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Caracterização mecânica de betões estruturais de agregados leves
produzidos com diferentes tipos de ligantes
J. Pontes
Engº Civil
IST
Lisboa, Portugal
J. Alexandre Bogas
Prof. Engº Civil
IST, CEris (ICIST)
Lisboa, Portugal
S. Real
Engª Civil
IST
Lisboa, Portugal
RESUMO
No presente artigo procede-se à caracterização mecânica de betões estruturais de agregados leves (BEAL) produzidos
com diferentes tipos de ligantes e diferentes tipos de agregados, para resistências entre cerca de 30 e 60 MPa e classes
de massa volúmica D1,6-D2,0. Desse modo é possível abranger os diferentes tipos de BEAL mais correntemente
utilizados em elementos estruturais. A caracterização dos betões envolveu a realização de ensaios mecânicos de
compressão, tracção por compressão diametral e módulo de elasticidade, tendo em consideração 4 tipos de agregados
leves (AL) com características físicas bastante distintas, 9 tipos de ligantes que incluem a incorporação de diferentes
percentagens de filer calcário, sílica de fumo e cinzas volantes e a consideração de misturas com diferentes relações a/c.
São sugeridas expressões gerais que relacionam as propriedades mecânicas analisadas e são confrontados os resultados
obtidos com os documentados por outros autores e com as expressões sugeridas na principal normalização Europeia e
Americana.
1. INTRODUÇÃO
O dimensionamento de betões estruturais de agregados leves (BEAL) é abordado na principal normalização Americana
e Europeia, tendo em consideração a definição de expressões e coeficientes empíricos que traduzem o seu
comportamento relativo face aos betões de massa volúmica normal (BAN). Estas expressões são essencialmente
adaptações das relações estabelecidas para os BAN, não se tendo em consideração aspectos relevantes como a
influência do tipo de agregado e o nível de resistência do betão [1,2]. Por sua vez, as expressões sugeridas na literatura
resultam, em geral, de trabalhos experimentais que muitas vezes restringem-se à caracterização de betões com um dado
tipo de agregado para uma gama limitada de classes de resistência e massa volúmica, cujas conclusões são apenas
válidas nesse domínio. Assim, é necessário a realização de estudos mais latos que tenham em consideração novos
BEAL produzidos com diferentes tipos de ligantes e tipos de agregado, conforme efectuado no presente trabalho.
Em geral, é reconhecido o menor módulo de elasticidade [3-7] e a menor resistência à tração [8-11] dos BEAL face aos
betões convencionais de igual composição. Porém, são também referidos casos em que a resistência à tracção nos
BEAL é semelhante [12,13] a ligeiramente superior à dos BAN [3]. A melhor ligação agregado-pasta, a geometria mais
esférica dos agregados leves (AL) e a maior compatibilidade elástica entre o agregado e a pasta são alguns dos factores
atribuídos ao melhor desempenho por vezes observado nos BEAL [2,14,15]. Os diferentes tipos de agregado, níveis de
resistência e condições de ensaio também justificam os resultados, por vezes, aparentemente contraditórios. Outro
aspecto relevante está relacionado com o comportamento dos BEAL face aos BAN de igual resistência. Banforth e
Pontes, J.; Bogas, J.;A.; Real, S. – Caracterização mecânica de betões estruturais de agregados leves produzidos com
diferentes tipos de ligantes
2
Nolan [14] reportam maiores resistências à tracção por compressão diametral nos BEAL do que em BAN de menor
classe de resistência. Em relação ao módulo de elasticidade, dado que os agregados leves apresentam menor rigidez e
ocupam uma porção significativa do betão, este tende a ser menor nos BEAL do que nos BAN, mesmo tendo em
consideração misturas de igual resistência. No FIP [1] são referidas reduções de cerca de 50% no módulo de
elasticidade de BEAL com cerca de 1700 kg/m3 de massa volúmica. Para BEAL de resistência baixa a moderada
(fcm<40MPa), o ACI 213 [3] refere factores de 0,5 a 0,75 para o módulo de elasticidade dos BEAL face aos BAN. Na
Tabela 1 resumem-se algumas expressões propostas na literatura bem como as sugeridas na principal normalização
Europeia e Americana para a resistência à tração e o módulo de elasticidade dos BEAL.
