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ATENÇÃO: é proibida a reprodução deste material, ainda que sem fins lucrativos. O CEI possui um sistema de registro de dados que marca o material com o seu CPF ou nome de usuário. O descumprimento dessa orientação acarretará na sua exclusão do Curso. Agradecemos pela sua gentileza de adquirir honestamente o curso e permitir que o CEI continue existindo.

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PROFESSORES

Coordenação: Mila Gouveia. Advogada, pós-graduada em Direito Público, autora e coordenadora de Coleções de obras jurídicas na Editora Juspodivm.

Rogerio de Vidal Cunha. Juiz de Direito (TJ/PR). Professor da Escola da Magistratura do Paraná e da UNIFOZ.

Elvis Jakson Melnisk. Juiz de Direito (TJ/PR) com atuação em Vara Cível e Vara da Fazenda Pública, e Professor de Direito Civil na Unidade de Ensino Superior Vale do Iguaçu, em União da Vitória. Possui graduação em Bacharelado em Direito pela Universidade Estadual de Ponta Grossa e Pós-Graduação em Direito Processual Civil pela Uninter.

João Guilherme Barbosa Elias. Juiz de Direito (TJ/PR) desde 2013. Pós-Graduado em Direito do Estado pela Anhanguera. Pós-Graduado em Direito Processual Civil pela PUC-SP.

Rafhael Wasserman. Juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Professor de Direito Processual Civil e Direito Tributário no Centro Universitário Campo Real. Professor do Instituto Brasileiro de Estudos Tributários (IBET). Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Especialista em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários (IBET). Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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Marcel Ferreira dos Santos. Graduado em Direito pela Universidade Paulista. Pós-graduado em Direito Civil e Processo Civil pela Escola Paulista de Direito -EPD. Pós-graduado em Direito Público pela Faculdade de Direito Professor Damásio de Jesus. Mestre em Ciências Jurídicas pelo Centro Universitário Maringá (UNICESUMAR). Atualmente é Juiz de Direito - TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Público. Diretor da Escola da Magistratura (núcleo de Maringá). Membro eleito pela magistratura para compor o Comitê Gestor de Priorização do 1º Grau de Jurisdição. Membro efetivo do Conselho Fiscal e da Diretoria da Associação dos Magistrados do Estado do Paraná. Membro da Secretaria de Interiorização da Associação dos Magistrados Brasileiros. Professor da Escola da Magistratura. Professor dos cursos de Pós-graduação de Direito Civil/Processo Civil e Pós-graduação em Ciências Criminais da Pontifícia Católica de Maringá - PUC.

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SUMÁRIO

PROFESSORES ................................................................................................................................... 4

QUESTÃO DISSERTATIVA .................................................................................................................... 7

QUESTÕES DISCURSIVAS ................................................................................................................... 7

SENTENÇA CÍVEL ............................................................................................................................... 8

QUESTÃO DISSERTATIVA COMENTADA ...............................................................................................10DIREITO CONSTITUCIONAL ......................................................................................................10

QUESTÕES DISCURSIVAS COMENTADAS ............................................................................................16DIREITO CIVIL ..........................................................................................................................16DIREITO PROCESSUAL CIVIL ....................................................................................................20DIREITO PENAL .......................................................................................................................27DIREITO PROCESSUAL PENAL ..................................................................................................32DIREITO ELEITORAL .................................................................................................................39DIREITO AMBIENTAL ................................................................................................................42

SENTENÇA CÍVEL COMENTADA ..........................................................................................................46

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QUESTÃO DISSERTATIVA

Disserte acerca das imunidades dos congressistas e a perda do mandato em razão de condenação criminal transitada em julgado. (Máximo de 60 linhas)

QUESTÕES DISCURSIVAS

QUESTÃO 1. “A tendência manifesta da teoria da responsabilidade civil é no sentido de ampliar, cada vez mais, a sua abrangência, a fim de POSSIBILITAR QUE TODO E QUALQUER DANO POSSA SER REPARADO. Para que isso aconteça, é necessário afastar-se, progressivamente, do princípio da culpa. Isso ocorreu, avançando-se em direção a um modelo misto, onde, ao lado da culpa, há espaço para uma responsabilidade civil objetiva, fundada no risco ou na ideia de garantia. Nas últimas décadas, porém, percebe-se que esse modelo misto tornou-se mais complexo, com o SURGIMENTO DE UM TERCEIRO MODELO DE RESPONSABILIDADE, NÃO INDIVIDUAL, MAS COLETIVA, FUNDADA NA IDEIA DE SOLIDARIEDADE. Jean Guyenot e René Savatier, por exemplo, afirmam que as tendências contemporâneas se traduzem por um movimento em direção à socialização da responsabilidade e dos riscos individuais, ao término do qual toda a vítima de um acidente deverá estar virtualmente certa de ser indenizada.” (Eugênio Facchini Neto. Da Responsabilidade Civil no Novo Código).

Tomando por base o texto acima, discorra sobre uma das tendências da responsabilidade civil no direito contemporâneo denominada de “o resgate do lucro ilícito (Disgorgement of profits).” A resposta do candidato deverá abordar o fundamento da teoria e a forma ou critério de quantificação do pedido restituitório. (Máximo de 30 linhas)

QUESTÃO 2. Ricardo formulou pedido administrativo junto ao Serasa postulando a retirada de seu nome do cadastro de inadimplentes, sob alegação de que a inscrição fora indevida. Em resposta, o Serasa afirmou que excluiria o nome do requerente mediante ordem judicial. Ato contínuo, Ricardo deduziu pedido de tutela antecipada em caráter antecedente, com o exclusivo objetivo de retirar seu nome do cadastro de inadimplentes. O juiz deferiu o pedido, determinando a imediata exclusão do nome do autor, sob pena de cominação de multa diária. A requerida, por sua vez, apresentou contestação, por meio da qual declarou que o pleito não seria possível, eis que a dívida inscrita não correspondia àquela objeto da tutela provisória. Na sequência, o magistrado reconsiderou a decisão anteriormente proferida e revogou a tutela antecipada, acolhendo as alegações da ré e determinando o prosseguimento do feito.A partir do caso exposto, da legislação vigente e do entendimento dos Tribunais Superiores, o

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procedimento adotado está correto? A resposta deverá ser elaborada abrangendo o tema da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente. (Máximo de 30 linhas)

QUESTÃO 3. MARIA possui medida protetiva em desfavor de TÍCIO, consistente em proibição de aproximação – distância mínima de 200 (duzentos) metros – e também de contato por qualquer meio de comunicação. No dia 05.04.2018, TÍCIO não só se aproximou de MARIA, como manteve contato com ela e a ameaçou. TÍCIO foi preso em flagrante e conduzido para a delegacia. Diante da situação, o delegado plantonista lavrou ADPF pelo crime previsto no art. 359, CP (desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito) e, em razão da pena prevista, arbitrou fiança a TÍCIO. Discorra sobre a situação mencionada. (Máximo de 30 linhas)

QUESTÃO 4. Discorra sobre o conceito de competência e o fenômeno da translatio iudicii no processo penal. (Máximo de 30 linhas)

QUESTÃO 5. Quais são os sistemas eleitorais adotados pela Constituição Federal? (Máximo de 30 linhas)

QUESTÃO 6. Acerca da responsabilidade civil do meio ambiente, discorra sobre:

a) Quem é o responsável pela reparação? O contratante de atividade de risco responde pelo dano ocorrido fora da sua cadeia de produção? É possível responsabilizar o sócio?

b) O Estado pode ser condenado, quando havia obrigação de fiscalizar a atividade poluidora?

c) Qual teoria do risco adotada? É possível a inversão do ônus da prova?

(Máximo de 30 linhas)

SENTENÇA CÍVEL

RODRIGO SNOW ajuíza de ação ordinária contra Drogon MULTIMARCAS VEÍCULOS LTDA E BANCO DE FERRO DO BRASIL S/A onde o autor afirma que sofreu indicação de protesto nº 3971 referente a duplicata emitida em 25/10/2017, no valor de R$ 2.000,00 efetuado por apresentação da instituição financeira requerida e tendo como credor Drogon MULTIMARCAS VEÍCULOS LTDA. Alega que não possui mais qualquer relação com a requerida Drogon pois em 2007 desfez, por mútuo acordo, o contrato de compra e venda de um caminhão marca SCANIA/LX, placas AI9G

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8859. Afirma que jamais assinou qualquer duplicata, mas somente notas promissórias, que foram canceladas em virtude do desfazimento do negócio. Juntou certidão do 1º Tabelionato de Notas e Protesto com o seguinte teor: “Certifico, que atendendo solicitação de RODRIGO SNOW, portador do RG 158535-8, que revendo os registros do protesto verificou constar sob responsabilidade de RODRIGO SNOW, brasileiro, casado, empresário, portador do RG 158535-8, o seguinte protesto: Livro 2337, folha 116, espécie DP p/Indicação. N.º 3971, no valor de R$ 2.000,00, vencimento em 25/10/2017, sacador DROGON MULTIMARCAS VEÍCULOS LTDA, credor DROGON MULTIMARCAS VEÍCULOS LTDA, Apresentante, BANCO DE FERRO DO BRASIL S/A, protestado em 30/11/2017 por falta de pagamento. Apontamento 201711 3971. O referido é verdade e dou fé.

A tutela provisória de urgência foi deferida.

Citado, o requerido BANCO de ferro ofereceu contestação, requerendo, em preliminar, a sua ilegitimidade passiva, já que foi mera apresentadora do título, não respondendo por eventual vício. Postulou ainda a denunciação à lide do Oficial de Protestos, que não conferiu a regularidade formal e material do título. No mérito afirma que não há qualquer ilicitude no protesto já que recebeu os referidos títulos na qualidade de mandatária sendo o protesto exercício regular de direito, logo, não pode ser responsável por eventuais vícios do título.

A requerida ROSSINI MULTIMARCAS VEICULOS LTDA foi citada por edital, tendo a senhora curadora especial oferecido contestação por negativa geral.

Durante a instrução foi expedido ofício à Secretaria de Fazenda do Estado do Paraná que informou que no ano de 2017 a requerida ROSSINI MULTIMARCAS VEICULOS LTDA não expediu qualquer documento fiscal relativo a operações comerciais.

Todas as partes requereram o julgamento antecipado do pedido.

Após, os autos vieram conclusos.

Com base no enunciado, redige a sentença cabível, dispensado o relatório.

(Máximo de 180 linhas)

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QUESTÃO DISSERTATIVA COMENTADA

PROFESSOR JOÃO GUILHERME BARBOSA ELIASE-mail: [email protected]

🏳 DIREITO CONSTITUCIONAL

Disserte acerca das imunidades dos congressistas e a perda do mandato em razão de condenação criminal transitada em julgado. (Máximo de 60 linhas)

🎓 MODELO DE RESPOSTA

As imunidades, ao lado das prerrogativas, proibições e impedimentos, fazem parte do denominado “Estatuto dos Congressistas”. Tratam-se, pois, de regras protetivas da função parlamentar, atribuída ao membro do Poder Legislativo para o exercício de suas atribuições com liberdade, autonomia e independência, seja frente aos outros Poderes, seja em relação às pressões externas. Por estarem intimamente ligadas ao exercício do mandato, possuem caráter institucionais (prerrogativas), vinculadas ao cargo (e não à pessoa – privilégios) e são irrenunciáveis. Dada a premissa, o eleito como suplente, que não exerce a função/cargo, não está amparado pelas imunidades, salvo nos casos de substituição (em caso de impedimento) ou sucessão (em caso de vacância).

As imunidades dos congressistas se dividem em imunidades materiais e formais. Estas, por sua vez, se dividem em imunidade relativa à prisão e imunidade relativa ao processo.

A imunidade material (freedom of speech) – ou imunidade substancial ou real – visa resguardar as opiniões, palavras e votos dos parlamentares de eventual responsabilização nas esferas penal e civil (art. 53, CRFB). Além disso, a proteção abrange a conduta adotada no exercício do mandato (in officio) e também a praticada em razão dele (propter officium). A jurisprudência do STF ainda indica que as opiniões, palavras e votos lançados em plenário são presumidamente imunes. Todavia, a questão poderá ser revista, pois há ação penal em trâmite abordando a matéria. Além do mais, a jurisprudência do STF inclina no sentido de que a imunidade alcança manifestações proferidas em redes sociais, desde que em função do mandato.

Com efeito, eventuais abusos e excessos estarão sujeitos apenas ao Poder Disciplinar da Casa respectiva, que pode decidir pela perda do mandado por quebra de decoro parlamentar.

Já a imunidade formal relativa à prisão (freedom from arrest) prevê a impossibilidade de o congressista ser preso, desde a expedição do diploma (isto é, antes mesmo da posse), salvo em flagrante de crime

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inafiançável. Neste caso, a prisão será resolvida (decidida) pela respectiva Casa Legislativa, pelo voto da maioria de seus membros. O STF, em relação ao tema, também estendeu a possibilidade de prisão de congressista federal em decorrência de sentença penal condenatória definitiva.

Acerca da deliberação pela respectiva Casa Legislativa, o STF já afastou referida imunidade em caso que julgou não haver autonomia e isenção (Estado de Rondônia), visto que praticamente todos os membros foram denunciados, de modo que a imunidade não poderia servir de escudo protetivo às práticas ilícitas.

Por oportuno, destaca-se que a doutrina diverge acerca da possibilidade de prisão civil de congressista em razão de débito alimentar.

De igual forma há divergência acerca do quórum de deliberação, maioria simples ou absoluta, prevalecendo esta última na doutrina. Ainda sobre a votação, em caso recente, o STF entendeu que a votação deve ser aberta, nominal e ostensiva. Neste mesmo caso (prisão de Senador da República), o STF referendou decisão tomada pelo Relator, no sentido da prisão, por entender que o crime de integrar pessoalmente associação criminosa é permanente. Além do mais, atribuiu conceito distinto à inafiançabilidade, quando sustentou esta em razão de estar presentes os motivos autorizadores da prisão preventiva (afiançáveis em situação de inafiançabilidade). Há doutrina que sustente que a prisão, na verdade, foi preventiva.

Em complemento à imunidade formal, o STF, por meio do controle concentrado de constitucionalidade, entendeu que, havendo medida cautelar diversa da prisão que prejudique o exercício do mandato do parlamentar, referida medida também deve ser objeto de deliberação pela Casa Legislativa respectiva. Assim, a “ratio” da norma (imunidade relativa à prisão) não poderia ser contornada com a aplicação de outra medida cautelar.

Em relação à imunidade formal relativa ao processo, esta abrange processos que apuram crimes relacionados à função parlamentar e ocorridos após a diplomação. Nestas condições, o STF poderá deflagrar o processo sem qualquer autorização prévia. Entretanto, ao receber a denúncia, o STF deverá dar ciência à casa respectiva, que pode ser instada a manifestar-se no prazo de 45 dias.

Por fim, a perda do mandato em razão de condenação transitada em julgado não está pacificada no STF. Segundo dispõe a CRFB, perderá o mandato o Senador ou Deputado que sofrer condenação criminal definitiva. Entretanto, a CRFB vincula a perda do mandato à decisão da respectiva casa legislativa. Em um primeiro momento, na AP 470 (mensalão), o STF entendeu que à Mesa da Câmara dos Deputados caberia apenas declarar a perda, pois esta seria automática. Na sequência, o STF alterou o entendimento, atribuindo à Casa Legislativa a incumbência da deliberação. Atualmente, há divergência entre as turmas do STF, sendo que uma entende que a condenação não enseja a perda automática, enquanto a outra entende que, nos casos que a condenação exceder 120 dias em regime fechado, haverá perda automática, em razão da “ausência do parlamentar à terça parte das sessões”.

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💡 GABARITO COMENTADO

O tema foi proposto em razão dos acontecimentos recentes ocorridos no Brasil. Como se sabe, com a “Operação Lava Jato” houve a modificação do panorama criminal até então vivenciado no país, de modo que os delitos cometidos pelo “alto escalão” passaram a ser investigados, processados e punidos. De igual forma, a partir desta perspectiva, denotou-se que diversas operações em âmbito estadual também foram deflagradas, de maneira que várias “prerrogativas” funcionais são rotineiramente enfrentadas (ex. foro por prerrogativa de função; prisões e medidas cautelares; perda de mandato; etc.). Acerca do tema proposto, merece destaque a fonte das imunidades:

Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.

§ 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal.

§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão.

§ 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação.

§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora.

§ 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato.

