carmen teresa - ensino - tempo_e_historia

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  • 7/25/2019 Carmen Teresa - Ensino - Tempo_e_historia

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    Informes e Documentos

    P R O J E T O ARARIB

    HISTRIA

    TEMPO E HISTRIA

    Distribuio exclusiva para professores

    Venda proibida

    Maria Inez Turazzi historiadora e doutora em Arquiteturae Urbanismo pela USP.

    Carmen Teresa Gabriel historiadora e doutora em Educaopela PUC-RJ.

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    EditoraModerna-CPIAAUTORIZADA

    Informes e Documentos

    Repensando as noes

    de tempo

    Fomos treinados para asso-ciar sculo passado ao XIX.

    Quem tem 40 anos h 40 anospensa no sculo XIX como osculo passado, e quem tem 80pensa assim h 80. O hbitomental to arraigado como ode associar peixe com gua, oupssaro com vo. E, no entan-to, agora, o sculo XX que pas-sa a sculo passado. A um sim-ples golpe do calendrio, umsimples arrancar de pginas deuma folhinha, o pobre sculoXX, to vivo, to dinmico, to

    presente, o sculo do avio, dateleviso e do computador,transfere-se para o passado.Junto com sua reclassificao,todos os que vivemos hoje vira-remos pessoas do sculo pas-sado, rigorosamente todos, atos bebs, mas isso impressio-na menos do que a simples idiade que este sculo to ufano desi prprio, to fantico pelonovo, pelo veloz e pelo mo-derno, entrar para o arquivomorto da Histria. Como foi elechegar a esse ponto?

    TOLEDO, Roberto Pompeu de. Ano2000, ano 2001: o que esperar deles.Veja, 22 de setembro de 1999. p. 154.

    IntroduoEnsinar histria trabalhar com o tempo. Para os professores

    dessa disciplina, o tempo uma ferramenta imprescindvel com-preenso dos contedos que integram as grades curriculares dosdiferentes nveis de escolarizao. Um dos principais objetivos doensino de histria contribuir para que as geraes mais jovenspossam compreender o mundo em que vivem, e uma das chaves

    mestras para essa compreenso justamente a noo de tempo esua tessitura histrica. Esse objetivo pode ser alcanado, por exem-plo, quando o aluno compreende que os significados atribu dos aomundo plural em que vivemos no so to naturais, como mui-tos costumam pensar, pois atmesmo as nossas referncias tem-

    porais dependem da poca, do lugar e das relaes sociais queconstrumos nossa volta. Ensinar histria no deixa de ser, por-tanto, um combate permanente contra a fatalidade e uma aposta

    renovvel na utopia.

    O objetivo principal deste Informeoferecer material de apoio aoprofessor de histria e de matrias afins, para uma reflexo sobre otempo e sua aplicabilidade no ensino de suas disciplinas. A relaoestreita entre histria e tempo ela prpria construda historica-mente. Por isso mesmo, diferentes concepes de histria traba-lham com diferentes formas de significar e representar o tempo

    histrico. Trata-se, portanto, de uma reflexo que procura resgatar,em um primeiro momento, o carter histrico das mltiplas noesde tempo que conhecemos. Em seguida, procuramos discutir como

    a relao tempo e histria se apresenta atualmente nas propostascurriculares adotadas no pas e nos livros didticos que circulam nasescolas brasileiras, com o intuito de contribuir para o enriquecimen-

    to das aulas de Histria.

    Natureza, sociedade e indivduo

    O tempo tornou-se a representao simblica deuma vasta rede de relaes que rene diversas se-qncias de carter individual, social ou puramentefsico. [...] Muitas vezes o indiv duo parece sentir-se um ser isolado frente totalidade do universo ese comportar como convm. Do mesmo modo, asociedade e a natureza aparecem freqentementecomo mundos separados. Uma reflexo sobre otempo deve permitir corrigir essa imagem de umuniverso dividido em setores hermeticamente fe-chados, desde que reconheamos a imbricaomtua e a interdependncia entre natureza, socie-dade e indivduo.

    Basta olharmos para um relgio ou um calendriopara nos darmos conta disso. Ao constatar, por exem-plo, que meio-dia do dcimo segundo dia do dcimosegundo ms do ano 1212, fixamos, simultaneamen-te, um marco temporal no fluxo de uma vida individual,na evoluo de uma sociedade e no devir da natureza.Em seu atual estgio de desenvolvimento, a noo detempo representa uma sntese de nvel altssimo, umavez que relaciona posies que se situam, respectiva-mente, na sucesso dos eventos fsicos, no movimen-to da sociedade e no curso de uma vida individual.ELIAS, Norbert. Sobre o tempo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,

    1998. p. 17.

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    Tempo e histria

    O tempo na histria eos tempos da histria

    O desenvolvimento da biologia e da geologia, com a descoberta e o

    estudo dos fsseis de animais que viveram hmilhes de anos, tor-nou conhecida a evoluo da vida na Terra e a descoberta da imensi-do do tempo, por isso mesmo chamado de tempo geolgico. Oscientistas calculam que o Universo exista huns 15 bilhes de anos;que a Terra tenha surgido hmais ou menos 4,5 bilhes de anos;e que os seres humanos estejam aqui huns 100 mil anos. As data-es do tempo geolgico e do tempo biolgico marcam a durao delentas transformaes da Terra e das formas de vida sobre o planeta,pela eroso das rochas, pela exploso dos vulces e pelo aparecimen-to ou desaparecimento de montanhas, rios, plantas e animais.

    O tema deste Informe, no entanto, o tempo como experincia huma-na, coletiva e, portanto, histrica. O tempo fsico e o tempo biolgico(individual, psicolgico, etc.), por exemplo, no podem ser dissociadosdessa experincia, mas sabemos que o tempo histrico tem sua especi-ficidade: aquele que estenraizado nos calendrios e nas cronologias,na sucesso dos fatos e na narrativa dos diferentes acontecimentos com-partilhados pelos homens. No livroTempo e histria, as historiadoras Maria

    Inez Turazzi e Carmen Teresa Gabriel procuraram introduzir a questopara o pblico jovem, destacando o carter histrico da noo de tempoe dos instrumentos utilizados para medi-lo (calendrios, relgios, etc.):

    A idia de um tempo grande, comprido e nico, que corre em uma

    direo, estenraizada maneira de vermos a nossa prpria vida e decontarmos a histria de homens e mulheres que vivem nossa volta ouque viveram no planeta em outras pocas. Por isso mesmo, dificilmentelembramos que existem muitas outras noes de tempo, criadas poroutras maneiras de ver a vida e o mundo. As nossas idias e as nossasexperincias sobre o tempo, que nos parecem to naturais, tm tam-bm uma histria (ou muitas histrias). Em outras palavras, o prprio tem-po, ou a maneira como ele percebido, organizado e explorado por ns,para viver ou para narrar o acontecido, tem tambm um passado. O tempotem sua histria e a histria, por sua vez, no pode abrir mo do tempo.1

    A compreenso do tempo seguramente um grande desafio para o

    ser humano: ele no pode apreend-lo pelos sentidos, mas pode re-conhecer sua existncia, medir sua durao, interpretar seu significa-do e quantificar seu fluxo, sem jamais conseguir control-lo. Falamosde tempo individual, coletivo, biolgico, psicolgico, fsico, histrico eassim sucessivamente, porque todas essas distintas concepes fa-zem parte do esforo humano de compreender e ordenar esse grandeenigma representado pelo tempo. No ensino da histria, trata-se deuma ferramenta essencial para que a disciplina seja trabalhada de for-

    ma crtica e problematizadora.