Tabela 1 - Resistência à tração e módulo de elasticidade de betões estruturais de agregados leves
Note-se que a resistência à compressão dos BEAL depende do “limite de resistência”, fL, que corresponde à resistência
para a qual a rigidez da argamassa é semelhante à do agregado [2]. Acima de fL a resistência do betão é afectada pelo
agregado e é inferior à da argamassa. Assim, a relação entre a resistência à compressão e a rigidez ou resistência à
tração dos BEAL deverá ser afectada por fL. Por essa razão, os estudos de caracterização devem envolver BEAL de
diferente resistência e tipo de agregado, de modo a abranger os vários modos possíveis de rotura. No presente artigo
isso é tido em consideração. Pretende-se caracterizar o comportamento mecânico em termos de resistência à tração e
módulo de elasticidade de BEAL produzidos com 4 tipos de agregados leves e 8 tipos de ligantes, para diferentes
compacidades da mistura (relação a/c entre 0,35 e 0,65). Os resultados experimentais são confrontados com os obtidos
por outros autores e são aferidas as expressões propostas na principal normalização Europeia e Americana.
2. PROGRAMA EXPERIMENTAL
2.1 Materiais
Para este estudo foram utilizados dois agregados de argila expandida, Leca e Argex de Portugal, um de ardosia
expandida, Stalite dos EUA, e um agregado de cinza volante proveniente do Reino Unido, Lytag. As principais
características destes agregados, com porosidades bastante distintas, são indicadas na Tabela 2. Para os betões de
referência produzidos com agregados grossos de massa volúmica normal (AN) foram selecionadas duas britas calcárias
de diferente granulometria (Bago de arroz e Brita 1, Tabela 2). Tanto as duas frações de Argex como as de brita calcária
foram posteriormente combinadas de modo a possuírem granulometria idêntica à dos restantes agregados grossos leves
(66% Brita 1 e 34% Bago de Arroz; 30% Argex 3-8F e 70% Argex 2-4). Todos os betões foram produzidos com areia
natural siliciosa, correspondendo a cerca de 30% de Areia Fina e 70% de Areia Grossa (Tabela 2).
Tabela 2 - Características dos agregados
Parâmetro Stalite Lytag Leca Argex
2-4
Argex
3-8F Brita 1
Bago
arroz
Areia
Fina
Areia
Grossa
Absorção às 24 horas (%) 3,6 17,9 15,8 21,4 19,3 0,7 0,4 0,2 0,3
Massa volúmica seca (kg/m3) 1483 1338 1076 669 597 2646 2683 2605 2617
Baridade seca (kg/m3) 760 750 624 377 330 1309 1346 1569 1708
Referência Estimativa de Ecm (MPa)a,b Domínio
(MPa)Estimativa de fctm,sp (MPa)
a,b Domínio
(MPa)
fctm=0,30.(fcm,cil-8)2/3.
(0,4+0,6ρ s /2200) 20<fcm,cil<68
fctm=2,12.ln(1+fcm,cil/10).(0,4+0,6ρ s /2200) fcm,cil>68
Ecm=c*(fcm,cil*ρ28d3)1/2
c=0,043(fc<35MPa); c=0,038(fc=41MPa)
Gesoglu
[18]Ecm=3432*fcm,c
0,51 21<fcm,c<41 fctm,sp=0,27*fcm,c2/3 21<fcm,c<41
afcm,c - Res. média à compressão em provetes cúbicos de 15 cm ; f cm,cil - Res. média à compressão em provetes cilindricos de f15x30 cm
br s - Massa volúmica seca do betão; r28d - Massa volúmica do betão aos 28 dias
-
ACI 318
[17]Ecm= *0,043*(fcm,cil *ρs
3)1/2 17<fcm<88 fctm,sp=0,47*fcm,cil
1/2 -
EN1992-1
[16]Ecm = 22000*[(fcm,cil)/10]
0,3*(ρs/2200)
2 20<fcm,cil<98
ACI 213
[3]fcm,cil<40 -
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diferentes tipos de ligantes
3
Na produção dos betões foram utilizados cimento tipo I 42,5R, cinzas volantes (CZ) de classe F com 13,8% de resíduo
no peneiro de 45 m e índice de reatividade de 84,4%, filer calcário com 38,6% de resíduo no peneiro 45 µm e ainda
sílica de fumo (SF) com 94,3% de SiO2 e de 96,4% de resíduo no peneiro de 45 m, dado ser fornecida de forma
aglomerada. Nas misturas de maior compacidade, foi ainda utilizado um superplastificante de base policarboxilica.
