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canto geral 2013 Centro Acadêmico XI de Agosto

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canto geral canto geral 2013

canto geral2013

Centro Acadêmico XI de Agosto

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apresentaçãoOlá, franciscanas e franciscanos!

Quem Somos?

Nós somos o Canto Geral.Esse nome vem de um livro de Pablo Neruda, que canta o combate às opressões em suas mais diversas formas. No final do livro, encontramos: “Me ensinaste a ver a unidade e a diferença dos homens”. Canto Geral por estarmos unidos pelos mesmos sonhos e lutas. De onde surgimos?Nós nos organizamos num contexto de saturação de um antigo modelo político colocado para a faculdade, nos propondo a construir um novo modelo de participação no centro acadêmico, como vocês verão nas próximas páginas de nossa Carta Programa, com a bandeira máxima de intensificação da democracia do XI de Agosto

Por que queremos disputar o XI?O sonho por mudanças estruturais na sociedade é o que nos une. Enquanto estudantes universitários, nosso escopo é a Faculdade. Nesse meio, acreditamos que o Centro Acadêmico deva cumprir o papel político de fomentar debates e discussões, ser um instrumento de transformação política e social.

Com esse instrumento, queremos mostrar nossos pontos de vista, construir novos, com a participação ativa dos estudantes, para que lutemos sempre, além dos muros da Universidade, por tudo aquilo que um dia nos uniu.

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Porque Cantamos - mário Benedetti

Se cada hora vem com sua mortese o tempo é um covil de ladrõesos ares já não são tão bons ares

e a vida é nada mais que um alvo móvel

você perguntará por que cantamos

se nossos bravos ficam sem abraçoa pátria está morrendo de tristeza

e o coração do homem se fez cacos antes mesmo de explodir a vergonha

você perguntará por que cantamos

se estamos longe como um horizonte

se lá ficaram as árvores e céuse cada noite é sempre alguma ausência

e cada despertar um desencontro

você perguntará por que cantamos

cantamos porque o rio esta soandoe quando soa o rio / soa o rio

cantamos porque o cruel não tem nomeembora tenha nome seu destino

cantamos pela infância e porque tudo

e porque algum futuro e porque o povocantamos porque os sobreviventes

e nossos mortos querem que cantemos

cantamos porque o grito só não bastae já não basta o pranto nem a raiva

cantamos porque cremos nessa gentee porque venceremos a derrota

cantamos porque o sol nos reconhecee porque o campo cheira a primavera

e porque nesse talo e lá no frutocada pergunta tem a sua resposta

cantamos porque chove sobre o sulco

e somos militantes desta vidae porque não podemos nem queremosdeixar que a canção se torne cinzas.

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conjuntura

O Centro Acadêmico XI de Agosto tem como grande papel a adoção de uma postura coerente, firme e atuante na transformação dos problemas de nossa sociedade. Com base nesse pressuposto, ele não deve ser encabeçado por uma gestão desmobilizadora e apática, que não possui posições definidas e transparentes, ou pior, que es-conde o que pensa sobre essa realidade. Omitir ou não debater a realidade brasileira é, no mínimo, fechar-se numa bolha e cair na mais profunda in-diferença. Uma gestão do nosso Centro Acadêmi-co deve, logo de início, deixar claro o que pensa sobre a realidade em que vivemos e, junto com a maioria dos estudantes, ter propostas de atuação claras e consequentes, sem ficar no discurso vazio. Então, diante dessa reconhecida necessidade, é importante iniciarmos nossa Carta-Programa com uma análise de conjuntura. Assim, buscamos situ-ar-nos não apenas no momento político em que nos encontramos, mas permitir às franciscanas e aos franciscanos que conheçam melhor nossas opiniões e avaliações.

No último ano no estado de São Paulo, as-sistimos a uma escalada na militarização da socie-dade. A militarização das subprefeituras da capi-tal, em que 30 dos 31 subprefeitos são coronéis da reserva da PM, somada à utilização da repressão policial como método de resolução de conflitos sociais - como nos casos de Pinheirinho e da Cra-colândia - expõe o compromisso irrestrito do Go-verno do Estado com as elites, custe o que custar. Tal legitimação da violência policial não poderia deixar de apresentar seus subprodutos: no primei-ro semestre, os altos contingentes de jovens pobres e negros assassinados nas periferias pelos grupos de extermínio da PM nos deram uma visão dos ranços autoritários não superados em nosso país, onde o aparato de repressão política se mantém intacto e volta-se contra os pobres.

