casa popular sustentável - sistema de avaliação

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FEC - FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL ARQUITETURA E URBANISMO Arquitetura, Tecnologia e Cidade AQ084 A - Projeto e Construção Sustentável Profa. Dra. Vanessa Gomes da Silva, Aluna: Míriam Morata Novaes – PE 120396

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FEC - FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL ARQUITETURA E URBANISMO

Arquitetura, Tecnologia e Cidade

AQ084 A - Projeto e Construção Sustentável Profa. Dra. Vanessa Gomes da Silva,

Aluna: Míriam Morata Novaes – PE 120396

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Sistema de Avaliação e Certificação de Habitação de Interesse Social

Resumo

A proposta deste trabalho é utilizar alguns critérios comuns aos 3 Sistemas de Avaliação – LEED FOR HOME, AQUA e SELO CASA AZUL DA CAIXA e introduzir os critérios de responsabilidade social, baixo custo e desenvolvimento econômico focando exclusivamente a construção de uma casa popular com área aproximada de 50.00m2 , para zona rural ou urbana, público alvo é população que ganha de zero a 3 salários mínimos e o custo final da obra não deve exceder o valor de 10 salários mínimos.

Os sistemas de avaliação surgem como uma resposta às crescentes questões ambientais, através da criação de critérios, abordagens e guias para a melhoria do desempenho ambiental da edificação; entre os principais desafios estão a melhoria da qualidade e durabilidade do ambiente construído; redução e otimização do consumo de materiais, água e energia; redução de resíduos gerados; melhoria da infraestrutura e serviços sanitários; preservação do ambiente natural.

Embora os sistemas de avaliação tenham por objetivo possibilitar a integração entre a preocupação ambiental e os critérios tradicionais da obra e abordem essa tarefa com diferentes perspectivas, alguns elementos são comuns a todos e sugerem soluções e desafios que não levam em conta o custo financeiro da obra e de todos os processos que envolvem o ciclo de vida da edificação.

Na área da Habitação de Interesse Social, toda abordagem sustentável deve ter caráter interdisciplinar e, portanto, levar em conta, além de todos os critérios utilizados para outras camadas da população, a abordagem, interação e pós intervenção, para que a cultura da sustentabilidade em todos os seus aspectos, econômico, social e ambiental, seja incorporada ao universo da comunidade.

Tags: casa popular sustentável, autoconstrução, construção baixo custo, sistemas de avaliação, habitação de interesse social.

Abstract

The purpose of this work is to use some common criteria evaluation systems 3 – LEED FOR HOME, AQUA and BLUE HOUSE SEAL the BOX and enter the criteria of social responsibility, low cost and economic development focusing exclusively on building a House popular with area of approximately 50.00 m2, rural or urban, target audience is people who win from zero to 3 minimum wages and the final cost of the work shall not exceed the value of 10 salaries minimal.

Evaluation systems arise as a response to growing environmental issues through the creation of criteria, approaches and guidelines for improving the environmental performance of the building; among the main challenges are improving the quality and durability of the built environment; reduction and optimization of consumption of materials, water and energy; reduction of waste generated; improvement of infrastructure and health services; preservation of the natural environment.

Although the evaluation systems have as their objective to enable integration between the environmental concern and the traditional criteria of the work and approach this task with

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different perspectives, some elements are common to all and suggest solutions and challenges that do not take into account the financial cost of the work and of all processes that involve the life cycle of the building.

In the area of Social interest housing, sustainable approach should have interdisciplinary character and, therefore, take into account, in addition to all the criteria used for other layers of the population, the approach, interaction and post intervention, so that the culture of sustainability in all its aspects, economic, social and environmental, is incorporated into the universe of the community.

Tags: popular house sustainable, self-construction, low-cost construction rating systems, social interest housing.

Objetivo

Apresentar diretrizes para que a população de baixa renda possa ter acesso a habitação de qualidade e desenvolver práticas sustentáveis, para a construção e uso dessa casa nas comunidades a que pertencem.

Introdução

A produção de habitações sustentáveis de baixo custo representa um desafio para o Estado, pesquisadores, construtores e a sociedade contemporânea. O desafio maior não é apenas a preservação dos recursos ambientais e do meio ambiente, mas, principalmente, de assegurar acesso à moradia para as famílias de baixa renda, com tecnologias construtivas sustentáveis e condições de vida digna a uma população que chega a aproximadamente 6 milhões de famílias.

