carlos henrique tavares de freitas - ufmt.br · carlos henrique tavares de freitas leitores e...

211
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Cuiabá, MT 2018

Upload: others

Post on 22-Sep-2019

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS

LEITORES E E-BOOKS:

NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES

Cuiabá, MT

2018

Page 2: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS

LEITORES E E-BOOKS:

NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES

Tese apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação, da Universidade

Federal de Mato Grosso, como requisito

parcial para a obtenção do título de Doutor em

Educação na Linha de Pesquisa Organização

Escolar, Formação e Práticas Pedagógicas,

Grupo de Pesquisa, Laboratório de Estudos

sobre as Tecnologias da Informação e

Comunicação na Educação - LêTECE.

Orientadora: Profa Dr

a Kátia Morosov Alonso.

Cuiabá, MT

2018

Page 3: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.

Ficha catalográfica elaborada pelo Bibliotecário Carlos Henrique T. de Freitas. CRB-1: 2.234.

Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.

F866l Freitas, Carlos Henrique Tavares de.

Leitores e e-books : novas formas de leitura e suas aquisições / Carlos

Henrique Tavares de Freitas. – 2018.

209 f. : il. (algumas color.) ; 30 cm.

Orientadora: Kátia Morosov Alonso.

Tese (doutorado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de

Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, 2018.

Inclui bibliografia.

1. Aquisições cognitivas. 2. Leitura imersiva. 3. Leitor imersivo. 4. E-books.

I. Título.

CDU 002:004(817.2)

Page 4: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de
Page 5: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

DEDICATÓRIA

À minha mãe, Iraci Tavares de Freitas, pelo amor, carinho e atenção que sempre me

dedicou e dedica, mesmo à distância.

Ao meu pai, Nicanor Pires de Freitas, exemplo que serve de inspiração para

trabalhar, insistir e lutar por uma vida melhor e de modo digno.

Aos meus irmãos, Márcio, Jerry, Roberto e Marcela Tavares de Freitas, bem como

aos meus sobrinhos queridos, por tudo o que representam em minha vida.

À minha esposa querida, Rogéria Brito Arcanjo de Freitas, pelo amor, compreensão e

apoio durante meus estudos e minha vida.

Page 6: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela oportunidade de realizar um Curso de Doutorado, uma conquista

pessoal muito importante, mas também uma realização acadêmica e profissional rara em

nosso país, o qual necessita promover diversos avanços no campo da Educação, a fim de que

todos, indistintamente, tenham acesso a ensino público, gratuito e de qualidade reconhecida.

Agradecimentos especiais aos meus pais, Seu Nicanor e Dona Iraci. Em primeiro

lugar, devo meu Doutorado em Educação a essas duas pessoas de origem humilde, honrada e

digna, que proporcionaram aos filhos a educação escolar que a vida e as circunstâncias não

lhes possibilitaram. Meu muito, eterno e orgulhoso obrigado!

À minha esposa Rogéria, pelo carinho, amor e companheirismo. Aos demais

familiares por tudo de bom que representam na minha vida.

À Professora Doutora Kátia Morosov Alonso, por acreditar em minha capacidade e

dedicar seu tempo e atenção para me auxiliar na construção deste conhecimento, com suas

orientações muito importantes que demonstram um equilíbrio de erudição e sabedoria que

servem de base para o crescimento de seus orientandos.

Ao Professor Doutor Cristiano Maciel, pela colaboração com seus conhecimentos,

provocações intelectuais e motivação para procurar dar sempre o melhor de mim.

Aos amigos que compõem o Grupo de Pesquisa LêTECE, com os quais tive a

oportunidade de agregar conhecimentos essenciais desde o percurso do Mestrado, se

estendendo também pelo momento do Doutorado.

À Rosângela Sohn, que me apoiou e inclusive me auxiliou durante grande parte de

minhas atividades de pesquisa de campo, pela colaboração e amizade. Também colaboraram

significativamente durante a etapa de contagem dos dados dos questionários, as senhoras

Eunice, Antônia, e minha esposa, Rogéria. Meu muito obrigado a todos vocês!

Ao Programa de Pós-Graduação da UFMT e à equipe da Secretaria do PPGE, que

sempre desempenhou seu trabalho com muito primor e atenção.

A todas aqueles que colaboraram para com a pesquisa, por dispenderem seu valioso

tempo e atenção. A todas as demais pessoas que por alguma falha eu não tenha me recordado

nesse momento, meus sinceros agradecimentos.

Page 7: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

É aqui. É o nosso lar. Somos nós. Nele estão

todos aqueles que você ama, todos aqueles que

você conhece, todos de quem você já ouviu falar,

todos os seres humanos que já existiram, todos

que já viveram suas vidas. A totalidade de nossas

alegrias e sofrimentos, milhares de religiões,

ideologias e doutrinas econômicas, todos os

caçadores e saqueadores, todos os heróis e

covardes, cada criador e destruidor de

civilizações, cada rei e plebeu, cada jovem casal

apaixonado, cada mãe e cada pai, cada criança

esperançosa, cada inventor e cada explorador,

cada professor de moralidade, cada político

corrupto, cada “superstar”, cada “líder

supremo”, cada santo e cada pecador na história

da nossa espécie viveu ali - nesse grão de poeira

suspenso num raio de sol.

O pálido ponto azul

(Carl Sagan)

Cada um que passa em nossa vida,

passa sozinho, pois cada pessoa é única

e nenhuma substitui outra.

Cada um que passa em nossa vida,

passa sozinho, mas não vai só

nem nos deixa sós.

Leva um pouco de nós mesmos,

deixa um pouco de si mesmo.

Há os que levam muito,

mas há os que não levam nada.

Essa é a maior responsabilidade de nossa vida,

e a prova de que duas almas

não se encontram ao acaso.

(Antoine de Saint-Exupéry)

Page 8: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

RESUMO

A leitura imersiva e os e-books compreendem elementos cuja relação pode implicar

aquisições cognitivas importantes para a formação de conhecimentos dos indivíduos, de modo

a colaborar qualitativamente para o ensino-aprendizagem e, portanto, para o âmbito da

Educação. Os e-books são equivalentes a livros em formato digital, que empregam variadas

tecnologias e linguagens hipermidiáticas, possibilitando experiências de leitura inovadoras

mediante as interações e aquisições cognitivas que podem proporcionar. A leitura que ocorre

que ocorre nesse contexto é considerada imersiva, devido à capacidade de envolver a atenção

do leitor em torno do “objeto” de leitura, processo esse diferente da leitura sequencial

tradicional, que normalmente acontece com os materiais impressos. Com base nessa situação,

o objetivo deste estudo é analisar a maneira que se processa a leitura realizada com os e-books

e compreender as aquisições cognitivas proporcionadas por essa experiência de leitura

imersiva. Trata-se de uma inquietação relevante para a área da Educação, uma vez que, na

sociedade contemporânea, as tecnologias promovem grandes transformações em todos os

setores, inclusive no ambiente educacional. Embora essas questões mereçam atenção, elas não

têm encontrado respaldo nas pesquisas de pós-graduação hodiernas, por isso a presente

investigação visa a contribuir com esse tipo de conhecimento. Para isso, o estudo compreende

uma pesquisa exploratória com abordagem qualitativa, dividida em duas fases principais: a

primeira compreende uma caracterização dos sujeitos e de suas práticas de leitura; a segunda,

por sua vez, envolve entrevistas e observações de atividades de leitura imersiva de e-books.

Os sujeitos do estudo são alunos de cursos de graduação, de mestrado e de doutorado da

Universidade Federal de Mato Grosso, selecionados segundo critérios previamente definidos.

Após as análises e as discussões sobre dados, observou-se que a leitura imersiva de e-books

produziu algumas aquisições cognitivas as quais foram categorizadas de aquisições quanto à

forma e quanto ao conteúdo. De forma geral, os e-books proporcionaram a ampliação da

experiência de leitura e angariaram novas aquisições cognitivas aos sujeitos da parte final do

estudo. Destaca-se, também, que essas aquisições cognitivas ficaram razoavelmente alinhadas

ao potencial imersivo dos e-books, embora o critério de imersão não tenha implicado

alterações no contexto geral das aquisições dos sujeitos. Descobriu-se que a leitura de e-books

proporcionou aos leitores imersivos novas aquisições cognitivas relacionadas tanto à forma /

estrutura como ao conteúdo dos e-books. Conclui-se, portanto, que as aquisições -

informações, conceitos e significados -, agregadas pelos sujeitos no decorrer de suas

experiências, foram integradas, mediante processos de assimilação, no sentido de incorporar

novas informações aos esquemas mentais existentes, conforme a teoria da epistemologia

genética de Jean Piaget.

Palavras-chave: Aquisições cognitivas. Leitura imersiva. Leitor imersivo. E-books.

Page 9: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

ABSTRACT

Immersive reading experience and e-books involve relations that may arise important

cognitive acquisitions to individual development. They contribute qualitatively to the

teaching-learning process and thus to Education as a whole. E-books, which are digital books,

use a variety of technologies and hypertext programming languages, enabling innovative

reading experiences through the interactions and cognitive acquisitions they can provide. The

reading that occurs in this context is considered immersive due to the ability to engage the

reader's attention around the "object" of reading, a process that is different from traditional

sequential reading, which usually occurs with printed materials. The meditative reading has,

on its turn, differences, since it happens in printed material. Based on that, the main purpose

of this study is to analyze how reading happens using e-books and to understand the cognitive

acquisitions acquired with the immersive reading experience. The question raised in this study

has great importance to the education field, since, in contemporary society, technology

promotes deep transformations in all areas, including in the educational one. Despite its

importance, those questioning have not found much attention in the current academic

literature, hence the importance of this study. The process of developing this work was based

on qualitative methods for exploratory research. It was divided in two major phases: the first

one involved the describing of subjects and their reading practices; the second one dealt with

interview and with observations of immersive reading experience using e-books. The subject

of this study were graduate, master and doctoral students of the Federal University of Mato

Grosso. They were selected based on previously defined requirements. After analyzing and

discussing the data found, it was observed that immersive reading experience of e-books

produced some cognitive acquisitions which were categorized according to their form and to

their content. In a generally point of view, e-books expanded the reading experience and

produced new cognitive acquisitions to the subjects that took part in this study. It is

highlighted that these cognitive acquisitions were reasonable aligned with the immersive

potential of the e-books, even though the immersion criteria have not changed in the general

context of the acquisitions of the subjects. It was found that the reading using e-books gave to

immersive readers new cognitive acquisitions related to the structure and to the contents of

the e-books. It is possible to conclude that the process of integrating the acquisitions acquired

by the subject through their experience - information, concepts and meanings -, occurred by

assimilation. They incorporate new information to the existing mental schemas, according to

the theories of Jean Piaget regarding the genetic epistemology.

Keywords: Cognitive acquisitions. Immersive reading experience. Immersive reader. E-

books.

Page 10: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

RESUMEN

La lectura inmersiva y los e-books comprenden elementos cuya relación puede implicar

adquisiciones cognitivas importantes para la formación de conocimientos de los individuos, a

fin de colaborar cualitativamente para la enseñanza-aprendizaje y, por lo tanto, para el ámbito

de la Educación. Los e-books, equivalentes a libros en formato digital, emplean variadas

tecnologías y lenguajes hipermidiáticas, posibilitando experiencias de lectura innovadoras

mediante las interacciones y adquisiciones cognitivas que pueden proporcionar. La lectura

que ocurre en este contexto se considera inmersiva debido a la capacidad de involucrar la

atención del lector en torno al “objeto” de lectura, proceso que es diferente de la lectura

secuencial tradicional, que normalmente ocurre con los materiales impresos. Basándose en esa

situación, el objetivo de este estudio es analizar la manera que se procesa la lectura realizada

con los e-books y comprender las adquisiciones cognitivas proporcionadas por esa

experiencia de lectura inmersiva. Se trata de una inquietud relevante para el área de la

Educación, ya que, en la sociedad contemporánea, las tecnologías promueven grandes

transformaciones en todos los sectores, incluso en el ambiente educativo. Aunque estas

cuestiones merecen atención, no han encontrado respaldo en las encuestas de postgrado

actuales, por lo que la presente investigación pretende contribuir con ese tipo de

conocimiento. Con este fin, el estudio comprende una investigación exploratoria con abordaje

cualitativo, dividida en dos fases principales: la primera comprende una caracterización de los

sujetos y de sus prácticas de lectura; la segunda, a su vez, involucra entrevistas y

observaciones de actividades de lectura inmersiva de e-books. Los sujetos del estudio son

alumnos de cursos de graduación, de maestría y de doctorado de la Universidad Federal de

Mato Grosso, seleccionados según criterios previamente definidos. Después de los análisis y

las discusiones sobre datos, se observó que la lectura inmersiva de e-books produjo algunas

adquisiciones cognitivas que fueron categorizadas de adquisiciones en cuanto a la forma y en

cuanto al contenido. En general, los e-books proporcionaron la ampliación de la experiencia

de lectura y recaudaron nuevas adquisiciones cognitivas a los sujetos de la parte final del

estudio. Se destaca, también, que estas adquisiciones cognitivas se alinearon razonablemente

al potencial inmersivo de los e-books, aunque el criterio de inmersión no había implicado

alteraciones en el contexto general de las adquisiciones de los sujetos. Se descubrió que la

lectura de e-books proporcionó a los lectores inmersivos nuevas adquisiciones cognitivas

relacionadas tanto a la estructura y al contenido de los e-books. Por lo tanto, se concluye que

las adquisiciones - información, conceptos y significados -, agregadas por los sujetos en el

transcurso de sus experiencias, fueron integradas, mediante procesos de asimilación, en el

sentido de incorporar nuevas informaciones a los esquemas mentales existentes, conforme a la

teoría de la epistemología genética de Jean Piaget.

Palabras-clave: Adquisiciones cognitivas. Lectura inmersiva. Lector inmersivo. E-books.

Page 11: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Capa e página 43 (capítulo 3) do e-book “Amazônia”, de autoria de

Marcos A. Lima Filho

80

Figura 2 – Capa e página 33 (capítulo 3) do e-book “The interactive space book”,

de Graham K. Wright

80

Figura 3 – Capa e páginas 2 e 136 do e-book “A ditadura acabada” (volume 5), de

Elio Gaspari

124

Figura 4 – Páginas do e-book “D. Quixote” (vol. 1), de Miguel de Cervantes 125

Figura 5 – Capa e páginas do e-book “Criatividade: inovando e aplicando no mundo

empresarial”, de Symon Hill

126

Figura 6 – Capa e partes do e-book “10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil:

Lula e Dilma”, organizado por Emir Sader

128

Figura 7 – Capa e partes do e-book “Formação de professores: limites

contemporâneos e alternativas necessárias”, organizado por Lígia

Márcia Martins e Newton Duarte

129

Figura 8 – Capa e imagem da tela de leitura, do e-book “Sua vida em movimento”,

de Márcio Atalla

130

Figura 9 – Capa e páginas do e-book “Emagrecimento: quebrando mitos e mudando

paradigmas”, de Paulo Gentil

131

Figura 10 – Capa e páginas do e-book “Do e-mail ao Facebook: uma perspectiva

evolucionista sobre os meios de comunicação da internet”, de Leandro

Dantas Calvão, Mariano Pimentel e Hugo Fuks

132

Figura 11 – Capa e páginas do e-book “49 dicas fabulosas de economia doméstica”,

produzido pela Organizze

133

Figura 12 – Capa e página 98 do e-book “E. O. Wilson’s life on earth: plant

physiology” (volume 5), de Edward O. Wilson, Morgan Ryan e Gaël

McGill

134

Figura 13 – E-books utilizados pelos sujeitos e classificação do potencial de imersão 167

Page 12: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Preferências de leitura dos sujeitos conforme os meios disponíveis 87

Gráfico 2 – Quesitos que influenciam a opção por um meio de leitura 88

Gráfico 3 – Equipamentos utilizados para a leitura de e-books 89

Gráfico 4 – Forma como os sujeitos acessaram e realizaram a leitura de e-books 90

Gráfico 5 – Características da leitura de e-books 91

Gráfico 6 – Equipamentos empregados na atividade de leitura. 136

Gráfico 7 – Adequação do e-book para leitura, conforme o meio de acesso 137

Gráfico 8 – Ações semelhantes às do livro impresso. 138

Gráfico 9 – Ações que não podem ser realizadas no papel. 139

Gráfico 10 – Presença de atividades lúdicas ou de aprendizagem 140

Gráfico 11 – Interatividade identificada na leitura de e-books. 141

Gráfico 12 – Multimídia identificada na leitura de e-books. 141

Gráfico 13 – Interação entre leitores identificada na leitura de e-books. 142

Gráfico 14 – Intuitividade na utilização de e-books. 143

Gráfico 15 – Possibilidade de novas aquisições em função da leitura imersiva. 150

Page 13: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Eixos e principais referências teóricas que fundamentaram o estudo 69

Quadro 2 – Quantitativo de sujeitos da primeira fase do estudo 74

Quadro 3 – Classificação básica do potencial de imersão de e-books

(autoria do pesquisador)

81

Quadro 4 – Distribuição dos materiais de pesquisa, ordenado conforme os sujeitos 94

Quadro 5 – Distribuição dos materiais de pesquisa, ordenados conforme os

equipamentos

95

Quadro 6 – Perfil tecnológico básico dos sujeitos, ordenado conforme o nível de

formação

97

Quadro 7 – Ideias predominantes dos sujeitos com relação à “tecnologia” 103

Quadro 8 – Características gerais dos leitores e de suas atividades de leitura 106

Quadro 9 – Ideias predominantes dos sujeitos com relação aos “e-books” 111

Quadro 10 – Características dos leitores e de suas atividades de leitura 121

Quadro 11 – Distribuição dos leitores conforme o nível de formação e o potencial de

imersão dos e-books

148

Quadro 12 – Leitores e suas aquisições, organizados conforme o nível de formação 169

Page 14: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

3D – 3 Dimensões

ANPEd – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação

CD-ROM – Compact Disc Read-Only Memory

DVD-ROM – Digital Versatile Disc – Read Only Memory

EAD – Educação Aberta e a Distância

Epub – Electronic Publication

EDUNESP – Editora da Universidade Estadual Paulista

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IHC – Interação Humano-Computador

LêTECE – Grupo de Pesquisa “Laboratório de Estudos sobre as Tecnologias da

Informação e Comunicação na Educação”

MOBI – Formato de e-book desenvolvido para o MobiPocket Reader

PC – Sigla de Computador Pessoal, na Língua Inglesa

PDF – Portable Document Format

SUS – Sistema Único de Saúde

TIC – Tecnologias da Informação e da Comunicação

UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso

Page 15: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 15

2 TECNOLOGIAS, E-BOOKS E AQUISIÇÕES COGNITIVAS ............................ 25

2.1 Técnica, Tecnologias e Suas Primeiras Manifestações: Percurso Histórico ................ 26

2.1 Contextualizando as TIC e a Educação ........................................................................ 32

2.2 O Livro: Percurso Evolutivo......................................................................................... 38

2.3 O E-book e seus Leitores .............................................................................................. 42

2.4 A Leitura Imersiva e as Aquisições Cognitivas............................................................ 49

3 O PERCURSO METODOLÓGICO ........................................................................ 60

3.1 Abordagem Investigativa e Procedimentos .................................................................. 60

3.2 Revisão e Fundamentação Bibliográfica ...................................................................... 67

3.3 Organização Geral da Pesquisa .................................................................................... 69

3.3.1 A Primeira Fase: Caracterização Preliminar ................................................................ 71

3.3.2 A Segunda Fase: Entrevistas e Observações ................................................................ 74

3.4 A Formação da Coleção Digital de E-books ................................................................ 78

3.5 A Escolha dos Equipamentos de Leitura ...................................................................... 82

4 REFLEXÕES SOBRE OS DADOS DA PESQUISA .............................................. 83

4.1 Caracterização Preliminar dos Sujeitos ........................................................................ 83

4.2 Da Leitura às Aquisições: Entrevistas e Observações .................................................. 93

4.2.1 Os Sujeitos e as Tecnologias ........................................................................................ 96

Page 16: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

4.2.2 Os Leitores Imersivos e os E-books ........................................................................... 104

4.2.2.1 O Aspecto Hipertextual da Leitura Imersiva .............................................................. 113

4.3 As Atividades de Leitura de E-books ......................................................................... 118

4.3.1 Discutindo as Experiências de Leitura Imersiva ........................................................ 134

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 161

5.1 Leitores, E-books e Aquisições Cognitivas: O Caminhar .......................................... 162

5.2 Pontos de Chegada...................................................................................................... 172

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 179

APÊNDICES ............................................................................................................. 184

APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) .................. 185

APÊNDICE B – Questionário de Caracterização – Primeira Fase ............................ 187

APÊNDICE C – Instrumento de Autorização de Uso de Imagem,

Voz e Informações ........................................................................... 190

APÊNDICE D – Roteiro de Entrevista Estruturada ................................................... 192

APÊNDICE E – Formulário Eletrônico de Resposta à Atividade Leitura ................. 193

APÊNDICE F – Análise da Coleção Digital .............................................................. 199

APÊNDICE G – Roteiro Condensado da Coleção Digital ......................................... 206

APÊNDICE H – Comunidade Acadêmica da UFMT / Campus de Cuiabá (2013) ... 209

Page 17: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

15

1 INTRODUÇÃO

As tecnologias costumam estar no foco das comunicações midiáticas no período

contemporâneo. Constantemente novos produtos e serviços surgem e se popularizam com

rapidez, para, em seguida, ir perdendo espaço para outros recursos, que “prometem” cumprir

funções inovadoras. Essas tecnologias se avizinham silenciosamente e se entranham em nosso

cotidiano sem que, muitas das vezes, percebamos a real extensão de suas influências em

nossos hábitos e costumes. Desde as primeiras horas do dia ao final da noite, no trabalho, na

faculdade, nos carros, nos bares, restaurantes, cinemas e festas, em suma, nos diversos

espaços pelos quais transitemos, as tecnologias marcam presença e, não raramente, cumprem

funções importantes em benefício das pessoas.

Por outro lado, o avanço tecnológico também produz situações problemáticas, como

por exemplo, o grande e, por vezes, desordenado volume de informações produzidas em

diversas áreas do conhecimento humano. Em razão disso, não é difícil haver frustração diante

das várias dificuldades em acessar e saber como lidar cotidianamente com esses conteúdos.

Porém, se o grande volume, ou mesmo, a dispersão das fontes de informação,

contribuem para que esse ambiente pareça caótico, para um pesquisador, provavelmente seria

ainda mais dramático não poder pesquisar um assunto em uma base de dados, selecionar os

registros mais recentes, ou localizar o autor de um estudo para discutir detalhes científicos.

A esse respeito, o físico teórico britânico Stephen Hawking assinalou1,

oportunamente, sua preocupação com o desenvolvimento tecnológico acelerado, e,

consequentemente, o aumento exponencial da produção de conhecimentos num ritmo tão

vertiginoso que impossibilitaria a um pesquisador se manter devidamente atualizado em sua

área profissional (HAWKING, 2009).

A reflexão em torno dessas questões não tem finalidade especulativa ou preditiva,

mas de evidenciar, por um lado, que as tecnologias fazem parte do nosso cotidiano, quer

queiramos, quer não, e por outro lado, que elas são instrumentos úteis para o desenvolvimento

de diversas atividades e práticas inovadoras inclusive no campo educacional.

1 Estas reflexões constam na obra clássica do autor, intitulada “O universo numa casca de noz”, especificamente

na página 159 da publicação.

Page 18: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

16

Atualmente vivemos em uma sociedade em rede, interconectada, global, a qual

repercute local e instantaneamente muito do que ocorre em outras regiões do globo, bem

como influencia esse intrincado contexto com o qual se interconecta. Para Castells (2007), as

novas tecnologias da informação vêm integrando o mundo em redes globais de

instrumentalidade, sendo que, a comunicação mediada por computadores produz, por sua vez,

uma grande quantidade de comunidades virtuais. Além disso, nunca é demais lembrar a

relação dessa sociedade com a influência capitalista com a qual se entrelaça, pois como

observa o mesmo autor, a emergente e tecnológica sociedade em rede tem suas bases ligadas

ao período histórico de reestruturação global do capitalismo (sendo sua ferramenta básica), o

que reforça sua identidade capitalista e informacional.

Desse modo, as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) compreendem

um conjunto de elementos tecnológicos e informacionais, geralmente interconectados em

redes, e com os quais os indivíduos interagem cotidianamente. Essas tecnologias estão

emaranhadas em um amplo contexto do qual são partes vibrantes, estando presentes nos mais

diversos setores da atividade humana (sociedade, cultura, economia, educação), e não apenas

no ambiente das interfaces computacionais que subsidiam os fluxos de dados mediados pelos

instrumentos tecnológicos.

Por outro lado, um dos resultados das transformações técnicas e tecnológicas que

ocorreram ao longo dos tempos, são os e-books, que consistem em livros em formato digital,

isto é, que podem ser lidos em dispositivos eletrônicos, como por exemplo, e-readers,

computadores, tablets e aparelhos de telefone celular (SILVA, 2013). Tais recursos

consubstanciam o potencial da tecnologia eletrônica, da digitalização das informações

(incluindo hipermídias) e dos materiais de leitura convencionais, em uma tecnologia

inovadora, haja visto que transforma a maneira pela qual as pessoas leem e agregam novas

informações a fim de constituírem seus conhecimentos.

Diante desse cenário, convém destacar, de minha parte, de onde provém meu

interesse em estudar esses objetos de leitura. Para tanto, parto do contexto das minhas

vivências pessoais, para depois expressar meus interesses profissional e acadêmico, situando-

me, devidamente, no contexto desta tese.

Conforme descrevi em mais detalhes em minha pesquisa de mestrado, grande parte

de minha infância vivi em região rural, no Distrito de Placa de Santo Antônio, Município de

Juscimeira (entre as cidades de Juscimeira e Santa Elvira). Ali, cursei até o Primeiro Grau na

Escola Mista Rural Santo Antônio de Pádua, sendo essa minha primeira experiência escolar.

Page 19: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

17

Nessa época eu gostava muito de ler gibis (e ainda gosto) e foi então que desenvolvi o hábito

de leitura. Tenho boas lembranças da cidade, da escola, do hábito de leitura que desenvolvi,

das pescarias. Mas, por ser uma região pobre, praticamente sem opções de trabalho além da

lavoura, sendo que eu e meus irmãos estávamos crescendo e precisando estudar, meus pais

decidiram se mudar para a cidade de Rondonópolis.

Em Rondonópolis, não houve uma adaptação fácil, mas, após algum tempo, logo eu e

meus irmãos estávamos estudando e, meu pai, trabalhando. Mais tarde, também

trabalhávamos para ajudar em casa, e após concluir o Segundo Grau (atual Ensino Médio),

comecei a me preparar para o vestibular. Assim, consegui ser aprovado para o Curso de

Bacharelado em Biblioteconomia, e tive o privilégio de fazer esse curso entre os anos de 2002

e 2006, pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), no Campus de Rondonópolis.

Por volta dessa época, as formas comuns que eu tinha para utilizar algumas

tecnologias, como por exemplo, computadores, era basicamente na universidade, em cursos

ou lan houses. Até aparelho de telefone celular eu demorei um pouco a comprar por conta do

custo. Assim, desde então, se sucederam várias mudanças envolvendo as tecnologias, as quais

foram evoluindo e transformando o ambiente em que eu convivi.

Atendo-me ao contexto de meus estudos em Biblioteconomia, desde os primeiros

textos que comecei a ler, já ficavam evidentes os impactos das tecnologias nas mais diversas

áreas, inclusive na Biblioteconomia. As disciplinas básicas empregavam textos que tratavam,

entre outros, das transformações no “mundo do trabalho”, preocupações com informatização

de serviços técnicos, roteiros de sítios e bases de dados para realização de atividades. Outro

tema abordado e que me despertou interesse imediato foram as bibliotecas digitais, virtuais e

eletrônicas2. O interesse foi tanto que, minha pesquisa de conclusão de curso envolveu a

criação de um protótipo de biblioteca virtual para uma empresa agrícola da região.

Alguns anos depois de formado, vim morar e trabalhar na cidade de Cuiabá, pois

havia sido aprovado em um processo seletivo para bibliotecário no SESC Arsenal, onde fiquei

menos de um ano, pois, logo fui nomeado como bibliotecário da UFMT. Antes de tomar

posse na UFMT, também trabalhei rapidamente na Biblioteca Pública Estadual Estevão de

Mendonça. Mas foi na Biblioteca Central da UFMT que minha vida profissional se

intensificou, pois era a maior biblioteca do Estado, com uma grande demanda de público e de

serviços aos seus funcionários. Foi um momento deveras gratificante em minha vida,

2 Embora essas terminologias envolvessem conceitos que, à época, tinham sentidos diferentes, atualmente, a

terminologia dominante é “biblioteca digital”.

Page 20: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

18

especialmente para meus pais, pois, ambos não tendo a oportunidade de se alfabetizarem,

tiveram o orgulho de ver o filho caçula terminar o curso superior e seguir carreira profissional

em uma instituição de renome. E nessa carreira profissional na Biblioteca Central iniciada em

2008, logo evoluí para a Gerência de Processos Técnicos, em 2009 e, em seguida, para a

Coordenação, no ano de 2010. O volume maior de trabalho e de responsabilidades não me

desanimou, e foi prazeroso manter uma grande equipe trabalhando com objetivos comuns.

Basicamente, era o melhor momento até então da minha carreira profissional.

Um pouco antes, eu havia sido aprovado no processo seletivo Programa de Pós-

Graduação em Educação da UFMT, tendo ingressado em 2010. Iniciado os estudos, foi um

momento acadêmico extremamente gratificante, em vista das experiências agregadas, do

aprendizado construído e da conclusão do curso. Foi um momento cansativo diante das

obrigações acumuladas na Biblioteca Central, porém, ainda assim, foi extremamente

gratificante. As aulas conduzidas pela professora Kátia Morosov Alonso e o professor

Cristiano Maciel no Grupo de Pesquisa “Laboratório de Estudos sobre as Tecnologias da

Informação e Comunicação na Educação – LêTECE” tratavam de temáticas importantes e

atuais no campo da Educação. Por ser bibliotecário, cuja área de formação está assentada

entre as Ciências Sociais Aplicadas, minha formação de bacharel foi bastante técnica, e, como

tal, necessitei fazer um movimento de desequilíbrio piagetiano: precisei “desaprender”

algumas questões condicionadas por anos de graduação, para depois assimilar conceitos da

área da Educação, “reaprendendo” a partir desse novo “universo” das Ciências Humanas, e,

buscando um estado de equilíbrio.

O curso de Mestrado ocorreu entre os anos de 2010 e 2012 e além das grandes

amizades, experiência de vida e crescimento intelectual, eu consegui desenvolver a pesquisa

intitulada “Bibliotecas, leituras e leitores: um estudo no contexto da UFMT”. Nesse estudo,

realizamos uma investigação qualitativa para conhecer o perfil dos leitores da biblioteca

universitária, um trabalho que foi extremamente gratificante, dos pontos de vista pessoal,

profissional e acadêmico.

Posteriormente, ainda na Coordenação da Biblioteca Central, fui aprovado no

Programa de Pós-Graduação em Educação e comecei os estudos no Curso de Doutorado em

2014, e, novamente sob a orientação da Professora Kátia Morosov Alonso, tenho

desenvolvido a presente pesquisa. As orientações destes professores e as experiências do

grupo LêTECE, foram muito importantes em minha vida acadêmica, de modo que, ao

relembrar os conhecimentos da minha área de Biblioteconomia, percebo o quanto foi

Page 21: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

19

agregado em meu conhecimento, pois consigo encarar de uma maneira diferente temas

biblioteconômicos dos quais ainda gosto muito. Desde meus estudos envolvendo biblioteca

virtual na graduação, passando pela pesquisa de mestrado sobre leitores imersivos na

Biblioteca Central da UFMT, venho mantendo, no Doutorado, o interesse em estudar as

tecnologias nas áreas da Educação e agregar mais conhecimentos a esse respeito.

Portanto, meu interesse pessoal no tema desta tese também se relaciona à minha

formação profissional, aliada às experiências acadêmicas: a leitura imersiva que estudei

durante o mestrado, os e-books, que eram frutos de minhas inquietações mais recentes em

minha área de formação profissional. E, finalmente, a professora Kátia Morosov Alonso me

auxiliou nessa delimitação, “costurando” com grande conhecimento esses temas, que tiveram

as aquisições cognitivas como fio condutor de novos saberes.

Mas, de que modo me deparei com este tema? Inicialmente, parti do interesse em

evidenciar a “aprendizagem” envolvendo e-books, e então fazia meu percurso teórico

buscando apoio na teoria sociocultural e, especificamente, no conceito de aprendizagem

mediada de Lev Vygotsky. Aos poucos, entretanto, com os estudos teóricos e as profícuas

orientações que recebi, fui percebendo que, estudar as aprendizagens, era um caminho mais

longo do que o suposto inicialmente. Além disso, a teoria da epistemologia genética de Jean

Piaget também poderia me ajudar a responder às minhas inquietações. Nesse sentido, após um

período de tempo, decidimos lapidar o objeto de estudo em torno da leitura imersiva de e-

books, a partir das aquisições cognitivas, tomadas emprestadas dos estudos de Piaget. E, para

tanto, tive o privilégio de dispor da vasta experiência pedagógica da professora Kátia

Morosov Alonso, que, como dito anteriormente, ajudou-me a “trançar” esses elementos e a

clarear os objetivos da pesquisa.

Convém mencionar uma questão que guiou minhas preocupações em torno desta

temática, qual seja, a originalidade do estudo. O doutoramento consiste em uma fase de

consolidação do conhecimento, na qual, o pesquisador necessita produzir um trabalho com

densidade teórica, ou seja, que lhe permita articular os conhecimentos prévios com os

conceitos essenciais advindos do estudo, desembocando não necessariamente em uma obra

acabada, mas, essencialmente, na produção de uma pesquisa original e, quase sempre, inédita,

pois, como explica Saviani (2000, p. 15), “a tese pressupõe, em consequência, os requisitos de

autonomia intelectual e de originalidade, já que estas são condições para que alguém possa

expressar uma posição própria sobre determinado assunto”.

Page 22: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

20

Diante disso, antes de desenvolver o estudo, iniciei a busca por trabalhos similares,

em diversas fontes de informação acadêmica e científica, cumprindo destacar: Portal de

Periódicos da CAPES3, Catálogo de Teses da CAPES

4, Portal Domínio Público

5, Biblioteca

Digital de Teses e Dissertações6, revista Educação & Sociedade

7 e Revista Brasileira de

Educação (RBE)8. Também foram verificados os anais do Congresso Brasileiro de Ensino

Superior a Distância (ESUD)9, da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em

Educação (ANPEd)10

e do Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino (ENDIPE)11

.

O horizonte temporal de publicação dos materiais pesquisados, compreendeu o intervalo dos

últimos 4 anos antes de iniciar o curso de doutorado, ou seja, de 2011 a 2014 e foram

priorizadas como publicações, teses e artigos científicos dos periódicos citados, ou, quando

proveniente de outra fonte (por exemplo, acessado via Portal de Periódicos da CAPES), que

possuísse alguma forma de avaliação do conteúdo por pares ou de semelhante rigor.

Desse modo, com relação ao tema deste estudo, não foi identificado nenhum trabalho

semelhante à temática proposta. O único material com alguma relação ao tema que cabe

destacar, não se enquadrou nos critérios acima indicados, pois foi uma pesquisa de mestrado

intitulada “As possíveis configurações dos livros nos suportes digitais” de autoria de Thaís

Cristina Martino Sehn (SEHN, 2014). Porém, a pesquisa possuía uma abordagem distinta, se

dedicando apenas ao estudo dos e-books e não envolvendo leitores, o conceito de leitura

imersiva, ou de aquisições cognitivas. Em vista da abrangência dessas buscas, os materiais

identificados, de temas correlacionados e que pudessem contribuir para o desenvolvimento

teórico e metodológico do estudo, foram mantidos como referencial complementar.

Tendo esse foco estabelecido, os trabalhos se desenvolveram de modo mais natural, e

embora não tenha conseguido o afastamento das minhas atividades laborais conforme

solicitado no início do curso, a pesquisa teve prosseguimento.

3 A CAPES é a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, vinculada ao Ministério da

Educação (MEC) do Brasil. O endereço eletrônico de seu portal de periódicos é o seguinte:

<http://www.periodicos.capes.gov.br>. 4 Disponível em: <http://catalogodeteses.capes.gov.br>.

5 Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br>.

6 Disponível em: <http://bdtd.ibict.br>.

7 Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php/script_sci_serial/pid_0101-7330/lng_pt/nrm_iso>.

8 Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=1413-2478&lng=en&nrm=iso>.

9 Disponível em: <https://www.aunirede.org.br/portal/>.

10 Disponível em: <http://www.anped.org.br/?>.

11 Disponível em: <http://endipe.pro.br>.

Page 23: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

21

Portanto, foi nesse contexto que, no presente estudo, dediquei-me ao objetivo geral

de analisar a maneira pela qual se processa a leitura realizada com o uso de e-books e as

aquisições cognitivas proporcionadas por essa experiência. Nesse sentido, para dar conta

dessa preocupação central, foi necessário delimitar alguns objetivos específicos, os quais

proporcionaram clareza quanto às ações a serem desenvolvidas no decorrer da pesquisa:

Verificar como alguns sujeitos interagem com os e-books, com base em entrevistas e

observações de atividades práticas;

Evidenciar as aquisições cognitivas agregadas no contexto das interações entre

leitores e suas leituras imersivas de e-books;

Debater sobre as implicações da leitura imersiva e dos e-books para a área da

Educação, no contexto da cultura digital contemporânea.

Examinar essa leitura imersiva envolvendo e-books se mostrou uma questão que

demandava cuidado. Embora alguns procedimentos tenham sido bem delineados a priori,

outros métodos só emergiram no contexto do desenvolvimento das atividades que

culminariam na pesquisa de campo.

Foram surgindo preocupações do tipo: desenvolver uma atividade prática com uso de

e-books implicaria na escolha de alguns desses materiais, mas, quais os critérios para tanto?

Preliminarmente, essa preocupação não incomodaria, pois critérios podem ser estabelecidos a

partir do esforço reflexivo devidamente fundamentado. Assim, o refinamento da pesquisa se

cercava de critérios, como por exemplo, para a seleção dos sujeitos, para a seleção dos

materiais digitais, quais equipamentos utilizar e por que. Mas, a seleção de materiais foi algo

que necessitou de maior atenção, uma vez que, ao decidir compor uma coleção de e-books

que combinasse diversidade temática, linguística e hipermidiática, era necessário explicitar

devidamente tais critérios. Além disso, surgia uma preocupação referente ao objetivo central

do estudo, qual seja, considerando que os e-books possuíam recursos diferentes, inclusive

hipermidiáticos, os quais poderiam implicar em envolvimento distinto da parte dos sujeitos,

como tratar dessa peculiaridade no decorrer do estudo? Lembro-me que ao ler uma entrevista

de Piaget (1980, p. 79) ele dizia acreditar que “a maior diferença entre o pesquisador e o

computador é que o pesquisador inventa problemas”.

Page 24: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

22

Assim, como esse tipo de problema faz parte da pesquisa, à medida que esta se

desenvolvia, o mesmo foi solucionado. Para apoiar a análise dos materiais e sua identificação

apropriada, após estudo, foi definido um quadro básico de “classificação” dos e-books

selecionados, conforme o potencial imersivo dos mesmos (Quadro 3), o qual, cumpriu sua

função satisfatoriamente.

Em termos metodológicos, o estudo compreendeu uma pesquisa exploratória de

abordagem qualitativa, dividida em duas fases principais: a primeira fase compreendeu a

caracterização dos sujeitos e de suas práticas de leitura, enquanto que a segunda fase envolveu

entrevistas e observações de atividades de leitura imersiva com e-books de um grupo

selecionado desses sujeitos, conforme critérios previamente estabelecidos. Estes sujeitos

correspondem a alunos de cursos de graduação e pós-graduação stricto sensu (mestrado e

doutorado) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Quanto à estrutura, esta tese está organizada em 5 capítulos, alguns dos quais se

subdividem internamente para o desenvolvimento do assunto de forma mais organizada. A

seguir, são apresentados esses capítulos, seguidos de uma breve descrição para identificá-los.

O capítulo 1 compreende a “INTRODUÇÃO” ao conteúdo da tese. Nessa parte está

descrita a síntese do estudo, sua abordagem, organização das partes, além dos objetivos, e

justificativa de escolha do tema.

O capítulo 2 intitulado “TECNOLOGIAS, E-BOOKS E AQUISIÇÕES”, apresenta

os principais aspectos teóricos subjacentes à esta pesquisa. Numa perspectiva histórica, são

abordadas as técnicas e as tecnologias até chegar às TIC. Também são tratados os livros

impressos e seus leitores, os e-books e as aquisições cognitivas que estes podem proporcionar.

No capítulo 3, é detalhado o “PERCURSO METODOLÓGICO”. Parte-se da opção

pelo tipo de pesquisa exploratória e da abordagem qualitativa envolvida, passando pelo

escopo da fundamentação teórica e estrutura e organização do estudo (dividido em duas

fases). Quanto à essa estrutura, são delineados os contornos metodológicos da primeira fase e

da segunda fase da pesquisa. Ao final, é abordada a forma de análise dos dados.

As “REFLEXÕES SOBRE OS DADOS DA PESQUISA” são apresentadas no

capítulo 4, que se inicia com a primeira fase do estudo, qual seja, a caracterização preliminar

dos sujeitos por meio de pesquisa de campo. Na sequência, são detalhados os resultados da

segunda fase do estudo, isto é, das entrevistas e observações realizadas a partir de uma

amostra de sujeitos. Nesse sentido, as partes seguintes se encontram organizadas conforme foi

Page 25: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

23

realizado o tratamento de dados: de forma mais ampla, foram analisadas as questões

referentes aos sujeitos e ao uso que revelaram fazer das tecnologias, bem como as suas

características de leitores, compreensão e uso de e-books. Além disso, ainda se discute

aspectos da leitura imersiva possibilitada pelos e-books. Ao final dessa parte são descritos os

resultados das atividades realizadas envolvendo a leitura de e-books, na qual as experiências

são relatadas de forma individual.

Na sequência, o quinto capítulo apresenta as “CONSIDERAÇÕES FINAIS” a que se

chegou, procurando integrar os resultados das análises e discussões ao eixo central do estudo.

Em razão disso, possui dois subcapítulos, de modo que na primeira parte se retoma o contexto

geral da pesquisa para fazer uma consideração final mais integrada. Já na parte final, são

apresentados alguns dos pontos de chegada dessa tese, evidenciando aspectos centrais, e,

inclusive, questões que podem ser aprofundadas por outros estudos de abordagem similar.

Enfim, a estrutura da tese se completa com as “REFERÊNCIAS” e “APÊNDICES”, incluídos

ao final do trabalho.

Porém, o trabalho produzido não se encerra em sua apresentação formal, embora se

tenha concluído o estudo e alcançando seu produto final, na forma de um documento

conhecido no meio acadêmico como “tese”. Enquanto proposição sobre o fenômeno de

interesse do pesquisador, a tese consistiu numa pergunta que o mesmo se fez e que, se

acredita, tenha sido respondida no decorrer desta pesquisa, como argumentado no item 5.2,

das Considerações Finais.

Contudo, como já conjecturava o filósofo austríaco Karl Popper, “não somos

estudantes de assuntos, mas estudantes de problemas. E os problemas constituem os recortes

de qualquer assunto ou disciplina” (POPPER, 1972 apud SARACEVIC, 1991, p. 41). Assim,

tendo partido de um problema em um campo de estudos, e de uma tese a respeito desse

problema, a qual se entende que tenha sido confirmada, novos problemas se oferecem, os

quais também são mencionados no item 5.2. Dessa forma, a tese não é um estado acabado em

si, pois:

1) É um conhecimento produzido no caminhar ao lado e com o Grupo de Pesquisa

LêTECE e seus guias: possui, portanto, a identidade de seus saberes didático-

pedagógicos e epistemológicos;

2) É um conhecimento abraçado a teorias e métodos decorrentes de outros estudos

de importância reconhecida, e, portanto, possui uma filiação teórica que o

Page 26: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

24

enquadra conceitualmente em uma linha determinada (nesse caso, junto aos

estudos interacionistas piagetianos na área da Educação);

3) Novos problemas e outras abordagens que se aproximem desse contexto podem

ser beneficiados com experiências e conhecimento constituídos pelo estudo.

Desse modo, entende-se que o estudo relatado nessa tese, também pode ser útil para

futuras pesquisas no campo da Educação e, na área da TIC, inclusive para aquelas abordagens

que envolvam a leitura, e-books e aquisições cognitivas. Dando continuidade, a seguir, são

apresentadas as fundamentações teóricas da pesquisa, por meio de seus principais eixos

temáticos, representados nos subcapítulos que integram a referida parte.

Page 27: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

25

2 TECNOLOGIAS, E-BOOKS E AQUISIÇÕES COGNITIVAS

Nesse capítulo, apresenta-se uma revisão contendo os principais aportes teóricos da

pesquisa. Primeiramente, são abordadas as técnicas e as tecnologias até chegar às TIC, numa

perspectiva histórica. Em seguida, são abordados os livros impressos e seus leitores, os e-

books e as aquisições cognitivas que estes podem proporcionar.

A ciência se caracteriza pela tentativa do homem em entender e explicar

racionalmente a natureza, por meio da formulação de leis que permitam, em última instância,

a própria atuação humana (ANDERY et al., 2006), podendo auxiliar, de modo mais prudente,

a lidar com as questões que nos rodeiam, tais como as mudanças climáticas, as epidemias e

problemas demográficos, para mencionar apenas alguns. Isso porque, o conhecimento

científico auxilia na superação do desconhecido, da ignorância, da ilusão, do imediatismo,

fornecendo uma compreensão mais fundamentada da realidade, por meio das leis gerais que

regem os fenômenos, de modo a entender melhor o mundo e a si mesmo.

Enquanto tentativa de explicar a realidade, a ciência caracteriza-se por ser uma

atividade metódica. É uma atividade que, ao se propor conhecer a realidade, busca

atingir essa meta por meio de ações possíveis de serem reproduzidas. O método

científico é um conjunto de concepções sobre o homem, a natureza e o próprio

conhecimento, que sustentam um conjunto de regras de ação, de procedimentos

prescritos para se construir conhecimento científico. (ANDERY et al., 2006, p. 14).

Assim, esse método científico não é único e nem permanece o mesmo, pois decorre

de condições históricas concretas, como por exemplo, as necessidades, a organização social

para sua satisfação, o nível de desenvolvimento técnico, as ideias e os conhecimentos já

produzidos, entre outros, bem como do momento histórico que caracteriza a elaboração do

conhecimento. A fim de tentar explicar a realidade, a ciência se assenta no método e no

conhecimento científico, seguindo critérios historicamente validados, passíveis de reproduzir

os fenômenos e comprová-los cientificamente, produzindo-se, assim, novos conhecimentos

científicos, inclusive com novas interpretações científicas da realidade investigada.

Seguindo essas premissas, esta pesquisa se conduz pela observância de questões que

possam ser verificadas com base em fundamentos científicos, obedecendo à procedimentos

metodológicos historicamente validados, e fundamentando-se em teorias do campo da

Educação.

Page 28: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

26

2.1 Técnica, Tecnologias e Suas Primeiras Manifestações: Percurso Histórico

As técnicas e as tecnologias são partes importantes da história humana, e observar

essas manifestações na perspectiva histórica, revela a importância desses elementos para a

sociedade, permitindo compreendê-las melhor. Essa é a finalidade dessa seção.

Ao se refletir de forma mais aprofundada sobre as tecnologias, constata-se que estas

nos remetem aos primórdios do surgimento do próprio homem, ou seja, ao contexto das

primeiras referências humanas que se tem. E, é nesta “aurora do homem”12

que, junto dele,

também surgiram outros elementos que caracterizam a própria essência do fenômeno humano,

os quais (voltando aos dias atuais), ainda apresentam interpretações amplas: a técnica e a

linguagem.

Nesse sentido, Vargas (1994, p. 171) afirma ser “petição de princípio”, dizer que o

homem criou a linguagem e a técnica, uma vez que “não tem sentido imaginar o homem antes

de ele próprio fazer sua linguagem e sua técnica”. Foi assim, a partir desses “inventos”, que

“algo que não era humano, tornou-se homem”.

Desse modo, deixando de ser hominídeo, surgiu o homem, juntamente com a

linguagem e a técnica por ele construídas, as quais, mesmo sendo tão antigas quanto o ser

humano, não se pode dizer que apareceram instantaneamente; em todo caso, essas três

entidades, são, provavelmente, produtos de uma evolução natural que durou milhares de anos,

como pontua o autor anteriormente citado.

Veraszto et al. (2008) explicam que tanto a palavra técnica, quanto tecnologia têm

ambas origem na palavra grega techné a qual, significava muito mais alterar o mundo de

forma prática do que compreendê-lo, não havendo no princípio, praticamente nenhuma

influência da contemplação científica.

Com base nesse autor, a técnica está focada em como transformar, como modificar, e

o significado original do termo techné decorre de uma das variáveis de um verbo que significa

12

O termo “aurora do homem” corresponde a um subtítulo dentro do filme “2001: uma odisseia no espaço”, do

diretor Stanley Kubrick. Na parte citada, é feito referência à evolução humana, mostrando macacos que

posteriormente evoluiriam para homo sapiens. Esses personagens são caracterizados por atitudes que, em

muitos aspectos, lembram o próprio ser humano.

Page 29: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

27

fabricar, produzir, construir, dar à luz13

, enquanto que a palavra tecnologia deriva da junção

dos termos tecno (do grego techné), que é saber fazer, e logia (do grego logus), razão, sendo

que tecnologia significa, nesse sentido, a razão do saber fazer, ou ainda, o estudo da técnica,

da própria atividade do modificar, do transformar, do agir.

Contudo, Vargas (1994, p. 18) explica que “o que designamos hoje, de uma forma

geral por técnica, não é exatamente a ‘techné’ grega”. Além disso, em vista de a técnica ser

considerada tão antiga quanto o próprio homem, a techné grega, para este autor, era um tipo

de conhecimento que não se limitava à pura contemplação da realidade, mas uma atividade

interessada por resolver problemas práticos, conduzir os homens nas questões vitais, curar

doenças, construir edifícios, instrumentos, entre outros. Eram, portanto, conjuntos de

conhecimentos e habilidades profissionais e, assim como a “ars” romana (considerada seu

prolongamento), consistia numa forma elaborada e sistematizada de técnica, aperfeiçoada pela

educação, descrita em livros e compêndios e repassada de geração a geração, tendo ainda o

importante papel de romper com a natureza “mágica”, “divina”, que era atribuída às técnicas

desde suas origens.

De outro lado, se a técnica é tão antiga quanto o homem, esse mesmo autor

argumenta que foi somente a partir de 1600, com a Ciência Moderna, que surgiu a tecnologia

como a conhecemos nos dias atuais, ou seja, um saber fazer baseado na teoria e na

experimentação científica.

[...] Tecnologia, portanto, é hoje a atividade de transformação do mundo, resolução

de problemas práticos, construção de obras e fabricação de instrumentos, baseada

em conhecimentos científicos e por processos cientificamente controlados. É um

saber científico dos materiais e dos processos de planejamento, e construção de

obras e de invenção, projeto e fabricação de instrumentos. Portanto, é bastante difícil

distinguir, hoje em dia, a Ciência da Tecnologia (VARGAS, 1994, p. 20).

Assim, a tecnologia consistia na solução de problemas técnicos a partir de teorias,

métodos e processos científicos, sendo, portanto, vinculada à técnica. Contudo, há que

destacar também que suas raízes remetem ao surgimento da mentalidade renascentista que

propiciou o aparecimento da Ciência Moderna, pois, foi nesse bojo que ciência e técnica se

aproximaram ainda mais.

13

O verbo teuchô ou tictein. Nesse sentido, teuchos significa ferramenta, instrumento (TOLMASQUIM, 1989;

LION, 1997 apud VERASZTO et al., 2008).

Page 30: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

28

Um primeiro exemplo disso foi quando Galileu tentou, sem sucesso, resolver um

problema técnico com a aplicação da teoria racional mecânica dos momentos, técnica cujos

resultados a ciência teórica conseguiu explicar com sucesso dois séculos depois. O mesmo

aconteceu com a termodinâmica, que explicou, apenas mais tarde, o funcionamento da

máquina a vapor. Entretanto, esse rumo inverteu-se com o advento da eletricidade, com a

teoria passando à frente da técnica e as máquinas elétricas sendo então projetadas e

construídas a partir de teorias científicas. E a eletrônica consolidou definitivamente o processo

desse fluxo do saber da teoria para a prática, embora, somente após a Segunda Guerra

Mundial é que se firmou a opinião de que toda realização técnica deve ser orientada por um

estudo científico. “Estabeleceu-se, assim, definitivamente a tecnologia. Pode-se assim

entender essa como o ‘logos’ da técnica” (VARGAS, 1994, p. 179).

Outra forma pela qual se pode compreender as tecnologias é tratando destas como

“extensões” do ser humano. Em seus estudos sobre os meios de comunicação, McLuhan

(2007) argumenta que, todos os meios tecnológicos desempenham funções de extensões do

corpo humano, assim como as bicicletas são extensões das pernas, as roupas são extensões de

nossa pele, as facas são extensões da unha. Trata-se de um raciocínio interessante, em uma

sociedade em que ocorrem diversos tipos de mediação tecnológica.

Sendo um dos teóricos mais conhecidos entre os defensores da não-neutralidade

tecnológica, McLuhan (2007) argumenta que “o meio é a mensagem”, ou seja, que as

tecnologias em si, também exercem a função de modificar o comportamento humano,

introduzir uma alteração significativa, “pois, a ‘mensagem’ de qualquer meio ou tecnologia, é

a mudança de escala, cadência ou padrão que esse meio ou tecnologia introduz nas coisas

humanas” (MCLUHAN, 2007, p. 22).

Assim, entre as tecnologias ou extensões mencionadas, encontram-se a escrita, o

alfabeto, a eletricidade, a imprensa, a roda, o computador digital, a televisão e outros

instrumentos, bem como outras interpretações que esses “meios” suscitam: tecnologia

humana, tecnologia bélica, tecnologia não-visual, tecnologias sociais (MCLUHAN, 2007).

Veraszto et al. (2008), ao argumentar que a fabricação dos primeiros instrumentos de

pedra lascada estava relacionada a um saber-fazer, uma tecnologia desenvolvida pelos nossas

antepassados, assume que seriam estes primeiros artefatos “instrumentos tecnológicos” cujo

propósito era garantir a sobrevivência humana por meio da interferência do homem no meio,

caçando e defendendo a si e a seu território das feras, sendo não só o uso das ferramentas

(instrumentos), como também todo o processo de seu desenvolvimento (invenção, concepção,

Page 31: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

29

e produção) o verdadeiro feito. “As estratégias e outras formas de organização desenvolvidas

por nossos ancestrais pré-históricos reafirmam o potencial tecnológico humano” (ACEVEDO,

1998; VERASZTO, 2004 apud VERASZTO et al., 2008, p. 64).

Além disso, a técnica e, partindo dessa linha teórica a própria tecnologia, surgem

antes mesmo da preparação, lapidação de um instrumento; ou seja, antes da pedra lascada e

preparada para o ataque e a caça, os hominídeos se apropriaram dos recursos disponíveis na

natureza e os ressignificavam na forma de instrumentos úteis. Um exemplo clássico de

concepção de um instrumento “bruto” vemos em Vargas (1994; 1999), bem como em

Veraszto et al. (2008), ao abordarem uma cena do filme 2001: uma odisseia no espaço, de

Stanley Kubrick.

Aí está expresso simbolicamente o caráter progressista da técnica, uma vez

descoberto o primeiro instrumento, pelo homem primitivo, progressivamente ele

será aperfeiçoado até os atuais sofisticadíssimos instrumentos do homem atual, para

a conquista dos espaços extraterrestres (VARGAS, 1999, p. 8).

Além disso, a cena mostra o aparecimento da técnica em uma atmosfera emocional e

de aprendizado simbólico, pois, surge também nesse momento, “os três elementos

fundamentais do ser humano: a emoção, o símbolo e a habilidade” (VARGAS, 1994).

A partir desse momento, com o uso do intelecto, o hominídeo se transforma em

homem, à medida que associa, em seus pensamentos, o osso do animal com um instrumento

poderoso para caça e defesa, similar à uma extensão do seu corpo, provavelmente do seu

braço, que normalmente usaria para golpear os inimigos ou outros animais, admitindo aqui

algumas das ideias de McLuhan (2007)14

.

Assim surgiu o homem. Somente através do emprego de sua capacidade intelectual

primitiva é que foi capaz de estabelecer relações fundamentais que o auxiliaria a

modificar o meio, empregando uma técnica até então inexistente. O homem surgiu

somente no exato momento em que o pensamento aliou-se à capacidade de

transformação. A utilização daquele primeiro instrumento não só dava início à

modificação do meio assim como também iniciava um processo de modificação do

próprio grupo de hominídeos que o descobriram. O homem ainda não modificara a

natureza construindo um novo artefato, mas tão importante quanto isso, o homem

14

Embora o osso não seja um meio de comunicação (ao menos no contexto da cena do filme), tampouco uma

tecnologia sofisticada, ou menos ainda um instrumento trabalhado, lapidado, ele foi “instrumentalizado”, foi

tomado ou apropriado como instrumento útil para uma finalidade definida, ressignificado, razão pela qual o

associamos a uma “extensão” do corpo humano, pois cumpre funções auxiliares que, normalmente o

indivíduo desempenharia com o uso de seus membros.

Page 32: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

30

acabava de descobrir uma nova função para um osso recém descoberto. Modificando

o papel do osso e resignificando-o, o homem alterava para sempre as relações

sociais estabelecidas a partir de então. Segundo estudos, é de se crer que o osso

tenha sido utilizado em estado bruto desde os primeiros tempos, apesar de seu

aperfeiçoamento sistemático ter ocorrido em tempo mais tardio. (DUCASSÉ, 1987

apud VERASZTO et al., 2008, p. 63-64).