    Um outro olhar

    Existem milhes de tonela-das de livros, arquivos, acervos,museus guardando uma chama-

    da memria da humanidade. Eque humanidade essa que pre-cisa depositar sua memria nosmuseus, nos caixotes? Ela nosabe sonhar mais. Ento ela pre-cisa guardar depressa as anota-es dessa memria. Como es-tas duas memrias se juntam, ouno se juntam? muito impor-tante para nossos povos tradi-cionais que ainda guardam estamemria, herdeiros dessa tradi-o, cada vez mais restrita no pla-

    neta, ilhados em alguns canti-nhos do Pacfico, da sia, da fri-ca, aqui da Amrica, num mun-do cada vez mais mudado pelohomem, onde o dia e a noite jno tm mais fronteira, porqueinventaram artifcios para ele ro-dar direto dia-noite-dia. Quan-do o homem rompe a separaoentre o dia e a noite, como elevai sonhar? [...]

    Para estes pequeninos gruposhumanos, nossas tribos, que ain-

    da guardam esta herana da anti-guidade, esta maneira de estar nomundo, muito importante queessa humanidade que estcadavez mais ocidental, civilizada etecnolgica, lembre, ela tambm,dessa memria comum que oshumanos tm da criao do mun-do, e que consigam dar umamedida para sua histria, para suahistria que estguardada, regis-trada nos livros, nos museus, nasdatas, porque, se essa socieda-de se reportar a uma memria,ns podemos ter alguma chan-ce. Seno, ns vamos assistir contagem regressiva dessa me-mria no planeta, atque sres-te a histria. E, entre a histria ea memria, eu quero ficar com amemria.

    KRENAK, Ailton. Antes, o mundo noexistia. In: NOVAES, Adauto (Org.).

    Tempo e histria. So Paulo: Compa-nhia das Letras/Secretaria Municipal

    de Cultura, 1992. p. 204.1TURAZZI, Maria Inez; GABRIEL, Carmen Teresa. Tempo e histria. So Paulo: Moderna,

    2000. p. 4. Coleo Desafios.

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    Informes e Documentos

    Aplicao em sala de aula

    Ao ingressar no terceiro ciclo do ensino fundamen-tal, o aluno jtraz consigo percepes e experinciascom relao ao tempo, construdas nos diferentes es-paos de socializao por onde passou (inclusive nosprimeiros anos na escola, no ensino fundamental). Asnoes de continuidade, irreversibilidade e simultanei-dade jesto, de certa forma, enraizadas em sua leitu-ra do mundo. As suas prticas cotidianas esto regula-das pela noo de tempo da sociedade em que vive. essa noo que lhe oferece os referenciais para estaratrasado, sem tempo para nada, perdendo tem-po, etc. Uma maneira de introduzir a disciplina no in-cio do terceiro ciclo pode ser justamente problemati-zando as noes de tempo to enraizadas em nossasociedade. Isso pode ser realizado por meio de ativi-dades que permitam ao aluno refletir sobre a sua pr-pria forma de perceber e vivenciar o tempo. Algunsexemplos de situaes didticas:

    Etapa 1Solicitar aos alunos que faam um levanta-mento em jornais, revistas ou em outros meios de co-

    municao de massa, de expresses e/ou frases como termo temporelacionadas com a percepo da suapassagem, durao e/ou ritmos de mudanas quecaracterizam o nosso presente. Discutir o significadodessas expresses e as implicaes nas prticas so-ciais cotidianas. Organizar um painel com essas ex-presses e lanar a questo: serque todas as socie-dades, no passado e no presente, percebem e viven-ciam o tempo dessa forma?

    Etapa 2Apresentar aos alunos diferentes socieda-des e suas distintas relaes com o tempo. Exemplos:sociedades antes da Revoluo Industrial, sociedadesno-industrializadas no mundo contemporneo, etc.

    Etapa 3 Estabelecer semelhanas e diferenas en-tre as sociedades que percebem e vivenciam o tempodo mesmo modo que a nossa e as que o fazem deforma diferenciada. Solicitar aos alunos que levanteminformaes e hipteses capazes de explicar as razespelas quais algumas sociedades pensam e vivenciamo tempo de forma semelhante ou diferente da nossa.

    A percepo e aexperincia do tempo

    A percepo do tempo pelo ser humano fsicae concreta, sem deixar de ser, simultaneamente,

    uma experincia simblica e cultural. Somos regi-dos por diferentes ritmos, sensaes, tempos emovimentos que comandam tanto o funcionamen-

    to do nosso corpo (a batida do corao, o sono e aviglia, etc.) como as lembranas que povoam anossa memria (imagens, acontecimentos, etc.).

    Os fenmenos que comeam num ponto e a eleretornam, repetindo o seu movimento, como a ro-

    tao da Terra, a sucesso dos dias e das noites,as fases da Lua ou as estaes do ano, so partede um tempo cclico, representado por um crcu-lo. Esse tempo perceptvel na natureza orientouos homens, ao longo de sua histria, no estabele-cimento de medies temporais (como, por exem-plo, o dia, o ms e o ano). O envelhecimento, poroutro lado, para o ser humano uma das formasmais evidentes da existncia de um tempo linear,isto , de um tempo contnuo que segue sempreem frente e no se repete, geralmente represen-tado por uma seta.

    Observando os ritmos do dia-a-dia, os ciclos danatureza e as marcas do envelhecimento em seu

    prprio corpo e no mundo sua volta, o homemfoi capaz de perceber a sucesso dos aconteci-mentos e suas variaes, criando assim diferen-tes interpretaes para a passagem do tempo, bemcomo vrios instrumentos para determinar a suadurao. Por essa razo, o reconhecimento de queas interpretaes e as medies do tempo queadotamos tambm tm uma histria, isto , refle-tem uma determinada experincia cultural do tem-po, em meio a outras experincias do gnero exis-tentes no passado e no presente, parece ser a

    melhor forma de comearmos a vencer o desafiode compreender o tempo, tarefa cada vez mais

    compartilhada pelo professor com seus alunos.

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    Tempo e histria

    Os instrumentos de medio do tempoA diviso do tempo jfoi definida como uma das concepes mais

    ousadas e mais teis do esprito humano2. O Sol foi essencial para acontagem da duraodo tempo cclico da natureza e, conseqente-mente, para a medio natural do tempo (os dias e as noites, as esta-es do ano, etc.). A criao de medidas de tempo com base nessesciclos contribuiu para a ampliao do controle do mundo fsico pelo ho-mem e instituiu nas sociedades humanas relaes de poder fundadasno conhecimento e domnio dessas medidas. Afinal, so elas que deter-minam os ritmos de trabalho, o tempo livre e as comemoraes festi-vas. Mas essas medies spuderam ser realizadas com o estabeleci-mento de convenes temporais compartilhadas pela coletividade.

    O historiador G. J. Whitrow, analisando a evoluo de nossa conscin-cia temporal e seu significado em diferentes sociedades, explica-nos

    que a fuso de dia e noite numa nica unidade de 24 horas no ocorriaao homem primitivo, que os via como fenmenos essencialmente dis-tintos. [...] Uma grande variedade de convenes foi usada para estabe-lecer quando comeava a unidade dia. Os egpcios antigos escolherama aurora, ao passo que babilnios, judeus e muulmanos escolheram opr-do-sol. Os romanos de incio escolheram o nascer do Sol, mas de-pois a meia-noite, em razo da durao varivel do perodo iluminado3.

