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ORGÃO INFORMATIVO DA COMISSÃO MINEIRA DE FOLCLORE – CMFL – 04-2018– Outubro - Dezembro - 2018 CARRANCA

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ORGÃO INFORMATIVO DA COMISSÃO MINEIRA DE FOLCLORE – CMFL – 04-2018–

Outubro - Dezembro - 2018

CARRANCA

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Editorial

De tudo um pouco...Míriam Stela Blonski

PresidenteOs últimos dias foramricos em experiênciasagradáveis, emconhecimento, e acimade tudo, de percepçãodo quanto o tempoatua nas circunstânciasque vivemos hoje. Porisso mesmo é preciso

registrar a história, para que as novas e próximasgerações saibam que o que o que elas são e virãoa ser, dependem e supõem o passado. Se nãoregistrarmos o que vivemos, tudo se apagará,passando como todos nós, um dia, tambémpassaremos.Resgatar a história é legar à posteridade o registrode acontecimentos, a trajetória do homem à procurade si mesmo, das suas raízes, as inúmeras formascom que ele busca o enfrentamento da realidade.É falar de sonhos e ideais. Mais do que isso, sepossível, é falar dos passos de pessoas quemostram a sua cultura e a do seu povo,demonstrando, com isso, o seu credo maior, queé a prática e a vivência de coisas em que eleacredita, tem fé. É perceber ,na fé e na oraçãocontrita, ao cair da tarde, a manifestação íntimada sua súplica a Deus, por força, coragem ebênção, tanto nas horas de amargura quanto nasde júbilo. É reconhecer, nos rodopios do Boi daManta e seu filhinho, acompanhados dos versosritmados do porta-voz, dos passos cadenciadosdos membros da roda, os fragmentos do folclorede um povo. Práticas que se repetiram, como emanos anteriores, com grande entusiasmo, e temoscerteza de que serão perpetuadas enquanto viver

um só daqueles foliões, uma só daquelaspessoas, que têm a cultura no sangue, nocoração, no brilho do olhar.Tudo isso foi apreciado e vivido no pequenodistrito de São Gonçalo do Rio das Pedras,por ocasião do Encontro de Folclore, noperíodo de 15 a 18 deste, e que merecerãonovas abordagens da nossa parte, pois oexperienciado não deverá ser esquecido pornenhuma pessoa que lá estava.Nosso agradecimento a todos os moradoresde São Gonçalo do Rio das Pedras, aosvisitantes, enfim, a todos os que comungaram,naqueles dias, da cultura viva de um povo, quepor isso mesmo pode considerar-se feliz.

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ArtigosUm certo Romeu Sabará, história social eintelecto material vocacionada para aAntropologia (?).

José Moreira de SouzaTenho em mãos a obra de Romeu Sabará, Memórias deum antropólogo na UFMG. Esta obra, eu já imagino, serálida não apenas pelos eruditos da academia de todo o Bra-sil, mas chegará ao povo. Cada um com suas razões.Duas linhas de raciocínio se insinuam neste momento.A primeira preceitua um princípio da lógica aristotélico-tomista: “Conclusio sequitur peiorem partem”, o que tradu-zido quer dizer: “A conclusão de um raciocínio lógico váli-do segue ou obedece a pior parte”. Exemplo: Todo homemé mortal.// Ora, Romeu é homem. // Logo, Romeu é mortal.Acontece que, na conversa normal, as conclusões seguema pior parte em outro sentido. Os ouvintes selecionam daargumentação, ou do encadeamento dos discursos, os quelhe parecem mais convenientes e não o que é mais lógico.Nisso nos encontramos no reino da Retórica: o discursopara vencer o outro e não o discurso para estabelecer ver-dades no universo da comunicação a partir do acordo doque é comum ao diálogo.Segunda linha: prendo-me ao que se tornou clássico no queficou conhecido como a positivismusstreit. Trata-se de umaconversa programada na Alemanha entre Karl Popper eTheodoro Adorno. Popper foi convidado para a conversaque seria encenada como uma disputa entre o Positivismoque- se supõe - ele incorporaria e Adorno que deveria ves-tir as armas da dialética hegeliano marxista.Pois bem, para obedecer à lealdade das disputas cavalhei-rescas, Popper enviou com antecedência todas as teses quedefendia com o objetivo de que Adorno preparasse as ar-mas próprias ao combate com argumentos dialéticos.Posicionados na liça, para espanto da plateia, Adorno seabraçou a Popper e ninguém presenciou a batalha anuncia-da.Indignado – não se encontrou a pior parte de nenhum doslados – Ralph Dahrendorff resmungou em artigo publicadomeses após a luta que não aconteceu: “Mas isso pareceu-me conversa de compadres”.Desqualificados os contendentes, a luta se desenvolveu emmeio à plebe. Dois autores cumprem as regras do debateapós a convocação de Ralf Dahrendorf: Hans Albert, ima-ginando empregar as armas de Karl Popper, e JürgenHabermas, as não utilizadas por Theodoro Adorno.Nem Popper, nem Adorno se importaram por esse peque-no espetáculo de encenação da luta entre mouros e cris-tãos. Contudo, em certo momento, Popper se indignou coma petulância de um cavaleiro iniciante. Era o jovem Habermasque, segundo ele, mal compreendia as armas de um debateacadêmico. Logo chamou o menino à iniciação e mostrou

que, no mínimo Adorno havia fugido à luta e capitulado.Para Habermas, Popper ousou dar um conselho: “abando-ne os fogos de artifícios verbais, diga o que tem a dizer paraser bem compreendido”.Entendo que foi a partir daí que Habermas caminhou emdireção à Teoria da Ação Comunicativa, na qual duas cate-gorias assumem posição de alta relevância “acordo ou in-fluência como mecanismos de coordenação da ação.” Aênfase à explicitação da convicção do que se anuncia é achave para qualquer debate, assim eu entendo, o que geraquerelas quando o debate envereda pela influência semexplicitar as bases do acordo.É com base nesses dois princípios que irei comentar essabela e ousada obra do professor doutor Romeu Sabará daSilva. De um lado, como alguns leitores privilegiados seorientaram pelo axioma aristotélico da conclusão obedecerao comando da “pior parte” e, de outro, o que o texto doRomeu enuncia como base do acordo para o debate.

Explorando pior parteRomeu enviou as primeiras versões do Memórias de umAntropólogo da UFMG [este era o primeiro título da obra]para leitura e apreciação crítica de algo como 12 pessoas;outras leram e comentaram verbalmente com o autor suasentrevisões e reparos. Acredito que uma roda privilegiadade duas dezenas puderam apreciar versões em diferentesestádios dessa obra em gestação.Há em comum a todos os leitores haverem convivido como autor em diferentes momentos. Alguns como colegas,outros como alunos; há os que foram ou se tornaram com-panheiros de militância, e também parentes. Acredito haveralgo em comum na escolha: todos admirariam Romeu sobalgum aspecto e estariam dispostos a contribuir criticamen-te com o cuidado de antecipar a leitura de um público des-conhecido.Os principais comentários insistem no que não se deve pu-blicar. Destaco dois deles. O primeiro que julga inconveni-ente abordar conflitos que explicitem e focalizem questõesde gênero, tendo em vista o momento atual no qual as mu-lheres alcançam, finalmente, algum respeito na luta pela igual-dade. O segundo que recomenda que relações de “foroíntimo”, tais como conflitos conjugais, não merecem serabordados numa obra cujo propósito é narrar, do ponto devista do sujeito, as peripécias de se afirmar no exercícioprofissional, no caso, o antropólogo.Em minha interpretação, esses leitores enfatizam que a mul-tidão de novos leitores que terão acesso à obra irá se pren-der à sua pior parte e abandonar a “maior” que dá consis-tência aos argumentos. Ficariam presos ao “Romeu é mor-tal” e se esqueceriam que “Todo homem é mortal”, sendoexatamente por isso que Romeu é mortal.Contudo, tal leitor terá sempre presente que, como defen-de o autor, trata-se das memórias de um antropólogo. O

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Artigostermo um é a principal chave da leitura. No reino dos quese tornaram antropólogos, haverá diversidade de percur-sos. Porém antropólogo é uma categoria sob a qual seclassificam saberes e esses devem se diferenciar de outrossaberes seja para promover diálogos, disputas, seja paraimpor silêncios. Enquanto um impede generalizações, an-tropólogo exige compreensão do que há de comum napredicação das memórias. Na diversidade de caminhos,há que se admitir convergências. O alvo é tornar-se antro-pólogo. Uma possível polissemia de ser antropólogo criarápercursos divergentes e enviará o leitor pelos caminhos daretórica.Nesta parte, vou me dedicar a explicitar o plano da obrapara retirar dela o enunciado maior e compreender o enca-deado de argumentos menores em que se inserem e queresultaram em recomendações de alguns leitores privilegia-dos.Vamos a alguns encadeamentos necessários:Primeiro conjunto de argumentos:Todo antropólogo é Homem [Homem tomado generica-mente, ou Homlher, segundo os preceitos da igualdadede gêneros]Ora, todo Homem [ou Homlher] tem direito a garantir aprópria subsistência pelo exercício de sua profissão.Logo: todo antropólogo tem direito a garantir a própriasubsistência.Segundo conjunto:Todo antropólogo tem direito a garantir a própria subsis-tênciaOra, Romeu é antropólogo,Logo: Romeu tem direito de garantir a própria subsistên-ciaTerceiro conjuntoTodo exercício profissional obedece a princípios quedeterminam o cumprimento correto dos deveres daprofissão.Ora, antropólogo é um exercício profissional,Logo: Existem preceitos que determinam o cumprimentocorreto dos deveres profissionais do antropólogo.Quarto conjuntoTodo homem tem deveres externos ao exercício profissi-onal os quais podem favorecer ou dificultar o corretodever desse exercício.Ora, Romeu é um profissional e também tem deveresexternos ao exercício profissional.Logo, Romeu tem deveres externos que favorecem oudificultam o correto exercício de sua profissão.Eis, simplificadamente, o encadeado de argumentos que semostram no plano da obra. O primeiro capítulo discorresobre as peripécias de se tornar um antropólogo: “Missio-nário ou antropólogo?” Temos nisso as encruzilhadas daescolha profissional e suas determinações.

É um capítulo intrigante, escrito de trás para frente. Romeujá é um antropólogo e escreve como chegou a ser o que é,acreditando numa determinação do passado. Pois não é queestava escrito que meu destino era ser um antropólogo? Poisnão é que estava escrito que eu deveria fazer escolhas nes-sa direção?É muito interessante a alternativa “missionário” ou “antro-pólogo”. Há algo em comum nisso. A trajetória do Romeucomeça com o pai construtor de igrejas. Emerge o sonho:vou construir igrejas. Pergunto, por que essa criança nãopensa: Quando eu crescer vou ser construtor de tudo quepossa ser construído? É a igreja que encanta o menino. Osignificado de ser construtor se aperfeiçoa. Há um homemque habita o templo, esse homem direciona as mentes. Deconstrutor de igrejas, Romeu passa a querer ser dono daigreja. Quer ser padre. Tudo bem de acordo com o percur-so intelecto-material. A criança se torna ajudante do padree não ajudante de pedreiro.Este leitor se pergunta, por que Romeu não foi fiel ao cami-nho reto que o levaria a se tornar dono da igreja, tornar-seum teólogo, abandonou o seminário – antes de ser expulso– e buscou nas Ciências Sociais o seu destino missionário?Escrevo de trás para frente. Romeu escondeu o saber teo-lógico e o mostrou submisso à categoria de antropólogoquando criou a Missa Conga.Essa constatação corrige o título do capítulo. De “Missio-nário ou antropólogo” para “Missionário e antropólogo”.Tenho me perguntado com alguma frequência o que levoumuitos ex-seminaristas à militância política nos cursos deCiências Sociais no entusiasmo pelas reformas de base àcontestação ao regime da ditadura.“Do meu aprendizado de antropólogo (1964 a 1969)” é osegundo capítulo. Aqui se abordam os anos de formaçãono curso de Ciências Sociais e as peripécias tanto de ga-rantir a própria subsistência, quanto de “aplicar” em militânciapolítica os conteúdos que circulam no ambiente universitá-rio muito mais do que numa sala de aula.Chama a atenção neste capítulo que o autor destaca maissua militância política do que mesmo a atenção para a An-tropologia. Como se dava sua participação nas aulas, deque modo a antropologia o atraiu, qual foi a influência deBonini, Welber, Domingos Gandra e Saul Martins.Pela minha convivência com Romeu, sobressaem dois pon-tos: 1. Bonini, Welber e Domingos Gandra eram professo-res que incomodavam pela constante provocação para com-preendermos os padrões de cultura. Isto dava um tom ím-par às aulas e exigia dos alunos mais do que a pura presta-ção de contas dos conteúdos ensinados. Isso não aconteciacom os professores das demais disciplinas, por mais bempreparados que fossem. 2. Saul Martins, o “professor co-ronel” como alguns militantes o provocavam, era um atentopesquisador do folclore, antes mesmo de se submeter ao

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Artigoscurso de Ciências Sociais. Como militar sempre que podeformou escola para preparar soldados sob seu comandopara estudarem e compreenderem os costumes do povo.Era também um crítico – embora obediente – das normasincorporadas na ação de alguns comandos. Duas obras desua autoria, escritas muito antes de cursar Ciências Sociais,testemunham seu caráter questionador. Antônio Dó e OsBarranqueiros. Em Antônio Dó, Saul contrasta o banditismodo sertão, à ordem policial; há indignação quanto à práticada “Justiça” nessa obra. Já em Os Barranqueiros, explicitao saber catrumano e a análise aguda da realidade em face àordem equivocada dos governos.Saul mereceria prisão no DOPS somente com a publicaçãoem 1969 de uma obra escrita 20 anos antes e editada peloCentro de Estudos Mineiros:

-Uái, cumpade, é proquê iô acho qui ogoverno tem rezão. Nóis somo feio, ancêpru ezempo é gago, nóis tem lumbriga evivemo tremeno de maleta. Eles, não! Osfio deles é bunito, depois vai ficá homãogrande, vremeio, pra miorá o Brasi, Cumanóis fazemo cus boi, cumpade, prá mioráa raça. Os boi ruim nóis vamo matano.- !...- O guvêrno tem rezão, cumpade, nóis équi precisamo desaparecê!

