caracterÍsticas dos tecidos periimplantares...tecido gengival que existe ao redor de dentes (para...

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8 R. Periodontia - Dezembro 2008 - Volume 18 - Número 04 INTRODUÇÃO Os tecidos que envolvem o implante são cha- mados de periimplantares. Estes são compostos de uma porção de tecido duro, osso lamelar e medular, e uma porção de tecido mole, a mucosa periimplantar. Esta mucosa é análoga à gengiva que circunda dente e tem como função primordial a pro- teção do osso subjacente. A formação da mucosa periimplantar ocorre após a instalação de implantes em um único estágio ou após a reabertura de im- plantes submersos e instalação do pilar ou conector intermediário. Em resumo, imediatamente após a instalação do componente transmucoso e sutura (quando necessário), uma camada de coágulo, con- tendo uma rede de fibrina, eritrócitos e neutrófilos, é formada entre a mucosa e a superfície do implante. Durante as duas primeiras semanas de cicatrização este coágulo é substituído primeiramente por tecido de granulação e depois por tecido conjuntivo. Concomitantemente, o epitélio começa a migrar apicalmente. Após oito semanas de cicatrização, a mucosa periimplantar está formada (Berglundh et al. 2007). A possibilidade de ancoragem de próteses so- bre implantes foi demonstrada experimentalmente por Branemark e colaboradores. Aspectos relaciona- CARACTERÍSTICAS DOS TECIDOS PERIIMPLANTARES Characteristics of the peri-implant tissues Maurício Araujo 1 , Norberto Francisco Lubiana 2 RESUMO O objetivo da presente revisão foi descrever algumas características dos tecidos periimplantares que envolvem o implante e são compostos de uma porção de tecido duro, o osso, e uma porção de tecido mole, a mucosa periimplantar. A mucosa periimplantar clinicamente saudá- vel apresenta-se firme e com coloração rosa. Histologicamente, a mucosa periimplantar é constituída de dois tecidos: epitelial e conjuntivo. Este epitélio cobre a porção marginal do tecido conjuntivo periimplantar sepa- rando-o da superfície do implante por uma extensão de 2 mm e termina a uma distância de 1-1,5 mm da crista ós- sea. O tecido conjuntivo que separa a porção apical do epitélio da barreira e a crista óssea está em íntimo contato com a superfície do implante e contém fibras colágenas organizadas paralelamente à superfície do implante que se estendem da crista óssea a margem periimplantar. O teci- do ósseo compacto e trabecular e a medula óssea que ocu- pa o espaço entre as trabéculas sofrem agressões durante os procedimentos de colocação dos implantes e passam por processos de regeneração pós-cirúrgica pela ação das células ósseas e de componentes da matriz óssea e de outras células e substâncias que chegam ao local. UNITERMOS: 1 Professor Associado do Departamento de Odontologia, Universidade Estadual de Maringá 2 Prof. de Histologia e Embriologia da Universidade Federal do Espírito Santo Recebimento: 07/10/08 - Correção: 02/11/08 - Aceite: 28/11/08 implantes, mucosa, epitélio, tecido con- juntivo, osso. R Periodontia 2008; 18:08-13.

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    R. Periodontia - Dezembro 2008 - Volume 18 - Número 04

    INTRODUÇÃO

    Os tecidos que envolvem o implante são cha-

    mados de periimplantares. Estes são compostos de

    uma porção de tecido duro, osso lamelar e medular,

    e uma porção de tecido mole, a mucosa

    periimplantar. Esta mucosa é análoga à gengiva que

    circunda dente e tem como função primordial a pro-

    teção do osso subjacente. A formação da mucosa

    periimplantar ocorre após a instalação de implantes

    em um único estágio ou após a reabertura de im-

    plantes submersos e instalação do pilar ou conector

    intermediário. Em resumo, imediatamente após a

    instalação do componente transmucoso e sutura

    (quando necessário), uma camada de coágulo, con-

    tendo uma rede de fibrina, eritrócitos e neutrófilos, é

    formada entre a mucosa e a superfície do implante.