    Observando os fenmenos da natureza e o movimento dos astros,camponeses, artesos, marinheiros e, principalmente, astrnomosaprenderam a calcular a durao dos dias e das noites, a elevao dasmars, a mudana das estaes, a chegada de um novo ano e o seu

    recomeo a intervalos regulares de tempo. Graas a essas observa-es, criaram os primeiros instrumentos para medir a durao, isto ,para calcular a passagem das horas (como os relgios) e a sucessodos dias, meses e anos (como os calendrios). Os relgios de sol, porexemplo, foram criados hmais de 4.000 anos pelos egpcios, poisestes aprenderam muito cedo a interpretar o tempo graas regulari-dade das cheias do Rio Nilo, todos os anos, entre os meses de junho

    e outubro. As clepsidras, as ampulhetas, as lamparinas, assim como

    os relgios de sol, foram alguns dos instrumentos de medida do tem-po criados pelo homem, com recursos encontrados na prpria nature-za (luz, gua, areia, pedra, etc.).

    O surgimento do relgio mecnico na Europa, no sculo XIII, instituiunovas formas de organizao social, fundadas na medio do tempo, eisso foi to importante para a histria da humanidade quanto a invenoda plvora, da imprensa ou da mquina a vapor. Embora a origem doprimeiro relgio mecnico no possa ser determinada com preciso,ela tem sido atribuda colaborao de sbios e artesos, do mongeque primeiro o concebeu e do ferreiro que efetivamente o construiu4.

    Relgios de sol

    O relgio de sol um dosmeios mais simples de medir o

    tempo. Uma haste fixada a umapedra ou ao solo projeta suasombra e esta vai mudando con-forme a Terra se movimenta. Asombra menor ao meio-dia,quando o Sol estquase a pino,e maior de manhe tarde.

    Relgios mecnicos

    Nos sculos XI e XII desen-

    volve-se na Europa uma novavida urbana: o artesanato pros-pera, enquanto nascem a inds-tria e os bancos. Essas ativida-des trazem um tempo novo,mais premente que o da vida nocampo: um tempo que deve serconhecido com preciso a todomomento e que no pode sermedido pelos antigos mecanis-mos. Renem-se assim as con-dies para que se invente, nofim do sculo XIII, o relgio me-

    cnico acionado por pesos e pn-dulos, que institui um marco nahistria da cincia e da tecnolo-gia. [...] Do sculo XII ao XX, osrelgios mecnicos, atendendoa uma demanda cada vez maisexigente, no cessaram de seaperfeioar sob todos os aspec-tos, tornando-se menores, maisprecisos, confiveis e baratos.

    MATRICON, Jean. Escalas e medi-

    das. Correio da Unesco, junho de

    1991. p. 12.

    2A frase de Hertault-Lamerville, relator do projeto de um novo calendrio republicanofrancs (1799). Apud LE GOFF, Jacques. Calendrio. Memria-histria. Enciclopdia Einaudi.v. 1. Lisboa: Imprensa Nacional e Casa da Moeda, 1984. p. 264.

    3WHITROW, G. J. O tempo na histria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. p. 29.

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    Idem, p. 122.

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    Informes e Documentos

    O crescimento das atividades urbanas e a multiplicao dos meios decomunicao entre os habitantes das cidades (trens, telgrafos, navios avapor, etc.) favoreceram o desenvolvimento de modelos cada vez mais

    aperfeioados de relgios mecnicos e sua ampla difuso em todo omundo. No sculo XIX, o estabelecimento da chamada hora universaltornou possvel a adoo de uma referncia temporal compartilhada porvrias cidades simultaneamente, o que representou um marco importan-te na crescente padronizao e sincronizao das medidas do tempo.

    Quando os trens comearam a circular de uma cidade para outra daInglaterra, no sculo XIX, as medidas de tempo dessas cidades no coin-cidiam. Para organizar o horrio de chegada e sada dos trens nas diferen-tes estaes foi preciso criar uma hora padro que servisse de refernciapara o horrio dos trens e a contagem do tempo nos relgios de cada ci-dade. O sistema de fusos horrios inventado pelos ingleses (todas as

    cidades com horas diferentes, mas com minutos sincronizados por um

    tempo universal) foi proposto aos representantes de vrios pases em

    uma conveno internacional em 1885 e em menos de trinta anos elepassou a ser adotado no mundo inteiro. Hoje, o Tempo Universal Coorde-

    nado controlado por um laboratrio em Paris e os relgios atmicosutilizados pelos cientistas tm a preciso de milsimos de segundo5.

    Relgios mecnicos ou atmicos, fusos horrios e tempos coorde-nados em laboratrios so exemplos de um domnio cada vez maior emais preciso do homem sobre o tempo c clico dos dias e das horas.Mas para situar um acontecimento em relao aos demais no trans-curso do tempo contnuo, sucessivo e linear, isto , para ordenar osacontecimentos do passado em uma cronologia, era preciso um outro

    instrumento de medida do tempo capaz de faz-lo: o calendrio.

    Atividade

    Proponha aos alunos uma pesquisa na literatura e/ou na msica brasi-leira sobre as diferentes percepes do tempo.

    Calendrios: dilogo entrenatureza e sociedade

    Os calendrios so o resultado de um dilogocomplexo entre omundo fsico e as sociedades humanas, portanto, entre natureza e his-tria6. Os calendrios, por isso mesmo, trazem a marca da experinciacultural de diferentes sociedades na observao emprica da natureza eeles tm a sua prpria histria. Por outro lado, para o ensino e o apren-dizado da Histria como disciplina dedicada ao conhecimento do passa-do, tambm fundamental o estudo da origem e da transformao doscalendrios, como mostra o texto do boxe da pgina ao lado.

    5TURAZZI, Maria Inez; GABRIEL, Carmen Teresa. Tempo e histria. So Paulo: Moderna,2000. p. 32.

    6LE GOFF, Jacques. Calendrio. Memria-histria. Enciclopdia Einaudi. v. 1. Lisboa: Im-

    prensa Nacional e Casa da Moeda, 1984. p. 286.

    O relgio

    Nenhum igual quele.

    A hora no bolso do colete [furtiva,

    a hora na parede da sala [calma,

    a hora na incidncia da luz [silenciosa.

    Mas a hora no relgio daMatriz gravecomo a conscincia.

    E repete. Repete.

    Impossvel dormir, se no a [escuto.

    Ficar acordado, sem sua batida.Existir, se ela emudece.

    Cada hora fixada no ar, na [alma,

    continua soando na surdez.Onde no hmais ningum,

    [ela chega e avisavarando o pedregal da noite.

    Som para ser ouvido no [longilonge

    do tempo da vida.

    Imensono pulsoeste relgio vai comigo.

    ANDRADE, Carlos Drumond de. Nova

    reunio. Rio de Janeiro: JosOlym-pio, 1987. p. 565-6.

    JEREMYHORNE

    R/CORBIS-STOCKPHOTOS

    Sede do Observatrio de Greenwich,em Londres.

