preconizado pela Portaria 610/2010 do Ministério das Cidades.

Vale frisar que os homens referidos na tabela infracitada representam,

prioritariamente, contingentes vulneráveis da sociedade, a saber, moradores de

ocupações irregulares ou em situação de rua, idosos e pessoas com

deficiência. Há também casos em que o marido/companheiro configura-se

como responsável familiar no CADÚNICO e, por conseguinte constitui-se no

titular do PMCMV.

GRÁFICO 03- RENDA DOS CHEFES DE FAMÍLIA X SEXO

FONTE: Cadastro socioeconômico Virgílio Távora – Maracanaú/2012.

Conforme dados apresentados, percebe-se a significativa participação

feminina enquanto provedora da família. Portanto, vislumbram-se aspectos da

emancipação feminina, embora se evidencie, concomitantemente, a

precariedade das relações trabalhistas, uma vez que, as mulheres

responsáveis pela unidade familiar recebem mensalmente até 1 (um) salário

mínimo.

0% 20% 40% 60% 80%

100%

Até 0,5 SM

0,5 a 1 SM

1 a 2 SM

2 a 3 SM

Total

Mulheres % 25% 46,51% 21,51% 2,33% 95,35%

Homens % 3,49% 1,16% 4,65%

Renda em salários mínimos (SM) por sexo (porcentagem)

31

Essa precarização do trabalho decorre da baixa escolaridade dos

chefes de família, impossibilitando assim a inserção em postos de trabalho

formais, os quais exigem maior qualificação e, consequentemente, são dotados

de melhores remunerações.

GRÁFICO 04- SITUAÇÃO TRABALHISTA X SEXO DOS CHEFES DE

FAMÍLIA

FONTE: Cadastro socioeconômico Virgílio Távora – Maracanaú/2012.

FONTE: Cadastro socioeconômico Virgílio Távora – Maracanaú/2012.

Segundo os dados ilustrados graficamente acima, verifica-se a

dificuldade de inserção no mercado formal de trabalho e, dentre os fatores

desencadeantes, destaca-se o baixo nível educacional da população em

estudo, conforme citado anteriormente. Além de aspectos conjunturais

decorrentes das práticas neoliberais vigentes na sociedade.

0 20 40 60

Aposentado

Com carteira (formal)

Não se aplica

4 40

20 10

53 37

Situação trabalhista - sexo feminino

Aposentado

Sem carteira (informal)

Desempregado

0 0,5 1 1,5 2

1 2

1 2

1 1

Situação trabalhista - sexo masculino

32

O item predominante “não se aplica”, correspondente a 53 (cinquenta e

três) titulares, representam as beneficiárias que não exercem profissão

remunerada, geralmente, donas de casa. A renda complementar de renda

familiar destas advém de programas sociais (bolsa família; PETI; Pro Jovem),

pensões ou renda do cônjuge/companheiro. Com relação às mulheres que

exercem atividade remunerada, formal ou informal (sem vínculos empregatícios

e direitos trabalhistas), as profissões mais frequentemente declaradas foram:

diaristas, costureiras, vendedoras e ambulantes.

Com expressiva parcela da população feminina, destacam-se ainda as

mulheres que se declaram autônomas, ou seja, exercem por conta própria

atividade econômica. Em outras palavras, praticam atividade laborativa, porém

não há vínculo empregatício, tampouco subordinação. As chefas de família que

vivenciam esta realidade, em sua maioria, afirmam serem vendedoras de

alimentos, vestuários e cosméticos.

Quanto aos chefes de domicílio do sexo masculino, identificou-se um

total de 08 (oito). No tocante à situação ocupacional destes, tem-se a tabela

abaixo. As profissões mais recorrentes informadas pelos homens foram:

vendedores ambulantes, operadores de máquinas, pedreiros, motoristas,

vigilantes e recicladores.

Frente ao quantitativo de desempregados da amostra, representado

por 10 (dez) chefes de família do sexo feminino e 01 (um) do masculino,

ratifica-se a complexidade de inserção no mercado de trabalho devido às

políticas neoliberais predominantes no país, baixa escolaridade e ausência de

qualificação profissional.

GRÁFICO 05-COMPOSIÇÃO FAMÍLIAR

Crianças; 217

Adolescentes;

66

Idosos; 6

Homens; 95

Mulheres; 178

Composição familiar

33

FONTE: Cadastro socioeconômico Virgílio Távora – Maracanaú/2012.

Ao analisar o gráfico acima podemos identificar que na composição

familiar dos 172 (cento e setenta e dois) beneficiários, verifica-se um

quantitativo de 178 (cento e setenta e oito) mulheres e 217 (duzentos e

dezessete) crianças. Ressalta-se que o quantitativo de titulares não se inserem

nesta tabulação.

GRÀFICO 06-PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

FONTE: Cadastro socioeconômico Virgílio Távora – Maracanaú/2012.

No tocante às pessoas com deficiência, verificou-se a existência de 07

(sete) pessoas, correspondente a 1,24% do total da amostra, conforme

descritas na tabela e gráfico acima. Dessas, apresenta-se com maior incidência

a deficiência mental totalizando 42,86%, acompanhado dos deficientes visuais

com um percentual de 28,57% da amostragem.

Diante de tais expostos, o capítulo a seguir irá tratar dos aspectos

históricos que envolvem a habitação no Brasil, com ênfase na promulgação de

direitos em relação à esse fenômeno, mostrando que conforme Oliveira e

Cassab (2010) no Brasil, os aspectos históricos da habitação são

contraditórios, sendo que, a moradia somente passou a integrar a concepção

de direito social a partir da Emenda Constitucional nº 26/2000, através de um

Projeto de Lei, proposto pelo Senador Roberto Pompeu de Souza Brasil às

Câmaras dos Deputados e ao Senado Federal, alterando o Artigo 6º da

Constituição Federal de 1988.

SIM NÃO

0

200

400

600

7

555

1,24 98,75

PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

QUANTIDADE

%

34

2. Contextualizando a Política Habitacional em suas diversas faces.

Para compreendermos o sentido da habitação iremos fazer um resgate

da historicidade da Política Habitacional brasileira que passa a ser tratada

como expressão da questão social, com a revolução industrial, iniciada na

Inglaterra em meados do século XVIII, expandindo-se para o mundo a partir do

século XIX, causando significativas mudanças alterando profundamente as

relações sociais e econômicas no meio urbano e nas condições de vida dos

trabalhadores. A partir da revolução industrial houve uma substituição da

manufatura pela maquinofatura provocando um intenso deslocamento da

população rural para a cidade, gerando enormes concentrações populacionais,

excesso de mão de obra e desemprego.

Aguiar (2013) contextualiza a questão da moradia no Brasil, afirmando

que ela já vem de longa data, podendo ser localizada por volta do final do

século XIX, ocasião em que cidades como, usando, por exemplo, o Rio de

Janeiro e São Paulo, onde experimentam um acelerado processo de

crescimento populacional, decorrente, entre outros fatores, do forte fluxo

migratório de estrangeiros, sem que houvesse, no entanto, a devida

contrapartida na oferta de novos domicílios.

Nesse momento, a principal forma de provimento da moradia é

realizada por um capital mercantil que era representado por pequenos

comerciantes que em busca de apropriação de uma renda, passa a

disponibilizar no mercado de aluguéis, moradias que se caracterizam pelas

condições precárias, como os cortiços, as estalagens e casas de cômodo,

localizadas nas áreas mais centrais da cidade.

Já Bonduki (2004) afirma que desde o surgimento do problema

habitacional nas cidades no Brasil, do final do século XIX até a década de 30,

surgiram diversas modalidades de produção de moradias para abrigar a classe

trabalhadora, todas construídas pelo capital privado e destinadas à locação,

dentro do chamado sistema rentista.

35

Conforme ressalta o autor, até a década de 1930, não havia sistema de

financiamento da moradia no Brasil. Somente no final dos anos 1930, surge à

primeira intervenção do Estado brasileiro com o objetivo de promover a

habitação de interesse social no país.

Ao longo das décadas do século passado a situação da moradia

popular se agravou devido a fatores de ordem conjuntural fluxo migratório e

incremento demográfico conjugados com aqueles de caráter mais estrutural,

estes vinculados ao modelo econômico que emerge com a economia urbano-

industrial a partir das décadas de 1940/1950, modelo este apoiado na intensa

exploração da força de trabalho. (AGUIAR, 2013).

O agravamento do problema da moradia no Brasil mantém estreita

relação com o ingresso do Brasil numa economia de base urbano-industrial,

que vai paulatinamente se afirmando a partir dos anos 30. O acelerado

processo de urbanização, associado à falta de respostas governamentais mais

consistentes, fez da habitação uma das principais questões da sociedade

brasileira no século XX.

Além disso, o rebaixamento salarial dos trabalhadores brasileiros foi

tão acentuado que os mesmos não puderam sequer ser integrados à esfera do

consumo como proprietários de moradias produzidas pelo mercado imobiliário

formal – a ideologia da casa própria, mecanismo de cooptação da classe

trabalhadora. (AGUIAR, 2013).

No entanto, o processo de ocupação ilegal da terra e a ampla aquisição

de lotes na periferia, foram capazes de garantir a reprodução da classe

trabalhadora a baixíssimos custos para o capital. À proporção que o mercado

privado não era capaz de realizar os investimentos necessários nem o Estado

cumpria sua parte no tocante à resolução do problema da moradia, a

população trabalhadora solucionava à sua maneira a questão de como morar.

(LAGO, 2000).

Essa foi à forma predominante de acesso à casa própria durante quatro

décadas, sofrendo um processo de retração nos anos 80, quando as camadas

36

sociais mais pobres passam a buscar as favelas como forma preferencial de

acesso à moradia (LAGO; RIBEIRO, 1996) O padrão de acesso à moradia

através do parcelamento de terras acabou por configurar um modelo urbano

caracterizado pela segregação da população mais pobre nas áreas mais

distantes e periféricas, desassistidas pelo Estado.

O crescimento desordenado da cidade foi em decorrência da migração

da população da zona rural para a zona urbana o chamado êxodo rural, na

tentativa de buscar melhores condições de vida e trabalho. A desqualificação

da mão de obra fez com que essa população ficasse a mercê do mercado

informal, aglomerando-se às margens das fábricas e se instalando em locais

inadequados e insalubres gerando doença e aumento da miséria, e sem

controle estatal, o que contribui para a precarização das condições de vida na

cidade e da incapacidade do Estado de oferecer condições estruturais para o

atendimento das necessidades mínimas de boa parte da população.