Nesse contexto, o que diferencia o homem dos animais é a capacidade humana de

raciocinar, conceber, com o uso do intelecto humano, novos instrumentos e novas aplicações,

pois, “de acordo com a Antropologia, não há homem sem instrumentos, por mais

rudimentares que sejam” (VARGAS, 1994, p. 18-19). O homem passa a criar novas conexões

mentais, a pensar o mundo sobre outro ponto de vista, sob uma ótica mais ativa; aprende que

pode desenvolver instrumentos mais sofisticados, que sirvam como extensões de seu corpo,

de modo que possa agir com mais eficiência e obter mais sucesso. Nesse caminho, progride

alterando a natureza, produzindo novos instrumentos úteis á sua necessidade, para além de

simplesmente ressignificar o que a natureza lhe forneceu.

Assim, resta-nos esclarecer o conceito de tecnologia que utilizaremos como base.

Conforme Vargas (1994; 1999), as técnicas surgiram como o homem, mas a tecnologia, como

é entendida na atualidade, surgiu apenas a partir de 1600, junto com a Ciência Moderna. De

outro lado, partindo de McLuhan (2007), temos um amplo espectro de tecnologia que

retrocede à Imprensa (tecnologia mecânica), ao alfabeto, à roda e outros instrumentos.

Veraszto et al. (2008), entende que a fabricação dos primeiros instrumentos de pedra lascada

já envolvia um saber-fazer, uma tecnologia, denominando, assim, os primeiros artefatos de

“instrumentos tecnológicos”, cujo propósito particular era a sobrevivência do homem no seu

meio hostil. Considerando-se a complexidade do tema, também não deixamos de assumir que

outros pesquisadores podem apresentar abordagens semelhantes a essas ou mesmo mais

diversas ainda, mas não nos convém fazer um aprofundamento exaustivo do assunto, pois

seria desnecessário para o objetivo desse estudo.

Uma definição exata e precisa da palavra tecnologia fica difícil de ser estabelecida

tendo em vista que ao longo da história o conceito é interpretado de diferentes

maneiras, por diferentes pessoas, embasadas em teorias muitas vezes divergentes e

dentro dos mais distintos contextos sociais (GAMA, 1987 apud VERASZTO et al.,

2008, p. 62).

De todo modo, damos prosseguimento, entendendo que, sob um contexto mais

amplo, pode se compreender as tecnologias como o resultado da ação dos seres humanos para

dominar a natureza, o que pode se expressar por diferentes e sucessivas inovações,

Page 33: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

31

transformações ou mesmo revoluções, em busca de algo novo, que permita concretizar um

objetivo, realizar uma tarefa, cumprir uma função, ou mesmo obter um resultado esperado ou

ainda não atingido de diversos modos alternativos àqueles até então conhecidos e

empregados.

Portanto, concordamos com Veraszto et al. (2008, p. 78), quando argumentam que a

tecnologia é um “conjunto de saberes inerentes ao desenvolvimento e concepção dos

instrumentos (artefatos, sistemas, processos e ambientes) criados pelo homem através da

história para satisfazer suas necessidades e requerimentos pessoais e coletivos”, podendo estar

presente em vários instrumentos antigos, mas, sem desprezar seu papel na revolução científica

e tecnológica mais recente, que estabeleceu sua primazia sobre a técnica, firmando-se como o

“logos” da técnica (VARGAS, 1994).

Em síntese, as tecnologias são compreendidas nesse estudo como um conjunto de

saberes humanos, historicamente constituídos, uma atividade de transformação do mundo

para dar conta de problemas práticos e solucionar questões técnicas, incluindo a construção de

obras ou a fabricação de instrumentos15

, a partir de conhecimentos científicos, e por processos

cientificamente controlados. Assim, pode ser um instrumento, um produto, ou mesmo uma

atividade, um processo, um procedimento técnico melhorado cientificamente. Pode ser uma

tecnologia mais ou menos avançada, bem como servir como “extensões” do corpo humano ou

dar conta de problemas de outra ordem, mas, em essência, será uma aplicação da ciência

sobre a técnica, para atender uma necessidade humana. Esse entendimento desconsidera

alguns limites temporais estabelecidos, como por exemplo, por Vargas (1994; 1999), uma vez

que, o objeto de pesquisa requer um conceito mais amplo de tecnologia, considerando que o

livro passou por uma série de transformações ao longo de sua história, até chegar a mais

recente delas, a revolução da tecnologia eletrônica, que concebeu o e-book. Caso se

concordasse que a tecnologia, de uma forma geral, surgiu apenas com a Ciência Moderna, se

desconsideraria toda a história por trás da concepção deste objeto histórico, inclusive suas

transformações tecnológicas (notadamente envolvendo seu suporte material, sua produção e

reprodução, formas de uso e linguagens).

Assim, ao contrário do que erroneamente as propagandas sugerem, as tecnologias

não estão presentes apenas no ambiente dos computadores e dos sistemas informatizados, das

inovações da mais alta tecnologia e da informática. As TIC, que abrangem esse outro polo,

são compostas de um conjunto de elementos tecnológicos e informacionais, e marcam

15

Muitas vezes os próprios instrumentos e produtos concebidos dessa forma são denominados como tecnologias.

Page 34: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

32

presença nos mais diversos setores, na sociedade, na cultura, na educação e na economia. É a

partir dessa perspectiva que nos ocupamos desse tema a seguir.

2.1.1 Contextualizando as TIC e a Educação

Que as TIC permeiam os mais variados ambientes, esta é uma constatação evidente,

uma vez que a sociedade, a cultura, a economia e a política, entre outros, se desenvolveram

historicamente no amplo contexto da experiência humana e dos diversos produtos de sua

atividade (entre eles, as tecnologias), influenciando, reciprocamente, a própria vida dos seres

humanos. Entretanto, para o melhor entendimento de uma experiência tão ampla, parece-nos

apropriado primeiramente situar alguns contornos teóricos e suas consequências, que

permitirão compreender a própria influência dessas tecnologias.

Um ponto de partida para a compreensão da revolução da tecnologia da informação,

conforme defendido por Castells (2007) é que, no final do século XX, vivemos um raro

intervalo histórico caracterizado pela transformação da nossa cultura material pelos

mecanismos de um novo paradigma tecnológico organizado em torno da tecnologia da

informação. Assim:

Como tecnologia, entendo [...] “o uso de conhecimentos científicos para especificar

as vias de se fazerem as coisas de uma maneira reproduzível”. Entre as tecnologias

da informação, incluo, como todos, o conjunto convergente de tecnologias em

microeletrônica, computação (software e hardware), telecomunicações/radiodifusão,

e optoeletrônica. Além disso, diferentemente de alguns analistas, também incluo nos

domínios da tecnologia da informação a engenharia genética e seu crescente

conjunto de desenvolvimentos e aplicações. [...] Ao redor desse núcleo de

tecnologias da informação, definido em um sentido mais amplo, houve uma

constelação de grandes avanços tecnológicos, nas duas últimas décadas do século

XX, no que se refere a materiais avançados, fontes de energia, aplicações na

medicina, técnicas de produção (já existentes ou potenciais, como a nanotecnologia)

e tecnologia de transportes, entre outros. Além disso, o processo atual de

transformação tecnológica expande-se exponencialmente em razão de sua

capacidade de criar uma interface entre campos tecnológicos, mediante uma

linguagem digital comum na qual a informação é gerada, armazenada, recuperada,

processada e transmitida (CASTELLS, 2007, p. 67-68, grifos do autor).

Observa-se inicialmente uma caracterização técnica de tecnologia da informação

(infraestrutura tecnológica convergente), complementada pela sua extensão aos domínios da

engenharia genética (que inclui as interações entre a biologia, a eletrônica e a informática),

seus desenvolvimentos e aplicações. De outro lado, o autor ressalta ainda a característica

Page 35: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

33

dinâmica do contexto informacional contemporâneo, no qual a tecnologia age desde a geração

da informação, passando pelo seu armazenamento, recuperação e processamento, até chegar à

sua transmissão.

Igualmente situando as TIC em um contexto tecnológico maior, observa-se também

na literatura da área educacional, a sua influência no âmbito da ecologia cognitiva e

organizacional das sociedades:

As Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) não são apenas meros

instrumentos que possibilitam a emissão/recepção deste ou daquele conteúdo de

conhecimento, mas também contribuem fortemente para condicionar e estruturar a

ecologia cognitiva e organizacional das sociedades. Cada época histórica e cada tipo

de sociedade possui uma determinada configuração que lhe é devida e

proporcionada pelo estado das suas TIC, reordenando de um modo particular as

relações espaço-temporais, nas suas diversas escalas (local, regional, nacional,

global) que o homem manteve e mantém com o mundo, e estimulando e provocando

transformações noutros níveis do sistema sociocultural (educativo, econômico,

político, social, religioso, cultural etc.). Assim foi desde a utilização das tecnologias

primitivas. (SILVA, 2008, p. 29).

Lévy (1997 apud SILVA, 2008) ao refletir sobre os espaços de identidade do ser

humano (a terra, o território e o mercado), defende que a tecnologia digital e as redes de

comunicação contribuíram para o surgimento de um novo espaço antropológico: o “Espaço do

Saber”. Mais que conhecimento científico, este espaço compreende um saber-viver, um saber

que se entende à vida e que qualifica o homo sapiens. Este espaço virtual é também

denominado como um “não-lugar”, embora, por sua natureza dissimulada, misturada,

travestida, dispersa, seja habitado e animado por intelectos coletivos em busca de novas

formas de comunicação.

Nesse contexto, as tecnologias e, especificamente as TIC, potencializam uma nova

forma de identificação dos seres humanos com o ambiente informacional que povoam e põem

em movimento, um espaço antropológico inovador, coletivo e mais livre, cujos limites podem

ser rompidos tanto pelos indivíduos quanto pelas comunidades que o compõe. Centrando a

discussão nas TIC, embora não tenhamos nenhuma inclinação a determinismos tecnológicos

ou a visões utópicas16

, são patentes os impactos que estas tecnologias exercem sobre a vida

humana, pois no cerne do Espaço do Saber e da cibercultura, está o progresso tecnológico que

16

Convém ressaltar esse ponto de vista, uma vez que o autor anteriormente citado (Pierre Lévy) possui um ponto

de vista bastante otimista quanto às tecnologias, motivo de algumas de suas ideias serem criticadas por outros

pesquisadores como sendo utópicas.

Page 36: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

34

contribuiu para revolucionar a forma como lidamos com a informação e o conhecimento no

mundo contemporâneo.

Uma vez apresentadas estas considerações, passamos a refletir a partir de alguns

recortes, ou seja, de configurações assumidas e influências exercidas pelas TIC em nosso

cotidiano, com o intuito de ilustrar um pouco as questões teóricas anteriormente expostas. De

forma prática, o que significa afirmar que as TIC estão presentes nos mais diversos setores

humanos? Como se poderia ilustrar um pouco melhor essa influência?

A fim de tentar responder essas questões de forma mais explicativa, estabelecemos

três breves recortes para tecer algumas reflexões, quais sejam a economia, o cinema e a

educação, sendo este último ponto o que mais nos interessa.

Atualmente já se tornou comum a realização de diversos serviços bancários a partir

de quaisquer lugares em que os usuários tenham acesso a equipamentos ou dispositivos

(microcomputador, notebook, smartphone) conectados à internet e um software ou aplicativo

(internet banking) instalado. Além disso, com o desenvolvimento do comércio eletrônico ou

e-commerce, vários recursos foram e continuam sendo incorporados cotidianamente pelas

pessoas. As compras em lojas virtuais oferecem várias possibilidades de pagamento, além de

rastreamento da entrega e avaliação dos clientes. Serviços de pagamento ou transferências de

recursos como o PayPal17

e o PagSeguro18

, beneficiam tanto comerciantes quanto

consumidores e a economia em geral. Ainda sem a devida regulamentação, existem também

as criptmoedas, das quais, a mais conhecida é o bitcoin, um tipo de moeda virtual,

independente de qualquer autoridade monetária ou mesmo central, funcionando a partir da

tecnologia de criptografia de chave pública, conhecida por blockchain.

Por meio de um aplicativo de negociação de ações (homebroker), disponibilizado por

bancos, corretoras ou distribuidoras de valores, quaisquer investidores, mesmo com poucos

recursos financeiros disponíveis, conseguem comprar e vender ações e outros produtos

financeiros, instantaneamente, a partir de dispositivos móveis, como smartphones e tablets

conectados à internet. Aliás, com o auxílio de uma consultoria financeira competente e um

domínio razoável de língua estrangeira, as pessoas também podem investir no exterior, tanto

em produtos dessa natureza, quanto de outros tipos, existentes no mercado externo.

17

Sítio do PayPal: https://www.paypal.com/br/home. 18

Sítio do PagSeguro: https://pagseguro.uol.com.br.

Page 37: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

35

Sem ater às questões legais, mas também sem desconsiderá-las, pode-se tomar o

cinema como outro elemento de análise e observar, inicialmente, que antes mesmo de serem

lançados oficialmente, muitos filmes costumam ser comercializados no mercado paralelo.

Não tão rapidamente, mas também não tão lentamente quanto os canais abertos, as redes de

televisão por assinatura (via satélite ou a cabo), também oferecem em seus pacotes de

assinatura, variados canais de filmes e outros produtos, incluindo a compra de filmes e jogos

para assistir sob demanda19

, adquiridos separadamente da programação convencional. O que

não dizer então dos serviços de streaming como o Netflix ou o Spotfy20

, que atraem os

entusiastas de produções cinematográficas e musicais?

Ora, o próprio cinema, por meio das produtoras de filmes, vem introduzindo cada

vez mais a tecnologia 3D, que deixou de ser novidade há muito tempo, lançando filmes novos

e convertendo filmes antigos para essa formatação audiovisual, a qual, por meio dos aparelhos

de reprodução blu-ray em conjunto com as smart TV (HD, 3D ou 4K), está chegando cada

vez mais às residências. Em não muito tempo, é provável que estas tecnologias também já

estejam superadas por outras de igual ou superior potencial.

Apenas nesses dois pequenos recortes, da área econômica, e da área cinematográfica

(relacionada à cultura e entretenimento), evidenciam-se várias inovações proporcionadas

pelas TIC, muito longe de serem as únicas. Além disso, trata-se de exemplos citados sob a

compreensão da forte dinâmica inerente às tecnologias, que pode fazer com que em pouco

tempo essas tecnologias cedam espaço a outras inovações. Mas o que vislumbramos na área

educacional?

Quando tratamos das TIC no contexto educacional, rapidamente surge a figura do

computador e as discussões envolvendo a internet, a Sociedade em Rede, programas de

inclusão digital, questões de formação de professores e estratégias de uso das TIC, além das

discussões envolvendo a área da Educação Aberta e a Distância (EAD). De fato, a Educação é

uma área na qual as TIC, há muito, já não são mais novidades. Entretanto, constantemente

surgem novas lacunas a serem exploradas, uma vez que as tecnologias se transformam

rapidamente, enquanto que sua incorporação às práticas escolares retrata um atraso comum:

antes de serem “apropriadas” pelos professores, muitas tecnologias são facilmente

19

Recursos do tipo pay per view, ou on demand, como algumas destas empresas costumam denominar. O

usuário paga para assistir, seletivamente, sem adquirir propriedade. 20

Os serviços de streaming oferecem aos seus assinantes, acesso a um imenso repertório de filmes e séries de

TV com altíssima qualidade. Inclui recursos que permitem ao usuário, por exemplo, pausar para continuar

assistindo um vídeo em outro momento, a partir daquele mesmo ponto, quando e de onde quiser, em

praticamente qualquer tela com conexão à internet (smartphones, computadores, tablets, smart TV).

Page 38: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

36

apreendidas pelos próprios alunos, caracterizando algumas das tensões existentes neste

ambiente, sobretudo quanto à formação de professores.

Nesse sentido, entre os instrumentos mais comuns estão os microcomputadores e

outras tecnologias (notebooks, scanners, projetores multimídia, CD-ROM, DVD-ROM), além

da própria internet, cujo acesso ao ciberespaço potencializa a utilização de recursos como as

redes sociais, blogs, objetos de aprendizagem, vídeos, animações, jogos on-line, entre outros

que despertam ora mais, ora menos o interesse dos alunos, mas sobre os quais têm sido

empreendidos alguns esforços pedagógicos. No caso da EAD, esse é um fenômeno crescente,

que tem despertado a atenção da iniciativa privada em nosso país, sem esquecer o papel

relevante e pioneiro desempenhado pelas universidades públicas.

O acesso às tecnologias no meio educacional também é atravessado por questões

políticas e socioeconômicas, as quais, geralmente são objetos de estudo de várias pesquisas

acadêmicas. Se tomar como exemplo que um morador da periferia de uma cidade, devido às

suas condições socioeconômicas, não consiga adquirir um smartphone, por exemplo, bem

como acessar uma rede de informações, se informar e atuar mais ativamente na sua

comunidade, estará sendo retratada uma realidade comum no Brasil, pois o acesso e uso

efetivo das TIC costuma ser influenciado por diversos fatores dessa ordem. Entretanto,

também é possível que outro indivíduo, em condições semelhantes, consiga acessar a internet,

trocar mensagens, assistir e compartilhar vídeos e músicas, atualizar seu perfil na rede social

preferida, marcar um encontro, ver a programação de cinema de sua cidade. Diversas são as

possibilidades que podem interferir nesses cenários, mas, nem sempre o acesso às TIC pode

ser fator determinante de uma participação social mais efetiva.

Por essa razão, a penetração das TIC na sociedade nos leva ao entendimento de que

as mesmas ainda estão ligadas a uma série de problemas, mas suas características, como a

rápida inovação e popularização de produtos e serviços (e consequente barateamento), é algo

dinâmico que ajuda a balancear um pouco esse acesso, embora seja ingênuo acreditar que

ocorre um acesso democrático e igualitário na sociedade.

Considerando assim a dinâmica inerente à inovação tecnológica, torna-se relevante

destacar algumas tendências futuras que Guri-Rosenblit (2009) relaciona às TIC: promoção da

diversidade institucional; aumento da flexibilidade; mudança nos papéis da faculdade

acadêmica; consolidação dos resultados de pesquisa no ensino e aprendizagem; mudança

gradual dos ambientes acadêmicos e, inclusive, o surgimento de novas tecnologias. No que

concerne diretamente à organização institucional, a autora alerta para o fato de que as

Page 39: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

37

instituições vêm se adequando para fornecer cursos em diversas modalidades, para alunos

dentro e fora do campus (universidades de modo duplo), envolvendo a metodologia presencial

e on-line, simultaneamente a um mesmo grupo de alunos (universidades de modo misto), bem

como ofertando cursos através de diferentes tecnologias, sendo baseadas em diversas

infraestruturas organizacionais (universidades virtuais). Outras transformações importantes

nesse âmbito é transição de uma ampla comunidade de faculdades situadas em campus locais,

para comunidades internacionais de estudiosos que atuam em áreas específicas de estudo.

Por outro lado, essas tendências futuras (algumas inclusive bastante contemporâneas)

dividem espaço com os desencontros estabelecidos no relacionamento entre as TIC e o

ambiente educacional, inclusive quanto ao trabalho docente, pois, como alerta Alonso (2008,

p. 755):

Do ponto de vista pedagógico, o uso das TIC no contexto escolar e as significações

sobre elas têm implicado transformações que relativizam a função do professor

como transmissor de conhecimento, deslocando o centro da questão para o

“protagonismo” dos alunos. O problema é que a escola, como instituição, está ainda

marcada pela lógica da transmissão, fazendo colidir a lógica das TIC e a lógica

escolar.

Para a autora é importante questionar o papel central muitas vezes atribuído às TIC,

em contraponto ao esvaziamento do papel do professor, submetido à aquisição de habilidades

e competências informacionais. Assim, apenas a Rede em fluxo não é capaz de sustentar a

aprendizagem, sendo imprescindível o trabalho do professor, que tem condições de tratar a

informação sistemática e continuamente.

Moran (2003) também reforça o potencial humano ao argumentar que a forma como

lidaremos com as tecnologias avançadas depende diretamente da forma como somos e como

agimos com os outros e com a vida, ou seja, se somos pessoas fechadas, a tendência é utilizar

as tecnologias de forma defensiva, superficial, mas, se somos pessoas abertas, a tendência é

utilizar as tecnologias para nos comunicar mais e interagir melhor. “O poder de interação não

está fundamentalmente nas tecnologias, mas nas nossas mentes” (MORAN, 2003, p. 63).

Nesse sentido, o autor complementa:

Ensinar com as novas mídias será uma revolução se mudarmos simultaneamente os

paradigmas convencionais do ensino, que mantém distantes professores e alunos.

Caso contrário, conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no

essencial. A Internet é um novo meio de comunicação, ainda incipiente, mas que

pode nos ajudar a rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de ensinar

e de aprender (MORAN, 2003, p. 63).

Page 40: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

38

Diante dessas reflexões, verifica-se que as TIC podem contribuir para um ensino de

qualidade, desde que o professor desenvolva o importante trabalho pedagógico que pode dar

sentido às tecnologias nesse ambiente. Trata-se não simplesmente de incorporar as

tecnologias às atividades docentes, mas de empregar estes recursos de forma planejada e

pertinente para os objetivos de ensino e aprendizagem, reexaminar periodicamente seu

potencial, se valendo inclusive do potencial criativo dos alunos, que podem colaborar de

forma produtiva para essa apropriação, sem necessariamente minar o protagonismo docente.

Esta é uma possibilidade teoricamente pertinente de uso das TIC no ambiente educacional,

porém, apenas o trabalho docente cotidiano, marcado pela didática diária, por aplicações e

experiências, tensões (muitas vezes inevitáveis) e reajustes de percursos conforme

necessidade, é que pode dar o tom efetivo da utilização pedagógica das TIC com sucesso.

Assim, após discutir o conceito de tecnologia, adentrou-se na temática das TIC e

examinou-se brevemente, alguns de seus reflexos na economia e na cultura (especificamente

no cinema), até chegar à educação, que procuramos abordar mais criticamente. Como se viu, a

própria inserção das TIC no ambiente educacional apresenta peculiaridades que requerem

atenção. Nesse sentido, não há uma fórmula ou metodologia definida para o trabalho

pedagógico, pois as tecnologias são dinâmicas e interferem na cultura das pessoas de uma

forma geral e dos alunos e professores de modo mais especifico, sendo indispensável,

portanto, que a escola não esteja alheia, mas compreenda essa cultura digital e seus benefícios

para o ensino e aprendizagem.

2.2 O Livro: Percurso Evolutivo

Ao se deparar com qualquer objeto, geralmente o ser humano age no sentido de

compreendê-lo imediatamente pelos sentidos, ou seja, pelas impressões perceptíveis,

empregando seu conhecimento prévio na tentativa de estabelecer uma relação com o objeto,

ainda que este seja completamente desconhecido. Como o homem é capaz de pensar e abstrair

as mais diversas situações, também é possível imaginar um objeto qualquer sem mesmo

visualizá-lo, mas, se este objeto existe, é bem provável que o sujeito em questão teve alguma

forma de contato com ele utilizando seus sentidos, a menos, que seja um elemento utópico,

idealizado, que só existe em sua mente ou, que muito coincidentemente também pode existir

no mundo físico.

Page 41: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

39

Esta breve reflexão tem por interesse ajudar a refletir sobre os detalhes que muitas

vezes nos escapam. Ou seja, os objetos percebidos podem esconder em si uma história, uma

cultura tão rica quanto negligenciada pelas pessoas, mesmo que de forma não intencional.

Ao compararmos alguns objetos com outros, semelhantes e mais antigos, é possível

perceber variações de diversas características, como por exemplo, práticas de produção, de

engenharia, variações estéticas (inclusive mudanças fugazes típicas do mundo da moda),

inovações de cunho prático, científico, aperfeiçoamentos técnicos os mais diversos. Em todo

caso, olhares atentos podem perceber ou pelo menos imaginar aspectos da cultura de cada

época, características históricas, o estado da arte da tecnologia, questões variadas que refletem

mundos que se sobrepõem constantemente.

É a partir desse entendimento que observamos no livro um objeto cuja compreensão

a partir da perspectiva histórica e cultural é indispensável para se evitar equívocos. Os nativos

digitais que leem seus e-books nas telas de seus tablets podem até conhecer os livros

impressos, mas, se pudessem regredir um pouco mais no tempo, encontrariam os códices, os

pergaminhos, os papiros e os tabletes de argila, um antecessor histórico do livro que, embora

pelo seu nome e forma curiosamente nos lembre os tablets atuais, representava uma forma de

registro e leitura bastante peculiar. Nesse sentido, afirmar que um objeto é melhor ou pior que

outro que o antecedeu ou que o sucedeu, mostra-se uma comparação descuidada, pois estes

materiais são produtos de um tempo e de uma cultura, embora possam coexistir por mais ou

menos tempo.

Nessa perspectiva histórica, o livro possui uma trajetória que tem início antes mesmo

de seu surgimento: no momento em que o homem necessitou se expressar de forma mais

duradoura do que permitia a linguagem oral e gestual, passou a gravar seus primeiros

desenhos nas pedras e nas paredes das cavernas (CORREIA, 2000).

Já na Antiguidade, além dos pictogramas, os métodos de registro e transmissão de

informações nos conduzem à escrita fonética, aos sinais silábicos e ao alfabeto. E

consequentemente, vieram também novos suportes dos registros de conhecimento: vasos de

cerâmica, tabuletas de argila, placas de metal, papiros, rolos de pergaminho, e finalmente os

códices, formatos mais parecidos com os modernos livros impressos.

O emprego de diferentes materiais para a prática da escrita e a sua adoção corrente

pela sociedade propiciou o desenvolvimento de diferentes suportes que cumpriam a função do

livro como o conhecemos na atualidade. Desde o uso de tabuletas de argila, papiros e

Page 42: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

40

pergaminhos, até os códices medievais e mais recentemente os livros impressos

mecanicamente, o ser humano tem encontrado nestes materiais, formas de registrar

informações de modo a se comunicarem para além do momento presente, evidenciando a

superação da cultura oral precedente.

Esse percurso evolutivo evidencia algumas características do livro que foram se

modificando ao longo dos anos, enquanto que outras permaneceram até os dias atuais. Uma

das mudanças clássicas diz respeito ao tipo e à forma do suporte, como pode ser observado a

partir das antigas bibliotecas minerais (com seu acervo em tábuas de argila), vegetais (com

seus acervos feitos de papiro) e animais (com seus acervos baseados em pergaminhos de

couro).

Consequentemente, as formas de armazenar e organizar estes acervos também

apresentavam diferenças notórias e exigiam bastante trabalho, haja visto que uma obra apenas

poderia ocupar vários volumes.

Em Alexandria, o texto se apresentava ainda sob a forma de rolos. Com mais de

quinhentos mil rolos, a biblioteca de Alexandria dispunha, de fato, de um número de

obras muito menos significativo, já que uma obra podia ocupar, sozinha, dez, vinte,

até trinta rolos. O catálogo da biblioteca era constituído de cento e vinte rolos. É

possível imaginar as operações manuais que a busca do universal exigia

(CHARTIER, 1998, p. 118).

Nas bibliotecas contemporâneas essa disparidade foi sendo superada aos poucos,

devido à maior capacidade de armazenamento de informações dos livros impressos, ao passo

que aumentaram exponencialmente a quantidade de publicações disponíveis, tornando as

bibliotecas instituições em constante crescimento. De todo modo, o livro persistiu enquanto

suporte físico manuseável, contendo informações registradas (desta vez mecânica ou ainda

eletronicamente), caracterizando a materialidade dos livros e das bibliotecas.

[...] o formato códice, surgido por volta do século I, representou uma enorme

revolução na história do livro. De fato, o códice ocupava menos lugar nas

bibliotecas, tinha maior capacidade de armazenamento de texto e melhor

legibilidade. Além disso, uma vez que sua leitura exigia o uso de uma só mão,

permitindo que, simultaneamente, se escrevesse ou segurasse outro objeto, seu uso

representava grande vantagem para os estudiosos (CORREIA, 2000, p. 31).

Nesse período, os livros ainda eram escassos e de circulação restrita. Porém, nos

séculos seguintes, outras inovações importantes contribuíram para o desenvolvimento e

Page 43: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

41

popularização do livro: a adoção do papel (surgido na China no Século II d.C.) pelo Ocidente

no Século XII, e, a invenção da imprensa no Século XV, cuja autoria costuma ser atribuída a

Gutenberg, que combinou técnicas de cunhagem, fundição, ourivesaria e xilografia para a

impressão baseada em tipos móveis.

A imprensa fez com que a produção manuscrita de livros fosse cedendo espaço para

a tipografia, em função do barateamento da produção, ligado a fatores como a flexibilidade na

composição dos tipos móveis e a disponibilidade de matéria prima barata, o papel.

Há, porém, “uma continuidade muito forte entre a cultura do manuscrito e a cultura

do impresso, embora durante muito tempo se tenha acreditado numa ruptura total entre uma e

outra” (CHARTIER, 1998, p. 9). Na produção de livros, os manuscritos continuaram sendo

utilizados até o século XIX, seja para textos proibidos, seja como forma dos escritores

manterem uma “cumplicidade” com seus leitores. O que o autor supracitado destaca é a

ascensão da impressão por meio de “sucessivos deslizamentos”, não sendo de natureza

universal, mas antes Ocidental, pois à ela se sobrepunha, por exemplo, a Xilografia,

empregada na China, no Japão e na Coréia.

Assim, a tipografia se propagou pelo mundo ocidental, espalhando-se por toda a

Europa apenas algumas décadas após seu surgimento, passando a atender às demandas do

Renascimento, do Iluminismo e de outros eventos sociais, e contribuindo para a ascensão de

um novo mercado.

Nesse período, as viagens eram mais seguras, e o transporte marítimo se tornaria

mais barato, facilitando a criação de uma rede através da qual os editores – que eram

muitas vezes os próprios impressores – faziam o escoamento da sua produção.

Assim, vemos surgir um “mercado do livro”, que inclui não apenas impressores e

compradores, mas também lojistas, vendedores ambulantes, e todo tipo de

intermediários. Ao mesmo tempo, o livro, como artefato, também foi se

modificando, afastando-se cada vez mais da forma de apresentação medieval para

assumir uma estética própria, em maior conformidade com a cultura renascentista

(CORREIA, 2000, p. 33).

Nos séculos seguintes, caracterizados pelas inovações da Revolução Industrial

(segunda metade do Séc. XVIII), os avanços que se estenderam para além da esfera industrial,

estimularam ainda mais a difusão do saber, concorrendo para o aumento gradativo das

publicações disponíveis, ao ponto de, já no Séc. XIX, serem empreendidas várias discussões

sobre a necessidade de organizar a grande quantidade de informação e documentos

produzidos.

Page 44: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

42

Em nossa própria época, a transmissão eletrônica de textos trouxe outra revolução

na leitura. Primeiramente, transforma nossa noção de contexto, ao substituir a

contigüidade física entre os textos presentes no mesmo objeto (um livro, uma

revista, um jornal) por sua distribuição nas arquiteturas lógicas que regem os bancos

de dados, os arquivos eletrônicos e sistemas de processamento, que tornam possível

o acesso à informação. Redefine também a natureza “material” dos trabalhos, ao

suprimir a relação imediata e visível que existe entre o objeto impresso (ou

manuscrito) e o texto que contém (CHARTIER, 1999, p. 26-27).

Assim, entre 1948 e 1981, veio se configurando o que Le Coadic (2004) denomina

como revolução tecnológica e informacional, com a descoberta do transistor e dos primeiros

suportes imateriais da informação. Além disso, a partir de 1981, veio o surgimento da

microinformática, dos computadores pessoais e das redes de transmissão de sinais (Internet,

Intranet e Extranet). Com isso, também começa a gestar uma nova configuração para o livro,

quando passam a ser desenvolvidas as técnicas que permitem a separação de seu conteúdo do

suporte físico tradicional. Já nas últimas décadas, as mudanças vêm se processando muito

rapidamente, com grande influência das TIC, alimentando polêmicas discussões sobre um

possível “desaparecimento” do livro impresso.

Finalmente, o contexto moderno permitiu além do surgimento dos e-books, a

concepção e proliferação de bibliotecas digitais para organizar, tratar e disponibilizar diversas

publicações eletrônicas que vão além dos próprios e-books.

Nesse momento em que a tecnologia impõe novas transformações ao livro, a leitura e

o próprio leitor também se modificam. Justamente uma destas implicações é o rompimento da

materialidade característica do livro, pois novas relações passam a ser estabelecidas entre este

objeto e seu conteúdo eletrônico. Não obstante, a contiguidade física inerente aos livros cede

espaço a uma nova dinâmica de armazenamento, processamento, distribuição e acesso à

informação.

2.3 O E-book e seus Leitores

Historicamente, os livros sofreram diversas transformações em virtude de suas

inovações técnicas e tecnológicas, preservando, porém, um aspecto peculiar, qual seja, a

“materialidade” de sua estrutura, que vinculava fisicamente os objetos de leitura e seus

conteúdos, num contexto histórico-cultural que valorizou por muito tempo o acesso a

materiais tangíveis e visíveis aos olhos humanos. Como exemplos podem ser citados os

Page 45: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

43

tabletes de argila, papiros, pergaminhos e códices, bem como os contemporâneos livros

impressos.

Nestes recursos de leitura, a informação se encontrava, de certo modo, “presa” ao seu

suporte, pelo emprego de técnicas e tecnologias convencionais, seja no caso da escrita grafada

em cuneiforme nas tábuas de argila, ou mesmo no caso das informações registradas nos

manuscritos com o uso de tinta sobre os rolos de pergaminho; ou, ainda, no caso das

informações impressas mecanicamente nas folhas de papel dos livros modernos.

Entretanto, para os objetos de leitura, a tecnologia dos e-books representou uma

transformação significativa nesse vínculo histórico. Com os e-books, a informação não estava

mais, necessariamente, “presa” ao suporte. Pelo contrário, de forma cada vez mais frequente,

o e-book passou a agregar um aparato tecnológico que permite diferentes formas de acesso à

informação e, portanto, de leitura. Em geral, essas inovações se inscrevem em um contexto

maior de transformações tecnológicas, acentuadas a partir da revolução informacional e

eletrônica, iniciada em meados do século XX, com reflexos em diversos setores

contemporâneos.

Dentre os vários benefícios para os e-books, a virtualização da informação ainda se

mostra um tema fértil para debates. A informação digital adquire uma natureza virtual,

ilusória, no sentido de que depende de certas condições (hardware, software, eletricidade)

para “surgir” para seu leitor. Assim, dentre as diversas formas de processamento envolvendo a

informação, as tecnologias também propiciam a sua exibição, ou seja, sua “atualização” numa

tela, como diria Lévy (2004), por meio da qual, o leitor interage com o conteúdo evanescente

de seu objeto de leitura.

Nesse cenário tecnológico, entre os recursos que vieram a inovar a tradicional função

dos livros impressos, destaca-se o e-reader, um dispositivo portátil desenvolvido

especificamente para a leitura de livros no formato digital. Pioneiramente, muitos desses

dispositivos nem chegaram a sair dos projetos, outros, não conseguiram sucesso no mercado,

enquanto que apenas poucos, como o Rocket eBook21

, teve projeção comercial considerável.

Portanto, na gênese da transição dos livros impressos para os e-books, considerando-se o

surgimento dos e-readers, se encontra um contexto de acirrado desenvolvimento, que

culminou, mais tarde, na ascensão de produtos como o Kindle22

, referencial tecnológico e

21

Lançado oficialmente e, 1998, pela empresa NovoMedia Inc., sediada em Palo Alto, Califórnia, Estados

Unidos (PROCÓPIO, 2010). 22

O Kindle foi lançado oficialmente em 19 de novembro de 2007, pela Amazon (MELO; TAVARES, 2012).

Page 46: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

44

comercial relevante nesse meio, porém, mais contemporâneo. Nesse sentido, como se define,

de modo geral, o e-reader?

Um dispositivo portátil eletrônico, com tela plana de cristal líquido colorida ou não

[LCD ou E-Ink], sensível ao toque de uma caneta ou dedo, com controle de

luminosidade ajustável para prevenir canseira nos olhos e problemas de saúde dessa

ordem. Com um “sistema operacional” interno que absorvesse e suportasse um

browser – daí o aplicativo reader, “leitor” em inglês – que enxergasse, tal como os

navegadores Internet Explorer, Chrome, FireFox, Opera, os textos inteligentes ou

hipertextos. Igualzinho à Internet. (PROCÓPIO, 2010, p. 81).

Essa definição, embora não seja muito recente, demonstra aspectos que se

consolidaram nesse recurso, como por exemplo, as telas que buscam proporcionar uma

experiência de leitura mais saudável aos olhos. Nesse sentido, para Pereira e Pinheiro (2000),

essa tecnologia consiste em um device (dispositivo) para leitura de e-books, também

conhecido como e-book reader, ou simplesmente reader. Atualmente, além do Kindle

comercializado pela empresa Amazon, também se destacam, nesse meio, o Nook da Barners

& Noble, e o Kobo da Livraria Cultura.

Retirando o foco dos recursos tecnológicos, convém mencionar que, na literatura

acadêmica, observa-se uma variedade terminológica em torno dos e-books, sendo encontradas

formas diferentes empregadas como sinônimos, mas também, enfoques diferenciados. Um

pouco dessa confusão se encontra na própria origem do termo:

Batizada de eBook [do acrônimo electronic Book – em português, livro eletrônico],

a tecnologia tem múltiplas funcionalidades que permitem, entre outras tarefas, o

acesso instantâneo a milhares de documentos digitais, e vem de encontro às ideias de

muitos escritores e editores, de fazer seus textos chegarem a um número máximo de

leitores (PROCÓPIO, 2010, p. 26, grifos do autor).

Em síntese, a distinção terminológica entre “e-book” e “livro eletrônico” deriva da

origem do termo e-book, assentada na contração de “electronic book”23

. Mas, como dito, a

inconsistência terminológica nessa seara se estende amplamente na literatura. Também podem

ser identificados, sem distinção, termos como edição on-line, edição digital, documento

eletrônico ou digital, livro eletrônico, livro digital, livro virtual, e-book, livro

23

Situação análoga se dá com o termo “e-mail”, pois algumas pessoas optam por utilizar a forma equivalente na

língua portuguesa (correio eletrônico), embora nenhum dos dois esteja incorreto, pois a palavra “e-mail”

também já consta em dicionários nacionais.

Page 47: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

45

desmaterializado, sendo que o termo comercialmente mais aceito tem sido e-book (SEHN,

2014).

Silva (2000) também faz referência a essas divergências. Para ele, o livro eletrônico24

possui uma variedade de denominações (e-book, i-book, livro eletrônico, hipertexto, livro

digital), bem como lhe são atribuídos conceitos distintos. Nesse sentido, este autor examina

brevemente alguns destes conceitos, elucidando que os mesmos se referem:

À ideia do hipertexto da rede e da interatividade proporcionada pelo meio,

além da Web, ficando implícita a utilização de um computador pessoal como

intermediário para o acesso;

À ênfase sobre o dispositivo, no equipamento necessário para fazer a

intermediação do usuário com o texto, sem necessidade de um computador.

Assim, a Web estaria implícita, uma vez que desempenha a função de interface

de mediação dos indivíduos com os documentos, via dispositivo.

Os conceitos que o autor investiga reforçam o papel do hipertexto, da Web e dos

dispositivos de leitura (e-readers), o que também não deixa de remeter à liberdade do leitor,

defendida por Chartier (1998). Por outro lado, reforça o problema da imprecisão conceitual e

terminológica, e, embora na atualidade este não seja um tema recente, pode-se acrescentar

uma vulgarização do termo no senso comum, acompanhada da falta de compreensão do que

vem a ser efetivamente esse recurso.

Como o e-book ainda não possui uma identidade estável, não raramente são

encontrados vários materiais na internet “rotulados” como e-books, mas, sem qualidade

crível, com formatação editorial questionável e ausência de recursos que permitam explorar o

conteúdo de forma específica. Permanecem, assim, escondidos atrás de um nome pomposo,

cuja finalidade é imitar uma tecnologia que muitos desses materiais estão longe de

representarem de fato.

Essa distinção também é visível no estudo de Silva (2013), porém, com os termos

sendo utilizados como sinônimos. Portanto, como nesse estudo, não se objetivou o

aprofundamento conceitual do termo, para fins de estudo teórico, ambas as formas próximas

24

Silva (2000) emprega o termo “livro eletrônico” em sua obra, por essa razão foi mantido o termo nas partes

que representam citações ao autor para desenvolver o assunto adequadamente, embora este pesquisador tenha

optado pelo termo “e-book”.

Page 48: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

46

foram consideradas (livro digital e livro eletrônico), em vista de sua relação de sinonímia e,

optando-se pelo emprego do termo e-book, por ser amplamente reconhecido.

E-book é uma abreviação de electronic book (livro eletrônico)25

, que também é

chamado de livro digital. O termo refere-se aos livros em formato digital que podem

ser lidos em dispositivos eletrônicos. As definições de e-book podem ser sintetizadas

da seguinte forma: é uma publicação em formato de livro, com exceção das

publicações seriadas, composta por textos em forma digital e disponibilizada

eletronicamente para leitura em tela de aparelhos como e-readers, computadores,

tablets e celulares (SILVA, 2013, p. 3, grifos do autor).

O arquivo digital do e-book pode ser baixado para um computador e lido diretamente

na tela (ou impresso para leitura, se for permitido pela editora), podendo ainda proporcionar o

uso de alguns recursos de personalização durante a leitura, como o aumento do tamanho da

fonte, a realização de anotações, ajuste nos níveis de luminosidade, customização da

aparência e contraste da tela.

Para Procópio (2010), em sua cadeia de produção e uso, o e-book pode beneficiar

desde leitores, até escritores e editores. Para explicar o que é um e-book, Procópio (2010, p.

45), divide o assunto em três partes, que ilustram um pouco de sua amplitude:

O software reader [aplicativo que auxilia na leitura do livro na tela];

O dispositivo de leitura [o recipiente ou o suporte dos livros];

O livro [o título em si ou a obra escrita].

No caso de um e-reader, quando a informação se encontra armazenada na memória

do próprio dispositivo físico26

, ao se acessar o e-book, seu conteúdo “surge” na tela mediante

o emprego da tecnologia eletrônica e do armazenamento digital. Esse conteúdo pode ser

utilizado de diferentes formas, conforme o software de leitura permitir, porém, nessas

condições, por detrás de toda essa arquitetura, ocorre um acesso local ao conteúdo digital.

Por outro lado, retirando a ênfase dos dispositivos, o que dizer dos e-books

comercializados pelas empresas e editores dos grandes bancos e bases de dados, cujas

informações primárias permanecem armazenadas remotamente nos servidores destas

25

Silva (2010) emprega o termo “livro eletrônico” em sua obra, por essa razão foi mantido o termo nas partes

que representam citações ao autor, embora o pesquisador tenha optado pelo termo “e-book”. 26

Por exemplo, nos casos em que o leitor pode baixar o e-book para ler em outro momento, sem depender de

conexão com a internet.

Page 49: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

47

empresas? Nesse meio, as redes de informação e comunicação desempenham um papel tão

importante quanto as memórias de armazenamento dos dispositivos físicos, para que o leitor

tenha acesso ao seu “objeto” de leitura. Assim, a informação exibida nas telas se encontra

ainda mais deslocada fisicamente do equipamento de leitura, instigando outras reflexões sobre

a natureza destes recursos. Além disso, os recursos de exibição ou leitura propiciados pelas

duas formas de e-books mencionadas podem facilitar o uso de um tipo específico ou de

diferentes mídias, como por exemplo, textos, imagens, animações, áudio e vídeo.

Na visão de Chartier (1998), a peculiaridade do livro eletrônico27

torna difícil tratá-lo

com um “objeto”, como, por exemplo, são os materiais manuscritos e impressos, uma vez

que, nesse caso, o leitor não manuseia diretamente o livro, mas uma tela sobre a qual o texto

eletrônico é lido.

A inscrição do texto na tela cria uma distribuição, uma organização, uma

estruturação do texto que não é de modo algum a mesma com a qual se defrontava o

leitor do livro em rolo da Antigüidade ou o leitor medieval, moderno e

contemporâneo do livro manuscrito ou impresso, onde o texto é organizado a partir

de sua estrutura em cadernos, folhas e páginas. O fluxo seqüencial do texto na tela, a

continuidade que lhe é dada, o fato de que suas fronteiras não são mais tão

radicalmente, visíveis, como no livro que encerra, no interior de sua encadernação

ou de sua capa, o texto que ele carrega, a possibilidade para o leitor de embaralhar,

de entrecruzar, de reunir textos que são inscritos na mesma memória eletrônica:

todos esses traços indicam que a revolução do livro eletrônico é uma revolução

nas estruturas do suporte material do escrito assim como nas maneiras de ler (CHARTIER, 1998, p. 12-13, grifos nossos).

Estudioso da história do livro, o autor delimita duas questões críticas, conforme

destacado acima: a transformação do suporte e a mudança nas maneiras de ler, ou na leitura.

Com isso, atesta ainda a liberdade do leitor (na medida em que o texto eletrônico distancia o

leitor do objeto de leitura), bem como do autor, que produz sua obra diretamente no

computador com certo “distanciamento” do conteúdo, de modo que a produção e leitura dos

textos eletrônicos envolvem técnicas, posturas e possibilidades inovadoras, e, portanto, ainda

pouco estudadas.

Uma das características do e-book é a possibilidade de o produto final estar

diferentes formatos de arquivo (RB, PDF, LIT, PDB, PRC, ePub), como se observa no

trabalho de Procópio (2010), e, portanto, poder empregar diversos recursos de personalização

para uma experiência de leitura interativa e agradável. Isso sem contar as outras questões

27

Chartier (1998) emprega o termo “livro eletrônico” em sua obra, por essa razão foi mantido o termo nas partes

que representam citações ao autor, embora o pesquisador tenha optado pelo termo “e-book”.

Page 50: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

48

envolvidas, como a gestão de direitos, as permissões do editor, a integração multimídia e a

possibilidade de sincronização em diferentes dispositivos.

Essas especificidades enaltecem as vantagens de leitura dos e-books, bem como

concorrem para a peculiar liberdade atribuída aos seus leitores. Porém, antes da incorporação

da tecnologia, os mesmos são em essência livros, e, como defende Tonnac (ECO;

CARRIÈRE, 2010), a função e a sintaxe desses objetos (livros) permanecem inalteradas há

mais de quinhentos anos, para esse autor que lança uma reflexão na contramão dos entusiastas

das tecnologias.

Afinal, os e-books são recursos tecnológicos, mas, que também podem ser

compreendidos para além das tecnologias. São recursos de leitura, mas que podem e devem

ser investigados de pontos de vista diferentes dos livros impressos; enfim, também

representam a junção das tecnologias e dos livros como se conhece tradicionalmente, mas,

que por suas peculiaridades e potencialidades, se revelam como um novo elemento, digno de

ser investigado enquanto recurso de aprendizagem importante para a Ciência da Educação.

Conforme se observa em Santaella (2007) ao investigar a navegação no ciberespaço,

é possível compreender a leitura sob uma perspectiva expandida, ou seja, como a “leitura

imersiva”, que ocorre nas telas dos computadores interligados pelo ciberespaço e sua

linguagem hipermidiática. A autora ora citada destaca ainda a existência de quatro traços

definidores da hipermídia, a saber: a hibridização de linguagens e tecnologias, a digitalização,

o cartograma navegacional e a interatividade. Outra característica latente da hipermídia são os

hipertextos.

Desse modo, na atualidade, as pessoas leem, manipulam e interagem com imagens,

vídeos, sons e outros recursos hipermidiáticos por meio das telas. Para Santaella (2007), é

essa hibridização de tecnologias e linguagens, costumeiramente denominada de

“convergência das mídias” que se processa na rede que torna possível a hipermídia,

linguagem híbrida do ciberespaço, que combina hipertexto com multimídias, multilinguagens.

Essa linguagem hipermidiática também é empregada em grande parte dos e-books,

seja por meio de hipertextos, imagens, áudios, vídeos ou animações. Seu emprego confere

uma plasticidade e interatividade na leitura, permitindo-se agregar novas e distintas conexões

em torno dos assuntos que se configuram nas rotas de leitura determinadas pelos leitores.

Enfim, conforme abordado nessa seção, entende-se que os e-books compreendem um

conjunto de tecnologias contemporâneas, que ressignificam o livro tradicional, bem como a

Page 51: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

49

própria atividade de leitura e o papel do leitor. É o equivalente a um livro em formato digital e

que utiliza os recursos da tecnologia eletrônica, possibilitando uma experiência de leitura

inovadora. Tanto os e-books, quanto a leitura imersiva, são pontos centrais desse estudo, e a

apropriação teórica dos mesmos se mostra imprescindível para o desenvolvimento satisfatório

da pesquisa.

2.4 A Leitura Imersiva e as Aquisições Cognitivas

Nessa parte aborda-se o contexto e a caracterização da leitura imersiva, enquanto um

tipo inteiramente novo de leitura, mais dinâmica, interativa e hipermidiática. Também se

discute suas implicações quanto às aquisições cognitivas que podem ser estabelecidas a partir

do uso de e-books, cuja tecnologia, envolve recursos interativos que possibilitam um grande

envolvimento cognitivo dos sujeitos.

Os livros que se lê nas telas dos tablets, dos smartphones, dos computadores ou

outros dispositivos não são manuseáveis da mesma forma que os livros impressos.

Enquanto as páginas impressas possuem várias características peculiares (cheiro,

textura, aspectos tipográficos, possibilidades de anotações e marcações), os livros eletrônicos,

cuja interação se dá por meio das telas, convidam-nos a navegar, a interagir, a compartilhar

nas redes sociais, ou seja, são estabelecidas novas relações e sensibilidades entre os leitores e

seus “objetos” de leitura.

Lê-se de outras maneiras, por exemplo escrevendo e modificando. Antes, com o

livro impresso, era possível anotar nas margens ou nos vazios da página, “uma

escrita que se insinuava, mas que não podia modificar o enunciado do texto nem

apagá-lo”; agora, o leitor pode intervir no texto eletrônico, “cortar, deslocar, mudar a

ordem, introduzir sua própria escrita”. (CHARTIER, 2003, p. 205 apud GARCÍA

CANCLINI, 2008, p. 59).

Esse escopo de possibilidades pode se estender conforme o desenvolvimento

tecnológico de cada período, cabendo ressaltar a rápida transformação que permeia esses

recursos. Com base nisso, os limites desse estado da arte são desafiados diuturnamente pelo

devir tecnológico que transforma o contexto presente, cultura, hábitos e costumes, modelando,

reestruturando e integrando diversos recursos ao cotidiano social, silenciosa e drasticamente.

Assim, na atualidade, o leitor imersivo tem à sua disposição “objetos” de leitura, cujos

Page 52: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

50

recursos e potencial o “convidam” a intervir mais ativamente no conteúdo, inclusive

modificando o mesmo de maneira significativa (alterando seu conteúdo principal).

Tais intervenções, entretanto, não podem ser enaltecidas de forma surreal, mas

analisadas ponderadamente. Alguns e-books, mesmo acessíveis em dispositivos sofisticados,

podem estar atrelados à estética sequencial da leitura imersiva, representado uma forma

diferente de fazer a mesma coisa com o auxílio da tecnologia. Isso se dá nos casos em que, o

foco se centra no texto a ser lido de forma sequencial, com pouca ou nenhuma interação do

leitor e ausência de hipermídia. Também ocorre em casos em que o assim chamado “e-book”

se restringe a um livro “digitalizado” a partir de um exemplar original físico, mas, sem a

preparação gráfica e editorial apropriada para as novas mídias digitais. Obviamente que o

leitor pode fazer marcações, ampliar de alguma forma o conteúdo visual para facilitar sua

leitura, além de outras operações básicas, porém, sua interação será de baixo limiar, e as

conexões e aquisições que poderá estabelecer com o “objeto” de leitura, serão mais próximos

daquilo que obteria ao ler um livro impresso.

Por outro lado, e-books cujos recursos se revelam mais “maleáveis” e imersivos

podem proporcionar níveis mais altos de interação e aquisições distintas, na medida que se

rompe com a sequencialidade e textualidade características da leitura meditativa. Os limites

dessas intervenções são determinados pelo estado da arte da tecnologia, sendo que,

contemporaneamente, é possível ler interagindo com textos, imagens, áudios, vídeos e

animações, de maneira fragmentada, com acesso local ou remoto, destacando trechos,

efetuando marcações e compartilhando conteúdos com outros leitores. Em alguns casos, as

barreiras entre autor e leitor parecem se dissolver, na medida em que o conteúdo incentiva

uma interação criativa, como por exemplo, ao ler as anotações de outros leitores e criar novas

anotações, ou mesmo, ao “navegar” por e-books interativos cujos percursos dependem de

escolhas aleatórias entre opções múltiplas oferecidas pelo autor, sem controle de como e por

onde o leitor deverá interagir com sua obra, ou até onde deverá interagir.

Nesse contexto, os e-books caracterizam-se por novas possibilidades e potenciais que

requerem atenção, mas as discussões envolvendo esses “objetos” também extrapolam o

âmbito da leitura, estendendo-se a outros contextos, como por exemplo, seu mercado (edição,

comercialização, políticas de publicação, acordos entre empresas), aspectos legais (direitos de

impressão, cópias, proteção de conteúdo, direitos autorais) e tecnologias (plataformas,

dispositivos de leitura, softwares para leitura, recursos de interação, tipos de arquivos).

Page 53: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

51

Porém, o interesse do presente estudo se assenta na leitura imersiva dos e-books e nas

aquisições cognitivas que os mesmos possibilitam aos seus leitores.

Entende-se que os e-books impõem uma nova dinâmica de leitura, estabelecendo

novas relações e sensibilidades entre os leitores e seus “objetos” de leitura, cujas páginas,

“surgem”, e “deslizam” nas telas dos dispositivos, se transformando ao gosto do leitor e

conforme a tecnologia permite. Ler transforma-se em uma atividade mais interativa, na qual o

leitor pode saltar de um ponto ao outro com mais facilidade, fazer buscas, marcar, controlar

suas estatísticas, receber premiações por progresso, compartilhar suas citações nas redes

sociais, explorar recursos hipermidiáticos vinculados ao e-book, navegar por links no próprio

arquivo ou vinculados diretamente à internet.

Os e-books podem ser considerados recursos hipermidiáticos na medida que reúnem

todos os aspectos da linguagem do ciberespaço. Um e-book pode ter diferentes tipos de

linguagens midiáticas, utilizar dos recursos da digitalização da informação, podem ainda

possuir uma organização estrutural adequada ao tipo de leitura proposto, oferecer recursos

interativos e, sobretudo, empregar os hipertextos na arquitetura dos documentos eletrônicos.

Em decorrência disso, sua leitura normalmente não segue uma lógica sequencial, mas permite

ao leitor guiar-se por roteiros fragmentados e de forma autônoma.

Como explica Chartier (2002), as telas do nosso tempo são diferentes das outras telas

(cinema, televisão), uma vez que reúnem textos, mas também outros recursos, rompendo com

a antiga oposição estabelecida entre, de um lado, o livro, a escrita e a leitura, e de outro, a tela

e a imagem. Essa terceira revolução do livro, assim denominada pelo autor, modifica as

formas de inscrição e transmissão dos textos, como haviam sido definidos anteriormente pelos

códices e, posteriormente pela imprensa.

Diante das peculiaridades da leitura na tela, as quais a diferenciam da leitura

sequencial, apegada a um texto fixo que o leitor tinha em mãos, essas características indicam

que “a revolução do livro eletrônico é uma revolução nas estruturas do suporte material do

escrito assim como nas maneiras de ler” (CHARTIER, 1998, p. 13).

Conforme afirma Santaella (2007) existem 3 tipos de leitores, o leitor meditativo ou

contemplativo, o leitor movente ou fragmentado e o leitor imersivo ou virtual. Em seu estudo,

a autora procura examinar, com mais profundidade, o modelo perceptivo cognitivo do leitor

imersivo até então pouco explorado.

Page 54: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

52

O leitor meditativo ou contemplativo é o leitor típico da idade pré-industrial, do livro

impresso e da imagem expositiva e fixa. Ele surgiu no Renascimento e teve sua hegemonia

até meados do século XIX. Historicamente, esse tipo de leitor atravessou o surgimento da

leitura silenciosa em bibliotecas, passou pelo advento do livro impresso e suas

transformações, e se caracterizou como um leitor contemplativo de objetos imóveis e

manuseáveis, ligado, principalmente, à leitura linear do texto sequencial e geralmente

estruturado em linhas e parágrafos que intercambiam informações com o cognitivo,

contribuindo para transformar o conteúdo captado em conhecimento.

Trata-se de um leitor ainda bastante atual, que frequenta bibliotecas em busca

principalmente de livros impressos para suas atividades de leitura. A leitura contemplativa

comporta um aspecto histórico, pois ao longo dos séculos este é o tipo de leitura mais

comumente praticada nas bibliotecas, e, um aspecto cognitivo, levando em conta a atenção e

outros requisitos necessários para a compreensão do objeto de leitura (silêncio, meditação,

reflexão).

A leitura meditativa, como o próprio nome demonstra, é uma leitura em que a

particularidade, a concentração e a meditação são condições necessárias para a compreensão.

Compreender esta característica significa compreender o comportamento dos leitores mais

comuns e tradicionais das bibliotecas, inclusive da biblioteca universitária.

Por outro lado, o leitor movente ou fragmentado é um tipo de leitor que interage com

um mundo dinâmico, híbrido, composto por misturas de signos. Esse leitor surgiu no contexto

do capitalismo, da Revolução Industrial e foi modelado na urbanização crescente, que trouxe

consigo novas formas de leitura e de comunicação, como o jornal e a fotografia, até chegar à

revolução eletrônica, que teve como uma de suas características o advento da televisão.

O ambiente do leitor movente é a modernidade, um mundo que se apresenta como

um devir constante, no qual a experiência humana se torna efêmera e fugidia, o consumismo

se camufla na imposição sedutora da propaganda, e a leitura, se torna um jogo rápido de

captação de estímulos perceptivos fragmentados os mais diversos. A identidade dessa figura

contemporânea revela a transformação sensorial e cognitiva pela qual as pessoas vêm

passando nos últimos tempos, em função das mudanças sociais, culturais, tecnológicas e

informacionais.