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    Tempo e histria

    A semana de sete dias uma das divises donosso calendrio que no se originou no tempo c-clico da natureza, como o dia, o ms e o ano. Asemana uma diviso artificial do tempo que temorigem nos calendrios de diversos povos, comoos caldeus, os romanos e os hebreus. Ela estabele-ceu um ritmo para a ordenao dos dias dedicadosao trabalho e ao descanso, assim como para as ora-es e as cerimnias praticadas em vrias religies.A sua importncia foi destacada pelo historiadorJacques Le Goff ao se debruar sobre o tema:

    A semana a grande inveno humana do ca-lendrio; a descoberta de um ritmo que tem cadavez mais peso nas sociedades contemporneasdesenvolvidas. Poucos povos ignoram a semana.

    [...] A grande virtude da semana introduzir no ca-

    lendrio uma interrupo regular do trabalho e davida cotidiana, um perodo fixo de repouso e tempolivre. A sua periodicidade pareceu adaptar-se muito

    bem ao ritmo biolgico dos indivduos e tambms necessidades econmicas das sociedades.7

    Como instrumentos essenciais para a dataodos acontecimentos no fluxo temporal que liga o

    presente ao passado, os calendrios tornaram-seimprescindveis construo da memria coletivae do conhecimento histrico. O calendrio chins,por exemplo, estabelece a contagem dos anos a

    partir do nascimento de Buda, da mesma formacomo os antigos egpcios realizavam essa conta-gem pelo incio do reinado de um farae os anti-gos romanos, pela fundao da cidade de Roma.As teorias sobre a origem do mundoe o co-meo dos temposesto na base de praticamen-te todos os calendrios conhecidos e elas tm emcomum a preocupao de localizar certos aconte-cimentos no tempo cronolgico e, portanto, expli-car a Histria. Assim sendo, no possvel com-preender ou narrar os acontecimentos histricossem conhecer as divises (naturais ou artificiais) e

    os marcos comemorativos do calendrio adotadona sociedade em que vivemos. Na maior parte do

    mundo atual, o calendrio vigente o calendriogregoriano, mas sua existncia estbaseada naevoluo e na adaptao de outros calendrios.

    Alm das medidas de tempo baseadas nos rit-mos da natureza (como o dia, o ms e o ano), oshistoriadores tambm se utilizam de medidasno-naturaisrelacionadas a duraes mais longas no

    Atividade 1

    Proponha aos alunos uma pesquisa sobre as prin-

    cipais religies existentes no mundo e sugira queinvestiguem os calendrios utilizados por elas. Or-ganize com eles uma cronologia com a histria dosdiferentes calendrios adotados no mundo atual.

    Atividade 2Sugira a visita de seus alunos a um museu ou cen-

    tro cultural. Nesses espaos serpossvel identifi-car e relacionar os smbolos de um outro tempodiferente do nosso.

    Promova a pesquisa em livros, revistas e sites,

    estimulando os alunos a reconhecer e analisar as

    diferentes representaes do tempo na histria dasartes visuais.

    Calendrios lunares e solares

    Os calendrios surgiram, a princpio, para mar-car aqueles acontecimentos que se repetiam detempos em tempos, como a colheita dos alimen-

    tos e as festas religiosas. Observando a naturezae os astros na tentativa de medir e contar o tempocom a maior exatido possvel, sbios e astrno-mos criaram calendrios lunares, que se orienta-vam pelas fases da Lua (doze luas iguais a cada354 dias), e calendrios solares, que se baseavamno movimento da Terra em torno do Sol (uma vol-ta completa a cada 365 dias e algumas horas. Oano lunar era onze dias menor do que o ano solare no coincidia muito bem com o tempo de dura-o das estaes (vero, outono, inverno e prima-vera). O ms lunar de 28 dias, por sua vez, corres-pondente s quatro fases da Lua (nova, crescen-

    te, cheia e minguante), tambm no era um bomdivisor para o ano de 365 dias. Por isso mesmo,sbios e astrnomos acabaram preferindo o calen-drio solar, para o qual estabeleceram uma conta-gem de tempo bastante precisa a fim de definir adurao dos dias, meses e anos.

    TURAZZI, Maria Inez; GABRIEL, Carmen Teresa. Tempo e

    histria. So Paulo: Moderna, 2000. p. 32.

    transcurso do tempo cronolgico: era, milnio,sculoou dcadaso fatias de tempocriadas

    pelo homem para compreender e explicar o movi-mento das sociedades ao longo de sua histria.

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    LE GOFF, Jacques. Calendrio. Memria-histria. Enciclopdia Einaudi. v. 1. Lisboa: Imprensa Nacional e Casa da Moeda, 1984. p. 280.

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    Informes e Documentos

    Breve histria docalendrio gregoriano

    A ordenao do tempo no calendrio que adotamos to familiar queparece ser a nica possvel: o Ano Novo comea em 1ode janeiro, osdias tm 24 horas, os meses tm 30 ou 31 dias (com exceo de feve-reiro) e os anos compreendem 12 meses, distribudos em 365 dias (dequatro em quatro anos, temos um ano chamado bissexto, com 366

    dias). Estas so as divises do tempo cclico no calendrio gregoriano,um calendrio inteiramente solar, isto , baseado na rotao da Terraem torno do Sol, independente das fases da Lua. Esse calendrio tevesua origem no calendrio oficial do Imprio Romano, o chamado calen-drio juliano, um modelo de calendrio fixado hmais de dois mil anospelo governante Jlio Csar (45 a.C.), com base em medies do tem-

    po estabelecidas pelos calendrios de outros povos e em estudos ma-temticos e astronmicos realizados pelo astrnomo Sosgenes.

    A reforma do calendrio juliano por um grupo de cientistas e astrnomoscomissionado pelo papa Gregrio XIII (1502-1585), no sculo XVI, procu-rou corrigir as distores provocadas pelo calendrio juliano. Alguns scu-los depois da adoo desse calendrio, as evidncias climticas das esta-es do ano (determinadas pela rotao da Terra em torno do Sol) haviamdeixado de coincidir com a ordenao dos dias e meses, pois a mediodo ano no calendrio juliano era maior do que a durao do ano real (cha-mado ano trpico), em 11 minutos e 10 segundos. Essa distoro criou adiferena de um dia a mais a cada cento e vinte e cinco anos, e depois de

    algumas centenas de anos essa diferena ficou to grande que o calen-drio juliano passou a confundir as pessoas, ao invs de ajud-las. O ca-lendrio gregoriano foi adotado por Roma e pela maior parte da Europaem 1582, mas a Inglaterra e suas colnias no o aceitaram at1752, e aFrana, na poca da Revoluo, chegou a criar um outro calendrio, comoforma de resistncia e contestao ao domnio da Igreja Catlica.

    O estudo das transformaes, oposies e adeses lenta universali-zao do calendrio gregoriano permite-nos hoje compreender a fora dosimbolismo representado pelas divises de um calendrio e as relaesde poder que o cercam. A influncia do cristianismo sobre a diviso bsicaseguida pelo calendrio gregoriano na ordenao de uma cronologia para

    o fluxo de tempo contnuo, linear (antes de Cristoe depois de Cristo,a.C. e d.C.), indica-nos que as divises de um calendrio no so asnicas possveis. Elas so, antes de tudo, uma determinada criao cul-tural que tem sua origem, de um lado, no tempo csmico que se funda-menta nos conhecimentos astronmicos, e, de outro, na experincia hu-mana baseada em acontecimentos inaugurais que pertencem memriacoletiva e so objeto de eventos comemorativos8. Embora o calendriogregoriano esteja hoje disseminado pela maior parte do planeta, no po-demos esquecer que existem outras formas de contar o tempo e reme-

    morar as experincias humanas representadas pelos demais calendrios.