2.2 Composições, mistura, preparação dos provetes e ensaios
De forma a estudar o comportamento mecânico dos betões produzidos, foram produzidas várias misturas com relações
a/l entre 0,35 e 0,65 para teores de ligante entre 300 e 450 kg/m3. As várias composições permitem abranger betões de
classe de resistência e massa volúmica diferentes, o que aumenta a validade do estudo realizado. Na Tabela 3 indicam-
se as composições consideradas para cada tipo de agregado. A relação a/l corresponde à água efetiva disponível para
hidratação. Os betões foram produzidos com 350 l/m3 de agregado grosso.
Tabela 3 - Composições dos betões
Tipo de mistura
ligante
Cimento Adições Relação Teor de
ligante
(kg/m3)
Volume de
AG
(l/m3)
Volume
de Areia
(l/m3)
Volume de
água efectiva
(l/m3)
CEM I
42,5R SF CV FC a/l a/c
CEM I 100% - - - 0,35 0,35 450 350 314 157,5
CEM I 100% - - -
0,45
0,45
400 350
310
180
CEM II/A-D (1) 94% 6% - - 0,48 307
CEM II/A-D (2) 91% 9% - - 0,49 305
CEM II/A-V 85% - 15% - 0,53 304
CEM II/B-V 70% - 30% - 0,64 297
CEM II/A-L 85% - - 15% 0,53 306
CEM II/B-L 70% - - 30% 0,64 302
CEM IV/A 70% 10% 20% - 0,64 296
CEM I 100% - - - 0,65 0,65 300 350 328 195
Os betões foram produzidos numa misturadora de eixo vertical com descarga de fundo. Em geral, os agregados leves
foram previamente colocados em água, durante aproximadamente 24h, de modo a se controlar melhor a trabalhabilidade
e a água efetiva da mistura. Em seguida, os agregados foram secos superficialmente com toalhas absorventes e
colocados na mistura com a areia e 50% da água de amassadura. Após 2 minutos de mistura, deixou-se repousar durante
1 minuto, tendo-se adicionado em seguida o cimento e parte da restante água. Quando utilizado, o superplastificante foi
adicionado após mais 1 minuto com 10% de água. Apenas nos betões produzidos com Argex, os agregados foram
inseridos na betoneira inicialmente secos e a absorção de água foi estimada tendo em consideração o método sugerido
por Bogas et al. [19].
2.3 Preparação dos provetes e métodos de ensaio
Para cada mistura, foram produzidos 3 cubos de 150 mm de aresta para determinação resistência à compressão aos 28
dias de idade de acordo com a EN 12390-3 [20] e 2 cilindros de 300 mm de altura com 150 mm de diâmetro para
determinação do módulo de elasticidade, de acordo com a E 397 [21]. Foram também produzidos 3 cilindros com 300
mm de altura e 150 mm de diâmetro para determinação da resistência à compressão diametral de acordo com a EN
12390-6 [22]. Os vários provetes foram curados em água até à idade de ensaio, que ocorreu aos 28 dias.
3. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS
Os resultados obtidos para a massa volúmica seca, rs, resistência média à compressão, fcm, módulo de elasticidade, Ecm,
resistência média à tracção por compressão diametral, fctm,sp, e eficiência estrutural (fcm/rs) são apresentados na Tabela 4,
para 28 dias de idade. As resistências médias à compressão aos 28 dias variaram entre cerca de 20 MPa e 65 MPa,
sendo possível abranger os vários tipos de BEAL mais correntemente utilizados em betões estruturais, enquadrados nas
classes de massa volúmica D1,6-D2,0. Os valores de módulo de elasticidade e resistência à tracção nos BEAL variam
entre 14 e 30 GPa e 1,4 e 4,1 MPa, respectivamente.
Pontes, J.; Bogas, J.;A.; Real, S. – Caracterização mecânica de betões estruturais de agregados leves produzidos com
diferentes tipos de ligantes
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Tabela 4 – Resultados de caracterização mecânica dos betões.
