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CADERNOS DA EDITORIAL PARTILHAR A VIAGEM ACOLHER, PROTEGER, PROMOVER E INTEGRAR MIGRANTES E REFUGIADOS JANEIRO 2018 Cáritas Editorial Po

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Page 1: Caritas Editorial Cáritas Portuguesa · A Mensagem do Papa Francisco para o 51.º Dia Mundial da Paz, celebrado no pas ‑ sado dia 01 de janeiro, e publicada no dia 13/11/2017,

cadernosda editorial

PartilHar a ViaGeMacolHer, ProteGer, ProMoVer e inteGrar MiGrantes e reFUGiados

Janeiro 2018

CáritasEditorial

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EDITORIAL CÁRITAS Praça Pasteur, nº 11 — 2.º, Esq. | 1000 –238 [email protected] | Tel. +351 911 597 808, fax. +351 218 454 221

ÍndicePartilHar a ViaGeMUma campanha da caritas internationalis destinada a todos 3

«MiGrantes e reFUGiados: HoMens e MUlHeres eM bUsca de Paz» 5da Mensagem do Papa Francisco do 51.º dia Mundial da Paz: 01/01/2018

«MiGrações, oPortUnidade Para a Paz»da Mensagem da comissão nacional Justiça e Paz 8

«resPonder aos reFUGiados e MiGrantes – 20 Pontos de ação

Pastoral»da Mensagem da secção Migrantes e refugiados do dicastério para o

desenvolvimento Humano integral 10

«acolHer, ProteGer, ProMoVer e inteGrar os MiGrantes e os

reFUGiados»da Mensagem do Papa Francisco do dia Mundial do Migrante e

do refugiado: 14/01/2018 14

«PartilHar a ViaGeM: acolHer, ProteGer, ProMoVer e inteGrar

MiGrantes e reFUGiados»XViii encontro de animadores sócio pastorais das migrações: 12 ‑14/01/2018 17

conclUsões do XViii encontro de aniMadores sócio

Pastorais das MiGrações 25

À conVersa coM ProF. eUGénio FonsecaPresidente da cáritas Portuguesa 27

À conVersa coM eUGénia QUaresMadiretora da obra católica Portuguesa de Migrações 30

À conVersa coM PaUlo rocHadiretor da agencia ecclesia 33

À conVersa coM FiliPa abecasisresponsável nacional da campanha «Partilhar a Viagem» 35

cristãos Pensadores do social i, ii e iiiJean Yves calvez 37

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a aliança do Pensar e do Fazer

PartilHar a ViaGeM

UMa caMPanHa da caritas internationalis destinada a todos

Partilhar a Viagem é uma campanha pro‑movida pela Caritas Internationalis, que de‑corre durante os próximos dois anos, e pretende ser um despertar de consciên‑cias para promover relações mais estrei‑tas entre migrantes, refugiados e as co‑munidades locais. Trata ‑se da resposta ao apelo do Papa Francisco para a promoção da “cultura do encontro”, que passa por olhar para as pessoas em mobilidade com humanidade, abrir os corações e as men‑tes e mudar de perspetiva.A Cáritas pretende destacar os desafios e os efeitos da migração, aproveitando a força

«A Cáritas pretende destacar os desafios e os efeitos da migração, aproveitando a força da sua rede internacional, com as suas mais de 160 organizações membros em todo o mundo, para apelar a uma mudança de mentalidade.»

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da sua rede internacional, com as suas mais de 160 organizações membros em todo o mundo, para apelar a uma mudança de mentalidade. A campanha será reforçada pelo apoio da ACT Alliance, uma rede de 145 agências cristãs em todo o mundo e um conjunto alargado de outras congrega‑ções religiosas e grupos da sociedade civil.O cardeal Luis Antonio Tagle, Presidente da Caritas Internationalis, também ele descendente de migrantes, expressa que através desta Campanha, “estamos a pe‑dir uma coisa muito simples a todas as pessoas: procurem conhecer um migran‑te nas suas comunidades. Olhem ‑nos nos olhos, ouçam as suas histórias, saibam porque saíram dos seus países, como foi a sua viagem.” “Neste tempo de tantas conexões, este é um convite a todos e cada um de nós para ver como podemos estar realmente unidos. Esperamos pro‑mover o despertar para um exame da nossa consciência coletiva e dos nossos sistemas de valores”.A Cáritas procurará também acompanhar a Conferência das nações Unidas sobre Migrações, em setembro de 2018, onde serão adotados os dois Pactos Globais sobre Migrantes e Refugiados. A Caritas quer que esses dois novos acordos inter‑nacionais assegurem condições de migra‑ção segura e legal e aumentem a proteção das pessoas em movimento.

Para a Cáritas Portuguesa, participar nesta campanha é também uma oportunidade de desafiar para contrariar a tendência a que se assiste da indiferença, consequên‑cia do individualismo das sociedades que veem as pessoas apenas como consumi‑dores e força laboral, esquecendo ‑se da sua profunda humanidade.Esta Campanha internacional da Cáritas foi lançada pelo Papa Francisco, no Vaticano, no passado dia 27 de setembro. Em Portugal o lançamento da campanha aconteceu no mesmo dia, em Lisboa, no Padrão dos Descobrimentos, e tem como Responsável Nacional Filipa Abecasis – fi‑[email protected] é, pois, um momento excelente para “Partilhar a Viagem”.

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A AliAnçA do pensAr e do fAzer

«MiGrantes e reFUGiados: HoMens e MUlHeres eM bUsca de Paz»

A Mensagem do Papa Francisco para o 51.º Dia Mundial da Paz, celebrado no pas‑sado dia 01 de janeiro, e publicada no dia 13/11/2017, dia da memória Sta. Francisca Xavier Cabrini, Padroeira dos migrantes, intitula ‑se “Migrantes e refugiados: ho‑mens e mulheres em busca de paz”. O Papa Francisco, dirigindo ‑se a “todas as pessoas e a todas as nações da terra”, deseja ‑lhes o dom da Paz, pois, trata ‑se de “uma as‑piração profunda de todas as pessoas e de todos os povos, sobretudo de quantos padecem mais duramente pela sua falta”. E, de entre esses que, o Papa recorda especialmente “os mais de 250 milhões

da MensaGeM do PaPa Francisco do 51.º dia MUndial da Paz: 01/01/2018

de migrantes no mundo, dos quais 22 milhões e meio são refugiados”, “homens e mulheres, crianças, jovens e idosos que procuram um lugar onde viver em paz” e, “para o encontrar, muitos deles estão prontos a arriscar a vida numa viagem que se revela, em grande parte dos casos, longa e perigosa, a sujeitar ‑se a fadigas e sofrimentos, a enfrentar arames farpados e muros erguidos para os manter longe da meta”. Como tal, o Papa exorta que “com espírito de misericórdia, abraçamos todos aqueles que fogem da guerra e da fome ou se veem constrangidos a deixar a própria terra por causa de discriminações,

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perseguições, pobreza e degradação am‑biental. Estamos cientes de que não basta abrir os nossos corações ao sofrimento dos outros. Há muito que fazer antes de os nossos irmãos e irmãs poderem voltar a viver em paz numa casa segura. Acolher o outro requer um compromisso concre‑to, uma corrente de apoios e beneficên‑cia, uma atenção vigilante e abrangente, a gestão responsável de novas situações complexas que às vezes se vêm juntar a outros problemas já existentes em gran‑de número, bem como recursos que são sempre limitados”. Neste cenário, somos chamados a “acolher, promover, proteger e integrar” refugiados e migrantes.As pessoas migram por muitas razões: guerras, conflitos, genocídios, “limpezas étnicas”, degradação ambiental, mas as pessoas migram, sobretudo, com o de‑sejo de uma vida melhor, para encontrar oportunidades de trabalho ou de instru‑ção, pois, “quem não pode gozar destes direitos, não vive em paz”. Nesta mobili‑dade de pessoas, “a maioria migra seguin‑do um percurso legal, mas há quem tome outros caminhos, sobretudo por causa do desespero, quando a pátria não lhes oferece segurança nem oportunidades, e todas as vias legais parecem impraticáveis, bloqueadas ou demasiado lentas. Em mui‑tos países de destino, generalizou ‑se lar‑gamente uma retórica que enfatiza os ris‑cos para a segurança nacional ou o peso

do acolhimento dos recém ‑chegados, desprezando assim a dignidade humana que se deve reconhecer a todos, enquan‑to filhos e filhas de Deus. Quem fomenta o medo contra os migrantes, talvez com fins políticos, em vez de construir a paz, semeia violência, discriminação racial e xenofobia, que são fonte de grande preo‑cupação para quantos têm a peito a tute‑la de todos os seres humanos”. Perante este cenário que continuará na ordem do dia, enquanto alguns o consideram como “uma ameaça”, o Papa Francisco convida a vê ‑lo “com um olhar repleto de con‑fiança, como oportunidade para construir um futuro de paz”, ou seja, “com um olhar contemplativo” que considere a dignida‑de fundamental de todos e de cada um dos seres humanos e o respetivo direito a todos usufruírem dos bens da terra, cujo destino é universal, como ensina a doutri‑na social da Igreja. Este olhar implica, pois, “a solidariedade e a partilha”.Este processo de procurar “oferecer a re‑querentes de asilo, refugiados, migrantes e vítimas de tráfico humano uma possibilida‑de de encontrar aquela paz que andam à procura, exige uma estratégia que combine quatro ações: acolher, proteger, promover e integrar”, como o Papa o expressa tam‑bém na sua Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado de 2018). Assim, “Acolher” apela à exigência “de am‑pliar as possibilidades de entrada legal, de

