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24 | DEZEMBRO 2013 REPORTAGEM DE CAPA CATEDRAIS que propagam o conhecimento

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REPORTAGEM DE CAPA

CATEDRAIS quepropagam o

conhecimento

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As fundações de pesquisa mantidas pelos próprios produtores inovam evalidam técnicas, tecnologias e produtos para as realidades locais em que

estão inseridas. Por isso são fundamentais para o desenvolvimento dealgumas das principais regiões do País. Fronteiras desbravadas nos

últimos anos ou décadas devem a sua consolidação – leia-se vitória – nonegócio agrícola a estas instituições

Leandro Mariani [email protected]

Fot

os:

Div

ulga

ção

O desenvolvimento da própria pes-quisa e sua aplicação pelo pro-dutor é uma das principais expli-

cações para o Brasil ter se tornado umapotência agrícola. Razão para ter passadoda constrangedora e danosa condição deimportador de alimentos até não muitotempo atrás – anos 1970 – para a de umorgulhoso exportador de comida – US$ 100bilhões/ano em vendas do complexo agro-negócio. E, se o assunto é pesquisa agro-pecuária, não tem como dissociar o temada Embrapa, com seus 40 anos e mais de40 unidades. E também, é claro, de se-melhantes instituições estaduais, de uni-versidades e das empresas privadas. Mas,além disso tudo, felizmente, o agricultorbrasileiro pode desfrutar das iniciativas deverdadeiras “mini-Embrapas” espalhadaspelo País, as fundações de pesquisa agro-pecuária, instituições de caráter privado,mas cujos resultados são usufruídos pelacoletividade.

Administradas pelos próprios produto-res, estas instituições são fundamentais paraexperimentar e validar tecnologias e técni-cas por vezes já comprovadas, mas emsituações e realidades distintas. Como atu-am regionalmente, as fundações conse-guem averiguar nas condições locais o de-sempenho de uma cultivar, o manejo idealde uma praga, a adoção de uma consorci-ação diferente entre pastagem e cultura co-mercial para a integração boi-lavoura. Maisdo que isso, a pesquisa é realizada na la-voura vizinha ao do produtor – ou por ve-zes na sua própria lavoura. Portanto, a ma-neira como é conduzida e suas consequ-ências são, de forma prática, aprendidas eapreendidas pelo produtor. Facilita a pro-pagação do conhecimento eventos comoos concorridos dias de campo ou mesmoa distribuição de boletins técnicos.

A consequência do know how do tra-balho de uma fundação é a diminuição da

margem de desconfiança do produtor paraa novidade. E, sabe-se, produtor rural cos-tuma ser bem desconfiado. Porém, se afundação creditou, deu o aval para tal pro-duto ou prática, não há razões para que eletenha dúvidas; basta implementar em suapropriedade. “A contribuição das fundaçõessempre foi muito grande”, resume Alys-son Paolinelli, ministro da Agricultura naépoca de criação da Embrapa e uma dasmais respeitadas opiniões sobre o agrone-gócio brasileiro (também colunista d’AGranja). “É uma das grandes soluçõespara o desenvolvimento de pesquisas noBrasil”, entende. Ele lembra que, por se-rem privadas, conseguem ter mais flexibi-lidade em definir projetos e formas de fi-nanciá-los. “Têm independência técnicamuito grande pra resolver os problemaslocais”, avalia. “Não depende de burocra-cia”, ilustra quem conhece as entranhas dasesferas públicas deste País.

As fundações, por vezes, possuem emseus quadros ou trabalham em parceriacom pesquisadores-top, extremamenteexperientes e respeitados. É o caso da Fun-dação Mato Grosso, que congrega os ex-Embrapa Romeu Kiihl, chamado de “Paida Soja” por ter adaptado a oleaginosa àslatitudes do Cerrado, e José Tadashi Yori-nori, conhecido fitopatologista e um dosidealizadores da Embrapa Soja. Tadashi, quese aposentou na Embrapa após mais de 30anos de dedicação – e, portanto, conheceos lados público e privado da pesquisa –,acrescenta que as fundações têm agilidadee estão integradas às comunidades locaise, assim, contribuem para o desenvolvi-mento social destas. Ele menciona que es-tas instituições fazem a “difusão dinâmi-ca” de técnicas e tecnologias. “Acho quenão existe paralelo de dinamismo no mun-do”, interpreta. “Não é só o aporte técni-co, mas também o administrativos das pro-priedades”, destaca ele o serviço inestimá-

