caritas editorial cáritas portuguesa · apresentação do livro, pela dr.ª maria clara sottomayor...

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CADERNOS DA EDITORIAL SEMANA DA EDITORIAL CÁRITAS NA LIVRARIA TELOS‑PAULUS SEMINÁRIO DE VILAR – PORTO Cáritas Editorial Po MAIO 2019

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Page 1: Caritas Editorial Cáritas Portuguesa · aPresentação do livro, Pela dr.ª maria clara sottomayor 19 Juíza do tribunal constitucional e docente da universidade católica À conversa

cadernosda editorial

semana da editorial cáritas na livraria telos ‑Paulusseminário de vilar – Porto

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maio 2019

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a aliança do pensar e do fazer

EDITORIAL CÁRITAS Praça Pasteur, nº 11 — 2.º, Esq. | 1000 –238 [email protected] | Tel. +351 911 597 808, fax. +351 218 454 221

semana da editorial cáritas na livraria telos ‑Paulus

Índice

semana da editorial cáritas na livraria telos ‑Paulus 3a editorial cáritas no seminário de vilar, no Porto

o livro «tráfico de seres Humanos – testemunHos e documentos» 8

o coordenador do livro 8

aPresentação do livro, Por d. José traquina 9Bispo de santarém e Presidente da comissão episcopal da Pastoral social e mobilidade Humana

À conversa com antónio silva soares 14coordenador do livro

o livro «o Padre das Prisões Portuguesas 17 ‑ ensaio soBre a vida do Pe. João gonçalves»

a autora do livro 17

aPresentação do livro, Pela dr.ª maria clara sottomayor 19Juíza do tribunal constitucional e docente da universidade católica

À conversa com inês leitão 26autora do livro “o Padre das Prisões Portuguesas”

livros Promovidos na semana da editorial cáritas 28na livraria telos ‑Paulus

tÍtulos PuBlicados Pela editorial cáritas 30

Na semana de 28 de maio a 02 de junho, a Editorial Cáritas esteve presente na Livraria Telos ‑Paulus, no Seminário de Vilar, no Porto, com a exposição e venda de algumas das suas obras, bem como com duas Sessões de apresentação de dois desses seus livros.Assim, cada dia da semana incidiu so‑bre a promoção de um dos livros da Editorial Cáritas (28 de maio: “Cui‑dar do Outro”; 29 de maio: “Tráfico de Seres Humanos”; 30 de maio: “O Padre das Prisões Portuguesas”; 31 de maio: “Perceção de Stress, bur‑nout e autocuidado”; 01 de junho:

“Gerontologia/Gerontagogia”; e 02 de junho: “O Cuidar Como Relação de Ajuda”) e, nos dias 29 e 30 de maio, dois desses livros foram ainda alvo de uma Sessão de apresentação, contan‑do com a presença de alguns autores e vários envolvidos nos respetivos livros, bem como com quem se quis associar às respetivas apresentações.No dia 29 de maio, o livro que foi centro de atenções foi o “Trafico de Seres Humanos ‑ Testemunhos e Documentos”, cuja apresentação foi uma organização em parceria entre o Fórum Abel Varzim e a Cá‑ritas Portuguesa, numa Sessão que

a editorial cáritas no seminário de vilar, no Porto

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da Pastoral Social e Mobilidade Hu‑mana, cuja comunicação se encontra mais à frente.O encerramento desta Sessão es‑teve a cargo do Pe. Joaquim Samuel Guedes, ecónomo diocesano, em representação de D. Manuel Lin‑da, bispo da diocese do Porto, que agradeceu a presença de todos os que ali se encontravam; agradeceu a oportunidade do livro alvo de apre‑sentação; e a sua satisfação pessoal por acolher esta iniciativa na Casa que dirige, o Seminário de Vilar.

No dia seguinte, dia 30 de maio, à noite, foi a vez da apresentação do livro “O Padre das Prisões Portugue‑sas ‑ Ensaio sobre a vida do Pe. João Gonçalves”, contando com a pre‑sença do Presidente da Cáritas Por‑tuguesa, Prof. Eugénio Fonseca, com o Diretor da Editorial Paulus, Irmão Tiago Melo, com o Diácono Miguel Abreu, assessor da Casa Diocesana de Vilar, com a autora do livro, Inês Leitão, com o protagonista do livro, Pe. João Gonçalves, e com a apresen‑tadora do mesmo, Dra. Maria Clara

contou com a presença de cerca de duas dezenas de pessoas.A Mesa da Sessão contou com a presença do Pe. Joaquim Samuel Guedes, ecónomo diocesano, em representação de D. Manuel Linda, bispo da diocese do Porto; de D. José Traquina, bispo da diocese de Santarém e Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mo‑bilidade Humana, que apresentou o livro; de António Silva Soares, Presidente do Fórum Abel Varzim e coordenador do livro; de Eugénio Fonseca, Presidente da Cáritas Por‑tuguesa; e do Pe. Sebastian, Membro da Pia Sociedade de São Paulo, em representação da Paulus Editora.O Presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, abriu os trabalhos, agradecendo às entidades envolvidas nesta apresentação. Desde logo, à Casa que acolhe esta Sessão, na pes‑soa do seu diretor, Pe. Joaquim Samuel Guedes, à Telos ‑Paulus, na pessoa do representante da Paulus, Pe. Sebastian; ao Fórum Abel Varzim, na pessoa do seu Presidente e coordenador do livro, António Silva Soares; ao autor do Prefácio do livro, D. José Traquina; e à Editorial Cáritas, na pessoa do