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não repelir refugiados e migrantes para lugares onde os aguardam perseguições e violências, e de equilibrar a preocupação pela segurança nacional com a tutela dos di‑reitos humanos fundamentais”; “Proteger” exorta ao “dever de reconhecer e tutelar a dignidade inviolável daqueles que fogem dum perigo real em busca de asilo e se‑gurança, de impedir a sua exploração”, de modo particular “mulheres e crianças que se encontram em situações onde estão mais expostas aos riscos e aos abusos que chegam até ao ponto de as tornar escra‑vas”; “Promover” diz respeito “ao apoio para o desenvolvimento humano integral de migrantes e refugiados”, assegurando, de um modo especial, “às crianças e aos jovens o acesso a todos os níveis de instrução”; e “inte‑grar” no sentido de “permitir que refugiados e migrantes participem plenamente na vida da sociedade que os acolhe, numa dinâmica de mútuo enriquecimento e fecunda cola‑boração na promoção do desenvolvimento humano integral das comunidades locais.Neste sentido, o Papa apela ao envolvimen‑to de todos em ordem à aprovação por parte das Nações Unidas, no corrente ano, de dois Pactos Globais, um para migrações seguras, ordenadas e regulares, e outro re‑ferido aos refugiados. Segundo o Papa, “en‑quanto acordos partilhados a nível global, estes pactos representarão um quadro de referência para propostas políticas e me‑didas práticas. Por isso, é importante que

sejam inspirados por sentimentos de com‑paixão, clarividência e coragem, de modo a aproveitar todas as ocasiões para fazer avançar a construção da paz: só assim o ne‑cessário realismo da política internacional não se tornará uma capitulação ao cinismo e à globalização da indiferença”.Neste âmbito, “a Secção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral su‑geriu 20 pontos de ação («20 Pontos de Ação Pastoral» e «20 Pontos de Ação para os Pactos Globais» (2017) como pistas concretas para a implementação dos supra‑mencionados quatro verbos nas políticas públicas e também na conduta e ação das comunidades cristãs. Estas e outras contri‑buições pretendem expressar o interesse da Igreja Católica pelo processo que levará à adoção dos referidos pactos globais das Nações Unidas. Um tal interesse confir‑ma uma vez mais a solicitude pastoral que nasceu com a Igreja e tem continuado em muitas das suas obras até aos nossos dias”.E o Papa termina a sua mensagem referindo ‑se ao “sonho da humanidade se tornar sempre mais família de todos e a nossa terra uma real casa comum”. “Ao longo da história, muitos acreditaram neste “sonho” e as suas realizações testemu‑nham que não se trata de uma utopia ir‑realizável” estando ao alcance das nossas atitudes de “acolher, proteger, promover e integrar estes nossos irmãos e irmãs”

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«MiGrações, oPortUnidade Para a Paz»

A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) é um organismo laical da Conferência Episcopal Portuguesa, que tem como fi‑nalidade promover e defender a Justiça e a Paz à luz da Doutrina Social da Igreja. No âmbito da sua Missão, entre outras tarefas, procura “coligir e analisar infor‑mações sobre situações e problemas, quer nacionais, quer internacionais, rela‑tivos ao desenvolvimento dos povos, aos direitos humanos, à justiça e à paz, apre‑ciar tais situações e problemas segundo o Evangelho e a doutrina social da Igreja e dar a conhecer o resultado das suas re‑flexões”. Neste sentido, com data de 28

da MensaGeM da coMissão nacional JUstiça e Paz

de dezembro, elaborou um documento no sentido de “chamar a atenção para a mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz de 2018” onde o Papa Francisco associa as migrações à construção da paz. Este documento reforça a apreciação do Papa sobre as Migrações em que “alguns consideram ‑nas uma ameaça; eu, pelo contrário, convido ‑vos a olhá ‑las com um olhar repleto de confiança, como oportu‑nidade para construir um futuro de paz”. O documento, na linha da Mensagem do Papa, salienta os desejos de paz dos mi‑grantes no âmbito das motivações da sua mobilidade, bem como algumas atitudes

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fundamentais que todos, decisores polí‑ticos e sociedades de acolhimento, são chamados a desenvolver: “Acolher, prote‑ger, promover e integrar”. O documento reforça ainda a ênfase do Papa colocada na “importância de que se revestem os dois pactos globais sobre migrações (se‑guras, ordenadas e regulares) e refugiados que se espera venham a ser aprovados em 2018 no âmbito das Nações Unidas”, pois, exigem ‑se “soluções globais, não isoladas ou unilaterais”. Segundo o Papa, é impor‑tante que estes pactos “sejam inspirados por sentimentos de compaixão, clarivi‑dência e coragem, de modo a aproveitar todas as ocasiões para fazer avançar a construção da paz: só assim o necessário realismo da política internacional não se tornará uma capitulação ao cinismo e à globalização da indiferença”.A Comissão Nacional Justiça e Paz deseja que “estas palavras tenham um particular eco em Portugal, um país marcado pela emigração desde há séculos (e que dela tanto beneficiou e continua a beneficiar) e também, mais recentemente, pela imi‑gração (a qual também vem beneficiando em muito o nosso país)”. O que está em causa, sintetiza este documento, na linha da Mensagem do Papa, é o facto de que “as migrações podem ser uma oportunidade para a paz”, através das quais a humanida‑de se pode tornar mais família de todos e a nossa Terra uma real “casa comum”

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«resPonder aos reFUGiados e MiGrantes ‑ 20 Pontos de ação Pastoral»da MensaGeM da secção MiGrantes e reFUGiados do dicastério Para o desenVolViMento HUMano inteGral

A Secção Migrantes e Refugiados do Vaticano, do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, dire‑tamente dependente do Papa Francisco, tendo em conta que as migrações globais constituem hoje um enorme desafio em todo o mundo e que são uma prioridade para a Igreja Católica, apela ao acolhimen‑to destas pessoas sem reservas através do esforço para as “acolher, proteger, promover e integrar” (cf. Discurso aos participantes no Fórum Internacional Migrações e Paz, 21/02/2017).Neste sentido, o Papa tem vindo a orien‑tar a Igreja para que apoie a comunidade

«Devem ser oferecidas aos migrantes, requerentes de asilo e refugiados as condições para poderem utilizar o melhor possível as suas capacidades e competências para contribuírem para o seu bem ‑estar e o da comunidade (…)»

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internacional na busca de respostas glo‑bais e estruturais a dar aos deslocados. A este propósito, a comunidade política internacional desencadeou um processo multilateral de consultas e negociações com o objetivo de adotar dois Pactos Globais nos finais de 2018, um sobre os migrantes internacionais e o outro sobre os refugiados. Para favorecer tal contributo, a Secção para os Migrantes e Refugiados do Vaticano, após ter reali‑zado consultas a diversas Conferências Episcopais e organizações católicas em‑penhadas neste setor, elaborou “Vinte Pontos de Ação para os Pactos Globais”, aprovados pelo Papa Francisco, os quais se baseiam nas necessidades dos migran‑

tes e refugiados identificadas a nível da base e das melhores práticas da Igreja. A Secção para os Migrantes e Refugiados, insta, pois, as Conferências Episcopais a que expliquem os Pactos e os Pontos a todas as paróquias e organizações da Igreja, na esperança de fomentar mais solidariedade para migrantes e refugia‑dos. Ainda que claramente inspirados na experiência e no magistério da Igreja, os Vinte Pontos são oferecidos como con‑siderações válidas para todas as pessoas de boa vontade que estejam dispostas a implementá ‑los e a preconizar a sua in‑clusão nas negociações do seu país. Os líderes e membros de todas as confissões religiosas e as organizações da sociedade

