cartografia de uma implantaÇÃo de apoio matricial · drogas (caps – ad) no município de santa...

25
FACULDADE INTEGRADA DE SANTA MARIA FISMA CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA THATIANE VEIGA SIQUEIRA CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL Santa Maria 2012

Upload: lamthu

Post on 12-Feb-2019

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

FACULDADE INTEGRADA DE SANTA MARIA – FISMA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

THATIANE VEIGA SIQUEIRA

CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO

MATRICIAL

Santa Maria

2012

Page 2: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

THATIANE VEIGA SIQUEIRA

CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO

MATRICIAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

como requisito de avaliação para obtenção do

título de Psicólogo ao Curso de Graduação em

Psicologia, da Faculdade Integrada de Santa

Maria - FISMA.

Orientador: Prof. Ms.Douglas Casarotto de

Oliveira.

Santa Maria

2012

Page 3: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

THATIANE VEIGA SIQUEIRA

CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO

MATRICIAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Psicologia da

Faculdade Integrada de Santa Maria – FISMA, como requisito para obtenção do título

de Psicólogo.

Banca Examinadora

_____________________________________________________

Douglas Casarotto de Oliveira, Me. (UFSM)

(Orientador)

___________________________________________

Diogo Faria Correa da Costa, Me. (UFRGS)

(Membro)

___________________________________________

Marisangela Spolaôr Lena, Me. (UFSM)

(Membro)

Santa Maria, 20 de dezembro de 2012.

Page 4: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

AGRADECIMENTOS

Agradeço à todos que me acompanharam durante o meu caminhar:

Agradeço principalmente à minha família, meus pais Joel e Luzane e minha irmã Thaiene,

pela compreensão, amor e suporte em todos os momentos;

Agradeço ao meu avô Catega pelo brilho no olho, pelo orgulho, pelo exemplo;

Agradeço ao Juliano, por todo o amor, companheirismo e paciência;

Agradeço aos amigos-simbióticos Katia e Diego pelas risadas e desesperos compartilhados;

Agradeço à equipe do CAPS Cia do Recomeço, pela acolhida sempre afetuosa, pela confiança

e pelo aprendizado compartilhado;

Agradeço aos amigos do VER-SUS, especialmente Tici, Ale e Débora por partilhar esta

experiência importante para a construção desta pesquisa;

Agradeço aos Mestres que encontrei pelas lições impressas;

Por fim agradeço ao meu orientador Douglas pela confiança, por partilhar deste caminho e por

todo o aprendizado.

Page 5: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

RESUMO

Este artigo apresenta a pesquisa realizada em um Centro de Atenção Psicossocial álcool e

drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de

2012. Essa pesquisa buscou cartografar o processo de implantação do apoio matricial a rede

de atenção aos usuários de saúde mental a partir deste CAPS ad e os serviços de atenção

básica referente ao seu território no município de Santa Maria/RS. Para isto utilizou-se o

método cartográfico e para produção de dados foi utilizado o diário de campo, a análise de

documentos oficiais como atas de reuniões da equipe, atas de reuniões, memorandos e ofícios,

do CAPS no período de março a novembro de 2012. Inicia-se por uma exposição da

implicação da pesquisadora com o local e o tema de pesquisa, seguido da história do CAPS

em questão, a seguir foram eleitos analisadores para dar visibilidade e problematizar o que foi

encontrado ao longo da pesquisa. Deste modo, esta pesquisa ao acompanhar o processo de

implantação do apoio matricial às equipes de referência do CAPS ad Cia do Recomeço, no

município de Santa Maria/RS, auxiliou a compreender as dificuldades da implantação do

apoio matricial, a importância deste para a rede de saúde mental e a forma de participação do

CAPS neste processo.

Palavra-chaves: Apoio matricial, Atenção básica, Saúde mental.

Page 6: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

ABSTRACT

This paper presents the research conducted in CAPS in Santa Maria / RS, in the months from

March to November 2012. This research sought to map the process of implementing the

matrix support the network of care to users of mental health from this ad CAPS and primary

care services for the territory in Santa Maria / RS. For this we used the method to cartographic

data production and was used daily field, analysis of official documents such as minutes of

team meetings, minutes of meetings, memos and letters, CAPS in the period from March to

November, 2012. Begins with an exposition of the researcher's involvement with the local and

the research topic, followed by the history of CAPS in question, the following were elected

analyzers to provide visibility and discuss what was found during the research. Thus, this

research to monitor the implementation process of the matrix support teams to reference the

CAPS Cia do Recomeço, in Santa Maria/RS, helped to understand the difficulties of

implementing the matrix support, the importance of this to the network mental health and how

to participate in this process of CAPS.

Keyword: Matrix support, Primary care, Mental health.

Page 7: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

LISTA DE ABREVIATURAS

AB – Atenção básica

AM – Apoio matricial

CAPS – Centro de Atenção Psicossocial

CAPS ad - Centro de Atenção Psicossocial álcool e drogas

CM – Comissão de matriciamento

PSF – Programa de Saúde da Família

SMS – Secretaria Municipal de Saúde

SM – Saúde Mental

Page 8: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

1 - INTRODUÇÃO

O processo da Reforma Psiquiátrica no Brasil foi inspirado no Movimento da

Psiquiatria Democrática Italiana, que muda o paradigma em relação ao cuidado das pessoas

em sofrimento psíquico, conhecido como paradigma da desinstitucionalização (AMARANTE,

2003). Este processo vem se desencadeando desde a década de 70 com o Movimento dos

Trabalhadores de Saúde Mental (MTSM) e com a reinvindicação de familiares e usuários na

busca por melhores de atendimentos. Em 2001, fugindo um pouco do seu propósito inicial, a

Lei nº 10.216, também conhecida como a Lei da Reforma Psiquiátrica, foi aprovada,

redirecionando o modelo assistencial em Saúde Mental (SM), assegurando os direitos e a

proteção das pessoas em sofrimento psíquico (AMARANTE, 2007).

Essa transformação no modelo assistencial em SM buscou extinguir progressivamente

os manicômios no Brasil e criar serviços substitutivos, como os Centros de Atenção

Psicossocial (CAPS), norteados pelo modelo da atenção psicossocial (BRASIL, 2004). Este

modelo propõe a ressocialização, trabalho em rede e cuidado no território. Lancetti e

Amarante (2006, p. 615) apontam que:

O habitat privilegiado para tratamento de pessoas com sofrimento mental,

drogadictos, violentados e pessoas que sofrem de angústias profundas e intensas

ansiedades é o bairro, as famílias e as comunidades e, logicamente, as unidades de

saúde encravadas nos território onde as pessoas existem.