responsável da respetiva Equipa, Eng.º António Lage Raposo. O Pe. Sebastian, Membro da Pia Sociedade de São Paulo, em representação da Paulus Editora, por sua vez, agradeceu a cola‑boração com a Cáritas nesta iniciativa e recordou o fundador da sua Con‑gregação, Pe. Alberoni, no sentido de se criar “uma mentalidade boa”, pois, com uma mentalidade boa, “salvare‑mos a nossa mente, a nossa vida e a sociedade”. O Presidente do Fórum Abel Varzim, António Silva Soares, incidiu a sua intervenção no assunto do tráfico dos seres humanos cons‑tatando a sua realidade, mesmo que oculta, e a necessidade de se procurar perscrutar os respetivos sinais da sua presença multiforme no meio da so‑ciedade. Além disso, referiu ‑se ao Pe. Abel Varzim, à sua pessoa e obra, no sentido de aproveitarmos hoje a sua atenção aos mais pobres dos pobres e que se encontram nas margens da nossa sociedade.A apresentação do livro “Tráfico de Seres Humanos – Testemunhos e Documentos”, esteve a cargo do autor do Prefácio, D. José Traquina, bispo da diocese de Santarém e Presidente da Comissão Episcopal

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Sottomayor, Juíza do Tribunal Consti‑tucional e Docente da Universidade Católica.O Presidente da Cáritas Portuguesa, Prof. Eugénio Fonseca, saudou todos os presentes e congratulou ‑se com esta iniciativa que se traduz em mais uma apresentação deste livro da Editorial Cáritas, no sentido de uma crescente disseminação de conteú‑dos e de boas práticas.O Diretor da Editorial Paulus, Irmão Tiago Melo, agradeceu e congratulou ‑se com esta feliz par‑ceria com a Cáritas Portuguesa

desejando que a mesma seja ainda mais potenciada em prol de futuras ações deste cariz.A autora do livro, Inês Leitão, con‑textualizou a elaboração deste livro, sobretudo, a pessoa do seu prota‑gonista que considerou um exemplo a ser conhecido e reconhecido no âmbito prisional e social.De seguida, a apresentação do livro esteve a cargo da Dra. Maria Clara Sottomayor, Juíza do Tribunal Cons‑titucional e Docente da Universi‑dade Católica, cuja apresentação se encontra mais à frente.

Finda a apresentação do livro, o seu protagonista, Pe. João Gonçalves, agradeceu todas as palavras proferi‑das e a oportunidade das mesmas no sentido de que se está a dar voz aos irmãos privados de liberdade. Como é seu timbre, aproveitou o momen‑to para contar alguns episódios que tem vivido com pessoas privadas de liberdade e que nos fazem pensar en‑quanto cidadãos e enquanto cristãos.O ambiente vivido durante esta apresentação teve, assim, um misto de emoção e de chamada de atenção para um assunto que deve merecer uma crescente atenção, seja por parte da sociedade em geral, seja por parte da igreja em particular.

O encerramento da Sessão esteve a cargo do anfitrião Diácono Miguel Abreu, assessor da Casa Diocesana de Vilar que se congratulou com a realização desta iniciativa na Casa Diocesana colocando ‑a ao dispor para outras eventuais iniciativas desta natureza.De referir ainda que os livros apre‑sentados e expostos durante esta Semana da Editorial Cáritas na Li‑vraria Telos ‑Paulus, realizada no Se‑minário de Vilar, no Porto, poderão ser encontrados nas lojas da Paulus Editora, na Telos ‑Paulus, entre ou‑tras livrarias e respetivas platafor‑mas digitais, ou através da Editorial Cáritas.

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o coordenador do livroAntónio Silva Soares, coordenador deste livro, é o atual Presidente do Fórum Abel Varzim desde 2014, ao qual pertence desde o ano de 2003. É licenciado em Economia, Mestre em Análise Financeira, e Professor na Universidade Lusíada.Tem cooperado e animado a revista “Transformar” e levado a cabo a divulgação do pensamento do pa‑

dre Abel Varzim nos dias de hoje, reforçando a atualidade das ques‑tões abordadas, no que diz respei‑to ao combate ao Tráfico de Seres Humanos e à prostituição, sempre na defesa constante dos valores da pessoa humana. É membro da Comissão Nacional Justiça e Paz, Presidente do Con‑selho Fiscal da Cáritas Diocesana de Setúbal e membro do Conselho Fiscal do Centro Jovem Tabor.O organismo a que preside, o Fórum Abel Varzim, Desenvolvimento e Solidariedade, é uma instituição sem fins lucrativos, nascida para divulgar, refletir e aprofundar o pensamento e a obra do Padre Abel Varzim.

