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CARACTERIZAÇÃO AGRONÔMICA DE CARACTERES DA INFLORESCÊNCIA DE JAMBU PROPAGADO VEGETATIVAMENTE AGRONOMIC CHARACTERIZATION OF INFLORESCENCE CHARACTERS OF JAMBU VEGETATIVELY PROPAGATED Apresentação: Comunicação Oral Maria Sidalina Messias de Pina 1 ; Dalcirlei Pinheiro Albuquerque 2 ; Antônio Augusto Cordeiro da Silva 3 Marlison Tavares Ávila 4 ; Davi Henrique Lima Teixeira 5 DOI: https://doi.org/10.31692/2526-7701.IIICOINTERPDVAGRO.2018.00064 Resumo O jambu é uma hortaliça bastante apreciada na região norte do Brasil, onde é utilizado na culinária local e na medicina popular. Seu principal composto ativo é o espilantol que possui propriedades analgésicas, anti-inflamatória e antioxidante, o que desperta interesse de indústrias em desenvolver produtos a base da espécie. Apesar da importância, estudos visando melhoramento genético dessa cultura ainda são incipientes e faltam estudos básicos como caracterização agronômica e variabilidade de caracteres, fundamentais para o processo de melhoramento. Portanto, o objetivo deste trabalho foi caracterizar morfologicamente caracteres da inflorescência de jambu adquiridos em feiras de sete municípios da mesorregião nordeste paraense. As plantas foram clonadas por meio de estacas, enraizadas em copos descartáveis e transplantadas para canteiros definitivos em delineamento inteiramente casualisado, com três repetições. Após colheita, realizou-se mensuração dos caracteres da massa de matéria verde dos capítulos abertos e fechados, comprimento e diâmetro dos capítulos e número de capítulos abertos e fechados. A análise estatística foi feita por meio do software R. Os resultados mostraram que o experimento obteve precisão moderada, com coeficientes de variação experimental entre 13,30% para o diâmetro dos capítulos e 34,61% para o número de capítulos fechados. Obteve-se média de 20,28 g e 5,30 cm para a massa de matéria verde e comprimento dos capítulos, respectivamente, e de 140,85 para o número de 1 Bacharelado em Biologia, Universidade Federal Rural da Amazônia, Capitão Poço, PA, Brasil, e-mail: [email protected] 2 Bacharelado em Biologia, Universidade Federal Rural da Amazônia, Capitão Poço, PA, Brasil, e-mail: [email protected] 3 Bacharelado em Biologia, Universidade Federal Rural da Amazônia, Capitão Poço, PA, Brasil, e-mail: [email protected] 4 Engenheiro Agrônomo, Pós-graduando em Engenharia de Segurança do trabalho, Universidade da Amazônia, [email protected] 5 Professor Doutor, Universidade Federal Rural da Amazônia, Capitão Poço, PA, Brasil, e-mail: [email protected]

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CARACTERIZAÇÃO AGRONÔMICA DE CARACTERES DA INFLORESCÊNCIA

DE JAMBU PROPAGADO VEGETATIVAMENTE

AGRONOMIC CHARACTERIZATION OF INFLORESCENCE CHARACTERS OF

JAMBU VEGETATIVELY PROPAGATED

Apresentação: Comunicação Oral

Maria Sidalina Messias de Pina1; Dalcirlei Pinheiro Albuquerque

2; Antônio Augusto

Cordeiro da Silva3 Marlison Tavares Ávila

4; Davi Henrique Lima Teixeira

5

DOI: https://doi.org/10.31692/2526-7701.IIICOINTERPDVAGRO.2018.00064

Resumo

O jambu é uma hortaliça bastante apreciada na região norte do Brasil, onde é utilizado na

culinária local e na medicina popular. Seu principal composto ativo é o espilantol que possui

propriedades analgésicas, anti-inflamatória e antioxidante, o que desperta interesse de

indústrias em desenvolver produtos a base da espécie. Apesar da importância, estudos visando

melhoramento genético dessa cultura ainda são incipientes e faltam estudos básicos como

caracterização agronômica e variabilidade de caracteres, fundamentais para o processo de

melhoramento. Portanto, o objetivo deste trabalho foi caracterizar morfologicamente

caracteres da inflorescência de jambu adquiridos em feiras de sete municípios da mesorregião

nordeste paraense. As plantas foram clonadas por meio de estacas, enraizadas em copos