Tal fato contribuiu, para o crescimento de barracos e cortiços as

chamadas favelas passando a exigir do Estado e das autoridades medidas que

amparasse e ajustasse à ordem vigente. Em resposta o Estado adotou uma

política de contenção e eliminação das favelas, adotando como medida a

criação dos Parques Proletariados, ou seja, construções de acomodações

coletivas feitas de madeiras. Já na década de 1930 criaram-se as carteiras

prediais - CP, que segundo Silva:

A intervenção do Estado no setor habitacional, em 1937, com a criação das Carteiras Prediais deve ser compreendida no contexto de desenvolvimento econômico e político da época, quando se dava o agravamento das condições habitacionais do meio urbano pelo impacto das crescentes taxas de urbanização... (SILVA, 1989, p.39)

Esta primeira ação do Estado estava associada ao sistema de

Previdência exercendo um papel interventor concedendo habitação à

população, pactuando-se a grupos restritos vinculados aos institutos de

Previdência resultando em uma ação fragmentada e focalista alcançando

mínimas efetivações.

37

O período do Estado Novo (1937/1945) representa a passagem

definitiva de uma sociedade de base agrária para uma sociedade urbano-

industrial. O caráter fortemente autoritário do Estado, exemplificado pela

promulgação da Lei de Segurança Nacional em 1935, reprimiu a ascensão de

movimentos tanto de esquerda quanto de direita e diminuiu a autonomia das

unidades estaduais ao concentrar no governo federal praticamente todo o

poder decisório e administrativo referente às políticas sociais. Uma das

consequências dessa concentração foi o aumento do poder da burocracia nas

decisões sobre políticas sociais, enquanto os movimentos de trabalhadores

tinham sua organização limitada. (MEDEIROS, 2001).

No ano de 1946 foi criada a primeira política pública nacional, órgão

federal que tinha como objetivo urbanizar as favelas, que até então eram vistas

como problema nacional, diante de tal situação foi criado o Serviço de

Recuperação de Favelas (SRF), onde suas ações estavam voltadas a

construção de conjuntos habitacionais, e em consequência da diminuição dos

recursos, o modelo tornou-se fragmentado, neste mesmo ano criou-se o

Fundação da Casa Popular (FCP) que financiava a construção de habitações

dando apoio às indústrias de materiais de construção, pois até então as

moradias eram autofinanciadas sendo de responsabilidade e iniciativa privada,

contudo essa medida não durou muito tempo, pois as condições de

empréstimos adotados na época não tinham correções monetárias, e com o

aumento da inflação na década de 50, as pessoas começaram a fazer vários

empréstimos pagando valores inferiores, vindo a ser extinta em 1964.

No ano de 1964, deu-se início no Brasil a um novo período, embora

algumas das características anteriores tivessem permanecido como, por

exemplo, a política desenvolvimentista, baseada no crescimento industrial e na

exclusão social. O golpe de 1964 acabou com qualquer espaço de participação

política. (MADALENA, 2012).

Já Aguiar (2013) fala sobre o regime militar de 64 que inaugura um

modelo de política urbana e habitacional caracterizado pela forte intervenção

do Estado, responsável pela condução de ações sem precedentes na história

brasileira. Através da Lei nº 4.380 de agosto de 1964, o governo federal institui

38

o Plano Nacional de Habitação, cria o Banco Nacional de Habitação e o

Serviço Federal de Habitação e Urbanismo. Entre 1964 e 1965, foi instituído o

Sistema Financeiro da Habitação (SFH), tendo como operador principal o BNH.

As principais fontes de recursos do SFH são provenientes do Fundo de

Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e do Sistema Brasileiro de Poupança e

Empréstimo (SBPE).

Para Déak e Schiffer (1999) em um curto espaço de tempo, o Brasil

deixou de ser agroexportador para se apresentar, na década de 1960, como

um país industrial, caracterizado por uma modernização conservadora. Essa

rápida mudança acarretou uma transformação igualmente ligeira na locação da

população, desencadeando um movimento populacional no sentido do campo

para a cidade.

Cardoso (2012) remete - nos ao modelo de política habitacional

implementado a partir de 1967 pelo Banco Nacional de Habitação que se

baseava em um conjunto de características deixando marcas importantes na

estrutura institucional e na concepção dominante de política habitacional nos

anos que se seguiram.

Estas características podem ser identificadas a partir dos seguintes

elementos fundamentais: Primeiro com a criação de um sistema de

financiamento que permitiu a captação de recursos específicos e subsidiados

(apoiado no Fundo de Garantia de Tempo de Serviço e no Sistema Brasileiro

de Poupança e Empréstimo), chegando a atingir um montante bastante

significativo para o investimento habitacional; segundo com a criação e

operacionalização de um conjunto de programas que estabeleceram a nível

central, as diretrizes gerais a serem seguidas, em nível descentralizado, pelos

órgãos executivos; terceiro com criação de uma agenda de redistribuição dos

recursos, que funcionou principalmente a nível regional, a partir de critérios

definidos centralmente; e por fim com a criação de uma rede de agências em

nível local (principalmente estadual), responsáveis pela operação direta das

políticas.

Em 1964 cria-se o Banco Nacional de Habitação – BNH, cujo seu

objetivo era promover aquisições de casas próprias para famílias de baixa

39

renda através de recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviços –

FGTS, incentivando esses trabalhadores e a população em geral aceitação do

regime militar.

O BNH influenciou na reativação da economia incentivando á aquisição

da casa própria principalmente para pessoas da classe media por meio da

concessão de financiamento, os programas voltados para a construção de

conjuntos habitacionais se tornaram um marco, todavia não incentivou o uso

democrático dos espaços urbanos muitas vezes não atendendo as camadas de

baixa renda, caracterizando-se como uma política seletiva e fragmentada

favorecendo ocupações indevidas e construção improvisadas.

A esse respeito afirma Azevedo (1982):

Em 1946 é criada a Fundação da Casa Popular no governo Dutra, órgão do governo federal que passa a comandar a política de provimento habitacional, estendendo sua atuação até 1964, quando é extinto por ocasião da criação do Banco Nacional da Habitação - BNH. A Fundação da Casa Popular (FCP), cujo propósito era centralizar e coordenar a política de habitação em âmbito nacional, embora incorporasse uma concepção no sentido de ampliar o acesso à moradia, obteve, no entanto, limitados resultados no que se refere ao atendimento da demanda representada pela população de baixa renda. ( AZEVEDO,1982,p.11)

O período BNH, encerrado tragicamente em 1986, deixou como

herança algumas concepções ainda hegemônicas, ou pelo menos relevantes,

sobre o conteúdo e o formato a ser adotado na política habitacional, como por

exemplo, a concepção de que os recursos do FGTS são as únicas fontes para

o investimento habitacional, reiterando a dependência dos governos locais em

relação à iniciativa do governo federal, e, ainda, a visão de que fazer política

habitacional refere-se tão somente a construir conjuntos, que persiste entre

muitos técnicos do setor. (CARDOSO, 2012).

Frente à incapacidade do sistema do BNH em atender as necessidades

da população de baixa renda do país, criou-se programas habitacionais

destinados especificamente às populações de renda inferior a três salários

mínimos, entre eles estão o PROFILURB, o PRO-MORAR e o João de Barro,

que visavam basicamente auxiliar a autoconstrução.

40

Neste mesmo ano foi criado o sistema financeiro de habitação (SFH)

marcado como fundamental intervenção do governo brasileiro no setor

habitacional frente às inexistências habitacionais das camadas populacionais

de baixa renda no país, já que grande parte das moradias anterior existentes

não contava com uma infraestrutura adequada.

As fontes de recursos arrecadadas pelo SFH eram feitas pelas

arrecadações do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos (SBPE), e em

1967, pelo Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), gerado a partir

de contribuições compulsórias dos trabalhadores empregados no setor formal

da economia.

Em decorrência de uma conjuntura que buscava a retomada do

nacionalismo desenvolvimentista, o crescimento desordenado das favelizações

e habitações precárias desprovidas de equipamentos básicos necessários para

a sobrevivência humana o governo lança como medida o Plano de Assistência

Habitacional - PAH voltado para o pagamento de prestações de casas com

valores proporcionais ao salário mínimo e o instituto Brasileiro de Habitação –

IBH, voltado para ações financeiras, orçamentárias bem como o aumento das

fontes de recursos.

Frente aos movimentos populares, grevistas reivindicavam melhores

condições de vida, entretanto o governo ainda estava com suas ações voltadas

a planejamentos legados a FCP e as Carteiras imobiliárias dos Institutos e

Caixas de Aposentadorias e Pensão e o apoio às redes privadas junto à

construção civil foram reforçados na reprodução e construção das moradias

populares e a criação do órgão executor do planejamento o Conselho Federal

de Habitação - CFH.

O Sistema Financeiro de Habitação- SFH foi uma ação com o objetivo

motivar o aumento da construção de unidades habitacionais de maneira a

incentivar empresas privadas ligadas ao sistema de financiamento,

fortalecendo a ordem do consumo.

Segundo Maricato (1987):

41

A intervenção do Estado na política habitacional brasileira ocupou os espaços existentes, de modo a definir não apenas a política institucional dos setores ligados diretamente ao Sistema Financeiro de Habitação (SFH), mas também parte do que podemos chamar de provisão informal de habitações, onde situamos a autoconstrução, a favela, o loteamento clandestino, etc. (MARICATO, 1987, p. 29).

As famílias na qual adquiriram suas casas por meio da política de

financiamento fortaleceram e legitimaram uma política ditatorial, pois como boa

parte da população foi excluída dessa política aumentou-se consideravelmente

o numero de ocupações de terras inapropriadas, essas experiências de uma

política de habitação seletiva estimulada pelo governo neste período resultaram

em significativos fracassos diante de números significativos de demandas

expostas.

Em meados da década de 70, o BNH passou a financiar todos os

recursos necessários para á construção de habitação executada pela

Companhia de Habitação Popular – COHAB, aumentando e antecedendo o

financiamento que até então eram concedidos pela COHAB. Nesse contexto o

governo lança o Plano Nacional de Habitação Popular- PLANHAP, tendo como

objetivo diminuir o déficit habitacional para população que recebe de um a três

salários mínimos, e que residir mais de dez anos em cidades com mais de 50

mil habitantes.

Conforme Azevedo & Andrade (1982):

Na tentativa de conter esses processos e compensar a distorção das COHABs, o governo federal criou programas para “oferecer uma alternativa habitacional dentro do Sistema Financeiro de Habitação àquelas pessoas marginalizadas dos programas habitacionais das COHABs” e consequentemente, tentarem conter o crescimento das favelas. (AZEVEDO; ANDRADE, 1982, p. 104)

Nesse contexto de lutas pela garantia do direito a moradia as

sociedades civis juntamente com os movimentos de favela lutavam exigindo

providencias dos estados frente à problemática habitacional, assim em

resposta o estado cria o Programa de Erradicação de Sub-habitação –

PROMORAR, destinado às famílias que ocupavam irregularmente os espaços

urbanos incentivando a permanência dessas famílias em suas áreas de origens

42

melhorando suas condições de moradia eliminando as chamadas sub-

moradias precárias.