Sorte do Saul que Os barranqueiros não passaram pelacensura, mas pela recomendação do Aires da Mata Ma-chado Filho e pelo apoio do Francisco Iglésias.Somente este trecho é manifesto suficiente de uma crítica àspolíticas de desprezo ao povo que somos e também à sub-missão dos antropólogos a tudo que vem de fora, aoestranhamento, à incompreensão das “tradições”. Saulenfatiza: “O homem rude e analfabeto do sertão de Minas(...) surpreende muitas vezes os portadores de títulos e anéisde grau.”Saul jamais seria um antropólogo submisso. Um aluno demovimentos de esquerda radical ponderou sabiamente quan-do companheiros de movimento rejeitavam Saul, “o pro-fessor coronel”. – “Ele é um militar diferente. Ele ama opovo!”Na minha interpretação, Saul acolheu o Romeu porque viunele, mais do que em qualquer outro aluno esse “amor aopovo”. Muito mais do que o antropólogo, viu em Romeu, oFolclorista. A marca principal de Saul sempre foi aprendermais do que ensinarO capítulo III tem o título “De uma antropologia vigiada auma antropologia desqualificada”. Nesse capítulo se rela-tam os constrangimentos do que é ser antropólogo no meioacadêmico tanto nas relações com outras classes de profis-sões, com a organização burocrática da universidade e ocontexto político vigente.

Romeu registra as dificuldades de desenvolver pesquisastal como se compreendia essa atividade, ir ao encontro dos“nativos”. Comenta também obstáculos à atividade comoantropólogo nas “missões” junto aos povos indígenas, nointerior do regime. Contrasta o exercício de hegemonia dogrupo entendido como sociólogos no interior do Departa-mento. Estranha ainda o “atraso” das pesquisas na UFMGcomparado com outros centros acadêmicos.Do ponto de vista deste leitor, Romeu tinha para a Antro-pologia um projeto mais ambicioso do que permitiam osescassos recursos da UFMG para pesquisa pelo menosaté meados dos anos setenta. Fiquei admirado, quandodeixei a UFMG, em 1977 e assumi a coordenação de Pes-quisa e Sistematização do Plambel. Nesse órgão de Plane-jamento da Região Metropolitana de Belo Horizonte, oorçamento de uma única pesquisa, como a “Processos deMorar”, ou a “Origem e Destino dos Usuários de Trans-porte” era superior a toda a verba do Conselho de Pesqui-sa para todas as unidades da Universidade. Há que lem-brar, porém, que, com a criação da Fundep pelo ReitorEduardo Osório Cisalpino, a situação mudou a partir daí.Porém a Universidade assumiu em muitas áreas a funçãode prestadora de serviços muito mais do que de pesquisade base.Com recursos escassos para extensão – quase nulos – e apesquisa, necessariamente, os conflitos decorrentes impli-cavam em desqualificar a competência e o saber de umaárea em detrimento de outra.Parece que a disputa por recursos ainda permanece, àsvezes, gerando competição entre universidades. Um casoque merece menção é o do Centro de Estudos Mineiros.Ensaiado nos anos 50, firmou-se nos anos 60 como órgãoda estrutura suplementar da Reitoria. Em 1970, transferiu-se para a Fafich e permaneceu inativo até o término doexercício do diretor da Faculdade o qual reservou para siocupar esse cargo. A direção do Centro alternou gestõesvoltadas para a História ou Ciências Sociais, sem definirclaramente seus objetivos.Casos como o Laboratório de Estética, ou do Centro deEstudos Urbanos, são também exemplos de momentosfugidios de esforços individuais de professores. O próprioRomeu tem como caso exemplar a criação e gestão doCentro de Estudos Afro-brasileiros. A sustentação dessesexpedientes exige esforço constante de seu empreendedoracompanhado de muito desgaste de energia.A desqualificação pode se dar seja pelo emprego de umaúnica palavra – isto não interessa, não é relevante -, ou portrabalhos subterrâneos de esconder a fonte de recursos nahora de elaborar orçamentos e determinar rubricas.O quarto capítulo, “Ser Antropólogo ou folclorista: o falsodilema acadêmico”, coloca em foco as disputas acadêmi-cas por credenciamento de saberes especializados. Isto

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Artigosquer dizer que o enunciado que afirma “Todo exercícioprofissional obedece a princípios que determinam o cum-primento correto dos deveres da profissão” merece serexaminado como processo. Os chamados “deveres daprofissão” têm fronteiras fluidas, ou até mesmo não têmfronteiras. Há uma divisão do trabalho acadêmico alta-mente confusa. É o que se deve reconhecer nessa querelaentre Antropologia e Folclore.No meu entender, o grande mérito do Romeu foi o deassumir-se como antropólogo e defender a unhas e den-tes esse lugar como uma profissão a ser conferida pelaacademia. De fato, a fronteira entre a Antropologia e asdemais ciências sociais é bastante fluida. Fixo Durkheimque afirmava haver uma “escola antropológica” no interiorda Sociologia. Mas, ao que parece, o maior preconceitoacadêmico desqualificava muito mais o Folclore como ci-ência ou saber que merecesse esse nome no interior dasCiências Sociais do que o nome antropologia. Vale fixar aafirmação de fronteiras específicas no reino das CiênciasSociais. No caso da Fafich, o primeiro a se firmar comoespecialidade que determinou a criação de um departa-mento foi a “Ciência Política”, sob o incentivo da FordFoundation. A criação desse departamento já no ano de1967 carreou conflitos com o departamento de CiênciasSociais, ao se pretender hegemônico e ao mesmo tempodistinto do Departamento de Sociologia e Antropologia,mantido inicialmente como Departamento de CiênciasSociais. Pura briga burocrática porque a primeira leiturarecomendada para os candidatos admitidos ao mestradoem Ciência Política era nada menos do que Max Weberde “Economia e Sociedade”.A disputa entre Sociologia e Antropologia dizia menos res-peito ao conteúdo das disciplinas em que poderia se des-dobrar do que ao poder de comando nas câmarasdepartamentais e de desconhecimento das especialidades.A criação do Curso Básico em Ciências Sociais no ano de1972, juntamente com a multiplicação de disciplinas deCiências Sociais em cursos de Engenharia, Enfermagem,Veterinária, entre outros, conferia poder ao chefe de de-partamento de deslocar para unidades “periféricas” do-centes que poderiam trazer alguma dificuldade na gestãodo núcleo departamental, ou seja, no curso de CiênciasSociais.Esta é uma das bases de conflito que o Romeu, certamen-te, identificou e vivenciou. Dela resulta ter sido obrigado,às vezes, a ministrar conteúdos com o nome de Sociologiae não de Antropologia. Este era grande desafio. Conhecium professor que ministrava três disciplinas diferentes emum curso de Pedagogia numa escola privada. Introduçãoà Sociologia, Sociologia da Educação e Cultura Brasilei-ra. O referido professor tinha para isso três programasdiferentes, mas ministrava o mesmo programa em três tur-

mas de períodos diferentes em cada semestre letivo. Em dadomomento, as turmas do primeiro, segundo e terceiro perío-do tinham aulas de Introdução à Sociologia. No semestreseguinte, todas cursavam Sociologia da Educação e no ter-ceiro, era a vez da Cultura Brasileira. É claro que, no diáriode classe, as anotações não correspondiam à aula ministra-da e os alunos do terceiro período que deveriam cursar Cul-tura Brasileira, estariam tendo aulas de Introdução à Socio-logia.Tive também o prazer de dividir com Délcio Vieira Salomonno curso de Psicologia, a disciplina “Introdução à PesquisaCientífica” no, então, Instituto Cultural Newton PaivaFerreira. Para simplificar o atendimento às exigências buro-cráticas de preenchimento do diário de classe, optamos pordividir o Plano de Curso em quatro unidades: Metodologiado Trabalho Intelectual, Metodologia do Pensamento Cien-tífico, Metodologia da Pesquisa Científica e Metodologia doTrabalho Científico. Com esse expediente, definíamos asênfases necessárias dispensando o esforço de detalhar nodiário de classe o atendimento a cada turma de acordo como perfil do momento.A obediência à burocracia implicava também o zelo paragarantir correspondência de programas no caso de o alunose transferir de uma escola para outra. Vivi isto na oportuni-dade em que alunos meus do curso de Psicologia da NewtonPaiva se transferiram para a UFMG e tiveram de cursar no-vamente Sociologia no Básico. Meu programa era inteira-mente focado no estudo da Sociologia para a Psicologia e opareceirista da UFMG não viu correspondência nisso parao aluno conhecer a referência aos “três porquinhos”: Marx,Weber e Durkheim. Minha questão estruturante do cursoera: “Os Psicólogos fazem apenas Psicologia?” e tinha comoobjetivo que os alunos reconhecessem as questões básicasda Sociologia em obras de Psicólogos renomados comoSkinner em Walden II, uma sociedade do futuro. CarlRogers, em Novas formas do amor, ou Freud em Totem etabu e poder dialogar com Marx do Manifesto, Durkheimdas Regras do Método Sociológico ou Vacas, porcos, guer-ras e bruxas de Marwim Harris, ou Manicômios, Prisõese Conventos de Goffman. Isto tornava os programas in-compatíveis.Considero que todos nossos professores vivenciaram o de-safio de interpretar o desenvolvimento do conteúdo das dis-ciplinas que ministravam tendo em vista o perfil dos alunosmatriculados em dado momento. Isto, é claro, determinavaa compreensão do que cada um entendia como SociologiaGeral, Sociologia Especial ou Sociologia Aplicada. Do mes-mo modo, o que seria campo da Ciência Política ou da An-tropologia. Com muita satisfação recebi a incumbência deler obras de Sociologia indicadas por professores de Antro-pologia ou obras de Antropologia recomendadas por pro-fessores de Sociologia, acontecendo o mesmo com os dePolítica.

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ArtigosQuanto ao Folclore o problema é maior. A questão da“modernização das sociedades tradicionais” tornou o es-tudo desse campo de saber algo que deveria ser estudadosempre com a certeza da marca do atraso – nosso coloni-zador cultural lag.Saul tem razão:- O guvêrno tem rezão, cumpade, nóis é qui precisamodesaparecê!E Câmara Cascudo afirmava no ano de 1940:

Não termos no Brasil um instituto, uma associ-ação, um clube, uma coisa que reúna os malu-cos que amam o Folclore, é um elemento nega-tivo e afastador de qualquer possibilidade derealização sistemática e geral.A consequência é ouvirmos “folclorista” comopalavra pejorativa e vagamente insultuosa.”