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civil são convidados a associarem ‑se a este esforço. Deseja ‑se, assim, que todos se unam para acolher, proteger, promo‑ver e integrar estas pessoas. Pretende ‑se, pois, em traços gerais, ter em conta qua‑tro grandes atitudes de onde emergem desafios específicos que se espera sejam traduzidos nos respetivos Pactos:I. Acolher: aumentar as vias seguras e le‑gais para os migrantes e refugiados, em que “a decisão de emigrar deve ser livre e voluntária e a migração deve realizar ‑se no respeito pelas leis de cada país envol‑vido”. Neste ponto, emergem 3 grandes desafios: “1. Não se podem expulsar os migrantes e refugiados de forma arbitrá‑ria e coletiva (…); 2. As vias legais para uma migração segura e voluntária, bem como para a recolocação de refugiados, devem ser ampliadas (…)”; e 3. A perspe‑tiva da segurança da pessoa deve sempre prevalecer sobre a da segurança nacional, no profundo respeito pelos direitos ina‑lienáveis dos migrantes, requerentes de asilo e refugiados”;II. Proteger: defender os direitos e a digni‑dade dos migrantes e dos refugiados, em que “a Igreja sublinha a necessidade de uma abordagem integral da questão mi‑gratória, que coloque no centro a pessoa humana em todas as suas dimensões, no profundo respeito pela sua dignidade e pelos seus direitos e o seu exercício não pode depender do estatuto migratório

de uma pessoa”. Neste ponto emergem 8 grandes desafios: “1. Os emigrantes devem ser protegidos pelas autoridades dos seus países de origem (…); 2. Os imigrantes devem ser protegidos pelas autoridades dos países de chegada a fim de prevenir a sua exploração, o trabalho forçado e o tráfico de seres humanos (…); 3. Devem ser oferecidas aos migran‑tes, requerentes de asilo e refugiados as condições para poderem utilizar o me‑lhor possível as suas capacidades e com‑petências para contribuírem para o seu bem ‑estar e o da comunidade (…); 4. As situações de vulnerabilidade de menores não acompanhados ou separados da sua família devem ser tratadas de acordo com os requisitos da Convenção Internacional dos Direitos da Criança (…); 5. Todos os migrantes menores devem ser pro‑tegidos de acordo com os requisitos da Convenção Internacional dos Direitos da Criança (…); 6. É preciso assegurar o acesso à instrução para todos os me‑nores migrantes, requerentes de asilo e refugiados (…); 7. É preciso assegurar aos migrantes e refugiados um acesso ade‑quado à segurança social garantindo ‑lhes o direito à saúde e assistência sanitária de base, independentemente do seu esta‑tuto migratório(…); e 8. É preciso evitar que os migrantes e refugiados se tornem apátridas (…)”;

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III. Promover: favorecer o desenvolvimen‑to integral dos migrantes e refugiados, em que “a Igreja sublinha a necessidade de promover o desenvolvimento humano integral dos migrantes, requerentes de asilo e refugiados juntamente com o das comunidades locais, sendo que todos os países devem incluir os migrantes, reque‑rentes de asilo e refugiados nos seus pla‑nos de desenvolvimento nacional”. Neste ponto, emergem 6 grandes desafios: “1. É preciso assegurar o reconhecimento e o desenvolvimento das competências dos migrantes, requerentes de asilo e refugia‑dos no país de chegada (…); 2. É preciso promover a inserção sociolaboral dos migrantes, requerentes de asilo e refu‑giados nas comunidades locais (…); 3. É preciso promover e preservar sempre a integridade e o bem ‑estar da família, inde‑pendentemente do estatuto migratório (…); 4. É preciso assegurar aos migrantes, requerentes de asilo e refugiados com necessidades especiais e vulnerabilida‑des o mesmo tratamento reservado aos cidadãos nas mesmas condições (…); 5. É necessário aumentar a quota da coo‑peração internacional para o desenvolvi‑mento e das ajudas humanitárias enviadas para os países que recebem importantes fluxos de refugiados e migrantes em fuga de conflitos armados (…); e 6. Deve ser sempre garantida a liberdade religiosa, seja em termos de profissão de fé como de

prática, a todos os migrantes, requerentes de asilo e refugiados, independentemente do seu estatuto migratório”; eIV. Integrar: enriquecer as comunidades locais por meio de uma maior participa‑ção de migrantes e refugiados, em que “a presença de migrantes, requerentes de asilo e refugiados representa uma oportunidade de crescimento para todos, tanto para os locais como para os estran‑geiros, sendo que o encontro de cultu‑ras diversas e a inclusão participativa de todos contribui para o desenvolvimento das nossas sociedades”. Neste ponto, emergem 3 grandes desafios: “1. É preciso favorecer a integração, entendida como processo bidirecional que reconhece e valoriza a riqueza da cultura do outro (…); 2. É necessário promover uma nar‑rativa positiva da solidariedade para com os migrantes, requerentes de asilo e refu‑giados (…); e 3. Aos estrangeiros forçados a fugir por causa de crises humanitárias desencadeadas em terra de emigração e inseridos nos programas de evacuação e/ou repatriamento devem ser asseguradas as condições para a reintegração no país de origem (…)”.

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«acolHer, ProteGer, ProMoVer e inteGrar os MiGrantes e os reFUGiados»da MensaGeM do PaPa Francisco do dia MUndial do MiGrante e do reFUGiado: 14/01/2018

Na Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, celebrado no passado dia 14 de janeiro e publicada no passado dia 15 de agosto de 2017, o Papa Francisco começa por utilizar uma passagem bíblica que serve de mote à sua Mensagem: “O estrangeiro que reside con‑vosco será tratado como um dos vossos compatriotas e amá ‑lo ‑ás como a ti mes‑mo, porque foste estrangeiro na terra do Egito. Eu sou o Senhor, vosso Deus” (Lv 19, 34).O Papa, que qualifica o estado atual das migrações como “sinal dos tempos”, tem manifestado a sua especial atenção a

«Perante os migrantes e refugiados, o Papa reafirma que “a nossa resposta comum poderia articular‑‑se à volta de quatro verbos fundados sobre os princípios da doutrina da Igreja: acolher, proteger, promover e integrar.»

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este tema, como o atestam a sua visita a Lampedusa em 8 de julho de 2013, múl‑tiplas intervenções nesta área e a Secção Migrantes e Refugiados instituída por si no novo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, e que está colocada temporariamente sob a sua orientação direta. “Cada forasteiro que bate à nossa porta – continua a Mensagem do Papa, é oca‑sião de encontro com Jesus Cristo, que Se identifica com o forasteiro acolhido ou rejeitado de cada época (cf. Mt 25, 35.43)”. Perante os migrantes e refugiados, o Papa reafirma que “a nossa resposta comum poderia articular ‑se à volta de quatro verbos fundados sobre os princípios da doutrina da Igreja: acolher, proteger, pro‑mover e integrar” (Cf, Francisco, Discurso aos participantes no Fórum Internacional “Migrações e Paz” – 21/02/2017).A Mensagem, depois, para além de elen‑car os verbos assinalados, dá ‑lhes algum conteúdo, em ordem a lançar pistas para a sua concretização. Assim:1. “Acolher significa, antes de tudo, ofere‑cer a migrantes e refugiados possibilida‑des mais amplas de entrada segura e legal nos países de destino” e que passa por “incrementar e simplificar a concessão de vistos humanitários e a reunificação familiar”, “abrir corredores humanitários para os refugiados mais vulneráveis”, “prever vistos temporários especiais para

as pessoas que, escapando dos conflitos, se refugiam nos países vizinhos”, “um pri‑meiro alojamento adequado e decente”, “formar adequadamente o pessoal res‑ponsável pelos controlos de fronteira” e “preferir outras alternativas à detenção para quantos entrem no território nacio‑nal sem estar autorizados”;2. “Proteger conjuga ‑se numa ampla sé‑rie de ações em defesa dos direitos e da dignidade dos migrantes e refugiados, in‑dependentemente da sua situação migra‑tória”, como “oferta de informações cer‑tas e verificadas antes da partida e na sua salvaguarda das práticas de recrutamento ilegal”, “assistência consular adequada”, “direito de manter sempre consigo os do‑cumentos de identidade pessoal”, “acesso equitativo à justiça”, “possibilidade de abrir contas bancárias pessoais”, “garantia duma subsistência vital mínima”, “liberdade de movimento no país de acolhimento”, “pos‑sibilidade de trabalhar”, “acesso aos meios de telecomunicação”, “programas de rein‑tegração laboral e social” e “proteção dos menores migrantes”;3. “Promover significa, essencialmente, empenhar ‑se por que todos os migrantes e refugiados, bem como as comunidades que os acolhem, tenham condições para se realizar como pessoas em todas as dimensões que compõem a humanidade querida pelo Criador” e que passa pela “li‑berdade de profissão e prática da religião”,