Acerca da perda do mandato:

Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador: (...) III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada; (...) VI - que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado. (...)

§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será DECIDIDA pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.

§ 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será DECLARADA pela Mesa da Casa

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respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.

Segundo ROGÉRIO SANCHES: “A garantia, portanto, presente desde a diplomação (e não da posse), recai sobre prisão provisória, excepcionada apenas a prisão em flagrante decorrente de prática de crime inafiançável (ex.: racismo, tráfico de drogas, crimes hediondos). Da simples leitura do artigo acima reproduzido, conclui-se que Congressista não pode ser preso preventivamente. O STF, no entanto, de forma excepcional, no final de 2015, decretou prisão preventiva de Senador (Delcídio do Amaral), a exemplo do que, num passado recente, fez em relação a um deputado estadual, igualmente imune”1. Acerca da fixação de medidas cautelares diversas da prisão, destaca-se que: A questão foi enfrentada pelo STF, por meio da ADI 55.26-DF, em 11.10.2017. Como se sabe, os congressistas possuem imunidade relativa à prisão. Entretanto, o STF entendeu que nos casos em que a medida cautelar puder prejudicar o exercício do mandato, esta também deverá ser submetida à apreciação da respectiva Casa legislativa (controle político). No caso, todavia, ressaltou que o Poder Judiciário dispõe de competência para impor, por autoridade própria, as medidas cautelares a que se refere o artigo 319, CPP. Para o STF, na independência harmônica que rege o princípio da separação dos Poderes, as imunidades parlamentares, assim como a vitaliciedade na magistratura, a irredutibilidade de vencimentos e a inamovibilidade, são instrumentos de vital importância, visto buscarem, prioritariamente, a proteção dos parlamentares no exercício de suas funções, contra os abusos e pressões dos demais Poderes. Em complemento, assentou que, implicitamente, o art. 53, § 2º, da CF estabeleceu a impossibilidade de qualquer outro tipo de prisão cautelar, de modo que a “ratio” da norma não poderia ser contornada por outro tipo de medida cautelar. Em relação à perda do mandato em razão de condenação criminal transitada em julgado, o primeiro entendimento foi oriundo da ação penal 470 (mensalão). Na sequência, em 2013 (ação penal 565 – “caso Ivo Cassol”), o plenário mudou de entendimento, para o fim de reconhecer que incumbia à Casa Legislativa a deliberação acerca da perda do mandato. No ano de 2017, a 1ª Turma “inovou” na temática, sustentando que, nos casos em que a condenação for regime fechado e em prazo superior a 120 dias, tal circunstância importaria a ausência do parlamentar em pelo menos 1/3 das sessões da casa, de modo que a perda seria automática, não propriamente pela condenação (inciso VI), mas pelas ausências (inciso III). Entretanto, em sentido diverso, houve manifestação da 2ª Turma, no ano de 2018, na AP 996, em que a maioria definiu que a perda não era automática, cabendo à Casa a deliberação. Nesse panorama, denota-se que, atualmente, as duas turmas divergem acerca do assunto.

Abaixo merecem destaques os seguintes julgados:

Informativo 572: Como se sabe, o suplente, enquanto ostentar essa específica condição - que lhe confere mera expectativa de direito -, não só não dispõe da garantia constitucional da imunidade parlamentar,

1 https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2017/05/18/congressista-senador-e-deputado-pode-ser-preso-pre-ventivamente/

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como também não se lhe estende a prerrogativa de foro prevista na Constituição Federal, cujo art. 53, § 1º, revela-se unicamente aplicável a quem esteja no exercício do mandato de Deputado Federal ou de Senador da República.

Informativo 417: “as prerrogativas de caráter político-institucional que inerem ao Poder Legislativo e aos que o integram” são irrenunciáveis e consubstanciam tradição consolidada “ao longo da evolução de nossa história constitucional republicana (CF de 1891, arts. 19/20; CF de 1934, arts. 31/32; CF de 1937, arts. 42/43; CF de 1946, arts. 44/45; CF de 1967, art. 34; CF de 1969, art. 32; CF de 1988, art. 53)” - RTJ 135/509-515”.

Informativo 327: A imunidade material conferida pela CF/88 a deputados e senadores, na redação dada pela EC 35/2001 ao art. 53 da CF/88, abrange quaisquer opiniões, palavras e votos produzidos no recinto da respectiva casa legislativa, e as manifestações produzidas fora dali, desde que guardada a relação com o exercício do mandato parlamentar. Com base nesse entendimento, o Tribunal, por maioria, rejeitou denúncia oferecida contra deputado federal pela suposta prática dos delitos de calúnia, injúria e difamação de juiz federal, em decorrência de discurso proferido na Assembleia Legislativa do Acre e de entrevistas concedidas à imprensa. O Tribunal, salientando que eventuais abusos cometidos no âmbito do Parlamento devem sujeitar-se ao controle do próprio Poder Legislativo, considerou que as declarações produzidas nas entrevistas, tidas por ofensivas à honra do magistrado, consubstanciam repetição ou comentário relativamente aos fatos já narrados da tribuna, estando protegidas, portanto, pela imunidade parlamentar em sentido material. Vencido o Min. Carlos Velloso, relator, que recebia a denúncia, por considerar que as declarações tidas por ofensivas não guardariam relação com o exercício do mandato parlamentar. Precedente citado: Inq 390 QO/RO (DJU de 27.10.89).

Ementa: PENAL. DENÚNCIA E QUEIXA-CRIME. INCITAÇÃO AO CRIME, INJÚRIA E CALÚNIA. TRANSAÇÃO PENAL. NÃO OFERECIMENTO. MANIFESTAÇÃO DE DESINTERESSE PELO ACUSADO. IMUNIDADE PARLAMENTAR. INCIDÊNCIA QUANTO ÀS PALAVRAS PROFERIDAS NO RECINTO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS. ENTREVISTA. AUSENTE CONEXÃO COM O DESEMPENHO DA FUNÇÃO LEGISLATIVA. INAPLICABILIDADE DO ART. 53 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS DO ART. 41 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL QUANTO AOS DELITOS DE INCITAÇÃO AO CRIME E DE INJÚRIA. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA E REJEIÇÃO PARCIAL DA QUEIXA-CRIME, QUANTO AO CRIME DE CALÚNIA. (...) 13. In casu, (i) a entrevista concedida a veículo de imprensa não atrai a imunidade parlamentar, porquanto as manifestações se revelam estranhas ao exercício do mandato legislativo, ao afirmar que “não estupraria” Deputada Federal porque ela “não merece”; (ii) o fato de o parlamentar estar em seu gabinete no momento em que concedeu a entrevista é fato meramente acidental, já que não foi ali que se tornaram públicas as ofensas, mas sim através da imprensa e da internet; (...) 15. (i) A imunidade parlamentar incide quando

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as palavras tenham sido proferidas do recinto da Câmara dos Deputados: “Despiciendo, nesse caso, perquirir sobre a pertinência entre o teor das afirmações supostamente contumeliosas e o exercício do mandato parlamentar” (Inq. 3814, Primeira Turma, Rel. Min. Rosa Weber, unânime, j. 07/10/2014, DJE 21/10/2014). (ii) Os atos praticados em local distinto escapam à proteção da imunidade, quando as manifestações não guardem pertinência, por um NEXO DE CAUSALIDADE, com o desempenho das funções do mandato parlamentar. (...) 22. Ex positis, à luz dos requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal, recebo a denúncia pela prática, em tese, de incitação ao crime; e recebo parcialmente a queixa-crime, apenas quanto ao delito de injúria. Rejeito a Queixa-Crime quanto à imputação do crime de calúnia. (Inq 3932, Relator(a):  Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 21/06/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-192 DIVULG 08-09-2016 PUBLIC 09-09-2016)

DECISÃO/ACORDÃO (não consta da ementa): e por fim, quanto à perda do mandato parlamentar, a Turma, por maioria, deliberou que a perda do mandato não é automática e nos termos da divergência inaugurada pelo Ministro Dias Toffoli determinou, após o trânsito em julgado, oficiar-se à Câmara dos Deputados, vencidos os Ministros Relator e Revisor. Presidência do Ministro Edson Fachin. 2ª Turma, 29.5.2018. (AP 996, Relator(a):  Min. EDSON FACHIN, Segunda Turma, julgado em 29/05/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-025 DIVULG 07-02-2019 PUBLIC 08-02-2019)

EMENTA DEPUTADO FEDERAL. OPERAÇÃO SANGUESSUGA. INÉPCIA DA DENÚNCIA NÃO CONFIGURADA. QUADRILHA E CRIMES LICITATÓRIOS. PRESCRIÇÃO. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. ATIPICIDADE. CORRUPÇÃO PASSIVA E LAVAGEM DE DINHEIRO. COLABORAÇÃO PREMIADA. CORROBORAÇÃO DAS PROVAS OBTIDAS. MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. CONDENAÇÃO. (...) 7. Perda do mandato parlamentar: É da competência das Casas Legislativas decidir sobre a perda do mandato do Congressista condenado criminalmente (artigo 55, VI e § 2º, da CF). Regra excepcionada – adoção, no ponto, da tese proposta pelo eminente revisor, Ministro Luís Roberto Barroso -, quando a condenação impõe o cumprimento de pena em regime fechado, e não viável o trabalho externo diante da impossibilidade de cumprimento da fração mínima de 1/6 da pena para a obtenção do benefício durante o mandato e antes de consumada a ausência do Congressista a 1/3 das sessões ordinárias da Casa Legislativa da qual faça parte. Hipótese de perda automática do mandato, cumprindo à Mesa da Câmara dos Deputados declará-la, em conformidade com o artigo 55, III, § 3º, da CF. Precedente: MC no MS 32.326/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, 02.9.2013. 8. Suspensão dos direitos políticos do condenado quando do trânsito em julgado da condenação (art. 15, III, da CF). (AP 694, Relator(a):  Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 02/05/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-195 DIVULG 30-08-2017 PUBLIC 31-08-2017)

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QUESTÕES DISCURSIVAS COMENTADAS

PROFESSOR MARCEL FERREIRA DOS SANTOSE-mail: [email protected]

🏳 DIREITO CIVIL

QUESTÃO 1. “A tendência manifesta da teoria da responsabilidade civil é no sentido de ampliar, cada vez mais, a sua abrangência, a fim de POSSIBILITAR QUE TODO E QUALQUER DANO POSSA SER REPARADO. Para que isso aconteça, é necessário afastar-se, progressivamente, do princípio da culpa. Isso ocorreu, avançando-se em direção a um modelo misto, onde, ao lado da culpa, há espaço para uma responsabilidade civil objetiva, fundada no risco ou na ideia de garantia. Nas últimas décadas, porém, percebe-se que esse modelo misto tornou-se mais complexo, com o SURGIMENTO DE UM TERCEIRO MODELO DE RESPONSABILIDADE, NÃO INDIVIDUAL, MAS COLETIVA, FUNDADA NA IDEIA DE SOLIDARIEDADE. Jean Guyenot e René Savatier, por exemplo, afirmam que as tendências contemporâneas se traduzem por um movimento em direção à socialização da responsabilidade e dos riscos individuais, ao término do qual toda a vítima de um acidente deverá estar virtualmente certa de ser indenizada.” (Eugênio Facchini Neto. Da Responsabilidade Civil no Novo Código).

Tomando por base o texto acima, discorra sobre uma das tendências da responsabilidade civil no direito contemporâneo denominada de “o resgate do lucro ilícito (Disgorgement of profits).” A resposta do candidato deverá abordar o fundamento da teoria e a forma ou critério de quantificação do pedido restituitório.

(Máximo de 30 linhas)

🎓 MODELO DE RESPOSTA

A responsabilidade civil por perdas e danos embasa-se, regra geral, na premissa que a vítima faz jus ao que efetivamente perdeu somado ao que razoavelmente deixou de lucrar (art. 402 do CC). Ocorre que o dogma tradicional reparatório contratual não se mostra suficiente para inibir e reparar danos que têm como plano de fundo a vedação do enriquericimento sem causa (art. 884 do CC) e a violação à boa-fé objetiva. Tratam-se de hipóteses em que o dever reparatório não se funda, propriamente, no campo da responsabilidade civil contratual, mas sim aquiliana, vez que o agente opta, deliberadamente, pela não

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celebração de negócio jurídico, já que o descumprimento da lei e o pagamento de uma indenização ao lesado (indenização reparatória) correspondem a um montante inferior ao lucro esperado com conduta ilícita e culposa e à quantia que se poupa nas despesas relativas à negociação. É neste campo que se insere o lucro de intervenção ou resgate do lucro ilícito. Consiste na vantagem patrimonial obtida indevidamente com base na exploração ou aproveitamento, de forma não autorizada, de um direito alheio. Dever de restituição do lucro da intervenção é o dever que o indivíduo possui de pagar aquilo que foi auferido mediante indevida interferência nos direitos ou bens jurídicos de outra pessoa. Foi o que ocorreu, por exemplo, com a atriz Giovanna Antonelli. Determinada “farmácia de manipulação” utilizou o nome e a imagem da atriz, sem a sua autorização, em propagandas de um remédio para emagrecer. O STJ afirmou que, além da indenização por danos morais e materiais, a atriz também tinha direito à restituição de todos os benefícios econômicos que a ré obteve na venda de seus produtos (restituição do “lucro da intervenção”). Daí que é possível que haja a cumulação de pedidos de reparação (responsabilidade civil) e de restituição do indevidamente auferido (lucro da intervenção).

O denominado resgate de lucro ilícito tem estrita relação com o curto-circuito do contrato, que denuncia a insuficiência da função ressarcitória da responsabilidade civil para dissuadir os agentes economicos de optar pela apropriação de um bem alheio, pela violação dos direitos de outrem, em vez de celebrarem os negócios jurídicos.

No que toca à fixação do critério para quantificação do lucro da intervenção, o STJ fixou ser o enriquecimento patrimonial (lucro patrimonial). A quantificação do lucro da intervenção deverá ser feita por meio de perícia realizada na fase de liquidação de sentença, devendo o perito observar os seguintes critérios: a) apuração do quantum debeatur com base no denominado lucro patrimonial; b) delimitação do cálculo ao período no qual se verificou a indevida intervenção no direito de imagem da autora; c) aferição do grau de contribuição de cada uma das partes; e d) distribuição do lucro obtido com a intervenção proporcionalmente à contribuição de cada partícipe da relação jurídica. STJ. 3ª Turma. REsp 1698701-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 02/10/2018 (Info 634).

TABELA DE PONTUAÇÃO/CORREÇÃO

ITEM EXIGIDO NA RESPOSTA PONTUAÇÃO TOTAL POR ITEM

Coerência da exposição e aparência geral da prova 3,3

Correção gramatical e clareza 3,3

Conhecimento do tema 3,3

Acerto e fundamentação completa da questão 10,00

Sobre a correção das questões é importante o candidato manter uma resposta “limpa”, ou seja, com o mínimo de rasura possível; letra legível; sem erro gramatical crasso; clara; com início, meio e fim e com as

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ideias expostas de forma concatenada.

💡 GABARITO COMENTADO

O caso desta rodada de abertura foi inspirado no julgamento do REsp 1698701-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 02/10/2018 (Info 634), envolvendo a atriz Global Giovana Antoneli. Determinada “farmácia de manipulação” utilizou o nome e a imagem da atriz, sem a sua autorização, em propagandas de um remédio para emagrecer. O STJ afirmou que, além da indenização por danos morais e materiais, a atriz também tinha direito à restituição de todos os benefícios econômicos que a ré obteve na venda de seus produtos (restituição do “lucro da intervenção”). Lucro da intervenção é uma vantagem patrimonial obtida indevidamente com base na exploração ou aproveitamento, de forma não autorizada, de um direito alheio. Dever de restituição do lucro da intervenção é o dever que o indivíduo possui de pagar aquilo que foi auferido mediante indevida interferência nos direitos ou bens jurídicos de outra pessoa. A obrigação de restituir o lucro da intervenção é baseada na vedação do enriquecimento sem causa (art. 884 do CC).

A questão exige conhecimento da concepção moderna de responsabilidade civil, a qual envolve danos pela perda de uma chance, danos punitivos (punitive damages), responsabilidade civil sem dano e o resgate do lucro líquido (Disgorgement of profits).