Nos anos 1985-1990 agravaram-se os problemas, inviabilizando

qualquer tentativa de retomada da política habitacional nos moldes anteriores,

além disso, o Plano Cruzado, de março de 1986, fez com que as prestações

dos financiamentos fossem reajustadas pela média dos reajustes dos doze

meses imediatamente anteriores, devendo ser congeladas doze meses

seguintes, gerando prestações inferiores ao valor dos aluguéis dos respectivos

imóveis.

Como resultado, as prestações acabavam que não cobriam os juros

dos saldos devedores existentes, muito menos fazia caixa para a concessão de

novos financiamentos. E assim depois de muitas reformulações, o BNH foi

extinto em 21 de novembro de 1986, através do Decreto nº. 2.291, passando a

gestão do SFH para a Caixa Econômica Federal tendo como responsabilidade

administrar as finanças, pessoal, móveis, imóveis do BNH e da gestão do

Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS.

Na década de 1990, o governo de Collor diminuiu os recursos voltados

para a habitação comprometendo-se o financiamento da política habitacional. E

em 1994 é implementada política neoliberal abrangendo o estado ao modelo do

capital, minimizando a ação do estado na garantia dos direitos sociais

resultando no enfraquecimento da política habitacional, nesse contexto o

governo lança os programas Morar Melhor e o Habita Brasil, ambos com

recursos oriundos do Orçamento Geral da União e do Imposto Provisório sobre

Manutenções Financeiras - IPMF.

No ano de 2000 foi aprovada a Lei Federal 1.257 o Estatuto das

cidades, que de uma forma geral se objetiva fornecer suporte jurídico rígido às

técnicas e processo de planejamento urbano buscando garantir a função social

da propriedade, bem como no planejamento participativo nas políticas urbanas

de acesso universal a cidade. Fernandes destaca que essa lei propõe “A

descentralização e a democratização caminhem juntas para garantir a plena

legitimidade social dos processos de planejamento urbano [...] e gestão de

cidades.” (FERNANDES, 2008, p. 44).

43

A respeito da questão habitacional, o estatuto apoiou instrumentos que

garantam a função social da propriedade bem como as regularizações

fundiárias, concessão especial para fins de moradia, demarcação de zonas

especiais de interesse social.

Em meados do ano de 2003, no governo do presidente Lula as

políticas urbanas ganharam um novo tratamento integrado com a criação

Ministério das Cidades, órgão coordenador, gestor e formulador da Política

Nacional de Desenvolvimento Urbano, passando a ser o órgão responsável

pelas políticas setoriais de habitação, dando suporte na elaboração de novas

propostas de política Nacional de Habitação.

No governo do presidente Lula, gestão essa que foi considerada um

marco na política de habitação devido às grandes mudanças adotadas no seu

governo, inserindo um novo desenho institucional.

A esse respeito Rolnik (1997) afirma:

As formas de apropriação e utilização dos espaços permitidos ou proibidos em um país com grandes desigualdades de renda como o Brasil produziram uma legislação urbana que “acaba por definir territórios dentro e fora da lei, ou seja, configura regiões de plena cidadania e regiões de cidadania limitada” [...] marcada pela pobreza e esquecimento. (ROLNIK, 1997, p. 13).

Considerando que a partir da Constituição Federal 1988 surgiu um

novo modelo institucional e jurídico favorável aos direitos sociais, na qual o

direito à moradia foi resultado das mobilizações que superou o ideário da

reforma urbana. Portanto a CF de 88 representa um importante momento no

que diz respeito à política de desenvolvimento urbano, na medida em que se

desenvolvia um novo formato institucional e jurídico capacitado a oferecer

suporte às ações dos municípios em prol de uma nova concepção de política

urbana.

O governo do presidente Lula, inaugurado no ano de 2003, representou

um salto nas políticas sociais brasileira, com a reforma dos eixos institucionais

e com o significativo aumento dos recursos, o atual governo decidiu adotar uma

política econômica rigorosa, buscando a estabilização econômica restaurando

a sua credibilidade, que estava ameaçada no mercado financeiro internacional,

44

dando continuidade àquela assumida pelo governo de Fernando Henrique

Cardoso (1994-2002). Portanto o combate à inflação, aumento das exportações

e a contenção das despesas foram alguma das metas buscada por este

governo.

A esse respeito Fleury (2003) afirma que:

Sem recurso para investir em políticas públicas, o governo se dedicou a cortar gastos e aumentar as exportações, aumentando o superávit primário, em um esforço gigantesco para gerar recursos e pagar juros da dívida pública, [...] as consequências foram devastadoras [...] (FLEURY, 2003; p.2).

No cenário das cidades brasileiras, não há duvidas que o Estado

fracasse nas suas ações no sentido à promoção aos direito à uma cidade mais

inclusiva e universalizante ao acesso aos benefícios de urbanização.Contudo o

Estado baseou frequentemente suas ações pela omissão e tolerância com

relação às formas de ocupação irregular do solo urbano, adotando

intervenções na cidade que acabaram influenciando os processos de

acumulação urbana e de apropriação de rendas fundiárias por frações do

capital imobiliário.

Valladares (1978) ressalva que é preciso não esquecer, todavia, que, a

par das necessidades financeiras e da necessidade de aumentar a eficácia da

ação do órgão, a adoção de práticas alternativas atendia também a outros

objetivos. A experiência de remoção de favelas, por exemplo, além dos custos

políticos e sociais envolvidos, não atingiu seus objetivos, já que se identificou

uma substituição dos moradores dos novos conjuntos por populações de renda

mais elevada e um retorno da população às favelas.

Nessa perspectiva a cidade apresenta diferentes significados

dependendo da forma de apropriação de cada agente. Para a população em

geral, a cidade representa a possibilidade de acesso a um conjunto de bens de

consumo de forma a satisfazer necessidades coletivas. Nesse caso, a cidade é

percebida enquanto valor de uso e a moradia, em particular, desempenham um

papel central nos processos de reprodução social. Diferente dos países de

economia mais avançada, no Brasil o Estado não exerceu um papel mais ativo

em relação à provisão habitacional, o que fez aprofundar os processos de

45

segregação espacial e de exclusão na estruturação do espaço urbano no país.

(AGUIAR, 2003, p.3)

Com uma política social focalizada no combate a pobreza o governo

lula criou varias estratégias por meio de programas e projetos voltados para a

diminuição da pobreza no Brasil, tendo assim o reconhecimento de que seu

governo contribuiu significativamente para o crescimento e desenvolvimento do

país.

No ano de 2003 observa-se um avanço da política nacional de

habitação fundamentada nos princípios da participação popular, no

planejamento e da interação das políticas urbanas. No âmbito das políticas

publicas voltada para a política de habitação as grandes lutas dos movimentos

que se articulavam em torno da reforma urbana em busca à garantia de

moradia, foram inseridas por meio de reivindicações ao Sistema Nacional de

Habitação os princípios da autogestão transformando a política habitacional um

modelo de provisão de habitação que foi instituído nacionalmente como um

modelo de política publica. Essa conquista é compreendida como importante

vitória dos movimentos urbanos e de luta por moradia.

Conforme Arimatéia (2006, p. 30), o acesso à terra urbana representa a

consolidação do direito à moradia, direito esse fundamental à pessoa humana

nos termos da Declaração Universal dos Direito Humanos. Contudo, no Brasil,

tal direito não tem sido garantido à população de baixa renda.

No ano de 2004 criou-se o Ministério das Cidades, órgão coordenador,

gestor e formulador da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano. Assim o

Ministério das Cidades passa a ser o órgão responsável pela política setorial de

habitação, estabelecendo-se um novo modelo de organização institucional,

baseado em um sistema de habitação. Assim um novo tratamento foi dado as

políticas urbanas com a criação do Ministério das Cidades, atendendo as

reivindicações dos diversos movimentos associados à reforma urbana.

O Ministério das Cidades (2004) apresenta os seguintes objetivos da

Política Nacional de Habitação:

46

a) Universalizar o acesso à moradia digna em um prazo a ser definido no Plano Nacional de Habitação, levando-se em conta a disponibilidade de recursos existentes no sistema, a capacidade operacional do setor produtivo da construção, e dos agentes envolvidos na implementação da PNH; b) promover a urbanização, regularização e inserção dos assentamentos precários à cidade; c) fortalecer o papel do Estado na gestão da Política e na regulação dos agentes privados; d) tornar a questão habitacional uma prioridade nacional, integrando, articulando e mobilizando os diferentes níveis de governo e fontes, objetivando potencializar a capacidade de investimentos com vistas a viabilizar recursos para sustentabilidade da PNH; e)democratizar o acesso à terra urbanizada e ao mercado secundário de imóveis; f) ampliar a produtividade e melhorar a qualidade na produção habitacional; g) Incentivar a geração de empregos e renda dinamizando a economia, apoiando-se na capacidade que a indústria da construção apresenta em mobilizar mão de obra, utilizar insumos nacionais sem a necessidade de importação de materiais e equipamentos e contribuir com parcela significativa do Produto Interno Bruto (PIB) (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2004).

Baseado nos objetivos citados acima, o Programa Minha Casa

Minha Vida, de zero a três salários mínimos foi elaborado para atender as

famílias de baixa renda. O objetivo era implementação de uma política de

desenvolvimento urbano em longo prazo, integrando as diversas áreas entre

elas a de habitação, saneamento ambiental, transporte urbano e mobilidade,

buscando alcançar por meio do uso e ocupação do solo uma política

transversal, com isso, objetiva-se reverter à fragmentação na execução dessas

políticas, bem como o processo histórico de acúmulo dos problemas urbanos.

Segundo Maricato (2011) o Ministério das Cidades foi fruto de um amplo

movimento social progressista, sua criação parecia confirmar os avanços, e

novos tempos para as cidades do Brasil.

Em seguida criou-se no âmbito do Ministério das Cidades a Secretaria

de habitação que tinha como objetivo dar continuidade ao projeto moradia que

havia sido antes mesmo da campanha eleitoral, resultado de um projeto político

fruto de experiências obtidas em política habitacional desenvolvida pelas

administrações municipais do PT acrescentado a uma série de debates

realizados junto à sociedade civil.

No ano de 2005 criou-se, sob a aprovação da lei federal 11.124, o

Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS), e o Fundo

Nacional de Habitação de interesse Social (FNHIS). Tal iniciativa buscava o

aumento dos recursos destinados à habitação, visando o alcance de uma

47

política habitacional solida para o país. Um dos seus objetivos era disponibilizar

recursos da União, estados e municípios visando à viabilização ao acesso à

moradia voltado as camadas de baixa renda da população.