Eis a maior dificuldade. A quebra de braços entre Antro-pologia e Sociologia relatada por Romeu se resolve, pelaluta de separação dos dois campos na estrutura burocráti-ca. Departamento de Sociologia, de um lado, Departamentode Antropologia, de outro. Quanto ao Folclore, sua intro-dução no meio acadêmico é um insulto...Seja como for, minha constatação até hoje é esta: a univer-sidade vive dos falsos conflitos sempre necessários paraafirmação do poder. Nos cursos de Ciências Sociais per-gunta-se a qual igreja cada crente frequenta: Marxista,Funcionalista, Weberiano? Na Psicologia: Behaviorista,Gestaltista, Psicanalista, Humanista? A questões desse tipo,João Cláudio Todorov – ex reitor da UNB respondia: “Soubehaviorista, humanista, psicanalista, não diretivo!” Algu-mas pessoas ficavam indignadas. Queriam exigir a adesãoa apenas uma crença desse psicólogo.O capítulo quinto, “Do assédio moral institucional contraeste antropólogo e suas consequência (1985 a 1996)”,encerra o conjunto de argumentos que narram as peripéci-as do exercício correto dos deveres de ser antropólogo nomeio acadêmico. Valendo concluir que o dever da profis-são não é determinado por ela, mas pelas normas burocrá-ticas que não devem ser questionadas, ou se questionadas,resultam em disputas pelo poder e não mais sobre o sabercompreender o campo delimitado para a dita profissão.Até este momento, tenho dessa leitura duas perguntas. Aprimeira é o que é ser antropólogo; a segunda tem a vercom o mal-estar que resulta dessa busca. Ouvi muitos de-poimentos sobre as ações do Romeu nesse período. To-das elas dividiam o departamento em grupos. Penso emsituações concorrentes – situações e não causas -. A pri-meira tem a ver com a criação do Mestrado em Sociologiana qual se cria uma área denominada “Sociologia da Cul-tura”. A segunda com a coincidência do que ficou chama-do de “Nova República”. A criação do mestrado foi opor-tunidade para antigos professores se matricularem no pro-

grama para cumprir exigências de qualificação. Nem sem-pre, esses professores foram vistos como bem vindos...Curiosamente, alguns procediam da área de Antropologia.Por sua vez, a assim chamada “Nova República” criou umclima em favor da Assembleia Nacional Constituinte fazen-do vir à tona grupos de poder, alguns situados nas periferiasda constituição do Estado de Direito. Romeu tornou-se nessaépoca um professor atento para as normas regimentais,departamentais e cuidou de avaliar suas frestas. Criou-seum clima de etiquetá-lo como encrenqueiro. Ouvi depoi-mentos que o desqualificavam completamente e outros queafirmavam: as pessoas criticam o Romeu, mas todo mundofica atento para o que resulta de seus questionamentos. Seele vence uma causa, abre as portas para os demais.Como bom menino de Pocrane, Romeu resistiu, aposen-tou-se e vingou-se de Departamento, CâmaraDepartamental, Congregação, Conselhos Universitários.Defendeu a tese de doutorado em Antropologia Social –não em Sociologia da Cultura - logo após aposentar-se elevou-a solenemente à reunião anual da ANPOCS.Essa querela de partidos informais atravessa a história.Quando foi criado o mestrado em Ciência Política, Tocaryque lutou arduamente pela implantação do mestrado e queera do Departamento de Ciências Sociais foi advertido porcompanheiros de longa data, Welber e Hiroshi: “Você épaulista e não sabe nada dos mineiros. Logo que puderemvão comer direitinho a castanha que você tirou do fogo.”Coincidência, ou não, Tocary se afastou, retornou para SãoPaulo e morreu precocemente.No meu entender, o maior mérito do Romeu foi de perma-necer no campo de batalha assumindo o lugar de mouro noespetáculo da cavalhada para lutar contra os cristãos jádemarcados para vencer e celebrar a vitória.Do sexto ao nono capítulo, o autor se desdobra emnarrativas que podem ser compreendidas à sombra doenunciado “Todo homem tem deveres externos ao exercí-cio profissional os quais podem favorecer ou dificultar ocorreto dever do exercício profissional”.Dedico a esta parte uma sessão especial.

O espetáculo da Cavalhada e as regras do Jogo dasArgolinhas

Parto do que considero certeza para mim. Romeu está ple-namente convencido de que tudo que afirma em suas me-mórias é verdade e se dispõe a defender essa verdade emqualquer que seja o diálogo. Eis a base de acordo.Alguns leitores têm sublinhado que algumas verdades nãodevem ser registradas, mas nenhum questiona a verdadedas afirmações. Não resta dúvida para mim que haverá lei-tores que questionarão a verdade das afirmações de Romeu.

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ARTIGOSÉ tendo em vista esses leitores que comento agora o per-curso do Romeu. No conjunto de leitores, eu me posicionoentre aqueles que foram colegas do autor já no ano de 1965,testemunhou sua luta pela subsistência como professor gi-nasial numa escola de um bairro operário – Colégio JoãoXXIII do Bairro das Indústrias -, presenciou sua militânciaem greves de professores, vivenciou alguns instantes em salade aula de Antropologia na Fafi, conheceu seus relaciona-mentos afetivos no meio operário, testemunhou sua pere-grinação por moradia para ter um abrigo das intempéries,ouviu comentários sobre sua admissão como auxiliar deensino concursado na já FAFICH UFMG, teve acesso aosseus projetos de estudo, conheceu sua esposa e filhas, par-ticipou de suas atividades docentes em sala de aula e dequase todos os momentos importantes de sua trajetória.Para o leitor compreender de onde eu falo, informo quetambém fui seminarista, na Arquidiocese de São Paulo; dei-xei o seminário um ano antes de o Romeu ter abandonadoo seu. Não me senti vocacionado para construir igrejas nempara ser missionário. Optei por cursar Ciências Sociais porrazões muito racionais: a primeira porque cursei Sociologiano terceiro ano de Filosofia e essa disciplina era centradana discussão sobre Doutrina Social da Igreja – RerumNovarum, Quadragesimo anno e Mater et Magistra. Curseitambém Folclore no curso de Filosofia, no qual o professorrecomendava um diálogo intenso com a Sociologia. Final-mente, lendo o jornal Folha da Manhã vi uma reportagemsobre um seminário promovido em Belo Horizonte pelo cursode Sociologia da Faculdade de Ciências Econômicas. A úl-tima razão mais racional de todas era de que eu tinha obri-gação de fazer algum curso superior, posto que meu cursode Filosofia não tinha nenhum importância no mercado enem mesmo me conferia qualquer diploma. Escolhi Ciênci-as Sociais porque o nome era bonito, muito bonito. Nãopensei em profissão, nem o que poderia advir de um diplo-ma. Entendi e entendo até hoje que estudar é um dever.Deixei o seminário ciente de duas coisas: 1. Não sei questi-onar a autoridade. Qualquer que seja a autoridade ela iráreivindicar razões divinas para impor obediência. É fácilmandar em mim. 2. Não vivi a adolescência e já passouminha oportunidade de errar. Mulher é uma incógnita e eutenho que aprender a viver nesse mundo em que existemmulheres.Este breve relato de minha trajetória me faz encontrar comRomeu no ano de 1965. Romeu sem superego como afir-mou para ele uma banca de concurso para professor assis-tente que se encantou com seu preparo acadêmico. Ne-nhum medo de dizer o que não sabe como desafio para ooutro reconhecer a situação problemática e confessar a pró-pria ignorância.Imagino as peripécias do Romeu ao chegar a Belo Hori-zonte. Fazer vestibular foi o que houve de mais fácil. O di-fícil foi garantir a própria subsistência. Visitei seu abrigo,

certa vez. Um colchão, em meio a um salão dividido comoutros companheiros necessitados de subsistir. Que fazer:arranjar umas aulinhas em uma escola de periferia que nãoexigia diploma, pagava mal, não assinava carteira de traba-lho e não recolhia o devido aos IAPs, no caso o IAPC. Ocolégio se chamava Ginásio Comercial João XXIII – lindonome para quem foi seminarista -. Foi imaginado tambémpor três ex-seminaristas cujas famílias migraram para BeloHorizonte provenientes dos municípios de Nepomuceno eSão Gotardo no sul de Minas. Essa escola foi instalada emfins do ano de 1963, em três salas comerciais na Rua Itaú,equina com a Avenida Rodoviária no Bairro das Indústrias.Nessa época muitas escolas desse tipo surgiram na perife-ria de Belo Horizonte, onde mal existiam grupos escolares.Estranha privatização.Essa escola marcou o ingresso de Romeu na Região Me-tropolitana e as armas do cavaleiro. Nela ele se batizouduas vezes, ou batizou-se e crismou quase ao mesmo tem-po. Piquete de greve ao peito aberto o levou a DOPS euma aluna alegre e encantadora seduziu o homem. Romeuse defrontou com os dois desafios do mundo: razões dopoder e razões do afeto.O Bairro das Indústrias, mais do que quaisquer dos bairrosoperários, foi cenário de muitas cenas de contestação àditadura. Sulamira Esteliam narra algumas cenas desses anosem Estação Ferrugem, Editora Vozes, 1998. Enquanto oRomeu enfrentava a polícia na porta do Ginásio ComercialJoão XXIII, eu dava aulas em outra escola dos mesmosdonos no fundo da fábrica de Cimento Itaú, na cidade In-dustrial – Ginásio Comercial Paulo VI -. Ali não houve gre-ve, mas essa escola se fechou em 1967 sendo os alunosabsorvidos pelo João XXIII, oportunidade em que pre-senciei os preparativos para a mais importante greve ope-rária de Minas Gerais, a greve dos metalúrgicos de 1968.Nessa época, porém, Romeu já não lecionava mais naque-la escola.A pergunta: que matérias esse professor lecionava tem aver diretamente com a oportunidade de preparação para aprofissão. Imagino que lecionasse História. O que de histó-ria interessa ao Antropólogo?Como narra, Romeu passou a lecionar em um colégio daPrefeitura de Contagem até ser indicado pelo professor SaulMartins para substituí-lo no curso de Cinema da Universi-dade Católica de Minas Gerais. Lecionar Folclore.Entendo que Romeu desenvolveu duas necessidades com-plementares para se afirmar como “ser no mundo”. Engajar-se na luta política para tornar profanas as ordens emanadasda autoridade; desvendar o “que quer uma mulher” paratornar transparente para si mesmo os desafios afetivos eobscuros resultantes dos anos de vida reclusa no seminá-

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ARTIGOSrio. O ter vivido intensamente cada uma dessas situaçõesdeterminou as peripécias a que foi obrigado encarar.Pois bem, os capítulos 6 a 8 se enquadram perfeitamentenesse contexto. Dois pontos chamam minha atenção. Romeuse sente todo poderoso para se confrontar com as coaçõesdo regime militar e, como antropólogo, interpreta que aexibição de uma imagem de contestação – a representaçãoda contestação – conferia mais poder ao confronto. Resul-tou disso uma tragédia no sentido mais exato da etimologiagrega. “Não se foge ao destino”. Romeu assumiu o lugardo bode sacrifical nas celebrações dionisíacas. A contesta-ção política pode ser cômica, mas contestar e representar acontestação torna-se crime hediondo que não merece jul-gamento pelo aparato excepcional.Em dado dia, o inocente Romeu se vê nos porões do De-pósito de Presos da Lagoinha. Sorte dele que, naquele tem-po, ainda não havia superlotação. Eu vivi apreensivo e com-passivo esse momento no qual os jornais atribuíram aoRomeu o crime hediondo de sequestrar mocinhas, estuprá-las e sacrificá-las.Romeu tem toda razão em trazer à luz esses longos dias emque foi convidado a comparecer a uma delegacia, foi apri-sionado, interrogado e interrogado, e interrogado. Confes-sa, confessa, confessa!Digo por que. O primeiro a decifrar os motivos foi exata-mente o generoso professor coronel Saul Alves Martins.Notificado pelo jornalista Jurandir Persequine – um meninocrescido e criado na cidade de Raposos que admirava aCavalhada – Saul decifrou com facilidade o álibi. Era maisuma Semana Mineira de Folclore. Romeu participava dis-so. Exigiu a soltura do bode sacrifical e se confrontou coma polícia civil.No dia seguinte, os jornais se obrigaram a elevar Romeu aolugar de um dos mais famosos antropólogos de Minas Ge-rais. Contudo, o ter sido conduzido ao templo de Dionísio,deixou marcas profundas. Ouvi a boca pequena mais deuma vez, o receio de algumas alunas da FAFICH de seaproximarem do professor Romeu Sabará. Fui consultado,ainda há pouco tempo, por uma pessoa, sobre a suspeitade ter sido Romeu o estuprador e assassino de jovens estu-dantes do Colégio Municipal de São Cristóvão.É a isso que eu chamo de “a conclusão segue a pior parte”.Há pessoas que guardam sempre o pior e o disseminamsem cuidado.Fico pensando se todas as pessoas que ainda, de boa oude má fé, duvidam da inocência do Romeu dessa acusaçãoterão acesso a esta obra e se os que lerem saberão disse-minar o desmentido total e convicto do que de fato aconte-ceu.A repercussão da calúnia – la callunia è un venticello,

un’aureta assai gentille , canta o barítono em uma bela

ária de o Barbeiro de Sevilha – é sempre um mal

irreparável. Para mim, o crime verdadeiramente hedion-

do é a calúnia.

