caso rei ghob
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Produto final de trabalho resultante da atividade "As notícias viajam" http://arquivoe-portugues.blogspot.com/2012/01/as-noticias-viajam.html . Autoras: Damiana Mateus, Leonor Ferreira e Madalena Geraldes (8ºA)TRANSCRIPT
Como nos foi proposto este
trabalho, nós pensámos em
fazer sobre o „Rei Ghob‟ pois é
uma pessoa que morava aqui
perto e também porque no
jornal Alvorada trazia muita
informação.
Entrevista a Nuno Ramos, marido de Tânia, a primeira jovem
a desaparecer. No dia em que a mulher desapareceu, a 5 de
Junho de 2008, Nuno Ramos estava fora, em trabalho. Tânia
deixou a filha de 10 anos no hospital e partiu. O marido conta
que já a tinha avisado de que "ia ter um fim muito triste" por
causa das companhias com que andava.
Quando soube que a sua mulher, Tânia, tinha desaparecido?
No dia 5 de Junho de 2008, quando ela desapareceu, eu não
estava em casa. Na altura era camionista e nesse dia andava
na estrada. Foi já dois dias depois do seu desaparecimento que
me contactaram do hospital de Torres Vedras a avisar que a
minha mulher tinha desaparecido e tinha deixado a nossa filha,
de 10 anos, no hospital.
O que é que a Tânia disse à filha quando a deixou no hospital?
A Carina contou-me que a mãe lhe tinha dito que ia ajudar
uma amiga a organizar uma festa de casamento. Foi a última
vez que a minha filha viu a mãe. No dia 8 de Junho, três dias
depois do desaparecimento da Tânia, a Carina fez 10 anos. Foi
a primeira vez que a mãe não esteve na sua festa de anos. A
menina ficou muito triste.
O que é que a Tânia levou quando desapareceu?
A carteira com os documentos e os cartões bancários, apenas
o essencial. Deixou roupas, deixou quase tudo.
Como é que a sua filha lidou com a ausência da mãe?
Com revolta. A Carina, que agora tem 12 anos, está a ser
acompanhada por um psicólogo para lidar com isto tudo. Ela
tem uma imagem muito má da mãe. Rasgou todas as
fotografias da Tânia. Eu também já não tenho nenhuma das
que tinha no telemóvel.
O Nuno conhecia o Francisco Leitão e sabia que a Tânia se
dava com ele?
Sim, sabia. Ela começou a andar no grupo do Leitão a partir
de Novembro de 2007, na altura em que o nosso
casamento não ia bem. Um irmão da Tânia andava
também no grupo do Leitão. Como eu era camionista e só
regressava a casa às sextas-feiras, cheguei a encontrar em
minha casa, em Serpijeira, o Francisco Leitão na cavaqueira
com a minha mulher. A Tânia dizia-me que ele era um
amigo. O Ivo também aparecia por casa e cheguei a ver os
dois lá na sala com a Tânia.
Sabia que o Ivo era namorado da sua mulher?
Sim, sabia que eles andavam os dois apesar de a Tânia
também me ter dito que ele era um amigo. Mas eu sabia
da história, só que já estava farto da situação toda e
pensava era em separar-me dela. Quando via o Leitão e o
Ivo lá em casa pegava no meu camião e ia- me embora.
E a sua filha dava-se com eles?
A Tânia chegou a levá-la várias vezes a casa do Leitão e
até dormiram lá. Eu cheguei a proibi-la de levar a miúda
para aquele ambiente, mas ela levava. Quando
apareceram as imagens da casa dele na televisão, a
Carina até me disse: "Olha pai, a casa onde eu ia com a
mãe. Ele tem muitas câmaras na cozinha.“
O Nuno conhecia bem o Francisco Leitão?
Não, nunca me relacionei com ele. Mas sabia o que se dizia
dele e cheguei a vê-lo na Lourinhã. As pessoas diziam que
ele era maluco e bruxo. E sempre circulou o boato de que
ele gostava de rapazes. Depois da minha mulher
desaparecer recebi mensagens anónimas no meu
telemóvel com ameaças e tenho a certeza de que foram
enviadas pelo Leitão.
Quando é que recebeu o último sms do género?
Há um mês. Dizia: "O teu filho é muito lindo, mas não vai ser
teu." Referia-se ao bebé de meses que tive com a minha
nova companheira.
O que pensou que aconteceu à Tânia quando ela
desapareceu?
Pensei que ela tinha fugido. Ela sempre me disse que queria
ir viver para o Canadá. Quando a mãe da Tânia
apresentou queixa do desaparecimento, apontou-me
como suspeito à polícia.
Suspeito porquê?
Porque uma vez a Tânia apresentou queixa contra mim na
esquadra por agressões. É verdade que a nossa relação já
era conflituosa mas não a esse ponto. Falei à polícia sobre
as companhias dela.
Conseguiu refazer a sua vida?
De uma certa forma, sim. Tenho uma nova companheira e
um filho com ela, mas o mais complicado é o trauma da
minha filha Carina e a imagem com que ficou da mãe. Mas
ela vai continuar a ser acompanhada pelo psicólogo como
até agora.