O leitor movente capta, com mais facilidade, os signos, as imagens, as mensagens

curtas e os códigos que surgem na experiência cotidiana e exigem uma leitura e compreensão

Page 55: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

53

mais dinâmicas. Além disso, este é um indivíduo intermediário, ou seja, que prepara as bases

perceptivas para um novo tipo de leitor, surgido em períodos mais recentes.

Enfim, o leitor imersivo ou virtual é um indivíduo que surge na chamada “era

digital”, no início do século XXI, juntamente com o ciberespaço. Trata-se de um leitor de

ambientes virtuais de informação, em que, conduz sua atenção rapidamente, de um nó a outro

de conexões não-lineares de informações relacionadas e, onde dispõe de liberdade para guiar

sua leitura por um caminho construído por ele próprio.

[...] o leitor imersivo é obrigatoriamente mais livre na medida em que, sem a

liberdade de escolha entre nexos, e sem a iniciativa de busca de direções e rotas, a

leitura imersiva não se realiza. [...] um leitor que navega numa tela, programando

leituras, num universo de signos evanescentes e eternamente disponíveis, contanto

que não se perca a rota que leva a eles. [...] um leitor em estado de prontidão,

conectando-se entre nós e nexos, num roteiro multilinear, multiseqüencial e

labiríntico que ele próprio ajudou a construir, ao interagir com os nós entre palavras,

imagens, documentação, músicas, vídeo etc. (SANTAELLA, 2007, p. 33).

O leitor imersivo, característico do ciberespaço, é um sujeito que guarda algumas

semelhanças com o leitor do livro impresso, sequencial, meditativo, uma vez que alguns

traços da leitura linear podem ser encontrados também na leitura imersiva, como por exemplo,

as referências, a organização do texto em paginação e a configuração dos índices.

Porém o leitor imersivo é ainda mais livre, na medida em que pode escolher os

hipertextos a seguir, direcionar sua experiência de leitura, trilhar um roteiro próprio,

interagindo com uma série de recursos da linguagem hipermidiática (vídeos, sons, animações,

imagens e esquemas), que rompem com as barreiras tradicionais do material impresso, sendo,

portanto, “um modo inteiramente novo de ler” (SANTAELLA, 2007, p. 33).

Outra característica da leitura imersiva diz respeito à prontidão perceptiva e à

polissensorialidade dos internautas, o que, desmistifica a visão deste sujeito como um

indivíduo totalmente prostrado, inerte à frente de uma tela. Por detrás de atividades simples

realizadas na tela, estimula-se competências linguísticas e semióticas, conjuga-se a percepção

visual com a sensorialidade háptica, desperta-se um estado de atenção ou alerta, acionam-se

sistemas musculares, de modo a produzir, portanto, um tipo de interação que envolve,

simultaneamente, a exploração sensório-motora do ambiente, bem como a compreensão e

avaliação semiótica de seu conteúdo informacional e conceitual.

Page 56: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

54

É por tudo isso que, quando se navega no ciberespaço, por fora, o corpo parece

imóvel, mas, por dentro, uma orquestra inteira está tocando, cujos instrumentos não

são apenas mentais, mas, ao mesmo tempo, numa coordenação inconsútil,

perceptivos, sensórios e mentais. (SANTAELLA, 2007, p. 149).

Embora a leitura imersiva extrapole o contexto dos e-books, pois seu cenário é o

ciberespaço, muito mais amplo, os e-books incorporam seu potencial tecnológico, de modo

que, a leitura na tela muitas vezes se liga ao ambiente virtual, e, ainda que isso não ocorra,

permite aos leitores imersivos usufruir dos recursos característicos de sua linguagem

hipermidiática (hibridização de linguagens e tecnologias, digitalização, cartograma

navegacional, interatividade e hipertextos).

Em termos gerais, leitura pode ser entendida como uma forma de aprendizado, a

partir da interação com novas informações e da formulação de novos conhecimentos,

atividade complexa que também depende de outras variáveis, como por exemplo, o contexto,

o conhecimento prévio, e a própria capacidade cognitiva/interpretativa do indivíduo.

Em sua epistemologia genética, Piaget (2007, p. 1) explica que o conhecimento não

pode ser predeterminado pelas estruturas internas do sujeito, tampouco pelas características

preexistentes do objeto, uma vez que estas só são conhecidas devido à mediação necessária

destas estruturas, as quais ajudam a enriquecer estas características, de tal forma que “todo

conhecimento contém um aspecto de elaboração nova”.

Por conseguinte, entre a prática da leitura e a construção efetiva de conhecimentos ou

novos conhecimentos, se interpõem algumas questões complexas que podem estar

relacionadas desde às estruturas internas dos sujeitos, quanto às características dos objetos, e

às novas elaborações que surgem de forma contínua.

Com significativa contribuição para a área da Educação28

, o biólogo, psicólogo e

epistemologista suíço Jean Piaget se destacou como psicólogo infantil, embora sua

preocupação científica girava em torno da capacidade do conhecimento humano e de seu

desenvolvimento. Sua epistemologia genética procurou explicar a ordem de sucessão em que

as diferentes capacidades cognitivas se constroem (PÁDUA, 2009).

Para Piaget, existem duas tendências inatas: a tendência de elaborar novas aquisições

cognitivas, integrando-as em sistemas coerentes, e, ainda, a tendência para dar sentido e reagir

28

Embora os trabalhos desenvolvidos por Piaget sejam utilizados no campo da Educação, ele afirmava que não

era pedagogo e não possui conselhos para dar os educadores, podendo apenas oferecer os fatos de suas

pesquisas. Acreditava, ainda, que os educadores podem encontrar muitos métodos educacionais novos

(EVANS, 1980).

Page 57: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

55

à realidade envolvente, como forma de sobrevivência. Trata-se dos conceitos de

“organização” e de “adaptação”, fundamentais em sua epistemologia genética, pois

compreendem funções que asseguram o desenvolvimento cognitivo, de modo que, o

conhecimento, portador de uma base biológica, promove a adaptação do ser humano ao meio.

Esta teoria também tem base estrutural e construtivista, uma vez que considera que o

sujeito age ativamente na construção de seus conhecimentos, por intermédio das suas ações

sobre os objetos, sobre o mundo, e dessa ação surgem esquemas organizados, apropriados

para sua adaptação ao meio, progressivamente. Sua base estrutural e construtivista, considera

que o sujeito possui um papel ativo na constituição do conhecimento, constituindo, mediante

a sua atividade sobre o mundo dos objetos, estruturas ou esquemas cada vez mais organizados

e mais apropriados para a adaptação ao meio.

Nesse sentido, Piaget (2007; 2014) e sua equipe, definiram, empiricamente, quatro

principais estágios de desenvolvimento dos indivíduos, os quais foram denominados como

sensório motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal, sendo ainda

subdivididos em outros níveis.

O estágio sensório-motor é aquele período em que a inteligência é totalmente prática,

com início no nascimento e se estendendo até por volta dos 2 anos de idade. O

desenvolvimento cognitivo parte de esquemas de ação reflexa, como por exemplo, agarrar e

chuchar. Assim, a criança, progressiva e curiosamente, busca compreender o mundo, com

base na ação e na coordenação motora crescente, criando-se formas de comportamento mais

complexas, como por exemplo, os comportamentos intencionais e os comportamentos

experimentais.

Em síntese, no estágio sensório-motor, a criança passa pela formação de um equilíbrio

biológico e cognitivo que a auxilia a formar sua estrutura conceitual. Nessa fase, o processo

predominante de aquisições cognitivas envolve a assimilação, mas também passa a ocorrer a

acomodação. A aquisição da noção de permanência do objeto (objeto permanente) caracteriza

o fim do estágio sensório-motor.

O estágio pré-operatório se estende dos 2 aos 7 anos, aproximadamente, ocorrendo a

constituição de uma estrutura operatória ainda incipiente e a formação/aquisição da

linguagem. A criança passa a desenvolver a capacidade de representar mentalmente aqueles

objetos ausentes, ou seja, não se limita mais a agir sobre os objetos, procura representa-los,

Page 58: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

56

substituí-los mentalmente por símbolos que os representam, passando da inteligência prática à

inteligência representativa (pensamento).

Desse modo, a capacidade de representar simbolicamente (função simbólica ou

semiótica), caracteriza a transição do estágio sensório-motor para o estágio pré-operatório.

Surge, assim, o pensamento. Piaget (2007) subdivide o estágio pré-operatório em dois

períodos distintos, quais sejam, uma fase de pensamento pré-conceitual, e outra fase de

pensamento intuitivo.

O estágio operatório concreto se estende, aproximadamente, dos 7 aos 11 anos de

idade, e marca a capacidade de controlar ações ordenadas em sistemas de conjunto ou

estruturas definidas. Passam a ser organizados esquemas para aquisição de elementos

conceituais, e as principais aquisições cognitivas (matemáticas) nesse período envolvem a

classificação e a seriação, a multiplicação lógica e compensação simples.

A principal caraterística deste estádio consiste no fato de que o pensamento e o

raciocínio ultrapassam a fase pré-lógica, originando um tipo de pensamento qualitativamente

distinto, uma vez que a atividade intelectual escapa à intuição para se guiar por questões

lógicas, que sejam compreendidas e interiorizadas, de forma progressiva.

O estágio operatório formal se estende por volta dos 12 anos ou mais até o restante

da vida dos indivíduos. Nesse período ocorre a transformação dos esquemas cognitivos

operados concretamente, passando a ser baseados na realidade imaginada. Surge, assim, a

abstração. Sua principal característica é o pensamento formal, hipotético-dedutivo, por meio

do qual, o indivíduo pode tirar suas próprias conclusões, deduzindo a partir de hipóteses

formuladas, e não apenas a partir da realidade concreta, como antes.

Para Piaget, o desenvolvimento intelectual opera do mesmo modo que o

desenvolvimento biológico, ao passo que a atividade intelectual não se dissocia do

funcionamento total do organismo. Sendo assim, “organização” e “adaptação” são

inseparáveis: a primeira corresponde a um aspecto interno de um ciclo, do qual a segunda

representa o aspecto externo.

Nesse sentido, o indivíduo desenvolve esquemas, que correspondem a estruturas

mentais (dinâmicas) que servem de base para sua adaptação e organização do meio. Quando

um indivíduo recebe novos estímulos, busca assimilá-los aos esquemas que possui, ou seja,

acomodá-los, donde podem resultar modificações nos esquemas existentes ou mesmo novos

esquemas, que correspondam mais apropriadamente aos estímulos recebidos.

Page 59: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

57

Ao processo cognitivo pelo qual o indivíduo integra um novo dado aos seus esquemas

preexistentes (mantendo-se sua integridade), Piaget chamou de assimilação, e ao processo de

modificação significativa, estrutural desses esquemas (ou de criação de novos esquemas) a

partir da influência do meio, o pesquisador denominou como acomodação. Além disso, como

durante a assimilação de objetos desconhecidos podem ocorrer tensões que demandam

modificações das estruturas mentais para a acomodação do novo conceito, ao processo de

busca do equilíbrio dessas modificações, Piaget chamou de “equilibração”.

E as aquisições, que compreendem as impressões captadas do meio exterior, se

interpõem entre o indivíduo e este meio, sendo a base para a modificação ou formulação de

novos esquemas que ocorrem em seguida, por meio dos processos de assimilação,

acomodação e equilibração.

Em sua obra intitulada “Epistemologia genética”, Piaget (2007) examina o empirismo

lamarckiano no contexto da biogênese dos conhecimentos e defende que o conhecimento não

decorre apenas da experiência. Apoiado na doutrina lamarckiana da variação e da evolução, o

pesquisador traz para o centro das atenções a importância os hábitos contraídos sob a

influência do meio como fator fundamental para a explicação das variações morfogenéticas

do organismo e da formação dos órgãos. Além disso, ao tratar das questões referentes ao

inatismo e à aquisição, em outra obra, este autor destaca que:

Começando por este grande problema, diremos que somente o exame da formação

psicológica das condutas permite conhecer a parte de inatismo eventual de algum de

seus elementos e a parte de aquisição, seja esta pela experiência ou pela influência

social [...].

Aliás, a recorrência ao inatismo não resolve os problemas, mas os remove

simplesmente para a biologia e, enquanto a questão fundamental da hereditariedade

do adquirido não for resolvida em definição pode-se supor sempre que, na origem de

um mecanismo inato, encontrar-se-ão fatores de aquisição em função do meio.

Acreditamos, pessoalmente, que é impossível explicar as condutas senso-motoras

inatas sem esta hipótese da hereditariedade do adquirido. (PIAGET, 2014, p. 101).

Além disso, conforme o Dicionário terminológico de Jean Piaget29

, aquisição é

definida como “aprendizagem em função da experiência” (BATTRO, 1978, p. 33). De outro

lado, Dongo-Montoya (2009), complementa que a experiência não é a única responsável por

essa função, uma vez que a atividade organizadora do indivíduo participa ativamente do

processo de aquisição.

29

A obra é prefaciada pelo próprio Jean Piaget.

Page 60: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

58

Desse modo, as aquisições cognitivas têm como objetivo a criação (produção,

construção) de conhecimentos viáveis (assuntos ordenados e organizados hierarquicamente),

embora também possam, se referir, em seu sentido mais vulgar e genérico, ao ato de “tomar

posse” de novos significados (conhecimentos), os quais, anteriormente, não se compreendiam

ou não se existiam, sendo esses dois sentidos principais com os quais Ausubel (2003)

desenvolve seus estudos em torno de uma aprendizagem significativa.

[...] a definição convencional do dicionário da palavra ‘aquisição’, num contexto de

aprendizagem, implicar uma ingestão de informações passiva, absorvente, mecânica,

autoritária e não crítica, como fim a atingir, em vez de ter como objectivo a criação

(produção, construção) de conhecimentos viáveis (assuntos ordenados e organizados

hierarquicamente). Contudo, no contexto deste livro, ‘aquisição’ também possui o

significado mais vulgar e geral (que também se aplica neste caso) de ‘ganhar a

posse’ de novos significados (conhecimentos) que anteriormente não se

compreendiam ou não existiam. (AUSUBEL, 2003, p. 12).

Isso evidencia o fato que, na teoria piagetiana, o conceito de “aquisição” por vezes se

mostra óbvio, e por vezes fugidio. Por exemplo, ele costuma ser empregado como sinônimo

de “tomar posse” de algo para si, como por exemplo, de estruturas, conceitos, significados,

ou, ainda, como sinônimo de “aprendizagem”, de um tipo que envolve criação e invenção,

como construção ativa, e não como uma reação passiva.

Piaget restringe explicitamente a noção de aprendizagem a uma aquisição de

esquema ou uma estrutura de ação que decorre da experiência com o meio físico e

social. Ele a diferencia, por um lado, da maturação, que se baseia em processos

fisiológicos e, por outro, da inteligência enquanto estado adaptativo acabado da ação

humana. (DONGO-MONTOYA, 2009)30

.

Uma análise mais integrada desses conceitos revela que as aquisições cognitivas

compreendem conceitos, significados, estruturas, os quais, combinados e elaborados, podem

ser integrados em sistemas coerentes (organização), permitindo aos sujeitos agirem de forma

adequada na realidade envolvente, garantindo a sua sobrevivência nesse meio (adaptação), e,

por isso, elas se encontram na base das tendências que asseguram o desenvolvimento

cognitivo. Elas estão na base do desenvolvimento cognitivo, em todos os estágios do

desenvolvimento humano, como explica Abreu et al. (2010).

30

Paginação irregular. Pelo fato de o material citado corresponder a um e-book Kindle (conforme indicado na

sua referência), a paginação da obra não é fixa, variando conforme a customização de tamanho de texto

escolhida para leitura.

Page 61: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

59

Nesse sentido, no âmbito do presente estudo, quaisquer elementos (conceitos,

informações) que agreguem novos conhecimentos aos sujeitos, correspondem a tais

aquisições. Isso inclui, desde a compreensão de novas formas ou técnicas interativas de leitura

(aprendizagem de novas habilidades operativas) até a formação de novos conhecimentos a

partir do próprio conteúdo da leitura imersiva. Assim, embora não seja a única responsável, a

experiência contribui para a aquisição, pois ela envolve, necessariamente, a atividade

organizadora do indivíduo (DONGO-MONTOYA, 2009).

Desse modo, buscou-se, no presente estudo, examinar as implicações da leitura de e-

books no contexto educacional, a partir das aquisições cognitivas que os mesmos possibilitam

aos seus leitores imersivos, sem se aprofundar na possibilidade de estas aquisições resultarem,

ou não, na formação de conhecimentos (mesmo podendo colaborar nesse sentido), com base

em alguma avaliação ou outro tipo de comprovação, pois isso demandaria um foco de

pesquisa diferente. Em razão disso, também era importante delimitar, no campo teórico, em

que consistem estas aquisições, uma vez que buscar compreendê-las é fundamental para

examinar suas implicações.

Page 62: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

60

3 O PERCURSO METODOLÓGICO

Este capítulo é dedicado aos procedimentos metodológicos empregados no presente

estudo. Ao falarmos das questões metodológicas, não podemos perder de vista que “a

metodologia é, pois, uma disciplina instrumental a serviço da pesquisa; nela, toda questão

técnica implica uma discussão teórica” (MARTINS, 2004, p. 291). Partindo desse princípio,

os métodos de investigação adotados decorrem da própria pesquisa, e, portanto, diretamente

de seus objetivos.

Nesse sentido, partimos inicialmente da abordagem investigativa adotada, passando

pela organização estrutural da pesquisa (detalhamento das fases em que a investigação se

subdivide e respectivos instrumentos) e pelos critérios de escolha dos sujeitos, até chegar à

pesquisa de campo e aos dados coletados e analisados, conforme procedimentos, métodos e

técnicas que caracterizam as pesquisas científicas de natureza qualitativa.

3.1 Abordagem Investigativa e Procedimentos

Com o interesse de investigar as características das aquisições que os livros

eletrônicos possibilitam aos leitores imersivos, o presente estudo envolve uma pesquisa

exploratória com abordagem qualitativa.

Pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão

geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de pesquisa é

realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se

difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis (GIL, 1999, p. 43).

Embora sejam importantes para a investigação, quando empregados, os dados

quantitativos servem de apoio às interpretações e análise qualitativas, pois “a palavra

qualitativa implica uma ênfase sobre as qualidades das entidades e sobre os processos e os

significados que não são examinados ou medidos experimentalmente” (DENZIN; LINCOLN,

2006, p. 23).

Page 63: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

61

Assim, compreende uma abordagem qualitativa, uma vez que a investigação não é

determinada por dados quantitativos, estatisticamente mensuráveis, mas por questões

subjetivas, qualitativas.

A análise das aquisições proporcionadas pelos livros eletrônicos, não se centra

meramente na quantificação de dados, estabelecimento de padrões numéricos ou na discussão

apenas em torno de tais indicadores. Os dados quantitativos servem de subsídios e não como

elementos principais de análise em cuja órbita conclusões sejam tecidas inflexivelmente.

Mostra-se indispensável, portanto, identificar as características que não se revelam

essencialmente na forma de dados, mas como informações qualificadas, relevantes para

melhor compreender o objeto pesquisado de forma interpretativa.

Além disso, a abordagem qualitativa também possui outra importante característica,

qual seja a heterodoxia durante a análise de dados, uma vez que a variedade de material

coletado requer que o pesquisador utilize uma capacidade integrativa e analítica, dependentes,

por sua vez, do desenvolvimento de uma capacidade criadora e intuitiva.

Nesse sentido, Denzin e Lincoln (2006) apresentam a seguinte definição genérica

inicial sobre esta abordagem investigativa:

[...] a pesquisa qualitativa é uma atividade situada que localiza o observador no

mundo. Consiste em um conjunto de práticas materiais e interpretativas que dão

visibilidade ao mundo. Essas práticas transformam o mundo em uma série de

representações, incluindo as notas de campo, as entrevistas, as conversas, as

fotografias, as gravações e os lembretes. Nesse nível, a pesquisa qualitativa envolve

uma abordagem naturalista, interpretativa, para mundo, o que significa que seus

pesquisadores estudam as coisas em seus cenários naturais, tentando entender, ou

interpretar, os fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles

conferem. (DENZIN; LINCOLN, 2006, p. 17).

Esta abordagem envolve a coleta e o estudo do uso de uma grande variedade de

materiais empíricos, os quais representam momentos e significados rotineiros e problemáticos

na vida dos indivíduos. Assim, estes pesquisadores utilizam uma série de práticas

interpretativas interligadas, a fim de compreender melhor o objeto investigado, entendendo

que cada prática fornece um olhar diferenciado do mundo, sendo, portanto, crucial o emprego

de mais de uma dessas práticas em quaisquer estudos que lancem mão desta forma de

pesquisa (DENZIN; LINCOLN, 2006).

Page 64: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

62

Desse modo, a abordagem qualitativa, há muito utilizada na Sociologia, na

Antropologia e nas Ciências Sociais e Comportamentais, incluindo a Educação, por sua

natureza interpretativa, subjetiva e flexível (integrando diferentes práticas, conforme a

necessidade do objeto de pesquisa) forneceu o respaldo necessário para o desenvolvimento

deste estudo, uma vez que se fazia necessário interagir com os leitores, examinar suas

atividades de leitura imersiva, as aquisições cognitivas envolvidas, lidar com estes sujeitos

compreendendo que essa interação com o “outro”, é um olhar sempre filtrado pelas diversas

lentes que se interpõem entre pesquisador e pesquisado (linguagem, gênero, classe social,

etnicidade). Embora respeitando o rigor científico e metodológico necessário, não há como

ignorar toda a subjetividade, sistema de valores, aspectos culturais e sociais, dentre outros

implícitos nesse processo e que está na essência da abordagem qualitativa.

Além disso, embora este não seja um estudo de usabilidade e muito menos

quantitativo (abordagem mais comum nesse tipo de estudo), como alguns critérios de

usabilidade foram levados em consideração na segunda fase com o objetivo de ampliar a

investigação qualitativa, o respaldo teórico para tanto foi buscado, sobretudo, em Nielsen

(2000).

Convém destacar que essa questão não é um tabu, haja visto que “mais recentemente,

o teste de usabilidade também tem sido empregado para fornecer resultados qualitativos”

(KUNIAVSKY, 2003; RUBIN; CHISNELL, 2008 apud BARBOSA; SILVA, 2010, p. 343).

De modo geral, a usabilidade pode ser definida tanto como um campo de estudo,

como um atributo no contexto de um sistema de Interação Humano-Computador (IHC). De

acordo com Hewett e outros autores (1992 apud BARBOSA; SILVA, 2010, p. 10) “IHC é

uma disciplina interessada no projeto, implementação e avaliação de sistemas computacionais

interativos para uso humano, juntamente com os fenômenos relacionados a esse uso”. Nesse

sentido, os autores destacam que os objetos de estudo de IHC podem ser agrupados nos

seguintes tópicos inter-relacionados:

1) Natureza da interação humano-computador: examinar o que ocorre quando as

pessoas utilizam sistemas interativos em suas atividades;

2) Uso de sistemas interativos situados em contexto: leva em conta que a interação

entre as pessoas e os sistemas é permeada pela cultura, sociedade e organização,

os quais possuem modos próprios de desenvolvimento de suas atividades, bem

como conhecimentos, concepções e linguagens específicas para interação social;

Page 65: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

63

3) Características humanas: parte do pressuposto que o conhecimento dessas

características permite melhor aproveitar as capacidades das pessoas, bem como

respeitar suas limitações durante a interação com sistemas computacionais;

4) Arquitetura de sistemas computacionais e interfaces com usuário: envolve o

estudo de diversas tecnologias que permitem e facilitam a interação entre as

pessoas e os sistemas interativos;

5) Processos de desenvolvimentos preocupados com o uso: abordagens de design

de IHC, métodos, técnicas e recursos de interface com os usuários, bem como de

avaliação de IHC.

Quanto aos métodos de avaliação de IHC, estes podem ser divididos em avaliação

através de inspeção (avaliação heurística, percurso cognitivo e método de inspeção

semiótica) e avaliação através de observação (teste de usabilidade, método de avaliação de

comunicabilidade e prototipação em papel). Dessa forma, algumas questões referentes à

usabilidade foram empregadas nesse estudo, considerando que “o teste de usabilidade visa a

avaliar a usabilidade de um sistema interativo, a partir de experiências de uso de seus

usuários-alvo” (BARBOSA; SILVA, 2010, p. 341).

Para Nielsen e Loranger (2007, p. 16)31

,

A usabilidade é um atributo de qualidade relacionado à facilidade de uso de algo.

Mais especificamente, refere-se à rapidez com que os usuários podem aprender a

usar alguma coisa, a eficiência deles ao usá-la, o quanto lembram daquilo, seu grau

de propensão a erros e o quanto gostam de utilizá-la. Se as pessoas não puderem ou

não utilizarem um recurso, ele pode muito bem não existir.

Ficam evidentes assim os cinco aspectos básicos de usabilidade propostos por

Nielsen (1993), os quais o sistema ou software devem apresentar durante os processos de

interação humano-computador:

Intuitividade;

Eficiência;

Memorização;

Redução de erros;

Satisfação do usuário.

31

Citação extraída da página xvi (16) do prefácio da obra.

Page 66: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

64

A compreensão destes critérios se mostra relevante, embora a usabilidade seja um

aspecto complementar da pesquisa, as questões referentes à usabilidade derivam

principalmente da interação com o material digital (em termos de estrutura, interface),

podendo ainda estar relacionadas indiretamente aos equipamentos ou dispositivos envolvidos,

e não necessariamente das experiências de leitura imersiva (cujo cotejamento se dá com

relação às teorias da área da Educação).

As técnicas de coleta de dados foram variáveis conforme as duas fases da pesquisa

de campo. Na primeira fase, as técnicas de coleta de dados consistiram em questionários e,

ocasionalmente, observações registradas como notas de campo. Na segunda fase, as técnicas

de coleta de dados compreenderam entrevistas, formulários eletrônicos e gravações de áudio e

vídeo. As observações adicionais nesta fase também foram registradas pelo pesquisador como

notas de campo.

Para Gil (1999), a elaboração de um questionário consiste, basicamente, na tradução

dos objetivos da pesquisa em questões específicas, cujas respostas, devem proporcionar os

dados requeridos para o teste de hipóteses ou o esclarecimento do problema de pesquisa.

Pode-se definir o questionário como a técnica de investigação composta por um

número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas,

tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses,

expectativas, situações vivenciadas etc. (GIL, 1999, p. 128).

Partindo dessa premissa, as questões correspondem ao elemento fundamental do

questionário e a definição coerente destes elementos, neste estudo, teve como base os aspectos

considerados essenciais a se observar, como tipo (questões fechadas, questões abertas),

conteúdo, escolha das perguntas, formulação, número adequado, ordem das perguntas,

cuidados com a prevenção de deformações e apresentação visual do questionário

(apresentação da pesquisa, visualização gráfica e introdução ao questionário).

Assim, o questionário compreendeu questões quantitativas e qualitativas (na primeira

fase do estudo), e, principalmente qualitativas (na segunda fase do estudo), organizadas na

forma de perguntas abertas e fechadas. Nesse caso, mesmo as questões fechadas possuíam

uma opção alternativa, ou, o sujeito poderia realizar suas observações complementares ao

final do instrumento. Essas saídas visavam a preservar a liberdade de manifestação dos

sujeitos, o que normalmente implica em respostas importantes para a pesquisa.

Page 67: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

65

Outra técnica de coleta de dados, a aplicação de entrevistas, se constitui em uma

importante fonte de dados para pesquisa, sendo a técnica mais utilizada nas Ciências Sociais.

Pode ser definida como uma forma de interação social entre um investigador e um

investigado, um diálogo estabelecido em busca de informações.

Pode-se definir entrevista como a técnica em que o investigador se apresenta frente

ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que

interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação social.

Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes

busca coletar dados e a outra, se apresenta como fonte de informação (GIL, 1999, p.

117).

Nesse sentido, a entrevista pode apresentar vantagens e desvantagens. Entre as

vantagens, destaca, por exemplo, a possibilidade de obter um maior número de respostas, a

flexibilidade, a possibilidade de captar a expressão corporal do entrevistado e a tonalidade de

voz e ênfase nas respostas. Como desvantagens, pode se citar a falta de motivação do

entrevistado para responder as perguntas, a compreensão inadequada do significado das

perguntas, o fornecimento de respostas falsas, consciente ou inconscientemente, a influência

das opiniões pessoais do entrevistador sobre as respostas do entrevistado.

Percebe-se que, embora sendo uma técnica de coleta de dados flexível, a entrevista

também apresenta riscos, que podem se situar tanto no universo do entrevistador, quanto do

entrevistado, e, portanto, exige rigor científico e metodológico.

[...] enquanto instrumento de coleta de dados, a entrevista, como qualquer outro

instrumento, está submetida aos cânones do método científico, um dos quais é a

busca de objetividade, ou seja, a tentativa de captação do real, sem contaminações

indesejáveis nem da parte do pesquisador, nem de fatores externos que possam

modificar aquele real original. (HAGUETTE, 1995, p. 86-87).

Assim, a entrevista deve primar pela objetividade, evitar distorções desnecessárias e

procurar capturar a realidade com a mínima interferência possível do pesquisador, ou seja,

evitando-se “contaminações” que comprometam o estudo. Ainda para esta autora,

A entrevista pode ser definida como um processo de interação social entre duas

pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção de

informações por parte do outro, o entrevistado. As informações são obtidas através

de um roteiro de entrevista constando de uma lista de pontos ou tópicos previamente

Page 68: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

66

estabelecidos de acordo com uma problemática central e que deve ser seguida.

(HAGUETTE, 1995, p. 86, grifos da autora).

Levando-se em conta esses critérios, foi elaborado um roteiro de entrevista na forma

de tópicos (APÊNDICE G), que serviu de base para os questionamentos realizados na

segunda fase do estudo. Essa técnica foi escolhida por se considerar que a mesma permite

captar aspectos relevantes em torno do objeto investigado, podendo ser adaptada no decorrer

dos questionamentos, uma vez que é flexível e interativa (sem desconsiderar sua premissa de

objetividade).

Na segunda fase do estudo, a coleta de dados das entrevistas envolveu,

principalmente, o uso de gravações de áudio e vídeo. As gravações de vídeo são vantajosas

por permitirem captar diversos detalhes que normalmente passariam despercebidos por conta

do tempo gasto em anotações, bem como devido ao ritmo da entrevista, que requer diálogo e

exige anotações rápidas. Além disso, essa técnica libera o pesquisador para realizar

observações mais proveitosas, podendo tanto explorar os aspectos visíveis do comportamento

(deixando a captura das partes comuns à câmera filmadora), quanto por poder explorar com

mais detalhes as próprias gravações.

Ao tratar das questões, formas e técnicas de observação de usuários como

fundamento para o design de interação, Preece, Rogers e Sharp (2005) destacam alguns

aspectos, pontos fortes e problemas relacionados à gravação de vídeos:

O vídeo tem a vantagem de captar tanto dados tanto visuais como de áudio, mas

pode ser invasivo. No entanto, as câmeras digitais portáteis são bastante móveis, não

muito caras e comumente utilizadas.

Um problema de se usar esse sistema deve-se ao fato de que a atenção fica voltada

para o que é visto através das lentes. É fácil deixar passar outras coisas, que estão

acontecendo fora do foco da câmera. Quando a gravação é realizada em ambientes

ruidosos, como em salas com muitos computadores, em ambientes externos ou em

locais como muito vento, o som pode ser abafado.

As análises de dado em vídeo podem exigir bastante tempo, uma vez que há muito o

que se anotar. É comum dispor de mais de 100 horas de análise para uma hora de

gravação, pois cada gesto e expressão falada são analisados. Todavia, esse nível de

detalhe geralmente não é necessário por que os avaliadores, em geral, enfocam

episódios particulares e utilizam a gravação toda somente para uma informação

contextual e como referência (PREECE; ROGERS; SHARP, 2005, p. 394).

Page 69: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

67

Estas questões de fato exercem influência relevante na pesquisa. Embora o trabalho

de transcrição32

seja extenso, as entrevistas gravadas em vídeo auxiliam a recuperar contextos,

observar detalhes, falas dos sujeitos, aspectos que eventualmente passariam despercebidos e

cujas observações podem ser bastante úteis. Outra influência relevante para se utilizar os

instrumentos de gravação de vídeo veio do trabalho de Santaella (2007), cuja pesquisa,

envolveu a observação de processos de navegação de internautas, registrados em áudio e

vídeo.

Assim, considerando a abordagem qualitativa, os resultados obtidos foram discutidos

de acordo com as teorias da área a Educação, com fundamentação, especificamente, nos

autores que subsidiaram as discussões teóricas nos principais eixos do estudo (aquisições

cognitivas, leitura imersiva, e-books e tecnologias). No caso da primeira fase da pesquisa de

campo, em que foram empregados questionários, o tratamento estatístico dos dados foi

empregado para apoiar as análises qualitativas.

3.2 Revisão e Fundamentação Bibliográfica

A fundamentação teórica e metodológica do estudo foi constituída através de

materiais identificados pelo pesquisador, em fontes eletrônicas de informação (bases de

dados, portais, anais de eventos, periódicos), delimitadas conforme critérios específicos, bem

como em outros ambientes com materiais relacionados (bibliotecas, acervo particular,

livrarias), constituindo, assim, um repertório bibliográfico referente ao tema do estudo,

questões metodológicas, bem como às teorias essenciais da área da Educação que

necessitariam de estudo.

A fim de se certificar sobre a originalidade do tema, primeiramente foram realizadas

buscas por trabalhos similares em variadas fontes acadêmicas e científicas, evidenciando,

assim, a originalidade do estudo proposto. Porém, alguns materiais relevantes foram

identificados nesse percurso, sendo devidamente empregados como apoio bibliográfico,

juntamente com outros materiais básicos selecionados pelo autor.

A relação das principais fontes eletrônicas de informação verificadas pelo

pesquisador, consta a seguir:

32

O trabalho de transcrição foi realizado com base na metodologia desenvolvida por Marcuschi (2003).

Page 70: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

68

1) Portal de Periódicos da CAPES33

;

2) Catálogo de Teses da CAPES34

;

3) Portal Domínio Público35

;

4) Biblioteca Digital de Teses e Dissertações36

;

5) Revista Educação & Sociedade37

;

6) Revista Brasileira de Educação (RBE)38

7) Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância (ESUD)39

;

8) Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd)40

;

9) Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino (ENDIPE)41

.

As buscas por materiais bibliográficos tiveram como base o período compreendido

entre os anos de 2011 e 2014, mas foram agregados alguns materiais de anos anteriores, em

decorrência da importância do conteúdo. Porém, no decorrer dos estudos de doutorado, com o

cumprimento das disciplinas básicas, bem como a participação em eventos, foi se agregando

novos materiais teóricos, os quais eventualmente foram incorporados à revisão bibliográfica

em vista da importância dos mesmos para a pesquisa. Em geral, as publicações que tiveram

prioridade foram, nessa ordem, as teses, artigos científicos dos periódicos citados, artigos

científicos de outros periódicos da área da Educação42

, livros, e-books e dissertações. Cabe

mencionar que para os materiais teóricos clássicos não foram estabelecidos limites de tempo

durante as buscas, uma vez que as teorias sofrem modificações com menos frequência.

Quanto aos principais eixos e aos autores que forneceram as bases teóricas para este

estudo, convém destacar os seguintes:

33

Disponível em: <http://www.periodicos.capes.gov.br>. 34

Disponível em: <http://catalogodeteses.capes.gov.br>. 35

Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br>. 36

Disponível em: <http://bdtd.ibict.br>. 37

Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php/script_sci_serial/pid_0101-7330/lng_pt/nrm_iso>. 38

Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=1413-2478&lng=en&nrm=iso>. 39

Disponível em: <https://www.aunirede.org.br/portal/>. 40

Disponível em: <http://www.anped.org.br/?>. 41

Disponível em: <http://endipe.pro.br>. 42

Quando provenientes de outras fontes, deu-se preferência àquelas que apresentavam alguma forma de

avaliação do conteúdo, com semelhante rigor.

Page 71: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

69

Quadro 1 – Eixos e principais referências teóricas que fundamentaram o estudo.

EIXO PRINCIPAIS REFERÊNCIAS

Aquisições cognitivas, epistemologia

genética.

Ausubel (2003), Battro (1976, 1978), Dongo-Montoya

(2009), Pádua (2009), Piaget (2007, 2014).

Leitura imersiva, leitura na tela. Chartier (1998, 1999, 2002), García Canclini (2008),

Santaella (2007), Toschi (2010).

E-book, livros eletrônicos (sinônimos). Chartier (1998, 2002), Pereira e Pinheiro (2000),

Procópio (2010), Sehn (2014), Silva (2013).

Tecnologias, TIC, cultura digital.

Alonso (2008), Castells (2012), Lévy (2004),

McLuhan (2007), Moran (2003), Silva (2008), Vargas

(1994), Veraszto et al. (2008).

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

Assim, essas são as bases teóricas principais sobre o qual o estudo está assentado.

Resta, portanto, abordar a organização da pesquisa, os contornos metodológicos das duas

fases do estudo, e a forma de análise dos resultados.

3.3 Organização Geral da Pesquisa

O presente estudo adquiriu sua forma inicial a partir da busca pela definição do seu

objeto, bem como pelos caminhos teóricos e metodológicos que foram sendo estabelecidos e

trilhados de forma paulatina. Conforme apontado na introdução desta tese, o contato inicial

deste pesquisador com o tema partiu do interesse em evidenciar a “aprendizagem” a partir da

leitura imersiva de e-books, com base nos estudos de aprendizagem mediada de Vygotsky.

Nesse momento, as principais bases teóricas estavam constituídas em torno de Vigotsky

(2005), Vigotsky e Luria (1994) e outras fontes secundárias derivadas desse núcleo.

Nesse trajeto, as orientações acadêmicas obtidas por meio da Professora Dra Kátia

Morosov Alonso, foram de bastante pertinência para clarear a definição do objeto, bem como

para o refinamento dos objetivos e para as escolhas teóricas e metodológicas subsequentes. O

foco do estudo se deslocou, portanto, da aprendizagem para as aquisições cognitivas que

integram a teoria da epistemologia genética de Jean Piaget (2007, 2014), a qual se mostrou

relevante para ajudar a responder às inquietações do pesquisador, que nesse momento se

afiguravam de forma mais clara. Assim, com relação ao campo da epistemologia genética e,

especificamente das aquisições cognitivas, o estudo ganhou adensamento teórico

Page 72: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

70

complementar por meio de outros estudos de Ausubel (2003), Battro (1976, 1978), Dongo-

Montoya (2009) e Pádua (2009).

Assim, sobressaiu-se o interesse de investigar as aquisições cognitivas, mas, a partir

de que ambiente emergiriam tais aquisições? Desde a proposta inicial de objeto de estudo,

havia o interesse de investigar as transformações que se davam no contexto das atividades de

leitura imersiva praticadas com o uso de e-books, em vista da importância que esse tema

assume no cenário atual, em que as pessoas têm acesso a uma variedade de formas de leitura

que possibilitam experiências interativas inovadoras com os “objetos” de leitura.

Assim, a fundamentação teórica para a temática da leitura imersiva foi encontrada

principalmente na obra de Santaella (2007), com a qual este pesquisador já havia se

defrontado desde a época dos estudos de mestrado. Nessa perspectiva, a leitura imersiva é

uma experiência de caráter mais contemporâneo, típica dos ambientes virtuais de informação,

envolvendo uma relação mais dinâmica, fragmentada e interativa entre o leitor imersivo e as

novas formas híbridas de leitura que emergem a partir do ciberespaço.

Nesse campo teórico, além da obra de Santaella (2007), outros estudos com

abordagens que se avizinham desse contexto foram devidamente incorporados no decorrer dos

aprofundamentos bibliográficos. As contribuições mais significativas a esse respeito vieram

de Chartier (1998, 1999, 2002), García Canclini (2008) e Toschi (2010), cujas obras

permitiram estabelecer diálogos produtivos, principalmente em torno de questões centrais

como o contexto do leitor e da “leitura na tela”, além de suas implicações contemporâneas.

Além disso, alguns temas correlatos facilmente vieram a tona ao examinar as obras

destes pesquisadores. A partir de Chartier (1998, 2002), foi obtido respaldo teórico importante

para se compreender, historicamente, a formação do leitor moderno, bem como a inovação

proporcionada pelos “livros eletrônicos”43

que esse indivíduo utiliza para suas atividades de

leitura na tela. Nessa mesma seara, Pereira e Pinheiro (2000), Procópio (2010), Silva (2013) e

Sehn (2014), permitiram preencher outras lacunas relacionadas aos e-books, compreendendo

o contexto amplo do qual fazem parte: questões tecnológicas, midiáticas, aspectos sociais e

culturais.

Esse cenário é resultado de transformações tecnológicas que ganharam forma ao

longo dos anos, se acelerando ainda mais em períodos recentes, em vista dos inúmeros

avanços envolvendo alta tecnologia, sobretudo na área de armazenamento, processamento e

43

Termo empregado por Chartier (1998, 2002) em sua obra.

Page 73: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

71

transmissão de informações, influenciando significativamente a cultura digital dos indivíduos.

Assim, as reflexões sobre as TIC, a cultura digital e os seus reflexos no campo educacional

encontraram apoio em Alonso (2008), Castells (2012), Lévy (2004), McLuhan (2007), Moran

(2003), Silva (2008), Vargas (1994) e Veraszto et al. (2008).

Desse modo, havendo definido o objeto de pesquisa e seus objetivos, o estudo seguiu

essa composição temática, com os diálogos teóricos sendo estabelecidos a partir da pesquisa

bibliográfica na literatura acadêmica e científica da área da Educação e, em alguns casos, de

outras áreas relacionadas44

, selecionando-se trabalhos pertinentes às questões centrais: e-

books e livros eletrônicos45

, leitura imersiva, aquisições46

e aquisições cognitivas, além da

aprendizagem (no contexto da epistemologia genética de Piaget). Além desses

aprofundamentos teóricos, buscou-se delimitar o percurso metodológico que subsidiasse o

desenvolvimento efetivo da investigação, tendo como base a pesquisa qualitativa (DENZIN;

LINCOLN, 2006).

Portanto, de modo geral, esta tese é resultante de um processo que envolveu vários

momentos teóricos e práticos para o cumprimento da pesquisa, procedendo de acordo com os

objetivos estabelecidos. Quanto à pesquisa de campo, esta envolveu momentos bem

delineados: seleção e abordagem de uma amostra de sujeitos, aplicação da pesquisa (coleta de

dados conforme o instrumento empregado em cada fase) e tratamento dos dados, os quais

foram analisados e discutidos de forma integrada ao final do estudo. Na seção seguinte estão

descritos os procedimentos metodológicos envolvidos em cada fase da pesquisa de campo.

3.3.1 A Primeira Fase: Caracterização Preliminar

Nesta seção, serão detalhados, os critérios e procedimentos metodológicos referentes

à primeira fase da pesquisa de campo. O objetivo central da caracterização preliminar dos

sujeitos foi realizar uma identificação básica dos mesmos, incluindo hábitos e práticas

relacionadas à leitura e aos e-books, bem como auxiliando na seleção de sujeitos para a

44

Nesse caso, também foram considerados alguns materiais das áreas da Comunicação, da Biblioteconomia e da

Ciência da Informação, dependendo da relação com o tema pesquisado. Entretanto, a inclusão de materiais

dessas áreas, apenas teve cunho complementar, pois o campo do estudo é a Educação. 45

Embora tenha se optado pela terminologia “e-book” nesse estudo, decidiu-se buscar também pelo termo “livro

eletrônico”, comumente empregado como sinônimo, na literatura especializada. 46

Durante as buscas, os dois termos foram considerados, ou seja, “aquisições” e “aquisições cognitivas”, pois,

se observou a recorrência das duas formas entre as obras teóricas que versavam sobre a epistemologia

genética de Jean Piaget, sendo que, em alguns casos, não havia diferenças aparentes quanto ao sentido.

Page 74: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

72

segunda fase da pesquisa. Os instrumentos de coleta de dados empregados na primeira fase

foram os questionários e, ocasionalmente, observações registradas em diário de campo.

Nesse sentido, a primeira fase da pesquisa teve como critérios, que os sujeitos:

fossem alunos de cursos de graduação, mestrado ou doutorado, vinculados à

alguma das seguintes Unidades Acadêmicas: FAMEVZ, FCM, IB, ICET, ICHS,

IE, IF, IL;

estivessem no ano inicial ou final do curso, sendo que no último caso, no máximo

no primeiro semestre;

tivessem disponibilidade e interesse em colaborar com a pesquisa.

Desse modo, os sujeitos do estudo são membros de cursos de graduação e de pós-

graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) da UFMT. Essa escolha decorreu do fato de

que se pretendia investigar essa comunidade universitária, por meio de um recorte que

contemplasse os três níveis de formação acadêmica oferecidos, representando, portanto, os

objetivos institucionais de ensino, pesquisa e extensão à comunidade.

Esse recorte foi estabelecido, portanto no entorno apenas dos cursos de graduação,

mestrado e doutorado, focando-se especificamente nos anos iniciais e finais de cada curso

(nesse último caso apenas o primeiro semestre dos anos finais), mas também levando em

conta a disponibilidade das turmas e autorizações dos coordenadores47

.

Nesse sentido, para a identificação desses sujeitos, foi feito um mapeamento inicial

dessa comunidade, envolvendo dados e informações de acesso público (APÊNDICE H). A

partir desses dados, foi estabelecido um recorte, por meio do qual foi retirada a amostra dos

sujeitos para a primeira fase do estudo. Mas, como foi realizada a análise dos dados

institucionais, para seleção da amostra?

Para uma primeira aproximação optou-se por mapear a comunidade universitária,

conforme suas principais estruturas acadêmicas (Institutos e Faculdades). Desse modo, foi

realizado um levantamento de dados junto às unidades administrativas, os quais foram

47

Essa autorização se fazia necessária para evitar problemas de acesso aos alunos em sala de aula, pois, alguns

professores exigem autorização da coordenação do curso para isso. A decisão de aplicar a pesquisa em sala de

aula teve como objetivo obter maior participação dos sujeitos.

Page 75: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

73

complementados com outras informações institucionais. O conjunto dessas informações foi

organizado quantitativamente, detalhado em grupos de alunos matriculados nos cursos de

graduação, de pós-graduação lato sensu (especialização), de pós-graduação stricto sensu

(mestrado e doutorado). Também foram incorporados os quantitativos de professores e

técnicos administrativos (ambos efetivos), caso essas informações eventualmente fossem

necessárias. Assim, esses indicadores foram organizados conforme seus respectivos Institutos

e Faculdades (APÊNDICE H).

De acordo com dados48

fornecidos pela Pró-Reitoria de Planejamento (PROPLAN) e

pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PROPG) da UFMT, no Campus de Cuiabá, à época

verificação (primeiro semestre de 2015), havia 53 cursos de graduação, 26 cursos de pós-

graduação stricto sensu (mestrado) e 10 cursos de pós-graduação stricto sensu (doutorado).

Quanto à pós-graduação lato sensu (especialização), esta totalizava 32 cursos. Entre os cursos

de graduação e de pós-graduação, na UFMT havia um total de 121 cursos ofertados,

respondendo por um universo significativo em termos de ensino superior no Estado de Mato

Grosso.

Abranger esta comunidade exaustivamente, aplicando a pesquisa a uma amostra de

alunos de cada curso, inviabilizaria o atendimento de prazos e poderia comprometer a

pesquisa de uma forma geral. Em segundo lugar, como se delimitou que os sujeitos fossem

alunos de cursos de unidades que ofertassem graduação, mestrado e doutorado, optou-se por

aplicar a pesquisa a cursos vinculados a algum dos 6 Institutos ou das 2 Faculdades que

atendiam esse critério inicial, mas sem opção por algum curso específico, pois isso dependeria

também da facilidade de acesso em sala de aula, onde se definiu aplicar os questionários para

se obter maior participação dos sujeitos.

Assim, ao término da coleta, foram realizadas a análise e a discussão dos dados, bem

como a caracterização dos sujeitos, compreendendo aspectos inerentes à leitura e aquisições

cognitivas que ela possibilita, ou seja, questões específicas do perfil dos sujeitos investigados.

A princípio, essa fase de caracterização, compreendeu 418 sujeitos. Porém, como ela

também incluiu alunos de pós-graduação lato sensu, servidores técnicos administrativos, além

48

Dados da PROPG e do Censo, sendo ambos de 2013, uma vez que até a coleta das informações ainda não

haviam sido divulgados os dados do Censo de 2014. Convém destacar que tais informações foram utilizadas

como base para a seleção da amostra, já a partir da primeira fase e, por essa razão, não houve necessidade de

atualização no decorrer da pesquisa. Esses dados foram organizados pelo pesquisador e constam no

APÊNDICE H.

Page 76: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

74

de professores, foi feito um refinamento, desconsiderando 34 sujeitos, ficando o quantitativo

de 384 sujeitos, total conforme o quadro seguinte:

Quadro 2 – Quantitativo de sujeitos da primeira fase do estudo.

CURSOS QUANTIDADE (%)

Graduação em Psicologia 66 17,2

Graduação em Pedagogia 65 16,9

Graduação em Geologia 51 13,3

Graduação em Química 46 12,0

Graduação em Matemática 43 11,2

Graduação em Estatística 37 9,6

Mestrado em Educação 47 12,2

Doutorado em Educação 29 7,6

Total 384 100%

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

Como se observa no quadro anterior, a maior parte dos sujeitos da primeira etapa era

constituída por alunos dos cursos de graduação em Psicologia (17,2%), e Pedagogia (16,9%).

O curso com menos sujeitos entrevistados foi de Doutorado em Educação, mas,

proporcionalmente, a quantidade de alunos matriculados também era inferior à dos demais

cursos. Em termos de sexo observou um equilíbrio, pois, 185 (48%) sujeitos eram do sexo

masculino, enquanto que 199 (52%) eram do sexo feminino.

Assim, estes e outros dados coletados foram organizados de forma estatística, de

modo a subsidiar a análise qualitativa que serve de base metodológica para o estudo. Dito

isso, há que se ressaltar que é admissível o uso de dados quantitativos em pesquisas

qualitativas, uma vez que a ênfase, nesse caso, se assenta nas “qualidades” das entidades,

processos e significados a fim de se obter as respostas apropriadas ao objetivo do estudo.

Nesse sentido, essa fase da pesquisa foi fundamental para a caracterização preliminar dos

sujeitos, colaborando também para o desenvolvimento da fase posterior.

3.3.2 A Segunda Fase: Entrevistas e Observações

Nesta seção, serão detalhados, os critérios e procedimentos metodológicos referentes

à segunda fase da pesquisa de campo. Esta fase do estudo teve como interesse observar

Page 77: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

75

metodologicamente a utilização de e-books na prática, em diferentes suportes e

plataformas, correlacionando com o objetivo geral do estudo, no que tange às possíveis

aquisições envolvidas na atividade de leitura. Os instrumentos de pesquisa empregados na

segunda fase foram entrevistas, formulários eletrônicos e gravações de áudio e vídeo.

Ocasionalmente, foram registradas algumas observações em diário de campo.

A segunda fase da pesquisa teve como critérios, que os sujeitos:

tivessem participado da primeira fase;

tivessem disponibilidade e interesse de participar da segunda etapa;

fossem selecionados a partir dos dados da primeira etapa da pesquisa;

fossem (ou continuem sendo) membros ativos da comunidade universitária;

incluíssem alunos de graduação, mestrado e doutorado, pois a pesquisa visou

trabalhar com estes três níveis de formação acadêmica;

já tivessem lido algum e-book anteriormente e que houvesse a possibilidade de

voltarem a fazer esse tipo de leitura por interesse próprio.

Seguindo esses critérios, foram selecionados um total de 10 (dez) sujeitos para essa

fase da pesquisa, sendo três alunos de graduação, quatro alunos de mestrado e três alunos de

doutorado. Esse quantitativo foi estabelecido por atender às necessidades do estudo, cuja

abordagem qualitativa, requer um tempo adequado para análise e discussão dos dados.

Embora não sendo um estudo de usabilidade, alguns critérios nesse sentido foram

explorados nos formulários eletrônicos, por serem condizentes com os materiais envolvidos

(e-books). Nessa seara, Nielsen (2000), explica que os melhores resultados em estudos de

usabilidade são observados em testes com não mais do que 05 (cinco) usuários (NIELSEN,

2000), ou seja, de forma geral, os quantitativos estão dentro dos limites destes tipos de

estudos.

As Entrevistas

Desse modo, tendo sido selecionados criteriosamente os sujeitos para eventualmente

participarem da segunda fase, foram realizados contatos por e-mail convidando-os e

detalhando o funcionamento da pesquisa. Havendo a concordância da parte dos sujeitos,

Page 78: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

76

foram agendados momentos para a aplicação desta fase da pesquisa, que ocorreu

principalmente na Biblioteca Central e no Instituto de Educação. Antes do início de cada

entrevista, foi realizada uma breve explanação, e solicitado que cada sujeito assinasse um

“Termo de Autorização de Uso de Imagem” (APÊNDICE C). Na sequência, ocorreram as

entrevistas, com uma média de duração aproximada de 18 minutos.

As entrevistas foram realizadas a partir de um roteiro de tópicos (APÊNDICE D) que

explorava questões previamente definidos. Essas entrevistas foram registradas por meio de

gravações de áudio e vídeo, acompanhadas, eventualmente, de observações realizadas em

diário de campo. Convém destacar que tais gravações foram posteriormente transcritas pelo

pesquisador para auxiliar nas análises e discussões de dados, com base na metodologia

proposta por Marcuschi (2003). Algumas partes dessas transcrições foram, ainda, inseridas no

contexto do trabalho, a fim de complementar as discussões.

Os tópicos das entrevistas tinham por finalidade identificar os leitores, caracterizar a

intimidade dos mesmos com as tecnologias e sua compreensão acerca de e-books. Embora

fosse objetivo, caso no decorrer dos questionamentos o diálogo fluísse para questões

pertinentes ao estudo, o mesmo poderia ser alongado de forma controlada, caso contrário,

poderia ser circunscrito ao roteiro estabelecido.

A opção pela gravação em vídeo das entrevistas encontra amparo no estudo de

Santaella (2007), para quem, tais gravações comprovaram ser um material rico para análise,

bem além das descrições verbais e de um questionário com questões definidas a priori.

Assim, esta possibilidade de obter maior proveito do registro de dados das entrevistas e

observações despertou o interesse e motivação do pesquisador por empregar o referido

procedimento.

As Atividades de Leitura

Após as entrevistas, cada sujeito selecionou um e-book, a partir da coleção digital

para sua leitura, tendo sido essa coleção organizada pelo pesquisador. Para facilitar esse

procedimento, foi elaborado previamente um roteiro condensado dessa coleção (APÊNDICE

G), por meio do qual era realizada a escolha do material pelo sujeito, com o apoio do

pesquisador. A média de duração das atividades de leitura ficou em torno de 25 minutos.

Page 79: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

77

A relação de e-books apresentada aos sujeitos possuía uma ordem de preferência,

sendo que os 14 primeiros itens listados eram aqueles que apresentavam mais recursos

hipermidiáticos (textos, imagens, fluxogramas, áudios, vídeos e animações) e, por isso,

cuidou-se para que alguns desses objetos fossem contemplados no decorrer do estudo.

Quanto ao conteúdo da leitura, foi estipulado um mínimo de cerca de 10% de leitura

da obra selecionada durante essa atividade. Considerou-se que a leitura, nessa proporção, de

modo não-linear, poderia fornecer elementos suficientes para análise, mas, caso o leitor

optasse pela leitura integral, o mesmo poderia realizá-la (havendo condições para tanto). De

todo modo essa possibilidade não foi aventada como necessária, tanto pelo cansaço físico

envolvido, quanto pela dificuldade de disponibilizar acesso a determinado e-book fora do

ambiente das observações.

Além disso, os quantitativos de páginas de e-books podem variar conforme

customização, bem como, não há como estimar com segurança percentual de um material que

pode ser lido de forma não-linear. Assim, o leitor escolhia a obra e a parte dela que desejava

ler, sendo essa escolha acompanhada pelo pesquisador.

Ressalta-se que durante o processo de leitura, a interferência do pesquisador era

mínima, restringindo-se à observações visuais com anotações em diário e solução de

eventuais dúvidas demandadas pelos leitores, em face da importância da concentração

requerida nessa atividade.

Sobre o instrumento de coleta de dados para essa atividade, além das observações

registradas em diário de campo, foi empregado um formulário eletrônico do Google

(APÊNDICE E). Esse formulário foi preenchido pelos leitores, que responderam questões

referentes às experiências de leitura que tiveram.

As categorias empregadas no referido formulário foram baseadas parcialmente no

estudo de Sehn (2014), embora haja diferença de objetivos e abordagem entre este e aquele

estudo. Também foram utilizados alguns fundamentos da interação humano-computador

(IHC), especificamente quanto à questões de usabilidade (BARBOSA; SILVA, 2010;

NIELSEN, 2010), mas respeitando as diretrizes de um estudo qualitativo.

Essa é a forma pela qual foi realizada a segunda fase do estudo, composto por

entrevistas e observações. Metodologicamente, compreendeu uma fase mais complexa, pois,

nessa parte a pesquisa foi mais focada nas questões centrais do estudo, com ênfase na relação

Page 80: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

78

sujeito / objeto, ou ainda, leitor / e-book. As informações obtidas se mostraram essenciais para

apoiar a discussão de teor qualitativo.

3.4 A Formação da Coleção Digital de E-books

O percurso de seleção das obras se deu no decorrer do curso de doutorado, e foi

embasado pelas características dos objetos analisados teoricamente, e por eventos da área.

Envolveu buscas seletivas em blogs e sítios especializados, além de sítios de grandes livrarias

que comercializam e-books, fornecendo desde os objetos de leitura em si, até dispositivos e

softwares específicos para leitura (Kindle, Kobo e iBooks).