a/l Tipo de cimento
Agregado fcm
(MPa) Ecm
(GPa) fctm,sp
(MPa) Massa vol. seca,
ρs (kg/m3)
fcm/ ρs(28d)
(x103m)
0,35 I
Leca 43,3 22,2 2,9 1697 2,3
Stalite 65,3 30,2 4,1 1893 3,2
Lytag 47,8 24,3 3,1 1791 2,5
Argex 28,5 20,4 1,9 1602 1,6
NA 76,3 46,5 5,4 2299 3,1
0,45
I
Leca 37,6 20,1 2,8 1656 2,1
Stalite 49,9 27,5 3,3 1794 2,6
Lytag 41,2 21,3 3,1 1733 2,2
Argex 26,1 17,1 1,8 1523 1,6
NA 57,7 40,4 4,3 2220 2,4
IIAD1
Leca 34,4 18,1 2,7 1601 2,0
Stalitte 45,7 24,7 2,8 1764 2,4
NA 59,8 39,0 3,9 2175 2,6
IIAD2
Leca 33,3 18,9 2,6 1581 1,9
Stalitte 43,8 25,5 3,1 1750 2,3
NA 58,8 39,4 4,2 2163 2,5
IIAV
Leca 33,5 18,6 - 1594 1,9
Stalitte 43,8 25,5 3,2 1790 2,3
NA 53,4 38,7 3,9 2189 2,3
IIBV
Leca 30,4 17,7 2,4 1600 1,7
Stalitte 38,4 23,7 2,6 1795 2,0
NA 45,7 36,0 2,7 2203 1,9
IIAL
Leca 32,5 18,3 - 1667 1,8
Stalitte 44,0 24,9 3,0 1784 2,3
NA 53,0 38,1 3,7 2219 2,2
IIBL
Leca 28,9 14,3 1,9 1622 1,6
Stalitte 36,3 23,3 2,8 1776 1,9
NA 42,9 35,3 3,1 2204 1,8
IVA
Leca 31,2 18,2 2,6 1560 1,8
Stalitte 40,4 23,1 2,7 1712 2,2
NA 48,5 36,9 2,8 2146 2,1
0,65 I
Leca 28,4 16,2 1,7 1607 1,6
Stalite 31,9 22,4 2,6 1760 1,7
Lytag 30,6 17,3 2,3 1712 1,6
Argex 19,8 13,9 1,4 1491 1,2
NA 37,0 34,4 2,6 - -
3.1 Resistência à compressão
Dependendo do tipo de AL, relação a/l e tipo de ligante, a perda de resistência à compressão dos BEAL face aos BAN
de igual composição variou entre cerca de 14 a 63%, sendo essa perda superior nos BEAL com agregados de maior
porosidade (Argex) e associados a matrizes mais fortes (menor a/l e cimento tipo I ou IIAD). Na Figura 1 confirma-se
que a perda de resistência é menos significativa nos betões com Stalite e relação a/l=0,65. Conforme detalhadamente
analisado em [23], a resistência dos BEAL é fortemente controlada pela resistência limite, fL, que neste caso é inferior
ao nivel de resistência do betão de a/c=0,65. De [23] verifica-se que fl corresponde a cerca de 27, 29, 59-62 e inferior a
10 MPa nos BEAL com Leca, Lytag, Stalite e Argex, respectivamente. Assim, a partir deste nível de resistência, o
comportamento à compressão dos betões é alterado e deverá ocorrer uma descontinuidade quando se relaciona fcm com
outra propriedade, como sucede com a massa volúmica (Figura 2). Assim, demonstra-se que não faz sentido caracterizar
a resistência à compressão com base em relações únicas que dependem apenas da massa volúmica.
A eficiência estrutural relaciona a resistência à compressão com a massa volúmica (fcm/rs). Neste aspecto, os BEAL
com resistência limite mais próxima do nível de resistência do betão conduzem a soluções mais eficientes. Destaca-se o
facto dos BEAL com Stalite conduzirem a níveis de eficiência estrutural superiores ao dos BAN, para qualquer dos
níveis de resistência analisados (Tabela 4). Este fenómeno é discutido com maior detalhe em [23].
Pontes, J.; Bogas, J.;A.; Real, S. – Caracterização mecânica de betões estruturais de agregados leves produzidos com
diferentes tipos de ligantes
5
Figura 1: Resistência à compressão dos BEAL em relação
à dos BAN de igual composição (CEM I)
Figura 2:Relação entre a resistência à compressão, fcm, e a
massa volúmica seca, rs
Em relação aos betões com diferentes tipos de ligante, constata-se, como seria de esperar, uma redução de resistência
proporcional à percentagem de substituição de cimento por cinzas (Tabela 4). A mesma tendência é observada
independentemente do tipo de agregado. Apesar dos betões terem sido curados continuamente em água, a reduzida
idade de ensaio (28 dias) não permite o desenvolvimento efectivo das reacções pozolânicas. Reduções semelhantes são
observadas nos betões com igual percentagem de substituição de cimento por filer calcário. Isso sugere que tanto a
cinza volante como o filer calcário actuam essencialmente por efeito físico de filer. No entanto, tendo em consideração
idênticas relações a/c (sétima coluna da Tabela 4) verifica-se que as resistências nos betões com CEM I e a/c=0,65 são
inferiores às dos betões com cinzas ou filer calcário, o que demonstra o efeito benéfico da incorporação destas adições.