Para agregar valor ao conteúdo da resposta, o candidato poderia, caso houvesse espaço no caderno de respostas, explorar o conceito de curto-circuito do contrato (contractaual by pass). Aliás, é possível a incidência de questão discursiva envolvendo esse tema também. Portanto, após a soltura deste espelho, treine também, candidato, uma resposta para o chamado curto-circuito do contrato.

A escolha da questão acima surgiu em razão da potencial possibilidade do tema vir a cair na prova discursiva ou, ainda, na prova de sentença. Atente-se ao conceito, fundamentação jurídica e, especialmente, ao critério de fixação de indenização face à teoria do resgate do lucro líquido. Vai aí uma dica sobre técnica de estruturação de respostas discursivas. Toda vez que o examinador transcreve uma citação inicial e, posteriormente, lança perguntas, é preciso tomar cuidado para não se esquecer de enfrentar especificamente os pontos da questão. Não raro, o candidato se apega ao texto citado e se perde no enfrentamento daquilo que é a pergunta propriamente dita. Citações de texto, com frequência, procuram apenas contextualizar o tema objeto da pergunta. De qualquer forma, se o candidato nada souber sobre a pergunta, tangencie, ao menos, o que está citado, a fim de adquirir alguns pontinhos! A aprovação dá-se com base em centésimos aqui e outros ali, não é verdade?

A estruturação da resposta acima exige do candidato reflexão sobre o que irá nela incluir. A existência de tendências novas na área da responsabilidade civil envolve os seguintes temas: danos pela perda de

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uma chance, danos punitivos (punitive damages), responsabilidade civil sem dano e o resgate do lucro líquido (Disgorgement of profits). Não há espaço para o candidato explicar cada uma. Se fizer isso, não terá boa nota na questão, porque perderá espaço para enfrentar o que importa. Daí porque a resposta deve ser focada no resgate do lucro líquido. Não se pode deixar de abordar o fundamento de tal teoria (vedação do enriquecimento ilícito), o qual não pertence ao campo da responsabilidade civil, e também o critério de quantificação dos danos. Lembrar que, necessariamente, deverá haver liquidação por sentença para apurar qual foi o lucro da intervenção. A citada teoria pode vir também com o nome de lucro da intervenção. Fique atento!

PONTO EXTRA:

A expressão contractual by pass (curto-circuito do contrato) tem sido utilizada pela jurisprudência e doutrina norteamericanas para descrever a opção dos agentes econômicos pela sujeição às regras da responsabilidade civil aquilina, em detrimento da celebração de negócios jurídicos, sempre que seja mais eficaz do ponto de vista econômico, ou seja, sempre que o descumprimento da lei e o pagamento de uma indenização ao lesado (indenização reparatória) corresponda a um montante inferior ao lucro esperado com conduta ilícita e culposa e à quantia que se poupa nas despesas relativas à negociação.

Assim, o agente ofensor opta por violar bens ou direitos merecedores de proteção/tutela, pois a indenização paga em eventual demanda judicial será inferior aos seus altos lucros obtidos com tal conduta. A fim de resolver tal problemática, o direito comparado tem utilizado de um instituto chamado disgorgement of profits.

No caso Midler v. Ford Motor Co, por exemplo, a cantora e atriz BETTIE MIDLER recusou-se a participar num anúncio televisivo em virtude da diminuta quantia que lhe foi oferecida, pelo que a empresa FORD a substituiu por uma sósia. O tribunal considerou que estávamos perante um “curto-circuito do contrato” (contractual bypass) já que a empresa FORD escolhera utilizar, abusivamente, a imagem de BETTIE MIDLER (o público acreditou que se tratava de BETTIE MIDLER), em vez de celebrar o respectivo contrato com a cantora, pois estimou que o lucro que obteria com o aumento das vendas do produto decorrente do sucesso do anúncio, seria superior à quantia que teria de pagar por violação do direito à imagem. A jurisprudência norte-americana considerou que a empresa FORD tinha atuado como uma “ladra”, que decide “(i)f we can`t buy it, we`ll take it”, e atribuiu à lesada um montante a título de punitive damages, que acresceu à indenização compensatória.

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PROFESSOR RAFHAEL WASSERMANE-mail: [email protected]

🏳 DIREITO PROCESSUAL CIVIL

QUESTÃO 2. Ricardo formulou pedido administrativo junto ao Serasa postulando a retirada de seu nome do cadastro de inadimplentes, sob alegação de que a inscrição fora indevida. Em resposta, o Serasa afirmou que excluiria o nome do requerente mediante ordem judicial. Ato contínuo, Ricardo deduziu pedido de tutela antecipada em caráter antecedente, com o exclusivo objetivo de retirar seu nome do cadastro de inadimplentes. O juiz deferiu o pedido, determinando a imediata exclusão do nome do autor, sob pena de cominação de multa diária. A requerida, por sua vez, apresentou contestação, por meio da qual declarou que o pleito não seria possível, eis que a dívida inscrita não correspondia àquela objeto da tutela provisória. Na sequência, o magistrado reconsiderou a decisão anteriormente proferida e revogou a tutela antecipada, acolhendo as alegações da ré e determinando o prosseguimento do feito.

A partir do caso exposto, da legislação vigente e do entendimento dos Tribunais Superiores, o procedimento adotado está correto? A resposta deverá ser elaborada abrangendo o tema da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente. (Máximo de 30 linhas)

🎓 MODELO DE RESPOSTA

O procedimento adotado pela requerida e aceito pelo magistrado foi admitido pelo Superior Tribunal de Justiça em recente julgamento, a despeito da redação do Código de Processo Civil. Segundo dispõe o artigo 303, caput, da Lei nº 13.105/2015, quando a urgência for contemporânea à propositura da ação, a parte poderá requerer a tutela antecipada de forma autônoma, desde que o faça expressamente (artigo 303, § 5º, do CPC), indicando o pedido de tutela final (definitiva), com a exposição da lide, do direito que se pretende realizar e do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo, bem como o valor da causa, considerando o pedido de tutela final (art. 303, § 4º, do CPC).

Nos termos do disposto no artigo 304 do CPC, caso seja deferido o pedido de tutela de urgência satisfativa (antecipada) formulada em caráter antecedente, cabe ao réu interpor recurso contra a decisão concessiva. Caso permaneça inerte a decisão será estabilizada, resultando na extinção do processo sem resolução do mérito e conservação dos efeitos da decisão antecipatória, enquanto não proposta ação autônoma para revisá-la, reformá-la ou invalidá-la (art. 304, § 2º, do CPC). Trata-se de situação na qual o autor se satisfaz

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com a decisão proferida em cognição sumária e o réu não possui interesse em questioná-la. Portanto, não há interesse de ambas as partes no prosseguimento do feito visando à obtenção de decisão de mérito proferida em cognição exauriente com aptidão para gerar coisa julgada material. Optam, pois, pela manutenção de decisão baseada em um juízo de probabilidade, na qual, em regra, o juiz não dispõe de todos os elementos de convicção acerca da questão controvertida.

Ocorre que o Superior Tribunal de Justiça, em recente decisão, entendeu que a estabilização referida no artigo 304 deve ser interpretada de forma teológica e sistemática. Segundo a Corte Superior, a estabilização somente ocorrerá caso a parte contrária não resista de qualquer forma. Portanto, interposto agravo de instrumento ou apresentada qualquer espécie de manifestação pugnando pelo prosseguimento do feito, a exemplo da contestação apresentada antecipadamente ou manifestação favorável à realização de audiência de conciliação de mediação, a estabilização não ocorrerá. Essa interpretação pretende evitar a excessiva interposição de recursos, o que assoberbaria demasiadamente os Tribunais, eis que uma mera petição seria hábil a evidenciar o interesse no prosseguimento do feito, inibindo a estabilização pretendida, bem como evitaria o ajuizamento de ações autônomas.

ESPELHO DE CORREÇÃO

ITEM EXIGIDO NA RESPOSTA PONTUAÇÃO TOTAL POR ITEM

Coerência da exposição 3,3

Correção gramatical e clareza 3,3

Conhecimento do tema 3,4

Acerto e fundamentação completa da questão 10,0

💡 GABARITO COMENTADO

O tema foi escolhido por ter sido objeto de recente julgamento divulgado no Informativo nº 639 do Superior Tribunal de Justiça (RE nº 1.760.966/SP, de relatoria do Ministro Marco Aurélio Bellizze) e de artigo publicado por membro da banca do concurso (Rogéria Fagundes Dotti – “A Estabilização da Tutela Antecipada No CPC de 2015: A Autonomia da Tutela Sumária e a Coisa Julgada Dispensável.”), além de se relacionar com outro artigo da lavra da mesma integrante da banca (“Precedentes judiciais e antecipação: a tutela da evidência no novo CPC.”).

O problema da demora na prestação jurisdicional é tema de recorrente enfrentamento pela doutrina e jurisprudência pátrias, as quais buscam soluções para concretizar o artigo 5º, XXXV e LXXVIII, da Constituição Federal de 1988, que enunciam a garantia de acesso à Justiça e da razoável duração do processo.

Segundo defende Rogéria Fagundes Dotti, a solução das controvérsias pela via da ordinária se mostra

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insatisfatória em determinadas situações, a exemplo das causas marcadas pela urgência para antecipação do direito (tutela antecipada) e naquelas que, apesar de ausente a urgência, a espera por uma decisão final resulta em excessiva onerosidade à parte que alega direito cuja existência é altamente provável. A tutela sumária autônoma surge como alternativa útil e relevante, uma vez que as partes tendem a optar por um deslinde ágil, justo e efetivo para o seu conflito, ao invés de uma decisão que exige um extenso lapso temporal, conquanto passível de formação de coisa julgada. A tutela provisória beneficia não apenas as partes, mas também a gestão do Poder Judiciário, que precisa lidar com um volume crescente de demandas, imprimindo eficiência ao sistema de distribuição de justiça. (DOTTI, Rogéria Fagundes. A estabilização da tutela antecipada no CPC de 2015: a autonomia da tutela sumária e a coisa julgada dispensável. Revista Jurídica da Escola Superior de Advocacia da OAB-PR. Ano 3 - Número 3 - Dezembro de 2018).

O Código de Processo Civil de 2015, no artigo 294, alterou a sistemática das tutelas provisórias, dividindo-as em “tutela de urgência” e “tutela de evidência”. Em relação às tutelas de urgência, o legislador as classificou quanto à possibilidade de satisfazer ou assegurar o direito, em antecipada e cautelar, a primeira voltada à satisfação e a segunda à preservação (conservação). Impende destacar que a nova codificação unificou os requisitos para a concessão das duas modalidades de tutelas de urgência (art. 300), a saber, probabilidade do direito e perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo.

As referidas decisões se baseiam em um juízo de probabilidade e têm por objetivo, nas palavras de Luiz Guilherme Marinoni: “(a) assegurar a tutela jurisdicional do direito ou uma situação concreta que dela depende (tutela cautelar; art. 300 do CPC); (b) realizar, em vista de uma situação de perigo, antecipadamente um direito (tutela antecipada; art. 300 do CPC); (c) realizar, quando o direito do autor surge como evidente e a defesa é exercida de modo inconsistente, antecipadamente um direito (tutela de evidência; art. 311 do CPC); ou (d) realizar, em razão das peculiaridades, de um determinado direito e em vista da demora do procedimento comum, antecipadamente um direito (liminares de determinados procedimentos especiais).” (MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela de urgência e tutela da evidência. 2. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018, p. 33).

Previu o legislador no parágrafo único do artigo 294 que as tutelas provisórias de urgência podem ser concedidas em caráter antecedente e incidental. Exclui-se, portanto, a possibilidade de tutela provisória de evidência em caráter antecedente. Há, porém, doutrina que defende a concessão de modo antecedente de tutela provisória de evidência desprovida de urgência (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil – volume único. 9. ed. Salvador: JusPodivm, 2017, p. 486).

O Código de Processo Civil introduziu no artigo 303 a possibilidade de concessão da tutela de urgência satisfativa (tutela antecipada) em caráter antecedente (autonomização da tutela antecipada), inspirado no instituto do “réferé” do Direito francês, dispondo acerca de seu procedimento (já referido na resposta à

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pergunta). Em caso de indeferimento do pedido, o autor poderá se resignar com a decisão, o que resultará na extinção do feito sem resolução do mérito (art. 303, § 1º, do CPC) ou emendá-la, no prazo de cinco dias. Essa decisão é impugnável, em 1º grau, por agravo de instrumento (artigo 1.015, I, do CPC). Na hipótese de deferimento (art. 303, § 1º, I, do CPC), caberá ao autor aditar a petição, complementando sua argumentação, juntando novos documentos e confirmando o pedido de tutela final (satisfativa), no prazo de quinze dias (o juiz poderá fixar prazo maior). O réu, por sua vez, será citado e intimado para a audiência de conciliação ou de mediação e, não havendo autocomposição, se iniciará o prazo para contestação (artigos 303, § 1º, II e III, 334 e 335, do CPC). Cumpre destacar que, concedida a antecipação dos efeitos da tutela, o réu será cientificado da decisão, oportunidade em que poderá interpor agravo de instrumento (artigo 304, caput, do CPC). Caso não o faça, a decisão se tornará estável e o processo será extinto (artigo 304, § 1º, do CPC). Por conseguinte, a essa decisão não será atribuído o qualitativo de coisa julgada e seus inerentes efeitos preclusivos, uma vez que a cognição que ensejou a decisão é sumária. Ademais, os efeitos da decisão são estabilizados, enquanto a coisa julgada recai sobre o conteúdo da uma decisão e não sobre sua eficácia (DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil: teoria da prova, direito probatório, ações probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. v. 2. 11. ed. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 625-626). No prazo de dois anos contado da ciência da decisão que extinguiu o processo, qualquer das partes poderá ajuizar ação autônoma perante o mesmo juízo que concedeu a tutela antecipada estabilizada visando à sua revisão, reforma ou invalidação (artigo 304, § 2º, 3º, 4º, 5º, do CPC). Enquanto não revista, reformada ou invalidada a decisão que concedeu a tutela antecipada antecedente, seus efeitos perdurarão no tempo.

Excluiu-se a possibilidade de estabilização da tutela cautelar em caráter antecedente, na medida em que possui usualmente a função preparatória em relação à tutela satisfativa. Significa dizer que a tutela cautelar se refere a outro direito que não corresponde ao próprio direito à tutela cautelar (referibilidade). Não sendo proposta a demanda visando à prestação da tutela satisfativa do direito (pedido principal), prevê o inciso I do artigo 309 do CPC que a cautelar antecedente perderá sua eficácia. Frise-se que a tutela de evidência, em decorrência da inexistência de modalidade autônoma, não admite estabilização.

A estabilização surge na situação em que ambas as partes se contentam com a decisão que concedeu a tutela antecipada, não sendo necessário o prosseguimento do feito. Caso a parte requerida pretenda se insurgir contra a decisão, repise-se, deverá, nos termos do artigo 304 do CPC, interpor recurso. Na situação enfrentada pelo Superior Tribunal de Justiça fora deferida a tutela antecipada de modo antecedente postulada pela parte autora, porém a ré, ao invés de interpor recurso contra a decisão, optou pela apresentação de contestação. O juiz proferiu nova decisão revogando a anterior, o que ensejou a interposição de recurso pela parte autora. Entendeu a Corte Superior que, conquanto o supramencionado dispositivo legal faça expressa referência à insurgência pela via recursal, deve ser interpretado de forma sistemática e teleológica e, portanto, a estabilização da tutela antecipada antecedente poderá

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ser obstada por qualquer outra manifestação do réu que demonstre a sua discordância, a exemplo da contestação apresentada antecipadamente pela ré, tal como no caso em questão. Evita-se assim a interposição excessiva de agravos de instrumento, o que sobrecarregaria os Tribunais e a propositura de ações autônomas (com fundamento no artigo 304, § 2º, do CPC).

Nesse mesmo sentido é a posição de Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero: “É claro que pode ocorrer de o réu não interpor o agravo de instrumento, mas desde logo oferecer contestação no mesmo prazo – ou, ainda, manifestar-se dentro desse mesmo prazo pela realização da audiência de conciliação de mediação. Nessa situação, tem-se que entender que a manifestação do réu no primeiro grau de jurisdição serve tanto quanto a interposição do recurso para evitar a estabilização dos efeitos da tutela. Essa solução tem a vantagem de economizar o recurso de agravo e de emprestar a devida relevância à manifestação de vontade constante da contestação ou do intento de comparecimento à audiência. Em ambas as manifestações, a vontade do réu é inequívoca no sentido de exaurir o debate com o prosseguimento do procedimento.” (MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Curso de processo civil. v. 2. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 216 – grifos no original).