As fundações mantêm áreas depesquisa como esta, da Fundação

Chapadão, onde é feita uma série detestes e validações de técnicas eprodutos para que cheguem ao

produtor sem provocar nenhumadesconfiança

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vel que presta uma fundação.As fundações de pesquisa agropecuá-

ria têm menos de três décadas de atuação,são mantidas financeiramente de maneirassemelhantes e mostram-se muito ativas nosambientes em que estão inseridas. Uma dasmaiores é a Fundação MT, sediada emRondonópolis/MT, onde tem um centro depesquisa – e outro em Sorriso/MT. A insti-tuição abriga mais de 200 funcionários edesenvolveu na safra passada mais de 300experimentos com soja, milho e algodão,além de culturas secundárias. A fundaçãomato-grossense nasceu em 1993 a partirda iniciativa de 23 produtores de semen-tes, preocupados com o desenvolvimentode cultivares adaptadas ao ambiente do Cer-rado. “O foco das atividades de pesquisada Fundação MT está na área que chama-mos de ‘pesquisa aplicada’, onde se con-centram todas as pesquisas e ensaios vol-tados diretamente à aplicação prática pelosagricultores dos resultados alcançados”,define José Francisco Neto, diretor geral.

A instituição desenvolve fundamental-mente pesquisas em três áreas: 1 – prote-ção de plantas, na qual realiza ensaios e pes-quisas, além de testes e validações de ma-nejo e de eficiência dos produtos quími-cos, biológicos e biotecnológicos. (Ou seja,

um inseticida só enche o tanque do pulve-rizador do produtor após receber o OK dafundação); 2 – pelo programa de monito-ramento de adubação são feitos experimen-tos e pesquisas sobre os procedimentos deaplicação, como dosagens recomendadas,manejo físico do solo e testes com dife-rentes fontes de nutrientes para as plantas,para gerar recomendações técnicas comvistas à máxima eficiência (leia-se alto ren-dimento com economia e preservação derecursos nacionais); 3 – já no âmbito damecanização e da agricultura de precisão,são realizados testes e avaliações de equi-pamentos para aplicação de produtos.

“A Fundação MT, além de buscar res-postas e fazer muitas pesquisas de proble-mas que afligem os agricultores no pre-

sente, também se preocupa em se anteci-par a possíveis problemas causados porsucessão e contínuo uso agrícola de nos-sos solos”, lembra Francisco Neto. “Porestar intimamente, desde sua formação,entrelaçada com os produtores rurais, afundação tem uma vasta base de infor-mações que a sustenta sempre atualiza-da”, complementa. “A Fundação MT, semnenhuma dúvida, foi uma das responsá-veis pelo grande sucesso que hoje é a agri-cultora no estado de Mato Grosso e issopode ser extrapolado para todo o Cerra-do”, avalia. Segundo ele, muitos “proble-mas gravíssimos” ocorridos na históriada soja e do algodão tiveram resposta ime-diata da pesquisa da fundação. A exem-plo, na soja, a resistência ao cancro dahaste, ao nematoide de cisto e à ferrugemasiática e, no algodão, a resistência à ra-mulária e aos nematoides. “Com a pes-quisa aplicada veio uma série de manejosque trazem otimização dos recursos, uso erecomendação correta de equipamentos,defensivos e fertilizantes”.