“De acordo com o 4º Relatório Nacional de Acompanhamento dos Objetivos do Milênio, em 2008, o déficit habitacional estimado era de 5,8 milhões de domicílios, dos quais 82,2% estavam localizados em áreas urbanas. Sendo que, 89,2% do déficit habitacional incidindo sobre a população com renda média familiar mensal até três salários mínimos.”(Fonte: Ministério das Cidades/Secretaria Nacional de Habitação; elaborado pela Fundação João Pinheiro, com base nos microdados da PNAD/IBGE 2008.)

A relevância desse tema também pode ser atribuída alguns fatores como, crescimento populacional; crescimento desordenado das cidades, nos grandes centros urbanos; falta de capitalização e de acesso ao crédito para financiamento habitacional - dentre os brasileiros diretamente afetados pelo déficit habitacional, estima-se que 97,2% não têm acesso a crédito imobiliário.

“De acordo com o Relatório, durante 99,9% da história da humanidade fomos menos de 10 milhões de pessoas habitando o planeta; só muito recentemente chegamos aos 7 bilhões de pessoas, a tendência da população mundial está sendo dobrar a cada 35 anos aproximadamente.” (RELATÓRIO, 2011)

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Diante de uma realidade repleta de carências (moradias populares, mão de obra capacitada para a construção civil, políticas eficazes para gestão de resíduos da construção, tecnologia limpa e materiais sustentáveis de baixo custo, acessíveis às camadas miseráveis da população, etc.) e excessos (lixo, desperdício de energia e água, impactos ambientais, degradação do meio ambiente, emissão de CO2, etc.) a ênfase de pesquisa de Habitação de Interesse Social Sustentável deve priorizar um desenvolvimento que atenda às necessidades básicas, uma vez que as interações sociais em uma comunidade afetam as esferas econômicas e ambientais.

“(...) tempo que o crescimento da riqueza costuma estar associado à depleção dos recursos ambientais, a pobreza extrema pode acarretar uma situação em que não resta às pessoas nenhuma outra opção a não ser a devastação de seu próprio ambiente – de modo que a erradicação sustentável da pobreza depende da provisão aos pobres de acesso a recursos naturais adequados e a um ambiente saudável.” (A Estratégia de Desenvolvimento Sustentável do Governo Britânico- 2005)

Os dois sistemas mais utilizados no Brasil são o LEED realizado pelo Green Council do Brasil e o AQUA (Alta Qualidade Ambiental) lançado em 2007, desenvolvido pela Fundação Vanzolini, em parceria com a POLI-USP e consiste em uma adaptação técnica para o Brasil da do modelo francês HQE, ferramenta de avaliação de critérios em sustentabilidade em edifícios utilizada em países da Europa desde 2002.

Ambos os sistemas LEED e Processo AQUA tem preocupações, como a geração de resíduos, preservação dos recursos naturais energia e água, redução da emissão de gases, interação com o entorno e conforto do usuário. Como são Sistemas de Certificação, ambos estão voltados para atender às expectativas do incorporador e do corpo técnico, relacionados ao processo construtivo. O consumidor final fica à margem desse processo anterior e posterior ao uso.

A certificação agrega valor ao produto, mas não alimenta a cultura da sustentabilidade.

“O coordenador executivo do Processo AQUA na Fundação Vanzolini, Prof. Manuel Carlos Reis Martins, explica que com um lar certificado como sustentável, o comprador sabe que terá uma habitação mais saudável e confortável, com valorização patrimonial, além de menores custos no consumo de água, energia e conservação.”

O Selo Casa Azul Caixa (JOHN; PRADO, 2010) foi constituído em 2010 pela Caixa Econômica Federal - principal agente de programas de financiamento da casa própria no país - destacando a prioridade para habitações de interesse social, como meio de incentivar edificações habitacionais de bom desempenho e a redução de impactos ambientais relacionados à sua construção, por meio da concessão de financiamentos em condições especiais para empreendimentos que obtivessem o Selo.

“O Selo Casa Azul, pretende incentivar o uso racional de recursos naturais na construção de empreendimentos habitacionais, reduzir o custo de manutenção dos edifícios e as despesas mensais de seus usuários, bem como promover a

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conscientização de empreendedores e moradores sobre as vantagens das construções sustentáveis.”

O Selo Casa Azul prioriza as categorias Projeto e Conforto, Conservação de Recursos Materiais e Práticas Sociais, enquanto o LEED concentra praticamente metade dos pontos em duas categorias: Energia e Atmosfera e Qualidade Ambiental Interna, ambas análogas à categoria simplificada “Eficiência Energética”.