Assim os CAPS como serviços substitutivos, tem na sua proposta de trabalho a

atenção diária no território à população de sua área de abrangência, visando à reinserção

social e ressocialização dos sujeitos (BRASIL, 2004). Dentre os desafios inerentes a essa

proposição, Lancetti (2006) aponta que a Reforma Psiquiátrica traz para a clínica situações

complexas, sendo necessários novos settings e intervenções sintonizadas com a realidade dos

usuários, assim os CAPS devem ser turbinados, paradoxais, tendo suas práticas tanto dentro

quanto fora da instituição, com um pé no território e outro no serviço de SM.

Deste modo, os CAPS devem trabalhar de forma articulada aos demais serviços de

saúde, de acordo com a lógica do território. E para garantir o atendimento dos usuários neste

espaço é necessário à existência de equipes de SM na AB (BRASIL, 2010).

Entre as estratégias de articulação desta rede de cuidado está o Apoio Matricial (AM),

considerado um arranjo organizacional que oferece suporte técnico às equipes de AB,

propondo discussões e intervenções conjuntas às famílias e comunidades (BRASIL, 2003).

Sua efetivação contribui para o aumento da capacidade resolutiva dos casos, amplia a

composição interdisciplinar e propõem a co-responsabilização entre as equipes (CAMPOS,

G., 1999; BEZERRA, DIMENSTEIN, 2007; FIGUEIREDO, CAMPOS, R., 2009).

Page 9: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

Compreendendo a importância desta estratégia, este artigo apresenta a pesquisa

realizada de março a novembro de 2012, no CAPS ad Cia do Recomeço, localizado no

município de Santa Maria/RS. Os objetivos da pesquisa foram compreender as dificuldades

da implantação do AM, a importância deste para a rede de SM e a forma de participação do

CAPS neste processo. Este CAPS no período estava implantando esta estratégia às nove

equipes que fazem parte de seu território de abrangência.

Cunha e Campos (2011) apontam que além de um arranjo organizacional o AM é uma

metodologia para gestão do trabalho em saúde, com objetivo de realizar Clínica Ampliada e

integração entre diversas especialidades e profissões. Assim podendo auxiliar na construção

da rede de atenção em SM.

Paes (2008) ao pesquisar a rede de SM no município de Santa Maria/RS caracterizou

esta como uma rede ainda em construção e evidenciou a importância das equipes de

matriciamento na articulação entre os serviços, na troca de informações e na qualificação dos

profissionais. A autora aponta que no município os serviços substitutivos encontram-se

lotados e considera a articulação com a AB uma alternativa a essa situação e como estratégia

de continuidade da assistência aos usuários.

Em outros anos no município existiram outras estratégias para esta articulação.

Segundo Ramos (2009) as primeiras discussões junto à gestão, na busca pela contratação de

profissionais para realizar o apoio matricial aconteceram em agosto de 2007. Foram

autorizadas em dezembro do mesmo ano, por um período de 12 meses, mesmo período que

um profissional que realizava este trabalho passou a acompanhar as reuniões da Comissão de

Saúde Mental (CSM).

Esta comissão se constitui em maio de 2005, composta por representantes da gestão

regional e municipal, e por trabalhadores dos serviços de SM, da rede básica e das instituições

formadoras O objetivo desta comissão foi aproximar a SM da AB, envolvendo os serviços de

saúde municipais e as instituições formadoras. Nasce com a tarefa de construir um projeto de

capacitação em SM para a AB. (RAMOS, L., 2009; ZAMBENEDETTI, 2005; CADORE,

RAMOS, M., 2009).

Este projeto, nomeado Saúde Mental na Roda, iniciou suas atividades em 2005. Teve

como objetivo de ser um articulador dos serviços de SM, da rede básica e demais políticas

públicas e buscou construir junto aos profissionais da AB, conhecimentos que os ajudasse a

lidar com questões que envolvessem saúde mental (CADORE, RAMOS, 2009). Estas

iniciativas que ocorreram no município serviram de alicerce para o processo de apoio

Page 10: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

matricial atual, principalmente pela participação de três profissionais do CAPS Cia do

Recomeço em pelo menos em uma dessas iniciativas.

Em 2012, a discussão sobre a articulação entre SM e AB surge novamente a partir do

grande número de usuário do primeiro CAPS ad do município. com a superlotação deste

serviço, optou-se por dividir a demanda dos dois CAPS ad por região e não mais por faixa

etária, como ocorria, iniciando o processo de territorialização. No mesmo ano o Programa de

Residência Multiprofissional da Universidade Federal de Santa Maria se insere aos serviços

de SM, com objetivo de promover esta articulação. Deste modo, a chegada destes residentes

nos serviço, aumentando o número de profissionais e a territorialização foram importantes

para iniciar a implantação do AM no município.

2. CAMINHO METODOLÓGICO

Para atingir o objetivo desta pesquisa utilizaram-se referenciais do institucionalismo1 e

da abordagem qualitativa do tipo cartográfica. A pesquisa cartográfica se caracteriza como um

método não prescritivo que ao invés de estabelecer direções definidas por regras ou objetivos

previamente estabelecidos se propõem a acompanhar o processo, e ao longo deste caminho ir

traçando suas metas, considerando os efeitos, as intervenções do pesquisador sobre o objeto

de pesquisa e os resultados sem deixar de lado o rigor de uma pesquisa.

Assim o método cartográfico ressignifica o sentido da palavra metodologia, méta-

hódos de caminhos (hódos) ordenado por metas, revertendo a hódos-méta, ou seja, metas que

são definidas pelo caminho. (PASSOS; KASTRUP; ESCÓSSIA, 2009).

Essa ressiginificação vem ao encontro da proposta de Rolnik (2007) que aponta a

cartografia como um desenho no qual a formação acontece através dos movimentos de

transformação do ambiente, sendo função do cartógrafo dar língua aos afetos, estando

mergulhado e atento à realidade a ser acompanhada.