Corroboram essa posição Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga e Rafael Alexandria de Oliveira: “Se, no prazo de recurso, o réu não o interpõe, mas resolve antecipar o protocolo da sua defesa, fica afastada a sua inércia, o que impede a estabilização – afinal se contesta a tutela antecipada e a própria tutela definitiva, o juiz terá que dar seguimento ao processo para aprofundar sua cognição e decidir se mantém a decisão antecipatória ou não. Não se pode negar ao réu o direito a uma prestação jurisdicional de mérito definitiva, com aptidão para a coisa julgada.” (DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil: teoria da prova, direito probatório, ações probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. v. 2. 11. ed. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 622 - grifos no original).

Segue ementa do RE nº 1.760.966/SP veiculada no Informativo nº 639:

RECURSO ESPECIAL. PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA REQUERIDA EM CARÁTER ANTECEDENTE. ARTS. 303 E 304 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. JUÍZO DE PRIMEIRO GRAU QUE REVOGOU A DECISÃO CONCESSIVA DA TUTELA, APÓS A APRESENTAÇÃO DA CONTESTAÇÃO PELO RÉU, A DESPEITO DA AUSÊNCIA DE INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO. PRETENDIDA ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA. IMPOSSIBILIDADE. EFETIVA IMPUGNAÇÃO DO RÉU. NECESSIDADE DE PROSSEGUIMENTO DO FEITO. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. 1. A controvérsia discutida neste recurso especial consiste em saber se poderia o Juízo de primeiro grau, após analisar as razões apresentadas na contestação, reconsiderar a decisão que havia deferido o pedido de tutela antecipada requerida em caráter antecedente, nos termos dos arts. 303 e 304 do CPC/2015, a despeito da ausência

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de interposição de recurso pela parte ré no momento oportuno. 2. O Código de Processo Civil de 2015 inovou na ordem jurídica ao trazer, além das hipóteses até então previstas no CPC/1973, a possibilidade de concessão de tutela antecipada requerida em caráter antecedente, a teor do que dispõe o seu art. 303, o qual estabelece que, nos casos em que a urgência for contemporânea à propositura da ação, a petição inicial poderá se limitar ao requerimento da tutela antecipada e à indicação do pedido de tutela final, com a exposição da lide, do direito que se busca realizar e do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo.2.1. Por essa nova sistemática, entendendo o juiz que não estão presentes os requisitos para a concessão da tutela antecipada, o autor será intimado para aditar a inicial, no prazo de até 5 (cinco) dias, sob pena de ser extinto o processo sem resolução de mérito. Caso concedida a tutela, o autor será intimado para aditar a petição inicial, a fim de complementar sua argumentação, juntar novos documentos e confirmar o pedido de tutela final. O réu, por sua vez, será citado e intimado para a audiência de conciliação ou mediação, na forma prevista no art. 334 do CPC/2015. E, não havendo autocomposição, o prazo para contestação será contado na forma do art. 335 do referido diploma processual.3. Uma das grandes novidades trazidas pelo novo Código de Processo Civil é a possibilidade de estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente, instituto inspirado no référé do Direito francês, que serve para abarcar aquelas situações em que ambas as partes se contentam com a simples tutela antecipada, não havendo necessidade, portanto, de se prosseguir com o processo até uma decisão final (sentença), nos termos do que estabelece o art. 304, §§ 1º a 6º, do CPC/2015. 3.1. Segundo os dispositivos legais correspondentes, não havendo recurso do deferimento da tutela antecipada requerida em caráter antecedente, a referida decisão será estabilizada e o processo será extinto, sem resolução de mérito. No prazo de 2 (dois) anos, porém, contado da ciência da decisão que extinguiu o processo, as partes poderão pleitear, perante o mesmo Juízo que proferiu a decisão, a revisão, reforma ou invalidação da tutela antecipada estabilizada, devendo se valer de ação autônoma para esse fim. 3.2. É de se observar, porém, que, embora o caput do art. 304 do CPC/2015 determine que a tutela antecipada, concedida nos termos do art. 303, torna-se estável se da decisão que a conceder não for interposto o respectivo recurso, a leitura que deve ser feita do dispositivo legal, tomando como base uma interpretação sistemática e teleológica do instituto, é que a estabilização somente ocorrerá se não houver qualquer tipo de impugnação pela parte contrária, sob pena de se estimular a interposição de agravos de instrumento, sobrecarregando desnecessariamente os Tribunais, além do ajuizamento da ação autônoma, prevista no art. 304, § 2º, do CPC/2015, a fim de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada estabilizada.4. Na hipótese dos autos, conquanto não tenha havido a interposição de agravo de instrumento contra a decisão que deferiu o

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pedido de antecipação dos efeitos da tutela requerida em caráter antecedente, na forma do art. 303 do CPC/2015, a ré se antecipou e apresentou contestação, na qual pleiteou, inclusive, a revogação da tutela provisória concedida, sob o argumento de ser impossível o seu cumprimento, razão pela qual não há que se falar em estabilização da tutela antecipada, devendo, por isso, o feito prosseguir normalmente até a prolação da sentença.5. Recurso especial desprovido. (REsp 1760966/SP, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, terceira turma, julgado em 04/12/2018, DJe 07/12/2018).

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PROFESSOR JOÃO GUILHERME BARBOSA ELIASE-mail: [email protected]

🏳 DIREITO PENAL

QUESTÃO 3. MARIA possui medida protetiva em desfavor de TÍCIO, consistente em proibição de aproximação – distância mínima de 200 (duzentos) metros – e também de contato por qualquer meio de comunicação. No dia 05.04.2018, TÍCIO não só se aproximou de MARIA, como manteve contato com ela e a ameaçou. TÍCIO foi preso em flagrante e conduzido para a delegacia. Diante da situação, o delegado plantonista lavrou ADPF pelo crime previsto no art. 359, CP (desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito) e, em razão da pena prevista, arbitrou fiança a TÍCIO. Discorra sobre a situação mencionada. (Máximo de 30 linhas)

🎓 MODELO DE RESPOSTA

No caso em tela, houve equívoco por parte do delegado. Isso porque, quando do descumprimento (05.04.2018) já estava em vigor Lei que tipifica o descumprimento de medida protetiva.

Previamente, todavia, convém destacar que, de certa forma, havia divergência se o descumprimento de medida protetiva poderia (ou não) configurar o delito de desobediência. Entretanto, segundo entendimento que se firmou no STJ, o mero descumprimento era fato atípico, visto que o delito de desobediência (art. 359, CP) é subsidiário, configurando-se apenas quando não existir sanção específica ou não houver ressalva expressa no sentido da aplicação cumulativa do Código Penal. Assim sendo, considerando que a Lei 11.340/06 prevê outras medidas em caso de descumprimento – revisão das medidas; fixação de outras medidas cumulativamente; aplicação de multa coercitiva; decretação da prisão preventiva –, bem como não ressalva a aplicação do Código Penal, afasta-se a incidência do art. 359, CP.

Ocorre, entretanto, conforme já mencionado, que o fato foi praticado após a modificação da Lei 11.340/06, que passou a criminalizar o descumprimento de medida protetiva, em seu art. 24-A. Dessa forma, deveria o delegado de polícia ter lavrado ADPF pertinente a referido delito e também pelo crime de ameaça, que é independente e autônomo.

Com efeito, a tipificação da conduta de descumprimento de medida protetiva atende ao princípio da proporcionalidade, sobretudo na vertente de vedação à proteção insuficiente, tendo como objeto jurídico tutelado não só a Administração da Justiça, como também a vítima de violência de gênero, ainda que considerada indiretamente.

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Também houve equívoco por parte do delegado no que diz respeito ao arbitramento de fiança, considerando o delito correto. Com a nova tipificação (art. 24-A), somente a autoridade judiciária poderá arbitrar fiança (reserva de jurisdição). Inclusive, referida restrição à fixação de fiança, aliada à necessidade de realização de audiência de custódia, pode servir como oportunidade para realização de admoestação verbal do custodiado, de modo a imprimir maior eficácia às medidas já fixadas, assim como evitar o cárcere, medida drástica que deve ser utilizada apenas quando inexistir outros meios.

Por fim, conforme entendimento doutrinário, o novo delito pode ser classificado como próprio, pois somente quem deva observância às medidas protetivas pode praticá-lo, e formal, de modo que a consumação se dá independente de resultado naturalístico.

💡 GABARITO COMENTADO

O tema proposto guarda relação com uma das examinadoras da banca, que atuou muitos anos no Juizado Especial de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Curitiba.

Segundo a juíza de direito substituta em segunda grau LUCIANE BORTOLETO2, “A lei n. 11.340/06, que trata da coibição da violência doméstica e familiar contra a mulher, modificou os paradigmas no enfrentamento da violência, incorporando a perspectiva de gênero no tratamento legal das desigualdades, assim como a ótica preventiva, integrada e multidisciplinar a respeito do tema”.

Ainda, referida juíza ressalta que “a Lei Maria da Penha, em sua essência, exige dos operadores do Direito o desenvolvimento de competência que extrapolam a sua formação e a interação com profissionais de outras áreas que atuam com as partes envolvidas no contexto da violência, ou seja, vítimas, agressores, filhos e demais familiares que a vivenciam, municiando o processo dos elementos que excedem os limites da atuação jurídica”.

Em outra ocasião (participação do FONAVID3), referida magistrada destacou o número de conflitos judicializados envolvendo a violência doméstica, assim como a necessidade de aplicação da lei com rigor e de forma imediata (art. 11, inciso I, LMP). Ademais, ressaltou como objetivo da medida protetiva de urgência a proteção emergencial da vítima, de modo a resguardá-la de qualquer risco.

Recomenda-se, ainda, a leitura dos artigos selecionados, assim como a oitiva da entrevista concedida pela magistrada LUCIANE BORTOLETO, que compõe a banca examinadora do concurso vigente.

Em trabalho elaborado pelo MPPR, o crime previsto no art. 24-A, LMP, “também deve ser considerado uma forma de violência psicológica (stalking). Há dupla objetividade jurídica concomitante: a autoridade

2 https://revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/viewFile/2308/16913 http://www.amapar.com.br/images/mp3/JPT07122015.mp3

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da decisão judicial e a incolumidade psicológica da mulher”4.

Por oportuno, no caso do feminicídio, a circunstância de descumprimento de medida protetiva funciona como causa de aumento de pena (1/3 até metade). Destarte, se o homicídio foi praticado descumprindo medidas protetivas, incidirá referida causa de aumento.

Acerca da “audiência de admoestação/advertência”, esta tem por objetivo evitar o recolhimento precoce do agressor no cárcere. Todavia, tal hipótese tem sido utilizada em casos em que não há gravidade. Com isso, designa-se audiência, na qual o agressor é admoestado verbalmente pelo Juiz, inclusive para o fim de sanar eventuais dúvidas e também, de certa forma, orientá-lo acerca de temas comumente pendente entre o (ex) casal, a exemplo da partilha de bens, guarda e alimentos de filhos, etc.

Nos casos em que há descumprimento da medida, mas não há gravidade acentuada, eu tenho designado referida audiência, para data bem próxima da notícia de descumprimento (em torno de 48horas), ocasião em que há advertência ao representado sobre as medidas protetivas, assim como advertência em relação a novo descumprimento. A medida tem se mostrado eficaz, evitando o cárcere preventivo, que fica restrito às hipóteses excepcionais. Vale destacar, ademais, que o delito de lesão corporal e ameaça no âmbito familiar possuem reprimendas baixas (03 meses e 01 mês, respectivamente), de modo que a imposição de prisão preventiva para os casos gera, na maioria das vezes, a segregação do acusado por tempo superior à própria pena definitiva (mesmo cumprindo os atos em prazos exíguos, a sentença de 1º grau é proferida em torno de 60 a 90 dias após a prisão).

Acerca do tema (incidência da LMP), houve recente julgamento proferido pelo STJ, no REsp 1.490.974-RJ, em relação à (não) incidência da LMP em caso de estupro de vulnerável praticado pelo pai contra a filha. De forma sucinta, o relator, em decisão monocrática, confirmou o afastamento da LMP, firmando o entendimento que o fator determinante da prática delitiva foi a tenra idade da vítima e não a violência de gênero. Em decisão monocrática, o relator aduziu: “Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), cujo escopo foi proteger o gênero feminino, máxime no campo do lar e da família, contra agressões físicas ou morais, causadas por vetusta cultura patriarcal e machista; e com esteio em uma suposta inferioridade da mulher em esferas diversas, transcendendo força física; isso, até porque, por experiência judicatória e leiga, é sabido que mulheres, apesar de poderem de fato resistir aos homens agressores, não o fazem diante de um inconsciente coletivo de submissão, resultante de tal negativa cultura. Desnecessidade de maior dissertação no concernente. No entanto, igual vulnerabilidade dos gêneros, no que toca às crianças em atinência aos abusos e agressões em geral, praticadas por adultos, especialmente por homens. Na espécie, imputado ao pai a prática de uma série de atos libidinosos contra a filha, entre os 04 e 06 anos de idade. Não prevalência do gênero, o qual, em tais casos, é superado por condição infantil. Entendimento

4 http://www.criminal.mppr.mp.br/arquivos/File/O_novo_crime_de_descumprimento_de_medidas_protetivas_de_urgencia_Artigo_3.pdf

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oposto, que acarreta, por absurdo, desmembramento de feitos, em que, por exemplo, um pai seja acusado de abusar de filho e de filha, em faixa etária semelhante; ficando ocaso do primeiro, ao encargo de juízo criminal comum; e o da segunda, ao encargo do citado juizado especial; o que até ocasiona possibilidade de julgados conflitantes, gerando insegurança e lesando a imagem do Judiciário ante as pessoas comuns do povo”. (...) Assim, para o Tribunal de origem, deve prevalecer, para fins de fixação da competência, a vulnerabilidade própria da criança, reconhecida na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente, afastando-se, neste caso, o disposto na Lei n. 11.340/2006, ainda que a vítima seja do sexo feminino. Esta Corte, sobre o tema ora em exame, assentou que, “para que a competência dos Juizados Especiais de Violência Doméstica seja firmada, não basta que o crime seja praticado contra mulher no âmbito doméstico ou familiar, exigindo-se que a motivação do acusado seja de gênero, ou que a vulnerabilidade da ofendida seja decorrente da sua condição de mulher” (AgRg no AREsp n. 1.020.280/DF, relator Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 23/8/2018, DJe31/8/2018). Portanto, não basta a condição da vítima de ser mulher. Reclama-se, outrossim, que a “vulnerabilidade da ofendida seja decorrente da sua condição de mulher”, situação que não se conforma ao caso em exame, pois é inequívoco que essa condição decorre, precipuamente, de sua tenra idade”.

Vale destacar, de igual forma, que a LMP é considerada pela doutrina como uma forma de ação afirmativa do Estado, calcada no princípio da isonomia entre homens e mulheres (redução/amenização da desigualdade/discriminação). Assim, tem por objetivo “compensar desigualdades históricas entre os gêneros masculino e feminino, de modo a estimular a inserção e inclusão desse grupo socialmente vulnerável nos espaços sociais, promovendo-se, assim, a tão desejada isonomia constitucional entre homens e mulheres”.

Com efeito, a LMP foi concebida para tutelar a mulher que se encontra em situação de vulnerabilidade no âmbito de uma relação doméstica, familiar ou íntima de afeto. Portanto, a interpretação de todo e qualquer dispositivo deve se dar em favor de quem foi prevista a proteção do legislador – a mulher.

Destaca-se, também, os enunciados de Súmula do STJ - Súmula 589: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas; Súmula 600 - Para a configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) não se exige a coabitação entre autor e vítima. (Súmula 600, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/11/2017, DJe 27/11/2017).