A coleção de e-books, composta por 73 obras (APÊNDICE G), foi elaborada

exclusivamente para dar suporte à pesquisa, como objeto de leitura dos sujeitos/leitores,

proporcionando uma experiência de leitura imersiva que pudesse ser observada e analisada

empiricamente. Os critérios para a composição desta coleção são descritos a seguir:

Proporcionar aos leitores um escopo amplo para escolha;

Temática diversificada (romances, infantis, autoajuda, manuais, curiosidades,

idiomas);

Formatos variados (PDF, ePUB, MOBI);

Conteúdo hipermidiático (ao menos uma parcela da coleção);

Conveniência do pesquisador em acessar e analisar as obras, atentando à

pertinência quanto ao objetivo do estudo.

Durante a composição dessa coleção, percebeu-se a necessidade de organizar esse

material conforme o nível de imersão que os e-books poderiam proporcionar. Assim, a partir

de fundamentos teóricos, o pesquisador organizou um quadro definindo em três níveis o

potencial de imersão dos materiais digitais. Esse quadro consistiu em um recurso de apoio

para classificação dos e-books analisados e incorporados à coleção digital constituída para a

pesquisa.

Essa atitude teve por base a interatividade dos recursos e as possibilidades de

imersão, buscando apoio em Santaella (2014), quando, ao tratar da hipermídia, linguagem

Page 81: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

79

eminentemente interativa da internet, explica que o leitor não pode usá-la de forma reativa ou

passiva, ou seja, ao final de cada ação, de cada página ou de cada tela, é preciso que o usuário

tome uma decisão por onde vai seguir, pois é ele quem determina qual informação deve ser

vista, em qual sequência e por quanto tempo. E com relação à interatividade,

Quanto maior a interatividade, mais profunda será a experiência de imersão do

leitor, imersão que se expressa na sua concentração, atenção, compreensão da

informação e na sua interação instantânea e contínua com a volatilidade dos

estímulos. (SANTAELLA, 2014, p. 52, grifos nossos).

Silva (2008) realça a importância dessa interatividade, ao remeter à superação da

lógica informacional unidirecional baseada no modelo “um-todos” (transmissão), pela lógica

comunicacional baseada na dinâmica “todos-todos” (interatividade).

- O emissor não emite mais no sentido que se entende habitualmente uma mensagem

fechada. Ele oferece um leque de elementos e possibilidades à manipulação do

receptor;

- A mensagem não é mais emitida, não é mais um mundo fechado, paralisado,

imutável, intocável, sagrado, é um mundo aberto em rede, modificável na medida

em que responde às solicitações daquele que a consulta;

- O receptor não está mais em posição de recepção clássica, é convidado à livre

criação, e a mensagem ganha sentido sob sua intervenção. (SILVA, 2008, p. 70).

É diante desse panorama que se compreende que os leitores imersivos

(SANTAELLA, 2014), não se satisfazem apenas em receber passivamente conteúdos, mas em

interagir ativamente neles e com eles, de formas variadas, modificar e compartilhar suas

experiências virtuais. Do outro lado, os e-books, são portadores dinâmicos de conteúdos

interconectados, ampliados (enhanced) e ampliáveis, podendo atender a diversas opções

interativas de seus leitores. Dois exemplos nesse sentido são os e-books “The interactive

space book”, compilado por Graham K. Wright, e “Amazônia”, de autoria de Marcos A. Lima

Filho. Estas obras fazem parte da coleção que foi constituída, e conforme os critérios do

estudo possuem alto potencial de imersão (A). Embora as mesmas não tenham sido utilizadas

pelos sujeitos, outros e-books com o mesmo nível de interatividade foram escolhidos para

leitura e contam nas análises do presente estudo.

Page 82: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

80

Figura 1 – Capa e página 43 (capítulo 3) do e-book “Amazônia”, de autoria de Marcos A. Lima Filho.

Fonte: Imagens capturadas a partir do aplicativo iBooks (2018).

Figura 2 – Capa e página 33 (capítulo 3) do e-book “The interactive space book”, de Graham K. Wright

Fonte: Imagens capturadas a partir do aplicativo iBooks (2018).

Em ambos os materiais, o conteúdo é repleto de imagens de alta resolução, galerias

de fotografias que podem deslizar sem mudança de páginas, esquemas, vídeos, áudios e

animações. Os leitores do e-book intitulado Amazônia podem destacar trechos, pesquisar no

dicionário do aplicativo ou na internet e, inclusive, compartilhar comentários com a obra

vinculada em suas postagens de redes sociais. O e-book visualizado na Figura 2 possui pouco

texto, sendo composto, principalmente, por imagens, vídeos, áudios e animações. Alguns

destes recursos interativos permitem, por exemplo, observar detalhes específicos de planetas,

estrelas, do sistema solar e de galáxias, de uma maneira ativa e mais envolvente. Um exemplo

disso são as linhas do tempo que requerem a “movimentação” do leitor para identificar

determinados acontecimentos em intervalos de tempo.

Page 83: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

81

Nesse sentido, entende-se que à medida que o leitor acessa recursos que ampliam sua

interatividade, maior será seu envolvimento e, consequentemente, sua imersão e compreensão

daquilo com o que está envolvido. Por essa razão, na classificação empregada para avaliar os

e-books, procurou se associar proporcionalmente a variação de elementos básicos, interativos

e hipermidiáticos, com o potencial de imersão dos sujeitos, o que pode verificado nas

descrições constantes na terceira e última coluna do quadro.

Quadro 3 – Classificação básica do potencial de imersão de e-books (autoria do pesquisador).

LEGENDA POTENCIAL

DE IMERSÃO DESCRIÇÃO

B Baixo Proporciona leitura e uso de recursos básicos de apoio (anotações, destaques,

consultas internas).

M Moderado Proporciona leitura, uso de recursos básicos e de recursos interativos

(compartilhar trechos, publicar em redes sociais).

A Alto Proporciona leitura, uso de recursos básicos e interativos e, adicionalmente,

multimídias interativas (áudio, vídeo, animações, esquemas).

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

Assim, conforme se observa no Quadro 3, ficou definido dessa maneira os três níveis

de imersão em que os e-books da coleção digital foram analisados e classificados, variando de

um nível baixo (B), moderado (M), até um nível considerado alto (A).

Convém esclarecer, que o trabalho de composição da coleção envolveu inicialmente

a aquisição dos e-books, alguns gratuitamente, outros, adquiridos por compra. Na sequência,

esses materiais foram examinados minunciosamente, sendo descritos os detalhes técnicos de

cada item, para, apenas a partir daí, serem classificados quanto ao potencial de imersão,

conforme as definições indicadas anteriormente. A análise detalhada da coleção digital está

disponível no APÊNDICE F.

Conforme planejamento prévio, ficou estabelecido que a coleção digital deveria

contemplar materiais que proporcionassem diferentes tipos de interação, de modo que,

durante as atividades pudessem ser verificadas tais experiências. Por essa razão, embora os e-

books tenham sido analisados caso a caso, não foram mantidos apenas os materiais

considerados mais imersivos para a atividade.

Assim, a coleção foi composta com um total de 73 e-books, dos quais 14 eram

altamente imersivos (A), 49 moderadamente imersivos (M) e 10 eram pouco imersivos (B).

Como se observa no APÊNDICE G, o roteiro condensado da coleção digital que foi utilizado

em conjunto com os sujeitos para a seleção das obras para as atividades de leitura, aqueles

Page 84: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

82

itens considerados altamente imersivos (A), foram incluídos no começo da lista, com o

interesse de que alguns deles fossem escolhidos pelos alunos, embora não necessariamente

todos. Estimou-se que seria razoável que, pelo menos 70% dos materiais efetivamente

utilizados pertencessem aos grupos considerados altamente (A) e moderadamente imersivos

(B).

3.5 A Escolha dos Equipamentos de Leitura

As atividades de leitura praticadas envolveram o uso de um Notebook Dell Inspiron

l14 3443 B40, um dispositivo Kindle paperwhite com tela de 6 polegadas sensível ao toque,

um iPhone 7 Plus jet black tela de 5,5 polegadas.

Em termos de acesso, foi levado em conta tanto os dispositivos e equipamentos por

meio dos quais os leitores geralmente podem ter contato com esses materiais, quanto, as

especificidades técnicas para utilização de e-books, inclusive acesso à internet. Por essa razão,

durante as atividades foram empregados diferentes equipamentos e softwares, por

representarem formas de acesso comuns aos objetos de leitura, mas, evitando-se abrangência

desnecessária.

Por exemplo, não foi necessário ampliar a variedade de dispositivos específicos de

leitura (Kobo, Lev, Coll-er, Alfa), nem mesmo dentre as versões disponíveis do dispositivo

que foi empregado (Kindle básico, Kindle Voyage, Novo Kindle Oasis). No primeiro caso,

entendeu-se que apenas um destes objetos seria suficiente para as observações pretendidas,

optando-se por um dispositivo de fácil acesso no mercado e sem muita diferença de preços

com relação às outras opções. Quanto aos diferentes tipos do dispositivo escolhido, optou-se

pela versão considerada mediana em termos de tecnologia (Kindle Paperwhite).

Nessa mesma linha, não houve necessidade de incluir um microcomputador entre os

equipamentos de leitura, uma vez que se optou pelo notebook, cujo tamanho da tela era

semelhante. Nesse caso, uma tela de tamanho básico, e um teclado para navegação pelo

software seriam suficientes para a leitura de e-books. Além disso, se preocupou em utilizar

um equipamento com configurações adequadas, e com facilidade de conexão à internet, para

se evitar problemas técnicos, mas, em todo caso, o notebook selecionado realmente atendeu às

necessidades da pesquisa.

Page 85: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

83

4 REFLEXÕES SOBRE OS DADOS DA PESQUISA

4.1 Caracterização Preliminar dos Sujeitos

A primeira etapa da pesquisa de campo foi realizada no primeiro semestre de 2015,

sendo, limitada pela greve dos professores e dos técnicos administrativos em educação

(iniciada em 28 de maio), no que se refere à aplicação de questionários aos alunos dos cursos

de graduação. Mas, na sequência fomos abrangendo as demais turmas, conforme

disponibilidade e autorizações recebidas.

Por se tratar da primeira etapa da pesquisa, esta representa uma primeira

aproximação à comunidade, sendo utilizado um questionário de caracterização (APÊNDICE

B), com a maior parte das respostas na forma de alternativas, cujo tempo total para conclusão

é estimado em 05 (cinco) minutos. Todos os questionários aplicados eram acompanhados

(antecedidos) por uma folha em que constava um Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido – TCLE (APÊNDICE A), de preenchimento indispensável.

A sistemática de aplicação da pesquisa envolvia o acesso aos alunos em sala de aula,

porém, nem todos os cursos previstos inicialmente autorizavam esse acesso, por diversos

motivos (interferência na aula, desinteresse de alguns professores, dificuldades em localizar o

responsável, problemas em conseguir localizar as turmas reunidas em maior número). Diante

disso, chegou-se ao ponto que, com o transcorrer da greve e a necessidade de desenvolver a

pesquisa, a coleta foi encerrada contando apenas com os cursos cujas turmas colaboraram

com o estudo no período citado.

Essa fase de caracterização compreendeu 418 sujeitos. Porém, como ela também

incluiu alunos de pós-graduação lato sensu, servidores técnicos administrativos, além de

professores, foi feito um refinamento, desconsiderando 34 sujeitos, ficando o quantitativo de

384 sujeitos, total conforme o Quadro 2, mencionado anteriormente na parte referente aos

procedimentos metodológicos da primeira fase.

A maior parte desses sujeitos era constituída por alunos dos cursos de graduação em

Psicologia e Pedagogia, ambos com aproximadamente 17%. O curso com menos sujeitos

entrevistados foi de Doutorado em Educação, mas, proporcionalmente, a quantidade de alunos

matriculados também era inferior à dos demais cursos. Em termos de sexo observou um

Page 86: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

84

equilíbrio, pois, 185 (48%) sujeitos eram do sexo masculino, enquanto que 199 (52%) eram

do sexo feminino.

Quando questionado em qual faixa etária se inseriam, os sujeitos responderam, na

sua maioria, que possuíam entre 19 e 25 anos (44%), seguido por aqueles que possuíam mais

de 30 anos (30%), por aqueles que estão na faixa de 26 a 30 anos (16%) e pelos jovens até 18

anos (10%).

Percebe-se, assim, que a maior parte dos entrevistados se situava na faixa entre 19 e

25 anos, havendo, em seguida, uma parcela significativa na faixa de mais de 30 anos. Nesse

sentido, acredita-se que grande parte desses sujeitos corresponda a “nativos digitais”, em

contrapartida a uma parcela sensivelmente menor de “imigrantes digitais” (PRENSKY, 2001).

Esses detalhes são pertinentes ao estudo, em particular, devido à possibilidade de nativos

digitais terem mais familiaridade com as tecnologias e, consequentemente, com os e-books.

Para Prensky (2001), os alunos de hoje não são mais os mesmos para os quais o

sistema educacional foi criado. Assim, ele denomina estes alunos como “nativos digitais”, ou

seja, falantes nativos da linguagem digital dos computadores, vídeo games e da internet, com

os quais os professores geralmente têm dificuldades de relacionamento, sobretudo, por serem

de outra geração, pois não nasceram no “mundo digital”, apenas incorporaram as tecnologias

em algum momento de suas vidas. Este último grupo, o autor denominou como “imigrantes

digitais”.

Como deveríamos chamar estes “novos” alunos de hoje? Alguns se referem a eles

como N-[de Net]-gen ou D-[de Digital]-gen. Porém a denominação mais utilizada

que eu encontrei para eles é Nativos Digitais. Nossos estudantes de hoje são todos

“falantes nativos” da linguagem digital dos computadores, vídeo games e da

internet.

Então o que faz o resto de nós? Aqueles que não nasceram no mundo digital, mas

em alguma época de nossas vidas, ficou fascinado e adotou muitos ou a maioria dos

aspectos da nova tecnologia são, e sempre serão comparados a eles, Imigrantes

Digitais (PRENSKY, 2001, p. 1-2, tradução nossa49

).

Dada a inclusão recente de muitas tecnologias em nosso cotidiano, bem como outras

questões inerentes ao ensino superior, de fato pressupúnhamos que esse público fosse

49

Texto original: What should we call these “new” students of today? Some refer to them as the N-[for Net]-gen or D-[for

digital]-gen. But the most useful designation I have found for them is Digital Natives. Our students today are

all “native speakers” of the digital language of computers, video games and the Internet.

So what does that make the rest of us? Those of us who were not born into the digital world but have, at some

later point in our lives, become fascinated by and adopted many or most aspects of the new technology are,

and always will be compared to them, Digital Immigrants.

Page 87: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

85

composto principalmente por nativos digitais, com alguma intimidade com as tecnologias,

mas salientamos que esta caracterização carece de dados mais concretos para além da faixa

etária, o que poderemos observar mais adiante.

O objetivo da terceira questão era saber se os sujeitos faziam parte (e se reconheciam

como) da comunidade acadêmica da UFMT. A grande maioria, ou seja, 99% informou fazer

parte da comunidade acadêmica, contra 1% que disse não ser membro da comunidade

acadêmica da UFMT. Essa questão também servia como filtro, para ajudar a focar a pesquisa

apenas nos sujeitos previamente definidos, não abarcando visitantes ou similares, o que não

era nosso interesse. Porém, cruzando essas respostas com as de outras questões posteriores,

observamos que houve um equívoco dos dois sujeitos que responderam não fazerem parte

dessa comunidade, haja visto que os mesmos também se declararam como alunos dos cursos

de graduação pesquisados. Assim, concluímos que todos os pesquisados, ou seja, 100% são

membros da comunidade acadêmica da UFMT, não havendo, portanto necessidade de gráfico

para expressar esse resultado.

Quanto à categorização dos sujeitos contemplados nessa fase, em sua grande maioria,

ou seja, 78% eram alunos dos cursos de graduação (o que é compreensível, em vista do

recorte estabelecido) seguidos de longe por alunos de cursos de mestrado (14%), e por alunos

de doutorado (8%).

No que se refere ao período do curso dos sujeitos, 58% eram alunos que se

encontravam no primeiro ano do curso de graduação, enquanto que 27% correspondia a

alunos do quarto ou último ano dos cursos de graduação, 5% eram alunos do primeiro ano do

curso de mestrado, e 6% outros. Estes foram os dados mais expressivos observados nesse

quesito, demonstrando que nessa fase, a maior parte dos sujeitos se encontrava nos anos

iniciais de seus cursos.

Os gráficos utilizados para apresentar os dados a seguir destacam as quantidades

distribuídas em um formato de barras, cujas somas individuais (de cada critério específico)

podem variar para além do total de sujeitos pesquisados, pois compreendia questões de

múltipla escolha.

A oitava pergunta do questionário de caracterização era importante para o estudo por

explorar os meios em que os sujeitos costumavam realizar a leitura de determinados tipos de

material. Nesse sentido, o Gráfico 1, apresentado na sequência, sintetiza essas preferências

com as respostas mais recorrentes, conforme os meios disponíveis:

Page 88: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

86

Gráfico 1 – Preferências de leitura dos sujeitos conforme os meios disponíveis.

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2015).

A esse respeito, observamos que o formato impresso é preferido por leitores de livros

diversos, revistas, obras literárias e inclusive material religioso, enquanto que jornais,

periódicos científicos, trabalhos acadêmicos e demais recursos sugeridos, obtiveram a

preferência no formato eletrônico. Os quantitativos individuais podem ser observados no

Gráfico 1.

Um detalhe que chamou a atenção quanto aos livros diversos foi a grande quantidade

de pessoas que preferem realizar a leitura de materiais em meio eletrônico, que mesmo sendo

menor do que aqueles que preferem a leitura dos materiais impressos, mostrou-se

significativa.

Considerando a cultura impressa e a leitura meditativa a ela relacionada, bem como o

tipo de leitura envolvida em cada caso50

, essa preferência é compreensível; entretanto, esses

indicadores de preferências de leitura é importante para este estudo na medida que

demonstram que uma quantidade razoável de leitores utiliza o meio eletrônico como forma de

acesso a informações, incluindo a leitura de livros diversos. Particularmente, como a segunda

fase é um momento para explorar o uso de e-books, pode-se perceber que os recursos dessa

natureza já vêm se incorporando ao cotidiano dos sujeitos.

50

Por exemplo, livros e revistas em geral possuem diferenças com relação aos periódicos científicos (voltados

principalmente à comunicação científica), e editais de concursos, de leitura mais rápida.

Page 89: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

87

Nesse sentido, as demais questões dessa pesquisa exploram outras nuances da

experiência de leitura imersiva (quando ocorrem), no que diz respeito, por exemplo, às

tecnologias, dispositivos, fontes e até mesmo quanto a aspectos de aquisições.

Na mesma linha desses questionamentos, também exploramos quais os quesitos que

mais influenciam a escolha do meio de leitura de interesse dos sujeitos. Assim, observamos

que o fator predominante é a necessidade acadêmica (283 votos), bem como o

costume/hábito/cultura (246 votos), seguidos de perto pela facilidade de acesso e uso do

material (235 votos). Conforto para leitura, praticidade e agilidade e curiosidade vieram na

sequência e bem próximos. As demais opções podem ser visualizadas no Gráfico 2.

Gráfico 2 – Quesitos que influenciam a opção por um meio de leitura.

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2015).

Com base nessas respostas, entende-se que entre os entrevistados ainda impera a

necessidade acadêmica, a qual, como citada na introdução deste estudo, também exercia

maior influência sobre as atividades dos leitores imersivos que frequentam a biblioteca

universitária (fazendo um paralelo com o estudo de mestrado citado na introdução).

Mas na sequência, o costume/hábito/cultura, juntamente com a facilidade de acesso e

uso do material, nos remete às considerações anteriores de que há uma parcela considerável

de leitores que optam por ler livros em formato eletrônico. Mesmo sob a força das

necessidades acadêmicas e diante do fato de que a maioria ainda opta por ler livros em geral

em formato impresso, entende-se que a praticidade e a facilidade o próprio costume em lidar

Page 90: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

88

com os materiais em formato eletrônico podem estar acentuando o uso de e-books entre esses

leitores, que na maioria estão na faixa etária de 19 a 25 anos.

A questão de número 10 inquiria se os sujeitos já haviam lido algum e-book, parcial

ou totalmente e com isso observamos que 82% dos mesmos afirmou já ter lido um e-book,

contra apenas 18% dos que afirmaram não terem passado por essa experiência.

De forma complementar, a pergunta seguinte questionava a este grupo de 82% dos

sujeitos que já haviam lido algum e-book, total ou parcialmente, se os mesmos voltaram ou

voltariam a ler estes “objetos” novamente. Cabe salientar que os outros 18% (que nunca leram

um e-book) estavam dispensados de responder todas as próximas questões, pois elas eram

dedicadas a explorar aspectos de experiências anteriores de leitura imersiva. Nesse sentido, os

dados indicaram que a experiência de leitura de e-books foi positiva, haja visto que a grande

maioria (88%), informou que voltariam a ler algum e-book novamente.

Quanto ao tipo de equipamento em que se realiza ou foi realizada a leitura de livros

eletrônicos, os notebooks, netbooks e similares tiveram a preferência (273 votos), seguidos

dos smartphones (169 votos), microcomputadores (119 votos) e tablets (96 votos). Um dado

curioso a esse respeito é que os dispositivos específicos (e-readers) responderam por apenas

4% das preferências dos leitores, não se revelando uma preferência nesse quesito entre os

sujeitos da pesquisa. A esse respeito cabe observar o espaço ocupado pelos smartphones para

a leitura de livros eletrônicos, pois, além de ser o recurso mais portátil entre os mais optados,

já é bastante popular e existe uma grande variedade de aplicativos disponíveis para a leitura

de e-books nesses dispositivos.

Gráfico 3 – Equipamentos utilizados para a leitura de e-books.

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2015).

Page 91: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

89

No que se refere à forma de acesso e leitura de livros eletrônicos, constatou-se que

a grande maioria dos sujeitos (318 votos) acessa os e-books em arquivos simples (formatos

.pdf, .doc.), em microcomputadores, notebooks ou similares. Na sequência também

observamos que um grupo acessa em sítios variados com material para download (201 votos),

outro grupo (153 votos) acessa em portais eletrônicos de acesso livre (inclusive

governamentais) e outro grupo (138 votos) acessa via alguma biblioteca digital on-line, sendo

estes os dados mais expressivos, conforme apresentado no Gráfico 4:

Gráfico 4 – Forma como os sujeitos acessaram e realizaram a leitura de e-books.

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2015).

Embora sendo um questionário de caracterização, a pergunta seguinte possuía um

caráter qualitativo, ao passo que explorava alguns aspectos inerentes às aquisições que a

leitura de e-books pode proporcionar. Entre os quesitos sugeridos (embora os sujeitos

pudessem listar algum outro), constatou-se principalmente que ao realizar a leitura de um e-

book, a maioria dos sujeitos aprende coisas novas (247 votos), as informações novas

encontradas podem enriquecer o conhecimento dos mesmos (174 votos) e que eles

confrontam o que leem com o que já sabem (144 votos), bem como questionam a veracidade

das informações (138 votos). Ainda com algum destaque, um grupo afirmou que muda de

opinião sobre algumas coisas, e outros conseguem utilizar razoavelmente os recursos

disponíveis (marcação, citação, compartilhar). Outras questões relevantes podem ser

observadas diretamente no Gráfico 5.

Page 92: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

90

Gráfico 5 – Características da leitura de e-books.

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2015).

Os quesitos acima anteriormente serviam para instigar os sujeitos a se manifestarem

sobre suas atividades de leitura imersiva, mas não eram fechados, pois podiam ser

apresentados outros motivos. A atividade de ler um livro si, mesmo que em outro formato não

pressupõe necessariamente que agregue ao leitor uma nova compreensão do processo,

conscientemente ou não. Entretanto, no momento em que o leitor interage de maneira

diferenciada (não simplesmente repetindo o mesmo processo) com o objeto de leitura, passa a

deduzir suas ações e a operar de maneira distinta, adquirindo novos conhecimentos que, em

contato com seu conhecimento prévio, pode modificar seus conceitos. É nesse espaço que

operam as aquisições.

Mesmo sendo esta uma questão de exploratória de caráter genérico (pois a primeira

fase consistiu num mapeamento), observa-se que a leitura imersiva envolveu os leitores, que

os mesmos demonstraram intimidade na utilização dos recursos disponíveis, uma atitude ativa

em relação ao conteúdo, e, portanto, que esse processo de leitura em tela pode proporcionar

novas aquisições, o que a segunda fase da pesquisa permitiu elucidar com mais clareza.

A décima quinta questão visava apenas coletar o endereço de e-mail dos sujeitos que

concordassem em participar de outra etapa da pesquisa, caso fosse necessário. Assim, à parte

Page 93: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

91

foi elaborada uma listagem com esses dados para serem estabelecidos os contatos em outro

momento, conforme necessidades da pesquisa. Já a última questão era reservada para

quaisquer observações adicionais que os sujeitos considerassem relevantes. As observações

adicionais apresentadas pelos sujeitos seguem transcritas integralmente na sequência:

Gostaria de ter mais tempo para me dedicar a leitura.

Os e-books são ótimos pela acessibilidade de informações, apesar de

causar algum desconforto a leitura, auxilia muito na formação

acadêmica.

Em dispositivos específicos como o Kindle, nem sempre é fácil achar

arquivos do tipo epub para fazer a leitura.

Uso da leitura eletrônica para uma leitura mais rápida e pode ler em

qualquer lugar, mas acho mais prazeroso ler os livros impressos.

Acho interessante, mas, tenho maior identificação com o material

impresso.

O livro impresso prende mais a minha atenção, tornando a leitura

mais gostosa.

Tenho medo dos livros impressos desaparecerem.

Leio livro eletrônico por falta de opção na maioria das vezes.

É horrível ler em e-books.

Mesmo com a utilização de e-books baseada principalmente na

facilidade de acesso, não substituo totalmente ao uso de impressos,

por questões de saúde (cansaço mais eminente); desconforto da visão;

necessidade de energia elétrica. A distração é maior na leitura de e-

books por estar alocado em equipamentos que nos permite acesso

instantâneo à outras informações e ferramentas. Porém é um avanço,

principalmente no tocante; redução de espaço físico.

Um e-book é prático pois os livros impressos estão, infelizmente,

muito caros.

Page 94: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

92

Relacionar um assunto com outro, (já vi isso em algum lugar), com a

busca facilita a leitura e a compreensão do contexto se alarga.

Gosto de e-book, sua praticidade, economia e sustentabilidade são

maravilhosos, temos que acompanhar a tecnologia, creio que eu como

migrante digital demoro um pouco mais para me acostumar, ainda

prefiro aquele bom livro de cabeceira, de tocar, sentir, marcar o livro

manualmente.. estamos acostumando..porém creio que os nativos

digitais serão totalmente acostumados a eles e irão preferir os e-book

e não os livros físicos.

Utilizo a leitura eletrônica por ser uma informação mais rápida, no

entanto leituras por prazer em ler prefiro material impresso

Não gosto muito da leitura no computador ou outros equipamentos

eletrônicos, prefiro impresso. Nada contra ebooks, eu que tenho

dificuldades por conta da vista e da enxaqueca.

Nessas considerações espontâneas, alguns sujeitos manifestaram seu gosto, bem

como, suas preocupações com o livro impresso. Por outro lado, uma parcela comentou sobre

as vantagens da leitura de e-books, juntamente com algumas preocupações que circundam

esses novos objetos. Outras questões pertinentes observadas nessa etapa dizem respeito aos

traços do perfil dos sujeitos, às características de suas leituras, interesses envolvidos, bem

como alguns aspectos da experiência de leitura de livros eletrônicos, os quais, por sua vez,

implicam em determinadas aquisições.

Como essa fase consiste em uma caracterização preliminar, a mesma funciona como

um filtro, para que o pesquisador pudesse selecionar uma amostra mais restrita destes sujeitos

para investigar mais atentamente questões específicas, as quais foram abordadas de modo

amplo até este momento. Por exemplo, as aquisições mencionadas pelos sujeitos, são

examinadas com outro enfoque, na segunda fase do estudo, permitindo, assim, análises mais

aprofundadas.

Page 95: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

93

4.2 Da Leitura às Aquisições: Entrevistas e Observações

A realização de entrevistas e observações revelou-se fundamental para identificar

diversos aspectos referentes à leitura imersiva de e-books, no interesse de discutir tais

questões com mais propriedade. Dessa forma, nessa parte, primeiramente se apresenta o

âmbito específico dessa fase de estudo, para, a seguir, realizar as discussões em torno dos

dados das entrevistas e das observações propriamente.

Mostra-se importante delimitar o âmbito desta fase, a fim de que as discussões

posteriores se desenvolvam com clareza, uma vez que o estudo envolveu o uso de software e

hardware distinto, por usuários de nível de formação acadêmica também distintos, sendo que

o delineamento de tais procedimentos não transcorreu de maneira arbitrária, mas apoiado em

critérios derivados do objetivo do estudo e de questões metodológicas.

O Quadro 4, a seguir, demonstra as características dos materiais de pesquisa, sendo

ordenado conforme o nível de formação dos sujeitos que utilizaram esses recursos.

Quadro 4 – Distribuição dos materiais de pesquisa, ordenado conforme os sujeitos.

FORMAÇÃO DISPOSITIVO SOFTWARE

Graduação iPhone iBooks

Graduação e-reader Kindle Kindle

Graduação Notebook Kindle para PC

Mestrado iPhone iBooks

Mestrado e-reader Kindle Kindle

Mestrado iPhone Kobo

Mestrado Notebook Kobo para PC

Doutorado iPhone iBooks

Doutorado e-reader Kindle Kindle

Doutorado Notebook Kindle para PC

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

Conforme já referido anteriormente, no capítulo de detalhamento das experiências de

leitura (Item 3 – Percurso metodológico), o presente estudo envolveu o uso de equipamentos

(iPhone, e-reader e notebook) e softwares (Kindle, Kobo e iBooks) distintos. Além disso, é

importante salientar que um mesmo software apresenta algumas diferenças conforme o

Page 96: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

94

dispositivo empregado para leitura, o que também pode interferir nessa experiência. Por

exemplo, a leitura de um livro no aplicativo Kindle do iPhone possibilita maior interação com

elementos multimidiáticos eventualmente presentes no e-book do que se a leitura fosse

realizada diretamente no e-reader, o qual busca uma aproximação com a leitura praticada por

meio do livro impresso. Todavia, entendeu-se que para as observações fossem exitosas, seria

mais relevante considerar os instrumentos de leitura do que os softwares nessa distribuição.

Como não se constituía em interesse deste estudo se aprofundar em questões

essencialmente tecnológicas inerentes aos recursos, mas examiná-los a fim de compreender a

experiência de leitura, tais variações foram devidamente ponderadas no decorrer da seleção

dos sujeitos para as atividades de leitura.

Quadro 5 – Distribuição dos materiais de pesquisa, ordenados conforme os equipamentos.

DISPOSITIVO SOFTWARE FORMAÇÃO

IPhone iBooks Graduação

IPhone iBooks Mestrado

IPhone iBooks Doutorado

IPhone Kobo Mestrado

Notebook Kindle para PC Graduação

Notebook Kobo para PC Mestrado

Notebook Kindle para PC Doutorado

e-reader Kindle Kindle Graduação

e-reader Kindle Kindle Mestrado

e-reader Kindle Kindle Doutorado

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

Por essa razão, ao verificar atentamente o Quadro 5, é possível observar a

distribuição equitativa dos equipamentos e softwares conforme os três níveis de formação dos

sujeitos. Os três equipamentos/dispositivos empregados foram o iPhone, o e-reader Kindle e

o notebook, e ambos foram utilizados com estudantes dos cursos de graduação, mestrado e

doutorado. Assim, os softwares empregados variaram conforme esses equipamentos, mas, não

se preocupou em repetir exatamente os mesmos aplicativos com os três níveis de formação,

pois, como dito anteriormente, não se pretendia focar mais nos detalhes dos recursos, mas na

própria atividade de leitura, sendo que, examinar a variação de uso de aplicativos semelhantes

com diversos sujeitos, pouco ou nada contribuiria com o estudo. Por exemplo, a observação

Page 97: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

95

das diferenças inerentes ao uso do dispositivo Kindle (e-reader) e do software Kindle no

notebook, era mais relevante para a pesquisa do que comparar o uso dos softwares, em si com

sujeitos de diferentes níveis de formação, o que forneceria dados e observações repetitivas e

pouco agregaria qualitativamente às discussões.

Desse modo, em conformidade com o objetivo da pesquisa e questões

metodológicas, a distribuição dos sujeitos para a atividade de leitura dos e-books, priorizou,

nessa ordem:

1) O nível de formação dos sujeitos;

2) O dispositivo/equipamento para leitura;

3) A coleção proposta, a fim de permitir relativa liberdade de escolha ao leitor.

A aplicação das entrevistas e a observação das atividades de leitura transcorreram

entre os meses de abril a junho de 2018. Pretendia-se finalizá-las com mais antecedência,

entretanto, na reta final, duas questões dificultaram a aplicação desta etapa: a greve realizada

pelos alunos de graduação e a paralisação nacional dos caminhoneiros. Estes eventos

limitaram significativamente o acesso a alguns sujeitos, embora os mesmos já tivessem

expressado interesse em colaborar com a pesquisa. Contudo, na medida do possível, essas

questões foram contornadas, procurando-se manter o mesmo rigor proposto inicialmente.

Quanto ao conteúdo das entrevistas e observações, primeiramente convém destacar

que se primou pelo anonimato dos sujeitos, com seus nomes sendo omitidos nas transcrições

das entrevistas e nas demais análises realizadas durante o presente trabalho. Assim, como

foram 10 (dez) os sujeitos da segunda fase, embora os mesmos tenham se identificado durante

a pesquisa, os dados pessoais foram omitidos, sendo empregadas as letras do alfabeto para se

referir aos mesmos, conforme propõe Marcuschi (2003), as quais seguiram a sequência da

cronologia de aplicação das entrevistas. Em todos os casos, o pesquisador foi identificado

com a letra “P”.

Em um primeiro momento, a partir dessa entrevista, foram reunidos aspectos

específicos da experiência dos sujeitos com as tecnologias, a fim de identificar um perfil

básico dos mesmos em se tratando de acesso e uso das TIC. Nesse sentido, o objetivo dessa

delimitação foi identificar apropriadamente os sujeitos, a fim de compreender o contexto dos

mesmos no curso das discussões posteriores.

Page 98: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

96

4.2.1 Os Sujeitos e as Tecnologias

No decorrer das entrevistas, foram feitos variados questionamentos aos sujeitos na

forma de diálogo, conforme tópicos descritos no roteiro da entrevista estruturada

(APÊNDICE D). Porém, as informações apresentadas a seguir foram organizadas com base

na articulação dos conteúdos, filtrando aspectos importantes do perfil desses sujeitos quanto

ao uso das TIC, e, portanto, nem sempre seguindo a ordem dos diálogos.

Desse modo, foi verificado junto aos sujeitos sobre como se deram seus primeiros

contatos com as TIC, o nível de suas habilidades operativas tecnológicas (básico,

intermediário ou avançado), contextos de acesso e frequência de uso, além de uso de redes

sociais, quando fosse o caso. Tais observações evidenciaram aspectos importantes do perfil

tecnológico desses sujeitos, e estão sintetizados no Quadro 6 a seguir, a partir do qual também

são tecidas outras discussões.

Quadro 6 – Perfil tecnológico básico dos sujeitos, ordenado conforme o nível de formação.

(continua)

LEITOR IDADE PERFIL TECNOLÓGICO BÁSICO FORMAÇÃO

B 22 anos

Primeiros contatos: começou a utilizar computador com seis anos de idade.

Mais tarde também celular.

Habilidades: nível intermediário. Utiliza com facilidade qualquer aparelho

eletrônico.

Acesso às TIC: ambientes acadêmico, familiar.

Frequência de uso das TIC: alta, cotidianamente.

Uso de redes sociais: Instagram e Facebook, frequentemente.

Graduação

H 23 anos

Primeiros contatos: teve o primeiro contato com televisão por volta dos nove

anos, e teve o primeiro celular aos quatorze anos. Já o acesso a notebook foi a

partir dos dezessete anos aproximadamente.

Habilidades: nível intermediário.

Acesso às TIC: ambientes acadêmico e familiar.

Frequência de uso das TIC: alta, cotidianamente.

Uso de redes sociais: WhatsApp, Facebook e Instagram.

Graduação

J 20 anos

Primeiros contatos: a primeira memória que tem de seus contatos iniciais com

as TIC é de gravações de vídeo que seu pai fazia quando era muito pequena. Não

possuíam aparelho celular, mas uma câmera. Além disso, também acessava a

televisão. Por isso, explica que esses contatos se deram desde quando era uma

criança. Porém, veio a se apropriar de fato dessas tecnologias por volta dos oito

anos de idade, com o acesso ao computador.

Habilidades: considera-se de nível básico, embora, em comparação com os

demais, pode-se dizer que possui habilidades intermediárias.

Acesso às TIC: ambientes acadêmico e familiar.

Frequência de uso das TIC: alta, cotidianamente.

Uso de redes sociais: WhatsApp, Facebook e Instagram.

Graduação

C 44 anos

Primeiros contatos: primeiramente teve acesso ao rádio, quando morava uma

fazenda. Depois, já na cidade teve acesso à TV, e mais tarde, ao primeiro

computador, com dezoito anos de idade. Já aparelho celular, teve acesso mais

tarde, por volta dos vinte e dois a vinte e três anos de idade.

Habilidades: nível intermediário.

Acesso às TIC: ambientes acadêmico, familiar e outros.

Frequência de uso das TIC: alta, cotidianamente.

Uso de redes sociais: Instagram e Facebook, moderadamente.

Mestrado

Page 99: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

97

(conclusão)

LEITOR IDADE PERFIL TECNOLÓGICO BÁSICO FORMAÇÃO

D 36 anos

Primeiros contatos: o primeiro contato com computador foi após os onze anos

de idade, quando morava em uma fazenda, e por volta dos quinze a dezesseis

anos, ao se matricular em curso de informática aprendeu a manusear programas

como Word e Excel. A partir daí e com o ingresso no mercado de trabalho esse

acesso foi ampliado, mas o acesso à internet foi apenas há pouco tempo.

Habilidades: nível intermediário.

Acesso às TIC: ambientes profissional, acadêmico e familiar.

Frequência de uso das TIC: alta, cotidianamente.

Uso de redes sociais: Facebook e WhatsApp, frequentemente.

Mestrado

E 50 anos

Primeiros contatos: citou como exemplo o uso do mimeógrafo, retroprojetor, e

posteriormente do computador, em seu trabalho como professora. A partir daí,

outros instrumentos se somaram para o aprimoramento das aulas conforme as

necessidades e a modernização: aparelho de celular digital, computador,

notebook, tablet.

Habilidades: nível intermediário (considera-se inclusive um pouco atrasada em

relação às tecnologias, com uma postura reativa).

Acesso às TIC: ambientes profissional, acadêmico, familiar e religioso.

Frequência de uso das TIC: alta, cotidianamente.

Uso de redes sociais: Facebook e WhatsApp, frequentemente.

Mestrado

I 45 anos

Primeiros contatos: a professora considera que seus primeiros contatos com as

TIC foram com idade avançada, ou seja, quando do lançamento dos primeiros

aparelhos de telefone celular (por volta dos seus vinte e cinco a vinte e seis anos

de idade). O acesso a computador também foi nesse período, pois houve um

grande aumento de computadores, e aparelhos de telefone celulares disponíveis

no mercado.

Habilidades: nível intermediário.

Acesso às TIC: ambientes acadêmico, profissional e familiar.

Frequência de uso das TIC: alta, cotidianamente.

Uso de redes sociais: WhatsApp, Facebook e Instagram (esse último com

menos frequência).

Mestrado

A 51 anos

Primeiros contatos: a partir do surgimento das TIC, sempre foi muito ligada ao

ambiente virtual, utilizando laptop, tablet, smartphone. Nunca fez curso, mas

sempre procurou aprender e se atualizar.

Habilidades: nível intermediário.

Acesso às TIC: ambientes acadêmico, profissional, familiar.

Frequência de uso das TIC: alta, cotidianamente.

Uso de redes sociais: Facebook (menos intensidade recentemente), Instagram,

Twiiter, Snapchat, WhatsApp, frequentemente.

Doutorado

F Não

informado

Primeiros contatos: com relação às tecnologias digitais teve acesso desde o

início da internet, por volta de 1998 a 1999. Começou a ter acesso a computador

e conexões, por volta desse período.

Habilidades: nível intermediário.

Acesso às TIC: ambientes profissional, acadêmico e familiar.

Frequência de uso das TIC: alta, cotidianamente.

Uso de redes sociais: havia desativado temporariamente suas redes sociais

(Facebook, Instagram e Twitter), para se focar nos estudos.

Doutorado

G 53 anos

Primeiros contatos: quando foi fazer o primeiro curso para utilizar computador,

numa época em que não existia internet e o computador era comparável a uma

máquina de escrever melhorada. Esse acontecimento, bem vívido à memória da

entrevistada, que é uma professora universitária, ocorrera há vinte e seis anos

atrás e desde então a mesma tem acesso a computador.

Habilidades: nível intermediário.

Acesso às TIC: ambientes profissional, acadêmico e familiar.

Frequência de uso das TIC: alta, cotidianamente.

Uso de redes sociais: Facebook, LinkedIn e Instagram, moderadamente.

Doutorado

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

Page 100: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

98

Como se observa, as alunas de graduação entrevistadas (Leitores B, H e J) são

jovens51

que possuem entre 20 e 23 anos, e começaram a utilizar as TIC desde que eram

crianças, e computadores especificamente, entre a infância e a adolescência. Possuem

habilidades de nível intermediário no manuseio das tecnologias (em alguns casos apresentam

características mais avançadas), e utilizam frequentemente as TIC nos diversos ambientes

pelos quais transitam, incluindo redes sociais. Embora não tenham estado em contato com as

tecnologias como as gerações mais recentes, podem ser classificados como nativos digitais

(PRENSKY, 2001), em vista dos primeiros contatos com as tecnologias digitais entre a

infância e a adolescência, o que se reflete nas habilidades operativas tecnológicas reveladas

por estes sujeitos. Para ilustrar essa situação, a seguir, é apresentado um trecho da entrevista

com o Leitor B, no qual, o sujeito (uma aluna do Curso de Pedagogia) descreve o período em

que começou a utilizar computador e a relativa facilidade em manusear equipamentos

eletrônicos:

B: ((risos)) eu comecei a usar, por exemplo, computador eu acho que com seis anos de idade

P:

[seis anos

]

B: por que meus pais tinham uma empresa e na empresa tinha, então a gente sempre:: eu e

minhas irmãs sempre tivemos muito contato,

P: sim

B: e celular também (+) não sei/ minha mãe até sempre fala que qualquer coisa, qualquer

problema, qualquer aparelho eletrônico ela me chama que eu resolvo:: ((risos))

P: sim

B: eu tenho muita facilidade nisso porque eu sempre explorei muito,

P: uhum

B: não sei/ curso propriamente dito eu nunca fiz mas (+) normalmente eu consigo muito bem

manusear qualquer aparelho,

51

Para subsidiar essa análise, levou-se em conta as classificações etárias constantes nas publicações oficiais

disponíveis no sítio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (https://biblioteca.ibge.gov.br).

Porém, como se observou uma discrepância entre faixas etárias em diferentes documentos, utilizou-se também

o Estatuto da criança e do adolescente (BRASIL, 2008) para equilibrar essas divergências. Desse modo, para

fins desse estudo, considera-se: Criança: 0 a 12 anos incompletos - Adolescente: 12 a 18 anos de idade -

Jovem: 19 a 24 anos de idade - Adulto: 25 a 59 anos de idade - Idoso: 60 anos ou mais.

Page 101: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

99

Quanto aos sujeitos em nível de mestrado (Leitores C, D, E e I), as idades variaram

entre 36 e 50 anos, assim como outras de suas características. Nesse caso, os primeiros

contatos com as TIC ocorreram entre o fim da infância e o início da adolescência e até

posteriormente. Em algumas situações, o acesso a computador se deu por volta dos 15 e dos

18 anos. Em outro caso, por exemplo, esse acesso ocorreu só por volta dos 25 anos, ou seja, já

na idade adulta. Assim como o grupo anterior, estes sujeitos demonstraram possuir

habilidades de nível intermediário quanto ao manuseio de tecnologias, além de utilizar com

frequência as TIC nos diversos ambientes que frequentam (profissional, acadêmico, familiar,

religioso), incluindo redes sociais.

A rigor, dois desses sujeitos podem ser considerados nativos digitais (Leitores C e

D), ou, ao menos, se encontrariam numa faixa de transição entre nativos e imigrantes digitais.

Outros dois (Leitores E e I) apresentaram características mais evidentes de imigrantes digitais

(PRENSKY, 2001), como é possível perceber a seguir ao examinar um trecho da entrevista do

Leitor I, no qual este sujeito relata seus primeiros contatos com as TIC, especificamente,

aparelhos celulares e computador:

P: ótimo (+) no caso das tecnologias da informação (+) que já é um ramo mais específico

dessa descrição que você deu, que é uma descrição mais ampla, né’ (+) no caso das

tecnologias da informação, com quantos anos você se lembra de ter tido os primeiros

contatos com essas tecnologias’

I: nossa (+) foi (+) assim, para os dias de hoje foi, já velha já (+) quando eu tive o primeiro

contato foram, quando foram lançados os primeiros celulares (+) eu já estava com vinte e

cinco, vinte e seis anos de idade, eu entrei em contato nos primeiros celulares (+) né’ que a

gente manuseava os primeiros celulares (+) e assim, com o computador mesmo foi:: que

eu tive esse contato mesmo, eu fiz cursos de computação, foi mais ou menos nessa, nessa

idade mesmo, com vinte e cinco anos (+) é, vinte e quatro, vinte e cinco anos (+) quando

teve essa explosão mesmo de, de computadores, celulares né’

Em outra ocasião, esse mesmo leitor explica que alguns de seus familiares também

teriam começado a utilizar redes sociais há não muito tempo para manter contato com outros

membros da família e ter acesso a outras informações. Em todo caso, uma experiência similar,

guardadas as devidas proporções dessa comparação:

Page 102: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

100

P: você deu exemplo das suas tias, que estão começando a utilizar agora (+) no caso elas se

enquadram um pouco na, na mesma situação que você’ (+) que assim que começou a usar

depois de um determinado tempo e aí tem essas características de adaptação’

I: [sim, depois de, isso, isso, aham, é::

]

[adaptações, aham, eu tenho algumas, algumas tias que elas começaram a usar uns três

anos pra cá (+) então ainda é uma coisa nova, uma coisa diferente, né’ então a gente

consegue conversar com elas pelo Facebook (+) é:: e às vezes elas não conseguem utilizar

o WhatsApp com tanta frequência, mais o Facebook, por conta também de encontrar os

familiares, ter acesso a outras informações também né’

Quanto aos sujeitos entrevistados pertencentes ao grupo com formação em nível de

doutorado (Leitores A, F e G), suas idades oscilaram entre 51 e 53 anos. Seus primeiros

contatos com as TIC foi tão logo as mesmas foram surgindo, e no caso dos computadores,

uma das entrevistadas inclusive destacou que teve acesso antes de mesmo de existir a internet.

Embora com algumas distinções, em termos de acesso às TIC e, especificamente a

computadores e internet, os sujeitos em questão se mostraram alinhados a esses recursos.

Assim como os demais sujeitos, também demonstraram possuir habilidades de nível

intermediário quanto ao manuseio de tecnologias, além de utilizar com frequência as TIC nos

diversos ambientes que frequentam (profissional, acadêmico, familiar), incluindo redes

sociais.

Dessa forma, correspondem a imigrantes digitais (PRENKY, 2008), mas, com o

diferencial de que o acesso destes sujeitos às TIC se deu tão logo as mesmas foram sendo

comercializadas ou disponibilizadas por outras vias. Além do acesso a recursos digitais, a

busca por aprendizado e atualização profissional também se revelam aspectos importantes

para o desenvolvimento de habilidades tecnológicas essenciais para estes sujeitos no contexto

presente, uma vez que os recursos tecnológicos são desenvolvidos e atualizados com grande

velocidade. Para ilustrar a influência das tecnologias digitais no contexto desses sujeitos, a

seguir, é apresentado um trecho da entrevista realizada com o Leitor A:

P: é::: você tem acesso à:: internet e outras tecnologias da informação fora::: nos outros

ambientes né’ ambiente social, familiar né:::

A: [tem

]

[tem (+) na minha casa eu tenho a /.../ a:

wi-fi, no celular eu tenho uma 4G e não dá de viver sem né’

Page 103: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

101

P: [sim

]

[sim

]

A: por que hoje a nossa vida:: a minha vida tá construída encima de sinal de internet, desde::

serviço de banco, compra pela internet:: acessar algum::: algum:::

P: [sim

]

A: instrumento de conhecimento, livros digitais e tal, então, sem internet não dá mais pra::

viver,

Nesse mesmo sentido, o Leitor F, também demonstrou possuir acesso facilitado às

TIC nos diversos ambientes pelos quais transita. Oportunamente, também extraímos um

trecho de sua entrevista, no qual aborda essa questão, destacando inclusive o uso da

tecnologia móvel para acesso à internet, uma característica bem contemporânea, como pode

se observar a seguir.

P: joia (+) é:: pressupondo, que aqui na universidade, ambiente acadêmico e também

profissional, essas tecnologias estão presentes, né’ você tem acesso facilitado também em

outros ambientes’

F: tenho, eu tenho acesso em casa, né’ e hoje em dia com a, com a tecnologia móvel a gente

acaba tendo acesso em qualquer lugar, né’ porque a gente carrega um celular, um

smartphone, que tá conectado, que tem diversos recursos, então além do trabalho, na

minha casa e no meu bolso,

P: então podemos dizer que você utiliza com frequência’

F: bastante,

Em síntese, observou-se que as diferenças mais significativas entre os sujeitos

entrevistados nessa fase, decorrem, sobretudo, de questões específicas de acesso e uso das

tecnologias, bem como da diferença entre gerações, embora devam ser feitas algumas

considerações quanto a esse último aspecto. Como se observa no Quadro 7, todos os sujeitos

entrevistados possuíam habilidades tecnológicas em nível intermediário, acesso facilitado às

TIC em diversos contextos, e utilizavam essas tecnologias frequentemente, incluindo as redes

sociais. Ou seja, nesse ponto, os sujeitos se encontravam alinhados.

Houve um caso, por exemplo, em que um dos sujeitos que residia em uma região

rural, passou a ter acesso a computador apenas aos dezoito anos, quando se mudou para a

Page 104: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

102

zona urbana e pôde estudar e trabalhar. Em outro exemplo, um dos sujeitos teve acesso a

computador logo aos oito anos de idade. Dito isso, fica evidente que algumas questões podem

ser generalizadas (como as habilidades e características em comum descritas anteriormente),

enquanto que outras só podem ser devidamente compreendidas tendo em vista o contexto em

que se cada uma insere (experiências particulares, questões inerentes às diferenças gerações).

Assim, entende-se que foi possível delimitar estas questões satisfatoriamente, de

modo a compreender um pouco sobre o perfil tecnológico destes sujeitos no que diz respeito

ao presente estudo. Outros aspectos desses perfis serão conhecidos mais adiante, haja visto

que na sequência serão tratadas das demais questões investigadas nas entrevistas.

Quando se buscou verificar o entendimento dos sujeitos a respeito das tecnologias,

de uma maneira geral, foi possível observar que a percepção dos mesmos quanto a esse

assunto, varia desde uma perspectiva abrangente, até um ponto de vista diretamente

relacionado com as TIC. No Quadro 7, a seguir, são apresentadas as principais ideias dos

sujeitos com relação às tecnologias, estando o quadro ordenado de acordo com cada nível de

formação. Na sequência, também é realizada uma síntese das observações que foram

identificadas.

Quadro 7 – Ideias predominantes dos sujeitos com relação à “tecnologia”.

FORMAÇÃO IDEIAS PREDOMINANTES SUJEITOS

Graduação

Noção genérica;

Variável conforme o tempo;

Identificação com as TIC;

Identificação com recursos eletrônicos.

Exemplos: recursos eletrônicos em geral, computador,

celular, iPad, e a própria escrita.

B, H e J

Mestrado

Noção genérica;

Recursos para facilitar as atividades pessoais;

Diminuição ou flexibilização do tempo;

Elemento essencial do cotidiano das pessoas;

Desenvolvimento ao longo do tempo;

Aprimoramento de objetos industriais e domiciliares;

Exemplos: computador, notebook, netbook, tablet,

celular digital, internet, rádio, máquina datilográfica,

mimeógrafo, retroprojetor, torneira.

C, D, E e I

Doutorado

Meio de acesso a informações, cultura e conhecimento;

Superação da cultura impressa;

Artefatos para a solução de problemas;

Identificação com as TIC;

Identificação com recursos analógicos.

Exemplos: caneta, óculos, dispositivos digitais.

A, F e G

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

Page 105: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

103

De modo geral, observa-se que os sujeitos apresentaram uma noção ampla a respeito

das tecnologias, mas, também as relacionaram com as TIC, com ênfase quanto à influência

das mesmas no cotidiano, seus benefícios e utilidade. São citados como exemplos, desde

recursos analógicos (canetas, óculos, torneira), até recursos eletrônicos (computadores,

notebooks, redes), e inclusive elementos mais abrangentes, como a própria escrita. Ante essa

constatação, as diferentes formações dos sujeitos não implicaram em entendimentos

desconectados entre si, mas, o fato de relacionar essas tecnologias imediatamente às TIC,

evidencia a influência destes recursos no cotidiano dos sujeitos, sobretudo em suas atividades

de acesso a informações e comunicação, permitindo a realização de atividades que

ultrapassam as limitações da cultura impressa.

A fim de ilustrar as percepções dos sujeitos a respeito das tecnologias, a seguir, são

apresentados trechos de quatro entrevistas diferentes em que abordam essa questão. Neles se

observa que as definições em torno das tecnologias variam desde uma noção mais abrangente,

até mesmo à analogia com as TIC.

B: assim:: para mim as tecnologias é (+) na verdade qualquer item que seja uma inovação

para a época, digamos assim::

P: [sim

]

B: igual hoje em dia, as tecnologias nossas são mais é:: celulares, e-readers, notebooks,

aparelhos eletrônicos, a maioria atualmente,

C: é:: eu entendo assim que:: a tecnologia é pra facilitar um pouco com a vida da gente/ é isso

que eu entendo (+) é::: tem (+) tem várias (+) várias coisas que a gente pode fazer que

facilita e também (+) é:: o tempo né’ diminui, flexibiliza muito mais o tempo da gente,

F: tecnologias são artefatos que nos possibilitam resolver problemas, né’ então, artefatos que

não são somente ligados a artefatos de informação e comunicação, mas, recursos muitas

vezes até analógicos, né’ como uma caneta, um óculos, então é pensar a tecnologia de uma

forma mais ampla (+) e aí a gente refina para as tecnologias de informação e de

comunicação, que é pensar hoje em dia os dispositivos também digitais que nós temos

acesso,

Page 106: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

104

G: todo um aparato que existe no sentido de (+) é:: disponibilizar o acesso a aparato

tecnológico que te disponibiliza ou cria condições para você acessar o universo de

informações, de cultura, enfim, de várias questões que fazem parte da, do nosso cotidiano,

e pra além dele, e: basicamente isso né’ (+) uma (+) todo um aparato que você tem

condições de ter acesso a coisas que até um tempo atrás você ou não acessava, ou se

acessava, acessava só por meio da, da impressão, de material impresso, vamos dizer assim

né’ (+) hoje você tem condições de acessar um universo bem maior, no sentido de, de

informações, conhecimentos, enfim, é, a partir desses aparatos tecnológicos,

4.2.2 Os Leitores Imersivos e os E-books

Ao se aprofundar nas atividades de leitura de e-books, algumas questões se

sobressaem, necessitando serem devidamente discutidas, no interesse de que o estudo tenha

sido pautado em seus aspectos relevantes. Anteriormente foram examinadas as percepções

dos sujeitos a respeito dos e-books. Nessa ocasião, para complementar as discussões, convém

destacar também outros aspectos da leitura de e-books, como por exemplo, frequência de

leitura, tipos de obras preferidas, motivações, bem como, as condições do leitor em realizar

uma leitura de qualidade (centrada, organizada), ou seja, uma leitura que permita ao mesmo

manter a unidade do conteúdo, respondendo aos seus objetivos iniciais quando decidiu

empreendê-la, ainda que seu desenvolvimento tenha sido fragmentado, pois essa aleatoriedade

no percurso é típica da leitura imersiva.

Inicialmente, convém esclarecer a razão de se haver questionado os sujeitos a

respeito da leitura de livros impressos, se o objetivo era examinar detalhes da leitura de e-

books. Desde o início do estudo, optou-se por não fechar excessivamente o âmbito da coleta

de dados e observações, a fim de evitar perda de informações potencialmente úteis. Dessa

forma, ao entrevistar os sujeitos sobre a leitura envolvendo e-books, também foi verificado

sobre sua frequência de leitura (independente do material), e sobre os materiais que os

mesmos costumam ler, tanto em formato impresso quanto e-books. Obviamente, a ênfase

maior foi dada no segundo elemento, mas isso não tolheu o pesquisador e os sujeitos de

trazerem à tona informações complementares relevantes, permitindo que os diálogos das

entrevistas fluíssem com naturalidade e tanto quanto possível, ancorado na realidade factual.

Page 107: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

105

Inclusive, seria lógico que quando os sujeitos abordassem suas experiências de leitura de e-

books, também relatassem naturalmente questões análogas envolvendo os livros impressos,

comportamento esse que foi, dessa forma, estimulado.

Desse modo, o Quadro 8, a seguir apresenta as principais características dos leitores

e de suas atividades de leitura, sobretudo envolvendo e-books. O referido quadro se encontra

ordenado conforme a formação dos sujeitos, a fim de auxiliar nas discussões posteriores.

Quadro 8 – Características gerais dos leitores e de suas atividades de leitura.

FORMAÇÃO FREQUÊNCIA

DE LEITURA

PREFERÊNCIAS DE LEITURA MOTIVAÇÕES AO

ESCOLHER E-BOOK SUJEITOS

LIVROS IMPRESSOS E-BOOKS

Graduação Alta Obras literárias Obras acadêmicas Custos. Hábito B

Graduação Alta Obras acadêmicas Obras acadêmicas Custos. Facilidade de acesso. Gratuidade de alguns materiais

H

Graduação Alta Obras literárias Obras acadêmicas Custos. Facilidade de acesso.