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pelo reconhecimento de “competências que devem ser devidamente certificadas e avaliadas”, pela “integração socio ‑laboral dos migrantes e refugiados, garantindo a todos – incluindo os requerentes de asilo – a possibilidade de trabalhar, percursos de formação linguística e de cidadania ativa e uma informação adequada nas suas línguas originais”, pela “atenção e apoio a migran‑tes, requerentes de asilo e refugiados por‑tadores de deficiência” e pela “assistência médica e social e de educação”;4. “Integrar situa ‑se no plano das oportu‑nidades de enriquecimento intercultural geradas pela presença de migrantes e re‑fugiados” e que passa pela “oferta de cida‑dania, independentemente de requisitos económicos e linguísticos e por percur‑sos de regularização extraordinária para migrantes que possuam uma longa per‑manência no país” e pela “necessidade de favorecer em todos os sentidos a cultura do encontro, multiplicando as oportuni‑dades de intercâmbio cultural, documen‑tando e difundindo as boas práticas de integração e desenvolvendo programas tendentes a preparar as comunidades lo‑cais para os processos de integração”.Perante esta realidade, o Papa reforça que, “de acordo com a sua tradição pastoral, a Igreja está disponível para se compro‑meter, em primeira pessoa, na realização de todas as iniciativas propostas”. No entanto, considera que “para se obter os

resultados esperados, é indispensável a contribuição da comunidade política e da sociedade civil, cada qual segundo as pró‑prias responsabilidades”. A este propósi‑to, o Papa alude ao facto de que “durante a Cimeira das Nações Unidas, realizada em Nova Iorque em 19 de setembro de 2016, os líderes mundiais expressaram claramente a vontade de se empenhar a favor dos migrantes e refugiados para salvar as suas vidas e proteger os seus direitos, compartilhando tal responsabi‑lidade a nível global. Com este objetivo, os Estados comprometeram ‑se a redigir e aprovar até ao final de 2018 dois acor‑dos globais (Global Compacts), um dedica‑do aos refugiados e outro referente aos migrantes”. Como tal, “à luz destes pro‑cessos já iniciados, os próximos meses constituem uma oportunidade privilegia‑da para apresentar e apoiar as ações con‑cretas nas quais quis conjugar os quatro verbos”. Por isso, o Santo Padre convida todos “a aproveitar as várias ocasiões possíveis para partilhar esta mensagem com todos os atores políticos e sociais envolvidos – ou interessados em partici‑par – no processo que levará à aprovação dos dois acordos globais”.

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«PartilHar a ViaGeM: acolHer, ProteGer, ProMoVer e inteGrar MiGrantes e reFUGiados»

Sob a organização conjunta da Agência Ecclesia, da Cáritas Portuguesa e da Obra Católica Portuguesa de Migrações, decor‑reu, nos dias 12 a 14 de janeiro de 2018, no Seminário N.ª Sr.ª Fátima, em Alfragide, o XVIII Encontro de animadores sócio pastorais das migrações subordinado ao tema “Partilhar a viagem: Acolher, proteger, promover e integrar migrantes e refugia‑dos”. Os objetivos deste Encontro passa‑ram por: a) Mapear as melhores práticas eclesiais, a nível nacional, no que respeita ao acolhimento, promoção, proteção e integra‑ção de migrantes e refugiados; b) Articular a resposta pastoral em torno dos quatro ver‑

XViii encontro de aniMadores sócio Pastorais das MiGrações

bos; c) Refletir sobre a missão da Igreja e potencial da pastoral dirigida a pessoas em contexto de mobilidade, à luz dos testemu‑nhos, da Palavra e do Magistério da Igreja; d) Conhecer e analisar os 20 pontos de ação pastoral em torno dos quatro verbos da Seção Migrantes e Refugiados da Santa Sé; e e) Promover uma resposta articulada entre diferentes instituições.A tarde do primeiro dia, 12 de janei‑ro, foi preenchida por um Workshop destinado às Cáritas Diocesanas e aos Secretariados Diocesanos das Migrações, procurando partilhar boas práticas, refle‑tir sobre necessidades e desafios, lançar

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pistas de ação e alinhar objetivos comuns. Este workshop pretendeu ainda delinear um plano de ação conjunto para os pró‑ximos dois anos, congregando os objeti‑vos da Campanha da Caritas Internationalis “Partilhar a Viagem” e o projeto euro‑peu “MIND: Migration, Interconnectedness, Development” que foram apresentados su‑cintamente, pela sua responsável nacional, Filipa Abecasis. No âmbito deste workshop, em jeito de contextualização, o Presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, considerou as migrações como assunto de suma importância perante o qual a Cáritas também deve estar atenta e intervir no âmbito da sua missão. Aliás, referiu que, como expresso no atual Plano Estratégico da Cáritas em Portugal estamos perante uma prioridade e uma responsabilidade institucional. Eugénia Quaresma, por sua vez, diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM), debruçando ‑se so‑bre as parcerias para a migração dentro da Igreja, salienta a Parceria com a Cáritas Portuguesa e com a Ecclesia a partir do ano 2000 num percurso trilhado em conjunto. Neste percurso é fundamental a constru‑ção de pontes entre instituições, procu‑rando conhecer as forças e limitações de cada qual, num ambiente de diálogo, onde se conjugue a dimensão técnica e relacio‑nal, combatendo a desconfiança interins‑titucional e salientando a importância de caminhar juntos e perceber o que vamos

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ganhando todos para continuar a investir em conjunto no futuro. Para além destas parcerias, muitas outras estão ligadas à OCPM como o trabalho com escolas; com múltiplas organizações da socieda‑de civil como a Plataforma de Apoio aos Refugiados; entre outras.Relativamente ao Workshop propriamen‑te dito, António Lage Raposo, da Editorial Cáritas, contextualizando a Editorial Cáritas na missão da Cáritas, sobretudo, no que se refere ao desafio do conhe‑cimento, salientou a sua relação com as Universidades e institutos politécnicos, através de um prémio estabelecido para a melhor dissertação de mestrado nas temáticas sociais. Além disso, a Editorial Cáritas pretende ser um instrumento ao serviço de outras entidades da igreja católica (como já o tem sido em relação

à Sociedade de São Vicente de Paulo, à Pastoral Penitenciária; ao Fórum Abel Varzim; entre outras, e podendo, como tal, também estar aberta a colaborar com a Pastoral das Migrações). Salientou, as‑sim, a disponibilidade da Editorial Cáritas para auxiliar no trabalho pastoral das vá‑rias áreas pastorais, inclusive, na área das migrações. Relativamente à importância do Advocacy a fomentar nas iniciativas da Pastoral da Igreja, Ana Nunes, da Unidade de Estudos e Instrumentos Sociais da Cáritas Portuguesa, salientou a sua im‑portância na ação da Cáritas, tendo a ver com a defesa de causas e ações em ordem a influenciar políticas, comporta‑mentos, atitudes, instâncias superiores e práticas organizacionais. Neste sentido, questionar o modo como as políticas estão a ser contruídas, propor novas

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políticas, propor soluções alternativas, criar debate publico, significa dar voz à comunidade, dar voz aos mais vulnerá‑veis, dar voz aos imigrantes, dar voz aos refugiados. Como tal, a Advocacy é funda‑mental na rede Cáritas, fazendo parte da sua ação, de uma forma mais ou menos visível. Por sua vez, Paulo Rocha, Diretor da Agencia Ecclesia, relativamente à pre‑sença destas temáticas nos media, salien‑tou o papel dos media e que passa por assumir duas grandes funções: por um lado, dar voz das minorias e, por outro lado, agir contra as instituições. Como tal, concluiu, os migrantes e refugiados têm voz nos media, sendo que tudo isto acon‑tece muitas vezes associado às emoções, pelo que há momentos mais propícios do que outros para se acentuarem determi‑nadas temáticas. Referiu a este propósito, que os temas dos migrantes mereceram grandes reportagens, sendo que os media têm sido sempre parceiros destas causas, havendo bons interlocutores para a rea‑lização de notícias. Deste cariz. O envol‑vimento de stakeholders/Parceiros nestas causas, foi apresentado como fundamental pela Joana Henriques, do Centro Local de Apoio a Migrantes da Cáritas da Cáritas Diocesana de Lisboa. Neste sentido, con‑siderou que é fundamental criar pontes, sempre e a toda a hora em que todos têm que sentir que ganham algo. Isso requer, a nível da gestão das Parcerias, construir

a relação, com a consciência de interde‑pendência real, tendo em conta as diver‑sas partes, com um espírito de avaliação contínua e, sempre que possível, com um processo de decisão consensual. O papel da liderança, neste âmbito, é de facilitação, ou seja, criar o contexto e criar objetivos comuns, promover o que cada um vai dar e o que cada um vai receber, ser facilita‑dor e criador de consensos. A partir daí, poderá perceber ‑se o impacto da parce‑ria, ou seja, todos ganham; rentabilizam ‑se recursos; dá ‑se visibilidade ao que cada parceiro faz; e criam ‑se redes para lá dos projetos.A noite do dia 12 contou com a presen‑ça de Martina Liebsch, Diretora de