O foco regional, o entendimento dasnecessidades dos produtores e a ajuda dasáreas de pesquisa mencionadas fazem daFundação MT um importante filtro na es-colha das variedades mais adaptadas àscondições de solo, clima, resistência a pra-gas e doenças, o que acaba por resultar emmais tranquilidade, produtividade e lucropara os agricultores. E para difundir tama-nha gama de técnicas e tecnologias, sãopromovidos eventos como dias de campo

A Fundação MT tem mais de200 funcionários e

desenvolveu na safra 2012/13 mais de 300 experimentos

com soja, milho, algodão eculturas secundárias

Francisco Neto, da FundaçãoMT: além de buscar respostas

e fazer pesquisas deproblemas atuais, a

instituição procura seantecipar a possíveis

problemas causados porsucessão e contínuo uso dos

solos

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que reúnem 6 mil pessoas por ano, alémda elaboração de publicações impressascom tiragem superior a 100 mil exempla-res e ainda são disparadas informações di-árias para mais de 10 mil emails. A funda-ção, que é mantida por produtores (o or-çamento não é divulgado), ainda atua comoparceira da empresa Tropical Melhoramento& Genética (TM&G), que desenvolve cul-tivares de soja e de milho e tem uma unida-de em Cambé/PR.

A importância da parceria — Umadas características de muitas fundações éa parceria com consolidadas instituiçõesde pesquisas públicas. É o caso da Fun-dação Meridional, sediada em Londrina/PR, município em que estão localizadas aEmbrapa Soja e o Instituto Agronômicodo Paraná (Iapar). A fundação mantémcom ambas convênios para o desenvolvi-mento de sementes – soja, trigo e triticalecom a Embrapa, e no caso do Iapar paraos dois cereais. A associação se dá pelosistema de Parceria Público-Privada(PPP), e os mantedores da fundação, quesão produtores sementeiros, fazem os tes-

tes a campo das variedades desenvolvi-das nas instituições públicas. Um traba-lho que é a seara das empresas de semen-tes, mas que demandaria altas demandasdas empresas. Afinal, são quatro a seisanos de cruzamentos para se concluir setal variedade tem chance de vingar e, de-pois, ainda mais três anos de testes a cam-po para uma nova cultivar nascer.

A fundação nasceu em 1999 pela inici-ativa de produtores de sementes. Hoje, são61 os mantedores, entre pessoas físicas ejurídicas. Nos estados de Paraná, SantaCatarina, São Paulo e Mato Grosso do Suleles geram de 90% a 95% da semente desoja plantada e de 80% a 85% da de trigo.Nas lavouras destes produtores são reali-zadas os mais variados e obrigatórios tes-tes para validação das cultivares. “Se nãofosse a Fundação Meridional, não ia ter cul-tivar”, atesta Ralf Udo Dengler, gerenteexecutivo da fundação. “A Embrapa nãoteria como fazer os testes a campo”, expli-ca-se. E a fundação ainda cede 30 profis-sionais para trabalhar junto à Embrapa emunidades de Londrina, Ponta Grossa/PR e

Dourados/MS, mesmo procedimento paraprestar apoio ao Iapar.

A contrapartida das duas empresas depesquisa aos sementeiros é a exclusivida-de para multiplicar a variedade por até dezanos. (Esclareça-se que Embrapa e Iaparsão detentores do material genético que deuorigem à nova cultivar.) A parceria Meridi-onal e Embrapa já possibilitou o lançamen-to de 37 variedades de soja, 11 de trigo euma de triticale; e com o Iapar foram dezde trigo e uma de triticale. A fundação ain-da promove uma série de eventos para dei-xar os produtores a par das característicase do manejo da determinada variedade.“Para que quem for utilizar a cultivar nãoerre”, justifica. São realizados, por exem-plo, de 70 a 80 dias de campo de soja. “Agente tem a vantagem de ter acesso diretocom o pessoal da Embrapa”, ressalta.

Dengler lembra que o trabalho da fun-dação possibilita diferenciais como o lan-çamento de maior número de cultivares,além de melhor adaptadas e mais adequa-das às condições locais dos novos siste-mas de produção (como sojas mais preco-

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ces), assim como viabi-liza a transferência paraprodutores de técnicas etecnologias já pesquisa-das. Além de gerar no-vas demandas para apesquisa. “É mais doque fazer uma variedade:é deixar o agricultor e otécnico bem informados e embasados parausar as novas cultivares”, sintetiza. O or-çamento anual da fundação varia entre R$2,5 milhões e R$ 2,8 milhões, valor banca-do pelos sementeiros.