descartáveis e transplantadas para canteiros definitivos em delineamento inteiramente

casualisado, com três repetições. Após colheita, realizou-se mensuração dos caracteres da

massa de matéria verde dos capítulos abertos e fechados, comprimento e diâmetro dos

capítulos e número de capítulos abertos e fechados. A análise estatística foi feita por meio do

software R. Os resultados mostraram que o experimento obteve precisão moderada, com

coeficientes de variação experimental entre 13,30% para o diâmetro dos capítulos e 34,61%

para o número de capítulos fechados. Obteve-se média de 20,28 g e 5,30 cm para a massa de

matéria verde e comprimento dos capítulos, respectivamente, e de 140,85 para o número de

1 Bacharelado em Biologia, Universidade Federal Rural da Amazônia, Capitão Poço, PA, Brasil, e-mail:

[email protected] 2 Bacharelado em Biologia, Universidade Federal Rural da Amazônia, Capitão Poço, PA, Brasil, e-mail:

[email protected] 3 Bacharelado em Biologia, Universidade Federal Rural da Amazônia, Capitão Poço, PA, Brasil, e-mail:

[email protected] 4 Engenheiro Agrônomo, Pós-graduando em Engenharia de Segurança do trabalho, Universidade da Amazônia,

[email protected] 5

Professor Doutor, Universidade Federal Rural da Amazônia, Capitão Poço, PA, Brasil, e-mail: [email protected]

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capítulos abertos, valores superiores ou semelhantes aos encontrados na literatura, o que

mostra potencial desses genótipos para programas de melhoramento, em especial para

aumentar a massa verde de capítulos abertos e número de capítulos, caracteres que

apresentaram maiores variabilidades.

Palavras-Chave: Genótipos, Melhoramento, Variabilidade.

Abstract

Jambu is a vegetable very appreciated in the North region of Brazil, where it is used in local

cuisine and in folk medicine. Its main active compound is espilantol which has analgesic, anti-

inflammatory and antioxidant, which arouses interest of industries in developing products the

base of the species. Despite the importance of this breeding studies aimed at culture are still

incipient and lack basic studies how agronomic characterization and variability, instrumental

in the improvement process. Therefore, the aim of this study was to characterize

morphologically the inflorescence of jambu acquired in seven municipalities in the

mesoregion of Northeastern Pará. The plants were cloned through stem cuttings, rooted in

disposable cups and transplanted to beds in definitive completely randomized design, with

three replications. After harvest, measurement of the mass of green matter of open and closed

chapters, length and diameter of the chapters and number of chapters opened and closed.

Statistical analysis was performed by means of the R software. The results showed that the

experiment gained moderate accuracy, with experimental variation coefficients between

13.30% for the diameter of the chapters and 34.61% for number of closed chapters. Obtained

average of 20.28 g and 5.30 cm green matter mass and length of the chapters, respectively,

and of 140.85 to the number of chapters opened, values greater than or similar to those found

in the literature, what shows potential of these genotypes for breeding programs, in particular

to increase the Green chapters opened mass and number of chapters, characters that showed

greater variability.

Keywords: Genotypes, Improvement, Variability.

Introdução

A Acmella oleracea [(L.) R.K. Jansen], popularmente conhecida como jambu, agrião

do Pará, erva maluca, botão de ouro, entre outros (COUTINHO et al., 2006), é uma hortaliça

originária dos trópicos do Brasil (MORENO et al., 2011). A espécie faz parte da família

Asteraceae e possui amplo uso na culinária paraense, onde faz parte de pratos típicos do

estado, e é utilizada também como erva medicinal (HOMMA et al., 2011).

Junto com outras hortaliças, o jambu tem grande importância econômica para diversos

produtores familiares do estado do Pará (GUSMÃO et al., 2006). A principal característica

dessa espécie é o sabor picante, seguido por sensação de formigamento e entorpecimento das

mucosas da boca, devido a presença do composto químico conhecido como espilantol

(BORGES et al., 2014) presente nas folhas, caules e inflorescências (POLTRONIERI et al.,

2000). Essa substância tem propriedades medicinais que atuam como analgésicas, anti-

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inflamatórias e antioxidantes (RODRIGUES et al., 2014), anti-úlcera (CIPRIANI et al., 2009),

entre outros usos fitoterápicos.