Advocacy da Caritas Internationalis, que refletiu sobre as migrações, o papel da Igreja e as oportunidades para fazer advo‑cacy. Tendo em conta que a realidade das migrações hoje abrange pessoas migran‑tes em busca de melhores oportunidades laborais e sociais mas também migrantes

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forçados, estamos perante um fenómeno com múltiplos contornos que questiona toda a sociedade. Neste contexto, em vez de nos abrirmos aos outros, aos diferen‑tes e à novidade, fechamo ‑nos e cons‑truímos novos muros. A este propósito, referiu que, “em 1989, ano da queda do muro de Berlim, havia apenas 16 muros em todo o mundo, enquanto atualmente existem 63 finalizados ou projetados. Um terço dos países no mundo conta ago‑ra com um muro. Segundo o diretor da Caritas Italiana, o cimento que os mantem de pé é o medo”. Neste cenário, referiu que se mantêm muitos mitos marcados pelo medo, pelo pânico relacionado com a imigração e por ideologias que nos blo‑queiam a visão dos factos e nos convidam a acreditar nesses mesmos mitos. A ten‑dência é “culparmos as pessoas migrantes, os indivíduos que muitas vezes pagam um preço muito alto pela sua viagem, pela ex‑ploração e pela discriminação que sofrem e muitas vezes com as suas vidas”. Para contrariar este cenário, o subtítulo da encíclica Laudato Si, do Papa Francisco, é visionário: “sobre o cuidado da nossa casa comum”, pelo que “as linhas para a solu‑ção requerem uma aproximação integral para combater a pobreza, para devolver a dignidade aos excluídos e simultanea‑mente para cuidar da natureza.” (LS 139). Como tal, “para que as gerações futuras tenham melhores meios para resolver

conflitos, a cultura do diálogo tem de ser ensinada para poder no futuro resolver os conflitos de maneira diferente à que estamos acostumados.” Como contributo para esse diálogo, a Caritas Internationalis tem em curso a Campanha “Partilhar a Viagem”, que foi lançada no dia 27 de Setembro de 2017 pelo Papa Francisco, “a qual se insere também no apelo do Papa Francisco a acolher, proteger, promover e integrar os migrantes, uma “receita” que é aparentemente simples, mas que é di‑fícil de concretizar”. Considera que esta campanha é marcada pela esperança pre‑tendendo “contrariar o medo e a cultura da indiferença”. Através da advocacy, “esta ação global da Caritas Internationalis sobre as migrações e a cultura do encontro é uma oportunidade para mudar políticas e para uma resposta da Igreja”. Como tal, “é importante que trabalhemos juntos, com todos os atores da igreja, da socie‑dade civil para criar um movimento forte e que resulte no respeito dos migrantes e no reconhecimento da migração como uma estratégia que necessita de acordos internacionais e políticas públicas nacio‑nais”. Assim, apelou, “vamos partilhar esta viagem de transformação!”.No dia 13, quatro grandes painéis temáti‑cos que procuraram explorar os verbos subjacentes a este Encontro: Acolher, Proteger, Promover e Integrar.

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Assim, relativamente ao verbo “Acolher” partilharam ‑se algumas ex‑periências de acolhimento de migrantes e refugiados, seja a nível de uma família de acolhimento, por Joana Rigato (a ex‑periência de acolhimento de uma família no bairro do Campo Santana ‑ Lisboa), seja a nível de uma escola, por Laurinda Pereira, Diretora do Agrupamento de Escolas Nuno Gonçalves ‑ Lisboa (esta escola tem, neste momento, alunos de 43 nacionalidades, com desafios vários de acolhimento a nível da educação formal e não formal), seja ainda a nível da comuni‑dade, pelo Pe. Constantino Alves, Pároco da Igreja de N. Sra. da Conceição, Setúbal (paróquia com muita diversidade cultural que coloca à comunidade cristã múltiplos desafios de acolhimento da diferença ‑ língua; habitação; trabalho; legalização; apoios sociais; religião; etc.) no sentido de fazer com que na comunidade cristã ninguém seja estranho ou estrangeiro.

No que se refere ao verbo “Proteger” em defesa dos direitos e da dignidade de todos, Dulce Rocha, Presidente Executiva do Instituto de Apoio à Criança centrou‑‑se na “criança” referindo que “atuamos ainda muito na base da desconfiança, havendo a necessidade de mudança de mentalidade, ou seja, da desconfiança para a confiança”, devendo ter em atenção a especial “vulnerabilidade das crianças”. A nível da família, o Irmão Manuel Carmo, espiritano, assistente social no Centro Padre Alves Correia, que acompanha imi‑

grantes, sobretudo, doentes evacuados e indocumentados, partilhou o acompanha‑mento que fazem a cerca de 500 famílias de imigrantes, sendo que a grande maio‑ria são mulheres, provenientes, sobre‑tudo, dos PALOP’s. A nível da cidadania, Maria do Rosário Farmhouse, presidente da Comissão Nacional de Proteção dos Direitos das Crianças e Jovens, partilhou

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algumas ferramentas para “proteger” as crianças: a convenção dos direitos da criança; a educação intercultural; a iniciati‑va “Selo Protetor” e a Estratégia Nacional

sobre os Direitos da Criança, referiu.Relativamente ao verbo “Promover” o desenvolvimento integral dos migrantes e refugiados, a nível de realização pessoal, André Costa Jorge, diretor do Serviço Jesuíta aos Refugiados, para além de apre‑sentar esse Serviço que tem como mis‑são “acompanhar”, “servir” e “defender” todos os refugiados, deslocados à força e migrantes em situação de particular vulne‑rabilidade, reforçou a ideia de “construir a hospitalidade enquanto perspetiva cristã e na linha da tradição cristã, pois, todos nós existimos porque fomos acolhidos, prote‑gidos, promovidos e integrados”. Por sua vez, Ana Varela, do Instituto Padre António Vieira, para promover o desenvolvimento integral dos migrantes e refugiados, a nível

de percurso profissional, salientou que todos partilhamos a situação de fragili‑dade enquanto seres humanos, pelo que, todos somos chamados a procurar solu‑ções conjuntas. Neste sentido, partilhou a experiência da PAR, a qual congrega cerca de 400 entidades e cerca de 7500 volun‑tários e traduz um modelo de acolhimen‑to em contexto comunitário onde, de uma forma colaborativa, também se têm procurado integrar migrantes e refugia‑dos no mercado de trabalho. Finalmente, para Promover o desenvolvimento inte‑gral dos migrantes e refugiados, a nível de experiência espiritual, o Pe. Rui Pedro, scalabriniano e atualmente a acompanhar a comunidade portuguesa na diáspora, concretamente, no Luxemburgo, o que está em causa, essencialmente, é “fechar ou abrir a comunidade cristã à diferen‑ça”, pelo que defendeu “uma Pastoral de Mediação, com a consciência de múltiplas pertenças, com uma identidade em cons‑trução, com a prevenção de identidades assassinas e com uma dupla espiritualida‑de (isto é, a partir de uma certa religiosi‑dade popular, coloca ‑se o desafio de levar as pessoas a uma fé mais evangélica, que é aquela que potencia o diálogo)”. Neste sentido, considera como grandes desafios a “relação pessoal; a reciprocidade; e o viver e acreditar juntos”.Por último, no que diz respeito ao verbo “Integrar” para enriquecer,

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partilharam ‑se mais três testemunhos: o da Irmã Mafalda, das irmãs Missionárias

Dominicanas do Rosário, que tem traba‑lhado em bairros com muitas dificulda‑des (atualmente no bairro 6 de maio, em Lisboa) onde a preocupação constante é a integração de cada pessoa que aí habi‑ta. Por sua vez, o Mário, imigrante cabo verdiano em Portugal, apresentou a sua história e de muitos compatriotas seus como um processo com muitas dificulda‑des de integração. Por fim, Lilibeth Freitas Magalhães, Luso ‑venezuelana que há al‑guns anos teve de regressar da Venezuela para Portugal em virtude da situação política, económica e social do país, parti‑lhou as dificuldades sentidas na Venezuela, no regresso a Portugal e na estadia em Portugal, salientando que, apesar de já ter regressado a Portugal há cerca de dez anos, o processo de integração continua,

com alguns aspetos mais conseguidos do que outros.O último dia do Encontro ficou marcado pela Sessão: “Como conjugar os verbos das migrações ‑ acolher, proteger, promo‑ver e integrar”, por parte da Diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações, que partilhou, com todos os presentes, os desafios que estes verbos colocam du‑rante o corrente ano aos organismos da Igreja em Portugal relacionados com as migrações, seja no âmbito da Campanha “Partilhar a Viagem”, seja no trabalho de advocay a nível dos Pactos Globais em cur‑so no sentido de serem aprovados lá mais para o final do ano. O Encontro terminou com a Celebração da Eucaristia presidi‑da por D. António Vitalino Dantas, bispo emérito de Beja e Vogal da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, na Igreja de Santa Maria, Mãe de Deus, na Buraca, sendo transmitida pela TVI.