Francisco Leitão, o alegado triplo homicida de
Carqueja disse, no Tribunal de Torres Vedras, que
teve uma relação de um ano com Tânia, viveu
quatro anos com Ivo e era apenas amigo de Joana.
Francisco José da Cruz Leitão, 41 anos, ou "rei
Ghob", assumiu factos que tinham a ver com as suas
relações amorosas com duas das alegadas vítimas
no primeiro interrogatório judicial, perante o juiz de
instrução e a procuradora, no Tribunal de Torres
Vedras, a 21 de Julho. Segundo contou fonte
conhecedora do processo ao DN, Francisco Leitão
negou as provas em que a Polícia Judiciária e o
Ministério Público assentam o caso de triplo
homicídio contra si.
Provas como os cartões dos telemóveis das
vítimas usados em aparelhos seus após o
desaparecimento de Tânia, Ivo e Joana. Ou ainda as
fotomontagens de Ivo encontradas em
computadores seus apreendidos pela PJ nas quais o
jovem aparecia em diversos locais no estrangeiro -
sendo um deles a capital francesa, Paris, - após o
desaparecimento, em meados de Junho de 2008.
Fotos que teriam sido mostradas por Leitão aos pais
de Ivo. O suspeito não soube explicar quem fez as
fotomontagens e garantiu nada ter a ver com elas.
Questionado em tribunal sobre se já tinha
estado preso, Francisco Leitão admitiu que já
respondeu à justiça por duas vezes, uma pelo crime
de falsificação de documentos e burla e outra por
posse de arma proibida, adiantou a mesma fonte ao
DN. Negou ter assassinado Tânia, Ivo e Joana.
Sobre Tânia Ramos, a primeira a desaparecer, a 5 de
Junho de 2008, com 27 anos, Francisco Leitão declarou que
a conhece desde miúda e que teve uma relação amorosa
com ela, tendo chegado a dormir juntos. Essa relação
durou um ano. Francisco Leitão alegou que se afastou de
Tânia a partir da altura em que ela foi agredida pelo marido
e foi internada no Hospital de Torres Vedras. Segundo
apurámos, Francisco Leitão disse em tribunal que nunca
mais viu Tânia, a pedido da própria. A última vez que a viu,
declarou, foi antes de ela ter sido internada no hospital. O
suspeito não explicou como é que o cartão de telefone da
Tânia foi usado num telemóvel seu, após o
desaparecimento da jovem, a 5 de Junho de 2008.
Argumentou apenas que teve vários telemóveis que foi
cedendo, uma justificação que também deu para os casos
de Ivo e Joana. O "rei Ghob" alegou ainda que a sua casa
foi assaltada e lhe foi furtado um telemóvel Nokia mas que
não participou o furto.
No primeiro interrogatório, Francisco Leitão afirmou ter
mantido com Ivo Delgado uma relação amorosa que durou
cerca de quatro anos e que era já de união de facto,
segundo informações que o DN confirmou com a mesma
fonte. Foi pedido a Francisco Leitão que explicasse o facto
de nos seus computadores terem sido encontradas
fotomontagens de Ivo, que o colocavam em diversos locais,
como França, após o seu desaparecimento, em meados de
Junho de 2008, cerca de 21 dias depois de Tânia
desaparecer. Francisco Leitão não explicou as fotos nem o
facto de o cartão de telemóvel de Ivo ter sido apreendido
pela PJ na sua casa - castelo de Carqueja.
Jornal Alvorada
Agosto 2011
Jornal Alvorada
Setembro 2011
Jornal Alvorada
Novembro 2011
O acidente que é o 'rei Ghob'
por FERREIRA FERNANDES
Fez uma casa maluca, que ofereceu aos olhos dos habitantes de Carqueja, e fazia vídeos malucos, que oferecia ao mundo no YouTube. Os vizinhos estão muito surpreendidos porque o pensavam só "excêntrico", que é como agora se chama aos malucos. Gente que faz casas malucas, vídeos malucos e é conhecida pelos vizinhos como maluca há em doses pequenas para tranquilizar a nossa normalidade e até é geralmente útil para colorir a vida. Mas há também malucos como o "rei Ghob", de Carqueja. Não são de prever, nem como parte pequena e original, e quem dá por eles - quem dá por eles mesmo a sério, não nós que só nos interessamos pela notícia freak - sofre-os como a um acidente. Não vale a pena queixarmo-nos das autoridades que deviam prever, dos vizinhos que deviam alertar, dos familiares das vítimas que deviam estar atentos... É que gente desta é mesmo como um acidente. Acontece. E infeliz de quem lhe esteve próximo. O pior que se pode fazer com os "rei Ghob" é estudá-los e tentar compreendê-los - além de tarefa inútil, exige demasiado tempo porque cada caso é um caso. Hoje, o acidente calha assim, amanhã, assado, por isso se chama "acidente", isto é, o que é imprevisto, casual, fortuito. A única conta que conta é o rol das vítimas.