Nos BEAL com Leca essa melhoria é menos importante, o que pode ser justificado pelo facto deste betão trabalhar mais
longe da resistência limite, e como tal, ser mais afectado pela capacidade resistente do agregado. A incorporação de
sílica de fumo foi inefectiva no aumento da resistência dos betões, em especial nos BEAL. O menor desempenho deverá
ser atribuído às dificuldades de dispersão da sílica de fumo na mistura [2].
3.2 Módulo de elasticidade
Dependendo do tipo de AL e relação a/l, a redução do módulo de elasticidade dos BEAL face aos BAN de igual
composição variou entre 34% e 60% (Tabela 4), que se encontra dentro da gama de valores referidos por outros autores
[1,3,7]. O módulo de elasticidade foi essencialmente afectado pelo tipo de agregado e em segundo plano pelo tipo de
ligante e relação a/l (Figura 3, Tabela 4). Tal se justifica pelo facto de existir uma maior alteração na porosidade da
mistura quando se intervém ao nível do agregado. O módulo de elasticidade diminuiu de forma consistente com o
aumento da relação a/c em todos os tipos de betão (Figura 4, Tabela 4). Na variação do módulo de elasticidade com a
relação a/c deve-se ter ainda em consideração que o volume de areia não se mantém constante entre misturas. Ainda
assim, constatam-se pequenas diferenças na relação entre o módulo de elasticidade nos BEAL e nos BAN para
diferentes relações a/c (Figura 3).
Figura 3: Módulo de elasticidade dos BEAL em relação ao
dos BAN de igual composição (CEM I)
Figura 4:Evolução do módulo de elasticidade aos 28 dias
em função da relação a/l (CEM I)
Na Figura 5 verifica-se uma correlação razoável entre Ecm e fcm, quando se tem apenas em consideração a incorporação
de diferentes tipos de agregados leves. Porém, obtém-se uma relação diferente nos betões produzidos com agregados
normais. Mesmo tendo em conta betões de igual resistência, constata-se que a rigidez dos BAN é superior à dos BEAL.
Isso demonstra que o tipo de agregado assume maior influência no módulo de elasticidade do que as características da
86
63 57
37
86
71 65
45
86 83 77
54
0
20
40
60
80
100
Stalite Lytag Leca Argex
f cm
,BE
AL/f
cm,B
AN (
%)
a/c = 0,35
a/c = 0,45
a/c = 0,65
0
20
40
60
80
1400 1600 1800 2000 2200 2400
f cm (
MP
a)
Massa Vólumica (kg/m3)
Leca
NA
Stalite
Lytag
Argex
65
52 48
44
68
53 50 42
65
50 47 40
0
20
40
60
80
Stalite Lytag Leca Argex
Ecm
,BE
AL/E
cm,B
AN (
%)
a/c = 0,35
a/c = 0,45
a/c = 0,65
0
10
20
30
40
0.3 0.4 0.5 0.6 0.7
Ecm
(G
Pa)
Relação a/c
Stalite
Lytag
Leca
Argex
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diferentes tipos de ligantes
6
pasta. Percebe-se que não pode existir uma relação única entre a resistência à compressão e o módulo de elasticidade,
independentemente do tipo de agregado. De facto, nos BAN ou nos BEAL com resistência abaixo da resistência limite,
o agregado afecta o módulo de elasticidade sem ter importância significativa na resistência à compressão.
Na Figura 6 é possível confirmar uma melhor correlação com a massa volúmica, independentemente do tipo de
agregado. De facto, as duas propriedades variam de igual forma com eventuais alterações ao nível da porosidade dos
betões, por variação nas características dos agregados ou da pasta (relação a/c, tipo de ligante). Assim, de modo a se
estabelecerem relações universais, as principais expressões normativas têm igualmente em consideração a massa
volúmica. No entanto, estas relações não têm em consideração a influência de fL na variação da relação entre Ecm e fcm.