Devido aos atributos do espilantol, é notório o crescimento do interesse de indústrias

brasileiras e estrangeiras pelo jambu (BORGES, 2008), tanto que empresas vêm gerando

pesquisas e patentes para obtenção de extratos a base de folhas e flores da espécie (COSTA,

2010). Apesar de toda importância na alimentação e medicina, pesquisas com a espécie são

escassas (NEVES et al., 2013), em especial na área de melhoramento genético. Até o

momento foi laçada apenas uma cultivar, chamada Nazaré, melhorada para resistência a

galhas, causada pelo fungo Thecaphora spilanthes (Ustilaginales) (POLTRONIERI et al.,

2000).

Para a cultura do jambu ainda são escassas informações básicas, tais como caracterização

agronômica e variabilidade de caracteres, fundamentais para o processo de melhoramento de

uma espécie. Na literatura são encontrados alguns trabalhos com caracterização agronômica

da cultura como os desenvolvido por Martins et al. (2012) e Souto (2016), no entanto, estes

autores trabalharam com utilização de sementes.

Para o melhoramento genético de jambu há vantagem de a espécie poder ser propagada tanto

de forma sexuada via sementes, quanto assexuadamente via estacas (HIND; BIGGS, 2003). A

propagação assexuada permite que plantas com características superiores para os caracteres

alvo de seleção possam ser multiplicadas e fixadas na população (BUENO et al., 2006). No

entanto, não há relatos sobre o desempenho agronômico de plantas de jambu propagadas

vegetativamente.

Em razão da grande importância da cultura e com intenção de se iniciar um programa

de melhoramento da espécie, o objetivo do presente trabalho foi caracterizar

morfologicamente os caracteres da inflorescência de jambu propagado de forma vegetativa.

Fundamentação Teórica ASPECTOS GERAIS E IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DO

JAMBU

O jambu é uma planta autóctone da América do Sul (Brasil, Colômbia, Guianas e

Venezuela), onde pode ser encontrada cultivada ou subespontânea (HOMMA et al., 2011).

Trata-se de uma planta anual herbácea, ramificada, de 30 a 60 cm de altura, semi-ereta ou

quase rasteira, com caule cilíndrico, carnoso e de ramos decumbentes que se desenvolve bem,

em geral, em regiões de clima quente e úmido. Possui raiz principal pivotante, provida de

várias ramificações laterais e raízes adventícias no caule e nos ramos que estão em contato

com o solo (LORENZI; MATOS, 2002). As folhas são simples, com lâmina amplamente

ovada e pêlos esparsos nas suas superfícies, especialmente sobre a nervura central. Além

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disso, possuem flores pequenas e amareladas, dispostas em capítulos que medem cerca de um

cm de diâmetro (HIND; BIGGS, 2003).

A espécie possui bom valor nutritivo, sendo rica em elementos como ferro, vitaminas

B1, B2, niacina, vitamina C, vitamina A e cálcio (COSTA, 2010). Seu principal composto é o

espilantol, uma alcamida alifática, de fórmula molecular C14H23NO, descrita como um óleo

viscoso ardente, de coloração amarelo claro, que produz um efeito anestésico e de

formigamento sobre a língua (CAVALCANTI, 2008). Além de apresentar diversos usos

terapêuticos, essa substância possui atividade cosmética para pele, que tem despertado o

interesse de diversas empresas (COSTA, 2010).

O jambu é bastante apreciado na região norte do Brasil em pratos culinários comuns

em festas populares. Mais recentemente com sua popularização começou a ser usado em

iguarias como o arroz e a pizza paraense, quitutes como o pastel de jambu, consumo “in

natura” em saladas, bebidas alcoólicas, entre outros (HOMMA et al., 2011). No ano de 2017,

somente na época do tradicional Círio de Nazaré, no Pará, estimou-se o que o consumo de

jambu foi de 240 mil maços (EMBRAPA, 2017). Chavante et al. (2018), em trabalho

realizado na cidade de Castanhal-PA, verificaram que o valor do maço de jambu variou de R$

1,90 para produtos convencionais a R$ 2,50 para produtos orgânicos. Assim, essa hortaliça

apresenta-se como importante fonte de renda para pequenos produtores dos municípios do

Pará, reunindo elementos essenciais para formação de um sistema sustentável (MARTINS et

al., 2012).