Integração lavoura-pecuária — AFundação Chapadão, sediada em Chapa-dão do Sul/MS, nasceu em 1997 a partirde 31 produtores. À época a região eracarente de informações técnicas sobre asrealidades de sua agricultura. E dois dosfundadores foram decisivos: José AntonioFontoura Colagiovani deu a ideia e Evan-dro Loeff foi quem convenceu os demaisa criarem a instituição, segundo conta Ed-son Pereira Borges, diretor-executivo. “Aideia era criar uma fundação nos moldesda Fundação ABC ou da Fundação MS,porém estas duas eram mantidas por coo-perativas. Como eles não tinham coopera-tiva, a ideia foi criar uma associação deprodutores e estes serem os mantenedo-res, para que esta fizesse pesquisa paraeles”, descreve Borges. A fundação tevena época o apoio Embrapa AgropecuáriaOeste, sediada em Dourados/MS.

Hoje, a instituição é mantida por 112

produtores que cultivam uma base de 350mil hectares e estão localizados tambémem outros municípios. Entre as muitaspesquisas conduzidas, estão os testes comaproximadamente 200 variedades de sojapor ano, que são, por exemplo, submeti-das a diferentes épocas de plantio, espaça-mento e população. “Para saber a melhorépoca de plantio e o maior potencial”, jus-tifica Borges. No caso do milho, são 120cultivares avaliadas. Os testes ocorremnuma área de 100 hectares que pertence àfundação e outros 50 hectares de produto-res. Também são feitos trabalhos diversos

com fertilizantes, como o período e a for-ma de aplicação (foliar, cobertura), para,assim, obter a curva de resposta. Quantoao controle fitossanitário, na safra 2012/13 foram 200 trabalhos com inseticidas e90 com fungicidas – 35 apenas em relaçãoà ferrugem.

E a fundação segue para novas frontei-ras agrícolas a reboque dos associados queadquiriram áreas nos municípios de SãoJosé do Xingu/MT e Santana do Araguaia/PA. A pedido deles foi montada uma basede pesquisa nas duas localidades para ava-liar a adaptação cultivares de soja, milho ealgodão. E como outra das propostas éacompanhar as tendências e demandas docampo, Borges conta que, em parceriascom a Associação dos Produtores de Sojado Mato Grosso do Sul (Aprosoja/MS),esferas públicas e sindicatos, a fundaçãoestá pesquisando a implantação de soja emmunicípios que não têm esta tradição, ondeé praticada a pecuária em pastagens de-gradadas ou em fase de degradação. “Estafrente objetiva trabalhar a integração agri-cultura com pecuária, visando recuperarestas pastagens degradadas com a culturada soja e em um segundo momento commilho”, conta. Numa área de cinco hecta-res serão testadas 30 cultivares de soja emtrês épocas de plantio, além de milho e sorgoconsorciados com braquiária.

O orçamento anual da Fundação Cha-padão é de R$ 3,5 milhões, metade banca-da pelos produtores associados e os ou-tros 50% providos de trabalhos realizadospara empresas de defensivos e fertilizan-

Dengler, da FundaçãoMeridional: a pesquisa da

instituição busca mais do quecriar uma variedade, mas

deixar o agricultor e o técnicobem informados sobre a

utilização da novidade

Borges, da Fundação Chapadão:como os produtores estão

desbravando novas regiõesagrícolas, a fundação vai juntopara testar quais variedades se

adaptam às novas fronteiras

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tes, que a utilizam para testar produtos. Aspesquisas são, em primeiro lugar, compar-tilhadas junto aos produtores associadose, depois, para a sociedade. Numa assem-bleia na última semana de maio são apre-sentados todos os trabalhos, “o que é bome o que é ruim”, define Borges. Até um CDdas apresentações é composto. Tambémsão promovidos outros eventos, como odia de campo Tecnoagro, realizado em doisdias e que atrai 1.200 produtores, palestrase empresas expositoras. Borges consideratodo o trabalho da instituição fundamentalpara que o agricultor vá a campo com maissegurança em suas ações. “O defensivoperde a eficácia a cada ano. A fundaçãoantecipa qualquer problema e perda de efi-cácia”, exemplifica.