Já em nossa universidade, o modo como nosso REItor João Grandino Rodas lida com as

problemáticas da USP não se mostra nem um pouco mais democrático. Com uma administra-ção pouco transparente e fechada à participação da comunidade acadêmica na tomada de decisões, Rodas expulsa e processa os que se opõem e se manifestam contra o seu projeto de USP, conta-bilizando hoje mais de 70 os processados com base no Regimento Disciplinar de 1972 (que veda “atentados à moral e aos bons costumes” e “ma-nifestações de carater político, partidário, étnico e religioso”).

Enquanto isso, no âmbito nacional, o Go-verno Dilma permitiu, por diversas ocasiões, expor suas contradições. Por um lado, vemos medidas importantes, como a criação da Comissão Nacio-nal da Verdade, serem levadas a cabo. Por outro, as medidas concretas para o aprofundamento da democracia permanecem negligenciadas, como a desmilitarização da segurança pública e a Re-forma Política. O mesmo Governo que garantiu a instituição de Cotas Sociais com recorte Racial nas Universidades Federais reagiu, porém, com negligência e represália (através do corte de pon-tos de servidores) diante das reivindicações de do-centes, servidores e estudantes que se mobilizaram nacionalmente no primeiro semestre de 2012.

Devemos compreender essa greve das fe-derais como um momento importante de lutas no período recente do movimento educacional brasi-leiro. Além de mobilizar professores, estudantes e funcionários técnico-administrativos, pautou o debate da educação, questionando o modelo em curso. Foi um processo importante de mobiliza-ção, que teve como maior mérito colocar em mo-vimento uma nova geração de jovens estudantes que acabaram de entrar nas Universidades e Insti-tutos Federais.

Assim, diante da atual conjuntura, afirma-mos nosso posicionamento de que é papel das e dos estudantes participarem do movimento estu-dantil e se organizarem para lutar por uma socie-dade menos desigual e por uma universidade mais democrática e aberta à população.

“A primeira condição para modificar a realidade consiste em conhece-la.”

Eduardo Galeano

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universidade

Em 2012, a Faculdade de Direito esteve na li-nha de frente da luta pela democratização da Univer-sidade de São Paulo. Através da instauração de uma Comissão da Verdade, a São Francisco comprome-teu-se com o objetivo de tornar efetivo o direito pela Memória e a Verdade Histórica. Compreendemos este como um primeiro passo para a superação de um passado autoritário, que se perpetua na atual estrutu-ra de poder da USP. A aprovação de uma moção na Congregação em favor das cotas raciais, sociais e para deficientes também foi um importante passo para a democrati-zação do acesso ao ensino superior. Hoje, no Brasil, a nossa Universidade é uma das poucas públicas que não adota qualquer tipo de sistema de cotas. A imple-mentação dessa medida afirmativa apresenta-se com uma política fundamental de reparação histórica con-tra a condição de escravidão sofrida pelos negros. Infelizmente, em ambos os casos não vemos um Centro Acadêmico disposto a protagonizar essas

lutas. Acreditamos que mudanças na estrutura uni-versitária jamais partirão da boa vontade dos poucos que ocupam altos cargos de poder. A mobilização das e dos estudantes em torno das pautas que lhe são ca-ras é crucial para que a Universidade seja mais públi-ca, democrática e crítica. Indiferente a tais questões, a atual diretoria do XI de Agosto sequer levou à frente, na forma de ações, a decisão favorável às cotas, tira-da em Assembléia Geral Extraordinária, no primeiro semestre. Assim, não só descomprometeu-se com a organização das e dos estudantes, mas agiu de ma-neira autoritária, ao não levar a cabo uma vontade manifesta de suas e seus associados.