Emocionou-me profundamente este depoimento de umacriança de Procrane, a terra natal de Romeu:

Querido Primo que eu tanto admiro. 1) Lá no Pocrane, por ocasião da sua prisão, eutinha 10/11 anos, sou de junho de 62, minhas cole-gas de pré adolescência diziam que vc eramaconheiro, comunista (claro que eu não fazia idéiado que era ser comunista), que os dentes dos  cor-dões de hippie que vc usava eram das suas vítimas,criancinhas que comia e jovens que estuprava. Di-ziam que o nome Elmani do Maninho da dona Ma-ria Joana queria dizer demônio... Tudo isto me dei-xava p. da vida. Logo que vc foi solto, o ti Deco,organizou uma missa de desagravo, o alto falanteda igreja convidou para a missa o dia inteiro tocan-do a música: “os anjos estão voltando, vem pra di-zer que Deus está chamando”. Eu procurei as taiscolegas (uma delas se não me engano é a Aparecidada Sabem/Zé Silva) e disse -tá vendo, ele é inocen-te e ela respondeu: - mas não acredita em Deus, foiexpulso do seminário, Pode observar que ele nãoreza o “crendeuspai”. Eu fui à missa junto com ela efiquei observando se vc ia rezar o credo. Ela afir-mou que vc só falou a partir do todo poderoso, nãofalou creio em Deus pai...Lembro de uma vez que te chamei de tio lá na casada vó Palmira (era uma parentaia danada eu nãosabia quem era quem) e vc ficou muito bravo rsrsrsr.   Beijos da prima filha do ti Nirto e da ti Nely

Este depoimento da lembrança de uma criança é uma pren-da e merece epígrafe. Como as pessoas interpretam as re-presentações. O missionário comunista crê no “todo pode-roso” mas rejeita o “crendeuspai”. Isto é muita prenda.Reivindico isso para o Folclore em nome do Saber Popu-lar.Penso também que a suspeita de que a prisão em delegaciacomum e não em delegacia de repressão à subversão temmuito a ver. Mas até provar que “pulga não é elefante”...Enveredamos pelo reino das intenções. Nisso valho-me daTeoria da Ação Comunicativa. Prova-se se no emaranhadodas normas se puder fundamentar a intenção e se os agen-tes confessarem agir por imposição da norma de repres-são. Haja comissão da Verdade...Como Romeu é ousado, talvez alcance algum resultado.Caso contrário, terá que se refugiar nos instantes poéticosque o consolam.

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ARTIGOSPor último percorro o caminho espinhoso do capítulo 8:“Da crise conjugal a minha prisão”. Grande número de lei-tores privilegiados tem recomendado a supressão destecapítulo. Em conversa com Romeu juntamente com outrosleitores defendo caber ao autor a decisão. Penso que tantoa pessoa que participou da relação, quanto as filhas do ca-sal, às quais o autor pede permissão para narrar e docu-mentar cada fato, podem se manifestar e estão plenamentecapacitadas para isso.Um dos leitores recomendou ao Romeu que, ao invés depublicar deveria levar o relato para o divã. Penso diferente.Romeu prestará um grande serviço até mesmo aos analis-tas para os que guardam os segredos para revelá-los nodivã. Certa vez, Romeu ministrou uma palestra para os pro-fessores do curso de Psicologia da Newton Paiva, os quaisfaziam Especialização. Nessa oportunidade defendeu juntoaos presentes uma tese que se fixou na memória de todos efoi repetida muitas vezes pelos docentes de Psicologia So-cial: “Vocês pensam que uma terapia para os negros margi-nalizados diminui o sofrimento deles? Puro engano. Terapiapara negro é luta política.” Ao expor os desafios vividos narelação conjugal, os depoimentos soam como “confissãopara autoajuda”.

Há também argumentos sobre o intempestivo do momen-to. As conquistas do âmbito do gênero. Sob esse ponto devista, a narrativa de conflitos conjugais é de grande impor-tância porque essas coisas não podem ser colocadas sob otapete. Transparece dos registros do Romeu a busca dequalificação profissional como determinação concorrentepara a atenção aos afetos conjugais. Mais uma vez, o autorse mostra sem reservas em sua opção missionária.Não vem ao caso, registrar como acompanhamos, eu mi-nha esposa e, depois, meus filhos, esses momentos de con-flito. Ouso apenas mencionar, talvez erradamente, queRomeu se preocupou muito mais com negar o “crendeuspai”enfrentando o Todo Poderoso e colocou em segundo pla-no a mulher. O poema “As mulheres” escolhido pelo autorpara encerrar suas Memórias ajuda a prosseguir a conver-sa. Note-se que a priminha diz que as pessoas centraram aatenção no crendeuspai, e penso que Romeu rezaria complena devoção o crendeusmãe.No meu entender, Romeu queria construir igrejas para orardiariamente o crendeusmãe. Ela existe e é mulher forte einvicta qual Judite.

Os comentários acima foramendereçados ao grupo de pri-meiros leitores da obra deRomeu no ano de 2015. A obrafoi objeto de mais quatro no-vas redações até alcançar a quefoi publicada para o público delíngua portuguesa do Brasil,P o r t u g a l , A n g o l a ,Moçambique e Cabo Verde.

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ARTIGOSChamado do Rio

Por Ramiro Esdras Carneiro Batista

“Sonhar é um modo de mentir à vida, uma vingança

contra um destino que é sempre tardio e pouco.”

(Mia Couto)

Desde sempre, detesto vinho, cerveja, vodka, pingaou qualquer outra coisa que me queime a garganta. Sou des-vairado o suficiente e nunca precisei beber prá ver o mundogirar... E desde sempre que bebida boa prá mim é água,especialmen­te água de vereda, que já vem limpa e gelada.

Ocorre que, vez por outra, cometo a sandice de bebervinho só prá mostrar a finésse que não tenho; o apuradopaladar que nunca senti; experimentar d’aquele ar sedutordos caras que aparecem na televisão tomando um campari,que nunca consegui imitar; e ainda sorver do astral sexi delouras caucasianas surreais, que fazem propaganda daque­lasvodkas de nomes eslavos impronunciáveis. Enfim, bebo tam-bém porque é líquido e porque estou cansado de minha pró-pria companhia...

Mas o que vinho tinto de supermercado (á bagatelade R$ 4,99 a garrafa), tem haver com sereias? Não sei! Sósei que foi assim... No quintal de casa, ao som de Gessin­ger,Licks e Maltz primeiro – prá mim é quase um ritual. DepoisZé Ramalho, Raul, Kid Abelha e toda a legião de nacio-nais... Na segunda garrafa já tava ouvindo aquele cantormetido a gatinho, de olho vesgo, como é mesmo o nomed’ele? Áh! O Luar-de-Santana! Já meio “alto” e achandoos dedos de minhas mãos o maior barato (nunca tinha pen-sado em como os dedos de minhas mãos são essenciais prámim!), ataquei os cd’s de música sertaneja de meu finadogenitor, com duplas prá lá de exóticas: Zé Canhoto e Direi-tinho; Tadeu e Tadando; Antão e Anacleto; Nhanha eCachoei­rinha; Milionário e Senador, etc, etc, etc... Não sei

se com você é assim, mas comigo, depois dessa fugaz eufo-ria que o vinho traz, vem sempre um baixo astral, é como sea alegria fosse toda concentrada na primeira garrafa e, nasegunda, ficasse a tristeza.

Então porque tomar à segunda? Sei lá... importante éque em algum momento impreciso me vi de frente com amãe d’água. Ela me olhava nos olhos, como a sondar o maisprofundo de mim... Claro que fiquei assustadíssimo no pri­meiromomento, sobretudo porque não queria encontrar uma sirenasupertesuda n’aquelas condições: trêbado e escutando músi-ca sertaneja...

Mas foi assim que se deu nosso primeiro encontro: Elatinha voz-de-vidro, cabelos-negríssimos da noite-sem­lua dosertão e “lindros peittos”, como diria o velho-sábio. Tenteidar uma ajeitada em meu cabelo e barba desgrenhada, e ain-da tive a presença de espírito de colocar rapidamente a pastade cd’s no colo, na vã tentativa de esconder minha roupa-fubazenta. Não ousei dizer nada no primeiro momento e fica-mos nos olhando, estudando-nos...

Era realmente uma coisa prá se ver! Vossa belezuraera d’aquelas que faz fugir o próprio nome das coisas... Ca-belos negros e lisos abaixo da cintura. Traços delicados demulata com tapuia... Os peitos eram grandes e rijos, commamilos avermelhados e, a partir de seu umbigo, começa­vamas escamas douradas. Quando a ficha caiu, fui tomado degrande sudorese. Olhei em volta e foi como se o mundo ti-vesse parado, nenhum barulho, tudo em volta preto-e-bran-co... o toca cd’s mudo. Vento da noite paraalizado... E o uni-verso inteiro comprimido n’aquele olhar sexi e cortante, comoa esperar alguma coisa de mim... Pobre de mim: tanto prádizer, tanto prá perguntar sobre todos os seres do Rio e eu ali,troncho, mudo, claustrofóbico, completamente estático...Como não conseguia desviar os olhos daqueles peitões, a pontode sequer me lembrar direito de seu rosto, ela sussurrou-entre-dentes, com barulho de vidro-quebrado:

– Gosta?– ÔÔÔ! Foi o que consegui articular, com minha

gar­ganta fervendo...Ato contínuo, ela aproximou o dorso de meu rosto com

um lindo meneio de cauda, colocando um par de mamilospontudos e intumescidos a cinco centímetros de minha boca.Perdi o pânico! Fiquei corajudo e senti a testosterona mesubir pelo rosto e orelhas, frio e calor na virilha, torpor naspernas... Aspirei seu hálito quente e movi os braços prá-agar-rar aqueles quadris anfíbios. À medida que me mexia e apro-ximava, o oxigênio rareava. Ela me parou com o olhar e fi-nalmente con­segui respirar... Pôs-se de pé em minha frente,com graciosos meneios e disse, no quebrar de outra-vidraça:

– Isso só pode ser feito no rio!Embasbacado, não consegui articular nenhuma

respos­ta plausível... Novamente um achaque de falta de are tremor nas mãos... Acordei com o coração aos saltos den-tro do peito, o nariz catarrento e o corpo gélido do sereno danoite. Ainda tô tentando descobrir se foi um chamado do Rioou o vinho barato. Na dúvida, melhor nunca mais tomar vinhonacional...

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Sobre um conto de Natal: Papai-Noel-Ladrão

Por Ramiro Esdras Carneiro Batista

Em tempos-outros era assim: as crianças eram encantado-ras, humildes, singelas, carinhosas, sinceras, ingênuas e dó-ceis... verdadeiros anjinhos-renascentistas que nos faziamtransbordar de ternura e carinho a cada palavrinha-proferi-da, a cada gesto-dado... Com o passar do tempo elas iamficando chatas, exigentes, críticas, mentirosas, reclamonase aborrecidas. Então desbotavam d’aurora-da-vida e fica-vam aborrecentes... Mas outro dia, depois de presenciarum certo-diálogo, passei a desconfiar-certeza de que algu-ma coisa esta fora da ordem:

- Papai, quero falar-contigo!- Tô-estudando filha, pode ser depois!?- Até-pode, só-que-não... É rapidinho. Quero que

me diga, sem meias-palavras e bem objetivamente, se opapai-noel é ladrão?!

- Quê? Onde ouviu-isso? Que tipo de pergunta éessa miã-filha?

- U’nha pergunta, ué. Como qualqué outra. É ou nãoé?

- Ú-quê?- Ladrão, pai! Papai-noel é ladrão, político,

contraventor, empreiteiro ou algum tipo de mafioso?- Claro que não-neném... Onde ouviu essa boba-

gem? Papai-noel é um bom velhinho que ama todas as cri-anças e as trata sem distinção. Você não se lembra maisd’aquela musiquinha “seja rico ou seja pobre, o velhinho

sempre-vêim”...

- Pai, pedi prá-ser-objetivo! Como ele traz pre-sentes prá todas as crianças e não recebe nada por isso?Quem paga pelos presentes, a Ôdebréxxt? Ou o véio-frau-da o INSS prá comprar os brinquedos? De onde sai o di-nheiro?

- Não é isso filha. O Papai-noel encarna o espíritodo natal. Ele nunca se envolveria em roubos ou contraven-ções, muito menos prá financiar os presentes da garotagem...Não compra e nem vende os presentes. Papai-noel temuma fábrica de brinquedos no pólo-norte, e lá trabalha umexército de duendes, o ano todo, para que no natal todasas crianças recebam seus presentes e... eu já te contei essa-história, você se esqueceu?

- Quem paga os duendes?- Há! Os duendes não-são-pagos, eles trabalham

de graça, vivem prá isso e são amiguinhos...- Se trabalham de graça então é regime escravo,

que nem fazem com as crianças na-índia!- Você não-entendeu, sabichona, eles são seres que

nasceram prá...- Isso de trabalho-escravo não resolve a questão,

porque os duendes-escravizados tem que comer prá conti-nuar a trabalhar. Quem paga a comida deles? O senhordisse que é um exército de pequenos escravos e isso signi-fica que é muita-comida...

- Aí-meu-saco! Você não-tá-entendendo. Pare umpouco prá-me-ouvir... O Noel e os duendes vivem em umaoutra lógica, em um outro mundo, não são capitalistas, nãosão como a gente, entendeu?

- O pólo-norte não é em outro mundo. Se está nomapa é porque é aqui, no nosso mundo. Aliás, se o quedizem na TV for verdade, o pólo-norte vai derreter e aí afábrica do santa-claus já era... e os coitados dos duendesvão morrer afogados... duendes sem carteira assinada, semdireitos trabalhistas, não vão poder sequer deixar pensãoprás-famílias. Tô-achando que esse papai-noel é o maior-bandido do planeta!!!

- Filha, já chega. Eu tô estudando, depois cê-per-gunta sua mãe sobre isso e...

- Você não tá estudando e um livro-bobo de poesi-as que ninguém-entende não devia ser mais importante queos dilemas de sua única-filha-em-fase-de-crescimento!!!