A certificação AQUA prevê a criação da estratégia ambiental global do empreendimento, a partir da preservação dos recursos, redução da poluição e da geração de resíduos, gestão dos recursos naturais durante a operação (água e energia), gestão patrimonial (durabilidade, adaptabilidade, conservação, manutenção, custos de uso e operação), conforto (dos usuários, da vizinhança, dos operários de obra), saúde (dos usuários, da vizinhança, dos funcionários de obra).

Ainda que as avaliações ambientais sejam, cada vez mais importantes nos indicadores de qualidade dos projetos arquitetônicos e urbanísticos, a revisão dos Sistemas LEED e AQUA revelou que não são adequados para o objetivo deste trabalho. O Selo Casa Azul mostrou-se mais adequado, mas ainda não cobre determinados aspectos, principalmente nas fases de planejamento e pós-ocupação. Levando em conta a ênfase social e o público alvo objeto deste trabalho, faz-se necessário introduzir alguns critérios anteriores à escolha do sitio e projeto.

Metodologia

Revisão de literatura e análise de trabalhos de campo junto a comunidades carentes.

Planejamento

Estudo de caso

A fase de planejamento da ação na comunidade é fundamental para a continuidade do projeto. Essa conclusão é resultado de suas abordagens feitas pela ONG RECRIAR em uma favela na Vila Rosina em Caieiras e em uma família moradora de área rural em Mairiporã.

No primeiro caso, entramos na comunidade através de um politico, que já conhecia a família e solicitou que demolíssemos o barraco e construíssemos uma casa sustentável, junto com a família e os moradores da comunidade. O material utilizado seria bloco de solocimento, e o sistema construtivo seria através de mutirão.

Não foi feita nenhuma abordagem antes da intervenção, portanto não conhecíamos os moradores da comunidade e suas expectativas e necessidades. Não houve nenhum levantamento da área, para conhecermos o sitio onde estava implantada a comunidade. O resultado foi uma série de problemas quanto ao relacionamento com os “lideres” da comunidade, que se sentiram invadidos e desrespeitados; a construção e o sistema construtivo proposto foram inviabilizados depois da demolição, pois descobrimos que todos os barracos foram construídos em cima de um aterro sanitário.

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A segunda experiência “desastrosa” no que se refere à Categoria Planejamento de Intervenção foi com uma família em uma área rural da cidade de Mairiporã. A família foi apresentada por um membro do Conselho Tutelar da cidade. A família era grande, com 5 filhos e o casal, incluindo bebê e o barraco não tinha nenhuma condição de habitabilidade.

O material utilizado era Superadobe e o sistema construtivo autoconstrução. Para esse projeto convidamos um grupo de internos de uma Casa de recuperação de dependentes químicos. A técnica foi rapidamente aprendida, todos se mobilizaram para captar os materiais. No entanto, depois de alguns meses de trabalho fomos informados que a família havia invadido o local um ano antes da nossa visita e já negociava a venda da casa, além de possuírem outros imóveis alugados. Saímos do local por medo de ameaças por parte “lideranças” da região.

Diante dessas duas experiências, acredito na importância da fase de Planejamento como fundamental para o sucesso de um programa para construção de casas populares sustentáveis, para população de baixa renda.

Princípios que norteiam diretrizes de uma edificação sustentável

O primeiro passo é encontrar um local para as reuniões e a implantação do projeto, esse local pode ser o salão da Igreja, uma área já utilizada como clube ou espaço para reunião, o ideal é que não seja a casa de nenhum morador, pois isso poderá acarretar alguns problemas como limitação dos membros dos grupos por problemas pessoais com o morador.

Categoria 1 – Planejamento da Intervenção

1. Contato com a Comunidade1.1. Identificação dos líderes

Objetivo – Conhecer as pessoas que representam a comunidade, seja no campo religioso, comercial, politico, relações, saúde, lazer. Fazer levantamento das expectativas, desafios, necessidade, limitações e obstáculos ao trabalho a ser desenvolvido.Requisito – Pessoas que tenham interesse no desenvolvimento da comunidade, através da educação, trabalho e ética.

A partir do contato com esses lideres, haverá a possibilidade da criação de grupos de moradores, que tenham afinidade com essas lideranças.

Cuidado – A proposta da aproximação é basicamente criar grupos de trabalho e não construir hierarquias no poder.