Democratização Da UniversiDaDe

Entretanto, há muito o que avançar na efeti-vação de uma Universidade verdadeiramente crítica, democrática e autônoma. A atual estrutura de poder da USP, altamente concentrada e hierarquizada, não permite ao corpo discente e aos funcionários tomada

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de posição nas decisões acerca dos rumos da USP. Exemplo concreto disso são as eleições para reitor que acontecerão em 2013 - num colégio eleitoral res-trito em cerca de 300 membros (85% professores, 14% estudantes, 1%funcionários), são eleitos 3 represen-tantes a serem escolhidos pelo governador do estado. Em 2013, a Comissão Paritária de Reforma do Regimento Interno da São Francisco iniciará suas discussões. Uma conquista obtida em 2012 através da luta da Representação Discente, tal Comissão pode ser uma oportunidade definitiva para democratizar a estrutura de poder de nossa Faculdade. Acreditamos que tal chance só será aproveitada em todas suas po-tencialidades se o XI de Agosto se propuser a mobili-zar os estudantes para a discussão e para a ação. De-fendemos que tal Reforma institua eleições Diretas e Paritárias para Diretor, no qual o voto de cada cate-goria (estudantes, professores e funcionários) tenha o mesmo peso. Seja por sua História ou por sua posição pri-vilegiada, o C.A. XI de Agosto não deve, igualmente, ser alheio à luta contra os processos políticos abertos pela Reitoria contra estudantes e servidores. Entende-mos que nossa luta local deve avançar, aliada à das e dos estudantes da Universidade, por uma Comissão da Verdade da USP e por uma Estatuinte democrá-tica para a USP. Também entra nesse sentido a luta contra a presença ostensiva da PM no campus Bu-tantã e a militarização da segurança na USP, através da nomeação de coronéis para postos de direção da Universidade.

estrUtUra e relações De trabalho

A situação das bibliotecas de nossa Faculdade é outro assunto que merece destaque na atuação do XI. Resultado das arbitrariedades do ex-diretor e atu-al Reitor João Grandino Rodas, a condição precari-zada de suas instalações e a restrição de acesso a não alunos são pontos que merecem prioridade da gestão do Centro Acadêmico. Em 2012, vimos a adesão não discutida do XI de Agosto ao projeto de captação de recursos para a ‘Nova Biblioteca”. Acreditamos que episódios como o das Bibliotecas, em 2010, se origi-nam exatamente da relação de desmando do investi-mento privado dentro da Universidade Pública. Não é papel da USP atender aos interesses privados que, inevitavelmente, acompanham tais recursos. Qual-quer espaço para o debate de tais questões foi sonega-do pelo XI de Agosto durante 2012, e não fosse a atu-ação da Representação Discente tal questão sequer teria sido enfrentada. Exigir da Universidade condições estruturais para o bom desempenho e vivência acadêmica das e dos uspianos é papel do movimento estudantil como

um todo. Para além das bibliotecas, outro bom exem-plo do caráter fundamental da permanência estu-dantil é o Bandeijão. Vimos, no primeiro semestre, a proibição de acesso a estudantes de outros cursos no Bandeijão da Faculdade, algo problemático da pers-pectiva da permanência universitária. Os problema de superlotação do Bandeijão devem ser respondidos não com restrições de acesso, mas com a ampliação espacial e do horário do oferecimento do serviço. No período noturno, por exemplo, há pessoas que não conseguem jantar pelo horário restrito de funciona-mento. Outro ponto crucial são os trabalhadores ter-ceirizados do serviço noturno do bandeijão, que rea-lizam o mesmo serviço dos funcionário do diurno e recebem 1/3 do salário destes, além da precarização pela inconstância do vinculo empregatício. Medidas como estas, de permanência estu-dantil, asseguram a gratuidade ativa do Ensino Supe-rior público, que permite a estudantes de baixa renda se manterem frequentando seus cursos de graduação na USP. No caso da São Francisco, a Casa do Estu-dante é um instrumento importante de garantia des-sas condições mínimas. No início desse ano, a Casa dos Estudantes sofreu com a cessação do repasse do XI, além da busca constante por meio do Orçamen-to Participativo de recursos para terminar a reforma necessária da Casa. Um Centro Acadêmico não pode se furtar da responsabilidade com essa moradia es-tudantil que já permitiu a centenas de franciscanas e franciscanos cursarem a Faculdade de Direito e que está ameaçada pela negligência das gestões do XI. Também deve ser preocupação de nosso C.A. lutar por mais vagas nas creches da USP, medida funda-mental para a garantia de condições de estudo e tra-balho para estudantes, funcionárias e professoras que tenham filhas e filhos em idade pré-escolar. Sobre a questão trabalhista, além dos traba-lhadores do bandeijão, existe um ponto importante que há algumas gestões se discute, mas nunca foi resolvida, que é a situação dos trabalhadores tercei-rizados contratados pelo XI, especificamente a con-dição dos seguranças do porão, maiores alvos da po-lêmica. É fundamental que o XI tome uma posição ativa nesta discussão pela reivindicação dos direitos trabalhistas dos trabalhadores e trabalhadoras tercei-rizados, já que as condições de trabalho flexíveis se mostram prejudiciais a eles e elas, por conta tanto do salário como da ausência de garantias trabalhistas fundamentais. Por este motivo, é dever do XI exigir as garantias, perante as empresas contratadas, de todos e todas que possuem um vínculo empregatício com ele, sempre buscando o melhor para os trabalhadores, algo que não foi discutido e nem exposto o suficiente pela gestão atual.