Para produção de dados2 foi utilizado o diário de campo, a análise de documentos

oficiais como atas de reuniões da equipe, atas da reunião da Comissão de Matriciamento

(CM), memorandos e ofícios, do CAPS ad Cia do Recomeço no período de março a

1 Segundo Baremblitt (2002, p. 13-4), a denominação institucionalismo reúne-se um leque variado de tendências, de escolas,

cujo denominador comum poderia ser grosso modo localizado no fato de todas pretenderem “propiciar, apoiar, deflagrar nas

comunidades, nos coletivos, nos conjuntos de pessoas, processos de autoanalise e processos de autogestão”. 2 Será utilizado o termo produção de dados ao invés de coleta de dados, justificado pela diferenciação da pesquisa

cartográfica onde as etapas são um processo interdependente e os dados são produzidos em todos os momentos da pesquisa e

não apenas coletados como nas práticas de pesquisa da ciência moderna cognitivista, onde as diversas etapas constituem

momentos distintos e sucessivos (KASTRUP, BARROS, 2009).

Page 11: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

novembro de 2012. Para a análise dos dados produzidos, me servi dos seguintes conceitos-

ferramentas: noção de implicação3 e analisador. De acordo com Lourau (1993), analisador

pode ser qualquer palavra, gesto, acontecimento ou momento, quaisquer objetos capazes de

disparar um processo analítico.

Estar atenta aos analisadores direcionou o olhar aos fenômenos conflitivos que

se apresentaram no cotidiano da equipe do CAPS ad Cia do Recomeço, no contexto da

criação da sua proposta de matriciamento no período da pesquisa. Analisar minhas

implicações exigiu um exercício de reflexão permanente sobre os fluxos de sentimentos,

pensamentos, que se produziram na relação que estabeleci com esse Serviço de Saúde. Isto

determinou meu olhar singular sobre ele e sobre os fenômenos que acompanhei. Foi a partir

dessa composição que se produziu essa cartografia.

3. DE ONDE PARTIU O OLHAR?

A metodologia e o tema escolhido para esta pesquisa falam do meu relacionamento

com o CAPS Cia do Recomeço, onde experimentei três tipos de estágio diferentes, construí

vínculos com os profissionais e usuários e alicercei ali grande parte de minha formação. A

primeira vivência de estágio neste CAPS foi no ano de 2009, no mesmo ano em que ele foi

criado. Realizei ali, junto aos meus colegas de graduação um estágio de observação em

psicologia da saúde nos meses de setembro a dezembro. Entre os fatos marcantes deste

estágio lembro-me do choque que tive ao ver pela primeira vez um paciente chorar na minha

frente - a uma mãe de um usuário de drogas. A partir da intensidade dessa experiência,

ilustrada pelo fato relatado, vi desenvolver em mim uma curiosidade pelo tema de álcool e

outras drogas, o que me fez ter interesse em continuar aprendendo nesta área. Após o término

deste estágio fiz o concurso da prefeitura para ser estagiária de algum serviço de saúde,

desejando atuar no CAPS onde já havia me inserido. Depois de muita insistência retornei ao

Serviço em abril de 2010, como estagiária extracurricular.

Num contexto de implantação deste CAPS, onde havia falta de profissionais e

materiais para realizar as atividades, me inseri numa função contraditória. Ao mesmo tempo

em que era estagiária, a condição de equipe em formação acabou possibilitando a realização

de funções diferentes das tradicionais do estágio. Tive autonomia que me trouxe a sensação de

estar atuando profissionalmente neste CAPS. Essa inserção possibilitou aprendizado através 3 A noção de implicação remete a impossibilidade de objetividade, de neutralidade na pesquisa, ou seja, impossibilidade de

apagamento das instituições de diferentes ordens que atravessam o pesquisador e que são constitutivas de seu fazer:

implicações afetivas, profissionais, institucionais, etc. (ROCHA, DEUSDARÁ, 2010).

Page 12: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

da imersão nos processos de trabalho deste serviço, o que fez com que grande parte da minha

formação seja relacionada a este CAPS. Depois de um ano e três meses resolvi sair desse

estágio. Era um momento em que a equipe estava passando por algumas situações de

violência em relação aos usuários, o que estava me deixando desmotivada. Além disso, a

situação do estágio extracurricular, de não exigir supervisão aos estagiários, passou a adquirir

uma maior relevância, pois percebia minha necessidade de um apoio para pensar as práticas e

situações vivenciadas.

Ao sair do CAPS entrei em contato com a psicologia organizacional, fazendo um

estágio na área e também realizei um estágio de vivência o VER-SUS4, versão verão/2012,

onde entrei em contato com outros serviços de saúde inclusive da AB. Foi nessa experiência

de estágio que percebi meu interesse novamente se voltando a atuar no CAPS ad CIA do

recomeço, mais especificamente, em intervir nessa relação entre CAPS e AB.

A situação relatada a seguir, ilustra um dos momentos que percebi essa questão se

produzindo. Durante o VER-SUS, em uma vivência que propunha acompanhar a reunião de

uma Unidade Básica de Saúde, entrei em contato com alguns serviços da AB da 4ª

Coordenadoria de Saúde do Estado e percebi a falta de articulação entre eles e os serviços

especializados em SM. A partir dessa experiência, fui mobilizada a pensar sobre o

desconhecimento dos serviços da rede e as dificuldades de comunicação e seus efeitos sobre

as estratégias e o tratamento dos usuários. Também o estabelecimento de um projeto

terapêutico singular que envolvesse diferentes pontos da rede.

Foi buscando conhecimentos que ajudassem a dar conta das problematizações

produzidas nessa experiência, que pude entrar em contato com literaturas sobre o AM

(CAMPOS, G., 1999; BEZERRA, DIMENSTEIN, 2007; FIGUEIREDO, CAMPOS, R.,

2009; CHIAVERINI, et al., 2011). De acordo com a literatura encontrada, compreendi que

esta estratégia tem potencial de fortalecer a articulação entre os serviços especializados e a

AB.

Em março de 2012 retornei ao CAPS em questão, como estagiária curricular do

estágio especifico I e II, com ênfase em psicologia da saúde. Neste período estava iniciando o

processo de implantação do AM. Com isso me aproximei do tema, participando do inicio

desta construção. Isto ocorreu através da inserção na Comissão de Matriciamento (CM) e

4 O VER-SUS é uma proposta do Ministério da Saúde que visa propiciar aos estudantes a experimentação de um novo espaço

de aprendizagem, que é o cotidiano de trabalho das organizações de redes e sistemas de saúde. O projeto pretende qualificar

os futuros profissionais do SUS, possibilitando aos estudantes um espaço privilegiado de interação e imersão no cotidiano do

SUS em diversos territórios do país. (PORTAL DA SAÚDE, 2012).