    A reforma do calendrio

    O objetivo nmero um dareforma do calendrio, lanadapelo papa Gregrio XIII em1575, era religioso: ele queriaharmonizar o tempo da Igreja eo tempo natural, estabilizando adata do equincio para mantera Pscoa na primavera [...]. Aeste motivo religioso, se soma-va sem dvida o desejo de rea-

    firmar a dominao da Igrejasobre o tempo, em plena po-ca de guerras religiosas [...].

    A comisso encarregadadesse trabalho, diante das di-ficuldades estruturais da tare-fa (o ano solar no totaliza umnmero inteiro de dias), deci-diu adotar uma soluo sim-ples, proposta por um mdicocalabrs, de nome Luigi Lillio:anular trs dias do calendrioa cada 400 anos, suprimindo

    os dias bissextos de trs emcada quatro anos seculares.Somente os anos divisveis por400 (isto , 1600, 2000, 2400)permaneceriam bissextos. Osoutros anos seculares (1700,1800, 1900) compreenderiam365 dias. Para eliminar a defa-sagem acumulada pelo calen-drio juliano, Lillio sugeriu asupresso de 10 dias. [...]

    Sem mexer na ordem dosdias da semana, Gregrio XIII

    ordenou a supresso de 10 diasdo calendrio, no ms de outu-bro de 1582, estabelecendoque o dia seguinte quinta-fei-ra 4 de outubro deveria ser asexta-feira 15 de outubro. Eletambm fixou o comeo do anopara toda a cristandade a pri-meiro de janeiro, festa da cir-cunciso de Cristo.

    BOURGOING, Jacqueline de. Le ca-

    lendrier, matre du temps?. Paris: Galli-

    mard, 2000.8 RICOEUR, Paul. O tempo relatado. In: Correio da Unesco. Vises do tempo, junho de

    1991. p. 7.

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    Tempo e histria

    Presente, passado e futurona sala de aula

    Saber lidar com as questes que envolvem passado, presente e fu-turo uma competncia das mais especficas e importantes dos pro-fessores de Histria. A forma de relacionar essas dimenses tempo-rais estna base da concepo de Histria que, por sua vez, orienta aseleo dos contedos a ser ensinados e a forma privilegiada de orga-niz-los em seqncias didticas.

    Pelas orientaes das propostas curriculares mais recentes, comoos Parmetros Curriculares Nacionais, o professor de Histria deveselecionar e organizar o ensino de sua disciplina nas diferentes sriesdo ensino fundamental, levando tambm em considerao as ques-tes e os desafios que esto colocados no presente histricoemque ele e seus alunos se situam. Coerente com o objetivo maior do

    ensino de Histria na concepo privilegiada neste documento curri-cular, cabe ao professor oferecer aos seus alunos instrumentos de

    anlise perspectivas temporais, conceitos, formas de raciocnio e informaes factuais no sentido de ajud-los a compreender e anali-sar de forma crtica o mundo que lhe contemporneo.

    Assim, a idia de um presentecomo lugar a partir do qual significamospassados e futuros, memrias e projetos e no qual sujeitos histricosvivem e buscam solues para os desafios que lhe so contemporneostorna-se a tela de fundo para a construo das prticas curriculares destadisciplina. Apostar na fertilidade metodolgica das escolhas dos conte-

    dos histricos escolares a partir de questes significativas, atuais, queestejam direta ou indiretamente relacionadas com as experincias de vidados alunos bem como apreender as experincias passadas como tempopresente para os sujeitos que a vivenciaram significa assumir a importn-cia do tempo presente na compreenso e na explicao histrica, nomais apenas como uma questo de retrica, mas como ponto de partidada produo e da veiculao do conhecimento desta rea.

    Como apreender o tempo presente sem memria ou sem projetos?Nesse sentido, visto a partir sempre de um presente histrico, o pas-sadotende a ser visto no como algo que realmente aconteceucomo um fato dado, acabado e definitivo, que carrega em si seu pr-

    prio sentido, mas como um campo de experincia(Koselleck, 19909)onde os diferentes sujeitos histricos buscam sentidos possveis everossmeis, do significado ao seu prprio presente em funo deseus interesses e projetos de sociedade.

    Percebe-se, assim, que o passado estudado nas salas de aula nodeixa de ser uma escolha em funo dos interesses que esto em jogonaquela instituio especfica e na aposta do professor no lado do jogojogado. Essa aposta, por sua vez, estintimamente relacionada comum tempo futuro, com a utopia buscada, com os horizontes de expec-

    Objetivos gerais de

    histria para o terceiroe o quarto ciclos do

    ensino fundamental.

    Identificar relaes sociaisno seu prprio grupo de con-vvio, na localidade, na regioe no pas e outras manifesta-es estabelecidas em ou-tros tempose espaos.

    Situar acontecimentos hist-ricos e localiz-los em umamultiplicidade de tempos.

    PCN Histria. Braslia: MEC/SEF,1998. p. 43.

    9KOSELLECK, R. Le futur passe:contribuition la semantique des temps historiques. Paris:

    Edition de lcole des Hautes tudes Sociales, 1990.

    Contedos e intenes

    A proposta sugere que o pro-fessorproblematize o mundo

    social em que ele e o estudan-te esto imersose construa re-laes entre as problemticasidentificadas e questes sociais,polticas, econmicas e culturaisde outros tempos e de outrosespaos a elas pertinentes, pre-valecendo a histria do Brasil esuas relaes com a histria daAmrica e com diferentes soci-edades e culturas do mundo.

    PCN Histria. Braslia: MEC/SEF,1998. p. 46.

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    Informes e Documentos

    tativa(Koselleck, 1990) que se apresentam comoviveis e desejveis naquele presente e para aque-les sujeitos histricos professores da disciplina,autores de propostas curriculares e livros didticosdeterminados.

    Atravs do tempo histrico, um tempo narrado,essas trs dimenses temporais passado, pre-sente e futuro se articulam e do sentido aomundo, tecendo o fio das diferentes meadas que

    compem a histria dos homens e mulheres vi-vendo em sociedade.

    Tempo cronolgico e tempohistrico: como relacion-los

    no ensino desta disciplina?As concepes de histria privilegiadas nos do-

    cumentos curriculares mais recentes tendem a se

    posicionar, de maneira geral, contra uma Histriadita tradicional, cujas caractersticas se resumi-riam em uma Histria linear, de sentido predeter-minado, com nfase nos fatos polticos de curta du-rao e na ao individual de alguns sujeitos pro-movidos a heris. O combate no mbito da histori-ografia escolar a esse tipo de Histria, embora sa-

    lutar por diferentes razes que no cabem aqui dis-cutir, tem trazido, no entanto, algumas confuses eimpasses para a reelaborao didtica dos pressu-postos tericos e, em particular, as questesrelativas ao tempo histrico dessas matrizes his-toriogrficas mais atuais, como, por exemplo, asque se referem s linhas de pesquisa da Histriasociocultural, tal como privilegiada nos PCN.