Ademais, interessante a leitura da notícia, na qual veicula um panorama acerca das decisões proferidas em relação à LMP:

http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunica%C3%A7%C3%A3o/noticias/Not%C3%ADcias/A-jurisprud%C3%AAncia-do-STJ-nos-11-anos-da-Lei-Maria-da-Penha

Destaca-se, por fim, julgados interessantes da matéria:

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PENAL. PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. LESÃO CORPORAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. ART. 129, § 9º DO CP. RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO. INCIDÊNCIA DA LEI N. 11.340/2006. I - O entendimento exposto no v. acórdão a quo está de acordo com a jurisprudência desta Corte Superior firmada no sentido de que “[a] mulher possui na Lei Maria da Penha a proteção acolhida pelo país em direito convencional de proteção ao gênero, que independe da demonstração de concreta fragilidade, física, emocional ou financeira” (AgRg no RHC n. 74.107/SP, Sexta Turma, Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe de 26/09/2016). (...) (AgRg no AREsp 1361642/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 12/03/2019, DJe 19/03/2019)

PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTO DE RECURSO ORDINÁRIO. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. CRIME PRATICADO POR PADRASTO CONTRA ENTEADA. APLICABILIDADE DA LEI MARIA DA PENHA. CARACTERIZAÇÃO DA AÇÃO BASEADA NO GÊNERO. WRIT NÃO CONHECIDO. (...) 2. Para incidência da Lei Maria da Penha, é necessário que a violência doméstica e familiar contra a mulher decorra de: (a) ação ou omissão baseada no gênero; (b) no âmbito da unidade doméstica, familiar ou relação de afeto; decorrendo daí (c) morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. 3. A definição do gênero sobre o qual baseada a conduta comissiva ou omissiva decorre do equivocado entendimento/motivação do sujeito ativo de possuir “direitos” sobre a mulher ou de que ela lhe pertence, evidenciando vulnerabilidade pela redução ou nulidade da autodeterminação, caracterizando-se, assim, conduta baseada no gênero para efeitos da Lei n. 11.340/2006. (HC 349.851/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 28/11/2017, DJe 04/12/2017)

DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR AÇÃO PENAL REFERENTE A SUPOSTO CRIME DE AMEAÇA PRATICADO POR NORA CONTRA SUA SOGRA. É do juizado especial criminal — e não do juizado de violência doméstica e familiar contra a mulher — a competência para processar e julgar ação penal referente a suposto crime de ameaça (art. 147 do CP) praticado por nora contra sua sogra na hipótese em que não estejam presentes os requisitos cumulativos de relação íntima de afeto, motivação de gênero e situação de vulnerabilidade. Isso porque, para a incidência da Lei 11.340/2006, exige-se a presença concomitante desses requisitos. De fato, se assim não fosse, qualquer delito que envolvesse relação entre parentes poderia dar ensejo à aplicação da referida lei. Nesse contexto, deve ser conferida interpretação restritiva ao conceito de violência doméstica e familiar, para que se não inviabilize a aplicação da norma. HC175.816-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 20/6/2013.

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🏳 DIREITO PROCESSUAL PENAL

QUESTÃO 4. Discorra sobre o conceito de competência e o fenômeno da translatio iudicii no processo penal. (Máximo de 30 linhas)

🎓 MODELO DE RESPOSTA

Inicialmente, mister colacionar o conceito de jurisdição, que pode ser entendida como o Poder constitucionalmente conferido ao Estado para, por intermédio do processo, aplicar a lei ao caso concreto, de modo a pacificar eventuais conflitos. O processo penal, no caso, é o instrumento da jurisdição que viabiliza a aplicação da lei penal, veiculando uma pretensão punitiva (ius puniendi) em confronto com o direito de liberdade do cidadão.

Embora una (princípio da unidade da jurisdição), nem todos juízes podem julgar todas as causas, de modo que o Poder estatal é “distribuído/repartido” segundo diversos critérios. Tal distribuição ou repartição é denominada de competência, que pode ser conceituada como medida e limite da jurisdição, dentro dos quais o órgão jurisdicional poderá aplicar o direito objetivo ao caso concreto. Trata-se, ademais, de delimitação prévia, constitucional e legal.

A competência tem íntima ligação com o princípio do juiz natural, que pode ser compreendido como aquele constituído antes do fato delituoso a ser julgado (pré-constituição legal do juiz), mediante regras taxativas de competência estabelecida pela lei – garantia de imparcialidade.

Já a translatio iudicii pode ser definida como a continuidade perante o juízo competente do processo iniciado em juízo incompetente, com a conservação de todos os atos e efeitos já produzidos até que outra decisão seja proferida pelo juízo competente (ratificando ou não). Tal inovação encontra previsão no novo código de processo civil (art. 64, §4º, NCPC), sendo que a doutrina entende que a preservação dos atos pressupõe, como decorrência da confiança legítima, que haja boa-fé e o erro tenha sido escusável.

Em relação à incidência no processo penal, a questão já foi objeto de análise pelo STF, ocasião em que a Corte Suprema entendeu que o juízo incompetente pode, salvo nos casos de erro grosseiro e manifesta má-fé, em hipóteses de urgência e desde que haja dúvida razoável a respeito do órgão que deva processar a causa, determinar, por exemplo, o relaxamento da prisão, remetendo o caso, na sequência, ao juiz

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natural. Inclusive, em relação ao relaxamento da prisão ilegal, convém salientar que o texto constitucional atribui este dever à “autoridade judiciária”, não exigindo, para tanto, a competência desta.

Inclusive, a jurisprudência do STF tem admitido a ratificação de atos prolatados por juízes incompetentes, até os decisórios e mesmo em se tratando de medidas prejudiciais ao acusado, a exemplo da medida constritiva de sequestro de bens, do recebimento de denúncia. De igual forma, o STF tem entendido pela possibilidade também de atos instrutórios.

💡 GABARITO COMENTADO

De igual forma, tem pertinência com o tema proposto a teoria do encontro fortuito ou casual de provas (serendipidade) e a teoria do juízo aparente. O encontro fortuito de provas se dá quando casualmente a prova de determinado crime é obtida a partir de diligência regularmente autorizada para a investigação de outro crime. Segundo LFG, “haverá serendipidade ou encontro fortuito de primeiro grau em relação ao encontro fortuito de fatos conexos (ou quando haja continência), hipótese em que a prova produzida tem valor jurídico e deve ser analisada pelo juiz como prova válida. Quando se trata de fatos não conexos (ou quando não haja continência), impõe-se falar em serendipidade ou encontro fortuito de provas de segundo grau, situação em que a prova produzida não pode ser valorada pelo juiz, valendo apenas como notitia criminis”.

A teoria do juízo aparente, por sua vez, é tida como exercício antecipado e “prognóstico” de análise de competência de qual juízo seria o competente para a apuração de determinado crime em relação a determinado investigado. Isto é, há a definição prévia do objeto da investigação, por meio da qual se chega à conclusão da competência de determinado juízo. Entretanto, no curso da investigação, denota-se que aquele juízo, em verdade, não era o competente. Exemplo: instauração de investigação para apuração de crime doloso contra a vida ocorrido na cidade de Curitiba-PR; exauridas todas diligências possíveis, o delegado representa pela interceptação telefônica; referido pedido será apreciado, em razão da “aparência de competência”, pela vara especializada do Tribunal do Júri; todavia, no curso da interceptação, denota-se que o delito, na verdade, é de latrocínio, o qual é de competência de alguma das varas criminais de Curitiba e não da vara especializada. Neste caso, de acordo com a teoria do juízo aparente, as provas colhidas ou autorizadas por juízo aparentemente competente à época da autorização ou produção podem ser ratificadas, mesmo que seja posteriormente reconhecida a sua incompetência.

Vale destacar, por oportuno, que o STF já entendeu que “diante da manifesta e consciente assunção, por parte da Procuradoria da República em São Paulo e do juízo reclamado, do risco concreto de apreensão de elementos de convicção relacionados a detentor de prerrogativa de foro, não cabe argumentar-se com descoberta fortuita de provas nem com a teoria do juízo aparente. Nessas circunstâncias, a precipitação da diligência por juízo sem competência constitucional maculou-a, insanavelmente, de nulidade” (Rcl

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24473 – STF, j. 26.06.18).

Inclusive, a questão poderá ser enfrentada atualmente, sobretudo em razão da decisão proferida recentemente no Inq 4435, oportunidade em que o STF assentou a competência da Justiça Eleitoral para o julgamento de crimes comuns conexos a delitos eleitorais. Dessa maneira, há possibilidade concreta e real de referida questão ser objeto de apreciação, ocasião em que diversos condenados buscarão a nulidade de processos.

Abaixo são destacados os principais julgados acerca da matéria cobrada:

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PENAL E PROCESSO PENAL. OFENSA AO PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE. INEXISTÊNCIA. POSSIBILIDADE DE JULGAMENTO MONOCRÁTICO PELO RELATOR E PRESUNÇÃO DE REPERCUSSÃO GERAL. OFENSA DIRETA À CONSTITUIÇÃO. ART. 96, III, DA CF. COMPETÊNCIA PARA INVESTIGAÇÃO DE JUIZ DE DIREITO. HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. INQUÉRITO INICIADO POR AUTORIDADE POLICIAL. ALEGADA OFENSA AO ART. 33 DA LOMAN. ATOS INSTRUTÓRIOS RATIFICADOS PELO JUÍZO COMPETENTE. POSSIBILIDADE. NULIDADE DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. NÃO OCORRÊNCIA. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (...) III – A possibilidade de ratificação de atos instrutórios – e até mesmo de atos decisórios – pela autoridade competente encontra-se em harmonia com a jurisprudência deste Supremo Tribunal. Precedentes. (...). (RE 730579 AgR, Relator(a):  Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 23/06/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-143 DIVULG 29-06-2017 PUBLIC 30-06-2017).

Ementa: RECURSO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CRIMES SEXUAIS CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES. RÉU COM FORO POR PRERROGATIVA NO TRIBUNAL DE JUSTIÇA LOCAL. COMPETÊNCIA POR PREVENCÃO. NULIDADE RELATIVA. SÚMULA 706/STF. PRECLUSÃO. POSSIBILIDADE DE RATIFICAÇÃO DOS ATOS DECISÓRIOS PELO RELATOR PREVENTO. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE FUNDAMENTOS IDÔNEOS PARA A MANUTENÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA. IMPROCEDÊNCIA. EXCESSO DE PRAZO DA CUSTÓDIA CAUTELAR. INOCORRÊNCIA NO CASO. (...) 2. Enquanto não reconhecida a incompetência relativa, são válidos os atos praticados até então, cabendo ao magistrado que receber o processo prosseguir com os demais atos processuais, reconhecendo-se válidos todos os anteriores praticados pelo juiz tido como incompetente (CPP, art. 108, § 1º). No caso, tão logo verificada a prevenção de outro membro do Tribunal para relatar a ação penal, os autos foram imediatamente a ele redistribuídos, ocasião em que ratificou todos os atos decisórios proferidos, inclusive o decreto de prisão cautelar. (...) (RHC 127757, Relator(a):  Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 02/06/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-116 DIVULG 17-06-2015 PUBLIC 18-06-2015).

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Ementa: Direito Processual penal. Direito Constitucional. Ação Direta de Inconstitucionalidade. Criação, por Lei estadual, de Varas especializadas em delitos praticados por organizações criminosas. – Previsão de conceito de “crime organizado” no diploma estadual. Alegação de violação à competência da União para legislar sobre matéria penal e processual penal. Entendimento do Egrégio Plenário pela procedência do pedido de declaração de inconstitucionalidade. – Inclusão dos atos conexos aos considerados como Crime Organizado na competência da Vara especializada. Regra de prevalência entre juízos inserida em Lei estadual. Inconstitucionalidade. Violação da competência da União para tratar sobre Direito Processual Penal (Art. 22, I, CRFB). – Ausência de ressalva à competência constitucional do Tribunal do Júri. Violação ao art. 5º, XXXVIII, CRFB. Afronta à competência da União para legislar sobre processo (art. 22, I, CRFB). – Criação de órgão colegiado em primeiro grau por meio de Lei estadual. Aplicabilidade do art. 24, XI, da Carta Magna, que prevê a competência concorrente para legislar sobre procedimentos em matéria processual. Colegialidade como fator de reforço da independência judicial. Omissão da legislação federal. Competência estadual para suprir a lacuna (art. 24, § 3º, CRFB). Constitucionalidade de todos os dispositivos que fazem referência à Vara especializada como órgão colegiado. – Dispositivos que versam sobre protocolo e distribuição. Constitucionalidade. Competência concorrente para tratar de procedimentos em matéria processual (Art. 24, XI, da CRFB). – Atividades da Vara Criminal anteriores ou concomitantes à instrução prévia. Alegação de malferimento ao sistema acusatório de processo penal. Interpretação conforme à Constituição. Atuação do Judiciário na fase investigativa preliminar apenas na função de “juiz de garantias”. Possibilidade, ainda, de apreciação de remédios constitucionais destinados a combater expedientes investigativos ilegais. – Atribuição, à Vara especializada, de competência territorial que abrange todo o território do Estado-membro. Suscitação de ofensa ao princípio da territorialidade. Improcedência. Matéria inserida na discricionariedade do legislador estadual para tratar de organização judiciária (Art. 125 da CRFB). – Comando da lei estadual que determina a redistribuição dos inquéritos policiais em curso para a nova Vara. Inexistência de afronta à perpetuatio jurisdictionis. Aplicação das exceções contidas no art. 87 do CPC. Entendimento do Pleno deste Pretório Excelso. – Previsão, na Lei atacada, de não redistribuição dos processos em andamento. Constitucionalidade. Matéria que atine tanto ao Direito Processual quanto à organização judiciária. Teoria dos poderes implícitos. Competência dos Estados para dispor, mediante Lei, sobre a redistribuição dos feitos em curso. Exegese do art. 125 da CRFB. – Possibilidade de delegação discricionária dos atos de instrução ou execução a outro juízo. Matéria Processual. Permissão para qualquer juiz, alegando estar sofrendo ameaças, solicitar a atuação da Vara especializada. Vício formal, por invadir competência

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privativa da União para tratar de processo (art. 22, I, CRFB). Inconstitucionalidade material, por violar o princípio do Juiz Natural e a vedação de criação de Tribunais de exceção (art. 5º, LIII e XXXVII, CRFB). – Atribuição, à Vara especializada, de competência para processar a execução penal. Inexistência de afronta à Carta Magna. Tema de organização judiciária (art. 125 CRFB). – Permissão legal para julgar casos urgentes não inseridos na competência da Vara especializada. Interpretação conforme à Constituição (art. 5º, XXXV, LIII, LIV, LXV, LXI e LXII, CRFB). Permissão que se restringe às hipóteses de relaxamento de prisões ilegais, salvante as hipóteses de má-fé ou erro manifesto. TRANSLATIO IUDICII no Processo Penal, cuja aplicabilidade requer haja dúvida objetiva acerca da competência para apreciar a causa. – Previsão genérica de segredo de justiça a todos os inquéritos e processos. Inconstitucionalidade declarada pelo Plenário. – Indicação e nomeação de magistrado para integrar a Vara especializada realizada politicamente pelo Presidente do Tribunal de Justiça. Inconstitucionalidade. Violação aos critérios para remoção e promoção de juízes previstos na Carta Magna (art. 93, II e VIII-A). Garantias de independência da magistratura e de qualidade da prestação jurisdicional. – Estabelecimento de mandato de dois anos para a ocupação da titularidade da Vara especializada. Designação política também do juiz substituto, ante o afastamento do titular. Inconstitucionalidade. Afastamento indireto da regra da identidade física do juiz (art. 399, § 2º, CPP). Princípio da oralidade. Matéria processual, que deve ser tratada em Lei nacional (art. 22, I, CRFB). – Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada parcialmente procedente. Modulação dos efeitos temporais da decisão. (...) 16. O juízo incompetente pode, salvante os casos de erro grosseiro e manifesta má-fé, em hipóteses de urgência e desde que haja dúvida razoável a respeito do órgão que deve processar a causa, determinar o relaxamento de prisão ilegal, remetendo o caso, em seguida, ao juiz natural, configurando hipótese de TRANSLATIO IUDICII inferida do art. 5º, LXV, da Carta Magna, o qual não exige a competência da autoridade judiciária responsável pelo relaxamento, sendo certo que a complexidade dos critérios de divisão da competência jurisdicional não podem obstaculizar o acesso à justiça (art. 5º, XXXV, CRFB). Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal admitindo a ratificação de atos prolatados por juiz incompetente inclusive em desfavor do réu (HC 83.006/SP, rel. Min. Ellen Gracie, Plenário, DJ de 29.8.2003; HC 88.262/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado em 18/12/2006, DJ 30-03-2007). Doutrina (GRECO, Leonardo. Translatio iudicii e reassunção do processo. RePro, ano 33, nº 166. São Paulo: RT, 2008; BODART, Bruno e ARAÚJO, José Aurélio de. Alguns apontamentos sobre a Reforma Processual Civil Italiana – Sugestões de Direito Comparado para o Anteprojeto do Novo CPC Brasileiro. In: O novo processo civil brasileiro – Direito em expectativa. Coord. Luiz Fux. Rio de Janeiro: Forense, 2011. p. 27-28). (...). (ADI 4414, Relator(a):  Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado

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em 31/05/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-114 DIVULG 14-06-2013 PUBLIC 17-06-2013).