Page 13: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

participação em outros espaços, como reuniões de equipe, reunião da linha de cuidado, em

outros CAPS, e outros espaços onde o tema era discutido.

Assim, meu olhar para o AM foi-se constituindo em paralelo ao processo de

implantação desta estratégia no CAPS ad Cia do Recomeço. Inicialmente, com a inserção

como estagiária e depois escolhendo este tema como problema de pesquisa.

Deste modo, realizar esta pesquisa fala da minha implicação com este serviço, com a

temática da SM e com minha formação acadêmica, processo este que esteve relacionado à

implantação deste CAPS também. Assim realizar este estudo é como concluir um ciclo, com

início, meio e fim, dando um retorno ao aprendizado que obtive neste CAPS, com esta equipe.

4. ANALISADORES

À análise dos dados desta pesquisa partiu inicialmente da eleição de três analisadores

construídos. Estes foram escolhidos entre os resultados da pesquisa das autoras Dimenstein e

Bezerra (2008) com trabalhadores de dois CAPS de Natal/RN, sobre o matriciamento às

equipes de um Programa de Saúde da Família (PSF). Foram eles:

- forma de participação dos CAPS no processo de implementação do apoio matricial;

- importância do apoio matricial para a rede de saúde;

- dificuldades em relação à implementação da proposta de apoio matricial.

Segundo Baremblitt (2002) os analisadores podem ser naturais ou construídos. Os

naturais são os que surgem por conta própria ao seguir o curso natural dos acontecimentos e

os construídos servem como dispositivo agitador ou agenciamento ativador para explicitar

conflitos e as suas resoluções.

Ao acompanhar este processo outros analisadores naturais ganharam visibilidade,

evidenciando a rede de forças5 que os produziram. Assim, os analisadores propostos

inicialmente foram ampliados, juntando-se aos que surgiram ao longo da pesquisa, dando

passagem à singularidade do processo de implantação do matriciamento no CAPS ad Cia do

Recomeço.

5 O método da cartografia não visa isolar o objeto de suas articulações históricas nem de suas conexões com o mundo. Ao

contrário, o objetivo da cartografia é justamente desenhar a rede de forças à qual o objeto ou fenômeno em questão se

encontra conectado, dando conta de suas modulações e de seu movimento permanente. (KASTRUP, p. 57, 2009).

Page 14: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

4.1 ANALISADOR 1: QUE CAPS É ESTE?

O local escolhido para esta pesquisa foi o CAPS Cia do Recomeço. Este serviço surge

no ano de 2009, com o objetivo de trabalhar com uma demanda que estava sendo vista, mas

não recebia cuidados. Os jovens usuários de crack, como aponta Romanini (2011) era uma

demanda crescente no município sendo necessária a criação de outro CAPS ad. Com isso,

criou-se este serviço que objetivava atender usuários de 12 a 29 anos.

Constitui-se inicialmente por cinco profissionais, uma sede própria, e pouquíssimos

materiais permanentes e nenhum para oficina. Aos poucos entraram outros profissionais: uma

técnica em SM, um psiquiatra, uma assistente social, e eu como estagiária de psicologia

extracurricular. O serviço permaneceu de 2009 até dezembro de 2011 trabalhando sem a

equipe mínima necessária e sem estar regulamentado. Como aponta Romanini (2011, p. 23)

“por volta do mês de abril de 2011, que a equipe conseguiu avançar no processo de

regularização através de uma portaria do Ministério da Saúde. Nesta ocasião, foi

oficialmente anunciado o nome do serviço: CAPS ad Cia do Recomeço”.

Este cenário fez com que os poucos profissionais que ali trabalhavam, fossem

inventando maneiras de construir um CAPS em condições de trabalho adversas. Nessas

condições criaram-se grupos de escuta, de passeio, parcerias com lugares e pessoas que

tivessem recursos que o Serviço não tinha.

Ao relembrar esta história lembro-me do texto do Merhy (2006) – Entre aparelhos,

rodas e praças. Penso que este CAPS definiu-se a partir dos sujeitos

envolvidos em seu processo de construção inicialmente como praça.

Pelas faltas com que se constituiu não pode ser logo aparelho, com uma

funcionalidade bem definida. Fez-se como praça, local público ocupado por muitos que iam

instituindo os usos deste serviço, sem que houvesse um compromisso funcional único e

específico. Fez-se local de encontro, de cuidado, de conversa, de descanso, como Mehry

(2206) define as praças:

Há até aqueles que vão para ver os outros. Há outros que vão só para ir. E, há outros

que vão para fazerem alguma atividade própria, como a de jogar alguma coisa. Em

uma praça o acontecimento é a regra e os encontros são a sua constitutividade (...).

Não há regra a ser imposta, não há funcionalidade a priori a ser obedecida.

E assim, foi constituindo-se este CAPS como praça aberta aquilo que surgisse, e de

praça também virou roda onde o transformavam naquilo que tivesse sentido para aqueles que

o habitavam. E de roda virou aparelho tendo também uma função, instituindo um porque,

definido por algumas regras. Mas que logo era praça, uma roda e um aparelho ao mesmo

Page 15: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

tempo, sem compromisso de ter que realizar uma função única e específica, mas estar aberto

reinventar sempre a sua prática.

Em 2012, com a equipe completa, uma nova e mais ampla casa e os materiais

necessários - mas ainda com as dificuldades inerentes aos Serviços Públicos de Saúde -

reinventa a roda e possui uma disponibilidade constitutiva para inventar outros modos de

funcionar entre eles a proposta do AM.