    Durante as duas primeiras semanas de cicatrização

    este coágulo é substituído primeiramente por tecido

    de granulação e depois por tecido conjuntivo.

    Concomitantemente, o epitélio começa a migrar

    apicalmente. Após oito semanas de cicatrização, a

    mucosa periimplantar está formada (Berglundh et al.

    2007).

    A possibilidade de ancoragem de próteses so-

    bre implantes foi demonstrada experimentalmente

    por Branemark e colaboradores. Aspectos relaciona-

    CARACTERÍSTICAS DOS TECIDOS PERIIMPLANTARESCharacteristics of the peri-implant tissues

    Maurício Araujo1, Norberto Francisco Lubiana2

    RESUMO

    O objetivo da presente revisão foi descrever algumas

    características dos tecidos periimplantares que envolvem o

    implante e são compostos de uma porção de tecido duro,

    o osso, e uma porção de tecido mole, a mucosa

    periimplantar. A mucosa periimplantar clinicamente saudá-

    vel apresenta-se firme e com coloração rosa.

    Histologicamente, a mucosa periimplantar é constituída de

    dois tecidos: epitelial e conjuntivo. Este epitélio cobre a

    porção marginal do tecido conjuntivo periimplantar sepa-

    rando-o da superfície do implante por uma extensão de 2

    mm e termina a uma distância de 1-1,5 mm da crista ós-

    sea. O tecido conjuntivo que separa a porção apical do

    epitélio da barreira e a crista óssea está em íntimo contato

    com a superfície do implante e contém fibras colágenas

    organizadas paralelamente à superfície do implante que se

    estendem da crista óssea a margem periimplantar. O teci-

    do ósseo compacto e trabecular e a medula óssea que ocu-

    pa o espaço entre as trabéculas sofrem agressões durante

    os procedimentos de colocação dos implantes e passam

    por processos de regeneração pós-cirúrgica pela ação das

    células ósseas e de componentes da matriz óssea e de

    outras células e substâncias que chegam ao local.

    UNITERMOS:

    1 Professor Associado do Departamento de Odontologia, Universidade Estadual de Maringá2 Prof. de Histologia e Embriologia da Universidade Federal do Espírito Santo

    Recebimento: 07/10/08 - Correção: 02/11/08 - Aceite: 28/11/08

    implantes, mucosa, epitélio, tecido con-

    juntivo, osso. R Periodontia 2008; 18:08-13.

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    dos com as condições clínica e radiográfica e análise ultra-

    estrutural das células epiteliais, conjuntivas, ósseas e medu-

    lares foram relatados, evidenciando a ausência de alterações

    dignas de nota (Branemark et al. 1969). Outras pesquisas

    mostraram as possibilidades dos implantes receberem car-

    gas funcionais na reabilitação do edentulismo parcial e total,

    evidenciando os benefícios da osseointegração (Zarb et al.

    2002).

    Mucosa periimplantar

    Características clínicas

    A mucosa periimplantar saudável pode variar de apa-

    rência de acordo com as características da mucosa do rebor-

    do onde foi instalado o implante. Dessa forma, quando um

    implante é instalado em um rebordo que permita que mucosa

    queratinizada envolva o implante, a mucosa periimplantar

    apresenta-se firme e com coloração rosa. (Fig. 1). Por outro

    lado, o implante, quando instalado em uma área sem mucosa

    queratinizada, vai apresentar uma mucosa periimplantar mais

    avermelhada e com certa mobilidade. A presença de uma

    quantidade mínima de mucosa periimplantar queratinizada

    não parece influenciar as condições de saúde dos tecidos

    moles ou o nível ósseo (Wennström et al. 1994, Bengazi, et

    al. 1996). Por outro lado, pode-se especular que a presença

    de uma mucosa periimplantar não-queratinizada fina ao re-

    dor do implante pode contribuir para o surgimento de

    recessão tecidual quando exposta à inflamação provocada

    por acúmulo de placa ou escovação traumática ou ainda,

    causar desconforto durante a higiene bucal (Salvi & Lang

    2004).