Gratuidade de alguns materiais J

Mestrado Alta Obras acadêmicas Diversos Custos. Recursos técnicos

(navegação, marcação, buscas) C

Mestrado Alta Diversos Obras acadêmicas Facilidade de acesso D

Mestrado Moderada Obras acadêmicas Diversos Necessidades do trabalho E

Mestrado Alta Obras acadêmicas Obras acadêmicas Facilidade de acesso I

Doutorado Alta Obras acadêmicas Diversos Custos. Saúde dos olhos A

Doutorado Alta Diversos Diversos Custos. Assuntos F

Doutorado Alta Diversos Diversos Custos. Urgência de acesso G

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

Como se observa no Quadro 8, quase todos os sujeitos demonstraram possuir alta

frequência de leitura e utilizam tanto livros impressos quanto e-books, sendo que em alguns

casos, as preferências são distintas para cada tipo de material que escolham para ler. Nesse

sentido, a princípio discutiremos esses dados em bloco, conforme a formação dos sujeitos,

para, na sequência, integrar todos esses detalhes no conjunto das discussões.

Os sujeitos com formação em nível de graduação (Leitores B, H e J), apresentaram

algumas semelhanças nos quesitos examinados. Como já foi abordado anteriormente, torna-se

desnecessário discutir frequência de leitura, pois, em geral, todos os sujeitos se destacaram

nesse sentido. Em termos de preferência de leitura, os sujeitos costumam optar por obras

acadêmicas ou literárias em se tratando de livros impressos, mas, as obras acadêmicas foram

unanimidade quando a intenção era ler e-books. E entre as motivações para escolha desses

recursos digitais, as principais foram os custos envolvidos na aquisição dos mesmos, mais

baratos que livros impressos no mercado, bem como a facilidade de acesso e a gratuidade de

Page 108: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

106

alguns materiais que os sujeitos normalmente encontram para download em diversos sítios da

internet.

Além disso, como se trata de um estudo qualitativo, não se busca apenas

convergência de dados, pois em muitos casos, observações singulares revelam detalhes

relevantes. Por exemplo, a aluna identificada como Leitor B pontuou que em 2018 já havia

lido 34 livros (entre obras impressas e e-books), demonstrando sua alta frequência de leitura.

Ela revelou ainda que, por hábito, prefere ler os livros impressos, mas se não encontra a obra,

então decide ler o e-book. Características similares foram apresentadas pelo Leitor H: a aluna

prefere ler livros impressos e no caso dos e-books, costuma ler muitos materiais que não

localizam em formato impresso. O Leitor J, que também se revelou uma assídua leitora de e-

books, acrescentou o fato que inclusive costuma baixar vários destes materiais para leitura de

modo off-line. Em síntese, tais observações evidenciam que estes leitores imersivos

preservam com vigor seus hábitos de leitura meditativa para determinados tipos de obras e

conforme seus gostos e sua cultura, como se observa no trecho extraído da entrevista do

último sujeito mencionado:

J: é porque assim (++) quando eu leio o livro impresso, são outros tipos de leitura que eu faço

do que quando eu leio um e-book,

P: interessante, você já

J: [então (+) eu acho que é bem diferente, eu acho que livro impresso, ele me

prende mais, mas é porque, como geralmente eu leio, romances, histórias, aí, eu acho que,

que é uma relação diferente que eu tenho com os livros, e com os e-book/ com, quando eu

leio e-book geralmente são, são leituras assim, mais acadêmicas que também, mas, que

também eu tenho uma relação diferente com, com o que estou lendo, sabe’ (+) então, eu

diria que um livro físico, ele prende mais, mas não sei se por ser um livro físico, ou pelo,

pelo que eu leio nele, porque desde pequena, eu tenho assim, né’ eu leio bastante livro

físico também (+) é, eu não sei,

P: uhum (+) não, mas foi interessante, você explicou a questão de que você lê livro físico

para uma determinada finalidade né’ (+) eu tô colocando aqui com as minhas palavras, se

eu falar alguma coisa/ você pode me corrigir (+) no caso do e-book já é mais para

finalidade acadêmica, né’ no caso do livro físico, você deu exemplo de uma finalidade de

lazer mesmo, né’ leitura por espontaneidade mesmo (+) então ela preenche mais essa

lacuna, de ler uma leitura por lazer, o livro físico né’ que já, pelo que você me explicou, eu

Page 109: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

107

entendo que seria próprio da sua cultura, né’ (+) e:: que você lê desde outros tempos já

assim (+) e no caso de leitura acadêmica, você utiliza, gosta de utilizar os e-books né’

J: é (+) exatamente,

Quanto aos sujeitos com formação em nível de mestrado (Leitores C, D, E e I),

observou-se algumas características distintas, como por exemplo, os argumentos variados

quanto à escolha de e-books para leitura (recursos técnicos, facilidades de acesso,

necessidades de trabalho e custos). Quanto às preferências de leitura entre livros impressos e

e-books, embora as obras acadêmicas tenham se destacado nos dois casos, também não se

pode afirmar que foi um destaque significativo, como se observa no Quadro 10.

Além disso, alguns detalhes particulares merecem destaque. Por exemplo, o Leitor C

relatou que recentemente (em vista dos estudos de mestrado), preferia ler obras acadêmicas no

formato impresso, mas que, em geral, essa temática costuma ser indiferente para suas

preferências de leitura. Isso simplesmente reforçaria o argumento de que as obras acadêmicas

não refletiriam os interesses de leitores da maioria destes sujeitos, mas, em todo caso, não se

vê a necessidade de desconsiderar questões referentes à situação atual.

Importante destacar também que, embora os Leitores D, E e I costumem fazer a

leitura de e-books, os mesmos preferem ler livros impressos. O Leitor D destacou que essa

preferência decorre de dificuldades com as distrações das mídias eletrônicas, ao passo que o

Leitor E, explicou que se tratava de uma norma de seu grupo de pesquisa. Aliás, esse último

sujeito preferia ler e-books de temáticas diversas, englobando desde materiais relacionados ao

trabalho até religião. Enfim, essas questões pontuais também revelam particularidades das

experiências desses sujeitos que nem sempre podem ser descritas em um quadro, mas que

oportunamente convém fazer menção, como por exemplo, quando o Leitor I explicou que

adquiriu um e-book por não ter localizado o livro impresso para comprar, relatando na

sequência que é sinestésica, e como isso interfere em sua aprendizagem:

P: certo (+) é:: no caso do, dos e-books, o que/ quais são as suas motivações quando você

escolhe, opta por ler em e-book’

I: olha, quando eu comprei esse e-book, foi porque eu não conseguia acha-lo é, impresso, né’

(+) porque assim, eu sou sinestésica (+) então, eu assim, eu anoto, eu escrevo, é uma

maneira que eu tenho para aprender (+) né’, então eu não consigo, eu se eu tô estudando,

Page 110: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

108

eu não consigo fazer o estudo sem fazer uma anotação, escrever, fazer algum rabisco, faz

parte da, da minha aprendizagem, né’ (+) e, quando eu fui comprar esse livro, é:: ele só

tinha nessa versão e-book (+) sabe’ só que não me impediu de fazer a leitura, né’ de, de

entender o livro nada não sabe’ mas foi por conta disso (+) eu até assim é, procurei se

tinha jeito de imprimir ele e tudo, só que daí não pode, tem a questão de (+) da:: de

direitos autorais e tudo o mais né’ então ele tá guardadinho lá no meu computador né’ pra

leitura virtual mesmo,

P: certo (+) esse você lê no Kobo’

I: aham, só consigo ler no Kobo,

No que se refere aos sujeitos com formação em nível de doutorado (Leitores A, F e

G), a maioria não faz distinção entre os tipos de materiais que prefere ler, seja no formato

impresso, ou mesmo digital (obras diversas). Além disso, como se observa no Quadro 10, um

dos fatores que mais interfere em suas escolhas por e-books são os custos, seguido de outras

questões, como a preocupação com a saúde dos olhos, a urgência de acesso à determinada

obra, e, os assuntos de interesse do leitor.

Embora tenha se apropriado das tecnologias em seu cotidiano e com experiências

precedentes na leitura de e-books, o Leitor A relatou que sua preferência em ler livros

impressos decorria justamente de sua preocupação com a saúde dos olhos. De outro lado, o

Leitor F demonstrou equilibrar bem a leitura meditativa com a leitura imersiva, pois

normalmente desenvolve uma leitura híbrida, misturando diferentes tipos de materiais. Em

outro extremo, o Leitor G apresentou pouca distinção quanto à temática do material que lê,

seja no formato impresso, seja no formato digital: materiais diversos que iam desde sua área

de atuação profissional como professora (educação infantil, formação de professores), até

obras literárias em geral e obras acadêmicas. Contudo, para este sujeito em particular, era

interessante que mantivesse apenas alguns materiais no formato impresso, sendo que outras

obras das quais eventualmente necessitasse fazer uso, seria suficiente adquirir o e-book para

leitura.

P: certo (+) essa observação que você fez também com relação a ser ou não ser um material

que você vai/ que você precisa manter ali para uso mais frequente, isso é uma observação

bastante interessante para nós, ajuda a conhecer mais,

Page 111: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

109

G: [é:: porque é: (+) é, eu acho que chega um ponto em que

o próprio livro, é, agora mesmo recentemente por necessidade de mudança minha, eu tinha

obras lá que eu olhei e disse, pra quê que eu vou guardar isso ainda, se eu sei que é uma

coisa que eu não vou mais acessar, e se um dia eu precisar, eu vou atrás, mas assim, então

eu vou passar adiante, porque (+) né’ e aí o e-book /.../ a depender do preço, é claro (+) é,

eu não faço isso com obras que ainda tem um valor significativo, mas com coisas/ às vezes

é uma leitura rápida, que eu, que me interessou, alguma coisa que foge até do trabalho,

com a área de, de trabalho (+) ah, eu quero ver isso agora, aí eu vou lá, e, é:: um custo, um

custo legal, o custo-benefício pra mim ali naquele momento, então é, se dali a cinco anos

eu não acessar mais isso, não é problema (+) porque de alguma forma o livro também, o

impresso também eu estaria repassando (+) né, então assim, é claro que se o impresso,

sempre alguém pode estar utilizando, mas também (+) é, bom, é esse o meu raciocínio

((risos))

Desse modo, observou-se que todos os sujeitos, independente do nível de formação,

são leitores frequentes. No que se refere às suas preferências de leitura, as obras acadêmicas

representam as principais opções. Ou seja, metade dos sujeitos, prefere ler as obras

acadêmicas tanto na forma de e-books quanto de livros impressos. As principais motivações

para a escolha de um e-book para leitura foram os custos envolvidos, seguidos pela facilidade

de acesso e gratuidade de alguns materiais.

Chamou a atenção o fato de que embora todos os sujeitos normalmente façam a

leitura de e-books, inclusive em se tratando de determinados tipos de obras, grande parte, ou

seja, mais da metade (Leitores A, B, D, E, H e I), declarou espontaneamente que preferem ler

livros impressos, por diversos motivos: saúde dos olhos, hábito, distrações com a leitura de e-

book em computador, normas do grupo de pesquisa, entre outras razões que não foram

descritas. Desse modo, intencionalmente, averiguou-se os motivos que conduzem à leitura de

e-books, e, de forma não-intencional, conseguiu verificar-se, também, o contrário, isto é, as

razões que conduzem naturalmente à leitura de livros impressos. Enfim, considerando o

objetivo desse estudo, procurou-se centrar, sobretudo, nas questões que envolviam a leitura de

e-books.

Outro aspecto que foi verificado junto aos sujeitos foi a compreensão dos mesmos a

respeito dos e-books. Desse modo, no Quadro 9, a seguir, são apresentadas suas principais

Page 112: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

110

ideias com relação a esses objetos. O quadro se encontra ordenado de acordo com cada nível

de formação. Na sequência, também é realizada uma síntese destas observações.

Quadro 9 – Ideias predominantes dos sujeitos com relação aos “e-books”.

FORMAÇÃO IDEIAS PREDOMINANTES SUJEITOS

Graduação

Livro digital (formato) ou acessado por meio de

plataforma digital, com recursos específicos;

Livros eletrônicos, que envolvem o uso de

equipamentos como tablet e celular.

B, H e J

Mestrado

Livro de maneira eletrônica;

Recurso para pesquisas, como uma biblioteca no

computador;

Futuro das próximas gerações, como complemento dos

livros físicos;

Material complexo para a realização de leitura, devido

aos recursos, especialmente software;

Características: utilidade, agilidade, facilidade e rapidez

de acesso, gratuidade, portabilidade, memória de

armazenamento.

C, D, E e I

Doutorado

Livro no formato digital, com acesso digital;

Livro disponível numa plataforma eletrônica;

Material preparado especificamente para leitura;

Tecnologias mais sofisticadas que um arquivo PDF.

Recurso que dá acesso a obras técnicas ou literárias, por

meio do uso da tecnologia.

A, F e G

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

No que concerne aos e-books, observa-se que as ideias predominantes dos sujeitos os

classificam como um livro no formato digital, acessado por meio de uma plataforma

eletrônica, utilizando-se recursos eletrônicos específicos. São consideradas as suas

características, como por exemplo, portabilidade, rapidez no acesso e capacidade de

armazenamento de informações. Além disso, o e-book também é compreendido em analogia

ao livro impresso, ora como um complemento, ora como um material que pode incrementar

uma importante biblioteca virtual, permitindo acesso a obras técnicas ou literárias. Entre os

sujeitos de formação em nível de mestrado e com mais ênfase entre os doutorandos, se

observa uma entendimento mais aprofundado: o e-book é tratado como um material mais

complexo para leitura, com tecnologias mais sofisticadas, que o diferenciam de um simples

arquivo em formato PDF.

A seguir, são apresentados os trechos de quatro entrevistas referentes às percepções

dos sujeitos com relação aos e-books. Embora tais descrições já estejam sintetizadas no

Quadro 9, é possível perceber pelas respostas destacadas que, mesmo os sujeitos possuindo a

Page 113: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

111

compreensão sobre o que vem a ser um e-book, fica evidente que este material ainda gera

dúvidas entre os leitores.

A: é o que eu entendo do e-book é um livro que está no formato digital::: eu não tenho acesso

físico a ele né” eu tenho acesso digital (+) numa plataforma (+) é isso que eu entendo, é

como se eu estou lendo um livro, mas eu não tenho ele fisicamente, eu tenho ele no espaço

digital,

B: sim::: a ideia que eu tenho de um e-book é que é um livro mas numa plataforma digital

P: entendi (+) ele é um livro num espaço digital, numa plataforma ali,

B: isso, na plataforma, com os recursos,

D: eu vejo o e-book hoje como uma possibilidade pro dia-a-dia, que eu posso tá:: é, utilizando

uma biblioteca inteira dentro do meu computador (+) então, a facilidade de acesso, a

facilidade de leitura, é:: eu não preciso ter acesso à internet pra mim poder estar

conectando a esse e-book depois que ele tá baixado (+) assim, eu vejo assim que ele é

muito útil por isso, assim/ pelo, pelo físico, de você não precisar ficar carregando (+) é::

por ele/ nesse sentido (+) e eu vejo ele também como um/ material que vai ser/ é o futuro

hoje da, das livrarias, eu acho que como complementando, não que eu vejo o fim das

livrarias públicas, eu vejo como um complemento, principalmente das novas gerações

agora que, que, no futuro eles vão utilizar mais os e-books do que a gente utiliza hoje,

F: porque, é:: quando a gente fala do e-book, eu, leiga, ainda tenho dúvida, quando a gente

pega um PDF, abre numa página, e, e eu me pergunto, será que isso é um e-book’ será que

isso não é um e-book’ (+) então eu tenho essa dúvida, né’ mas, é:: eu não sei também se

eu estou errada, mas eu acho que o e-book ele tem algumas tecnologias mais elaboradas

que um simples PDF, né’ então (+) não sei, eu acho que a diferença está nessas

tecnologias mais elaboradas aí,

P: uhum (+) então ele seria um material mais elaborado, né’ pra leitura’

F: [pra leitura, do que

um:::]

Page 114: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

112

Em uma das observações tomadas junto ao Leitor I (em forma de nota de campo),

após a realização da entrevista, foi revelado que seu entendimento mudou quando adquiriu um

e-book. Anteriormente, ela considerava que todo livro digital (relatado como arquivo digital

simples) seria um e-book, como por exemplo, um livro em formato PDF. Depois,

compreendeu que não era bem assim: o e-book era algo mais complexo, devido aos recursos

envolvidos para sua leitura por meio de software específico. No caso do e-book em questão, o

mesmo era lido em um software que permitia customizar sua visualização, aumentando ou

diminuindo o tamanho da letra (fonte) para adequar a leitura à sua visão, o que

consequentemente alterava a quantidade de páginas. Além disso, a navegação pelo material

era diferenciada, e não era possível nem ao menos imprimi-lo, por questão de direitos

autorais. Após contato com a livraria para questionar eventuais problemas, a leitora foi

orientada sobre essas particularidades e, com isso, foi aprendendo a fazer uso apropriado do

material. A partir de então, ela compreendeu que a leitura do e-book envolvia a navegação por

meio de um software que aprendeu a utilizar. Não era parecido com o manuseio do material

impresso, tampouco com a visualização de uma imagem digitalizada de uma página, mas uma

navegação pelas partes do livro, permitindo interferir na sua estrutura, de acordo com as

possibilidades do software.

A última questão da entrevista era qualitativamente significativa para o estudo, pois

era baseava na própria atividade de leitura imersiva dos e-books, especificamente no seu

caráter fragmentado e hipertextual. Por essa razão, essa última pergunta estabelecia uma

conexão indireta com atividade de leitura que viria em seguida, pois já antecipava as reflexões

quanto à interação estabelecida entre os sujeitos e os objetos de leitura.

Nesse sentido, para introduzir a questão, inicialmente era realizado um breve diálogo

explicando sobre as características da leitura de e-books, para na sequência, questionar se

quando os sujeitos desenvolviam tais leituras, eles conseguiam manter a compreensão geral

do que estavam lendo, ou seja, a unidade de suas leituras, uma vez que, por ser hipertextual, a

leitura imersiva supostamente poderia levar à dispersão e impedir o leitor de concluir o

propósito pretendido inicialmente com a atividade de leitura.

As respostas a este questionamento são apresentadas a seguir de forma condensada,

mas respeitando-se rigorosamente a exposição de ideias da parte dos sujeitos. Além disso, em

alguns casos, são apresentados trechos das próprias entrevistas, a fim de complementar o

conteúdo.

Page 115: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

113

4.2.2.1 O Aspecto Hipertextual da Leitura Imersiva

Leitor A

Considera muito interessante, enriquecedora, abrindo infinitas possibilidades. Porém,

corre o risco de dispersar o leitor. Por isso, é importante disciplina e preparação prévia do

leitor para a realização da leitura em textos com hipertexto, para que não haja dispersão,

sendo necessário retomar do início quando possível, senão o processo de leitura não se

conclui. Na sequência, segue um trecho da entrevista com este sujeito:

A: então, eu acho (+) é::: muito interessante a leitura hipertextual (+) no meu caso é::: são

várias janelas que a gente vai abrindo, né’ por que você está vendo: de repente um autor,

aquele autor, o próprio texto te remete ao texto original daquele autor, ou à obra dele, enfim

(++) mas isso é extremamente enriquecedor, mas a gente também corre um certo, um sério

risco de dispersar nesse mundo aí, né’ nessa nessa via (+) então você vai abrindo janela,

janela, janela, de repente você nem sabe mais qual era o seu texto que motivou toda essa

abertura/ então eu acho que pra isso a gente tem que se preparar pra ter uma disciplina (+)

né’ e ter um foco/ agora eu vou voltar pro meu texto inicial, por que eu sou muito assim, eu

vou abrindo, eu vou clicando, eu vou abrindo os conceitos em outras (+) em outras áreas,

em outras janelas, e às vezes se dispersa, né’ então essa é uma coisa que a gente tem que se

preparar para fazer a leitura /.../ em textos: com hipertexto, para que a gente volte sem haver

essa dispersão no geral: claro/ é enriquecedor, ele abre um:: (+) infinitas possibilidades, mas

a gente precisa retomar, senão a gente não conclui o processo,

P: /.../

A: [e de repente você clica num

hipertexto ele remete a uma outra:: uma outra plataforma, uma outra coisa, aí vem uma

propaganda no meio/ e vem uma coisa e você tem que ter o maior cuidado para não

desfocar, e aí vem da disciplina do leitor, né’ (+) dele ter a consciência de que não dá para

desfocar, tem que voltar no texto original, senão já foi o dia perdido:: a tarde perdida:: e

tudo mais,

Page 116: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

114

Leitor B

Consegue manter a unidade do texto, a compreensão, se ater aos objetivos iniciais da

leitura. Explica que seus e-books Kindle possuem uma lista de recursos, como por exemplo, o

dicionário que permite localizar uma palavra com a qual não tenha familiaridade. Além disso,

permite marcar trechos, extrair partes do texto, inserir comentários, em suma, possui bastante

recursos úteis. Todavia explica que a leitura hipertextual, não prejudica sua compreensão, mas

agrega, amplia essa compreensão.

Leitor C

Considera a leitura hipertextual interessante, mas requer disciplina e organização

pessoal da parte do leitor para não se dispersar. Destaca a importância de ler de forma crítica

para compreender o contexto de sua leitura conforme navega na estrutura hipertextual,

mantendo a disciplina e evitando as inúmeras distrações da mídia eletrônica. Na sequência,

segue um trecho da entrevista com este sujeito:

P: é:: você consegue desenvolver essa leitura assim com tranquilidade, fluência e

compreensão”

C: sem se deixar influenciar pelas::: sem as distrações”

P: [sim

]

[sim

]

C: é isso que estava falando antes pra você né’ (+) que os professores hoje muitas vezes

criticam esse tipo de leitura no e-book, exatamente por isso, desses hiperlinks que te

direcionam para outros lugares e você não acaba contextualizando ou descontextualizando

o que você tá fazendo ali, mas pra mim é::: (+) acho que é::: perfeito, desde que você

tenha a disciplina de saber retornar né’, ou de (+) realmente ler de uma forma crítica que

aquilo é/ está bem diferente do contexto que você está lendo né’/ que muitas vezes você lê

um contexto aqui e direciona para outro, /.../ mas aquele contexto lá não tem nada a ver

com esse contexto que a gente tá propondo aqui né’

P: é:: nesse caso, é uma questão também relacionada ao leitor, né’ não só da tecnologia /.../

C: é, exatamente (+) então, vai da sua/ duma disciplina sua, que eu/ chamar de repente de

disciplina né’ se você se disciplinar e ter uma organização na sua leitura, na sua maneira

de ler, na sua leitura (+) de, de uma maneira de realizar as leituras do e-book né’ (+)

porque com certeza se você está numa mídia eletrônica, as distrações são bem maiores né’

(+) tem ali vários canais para você ver, mas tem que ater a isso né’ porque no momento

Page 117: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

115

que ele te direciona para uma coisa, de repente já vai te direcionar para outra coisa, e daí

você passou a tarde e você não leu o que tinha que ler né’

Leitor D

Expressou sua dificuldade em realizar leitura de e-books em seu computador, pois

geralmente tem contato com outras pessoas durante a leitura, o que interfere em sua

concentração e rendimento, em comparação com a leitura de livro impresso. Além disso,

como gosta de abrir várias páginas eletrônicas para complementar sua leitura, por meio de

hiperlinks, chega num momento em que tem trabalho para refazer a conexão cronológica dos

materiais complementares que foi acessando, sendo que a ausência de um roteiro lógico que

preserve esse percurso se revela uma limitação dos e-books. Desse modo, em sua leitura de e-

book, geralmente necessita refazer esse percurso, eliminando o material adicional e

retornando ao ponto inicial. Portanto, considera que necessita se auto-gerenciar, para

conseguir terminar sua leitura, refazendo esse movimento em direção ao início e controlando

o excesso de informações, uma vez que os conteúdos similares costumam ser bastante

atrativos e normalmente despertam a curiosidade, por trazerem, efetivamente, informações

úteis à leitura. Convém salientar que este sujeito relatou casos em que havia iniciado a leitura

de e-books e não teria concluído, devido à essa dispersão, o que confirma sua preocupação em

se auto-gerenciar.

Leitor E

De acordo com este sujeito, que é uma professora da rede pública de ensino, a

mesma não gosta de fazer diversas coisas ao mesmo tempo, então, não se distrai: quando

inicia uma leitura, segue até o final. Mesmo se vir alguma coisa interessante, procura terminar

a página ou parte que está lendo, para só então verificar, pois, não fica “indo e voltando”

durante sua leitura. Normalmente se concentra apenas em sua leitura principal. Assim, ela

consegue manter a unidade em sua leitura, a integridade do conteúdo, sem dispersão. Na

sequência, segue um trecho da entrevista com este sujeito:

E: eu não gosto de fazer dez coisas ao mesmo tempo, então eu não me distraio, quando eu

pego alguma coisa para ler, eu vou até o final (+) mesmo se vir alguma coisa ali naquele

momento não/ eu termino o título ou a página, o que me, me chama a atenção (+) então, eu

Page 118: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

116

não fico indo e voltando não (+) é aquilo, terminei e pronto, depois eu vou pra outro

caminho,

P: entendi (+) você chega a, a explorar outros caminhos e a fechar’

E: [não

]

P: só aquilo mesmo’

E: só aquilo mesmo,

Leitor F

Este sujeito confirmou que durante a leitura de e-books consegue manter a unidade

do material que está lendo, seus objetivos iniciais, sua compreensão. Portanto, desenvolve a

leitura hipertextual normalmente, explorando os hiperlinks e sempre retornando à parte

principal. Porém, destaca que sua leitura não é linear, mas distribuída, pois lê buscando os

hiperlinks, e sempre retornando ao centro de sua leitura. Inclusive acessa dicionários e outros

materiais complementares, além dos hiperlinks presentes nos e-books, mas sempre fazendo

esse movimento de busca e retorno.

Leitor G

Entende que a leitura de um e-book é um pouco mais difícil do que a leitura de um

material impresso, sendo necessário, pelo menos, duas leituras para manter a integridade do

conteúdo lido e sistematizar adequadamente as informações, em termos de organização

mental. Esse exercício requer um pouco mais de cuidado, de tempo e de releitura, do que

exigiria a leitura de um material impresso, mas, a professora gosta dessas possibilidades, dos

novos recursos que os e-books proporcionam, como por exemplo, os hiperlinks com materiais

complementares indicados pelo autor, a possibilidade de ir à fonte buscar outra informação.

Porém, ela atenta que é necessário ter cuidado para não expandir demais essas explorações,

senão elas podem dificultar ao leitor obter a integridade do conteúdo, a compreensão que ele

busca naquilo que está lendo. Enfim, é um exercício necessário, pois o e-book requer um

pouco mais de cuidado em sua leitura, porém, a professora, avalia positivamente essa

particularidade dos e-books. Na sequência, segue um trecho da entrevista com este sujeito:

P: /.../ quando você desenvolve a leitura do material, é:: do e-book, você consegue manter

essa unidade do que você está lendo, essa compreensão’

Page 119: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

117

G: /.../ consigo, é um pouco mais difícil do que se for fazer uma leitura num material

impresso, vamos dizer assim (+) consigo, mas requer pelo menos duas leituras, vamos

dizer assim, pra dar essa ((gesticulando)) integridade, ou essa totalidade da info/ de

sistematizar isso é:: em termos é:: de organização mental mesmo, entendeu’ (+) é, o e-

book na leitura, o material, por meio da, da internet, por exemplo, é, o meu exercício

requer um pouquinho mais de é::, de cuidado, de tempo e releitura, do que se fosse no

material impresso (+) mas o que eu acho legal é essa possibilidade, você, se no impresso

você anota ao lado, faz as suas anotações, as suas considerações, hoje a maioria do, do

material, o e-book também permite (+) e essa saída do que que, que esses e-books

permitem, eu acho isso muito legal, porque’ (+) porque:: /.../ qual que é o exercício

normalmente que pelo menos eu faço, chego na bibliografia, é, referenciada no, no

capítulo, ou na obra e tal, eu vou lá, aí tem coisa que me interessa, porque eu sei que eu

quero ir à fonte às vezes onde o leitor buscou (+) então, é um tipo de exercício que me/

que vai fazer com que eu vá até a, a internet e busque isso pra depois ver se vou adquirir,

se não vou, se me interessa realmente ou não (+) é, o e-book facilita um pouco isso porque

às vezes ele acelera essa tua ida à fonte, entendeu’ (+) eu acho isso muito legal assim, eu

acho muito interessante, agora há que se ter um cuidado para também não abrir demais o

leque senão depois dificulta mais ainda a integralidade da, da compreensão que você tá

querendo daquilo que você tá lendo, né’ (+) aí é todo um exercício que a gente tem que

fazer, mas é:: (+) eu, eu acho que é, é tranquilo assim (+) ah, é, o e-book no meu ponto de

vista requer um pouquinho mais de cuidado na hora de, da leitura, do acesso à informação,

do que o material impresso, vamos dizer assim, né’

P: certo (+) então podemos dizer que você vê essa característica do e-book positivamente’

G: com certeza,

P: /.../

G: /.../ é, esse, esse leque que abre com o e-book eu acho muito legal, só que a gente tem que

ter um cuidado, né’ (+) porque senão você se perde mesmo, né’ /.../

Leitor H

Ao ler um e-book, mesmo que a leitura seja hipertextual, a aluna consegue manter a

unidade do conteúdo, a compreensão geral, pois quando lê livros impressos, por exemplo,

também faz esse movimento de pesquisa para complementar o assunto. Cita inclusive uma

experiência recente de leitura de um e-book do Sistema Único de Saúde (SUS), que o seu

Page 120: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

118

professor lhe repassou e continha vídeos, hiperlinks, e outros conteúdos que faziam extrapolar

bastante a paginação original do material. Porém, explica que a compreensão geral do

conteúdo foi muito maior, pois teve acesso a outras fontes e mídias, e não somente à leitura

tradicional, razão pela qual gostou bastante da experiência.

Leitor I

Na primeira vez que acessou um e-book, o sujeito (professora da rede pública de

ensino) explica que sentiu grande estranheza, chegando até a questionar a livraria em relação

a isso, pois acreditava que o material estivesse com problemas, despadronizado. Foi então que

ela foi orientada sobre como funcionava a leitura daquele tipo de material, passando a

explorar, customizar, e compreender mais sua estrutura. Embora tenha havido essa

dificuldade inicial, o sujeito argumenta que após isso, conseguiu fazer a leitura, compreender

o assunto em sua completude, e que não sente mais aquela dificuldade, que decorria de estar

acostumada à leitura padrão (folhear, manusear o material impresso). Sobre a leitura de

caráter hipertextual, ela explicou que depende de seu interesse de leitura, mas que quando

decide fazer a leitura fora da sequência tradicional, explorar outras partes aleatoriamente,

consegue se movimentar com segurança, se orientar, e fazer um apanhado geral da sua leitura.

Leitor J

Com relação à leitura hipertextual, a aluna relatou que normalmente consegue

desenvolvê-la sem problemas, mantendo a compreensão geral do conteúdo e seu objetivo de

leitura, pois, quando lê um e-book, a finalidade é bem específica (leitura acadêmica), assim

como quando utiliza livros impressos para outros tipos de leitura (obras literárias). Trata-se de

uma relação bem diferente que a leitora estabelece com os materiais em questão.

4.3 As Atividades de Leitura de E-books

De acordo com o que foi descrito no item 3.4 (Contornos Metodológicos), após

realizadas as entrevistas, foi selecionada uma obra para que cada um dos sujeitos

desenvolvesse sua atividade de leitura, de modo que depois pudesse descrevê-la por meio de

um formulário eletrônico (APÊNDICE E). A seleção dessas obras para leitura foi realizada

pelos próprios sujeitos, mas, dentro de alguns limites: foi disponibilizada uma coleção digital

de e-books (APÊNDICE G) composta especificamente para o estudo. Além disso, procurou-

Page 121: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

119

se equilibrar o uso de diferentes recursos pelos sujeitos com diferentes níveis de formação,

pautando-se pelo atendimento do objetivo geral.

Dessa forma, o momento de seleção das obras para leitura permitia que os sujeitos

exercessem relativa autonomia e pudessem satisfazer seus interesses intelectuais ou de lazer,

pois a coleção apresentava uma variedade temática, linguística e midiática, expressa por meio

de 73 obras que haviam sido examinadas prévia e minunciosamente a fim de compor a

coleção digital (alguns e-books eram gratuitos, outros foram comprados em diferentes

plataformas). Um exemplo desses foi o item número 4, do APÊNDICE G, ou seja, o e-book

intitulado “A ditadura acabada”, de autoria do jornalista e escritor ítalo-brasileiro Elio

Gaspari, que foi adquirido por meio do aplicativo iBooks Store, para uso no aplicativo de

leitura iBooks, do iPhone (um dos dispositivos empregados na atividade). Trata-se de uma

obra clássica do autor, mas, em versão digital ampliada52

, contendo áudios e vídeos

incorporados ao e-book. Este foi o material de leitura selecionado por um dos sujeitos, que

demonstrou interesse pelo tema em questão, o qual, embora fosse de cunho histórico, remetia

à discussões políticas contemporâneas da realidade brasileira.

Nesse sentido, a seguir, são apresentados e discutidos os resultados dessas atividades

de leitura imersiva, colhidos a partir do formulário eletrônico de coleta de dados (APÊNDICE

E), e, em alguns casos, complementados pelas observações do pesquisador (notas de campo).

Como mostrado anteriormente, a segunda fase o estudo envolveu 10 sujeitos selecionados

conforme critérios pré-estabelecidos. Nesse sentido, embora em alguns momentos sejam

apresentados dados quantitativos, tais informações servem, principalmente, para subsidiar a

análise qualitativa.

Devido às diferenças referentes aos tipos de questões constantes no formulário

eletrônico de coleta de dados (APÊNDICE E), a apresentação das respostas é realizada

conforme a conveniência da análise e discussão dos dados. Em razão disso, os dados

referentes à primeira questão foram incorporados ao Quadro 10 (identificação dos leitores,

dos e-books e das partes exploradas pelos sujeitos, além da data da atividade). Convém

salientar que os leitores continuam sendo identificados conforme feito anteriormente (por

letras maiúsculas do alfabeto), sem nenhuma alteração.

52

Em língua inglesa, costuma-se empregar o termo “enhanced edition”, ou “enhanced version” (equivalente à

edição melhorada, ou versão melhorada, respectivamente), para descrever este tipo de e-book que agrega

outras mídias em sua estrutura, a fim de ampliar a interação, ou mesmo com o interesse de complementar o

material principal com conteúdos potencialmente relevantes para sua compreensão.

Page 122: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

120

O Quadro 10, a seguir, também se encontra ordenado como os anteriores, ou seja,

pelo nível de formação dos sujeitos, a fim de facilitar as discussões. A numeração constante

na primeira coluna foi mantida conforme os quadros dos APÊNDICES F e G, pois se refere à

identificação uniforme de cada e-book na lista da coleção digital. Quanto à segunda coluna,

optou-se por manter a descrição completa do material, conforme o APÊNDICE F, incluindo a

classificação analítica de cada e-book utilizado pelos leitores.

Quadro 10 – Características dos leitores e de suas atividades de leitura.

(continua)

N. DESCRIÇÃO GERAL DISPOSITIVO SOFTWARE DATA DE

ACESSO

CONTEÚDO

EXPLORADO LEITOR FORMAÇÃO

29

Referência:

CERVANTES SAAVEDRA, Miguel de.

D. Quixote: Vol. I. [S.l.]: eBooksBrasil,

2005. 308 p. v. 1.

Obs.: Digitalização da edição em papel de

Clássicos Jackson, Vol. VIII. Acessado

pelo sítio Domínio Público.

Classificação analítica: B

Dados complementares:

Idioma: Português.

ISBN: Não consta.

Formato: PDF.

Plataforma: Kindle para PC.

Assunto: Romance de aventura.

Notebook Kindle para

PC 24/05/2018

Prólogo e Primeiro

Capítulo, p.15 a 28 B Graduação

31

Referência:

CALVÃO, Leandro Dantas; PIMENTEL,

Mariano; FUKS, Hugo. Do e-mail ao

facebook: uma perspectiva evolucionista

sobre os meios de comunicação da

internet. Rio de Janeiro: UNIRIO, 2014.

317 p.

Classificação analítica: M

Dados complementares:

Idioma: Português.

ISBN: 978-85-61066-50-5.

ASIN: B00NBJD0WC.

Formato: Não consta.

Plataforma: Kindle.

Assunto: Cibercultura.

e-reader Kindle Kindle 07/06/2018

Capítulos 4 -

Seleção e 5 –

Ecossistema

H Graduação

9

Referência:

WILSON, Edward O.; RYAN, Morgan;

MCGILL, Gaël. E.O. Wilson’s life on

earth: plant physiology. [S.l.]: Wilson

Digital, 2014. 113 p. (Série E. O. Wilson’s

Life on Earth; v. 5).

Classificação analítica: A

Dados complementares:

Idioma: Inglês.

ISBN: Não consta.

Formato: Não consta.

Plataforma: iBooks.

Assunto: Biologia. Ciências da vida

IPhone iBooks 17/06/2018 Plants and people

Pág 94 J Graduação

Page 123: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

121

(continuação)

N. DESCRIÇÃO GERAL DISPOSITIVO SOFTWARE DATA DE

ACESSO

CONTEÚDO

EXPLORADO LEITOR FORMAÇÃO

28

Referência:

HILL, Symon. Criatividade: inovando e

aplicando no mundo empresarial. São

Paulo: Clube de Autores, 2009. 83 p.

Obs.: Acessado gratuitamente pelo sítio

do autor.

Classificação analítica: B

Dados complementares:

Idioma: Português.

ISBN: Não consta.

Formato: PDF.

Plataforma: Kindle para PC.

Assunto: Inovação.

Notebook Kindle para

PC

24/05/201

8

Os paradigmas e a

criatividade e

rompendo as

barreiras da mente

C Mestrado

21

Referência:

SADER, Emir (Org.). 10 anos de

governos pós-neoliberais no Brasil: Lula

e Dilma. São Paulo: Boitempo; Rio de

Janeiro: FLACSO Brasil, 2015. 384 p.

Classificação analítica: M

Dados complementares:

Idioma: Português.

ISBN: 978-85-7559-328-8.

ISBN: 8575593285.

ASIN: B017DXRTKK.

Formato: Não consta.

Plataforma: Kindle.

Assunto: Brasil - Política e governo.

e-reader Kindle Kindle 30/05/201

8

As mudanças

ocorridas nesta

primeira década do

século XXI

referente às

politicas de governo

dos presidentes Lula

e Dilma

D Mestrado

53

Referência:

MARTINS, Lígia Márcia; DUARTE,

Newton. (Org.) Formação de

professores: limites contemporâneos e

alternativas necessárias. São Paulo:

Edunesp: Cultura Acadêmica, 2010. 191 p.

Classificação analítica: M

Dados complementares:

Idioma: Português.

ISBN: 978-85-7983-103-4.

Formato: ePUB.

Plataforma: Kobo.

Assunto: Educação.

IPhone Kobo 30/05/201

8

O Legado do século

XX para formação

de professores

E Mestrado

73

Referência:

ORGANIZZE. 49 dicas fabulosas de

economia doméstica. [S.l.]: Organizze,

2014. 38 p.

Classificação analítica: M

Dados complementares:

Idioma: Português.

ISBN: Não consta.

Formato: Não consta.

Plataforma: iBooks.

Assunto: Economia doméstica.

iPhone iBooks 07/06/201

8 O livro todo I Mestrado

4

Referência:

GASPARI, Elio. A ditadura acabada.

Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016. v. 5.

Classificação analítica: A

Dados complementares:

Idioma: Português.

ISBN: 978-85-8057-947-5.

Formato: Não consta.

Plataforma: Kindle.

Assunto: Brasil - Política e governo.

iPhone iBooks 23/05/201

8

Campanha das

Diretas Já A Doutorado

Page 124: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

122

(conclusão)

N. DESCRIÇÃO GERAL DISPOSITIVO SOFTWARE DATA DE

ACESSO

CONTEÚDO

EXPLORADO LEITOR FORMAÇÃO

41

Referência:

ATALLA, Márcio. Sua vida em

movimento. 2. ed. São Paulo: Paralela,

2012. 112 p.

Classificação analítica: B

Dados complementares:

Idioma: Português.

ISBN: 978-85-6553-010-1.

ASIN: B009WWFJ12.

Formato: Não consta.

Plataforma: Kindle.

Assunto: Qualidade de vida.

Notebook Kindle para

PC

06/06/201

8

Item- Muito

trabalho, pouca

saúde

F Doutorado

39

Referência:

GENTIL, Paulo. Emagrecimento:

quebrando mitos e mudando paradigmas.

3. ed. [S.l.]: Paulo Gentil, 2014.

Classificação analítica: M

Dados complementares:

Idioma: Português.

ISBN: 1505710928.

ASIN: B00RECDROS.

Formato: Não consta.

Plataforma: Kindle.

Assunto: Emagrecimento.

e-reader Kindle Kindle 06/06/201

8

A obra trata do

problema da

obesidade nos dias

atuais, apontando as

implicações de

saúde para as

pessoas com

sobrepeso ou

obesas.

Contextualiza os

motivos para existir

esse problema de

ordem mundial

G Doutorado

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

A fim de relatar de forma contextual as atividades de leitura dos sujeitos, cujas

informações básicas foram incluídas no Quadro 10, inicialmente será apresentada uma síntese

das experiências individuais de cada leitor, para que, na sequência, sejam abordadas as demais

questões que foram exploradas por meio do instrumento de coleta de dados e de observações

pontuais. Entende-se que esse seja o procedimento adequado para apresentar os resultados do

estudo, de modo a proceder às análises e discussões com a clareza necessária.

A Atividade de Leitura Imersiva do Leitor A

O Leitor A escolheu um e-book para leitura classificado como altamente imersivo

(A), cujo título era “A ditadura acabada” (edição melhorada com áudio e vídeo), de autoria de

Elio Gaspari, um jornalista ítalo-brasileiro. O trecho explorado foi sobre a campanha das

Diretas já, e o material foi lido no aplicativo iBooks, em um iPhone. A imagem X, a seguir,

apresenta algumas partes desse material.

Page 125: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

123

Figura 3 – Capa e páginas 2 e 136 do e-book “A ditadura acabada” (volume 5), de Elio Gaspari.

Fonte: Imagens capturadas a partir do aplicativo iBooks (2018).

Trata-se de uma versão digital melhorada da obra editada anteriormente pelo autor

no formato impresso. O e-book foi lido pela leitora, que demonstrou interesse e curiosidade

em explorar seu conteúdo. Durante a atividade de leitura, o pesquisador verificou que houve

inclusive a reprodução de vídeos incorporados ao e-book, o que era esperado pelo

pesquisador, em se tratando desse tipo de material mais imersivo.

A Atividade de Leitura Imersiva do Leitor B

O Leitor B escolheu um e-book em formato PDF, e leu seu prólogo e primeiro

capítulo (um pouco mais de 13 páginas), sendo esta a parte que mais lhe despertou interesse

naquele momento e dentro do tempo disponível. A parte lida foi considerada satisfatória para

analisar a atividade, pois permitiu compreender o processo de leitura do material, que era o e-

book D. Quixote (volume 1), de Miguel de Cervantes, resultante da digitalização da edição

em papel da coleção Clássicos Jackson, volume VIII.

O e-book fora acessado gratuitamente pelo pesquisador no sítio Domínio Público53

,

que o incorporou à coleção após análise, juntamente com um conjunto de obras em formato

PDF. Foi disponibilizado para leitura em um notebook, por meio do software Kindle (versão

53

Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra

=17707>. Acesso em: 12 jan. 2018.

Page 126: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

124

para computador). Entretanto, como outras obras nesse formato, apresentava algumas

limitações: o projeto gráfico era básico, sem nenhuma sofisticação gráfica: não havia uma

capa, começava uma folha de rosto, seguida de um índice precário e do restante do material

digitalizado conforme o material original. Ficou evidente que este tipo de material privilegia o

conteúdo principal, e não a apresentação gráfica externa ou elementos adicionais, como um

sumário minimamente organizado e com hiperlinks.

Figura 4 – Páginas do e-book “D. Quixote” (vol. 1), de Miguel de Cervantes.

Fonte: Imagens capturadas a partir do software Kindle para PC (2018).

O material digitalizado como essa obra se equipara a uma fotografia do material

impresso: obedece à estética original de uma mídia diferente daquela na qual o material

digital está sendo lido. O e-book assim considerado cumpre sua função de objeto de leitura,

mas, não proporciona interatividade ao leitor, e sua imersão poderia decorrer mais do

interesse de leitura de um leitor assíduo por hábito, pouco se importando com o meio de

acesso. A classificação atribuída ao e-book na coleção digital foi B (baixa imersão).

É importante registrar que, como a aluna gostou bastante do material, ao final do dia,

o pesquisador lhe encaminhou uma cópia do arquivo PDF por e-mail para que pudesse

continuar sua leitura54

.

54

Observação registrada posteriormente à entrevista com o sujeito, como Notas de Campo.

Page 127: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

125

A Atividade de Leitura Imersiva do Leitor C

Para desenvolver a sua atividade de leitura imersiva, o Leitor C selecionou o e-book

intitulado “Criatividade: inovando e aplicando no mundo empresarial”, de autoria de Symon

Hill, um palestrante motivacional brasileiro especializado em autodesenvolvimento. O trecho

explorado foi o capítulo 2, denominado “Os paradigmas e a criatividade” (páginas 17 a 25) e

o capítulo 3, denominado “Rompendo as barreiras da mente” (páginas 26 a 30). A atividade

foi desenvolvida no notebook, usando a versão do software Kindle específica para este tipo de

equipamento. A seguir, são apresentadas algumas imagens do material em que o Leitor C

desenvolveu sua atividade de leitura:

Figura 5 – Capa e páginas do e-book “Criatividade: inovando e aplicando no mundo empresarial”, de Symon Hill.

Fonte: Imagens capturadas a partir do software Kindle para PC (2018).

O pesquisador havia acessado este e-book gratuitamente por meio do sítio eletrônico

do autor na internet55

, onde também se encontravam outras obras para download. Desse

modo, o material havia sido incorporado à coleção, à coleção após análise, juntamente com

outras obras em formato PDF. O material foi considerado de baixa imersão (B), pois, embora

possuísse apresentação gráfica e organização mais atrativa que o e-book D. Quixote (também

em PDF), por exemplo, os recursos que podiam ser utilizados para sua leitura eram básicos

(marcações, destaques, consultas internas e na internet), uma vez que esta versão do Kindle

não permitia a interação entre leitores, inclusive publicação de trechos em redes sociais,

55

Disponível em: https://www.symonhill.com.br/livro.

Page 128: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

126

independente de se utilizar um e-book em formato PDF ou em formato ePub. Além disso, a

versão do software não permitiria a execução de recursos interativos hipermidiáticos (áudio,

vídeos, animações), ainda que tais recursos tivessem sido incorporados originalmente na

produção do material.

A atividade de leitura imersiva ocorreu de forma off-line, e demorou

aproximadamente 15 minutos sendo que, no mesmo dia, o sujeito respondeu ao formulário

eletrônico detalhando a referida experiência. A realização da leitura sem uso da internet

decorreu de instabilidades no acesso à rede no equipamento em uso56

, e, nesse sentido, como

toda a coleção já havia sido disponibilizada previamente nos equipamentos destacados para o

estudo, considerando-se eventuais problemas desse tipo, não houve prejuízos à pesquisa, que

transcorreu normalmente.

A Atividade de Leitura Imersiva do Leitor D

O Leitor D era uma aluna do curso de mestrado, e sua atividade de leitura imersiva

envolveu o uso de um dispositivo específico para leitura, o e-reader Kindle. Na resposta ao

formulário eletrônico, a mesma descreveu o assunto pesquisado de forma genérica, e não

necessariamente partes da obra, pois tal descrição não correspondia ao título de nenhum

capítulo de forma direta ou indireta: “As mudanças ocorridas nesta primeira década do século

XXI referente às politicas de governo dos presidentes Lula e Dilma”.

Desse modo, ao escolher a obra para leitura, este sujeito não se deteve em trechos

específicos, mas nas questões gerais que o debate político e intelectual promovido pelo e-

book instigava, conduzindo sua atividade de leitura de forma abrangente e fragmentada (não-

linear), o que é característico da leitura imersiva. A seguir, são apresentadas algumas imagens

do material em que o Leitor D desenvolveu sua atividade de leitura:

56

Observação registrada posteriormente à entrevista com o sujeito, como Notas de Campo.

Page 129: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

127

Figura 6 – Capa e partes do e-book “10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil:

Lula e Dilma”, organizado por Emir Sader.

Fonte: Imagens capturadas a partir do dispositivo Kindle (2018).

Enfim, trata-se de um material de leitura moderadamente imersivo (M), com recursos

que extrapolam o simples ato de ler, estimulando a interação entre os leitores, pois, durante a

leitura, é possível destacar trechos que serão visualizados por outros leitores, e inclusive

encaminhá-los por e-mail ou publicá-los em redes sociais.

A Atividade de Leitura Imersiva do Leitor E

O Leitor E, uma aluna do curso de mestrado, escolheu para leitura o e-book

“Formação de professores: limites contemporâneos e alternativas necessárias”, organizado por

Lígia Márcia Martins e Newton Duarte. A atividade foi desenvolvida por meio do aplicativo

Kobo, da Livraria Cultura, tendo sido empregado o iPhone. O trecho que a leitura destacou ter

realizado a leitura, foi o capítulo 1, “O Legado do século XX para formação de professores”

que continha aproximadamente 20 páginas, a depender da customização do tamanho da letra

para leitura.

Page 130: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

128

Figura 7 – Capa e partes do e-book “Formação de professores: limites contemporâneos

e alternativas necessárias”, organizado por Lígia Márcia Martins e Newton Duarte.

Fonte: Imagens capturadas a partir do aplicativo Kobo, no iPhone (2018).

Como se observa, o presente e-book era uma obra moderadamente imersiva (M),

uma vez que o aplicativo permitia, além da leitura, a interação entre os leitores, como

destaques e compartilhamento de partes da obra. O sujeito, que durante a entrevista respondeu

que gosta de acessar materiais complementares a fim de ampliar sua leitura, demonstrou

bastante interesse por este tipo de material, e, em razão disso, posteriormente, o pesquisador

lhe explicou sobre alguns sítios eletrônicos onde poderia encontrar e-books gratuitamente.

Convém salientar que o e-book utilizado nessa atividade foi acessado gratuitamente pelo sítio

da Livraria Cultura e incorporado aos diversos dispositivos/equipamentos utilizados no

estudo, por meio do aplicativo Kobo.

A Atividade de Leitura Imersiva do Leitor F

Após sua entrevista, o Leitor F escolheu para leitura o e-book intitulado “Sua vida

em movimento”, de autoria do educador físico Márcio Atalla. A obra abordava questões

referentes à saúde e qualidade de vida e a parte escolhida para a atividade foi o capítulo 2

(Muito trabalho, pouca saúde), o qual estava com 11 páginas naquele momento, conforme a

configuração de tamanho de letra do software.

Page 131: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

129

Figura 8 – Capa e imagem da tela de leitura, do e-book “Sua vida em movimento”, de Márcio Atalla.

Fonte: Imagens capturadas a partir do software Kindle para PC (2018).

Como se observa na figura anterior, o material foi lido em um notebook (versão do

software Kindle para computador), e, mesmo sendo editado para o meio digital, não possuía

recursos interativos e hipermidiáticos. Assim, o e-book apresentava baixo grau de imersão

(B), mas, havia sido incorporado ao estudo por atender outros critérios, como por exemplo, a

diversidade temática, que permitisse ao leitor um pouco de liberdade em suas opções de

leitura.

Além disso, como era importante observar as experiências de leitura imersiva dos

sujeitos com os diferentes tipos de e-books, não era necessário se pautar apenas por materiais

altamente imersivos, partindo do pressuposto de que, no dia-a-dia, as pessoas não escolhem e-

books para leitura apenas por terem mais recursos hipermidiáticos ou por serem interativos,

questão essa que foi examinada na entrevista com esses mesmos sujeitos (dados no Quadro

10), e apoia essa argumentação. Portanto, a atividade transcorreu como esperado, e os

detalhes adicionais dessa experiência serão apresentados mais adiante, junto com os dados e

observações referentes aos demais sujeitos.

A Atividade de Leitura Imersiva do Leitor G

Tanto a entrevista quanto a atividade de leitura com o Leitor G se revelaram

produtivos para a pesquisa, haja visto que, como foi verificado durante a entrevista, este

sujeito possuía experiência de longa data com as TIC, utilizava e-books com frequência, e

Page 132: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

130

demonstrava criticidade a propósito da leitura imersiva, no que tange aos seus aspectos

positivos e negativos. Além disso, sua postura quanto à manutenção e utilização de livros

impressos ou e-books era razoavelmente lúcida.

Este sujeito correspondia a uma professora universitária, e o e-book que ela escolheu

para esta atividade tinha como título “Emagrecimento: quebrando mitos e mudando

paradigmas” de autoria de Paulo Gentil. O material foi lido no e-reader Kindle, sendo que no

formulário de coleta de dados a professora não apresentou um trecho específico que tenha lido

no e-book, mas uma visão geral do conteúdo da obra que explorou, conforme constante no

Quadro X.

Figura 9 – Capa e páginas do e-book “Emagrecimento: quebrando mitos e mudando paradigmas”, de Paulo Gentil.

Fonte: Imagens capturadas a partir do dispositivo Kindle (2018).

Desse modo, entende-se que, assim como o Leitor D, esse sujeito desenvolveu uma

leitura de cunho exploratório, não necessariamente restrita à partes delimitadas. Pelo fato de a

leitura envolver uso de um e-book moderadamente imersivo (M), bem como pela influência

dos assuntos vinculados ao material (saúde, obesidade, qualidade de vida), diferentes partes

podem ter despertado seu interesse, e como teve tempo suficiente para ler uma quantidade

significativa de conteúdo, as contribuições deste sujeito nas demais respostas poderão

contribuir para ampliar as análises.

Page 133: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

131

A Atividade de Leitura Imersiva do Leitor H

O Leitor H era uma aluna de graduação que escolheu como objeto de leitura o e-book

intitulado “Do e-mail ao Facebook: uma perspectiva evolucionista sobre os meios de

comunicação da internet”, de autoria de Leandro Dantas Calvão, Mariano Pimentel e Hugo

Fuks. As partes que a aluna leu dessa obra foram os capítulos 4 – Seleção, e, 5 – Ecossistema.

Além disso, convém destacar que o material era moderadamente imersivo (M) e foi lido em

no e-reader Kindle. Na sequência, constam imagens do referido e-book:

Figura 10 – Capa e páginas do e-book “Do e-mail ao Facebook: uma perspectiva evolucionista sobre

os meios de comunicação da internet”, de Leandro Dantas Calvão, Mariano Pimentel e Hugo Fuks.

Fonte: Imagens capturadas a partir do dispositivo Kindle (2018).

A leitura imersiva do Leitor H transcorreu normalmente, e, embora os dois capítulos

selecionados pela aluna possuíssem uma quantidade significativa de páginas (41 páginas, de

acordo com o tamanho da letra que estava durante a atividade), ela concluiu a sua leitura e

posteriormente respondeu ao formulário eletrônico, detalhando sua experiência. É importante

mencionar que a leitura desse e-book parecia fluir com naturalidade, devido à imagens,

quadros e gráficos que quebravam a monotonia daqueles conteúdos repletos de textos.

Page 134: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

132

A Atividade de Leitura Imersiva do Leitor I

O Leitor I era uma aluna de nível de mestrado e escolheu para leitura o e-book “49

dicas fabulosas de economia doméstica”, produzido pela empresa Organizze, que desenvolve

softwares e serviços na área de finanças pessoais e economia doméstica. Cabe salientar que

esta e outras publicações semelhantes são distribuídas gratuitamente pela empresa por meio

da iBooks Store, o que não implicou em custos ao pesquisador, assim como normalmente

facilita seu acesso por diversos leitores.

Após verificar o material, a aluna concluiu que conseguiria realizar sua leitura

completa ao final da entrevista, uma vez que não era muito extenso (38 páginas, conforme a

configuração de tamanho da letra no momento da atividade) e pelo fato de que ela havia

desenvolvido uma técnica de leitura dinâmica, que lhe era bastante útil em seus estudos57

. A

Figura X, a seguir, apresenta imagens referentes ao e-book, o qual havia sido classificado

preliminarmente pelo pesquisador como moderadamente imersivo (M):

Figura 11 – Capa e páginas do e-book “49 dicas fabulosas de economia doméstica”, produzido pela Organizze.

Fonte: Imagens capturadas a partir do aplicativo iBooks, no iPhone (2018).

Assim, este sujeito conseguiu desenvolver sua leitura imersiva normalmente, e em

seguida, preencheu o formulário eletrônico sobre a atividade em questão. Como observado em

sua entrevista, trata-se de uma leitora sinestésica, razão pela qual habitualmente prefere ler

livros impressos, e teve dificuldades em seus primeiros contatos com e-book, tendo

57

Observação registrada posteriormente à entrevista com o sujeito, como Notas de Campo.

Page 135: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

133

progredido bastante posteriormente. De fato, ela desenvolveu sua leitura imersiva com rapidez

e facilidade, explicou que havia gostado do tema, e, inclusive, respondeu a uma avaliação ao

final da obra (avaliação própria da empresa que produz o e-book, semelhante à avaliação de

aplicativos de smartphones).

A Atividade de Leitura Imersiva do Leitor J

O Leitor J, uma aluna de graduação, forneceu elementos importantes de análise por

meio de sua entrevista. Por questão de hábito, ela gosta de ler obras literárias em formato

impresso. Porém, ela tem preferência por e-books para leitura de obras acadêmicas,

considerando que são relações diferentes que se estabelece com o material de leitura. E,

embora não seja um material de sua área de formação, a aluna se interessou por um e-book de

cunho acadêmico para sua atividade de leitura, conforme roteiro que lhe fora apresentado.