Em 2006, em virtude de uma crise econômica enfrentada pelo país,

houve-se a necessidade do governo planejar estratégia como forma de

respostas às políticas econômicas. E em resposta o governo lança em 2007 o

Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), buscando aumentar a

capacidade de investimento ao Estado. O PAC é um programa que tem como

principal objetivo incentivar o crescimento da economia brasileira, ampliando os

investimentos em setores de infraestrutura. Neste contexto de medidas,

destaca-se o “pacote” de investimentos lançado para a área de habitação.

No ano de 2008, o governo em resposta à crise financeira

internacional, aderiu ações anticíclicas buscando condicionar o crescimento

econômico do país. Neste contexto, o governo federal, em julho de 2009,

através da Lei 11.977, lança o Programa Minha Casa Minha Vida – PMCMV.

Este, operacionalizado pela CAIXA, corresponde uma referência na política de

acesso à moradia, promovendo ações do governo federal em parceria com os

estados, municípios e iniciativa privada.

Como afirma Mascias:

É neste contexto, e em meio à grande crise dos mercados mundiais, que ainda em 2008 o Governo Federal passa a discutir mais intensamente como os grandes empresários da construção civil um plano que complementa a produção habitacional em escala, ao mesmo tempo em que configura em medida anticíclica de enfrentamento da crise econômica e diminuição do emprego formal (Mascias, 2011, p. 5).

O PMCMV surgiu em 2009 para enfrentar os efeitos da crise

econômica internacional, sendo este seu maior objetivo. O governo visando

ampliar o mercado habitacional estabeleceu subsídios proporcionais à renda

das famílias, por um lado aumentou o volume de crédito para a aquisição e

construção de moradias e de outro lado reduziu o juro com a criação Fundo

Garantidor da Habitação que capta recursos para pagamento das prestações

em caso de inadimplência em decorrência do desemprego ou outras

eventualidades.

48

A meta deste programa, que entra agora em sua segunda fase (2011-

2014), é construir dois milhões de unidades habitacionais, das quais 60% estão

voltadas para famílias de baixa renda. Para o processo de seleção, é utilizado

no cadastramento das famílias o instrumental Cadastro socioeconômico

fundamental ferramenta para registro e pesquisa de informações essenciais

para o processo de seleção dos beneficiários, na qual é capaz de coletar os

dados das famílias e a partir dessa coleta de dados, os cadastros são

analisados o perfil das famílias, e são hierarquizados conforme apresentem

maior número de critérios nacionais e locais de seleção.

Ressalta-se que deverão ser reservados, no mínimo, 3% das unidades

habitacionais para atendimento aos idosos e 3% para pessoas com deficiência.

Este processo seletivo é finalizado pela validação, por parte da Caixa

Econômica Federal. O Cadastro socioeconômico é principal ferramenta para a

elaboração do diagnóstico social e Projeto de Trabalho Social.

2.1 Trabalho técnico social frente à demanda Habitacional.

Foi em meados a década de 1940 que surgiu a primeira experiência

no tocante a uma atuação do trabalho técnico social, frente ao crescimento

desordenado de favelas, atuando no controle e contenção das repressões do

estado. Com o pacto firmado entre Igreja e Estado as favelas do Distrito

Federal tiveram intervenções diretas com a criação da Fundação Leão XIII. Tal

fundação tinha o intuito de recuperar as favelas através de intervenções em

favelas que possuía números elevados de habitantes.

Com a Política Nacional de Habitação, o trabalho técnico social tornou-

se parte essencial dos projetos de intervenção habitacional. Consideram-se

uma das atividades fundamentais a ser desenvolvida com as famílias

beneficiadas pelos projetos. Esse trabalho abrange diversas ações, que iniciam

ao longo do processo de entregas e se estendem até após a mudança dos

moradores.

49

Segundo o Caderno de Orientação Técnico Social (2013) - COTS o

Trabalho Técnico Social é o conjunto de ações que visam promover a

autonomia e o protagonismo social, planejadas para criar mecanismos capazes

de viabilizar a participação dos beneficiários nos processos de decisão,

implantação e manutenção dos bens/serviços, adequando-os às necessidades

e à realidade dos grupos sociais atendidos, além de incentivar a gestão

participativa para a sustentabilidade do empreendimento. As diretrizes para

elaboração e implantação do Trabalho Técnico Social- TTS são definidas pelo

Ministério das Cidades, cabendo à CAIXA apoiar os entes públicos na

formulação dos projetos e acompanhar e atestar sua execução.

Devido à exigência do trabalho técnico social e dos investimentos em

habitação nos últimos anos, especificamente com o PAC e Programa Minha

Casa, Minha Vida, estão sendo desenvolvidos em vários municípios brasileiros

diversos projetos de intervenções.

Segundo Inês Magalhães Secretaria Nacional de Habitação do

Ministério das Cidades “O trabalho social passou a ser um componente

estratégico numa intervenção habitacional”. Atualmente, o trabalho social é a

base essencial na realização de uma intervenção, pois as pessoas têm o direito

de conhecer e entender o que vai acontecer com elas de modo a opinar sobre

seu futuro. Já evoluímos estabelecendo o trabalho social obrigatório, pois os

recursos para as atividades a serem desenvolvidas ao longo do trabalho social

só são liberados mediante comprovação inscritos no projeto.

Considerando que uma das prioridades de atendimento do Programa

Minha Casa, Minha Vida são famílias que estão em área de risco, submetidas a

condições muito precárias onde a informalidade é plena, quando essas famílias

são transferidas para uma residência formal onde precisarão pagar

mensalmente prestações da casa, embora sendo simbólica para que se gere o

sentimento de pertencimento há também contas de taxa de condomínio, água e

luz.

A família é retirada de uma realidade onde a informalidade é absoluta e

passa a ser submetida a vários gastos que anteriormente não era de sua

responsabilidade muitas vezes em decorrência disso uma crise de realidade e

50

essas famílias acabam vendendo suas casas, pois não tem como custear

mensalmente despesas que até então não estavam em seus orçamentos.

Um dos eixos principais do trabalho social é o de possibilitar que as

famílias tomem consciência e se percebam como indivíduos dotados de direitos

incentivando a desenvolver suas capacidades de organização e reivindicação

contribuindo para o fortalecimento de ações de desenvolvimento social.

Segundo o Ministério das Cidades (2010), o trabalho técnico social representa

ações estratégicas dos projetos de habitação, que são desenvolvidos tanto

pelo técnico social executor quanto pelas famílias beneficiadas.

O trabalho técnico social se desenvolveu ao longo dos programas

habitacionais juntamente com as COHABs, por meio dos recursos advindos de

Taxas de Apoio Comunitário – TAC, que foi criado no ano de 1973 destinados

para a manutenção dos conjuntos habitacionais e equipamentos comunitários

bem como para o pagamento dos profissionais que atuavam no Plano de

Serviço Social.

A esse respeito afirma Paz

No entanto, é significativa a predominância dos profissionais da área do Serviço Social que trazem para a atuação referências teórico-metodológicas e compromissos ético-políticos, construídos pela profissão num movimento de luta contra as bases conservadoras e tradicionais da profissão... (PAZ, 2010, p. 46).

A atuação profissional no campo da habitação frente às demandas

habitacionais em meio aos projetos técnicos sociais se objetiva em auxiliar na

execução do direito à moradia digna e de qualidade, visando estimular a

cidadania da intervenção social e urbana, ação essa baseada pelo código de

ética profissional, incentivando a participação cidadã, através de políticas

sociais.

Conforme Oliveira (2003) o profissional na área da habitação trabalha

na perspectiva de contribuir para a construção da cidadania e no compromisso

ético com a justiça e a equidade, no entendimento do processo histórico que

envolve os indivíduos, contribuindo de certa forma para a participação popular.

51

Frente as realidade exposta acima, o terceiro e ultimo capitulo a seguir

a ser apresentado irá focar no principal objetivo desta pesquisa que é identificar

os impactos que o Programa Minha Casa, Minha Vida trouxe para a vida das

famílias beneficiadas no residencial Virgilio Távora III tendo como principais

objetivos especificam discutir as mudanças que o Programa Habitacional

proporcionou na vida das famílias beneficiadas.

Assim minhas inquietações em pesquisar este tema foi a de tentar

compreender que mudanças positivas/negativas esse programa trouxe para a

vida dessas famílias e se este programa tem atendido às expectativas do

direito à moradia bem como influenciado para o exercício da cidadania.

52

3. Da Esperança à Decepção.

3.1 As contradições do Programa Minha Casa, Minha Vida na vida dos

Usuários do Residencial Virgílio Távora III.

O Residencial Virgílio Távora III, conforme abordado anteriormente é

um empreendimento do programa Minha Casa, Minha Vida que beneficiou um

total de 224 famílias proporcionando a estas um financiamento de um imóvel.

Para o universo de amostra desta pesquisa serão trabalhados dois grupos: o

primeiro grupo compreende as famílias que antes moravam na colônia Antônio

Justa na qual se caracteriza como área de risco e o segundo grupo

compreende as assistentes sociais que trabalham no órgão da Secretaria de

Infra Estrutura (SEINFRA) incluindo a técnica do empreendimento ressaltando

que a mesma também é assistente social. Para compreender a situação

habitacional na qual essas famílias estavam submetidas a seguir relataremos

um breve relato sobre como surgiu a Colônia Antonio Justa.

A Colônia Antonio Justa é um bairro de Maracanaú que surgiu no ano

de 1942 destinadas a abrigar cerca de 500 pessoas doentes de Hansen. Hoje a

Colônia Antonio Justa sofre vários problemas sociais e de infraestrutura, tendo

em vista principalmente a ocupação desordenada ocorrida a partir da década

de 1980, a Prefeitura de Maracanaú resolveu retomar a posse do terreno, mas

para isso teria que retirar as famílias que ali moravam e as transferi-las para

locais apropriados pensando nisso as famílias foram inseridas no PMCMV,

contudo vale ressaltar que ainda moram famílias nessa localidade, pois nem

todos estavam dispostos a se deslocarem para outra localidade.

Para a elaboração da pesquisa no que diz respeito às entrevistas,

foram encontradas dificuldades ao longo do percurso, pois mesmo

selecionando as famílias, dividindo-as por grupos muitas não foram acessíveis.

Dessa maneira, para viabilizar as entrevistas foi necessário rever alguns

aspectos referentes à seleção dos interlocutores importantes para alcançar os

objetivos do estudo proposto. Em decorrência das dificuldades, minha amostra

foi reduzida focando apenas nas famílias que moravam na Colônia Antônio

53

Justa, com o objetivo inicial em contemplar seis sujeitos das famílias

contempladas nesse empreendimento, conforme a disponibilidade de cada um.