- Olha, é o seguinte... o que posso dizer é que tudoo que te contei sobre o papai-noel é verdade. Pelo menosera verdade, porque foi sua vó quem me contou... Então,se você não acredita eu não sei o que você quer que eudiga e...

- Esperava que meu pai-herói tivesse bons argu-mentos prá me convencer que o papai-noel não é um ido-so-sacana e escravagista a serviço da coca-cola. É isso oque todos dizem, e não acredito que você não soubessedisso!

- Quando cresci eu ouvi outras versões e...- Vi você lendo o livro do lévi-strôss, sobre o suplí-

cio-do-papai-noel... Se sabia, porque não me contou? Pas-sei os últimos cinco-anos acreditando que se eu fosse bôinha1

ele me traria presentes no natal e depois...- CHEGA DESSA CONVERSA! Acredite no que

quiser!!! E você nunca-foi-boazinha! Seu irmão que o diga!

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- Papai, o senhor precisa’madurecer! Toda vez quefica sem-argumentos assume essa postura autoritária. Sóstou dizendo que você podia ter sido sincero e me dito queessa história de bõ-nuel é tudo fachada prá enganar as pes-soas...- ...- E depois também, o senhor é um educador... não achaque esse discurso-behaviorista de estimular as crianças aserem boas em troca de um bem material é prejudicial aformação d’elas? Quer dizer que se não-tem-presentes,ninguém mais tem que fazer o que é certo?- Já disse que não falo mais d’isso com você. Vai falarcom sua-mãe.- Por falar nisso, estamos a um mês do natal, né?!- ...- Pode deixar que vou pedir ao papai-noel-ladrão prá tedar uma caixa cheia de bons argumentos. Já comproumeu-presente?

- Cára-de-madêira. Você não acabou de dizer quepresente é coisa do papai-noel-ladrão? Que prejudica aformação ética das crianças?- Pai, pára de me tratar feito-criança, eu já fiz seis-anos,lembra? Estou tentando ter uma conversa franca e realis-ta, mas você se recusa...- ...- E o meu-presente?- Veja isso com sua mãe.- Ela me disse prá ver com-você, porque o cartão delatá-estourado. Quero um Tablet das princesas com um Kitmultimídia completo. Todo o equipamento precisa serrosa ou pink. No site das lojas-americanas tem um que éideal...- Finalmente chegamos ao que queria. Depois voupesquisar prá-você. Agora me-dêxa lêr um pouco...- Não precisa-pesquisar, já mandei o link pro seu e-mail... E já vô-avisando que ano que-vêm eu vou entrarpro jiu-jitsu de qualquer-jeito, porque não stôu-aprendêno nada no ballét... Em dez-vezes-no-cartão, nasamericanas. Não-têm-desculpa. Feliz-natal-pápi!- ???

Notas1 No léxico-sofista, bôinha é sinônimo de bem comporta-da, boazinha, delicada.

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Encontros dos Povos do Espinhaço eProtagonismo Jovem

José Moreira de SouzaCom o III Encontro dos Povos do Espinhaço, chegamos àidade adulta! De fato, o III teve seu ano zero, quando osjovens promotores promoveram o primeiro no povoado dePinhões, na cidade de Santa Luzia. Porém, a necessidadede encontrar por causas desprezadas pelas políticas públi-cas começaram muito antes e tiveram origem na luta porespaços de preservação ambiental na Região Metropolita-na de Belo Horizonte, em face à expansão do mercadoimobiliário e à devastação de áreas de reservas florestais.Todos os atuais promotores desses encontros iniciaram suasatividades lutando pela criação do que é hoje o Centro deReferência da Cultura Popular e Tradicional “Lagoa doLado” e a preservação da Mata do Planalto, no distrito deVenda Nova em Belo Horizonte. Instituído pela Prefeiturade Belo Horizonte, o Centro Cultural Lagoa do Nado, aComissão Mineira de Folclore teve a honra de ser convi-dada pela celebrar numa Semana Mineira de Folclore umaMissa Conga, ainda nos anos iniciais deste século. Em meioà participação dos jovens, surgiu a Rede Catitu – cavar porbaixo – e promoveu-se um seminário com apoio da Facul-dade Jesuíta, para a qual foi convidado o presidente daComissão Espírito Santense de Folclore, Eliomar Mazzoco.Ao mesmo tempo, jovens residentes nas periferias de San-ta Luzia criaram mais uma ONG com o nome de AIASCAque se credenciou como Ponto de Cultura da qual surgiu aRELUZ – Rede de Cultura Popular de Santa Luzia. Essesjovens, beirando os trinta anos, no final da primeira décadadeste século, se tornaram mais ousados. Inventaram o pro-grama de Encontro dos Povos do Espinhaço.O objetivo é de promover encontros bienais em povoadosque detêm a memória do Saber Viver nos espaços que sim-bolizam e guardam a ciência profunda do saber viver a par-tir da ocupação do território de Minas Gerais. Há que cele-brar a memória dos antigos escravos, dos indígenas, dosaber promover a própria subsistência e compreender cri-ticamente os furacões que varrem as serras, sugam as nas-centes, e expulsam as populações.Os Encontros têm a marca dos “Arrastões”. Quem partici-pou do primeiro assume o compromisso de comparecer nosegundo e assim se cria uma rede de culto à memória deformação de Minas Gerais e os desafios a serem enfrenta-dos; solidifica-se também uma rede de atenção constanteaos desafios do viver e dos valores que merecem ser de-fendidos. Lentamente, os doutos das Academias têm to-mado conhecimento da importância desse diálogo com oSaber Popular mantido por relações pessoais. O I Encontro formal aconteceu no povoado de Lapinha daSerra , município de Santana do Riacho, na Serra do Cipó.

O II se deu no município de Conceição do Mato Dentro,no distrito de Tabuleiro. Em ambos as atividades foramprestigiadas pelos técnicos do IPHAN e do IEPHA.O III Encontro acontecido nos dias 15 a 18 de novembrodeste ano, aconteceu em São Gonçalo do Rio das Pedras– município do Serro – e no que compreendia o antigo Dis-trito Diamantino – e contou com a presença de professo-res universitários das Universidades Federais de Lavras edo Vale do Jequitinhonha e Mucuri e centenas de jovensestudantes de diversas regiões de Minas.É milagre que, com tão poucos recursos, os encontros te-nham mantido a periodicidade e garantido transporte, ali-mentação para todos os participantes, sem taxa de inscri-ção e qualquer apelo ao Deus Mercado.Há alguns segredos: todos os espaços públicos são ocupa-dos como locais de conversa e de celebração da vida.Em São Gonçalo do Rio das Pedras, todos os alimentosservidos foram produzidos por pequenos agricultores: fei-jão “tomba milho”, arroz de várzea, vagens, pepinos, to-mates, couves, sucos, chás, queijos.Neste último encontro, surgiu a ideia de desenvolver anual-mente oportunidades de conversas sobre a Literatura Oraldo Espinhaço, imitando o que se realiza anualmente emGouveia há nove anos de que resulta o Prêmio Afago deLiteratura. Foi proposto também que o IV Encontro dosPovos do Espinhaço aconteça no povoado de Barão doGuaicuí, localizado no município de Gouveia, ou no distritodo Rio Preto, que também compunha o Distrito Diamantino.

Dia 15 de novembro.O Candombe do Matição –JabuticatubasE o Candombe de BaldimSaúdam os participantes do IIIEncontro.O mestre do candombe de

Baldim fez uma acusação muito

grave à Comissão Mineira de

Folclore, afirmando que ela

queria lhes retirar os tambores

sagrados!!!

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ARTIGOS

Dia 16 de novembro.Roda de CapoeiraConversas com quilombolasNoite do Tambor de Criôla

Dia 17 de novembroManhã dos indígenas deCarmésiaRoda de conversa sobreEducação no CampoRoda de conversa debenzedeiras e raizeirasRoda de conversa compastorinhasRoda de conversa com autores

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ARTIGOS

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Dia 18 de novembro.O Boi convida para a romariaaté o Quilombo Ausente.Celebração do Rosário comcaboclos, congos, catopês e aRainha Conga de MinasGerais - Izabel Cassimira.

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ARTIGOS

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Pequenas Notas

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Obras lançadas na 52ª SemanaMineira de Folclore

Outras atividades

Obras doadas por Adriana deCarvalho Brequêz ao acervo daComissão Mineira de Folclore[Pequena amostra]

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Pequenas Notas

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Pequenas Notas

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Algumas andanças

Museu de Folclore Saul Martins

Reunião da Diretoria

Catalogação do acervo da CMFL

Conversa ao pé do fogão no Centro de Referência da CulturaPopular e Tradicional “Lagoa do Nado”

Honras à doutora Joana Ramalho Ortigão Correa

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Pequenas Notas

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Comissão Mineira de FolcloreCelebra 90 anos de aniversáriodo professor Nereu do ValePereira, membro fundador daComissão Catarinense deFolclore e nosso super decano.

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ARTIGOS

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70 Anos de criação das ComissõesEstaduais de Folclore

2018 foi o ano em que se fundaram as Comissões Estadu-ais de Folclore. Eu gostaria que cada presidente, ou mem-bro, das Comissões Estaduais publicassem nesta página adata de sua fundação para isto ficar permanentemente emnossa memória. Quanto à Comissão Mineira de Folclo-re, foi fundada no dia 19 de fevereiro do ano de 1948 e, nasegunda reunião realizada no dia 6 de março desse mesmoano, considerou que deveria se pautar pela agenda pro-posta pelo sergipano Joaquim Ribeiro. Parece que a pro-posta desse eminente cofundador da Comissão Nacionalde Folclore se encontra no livro Origem e desenvolvimento

dos estudos folclóricos no Brasil a qual foi premiada peloIBECC. Joaquim Ribeiro nos oferece também uma sendaimportantíssima para a discussão da formação das ciênciassociais no Brasil quando nos remete ao estudo de João Ri-beiro. Refiro-me ao que chama de “Cultur-História”. Eleexplica: “A expressão “cultur-história” é germanismo ado-tado por João Ribeiro e é preferível a “história cultural”,que pode provocar equívocos”. Entendo que este alertanos avisa que Cultura dita em português do Brasil é dife-rente de “cultur” na matriz alemã e que este prejuízo estápresente nas políticas atuais de “Cultura”. Estas questõesanimaram o meio acadêmico nos anos de 1930 e 1940 deque são exemplos as obras Conceito de Civilização Bra-

sileira de Afonso Arinos, A Cultura Brasileira de FernandoAzevedo e Instituições Políticas Brasileiras de OliveiraViana.

Guilherme Ramalho Manhães ComissãoEspírito Santense de Folclore fundada em 23de maio de 1945.

Nereu Do Vale Pereira A ComissãoCatarinense de Folclore foi fundada no dia 9de outubro de 1948 durante o Primeiro Con-gresso da História Catarinense,um evento reali-zado pelo Instituto Histórico e Geográfico deSanta Catarina, e em comemoração aoBicentenário do início da Colonização Açoriana

no Brasil Meridional (1748) num projeto do ReiDom João V como Rei de Portugal.Nereu Do Vale Pereira Participo desta Comis-são desde aquela época. E hoje aos noventa anosagradeço o muito que aprendi pelos trabalhosde nossa Comissão.

Comissão Goiana de Folclore (CGF) foicriada em Goiânia, no dia 21 de dezembrode 1948, com finalidade de identificar, “pre-servar” e incentivar as manifestações folcló-ricas do Estado valorizando, assim, a me-mória e origens dos goianos. IzabelSignorelli - Presidente.

Somos gratos aos que nos responderam

Comissão Nacional de Folclore -19 de dezembro de 1947

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Relatório Movimento dos Folcloristas em Minas GeraisContrato N°SEC/ SFIC/FEC/CONTRATO/ 177/2017 – Relatório

intermediário.

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Como já vem sendo comentado nas ediçõesanteriores deste nosso Boletim Carranca, oprojeto Movimento dos Folcloristas em Mi-nas Gerais resulta da realização de um de-sejo expresso na segunda reunião ordináriada Comissão Mineira de Folclore, realiza-da no dia 06 de março do ano de 1948. Há,portanto, 70 anos. O entusiasmo do momen-to, no entanto, não se concretizou e, apenas,no ano de 1983, nosso companheiro Antô-nio de Paiva Moura se empenhou na cria-ção do Centro de Informações Folclóricas.Por acidentes de percurso, grande parte des-se acervo de informações se perdeu. Contu-do, no ano de 2015, nosso companheiro, dou-tor Raimundo Nonato de Miranda Chavesdeu continuidade ao projeto, ao criar o sítioWWW.folcloreminas.com.br, com o que con-tou com a colaboração do professor Antô-nio de Paiva Moura.No momento atual, a Comissão Mineira deFolclore envida esforços para povoar de in-formações, segundo um modelo traçado deSistema, arquivos que permitam a todos osestudiosos compreenderem como seestruturaram ao longo dos anos os estudosdedicados ao Saber Viver em Minas Geraise Suas Condições.