O e-book selecionado estava em língua inglesa e era o quinto de 7 volumes da

coleção “E. O. Wilson’s life on earth” (o tema deste volume era “plant physiology”), de

autoria de Edward O. Wilson, Morgan Ryan e Gaël McGill. O e-book fora classificado

previamente pelo pesquisador como altamente imersivo (A), uma vez que atendia os critérios

correspondentes a esta definição (Quadro X) e tanto ele quanto as demais obras da mesma

coleção estavam disponíveis gratuitamente para download via iBooks Store. A seguir, é

apresentada uma imagem de partes desta obra:

Figura 12 – Capa e página 98 do e-book “E. O. Wilson’s life on earth: plant physiology”

(volume 5), de Edward O. Wilson, Morgan Ryan e Gaël McGill.

Fonte: Imagens capturadas a partir do aplicativo iBooks, no iPhone (2018).

Page 136: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

134

A parte escolhida pela aluna para sua leitura foi a seção 3, (Plants and people), que

compreendia as páginas 94 a 104, incluindo textos, imagens, vídeo (o qual foi reproduzido) e

testes simulados. O fato de já utilizar um iPhone e o aplicativo iBooks foi positivo para a

experiência. Entretanto, a aluna não imaginava que a obra estava à disposição gratuitamente, e

o pesquisador explicou como localizar esse e outros volumes da mesma coleção no

aplicativo58

. Assim, a aluna conseguiu desenvolver sua leitura com tranquilidade, para então,

poder responder ao formulário eletrônico.

Uma vez identificadas as experiências de leitura realizadas pelos sujeitos, entende-se

que se pode proceder à verificação de questões específicas e à análise mais aprofundada, no

que diz respeito ao que o presente estudo propôs.

4.3.1 Discutindo as Experiências de Leitura Imersiva

Ao se investigar teórica ou empiricamente a leitura de e-books, podem emergir várias

questões que vão desde a popularização das tecnologias, capacidades técnicas de

equipamentos, desenvolvimento de softwares para microcomputadores e dispositivos móveis,

implicações comerciais, jurídicas e editoriais, para citar apenas alguns caminhos mais amplos

pelos quais este assunto pode se estender.

Como este estudo possui um objetivo bem definido, seu percurso não se guiou por

essas vias. Contudo, algumas questões abrangentes necessitaram ser consideradas, a fim de

conhecer melhor a realidade investigada e de se desenvolver as análises com a profundidade

que o tema exige. Uma destas questões compreende o acesso às tecnologias e nesse caso, ao

conteúdo dos e-books.

Em termos de acesso, empregou-se, nesse estudo, dispositivos e equipamentos de uso

comum, conforme fora delimitado no capítulo 3 (O Percurso Metodológico). Porém, também

se preocupou com as especificidades técnicas para utilização de e-books, incluindo diferentes

aplicativos e softwares e o acesso à internet.

Desse modo, a segunda seção do formulário eletrônico visou identificar aspectos do

acesso do sujeito ao e-book selecionado para leitura. Como se trata de um acesso mediado

58

Observação registrada posteriormente à entrevista com o sujeito, como Notas de Campo.

Page 137: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

135

pelo pesquisador, ou seja, controlado, a apresentação desses dados não devem ser examinados

quantitativa, mas qualitativamente. Em síntese, os dados demonstram que o pesquisador agiu

conforme proposta metodológica, ou seja, equilibrando o uso dos diferentes instrumentos de

leitura pelos sujeitos.

Gráfico 6 – Equipamentos empregados na atividade de leitura.

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

Como se observa no Gráfico 6, os equipamentos foram distribuídos e utilizados de

forma equilibrada entre os sujeitos, durante suas atividades de leitura imersiva. Essa

organização inclusive levou em conta o nível de formação dos sujeitos, como se pode

verificar por meio do Quadro 5.

Como fora informado anteriormente, a preocupação em utilizar especificamente tais

equipamentos, se encontra no capítulo 3, tendo sido objeto de análise prévia. Convém,

portanto, reforçar que, por se tratar da leitura de e-books, cada equipamento possui

características particulares, que necessitam de atenção quanto à sua utilização pelos sujeitos.

O iPhone, assim como outros smartphones, atualmente integra diversas mídias e

serviços, sendo empregado inclusive para leitura de e-books. Por outro lado, o Kindle

compreende um dispositivo específico para leitura de e-books. Já o notebook é semelhante a

um microcomputador, mas com tecnologia portátil, embora sem tela sensível ao toque (touch

screen)59

. Por isso, a leitura de e-book nesse equipamento ocorreu de maneira convencional,

59

Nos últimos anos, algumas versões de notebook comercializadas no Brasil passaram a incluir a tecnologia

touch screen. Porém, para este estudo, considerou-se que seria mais adequado utilizar os equipamentos de uso

mais comum, ou seja, sem touch screen.

Page 138: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

136

com a interatividade do leitor com o objeto de sua leitura se dando por meio do uso teclado e

do touch pad, sendo a tela apenas um recurso de visualização e leitura.

Ainda quanto ao acesso, também se verificou junto aos sujeitos sobre a adequação

dos e-books utilizados em suas leituras, em se tratando da possibilidade ou não de uso de

internet. Embora os e-books e os equipamentos de leitura tenham sido selecionados

previamente, é normal que o acesso possa ocorrer com ou sem o uso de redes eletrônicas,

independente da pesquisa realizada. Contudo, os dados demonstram que os e-books utilizados

são preparados para serem lidos de forma on-line, off-line (incluindo conteúdos on-line), e

alguns de forma apenas off-line, conforme mostrado no Gráfico 7.

Gráfico 7 – Adequação do e-book para leitura, conforme o meio de acesso.

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

O modo de acesso ao e-book (via redes eletrônicas) não foi critério de composição da

coleção digital da pesquisa, uma vez que os softwares utilizados geralmente oferecem, além

do acesso on-line, a funcionalidade de download dos arquivos para equipamentos ou

dispositivos, a fim de que os usuários possam realizar suas leituras quando estiverem

desconectados da internet. Todavia, verificou-se que, alguns e-books que podem ser lidos de

forma off-line, oferecem a possibilidade de acessar conteúdos complementares, disponíveis na

internet, podendo ampliar a experiência de leitura dos usuários, sendo esta uma das questões

investigadas na entrevista.

Além disso, os e-books considerados moderadamente imersivos (M) e altamente

imersivos (A), dependeriam do uso de recursos interativos, possibilitando o compartilhamento

de trechos com outros leitores e, inclusive, a publicação de comentários em redes sociais,

Page 139: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

137

pois, como destaca Santaella (2014, p. 52), “quanto maior a interatividade, mais profunda será

a experiência de imersão do sujeito”. E, retomando Silva (2008, p. 70), “no contexto da

cibercultura, a interatividade manifesta-se nas práticas comunicacionais”, ou seja, pensar

sobre interatividade na cibercultura, implica em pensar em uma via de mão dupla em que

todos podem se comunicar com todos. Desse modo, a possibilidade de leitura de e-books de

modo off-line, se afirma como uma adequação importante diante das limitações eventuais de

acesso à internet. Entretanto, a possibilidade de acessar conteúdos on-line e também de

interagir com outros leitores conectados em rede, direta ou indiretamente, de forma sincrônica

ou assíncrona, consiste em um fator importante de envolvimento dos sujeitos com suas

leituras e para além delas, com o amplo ambiente virtual por meio do qual se conecta em

redes e comunidades.

Em seguida, solicitou-se que os leitores informassem se alguns dos elementos dos e-

books promoviam uma aproximação com a forma de livro impresso. Os aspectos

questionados eram a aparência, a estrutura, a navegação linear e a ênfase no texto escrito.

Tratava-se de uma pergunta de múltipla escolha, uma vez que, um determinado e-book,

poderia apresentar mais de uma dessas características ao mesmo tempo. Portanto, visando

evitar distorções, os dados resultantes não foram organizados de forma percentual, mas

apenas numérica, conforme constante no Gráfico 8, a seguir:

Gráfico 8 – Aproximação com a forma de livro impresso.

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

Observou-se que a ênfase no texto escrito e a aparência são os elementos mais

remetem aos livros impressos. Por outro lado, a estrutura e a navegação linear foram os

aspectos que menos estabeleceram aproximação com a forma de livro impresso. Desse modo,

Page 140: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

138

entre os e-books utilizados pelos leitores, todos possuíam algum elemento que os vinculava

com a forma de livro impresso. Por exemplo, enquanto uns apresentavam apenas o critério

“aparência” de livro impresso, a maioria apresentava mais de um desses elementos, sendo

que, inclusive, um dos leitores respondeu que o e-book que leu preenchia todos os critérios.

Essa questão revela a influência do livro impresso sobre a forma dos e-books,

instigando a reflexão sobre uma inquietação de cunho filosófico: seria possível haver um e-

book sem nenhuma aproximação com um livro impresso?

Considerando-se os e-books como produtos do desenvolvimento tecnológico dos

livros impressos, bem como a influência transformadora das tecnologias, poderia se esperar

que este objeto se distanciasse conceitualmente dos livros impressos. Porém, entende-se que a

influência cultural dos livros impressos, ainda os torna partes indissociáveis dos e-books,

impedindo qualquer tentativa de caracterizar estes como objetos inteiramente novos, ao

menos no momento presente.

Na quarta seção de perguntas havia uma questão que ampliava essa discussão.

Visando observar as funcionalidades identificadas pelos leitores, foram realizados

questionamentos sobre as ações semelhantes às do livro impresso, ações que não podiam ser

realizadas no papel e, sobre a presença de atividades lúdicas ou de aprendizagem.

Gráfico 9 – Ações semelhantes às do livro impresso.

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

Conforme se observa no Gráfico 9, o avanço da leitura é citado como ação

semelhante à do livro impresso pela maioria dos sujeitos. Isso evidencia que a organização

dos e-books deriva, em grande parte, de hábitos ligados à leitura de livros impressos. A

Page 141: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

139

simulação de transição de uma página de um lado para o outro e a continuidade tradicional da

sequência dos assuntos nas páginas subsequentes são exemplos que podem comprovar essa

questão. Além disso, o próprio aplicativo Kindle possui uma tela que simula a textura e

luminosidade de uma folha de papel, além de possuir recursos limitados apenas à atividade de

leitura. Por outro lado, também podem ser mobilizados argumentos contrários: o próprio

Kindle possui recursos que permitem fugir da sequência convencional de leitura, além

daqueles e-books que são bastante interativos e com pouco texto, podendo estimular o leitor a

seguir por outras rotas de leitura. Em todo caso, tal questão demonstra um olhar crítico dos

leitores em relação a essa experiência e requer a devia atenção.

Gráfico 10 – Ações que não podem ser realizadas no papel.

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

Como se observa no Gráfico 10, quanto às ações que não podem ser realizadas no

papel, destacam-se principalmente a ampliação de imagens e textos (zoom), seguidos pela

busca por trecho ou palavra, e também pela marcação automática do andamento da leitura.

Embora apenas o primeiro quesito apareça em destaque, convém ressaltar que a

funcionalidade de marcação automática do andamento da leitura se revelou um recurso

bastante útil, pois funciona inclusive entre diferentes dispositivos, de forma sincronizada,

como foi observado algumas vezes durante o estudo. Quanto à presença de atividades lúdicas

ou de aprendizagem, a maioria das respostas dos sujeitos apontou para a existência desses

recursos dentro da própria história do e-book, sendo este o aspecto mais expressivo, conforme

se observa no Gráfico 11, apresentado a seguir.

Page 142: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

140

Gráfico 11 – Presença de atividades lúdicas ou de aprendizagem.

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

Percebe-se com isso, pouca dependência de materiais externos para este tipo de

atividade. Um exemplo são os testes simulados existentes nos e-books da coleção “E. O.

Wilson’s life on earth” cujo quinto volume se constituiu no objeto de leitura do Leitor J. Os

exercícios simulados dessa obra consistem em atividades pontuais, em que o leitor responde a

uma pergunta e verifica a resposta, podendo refazer se preciso. Desse modo se encerra os

questionamentos compreendidos na seção 4 (Funcionalidades identificadas).

Na seção 5, foram examinadas as potencialidades do meio digital, quanto a:

interatividade, multimídia e interação entre leitores. No primeiro caso, verificou-se que a

multimídia acionada pelo leitor foi o principal elemento interativo, estando presente em 5 dos

10 e-books que foram lidos. Conforme se observa no Gráfico 12, a narrativa hipertextual e a

possibilidade de customização, presentes em apenas um e-book cada, foram as opções menos

presentes.

Gráfico 12 – Interatividade identificada na leitura de e-books.

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

Page 143: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

141

Em estreita sintonia com a questão anterior, também se questionou aos leitores a

respeito dos tipos de multimídia presente nos e-books. Conforme se observa no Gráfico 13, os

tipos mais comuns foram textos e cores, o que demonstra que a maior parte dos e-books

utilizados possui conteúdo principalmente textual, mesmo valorizando o aspecto visual.

Embora se considere a importância de e-books multimidiáticos, contemplando recursos que

proporcionem maior grau e imersão aos leitores, observa-se que a estruturação desses

materiais ainda é fortemente influenciada pela cultura impressa, de modo que a parte textual

se constitua no tipo de informação dominante no contexto dos e-books.

Gráfico 13 – Multimídia identificada na leitura de e-books.

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

A interação entre os leitores também corresponde a um elemento importante da

ecologia dos e-books, pois as tecnologias proporcionam novos mecanismos não apenas para

que os leitores tenham acesso a conteúdos multimidiáticos, como também para que possam

interagir ativamente no contexto social mais amplo em que inserem.

Primo (2000) propõe em seu estudo, dois tipos de interação: mútua e reativa. A

primeira é marcada por relações interdependentes e por processos de negociação, por meio

dos quais os interagentes podem construir inventivamente a interação, sendo mutuamente

afetados por ela. Por outro lado, a interação reativa desenvolve-se de modo linear, com forte

roteirização, ou seja, uma relação extremamente determinística, condicionada por atitudes de

estímulo-resposta, e liberdade controlada.

Page 144: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

142

Portanto, se esperava que os e-books pudessem promover uma interação de tipo

mútuo, e não apenas reativa, permitindo que seus leitores imersivos fossem além de relações

roteirizadas, da leitura básica do material, de ações de estímulo-resposta, ou seja, entendia-se

que os e-books também pudessem promover relações ativas entre os leitores imersivos

(interagentes), de modo que os comportamentos de uns pudessem afetar os de outros.

Gráfico 14 – Interação entre leitores identificada na leitura de e-books.

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

Como se observa no Gráfico 14, embora com dados discretos, entende-se que

algumas ações no sentido das interações mútuas são potencializadas por esses materiais,

especificamente no que se refere ao compartilhamento de trechos das obras e ao contato com

destaques (marcações) disponibilizados por outros leitores, uma vez que essas trocas de

informações se desenvolvem ao gosto dos leitores, podendo influenciar uns aos outros em

termos das experiências de leitura compartilhadas.

Além destas questões, também procurou se verificar a situação de alguns elementos

de usabilidade eventualmente presentes nos e-books, a partir dos cinco aspectos básicos de

usabilidade esperados de sistemas ou softwares: intuitividade, eficiência, memorização,

redução de erros e satisfação dos usuários (NIELSEN, 1993). Estes aspectos deram origem a

cinco questões específicas que foram respondidas pelos leitores, no contexto da seção 6, do

formulário eletrônico.

Nesse sentido, ao questionar os sujeitos a respeito da intuitividade da leitura imersiva

dos e-books, a maioria considerou que estes recursos se mostraram, de fato, intuitivos, isto é,

a interface de acesso facilitava o seu uso e a atividade de leitura. Para Nielsen (1993), entre os

Page 145: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

143

atributos que compõe a usabilidade, o mais importante é a intuitividade, pois, para que ocorra

alguma interação, a interface deve possuir características que facilitem sua utilização, tanto

por usuários básicos, quanto por usuários avançados, de modo que estes possam aprender seus

recursos de IHC de modo claro e objetivo.

Quanto ao critério da eficiência na utilização dos e-books para leitura, conforme

descrito pela maior parte dos sujeitos (6), os e-books puderam ser utilizados de forma

eficiente, ou, ainda parcialmente eficiente (3). Porém, um dos sujeitos criticou a ausência de

recursos, como por exemplo, a mudança de cores da página, pois, como tem problema de

visão, a página branca dificulta sua leitura. Atendo-se nessa questão, observou-se que o

software oferecia esse recurso para os e-books adquiridos pela sua plataforma, em formatos

específicos. Porém, o e-book que a aluna leu possuía arquivo em formato PDF, e embora o

software permitisse agregar os materiais nesse formato, não era possível alterar a

configuração de cor de fundo da página. Essa questão, embora pontual, chama a atenção para

a dificuldade de utilização de e-books em formato PDF, pois, nem todos os recursos dos

softwares podem ser aplicados aos diferentes tipos de materiais.

Quanto ao potencial de memorização, este, diz respeito ao tempo dispendido para

desenvolver alguma tarefa, ou, ainda, a capacidade dos usuários de reconhecer comandos e

ações específicas. Por essa razão, foi questionado aos sujeitos se a organização ou a estrutura

dos e-books eram de fácil memorização, de modo a poderem reconhecer ações específicas,

como por exemplo, para o avanço da leitura, para a exibição de vídeos e realização de

marcações. Nesse quesito, observou-se que os e-books possuíam grande facilidade de

memorização, oscilando entre a possibilidade de memorização total (8), ou parcial (2).

Também foi verificado junto aos sujeitos se os e-books possibilitam a prevenção de

eventuais erros, durante as atividades de leitura. Nesse sentido, considera-se erro, qualquer

ação que leve o usuário a não executar determinada tarefa, não se levando em conta os

possíveis impactos causados por diferentes tipos de erros (NIELSEN, 1993). No contexto dos

e-books, isso pode se traduzir por problemas como, o software não armazenar seu histórico de

leitura para prosseguimento, falha em sincronização, encerramento inesperado e travamentos.

Em síntese, compreende basicamente questões envolvendo os softwares de leitura, que podem

ser contornadas a fim de evitar problemas ao leitor, seja por meio de recursos de ajuda, design

de interface ou mesmo por meio de outros recursos que busquem antecipar possíveis situações

problemáticas. Mais da metade dos sujeitos respondeu positivamente a esse questionamento,

afirmando que os e-books possibilitavam a prevenção de erros totalmente (5), ou,

Page 146: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

144

parcialmente (2). Porém, observou-se com preocupação o fato de que os outros 3 sujeitos

avaliaram esse critério negativamente, uma vez que as TIC, em geral, são suscetíveis a

instabilidades, as quais não devem ser ignoradas.

Enfim, quanto ao último quesito avaliado no que tange à usabilidade, observou-se

um alto grau de satisfação entre os leitores, sendo que nenhum destes se demonstrou

insatisfeito: 8 se revelaram totalmente satisfeitos, enquanto que 2 se mostraram parcialmente

satisfeitos. A satisfação compreende uma característica diferente das anteriores e bastante

subjetiva, podendo variar conforme os gostos individuais dos usuários. Porém, a aplicação de

questionários e o uso de observações são técnicas que permitem avaliar essa característica

subjetiva, de modo a exercer menos influência sobre ela do que outras técnicas, como observa

Nielsen (1993). Nesse sentido, o pesquisador também constatou casos expressivos de

satisfação, como o Leitor J, que se interessou ainda mais pelos e-books semelhantes ao que

leu, o Leitor B, que demonstrou interesse de continuar a leitura e posteriormente o

pesquisador compartilhou o arquivo PDF por e-mail.

A seção 7 foi dedicada a examinar as características específicas da leitura imersiva

realizada pelos sujeitos, sendo, portanto, subdividida em sete outras questões, que se

detiveram nos seguintes aspectos específicos dessa leitura imersiva:

Atenção: o e-book capturou e manteve a atenção do leitor?

Compreensão: o leitor manteve a unidade do conteúdo explorado?

Uso de recursos multimídia: o leitor explorou recursos multimídias (animações,

vídeos etc.) e/ou interativos presentes no e-book?

Extrapolação I: o leitor adquiriu novas habilidades operativas tecnológicas?

Extrapolação II: o leitor conseguiu ampliar sua experiência de leitura com o e-

book?

Extrapolação III: acredita que tenha sido/seria possível apreender novas coisas ou

reformular alguns entendimentos em função do tipo de leitura realizada?

Extrapolação IV: com base no questionamento anterior, solicitou-se que o leitor

descrevesse brevemente alguma reflexão inédita ou diferenciada proporcionada

pela leitura praticada.

Page 147: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

145

Dessa forma, quanto ao primeiro item avaliado, a maioria dos leitores (8) relatou que

os e-books despertaram e mantiveram totalmente sua atenção durante suas atividades de

leitura, enquanto que os outros dois sujeitos também responderam de forma afirmativa, mas

parcialmente, sendo que um destes últimos justificou que a página de fundo claro dispersa sua

visão.

Captar e manter a atenção na leitura é um desafio quando se trata da utilização das

TIC, como se pôde observar por meio das entrevistas com esses mesmos sujeitos.

Dependendo do equipamento utilizado para leitura, essa atividade compete simultaneamente

com outros recursos potencialmente atrativos, que podem demover o leitor de seu objetivo.

Outras vezes, basta a falta de motivação do leitor para que a sua leitura perca interesse diante

de outros recursos eletrônicos, mesmo que não estejam diretamente vinculados a seu

equipamento de leitura. O trecho destacado a seguir, refere-se à entrevista do Leitor D, e

ilustra como a atividade de leitura pode ser comprometida pela influência dispersiva de outros

recursos:

D: /.../ é, com relação a e-book eu faço realmente/ faço sim a leitura, é:: eu vejo como uma

dificuldade, é:: de leitura do e-book, assim, às vezes você tá bem, lendo no computador e

aparece uma mensagem, aparece uma, um e-mail ali, alguém falando (+) você tem várias,

é:: (+) como eu posso dizer’ (+) tem várias, é:: como se tivesse várias pessoas ali

interferindo na tua leitura (+) enquanto você pode se desligar, se desligar ali do/ e pegar

somente um livro e ficar ali como se você tivesse desligado ali das mídias então /.../ eu

acho que, considero ali que às vezes eu me atrapalho um pouco na leitura dos e-books

porque eu acabo me distraindo com outros, então/ é, duas horas ali eu vi vinte páginas,

enquanto no livro mesmo eu teria lido muito mais, /.../

Türcke (2015) explica que a produção cultural contemporânea é composta de

imagens espetaculares as mais diversas, apresentadas de forma rápida e fragmentada. Para o

filósofo, as mídias impressas tiveram que se adequar à lógica da produção audiovisual

vigente, uma vez que os produtores culturais estão cientes de que as pessoas estão cada vez

mais dispersas, e não se prendem, por muito tempo, a grandes cargas informacionais. É nesse

contexto que, segundo o autor, se manifestam os sintomas de um déficit de atenção.

Page 148: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

146

Esse espectador representa o regime de atenção do choque imagético, e dita o

modelo até para o leitor de hoje, mesmo o leitor intelectual. Cada produto impresso,

se quiser ser observado, precisa se comportar de modo semelhante a uma imagem

fílmica diante do olho. Nas últimas duas décadas, todos os grandes jornais estão

cada vez mais parecidos com as revistas ilustradas. Sem fotos grandes eles não

podem mais concorrer. Toda a diagramação supõe que ninguém tem mais

concentração e resistência suficientes para ler um texto da primeira à última página,

linha por linha. (TÜRCKE, 2015)60

.

Embora a questão avaliada anteriormente ateste uma situação positiva, não se pode

ignorar este cenário, mas antes tentar entendê-lo, pois, a situação relatada pelo Leitor D,

reflete um pouco dos problemas a que muitos leitores estão sujeitos. Desenvolver a leitura de

forma concentrada é uma técnica sob constante ataque midiático, cabendo ao leitor, mesmo o

imersivo, desenvolver esta concentração de forma crítica, com clareza do conteúdo que lhe é

realmente relevante.

Além disso, os sujeitos do estudo relataram alto nível de compreensão dos conteúdos

de sua leitura, sendo que 7 afirmaram que mantiveram a compreensão total do conteúdo lido,

enquanto que os outros 3 informara ter obtido uma compreensão parcial.

Esse tema, em particular, já havia sido questionado anteriormente, como a última

pergunta da entrevista participante. Naquela ocasião foi reforçado o potencial que os e-books

possuem de promover uma leitura de tipo fragmentada, não-linear, hipertextual61

. Assim,

havia sido questionado aos leitores, se, quando eles desenvolviam suas leituras imersivas,

conseguiam manter a compreensão geral do que estavam lendo, ou seja, a unidade do

conteúdo. Conforme respostas individuais detalhadas no item 4.2.4, em geral, os sujeitos

revelaram capacidade de manter essa compreensão, corroborando as respostas atuais que

foram obtidas após a atividade de leitura imersiva e não apresentou divergências

significativas.

Quanto ao uso de recursos multimídia em suas atividades de leitura, a grande maioria

(8), não explorou animações, vídeos, áudios e outras multimídias interativas eventualmente

presentes nos e-books que utilizaram. Ou seja, apenas dois leitores fizeram essa exploração,

60

Não foi possível fazer menção à paginação de onde foi extraído o texto citado, por não existir esta informação

no material consultado, cujo acesso era exclusivo em meio eletrônico, não sendo estruturado em páginas e

outras partes semelhantes. Disponível em: <https://www.revistaserrote.com.br/2015/06/cultura-do-deficit-de-

atencao/>. Acesso em: 12 jan. 2018. 61

O motivo de se fazer uma questão relativamente parecida, foi justamente a atividade de leitura situada entre

essas duas questões, podendo vir à tona observações úteis à pesquisa.

Page 149: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

147

sendo que um explorou parcial e o outro totalmente. Trata-se de um indicador aquém do

esperado, mas que não poderia ser totalmente evitado, a menos que fossem modificados os

procedimentos da pesquisa, mas, isso acarretaria em uma análise prejudicada, ao final do

estudo, uma vez que não se pode considerar que os leitores utilizem apenas e-books que

contenham recursos altamente interativos (A) no dia-a-dia.

O Quadro 11, a seguir, apresenta a distribuição dos leitores conforme seu nível de

formação e o potencial de imersão dos e-books por eles utilizados. Percebe-se que apenas dois

sujeitos selecionaram materiais altamente imersivos (A). Ao se analisar as respostas

individualmente, verifica-se que foram esses mesmos sujeitos (Os Leitores A e J) que

utilizaram os dois e-books contendo recursos multimídia, sendo evidenciado que os demais

não fizeram uso justamente pelo fato de que os e-books por eles selecionados, não possuíam

tais recursos. Por essa razão, se torna relevante analisar os dados qualitativamente, para não se

incorrer no erro de afirmar que poucos utilizariam tais recursos.

Quadro 11 – Distribuição dos leitores conforme o nível de formação e o potencial

de imersão dos e-books.

POTENCIAL

DE IMERSÃO

LEITORES TOTAL

Graduação Mestrado Doutorado

Baixo (B) Leitor B Leitor C Leitor F 3

Moderado (M) Leitor H Leitor D Leitor E

Leitor I

Leitor G 5

Alto (A) Leitor J Leitor A 2

TOTAL 3 4 3 10

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

Também foi questionado aos sujeitos se os mesmos haviam adquirido novas

habilidades operativas tecnológicas. Nesse ponto, buscou se verificar, separadamente, a

aquisição ou desenvolvimento desse tipo de habilidades, a fim de não confundi-las com as

aquisições mentais decorrentes de formas e conteúdos agregados pela leitura imersiva. A esse

respeito, observou-se um peso um pouco maior nas respostas afirmativas, prevalecendo os

que assumiram que a experiência lhes agregou tais habilidades, de modo parcial (4) ou total

(2). De outro lado, 4 dos sujeitos responderam que a leitura imersiva realizada não implicou

na aquisição das referidas habilidades.

Page 150: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

148

Como estes sujeitos já haviam utilizado e-books desde antes da pesquisa, a apreensão

de novas habilidades tecnológicas era uma condição facilitada pelo perfil desses indivíduos, e

o fato de que quase a metade não tenha adquirido novas habilidades operativas não os coloca

em desvantagem, pois esta questão não se prestava a uma comparação simplista polarizada,

mas a examinar a eventual aquisição de habilidades tecnológicas separadamente das

aquisições relativas ao conteúdo da leitura.

Além disso, o rápido desenvolvimento das TIC e a chegada constante ao mercado de

novos produtos e serviços tecnológicos desafia constantemente as pessoas a adquirirem novas

técnicas e habilidades. Dito isso, há que se considerar ainda que o critério examinado nesse

ínterim está relacionado ao ato de “extrapolar” as atividades convencionais de leitura por

meio do emprego das TIC, o que se emaranha com a problemática do próprio letramento

digital, pois a leitura de e-books envolve, para além de textos, a interação com um conjunto de

recursos audiovisuais conjugados por várias semioses, integrando gêneros textuais híbridos e,

por vezes, complexos.

Ser letrado digital pressupõe [...] mudanças nos modos de ler e escrever os códigos e

sinais verbais e não verbais dispostos na tela do computador. Além disso, é preciso

desenvolver competências para usar os equipamentos digitais com proficiência e, ao

mesmo tempo, compreender que as atividades de leitura e escrita se revestem de

diferentes abordagens pedagógicas que exigem dos envolvidos no processo

ensino/aprendizagem diferentes formas de atuação. (VIEIRA, 2013, p. 4).

Desse modo, percebeu-se que praticamente a metade dos sujeitos agregou algumas

habilidades operativas tecnológicas por meio de suas experiências de leitura imersiva,

integrando novas aquisições que contribuem para ampliar seus conhecimentos. Isso evidencia

que as aquisições cognitivas operam não apenas ao nível da interação com o conteúdo dos e-

books, como também com suas estruturas interativas, cuja manipulação ocasionalmente

demanda algumas competências, fruto de letramentos digitais imprescindíveis no contexto

contemporâneo.

A seguir, os sujeitos responderam se conseguiram ampliar suas experiências de

leitura com o uso do e-book, ou seja, se suas práticas e técnicas de leitura foram dilatadas,

permitindo compreender novas formas de ler e interagir produtivamente com seus “objetos”

de leitura, de modo que, até então, não fosse possível aos mesmos. Conforme se observa no

Gráfico 15, a metade dos sujeitos (5) informou que conseguiu ampliar totalmente sua

experiência de leitura, juntamente com outros 2 que informaram que ampliaram parcialmente

Page 151: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

149

essa experiência. Para o restante dos sujeitos nada foi agregado significativamente nesse

sentido, pois não se questionou a respeito do conteúdo dos e-books, mas sobre a atividade

prática de leitura.

Gráfico 15 – Ampliação da experiência de leitura com os e-books.

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

Nesse caso, ao questionar sobre a eventual ampliação da experiência de leitura dos

sujeitos, o termo “experiência” não foi empregado como sinônimo de atividade prática.

Partiu-se do pressuposto de experiência como sinônimo de “conhecimento das coisas”,

adquirido por prática ou por observação, conforme definido no Dicionário Michaelis (2015).

Desse modo, esse quesito objetivou verificar se os leitores imersivos adquiriram novos

conhecimentos em torno de suas práticas de leitura, ou seja, se a experiência de leitura

imersiva dos mesmos se expandiu, modificou-se qualitativamente.

Já a questão seguinte, se dedicou às possíveis aquisições, devidas, especificamente, à

leitura dos e-books. Para tanto, questionou-se aos sujeitos se eles acreditariam que tenha sido

possível aprender coisas novas em função do tipo de leitura realizada (imersiva). Esse

questionamento levou em conta as características dos e-books e as possibilidades de interação

e de imersão, na perspectiva das aquisições que estes “objetos” podem proporcionar.

Desse modo, 8 dos sujeitos concordaram total (4) ou parcialmente (4) que tenha sido

possível aprender coisas novas ou reformular seus entendimentos em função da leitura de e-

books. Por outro lado, outros 2 responderam negativamente. Essa questão chamou a atenção

por conta das aquisições que os e-books possibilitam, haja visto que tais recursos envolvem

Page 152: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

150

uma forma de leitura diferenciada, embora ainda se observe, a influência da cultura impressa

na composição e estética de alguns e-books. Mas como poderiam ser tais aquisições?

Considerando-se que, nesse estudo, estas aquisições estão ligadas a conceitos,

significados que estão na base do desenvolvimento cognitivo, as mesmas compreendem novas

informações que possam ser incorporadas pelos sujeitos, ora ampliando os conhecimentos já

existentes (assimilação), ora reformulando-os (acomodação), de modo a ajustar seus

esquemas mentais a esses novos conteúdos e experiências, procurando manter um equilíbrio

entre esses dois processos (equilibração), conforme proposto por Piaget (2007).

Entretanto, compreende-se que informações ou constatações aleatórias, não

equivalem necessariamente à aquisições, uma vez que elas devem comportar um sentido, uma

estrutura ou outro elemento que permita ao leitor incorporar uma aprendizagem em função de

sua experiência de leitura.

Quando se questionou aos leitores sobre a possibilidade de ampliação de sua

experiência de leitura a partir dos e-books, bem como sobre a possibilidade de aprenderem

coisas novas a partir de suas atividades de leitura (Gráfico 15), estavam sendo abordadas

eventuais aquisições, pois essas se inserem na subjetividade dos sujeitos. Além disso, no caso

da leitura imersiva, estão sendo consideradas as aquisições pela forma e pelo conteúdo da

experiência, uma vez que em última instância, ambas podem colaborar para a formação de

novos conhecimentos.

No interesse de identificar essas aquisições, em seguida, pediu-se que os sujeitos

descrevessem brevemente alguma reflexão inédita ou diferenciada, se fosse o caso,

proporcionada pela leitura imersiva praticada. Uma reflexão inédita implica em um tipo de

operação cognitiva singular, decorrente das alterações do conhecimento e/ou,

consequentemente, das estruturas mentais dos sujeitos. Desse modo, além da possibilidade de

manifestarem eventuais aquisições, os leitores foram estimulados a trazê-las à tona.

As diferentes respostas obtidas para este questionamento estão destacadas a seguir,

transcritas literalmente conforme extraído do formulário eletrônico. Os sujeitos foram

identificados pelas mesmas letras do alfabeto que haviam sido utilizadas anteriormente.

A: A leitura hipertextual sempre favorece a compreensão do que se está lendo, com outras

ideias, outros cenários, outras percepçoes sobre a questão.

Page 153: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

151

B: "Encheu-se-lhe a fantasia de tudo que achava nos livros, assim de encantamentos, como

pendências, batalhas, desafios, feridas, requebros, amores, tormentas, e disparates

impossíveis; e assentou-se-lhe de tal modo na imaginação ser verdade toda aquela

máquina de sonhadas invenções que lia, que para ele não havia história mais certa no

mundo" p.27.

Esse foi o momento da breve leitura realizada que mais me chamou a atenção, porque o

capítulo fala da loucura em que D. Quixote se encontrava devido a leitura excessiva de

livros, que ele começou a fantasiar tudo, inclusive o seu nome e de sua amada. Ele se

encantou tanto com os livros (romances) de cavalaria, que queria transformar sua

realidade em um.

Isso me assemelha muito ao meu contato com a leitura, no sentido de que os livros são

meu refúgio da realidade, amo fantasias, e muitas vezes prefiro mesmo fantasiar a

realidade do que vivenciá-la. (não tenho uma saúde mental boa, tenho alguns problemas

como depressão e ansiedade, etc. e a leitura é pra mim essencial para me ajudar a lidar

com a realidade, porém, fantasiando-a).

C: A educação não nos ensina pensar de forma criativa, e que conforme vamos ficando mais

velhos mais nossa criatividade diminui devido os paradigmas que criamos no percurso da

vida.

E: Facilidade das mídias digital ; e diversidade exploratória de temas e assuntos em diferentes

contextos.

F: Faz um tempo que não leio pelo Kindle, e vejo como a navegação é facilitada no notebook.

Vou retomar algumas leituras pelo notebook/Kindle.

G: Em se tratando da questão da obesidade no mundo, a discussão aponta existir na condição

humana de hoje, a mesma condição metabólica já existente nos nossos ancestrais, este é

um fator que não teve mudança. Entretanto as condições alimentares e modos de vida

mudaram, implicando diretamente para que a obesidade hoje se coloque como um dos

Page 154: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

152

problemas de grande importância uma vez que afeta em vários aspectos a saúde de

crianças e adultos. Nos últimos trinta anos a aquisição de sobrepeso se deu em ritmos

alarmantes o que mostra quão acelerado está o processo de obesidade, se colocando hoje

como um problema de saúde pública.

H: O texto apresentou uma reflexão intrigante no que diz respeito a seleção, em sistemas

gratuitos, no qual os usuários não pagam pelo acesso, o usuário é o próprio produto.

I: O livro foi muito agradável de ler e compreender. O interesse pelo título foi mesmo a

curiosidade e saber como podemos organizar melhor nossas finanças.

Conforme se observa, as respostas foram bem variadas, relativamente dentro do

esperado, em vista da subjetividade que a atividade de leitura comporta. Contudo, um olhar

mais crítico e qualitativo, procura extrair dessas exposições os aspectos que possa de fato se

traduzir por aquisições, senão, as próprias aquisições:

Leitor A: este sujeito respondeu que conseguiu ampliar sua experiência de leitura, a

partir do uso do e-book, de forma total. No que se refere à apreensão de coisas novas

ou à reformulação de alguns conhecimentos em função do tipo de leitura realizada, o

sujeito também respondeu afirmativamente, de forma parcial, cabendo ressaltar que o

e-book por ele utilizado possuía potencial de imersão moderado (A). Assim, embora

sua explicação na questão seguinte não tenha permitido identificar claramente a

aquisição ocorrida, suas palavras evidenciaram a ocorrência dessa função, em virtude

da compreensão diferenciada possibilitada pela leitura imersiva e de caráter

hipertextual, a qual remete a outras ideias, cenários e percepções sobre o conteúdo da

leitura. Nesse sentido, tais respostas são consideradas positivas, embora não tenham

sido destacadas quais aquisições se sucederam, sendo que, deixar de responder

quaisquer das questões é algo facultado a todos os sujeitos do estudo. Embora

informações importantes possam ser deixadas de fora, cabe ao pesquisador detalhar a

situação e adotar uma postura produtiva a partir das informações disponíveis.

Page 155: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

153

Leitor B: este sujeito manifestou uma aquisição cognitiva obtida por meio de sua

experiência de leitura imersiva, mas, sua participação na pesquisa, como um todo, foi

bastante produtiva. Como se observou desde sua entrevista, trata-se de uma leitora

bastante ativa e que apenas em 2018 já havia lido trinta e quatro livros, entre obras

impressas e e-books. Normalmente, a maioria dos livros que ela lê na forma de e-

books possui teor acadêmico. Porém, a aluna selecionou uma obra literária para sua

atividade de leitura imersiva, o e-book D. Quixote (volume 1), um romance de

aventura, de baixo potencial imersivo (B). Nesse sentido, a mesma desenvolveu sua

leitura e, ao final, demonstrou ter gostado bastante, razão pela qual o pesquisador

compartilhou por e-mail com ela, os dois volumes que havia adquirido daquela obra

em formato PDF para o estudo. Como manifestado pela aluna, o personagem do

romance era um ávido leitor que, em sua loucura, começou a fantasiar a própria

realidade, pois gostava muito do ambiente imaginativo das histórias de aventura.

Essa situação de “fuga” da realidade por meio dos livros foi o elemento que o sujeito

encontrou em comum com o autor do romance, pois, por ter problemas psicológicos

de saúde, revelou que os livros também representam seu “refúgio da realidade”,

gostando muito de fantasias, de modo que, geralmente, prefere fantasiar a realidade a

vivenciá-la. Convém acrescentar que, ao ser questionado se havia conseguido

ampliar sua experiência de leitura com o e-book, o sujeito respondeu que “em

questão de conhecer e apreciar a obra literária brevemente, sim”. Essa questão

evidencia três pontos: a leitura parcial de uma obra inédita para o sujeito, a limitação

temporal da atividade e, as restrições para “ampliar” sua experiência de leitura, tendo

em vista as considerações apresentadas anteriormente sobre o e-book (formato PDF,

apresentação visual precária, folhas escaneadas que impossibilitam customização),

bem como sobre o software: quanto à “eficiência” no processo de leitura (critério de

usabilidade), o leitor explicou que esta, ocorreu apenas de forma parcial, pois, sentiu

falta de alguns recursos, como por exemplo, a mudança da cor de fundo da página, já

que ela tem problemas de visão e a página branca dificultava sua leitura62

. Nesse

sentido, com relação à experiência de leitura imersiva, portanto, quanto à forma,

independente das limitações, o sujeito conseguiu fazer uma leitura breve da obra

literária, tendo demonstrado interesse em prosseguir. Quanto à possibilidade de ter

aprendido algo novo em sua leitura (Gráfico 15), ela respondeu que sim,

62

O Kindle não permite alterar a cor de fundo da página de e-books em PDF que são agregados ao software

(versão para computador de mesa, notebook ou netbook).

Page 156: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

154

parcialmente. Ante todo esse exposto, conclui-se que a leitura imersiva desse sujeito,

favoreceu a seguinte aquisição cognitiva: a compreensão de que os livros (obras

literárias) podem contribuir para que alguns indivíduos contornem seus problemas

pessoais, inclusive psicológicos (saúde mental)63

. Dito isso, cabe detalhar outro

aspecto, qual seja, que essa aquisição ocorreu por assimilação, uma vez que o sujeito

afirmara que a leitura permitiu aprender coisas novas e/ou reformular alguns

entendimentos, de forma parcial (Gráfico 15). Ou seja, trata-se de incorporar novas

informações aos esquemas mentais existentes, sem necessariamente modificá-los.

Pode se supor que, embora inconscientemente, a aluna soubesse disso, em vista de

seu amplo histórico de leitura. Contudo, o contato com uma obra de conteúdo

inédito, com um exemplo específico64

e, inclusive os questionamentos realizados,

podem ter instigado a sistematização dessas informações, que foram posteriormente

assimiladas pelo sujeito, integradas à sua estrutura cognitiva. Desse modo, ao se

deparar com alguma situação análoga, entende-se que ela manifestará uma

compreensão particular e sistematizada a esse respeito, sem dificuldades.

Leitor C: este leitor acredita que conseguiu ampliar sua experiência de leitura a partir

do uso do e-book, de forma total. No que se refere à apreensão de coisas novas ou à

reformulação de alguns conhecimentos em função do tipo de leitura realizada, o

sujeito também respondeu afirmativamente, de forma total. Como exemplo, destacou

um argumento crítico a respeito da educação, que não prepara as pessoas para pensar

de maneira criativa, sendo que, a medida que elas ficam mais velhas, a criatividade se

reduz devido à ação de paradigmas que encontram no percurso da vida. Em

complemento, o sujeito destacou que: “a leitura no e-book facilita o acesso a uma

leitura mais dinâmica e interativa, interagindo com o texto e com as funcionalidades

que os recursos nos proporcionam”. Esse leitor demonstrou, portanto, que adquiriu

uma nova compreensão, especificamente sobre a fragilidade da educação em

promover pedagogicamente a criatividade, sendo essa a sua aquisição cognitiva.

63

Interessante mencionar a importância de um e-book, especificamente, cumprindo uma função “terapêutica”, a

qual não é nova em si, mas geralmente envolve uso de livros impressos. Na área da Biblioteconomia, a

biblioterapia tem como tese central que o ser humano, como criação contínua e em movimento constante,

"encontra suas forças no processo narrativo-interpretativo da atividade da leitura" (OUAKNIN, 1996 apud

CALDIN, 2001, p. 36). 64

Refere-se, especificamente, ao trecho destacado pelo sujeito a partir da história que leu.

Page 157: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

155

Leitor D: este sujeito respondeu que conseguiu ampliar sua experiência de leitura, a

partir do uso do e-book, de forma total. No que se refere à apreensão de coisas novas

ou à reformulação de alguns conhecimentos em função do tipo de leitura realizada, o

sujeito também respondeu afirmativamente, de forma total, cabendo ressaltar que o e-

book por ele utilizado possuía potencial de imersão moderado (M). Nesse sentido, tais

respostas são consideradas positivas, embora não tenham sido destacadas quais

aquisições se sucederam. Ademais, a postura adotada pelo pesquisador, nesse caso, é a

mesma que informado quanto ao Leitor A.

Leitor E: quanto ao Leitor E, este sujeito também respondeu que conseguiu ampliar

sua experiência de leitura, a partir do uso do e-book, de forma parcial. No que se

refere à apreensão de coisas novas ou à reformulação de alguns conhecimentos em

função do tipo de leitura realizada, o sujeito também respondeu que sim, de forma

parcial. O e-book utilizado nessa atividade tinha como título “Formação de

professores”, e a parte lida abordava o legado do século XX para a formação de

professores. Em termos de aquisições, o sujeito mencionou a facilidade de uso das

mídias digitais, a diversidade exploratória de temas e assuntos em diferentes

contextos. Preocupada com essas questões, informou ainda que precisa ser mais

disseminada a praticidade dos e-books em nível acadêmico e nas escolas públicas,

para o ensino médio, em sala de aula. Entende-se, que, por ser uma professora da rede

pública de ensino, sua aquisição represente uma inquietação em torno da melhoria do

ensino público, fruto não apenas do conteúdo da sua leitura imersiva (embora haja

relação), como também da sua interação midiática com o e-book, pois este pode

contribuir qualitativamente para as atividades de ensino-aprendizagem. Por essa razão,

sua aquisição se relaciona tanto à forma quanto ao conteúdo da sua atividade de

leitura, ou seja, os benefícios do uso das mídias digitais, como por exemplo, o e-book,

para a pesquisa acadêmica nas escolas públicas de ensino médio.

Leitor F: o sujeito respondeu que conseguiu ampliar sua experiência de leitura, a

partir do uso do e-book, de forma parcial. No que se refere à apreensão de coisas

novas ou à reformulação de alguns conhecimentos em função do tipo de leitura

realizada, o sujeito também respondeu que sim, de forma parcial. Por outro lado, como

aquisição, destacou uma constatação a respeito do uso do software Kindle (versão para

Page 158: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

156

PC), de que, como faz um tempo que não lia pelo Kindle, percebe como a navegação é

facilitada no notebook. Desse modo, explicou que iria retomar algumas leituras pelo

notebook/Kindle. Evidentemente, a aquisição mencionada, deve-se à sua experiência

de leitura imersiva, e não ao conteúdo da leitura. Ou seja, o sujeito já possuía o

dispositivo específico de leitura (e-reader) e sabia que poderia utilizar o software em

outros equipamentos. Porém, por meio de sua atividade, percebeu que a leitura no

notebook é mais facilitada, a ponto de planejar prosseguir algumas leituras nesse tipo

de equipamento. Além disso, também relatou que algumas funções não foram

utilizadas durante sua leitura imersiva, mas as conhece e não tem dificuldade de

navegação utilizando o referido software. A esse respeito, trata-se de informações

complementares, uma vez que o sujeito se deparou com algumas questões no

formulário eletrônico que não teve condições de responder por que não teria utilizado

os recursos citados, mas, isso não significa que o e-book não possibilitasse o uso de

tais funções.

Leitor G: embora este sujeito tenha apresentado suas reflexões quanto à leitura

praticada na penúltima questão do formulário eletrônico, convém destacar que, para

este sujeito não foi possível ampliar sua experiência de leitura, a partir do uso do e-

book, tampouco, foi possível aprender coisas novas ou reformular alguns

conhecimentos em função do tipo de leitura realizada. Várias são as questões que

poderiam justificar a ausência assumida de quaisquer aquisições, porém, não há

relevância em se conduzir pelo campo de especulações, as quais iriam agregar pouca

ou nenhuma qualidade às discussões.

Leitor H: este sujeito, por sua vez, respondeu que conseguiu ampliar sua experiência

de leitura, a partir do uso do e-book, de forma total, incluindo a aquisição de novas

habilidades operativas tecnológicas. No que se refere à apreensão de coisas novas ou à

reformulação de alguns conhecimentos em função do tipo de leitura realizada, o

sujeito também respondeu que sim, de forma total. Para este sujeito, “o texto

apresentou uma reflexão intrigante no que diz respeito a seleção, em sistemas

gratuitos, no qual os usuários não pagam pelo acesso, o usuário é o próprio produto”.

O e-book utilizado por este sujeito tinha como título “Do email ao Facebook”, e ela se

dedicou aos capítulos que tratavam de “seleção” e “ecossistema”. Percebe-se que a sua

Page 159: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

157

leitura envolveu questões bem contemporâneas, e nesse contexto, sua aquisição

compreendeu a lógica mercadológica dos softwares gratuitos, em que as empresas

comercializam os dados de navegação de seus usuários com seus anunciantes.

Retornando ao contexto das entrevistas, convém lembrar que este sujeito deu como

exemplo, sua experiência de leitura de um e-book produzido pelo SUS, por meio do

qual, desenvolveu sua leitura de forma bastante produtiva. Porém, convém sinalizar

que, em seus comentários complementares, a aluna reiterou o fato de que as

dificuldades de utilização dessas tecnologias pelas pessoas podem ser decorrentes das

condições de acesso e uso desses recursos desde a infância e adolescência. Esse

argumento se alinha às discussões envolvendo nativos e imigrantes digitais

(PRENSKY, 2001), e serão devidamente ampliados mais adiante.

Leitor I: para este sujeito, o livro foi muito agradável de ler e compreender, sendo

que, o interesse pelo título, deveu-se à curiosidade em saber como se pode organizar

melhor as finanças pessoais. Além desses comentários, acrescentou, ao final do

formulário, que o conteúdo possuía uma “linguagem muito bacana”. Porém, para este

sujeito, não foi possível ampliar sua experiência de leitura, a partir do uso do e-book,

tampouco, foi possível aprender coisas novas ou reformular alguns conhecimentos em

função do tipo de leitura realizada. Assim como outro caso semelhante, entendeu-se

que o mais produtivo seria evitar especulações desnecessárias a esse respeito.

Leitor J: o sujeito respondeu que conseguiu ampliar sua experiência de leitura, a

partir do uso do e-book, de forma total. No que se refere à apreensão de coisas novas

ou à reformulação de alguns conhecimentos em função do tipo de leitura realizada, o

sujeito também respondeu afirmativamente, de forma total, cabendo ressaltar que o e-

book por ele utilizado possuía potencial de imersão moderado (A). Nesse sentido, tais

respostas são consideradas positivas, embora não tenham sido destacadas quais

aquisições se sucederam. Ademais, a postura adotada pelo pesquisador, nesse caso, é a

mesma que informado quanto aos Leitores A e D.

A última questão, presente na seção 8 (complementação), tinha como objetivo que os

leitores incluíssem quaisquer observações consideradas pertinentes à pesquisa e que não

tivesse sido possível responder nas questões anteriores. Nesse sentido, cinco leitores

Page 160: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

158

apresentaram suas contribuições, algumas das quais foram comentadas anteriormente. Porém,

a seguir, será apresentada a transcrição integral, a fim de serem tecidas algumas

considerações.

C: A leitura no e-book facilita o acesso a uma leitura mais dinâmica e interativa, interagindo

com o texto e com as funcionalidades que os recursos nos proporcionam

E: Acredito que precisa ser maior disseminado a praticidade dos e-books em nível acadêmico

e nas escolas públicas para o ensino médio em sala de aula.

F: Algumas funções não foram utilizadas durante a leitura pelo Kindle/Notebook. Mas as

conheço e não tenho dificuldade de navegação utilizando o referido software.

H: Apesar do uso de e-book em comparação com o livro impresso ser mais viável

financeiramente. É necessário levar em conta o acesso a essas tecnologias, por parte destes

usuários. Tendo em vista que se não houve uma iniciação à tecnologia na infância e

adolescência, a resistência ao uso destes livros digitais, será muito maior, não pelo valor,

nem pela facilidade, mas pela falta de formação tecnológica.

I: A leitura foi fácil e compreensível. O conteúdo trouxe uma linguagem muito bacana.

Por meio dos comentários acrescentados por alguns dos sujeitos, várias questões

relevantes foram mencionadas, e, em virtude disso, merecem a devida análise. O Leitor B

reforçou o dinamismo e a interatividade que a leitura de e-books proporciona. Essa

interatividade consiste em um elemento fundamental dos e-books e da leitura imersiva.

Para Santaella (2004), basicamente, a interatividade compreende um processo por

meio do qual, duas ou mais coisas produzem efeito entre si ao trabalharem juntas. Porém, ao

abordar a interatividade reativa e a interatividade mútua, destaca que:

Page 161: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

159

Um produto, uma criação, um equipamento, uma obra de arte são de fato interativos

quando estão imbuídos de uma concepção que contemple complexidade,

multiplicidade, não-linearidade, bi-direcionalidade, potencialidade, permutabilidade

(combinatória), imprevisibilidade, etc., permitindo ao usuário-interlocutor-fruidor a

liberdade de participação, de invenção, de criação. (SILVA, 2000 apud

SANTAELLA, 2004, p. 154).

Ante o exposto, observa-se que esse tipo de interatividade (mútua), possibilita maior

engajamento dos leitores com suas leituras. Sabe-se que nem todos os e-books possuem um

alto limiar de interatividade, porém, os e-books mais interativos podem proporcionar maior

envolvimento dos seus leitores, diferentes experiências e novas aquisições.

O Leitor E reforçou a necessidade de maior disseminação dos e-books no meio

acadêmico e, inclusive, nas escolas públicas, em sala de aula. Infelizmente, o Brasil não

possui uma cultura de leitores, mas, muitas crianças, jovens e adolescentes têm à sua

disposição algum equipamento ou dispositivo para conexão à internet. Por outro lado, esse

público jovem nem sempre encontra no ambiente escolar, o apoio pedagógico necessário para

o desenvolvimento de suas competências tecnológicas, ou mesmo, no que se refere ao uso das

tecnologias com objetivos educacionais. Aliás, não raramente, os educandos possuem mais

domínio das tecnologias que muitos educadores.

Nesse sentido, fica evidente um descompasso entre a lógica das TIC e a lógica

escolar, gerando algumas tensões decorrentes da incorporação das tecnologias nas escolas,

como por exemplo, a crise de identidade dos professores e a sua função nos processos de

ensino-aprendizagem (ALONSO, 2008). Entende-se que contribuir para superação dessas

barreiras é uma responsabilidade de todo educador preocupado com o ensino público e de

qualidade.

O Leitor F utilizou o software Kindle no notebook em sua atividade de leitura de

leitura. Desse modo, destacou que embora não tenha empregado algumas de suas funções, as

conhece e não tem dificuldades de navegação. Esse sujeito demonstrou ter conhecimento

razoável de uso das TIC, e sua entrevista e atividade de leitura, assim como a de outros

leitores, agregaram bastante para a pesquisa.

Uma observação prudente foi apresentada pelo Leitor H. Embora tenha destacado a

viabilidade financeira de aquisição de e-books, também mencionou o fato de que muitas

pessoas não tiveram formação tecnológica na infância e adolescência, o que faz com que haja

resistência da parte dos mesmos em utilizarem e-books.

Page 162: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

160

Essa questão remete à Prensky (2001), cujos estudos abordam a situação dos nativos

e dos imigrantes digitais. O que muitas vezes se considera resistência, define-se em função de

características culturais e geracionais. Desse modo, as crianças, os adolescentes e os jovens

que já tenham acesso às tecnologias desde as idades mais tenras, normalmente são chamados

de nativos digitais, enquanto que os usuários que, em um dado momento da vida precisaram

interagir com essas tecnologias (idade mais avançada que o grupo anterior), tendo muitas

vezes que se adequar a elas, mesmo sem compreendê-las, esses são os chamados imigrantes

digitais. Ao que tudo indica, os sujeitos mencionados pelo Leitor H, se enquadram nesse

segundo grupo e merecem de fato atenção.

Enfim, o leitor I, acrescentou que o diálogo do e-book foi fácil e compreensível e que

o conteúdo proporcionou uma linguagem agradável. Estas questões se mostram satisfatórias,

pois reforçam a importância dos e-books no cotidiano, bem como possibilitam uma nova

visão a respeito dessas importantes tecnologias interativas.

Desse modo, conclui-se essa parte, que se dedicava à análise e discussões em torno

dos dados da pesquisa de campo. Entretanto, o estudo ainda requer uma contextualização

crítica, tendo em vista que o objetivo principal e as questões observadas necessitam de

algumas conexões, no sentido de verificar a tese proposta pelo pesquisador e outras

implicações. Portanto, nas considerações finais, a seguir, serão examinadas essas questões.

Page 163: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

161

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente estudo de pós-graduação em nível de Doutorado, me propus a investigar

como ocorre a leitura imersiva realizada com o uso de e-books, no que concerne às aquisições

cognitivas que emergem desse contexto. Tais questões decorrem da tese de que este tipo de

interação entre leitores e “objetos” de leitura, possibilita aquisições cognitivas distintas

daquelas que normalmente se desenvolve por meio da leitura de livros impressos.

Embora ciente das limitações deste estudo, entende-se que sua tese foi confirmada,

evidenciando que a leitura imersiva de e-books, produz interações e, portanto, aquisições

particulares. Dentre as implicações para a Educação, se encontra a compreensão de que os

processos pelos quais as pessoas aprendem no contexto contemporâneo, fortemente

atravessado pelas TIC, impõem que as tecnologias como os e-books, sejam consideradas

instrumentos potencializadores de novas aprendizagens, à luz das teorias do campo

educacional, para além da vulgarização implícita à denominação destes “objetos”, e mesmo,

para além da superficialidade de apelos midiáticos comerciais.

A fim de discorrer de forma organizada sobre as ponderações finais da pesquisa, este

capítulo foi subdividido em duas seções. Na primeira, é apresentada uma síntese dos

resultados obtidos, o que se faz necessário devido à dimensão do estudo e às diversas

observações. Na segunda seção, evidenciam-se alguns pontos de chegada da pesquisa, sendo

contextualizados alguns resultados e apresentadas outras considerações, inclusive abordando

limites e possibilidades relacionados à investigação.