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o livro«tráfico de seres Humanos – testemunHos e documentos»

“O tráfico de pessoas existe no tempo em que vivemos e está asso‑ciado à escravatura. Sabemos que o fenómeno é antigo mas era suposto e desejável que a evolução dos po‑vos levasse à superação de muitos males sociais. Parece que a civilização avança nas ciências e na tecnologia e não consegue avançar na conside‑ração sobre os valores e princípios fundamentais, nomeadamente sobre a própria pessoa humana, a razão de ser de tudo o que existe. O Concílio Vaticano II considerou infame: “tudo o que viola a integridade da pessoa humana, como as mutilações, os tormentos corporais e mentais e as tentativas para violentar as próprias consciências; tudo quanto ofende a

dignidade da pessoa humana, como as condições de vida infra ‑humanas, as prisões arbitrárias, as deporta‑ções, a escravidão, a prostituição, o comércio de mulheres e jovens; e também as condições degradantes de trabalho; em que os operários são tratados como meros instrumentos de lucro e não como pessoas livres e responsáveis” (GS 41). O problema persiste e em grande escala. Por isso, felicito o Fórum Abel Varzim, pela publicação deste livro sobre o “Tráfico de Seres Humanos”, em parceria com a Comissão de Apoio às Vítimas de Tráfico de Pes‑soas e a Editorial Cáritas. O facto de ter sido convidado a es‑crever um prefácio para este livro,

aPresentação do livro,Por d. José traquinaBisPo de santarém e Presidente da comissão ePiscoPal da Pastoral social e moBilidade Humana

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moção dos valores que têm a ver a renovação da sociedade, tendo em conta o pensamento, a reflexão, e o dinamismo da ação social. Felicito, pois, a Editorial Cáritas por mais esta interessante publicação. Agradeço aos autores dos textos e felicito pela coragem. No contexto cultural onde reina a indiferença, os autores oferecem ‑nos abundante informação acerca das novas escra‑vaturas e tráfico de seres humanos. É uma leitura e interpretação da reali‑dade, que revela quanto é necessário denunciar e trabalhar no sentido da edificação do bem comum, da justiça e da paz, no respeito por todas as pessoas.“As pessoas são traficadas para ex‑ploração laboral, exploração sexual, prática de crimes, mendicidade, ado‑ção ilegal, tráfico de órgãos e servi‑dão doméstica”. Conforme escreve Cláudia Pedra, “O Tráfico de Seres Humanos (TSH) é uma das mais graves violações dos direitos huma‑nos do século XXI” (p. 45). Por isso é necessário desenvolver a “valiosa informação que ajuda a proteger dos namorados falsos, das agências con‑

troladas por traficantes e das falsas ofertas de emprego” (p. 49). É grande a diversidade de contextos, formas e meios utilizados no tráfi‑co e exploração da pessoa humana. Cláudia Pedra descreve ‑nos a “dura realidade escondida” de escravatura e exploração humana, em diversos países do mundo e também em Portugal e a Irmã Gabriela Bottani alerta ‑nos que, em diversas circuns‑tâncias, os traficantes de crianças e adolescentes têm origem no mesmo país das crianças e adolescentes traficadas, contando ‑nos a sua expe‑riência em campos de refugiados do Sudão. O testemunho das mulheres acompanhadas pela Irmãs Oblatas, contado por Helena Fidalgo e Irmã Pura Gonzalez e também o testemu‑nho de Inês Fontinha, da Instituição “O Ninho”, reportam ‑nos à dura realidade da escravatura e explora‑ção sexual das mulheres obrigadas a prostituírem ‑se. O juiz Pedro Vaz Patto, concede ‑nos informação acerca da legislação em Portugal e noutros países e dos procedimentos corretos de atuação, relativamente ao tráfico de pessoas e exploração

ajudou ‑me a crescer em sensibilida‑de e conhecimento sobre o proble‑ma identificado no título. Cuidar dos pobres, dos explorados e de todas as pessoas atingidas na sua dignidade humana e cuidar do planeta Terra, é uma urgência e uma profecia para a viabilização do futuro da humanida‑de e do mundo. Estamos, portanto, perante um trabalho de elevada importância e interesse. Com mais esta iniciativa, o Fórum Abel Varzim, mantém viva a memória de um Padre que exercendo a sua missão pastoral numa Paróquia do Chiado, em Lis‑boa, assumiu um olhar novo sobre a realidade das mulheres exploradas naquela zona da cidade. Sublinho

o belíssimo texto de Licínio Lima, acerca da vida do Padre Abel Varzim e do contexto histórico e social em que viveu no passado, mas recente, século XX. Felicito também a Comissão de Apoio às Vítimas de Tráfico de Pes‑soas. Uma missão de que também se ocupou o Padre Abel Varzim, apesar da muita adversidade.A Missão da Cáritas não é somente cuidar das famílias e pessoas pobres que atende, e das emergências que exigem grandes respostas. É, tam‑bém, contribuir para a sensibilidade, boa formação humana e desenvol‑vimento da sociedade. A Editorial Cáritas assume esta missão de pro‑