Figura 5:Relação entre o módulo de elasticidade, Ecm, e a
resistência à compressão, fcm
Figura 6:Relação entre o módulo de elasticidade, Ecm, e a
massa volúmica seca, rs
Na Figura 7 confrontam-se os resultados obtidos no presente estudo com os reportados por outros autores. Apesar de se
ter em consideração vários tipos de BEAL com diferentes tipos de agregado, são observadas tendências semelhantes
entre os diferentes autores. A expressão definida na EN 1992-1 [16] (Figura 8), embora siga de forma adequada a
tendência dos resultados experimentais, conduz a estimativas ligeiramente conservativas, em média 11% inferiores aos
resultados experimentais..
Figura 7: Relação entre o módulo de elasticidade, Ecm, e a
resistência à compressão, fcm (diferentes referências)
Figura 8: Comparação entre os resultados experimentais e
os valores estimados na EN 1992-1 [16]
A consideração de diferentes tipos de ligante teve influência pouco significativa no módulo de elasticidade. Mesmo nas
misturas associadas a maior percentagem de substituição (IIBV e IIBL) a diferença observada no módulo de
elasticidade foi, em geral, inferior a 15%. O módulo de elasticidade destes betões foi semelhante ao das misturas com
idêntica relação a/c e cimento tipo I (Tabela 4), existindo uma pequena contribuição das adições para esta propriedade.
A sílica fumo revelou-se uma vez mais inefectiva, à semelhança do observado para a resistência à compressão.
3.3 Resistência à tracção por compressão diâmetral
Em relação à resistência à tracção, foram verificados desempenhos desde semelhantes (3% de redução) a bastante
inferiores (reduções de até 60%) face aos BAN (Tabela 4, Figura 7). A resistência à tração variou de forma significativa
com o tipo de agregado, tipo de ligante e relação a/c. Naturalmente, as menores perdas de resistência foram observadas
nos BEAL com agregados de maior massa volúmica (Stalite) associados a maior relação a/c (Figura 9). De facto, nas
misturas de menor relação a/c, a resistência dos BEAL é mais afectada pelas características do agregado, existindo uma
maior perda de resistência face aos BAN. Destaca-se o facto de nos BEAL com Stalite, de relação a/c=0,65, a
resistência à tração ser praticamente igual à dos BAN. Isso sugere que não se terá atingido a resistência limite à tração
Ecm = 8,02*fcm0,41
R² = 0,93
Ecm = 1,65fcm0,73
R² = 0,82
0
20
40
60
0 20 40 60 80
Ecm
(G
Pa)
fcm (GPa)
Stalite
Leca
Lytag
Argex
BAN
R² = 0.95
0
10
20
30
40
50
1400 1600 1800 2000 2200 2400E
cm (
GP
a)
Massa volúmica seca, ρs (kg/m3)
Leca
Stalite
Lytag
Argex
BAN
Ecm = 3*fcm0,5
Ecm = 4*fcm0,5
0
10
20
30
40
0 20 40 60 80
Ecm
(G
Pa)
fcm (MPa)
Presente Estudo
Gesoglu [18]
Bogas [7]
0
10
20
30
40
50
0 10 20 30 40 50
Ecm
, exp
erim
en
tal
(GP
a)
Ecm, cálculo (GPa)
EN 1992 [16]
Pontes, J.; Bogas, J.;A.; Real, S. – Caracterização mecânica de betões estruturais de agregados leves produzidos com
diferentes tipos de ligantes
7
neste tipo de BEAL. A variação brusca na perda de resistência da relação a/c=0,65 para a/c=0,45 resulta de se
ultrapassar a resistência limite à tração. Note-se que conforme referido em Bogas e Nogueira [11], a resistência limite à
tração tende a ser inferior à resistência limite à compressão.
Os resultados obtidos seguem em geral as tendências reportadas por outros autores (Figura 10), existindo uma razoável
aproximação da expressão proposta no ACI 318 [17], independentemente do tipo de agregado. Em geral, a aplicação da
expressão sugerida na EN 1992-2 [16] conduz a estimativas conservativas da resistência à tração, constatando-se
diferenças inferiores a cerca de 15% face aos resultados experimentais (Figura 11).