Para que o convite fosse feito aos sujeitos, a pesquisadora visitou o

empreendimento e foi individualmente conversar com cada morador para

explicar o objetivo da pesquisa proposta. No 1º momento da pesquisa de

campo, portanto, o objetivo foi o de visitar o referido empreendimento em busca

de pessoas dispostas a participar da investigação. Esse momento foi

extremamente exaustivo devido à visita ter sido realizada nos 17 apartamentos

das famílias que haviam sido beneficiadas e que morava anterior ao programa

na Colônia Antônio Justa, na tentativa de conversar com o máximo de pessoas

possível. Essa experiência revelou que a maioria dos apartamentos estavam

vazios e os que estavam ocupados não era pelo proprietário contemplado pelo

programa, mas por um conhecido ou até mesmo um familiar que alugou.

Indaguei àqueles que me receberam onde estavam os proprietários, e

as respostas foram: as famílias contempladas originalmente haviam

abandonado suas casas por conta dos altos custos financeiros (como por

exemplo, conta de água, energia, dentre outros) e resolveram alugar ou até

mesmo fechá-lo, para ficar na casa de um parente ou até mesmo para retornar

à moradia anterior ao programa. Entretanto, apesar das adversidades, neste

dia consegui as seis pessoas que aceitaram participar da pesquisa, deixando

marcada uma data posterior para o meu retorno, com o objetivo de aprofundar

as entrevistas.

No 2º momento foi o dia combinado para entrevistar as famílias

selecionadas no empreendimento. Para aperfeiçoar o tempo disponível, dividi

as entrevistas por turno: pela manhã pretendia entrevistar três famílias e pela

tarde pretendia entrevistar as outras três, contudo consegui entrevistar apenas

quatro famílias, devido às demais não se encontrarem em casa no momento da

entrevista. Tentei ligar para elas, porém não obtive sucesso.

Voltei para a sede da habitação exausta, mas não desisti, tentei por

varias vezes entrar em contato com elas, mais as mesmas sempre estavam

54

ocupadas tinha desistido5.Devido às dificuldades de encontrar outras pessoas

que aceitassem participar da pesquisa, decidi então incluir também em meus

sujeitos de pesquisa as profissionais de Serviço Social que trabalham na

Coordenadoria de Habitação de Maracanaú dentre elas a técnica social do

empreendimento e outras duas assistentes sociais que trabalham com a

garantia do direito a moradia.

Dessa forma, diante do exposto, irei traçar o perfil dos sujeitos

entrevistados nesta pesquisa, que tem como finalidade identificar os impactos

do programa Minha Casa, Minha Vida nas famílias beneficiadas no residencial

Virgílio Távora III.

Ressaltamos que dentre os sujeitos pesquisados, três são mulheres

com faixa etária que varia de 27 a 34 anos, um é homem com idade de 53

anos. No tocante ao segundo grupo, selecionamos profissionais de Serviço

Social, com faixa etária entre 24 e 29 anos. A seguir apresento outras

informações referentes ao perfil dos sujeitos beneficiados com o PMCMV.

Diante da necessidade e pela ética na qual este trabalho se embasa,

todos os entrevistados receberam nomes fictícios ao longo das entrevistas com

o intuito de manter o anonimato e preservar a identidade dos mesmos. Os

nomes fictícios foram selecionados de forma aleatória.

Sra. Carla, idade 27 anos, solteira, tem 04 filhos, entre eles um tem

problemas de saúde e é acompanhado por médicos especialista no seu caso,

mora com seus filhos e companheiro pai de seus filhos, parou os estudos na 4ª

serie do ensino fundamental, é zeladora, mas atualmente esta desempregada e

seu companheiro também se encontra na mesma situação, estão sobrevivendo

atualmente com o bolsa família e reciclagem recolhida e vendida para manter o

sustento da família.

5 Seu marido havia lhe proibido de falar algo, devido ser uma comunidade onde todo mundo se conhece e

a violência já os visitou eles preferem obedecer à lei do silêncio, porém tentei explicar para ela que a

pesquisa estava focada no programa e não nos problemas internos enfrentados pelo condomínio, mais não

teve jeito elas se negaram a participar.

55

Sra. Flavia, idade 29 anos, solteira, tem 03 filhos e mora com

companheiro padrasto das crianças, parou os estudos na 5ª série do ensino

fundamental, trabalha como costureira sem carteira assinada.

Sra. Joana, idade 34 anos, possui união estável com o companheiro e

tem 06 filhos, dentre eles um apresenta deficiência mental acompanhado pelo

CAPS, cessou seus estudos na 2ª série do ensino fundamental, no momento

ela e seu companheiro estão desempregados, estão sobrevivendo somente

com o bolsa família e alguns consertos de televisão que o companheiro faz de

vez em quando.

Sr. João, idade 53 anos, casado, tem um filho e mora somente com

esse filho, pois está separado de sua esposa há 20 anos, afirma ter cessado os

estudos na 5ª série do ensino fundamental e é autônomo, trabalha de

mecânico eletrônico.

Adiante traçarei o perfil das profissionais de Serviço Social: Mônica, 24

anos, solteira, formou-se em Serviço Social no ano de 2011, especialista em

seguridade social e legislação previdenciária, trabalha na área habitacional há

oito meses.

Izabel, 24 anos, solteira, formou-se em Serviço Social em 2011,

especialista em seguridade social e legislação previdenciária, trabalha na área

habitacional há1 ano e cinco meses.

Aline, 29 anos, solteira, formou-se em Serviço Social em 2010,

atualmente esta cursando especialização em saúde da família, trabalha na

área habitacional há 1 ano e 7 meses.

Em uma análise prévia podemos verificar a constante predominância

de moradores do sexo feminino, o que se reflete na titularidade do programa

PMCMV.

Segundo Lima (2012):

Neste ponto, as políticas que buscam igualdade nas relações de gênero vinculam-se ao contexto da cidade, pois a titularidade é pensada em consonância com um posto de saúde, com uma escola, com um cenário comunitário, que percebem a presença das mulheres

56

e, mais do que sito, reconhece que estas são detentoras de pouco poder de mando de decisão no espaço público, merecendo igualdade na distribuição deste poder. (LIMA, 2012, p.107)

Conforme a Lei nº 11.977 (2009) que dispõe a concessão do título do

imóvel, deve ser preferencialmente à mulher deve ser a beneficiária, bem como

o registro na matrícula do imóvel deve ser no nome dela. A referida iniciativa

reforça a luta dos movimentos feministas em busca pela igualdade de gênero,

reafirmando o papel fundamental da mulher no âmbito familiar e frente ao

mercado de trabalho.

Os dados coletados a seguir demonstram as mudanças decorrentes do

programa nas falas dos entrevistados:

Maravilha foi ótimo, eu nunca possuí uma casa né! Com esse programa agora foi ótimo ter chegado à boa hora. (Sr. JOÃO). Aqui é um local bom, não tenho o que dizer dos meus vizinhos tudo são evangélicos e graças a Deus estou aqui né! Só tem um problema aqui a gente passa apertado, mais nós tá vencendo a batalha, porque nada pra Deus é impossível né! (Dona. JOANA). Trouxe tranquilidade e paz, mas ao mesmo tempo trouxe uma coisa que não da que é pagamento, o pagamento que aperta né? Porque eu ganho pouco né? E agora eu tô parada por causa dos meus meninos, porque eles (filhos) tão adoecendo mais rápido ai não têm como eu ir trabalhar, e ficar pagando condomínio, a prestação da casa R$ 50,00 condomínio R$ 42,00 água R$ 56,00 e a luz R$ 28,00 e ele (companheiro) só recebem R$ 180,00 e é avulso, não é carteira assinada e o homem atrasa muito. ( Dona. CARLA). Pra minha vida só trouxe problema, porque eu morava lá na colônia e lá a gente não pagava casa, nem condomínio só pagava água e luz. (Dona. FLAVIA).

O que percebemos nos relatos acima é que o PMCMV parece causar

um sentimento de satisfação por parte dos moradores, mas por outro lado

percebemos que desperta também um sentimento de preocupação e angustia

em relação às prestações a serem pagas ao longo dos 10 anos de

financiamento do imóvel, como veremos adiante.

Tendo em vista que é função social do Estado garantir moradia digna,

um direito fundamental e necessário para a sobrevivência dos indivíduos

expresso no artigo 6º da Constituição Federal de 1988, identifica-se diversas

contradições que podem ser percebidas a seguir:

57

A meu ver, o direito a moradia não é exercido da forma como deveria, principalmente, para famílias que de fato necessitam de moradia e, entretanto não tem condições de adquiri-las, seja em virtude dos altos valores dos imóveis bem como pela falta de recursos financeiros. (A.S ALINE).

Primeiro de tudo, devia se ter um Programa direcionado para a população sem renda, o direito à moradia devia-se dar sem necessidade de pagar para ter acesso, mesmo que seja pago uma pequena parcela. Outro procedimento que poderia ser utilizado seria a construção de casas, ao invés de condomínio, pois em condomínio há mais taxas, os problemas se tornam coletivos, a maioria dos beneficiados não tem vivência do que seja morar em condomínio. (A. S MONICA).

Formagio (2010) diz que a renda que vem do trabalho não permite a

grande parte dos trabalhadores o acesso à terra urbana, seu salário cada vez

menos se responsabiliza por garantir essa necessidade. Com estas

considerações, é possível partir, então, da ideia de que as condições de

moradia, num momento histórico em que a sobrevivência se dá pelo trabalho

assalariado, se traçam diretamente pelas condições de trabalho.

A partir dos relatos acima podemos perceber as contradições a

respeito do direito à moradia garantida legalmente, contudo a realidade

enfrentada pelas famílias beneficiadas é outra, pois o que vivenciamos hoje é o

crescimento acelerado do mercado privado no âmbito imobiliário, onde o

Estado embora dê algum incentivo de subsídio na aquisição dos imóveis,

indiretamente passa para o âmbito privado a responsabilidade da viabilização e

aquisição dessas moradias, como veremos a seguir:

Um financiamento de uma moradia própria e mais digna, em que, o governo subsidia a maior parte do valor do imóvel. A centralidade do Programa Minha Casa Minha Vida não é o direito à moradia digna, mas surgiu num momento histórico como estratégia para estimular o desenvolvimento econômico do Brasil. (A.S IZABEL).

Percebemos que o direito à moradia já não é garantida conforme a lei,

e isso causam uma perda de consciência de garantia de direito, pois as

pessoas acabam que se conformando com o que é imposto pelo Estado, e se

submetendo aos ditames dele: “Não, eu acho que pra mim tá bom né! Tá

dando pra gente pagar né! Tá dando pra gente pagar tudo, tá bom. Pra mim tá

ótimo! A vizinhança é ótima, o local também é bom.” (Sr. JOÃO).