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modelo de Centro Acadêmico O Centro Acadêmico XI de Agosto tem como máxima qualidade ser indissoci-ável à ideia de luta. Essa bandeira não foi conquistada em pouco tempo, mas, sim, re-sultado de um histórico marcante de parti-cipação ativa nas questões sociais que atin-giam o seu entorno e a sociedade. Jamais se resignou a isolar-se da sociedade, nunca se conformou em não tomar partido, com o não agir, com o não mudar.

É justamente isso que torna o XI de Agosto em saudoso para os mais velhos, confundido até com a própria Faculdade de Direito do Largo São Francisco para os menos inteirados e é por isso que não nos conformaremos com a redução do nosso Centro Acadêmico a um mero prestador de serviços. É por isso que não nos contenta-remos com um XI isolado, alienado, cuja função primordial é a realização de festas. É, também, por isso, que reivindicamos o C.A. como instrumento de transformação político-social.

Assim, pensamos e repensamos o que poderia ser feito para reaproximar o Centro Acadêmico da vida cotidiana da faculda-de. Nossas ideias dividem-se em dois eixos: mudanças externas à gestão, e mudanças que propomos internamente à gestão.

Externamente, acreditamos que o primeiro passo é a realização de reuniões mensais em que a gestão se abra para dis-cussão com a comunidade. A pauta da reu-nião será lançada com antecedência, para a construção qualificada das ideias e pro-postas. Além disso, por entendermos que o XI deve servir de instrumento, ou seja, base material para o movimento, o caixa do CA deve servir para a manifestação política dos estudantes. É imprescindível uma proposta de Cota Livre de Xerox, já que é uma ma-neira muito eficiente de possibilitar isso.

Acreditamos ser necessário, também, fazer discussão sobre uma Estatuinte para

transformar os artigos do Estatuto do XI de Agosto que dispõem sobre os cargos esta-tutários. Isso porque entendemos que o CA XI de Agosto deve ser construído pela maio-ria dos estudantes e não somente por uma gestão verticalizada de 10 pessoas. Além do modelo atual não responder às demanda do dia-a-dia do XI (há cargos sem função práti-ca, por exemplo), reforça um personalismo que leva a uma discussão política na base de picuinhas e não a uma discussão focada nos programas apresentados.

O atual modelo de gestão do CA impede um bom desenvolvimento social--político interno e externo da faculdade. Enquanto a estrutura do XI estiver buro-cratizada com pautas e eventos que podem ser comissionados, faltarão espaços para as discussões e ações para defender interesses que as/os estudantes julguem prioritários. Por isso, devemos incrementar uma política que reforce a força das franciscanas e dos franciscanos em relação ao CA.

Internamente à gestão, além do cré-dito ao modelo horizontal já exposto, acre-ditamos ser essencial descentralizar as de-liberações por meio de comissões, as quais já estão previstas no Estatuto, contudo, na prática não têm sido construídas.

Destarte, propomos um modelo que destaca a execução das atividades de forma qualitativa e democrática. A Diretoria se tornará uma DIRETORIA GERAL, onde todos serão diretores do CA com iguais responsabilidades e divididos democratica-mente em suas funções.

Além disso, propomos a criação de Comissões, que terão a participação de es-tudantes, vinculados formalmente ou não à entidade, desenvolvendo propostas que serão apresentadas e realizadas. Cada um desses espaços terá autonomia para reali-zação dos encaminhamentos, cabendo aos Comissionados Responsáveis reportar aos

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demais membros da Diretoria sobre o anda-mento das ações. A criação das comissões poderá se dar pela apresentação de propos-tas pelos estudantes ou pela coordenadoria do CA. Estas Comissões poderão ser per-manentes, ou temporárias.