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Concede ‑nos ainda esta publicação retomar a sensibilidade do Papa Francisco que há muito manifesta a sua preocupação com o tráfico de seres humanos, definindo ‑o como “uma verdadeira forma de escravatu‑ra que, dolorosamente, se tem difun‑dido cada vez mais, que atinge todos os países, inclusive os mais desen‑volvidos, e que afeta as pessoas mais vulneráveis da sociedade: mulheres e jovens, meninos e meninas, defi‑cientes, os mais pobres e as pessoas que vêm de situações de desintegra‑ção familiar ou social (p. 105). Não podemos permanecer indiferentes

perante o conhecimento de que os seres humanos estão a ser vendidos e comprados como objetos” (p. 115). A II parte deste livro oferece ‑nos do‑cumentos e informação abundante sobre o tema. Ouso salientar o do‑cumento da Cáritas Internacional (p. 131) que nos permite avaliar a gran‑deza do problema e o esforço já de‑senvolvido. Importa que este esforço seja extensivo e, portanto, não se deixe de denunciar qualquer situação que se configure com escravatura ou tráfico de pessoas. Também por isso e para isso este livro é importante. Muito obrigado.”

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humana. Mas na dúvida, para quem considere a legalização da prostitui‑ção, Pedro Vaz Patto, esclarece: “Não pode ignorar ‑se a especificidade da exploração sexual em relação à exploração laboral em geral. Não podemos dizer que estamos perante um trabalho como qualquer outro e que a ele se aplicam, sem mais, todas as considerações relativas à explo‑ração e nenhuma outra em especial. A exploração, ou mercantilização, do corpo humano (porque a pessoa não tem um corpo, é um corpo) atinge de modo particular a dignidade da pessoa” (P. 95). Também a Irmã Júlia Barroso, da Comissão de Apoio às

vítimas do tráfico de pessoas nos informa que a “Organização Interna‑cional das Migrações estima que 500 mil mulheres entram todos os anos na Europa ocidental para exploração sexual. A maioria oriunda de regiões subdesenvolvidas. Segundo a Unicef, cerca de dois milhões de menores em todo o mundo estão sujeitos à prostituição ou comércio sexual. O tráfico de crianças é também usado na adoção ilegal, no tráfico de órgãos, em conflitos armados e para ativida‑des criminosas. Portugal ocupa o 9º lugar na Europa, com uma estimativa de cerca de 12.800 pessoas em situa‑ção de escravatura” (p. 103).

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defesa das prostitutas do Bairro Alto nos anos 50 do século passado, exemplo ainda hoje a seguir. O Livro conta ainda com textos de Cláudia Pedra, especialista e inves‑tigadora há mais de 18 anos destas temáticas, Irmã Gabriela Bottani, Irmã Júlia Barroso, Irmãs Oblatas (Pura Gonzalez e Helena Fidalgo), Instituição “O Ninho” (fundada pelo Padre Abel Varzim) e do juiz Pedro Vaz Patto (Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz).Numa segunda parte o Livro re‑produz textos do ex ‑Conselho Pontifício para a Pastoral dos Mi‑grantes e Itinerantes, Cáritas Inter‑nationalis e Cáritas de França. EC: Neste momento, preside ao Fórum Abel Varzim. Pode apresentar ‑nos, de uma forma su‑cinta, quem foi o Pe. Abel Varzim e qual a missão deste Fórum?

ASS: O Padre Abel Varzim foi uma figura ímpar na igreja e na sociedade portuguesas do século passado. Ele nasceu em Cristelo, norte de Portugal, em 29 de abril

de 1902 e viria a falecer em agos‑to de 1964. Este “profeta” da Igreja Portuguesa gastou a sua vida lutando pela digni‑dade da pessoa humana. Ordenado padre em 1925, iniciou a sua ativi‑dade pastoral em Beja (Alentejo). Nos anos 30 estudou em Lovaina tendo ‑se doutorado. E, regressado a Portugal, o Padre Abel Varzim é no‑meado Assistente da Ação Católica onde desenvolve uma ação notável juntos dos Trabalhadores do Mundo Operário. Recebe um convite para Deputado da Assembleia Nacional que aceita com a convicção que poderia ter um papel importante na defesa dos Trabalhadores, mas cedo se apercebe que o regime ditatorial de Portugal, à época, não lhe deixa margem de manobra. Rapidamente, o Padre Abel Varzim passa a ser olhado como “inimigo” do regime e sofre profundas limitações na sua ação, Apesar disso, fundou uma Escola para formar Assistentes So‑ciais, a qual teve de abandonar por imposição do regime e colaborou na criação de uma Rádio Católica, a Radio Renascença.

EditoriAl CáritAS (EC): Do livro “Trafico de Seres Humanos ‑ Tes‑temunhos e Documentos”, do qual é coordenador, que aspetos consi‑dera mais relevantes associados à sua forma e conteúdo?

António SilvA SoArES: (ASS): O li‑vro “Tráfico de Seres Humanos”, agora publicado, resulta da inicia‑tiva do Forum Abel Varzim (FAV) e teve a parceria da Comissão de Apoio à Vitimas de Trafico de Pessoas (CAVITP) e da Cáritas Portuguesa. O Livro foi prefaciado pelo Bispo de Santarém, D. José Traquina, ac‑tualmente presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mo‑bilidade Humana.