Se antecipar a um problema quenão aconteceu — Também no MatoGrosso do Sul existe a Fundação MS, nas-cida em 1992, então para pesquisar o plan-tio direto na palha. Sediada em Maracaju,a instituição divide suas pesquisas nas áreasde nutrição de plantas, fitossanidade, in-tegração lavoura-pecuária e fitotecnia desoja e fitotecnia de milho – cada qual comum pesquisador responsável. “A gente

procura fazer a linha entre a academia e oprodutor”, sintetiza o trabalho o pesqui-sador José Fernando Jurca Grigolli. Parase ter uma ideia, no âmbito da fitotecnia afundação testa quase todas as cultivaresde soja e milho disponibilizadas e em setea nove diferentes lugares. São mais de 60cultivares de cada cultura. Para isso, sãofeitos convênios com escolas técnicas, pre-feituras e produtores. “Fazemos o ran-queamento do material em diferentes épo-cas de plantio”, revela.

Além disso, são desenvolvidos expe-rimentos com diferentes adubações, sa-nidade e sistema integrado lavoura e pe-cuária. Neste, é testado, por exemplo, noconsórcio milho + braquiária, quanto a pa-lhada vai gerar em economia de herbicidavisto o sufocamento das invasoras. A pes-quisa valida informações que estão na li-teratura, como o caso da adaptação doconsórcio milho & braquiária para gran-des áreas. Esta pesquisa já tem mais dedez anos. “Quantos quilos de braquiáriapor hectare? Esta resposta a gente nãotinha. Hoje temos a receita prática”, con-ta. Outro trabalho é a definição de espéci-es de crotalárias, braquiárias e capim

“A gente procura fazer a linhaentre a academia e o produtor”,

destaca o trabalho daFundação MS o pesquisador

José Fernando Grigolli

mombaça mais apropriadas para controlede diferentes nematoides. “É uma deman-da crescente. Os nematoides estão se tor-nando um problema sério no estado. Es-tamos nos antecipando a um problema queserá maior. Um dos focos é buscar a so-lução para um problema que não aconte-ceu ainda”, fundamenta.

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Três cooperativas criaram a mais antiga:a Fundação ABC

Três tradicionais cooperativasmantêm a Fundação ABC, no cora-ção da imigração holandesa no Brasil,em Castro/PR. Em 23 de outubro1984, as cooperativas Capal, de Ara-poti, Batavo, de Carambeí, e Castro-landa, de Castro, estabeleceram a “pri-meira instituição brasileira de pesqui-sa aplicada à agropecuária criada porprodutores rurais”, segundo definiçãoorgulhosa exposta no site. Desde en-tão, nenhum produto, serviço, técni-ca ou tecnologia é adotada por umassociado destas cooperativas semantes ter recebido a legitimação dapesquisa da fundação. “O produtorestá bem consciente que a novidadepassa pela fundação”, traduz o traba-lho desenvolvido Andreas Los, dire-tor-presidente. “Sem a fundação é tirono escuro.”

Tudo o que envolve as culturas desoja, milho, feijão, trigo, cevada e ca-nola passa pelo crivo da equipe técnicada fundação em dez áreas agronômicas– de fertilidade à economia rural. O sen-soriamento agrometeorológico, porexemplo, permite saber quais condiçõesclimáticas favorecem a incidência daferrugem do trigo para que o agricultorjá deixe o pulverizador a postos. Entreos diagnósticos realizados, estão ensai-os com as variedades em diferentes épo-cas de plantio em cinco campos experi-mentais que atendem a 23 municípios.Avaliações sobre dosagens de produtosquímicos e suas funcionalidades tam-bém são executados pela fundação.Depois, um prático trabalho de exten-são rural é empreendido pelas coopera-tivas. São mais de 250 hectares de en-saios em cinco municípios, inclusive um

no estado de São Paulo, em Itaberá.A Fundação ABC mobiliza um con-

tingente superior a 200 pessoas, dasquais mais de uma centena são enge-nheiros agrônomos e 18 mestres oudoutores. O orçamento anual é de R$22 milhões, dos quais R$ 6,3 milhõessão custeados pelos cooperados, quepagam R$ 18/hectare cultivado/ano –são 350 mil hectares. E a fundaçãoainda presta serviço terceirizado paraoutras duas cooperativas por meio decontratos (igualmente R$ 18/hectare/ano). Empresas de sementes tambémcontratam a fundação para avaliar aadaptação de suas novas variedadespara as regiões. O mesmo ocorre comos lançamentos das empresas de de-fensivos. “Antes de entrar no merca-do, a fundação já testou. É credenci-ada para fazer isso”, revela Los.