58

Nessa nova roupagem de “garantia de direitos” podemos visualizar a

alienação que esses usuários sofrem, pois acabam achando que a facilitação

do financiamento ocorreu por generosidade do governo, que viabilizou o sonho

da casa própria por um custo mais acessível. Em contrapartida, constatamos

apenas uma entrevistada que parece possuir consciência de que o direito à

moradia deve ser garantido pelo Estado sem nenhum desembolso financeiro:

Mulher os negativos é isso que eu digo mulher essa taxa de pagar essas casas. Por que o projeto é dar é Minha Casa, Minha Vida. E aqui a gente tá dizendo sabe o que é? Minha Casa, Minha Dividas. (Dona FLAVIA).

Em seguida foi perguntado aos entrevistados se o PMCMV havia

atingindo o sonho da tão sonhada casa própria, e o que percebemos no olhar

triste e nas falas dos interlocutores, foi preocupação e decepção, pois o sonho

tornou-se uma realidade bem diferente daquela que esperavam. “Não atingiu,

porque deu a expectativa pra nós que a gente ia ganhar uma casa pra gente

pagar somente água e luz, mas foi diferente, trouxe foi mais conta pra gente

pagar outras despesas”. (Dona CARLA).

Eu acho que não era pra muita gente não, mulher porque eles ilude, ilude a pessoa com uma coisa. E quando a gente vai ver é outra totalmente diferente. Eu fui pra todas as reuniões todas, todo mundo saia morto de feliz porque ia ganhar uma casa, que a casa tinha 2 quarto 1 banheiro, ai vinha na cerâmica e quando a gente abriu a porta !Não tinha cerâmica, certo que é bem repartido mais tem vários vazamentos, os aparelhos do banheiro caem, taí. o homem daqui de cima parou de usar a pia da cozinha, porque tava molhando essa parte todinha minha, ai ele pegou e deixou a pia da cozinha dele de lado e ele já foi atrás da Caixa Econômica e num vem não. (Dona FLAVIA).

É desse entendimento que partimos para analisar as condições de

moradia. Visualizamos que a classe que vive do trabalho passa por imensas

dificuldades para conseguir um local seguro para morar, porém há

diferenciações no modo como grupos específicos dessa classe se apropriam

do espaço urbano. Formagio (2010) especifica:

Há um grupo que consegue acesso aos financiamentos habitacionais de bancos públicos ou privados ou mesmo consegue guardar durante anos uma quantia e comprar um imóvel à vista; há outro grupo para o qual o aluguel é um fantasma que sempre o acompanha, de modo que a perda do emprego significa uma ameaça de despejo; e há

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ainda outro, composto por aqueles que não encontram nenhuma alternativa legal e partem para a ocupação irregular de algum espaço menos cobiçado, seja através de uma ação individual espontânea ou da participação em um movimento organizado. (FORMAGIO, 2010, p. 4).

Já em contradição aos relatos acima veremos a seguir um relato de

uma entrevistada onde se diz estar satisfeita e protegida em uma casa

totalmente diferente da que ela morava antes, considerada área de risco e

estava preste a desabar.

Realizou, realizou foi muito, só em a gente ter a casa da gente é maravilha. Morava num galpão, bem dizer vendo a hora do bicho daquele desabar em cima das minhas crianças, eu num tenho o que dizer daqui não, aqui é um local bom graças a Deus to bem protegida com meus filhos. (Dona JOANA).

Além disso, a questão do endereçamento pode parecer coisa simples e

sem importância para uma pessoa que tem casa própria, mas para uma

pessoa que não possuía uma casa, como veremos no relato abaixo, tem um

significado muito importante, pois desperta um sentimento de segurança, de

pertencimento a uma sociedade que é repleta de exclusão e preconceitos.

“Aqui é uma benção, porque antes onde a gente morava aonde a gente ia o

pessoal dizia num tem nenhum endereço próprio né! Agora a gente já tem.

Tem as dificuldadezinha (sic) né mais a gente vai vencendo.” (Dona. JOANA).

Percebe-se que há também aqueles que se reconhecem como

portador de direitos e que esses direitos estão sendo violado que no lugar do

direito à moradia estão ofertando o acesso. Contudo eles ressaltam a sua

moradia anterior ao programa que não tinham preocupação em pagar

mensalmente contas que até então não estavam planejadas. “Pra minha vida

só trouxe problema, porque eu morava lá na colônia e lá a gente não pagava

casa, nem condomínio só pagava água e luz”. (Dona FLAVIA).

A maior dificuldade aqui é a renda eu não tenho como pagar, o programa diz uma coisa e quando a gente vai ver né é outra totalmente diferente, pra mim ficou Minha Casa, Minha divida por isso que muita gente foi embora porque não aguenta, porque é pesado e logo eu que tenho 4 crianças, 4 crianças num apartamento desse trancado imagina. (Dona CARLA).

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Ressalta-se em uma das falas acima a dificuldade de se adaptar em

um apartamento tendo em vista que anteriormente ao programa, essas famílias

moravam em casas e a partir do beneficiamento de um apartamento passaram

a vivenciar uma realidade totalmente diferente, conforme indica Dona Carla:

Embora as condições da casa lá fossem ruins, mas eu gostava de morar lá por causa da liberdade, porque eles corriam, as dívidas eram menos, lá a gente tinha liberdade de trabalhar com as nossas reciclagens e lá eu nunca passei dificuldade. (Dona CARLA).

Em relação ao direito à moradia e às prestações a serem pagas por

conta do financiamento, relatam as profissionais que trabalham na habitação

que:

O ideal é que o direito à moradia fosse assegurado sem nenhum ônus às famílias. A forma como o direito à moradia é assegurada aos beneficiários é errônea, pois o usuário assume as parcelas do imóvel, quando estes encargos em sua totalidade deveriam caber ao governo federal/município. Na verdade, é um retorno do dinheiro dos programas sociais (bolsa família) / aposentadorias para os cofres públicos. (A.S ALINE). Muitas famílias não conseguem arcar com o ônus que a nova moradia do Programa Minha Casa Minha Vida traz como consequência. Não garantem a moradia própria no aspecto do direito social. A propriedade da unidade habitacional se dá através de um financiamento, mesmo que num valor menor que o preponderante no mercado. (A.S IZABEL).

O que percebemos nas falas das profissionais é que o direito a

habitação está sendo garantido, mas que traz consigo uma série de

consequências a serem arcadas por quem for beneficiado. E em decorrência

de que nem todas as famílias possam arcar com essas despesas, elas acabam

muitas vezes retornando aos seus lares anteriores. “Os outros vieram morar

aqui, que vieram de lá de onde eu morei venderam. Venderam as casas né!”

(Sr. JOÃO).

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Muita gente desistiu quando tava na fila, que foi chamado pra fazer os

contratos que disse que tinha que pagar. Teve 5 famílias que desistiu

na hora, porque não tinha condição nem de comer direito, quanto mais tá pagando apartamento. Por que no mês que não tão em dias

ele manda logo uma carta cobrando, por isso que muita gente foi

embora, porque não tinha condição de pagar não. (DONA FLAVIA)

Verifica-se nas falas acima a indignação por parte das famílias em ver

que muitos foram embora pela falta das condições financeiras em arcarem com

todas as despesas, pois nem todos possuem emprego fixo influenciando assim

as diversas inadimplências decorrentes do desemprego.

“Ai mulher a gente não tem trabalho certo, mas tem que tá em dias com a caixa todo mês. Porque emprego tá difícil, se a vida tá difícil pra quem trabalha de carteira assinada, avali (sic) pra quem não tá trabalhando.” (Dona FLAVIA). Eu sobrevivo com a reciclagem e bolsa família e trabalho de zeladora, ai quando aparece que meus meninos tão doentes eu tenho que parar e ele tá parado também, porque não chegou material e é

avulso. Aqui é bom pra morar, é bom pra quem tem renda boa, renda

e carro e pra quem trabalha, porque se não trabalha é um horror é um programa meio que contraditório né?(Dona CARLA).

Podemos perceber que a falta de um emprego inviabiliza que o mesmo

tenha suas conta em dias e que muitas vezes deixam de comer ou até de

gastar consigo e com sua família para pagarem as prestações de apartamento

e condomínio como veremos a seguir:

Dificuldade e aqui ó às vezes a gente passa dificuldade teve umas semanas aqui que num tinha pão pros meninos num tinha nada, tive que me virar deixar eles em casa pra me ir arrumar um bico pra poder fazer ai fica difícil, porque eu num posso ir todo dia porque agora dia 12 tenho que ir pro hospital com ele mostrar os exames ai vem conta vem tudo pra pagar, se eu deixar eles só pra ir trabalhar ai os vizinhos vai ligar pro CRAS pra chamar o Conselho Tutelar pra dizer que os meninos tão só né?(Dona CARLA). Tem que tá com condomínio, apartamento tudo em dias se a gente num paga vem o aviso, a cobrança pra gente, ordem de despejo vem logo desse jeito e a vida tá difícil. E nas reuniões só o que se cobra é isso condomínio, condomínio e condomínio. Como se a gente não almoçasse, não tivesse outras dívidas pra pagar. Só o que é falado no condomínio e nas reuniões é isso “O Condomínio”. (Dona FLAVIA).

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Bourdieu (2001), por sua vez, defende a existência do poder simbólico,

através do qual, os campos dominantes são beneficiários de um capital

simbólico que, por sua vez, é disseminado e reproduzido por meio de

instituições e práticas sociais, que lhes possibilita exercer o poder. Trata-se,

portanto, da teoria da dominação simbólica que se expressa pelos órgãos

superior no caso a Caixa Econômica.

No ponto de vista do profissional técnico em relação ao pagamento das

prestações a visão de condições de geração de emprego relata:

Acho que o ponto primordial para a permanência das famílias já beneficiadas no residencial está na geração de emprego e renda, pois com a inserção no mercado de trabalho conseguirão assumir os compromissos financeiros que exigem esta moradia, pois muitas famílias vendem os imóveis por não terem condições de se manterem. (A.S ALINE).