Com este livro pretende ‑se alertar os cristãos e também outros ho‑mens e mulheres para a existência de um problema, que não é de hoje, mas que se tem acentuado nos nossos dias e que se traduz em muitas formas de exploração humana, em clara violação dos di‑reitos humanos e da dignidade que todos os seres humanos merecem.Com o livro pretende ‑se, assim, dar conhecimento das situações de atropelo à dignidade humana mas também motivar todos a dar o seu contributo para minimizar ou eliminar essas situações. Colaborou neste livro, o jornalista e investigador Licínio Lima, com um texto sobre a papel do Padre Abel Varzim na sua importante obra de

À conversa com

antónio silva soarescoordenador do livro

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No início dos anos 50, o Padre Abel Varzim é nomeado Pároco da Igreja da Encarnação, em Lisboa, onde desenvolve um papel notável de apoio às mulheres prostitutas do Bairro Alto e que constituem o texto de um livro que viria a ser publicado após a sua morte: “A Procissão dos Passos”, cuja leitura recomendo. Cansado e esgotado, o Padre Abel Varzim regressa a Cristelo e empenha ‑se na criação de um Cooperativa, acabando por falecer em agosto de 1964.O conhecimento e o contacto com o Padre Abel Varzim animou um numeroso grupo de cristãos a

criar, em 1996, o Fórum Abel Var‑zim, cujo grande objetivo é divulgar a obra e o pensamento deste gran‑de homem cristão e também refle‑tir sobre acontecimentos atuais à luz daquilo que poderia ser o seu pensamento. Assim, o Fórum tem publicado Livros, organizado conferências e encontros de reflexão e editado a revista “Transformar”, mantendo também ativo um site na Internet, enquanto formas de divulgar e atua‑lizar o pensamento e o testemunho de vida do Pe. Abel Varzim.

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a autora do livro

Inês Leitão nasceu a 1 de julho de 1981 em Lisboa. É licenciada em Estudos Anglo ‑ Americanos pela Fa‑culdade de Letras da Universidade de Lisboa e pós ‑graduada em Asses‑soria Empresarial pelo ISLA. Teve a sua primeira publicação na revista “Quase” em 2001. Seguiram ‑se co‑laborações em “Os Fazedores de Letras” no ano de 2003. Em maio de 2004 cria na blogosfera bocadosde‑

carnepelasparedesdoquarto (www.bocadosdecarne.blogspot.com) e em 2005 inicia a sua participação no blogue Prazeres Minúsculos (www.prazeresminusculos.blogspot.com). Participa em 2006 na Revista “Sítio” e lança o seu primeiro livro em 2007 “Quarto Escuro” (ed. Livrododia). É responsável pelo projeto “6 Autores” com o Plano Nacional de Leitura (abril 2008) e em julho de 2008 é uma das vencedoras da iniciativa dos “Artistas Unidos” “Isto não é um con‑curso” com a peça “A última história de Werther”, encenada por João Mei‑reles. Em setembro do mesmo ano publica a sua primeira história infantil “Pitopeca em África: a história de uma Missão em Maputo” (ed. Paulinas).

o livro«o Padre das Prisões Portuguesas ‑ ensaio soBre a vida do Pe. João gonçalves»

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Foi eleita pela revista ELLE Portugal como um dos 20 novos Talentos para o futuro na dramaturgia portu‑guesa e em 2010 escreve exclusiva‑mente para o blogue Desfibrilhador (www.desfibrilhador.blogspot.com). Em 2012 é convidada a participar com crónicas semanais no progra‑ma de rádio Manual de Instruções de Fernanda Almeida (RDP África). É a autora do “Manifesto pela saída de emergência” e “Manifesto pela utilização de transportes públicos”, manifestos encenados no projeto “Coro das Vontades” (Teatro Maria Matos, julho 2012). É autora do documentário “As Mulheres de Deus” (2012), obra baseada na vida de quatro irmãs hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e do seu trabalho com doentes mentais na Casa de Saú‑de da Idanha, em Sintra. É também autora do guião e da ideia original do documentário “A Vida de Rafi” (documentário sobre a vida de uma writer/rapper portuguesa na cidade do Porto). É a criadora dos textos do espetáculo “Cabaret Literário”,

projeto que leva poesia à noite de Lisboa e Porto. Em março de 2013 cria a sua pri‑meira instalação: “O Corpo” (ins‑talação baseada no diálogo entre o corpo e a palavra escrita onde cada espectador é convidado a escrever sobre um corpo nu). Em janeiro de 2014 publica o seu terceiro livro “Se o meu corpo fosse um homem” (Chiado editora). Em fevereiro de 2014 entrega em Roma, nas mãos do Papa Francisco, uma cópia do seu último documentário “O Meu bairro”, obra que aborda a vida dos missionários e missionárias da Consolata no bairro social do Zambujal. É autora do guião do documentário “Pequenos heróis” (obra baseada na realidade quotidiana de pessoas sem ‑abrigo da cidade do Porto apoiadas pelo grupo “Solidários”). Em dezembro do mesmo ano, es‑creve o guião do documentário “O Padre das Prisões”, trabalho docu‑mental sobre a vida do Padre João Gonçalves.