    Assim como o tecido gengival ao redor dente, a mucosa

    periimplantar também exibe um sulco que se localiza entre

    a superfície do pilar intermediário ou prótese e a mucosa.

    Este sulco periimplantar pode variar muito em profundidade

    mesmo em condições onde o tecido está saudável. O local

    onde foi instalado o implante (região estética versus não-

    estética), forma do implante, o tipo de superfície, a força

    utilizada e o design da prótese são fatores que dificultam o

    estabelecimento de uma profundidade padrão. Por outro

    lado, a extensão da penetração da sonda em tecidos

    periimplantares saudáveis quando realizada com força ade-

    quada (0,2N) indica o final da barreira epitelial e o início da

    barreira conjuntiva (Lang et al. 1994, Abrahamsson & Soldini

    2006). Além disso, uma sondagem como força adequada

    também revela que a mucosa periimplantar saudável não

    sangra (Lang et al. 1994).

    Características histológicas

    As características estruturais da mucosa periimplantar

    foram descritas em diversos estudos e comparadas com o

    tecido gengival que existe ao redor de dentes (para revisão,

    consultar Berglundh 1993). Como ocorre no tecido gengival,

    a mucosa periimplantar é constituída de dois tecidos, epitelial

    e conjuntivo (Fig. 2). O tecido conjuntivo periimplantar é

    coberto na sua porção externa (voltada para a boca) por um

    epitélio pavimentoso estratificado queratinizado que está em

    direta continuidade com um fino epitélio não queratinizado

    com poucas camadas celulares voltado para a superfície do

    implante. Este último epitélio é análogo ao epitélio juncional

    que ocorre ao redor de dentes e é denominado barreira

    epitelial. Este epitélio está (i) ligado à superfície do implante

    via hemi-desmossomas (Gould et al. 1984), (ii) cobre o teci-

    do conjuntivo periimplantar separando-o da superfície do

    Fig. 2. Fotomicrografia de um corte vestíbulo-lingual dos tecidos periimplantares. Note o epitéliooral em continuidade com o fino epitélio da barreira e o tecido conjuntivo subjacente em íntimocontato com a superfície do implante. Coloração; Ludewig; aumento original: 5x.

    Fig. 1. Fotografia ilustrando o aspecto clínico da mucosa periimplantar ao redor coroa protéticano incisivo central superior direito.

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    implante por uma extensão de 2 mm e (iii) termina a uma

    distância de 1-1,5 mm da crista óssea.

    A extensão de tecido conjuntivo que separa a porção

    apical do epitélio da barreira e a crista óssea é denominada

    barreira conjuntiva e é análoga a inserção a conjuntiva que

    ocorre ao redor de dentes. A barreira conjuntiva apresenta

    características diferentes da inserção conjuntiva. Enquanto

    no dente as fibras colágenas da inserção conjuntiva se inse-

    rem no cemento radicular, as fibras colágenas da barreira

    conjuntiva estão organizadas paralelamente a superfície do

    implante e estende-se da crista óssea a margem periimplantar.

    Estas dimensões da barreira epitelial e conjuntiva parecem

    representar dimensões biológicas mínimas que se estabele-

    cem na mucosa periimplantar saudável (Berglundh & Lindhe

    1996). Estas dimensões são independentes do sistema de

    implante e do tipo de instalação (um ou dois estágios) usa-

    do (Abrahamsson et al. 1999). A composição do tecido con-

    juntivo ao redor do implante difere da composição do tecido

    conjuntivo ao redor do dente pelo seu maior conteúdo de

    fibras colágenas e menor conteúdo de células e vasos san-

    guíneos. (Berglundh et al. 1991). Esta composição, no en-

    tanto, pode variar de acordo com o tipo de material e super-

    fície do pilar ou conector intermediário com o qual o tecido

    conjuntivo está em direto contato (Abrahanssom et al. 1998,

    Wellander et al. 2008).