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conclUsões do XViii encontro de aniMadores sócio Pastorais das MiGrações

Para assinalar o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que hoje se celebra, decor‑reu, nos dias 12 a 14 de janeiro de 2018, no Seminário de Nossa Senhora de Fátima, em Alfragide, sob organização conjunta da Agência Ecclesia, da Cáritas Portuguesa e da Obra Católica Portuguesa de Migrações, o XVIII Encontro de animadores sócio pas‑torais das migrações subordinado ao tema “Partilhar a viagem: Acolher, proteger, pro‑mover e integrar migrantes e refugiados”. Tendo em conta a temática e os objeti‑vos deste Encontro, os participantes, num ambiente marcado por uma rica partilha de boas práticas relacionadas com os mi‑grantes e refugiados, assumem as seguin‑tes conclusões: ‑ Reforçar a implementação da Campanha “Partilhar a Viagem”, promovida pela

Caritas Internationalis, que decorrerá nos próximos dois anos, procurando incen‑tivar a população portuguesa a estreitar relações entre migrantes, refugiados e as comunidades locais; ‑ Suscitar iniciativas que ajudem o Papa Francisco a promover um dos seus maio‑res desígnios: a “cultura do encontro”; ‑ Contribuir para a construção dos dois Pactos Globais das Nações Unidas sobre Migrantes e Refugiados, esperando que venham a ser aprovados até ao final de 2018, responsabilizando toda a comuni‑dade internacional na proteção dos direi‑tos dos migrantes e refugiados; ‑ Conhecer a atuação das organizações da Igreja católica no âmbito das migra‑ções, no seguimento do estudo iniciado pela Cáritas Portuguesa a nível da sua

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rede, pois, só assim se conseguirão po‑tenciar sinergias para, de forma conjunta e concertada, responder às necessidades no terreno; ‑ Concretizar os apelos do Papa Francisco contidos nas Mensagens para o Dia Mundial da Paz e para o Dia do Migrante e do Refugiado, no sentido de: Acolher, Proteger, Promover e Integrar as pessoas em contex‑to de mobilidade, tal como foi demonstrado por doze experiências ao longo do encontro, nas relações familiares, no ambiente escolar, nas vivências das comunidades cristãs, no de‑senvolvimento integral da criança, no acesso ao trabalho em igualdade de oportunidades

e na prática ativa da cidadania, incluindo a dimensão política; e ‑ Intensificar, junto das entidades compe‑tentes, os esforços que se têm vindo a fazer para que nada falte à proteção que é devida aos nossos compatriotas que se encontram a sofrer as consequências da situação atual na Venezuela.Este Encontro deixou em todos a plena convicção de que, em qualquer circuns‑tância da existência humana, também nós gostamos de ser acolhidos, protegi‑dos, promovidos e integrados. Será mais fácil isso acontecer se nos decidirmos “Partilhar a Viagem”.

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Editorial Cáritas (EC): A Caritas Internationalis tem em curso a Campanha “Partilhar a Viagem” à qual a Cáritas Portuguesa também aderiu. Quais os grandes desafios que ela coloca à Cáritas, seja a nível da sua identidade, seja a nível da sua missão?

Eugénio FonsECa (EF): A identidade da Cáritas emana da Boa Notícia que percorre toda a História da Salvação e tem a sua melhor explicitação no Evangelho. O episódio da intervenção de Jesus na Sinagoga de Nazaré (Cfr. Lc 4, 16 ‑31); a identificação do “próximo” a partir da parábola do bom samarita‑no (Cfr. Lc 10,25 ‑37); a realização do milagre da multiplicação dos pães, com a indicação imperativa do “dai ‑lhes vós mesmos de comer” (Cfr. Mt 14,13 ‑21;

Mc 6,31 ‑44; Lc 9,10 ‑17; Jo 6,5 ‑15); a instituição da Eucaristia antecedida do “Lava – pés” (Cfr Jo 13,2, ‑ 5) são al‑gumas das referências que matriciam a identidade da Cáritas: ser boa notícia para os pobres; levar a libertação; prati‑car a partilha fraterna de bens; acolher quem se põe a caminho para procurar mais vida; servir; dar ‑se; cuidar de to‑dos mesmo que sejam estrageiros ou pensem diferente. A missão da Cáritas é levar à prática estes princípios iden‑titários, tendo a responsabilidade de credibilizar a Palavra Revelada e con‑tida na Sagrada Escritura. Este é o primeiro e fundamental desafio que a campanha “Partilhar a Viagem” nos co‑loca, mas há outros: demonstrar uma disponibilidade sincera para se colocar a caminho com todos os que, mesmo

À conVersa coMProF. eUGénio FonsecaPresidente da cáritas PortUGUesa

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não crentes, lutam por um mundo mais justo e humanizado; ser locomo‑tiva nas comunidades cristãs para as levar até às periferias buscar os “des‑cartados” para partilharem a viagem de retorno à sociedade, através da in‑tegração nessas comunidades cristãs; levar a toda a rede da Cáritas a cons‑ciência de que a campanha “Partilhar a Viagem” deve começar por todos os integram esta rede, sentados nas mes‑mas “carruagens”.

EC: Editorial Cáritas: A Cáritas Portuguesa tem feito parte da organização conjunta dos Encontros de animadores sócio pas‑torais das migrações. Qual o balanço que faz desta colaboração com a Obra Católica Portuguesa de Migrações e com a Agencia Ecclesia?

EF: Não só tem feito parte como es‑teve, com a OCPM, na origem deste Encontro. Tornou ‑se uma inevitabi‑lidade, porque, na ocasião, estava a acontecer um recrudescimento de fluxos migratórios. Por outro lado, tornava ‑se incongruente que as pes‑soas migrantes fossem forçadas a ter como único apoio o que lhe era pro‑porcionado pela OCPM. Na realidade, isso não tinha possibilidade de ser replicado nas paróquias, estando estas,

pelos grupos sociocaritativos, a dar apoio material aos migrantes, mas sem motivação suficiente nem preparação para a integração social e eclesial das pessoas que chegavam, algumas até de forma clandestina, ao nosso país. No ano 2000, na sequência do diálogo que já vinha decorrendo entre as duas or‑ganizações da Conferência Episcopal Portuguesa, entendeu ‑se que a OCPM se deveria ocupar mais da dimensão pastoral específica e da formação dos agentes e a Cáritas Portuguesa da ação pastoral no campo social. Para motivar os colaboradores destes ser‑viços pastorais diocesanos pensou ‑se na realização de um encontro nacio‑nal, tendo como principais destinatá‑rios esses agentes, mas sem vedar a possibilidade de outras organizações poderem participar. Desde o primeiro encontro teve ‑se sempre como preo‑cupação escolher temáticas da atuali‑dade e pessoas bem preparadas para ajudar na reflexão dos assuntos que compõem os programas. Em minha opinião, todos os encontros têm tido relevante interesse. Em determinada altura, julgou ‑se conveniente realizar estes encontros em cada uma das Dioceses, pois até então, eram sempre no Santuário de Fátima. O objetivo foi tornar estas realidades mais próximas

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das comunidades cristãs e de outras organizações, facilitando a motivação para a participação e os que viessem de outras Dioceses conhecerem as experiências daquela que acolhia o encontro. Assim tem sido, mas aquém dos resultados desejados. Aliás, a maior apreensão que tenho quanto a esta iniciativa é a desproporção entre o investimento que se tem feito e o número de Dioceses representadas e participantes. Mesmo assim, considero que vale a pena continuar. Os resulta‑dos obtidos não são fáceis de medir, mas tenho a perceção que aumentou o acolhimento das paróquias e suas instituições aos migrantes, como tra‑duz a disponibilidade para receber refugiados da crise que está atingir o Médio Oriente.