1.2. Criação de grupos de moradores para mão de obra e articuladoresObjetivo – A partir das expectativas, necessidade e desafios buscar pessoas que tenham “talentos” e interesses semelhantes, para organizar grupos de trabalho – administração do projeto, produção e relações internas, mão de obra para construção e confecção de componentes; tecnologia e marketing; saneamento; gestão de resíduos e reciclagem; educação e capacitação.Requisito – Todo grupo deve ter um líder que será responsável pela documentação de todas as reuniões e atividades. Esses líderes farão reuniões mensais para avaliação e sugestões para continuidade do trabalho ou criação de novas abordagens e logística.Cuidado – Acompanhamento dos trabalhos e da interação constante com a comunidade de um modo geral e órgãos competentes.

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1.3. Inventário físico do local – documentação, materiais, carências, potencialidades Objetivo – Conhecer a documentação do local e buscar diálogo com Prefeitura e CETESB para saber se a área faz parte de área de risco, é área privada, ou existem fatores que inviabilizem a continuidade e melhoramento do condomínio. Caso não exista nenhum interdito, buscar junto aos órgãos competentes a legalização do local ou a proposta de uma nova área para aquela comunidade. Requisito – O grupo deve ser orientado por uma equipe jurídica.Cuidado – Toda resolução deverá ser documentada e não será aceito nenhum compromisso ou “troca de favores” para manutenção da área, se esta apresentar risco.

1.4. Levantamento das expectativas, potencialidades e necessidades da comunidadeObjetivo – Através desse levantamento será definido o projeto, materiais que serão utilizados, sistema construtivo, criação das oficinas e produção de componentes e tecnologias, abordagem com os órgão públicos, escolas e moradores em geral.Requisito – Os lideres devem fazer o levantamento com o maior número possível de moradores, documentar e criar dinâmicas de grupo para estabelecer prioridades e estratégias de trabalho.Cuidado – Atender a expectativas e necessidades do maior número de pessoas, evitando privilégios e negociações que atendam à interesse de pessoas ou grupos que não façam parte da comunidade.

Depois dessa etapa, os grupos podem se organizar e iniciar os trabalhos:

2. Seleção de Grupos de moradores2.1. Capacitação

Objetivo – Oferecer noções básicas de reciclagem de sustentabilidade e educação ambiental, resíduos da construção para confecção dos materiais e tecnologias desenvolvidas, horta e jardim; sistemas construtivos utilizando diversas técnicas e materiais sustentáveis (locais, recicláveis e reciclados), banheiro seco, energia limpa e captação e reuso de água. A partir desse primeiro contato com a sustentabilidade, os grupos poderão se dividir em subgrupos de acordo com os interesses e aptidões de cada um.Requisitos – O material didático devera ser disponibilizado para todos os moradores que se interessarem; todas as etapas serão avaliadas através de oficinas.Cuidado – Não focar em teoria e abordagens que não tenham nenhuma relação com o cotidiano da comunidade, para que o curso e a proposta não esvaziem.

2.2. OficinasObjetivo – Aprofundar os temas do Curso de capacitação, para os novos grupos que se formaram a partir de interesses e aptidões comuns. Os lideres devem iniciar negociações com parcerias para captação dos materiais e maquinário que serão utilizados nas oficinas. Requisitos – Todo material ou componente produzido nas oficinas deve atender às Normas de segurança e qualidade. Todo processo deverá se documentado para continuidade em futuros projetos.Cuidados – O controle de qualidade deverá ser rigoroso e adequado às Normas Brasileiras.

2.3. Inclusão SocialObjetivo – Possibilitar aos grupos que sejam reintegrados ao mercado de trabalho, seja da construção civil, ou produção de componentes e equipamentos.

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Requisitos – Os grupos deverão trazer para a comunidade os resultados do projeto, tanto como mão de obra, quanto como multiplicadores do curso de capacitação ou instrutores de oficinas e produção.Cuidados – Dar continuidade ao processo de aprendizagem através de atualização permanente, em cursos e oficinas oferecidas fora da comunidade.

2.4. Busca de parceriasObjetivo – Buscar nas áreas próximas á comunidade, empresas, escolas, órgão de apoio a empreendedorismo, mídia local, etc. parcerias para apoiar, divulgar e aperfeiçoar os resultados do projeto e ampliar o raio de atuação.Requisitos – Pessoas que tenham compromisso e identificação com o projeto e os moradores da comunidade.Cuidados – Fazer parcerias visando unicamente o beneficio da comunidade como um todo e não interesses pessoais.