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“O Padre das Prisões Portuguesas, Ensaio baseado na vida do Pe. João Gonçalves, da autoria de Inês Leitão, editado pela Cáritas, em 2016, é um livro baseado em entrevistas ao Padre João Gonçalves, um documentário so‑bre a sua vida, que incide, sobretudo, no seu trabalho pastoral nas prisões portuguesas, junto dos reclusos. A população prisional – os seus direitos, necessidades e problemas – são pouco visíveis para a sociedade, que também não revela, em regra, interesse nem preocupação em conhecê ‑los, nem em colaborar na sua resolução. Os reclusos são um grupo vulne‑rável e sem poder dentro da so‑ciedade e perante o poder político.

Como afirma o Padre João Gonçal‑ves, cerca de metade deles descende de pais que já estiveram presos e, quase invariavelmente, já viveu em ambiente institucional na infância e na juventude.O mérito deste livro consiste pre‑cisamente em dar a conhecer a humanidade do trabalho pastoral do Padre João Gonçalves e de todos aqueles que fazem serviço de volun‑tariado nas prisões, alertando ‑nos para a necessidade de o Estado e a sociedade se envolverem na reabili‑tação e na reinserção social das pes‑soas que cumprem penas de prisão. No livro de Inês Leitão, está pre‑sente uma visão cristã do mundo, que, não obstante os elementos de

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fé que perpassam a obra, pode ser partilhada por agnósticos, defen‑sores da igualdade entre todos os seres humanos, da fraternidade e da solidariedade. O trabalho do Padre João Gonçalves põe em prática o princípio cristão «Porque estive na cadeia e foste visitar ‑me» (Mt25:35), e parte da atitude de ver Jesus Cris‑to na Pessoa presa, como nos ex‑plica Inês Leitão. Mas estes valores não são estritamente religiosos, mas sociais e profundamente humanos. O objetivo da pastoral penitenciá‑ria é criar proximidade e igualdade com a pessoa reclusa: «eu tenho de encarnar o “lado a lado” para poder perceber – e para viver com eles, de facto, lado a lado», diz ‑nos o Padre João Gonçalves, cujas palavras são reproduzidas na primeira pessoa no livro de Inês Leitão. O Padre João Gonçalves, diz ‑nos a autora do livro, quer estar com os presos como se estivesse preso com eles: «quando nós que estamos nas prisões como evangelizadores – no caso dos pa‑dres – pomo ‑nos do lado do preso, estamos do lado da pessoa fragiliza‑da com quem Cristo se identificou»;

«Eu estou do lado de quem sofre nas prisões, e tento encarnar a sua situação». Nesta linha humanista, baseada na empatia com o outro, a nossa Cons‑tituição consagra, no artigo 1.º, o princípio da dignidade da pessoa hu‑mana que impõe o reconhecimento de todos como sujeitos de direitos. Por sua vez, o artigo 30.º, n.º 5, da Constituição, afirma que “os conde‑nados a quem sejam aplicadas pena ou medida de segurança privativas da liberdade mantêm a titularidade dos direitos fundamentais, salvas as limitações inerentes ao sentido da condenação e às exigências próprias da respetiva execução”. Assim, uma pessoa reclusa é sempre um cidadão ou uma cidadã, que, ressalvadas as restrições inerentes à sua situação de privação de liberdade de movi‑mentos, é titular dos demais direitos fundamentais como qualquer outra pessoa: o direito à vida, o direito à reserva da intimidade da vida pri‑vada e familiar, o direito à saúde, o direito ao trabalho, o direito à in‑tegridade pessoal, na sua dimensão física, psíquica e mental, o direito

à identidade pessoal, o direito a expressar ‑se, o direito ao tempo livre e ao convívio familiar, o direito a ser tratado pelo nome, direitos de informação, direitos civis, políticos, sociais, económicos e culturais.É certo que os reclusos perdem a liberdade de circulação e estão su‑jeitos aos deveres de custódia e de vigilância a cargo do sistema peni‑tenciário, mas, nas palavras do Padre João Gonçalves, «Digo sempre aos reclusos que há uma liberdade que ninguém lhes tira porque é inaliená‑vel: a liberdade de pensar, de sentir, de projectar o seu futuro, alimentar

as suas amizades, de se expressarem escrevendo».A lei reconhece às pessoas reclusas o direito ao respeito pela sua digni‑dade, nos planos físico e emocional (artigo 3.º, n.ºs 1 e 2, do Código de Execução de Penas), o direito a não serem sujeitos a tortura e a tratamento cruel ou degradante (artigo 25.º, n.º 2, da Constituição), o direito à igualdade de tratamento e a proibição da discriminação em razão do sexo, raça, língua, territó‑rio de origem, nacionalidade, origem étnica, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação

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económica, condição social ou orientação sexual (artigo 3.º, n.º 3, do Código de Execução de Penas) e garante o princípio da inclusão dos reclusos estrangeiros ou de etnias particulares (artigo 4.º, n.º 4 do Có‑digo de Execução de Penas).No Direito Internacional assume uma importância crescente a pro‑teção dos direitos fundamentais nas relações jurídicas penitenciárias, devendo a vida prisional espelhar, tanto quanto possível a vida em sociedade. Embora na prática, por

falta de investimento do Estado, as condições para o exercício de um trabalho remunerado nas prisões, tão importante para a auto ‑estima e realização dos reclusos, não existam, como refere também o Padre João Gonçalves, no documentário de Inês Leitão.Conhecer a lei, como explica Inês Leitão, foi um passo importante na vida deste padre visitador, que afirma, conforme descreve a autora: «Tive o cuidado de ler, conhecer e tentei desenvolver a área jurídica da pasto‑

ral penitenciária». E, reconhecendo a diferença entre a lei nos livros e a lei em ação, diz que no Código de Exe‑cução de Penas, «as leis são feitas de uma forma idealista, mas depois na prática temos outras questões». Nas palavras do Padre João Gonçalves, que nos são transmitidas no livro de Inês Leitão, é importante «dar aos juristas alguma informação sobre o que nós como Igreja pensamos sobre o modo de aplicar leis e a forma de tratar os reclusos». A pastoral penitenciária assume, assim, um importante papel de me‑

diação entre os reclusos, a sociedade e o poder político. As prisões não podem ser um local fechado à comu‑nidade ou um espaço de não direito. O trabalho pastoral nas prisões pode contribuir para denunciar as situa‑ções de maus ‑tratos e de restrições injustificadas de direitos das pessoas sujeitas a penas de prisão, bem como as deficientes condições sanitárias das prisões, a sobrelotação, o suicídio e outras formas de violência contra reclusos.As pessoas reclusas devem ser vis‑tas como um membro da sociedade,

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titular de direitos humanos fun‑damentais, e não como um objeto da execução da pena, tantas vezes designado nas decisões judiciais ou nos tratados de Direito Penal, de uma forma desumanizada, como «o condenado», como se nós, socieda‑de, não tivéssemos nada a ver com ele, nem com o seu percurso. Esta obra lembra ‑nos que «Um recluso não pode ser considerado por si próprio, há um contexto e normal‑mente uma família que também so‑fre a reclusão» e que a aplicação da

lei, quer da lei penal, quer do código de execução de penas, para ser justa tem que ter em conta este contexto e a história de vida de cada recluso. Inês Leitão, através das palavras e do exemplo do Padre João Gonçalves, interpela ‑nos numa lógica de co‑‑responsabilidade pela sociedade desigual em que vivemos e pela rein‑serção social da pessoa obrigada a cumprir uma pena de prisão, tantas vezes estigmatizada por ser vista como um «ex ‑recluso». O Padre João Gonçalves alerta ainda para as pessoas que veem a pena de multa, em que foram condenadas, ser convertida em pena de prisão, por incapacidade financeira de suportar o seu pagamento: «Se pudessem pa‑gar a multa não iam presos. Há uma boa parte de presos em Portugal que estão lá por não pagarem as multas – o que é estranho porque fica mais caro ao Estado. O Estado nunca será ressarcido e o preso encarece a máquina financeira». De facto, a maioria da população prisio‑nal vive em condição de pobreza e foi condenada por pequena crimi‑nalidade patrimonial ou rodoviária,

ou pequeno tráfico de droga, muitas vezes praticado por consumidores, situações que pedem outra solução que não uma pena de prisão. O trabalho do Padre João Gonçal‑ves não fica limitado à caridade cris‑tã, mas passa para o domínio social e político da luta pelos direitos huma‑nos das pessoas detidas ou a quem foram aplicadas medidas privativas da liberdade em prisões. Como nos narra Inês Leitão, reproduzindo as palavras do Padre João Gonçalves: «Se somos cristãos só para cumprir o que vem na Lei, para isso éramos Fariseus. Um cristão ou de facto é um contestatário, está em tensão

com o mundo, ou é um situacionista, e está tudo bem sempre». Defende que é na reação contra as injustiças que se define a atitude da pessoa cristã: «eu reajo, sou contracorren‑te. Seja no que se refere à Igreja, seja no que se refere ao estado social ou aos estados sociais ou políticos. Entendo que a vida é vida; é emoção, é mexer, não é reproduzir quadros, não é reproduzir esquemas, não é repetir só por repetir». Faz um apelo à coragem, à coragem de con‑testar e de questionar o status quo, para que possamos servir melhor as pessoas e as instituições”.

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il: O Pe. João Gonçalves é, na minha perspetiva, um sacerdote especial. Digo isto porque nada o pára no que toca a presos e a prisões portuguesas. É um homem de causas que acredita, de facto, na pessoa humana, SEMPRE. É alguém que sempre vê, de facto, Cristo, nos presos. E esta não é uma afirmação que faça por fazer: ele acredita realmente nisto e, por isso, torna ‑se um exemplo gigantesco que deveria poder ser replicado. Que houvesse mais padres de Prisões com esta

mesma entrega e com esta mesma fé no ser humano, uma fé que nos obriga a entender o perdão na sua forma mais profunda. Culpamos muito, compreendemos e perdoamos pouco. Eu aprendi com o padre João como erro tanto em ser assim e como devo tentar trabalhar este meu lado refém de uma sociedade vindicativa. Como eu aprendi, espero que este livro seja para cada leitor um instrumento de reflexão e mudança.