A leitura de um e-book proporciona ao seu leitor imersivo uma experiência

diferenciada em termos daquilo que a tecnologia agrega e que o leitor coloca em prática nesse

processo, se afastando da relação objeto físico / leitura meditativa, em direção a uma relação

de tipo conteúdo digital / leitura imersiva. Essas questões, inscritas no contexto mais amplo da

TIC, possuem implicações culturais, midiáticas, tecnológicas, bem como educacionais.

Embora transitando entre essas fronteiras, é no ambiente educacional que o presente estudo

buscou examinar essas manifestações da cultura digital contemporânea.

A importância das tecnologias é por vezes ressaltada no discurso acadêmico, e, de

fato, a influência desses elementos contribui para novas práticas que podem beneficiar o

campo educacional. Porém, existe uma tendência em louvar o uso das TIC na escola, como se

isso representasse qualidade na educação. Seguindo no âmbito das preocupações teóricas, a

Page 164: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

162

prudência orienta que sejam evitados discursos recorrentes que ora tendem ao determinismo

tecnológico, ora tendem à visão instrumental dessas tecnologias (PEIXOTO; ARAÚJO,

2012).

Entende-se que a abordagem e a condução dos estudos, não seguiram por esses

caminhos, permitindo que as conclusões apresentadas sejam relevantes e sensatas. Foram

investigados contextos de uso dos e-books, mas não se pretendeu marginalizar os livros

impressos e a leitura meditativa, tampouco enaltecer a leitura imersiva por si só. Como se

observou no decorrer do estudo, e-books e livros impressos vêm dividindo espaço no seio dos

interesses individuais, mas, como a pesquisa envolvia leitura imersiva de e-books, seu

desdobramento se guiou por esses caminhos, no interesse de alcançar as respostas ao

problema suscitado. Assim, no interesse de reportar tais resultados, primeiramente, se

apresenta uma contextualização crítica dos trabalhos desenvolvidos.

5.1 Leitores, E-books e Aquisições Cognitivas: O Caminhar

As inovações tecnológicas contínuas e constantes contribuem para modificar

cotidianamente o ambiente das interações da cultura digital. Nesse meio, leitores e objetos de

leitura têm experimentado transformações qualitativas, mas, a forma pela qual se dá suas

interações também precisa ser examinada. Assim como as práticas de leitura são importantes

para se interagir com o mundo, as aquisições cognitivas são essenciais para que o ser humano

aprenda e evolua, convivendo em seu ambiente com autonomia e protagonismo.

Piaget (2007) já havia proposto a evolução natural-cognitiva da aquisição de

conhecimentos, conforme os quatro estágios por meio dos quais os sujeitos se desenvolvem.

Desse modo, em cada estágio, o sujeito evolui de um estado de completo desconhecimento do

mundo até o desenvolvimento da capacidade de conhecer o que está à sua volta, sendo que as

aquisições cognitivas se constituem em condições fundamentais de desenvolvimento.

No período sensório-motor, as aquisições envolvem a assimilação, principalmente, e

a acomodação. Em seguida, vem a aquisição da linguagem, no período pré-operatório. O

estágio operatório concreto envolve os esquemas para aquisição de elementos conceituais,

sendo que as principais aquisições cognitivas matemáticas compreendem a classificação e a

seriação, a multiplicação lógica e compensação simples. Enfim, no estágio operatório formal

Page 165: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

163

ocorre a transformação dos esquemas cognitivos operados concretamente, passando a ser

baseados na realidade imaginada. Surge, nesse momento, a abstração.

Conforme se observa, cada uma dessas fases de desenvolvimento também prepara as

bases para a fase posterior, de forma que as aquisições ocorridas em uma determinada fase se

constituam em pré-condição para a fase seguinte. Assim, cada estágio possui características e

possibilidades de crescimento da maturação ou de aquisições, mas não param por aí.

Independentemente do estágio em que os seres humanos se encontram, a aquisição

de conhecimentos segundo Piaget acontece por meio da relação sujeito/objeto. Esta

relação é dialética e se dá por processos de assimilação, acomodação e equilibração,

num desenvolvimento sintético mútuo e progressivo. O dinamismo da equilibração

acontece por meio de sucessivas situações de equilíbrio - desequilíbrio - reequilíbrio

que visam, por assim dizer, “dominar” o objeto do conhecimento que vai se

constituindo nesse processo. (ABREU et al., 2010, p. 363).

Em qualquer momento da vida os indivíduos estão sujeitos a novas aquisições,

podendo reformular seus conhecimentos, por meio dos processos de assimilação, acomodação

e de equilibração. Porém, o conhecimento não é algo pré-determinado pelas estruturas

internas dos sujeitos, por serem estas resultantes de uma construção efetiva e contínua,

tampouco pelas características pré-existentes dos objetos, as quais só são conhecidas graças à

mediação necessária dessas estruturas, que as enriquecem ao enquadrá-las. Todo

conhecimento, possui, portanto, um aspecto de elaboração novo (PIAGET, 2007), que surge

nessa interseção entre sujeito e objeto.

Desse modo, o presente estudo, cujo objetivo foi analisar a maneira pela qual se

desenvolvem a leitura de e-books e as aquisições proporcionadas por essa experiência,

também precisou levar em conta essa relação sujeito / objeto, pois, não se pressupõe que o

conhecimento esteja depositado nos leitores, tampouco que repouse nos e-books, mas que ele

surja a partir dessas interações. Nesse caso, as interações proporcionadas pela leitura imersiva,

consistiram em elementos de análise, e, entende-se, deram origem a algumas aquisições

pontuais.

Inicialmente, a pesquisa partiu do estabelecimento de uma caracterização geral dos

sujeitos (primeira fase do estudo), por meio da qual foram examinadas várias questões

genéricas e outras questões específicas, bem como estabelecidas as principais condições para

que se pudesse desenvolver a fase posterior, que implicaria em uma análise qualitativa mais

estrita.

Page 166: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

164

Assim, a partir de desenvolvimentos posteriores, foram selecionados 10 sujeitos

conforme critérios previamente estabelecidos, e teve segmento a segunda fase do estudo. Esse

momento envolveu entrevistas, observações e uma atividade de leitura, a qual foi conduzida

pelo pesquisador com a participação de todos os sujeitos. Tanto a primeira, quanto a segunda

fase do estudo se encontram descritos no capítulo 4, e, nessa ocasião, serão debatidas as

conclusões a que o presente estudo chegou.

A segunda fase do estudo foi a que teve o maior aprofundamento das análises, uma

vez que o momento precedente era mais genérico, além de representar um filtro para a parte

central da pesquisa. Desse modo, todas as entrevistas e observações coletadas foram

minuciosamente examinadas e organizadas a fim desenvolver satisfatoriamente as análises.

As entrevistas participantes foram desenvolvidas de forma objetiva, mas, como um

diálogo articulado em que o pesquisador questionava, esclarecia, apresentava uma explanação

inicial para estimular a interação, mas, principalmente, dava espaço ao entrevistado para que

ele desenvolvesse sua argumentação com tranquilidade. Nesse momento, foi possível

perceber características peculiares dos entrevistados, de modo que o pesquisador procurou

agir de acordo com o que considerava mais apropriado, visando realizar a coleta de

informações necessárias e respeitando a autonomia e o direito dos sujeitos. Por exemplo, um

dos sujeitos tinha dificuldade de se expressar, e suas respostas eram bem restritas, mas, à

medida que lhe eram oferecidos outros detalhes, o mesmo ia ficando mais a vontade para

responder aos questionamentos. De forma parecida, outro leitor conversava pouco, mas

suficientemente, pois era centrado e objetivo.

As entrevistas eram compostas por 3 partes principais: apresentação dos sujeitos,

questionamentos sobre as tecnologias e questionamentos sobre e-books e a leitura. Após as

transcrições, a primeira parte foi incluída nas análises com restrições, preservando-se a

identidade dos sujeitos. As informações sobre tecnologias, bem como sobre os e-books e as

leituras foram organizados separadamente, dentro do capítulo 4.

No que se refere ao aspecto tecnológico, foram reunidas algumas questões das

entrevistas e estabelecido um perfil tecnológico básico, identificando as habilidades e

características desses sujeitos. Esse perfil foi resumido no Quadro 6, e na sequência,

analisado, incluindo alguns trechos das entrevistas dos sujeitos que corroboravam as

discussões. Ao final, também foram destacadas as ideias predominantes dos sujeitos com

relação às tecnologias (Quadro 6). Conforme o perfil descrito, foram identificados os

primeiros contatos com as TIC e frequência de uso, as habilidades tecnológicas, questões de

Page 167: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

165

acesso às tecnologias, bem como o uso de redes sociais. Percebeu-se uma grande diferença de

idade no grupo como um todo (20 a 53 anos), e uma diferenciação etária crescente conforme a

progressão dos níveis de formação (o que era esperado). Com relação aos primeiros contatos

com as tecnologias, foram verificadas diferentes realidades, cujas situações algumas vezes se

revelaram bem díspares. Por exemplo, o sujeito do estudo com idade mais avançada

demonstrou uma visão crítica e compreensão distinta em relação às tecnologias e aos e-books.

Foram identificados sujeitos com perfis de nativos digitais e de imigrantes digitais

(PRENSKY, 2001). Entretanto, em geral, todos os sujeitos revelaram possuir habilidades

tecnológicas de nível intermediário, desde os mais jovens aos de idade mais avançada. Essas

questões se mostraram bastante úteis para o estudo, pois, embora a seleção dos sujeitos tenha

se pautado por alguns critérios, existem detalhes específicos que só poderiam ser melhor

verificados por meio de entrevista. Quanto às ideias dos sujeitos a respeito das tecnologias

(Quadro 7 e discussões posteriores), verificou-se uma compreensão ampla, mas, também,

relacionando esses recursos com as TIC, com ênfase na influência que as mesmas exercem no

cotidiano, seus benefícios e utilidade.

Quanto aos e-books e à leitura, foram identificadas as principais características dos

leitores e de suas atividades de leitura, com relação ao uso de livros impressos e de e-books

(Quadro 10). Todos os sujeitos, independentemente do nível de formação, eram leitores

frequentes. Quanto às preferências de leitura, as obras acadêmicas representaram as principais

opções, tanto na forma de e-books quanto de livros impressos. Por outro lado, embora todos

os sujeitos normalmente realizem a leitura de e-books, mais da metade declarou

espontaneamente que preferem ler livros impressos, por diversos motivos, como por exemplo,

hábito, saúde dos olhos e distrações com a leitura de e-book em computador. Além disso, as

principais motivações para a escolha de um e-book para leitura foram os custos envolvidos,

seguidos pela facilidade de acesso e gratuidade de alguns materiais. Quanto às ideias

predominantes dos sujeitos sobre os e-books, eles os classificam como um livro no formato

digital, acessado por meio de uma plataforma eletrônica, utilizando-se recursos eletrônicos

específicos. Foram consideradas as suas características, como por exemplo, portabilidade,

rapidez no acesso e capacidade de armazenamento de informações. A última pergunta da

entrevista questionava se durante suas leituras imersivas os sujeitos conseguiam manter a

unidade de suas leituras, uma vez que, devido ao caráter hipertextual, os e-books permitem

desenvolver uma leitura não-linear. Conforme respostas apresentadas pelos sujeitos, a maior

parte avalia positivamente estes recursos, sendo que apenas um dos sujeitos relatou ter muita

Page 168: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

166

dificuldade com a leitura de tipo hipertextual, devido às distrações. Além disso, outros

sujeitos descreveram que é importante ter alguns cuidados durante a leitura de e-books a fim

de não se perder em meio às possibilidades de rotas e à distração.

Na sequência, foram verificadas as questões referentes à atividade de leitura de e-

books, descrevendo-se, inicialmente, as experiências de cada um dos sujeitos. A distribuição

dos materiais e equipamentos entre os alunos ocorreu de forma equilibrada, considerando-se

também suas distintas formações. Com a apresentação dos gráficos, foram sendo expostas as

características básicas da pesquisa, em termos identificação, acesso, comparação dos e-books

aos livros impressos, identificação de funcionalidades, potencialidades do meio digital,

elementos de usabilidade, e características da leitura realizada, sendo esta a seção ligada

diretamente aos temas centrais da pesquisa.

A Figura 13, a seguir, reúne as imagens de todos os e-books que foram utilizados

pelos leitores e seu potencial de imersão. A classificação do potencial de imersão (Quadro 3)

foi um recurso elaborado para a pesquisa diante da frequente atividade de seleção e análise de

materiais, a qual requeria uma categorização que permitisse sistematizar a coleção de e-books

segundo determinados critérios, apoiando o cumprimento dos objetivos do estudo. Como a

classificação foi bastante útil, foi devidamente descrita entre os procedimentos

metodológicos.

Figura 13 – E-books utilizados pelos sujeitos e classificação do potencial de imersão.

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

Page 169: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

167

Com relação à segunda fase da pesquisa, foi produzida uma quantidade volumosa de

informações, compreendendo desde as entrevistas até observações das atividades de leitura.

As informações eram bastante úteis e necessitavam de atenção para a devida sistematização,

apresentação, análise e discussão. Dessa forma, após a discussão da maior parte das

informações obtidas pelo formulário eletrônico (conteúdos acompanhados de gráficos),

percebeu-se a necessidade de complementar essa descrição com uma análise mais condensada

dos resultados das atividades de leitura, atentando para as aquisições que o estudo procurava

verificar. Para uma compreensão mais ampla, as observações finais a que o estudo chegou

foram resumidas e organizadas no Quadro 12.

O referido quadro contempla três questões já apresentadas na forma de gráfico:

aquisição de novas habilidades operativas tecnológicas, ampliação da experiência de leitura

imersiva e, aprendizagem de coisas novas a partir da leitura imersiva. Além disso, foram

incluídas as aquisições oportunamente identificadas e já discutidas, além de outras

informações úteis para uma análise conjunta dos dados. Essa análise mais integrada foi a

justificativa para se apresentar de outra forma as 3 questões já exploradas.

Além disso, para uma análise mais aprofundada, foi incluída, no Quadro 12, uma

gradação de cores, representando os objetos com menos ênfase, intermediários e com maior

ênfase em suas respectivas categorias. A legenda de cores se encontra descrita em notas, logo

abaixo do Quadro 12. A ordenação do quadro foi realizada da mesma forma que os anteriores,

ou seja, conforme o nível de formação dos sujeitos.

Page 170: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

168

Quadro 12 – Leitores e suas aquisições, organizados conforme o nível de formação.

LEITOR POTENCIAL

IMERSIVO

HABILIDADES

OPERATIVAS

TECNOLÓGICAS

AMPLIAÇÃO DA

EXPERIÊNCIA DE

LEITURA

APRENDIZAGEM

DE COISAS

NOVAS

AQUISIÇÕES FORMAÇÃO

B B Não Sim (outro) Sim (parcial)

Compreensão de que os livros (obras

literárias) podem contribuir para que

alguns indivíduos contornem seus

problemas pessoais, inclusive

psicológicos (saúde mental).

Graduação

H M Sim (total) Sim (total) Sim (total)

A lógica mercadológica dos softwares

gratuitos, em que as empresas

comercializam os dados de navegação de

seus usuários com seus anunciantes.

Graduação

J A Sim (parcial) Sim (total) Sim (total) Não descritas. Graduação

C M Sim (parcial) Sim (total) Sim (total)

Entendimento de que a Educação, que não

prepara as pessoas para pensar de maneira

criativa, sendo que, a medida que elas

ficam mais velhas, a criatividade se reduz

devido à ação de paradigmas que

encontram no percurso da vida.

Mestrado

D M Sim (total) Sim (total) Sim (total) Não descritas. Mestrado

E M Sim (parcial) Sim (parcial) Sim (parcial)

Benefícios do uso das mídias digitais,

nesse caso, o e-book, para a pesquisa

acadêmica nas escolas públicas de ensino

médio.

Mestrado

I M Não Não Não Não ocorreram. Mestrado

A A Sim (parcial) Sim (total) Sim (parcial) Não identificadas. Doutorado

F B Não Sim (parcial) Sim (parcial)

Descobriu que a navegação no Kindle

(versão para PC), é mais facilitada no

notebook do que no dispositivo que

possui (e-reader).

Doutorado

G M Não Não Não Não ocorreram. Doutorado

Legenda: Menor ênfase: Intermediário: Maior ênfase:

Fonte: Organizado pelo pesquisador (2018).

Conforme se observa no Quadro 12, a primeira coluna a partir da esquerda identifica

os leitores, e a segunda coluna identifica o potencial imersivo dos e-books. Já as três colunas

seguintes, referem-se às três últimas questões do formulário com perguntas fechadas.

Considerando que as descrições e gráficos já foram apresentados anteriormente, nesse

momento serão destacadas as aquisições, para, a partir delas, apresentar algumas reflexões.

As aquisições observadas podem ser classificadas em dois grupos principais:

Aquisições quanto à forma: compreenderam coisas novas incorporadas pelos

leitores com base no “processo” de leitura imersiva, na experiência produzida, e não

em seu conteúdo (Leitores E e F);

Page 171: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

169

Aquisições quanto ao conteúdo: compreendem coisas novas que foram incorporadas

pelos leitores devido ao conteúdo lido, embora envolvam, necessariamente, o

processo anterior, sem o qual não seria possível entrar em contato com o conteúdo e

adquirir novos conceitos e significados (Leitores B, C e H).

Embora sejam relacionados, esses dois aspectos ficaram evidentes nas situações

descritas pelos sujeitos, e mesmo tendo sido observadas poucas ocorrências, de forma geral,

entende-se que é importante deixar claro estes aspectos distintos.

A leitura imersiva e os e-books podem proporcionar aquisições enquanto

empregados como processo ou meio para um fim. Nesse caso, as aquisições são construídas

por meio da interação entre sujeito e objeto, como por exemplo, o sujeito agindo sobre a

interface, alterando elementos, navegando e apreendendo estruturas, técnicas, roteiros e

acionando recursos interativos. Por outro lado, a relação com o conteúdo dos e-books

perpassa essa dimensão operativa sobre o objeto físico e estrutural, de modo que a operação

sujeito / objeto requer que se faça uso dos recursos técnicos, mas, as aquisições são

estabelecidas ao nível do conteúdo da leitura.

Ou seja, um leitor imersivo que esteja lendo um e-book, pode realizar aquisições ao

descobrir novas funcionalidades do objeto manipulável, bem como pode realizar aquisições a

partir de novas informações adquiridas sobre o conteúdo do e-book. O sujeito age sobre o

objeto, que nesse caso possui duas dimensões (uma estrutural e uma informacional), mas é um

objeto apenas, pois, o e-book requer o uso de equipamentos físicos, software, linguagens e

conteúdos em um só elemento.

Ambos os tipos de aquisições são relevantes para o estudo. Não se pensou em focar

apenas no conteúdo ou na experiência, pois não havia necessidade de tentar controlar

aquisições individuais (ainda que isso fosse possível), de forma que isso limitasse a liberdade

do leitor. Qual a diferença entre aprender como funciona um recurso desconhecido de um e-

book e descobrir uma novidade teórica no conteúdo desse e-book? Em outras situações existe

muita diferença, mas, para fins desse estudo, são aquisições cognitivas que demonstram a

maneira pela qual se processa a leitura imersiva de e-books.

Quanto às outras questões observadas, primeiramente, é importante destacar que os

Leitores A, D e J, informaram que, por meio de suas atividades, ampliaram suas experiências

de leitura e que aprenderam coisas novas, porém, os sujeitos não detalharam as aquisições

Page 172: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

170

envolvidas. Além disso, de todos os participantes, apenas dois informaram não ter havido

nenhuma aquisição cognitiva.

Uma questão importante é que o ser humano vive em constante aprendizado,

agregando novas aquisições, ampliando e/ou reformulando suas estruturas mentais, ou seja,

aprender é parte da vida, é uma exigência de sobrevivência. Já o conhecimento, portador de

uma base biológica, cumpre uma função de adaptação ao meio, sendo produzido a partir de

interações entre sujeito e objeto, dependendo desses dois ao mesmo tempo (PIAGET, 2007).

E, por sua vez, as aquisições cognitivas acontecem a todo instante, em diversos

lugares e situações vivenciados pelos indivíduos. Elas não ocorrem apartadas da experiência

individual, ou ainda, como se só pudessem surgir mediante circunstâncias especiais. Pelo

contrário, elas dependem da relação sujeito / objeto. O sujeito agindo sobre o objeto com sua

estrutura mental pode ampliar o seu conhecimento a partir dessas interações e das suas

aquisições.

Contudo, buscou-se verificar como essas aquisições se processam envolvendo os e-

books, ou seja, se a atividade de leitura imersiva possibilitaria novas aquisições e como

seriam as mesmas. Observou-se que essas aquisições podem ser variáveis e complexas. Em

alguns casos, a própria experiência do leitor com o software, aplicativo ou dispositivo de

leitura, já implica em algumas aquisições. A operação do e-book, o manuseio da tela, a

utilização de recursos específicos, e até mesmo a interação por meio da interface podem

favorecer outras aquisições, na medida em que o sujeito estiver agindo sobre o objeto.

Como se observa no Quadro 12, com exceção de apenas dois casos, os e-books

proporcionaram a ampliação da experiência de leitura, bem como o aprendizado de coisas

novas (aquisições), parcial ou totalmente. O desempenho mais modesto ficou a cargo do

aprendizado de novas habilidades operativas tecnológicas, pois, quase a metade dos sujeitos

afirmou que isso não ocorrera.

Quanto ao potencial de imersão dos e-books selecionados, aqueles itens de potencial

imersivo baixo (B), não agregaram nenhuma habilidade operativa tecnológica aos sujeitos.

Porém, os e-books em questão, proporcionaram a ampliação da experiência de leitura, bem

como aprendizagens de coisas novas (aquisições), de forma parcial. Os dois casos em que,

não ocorreram aquisições envolveram e-books de potencial imersivo moderado (M). Quanto

ao uso dos demais materiais dessa categoria, os sujeitos relataram ter adquirido novas

habilidades operativas tecnológicas, terem expandido suas experiências de leitura, bem como,

Page 173: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

171

novas aquisições em decorrência dessa atividade, parcial ou totalmente. Situação semelhante

ocorreu a partir da leitura imersiva dos e-books de alto potencial imersivo (A), com aquisições

totais ou parciais, embora não tenha sido possível identificá-las no discurso dos sujeitos.

Em síntese, no que se refere à observação da correlação entre e-books com

determinado potencial imersivo e a possibilidade de mais ou menos aquisições, as

observações não foram suficientes para sustentar essa argumentação, em primeiro lugar por

que os dois casos em que não houveram aquisições, os e-books possuíam potencial imersivo

moderado (M). Por outro lado, porque se observou que, mesmo e-books com potencial

imersivo baixo (B) podem produzir aquisições cognitivas interessantes. Além disso, houve

casos em que, embora os usuários tenham assumido que aprenderam coisas novas, não as

descreveram, o que impossibilitou de realizar alguma consideração mais ampla com todos os

sujeitos e situações experimentadas.

No caso dos diferentes tipos de formação acadêmica, ao final do estudo, essa

característica não implicou em resultados diferenciados de aquisições. Como se observa no

Quadro 12, o pesquisador teve o cuidado de que os materiais pudessem ser empregados de

maneira equilibrada (quanto ao potencial de imersão) entre os diferentes níveis de formação.

Essa mesma preocupação se estendeu às tecnologias envolvidas (Quadro 5). Algumas

observações sobre o perfil tecnológico desses sujeitos demonstraram algumas características

singulares, como por exemplo, a identificação de nativos e de imigrantes digitais (PRENSKY,

2001). Porém, guardadas as devidas proporções, ao final do estudo não se constatou que,

esses sujeitos estivessem mais ou menos propensos a determinadas aquisições em decorrência

do nível de formação acadêmica.

Ao se refletir mais sobre essas questões, é importante levar em conta que é a

necessidade de conhecimento do objeto que guia o sujeito a fazer, desde simples ações, até

operações sobre esse objeto. Assim, a aquisição de conhecimentos na perspectiva piagetiana

ocorre por meio da relação entre esses dois elementos, sujeito e objeto, a qual é dialética, pois

envolve os processos de assimilação, acomodação e equilibração, num desenvolvimento

sintético mútuo e progressivo. Ocorre ainda que o processo de equilibração envolve

sucessivas situações de equilíbrio – desequilíbrio – reequilíbrio, as quais visam que o sujeito

“domine” o objeto do seu conhecimento, que vai se constituindo (ABREU et al., 2010).

Page 174: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

172

Desse modo, embora não se tenha observado características suficientes envolvendo

objetos, sujeitos e suas aquisições que permitissem estabelecer determinadas correlações65

,

tais aquisições foram devidamente evidenciadas por meio da experiência de leitura imersiva,

e, se deram tanto em função das interações dos leitores com as tecnologias, quanto com o

conteúdo dos e-books. Entende-se que isso foi possível ao se considerar, de um lado a

importância das experiências desenvolvidas, e, de outro lado, a ação ativa dos sujeitos, sendo

que é nessa interface sujeito / objeto que o conhecimento surge: “se a experiência é fator

causal da aquisição, ela não é a única responsável, pois a atividade organizadora do indivíduo

participa necessariamente dessa aquisição” (DONGO-MONTOYA, 2009)66

.

5.2 Pontos de Chegada

A presente investigação permitiu contemplar o que fora proposto inicialmente nos

objetivos geral e específicos, os quais, compreendem importantes pontos de partida da

pesquisa científica. Foi investigada a maneira pela qual se processa a leitura realizada com o

uso de e-books, bem como foram evidenciadas algumas aquisições que os sujeitos tiveram

nesse percurso. Percurso este que, constituído metodologicamente, revelou questões

educacionais importantes a respeito dos e-books, da leitura imersiva e do contexto acadêmico

universitário.

Também nesse percurso, percebeu-se a importância de organizar instrumentos

próprios de análise, o que decorreu do ineditismo do estudo e da falta de alguns recursos mais

elaborados, embora haja na literatura alguma sustentação teórica. Por exemplo, a fim de

investigar na prática a leitura imersiva de e-books, foi necessário selecionar alguns e-books.

Isso reforçou a importância de se compor uma coleção digital que combinasse diversidade

temática, linguística e hipermidiática, instigando interesse de leitura nos sujeitos, e que seu

uso eventual fornecesse elementos importantes de análise. Daí decorreu que, essa coleção

deveria ser composta a partir de alguns critérios, e estes foram delimitados. Mas, um desses

critérios necessitava de fundamentação teórica mais consistente que permitisse fazer

determinadas escolhas e procedimentos com coerência.

65

Nesse caso, refere-se à correlações do tipo: potencial imersivo / aquisições; formação acadêmica / aquisições. 66

Paginação irregular. Pelo fato de o material citado corresponder a um e-book Kindle (conforme indicado na

sua referência), a paginação da obra não é fixa, variando conforme a customização de tamanho de texto

escolhida para leitura.

Page 175: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

173

Assim, a partir de alguns fundamentos teóricos, foi elaborado um instrumento básico

visando a segmentação dos e-books conforme o potencial de imersão dos mesmos, como

objeto de apoio para a seleção, inclusão dos recursos na coleção digital, bem como a

condução posterior dos estudos envolvendo uso dos materiais. Trata-se de um recurso básico

elaborado apenas para uso no estudo, mas essa sistematização evitou que se repetissem

consultas na literatura acadêmica além de análises repetitivas, otimizando o tempo e o

trabalho com os e-books. Esse esforço ilustra o quanto o percurso da pesquisa agregou

metodológica e qualitativamente ao conjunto do estudo.

A respeito das aquisições, observou-se que elas ocorrem nos diferentes momentos do

desenvolvimento humano, sendo ligadas diretamente à forma pela qual as pessoas aprendem,

desaprendem e reaprendem. Por meio deste estudo, se observou que tais aquisições consistem

em novas informações que, agregadas pelos indivíduos, contribuem para a ampliação do

conhecimento dos mesmos. Quando, ao ler um e-book, o leitor adquire novos conceitos, de

modo que amplia os conhecimentos já existentes, ocorre um processo de assimilação. Porém,

quando os novos conceitos adquiridos modificam mais profundamente o conhecimento

prévio, alterando as próprias estruturas cognitivas, ocorre um processo de acomodação,

momento em que faz se necessário um ajuste dos esquemas mentais do leitor aos novos

conteúdos. Ao procurar harmonizar esses conhecimentos, mantendo um equilíbrio entre esses

dois processos (assimilação e acomodação), ocorre o que Piaget (2007) denominou como

equilibração. Assim, as aquisições cognitivas se encontram na base da formação do

conhecimento, perpassando processos fundamentais que se sucedem quando da interação

entre os sujeitos e o seu meio.

Por meio do recorte estabelecido percebeu-se que elas também ocorrem durante a

utilização dos e-books, no contexto da leitura imersiva, tanto nas interações com a estrutura

dos materiais ou interfaces virtuais, quanto no que se refere à aprendizagem de coisas novas

em decorrência do conteúdo digital. Essas reflexões foram sendo construídas a partir das

experiências de leitura que foram conduzidas e analisadas pelo pesquisador, e destaca um

aspecto importante que não havia sido considerado preliminarmente: a interação dos sujeitos

com os e-books possibilitaria aquisições não apenas em termos do conteúdo das obras, mas

também de sua estrutura, de sua forma. Isso remete a uma questão bastante discutida na área

da Educação, a de que as tecnologias também podem atuar como os elementos principais da

comunicação, ou seja, o meio também pode ser a mensagem: “o meio é a mensagem’

significa, em termos da era eletrônica, que já se criou um ambiente totalmente novo. O

Page 176: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

174

‘conteúdo’ desse novo ambiente é o velho ambiente mecanizado da era industrial”

(MCLUHAN, 2007, p. 11). Embora essa seja uma reflexão otimista, nesse estudo, evitou-se a

linha do determinismo tecnológico, mas, foi levada em consideração a necessidade de

aprofundamento dessas características envolvendo a leitura de e-books.

Com relação à leitura imersiva, observou-se que o ato de ler de uma forma mais

interativa e hipermidiática, pode influenciar nas percepções que o leitor tem a partir do objeto

de leitura, ou seja, nas suas aquisições cognitivas, e, portanto, nos processos de assimilação,

acomodação e equilibração destas aquisições, podendo concorrer para modificar seus

esquemas ou mesmo elaborar novos esquemas diferentes dos anteriores. Exemplo disso foi

quando durante a entrevista, o Leitor H compartilhou uma experiência de leitura de um e-

book que lhe fora repassado por seu professor, o que ampliou sua compreensão, uma vez que

o material possuía ligações com outras fontes de informação hipermidiáticas. Desse modo, os

novos recursos, a interatividade, e as novas relações estabelecidas entre leitores e objetos de

leitura são indispensáveis nesse processo, elementos fundamentais para novas aquisições.

Embora haja outros elementos e outros contextos que podem ser considerados, no ambiente

acadêmico, as TIC possibilitam interações produtivas e novas aquisições, em torno da leitura

imersiva de e-books.

Assim, entende-se que a tese do pesquisador foi confirmada no decorrer deste estudo.

Esta resultou da investigação do processo de leitura imersiva de e-books na perspectiva

interacionista piagetiana, permitindo-se observar que, a leitura imersiva envolvendo e-books

produz interações que revelam aquisições cognitivas particulares.

Obviamente alguns elementos básicos da atividade de leitura podem ser igualmente

válidos para entendê-la e discuti-la em diversos contextos e situações. De outro lado, algumas

aquisições cognitivas só podem ocorrer, de fato, no contexto da leitura imersiva,

principalmente se tal aquisição implica em novos conhecimentos obtidos a partir da interação

com a estrutura do e-book, de um modo geral.

Importante salientar também que a leitura e os e-books comportam particularidades

decorrentes das transformações impostas pelas tecnologias em todos os cenários, como por

exemplo, aquelas inscritas no ambiente da leitura e do leitor imersivo, bem como, aquelas

relacionadas à mudanças físicas, espaciais e temporais incorporadas pelos e-books.

Porém, ficou evidenciado que os e-books possibilitam aquisições particulares para

seus leitores e isso se reflete muito bem no argumento do Leitor H, que, ao descrever sua

Page 177: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

175

experiência de leitura de um e-book hipermidiático em sala de aula, explicou que sua

compreensão geral foi muito maior; ou, ainda, do Leitor J, para quem a leitura de e-books,

preferencialmente de natureza acadêmica, envolve uma relação diferenciada do que a que

possui com livros impressos. No caso das observações das aquisições cognitivas manifestadas

pelos leitores B, H, C e D a partir de suas leituras, uma interpretação crítica poderia

considerá-las comuns, ou seja, poderiam se dar também com a leitura de livros impressos. De

fato, poderia ser assim, no caso em que a leitura imersiva apenas “imita” as características

sequenciais da leitura meditativa. Porém, ao ler um e-book, à medida que a leitura pode se

desenvolver fora da sequência tradicional, e ser complementada por multimídias, o leitor

também pode estabelecer outras relações, e, portanto, diferentes aquisições podem ser

somadas.

Isso foi percebido mais nas entrevistas do que nas atividades de leitura por duas

razões principais: primeiramente, durante o diálogo o sujeito pode se expressar mais

livremente do que ao responder um formulário baseado em uma atividade, ou ao ser

observador pelo pesquisador. Em segundo lugar, por que se evitou restringir muito o escopo

das observações, não limitando a atividade de leitura além do necessário 67

, posto que uma das

características mais produtivas da leitura imersiva é justamente a autonomia do leitor em

escolher e trilhar suas rotas de leitura. Nesse movimento, ele fragmenta seu percurso

conforme seu interesse individual, explorando multimídias conforme estiverem disponíveis e

se lhes instigarem curiosidade. Ou seja, foi respeitado o seu protagonismo nessa atividade,

pois sem isso haveria restrições ao analisar o processo, bem como as aquisições cognitivas da

maneira como foi proposto no objetivo geral.

Desse modo, essas questões reforçam a tese do pesquisador de que a leitura imersiva

de e-books proporciona interações diferenciadas, no sentido de que determinadas aquisições

cognitivas foram evidenciadas, em função desse tipo de experiência ocorrida.

Em que pese o fato de ser uma pesquisa com abrangência delimitada pelo recorte

estabelecido, bem como que os resultados de pesquisas qualitativas geralmente não permitem

tecer generalizações, entende-se que o estudo logrou êxito, no sentido de que permitiu

caracterizar, analisar e discutir questões importantes relacionadas à prática da leitura imersiva.

Quanto aos e-books, esses recursos interativos de leitura, constantemente ocupam mais espaço

no cenário contemporâneo, o que requer que sejam analisadas as suas dimensões técnicas,

67

Por exemplo, utilizando-se materiais muito específicos e com roteiros pré-estabelecidos, ou ainda com maior

controle ao percurso do leitor.

Page 178: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

176

tecnológicas e educacionais, a fim de que o potencial dos mesmos seja devidamente

absorvido. Entretanto, algumas lacunas não preenchidas por esta pesquisa, poderiam ser mais

bem exploradas por outros estudos que se avizinhem dessa temática. Por exemplo:

1) Desenvolvimento de pesquisas envolvendo a leitura imersiva de e-books,

focados, especificamente, na correlação imersão / aquisições;

2) Aprofundamento do exame a respeito das aquisições cognitivas distintas,

derivadas da leitura imersiva de e-books, tanto com relação à interação com os

objetos em termos de forma e estrutura, quanto com relação ao conteúdo;

3) Condução de experiências mais abrangentes e focadas em situações específicas,

como por exemplo, um estudo mais intenso a respeito de aquisições cognitivas

envolvendo apenas e-books altamente imersivos (A);

4) Investigação da leitura de um e-book hipermidiático a partir das diferentes rotas

trilhadas pelos leitores imersivos, bem como as aquisições cognitivas constituídas

pelos sujeitos nesses percursos.

Naturalmente, esta pesquisa também possui suas limitações, não podendo ser

generalizada muito além de seu contexto, haja visto que a mesma segue uma linha teórica e

metodológica específica. Em alguns momentos, o estudo dialoga com outras áreas, como por

exemplo, a Ciência da Informação e a Computação, mas, trata-se de uma pesquisa qualitativa

em Educação, de modo que sua apropriação em outro contexto acadêmico requer devida

atenção.

Tendo formação e experiência profissional como bibliotecário e mestrado em

Educação, esta pesquisa contribuiu para fornecer novos conhecimentos e pontos de vista

singulares ao pesquisador, contribuindo sobremaneira para seu crescimento pessoal,

profissional, acadêmico e intelectual. No percurso de um estudo de doutorado dessa natureza,

várias dificuldades se impõem, e não seria justo reconhecer dificuldades e limitações pessoais,

analisando criticamente o contexto inicial de sua pesquisa e o momento final da defesa da

tese, os quais são carregados de significações. Além das dificuldades pessoais, que envolvem

caminhadas solitárias em vista de suas particularidades pessoais, existem limitações

intelectuais que precisam ser reconhecidas e ultrapassadas a fim de progredir

Page 179: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

177

academicamente. Nesse percurso intelectual, certezas iniciais normalmente são desfeitas e a

instabilidade força uma desconstrução de premissas e, consequentemente, a reconstrução de

novos saberes, chegando ao final do percurso com mais dúvidas do que certezas, porém, com

questionamentos mais esclarecidos, em vista do aprendizado constituído. Além disso, nesse

momento de formação acadêmica e pessoal, a caminhada ao lado do Grupo de Pesquisa

LêTECE, em especial, com as orientações dos professores Kátia e Cristiano, contribuíram

para o contorno das limitações, bem como para o meu crescimento intelectual e pessoal,

sendo muito importantes para que eu tivesse superados dificuldades.

Por outro lado, considerando os aspectos social, cultural, educacional e político-

econômico brasileiro, há que se reconhecer que a possibilidade de cursar todo o ensino básico,

graduação, mestrado e doutorado em instituições públicas, independente de qualquer processo

seletivo, pode ser considerada um “privilégio” usufruído por uma parcela restrita da

população. Dentre seus diversos sinônimos, a palavra privilégio pode ser tomada como

“regalia”, ou, “oportunidade”, de acordo com o interesse de cada indivíduo. Como pessoa de

origem humilde e, também, como ocupante de cargo de servidor público, entendo este

privilégio como uma oportunidade, mas que carrega, em contrapartida, um peso muito grande,

qual seja, o de que muitos, inclusive analfabetos, contribuíram com seus impostos para que

poucos tivessem essa “oportunidade”. A formação acadêmica por meio de sistemas de ensino

é uma das características da vida em sociedade, mas, não consiste em um “prêmio”, algo que

isente de responsabilidades.

Desse modo, este pesquisador compreende sua responsabilidade pessoal, profissional

e social, no sentido de que pode e deve contribuir para com o próximo, com a sociedade e sua

região. Tais contribuições permitem retornar às pessoas em geral os frutos da oportunidade

recebida, na forma de conhecimento que colabore para o desenvolvimento de outros

indivíduos. Quanto ao tema do estudo, no decorrer da investigação ficou evidente que as

escolas públicas e seus profissionais, pouco conhecem sobre o potencial dos e-books. Estes

“objetos” podem contribuir efetivamente para com a leitura e outras formas de ensino-

aprendizagem, possibilitando melhorias na educação por meio de sua apropriação crítica e

criativa. Além disso, na própria universidade, a leitura imersiva conquista espaço ante a

tradicional leitura meditativa, havendo assim, um ambiente propício para se incentivar o uso

de e-books, letramentos digitais, bem como para procurar despertar competências

informacionais nos alunos, contribuindo para o desenvolvimento de conhecimentos e

habilidades importantes para o ensino-aprendizagem e a inclusão tecnológica. É nesses

Page 180: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

178

cenários que este pesquisador procurará atuar de forma mais imediata, colaborando para que a

sua tese dê frutos e para que os mesmos possam ser usufruídos por outras pessoas.

Enfim, como últimas palavras dessas considerações finais, espera-se que este estudo

tenha contribuído efetivamente para o desenvolvimento de conhecimentos importantes para a

área da Educação. A leitura imersiva, as aquisições cognitivas e os e-books compreendem

elementos com importância reconhecida no cenário contemporâneo. Porém, como até o

presente momento, não haviam sido identificados estudos estabelecendo relações entre os

mesmos, espera-se que esta pesquisa se constitua em referencial teórico útil para futuras

investigações envolvendo as tecnologias e outras áreas afins no campo educacional e próximo

dele.

Page 181: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

179

REFERÊNCIAS

ABREU, Luiz Carlos de et al. A epistemologia genética de Piaget e o construtivismo. Revista

Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, [S.l.], v. 20, n. 2, p. 361-366, 2010.

ACEVEDO, Germán Darío Rodríguez. Ciencia, tecnología y sociedad: una mirada desde la

educación en tecnología. Revista Iberoamericana de Educación, [S.l.], n. 18, p. 107-143,

sept./dic. 1998.

ALONSO, Kátia Morosov. Tecnologias da informação e comunicação e formação de

professores: sobe rede e escolas. Educação & Sociedade, Campinas, v. 29, n. 104, p. 747-

768, out. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v29n104/a0629104.pdf>. Acesso

em: 12 jan. 2015.

ANDERY, Maria Amália et al. Introdução: olhar para a história: caminho para a compreensão

da ciência hoje. In: ______. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. 15. ed.

Rio de Janeiro: Garamond, 2006. p. 9-15.

AUSUBEL, David P. Aquisição e retenção de conhecimentos: uma perspectiva cognitiva.

Tradução de Lígia Teopisto. Lisboa: Plátano, 2003.

BARBOSA, Simone Diniz Junqueira; SILVA, Bruno Santana da. Interação humano-

computador. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 384 p. (Série SBC, Sociedade Brasileira de

Computação).

BATTRO, Antonio M. Dicionário terminológico de Jean Piaget. São Paulo: Livraria

Pioneira, 1978. (Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais. Psicologia). 245 p.

______. O pensamento de Jean Piaget: psicologia e epistemologia. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 1976. 389 p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Estatuto da criança e do adolescente. 3. ed. Brasília, DF,

2008. 96 p. (Série E. Legislação de saúde).

CALDIN, Clarice Fortkamp. A leitura como função terapêutica: biblioterapia. Encontros

Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação. Florianópolis, n.12, p.

32-44, 2001. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/download/36/5

200+&cd=2&hl=pt-PT&ct=clnk&gl=pt >. Acesso em 12. jan. 2018.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 10. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007. (A era da

informação: economia, sociedade e cultura; 1).

CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: UNESP:

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1998.

______. As revoluções da leitura no ocidente. In: ABREU, Márcia (Org.). Leitura, história e

história da leitura. Campinas: Mercado de Letras: Associação de Leitura no Brasil, 1999. p.

19-31. (Coleção Histórias de Leitura).

Page 182: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

180

CHARTIER, Roger. Os desafios da escrita. São Paulo: Ed. UNESP, 2002. 144 p.

CORREIA, Ana Lúcia Merege. O livro impresso, trajetória e contemporaneidade. In:

PEREIRA, Maria de Nazaré Freitas; PINHEIRO, Lena Vania Ribeiro (Org.). O sonho de

Otlet: aventura em tecnologia da informação e comunicação. Rio de Janeiro: IBICT, DEP;

Brasília: IBICT, DDI, 2000. p. 27-46.

DENZIN, Norman K.; LINCOLN, Yvonna S. O planejamento da pesquisa qualitativa:

teorias e abordagens. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. 432 p.

DONGO-MONTOYA, Adrián Oscar. Teoria da aprendizagem na obra de Jean Piaget.

São Paulo: SciELO: Editora UNESP, 2009. ISBN 978-85-3930-453-0. Edição do Kindle.

Paginação irregular.

ECO, Umberto; CARRIÈRE, Jean-Claude. Não contem com o fim do livro. São Paulo:

Record, 2010. 269 p. Entrevistas intermediadas por Jean-Philippe de Tonnac.

EVANS, Richard I. Jean Piaget: o homem e suas ideias. Tradução de Angela Oiticica. Rio de

Janeiro: Forense Universitária, 1980. 190 p.

GARCÍA CANCLINI, Néstor. Leitores, espectadores e internautas. São Paulo: Iluminuras,

2008. 94 p.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

206 p.

GURI-ROSENBLIT, Sarah. Quo vadis? – some future trends. In: ______. Digital

technologies in higher education: sweeping expectations and actual effects. New York:

Nova Science, 2009. cap. 6, p. 123-166.

HAGUETTE, Teresa Maria Frota. Metodologias qualitativas na sociologia. 4. ed.

Petrópolis: Vozes, 1995.

HAWKING, Stephen. O universo numa casca de noz. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2009.

KENSKI, Vani Moreira. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação.2. ed.

Campinas: Papirus. 2007. 141 p.

LE COADIC, Yves François. A Ciência da informação. 2. ed. Brasília: Briquet de Lemos,

2004. 124 p.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 2004.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Análise da conversação. 5. ed. São Paulo: Ática, 2003.

MARTINS, Heloisa Helena T. de Souza. Metodologia qualitativa de pesquisa. Educação e

Pesquisa, São Paulo, v. 30, n. 2, p. 289-300, maio/ago. 2004.

MELO, Eduardo; TAVARES, José Fernando (Org.). O mercado de ebooks no Brasil:

coletânea sobre o mercado, produção e marketing. Porto Alegre: Simplíssimo, 2012.

Page 183: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

181

MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. 1. ed., 15.

reimpr. São Paulo: Cultrix, 2007. 407 p.

MICHAELIS: dicionário brasileiro da língua portuguesa. Versão 2.0. São Paulo:

Melhoramentos, c2015. Kontakt Aplicações Interativas.

MONROE, Camila. Vygotsky e o conceito de aprendizagem mediada. Nova Escola (edição

web), São Paulo, 2011. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/

vygotsky-conceito-aprendizagem-mediada-636187.shtml?page=0>. Acesso em: 12 jan. 2013.

MORAN, José Manuel. Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias audiovisuais e

telemáticas. In: ______.; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas

tecnologias e mediação pedagógica. 6. ed. Campinas: Papirus, 2003. (Coleção Papirus

Educação). cap. 1, p. 11-65.

NIELSEN, Jakob. Usabilty engineering. San Francisco, CA: Morgan Kaufmann, Inc., 1993.

______. Why you only need to test with 5 users. Nielsen Norman Group, Freemont, CA,

mar. 2000. Disponível em: <https://www.nngroup.com/articles/why-you-only-need-to-test-

with-5-users/>. Acesso em: 27 abr. 2018.

______.; LORANGER, Hoa. Usabilidade na web. Rio de Janeiro: Elsevier, Campus, 2007.

xxiv, 406 p.

PÁDUA, Gelson Luiz Daldegan de. A epistemologia genética de Jean Piaget. Revista

FACEVV, Vila Velha, n. 2, p. 22-35, jan./jun. 2009.

PEIXOTO, Joana; ARAÚJO, Cláudia Helena dos Santos. Tecnologias e educação: algumas

considerações sobre o discurso pedagógico contemporâneo. Educação & Sociedade,

Campinas, v. 33, n. 118, p. 253-268, jan.-mar. 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/

pdf/es/v33n118/v33n118a16.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2018.

PIAGET, Jean. Epistemologia genética. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

______. Seis estudos de psicologia. 25. ed. 4. impr. Rio de janeiro: Forense Universitária,

2014. 143 p.

PEREIRA, Maria de Nazaré Freitas; PINHEIRO, Lena Vania Ribeiro. O sonho de Otlet:

aventura em tecnologia da informação e comunicação. Rio de Janeiro; Brasília:

IBICT/DEP/DDI, 2000.

PREECE, Jennifer; ROGERS, Yvonne; SHARP, Helen. Design de interação: além da

interação homem-computador. Tradução de Viviane Possamai. Porto Alegre: Bookman, 2005.

548 p.

PRENSKY, Marc. Digital natives, digital immigrants. On the horizon, [S.l.], v. 9, n. 5, out.

2001. Disponível em: <http://www.marcprensky.com/writing/prensky%20-%20digital%20

natives,%20digital%20immigrants%20-%20part1.pdf>. Acesso em: 30 jan. 2012.

Page 184: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

182

PRIMO, Alex. Interação mediada por computador: comunicação, cibercultura, cognição.

2. ed. Porto Alegre: Sulina, 2008. 240 p. (Coleção Cibercultura).

______. Interação mútua e interação reativa: uma proposta de estudo. Revista da Famecos,

Porto Alegre , n. 12, p. 81-92, jun. 2000.

PROCÓPIO, Edinei. O livro na era digital: o mercado editorial e as mídias digitais. São

Paulo: Giz, 2010. 230 p.

SANTELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. 2. Ed.

São Paulo: Paulus, 2007. 191 p. (Comunicação).

SARACEVIC, Tefko. Information Science: origin, evolution and relations. In: Kenote

Address to the International Conference on Conceptions of Library and Information

Science: historical, empirical and theoretical perspectives. Finland: University of Tampere,

1991. (Tradução de Ana Maria P. Cardoso).

SAVIANI, Demerval. A pós-graduação em educação no Brasil: trajetória, situação atual e

perspectivas. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 1, n. 1, p. 1-19, jan./jun. 2000.

SEHN, Thaís Cristina Martino. As possíveis configurações do livro nos suportes digitais.

2014. 265 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Informação)–Faculdade de

Biblioteconomia e Comunicação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,

2014.

SILVA, Luiz Otavio Maciel da. Softbook e rocket book: o livro eletrônico dos átomos aos

bits. In: PEREIRA, Maria de Nazaré Freitas; PINHEIRO, Lena Vania Ribeiro (Org.). O

sonho de Otlet: aventura em tecnologia da informação e comunicação. Rio de Janeiro:

IBICT, DEP; Brasília: IBICT, DDI, 2000. p. 75-105.

SILVA, Marco. Cibercultura e educação: a comunicação na sala de aula presencial e online.

Revista da Famecos, Porto Alegre, n. 37, p. 69-74, dez. 2008.

SILVA, Ronaldo Alves da. E-books em bibliotecas: novos desafios para os bibliotecários. In:

CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTAÇÃO E CIÊNCIA

DA INFORMAÇÃO, 25., 2013, Florianópolis. Anais... Florianópolis: FEBAB, 2013.

Disponível em: <http://portal.febab.org.br/anais/article/view/1398/1399>. Acesso em: 12 jan.

2014.

TOSCHI, Mirza Seabra (Org.). Leitura na tela: da mesmice à inovação. Goiânia: Ed. da

PUC Goiás, 2010.

TÜRCKE, Christoph. Cultura do déficit de atenção. Revista Serrote, [S.l.], n. 19, 2015.

Disponível em: <https://www.revistaserrote.com.br/2015/06/cultura-do-deficit-de-atencao/> .

Acesso em: 12 jan. 2018.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO. Carta de serviços ao cidadão. Cuiabá:

UFMT, 2012. 48 p.

Page 185: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

183

VARGAS, Milton. Para uma filosofia da tecnologia. São Paulo: Alfa Omega, 1994. 286 p.

(Biblioteca Alfa Omega de Ciências Sociais. Série 1ª, v. 5. Coleção Filosófica).

______. Prefácio. In: GRINSPUN, Mírian, P. S. Zippin. (Org.). Educação tecnológica:

desafios e perspectivas. São Paulo: Cortez, 1999. p. 7-14.

VERASZTO, Estéfano Vizconde. Projeto Teckids: educação tecnológica no ensino

fundamental. 2004. 184 f. Dissertação (Mestrado em Educação)–Faculdade de Educação,

Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2004.

VERASZTO, Estéfano Vizconde et al. Tecnologia: buscando uma definição para o conceito.

Prisma.com, Porto, n. 7, p. 60-85, 2008. Disponível em: <http://revistas.ua.pt/index.php/

prismacom/article/ViewFile/681/pdf>. Acesso em: 1 ago. 2014.

VIEIRA, Mauricéia Silva de Paula. Letramento digital: o uso de tecnologia da informação e

da comunicação no ensino da leitura. In: SIMPÓSIO NACIONAL E INTERNACIONAL DE

LETRAS E LINGUÍSTICA, 3., 2013, Uberlândia. Anais... Uberlândia: EDUFU, 2013.

Disponível em: <http://www.ileel.ufu.br/anaisdosilel/wp-content/uploads/2014/04/silel2013_

3123.pdf>. Acesso em: 13 set. 2018.

VIGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. 135 p.

(Psicologia e pedagogia).

______.; LURIA, A. Romanovich; LEONTIEV, Alexis N. Linguagem, desenvolvimento e

aprendizagem. 5. ed. São Paulo: Ícone, 1994. 228 p.

Page 186: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

184

APÊNDICES

Page 187: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

185

APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

DOUTORADO EM EDUCAÇÃO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

Declaro, por meio deste termo, que concordei em participar voluntariamente da

Pesquisa de Doutorado intitulada Leitores e e-books: novas formas de leitura e suas

aquisições, desenvolvida pelo doutorando Carlos Henrique Tavares de Freitas, sob orientação

da Profª Dra Kátia Morosov Alonso (Instituto de Educação) e co-orientação do Professor Dr

Cristiano Maciel (Instituto de Computação e Instituto de Educação).

Fui informado(a) que o estudo, desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-Graduação

em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso (PPGE/UFMT), tem como objetivo

analisar a maneira pela qual se processa a leitura realizada com os e-books e as aquisições

proporcionadas por essa experiência. Quanto à justificativa, de acordo com o pesquisador,

esses questionamentos possuem importância significativa para a área da Educação, uma vez

que na sociedade contemporânea, as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC)

estão presentes em todos os setores da atividade humana, desde o meio econômico, social,

cultural, científico, até mesmo à área educacional, ao passo que, embora mereçam alguma

atenção, estudos com esse viés não têm sido encontrados entre as pesquisas de pós-graduação,

lacuna esta que a presente investigação busca ajudar a preencher.

Em termos metodológicos compreende uma pesquisa exploratória com abordagem

qualitativa, dividida em duas fases principais e tendo como sujeitos um grupo composto

principalmente por alunos e professores da comunidade acadêmica da UFMT, selecionados

conforme critérios previamente definidos. Abrange os 06 (seis) Institutos e as 02 (duas)

Faculdades da Universidade nos quais existem cursos de graduação e pós-graduação stricto

sensu (mestrado e doutorado) simultaneamente, evidenciando os objetivos institucionais de

ensino, pesquisa, extensão e inovação.

Também fui informado que a primeira fase (resposta de questionários com duração

estimada de 05 minutos para preenchimento) representa uma primeira aproximação à essa

comunidade, enquanto que a segunda e última fase (baseada em entrevistas e observações

participantes e com duração estimada de 30 minutos) ocorrerá apenas com um grupo de

sujeitos selecionados criteriosamente a partir do levantamento inicial e poderá requerer a

leitura de e-books a fim de chegar a análises e considerações mais consistentes.

O pesquisador ressaltou que na primeira fase da pesquisa não haverá nenhum

desconforto ou risco para os sujeitos, haja visto que se trata puramente da aplicação de

Page 188: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

186

questionários, sem abordar quaisquer questões de intimidade e vida privada, ou outras que

lhes causem constrangimentos. Ressaltou que na última fase da pesquisa, caso seja necessário

que os sujeitos leiam trechos de um e-book para que sejam realizadas as coletas de dados, é

possível que a leitura cause algum desconforto natural à visão, por se tratar de leitura em telas

que possuem luminosidade. Porém, caso eventualmente isso venha a ocorrer, a qualquer

momento poderei solicitar apoio e inclusive deixar de participar da pesquisa, sem qualquer

impedimento da parte do pesquisador.

Estou ciente de que a participação neste estudo não acarretará custos para mim, como

também não será fornecida nenhuma compensação financeira ou similar, por se tratar de

participação voluntária em uma pesquisa com finalidade estritamente acadêmica. Sei que a

qualquer momento poderei solicitar novas informações, retirar meu consentimento e/ou

interromper minha participação, podendo retirar-me da pesquisa sem sofrer quaisquer

prejuízos, sanções ou constrangimentos.

Sei que poderei contatar o pesquisador quando julgar necessário através do telefone

(65)3615-8360 e e-mail [email protected], bem como seus orientadores, pelo telefone

(65)3615-8431 (Secretaria do PPGE) ou pelos endereços eletrônicos [email protected] e

[email protected].

Ao assinar esse Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, estou concordando em

ceder minhas respostas para fins acadêmicos e de pesquisa e o pesquisador tratará minha

identidade com padrões profissionais de sigilo, não sendo os sujeitos identificados

pessoalmente em nenhuma publicação que venha a resultar deste estudo.

Declaro que concordei em participar desse estudo de livre e espontânea vontade e que

recebi uma cópia deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, sendo me dada a

oportunidade de ler e esclarecer devidamente quaisquer dúvidas relacionadas à esta pesquisa.

Assim, ciente dos objetivos desta pesquisa de maneira clara e detalhada e tendo

esclarecido quaisquer dúvidas, abaixo assino e identifico, autorizando, no Brasil e em

qualquer outro país, o uso de todos os dados e informações por mim fornecidos, com

finalidade exclusivamente acadêmica e atesto o recebimento de uma cópia assinada deste

documento.

Cuiabá, ____ de _______________ de ________.

Nome completo do(a) participante: ___________________________________________

Assinatura do(a) participante: ___________________________________________

Page 189: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

187

APÊNDICE B – Questionário de Caracterização – Primeira Fase

APRESENTAÇÃO DA PESQUISA

Este estudo faz parte de uma Pesquisa de Doutorado desenvolvida no âmbito do Programa de

Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso (PPGE/UFMT), tendo como

objetivo analisar a maneira pela qual se processa a leitura realizada com os e-books e as aquisições

proporcionadas por essa experiência.

Ao responder este questionário, você estará concordando em ceder sua resposta para fins

acadêmicos e de pesquisa. Agradecemos pela colaboração.

Att,

Carlos Henrique Tavares de Freitas (Doutorando).

Profª Dra Kátia Morosov Alonso (Orientadora).

Prof. Dr. Cristiano Maciel (Co-orientador).

QUESTIONÁRIO DE CARACTERIZAÇÃO

1) Qual seu gênero? Masculino

Feminino

Outro

2) Em que faixa etária você se insere? Até 18 anos

19 a 25 anos

26 a 30 anos

Mais de 30 anos

3) Você faz parte da comunidade acadêmica da UFMT? Sim Não

4) Em qual dos grupos abaixo você se insere? Aluno de graduação

Aluno de pós-graduação (especialização)

Aluno de pós-graduação (mestrado)

Aluno de pós-graduação (doutorado)

Professor

Técnico Administrativo

Outro. Especificar: ________________________.