2.5. InterdisciplinaridadeObjetivo – É fundamental que todos os grupos e todas as etapas tenham coordenadores com formação em diversas áreas como Direito, Psicologia, Ciências Sociais, Arquitetura, Administração, Engenharia, TI, Meio Ambiente, Educadores, Artesãos, etc. para garantir a qualidade das abordagens e desenvolvimento dos trabalhos.Requisitos – Todos os profissionais deverão ter qualificação e envolvimento com a causa e o grupo de moradores da comunidade.Cuidados – Não permitir que a teoria seja desvinculada da prática e documentar todas as ações e propostas.

2.6. Produção de materiais e tecnologiasObjetivo – A partir do levantamento dos materiais existentes na região e dos interesses dos grupos de capacitação, buscar profissionais para orientar a produção e qualidade de componentes e tecnologia, bem como a comercialização dos mesmos para investir na própria comunidade. Requisitos – Todos os materiais deverão estar de acordo com as Normas de qualidade e segurança brasileiras. Os produtos serão avaliados por profissionais de cada área. O grupo não poderá utilizar o trabalho infantil em suas atividades. Cuidados – Fazer ensaios para certificar a qualidade de todo material produzido.

2.7. Gestão de resíduos e reciclagemObjetivo – Criar um espaço para cooperativa de reciclagem de materiais descartados na comunidade. Buscar parcerias com órgãos que administram, capacitam e legalizam cooperativas de reciclagem. Criar grupos de conscientização dos moradores para distribuir cartilhas que ensinam compostagem, reciclagem, reutilização, etc. Organizar mutirões de limpeza de bueiros e terrenos e buscar parceria com a Prefeitura para recolher material coletado. Buscar apoio de entidades públicas de controle de pragas como ratos, baratas, etc.Requisitos – O grupo de Gestão não poderá utilizar o trabalho infantil em suas atividades.Cuidados - Pessoas que trabalhem nessa área deverão utilizar Equipamentos de proteção para manuseio dos materiais.

2.8. Paisagismo e HortaObjetivo – Criar espaços para horta e jardins, plantação de árvores e floreiras suspensas quando não houver espaço nas casas. Buscar parceria com a Secretaria do Meio Ambiente e seus programas de implantação de projeto de hortas. Requisitos – A produção será para uso da comunidade e a plantação e manutenção poderá ser feita por todos os moradores, inclusive crianças e jovens.

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Cuidados – Seguir orientação de profissionais, para não haver contaminação dos alimentos.

2.10 . Gestão FinanceiraObjetivo – Organizar e administrar os recursos que serão necessários para a implantação do Projeto, bem como os recursos gerados pelo comércio dos produtos gerados pelo projeto, de modo que toda a comunidade seja beneficiada.Requisitos – Pessoas com formação em administração e gestão financeira deverão coordenar esse grupo e moradores serão responsáveis por apresentar contas e priorizar a transparência e ética em todas as operações.Cuidados – Documentar todas as operações através de contratos, notas fiscais e relatórios.

Categoria 3. - Planejamento Sustentável da obra

As diretrizes desta categoria são comuns aos sistemas de avaliação de um modo geral.

3. Projeto que prevê:

3.1. Acessibilidade – Todos os espaços de passagem e banheiros permitem a movimentação segura de idosos e cadeirantes.

3.2. Adequação Climática - Adequação ao local e ao clima, visando o combate à radiação solar excessiva, à grande luminosidade e privilegiando a ventilação e iluminação natural.

3.3. Águas – Captação e utilização de água de chuva, redução do uso e tratamento de águas residuárias, utilização de dispositivos economizadores de água, reuso de águas cinzas.

3.4. Energia – Redução do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias de baixo custo, para utilização de energia solar e eólica, de acordo com a região.

3.5. Materiais e Tecnologias de Construção - Identificar os materiais locais ambientalmente mais adequados que reduzam o impacto gerado na sua produção e distribuição, emprego de madeira e agregados com origem legalizada, geração e correta destinação de resíduos no canteiro e reuso de materiais, desenvolver novos materiais e componentes - melhor integração da avaliação do ciclo de vida (ACV); proporcionar a interação dos moradores da comunidade e seus saberes com o processo construtivo.

3.6. Saneamento eficiente – Sobre esgoto, é interessante prever tratamento adequado de esgoto no local e, quando possível, o uso de banheiro seco. Desenvolver fossa séptica mais eficiente e, ao mesmo tempo, acessível às populações mais pobres.

3.7. Sistema construtivo - Adoção de sistemas de construção otimizados que possibilitem a autoconstrução e a diminuição de perdas de material.