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EditoriAl CáritAS (EC): O livro “O Padre das Prisões Portuguesas”, do qual é autora, pretende ser um ensaio sobre a vida do Pe. João Gonçalves que, ao longo de mais de quarenta anos, se tem dedicado às pessoas privadas de liberdade em Portugal. Que aspetos considera mais relevantes associados à forma e ao conteúdo deste livro?

inêS lEitão (il): Antes de mais, de re‑ferir que este livro resulta de mui‑to material gravado em áudio que guardei de longas conversas que tive com o padre João Gonçalves para o documentário que fizemos, “O padre das Prisões”, para a RTP2.Os aspetos que considero mais relevantes associados à forma e ao

conteúdo deste livro, prendem ‑se, essencialmente, com duas grandes temáticas: as questões estruturais do sistema prisional em linha direta com a problemática da vida da igre‑ja na prisão; e dar a conhecer a vida daquele que é o reconhecido “Pa‑dre das Prisões”, ou seja, enquanto coordenador nacional da pastoral penitenciária e, ao mesmo tempo, enquanto grande exemplo para outros homens, padres das prisões, que ocupam funções em Prisões portuguesas.

EC: Que contributos pode apresen‑tar este livro, de cariz biográfico, para a problemática das prisões em Portugal e para a sociedade em geral?

À conversa com

inês leitãoautora do livro “o Padre das Prisões Portuguesas”

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LivroS promovidoS na Semana da ediToriaL CáriTaS na Livraria TeLoS ‑pauLuS

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TíTuLoS pubLiCadoS peLa ediToriaL CáriTaS

O Cuidar como Relação de Ajuda – Por uma ética teo‑lógica do cuidar Antonino Gomes de Sousa

O Problema do Mal | Étienne Borne

Rosto Social da Religião | Roberto Mariz

O futuro do Estado Social | Volumes I e II / Cáritas Eu‑ropa (Org.)

Entendimento Global e Compromisso com as PeriferiasAmérico Pereira (Org.)

Pensamento Social do Papa Francisco | Volume II / J.M. Pereira de Almeida (Org.)

Cristãos Pensadores do Social II | O Pós ‑Guerra / Jean Yves Calvez

Ação Sócio Educativa dos Jesuítas e o Colégio de São Fiel | Jorge Nuño Mayer (coord.) | Ernesto Candeias Martins

Desenvolvimento de Competências Sociais no Cuida‑dor Informal | Cláudia Catela Paixão

Manual Observatórios Sociais de Pobreza | Jorge Nuño Mayer (coord.)

Perceção do Stresse, burnout e autocuidado – um olhar sobre os profissionais do trabalho social | Ana Berta Alves

MYM, eu consigo – Desenvolvimento de uma tecnologia de apoio para alunos com necessidades especiais | Laura Chagas

As Infâncias na História Social da Educação – Frontei‑ras e Interceções Sócio Históricas | Ernesto Candeias Martins

Crónicas Ainda Atuais | Pedro Vaz Patto

Sina da Mulher Cigana? | Ana Patrícia Pereira Barroso

Bullying Sénior | Ana Lígia da Cunha

Práticas de Gestão de Pessoas para a Sustentabilidade das IPSS’S | Angélica Martins Figueira

Tráfico de Seres Humanos | António Silva Soares (coord.)

Trajetórias Escolares Improváveis | Elsa Rocha de Sousa Justino

TíTuLoS pubLiCadoS peLa ediToriaL CáriTaS

O Amor que Transforma o Mundo | René CosteDar ‑se de Verdade: Para um desenvolvimento Solidário | váriosCónego José M. Serrazina | váriosTeresa de Saldanha | Helena Ribeiro de CastroMoralidade Pessoal na História | Sergio BastianelHumanizar a Sociedade | Georgino RochaCartas de Ozanam | Diogo Castelbranco de Paiva BrandãoEntre Possibilidades e Limites | Sergio BastianelPerspectivas sobre o Envelhecimento Ativo | váriosProcissão dos Passos | Abel VarzimServiço Social e Desemprego de Longa Duração | Aida FerreiraMaritain e Bento XV | Diogo MadureiraCristãos Pensadores do Social I | Jean Yves CalvezUm Intelectual ao Serviço dos Pobres | Gérard CholvyUm Genocídio de Proximidade | Teresa Nogueira PintoCaminhos para uma vida Solidária | Carlos AzevedoPobreza e Relações Humanas | Delfim Jorge Esteves GomesRendimento Social de Inserção | Mafalda SantosCuidar do Outro — Estudos em homenagem a Sergio Bastianel sj | vários autoresCrimes e Criminosos no norte de Portugal | Alexandra EstevesA Consciência Social da Igreja Católica — 124 Anos de História1891–2015 | Domingos Lourenço VieiraÉtica e Teologia — Declinações de uma Relação | Amé‑rico PereiraO Impacto da Doutrina Social da Igreja no Trabalhador e no Empresário | Hermenigildo Moreira EncarnaçãoO Padre das Prisões Portuguesas | Inês LeitãoPalavras de Liberdade | váriosO Pensamento Social do Papa Francisco | J. M. Pereira de Almeida (Org,)

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