A preocupação e o medo de muitos em serem despejados pela falta

de pagamento é percebida em suas falas e até mesmo em seus semblantes na

hora da entrevista, pois como eles tinham uma visão de que o PMCMV era

uma forma de moradia digna e segura transformou em decepção devido às

cobranças da Caixa Econômica Federal que recebem mensalmente. Os

sentimentos de incerteza por parte das famílias aumentam à medida que os

meses passam e elas não conseguem quitar suas dívidas como veremos a

seguir:

Tem que tá com condomínio, apartamento tudo em dias se a gente num paga, vem o aviso, a cobrança pra gente, ordem de despejo vem logo desse jeito e a vida tá difícil. Porque tem tanta gente endividado, mulher tem uma colega minha, mulher que ela não paga , mulher desde de novembro que ela não paga, desempregada com uma menina de 7meses não pode trabalhar sei que ela disse que aonde ela morava não era assim, ela pagava aluguel e não se sentia tão sufocada como se sentia aqui. (Dona FLAVIA). O dinheiro que eu pego já é destinado a pagar as contas porque se não pagar vem às multas, eu faço sacrifício pra ficar em dia eu já deixei de comprar comida pra pagar essas contas, acredita? (Dona CARLA).

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Neste sentido, Cordeiro (2006), cita que os gestores habitacionais não

devem simplesmente desenvolver um Programa ou um Projeto, mas, é

necessária a adoção de medidas contributivas para mobilização e organização

comunitária e para geração de emprego e renda. Observa-se a importância do

Trabalho Social para promover ações que contribuam com a equalização das

dificuldades pelas quais chefes de família, têm enfrentado na luta efetiva pela

solução dos problemas da moradia.

Tendo em vista que as contas decorrentes do financiamento da casa

própria foram perguntadas aos mesmos à importância deste programa para

suas vidas. “Eu acho importante, eu acho né! Acho que veio em boa hora pra

quem não tinha veio em boa hora.” (Sr. JOÃO).

Um programa importante né, que o Governo Federal criou que mudou muitas coisas né! A gente é como eu tava lhe dizendo na área que eu morava era meio perigosa né! Quando chovia a água batia na calçada da gente, só faltava entrar em casa, só num entrava porque enfim Deus num deixava, mas daqui eu num tenho nada que dizer daqui não, são pessoas boas, só passando um apertosinho mais dá pra gente vencer a batalha. (Dona JOANA). Mulher em certas coisas pra mim, ele foi bom. Assim né mulher o local que eu achei que é muito calmo aqui muito calmo, o espaço pras crianças brincar... Ai mulher é assim porque eles falam umas coisas e quando a gente vai olhar é outra totalmente diferente. (Dona FLAVIA).

Eu avalio bem, porque tem espaço pro meus filhos, meus filhos podem brincar, mais ao mesmo tempo por outro lado é ruim porque tudo é longe, não tem colégio perto, mercantil é longe, um posto que preste, tem posto mais não tem médico, muito difícil. (Dona CARLA)

Verificamos acima que eles reconhecem a importância do programa

para a aquisição da casa própria, contudo em uma das falas das entrevistadas

verifica- se a insatisfação da mesma em relação à localidade:

Não mulher, eu cheguei aqui em setembro do ano passado e mulher até hoje eu não consegui fazer minha carteira no posto. A gente chega lá no posto, ai eles diz assim: É Virgilio Távora qual é I, II,III ai a gente diz é o III elas diz logo não tem médico. (Dona FLAVIA).

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Eu cheguei aqui mulher eu num sabia de nada eu tive que me virar sozinha rodando isso tudinho aqui atrás de vaga com os meninos nos braços, um dia levava um no outro levava outro. O pessoal ai no posto não trata a gente bem, tem uns que trata e outros que não trata o médico não tratam. (Dona CARLA).

Nas falas acima mostram-se que nem as pessoas sabiam onde

estavam e que isso despertou nelas um sentimento de decepção, pois estava

se sentido excluídas foram retiradas de suas áreas na qual mantinham vínculos

e foram colocadas em um local de difícil acesso.

Muito embora o Trabalho Social para Oliveira e Cassab (2010) se

apresente com caráter de desenvolvimento das famílias acompanhadas, o fator

potencial para o alcance dos objetivos propostos no Projeto está na maneira

em que o Serviço Social se apresenta para sua demanda, ou seja, de forma a

desvencilhar as barreiras impostas, principalmente às que se referem a

relações, atuando com a possibilidade de resgatar vínculos familiares e a

participação efetiva de cada cidadão, promovendo estratégias para o

desenvolvimento dos laços de vizinhança, organização comunitária e a

participação política.

Nesse sentido, a fala abaixo retrata a discussão estabelecida:

Um dos pontos positivos é a questão de preservar os laços territoriais, pois se prioriza, em sua maioria, as famílias que moram no entorno do empreendimento a fim de manter os laços de vizinhança/ familiares adquiridos ao longo dos anos nos bairros de origem. (A.S ALINE).

Contudo, a realidade enfrentada pelas famílias beneficiadas em relação

à mudança de endereço é bem sucinta, pois foram alocadas para um lugar

distante sem sequer serem ouvidas ou mesmo terem a opção de escolher o

local de se viver:

Foi um erro devia ter feito uma pesquisa, perguntar como é? E conversar né? Dialogar né? Parece que abriu a porteira do curral e jogou todo mundo, sem informar nada, o posto presta mais não tem médico e quando tem vem quando quer, só tem 1 dia que é do nosso condomínio ser atendido que é dia de quarta-feira. (Dona CARLA).

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Eu acho assim pra gente que era da colônia, a gente tinha que receber aquele que ia ser feito lá no Timbó, porque era ele que ficava mais perto da gente, mais não disse vai ser no Virgilio Távora, é ali e pronto, num teve escolha num teve nada, vai ser ali e pronto, a gente não teve como escolher e tinha muito apartamento pra ser entregue lá no Luzardo Viana, porque eles não tão dando a gente tá pagando a gente tem o direito de escolher onde era que queria receber. Porque onde vocês moram a gente vai derrubar, chegou uma ordem de despejo.Era pegar ou o largar no nosso foi pega ou fica no meio da rua. (Dona FLAVIA). A gente tá jogado as baratas, não aconselho ninguém, não tem pra onde você correr ou se salve se puder, aqui é totalmente sem estrutura é como se tivesse pegado uma parte da sociedade e tivesse escondido é assim que eu me sinto. Aqui é bom pra quem tem condições minha filha ou então salve se puder. (Dona CARLA).

De acordo com Brasília (2010) a participação popular, ajuda a construir

efetividade nos programas e a garantir a permanência das famílias. É preciso

acabar com o círculo vicioso, que faz as famílias voltarem às moradias

precárias. A reforma urbana que o Movimento Nacional de Luta pela Moradia

defende é uma reforma sem o que chama de “favelização” 6.

O empreendimento foi construído em uma área totalmente isolada, e

isso causa nos moradores um sentimento de decepção, tendo em vista que o

direito à moradia está para além de uma unidade habitacional, é a garantia de

acesso aos equipamentos da rede socioassistencial, como veremos nos relatos

adiante:

O Residencial Virgílio Távora localiza-se numa região em que há poucos equipamentos sociais. As famílias precisam se deslocar bastante para realizar compras, levar as crianças à escola. A prefeitura de Maracanaú para receber os empreendimentos no município assegurou que no entorno do empreendimento haveria escolas, creches, ampliação do posto de saúde e do CRAS, no entanto as famílias mudaram-se e isso não aconteceu. Até hoje, a estrutura do entorno não está preparada para atender os usuários beneficiados no Residencial Virgílio Távora. A título de exemplo, por várias vezes, a Coordenadoria de Habitação, entrou em contato com a Secretaria de Saúde para assegurar o atendimento das famílias no

6 Favelização é o nome dado a um fenômeno social que ocorre em centros urbanos em que há

o crescimento e proliferação das favelas em quantidade e em população, eventualmente associado à transferência da população local de moradias legalizadas para conjuntos urbanos irregulares. Cabe notar, no entanto, que a definição de "favelização" depende da própria definição do fenômeno conhecido como favela: se este for considerado apenas como uma área urbana desenvolvida a partir de invasão de terrenos particulares, o termo "favelização" passaria a indicar um aumento da irregularidade na propriedade do solo urbano, mas não indica necessariamente a qualidade de tais moradias.

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posto de saúde, pois este distribui apenas 20 (vinte) fichas por semana para atender uma população de mais de 600 famílias. A Secretaria de Saúde informou que estão aguardando o aumento das equipes de saúde da família para assim atender a população do residencial. (ALINE).

A localidade é afastada do centro urbano do município e não contempla todos os serviços públicos que a população beneficiada tem direito. A mobilidade urbana também é crítica, haja vista ser próxima a uma CE, cujo fluxo de veículos é bastante intenso. O direito a moradia não se resume na unidade habitacional, mas também o acesso a serviços públicos no território. Precisa vir junto com a saúde, a educação, o saneamento básico, a mobilidade urbana etc. no território. Além disso, a organização comunitária deve ser preservada. (IZABEL).

Essa ausência de infraestrutura e de uma equipe de rede

socioassistencial que possa estar ali na luta de garantia aos direitos dos

usuários é devido ao mau planejamento das políticas pelos municípios, o

mesmo só garanti o direito à moradia e não proporciona os meios de qualidade

de atendimento a esses usuários e nem da escolha da seleção fortalecendo o

clientelismo. Não disponibilizando boas condições para que essa população

conviva em comunidade:

Na prática, os municípios ainda não têm equipe técnica quali-quantitativamente a contento para desenvolver o Programa, não têm infraestrutura física mínima para manter sua equipe e atender com qualidade os usuários. Na prática, os municípios não têm quadro técnico e condições práticas e materiais para fazer a seleção dos beneficiados. Ainda existe o clientelismo político na escolha de quem sejam os beneficiários. A rede socioassistencial, antes mesmo da construção do empreendimento, já não tem condições físicas e de quadro técnico suficiente para a demanda já existente. Com o aumento da população na sua área de abrangência, devido ao PMCMV, os serviços ficam ainda mais precários, cabe destacar que quando se faz o convênio com o Governo Federal, o município deve disponibilizar as condições básicas para a moradia das pessoas. (MONICA).

Considerando que o direito a moradia é mais amplo do que a questão de

uma casa, percebemos ao longo das entrevistas que o município se preocupou

em providenciar o acesso dessas famílias à moradia, mas não planejou o

exercício da cidadania, como afirma Carvalho (2002) “[...] é importante, então,

refletir sobre o problema da cidadania, sobre seu significado, sua evolução

histórica e suas perspectivas.” (2002, p.8). Os sujeitos necessitariam de

equipamentos sociais para que seus direitos não sejam violados, ressaltando-

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se a importância não somente da garantia à moradia, mas aos diversos fatores

que influenciam na execução da mesma. Conforme salientam as assistentes

sociais:

O direito a moradia trata-se de um direito social assegurado na Constituição Federal de 1988 que ultrapassa a ideia de um imóvel, ou seja, de uma unidade habitacional. A ideia de moradia é mais ampla, pois deve assegurar às famílias, além do apartamento/ casa, ou seja, a estrutura física, equipamentos sociais (CRAS, posto de saúde, escolas), áreas de lazer, postos de trabalho, a fim de garantir a permanência dos beneficiários nos imóveis. Acho que assegurar um lar a essas famílias, algumas oriundas de áreas de risco, acolhimento institucional, pessoas em situação de rua, condições precárias de habitabilidade (ambientes insalubres) é o reconhecimento por parte do Estado de que estas famílias necessitam de um ambiente adequado para morar. E isso é uma maneira de garantir que estas famílias excluídas sejam reconhecidas como cidadãos, sujeitos de direitos. (A.S ALINE). O direito à moradia não se restringe a questão da casa, mas de todo acesso à infraestrutura básica, como: rede encanada de água e esgoto, transporte público de qualidade, serviços de saúde e de educação, mobilidade urbana, acessibilidade, enfim, todas as condições dignas de se residir. (A.S MONICA).