3.8. Paisagismo produtivo – Capacidade de aproveitar as características da flora e dos recursos naturais disponíveis da região integrando o empreendimento ao seu entorno e ajudando na preservação das espécies locais. Toda casa deverá ter uma horta ou jardim.

Categoria 4. - Pós uso

4.1. Educação ambiental dos moradores9

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Objetivo – Criar eventos e cursos permanentes para atualizar e propor novas abordagens para a prática sustentável. Dar continuidade ao trabalho de educação ambiental iniciado na fase de Planejamento – capacitação, para que os moradores incorporem a cultura da sustentabilidade na sua rotina, valores e hábitos.

Requisitos – Envolver toda a comunidade e escolas das redondezas. Buscar parcerias entre educadores, agentes de saúde e profissionais ligados à aárea.

Cuidados – Não deixar espaço de tempo longo, entre os eventos, para que novos hábitos e valores sejam sedimentados.

4.2. Capacitação para gestão do empreendimento

Objetivo – Ampliar o grupo de Gestão Financeira criado na fase de Implantação do Projeto e introduzir mais membros da comunidade. Abrir espaço para parcerias com órgãos de apoio ao trabalhador e jovens, através de cursos profissionalizantes para jovens, mulheres e aposentados.

Requisitos – Todo curso deverá ser gratuito e aberto para toda comunidade.

Cuidados – Os coordenadores deste grupo deverão ter vivência com empresas e projetos sociais.

Considerações Finais

O elemento que define a “escolha” de um tipo de edificação, para essa camada da população não é o custo ambiental, mas o custo econômico final da edificação e como eles poderão arcar com esse valor, portanto, a necessidade de redução da desigualdade social e econômica é tão importante quanto o aspecto ambiental.

As categorias avaliadas nos Sistemas analisados incluem aspectos de projeto, construção e manutenção pós-ocupação. No entanto, não podemos pensar em Desenvolvimento Sustentável sem equidade social e, para tanto é urgente criar novos instrumentos de interação, aproximação, trocas de saberes e fazeres com essa camada da população que sempre esteve à margem das decisões e benefícios produzidos pela ciência e tecnologia.

Tentei desenvolver apenas as Categorias relacionadas ao processo de Planejamento é Pós uso, as categorias relacionadas à Implantação, Projeto e Construção merecem um novo olhar, desde a “escolha” do terreno, que tem como único critério de escolha - “área desocupada temporariamente”, até a diretrizes de projeto que devem se adequar a uma realidade de carência total, enquanto tenta manter a qualidade e a proposta de sustentabilidade.

Precisamos de um jeito novo para pensar Arquitetura e Construção Sustentável, para um planeta rico em carências, miséria e explosão demográfica.

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Referências Bibliográficas

A Estratégia de Desenvolvimento Sustentável do Governo Britânico - Apresentada ao Parlamento pelo Secretário de Estado para o Meio Ambiente, Alimentos e Assuntos Rurais por ordem de Sua Majestade - Março de 2005 - Sumário em português

FCAV-FUNDAÇÃO CARLOS ALBERTO VANZOLINI. Referencial técnico de certificação “Edifícios habitacionais - Processo AQUA". v2. São Paulo: FCAV, 2013.

GREEN BUILDING COUNCIL BRASIL – GBCB. Referencial GBC Brasil Casa. Planilha de Pontuação do Projeto. Versão Piloto. São Paulo, 2012.

JOHN, Moacyr Vanderley (coordenador); PPRADO, Racine Tadeu Araújo (coordenador). SELO CASA AZUL Boas Praticas para Habitação Mais Sustentável. São Paulo: Páginas & Letras – Editora e Gráfica, 2010.

JOHN, Vanderley Moacyr (Coord.); PRADO, Racine Tadeu Araújo (Coord.). Selo Casa Azul: boas práticas para habitação mais sustentável. Prado . São Paulo: Páginas & Letras - Editora e Gráfica, 2010.

MAGNANI, Juliana Mattos. Análise Comparativa do selo Casa Azul e do sistema de certificação LEED FOR HOMES. ESPECIALIZAÇÂO/UFMG, 1ª ed. Belo Horizonte: 2011, 76 p.

Relatório sobre a Situação da População Mundial 2011 - produzido pela Divisão de Informações e Relações Externas do UNFPA, o Fundo de População das Nações Unidas.

Vinicius Fares Leite - CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL – SISTEMAS LEED E AQUA - Belo Horizonte - Escola de Engenharia da UFMG – 2011

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