Uma Coordenadoria permanente será a de comunicação, que terá como atri-butos cuidar do Jornal XI de Agosto e ser responsável por aquilo que tange a comu-nicação do CA ao restante da Faculdade. No que toca cuidar no Jornal XI de Agosto, esta comissão irá propiciar a volta do Jor-nal, que irá desenvolver um espaço comu-nicativo amplo e democrático para todos os estudantes em suas publicações mensais.

As comissões temporárias serão aquelas que terão prazo de validade, ou seja, durarão até que seu objetivo de criação seja alcançado. As festas que tem vínculo com CA serão feitas por meio delas. Nesta organização temporária, qualquer estudan-te poderá participar e organizar as festas. Estas comissões terão total autonomia para realizar as festas que desejarem.

Além disso, para a tesouraria, fare-mos reuniões abertas, a fim de encaminhar gastos extraordinários. Despesas que pas-sem de determinada faixa devem ser apro-vadas por duas categorias: o Conselho Fis-cal e a Comunidade Acadêmica em geral. O Conselho Fiscal, por ser um instrumento democrático que pode ser fortalecido com esse projeto. A Comunidade Acadêmica, por ser ainda mais democrática, por ser a maior interessada na execução responsável dos projetos. Nosso objetivo é garantir a participação das/os estudantes nas receitas do XI de Agosto, inclusive, através do forta-lecimento da ideia de orçamento participa-tivo.

O Orçamento Participativo é um ins-trumento que deve ser fortalecido por qual-quer gestão que se proponha democrática. Nele, a/o estudante tem a possibilidade de decidir a aplicação da verba do XI de ma-neira direta: primeiro, porque possibilita a inscrição de qualquer projeto; segundo,

pois os discute e os disputa junto à comuni-dade acadêmica; terceiro, porque é votado pelo conjunto das e dos estudantes; e por último, os próprios estudantes realizam os projetos vencedores.

Outro ponto importante é integrar formas diversificadas de Movimento Estu-dantil, para que possam realizar projetos que vão “além dos muros da Universida-de”. Para isso, propomos, por exemplo, o fortalecimento do Fórum de Extensão e da Frente Feminista, espaços que cumprem a função de articular as extensões da faculda-de, e o consequente envolvimento de mais pessoas. Também, é preciso que o XI par-ticipe, construa, envie delegados e observa-dores aos espaços do movimento estudantil nacional, como a ANEL, UNE e FENED.

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raça, gênero e sexualidade

Quando o movimento estudantil se propõe a lutar pela democratização real da socie-dade, é importante entender as condições estrutu-rais de sua desigualdade e ter práticas condizentes com sua superação. O combate ao racismo, ma-chismo e homofobia cotidianos, seja desnaturali-zando práticas recorrentes, seja buscando conquis-tas nas políticas públicas ou avanços legislativos, neste sentido, é parte indissociável de um movi-mento estudantil coerente com o desenvolvimento democrático do Brasil.

Dos mais de 500 anos de história do Bra-sil, quase 300 foram sob o regime escravagista, se-guidos de outras dezenas de anos com legislações e políticas racistas de restrição de direitos civis, como ao acesso à educação pública. Hoje, a cada três jovens mortos pela polícia, dois são negros e, segundo o relatório anual da desigualdade racial (UERJ), gestantes negras recebem menos aneste-sia. Segundo a revista Exame (02/06/2012), ain-da, afrodescendentes são menos de 1% em cursos de ponta da USP, enquanto são 34% no estado de São Paulo.

Nesse sentido, a mobilização dos estudan-tes deve se somar à luta pelas cotas, seja pressio-nando pela aprovação do PL 512 na ALESP e pela bandeira levantada pelo movimento estudantil da USP em seu último Congresso, seja ajudando a Frente Pró Cotas da USP a construir um posição favorável do Conselho Universitário, seja lutando contra o genocídio da juventude negra que hoje se opera nas periferias do Brasil, seja atuando pelo fim do auto de resistência que encobre homicídios cometidos pelas polícias militares, ou pela aber-tura de tal tipo de corporação a intervenção civil através de sua desmilitarização.