EC: A partir do tema do Encontro de ani‑madores sócio pastorais das migrações deste ano: “Partilhar a viagem: Acolher, proteger, promover e integrar migrantes e refugiados”, que mensagem gostaria de deixar a todos aqueles que, nas comu‑nidades cristãs, são chamados a expres‑sar o seu “amor preferencial pelos mais pobres”?

EF: Em primeiro lugar, que façam mes‑mo essa opção. Que esta preferência

manifesta em Medelim tenha evidên‑cias não só em ações assistenciais, mas em iniciativas que levem à liber‑tação das causas que subjugam gente a condições de vida desprovidas de dignidade humana. Que as paróquias abram ainda mais os braços das suas diferentes atividades para acolher a di‑ferença; abraçá ‑la para que ninguém se sinta desprezado; tenha a capacidade de olhar as diferenças como valores a promover para que, assim, se tor‑ne mais fácil a integração que nunca pode ser assimilação, mas ser ‑com ‑os‑‑outros, em igualdade de oportunida‑des.

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Editorial Cáritas (EC): Enquanto di‑retora da Obra Católica Portuguesa de Migrações, pode explicar ‑nos qual o lu‑gar desta Obra na ação pastoral da Igreja Católica, quais as suas finalidades e como se organiza para realizar a sua missão?

Eugénia QuarEsma (EQ): Enquanto diretora da OCPM, eu herdei uma pastoral em caminho, em saída da pe‑riferia para o centro da Pastoral da Igreja Católica. De um tema periférico e facilmente esquecido as migrações tornaram ‑se incontornáveis. Moldam sociedades e querem moldar a forma de ser Igreja. Já tínhamos a perceção da transversalidade e da provocação, isto é, chamamento à comunhão, à denúncia profética. Bem como do seu contributo para promover o anúncio

da fé em contexto de mobilidade e da importância da fé para a promoção humana e integração (dar e receber) numa sociedade diferente. É uma pas‑toral ao serviço de uma sociedade mais justa e fraterna, ao serviço de uma Igreja que anuncia o Evangelho da Justiça e da Paz, uma pastoral de diálogo que quer anunciar com ges‑tos o aperfeiçoamento de uma Igreja unida na sua pluralidade. A OCPM tem por finalidade estar ao serviço do Desenvolvimento Humano Integral, nesse sentido responde a Secção Migrantes e Refugiados tutelada pelo Papa Francisco. Esta Secção envia as orientações para todas as conferên‑cias episcopais. No caso de Portugal compete a OCPM recebê ‑las e, sob o mandato da Comissão Episcopal da

À conVersa coMeUGénia QUaresMadiretora da obra católica PortUGUesa de MiGrações

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Pastoral Social e Mobilidade Humana, operacionaliza ‑las. Para atingir esse grande objetivo as suas ações incidem sobre o estudo do fenómeno migra‑tório e formação de agentes pastorais, Informação e documentação da CEP, diálogo com as estruturas congéneres, animação das estruturas dependentes: comunidades católicas de língua por‑tuguesa, para responder aos que saem de Portugal e aos secretariados dio‑cesanos de migrações que respondem também aos que chegam a Portugal, diálogo e estabelecimento de parce‑rias com a sociedade civil.

EC: Tendo em conta a Mensagem do Papa Francisco para o 51.º Dia Mundial da Paz que se celebrou no passado dia 1 de ja‑neiro intitulada “Migrantes e refugiados: homens e mulheres em busca de paz” e a Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado celebrado no dia 14 janeiro intitulada “Acolher, proteger, promover e integrar os migrantes e os refugiados”, quais os grandes desafios que, a seu ver, o Papa apresenta à Igreja e à sociedade neste âmbito?

EQ: Desde o inico do seu pontificado que o Papa Francisco tem vindo a apre‑sentar à Igreja sucessivos desafios que

andam em torno da conversão pessoal, conversão comunitária, tendo no hori‑zonte a tão necessária transformação social. O Santo Padre quer aproximar a sua Igreja de Cristo, quer que seja‑mos bons cristãos, e ele tem sido um pontífice exemplar. No que respeita à mensagem deste ano, ele pretende aproximar os cristãos de Cristo, e isto significa reconhecer em cada migran‑te, prófugo, refugiado, vítima de tráfico, Jesus Cristo que se identifica com o forasteiro necessitado de acolhimen‑to, Jesus Cristo Samaritano que cuida, Maria que após acolher o anúncio do anjo, vai ao encontro de quem precisa. Exorta ‑nos a escutar, através destas vidas em contexto de mobilidade, o anúncio do Evangelho e a denúncia pro‑fética de tantos conflitos, corrupções, perseguições, desigualdades sociais e estatais. Convida ‑nos a colocar em prática a caridade, seguindo o exem‑plo do bom samaritano que cuida sem esperar nada em troca. Desafia ‑nos a contemplar o migrante como alguém que chega para nos ajudar a construir e arrumar a casa, como irmãos filhos de um mesmo Pai. Deseja que apren‑damos a reconhecer nas migrações uma oportunidade de crescimento e de enriquecimento mútuo, uma oportunidade de desenvolvimento. E,

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portanto, enquanto sociedade crescer na capacidade de integração de con‑vivermos uns com os outros, em pé de igualdade. Isso implica aprender a resolver conflitos, aprender a arte da reconciliação e a crescer na capa‑cidade de perdoar e regenerar. Que sejamos capazes de contribuir para erradicação da exploração do Homem pelo Homem. Que sejamos capazes de desenvolver uma economia que tenha a pessoa no centro, onde todos e cada um possam beneficiar dos bens da Terra, para com justiça partilhamos esta casa comum. Somente o Amor, somente a Misericórdia tal como foi vivida e trabalhada ao longo do ano de 2016 permite ‑nos operacionalizar, aprofundar e aperfeiçoar estes quatro verbos. Somente o Amor, à semelhan‑ça de Cristo, com as características que S. Paulo aponta é capaz de acolher, proteger, promover e integrar, com gestos e atitudes concretas de justiça e solidariedade. Para amar assim, te‑mos que levar a sério este convite à conversão pessoal, a este Deus que é família e nos chama à universalidade, promove e faz crescer a humanidade, construindo a paz. E há um desafio que é transversal à Igreja e sociedades: o apelo ao trabalho conjunto. Resposta comum. Caminharmos no mesmo

sentido. Construirmos este sonho de sermos uma só família humana, parti‑lhando a mesma viagem!

EC: A Obra Católica portuguesa de Migrações tem feito parte da organização conjunta dos Encontros de animadores sócio pastorais das migrações. Qual o balanço que faz desta colaboração com a Cáritas Portuguesa e com a Agencia Ecclesia?

EQ: Estamos a falar de uma colabora‑ção que já existe há 18 anos, é uma he‑rança preciosa que acolhi com muito carinho, vale muito pelo respeito que existe, na missão específica de cada, e na visão comum que nos une, de es‑tar ao serviço da edificação da família humana. Temos sido companheiros de viagem e aprendido uns com os ou‑tros e creio que isso tem feito crescer a amizade entre as pessoas que dão o rosto pelas instituições. O que facilita a comunicação e o ultrapassar de ad‑versidades circunstanciais. Sonhamos que este exemplo se estenda por to‑das as dioceses.

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Editorial Cáritas (EC): A Agência Ecclesia

tem feito parte da organização conjun‑ta dos Encontros de animadores sócio pastorais das migrações. Qual o balanço que faz desta colaboração com a Obra Católica Portuguesa de Migrações e a Cáritas Portuguesa?

Paulo roCha (Pr): Tem sido gratifi‑cante participar na organização des‑tes encontros, ajudar na promoção e divulgação dos temas tratados e na informação sobre as conclusões a que chegam os participantes. Trata ‑se de concretizar um compromisso que toda a sociedade tem de ter em re‑lação aos migrantes e refugiados em ordem à sua integração na sociedade, que só acontece plenamente quando pessoas e instituições se envolvem,

de alguma forma, nas suas histórias de vida. Por outro lado, esta parceria é um exercício concreto de envolvi‑mento entre diferentes estruturas da Igreja Católica num mesmo projeto, o que nem sempre é assumido como necessário entre os cristãos católicos. A autonomia de cada organismo e a multiplicidade de iniciativas em cur‑so faz crescer uma espécie de muros entre quem comunga valores, ideais e pertenças. Um paradoxo! Assim, torna ‑se urgente aprofundar estas parcerias e, sobretudo, desenvolvê ‑las com qualidade. Porque, se fracassam, podem desencorajar ao tal trabalho em conjunto que se pretende.