MÉTODOS DE PROPAGAÇÃO

A propagação do jambu é feita por sementes e por estacas, sendo o primeiro o método

mais empregado, embora a comercialização de sementes seja restrita e não haja garantia

quanto às qualidades físicas e sanitárias (HOMMA et al., 2011). Em contrapartida, a

propagação por estacas facilita o plantio e diminui o tempo até a colheita.

A estaquia é o processo de propagação no qual ocorre a indução do enraizamento

adventício em segmentos destacados da planta-mãe que, uma vez submetidos a condições

favoráveis, originam novas plantas, geralmente com boa uniformidade, fator extremamente

importantes em cultivos comerciais (FACHINELLO, 2005). Todavia, muitos fatores podem

afetar o enraizamento de estacas de caule, como por exemplo, a planta-mãe apresentar

características genéticas não favoráveis, idade da planta inadequada, fase de desenvolvimento

da planta inviável, estado nutricional da planta ruim, entre outros, bem como o ambiente onde

as estacas são colocadas (BARBOSA et al., 2007).

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Outro método de propagação que vem sendo realizada com o jambu é a

micropropagação, ou seja, a propagação vegetativa in vitro, que recebe este nome devido ao

tamanho dos propágulos utilizados. Para cultura do jambu, destacam-se os trabalhos de

Malosso et al. (2008) e o protocolo desenvolvido por Pandey e Agrawal (2009).

O JAMBU NO CONTEXTO DO MELHORAMENTO GENÉTICO VEGETAL

O melhoramento de plantas é uma ciência que, no contexto da agricultura, adapta

geneticamente espécies de plantas para a necessidade humana. Pode ser considerado também

como arte, pois depende da habilidade do melhorista em observar diferenças nas plantas que

podem ter importância econômica (BERNARDO, 2002).

A base do melhoramento é a seleção das plantas que mais se aproximam de um

ideotipo, isto é, plantas que apresentem características desejáveis superiores, bem como a

hibridação das mesmas. Trata-se de um trabalho contínuo em que a variabilidade genética é a

principal ferramenta, e a seleção aplicada nessa variabilidade modifica as plantas de tal forma

que rendimentos satisfatórios são obtidos, mesmo que as condições não sejam tão favoráveis

(BUENO et al., 2006).

No Brasil, pesquisas com vista ao melhoramento genético do jambu vêm sendo

abordadas desde 1994 pela Embrapa Amazônia Oriental. Devido sua importância alimentícia

e potencial terapêutico, vem despertando o interesse dos pesquisadores, que visam oferecer

aos produtores uma cultivar com identidade genética definida e com caracteres desejáveis de

boa produção de folhas, precocidade e resistência a doenças. Por meio destes interesses, em

1999 foi lançada a cultivar Nazaré (POLTRONIERI et al., 2000).

O material que deu origem a cultivar foi coletado em 1994 no município de Santa

Izabel do Pará, onde mediante testes iniciais, algumas plantas mostraram-se resistentes a

doenças como o carvão (Thecaphora spilanthes) e a ferrugem (Puccinia cnici – oleracei).

Para esta cultivar foram obtidos resultados satisfatórios em relação ao desempenho

agronômico, palatabilidade e qualidade da planta, sendo adequada sua recomendação aos

produtores desta hortaliça (POLTRONIERI et al., 2000).

CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA E AGRONÔMICA

A caracterização morfológica e agronômica de populações é uma das etapas iniciais

dos programas de melhoramento, que visam o desenvolvimento de populações com potencial

agronômico, como produção, hábito de crescimento, altura da planta, resistência a pragas,

entre outras características (ROSA et al., 2006). Vários trabalhos vêm sendo desenvolvidos

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com o propósito de identificação de genótipos superiores ou seleções regionais que atendam

aos interesses de mercado (MARTINS et al., 2012).

Metodologia LOCAL DE IMPLANTAÇÃO DO EXPERIMENTO

O experimento foi conduzido em casa de vegetação pertencente ao campus de Capitão

Poço da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). O clima da região, segundo a

classificação de Köppen, é do tipo Am2, com temperatura média de 26ºC e umidade relativa

do ar entre 75% e 89%, nos meses com menor e maior precipitação, respectivamente

(SCHWART, 2007).

COLETA DE GENÓTIPOS E OBTENÇÃO DE MUDAS.