4. 2 ANALISADOR - O CARRO EXPIATÓRIO

Este analisador diz respeito do tema do carro, por este ser um assunto recorrente

durante este processo e dar visibilidade a algumas fragilidades da relação entre CAPS,

Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e Residência Multiprofissional. O assunto já no

primeiro mês da pesquisa era pauta da reunião de equipe, onde era falado que o

“Matriciamento só [iniciaria] no 2º semestre, o CAPS está esperando o carro que será

disponibilizado pela residência” (ata reunião de equipe 18/04/12 – pauta sobre

matriciamento). O carro era um empecilho para o deslocamento dos profissionais do CAPS ad

Cia do Recomeço até os serviços da AB de sua referência. E assim foi em outros momentos

desta pesquisa onde se dizia que o “Matriciamento não vai rolar, não tem carro”. (ata

reunião de equipe 09/07/12). O carro que no primeiro relato deveria ser fornecido pela

residência passou a ser responsabilidade da SMS.

Esta situação dá visibilidade a outros empecilhos, como o momento, por exemplo, na

reunião da CM do dia 04/09 onde se falou que o carro seria fornecido pela SMS, mas deveria

ser dirigido por um profissional da equipe que se responsabilizariam por qualquer dano.

Outro empecilho foi o fechamento temporário do CAPS como forma de mobilização

da equipe em agosto de 2012, essa decisão foi tomada após a mudança do serviço para uma

casa sem as condições mínimas para utilização (faltava corrimão, assentos sanitários, telefone,

etc). Assim a situação do carro dá visibilidade a uma relação entre o CAPS e gestão maior do

que a falta apenas do meio de transporte:

“O problema não é a falta de carro, mas sim a gestão não fornecer as condições

mínimas para o trabalho, é mais uma vez ter que se submeter a fazer algo sem ter as

condições pra isso”. (Diário de Campo - Reunião da CM - 13/11/12).

A fala deste profissional é coerente aos dados encontrados em uma pesquisa realizada

em 2009 sobre avanço da Reforma Psiquiátrica no município. Esta pesquisa diz que um dos

Page 16: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

fatores que comprometem este avanço é o fato dos trabalhadores não encontrarem na gestão o

apoio que necessitam para atender suas demandas. “[...] há um descaso por parte da gestão

em relação à SM, que vem de muito tempo” (RAMOS, 2009, p.85).

Dados parecidos foram encontrados em uma pesquisa com trabalhadores de CAPS II

Ad sobre a proposta de matriciamento às equipes de PSF em Natal/RN. Estes revelaram que

alguns impasses estavam relacionados a dificuldades estruturais dos serviços e ao não

reconhecimento das ações de SM, gerando a falta de condições básicas de funcionamento e

condição de trabalho. Por exemplo, a compra de materiais para a realização das oficinas e a

locomoção dos profissionais para a realização do trabalho do AM (BEZERRA,

DIMENSTEIN, 2008).

O carro se mostrou no processo do CAPS Cia do Recomeço como um bode

expiatório6. Um personagem que representou essas dificuldades, que deu visibilidade para as

dificuldades com a gestão. O carro fez emergir uma situação já antiga. Já os dados

encontrados na pesquisa de Bezerra e Dimenstein (2008) revelam que este descaso não é

exclusivo da SM de Santa Maria, mas existente em outros estados brasileiros.

4.3 ANALISADOR - O PROFISSIONAL E O PESSOAL

Dimenstein e Bezerra (2008) apontam que “falar em saúde é falar em sentido no

trabalho, em mobilização subjetiva”. Este analisador atenta a esta mobilização que o trabalho

em saúde gera nos profissionais.

Este analisador aparece nesta pesquisa inicialmente, durante a reunião do grupo

condutor em SM, realizada no dia 11 de maio de 2012. Nesta reunião estavam representantes

dos CAPS da cidade e de serviços da AB. O objetivo foi discutir o fluxo de SM no município.

Durante esta reunião, um profissional da AB disse: “A AB depende do pessoal, do

profissional enquanto pessoa, mas esbarra no institucional”. (Diário de campo – Reunião da

linha de cuidado em SM - 11/05/12). Esta fala demonstra o quanto, na impressão deste

profissional, o seu trabalho deve envolver além do interesse profissional, contar com o apoio

de outras instâncias, como a gestão. Demonstra também a relação dos interesses pessoais às

expectativas profissionais.

6 O bode expiatório é aquele que é sacrificado, é marcado como um signo negativo representativo de tudo que é

ruim. (DELEUZE, GUATTARI, 2000).

Page 17: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

Durante a primeira reunião do CAPS ad Cia do Recomeço com algumas de suas

equipes adscritas, a implicação pessoal dos profissionais ficou evidente também em outras

falas. Uma que chamou atenção foi de um Agente Comunitário de Saúde (ACS) que

questionou sobre a saúde do trabalhador, dizendo que todos se preocupam com a saúde do

usuário, mas ninguém se preocupa com a saúde do trabalhador (Diário de campo – Reunião

com as equipes da AB - 19/09/12).

Lopes (2010) em sua pesquisa com ACS do município de Santa Maria/RS evidenciou

que estes trabalhadores demonstravam sentimento de impotência e sofrimento frente às falhas

nos serviços de saúde, perda de privacidade ao morar e trabalhar no mesmo local, ao conviver

com as questões sociais da comunidade, frustração por não ter conseguido evitar algum

agravo para a saúde do usuário, além da falta de reconhecimento do trabalho por parte da

equipe de saúde e chefia imediata. Outro ponto relatado nesta primeira reunião foi o

sentimento de impotência frente à resolução das demandas dos usuários, e dificuldade de

encaminhamentos.

Os resultados da pesquisa da autora, assim como a fala deste profissional apontam a

importância de pensar e desenvolver o AM também como estratégia de cuidado das equipes,

compreendendo os benefícios dele para o cuidado do usuário, mas também para os

profissionais matriciados. É importante pensar na saúde destes trabalhadores compreendendo

que muitas vezes o cuidador acaba não investindo no autocuidado em função da sobrecarga

do cuidado do outro, medida em que “só se pode doar aquilo que se tem”. CHIAVERINI et.

al. (2011, p.193).

Isto ocorre ao desenvolver práticas que muitas vezes não tiveram contato durante a

formação, e por atuarem no território, com uma equipe composta por profissionais de

diferentes áreas e entrando em contato com diversos problemas psicossociais do usuário. E

também porque a “Estratégia de Saúde da Família trabalha com a família, mas não existe

nenhuma capacitação do Ministério da Saúde que ensina a fazer isso” (Diário de Campo -

Reunião da CM - 04/09/12).