    Tecido ósseo

    O tecido ósseo é um tecido conjuntivo mineralizado cuja

    função principal é servir de suporte para estruturas como os

    músculos, cuja contração transforma os ossos em um siste-

    ma de alavancas, permitindo a locomoção. O tecido ósseo

    protege estruturas importantes como o cérebro, estruturas

    torácicas e armazena nos espaços entre as trabéculas do

    osso esponjoso a medula óssea vermelha, que produz célu-

    las sanguíneas, ou a medula amarela ou adiposa. Nos ossos

    maxilares na idade adulta prevalece a medula amarela entre

    os espaços trabeculares (Bhaskar 1989). Uma das funções

    mais importantes do tecido ósseo é a de servir como reserva

    de cálcio para o organismo, necessário para a contração

    muscular, adesão celular e a fisiologia de diversos sistemas

    orgânicos. A calcemia depende da liberação ou

    armazenamento de íons cálcio pela ação principalmente do

    paratormônio e calcitonina. Se a concentração de cálcio está

    baixa, o paratormônio é liberado, induzindo ação

    osteoclástica, aumentando os íons na circulação. Se as ta-

    xas estão altas, a calcitonina é liberada, estimulando

    osteoblastos que retiram cálcio da circulação para mineralizar

    o novo osso.

    Células ósseas

    Os osteoblastos, derivados de células mesenquimais, têm

    função principal de sintetizar e mineralizar a matriz orgânica

    do tecido ósseo (osteóide), composta de colágeno e proteí-

    nas não colagênicas. Osteocalcina, osteogenina, proteínas

    morfogenéticas ósseas, osteopontina e sialoproteina óssea

    são algumas das proteínas não colagênicas. Após a

    reabsorção óssea pelos osteoclastos algumas proteínas não

    colagênicas funcionam como fatores locais de indução para

    a formação de novos osteoblastos que irão produzir novo

    tecido ósseo. A implantação de matriz óssea desmineralizada

    em tecido subcutâneo e em tecidos musculares esqueléticos

    provocou a liberação das proteínas morfogenéticas ósseas

    induzindo formação de condroblastos nestas áreas, forman-

    do cartilagens que foram substituídas por tecido ósseo pelo

    Fig. 4. Radiografia mostrando condensação óssea próxima ao implante após 8 meses de cargafuncional, indicando remodelação óssea.

    Fig. 3. Osso trabecular seco, mostrando espaços vazios entre as trabéculas que no indivíduo vivosão preenchidos por medula óssea adiposa ou hematopoiética.

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    processo de ossificação endocondral (Urist et al. 1970).

    Osteoclastos são células multinucleadas formadas pela

    fusão de monócitos que, via corrente sanguínea chegam aos

    locais onde há a necessidade de reabsorção óssea. Os

    osteoclastos se unem à matriz óssea por meio de seu

    citoplasma periférico formando um compartimento fechado

    onde liberam substâncias que quebram as ligações quími-

    cas existentes entre o cálcio, fosfato e as hidroxilas da

    hidroxiapatita, e também as moléculas do colágeno e as pro-

    teínas não colagênicas da matriz orgânica, dissociando-as,

    provocando a desintegração do tecido ósseo.

    Os osteócitos são antigos osteoblastos que ficaram apri-

    sionados dentro do tecido ósseo pela própria matriz. Apre-

    sentam prolongamentos citoplasmáticos formando uma rede

    de canalículos no interior do tecido ósseo. Os canalículos e

    os prolongamentos citoplasmáticos permitem a passagem

    de nutrientes e a drenagem dos produtos do metabolismo

    das células, sendo sua função a manutenção do tecido ós-

    seo. As células osteoprogenitoras são derivadas de células

    mesenquimais indiferenciadas que irão completar a sua di-

    ferenciação em osteoblastos, quando necessário, para a for-

    mação de novo osso.