Como não há bancos de germoplasma dessa espécie estabelecidos no Brasil, em

outubro de 2016 foram realizadas coletas de genótipos em feiras e em áreas de produtores de

sete municípios da mesorregião nordeste paraense: Castanhal, Santa Maria do Pará, São

Miguel do Guamá, Irituia, Capitão Poço, Ourém e Capanema. Para tentar garantir maior

variabilidade genética, os maços foram comprados de acordo com as diferentes procedências

(populações), informadas pelos feirantes no momento da compra.

No campus da universidade, os maços foram desfeitos e as plantas separadas. A

clonagem dos genótipos foi realizada por meio de estaquia, sendo as estacas obtidas de acordo

com as recomendações de Santos e Gentil (2015). De cada planta foram retiradas de seis a oito

estacas, com cerca de 10 cm de comprimento, da parte basal e apical, em que cada estaca

apresentava gemas axilares nas folhas. Identificaram-se as estacas de acordo com a

procedência e o número atribuído para cada clone por localidade.

Para o processo de enraizamento foram utilizados copos descartáveis com capacidade

de 500 ml, preenchidos com terra preta. Para reduzir a perda de água por evapotranspiração,

cortou-se em mais da metade a área das folhas presente nas estacas, além destas serem

enterradas verticalmente em mais de 70% do comprimento. Foram realizadas irrigações duas

vezes ao dia, sendo a primeira no início da manhã e a outra no final da tarde.

TRANSPLANTIO E MANUTENÇÃO DO EXPERIMENTO

No final de dezembro de 2016, ocorreu o transplantio para os canteiros definitivos.

Foram necessárias 16 leiras, cada uma com sete metros de comprimento e um de largura.

Aplicou-se uma adubação de fundação correspondente a oito litros de esterco de curral por

metro quadrado, de acordo com as recomendações de Poltronieri et al. (2000). O delineamento

experimental foi o inteiramente ao acaso com três repetições, escolhendo-se as mudas mais

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viáveis ao transplantio. A parcela foi constituída de dois clones, no espaçamento de 20 cm

entre plantas e 20 cm entre linhas, de acordo com as recomendações de Poltronieri et al.

(2000).

Como adubação de manutenção foram aplicadas adubações foliares a cada 15 dias, a

partir do transplantio. Para fornecer NPK às plantas foi utilizado o adubo foliar UBYFOL

fertilizante, na concentração de 80 ml do produto para 20 litros de água, conforme indicação

do produto para hortaliças. Os micronutrientes foram fornecidos às plantas pelo adubo foliar

MICROPLEX, na concentração de 30 ml do produto em 20 litros de água, conforme indicação

do produto para hortaliças. Além disso, durante o processo de crescimento do jambu, foi feita

capina manual (monda) para a retirada de ervas daninha. A irrigação foi feita via santeno,

acionado duas vezes ao dia.

COLHEITA E AVALIAÇÃO DOS GENÓTIPOS

A colheita ocorreu no final de janeiro de 2017. As plantas foram arrancadas

manualmente e levadas ao Laboratório de Engenharia da Irrigação da Universidade Federal

Rural da Amazônia, campus de Capitão Poço, PA. No laboratório foram avaliadas, dentre

outras, as características referentes à inflorescência da planta: Massa de matéria verde dos

capítulos abertos e fechados (g): avaliadas com balança digital de precisão de 0,01 g;

Comprimento dos capítulos (cm): foram avaliados, aleatoriamente, quatro capítulos abertos e

calculada a média por planta; Diâmetro dos capítulos (cm): onde foram medidos os diâmetros

de quatro capítulos abertos aleatórios; Número de capítulos abertos e fechados.

No total, foram avaliados 172 clones que possuíam três repetições.

ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os gráficos de box-plot foram obtidos por meio do software R (R Development Core

Team, 2013).

Resultados e Discussão

Em geral, o experimento obteve precisão moderada, com coeficientes de variação

experimental (CV%) entre 13,30% para o diâmetro dos capítulos, até 34,61% para o número

de capítulos fechados (Tabela 1). Pimentel-Gomes (1985), estudando os coeficientes de

variação obtidos nos ensaios agrícolas, classifica-os da seguinte forma: baixos: inferiores a

10%, médios: entre 10 e 20%, altos: entre 20 e 30% e muito altos: para valores acima de 30%.

Assim, a maioria dos caracteres analisados neste trabalho apresentou CV com valores médios,

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somente o caráter número de capítulo fechados foi classificado com CV muito alto, embora

não tenha se distanciado muito do valor de 30%.