Mais suspeitas de mais crimes cometidos pelo “rei Ghob”. A Polícia Judiciária não tem
tido descanso e já não se sabe ao certo de
quantos crimes é que Francisco Leitão é agora
suspeito. A investigação conta já seis mortes
que apontam para ele. Tânia, Ivo e Joana, mais
dois jovens e o velho “Pisa-Lagartos”. Um velhote da região que trabalhou para Leitão
até desaparecer. A cada passo que os
inspectores da Unidade Nacional de Contra-
Terrorismo (UNCT) da PJ dão, mais indícios se
revelam. Mais mortes em aberto, mais
desaparecimentos, mais suspeitas de abusos sexuais... e nasce a grande questão: por que
motivo é que ninguém apresentou queixa?
Medo! Francisco Leitão conseguiu manter uma
enorme corte amedrontada. Fazia-os acreditar
ter poderes sobrenaturais, usava-os,
manipulava-os a seu gosto e os que não
obedeciam... desapareceram.
Mais nove crimes
Leitão é acusado da morte de seis pessoas desaparecidas, mas o Ministério Público (MP) já mandou extrair outras certidões para serem investigados mais crimes de que o “rei Ghob” é o suposto autor. Entre abuso sexual e homicídio, ao todo, são mais nove, os crimes de que é suspeito. Não há corpos das vítimas atribuídas ao “rei dos Gnomos”, mas a PJ encontrou sangue no porta-bagagens de um carro usado com frequência por Francisco Leitão. Os testemunhos de jovens que frequentavam a casa (castelo) do “rei dos Gnomos” serão vitais neste julgamento e nas novas investigações que se avizinham.
Frio e imputável
A grande conclusão que emerge das avaliações feitas ao “rei Ghob”, no Instituto Nacional de Medicina Legal de Lisboa, é que Francisco Leitão tem consciência do que faz. Perturbado, é portador de uma personalidade vulnerável, com traços de narcisismo e comportamentos antissociais. Manipulador, frio e instável, revela uma baixa tolerância à frustração. Violento, projecta a responsabilidade dos seus actos em terceiros. Não padece de qualquer doença psicológica que lhe perturbe a capacidade de avaliação e decisão, por isso mesmo foi considerado imputável dos seus actos e deve por isso ser julgado como qualquer outro cidadão.
Drogava-os e abusava deles
Logo nas primeiras edições em que abordámos este caso, revelámos
que alguns dos rapazes que frequentaram o castelo na Carqueja contaram que quando lá dormiam, acordavam com dores. Não se lembravam de nada, mas mal acordavam, sentiam-se “doridos”. Eram sexualmente abusados pelo Leitão. Aliás, tal como contámos nas primeiras edições sobre Francisco Leitão, ainda antes de este ter sido detido, já a PJ tinha vídeos do “rei dos Gnomos” em relações sexuais com diversos jovens. Algumas dessas imagens estavam publicadas na Internet, em diversas contas de redes sociais. As mensagens sms trocadas (na altura da detenção de Leitão) por antigos frequentadores
do castelo do “rei Ghob” com a família de alguns dos desaparecidos foram muito esclarecedoras para o trabalho da PJ.
O Castelo do Rei
Francisco José da Cruz Leitão, 42 anos, foi ali criado com os dois irmãos (Luís e Dina). Esta e o seu companheiro continuam a habitar o castelo, dizem-nos, construído (onde antes era um casebre) por decisão de
Leitão, nos últimos “sete, dez anos”. Muitos dos gnomos (como Leitão designava os seus seguidores) fizeram de pedreiros. Mas de onde vieram os materiais ninguém sabe. Sabe-se apenas que o pai tinha ali uma sucateira (Reciclagem Estremadura) que há muito está inactiva. O castelo erguido na Carqueja está protegido e rodeado por câmaras de filmar. A casa tem estatuetas e símbolos diversos. Desde a Branca de Neve a brasões de armas e símbolos medievais. O interior tem altares e os azulejos das paredes das casas de banho do “rei Ghob” são pintados à mão e ele é a figura representada nas formas bíblicas mais
rebuscadas. O alçapão secreto do castelo (cuja existência aqui afirmámos logo no início) descoberto pela PJ é um tugúrio onde alguns rapazes relatam ter sido abusados é já parte de uma outra propriedade contígua. Na Carqueja há paz e calmaria. Mas logo que o tema é “Ghob”, o caso muda de figura. Das práticas satânicas, incluindo profanações de campas no cemitério onde a mãe de Leitão está enterrada (S. Bartolomeu dos Galegos), há relatos de diversas actividades tidas por “Ghob” e os seus gnomos. E há medo, claro.
Reportagem:
http://aeiou.activa.pt/tv/casosdepol
icia/2011/07/30/mais-crimes-do-rei-
ghob
Texto de opinião:
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/inter
ior.aspx?content_id=1623802&secca
o=Ferreira
Noticia:
http://www.dn.pt/inicio/portugal/int
erior.aspx?content_id=1635160&secc
ao=Centro&page=1
Entrevista:
http://www.dn.pt/inicio/portugal/int
erior.aspx?content_id=1623814&secc
ao=Centro&page=-1