Assim uma das funções dos matriciadores é propiciar espaços de suporte para o grupo,

auxiliando o desenvolvimento e o fortalecimento das equipes e seus membros, principalmente

nas Estratégias de Saúde da Família (CHIAVERINI, et. al., 2011). Deste modo, podemos

pensar que o espaço desta primeira reunião já se constituiu como ação de AM, ao servir como

espaço de escuta destes profissionais.

Page 18: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

4. 4 ANALISADOR – BURACO NEGRO

Este analisador aponta para a fragmentação do cuidado em saúde, foi um dos

primeiros que tomou corpo nesta pesquisa, a partir da fala do profissional de um CAPS:

“Caiu aqui [no CAPS] nunca mais vai pra rede” (Diário de campo - Reunião do grupo

condutor em SM – 11/05/12). Lembro-me da reação que tive ao escutá-la, arregalei os olhos e

escrevi no diário de campo, colocando entre parênteses: buraco negro.

Ainda não conhecia, neste momento, o conceito de buraco negro proposto por

Deleuze e Guattari (2000) definido como algo que captura e não deixa mais sair, um espaço

escuro de onde não se pode emanar nenhum tipo de luz, mas pensei que esta fala dizia de algo

assim, que aprisiona.

Ao longo desta mesma reunião, um profissional da AB mostrou a dupla via desta

relação, demonstrando que a AB não sabe onde está este usuário: “Muitos pacientes não

falam que vão ao CAPS, as pessoas tem autonomia pra não nos falar que vão ao CAPS”

(Diário de campo - Reunião do grupo condutor em SM – 11/05/12).

Fiquei intrigada pensando que relação era esta que os serviços estabeleciam com seus

usuários. De um lado o usuário vai para o CAPS e nunca mais sai de lá, por outro lado a AB

não busca se apropriar do cuidado dele. São duas vias que convergem para a existência do

buraco negro.

Questiono então como sair deste buraco negro? Como este usuário poderá se

relacionar com estes serviços sem que seja prisioneiro do mesmo, ou que ao ser usuário de um

serviço isso não exclua que seja também de outro. Pensar nesta questão é pensar na efetivação

da integralidade do cuidado ao usuário, possibilitando fazer saúde de forma ampliada.

OLIVEIRA (2010) salienta que o investimento no AM é importante para estas construções e

efetivação da rede de atenção em saúde mental.

Devemos lembrar também que este usuário não é responsabilidade apenas do CAPS,

ou da AB, mas que diferente da lógica dos encaminhamentos ou da referência e contra-

referência, deve existir a responsabilidade compartilhada dos casos (BRASIL, 2005).

Page 19: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

5. A COMISSÃO DE MATRICIAMENTO: UM DISPOSITIVO7.

A CM foi eleita como dispositivo por ter se mostrado como espaço importante

potencializador para a construção do AM no CAPS ad Cia do Recomeço. Esta comissão foi

criada pela equipe do CAPS no mês de maio, com a finalidade de discutir e implantar o AM,

foi aberta a todos os integrantes da equipe que tivessem interesse em compô-la. Ao longo

desta pesquisa, o número de participantes foi em média de 10 pessoas durante reuniões

semanais de duas horas, a primeira reunião ocorreu no dia 13 de junho de 2012.

Durante esta pesquisa participei de dezessete encontros da CM e até o final desta

pesquisa, no dia vinte do mês de novembro, ainda estavam ocorrendo as reuniões. O primeiro

encontro teve como pauta as estratégias para organização do matriciamento. Pensou-se tanto

na organização para ir pra fora do serviço quanto na organização de dentro, ficou claro assim

o seu propósito e a preocupação dos participantes com a organização também da rotina

interna do CAPS.

Apesar desta comissão se constituir como espaço de discussão e composição do AM.

Em muitos momentos ela parecia perder o foco, isso era demonstrado nos atrasos,

esquecimentos da reunião, e no envolvimento em outras atividades no horário da mesma, com

discussões de casos de usuários do serviço, prática essa que foi tornando-se comum.

Foi assim por três reuniões seguidas até que percebemos e começamos a falar do modo

como a reunião estava se perdendo e como o resto da equipe não estava respeitando este

espaço. Uma profissional apontou “talvez a equipe não esteja se apropriando do tema do

matriciamento” (Diário de campo – Reunião da CM - 11/09/12). Sugeriu-se então trocar de

sala para reunião e buscar incluir os profissionais que estavam fora da comissão, percebendo

que existe uma “equipe incluída e excluída do matriciamento” (Diário de campo – Reunião

da CM - 11/09/12).

Geralmente essas situações aconteciam após ou durante algum momento difícil do

CAPS. Como no mês de agosto, quando o serviço estava fechado devido à falta de condições

de funcionamento, fato já mencionado neste artigo. Ilustro esse processo com duas passagens

do diário de campo deste período:

Hoje havia certa desmotivação, a reunião aconteceu com uma hora de atraso apesar

de estarem quase todos os presentes, os profissionais e residentes demoraram a chegar e

7 Dispositivo é um arranjo de elementos, que podem ser concretos (ex.: uma reforma arquitetônica, uma

decoração, um manual de instruções) e/ou imateriais (ex: conceitos, valores, atitudes) mediante o qual se faz

funcionar, se catalisa ou se potencializa um processo. (BRASIL, 2008).

Page 20: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

haviam esquecido da reunião, pareciam todos desmotivados, lembrei da ultima reunião onde

o que ficou foi uma discussão a respeito da abertura ou não da demanda, pois já havia sido

encaminhado previamente um documento para a gestão informando que o matriciamento só

irá ocorrer com a obtenção dos recursos necessários. (Diário de campo - 07/08/12).

O CAPS está fechado há uma semana me questiono que motivação existe em uma

equipe que não conta com as condições mínimas para funcionar, que motivação há para

pensar ações de matriciamento? Não parece haver nenhuma. Durante uma hora e meia ficou-

se na mesma pauta [da reunião de equipe] a respeito do atendimento ou não apesar de não

ter as condições mínimas. (Diário de campo - 20/08/12).

O mesmo aconteceu após as primeiras reuniões com as equipes da AB, realizadas nos

dias 19 e 26 de setembro. As reuniões da comissão após esses dias duraram menos tempo, e

também se esvaziaram. O motivo desta reação parece ter aparecido antes mesmo de reunirmos

as equipes da AB quando um profissional demonstrava a preocupação de chamar as equipes

sem ter as condições para realizar o AM “A gente vai os chamar para dizer que tem uma

proposta, mas que não vai funcionar só se vir o carro, se, se e ficamos sempre no se”. (Diário

de campo - Reunião CM - 04/09/12).