A somatória das médias referente a massa de matéria verde dos capítulos foi de 20,28

g (Tabela 1), resultado semelhante ao encontrado por Armond (2007) com jambu tratado por

homeopatias em alguns de seus tratamentos, porém inferior a maior média encontrada pelo

mesmo autor (48,10 g). Martins et al. (2012) obtiveram como maior média 16,58 g de acessos

oriundos do estado do Pará, valor inferior ao encontrado neste trabalho. Estes autores citados

utilizaram plantas de jambu obtidas por sementes, assim, o jambu propagado via estaquia tem

produções aceitáveis para avaliação e seleção de genótipos.

O caráter comprimento do capítulo obteve média de 5,30 cm (Tabela 1), esse valor é

superior ao encontrado por Martins et al. (2012), cuja a máxima, em cm, ficou em torno de

1,87. Essa diferença pode ter sido superestimada, uma vez que, devido a demora na avaliação,

que levou cerca de três semanas, os últimos clones avaliados apresentavam capítulos muito

compridos por causa do tempo para a colheita. Em geral o jambu é colhido logo após o

surgimento das inflorescências, ainda pequenas (GUSMÃO; GUSMÃO, 2013). Já para o

caráter número de capítulos abertos a média de 140,85 (Tabela 1) foi extremamente superior

aos resultados obtidos por Armond (2007).

A seminífera é a forma mais eficiente de propagação de jambu (FERREIRA et al.,

2007). Assim, acessos com maiores comprimento de inflorescências, produzirão

consequentemente maior número de sementes e terá maior probabilidade de sucesso

reprodutivo (MARTINS et al., 2012).

Tabela 1: Média e coeficiente de variação experimental (CV%) para caracteres da inflorescência de jambu [Acmella oleracea (L.) R.K. Jansen]. Capitão Poço, 2017.

CARACTERES MÉDIA CV (%)

Massa de matéria verde dos capítulos abertos (g) 18,14 21,49

Massa de matéria verde dos capítulos fechados (g) 2,14 14,10

Comprimento dos capítulos (cm) 5,30 21,49

Diâmetro dos capítulos (cm) 2,00 13,30

Número de capítulos abertos 140,85 18,18

Número de capítulos fechados 18,03 34,61

A variabilidade genética é o ponto de partida para se iniciar qualquer programa de

melhoramento genético de uma espécie, uma vez que por meio de métodos pode-se levar à

obtenção de genótipos superiores com relação às características de interesse (GUEDES et al.,

2013). Os clones avaliados são promissores para o melhoramento, uma vez que apresentaram

variabilidade para a maioria das características de inflorescência (Figura 1). Os caracteres

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comprimento e diâmetro do capítulo não apresentaram variabilidade (Figura 1c; 1d), o que

dificulta o processo de melhoramento genético. As inflorescências, assim como as folhas, são

de grande importância para o comércio do jambu, visto que maior concentração de espilantol

é encontrada nos capítulos (CAVALCANTI, 2008). Uma cultivar com maior produção de

espilantol seria de grande aceitação, já que apresentaria maior sensação de formigamento na

mastigação e teria maior valor para indústrias cosméticas e farmacêuticas.

Figura 1. Box-Plots dos caracteres da inflorescência de jambu Acmella oleracea (L.) R.K. Jansen].

Capitão Poço, 2017.

Apesar da baixa variabilidade para as dimensões das inflorescências, o melhoramento

para essa estrutura da planta pode ser realizado pela seleção com base na massa verde dos

capítulos abertos, número de capítulos abertos e número de capítulos fechados, pois houve

grande variabilidade para esses caracteres (Figura 1a; 1e; 1f), apresentando potencial para o

melhoramento genético.

Conclusões

A produção média para caracteres da inflorescência foi superior ou similar à encontrada na

literatura, o que mostra o potencial desses genótipos para programas de melhoramento.

Os clones avaliados são promissores para o melhoramento genético, uma vez que

apresentaram variabilidade para a maioria das características de inflorescência, em especial

para massa verde de capítulos abertos e número de capítulos.

Devido a maior concentração de espilantol se concentrar nas flores, programas de

melhoramento que visem à obtenção de cultivares superiores para características da

inflorescência teria grande importância para indústrias cosméticas e farmacêuticas.

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Referências

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