    Interface osso/implante

    A colocação de implantes requer o corte no tecido ós-

    seo com instrumentos rotatórios gerando riscos de aqueci-

    mento e a destruição dos vasos sanguíneos existentes nos

    canais de Havers e de Volkman do osso cortical e de vasos

    existentes na medula óssea entre as trabéculas do osso es-

    ponjoso (Fig.3). Estes dois fatores levam sempre a formação

    de uma zona necrótica de osso que ficará em contato com a

    superfície dos implantes. Estudos revelaram que a exposi-

    ção à temperatura crítica de 47°C durante 1 minuto é

    suficiente para causar necrose no tecido ósseo e que uma

    temperatura acima de 60°C poderá impedir a formação

    de tecido ósseo na interface osso-implante (Ericsson et al.

    1994). Na clínica este problema pode ser evitado com o uso

    de irrigação copiosa com solução fisiológica durante o

    processo de perfuração óssea com as brocas utilizadas na

    implantodontia. Alem da área necrótica, haverá a

    formação de coágulo sanguíneo resultante do

    extravasamento de sangue devido ao corte dos tecidos.

    Uma rede de fibrina será formada pela ação de fatores

    da coagulação, por produtos liberados pelo sistema com-

    plemento, ativação das plaquetas, células inflamatórias e

    células endoteliais. Componentes liberados da matriz de

    fibrina iniciam o processo de reorganização e regeneração

    por meio do recrutamento de células inflamatórias e

    fibroblastos. As plaquetas liberam fatores de crescimento que

    contribuem para o recrutamento de osteoblastos. Monócitos

    e linfócitos presentes no local liberam leucotrienos, fatores

    de crescimento derivado de plaquetas e fator de crescimen-

    to transformador-â que também contribuem para o recruta-

    mento de osteoblastos (Anderson, 1999). Fatores de cresci-

    mento liberados dos grânulos-〈 das plaquetas são o sinalpara atração de leucócitos, l infócitos, monócitos e

    macrófagos.

    O meio ambiente no local da ferida é caracterizado pela

    diminuição da tensão de oxigênio e do pH, condição neces-

    sária para a atividade dos polimorfonucleares e macrófagos.

    Inicialmente predominam os neutrófilos na área da ferida ci-

    rúrgica, porém em pouco tempo os macrófagos tornam-se

    as células mais numerosas. Estas células estão envolvidas

    com a degradação do coágulo por mecanismos de digestão

    fagocítica tanto extra como intracelular. Claramente os

    macrófagos podem alcançar a superfície do implante usan-

    do como apoio a rede de fibrina e podem ter um importante

    papel no desenvolvimento da interface osso-implante. A pro-

    liferação de novos vasos sanguíneos (angiogênese) traz os

    nutrientes e oxigenação necessários à diferenciação das cé-

    lulas osteogênicas com a conseqüente deposição de tecido

    ósseo na superfície do implante denominada, osteogênese

    de contato. (Davies e Rosseini 1999). Uma micro camada de

    material amorfo, composto de glicoproteinas, e possivelmen-

    te também de proteoglicanas e fosfolipídios, medindo de 20

    a 50 nanômetros é formada pelos osteobastos, entre o

    osso vivo e a superfície do implante (Albrektsson et al. 1986).

    Experimentos com cultura celular in vitro foram realizados

    para determinar os componentes desta camada amorfa.

    Difração elétrica de Raios X e espectrometria fotoeletrônica

    de Raios X revelaram a presença de cálcio, fosfato,

    oxigênio e sódio em sua composição. Estudos com

    eletroforese e auto-radiografias revelaram a presença de

    sialoproteina óssea e, em maior quantidade, de osteopontina.

    (Rosseini et al. 1999).