EMENTA: Habeas Corpus. 2. Crimes de Estelionato. 3. Alegações de: a) ausência de indícios de autoria e materialidade; b) falta de fundamentação da preventiva; c) violação ao princípio do juiz natural; e d) excesso de prazo da prisão preventiva. 4. Prejudicialidade parcial do pedido, o qual prossegue apenas com relação à alegada violação ao princípio do juiz natural. 5. Em princípio, a jurisprudência desta Corte entendia que, para os casos de incompetência absoluta, somente os atos decisórios seriam anulados. Sendo possível, portanto, a ratificação de atos não-decisórios. Precedentes citados: HC nº 71.278/PR, Rel. Min. Néri da Silveira, 2ª Turma, julgado em 31.10.1994, DJ de 27.09.1996 e RHC nº 72.962/GO, Rel. Min. Maurício Corrêa, 2ª Turma, julgado em 12.09.1995, DJ de 20.10.1995. 6. Posteriormente, a partir do julgamento do HC nº 83.006-SP, Pleno, por maioria, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 29.08.2003, a jurisprudência do Tribunal evoluiu para admitir a possibilidade de ratificação pelo juízo competente inclusive quanto aos atos decisórios. 7. Declinada a competência pelo Juízo Estadual, o juízo de origem federal ao ratificar o sequestro de bens (medida determinada pela justiça comum), fez referência expressa a uma série de indícios plausíveis acerca da origem ilícita dos bens como a incompatibilidade do patrimônio do paciente em relação aos rendimentos declarados. 8. No decreto cautelar, ainda, a manifestação da Juíza da Vara Federal Criminal é expressa no sentido de que, da análise dos autos, há elementos de materialidade do crime e indícios de autoria. 9. Ordem indeferida. (HC 88262 segundo julgamento, Relator(a):  Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 18/12/2006, DJ 30-03-2007 RTJ VOL-00201-02 PP-00682).

HABEAS CORPUS. DENÚNCIA. MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. RATIFICAÇÃO. PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA. INQUÉRITO NO ÂMBITO DO STF. LEI Nº 8.038/90. 1. “Tanto a denúncia quanto o seu recebimento emanados de autoridades incompetentes rationae materiae são ratificáveis no juízo competente”. Precedentes. 2. Caso em que a notificação para a apresentação de resposta (art. 4º da Lei nº 8.038/90), fase anterior ao julgamento em que o Tribunal deliberará pelo recebimento ou rejeição da denúncia (art. 6º da Lei nº 8.038/90), não permite se inferir que tenha o relator do inquérito ratificado o ato de recebimento da denúncia, exarado pelo juízo de origem. 3. Alegações formuladas a respeito da inépcia da denúncia que, além de demandarem o exame de provas, insuscetível de realização em sede de habeas corpus, inserem-se no âmbito da deliberação a ser realizado oportunamente pelo Tribunal em julgamento que está previsto no art. 6º da Lei nº 8.038/90. Ordem indeferida. (HC 83006, Relator(a):  Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 18/06/2003, DJ 29-08-2003 PP-00030 EMENT VOL-02121-17 PP-03374).

EMENTA. Reclamação constitucional ajuizada pela Mesa do Senado Federal. Defesa de prerrogativa de Senadora da República. Pertinência temática entre o objeto da ação e

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a atuação do ente despersonalizado. Legitimidade ativa ad causam. Busca e apreensão determinada por juízo de primeiro grau, em imóvel funcional ocupado por Senadora da República, em desfavor de seu cônjuge. Alegada usurpação de competência da Corte. Delimitação da diligência a bens e documentos do investigado não detentor de prerrogativa de foro. Não ocorrência. Ordem judicial ampla e vaga. Ausência de prévia individualização dos bens que seriam de titularidade da parlamentar federal e daqueles pertencentes ao não detentor de prerrogativa de foro. Pretendida triagem, a posteriori, do material arrecadado, para selecionar e apartar elementos de convicção relativos à Senadora da República. Impossibilidade. Investigação, por via reflexa, de detentor de prerrogativa de foro. Usurpação de competência caracterizada. Reconhecida ilicitude da prova (CF, art. 5º, inciso LVI) e daquelas outras diretamente dela derivadas. Teoria dos frutos da árvore envenenada (fruit of the poisonous tree). Precedentes. Reclamação procedente. (...) 13. Diante da manifesta e consciente assunção, por parte da Procuradoria da República em São Paulo e do juízo reclamado, do risco concreto de apreensão de elementos de convicção relacionados a detentor de prerrogativa de foro, não cabe argumentar-se com descoberta fortuita de provas nem com a teoria do juízo aparente. 14. Nessas circunstâncias, a precipitação da diligência por juízo sem competência constitucional maculou-a, insanavelmente, de nulidade. (...). (Rcl 24473, Relator(a):  Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 26/06/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-187 DIVULG 05-09-2018 PUBLIC 06-09-2018).

Ementa: Direito Penal e processual penal. Ação Penal. Corrupção Passiva e Tentativa de Obstrução à Investigação de Organização Criminosa. Materialidade e Indícios Suficientes de Autoria. Recebimento da Denúncia. I. Preliminares (...) 3. De acordo com a teoria do juízo aparente, as provas colhidas ou autorizadas por juízo aparentemente competente à época da autorização ou produção podem ser ratificadas, mesmo que seja posteriormente reconhecida a sua incompetência. Precedentes. (...). (Inq 4506, Relator(a):  Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão:  Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 17/04/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-183 DIVULG 03-09-2018 PUBLIC 04-09-2018).

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🏳 DIREITO ELEITORAL

QUESTÃO 5. Quais são os sistemas eleitorais adotados pela Constituição Federal? (Máximo de 30 linhas)

🎓 MODELO DE RESPOSTA

Sistema eleitoral é a técnica e procedimento pelos qual se exercem os direitos políticos de votar e de ser votado, considerando a divisão geográfica do país e critério de contagem de votos e determinação dos candidatos eleitos. A Constituição Federal adota os sistemas majoritário e proporcional.

O sistema majoritário funda-se na ideia da maioria. Assim, o candidato que receber a maioria dos votos válidos é proclamado vencedor do certame. No Brasil, o sistema majoritário foi adotado nas eleições para a chefia do Poder Executivo (Presidente da República, Governador, Prefeito e respectivos vices) e Senador (e respectivos suplentes).

Esse sistema pode ser aplicado de duas formas: simples ou turno único, pelo qual considera-se eleito o candidato que conquistar o maior número de votos entre candidatos (aplica-se nas eleições para senador e para prefeito em municípios com menos de 200.000 eleitores) e de dois turnos, quando o candidato só é considerado eleito no primeiro turno se obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os votos em branco e os votos nulos. Não obtida a maioria, procede-se a uma segunda eleição, somente podendo concorrer os dois candidatos mais votados (aplica-se nas eleições para presidente da república, governador, prefeito e seus respectivos vices em municípios com mais de 200.000 eleitores).

O sistema proporcional parte da ideologia do partido e visa distribuir entre os múltiplos partidos políticos as vagas existentes nas casas legislativas, tornando equânime a disputa pelo poder. A partir deste sistema, o voto tem caráter dúplice ou binário, de modo que votar no candidato significa igualmente votar no partido. No Brasil, o sistema proporcional foi adotado nas eleições para deputados federais, deputados estaduais e vereadores.

No sistema proporcional, a distribuição de cadeiras é feita entre os partidos políticos proporcionalmente à votação que obtiverem. Para que um candidato seja eleito, é preciso que seu partido seja contemplado com um número mínimo de votos. Esse número mínimo é denominado quociente eleitoral. Havendo

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coligação partidária, os votos conferidos às agremiações que a integram devem ser somados, porque a coligação é considerada uma entidade única, ou seja, um só partido.

O quociente eleitoral é obtido pela divisão do número de votos válidos apurados pelo de lugares a preencher em cada circunscrição eleitoral. Os votos em branco e os nulos não são computados, pois não são considerados válidos. Anteriormente, se o quociente eleitoral não fosse alcançado por algum partido, ele estava automaticamente excluído da divisão dos lugares. Atualmente, o partido ainda poderá concorrer à distribuição das sobras que eventualmente ocorrerem, mesmo sem alcançar o quociente eleitoral.

ESPELHO DE CORREÇÃO

ITEM EXIGIDOATENDIMENTO AO ITEM

(Total, Parcial ou Não Atendido)

Fluência e Coerência na Exposição (1,0) 1,0

Correção Gramatical e Precisão da Linguagem Jurídica (1,0) 1,0

Grau de Conhecimento do Tema (1,0) 1,0

Sistema majoritário (2,0) 2,0

Sistema majoritário de turno único e de dois turnos (2,0) 2,0

Sistema proporcional (2,0) 2,0

Quociente eleitoral (1,0) 1,0

TOTAL: 10,0

💡 GABARITO COMENTADO

Caros alunos,

A escolha do tema se deu em razão das recentes alterações legislativas, bem como em razão da discussão acerca dos novos sistemas eleitorais (distrital e distritão). Embora não acolhidos no ordenamento jurídico, promoveram uma grande incidência de questões em provas de concurso.

A importância do tema exige que o magistrado tenha conhecimento das técnicas eleitorais para escolha do candidato vencedor do certame, seja nas eleições proporcionais ou majoritárias.

No exercício do cargo de juiz de direito, por vezes o magistrado exerce a judicatura eleitoral, sendo chamado para atender às causas eleitorais, tendo ampla atividade durante as eleições, sejam elas municipais ou gerais.

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O tema tem sido cobrado em concursos, exigindo que o candidato ao cargo de juiz tenha conhecimento sobre o sistema majoritário e o sistema proporcional, bem como a aplicação de cada um destes sistemas na escolha de cada um dos cargos eleitorais.

O sistema proporcional passou por recentes alterações, não mais se excluindo automaticamente o partido político que não tenha alcançado o quociente eleitoral, podendo concorrer às sobras de lugares vagos. O tema é assaz importante.

Bons estudos!!

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PROFESSOR ELVIS MELNISKE-mail: [email protected]

🏳 DIREITO AMBIENTAL

QUESTÃO 6. Acerca da responsabilidade civil do meio ambiente, discorra sobre:

a) Quem é o responsável pela reparação? O contratante de atividade de risco responde pelo dano ocorrido fora da sua cadeia de produção? É possível responsabilizar o sócio?

b) O Estado pode ser condenado, quando havia obrigação de fiscalizar a atividade poluidora?

c) Qual teoria do risco adotada? É possível a inversão do ônus da prova?

(Máximo de 30 linhas)

🎓 MODELO DE RESPOSTA

O responsável pela reparação dos danos ambientais será o poluidor, podendo ser a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, diretamente ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental (artigo 3.º, inciso IV, da Lei 6.938/81).

O atual proprietário ou possuidor do imóvel também pode ser responsável pela reparação do dano ambiental, ainda que não seja o poluidor, tendo em vista a natureza propter rem das obrigações ambientais, nos termos da Súmula 623/STJ.

Sempre que a personalidade jurídica for obstáculo ao ressarcimento dos prejuízos causados à qualidade do meio ambiente, será possível a desconsideração da pessoa jurídica para atingir o patrimônio dos sócios.

Também é possível a responsabilização das pessoas jurídicas de direito público quando consideradas poluidoras, seja por atos comissivos ou omissivos. Desta forma, quando a empresa estatal explora diretamente atividade econômica, a exemplo da atividade petrolífera, a Administração Pública poderá se enquadrar como poluidora direta.

Por outro lado, o empresário que contrata determinada atividade considerada de risco não responde pelos danos que venham a ocorrer, ainda que contratante único da operação, ante a falta de nexo de causalidade. É o que aconteceu com as empresas que contrataram o transporte de cargas de navio, não

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sendo responsáveis pelo dano ambiental ocorrido com o navio (neste sentido, o repetitivo REsp 1596081/PR).

Há, ainda, a possibilidade de responsabilização da entidade ambiental responsável pela fiscalização de atividade poluidora, que se omite ou deixa de efetuar a fiscalização quando determinada em lei. Nestes casos, o Superior Tribunal de Justiça tem entendimento que a entidade fiscalizadora tem responsabilidade objetiva e solidária com a empresa poluidora (REsp 1726432/SP).

Em regra, a responsabilidade por dano ambiental é objetiva e pautada no risco integral, não se admitindo a aplicação de excludentes de responsabilidade. Embora a responsabilidade objetiva não esteja expressamente prevista na Constituição Federal, tem previsão no art. 14, § 1º, da Lei 6.938/81, que foi recepcionada consoante entendimento majoritário do Superior Tribunal de Justiça.

De se ressaltar, ainda, que nas ações de reparação dos danos ambientais, o Superior Tribunal de Justiça admite a inversão do ônus da prova com base no interesse público da reparação ambiental e no princípio da precaução. Neste sentido, aliás, a súmula 618 do STJ: “a inversão do ônus da prova aplica-se às ações de degradação ambiental”.

ESPELHO DE CORREÇÃO

ITEM EXIGIDOATENDIMENTO AO ITEM

(Total, Parcial ou Não Atendido)

Fluência e Coerência na Exposição (1,0) 1,0

Correção Gramatical e Precisão da Linguagem Jurídica (1,0) 1,0

Grau de Conhecimento do Tema (1,0) 1,0

Conceito de poluidor / Empresário responsável pela carga / Proprietário e possuidor atual do bem / Responsabilização dos sócios (2,0)

2,0

Estado fiscalizador (2,0) 2,0

Teoria do risco / inversão do ônus da prova (2,0) 2,0

Menção à existência de entendimento do STJ sobre o assunto (1,0)

1,0

TOTAL: 10,0

💡 GABARITO COMENTADO

Caros alunos,

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A escolha do tema se deu em razão das novas súmulas do Superior Tribunal de Justiça, bem como do entendimento no recurso repetitivo REsp 1596081/PR, julgado em 25/10/2017, referente à acidente ambiental ocorrido no litoral do Estado do Paraná, que dada a importância, faço a transcrição:

RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANOS EXTRAPATRIMONIAIS. ACIDENTE AMBIENTAL. EXPLOSÃO DO NAVIO VICUÑA. PORTO DE PARANAGUÁ. PESCADORES PROFISSIONAIS. PROIBIÇÃO DE TEMPORÁRIA DE PESCA. EMPRESAS ADQUIRENTES DA CARGA TRANSPORTADA. AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE. NEXO DE CAUSALIDADE NÃO CONFIGURADO.

1. Ação indenizatória ajuizada por pescadora em desfavor apenas das empresas adquirentes (destinatárias) da carga que era transportada pelo navio tanque Vicuña no momento de sua explosão, em 15/11/2004, no Porto de Paranaguá. Pretensão da autora de se ver compensada por danos morais decorrentes da proibição temporária da pesca (2 meses) determinada em virtude da contaminação ambiental provocada pelo acidente.

2. Acórdão recorrido que concluiu pela improcedência do pedido ao fundamento de não estar configurado, na hipótese, nexo de causal capaz de vincular o resultado danoso ao comportamento de empresas que, sendo meras adquirentes da carga transportada, em nada teriam contribuído para o acidente, nem sequer de forma indireta.

3. Consoante a jurisprudência pacífica desta Corte, sedimentada inclusive no julgamento de recursos submetidos à sistemática dos processos representativos de controvérsia (arts. 543-C do CPC/1973 e 1.036 e 1.037 do CPC/2015), “a responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato” (REsp nº 1.374.284/MG).

4. Em que pese a responsabilidade por dano ambiental seja objetiva (e lastreada pela teoria do risco integral), faz-se imprescindível, para a configuração do dever de indenizar, a demonstração da existência de nexo de causalidade apto a vincular o resultado lesivo efetivamente verificado ao comportamento (comissivo ou omissivo) daquele a quem se repute a condição de agente causador.

5. No caso, inexiste nexo de causalidade entre os danos ambientais (e morais a eles correlatos) resultantes da explosão do navio Vicuña e a conduta das empresas adquirentes da carga transportada pela referida embarcação.