Figura 9- Resistência à tracção dos BEAL em relação ao
dos BAN de igual relação a/l para CEM I
Figura 10 -Relação entre a resistência à compressão
diametral, fctm,sp, e a resistência à compressão, fcm, nos
BEAL (diferentes referências)
A influência da incorporação de adições na resistência à tração seguiu a tendência observada na resistência à
compressão, demonstrando a boa relação entre estas propriedades. A resistência à tração diminuiu de forma
proporcional com o aumento da percentagem de cinzas e filer calcário (Figura 12), atingindo reduções de até 37% para
30% de substituição. Verifica-se que nos BEAL de maior massa volúmica existe uma redução menos importante na
resistência à tração (Figura 12). Tal pode ser atribuído ao facto de, para elevadas percentagens de substituição, estes
betões trabalharem abaixo da resistência limite, conforme constatado na Figura 9, tendo em conta betões de igual a/c
(Cem I, a/c=0,65). À semelhança do observado nas restantes propriedades analisadas, a introdução de sílica de fumo
reduziu ligeiramente a resistência à tração, independentemente da sua percentagem de incorporação.
Figura 11 – Comparação entre resultados experimentais e
valores estimados com base na EN 1992-1 [16]
Figura 12 – Resistência à compressão diametral em função
da percentagem de cinzas (CZ) ou filer calcário (FC)
4. CONCLUSÕES
No presente trabalho procedeu-se à caracterização mecânica de betões leves estruturais produzidos com diferentes tipos
de agregado. Em seguida, resumem-se as principais conclusões obtidas:
• Para classes de resistência LC16/18 a LC55/60 e de massa volúmica D1,6 a D2,0, verificou-se uma redução geral
das propriedades mecânicas dos BEAL, que depende do tipo de agregado e nível de resistência do betão;
• Para qualquer dos níveis de resistência analisados, os BEAL com agregados de maior massa volúmica foram
capazes de desenvolver níveis de eficiência estrutural superiores;
• A substituição de cimento por qualquer um dos tipos de adições analisados (cinzas, filer calcário, sílica de fumo)
conduziu a uma redução respectiva das características mecânicas dos betões. A reduzida idade de ensaio justiça o
menor desenvolvimento das reacções pozolânicas das cinzas volantes. Reduções da mesma ordem de grandeza
foram observadas nos betões com cinzas ou filer calcário, sugerindo que os dois tipos de adições actuam
essencialmente por efeito físico de filer. A contribuição das adições foi ligeiramente afectada pelo tipo de agregado;
77
57 54
35
77 72
64
41
94 88
64
52
0
20
40
60
80
100
Stalite Lytag Leca Argex
f ctm
,BE
AL/f
ctm
,BA
N (
%)
a/c = 0,35
a/c = 0,45
a/c = 0,65
0
2
4
6
0 20 40 60 80 100
f ctm
,sp (
MP
a)
fcm (MPa)
Estudo actual
EN 1992 [16]
ACI 318 [18]
Chandra [4]
Gesoglu [17]
Bogas e
Nogueira [11]
0
1
2
3
4
5
0 1 2 3 4 5
f ctm
,sp,e
xp
erim
enta
l (M
Pa)
fctm,sp,cálculo (MPa)
EN 1992 [16]
0 15 30
0
1
2
3
4
5
f ctm
,sp (
MP
a)
%CZ ou %FC
Leca_cinzas
Stalite_cinzas
AN_cinzas
Leca_filer
Stalite_filer
AN_filer
Pontes, J.; Bogas, J.;A.; Real, S. – Caracterização mecânica de betões estruturais de agregados leves produzidos com
diferentes tipos de ligantes
8
• A expressão definida na EN 1992-1 [16] conduziu a estimativas ligeiramente conservativas do módulo de
elasticidade. Esta expressão não tem em consideração a influência de fL na variação da relação entre Ecm e fcm;
• A consideração de diferentes tipos de ligante teve influência pouco significativa no módulo de elasticidade;
• A resistência à tração variou de forma significativa com o tipo de agregado, tipo de ligante e relação a/c. Nos BEAL
de menor compacidade produzidos com agregados de maior massa volúmica foi possível atingir resistências à tração
semelhantes à dos betões convencionais de massa volúmica normal;
• As expressões definidas no ACI 318 [17] e EN 1992-2 [16] permitiram estimativas aproximadas da resistência à
tração nos BEAL, independentemente do tipo de agregado. A expressão sugerida na EN 1992-2 [16] conduziu a
estimativas conservativas de fctm,sp para erros inferiores a 15%.