Somado a essa concepção hegemônica de sociedade pautada pelo critério de diferenciação social, o gênero também aparece como elemento discriminatório. Vivemos em uma sociedade histo-ricamente patriarcalista, na qual as mulheres são, desde o nascimento, ensinadas a serem dependen-tes e subservientes e os homens são educados a naturalizar a objetificação do corpo feminino, fo-mentando uma relação de submissão, nas relações familiares, de trabalho ou sexuais. No cenário político, a possibilidade de inversão desse cenário se faz possível por mudanças não apenas compor-tamentais, mas eminentemente estruturais, como a luta pela inserção cada vez maior das mulheres na política, movimento que não é espontâneo e deve ser reivindicado. Além disso, ações de cará-

“Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”

Rosa Luxemburgo

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ter afirmativo são cada vez mais necessárias, não só como forma de reverter o status quo, mas vi-sando principalmente trazer a reflexão quanto às construções e desconstruções do nosso modo de pensar e agir.

O machismo, que se traduz tanto em atos de violência e ódio, como em práticas cotidianas, tradições e posicionamentos, reflete diretamente não apenas no que tange ao gênero, mas também em gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros. Num cenário em que a heteronomatividade é tida como padrão social, a existência de pessoas que não se adequam a essa ordem falseada faz com que se utilize da discriminação como forma de coerção. Não é por meio da tolerância e da mera aceitação de existência de demais orientações e identidades sexuais que chegaremos a uma sociedade suficien-temente livre, justa e plural, mas sim pela luta diá-ria e paulatina contra qualquer lógica com cunho machista, heteronormativo, homofóbico, lesbofó-bico e misógino. Atualmente, o trabalho desenvolvido na Faculdade por espaços como o Dandara, a Frente Feminista da FD e o GEDS, vem se mostrando bem sucedido, não só por trazer ao cotidiano es-tudantil debates, estudos e atos que apontam para uma sociedade menos díspar, como pôde ser per-cebido em temas como o papel da mulher negra na sociedade e a possibilidade de alteração de nome em registros públicos civis para trangêneros, mas também por possibilitar que as alunas e os alunos possam se apropriar destas pautas e se inserirem, ao seu modo e à sua disponibilidade, no contraflu-xo de uma sociedade desigual e discriminatória.

Devemos avançar ainda mais na luta con-tra as opressões, uma vez que ainda se identifica na Faculdade expressões homofóbicas e hetero-normativas, que ao longo do ano foram pelo me-nos identificadas em três situações diferentes no espaço público da faculdade; além de expressões machistas e racistas, em episódios como a contra-tação de mulatas passistas por ocasião do Grito do Peru, único momento do ano em que a vinda da mulher negra para a faculdade é valorizada, sendo sujeita a assédios e constrangimentos. Ademais, a luta contra os cartazes e festas machistas se insere no combate da ideia do corpo da mulher enquanto mero objeto sexual. Na ver-dade, ela deve ter autonomia sobre o próprio cor-

po, usar a roupa que quiser, sem ser culpabilizada por abusos sexuais cometidos por muitos homens nas festas, na rua, no transporte, etc. e poder deci-dir sozinha, sem a ingerência do Estado, acerca do momento de ser mãe. Neste sentido, posicionamo--nos a favor de bandeiras como a legalização do aborto, assim como do direito de ser mãe e ter o devido apoio para tal, como o acesso à creche para que possa trabalhar e estudar. É compromisso de todas e todos romper com essa estrutura, e não há rompimento que aconteça sem a mudança das atitudes e posicio-namentos cotidianos. O que buscamos não é o apagamento das características específicas de cada grupo ou a homogenização de todas e todos en-quanto humanos, mas sim o tratamento igualitá-rio, com o conjunto de características e opções que lhe fazem único. Lutamos por respeito e aceitação das escolhas individuais. Lutamos pela compreen-são de que ser negro ou ser branco, ser homem ou ser mulher, ser bissexual, homossexual, heterosse-xual, transexual ou travesti, são, sim, característi-cas definidoras de quem o indivíduo é, mas não devem, em hipótese alguma, serem os critérios de-finidores da posição social que o indivíduo ocupa.