EC: Tendo em conta o tema do Encontro de animadores sócio pastorais das migrações

À conVersa coMPaUlo rocHadiretor da aGencia ecclesia

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deste ano: “Partilhar a viagem: Acolher, proteger, promover e integrar migrantes e refugiados”, que abordagem pensa que os media, de um modo especial, a Agência Ecclesia, devem ter para com esta temática dos migrantes e dos refugiados?

Pr: A Agência Ecclesia tem de ter em relação a este tema o que tem sobre todos os outros: informar com impar‑cialidade e rigor. E isso é um desafio para que não deixe cair abordagens relacionadas com os migrantes e re‑fugiados diante da pressão de outros temas (porque nem sempre dá para informar sobre tudo!). Mas quando te‑mos diante de nós quatro ações ‑ aco‑lher, proteger, promover e integrar ‑, temos uma multiplicidade de histórias para contar! Tanto as que se revestem de denúncia pela não salvaguarda dos direitos humanos fundamentais, onde os media têm de ser voz de quem a não tem, como nas muitas boas notí‑cias relacionadas com a mobilidade hu‑mana, seja dos que ajudam mulheres e homens que procuram melhores con‑dições de vida, seja daqueles que, em trânsito, nos países de acolhimento ou no regresso aos seus locais de origem, fortalecem competências, ajudam no desenvolvimento e contribuem para a harmonia social.

EC: Para os media, uma imagem vale mais do que mil palavras mas, perante a multiplicação de imagens, pode gerar ‑se insensibilidade pessoal e social perante certos problemas profundamente huma‑nos, como se pode atestar por muitas imagens relacionadas com os dramas dos refugiados. Como se poderá gerir este di‑lema no sentido de potenciar uma maior implicação pessoal e social, mais humana e humanizante?

PR: Participando! É necessário par‑ticipar, estar no ambiente dos media, aproveitar as ocasiões e intervenções para incluir o tema dos migrantes e refugiados, sendo protagonista deste processo. De facto, os meios de comu‑nicação social agem por ciclos, infor‑mam em torno de temas dominantes, quer sejam relevantes ou fúteis. E é no avolumar da comunicação em tor‑no de uma temática que ela se torna impactante na sociedade e na opinião mediática. Os migrantes e refugiados têm o seu lugar neste “carrocel infor‑mático”, umas vezes por boas razões outras por motivos menos interes‑santes. Certos desta dinâmica comu‑nicacional, quem tem mensagens para propor, os que fazem imagens que va‑lem por mais de mil palavras têm de as partilhar, mostrar, divulgar!

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Editorial Cáritas (EC): Enquanto respon‑sável nacional da Campanha “Partilhar a Viagem” a nível nacional, pode explicar‑‑nos, de um modo sucinto, o que é esta Campanha e quais as suas principais finalidades?

FiliPa abECasis (Fa): Esta é uma campa‑nha de consciencialização pública que tem como objetivo aproximar os mi‑grantes e refugiados das comunidades, criando mais espaços e oportunidades, para partilharem as suas histórias e experiências. “Partilhar a viagem” tem no seu coração a nossa visão de uma família humana unida. Esta campanha tem também um objetivo muito con‑creto de advocacy e influência, uma vez que irá contribuir para a construção de dois Pactos Globais das Nações

Unidas sobre Migrantes e Refugiados, esperando que venham a ser aprovados até ao final de 2018, responsabilizando toda a comunidade internacional na proteção dos direitos dos migrantes e refugiados.

EC: Esta Campanha terá, com certeza, al‑guns momentos ‑chave. Pode referir ‑nos o que está previsto acontecer ao longo dos seus dois anos de vigência?

FA: O evento de lançamento em Portugal foi realizado no dia 27 de setembro de 2017 no Padrão dos Descobrimentos, no mesmo dia do lan‑çamento mundial da campanha com a participação do Papa Francisco. Temos prevista uma semana de ação conjunta em junho de 2018 e o encerramento

À conVersa coMFiliPa abecasisresPonsáVel nacional da caMPanHa “PartilHar a ViaGeM”

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da campanha será em setembro 2019. Existem também alguns momentos‑‑chave de advocacy alinhados com a or‑ganização da Conferência das Nações Unidas sobre as Migrações em setem‑bro de 2018, onde serão adotados os dois Pactos Globais sobre Migrações e Refugiados.

EC: Como se poderá promover, a um nível mais concreto e local, a “cultura do en‑contro” tão almejada por esta Campanha?

FA: Desafiamos a que todos se juntem a nós e respondam também ao apelo do Papa, organizando um evento em cada Diocese, durante o qual se rela‑tem histórias de pessoas que vivam ou tenham vivido a experiência da emi‑gração, à semelhança do que vivencia‑mos no dia 27 de setembro, data de lançamento da campanha. Este encon‑tro positivo e próximo com o outro contribui para apaziguar sentimentos xenófobos emergentes e contrariar tendências de discriminação. Esta é uma atividade simples de organizar em vários contextos: a) nas organizações, convidando colaboradores ou pessoas apoiadas que tenham vivido uma expe‑riência de migração; b) em escolas ou grupos de jovens, convidando jovens imigrantes ou filhos de imigrantes que

contem a sua experiência; c) nas paró‑quias, com os grupos socio caritativos, convidando voluntários ou pessoas apoiadas que tenham vivido uma ex‑periência de migração. A ideia é que seja uma partilha enriquecedora para todos, que ajude a situar e valorizar o lugar do migrante na nossa comunida‑de. Podem consultar o Guia de Ação no nosso site www.caritas.pt e ficar a saber mais sobre todas as iniciativas sugeridas, bem como ter acesso a to‑dos os materiais desenvolvidos.

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Não se trata do pensamento ou da dou‑trina oficial das Igrejas. Trata ‑se do pen‑samento livre, umas vezes em harmonia com as posições oficiais, outras também à distância e, de vez em quando, contes‑tatário. O pensamento, disse eu, não a doutrina. Por outro lado, não se trata de tentar recolher tudo o que certos cris‑tãos puderam dizer ou pensar numa pes‑quisa económica ou política, mais prática ou mais aplicada por exemplo, mas o que se encontra numa relação direta com a sua fé. Darei até uma importância parti‑cular ao que é reflexão expressa sobre o vínculo das posições sociais ou políticas com a fé.” (Jean ‑Yves Calvez, in Cristãos Pensadores do Social I)Eis alguns dos grandes pensadores cris‑tãos do séc. XX que perpassam ao longo

desta trilogia de Jean Yves Calvez: Jacques Maritain, Emmanuel Mounier, Gaston Fessard, Pierre Teilhard de Chardin, Henry de Lubac (Cristãos Pensadores do Social I); Henri Derroche; Pierre Bigo, Henri Chambre, Louis ‑Joseph Lebret; François Perroux; Jean Villain; Marcel Clement; o italiano Igino Giordani; o americano John Coutney Murray; e os protestantes frna‑ceses Roger Mehl e Jacques Ellul (Cristãos Pensadores do Social II – O pós guerra ‑ 1945‑‑1967); e múltiplos pensadores na senda do pós concílio Vaticano II: René Coste; A. Birou; Henri Chambre; P. Jadot; Marie‑‑Dominique Chenu; Louis de Vaucelles; Denis Maugenest; Claude Geffré; Jean‑‑Marie Aubert; K. Rahner; Dom Giussani; Rocco Buttiglione; Bartolomeo Sorge; Michael Novak; entre outros (Cristãos

cristãos Pensadores do social i, ii e iii

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Pensadores do Social III – Depois do Concílio – Pós 68 ‑ 1968 ‑1988).

o autor

Jean ‑Yves Calvez, jesuíta, filósofo e teólogo, nasceu em Saint ‑Brieuc, a 3 de Fevereiro de 1927. Foi professor no Departamento de Ética Pública no Centro Sèvres e no Instituto de Estudos Políticos de Paris. Foi editor chefe da revista «Études», Provincial dos Jesuítas

de França entre 1967 e 1971 e, durante catorze anos, assistente do Padre Pedro Arrupe, Superior Geral dos Jesuítas.Jean ‑Yves Calvez contribuiu de forma notável para a divulgação do discurso social da Igreja Católica, ao promover a publicação dos seus textos, bem como as grandes figuras do pensamento social cristão do século XX. Faleceu em Paris a 11 de Janeiro de 2010.

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