    Muitas vezes esse tipo de combate manifesta-

    se no ensino desta disciplina pela negao, porparte dos seus agentes, do uso da cronologia,

    Atividade

    Proponha aos alunos que procurem, em jornais e re-

    vistas, fatos e situaes que caracterizem o mundona atualidade. Juntos, indaguem desde quando es-

    sas situaes existem e o porqude elas existirem.Procure fazer com que os alunos percebam as rela-

    es entre o presente e o passado. Esse tipo de ati-vidade pode ser o pontap inicial para organizar o

    Depoimento de uma professora de Histriado ensino fundamental

    A atribuio de uma linearidade intrnseca op-o cronolgica parece partir de um equvoco em

    associar este caminho a toda uma concepo tradi-cionalista da histria. importante esclarecer quenossa escolha no significa crtica a priorida produ-o acadmica ligada histria-problema, pelo con-trrio. Em termos gerais, a histria-problema repre-sentou importante avano em relao histriapositivista tradicional, bem como em relao ao dog-matismo e mecanicismo com freqncia presen-tes na historiografia marxista. No hpor que notrazer essa produo para a sala de aula, ainda quese trabalhe a princpio com um ordenamentocronolgico dos temas histricos.

    como se o apelo a qualquer referencial cronolgi-co fizesse correr o risco de cair nas armadilhas de

    uma concepo linear tradicional da disciplina. Tra-ta-se de uma confuso conceitual que precisa sersuperada. Como afirma Lvi-Strauss:

    No hhistria sem datas; para convencermo-nos disto basta considerar como um aluno conse-

    gue aprender a Histria: ele a reduz a um corpodescarnado, do qual as datas formam o esquele-

    to. No foi sem motivo que se reagiu contra essemtodo enfadonho, mas caindo, freqentemente,no excesso inverso. Se as datas no so toda aHistria, nem o mais interessante da Histria, elasso aquilo na falta do qual a prpria Histria desa-parece, jque toda sua originalidade e sua especi-ficidade esto na apreenso da relao do antes e

    do depois, que seria votada a dissolver-se, pelomenos virtualmente, se seus termos no pudes-sem ser datados.10

    A cronologia permite ordenar os fatos estudados

    no tempo, estabelecendo a noo de anteriorida-

    10

    LVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem. So Paulo: Nacional, 1976. p. 294.

    contedo de todo o ano escolar. Por exemplo, asquestes relativas discriminao racial e exclu-so social de grande parte da populao brasileira naatualidade podem ser uma porta de entrada para dis-

    cutir, entre outros temas, o sculo XIX na Histria doBrasil, o processo de independncia, o movimentoabolicionista, a poltica de branqueamento, etc.

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    Tempo e histria

    de, posterioridade e simultaneidade. Essa preocupao em colocar emordem cronolgicaas experincias humanas no significa reforar apersistncia de uma histria ensinada e ritmada pela cronologia do maisantigo ao mais recente, ela uma necessidade intrnseca ao saber his-trico e no precisa ser vista necessariamente como o oposto de umahistria-problema, como evidencia a fala de uma professora de Histriado ensino fundamental, reproduzida no boxe ao lado.

    Assim, o tempo histrico que narra os acontecimentos e dsentidoao mundo opera tambm com o tempo cronolgico. Atravs dele pro-blematizamos o presente em que vivemos, atualizamos memrias eapostamos no futuro. justamente para no perdermos o fio das dife-rentes meadas que precisamos de referenciais cronolgicos que nossituam em relao Histria construda, narrada nos livros didticos enas aulas do professor dessa disciplina. No se trata de contar umahistria linear em que os fatos se articulam uns aps os outros,numa direo nica e preestabelecida, mas de garantir a inteligibilida-

    de narrativa especfica da Histria na qual as experincias histricasganham sentido na relao estabelecida de uma por causa da outra.

    Os chamados fatos histricos, ingredientes indispensveis dastramas estudadas nessa disciplina, a despeito dos nveis da realida-de a que se referem (poltico, econmico, social, cultural, etc.), desuas duraes e/ou ritmos de mudana, ocorrem em um local defi-nido e em uma poca determinada. Sua compreenso pressupesitu-los no conjunto de outros fatos anteriores, simultneos e pos-teriores nos quais esto inseridos. Por isso, sempre podemos con-textualiz-los historicamente, tendo como referncia o calendrioadotado e privilegiado.

    Assim, quando falamos que Roma foi fundada no ano de 753 a.C., queo continente africano foi dividido entre as potncias europias a partirdo sculo XIX d.C. ou que a famlia real portuguesa se instalou no Brasilno ano de 1808 d.C., todos aqueles que organizam o tempo segundo

    esse calendrio so capazes de situar cronologicamente esses fatoshistricos e inseri-los em contextos histricos mais amplos. E esse tipode referencial cronolgico torna-se indispensvel para a construo dosdiferentes sentidos possveis em torno de um mesmo fato histrico.

    AtividadePea aos alunos que leiam o mani-

    festo da Comisso Indgena (abai-xo) e identifiquem os referenciais

    cronolgicos citados. Em seguida,solicite que contextualizem os fa-

    tos histricos citados e construamuma explicao a partir do pontode vista dos diferentes sujeitos

    histricos que esto envolvidos.

    AFPPHOTOEPA-DPA

    /HUBERTMICHAELBOESL

    As Torres Gmeas de Nova Iorque,no momento em que foram atingidas

    por avies de terroristas, em 11 desetembro de 2001.

    Manifesto da Comisso Indgena 500 anos

    [...] O dia 22 de abril de 1500para ns represen-ta a origem de uma histria. Em continuidade aosatos de violao da nossa integridade fsica e diver-sidade sociocultural os governos do Brasil e de Por-tugal comemoraro o V centenrio do descobrimen-to[...] Sendo a histria oficial incorreta, tendencio-sa e destinada apenas a colocar os invasores comoprotagonistas nicos e vencedores incontestveis,tendo seus personagens sido guindados posiode heris de uma verso mistificada e falsa do pro-cesso histrico.

    Para ns, povos indgenas, esta comemorao sig-nifica a continuidade de violao de nossos direitos,

    inviabiliza a constituio de uma Nao multitnica [],tomando como exemplos os assassinatos e outros de-litos como os casos: o massacre dos Ticuna em 22 demaro de 1988, na localidade conhecida por Capace-te, em Benjamin Constant, Amazonas, o assassinatodo lder indgena Maral Tupi, em 20 de maio de 1983,na cidade de Dourados, em Mato Grosso do Sul, ocaso de Galdino de Jesus dos Santos, queimado vivoem Braslia no dia 19 de abril de 1997[...]

    Trecho do Manifesto da Comisso Indgena 500 anos, de de-zembro de 1998, assinado por SabManchery, lder da sua Na-o, a Mamuadate do Acre, em nome de 98 representantes dediferentes povos indgenas.

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    Informes e Documentos

    Periodizao clssica da histria em cinco perodos: uma periodizao possvel

    que atos homens aprenderem a escrever no se po-dia falar em histria, pois no havia documentos escri-tos que pudessem fornecer informaes sobre aquelepassado. Sque hoje sabemos que no so apenas osdocumentos escritos que nos ajudam a contar a hist-ria, qualquer outro tipo de documento objetos do usodirio, testemunhos orais, etc. pode servir de mat-ria-prima para os historiadores. Os povos sem escritatambm tm histria, cabe aos historiadores saber in-vestig-la e interpret-la.TURAZZI, Maria Inez; GABRIEL, Carmen Teresa. Tempo e hist-

    ria. So Paulo: Moderna, 2000.