Tudo o que os associados dascooperativas paranaenses

Capal, de Arapoti, Batavo, deCarambeí, e Castrolanda, de

Castro, aplicam em suaspropriedades passa antes

pelas experiências daFundação ABC

A fundação desenvolve pesquisas numaárea de 400 hectares, nos quais em 1/3 éestudada a eficiência de produtos e materi-ais novos e em 2/3 são validadas tecnolo-gias já existentes, “para ver o resultado elevar ao produtor”, define Grigolli. “É aprova final.” Os resultados dos experimen-tos são anunciados duas vezes ao ano: umreferente à safra de verão de soja e milho eoutro sobre o milho safrinha e culturas de

inverno. Todo este material fica disponívelno site da fundação. Também são realiza-das duas rodadas de apresentação de re-sultados, com palestras em sete a oito mu-nicípios. Um do eventos utilizados para adifusão das pesquisas da fundação e deoutras entidades e empresas é o Showtec,realizado em Maracaju em janeiro.

A Fundação MS é mantida pelo Siste-ma Famasul (Federação da Agricultura do

MS), OCB/MS (Organização das Coope-rativas do Brasil no MS) e Aprosoja/MS,que dão apoio institucional para que a fun-dação aprove projetos de validação de tec-nologias junto aos governos. As entidadesclassistas abrem caminho para a obtençãode recursos via Fundação de Apoio ao De-senvolvimento do Ensino, Ciência e Tec-nologia do Estado de Mato Grosso do Sul(Fundect) e Fundo de Desenvolvimento

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das Culturas de Milho e Soja de Mato Gros-so do Sul (Fundems). Além disso, 170 pro-dutores que cultivam 300 mil hectares fa-zem uma doação simbólica anual de R$ 1por hectare cultivado. O orçamento anualé de R$ 6 milhões.

Algodão como prioridade — O algo-dão é o foco da Fundação Goiás, sediadaem Santa Helena de Goiás. Junto com aEmbrapa Algodão, desenvolve o progra-ma de melhoramento genético do algodo-eiro para a criação de novas variedadestransgênicas, resistentes a pragas e tole-rantes a herbicidas. “Com esse propósito,tem-se realizado a introgressão da tolerân-cia ao herbicida glifosato em cultivares jádisponível comercialmente, e em andamen-to a introgressão da tolerância a diversaspragas”, explica Davi Laboissiére Garcia,gerente executivo. “Este trabalho visa àobtenção de cultivares de algodão que pro-porcionem ao cotonicultor maior produti-vidade, qualidade de fibra e resistência adoenças”. Já foram lançadas pela Funda-ção Goiás dez cultivares. Neste ano, emparceria com a Embrapa Algodão, foramtrês, tolerantes ao glifosato.

Também são desenvolvidos trabalhosquanto ao manejo cultural, de solos e deadubação. Pelo projeto é gerado um gran-

de volume de informações sobre os be-nefícios da rotação e da sucessão deculturas, a indicação de espécies paraformação de palhada, doses, épocas emodos mais eficientes de aplicação defertilizantes (inclusive de micronutrien-tes, sobretudo boro e zinco), o apri-moramento no manejo de doenças e la-gartas por meio de inseticidas quími-cos e biológicos, além da indicação dedosagens e formas de aplicação de re-guladores de crescimento, além de es-quemas de arranjo de plantas. Os tra-balhos de pesquisa são realizados emdiversos locais, principalmente noscampos próprios da fundação em San-ta Helena e em lavouras de produtoresparceiros. Os experimentos em lavou-ras de agricultores ocorrem em diver-sos municípios, inclusive no vizinhoMato Grosso. “Os trabalhos de pes-quisa são executados em parceria coma Embrapa Algodão e envolvem 40 pes-soas, dos quais seis são pesquisadores-chefe”, relata.