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centro

O Centro Histórico de São Paulo, que já foi considerado uma das áreas mais nobres e eferves-centes da cidade, hoje se encontra em um cenário bem diferente. Marcado fortemente pela exclusão social, evidenciada pelo grande número de pesso-as em situação de rua e pelo aumento do numero de cortiços e habitações precárias, passou a ser vis-to por muitos como um espaço degenerado. Hoje o centro enfrenta uma situação que muitos chamam de deterioração, principalmente pela, cada dia mais visível, questão social. A partir do momento em que o centro deixou de ser ali-mentado pela população de alta renda, que retirou de lá suas lojas, escritórios e residências em res-posta à ocupação do espaço pela maioria popular que ali trabalha, criou-se a idéia de “decadência”, de que o verdadeiro centro deslocara-se para a re-gião da Av. Paulista. Esse deslocamento acaba por transferir também os empregos e os espaços públi-

cos, ou seja, resulta no abandono pelo poder públi-co dos habitantes da região do centro histórico. Sendo assim, o que se tem hoje? Para além de uma questão de estética ou de segurança públi-ca, entendemos que o centro sofre com uma ques-tão humanitária. Há, segundo dados da Secretaria Municipal de Assistência Social, 14.666 pessoas em situação de rua na cidade, grande parte de-las concentradas no centro, sendo que a maioria não dorme em albergues. Além disso, é gritante a violência sofrida por esta população, resultada de uma política de repressão policial que vem no lugar um plano urbanístico que abarque os mora-dores de rua. Nós que compomos a chapa Canto Geral, em conjunto com diversas entidades que atuam na Faculdade e com o Movimento Nacional da Po-

Ato-vigîlia - Largo São Francisco

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pulação de Rua tivemos a iniciativa de organizar o Ato-Vigília “Segurança Sim, Violência Não” no Largo de São Francisco. Tal mobilização veio em resposta à “Operação Espantalho” promovida pela Prefeitura, que colocou um cordão de isola-mento e a Guarda Civil Metropolitana (GCM) em volta do prédio histórico para impedir que os moradores ali dormissem sem nenhuma compen-sação assistencial, mais um reflexo da política de exclusão em curso no espaço público da cidade de São Paulo. A contradição da atual política de gestão do centro mostra-se ainda mais contraditória quando se analisa a situação urbanística da cidade. Em contraposição ao número de pessoas que estão em situação de rua, são pouquíssimas as moradias regularizadas no centro de São Paulo. Disso po-demos inferir que a política habitacional em ação hoje não tem nenhuma articulação com o orde-namento territorial ou com uma política fundiária que lhe dê suporte. A terra bem localizada vem sendo liberada para grandes empreendimentos, aumentando significativamente as remoções de assentamentos populares e até mesmo moradias já regularizadas. Sob a justificativa de baratear os custos das obras e “limpar a imagem da cidade”, institutos legais que garantem a posse da terra vêm sendo amplamente ignorados. A ausência de políticas públicas efetivas, tais como a construção de moradias populares, a abertura de albergues e o treinamento de mais equipes de assistência social, permite que o cená-rio do centro de São Paulo seja cada vez mais o da segregação espacial. A violência legitimada pelo Estado vem crescendo, na forma da agressividade policial, que em geral atinge aqueles que estão em maior vulnerabilidade: os pobres. Nos parece infundado que a existência de aproximadamente 400 mil edifícios desocupados, a maior parte no centro expandido, passe desa-percebida pelas autoridades. Fechados, muitos desses imóveis desvalorizam o entorno, além de acumular muitos anos em dívidas com a prefeitu-ra, que calcula pelo menos R$4,5 bilhões a receber de IPTU. Esta situação atende à lógica da especu-lação imobiliária, que hoje rege a organização da cidade, mantendo edifícios desocupados até que possam ser vendidos de forma a gerar enormes lu-cros a seus proprietários.

É, então, urgente e necessário que pense-mos numa estrutura urbanística para o centro que permita a circulação de pessoas, que abarque mo-radia para a população de São Paulo, e que forne-ça os serviços necessários para uma vida digna. O espaço público deve ser construído por todos os cidadãos e todas as cidadãs, de forma democráti-ca, participativa e transparente.

O que o Centro Acadêmico XI de Agosto pode fazer?