    Hoje se sabe que esta periodizao serve mais paraa histria de certas regies da Europa do que para todaa humanidade e mesmo assim para um tipo de histria,aquela que valoriza os acontecimentos polticos. Bastaolhar os fatos histricos que esto servindo de marcoda passagem de um perodo a outro: queda do Imp-rio Romano, invaso da cidadede Constantinopla, Re-voluo Francesa. Alm do que, essa diviso entre pr-histriae histriatambm jno corresponde maisao que hoje sabemos sobre esta forma de conhecimen-to. O acontecimento que marca a passagem entre es-ses dois perodos a inveno da escrita, significando

    IDADECONTEMPORNEA

    PR-HISTRIA

    IDADEANTIGA OU

    ANTIGUIDADE

    Eraantes

    deCristo

    Eracrist

    IDADE MDIA

    IDADEMODERNA

    NASCIMENTODE CRISTO

    3500 (sc. XXXV):Inveno da escrita

    476 (sc. V):Queda doImprio Romano

    escala:1

    sculo=

    0,2

    cm

    1453 (sc. XV):Tomada deConstantinopla

    1789 (sc. XVIII):Revoluo Francesa

    As periodizaes dahistria ensinada

    O tempo cronolgico, alm de situar as experincias humanasem uma determinada poca, contribui igualmente para dar senti-do s mudanas sociais quando utilizado na construo doschamados perodos histricos.

    Historiadores e professores de histria, com o intuito de melhorcompreender e ensinar as experincias passadas, procuram arti-cul-las a um conjunto de fatos histricos inseridos em uma fatiade tempocom caractersticas comuns, no que se refere manei-ra como as pessoas que viveram nesse perodo se relacionavamentre si e com o espao onde viviam. Estudar um perodo histricosignifica apreender o sentido de uma poca, de uma forma deestar no mundoem um determinado momento histrico.

    A mudana de um perodo para outro significa que as caracte-rsticas mais importantes de um perodo se transformaram tantoque preciso dar um novo nome aos novos tempos. O tempo dedurao das transformaes das sociedades se movimenta comavanos mais ou menos rpidos, com solavancos e atcom re-cuos... As mudanas, muitas vezes, encontram resistncias elevam tempo para se instalar plenamente. O tempo histrico ,assim, feito de mudanas e permanncias.

    Para os historiadores e professores de histria, hpossibilida-des diversas de construir periodizaes em funo do que sequer investigar, ensinar, explicar e compreender. Diferentes peri-

    odizaes podem ser construdas, dependendo de cada socieda-de e do aspecto da sociedade que se quer compreender, pois

    cada qual tem seu prprio ritmo de mudana.

    Hvrias formas de dividir a histria em perodos. Uma delas,que divide a histria em cinco idades, elaborada por historiadoresfranceses do sculo XVIII, foi a mais difundida e athoje ainda usada nas escolas: Pr-Histria, Idade Antiga, Idade Mdia, Ida-de Moderna e Idade Contempornea.

    Periodizao dahistria europia

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    Tempo e histria

    A linha do tempo

    A linha do tempofoi a maneira que os historiadores

    encontraram para apresentar graficamente todas as ca-ractersticas do tempo histrico mencionadas anterior-mente. Ela serve para localizaros inmeros fatos hist-ricosno tempo, para avaliar o tempo de duraode cadaum deles e tambm para situ-losuns em relao aosoutros. Fica mais fcil perceber, por exemplo, que osfatos histricos no se sucedem apenas uns aps osoutros no tempo, eles tambm ocorrem simultaneamen-te, isto , ao mesmo tempo. [...]

    Desde quando os homens aprenderam a escre-

    ver? A primeira guerra mundial foi antes ou depoisda Revoluo Industrial? Quanto tempo durou a es-cravido no Brasil? Quando foi proclamada a Rep-blica no Brasil ainda existiam escravos? Para poderresponder a essas e a outras perguntas, torna-se ne-cessrio saber situar no tempo cada um desses fa-tos histricos. No pelo simples prazer de decorardatas, mas para poder comear a compreender otempo histrico. [...]

    Dicas para trabalhar com a linha do tempo

    Como para os mapas, precisamos tambm inter-

    pretar a linha do tempo para saber o que os seussinais grficos esto querendo nos informar sobreos fatos histricos. Utilizam-se duas retas paralelas,abertas nas extremidades. Sobre uma dessas retasse situa o eixo cronolgico, orientado para a direi-ta, como uma seta e que indica a escalautilizada.No interior dessas duas retas esto os fatos histri-cos que podem ser representados por pontosquan-do se tratarem de acontecimentos, isto , fatos decurta durao, ou por barras de diferentes compri-mentos, dependendo da durao dos fatos histri-cos que elas representam.

    Assim como fazem os cartgrafos quando cons-

    troem os seus mapas, os historiadores precisamtambm escolher a escala com que vo trabalhar.Em ambos os casos a escala uma relao entreduas medidas. No caso da histria, entre uma me-dida de tempo(milnio, sculo, dcada, ano, etc.)e uma medida de comprimento (metro, decme-tro, centmetro, etc.). A escala de tempo pode vari-ar e o eixo cronolgico pode se dividir em milhesde anos, milnios, em sculos, meios sculos, emdcadas etc.TURAZZI, Maria Inez; GABRIEL, Carmen Teresa. Tempo e hist-

    ria. So Paulo: Moderna, 2000.

    Atividades

    O perodo histrico em que vivemos:

    Pea aos alunos que se situem cronologicamentena periodizao clssica e destaquem o fato de elesterem nascido e viverem no perodo contempor-neo. Essa periodizao nos indica que, a partir do

    final do sculo XVIII, aps a Revoluo Francesa,novos tempos teriam comeado com caractersti-cas que athoje permanecem as mesmas. Leveos alunos a refletir sobre as seguintes questes:

    1.Mas serque realmente o mundo de hoje, quenos contemporneo, mesmo se nos limitarmosEuropa, estorganizado de forma idntica, comohmais de dois sculos?

    2.Serque a sua maneira de viver hoje, de estar nomundo, ainda tem muito a ver com o dia-a-dia

    dos homens e mulheres que viveram no final do

    sculo XVIII ou no sculo XIX?

    Um instrumento importante para o estudo da histria

    3.Serque um tempo sem televiso, sem telefo-ne, sem carro, sem avio, sem astronauta quevai ata Lua, sem computador, pode ter caracte-rsticas parecidas com o nosso de hoje? No es-

    taria na hora de encontrar um novo nome paracaracterizar estes novos tempos em que vive-

    mos?

    4.Sertambm que todas as sociedades se transfor-mam da mesma forma e no mesmo ritmo? Ou que,

    dentro de cada sociedade, tudo se transformaria

    no mesmo ritmo? Considerando que a industrializa-

    o um dos traos mais marcantes do perodohistrico chamado contemporneo, serque po-demos enquadrar neste tempo histrico todas associedades que existem hoje, isto , que nos so

    contemporneas?

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    Informes e Documentos

    Seleo e organizao dos contedosde histria e o tempo histrico

    Uma das tarefas mais difceis para o professor de Histria estabe-lecer os critrios que esto na base da seleo dos contedos a serensinados em uma determinada srie e/ou turma. Entre as diferentesvariveis que devem ser consideradas nesse processo seletivo, a con-cepo de tempo histrico privilegiada pelo professor um dos fato-res mais desafiadores e de difcil enfrentamento.