5) Caso seja aluno, qual período você cursa atualmente? Graduação (1º ano)

Graduação (4º ano ou último ano)

Mestrado (1º ano)

Mestrado (2º ou último ano)

Doutorado (1º ano)

Doutorado (4º ou último ano)

Outro. Especificar: ________________________.

Page 190: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

188

6) Caso seja aluno, favor informar seu curso: ________________________________________________________________________________.

7) Caso seja Professor ou Técnico Administrativo, favor informar Departamento/Instituto ou

Faculdade em que está lotado: _______________________________________________________________________________.

8) Por favor, assinale o meio em que você costuma ler, preferencialmente, os itens abaixo:

Tipo de Material Impresso Em meio

eletrônico

Não leio este tipo

de Material

Livros diversos

Revistas

Jornais

Periódicos científicos

Trabalhos acadêmicos

Obras literárias

Guias de viagens

Material religioso

Editais de concursos

Dicionários, enciclopédias etc.

Documentos relacionados ao trabalho

9) O que mais influencia a escolha do meio de leitura de seu interesse?

Assinale quantas alternativas achar necessário. Costume/hábito/cultura

Aspectos emocionais

Custos envolvidos

Conforto para leitura

Questões de saúde

Praticidade e agilidade

Orientação de colegas, professores etc.

Facilidade de acesso e uso do material

Tecnologia, recursos envolvidos

Confiança e credibilidade

Necessidade acadêmica

Necessidade do trabalho

Curiosidade

Conveniência (adequação do tipo de material

à ocasião de leitura)

Outro. Especificar:____________________.

10) Você já leu algum e-book, parcial ou totalmente? Sim Não

Responda as questões a seguir apenas caso já tenha lido algum e-book, parcial ou totalmente.

11) Após sua experiência, você voltou ou voltaria a ler e-book novamente? Sim Não

12) Em qual tipo de equipamento você realizou ou realiza a leitura de e-book?

Assinale quantas alternativas achar necessário. Microcomputador

Notebook, netbook e similares

Tablet

Smartphone

Dispositivo específico (Kindle, Kobo, Lev,

Nook, Cool-Er, Alfa etc.)

Outro. Especificar:____________________.

Page 191: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

189

13) Informe como acessou e realizou a leitura de livros eletrônicos:

Assinale quantas alternativas achar necessário. Arquivo simples (formatos .pdf, .doc etc.) em

microcomputadores, notebooks ou similares

Arquivo ou software executável, em

microcomputadores, notebooks e similares

Plataforma on-line de bases de dados

internacionais

Biblioteca digital on-line

Sites específicos de e-books

Sites variados com material para download

Portais eletrônicos de acesso livre (inclusive

governamentais)

Aplicativo em dispositivo específico (Kindle,

Kobo, Lev, Nook, Cool-Er, Alfa etc.)

Aplicativo específico instalado em

microcomputadores, notebooks ou similares

Aplicativo específico instalado em tablets,

smartphones, ou dispositivos similares

Outro. Especificar: ___________________.

14) Ao realizar a leitura de um e-book, assinale caso ocorra algumas das questões abaixo.

Assinale quantas alternativas achar necessário. Você aprende coisas novas

Geralmente você se surpreende com algo

Você confronta o que lê com o que já sabe

Você muda sua opinião sobre algumas coisas

Você questiona a veracidade das informações

É um tipo de leitura agradável

Você se interessa ainda mais em ler outros

livros eletrônicos

Você descobre coisas que não viu ou não teria

percebido em livros impressos

A tecnologia lhe deixa fascinado

Obras literárias eletrônicas causam outro tipo

de sensação, de experiência emocional

Alguns recursos seriam impossíveis para os

livros impressos

As informações novas encontradas podem

enriquecer seu conhecimento

Você não vê utilidade para seu aprendizado,

para seu conhecimento

Você deixaria de ler um livro impresso para ler

sua versão eletrônica

Ocorre o mesmo tipo de leitura que um livro

impresso

Você utiliza os recursos presentes para

compartilhar informações sobre o livro com

colegas

Você consegue utilizar razoavelmente os

recursos disponíveis (marcação, citação,

compartilhar etc.)

Você acredita que a leitura de um livro

impresso poderia ser mais interessante

A leitura de um e-book não oferece nenhuma

utilidade

Outro. Especificar:______________________.

15) Caso concorde em participar de outra etapa desta pesquisa (se for necessário), por favor,

informe abaixo apenas o seu e-mail para contato, de forma legível: ______________________________________________________________________________.

16) Utilize o espaço abaixo para quaisquer observações adicionais que considere necessárias:

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________.

Page 192: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

190

APÊNDICE C – Instrumento de Autorização de Uso de Imagem, Voz e Informações

INSTRUMENTO PARTICULAR PARA AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM,

VOZ E INFORMAÇÕES COLETADAS

Declaro, por meio deste termo, que concordei em participar como entrevistado(a) na pesquisa

de campo referente à tese intitulada Leitores e e-books: novas formas de leitura e suas

aquisições, desenvolvida por Carlos Henrique Tavares de Freitas. Fui informado(a), ainda,

de que a pesquisa é orientada pela Professora Doutora Kátia Morosov Alonso (Instituto de

Educação), a quem poderei contatar/consultar a qualquer momento que julgar necessário

através do telefone (65) 3615-8438 (NEAD) ou pelos endereços eletrônicos [email protected].

Afirmo que aceitei participar por minha própria vontade, sem receber qualquer incentivo

financeiro ou ter quaisquer ônus, com a finalidade exclusiva de colaborar com o cumprimento

da pesquisa. Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadêmicos do estudo, que, em

linhas gerais, é: Analisar a maneira pela qual se processa a leitura realizada com os e-

books e as aquisições proporcionadas por essa experiência.

Fui também esclarecido(a) de que não serão abordados temas estritamente pessoais que gerem

algum tipo de constrangimento, uma vez que a coleta e usos das informações por mim

oferecidas respeitam aspectos éticos e morais, se limitando pura e simplesmente ao objetivo

da pesquisa anteriormente informada.

Minha colaboração se fará por meio de:

1) Entrevista estruturada - Conduzida oralmente pelo entrevistador, com a coleta de

dados em texto e gravações de áudio e vídeo. Visa identificar os leitores e caracterizar

a intimidade dos mesmos com as tecnologias e sua compreensão sobre e-books;

Page 193: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

191

2) Leitura parcial de um e-book - Orientada pelo pesquisador, consiste em uma

atividade prática de leitura de um e-book integral (opcional) ou parcial, selecionado

pelo leitor, a partir de uma coleção constituída exclusivamente para a pesquisa. A

coleta de dados nesse momento será feita apenas por observações e anotações pelo

pesquisador e eventualmente, por gravações de áudio e vídeo.

3) Preenchimento de formulário pelo leitor – Após a atividade prática será requisitado

que o leitor responda algumas questões referentes à sua experiência de leitura,

diretamente em um formulário eletrônico do Google Docs.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:

a) A qualquer momento, o pesquisador poderá utilizar gravações de áudio e vídeo para

registro de questões importantes para o estudo.

b) Estima-se que a duração de cada uma das etapas em 25 minutos (entrevista), 35

minutos (leitura do e-book), e 20 minutos (preenchimento do formulário)

respectivamente.

Fui informado que o acesso e a análise dos dados coletados se farão apenas pelo pesquisador e

sua orientadora. Também estou ciente de que posso me retirar desta pesquisa a qualquer

momento, sem sofrer quaisquer prejuízos, sanções ou constrangimentos.

Assim sendo, resguardado meu anonimato, abaixo assinado e identificado, autorizo, no Brasil

e em qualquer outro país, o uso de todos os dados e informações por mim fornecidos, com

finalidade exclusivamente acadêmica e atesto o recebimento de uma cópia assinada deste

documento.

Cuiabá, ____ de ________________ de 2018.

Assinatura do(a) participante: _________________________________________

Page 194: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

192

APÊNDICE D – Roteiro de Entrevista Estruturada

ROTEIRO DE ENTREVISTA ESTRUTURADA

Identificação.

Nome completo, idade, curso, ano/período de estudo.

Uso de Tecnologias.

O que você entende por tecnologias?

Com quantos anos começou a ter acesso a tecnologias da informação?

Como você classifica suas habilidades tecnológicas, variando de um nível

iniciante até avançado?

Você tem acesso à internet e tecnologias da informação em outros ambientes?

Qual a frequência de uso das tecnologias em seu cotidiano e quais recursos

tecnológicos mais utiliza?

Você utiliza redes sociais? Quais?

Experiências com e-books.

O que você entende por e-book? Explique, por favor.

Você lê com frequência?

Você lê livros impressos? Quais tipos de obra?

Quais suas motivações / interesses de leitura, em se tratando de e-books?

Você tem facilidade para realizar a leitura de forma hipertextual (quando você

clica em um texto é direcionado para outro trecho ou página), mantendo a unidade

do que está lendo e a compreensão dos conteúdos?

Page 195: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

193

APÊNDICE E – Formulário Eletrônico de Resposta à Atividade Leitura

(Versão de Impressão do Google Docs)

Page 196: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

194

Page 197: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

195

Page 198: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

196

Page 199: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

197

Page 200: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

198

Page 201: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

199

APÊNDICE F – Análise da Coleção Digital

ORD. REFERÊNCIA DESCRIÇÃO BÁSICA DETALHES ESPECIAIS CLASSIF.

1

LIMA FILHO, Marcos A. de.

Amazônia. [S.l.]: Sheep Books, 2013.

63 p.

Idioma: Português. ISBN: não consta.

Formato: ePUB (?).

Plataforma: iBooks. Assunto: Natureza.

Inclui infográficos, diagramas, mapas,

várias animações, vídeos e galerias de imagens que podem ser alternadas

interativamente, sem mudar as páginas.

A

2

VISUAL dictionary: 11 languages.

[S.l.]: Inovative Language Learning, LLC, 2013. 44 p.

Idioma: Inglês.

ISBN: não consta. Formato: ePUB (?).

Plataforma: iBooks.

Assunto: Línguas estrangeiras.

Livro interativo contendo áudios em 11

línguas diferentes, referentes ao nome de determinados objetos.

A

3

GALANT, Peter; KOLB, Felipe. Kids

vs cats: how to and not to play with

cats. [S.l.]: Inovative Language

Learning, LLC, 2014. 44 p. (Série Kids vs Life).

Idioma: Inglês.

ISBN: não consta.

Formato: ePUB (?). Plataforma: iBooks.

Assunto: Literatura

infantojuvenil.

Contém áudios correspondentes à diálogos dos personagens, além de outras animações.

A

4 GASPARI, Elio. A ditadura acabada. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016. v. 5.

Idioma: Português.

ISBN: 978-85-8057-947-5.

Formato: Não consta. Plataforma: Kindle.

Assunto: Brasil - Política e

governo.

Contém áudios e vídeos, além de hyperlinks.

A

5

WILSON, Edward O.; RYAN,

Morgan; MCGILL, Gaël. E.O.

Wilson’s life on earth: unity & diversity of life on earth. [S.l.]: Wilson

Digital, 2014. 172 p. (Série E. O.

Wilson’s Life on Earth; v. 1).

Idioma: Inglês

ISBN: não consta.

Formato: ePUB (?). Plataforma: iBooks.

Assunto: Biologia. Ciências

da vida.

Cada um dos 7 volumes da coleção possui

variados recursos interativos de multimídia (animações, vídeos, fotos e questões de

revisão), que complementam o conteúdo.

A

6

WILSON, Edward O.; RYAN, Morgan; MCGILL, Gaël. E.O.

Wilson’s life on earth: guided tour of

the living cell. [S.l.]: Wilson Digital, 2014. 179 p. (Série E. O. Wilson’s Life

on Earth; v. 2).

Idioma: Inglês ISBN: não consta.

Formato: ePUB (?).

Plataforma: iBooks. Assunto: Biologia. Ciências

da vida.

Cada um dos 7 volumes da coleção possui

variados recursos interativos de multimídia

(animações, vídeos, fotos e questões de revisão), que complementam o conteúdo.

A

7

WILSON, Edward O.; RYAN, Morgan; MCGILL, Gaël. E.O.

Wilson’s life on earth: genetics. [S.l.]:

Wilson Digital, 2014. 153 p. (Série E. O. Wilson’s Life on Earth; v. 3).

Idioma: Inglês ISBN: não consta.

Formato: ePUB (?).

Plataforma: iBooks. Assunto: Biologia. Ciências

da vida.

Cada um dos 7 volumes da coleção possui

variados recursos interativos de multimídia

(animações, vídeos, fotos e questões de revisão), que complementam o conteúdo.

A

8

WILSON, Edward O.; RYAN,

Morgan; MCGILL, Gaël. E.O. Wilson’s life on earth: animal

physiology. [S.l.]: Wilson Digital,

2014. 241 p. (Série E. O. Wilson’s Life on Earth; v. 4).

Idioma: Inglês

ISBN: não consta. Formato: ePUB (?).

Plataforma: iBooks.

Assunto: Biologia. Ciências da vida.

Cada um dos 7 volumes da coleção possui variados recursos interativos de multimídia

(animações, vídeos, fotos e questões de

revisão), que complementam o conteúdo.

A

9

WILSON, Edward O.; RYAN,

Morgan; MCGILL, Gaël. E.O. Wilson’s life on earth: plant

physiology. [S.l.]: Wilson Digital,

2014. 113 p. (Série E. O. Wilson’s Life on Earth; v. 5).

Idioma: Inglês

ISBN: não consta. Formato: ePUB (?).

Plataforma: iBooks.

Assunto: Biologia. Ciências da vida.

Cada um dos 7 volumes da coleção possui variados recursos interativos de multimídia

(animações, vídeos, fotos e questões de

revisão), que complementam o conteúdo.

A

10

WILSON, Edward O.; RYAN,

Morgan; MCGILL, Gaël. E.O. Wilson’s life on earth: guided tour of

biodiversity. [S.l.]: Wilson Digital,

2014. 377 p. (Série E. O. Wilson’s Life on Earth; v. 6).

Idioma: Inglês

ISBN: não consta. Formato: ePUB (?).

Plataforma: iBooks.

Assunto: Biologia. Ciências da vida.

Cada um dos 7 volumes da coleção possui variados recursos interativos de multimídia

(animações, vídeos, fotos e questões de

revisão), que complementam o conteúdo.

A

11

WILSON, Edward O.; RYAN,

Morgan; MCGILL, Gaël. E.O.

Wilson’s life on earth: guided tour of ecosystems. [S.l.]: Wilson Digital,

2014. 200 p. (Série E. O. Wilson’s Life

on Earth; v. 7).

Idioma: Inglês

ISBN: não consta.

Formato: ePUB (?). Plataforma: iBooks.

Assunto: Biologia. Ciências

da vida.

Cada um dos 7 volumes da coleção possui

variados recursos interativos de multimídia (animações, vídeos, fotos e questões de

revisão), que complementam o conteúdo.

A

12 WRIGHT, Graham K. The interactive

space book. [S.l.]: O Autor, 2012. 52

Idioma: Inglês

ISBN: não consta.

Possui variados recursos interativos de

multimídia (animações, vídeos, fotos, A

Page 202: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

200

p. Formato: ePUB (?).

Plataforma: iBooks. Assunto: Ciências e

natureza.

linhas do tempo).

13

VELHO, Luiz; GIANELLA, Julia. Um

olhar nos espaços de dimensão 3: catálogo interativo da exposição. [S.l.]:

IMPA/MAST, 2015. 59 p.

Idioma: Inglês ISBN: não consta.

Formato: ePUB (?).

Plataforma: iBooks. Assunto: Matemática.

Catálogo interativo que leva o leitor à um passeio virtual pela coleção “Um olhar nos

espaços de dimensão 3”, por meio de

imagens, animações, sons e recursos interativos.

A

14 BROWN, Dan. Inferno. [S.l.]: Doubleday, 2014. 498 p.

Idioma: Inglês

ISBN: 0385539851.

ASIN: B00OJ7OC1S Formato: ePUB (?).

Plataforma: Kindle. Assunto: Ficção.

Inclui áudios e vídeos de cenas exclusivas

de bastidores, sobre as pesquisas do autor para a obra, áudio, textos, hiperlinks e dicas

de vocabulário.

A

15 ECO, Umberto. Número zero. Tradução de Ivone Benedetti. Rio de

Janeiro: Record, 2015. 208 p.

Idioma: Português

ISBN: 978-85-01-10-540-0. Formato: ePUB.

Plataforma: Kindle.

Assunto: Ficção italiana.

Recursos básicos de leitura, contendo

apenas textos e a navegação sendo possibilitada pela estrutura do software.

Não permite compartilhar trechos, apenas o

título da obra.

B

16

CARVALHO, José Eduardo de.

História das copas. São Paulo: Estadão, 2014. 500 p.

Idioma: Português

ISBN: Não consta.

Formato: ePUB. Plataforma: iBooks.

Assunto: Futebol.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual, hiperlinks

ao longo do conteúdo, imagens. Permite o compartilhamento de trechos da obra em

redes sociais.

M

17

RICE, Morgan. A ascensão dos

dragões. [S.l.]: A autora, 2015. 300 p.

(Reis e Feiticeiros, 1).

Idioma: Português ISBN: Não consta.

Formato: Não consta.

Plataforma: iBooks. Assunto: Fantasia.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual. Permite o compartilhamento de trechos da obra em

redes sociais.

M

18

RICE, Morgan. Transformada. [S.l.]:

A autora, 2014. 150 p. (Memórias de um vampiro, 1).

Idioma: Português

ISBN: Não consta.

Formato: Não consta. Plataforma: iBooks.

Assunto: Fantasia.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Permite o compartilhamento de trechos da obra em redes sociais.

M

19 GOMES, Helena. A canção de

Monalisa. São Paulo: Biruta, 2016.

Idioma: Português ISBN: 978-85-7848-174-2.

Formato: PDF.

Plataforma: iBooks. Assunto: Literatura infanto-

juvenil.

Recursos básicos de leitura. Sumário

hipertextual, textos e imagens. B

20

OECD. The ABC of gender equality

in education: aptitude, behaviour,

confidence. Paris: PISA: OECED,

2015. 180 p.

Idioma: Inglês.

ISBN: 978-92-64-23002-6 (versão impressa).

ISBN: 978-92-64-22994-5

(PDF). Formato: PDF.

Plataforma: OECD iLibrary

(via Portal CAPES). Assunto: Educação.

Recursos básicos de leitura. Sumário

hipertextual, imagens, textos e gráficos. Permite o compartilhamento de trechos da

obra em redes sociais, mas por ser um e-

book lido em navegador de internet, o software não incorpora esta funcionalidade.

M

21

SADER, Emir (Org.). 10 anos de

governos pós-neoliberais no Brasil: Lula e Dilma. Rio de Janeiro:

Boitempo: FLACSO Brasil, 2015. 384

p.

Idioma: Português

ISBN: 978-85-7559-328-8. ISBN: 8575593285.

ASIN: B017DXRTKK.

Formato: Não consta. Plataforma: Kindle.

Assunto: Brasil – Política e

governo.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual, hiperlinks

ao longo do conteúdo, imagens, gráficos e tabelas. Permite o compartilhamento de

trechos da obra em redes sociais. Permite

visualizar trechos destacados por outros autores.

M

22

HAWKING, Stephen. Buracos

negros: palestras da BBC Reith

Lectures. Tradução de Cássio de

Arantes Leite. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2017.

Idioma: Português

ISBN: 978-84-510-0098-4.

e-ISBN: 978-85-510-0100-4.

ASIN: B01N0R8BDR.

Formato: Não consta. Plataforma: Kindle.

Assunto: Ciência –

Astrofísica.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual, textos e

imagens. Permite o compartilhamento de trechos da obra em redes sociais. Permite

visualizar trechos destacados por outros

autores.

M

23

BOOTHMAN, Nicholas. Como

convencer alguém em 90 segundos.

Tradução de Mayara Fortin e Renato D’Almeida. São Paulo: Universo dos

Livros, 2012. 264 p.

Idioma: Português ISBN: 978-85-7930-319-7.

ASIN: B00MDEE1E.

Formato: Não consta. Plataforma: Kindle.

Assunto: Relações

interpessoais

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Textos e imagens. Permite o

compartilhamento de trechos da obra em redes sociais. Permite visualizar trechos

destacados por outros autores.

M

24 CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas. 4. Idioma: Português Recursos básicos de leitura. B

Page 203: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

201

ed. Lisboa: Ministério dos Negócios

Estrangeiros: Instituto Camões, 2000. 560 p.

ISBN: 972-566-187-7.

Formato: PDF. Plataforma: Kindle para PC.

Assunto: Poesia portuguesa.

25

SANTOS, Andreia Inamorato dos.

Recursos educacionais abertos no

Brasil. o estado da arte, desa!os e

perspectivas para o desenvolvimento e inovação. São Paulo: Comitê Gestor da

Internet no Brasil, 2013.

Idioma: Português

ISBN: 978-85-60062-64-5. Formato: PDF.

Plataforma: Kindle para PC.

Assunto: Educação.

Recursos básicos de leitura. Textos e

imagens. B

26

CASTRO, Ana Lúcia de (Org.).

Cultura contemporânea, identidades

e sociabilidades: olhares sobre corpo, mídia e novas tecnologias. São Paulo:

Cultura Acadêmica, 2010.

Idioma: Português

ISBN: 978-85-7983-095-2. Formato: PDF.

Plataforma: Kindle para PC. Assunto: Inovações

tecnológicas.

Recursos básicos de leitura. B

27

HILL, Symon. Eu sou alguém

especial: Uma metáfora sobre

autoestima. Minas Gerais: Clube dos Autores, 2009. 98 p.

Idioma: Português

ISBN: Não consta. Formato: PDF.

Plataforma: Kindle para PC.

Assunto: Autoestima. Obs.: Acessado

gratuitamente pelo sítio do

autor.

Recursos básicos de leitura. Textos e

imagens. B

28

HILL, Symon. Criatividade: inovando e aplicando no mundo empresarial. São

Paulo: Clube de Autores, 2009. 83 p.

Idioma: Português

ISBN: Não consta.

Formato: PDF. Plataforma: Kindle para PC.

Assunto: Inovação.

Obs.: Acessado gratuitamente pelo sítio do

autor.

Recursos básicos de leitura. B

29 CERVANTES SAAVEDRA, Miguel de. D. Quixote: Vol. I. [S.l.]:

eBooksBrasil, 2005. 308 p. v. 1.

Idioma: Português.

ISBN: Não consta. Formato: PDF.

Plataforma: Kindle para PC.

Assunto: Romance de aventura.

Obs.: Digitalização da

edição em papel de

Clássicos Jackson, Vol.

VIII. Acessado pelo sítio Domínio Público.

Recursos básicos de leitura. B

30

CERVANTES SAAVEDRA, Miguel

de. D. Quixote: Vol. II. [S.l.]: eBooksBrasil, 2005. 308 p. v. 2.

Idioma: Português.

ISBN: Não consta.

Formato: PDF. Plataforma: Kindle para PC.

Assunto: Romance de

aventura. Obs.: Digitalização da

edição em papel de

Clássicos Jackson, Vol. IX. Acessado pelo sítio

Domínio Público.

Recursos básicos de leitura. B

31

CALVÃO, Leandro Dantas; PIMENTEL, Mariano; FUKS, Hugo.

Do e-mail ao facebook: uma

perspectiva evolucionista sobre os

meios de comunicação da internet. Rio

de Janeiro: UNIRIO, 2014. 317 p.

Idioma: Português. ISBN: 978-85-61066-50-5.

ASIN: B00NBJD0WC.

Formato: Não consta.

Plataforma: Kindle.

Assunto: Cibercultura.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual, hiperlinks ao longo do conteúdo, imagens. Permite o

compartilhamento de trechos da obra em

redes sociais.

M

32

MONTADON JÚNIOR, Marcelo. Investir cada vez melhor: aprenda a

investir sozinho. Goiânia: O Autor,

2013. 390 p.

Idioma: Português.

ISBN: Não consta. ASIN: B00HYMOKOO

Formato: Não consta.

Plataforma: Kindle. Assunto: Investimentos.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual, hiperlinks ao longo do conteúdo, imagens. Permite o

compartilhamento de trechos da obra em

redes sociais. Permite visualizar trechos destacados por outros autores.

M

33

GERBER, Janet. How to speak

english fluently: tips & tricks for

english learners. [S.l.]: A Autora, 2014.

53 p.

Idioma: Inglês.

ISBN: Não consta. ASIN: B00J1ZCUOO

Formato: Não consta.

Plataforma: Kindle. Assunto: Idiomas.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual e hiperlinks ao longo do conteúdo. Permite o

compartilhamento de trechos da obra em

redes sociais. Permite visualizar trechos destacados por outros autores.

M

34

GERBER, Janet. 650+ english phrases

for everyday speaking: phrases for beginning and intermediate english

Idioma: Inglês.

ISBN: Não consta. ASIN: BOOK5WYEJQ

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual e hiperlinks ao longo do conteúdo. Permite o

M

Page 204: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

202

learners. [S.l.]: A Autora, 2014. 79 p. Formato: Não consta.

Plataforma: Kindle. Assunto: Idiomas – Língua

inglesa.

compartilhamento de trechos da obra em

redes sociais. Permite visualizar trechos destacados por outros autores.

35

GERBER, Janet. The complete guide

to travel english: common english

phrases for you next trip abroad. [S.l.]:

A Autora, 2014. 74 p.

Idioma: Inglês. ISBN: Não consta.

ASIN: B00N7F32AA

Formato: Não consta. Plataforma: Kindle.

Assunto: Idiomas – Língua

inglesa.

Recursos básicos de leitura e recursos interativos. Sumário hipertextual e

hiperlinks ao longo do conteúdo. Permite o

compartilhamento de trechos da obra em redes sociais. Permite visualizar trechos

destacados por outros autores.

M

36

GERBER, Janet. O guia completo de

inglês básico: aprender falar frases e

vocabulários iniciantes em inglês. [S.l.]: A Autora, 2015. 68 p.

Idioma: Inglês. ISBN: Não consta.

ASIN: B00U09ZT8O Formato: Não consta.

Plataforma: Kindle.

Assunto: Idiomas – Língua inglesa.

Recursos básicos de leitura e recursos interativos. Sumário hipertextual e

hiperlinks ao longo do conteúdo. Permite o compartilhamento de trechos da obra em

redes sociais. Permite visualizar trechos

destacados por outros autores.

M

37

GONÇALVES, Carlos Eduardo;

GUIMARÃES, Bernardo. Economia

sem truques: o mundo a partir das

escolhas de cada um. [S.l.]: Os

Autores, 2015. 228 p.

Idioma: Português.

ISBN: Não consta.

ASIN: B00TH9W9WM Formato: Não consta.

Plataforma: Kindle.

Assunto: Economia doméstica.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual, textos,

imagens e hiperlinks ao longo do conteúdo.

Permite o compartilhamento de trechos da obra em redes sociais. Permite visualizar

trechos destacados por outros autores.

M

38

SCOTT, S. J. 23 hábitos anti-

procrastinação: como deixar de ser

preguiçoso e ter resultados em sua

vida. [S.L.]: O Autor, 2014. 76 p.

Idioma: Português.

ISBN: Não consta. ASIN: B00QKZ8CZE

Formato: Não consta.

Plataforma: Kindle. Assunto: Autoajuda

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual e

hiperlinks ao longo do conteúdo. Permite o compartilhamento de trechos da obra em

redes sociais.

M

39

GENTIL, Paulo. Emagrecimento:

quebrando mitos e mudando paradigmas. 3. ed. [S.l.]: Paulo Gentil,

2014.

Idioma: Português.

ISBN: 1505710928.

ASIN: B00RECDROS. Formato: Não consta.

Plataforma: Kindle.

Assunto: Emagrecimento.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual, textos,

imagens e hiperlinks ao longo do conteúdo. Permite o compartilhamento de trechos da

obra em redes sociais. Permite visualizar

trechos destacados por outros autores.

M

40

DELANEY, Luke. Brutal. Tradução

de Maira Parula. [S.l.]: Fábrica231,

2015. 416 p.

Idioma: Português.

ISBN: 9788568432129.

ASIN: B00TE7I1RO Formato: Não consta.

Plataforma: Kindle.

Assunto: Suspense policial.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual. Permite o compartilhamento de trechos da obra em

redes sociais.

M

41

ATALLA, Márcio. Sua vida em

movimento. 2. ed. São Paulo: Paralela, 2012. 112 p.

Idioma: Português.

ISBN: 978-85-6553-010-1.

ASIN: B009WWFJ12. Formato: Não consta.

Plataforma: Kindle.

Assunto: Qualidade de vida.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual, textos,

imagens e hiperlinks ao longo do conteúdo. Permite o compartilhamento de trechos da

obra em redes sociais. Mostra trechos

destacados por outros autores.

M

42

SUTHERLAND, Jeff. Scrum: a arte

de fazer o dobro do trabalho na metade

do tempo. São Paulo: Leya, 2014. 231 p.

Idioma: Português. ISBN: 9788844100882.

ASIN: B01N0QKCL5.

Formato: Não consta. Plataforma: Kindle.

Assunto: Produtividade.

Recursos básicos de leitura e recursos interativos. Sumário hipertextual, textos,

imagens e hiperlinks ao longo do conteúdo.

Permite o compartilhamento de trechos da obra em redes sociais. Mostra trechos

destacados por outros autores.

M

43

HILSDORF, Carlos. Atitudes

empreendedoras: como transformar

sonhos em realidade e fazer seu projeto

de vida acontecer. [S.l.]: Portfolio-

Penguin, 2015. 240 p.

Idioma: Português. ASIN: B00XZEL58E

Formato: Não consta.

Plataforma: Kindle. Assunto:

Empreendedorismo.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual, textos e

imagens. Permite o compartilhamento de

trechos da obra em redes sociais. Mostra

trechos destacados por outros autores.

M

44

DASHNER, James. Maze runner:

prova de fogo. Tradução de Henrique Monteiro. São Paulo: V & R, 2014.

401 p. (Maze Runner)

Idioma: Português.

ISBN: 978-85-7683-531-8. ISBN: 8576832992.

ASIN: B00A3OL1Z6. Formato: ePUB.

Plataforma: Kindle.

Assunto: Ficção científica.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Permite o compartilhamento de trechos da obra em redes sociais.

M

45

EKER, T. Harv. Os segredos da

mente milionária: aprenda a

enriquecer mudando seus conceitos

sobre dinheiro e adotando os hábitos das pessoas bem-sucedidas. Tradução

de Pedro Jorgensen Júnior. Rio de

Janeiro: Sextante, 2010. 176 p.

Idioma: Português. e-ISBN: 978-85-7542-576-

3.

ISBN: 978-85-7542-239-7. ASIN: B00A3D1FVC

Formato: ePUB.

Plataforma: Kindle.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual. Permite o

compartilhamento de trechos da obra em redes sociais. Mostra trechos destacados

por outros autores.

M

Page 205: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

203

Assunto: Riqueza –

Aspectos psicológicos.

46 BERALDO, J. M. Império de

diamante. São Paulo: Draco, 2015.

312 p. (Série Reinos Eternos, 1).

Idioma: Português.

ISBN: 978-85-8243-040-8.

ISBN: 978-85-8243-041-5. ASIN: B00SZ217G6

Formato: Não consta.

Plataforma: Kindle. Assunto: Ficção brasileira.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual. Permite o

compartilhamento de trechos da obra em redes sociais.

M

47

CARROLL, Lewis. Alice: aventuras de

Alice no País das Maravilhas &

Através do espelho. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro:

Zahar, 2012. 416 p. (Clássicos Zahar).

Idioma: Português.

ISBN: 978-85-378-0930-3.

ISBN: 978-85-3780-826-9. ASIN: B00A2V2A4G.

Formato: ePUB. Plataforma: Kindle.

Assunto: Literatura infanto-

juvenil.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual, textos e

imagens. Permite o compartilhamento de trechos da obra em redes sociais. Mostra

trechos destacados por outros autores.

M

48

BACCI, André Luis Ferreira da Silva.

Introdução aos fundos de

investimento imobiliário. Brasília: O Autor, 2017. 218 p.

Idioma: Português. ISBN: Não consta.

ASIN: B00JGZOLOG

Formato: Não consta. Plataforma: Kindle.

Assunto: Investimentos

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual, textos,

imagens e hiperlinks. Permite o

compartilhamento de trechos da obra em

redes sociais.

M

49 MEDEIROS, Esthon. Bitcoin: entenda o que é e por onde começar. [S.l.]: O

Autor, 2017. 47 p.

Idioma: Português. ISBN: Não consta.

ASIN: B076Z5H8PH

Formato: Não consta. Plataforma: Kindle.

Assunto: Criptomoedas

Recursos básicos de leitura e recursos interativos. Sumário hipertextual, textos,

imagens e hiperlinks. Permite o

compartilhamento de trechos da obra em redes sociais. Mostra trechos destacados

por outros autores.

M

50

GIBSON, William. Neuromancer.

Tradução de Fábio Fernandes. 5. ed. São Paulo: Aleph, 2015. 312 p.

Idioma: Português.

ISBN: 978-85-7657-049-3. ASIN: B015EED5IU

Formato: Não consta.

Plataforma: Kindle. Assunto: Ficção científica.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual, textos,

imagens e hiperlinks. Permite o compartilhamento de trechos da obra em

redes sociais.

M

51

CLARKE, Arthur C. 2001: uma

odisseia no espaço. Tradução de Fábio

Fernandes. São Paulo: Aleph, 2014.

336 p.

Idioma: Português.

ISBN: 978-85-7657-171-1. ISBN: 978-85-7657-155-1.

ASIN: B015EE5N9E.

Formato: ePUB. Plataforma: Kindle.

Assunto: Ficção científica.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual. Mostra

trechos destacados por outros autores. M

52

VILCHES, Jesus B. Awënn soul &

sword: final fantasy book 1: sketches. Ilustrações de Javier Charro. [S.l.]:

Smashwords, 2013. 80 p.

Idioma: Espanhol. ISBN: Não consta.

Formato: ePUB.

Plataforma: Kobo. Assunto: Artes.

Recursos básicos de leitura. A obra é

resultante da compilação de várias ilustrações, complementada com texto, mas

sem outros recursos ou formas de interação.

B

53

MARTINS, Lígia Márcia; DUARTE,

Newton (Org.). Formação de

professores: limites contemporâneos e alternativas necessárias. São Paulo:

Cultura Acadêmica: EdUNESP, 2010.

191 p.

Idioma: Português. ISBN: 978-85-7983-103-4.

Formato: ePUB.

Plataforma: Kobo. Assunto: Educação.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Inclui alguns hiperlinks. Permite o compartilhamento de trechos da

obra em redes sociais.

M

54

OLIVEIRA, Henry P. C. de: VIDOTTI, Silvana A. B. G.; BENTES,

Virgínia. Arquitetura da informação

pervasiva. São Paulo: Cultura

Acadêmica, 2015.

Idioma: Português.

ISBN: 978-85-7983-667-1.

Formato: ePUB. Plataforma: Kobo.

Assunto: Sistemas de

recuperação de informação.

Recursos básicos de leitura e recursos interativos. Sumário hipertextual. Inclui

alguns hiperlinks e algumas imagens.

Permite o compartilhamento de trechos da

obra em redes sociais.

M

55

SILVA, Marilda da; VALDEMARIN, Vera Teresa (Org.). Pesquisa em

educação: métodos e modos de fazer.

São Paulo: Cultura Acadêmica: EdUNESP, 2015.

Idioma: Português. ISBN: 978-85-7983-129-4.

Formato: ePUB.

Plataforma: Kobo. Assunto: Educação.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Inclui alguns hiperlinks. Permite o compartilhamento de trechos da

obra em redes sociais.

M

56

VALENTIM, Marta (Org.). Gestão,

mediação e uso da informação. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010.

Idioma: Português.

ISBN: 978-85-7983-117-1. Formato: ePUB.

Plataforma: Kobo.

Assunto: Gestão do conhecimento.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Inclui alguns hiperlinks e

algumas imagens. Permite o compartilhamento de trechos da obra em

redes sociais.

M

57

GARCÍA CANCLINI, Néstor.

Leitores, espectadores e internautas. Tradução de Ana Goldberger. São

Paulo, Iluminuras, 2013. (Coleção Os

livros do observatório).

Idioma: Português.

ISBN: 978-85-7321-283-9. Formato: ePUB.

Plataforma: Kobo.

Assunto: Leitura.

Recursos básicos de leitura e recursos interativos. Permite o compartilhamento de

trechos da obra em redes sociais. M

Page 206: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

204

58 CRISTOBAL, Mark A. J. Star wars: Artoo Detoo: droid of a kind (Volume

1). [S.l.]: Smashwords, 2012.

Idioma: Inglês.

ISBN: Não consta. Formato: ePUB.

Plataforma: Kobo.

Assunto: Ficção científica.

Recursos básicos de leitura e recursos interativos. Permite o compartilhamento de

trechos da obra em redes sociais. M

59

SOUZA, Robson Pequeno de; MOITA,

Filomena da M. C. da S. C.;

CARVALHO, Ana Beatriz Gomes (Org.). Tecnologias digitais na

educação. Campina Grande: EdUEPB,

2011.

Idioma: Português.

ISBN: 978-85-7879-124-7.

Formato: ePUB. Plataforma: Kobo.

Assunto: Tecnologias na

educação.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Inclui hiperlinks e imagens. Permite o compartilhamento de trechos da

obra em redes sociais.

M

60

DONATO, Nuno. Da preguiça à

produtividade: (sem sair do sítio). [S.l.]: WiseAction, [201-].

Idioma: Português. ISBN: Não consta.

Formato: ePUB. Plataforma: Kobo.

Assunto: Produtividade.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual, hiperlinks e imagens. Permite o compartilhamento de

trechos da obra em redes sociais.

M

61

CERBASI, Gustavo. Cartas a um

jovem investidor: enriquecer é uma

questão de escolha. Rio de Janeiro:

Elsevier, 2008. (Cartas a um jovem -).

Idioma: Português.

e-ISBN: 978-85-352-4307-9.

ISBN: 978-85-352-2672-0.

Formato: ePUB. Plataforma: Kobo.

Assunto: Finanças pessoais.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual. Permite o

compartilhamento de trechos da obra em

redes sociais.

M

62

MATTOS, Alessandro Nicoli de.

Informação é prata, compreensão é

ouro: um guia pra todos sobre como

produzir e consumir informação na Era da Compreensão. [S.l.]: Smashwords,

2013.

Idioma: Português.

ISBN: Não consta. Formato: ePUB.

Plataforma: Kobo.

Assunto: Comunicação.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual, hiperlinks

e imagens. Permite o compartilhamento de trechos da obra em redes sociais.

M

63

FERRARI, Jéssica Fernanda. Patas

amigas: quando os cães se

transformam em coterapeutas. Itu, SP:

FoxTablet, 2014

Idioma: Português.

ISBN: 978-85-66799-04-0. Formato: ePUB.

Plataforma: Kobo.

Assunto: Cães - Terapêutica.

Recursos básicos de leitura e recursos interativos. Textos e imagens. Permite o

compartilhamento de trechos da obra em

redes sociais.

M

64

JACOB, Verlu Castellano.

Pensamentos compartilhados. São

Paulo: Verlu, 2013.

Idioma: Português.

ISBN: Não consta. Formato: ePUB.

Plataforma: Kobo.

Assunto: Relações interpessoais

Recursos básicos de leitura e recursos interativos. Textos e imagens. Permite o

compartilhamento de trechos da obra em

redes sociais.

M

65 FOX, Tom. Génesis: um novo começo.

Amadora, Portugal: Topseller, 2016.

Idioma: Português.

e-ISBN: 978-989-8839-47-3.

ISBN: 978-989-8839-12-1.

Formato: ePUB. Plataforma: Kobo.

Assunto: Romance

português

Recursos básicos de leitura e recursos interativos. Permite o compartilhamento de

trechos da obra em redes sociais. M

66

SCHWEITZER, M. M. A dança dos

Orkshas. [S.l.]: Smashwords, 2016.

(Antologias de Morserus).

Idioma: Português. ISBN: 978-131-0058-96-7.

Formato: ePUB.

Plataforma: Kobo. Assunto: Romance esotérico

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Permite o compartilhamento de

trechos da obra em redes sociais. M

67 SCHWEITZER, M. M. O enigma da

vida. [S.l.]: Smashwords, 2016.

(Antologias de Morserus).

Idioma: Português.

ISBN: 978-137-0527-22-9. Formato: ePUB.

Plataforma: Kobo.

Assunto: Romance esotérico

Recursos básicos de leitura e recursos interativos. Permite o compartilhamento de

trechos da obra em redes sociais. M

68

MELO, Eduardo; TAVARES, José Fernando (Org.). O mercado de

ebooks no Brasil: coletânea sobre o

mercado, produção e marketing. Porto Alegre: Simplíssimo, 2012.

Idioma: Português. ISBN: Não consta.

Formato: ePUB.

Plataforma: Kobo. Assunto: Mercado editorial

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Hipertextos, textos e imagens. Permite o compartilhamento de trechos da

obra em redes sociais.

M

69

FONSECA, José da; CAROLINO, Pedro. English as she it spoke or A

jest in sober earnest. [S.l.]: Read

Forward, [201-].

Idioma: Inglês.

ISBN: Não consta. Formato: ePUB.

Plataforma: Kobo.

Assunto: Idiomas – Língua inglesa

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Permite o compartilhamento de trechos da obra em redes sociais.

M

70

DEBBIO, Marcelo del. O grande

computador celeste: uma edição dos artigos essenciais do blog Teoria da

Conspiração. Organizado por Rafael

Arrais. [S.l.]: T T, [201-].

Idioma: Português.

ISBN: Não consta. Formato: ePUB.

Plataforma: Kobo.

Assunto: Astrologia.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Sumário hipertextual. Hipertextos, textos e imagens. Permite o

compartilhamento de trechos da obra em

redes sociais.

M

Page 207: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

205

71

ROMERO, David Hijón. Sangre y

polvo, Duendarion el cuentacuentos.

[S.l.]: Smashwords, 2014. 103 p.

(Crónicas de Gaia).

Idioma: Espanhol.

ISBN: Não consta. Formato: Não consta.

Plataforma: iBooks.

Assunto: Romance de fantasia.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Permite o compartilhamento de trechos da obra em redes sociais.

M

72

CONTROLLE. Abra sua empresa

sem dinheiro: o guia que faltava para

você tirar suas ideias do papel sem recursos. [S.l.]: Controlle, 2017. 44 p.

(Controlle, 2).

Idioma: Português.

ISBN: Não consta. Formato: Não consta.

Plataforma: iBooks.

Assunto: Empreendedorismo.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Permite o compartilhamento de trechos da obra em redes sociais.

M

73

ORGANIZZE. 49 dicas fabulosas de

economia doméstica. [S.l.]: Organizze, 2014. 38 p.

Idioma: Português.

ISBN: Não consta. Formato: Não consta.

Plataforma: iBooks.

Assunto: Economia doméstica.

Recursos básicos de leitura e recursos

interativos. Permite o compartilhamento de trechos da obra em redes sociais.

M

Observação importante: A maioria dos itens foi avaliada a partir de seus aplicativos instalados em um iPhone.

Portanto, há que se considerar que alguns recursos funcionam de maneira limitada em outros equipamentos, o

que pode interferir no potencial de imersão.

Page 208: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

206

APÊNDICE G – Roteiro Condensado da Coleção Digital

N. Título Autor Editora Idioma Assunto Formato Plataforma

1 Amazônia Marcos A. de Lima

Filho Sheep Books Português Natureza Não consta iBooks

2 VISUAL dictionary: 11

languages

Inovative Language

Learning, LLC

Inovative Language

Learning,

LLC

Inglês Línguas

estrangeiras Não consta iBooks

3 Kids vs cats: how to and not

to play with cats

Peter Galant, Felipe

Kolb

Inovative Language

Learning, LLC

Inglês Literatura

infantojuvenil Não consta iBooks

4 A ditadura acabada Elio Gaspari Intrínseca Português Brasil – Política

e governo Não consta iBooks

5 E.O. Wilson’s life on earth: unity & diversity of life on

earth (Vol. 1)

Edward O. Wilson, Morgan Ryan, Gaël

McGill

Wilson

Digital Inglês

Biologia.

Ciências da vida Não consta iBooks

6

E.O. Wilson’s life on earth:

guided tour of the living cell (Vol. 2)

Edward O. Wilson,

Morgan Ryan, Gaël McGill

Wilson

Digital Inglês

Biologia.

Ciências da vida Não consta iBooks

7 E.O. Wilson’s life on earth:

genetics (Vol. 3)

Edward O. Wilson,

Morgan Ryan, Gaël McGill

Wilson

Digital Inglês

Biologia.

Ciências da vida Não consta iBooks

8 E.O. Wilson’s life on earth: animal physiology (Vol. 4)

Edward O. Wilson,

Morgan Ryan, Gaël

McGill

Wilson Digital

Inglês Biologia. Ciências da vida

Não consta iBooks

9 E.O. Wilson’s life on earth: plant physiology (Vol. 5)

Edward O. Wilson,

Morgan Ryan, Gaël

McGill

Wilson Digital

Inglês Biologia. Ciências da vida

Não consta iBooks

10 E.O. Wilson’s life on earth: guided tour of biodiversity

(Vol. 6)

Edward O. Wilson, Morgan Ryan, Gaël

McGill

Wilson

Digital Inglês

Biologia.

Ciências da vida Não consta iBooks

11 E.O. Wilson’s life on earth: guided tour of ecosystems

(Vol. 7)

Edward O. Wilson, Morgan Ryan, Gaël

McGill

Wilson

Digital Inglês

Biologia.

Ciências da vida Não consta iBooks

12 The interactive space book Graham K. Wright O autor Inglês Ciência e natureza

Não consta iBooks

13

Um olhar nos espaços de

dimensão 3: catálogo

interativo da exposição

Luiz Velho, Julia Gianella

IMPA / MAST

Português Matemática Não consta iBooks

14 Inferno Dan Brown Doubleday Inglês Ficção Não consta Kindle

15 Número zero Umberto Eco Record Português Ficção italiana Não consta iBooks

16 História das copas José Eduardo de

Carvalho Estadão Português Futebol Não consta iBooks

17 A ascensão dos dragões Morgan Rice A autora Português Fantasia Não consta iBooks

18 Transformada Morgan Rice A autora Português Fantasia Não consta iBooks

19 A canção de Monalisa Helena Gomes Biruta Português Literatura

infantojuvenil PDF iBooks

20

The ABC of gender equality

in education: aptitude,

behaviour, confidence

OECD Publishing OECD

Publishing Inglês Educação PDF

OECD iLibrary

(via

Portal CAPES)

21

10 anos de governos pós-

neoliberais no Brasil: Lula e

Dilma

Emir Sader (Org.)

Boitempo;

FLACSO

Brasil

Português Brasil – Política e governo

Não consta Kindle

22 Buracos negros: palestras da

BBC Reith Lectures Stephen Hawking Intrínseca Português

Ciência –

Astrofísica Não consta Kindle

23 Como convencer alguém em

90 segundos Nicholas Boothman

Universo dos

Livros Português

Relações

interpessoais Não consta Kindle

24 Os Lusíadas Luís de Camões Instituto

Camões Português

Poesia

portuguesa PDF Kindle

25 Recursos educacionais

abertos no Brasil

Andreia Inamorato

dos Santos

Comitê Gestor da

Internet no

Brasil

Português Educação PDF Kindle

26 Cultura contemporânea, identidades e sociabilidades

Ana Lúcia de Castro (Org.)

Cultura Acadêmica

Português Inovações tecnológicas

PDF Kindle

Page 209: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

207

27 Eu sou alguém especial Symon Hill Clube de

Autores Português Autoestima PDF Kindle

28 Criatividade Symon Hill Clube de

Autores Português Inovação PDF Kindle

29 D. Quixote. Vol. I Miguel de Cervantes eBooksBrasil Português Romance de

aventura PDF Kindle

30 D. Quixote. Vol. II Miguel de Cervantes eBooksBrasil Português Romance de

aventura PDF Kindle

31 Do e-mail ao Facebook

Leandro Dantas

Calvão, Mariano Pimentel, Hugo

Fuks

UNIRIO Português Cibercultura Não consta Kindle

32 Investir cada vez melhor: aprenda a investir sozinho

Marcelo Montadon Júnior

O autor Português Investimentos Não consta Kindle

33

How to speak english

fluently: tips & tricks for english learners

Janet Gerber A autora Inglês Idiomas – Língua

inglesa Não consta Kindle

34 650+ english phrases for

everyday speaking Janet Gerber A autora Inglês

Idiomas – Língua

inglesa Não consta Kindle

35 The complete guide to travel english

Janet Gerber A autora Inglês Idiomas – Língua inglesa

Não consta Kindle

36 O guia completo de inglês

básico Janet Gerber A autora Inglês

Idiomas – Língua

inglesa Não consta Kindle

37 Economia sem truques: o mundo a partir das escolhas

de cada um

Carlos Eduardo Gonçalves,

Bernardo Guimarães

Os autores Português Economia

doméstica Não consta Kindle

38 23 hábitos anti-

procrastinação S. J. Scott O autor Português Autoajuda Não consta Kindle

39 Emagrecimento: quebrando

mitos e mudando paradigmas Paulo Gentil O autor Português Emagrecimento Não consta Kindle

40 Brutal Luke Delaney Fábrica231 Português Suspense policial Não consta Kindle

41 Sua vida em movimento Márcio Atalla Paralela Português Qualidade de vida

Não consta Kindle

42

Scrum: a arte de fazer o

dobro do trabalho na metade

do tempo

Jeff Sutherland Leya Português Produtividade Não consta Kindle

43 Atitudes empreendedoras Carlos Hilsdorf Portfolio-

Penguin Português

Empreendedoris

mo Não consta Kindle

44 Maze runner: prova de fogo James Dashner V & R Português Ficção científica ePUB Kindle

45 Os segredos da mente

milionária T. Harv Eker Sextante Português

Riqueza – aspectos

psicológicos

ePUB Kindle

46 Império de diamante J. M. Beraldo Draco Português Ficção brasileira Não consta Kindle

47 Alice: aventuras de Alice no País das Maravilhas &

através do espelho

Lewis Carroll Zahar Português Literatura

infantojuvenil ePUB Kindle

48 Introdução aos fundos de investimento imobiliário

André Luis Ferreira da Silva Bacci

O autor Português Investimentos Não consta Kindle

49 Bitcoin: entenda o que é e

por onde começar Esthon Medeiros O autor Português Criptomoedas Não consta Kindle

50 Neuromancer Willian Gibson Aleph Português Ficção científica Não consta Kindle

51 2001: uma odisseia no espaço

Arthur C. Clarke Aleph Português Ficção científica ePUB Kindle

52 Awënn soul & sword: final

fantasy book 1: sketches

Jesus B. Vilches

(Texto), Javier Charro (Ilustr.)

Smashwords Espanhol Artes ePUB Kobo

53

Formação de professores:

limites contemporâneos e

alternativas necessárias

Lígia Márcia

Martins, Newton

Duarte (Org.)

Cultura

Acadêmica;

EdUNESP

Português Educação ePUB Kobo

54 Arquitetura da informação

pervasiva

Henry P. C. de

Oliveira, Silvana A.

B. G. Vidotti, Virgínia Bentes

Cultura Acadêmica;

EdUNESP

Português Sistemas de recuperação de

informação

ePUB Kobo

55 Pesquisa em educação: métodos e modos de fazer

Marilda da Silva,

Vera Teresa Valdemarin (Org.)

Cultura Acadêmica

Português Educação ePUB Kobo

56 Gestão, mediação e uso da

informação

Marta Valentim

(Org.)

Cultura

Acadêmica Português

Gestão do

conhecimento ePUB Kobo

57 Leitores, espectadores e internautas

Néstor García Canclini

Iluminuras Português Leitura ePUB Kobo

58 Star wars: Artoo Detoo:

droid of a kind (Volume 1) Mark A. J. Cristobal Smashwords Inglês Ficção científica ePUB Kobo

59 Tecnologias digitais na

educação

Robson Pequeno de

Sousa, Filomena da EdUEPB Português

Tecnologias da

educação ePUB Kobo

Page 210: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

208

M. C. da S. C.

Moita, Ana Beatriz Gomes Carvalho

(Org.)

60 Da preguiça à produtividade: (sem sair do sítio)

Nuno Donato WiseAction Português Produtividade ePUB Kobo

61 Cartas a um jovem investidor Gustavo Cerbasi Elsevier Português Finanças

pessoais ePUB Kobo

62

Informação é prata, compreensão é ouro: um guia

pra todos sobre como

produzir e consumir informação na Era da

Compreensão

Alessandro Nicoli

de Mattos Smashwords Português Comunicação ePUB Kobo

63 Patas amigas: quando os cães se transformam em

coterapeutas

Jéssica Fernanda

Ferrari FoxTablet Português

Cães -

terapêutica ePUB Kobo

64 Pensamentos compartilhados Verlu Castellano

Jacob Verlu Português

Relações

interpessoais ePUB Kobo

65 Génesis: um novo começo Tom Fox Topseller Português Romance ePUB Kobo

66 A dança dos Orkshas M. M. Schweitzer Smashwords Português Romance

esotérico ePUB Kobo

67 O enigma da vida M. M. Schweitzer Smashwords Português Romance esotérico

ePUB Kobo

68

O mercado de e-books no

Brasil: coletânea sobre o

mercado, produção e marketing

Eduardo Melo, José Fernando Tavares

(Org.)

Simplíssimo Português Mercado

editorial ePUB Kobo

69 English as she it spoke or A

jest in sober earnest

José da Fonseca,

Pedro Carolino Read Forward Inglês

Idiomas – Língua

inglesa ePUB Kobo

70

O grande computador celeste: uma edição dos

artigos essenciais do blog

Teoria da Conspiração

Marcelo Del

Debbio, Rafael Arrais (Org.)

T T Português Astrologia ePUB Kobo

71 Sangre y polvo, Donderion,

el cuentacuentos

David Hijón

Romero Smashwords Espanhol Romance Não consta iBooks

72 Abra sua empresa sem

dinheiro (Vol. 2) Controlle Controlle Português

Empreendedoris

mo Não consta iBooks

73 49 dicas fabulosas de

economia doméstica Organizze Organizze Português

Economia

doméstica Não consta iBooks

Page 211: CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS - ufmt.br · CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS LEITORES E E-BOOKS: NOVAS FORMAS DE LEITURA E SUAS AQUISIÇÕES Tese apresentada ao Programa de

209

APÊNDICE H – Comunidade Acadêmica da UFMT / Campus de Cuiabá (2013)

Instituto/Faculdade da UFMT

Alunos Matriculados

Professor3 Técnico

Admin.4 Total Percentual5

Grad.1 Pós-Grad. Lato Sensu

(Espec.)2

Pós-Grad. Stricto Sensu

(Mestrado)2

Pós-Grad. Stricto Sensu

(Doutorado)2

Faculdade de Administração e

Ciências Contábeis (FACC) 674 1030 44 0 47 20 1815 10,21%

Faculdade de Agronomia,

Medicina Veterinária e Zootecnia

(FAMEVZ)

927 0 123 75 84 31 1240 6,98%

Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia (FAET)

1218 0 49 0 86 37 1390 7,82%

Faculdade de Ciências Médicas

(FCM) 423 0 66 32 135 46 702 3,95%

Faculdade de Direito (FD) 454 380 37 0 28 14 913 5,14%

Faculdade de Economia (FE) 442 0 0 0 24 8 474 2,67%

Faculdade de Educação Física

(FEF) 398 0 15 0 15 5 433 2,44%

Faculdade de Enfermagem (FAEN)

260 0 47 0 42 7 356 2,00%

Faculdade de Engenharia Florestal

(FENF) 397 0 33 0 21 14 465 2,62%

Faculdade de Nutrição (FANUT) 349 0 30 0 45 18 442 2,49%

Instituto de Biociências (IB) 244 0 38 19 44 29 374 2,10%

Instituto de Ciências Exatas e da

Terra (ICET) 822 80 120 74 109 30 1235 6,95%

Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS)

1383 230 128 14 95 33 1883 10,60%

Instituto de Computação (IC) 313 345 0 0 26 10 694 2,67%

Instituto de Educação (IE) 692 1510 154 54 64 15 2489 14,01%

Instituto de Física (IF) 293 0 39 52 38 9 431 2,43%

Instituto de Linguagens (IL) 857 0 159 0 74 22 1112 6,26%

Instituto de Saúde Coletiva (ISC) 178 0 61 0 30 8 277 1,56%

Hospital Universitário Júlio

Müller (HUJM) 0 0 0 0 6 362 368 2,07%

Hospital Veterinário (HOVET) 0 0 0 0 1 6 7 0,04%

Outras Unidades Administrativas 0 0 0 0 57 611 668 3,76%

TOTAL 10324 3575 1143 320 1071 1335 17768 100%

Fonte: Organizado pelo autor, a partir de dados fornecidos pelas Unidades Administrativas da UFMT, conforme detalhado

abaixo. Importante ressaltar que são dados oficiais do ano de 2013, uma vez que até a coleta das informações ainda não

haviam sido divulgados os dados de 2014. Foram listados o Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM) e a o Hospital

Veterinário (HOVET), em separado, por que há professores e técnicos lotados nessas Unidades, os quais têm acesso às

instalações do Campus de Cuiabá e, portanto, também fazem parte da comunidade acadêmica. 1 Dados do Censo de 2013, fornecidos pela PROPLAN/UFMT. 2 Dados da PROPG/UFMT, 2013. Quanto ao Mestrado, trata-se apenas do curso acadêmico. 3 Dados do Censo de 2013 da UFMT, fornecidos pela PROPLAN/UFMT. Foram considerados apenas os professores efetivos

(abrangendo professores graduados, especialistas, mestres e doutores), uma vez que os professores contratados geralmente

têm um tempo de permanência menor na instituição. 4 Dados da Secretaria de Gestão de Pessoas (SGP/UFMT), 2014. Foram considerados apenas os servidores técnicos

administrativos (efetivos), desconsiderando-se funcionários contratados, uma vez que estes últimos geralmente têm um

tempo de permanência menor na instituição. 5 Percentual em relação à comunidade acadêmica total.