    Importante frisar que a presença de acúmulo bacteriano

    ao redor dos implantes ou na interface implante-abutment

    pode levar ‘a inflamação e desorganização destes compo-

    nentes teciduais e conseqüente perda de osso ao redor dos

    implantes.(Duarte et al. 2006)

    Remodelação óssea

    A remoção de osso necrótico próxima ao implante é re-

    alizada pelos osteoclastos e novo tecido ósseo é produzido

    pelos osteoblastos. Quando a área de tecido necrótico e de

    coágulo é preenchida por novo tecido ósseo, é iniciado en-

    tão o processo de remodelação que seguirá os parâmetros

    já bem conhecidos no tecido ósseo normal de todo o orga-

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    nismo. Osteoclastos promovem a reabsorção óssea na for-

    ma de túneis de reabsorção. Tecido de granulação prolifera

    acompanhando os osteoclastos, promovendo a limpeza dos

    produtos do metabolismo celular, o crescimento de vasos e

    a diferenciação de células mesenquimais em osteoblastos.

    Estes formam lamelas concêntricas de tecido ósseo por um

    processo incremental, até o fechamento do túnel. Permane-

    cem no centro dos canais, vasos e endósteo, denominados

    de canais de Havers. Os sistemas de Havers, formados pelas

    lamelas concêntricas e canais de Havers, são uma constante

    no tecido ósseo compacto permitindo maior condensação

    do tecido ósseo para resistir às cargas nele aplicadas. Como

    as células ósseas necessitam de um alto gral de tensão de

    oxigênio e nutrientes para sobreviver, a remodelação tem

    também o papel de levar estes nutrientes à profundidade do

    tecido ósseo, por meio dos canais de Havers e também dos

    canais de Volkman que interligam os vasos dos sistemas de

    Havers. (Fig. 4). As finas trabéculas do osso esponjoso tam-

    bém sofrem remodelação, porém os osteoclastos fazem a

    reabsorção em forma de baias na superfície, sem a forma-

    ção dos túneis de reabsorção já que a nutrição das trabéculas

    é possível apenas pela difusão dos nutrientes via canalículos

    ósseos formados pelos prolongamentos citoplasmáticos dos

    osteócitos (Ten Cate 2001).

    CONCLUSÃO

    Os tecidos periimplantares são constituídos de mucosa

    periimplantar e osso. Estes tecidos estão localizados ao re-

    dor do implante e tem como função primordial a proteção

    do osso subjacente (via mucosa periimplantar) e a sustenta-

    ção do implante (via osso). A mucosa periimplantar é revestida

    de epitélio oral queratinizado em continuidade com um fino

    epitélio (barreira epitelial) lateral à superfície do implante. Entre

    o epitélio e o tecido ósseo, um tecido conjuntivo altamente

    colagenizado e pouco vascularizado se estabelece (barreira

    conjuntiva). O osso ao redor do implante é do tipo

    mineralizado e não-mineralizado. Este osso se liga a superfí-

    cie do implante através de um processo chamado

    osseointegração que permite que o implante fique apto a

    sustentar a prótese e as cargas oclusais.

    ABSTRACT

    The aim of the present review was to describe some

    features characteristic of the peri-implant tissues. The peri-

    implant tissues surround the implant and are made of hard

    tissue, bone, and soft tissue portions, peri-implant mucosa.

    Clinically, the healthy peri-implant mucosa is firm and exhibits

    a pink appearance. Histologically, the peri-implant mucosa

    is occupied by to 2 tissues: epithelial and connective. The

    epithelium covers the marginal portion of the peri-implant

    connective tissue which is separated from the implant surface

    by a length of 2 mm. The apical portion of the epithelium is

    located 1-1.5 mm from the bone crest. The connective tissue

    which separates the epithelium from the bone crest is in direct

    contact with the implant surface and contains collagen fibers

    running in a parallel course from the bone crest to the peri-

    implant margin. The trabecular and compact bone tissue and

    the bone marrow which is located between the trabeculae

    are exposed to injury during the implant installation

    procedure. Subsequently, the bone tissue is regenerated

    through the action of bone cells and other cells, bone matrix

    components and, substances that penetrate the wound.

    UNITERMS: implants, mucosa, epithelium, connective

    tissue, bone.

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