    Embora as orientaes dos PCN desta disciplina apontem que nodeve existir uma preocupao especial do professor em ensinar, for-malmente, uma dimenso ou outra do tempo histrico, mas trabalharatividades didticas diversificadas(p. 97), as sugestes contidas nessedocumento curricular evidenciam a centralidade dessa noo no ensi-no da disciplina.

    Percebe-se que essas sugestes indicam que o ensino do tempohistrico suas concepes e representaes pode ser trabalha-do como objeto de reflexo e de ensino ele mesmo percebido comouma construo histrica e tambm como ferramenta indispens-vel para a compreenso e a explicao de qualquer contedo clssicodesta disciplina.

    Como ferramentas, as noes de durao, ritmo, continuidade eruptura tornam-se indispensveis leitura de mundo passado e pre-sente. Essas noes permeiam os tipos de fatos histricos selecio-nados para ser ensinados. Dependendo da concepo de histriapredominante, das experincias ou prticas sociais que se quer ex-plicar e compreender, os professores de histria operam com fatoshistricos de duraes e ritmos de transformao diferentes. Essesfatos histricos, cuja mudana segue um ritmo mais lento, so cha-mados de estrutura. A sua mudana no pode ser percebida no tem-po de uma vida humana, muitas vezes leva sculos e sculos paraocorrer. Scom ajuda da histria que a gente consegue perceberisso. nessa perspectiva que se fala de estrutura agrriaou aindaestrutura escravocrata.

    Outros tipos de fatos tm duraes relativamente longas e, em ge-ral, so percebidos no tempo de uma vida ou de uma gerao. Os

    historiadores os chamam de conjuntura. dessa forma que historia-dores e professores de histria falam de conjuntura da crise econ-mica ou poltica, conjuntura do ps-guerra, etc.

    Um outro tipo de fato aquele que mais comumente relacionadocom a histria: os acontecimentos, de durao relativamente curta, eque so mais fceis de ser percebidos, como uma guerra, uma revolu-o, um assassinato poltico, etc. Eles podem ser medidos por anos,meses ou dias. Sque essa diferena de ritmos de mudana e, porconseqncia, de tipos de fatos histricos, na histria vivida, no dia-a-dia, no aparece assim separada claramente. Esses diferentes fatoshistricos esto todos relacionados, entrelaados, e a histria tem que

    levar todos em considerao.

    Sugestes de

    atividades didticas

    Estudar medies de tempoa partir de calendrios para

    dimensionar diferentes dura-es (dia, ms, ano, dcada,sculo, milnio, era).

    Localizar acontecimentos emlinhas cronolgicas e construirrelaes entre eles utilizandocritrios de anterioridade, pos-terioridade e simultaneidade.

    Identificar em linhas de tem-po cronolgicas as duraesdos acontecimentos.

    Estudar a histria e o contex-to de como foram construdase denominadas as clssicasdivises da histria em Pr-Histria e Histria , que re-percutem na dificuldade do es-tudo da histria de povos queno desenvolvem a escrita.

    Estudar os contextos em quea histria foi dividida em pero-dos, como Antiguidade, IdadeMdia, Idade Moderna ou Bra-sil Colnia, Brasil Imprio, etc.

    Construir novas periodizaes,

    dependendo do tema de estu-do e da identificao de mu-danas e permanncias nos h-bitos, costumes, regimes pol-ticos e sistemas econmicosdas sociedades estudadas, etc.

    Estudar a concepo do tem-po mtrico e matemtico dosrelgios.

    Estudar a concepo de tem-po cclico da natureza, suasrelaes com a construo decalendrios [...] e com hist-rias de indivduos, de povosou da humanidade. [...]

    Identificar os ritmos de orde-nao temporal das atividadesdas pessoas e dos grupos, apartir de predominncias deritmos de tempo que mantmrelaes com os padres cul-turais, sociais econmicos epolticos vigentes. [...]

    PCN Histria, Braslia: MEC/SEF, 1998.p. 97-98.

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    Tempo e histria

    Sugestes de atividades1. Analisar os ttulos e subttulos das diferentes unidades temticas

    do livro didtico de histria adotado, para identificar, juntamente comos alunos, as diferentes duraes dos fatos histricos selecionadospelo autor (fatos de curta, mdia e longa durao).

    2. Em funo da temtica que estsendo estudada, propor aos alunosa elaborao de uma linha do tempo que permita perceber:

    A "fatia de tempo" que estsendo estudada.

    A ordem cronolgica dos fatos histricos estudados (sucesso notempo).

    A durao de cada um desses fatos histricos (acontecimento,conjuntura, estrutura).

    Os fatos histricos que servem de marcos para as transforma-es estudadas.

    A relao que pode ser estabelecida entre eles.

    Utilizar os recursos grficos necessrios para transmitir todas essasinformaes. A escala ficara critrio do aluno. Se preferir, indiqueuma escala-padro para todos os alunos.

    3. Escolha um fato histrico de curta durao que se refira temticaque estsendo trabalhada e pea ao aluno que, individualmente ouem grupo:

    Relacione-o com a conjuntura na qual o fato se insere.

    Relacione-o essa conjuntura com o fato de longa durao (estru-tura) no qual ela estinserida.

    4. Estimule os alunos a elaborar diferentes periodizaes possveispara a histria do Brasil, em funo da unidade temtica que estsendo trabalhada. Procure chamar a ateno para:

    Movimentos da nossa sociedade que apresentam avanos e re-cuos no decorrer do seu processo de transformao.

    A possibilidade de construir outras periodizaes que traduzamas transformaes da nossa sociedade, no necessariamente vin-culadas aos aspectos polticos.

    Elaborar linhas do tempo que respeitem a escala e os sinais grfi-cos correspondentes a diferentes duraes dos fatos histricosrepresentados graficamente.

    Identificar as rupturas e permanncias presentes nos diferentesperodos estudados.

    5. Escolha um acontecimento histrico que sirva de marco de mudan-as importantes na histria do Brasil. Procure identificar o tipo demudana qual o acontecimento escolhido se refere e o grau deprofundidade e de repercusso das mudanas acarretadas. Peaaos alunos que identifiquem fatos conjunturais e estruturais que

    estejam relacionados com o fato selecionado.

  • 7/25/2019 Carmen Teresa - Ensino - Tempo_e_historia

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    EditoraModerna-CPIAAUTORIZADA

    Informes e Documentos

    BibliografiaBOSI, Ecla. Memria e sociedade: lembranas de

    velhos. So Paulo: Companhia das Letras, 1998.

    CORREIO DA UNESCO. Em busca do passado:histria e memria. Ano 18, n. 5, maio de 1990.

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    Memria-histria. Enciclopdia Einaudi, v. 1. Lis-boa: Imprensa Nacional e Casa da Moeda, 1984.

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    WONG, Wei Han. Tempo. So Paulo: Melhoramen-tos, 1994.

    Equipe editorial

    Maria Raquel Apolinrio

    Geraldo Oduvaldo Fernandes

    Carlos Zanchetta

    Elaborao de originais

    Maria Inez Turazzi

    Historiadora e doutora em Arquitetura e Urbanismo pela USP.

    Carmen Teresa Gabriel

    Historiadora e doutora em Educao pela PUC-RJ.