A equipe de agrônomos visita quin-zenalmente os cotonicultores e coletadados sobre a principal praga da cultu-

Segundo Garcia, da FundaçãoGoiás, a equipe de agrônomos dainstituição visita quinzenalmenteos cotonicultores e coleta dados

sobre a principal praga dacultura, o bicudo

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ra, o bicudo, entre outras pragas e doen-ças. Também entrou na mira a devasta-dora helicoverpa. Assim, especialistas sãoconsultados sobre os problemas regionaise a equipe de agrônomos realiza um ver-dadeiro trabalho de extensão rural. Alémdesta visita didática, a fundação divulgasuas pesquisas em dias de campo, encon-tros técnicos, palestras e por meio de in-formativos. Os principais mantenedoresda instituição são os produtores, por meiodo Fundo de Incentivo à Cultura do Algo-dão em Goiás (Fialgo), além de fontes se-cundárias, como os projetos de empresasde defensivos, os royalties das sementese o Instituto Brasileiro do Algodão, quefinancia projetos contra o bicudo. O or-çamento não é divulgado.

Uma região inteira agradece — Nãohá exagero em afirmar que o sucesso deuma das fronteiras agrícolas do País – queé a combinação de uma exultante realidadeatual + auspiciosas perspectivas – está cal-cado no trabalho de uma instituição. “AFundação Bahia há mais de 15 anos faz ahistória do desenvolvimento do CerradoBaiano. Essa instituição é o resultado da

crença de produtores, empresas privadas,instituições de pesquisa e extensão, univer-sidades, dentre outros, que consideram osuporte científico um importante pilar daagricultura sustentável, seja sob a ótica eco-nômica, ambiental ou social”, resume o tra-balho Nilson Vicente, gerente geral. A fun-dação está situada no Oeste Baiano, no cen-tro de uma área de altas produtividades dealgodão soja e milho. São 2,25 milhões dehectares em uso e outros potenciais 5,5milhões.

A Fundação BA mantém em Luís Eduar-do Magalhães um centro de pesquisas etecnologia agrícola, conforme Vicente, o“maior e melhor” complexo de pesquisasdas regiões Nordeste e Norte. São 150hectares, dos quais 120 irrigados por pivôe 4,5 por gotejamento. “O espaço físico eas áreas demonstrativas do centro são uti-lizados intensamente para treinamentos ereciclagem de profissionais da área agrí-cola e alunos de escolas técnicas, além desimpósios, palestras, divulgações dos re-sultados de pesquisa da Fundação Bahia eparceiros”, descreve o trabalho.

São realizadas pesquisas em melhora-mento genético em parceria com as unida-des da Embrapa Algodão, Cerrado e Soja.Em parceria com instituição pública de pes-quisa, a fundação já desenvolveu 11 varie-dades de soja e quatro de algodão. A Em-

brapa detém o banco de germoplasma, masa fundação fica com a uma exclusividadecomercial por uma década. A fundação ain-da desenvolve pesquisas sobre o manejo ea rotação de culturas, calibração de fertili-zantes e corretivos para o algodão, ensaiosde cultivares e muito mais. O maior cam-po privado de apoio ao café está na fun-dação. E o centro de pesquisa promoveuma série de eventos de transferência detecnologias como dias de campo e, comparceiros, uma grande feira, a Bahia FarmShow, evento que reuniu em junho 84 milpessoas.

A Fundação BA é mantida pela execu-ção de projetos em genética de algodão quesão financiados pelo Fundo para Desen-volvimento do Agronegócio do Algodão(Fundeagro), projetos na cultura do cafévia Banco Nordeste, venda de sementesde algodão e futuramente de café, presta-ção de serviços de pesquisa para terceiros,eventos de transferência de tecnologia,mantenedores (empresas de defensivos,fertilizantes, máquinas) e a utilização departe da área experimental não aproveitadana pesquisa para a produção comercial defibras e grãos. Também possui sócios co-tistas que são produtores fundadores quecontribuem financeiramente na aquisiçãode cotas-parte. A previsão de orçamentopara 2014 é de R$ 5 milhões.

A Fundação BA promove umasérie de eventos para

divulgar seus trabalhos,como a feira Bahia Farm

Show, evento realizado comparceiros