A Faculdade contempla grupos que tem imenso acúmulo científico e político no tema urba-nístico-social: entidades como o Núcleo de Direi-to à Cidade, a Clínica de Direitos Humanos Luiz Gama e o Serviço de Assistência Jurídica (SAJU). Cabe, portanto, a um Centro Acadêmico que se propõe a trabalhar pela solução dos problemas do centro, a atuação dialógica constante com tais en-tidades, e com outras que venham a se envolver com o tema, por meio de trocas de informação e apoio em ações práticas e pela construção conjun-ta de uma Comissão de Centro permanente. Tal relação de proximidade também deve existir, na medida do possível, com os diversos movimentos sociais que atuam nessa pauta.

Uma Comissão de Centro permanente e atuante pode ser um espaço de formação e de atuação para articular ações com os movimentos sociais urbanos, pautar junto deles as suas deman-das e entender o papel do estudante universitário nessa luta. Para nós, é essencial que exista uma atuação em conjunto com os movimentos sociais e as entidades que atuam nessa área, permitindo uma abordagem mais sofisticada do tema. É fundamental que o XI de Agosto se comprometa a manter este espaço, trazendo con-vidados para as discussões, apoiando eventuais propostas que venham a surgir, mobilizando os estudantes da Faculdade para os atos com os mo-vimentos, abrindo espaço para os movimentos na dinâmica da nossa Faculdade, ou seja, reivin-dicando de fato essa pauta. Como uma entidade que tem alta capacidade de influir na sociedade, é dever do Centro Acadêmico encampar novos pro-jetos junto dos movimentos sociais para o centro, pressionando o poder público a garantir novas po-líticas públicas que mudem a situação atual.

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fazem coro a esse Canto:

AlexAndre de ChiArA

AmAndA PAulistA

AnA FlorA Pontes

AnA lAurA PongeluPPi

AnA PAulA sun

AnA PAulA tAvAssi

André estevez CArdozo de

mello

André PrAdo

Andrew Burt

AnnA PAulA sun

Arthur rAmos

Augusto CArAPiá

BeAtriz diniz

BrunA nery

CAio ortegA

CAmilA sátolo do CAnto

CArlA vitóriA

CArmen BrAsolin

CArolinA oliveirA

dAniel FABre

dAnilo Cruz

dAnnylo teixeirA de sousA

déBorA grAmA ungAretti

diogo FAgundes

ériCA meirelles

FáBio dutrA

FáBio mArtins

FáBio tiBiriçá Bon

FrAnCesCo sCotoni

gABi mAChAdo

gABriel Borges

gABriel lAndi FAzzio

gABrielA JunqueirA

gABrielA Justino

gABrielA mAChAdo

gABriellA guimArães

giovAnA mArtins

gisele gArCiA treviso

guilherme Azevedo

guilherme meirelles

guilherme rossi

gustAvo BertolA

helenA romerA

heloísA limA

igor moreno

ivAn de FrAnCo

JAde PereirA

JéssiCA nAdiA CAvAlCAnte gomes

dA FrotA

João Pozzer

João terrA

José eduArdo segAtto

JuAn rodrigues de PAulA

JuliA lg FerrAz

JuliA romAnello

Kemil rAJe JArude

lArissA CAstro ChryssAFidis

leAndro mAChAdo

liA PessoA

luCAs BiCAlho CArdoso

luCAs BulgArelli

luCAs mAuríCio

luCAs violA CArtoCCi

luCCAs gissoni

luCiAnA Ayuso

mAiA AguilerA

mAírA Pinheiro

mAnuel lirA

mArCo FilgueirAs

mAriA CArolinA donzelli

rosseto

mAriAnA teresA gAlvão

mAtheus FAlCão

mAtheus mAiA

mAtheus riBAs

mAtheus sAntoro Bogre

miChel lutAiF

moniCA Coelho

ninA CAPello mArCondes

otávio ConstAntino

PAtríCiA meghini

PAulA zugAiB destruti

PAulo de CArvAlho «Chess»

yAmAmoto

Pedro Coutinho

Pedro ivo gomes

Pedro luis CAmArgo

PAulo mACCAioli “Ph”

Pedro muller BezerrA

vAsConCelos

Pedro Pinto

rAFAel FunAri

rAFAel loCAtelli tAtemoto

rodrigo dAntAs vAlverde

rodrigo mAluF

rodrigo zAlCBerg

sAylon PereirA

tAinã góis

tAiro esPerAnçA

thAís nAsCimento

theodoro sCott guedes PereirA

tiCiAne nAtAle

viCtor lAgo

canto geral