E é assim que eles vivem com uma enorme mudança em suas vidas,

pois a garantia ao direito à moradia veio entrelaçada com inacabadas dividas

que despertam um sentimento de angustia e decepção e ao mesmo tempo um

sentimento de pertencimento, pois ao conseguirem pagar cada mensalidade,

surge um sentimento de alivio e despreocupação.

Neste contexto, ganha ainda maior importância à retomada do

planejamento municipal na área habitacional. Os Planos Locais de Habitação

de Interesse Social devem ser vistos como instrumentos estratégicos para

execução mais eficaz e oportuna do “Programa Minha Casa, Minha Vida”,

assim como de outros programas já em andamento no âmbito local. Ao

dimensionar as necessidades habitacionais do município, ressaltamos a

importância de identificar terras aptas para a produção de moradia e definir

cenários de disponibilidade de recursos para fins de contrapartida e ter a

participação da sociedade civil que será beneficiada durante todo o percurso do

projeto desde a escolha até a entrega.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O aumento populacional dos grandes centros urbanos e a pressão de

movimentos sociais em ter uma morada e realizar o sonho da casa própria, fez

com que o governo elaborasse e criasse mecanismos e órgãos que propiciem

o acesso à moradia e não foi diferente no município de Maracanaú. A política

de habitação no Brasil configurou-se na linha de ajustar moradias para os

desabrigados, no entanto com o tempo houve uma evolução, e seu ápice

ocorreu no governo Lula, onde os avanços à respeito dos programas de

habitação de interesse social contribuíram para que muitos brasileiros

conseguissem as suas moradias sem o pagamento de valores ou apenas

através de um “valor simbólico”.

Não podemos negar a importância do Programa Minha Casa Minha

Vida, que atualmente vem proporcionando o acesso de muitos cidadãos

brasileiros a moradia. Em relação a isso, o município de Maracanaú através

desse programa vem gerando os primeiros muitos frutos na entrega das

unidades variadas, começando no Blanchard Girão.

Diante dos dados colhidos e analisados e da experiência que tivemos

do acompanhamento das famílias da comunidade Residencial Virgilio Távora

III, durante o estágio e durante a pesquisa, podemos observar algumas falhas

no que diz respeito à falta de informações por parte dos beneficiados, uma vez

que mesmo sendo um programa de interesse social, requer dos contemplados

o pagamento mensal pela unidade habitacional, bem como a taxa de

condomínio, uma vez que o empreendimento é murado e foi perceptível que

boa parte desses moradores desconhecia o local no qual as unidades

habitacionais estavam sendo construídas. Muitos inclusive reclamam do

pagamento realizado ao condomínio, já que as unidades beneficiam pessoas

de baixa renda que muitas vezes não dispõem de recursos para pagar tais

taxas e retornam a sua locação habitacional anterior.

Muitas famílias ao desistiram do PMCMV no município de Maracanaú,

por não poderem pagar as prestações, vão de encontro à lógica neoliberal, que

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cada vez mais reforça os programas habitacionais ligados a tendência do

mercado, portanto é um desafio mantê-las nas unidades, mas onde estão as

políticas de proteção ao usuário? E esses benefícios de moradia são para

beneficiar ou para manter uma modalidade da lógica neoliberal? Durante nossa

pesquisa surgiram vários questionamentos como esses.

A apropriação dos moradores do significado da moradia como um

processo que agrega outros dispositivos como: saúde, educação, transporte,

trabalho e uma rede de direitos que se traduzem na concepção de cidadania,

fomentando nos indivíduos o processo de coletividade na luta dos direitos

como um dever do Estado é uma luta constante dos funcionários dentro da

habitação e principalmente do Serviço Social que lida constantemente

diretamente com essas famílias.

Com isso chego à conclusão que a promulgação de direitos em relação

a esse fenômeno da habitação no Brasil é contraditória, na minha caminhada

de estagiária e pesquisadora pude perceber para além de uma simples entrega

habitacional, pois se trata da construção de uma vida, uma caminhada longa

que muitas vezes é interrompida pelo fato das políticas não serem capazes de

concretizar o sonho da casa própria, deixando marcas na vida dessas pessoas,

o nosso legado nessa pesquisa é mostrar que tais políticas precisam ser

revisadas e que o importante é o direito do cidadão e o seu bem estar.

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APÊNDICES

APÊDÍCE A

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA APLICADA AOS MORADORES BENEFICIADOS.

Pesquisa de TCC: Os impactos do Programa Minha Casa, Minha Vida para as Famílias Beneficiadas com uma unidade habitacional no Residencial Virgilio Távora III no município de Maracanaú. Pesquisadores: Elane Oliveira Silva; Priscila Nottingham (Orientadora).

ROTEIRO DE ENTREVISTA

DADOS DEMOGRÁFICOS, REALIDADE DE VIDA E DE TRABALHO. Nome:___________________________________________________ Sexo: Idade: Estado civil: 1) Quantas pessoas moram na mesma casa que você? _____ 2) Qual a sua Escolaridade? . 3) Você trabalha? Qual a profissão?_________________ 4) Quais mudanças o Programa Minha Casa, Minha Vida trouxe para sua vida? 5) Como você avalia a importância deste programa para sua vida? 6) Quais os pontos positivos e/ou negativos no Programa Minha Casa,Minha Vida? 7) O Programa Minha Casa,Minha Vida atingiu suas expectativas sobre o sonho da casa própria?Por quê? 8) Se você pudesse escolher você permaneceria neste residencial? Por quê?

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APÊNDICE B

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA APLICADA ÀS TÉCNICAS SOCIAIS DA SEINFRA-COHAB.

Pesquisa de TCC: Os impactos do Programa Minha Casa, Minha Vida para as Famílias Beneficiadas com uma unidade habitacional no Residencial Virgilio Távora III no município de Maracanaú. Pesquisadores: Elane Oliveira Silva; Priscila Nottingham (Orientadora).

ROTEIRO DE ENTREVISTA

DADOS DEMOGRÁFICOS, REALIDADE DE VIDA E DE TRABALHO. Nome:___________________________________________________ Idade:____________________ Quantos anos trabalha na Instituição:________________________ Há quantos anos trabalha na área habitacional:_____________ 1) Quais mudanças que o Programa Minha Casa, Minha Vida pode trazer para a vida dos usuários? 2) Quais os pontos positivos e/ou negativos no Programa Minha Casa, Minha Vida? 3) Você acha que o Programa Minha Casa,Minha Vida atinge as expectativas sobre o sonho da casa própria?Por quê? 4) Como você vê o direito a moradia para o usuário? 5) Na sua visão como você avalia a questão das prestações cobradas ao longo dos dez anos aos usuários beneficiados? 6) Como você diferencia direito a moradia de uma unidade habitacional? 7) Qual a sua opinião a respeito da localidade a qual foi construído os empreendimentos? Esta localidade é acessível para todos? 8) Na sua visão você acha que a rede sócio assistencial estava preparada para receber e atender todas as famílias beneficiadas? 9) Em que ponto você acha que o Programa Minha Casa, Minha Vida contribuiu para o exercício da cidadania?

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10)Na sua opinião, que procedimentos poderiam ser realizados para diminuir a venda dos imóveis do Programa em questão?

APÊNDICE C

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o(a) Sr(a) para participar da Pesquisa “ Os impactos o Programa Minha Casa, Minha Vida trouxe as famílias beneficiadas no Município de Maracanaú” sob execução dos (as) pesquisador(as) Priscila Nottingham (responsável) e Elane Oliveira (participante), a qual pretende identificar os impactos do Programa Minha Casa, Minha Vida, no Município de Maracanaú, no cotidiano das famílias que já foram contempladas com unidade habitacional.

Sua participação é voluntária e se dará por meio de entrevista, que consiste em

respostas a perguntas apresentadas ao Sr(a). pelo pesquisador. A entrevista será realizada no Residencial Virgilio Távora III, com duração aproximada de 02 horas, no dia previamente marcado, de acordo com a sua disponibilidade. Os depoimentos desta entrevista serão gravados com seu consentimento.

Não há riscos decorrentes da sua participação e o(a) Sr(a). possui a liberdade

de retirar sua permissão a qualquer momento, seja antes ou depois da coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo a sua pessoa e nem ao seu atendimento na Instituição.

Se o(a) Sr(a) aceitar participar, estará contribuindo para à compreensão de que

mudanças o Programa Minha Casa, Minha Vida trouxe para a vida das famílias beneficiadas.

Ressaltamos que tem o direito de ser mantido(a) atualizado(a) sobre os

resultados parciais da pesquisa. Esclarecemos que, ao concluir a pesquisa, será

comunicado dos resultados finais.

Não há despesas pessoais para o(a) participante em qualquer fase do estudo.

Também não há compensação financeira relacionada à sua participação. Se existir qualquer despesa adicional, ela será paga pelo orçamento da pesquisa.

Os pesquisadores assumem o compromisso de utilizar os dados somente para

esta pesquisa. Os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua

identidade não será divulgada, sendo guardada em sigilo.

Em qualquer etapa do estudo, poderá contatar os pesquisadores para o

esclarecimento de dúvidas ou para retirar o consentimento de utilização dos dados

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coletados com a entrevista: Priscila Nottingham, fone: (85) 3201-7000 e Elane Oliveira,

pelo fone: (85) 8861-0768.

Caso tenha alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa também

pode entrar em contato com Coordenadoria de Habitação.

Consentimento Pós–Informação

Eu,___________________________________________________________, fui informado sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboração, e entendi a explicação. Por isso, eu concordo em participar do projeto, sabendo que não vou ganhar nada e que posso sair quando quiser. Este documento é emitido em duas vias que serão ambas assinadas por mim e pelo pesquisador, ficando uma via com cada um de nós. ________________________________________ Data: ___/ ____/2013 Assinatura do Participante __________________________________________ Assinatura do Pesquisador Responsável