5. AGRADECIMENTOS
O presente trabalho de investigação foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), através do
projeto PTDC/ECM-COM1734/2012. Os autores agradecem ainda o apoio do CEris – ICIST/IST no financiamento do
presente trabalho e a colaboração das empresas Saint-Gobain Weber Portugal, Argex, Stalite, Lytag, SECIL e BASF
pelo fornecimento dos materiais utilizados durante a campanha experimental.
6. REFERÊNCIAS
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edit, Surrey University Press, 1983, 259p.
[2] Bogas, J. A.; Gomes, A.; “Compressive behavior and failure modes of structural lightweight aggregate concrete –
Characterization and strength prediction”. Material and Design, Volume 46, 2013, pp. 832-841
[3] ACI Committee 213, 2003, Guide for Structural Lightweight-Aggregate Concrete. CI, Farmington Hills.
[4] Chandra, S.; Berntsson, L. (2003). Lightweight aggregate concrete, Science, Technology and applications. USA,
Noyes publications - William Andrew Publishing.
[5] FIP, 1983, FIP manual of Lightweight aggregate concrete. 2nd
edition, Surrey University Press.
[6] Zhang, M.H.; Gjørv, O. E. (1991). Mechanical properties of high-strength lightweight concrete. ACI Mater. J., Vol
88, N.29, pp. 240-247
[7] Bogas JA, Gomes A. Static and dynamic modulus of elasticity of structural lightweight concrete with and without
nanosilica. International Journal of Civil Engineering, Vol 12 (2), 268-278, 2014
[8] Guo, Y.S.; Ding, J.T.; Kimura, K.; Li, M.; Song, P.J.; Huang, M.J. (2000). Comparision of properties of high
performance LWA and normal LWA. Proc. 2nd
Int. Symp. on structural LWC, Kristiansand, Norway, pp. 540-547.
[9] Hoff, G. C. (1992). High strength lightweight aggregate concrete for Arctic applications – parts1,2,3. Structural
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Compos., Vol 26, N. 4, pp. 307-314.
[11] Bogas JA, Nogueira R. Tensile Strength of Structural Expanded Clay Lightweight Concrete Subjected to Different
Curing Conditions. KSCE Journal of Civil Engineering, Vol 18 (6), 1780-1791, 2014
[12] Yoshitaka, I.; Tomosawa, F.; Hayakawa, M.; Sasahara, A.; Yasuda, M. (2000). Fundamental characteristics of
concrete using high strength artificial lightweight aggregate made of fly ash. Proc. 2nd Int. Symp. on structural
LWC, Kristiansand, Norway, pp. 593-602.
[13] Thorenfeldt, E. (1995). Design Criteria of Lightweight Aggregate Concrete. Proc. Symp. on structural LWC,
Sandefjord, Norway, pp. 720-732.
[14] Bamforth, P.B.; Nolan, E. (2000). UK high strength LWAC in construction. Proc. 2nd Int. Symp. on structural
LWC, Kristiansand, Norway, pp. 440-452.
[15] Holm T.A.; Bremner, T. (2000). State-of-the-art report on high-strength, high-durability SLWC for applications in
severe marine environments. Us Army corps engineers, ERDC/SL TR-00-3.
[16] EN 1992-1-1. Eurocode 2: Design of concrete concrete structures - Part 1-1: General rules and rules for buildings.
European Committee for standardization CEN, 2004, 225p.
[17] ACI Committee 318, 2008, Building Code Requirements for Structural Concrete and Commentary. ACI, F. Hills.
[18] Gesoglu, M.; Ozturan, T.; Guneyisi, E.; “Shrinkage cracking of lightweight concrete made with cold-bonded fly
ash aggregates”. Cement and Concrete Research, Volume 34, 2004, pp. 1121-1130
[19] Bogas JA, Gomes A, Gloria MG. Estimation of water absorbed by expanding clay aggregates during structural
lightweight concrete production. Mater. Struct. Vol 45, nº10; 1565-1576, 2012
[20] EN 12390-3. “Testing hardened concrete. Compressive strength of test specimens”. CEN, 2009. 19p.
[21] LNEC E 397 Betões. Determinação do módulo de elasticidade em compressão. LNEC, Lisboa, 1993, 2p.
[22] EN 12390-6. “Testing hardened concrete. Tensile splitting strength of test specimens”. CEN, 2009. 14p.
[23] Pontes, J.; Bogas, J. A.; Real, S.; Gloria Gomes, M. – Resistência à compressão e eficiência estrutural de betões
produzidos com agregados leves de diferente massa volúmica, CONPAT 2015, Lisboa, 2015