Este projeto deverá favorecer a compreen-são de que FolcloreÉ o estudo do saber viver em que predo-minam as relações pessoais com atençãopara as instâncias legitimadoras desseSaber que os credenciam, descredenciamou os desconhecem.Desse modo, não se trata de exibir apenasaquilo que se chama Folclore, mas identifi-car em meio aos discursos as condições im-postas pelas instituições que legitimam oudeslegitimam o saber popular.O aparato normativo, as categorias estatís-ticas, os movimentos sociais que buscam seorganizar são exemplos desse percurso.Chama-se atenção para a Minas Republi-cana, e os movimentos que ensejam a cria-ção do Arquivo Público Mineiro, a Acade-mia Mineira de Letras, o Instituto Históricoe Geográfico de Minas Gerais, a celebra-ção do Centenário da Independência de queresulta o Movimento Modernista e naciona-lista, a criação da Universidade de MinasGerais e o contexto que favorece a criaçãodas Comissões Estaduais de Folclore comoresposta à Comissão Nacional de Folclore.Nesta edição privilegia-se a apresentaçãodas publicações que registram as Condiçõesdo Saber Viver.

Ficha da obra:VEIGA, José Pedro Xavier da. Efemérides Mineiras

– 1664 – 1897. Belo Horizonte: Centro de EstudosHistóricos e Culturais: Fundação João Pinheiro, 1998. 1.114páginas [ Introdução de Elaine Maria de Almeida Carneiroe Marta Eloísa Melgaço Neves] [Originais de 1926, aprimeira publicação é do ano de 1897] ][Acervo de JoséMoreira de Souza, disponível no Centro de Celebração deMinas da Comissão Mineira de Folclore]

Informações relevantes sobre o autorJosé Pedro Xavier da Veiga nasceu em Campanha no dia13 de abril de 1846 e faleceu em Ouro Preto em 8 deagosto de 1900. Viveu, portanto, exíguos 54 anos. MinasGerais deve a ele dois grandes feitos: fundar o ArquivoPúblico Mineiro e dedicar 18 anos na elaboração da obraEfemérides Mineiras.Pertencente a uma família de políticos influentes do Império,José Pedro fixa para a República a necessidade de cultivara memória histórica e espacial. A Revista do ArquivoPúblico Mineira que ele funda e redige é o monumento

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principal de sua colaboração pela fixação dessa memória.Efemérides Mineiras resulta desse empenho patriótico.Esta obra é quase que resposta às Efemérides Brasileirascuja publicação se inicia no ano de 1891 da pena do Barãodo Rio Branco no recém fundado Jornal do Brasil.Xavier da Veiga é um patriota no sentido mais exato.Sobressai-se muito além do que os governos lhe oferecemcomo condição. Criado por Lei o Arquivo Público Mineiro,ele oferece a própria casa para acolher o acervo de nossahistória e junta ao acervo público todos os documentos queeram de sua propriedade. Elabora projeto de longo alcancepara que o Arquivo contenha Documentos originais,publicações relevantes para a história de Minas, e imaginaa constituição de um museu que explicite o saber fazer emMinas Gerais. Estava anunciado: Acervo documental,hemeroteca, biblioteca pública e museu mineiro.Ciente de que a República se constituía de federação deestados, Xavier zela para obter documentos dispersos deMinas Gerais existentes nas, então, províncias de São Paulo,Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás e Bahia. Este empenhoindica a diferença entre a consciência de identidade espacialda Capitania e da Província em contraste com a necessáriaao Estado de uma federação.

Plano da obra: tema, roteiro discursivo.

A edição aqui fichada se apresenta em três volumes,diferentemente da original publicada em quatro volumes.Na edição atual, apenas os dois primeiros volumescorrespondem à antiga. O terceiro volume resulta de esforçode preparação de índice Onomástico abrangendo 163páginas.

Destaques das divisõesA obra propriamente dita é precedida de 47 páginascontendo “Apresentação” p. 10-12; “Introdução” p. 17-40; e “Nota Explicativa” p. 43-44O núcleo original é formado por: “Prefácio” p. 47-52;“Indicador Alfabético dos quatro volumes das EfeméridesMineiras” p. 53-114; “cronologia Mineira” p. 115-116.A partir da página 119 os acontecimentos históricos de MinasGerais são apresentados segundo o dia do mês e o ano apartir de 1º de janeiro até 31 de dezembro.Neste relatório são destacados apenas registros deacontecimentos comentados pelo autor a partir do ano de1889, ano da Proclamação da República.

Ficha: Constituição de 1891 até aConstituição de 1967.Ficha da Obra: ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ES-TADO DE MINAS GERAIS. Constituições do Estadode Mina Gerais: 1891, 1935, 1945, 1947 e 1967 e suasalterações. Belo Horizonte: Assembleia Legislativa do Es-tado de Minas Gerais, 1988. [Acervo de Elieth Amélia deSousa. Disponível no Centro de Celebração de Minas daComissão Mineira de Folclore]Informações relevantes sobre o autor:Esta obra que reproduz as cinco Constituições do Estadode Minas Gerais foi preparada no ano de 1988 pelaAssembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais comparticipação do Centro de Estudos Mineiros da Faculdadede Filosofia e Ciências Humanas da UFMG para colaborarcom a Assembleia Constituinte de Minas Gerais na oportu-nidade de promulgar a Constituição do Estado no ano de1989 atualmente vigente.Plano da obra: tema, roteiro discursivo.A obra é precedida de “Apresentação” assinada pelos de-putados Neif Jabour, presidente; Kemil Kumaria, presidenteda Comissão Preparatória; e José Bonifácio, Relator daComissão Preparatória.Em seguida são apresentadas as Constituições do Estadona seguinte ordem:

1.Constituição Política do Estado de Minas Gerais

promulgada em 15 de junho 1891.

Leis Adicionais. Entre outubro de 1891 e setem-

bro de 1928 a Constituição recebeu 12 Leis adi-

cionais, revogando, substituindo e acrescenta-

do artigos.

2.Constituição Política do Estado de Minas Gerais

promulgada em 30 de julho de 1835.

3.Constituição Política do Estado de Minas Gerais

promulgada em 29 de outubro de 1845.

4.Constituição Política do Estado de Minas Gerais

promulgada em 14 de junho de 1947.

Leis Constitucionais. Entre janeiro de 1951 a

dezembro de 1966 a Constituição de 1947 re-

cebeu 19 novas Leis Constitucionais.

5.Constituição Política do Estado de Minas Gerais

promulgada em 13 de maio de 1967.

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Emendas Constitucionais. Entre outubro de

1970 e junho e 1987 a Constituição rece-

beu 26 emendas.

A obra termina com artigo assinado pelo professor RaulMachado Horta, da UFMG.

Destaques das divisõesA Constituição Política do Estado deMinas Gerais de 1891 foi promulgada em15 de junho deste ano abrangendo quatroTÍTULOS: Organização do ESTADO,MUNICÍPIOS, REGIME ELEITORAL, eàs DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSI-TÓRIAS.Não há menção à CULTURA de modo es-pecífico, senão à EDUCAÇÃO, que noitem ORGANIZAÇÃO DO ESTADO noART. 3° Parágrafo 6°. expõe que: “ O ensi-no primário será gratuito e particular exerci-do livremente”.Já na Constituição do Estado de MinasGerais de 1935 promulgada em 30 de ju-lho, a EDUCAÇÃO e a CULTURA tor-nam-se um TÍTULO por si só, e abarcamquatro artigos (Art.89 ao Art. 92) estes apre-sentam o sistema educativo próprio1. Po-rém em relação à CULTURA, de modo es-pecífico, não houve também nenhuma men-ção.A EDUCAÇÃO e a CULTURA permane-cem como um título na constituição pro-mulgada em 29 de outubro de 1945. Seusartigos 94, 95, 96 e 97 mostram o sistemaeducativo de forma mais abrangente do quenas constituições anteriores. Ou seja, con-templa o ensino em todos os seus graus eramos, o ensino religioso. E também desta-ca neste sistema a educação física. Quantoao ensino primário foi mantido como obri-gatório e gratuito tal como nas constituiçõesanteriores.

Destaca-se, porém, que nesta Constituição de 1945,pela primeira vez apresenta um artigo relacionado àCULTURA, de modo específico. Trata-se doArt.98, que diz:

“Os monumentos históricos,artísticos e naturais, assim comoas paisagens ou os locais parti-cularmente dotados pela natu-reza, gozam da proteção e doscuidados especiais dos pode-res públicos.”

Na Constituição de 1947 a junção de EDUCA-ÇÃO E CULTURA permanece como um único tí-tulo e se apresenta com 13 artigos ( Art. 124 ao Art.135) A maioria deles relacionados à EDUCAÇÃO.Em relação à CULTURA, destacam-se os seguin-tes artigos. Art. 127 – As ciências, as letras e as artes são livresArt. 133 – As obras, monumentos e documentos devalor histórico e artístico, bem como os monumen-tos naturais, as paisagense os locais dotados de par-ticular beleza ficam sob a proteção do poder públi-co, que determinará os melhores meios de sua efici-ente preservação.Art. 134 – As conferências científicas ou literárias,os recitais e as expressões de artes são isentos dequaisquer tributos estaduais e municipais.Art. 135 – O Estado promoverá e estimulará acriação de bibliotecas populares.Na Constituição de 1967 a junção de EDUCAÇÃOE CULTURA permanece como um único título ese apresenta com 10 artigos ( Art. 225 ao Art. 234) Amaioria deles relacionados à EDUCAÇÃO.Em relação à CULTURA, destacam-se os seguin-tes artigos.Art. 230 – O amparo à cultura é dever do Esta-do.Art. 231 – As ciências, as letras e as artes são livres.Parágrafo Único – Ficam sob a proteção especialdo Poder Público os documentos, as obras e oslocais de valor histórico ou artístico, ou dota-

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intermediário.

dos de particular beleza, e os monumentos epaisagens naturais notáveis bem como as jazi-das arqueológicas, para cuja preservação oEstado adotará as medidas e manterá os servi-ços adequados, em cooperação com os órgãosfederais ou municipais correspondentes.Art. 232 – As conferências de natureza científicaou literária, os recitais de arte são isentos dequaisquer tributos estaduais, na forma da lei.Destaque para o movimento do folclore:Há duas relevâncias da atenção às constituições do Estado.Em primeiro lugar “Em Nome de quem” se promulga a LeiMaior de organização do Estado. Em segundo lugar, emque momento se menciona a palavra povo.Veja-se.Constituição de 1891: “Em nome de Deus Todo – Poderoso,os Representantes do Povo Mineiro, no CongressoConstituinte do Estado, decretamos e promulgamos estaConstituição. [p.19]Constituição de 1935: “Em nome de Deus Todo –PoderosoO Povo mineiro, por seus representantes em AssembleiaConstituinte, decreta e promulga a presente” [p. 81]Constituição de 1945: “O Governador do Estado de MinasGerais, em cumprimento do que dispõe o art. 181 daConstituição Federal invocando o nome de Deus, decretaa seguinte.” [p. 113]Constituição de 1947: “Nós, os representantes do povomineiro, em Assembleia Constituinte, invocando a proteçãode Deus, decretamos e promulgamos a seguinte” [p. 137]Constituição de 1967: “A Assembleia Legislativa do Estadode Minas Gerais, invocando a proteção de Deus, decreta epromulga a seguinte” [p. 219]

Nota1 Abrangendo o ensino em todos os seus graus e ramos,o ensino religioso de frequência facultativa, a obrigatoriedadee gratuidade do ensino primário nas escolas públicas, sendoo material escolar gratuito para os pobres. E aobrigatoriedade de concurso público para o magistério.

Carteira Estatística de Minas Geraes - 1929

Ficha da obra:SECRETARIA DA AGRICULTURA. Serviço de Estatís-tica Geral. Carteira Estatística de Minas Geraes - 1929.Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1929. 573 páginas.

[Acervo de José Moreira de Souza, disponível no Centrode Celebração de Minas da Comissão Mineira de Folclo-re]

Informações relevantes sobre o autorEsta obra tem sua apresentação assinada por M. A. Teixeirade Freitas, na qualidade de Diretor do Serviço de EstatísticaGeral do Estado de Minas Gerais, no ano de 1929. Vale notarque esta Diretoria se vinculava à Secretaria de Estado daAgricultura, o que se justifica pela ampla população depen-dente dessa atividade.Embora se anuncie a necessidade de um serviço de estatísti-ca no Estado que publique um Anuário Estatístico, esse es-forço já vinha de longa data com muita descontinuidade aqual se manterá pelos anos afora.

Cumpre enumerar alguns momentos desse esforço: SENNA

, Nelson de, Anuário de Minas .Gerais, no I. 1906, Belo

Horizonte, 1906. Iniciado, portanto, por um membro funda-

dor da Comissão Mineira de Folclore;

JACOB, Rodolfo. Minas Gerais no Século . XX, Belo Hori-

zonte. Imprensa Oficial.1911

Annuario Estatistico de Minas Gerais 1922 – 1925;Minas Gerais. Departamento Estadual de Estatística. Com1206 páginas

SENNA , Nelson de. A Terra Mineira. Belo Horizonte:

Imprensa Oficial, 1922.

SILVEIRA, Victor. Minas Gerais em 1925.