Estas reuniões serviram também como espaço de discussão de assuntos que estavam

incomodando a equipe como indica a seguinte fala: “momento de matriciamento, momento de

aliviar tensões” (Diário de campo - Reunião da CM - 06/11/12).

Para lidar com as dificuldades inerentes a esse processo de implantação, e as

dificuldades do CAPS uma alternativa que a equipe utilizou, foi transformar a reunião num

espaço mais agradável. Na reunião do dia 09 de outubro a equipe passou um longo tempo

antes de falar e matriciamento, falando de desenhos animados que eram assistidos na infância.

Outro ponto que se repetia eram os lanches, em praticamente em todas as reuniões havia algo

para comer e chimarrão, chá, café, etc. Essas coisas pareciam servir como estratégia para

tornar aquele espaço mais fluído. Como linhas de fuga, um movimento de ruptura, que frente

à tensão do processo cria uma nova composição daquele espaço, como apontam Deleuze e

Guattari (1999, p. 74) “é nas linhas de fuga que se inventam armas novas”.

A CM delineou-se como espaço de discussão de questões relativas a organização do

AM, mas também como espaço para problematizavam os processos internos do CAPS, de

educação permanente através das leituras e discussões referentes ao tema, etc. Neste período a

equipe apresentou trabalhos científicos no III congresso Internacional de Reabilitação

Psicossocial sobre a temática da construção do apoio matricial.

Page 21: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegar ao fim desta pesquisa não é chegar ao fim do processo de implantação do AM.

Este segue seu fluxo independente deste olhar. Assim esta cartografia buscou apresentar o que

foi possível apreender deste processo.

Acompanhar a implantação do AM mostrou-se como uma jornada longa. O sentimento

de estar perdida, imersa em um turbilhão de informações era constante. Fui desprendendo-me

aos poucos daqueles analisadores iniciais, para poder ter um olhar nômade, acompanhando o

processo e atento às novas construções.

Kastrup (2009) acalentou minhas inseguranças ao falar que algumas vezes o

cartógrafo, tem a sensação de perder o rumo, de que se distanciou do foco e dos analisadores

inicialmente construídos, porém aponta que este é o modo de fazer cartografia. É reconhecer

que ela se propõe a acompanhar processos em curso e suas mudanças. Assim fui sentindo os

afetos na pele, mais especificamente na pele dos dedos que em contato com a caneta dava

letra a estes afetos, fazia-se assim esta cartografia.

Esta pesquisa atentou ao processo de implantação do AM às equipes de referência do

CAPS ad Cia do Recomeço, no município de Santa Maria/RS. Apesar da implantação

propriamente dita, não ter se efetivado ainda, os objetivos da pesquisa de compreender as

dificuldades da implantação do AM, da importância deste para a rede de SM e a forma de

participação do CAPS neste processo foram contemplados neste artigo.

Assim as dificuldades da implantação foram evidenciadas no analisador nomeado

“carro expiatório”, que apontou a fragilidade da relação entre CAPS, SMS e Residência

Multiprofissional. Ficou claro também no capitulo “Que CAPS é este?” que fala sobre a

construção e a história deste serviço.

A importância do AM para a rede de SM foi apontada no capítulo “De onde partiu o

olhar?” que aponta a falta de articulação entre a AB e os serviços especializados em SM,

assim como no analisador “O profissional e o pessoal” onde se atentou a mobilização

subjetiva do trabalho em saúde nos profissionais. O analisador “Buraco negro” também

contribuiu para compreender esta importância, apresentando a fragmentação do cuidado do

usuário de SM no município e evidenciando a importância da preocupação com a saúde dos

trabalhadores desta rede.

Por fim, a forma de participação do CAPS neste processo foi apresentada no

dispositivo “Comissão de Matriciamento”, evidenciando a importância deste espaço como

dispositivo potencializador na construção e discussão desta estratégia.

Page 22: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

De modo geral esta cartografia deu visibilidade, durante o período da pesquisa, ao

processo de implantação do AM do CAPS Cia do Recomeço como uma construção coletiva,

sob ação de diversas redes de força que atravessaram este processo. Além disto, esta pesquisa

apontou a importância de mais estudos sobre a temática do AM, principalmente em relação a

construção da rede de SM e cuidado dos usuários e profissionais envolvidos e a necessidade

de melhorar a articulação com a gestão do município.

Quando eu me for, os caminhos continuarão andando...

E os meus sapatos também!

(Mário Quintana, Velório sem defunto, 1992).

Page 23: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

7. REFERÊNCIAS

AMARANTE, P. (org.) Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. Rio

de Janeiro: Fiocruz, 1995.

AMARANTE, P. Psiquiatria Social e Reforma Psiquiátrica. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1998.

AMARANTE, P. Saúde Mental e Atenção Psicossocial. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2007.

BAREMBLITT, G. Compêndio de análise institucional e outras correntes: teoria e prática.

5ª ed. Belo Horizonte: Instituto Félix Guattari, 2002.

BEZERRA, E. DIMENSTEIN, M. O CAPS no processo do matriciamento da saúde

mental na atenção básica. In: XIV Encontro nacional da ABRAPSO, 2007, Rio de Janeiro.

Anais eletrônicos. Disponível em:

<http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/anexos/AnaisXIVENA/conteudo/pdf/trab_completo

_301.pdf>. Acesso em 17 de junho de 2012.

BEZERRA, E. DIMENSTEIN, M. Os CAPS e o trabalho em rede: tecendo o apoio

matricial na atenção básica. Psicologia ciência e profissão, n.3, v. 28, p. 632-645, 2008.

BRASIL, Ministério da Saúde. Lei nº 10.216, de 06 de abril de 2001. Brasília/DF. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LEIS_2001/L10216.htm> Acesso em: 17 de

abril, 2012.

BRASIL, Ministério da Saúde. SAS. SAPE. Saúde mental no SUS: os centros de atenção

psicossocial. Brasília, 2004.

BRASIL, Sistema Único de Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Comissão organizadora da

IV Conferência Nacional de Saúde Mental – Intersetorial. Relatório Final da IV

Conferência Nacional de Saúde Mental – Intersetorial, 27 de junho a 1 de julho de 2010.