6. Não sendo as adquirentes da carga responsáveis diretas pelo acidente ocorrido, só haveria falar em sua responsabilização - na condição de poluidora indireta - acaso fosse demonstrado: (i) o comportamento omissivo de sua parte; (ii) que o risco de explosão na realização do transporte marítimo de produtos químicos adquiridos fosse ínsito às atividades

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por elas desempenhadas ou (iii) que estava ao encargo delas, e não da empresa vendedora, a contratação do transporte da carga que lhes seria destinada.

7. Para os fins do art. 1.040 do CPC/2015, fixa-se a seguinte TESE: As empresas adquirentes da carga transportada pelo navio Vicunã no momento de sua explosão, no Porto de Paranaguá/PR, em 15/11/2004, não respondem pela reparação dos danos alegadamente suportados por pescadores da região atingida, haja vista a ausência de nexo causal a ligar tais prejuízos (decorrentes da proibição temporária da pesca) à conduta por elas perpetrada (mera aquisição pretérita do metanol transportado).

8. Recurso especial não provido.

(REsp 1596081/PR, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 25/10/2017, DJe 22/11/2017)

A noção acerca do responsável teve incluído a figura do proprietário ou possuidor atual, visto que a obrigação ambiental é propter rem, de acordo com o entendimento atual do STJ.

Assim, ainda que o proprietário ou possuidor não tenha provocado o dano, pode vir a ser responsabilizado (obrigação solidária, em que o credor pode escolher qual devedor figurará no polo passivo).

A possiblidade de desconsideração da pessoa jurídica também é um tema bastante cobrado nas provas.

Bons estudos!!

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SENTENÇA CÍVEL COMENTADA

PROFESSOR ROGÉRIO DE VIDAL CUNHAE-mail: [email protected]

🏳 SENTENÇA CÍVEL

RODRIGO SNOW ajuíza de ação ordinária contra Drogon MULTIMARCAS VEÍCULOS LTDA E BANCO DE FERRO DO BRASIL S/A onde o autor afirma que sofreu indicação de protesto nº 3971 referente a duplicata emitida em 25/10/2017, no valor de R$ 2.000,00 efetuado por apresentação da instituição financeira requerida e tendo como credor Drogon MULTIMARCAS VEÍCULOS LTDA. Alega que não possui mais qualquer relação com a requerida Drogon pois em 2007 desfez, por mútuo acordo, o contrato de compra e venda de um caminhão marca SCANIA/LX, placas AI9G 8859. Afirma que jamais assinou qualquer duplicata, mas somente notas promissórias, que foram canceladas em virtude do desfazimento do negócio. Juntou certidão do 1º Tabelionato de Notas e Protesto com o seguinte teor: “Certifico, que atendendo solicitação de RODRIGO SNOW, portador do RG 158535-8, que revendo os registros do protesto verificou constar sob responsabilidade de RODRIGO SNOW, brasileiro, casado, empresário, portador do RG 158535-8, o seguinte protesto: Livro 2337, folha 116, espécie DP p/Indicação. N.º 3971, no valor de R$ 2.000,00, vencimento em 25/10/2017, sacador DROGON MULTIMARCAS VEÍCULOS LTDA, credor DROGON MULTIMARCAS VEÍCULOS LTDA, Apresentante, BANCO DE FERRO DO BRASIL S/A, protestado em 30/11/2017 por falta de pagamento. Apontamento 201711 3971. O referido é verdade e dou fé.

A tutela provisória de urgência foi deferida.

Citado, o requerido BANCO de ferro ofereceu contestação, requerendo, em preliminar, a sua ilegitimidade passiva, já que foi mera apresentadora do título, não respondendo por eventual vício. Postulou ainda a denunciação à lide do Oficial de Protestos, que não conferiu a regularidade formal e material do título. No mérito afirma que não há qualquer ilicitude no protesto já que recebeu os referidos títulos na qualidade de mandatária sendo o protesto exercício regular de direito, logo, não pode ser responsável por eventuais vícios do título.

A requerida ROSSINI MULTIMARCAS VEICULOS LTDA foi citada por edital, tendo a senhora curadora especial oferecido contestação por negativa geral.

Durante a instrução foi expedido ofício à Secretaria de Fazenda do Estado do Paraná que informou que no ano de 2017 a requerida ROSSINI MULTIMARCAS VEICULOS LTDA não expediu qualquer

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documento fiscal relativo a operações comerciais.

Todas as partes requereram o julgamento antecipado do pedido.

Após, os autos vieram conclusos.

Com base no enunciado, redige a sentença cabível, dispensado o relatório.

(Máximo de 180 linhas)

🎓 MODELO DE SENTENÇA

Vistos,

I – RELATÓRIO (dispensado)

II – FUNDAMENTAÇÃO

Tratam os autos de ação ordinária em que alega a parte autora a ilegalidade do protesto levado a efeito sob o apontamento nº 201711 3971 afirmando que jamais subscreveu qualquer duplicada em favor dos requeridos sendo inexigível o título e, portanto, viciado o protesto levado a efeito.

Diante do requerimento expresso de ambas as partes, bem como pela efetiva desnecessidade da produção de outras provas (CPC, art. 370) passo ao julgamento do pedido.

II.1. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE

A preliminar de ilegitimidade passiva deve ser rejeitada, já que não se aplica ao caso concreto a súmula 476 do Superior Tribunal de Justiça:

Súmula 476. “O endossatário de título de crédito por endosso-mandato só responde por danos decorrentes de protesto indevido se extrapolar os poderes de mandatário”.

Do que se observa dos autos, independente da forma como a instituição financeira recebeu o título indicado à protesto, se por endosso-mandato ou endosso translativo, o objeto da discussão dos autos não diz respeito à qualquer vício formal do título, mas sim à sua própria existência.

Ainda que fosse o caso de protesto na qualidade de mandatária, a discussão nos autos está adstrita à (in)existência da relação jurídica que lastreia a duplicada protestada, que, por ser título causal, demanda a efetiva existência da relação, logo, a responsabilidade da instituição requerida será apurada a título de culpa latu sensu, sendo, portanto, parte legítima. Nesse sentido:

DIREITO CIVIL E CAMBIÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. DUPLICATA RECEBIDA POR ENDOSSO-MANDATO. PROTESTO. RESPONSABILIDADE DO ENDOSSATÁRIO. NECESSIDADE DE CULPA. 1. Para efeito do art. 543-

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C do CPC: Só responde por danos materiais e morais o endossatário que recebe título de crédito por endosso-mandato e o leva a protesto se extrapola os poderes de mandatário ou em razão de ato culposo próprio, como no caso de apontamento depois da ciência acerca do pagamento anterior ou da falta de higidez da cártula. 2. Recurso especial não provido. (REsp 1063474/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/09/2011, DJe 17/11/2011)

Na mesma linha é o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE TÍTULO CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. ALEGAÇÃO DE ILEGITIMIDADE PASSIVA - DESCABIMENTO - TÍTULO RECEBIDO POR ENDOSSO MANDATO - INSTITUIÇÃO FINANCEIRA QUE PROTESTA O TÍTULO APÓS A NOTIFICAÇÃO, PELO ENDOSSANTE, QUANTO A INVALIDADE DA DUPLICATA - EXCESSO DE PODER CONFIGURADO - APLICAÇÃO DA SÚMULA 476 DO STJ - DEVER DE INDENIZAR CONFIGURADO - PRECEDENTES. ALEGAÇÃO DE NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DOS DANOS SOFRIDOS - DANO MORAL “IN RE IPSA” - DEVER DE INDENIZAR CONFIGURADO - QUANTUM INDENIZATÓRIO - CARÁTER PUNITIVO/REPARADOR ATENDIDO - INOCORRÊNCIA DE ENRIQUECIMENTO ILÍCITO - VALOR ARBITRADO ADEQUADO AO CASO CONCRETO. ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS RECURSAIS ANTE AO TRABALHO ADICIONAL DESENVOLVIDO EM SEDE RECURSAL - ART. 85, 11§, DO CPC/2015. RECURSO DESPROVIDO. (TJPR - 14ª C. Cível - AC - 1671618-0 - Apucarana - Rel.: Fernando Antônio Prazeres - Unânime - J. 19.07.2017)

Logo, como a efetiva existência de culpa da instituição requerida será analisada no mérito, rejeito a preliminar.

II.2. DENUNCIAÇÃO À LIDE

Postula a instituição requerida a denunciação à lide do Oficial do Tabelionato de Protestos que, segundo, argumenta, ao não certificar-se da regularidade formal e material do título também deve ser responsável pelo eventual ressarcimento ao autor.

Rejeito o pedido de denunciação à lide uma vez que não trouxe a instituição requerida qualquer contrato em documento que indique que possui direito de ressarcimento por parte desta empresa, sendo que o art. 125, II do CPC condiciona a denunciação à existência do direito de regresso diretamente na lei o que, por óbvio, não é o caso, ou em contrato, o que, pela deficiência de instrução, também não é o caso.

De fato, a interpretação mais adequada ao art. 125, II do Código de Processo Civil é a que limita o instituto da denunciação à lide aos casos em que há a chamada garantia própria, em que a lei ou o contrato asseguram expressamente à parte o direito de regresso não se aplicando aos casos de garantia imprópria onde somente após a sentença originária haveria a figura do direito de regresso. Nesse sentido são vários

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os julgamentos do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, a título de exemplo:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL - DENUNCIAÇÃO À LIDE - CARÁTER RESTRITIVO - CABIMENTO SÓ NOS CASOS DE GARANTIA PRÓPRIA E HIPÓTESES PREVISTAS EM LEI - RECURSO DESPROVIDO. Predominante o entendimento que a denunciação da lide tem caráter restritivo. Admissível somente nos casos de garantia própria. Naqueles casos em que a lei ou o contrato asseguram previamente à parte o direito regressivo. Nunca quando a possibilidade de direito à indenização surge depois da sentença. No caso dos autos, eventual direito de regresso somente surgiria depois de proferida a sentença. É caso de garantia imprópria. Ademais, se entender cabível, poderá o Agravante, oportunamente ajuizar ação regressiva contra quem supor de direito. (TJ-PR - AI: 1406617 PR Agravo de Instrumento - 0140661-7, Relator: Cunha Ribas, Data de Julgamento: 05/08/2003, 7ª Câmara Cível, Data de Publicação: 18/08/2003 DJ: 6435)

Na lição de Vicente Greco Filho5:

Qual, porém, o critério que deve limitar a denunciação? Parece-nos que a solução se encontra em admitir, apenas, a denunciação da lide nos casos de ação de garantia, não a admitindo para os casos de simples ação de regresso, i. e., afigura só será admissível quando, por força da lei ou do contrato, o denunciado for obrigado a garantir o resultado da demanda, ou seja, a perda da primeira ação, automaticamente, gera a responsabilidade do garante.

Em outras palavras, não é permitida, na denunciação, a intromissão de fundamento jurídico novo, ausente na demanda originária, que não seja responsabilidade direta decorrente da lei e do contrato.

Observe-se, também, que, por tradição histórica, uma das finalidades da denunciação é a de que o denunciado venha a coadjuvar na defesa do denunciante e não litigar com ele, arguindo fato estranho à lide primitiva.

Em essência o que não se admite em denunciação à lide é a apresentação de fundamento jurídico novo, não cabe ao julgador definir a existência do direito de regresso, mas somente o seu limite e alcance já definidos previamente na lei ou no contrato. Como leciona Daniel Neves6:

Quando menciona a responsabilidade direta, quer essa doutrina dizer que o direito regressivo tem que ser natural e indiscutível diante do dano suportado pela parte denunciante, o que não exigirá do juiz o enfrentamento de novas questões relativa a esse direito, limitando-se o julgador a uma vez condenado o denunciante, automaticamente

5 Direito Processual Civil Brasileiro, Saraiva, 12ª edição, 1996, vol. 1, n. 22.5, p. 1446 Novo CpC Comentado. Ed. Juspodvim, 2016, 1ª. Ed. P.; 203

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condenar o denunciado ao ressarcimento.

Logo, inviável discutir-se na lide secundária a existência do direito de regresso como pretende a ré, motivo pelo qual indefiro o pedido.

II.3. do mérito

Ausentes outras questões procedimentais ou processuais pendentes de apreciação, passo ao enfrentamento do mérito.

A instituição requerida afirma que não há qualquer ilicitude no protesto já que recebeu os referidos títulos na qualidade de mandatária sendo o protesto exercício regular de direito, logo, não pode ser responsável por eventuais vícios do título.

Da prova produzida nos autos fica evidenciado que é irrelevante a natureza do endosso realizado em favor da instituição requerida já que se discute nos autos a existência de sua culpa em levar a protesto duplicada, supostamente, sem causa.

Não se pode olvidar que a duplicata mercantil é título causal e exige causa jurídica subjacente a dar ensejo a sua emissão, devendo obrigatoriamente ter como lastro uma compra e venda mercantil ou uma prestação de serviços, conforme o regramento da Lei nº 5.474, de 18 de julho de 1968. Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ANULATÓRIA DE DUPLICATA MERCANTIL SIMULADA C/C PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. PEDIDO DE ABSTENÇÃO DE PROTESTO DO TÍTULO E JUNTADA DE DOCUMENTOS COMPROVANDO A EXISTÊNCIA DE RELA- ÇÃO JURÍDICA. PRESENÇA DOS REQUISITOS AUTORIZA- DORES. DECISÃO REFORMADA. 1. A duplicata é título causal que se origina em virtude da existência de compra e venda mercantil ou de prestação de serviços. Assim, tem-se como simulada a duplicata emitida sem que tenha sido praticado qualquer um desses negócios jurídicos. 2. Para que seja possível a antecipação dos efeitos da tutela, consistente na abstenção de protesto de duplicata em virtude da inocorrência do negócio jurídico subjacente, faz-se necessária a demonstração da verossimilhança das alegações, a possibilidade de dano irreparável ou de difícil reparação, aliada, ainda, a prova inequívoca dos fatos alegados por aquele que a pleiteia. (...) (TJPR, Relator: Jucimar Novochadlo, Data de Julgamento: 22/08/2012, 15ª Câmara Cível)

A requerida Drogon MULTIMARCAS VEÍCULOS LTDA, citada por edital, ofereceu contestação por negativa geral, de modo que não incide o art. 341, contudo, o ofício da Secretaria de Fazenda do Estado do Paraná é esclarecedor em informar que no ano de 2017 a requerida DROGON não emitiu qualquer documento fiscal, restando inativa naquele ano.

Por certo, se não foram emitidos documentos fiscal não se pode falar na existência de compra e venda

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mercantil apta a gerar causa debendi da duplicada mercantil. Ainda que não seja uma conclusão automática é um forte indício que, lastreado nas regras de experiência comum (CPC, art. 375) permite ao julgador concluir pela ausência de relação jurídica válida a legitimar os títulos indicados à protesto.

Não há nos autos qualquer comprovação da existência de qualquer relação negocial entre o autor e a requerida DROGON MULTIMARCAS VEICULOS LTDA, além daquela originariamente formada e que, por ter sido encerrada não poderia gerar as duplicatas protestadas.

Sem a prova da relação negocial, deve ser reconhecido o pleito de declaração da inexistência de relação jurídica. Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL PELA PARTE RÉ - AÇÃO MONITÓRIA JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE - 1. ALEGAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA MERCANTIL FIRMADA COM A AUTORA E AUSÊNCIA DE CERTEZA DO TÍTULO EM QUE SE FUNDA A PRETENSÃO MONITÓRIA - ACOLHIMENTO - INEXIGIBILIDADE DO TÍTULO ANTE A AUSÊNCIA DE COMPROVANTE DA ENTREGA E RECEBIMENTO DAS MERCADORIAS OBJETO DA RELAÇÃO MERCANTIL ARGUIDA - REQUISITO ESSENCIAL PARA EXIGIBILIDADE DA DUPLICATA (ARTIGO 15, II, “B” DA LEI 5474/68) - NOTA FISCAL E DUPLICATAS PROTESTADAS POR INDICAÇÃO QUE NÃO BASTAM PARA À CONSTITUIÇÃO DOS EFEITOS DA MONITÓRIA - PRECEDENTES - NECESSIDADE DE PROVA DA ENTREGA DAS MERCADORIAS - ÔNUS DA PARTE AUTORA, NO CASO CONCRETO, POR CONSTITUIR PROVA NEGATIVA - 2. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ - NÃO ACOLHIMENTO - NÃO ENQUADRAMENTO NAS HIPÓTESES DO ARTIGO 17 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - 3. REDISTRIBUIÇÃO DOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS - 4. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1388844-5 - Região Metropolitana de Maringá - Foro Central de Maringá - Rel.: Tito Campos de Paula - Unânime - J. 05.08.2015)

Em relação ao pedido de danos morais, deve ser analisado que responsabilidade do Banco de Ferro, deve ser analisada à luz da teoria geral da responsabilidade civil e das súmulas 475 e 476 do Superior Tribunal de Justiça.