Além do esforço do futuro IBGE que publica no ano de 1907

a obra O Brasil, suas riquezas naturais, suas indústrias e

que inaugura nos anos trinta do século XX a publicação do

Anuário Estatístico do Brasil. Há que destacar a

publicização dessas informações as quais disseminam para

uma ampla população – certamente erudita – as condições

do saber viver tendo em vista as condições consideradas pe-

los governos. Há que lembrar que os governos irão paulati-

namente dando valor, em primeiro lugar, à contabilidade pú-

blica com a invenção das tabelas de dupla entrada – o estado

das receitas e despesas -, à medição do território e das pro-

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priedades particulares ou privadas, às distâncias, ao clima, e

à população segundo sua qualificação como recurso à domi-

nação.

Vale a pena comparar as estatísticas produzidas durante operíodo colonial e nos censos provinciais realizados em Mi-nas Gerais ao longo do século XIX para se ter presente aqual “realidade objetiva” os governos prestam atenção. Tome-se como exemplo: batismos, encomendações, rol dos con-fessados, a população segundo a condição de livres, escra-vos, forros, pardos pretos, brancos etc.O cuidado de produzir informações em série histórica, aomesmo tempo em que revela continuidades, silencia asdescontinuidades. É caso, por exemplo, das informações doprimeiro Censo Geral do ano de 1872, comparadas com asdos censos de 1890, 1900 e 1920.O Censo de 1872 se fez no interior de vigência do RegimeEscravista. A atenção para as condições dos “Defeitos Físi-cos” da população trabalhadora era informações importan-tes. Desse modo, os “defeitos físicos” se mostram desagre-gados segundo se exibirem como cegos, surdos mudos, alei-jados, dementes e alienados. O censo demográfico de 1890não permite desagregar essas informações – foi o pior járealizado -, os censos seguintes, até 1920 apresentam os “de-feitos físicos” apenas nas categorias “cegos” e “surdos mu-dos”.Se atentarmos para os censos mais recentes – este não é ocaso – veremos a população desagregada por categorias de“deficiências” e elevada discrepância entre as concepçõesde “deficiência” entre as séries anteriores ao censo de 2010.A atenção às deficiência se torna mais “rigorosa” sem dis-criminar as categorias de deficiência “leves” e “profundas”.Diferenças importantes se revelam nas estatísticas que re-gistram a vida religiosa. Apesar de a Constituição da Repú-blica decretar o Estado Leigo, o “Culto Católico” é avaliadosegundo as divisões eclesiásticas e os atos religiosos, o quetorna evidente a alta relevância da Igreja como componentenecessário às políticas de Cultura. Isto se torna evidente nacriação do Serviço do Patrimônio Histórico nos anos 30 deséculo XX em resposta aos movimentos do Episcopado.Esse esforço que toma corpo ao longo da República revelacomo se alia o poder à racionalidade instrumental. Não bas-ta querer, não basta ordenar. É necessário atenção constan-te às condições de obter obediência pronta.A criação do Serviço de Estatística do Estado de Minas Ge-rais é, portanto, tão importante como a criação do ArquivoPúblico Mineiro nos primeiros anos da República. E aqui serevela uma curiosidade, ao passo que o Arquivo Público Mi-neiro se afirma pela vontade de Xavier da Veiga e conseguecontinuidade pelo menos ao longo das quatro primeiras dé-cadas, os Serviços de Estatística são descontínuos e depen-

derão com a maior frequência da consolidação do InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística, cujos ensaios têm suaorigem no Império na oportunidade do Censo Demográficode 1872, e que prossegue em tropeços como o de 1890, e1900 – os dois últimos mostram a fraqueza da República,até alcançar o ano de 1920, em que a Contabilidade Públicaé posta em relevo.No bojo da consolidação dos Serviços de Estatística do Es-tado, bem como do Arquivo Público Mineiro transparecemos desafios e incômodos de uma racionalidade instrumentalpelos governos. Quanto mais informações, tanto mais osgovernos se obrigam a desenvolver discursos que justifiquemdiretrizes de comando; quanto menos informações, tanto maisos governos se capacitam a afirmar o poder sem atençãoaos resultados e se qualificam para a retórica do absurdo,como na fábula do Lobo e o Cordeiro.Cumpre lembrar ainda que, no ano de 1927 a Lei Municipalde Belo Horizonte nº 320, por iniciativa de Octávio Penna,cria o Serviço de Estatística Municipal.Vale lembrar que, como município da capital, Belo Horizon-te realizou vários recenseamentos da população independen-temente do censos gerais.

Plano da Obra, roteiro discursivo.A obra se apresenta em duas partes. A Primeira se intitula“Minas Gerais através dos números” e é disposta em duasseções: “Síntese retrospectiva” e “Atualidade Mineira”.A Segunda Parte: Consultório Estatístico contém 3 seções:1. “Sinopse Estatística do Brasil”; 2. “breviário de Estatísti-ca Internacional”; e 3. “Compêndio Estatístico de Informa-ções Úteis”.Leia-se o que Teixeira de Freitas declara no Prefácio:

O interesse com que foi recebido o opúsculo di-vulgado por este Serviço sob o título “Minas Ge-rais através dos números” cuja edição de 5.000exemplares rapidamente se esgotou, veio demons-trar a necessidade de manter a estatística esta-dual mais ou menos em dia a vulgarização dosseus resultados mais gerais, quer para o Estado,quer para cada um dos municípios, deixandopara o Anuário Estatístico, de elaboração e di-vulgação sempre demoradas, registro sistemáti-co, em todo o seu possível desenvolvimento, dageneralidade das estatísticas mineiras. [p.5]

Imagina-se um sistema de informação cuja séria histórica eespacial possa cobrir todo o território do estado, consideran-do os municípios de um lado e a agregação de todos eminformações para o Governo. Mas, o Diretor imagina ime-diatamente as dificuldades e as sublinha:

Verdade é que o conteúdo da obra não esgota acapacidade do quadro adotado. Impediram-no,além da escassez de tempo e de pessoal, aexiguidade ainda muito sensível da biblioteca

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Relatório Movimento dos Folcloristas em Minas GeraisContrato N°SEC/ SFIC/FEC/CONTRATO/ 177/2017 – Relatório

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da repartição e a reconhecida deficiência dasnossas estatísticas tanto gerais quanto como re-gionais ou locais, deficiência que as contingên-cias, sociais, administrativas ou políticas da na-cionalidade só permitirão remover muito lenta-mente. [p.6]

Na seção “Atualidades Mineiras” vê-se o plano de apre-sentação e análise em que se incorporam as principais ca-tegorias das condições que interessam às ciências sociais:Condições Físicas; Condições Demográficas; CondiçõesEconômicas; Condições Sociais; Condições Administrati-vas e Políticas.Há que fixar as deficiências: “Sociais, administrativas e po-líticas”. Merece também fixar que a década de vinte con-solida no Brasil e em Minas Gerais um novo setor de estu-do da realidade que há de ser medida e avaliada em núme-ros para além da Aritmética Elementar. Não serão os pro-fissionais diplomados nos cursos das Ciências Jurídicas eSociais que terão o comando, mas o Engenheiros habitua-dos aos cálculos. Isto dará origem aos cursos em nível ele-mentar de Contabilidade nos anos 30 e de Ciências Admi-nistrativas e Econômicas nos anos 50 em nível universitário.Desse modo, a publicação em análise dedicará uma amplaseção ao “Compêndio Estatístico de Informações Úteis”,na qual o leitor é convidado a se atualizar no emprego damatemática para lidar com a realidade expressa em núme-ros. [ p. 435-573]. Além disso, chama também a atençãodeste leitor a apresentação das “Principais Efemérides daHistória Mineira” em que se determina o que os governosdevem fixar na memória popular o que mereceria lendasque narrassem os mitos de nosso percurso. Merece lem-brar que o Catecismo Positivista de Augusto Comte já pre-ceituava isto como diretriz do Estado.

Ficha A Revista 1925 1926

Ficha da obra: A Revista 1925 1926. Belo Horizonte,1925-1926. Diretores: Martins de Almeida, CarlosDrummond. Redatores: Emílio Moura e Gregoriano Canedo.Números de 1 a 3. 58 páginas em média por edição. Con-tém anúncio de casas comerciais de Belo Horizonte quecontribuíram para a publicação. [Acervo de José Moreirade Souza, disponível no Centro de Celebração de Minasda Comissão Mineira de Folclore. Disponível também emhttps://digital.bbm.usp.br/bitstream/bbm/7054/1/45000033265_OUTPUT.o.pdf]

Informações relevantes sobre o autorA Revista é filha do Movimento Modernista que irá repercu-tir em Minas e surge com esse nome pomposo. É A semqualquer qualificação. Torna-se a chamada de atenção paraos mineiros. Terá curtíssima duração. Publicou apenas trêsnúmeros e foi interrompida sem se despedir. Alguns de seusmembros irão aderir no ano seguinte – 1927 – à RevistaVerde que surge na pequena cidade de Cataguases e a ener-gia do movimento ainda se mostrará na Leite Criôlo quesurgirá também como meteoro em Belo Horizonte, no anode 1929. Há uma curiosidade. Enquanto a Revista, comintenção de ser publicada mensalmente, desobedece essa in-tenção e consegue publicar apenas três edições, interrompea série nesse número, A Revista Verde, encerra suas peripé-cias e dedica a última edição avaliando os obstáculos.Há nomes que se repetem nas duas primeiras publicações eoutros que se mantêm constantes na segunda e terceira, eoutros que teimam em se apresentar em todas. É o caso deCarlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, João DornasFilho, Aquiles Vivacqua, Guilhermino César, entre outros. Háuma curiosidade. O aumento do fôlego diminui o porte daspublicações. A Revista durou apenas três números mas seexibia com 58 páginas; A Revista Verde publicou seis núme-ros com 28 páginas por edição. Finalmente, Leite Criôlo al-cançou 19 edições, porém, reduzidas a 8 páginas.Para aguçar a curiosidade vale a pena lembrar que, no anode 1927, consolida-se em Belo Horizonte a Universidade deMinas Gerais – depois UFMG – de que resulta a criação daRevista da Universidade de Minas Gerais.Para se compreender os anos desse movimento, vale a penaa leitura da obra – tese de doutoramento – de FernandoCorreia Dias: O Movimento Modernista em Minas: UmaInterpretação Sociológica. Belo Horizonte: Faculdade deFilosofia e Ciências Humanas da UFMG, 1968. E desse mes-mo autor: João Alphonsus: Tempo e Modo. Belo Horizon-te: Universidade Federal de Minas Gerais, Centro de Estu-dos Mineiros, 1965.

Plano da obra, roteiro discursivo.

Para a compreensão do plano de A Revista merececontextualizar, em linhas rápidas, os anos 20 do século pas-sado. 1922 é o ano em que as elites brasileiras irão celebraro Centenário da Independência. No cerne dessa celebraçãohá uma questão permanente que deverá ressoar neste mo-mento. O ser Brasileiro, o Brasil Nação. Há que destacar,no plano nacional o cuidado do governo de promover umamplo levantamento das condições de viver resumidas nosRecenseamentos da população e das atividades econômicasde que sobressaem os estudos de Oliveira Viana 1920 -Populações Meridionais do Brasil; 1921 - Pequenos Es-tudos de Psicologia Social; 1922 - O Idealismo na Evo-

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lução Política do Império e da República; e 1923 - Evo-lução do Povo Brasileiro.

Em Minas Gerais sobressai-se a obra de Nelson de SennaTerra Mineira, publicada em 1922 e a síntese de VictorSilveira: Minas Gerais em 1925.

A revista se apresenta em três seções. A primeira é forma-da pelos anúncios dos que contribuem para a impressão. Estaseção de “Anúncios” se presta para conhecer a localizaçãodos estabelecimentos situados no que se chama, hoje, oHipercentro de Belo Horizonte. É claro que nenhum mem-bro é remunerado. Compõem a rede de doações. A segundaé de poesias, ensaios, artigos dos que aderem ao movimento.O primeiro artigo não assinado é de responsabilidade dosredatores. Por último há a seção intitulada “Marginalia”, con-tendo resenhas de livros e comentários de leitores.

Destaques das divisões A Revista – nº I. Belo Horizonte, julho de 1925. Ano I.Sumário: p. 3Anuncia os artigos por autor, sem indicação das páginas.Artigos. P. 11 – 39

Para os céticos A Redação. P. 11 – 13Anuncia o que se pode esperar de A Revista e comenta aousadia de publicá-la.