Brasília: Conselho Nacional de Saúde. Ministério da Saúde, 2010.

BRASIL, Ministério da Saúde. Coordenação de saúde mental e Coordenação de gestão da

atenção básica. Saúde mental e atenção básica: o vínculo e o diálogo necessários.

Brasília/DF, 2003.

BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à saúde. DAPE. Coordenação geral de

saúde mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Documento

apresentado à conferência regional de reforma dos serviços de saúde mental: 15 anos depois

de Caracas. OPAS. Brasília, 2005.

BRASIL, Ministério da Saúde. HumanizaSUS: Documento base para gestores e

trabalhadores do SUS, Brasília, 2008.

BRASIL, Ministério da Saúde. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Brasília. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm> Acesso em 17 de abril, 2012.

Page 24: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

CADORE, C.; RAMOS, M. S. O Saúde Mental na Roda como um dispositivo da Reforma

Psiquiátrica no município de Santa Maria. 60p. Monografia de graduação (Graduação em

Psicologia) Departamento de Psicologia, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria,

2009.

CAMPOS, G. W. S. Equipes de referência e apoio especializado matricial: um ensaio

sobre a reorganização do trabalho em saúde. Ciência saúde coletiva, n.2, v.4, p. 393-403,

1999.

CHIAVERINI, D. H. et al. Guia prático de matriciamento em saúde mental Ministério da

Saúde: Centro de Estudo e Pesquisa em Saúde Coletiva, Brasília, DF, 2011.

CUNHA, G. T.; CAMPOS, G. W. DE S. Apoio Matricial e Atenção Primária em Saúde.

Saúde e sociedade, n.4, v.20, p. 961-970, 2011.

DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil platôs - capitalismo e esquizofrenia, vol. 1. 1ª Edição, 2ª

Reimpressão. Rio de Janeiro, Editora 34, 2000.

DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil platôs - capitalismo e esquizofrenia, vol. 3. 5ª Edição, 1ª

Reimpressão. Rio de Janeiro, Editora 34, 1999.

FIGUEIREDO, M. D.; CAMPOS, R. O. Saúde Mental na atenção básica à saúde de

Campinas, SP: uma rede ou um emaranhado? Ciênc. saúde coletiva v.14, n.1, p. 129-138,

2009.

KASTRUP, V. O funcionamento da atenção no trabalho do cartógrafo. In: PASSOS, E.;

KASTRUP, V.; DA ESCÓSSIA, L. (Org.). Pistas do método da cartografia: Pesquisa-

intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2009.

KASTRUP, V.; BARROS L. Cartografar é acompanhar processos. In: PASSOS, Eduardo;

KASTRUP, Virgínia; DA ESCÓSSIA, Liliana (Org.). Pistas do método da cartografia:

Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2009.

LANCETTI, A; AMARANTE, P. Saúde Mental e Saúde Coletiva. In: CAMPOS, G. W. DE

S. et. al. Tratado de Saúde Coletiva. São Paulo: Hucitec; Rio de janeiro: Ed. Fiocruz, 2006.

LANCETTI, A. Clínica peripatética. 4ª ed. São Paulo: Hucitec, 2006.

LOPES, D. M. Q. Prazer, sofrimento e estratégias defensivas dos agentes comunitários de

saúde no trabalho. 110p. Dissertação de mestrado (Mestrado em Enfermagem) Universidade

Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2011.

LOURAU, R. Análise institucional e práticas de pesquisa. Rio de Janeiro: Universidade do

Estado do Rio de Janeiro, 1993.

MERHY, E. E. Público e Privado: entre aparelhos, rodas e praças. In: Acioli. G.G. A Saúde

no Brasil. São Paulo: editora Hucitec, 2006.

Page 25: CARTOGRAFIA DE UMA IMPLANTAÇÃO DE APOIO MATRICIAL · drogas (CAPS – ad) no município de Santa Maria/RS, nos meses de março a novembro de 2012. Essa pesquisa buscou cartografar

OLIVEIRA, G. N. Apoio Matricial como Tecnologia de Gestão e Articulação em Rede.

In: CAMPOS, G. W. , GUERRERO, A. V. P (Org.). Manual de práticas da atenção básica,

São Paulo: Hucitec, 2010.

PAES, L. G. Rede de atenção em saúde mental do município de Santa Maria: com a

palavra os profissionais de saúde. 22f. Trabalho de conclusão de curso (Curso de

Enfermagem) Departamento de Enfermagem, Universidade Federal de Santa Maria, Santa

Maria, 2008.

PASSOS, E. KASTRUP, V. ESCÓSSIA, L. Posfácio. In: PASSOS, E. KASTRUP, V. DA

ESCÓSSIA, L. (Org.). Pistas do método da cartografia: Pesquisa-intervenção e produção de

subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2009.

PORTAL DA SAÚDE. Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde:

Caracterização. Disponível

em:<http://portal.saude.gov.br/portal/sgtes/visualizar_texto.cfm?idtxt=22371>. Acesso em: 07

de julho de 2012.

QUINTANA, M. M. Velório sem defunto. 2ª ed. Editora: Globo, 1992.

RAMOS, L. S. Entre Fios e Dobras: o tecer da reforma psiquiátrica no município de Santa

Maria/RS. 140p. Dissertação de mestrado (Mestrado em Enfermagem) Universidade Federal

de Santa Maria, Santa Maria, 2009.

ROCHA, D.; DEUSDARÁ, B. Contribuições da Análise Institucional para uma

abordagem das práticas linguageiras: a noção de implicação na pesquisa de campo.

Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Letras, linguística e suas interfaces no 40, p. 47-73,

2010.

ROLNIK, S. Cartografia Sentimental. Transformações Contemporâneas do Desejo. Porto

Alegre: Sulina; Editora da UFRGS, 2007.

ROMANINI, M. “Rodas de conversa” sobre a (além da) campanha “crack nem pensar”:

a saga do “super-homem moderno” em tempos de crack.186f. Dissertação de mestrado

(Mestrado em Psicologia) Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2011.

ZAMBENEDETTI, G. A. A construção da rede de atenção em saúde mental no município

de Santa Maria – RS. 90f. Monografia de graduação (Graduação em Psicologia)

Departamento de Psicologia, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2005.