No caso dos autos, o instrumento de protesto não indica a natureza do protesto, se mandato ou translativo, contudo, se deve ter que a regra em direito cambial é que o endosso se dê sob a modalidade translativa, tanto que é chamado de “endosso próprio”, sendo que era ônus exclusivo da instituição apresentante comprovar que se tratava de mero mandato.

Na lição de Rubens Requião7, com o endosso-mandato, “transmite-se ao mandatário-mandatário, assim investido de mandato e da posse do título, o poder de efetuar a cobrança, dando quitação de seu valor”, já o endosso translativo (endosso próprio) é o ato cambiário mediante o qual “o endossador transfere ao

7 REQUIAO, Rubens. Curso de direito comercial. 2º volume. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 495

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endossatário o título e, em consequência, os direitos nele incorporados.”

A regra geral é de que a transmissão dos títulos cambiários se opera por endosso translativo (próprio), sendo que era ônus da instituição requerida comprovar que recebeu o título por meio de endosso-mandato.

No caso, não há prova de que o banco procedeu à cobrança dos títulos de crédito na condição de mero mandatário, ao contrário, os documentos indicam que se tratou de endosso-translativo.

Assim, prevalece a presunção de que a duplicata foi transferida pela modalidade ordinária, ou seja, o endosso translativo, uma vez que inexiste prova do endosso por sua modalidade excepcional (mandato). Nesse sentido já decidiu o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná:

APELAÇÕES CÍVEIS 1, 2 e 3. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E REPETIÇÃO DE INDÉBITO. PRELIMINAR. CONTRARRAZÕES. 2TEMPESTIVIDADE RECURSAL. CONSTATAÇÃO. DUPLICATAS SEM CAUSA. ENDOSSO TRANSLATIVO. EMPRESA EMISSORA DOS TÍTULOS E ENDOSSATÁRIOS. LEGITIMIDADE E RESPONSABILIDADE. PROTESTO INDEVIDO. INSCRIÇÃO EM ÓRGÃO DE RESTRIÇÃO DE CRÉDITO. DANOS MORAIS. CONFIGURAÇÃO. (...) 1. É tempestivo o recurso interposto em conformidade aos prazos processuais atinentes ao caso. 2. “A empresa emitente de títulos levados indevidamente a protesto é também responsável pelos danos advindos do fato” (TJPR - 16ª C.Cível - AC - 1218099-7 - Guarapuava - Rel.: Paulo Cezar Bellio - Unânime - - J.17.09.2014). 3. Nos termos da Súmula n.º 475, do Superior Tribunal de Justiça, “Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o endossatário que recebe por endosso translativo título de crédito contendo vício formal extrínseco ou intrínseco, ficando ressalvado seu direito de regresso contra os endossantes e avalistas”. 4. O dano moral presume-se do protesto indevido de título, bem como da inscrição em cadastro restritivo de crédito nele embasada, diante do caráter público e ofensivo da informação, independente de prova do dano. 5. O valor de indenização decorrente de danos morais deve ser fixado com base em diversos critérios subjetivos, avaliados com atenção aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, de modo que seja capaz de compensar a dor sofrida pelo ofendido, sem provocar o seu enriquecimento sem causa, e estimular o ofensor a ser mais diligente em sua atuação. (...). (TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1308685-2 - São Mateus do Sul - Rel.: Luiz Carlos Gabardo - Unânime - - J. 15.04.2015)

Portanto, plenamente aplicável a súmula 4758 do Superior Tribunal de Justiça já que transferido o título por endosso-translativo, responde a instituição, de forma solidária com a primeira ré, pelo protesto de

8 Súmula 475: “Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o endossatário que recebe por endosso translativo título de crédito contendo vício formal extrínseco ou intrínseco, ficando ressalvado seu direito de regresso contra os endossantes e avalistas”.

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duplicata emitida sem justa causa.

Além do mais, ainda que se considere que ocorreu endosso mandato, a própria súmula 476 do Superior Tribunal de Justiça abre a possiblidade de responsabilização da endossatária na hipótese de que extrapole os poderes do mandato.

Com efeito, ainda que tivesse recebido o título na qualidade de endosso mandato, teria a instituição financeira o dever geral de conferência acerca da existência da relação jurídica de crédito, especialmente no que diz respeito à duplicata que é título de crédito causal, sempre lastreado na existência de relação de compra e venda mercantil (lei 5.474/68, ar.t 1º) ou prestação de serviços (Lei 5.474/68, art. 20).

A essência da duplicada é a existência da relação de compra e venda mercantil ou prestação de serviços, sem que exista, sem que tenha o credor comprovação dessa prestação, o título é destituído de causa. Na lição de Bulgarelli9:

“A consequência mais direta dessa ideia causal seria a de que a duplicata emitida sem corresponder a um contrato de compra e venda, não seria duplicata; ali, é afirmativa expressa de Waldemar Ferreira de que ‘duplicata simulada não é duplicata; e não é precisamente porque é simulada’ (Waldemar Ferreira, op. cit. nº 2.181, pg. 192)”.

Justamente por sua natureza causal que a sua regularidade fica condicionada à demonstração do negócio jurídico subjacente, demonstração essa que é ônus atribuído tanto ao emitente quanto ao endossatário, independente da natureza do mandato, posto que a eles cabe a conferência da documentação da operação mercantil.

Veja-se que no caso dos autos não há qualquer indício que indique a existência de relação jurídica entre autor e a primeira ré, não há qualquer comprovante de prestação de serviços ou entrega de mercadorias de forma que era seu ônus, na qualidade de mandatária conferir a regularidade documental do título que encaminharia à protesto, cercando-se, efetivamente, da garantia da regularidade da relação cambial.

É indiscutível que antes do protesto deveria o Banco ter conferido a regularidade do título, se estava presente o lastro negocial que sustenta a duplicada, sob pena de mesmo agindo como mandatário, responder por seu ato negligente. Como já decidiu o STJ:

“Só responde por danos materiais e morais o endossatário que recebe título de crédito por endosso-mandato e o leva a protesto se extrapola os poderes de mandatário ou em razão de ato culposo próprio, como no caso de apontamento depois da ciência acerca do pagamento anterior ou da falta de higidez da cártula”. (STJ. Segunda Seção. Resp. 1.063.474/SP. Relator Ministro Luis Felipe Salomão. Data de julgamento: 28.09.2011).

9 BULGARRELLI Waldirio, Títulos de Crédito, 4ª Ed., 1985, Ed. Atlas, São Paulo, pg. 192

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Na mesma linha recente julgamento do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná:

APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO CAUTELAR DE SUSTAÇÃO DE PROTESTO E AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – SENTENÇA QUE JULGA PARCIALMENTE PROCEDENTES AS DEMANDAS – RECURSO DAS PARTES. I – RECURSO DE APELAÇÃO 01: MANNES LTDARESPONSABILIDADE CIVIL DA CREDORA ORIGINÁRIA – CREDORA QUE CONFIRMA O ERRO NA EMISSÃO DA DUPLICATA MERCANTIL – MERCADORIAS QUE FORAM DEVOLVIDAS – AUSÊNCIA DE NOTA FISCAL COMPROVANDO A ENTREGA DAS MERCADORIAS – INEXISTÊNCIA DE ACEITE – DUPLICATA SEM CAUSA – EMPRESA CREDORA QUE, ALÉM DE EMITIR DUPLICATA SEM CAUSA, ENDOSSA O TÍTULO DE CRÉDITO A OUTRA EMPRESA, POR ENDOSSO-TRANSLATIVO – SÚMULA 475 DO STJ - RESPONSABILIDADE CIVIL DA CREDORA CARACTERIZADA - ATO ILÍCITO CULPOSO CONFIGURADO - EVIDENCIADO TAMBÉM O NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE O DANO MORAL E A AÇÃO ILÍCITA – REQUISITOS LEGAIS PREENCHIDOS – TESE AFASTADA.VALOR DOS DANOS MORAIS – PROTESTO INDEVIDO – DANO MORAL PRESUMIDO OU - DEVER DE INDENIZAR“IN RE IPSA” CONFIGURADO – IMPOSSIBILIDADE DE REDUÇÃO DOS VALORES DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - VALOR FIXADO QUE SE APRESENTA DENTRO DA MÉDIA DE VALORES APLICADA PELA JURISPRUDÊNCIA DESTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA – CARACTERISTICAS DO CASO CONCRETO DEVIDAMENTE PONDERADAS PELO JUÍZO – TESE AFASTADA – SENTENÇA MANTIDA.RECURSO DE APELAÇÃO 01 CONHECIDO E DESPROVIDO.(...) (TJPR - 14ª C.Cível - 0004872-78.2016.8.16.0001 - Curitiba - Rel.: Fernando Antonio Prazeres - J. 14.11.2018)

Portanto, a súmula 476 somente tem aplicação quando, existente a relação negocial, o protesto realizado por endosso-mandato se materializa sem qualquer ato culposo do endossatário, o que, por certo, não é o caso dos autos, onde, o BANCO DE FERRO encaminhou à protesto duplicata sem cercar-se minimamente da existência da relação jurídica que lhe dava base.

Passo a análise do pedido de danos morais.

Com efeito, os danos morais devem, na modernidade, ser entendidos como qualquer violação relevante aos direitos da personalidade, tais como a honra, a liberdade, a dignidade, a imagem ou a intimidade, de modo que hão sempre de estar ligados a uma violação substancial de um desses atributos da personalidade.

No caso concreto tenho que a conduta da ré é causadora de dano extrapatrimonial à parte autora, na medida em que foi prejudicada na sua imagem perante o mercado, com a indevida restrição de crédito causada pela conduta da ré. Não nos olvidemos da lição de Yusef Said Cahali10 de que

10 Dano e Indenização, ed. RT, 1980, p. 93/94

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“o crédito, na conjuntura atual em que vivemos, representa um bem imaterial que integra o patrimônio econômico e moral das pessoas, sejam elas comerciantes ou não, profissionais ou não, de modo que a sua proteção não pode ficar restrita àqueles que dele fazem uso em atividade especulativa; o abalo de crédito molesta igualmente o particular, no que vê empanada a sua honorabilidade, reduzindo o seu conceito perante os concidadãos, o crédito representa um cartão que estampa a nossa personalidade, em razão de cujo conteúdo seremos bem ou mal recebidos pelas pessoas que conosco se relacionam na diuturnidade da vida privada”.

Cabe, portanto, a fixação da indenização pelos danos morais sofridos pelo autor, sendo que segundo adverte o STJ:

“(...) A indenização por danos morais deve ser fixada em termos razoáveis, não se justificando que a reparação venha a constituir-se em enriquecimento sem causa, com manifestos abusos e exageros, devendo o arbitramento operar-se com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa e ao porte econômico das partes, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do bom senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso. Ademais, deve ela contribuir para desestimular o ofensor a repetir o ato, inibindo sua conduta antijurídica. (...)”. (Resp. 265133/RJ Rel. Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA 4ª Turma DJ 23.10.2000).

Por sua vez Silvio de Salvo Venosa11 ensina: “De qualquer modo, em sede de indenização por danos imateriais há que se apreciar sempre a conjugação dos três fatores ora mencionados: compensação, dissuasão e punição. Dependendo do caso concreto, ora prepondera um, ora outro, mas os três devem ser levados em consideração.”

Novamente na lição do STJ:

“os danos morais na sua expressão econômica devem assegurar a justa reparação e a um só tempo vedar o enriquecimento sem causa do autor, mercê de considerar a capacidade econômica do réu, por isso que se impõe seja arbitrado pelo juiz de forma que a composição do dano seja proporcional à ofensa, calcada nos critérios da exemplaridade e da solidariedade.” (Resp. 1133257/RJ, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 27/10/2009, DJe 02/02/2010)

À luz dos vetores supramencionados, especialmente em respeito à vedação do enriquecimento sem causa, mas, por outro lado, com os olhos na natureza pedagógica dos danos morais, tenho como por bom fixá-los no equivalente a R$ 10.000,00 (dez mil reais) valor que considero suficiente para a reparação dos

11 Direito Civil - Responsabilidade Civil, Atlas, 4ª edição, São Paulo, 2004, p. 259

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danos sofridos pela parte autora, sendo, inclusive, o padrão de vários julgados do TJPR:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANO MORAL - SENTENÇA DE IMPROCE-DÊNCIA. DANO MORAL- INSCRIÇÃO INDEVIDA DA APELANTE NO SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE CRÉDITO DO BANCO CENTRAL (SCR)- NATUREZA DE CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉ-DITO- DANO MORAL - PRECEDENTES DE TRIBUNAISIN RE IPSA SUPERIORES - INSCRIÇÃO INDEVIDA - CONDENAÇÃO DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA AO PAGAMENTO DE INDENIZA-ÇÃO A TÍTULO DE DANOS MORAIS - APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE PARA ARBITRAMENTO DA VERBA INDENIZATÓRIA - PONDERAÇÃO ENTRE O DEVER DE REPARAR E O DANO SOFRIDO, ALÉM DAS CONDIÇÕES PECULIARES DA SITUAÇÃO CONCRETA – VALOR ARBITRADO EM R$ 10.000,00 QUE SE AMOLDA À JU-RISPRUDÊNCIA DESTE TRIBUNAL - APLICAÇÃO DA TAXA SELIC SOBRE O VALOR DA CON-DENAÇÃO, DESDE . A DATA DO EVENTO DANOSO ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA- CUSTAS PRO-CESSUAIS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS IMPUTADOS AO BANCO APELADO - INVERSÃO DO ÔNUS SUCUMBENCIAL - VERBA HONORÁRIA ARBITRADA EM 15% SOBRE O VALOR DA CONDENAÇÃO, NA FORMA DO ART. 85, § 2º, DO CPC SENTENÇA REFORMADA.. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NA PARTE CONHECIDA, PROVIDO. (TJPR - 14ª C.Cível - 0001190-92.2017.8.16.0062 - Capitão Leônidas Marques - Rel.: Fernando Antonio Praze-res - J. 27.02.2019)

Tenho que tal valor encontra-se dentro da razoabilidade, ne medida em que preserva a função pedagógica dos danos morais sem adentrar no indesejado enriquecimento sem causa.

III – DISPOSITIVO

Ante todo o exposto, ratifico a liminar, e resolvendo o mérito na forma do art. 487, I do CPC JULGO PROCEDENTES os pedidos formulados nos autos para

a) declarar a inexigibilidade do título levado a protesto pelo Apontamento n.º 201711 3971, determinando em consequente a baixa definitiva dos protestos lavrados;

b) condenar as requeridas solidariamente ao pagamento dos danos morais que arbitro no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais);

Os valores serão corrigidos monetariamente pela média do INPC/IGPD-I conforme dispõe o Decreto n.º 1.544/95, da seguinte forma: a) O valor dos danos morais, da data da sentença (STJ, súmula 362); b) Os valores serão acrescidos de juros de mora simples de 1% (um por cento) ao mês (CCB, art. 461) desde a data do protesto indevido.

Condeno as requeridas ao pagamento das despesas processuais, bem como honorários advocatícios que, ante o tempo de tramitação da demanda, arbitro em 10% sobre o valor da condenação, considerando

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especialmente a simplicidade da demanda e a facilidade de acesso ao local da prestação dos serviços diante da natureza eletrônica da tramitação do feito.

Além disso, tendo em vista que para patrocinar a defesa da requerida, foi nomeado curador especial, já que a Defensoria Pública do Estado do Paraná, apesar de instalada na Comarca, o que demanda que seja o Estado do Paraná, que possui o dever de garantir acesso à justiça, conforme dispõe o art. 1º, inciso IV, da Constituição do Estado do Paraná e Lei Estadual nº.18.664/15 compelido ao pagamento de honorários arbitro em favor da curadora especial no valor máximo permito pela Resolução Conjunta 04/2017 da PGE/SEFA, ou seja R$ 350,00 (trezentos e cinquenta reais). Desde já, autorizo a expedição de certidão, para fins de execução do montante.

Cumpram-se as disposições do Código de Normas da Corregedoria-Geral da Justiça.

Publique-se.

Registre-se.

Intime-se.

Data e local

Juiz de Direito Substituto