Supõe-se que ainda não estamos suficientementeaparelhados para manter uma revista de cultura,ou mesmo um simples semanário de bonecos ci-nematográficos: falta-nos desde a tipografia atéo leitor. Quanto a escritores, oh! isso temos desobra. (Assim Deus Nosso Senhor mandasse umaepidemia que os reduzisse à metade!) Desta sor-te, um injustificável desânimo faz de Belo Hori-zonte a mais paradoxal das cidades: centro deestudos, ela não comporta um mensário de estu-dos. E se reponta, aqui e ali, uma tentativa nessesentido, o coro dos cidadãos experimentados ecéticos exclama: “Qual! É tolice... A ideia nãovinga, o ceticismo astucioso e estéril vai comprara sua “Revista do Brasil”, que é de S. Paulo e,por isso, deve ser profundamente interessante...[p.11]

[Merece atenção o emprego da palavra “cultura” no sentidocorrente em que se compreendia esta palavra antes de elase colocar em discussão nos anos 30 e 40, porém, já anunci-ada por João Ribeiro no final desta década. Merece tambéma atenção a luta por tornar Belo Horizonte um centro de

divulgação de ideias. Os editores percebem a dificuldade ecomentam em seguida:]

Os moços que estão à frente desta publicaçãoavaliam com segurança a soma de tropeços avencer no empreendimento que se propuseram.[...] No caso presente, o inimigo pode tornar-seamigo: é a indiferença do público, tão legítimaem vista dos repetidos bluffs literários dos últi-mos tempos. [p.12]

Em seguida são definidos compromissos desses “moços”:Não somos românticos, somos jovens. [...] Açãointensiva em todos os campos: na literatura, naarte, na política. Somos pela renovação intelec-tual do Brasil, renovação que se tornou impera-tivo categórico. Pugnamos pelo saneamento datradição, que não pode continuar a ser o túmulode nossas ideias, mas antes a fonte generosa quedelas dimanem. Somos, finalmente, um órgão po-lítico. Este foi corrompido pela interpretação vi-ciosa a que nos obrigou o exercício desenfreadoda politicagem. [...] Será preciso dizer que temosum ideal? Ele se apoia no mais franco naciona-lismo. A confissão desse nacionalismo constituio maior orgulho de nossa geração, que não pra-tica a xenofobia nem o chauvinismo, e que, lon-ge de repudiar as correntes civilizadoras da Eu-ropa, intenta submeter o Brasil cada vez mais aoseu influxo sem quebrar nossa originalidadenacional.[p.12]

Essas diretrizes se confrontam com seus desafios:Nascidos na República, assistimos ao espetáculoquotidiano e pungente das desordens intestinas,ao longo dos quais se desenha, nítida eperturbadora, em nosso horizonte social, umatremenda crise de autoridade. No Brasil, ninguémquer obedecer. Um criticismo unilateral dominatanto nas chamadas elites culturais como nas clas-ses populares. [p.12]

Há esperanças diante de um Brasil em que “As paixões ocu-pam o lugar das ideias, em vez de se discutirem princípios,discutem-se homens”. A esperança está na “civilização”.

Ao Brasil desorientado e nevrótico de até agora,oponhamos o Brasil laborioso e prudente que acivilização está a exigir de nós. [...] Depois dadestruição do jugo colonial e do jugoescravagista, e do advento da forma republica-na, parecia que nada mais havia a fazer senãocruzar os braços. Engano. Resta-nos humanizaro Brasil. [p13]

Capítulo – Mário de Andrade – p. 14 – 16Não é por acaso que A Revista brinda o leitor com um capí-tulo inédito da obra Amar verbo intransitivo de Mário deAndrade para se consagrar no interior do Movimento Mo-

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dernista. Parece que o tema do capítulo tem a ver com amensagem aos céticos. Os moços de Belo Horizonte estãoem ótima companhia.No capítulo escolhido, Mário se debruça sobre o saber servirà mesa. Discorre sobre a habilidade do garçom como marcado caráter nacional; melhor, com indicativo da civilização ouda civilidade, para além das regras do bem servir. SegundoMário, o garçom perfeito vai muito além de servir. Fiqueapenas como amostra esta receita para o garçom-psicana-lista. Ele lê o inconsciente:

Sempre observei o comovente compromisso tro-cado entre o freguês que bebe e o garçom queserve. O verdadeiro freguês não pede somentewhisky e sanduíches, traz pro restaurante um di-lúvio de pedidos inexpressos inconscientes queurge satisfazer tanto como a sede. Quem servedeve saber disso. O verdadeiro garçom sabe dis-so. [p.14]

Garçom se apresenta como metáfora e Mário de Andradeconclui: “Eu te venero, França! Oh servidora ideal, garçomda gente!...” [p.16]

Momento Brasileiro – Magalhães Drummond – p. 17- 18

Em todas as edições esse autor apresenta um capítulo doensaio a que intitulou “Momento Brasileiro”. O que se apre-senta na primeira edição é da colocação do problema. Oautor encerra com esta afirmação:

Procurarei, no desenvolvimento deste ensaio,provar que há uma “ideia brasileira”, um “pen-samento brasileiro”, um “espírito brasileiro” po-larizando as ideias, os pensamentos e os espíri-tos brasileiros; que há um “ideal brasileiro” emque se enunciam e se concentram e em que seunificam e se harmonizam as melhores energiasnossas; que o “problema brasileiro” prima naconsciência da generalidade dos brasileiros, so-bre todos os demais problemas, e que a convic-ção já se formou de que a solução só se chegarápor um “critério brasileiro”.Ver-se-á que esse grande problema é – precisa-mente – o da “organização do Brasil para durar

como Estado e como nacionalidade”. [p. 18]

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missão Mineira de Folclore. Disponível também em https://d i g i t a l . b b m . u s p . b r / b i t s t r e a m / b b m / 7 0 5 4 / 1 /45000033265_OUTPUT.o.pdf]

Informações relevantes sobre o autorA Revista é filha do Movimento Modernista que irá repercu-tir em Minas e surge com esse nome pomposo. É A semqualquer qualificação. Torna-se a chamada de atenção paraos mineiros. Terá curtíssima duração. Publicou apenas trêsnúmeros e foi interrompida sem se despedir. Alguns de seusmembros irão aderir no ano seguinte – 1927 – à RevistaVerde que surge na pequena cidade de Cataguases e a ener-gia do movimento ainda se mostrará na Leite Criôlo quesurgirá também com meteoro em Belo Horizonte, no ano de1929. Há uma curiosidade. Enquanto a Revista, com inten-ção de ser publicada mensalmente, desobedece essa inten-ção e consegue publicar apenas três edições, interrompe asérie nesse número, A Revista Verde, encerra suas peripéci-as e dedica a última edição avaliando os obstáculos.A segunda edição afirma os propósitos dos que aderem aomovimento e vale sublinhar o emprego do termo “Creação”em contraste com os descrentes enfatizados na primeiraedição com o termo os “Céticos”. Há também o frequenteemprego dos termos cultura e civilização, termos que serãoabordados com maior rigor em escritos dos anos 30 após acriação das Universidades.O emprego da palavra “creação” com esta grafia não é for-tuito. Até as sucessivas reformas ortográficas, “Criação”somente era redigido com “i” para as ações divinas. Somen-te Deus Cria; os serem humanos “Cream”. O uso indiferen-te de criação para seres humanos demarca uma profundamudança de mentalidade. Isto quer dizer que os autores domodernismo não se confrontavam diretamente com os códi-gos religiosos vigentes, embora não houvesse nenhum padreno movimento.Importa ainda sublinhar como palavras chaves os termosNacionalismo, regionalismo e tradição.Ao dizer de palavras chaves, o leitor é tentado a esboçar arede que tece o sistema do movimento dos modernistas edestacar: em primeiro lugar, eles se constituem em um grupode acesso condicional, multifuncionais, aparentemente am-plos, com pretensão a serem permanentes, voluntários, compossibilidade de reuniões periódicas, parcialmente organiza-dos, de atividades não lucrativas, de união entre os partici-pantes, com propósito de serem inteiramente permeáveis àsociedade global mas incompatíveis com grupos que preten-dam alcançar objetivos sob os mesmos propósitos com nor-mas em oposição à sua constituição, segundo a tipologia deGeorges Gurvitch [GURVITCH, Georges. La vocationactuelle de La Sociologie, Sociologie diferéntielle. Tomepremier. Paris: Presses Universitaires de France, 2e. éditionrefondue, 1957. P. 305 – 354.] Em segundo lugar, o movi-mento dos modernistas mineiros elabora um sistema de có-

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digos de ação orientados por valores que necessariamentedeverão se opor a outros sistemas de valores. Isto ficarápatente no Editorial da edição de número 2 desta revista.

Plano da obra, roteiro discursivo.

A revista se apresenta em três seções. A primeira é forma-da pelos anúncios dos que contribuem para a impressão. Estaseção de “Anúncios” se presta para conhecer a localizaçãodos estabelecimentos situados no que se chama, hoje, oHipercentro de Belo Horizonte. É claro que nenhum mem-bro é remunerado. Compõem a rede de doações. A segundaé de poesias, ensaios, artigos dos que aderem ao movimento.O primeiro artigo não assinado é de responsabilidade dosredatores. Por último há a seção intitulada “Marginalia”, con-tendo resenhas de livros e comentários de leitores.

Nesta edição, a seção “Os livros e as ideias” se antecipa àque leva o nome de “Marginalia” a qual contém comentáriosabertos aos acontecimentos relevantes para os autores.

Destaques das divisões A Revista – nº II. Belo Horizonte, agosto de 1925.Ano I. Número 2.P

Para os espíritos creadores. P. 11 -13.A este artigo se pode dar o nome de “Manifesto dos Moder-nistas de Minas”. Ele soa como o regimento da adesão àRevista. Vale a pena destacar algumas afirmações segundoos blocos de normas que orientam o movimento:

1. Falamos aos céticos; chegou a vez de falarmos aosespíritos creadores.

2. Vimos reafirmar a nossa orientação no sentido damais franca nacionalização do nosso espírito.(...) Sofremos uma aproximação mais íntima, umcontato mais vivo do nosso meio.

3. Não queremos atirar pedras ao passado. O nossoverdadeiro objetivo é esculpir o futuro. Aí estãoproblemas essenciais da nacionalidade exigindouma solução imediata. Pretendemos realizar, aomesmo tempo, uma obra de creação e de crítica.

4. Deixamos a cada colaborador a mais amplaliberdade de ponto de vista da opinião. Apenasdesejamos imprimir ao nosso trabalho umaunidade em harmonia com nossa tendêncianacionalista. Sem preceitos rígidos. Semexclusivismos estéreis

5. Procuramos concentrar todos os esforços paraconstruir o Brasil dentro do Brasil ou, se possível,Minas dentro de Minas.

6. Acolhemos com simpatia o regionalismo.

7. Pressentimos o perigo enorme do cosmopolitismo.É a ameaça de dissolução do nosso espírito nasreações da transplantação exótica.

8. Na verdade um dos nossos fins principais é solidifi-car o fio das nossas tradições. Somos tradiciona-listas no bom sentido. Opomo-nos a qualquerdesbarato da nossa pequena herança intelectu-al.

9. Se adotamos a reforma estética, é justamentepara multiplicar e valorizar o diminuto capitalartístico que nos legaram as gerações passadas.

10. Nas relações internas, a nossa orientaçãoestá definida no sentido da centralização dopoder. Tanto na política como nas letras, amea-çam-nos perigosíssimos elementos de dissolu-ção.

11. Anda por aí, em explosões isoladas, umnefasto espírito de revolta sem organização nemidealismo, que tenta enfraquecer o nosso orga-nismo social.

12. No momento atual, o Brasil não comporta asocialização das massas populares.

13. Aí está a imigração que, acolhida em massaenglobada, é perigosíssima à formação atual denossos caracteres. Poderá perturbar ainda maiso estado de nossa mestiçagem psíquica. Nãopodemos impedi-la mas podemos organizá-la.

14. Coerentes com o nosso programa naciona-lista, somos pela reforma de nossa constituição.Esta apresenta uma pomposa fachada dofederalismo norte americano e traz um fundo doromantismo político do segundo império.

15. Há um desacordo profundo entre muitosdos princípios constitucionais e a nossa mentali-dade social.

16. As nossas leis devem ser tiradas da obser-vação direta da vida brasileira, e não copiadasdos modelos estrangeiros.

Estão aí os principais propósitos do movimentomodernista segundo a interpretação dos coordenado-res do Movimento em Minas Gerais.

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Órgão Informativo da Comissão Mineira de Folclore – CMFL

Número 04 -18– Outubro - Dezembro 2018.

Acessível em

www.folcloreminas.com.br

Diretor Responsável – Míriam Stella Blonski

Fotos: Ana Lacerda, José Moreira de Souza e Júlio Jader

Editoração Gráfica: José Moreira de Souza

Diretoria da CMFL - 2018 - 2020Presidente de Honra: Domingos DinizPresidente: Míriam Stella BlonskiVice-presidente: Fabiane RibeiroSecretária: Marcus Vinícius Martins da CostaTesoureiro: Elieth Amélia de SousaConselho Fiscal da CMFLAntônio de Paiva MouraJosé Moreira de SouzaRaimundo Nonato de Miranda Chaves

Agradecimentos:

Prefeitura Municipal de Belo Horizonte -Fundação Municipal de Cultura

IMPRESSO

RemetenteComissão Mineira de FolcloreRua Pires da Mota - 202Bairro Madre GertrudesCEP – 30512-760Belo Horizonte - MGE-mail: [email protected]

Contrato N°SEC/ SFIC/FEC/CONTRATO/ 177/2017 – Relatório

intermediário.